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bruxapaga · 12 days ago
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Bruxas e Religião: Entendendo a Diferença
É comum associar a figura da bruxa diretamente a uma religião específica, mas a realidade é mais complexa. Ser bruxa e seguir uma religião são coisas distintas. A bruxaria é uma prática que envolve magia, rituais e conexão com a natureza e o espiritual, enquanto as religiões são sistemas de crenças organizados, com dogmas, ritos e divindades específicas.
Bruxas e suas afiliações religiosas Nem todas as bruxas seguem uma religião, mas muitas encontram uma espiritualidade que se alinha à sua prática. Algumas das tradições religiosas mais comuns entre bruxas incluem:
Wicca: Uma religião moderna que celebra a natureza, os ciclos da lua e os elementos. A Wicca tem um panteão com deuses e deusas, como o Deus Cornífero e a Deusa Tríplice, e muitos de seus adeptos se identificam como bruxos ou bruxas.
Paganismo: Uma espiritualidade diversa que abrange várias crenças antigas e modernas, incluindo cultos a deuses greco-romanos, nórdicos ou celtas. Muitas bruxas pagãs trabalham com esses panteões e rituais sazonais, como os Sabbats.
Umbanda e Candomblé: Religiões afro-brasileiras que incluem práticas espirituais e mágicas. Algumas pessoas nessas tradições se identificam como bruxas ou utilizam conhecimentos mágicos como parte de seus rituais e oferendas.
Heathenismo: Também conhecido como neopaganismo nórdico, é uma tradição focada nos deuses e ritos da mitologia escandinava. Algumas bruxas seguem essa linha, trabalhando com divindades como Freyja ou Odin.
Bruxaria sem religião Por outro lado, muitas bruxas praticam sem afiliação religiosa. Algumas se definem como bruxas ecléticas, misturando saberes de diversas fontes. Outras preferem uma abordagem mais espiritual e pessoal, sem seguir uma doutrina formal.
O importante é entender que ser bruxa não significa automaticamente pertencer a uma religião específica. A prática da bruxaria pode coexistir com várias crenças ou até nenhuma. Cada bruxa trilha seu próprio caminho, moldando sua magia e espiritualidade de acordo com o que faz sentido para ela. — Fernanda K.
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asatrueliberdade · 5 years ago
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"André Breton, no Segundo Manifesto do Surrealismo, proclamou: “Tudo indica a existência de um certo ponto do espírito, onde vida e morte, real e imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, o alto e o baixo, cessem de ser percebidos como contraditórios”.
O que é o “ponto do espírito”? Algo abstrato ou concreto? Pode ser visto, experienciado? Sim. Na opinião de Octavio Paz, “Filho do desejo, nasce o objeto surrealista: a reunião de montanhas é outra vez cena de gigantes, as manchas na parede ganham vida, põem-se a voar e são um exército de aves que, com seus bicos terríveis rasgam o ventre da formosa acorrentada.” Os deslocamentos de objetos, caminhar ao acaso e ter encontros inesperados, o método paranóico-crítico de Salvador Dali, os registros de sonhos, a escrita automática, segue Paz, não são “exercícios gratuitos de caráter estético”, pois “Seu propósito é subversivo: abolir esta realidade que uma civilização vacilante nos impôs como a só e única verdadeira”. A destruição da falsa realidade revela outra, que “se levanta de sua tumba de lugares comuns e coincide com o homem”, na qual “somos de verdade”. Nela, “o mundo já não se apresenta como um ‘horizonte de utensílios’, mas como um campo magnético.”
Imagem: Artista desconhecido, via Pixabay
Texto via Surrealismo Solúvel 
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cronicasheathens · 7 years ago
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A Filosofia de Loki: Como Reconhecer um Traidor  — Crônicas sobre o paganismo germânico no Brasil 11
Por Seaxdēor
Um trickster é um arquétipo de personalidade bastante popular nos dias atuais, e famosos personagens como Coringa e Duende Verde, ao lado do clássico vilão da Marvel influenciado pela mitologia islandesa, são idolatrados em nossa sociedade moderna graças ao sucesso da cultura pop. Mas cabe perguntar: apesar de fazer coisas positivas de maneira não intencional ou de artimanhas, Loki é mesmo uma figura moralmente exemplar na visão de mundo dos povos germânicos, e, consequentemente, no paganismo dos dias atuais?
Farei aqui um esforço duplamente diferente para interpretar a função de Loki no paganismo moderno: primeiro entendendo a figura desse trickster de acordo com as próprias evidências e o que podemos recuperar da visão de mundo germânica em seu tempo anterior à conversão, e apenas nela; segundo, e decorrente disso, a análise será feita com um enfoque tribal. O objetivo disso é chegar a entender o mais próximo possível quem era Loki dentro do seu próprio contexto nativo.
A figura de Loki enquanto personagem que permeava o imaginário antigo, está um pouco longe de ser a mais contraditória entre os seres mais poderosos das religiões dos povos germânicos, havendo um trickster mais bem-sucedido, como veremos ao final do texto. Todavia, nos mitos preservados em nórdico antigo, Loki aparece em uma soma de ocasiões importantes e fundamentais, como a construção do muro de Ásgarðr (Ēseġeard), o nascimento do cavalo de Óðinn (Wōden), a confecção das armas divinas, como a lança Gungnir e a marreta Mjǫllnir, a disputa de insultos protagonizada por ele no poema Lokasenna, a morte de Baldr, e a própria batalha final, o Ragnarǫk.
Se considerarmos de maneira superficial, podemos correr o risco de alinhar Loki com o שָטָן (Satã) dos judeus, e em especial aquele do satanismo moderno, que tornou-se para muitos um símbolo de liberdade dentro da sociedade cristã. Todavia, a dinâmica das tribos germânicas era radicalmente diferente da nossa, e entender isso ajuda a explicitar melhor como de fato Loki foi compreendido nos tempos antigos bem como seu significado.
A primeira grande divergência entre os tempos tribais e a civilização pós-romana se dá na noção de individualidade. Hoje, o indivíduo é elevado a um grau metafísico, e a vontade e experiência subjetivas são algo que está acima de toda e qualquer coisa. O problema é que muitos julgam-se permitidos por alguma razão de limitar ou controlar a vontade de outros. Ainda assim, cada ser humano é entendido em si mesmo como um microcosmo, uma mônada, um ponto onde tudo se encontra. O indivíduo é a medida de tudo.
É aqui que temos a cisão principal com o modo de viver antigo dos germânicos. Antes da conversão ao cristianismo, a visão de mundo de diversos destes povos fazia-os entenderem-se como insuficientes em sua própria “individualidade”. Eles entendiam-se como a soma de vários espíritos que compunham seu corpo material e espiritual, por um lado. Por outro, para fins legais, haviam círculos sociais, sendo a família a unidade legal básica, e não o “indivíduo”. Isso faz com que, por exemplo, se alguém da família fosse de alguma forma molestado, os seus parentes tinham o dever legal de vingar a injúria. “Honra” era a manutenção da proteção ou vingança por parte dos familiares contra os que atacavam aqueles que estavam no mesmo innanġeard que esses familiares. A família e seu lar (hearth) eram o centro do innanġeard.
O innanġeard, é um termo em inglês antigo cognato do nórdico antigo innangarðr, o qual significa “cercamento interno, jardim interno”, segundo Eric Wōdening em sua obra We are our deeds. O innanġeard é a unidade básica da sociabilidade pagã e proteção legal nos tempos antigos. Era uma espécie de “indivíduo” legal, mas composto de várias pessoas com um laço de proteção mútua (friþ) entre si. O innanġeard era expresso fisicamente pelos próprios limites (cercas) que delimitavam a propriedade rural habitada pelos povos germânicos.
Mas porque os germânicos davam tanto valor ao coletivo e quase nenhum ao indivíduo em grande parte do seu cotidiano? Vários fatores podem ser enumerados, mas a ausência de um Estado centralizado como nos dias atuais transformava cada círculo de innanġeard responsável por defender-se do ūtanġeard, ou seja, o mundo não pertencente, externo ao innanġeard. É do ūtanġeard que vêm os invasores, os “lobos”, os “foras-da-lei” (butan ǣ) e tudo que é identificado como negativo, desestabilizador, perigoso, destruidor da friþ do innanġeard. Dentro do innanġeard, todavia, era onde a lei (ǣ) do grupo tribal e seus costumes (þēaw, sidu), bem como a proteção mútua (friþ), eram assegurados.
O coletivo tinha a função de manter o innanġeard protegido. Não existiam forças policiais ou exército fixo; a sociedade, apesar de guerreira, não era refém de uma força militar independente e mais ou menos alheia às camadas trabalhadoras e produtoras. Logo, era cada família ou grupo de famílias (clã, tribo) por si; fora das famílias só havia uma natureza inóspita, lobos, e tribos ou civilizações dispostas a escravizar ou matar estrangeiros que pudessem lhes oferecer perigo (embora isso não deva ser associado à xenofobia moderna, que é um fenômeno bastante diverso).
Os gigantes (ēotenas, para os anglo-saxões, jǫtnar, para os nórdicos) são, junto dos lobos, o símbolo máximo do ūtanġeard e seu potencial destruidor. A batalha entre os deuses (ēse, para os anglo-saxões, æsir para os nórdicos) e os gigantes não é uma batalha de “bem” versus “mal”. Ao menos não no sentido cristão que estamos acostumados. Para o cristianismo, influenciado pela doutrina platônica, o bem só pode vir de seu deus único, tudo que emana desse deus único é bem ou bom, tudo que não emana dele é mal ou mau. Existem dois polos, um é o da criação e ordem, do Bem, do deus único e onipotente; o outro é o da destruição e desordem, do Mal, de Satã. Para os antigos heathens, a coisa era um tanto mais simples. Bem e mal eram simplesmente entendidos num sentido prático: aquilo que ajuda na manutenção do bem-estar das pessoas de um innanġeard é o que é considerado bom ou benéfico; aquilo que era considerado mal era o que prejudicava e causava danos às pessoas de um innanġeard. Disso, como Eric Wōdening destaca, o Bem é igual ao innanġeard, à lei (ǣ), ao þēaw e ao sidu.
Então, essa batalha entre bem e mal, no sentido cristão, nunca existiu entre os antigos. Ainda assim, havia uma batalha do bem enquanto innanġeard e do mal enquanto ūtanġeard (embora o ūtanġeard represente o mal apenas quando é uma ameaça o innanġeard). Os ēse são a parte mais sagrada do innanġeard dos heathens tribais, assim como era nos tempos anteriores à conversão. Um prejuízo aos ēse significa um prejuízo aos humanos no innanġeard. E os ēotenas são conhecidos pela sua vontade de subtrair riquezas dos ēse e enfraquecê-los. Basta lembrar do episódio da construção do muro na cidade dos deuses reproduzida nos relatos islandeses, do sequestro de Iðunn, do roubo do Mjǫllnir, e perceberemos que sucessivas vezes os ēotenas estão tentando subtrair dos ēse sua força; em especial lhes demovendo a fertilidade, representada por deusas frequentemente exigidas nas pressões exercidas pelos ēotenas.
Loki frequentemente está no centro de tudo isso. Em algumas situações, ele próprio é o elemento desestabilizador. Da mesma forma que o ūtanġeard não é obrigatoriamente mal, mas tem a possibilidade de o ser, assim são os ēotenas. Isso explica porque Loki foi aceito dentro do innanġeard dos ēse (ou æsir, em nórdico antigo), em vez de ser considerado mal (no sentido cristão) em si mesmo, por ser um ēoten. Loki tem um pacto com Óðinn (Wōden), e o acompanha em suas viagens através do mundo mitológico dos germânicos.
Todavia, Loki frequentemente age como um ser do ūtanġeard. Loki frequentemente age tendo em vista prejudicar o innanġeard dos ēse, o Ēseġeard. Loki aparece sempre como um bufão, onde sua postura negativa é transformada em caricatura, o que comumente nos faz achar que suas atitudes são aprováveis, porque rimos delas, sem conseguir entender com profundidade o tipo de crime que Loki estava cometendo. Loki não age em vista de proteger o seu innanġeard, como a honra germânica exige; Loki age apenas em benefício próprio. Mesmo quando é forçado a agir em favor do innanġeard, em não raras ocasiões o faz a contragosto, ou por explícita e violenta ameaça ou coerção.
Dentro de nossa sociedade moderna, parece legitimamente justo que Loki seja uma figura exemplar, a dizer, alguém que pensa em si, alguém esperto. Nossa sociedade é a sociedade onde indivíduos estão em luta para submeterem-se mutuamente, mesmo no ambiente familiar. Nossa sociedade não é composta por pessoas compondo famílias, as quais compõem innanġeardas, os quais compõem tribos. A resposta fácil é: “precisamos adaptar a nossa religião ao nosso contexto histórico e social”, o que eu concordo que é válido em muitos casos, mas não aqui. Estamos falando do centro do heathenry, daquilo que mais sagradamente o define: o innanġeard.
Kindreds nascem e caem a todo momento no Brasil, e eu acredito que em grande parte isso se deve à ausência de uma relação de sacralidade entre o grupo, o estabelecimento de um innanġeard. O innanġeard significa nunca, sob nenhuma condição romper o grupo, e lutar pelo bem-estar coletivamente. Um kindred é, ou deveria ser, literalmente uma família, não apenas uma igreja. É do innanġeard que emana a sacralidade de tudo; como já foi dito, os ēse estão no centro do innanġeard e deles a sacralidade emana para os membros.
Uma das coisas mais sagradas é a manutenção da palavra e dos juramentos. Loki frequentemente quebra sua palavra; pelo qual inclusive tem seus lábios costurados por anões, na passagem do roubo do cabelo da deusa Sif, e da confecção das armas divinas. A quebra da palavra é um dos crimes mais severos, sendo, em vida, punido com o banimento, a transformação em fora-da-lei, o que implicava que se o banido fosse morto, seu assassino não sofreria punições legais. Ainda na mitologia islandesa, o dragão Níðhǫggr é encarregado de estraçalhar e se alimentar de assassinos, traidores e quebradores de palavra, três coisas que Loki representa, e eram considerados os maiores crimes; os únicos capazes de impedir a vida pacífica após a morte, ou o treinamento militar de heróis escolhidos pelas wælcyrian, o qual obviamente era menos comum.
Falando especificamente sobre assassinato, Loki foi o responsável pela morte de Balder (Bældæg ou Bealdor para os anglo-saxões); foi obra de Loki todo o plano para matá-lo e mantê-lo morto, com o qual foi punido com o banimento e o castigo da serpente gotejando veneno sobre seu corpo. Loki deliberadamente matou um membro de seu innanġeard, um crime simplesmente imperdoável, numa sociedade em que o innanġeard é sagrado.
Mas afinal, qual a função de Loki? Por que ele têm tanto destaque, aparece tantas vezes? Não seria esse seu lado “negativo” uma oposição ao lado “positivo” gerando um equilíbrio produtivo, como vemos em outras correntes espirituais?
Eu particularmente acredito que Loki seja um personagem literário, antes de uma entidade digna de culto. Todo aquele que já escreveu uma história sabe como certos personagens são exigidos em determinados contextos, e como eles precisam surgir ou ser encaixados. Os mitos islandeses carregam um jogo de metáforas complexas com funções sociais, éticas, rituais, morais, etc. Para uma sociedade que considerava o seu innanġeard algo sagrado, creio que resta pouco espaço, e nenhuma evidência, para se afirmar que Loki é um ser que recebia ou poderia receber culto. É possível que Loki fosse sim enxergado como uma espécie de entidade como um espírito poderoso ou ēoten, mas o que ele representa é o individualista, é o lobo, é aquilo que a tribo não deseja dentro de si. As mitologias de diversos povos contam não apenas sobre seres louváveis ou cultuados; elas contam também sobre aquilo que elas não desejam em seu meio social.
Loki, sob um ponto de vista heathen tribal representa assim não parte de uma dualidade que desestagna; ele representa, junto de muitos dos ēotenas, o aspecto negativo do ūtanġeard, aquilo contra o qual o innanġeard precisa se proteger para assegurar a sua própria manutenção. Os ēse por sua vez respondem a esses ataques e através de seus atos conseguem criar situações produtivas. O benefício obtido das traquinagens de Loki é um mérito do innanġeard dos ēse e não de uma suposta dualidade necessária da figura de Loki.
Loki é como aquele que se aproxima de nós, e tenta subtrair-nos sorrateiramente a reputação, o respeito, o bem-estar, enquanto se finge de amigo. Loki é aquele traidor disfarçado que não gosta de ser chamado de traidor; é aquele que está associado aos ēotenas inimigos, e, como dito no poema Hávamál, nunca se deve ser amigo do amigo de um inimigo. Loki é aquele que está sempre tramando em silêncio, por inveja, por pura vontade de prejudicar, maquinando para destruir innanġeard de um grupo, seja uma família (cyn) ou um kindred, ou associação de heathens. Loki, assim como esse tipo de pessoa, merece apenas o castigo e o banimento do innanġeard, de um ponto de vista tribal. A visão de mundo dos germânicos, como demonstrado nos relatos islandeses, nunca teve nenhuma piedade de traidores, quebradores de palavra, e desestabilizadores do innanġeard tribal. Não é a toa que Loki sempre perde em seus atos de trapaça, sempre sendo capturado, punido, enquanto outro grande trickster é tão bom no que faz que jamais falha. Esse trickster exemplar quase nunca é compreendido ou percebido: seu nome é Wōden.
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heathenrytribal · 7 years ago
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Aceitação da realidade
A forma de religião que a sociedade contemporânea mais está acostumada é a das religiões modulares, nas quais a instituição religiosa possui sua própria estrutura, e conjunto de valores, os quais podem ser transportados através do tempo e espaço de forma mais ou menos intacta, indiferente da paisagem, clima, cultura, idioma e estrutura social local. Esse tipo de religião Bil Linzie chama de religião modular. Mas o Heathenry tribal é uma religião de um tipo um tanto diverso, colocando grande importância no elemento local, cultura, idioma, estrutura social e tudo que para as religiões modulares pode ser ignorado: assim, o Heathenry tribal é uma religião étnica, mas étnico no sentido de tribal, popular, e não racial.
Por ser uma religião tão ligada à comunidade humana, seus costumes, maneira de pensar, idioma, cultura e história, o Heathenry tribal dificilmente consegue separar aquilo que é secular daquilo que é religioso, e aquilo que é religioso no Heathenry tribal assume um significado bastante diferente daquilo que nos foi legado pelo cristianismo, assumindo menos conotações de fé incontestável em dogmas abstratos, e aproximando-se mais da reinserção do homem na ordem natural das coisas, na observação da natureza e cumprimento de suas obrigações enquanto ser pertencente e dependente dessa ordem.
Enquanto religiões reveladas buscam ardentemente amedrontar e converter pessoas ameaçando-as com suposições para após a morte, o Heathenry tribal está mais preocupado com o desenvolvimento da comunidade humana e preservação e respeito à memória dos ancestrais, o cuidado com a terra à sua volta que abriga os landvættir, a preservação e proteção das pessoas que compartilham com cada heathen o innangarðr, todos os fatores os quais influenciam a vida cotidiana do heathen tribal, que é o verdadeiro escopo de sua prática: alcançar o estado de friðr, abundância, bem-estar e harmonia social do innangarðr.
Assim enquanto religiões que rejeitam a realidade oferecem várias alternativas e consolos para depois da vida e do dia-a-dia, o Heathenry tribal, em oposição a isso, é muito mais preocupado com a vida material e o “estar aqui”. Os próprios ancestrais eram vistos ligados à existência cotidiana, beneficiando a vida de sua comunidade humana e se beneficiando disso, pela outra via.
Os destinos além-vida parecem um tanto confusos e complexos, se olharmos as fontes antigas, e a grande razão disso é justamente essa ênfase que a morte tinha, não em si mesma, mas na capacidade de se unir e ser incorporada na vida material dos heathens tribais antigos. Para o Heathenry tribal é mais importante se viver com honra, respeitando e protegendo seu innangarðr do que buscar uma salvação individual depois da vida, pois a ideia essencial dos costumes antigos é melhorar e propiciar uma vida mais plena em nosso mundo, principalmente.
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bruxapaga · 11 days ago
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Heathenismo e Vertentes
O Heathenismo é uma denominação ampla que se refere a um conjunto diversificado de crenças pagãs originárias entre os povos germânicos e nórdicos, antes da cristianização. Este termo abrange não apenas as tradições nórdicas, mas também as práticas de outros grupos germânicos, como os anglos, saxões e frísios. O Heathenismo é frequentemente caracterizado pela veneração de deuses, espíritos da natureza e a conexão com a terra e suas energias.
Dentro do Heathenismo, existem duas vertentes principais:
Ásatrú: Uma forma específica de Heathenismo que se concentra na adoração dos deuses nórdicos conhecidos como os Aesir. Os praticantes de Ásatrú realizam rituais para honrar deuses como Odin, Thor e Freyja, buscando sua proteção e sabedoria em suas vidas cotidianas.
Vanatrú: Esta vertente enfatiza a veneração dos deuses Vanir, associados à fertilidade, prosperidade e natureza. Deuses como Njord e Frey são centrais para aqueles que praticam o Vanatrú, e seus rituais frequentemente celebram a conexão com a terra e os ciclos naturais.
Mas há outras formas e práticas que podem ser consideradas como "subculturas" ou "movimentos" dentro do Heathenismo, alguns exemplos:
Forn Sidr (Velha Tradição): Comum nos países escandinavos, é uma prática mais genérica do Heathenismo, sem se concentrar exclusivamente em Aesir ou Vanir, mas sim na preservação de tradições nórdicas em um contexto mais amplo.
Theodism: Um movimento Heathen que busca recriar e praticar as estruturas sociais e religiosas das tribos germânicas antigas. O foco é na reconstrução histórica e na reconstituição da hierarquia tribal.
Rökkrtrú: Uma vertente em que os praticantes veneram deuses e entidades ligados às forças destrutivas ou caóticas da mitologia nórdica, como Loki, Hel e os gigantes.
— Fernanda K.
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bruxapaga · 2 days ago
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A Busca de Odin pelo Conhecimento
Muito antes do começo dos tempos, quando o mundo ainda se formava, Odin, o Pai de Todos, caminhava inquieto. Ele, que já era o mais sábio entre os deuses, sentia um vazio que nem a glória das batalhas, nem o poder do trovão poderiam preencher. Sabia que, para governar os reinos e proteger seu povo dos perigos ainda desconhecidos, precisava de algo que ultrapassava o poder físico: precisava de sabedoria, a verdadeira visão além do que é mortal.
Em sua jornada, chegou ao poço de Mimir, o guardião do conhecimento mais profundo e das águas que tocavam as raízes da Yggdrasil, a árvore que une os nove mundos. Este poço continha a essência dos segredos antigos, mas beber de suas águas tinha um preço. Ao encontrar Mimir, o sábio guardião, Odin foi direto:
— Quero beber das águas do conhecimento, Mimir. — E seu tom não era de pedido, mas de quem conhece a importância do que busca.
Mimir o observou em silêncio. Para acessar aquela sabedoria, Odin teria que renunciar a algo precioso, uma parte de si que não poderia ser recuperada. Sem hesitar, Odin ofereceu o que poucos jamais sacrificariam: um de seus olhos, pois sabia que o valor do que buscava era maior do que a visão mortal.
Com o sacrifício feito, Mimir o permitiu beber do poço. As águas tocaram seus lábios e, naquele momento, Odin viu além da superfície do mundo, compreendeu os segredos das runas, as profecias sobre o destino dos deuses e dos homens, e percebeu o peso do futuro que viria. Ele agora carregava a sabedoria, mas seu olhar mostrava um vazio, uma profundidade que revelava seu sacrifício.
Odin retornou para Asgard com um novo semblante, mais ciente de seu papel, das provações que viriam e das responsabilidades que ele, o Pai de Todos, teria de enfrentar. Seu sacrifício pelo conhecimento ecoa nas lendas e lembra que, para atingir o verdadeiro saber, há sempre um preço a pagar.
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bruxapaga · 4 days ago
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Völvas e Seidkonas: Guardiãs da Magia Nórdica
Völvas
As völvas eram mulheres respeitadas e poderosas, vistas como xamãs e profetisas na cultura nórdica antiga. Seu papel envolvia acessar o conhecimento dos deuses e espíritos, atuando como intermediárias entre os mundos. Além de profecias, elas orientavam comunidades e líderes em momentos de crise, usando magia para prever ou até influenciar o destino.
Características das Völvas:
Profecia e adivinhação: A prática da spá, através da qual viam o futuro.
Viagens espirituais: Acreditava-se que podiam transitar entre o mundo dos vivos e o dos mortos.
Uso de objetos ritualísticos: Como varas e cajados, símbolos de seu poder e sabedoria.
Seidkonas e Seiðr
A Seidkona é uma mulher praticante do Seiðr, uma forma específica de magia ritual. Embora as völvas também pudessem praticar o Seiðr, ele é uma técnica mais associada à manipulação de sorte, destino e energias ocultas.
O Seiðr envolvia um estado de transe, alcançado por meio de cantos e danças ritualísticas, permitindo que a praticante canalizasse forças sobrenaturais. Curiosamente, essa prática não era limitada às mulheres — embora considerada tabu, até Odin é descrito como um praticante do Seiðr.
Características do Seiðr:
Trabalho com a sorte e o destino: Influenciar ou alterar o curso dos eventos.
Manipulação de emoções e sonhos: Tanto para cura quanto para controle.
Prática em grupo: Muitas vezes realizada com auxílio de cantos e rituais comunitários.
Semelhanças e Diferenças
Função espiritual: Ambas as figuras eram mediadoras entre os mundos espiritual e material.
Gênero: Embora as völvas fossem quase exclusivamente mulheres, o Seiðr era praticado por ambos os gêneros, com restrições sociais aos homens.
Natureza das práticas: A völva era mais voltada para profecia e orientação, enquanto a seidkona manipulava energias e sorte.
O Desaparecimento das Völvas e Seidkonas
Com a cristianização da Escandinávia e de outras regiões germânicas, as práticas pagãs começaram a ser marginalizadas e proibidas. A Igreja associava essas figuras espirituais à feitiçaria e ao mal, e o uso de magia se tornou um crime severamente punido. Mulheres que mantinham práticas similares àquelas das völvas e seidkonas eram frequentemente acusadas de bruxaria e perseguidas durante os séculos seguintes.
Além disso, a mudança cultural enfraqueceu os cultos locais e rituais antigos, à medida que os valores cristãos se consolidavam. A nova religião suplantou o paganismo, e com o tempo, tanto o conhecimento quanto os rituais das völvas e seidkonas foram esquecidos ou reprimidos.
Porém, hoje, há um crescente resgate dessas tradições por meio de movimentos neopagãos como o Ásatrú e outras práticas espirituais nórdicas modernas, que buscam preservar e reinterpretar essas antigas sabedorias para os tempos atuais.
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bruxapaga · 12 days ago
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Heathenismo
O heathenismo (ou heathenry) é um termo usado para se referir ao neopaganismo nórdico ou germânico. Ele revive as tradições espirituais e culturais dos antigos povos escandinavos e germânicos pré-cristãos, como os vikings. O que acreditam os heathens?
O heathenismo não é uma religião centralizada com dogmas fixos, mas sim um conjunto de tradições focadas nos deuses e mitos nórdicos e germânicos. Além dos deuses, os heathens honram os ancestrais, espíritos da natureza (como elfos e landvættir, guardiões da terra), e os Nornir, entidades que tecem o destino.
Como são os rituais?
Os rituais mais comuns incluem:
Blóts: Cerimônias de oferendas aos deuses ou espíritos.
Sumble: Um ritual social onde se faz brindes em homenagem aos deuses, aos ancestrais e à comunidade.
Rituais sazonais: Celebrações ligadas a ciclos naturais, como solstícios e equinócios, marcando as mudanças das estações.
Heathens valorizam muito a comunidade e os laços familiares, mas alguns preferem praticar de forma mais individual, conectando-se pessoalmente com os deuses e a natureza.
Heathenismo como paganismo
Paganismo é um termo mais amplo. Ele engloba práticas que celebram a natureza, ciclos da terra e a conexão com o espiritual por meio de muitos deuses e forças. Heathenismo é uma vertente específica, focada nas tradições dos povos nórdicos e germânicos e nas suas divindades
Então, todo heathen é pagão, mas nem todo pagão é heathen. Um druida ou wiccano, por exemplo, também é pagão, mas seguem tradições diferentes. — Fernanda K.
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asatrueliberdade · 5 years ago
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"A Natureza não existe"
Dizer isso pode soar um pouco estranho vindo de um pagão, mas tenha paciência e se aconchegue junto ao fogo do nosso lar, tome uma porção de comida e receba nossa mais sincera hospitalidade enquanto lhe conto melhor sobre isso.
Não quero aqui falar sobre “o homem” como uma entidade abstrata, mas, durante muito tempo, vários grupos humanos ancestrais que tive o prazer de conhecer suas histórias, viveram sem sequer uma palavra para “Natureza”.
Isso à primeira vista pode parecer absurdo e contraditório, porque temos a ideia razoavelmente acurada de que eles eram povos que viviam do que chamamos de Natureza e para o que chamamos de Natureza, e seria bastante estranho se eles sequer a percebessem como uma entidade separada.
Essa divisão entre Homem versus Natureza é produzida na cultura ocidental como uma consequência do modo de pensar romano, ainda no grego physis (Φύσις) é usado para se referir à totalidade integrada das coisas existentes, incluindo-se aí o humano, que seria apenas a parte dotada de pensamento ou racionalidade (λόγος). Mas é ainda entre os gregos que a physis, sua forma de entender a Natureza, passa a se opor ao nomos (νόμος), a lei ou costume, isto é, à “civilização”.
Mas o que essa discussão nos interessa enquanto heathens germânicos, sejamos anglo-saxões ou nórdicos? O fato de que ao expandir sua “civilização” e cultura, tanto pela espada como pela Bíblia, os romanos fizeram com que adquiríssemos essa noção de separação do meio natural.
O idioma anglo-saxão carece de uma palavra nativa para “Natureza”, bem como o nórdico antigo o importa do latim. Esse fenômeno não é restrito aos germânicos, os povos indígenas do Brasil que conheço, por exemplo, não possuem uma palavra para “Natureza”.
Isso porque a “Natureza” como algo abstrato e separado do humano, contra o qual estamos constantemente lutando, não era exatamente vista como querem Hobbes, Locke, Marx e outros pensadores que tendem a colocar essa separação ocidental como um fato essencial no processo “evolutivo” dos seres humanos.
Nas culturas nativas, e os paganismos são um tipo de cultura nativa, a Natureza não está separada de nós, mas os diversos entes animais, minerais, vegetais, fungos, etc. que a compõem são vistas em estreita relação com os humanos. Os humanos não se veem como esferas individuais mas como rizomas, raízes profundas, o tempo todo interrelacionando-se com o outro e definindo-se a partir dessa relação.
Nesse sentido, o que nós chamamos de “Natureza” — aquilo que não é humano, que exploramos em vez de interagir —, em oposição à “Sociedade” — aqueles com quem interagimos socialmente — não exatamente existe. A “Natureza” é parte da sociedade; ancestrais podem habitar em árvores e montes, um carvalho poderia ser testemunha de juramentos e casamentos, o Mar era visto com temor, os trovões as batidas da marreta do campeão dos deuses.
Deuses esses que em si faziam parte do mundo, pertencendo a ele imanentemente, ou seja, não eram espíritos transcendentais e afastados do que aqui acontece. A Natureza é cheia de personalidades, e então não é apenas um véu que mistifica e oculta, mas o próprio revelar-se daquilo que é sagrado, isto é, daquilo que é vivo e proporciona vida.
E assim, a “Natureza” era uma ideia dispensável, porque, de fato, a relação dos povos pagãos com a Natureza era tão profunda que eles não conseguiam se enxergar como algo separado dela, um ente assustador contra o qual lutavam absurdamente.
Penso eu que essa seja uma linda lição que os antigos povos pagãos têm a nos ensinar, principalmente numa época em que aqueles que seguem cegamente o deus pregado decidiram destruir completamente o que chamam de Natureza, que para nós pagãos, é a parte mais sagrada de nosso “self”, e não uma mera fonte de recursos a ser destruída sem reflexão.
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asatrueliberdade · 6 years ago
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Esta página tem sido bem menos alimentada do que eu gostaria, e isso se deve a vários motivos. Eu estou num processo de aprendizado e aperfeiçoamento constante de meus conhecimentos e práticas e nem sempre a Wyrd é benevolente conosco, testando-nos inúmeras vezes. Adiante, seguem algumas reflexões que seriam impossíveis sem os bons amigos pagãos e politeístas que tenho e com os quais converso, e os créditos desse texto também pertencem a eles. E exatamente isso nos traz ao texto de hoje. Eu sou indubitavelmente um politeísta, e vivo na minha pele algumas dificuldades impostas por assumir essa identidade num local onde existe bem pouca tolerância para com algo não cristão. Mas o politeísmo é olhado com desdém e suspeição, nada mais óbvio, uma vez que ele foi morto há tanto tempo na Europa, e os europeus que nos colonizaram e rasgaram nossa história ao meio também apagaram as religiões nativas em sua quase totalidade. Deuses antigamente poderosos foram totalmente esquecidos, alguns, como Seaxnēat, têm apenas singelas menções de seu nome em contextos que sugerem seu antigo poder, e as tumbas do mistério engoliram quase tudo que se sabia no passado. Algumas poucas divindades como o Óðinn nórdico, ou divindades gregas e romanas tiveram um destino um pouco menos cruel, permanecendo na memória de alguma forma ou de outra, seja em escrito, seja em imaginário popular. Mas novos deuses foram criados. Talvez não reconhecidamente admitidos como divindades, talvez não tratados conscientemente de forma religiosa, esses novos deuses, a economia, o mercado, o dinheiro, o bem-estar, a família perfeita, a prosperidade econômica, o smartphone, a Netflix (e a lista é enorme daqui em diante), todos atraem nossa atenção e forças psicológicas, de uma forma muito similar a cultos. Rituais acontecem o tempo todo em nossa sociedade, mesmo quando não reconhecidos como tais: de trotes a calouros em universidades a formatura. Não buscamos mais o mestre das ervas e a sábia, à bruxa, mas vamos ao médico e à psicóloga. Xamãs e magos não são mais muito temidos, mas quase ninguém é capaz de falar grosso com um advogado ou policial. Muitas superstições pagãs morreram, algumas permanecem, mas a crença de que o trabalho dignifica mesmo quando humilhante, entre outras, tomaram seus lugares. Consideramos inumano matar um animal para oferecer suas partes ou energia vital a divindades, mas são poucos os que abrem os olhos para o assassinato de pessoas marginalizadas como mulheres, negros, gays e transsexuais, e dão para isso alguma importância. Os velhos costumes, as velhas crenças foram mortos, mas de certa forma sempre renascem. Parece inato da natureza humana agir da forma que age, apenas trocando os objetos para os quais envia sentimentos similares. Os antigos cultos sempre encontram formas de renascer, adaptados à realidade em que são condicionados. O cristianismo do século I não é o cristianismo de 20 séculos depois, por mais que ele se julgue como a Verdade única. Por mais que o deus cristão seja o mais cultuado no ocidente, nem de longe ele conseguiu todos os seus objetivos, descritos em seus livros. Nossa era é também aquela em que um ateísmo dogmático e impositivo se ergue lentamente (ou não tanto assim, em alguns momentos) contra qualquer coisa que, estranhamente, não seja similar ao cristianismo sem deus que os ateus praticam. Todos os seus costumes permanecem os mesmos (veja-se as ideias de um Auguste Comte, por exemplo), toda a visão de mundo permanece quase similar. Não há uma mudança real na forma de ver e sentir o mundo. A Natureza continua não-sagrada e sem valor. O homem continua como medida e coordenador de tudo. O intelecto é o novo deus. Mas novas mitologias surgem, também. Diversos universos de fantasia inspirados no passado, como os de Tolkien, Lovecraft, Warcraft, Gaiman e Harry Potter. Raramente eles são tomados como verdade (ainda bem!) embora muitas vezes tragam dentro de si ensinamentos, histórias, reflexões, num formato narrativo, agradável à mente humana, mas que já não intentam ser tomados como sagrados, como uma explicação real de tudo que rodeia o humano como as culturas pagãs antigas. E nós, assumidamente politeístas, pagãos, ou ambas as coisas, nos encontramos no meio desse caos. Por mais que essas reminiscências culturais do paganismo se remanifestem, elas não são suficientes para muitos de nós. Nós nos voltamos para os cemitérios de deuses, chamamos pelos seus nomes, e aguardamos uma resposta. Muitas vezes elas vêm em palavras, muitas vezes em coisas sutis. Às vezes o vento na pele, nas folhas de uma árvore, um animal, um objeto que cai, qualquer coisa, funciona como um sinal de resposta. Muitas vezes não nos perguntamos o que "ser pagão" ou "cultuar um deus pagão" significa. Muitas vezes seguimos apenas o instinto e fechamos totalmente os olhos e ouvidos para a razão, onde ela não é necessariamente algo que não é bem vindo. O paganismo é uma comunidade nova, jovem e que muitas vezes não se reconhece como tal. Entre o paganismo antigo e o novo existem, no mínimo, de 500 a 2.000 de cristianismo, e nem sempre os deuses antigos parecem gostar da forma que são chamados, das funções que querem lhes dar, e da maneira que são vistos. De seres sangrentos em busca de poder, geralmente uma versão mais light e digerível ao cristianismo é comercializada. Nós muitas vezes tememos a essência daquilo que queremos cultuar e o negamos. Lógico que não quero dizer que os deuses são maus. Na verdade, essa divisão foi algo criado pelo cristianismo. O que era mais louvado nos deuses antigos tornou-se objeto de desdém sob o cristianismo. Temos inclusive dificuldade em enxergar a sacralidade na Natureza e seus seres visíveis e não-visíveis ou em nossos ancestrais. Além disso, as entidades cultuadas em cada vertente do paganismo são únicas, individuais, bastante diferentes umas das outras. Nem todas elas são divindades da glória e poder, algumas só são voltadas para a terra e seu cuidado, outras para o trabalho, ou quem sabe, fazer um fogo para aquecer a comida. Mas a pergunta que fica é: qual o paganismo queremos? O "paganismo tecnológico" inconsciente que é oferecido pela sociedade do consumo? O paganismo do Eu? Ou o paganismo da terra, das criaturas sagradas, dos ancestrais e dos deuses? O paganismo onde esses seres são ouvidos, são vivos, e continuam sua história, sendo revividos por seus cultuadores? Existem muitos paganismos. Não quero questionar qual é, e se há, um mais legítimo. Mas existe o paganismo que eu quero para a minha vida pessoal e o que eu não quero, assim como cada um tem direito de ter o seu (mas, sonho que se sonha junto, é realidade, vale lembrar). E eu decido ouvir os conselhos antigos. Eu acho que eles ainda têm muito a nos ensinar. Inclusive que nosso "eu" e nossa "vontade pessoal" não é assim tão poderosa como queremos que seja. Nem tudo é nosso universo mental. Por Daniel Seaxdeor Na Imagem: Ídolo de Borddenbjerg, encontrado na Dinamarca, e datada de cerca de 600 anos antes da nossa Era.
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asatrueliberdade · 6 years ago
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"Claude Lecouteux afirma: “No norte da Europa, os mortos que se manifestaram em outros lugares além dos sonhos não eram, portanto, ectoplasmas, reflexos, imagens ou ilusões”. Era o mesmo para outros tipos de espíritos — espíritos da floresta, águas, montanhas, casas e assim por diante. Benjamin Thorpe escreve sobre um kobold que reorganiza as posições dos que dormem em suas camas à noite — um ato físico em vez de uma ilusão".
Citação de: The Light in the Underworld: “The Moon” by the Brothers Grimm, The Cunning Wife. [thecunningwife.com/the-light-in-the-underworld-the-moon-by…/] Imagem: "A Princesa na Floresta", por John Bauer.
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asatrueliberdade · 6 years ago
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A gente aqui super admira e curte o historical reenactment (traduzido como "reconstrucionismo histórico" ou "reencenação histórica"). Existem grupos que fazem isso de forma lindassa!
Mas infelizmente a comunidade pagã muitas vezes confunde isso com o reconstrucionismo politeísta, que é outra coisa: uma abordagem da religião, e não apenas vestir-se com roupas da época pagã.
Você pode ser um reconstrucionista politeísta sem precisar ter equipamentos da época pagã! O reconstrucionismo politeísta se preocupa em entender a mentalidade pagã e aplicá-la nos dias atuais, adaptando-a às nossas condições, e claro está, adaptando nossas situações para um ambiente que propicie um paganismo mais próximo daquilo que era vivido na época pagã.
Nossa época atual não possui nenhum respeito pela natureza, a trata como algo inferior, não sagrado, do qual o homem usa sem responsabilidade e nenhum vínculo. Para os antigos, sem nenhuma romantização do passado, a terra era uma entidade sagrada, a qual propiciava a vida; o subsolo era a casa dos ancestrais, os quais ajudavam a manter a fertilidade. São ideias assim do passado que, comparadas com hoje, exigem uma postura diferente e não meramente "adaptar o paganismo ao apartamento".
O reconstrucionismo politeísta não é meramente sobre ler textos acadêmicos; a sua experiência pessoal continua tendo importância; da mesma forma que você pode ler um livro esotérico por simples conhecimento, você pode ler um livro acadêmico por simples conhecimento; mas você pode ler qualquer um dos dois textos buscando ensinamentos e maneiras sobre as quais basear as práticas.
Nós reconstrucionistas pedimos respeito; o mesmo respeito que, damos a todos, exceto àqueles que se acham superiores a nós, quando estamos cansados de sermos desrespeitados e ignorados. O paganismo pode e deve ser plural; visões diferentes não devem se atacar, a não ser que queiramos ser exatamente como os cristãos que frequentemente criticamos. Aprenda a tolerar e não querer silenciar aqueles que discordam educadamente de você; e simplesmente se afastar daqueles que o fazem sem respeito. É o que eu, como reconstrucionista, tenho feito.
#Seaxdeor
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cronicasheathens · 7 years ago
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Mortos ou Ancestrais? — Crônicas sobre o paganismo germânico no Brasil 7
Os ancestrais tinham uma grande importância no mundo pré-cristão. Hoje em dia, nem tanto. Mas afinal, qual a relevância daqueles que vieram antes de nós, para um pagão?
Por Seaxdēor
Eu já devo ter dito em algum lugar que eu amo minha avó materna, que já se foi, como todos os meus avós. Convivi muito pouco com ela, era muito criança e ainda assim sua presença foi algo que estranhamente senti desde minhas épocas mais revoltadas e afeitas ao ateísmo. Algo que certamente me moveu espiritualmente.
Sonhei com ela em mais de uma ocasião, e não posso esquecer o cheiro de sua casa de taipa com fogão à lenha ou o tom da sua voz, sussurrando palavras simples pelos poucos dentes, com um amor embebido na sabedoria de quem conhecia sua própria wyrd, embora eu duvide que ela soubesse o que é a teia da wyrd e suas determinações e condenações. Ao menos como conceito.
Pouco mais cedo eu recebi um inbox na Ásatrú & Liberdade emocionante, sabe, eu amo ver pessoas contando histórias de seus ancestrais, descobrindo o passado deles, por onde passaram, andaram, fundindo a própria existência com a desses ancestrais. Esse tipo de inbox me motiva a amar o paganismo germânico ainda mais.
A ancestralidade é um tema complexo. Ele tem mil discussões teológicas, políticas, psicológicas, existenciais ao redor dele. É um tema amplo, que a Andreia Marques e Sharon Loreilhe me fizeram aprender a amar. Infelizmente não posso entrar em um porcento dos detalhes que gostaria de entrar aqui.
Eu já vi diversos vídeos, de diversas religiões, procurei diversas pessoas que de certa forma tentam incorporar o culto aos ancestrais em sua vida. Na maioria dos casos, o aprendizado vale à pena. Mas tem uma coisa que volta e meia me incomoda, é uma espécie de egoísmo intermediado pelos ancestrais. É um lance de... “eu amo meus ancestrais porque eles me trouxeram aqui”, o que não está errado, mas que, se não sai disso, torna-se um amor utilitário, interesseiro, não um amor real pelos ancestrais. É um amor por si mesmo e os ancestrais só são lembrados porque “fizeram o meu eu”.
Eu fiquei feliz com o inbox que recebi justamente porque ele não era assim. É bonito se ver um amor aos ancestrais pelo que eles são e não pelo que nós somos. É o tipo de amor que inicia um ciclo de presentes, com um respeito, um amor que gera mæġen e sorte. Porque é um amor que envolve investimento de nosso eu, nossa energia pessoal no outro, no caso, nossos ancestrais. É um amor dividual, um amor que é troca, entrega, e por consequência, recebimento. É o amor de quem planta sementes, não apenas quer colher frutos. Não é um amor do eu, nem uma relação de posse mascarada de amor.
No meu caminho como heathen eu vejo que pedimos demais. Estamos o tempo todo desesperados à procura de ajuda, sobrenatural, natural, humana, de nosso próprio ego, mas, quando estamos realmente dispostos a oferecer ajuda de volta? Quando estamos dispostos a dar algo aos deuses, ancestrais, aos outros pagãos que nos ajudam, quase invisivelmente muitas vezes, em nosso caminho?
No caso dos ancestrais é ainda pior, pois eles são chamados por muitos pagãos meramente de “mortos”, e eu nem vou falar da sociedade cristã. Mas meus ancestrais estão vivos, pulsam nas minhas veias, e eu os amo pelo que eles eram, independente de sua origem, cor e religião. Se eram índios, negros, brancos, não importa. Não importa se eram cristãos. Eu não cultuo meramente heróis e acho meus ancestrais ‘indignos’ de culto. 
Acho que existe um mito de que nossos ancestrais precisavam ser presidentes da república, e não a mulher que lavou nossa bunda quando não podíamos fazer isso. Aqueles que suaram para fazer com que nossos pais e nós estivéssemos aqui. Pessoas comuns também são ancestrais. E poderosos. Tão dignos de culto quanto um deus ou herói conhecido.
Colocamos empecilhos demais entre nós e nossos ancestrais. “Mortos” é a desculpa perfeita para fingir que eles não existem. Mas meus ancestrais estão vivos, olhando minha família. Essa conexão não se perdeu. Minha avó não vai deixar de aceitar um copo d’água meu porque eu sou heathen e ela foi cristã. Nosso sangue continua nos unindo. Meus pensamentos estão nela. Meu amor não morreu, assim como ela.
O culto ancestral é algo poderoso. Eu sinto ele na terra ao meu redor, onde meus ancestrais trabalharam, onde o suor deles se mistura com os grãos de areia que me alimentam. Eu sinto essa força. E eu agradeço o modo de pensar tribal por me completar. Porque o que eu quero agora é pedir menos e oferecer mais. Por aqueles que estejam dispostos a receber e retribuir igualmente, como os meus ancestrais. 
Reciprocidade, e amor aos ancestrais: é esse o antigo caminho, o legado dos pagãos germânicos que não pode ser esquecido.
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cronicasheathens · 7 years ago
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Wōden e o êxtase — Crônicas sobre o paganismo germânico no Brasil 4
Ou: Cultuar Wōden dá azar?
Por Seaxdēor
Muito se diz sobre o aspecto militar do cyning dos ēse, e comumente se venda os olhos para o fato de que Wōden aparecesse, tanto na forma do Óðinn islandês quanto na Ænglaland como um trickster, um andarilho em busca de conhecimento, pelo qual havia dado inclusive um de seus olhos.
Apesar do apelido islandês Allfǫðr Óðinn (que poderíamos traduzir para “o ensandecido pai de todos”) dado pelo cristão Snorri Sturluson, pelo menos três figuras tinham um culto e importância cultural bastante grandes: Freyʀ ou Ing entre os suecos, *Gáuts entre os godos, visigodos e ostrogodos, Seaxnēat entre os saxões e anglo-saxões, Tīw que para algumas tribos continentais poderia ser o pai de Twisco, um ancestral mitológico.
Þunor (Þórʀ, Donnar) é conhecido aparentemente por todo o mundo germânico, sendo uma divindade extremamente popularizada e cultuada por várias classes de pessoas. Fora da mitologia de Sturluson parece pouco provável que fosse visto como um filho no sentido que Þórʀ ou o Thor moderno são vistos como filhos de Óðinn ou Odin.
Wōden todavia é um deus extremamente tribal. Sua mente vive no tempo da tribo e no seu þēaw. 
“Óðʀ” em nórdico antigo é algo como furor, mas também inspiração, iluminação, êxtase, um estado alterado de consciência entre significados similares. A terminação “-inn” transforma “Óðʀ” num adjetivo, algo como “enlouquecido, extasiado, inspirado”: Óðinn.
Dito tudo isto de Wōden, eu não entendo como tem recentemente saído uma corrente de boatos que “seguidores de Wōden (ou qualquer nome que se dê a ele de outros povos germânicos) seriam azarados”. E posso dizer que fico decepcionado mas não surpreso que esse tipo de argumentação tenha surgido.
Primeiro: os deuses não são culpados de seu azar ou sorte pessoal. A não ser que você seja de uma família de þēodcyningas ou reis tribais (o que eu duvido muito) não existe qualquer razão pra uma divindade como Wōden ou Friġe te achar nada especial.
Principalmente se você não está engajado em uma relação de reciprocidade e troca de presentes (do ut des) com essa divindade, e se a abordagem que você tem dela não é coletiva, ao menos familiar, mesmo que praticando o forn siðʀ de maneira solitária ou em culto doméstico ou da lareia (hearth cult).
Wōden não vai te ferrar porque ele não dá a mínima pra você. Os atos que você estocou na sua wyrd te ferraram ou não. Você pode encarar isso com honra e tentar mudar, ou simplesmente continuar negado a própria responsabilidades dos seus atos.
Então, quando você remove todas as cascas de cima dos seus olhos e admira Wōden, ele está ali, sentado, simples, imponente, com uma consciência visivelmente controlada e ao mesmo tempo louca. A morte emana do brilho gelado como uma tempestade de neve e num tom entre o branco e o azul da neve em seu olho restante.
Não se suponha amigo dele. Ele é o rei dos ēse, os seres naturais com mais mæġen entre todos os seres. Ele é aquele que transporta as almas até o Hel, a morada subterrânea dos mortos. Ele é o colecionador de almas guerreiras. Ele é o espalhador de maldições.
Ele não vai esperar por você. Ele não vai “trabalhar” por você. Ele tá fazendo o rolê dele, causando problemas, caçando nobres, e você pode sair neutro, em vantagem ou prejuízo disso.
Porque ele nos deu o óðʀ. Sensações frenéticas socialmente modificaram a história humana nos últimos séculos. Wōden ajudou-nos criando a orlæġ dos que ao menos no período heathen antigo islandês eram pensados como sendo os primeiros humanos. 
E com orlæġ e óðʀ nós humanos fazemos magia, uma espécie de cræft inexplicável.  
Wōden é um andarilho indo para todos os lugares e lugar nenhum. Wōden anota seus acordos na lança que nunca erra: é melhor você não quebrá-los, pois ele é um deus que mexe com galdor e seiðʀ.
Se você não olha pra Wōden com um olhar mais malandro, você tá emprestando seu celular pra um gopnik. Wōden tem quase nada do austero e reacionário Wotan de Wagner do século XIX. 
Óðinn tira onda do rei Geirrǫðʀ, e lhe causa um azar gigantesco em pagamento pela sua incapacidade de manter o ciclo de hospitalidade, o princípio de *ghosti, ideia tão antiga que remonta aos tempos proto-indo-europeus, em que anfitrião (host) e convidado (guest) possuem obrigações mútuas de hospitalidade.
O mesmo princípio de *ghosti existe até hoje na relação com qualquer divindade germânica, em especial divindades como Wōden e outros deuses-rei, como Ingui ou Freyʀ, Seaxnēat e *Gauts.
Considerando tudo isso, e se esforçando pra manter o respeito, executando ações que possam ser vistas como dignas de receber a spēd real de Wōden bem como sua sorte, o que é um processo bastante difícil, uma boa relação pode ser estabelecida.
O êxtase em si é a consciência de Wōden. As palavras “êxtase” e “existência” ambos tem origem em exsistere no latim, isto é, “colocar-se para fora”. Existir e estar em êxtase são atos absurdamente similares.
O álcool é sagrado, porque o álcool é spiritus, bem como podem ser substâncias como THC, cogumelos, ou plantas alucinógenas. Todas essas substâncias se não usadas como mero recreio e de maneira séria podem auxiliar a consciência alterada que é uma característica essencial de Wōden direcionar-se de maneira a ajudar a focar e desenvolver aspectos interessantes do entendimento.
Wōden é entendido como o criador das rúnar. Longe de me deter nos significados individuais de cada uma, a escrita em si nos serviu de maneira a evidenciar muito do que sabemos hoje do antigo paganismo.
Então, não tente passar a perna no malandro. Reconheça que alguém é gigantescamente mais inteligente que você nas manhas e não está muito afim de assumir um papel paternal e protetor. Com Wōden as coisas são mais ou menos como diz uma música do Motörhead:
“If you like to gamble, I tell you I'm your man You win some, lose some, it's all the same to me The pleasure is to play, makes no difference what you say I don't share your greed, the only card I need is The Ace Of Spades [...] Double up or quit, double stake or split The Ace Of Spades [...] You know I'm born to lose, and gambling's for fools  But that's the way I like it baby I don't wanna live forever And don't forget the joker!”
* * *
Na Imagem: A réplica da estátua de Wōden do Templo dos deuses saxões em Stowe House, Buckinghamshire, Inglaterra.
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cronicasheathens · 7 years ago
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Ægir,  mæġen e liminaridade  — Crônicas sobre o paganismo germânico no Brasil 8
Afinal, o que sabíamos até então de Ægir era suficiente? Pode este deus ocupar um papel mais proeminente na prática contemporânea?
Por Seaxdēor
Discordo profundamente quando dizem que o material acadêmico não pode clarificar o paganismo dos povos germânicos.
Andressa Furlan Ferreira do NEVE (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) publicou no academia.edu recentemente sua tese de doutorado “Nykr: o espírito da água nórdico”. Cada parágrafo dela é valiosa, e muito pertinentes as discussões sobre “religião”, “tradição/folkore”, “mitologia”, “secular vs. sagrado”, “visão de mundo”, que são feitas para definir o que a autora irá debater do mundo aquático nórdico.
Apesar dessa parte merecer um comentário nosso por concordar no todo pela forma que a autora expôs (o que foi motivo de certo orgulho nosso, por perceber que não estávamos indo contrários a um entendimento mais sensato do assunto), eu gostaria de fazer um comentário de natureza “teológica”, pelas possibilidades abertas a partir do estudo de Andressa Furlan, para nós pagãos.
Furlan apresenta Ægir como um deus, adicionando a isso a informação que alguns registros o classificam como um gigante. Na análise de Furlan transparece um Ægir que seria quase um “deus da hospitalidade”, apesar de sua ligação com o ouro e, estranhamente, com o fogo. Foi impossível não lembrar de Ceisiwr Serith falando sobre o “princípio de *ghosti” e do artigo de  Wōdgār Inguing, “Water and Liminality”, além de reflexões sobre a mæġen.
*Ghostis, segundo Serith, no proto-indo-europeu é alguém que tenha obrigações mútuas de hospitalidade com outra pessoa. Envolve um anfitrião (host) e um hóspede (guest). Ambos tinham obrigações cerimoniais; enquanto um fornecia abrigo e alimento, o outro trazia notícias e mitos ou lendas, ao menos. Já Andressa Furlan, ressalta o banquete e os diálogos que  Ægir oferece em seu salão submarinho.
Por outro lado, Inguing destaca a liminaridade (liminarity) da água, e, embora não mencione  Ægir, conferindo o papel de divindade liminar para Wada, sob uma outra ótica, talvez pudéssemos associar  Ægir. “Liminaridade” vem do latim limen, que significa algo pertinente à “divisa, batente da porta”. Todavia corpos aquáticos são comumente locais de encontro com algo mágico, algum poder especial, como evidenciado no antigo costume de se depositar ofertas em rios, lagos, mar ou pântanos. Assim, poços, fontes, nascentes, pontes e encruzilhadas todas assumem uma função liminar, de contato com o “mundo além”, ou mundo dos não-vivos.
O que cola essas duas ideias é o conceito de mæġen, traduzido como “força, poder, capacidade”. O nome de Ægir além de significar “mar, oceano”, também refere-se a “main”, o qual Andressa Furlan traduz como “principal”, e é uma das definições de mæġen, palavra que deu origem ao termo “main”, sendo que ambas possuem som quase idêntico.
Um dos sentidos daquilo que é “sagrado” é “sacrificado, separado”. Como um deus ligado ao poder material (ouro) e poder espiritual (fogo), e à hospitalidade,  Ægir torna-se, também por seu nome, uma divindade com muita mæġen. Uma palavra muito próxima de mæġen é cræft, origem do inglês moderno craft, mas que no passado carregava o sentido de “poder, mágico, legal, espiritual, material”. E Ægir, além de relacionado a tudo o que antes mencionamos, domina a craft de fermentação de bebidas. O álcool em si tinha um caráter ritual, sobrenatural e espiritual.
Mais que isso, uma das manifestações da mæġen é a hospitalidade. Imbuir de   mæġen alguma pessoa ou objeto era de certa forma “consagrá-la, abençoá-la”: esse é o conceito de sagrado como holy, whole, isto é, feito sagrado por ter sido feito completo, que também poderia estar sob o domínio de Ægir, embora comumente associado a Þórr.
Ægir é esposo de Rán. E ela é a ladra de homens, aquela que os separa de seu mundo, os trazendo para o mundo submarino de Ægir. Existe um aspecto liminar fortíssimo no casal Ægir e Rán, o qual pode ser extrapolado, ao conectar-se Ægir com mæġen e cræft, podendo perceber que os Æsir não visitariam Ægir fortuitamente, e o que houve ali foi uma troca de mæġen entre todos esses deuses, envolvendo de hospitalidade, poder e liminaridade, sintetizadas na figura do deus dos mares.
Ægir assim, além do papel de divindade marinha, podia ser interpretado como um deus ligado à hospitalidade, mæġen e à passagem dos mundos (liminaridade), como anfitrião do mundo inferior dos oceanos. De um papel ofuscado, apenas associado aos mares, função razoavelmente inútil para quem não está em áreas costeiras, Ægir pode ser visto como um deus purificador, fornecedor de poder (mæġen) e como um deus anfitrião, característica que se espera de todos os heathens, e que assim pode se tornar um deus a nos fornecer essa qualidade. Ægir assim pode ter seu papel redesenhado em nossa prática contemporânea, uma vez que as características todas são compatíveis com uma divindade de aspectos ainda mais amplos do que era até então compreendido. E graças às observações acertadas de Andressa Furlan.
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cronicasheathens · 7 years ago
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Verdade, opinião e liberdade, Parte 1 — Crônicas sobre o paganismo germânico no Brasil 2
Por Seaxdēor
A primavera chegou, e a Sol já voltou a dar sinais de seu humor fervente em suas caminhadas pelo céu de Tiw. Na internet, entretanto, nada de novo: esta continua sendo o local onde doutores na própria opinião querem formar seitas.
No paganismo é impossível falar de liberdade sem falar de verdade e opinião, na atualidade. Só que a discussão sobre a verdade e opinião já passou faz muito tempo do seu terceiro milênio de existência, sendo conhecida desde pelo menos Platão e Parmênides, no ocidente, sem que uma resposta definitiva possa ter sido dada.
A maioria das pessoas hoje em dia acha essa discussão simplesmente enfadonha demais, e diz que tudo é opinião. Isso não está exatamente errado. Entretanto, não está totalmente certo, na maneira que esotéricos e místicos sugerem, como se toda e qualquer opinião fosse válida.
A verdade na atualidade é temida pelo que a mentalidade judaico-cristã fez com ela. Para o cristianismo, a verdade equivale ao seu deus, e tudo que é verdadeiro em última instância deriva desse deus ou de seu filho. Isso é algo que foi percebido por filósofos como Friedrich Nietzsche, que argumenta que o deus cristão é a verdade máxima, comumente escrita com letra maiúscula, e que a verdade é e só pode ser divina. O bem, seguindo a noção platônica, também se equivale a deus. Tudo o que não pertence ao reino do deus cristão ou é falso, ou é mau. Ainda assim, a noção de “verdade” não nasce com o cristianismo, e nem significou, antes dele, o mesmo que estamos acostumados dentro da sociedade judaico-cristã em que vivemos.
Essa noção da verdade como algo divino vai ser visto em tempos tão tardios quanto os de Locke, e expresso na tradição jurídica de se jurar a verdade por sobre o livro sagrado dos cristãos, no qual o filósofo inglês irá afirmar que sem a crença no deus cristão (ou seja, na verdade última), não é possível ser uma pessoa confiável. Se a verdade emana do deus cristão e alguém não está nos domínios dele, essa pessoa, logicamente, não poderia falar utilizando-se da verdade.
Entretanto, hoje internet é a grande rede que conecta vários pensamentos, através do espaço e do tempo. E uma parte essencial dos pensamentos são as palavras que usamos como eixos que os sustentam. A história das palavras pode nos dizer muito para essa discussão sobre verdade, opinião e liberdade.
Graças à internet, qualquer um pode ter uma visão mais ampla de como as palavras estão interconectadas entre os diversos povos. Uma palavra nunca é suficiente em si mesma, e como Saussure bem corretamente afirma, cada uma depende das outras no próprio idioma para ser compreendida, sendo então definida em oposição às outras.
Porém, esses jogos de palavras acontecem de maneira curiosa e única em cada idioma, exatamente como cada um dos falantes desses mesmos idiomas. É o caso das palavras usadas para “verdade”. Tendo um olhar amplo em relação ao que as ideias de “verdade” estão relacionadas, podemos compreender melhor porque a verdade é importante, hoje, para pagãos que reconstroem a antiga religião germânica pré-cristã no século XXI.
A nossa palavra “verdade” vem de vēritās no latim, a qual vem de vērus, “verdadeiro”. Tais termos descendem do proto-itálico *wēros, o qual pode ser rastreado ao proto-indo-europeu *weh₁ros, que vem ele próprio de *weh₁- todos significando “verdadeiro”.
O mesmo termo *weh₁- no proto-indo-europeu deu origem a palavra para verdade em outros idiomas: fíor em irlandês vem do irlandês antigo fír, o qual surge do proto-céltico *wīros. No gaélico escocês fìor, que, além de “verdadeiro”, quando adjetivo, significa “muito”, quando usado como advérbio, ou seja, qualificando um verbo ou ação, funcionando de forma similar ao inglês moderno very, o qual vem do latim vērus, e também significa “muito” em vez de “verdadeiro”.
Uma exceção é o proto-eslávico *věra refere-se à “fé, crença” e não à “verdade”.
No mundo germânico *weh₁- deu origem ao termo proto-germânico *wēraz, “verdadeiro, confiável”, “amigável, gentil”. A partir dele surgem waar, “verdadeiro, autêntico” no holandês, no alemão wahr, “verdadeiro”, o qual aparece no composto Wahrheit, “verdade”. Wǣr “verdadeiro” no inglês antigo, significa também “correto”, “atento, consciente”, “amizade, fidelidade”, “concordância, promessa”. No sueco moderno o termo allvar vem do nórdico antigo alvara, e significa algo como “seriedade”. Um termo parente é alvor no norueguês bokmål, norueguês nynorsk,  e tem a mesma origem de allvar e também significa “seriedade”; no dinamarquês alvor também refere-se a “gravidade”, “honestidade”.
No nórdico antigo, uma palavra nos diz bastante sobre as conotações que o termo proto-germânico *wēraz viria assumir: várar. Essa palavra, usada no plural, significa “promessa, compromisso”, “aliança”, mas também “situação penosa”. Sua forma singular aparece apenas no nome da deusa Vár, a qual era invocada para se estabelecer a aliança matrimonial de um casal.
Várar mostra profundamente o caráter daquilo que é *wēraz, vērus, ou verdadeiro e confiável. A palavra quando empregada como juramento ou promessa era algo literalmente sagrado entre os germânicos, e a verdade das palavras é equivalente à verdade de se ter um braço, uma perna, um machado, uma tribo, ou a própria existência. A verdade era uma aliança estabelecida entre os membros de um grupo tribal. E a verdade nem sempre é agradável, prazerosa. Apesar disso, tudo que existe no grupo tribal deve o direcionar para a friðr, a paz, harmonia e fraternidade.
Quando algo é uma verdade, ainda dizemos que isso é um “fato”. “Fato” vem do latim factum, significando “fato, ato, ação, conquista”. Factum vem de faciō, “eu faço, construo, erijo, componho, moldo, armo, concebo, estruturo”, que vem do proto-itálico *fakiō “fazer”.
Essa noção do verdadeiro como algo “feito” é apoiada pela raiz proto-indo-europeia *dʰeh₁-, “fazer, colocar, posicionar”, que deu origem ao verbo latino faciō, ao grego τίθημι (títhēmi), “colocar, depositar, pagar, estabelecer, definir, ordenar, fazer, etc.”, ao sânscrito दधाति (dádhāti), “colocar, estabelecer, definir, infligir punição, imitar, destinar, aceitar, obter, conceber, assumir, ter, exibir, fazer, produzir, gerar, executar, etc.”, mas também ao inglês antigo dōn, raiz do inglês moderno do, “fazer, causar, performar, executar”.
O verdadeiro é assim algo que é real, algo que foi tirado da inexistência e materializado na realidade: o próprio termo “real” vem do latim rēs, “coisa, matéria”. A verdade é aquilo que existe de fato, aquilo que manifestou-se para a percepção comum ou coletiva que chamamos de realidade. O verdadeiro, por ser feito, é admirável, perceptível, reconhecível, ele pode ser observado.
Essa noção de verdadeiro como algo observável é visto em termos como o gótico 𐍄𐍂𐌹𐌲𐌲𐍅𐍃 (triggws), inglês antigo trēowe que deu origem ao inglês moderno true, nórdico antigo tryggr, alto alemão antigo triuwi, todos significando “verdadeiro”, “confiável, digno de se depositar confiança”, que vêm do proto-germânico *triwwiz, “verdadeiro”, “em que se pode depositar fé”.
Um termo proto-germânico relacionado com *triwwiz  é *trewwō, o qual significa “fidelidade”, “compromisso, promessa”, assim como o inglês moderno troth. A verdade assim jamais é algo usado a bel-prazer, mas algo reconhecido e, como algo jurado ou prometido, sagrado.
Relacionado a essa noção de verdade expressa naquilo em que se pode confiar, está uma das palavras para árvore no mundo germânico: *trewą. Ligado ao hitita 𒋫𒀀𒊒 (tāru), “árvore, madeira”, ao grego antigo δροόν (droón), “poderoso, forte”, latim dūrus, “duro, bruto”, todos estes termos derivando do proto-indo-europeu *dóru, “árvore”.
Relacionar a fidelidade e o compromisso com as árvores não é algo jamais sem sentido. As árvores como carvalhos eram sagradas, serviam como locais de culto e devoção, cultuadas em si mesmas. Árvores vivem por séculos, sendo assim um símbolo de longevidade e durabilidade das promessas. A árvore era a própria manifestação da confiabilidade, e a confiabilidade, aquilo que definia a verdade. A verdade era algo que era real, poderoso, confiável, rígido e firme.
O filósofo alemão Martin Heidegger, por sua vez, analisa as implicações da “verdade” no mundo grego-romano clássico. Entre os antigos filósofos se distinguia entre δόξα (dóxa), a “opinião” e a ἀλήθεια (alḗtheia), a “verdade”.
O termo para opinião vem de δοκέω (dokéō), “esperar, pensar, supor, imaginar, parecer”, estando intensamente ligado à aparência (não confirmada) e conjecturas (não verificadas). A opinião, como δόξα (dóxa) está assim intensamente ligada a intuição, suposição.
Já ἀλήθεια (alḗtheia) é apenas vagamente traduzida como verdade. Heidegger alerta para o fato de que este é um termo negativo, “não-lḗtheia”, vindo de λήθω (lḗthō), “causar esquecimento, ser ocultado”. O grego antigo ἀλήθεια (alḗtheia) é assim comumente traduzido como “desvelado”, “descoberto”, “não oculto”, “não escondido”, etc, indicando o caráter do “verdadeiro” dentro do mundo grego clássico.
Mitologicamente falando, ἀλήθεια (alḗtheia) foi criada por Promēthéus, o titã que roubou o fogo da deusa Héstia e o deu aos homens, e era irmã de Zeus.  Nas Fábulas de Esopo é retratada como vivendo fora da sociedade humana, corrompida pelas mentiras. A simbologia é sugestiva, estando ligada à sua etimologia: o fogo do titã teria trazido a verdade das sombras. Isso é algo que Heidegger discute que o fenômeno (do grego φαινόμενον) vêm em última instância da raiz φαι-, “luz”.
A ἀλήθεια (alḗtheia) “verdade, descoberto” se opõe assim à δόξα (dóxa) “opinião” por ser verificável e observável. Dentro do paganismo germânico, muita coisa pode ser desvelada ou descoberta, uma vez que, diferentemente da Wicca, somos uma religiosidade popular, tribal e aberta e não baseada em mistérios, mistificação ou ocultismo.
A verdade é possível no paganismo porque ela não simplesmente emana de “deus”, mas é a conformidade do discurso e entendimento com aquilo que é real. Ela não é mero capricho, e nem deve ser elitizada. A verdade não é um meio de garantir status, como numa briga infantil de egos em que um quer refutar o outro e ridicularizar a argumentação alheia com memes.
Entender o que é verdadeiro e o que é falso, quando nos referimos à cultura pagã germânica, é essencial se queremos deixar o cristianismo de fato. É por isso que a partir de uma ótica reconstrucionista a verdade é buscada, e quando novas evidências surgem, pagãos que adotam essa abordagem não têm medo de alterar suas noções, em vez de levar adiante opiniões não fundadas na evidência histórica.
Muito do que se refere à antiga religião ainda pode ser descoberto, desvelado, conhecido. Pode embasar nossas opiniões. Pode modificá-las, fazê-las evoluir e amadurecer.
Existe uma grande diferença entre a liberdade de ter e emitir uma opinião e a pretendida obrigação de outras pessoas a aceitarem. Opiniões embasadas em estudiosos sérios do paganismo não entram em contradição tão profunda. Autodenominar-se pagão não transforma sua opinião automaticamente em pagã. É necessário estudo, leitura, entendimento da visão pagã antiga que está sendo recuperada exatamente agora e não possui tradições vivas simplesmente para serem vividas.
A liberdade de opinião e pensamento existe, mas ela não deve contrariar aquilo que foi descoberto e desvelado sobre os povos pagãos germânicos do passado. Ou então nós sequer somos pagãos, em nossa essência: apenas trocamos de rótulo. Todavia, colocar água em uma embalagem de cachaça ou vodka não a tornará alcoólica e nem nos fará bêbados da cultura pré-cristã.
É preciso sentar, se dedicar, e aprender. Infelizmente o paganismo é, e será por alguns bons anos, uma religião que exige muita dedicação e estudo, se queremos ser mais que cristãos com rótulos antigos temos que nos esforçar pra entender e aplicar a visão de mundo pagã. Nem sempre ela terá uma única “verdade”, várias respostas podem ser dadas a uma mesma pergunta: mas várias também não podem ser dadas. Tudo depende do que os antigos pagãos viviam, entendiam e praticavam.
É a visão de mundo pagã antiga que deve nos mostrar o que é a verdade, e não a nossa atual, cristianizada. Pois é essa visão de mundo que nos faz ser cristãos ou não, e não o rótulo que nos damos. A luz da Sol continua aqui hoje, como ontem, disposta a nos mostrar aquilo que permitimos nossos olhos querer ver.
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