#escritos políticos
Explore tagged Tumblr posts
Text
«Y especialmente todos vosotros, que tenéis fuerzas para ello, declarad la guerra más implacable a aquello que es el primer prejuicio del que se siguen todos nuestros males, a aquella que es la fuente ponzoñosa de toda nuestra miseria: al principio según el cual la misión del príncipe es velar por nuestra felicidad. Perseguidlo con el sistema entero de nuestro saber por todos los escondrijos en los que se ha ocultado, hasta que sea exterminado de la tierra y devuelto al infierno que es de donde vino. El principio dice que nosotros no sabemos lo que promueve nuestra felicidad, lo sabe el príncipe y es él quien tiene que guiarnos hasta ella, por eso tenemos que seguir a nuestro guía con los ojos cerrados. El hace con nosotros lo que quiere, y si le preguntamos, nos asegura bajo su palabra que eso es necesario para nuestra felicidad. Pone la soga en torno al cuello de la humanidad y grita: “Calma, calma, es todo por vuestro bien”.
No, príncipe, tú no eres nuestro Dios. De El esperamos la felicidad, de ti la protección de nuestros derechos. Con nosotros, no debes ser bondadoso, debes ser justo.»
Johann Gottlieb Fichte: «Reivindicación de la libertad de pensamiento», en Reivindicación de la libertad de pensamiento y otros escritos políticos.Tecnos, pág. 12. Madrid, 1986.
TGO
@bocadosdefilosofia
@dias-de-la-ira-1
#fichte#johann gottlieb fichte#reivindicación de la libertad de pensamiento#felicidad#bondad#justicia#prejuicio#príncipe#gobierno#estado#manipulación#manipulación política#escritos políticos#teo gómez otero#filosofía contemporánea#idealismo alemán#función del estado#derechos#derecho
3 notes
·
View notes
Text
Políticos Corruptos Uma Praga a se Temer
“Políticos Corruptos: Uma Praga a se Temer” Políticos corruptos, uma praga a se temer Com suas mãos sujas, tentam nos enganar Promessas vazias, mentiras sem fim Tentando nos convencer, que estão do nosso lado. Mas suas palavras são como veneno Que nos envenenam a alma e o coração Eles jogam com nossos sonhos, nossa esperança E nos deixam sem escolha, sem voz, sem vez. A ganância os domina, e o…
View On WordPress
#10 políticos mais corruptos#brasil#brasil corrupção#corrupção no brasil#corrupção política brasil#corrupção política no brasil#corruptos#escrito político corrupto#o doutrinador políticos corruptos#poema político corrupto#poesia político corrupto#política#política no brasil#político corrupto#politicos#políticos corruptos#políticos corruptos brasil#políticos corruptos do brasil#políticos corruptos do cinema#texto político corrupto#top 10 - os políticos mais corruptos do mundo.#top 10 politicos corruptos do brasil#torneo de políticos corruptos
1 note
·
View note
Text
DEAREST READER — F1 GRID.
#sumário: headcanons sobre os pilotos inspiradas no universo bridgerton, e também nessas fotos aqui. #pilotos: carlos sainz, charles leclerc, george russell, lewis hamilton, max verstappen. #avisos: 7k de palavras então tá longo! algumas tropes são inspiradas em bridgerton (duh), e, muito provavelmente, existem algumas inconsistências históricas. só papo de casamento. não tive criatividade pra criar um título bonitinho pros divos, então é tudo na base do nome. não tá revisado.
💭 nota da autora poderia ter escrito um drabble pra cada um? SIM! but i didn't want to *laser eyes*. então, fiz uns headcanons que tão bem grandinhos porque simplesmente não consegui parar de digitar. tem uns que eu tinha desenvolvido muito mais, mas ficou simplesmente gigantesco, então cortei pela metade. gostei bastante de escrever esses, então espero que vocês gostem também! todos os créditos para a parte do russell e do sir lewis vão para a musa @imninahchan ♡ espero que gostem!
1 – O FAMILIAR CONDE VERSTAPPEN.
♡ㆍA família Verstappen havia se mudado para a propriedade ao lado há pouco mais de dez anos. E desde então, é impossível pensar em uma vida onde Max Verstappen não faça parte.
♡ㆍVocê, a mais jovem entre seus irmãos, e ele, o herdeiro ao título do pai, tornaram-se amigos rapidamente. Pela idade similar e o interesse mútuo em cavalos rápidos de corrida, a ligação havia sido instantânea, mesmo que reclamasse da competitividade do garoto sempre que assistiam a uma corrida juntos.
♡ㆍCom o passar dos anos, estabeleceram que eram melhores amigos. Não que não fosse óbvio aos olhos alheios, mas foi como firmar um contrato verbal. Um arranjo para a vida.
"Você é a garota mais legal que já conheci," ele declarou, na tenra idade de onze anos. Estavam escondidos embaixo da mesa do escritório do seu pai, dividindo uma travessa de doces que haviam surrupiado da cozinha. Mesmo tão jovem, já era uma pessoa difícil de jogar elogios por aí, e talvez por isso, seus elogios fossem tão ruins. Mas você o conhecia bem o suficiente para saber que o que dizia era sincero.
"Que bom," responde, distraída enquanto retira o recheio de cereja do bombom. "Porque você é o garoto mais legal que já conheci".
♡ㆍA propriedade dos seus pais rapidamente se torna o refúgio de Max, uma maneira de fugir das expectativas e implicância do pai e viver como um jovem comum. Descobre a felicidade de fazer nada com você, após passar a manhã se esforçando para completar as lições de seus tutores. Leem livros e discutem sobre os enredos e seus personagens favoritos, conversam sobre os eventos da alta sociedade e também sobre suas expectativas para a corrida de cavalos daquele fim de semana.
♡ㆍPassam os momentos mais relaxantes juntos, mesmo com as discussões que surgem quando escolhem equipes opostas para torcer. Longe dos teatros da corte, podem ser genuínos um com o outro. Você não precisa fingir ser alguém que não é quando está com ele. Não precisa monitorar a altura das suas gargalhadas, a quantidade de biscoitos que come, ou a maneira que está sentada.
♡ㆍE percebe que ele também não se importa em ser aquilo que o pai o obriga a ser durante todos aqueles eventos rigorosos. Em sua companhia, ele deixa o futuro título de lado e pode ser apenas o Max. O seu melhor amigo que já quase se afogou quando caiu no lago de patos da sua propriedade, salvo por você, e que em troca, te salvou de quase cair do seu cavalo quando saíram para passear pelo bosque.
♡ㆍMas o tempo, às vezes, também pode ser traiçoeiro. Antes, aquele que os tornou inseparáveis também tornou-se motivo de distância. Ao atingir a idade adequada para começar a lidar com os negócios da família, o seu Max foi tirado da sua vida de forma abrupta e dolorosa.
♡ㆍVocê nunca ignorou a maneira a qual o pai de Max, o Conde Verstappen, tratava o filho como se fosse nada mais do que seu herdeiro, uma pedra preciosa que necessitava ser polida para os seus próprios jogos políticos. Era difícil não perceber o peso da responsabilidade nos ombros de seu amigo, que assim que atingiu a idade considerada apropriada pelo pai, se fechou totalmente.
♡ㆍAo visitá-lo em sua residência, quando sabia que Conde Verstappen não estava por perto, você era sempre recebida da mesma forma: a preceptora de Max, com aquela cara azeda, tinha o prazer de atendê-la apenas para te dizer que "o herdeiro Verstappen está muito ocupado no momento, senhorita". E mesmo com sua insistência, o máximo que conseguia era apenas deixar uma mensagem que nunca era repassada.
♡ㆍEntão, com sua estreia, passaram a se encontrar apenas nos eventos da alta sociedade. Por um tempo, sentia tanta raiva do rapaz que mal conseguia encará-lo por muito tempo, e procurava sempre escapar de qualquer possibilidade de interação.
♡ㆍEssa necessidade de evitá-lo fazia com que você se tornasse alheia a atenção, sempre tão dedicada e repleta de anseio, do rapaz. Os olhos azuis te acompanhavam pelo salão, morosos e ardentes, carregados da saudade que só você seria capaz de identificar.
♡ㆍE, apesar de ser um dos homens mais cobiçados do recinto, Max havia ganhado uma reputação que nada lembrava aquele que você conhecia. Dava a impressão de ser um recluso, sempre afastado e desagradável. Passava a noite conversando com os amigos de seu pai, todos relacionados a política, e recusava ser apresentado a qualquer moça, raramente participando das danças.
♡ㆍNão surpreendia que, mesmo com toda a popularidade que ganhou sendo um Verstappen, ele ainda não tivesse garantido uma esposa, já em sua segunda vez participando ativamente dos eventos da temporada. Claro, sendo um homem, as suas tentativas não seriam contabilizadas.
♡ㆍVocê, ao contrário de seu velho amigo, teria fazer valer a pena cada dança, conversa e trocas de olhares nos salões que frequentava. Tinha sempre seu cartão de danças preenchido, dando o seu melhor em qualquer coreografia e tornando até os piores pares em uma companhia agradável. Havia se tornado uma das estreantes mais populares, e por isso, o seu valor aumentava cada vez mais. O que te leva a crer que foi justamente por isso que Max Verstappen decidiu se aproximar de você mais uma vez.
♡ㆍPreenchia um copo de ponche para acalmar os nervos após ter dançado uma fervorosa quadrilha junto de um jovem lorde, e respirou fundo quando notou que os pés doíam depois de tanto esforço (e pisoteadas). Mal havia levantado o braço para bebericar quando percebe a chegada de alguém a mesa que estava.
♡ㆍ"Ainda tem espaço para uma dança?" Max, é claro. A voz parecia mais madura, mas ainda reconhecível. Não sabia se seu coração havia acelerado por nervosismo de, finalmente, conseguir conversar com ele novamente, ou se por pura raiva. Talvez um pouco dos dois.
"Felizmente não," responde com uma mentira, mais seca do que intendia. Geralmente, ao lado de homens da alta sociedade bonitos e solteiros, você era simpática, tão doce que doía os dentes. Mas esse não era um rapaz qualquer. Era Max, seu antigo melhor amigo, que foi covarde o suficiente para quebrar seu coração sem justificativa.
Sua resposta pareceu desestabilizá-lo por alguns segundos, e você pôde acompanhar o brilho nos olhos azuis desaparecer após sua rejeição. A possibilidade de cutucá-lo com a mesma adaga que te machucou parecia interessante em seus secretos planos de vingança, mas realizá-los, de fato, não surtiu nenhum prazer.
Bebeu um pouco do ponche, e distraída, perdeu o momento em que os olhos do rapaz conseguiram avistar um bloco em branco do seu cartão. Sem mesmo pedir licença, Max segurou o pequeno objeto em sua mão, capturando a pequena caneta e deixando sua assinatura ali. "Podemos dançar a valsa," anuncia, deixando claro que não teria outra opção. E então, te faz uma curta cortesia, se despedindo, "Lady".
♡ㆍFoi assim que, contra a sua vontade, por uma mudança ridícula do destino, você finalmente teve Max Verstappen de volta em sua vida. Passara anos desejando a presença do rapaz, e quando finalmente conseguiu… tudo estava diferente.
♡ㆍApesar de sua latente desconfiança, que sempre se erguia como uma barreira em sua reaproximação, estar perto de Max era como voltar a sua infância, e por mais que odiasse a afeição que borbulhava em seu peito, não podia evitá-la. Encontrava conforto em saber que o seu Max ainda existia por baixo daquela máscara estoica que usava em todos os bailes, e que surgia sempre quando entravam em uma discussão sobre a corrida da semana, agora ainda mais sarcásticos e maduros. Tudo ainda estava ali, adormecido, parecendo apenas esperar que o causador de tais sentimentos voltasse para revirar tudo novamente. ♡ㆍO cortejo público poderia não ser mais do que uma estratégia, mas quando estavam juntos, dividindo uma conversa ou uma dança, você sentia que talvez estivesse enganada acerca de suas suspeitas.
16 – O MUSICAL PRÍNCIPE CHARLES.
♡ㆍVocê não morava embaixo de uma pedra. Todos comentavam sobre o príncipe estrangeiro que havia chegado para cortejar a escolhida da rainha naquela temporada, e você, contra sua própria vontade, sabia tudo sobre vossa alteza real.
♡ㆍEra fato conhecido de que a cor favorita de Príncipe Charles era o vermelho, que faz parte do emblema de sua dinastia. Por isso, todas as debutantes (e solteironas, no geral) aderiram a detalhes vermelhos em seus vestidos para o primeiro baile da temporada. Dizem, também, que vossa alteza é um amante de animais, e você pode jurar que até a mais frígida das moças da sociedade adotou um cachorrinho.
♡ㆍNão que você estivesse fazendo diferente, já que a noção de ter alguém diferente frequentando os mesmos espaços te despertava mais curiosidade do que deveria. Mas também estava ciente da dura realidade que enfrentava: agora, iniciando a sua terceira temporada consecutiva, não poderia esperar mais do que um lorde com poucas posses como marido. E mesmo assim, esse cenário ainda é muito otimista para sua situação. O mercado casamenteiro é impiedoso.
♡ㆍPor isso, tentava não criar expectativas como as outras garotas da sociedade. Enquanto elas sonhavam em agarrar a atenção do príncipe para longe de sua prometida, você se contentava com o destino que sabia que não poder fugir. Pelo menos, tinha mais chance em ganhar os olhos dos outros aristocratas e, quem sabe, conseguir laçar um marido logo.
♡ㆍNão que tivesse pressa, mas saber que poderia se tornar um peso a mais para os seus pais era algo que não saia de sua cabeça ultimamente. Ainda mais sabendo que estavam realizando um grande esforço ao patrocinar o primeiro baile da temporada na propriedade da família, fazendo de tudo para que conseguissem se destacar no meio de tanto furor.
♡ㆍE então, na noite que daria o pontapé para o início da nova temporada, todos são surpreendidos com a reviravolta: o príncipe não estaria presente naquela noite. Os membros da alta sociedade, tão arrumados e reunidos no salão de bailes do casarão de seus pais, são pegos de surpresa com a notícia. As mulheres escondem o suspiro de surpresa com seus leques, enquanto os homens conversam entre si, acordando que, certamente, teriam menos competição pelo resto da festividade.
♡ㆍA notícia, no entanto, chega para você como um soco no estômago. Não tão decepcionada pela ausência, mas pelo grande ato de babaquice real. O grande baile que seus pais haviam planejado foi minado pela notícia de última hora, que fez com que os presentes se sentissem desanimados. A atração principal havia cancelado, e o que seria da noite?
♡ㆍTalvez pela abrupta mudança de planos e a confusão generalizada causada por ela, onde todos os convidados pareciam meio perdidos – o que apenas mostrava a rigidez desses eventos, onde todo tipo de interação é previamente ensaiada –, você conseguiu escapar da multidão de vestidos e paletós que cobria o salão para a sala de música, cômodo vizinho.
♡ㆍDecerto, não esperava nada ao entrar na sala e encostar-se contra a porta, soltando uma respiração aliviada. Mas ouvir a melodia das teclas de marfim do piano te alcançou desprevenida. Alguém daquele salão teve a mesma ideia que você, e ainda não sabia se isso era bom ou ruim. Pelo menos, não tocava como um ogro.
♡ㆍA sala era pouco iluminada, apenas com alguns candelabros acesos, mas que faziam pouco para clarear o espaço amplo. Era capaz de observar uma figura elegante sentada à frente de seu piano – todas as moças devem ter, pelo menos, algum tipo de talento, foi o que sua mãe disse ao te ensinar as escalas do instrumento, quando ainda tinha nove anos. O cavalheiro parecia ter cabelos castanhos, iluminados pelas velas amarelas em seu entorno. O nariz pontiagudo e a covinha em sua bochecha eram sombreados, mas os olhos estavam escondidos pelos cílios grossos. Até o momento em que levantou a cabeça para te encarar. Sem perceber, você acabou prendendo a respiração mais uma vez.
♡ㆍSentiu o coração dar um solavanco contra o peito. Pensou ser porque estava na companhia de um completo estranho, em uma sala, sozinhos. E então, adicionou isso ao fato de estar diante do completo estranho mais bonito que já viu em toda sua vida. Aí, o coração errou uma batida.
♡ㆍ"É um bom piano, não?" é a pergunta que sai dos lábios do estranho, uma maneira de quebrar a atmosfera que pesava a sua volta. Os olhos dele pareciam esverdeados à distância. Talvez castanho, também? Impossível de dizer de onde estava parada.
♡ㆍA pergunta ecoa em sua mente por alguns segundos. Ele também não fazia ideia de quem você era, se não, já estaria se levantando e pedindo desculpas por tocar em algo que te pertencia. Mas essa ideia não te incomodava tanto, pelo menos não quando o escutou dedilhar um trecho de uma de suas sonatas favoritas. O toque a fazia soar mais suave do que realmente era.
♡ㆍ"Sim," concorda e, antes que pudesse perceber o que fazia, já dava passos na direção do seu instrumento. Ou melhor, para o estranho que o tocava.
♡ㆍ"A senhorita se interessa pelo piano? Toca?" a voz dele era suave, como se não quisesse atrapalhar o som que os próprios dedos produziam. As mãos se moviam com destreza sob as teclas, e a agilidade dos movimentos a encantavam. No entanto, os olhos do rapaz não saiam de seu rosto, que estava queimando embaixo de tão devota atenção. Você consegue apenas assentir, o que ele responde com um sorriso animado. E então, outra pergunta, "Me acompanha?"
♡ㆍEnquanto toca, chega um pouco para o lado, te dando espaço suficiente para sentar-se a frente da região grave. Retirando sua mão esquerda, o som fica incompleto até você, de fato, ajudá-lo a completar a melodia. Uma maneira um tanto inortodoxa de conhecer alguém, mas completamente divertida.
♡ㆍDurante alguns minutos, permanecem dividindo as teclas e misturando os sons. Quando a canção que ele iniciou termina, você traz uma nova para que ele te acompanhe. É um desafio acertar as composições com apenas algumas notas inacabadas, mas é um joguinho que deixa os dois entretidos por um bom tempo. E, depois de algumas vezes, percebe que têm um gosto extremamente parecido. Seguem sempre o caminho das melodias mais delicadas, um tanto etéreas.
♡ㆍDão risada quando as canções intercaladas passam a ficar mais complexas, e suas bochechas queimam quando suas mãos se tocam ao alcançar a região central das teclas. Consegue sentir o calor da mão do rapaz na sua, mesmo que esteja coberta por sua luva. Em um momento, chegam até a quase entrelaçar os braços, trocando as escalas. Isso é o que mais rende risos, porque a posição apenas torna tudo mais difícil. Mesmo que em silêncio, parecem trocar ideias bem ali, nas teclas de seu sagrado piano.
♡ㆍFoi um daqueles momentos em que o coração guarda com carinho, mas que você entende ter que acabar. A última canção se encerra naturalmente ao compartilharem a nota final. Você levanta os olhos, animada, e percebe que, enquanto estava encarando as teclas de marfim, o olhar do rapaz já estava em seu rosto há tempos. Isso faz um calor subir de seu peito até as bochechas.
♡ㆍ"Preciso me retirar, milady," ele se desculpa, mesmo que não faça nenhum movimento para se levantar do banco que dividem. Com os olhos dele sob os seus, você pensa: azuis com castanho. Combinação estranha… e mais encantadora que já vi. No entanto, responde com um murmúrio positivo, algo entre 'tudo bem' e 'eu entendo'.
♡ㆍE apenas após escutar sua aceitação, mesmo que nem um pouco animada, o rapaz se prepara para partir. As duas mãos abotoam seu paletó, e você observa uma pequena insígnia no anel que leva no dedo indicador. Cavalo rampante.
♡ㆍAlgo em seu peito incomoda ao vê-lo andar pela sala, para longe de você. Sem conseguir se segurar por muito tempo, decide dar um fim ao mistério que os rondou durante o tempo que compartilharam. Depressa, se introduz, revelando que era a filha dos donos da propriedade em que estavam, a filha do Conde.
♡ㆍSeu coração reage com mais um solavanco mal-comportado ao vê-lo sorrir, esperto. "Oh, eu sei," ele responde, como se você não tivesse que se preocupar com isso. "E eu sou o Charles". Céus.
44 – O SURPREENDENTE DUQUE HAMILTON.
♡ㆍTodos da alta sociedade conheciam Duque Hamilton. Não apenas por sua elegância natural, que faz com que pareça Adônis reencarnado em qualquer roupa que vista, e nem só por sua riqueza e propriedades, mas, principalmente, por seu estilo de vida hedonista.
♡ㆍDesde quando estreou na sociedade, no ano passado, percebeu que as aparições do duque eram raríssimas. Poucas foram as vezes que chegou a vê-lo nos salões de baile que frequentava, e menores ainda foram as oportunidades que teve para sequer interagir com ele – surpreendeu-se apenas por imaginar que ele sabia de sua existência.
♡ㆍMas, quando conversavam, sempre mantendo a distância de desconhecidos, mas a educação daqueles que querem se conhecer, você imaginou que todas aquelas histórias mirabolantes sobre o duque e seus pernoites eram apenas rumores sórdidos. Certamente, seria impossível que um homem tão cortês causasse tanto estrago. Mal conseguia imaginá-lo em uma das festas ensandecidas que as más línguas descreviam.
♡ㆍNo entanto, sua opinião mudou radicalmente logo no final da temporada passada, durante uma belíssima ópera patrocinada pela Rainha. Ao se ausentar para ir ao banheiro, foi surpreendida pela visão do Duque Hamilton com uma das cantoras, que interpretava um dos papéis menores no espetáculo.
♡ㆍCom os olhos esbugalhados e o sentimento de desespero que crescia por flagrar um casal em um momento íntimo, acabou se escondendo atrás de uma das grandes pilastras. Uma decisão a qual se arrependeu amargamente.
♡ㆍAinda era capaz de escutar tudo, e sentia o nojo se espalhar por suas entranhas ao escutar o som molhado dos beijos que compartilhavam, bem no meio do hall do teatro. Com as portas principais fechadas, ninguém podia vê-los e estavam distantes o suficiente para que o som do espetáculo fosse abafado.
♡ㆍAté que escutou a voz melódica do duque dizer uma sequência de palavras sedutoras, sem dúvidas as mais apetitosas que já ouviu um homem falar em sua vida. Caíram como explosivos em seus ouvidos inocentes, e despertaram muito mais do que sua curiosidade. Sentiu seu peito arfar, como se tudo o que Duque Hamilton estivesse falando fosse direcionado para você.
♡ㆍDeixou-se devanear por alguns segundos, se perdendo na própria imaginação ao escutar o barulho que o casal fazia, apenas alguns passos atrás da pilastra, até serem interrompidos. Sua acompanhante para a ópera, a sua dama de companhia, abriu as portas que separavam o hall da plateia e o barulho acabou por sobressaltar tanto você quanto o duque.
♡ㆍ"Como a senhorita demorou!" ela anuncia ao te encontrar, escondida como um ratinho (e sentindo-se tão suja quanto) atrás da pilastra. Ao fundo, conseguia escutar o barulho apressado dos passos do casal, provavelmente procurando um local mais reservado para que pudessem continuar suas atividades.
♡ㆍDesde esse dia, não duvidou dos rumores que passavam por seus ouvidos, e também não conseguiu mais parar de prestar atenção em tudo o que o duque fazia. Alguns argumentariam que estava apaixonada por ele, como todas as jovens mulheres da sociedade, mas você gostava de acreditar que seu interesse era um resultado puro de sua própria curiosidade.
♡ㆍMas em momento nenhum ousou sonhar que seria, um dia, quem sabe, cortejada pelo belo duque. Essa era uma ilusão que não queria alimentar de forma alguma. Mesmo assim, você não conseguia parar de pensar nele.
♡ㆍE isso se seguiu até o início da nova temporada. No começo, foi difícil para de procurar pelo duque em todos os lugares que ia. Sentia-se frustrada por ele não estar presente para vê-la tão arrumada, tão linda. Decepcionava-se ao ter que gastar mais um belo vestido para conhecer outros pretendentes que não eram ele. E seguiu dessa forma pelos primeiros bailes, até, finalmente, conseguir direcionar sua atenção para outro homem.
♡ㆍLorde Burton era um visconde de posses pequenas, mas valiosas. Era simpático o suficiente para manter uma conversa interessante e tinha boa aparência. Te elogiava constantemente, ao ponto de se tornar um tanto inconveniente, e parecia gostar realmente de você. Um pouco demais.
♡ㆍNo início, falhou em se atentar na emboscada que havia caído. Era uma boa combinação, o suficiente para que você não fosse considerada mais uma na fila das solteironas da sociedade, e também para te tirar daquele fascínio pelo duque, um homem que você sabia estar fora de cogitação.
♡ㆍMas esqueceu de pensar que Lorde Burton, por mais benquisto que fosse, jamais manteve um cortejo por tempo o suficiente, apesar de seu histórico dizer que já havia tentado muitos. A essa ponto, deveria imaginar que o homem estava tão desesperado para se casar a ponto de se agarrar a você como sua última esperança.
♡ㆍO que foi, outrora, ameno, agora estava se tornando uma amolação. Não conseguia escapar de seus braços durante os bailes e tinha que suportar suas intermináveis conversas sobre o seu casamento – que não havia sido acordado por sua parte. Lorde Burton era extremamente carente por sua atenção, e sua paciência era curta.
♡ㆍEm um dos eventos realizados na casa de uma das amigas da Rainha, um baile luxuoso e muito bem frequentado, você se sentia sufocada ao lado de seu… galanteador. Mesmo após três taças de champanhe e o uso de seu leque, sentiu que não conseguiria passar mais um minuto sequer ao lado de Burton.
♡ㆍFazendo charme, tocou o braço do homem para alertá-lo que não estava se sentindo nada bem, e que precisava se retirar do salão para recuperar-se por alguns instantes. Enquanto Lorde Burton ainda pensava em se oferecer para te acompanhar, você imediatamente o calou, alegando que passava por problemas femininos – a desculpa perfeita para manter qualquer homem afastado.
♡ㆍAssim que recebeu um olhar de preocupação, mas compreensivo, do seu par, não esperou nem um segundo para sair do salão. Apenas não correu porque ainda precisava manter a pose debilitada.
♡ㆍAproveitou os momentos que tinha antes de, inevitavelmente, Lorde Burton vir ao seu encontro, para passear pelos corredores próximos. Não fazia a menor ideia de por onde ir, já que a residência era imensa. Decidiu que seria melhor manter a exploração aos ambientes próximos à festa, assim, poderia caminhar de volta sem muito esforço.
♡ㆍEntrou em um extenso corredor, repleto de retratos e pinturas paisagísticas. Foi o que te distraiu o suficiente para que não visse que uma nova pessoa havia entrado no mesmo lugar que você, e estava tão aéreo quanto. Sem perceberem, acabam por se esbarrar bem no meio do corredor, enquanto hipnotizados por um dos quadros pendurados na parede.
♡ㆍ"Me desculpe," você nem havia encarado o rosto da pessoa a qual falava e já pedia desculpas. Quando seus olhos finalmente se encontraram, suas bochechas queimam ao completar, "Duque Hamilton". E oferece uma curta cortesia com a cabeça, a que ele retribui rapidamente.
"Senhorita," te dá um sorriso encantador, e você sente o coração disparar dentro de seu peito. Parecia até uma garotinha, admirada por tudo o que esse homem fazia. "Acredito que esteja tão perdida quanto eu".
"Um pouco," admite, ainda um tanto desnorteada. Estão mais próximos do que deveriam, devido ao esbarrão. Sente a saia de seu vestido roçar contra os joelhos do duque. "Não quis me afastar muito do salão".
"Decisão sábia," oferece uma risada, então, em um tom confessional, diz, "Estava à procura do toalete, mas acabei aqui".
♡ㆍÉ um momento simples, mas que te deslumbra. Enquanto ri, aproveita para apreciar a maneira com que os olhos do duque se fecham ao sorrir, e como ele parece tão à vontade criando uma conversa fiada – depois de tantos anos na sociedade, deve ser um mestre.
♡ㆍNo entanto, antes que pudesse responder a sua revelação, vocês são pegos de surpresa com a chegada de um novo integrante à conversa: Lorde Burton. Como era de se esperar, após ter demorado tanto para retornar à festa, o seu pretendente havia iniciado a sua busca – mais cedo do que o imaginado, contudo.
♡ㆍVocê deixa escapar um suspiro de consternação, alto o suficiente para que o duque te encare com um olhar confuso. Ele imediatamente nota como o seu corpo pareceu tensionar com a chegada do cavalheiro. E parece não gostar da maneira com que Lorde Burton o ignora, dirigindo-se diretamente a você, como quem procura tirar satisfação.
♡ㆍ"Aí está você!" exclama, em um tom falsamente bem-humorado. Um sorriso contido, mas sabichão, aparece nos lábios do lorde, fazendo seu estômago revirar de irritação. Era melhor que tivesse se perdido naquele casarão. Então, com um olhar de soslaio para Duque Hamilton, completa: "Pensei que estivesse lidando com problemas femininos, mas vejo que já está bem melhor, não?"
♡ㆍEstava claro que falava aquilo em voz alta para te constranger na frente do duque, uma maneira de te dar o troco por fazê-lo esperar, sozinho, no salão. Você se retrai e olha para baixo, evitando contato visual com ambos.
"Já es-," antes que pudesse completar a sua frase, complacente, é interrompida pela voz do duque. Ele ajeita a própria postura, e parece crescer diante de seus olhos. Os olhos castanhos se estreitam enquanto encaram Lorde Burton, intensos.
"A senhorita sente-se muito bem, meu lorde. Apenas precisava de um momento longe do tumulto," é como se roubasse todas as desculpas da sua mente. "E não é necessário se preocupar, todos os problemas femininos já foram resolvidos". Ou talvez não todas.
♡ㆍSeus olhos se alargam ao escutar a réplica do duque, e é preciso morder o próprio lábio para não deixar que uma risada incrédula te escape. Curiosa, sua atenção cai imediatamente sob Lorde Burton, que parece mais atribulado que o normal, chocado tal insolência. Ao voltar seu olhar para Hamilton, percebe que ele encara o lorde como se perguntasse, silencioso, 'o que vai fazer?'.
♡ㆍFoi respondido em apenas um segundo. Lorde Burton olha para os dois, e ainda nervoso, bate o pé em retirada do corredor. Seu rosto parecia vermelho como um tomate, e bufava.
♡ㆍAssim que o homem se distancia o suficiente, você e o duque se encaram e, sem se comunicar, desatam de rir ali mesmo. Sente a sua barriga doer e lágrimas escorrerem por seus olhos, que seca com os dedos assim que se acalma.
♡ㆍ"Obrigada," agradece ao duque, mesmo que, no fundo, soubesse que havia arranjado um grande problema para resolver. Em troca, ele faz uma pequena cortesia com a cabeça, ainda rindo. Passam alguns segundos em quietos, o silêncio sendo interrompido apenas pelas respirações pesadas após a crise de risos.
"Não é preciso me agradecer," responde, mas logo se contradiz, ao sugerir, "Ou talvez… a senhorita queira me agradecer me concedendo uma dança?"
55 – O ENCANTADOR MARQUÊS SAINZ.
♡ㆍSer de uma família do campo, de renda modesta, nunca pareceu um impedimento para qualquer coisa em sua vida. Você foi criada e educada sem a ajuda de criados, fazendo as tarefas para ajudar seus pais, e em conjunto com seus irmãos. Aprendeu a ler e foi bem-educada na arte da conversação com a ajuda de sua mãe, mas também aprendeu a lidar com os animais da fazenda com seu pai.
♡ㆍNunca aspirou casar-se com ninguém fora de seu círculo, e já sabia que teria que se contentar com algum rapaz de boa aparência, tolerável e com escassas terras em seu nome. Uma garota do campo como você raramente teria grandes chances em subir socialmente.
♡ㆍNo entanto, sua madrinha, que morava na cidade e pareceu nunca ligar muito para sua existência, tinha outros planos. Lady Federline havia acabado de perder o marido e também perdia as esperanças de conseguir um casamento próspero para as duas filhas solteironas, que embarcavam em sua quarta temporada na sociedade. Pediu para que seus pais concedessem a sua guarda para que, finalmente, obtivesse sucesso no mercado casamenteiro.
♡ㆍ"É meu dever como madrinha," foi o que a mulher disse, mesmo que tivesse muitas outras obrigações que jamais cumpriu. Mal se lembra da última vez em que a viu, mas decidiu aceitar o ato de boa vontade – não que tivesse muita escolha, já que seus pais ficaram deslumbrados pela oportunidade de sua filha se casar com um homem de boa fortuna, que pudesse melhorar o estilo de vida da família. No fundo, você sabia que era apenas mais uma tentativa da mulher não se afundar ainda mais perante àquela sociedade tão crítica. Com dois fracassos em uma mão, talvez um casamento bem-sucedido pudesse salvar um pouco de sua reputação.
♡ㆍEm sua chegada na cidade, rapidamente fora escoltada para a modista, que se tornou um de seus lugares favoritos. Não pelas roupas, que apesar de lindas e glamourosas, não enchiam seus olhos. Foi ali, enquanto tirava suas medidas e ajustava alguns vestidos disponíveis, em que pôde saber mais das histórias da alta sociedade. Fofocar era um hábito que não morreria tão cedo em você.
♡ㆍDescobriu que sua teoria estava mais certa do que gostaria. Uma das filhas de sua madrinha havia se envolvido com um rico político, já casado, e trouxe escândalo para o nome da família. Enquanto a outra era tão antipática que poucos conseguiam manter uma conversa por mais que alguns minutos. Você já era considerada um achado diante de seus pares.
♡ㆍE como era de se esperar, a sua popularidade também trouxe a inveja das filhas de sua madrinha, já cientes dos destinos muito diferentes que teriam. Mesmo com a preferência óbvia de Lady Federline, isso não as impedia de te tratar como nada mais do que uma intrusa dentro da residência da família. Não chegavam nem a vê-la como uma igual, e constantemente te rebaixavam a uma posição inferior.
♡ㆍPor mais que fosse fácil de sempre vencer uma discussão, visto se importavam com pouco além da própria mesquinhez e com a fortuna herdada de seu pai, você não poderia se indispor completamente com as duas. E por saber disso, iniciaram uma campanha de pequenas sabotagens para te prejudicar.
♡ㆍTinha imaginado que as irmãs do mal tentariam te envergonhar logo na cerimônia de apresentação à rainha, mas o que te aguardava era definitivamente muito pior. A rivalidade, unilateral, chegou em seu ápice pouco tempo depois, no primeiro grande baile da temporada.
♡ㆍSua diversão, alimentada pelas consecutivas danças e conversas que tinha com os lordes e grupos de moças que pareciam interessados o suficiente em conhecer a garota do campo, teve um fim sórdido no meio do salão. E, para piorar, foi no momento mais feliz de sua noite.
♡ㆍDisputada por boa parte dos solteiros naquela noite, você foi surpreendida quando, enquanto tentava se livrar de um rapaz um tanto inoportuno, sua conversa foi interrompida pelo ilustre Marquês Sainz. Um tipo que você jamais imaginou sequer te notar, devido ao grande prestígio e popularidade que havia acumulado na alta sociedade. O conhecia apenas por nome e reputação, já que sua madrinha e as más-línguas na modista haviam sussurrado sobre o espanhol. Ele havia viajado para a cidade para resolver os negócios do pai, e acabou por se mudar para uma residência não muito distante do centro, e tornou-se um dos solteiros mais cobiçados pelas moças.
♡ㆍAo saber de sua existência, pensava que o marquês havia conquistado tal fama por sua fortuna, mas, estando cara a cara com o homem, entendeu que era muito mais que isso. Era tão bonito que te fazia sentir o peito queimar. E aquele sotaque! Fazia a sua interrupção ainda mais bem-vinda.
♡ㆍ"A senhorita já tem um par para a próxima dança," ele anuncia para o cavalheiro que lhe importunava. Não foi uma mentira bem contada, porque Sainz imediatamente te encarou como se pedisse a sua permissão para tal, mas fez com que o rapaz que tentava chamar sua atenção se afastasse. Você apenas assentiu, com um sorriso grato nos lábios.
♡ㆍAo iniciarem a dança, com sua mão enluvada sobre a dele, você sente que não conseguiria manter-se séria embaixo do peso dos olhos do marquês. Pareceu não notar seu óbvio encantamento – talvez já estivesse muito acostumado com as pessoas se derretendo sob seu olhar –, e apenas disse, "Peço desculpas pela interrupção, senhorita. Mas não acho que uma mulher bonita como você deveria suportar as chatices do Lorde Calder". É o suficiente para render uma risada, e a partir daí, a conversa se desenrola durante o resto da música.
♡ㆍDistraída demais conversando com o marquês – que logo mostra que, por baixo de toda a pompa, é extremamente gentil e um tanto adorável –, mal percebe que uma das irmãs aproveitou a oportunidade de te ter vulnerável na pista de dança para pisar na barra de seu vestido com o salto. E, envolvida em sua dança, você se move para frente e o tecido, frágil, fica para trás. O barulho de sua saia rasgando parece ecoar três vezes mais, interrompendo sua conversa e trazendo a atenção de todos do salão para você. O ofego surpreso das pessoas ainda ressoa na sua mente.
♡ㆍDe imediato, seus olhos se enchem de lágrimas. Não por sentir-se triste, mas humilhada. Estava com metade das pernas expostas para a nata da sociedade e envergonhando-se na frente do marquês, até então a pessoa que mais gostou de conhecer durante sua estadia na cidade. Mal conseguiu encará-lo, mantendo a cabeça baixa e tirando suas mãos das dele, agarrando a barra do vestido antes de correr para fora do salão.
♡ㆍSentiu-se cega e surda por alguns segundos, com a cabeça girando e as lágrimas pesando. O mundo parecia ruir à sua volta e seus pulmões doíam de tanto segurar o choro. Permaneceu de cabeça baixa até se distanciar o suficiente da festa, terminando sua corrida da vergonha na entrada do jardim. Apenas ali, se deixou chorar.
♡ㆍEra terrível sentir-se tão imponente e a mercê. Estava distante de tudo o que conhecia, por uma decisão de terceiros e ainda havia sido humilhada na frente dos maiores predadores da cadeia alimentar. Um pesadelo total.
♡ㆍEnquanto sentia o lábio inferior tremer, não querendo deixar os soluços rasgarem sua garganta, foi surpreendida por aquele mesmo sotaque que te fez rir há alguns minutos, "Ei," o tom é suave, quase como se quisesse te confortar. No entanto, o marquês mantém a distância, mesmo que seus olhos castanhos mostrem límpida preocupação. Suas mãos estão estendidas, como se quisessem te tocar. Pareceu não saber o que falar agora que tinha a sua atenção, vendo o seu rostinho tão infeliz. "Quer… Precisa que eu chame a sua carruagem, senhorita?"
♡ㆍA expressão que tinha em seu rosto era fascinante. Ao mesmo tempo que parecia amargo por te ver daquela maneira, também procurava te encorajar a aceitar sua sugestão. O marquês Sainz não parecia ter muita experiência em lidar com mulheres com vestidos rasgados, mas certamente fazia um esforço para tentar te consolar naquele momento. Não suportava vê-la assim.
♡ㆍTe ofereceu um sorriso caloroso ao te ver acenar com a cabeça, aceitando o alento. Então, estendeu a sua mão para que segurar a barra do vestido para você e, em seguida, o braço para que segurasse para acompanhá-lo até a entrada da residência.
♡ㆍ"Uma pena o vestido ter sido arruinado dessa forma," ele comenta enquanto caminham. Você não podia evitar, em meio de suas fungadas, de exprimir um murmúrio positivo, concordando. Sainz te encarou de rabo de olho, percebendo que continuava tão abalada quanto antes. "Você não deveria se preocupar. Minhas irmãs viram o que a senhorita Federline fez. Ela será sortuda se conseguir sair do salão com o vestido intacto até o final da noite", e suas palavras foram seguidas de uma piscadela. Isso a fez rir, e ele sorriu, satisfeito com a realização.
♡ㆍConversaram sobre algumas peculiaridades da festa até chegarem em seu destino, e ele pareceu querer te distrair mais do que tudo. Procurava dizer alguns gracejos para te manter sorrindo, ou te incitando a dizer coisas piores. Ao chegarem ao local em que os cocheiros estavam reunidos, a mão do homem pareceu segurar a barra de seu vestido com ainda mais força, e se manteve um pouco à sua frente, te escondendo dos olhares curiosos e furtivos daqueles homens.
♡ㆍTe surpreendeu ao chamar a carruagem de sua família ao invés da Federline. Uma ação um tanto chocante, se não imprópria, mas, parada ali com seu vestido rasgado, não se importava com polidez – de qualquer forma, tudo no marquês te dizia que ainda se veriam muitas vezes… ou você queria acreditar que sim.
♡ㆍTão tarde da noite, a chegada à residência Federline foi mais rápida do que ambos esperavam, e tiveram que interromper mais uma conversa. Não era possível expressar em palavras o quão grata se sentia pelo ato de gentileza de Sainz, e a tristeza de ter que deixá-lo seguir sua viagem sem você.
♡ㆍDe qualquer forma, ficou com a lembrança do sorriso e do som da risada do marquês, que repetia a cada momento como uma forma de suportar os dias seguintes, sem nenhum evento em que pudesse revê-lo. No antro de seu ser, já estava convencida de que o homem havia se arrependido, e nem mesmo falaria com você caso se esbarrassem nas ruas da cidade, ou mesmo em outro baile, na frente de todos.
♡ㆍTalvez por estar tão cega por seu pessimismo que se surpreendeu ao receber uma encomenda endereçada a você. Ao abrir, se deparou com um vestido da mesma cor daquele que usou no baile, no entanto, mais leve e ainda mais bonito e rico. Preso à caixa, um bilhete que dizia: "Espero que chegue aos pés do arruinado. Por que não usá-lo em um passeio no parque? Talvez na próxima quarta-feira, digamos que às três. Cordialmente, Mr. Sainz".
63 – O MESQUINHO CONDE RUSSELL.
♡ㆍVocê nunca imaginou que a vida de casada seria tão detestável. Tinha o exemplo de seus pais que, mesmo tendo se casado por uma estratégia de negócios, haviam achado o amor em sua união e permanecido juntos e felizes durante todos esses anos.
♡ㆍEssas são palavras que você jamais se atreveria a dizer sobre a sua própria união com o jovem Conde George Russell. Nutriam um desprezo tão grande um pelo outro que, por vezes, imaginava que a palavra ódio seria incapaz de descrever sua relação.
♡ㆍDesde que suas famílias acertaram sua união – por sua parte, para benefício financeiro para os negócios de seu pai, e para a parte de George, para assegurar sua herança –, vocês dois haviam se jurado de morte, recusando até mesmo a passarem tempo junto durante o noivado. Seria torturada diariamente, então por que se submeter a tal flagelo antes de ser estritamente necessário?
♡ㆍA aversão do rapaz não te afeta mais, porque não é como se seu marido alimentasse afetos por toda a sociedade. Muito pelo contrário, o seu jeito um tanto mesquinho o faz criar apatias latentes, quase sempre unilaterais. Diz não gostar de Lorde Brooke porque vive a se gabar por seus resultados no críquete, mas mal sabe segurar o taco corretamente. Evita engajar em conversas com Lady Evans porque não sabe pronunciar seus 'r' e, quando eram solteiros, parecia se jogar nos braços de George em qualquer oportunidade.
♡ㆍNão que duvidasse da popularidade de seu marido, pois a testemunhou de perto. Todas as mulheres solteiras da região sonhavam em conquistar o rapaz por rumores de sua recheada herança, então, a família Russell esteve alerta para evitar possíveis oportunistas.
♡ㆍComo seus pais, Lady e Lorde Russell puseram o coração à frente da razão, dando a oportunidade que o filho escolhesse uma mulher a qual pudesse se apaixonar e viver uma vida feliz. E George pareceu levar tal preocupação a sério até demais; passadas três temporadas, o rapaz ainda não havia escolhido uma esposa e parecia colocar defeitos até na mais perfeita e doce das debutantes.
♡ㆍA demora trouxe uma nova consternação à tona: o herdeiro Russell assumiria seu título sem uma esposa? Tal possibilidade não agradava o lorde nem um pouco, que logo estabeleceu que o filho apenas teria acesso a sua herança e a sua posição caso se casasse… e com a lady que eles escolhessem.
♡ㆍSe a união foi um castigo para George, você não faz ideia. Mas sabe que certamente pode ser considerado um para você. Afinal, como ser feliz em uma residência em que mal encontra outras pessoas? E que sempre quando esbarra em seu marido, ele faz de tudo para te evitar? De todos os empregados, apenas as suas damas de companhia tinham coragem de conversar com você, e rapidamente tornaram-se suas únicas confidentes.
♡ㆍQuando estava perto de George, mal conseguia passar cinco minutos sem discutir sobre alguma coisa completamente irrelevante. Mas já era um avanço, porque nos primeiros meses do casamento, não eram capazes nem de dividir a mesma mesa no café da manhã – o que terminou em uma acalorada troca de comida… que acabaram esfregando um na cara do outro.
♡ㆍEnvergonhada, pediu desculpas apenas aos empregados que acabaram limpando a bagunça que deixaram na mesa da sala de jantar, enquanto ainda estava coberta de suco de laranja. Pelo menos, saiu tranquila por saber que tinha deixado seu marido muito pior após esfregar uma bandeja de ovos poche em seu precioso cabelo.
♡ㆍAgora, pelo menos, conseguiam brigar com menos impulsividade – também ajudava que, durante as refeições, permaneciam quietos. Terminavam as discussões com um "humpf" ou deixando o outro falando sozinho, saindo batendo o pé por não suportar dividir o mesmo ambiente.
♡ㆍRaramente tinham momentos em que se sentiam em paz com a presença do outro, mas estes geralmente aconteciam quando faziam visitações em conjunto às casas do condado. No início, sabiam que era necessário manter as aparências e fingir que estava tudo sempre florido no relacionamento de vocês. Por isso, mantinham sorrisos e disfarçavam a vontade de se esganar. Pensavam no bem-estar e na segurança da administração.
♡ㆍMas era difícil não deixar se encantar pelo charme natural que George emanava sempre que conversava com algum dos habitantes. Por mais irritante e mesquinho que fosse a portas fechadas, ele sabia exatamente o que fazer para conquistar as pessoas ao seu redor. Doía admitir, mas sempre o achava mais atraente quando se fazia de bom moço, tão educado e simpático com todos que o buscavam.
♡ㆍTornava-se ainda mais complicado quando o via interagir com alguma criança do vilarejo. Elas sempre eram privilegiadas por George, e pareciam nutrir uma admiração pelo conde que você jamais pensou existir.
♡ㆍConforme o tempo passou e as visitas se tornaram mais frequentes, você passou a perceber que tudo aquilo não era apenas charme, ou uma máscara que seu marido colocava para encantar os súditos. Era ele. Apenas ele. E a verdadeira fachada era aquela que ele apresentava para a sociedade. Uma reviravolta surpreendente… mas extremamente agradável.
♡ㆍ"Eles parecem gostar de você," George te disse, um dia. Era a primeira vez em que falava diretamente com você há dias, depois de mais uma briga. O peso de seus olhos azuis pesava contra sua face enquanto ele parecia te analisar, tentar discernir se você era boa o suficiente para receber aquela atenção. Um acesso de ciúmes, foi o que você pensou. "Isso é bom".
♡ㆍFoi a primeira vez em que mostrou algum tipo de reação positiva a algo que você fazia. Seu peito se encheu de um novo senso de vaidade, sentiu-se feliz por receber um elogio do rapaz, geralmente tão crítico. Mas, tão rápido quanto se instalou, também foi embora. Você não precisava da aprovação de George para nada, tentou se convencer. Mas era tão bom…
"Eles gostam de você, também," observa, porque não sabia o que responder.
"Eu tento," responde, e por mais que suas palavras tenham soado um tanto ríspidas, você se surpreende ao notar um certo tom de humildade nelas, algo parecido com uma vulnerabilidade que era nova entre vocês.
♡ㆍSe encararam, um tanto desconfiados. Essa situação era nova e vocês não tinham ideia de como navegar por ela. Deveriam continuar conversando? Fingir que isso não havia acontecido e levantar um motivo para uma nova intriga? As perguntas rondaram sua mente até o momento em que George assente levemente para você, mas os orbes azuis brilhavam com reconhecimento. Você não pode evitar e retribui o gesto.
♡ㆍ"Deveríamos jantar juntos," ele diz, de repente. "Uma das senhoras foi gentil o suficiente em fazer um guisado. Acredito que não o comeria inteiro". E com isso, te fez uma curta cortesia com a cabeça e voltou a andar pelo vilarejo, te deixando para trás, atônita.
#⋆ ࣪. amethvysts ۫ ⁎#formula one#formula 1#formula 1 x reader#max verstappen#max verstappen x reader#charles leclerc x reader#charles leclerc#lewis hamilton#lewis hamilton x reader#carlos sainz#carlos sainz x reader#george russell#george russell x reader
95 notes
·
View notes
Text
Atenção caros seguidores e participantes do projeto #espalhepoesias.
Passando para deixar um recado para melhorar a experiência de todos os que já participam e também daqueles que quiserem participar do projeto.
Não será reblogado pelo @espalhepoesias 👇🏼
Fotos que não contenham, no mínimo, um texto na imagem ou junto. E sim, deve ser conteúdo seu.
Músicas, citações, trechos de livros (exceto se for obra sua), vídeos, trechos de fala de personagens, ou qualquer coisa que fuja da real intenção do projeto.
Conteúdo explícito, religioso e político, seja escrito ou visual.
Assuntos relacionados a automutilação, suicídio, bullying, bulimia...
Escritos que contenham emojis, links, nenhum tipo de divulgação que não seja relacionada ao tumblr.
Aviso importante 👇🏼
O projeto não compactua com nenhuma prática de plágio! E se caso uma obra sua foi plagiada e acabou sendo reblogada por mim, peço que denuncie ao próprio tumblr e que entre em contato comigo para informar sobre o ocorrido. Também podem me enviar provas juntas à denúncia, para analisar melhor o caso e tomar as medidas cabíveis.
A prática de plágio é crime previsto em lei! Denuncie! Obrigada pela compreensão e colaboração de todos!
Carinhosamente, espalhe poesias 🌈
431 notes
·
View notes
Text
ANARQUISMO CRISTIANO El anarquismo cristiano de León Tolstoi es la única alternativa razonable para abordar el evangelio. Tolstoi niega el parto virginal, los milagros, el pecado original, los sacramentos, el infierno y la resurrección como acontecimiento histórico. El escritor ruso apunta que la conversión del emperador Constantino convirtió el cristianismo en una nueva idolatría vinculada al poder político y económico. Desde entonces, las distintas iglesias solo se han preocupado del poder temporal y han explotado las ideas de culpa e indignidad para exigir una obediencia incondicional y atribuir a sus líderes una grotesca infalibilidad. Jesús fue hijo de José y María, acusó al Sanedrín y a Roma de cometer toda clase de abusos e iniquidades, fustigó a los ricos y poderosos, defendió los derechos de los pobres, los parias, las mujeres, los extranjeros y los excluidos, señaló que Dios no era un poder lejano y terrible, sino un padre-madre, y anunció que su Reino se hallaba allí donde había fraternidad, justicia y compasión. Ejecutado por Roma con el apoyo de las autoridades religiosas judías, su resurrección consistió en revelar que la plenitud de la vida solo se alcanza mediante la comunión radical con nuestros semejantes. Cuando prevalezca el amor sobre el odio, “Dios será todo en todos” (1 Cor 15, 28), lo cual significa que la humanidad reunida vencerá definitivamente al mal, simbolizado por el ultraje de la cruz, un castigo reservado a esclavos y rebeldes. La resurrección es el signo de que el verdugo no triunfa sobre la víctima y una invitación permanente a la desobediencia y el inconformismo. No es un hecho histórico, sino un signo utópico. El Reino de Dios está en el corazón del hombre, no en un más allá desligado de la historia, y exige luchar aquí y ahora contra cualquier forma de injusticia. Los cuatro evangelios canónicos fueron el producto de una elaboración colectiva. Fueron escritos, reescritos, modificados y, en no pocos casos, alteraron el mensaje original de Jesús, ese joven rabino de Galilea que probablemente jamás se proclamó el Cristo, sino el portavoz de una Buena Noticia que el poder temporal de su tiempo consideró peligrosa y subversiva. Las iglesias actúan como vulgares partidos políticos y, en la mayoría de las ocasiones, se alinean con las ideas más reaccionarias. Deberíamos olvidarnos de ellas y aprovechar las lecciones esenciales de Jesús: amar al prójimo, desterrar la violencia, cultivar la sobriedad, vivir solidariamente, no escatimar el perdón y ejercer la autocrítica. El evangelio de Mateo enuncia con nitidez la esencia del mensaje cristiano: “tuve hambre y me disteis de comer, tuve sed y me disteis de beber, fui forastero y me hospedasteis, estuve desnudo y me vestisteis, enfermo y me visitasteis, en la cárcel y vinisteis a verme”. No hacen falta templos ni sacerdotes para poner en práctica este mandato.
18 notes
·
View notes
Text
Buen día, me desperté y me puse a leer los diarios a ver qué cuentan. Decidí leer un poco diarios fuera de mí esfera porque como dice el meme hay que aflojar un poco con Revista Sudestada de vez en cuando.
Este artículo en particular me pareció imperdible, en serio es para leerlo muy bien, porque habla muy pero muy en detalle de la locura que es Milei para el funcionamiento del país y como piensa: como un revolucionario. Es posiblemente uno de los análisis más profundos del desastre que es Milei ya en sus primeros días. Lo interesante también es que está escrito desde el punto de vista conservador de La Nación. Por eso tienen cosas como está:
Me encanta que el autor se disculpa por comparar a Milei con CFK, porque se nota que en los círculos de derecha es el peor insulto que podes hacer, me imagino a todos estos indignados como vas a decir semejante cosa? Milei puede estar atropellando las instituciones de la República pero Dios nos libre que lo insultemos comparándolo con Cristina, fuente del Mal absoluto. Ese odio patológico a Cristina nos llevó a todo esto pero en fin.
Y acá otro artículo interesante de Infocrap:
Muchas cosas interesantes sobre como Milei quiere aprovechar sus primeros días de apoyo para hacer todas las reformas que pueda y sino convocar a plesbicitos. El único plesbicito de la historia argentina fue por el conflicto del Beagle, el tipo no tiene la menor idea de lo difícil que es convocar uno o lo sabe y cree que lo va a poder hacer por el "apoyo" que tiene, que para mí es la parte más graciosa de esto:
El amortiguador de todo el desastre que planea Milei, o sea lo que lo tendría que sustentar por 4 años con un ajuste brutal y una crisis económica que ÉL mismo va a provocar va a ser "la popularidad del relato libertario" y el cuentito de la casta.
Sí, dale. Contame como te va en un par de meses con eso.
58 notes
·
View notes
Text
He visto un buen de memes o burlas hacia “escritores de redes sociales” y la neta no está chido, de vez en cuando pueden sacar de repente una sonrisa pícara, pero la actitud de fondo es algo nefasta, pues habla mucho desde el ego.
La neta esos escritores de redes tienen mi completo respeto, pues se han vuelto vírales por andarle talachando, aprendieron a escribir cómo se hacen los escritores, es decir, escribiendo (eso no evita que deban mejorar o sigan aprendiendo), aprendieron a publicarse más allá de Amazon o editoriales, generaron una comunidad que los sigue, los consume y los apoya, además de que de cierta manera han perseguido su sueño más allá de instituciones, becas, o cosas por el estilo.
Creo que centrarse en ellos desde el hate y pura critica superficial tampoco enriquece mucho la literatura, y eso si es que la gente quiere posarse en el peldaño intelectualoide o del privilegio. Tal vez lo mejor que se podría hacer es trabajar bastante y que los escritos o el trabajo de uno hable, al final de cuentas la chamba siempre habla (para bien o para mal). Recuerden, la vida en el capitalismo es pesada y nada ganamos tirando hate a los demás, queriendo cambiar a los demás antes que a nosotros mismos.
Posdata: No lo digo ignorando el entorno, el contexto socio político que vivimos o la importancia de los referentes en la sociedad, es claro que la colectividad puede imponerse al individuo, pero hay que hacernos cargo de las emociones de uno mismo y las emociones que propiciamos en la colectividad, así como los discursos que hacemos y promovemos. Saludos y me gustaría saber que piensan ustedes si es que gustan dejar un comentario o mandar mensaje✌️😁✍️📸
#josesilva3001#escritores#escritor#escritores mexicanos#poesia#poets on tumblr#amor#mexico#poeta#ideas#notas#pensamientos#frases#reflexiones
18 notes
·
View notes
Text
“A veces incluso vivir es un acto de valentía“
Séneca
Lucio Anneo Séneca, fue un filósofo, político, orador y escritor romano conocido por sus obras de carácter moral, nacido en el año 4 en la actual Córdoba, municipio español de Andalucía.
Es uno de los pocos filósofos romanos que siempre ha gozado de una gran popularidad y junto con la obra de Cicerón, fue una de las mejor conocidas por los pensadores de la Edad Media.
Fue uno de los principales exponentes del estoicismo, y su obra constituye una de las principales fuentes escritas de la filosofía estoica que se ha conservado hasta la actualidad, y aunque su obra siempre se presenta como partidario de esta filosofía, en su propio tiempo fue tachado de hipócrita, al no seguir en vida los pasos que propugnaba la filosofía estoica.
De la vida de su padre, poco se sabe hasta el año 41 y lo que se presume es que provenía de una familia distinguida perteneciente a la más alta sociedad hispana, y pasó los primeros años de su vida en Roma bajo la protección de la hermanastra de su madre.
Para cuando en el año 37, Calígula subió al trono de Roma, Séneca se había convertido en el principal orador del senado, levantando la envidia del nuevo y megalómano César, quien se dice, ordenó la ejecución de Séneca y una mujer cercana al circulo del César, logró que se revocara la sentencia y en su lugar fue exiliado.
Su exilio en Córcega, duro 8 años, y durante ese tiempo escribió una consolación a su madre, a la cual invita a llevar a cabo actitudes estoicas que contrastan significativamente con algunos escritos, en donde adopta una actitud mas bien aduladora y en busca del perdón imperial.
No fue hasta el año 49, cuando a la muerte de la segunda esposa de Claudio, el sucesor de Calígula, se le ordenó regresar a Roma en calidad de magistrado en la ciudad, y dos años después, fue nombrado tutor del joven Lucio Domicio Enobardo, futuro emperador Romano, mejor conocido como Nerón, por mandato de su propia madre Agripina.
En el año 54, cuando el emperador Claudio muere, Nerón sube al poder a la edad de 17 años y Séneca es nombrado consejero político y ministro, haciendo de los primeros 8 años en el poder, los que se consideraron los periodos mas justos y mejores de toda la época imperial.
Sin embargo, conforme Nerón fue creciendo, su autoridad e influencia fueron decayendo al grado de ser acusado de mantener relaciones con su madre, siendo víctima de una campaña de desprestigio por su forma de vida y riqueza.
En el año 59, Nerón mata a su madre Agripina, y Séneca posteriormente fue implicado en una conspiración por lo que Nerón ordena su ejecución.
Al saber de su orden de ejecución, se le conmino a cometer suicidio, mismo que llevó a cabo junto con su esposa, sus dos hermanos y su sobrino, sabedores de que pronto la crueldad de Nerón recaería también sobre ellos.
Seneca fue incinerado sin ceremonia alguna en abril del año 65.
Fuente: Wikipedia
#roma#seneca#citas de reflexion#frases de reflexion#notasfilosoficas#citas de la vida#filosofos#frases de filosofos#citas de filosofía#citas de filosofos
9 notes
·
View notes
Text
Existe una cantidad de gente en el mundo que está en un infierno, porque depende excesivamente del juicio de los demás".
El día 15 de abril de 1980. Aniversario Luctuoso de Jean-Paul Sartre Premio Nobel de Literatura 1964 Jean-Paul Charles Aymard Sartre nació en París, Francia, el 21 de junio de 1905. Conocido comúnmente como Jean-Paul Sartre, fue un filósofo, escritor, novelista, dramaturgo, activista político, biógrafo y crítico literario francés. Exponente del existencialismo y del marxismo humanista. Fue el décimo escritor francés seleccionado como Premio Nobel de Literatura, en 1964, pero lo rechazó explicando en una carta a la Academia Sueca que él tenía por regla declinar todo reconocimiento o distinción y que los lazos entre el hombre y la cultura debían desarrollarse directamente, sin pasar por las instituciones. En 1945 abandonó la enseñanza y creó junto a Simone de Beauvoir entre otros, la revista política y literaria Les temps modernes, de la que fue editor jefe. En la mayoría de sus escritos de la década de 1950 aparecen cuestiones políticas, incluidas sus denuncias sobre la actitud represora y violenta del Ejército francés en Argelia. Su teoría del psicoanálisis existencial afirmaba la responsabilidad de todos los individuos al adoptar sus propias decisiones y hacía del reconocimiento de una absoluta libertad de elección la condición necesaria de la auténtica existencia humana. En su última obra filosófica, Critique de la raison dialectique (Crítica de la razón dialéctica, 1960), deja el énfasis puesto en la libertad existencialista por el determinismo social marxista. Entre sus obras destacan las novelas La Náusea (1938) y la serie narrativa inacabada Los caminos de la libertad, que comprenden La edad de la razón (1945), El aplazamiento (1945) y La muerte en el alma(1949); una biografía del escritor francés Jean Genet, San Genet, comediante y mártir (1952); las obras teatrales A puerta cerrada (1944), La puta respetuosa (1946) y Los secuestradores de Altona(1959); su autobiografía, Las palabras (1964) y una biografía del autor francés Gustave Flaubert, El idiota de la familia (1971-1972) entre otros muchos títulos. Jean-Paul Sartre falleció el 15 de abril de 1980 en París, Francia. Imagen de
®️Literatura, arte, cultura y algo más
7 notes
·
View notes
Text
Em Comum.
Leitora com Yuta Nakamoto.
Sinopse: Em uma universidade internato, o sistema de regras não poderia ser mais estúpido. Vocês e seus amigos desafiam os códigos ao aderirem um estilo de vida boêmio, mas vocês não são os únicos. Do outro lado, outro grupo igualmente rebelde se destacam por sua baderna e são seus inimigos.
Tudo muda quando Yuta Nakamoto, membro do grupo rival, se candidata ao grêmio estudantil na tentativa de melhorar as regras para os estudantes e pede sua ajuda para a campanha.
Warning: Levemente sugestivo, um pouco político, nada de mais.
Ambientação: Dark Academia.
Notas do autor: Shot de debut, peço desculpas pelos erros, mesmo que eu ainda faça a correção, pode haver um erro e outro. Poderia ter escrito um Hot? Poderia, mas por ser a primeira vez que eu escrevo aqui, fiquei com vergonha. Mas espero que vocês gostem!
Yuta Nakamoto não tinha nada a ver com você, isso seus amigos fizeram questão de te alertar desde que vocês se esbarraram pelos corredores do internato da universidade.
Você é a típica aluna exemplar do curso de Relações Internacionais, é inteligente, filosófica, uma apreciadora da vida silenciosa, comumente vista com o rosto enfiado nos livros, discutindo a arte, a filosofia e a ciência da sociedade ou até mesmo entoando poemas nos intervalos com seus amigos, um grupo verdadeiramente boêmio que, juntos, se chamavam de Trovadores. Uma verdadeira nerd por assim dizer. Já Yuta era o caso perdido da universidade, durante a noite um caçador de encrencas, baderneiro, rebelde sem uma causa para lutar, vivia fugindo do internato para alimentar seus vícios e só voltava para a universidade quando o sol já estava nascendo; e durante o dia ele era quieto o suficiente para não causar suspeitas de seus atos, tudo que conhecem dele é somente boatos e fofocas que correm de boca em boca.
Yuta não era para você e você não era para Yuta, todos fazem questão de dizer, tanto pela diferença de comportamento quanto pela rivalidade dos grupos. Mas tudo mudou quando as eleições para o grêmio da faculdade começaram, quando você viu o nome de Yuta na lista de candidatos e quando ele apareceu em uma aula de debate com um caderno na mão e os olhos fixos em você. Naquele dia, sua percepção sobre o rebelde sem causa mudou completamente.
Você estava arrumando seus materiais enquanto todos saiam da sala, sem sequer notar a presença do garoto e quando a sala estava quase vazia e você prestes a sair, Yuta te chamou. Você parou na porta, deixando a pesada mochila no chão, uma vez que teria que falar com ele e não parecia ser uma conversa rápida.
— De antemão, peço desculpas por te incomodar, sei que é hora do almoço, mas o que tenho a dizer não pode esperar. — Yuta disse, com uma formalidade que te espantou e você confessa a si mesma que não foi somente isso que lhe causou esse sentimento, mas a suavidade de sua voz, uma vez que nunca o ouviu falar e também nunca lhe dirigiu a palavra. Você apenas pode balançar a cabeça positivamente, um pedido silencioso para que ele continuasse. — Como você já deve saber, estou concorrendo ao grêmio estudantil, quero representar os alunos lá em cima, mas preciso de ajuda para fazer uma campanha e um discurso. Corre por aí a sua fama de ser muito engajada em assuntos como esse e por isso pensei em recorrer a sua...misericórdia.
— Oh...E por que eu o ajudaria? — Você perguntou, iria ajudar de toda forma, não era de sua política própria negar conhecimento. Mas era ele, Yuta, o garoto do grupo rival ao seu, o garoto que todos tem medo, o garoto problema, você não desejava seu nome associado a ele. No entanto, Yuta te lançou um olhar de cima a baixo, te analisando e você não pode se sentir mais incomodada do que isso.
— Porque você desafia o sistema e é exatamente isso que eu quero fazer. — Ele conclui e você apenas ergueu uma das sobrancelhas, ainda questionando seus motivos. Yuta suspirou e apontou para suas vestes. — Você usa calças de alfaiataria quando o código de vestimenta diz que as garotas devem usar saias abaixo do joelho dentro do instituto. Você até mesmo usa meias coloridas quando o código diz que as meias devem ser da cor do sapato. Você sobe em mesas com suas amigas e declamam poemas que vão contra Deus e o mundo e, mesmo que vocês disfarcem pois precisam terminar o curso, eu sei exatamente o que vocês são. Você desafia essa universidade estupida com regras igualmente estupidas todos os dias, deveria ajudar um camarada de causa, não devia?
Você ficou impressionada, como pode que ele ter reparado tudo isso? De fato, você odeia o sistema tanto quanto seu grupo e, aparentemente, Yuta também. Enquanto você desafiava os códigos de vestimenta, Yuta desafiava os códigos estéticos, com seus cabelos cumpridos e unhas pintadas. Não podia culpa-lo de reparar em seu uniforme, fato de usar calças quando o código diz outra coisa, realmente era questionado por todos, mas sua explicação era sempre a mesma:
— Calças são mais praticas para subir nas mesas. — Você explicou para Yuta, em um tom mais baixo, realmente surpreendida. Yuta olhou para você e você nunca reparou o quão bonito seus olhos pareciam quando não estavam olhando para alguém com irritação ou desprezo, mas estavam esperançosos que você o ajudasse. — Está bem, você tem um ponto. Precisamos de um representante dos alunos que não queira apenas ganhar boas notas e puxar o saco da diretoria. Eu vou te ajudar, mas ninguém pode saber disso.
— Você tem uma reputação a zelar ou algo do tipo? — Indagou Yuta, cruzando os braços. Você reconheceu o tom sarcástico que ele estava usando de leve, ai está o Yuta dos boatos.
— Me encontre no carvalho após o toque de recolher toda segunda e quarta feira. Ok? Vou ver o que posso fazer para te ajudar. — Você encerrou o assunto e saiu antes mesmo que ele pudesse questionar as datas.
Para sua sorte, ou azar, esse dia era quarta feira. Seu grupo de amigos era pequeno, mas muito acolhedor. Os meninos eram Taeyong Lee, o biólogo que adora poesia, Johnny Suh, o historiador revoltado com a história e Mark Lee, o músico sensível; já as garotas eram você, a que entende de política, Giselle, a pessoa mais inteligente quando se trata de idiomas que você já conheceu, e Minju, a sucessora de Edgar Allan Poe com suas poesias sombrias. Cada um compartilhava de um dom diferente, mas o que os unem é o amor pela arte, por isso vocês se reúnem toda noite, no prédio abandonado após o grande carvalho, onde estava previsto para ser um laboratório, mas a faculdade esqueceu da construção. Exceto as segundas e quartas, onde cada um disfruta de sua própria individualidade, os dias perfeitos para encontrar um dos rivais de seu grupo, Yuta Nakamoto.
Yuta estava sempre acompanhado de Jungwoo, que era dócil, mas perigosamente inflamável quando se tratava de brigar; Lee Haechan, como o chamam, pois, só seus amigos sabem seu verdadeiro nome, é o rapaz misterioso com problemas de raiva; E Jaehyun, o que era silencioso, ninguém espera que ele reaja, mas quando isso ocorre, as salas se enchem de burburinhos. Dizem as más línguas que os professores de seu curso, Kim Doyoung e Moon Taeil, não permitem que Jaehyun frequente suas aulas por ele ser perigoso; Havia também a Ningning, expert em tecnologia, dizem que ela hackeou o sistema da escola para alterar sua nota; Winter era igualmente perigosa, mas era um perigo silencioso, mas nada se comparava a Soso, ela era líder deles, conseguia colocar medo até em Johnny, que frequentava o mesmo curso que ela.
Era com esse tipo de gente que você estava lidando. Eles são perigosos, todos na universidade sabem disso, mas você não era lá tão indefesa quanto parecia ser. Já havia passado quinze minutos desde o toque de recolher e você estava esperando Yuta perto do carvalho, estava escuro e um pouco frio, você começou a se arrepender de não trazer um casaco, ainda usava a habitual calça do uniforme e uma camisa branca de botões, um pouco abarrotada, como seu cabelo preso de uma forma que nem você mesmo entende, pois havia acabado de acordar de um longo cochilo. Você começou a cogitar a ideia de ir embora quando viu Yuta correndo em sua direção, um pouco afoito. Parecia ter tomado banho pois seus cabelos estavam úmidos e alguns fios estavam grudados em seu pescoço, um aroma agradável passou a circular entre vocês e imaginou que viesse de seu mais novo companheiro. Você não pode evitar, ele parecia muito melhor do que você e mais prevenido, pois além de usar um moletom preto, estava de mochila e com certeza haviam mais coisas ali para o restante da noite. Yuta também te olhou, mas apenas para dar uma risada baixa.
— Você parece que foi atropelada por um caminhão. Estava dormindo? — Ele indagou o óbvio e você puxou o ar profundamente pelas narinas, imaginando se conseguiria ajuda-lo de uma vez só para que não precisasse vê-lo novamente.
— Se disser alguma gracinha de novo, eu te largo nas mãos de Deus. Entendido? — Você respondeu. Olhou de um lado e do outro, para ter certeza que não há ninguém por perto e começou a caminhar.
— Deus teria mais senso de humor que você — Yuta resmungou, baixo o bastante para que você não ouvisse e te seguiu.
Vocês acabaram chegando no prédio abandonado após cinco minutos de caminhada. Era uma construção de três andares, aparentemente era para ser uma obra simples, mas a constante mudança de diretores fez com que as obras parassem e o foco fosse outro, então você e seus amigos aproveitavam ao máximo. Subiram até o terceiro andar e entraram em uma sala inacabada, com muitos tubos e concreto amostra, mas o chão cimentado extremamente limpo, coberto por tapetes de diversas cores, alguns bancos e amontoados de cobertores macios o bastante para sentar, algumas almofadas e travesseiros grandes também espalhados, havia também algumas lanternas, papeis e canetas amontoados em um canto e um violão largado. Você tirou os sapatos para fora antes de começar a transitar na tapeçaria e ligar as lanternas uma a uma, iluminando o local de forma agradável. Yuta também tirou os sapatos e te seguiu, esperando que você se sentasse, para sentar-se também. Uma vez acomodados, vocês começaram a conversar sobre o que ele tem pensado para a campanha, quais seus objetivos.
O Nakamoto era eloquente, tinha uma dicção perfeita para explicar seus objetivos e você não pode deixar de reparar que ele citava filósofos, cientistas sociais, dados de pesquisas que você mesma não conseguia se lembrar. De repente, aquele não era o Yuta Nakamoto que te contaram, esse que você está vendo é um verdadeiro gênio, como pode uma pessoa ter duas versões diferentes? Yuta disse a você que ele o sonhava em entrar nessa universidade para cursar teatro, mas que seu pai o fez escolher engenharia, desse modo você descobriu que tinha algo em comum com ele, eram bolsistas que escolheram cursos por causa de seus pais. Yuta ainda disse da grande decepção que teve ao entender como funcionava essa universidade e quanto ela precisava mudar e precisava de alguém que gritasse por isso. A conversa entre vocês começou a fluir melhor a partir desse momento, você percebeu que Yuta tinha muitas semelhanças com você, muitos dos gostos parecidos e logo você estava completamente envolvida no planejamento da campanha, com muitas ideias, mas não somente isso.
Muitas segundas e quartas feiras se passaram sem que você percebesse, fizeram muitos cartazes para espalhar pela escola, montaram planos de campanhas que deveriam ser feitas nos intervalos das aulas. De repente você passava a semana toda ansiosa para outra segunda e quarta feira, para conversar com ele, você sequer percebeu como ria com a risada dele e sorria toda vez que o via sorrir, já não se incomodava com as piadas e se esqueceu completamente da fama que ele tinha. Os meses se passaram e Yuta sempre ia vê-la nas aulas de debate, dizia ele que o ajudava na hora de escrever os discursos, mas era mentira porquê ele só estava ali para ver você sorrindo a cada debate que ganhava, era difícil dizer que já não se conheciam e que nutriam indiferença um pelo outro pois sempre trocavam olhares e sorrisos nos intervalos, trocavam bilhetes dentro dos armários e seus amigos começaram a notar que seu humor mudava quando tocavam no nome dele.
E as coisas mudaram mais uma vez quando você recebeu um bilhete dentro do seu armário. Imaginou que seria Yuta, imaginou o que ele iria dizer, alguma piadinha sobre o casaco extravagante e colorido que você escolheu usar naquele dia, mas o que estava escrito era diferente: “Posso te encontrar hoje no auditório, após o toque de recolher?” Não era segunda feira, não era quarta feira, era uma quinta feira comum. Você respondeu, enfiando o bilhete no armário dele quando estava indo para sua próxima aula. É claro que você iria, você não pensou duas vezes.
Naquela noite você disse a Minju, que era parte não só de seu grupo, como também sua colega de quarto, que não iria na reunião pois estava com muita dor de cabeça e por isso ia dormir cedo. Ela esboçou preocupação mas aceitou tranquilamente e logo que ela saiu, você começou a se arrumar. Você nunca se arrumou para ver Yuta mas naquela noite você estava estranhamente inspirada a tomar um bom banho, a arrumar o cabelo, até mesmo vestiu uma saia, mesmo que estivesse frio. Esperou cinco minutos após o toque de recolher, quando os monitores já haviam terminado de fazer a ronda e somente então saiu. Era expert em sair fora do turno, sabia exatamente como ir para evitar encrenca e logo estava no auditório. Apenas a uma luz do palco estava acessa, deixando praticamente todo o ambiente no escuro, sob a luz, Yuta te esperava, sentado no assoalho de madeira, balançando os pés nervosamente, ele não sabia se você viria ou não, se estaria preocupada com a sua reputação para recusar.
— Eu espero que tenha um bom motivo para me chamar em plena quinta feira. — Você disse, subindo a escada do palco no breu até aparecer sob a mesma luz que ele. Yuta levantou rápido, seus olhos fixaram em você desde o segundo em que te viu, para ele você é bonita, embora nunca tenha dito isso abertamente, mas estava diferente e isso o fez soltar uma risadinha. — O que foi?
— Se arrumou para me ver? — Ele perguntou em seu tom de brincadeira, sabendo que você ficaria nervosa, o que fez efeito. Você cruzou os braços e ameaçou a dar meia volta, até que ele a impediu e segurou seu braço antes de você sair. — Calma, eu estava brincando. Você é bonita, era isso que eu queria dizer. — Você sentiu seu rosto esquentar rapidamente, diferente dele que não desviou o olhar, era confiante de mais para isso.
— Você precisa aprender a usar melhor suas palavras, mas obrigada. — Você agradeceu, descruzando os braços. — O que queria tratar comigo?
— Você sabe, amanhã é o último dia de campanha, dia do discurso e depois disso as eleições. Você foi a peça chave da minha campanha e, mesmo que eu queira te dar todo o crédito por isso, você já deixou bem claro que não queria ter seu nome envolvido então eu pensei te recompensar de outra forma. — Yuta explicou, temendo que suas palavras soassem estranhas e quando viu o olhar que você deu a ele, Yuta rapidamente tratou de se explicar. — Calma, não é isso. Eu só queria te levar para comer alguma coisa. No caso, comer comida, alimentos.
— Eu entendi da primeira vez, só estava brincando. — Você respondeu, desmanchando suas expressões com uma risada sincera.
— Engraçadinha.
Ele te levou. O que você não esperava era que iriam roubar um dos carros da universidade, usados pela diretoria para ir e voltar da cidade com urgência, não esperava sair pela garagem da frente sem ninguém perceber. Yuta era realmente bom em arrumar encrenca para lidar com as consequências disso depois. Yuta te levou para dar uma volta na cidade primeiro, que não era muito grande, mas havia muitas lojas de antiguidades abertas e ele te levou em quase todas elas, de alguma forma ele descobriu que você gosta dessas coisas, você só não se lembra de ter falado. Yuta fez questão de pagar uma xícara de porcelana com detalhes de flores rosas que você viu em uma das lojas e se apaixonou. Depois foram jantar em um restaurante de um dos poucos hotéis que tinha na cidade, a comida era simples porém deliciosa, fora a cerveja que era a mais saborosa que você já bebeu. Vocês riram, conversaram, trocaram poesias e reluziam felicidade. Então já era de madrugada, o restaurante fechou e vocês foram passear novamente, sentaram no banco de uma praça mas não ficaram muito tempo pois começou a ficar mais frio e começou a chover, então se enfiaram no banco de trás do carro onde vieram para terminar de conversar. E vocês conversaram, não viram a hora que estavam sem sapatos, acomodados bem juntos um a outro, usando seus casacos como cobertores, até que Yuta olhou para você, mas não era o mesmo olha que ele costumava te dar, era diferente e você não sabia reagir, mas mantinha os olhos nos dele.
— Você é bonito. — Foi sua vez de dizer. Olhando para Yuta, para seu rosto bonito, marcando em sua mente cada detalhe, cada manchinha, tudo que podia se recordar, pois não sabia quando poderia olhar para ele tão de perto, sentir os braços dele ao seu redor e inalar aquele perfume. Céus, você precisava admitir para si mesma que estava apaixonada pelo garoto problema, que você acabou descobrindo era a pessoa mais dócil desse mundo. Você não estava suportando a ideia de que, independente dele ganhar as eleições ou não, você não teria mais motivo para vê-lo na segunda feira e na quarta feira, não haveria mais motivo para ele olhar para você, então, você queria mantê-lo em sua memória o máximo que pudesse. Yuta, por outro lado, também olhava para você, tentando descobrir o que se passava em sua cabeça para olhá-lo assim, da forma que estava fazendo e que o fazia querer perder o auto controle. No fundo ele já desejava fazer algo terrível, como colocar fogo na universidade, só para ser expulso das eleições e poder usar a desculpa de que irá concorrer novamente para você ajudá-lo. Mas que tipo de monstro ele seria, jogando todo seu trabalho aos ares dessa forma.
"Que se foda o mundo"
Yuta pensou quando colocou a destra em seu rosto, acariciando a pele com as pontas dos dedos, de modo suave, trazendo seu rosto para o dele aos poucos, até que vocês estivessem a poucos centímetros de distancia, respirando o mesmo ar.
— Eu preciso de contar. — Yuta disse em um sussurro, mas você levou a mão até a destra do japonês, querendo que ele entenda o sinal e ele entende, mas não para. — Não tente me fazer ficar quieto agora. Não me impeça de dizer que te amo.
— Eu não vou. — Você respondeu, sua respiração ficou tão pesada sob a dele. Você jogou seus braços sobre os ombros de Yuta, enfiando os dedos da destra entre seus cabelos, querendo fechar a distancia entre vocês dois. — Eu também amo você.
Yuta finalmente fechou a distancia entre vocês. Tomou seus lábios numa precisão que, em outras épocas te faria questionar quantas vezes ele já fez isso. Você se rendeu ao beijo macio, gentil e ao mesmo queimava seu amago pelo tamanho carinho que ele demonstrou ao explorar seus lábios e sua língua, roubando de você todo o fôlego que você possuía. Você separou-se dele apenas por um instante, somente para jogar seu corpo sobre o dele ao sentar-se em seu colo e voltou a beijá-lo novamente, descendo os lábios por seu maxilar, por seu pescoço e seu corpo se derreteu quando ele abraçou sua cintura com força, como se você pudesse escapar dele em algum momento. Sua boca voltou a se conectar com a de Yuta, ele desceu as mãos de sua cintura e apoiou em suas coxas. Alguém precisava colocar limite em vocês dois, aquele carro não era um bom lugar e Yuta não sabia dizer se estavam agindo por efeito da bebida, devido a quantidade de cerveja que tomaram no jantar.
— Vamos com calma. — Ele pediu ao afastar o rosto do seu. Você, por outro lado, concordou mas tentou beijá-lo novamente e embora ele tenha deixado, segurou seu rosto com ambas as mãos, afastando seu rosto, havia um sorriso largo no rosto de Yuta, acompanhado pela risada macia que ele lhe deu. — Com calma, princesa.
— Com calma...— Você repetiu. Um pouco de sua afobação era medo de não poder estar com ele de novo no dia seguinte e não é como se Yuta estivesse sentindo algo diferente, mas ele escolheu apenas te apreciar aquela noite.
— Eu não vou sumir, eu prometo. — Ele disse, deitando vocês dois no banco, deixando que você apoie a cabeça no braço dele, enquanto o outro foi jogado sobre seu corpo. Você se acomodou contra ele, jogando a perna por cima da perna de Yuta e voltou a beijá-lo, a trocar caricias com ele. Yuta estava sendo muito mais carinhoso do que você imaginava e não demorou muito para que adormecessem.
A madrugada passou correndo, o celular de Yuta vibrou no bolso e era o despertador, avisando que já eram quase quatro horas da manhã, o carro precisava estar na garagem antes das sete da noite e infelizmente não havia como levantar sem acordar você. Ainda sim ele te olhou, encolhida em seus braços, o rosto sereno e o cabelo bagunçado, os lábios um pouco pálidos. Ele passou a mão por seu rosto, vendo você se mexer e abrir os olhos confusa.
— Temos que ir. — Disse Yuta, querendo se levantar, mas você o impede. — Vamos ser expulsos quando não encontrarem o carro. — Não que Yuta se importasse, ele já estava querendo um motivo para abandonar aquele lugar a muito tempo e você...Você não poderia estar se importando menos.
— Deixe que expulsem.
61 notes
·
View notes
Text
«El poder que se adquiere a través de la violencia no es más que usurpación, y sólo dura mientras la fuerza del que manda prevalece sobre la de quienes obedecen; de suerte que si estos últimos llegaran a su vez a convertirse en los más fuertes y se sacudieran el yugo, lo harían con idéntico derecho y justicia al impuesto por aquél. La misma ley que ha creado la autoridad, la destruye luego: la ley del más fuerte.»
Diderot: «Autoridad política (1751)», en Escritos políticos. Centro de Estudios Constitucionales, pág. 3. Madrid, 1989.
TGO
@bocadosdefilosofia
#diderot#denis diderot#autoridad política#escritos políticos#enciclopedia#autoridad#violencia#obediencia#usurpación#fuerza#derecho#justicia#ley#ley del más fuerte#filosofía política#filosofía moderna#ilustración#teo gómez otero#louis michel van loo
5 notes
·
View notes
Text
Es el priismo, estúpido!
Confundido y arrogante, de mala manera gratuita, un “universitario” con el que no había tenido contacto en años aparece y me dice que AMLO no es priista y que no es restauración lo que hace. Por qué? Porque dijo Mauricio Merino. Ah… Y ya. Como pejista: sin argumentos, sin hechos suficientes, encadenado a un nombre. Merino fue mi profesor y jefe, y el reaparecido sigue en el closet del pejismo (pobre hombrecito!), así que creyó tener la oportunidad de refutarme: “tu maestro dice lo contrario”. Bueno, me río un poco y paso a la refutación. Refuto al pejista vergonzante y a Merino, con el que estoy en desacuerdo sobre la caracterización de AMLO y no tengo ningún problema para decirlo en público.
A Merino lo conozco bien como pluma y psicología y está equivocado. Puedo decirlo, sin deslealtad, porque Merino fue mi profesor y jefe pero no fui ni soy su esclavo. Yo soy yo como analista. Hay que ser estúpido para creer que yo diría o dejaría de decir algo porque Merino dice lo que quiere decir… Pero de estupideces, como de poses y grillas ridículas, está llena la “vida cultural” de este país.
El profe se ha equivocado varias veces sobre AMLO. Ha dicho que es fascista, que es revolucionario y que no es priista. Pero el presidente no es fascista sino que tiene rasgos compartidos con los fascistas, no es revolucionario sino autoritario, un reformista autoritario en medios y fines, y sí es -por eso mismo- priista.
Que quede claro: AMLO es priista y su proceso-proyecto político es una restauración.
AMLO y PRI tienen diferencias pero también similitudes, las diferencias son menos que las similitudes y no cambian la relación esencial. Teniendo más similitudes, que tengan diferencias sólo significa que AMLO es un tipo de priista, y eso es lo que he estado diciendo. Un priismo, por tanto, revuelto con muchos otros polvos, como neoliberalismo, conservadurismo religioso y populismo, y también militarismo, corrupción, pragmatismo, personalismo. Pero todo dentro de la olla priista -el autoritarismo.
Un guisado político que ha sido poco nutritivo para la mayoría, casi totalmente descompuesto para la historia por tantos ingredientes podridos, un producto realmente pestilente.
La restauración en curso del sistema autoritario priista no es perfecta, ya que no puede ser total, pero es restauración. Que no se restaure el 100% no significa que no se restaura nada o se restaure poco. Es una restauración, imperfecta, pero restauración. Con todo respeto, el profe Merino anda muy desencaminado (y lamento que haya escrito aquel artículo periodístico que, aunque no haya querido, distorsiona y deslava el mal que fue el priismo gobernante).
Tómese el ejemplo de la reforma judicial. Es parte del “plan C” e incluye elecciones judiciales; eso debe estar claro, desde hace mucho tiempo. Las elecciones judiciales no existían en el priato pero existía el poder Judicial subordinado al Ejecutivo (y desde ahí a su partido), y la subordinación judicial será el resultado de las elecciones judiciales. Así, hay una diferencia en uno de los medios entre AMLO y el priismo pero una similitud de fin y resultado. AMLO es priista.
Esencialmente priista. López Obrador es antidivisión de poderes, antidemocrático, antipluralista, centralizador, autoritario. Es sólo que a eso añade algunos otros medios, fines y resultados. Es eso, todo eso. Y por eso, lo de AMLO puede ser visto como peor, como dice MM, pero no por eso deja de ser priista. Es un priista con su priismo. Lo he dicho y lo seguiré diciendo, aunque no le guste a mis “amigos” pejistas y aunque otros digan lo que necesitan decir.
4 notes
·
View notes
Text
Viagem na Irrealidade Cotidiana – Umberto Eco
Uma série de ensaios – alguns mais simples e outros mais complicados e técnicos – sobre assuntos diversos, escritos desde a década de 70 (provavelmente), mas sempre enfocados de um ponto de vista da comunicação. Assim, a ecologia, a tv e o rádio, política são vistos pelo olhar desse intelectual multifacetado, que enxergava muito adiante de seu tempo. Aqui, lembre-se, tem-se que olhar os ensaios também com os óculos do tempo passado!
“Não muito tempo atrás, se quisessem tomar o poder político num país, era suficiente controlar o exército e a polícia. Hoje é somente nos países subdesenvolvidos que os generais fascistas, para dar um golpe de Estado, ainda usam os tanques. Basta que um país tenha alcançado um alto nível de industrialização para que o panorama mude completamente: no dia seguinte à queda de Krushev os diretores do Pravda, do Izvestia e das cadeias radiotelevisivas foram substituídos; nenhum movimento do exército. Hoje um país pertence a quem controla os meios de comunicação.”
“Quantas notícias transmite o telejornal? Como as transmite?...
Manipulação 1: Comenta-se apenas aquilo que se pode ou deve comentar.
Manipulação 2: A notícia realmente dirigida não tem necessidade de comentário aberto mas se baseia na escolha dos adjetivos e num cuidadoso jogo de contraposição.
Manipulação 3: Em caso de dúvida, melhor calar.
Manipulação 4: Coloque a má notícia onde ninguém a espera mais.
Manipulação 5: Nunca dizer polenta quando se pode dizer purê de milho.
Manipulação 6: Dê a notícia completa só quando os jornais do dia seguinte a divulgaram.”
4 notes
·
View notes
Text
Reconstrução Síria num Contexto Regional em Mudança: Desafios e Oportunidades
Artigo escrito por - Alexandre Aksenenok - Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Federação Russa, Vice-presidente da RIAC
A reconstrução da Síria é um dos principais e mais urgentes desafios do seu desenvolvimento pós-guerra. A guerra civil terminou por si só, mas o conflito em si continua sem solução e seu custo material é enorme. Sob as condições das sanções ocidentais e relações difíceis com os estados árabes do Golfo Pérsico, não há praticamente pré-requisitos para uma reconstrução extensiva e implementação de grandes projetos de investimento.
Nesta fase, apenas a chamada “recuperação precoce” é possível, que é destinada à manutenção da prosperidade da população e ao funcionamento do sistema social. Com recursos decrescentes, está se tornando cada vez mais difícil para o governo sírio manter a economia à tona e lidar com questões sociais. Ao mesmo tempo, a assistência externa de potenciais patrocinadores de tais obras continua sujeita a uma série de condições políticas na área de resolução de conflitos.
A situação econômica no país continua a se deteriorar enquanto os padrões de vida da maioria da população estão caindo. Neste contexto, o processo de reconstrução pós-guerra, que pode proporcionar alívio aos cidadãos sírios, está inextricavelmente ligado à política, à segurança e à restauração da integridade territorial do país por meios pacíficos e à reconciliação nacional. Além disso, também está condicionado à implementação de reformas de governança, tanto no centro quanto na periferia. Assim, o processo de reconstrução é multidimensional e requer certos compromissos. No entanto, nenhuma medida prática nessa direção foi tomada ainda pelas autoridades sírias.
Fatores externos como pressão de sanções, fragmentação do território nacional e controle americano contínuo sobre muitos dos recursos da Síria são apenas parcialmente responsáveis pela terrível situação econômica na Síria. Além disso, há sérios problemas na área de governança. Nos últimos anos, o sistema de administração pública foi significativamente transformado e tornado ineficaz sem um impacto externo significativo.
Em maio de 2023, as condições para a Síria atrair assistência externa eram mais favoráveis. Isso se deveu ao retorno do país à Liga Árabe, à tendência emergente de aliviar as tensões regionais e à construção de uma nova arquitetura de segurança no Oriente Médio. Apesar da normalização externa, não houve nenhuma mudança significativa nas práticas de cooperação de investimento e suporte financeiro para a Síria. Os Estados Árabes continuam a prosseguir com base na necessidade de implementar o princípio de “Um Passo por Um Passo”.
Damasco aposta na possibilidade de reformas políticas e no lançamento do Comitê Constitucional com o compromisso árabe de apoiar o Ocidente. Ao mesmo tempo, as autoridades estão se concentrando nas eleições parlamentares de julho de 2024. O processo de normalização das relações entre a Síria e a Turquia, iniciado em 2023 pela Rússia, também enfrenta dificuldades semelhantes.
Nesta fase, a situação dentro e ao redor da Síria não é propícia para alcançar resultados rápidos e superar a crise da economia pós-guerra do país. Rússia e Irã continuam a cooperação econômica com a Síria, mas as capacidades dos dois países não são suficientes para reconstruir a economia síria destruída. Existem três canais possíveis para suporte financeiro e técnico externo no curto prazo. Estes são o Fundo Fiduciário da ONU, isenções humanitárias das sanções dos EUA e de vários estados-membros da UE, bem como oportunidades do Programa de Desenvolvimento da ONU, sob o qual algumas obras de reconstrução estão sendo realizadas. Se o processo político avançar, vários estados árabes do Golfo também podem participar de atividades de reconstrução.
Situação socioeconômica na República Árabe Síria
A reconstrução da Síria é um dos desafios mais importantes e urgentes do seu desenvolvimento pós-guerra. A peculiaridade da situação desafiadora no país é que a guerra civil terminou por si só, mas o conflito em si continua sem solução. Suas causas raízes não foram abordadas, e as consequências socioeconômicas e políticas, agravadas pelas sanções ocidentais, continuam a ter um efeito desestabilizador. Com recursos domésticos limitados e financiamento externo insuficiente, há poucos pré-requisitos para uma ampla reconstrução e a implementação de grandes projetos. Nesta fase, estamos falando de nada mais do que obras de reconstrução para manter o sustento da população e o funcionamento do setor social como um todo, o que faz parte do conceito de “recuperação precoce” comum no Ocidente.
O termo “recuperação precoce” implica assistência humanitária que não abrange projetos relacionados à reconstrução econômica. Inclui trabalho em água, saneamento, eletricidade, logística comercial, reabilitação de redes de saúde e educação até aconselhamento sobre governança local, reintegração de refugiados e pessoas deslocadas 1 . Ainda não há uma linha clara traçada entre recuperação e reconstrução, e há debate entre os formuladores de políticas ocidentais sobre essa questão. Outro fato complica a situação geral. Por um lado, em 2020 e em 2023, vários tipos de “isenções”, “autorizações” e emissão de “licenças especiais” foram introduzidos para fornecer assistência humanitária à Síria para combater pandemias de COVID-19 e eliminar as consequências dos danos do terremoto. Por outro lado, os Estados Unidos estão aumentando a “pressão máxima” sobre a Síria e ameaçando sanções secundárias sobre os países, incluindo os países árabes, que estão prontos para fornecer apoio financeiro e material à Síria. Segundo vários especialistas europeus, as disposições sobre isenções de sanções não são eficazes na prática, não tanto por razões políticas, mas porque a multiplicidade de restrições adotadas nos últimos vinte anos se duplicam e criam um emaranhado de procedimentos burocráticos confusos 2 .
O principal problema é que o território da Síria é um espaço militar e político fragmentado. De fato, o país também desenvolveu várias economias paralelas:
Territórios controlados pelo governo sírio (cerca de 68%);
o nordeste, controlado pela Administração Autônoma Curda para o Norte e Leste da Síria (AANES), apoiada pelos militares dos EUA (cerca de 22%);
a “zona tampão” do norte da Síria, sob o controlo da Turquia e da Síria
milícias que apoia (cerca de 5%);
a zona da província de Idlib, controlada pela organização terrorista Hayat Tahrir al-Sham (proibida na Rússia) e governada pelo “Governo de Salvação Nacional” (cerca de 2%);
a zona de At-Tanf, dominada pelos EUA, no sudeste da Síria (cerca de 3%).
Como resultado, as comunicações econômicas e comerciais foram cortadas. Com recursos internos e externos cada vez menores, está se tornando mais difícil para o governo manter a economia à tona e lidar com questões sociais do que durante a fase ativa das hostilidades. Por sua vez, os EUA, a União Europeia e os estados árabes do Golfo estão impondo pré-condições que o governo sírio ainda não está pronto para atender.
A maioria dos sírios está lutando para sobreviver diante do aumento constante dos preços, escassez de alimentos, energia e combustível. De todos os pontos críticos de conflito na região, a Síria sofreu as maiores perdas. Elas estão na forma de destruição material, baixas humanas e um declínio na qualidade do capital humano. O dano total da guerra é estimado pelo Ministério das Finanças da Síria em US$ 300 bilhões 3 . Mais da metade da infraestrutura básica foi destruída. O sistema de saúde, um dos mais desenvolvidos no Oriente Médio antes da guerra, foi significativamente prejudicado.
Os padrões de vida da vasta maioria da população estão despencando. A pobreza em massa é um problema particular. De acordo com a ONU, 90% dos sírios vivem abaixo da linha da pobreza, 70% precisam de ajuda humanitária internacional e a expectativa de vida caiu em 20 anos 4 .
O ministro da Economia e Comércio Exterior Samer Khalil foi forçado a admitir que 2022 foi “o ano mais difícil dos últimos 50 anos 5 ”.
A situação econômica no país continua a se deteriorar. Não apenas nas províncias, mas também na capital, a população continua sendo forçada a viver com a falta de fornecimento sustentável de eletricidade (em algumas áreas, a eletricidade é fornecida por uma a duas horas por dia, em outras por uma hora a cada cinco ou seis horas), interrupções no fornecimento de água e escassez constante de produtos essenciais.
Os crescentes déficits orçamentários e a inflação galopante estão forçando as autoridades a reduzir o tamanho dos subsídios governamentais e estreitar o leque de beneficiários, o que antes mantinha os preços mais ou menos acessíveis. Com a produção em queda e as importações, incluindo importações falsificadas, os preços das commodities essenciais são determinados pela taxa de câmbio do dólar. Desde fevereiro de 2023, a lira síria se desvalorizou quase duas vezes e meia em relação ao dólar americano 6 .
As medidas tomadas pelo governo para aproximar as taxas oficiais e não oficiais da lira síria tiveram efeito limitado e não mudaram fundamentalmente a situação. Apesar do fato de o governo ter dobrado os salários no verão de 2023, a inflação literalmente “comeu” todo o ganho, e a renda da população diminuiu. Como resultado de tais ações, as compensações trabalhistas em equivalentes a dólares ficaram ainda menores. Os aumentos desenfreados de preços (em média cerca de 10% ao mês) em combustíveis e alimentos básicos como pão achatado, galinhas, ovos, azeite de oliva, etc. estão afetando particularmente dolorosamente a população. Cordeiro e outros pratos tradicionais de carne animal estão gradualmente desaparecendo da dieta diária da maioria dos sírios.
O Governo Sírio está fazendo esforços para mitigar as consequências sociais e políticas da crise da melhor forma possível, incluindo por meio de uma combinação de regulamentação de mercado e estatal e reforma parcial do sistema tributário. No entanto, além das influências negativas externas, há uma série de obstáculos internos objetivos à recuperação econômica, o que é virtualmente impossível sem um influxo de investimento dos Estados Árabes do Golfo e do Ocidente.
Esses são, antes de tudo, problemas na agricultura e a falta de recursos hídricos, que está ligada às mudanças climáticas. De acordo com o especialista agrícola sírio Jalal Al-Attar, em 2015, os volumes de água na parte síria do Eufrates diminuíram em 40% em comparação a 1972 7 .
Terremotos e secas frequentes afetaram as colheitas de trigo, deixando a Síria com uma escassez aguda dessa cultura estratégica, satisfazendo a demanda por ela com importações, inclusive da Rússia. A escassez de combustível complicou ainda mais a situação, exacerbando a crise energética. O problema é que, enquanto a demanda doméstica de petróleo é de 3 milhões de barris por mês, apenas 300.000 barris são produzidos em territórios controlados pelo governo 8 .
O restante do petróleo é produzido na zona curda AASIS (Administração Autônoma do Nordeste da Síria). Depois que os EUA, ocupando esta zona, impuseram um embargo de fato ao fornecimento de petróleo de lá para Damasco, há uma grave escassez de combustível nas áreas sob controle do governo. A escassez é compensada pelo fornecimento de petróleo do Irã e, em parte, da Rússia.
Novos desafios não militares, mas não menos perigosos, obrigam o Governo Sírio a avaliar adequadamente os riscos, assumindo que as ameaças reais são colocadas principalmente pela economia. Bolsões de protestos surgem periodicamente no sul e noroeste do país, mas uma forte deterioração nesta área pode levar a manifestações mais radicais das contradições acumuladas em suas formas mais inesperadas.
No entanto, na situação atual, a reconstrução econômica, que pode aliviar a situação da maioria da população, está inextricavelmente ligada à política, à segurança, à restauração da integridade territorial do país por meios pacíficos com base na reconciliação nacional e à reforma da administração pública no centro e na periferia. O processo de reconstrução é multifacetado e requer compromisso. No entanto, nenhuma medida prática nessa direção foi tomada ainda pela liderança síria. Isso é evidenciado pela análise da política doméstica e regional de Damasco no contexto da nova arquitetura de segurança emergente no Oriente Médio, levando em consideração a crise em Gaza e a natureza de suas relações com as principais partes interessadas e jogadores.
O retorno da Síria à Liga dos Estados Árabes: os resultados do ano passado
Em maio de 2023, foi tomada a decisão de renovar a filiação da Síria ao LAS, que havia sido suspensa desde o início da guerra civil em 2011. Isso foi seguido por uma série de etapas em direção à normalização com a Arábia Saudita. Isso inclui a abertura de missões diplomáticas em Damasco e Riad, troca de embaixadores (os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Omã já haviam feito isso antes), visitas políticas recíprocas de alto nível, descongelamento parcial do comércio bilateral e retomada das viagens aéreas. Houve uma mudança de tom nas declarações "de cima para baixo" na própria Síria. O presidente Bashar al-Assad participou de duas reuniões de chefes de estado em Jeddah (LAS + OIC em maio de 2023) e Manama (LAS em maio de 2024), o que mostra pragmatismo nas abordagens à política internacional e regional. Certamente, a posição da Arábia Saudita é de particular importância para a Síria, já que Riad está ganhando peso na região e, junto com outros estados do Golfo, está melhor posicionada para mitigar a pressão exercida sobre a Síria pelos Estados Unidos e Israel.
A virada para o retorno da Síria ao vetor árabe ocorreu no contexto da tendência dos últimos dois anos para a construção de novas alianças regionais. Isso foi motivado por fatores como fadiga dos conflitos em andamento, a necessidade de cooperação econômica mutuamente benéfica diante da desaceleração do crescimento global e desilusão com a política dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Sinais de alívio das tensões, uma espécie de distensão do Oriente Médio, incluem uma série de desenvolvimentos importantes nessa direção. A Turquia tomou o caminho da reconciliação com os estados árabes vizinhos. Durante a viagem de Erdogan à região do Golfo Pérsico (julho de 2023), muitos acordos econômicos foram assinados na Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. A Turquia assinou acordos totalizando US$ 50,7 bilhões somente com os Emirados Árabes Unidos. Além disso, a Arábia Saudita assinou contratos favoráveis à Turquia para a compra de um grande lote de drones 9 . Houve uma reaproximação entre a Turquia e o Irã, a maioria dos desacordos internos que dificultavam o trabalho do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) foram resolvidos, e o papel dos Emirados Árabes Unidos, Egito e Catar como moderadores dos conflitos no Líbano, Iraque e Líbia aumentou significativamente. A diplomacia do Catar e do Egito fez uma contribuição indispensável para negociar os termos do cessar-fogo na Faixa de Gaza. As discussões em andamento sobre os termos do reconhecimento de Israel pela Arábia Saudita, apelidado de "grande barganha", também se encaixam neste contexto.
É importante enfatizar que a nova dinâmica regional, incluindo a decisão de devolver a Síria à LAS, dificilmente teria sido possível sem a restauração das relações diplomáticas entre a Arábia Saudita e o Irã em março de 2023. Este grande avanço, precedido por esforços de mediação não apenas pela China, mas também pelos próprios estados árabes, contribuiu para a cura da região. A Síria também fez parte do amplo “pacote de acordo” saudita-iraniano.
Todas essas mudanças ainda não se tornaram irreversíveis, embora tenham sido testadas pelo conflito palestino-israelense, que se intensificou após 7 de outubro de 2023. A troca de ataques de mísseis entre Israel e Irã em maio deste ano não teve consequências negativas para a região. A Arábia Saudita assumiu uma postura equilibrada enquanto o Irã reduziu a presença de milícias proxy sob seu controle na região das Colinas de Golã, na Síria. Contatos políticos de alto nível, incluindo entre agências de inteligência sauditas e iranianas, continuaram inabaláveis. Acordos bilaterais de segurança também continuam em vigor. No Iêmen, apesar das escaladas no Mar Vermelho causadas pela crise na Faixa de Gaza, o cessar-fogo mais longo permanece em vigor enquanto a Arábia Saudita se retirou da interferência na área de interesses iranianos dentro da Síria e do Iraque.
Os estados do Oriente Médio preferem encontrar suas próprias maneiras de resolver os problemas internos acumulados e tentam evitar o ditame americano. A maioria deles está gravitando em direção a uma política de adaptação, diversificando sua política externa no contexto do confronto global em andamento. No entanto, não houve desenvolvimentos significativos em termos de abordar as questões práticas de cooperação de investimento e assistência financeira tão importantes para a Síria após a restauração de sua filiação à LAS. A Arábia Saudita e outros estados árabes continuam a acreditar que deve ser uma via de mão dupla.
A “cúpula” árabe em Jeddah decidiu formar um “grupo de contato” LAS de cinco estados (Egito, Arábia Saudita, Iraque, Líbano, Jordânia) e Síria. A declaração dos membros deste grupo afirma explicitamente o seguinte: “Enfatizamos a necessidade de medidas práticas eficazes em direção a uma resolução gradual da crise, passo a passo 10 ”.
Ou seja, a retomada da cooperação econômica é condicional. A Síria é obrigada a reafirmar sua seriedade na busca pela reconciliação nacional. Isso significa chegar a acordos com a oposição moderada por meio de um processo político baseado na Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU, que também prevê emendas constitucionais e “eleições livres e justas” sob os auspícios da ONU.
Na fase inicial, a equipe ministerial do LAS criada para supervisionar a implementação dos acordos preliminares está priorizando questões como impedir o contrabando de substâncias narcóticas da Síria para os países do Golfo através da fronteira com a Jordânia, criando um ambiente seguro para o retorno de refugiados e a libertação de presos políticos não envolvidos em atividades terroristas.
Em termos de “recuperação antecipada”, o fluxo de recursos financeiros tem sido limitado até agora à ajuda humanitária do Centro especial que leva o nome do Rei da Arábia Saudita e outros Estados do Golfo para lidar com as consequências do terremoto de 2023. É indicativo que, com a reação tardia e politizada do Ocidente, 74% da ajuda humanitária urgente à Síria entre 6 e 13 de fevereiro de 2023, tenha sido fornecida por países árabes.
Bashar Assad, por sua vez, concordou em abrir duas passagens de fronteira adicionais da Turquia (Bab As-Salameh e Ar-Rai) no noroeste da Síria, região não controlada pelo governo.
No entanto, as esperanças dos cidadãos sírios por reconstrução pós-guerra e assistência de doadores externos não podem ser realizadas devido às sanções dos EUA. Desde o final de 2023, elas tiveram um impacto mais severo em terceiros países que cooperam com a Síria e também se tornaram extraterritoriais por natureza.
A imprecisão e a amplitude das sanções criaram uma atmosfera de “excesso de conformidade”, na qual potenciais governos doadores, empresas, organizações comerciais e ONGs tendem a jogar pelo seguro e evitar o envolvimento direto, mesmo em pequenos projetos.
Alguns estados do Golfo Árabe sinalizaram que estão dispostos a apoiar a reconstrução na expectativa de criar um contrapeso à influência iraniana, mas ainda não estão dispostos a correr o risco.
Resolução de conflitos
O Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU para a Síria, Geir O. Pedersen, em briefings ao Conselho de Segurança, regularmente exorta a comunidade internacional a manter a Síria em foco, alertando sobre os riscos contínuos de um conflito não resolvido - alguns até dizem "esquecido". Em sua avaliação, a situação na Síria está em um estado de "impasse estratégico" e uma solução só pode ser encontrada na via política. O trabalho do Comitê Constitucional, criado com grande dificuldade com a assistência russa em 2019, está parado. Desde maio de 2022, ele está praticamente paralisado. Os próprios sírios não parecem mais capazes de negociar, ainda presos em delírios políticos. O governo se sente vitorioso, enquanto a heterogênea oposição não desiste de suas demandas e ambições.
Taticamente visto, Damasco está tentando envolver a Arábia Saudita em esforços de mediação e ofereceu Riad como um local para a retomada do Comitê Constitucional. O reino, por sua vez, até agora não demonstrou interesse em se envolver mais em assuntos inter-sírios, enquanto observa os desenvolvimentos em torno de Gaza e os esforços de mediação dos EUA para negociar os termos da normalização final com Israel, que incluem o comprometimento com uma solução para o caso palestino.
O resultado da reunião de 15 de agosto de 2023 do Grupo Ministerial Árabe no Cairo mostrou que a restauração das relações Síria-Golfo Árabe está passando por dificuldades significativas. O lado sírio vincula reformas políticas, incluindo o lançamento do Comitê Constitucional, ao compromisso dos países árabes de garantir o levantamento das sanções ocidentais, e também se refere às eleições parlamentares em julho de 2024. Em geral, Bashar Assad ainda não demonstrou disposição para fazer concessões, sem as quais é impossível obter a assistência necessária. A reunião do presidente Assad com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman em Manama em maio não produziu resultados tangíveis. O texto da declaração adotada no final da “Cúpula Árabe” repete a posição árabe e não contém nenhuma indicação de qualquer mudança, e a próxima reunião do grupo ministerial da LAS sobre a Síria foi adiada indefinidamente 11 .
A diplomacia russa vem trabalhando há anos para aquecer o clima político em torno da Síria no mundo árabe e fornecer canais para investimento externo. Agora, após o retorno da Síria ao LAS, sua linha inflexível em um momento em que a maioria do povo sírio está à beira da sobrevivência é percebida em Moscou com certo descontentamento.
Síria–Turquia
Em muitos aspectos, a situação é semelhante ao processo de normalização das relações sírio-turcas. As rápidas mudanças nas dimensões globais e regionais em 2022-23 levaram os líderes da Síria e da Turquia a perceber que um maior equilíbrio à beira do confronto direto não é benéfico para ambos os países. O movimento em direção à reaproximação começou por iniciativa da Rússia, que vê o alívio das tensões militares e os arranjos políticos entre a Síria e a Turquia como uma das possibilidades para avançar um acordo de paz após o processo de paz em Genebra ter parado.
A faixa de território na fronteira sírio-turca representa um único “eco-espaço” em termos de economia, trocas comerciais, trânsito de pessoas e segurança. Dentro da Turquia, a questão do restabelecimento das relações está diretamente relacionada à crise migratória e à necessidade de retornar (repatriar) refugiados sírios, cujo número, apenas registrado, foi estimado em 3,3 milhões em meados de 2023.
Damasco também espera se beneficiar da reaproximação com a Turquia, dada a confirmação oficial do comprometimento do lado turco com os princípios da integridade territorial e da luta contra o terrorismo, embora haja profundas divergências sobre quem deve ser classificado como terrorista. No contexto da estrutura estatal da Síria, os acordos com a Turquia estão, em última análise, vinculados à solução de um dos problemas constituintes do acordo político - o problema curdo. Em meados de 2022, os canais de comunicação fechados entre os serviços de inteligência sírios e turcos demonstraram sua prontidão para continuar as negociações nos níveis militar e político, bem como seu interesse na assistência da Rússia. Mais tarde, um mecanismo de interação foi construído por meio de negociações sucessivas em três formatos: serviços de inteligência, ministros da defesa e ministros das Relações Exteriores. A adesão do Irã a esse processo deu a ele peso adicional. O resultado final da série de reuniões neste formato seriam as negociações de cúpula. Tal prontidão no
O lado turco foi oficialmente anunciado pelo presidente Erdogan 12 .
Em 2023, foram realizadas conversas no nível de defesa (25 de abril) e ministros das Relações Exteriores (10 de maio), precedidas por reuniões de nível de trabalho de vice-ministros. O processo de negociação foi muito difícil, tanto do ponto de vista organizacional quanto em termos do curso das discussões sobre diferenças substantivas. Os representantes russos conseguiram levar os participantes sírios e turcos a acordos provisórios sobre concordar com um roteiro e restaurar as relações com vistas à preparação para a cúpula. No entanto, não foi possível obter mais progresso.
O lado sírio insistiu em pré-condições, a principal das quais era o fornecimento de um cronograma para a retirada das forças turcas do território sírio. Sem compromissos concretos sobre essa questão, uma reunião com Erdogan em Damasco foi considerada prematura. A Turquia, embora demonstrasse disposição para normalizar as relações sem pré-condições, enfatizou a necessidade de uma garantia de segurança se as tropas turcas deixassem a zona tampão no norte da Síria.
As formações armadas das Forças Democráticas Sírias (SDF), que servem como espinha dorsal da Administração Autônoma Curda do Norte e Leste da Síria (AANES), são consideradas pelos turcos como uma organização terrorista. Portanto, a Turquia prefere resolver todo o conjunto de questões relacionadas à retirada de tropas gradualmente, à medida que as relações se normalizam e em conjunto com questões de segurança.
Caso contrário, como Ancara acredita, e não sem razão, a retirada das tropas turcas poderia levar a um novo surto de hostilidades em larga escala envolvendo organizações terroristas concentradas em Idlib e no noroeste da província de Aleppo.
Características do Sistema Político e Governança
A terrível situação econômica da Síria é apenas em parte resultado de fatores externos - o regime de sanções, a fragmentação do território, o controle americano contínuo sobre muitos dos recursos naturais da Síria. Além disso, há sérios problemas de governança. Sem mudanças aparentemente significativas, o sistema foi severamente transformado nos últimos anos, e sua eficácia declinou significativamente.
À medida que a redução da tensão militar avança, a própria falta de vontade ou incapacidade do Governo de estabelecer um sistema de governação que proporcionasse as condições para conter a corrupção, a criminalização e a transição de uma “economia de guerra” para relações comerciais e econômicas normais tornou-se cada vez mais evidente.
Hoje, o país tem várias verticais paralelas de poder: grupos familiares e de clãs; serviços especiais e forças armadas; o aparato estatal; a estrutura do partido Ba'ath; e instituições religiosas. Essas estruturas se sobrepõem, enquanto, ao mesmo tempo, competem entre si pelo controle dos fluxos financeiros.
Recentemente, uma rede de organizações sem fins lucrativos também foi formada, cuja influência está ligada à primeira-dama do país, Asma al-Assad. Cada uma das estruturas de poder opera em sua própria base de recursos, liderada por figuras-chave do círculo interno do presidente.
De acordo com as avaliações de economistas sírios proeminentes, o governo central em Damasco está falhando em recuperar o controle sobre a vida econômica nas províncias periféricas. Mesmo em áreas sob controle do governo, as “regras” da economia local ainda estão em vigor, com impostos generalizados sobre todos os tipos de comércio, trânsito, transporte, comboios humanitários para o benefício de uma cadeia de exércitos e forças de segurança privilegiados, intermediários comerciais e grandes empresários associados leais ao governo, tanto tradicionais, próximos à família do presidente, quanto os novos ricos que enriqueceram durante a guerra 13 .
O poder é consolidado por meio de um sistema de clientelismo. Governança multinível por meio de instituições estatais formais e uma rede obscura de relações socioeconômicas e confessionais, construída no princípio cliente-patrono. Esse sistema alimenta constantemente um ambiente corrupto na distribuição de fluxos financeiros e rendas naturais.
Os centros de influência e estruturas empresariais formadas durante os anos de guerra não estão interessados na transição para o desenvolvimento pacífico, enquanto na sociedade síria, nos círculos de empresários dos setores da economia real e entre parte do aparato estatal, há uma demanda por reformas (“A Síria não pode mais ser como era antes da guerra”).
***
A situação atual dentro e ao redor da Síria não é propícia para alcançar resultados rápidos e aliviar a crise em sua economia pós-guerra. Além disso, o Governo da República Árabe Síria hoje carece de uma estratégia abrangente para o desenvolvimento no novo ambiente. A liderança síria também carece da flexibilidade necessária e teme fazer concessões políticas que podem implicar riscos inaceitáveis.
Na prática, no entanto, há três canais para potencial assistência financeira e técnica externa para reconstrução. Um pré-requisito para isso seria que os Estados Unidos e os países da UE suavizassem sua posição sobre a normalização com a RAE em nível regional, dado que o lado sírio assumiu uma posição neutra na crise de Gaza e se absteve de apoiar o Hamas. Assim, tais canais possíveis para fornecer suporte à RAE incluem o Fundo Fiduciário da ONU, assistência de vários estados europeus e o Programa de Desenvolvimento da ONU, o que implica a implementação de obras de reconstrução separadas na Síria com um orçamento de US$ 692 milhões em 2024-2026 14 .
No segundo semestre de 2023, de acordo com as resoluções do Conselho de Segurança adotadas no período de 2022 a 2023, os serviços especializados da ONU, juntamente com o governo sírio, começaram a trabalhar na preparação do Programa de Recuperação Antecipada da Síria e no procedimento para seu financiamento por meio de um Fundo especial a ser criado para esses fins. O valor dos fundos a serem levantados é estimado em
US$ 500 milhões por um período de cinco anos. O aparato da ONU espera que, no contexto da crise em Gaza e da possibilidade de sua disseminação para países vizinhos, uma série de obstáculos à alocação de fundos sejam removidos. O fundo fiduciário apoiado pela ONU é visto como um canal alternativo para doadores cautelosos com sanções 15 .
A última oitava conferência de doadores da União Europeia realizada em Bruxelas no final de maio de 2024 demonstrou que há divergências entre os países europeus sobre a questão da reconstrução da Síria diante de uma situação humanitária em rápida deterioração. Enquanto a Alemanha e a França continuam a adotar uma linha dura, abrindo exceções apenas para áreas do nordeste controladas pela oposição, um grupo de oito estados-membros da UE (Áustria, República Tcheca, Chipre, Dinamarca, Grécia, Malta, Polônia) defendeu uma “reavaliação” da situação na Síria à luz do agravamento da crise humanitária. Este grupo de oito países europeus está mais interessado em criar um ambiente propício ao retorno de refugiados, o que deve ser facilitado por programas que se enquadrem na categoria de “recuperação antecipada 1617 ”. Assim, a reconstrução da Síria com recursos externos dos Estados Unidos, Europa e Estados do Golfo é essencial. Ao mesmo tempo, o problema da reconstrução pós-guerra da República Árabe Síria permanece politicamente condicionado. Ao mesmo tempo, as tensões militares e políticas no mundo e a pressão das sanções limitam a capacidade dos aliados da Síria, Rússia e Irã, de fornecer assistência financeira e econômica à Síria nas quantidades necessárias. A China, por sua vez, está tomando uma atitude de esperar para ver, limitando-se a declarações gerais de prontidão para fornecer financiamento.
O envolvimento militar da Federação Russa a pedidos do Presidente B. Assad, bem como sua firme posição política em nível internacional, permitiu que Damasco preservasse sua condição de estado, derrotasse inúmeras organizações terroristas e retornasse à órbita da política regional. No período pós-guerra, a Rússia também fez esforços significativos para fornecer assistência real à RAE na reconstrução de sua economia devastada. O governo está encorajando as empresas russas a trabalhar mais de perto com as empresas sírias em uma parceria público-privada e na base da nação mais favorecida, embora os "métodos de comando" não sejam mais tão eficazes na economia russa quanto eram nos tempos soviéticos. Ao mesmo tempo, o governo sírio é obrigado a tomar medidas consistentes em direção a uma estratégia de desenvolvimento abrangente, estabelecendo um sistema de administração pública central e local capaz de combater a corrupção. Além disso, espera-se tratamento preferencial para investidores estrangeiros, respeito à lei e uma transição antecipada de uma "economia de guerra" para relações comerciais e econômicas normais.
A Rússia também está fazendo uma contribuição importante para a reabilitação e modernização do setor de energia. As empresas russas que estão sob sanções estão participando da reconstrução das instalações de infraestrutura da FEC de petróleo, incluindo usinas hidrelétricas e refinarias, e também estão realizando trabalhos para explorar e explorar novos campos de petróleo e gás. A Stroytransgaz, em cooperação com parceiros sírios, está implementando um projeto para desenvolver a parte civil do porto de Tartus e, desde 2018, vem produzindo fosfatos, cuja exportação foi uma importante fonte de receitas em moeda estrangeira para o orçamento até 2011. Vale ressaltar que, no campo da reabilitação de infraestrutura de energia e transporte, a Rússia e o Irã mudaram recentemente da competição para a cooperação, complementando-se.
Uma análise abrangente das perspectivas para a “reabilitação” econômica da Síria no período pós-guerra mostra que essa tarefa urgente só pode ser resolvida pela coordenação de esforços em nível internacional. Este poderia ser um ponto de convergência entre os interesses de todas as partes, onde a assistência econômica e humanitária seria vista como inseparável do progresso na trilha política.
1 Al-Issa, Ibrahim H., Karazi H. Projetos de recuperação precoce na Síria e obstáculos políticos // Enab Baladi, 30 de maio de 2024. — URL : https://english.enabbaladi.net/archives/2024/05/early-recovery-projects-in-syria-and-political-obstacles/
2 Briefing: Quão “inteligentes” são as sanções à Síria // The New — URL: https://www. thenewhumanitarian.org/analysis/2019/04/25/briefing-just-how-smart-are-sanctions-syria
3 Ministro das Finanças da Síria: 300 mil milhões de dólares em perdas de guerra // The Syrian Observer, 23 de maio
— URL: https://syrianobserver.com/society/syrian-finance-minister-300-billion-in-war-losses.html
4 Conselho de Segurança: 12 anos de guerra deixam 70 por cento dos sírios precisando de ajuda // UN News, 25 de janeiro — URL: https://news.un.org/en/story/2023/01/1132837/
5 2022 Pior desempenho econômico em 50 anos: Ministro da Economia do regime promove decisões mágicas // The Syrian Observer, 3 de fevereiro de 2023. — URL : https://syrianobserver.com/news/81565/2022-worst-economic-performance-in-50-years-regimes-economy-minister-promotes-magical-decisions
6 República Árabe Síria: Visão geral das necessidades humanitárias em 2024 (dezembro de 2023) // org, 21 de dezembro de 2023. — URL : https://www.unocha.org/publications/report/syrian-arab-republic/syrian-arab-republic-2024-humanitarian-needs-overview-december-2023
7 Fonte: pessoal do autor
8 Polyakov Síria em 2023: Declínio e esperanças não realizadas (Polyakov D. Siriya v 2023 Godu: Upadok i Nesbyvshiesya Nadezhdy) // RIAC, 11.01.2024. — URL: https://russiancouncil.ru/analytics- and-comments/analytics/siriya-v-2023-godu-upadok-i-nesbyvshiesya-nadezhdy/?sphrase_ id=146557723
9 Dalay Política externa turca em um mundo desequilibrado // Conselho do Oriente Médio sobre Assuntos Globais, 30 de maio de 2024. — URL: https://mecouncil.org/publication/turkish-foreign-policy-in-an-unhinged-world/
10 Hendawi Síria recebe retorno condicional à Liga Árabe // The National, 7 de maio de 2023. —
URL: https://www.thenationalnews.com/mena/syria/2023/05/08/arab-league-syria-return/
11 Texto integral da Declaração do Bahrein da cimeira da Liga Árabe // The National, 16 de maio
— URL: https://www.thenationalnews.com/news/mena/2024/05/16/full-text-arab-league-summit- bahrain-declaration/
12 Dalay A nova narrativa da Turquia sobre a Síria // Conselho do Oriente Médio sobre Assuntos Globais, 24 de outubro de 2022/
— URL : https://mecouncil.org/blog_posts/turkeys-new-syria-narrative/?utm_campaign=MECGA%20Soft%20Launch&utm_medium=email
13 Aksenenok A. Guerra, Economia, Política na Síria: Links Quebrados (Aksenenok A. Vojna, Ekonomika, Politika v Sirii: Razorvannye Zven'ya) // Valdai Club, 17.04.2020. — URL: https://ru.valdaiclub.com/a/destaques/voyna-ekonomika-politika-v-sirii-razorvannye-zvenya/
14 Síria: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento // org. — URL: https://www.undp.org/
Síria
15 Al Dassouky A. Early Recovery Trust Fund na Síria: Uma abordagem técnica com implicações políticas e riscos associados // OMRAN Strategic Studies, 16 de maio de 2024. — URL: https://www.org/index.php/publications/papers/early-recovery-trust-fund-in-syria-a-technical- approach -with-political-implications-and-associated-risks.html
16 Bruxelas VIII: Um ano de crise prolongada e desafios não resolvidos para a Síria // The Syrian Observer, 4 de junho — URL: https://syrianobserver.com/refugees/brussels-viii-a-year-of-prolonged- crisis-and-unresolved-challenges-for-syria.html
17 membros da UE dizem que as condições na Síria devem ser reavaliadas para permitir o retorno voluntário de refugiados
// AP World News, 7 de junho de 2024. — URL: https://apnews.com/article/migrants-refugees-syria-eu-lebanon-safe-zones-returns-3b52a8b2d55acb6838c1e34916638f4b
2 notes
·
View notes
Text
° El tema principal del Pinocho escrito en 1881 nunca fue la mentira. Su autor Carlo Collodi era, además de escritor, un periodista y satírico muy prolífico, colaborador de publicaciones políticas y culturales y crítico incansable de los líderes de su país. Impregnado de todo aquello, su Pinocho pretendía ser un símbolo de la importancia de la educación y un alegato a la desobediencia (civil).
El personaje de Pinocho iba de desgracia en desgracia porque renunciaba a ir a la escuela. Malcriado por Gepetto, este joven de pino pasaba de todo. Llegó a patear a su creador, le robó hasta su peluca -Gepetto era calvo, al parecer- y fue metido en la cárcel, acusado de abuso y maltrato.
Contrario al encantador muñeco que muchos conocemos, el Pinocho primigenio era un personaje mal agradecido y vago, que a pesar de todo lo que hizo recibió cariño por parte de Gepetto. Sí es verdad, que la historia termina con un final parecido, aunque cambiando ballena por tiburón (se desconoce el tamaño, pero dentro había cabida para un Gepetto entero). Pinocho aprende la lección, pero la moraleja, entonces, no es que los niños siempre deban decir la verdad, sino que la educación es esencial. Una educación capaz de liberarle de ser una marioneta de verdad (de la sociedad y los políticos) y de un trabajo brutal, ese que, de otra forma, y como sucede en la fábula podría terminar convirtiéndole en un burro de carga. La educación para no ser un títere de los demás.
¿Por qué Pinocho se llama así? En el cuento original, el joven al que da forma Gepetto está construido a base de madera de pino. En la creación de su denominación, el autor combinó las palabras “pino”, como el árbol del cual se sacó la madera, y “occhio” (palabra italiana que quiere decir ojo). Es decir, el significado literal de Pinocho es “Ojo de pino”, una combinación de dos palabras que pierde su semántica al reformularse el nombre en español.
Reflexión Cultura y Ortografía.
Fuente: La vida busca instruirte.
3 notes
·
View notes
Text
Consideraciones sobre la República Libre de Fiume
Por Georges Feltin-Tracol
Traducción de Juan Gabriel Caro Rivera
El armisticio del 11 de noviembre de 1918 puso fin a la Gran Guerra, pero no detuvo los combates. Tampoco permitió volver a la época anterior. Los tratados de paz de 1919-1920 impuestos a los vencidos cambiaron el mapa político del continente europeo y dieron lugar a nuevos y violentos conflictos.
En 1974, Dominique Venner publicó Baltikum, una síntesis dirigida al público francés sobre los combatientes alemanes en los Estados bálticos y Silesia. Tres años antes, Jean Mabire había escrito la historia del último general ruso blanco contra el Ejército Rojo, el barón von Ungern-Sternberg. En cambio, no lejos de Francia, la apasionante aventura de Fiume ha estado durante mucho tiempo rodeada de misterio, ya que este golpe de fuerza desconcertó a todos los defensores de la más rígida taxonomía política.
Situado hoy en Croacia con el nombre de Rijeka, en la costa del mar Adriático, el puerto de Fiume se abre al golfo de Carnaro, hoy conocido como bahía de Kvarner. Ciudad pintoresca poblada por italianos, húngaros y eslavos (croatas y eslovenos), antes de 1918 Fiume pertenecía al Imperio de Austria-Hungría, en concreto al Reino de Hungría (o Transleithania), en el que, al igual que los territorios croatas, gozaba de una autonomía especial.
Antes de que Italia entrara en la guerra del lado de la Entente en 1915, desafiando su pasada alianza con los imperios centrales, los nacionalistas italianos ya la reclamaban. Al igual que las vecinas Trentino, Istria y Dalmacia, Fiume era considera como una tierra irredentista. Sin embargo, las negociaciones de paz impuestas por los vencedores, el eje Washington-Londres-París, privaron a Italia de la mayoría de estas reivindicaciones territoriales. Sin embargo, los vencedores no asignaron Fiume al nuevo reino de serbios, croatas y eslovenos (la futura primera Yugoslavia). Como en el caso de Danzig, la ciudad recibió un estatus internacional que no satisfizo a nadie.
El sentimiento de «Victoria mutilada» y la terrible crisis socioeconómica que asoló la Península alimentaron el descontento popular. Los italianos se sintieron repudiados y abandonados por sus recientes aliados occidentales. En un ambiente lleno de tensiones políticas y sociales, el escritor y héroe de guerra Gabriele D'Annunzio (1863-1938) asumió el papel de condottiere.
A la cabeza de un grupo de voluntarios motivados, los «legionarios», D'Annunzio tomó Fiume y sus alrededores el 12 de septiembre de 1919. Fue el comienzo de una larga prueba de fuerza con el gobierno italiano, los Aliados y Belgrado. Criticado por los políticos italianos que desaprobaban su iniciativa militar, Gabriele D'Annunzio proclamó la República Libre de Fiume o Regencia Italiana de Carnaro. Ningún otro Estado reconoció el nuevo Estado. El Fiume se convirtió así en un «Estado fantasma», uno de los primeros de este estilo en el siglo XX. En 2021, todavía existen varios Estados de este tipo en los cinco continentes, como Transnistria, Artsaj, Osetia del Sur-Alania, Abjasia, las Repúblicas Populares del Donbass y, más recientemente, Sealand, la plataforma independiente frente a las costas británicas, y el Principado de Hutt River, en Australia Occidental.
Para sobrevivir al bloqueo impuesto por el ejército italiano, los fiumanos no dudaron en recurrir a un original sistema económico. Claudia Salaris lo denomina «economía pirata». El anarquista estadounidense Hakim Bey, teórico de la Zona Autónoma Temporal (ZAT), asocia sin reparos la experiencia de Fiume a las «utopías piratas» de los siglos XVII y XVIII que estudió bajo su verdadero nombre de Peter Lamborn Wilson. En su opúsculo subversivo, recuerda que las exiguas unidades navales de la república del Danubio tomaron «el nombre de Uscochi de los extintos piratas que vivían en islas de la costa local y asaltaban barcos venecianos y otomanos». Los modernos Uscochi dieron algunos golpes de efecto: ricos barcos mercantes italianos ofrecieron de repente un futuro a la República: ¡dinero en las arcas! Claudia Salaris confirma que «la extraña economía de la Fiume refleja las grandes líneas del antiutilitarismo», el antiutilitarismo que Alain Caillé desarrollaría siete décadas más tarde en Francia en el seno del MAUSS (Mouvement anti-utilitariste dans les sciences sociales).
Gabriele D'Annunzio sabía que Fiume simbolizaba la «nación proletaria oprimida». Creó la Oficina de Relaciones Exteriores, que denunció la Sociedad de Naciones en manos británicas. Esta organización alentó la formación de una Liga de Fiume abierta a todos los pueblos agraviados, ocupados y colonizados. La Regencia italiana de Carnaro apoyó a los alemanes fuera de Alemania, a los irlandeses, a los flamencos, a los malteses, a los egipcios, a los indios, etc. «Esta actitud», señala Claudia Salaris, «prefiguraba con excepcional claridad la idea que abrazaría la generación que crecería en los años sesenta con respecto al Tercer Mundo, los “condenados de la tierra”, frente al imperialismo y la supremacía económica y cultural de Estados Unidos».
Estos sonados golpes militares y diplomáticos no impidieron el fin de la Regencia. El 30 de diciembre de 1920, tras un potente cañoneo de la flota italiana, Gabriele D'Annunzio y sus legionarios abandonaron la ciudad. La ciudad se convirtió en el Estado Libre de Fiume hasta 1924, cuando Italia logró finalmente anexionársela. La «epopeya de Fiume» dejó una huella imborrable. El joven movimiento fascista adoptó el decoro (discursos-diálogos con el público), los símbolos, los eslóganes («¡A nosotros!») y ciertos ritos de los legionarios. Sin embargo, sería un grave error considerar la expedición de Fiume como una repetición de la marcha sobre Roma. Mientras que muchos legionarios se unieron a los arditi con camisas negras, otros adoptaron una decidida postura antifascista.
La ideología de la República Libre de Fiume o Regencia Italiana de Carnaro era, por lo tanto, compleja y, sobre todo, muy heterogénea. En ella influían nacionalistas conservadores, futuros fascistas, veteranos del futurismo, sindicalistas revolucionarios, socialistas intervencionistas, anarquistas, partidarios tempranos del bolchevismo ruso y corporativistas. Sabedor de que el futuro de Fiume descansaba únicamente sobre sus hombros, Gabriele D'Annunzio, que concibió aquí su obra cumbre, demostró ser un poeta clarividente (Vate) y un líder muy deficiente. Encargó a su jefe de gabinete (el equivalente a primer ministro), el sindicalista revolucionario Alceste De Ambris, la redacción de una constitución. Promulgada el 8 de septiembre de 1920, la Carta Carnaro se inspiraba en la antigua Res Publica romana y en las comunas libres italianas de la Edad Media. Representaba un audaz compromiso entre monarquía, aristocracia y democracia. Hombre de la izquierda intervencionista, Alceste De Ambris fue testigo de cómo el propio Vate reescribía gran parte del texto antes de su publicación oficial.
El aspecto monárquico es inequívoco, dada la primacía ejercida por Gabriele D'Annunzio. El texto preveía también la posibilidad de nombrar un «dictador» en caso de crisis grave. Como comandante del Estado, el hombre de letras italiano lo supervisaba todo. Su gobierno constaba de siete ministerios (Guerra, Asuntos Exteriores, Policía y Justicia, Trabajo, Economía, Hacienda y Educación). Llama la atención el carácter democrático del gobierno. Se concede la ciudadanía a todos, incluidas las mujeres, que por fin tienen derecho a votar y a presentarse a las elecciones. El habeas corpus las amparaba en teoría. El Fiume dannunziano era también una democracia directa, basada en la autonomía local y funcional, por un lado, y en el trabajo productivo, por el otro. Es a través de las tareas productivas donde aparece el aspecto aristocrático, una aristocracia del y por el trabajo. Además de un salario mínimo garantizado, el mundo del trabajo se organizaba en nueve gremios (trabajadores industriales y agrícolas, marinos, técnicos industriales y agrícolas, gerentes y directores de empresas privadas, personal administrativo y secretarios privados, profesores y estudiantes, abogados y médicos, funcionarios y trabajadores de cooperativas), mientras que el décimo, informal, reunía a artistas y creadores (¿el propio D'Annunzio?).
¿Cómo funciona este Estado democrático-corporativista o nacional-libertario? El Parlamento tiene dos asambleas:
- el Consejo de los Mejores, elegido por sufragio universal para un mandato de tres años y responsable de los asuntos de soberanía;
- el Consejo de los Gremios, compuesto por sesenta miembros elegidos por los propios gremios para un mandato de dos años, que se ocupa de las cuestiones económicas, el comercio, los asuntos sociales, los servicios públicos, el comercio y los transportes.
Por último, el poder judicial se dividía entre el Tribunal Penal, el Tribunal Civil, el Tribunal Laboral, el Tribunal Municipal y el Tribunal Supremo.
¿No remite este Estado-ciudadano a las instituciones de la república más antigua del mundo, San Marino? Aún vigente en 2021, su constitución data de principios del siglo XVII. La «Serenissima República» tiene un sistema asambleario. Elegido cada cinco años, el Gran y General Consejo nombra cada seis meses a dos Capitanes Regentes, los jefes de la República. Gobiernan con el Congreso de Estado (un gobierno de diez Secretarías de Estado).
Recordamos que en la Carta de Carnaro se dice que «la música es el principio de organización». Gabriele D'Annunzio comprendió instintivamente la importancia de «la música como factor social revolucionario». «La Constitución de Carnaro era mucho más, como le gustaba señalar a D'Annunzio, que un símbolo, un mito, una prefiguración poética e imaginaria de una sociedad futura. Es cierto que nunca tuvo la oportunidad de aplicarse plenamente, ni siquiera en la ciudad de Fiume, pero en el clima de la época representó quizás la síntesis más interesante y siguió siendo un punto de referencia para los especialistas en derecho corporativo y constitucional a lo largo de los años de la Italia fascista primero y democrática después». Recuperada por cierta extrema izquierda, reivindicada por cierta ultraderecha y examinada por algunos partidos no alineados, la breve tentativa política y humana de Fiume sigue siendo, sin embargo, un bello ejemplo de vanguardia política y estética. Más que nunca, es una lección sobre la que merece la pena reflexionar.
2 notes
·
View notes