#livros das sombras
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"- Eu o amava de verdade, você verá isso um dia - (esse dia em que os culpados afirmam que sua inocência será reconhecida e que, por motivos misteriosos, nunca é aquele em que são interrogados)"
À sombra das moças em flor - Marcel Proust
#quotes#trechos de livros#amor#trecho de livros#marcel proust#em busca do tempo perdido#livro#à sombra das moças em flor
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queen of shadows - sarah j mass
synopsis
everything celaena sardothien has ever loved has been taken from her. but at last the time of retribution has come. vengeance promises to be as harsh as the steel of orynth's sword—her father's sword. finally celaena returned to the empire; for justice, to rescue his kingdom and confront the shadows of the past.
the assassin is dead. she embraced the identity of Aelin galathynius, queen of terrasen. but before claiming the throne, she must fight. and she will fight. for her cousin, the general of the north... a warrior prepared to die for his liege; for his friend dorian, a prince trapped in an unimaginable prison; for her people, enslaved by a cruel king and awaiting the triumphant return of their leader; for your carranam and the release of magic.
in advancing her plan, however, aelin must watch out for old enemies. and open your heart to new and unlikely allies. all while the valg continue to work in the shadows. and manon blackbeak, the winged leader of the thirteen, trains her flying beasts. but it's from morath, the mountain stronghold of the duke of perrington, that a threat like no other promises to tear his band of rebels and his newly formed court apart.
my opinion
i finished this book with a mixture of warm in my heart and genuine dread, i liked that they finished this book relatively well and apparently they are finding each other, but i already imagine that what comes after that is total terror. I liked that the book serves two purposes, ending Celaena's story and starting Aelin's story, I have to admit, I love Celaena, I didn't want to have to say goodbye to her, but that's the way.
so far I don't swallow the fey very well, I find everything about them very strange, the author portrays them as animals, I feel a certain embarrassment when I have to read descriptions of these “male”, “female”, “male-smelling” people , I can't take it seriously. another thing that bothers me is the age of the characters, (this goes for most books of the genre), the characters are very young and have already lived through absurd things, I think it would be more realistic and present characters in their 20s.
“when you break the shackles of this world and forge the next, remember that art is as vital as food to a kingdom. without it, a kingdom is nothing and will be forgotten in time. I've already saved enough money in my crappy life that I don't need more, so you'll understand very well when I say that no matter where you establish your throne or how long it takes, I will come to you, bringing song and dance.”
I'm not a big fan of Rowan and Aelin as a couple, mainly due to their age difference, but I like how they both know their past and respect the history they had before they met, few couples have this maturity.
I was happy that by the end of the book, all the characters showed good development, - even the chaol who was driving me crazy. several things made me scream like a fool, SPOILER to aelin saving manon's life, keltain sacrificing himself and saving elide, manon helping dorian, dorian's friendship with aelin, all of these were parts of the book that definitely they tagged me. SPOILER
finally, aelin ashryver galathynius was home.
title: queen of shadows
author: sarah j mass
rate: 5
#bookblr#livros#resenha#review#book#fantasy#sarah j maas#queen of shadows#rainha das sombras#aelin galathynius#rowan whitethorn#rowan x aelin#manon blackbeak#dorian havilliard
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Trilogia do Reino - Jennifer A. Nielsen
Em uma terra muito distante, a guerra civil é iminente. Para unificar o reino, um nobre chamado Conner trama um plano ousado, procurando por um garoto que se passe pelo filho desaparecido do rei e assuma o trono. Quatro órfãos são forçados a competir pelo papel, entre eles o rebelde e esperto Sage.
O Falso Príncipe
O Rei Fugitivo
O Trono das Sombras
Quando fizer o download de algum livro, deixa uma reposta para outras pessoas baixarem tamb��m.
Beijinhos e aproveitem ! <3
#ficcao#romance#o falso principe#guerra#reinos#jennifer a nilsen#livros em pdf#download livros#o rei fugitivo#o trono das sombras
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Ela não é nem de longe a mocinha e ele definitivamente não é o vilão
Título: Coroa de Sombras Autora: Tricia Levenseller Classificação: +16 Avaliação: ★★★★★
Lançado em 2022, Coroa de Sombras é o primeiro romance da escritora Tricia Levenseller a ser traduzido para o português. A autora é conhecida por seus best-sellers dos gêneros fantasia e romance para jovens adultos. Chegando no Brasil através da editora Planeta Minotauro que vem trazendo lançamentos que estão rapidamente conquistando o público, tais como: A Canção de Aquiles, Promessas Vazias, Sombra e Ossos, entre outros. O livro conta com pouco menos de trezentas páginas divididas em trinta capítulos narrados em primeira pessoa. Os capítulos são curtos e focam o tempo todo nos sentimentos e ações da personagem principal.
Dentro deste livro somos apresentados a Alessandra Stathos, uma mulher que por ser a segunda filha nunca teve prioridade nas decisões que o pai tomava para ela, sua mãe faleceu a muito tempo então a única pessoa com quem ela pode contar é consigo mesma. Cansada de ser subestimada, Alessandra decide colocar em ação um plano um tanto quanto ambicioso, ela pretende cortejar o Rei das Sombras, casar-se com ele e então matá-lo para usurpar o trono. Ela está disposta a fazer o possível e o impossível para conquistar seu lugar no mundo e sua ambição logo é recompensada quando após um baile o próprio Rei a convida para fazer parte de sua corte.
Ela acredita ter conquistado a afeição do Rei, mas ele tem planos diferentes para ela, e aparentemente, Alessandra não é a única pessoa querendo matá-lo para conquistar o reino. Ela e o Rei passam a se encontrar em jantares e bailes, tem conversas longas durante as madrugadas e parece que quanto mais ela o conhece, mais ele e Alessandra se aproximam, mas essa proximidade parece fazer com que o coração de Alessandra fique indeciso com relação a seu plano inicial. Mas nem tudo são flores, quando tudo parece ir bem, os fantasmas do passado de Alessandra parecem frequentemente voltar para atormentá-la, sejam antigos amores, seus pecados ou até mesmo sua família tentando atrapalhar seus objetivos.
Coroa de Sombras se prova uma fantasia ao mesmo tempo profunda, intrigante e frenética. A construção de mundo não é objetivo principal da autora, o foco é na personagem principal, em seus sonhos e desejos e como ela pretende lutar para que eles se concretizem, mas nem por isso ela deixa de desenvolver bem os demais personagens, principalmente o Rei. Temos vários personagens adoráveis e na mesma proporção temos pessoas odiosas ao longo da história. Cheio de intrigas, reviravoltas e críticas sociais, principalmente no que diz respeito aos direitos das mulheres em um período que pode ser tido como medieval.
Alessandra é nesse meio uma inspiração, indomável e independente, uma mulher que se destaca não só por sua beleza, mas também por ser fiel a si mesma e insistir para conquistar aquilo que almeja, ela e o Rei se tornam um casal notável, tendo em vista que apesar das diferenças, se complementam de uma forma surpreendente. Sem dúvidas o ponto alto da história é a reviravolta final, chocante e imprevisível seriam as melhores palavras para definir essa experiência.
A obra é de fato envolvente e apesar de ter adorado a história, não a divulgaria como um romance entre inimigos que se tornam amantes, pois não é. Creio que muitas pessoas iniciaram a leitura com essa expectativa e eventualmente acabaram se frustrando. Posso finalizar dizendo que recomendo a leitura e que minha única tristeza é o fato de que esse livro acaba, me apeguei tanto aos personagens principais que definitivamente gostaria se ter mais dos dois, mas ao mesmo tempo consigo afirmar que a autora conseguiu criar uma história que se encerra muito bem, sem deixar pontas soltas e com o fim de todos os personagens muito bem encaminhado, sem dúvidas uma ótima opção para quem busca uma fantasia de volume único.
Resenha por: Martha Cristina IG: @eu.e.meus.livros
#tricia levenseller#coroa de sombras#the shadows between us#alessandra stathos#kallias#rei das sombras#resenha#livro#fantasia
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passando a limpo minhas anotações depois de 2 anos de papel entulhado
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O Rei das sombras – Javier Cercas
O autor escreve a história de seu tio-avô que morreu muito jovem, aos 19 anos, na Guerra Civil Espanhola. Ele sempre se envergonhou da história da família, que apoiou Franco. Após muitos anos, sem grande vontade de escrever o livro, foi pesquisando a vida desse jovem, que morreu tão cedo e descobrindo coisas que o fizeram mudar sua visão estereotipada desse tio. Uma leitura um pouco difícil, pois fala-se muito das batalhas, dos pequenos povoados e vilas, sem que o livro tenha trazido um mapa que poderia auxiliar muito a leitura.
“De repente compreendi. E o que eu compreendi foi que Manuel Mena nem sempre havia sido um jovem idealista, um intelectual provinciano deslumbrado com o brilho romântico e totalitário da Falange, e que em algum momento da guerra tinha deixado de ter a mesma noção da guerra que os jovens idealistas sempre tiveram e deixara de considerar que a guerra era o lugar onde os homens se encontram consigo mesmos e exibem sua verdadeira grandeza. Por um momento eu disse a mim mesmo que Manuel Mena não só havia conhecido a nobre, bela e antiga ficção da guerra pintada por Velásquez, mas também a moderna e aterrorizante realidade pintada por Goya, e disse a mim mesmo que a condensação febril de sua vida fugaz de guerreiro lhe permitira passar em poucos meses do ímpeto exaltado, utópico e letal de sua juventude para o desencanto clarividente de uma maturidade precoce.”
Velásquez – A rendição de Breda
Os fuzilamentos de 3 de maio – Goya
Os desastres da guerra (gravura 39) - Goya
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- […] Foram os livros que me impediram de me matar depois que achei que não pudesse amar ninguém, nem ser amado por ninguém. Foram os livros que fizeram com que eu sentisse que não estava completamente sozinho. Eles podiam ser sinceros comigo e eu com eles. Li suas palavras, o que você escreveu, que às vezes se sentia sozinha e com medo, mas sempre corajosa; a forma como enxergava o mundo, as cores, texturas e sons, eu senti… senti a maneira como você pensava, tinha esperança, sentia, sonhava. Eu tinha a sensação de estar sonhando, pensando e sentindo com você. A menina por trás das cartas. Eu a amei desde o instante em que as li. E ainda amo.
Tessa começara a tremer. Isso era exatamente o que sempre quis que alguém dissesse. O que sempre quis, no canto mais escuro do seu coração, que Will, O menino que adorava os mesmos livros que ela, as mesmas poesias, o que ela fazia rir mesmo quando estava com raiva. E ali estava e diante dela, dizendo que amava as palavras do seu coração, o formato da sua alma. Falando que ela jamais havia imaginado que alguém falaria um dia. Dizendo a ela algo que jamais seria dito novamente, não dessa forma. E não por Will.
(Príncipe Mecânico- Cassandra Claire)
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— É disso que tenho medo. De me perder, nisso. Em você.
Contos da Academia dos Caçadores de Sombras
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HEY DIVA
Como vc acha q os boys reagiriam a uma reader que é SUPER girly?
tipo, tem uma conta falando de maquiagem e livros, é super girls girl etc...
eu fico imaginando eles entrando nesse mundinho delas🥺
oi linda⚘️ como um girly girl☝🏻 irei falar um pouquinho sobre nosso barbie world com os que me vieram em mente
editado pq sou burra
Felipe Otaño (pra mim) não engana ninguém e deve amar uma diva toda princesinha🧚♀️ ele é do tipo que adora fazer compras contigo e até ser seu bonequinho quando você diz que tal roupa combinaria com a sua ou fala que tipo de roupas ele fica lindo🥰😇 ainda tem o fato dele amar ir na sua casa e ver todos os livros, roupas, maquiagens e paredes coloridas. Eu sempre imagino tbm que ele deixa vc testar maquiagem nele - em segredo pq ele tem uma reputação tbm ne - se vc quer ver a textura de uma sombra ou base, ele se oferece pra ser seu voluntário deixando vc passar na pele dele. Se vc tiver um canal ou conta no insta q fala de maquiagem, Pipe é seu maior fá🥳 sempre compartilha e as vezes é qm tira suas fotos. Um adendo para o meu self insert🙈☝🏻 ele adora mexer no seu cabelo, se for cacheado ainda mais pq gosta de finalizar os cachos e fazer os penteados que ele vê na Internet. - vale pras divas de cabelo liso tbm🫦
Enzo vogrincic... esse aqui com certeza adora uma garotinha bem girly⚘️💋 acho q teve até um tempo q nas redes sociais falavam que ele gostava de patty💅 e padrão então tenho certeza que sempre que viaja vê alguma maquiagem, roupa ou livro compra tudo que lembre vc, cada viagem é uma mala praticamente de presentes para ti. Também vejo ele como alguém q não é muito de expor a relação, mas se vc fosse uma blogueira ou sla, ele sempre comenta e compartilha🥰 Ele sempre pede pra saber a história dos livros que vc lê pq qualquer coisa que vc faz é do interesse dele e só de te ouvir falar, Enzo já fica todo bestinha te admirando.
O Fran por razões óbvias iria adorar ter uma melhor amiga e namorada para compartilhar tudo. ele sempre compra lançamentos de maquiagens pra testar em ti e também ama mexer no seu cabelo. se vc tem um insta focado nessas coisas, ele sempre vai te ajudar e a maioria do conteúdo é orientado por ele⚘️
Rafa me passa uma vibe que adora uma princesa tbm🕊 ama acompanhar seu mundinho de perto, sempre curioso sobre o que significa cada item que você passa ou coloca, adora comprar acessórios para te enfeitar e compra livros tbm, por mais que não se interesse mt pelo conteúdo da obra iria te fazer perguntas conforme vc fosse surtando com a leitura. Apesar de ser low profile, quando vcs começassem a namorar o perfil dele viraria um santuário de fotos conceituais suas❤️ (valentino tbm)
Matias me passa uma vibe que não tem preferência, mas adora mt uma namoradinha toda fofa. só que com crtz demonstra isso de uma forma bem perturbada, por exemplo bagunçando suas maquiagens perguntando o que é tudo e passando no rosto pra ver como fica, mexe no seu cabelo dizendo que quer testar um negócio (se prepara pra desfazer os nós depois), pega seus livros e lê o final pq fica ansioso. Comenta mt safadeza nos seus vídeos te matando de vergonha.
Esteban tbm me passa a msm vibe do Enzo🫦 só irei adicionar que ele foca mais em roupas pra vc, enlouquece mt quando faz compras e vc desfila pra ele com um salto alto, sempre termina em safadeza e vc tendo que lavar as roupas novinhas. Ja falaram mt isso aq no tumblr, mas é OLD que esse homem dorme quando vc maqueia ele e fica lindao com sombras coloridas (off meu sonho ter um homem pra testar maquiagem). adora quando vc lê pra ele, principalmente as putarias do livro🕊
Simon apesar de ser nosso cachorrao, adora ter uma girly girl pra chamar de dele. Vejo mt ele como uma linguagem de amor sendo atos de serviço, sempre te ajuda com tudo, por exemplo limpa seu rosto depois da make, limpa sua estante de livros, limpa sua bancada depois de se arrumar, e tambem fica louco quando vc faz umas maquiagens mais ousadas - adora sujar de porra sua carinha cheia de blush e sombra rosa. fui🏃♀️➡️🏃♀️➡️🏃♀️➡️🏃♀️➡️🏃♀️➡️
O Fernando AMA ter uma princesinha e isso é algo que ele leva mt a sério☝🏻 te banca em tudo, oq vc pede ou nem pede ele ja compra e faz testar pra ele. Adora suas saias e vc toda fofinha lendo com as roupinhas bem girly💋 Entra mt na vida sexual de vcs pq asaim como citei no simon e no esteban ama vc toda arrumadinha com as roupinhas fofas pra te destruir na pica depois. em casa vc só chama ele de papi 🥰🥰🥰
#enzo vogrincic#felipe otaño#pipe otaño#esteban kukuriczka#rafa federman#fran romero#matias recalt#simon hempe#Fernando Contigiani#ask 🍒
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𝟐 𝐟𝐚𝐬𝐭, 𝟐 𝐟𝐮𝐫𝐢𝐨𝐮𝐬. I
✨ Pode ter certeza que tudo seria um milhão de vezes mais fácil se eu não tivesse me apaixonado por você. Você é a minha ruína.
— notas. notas no fim. aqui jaz o jungkook de velozes e furiosos que me pediram❤️. — conteúdo fluff, enemies to lovers . — avisos. por enquanto, minimamente sugestivo.
É de conhecimento público, que algumas pessoas dizem que amar é mágico. Se doar interinamente para alguém, dedicar-se a fazer com que os dias daquela pessoa sejam repletos de carinho e paixão.
E, bem, você é uma dessas pessoas. Sonha em amar alguém como se fosse o último dia de sua vida. Ser agraciada com um sentimento tão sufocante, que fizesse com que seu coração parecesse explodir. Queria um romance como os dos livros, dos cinemas. Algo poético, grandioso.
Mas tudo que conseguira, fora um namorado estúpido no ensino médio, e um patético começo de vida adulta.
Estava feliz por ter passado em Stanford em medicina. Era a melhor aluna de sua turma no colegial, então não poderia ser diferente. Havia batalhado duro para conseguir tão sonhada vaga; mas, ainda sentia um aperto estranho no peito todas as vezes em que pensava que algo lhe faltava.
Ele.
O maldito encrenqueiro do curso de engenharia mecânica. Se você pediu ao universo um sentimento puro, avassalador e sincero, fez algo errado, pois ganhou unicamente ódio, e repulsa por aquele ser. Coisa que nunca havia sentido antes por ninguém.
Mas Jeon Jungkook era diferente. O maldito fazia questão de provocá-la pelos corredores, lhe chamava de patricinha, de boneca, roubava suas presilhas e lenços, e outrora havia até espalhado o boato de que você era virgem. Boato não tão errôneo, no caso, mas não era importante.
Ele não deveria ser importante.
Os boatos sobre ele, no entanto, eram que Jungkook era participante de corridas ilegais, e venda de drogas ilícitas. Tão pouco você acreditava, afinal, um estudante de Stanford um traficante?
Mas seu coração bateu descompassado no momento em que descobriu ser verdade. Pelo menos a primeira parte. Rodou pela universidade inteira o vídeo de Jungkook fumando em uma maldita corrida ilegal promovida por traficantes da cidade.
Pudera, ele ficava para cima e para baixo com aquele maldito Corvette vermelho. Se sentia boba por ter duvidado dos boatos. Ele deveria ser um delinquente, afinal.
“Você se importa muito com o que dizem sobre ele, não?” — é o que Ava te pergunta, enquanto estão encostadas em seu audi. Você mantém seu olhar duro para Jungkook, que ri encostado no capô do próprio carro — o maldito Corvette, enquanto conversa com dois de seus amigos também coreanos. Hum… Jimin e Yoongi?
“Eu?” — responde indignada. “Eu quero mais que esse garoto se exploda.”
E era a maior mentira já dita por você. E se ele se machucasse nessas corridas? E se ele batesse o carro? E se ele se envolvesse com pessoas perigosas e acabasse se metendo em problemas? Ao menos conseguia entender o motivo daquele incômodo em seu peito. Mas algum tempo depois passaria a entender.
Fora em uma noite de terça-feira. O campus estava vazio, o tempo nublado, sem estrelas no céu, o que deixava tudo mais escuro. Você caminhava até o estacionamento, tendo a infeliz sensação de que alguém te seguia. A cada passo, seu peito apertava. A boca seca, os olhos enchendo-se de água. Sentia ali a presença de alguém. Quando olha para trás, e consegue ver a sombra de um homem com um boné, engole o ar com todo o pânico que consegue, e passa a correr.
Corre com dificuldade, se amaldiçoa por estar com aqueles malditos saltos, mas corre como se sua vida dependesse daquilo. Talvez realmente dependesse. Ainda olhando para trás, afim de ver se continuava sendo seguida, só sente o baque quando seu corpo se encontra com algo. Grita da maneira mais aguda que consegue, virando novamente o rosto para frente. Assim consegue enxergar o confuso rosto de Jeon Jungkook em sua frente. Ele a segura pelos braços, enquanto você o encara estática. Nunca pensou que ficaria tão feliz em vê-lo, suspira em alívio, deixando as lágrimas descerem com mais velocidade.
“E-eu… T-tinha um cara… E-le… Jungkook…” — você tremia sob o toque dele. Gaguejava enquanto chorava copiosamente. Sentiu tanto, tanto medo.
“Coé, patricinha…” — ele diz baixinho, sem ao menos saber o que fazer. O polegar acaricia seu braço de leve. “Calma. Não chora não.”
Podia se dizer tudo sobre o Jeon, que ele era um cafajeste, um grosso, um delinquente. Mas ele não conseguia ver uma garota chorar. Isso o matava. Principalmente se a garota em questão fosse você.
“Tá tudo bem, eu tô aqui.” — diz baixinho, o vento batendo em vocês, trazendo o perfume gostoso dele para seus sentidos. Imediatamente você se joga nos braços dele, o abraçando pelo tronco.
Jungkook parece realmente preocupado. Ele a abraça de volta, pressionando-a contra seu peitoral. Em sua cabeça se passam mil e uma dúvidas e possibilidades, mas naquele momento ele tem a melhor escolhe: permanecer quieto e afagar seus cabelos.
Quando você finalmente se acalma, sentindo seus soluços pararem e seu corpo relaxar de leve, ainda te abraçando ele indaga:
“O que aconteceu? Pode me falar?”
“Um cara ‘tava me seguindo. Eu comecei a correr, e ele começou a correr atrás de mim. Eu ‘tava sozinha, e fiquei morrendo de medo.” — disse. Sua voz estava abafada por ainda estar enfiada no peitoral do maior.
“Ah.” — ele diz.
Não sabe o porquê da raiva descomunal que sente a seguir. Encontraria aquele cara. Perguntaria de suas intenções, e se possível — spoiler: seria possível —, daria uma surra daquelas nele.
“Você não pode andar sozinha essa hora pelo campus. Parece maluca.” — diz. É perceptível sua indignação.
Você franze o cenho, e sai do abraço no mesmo momento.
“Agora a culpa é minha?”
“Não foi isso que eu disse.”
“Ah, foi!”
“Você é insuportável, patricinha.” — Jungkook revira os olhos. “Tá de carro pelo menos?”
“É claro que eu tô.” — revira os olhos pegando a chave do carro em seu poço sem fim apelidado de bolsa.
“Então vê se toma mais cuidado pela rua. E se eu não estivesse aqui?”
Você limpa com as mãos as lágrimas que ainda molhavam suas bochechas rosadas. Realmente, se Jungkook não estivesse ali, você estaria em apuros. Mas não daria esse gostinho a ele.
“Se estiver esperando que eu me ajoelhe e te agradeça, pode sentar e esperar.”
É a última coisa que você diz antes de entrar em seu carro, e dar partida para voltar a seu apartamento.
“Que garotinha insuportável, mané.” — Jungkook nega com a cabeça, entrando em seu carro também.
Só não conseguia esclarecer o porquê de ter seguido seu carro sorrateiramente até seu apartamento. Ah, vai ver era só precaução pra ver se você chegaria bem. Faria isso por qualquer um. Ou… era por você, ser você, e queria garantir sua segurança.
Você negou quando Ava, e Louise quiseram ir no racha clandestino pós festa primaveril do campus. Não adiantou nada. Ava estava interessada em Mark, e Louise em Jimin, ambos iriam correr. Para não ficar sozinha, lá estava você, de braços cruzados, e de vela.
Centenas de pessoas dançavam, fumavam e bebiam pelas ruas de Palm Springs. O cheiro de combustível era evidente, assim como o enjoativo cheiro de borracha de pneu queimada. Você se sentia um peixe fora d’água.
“Mas que droga.” — resmunga para si mesma, cruzando os braços quando se vê sozinha. Aquele definitivamente não era um lugar para pessoas como você.
“Ah, não acredito. Patricinha.” — a voz dotada de sarcasmo denunciava quem era. Maldito.
Jungkook, todo de preto, como sempre, dava passos vagarosos em sua direção, cambaleando com charme, enquanto tragava um cigarro com a destra — o que o deixava estranhamente… Sensual?
“Agora que minha noite acabou mesmo.” — você revira os olhos.
“Falando sério. Isso aqui não é lugar pra você. Tá fazendo o que aqui?” — solta a fumaça. Seus olhos, a contra gosto, reparam a boca vermelhinha. Parecia hidratada.
“Vim acompanhar Ava e Louise.” — diz meio tímida. A bolsa colada no próprio corpo denuncia o quão acuada se sente.
Jungkook vira a cabeça até onde estão suas amigas, e seus amigos, respectivamente. Concorda de levinho, como se estivesse ponderando algo.
“Então ‘cê veio de vela.” — cruza os braços na altura do peitoral. Hum. Parece malhado. Você respira fundo, baixando a guarda, e assentindo com a cabeça.
“Parece que sim.”
“Então fica comigo.”
Você se engasga com a própria saliva. FICA COMIGO? Como ele se atrevia a insinuar algo do tipo? Você não era pra laia daquele delinquente maluco, e ele franze o cenho quando percebe o quão ofendida você parece.
“Ficar com você? Tá maluco, Jeon? Você deve ter sapinho!”
“Sua maluca, vai ver sua vontade de me beijar é muito grande, mas o fica comigo é no sentido de ficar na minha companhia.” — ele diz. Parece até se divertir, já que sua frase sai salpicada com humor, mas você se envergonha.
“Te beijar… Me erra. Só nos seus sonhos.” — você diz, e ele ri de lado. Se aproxima de você devagar, uma mão no bolso, e a outra ainda com o cigarro. Repara por fim os piercings na orelha, e na boca. A quantidade de tatuagens espalhadas pelo braço. Combinava com ele. Quando se dá conta, ele está perto demais. Parado em sua frente, o rosto a milímetros do seu.
“Nos meus sonhos eu faço muito mais que te beijar, patricinha.” — ele diz olhando diretamente para os seus lábios, e falta pouco para que você entre em colapso. Ele traga uma última vez, soltando a fumaça para o alto, e joga a bituca no chão. “Se quiser, minha proposta ainda tá de pé.”
GENTE!
e aí? gostaram? eu pretendo postar mais alguns capítulos, acho que o smut fica muito mais gostosinho de ler quando tem todo um contexto nele. então esse primeiro capítulo é um teste. o que acharam?
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"(...) saber que não há mais nada a esperar não nos impede de continuar a esperar."
À sombra das moças em flor - Marcel Proust
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A nostalgia é uma visitante frequente na minha rotina, essa senhora de passos leves sempre está disposta a me conduzir por corredores de memórias desbotadas pelo tempo. Caminho por essas alamedas invisíveis repletas de ecos de risos distantes e aromas de momentos nunca esquecidos. A minha vida parece um filme antigo com cenas que se desenrolam em silêncio, banhadas por uma luz dourada e suave. Cada lembrança é um toque de delicadeza e dor, uma mistura inebriante de saudade e melancolia. Me lembro de dias de sol, quando a infância era um campo vasto de descobertas e as noites eram pontilhadas por estrelas, cúmplices das minhas aventuras infantis. Havia uma inocência naqueles tempos, um frescor que hoje parece impossível de recapturar. No entanto, junto com a nostalgia, vem o arrependimento, um visitante mais severo e implacável. Ele carrega consigo o peso das escolhas não feitas, das palavras sufocadas, dos caminhos que por medo ou indecisão, nunca me permiti trilhar. O arrependimento é uma sombra que se estende sobre o passado, lançando uma penumbra sobre outrora. Há uma dor forte em revisitar esses momentos, pois alguns deles me dilaceraram por dentro e também em perceber que a vida, com toda a sua beleza efêmera, é também um mosaico de falhas e omissões. Me vejo diante de caminhos antigos, onde quem eu fui escolheu sempre o caminho mais seguro, mais previsível. E hoje, as possibilidades não exploradas se erguem como fantasmas, sussurrando: "E se..." ao vento. E é essa mesma dor que me torna mais humano, mais consciente da complexidade da vida e do destino. A nostalgia me ensina a valorizar os instantes de felicidade genuína, por mais rápidos que tenham sido. O arrependimento, por sua vez, me incita a ser mais corajoso, a abraçar o presente com uma certa urgência. Entre esses dois a minha alma balança, ora aquecida pelo sol do passado, ora resfriada pelo vento do que não foi. E assim continuo a minha jornada, carregando comigo a riqueza das lembranças e o peso dos arrependimentos, ambos essenciais para esse enorme livro que é a minha vida.
— Diego em Relicário dos poetas.
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Hoje, dormi uma hora a mais, mergulhando fundo antes de encarar a segunda-feira. O meu acordar se arrastou com essa lentidão, me vi um tanto já desinteressada pelo reflexo que via no espelho. A manhã foi preenchida por reuniões, vozes ecoando sem som, como quem assiste à televisão no mudo, e me pergunto se as palavras ao redor são mesmo reais ou apenas um zumbido que me cansa. Ao chegar em casa, soltei a bolsa e observei a cena: a cafeteira pela metade, o café frio, as xícaras vazias largadas pela casa, espalhadas como restos de presenças antigas, agora apenas sombras. Por acaso, aquela música tocou, aquela que antes doía fundo. Hoje, a melodia ainda trouxe um aperto, mas a dor não veio, apenas uma lembrança que se dissolveu, vestígios daqueles que passaram por mim como vento. Observei e-mails sem resposta, livros que não avancei, rascunhos abandonados. Em cada pedaço de papel, uma tentativa frustrada de entender o que nunca termina de ser dito, o vazio que, dia após dia, persiste em me ocupar. A melancolia é um peso velho, quase confortável, um desalento cravado em mim. Contudo, notei que existo num presente onde o passado é uma lembrança tênue e o futuro, uma estrada que já nem sei se desejo seguir. Enfim, exorcizei fantasmas de anos passados e cheguei ao presente, como quem desperta depois de um longo tempo distante. Agora só restamos eu e minha sombra, sozinhas com o peso da própria existência, e, na quietude deste cansaço crônico, me pergunto quanto mais poderei carregar. Estou à beira de me despedir, da doce intimidade de despejar emoções em palavras.
segunda-feira, novembro.
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A Lavanderia
Nota da autora: Esta é a minha primeira vez escrevendo uma fanfic. E, escolhi o ator Hugh Grant, simplesmente, por ser apaixonada por ele desde sempre! Espero que vocês gostem!💜
Não se pode entender completamente a conversação entre dois tímidos no amor, uma mulher e um homem. Ele tinha trinta anos; ela, vinte e oito. Encontravam-se todas as quintas-feiras na lavanderia abaixo do prédio dele, a apenas dez minutos da casa dela, que parecia pertencer a um outro mundo. O ambiente era marcado por luzes fluorescentes, derramando uma claridade sem vida sobre máquinas impessoais, que murmuravam seu constante vaivém.
Hugh, o homem de trinta anos, chegava primeiro, obedecendo ao relógio invisível que sincronizava seus encontros silenciosos. Vestia um uniforme descompromissado: shorts desbotados, uma camisa havaiana laranja e óculos redondos que emolduravam seus olhos azuis profundos, que flutuavam entre o riso e a melancolia — como quem sabe demais, mas não diz. Hugh levava uma vida tranquila em um apartamento assombrado por livros, poucas relações e alguns passeios. Seus hábitos, típicos de um adulto de trinta anos, traziam consigo a sombra de um dia nublado. Sua rabugice era mais do que um hábito; era quase uma forma de resistência ao mundo. Estranhamente, ele sorria, debochando da vida com um sarcasmo afiado que, contraditoriamente, abria portas. Seu riso, tirado à força, não era oferecido, mas tomado. Sua acidez, muitas vezes fora de lugar, carregava uma lucidez desconcertante, capaz de revelar verdades que as palavras suaves evitavam. Mesmo os mais rigorosos defensores do equilíbrio e do politicamente correto não conseguiam resistir; quando suas piadas cortavam o ar, riam. Talvez porque ele possuía o dom cruel de expor, com zombaria, o absurdo de uma moralidade que muitas vezes é máscara, não essência.
A mulher de vinte e oito anos chegou depois, e seus passos já eram acompanhados pelos azuis profundos de Hugh desde que ela saiu de seu Fiat Uno lilás, estacionado do outro lado da rua. Naquele dia, ela carregava uma quantidade maior de roupas, indicando uma faxina recente em seu armário. Vestia uma camisa pink desproporcional, com “Britney Come to Brazil” estampado em letras exageradas, que parecia prestes a engoli-la. A calça legging preta e verde era a única peça realmente funcional no visual, mas havia algo de performático em sua postura. Seus gestos eram deliberadamente lentos, como se cada movimento fosse parte de uma sutil apresentação que só Hugh apreciava. Contudo, ela era uma diva acorrentada. Tantas emoções mal vividas, tantos desejos que ela apenas roçava de leve, com medo de que o caos a consumisse. Vivia à beira do desespero, o coração sempre acelerado, mas sem nunca se entregar por completo. Porque tinha medo. Medo de que, ao se permitir sentir tudo, seria puxada para um abismo do qual não saberia voltar.
Mas também, Hugh queria viver intensamente. Queria tanto que quase doía. Mas o medo era uma segunda pele. Entre essa pele e o desejo, ele criava sua própria performance sarcástica, composta de gestos perfeitos e olhares aparentemente desinteressados, como se dissesse ao mundo que, um dia, talvez, se permitiria sentir tudo o que não ousava tocar.
A porta da lavanderia tilintou com a entrada da mulher, mas o som foi rapidamente absorvido pelo ambiente. Hugh, ao ver a grande cesta de roupas da mulher que admirava em segredo, começou a enrolar nos movimentos, estendendo o processo para poder ficar mais tempo. Lavar roupas era apenas o pretexto para estar ali. Eles se cumprimentavam com um "boa tarde" educado, palavras quase automáticas que sempre paravam ali. Nada mais além disso.
Porém, naquela quinta-feira, às 16h50, ele decidiu agir. Hugh ajeitou os óculos com um leve toque no aro, como fazia sempre quando tentava disfarçar a curiosidade. Mais à frente, ela dobrava meticulosamente uma blusa, como se a precisão de seus movimentos pudesse conter os pensamentos dispersos, claramente distantes das roupas.
— Senhorita... o que você faz quando não está lavando roupa? — perguntou Hugh, quebrando o silêncio.
— Leio... — respondeu ela, surpresa com a pergunta.
Ela tinha no carro um romance de Leopold von Sacher-Masoch, em uma velha tradução, mas às vezes se esquecia daquela leitura. Quando estava sozinha, despia-se de todas as convenções sociais. Talvez dançasse pela casa, sem plateia, deixando seu corpo se mover livremente, como se, no silêncio do lar, pudesse ser a mulher que sempre quis ser. A música alta a embalava por um breve momento de fuga, mas logo o medo voltava, segurando-a pela mão e sussurrando que sentir demais era perigoso. Então, sentava-se no sofá, perdida em pensamentos e sonhos não realizados. Somente nos últimos minutos antes de dormir relia trechos de outros livros ou olhava para o teto, desejando viver mais. Mas havia sempre aquela barreira invisível que a mantinha no mesmo lugar. Um dia, quem sabe, ela prometia a si mesma que deixaria as emoções dominarem, que viveria tudo de uma vez.
Ela olhou por cima do ombro, e as luzes fluorescentes destacaram o cabelo castanho acinzentado que caía com descuido sobre a testa de Hugh, dando-lhe um ar de constante despreocupação. Ele pegou suas roupas recém-secas e as transferiu para o lado dela.
— Ainda não foi embora? — perguntou ela.
— Não, parece que minhas roupas estão demorando mais do que o normal — respondeu Hugh, lançando-lhe um olhar de relance.
— Que paciência... — disse ela, fitando-o, duvidando da justificativa.
Ambos já sentiam o peso dos olhares há algum tempo, mas, naquele dia, o peso parecia maior, quase palpável. Hugh, sem advertir, deixava escapar o vulcão de emoções que mantinha adormecido. Talvez não estivessem adormecidas, apenas mentiam, para não afligir.
— Eu nunca vejo você ir embora. Normalmente, você diz "boa tarde" e desaparece — mentiu ela, pois sempre esperava, apaixonada pelo mistério que ele representava.
— Sério? Sempre vou depois de você, senhorita. Estranho é você entrar no carro quando o crepúsculo já foi embora. Não tem medo de almas do outro mundo?
— Acho que não... o céu é bonito nesse horário.
Isso os confundia. Uma paixão silenciosa que não era tranquila e que não o deixava em paz. A presença dela, mesmo quando serena, despertava nele um desejo de mais. Ele a queria por inteiro, cada emoção reprimida, cada gesto que ela sufocava, cada riso que ela não permitia soltar. Havia nela uma intensidade contida que o fazia desejar não apenas a mulher que via, mas também a mulher que ela ainda não tinha coragem de ser. O que atraía Hugh era justamente o que ela tentava esconder.
E isso os confundia ainda mais. Como se apaixonar por algo que ainda não existia por completo? Ela não era apenas quem estava à sua frente, mas todas as versões possíveis de si mesma que ela ainda não tinha vivido.
— Vamos voltar ao assunto que você começou, Senhor...?
— Hugh... pode me chamar de Hugh.
— Ah, Hugh... gosta de ler? Se sim, o quê?
— Gosto muito. Principalmente romances, mas do tipo James Joyce, Gabriel García Márquez. Mas leio pouco, por falta de tempo. E você, que romances tem lido?
A mulher o respondeu a citar alguns nomes. Hugh a ouvia com a cabeça inclinada perto dos lábios dela, seus olhos focados. De vez em quando, ele passava a língua pelos os próprios lábios, para umedecê-los. Quando ela terminou de falar, ele não disse nada; ficaram em silêncio por alguns segundos. Então, ele a viu endireitar a cabeça, enquanto ele inclinava-se um pouco mais para perto do rosto dela.
As máquinas de lavar continuavam seu ciclo incessante, mas entre eles havia algo diferente naquele dia, algo que parecia exigir mais do que olhares furtivos. Havia algo nela que o deixava desconcertado. Ele não sabia exatamente o que o atraía, mas era como se sentisse a presença de uma chama oculta, uma intensidade que ela guardava para si, como um segredo que ele queria desesperadamente descobrir.
— Hugh... acho que já está na hora, e eu...
— Não, ainda é cedo. O Sol ainda está aqui... temos tempo.
— E... talvez eu não precise ter pressa... meus vestidos ainda estão na secadora.
— Pois é, e como seus vestidos voltarão para casa? Coitados, seria perigoso para eles! — disse ele, brincando.
O último calor do Sol competia com as luzes fluorescentes, e isso a fez rir da piada. Normalmente, Hugh tinha gestos lentos e atitudes tranquilas; mas agora, ele se levantou rapidamente, seu desalinho honesto dando-lhe um ar singular. Apesar de suas pernas longas, havia um balanço confiante em seu andar, como quem sabia exatamente onde estava pisando. Ele sabia o que queria. Queria aquela mulher em seu apartamento todos os dias, ao crepúsculo, lhe dando chá…na varanda.
— Acho que essa secadora está competindo com você — disse ele, num tom casual, mas carregado de algo mais.
Ela levantou os olhos devagar, sem entender de imediato.
— Como assim? — perguntou, com a voz tranquila, quase desinteressada, mas ele notou o leve arquear de suas sobrancelhas, como se tivesse capturado uma fração de sua atenção.
Ele deu de ombros, com um sorriso no canto dos lábios.
— As duas são eficientes, mas levam o tempo delas, sabe? Sem pressa. Parece que estão sempre esperando o momento perfeito para mostrar que, no fundo, o resultado vai valer a pena. — Ele fez uma pausa, deixando a provocação pairar. — Só fico me perguntando se, quando estiver pronta, vou me surpreender mais com a roupa ou com você.
Ela soltou um pequeno riso, quase sem querer, mas logo desviou o olhar, disfarçando. Hugh percebeu algo diferente naquele brilho, uma reação que ela tentava esconder.
Pouco a pouco, eles se inclinaram; a mulher fincou os cotovelos no mármore da mesa e apoiou o rosto entre as mãos. Seus cabelos caíram naturalmente, e ele viu o delicado contorno de seu pescoço. Naquele momento, a presença de Hugh despertou nela mais curiosidade do que qualquer livro de Leopold von Sacher-Masoch. Ele continuou a falar sobre suas opiniões sobre Sacher-Masoch e outros pensamentos que lhe vinham à mente. As palavras fluíam uma após a outra, sem que ele soubesse exatamente o porquê, saltando de um assunto a outro ou voltando ao primeiro, rindo aqui e ali na tentativa de fazê-la sorrir. Queria ver-lhe os dentes. Quanto aos olhos dela, não eram exatamente negros, mas escuros, como se guardassem segredos nas profundezas de seu olhar.
— Mais baixo! Alguém pode nos ouvir — disse a mulher entre risos.
— Só estava pensando sobre sua leitura atual... um cara obcecado por dor e prazer, sabe? Não é curioso como as pessoas têm essas fixações? — ele riu de si mesmo.
— Você é bem... aleatório.
Hugh deu de ombros, divertido:
— Aleatório. Igual essas coisas que a gente fala sem pensar muito, vai juntando uma coisa na outra... Mas tudo bem, tô aqui tentando te fazer rir, na verdade.
— Está funcionando?
— Claro que está. Já vi seus dentes. Perfeitos, por sinal... eu gosto de sorrisos com diastema. — Ela sorriu um pouco mais, como se quisesse disfarçar o gesto, mas agora seus dentes ficaram visíveis por um segundo.
— Tá vendo? Isso, exatamente isso. É o meu ponto. — Os olhos dela se mantiveram atentos, mas havia algo guardado, uma escuridão que ainda parecia protegê-la. Hugh pausou, observando-a por um instante. Os dois se entreolharam em silêncio, enquanto ele buscava mais palavras e ela, talvez, mais respostas.
Eles não saíram daquela posição, tão perto que estavam, os rostos quase se tocando. Não precisavam falar alto para serem ouvidos; cochichavam, ele mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava séria, muito séria, com a testa levemente franzida. Em um momento, ela olhou de relance para os crocs dele, mas logo desviou o olhar, voltando à conversa.
— Você usa crocs, blusa havaiana e óculos... mas suas expressões são tão sérias...
— Eu sou assim. Sério.
— O quê? — perguntou ela, inclinando o corpo para ouvir melhor.
Ele sorriu, um sorriso discreto, quase enigmático, como se estivesse prestes a soltar uma piada, mas optasse por manter o suspense. Seus olhos brilharam, e ele inclinou a cabeça um pouco mais, aproximando-se, até que os rostos ficassem quase se tocando.
— Sério — repetiu ele, baixinho, dessa vez deixando o riso escapar. — Só quando não importa. Ou quando estou pensando em algo que nem eu entendo. Tipo agora.
Ela manteve a testa levemente franzida, mas seus lábios esboçaram um sorriso contido, algo entre provocação e desconcerto. Seus olhos, que ainda guardavam aquela escuridão misteriosa, se estreitaram, como se tentasse decifrá-lo.
— Eu sempre te achei meio… excêntrico — sussurrou ela, como se estivesse pensando alto, sem intenção de ofender, mas com uma sinceridade que o atingiu de leve.
Ele riu baixo, o riso que usava para esconder sua própria vulnerabilidade, como se ela tivesse tocado num ponto sensível que ele preferia evitar.
— Excêntrico? — perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Você diz isso como se fosse uma coisa ruim.
Ela balançou a cabeça devagar, os olhos caindo por um momento para os crocs, depois voltando para o rosto dele.
— Não... claro que não. — Sua voz era suave, mas com uma hesitação perceptível.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, e ela, sem perceber, inclinou o corpo um pouco mais, como se estivesse prestes a entrar num espaço que ele mal sabia que estava deixando aberto.
— E você? — Ele quebrou o silêncio. — Tão quieta, mas sempre parece que tá prestes a explodir de alguma forma. Qual é o seu segredo?
Ela piscou lentamente, sem responder de imediato, e seu rosto se fechou por um segundo, como se algo dentro dela recuasse, se escondesse.
— Talvez eu seja... — ela começou, mas interrompeu-se, mordendo o lábio inferior por um instante, desviando os olhos para a secadora, agora parada, antes de voltar a encará-lo. — Talvez eu seja séria também. Quando importa. Ou quando... tenho medo.
A última palavra saiu quase como um sussurro, como se ela não quisesse admiti-la nem para si mesma. Ele notou o leve tremor na voz dela e, por um momento, o humor desapareceu, substituído por algo mais denso, mais atento.
— Medo? — Ele perguntou suavemente, como quem pisa em território proibido, mas desejando explorá-lo.
Ela não respondeu de imediato, mas o olhar profundo e escuro que lançou a ele parecia carregar tudo o que ela queria dizer.
— Olha pra minha blusa... — ela disse de repente.
Ele piscou, surpreso com a reviravolta, e então olhou para a própria blusa. "Britney, come to Brazil" estava estampado em letras brancas e chamativas, uma piada kitsch que ele escolhera sem pensar muito. Ele ergueu uma sobrancelha, o sorriso voltando ao rosto, mas agora com algo mais intrigado em sua expressão.
— Britney Spears? — reagiu, sem entender onde ela queria chegar.
Ela desviou o olhar por um instante, como se procurasse as palavras certas para explicar.
— Às vezes, me sinto como a Britney Spears — disse ela, em voz baixa, mas firme. — No palco, performando, sendo a estrela... mas, ao mesmo tempo, completamente perdida. Fingindo que está tudo sob controle, quando, na verdade... — Ela respirou fundo. — Quando, na verdade, estou cheia de medo de desmoronar.
Ele ficou quieto, absorvendo o que ela acabara de dizer. Não era só sobre Britney. Ela estava falando de si mesma, da contradição entre a imagem que projetava e a realidade que escondia.
Quando a última peça foi seca, dobrada e colocada no cesto, a mulher se preparava para sair. Mas hesitou, segurando a alça do cesto como se considerasse algo que nunca fizera antes. Hugh notou a indecisão, uma pequena brecha na rotina.
— Senhorita, posso te ajudar com isso? — perguntou, sua voz soando estranhamente como um convite para fazer parte de sua vida.
— Ah, claro, obrigada.
Hugh pegou o cesto com um gesto casual, mas sentiu o peso simbólico daquela interação. Caminharam lado a lado até o Fiat Uno dela, estacionado sob o céu tingido em tons de roxo e azul claro. O ar estava fresco, carregado pela expectativa que se acumulava há semanas. O carro, com suas linhas nostálgicas e desgastadas, parecia um reflexo de tudo o que haviam dito, e não dito, um ao outro.
Ao colocar o cesto no porta-malas, ele a olhou por um momento mais longo, como se estivesse considerando algo mais.
— Sabe... — começou, hesitando como quem raramente vai além do óbvio — Você gostaria de tomar um café amanhã, às 8:30?
Ela, ainda processando o momento, encontrou os olhos dele numa conexão que ia além do reflexo das máquinas. O sorriso que se formou em seus lábios foi diferente, mais aberto, mais... decidido.
— Eu adoraria.
E naquele momento, enquanto o céu se dissolvia em sombras mais profundas, eles romperam o ciclo de silêncio. O carro, parado na rua deserta, já não era apenas um veículo, mas o símbolo de um novo caminho. Não só a quinta-feira havia mudado, mas toda a história de ambos.
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Lance as cartas, veja a minha sorte. Com uma pitada de encanto, quem sabe manifesta o Ás de Ouros. O pior já passou, eu sei. Defronto com os resquícios de sombras e fantasmas de capítulos anteriores não exorcizados. Os pesadelos rondam meu campo atormentando essa criança que engatinha, como se fosse a primeira vez. Dessa vez, eu vim para ficar. Lance as cartas, veja a minha sorte. Quem sabe não sou merecedora do Rei de Copas encontrar. Coloquei a coroa da Rainha para transitar entre castelos medievais e masmorras sem pestanejar. Acendi um incenso de lavanda, um dos meus preferidos. A vela acesa na mesa é tocha de esperança em noites escuras. Aquece meu corpo gelado pelo sereno das madrugadas imersa em pensamentos impertinentes que a reflexão devida com o alinhamento dos astros possibilitaria um caminhar mais saudável. Lance as cartas, veja a minha sorte. Quem sabe a carta do Mundo não me agracie com a sua presença, confirmando o fim desse ciclo cármico em minha vida. Lutei esse tempo todo contra miragens, que tolice. Despendi energia preciosa com vagabundice. Os sons dos ponteiros do relógio escorriam pelas minhas mãos que por tanto tempo amaldiçoaram essa escravidão por sua relatividade sem compreensão. Fui em busca de sabedoria, a coruja amiga como companhia e guia, devorei os livros da biblioteca do Universo. Ancorei esse conhecimento na mente desperta para não esquece-lo durante o meu regresso. Peço que meu complemento divino também absorva esses novos aprendizados. Se perguntarem por mim, diga que estou em reforma. Não minto. Omito as circunstâncias e detalhes que me levaram a esse estado de urgência. O presente inexiste para quem sobrevive projetando a realidade através das lentes ultrapassadas do passado, uma assombração constante e delirante para quem não tem forças para libertar-se de suas dores, pois as identifica como parte de si. E elas não são, assim como toda essa narrativa não me define. Que tortura, eu anseio saber aquilo que já sinto que sei. Que delírio, prescrevo e pressinto, reluto as margens desse litoral e temo pisar em terra firme. Lance as cartas, veja a minha sorte. A Torre apareceu? Não me espantaria, visto que um abalo sísmico em minhas placas internas ruiu o antigo alicerce causando um desabamento das velhas estruturas para as mudanças imprescindíveis. Lance as cartas, veja minha sorte. Uma combinação favorável, assim eu torço. Surpreendo-me ao notar que as cartas estavam em branco o tempo todo, nunca houvera necessidade de questionar ao destino sobre as minhas intuições. No fundo, sempre sabemos as respostas que buscamos, apenas não temos coragem suficiente de assumi-las. Eu sou detentora de minha estrela, mesmo não crendo em livre-arbítrio ou acaso, seus desígnios são sempre respeitados. Envolta em uma névoa de ceticismo e indefinição, o destino lança seus dados fora do seu turno, sem a minha autorização, utilizando cartas marcadas com o intuito de traçar nas sendas do amor, o caminho determinado para chegar no propósito orquestrado. “Pergunte o que quiser, se sintonizar comigo descobrirá o que lhe aguarda, todavia tenha em mente que farei tudo a minha maneira. Os seres humanos não estão prontos para assumirem as rédeas de seus próprios destinos. Trens desgovernados geralmente saem dos trilhos, deixando rastros de mortes pelo caminho. Continue, um dia eu lhe entregarei ao seu comando. Nesse dia, será você quem me dará as ordens.” Ele ri, debochado e prepotente, segurando o controle do filme da existência em suas mãos, enquanto meu semblante curioso se adianta na tentativa frustrada de prever qual será a sua próxima peça. Essa entidade, de fato, é um comediante de segunda.
@cartasparaviolet
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ㅤㅤ ⚔ A distância não nos permite enxergar melhor, mas achamos que em cima daquele dragão está AVERY OVARD, uma cavaleira de VINTE E TRÊS ANOS, que atualmente cursa QUARTA SÉRIE e faz parte do MONTADORES. Dizem que é INDOMÁVEL, mas também SOLITÁRIA. Podemos confirmar quando ela descer, não é? Sua reputação é conhecida além das fronteiras, e dizem que se parece com CATERINA FERIOLI.
𝖜𝖈 • 𝖕𝖑𝖆𝖞𝖑𝖎𝖘𝖙 • 𝖕𝖎𝖓𝖙𝖊𝖗𝖊𝖘𝖙
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❛ biografia.
Avery sempre se sentiu como uma estranha em sua própria família. Enquanto seus primos mais velhos se dedicavam com fervor ao treinamento militar e sonhavam em se tornar montadores de dragões, ela passava horas perdida em mapas antigos e livros de viagens, imaginando-se explorando terras distantes. Nascida em uma linhagem de servos leais, Avery deveria estar orgulhosa de seu destino como protetora do reino — afinal a moradia no Alto Império custou muito aos seus pais. Com oito anos, Avery foi obrigada pelos pais a se alistar e começou o seu treinamento, ao lado irmão Frim. Embora ela fosse sagaz e ágil, não tinha força bruta. Nos primeiros dias, suas mãos delicadas ficaram cheias de bolhas ao empunhar a espada pesada. Seus músculos doíam após horas de exercícios exaustivos. Mas Avery era persistente. À noite, enquanto os outros cadetes dormiam, ela praticava em segredo, aperfeiçoando sua técnica. Observava atentamente os movimentos dos instrutores, memorizando cada detalhe. Aos poucos, sua velocidade e precisão compensavam a falta de força. Mas a criança de cabelos castanhos e olhos azuis não conseguia se conformar com a ideia de passar a vida confinada aos muros de Aldanrae, arriscando-se em batalhas por causas que não compreendia, por uma fé que não compartilhava. Nas noites de Lua cheia, Avery escapava para os jardins do Escola Preparatória. Ali, sob o brilho etéreo das estrelas, ela sonhava com terras exóticas — desertos ondulantes, florestas misteriosas, cidades perdidas nas nuvens. Seu desejo, considerado abominável, ganhava vida nesses momentos solitários. Avery cresceu em Ânglia, uma criança que nunca deixou as ruas, mesmo que treinada desde cedo para ser uma arma mortal. Seus pais, antigos militares condecorados, moldaram-na com disciplina implacável. Mas o verdadeiro talento de Avery sempre foi sua habilidade de se mover pelas sombras, como se fosse parte delas. Desde os sete anos de idade, Avery aprendeu a se esgueirar pelos becos escuros e telhados da cidade, seus passos tão leves quanto plumas caindo. Essa habilidade extraordinária fez dela uma ladra excepcional. Noite após noite, Avery se infiltrava nas mansões dos nobres, suas mãos ágeis encontrando joias, moedas e objetos valiosos. Ela se movia como um fantasma, deixando apenas um leve aroma de jasmim no ar como única prova de sua passagem. A maior parte do que roubava ia para alimentar sua família empobrecida, já que os pais conforme os anos deixaram de liderar grandes batalhas — pão fresco, queijos finos e até mesmo carnes que raramente provavam.
Mas Avery tinha sonhos maiores que os becos de Aldanrae. Com o pouco que sobrava de seus roubos, ela guardava cuidadosamente cada moeda, escondendo-as em um cofre secreto sob o assoalho de seu quarto na Escola. Seu objetivo era juntar o suficiente para uma grande viagem, rumo ao Mundo Exterior, uma jornada que a levaria para além das muralhas sufocantes da cidade. Avery não compartilhou seu plano com ninguém. O segredo pesava em seu peito como uma pedra, mas ela sabia que era necessário. Seu irmão gêmeo, Frim, sempre fora seu confidente, sua outra metade. Mas desta vez, Avery temia que ele a convencesse a ficar. E ela não podia ficar. Não mais. Ainda aos oito anos, Avery e Frim partiram com o navio rumo ao Parapeito. O irmão segurava sua mão e repetia em seu ouvido que ambos se saíram bem, e que ela não deveria sair de perto dele. Mas, então, uma pequena silhueta ruiva se aproximou deles, a conhecida vizinha Amaya. Avery sempre carrega consigo a concha que Amaya lhe dera no navio — já que esta é a última lembrança que possui dela. Enquanto Avery avançava para ajudar o irmão a escalar, Amaya caiu em direção à morte pouco antes de conseguirem alcançar o topo. Aos doze anos, Avery encarava o penhasco íngreme diante dela. Ela sabia que em algum lugar naquela ilha rochosa havia um ovo de dragão esperando para ser encontrado, mas ela não queria achá-lo. Não queria se tornar uma cavaleira de dragão como todos esperavam. Ela ansiava por liberdade, por escolher seu próprio caminho. No entanto, com um suspiro pesado, Avery começou a escalar. Ela tentou se concentrar apenas em encontrar apoios seguros para mãos e pés, ignorando o medo que crescia em seu peito. Mas, de repente, uma pedra se soltou e assim que Avery sentiu a dor dilacerante pelo corpo, o brilho do ovo lhe chamou atenção. Não havia para onde fugir. Aos treze anos, seu pai partiu para uma batalha sem nome, dessas que nem merecem menção nos livros de história. Era para ser uma missão rápida, uma simples patrulha de rotina nas fronteiras do reino. Mas ele nunca voltou. A notícia de sua morte chegou numa manhã cinzenta de outono. Não houve fanfarras, nem honras militares. Apenas um mensageiro cansado entregando um medalhão manchado de sangue e algumas palavras vazias de consolo. A família Ovard, outrora inabalável, desmoronou como um castelo de areia. Sua mãe, uma mulher que sempre fora o pilar da família, parecia ter perdido o brilho nos olhos. Os dias se arrastavam numa rotina melancólica, com a matriarca tentando manter as aparências de normalidade.
Restaram apenas Avery e Frim, para cuidar da mãe que definhava a cada dia — eles conseguiram vê-la raras vezes por conta do treinamento. Mas nem todo o amor e cuidado foram suficientes. trigger : menção a suícidio. Numa noite qualquer, tão comum quanto aquela em que seu pai partira pela última vez, Avery encontrou a mãe. O quarto estava silencioso, iluminado apenas pela luz prateada da lua que se infiltrava pela janela. A princípio, Avery pensou que a mãe estivesse dormindo, seu rosto finalmente em paz após meses de sofrimento silencioso. Mas ao se aproximar, a terrível verdade se revelou. O frasco vazio de láudano na mesa de cabeceira. A pele fria ao toque. O silêncio ensurdecedor onde deveria haver o suave ritmo da respiração. Sua mãe havia partido por escolha própria, deixando-os abandonados a própria sorte. trigger : fim de menção. Os anos que se seguiram à morte da mãe foram os mais difíceis para Avery e Frim, especialmente pela perca da casa e as economias da família com o funeral. Órfãos e desamparados, os gêmeos se agarraram um ao outro como náufragos em meio à tempestade. Frim, sempre o mais pragmático, assumiu o papel de provedor, treinando incansavelmente e pensando no futuro deles. Avery, por sua vez, aprimorou suas habilidades como ladra, tornando-se uma sombra ainda mais furtiva. Nas noites frias de inverno, quando o vento uivava pela Escola, os irmãos se aconchegavam juntos sob cobertores remendados, compartilhando histórias e sonhos sussurrados. Frim falava com admiração dos grandes heróis do reino, de batalhas gloriosas e dragões majestosos cortando os céus. Seus olhos brilhavam ao imaginar-se um dia vestindo o uniforme da Infantaria, servindo ao reino que tanto amava. Avery ouvia em silêncio, um nó se formando em sua garganta. Como poderia seu irmão ainda acreditar na glória de um reino que os havia abandonado? Que havia enviado seu pai para uma morte sem sentido e empurrado sua mãe para o abismo? Mas ela não tinha coragem de destruir os sonhos de Frim. Ele era tudo o que lhe restava, seu porto seguro em um mundo cruel e indiferente. O pátio estava iluminado pela suave luz do anoitecer quando Avery foi levada até lá para realizar o ritual do Cálice dos Sonhos. Com mãos trêmulas, ela tomou um gole da mistura e caiu em um sono profundo. Sua alma foi transportada para Sonhãr, mas não era um lugar de paz. Era um pesadelo sombrio e opressivo, onde criaturas terríveis espreitavam nas sombras. Avery lutou para acordar durante horas, seu corpo se contorcendo na tentativa de escapar do sono hipnótico.
Finalmente, no último segundo antes do amanhecer, ela conseguiu despertar com um grito estrangulado. Mas a sensação de ter sido arrastada pelas trevas ainda permanecia em sua mente atormentada. Ao abrir os olhos, Avery foi recebida pelo calor reconfortante do abraço de Frim. O dragão havia sido despertado pelo chamado de sua futura companheira. E assim, no dia seguinte após a ceifa, o ovo que Avery havia escolhido eclodiu em um filhote de dragão com manchas negras e marrom — uma prova inegável de que ela havia sido escolhida pelo dragão. Mas ao invés de se alegrar com essa honra, Avery apenas sentiu vergonha e desespero. Em seus momentos mais sombrios, ela até considerou acabar com sua própria vida para evitar esse destino impensado. No entanto, a partir daquele momento, Avery sabia que não podia voltar atrás. Ela era a companheira de um dragão, e isso mudaria sua vida para sempre. Se qualquer coisa acontecesse com o dragão, Avery perderia a única liberdade que pensava ter — a possibilidade de acabar com tudo. Os anos haviam se passado, trazendo consigo mudanças sutis. Frim cresceu forte e determinado, sua lealdade ao reino inabalável apesar das dificuldades. Avery, por outro lado, sentia-se cada vez mais sufocada pelos muros da cidade. A esta altura, Ember havia idade o suficiente para montar e conforme as aulas avançavam, Avery se perguntava se ele não queria matá-la de uma vez. No entanto, suas incursões noturnas tornaram-se mais ousadas, seus roubos mais ambiciosos. O que parecia até ser permitido por Ember. Foi numa dessas noites, quando a lua cheia pairava sobre Aldanrae como um olho vigilante, que Avery fez uma descoberta que mudaria tudo. Ao invadir uma das maiores residências, ela se deparou com uma repartição sob um quadro. Quando o afastou, seus dedos roçaram algo metálico e frio. Intrigada, ela removeu a obra, revelando um pequeno baú de ferro. Quando Avery conseguiu quebrar a fechadura, ela encontrou a pedra mais preciosa de Aldanrae. Era o que precisava. A jovem sabia que sua decisão era egoísta e praticamente uma missão suicida. Abandonar sua família, seus deveres, seu dragão, tudo o que conhecia... Mas a ânsia por liberdade, por descobrir quem ela realmente era longe das expectativas de todos, era mais forte que qualquer senso de dever. Não havia lugar para ela em Aldanrae ou em Sonhãr. Na noite escolhida para sua fuga, Avery preparou uma pequena trouxa com seus pertences mais preciosos. Seu mapa, algumas mudas de roupa, ervas para poções básicas. Tudo estava pronto.
Ela esperou pacientemente que o Instituto mergulhasse no silêncio noturno, quando poderia escapar sem ser notada. Mas o destino tinha outros planos. Pouco antes da meia-noite, gritos ecoaram pelos corredores de pedra. O cheiro acre de fumaça invadiu as narinas de Avery, despertando-a de seus devaneios. Ela correu para a janela e viu, horrorizada, as chamas que devoravam vorazmente o lado oeste do Instituto. O fogo se espalhava rapidamente, alimentado pelo vento que soprava naquela noite. Avery hesitou por um momento, dividida entre seu plano de fuga e o dever de ajudar. Mas ao ouvir os gritos desesperados de seus colegas, ela não pôde ignorar. Deixando sua trouxa para trás, Avery correu pelos corredores em direção ao foco do incêndio. Sua mente fervilhava de perguntas. Como aquilo acontecera? E por que justo na noite em que planejava fugir? Enquanto corria, Avery não podia deixar de pensar que, de alguma forma, o destino havia conspirado para mantê-la ali. O universo parecia determinado a não deixá-la escapar. Avery correu pelos corredores enfumaçados, o coração batendo freneticamente contra suas costelas. O ar estava denso e sufocante, carregado de cinzas e gritos de pânico. Através da fumaça espessa, ela vislumbrou uma figura familiar — Frim. Seu irmão gêmeo estava no centro do caos, ajudando um grupo de cadetes mais jovens a escapar. Seus cabelos castanhos estavam manchados de fuligem e por um breve momento, Avery sentiu uma onda de orgulho e amor por seu irmão. Mas então, em um instante terrível, tudo mudou. Uma língua de fogo, ardente e voraz, irrompeu de uma sala próxima. As chamas dançaram no ar por um segundo, belas e mortais, antes de encontrarem seu alvo. Frim. O grito de Avery ficou preso em sua garganta quando viu as roupas de seu irmão pegarem fogo. Em questão de segundos, as chamas envolveram Frim, transformando-o em uma tocha humana. Sem hesitar, Avery se lançou em direção a ele. O calor era intenso, quase insuportável, mas ela ignorou a dor. Com as mãos nuas, ela bateu nas chamas que consumiam seu irmão, sentindo sua própria pele queimar no processo. Com uma força que não sabia possuir, Avery arrastou Frim para longe do fogo. Suas mãos agarraram um tapete chamuscado no chão, e ela o usou para sufocar as chamas restantes no corpo do irmão. O caminho para fora do Instituto era um labirinto de chamas e escombros. Avery carregava Frim, que estava semiconsciente, murmurando palavras incoerentes. Cada passo era uma agonia, o peso de seu irmão e a dor de suas próprias queimaduras ameaçando derrubá-la. Mas Avery se recusava a desistir. Ela precisava salvá-los.
❛ personalidade.
Avery tem um forte instinto de autopreservação, o que a leva a priorizar seu bem-estar acima de tudo. Isso se reflete em suas manias: frequentemente, ela mexe nos cabelos ou passa os dedos pelas bordas de objetos ao seu redor quando está nervosa, um hábito que a ajuda a se acalmar. Apesar de sua fachada áspera e mal-humorada, Avery tem um coração leal, especialmente em situações críticas. Quando alguém está em perigo, ela se transforma, agindo com coragem e determinação. Essa dualidade a torna imprevisível, pois seu egoísmo pode se sobrepor ao seu desejo de proteger os outros. Avery tem uma forte aversão à rotina e ao conformismo. Ela não suporta regras arbitrárias e frequentemente se rebela contra expectativas familiares e sociais, o que a leva a decisões impulsivas que desafiam a lógica. Sua tendência a agir por impulso muitas vezes a coloca em situações complicadas, mas ela não se importa — para ela, a liberdade é mais valiosa do que a segurança. Gosta de escapadas noturnas, especialmente em direção aos jardins do Instituto, onde se perde em devaneios e cria ilusões de terras exóticas. Essas escapadas são um refúgio para ela, um momento de desconexão da realidade opressiva que a cerca. Por outro lado, Avery detesta a monotonia e a mediocridade. O cheiro de tinta fresca e o som de páginas virando a atraem, e ela adora explorar novas ideias e culturas por meio de livros e relatos de viagens. Sua aversão a conversas superficiais e trivialidades a leva a evitar grupos que não compartilham suas aspirações. Firme em suas convicções, Avery raramente muda de opinião, o que pode ser tanto uma virtude quanto um defeito. Essa inflexibilidade a torna uma figura intrigante, uma rebelde sonhadora em busca de liberdade e autoconhecimento, sempre à procura de algo que a faça sentir-se viva. Avery nunca teve amigos duradouros além de seus irmãos, ou interesses amorosos. Ela se compara constantemente às meninas que a cercam, observa suas curvas bem definidas, cabelos impecáveis e peles bronzeadas com uma mistura de admiração e frustração.
Essa autoimagem a afeta profundamente, fazendo com que se sinta inadequada. Quando se vê em situações sociais, Avery às vezes se perde em suas próprias reflexões e acaba errando as respostas ou se enrolando nas conversas. Sua mente é um turbilhão de pensamentos e emoções, o que pode fazer com que sua fala se torne confusa e hesitante. Essa insegurança a torna ainda mais isolada, intensificando sua sensação de ser uma estranha, mesmo entre os outros. Apesar disso, ela tenta se manter autêntica, buscando nas palavras de grandes escritores e nas aventuras de personagens fictícios uma forma de se conectar com o que realmente deseja. Essa busca constante por identidade e aceitação a torna uma pessoa fascinante, mas também vulnerável, navegando entre a necessidade de liberdade e a luta contra suas próprias inseguranças. Em seu íntimo, Avery anseia por um lugar onde se sinta aceita. Embora tenha crescido seguindo a Fé Antiga e acredite em Erianhood, algo dentro dela se rebela contra as crenças que lhe foram ensinadas desde a infância. A jovem chandeling sente um conflito interno cada vez que ouve os ensinamentos sobre Sonhār e o equilíbrio entre bem e mal. Para Avery, a liberdade é seu bem mais precioso. A ideia de estar presa a um destino predeterminado ou às vontades de uma deusa, por mais benevolente que sejam, a sufoca. Ela ansia por fazer suas próprias escolhas, traçar seu próprio caminho sem a sombra de uma divindade ou dragão pairando sobre seus ombros. No entanto, Avery não pode negar a influência que a Fé Antiga exerce em sua vida. Está entrelaçada em cada aspecto de Aldanrae, desde as tradições militares até as interações sociais entre os changelings. Ignorar completamente essa influência seria como tentar negar a própria existência. Mesmo assim, ela não pode deixar de pensar nas possibilidades que o futuro pode trazer. Talvez, um dia, encontre um equilíbrio entre respeitar as crenças que moldaram sua sociedade e viver de acordo com seus próprios princípios. No entanto, por enquanto, Avery apenas se sujeita às normas e expectativas sobre ela.
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