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"O mar está inquieto e os ventos sopram. Estou comigo e sigo, apesar dos temores e das dúvidas. É imperativo seguir, embora o corpo fraqueje e o coração hesite. (...) Apesar da inquietação, mantenho-me sereno, resistindo a tudo."
(Telles, 2014, p. 27)
Bloquinho de notas poéticas da Rebeca. 23 de Ago de 2023.
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Poema inédito na Revista Odara
Há um poema inédito meu na edição atual da Revista Odara.��“Faixa presidencial” foi um dos primeiros de uma leva mais recente de textos. Com certeza é a semente de um livro futuro, para quando o ciclo do “Alerta, Selvagem” for concluído.
Confira a edição completa do Vol. 6, n. 7 da Revista Odara CLICANDO AQUI. Meu poema consta na página 42.
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Decifrar-te com Diego Moraes - O amor entre o bar e a literatura
“A intensidade e visceralidade da literatura de Diego Moraes ficam patentes neste Decifrar-te. O escritor amazonense conta como surgiu o interesse pela literatura, despertado pela obra "Vidas Secas" (Graciliano Ramos), as vivências que lhe servem de inspiração, além de sua visão sobre o mundo literário.”
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Cerimonial de Posse dos novos membros da ALACA em Roraima Amazônia Setentrional Brasil. Ocasião concomitante da realização do 1º Congresso de Literatura, Arte e Cultura tem como objetivo promover a cultura literária da Região Norte por meio da integração de artistas brasileiros de vários segmentos da arte, além de premiar as personalidades roraimenses destaques no cenário sociocultural e empresarial. Solenidade de posse dos novos confrades e confreiras roraimenses e amazonenses a Academia de Literatura, Arte e Cultura da Amazônia, reunindo a sociedade amazônica para congraçamento em grande estilo do encontro de escritores, produtores, editores locais regionais e a programação seguirá nos dois dias com palestras, oficinas, bate-papos literários e vários lançamentos de obras literárias, na Tenda dos Escritores. Fotos realizadas pela jornalista e fotógrafa Diane Sampaio @sampaiodiih O evento realiza-se no Hotel Aipana Plaza contando com a prestigiada participação de autoridades públicas e a comunidade em geral. https://www.instagram.com/p/Ckm6WhyOBha/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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O Envelope - Conto de Victor Amorim Guerra
Recebi a indicação via Twitter e corri ver.
O Conto traz realmente um texto leve, mesmo sendo um suspense. A Linguagem é bem executada e enxuta, deixando o texto e enredo bem flexível.
Quem indicou foi minha professora de Literatura Amazonense e como não sou muito íntima da Literatura Africana, confesso, fui ler com receio. Uma pena que demorei para começar, pois vale a pena.
Parabéns, Victor Amorim Guerra e Parabéns aos editores dessa Delícia de livro.
Serviços:
#ÉsobreNós#LiteraturaAngilana#ContosAfricanos#VozesDaÁfrica#LiteraturaAfricana#Livro#Victor Amorim Guerra#Lucas Cassule#Elisabeth Lorena Alves
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Unicamp antecipa lista com convocados para 2ª fase e divulga alteração na data das provas
A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) antecipou para esta quinta-feira, 21, a divulgação da lista de candidatos convocados para a segunda fase do vestibular da Unicamp 2021. A lista de classificados para próxima fase seria divulgada no dia 29 de janeiro. O candidato pode encontrar o resultado na página oficial da Comvest. Além da antecipação, a Comvest também anunciou uma alteração na data das provas da segunda fase, que estava prevista para acontecer em 7 e 8 de fevereiro. Com a mudança, a segunda fase acontecerá nos dias 8 e 9 de fevereiro. A alteração levou em consideração a hipótese de candidatos do Vestibular Unicamp também estarem inscritos na modalidade digital do Enem, que está marcada para acontecer nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro, e para “evitar aglomeração decorrente da maior circulação de estudantes na mesma data”.
As notas de corte por curso e a tabela com a relação candidatos-vaga para a segunda fase também já estão disponíveis no site da Comvest. As notas obtidas individualmente pelos candidatos na primeira fase serão divulgadas na sexta-feira, 22. Segundo nota da Comvest, 15.470 candidatos estão aprovados para a segunda fase. Em 2021, 66.936 candidatos fizeram a prova da primeira fase. A Unicamp oferece 3.237 vagas em 69 cursos de graduação. Os locais de prova ficarão disponíveis na sexta-feira, 29 de janeiro.
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Segunda fase
As provas serão realizadas nos dia 8 e 9 de fevereiro de 2021, com duração de cinco horas cada. A segunda fase, constituída de questões dissertativas, tem uma parte comum a todos os candidatos e uma parte específica de acordo com a área do curso de primeira opção escolhido pelo candidato. No primeiro dia, todos os inscritos realizarão a mesma prova. O exame conterá uma prova de Redação – com duas propostas de texto para que o aluno escolha e execute uma das propostas, a prova de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, com oito questões; e duas questões em Língua Inglesa.
No segundo dia, a prova de Matemática, com seis questões; prova interdisciplinar de Ciências Humanas, com duas questões; e prova interdisciplinar de Ciências da Natureza, com duas questões, também serão realizadas por todos os candidatos. A segunda parte do exame será dividida por áreas do conhecimento. Os candidatos da área de Ciências Biológicas/Saúde terão seis questões de Biologia e seis questões de Química, os candidatos da área de Ciências Exatas/Tecnológicas terão seis questões de Física e seis questões de Química e os candidatos da área de Ciências Humanas/Artes terão seis questões de Geografia e seis questões de História, englobando conteúdos de Filosofia e Sociologia.
Calendário
22 de janeiro – Divulgação das notas individuais da primeira fase;
29 de janeiro – Divulgação dos locais de prova;
8 de fevereiro – Primeiro dia de aplicação de prova da segunda fase;
9 de fevereiro – Segundo dia de aplicação de prova da segunda fase;
11 de fevereiro – Primeiro dia de prova de Habilidades Específicas para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança;
12 de fevereiro – Segundo dia de prova de Habilidades Específicas para os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança;
10 de março – Primeira chamada dos convocados para matrícula;
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Funkeiros Cults: nasce uma revolução de dar orgulho à Paulo Freire
Localizado na zona oeste de Manaus, o bairro Compensa é conhecido por ser uma das áreas mais perigosas da capital amazonense, sendo considerado um dos berços da facção Família do Norte (FDN). Foi nesse cenário que o criador da página Funkeiros Cults, Daryel Azevedo, 21, viveu toda sua vida.
Como nascem os funkeiros cult
Apesar de ainda ser marginalizado por parte da elite – como acontecia com o samba antigamente – o funk é um dos principais movimentos que faz a cabeça dos jovens da periferia. Com Azevedo não era diferente.
“O funk sempre esteve presente na minha vida, só faltava o cult”, revela Daryel.
Reprodução - Instagram/funkeiroscults
Ironicamente, o interesse por arte, literatura e cinema só surgiu na vida do jovem depois de terminar a escola, através das redes sociais. Foi por lá que ele começou a consumir esses conteúdos, criando gosto pela coisa.
“Você pega dicas, expande, sai da bolha!
Eu sempre lembro de uma frase do Criolo de um vídeo, que diz ‘saber que as coisas existem muda sua visão do mundo”, conta.
O primeiro emprego que Dayrel conseguiu com carteira assinada, depois de trabalhar em alguns bicos para ajudar sua família, também teve papel importante para o surgimento do lado cult em sua vida.
Durante um ano trabalhou como bedel (uma espécie de auxiliar administrativo) em uma universidade particular. Por lá, teve maior acesso à informação e educação, fazendo surgir o desejo de ocupar uma daquelas cadeiras, como estudante de psicologia.
“A mente humana foi algo que sempre me atraiu, eu sempre pensei em outras áreas como letras, história, jornalismo, mas acho que todas elas de uma forma ou de outra voltam pra mente humana. Queria aprender sobre o ser humano antes de ir pra outro campo. É algo que realmente me atrai. Infelizmente tive que adiar por conta da pandemia, gastos, outras prioridades etc”, desabafa.
Com a crise de coronavírus, há algumas semanas, Daryel perdeu seu emprego.
Choque de realidades
Camisas de time, correntes de prata, cabelo sempre na régua, óculos espelhado, risquinho na sobrancelha. O estilo chavoso de Dayrel, consequência de sua vivência ligada à cultura periférica, chamava a atenção de seus colegas de trabalho. Principalmente daqueles que ainda tem a visão de que todas pessoas da periferia são envolvidas com crime.
“Era notório. Apesar de haver respeito, sempre tinham coisas e falas, talvez até sem pensar, que eram para mim. Lembro que se eu chegava com algo novo, como um relógio, já vinham as piadinhas sobre roubo”, lembra.
Mas ele não chamava atenção apenas por seu estilo. Nessa época, já muito ligado à cinema e literatura, acabava causando surpresa ao falar sobre determinados assuntos, como cinema, literatura e política. Os comentários, lembra, eram sempre de surpresa: “ih, olha lá, Dayrel tá por dentro, manja”.
Chavoso da USP, o estudante de ciências sociais, Thiago Torres, conhece bem esse sentimento de causar espanto quando alguém sem o estereótipo acadêmico mostra que sabe das coisas.
Reprodução - Instagram/funkeiroscults
Thiago Torres (Chavoso da USP).
Depois de entrar em uma das maiores universidade do país, a Universidade de São Paulo (USP), Thiago sentiu o peso enorme de ser um jovem negro, periférico e gay em um meio tão elitizado. Com um texto de desabafo postado nas redes sociais, acabou ganhando visibilidade.
Reprodução
Hoje, o Chavoso da USP possuí milhares de seguidores nas redes sociais, canais que usa para levantar debates e reflexões sobre desigualdade social, a vida como universitário e local de troca de informações.
Essa visibilidade que as redes sociais trouxeram pra a vida do estudante fez com que se tornasse exemplo para muitos jovens, mesmo que não goste de se auto-rotular dessa maneira.
“Acho que a gente não pode se auto intitular porta voz ou representante de nada, são as pessoas quem vão definir isso.
Mas, sim, muita gente fala que se sente representada por mim. Seja os estudantes universitários periféricos, seja os alunos das escolas em que eu dou palestras, ou meus seguidores periféricos em geral.
E, querendo ou não, eu faço essa ponte entre a quebrada e a universidade, seja compartilhando o conhecimento que adquiro na universidade, seja pressionando a universidade, por dentro, a se tornar mais inclusiva aos estudantes pobres”
Funkeiros também pode ser cults
Dayrel conciliava seu tempo entre o trabalho, os bailes e páginas que mantinha onde postava trechos de filmes e livros. Para ele, aquilo era uma espécie de grafite online. Mas perceber que, mesmo nas redes sociais, as coisas ainda eram muito elitizadas, incomodava. Coisas da sua realidade, como o funk, não tinham espaço junto desses conteúdos.
“Parece que não encaixa na mente das pessoas, como se o que você ouvisse ou vestisse impedisse de saber de outras coisas”, denuncia.
Para ele, isso era uma “fita absurda”. Pensando em desconstruir essa ideia de que o modo de se vestir e falar influenciam no conhecimento, decidiu fazer uma mistura entre o mundo intelectual e o funk. No inicio deste ano nascia a página Funkeiros Cults.
No começo, Dayrel não esperava tamanha repercussão. “Lancei a page (página) mas admito que ainda assim achei que ia ser algo bobo algo, normal, não achei que ia ter esse crescimento todo”, mas depois de ver que as publicações estavam viralizando na internet percebeu a força daquilo.
As primeiras publicações eram montagens bem humoradas com imagens de funkeiros famosos e frases de filmes e livros traduzidas para a linguagem do funk. Depois de um tempo, Dayrel quis fazer algo novo, mais original.
Segurando o livro “A Metamorfose” de Franz Kafka, fez uma mini sinopse do livro, considerado um clássico da literatura mundial. “Caralho, o menor virou um inseto“. Preciso e certeiro, como uma das letras de funk que entram na cabeça e não saem mais.
Reprodução - Instagram/funkeiroscults
Daryel Azevedo
Percebendo que mais que uma página de meme, aquilo poderia ser um bom canal para desconstruir o preconceito ainda existente em relação à cultura periférica, começou a trazer pessoas reais para suas postagens, mostrando que quem gosta de funk não é um poço de ignorância, como alguns ainda pensam.
“Queria mostrar que tem pessoas reais. Ai comecei a fazer as fotos com os crias aqui da área mesmo, meu irmão, meus amigos, tudo moleque sangue bom”, conta.
Além disso, pessoas vem aderindo à causa, mandando fotos para a página. Essa adesão gerou otimismo:
“Eu vejo o pessoal vindo real com a intenção de quebrar esse preconceito que ainda existe”.
Paulo Freire e o poder da linguagem
Reconhecido por ser um dos principais educadores do país e do mundo, Paulo Freire acreditava que entender o contexto de vida do educando e trazer isso para o processo de educação era um dos principais pontos para o sucesso.
Reprodução - Instagram/funkeiroscults
Sem ter a pretensão de ser comparado com um dos maiores nomes da educação mundial, a Funkeiros Cults acabou seguindo os passos do notório educador, mesmo sem saber.
“Hoje mesmo um mano veio e disse que tá aprendendo mais pela page, pegando dica, do que o que aprendeu na escola”, conta o criador da página.
Max Maciel, coordenador pedagógico do coletivo RUAS, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) focado na mudança social de jovens do Distrito Federal, vê essa tradução de conteúdos considerados cults para a linguagem das ruas, como a Funkeiros Cults, como uma inversão do que sempre foi feito, além de facilitar a criação de novas:
“O conteúdo acadêmico nada mais é que a linguagem da rua traduzida pro academicismo, onde as pessoas valorizam, batem palmas, fazem congressos, seminários, publicam teses, mas o povo em si não sente em sua vivência todo esse aprendizado.
Se você consegue traduzir esses conteúdos pra linguagem das ruas, você está devolvendo todo esse processo pra rua, numa compreensão e sinergia”.
O último bailão do fim do mundo
Com o sucesso da página, um grupo no Facebook, chamado “Funkeiros Cults – O último Bailão do Fim do Mundo“, foi criada, inicialmente para o compartilhamento de memes. Porém, a iniciativa chamou a atenção de professores de todo o Brasil, que se juntaram neste grande baile para ajudar os funkeiros cults da forma como conseguirem.
Reprodução - Instagram/funkeiroscults
Mais de 100 professores, divididos por disciplina, se disponibilizaram para tirarem dúvidas de alunos, compartilhar materiais de estudos, além de participar das discussões sobre política, gênero, sociedade, ativismo entre outros assuntos que rolam por lá.
Rafael Santos, professor de Geografia, é um dos muitos que se juntaram nesse grande baile solidário, que de uma simples brincadeira, hoje já começa a dar frutos:
“Busco ajudar as pessoas o máximo que eu puder. Saber que outras pessoas também estão fazendo o mesmo é muito gratificante, ainda mais nesse momento que estamos vivendo. O pessoal do grupo precisa e vamos ajudar no que der, afinal, conhecimento é libertador, como dizia Paulo Freire”.
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Apaixonada por leitura, a estudante amazonense Emilly Alves, de 13 anos, moradora no Bairro Cidade Nova de Campo Maior recentemente participou de Programa na Rádio Pioneira de Teresina, decidiu criar a página ‘’Diário Literário de Emilly’’, para compartilhar e incentivar outras pessoas a descobrirem o mundo mágico que os livros carregam. Com o incentivo da mãe, Jéssica Alves, de 32 anos, as duas começaram o projeto como mais uma forma de estimular o aprendizado da pequena, e, em menos de uma semana, a iniciativa ganhou grandes proporções, recebendo comentários de escritores e elogios de internautas. “Ficamos muito felizes com a repercussão, principalmente a Emilly”, afirmou Jéssica. #livros #apaixonadosporlivros #literatura #CampoMaior #emilly (em Campo Maior, Piaui, Brazil) https://www.instagram.com/p/CAxQBCQFLdxdtKH19AAUoZv2ZE66o0-7XX_8440/?igshid=sveo2qzy9jq3
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Convido vocês para o lançamento da obra "O Meu Engenho de Estrelas" do poeta amazonense @calmirsbferreira. Quero agradecê-lo por me deixar fazer parte deste livro. Tive a honra de ser convidada para escrever o prefácio. Para mim, será um momento muito especial, pois marca uma nova fase da minha vida, mais especial ainda, porque foi o último texto meu, revisado por minha mãe. Tenho certeza de que lá do céu deve estar muito feliz. A minha ligação com as palavras desse admirável poeta começou na infância, mas apenas o conheci na vida adulta, quando comecei a trabalhar como jornalista. Nesta época ele estaria a lançar sua primeira obra em território nacional. Hoje suas poesias romperam fronteiras e já chegaram ao mercado internacional. Eu me sinto feliz e grata por ter produzido uma das primeiras matérias a divulgar esse talento. Se você deseja sentir paz, esperança e inspiração, acessa o link que tá minha bio (no meu perfil), confira uma entrevista linda 😍, que fiz há algum tempo atrás com essa figura cheia de luz. E eu espero por você no lançamento do livro! 😺 7 de Fevereiro #poesia #poetacarlosalmirferreira #literaturanacional #euamoler #instabooks #bookstagram #editorapenalux #jornalista #literatura #literaturaamazonense #leitura #poeta #poesias #omeuengenhodeestrelas #prefácio #entrevista https://www.instagram.com/p/B6-s1TeHQRCezeIDYvaPUrlNrN-cInoqcouQ5A0/?igshid=166bgjdai8fk3
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Academia Amazonense de Letras #Letras #Literatura #Artes #Conhecimento #Saberes https://www.instagram.com/p/BxLtkjAnNNi/?igshid=1w3vkfaj21i4r
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Festival de Literatura Negra: curta cinco dias de programação online
Durante cinco dias, você tem a chance de conferir a programação online e super empoderada do primeiro Fellin (Festival de Literatura Negra da Zona Norte de SP). Organizado pela bibliotecária Ketty Valencio, responsável pela Livraria Africanidades, o evento tem debates plurais e inéditos – além de uma série de performances.
As lives são transmitidas pelo YouTube do Felin entre os dias 13 e 17 de julho. Estão programados cinco debates, uma oficina, uma contação de histórias e duas performances. Para não perder nada, acompanhe o Instagram do evento.
Tudo começa às 19h20 do dia 13, com a performance da atriz, artista e pesquisadora de danças de matrizes africanas Fernanda Dias. Ela é uma das fundadoras de Os Ciclomaticos Cia de Teatro e do Coletivo Negraacåo.
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A primeira mesa às 20h. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa e Miriam Alves falam sobre os 42 anos de Cadernos Negros. A série organizada pelo Quilombhoje ajudou a impulsionar a produção literária afro-brasileira.
No dia 14, às 19h20, a poeta Victoria Sales realiza uma performance. Já às 20h, Elizangela Souza, Bianca Santana e Jenyffer Nascimento discutem o tema “Nossos Passos Vem de Longe”.
Descubra programas imperdíveis na nossa Agenda Online!
A autora amazonense Paloma Franca Amorim ministra uma oficina de escrita pela plataforma Zoom no dia 15, às 15h. As vagas são limitadas, por isso é preciso se inscrever aqui. Entre 2006 e 2018, ela foi colunista semanal de crônicas e contos no jornal paraense “O Liberal”. Em 2017, lançou seu primeiro livro de contos: “Eu Preferia Ter Perdido um Olho”, pela Alameda Casa Editorial.
Mais tarde, às 19h20, a artista multilingual e arte educadora Aryani Marciano conta histórias relacionadas ao povo Tchokwé. Para encerrar o dia, às 20h, Junião e Odara Dele discutem o tema “Infância, território sagrado”.
O dia 16 começa com a performance Sarau Alcova, às 19h. O coletivo foi criado em 2018 para dar foco às criações do publico negligenciado, preto, periférico e LGBTQIA+. Depois, às 20h, Cidinha da Silva e Vilma Piedade discutem as “Narrativas para a emancipação”.
Para encerrar o Festival de Literatura Negra da Zona Norte de SP, no dia 17, Israel Neto e Lui Ain Zaila debatem sobre “Afrofoturismo”, às 19h30. Já às 20h30, a poeta, atriz, cantora e slammer Poeta Valentine faz uma performance.
Aproveite para curtir outras atrações online!
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Festival de Literatura Negra: curta cinco dias de programação onlinepublicado primeiro em como se vestir bem
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A leitura e a palavra cantada de contos da literatura amazonense marcaram o início das atividades do projeto “Nem todo herói usa capa, alguns leem livros”, nesta quinta-feira (1º), na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon). A equipe de voluntários visitou o... https://ift.tt/2ZsifSm
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A Imortalidade Amazônica, organizada por Paulo Queiroz e Franciná Lira, é um capítulo importante na história da Literatura Amazonense. Um instantâneo da produção literária contemporânea local que será uma ótima porta de entrada para os leitores que querem ter contato com este apetitoso grupamento de nossos artistas “barés”, filhos de nossa terra, naturalizados ou de coração. Os autores desta coletânea, mesmo que maquinalmente, oferecem um panorama da nova face da literatura local, ajudando a pontuar a produção artística, mostrando que a literatura produzida no Amazonas se prepara para viver um novo período promissor. Por mais que não seja fácil produzir literatura onde até o presente momento falta-nos incentivo, onde temos um tímido grupo de leitores e livrarias a contar-se nos dedos, os autores aqui inseridos demonstram o compromisso em preconizar melhorias em prol de uma nova geração de ávidos leitores e escritores. Autores dispostos a fazer com que a literatura amazônida fale de nós, de nossa cultura e de nossa gente ao mundo. — Jackson da Mata (em Porto de Lenha Editora)
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Periscópio 6: O estrangeiro na narrativa fraturada - leitura de Relato de um certo oriente
por Jean Marcos Torres de Oliveira e Marcellus Vital**
Resumo: Este artigo apresenta um estudo acerca da figura do estrangeiro no romance de Milton Hatoum, Relato de um certo oriente (1989), mais precisamente na contribuição para o desenvolvimento narrativo, tendo em vista que o texto é fragmentado e reúne os relatos de personagens com quem a narradora inominada, de volta para sua terra, interage. Embora boa parte dos relatos venha de membros da família, outros, como Dorner, o alemão, amigo de Emir, contribuem com informações sobre o passado obscuro da personagem e de todos ao seu redor. Sua presença, contudo, é marcada por uma postura quase neutra, representada pela mania de registro e o olhar intermediado pela lente de sua câmera. Procuramos expor a ideia de uma Manaus marcada pela pluralidade de etnias e vozes, mas que, com isso, se formou fraturada e conflituosa, o que está explícito, sobretudo, na sua urbanização. Parte dessa formação começa com o primeiro ciclo da borracha, tal qual foi mostrado por críticos como Rafael Leandro (2014). Quanto ao hibridismo social, procuramos embasamento em Homi Bhabha (1998) e Zilá Bernd (1998), que nos ajudam a compreender o processo de formação multifacetado do qual a capital amazonense é exemplo.
Palavras-chave: Miltom Hatoum; Relato de um certo oriente; estrangeiro; narrativa.
Abstract: This paper aims to study the figure of the foreigner in the Milton Hatoum’s novel, Relato de um certo oriente (1989), more precisely in the contribution for the development narrative, in view of the text is fragmented and it gathers the stories of characters with whom the innominate narrator, back to her land, interacts. Though a good part of the stories comes to members of the family, others characters, like Dorner, the German, friend of Emir, contributes with information about the dark past of the character and all around her. The presence of Dorner however is marked for a posture almost neutral, represented by the mania of record and the look intermediated by the lens of your camera. We try to explain the idea of a Manaus marked by the plurality of ethnicities and voices, but what thereat it was formed fractured and conflicted, what is explicit, mainly, in its urbanization. Part of that formation begins with the first rubber cycle, such as was demonstrated for critics like Rafael Leandro (2014). As for social hybridity, we seek grounding in Homi Bhabha (1998) and Zilá Bernd, who help us to understand the process of multifaceted training whose the Amazonian capital is example.
Keywords: Milton Hatoum; Relato de um certo oriente; foreigner; narrative.
Introdução
Milton Hatoum, embora importante para a literatura brasileira contemporânea, ainda não ganhou destaque na historiografia recente, aparecendo, por exemplo, apenas em um parágrafo de Alfredo Bosi na atualização de sua História concisa da Literatura Brasileira, quando apenas o Relato havia sido publicado. Trabalhos que explorem aspectos que justifiquem sua importância, como é parte de nosso objetivo, são necessários na divulgação de um escritor motivado em evidenciar os processos de desenvolvimento de uma região até então pouco explorada na literatura, ou apenas explorada com elementos relativos ao exotismo do espaço.
Em texto publicado fora do Brasil, na revista Letterature d’America, Milton Hatoum (2002, p. 5-17) aborda questões relativas ao seu primeiro romance, sobretudo no que concerne à questão do estrangeiro na narrativa. Tal marca não aparece apenas nas personagens que surgem ao longo do texto, mas na forma como suas raízes libanesas contribuíram para a elaboração do Relato de um certo oriente (1989). Suas próprias experiências durante o regime militar são evocadas, com inúmeras ressalvas, para explorar o universo ficcional que possui marcas históricas de um tempo e espaço muito específicos, a Manaus do século XX com memórias ainda mais antigas as quais remetem, por exemplo, aos tempos da economia da borracha, seu auge e derrocada, que é acompanhada do desenvolvimento da cidade e o estabelecimento das famílias que migraram em busca de uma vida melhor.
Sem dúvida, os aspectos das relações com o Outro, a forma como os nativos interagiram com os imigrantes e como, ao longo do tempo, esses imigrantes se tornaram parte daquela sociedade são temas explorados pelo escritor amazonense, que não esconde algumas de suas leituras ressonantes nos seus textos e que nos ajudam a compreender como Milton Hatoum entendia parte dessas relações. Seu texto para a revista italiana nos apresenta duas epígrafes curiosas, sendo a primeira do argentino Jorge Luís Borges (1899-1986), consagrado pelo seu realismo fantástico que representa um dos pontos altos da literatura latino-americana; a outra de um dos maiores escritores da literatura brasileira, o mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), que explorou, ao máximo, as questões de alteridade, dos estrangeiros no interior de sertão e a recepção deste sertanejo, marcada geralmente pela cordialidade de ambas as partes, o que explica a epígrafe extraída do monólogo de Riobaldo no célebre Grande sertão: veredas (1956), o único romance de Guimarães Rosa e um dos grandes textos da nossa literatura. Ao longo de suas andanças pelo sertão como jagunço, Riobaldo vai nos apresentando a alguns viajantes que estavam de passagem ou que foram tentar ganhar a vida nas paragens do interior brasileiro. É o caso do turco Assis Wababa e do alemão Vuspis. Riobaldo afirma que sempre gostou muito dos estrangeiros, travando certa relação afetiva com alguns.
Alguns outros textos do Guimarães Rosa exploram mais profundamente a questão da interação entre o nativo e o Outro, como é o caso da novela do volume Corpo de baile (1956), “O recado do morro”, que narra a viagem de uma comitiva guiada por Pedro Orósio com o objetivo de que seo Alquiste visite e pesquise as locações por onde passam. Ao longo do texto, ambos expressam suas opiniões explícita ou implicitamente sobre o outro; seo Alquiste se admira pela estatura de soldado de Pedro, enquanto este, namorador, se espanta quando ouve de Alquiste sua vontade de namorar uma moça mulata, quando possuía o desejo de conseguir uma com traços mais europeus.
O que nos chama mais atenção, no entanto, são os aparatos utilizados pelo naturalista, voltado para a ciência se valendo de binóculos, uma câmera, cadernetas, além de desenhar com perfeição os elementos que procura reproduzir, como animais e plantas. Para alguns críticos, como Marli Fantini (2008), os mecanismos aproveitados, como câmera e binóculos, seriam alguns aspectos da Modernidade que contrastam com a realidade sertaneja, numa época em que a codaque ainda despontava nos mercados europeus como marca popular de máquinas fotográficas. Isso vai nos ajudar a pensar no modo como Milton Hatoum utiliza aspectos semelhantes no alemão Dorner, que é parte essencial em Relato de um certo oriente, por ser portador de fragmentos importantes para compor o mosaico que a personagem inominada busca construir ao voltar a sua terra.
I
Muito se tem pensado a pós-modernidade no contexto brasileiro em muitas esferas do conhecimento e a Literatura não é a exceção. O que aqui se pensa, contudo, ainda que no estudo de um autor que apresenta seu primeiro romance ainda na década de 80, é uma obra que lida com aspectos de uma modernidade, muitas vezes dita tardia, no contexto de uma cidade que teve, basicamente, seu desenvolvimento ligado aos aspectos econômicos provenientes da extração da borracha, tornando-se quase exclusivamente fornecedora de matéria-prima. A migração da população de estados vizinhos ou mesmo de países do outro lado do Atlântico tornou o quadro ocupacional ainda mais caótico e desordenado, sem que fossem impostas políticas que ajudassem a controlar o desenvolvimento confuso em que Manaus estava envolvida.
Mais tarde, no segundo ciclo da borracha, o Governo brasileiro aumentou o fluxo de imigrantes na tentativa de fornecer ainda mais material para os Aliados na Segunda Guerra. A tentativa de apresentar aspectos mais próximos daqueles modelos europeus, que funcionaram parcialmente na recém-criada capital brasileira, surgiram quando os militares assumiram o comando do país. Esse suposto progresso, pregado pelos então governantes, apresentam aspectos próximos aos que surgem nos estudos da modernidade na América Latina.
O artigo de Carlos Gadea (2007) apresenta-nos um panorama sintético sobre os aspectos da modernidade na América Latina que muito se assemelham com a formação da capital amazonense. Sobre seu estudo, Gadea nos diz
A idéia [sic] de fundo é enfatizar que uma análise da modernidade na América Latina sugere destacar aqueles dispositivos normativos que se referem à formalização e institucionalização de experiências sociais e culturais. A modernidade apareceria, assim, como uma categoria claramente definível devido ao produto de uma construção sociológica baseada na clássica dicotomia entre modernidade e tradição. (GADEA, 2007, p. 105)
Com isso, surge a ideia de modelos pré-estabelecidos retirados da tradição que emerge de países que já passaram pelo processo de modernização. O que se assemelha, já no campo da literatura, com o exposto por Tania Pelegrini sobre a modernidade problematizada como proveniente desses modelos europeus. Alguns aspectos, contudo, apresentam-se radicais em relação aos originais, numa forma muito mais superficial do que dotada de profundidade em relação aos aspectos sociais. É contestável, segundo o autor, a ideia de que há apenas uma substituição de valores tradicionais pelos modernos no contexto latino-americano, sendo mais apropriada a ideia de uma hibridização desses entre a modernidade e a tradição. Além disso, há a concepção de que, como não há um tempo relativo necessariamente à modernidade o desenvolvimento na América Latina supõe “uma repetição destemporalizada de uma suposta modernidade gerada na Europa ou nos Estados Unidos” (GADEA, 2007, 106), mais uma vez reforçando a ideia dos modelos, desta vez pensando, também, no desenvolvimento do país norte-americano.
Todas essas ponderações servem para argumentar que não se pode pensar numa modernidade “particular” na América Latina. Talvez não no sentido da independência baseada nos aspectos sociais, históricos e econômicos que deveria repensar a concepção de modernidade no âmbito em questão, mas a ideia de hibridização faz com que surja, de certa forma, algo que é substancialmente diverso dos moldes europeu ou norte-americano, o que no caso do Amazonas chamamos “fraturada”, pois é baseada em tentativas retalhadas que formaram a totalidade apresentada até hoje na cidade de Manaus e arredores.
Outros aspectos são importantes para a introdução do nosso trabalho, que aparecem na obra de Milton Hatoum e são problematizados pelo autor amazonense, embora não se possa subentender que apenas um ou outro apresente os componentes que expomos até aqui, sendo necessária a compreensão de que os romances e contos compõem uma unidade que se liga por intermédio de alguns personagens ou até mesmo de discussões que perpassam as obras de Hatoum.
Daí que, se num primeiro momento, o escritor focou em dramas familiares cujo cenário é a Manaus lidando com as consequências de seu primeiro fluxo migratório, em outro estaremos diante do quadro de tentativa de modernização empreendida pelo Governo Militar, bem como a repressão daqueles que lutaram contra o progresso a qualquer custo dos governantes, o que é, também, parte da ideia de modernidade na América Latina, na qual a marginalização foi ferramenta para criar a superficialidade da qual tratamos. Ferramenta utilizada para impor uma suposta ordem socialcultura (GADEA, 2007, p. 107) baseada numa institucionalização proveniente de seus modelos e ideais progressistas. Fala-se numa “universalização de normas” e “generalização de valores” que procuram excluir aqueles que não dispostos a seguirem tais sistemas pré-estabelecidos. “Na América Latina, este se inicia e se consolida com a industrialização massiva, a urbanização em grande escala e os diferentes dispositivos de racionalização da vida cotidiana” (GADEA, 2007, p. 107), que é exatamente o que surge em Manaus quando esta se torna imensa fonte de renda para a Nação. Foi deixada de lado durante a derrocada da borracha e mais uma vez visada quando eclodiu a Segunda Guerra e a necessidade de dar suporte aos Aliados. A implantação da Zona Franca pelos militares encerra um ciclo de desenvolvimento completamente fraturado e que, como consequência, tornou Manaus exemplo dos aspectos mais evidentes da modernidade na América Latina. A obra hatoumiana é permeada desses aspectos, que se encontram tanto na forma como no conteúdo da narrativa. Partimos do primeiro romance e dos elementos primordiais do universo manauara na ficção de Milton Hatoum, com a figura do estrangeiro e a voz que este ganha num ambiente em que se envolveu durante os processos migratórios do primeiro ciclo da borracha, assim como a forma que a narrativa ganha, passando por diversos narradores e compondo o quadro geral.
II
Se, em Guimarães Rosa, temos o sertão sertanejo como o espaço predominante da narrativa, em Milton Hatoum, Manaus, como dissemos, é que aparece evidenciada e em um período que foi apenas parcialmente explorado na Literatura brasileira, ainda que certos rótulos, como literatura amazônica, persistam nos estudos literários ainda hoje. Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais o escritor amazonense tenha se preocupado em fugir, de certa forma, do exotismo:
Por outro lado, escrever sobre a floresta exuberante, os índios e seringueiros pode significar um aceno à imagem que muitos leitores estrangeiros (e brasileiros) esperam de um escritor do Amazonas. Por isso uma de minhas preocupações foi evitar o exotismo e a descrição da natureza, que, muitas vezes, podem tornar-se uma camisa de força, uma forma de inscrever o texto numa área geográfica. (HATOUM, 2002, p. 11)
Evidentemente que, como o próprio autor afirma, é difícil que não escapem certas descrições ou aspectos da infância de Milton Hatoum na narrativa, mas esse não foi o foco do amazonense que mergulha nos conflitos familiares na medida em que a narrativa avança, o que descentraliza da questão espacial e da natureza exuberante, como nos mostra Rafael Voigt (2014), que estudou um memorial do ciclo da borracha nas narrativas amazônicas, reservando um bloco ao amazonense. O texto se mostra importante por trazer alguns desses aspectos que Hatoum pincela sem necessariamente aprofundar. Voigt afirma que aspectos da economia e migração para Amazônia estão expressas em algumas obras de Milton Hatoum indiretamente, mas logo são deixadas um pouco de lado para dar lugar aos dramas familiares. Essa é uma das questões de maior relevância, ao tratarmos do escritor, pois se tornou uma constante em todos os romances que publicou até então.
A narrativa hatoumiana funciona como um foco de câmera cinematográfica que se expande aos poucos, revelando outros elementos ao redor do núcleo. Enquanto em Cinzas do Norte (2007), último romance publicado, a personagem Mundo viaja pelo Brasil e alguns países da Europa, em Relato de um certo oriente é centralizada a visita da narradora principal à Manaus após anos internada em uma clínica de repouso, possivelmente em função da “agitação vertiginosa da cidade de São Paulo [onde morou]”, como afirma Marleine de Toledo, em seu Milton Hatoum: itinerário para um certo Relato (2006), texto esclarecedor para o exame de aspectos básicos da narrativa, como enredo, personagens, espaço etc. Voltando para a questão do foco, Dois irmãos (2000) é como um meio termo, em que a ação se passa toda em Manaus, contudo um dos irmãos gêmeos vai morar no Sudeste do país e se torna um dos apoiadores do progresso proclamado pelo regime militar. Embora, na infância, Yaqub tenha morado no Líbano, o rapaz, ainda que marcado pela experiência, reserva severo silêncio em relação ao tempo em que esteve fora do Brasil.
Com isso, podemos pensar que o trajeto que o escritor percorre pela obra é um pouco o funcionamento do desenvolvimento da capital amazonense, que aos poucos foi se abrindo para o mundo externo. Curiosamente isso tudo parte de famílias que não são nativas da região, embora aos poucos se tornem tão amazonenses quanto os que habitam há tempos a região. Daí surge uma questão relevante quanto aos tipos de estrangeiros que compõem a sociedade manauara.
É sabido que a economia da borracha foi um dos grandes modos de produção que ajudaram a sustentar a nação durante período áureo do ciclo. Milhares de pessoas, brasileiras ou não, migraram para o interior do Brasil em busca de melhores condições de vida. E isso não aconteceu apenas uma, mas duas vezes, quando consideramos que houve dois momentos em que a borracha esteve em alta, chamados “ciclos gomíferos”. O estudo de Voigt, que pensa parte da Literatura Amazônica como um memorial dos ciclos da borracha, nos ajuda a compreender como as questões relativas ao período da borracha foram ficcionalizadas, além de serem parte de uma problematização que se estende até hoje nas narrativas produzidas na região:
pode-se afirmar que o ciclo da borracha é o grande responsável pela entrada definitiva das letras amazônicas no circuito nacional. Porém, essa entrada não se promove de maneira simplista. Ao mesmo tempo em que a borracha produzia mudanças na estrutura econômica e social da Amazônia, criavam-se novas condições materiais para a produção e circulação da literatura, impulsionadas pela atmosfera belle époque de Belém e Manaus, as duas principais capitais do Norte. (LEANDRO, 2014, p. 8)
Fala-se numa atenção dada pelo centro do país às terras amazônicas em função da movimentação financeira gerada pelo ciclo da borracha, o que projetou novamente a imagem do eldorado amazônico para o imaginário nacional *. O espaço que se abre, com isso, é plural, de culturas múltiplas que interagem para a construção dessa sociedade multifacetada que compõe a Manaus de Hatoum. Vale dizer que, no segundo ciclo, proveniente da Segunda Guerra Mundial em que o Brasil se tornou o principal fornecedor de borracha dos Aliados, o Governo brasileiro patrocinou diversas campanhas de apoio à migração de povos para a Amazônia, com promessas que, em quase todas as vezes, não se realizaram. Foram feitos cartazes com ilustrações do suíço Jean-Pierre Chabloz (1910-1984) com temas de oportunidades na capital amazonense, anunciando fartura e vida nova que dificilmente chegaram para os que resolveram acreditar.
Ao conceber, em sua obra literária, um cenário onde grupos minoritários migrantes — libaneses, alemães, portugueses etc. — transitam entre culturas diversas, Milton Hatoum confere à Amazônia um aspecto de “não amazonismo”, fazendo dela um local fronteiriço e multifacetado, que se distancia da concepção de homogeneidade cultural como sendo um importante instrumento edificador de um espaço literário periférico. Segundo Homi Bhabha:
A demografia do novo internacionalismo é a história da migração pós-colonial, as narrativas da diáspora cultural e política, os grandes deslocamentos sociais de comunidades camponesas e aborígenes, as poéticas do exílio, a prosa austera dos refugiados políticos e econômicos. É nesse sentido que a fronteira se torna o ligar a partir do qual algo começa a se fazer presente em um movimento não dissimilar ao da articulação ambulante, ambivalente [...] Os próprios conceitos de culturas nacionais homogêneas, a transmissão consensual ou contígua de tradições históricas, ou comunidades étnicas “orgânicas” — enquanto base do comparativismo cultural —, estão em profundo processo de redefinição. (BHABHA, 1998, p. 24)
Ao assumir uma postura não apologética acerca da Amazônia — não retratar de maneira idealizada o homem amazônico e o meio, preocupar-se não somente em levantar questões regionalistas e folclóricas ou centrar a narrativa apenas na recuperação de histórias amazônicas reprimidas —, Milton Hatoum, em Relato de um certo Oriente, afasta-se da “era de oposições binárias, de essencialismos e de culto à pureza” (BERND, 1998, p. 43), para aproximar-se “d[e] outra, marcada por heterogeneidades, polifonias e cruzamentos onde a recuperação identitária estaria mais atenta à recuperação de traços, vestígios, fragmentos e de vozes até então inaudíveis do que ao registro de vozes legitimadas e oficiais” (BERND, 1998, p. 43). Ou seja, Milton Hatoum constrói uma narrativa em que essas múltiplas vozes surgem de grupos variados sem que haja qualquer hierarquia entre os discursos. Somente munido de cada parte é que o todo é moldado e desvela o quadro que a narradora busca em sua viagem. Enquanto familiares contribuem para o relato, o alemão Dorner também possui sua parcela de narrativa, ou mesmo a quase escrava Hindié Conceição, que servia a família de Emilie e que esteve ao seu lado durante o tempo final de sua vida.
Trata-se, portanto, da elaboração de um espaço múltiplo (mas também antagônico, hostil), capaz de absorver elementos provenientes de culturas exteriores ─ obtidos graças às novas conexões internacionais ─, sem, contudo, deixar de lado valores culturais próprios:
Se algo havia de análogo entre Manaus e Trípoli, não era exatamente a vida portuária, a profusão de feiras e mercados, o grito dos mascates e peixeiros, ou a tez morena das pessoas; na verdade, as diferenças, mais que as semelhanças, saltavam aos olhos dos que aqui desembarcavam, mesmo porque mudar de porto quase sempre pressupõe uma mudança na vida: a paisagem oceânica, as montanhas cobertas de neve, o sal marítimo, outros templos, e sobretudo o nome de Deus evocado em outro idioma. (HATOUM, 2017, p. 29)
Consequentemente, esse “intercâmbio de valores” abre espaço não apenas para benéficas permutas antropológicas, questões referentes ao enriquecimento do cabedal culinário, pois é, também, um vasto campo para prováveis conflitos interpessoais. Tais embates surgem como decorrência das dificultosas adaptações ao hibridismo cultural, seja no campo das relações sociais, religiosas, linguísticas e culturais, aos quais aqueles que residem no entre-meio são submetidos.
Para certos personagens do romance de Hatoum, alojados nos interstícios das diferenças culturais, as adaptações não decorrem harmonicamente. Foi o que ocorreu, provavelmente, com “[o]s quatro filhos de Emilie; Hakim e Samara Délia, (...), e os outros dois, inomináveis, filhos ferozes de Emilie, que tinham o demônio tatuado no corpo e uma língua de fogo” (HATOUM, 2017, p. 10), personagens que transitavam entre duas realidades sociais e que “sentiram na pele” o quão difícil foi adequar-se à atividade de empregar a língua portuguesa na escola e nas ruas da cidade de Manaus e conviver com o aprendizado do “alifebata” árabe na própria residência. Tratava-se de uma dualidade cultural de “viver vidas distintas”, à qual precisavam submeter-se diariamente.
Por outro lado, em se tratando de hibridismo cultural, há, também, a possibilidade de absorção ou aceitação de valores locais, por parte dos migrantes fixados no entre lugar. Em Relato de um certo Oriente, um momento de aceitação da cultura da Região Norte pode ser percebido quando a personagem Emilie faz uso dos serviços de um vidente chamado “Tucumã”, famoso por conseguir desvendar o paradeiro de pessoas desaparecidas nos rios e na floresta.
Graças aos “poderes” do vidente, o corpo de Emir ─ irmão de Emilie e grande amigo do alemão Dorner ─, pôde ser encontrado. Além de ser possuidor da habilidade visionária, Lobato Naturidade, nome de batismo de Tucumã, era reconhecido por ser um renomado curandeiro. Respeitado por Emilie, Naturidade tinha entrada garantida na Parisiense e, posteriormente, na nova casa da família. Quando solicitado, o curandeiro lançava mão de plantas e ervas da Amazônia para o preparo de unguentos medicinais
Era um mestre na cura de dores reumáticas, inchações, gripes, cólicas e um leque de doenças benignas; para tanto, misturava algumas ervas com mel de abelha e azeite doce, e massageava os membros inchados e reumáticos do corpo com uma pasta que consistia na mistura de cascas piladas de várias árvores, gotas de arnica e uma pitada de sebo de Holanda. (HATOUM, 2017, p. 105)
Desta maneira, as reminiscências pessoais presentes na narrativa da personagem central de Relato de um certo Oriente, e que dão vida a esse romance de Milton Hatoum, ilustram o quão importante podem ser as relações entre “passado-presente” e o posicionamento cultural do “novo” no entre lugar ─ tal ideia encontra-se no pensamento de Silviano Santiago ─, local estratégico que possibilita a junção de temas, aparentemente, incompatíveis, como a inserção da cultura árabe em território amazônico. Ou ainda, propicia o desenvolvimento de um mesmo tema em situações diversas. Trata-se, portanto, do enriquecimento da literatura produzida na América Latina, que, gradativamente, se desvincula do “compromisso” de relatar unicamente as experiências relacionadas ao imaginário local.
III
Falamos sobre a multiplicidade de discursos que surgem no Relato de um certo oriente. Vozes oriundas de classes e culturas diferentes que possuem o mesmo fim, de relatar os momentos conturbados do passado obscuro que a narradora vasculha na volta para Manaus. Nas palavras de Marleine Toledo:
O Relato é um romance de memórias, polifônico, com cinco narradores. O primeiro narrador relembra alguns fatos, pessoas, situações, depois passa a palavra para um segundo, este para um terceiro e assim sucessivamente. Um parece completar o anterior, em pé de igualdade, sempre em busca do que aconteceu no passado. (TOLEDO, 2006, p. 35)
Não é, contudo, um discurso passado propositalmente, pois a narradora principal, cujo nome não nos é revelado, é que procura, nos diálogos com as personagens, remontar o passado. Alguns membros da família e outros que não são aparecem com seus relatos e ajudam na busca por respostas sobre os momentos mais importantes da vida da matriarca Emilie e seu relacionamento com os familiares.
Embora as vozes sejam de pessoas diferentes, o estilo é o mesmo para todos, sem marcas que caracterizem as particularidades de cada um, mesmo que suas impressões sobre as outras personagens sejam dissonantes. Isso tudo porque, ainda que sejam diferentes pessoas, todos os relatos são padronizados pela narradora principal. Ela mesma atesta que não pode transcrever aspectos que caracterizassem cada um, suas diferenças e trejeitos.
Também me deparei com outro problema: como transcrever a fala engrolada de uns e o sotaque de outros? Tantas confidências de várias pessoas em tão poucos dias ressoavam como um coral de vozes dispersas. Restava então recorrer à minha própria voz, que planaria como um pássaro gigantesco e frágil sobre as outras vozes. Assim, os depoimentos gravados, os incidentes, e tudo que era audível e visível passou a ser norteado por uma única voz, que se debatia entre a hesitação e os murmúrios do passado. (HATOUM, 2017, p. 189)
Isso explica a padronização dos discursos de cada um dos narradores e sustenta o papel da narradora principal de recuperar as memórias de um tempo já quase esquecido em que as lembranças são turvas, neblinadas e, aos poucos, vão se formando, o que é passado para o leitor na forma estrutural do romance, constituído dos fragmentos recolhidos por ela. O leitor também é partícipe da obscuridade que vai desaparecendo, conforme a narrativa se desenvolve, ou melhor, conforme os fragmentos se completam. Evidentemente, é preciso certo de grau de atenção, pois as vozes se confundem e, por vezes, não é bem marcado o momento em que a palavra está com outro narrador. Isso tudo ajuda na atmosfera de suspense e confusão em que a narradora está envolvida na busca pelas respostas.
O que nos chama atenção é a intromissão de alguém externo, relativamente próximo à família, mas um estrangeiro, que se inseriu já adulto no mundo amazonense e que, ainda assim, tem papel importante na constituição da narrativa. Dorner, como dissemos, lembra muito aqueles estrangeiros rosianos, por aspectos comportamentais, de certa forma, e pelas ferramentas que utiliza. Sua fotografia de Emir é o último registro do irmão suicida de Emilie, que mandou pôr a imagem no túmulo do rapaz, além de fazer outras treze cópias que utilizava para um ritual todos os anos no dia em que se completava outro ano da morte do irmão, que já tinha ameaçado se suicidar, quando, ainda no Líbano, a irmã havia se juntado à um convento em Trípoli. Embora ambos também se apresentem, de certa forma, como estrangeiros, alguns traços, principalmente em Emilie, atestam para a fusão entre os mundos. Ela era fervorosa católica, enquanto o marido praticava a religião mulçumana.
Curiosamente, Dorner, de forma simbólica, era fotógrafo, como se captasse aquele mundo pela sua lente e não necessariamente com seus olhos. Uma marca que reforça sua posição como apenas observador. Quando da morte de Emir, assim que percebeu sua expressão apática a caminho do suicídio, não procurou saber o que se passava; tirou a foto que Emilie tanto adorava, o que, segundo o próprio Dorner, era um dos seus maiores arrependimentos, ainda que para isso tivesse a justificativa de que estava atento para a orquídea que o rapaz segurava, um raro exemplar que chamou atenção por, naquele dia, ter fotografado outras não tão raras:
Não sem um certo arrependimento, eu pensava: por que eu não levara Emir para a casa dos Ahler? Por que fotografá-lo com a orquídea na mão e deixá-lo vagar, atordoado, a um passo do desastre? Aquelas imagens de Emir, ainda vivas na minha memória, estavam registradas no filme da câmera que eu esquecera no La Ville de Paris. (HATOUM, p. 74, 2017)
Podemos apenas supor que a falta de interferência de Dorner se deva a um aspecto inconsciente de não interferência naquele mundo, mantendo a postura de observador que destacamos no alemão, ainda que as troças de Hakim não ofendam o alemão que parece ter consciência de sua neutralidade. O mesmo Hakim, durante seu relato, realça o aspecto de distanciamento de Dorner e comenta a fusão que aparentava entre seus olhos e a câmera fotográfica, sempre em mãos, embora atribua sua postura neutra ao comportamento que desvelava uma personalidade distraída:
Tu e teu irmão conheceram Dorner. Não sei se naquele tempo foste aluna dele, mas sabes o quanto era distraído. Às vezes pensava que sua distração era uma maneira de se esquivar das pessoas e da realidade que o cercavam; tudo o que ele enxergava era enquadrado no visor da câmera; dizia-lhe, troçando, que as lentes da Hassel, dos óculos e as pupilas azuladas dos seus olhos formavam um único sistema ótico. Ele nunca se irritava com essas comparações um tanto aberrantes; respondia-me que ao olhar para a Hassel via seu próprio rosto. (HATOUM, 2017, p. 66-67)
A proximidade do alemão Dorner com o estrangeiro rosiano não se dá apenas pelo uso de aparelhos específicos, mas pelas atitudes metódicas e a necessidade de registro, o que é várias vezes reforçado por Hakim, inclusive na imagem que forma do alemão quando funde os olhos do fotógrafo à lente da câmera, como um eterno observador cuja função não é muito mais que a de recolha de dados, embora a construção se desse, obviamente, pelo estranhamento e troça de Hakim da constante utilização da máquina fotográfica, como se ambos fossem um só. Se o Alquiste de “O recado do morro” tomava nota de traço de tudo que conhecia, Dorner, de O relato de um certo oriente, não foge desse padrão. Nas conversas com Hakim, a narradora inominada descobre que o alemão mantinha registros das suas conversas com o marido de Emilie, revelando uma necessidade de preservar toda a informação da melhor forma possível, além de destacar a imensa contribuição de Dorner para a composição da narrativa, embora pela via da distância e do registro fiel dos fatos, o que não possibilitou uma intervenção no dia do suicídio de Emir. Ao contrário do estrangeiro rosiano, no entanto, o alemão não nutria muito gosto pela cidade em que residia, Manaus, classificando-a como “corroída pela solidão e decadência” (HATOUM, 2017, p. 68).
Dorner também apresenta uma postura sobre os imigrantes. Compara Emir aos outros que padeceram ao adentrarem nas matas, adoecendo e enfrentando feras na busca por oportunidades que os tirassem da pobreza, conseguindo um império depois de uma vida de desgraças. O desdém do alemão pela situação às quais os imigrantes se submetiam pode explicar o distanciamento que manteve, durante a vida, daquela realidade. Foi confidente dos percalços enfrentados pelo marido de Emilie e pôde, com isso, colher bastantes informações a respeito dos imigrantes.
Em certo momento é perceptível que, como bom observador, Dorner se dedicou bastante ao entendimento do mundo amazonense. Desvelando o choque de várias culturas, comenta a estranheza que seu comportamento podia causar na família de Emilie: “Nunca me perguntaram se eu era religioso, mas talvez condenassem secretamente este estrangeiro que vivia no mato entre os índios, que nunca entrara numa igreja, e, no entanto, podia rezar uma Ave-Maria em Nhengatu” (HATOUM, 2017, p. 77). Vale destacar que Emilie praticava a religião católica e o marido a muçulmana, mas tinham um pacto para deixarem que seus filhos escolhessem a religião que preferissem, ou nenhuma das duas. A versão da reza em Nhengatu é marca da colonização que impôs a religião católica aos índios, assim como sua língua, mesmo que alguns poucos ainda tenham mantido a língua materna, o que aparentemente não foi um impedimento para catequizá-los.
Em Hatoum, temos inúmeros estrangeiros, vindo de lugares diversos. Enquanto uns, como as famílias libanesas recorrentes em suas narrativas, acabam se mesclando ao novo espaço, sendo nos seus hábitos ou nas formas mais simples, como a culinária, que apresenta tanto ingredientes locais como os importados, outros são responsáveis por mudanças drásticas na vida amazonense. A maioria dos projetos arquitetônicos na cidade são empreendidos por estrangeiros, como o do indiano em Dois irmãos, que é o responsável pelo ápice da batalha entre os gêmeos. Dorner é alguém que, em O relato de um certo oriente, está lá para observar e é o responsável por revelações cruciais para a composição da narrativa. Não carrega os traços caóticos dos estrangeiros que procuram enriquecer com os projetos megalomaníacos na cidade. Também não se mistura completamente com os povos locais. Apresenta uma posição relativamente neutra sobre aquele espaço, embora seja muito próximo da família de Emilie, o que lhe rendeu uma parcela portentosa de informações acerca de todos. Sua relação com a cidade, embora conturbada, é de curiosidade, pois afirma que foi nela que adquiriu a mania de anotar tudo que ouvia de todos. É essa a postura de um outro numa terra nova, desconhecida, e que guarda inúmeros segredos e mistérios. Dorner, contudo, diferentemente de outros, desponta como parte da lente de sua câmera, captando aspectos que considera importantes, sendo parte determinante do quadro que se forma, ao juntar todas as peças buscadas pela narradora inominada de volta à sua terra natal.
Conclusão
Quando pensamos em Relato de um certo oriente logo nos vem à cabeça a imagem de um quebra-cabeças, um todo composto por pedaços fraturados que aos poucos apresenta os conflitos e problemas de uma família libanesa no Amazonas. É evidente que, como fratura, o todo não é sempre captado de maneira plena, um pouco semelhante à própria literatura, na qual nunca podemos contemplar uma obra na sua forma completa, sempre necessitando a contribuição de novas visões sobre o objeto. Semelhante também à cidade manauara, vítima de uma modernidade padronizadora, que procurou, em certo momento, reproduzir modelos que não se encaixavam na realidade amazonense.
Esses aspectos estão explícitos na chegada de estrangeiros empresários que queriam forçar a construção de suas obras megalomaníacas quanto representado nos núcleos familiares apresentados por Milton Hatoum. Famílias que conseguiram se adequar durante muito tempo àquele novo mundo, convivendo com suas religiões, costumes, culinária etc. mas que também, aos poucos, foram fraturadas. Por outro, a figura de Dorner é de um estrangeiro neutro, que possui sua parcela de contribuição na narrativa, mas que pouco interfere nos dramas familiares descritos por Hatoum. Nada fez, por exemplo, quando Emir se encaminhava para o suicídio, ainda que notasse certa estranheza na fisionomia do rapaz. Esse é apenas um aspecto de um tipo de estrangeiro que não queria fazer parte daquele mundo, mas observá-lo, guardando distância dos costumes e hábitos locais, mesmo que também fosse parte da cidade, ainda que apenas registrando e descobrindo aquelas paragens.
Milton Hatoum possui ciência de todos esses tipos de estrangeiros que compõem a capital e soube representá-los de maneira contundente. Mais do que isso, deu voz a eles, sejam os que quiseram ser parte de Manaus ou os que tinham conhecimento dos problemas da cidade, como foi o caso de Dorner e sua câmera. O Relato e a obra hatoumiana, como um todo, são dotados desses aspectos que nos ajudam a compreender não só a Manaus em formação, mas a Manaus oriunda dos processos de modernização que formaram uma capital construída com retalhos, múltipla, plural, mas um tecido remendado em que se é possível notar cada fio da costura.
Nota
* Sobre o eldorado amazônico, ver o já célebre estudo de Neide Gondim (1994). Vale dizer que o próprio Rafael Leandro nos fala um pouco sobre como o foco do eldorado vai mudando ao longo do tempo na Amazônia. Se para os colonizadores era a ideia do ouro, vinculada ao imaginário sobre a mítica cidade banhada na cor dourada, ao longo do tempo se transformou na ideia da borracha ou mesmo nas riquezas naturais de forma. Desta última, talvez o melhor exemplo seja a ideia de ocupação do regime militar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BHABHA, Homi. “Locais da cultura”. In: O local da cultura. Trad. Eliana Reis; Gláucia Gonçalves; Myriam Ávila. Belo Horizonte: UFMG, 1998. p. 21-42.
GADEA, Carlos. Dinâmica da modernidade na América Latina: sociabilidades e institucionalização. Topoi. v. 8, n. 15, p. 105-123, jul.- dez. 2007.
GONDIM, Neide. A invenção da Amazônia. São Paulo: Marco Zero, 1994.
HATOUM, Milton. Relato de um certo oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
_________. Relato de um certo oriente. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
_________. Um certo oriente. Letterature d’America, Roma. v. 22, n. 93-94, 5-17, 2002.
FANTINI, Marli. Relato de uma incerta viagem. In: Guimarães Rosa: fronteiras, margens, passagens. São Paulo: SENAC; Cotia: Ateliê, 2003. p. 185-206.
LEANDRO, Rafael Voigt. Os ciclos ficcionais da borracha e a formação de um memorial literário da Amazônia. Brasília, 2014. 220 f. Tese (Doutorado em Letras), Faculdade de Letras, Universidade de Brasília.
ROSA, João Guimarães. Corpo de baile: sete novelas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1956. 2 v.
__________. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1956.
TOLEDO, Marleine. Milton Hatoum: itinerário para um certo Relato. São Paulo: Ateliê, 2006.
**Jean Marcos Torres de Oliveira (Doutorando/CAPES/PPGL/UFPA)
**Marcellus Vital (Doutorando/UFPA)
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Vacinação contra Covid-19 começa em janeiro e Manaus terá prioridade, afirma Pazuello
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta quarta-feira, 13, que a vacinação contra a Covid-19 começa ainda no mês de janeiro no Brasil. A afirmação foi feita durante pronunciamento em Manaus sobre as ações de enfrentamento à Covid-19. Segundo o ministro, a imunização deve começar na capital do Amazonas, considerando o preocupante cenário de mortes e aumento de internações no município. “Vamos vacinar em janeiro e Manaus será a primeira a ser vacinada. Ninguém receberá a vacina antes de Manaus. A vacina será distribuída em todos os estados na sua proporção e população. E Manaus terá prioridade também”, afirmou.
Pazuello lembrou ainda que o país trabalha, atualmente, com o uso de duas vacinas, citando os compostos do Instituto Butantan e da AstraZeneca. Segundo ele, “três ou quatro dias” depois da aprovação da Anvisa a aplicação das doses será iniciada. “Quando a Anvisa concluir sua análise de segurança e eficácia, três ou quatro dias depois estamos distribuindo a vacina no Brasil. �� janeiro [início da vacinação]. Quando tivermos a posição da Anvisa teremos material para distribuir e temos capacidade de vacinar o Brasil todo. Nós somos o país que mais imuniza no mundo. Vamos fazer igual com a Covid-19, o resto é apenas pressão política e pressão por interesses particulares.”
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O ministro afirmou, no entanto, que, mesmo com o início da campanha de vacinação, a imunização coletiva contra a doença, não será atingida rapidamente. “A vacina induz a produção de anticorpos, essa é a função da vacina. Essa produção não é no dia seguinte, a literatura fala de 30 a 60 dias. Não é tomar a vacina no dia 20 e no dia seguinte estar fazendo festa. Não vai resolver o problema da infraestrutura e tratamento precoce de Manaus, não temos 30 ou 60 dias para esperar a imunização total”, disse, defendendo a importância do diagnóstico clínico para a doença. O ministro afirmou ainda que o governo garantiu a contratação de 180 profissionais de saúde para atuar na capital amazonense, que enfrenta falta de leitos e de equipamentos médicos para pacientes infectados pelo coronavírus.
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Domingo, não na massa. Livraria e Editora Caminho Espírita a todo vapor para atender nos queridos clientes e amantes da literatura espírita. Ave Cristo! (em Federacao Espirita Amazonense)
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