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8 DISCOS DE MULHERES AFRO-LATINAS
No pique desse 25 de Julho, Dia das Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, lançamos aqui 8 discos de mulheres pretas que representam a latinidade no sumo e na alta, cada um a sua forma, textura e gênio. Algumas pioneiras, outras amargaram do ostracismos, mas todas geniais a sua forma e em seu respectivo tempo.
Poderíamos, claro, chegar com personalidades de cunho mais famoso como uma Elza, Clementina, Dona Ivone, Juçara Marçal, Slipmami ou Gaby Amarantos. Omara Portuondo, Celia Cruz, Princess Nokia, Nick Minaj, Cardi B, Rihanna entre muitas outras mulheres pretas da mais alta patente. Mas aqui também damo espaço as boas novas, e tamo sempre na atividade, tentando espalhar sons dispintados do grande público, seja ele antigas novidades perdidas, ou novos talentos e sonidos... dito isso bora dá-lhe!
SONIA SANTOS [1975]
Começando com uma das figuras mais injustiçadas da nossa música brasileira.
Em 1975, o cenário musical do samba foi marcado por cantoras de talento notório. Clara Nunes estava na gravadora Odeon, alcançou um sucesso estrondoso com "Claridade", o que motivou a sua antagonista fonográfica Philips a buscar uma voz desconhecida para o samba, trazendo assim Alcione, na época conhecida como "uma cantora maranhense que já se apresentava nas noites cariocas."
Discos Continental com Sonia Lemos em "7 Domingos", e Tapecar disparando com Beth Carvalho em dois discos antagônicos; "Para Seu Governo" e "Pandeiro e Viola". A disputa entre gravadoras era acirradíssima. Paralelamente, a gravadora Som Livre apostou em Sonia Santos, uma cantora carioca que já tinha experiência desde o início da década de 1970 e havia gravado trilhas sonoras de novelas da TV Globo. Foi com a Som Livre que Sonia lançou seu primeiro álbum, "Sonia Santos", produzido por Guto Graça Mello.
No disco homônimo de estreia, Sonia Santos cantou um pouco do nosso Brasil, do choro ao partido alto. Da roda baiana ao samba-canção. Contendo 11 faixas de muito bom gosto, Sonia Santos abre com "Madeira de Lei", sambão de Wilson Medeiros e Lino Roberto, onde assinam mais 3 sambas no disco, que ainda tem composições de Waldir Azevedo, as canetadas em conjunto de Noca da Portela e Mauro Duarte, além de Assis Valente, o sambalanço de Jorge Ben e a parceria de Élton Medeiros e Cristóvão Bastos. Uma das regravações desse álbum inclusive, ganhou um significado premonitório na voz de Sonia. Em "Adeus América" (Geraldo Jacques e Ary Vidal, 1945), Sonia com seu tom elegante e irônico, canta sobre as belezas da nossa terra e a necessidade de voltar. Pois no final dos anos 80 ela acabou migrando para os Estados Unidos por falta de espaço na cena fonográfica brasileira.
Embora Sonia tenha lançado um segundo álbum pela Som Livre, intitulado "Crioula" (1977), com músicas autorais e tudo, ela não alcançou o mesmo destaque no meio do samba, que ainda encontrava uma identidade e passava por processos de descolonização do próprio gênero, trazendo apenas pessoas com a pele mais clara para uma carreira de longevidade maior na indústria fonográfica.
Fiquem com essa pérola, lançada há quase 50 anos e relançada em 2017 em versão remasterizada. A daqui é a do chiado mesmo.
ALIKA MEETS MAD PROFESSOR [2009]
Isso aqui é aquele clássico instantâneo. Uma das artistas mais influentes do reggae latino, a uruguaia Alika deixa de segunda o habitual reggae roots em que é a base de suas apresentações com seu grupo Nueva Alianza - e se junta ao lendário produtor e engenheiro inglês Mad Professor, alquimista máximo da cultura do reggae music.
Em Alika Meets Mad Professor, lançado em 2009, a chapação fica por conta de batidas mais secas, com baixos graves e loops, delays, echos e reverbs tomando conta do ambiente. Batidas de Ragga, Dancehall e Dub, fazem a frente do disco, que mistura ainda elementos latinos e da cultura Hip-Hop.
O disco é um dos mais bem aclamados pela crítica e público, levando a artista nos tops da billboard de Uruguai e Argentina - país em que foi radicada desde o final de sua infância - além de uma série de shows em tour latina. As 14 músicas (na verdade sete, cada uma tem uma versão adubada) trazem clássicos como "No les des fuerza a Babilonia" - lançada originalmente em 2011 no disco "Razón, Meditación, Acción"- aparecem com nomes alternativos (esta por exemplo virou The Lion Of Judah), mais músicas inéditas em letras sobre resiliência, amor e com teor político como de praxe da rapper e cantora. E por essas e por outras que trazemos aqui para relembrarmos o auge desta guerreira regueira. Importante principalmente em tempos coléricos na nossa América Latina, trazer um pouco de mensagem de amor, consciência e revolução!
CUBAFONIA [2017]
Herbie Hanncock Já disse, os países mais musicais do mundo são Brasil e Cuba. E aqui, agora, nesse instante só, trazemos uma das artistas mais celebradas dos últimos tempos. Daymé Arocena é uma daquelas artistas atemporais, que assim como muitas no nosso solo sagrado Brasilis, tem em sua voz a força e o poder da natureza. Cantora e compositora, nascida no município de Diez de Octubre, na província de La Habana, a cubana traz consigo um legado musical único. Inspirando-se nas clássicas raízes rítmicas de Cuba, Daymé expande sua música em "Cubafonía" - segundo álbum da cantora e terceiro registro em estúdio na época, antes de lançar Sonocardiogram (2019), que sucede o disco aqui em questão - com outros ritmos e continentes, no qual gastou dois anos viajando numa espécie de intercâmbio cultural.
Apesar de sua crescente carreira internacional, Daymé Arocena mantém firmemente sua dedicação à cultura musical cubana. Neste novo álbum, ela busca fundir diferentes dialetos do país, desde os ritmos enérgicos de Guantánamo até os ritmos cativantes do guaguancó e as baladas dos anos 70. Cantando principalmente em espanhol, Daymé também explora versões em inglês e francês, além de exaltar a cultura iorubana, demonstrando sua habilidade para se conectar com diversos públicos.
Ao longo dos últimos anos, Daymé foi guiada pelo mentor Gilles Peterson, um renomado DJ, locutor, pesquisador, produtor e promotor musical. O disco foi produzido ao lado do artista Dexter Story, com arranjos de cordas de Miguel Atwood-Ferguson, e lançado pela Brownswood Recordings, gravadora de Gilles. "Cubafonía" é uma jornada única pelas raízes e sonoridades contemporâneas de Cuba e a riqueza da música afro-latina e caribenha, com muito mambo, rumba, salsa e otrás cositas más.
CREATURE! [2017]
Nitty Scott é uma rapper e ativista conhecida por explorar temas de espiritualidade e empoderamento. Afro-Boricua americana, sua música reflete sua identidade afro-diaspórica e suas raízes caribenhas. Seu estilo musical é uma fusão de subgêneros da cultura Hip-Hop com elementos afro-caribenhos, trazendo percussão, flauta e outros instrumentos de tradições latinas e africanas.
O álbum "Creature!" é uma narrativa mágica e de autodescoberta que abraça todas as complexidades da identidade diaspórica de Nitty. Com 13 faixas, o projeto combina sons afro-caribenhos e latinos (inclusive brasileiros) com densos 808s, resultando em uma sonoridade que é uma pisa à parte... Se em seu primeiro disco, The Art Of Chill, Nitty falara sobre sua sexualidade, abusos, depressão e problemas da vida cotidiana, em "Creature!" a porto-riquenha do Bronx celebra suas raízes afrodescendentes e explora a luta por uma identidade descolonizada, apresentando a personagem Negrita, que a leva a um mundo ficcional que representa seu ancestral em tempos pré-colonial. "Creature!" também aborda temas de feminilidade e lutas enfrentadas pelas mulheres pretas de todo o mundo, em específico as que tem um pé ou os dois na cultura latina e sua exotização mundão afora, assim como pretos de pele mais clara são indagados sobre sua 'negrititude'.
OYE MANITA [2018]
Este disco é uma espécie de ode à arte duma das mulheres mais incríveis do nosso continente, e também as raízes afro-latinas que Totó la Momposina representa, dos fundões de Santa Marta e Bolívar, Colômbia, diretamente da América do Sul, do sol e do sal pro mundo. "Oye Manita" resgata tempos difíceis, mas de muito aprendizado e memórias douradas, onde a jovem colombiana chegara a Paris recém refugiada, em 1979. Sem falar francês, sem dinheiro e sem um lugar pra cair dura. Foi acolhida por uma companhia de teatro no mesmo ano e logo ela estava viajando por toda região da Provença com esse grupo de artistas de mímica, artistas de rua e músicos, juntamente com seus balão de ar quente, ônibus de dois andares, carrossel e cinema móvel. A voz formidável, o carisma e as músicas de Totó foram um sucesso imediato, e a França então se tornou um trampolim para sua carreira.
São 16 canções, trazendo melhor da cúmbia e da música do povo e do folclore colombiano, reunindo músicas de três discos lançados em mais de 40 anos de música e cultura. As faixas são primeiras gravações que Totó fez em Paris na década de 1980 e abrange sua carreira até os dias atuais, incluindo músicas inéditas. É um pacote de alta qualidade com o melhor da boa música.
GUAMAENSE [2019]
Guamaense, primeiro álbum do duo paraense Guitarrada das Manas, traz uma sequência de músicas instrumentais e experimentais que caminham entre três vertentes: oitentista, música latina e guitarrada paraense. Beá e Renata Beckmann buscaram referências primeiramente nos sons das ruas da periferia de Belém como o brega, tecnomelody, a guitarrada com sonidos de calles amazônidas, como a cumbia, a lambada e o reggaeton. A base está aí na cidade de Belém e seus arredores, ilhas e igarapés. Trazem ainda a vinda dos sintetizadores da década de 80 e a world music, como Daft Punk e New Order dançando num terreirão de sonoridades da Amazônia afro-futurista e cyberpunk. Na visão de Renata, “o álbum é fruto de uma grande viagem que tivemos pensando nos variados tipos de sons que tocam na cidade. Belém é muito musical e os sons se misturam pelos bairros: a guitarrada, o brega marcante, o tecnobrega, tecnofunk se mesclam com pop mundial, entre samples, versões e o autoral”. Isso pode se confirmar passando pelas ruas do Guamá, bairro de onde vem o gentílico que dá nome ao disco, e também uma das maiores periferias do norte do país, e a mais populosa da cidade de Belém. Marcada pelo contraste da violência e ausência policial, com a também crescente efervescência cultural. O resultado é transcendental, dançante e celebra o encontro do ancestral, o periférico e da tecnologia, além de carregar o sotaque nortista e os valores de duas mulheres nortistas fazendo música, algo que sabemos que para além de gênero, raça, a geografia também é um problema eloquente no nosso país.
TROPICALISIMA [2020]
Alejandra Robles é uma artista nascida e criada em Oaxaca, zona litorânea do México. Conhecida como La Morena, Alejandra é um dos ícones femininos da música e da dança mexicana, representando mulheres negras dentro e fora do contingente mexicano, o que inclui outros imigrantes latinos que tentam a vida em terras saxônicas como cubanos, colombianos e venezuelanos.
Nascida em 1978, Alejandra começou na arte tocando violão e cantando pelos vilarejos de sua cidade quando criança. Quando jovem, estudou canto lírico e atuava em óperas regionais. Hoje é uma cantora, musicista e compositora que se tornou uma voz essencial para a comunidade afrodescendente no México.
Por meio de sua música e ativismo, ela tem ajudado a preservar e promover as únicas tradições culturais da comunidade afro-mexicana, aumentando assim a visibilidade e disseminação da cultura de suas raízes.
Apesar da narrativa dominante, os pretos ainda tem uma presença muito forte e que cria uma identidade com teor cultural e afetiva para os mexicanos. O país também têm uma história e presença forte do extermínio do povo periférico, e por algum motivo que não por acaso coincide muito com os daqui; cor da pele. No México, ainda hoje, muitas pessoas desconhecem a existência dos afro-mexicanos, algo que vemos com afro-índigenas e outros povos originários que foram saqueados, colonizados e miscigenados com outras raças e culturas. Com mais de 20 anos dançando e cantando e 4 discos de estúdio, a afro-mexicana representa mulheres afro-latinas ao redor do globo com sua voz de rara beleza. Seu último lançamento é Tropicalisima, onde explora os ritmos afro-cubanos que eram trilhas dos chamados era de ouro do cinema Mexicano, entre 1936 e 1959. O mambo, a rumba, boleros e chachachás se juntam a gêneros mais contemporâneos como a cúmbia e a salsa, que formam este combo tropicalíssimo, pronto pra refrescar esses dias quentes de fim de semana.
BE SOMEBODY EP [2020]
Nessa nova década, o reggae jamaicano floresceu com uma nova geração de talentosas mulheres, trazendo uma energia autêntica e rechaçando estereótipos de exotismo. Essa presença feminina no gênero era anteriormente reconhecida apenas nos coros de apoio, mas finalmente ganharam espaço e autonomia. Hempress Sativa, Jah9, Etana, Xana Romeo e outras têm sido expoentes dessa transformação, mantendo vivo o espírito do reggae roots para as novas gerações.
Dentre essas artistas, Sevana se destaca como uma força ascendente na cena musical. Nascida em Savanna-la-Mar, a jamaicana começou a decolar em 2008 quando fez parte do grupo feminino SLR e conquistou o terceiro lugar no reality show Digicel Rising Stars, algo como o American Idol jamaicano. Após o fim do grupo em 2009, Sevana entrou em um hiato artístico até 2016, quando decidiu mergulhar de cabeça na música e lançar seu primeiro EP solo, intitulado simplesmente "Sevana". O EP foi um sucesso e proporcionou à artista sua primeira turnê solo pela Europa.
Já em 2020, Sevana presenteou seus fãs com o lançamento de seu segundo EP, "Be Somebody". O trabalho é uma jornada íntima de autorreflexão, abordando temas como relacionamentos, amor e crescimento pessoal. Em uma entrevista, ela revelou que a última faixa do EP, "Set Me On Fire", foi escrita após o término de um relacionamento abusivo, tornando sua música e figura pública ainda mais importante e significativa.
"Be Somebody" conta com seis faixas, todas escritas pela própria Sevana. O registro conta com misturas autênticas de r&b, soul e pop com o reggae roots e seus seguimentos, de forma moderna e ensolarada. A autoestima das mulheres pretas também é refletida em suas letras e clipes, com cores e fotografias impecáveis, o que completam o conceito mor do EP.
Com sua autenticidade e talento inegáveis, Sevana é uma das muitas vozes femininas e representante caribenha da lista, que enriquecem o reggae jamaicano e a nossa. Sempre emanando boas vibrações e amansando os corações de pretinhas e pretinhos pelo mundo.
__ espero que curtam a lista, em breve upamos o link
kelafé!
#dia da mulher negra latina e caribenha#afro-latino#afro-caribenho#afro-brasileiro#música latina#música afro-latina#salsa#rumba#mambo#lambada#tecnobrega#dub#hip-hop#hip-hop latino#latin rap#reggae#reggae roots#cumbia#experimental#ragga#raggamuffin#dancehall#trap#jazz latino#guitarrada#selekta koletiva#d
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resenha #7︱solitária
"Uma jaula deixa de ser a vilã da liberdade só porque é pintada de dourado?"
avaliação: ★★★★★ ︱contém spoilers!
Formada em jornalismo, Eliana Alves Cruz trouxe a vida mais uma de suas obras tocantes. A autora carioca já ganhou os prêmios Silveira Oliveira 2015 e Jabuti 2022 na categoria contos e teve suas obras elogiadas por Conceição Evaristo e Itamar Vieira Junior. Por meio da escrita nua, Eliana nos deixa à mercê de seu gênio, tornando o leitor em sentimento puro durante a leitura de Solitária.
A narração de Solitária é feita por três pontos de vista, sendo o livro separado em três partes: a primeira narrada pela filha Mabel, a segunda narrada pela mãe, Eunice e, por fim, a terceira rotulada "Solitárias" que é narrada pelo quartinho na cobertura dos patrões, onde Mabel e Eunice passaram uma parte significativa de suas vidas.
Mabel é uma daquelas crianças que já nasceram prontas para serem adultas, que já foram feitas com mais resistência para lidar com a brutalidade do mundo real. Ambas a mãe e a filha são negras e pertencem a uma classe social muito inferior. Trabalhando para uma família de classe média alta em um condomínio de luxo por mais tempo que deveria, Eunice aceitou todo o tipo de tratamento que, por muito tempo, confundiu com a típica frase de seus patrões "A Eunice é da família."
Certo dia, Eunice se vê com uma oportunidade única nas mãos: se livrar daquele passado e seguir em frente com o restante de sua vida. Porém, quando volta ao condomínio, certo tempo depois, um terrível crime acontece e ela é deixada com duas opções: revelar quem aquela família realmente era ou seguir um roteiro criado por d. Lúcia, sua antiga patroa.
"O silêncio da solitária é um estrondo, uma trovoada de desprezo que não para de soar na cabeça e na alma."
Obra prima, obra prima e obra prima. Me vi terminando esse livro na mesma noite em que o comecei e pensando nessa resenha tantas vezes ao decorrer do enredo que é até complicado transcrever todos os meus sentimentos e ideias.
Primeiramente, não o processei como uma obra prima assim que o terminei, de cara. Tinha achado o livro muito bom, mas certas cenas ainda ressoavam muito frescas na minha memória, sabia que tinha de esperar alguns dias — nessa caso, horas — para processar tudo que tinha lido e ver o caminho que a minha cabeça, junto ao meu coração de leitora, decidia seguir.
Durante a leitura, posso dizer que senti nojo, raiva e muita tristeza. Raramente alguma felicidade. A estória em si inicia-se com Mabel, que observamos, com o passar das páginas, crescer em uma mulher resiliente. Senti muita raiva dela em diversos momentos, uma raiva de adolescente para adolescente, sendo bem honesta.
Quando o assunto era as relações amorosas de Mabel, que iniciou-se tão jovem nesse caminho e, aos 14, já se via grávida, uma frustração adolescente me consumia. É compreensível, porém. Não podemos deixar de lado todas as coisas que a levaram a tais descuidos: a falta de conhecimento sobre assuntos sexuais, reprodutivos e até mesmo como cuidar do próprio corpo em geral. Vemos isso em maior parte nos locais mais pobres dos países, onde o descuido sempre acaba sendo maior por x, y e z motivos. O que quero dizer com frustração de adolescente para adolescente é que eu, uma adolescente extremamente consciente da minha segurança, vendo uma menina de 14 anos se deixar levar a esse nível pelos hormônios da idade e a ânsia por ser mais velha que, Mabel deixa bem claro, todas as meninas do colégio já parecem ser e ter, é um processo um tanto quanto raivoso.
Mas pude sentir sua dor em tantos momento e, acima de tudo, compreender como ela se sentia. Sempre se sentiu deixada de lado pela mãe, que considerava a filha dos patrões um anjo, quando na verdade era uma peste. Queria a sensação de "ter sua idade", de poder, quando mais nova, brincar pela cobertura como as outras crianças que visitavam o faziam, queria poder ser como eles. Até que um dia ela não quis mais. Não levou muito para que Mabel se desse conta de como aquelas pessoas para quem passou a trabalhar junto de sua mãe eram imundas, muito menos tempo que Eunice levou, pelo menos.
Para mim, foi uma história tão intrigante por englobar um pouco de cada personagem do condomínio. O relacionamento de Jurandir com os filhos, Cacau (melhor amigo de Mabel) e João Pedro (primeira paixão de Mabel). O desenvolvimento de João e sua fama, a personalidade angelical de Cacau, o Sargento e a Síndica, que deixou por anos sua empregada em cativeiro, entre outros.
Assim como adorei igualmente a história de Eunice e todas as suas vivências. Esta passou a vida prendida ao trabalho na casa de d. Lúcia, que, por muito tempo, nem percebeu que a prendia. O pai de Mabel, Sérgio, quem amou intensamente por toda a delicadeza que este tinha com a natureza e a arte da jardinagem, já não mais fazia parte de suas vidas se não para pedir dinheiro e viver pelas ruas, por lugares que as duas sequer conseguiam imaginar. Não entendia onde ou quando haviam se perdido um do outro. Com uma mãe doente e tendo que sustentar seus medicamentos caros, uma filha para dar o melhor possível e a si mesma para deixar de pé, sua vida não poderia existir fora daquela cobertura, pois esta as sustentava.
Ambas Mabel e Eunice engravidaram aos 14, e ambas tiveram a criança abortada, Eunice espontaneamente e Mabel voluntariamente. Ler o momento em que Mabel inicia o procedimento (com a ajuda de d. Lúcia, que anos mais tarde a entrega para Eunice) para reverter aquela gravidez de uma forma tão explícita, me foi interessante e doloroso. Interessante pois não sabia como funcionava e doloroso porque conseguia sentir o choro de Mabel na minha pele.
Achei a última parte do livro, "Solitárias", muito genial. Esta é narrada pelo quartinho onde Eunice e Mabel viviam dentro da cobertura. (Mabel percebe, depois de um tempo, que todo nome de coisas que eram para gente de classe inferior sempre vinha no diminutivo). A parede do quarto narra o carinho que sente pela mãe e sua filha, conta todos os momentos difíceis em que passaram por ali e que, após a decisão de Eunice abandonar aquela casa e Mabel ser aceita no curso de Medicina jurando, em frente a toda família de d. Lúcia que nunca mais pisaria naquela casa novamente, nada nunca mais foi o mesmo. Nenhuma empregada utilizava o quartinho como elas. Assim como também narra o retorno de todos nas etapas finais do livro, onde também temos a presença da covid-19.
Achei o final bem digno, a família inconsequente recebeu o que merecia, Eunice deu um novo inicio a sua vida ao lado de Jurandir, seu mais novo amor e Mabel, agora apaixonada por seu melhor amigo Cacau, se torna uma médica na grande cidade e a primeira de sua linhagem a formar-se.
"Sim, quartos se emocionam. Cômodos também se encantam e se escandalizam. Concreto imprime memórias. A sala contou para o quarto, que contou para o corredor, que contou para a cozinha, que me contou."
O livro trata de muitos temas pesados, como se é esperado. Apesar destes, o livro também traz consigo o triunfo dos desfavorecidos e que com muito amor e dedicação conseguimos chegar em lugares inimagináveis, independente dos obstáculos que encontrarmos no caminho. É uma história sobre amor, maternidade, ser mulher, ser negra, ser pobre. Tão lindo e trágico, perfeito para fãs de Conceição Evaristo e suas representações do cotidiano afro-brasileiro.
𝐅𝐈𝐂𝐇𝐀 𝐓𝐄𝐂𝐍𝐈𝐂𝐀:
𝐞𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐚: Companhia das Letras;
𝐩𝐚𝐠𝐢𝐧𝐚𝐬: 168;
𝐠𝐞𝐧𝐞𝐫𝐨 𝐥𝐢𝐭𝐞𝐫𝐚𝐫𝐢𝐨: ficção literária;
𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫: Eliana Alves Cruz;
𝐢𝐥𝐮𝐬𝐭𝐫𝐚𝐝𝐨𝐫 (𝐜𝐚𝐩𝐚): Giulia Fagundes;
𝐜𝐥𝐚𝐬𝐬𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐜𝐚𝐨 𝐢𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐭𝐢𝐯𝐚: +16;
𝐩𝐮𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚𝐜𝐚𝐨: 25 de abril de 2022;
𝐠��𝐭𝐢𝐥𝐡𝐨𝐬: menção de aborto espontâneo, aborto voluntário explícito (por meio de medicamentos), morte explícita, suicídio, racismo, conteúdo sexual implícito, desigualdade social, vivência em cativeiro, escravidão moderna, menção de drogas.
𝐂𝐎𝐌𝐏𝐑𝐄 𝐎 𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐄𝐌:
#livro#literatura#solitária#book tumblr#livros#book#books#resenha#review#escrevendo#escritor#autor#autora#escritos#escrituras#escrita#ficção#trágico#afro-brasileiro#maternidade#amor#triste#leitor#leitura#bookgram#bookstagram#bookstan#ler#lê
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Exu do Blues em 4 atos, 2023 by Emerson Rocha
#Emerson Rocha#Baco Exu do Blues#art#mine#arte brasileira#brazilian art#artista brasileiro#brazilian artist#afro brazilian#cultura brasileira#brazilian culture#blue#dark blue#bluecore#blue aesthetic#dark blue aesthetic#black artist#black painters#brazil#brasil#brazil aesthetic#brasil aesthetic#brasileiro#brazilian#dark#dark aesthetic#brasilcore#brazilcore#brasilidade#brasilidades
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This is a colourization I did of Afro-Brazilian actress Lourdes de Oliveira in 1960. She had a short career as an actress in Brazilian cinema before retiring, only starring in 2 films. She married Marcel Camus, a French director and had 2 children.
You can read more about here and see the original b+w image on Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Lourdes_de_Oliveira
#afro brazilian#afro-brasileiros#brazil#brasil#brazilian#brasileiros#history#lourdes de oliveira#colorized#colorization#rio de janeiro
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PSIU- LINIKER
“pra quem não sabia contar gotas, cê aprendeu a nadar.”
Em 2021 liniker lança seu primeiro álbum solo ‘indico borboleta anil’ e umas das faixas é psiu, composição que representa superação e transformação pessoal. iniciando com a frase acima com alguém que é inpacaz de “contar gotas” e aprende a “nadar”, mostrando um crescimento e/ou adaptação.
Liniker leva pra casa o grammy de Melhor música brasileira em 2022.
Liniker é a frente de seu tempo quando o assunto é arte, amor e sentimentos.
📸 foto por: liniker psiu (visualizer) @liniker
👨🏾💻texto por: @maiscobra
#liniker#cultura brasileira#musica brasileira#afro brazilian#brazil#black culture#black cinema#black women#r&b song#mpbbrasil#mpb icons#mpb#indigo borboleta anil#psiu#artista brasileiro#@fy#brasil#spotify#black is beautiful#fashion#arte brasileira
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De Cabeça em Cabeca da África ao Brasil, até Mim
por Raki Lopes
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Medida Provisória [Executive Order] (Lázaro Ramos, 2020)
#Medida Provisória#Lázaro Ramos#afro-brasileiros#crianças#dystopian drama film#Executive Order#Alfred Enoch#Brazil#cinema brasileiro#Aldri Anunciação#Namíbia Não!#Seu Jorge#Adriana Esteves#Taís Araújo#Mariana Xavier#Cláudio Gabriel#Renata Sorrah#escravidão#slavery#esclavitud#Namibia no!#Rio de Janeiro#América Latina#racismo#racism#passado#sociedade brasileira#afrodescendentes#História do Brasil#vida
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Ele foi o primeiro ator negro protagonista de uma novela (Vidas em Conflito, na extinta TV Excelsior, em 1969). Ele foi o primeiro modelo negro brasileiro a desfilar para uma grife de alta costura. Também foi o fundador do Centro Afro Carioca de Cinema, em 2007. E, embora não seja o primeiro cineasta negro do país, é considerado o pai do cinema negro brasileiro.
Zózimo Bulbul (1937-2013) foi ator, diretor, roteirista e produtor. E a partir de seu curta-metragem vanguardista "Alma no olho" (1974), construiu uma carreira firmemente enraizada na cultura negra do Brasil, culminando no fundamental documentário "Abolição" (1988), que aborda questões ainda hoje espinhosas e não resolvidas sobre a escravidão, sua pretensa abolição e a situação do negro no Brasil durante os 100 anos transcorridos desde a assinatura da Lei Áurea.
Como ator de cinema, trabalhou com importantes cineastas do Cinema Novo nos anos 1960 e 1970, bem como em algumas produções internacionais. São destaques na sua filmografia: "Cinco vezes favela" (1962, episódio "Pedreira de São Diogo", dirigido por Leon Hirszman), "Ganga Zumba" (1963, de Carlos Diegues), "Terra em transe" (1967, de Glauber Rocha), "Compasso de espera" (1969/1973, único filme dirigido pelo dramaturgo Antunes Filho), "A deusa negra" (1979, do nigeriano Ola Balogun), "Quilombo" (1984, também de Carlos Diegues) e "Filhas do vento" (2004, de Joel Zito Araújo). Em um de seus últimos trabalhos no cinema, ele interpretou João Cândido, o "Almirante Negro", no curta-metragem "O papel e o mar" (2010), de Luiz Antonio Pilar.
Zózimo Bulbul é nome fundamental da história do cinema, da arte e da cultura brasileiros, e merecia ter tido muito mais reconhecimento em vida. É um nome a ser muito mais conhecido, lembrado e celebrado.
Aplausos, Zózimo Bulbul!
#zozimo bulbul#cinema#tv#tv brasileira#cinema brasileiro#cinema negro#arte brasileira#cultura brasileira#novelas#elenco brasileiro#dramaturgia brasileira#atores brasileiros#atores negros#cineastas negros#cineastas#centro afro carioca de cinema#cultura negra#cultura afrobrasileira#arte negra#movimento negro
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Poema "Tupibantuguês" celebra a diversidade cultural do Brasil
No último sábado, o poeta brasileiro Antonio Archangelo lançou seu mais recente trabalho, “Tupibantuguês”, como parte de uma série de poemas inspirados por importantes estudos sobre a formação da língua portuguesa no Brasil. A série é baseada nos livros “Latim em Pó: Um passeio pela formação do nosso português”, de Caetano Galindo, e “Camões com dendê: o português do Brasil e os falares…
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#"Camões com dendê: o português do Brasil e os falares afro-brasileiros#"Latim em Pó: Um passeio pela formação do nosso português#banto#caetano galindo#negroafricana#poela Antonio Archangelo#poema#poemas nonsense#poesia#Tupi#Yeda Pessoa de Castro#yourubá
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#Acordeon no Baião#Agogô na Música Afro-Brasileira#Atabaque e Religiões Afro-Brasileiras#Cavaquinho no Samba#Cuíca no Samba#Cultura Musical Brasileira#Flauta Pífano na Música Folclórica#Instrumentos de Percussão Brasileiros Berimbau e Capoeira#Instrumentos Musicais Brasileiros#Instrumentos Tradicionais do Brasil#Pandeiro Brasileiro#Violão de 7 Cordas no Choro#Zabumba no Forró
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Nicola Conte - Umoja (2023)
O renomado multi-artista italiano - arquivista, pesquisador, guitarrista, jazzista, além de DJ e produtor - o mestre Nicola Conte, lançou esse ano o seu mais novo álbum, "Umoja", pela gravadora londrina Far Out Recordings. O que podemos adiantar, é que de todas os mais de 6 álbuns em estúdio de Conte, esse sem dúvidas é o mais satisfatório.
Décimo segundo álbum, "Umoja" é uma ode a unidade planetária de grooves, frequências e bons sonidos ao redor do globo. Não falaremos do real significado, nem da sua origem ou morfologia gramatical do Swahili, mas do que e como ele reflete no disco. Ao longo do LP, tem-se uma experiência imersiva de várias texturas diferentes, com trocas culturais entre países de continentes distintos. Tudo dentro do universo jazz e seus vários arquétipos ao redor do mundo e no escorrer do tempo.
Ao longo de dez faixas, Umoja mergulha no diverso e vasto número de referências e conhecimento que Conte amontoou ao longo de sua carreira como compilador e arquivista. Por isso mesmo, é preciso ser dito um pouco aqui sobre Nicola, sua história na música e afinidade para com a nossa música latina/brasileira.
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Há um fio da meada que faz com que Conte seja tão genuíno nesses vinte e três anos de produção registrada. Prest'enção, eu disse genuíno, não genial. E às vezes isso pode ser melhor, ou mais proveitoso, do que ser algo que demanda expectativas demais. Na Itália, sabidamente as oportunidades são outras que aqui. Primeiro mundo é outro patamar, logo tanto sua personalidade - sempre aficionado por novos grooves, musicista implacável - quanto a questão geográfica, o fizeram um grande compositor e produtor.
Nascido, criado e residindo até hoje em Bari - uma cidade portuária fora da rota turística - na costa Adriática, ao sul do país - agregando um clima quente e costeiro, com lindas paisagens praianas, ruas estreitas e com arquiteturas imponentes que desafiam séculos, além do baixo custo de vida, se comparado com outras cidades. Tudo isso o localiza em posição privilegiada para ignorar as tendências de Roma ou as modas passageiras da capital.
Essa paixão toda de Conte vem desde novo. O artista chamou a atenção pela primeira vez em Bari nos anos 1990 com seu Fez Collective, uma fusão informal de músicos de jazz e progressivo, DJs e ativistas culturais reunidos em prol do cenário alternativo da cidade, onde se apresentavam mensalmente e debatiam sobre a cena local. Nessa lida, iniciou então sua trajetória com o disco de acid-jazz "Jet Sounds" (2000), lançado pela Schema Records. Aprimorou-se em arranjos de frases, pontes e solos e soltou pela mesma gravadora "Jet Sounds Revisited" (2002). Dois ano depois, entra na lombra do pós-hard-bop e lança um dos seus discos mais elogiados, "Other Directions" (2004), lançado pela Blue Noite, nada menos que um dos selos musicais mais respeitados no planeta. Após seu hat-trick passeando pelo Acid, Hard e Pós-Bop, Nicola inicia uma ascensão metafísica ao Jazz Espiritual, lançando desde então muitas músicas com teor místico e com grande influências de Avant-Garde e do Free Jazz. Paralelo a isso, sempre cavucava e pesquisava afundo os grooves ao redor do globo para inspirações e referências. No momento em que chega ao seu quinto lançamento na carreira, estreitou e esmiuçou ainda mais laços com a cultura da bossa-nova e dos clubs. Em "Garota Diferente", álbum em parceria com a brasileira Rosalia de Souza, e lançado em 2004 (e re-lançado em 2007) pela Schema, Nic ultiliza de termos como bossa'n bass & bossa-lounge, onde conseguia muitos espaços dentro de novelas e programas televisivos fora do seu país. O álbum foi o primeiro pontapé para a carreira de Nicola entrar nos trilhos da glória.
A partir de 2008, Nicola lança uma série de 4 discos - "Rituals" (2008), "The Modern Sound Of Nicola Conte: Versions In Jazz-Dub" (2009), "Love & Revolution" (2011) e "Free Souls" (2014) - que perpassam por todos os subgêneros do jazz e outros ritmos aqui citados, com toques novos de Soul, Dub e novas experimentações com a música latina, sobretudo brasileira.
Inclusive, entre 2009 à 2013, Nicola Conte compilou 5 volumes de uma série de coletânea mixada por ele intitulada "Viagem", onde conta com um repertório fruto de sua pesquisa sobre a Bossa Nova e o Jazz brasileiro, contabilizando mais de 80 músicas dos anos 50 à meado dos anos 70. A Compilação foi lançada e catalogada pela Far Out Recordings. Três anos depois, lança seu disco mais famoso, apresentando a cantora Stefania Di Pierro, lançando músicas supostamente Lado B e se apropriando de outras afrobrasilidades. Trabelho conciso, mas sem identidade, apesar de toda musicalidade de Nicola, passa como um som groovado de plástico. Talvez por ser olhar de brasileiro, a crítica seja mais aguda e passível de revisão.
Após o disco com Stefania, lançado pela Far Out Recordings, fez mais algumas outras boas compilações em outras gravadoras como Blue Note, Universal e Prestige, mas foi na Far Out Recordings com quem teve maior afinidade e relevância. E foi nela que resolveu lançar e distribuir pro mundo o seu disco novo, cujo Nicola faz um arremate de toda sua história enquanto músico e musicista, sintetizando bem seu momento e suas influências ao longo da sua carreira.
Composto ao lado de seu amigo de longa data, o guitarrista Alberto Parmegiani, Conte reúne uma impressionante lista de convidados de todo o mundo, incluindo o vibrafonista francês Simon Mullier, o vocalista norte-americano Myles Sanko, o baterista sul-africano Fernando Damon, o ex-baixista de Roy Hargrove, Ameen Saleem e a sensação sérvia da flauta, Milena Jančurić.
Em "Umoja", Nicola Conte continua em sua jornada entre o Jazz e o Soul, as cadências latinas e africanas, dessa vez com a participação das incríveis Zara McFarlane e Bridgette Amofah, representando o Soul-Jazz de Londres.
O disco começa com o zig-zag das vozes, revezando em seis faixas, trazendo desde notas mais altas esfumaçando os instrumental ao fundo, ao mais sutil e charmosa interação de Zara e Amofah com o arranjo. Par1além das belas progressões melódicas, vozes e solos, o apelo das canções que tem letras chamam atenção pela potência lírica, onde aborda-se questões de identidade étnica e problemas sociopolíticos, além de uma poética em que se encaixa tanto na métrica quando na parte harmônica.
São múltiplas camadas que abrangem o décimo primeiro registro em estúdio do maestro italiano. Do mais ensolarado Afrobeat, passando pelos Batuques Afro-Caribeños, os encantos do Jazz Brasileiro... e no fim desemboca-se no Golfo em que tudo começou, na pulsação das águas do Mar Adriático, no ritmo da natureza em unção com o pop, o soul, o acid-jazz e as trilhas de novela italiana dos anos 70.
Lado B (ou Side 2) do álbum, traz-se um pouco mais do experimentalismo, do seu arcabouço enquanto pesquisador, trazendo influências que vão do Juju (Nigeria) e Highlife (Gana), até gêneros mais pops e comuns numa itália veranil como Bari, ritmos quentes como o Jazz House, Acid Disco - assim como as várias vertentes do próprio Funk - e mesclando com instrumentos como a flauta e vibrafone, ganhando ainda mais o ouvinte nessa alquimia sonora maluca do Funk progressivo norte-americano, o Samba-jazz brasileiro, o Afro-jazz do ocidente africano e o pop setentista do sul da Itália.
Nic e as cantoras londrinas seguem flutuando sob a sonoridade forte e original dos músicos da banda base do projeto. São eles o saxofonista tenor Timo Lassy, o tecladista multi-instrumentista Pietro Lussu, o guitarrista Alberto Parmegiani, os baixistas alternantes Ameen Salim, Marco Bardoscia e Luca Alemanno, o percussionista Abdissa Assefa e o baterista Teppo Mäkynen.
São eles que acrescentam as nuances certas para que o disco ganhe dinâmica e diálogo, não só para com o ouvinte, mas também com a obra em si como um todo. Desde batuques e riffs suíngados, ao decrescer dos sopros à uma introspecção. Em todas as fases, o papel de Conte foi mais voltado para a composição, arranjo, seleção dos músicos, assim como da produção das sessões, mas quase nunca como um instrumentista. Após a execução do álbum de cabo-a-rabo, entende-se o porquê.
A sincronia dos músicos foi tanta, que até mesmo os outros onze artistas que foram convidados para participar e colaborar no disco, seguiram a premissa e pegada parecida com a banda base, de forma linear. O fato de ser uma sessão de gravação de fato, acrescenta muito nos bastidores, assim como na audição da obra. Orgulhosamente revivalista, Umoja foi gravado diretamente em fita analógica, com apenas duas tomadas para cada faixa. "Procurando por uma sensação quase improvisada e não adulterada", Nicola garantiu que as poucas overdubs também fossem transferidas para a fita para manter a cor e o calor do som analógico. Tudo em 45 RPM. "Muito pouca pós-produção ou edição foi adicionada, então o que você ouve é majoritariamente o que aconteceu nessas mágicas sessões ao vivo".
A continuidade também foi dada pelo colaborador de Conte, Tommy Cavalieri, engenheiro de som do disco e dono do Sorriso Studio em Bari, onde fora gravados todos lançamentos mais característicos de Conte, desde "Jet Sounds" até o seu mais novo "Umoja".
No mais, as faixas com McFarlane e Amofah são os destaques do álbum. Também destaca-se as vocalizações de Timo Lassy, semelhantes às de Pharoah Sanders, por trás dos cantores. Realmente acrescenta um tempero à mais. O trabalho de percussão de Assefa também é algo notoriamente notável. Vale uma menção especial também para as faixas instrumentais "Heritage", "Umoja Unity", além de "Into The Light Of Love" (instrumental) e "Arise (instrumental)" - a versões sem vocais das faixas com McFarlane e Myles Sanko - que apresentam ao público a essência de "Umoja".
De Gary Bartz a Lonnie Liston. De Fela Kuti a Tony Allen. De Zimbo Trio a Roberto Menescal. De Sun Ra a Alice Contrane. De The Tramps ao Earth, Wind & Fire. De Cristiano Malgioglio a Piero Piccione, dentre muitos outros que são influências maravilhosas pra um trabalho brilhante, em que Nicola traz o afrofuturismo em sua premissa, contradizendo sua cor da pele, mas nunca a musicalidade presente, dando espaço para músicos pretos, e sobretudo de outros continentes marginalizados, e fazendo uma grande feijoada bambina.
Lançado pela Far Out Recordings, são 12 faixas coesas, concisas, bem trabalhadas, arranjadas e produzidas por Nicola, onde além do ecletismo, administra bem a narrativa de sua música e sua carreira, já que atingiu com o projeto intercontinental o mais alta musicalidade e nível até então.... mas peraí, afinal, o quê Significa "Umoja"?
Bem, caso você não saiba, volte duas casas e dê um Google... ou apenas ouça/compre o disco do artista no bandcamp, e obtenha o DL aqui no Selekta. É quente!
UMOJA!!
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dor e glória and dor e glória III, 2023
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