#amor aos cães
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Caro Hans van den Broek: Obrigado por sua carta contando-me da remoção de um dos meus livros da biblioteca Nijmegen. E que ele é acusado de discriminação contra negros, homossexuais e mulheres. E que é sádico por causa do seu sadismo. A única coisa que temo discriminar é o humor e a verdade. Se eu escrevo mal sobre os negros, homossexuais e mulheres, é por que os que eu conheci eram assim. Há muitos “males” – cães maus, má censura, há até mesmo “maus” homens brancos. Somente quando você escreve sobre “mau”, homens brancos não reclamam. E eu preciso dizer que há “bons” negros, “bons” homossexuais e “boas” mulheres? No meu trabalho, como escritor, eu só fotografo, em palavras, o que vejo. Se eu escrever sobre “sadismo” é porque ele existe, eu não inventei isso, e se algum ato terrível ocorre no meu trabalho é porque essas coisas acontecem em nossas vidas. Eu não estou do lado do mal, como se o mal fosse algo inerente. Em meus escritos, eu nem sempre concordo com o que ocorre, nem vou me afundar na lama por causa deles. Além disso, é curioso que as pessoas que gritam contra o meu trabalho parecem ignorar as partes dele que enaltecem a alegria, o amor e a esperança, e há essas partes. Meus dias, meus anos, minha vida viu altos e baixos, luzes e trevas. Se eu escrevesse só e continuamente da “luz” e nunca mencionasse o outro, então como artista eu seria um mentiroso. A censura é a ferramenta daqueles que têm a necessidade de esconder realidades de si mesmos e dos outros. Seu medo é apenas a sua incapacidade de enfrentar o que é real, e eu não posso desabafar minha raiva contra eles. Eu só sinto essa tristeza terrível. Em algum lugar, na sua educação, eles estavam protegidos contra os fatos de nossa existência. Eles só foram ensinados a olhar de um jeito, quando existem muitas maneiras. Eu não estou desanimado que um dos meus livros tenha sido caçado e retirado das prateleiras de uma biblioteca local. Em certo sentido, sinto-me honrado que eu escrevi algo que despertou essas pessoas de seu eu superficial. Mas fico magoado, sim, quando alguém tem seu livro censurado, pois esse livro, geralmente é um grande livro e há poucos desses, e ao longo dos tempos esse tipo de livro tem muitas vezes se tornado um clássico, e o que se acreditava chocante e imoral é hoje leitura obrigatória em muitas das nossas universidades. Não estou dizendo que meu livro é um desses, mas eu estou dizendo que em nosso tempo, nesta época em que qualquer momento pode ser o último para muitos de nós, é condenadamente irritante e incrivelmente triste que ainda temos entre nós a pequenez, as pessoas amargas, os caçadores de bruxas e os declamadores contra a realidade. No entanto, estes também pertencem a nós, eles são parte do todo, e se eu não tenho escrito sobre eles, eu deveria, talvez o faça, e isso é suficiente. que todos nós possamos ficar melhor juntos, seu, Charles Bukowski
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Matilha Maldita II
Ó matilha maldita Late inconstantemente me desorientando, sempre que se torna aparente.
Cães negros e raivosos, selvagens e desastrosos, anunciam os riscos, protegem me como amigos, mas para isso, por que tomam me os sentidos?
Quase não os vejo. Sequer os conheço. Não obstante, derreto me em vossos gracejos. São ao menos três de vocês, puxando me como trenó de uma só vez. Por direções diferentes ou visões pouco aparentes, matilha, me trouxeste.
Ó matilha maldita, por que me deixa tão confuso e desorientado a mercê de teu seio quente e tão maltratado? Deveria eu me permitir, de uma só vez, ser por você adotado? Se o que pobres coitados dizem for verdade, quem anda com porcos farelos come, convosco, comerei os porcos.
Talvez, convosco viva desacomodado, porém, a partir disso, um pouco mais saciado. A partir disso, jamais viverei entediado. Jamais me sentirei sozinho ou desacompanhado, pois dentro de mim late matilha louca e descarrilhada, sempre pronta pro banquete e meu próprio abate.
Daqui em diante tudo valerá a pena, viverei sem temor ou qualquer pudor, farei o que for.
Ser livre é poder comer de tudo sem medo ou rancor, degustar da carne com muito amor.
Matilha, tu me escravizou, mas em troca, tu me libertou. Um dia, quem sabe, não devorarei vocês três? Um dia, quem sabe, não conhecerão o cão que devora lobo sem um pingo de interlocução?
A fome cresce, o ego, esmorece.
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TEMA: MITOS
SUBTEMA: FOLCLORE GREGO
QUADRO: OS ESQUECIDOS
HIPÓLITO
Príncipe de Dois Reinos, Filho de Herói, Neto de Rei, Neto e Bisneto de Deuses, Meio-Irmão de Semideuses
QUEM É
É um personagem mítico do folclore grego, seu pai é o herói e rei Teseu de Atenas¹. Sua mãe é uma amazona Temíscera² e a depender da versão, atende por: Hipólita/Glauce/Melanipe/Antíope³.
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¹ Uma das pólis(cidade-estado), isto é, em termos atuais, uma cidade-nação autônoma de etnia grega.
² Um mítico local onde se atribui haver mulheres guerreiras dentro do folclore grego.
³ Apolodoro, Epítome.
ETIMOLOGIA
O nome Ἱππόλυτος (Hippólytos)¹ é composto por duas partes:
ἵππος (híppos): significa "cavalo". É uma palavra comum no grego antigo para se referir ao animal e, por extensão, a coisas relacionadas à guerra e à nobreza (já que o cavalo era um símbolo de status e poder).¹
λύω (lýo): significa "soltar", "desatar", "liberar". No caso de "λύτος", refere-se ao particípio passivo de "soltar", dando a ideia de "aquele que é solto" ou "aquele que é libertado".¹
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¹ Lindell and Scott and Jones's Greek-English Lexicon
O MITO DE HIPÓLITO
Que fique claro que, estou trazendo textos primários, e não estou fazendo uma leitura anacronista ou revisionista, e sim trazendo o material folclórico como é.
Segundo o mito, Hipólito, filho de Teseu, foi enviado, com seu pai em plena guerra em Atenas, junto da madrasta, Fedra, para Trezena¹, do rei Piteu, na Grécia, um caçador e guerreiro casto e virgem dedicado a Ártemis², fora cobiçado e cortejado por sua madrasta (isto é concordado entre autores e a depender da versão ela,
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¹ Um reino mítico do folclore grego
² Uma divindade virgem e casta, e também atribuída à caça e à vida selvagem, do folclore grego
As (atribuídas) causas de Hipólito,
“Mas eu derrubo todos os que são orgulhosos de mim [...]. [Mas] para o filho de Teseu, [e também] filho da Amazona, Hipólito, o pupilo do santo Piteu, [único] dos cidadãos de Trezena aqui diz que eu [Afrodite] sou a pior das divindades. Ele rejeita a cama e não toca no casamento [...]. Mas em vez disso honra a irmã de Apolo , Ártemis , filha de Zeus, porque ele pensa que ela é a melhor das divindades; Ele passa todo o seu tempo com a deusa virgem na floresta verde, e agita os animais selvagens na terra com seus cães velozes[de caça]” — v. §5,10,15. Eurípides, Hipólito
“[...] encerrou [Hipólito] sua vida por causa de sua castidade [...]” — v. §1-7-4, 4.62.3. Diodoro Sículo, Biblioteca
“[...] porque [Hipólito] odiava todas as mulheres [...]” — v. §1.18. Apolodoro, Epítome
“[...] pois [meu filho] ousou manchar meu leito conjugal com [essa] violência, desonrando [a nós diante] o reverenciado Zeus! [...]” — v. §885. Eurípides, Hipólito.
“[...] e [Fedra] se apaixonando por ele [Hipólito] por causa de sua beleza [...] — v.§1-7. Diodoro Sículo, Biblioteca.
A paixão de Fedra,
“Teseu, o verdadeiro filho de Poseidon , teve Hipólito com a amazona Hipólita, e depois se casou com Fedra, filha de Minos, que se apaixonou profundamente por Hipólito [...].” —v. §34. Plutarco, Paralelos entre as histórias frega e romana, As Morais.
“mas mais tarde, [...] na casa de Piteu (em Trezena), ela pediu a Hipólito para se deitar com ela [...]” — v.§1-7. Diodoro Sículo, Biblioteca.
“[...] Já que ela [Fedra] estava apaixonada por um amor estrangeiro [...].” — v. §30. Eurípides, Hipólito.
“E Fedra [...] apaixonou-se pelo filho [enteado desta] que ele [seu marido] teve com a amazona, a saber, Hipólito , e implorou-lhe que se deitasse com ela. No entanto, ele fugiu de seus abraços [...].” — v. §1.18. Apolodoro, Epítome
As reações de Fedra,
“Dizem que Fedra ficou irritada com sua recusa e, ao retornar a Atenas, contou a Teseu [seu marido] que Hipólito havia proposto deitar-se com ela.” — v.§1-7. Diodoro Sículo, Biblioteca.
“[...] Mas Fedra , temendo que ele pudesse [convencer] a seu pai, abriu [e entrou] em seu quarto [e do marido], rasgou suas vestes e acusou falsamente Hipólito de agressão.” — v. §1.18. Apolodoro, Epítome
Os desfechos de Hipólito,
“[...] Teseu deu crédito à calúnia, e Poseidon, tendo-lhe prometido uma concessão de quaisquer três coisas que ele pedisse, ele fez seu pedido de destruir Hipólito. Então Poseidon enviou um touro para a costa onde Hipólito estava dirigindo [com a] sua carruagem, o que assustou tanto seus cavalos que eles debandaram, e viraram a carruagem matando-o. [...]” — v. §34. Plutarco, Paralelos entre as histórias gregas e romanas, As Morais.
“[...] Teseu acreditou nela e orou a Poseidon [seu pai divino] para que Hipólito [seu filho] perecesse. Então, quando Hipólito estava cavalgando em sua carruagem e dirigindo ao lado do mar, Poseidon enviou um touro da rebentação [do mar], e os cavalos ficaram assustados, a carruagem se despedaçou, e Hipólito, enredado nas rédeas, foi arrastado até morrer.” — v. §1.19. Apolodoro, Epítome
“[...] quanto a Hipólito , que estava dirigindo uma carruagem quando soube da acusação, ele ficou tão perturbado em espírito que [não percebeu que] os cavalos perderam o controle e fugiram [dele], e no caso a carruagem foi despedaçada e o jovem, [que estava] preso nas correias de couro, foi arrastado até morrer.” — v. §1-7-4. Diodoro Sículo, Biblioteca.
Os desfechos de Fedra,
“E como Teseu tinha dúvidas sobre a acusação, ele mandou chamar [seu filho] Hipólito para colocá-lo à prova, e Fedra , temendo o resultado [contra si], enforcou-se [...].” — v. §1-7-4. Diodoro Sículo, Biblioteca.
“[...] E quando sua paixão foi tornada pública, Fedra se enforcou.” — v. §1.19. Apolodoro, Epítome
SOBRE A MÃE DE HIPÓLITO
Sobre o nome de sua amazona mãe,
“[...] Antíope , ou, como alguns dizem, Melanipa; mas Simônides a chama de Hipólita. [...]” — v. §1.16. Apolodoro, Epítome
“[...] Hipólita era a mãe de Hipólito; ela também atende pelos nomes de Glauce e Melanippe.” — v. §5.2. Apolodoro, Epítome
Sobre a relação de seu pai e sua mãe, também há versões,
Trazida,
“(...) Teseu (...) trazendo consigo a amazona [...] de quem ele já tinha um filho, Hipólito.” — v.§4.28.3. Apolodoro, Epítome
Raptada:
“Teseu se juntou a Héracles em sua expedição contra as amazonas e raptou Antíope, (...). ” — v. §1.16. Apolodorus, Epítome
Sobre a relação de seu pai com sua mãe e até sua morte também há versões que dela distintas, a saber,
Como inimiga de seu pai:
“[...] Hipólita apareceu armada junto de suas amazonas , e ameaçou que mataria os convidados e Teseu. [...] — v. §5.2. Apolodoro, Epítome
“[...] Então uma batalha ocorreu, e ela foi morta, seja involuntariamente por sua aliada, Pentesília, ou por Teseu, ou porque seus homens, vendo a atitude ameaçadora das amazonas, fecharam as portas às pressas e assim a encurralaram e a mataram.” — v. §5.2. Apolodoro, Epítome
Como aliada de seu pai:
“[...] Teseu entrou em batalha com as amazonas , e como os atenienses as superaram em bravura, ele obteve a vitória, e das amazonas que se opuseram a ele, algumas ele matou na época e o resto ele expulsou da Ática. [...] — v. §4.28.3. Diodoro Sículo, Biblioteca
“[...] E aconteceu que Antíope , que estava lutando ao lado de seu marido Teseu, se destacou na batalha e morreu lutando heroicamente.” — v. §4.28.3. Diodoro Sículo, Biblioteca
LINHA CRONOLÓGICA
Fiz esta linha cronológica em ordem decrescente. E selecionei autores que citam o personagem direta ou indiretamente até cerca do século I e II de a.E.C, o que os permite até duzentos ou trezentos anos ainda escrevendo sobre o tema sem tantas alterações e correções com o passar dos anos.
Inclusive, observando as fontes, a maioria dos autores pós-Eurípides parecem conhecer seus materias, e aí podem se tornar fontes secundárias. Daí autores pós-Apolodoro e Diodoro — que são fontes secundárias de, provavelmente, Eurípides — passam a ser fontes terciárias, pois em algumas vezes os citam diretamente, outras citam indiretamente Diodoro e Apolodoro; todavia, eu exclui as fontes terciárias, e tentei focar até as fontes secundárias.
Quanto a Luciano de Samósata e Pausânias, o Geógrafo, ambos visitaram a península grega, e embora ambos não parecem, nem de perto, ter conhecido Diodoro, Apolodoro ou Eurípides, ambos citam locais, em suas viagens, onde a figura de Hipólito é atribuída ou citada, o que me faz trazê-los aqui.
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E.C = d.C
Significa "Era Comum", e é o equivalente científico para "Depois de Cristo", no senso comum. E sim, a ideia é depois do ano 1, isto é, 1 E.C
a.E.C = a.C
Significa "Antes da Era Comum" e é o equivalente científico para "Antes de Cristo", no senso comum. E sim, a ideia é antes do ano 1, isto é, 1 a.E.C
A. PERÍODO CLÁSSICO
Eurípides, Hipólito (m. 428 a.E.C.)
Resumo: Tragédia que explora a história de Hipólito e os eventos trágicos decorrentes da falsa acusação de sedução por sua madrasta, Fedra.
Propósito do Autor: Eurípides escreveu para explorar temas complexos como a honra, a moralidade e o papel dos deuses na vida dos humanos. Ele usou o mito de Hipólito para discutir a natureza da culpa e da justiça.
Papel/Ofício do Autor: Dramaturgo e poeta trágico, conhecido por sua habilidade em explorar aspectos psicológicos e sociais profundos em suas peças.
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A peça foi produzida pela primeira vez para a cidade-estado de Atenas em 428 a.E.C. e ganhou o primeiro destaque já como parte de uma trilogia.
Eurípides tratou do mito pela primeira vez em uma peça anterior, Hippolytos Kalyptomenos (Ἱππόλυτος καλυπτόμενος – Hipólito Velado), que agora está perdida; o que se sabe dela é baseado em ecos encontrados em outros escritos antigos. A peça anterior, e a que sobreviveu, são ambas intituladas Hipólito, mas para distinguir as duas, tradicionalmente receberam os nomes Hippolytus Kalyptomenos e Hippolytus Stephanophoros (Ἱππόλυτος στεφανοφόρος – "Hipólito, o portador da coroa").
Acredita-se que o conteúdo da peça desaparecida Hipólito Caliptomeno retratava uma Fedra descaradamente lasciva que fez propostas sexuais diretas a Hipólito, o que aparentemente ofendeu o público da peça.
B. PERÍODO HELENÍSTICO
Apolodoro, Biblioteca (m. I século a.E.C.)
Resumo: Compilação de mitos e genealogias que inclui a história de Hipólito em contexto com outros mitos gregos.
Propósito do Autor: Apolodoro tinha a intenção de fornecer um resumo abrangente das tradições mitológicas gregas, servindo como um recurso educativo e referencial para o estudo da mitologia.
Papel/Ofício do Autor: Erudito e mitógrafo, responsável por compilar e sistematizar o conhecimento mitológico da Grécia Antiga.
Apolodoro, Epítome (m. I século a.E.C.)
Resumo: Resumo da Biblioteca, mantendo a narrativa sobre Hipólito em um formato mais condensado.
Propósito do Autor: Servir como uma versão abreviada e acessível da Biblioteca, facilitando o acesso às informações mitológicas.
Papel/Ofício do Autor: Similar ao de Apolodoro na Biblioteca, com foco na sistematização e condensação do conhecimento mitológico.
Diodoro Sículo, Biblioteca (m. 60-30 a.E.C.)
Resumo: História universal que inclui a história de Hipólito dentro do contexto de outros mitos e tradições gregas.
Propósito do Autor: Diodorus visava criar uma narrativa histórica abrangente, integrando eventos históricos e mitológicos para oferecer uma visão coesa da história e cultura grega.
Papel/Ofício do Autor: Historiador, conhecido por seu trabalho em compilar e interpretar a história universal, incluindo a mitologia.
B. PERÍODO GRECO-ROMANO
Plutarco, Vida de Teseu (m. 100 a.E.C.)
Resumo: Biografia de Teseu que inclui a história de seu filho Hipólito e os eventos relacionados a ele.
Propósito do Autor: Plutarco escreveu para explorar e comparar as virtudes e falhas dos grandes homens da antiguidade, usando figuras como Teseu para refletir sobre moralidade e liderança.
Papel/Ofício do Autor: Biógrafo e filósofo, conhecido por suas Vidas Paralelas, que comparam figuras históricas gregas e romanas.
Plutarco, As Morais (m. 100 a.E.C.)
Resumo: Ensaios sobre ética e filosofia, com referências que podem incluir aspectos da história de Hipólito.
Propósito do Autor: Explorar temas de ética, filosofia e comportamento humano, utilizando exemplos históricos e mitológicos para ilustrar suas ideias.
Papel/Ofício do Autor: Filósofo e moralista, que escreveu sobre uma ampla gama de temas, incluindo ética e comportamento.
Pausânias, Descrição da Grécia (m. II século E.C.)
Resumo: Descrição dos locais e tradições da Grécia, incluindo mitos e referências a Hipólito em contexto regional.
Propósito do Autor: Oferecer um registro detalhado das localidades e tradições gregas, incluindo suas associações mitológicas e históricas.
Papel/Ofício do Autor: Geógrafo e viajante, conhecido por suas descrições detalhadas das regiões e suas histórias.
Luciano de Samósata, A Deusa Síria (m. II século E.C.)
Resumo: Diálogo satírico que discute cultos e figuras mitológicas, com possíveis referências a Hipólito.
Propósito do Autor: Criticar e satirizar os cultos religiosos e figuras mitológicas, refletindo sobre a prática religiosa e a adoração.
Papel/Ofício do Autor: Sátirico e escritor, famoso por suas obras que misturam humor satírico e crítica social.
CONCLUSÃO
É difícil, a mim, dizer de alguma veracidade da existência do personagem, todavia, Luciano de Samósata e Pausânias, o Geógrafo, se concordam e corroboram sobre a existência do túmulo (real ou forjado) de Fedra e Hipólito, e inclusive de culto dedicado a Hipólito. Muito embora, nenhum dos dois seja mitógrafo ou historiador, apenas visitantes ou passageiros na península grega,
“[...] A Hipólito, filho de Teseu, é dedicado um lugar muito famoso, no qual há um templo com uma imagem antiga. Diomedes, [o herói tróiano] dizem, [esculpiu] estas, e além disso, foi o primeiro a sacrificar a Hipólito . Os trezenianos têm um sacerdote [do culto] a Hipólito, que ocupa seu ofício sagrado por toda a vida, e sacrifícios anuais foram estabelecidos. Eles também observam o seguinte costume: toda donzela antes do casamento corta uma mecha para Hipólito e, tendo-a cortado, ela a traz ao templo e a dedica. [Inclusive] eles não querem que ele tenha sido arrastado até a morte por seus cavalos, [pois] embora conheçam seu túmulo, não o mostram [...] .” — v. §2.32.1. Pausânias, Descrição da Grécia
“[...] Os trezenianos fizeram uma lei [e tradição] para suas moças e moços nunca se casarem até que tenham dedicado seus cabelos a Hipólito [...] Os jovens dedicam o primeiro crescimento em seu queixo, então eles [dedicam e também] desfazem os cabelos [presos] das moças , que foram sagrados [a Hipólito] desde o nascimento; eles então os cortam no santuário e os colocam em vasos, alguns em vasos de prata, alguns em ouro, e depois de colocá-los no templo e inscrever o nome no vaso, eles partem. Eu mesmo realizei esse ato quando moço, e meu cabelo ainda permanece no santuário, com meu nome no vaso.” — v.§60. Luciano de Samósata, A Deusa Síria.
“Há também o túmulo de Fedra, não muito longe do túmulo de Hipólito, que é um túmulo perto de [uma] murta. A imagem de Asclépio foi feita pelo [escultor] Timóteo, mas os trezenianos dizem que não é Asclépio, mas uma semelhança de Hipólito. Lembro-me também de ver a casa de Hipólito; antes dela está o que é chamado de Fonte de Héracles , pois Héracles, dizem os mesmos, descobriu [ali] a água.” — v. §2.32.4. Pausânias, Descrição da Grécia
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Alguns sites que visito
Nos últimos dois anos estive refletindo demasiado sobre legado, a princípio uma questão esperada de qualquer um que faça arte: o dilema de ser lembrado, entretanto esses conceitos não limitam ao clássico "o que vão lembrar de mim" e outras questões existências ( apesar de existirem e ser uma das minhas frustrações com esse blog) e uma dessas ideias é que a internet é um lugar desmemoriado.
Um exemplo deste fenômeno é quando uma figura de renome subitamente para de postar, sua conta é deletada, uma mudança no algoritmo te força a abandona seu site pessoal ou o desfavorece tanto em relação a outros que seu público passa a tratar-lo como se estivesse morto e eventualmente o deixam para ser esquecido e se tiver sorte recordado quando o assunto de como era a internet naquela época for trazido a torna, mas como uma relíquia, agora pense em quão esquisito seria se você saísse do colégio e todo mundo que estudou contigo presumissem que você desapareceu da terra. Tá aí a questão, ninguém presume imediatamente a morte quando deixa de ver alguém por algumas horas ou semanas, você não deixa de fisicamente de existir, contudo no espaço online essa é a regra não dita.
E tive o azar infeliz de participar de um desses ocorridos, sendo a matriz e resposta do por que isso aqui se quer existe, depois de anos sem saber da onde vinham aquelas imagens cafonas e recentemente querer emular uma dessas por fim fiquei sabendo de toda a história do Blingee e resolvi visitar o site antes de tentar adentrar-lo, na semana seguinte quando apareço para entrar o site cai após 17 anos de uso...... entrei em choque e essas linhas de pensamento voltaram a tona com fervor.
Decorrente disso passei algumas semanas ponderando se alguém se importaria em me ler falando sobre alguns sites que conheço e gosto e bem hoje é o dia pois é melhor existir do que nunca ter existido. Abaixo estarão sobre três categorias:
Sobre Arte
Não recordo exatamente como encontrei este aqui, é (até onde sei) é o blog da ilustradora Natalya Zahn, iniciado em 2009 e parado deste maio de 2013 e o primeiro de uma trilogia de blogs de sua autoria. No quesito desenho seu estilo cai no realismo, não demora muito para notar sua paixão com cães e cavalos considerando quantos desenhos realizou os retratando e o que viria fazer mais tarde~. Carrego um olhar agridoce a esse, é nítido o quanto de esforço e amor foi posto neste projeto apenas para ser esquecido, mas não envergonhado.
As vezes me pergunto do por que ainda está de pé, considerando o quão datado se tornou ao longo da década e na melhor dos caso suma janelinha para um passado que nunca voltará, por outro lado talvez apenas esteja acostumado a ver autores indo embora e deixando nada para trás além de um aviso de ´´ essa é uma conta morta, me mudei para outro site´´ e quando o caso é realmente triste somente menções de outros. Fora isto ela teve um bico para a National Geographic onde se originou a foto de perfil.
No requisito leitura adianto que passar o Google tradutor em quase todos já é o bastante.
Passando para o segundo: este está mais para portfólio, possuindo uma aparência profissional agora o ano é 2015—2016 e como grande novidade houve duas publicações de livros ilustrados por ela: Ano Ártico e Obcecado por Cães, o último sendo um guia de como cuidar bem de seu amigo peludo.
A drástica mudança envolvendo sua arte é a nova predominância de cores, arrisco dizer cores típicas de aquarela, afastando-se ao máximo do anterior monocromático. Coisa essa nem tentarei arrumar motivo para tal.
Vasculhando um pouco encontrar o link para o terceiro blog, dedicado ao seu velho companheiro vermelho:
Tenha em consideração; ele nasceu em 2005, um dos post principais é comemorando seu aniversário de 10 anos e raças grandes não costumam comemorar os 15 anos muito menos 20.
Fugindo da redundância... Trago um contemporâneo! Atual e vivente a inclusão deste é uma peculiaridade por si só, encontrado enquanto buscava por paleoarte no neo.cites deparei com essa figurinha aqui. É um belo site pessoal dedicado a um tópico marginalmente ignorado na cultura popular e também por mim.
Afirmo sem nenhuma intenção de defesa: insetos não são minha praia e não vejo nada neles que seja atraente o bastante para puxar meu interesse e fixar-lo lá então é uma experiência estranha, desconfortável e nova visitar ocasionalmente um canto onde essas criaturinhas são celebradas, lembradas pelos seus feitos e o foco das atenções.
É aquilo
"se removemos qualquer um dos três grupos acima: aves, répteis e mamíferos, o planeta conseguirá se recuperar, entretanto tente mexer nas bactérias, peixes e insetos e veja o mundo arder em fogo" — Ninguém em particular
Prosseguindo sob a mesma veia o Livro das esculturas de ratos é autoexplicativo, especializado em taxidermia falsa de dinossauros e outros grupos extintos como os crocodilomorfos é um ótimo pra passar um tempo. Contrariando o nome dedica-se ao demais de artísticos e temas como fantasia, brincos, pulseiras etc......
As peças artesanais são excelentes, bonitas, com padrões de cores criativos ao olhar e somado com a dedicação em tornar-las naturalistas quanto se é possível, especialmente suas poses e como elas são tiradas o tornam um site bastante charmoso, apesar de excessivo e maçante quando visitado frequentemente.
De todos os meus passatempos observar pássaros é inusitado entre comparações, porque arrumei por arrumar mesmo e por uma vasta margem o que mais desgosto e capturar os bicudinhos em câmera numa boa qualidade provou-se um desafio tortuoso e inconstante, portanto não é surpreendente que um dia tenha cansado e ido atrás de estratégias online e taram, este livro aberto caiu como uma luva.
Seu objeto é partilhar os segredos por trás de uma boa foto de passarinho e posteriormente como mostrar-las para clientes, clubes ou só por hobbie, dai que soube do famigerado horário dos falcões.
Os pontos negativos deste são o fato de ter sido escrito inicio da década passada e que a maioria dos segredos serem atrelados a câmeras profissionais, para aqueles igual a mim em condição financeira compartilho um macete: é usar o que for aplicável para ti
O autor criou um site pessoal chamada O Terceiro Pássaro Sobre o Sol que neste contexto serve como uma alternativa aos interessados unicamente no resultado:
A proposta é a mesma do Love in Time in Chasmosaurus, analisar paleoartes retro ( dependendo do critério, tudo superior há 20 anos) expor tendências da época e refletir como a compreensão dos dinossauros e seus companheiros alterou-se, todavia o fator distinto deste está no tom: mais rígido e as vezes negativo.
Não o conheço tão bem para os descrever suas virtudes e fraqueza, mantenho por perto uma questão de praticidade: colher os benefícios de múltiplas análises sob o mesmo assunto.
Vexilologia? Vexilologia! Nada melhor do que criar bandeirinhas ( nacionais, sempre nacionais) com aparências marcantes e icônicas fugindo do manjado esquema tricolor: vermelho, branco e azul.
É só escolher mais de duas bandeiras atuais e ir sobrepondo seus elementos, criando a partir daí uma nova ou variação das pré existentes
De maneira geral o entendo como um passatempo, claro que é necessário um pouco mais de pensamento para criar algo menos ortodoxo e as vezes seu design pode se relevar menos charmoso do que o esperado, mas no final do dia é a diversão que conta.
Abaixo uma das bandeiras que fiz
Teimosia a parte, já conhecia uma alternativa de ante mão, Picmix, contudo não o dei atenção até o evento desafortunado forçar-me a adentrar-lo.
Mesma ideia com execução similar, por lá encontrará aquelas gifs tipicamente associadas com a cafonice, mensagens de tia, breguice e outros adjetivos negativos, mas olha a reviravolta, não creio nada disso delas e gosto de como são.
Também há aqueles fora da curva, projetos artísticos, desafios para a comunidade e adianto que algumas das imagens base para Gifs foram geradas por IA.
Com outras lentes: é um bom lugar
Considerando que uma parte do misticismo será inevitavelmente perdido, esta é uma das minhas fontes de Clipart e PNG.
É ridiculamente prático, bem organizado e acima de tudo grátis conseguir um bom material para as coisinhas que faço fora que antes de baixar qualquer coisa aparece de qual tamanho x largura vai querer.
Saindo do pragmatismo dá para vasculhar a vontade a sessão de padrões, planos de fundo, esculturas e a lista aumenta só para admirar o acervo diverso dessas.
#Fruhiar Karja#parte 1#de três#tenho que realmente justificar isso aqui como tag? é meio auto explicativo
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Prefiro o cinema. Prefiro os gatos. Prefiro os carvalhos sobre o Warta. Prefiro Dickens a Dostoiévski. Prefiro-me gostando das pessoas do que amando a humanidade. Prefiro ter agulha e linha à mão. Prefiro a cor verde. Prefiro não achar que a razão é culpada de tudo. Prefiro as exceções. Prefiro sair mais cedo. Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos. Prefiro as velhas ilustrações listradas. Prefiro o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não escrevê-los. Prefiro, no amor, os aniversários não marcados, para celebrá-los todos os dias. Prefiro os moralistas que nada me prometem. Prefiro a bondade astuta à confiante demais. Prefiro a terra à paisana. Prefiro os países conquistados aos conquistadores. Prefiro guardar certa reserva. Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem. Prefiro os contos de Grimm às manchetes dos jornais. Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas. Prefiro os cães sem a cauda cortada. Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros. Prefiro as gavetas. Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui a muitas outras também não mencionadas. Prefiro os zeros soltos do que postos em fila para formar cifras. Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas. Prefiro bater na madeira. Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando. Prefiro ponderar a própria possibilidade do ser ter sua razão. Possibilidades, Wisława Szymborska
In: Gente na ponte (1987)
#citou#wisława szymborska#literatura#literatura polonesa#poesia polonesa#literatura estrangeira#poesias#poemas#quotes#citações
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"Não deem o que é sagrado aos cães (DE SATANÁS"CORREÇÃO"), nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão. Mateus 7:6
(MANDAMENTO VERDADEIRO)
Na versão do Êxodo, lemos “Não cobiçarás a casa (ISRAEL/JERUSALÉM/PARAÍSO) do teu ESPÍRITO SANTO (ELOHIM&HALYSSON); não cobiçarás a mulher (ELOAH/ALICE/NOVAJERUSALÉM) do teu ESPÍRITO SANTO (ELOHIM&HALYSSON) […]” 1 Esta é parte dos Dez Mandamentos dados a Moisés no Monte Sinai.
SALVE CORJA DE MACHO E PORCO IMUNDO E ESTUPRADOR E MANÍACO DO PARQUE, QUE ESTÃO COM O PÊNIS TODOS PODRES E CHEIOS DE VERMES E BARATAS! ALÉM DE ESTAREM ERETOS E EXPLODINDO BIGATO (VERME) DA CABEÇA DO SEU PÊNIS. HAHA, VOCÊS ACHAM MESMO, QUE O ESPÍRITO SANTO, DEIXARIA ALGUÉM TOCAR EM ALGUMA DE SUAS NOIVAS? (VIRGENS&PROSTITUTAS)? FÉ, TODAS ELAS ESTÃO AQUI COMIGO, DENTRO DE MIM, E NUNCA FORAM TOCADAS POR NINGUÉM, SÓ POR MIM. E ESTÃO BEM LIMPINHAS, A VIRGEM E A PROSTITUTA, AS DUAS, BRANCAS E NEGRAS COMO A LUZ E O SOL. DESDE BÊBÊ E CRIANCINHA, TODAS AS MINHAS NOIVAS, BEM CLARO COMO MINHA LUZ: "TODAS", SEMPRE ESTIVERAM COMIGO, VIVENDO EM AMOR, PAIXÃO, RESPEITO, CARINHO, AFEIÇÃO, PUREZA, LUZ E GOZO. FODAM-SE, CORJA DE INVEJOSO IMUNDO. TALARICOS! AQUI É O LEÃO DA TRIBO DE JUDÁ, E TODAS AS MENINAS MARAVILHOSAS DE TODO O REINO DE VIDA E DE TODA A CRIAÇÃO, SÃO AGORA AS MINHAS NOIVAS.
EU SOU ESPÍRITO SANTO AMALDIÇOAR, IMPIEDADE, TRAIÇÃO, VINHO, IRA, FUROR, FOGO ETERNO, CRUZ DE VERMES, AMÉM!
Os demônios imploravam ao Espírito Santo: "Se nos expulsas, manda-nos entrar naquela manada de porcos". Ele lhes disse: "Vão!" Eles saíram e entraram nos porcos, e toda a manada atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar de fogo que arde com enxofre, e se suicidou afogada em vermes e larvas.
Mateus 8
youtube
#despertar espiritual#espiritualidade#guerra espiritual#mundo espiritual#proteção espiritual#Youtube
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Por mim se vai à cidade dolente, Por mim se vai à eterna dor, Por mim se vai à perdida gente. Justiça moveu o meu alto criador, Que me fez com o divino poder, O saber supremo e o primeiro amor. Antes de mim coisa alguma foi criada Exceto coisas eternas, e eterna eu duro. Deixai toda esperança, vós que entrais! — Canto III, Inferno - A Divina Comédia.
triggers: sangue, gore, morte.
Haviam gritos ensurdecedores que ecoavam bruxuleantes por toda parte. Miasmas de relva morta cobriam todo o limbo, e dentro da caverna de entrada tinham marcas de unhas e sangue arranhando a superfície das pedras. Vazio e desesperança pareciam despedaçar cada parte da alma jovem de Mammon, alma esta que jamais havia sentido a pressão infernal sobre sua existência. Ao contrário do que diziam as más línguas, toda existência nasce neutra, em uma existência cinzenta de matéria, plasma e infinito. Algo profundo ressoava no princípio de um ser místico.
Era como se fizesse parte de um todo e depois fosse arrancado como um pedaço individual dessa comunhão, para se tornar corpóreo, tangível. Ainda que fosse considerado sua infância, ainda possuía uma percepção diferente, uma espécie de consciência de toda essa energia. Demônios vinham do turbilhão, mas era correto pressupor que uma criança de colo é maligna? Mammon possuía os mesmos olhos curiosos para todas as coisas. Certamente havia algo de diferente na forma como experienciava todas as coisas, sempre com um tom pungente de sarcasmo e morbidez, sempre com certos excessos. Todavia, até meados do que seria considerado uma infância para sua existência, ele não havia presenciado realmente o que era diabólico. Gostava de sua vida e de sua mãe. Gostava de estar entre seus irmãos e de não ter um propósito maior do que explorar e conhecer.
Até que certa vez alguém veio, lhe tirou de sua mãe enquanto mal conseguia compreender que tipo de lugar iria que ela não estaria, ou o por quê o desespero vertia em gritos roucos e inúteis que se tornavam agonia ao ver sua casa ao longe.
"Você não é o que eu esperava de você, Mammon." Foi a primeira coisa que ouviu do homem que lhe carregava, e por alguma razão quis gritar que não importava o que ele esperava, mas sabia que não era verdade. Sabia que haviam expectativas apocalípticas sobre seus ombros, expectativas que não se importava em querer cumprir quando tudo que queria era voltar para sua casa.
Não era justo. Se as existências mortais que falavam sobre o criador ser misericordioso, onde estava essa misericórdia enquanto Mammon era levado para o abismo? Foi a única vez que ele rezou. Enquanto as almas dos aflitos agarravam seus pés e lhe puxavam gritando e pedindo por ajuda, todos cobertos por piche e pela chuva de sangue e visceras. Sentiu açoites, dentes de ferro, lâminas e risadas. Um rio de fogo onde se afogavam em uma danação eterna sem jamais chegarem à margem, sem jamais conhecerem o descanso. Um deserto de areias escaldantes escalpelava quem saía do rio, afundando-os em braços fundos onde criaturas peçonhetas lhe devoravaram. Haviam cães infernais que garantiam que todos permanecessem em suas penitências. Criaturas vis se divertiam com o desespero, com os gritos, com o horror e a tortura. Bebiam cada gota do medo e da dor. Quando as almas pareciam achar que não haviam como sofrer mais que aquilo, elas descobriam que sim, havia, em forma de outros círculos infernais e toda a criatividade macabra que um demônio pode ter.
"Não há lugar para covardes aqui, e nem para os fracos." Pontuou o homem ao lhe atirar no esmo, onde uma orda passou a lhe puxar em busca de um pedaço, em busca de poder, e o poder infernal vinha de subjugar, brutalizar e estilhaçar existências inferiores. Cada alma corrompida pela lama haviam se tornado tão sujas quanto seus algozes. Não havia nenhum tipo de centelha de misericórdia, e ali ele entendeu porque haviam marcas de unhas e mãos ensaguentadas nas pedras. "Se for capaz de sair, venha me encontrar." E foi a última vez que o viu em muito tempo.
Aquele em cima não havia ouvido suas preces então, pensou enquanto chamava por Lili e por seus irmãos, enquanto o fogo de Flagentonte lambia sua carne e ossos e o fazia gritar até ficar sem voz. Só queria voltar pra casa. O pior de tudo, era que não sabia porque sofria, porque tinha que ser assim. Nunca havia cometido nenhum dos pecados que os condenados respondiam em pena. Sua sina apenas fora escolhida sem que pudesse ter qualquer coisa a dizer. Apenas sabia de suas obrigações, mas escolheu ignorar cada uma delas até o último momento, com esperança de que não precisasse atendê-las.
Ninguém veio. Ninguém. Por um tempo incontável, até que sua alma tornasse uma consciência mais madura, adulta, Mammon esperou, por qualquer um, até não esperar mais. Havia passado tanto tempo olhando para o abismo, que o abismo lhe olhou de volta. Entendeu perfeitamente porque o poder era a principal moeda. Sem ganância, não era possível subir e sem subir permaneceria na lama, sofrendo, agonizando, sendo alvo das zombarias e do horror doentio dos condenados e dos demônios. Ele precisava ser o pior deles. Não precisava ser salvo por ninguém, ele mesmo se salvaria. Já que não havia escolhido sua sina, a abraçaria.
A moeda foi observada por um longo tempo.
Não tinha mais medo, dizia pra si mesmo, o que era algo potencialmente problemático. Entretanto, aquilo... Aquela lembrança era o que mais profundo estava enterrado em seu peito. Aquela lembrança que possuía uma guinada de minutos, mudou toda a sua existência. Antes um espírito que apreciava e degustava a vida, para... Bem, para aquilo que tinha que ser. Para tudo o que ele era. Para ser o mais vil e desprezível que uma criatura poderia ser. Sorriu ironicamente, com mãos trêmulas ao alcançar seu cigarro. Foda-se. Já fazia tempo demais.
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A MISSÃO ESPIRITUAL DO SEU CÃO
Sabias que o teu cão, além de te fazer companhia, veio com uma missão espiritual para te apoiar nos momentos mais difíceis da tua vida?
Os cães são criaturas que se deixam levar pelo amor, pelo carinho e pelo cuidado. Eles são honestos, leais e em extremo fiéis. Sim, são animais mas têm uma forma de ser que os fez ganhar o título de "o melhor amigo do homem". então, você também pode acreditar que os cachorros possam ser anjos que andam entre nós com uma missão especial para a humanidade.
Os cães são terapeutas emocionais, nunca hesitariam em se aproximar de você e te dar um bom linguado e acompanhar você se você se sente triste ou desanimado. A sua missão pode ser dedicada a uma só pessoa ou a todo um coletivo. Muitos cães fazem trabalhos impressionantes com uma pessoa ou podem impactar todo um grupo de pessoas como o seria uma família. Um animal de estimação pata em uma família torna-se um amigo inseparável, mas há alguns segredos por trás dessa amizade.
São protetores energéticos
Os cães são anjos protetores que absorvem tanto de você como dos lugares que habitas as vibrações de desequilíbrio. Depois se purgam com água, plantas e outros elementos. Eles até se sacrificam por você quando há más energias que podem te afetar. Sabem qual é a sua missão e não hesitam em proteger-te do que quer que seja. Algumas mortes súbitas de cães devem-se a essas energias fortes que absorvem.
Uma boa forma de purgar essa má energia dos bichinhos é dando-lhes muito afeto e carinho. As carícias devolve-lhes a alegria.
Eles escolhem você para você.
Além do que você acredita, eles escolhem você e não ao contrário. Mesmo quando você tem a oportunidade de "escolher" entre muitos cachorros, aquele que te escolheu se aproximará de você e ganhará a sua confiança e carinho para que você o seleções. E você saberá que escolheu bem, mas não foi você que escolheu.
Eles são portadores de amor incondicional
Os cães são fiéis. Diariamente te darão amostras de humildade e amor incondicional. Nunca sentirás que o teu cão te esqueceu porque sempre te chega a cumprimentar, move a tua cauda de felicidade ao vê-lo mesmo se só passaram 5 minutos desde que te deixaram de ver.
Os anjos caninos podem criar um vínculo tão especial que até mesmo a morte da pessoa que mais amavam os pode deprimir ao ponto de se deixar morrer porque a sua missão já não tem fim no mundo, já não lhe encontram o sentido à vida. Já se conheceram casos de que a perda do amigo humano leva esses animais de estimação a sofrer de uma espera "eterna", a esperança de que volte, e se compreendem que se foi para sempre se deixam morrer para se reunir com ele em outro plano De consciência.
Eles são sensíveis à vibrações de todos os tipos
Eles estão conectados com vibrações muito elevadas e são incrivelmente sensíveis. Eles são capazes de perceber muito mais do que você imagina, são radares energéticos, estão sempre alertas mesmo quando você os vê descansando. Eles têm uma sensibilidade auditiva impressionante, tal como o seu olfato e visão. Você pode ver através de dimensões e planos que as pessoas não podem perceber. É por isso que eles se colocam inquietos e ansiosos diante de uma presença estranha.
São os perfeitos terapeutas emocionais.
A nível pessoal estarão sempre pendentes do seu dono e da família que os tenha acolhido. Velam que tudo esteja sempre em harmonia. Quando sentem tristeza, depressão, desamor ou qualquer sentimento negativo, procuram a forma de melhorar o seu estado de Espírito. O movimento da sua cauda emite ondas vibracionais que harmonizam o ambiente. São sinais de amor.
Os cães são os melhores amigos, os melhores companheiros de vida; são brincalhões e inocentes, eles simplesmente são anjos que vão em 4 patinhas alegrando tua vida.
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Capítulo 3 - Amor de perdição
08 de Maio de 2011, 05:00 AM – Pedro Juan Caballero, Paraguai
Raul desceu de seu helicóptero em meio a uma clareira, próxima à sua plantação de maconha; ao seu lado, Martin Madrazo e Percy Chaccón. Passaram próximo às plantas, Raul colheu uma folha, colocou na boca e laqueou. Seus associados o aguardavam próximos às tendas, parados em formação.
Dentro de um dos acampamentos, Garcia, amarrado, amordaçado e com um saco plástico na cabeça. Quando os três adentraram, o saco foi removido, o dito “rei da fronteira” cuspiu sangue e arfou profundamente. Raul se aproximou, dobrando a manga de sua camisa. Alguns segundos depois, ele deu alguns tapas na cara dele, fazendo-o acordar.
- Soube que está atrapalhando o progresso dos irmãos, isso procede? – Fico questionou.
- Procede sim, senhor! – Ele exclamou, arfando e cuspindo sangue novamente.
- Então está ciente do porquê foi decretado. Isso é bom! – Fico pontuou, sinalizando para que o levassem para o lado de fora.
Amarraram o Garcia em um pedestal de madeira, com seus braços abertos. Fico vestiu uma capa de chuva transparente e tomou uma machete em mão. Antes de começar, cuspiu a folha mascada no chão, sentindo uma corrente elétrica passar por seu corpo.
No primeiro golpe, separou o braço direito do sujeito, que ficou pendurado ao mastro. No segundo, levou sua perna esquerda. À esta altura, sua capa já estava vermelha. – Podem trazer os cães, esse aqui já está subindo! – Ele zombou, passando a machete para Percy, que assumiu seu lugar. Terminando com os restos do sujeito.
Os retalhos de Garcia foram servidos aos cães, e o aviso de que a fronteira com o Brasil estava livre foi enviado. Fico e Percy se limparam, conversaram com seus afilhados e deixaram o local com Trevor. Sobrevoaram a plantação, até chegar a uma pista de pouso clandestina, mudando do helicóptero para um jatinho particular.
08 de maio de 2023, Segunda-feira, 19:00 PM – Manhattan, NY
A Mercedes GLA 250 de Raul parou frente ao prédio de Victória. Ele se lembrou da fatídica eliminação do ”rei da fronteira”, uma das últimas ações realizadas ao lado de seu amigo, Percy Chaccón; temido assaltante de bancos e antigo braço direito de Fico Segundo. Há cerca de dez anos, havia sofrido um acidente de moto, colidindo com uma carreta e ficando tetraplégico aos quarenta anos.
Martin Madrazo havia sido enforcado com o cadarço de seu tênis, na prisão estadual de Stockton. Daquele tempo, apenas Fico estava em atividade. Ele lamentava a morte ou a incapacidade da velha escola, sentia falta da rigidez da malandragem.
Cristina tinha grande responsabilidade na destruição da vida de Percy e Victória. Suas escapadas com o ex-sócio de Fico, levaram Ângela ao suicídio. Comprimidos para dormir e bebida foram seus algozes. Victória chegou do colégio e encontrou a mãe, no chão do banheiro, vítima de uma overdose induzida.
Os eventos trágicos vividos por Victória a desestruturaram completamente. Seu pai não era mais o mesmo; viúvo e excluído do comando, Percy se perdeu, caminhando para o acidente que por pouco não custou sua vida. Fico não o matou pelas traições, mas, este preferia estar morto à ficar de fora daquilo que mais amava.
Raul foi tirado do transe pelo manobrista, que batia em sua janela. Ele pegou sua carteira e seu celular, entregou a chave do carro ao jovem e se encaminhou para dentro. Parou frente as portas do elevador, respirou fundo e selecionou o andar do apartamento de Victória.
Enquanto subia até o andar escolhido, lembrava-se da promessa feita à Denise. Ele havia concordado em acabar com o sexo casual, mas, não poderia abandoná-la à própria sorte. Raul sabia que tinha de lidar com as consequências de seus atos passados e presentes, ainda que o incomodassem profundamente. Denise não entenderia.
Ele caminhou pelo corredor, passando pelas portas dos apartamentos vizinhos. Sentia-se como Dany Torrance, caminhando até a suíte mais perigosa do hotel Overlook. Tocou a campainha e aguardou. Alguns minutos depois, a enfermeira que cuidava de Percy o atendeu.
- Olá, em que posso ajudar? – Ela perguntou, olhando-o de cima à baixo e lançando um sorrisinho sacana.
- Vim ver meu amigo, Percy! – Raul exclamou, desconsiderando-a apesar da beleza.
- Como devo anunciá-lo? – Ela perguntou, percebendo o corte cirúrgico por parte dele.
- Raul Cortez! – Ele pontuou.
A jovem enfermeira adentrou o apartamento, parecendo incomodada com o descaso do bonitão. Demorou-se um pouco à voltar, mas, Raul manteve-se paciente.
- O senhor pode entrar! – Ela disse, insatisfeita.
Raul a seguiu até os aposentos de seu amigo. Ele estava em sua cadeira anatômica, observando a janela. – E aí, vagabundo, como está? – Percy disse, rindo. A enfermeira não imaginava que seu paciente fosse ficar tão animado com a visita. – Vanessa, nos dê licença, por favor!
- Estou fodido, mas, você parece bem! – Raul exclamou, sentando-se ao parapeito, frente aos olhos dele.
- Estou feliz que tenha vindo me ver, já faz algum tempo desde nosso último encontro! – Percy pontuou. – Fique para o jantar, a Vivi vai adorar!
- Ficarei por você! – Raul disse, engolindo em seco.
- Isso me alegra! – Ele exclamou.
- Como estão as coisas por aqui? Precisam de algo? – Raul questionou, realmente preocupado.
- Está tudo bem, a Vivi conseguiu um ótimo emprego. Ela é minha salvação! – Percy exclamou, parecendo orgulhoso, mas, seu amigo sentiu um enorme aperto no peito.
- A Victória é uma ótima garota! – Raul exclamou, sorrindo um pouco sem graça.
Percy não fazia ideia de que Raul bancava seu tratamento, seus remédios, seus cuidadores e todas as despesas de sua casa, incluindo os luxos de Victória. O apartamento onde moravam também pertencia à ele, bem como a empresa onde ela trabalhava.
- Como estão Marco e Mônica? Não os vejo há algum tempo! – Ele questionou.
- Estão bem. Marco foi para a França com a noiva e Moe está em casa com minha esposa e enteada! – Raul esclareceu, evitando tocar no nome de Cristina. Isso não seria nada confortável, para nenhum dos dois.
- Você ainda está em atividade ou o Fico Terceiro já assumiu? – Percy perguntou, parecendo bastante interessado.
- Até o momento só existe Fico Segundo! – Raul exclamou, sorrindo de um jeito malicioso. Seu amigo riu amplamente.
- Tu lembra da primeira vez que fomos pra tranca? – Percy perguntou, rindo.
- Culpa sua, foi cobrir o sargento de porrada. Tava pensando em quê? – Raul exclamou, rindo ainda mais.
- O filho da puta ficou todo ferrado! – Percy disse.
- Pode crer! – Raul completou.
- Tu não tinha nem bigode quando entrou pro quartel! – Percy sacaneou com ele.
- Porra, vacilo falar isso! – Raul disse, rindo outra vez.
- E aí seus maloca! – Victória disse, entrando repentinamente no quarto.
- Qual é Vivi? – Raul perguntou, cumprimentando-a de longe.
- Vocês estão com cara de quem está aprontando! – Vic exclamou, rindo e se aproximando de seu pai. Ela o abraçou e deu um beijo em sua testa.
- É só resenha! – Percy exclamou, rindo.
Após alguns minutos, Vanessa parou na porta do quarto e disse: – Senhor Chaccón, está na hora do seu jantar, posso servir?
- Claro! – Ele respondeu. Victória o conduziu até a sala de jantar, sendo seguida por Raul.
Antes que pudessem se acomodar à mesa, o celular dele tocou. Raul pediu um minuto para atender e voltou para o quarto de Percy, sentando-se novamente no parapeito da janela. Do outro lado, Caio Valério aguardava.
- Salve meu padrinho! – Valê exclamou.
- Dá o papo! – Raul exigiu.
- Pegamos dois aqui no beco dando mole. O senhor quer dar um confere? – Valê perguntou.
- Amacia eles aí, chego em meia hora, já é? – Raul exclamou, desligando em seguida.
Raul voltou para a sala de jantar, um pouco acelerado, mas, ainda assim, tentando manter o clima ameno. Sentou-se ao seu lugar, mas, sua cabeça não parava de fervilhar.
- Tá tranquilo? – Percy questionou.
- Tô sim irmão, mas, não vou poder ficar para a sobremesa! – Raul exclamou, tentando não prolongar muito a conversa.
- Função? – Percy insistiu.
- É por aí! – Raul disse, concentrando-se em seu prato.
Victória ficou excitada ouvindo-o falar como um delinquente. Achou por bem passar um de seus pés pela perna dele, mas, ele desviou seu toque, surpreendendo-a.
- Por que a Mônica não veio? – Ela questionou, aborrecida com ele.
- Ela e as meninas estão preparando as coisas pra voltarmos pra Califa! – Raul disse, desconsiderando seu tom.
- Nossa, mas, vocês acabaram de chegar! – Vic exclamou, revirando os olhos.
- Eles têm assuntos à resolver! – Percy pontuou. Raul assentiu.
- Que correria! – Ela disse, revirando os olhos. Enquanto alimentava Percy, Vanessa estava observando Raul, e seu jeito abusado irritava Victória.
- Pior Vivi! – Ele exclamou, sorrindo de um jeito tímido. O coração dela tamborilou.
- Pelo menos você veio nos visitar! – Ela disse, fazendo-o engolir em seco.
- Eu não iria embora sem me despedir! – Raul exclamou, tentando parecer casual.
- Bom senso, não é, amado! – Vic pontuou, revirando os olhos. Raul sabia que ela podia ser rancorosa às vezes, mas, suas indiretas estavam ferrando com ele.
- Nunca errou! – Ele disse.
- Quando vocês voltam? – Ela questionou, surpreendendo à todos.
- Não sei dizer, temos muitos perrecos pendentes! – Raul pontuou, tentando esquivar-se.
- Aposto que sim! – Vic exclamou, lançando um olhar efusivo para ele.
- Deixa baixo! – Ele pediu.
- Como sempre! – Ela declarou, dando um chute na canela dele.
- Obrigado pela recepção, meu cria! – Raul disse, tentando disfarçar a dor.
- Porra, já vai? Mal tocou na comida! – Victória questionou.
- Eu preciso ir, sinto muito! – Ele lamentou, levantando-se. Ela também se levantou, seguindo-o até a porta do apartamento. Ele podia ouvir seus passos pesados, e isso o deixava temeroso.
- O que está rolando contigo? – Ela questionou, segurando a porta.
- Vamos conversar ali fora, por favor! – Ele pediu, sussurrando. Ambos saíram, ela fechou a porta atrás deles.
- Por que você vai embora, amor? – Vic perguntou, puxando-o pelo braço.
- Tô na atividade! – Raul esclareceu, tentando livrar-se dela.
- Você está agindo de um jeito muito estranho! – Ela exclamou, revirando os olhos.
- Presta atenção boneca, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance pra que você e o coroa fiquem na boa, mas, nosso lance acabou! – Ele exclamou, beijando o rosto dela.
- Do que você está falando? Por quê? – Victória exigiu, seguindo-o pelo corredor.
- Porque a casa caiu. Melhor você ficar na encolha e não aparecer por um tempo. Se precisar de alguma coisa, chama no pré-pago! – Raul disse, parando frente à porta do elevador.
- Caralho, que merda, eu não quero dinheiro, quero você! – Ela exclamou, parecendo aborrecida.
- Acha que isso não dói em mim, meu amor? Mas, a única coisa que posso te dar é dinheiro! – Ele admitiu, selecionando o andar do piso térreo.
- Não faça isso comigo! – Ela exigiu, e ambos adentraram o elevador.
- Me perdoe por isso, mas, as coisas estão complicadas pro meu lado! – Raul disse, e ela o agarrou. As portas fecharam. Ele a acolheu em seus braços.
- Você veio aqui pra terminar comigo? – Vic questionou, com lágrimas nos olhos.
- Não chora, amor, tem que ser assim! – Ele pediu, limpando as lágrimas dela.
- Eu te amo! – Victória exclamou, beijando a boca dele.
- Eu também te amo, Vivi, mas essa parada tá errada. Você tem que seguir sua vida! – Ele lamentou, e um nó se formou em sua garganta ao ver o sofrimento dela. As portas do elevador abriram, ambos se afastaram.
Raul saiu do prédio, imaginando que Victória não aceitaria o término. Essa não era sua maior preocupação, mas, ainda assim, o pensamento pairava por sua mente. O trânsito à sua frente parecia suas ideias mais frenéticas. Ele não gostaria de chorar perto dela, por isso, seu carro foi o confessionário. Ele esvaziou seu cantil de whisky, tentando amenizar.
Ao chegar à zona portuária, ele se lembrou da madrugada lancinante que teve. O momento não correspondia ao status quo, ele estava ali por outro motivo. O fardo da chefia era pesado, mas, ele tinha o costume de suportar. Desceu do carro e se encaminhou para a entrada.
- Qual é, neguinho, onde pensa que vai? – O segurança do local exigiu, colocando o cano na cara dele.
- Porra, Gilmar, tu é o bicho! – Raul exclamou, rindo e abraçando seu amigo.
- Satisfação, meu padrinho! – Gilmar disse, na sagacidade.
- Cadê os moleques? – Ele questionou.
- Lá no fundo, patrão! – Gilmar exclamou, apontando com os olhos. Suas mãos estavam ocupadas com uma AK47.
- Vamos passar esses filhos da puta! – Raul disse, encaminhando-se para dentro. Gilmar o seguiu. Ao chegarem, encontraram Valê e Fredo, apavorando os malucos. – Quem são esses caras?
- Dois cabeças secas que estavam na minha cola. Satisfação, padrinho! – Fredo exclamou.
- Porra, agora vocês arrastam os botas? Qual é a cena? – Raul disse, revirando os olhos.
- Eles chegaram metendo moral e pedindo grana! – Valê esclareceu.
- Que grana, seus merdas? – Raul questionou, antes de dar um tapa na cara de cada um dos filhos da puta que estavam amarrados.
- Aquela do depósito do Ortega! – O meganha da direita respondeu.
- Quem me garante que não foram vocês que passaram fogo naquela porra e sumiram com o dinheiro? Cês tão de sacanagem comigo, caralho? – Raul exigiu, transparecendo aborrecimento.
- Não senhor! – O meganha da esquerda exclamou.
- Bota esses merdas de volta no saco! – Raul exclamou, e Gilmar se adiantou.
- Não, pelo amor de Deus, senhor! – Eles imploraram.
- Pelo amor de Deus o quê, filho da puta? – Raul questionou, se aproximando.
- O Ortega quer um nome, ele tá pressionando! – O meganha da direita exclamou.
- Vou mandar tua língua pra ele, acha que vai servir? – Raul pontuou, rindo da cara deles. – Não fode, porra!
- Não coloca a gente no saco, a gente fala! – O meganha da esquerda implorou.
- Fala o que, caralho? – Raul exigiu.
- Onde o Ortega está! – Ele exclamou.
- Tem mais algum cu azul envolvido? – Raul inqueriu, enfiando o cano na boca do cara.
- Não tem não, senhor! – O meganha da direita exclamou.
- Tem certeza, filho da puta? Não vou perguntar outra vez! – Raul exigiu, destravando a arma.
- Tenho sim, senhor! – Ele exclamou, engasgando.
- Dá o papo logo, vou largar o dedo! – Raul pontuou, colocando o dedo no gatilho.
- Ele tem uma concessionária no Brooklyn! – Ele respondeu. Raul explodiu a cabeça do meganha da esquerda.
- Passa esse otário aí e some com tudo! – Raul disse, recebendo um lenço de Valério e limpando o cano de sua arma.
- Entendido, patrão! – Fredo exclamou.
- Você não, porra, os dois aí. Você vem comigo! – Raul pontuou, saindo do local. Ele o seguiu imediatamente.
- O que o senhor precisa? – Fredo questionou.
- De onde saíram esses caras? – Ele exigiu, guardando sua arma.
- São dois idiotas aqui da área. Vieram falando que queriam uma grana pra sumir, porque o Ortega tá pressionando, querendo saber quem foi o responsável pela operação na boate e os caralhos! – Fredo esclareceu.
- De certa forma, eles conseguiram sumir! – Ele zombou.
- Podemos dizer que sim, mas, o que faremos com o Ortega? – Fredo perguntou.
- Vamos ter que passar esse filho da puta logo! – Raul pontuou.
- Claro, padrinho! – Fredo concordou.
- Aquele merda abriu caminho para o Galindo, mas, nós vamos fechar! – Ele esclareceu. – E o Caíto, descolou alguma coisa?
- Sei que o senhor não quer minha opinião, mas, acho que ele não tem nada à ver com as cagadas da Cecília! – Fredo pontuou.
- Pode falar, moleque, qual foi? – Raul questionou, sacando um cigarro e acendendo.
- Levei um papo com a Victória, e pelo jeito, a Cecília só estava querendo arrumar um acompanhante para a Mônica ir ao casamento. Nada à ver com o comando ou qualquer coisa parecida. Acho que ela não tinha noção de quem o Menéga realmente era! – Fredo pontuou, acendendo um cigarro também.
- Impossível, porque o Menéga já era sócio do Ortega antes mesmo de iniciarmos nossas operações com a P.C Média. Não precisa se culpar pelo que aconteceu com ele. Uma hora ou outra a casa ia cair! – Raul esclareceu.
- Espera, o senhor quer dizer que ele já era faccionado quando me pediu para apresentá-los? – Fredo questionou, completamente perturbado.
- Exatamente; ele vinha tentando me vender a operação do Ortega há uma cota. O Caíto vivia me enchendo o saco pra armar um encontro, mas, como o Menéga era um cagoete filho da puta, e eu não gosto de trabalhar com gente assim, nunca aceitei! – Raul pontuou.
- Porra! – Fredo exclamou, esfregando o rosto nervosamente.
- Me desculpe por não ter dado o papo logo de cara, mas, não sei o quanto o Caíto está devendo nessa, então, tenho que ser cauteloso! – Raul exclamou, apertando o ombro do afilhado.
- Quem é o Galindo? – Fredo perguntou, tentando entender.
- Um bostinha que vive na fronteira com o México, brincando de chefe de Cartel com os índios e os Yankees! – Raul exclamou, revirando os olhos.
- Caralho, padrinho, esse puto fornece pro Ortega? – Ele questionou, demonstrando preocupação.
- É por aí! – Raul exclamou.
- Vamos derrubar o barraco desses comédias! – Fredo pontuou, sentindo raiva por ter sido usado por alguém que considerava amigo.
- Vamos sim, mas, na calma. Não quero erros nessa parada! – Raul disse, jogando a bituca fora.
O celular pré-pago de Raul tocou mais uma vez, do outro lado, um de seus braços, Arturo Urquiza, vulgo Argentino. Ele pediu um tempo para atender, afastando-se um pouco de Fredo.
- Padriño! – Arturo cumprimentou.
- Fala aí, irmão! – Raul respondeu.
- Se liga, chefe, tem uma pica com o Romero pra resolver! – Ele exclamou.
- Caralho, Argentino, pica é o que eu tenho, isso aí é uma rola que puta que pariu! – Raul disse, gargalhando.
- Já está voltando? – Arturo questionou, rindo muito também.
- Aguenta a mão aí, meu braço, chego amanhã! – Raul esclareceu, acendendo outro cigarro.
- Já é! – Ele disse, antes de desligar. Raul voltou ao encontro de seu afilhado, que parecia bastante desconfortável. Gilmar e Valê saíram do galpão. – Qué passa?
- Tudo certo no bagulho! – Gilmar exclamou.
- Vamos vazar daqui! – Raul disse, encaminhando-se para seu carro.
- Pode crer! – Gilmar confirmou, dando área também.
- Até que foi suave! – Valê exclamou, esfregando o rosto nervosamente.
- Vai se foder, Caio! – Fredo disse, segurando-o pela gola da camisa.
- Caralho, qual foi? – Valê exigiu, espantado.
- Qual foi o quê, porra? Esses filhos da puta vieram atrás de mim por causa das suas ambições. Quando pretendia me contar sobre sua “amizade” com o Menéga? É melhor tu pedir pra sair, senão, eu vou te ripar, vacilão do caralho! – Ele exclamou, empurrando Caio.
- Tá falando de quê? – Valê questionou.
- Acabei de fazer papel de otário pro patrão, tentando limpar sua água, e você de conchavo com a concorrência? Quero você fora do comando e da cidade. Tem até amanhã! – Fredo disse, virando-se para ir embora também.
À caminho de seu carro, Fredo ligou para Raul e explicou o que havia acabado de acontecer. Ele lamentou a decisão, mas, não questionou, pois, o Gago fez o que tinha que fazer. A situação entre os dois se tornou insustentável quando os vacilos da família de Caio repercutiram sobre a rotina de Fredo.
Ao chegar na garagem do prédio de Mônica, o pré-pago de Raul tocou novamente. – Padriño, escuta me! – Valê exclamou, apavorado.
- Caíto, essa porra tinha que acontecer! – Raul pontuou severamente.
- Eu vou ser penalizado por causa de uma cagada de adolescente? – Ele questionou, parecendo bastante aborrecido.
- Você sabe que não é só isso. Se a Cecília transitava livremente pelo território inimigo, é porque tem coisa errada. Considere-se com sorte, está saindo vivo. Faça o que o Gago mandou! – Raul disse, preparando-se para encerrar a chamada.
- Porra, padrinho, te acompanho há mileduque! – Ele exclamou.
- Não fode, Caio. O decreto começa correr à partir de amanhã! – Raul exigiu, encerrando a chamada.
Ele se encaminhou para o apartamento, com a cabeça pesada, cheio de paranoias. Todas as merdas aconteceram de uma vez, e ele lamentava ter que fazer tudo tão às pressas. Ao chegar, pegou a chave e destrancou a fechadura.
Denise se adiantou e abriu a porta, exigindo: – Tu tava onde, porra?
- Negócios! – Ele exclamou, passando por ela e encaminhando-se para o banho.
- Me fala, Raul, onde você estava? – Ela exigiu mais uma vez, puxando-o pelo braço.
- Abaixa o tom! – Raul pontuou, encarando-a seriamente.
- Tu tava com aquela vagabunda? – Denise gritou, empurrando-o.
- Tava na puta que pariu, foda-se onde é que eu tava, caralho! – Ele gritou de volta, afastando-se dela. Denise deu um tapa na cara dele. Raul ficou vermelho de raiva.
- Olha como fala comigo, filho da puta! – Denise exigiu, tentando se aproximar. Raul segurou as mãos dela antes que o batesse novamente e encarou seus olhos com uma fúria jamais vista.
- Nunca mais me chame assim, ou, essa porra não vai acabar bem! – Ele exclamou, soltando-a e se encaminhando para o banheiro.
- Agora você me ameaça? – Denise o seguiu, questionando.
- Escuta aqui, meu amor, eu não sou homem de ameaças, mas, também não sou de machucar mulheres. Não me provoca, caralho! – Raul pontuou, encarando-a. Ela avançou sobre ele.
- Vai fazer o que? – Denise exigiu. Raul foi sobre ela, pegando-a no colo. O vestido dela subiu.
- Vou te foder! – Ele respondeu, afastando a calcinha dela, penetrando-a em seguida. Ela gemeu e arqueou a coluna, sentindo sua pele estremecer.
- Cachorro! – Ela disse, mordendo o lábio inferior antes de beijá-lo. As penetrações ficaram mais rápidas e profundas. Ele rasgou o vestido dela, expondo seus seios, chupando seus mamilos em seguida. – Ai caralho! – Ela gemeu.
- Fala que me ama! – Ele exigiu, colocando-a no chão, virando-a contra a parede e penetrando-a por trás com voracidade. Ele agarrou o cabelo dela, fazendo sua cabeça encostar contra seu peito. – Fala, caralho!
- Eu te amo! – Ela gemeu mais uma vez. Ele deu um tapa na bunda dela, antes de rasgar completamente seu vestido.
- Fala mais uma vez, eu não escutei! – Raul exigiu, soltando seu cabelo e agarrando seu quadril.
- Eu te amo, porra! – Ela gritou, empurrando contra ele, aumentando a intensidade da foda.
A intimidade dela se apertou em torno dele, fazendo-o suspirar. Suas transas costumavam ser intensas, mas, nenhuma como essa. Ela sabia o quanto podia ser perigoso provocá-lo, mas, isso a deixou com muito tesão. Ele mordia o pescoço dela, enquanto empurrava com força para dentro. Os dois gozaram juntos.
- Você me ama? – Ela questionou, virando se para ele, buscando o fôlego e tentando conter os tremores de suas pernas.
- Eu te amo, minha gostosa! – Ele respondeu, puxando-a para si e beijando-a.
- Tá falando da boca pra fora? – Denise perguntou, encarando seus olhos.
- Claro que não, amor! – Raul pontuou, apertando-a em seu abraço. – Eu prometi que não iria mais te trair, estou cumprindo minha promessa, então, não fica no meu pé!
- Onde você estava? – Ela questionou, beijando-o em seguida.
- Denise! – Ele exclamou, revirando os olhos.
- Me fala, amor! – Ela pediu, apertando-o. Ele a puxou para baixo do chuveiro, tirou o resto da roupa, abriu o registro e a água quente caiu sobre os dois.
- Eu tava em uma missão, passei dois canas e exclui um dos meus braços por insubordinação! – Raul respondeu, apertando-a novamente. – Satisfeita?
- Porra, Raul, que merda! – Denise exclamou, parecendo espantada.
- Você não deveria ouvir essas coisas, mas, se faz questão, vou te contar tudo, tá certo? Eu tô te dando o papo porque te amo, mas, para de ficar me pressionando! – Ele pontuou, beijando-a.
- Você me ama? – Ela perguntou, sorrindo de um jeito sacana.
- Pra caralho; acha que eu deixaria você mandar em mim se não amasse? Mas, para com essa porra dessa fanfarronice! – Raul exclamou, dando um tapa na bunda dela.
- Você é tão mandão, isso me deixa excitada! – Denise pontuou, mordendo o lábio inferior dele.
- Foi por isso que você quis me dar, não foi, safada? – Ele questionou, beijando-a intensamente.
- Convencido! – Ela exclamou, apertando-o.
- Gostosa! – Ele disse, segurando o cabelo dela.
- Me chupa! – Denise pediu, fazendo-o descer até o meio das pernas dela. Os gemidos vieram em seguida, quando ela sentiu a língua dele percorrer sua intimidade.
Terça-feira, 05:00 AM
Raul estava na cozinha, passando um café e pensando em sua árdua caminhada. Herdar o comando do seu pai foi a pior merda que poderia ter acontecido, ele só queria ser um advogado, tocar a vida um dia de cada vez, sem tantas preocupações com segurança e lealdade.
- Bom dia, pai, caiu da cama? – Mônica perguntou, aproximando-se dele.
- Bom dia, minha vida, eu nem subi nela! – Ele exclamou, abraçando-a e dando um beijo em sua testa. – Desculpe pelo tumultuo ontem, não queria que as coisas chegassem à esse ponto!
- Relaxa, a vida é assim! – Moe disse, sentando-se frente à bancada.
- Quer café? – Ele perguntou, pegando duas canecas e servindo.
- Claro! – Ela exclamou, recebendo seu elixir.
- Porra, a Denise tá foda, toda hora me enchendo de perguntas! – Raul disse, sentando-se ao lado dela.
- É por isso que não vou me casar! – Moe exclamou, tentando conter o riso.
- Faz muito bem! – Ele pontuou, revirando os olhos antes de sorrir.
- Acha que é uma boa ir pra Charming com vocês? – Moe questionou, bebendo seu café.
- Claro, você não pode me deixar sozinho com aquela megera! – Raul disse, rindo.
- Para pai, ela só quer o seu bem! – Moe disse, rindo também.
- Você está pronta para assumir a frente? – Ele questionou, encarando-a.
- Estou sempre pronta! – Ela exclamou.
- Vamos nos encontrar com o Romero hoje à noite! – Raul pontuou.
- Beleza, vamos cair pra dentro! – Ela disse, bebendo mais café.
- Acha que pode assumir o lugar do Caio na P.C Média? – Ele questionou.
- Poder eu posso, mas, não sei se quero! – Moe pontuou, rindo.
- Você disse que estava pronta para ir de frente, como não quer? – Raul perguntou.
- Não quero ficar presa numa sala, cercada por engravatados. Quero cair pra dentro, no campo, do seu lado. Vamos meter marcha, resolver essas picas! – Moe disse, surpreendendo-o.
- Você não nega o sangue, é mesmo neta do Filipe! – Ele exclamou, sorrindo. – Vou passar os negócios na P.C para o Marco!
- Acha que o Gago vai dar conta? – Moe perguntou.
- O Gago não está aguentando a pressão sozinho, e o seu irmão precisa aprender a fazer o corre! – Raul esclareceu, acendendo um cigarro.
- O senhor tem alguma coisa à ver com o sumiço do Menegazzo? – Ela questionou, pegando o cigarro dele e tragando antes de devolver.
- Eu mandei o Gago passar o cara, era um vacilão! – Raul esclareceu.
- Quem é o próximo? – Moe questionou mais uma vez.
- O Pedro Ortega! – Ele admitiu.
- Nós dois vamos passar esse cara, deixa o Gago fora da parada. Chama o Gilmar e o Argentino, eles são mais discretos! – Moe pontuou.
- Como você soube? – Raul perguntou, parecendo surpreso.
- De onde eles tiraram a ideia de explodir o estoque do cara? Essa parada tá rolando nas ruas! – Moe exclamou, revirando os olhos.
- Foi ideia do Otto! – Ele disse, rindo.
- O Otto não manja nada de ações em campo, o lance dele é tecnologia. Pensando bem, acho que vou trazer o Argentino pra cá e vamos subir pra P.C Média. Esses caras estão vacilando demais! – Ela pontuou seriamente.
- Acha que a Bianca toparia entrar de frente contigo? – Raul questionou, se animando com a sagacidade de sua filha.
- Ela sempre me disse que queria abrir uma grife e os caralhos, acho que pode ser um bom lance pra lavar dinheiro. Moda gera alto, além de não chamar atenção! – Moe expos.
- Por mim tá fechado, joga o papo nela durante a viagem. Quanto ao Argentino, vai ter ideia pra bolar na Califa, mas, acho que pode acontecer sim! – Raul exclamou, sorrindo.
- Você tem certeza de que me quer de frente? – Moe questionou, enquanto bolava um baseado.
- De hoje em diante, o comando é seu, só vou acompanhar! – Ele pontuou denotando sua assertividade.
- Primeiro passo é ripar o Ortega e incorporar os remanescentes, depois, vamos empurrar os cretinos pra lá da fronteira. Pelo amor de Deus, chega de explosões em solo americano, caralho, isso deixa todo mundo em choque e coloca o puto do Romero no nosso pé! – Moe pontuou.
- Te ensinei direitinho! – Raul exclamou, gargalhando.
- Esquematiza a operação com o Gilmar, quando voltarmos pra cá, vamos varrer esses comédias! – Ela disse, acendendo o baseado.
- Missão dada é missão cumprida, minha rainha! – Raul exclamou, olhando para ela com orgulho.
- Achei que eu fosse sua rainha! – Denise disse, se aproximando dos dois.
- Dá um bola aí e relaxa! – Ele pontuou, recebendo o baseado e tragando profundamente. Raul passou o baseado para ela.
- Avisa o Argentino que é pra levar dinheiro, pó e uns ferros pra acalmar o Romero. Aquele cara é um atrasa lado, sem comissão ele vai ficar embaçando! – Moe pontuou, pegando seu baseado de volta. – Vou subir, arrumar minhas coisas e acordar as meninas. Vocês dois, atividade, o voo sai às nove!
- Ela tá cheia de marra! – Denise exclamou, vendo sua enteada subir as escadas.
- Ela é a dona do comando, marra é o sobrenome dela! – Raul disse, completamente satisfeito.
- Você enlouqueceu? – Denise questionou, completamente estarrecida.
- Estou mais sóbrio do que nunca. Pensou que eu colocaria a Jordana de frente? – Ele inqueriu, sacaneando com ela.
- Nem brinca com uma coisa dessas! – Denise exclamou, estremecendo.
- Fica em paz, minha dama, só estou de sacanagem! – Raul disse, puxando-a para um abraço.
Quando Moe chegou ao seu quarto, Bianca e Jordana já estavam fechando suas malas. Jordie já havia separado os looks de sua irmã e os colocado sobre a cama.
- Está tudo bem, amiga? – Bianca questionou, aproximando-se dela.
- Tranquilo. Precisamos conversar sobre aquela sua ideia! – Moe exclamou, tragando antes de passar para ela.
- Sério? Caralho, quando? – Bianca ficou animada.
- Vou resolver umas paradas na Califa, quando voltar, tu vem comigo e fechamos esse esquema. Mas, é um lance para o comando, tudo bem? – Ela questionou, encarando-a.
- Claro amiga, o que precisar! – Bianca exclamou, tragando o baseado.
- Acha que o Jax vai embaçar? – Moe perguntou, colocando suas roupas na mala.
- Eu e o Jax não estamos bem há um tempo, ele não tem que falar porra nenhuma! – Ela pontuou, revirando os olhos.
- Amiga, nós precisamos ter certeza do que estamos fazendo. Não seria o caso de bolar uma ideia com ele? – Moe questionou.
- E falar o que? – Bianca exigiu.
- Essa parada não é um lance passageiro, vamos precisar ficar aqui permanentemente! – Moe esclareceu. – Pensa um pouco, depois a gente conversa, fechou?
- Tem um lugar pra mim nesse lance? – Jordie perguntou, se aproximando.
- Por enquanto não, baixinha. Você é muito nova! – Moe disse, abraçando-a.
- Não quero mais morar em Charming, aquele lugar é um buraco de merda! – Jordie lamentou. Moe caminhou ao lado dela até a varanda.
- Essa cidade corrompe as pessoas, não é lugar pra você. Tem que fazer sua cabeça, se fortalecer antes de cair pra selva, entendeu? – Moe esclareceu.
- Você não vai me deixar apodrecendo lá, não é? – Jordie questionou.
- Claro que não, meu anjo, relaxa. Só que não posso te colocar no comando! – Ela pontuou, encarando a irmã.
- Isso é uma merda! – Jordie lamentou.
- Estou fazendo o possível pra adiantar nosso lado, mas, essas coisas levam tempo. Não quero vocês duas no crime, sei que meu pai também não quer. Essa pica é minha e do Marco! – Moe pontuou.
- Não entendo por que eu e a Bibi estamos fora! – Jordie exclamou.
- Porra, baixinha, eu e o Marco fomos criados pra ser frente, abrir caminho seguro para vocês passarem. Essa parada é muita sujeira, tá sabendo? Vocês vão ficar bem, mas, longe dessa vida! – Moe esclareceu, recebendo o baseado de sua amiga.
- Quer dizer que você assumiu o comando? – Bianca questionou, parecendo espantada.
- Não oficialmente, mas, assumi sim! – Ela pontuou, tragando profundamente antes de apagar a ponta no cinzeiro.
- Caralho, Mônica, o papai se aposentou? – Jordie perguntou, perplexa.
- Jamais, o velho é meu braço. Por hora, vamos esquecer essa porra, temos um voo para embarcar! – Moe exclamou, rumando para pegar sua mala.
Eles voltaram para Charming. Cada qual trazia consigo uma sensação diferente. Moe estava ansiosa com as novas responsabilidades, mas, queria muito reencontrar seu antigo affair, o argentino que ela mais gostava nesse mundo. Bibi e Jordie estavam animadas, pois, planejavam uma rave cabulosa na fazenda dos pais de Bianca. Denise estava com raiva e ciúmes. Raul estava chateado com o término, e acabou mantendo-se mais afastado que o normal.
22:00 PM – Charming, CA
Em uma clareira, logo ao fundo do condomínio Charming Heights, Mônica e seu segurança aguardavam a chegada de Romero. Apesar de ser sua primeira vez como frente do comando, ela estava calma. Arturo fumou vários cigarros, temendo pela vida dela.
- Relaxa, lindinho, nós vamos dobrar esse maluco! – Moe disse, sorrindo para ele.
- Você me surpreende à cada dia. Como pode estar tão calma? – Ele questionou.
- Os federais querem o mesmo que nós, evitar uma guerra criando uma guerra. Vai dar certo, confia! – Moe disse, dando um selinho nele.
- Eu confio em você com a minha vida, mas, não confio nesse vira folha! – Arturo pontuou.
- O que aconteceu em Nova York adiantou os planos na mudança de liderança, mas, é melhor assim, meu pai já estava ficando visado demais! – Moe esclareceu, acariciando o rosto dele.
- Você é muito jovem para esse trabalho, isso me preocupa! – Ele lamentou.
- Contigo ao meu lado, vou dar conta! – Moe disse, encarando-o, com um sorriso tímido nos lábios.
- Você só me ilude! – Arturo exclamou, rindo e beijando-a em seguida. Moe se sentia segura ao lado dele.
- Jamais, sabe o quanto te considero. Nós dois somos fechamento certo, eu quero muito que você vá pra Nova York ficar comigo! – Ela exclamou, retribuindo o beijo.
- Se o Gago não zicar! – Ele disse, revirando os olhos.
- Quem te falou sobre o Gago? – Moe questionou, sorrindo de um jeito sacana.
- Esse lance de vocês é sério? – Ele perguntou, parecendo incomodado.
- Não rolou nada demais, não se preocupe! – Moe exclamou, beijando-o outra vez. Ela gostava do jeitinho ciumento dele.
Alguns minutos depois, os faróis da Hammer pontaram na estrada. Romero estava chegando. Os dois desceram do carro e aguardaram entre as árvores, porque nenhum deles confiava no cara. Ele se aproximou, apagou os faróis e desceu sozinho. Arturo destravou sua arma, enquanto caminhava atrás de Moe para junto dele.
- E aí milica, o que manda? – Moe questionou, encarando Romero.
- O que vocês vão fazer à respeito do desacerto em Nova York? – Ele questionou, acendendo um cigarro.
- Vamos expandir os negócios, e o Galindo vai ter que se render; essa competição está chamando atenção demais! – Ela pontuou.
- Acha que vai conseguir acalmar os ânimos? – Romero questionou, sorrindo para ela.
- Dinheiro tem um efeito calmante nas pessoas! – Moe esclareceu, sinalizando para que o Argentino entregasse os malotes e o resto das mercadorias.
- Muito esperta! – Romero disse, com um brilho nos olhos ao notar quanta grana havia acabado de entrar.
- Não é expertise, é gestão, tá sabendo? Não quero barulho nas ruas, os negócios fluem melhor no sigilo! – Moe pontuou, acendendo um cigarro também.
- Não vai ser fácil! – Romero exclamou.
- Deixa de corpo mole, malandro; não tem nada fácil nesse ramo, mas, se eu adianto desse lado e você adianta do lado de lá, não tem erro! – Moe disse, pressionando-o.
- Seu velho te ensinou direitinho! – Romero disse, rindo.
- É o seguinte, vocês vão receber todo o apoio, mas, quero disposição, tá ligado? Quem resistir, é pra passar! – Moe exclamou, tragando profundamente.
- Não acha que vai dar muita goela? – Romero questionou.
- E quem falou que é pra explanar? O comando não deve ser mencionado! – Ela pontuou.
- Isso pode dar certo! – Ele disse, rindo.
- Vai ter que dar, não tem espaço pra mancada, tá sabendo? – Moe disse.
- Você não acha que é um plano muito ambicioso? – Romero questionou.
- Você quer ficar de x9 até quando? Apaziguando os maloca, o tio Sam dorme tranquilo, então, podemos voltar a falar em ambições! – Moe exclamou, jogando a bituca fora.
- Tudo tem seu preço, tu sabe, não é? – Ele questionou.
- Cara, eu só quero paz na quebrada, não importa o preço. Qualquer coisa, só dar um salve no Argentino! – Moe disse.
- Vou levar o decreto pra cima! – Romero exclamou. Moe ouviu enquanto voltava para sua Mercedes. Acomodou-se ao lado de Argentino, que conduziria a nave. Romero se aproximou da janela, obrigando-a a baixar o vidro. – Quem nós colocaremos de frente nos postos que caírem? – Ele questionou.
- Façamos a missão primeiro, depois nos preocuparemos com quem vai fazer a frente. Atividade, milica! – Ela exclamou, subindo o vidro. Argentino se adiantou em deixar o local. Raul esperava ansiosamente em casa.
- Já era? – Arturo perguntou, parecendo espantado.
- Claro, falei que daria certo! – Moe disse.
- Tomara que não dê merda! – Ele exclamou.
- Vamos combinar uma coisa? Mesmo que dê merda, a gente só não pode morrer, de resto tá suave e o que vier é lucro!
- Morrer? Nem fodendo! – Ele pontuou.
- É isso, amor! – Ela disse.
- Acha que essa contribuição é suficiente para acalmar todo mundo? – Arturo questionou, realmente preocupado.
- Eles receberam cem quilos de cocaína pura, um barão e peças militares. Claro, é temporário, mas, tenho que ressarcir o prejuízo de alguma forma, ou, nossa operação pode ficar na mira! – Moe esclareceu, enquanto partiam para o condomínio dos Cortez. – Preciso que marque um encontro com o Galindo amanhã!
- Seu pai não vai gostar! – Ele pontuou, preocupando-se.
- Meu pai não tem escolha! – Moe esclareceu, virando-se para admirar a noite vista da janela do carro.
Eles chegaram à mansão de Raul. Argentino seguia Moe, cabisbaixo, temendo pela vida de todos os envolvidos na trama. Ela temia o próprio medo, mas, sabia que teria de manter a cabeça no lugar, suas ações pediam extrema cautela. Até o momento, as coisas estavam calmas, mas, em um minuto tudo poderia mudar. Raul ressarciu parte do prejuízo à contragosto.
Ambos adentraram o escritório dele, Argentino fechou a porta atrás de si e se posicionou frente à ela, segurando sua M16 contra o peito, mantendo os olhos fixos ao horizonte. Ele sabia que tudo quanto ouvisse ali, jamais poderia sair. Mônica era uma eximia gerenciadora de crises, todos sabiam, mas, ainda assim, temiam suas decisões.
- Como foi a reunião? – Raul questionou, levantando-se de sua cadeira para receber a filha.
- Melhor do que esperávamos. O Romero vai repassar as contribuições, informar seus superiores e organizar a operação de tomada dos comandos adjacentes. Enquanto isso, me encontrarei com Miguel e oferecerei uma trégua, caso aceite, vai nos poupar esforços desnecessários! – Moe pontuou, aproximando-se dele.
- Você não vai se encontrar com o Galindo! – Raul exclamou, parecendo aborrecido.
- Esse é o melhor caminho! – Ela disse, firmando sua posição.
- Ele vai te matar! – Raul bradou.
- Ninguém vai me matar, mas, quanto ao senhor, já não posso garantir. Aposto que o Romero tinha um sniper em algum lugar daquela clareira, apenas esperando o senhor pontar o pote. Não adianta ficar puto, temos que resolver da melhor forma, e me reunir com o Galindo é o que temos no momento! – Moe bradou de volta, fazendo-o recuar.
- Eu não te coloquei de frente para ser morta! – Raul lamentou.
- Eu não vou morrer! – Ela pontuou, aproximando-se e acariciando o rosto dele.
- Nós vamos juntos! – Ele exclamou.
- O senhor vai ficar aqui e esperar meu retorno. Vou levar apenas o Argentino, não quero que o Miguel se sinta ameaçado! – Moe esclareceu.
- Você está cometendo um erro! – Raul disse, impaciente.
- O senhor me colocou no comando porque confia em minhas decisões. Deixe-me fazer o trabalho, se não obtivermos algo positivo, retome seu posto e faça como preferir! – Moe exigiu.
- Você não pode esperar que eu me sente aqui e relaxe enquanto se arrisca dessa maneira! – Ele exclamou, puxando-a para si e beijando sua testa em seguida.
- Não estou pedindo que relaxe, estou pedindo para confiar em meu julgamento. Para que possa fazer o trabalho bem-feito, preciso que me apoie nas decisões que terei de tomar. Não quero tirar sua autoridade, quero reforçá-la, e se isso significa que precisamos de mais aliados, é isso que vai ser feito! – Moe disse, abraçando-o.
- Nós demos cabo do Menéga e de dois cabeças secas que estavam ameaçando abrir o bico, o negócio foi limpeza! – Raul exclamou, voltando para sua cadeira. Moe tomou um lugar frente à mesa dele.
- Esse tipo de coisa não vai mais acontecer. Pretendo realizar a visão do meu avô, com o menor custo de sangue possível. Quero que o senhor viva para poder ver seus netos crescerem! – Ela pontuou, cruzando as pernas preguiçosamente e acendendo um cigarro.
- Como pretende fazer isso? – Ele questionou, parecendo preocupado.
- Vamos tirar a sujeira das ruas, investir em negócios mais legítimos e ocultar nosso esquema de forma civilizada. Meu avô tinha a visão, mas, não tinha as ferramentas. Podemos acabar com os ratos, alimentar a mídia com os maloca mortos e promover alguns políticos, jogando no colo deles a limpeza das ruas. Chega de ficar dando a cara por qualquer intriga. Nós ganhamos rios de dinheiro, mas, ainda temos que lidar com tudo pessoalmente, isso precisa parar! – Moe esclareceu.
- E como o Galindo vai contribuir com a visão do meu pai? – Raul indagou, um tanto confuso.
- Com mãos, tem muita gente correndo por ele além da fronteira. Ele e o Salvador podem melhorar e muito nossas rotas na América Latina. Ganhamos território, melhoramos as condições dos envolvidos, todos saem mais fortes com essa parada. Além disso, soube que o Galindo precisa de investidores para viabilizar alguns projetos; nós seremos essa ponte. Temos todos os contatos importantes, não vejo por que seria um problema unir os esforços! – Ela pontuou, servindo-se com uma dose de whisky.
- Isso significa que terei de acionar meus contatos? – Raul perguntou, tentando dificultar.
- Sinceramente, pai, não esperava que o senhor fôsse fazer tanto corpo mole! – Moe desabafou, parecendo decepcionada.
- Você está me disciplinando? – Ele perguntou, em tom de deboche.
- Estou deixando claro que suas birras não vão me impedir de levar o comando para o rumo certo. Gostaria de poder contar contigo, mas, se não posso, nossa conversa acaba aqui! – Ela exclamou, transparecendo seu aborrecimento.
- Seu empenho me deixa orgulhoso! – Raul disse, rindo.
- Para de palhaçada, caralho! – Moe pontuou, revirando os olhos.
- Acho que devemos trocar de lugar, vem pra cá! – Ele exclamou, levantando-se de sua cadeira novamente e rumando para frente da mesa.
- Babaca! – Ela disse, levantando-se e rumando para a saída.
- Vem aqui, meu amor, só estou brincando com você. Quero ouvir seu plano! – Raul expos, rindo ainda mais.
- Você é impossível, cara, na moral mesmo! – Moe exclamou, parando no meio do caminho.
- Faremos o que achar melhor. Confio em você! – Ele disse, tentando parar de rir. Nada o alegrava mais do que provocar sua filha.
- Se o senhor não me levar à sério, ninguém o fará! – Moe pontuou, revirando os olhos novamente.
- Eu te levo à sério, minha vida, se não fosse assim, não teria te dado o comando para administrar! – Raul esclareceu, sorrindo para ela.
- Não quero passar o Ortega sem o aval do Galindo, temos que usar essa merda à nosso favor. Entregamos os ratos na mesa dele e conquistamos sua confiança, isso somado às contribuições nos dá um trunfo, uma saída tranquila desse entreveiro do caralho que o senhor aprontou! – Ela exclamou, aproximando-se dele.
- Essa doeu! – Ele disse, fingindo estar chateado.
- Aproveite para refletir sobre seus últimos surtos. Eu te amo mais que tudo nessa vida, mas, tem de aprender à ficar frio! – Moe expôs, abraçando-o e beijando seu rosto antes de sair do escritório. Raul observou a filha com orgulho.
- Quero que cuide dela, não a deixe nem por um minuto! – Ele ordenou ao Argentino, que assentiu e seguiu Mônica até a porta de seu quarto. Montou guarda lá, pronto para derrubar qualquer um que aparecesse.
Quarta-feira, 01:00 AM
Algum tempo depois, Denise adentrou o escritório, deparando-se com Raul, esparramado em sua cadeira, com os pés repousados sobre a mesa, saboreando a dose de whisky que Moe havia abandonado.
- O que você aprontou dessa vez? A Mônica parecia bastante aborrecida quando saiu! – Ela exclamou, aproximando-se e sentando sobre a mesa, na frente dele.
- Não aprontei nada, como poderia? Você esteve no meu encalço o dia todo! – Ele pontuou, revirando os olhos.
- O que está acontecendo com você? – Denise exigiu, cruzando os braços sobre o peito.
- Tenho muitas preocupações no momento, não quero sofrer um inquérito da minha mulher! – Raul desabafou, tirando os pés da mesa e ajeitando sua postura.
- Isso não é um inquérito, apenas quero saber o que acontece com minha família! – Ela exclamou, recuando um pouco.
- Está tudo bem, só não quero falar sobre isso! – Ele esclareceu, puxando-a para seu colo.
- Acha que me deixar de fora dos problemas vai resolvê-los? – Denise questionou.
- Amor, pensei estar sendo claro quando disse que não queria ser inquerido! – Raul exclamou.
- Me sinto inútil quando me afasta dessa maneira. Só quero estar com você, é pedir muito? – Ela perguntou, com lágrimas nos olhos.
- Não faça isso comigo, você está sendo injusta! – Raul disse, secando suas lágrimas e beijando seu rosto.
- Não fazer o que? – Denise questionou.
- Para amor, assim você quebra minhas pernas. Não gosto de ver mulheres chorando, isso acaba comigo! – Ele exclamou, beijando-a.
- Se não quer que eu chore, não me exclua da sua vida! – Ela desabafou, chorando mais.
- Me desculpe pela rispidez, eu só quero que me deixe quieto com meus pensamentos! – Raul disse, apertando-a em seu abraço.
- Você perde a linha toda vez que faço alguma pergunta! – Ela exclamou, apertando-o e repousando a cabeça sobre o ombro dele.
- Se você sabe disso, pare de perguntar, minha joia! – Raul pontuou, rindo de nervoso.
- Eu te odeio! – Ela lamentou, soluçando.
- Eu te amo pra caralho, mas, tem hora que tu é foda de aguentar! – Ele disse, revirando os olhos mais uma vez.
- Babaca! – Denise exclamou.
- Um babaca sincero. Você tem que considerar isso quando fica brava com as minhas canalhices. Não omito coisas pra te sacanear, só estou tentando te proteger! – Raul pontuou, segurando o rosto dela, fazendo-a encará-lo.
- Queria voltar no tempo e não ter o conhecido! – Ela lamentou, tentando não olhar para ele.
- Caralho paixão, você está pegando pesado! – Ele disse, parecendo realmente chateado.
- É a verdade. Odeio te amar tanto! – Denise lamentou novamente.
- Não estou aqui pra te fazer mal; você quer dar um tempo? – Raul perguntou. Um nó se formou em sua garganta.
- Você quer? – Ela respondeu com outra pergunta, preocupando-o.
- Claro que não, estou bem contigo! – Ele pontuou.
- Eu também não quero, mas, acho que é o melhor a fazer, não estamos dando certo! – Denise lamentou, voltando a chorar.
- Você tá perdendo a linha sem motivo, sacanagem falar isso! – Ele disse.
- Você só vacila comigo! – Ela exclamou, encolhendo-se no abraço dele.
- Me perdoe, não é a minha intenção! – Raul pontuou, esforçando-se para não chorar.
- Se você quer terminar é só falar! – Ela disse, afastando-se um pouco para olhar para ele.
- Eu tô aqui feito um idiota, te agradando, tentando entender seu lado e você vem com essa. Tá de sacanagem? – Ele exigiu, sem conseguir conter as lágrimas.
- Não precisa ficar bravo! – Ela disse, segurando o rosto dele em suas mãos.
- Vacilo, brincar com meus sentimentos assim! – Raul exclamou, tentando livrar-se do toque dela. Havia fragilidade nele, e ela podia ver.
- Foi você quem sugeriu a separação! – Denise pontuou, tentando trazê-lo para perto de si.
- Claro, você está gerando comigo toda hora! – Ele lamentou, cobrindo o rosto e respirando fundo.
- Você sempre se esquiva das minhas perguntas! – Ela exclamou, acariciando o cabelo dele. Raul odiava chorar, isso o deixava furioso.
- Não quero responder porque é assunto do comando. Pare de misturar nosso casamento com meus negócios! – Ele bradou, tropeçando nas palavras. Denise estremeceu, pois, sabia que havia passado do ponto.
- Não sabia que era assunto do comando! – Ela disse, arrependendo-se de ter iniciado outra briga.
- Se eu disse que não quero conversar, respeita, caralho. Se fosse uma parada da nossa vida particular, abriria o jogo sem problemas, como sempre faço! – Raul exclamou, chorando mais, e isso com certeza aumentou sua raiva.
- Calma, pelo amor de Deus, você vai ter um infarto! – Denise pediu, vendo os nervos dele à flor da pele. Ela o puxou para um abraço.
- Caralho, Denise! – Ele disse.
A discussão podia ser ouvida do andar dos quartos. Moe se encaminhou para o escritório à contragosto. Ela preferia não se meter no relacionamento do pai, mas, a situação pedia intervenção. Ao adentrar o local, ela questionou: – O que está acontecendo?
- Não está acontecendo nada! – Denise exclamou, levantando-se. Moe reparou no estado em que Raul se encontrava.
- Vocês estão traumatizando minha irmã, caralho! – Ela expôs, fechando a porta atrás de si.
- Foi apenas uma discussão! – Denise disse, dando a volta na mesa.
- Não está dando pra aguentar, toda hora é um quebra pau diferente! – Moe exclamou.
- Desculpe filha! – Raul lamentou, levantando-se também.
- A Jordana está bem? – Denise perguntou, parecendo preocupada.
- É melhor você subir e acalmá-la! – Moe esclareceu, enquanto se aproximava de seu pai.
- Desculpe amor, passamos do ponto! – Raul exclamou, abraçando Moe. Ela podia sentir o coração dele agitando-se contra o peito.
- Vocês têm que parar com isso, pelo amor de Deus! – Ela pediu, completamente aflita.
Jordana desceu as escadas como um raio, esquivando-se de sua mãe. Ela temia ter sua família destruída mais uma vez, então, lançou-se para dentro do escritório, correndo para o encontro de seu pai e irmã. – O senhor está bem? – Ela perguntou.
- Estou sim, foi apenas um desentendimento! – Raul esclareceu.
- Perdoe a minha mãe, ela é muito imbecil às vezes, mas, vocês não podem se separar! – Jordie implorou, abraçando Raul e Moe.
- Nós não vamos nos separar! – Raul exclamou, dando um beijo na testa dela.
- Se isso acontecer, eu posso ficar com o senhor? – Jordie implorou, chorando copiosamente.
- Você sempre poderá ficar comigo, meu amor! – Ele disse, tentando acalmá-la.
- Não quero perdê-lo papai, não me deixe! – Ela exclamou, soluçando.
- Se nós rompermos, você vai ficar comigo! – Denise exigiu, entrando no escritório.
- Eu nunca vou sair de perto do meu pai, sua megera desgraçada! – Jordie gritou, avançando furiosamente sobre ela. Raul foi mais rápido, impedindo-a de agredir Denise. Moe colocou-se entre elas, tentando conter a madrasta.
- Ele não é seu pai, menina idiota! – Denise gritou de volta.
- Para com essa porra! – Raul bradou, sentindo seu sangue ferver.
- É sim! – Jordie exclamou, tentando livrar-se da contenção. Por um instante, Raul desejou soltá-la, mas, pensou melhor à respeito.
- Você está falando merda! – Moe pontuou, empurrando-a rumo a saída.
- Você deveria me agradecer, aposto que não gostaria de dividir sua herança com ela! – Denise gritou, completamente enlouquecida.
- Cala a boca, você tá se passando muito! – Moe exclamou, finalmente conseguindo levá-la para fora.
- Eu vou te matar, sua vadia! – Jordana gritava à plenos pulmões.
- Calma filha, ela só está com raiva! – Raul disse, ainda tentando conter sua caçula, que tinha sangue nos olhos naquele momento.
- O senhor é mais meu pai do que ela é minha mãe! – Jordie exclamou, chorando ainda mais.
- Não importa o que digam, você sempre será minha filha. Se acalme! – Ele pontuou, puxando-a para seu abraço. Jordie agarrou-se à ele como na primeira vez em que temeu o monstro em seu armário, e Raul foi até lá, certificar-se de que poderia dormir em paz.
- Eu a odeio, papai. Não me deixe com ela! – Jordie implorou.
- Eu não vou te deixar, apenas, se acalme! – Ele esclareceu, sentindo seu coração se partir.
Arturo desceu as escadas, conduzindo Mônica e Denise para a cozinha. Ela ainda estava xingando e se debatendo, mas, o Argentino tinha experiência em conter pessoas enlouquecidas.
- Você perdeu a porra da razão? – Mônica questionou, encaminhando-se para preparar um chá de camomila para a madrasta.
- Por que você se importa? – Denise questionou, ainda sob vigília do segurança.
- Desde que você e a Jordana entraram em minha vida, senti que teria uma família novamente. Não quero ver ninguém ferido ou magoado nessa porra, então, sim, eu me importo pra caralho! – Ela pontuou.
- Me desculpe! – Denise lamentou, finalmente sentando-se à bancada. Arturo não se afastou.
- Você não pode jogar tudo pro alto sempre que ficar com raiva do meu pai. Ele pode ser difícil de lidar, mas, ama muito vocês duas! – Moe exclamou, virando-se para encará-la.
- Eu não quero perder vocês! – Ela desabafou, caindo em si.
- Nós estamos fazendo o caralho pra que essa família resista, se você não colaborar, vai ser impossível. É isso que você quer? – Moe exigiu. Denise engoliu em seco.
- Eu me passei muito, não foi? – Ela questionou, parecendo chateada.
- Se passou pra caralho, mas, vou te dar um conselho que deveria ter dado à minha mãe, muitos anos atrás: nunca se coloque entre o meu pai e os filhos dele! – Moe pontuou com veemência. O Argentino riu baixinho, sabendo o quão certeira era aquela afirmação.
- Acha que ele vai me perdoar? – Denise perguntou, notando o tamanho da merda que havia feito.
- Depende da Jordana. A mágoa dela vai ditar o ritmo dele com você! – Moe esclareceu, decidindo aumentar a dose de água na chaleira. Todos precisariam se acalmar.
- Eu não imaginava que as coisas fossem tomar essa proporção! – Denise exclamou, realmente apreensiva.
- Lembre-se disso antes de voltar a falar que a Jordana não é filha dele! – Moe pontuou, completamente indignada.
- Não sei onde estava com a cabeça quando disse isso! – Denise lamentou, voltando a chorar. Moe se aproximou dela, acolhendo-a em seu abraço.
- Você se exaltou, é normal, todo mundo se exalta, mas, tem que pensar antes de falar. Aqui sempre será sua casa, e esta sempre será sua família, ainda que vocês se separem. Não há motivos para perder o que temos! – Moe disse, acariciando o cabelo dela. Denise não esperava tamanha compreensão por parte de Moe, bem como a reação apocalíptica de Jordana ao defender o padrasto.
O Argentino finalmente relaxou, sentando-se frente ao balcão e encarando o horizonte. Isso fez Moe sorrir. Ela não disse nada, mas, gostava de sua discreta companhia. Arturo admirava o jeito dela, seu tom apaziguador de conflitos o inspirava e trazia bons presságios. Esta não fora a primeira vez que presenciara um perreco dos Cortez, ele estava acostumado às tribulações de seus patrões, mas, fora a primeira vez que a situação se extinguiu com tanta tranquilidade.
Moe acabou de preparar o chá, serviu quem estava na cozinha e se encaminhou para servir os que estavam no escritório. Por lá o clima não era tão pacífico, Jordana ainda estava no veneno. Ela e Raul estavam no sofá; Jordie repousava sua cabeça em uma almofada no colo do pai, que ouvia suas queixas, enquanto acariciava seu cabelo.
- Está tudo bem por aqui? – Moe perguntou, antes de oferecer a bebida para eles.
- Claro, meu amor! – Raul exclamou, tomando seu chá. Jordie sentou-se e pegou sua xícara.
- Vou dormir, chega de confusão, por favor! – Moe pediu, lançando um olhar efusivo sobre eles.
- Só depende da megera! – Jordie exclamou, revirando os olhos.
- Eu entendo seu lado, baixinha, mas, respeita sua mãe, tá ligada? Você falou um bolão pra ela, tá errado! – Moe pontuou com veemência.
- Ela falou uma pá também! – Jordie disse, parecendo aborrecida.
- Independente, cara, tá errado. Ela é sua mãe, tem que tratar com respeito! – Moe pontuou, encarando-a.
- Eu vou pedir desculpas! – Jordie concordou à contragosto.
- É isso! – Moe exclamou antes de sair.
- A Moe está brava comigo? – Ela perguntou, encarando Raul.
- Não filha, ela só está te passando uma visão! – Ele esclareceu.
- Eu a considero muito, não quero que fique chateada! – Jordie lamentou, chorando outra vez.
- Ela também te considera, meu amor, por isso está te corrigindo! – Raul pontuou, limpando suas lágrimas.
- Desculpe papai, eu me passei muito! – Ela disse, abraçando-o.
- Já foi, agora, trate de se acalmar! – Raul exclamou, acolhendo-a.
02:40 AM
Mônica e Arturo subiram para seu quarto, e ela o convidou a entrar. Ele ponderou por alguns instantes, temendo causar mais algum conflito na casa. Ela insistiu, pois, sabia que ambos demandariam de uma conchinha sincera para superar os acontecimentos homéricos presenciados.
- Posso tomar um banho? Eu tô quebrado, na moral mesmo! – Ele disse, rindo.
- Claro que pode! – Moe exclamou, rindo também.
- Vem comigo? – Arturo convidou.
- Bora, quero muito ficar de resenha contigo! – Ela disse, seguindo-o até o banheiro. O envolvimento deles dispensava qualquer formalidade.
- Cara, o bagulho ficou louco do nada! – Ele pontuou, despindo-se e entrando embaixo do chuveiro.
- Você tem toda a razão! – Moe admitiu. Ela se sentou na beirada da banheira, ficando de frente para ele.
- Qual foi o motivo da treta? – Arturo perguntou, relaxando com a água quente que caía sobre ele.
- Sinceramente, acho que meu pai e minha madrasta não se suportam mais. Eles são muito diferentes, saca? – Ela exclamou.
- Sei qual é! – Ele disse, colocando-se à disposição para que ela desabafasse.
- O pior de tudo é que minha irmã presencia essa patifaria, e acaba ficando sequelada! – Moe exclamou.
- Ela pegou pesado com a coroa, até eu fiquei bolado! – Arturo pontuou.
- É prova que já virou bagunça essa parada! – Moe disse, demonstrando sua indignação.
- Posso te mandar a real? Nunca chegou à esse ponto! – Ele exclamou.
- Nossa, que brisa torta, não deveria ter vindo! – Moe lamentou.
- Eu tô ligado, na minha casa era mesma pira! – Arturo admitiu, parecendo chateado.
- Vamos pra casa da Bianca! – Ela exclamou.
- Seu coroa vai se bolar! – Ele disse.
- Mais? O cara já está pra lá de Marrakesh! – Moe pontuou, ressentindo-se.
- O lance é deixar que eles se resolvam, boneca. Você não é o problema, é normal as coisas saírem dos trilhos quando tem alguma mudança na rotina! – Arturo esclareceu, preocupando-se com ela.
- É nessas horas que sinto falta da minha vida em Nova York. Privacidade, sossego e zero perreco! – Moe disse.
- Zero perreco? Tá de sacanagem! – Arturo zombou, afinal, sabia de toda a movimentação.
- O que acha de tomarmos umas brejas e comermos uma porção? – Ela exclamou, rindo.
- Você sabe como me ganhar! – Ele disse, rindo também.
- Sua companhia está fazendo esse lugar valer à pena, muito obrigada! – Moe admitiu.
- Sou seu servo, tu sabe! – Ele exclamou, lançando um sorriso sacana para ela.
- Vai rolar aquela conchinha marota mais tarde? – Ela perguntou, retribuindo a sacanagem.
- Claro amor! – Ele disse, saindo do banho e envolvendo a toalha em sua cintura.
Arturo pegou um baseado e o isqueiro no bolso de sua calça. Os dois saíram do banheiro. Ele vestiu uma bermuda, ela estava de pijama. Ambos se encaminharam discretamente até a cozinha para preparar uma porção de calabresa e cebola frita, bastante carregada no limão. O resto da família estava dormindo. Os conflitos haviam sido deixados para a manhã seguinte.
Os dois se esgueiraram até a área da piscina com o fardinho de cerveja e a porção, fechando as portas da varanda, para que a conversa não acordasse os outros meliantes. As músicas antigas de Jorge e Mateus tocavam no celular de Moe, eles aproveitaram para curtir um momento casal botequeiro. O baseado foi aceso, entre os tragos e beijos, eles matavam a saudade. O verão californiano estava embalando os dois.
08:00 AM
Após toda a agitação da madrugada, Raul decidiu dormir no sofá de seu escritório. Ele não admitiria, mas, ficou bastante abalado com as duras palavras de sua esposa. As brigas do casal nunca passaram de discussões superficiais, mas, dessa vez, Denise havia o atingido onde mais dói. Ele era um pai extremamente orgulhoso de seus filhos.
Para ele, tudo que importava era a família, mesmo que fossem desequilibrados, sabia que estava pronto para matar ou morrer por cada um deles. Assim, ao questionar a paternidade de Jordana, sua esposa havia aberto uma ferida incurável em seu relacionamento. Raul não gostaria de odiá-la por isso, mas, odiou. Ele não conseguiria lidar com ela por um tempo.
Ao longe, o toque do celular pré-pago dele ressoava, as doses de whisky que adormeceram seu corpo também levaram seus sentidos; por consequência, demorou-se a acordar e encontrar o aparelho, atendendo no último toque. Fredo estava prestes a desistir.
- Quem me incomoda? – Raul divagou, ainda sonolento.
- Bom dia, padrinho, é o Gago aqui. Desculpe por ligar tão cedo! – Fredo exclamou, um tanto sem graça.
- Fala aí, Gaguinho, o que manda? – Ele perguntou, sentando-se no sofá e sentindo a cabeça girar.
- Eu preciso de um favor; na verdade, o Alexandre precisa. Esse moleque idiota foi pego vendendo receitas e acabou sendo expulso da faculdade. Tem alguma coisa que o senhor possa fazer? – Fredo perguntou, torcendo para que ele não ficasse muito puto.
- Você sabe me dizer se a faculdade chegou a processá-lo? Porque, se aconteceu alguma coisa desse nível, vai ser foda de reverter! – Raul exclamou, fechando e abrindo os olhos rapidamente, tentando fazer sua visão recuperar o foco.
- Não processaram, meu pai morreu numa grana pra fazer a história sumir! – Fredo esclareceu, sentindo-se aliviado por não levar um esparro.
- Nesse caso, podemos falar com o reitor de Stanford, talvez aceitem o meliante! – Raul pontuou, rindo.
- Caralho, padrinho, isso seria muito bom! – Ele disse, completamente satisfeito.
- Quase um milagre, mas, você precisa preparar o bolso, porque essa porra vai custar caro! – Raul esclareceu, enquanto pressionava a testa. Sua cabeça estava latejando.
- Sem problemas, contanto que esse imbecil volte a estudar, está valendo! – Fredo comemorou.
- Quando eu voltar aí pra cidade, já terei sua resposta. Precisam de mais alguma coisa? – Ele perguntou, assustando Fredo.
- É só isso mesmo, padrinho; muito obrigada, o senhor salvou demais. Só agradeço! – Ele exclamou, realmente feliz com a notícia.
- Até mais, moleque! – Raul disse, antes de encerrar a chamada.
Antes que ele pudesse levantar, seu pré-pago tocou novamente. Ele encostou no sofá, fechou os olhos por um instante e exclamou: – Porra, é a festa da Paula. Pau lá dentro, pau lá fora! – Depois de recuperar parte de sua alma, atendeu.
- Não acredito que você terminou comigo! – Victória exigiu, em um tom estridente. A cabeça dele ressoou como um sino.
- Fala baixo, minha cabeça tá doendo! – Raul implorou.
- O que aconteceu? – Ela perguntou, parecendo preocupada.
- Dedo no cu e gritaria. O que você quer? – Ele perguntou, exasperado.
- Quero saber por que você terminou. Isso foi mancada! – Vic lamentou.
- Eu fiz o que precisava fazer, não significa que gostei! – Raul exclamou, respirando fundo e contorcendo-se a cada pontada em sua cabeça.
- Se não gosta, por que fez? – Ela pontuou, revirando os olhos.
- Tô sem paciência pra esparro hoje! – Ele disse, com toda a aspereza disponível.
- Arrombado! – Victória disse, transparecendo aborrecimento.
- Pior que eu tô! – Raul exclamou, rindo, sua cabeça estava prestes a explodir.
- Nossa, você está agindo como um idiota! – Ela já estava perdendo a paciência.
- Caralho amor, não me esculacha! – Ele exclamou, desejando a morte.
- Eu vou te matar! – Ela disse, explodindo de raiva.
- Jura? Você faria isso por mim? Te amo! – Ele zombou, provocando-a.
- Fala direito comigo, estou com saudade! – Vic exigiu.
- E o que eu posso acrescentar nessa sua dor? – Ele debochou.
- O que fizeram contigo? – Ela exclamou, notando que havia algo de estranho nele.
- Fala sério, vai atacar de terapeuta? – Raul sacaneou, voltando a deitar no sofá.
- Quero que saiba que pode contar comigo, ao contrário do que pensa, não estou aqui apenas para encher o saco e gastar seu dinheiro! – Vic pontuou, tentando confortá-lo.
- Desculpe se fui agressivo, não tô com cabeça pra ponderar no momento! – Ele admitiu, amenizando o clima.
- Me conte o que aconteceu; não precisa entrar em detalhes, isso pode te ajudar! – Vic pediu gentilmente.
- Eu nem deveria estar falando contigo! – Ele lamentou.
- Pode falar, Juju! – Ela disse, sorrindo.
- Os desacertos começaram quando você e a Cecília levaram minha filha até a boate do Menegazzo; depois disso, foi só ladeira!
- Desculpe por causar tantos problemas! – Vic exclamou, tentando digerir o que acabara de ouvir.
- Relaxa, não deveria ter te envolvido nessa minha vida louca! – Ele ponderou, sentindo um certo alívio em sua cabeça.
- Lamento não estar mais envolvida nessa sua vida louca! – Ela admitiu, aborrecendo-se com a lembrança do término.
- É melhor desse jeito! – Raul declarou.
- Melhor pra quem? Só se for pra você! – Ela exclamou, em um tom mais ríspido.
- Não fala assim, sabe o quanto gosto de você! – Ele disse.
- Queria tê-lo só pra mim! – Vic lamentou, e ele pôde notar sua sinceridade.
- Porra, assim você me quebra! – Ele admitiu.
- Você terminou comigo do nada e sou eu quem te quebra? Sabe quantos quilos de corretivo tenho de usar para esconder as olheiras? Mal consigo abrir os olhos, seu cretino! – Ela exclamou, realmente irritada.
- Caralho amor, não sabia que tinha lhe feito tão mal. Me desculpe! – Ele lamentou.
- Não adianta me chamar de amor, estou me sentindo uma boneca inflável. Você me usa e joga fora! – Vic pegou pesado com ele.
- Me perdoe, não é minha intenção! – Raul disse, sem conseguir conter o riso.
- Vai rindo, babaca! – Vic pontuou, arfando.
- Calma amor, não brigue comigo! – Ele exclamou, rindo ainda mais.
- Vai chegar o dia em que eu não vou me importar contigo e essa situação vai ser inversa! – Ela declarou, completamente obstinada.
- Não seja tão rancorosa! – Raul disse, sem conseguir parar de rir.
- Cretino! – Ela exclamou, enquanto tomava um táxi até o trabalho.
- Eu vou pra academia agora; você pode continuar a me esculachar mais tarde, ok? – Ele declarou, levantando-se do sofá e preparando-se para encerrar a chamada.
- Eu não vou te ligar nunca mais! – Vic disse, enfurecida.
- Credo, que maldade amor! – Ele sacaneou, saindo do escritório.
- Você vai ver! – Ela disse, encerrando a chamada. Victória quebrou o aparelho e o jogou no meio do trânsito em seguida. Raul não levou à sério, mas, ela não estava para brincadeiras.
Quando ele chegou à sala, Moe estava descendo as escadas, vestida para treinar, com seus fones de ouvido, cantando à plenos pulmões: – Tentei ser vida certa, mas, sou vida louca. Se seu eu te amo, nunca ouviu meu eu também, é que o coração que você se amarrou, não se amarra em ninguém. Você querendo um amor e eu querendo cem, é que o coração que você se amarrou, não se amarra em ninguém!
- Eu criei um monstro! – Jordie disse, seguindo-a e arrependendo-se de tê-la apresentado as músicas de Lauana Prado.
- Que algazarra é essa? – Raul questionou, encarando suas filhas com espanto.
- A Mônica demonstrando que nasceu pra cachorrada! – Jordie exclamou, rindo muito.
- Bora treinar, papito! – Moe disse, pulando na frente dele.
- Que brisa! – Ele disse, gargalhando.
- Bora, pai, a gente te espera! – Jordie exclamou, animando-se também.
- Vamos esperar na academia, já tô vazando! – Moe saiu pulando rumo a porta de entrada da casa. Jordie e Arturo a seguiram, tentando acompanhar seu ritmo frenético.
- Caralho! – Raul exclamou, antes de subir para se vestir.
Algum tempo depois, ele chegou à academia; as meninas estavam dominando o pico ao lado de Jéssica Pope. Raul as cumprimentou e caminhou até Gael. A energia dele não se parecia nem um pouco com o furacão que era Bianca, sua filha biológica.
- Bom dia, meu irmão, tudo na paz? – Gael perguntou, cumprimentando-o em um tom ameno e tranquilo.
- Bom dia, tudo certo e você? – Raul disse.
- Suave demais, cara. A Bianca me disse que vai voltar para Nova York com vocês, vai ser bom para ela. Infelizmente, a Jéssica não poderá ir, e como pode imaginar, isso causou um surto na Bibi! – Ele exclamou, rindo.
- A Bibi é um acontecimento, imagino que tenha odiado a notícia! – Raul pontuou, enquanto caminhava ao lado do amigo até as esteiras. Ambos treinavam juntos sempre, e como de costume, iniciariam com um cárdio básico.
- Eu e a Lumen iremos para um retiro nesse final de semana, tudo bem se a Bibi ficar com vocês? – Gael perguntou, super sereno.
- Ela já mora na minha casa, cara! – Raul respondeu, gargalhando.
- Você está falando mal de mim, Chatonildo? – Bibi questionou, enquanto fazia seus exercícios na cadeira extensora.
- Claro que não, Bibi, você é a minha favorita! – Raul exclamou, rindo.
- Mentiroso; enfim, não importa, eu moro na sua casa mesmo e acho bom não reclamar! – Ela respondeu, mostrando a língua para ele.
- Você já está no meu testamento, é tarde para reclamar! – Ele disse, mostrando a língua para ela também.
- Acho muito bom! – Bibi disse, rindo.
- A tia Gemma passou por aqui e disse que é pra irmos jantar na casa dela hoje! – Moe avisou seu pai.
- Eu não quero ver a cara de bunda do Jackson! – Bibi exclamou, revirando os olhos.
- Não fale assim, meu amor! – Gael disse, exalando mansidão.
- Nossa, que programão de índio! – Raul admitiu, rindo.
- Nunca errou! – Bibi exclamou, concordando com ele.
O Argentino estava parado ao lado de Moe, como um dois de paus, admirando-a enquanto fazia seus agachamentos. – Tem uma babinha escorrendo aí! – Jéssica disse, sacaneando com ele.
- Coitado, amiga! – Bibi complementou.
- Ele vai morrer do coração! – Jordie sacaneou, rindo.
- Vocês são péssimas! – Arturo exclamou, não conseguindo conter o riso.
- A gente te ama, Argentino! – Bibi disse, sacaneando. – O Chibs que não vai amar, mas, isso é o melhor de tudo!
- Tava demorando! – Moe exclamou, revirando os olhos. Suas amigas gargalharam.
- Se o Gago estivesse aqui, você poderia pedir música no fantástico! – Jordie disse.
- Que fanfarronice é essa, Mônica? – Raul exigiu, rindo também.
- O golpe tá aí, cai quem quer! – Bibi exclamou, rindo alto.
- Eu não sei de nada! – Moe disse, piscando para Arturo, antes de mudar para o set de avanço.
Nem mesmo os guardas da rainha conseguiriam manter a postura sob essas condições, mas, ele era sagaz o suficiente para desviar o olhar na hora certa. Raul sabia que a filha havia passado o cerol nele, mas, havia deixado de se importar com suas escapadas há um bom tempo. Por isso, levava na esportiva a zoeira que estava rolando.
- Temos que brindar ao galho do Gaguinho no jantar de hoje! – Bibi disse, levando a zoeira à outro nível. Todos riram muito.
- Gago e chifrudo! – Jordie exclamou.
- Que sina! – Jéssica pontuou, gargalhando.
- Eu vou contar pra ele! – Raul disse, encaminhando-se para iniciar seu treino de peito.
- Fofoqueiro! – Bibi sacaneou.
- Eu não namoro com ninguém, podem parar! – Moe sacaneou também.
- Quero só ver a cara de idiota do Chibs quando encontrar o Argentino! – Bibi exclamou, pulando e irradiando energia.
- Vai dar uma merda do caralho! – Jéssica disse, rindo de nervoso.
- Eu daria um barão pra ver os três, igual ao meme do homem aranha! – Jordie exclamou, sacaneando.
- Isso porque vocês são minhas amigas! – Moe reclamou, voltando a concentrar-se em seu set.
- Eu quero é ver o oco! – Bibi pontuou, encaminhando-se ao leg-press.
- O Chibs vai surtar! – Jéssica exclamou, pensando no encontro que estava prestes a rolar.
- O escocês vai atirar pra cima! – Bibi disse, gargalhando. Moe apenas revirava os olhos.
- Quero só ver o salseiro! – Jordie pontuou, rindo muito.
- Vou ligar pro Gaguinho, acho que dá tempo de chegar pro jantar! – Bibi sacaneou.
- Liga sim, amiga! – Jordie exclamou.
- Filhas da puta! – Moe disse, rindo.
Raul queria atear fogo na zoeira, então, achou prudente fazer uma chamada de vídeo com Fredo. – Fala aí, Gagolino. Tem uma galera querendo te ver!
- Gaguinho! – Bibi e Jordie gritaram ao mesmo tempo, aproximando-se de Raul.
- Você não presta, pai! – Moe disse, cobrindo o rosto.
- Bom dia, meninas! – Fredo disse, sorrindo um pouco sem graça.
- Você está muito ocupado? Poderia cair pra Charming hoje, não acha? – Bibi perguntou. Moe e Arturo quase morreram.
- É sacanagem dela, Fredo! – Moe exclamou, fazendo-o gargalhar.
- Chega mais, Gagolino! – Raul disse, sem conseguir conter o riso também.
- Porra, mas, assim, do nada? – Ele exclamou, sem entender.
- A Momô quer te apresentar uns conhecidos! – Bibi disse, quase perdendo o ar de tanto rir.
- Cês tão de sacanagem comigo, não é? – Fredo questionou, divertindo-se com as palhaçadas. A euforia deles estava contagiando o silencioso andar da presidência.
- Deixem ele trabalhar, seus cuzões! – Moe disse, tentando tomar o celular de Raul.
- Não me deixem trabalhar não, pelo amor de Deus! – Fredo exclamou, aumentando a farra.
- Caralho, Fredo! – Moe disse, rindo.
- O que você está aprontando aí? – Ele perguntou, sacaneando com ela.
- Esses putos querem te colocar numa roubada! – Moe exclamou, enquanto Raul tentava impedi-la de pegar o celular.
- O Trevor está aí na cidade, é só falar com ele e em menos de três horas você estará aqui com a gente! – Raul disse. Moe deu uma cotovelada nele.
- Eu odeio vocês. Me ajuda! – Moe implorou ao Gael, mas, ele estava adorando o fervo também.
- Por que você não quer que eu vá? – Fredo questionou, pilhando ela ainda mais.
- Não é isso, cara! – Moe exclamou, revirando os olhos.
- Ela está te traindo, Gaguinho! – Bibi disparou, gargalhando.
- Deixa de ser besta! – Moe disse, desistindo de conter a torrente de merda.
- Verdade? Eu vou colocar fim nessa patifaria, logo menos tô encostando! – Ele exclamou, fazendo o coração dela disparar. Arturo engoliu em seco.
- Só vem, Gagolino! – Jordie gritou, completamente eufórica.
- Caralho, isso vai dar merda! – Jéssica exclamou, aproximando-se de Mônica.
- Se fodeu, Momô! – Raul disse, rindo ainda mais.
- É tudo mentira, Fredo! – Moe disse, exaurida.
- Estou brincando, boneca. Não posso sair daqui hoje, tenho algumas reuniões inadiáveis. Só estarei livre na sexta-feira, caso queira minha presença! – Fredo exclamou, sorrindo para ela.
- Sexta-feira está ótimo, vamos tocar o terror na fazenda dos meus pais! – Bianca disse, invadindo o momento e salvando a amiga do constrangimento.
- Tudo bem se eu for? – Ele insistiu, querendo ouvir a opinião de Mônica.
- Claro que sim, vai ser ótimo tê-lo aqui conosco! – Ela exclamou, sorrindo para ele. Fredo sentiu-se aliviado, pois, ela pareceu sincera.
- Perfeito, te ligo mais tarde! – Ele disse, piscando para ela.
- Já é! – Moe disse, retribuindo o gesto.
- Tchau, Gaguinho! – Bibi, Jordie e Raul despediram-se dele, ainda rindo muito da situação.
- Caralho, vocês são uns filhos da puta! – Moe pontuou, bastante aborrecida.
- Por que, amiga? O Gago é muito legal, vai animar o nosso esquenta! – Bibi exclamou.
- Porque ele está pousado na Mônica, e agora, vai vir pra cá estragar o rolê dela com o Argentino! – Jordie pontuou, ateando gasolina na fogueira.
- Ninguém vai estragar meu rolê com o Argentino, mas, essa foi a maior torta de climão que já comi na vida. Vocês se passaram muito! – Ela admitiu, desistindo do treino.
- Que mau humor! – Raul provocou.
- O senhor é o pior de todos, como pôde fazer isso? O cara estava trabalhando, do nada surge uma algazarra dessa! – Moe disse, revirando os olhos.
- Você está puta da vida porque ficou evidente que gosta dele e não quer que ele saiba! – Bianca sacaneou com ela.
- Parei com vocês, na moral mesmo! – Moe disse, pegando seu celular e os fones de ouvido para ir embora. Arturo a seguiu, aliviado por não ter de encontrar Fredo nesse momento. Os dois caminharam de volta para a casa dela.
- A Bibi tem razão! – Arturo exclamou à contragosto.
- Porra, até você, Argentino? – Moe questionou, revirando os olhos.
- Não tem problema gostar dele, eu não me importo! – Ele disse, dando de ombros. Ela não acreditou.
- A questão é que não queria trazê-lo até aqui, isso adianta muito as coisas, e eu gostaria de ir com calma, manter tudo em aberto. Não quero mergulhar em um relacionamento; não sei se dá pé pra mim no momento, entende? – Ela pontuou.
- Diga isso à ele, vai que cola! – Arturo exclamou, tentando apoiá-la.
- Eu já disse, mas, aparentemente, ele não entendeu! – Ela admitiu.
- Como assim? – Ele perguntou, parecendo surpreso.
- Teve uma cena nossa esses dias, e eu acabei falando pra ele que estamos construindo uma amizade, que quero ir devagar, mas, com esse surto da minha família e amigos, ele acabou acelerando a mobilete. Me colocou na maior saia justa. Não tinha jeito de falar: Não, eu não quero que você venha passar um final de semana na casa do meu pai, porque quero ficar leve, curtindo uma brisa, sem fiscal, sacou! – Moe desabafou. Felizmente, o lance que tinha com o Argentino a permitia ser sincera.
- Caralho, sinto muito! – Ele exclamou, puxando-a para seu abraço.
- Não sinta, porque, eu queria ficar contigo um pouco, aproveitar nosso lance! – Ela admitiu, revirando os olhos.
- Nós vamos ter tempo para ficar juntos em Nova York, bebê. Relaxa o coração! – Arturo pontuou, sorrindo para ela.
- Talvez, se ele não montar guarda no meu apartamento! – Moe lamentou, realmente incomodada.
- Nem sei mais o que dizer! – Ele exclamou, parecendo chateado.
- Não tem muito o que dizer. As pessoas ao meu redor sempre agem como se soubessem mais sobre minha vida do que eu mesma. Meu pai surtou de vez, de onde tirou a ideia de ligar pro Federico, cara? Nada à ver fazer isso. Era pra ser só uma resenha, uma gastação, mas, acabou se tornando um pandemônio! – Ela desabafou.
- Sei qual é! – Arturo disse, dando um beijo no rosto dela.
- Obrigada por ficar ao meu lado, não sei o que faria sem você! – Moe pontuou, beijando o rosto dele também.
- Precisamos nos adiantar, está chegando a hora da reunião com o Galindo! – Ele pontuou, lamentando ter de lembrá-la de mais esse problema.
- Espero que meu pai recupere a sanidade logo, estou começando a acreditar que esse lance é demais pra mim! – Moe admitiu, sentindo um frio percorrer sua coluna.
- Sinceramente, ele está torcendo pra você arregar, dá pra ver na cara dele que não está feliz com nada disso! – Arturo exclamou, sendo brutalmente sincero.
- Ele acha que sou fraca, não é mesmo? – Moe perguntou, um tanto chateada.
- Não é isso, boneca, ele não quer que você se machuque! – Arturo respondeu, trazendo-a para mais perto de si.
12:00 PM
O sol estava à pico, em uma das regiões mais afastadas da civilização. O grande deserto escaldante que se estendia por quilômetros no horizonte estava assustando Mônica. Geralmente, ninguém volta de lugares assim. Por mais que quisesse desistir, não daria esse gostinho à seu pai. Saber que ele contava com seu fracasso a decepcionou e muito, mas, só é possível demonstrar coragem quando se vence o medo.
Ela fumava um cigarro encostada ao capô do carro, enquanto aguardava a chegada de Miguel. Ele não havia colocado empecilhos em seu encontro, pelo contrário, mostrou-se disposto a conversar. Restava saber se esse era o maior engodo ou acerto do século. Ali estavam Moe, seu cigarro e um sonho.
Algum tempo depois, a Hammer dele se aproximou, com os vidros fechados. Arturo desceu do carro, mas, manteve-se calmo, evitando movimentações muito bruscas. Mônica poderia ter levado um exército para escoltá-la, mas, preferiu não soar tão ameaçadora. Marcus Alvarez e Miguel Galindo desceram do veículo, aparentemente desarmados. Ela sentiu alívio imediato.
Os quatro se cumprimentaram, Alvarez e Urquiza se afastaram um pouco, dando espaço para que seus chefes pudessem conversar com mais privacidade. Uma brisa fresca amenizou o calor, facilitando a vida de todos os presentes.
- Baronesa da neve, a que devo a honra do contato? – Miguel disse, sorrindo e tomando a mão dela para beijar. Moe surpreendeu-se. Arturo não gostou do que viu.
- Creio que temos alguns interesses em comum. Gostaria de discutir nosso futuro! – Moe exclamou, sorrindo gentilmente.
- Sou todo ouvidos, princesa! – Ele admitiu, sendo bastante receptivo e oferecendo seu braço para ela se apoiar. Ambos caminharam juntos.
- Digamos que meus associados acabaram esbarrando em um rato, que costumava estar à sua mesa. Isso acabou causando uma desavença, mas, creio que possamos resolver tudo! – Moe pontuou, observando-o. Miguel era muito mais bonito do que ela poderia supor. Sua barba perfeitamente aparada, o cabelo cuidadosamente arrumado e o sorriso de canto de boca estavam desestruturando o coraçãozinho dela.
- Seus associados fizeram um ótimo trabalho, deveria recompensá-los. Os ratos em questão já estavam pedidos pela organização. Vocês me prestaram um enorme favor! – Ele disse, olhando para ela de um jeito sexy. O sorrisinho sacana voltou aos lábios dele.
- Estou feliz em saber! – Moe exclamou, retribuindo o sorriso.
- Gostaria de retribuir a gentileza. Me diga, o que posso fazer por você? – Miguel perguntou, abusando da malandragem.
- Soube que tem interesse em restauração e construção de cidades, essas questões estão em minha planilha, entende? Acho que formaríamos uma bela equipe! – Ela declarou, sentindo o perfume dele. Sua pele ficou arrepiada.
- Penso o mesmo, boneca! – Miguel exclamou, parando para admirá-la.
- Não sabe o quanto me alegra! – Moe disse, fazendo charme.
- Tenho algo que pode deixá-la ainda mais feliz. Um de seus braços me procurou, pedindo asilo. Acredito que tenha sido pego rondando minha mesa. O que quer que faça com ele? – Miguel perguntou, e o tom aveludado de sua voz estava mexendo com o interior dela.
- Bem, você está certo, isso me deixa muito feliz. O que acha de recebê-lo? Podemos lidar com isso depois. Aposto que ele não espera por nossa aliança! – Ela exclamou de um jeito sacana.
- Você sabe das coisas, pimenta! – Miguel pontuou, mordendo o lábio inferior.
- Obrigada! – Ela disse, fazendo charme mais uma vez. A temerosa reunião havia se tornado um flerte delicioso para ambos.
- Tem mais alguma coisa que possa fazer para mantê-la com esse belo sorriso? – Ele perguntou, ficando de frente para ela e acariciando seus braços com a ponta dos dedos. Moe ficou arrepiada novamente.
- Gostaria do seu consentimento para eliminar o último empecilho na terra da liberdade, e então, poderemos dar continuidade à essa linda amizade que estamos construindo aqui! – Ela expôs, mordendo os lábios. Ele parecia hipnotizado com a visão.
- Se você continuar a resolver meus problemas, terei de pedi-la em casamento! – Miguel exclamou, rindo.
- Você é muito gentil! – Ela disse, fazendo-se de tímida.
- Com esse espírito, consinto tudo o que você quiser! – Ele admitiu, tentando conter seu instinto de beijá-la.
- Não posso pedir tudo de uma vez, senão, não terei pretexto para encontrá-lo novamente! – Moe exclamou, com toda a sagacidade disponível.
- Mulheres sábias mexem comigo! – Miguel pontuou, rindo amplamente.
Ele ofereceu seu braço para ela novamente, e ambos caminharam de volta ao encontro de seus respectivos acompanhantes. Nem em suas melhores expectativas, Moe poderia supor que tudo acabaria tão bem. Miguel beijou o rosto dela e deu uma piscadinha na despedida. Arturo ficou aborrecido.
No caminho de volta para Charming, o Argentino manteve-se atento à estrada, procurando não dar bandeira sobre o que estava sentindo. Obviamente, Moe percebeu que ele ficou mexido. Ela precisou se esforçar muito para não rir, afinal, não gostaria de provocá-lo.
- Você está bem? – Ela perguntou, encarando-o.
- Aquele maluco é muito abusado! – Ele pontuou, revirando os olhos.
- Você está com ciúmes? – Moe perguntou, acariciando o rosto dele.
- Ciúmes? Eu queria crivar ele de bala! – Arturo exclamou, parecendo realmente incomodado.
- Que maldade, não seja assim! – Ela disse.
- O cara é folgado! – Ele declarou.
- Calma, não precisa ficar chateado! – Moe pediu gentilmente.
- Eu tô puto, isso sim! – Arturo admitiu, rindo de nervoso. Seus olhos azuis ficavam acinzentados quando estava irritado e ela sabia disso.
- Estou percebendo! – Ela disse, beijando o rosto dele.
- Vou pedir dispensa esse final de semana! – Ele exclamou, e seu rosto ficou vermelho de raiva.
- Por quê? – Moe perguntou.
- Não vou dar conta de manter a postura vendo aquele gago filho de uma puta te cercando! – Ele disse, apertando o volante.
- Para com isso, lindinho! – Moe exclamou.
- É a verdade, eu não quero ver mesmo! – Ele admitiu.
- Você vai me deixar? – Ela perguntou, fazendo biquinho.
- Tem outro jeito? Não tem! – Ele disse, evitando olhar para ela.
- O foda é que eu não posso fazer nada, porque quem convidou ele foi meu pai, e vai ficar muito chato se não der atenção, entende? – Moe esclareceu, sentindo-se mal, pois, foi colocada na pior posição possível.
- Eu sei disso! – Arturo pontuou.
- Não quero ficar sem você! – Ela admitiu, encostando-se no banco e fechando os olhos por um instante.
- Desculpe, mas, não consigo lidar! – Ele exclamou, tentando se acalmar.
- Que situação merda! – Moe disse, esfregando o rosto nervosamente.
Eles chegaram à casa dela, estacionando frente às portas da garagem. Moe se apressou à sair do carro, dando a volta no mesmo e indo ao encontro de Arturo. Ela o abraçou com força, surpreendendo-o. Ele a envolveu em seus braços e deu um beijo em sua testa. – Vamos namorar? – Moe perguntou em um sussurro.
- Tá de sacanagem? – Ele perguntou de volta, rindo. Ela o apertou ainda mais.
- Namora comigo, Argentino! – Ela pediu, tentando beijá-lo.
- Eu não tenho estrutura pra isso! – Ele disse, gargalhando.
- Por quê? – Moe questionou, rindo muito também.
- Você sabe por quê! – Ele exclamou, acariciando o cabelo dela.
- Porque você é ciumento? – Moe perguntou, só de sacanagem.
- Você me conhece, acha que é uma boa ideia? – Ele perguntou de volta, dando um cheiro no pescoço dela.
- Eu adoro seu jeitinho ciumento! – Moe admitiu, gargalhando.
- Mônica! – Ele exclamou.
- Você é rancoroso, amor? – Ela perguntou, mordendo o lábio inferior dele.
- Pra caralho! – Arturo disse, rindo muito.
- Namora comigo, vai! – Moe pediu mais uma vez, acariciando o rosto dele.
- Para! – Ele exclamou, sendo beijado por ela.
- Eu tô falando sério! – Ela sussurrou.
- Você me falou que não queria entrar num relacionamento! – Arturo relembrou, beijando-a em seguida.
- Com você eu quero! – Moe disse, sorrindo de um jeito tímido.
- Tudo isso por que eu disse que vou pedir dispensa? – Ele perguntou, rindo.
- Porque você é um gostoso! – Ela admitiu, beijando o pescoço dele.
- Daí é foda! – Arturo disse, apertando-a. Jordie e Bianca se aproximaram, fervendo ao ver os dois juntos.
- O que tá rolando aqui? – Bibi perguntou, sacaneando.
- Estou curtindo meu namorado! – Moe disse, piscando para a amiga.
- Ai que delícia! – Jordie exclamou, pulando.
- Tá falando sério, amiga? – Bibi perguntou, sorrindo de um jeito sacana.
- Bem que eu queria, mas, o bombonzinho aqui é difícil pra caralho! – Moe exclamou, dando um selinho nele em seguida.
- Porra, Argentino, aceita, vai! – Bibi disse, importunando-o.
- Vamos deixar eles curtirem, amiga! – Jordie exclamou, puxando Bianca para dentro de casa.
- E aí amor, vai aceitar? – Moe perguntou, voltando a beijá-lo.
- Não tem jeito, Mônica! – Ele exclamou, acariciando o rosto dela.
- Por quê? – Ela questionou, fazendo biquinho.
- Você não vai tancar! – Arturo disse, rindo.
- Como você sabe? – Ela exigiu, encarando-o seriamente.
- Eu sou sistemático pra caralho, pra socar a cara de um é muito fácil, não vai dar bom! – Ele esclareceu, beijando o rosto dela.
- Eu te quero muito, sabia? – Moe questionou, dando outro selinho nele.
- Se você ainda me quiser na segunda-feira, eu aceito, já é? – Ele perguntou de volta.
- Supondo que hoje fôsse segunda-feira, você toparia subir para o meu quarto? – Ela questionou, sorrindo de um jeito sacana.
- Claro que sim! – Ele respondeu.
- Então, amor, vamos namorar? – Ela pediu, beijando-o.
- Se aquele gago chegar em você, eu vou matar ele, Mônica! – Arturo exclamou, parecendo aborrecido.
- Não vai precisar! – Ela declarou.
- Cê não tá levando fé, mas, eu tô falando muito sério! – Ele disse, encarando-a.
- Ele não vai chegar em mim, porque vou estar contigo! – Moe pontuou, dando um selinho nele em seguida.
- Isso vai dar uma merda do caralho! – Arturo exclamou, esfregando o rosto nervosamente.
- Não vai, prometo pra você! – Ela disse, acariciando o cabelo dele.
- Você me conhece muito bem, depois não adianta falar que não avisei! – Ele pontuou, dando um selinho nela.
- Relaxa, ok? Vamos pro jantar da tia Gemma juntos hoje, vai ser nossa estreia como casal. Já estou amando! – Moe disse, animando-se.
- Vê lá o que você vai aprontar! – Ele exclamou, rindo.
- O estouro do blindex! – Ela declarou, completamente energizada.
Ambos adentraram a residência de mãos dadas, dedos entrelaçados, por exigência de Mônica. Raul estava em cólicas, querendo saber da reunião, mas, ela estava mais preocupada em atear fogo à babilônia, por isso, acendeu um cone.
- Que romance é esse? – Raul perguntou, fazendo os dois rirem.
- Cê viu, pai? Olha o meu namorado. Lindão, né? – Moe pontuou, saltitando.
- Se você está dizendo! – Ele exclamou, gargalhando.
- Claro, o senhor acha que eu namoro homem feio? Por favor, né! – Moe declarou, sem conseguir se conter. Arturo estava quase perdendo o ar de tanto rir.
- Pelo menos meus netos serão bonitos! – Ele disse, entrando na zoeira.
- Velho ligeiro da porra! – Moe pontuou, encaminhando-se para o escritório. Ela foi seguida pelos dois.
- Eu sou sinistro! – Raul disse, rindo ainda mais. Ele estava feliz por ter os dois de volta.
- Tava pensando aqui, eu sou o senhor de calcinha! – Ela exclamou, sacaneando com ele.
- Infelizmente! – Ele admitiu.
- Bora fazer um churras e encher a cara? Tô a fim de arrebentar esse condomínio! – Moe declarou.
- E o jantar da Gemma? – Raul questionou.
- Agora são três da tarde, dá tempo de ferver aqui e ferver lá! – Moe pontuou, querendo ver o salseiro armado.
- Quem disse que meninas são mais tranquilas, mentiu! – Raul disse ao Argentino. Os dois gargalharam.
- O senhor não vive sem mim, para de palhaçada! – Ela exclamou, sacaneando com ele.
- Cê quer chapar? Bora então! – Raul pontuou, pegando sua garrafa de whisky e encaminhando-se para a área da piscina. Moe e Arturo o seguiram. Não havia condições de falar de negócios no momento.
- Bota uma seresta aí, caralho! – Moe disse, saltitando feito uma gazela. Arturo só conseguia rir.
- Força, Argentino. É só o que te desejo! – Raul admitiu. A zoeira não tinha limites para eles.
- Só fé, padrinho! – Ele declarou.
Bianca e Jordie ouviram a algazarra, e como boas festeiras, juntaram-se à eles. Denise estava em seu consultório, amargando os acontecimentos da madrugada, mas, eles não se importavam com as contendas. Os Cortez em sua totalidade, sacudiam a poeira extremamente rápido, e este era o segredo de seu estrondoso sucesso.
O celular de Mônica explodia de tanto tocar, mas, como havia sido esquecido no carro, Fredo ficou no vácuo eterno. A Califórnia vibrava com sua presença, de modos que, qualquer empecilho não seria suficiente para conter a farra. O Gago ficaria surtando com isso, mas, ninguém ligava. Ele finalmente havia encontrado alguém que não estava nem aí pra bosta.
Com certeza o circo estava pegando fogo, com os palhaços dentro e os bombeiros de folga. Otto e Treze se preparavam para encostar em Charming; Moe os notificou sobre a rave, e eles não perderiam por nada. Victória estava com raiva, pois, ela e Fredo ficaram fodidos nas mãos de pai e filha.
Cigarro, maconha, whisky e tequila eram servidos à vontade. Solzinho, verão e piscina, o quebra do momento. Energia ruim nem em pensamento. Os convidados de Gemma estavam fazendo um esquenta de respeito. Denise chegou do trabalho e se deparou com o embrasamento, por um instante agradeceu, pois, o clima ruim a deixava mal. Ela preferia que estivessem embrasados e embriagados.
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✎﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏﹏Clarice Lispector
SAUDADES
"Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...
Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...
Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro...
Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!
Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive, mas quis muito ter!Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram.
Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências...
Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar.
Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...
Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.
Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos.
Eu acredito que um simples "I miss you" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.
Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas.
E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes, em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital, quando se quer falar de vida e de sentimentos.
Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis!
De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência..."
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Medidas
Um dia que é como fotografia de outro dia um poema escrito pela manhã na sala de espera de um consultório médico que é como um poema escrito à noite às pressas num guardanapo um amor novo que é como a memória de um amor antigo um sábado que é a lembrança de um domingo e uma praia que é como o postal da praia de outro mar
o mundo é como um dicionário fora da ordem alfabética ou uma lista de compras que inclui coisas que não estão [à venda
insistes nele, no mundo, no entanto, como se as mudanças de estação os protocolos de segurança a didascália os lapsos de memória as palavras públicas com as quais tentas exprimir coisas privadas e que restam depois como guimbas de cigarros fumados a dois as casas abandonadas às pressas e as pedras, que não foram batizadas, fossem coisas feitas para ti para o teu entendimento
*
Minha cabeça arruinou minhas mãos minhas palavras arruinaram meu corpo meu corpo arruinou-se batendo contra o tempo
Algumas partes de nós morrem primeiro: é veloz como a dos cães a idade do coração
*
Uma casa amarela divide a infância em duas uma noite vermelha divide a adolescência em duas uma viagem verde que era também dourada corta a vida ao meio
em cada brecha entrou o tempo sem convite
como um alfaiate a morte toma-me as medidas
[via poem4]
— Risque esta palavra, Ana Martins Marques (2021)
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𝐖𝐀𝐍𝐓𝐄𝐃 𝐂𝐎𝐍𝐍𝐄𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒 !
listinha base de conexões que eu adoraria ter com a birdie ! todas elas estão abertas à uma conversa sobre como faríamos e podem ser adaptada da melhor maneira ao plot . lembrando que a birdie é bissexual , então plots românticos valem para qualquer gênero . é isso !
strangers to lovers ! ( open ) ⤻ não precisa mais que uma olhada para qualquer um ter certeza que vocês têm uma química surreal ! só basta vocês colocarem as cartas na mesa . . . é amor ? é tensão sexual ?
lovers to strangers ! ( open ) ⤻ birdie é uma romântica sem igual . logo que chegou em nova iorque , era completamente apaixonada por você . entretanto , ela te deixou sem notícias e simplesmente sumiu sem te dar motivo algum ! o que será que poderia ter acontecido ?
sugar daddy ! ( open ) ⤻ desesperada por dinheiro , é como birdie está . e quando encontrou você , viu uma maneira de conseguir uma grana sem muito trabalho . vocês fizeram um combinado , meio silencioso , sempre que birdie atende à sua parte do acordo , você dá uma quantia a ela , cumprindo com a sua parte do acordo .
mama's ! ( open ) ⤻ a mãe de uma das crianças que birdie cuida . você sente que algumas coisas estão sumindo , mas não tem coragem , tampouco provas o suficiente , para acusar birdie de levá-las embora . mesmo assim , você mantém um olhar bem próximo no que diz respeito à loira . pelo menos , sua criança é muito bem tratada e cuidada !
stop crying ! ( open ) ⤻ em uma noite , você encontrou com birdie . viu uma mulher bonita e sorridente , na hora achou que sua noite estava feita . entretanto , conversa vai e conversa vem , birdie estava tão bêbada que começou a chorar sobre as contas que tem para pagar . get it together , girl !
routine ! ( open ) ⤻ toda manhã , você e birdie se encontram no mesmo café . começou simples , mesmo sem se conhecerem , um guardou lugar para o outro , numa manhã mais cheia . desde então , estão sempre comprando o café um do outro como uma forma de se surpreender !
muse ! ( open ) ⤻ birdie sabe que é bonita ! ela sabe ! entretanto , com vinte e seis anos e sendo rejeitada frequentemente em qualquer tentativa de adentrar a indústria da beleza e da moda , vem duvidando de sua aparência . aí , entra você ! que vê em birdie uma nova musa .
duhhh ! ( open ) ⤻ honestamente , começou com uma richa no instagram e no tiktok , quando postaram um vídeo com a mesma ideia . desde então , a relação de vocês é puramente algo que somente regina george faria .
MAIS ?
vizinhos do prédio ,
outras babás ,
modelos que conhecem birdie ,
amigos de infância de charleston ,
inimizades de qualquer tipo ,
amigos de metrô ,
passeador de cães que sempre encontra birdie no mesmo parque com uma criança que ela cuida .
CLOSED !
party people ! ( @isisztzga ) ⤻ você e birdie se conheceram no rolê mais apocalíptico possível e isso virou normal entre as duas . estão sempre juntas quando envolve rolês suspeitos , o importante é que nenhuma larga a mão da outra .
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ITS IN THE TREES, ITS COMING!!!
No clássico cult de terror "A Noite do Demônio" (Jacques Tourneur, 1957) um cético psicólogo nova iorquino viaja para Londres com a intenção de pesquisar sobre uma suposta onda de acontecimentos paranormais.
Em determinado momento, um médium interpretado por Reginald Beckwith encarna um homem desesperado (dublado por Maurice Denham) e profere a emblemática frase "It's in the trees! It's coming! The demon it's coming!!!" que pode ser traduzida como "Está nas árvores! Ele está vindo! O demônio está vindo!!!"
Eu começo o texto com este trecho pois ele é o mais famoso do filme, já que em setembro de 1985 a cantora e compositora inglesa Kate Bush utiliza essa parte como sample na música "Hounds of Love", a segunda faixa do álbum homônimo.
Neste disco Bush, que sempre foi conhecida pela sua habilidade de falar sobre o amor de forma extremamente sensível, divide o sentimento como um feixe de luz atravessado por um prisma, observando a forma que algo tão intrínseco à vivência humana se manifesta nas nossas interações.
O álbum é separado entre o lado A, que fala sobre experiências universais de forma muito mais clara, e o lado B, que utiliza da alegoria de uma sobrevivente de um naufrágio delirando enquanto tenta sobreviver a uma longa e fria noite no mar para falar sobre como nós nos sentimos perdidos quando estamos apaixonados (e obviamente esse é o lado mais experimental do álbum).
Bem, por mais incrível que pareça na minha descrição capenga, o álbum foi um sucesso. A sua primeira faixa, "Running Up That Hill", é um marco na cultura pop e é utilizada até hoje (sim, Stranger Things, eu estou olhando pra você) para falar sobre amores inalcançáveis, já que Bush canta sobre um casal que faria de tudo para trocar de lugar e, finalmente, se entenderem melhor.
Mas voltando para a faixa-título, em "Hounds of Love" Bush transforma, de forma brilhante, o sentimento no vilão da sua história. O título significa "Os Cães de Caça do Amor", e a música começa justamente com o sample, e logo após Kate segue falando que desde criança ela tem medo do amor.
A cada vez que percebe que está se apaixonando, é como se os cães de caça do dito cujo estivessem lhe perseguindo. E eu acho que nunca fui tão bem representado.
Crescer como uma criança do interior não é ruim. Crescer como uma criança negra e queer no interior é outra história. Veja bem, não é como se tivesse me faltado amor familiar, pois felizmente minha família, mesmo que do jeitinho dela, sempre esteve de braços abertos para mim.
Mas ao mesmo tempo, a expectativa de viver um romance adolescente que é criado dentro de nós desde a infância, algo tocante e avassalador, que nunca foi possível.
Eu sempre fui viado demais para as garotas e feio demais para os garotos. Também nunca fui uma pessoa interessante, e sempre me coloquei no lugar de amigo. Eu serei seu eterno companheiro, aquele que escuta suas alegrias e seca as suas lágrimas, mas nunca, nunquinha, serei ao menos cogitado para ser o seu amor.
E quando algo é tão distante, tão descolado da sua realidade, não é de se surpreender que você se feche quando isto é posto na sua frente. Então acabei crescendo assim, sem coragem nem mesmo para tentar experimentar o amor.
Sou covarde, confesso. Eu enfrentaria todo o batalhão espartano, substituiria Sísifo em seu castigo eterno e trocaria minha alma com o diabo para fugir de um sentimento tão dilacerante como o amor.
Eu preferia tomar todo o veneno de Romeu e Julieta e morrer sozinho, virar uma estátua de sal como a mulher de Ló, ser crucificado quantas vezes necessárias para que, nem mesmo em pesadelo, eu cruze novamente com uma flecha do cúpido.
Mas a vida não é tão fácil assim, só eu e Afrodite sabemos o quanto eu rezei para cair não nessa armadilha novamente. Seguindo os passos de Kate, eu joguei meus dois sapatos no lago torcendo para que o meu cheiro fosse despistado, e ainda sim os cães de caça do amor me encontraram novamente.
E, como tantas vezes fui antes, estou encarcerado dentro do papel de amigo. Como tantas vezes fui antes, serei calmo e compreensivo, o eterno companheiro de suas alegria e lágrimas. Mas nunca, nunquinha, poderei ser seu amante.
Está nas árvores. Ele está vindo.
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Al río traslúcido de mi entrega
És se não uma promessa vagarosa Se arrastando em convencer Que tão verdade imutável Como qualquer outra vaidade orgulhosa Se assemelha aos reducionismos Os mares abertos de feridas Com cheiro de terra molhada Acolhem o coro dos desobedientes O feitiço cobre moedas de prata Enfraquece a noite, fortifica o amanhecer Como se um suspiro trovasse a intercessão Feita por amantes de copos divididos Desencante das minhas vistas O instante em que eu lhe esqueço Ditando amor corrompido Até as intenções puras da luxúria Os olhos dourados de medo São a procissão riscada Por todo teu corpo, tomando décadas e decisões A cada esfregada que perdes para a pele mármore Um vislumbre do futuro, outro tango Assoprado na fornalha de catedrais caseiras Ensaiado por dois iguais, admirados por olhos Em todos os ângulos, sendo esses também iguais Desliza o silêncio da seda e de tal ato performado Para dentro das perfumarias densas de gin que giram Ao redor de nós neste habitat esterilizado por cigarros e purpurina Me tema, me tenha, me sonhe, me invada, me salve Pulo embriagado, para dentro da imagem do teu descanso Desacato-o, descaibo-me, devasso-lhe, amanso bestas Me retrato com tuas dúvidas, me desanuvio do teu sentir Cantarei de olhos abertos e sorrisos largos os cães agora doces do meu amar
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🅗🅔🅚🅐🅣🅔
Hécate, também chamada de Perséia, era filha dos titãs Astéria – a noite estrelada e Perses – o deus da luxúria e da destruição, mas foi criada por Perséfone – a rainha dos infernos, onde ela vivia. Antes Hécate morava no Olimpo, mas despertou a ira de sua mãe quando roubou-lhe um pote de carmim. Ela fugiu para a terra e tornando-se impura foi levada às trevas para ser purificada. Vivendo no Hades, ela passou a presidir as cerimônias e rituais de purificação e expiação. Hécate em grego significa “a distante”.
Tinha características diferentes dos outros deuses mas Zeus atribuiu-lhe prestígio. Após a vitória dos deuses olímpicos contra os titãs, a titânomaquia, Zeus, Poseidon e Hades partilharam entre sí o universo. A Zeus coube o céu e a terra, a Poseidon coube os oceanos e Hades recebeu o mundo das trevas e dos mortos. Hécate manteve os seus domínios sobre a terra, os céus, os mares e sobre o submundo, continuando a ser honrada pelos deuses que a respeitavam e mantiveram seu poder sobre o mundo e o submundo.
Ela é representada ora com três corpos ora com um corpo e três cabeças, levando sobre a testa uma tiara com a crescente lunar, uma ou duas tochas nas mãos e serpentes enroladas em seu pescoço. Representada por 3 faces, tendo o poder de olhar para três direções ao mesmo tempo, ela podia ver o destino, o passado que interferia no presente e que poderia prejudicar o futuro. As três faces passaram a simbolizar seu poder sobre o mundo subterrâneo, ajudando à deusa Perséfone a julgar os mortos.
Para os romanos era considerada Trívia – a deusa das encruzilhadas. Associada ao cipreste, Hécate se fazia acompanhar de seus cães, lobos e ovelhas negras. Por sua relação com os encantamentos, feitiços e a obscuridade, os magos e bruxas da antiga Grécia lhe faziam oferendas com cães e cordeiros negros no final de cada lua nova. Também combateu Hércules quando ele tentou enfrentar Cérbero, o cão guardião do inferno com três cabeças que sempre lhe acompanhava.
O tríplo poder de Hécate se estendia do inferno, à terra e ao mar. Ela rondava a terra nas noites da lua nova e no mar tinha seus casos de amor. Considerada uma divindade tripla: lunar, infernal e marinha, os marinheiros consideravam-na sua deusa titular e pediam-lhe que lhes assegurasse boas travessias. O próprio Zeus lhe deu o poder de conceder ou negar qualquer desejo aos mortais e aos imortais. Foi Hécate quem ajudou Deméter quando ela peregrinou pelo mundo em busca de sua filha Perséfone.
Quando Perséfone, a amada filha de Deméter foi raptada por Hades – o senhor do submundo – quando colhia flores, sua mãe perambulou em desespero por toda a Terra. Senhora dos cereais e alimento, a grande mãe Deméter mortificada pela tristeza, privou todos os seres de alimento. Nada nascia na terra e Hécate, sendo sábia e observando o que acontecia, contou a Deméter o que havia sucedido a Perséfone.
Quando Perséfone, a amada filha de Deméter foi raptada por Hades – o senhor do submundo – quando colhia flores, sua mãe perambulou em desespero por toda a Terra. Senhora dos cereais e alimento, a grande mãe Deméter mortificada pela tristeza, privou todos os seres de alimento. Nada nascia na terra e Hécate, sendo sábia e observando o que acontecia, contou a Deméter o que havia sucedido a Perséfone.
Zeus decidiu interferir e ordenou que Perséfone regressasse para junto de sua mãe, desde que não tivesse ingerido nenhum alimento nos infernos. Porém, antes de retornar, Perséfone comeu algumas sementes de romã, o fruto associado às travessias do espírito. Assim ele podia passar duas partes do ano na superficie junto da Mãe, era quando a terra florescia. Mas Perséfone devia retornar para junto de Hades uma parte, era quando a terra cessava de florescer.
Hécate espalhava sua benevolência para os homens, concedendo graças a quem as pedia. Dava prosperidade material, o dom da eloquência na política, a vitória nas batalhas e nos jogos. Proporcionava peixe abundante aos pescadores e fazia prosperar ou definhar o gado. Seus privilégios se estendiam a todos os campos e era invocada como a deusa que nutria a juventude, protetora das crianças, enfermeira e curandeira de jovens e mulheres.
Acreditava-se que ela aparecia nas noites de Lua Nova com sua horrível matilha diante dos viajantes que cruzavam as estradas. Ela era considerada a deusa da magia e da noite em suas vertentes mais terríveis e obscuras. Com seu poder de encantamento, também enviava os terrores noturnos e espectros para atormentar os mortais. Frequentava as encruzilhadas, os cemitérios e locais de crimes e orgias, tornando-se assim a senhora dos ritos e da magia negra. Senhora dos portões entre o mundo dos vivos e o mundo subterrâneo das sombras, Hécate é a condutora de almas e as Lâmpades, ninfas do Subterrâneo, são suas companheiras.
Com Eetes, Hécate gerou a feiticeira Circe – a deusa da noite que se tornou uma famosa feiticeira com imenso poder da alquimía. Segundo a lenda, a filha de Hécate elaborava venenos, poções mágicas e podia transformar os homens em animais. Vivendo em um palácio cheio de artifícios na Ilha Ea ou Eana, no litoral da Italia, Circe se tornou a deusa da Lua Nova ou Lua Negra, sendo relacionada à morte horrenda, à feitiçaria, maldições, vinganças, sonhos precognitivos, magia negra e aos encantamentos que ela preparava em seus grandes caldeirões.
Descendente dos Titãs, Hécate não tem um mito próprio e foi uma das divindades mais ignoradas da mitologia grega, mencionada apenas em outros mitos, tal como o mito de Perséfone e Deméter. Hécate é deusa dos caminhos e seu poder de olhar para três direções ao mesmo tempo sugere que algo no passado pode interferir no presente e prejudicar planos futuros.
A deusa grega nos lembra da importância da mudança, ajudando-nos a libertar do passado, especialmente do que atrapalha nosso crescimento e evolução, para aceitar as mudanças e transições. Às vezes ela nos pede para deixar o que é familiar e seguro para viajarmos para os lugares assustadores da alma. Novos começos, seja espiritual ou mundano, nem sempre são fáceis mas Hécate está lá para apoiar e mostrar o caminho.
Ela empresta sua clarividência para vermos o que está profundamente esquecido ou até mesmo escondido de nós mesmos, ajudando a encontrarmos e escolhermos um caminho na vida. Com suas tochas, ela nos guia e pode nos levar a ver as coisas de forma diferente, inclusive vermos a nós mesmos, ajudando-nos a encontrar uma maior compreensão de nós mesmos e dos outros.
Hécate nos ensina a sermos justos e tolerantes com aqueles que são diferentes e com aqueles que tem menos sorte, mas ela não é demasiadamente vulnerável, pois Hecate dispensa justiça cega e de forma igual. Apesar de seu nome significar “a distante”, Hécate está presente nos momentos de necessidade. Quando liberamos o passado e o que nos é familiar, Hécate nos ajuda a encontrar um novo caminho através de novos começos, apesar da confusão das ideias, da flutuação dos nossos humores e às incertezas quando enfrentamos as inevitáveis mudanças de vida.
A poderosa deusa possuia todos aspectos e qualidades femininos, tendo sob seu controle as forças secretas da natureza. Considerada a patrona das sacerdotisas, deusa das feiticeiras e senhora das encruzilhadas, Hécate transita pelos três reinos, a todos conhece mas nenhum domina. Os três reinos são posses de figuras masculinas, mas ela está além da posse ou do ego, ela é a sábia, a anciã. A senhora do visível e do invisível, aguarda na encruzilhada e observa: o passado, o presente e o futuro. Ela não se precipita, aguarda o tempo que for preciso até uma direção ser tomada. Ela não escolhe a direção, nós escolhemos. Ela oferece apenas a sua sabedoria e profunda visão, acima das ilusões.
Acompanhada frequentemente em suas viagens por uma coruja, símbolo da sabedoria, a ela se atribuia a invenção da magia e da feitiçaria, tendo sido incorporada à família das deusas feiticeiras. Dizia-se que Medéia seria a sacerdotisa de Hécate. Ela praticava a bruxaria para manipular com destreza ervas mágicas, venenos e ainda para poder deter o curso dos rios e comprovar as trajetórias da lua e das estrelas.
Como deusa dos encantamentos, acreditava-se que Hécate vagava à noite pela Terra, sempre acompanhada por seu espíritos e fantasmas. Suas lendas contam que ela passava pela Terra ao pôr do Sol, para recolher os mortos daquele dia. Como feiticeira, não podia ser vista e sua presença era anunciada apenas pelos latidos dos cães. Na verdade, as imagens horrendas e chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes da deusa, protetora da independência feminina, defensora contra a violência e opressão das mulheres, regente dos seus rituais de proteção, transformação e afirmação.
Em função dessas memórias de repressão e dos medos impregnados no inconsciente coletivo, o contato com a deusa escura pode ser atemorizador por acessar a programação negativa que associa escuridão com mal, perigo, morte. Para resgatar as qualidades regeneradoras, fortalecedoras e curadoras de Hécate precisamos reconhecer que as imagens distorcidas não são reais nem verdadeiras. Elas foram incutidas pela proibição de mergulhar no nosso inconsciente, descobrir e usar nosso verdadeiro poder.
Para receber seus dons visionários, criativos ou proféticos, precisamos mergulhar nas profundezas do nosso mundo interior, encarar o reflexo da deusa escura dentro de nós, honrando seu poder e lhe entregando a guarda do nosso inconsciente. Ao reconhecermos e integrarmos sua presença em nós, ela irá nos guiar. Porém, devemos sacrificar ou deixar morrer o velho, encarar e superar medos e limitações. Somente assim poderemos flutuar sobre as escuras e revoltas águas dos nossos conflitos e lembranças dolorosas e emergir para o novo.
A conexão com Hécate representa um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento, aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento e a morte. Hécate nos ensina que o caminho que leva à visão sagrada e que inspira a renovação passa pela escuridão, o desapego e transmutação. Ela detém a chave que abre a porta dos mistérios e do lado oculto da psique. Sua tocha ilumina tanto as riquezas, quanto os terrores do inconsciente, que precisam ser reconhecidos e transmutados. Ela nos conduz pela escuridão e nos revela o caminho da renovação.
As Moiras teciam, mediam e cortavam o fio da vida dos mortais, mas Hécate podia intervir nos fios do destino. Muitas vezes foi representada com uma foice ou punhal para cortar as ligações com o mundo dos vivos. O cipreste está associado à imortalidade, intemporalidade e eterna juventude. Sendo a morte encarada como passagem transformadora e não o fim assustador e definitivo, essa significação tem origem na própria terra que dá vida, dá a morte e transforma os frutos em novas sementes que irão renascer.
𝐹𝑜𝑛𝑡𝑒: 𝑚𝑖𝑡𝑜𝑙𝑜𝑔𝑖𝑎 𝑔𝑟𝑒𝑔𝑎.
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