Tumgik
#Cidade Chumbo
cenaindie · 1 month
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Cidade Chumbo – Pílulas Diárias de Insurgência https://cenaindie.com/album/cidade-chumbo-pilulas-diarias-de-insurgencia/
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serdapoesia · 5 months
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Se o poeta falar num gato, numa flor, no vento que anda por descampados e desvios e nunca chegou à cidade… se falar numa esquina mal e mal iluminada… numa antiga sacada… num jogo de dominó… se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade… se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol… Se não falar em nada e disser simplesmente tralalá… Que importa? Todos os poemas são de amor! Se o poeta falar num gato, Mario Quintana
In: Esconderijos do tempo (1980)
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cherrywritter · 6 months
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Interligados
Amusement Park – Amusement Mile, Gotham
2ª semana de novembro, 23 horas e 01 minuto
Meus colegas e eu decidimos comemorar nosso último dia de residência no parque de diversões da cidade. Era uma noite atípica de outono devido as grandes mudanças climáticas. A neve havia chego muito antes do previsto. O chão estava coberto pela camada branca e fofa, as pessoas cheias de vestes grossas, ótimos agasalhos e narizes vermelhos.
Passamos pelos jogos de tiro, pela pescaria e montanha-russa. Casa dos horrores, casa dos espelhos, jogos variados com o público, atrações secretas. Minha ideia era de que Conner pudesse aproveitar comigo a noite, mas houve imprevistos na missão em que ele estava e ainda não havia chegado. Pelo menos minha pontaria me garantiu um urso de pelúcia do meu tamanho e alguns vales refeição. Gastei horrores, confesso.
Estava caminhando em direção a roda-gigante com um algodão doce enorme nas mãos quando senti as mãos quentes do meu namorado tocarem minha cintura e seus lábios tocarem meu pescoço. Isso me fazia sorrir. Ele estava todo agasalhado em preto, cachecol cinza chumbo e luvas. Sua touca também acompanhava o tom do cachecol. Tinha quase certeza de que eu havia dado a ele em seu aniversário.
- Roda-gigante? Não esperava um programa tão romântico. – Ele pegou um pouco do algodão doce e comeu.
- Eu tinha pensado na montanha-russa, mas você ainda não estava aqui.
- Montanha-russa nesse frio? Enlouqueceu? – Ri. Não demorou muito para conseguirmos nossa cabine.
- Tudo certo na missão? – Ele assentiu.
- O Bart se machucou, foi para o lado errado. Tivemos que resgatá-lo. Você sabe como ele é. – Ri.
- Vai na minha formatura? – Grudo ao seu lado e apoio a cabeça em seu ombro. Conner enlaça nossos dedos e acaricia minha mão com o polegar.
- Claro que vou! Jamais irei perder um dia tão importante para você.
- Será em Metropolis. Foi escolha da turma. – Olho para Conner com um pequeno aperto no coração.
- Tudo bem. – Ele segurou meu rosto e me encarou com seus olhos azuis que eu tanto amo. Passou o nariz no meu com carinho e me beijou demorado. Um beijo lento, suave. Estávamos no topo da roda, lua cheia. O cenário perfeito para dois amantes. Foi uma pena sentir o celular vibrar. – É melhor ver quem é. – Ele sugeriu.
- Arsenal. – Digo olhando para a tela. – Que estranho. Ele está mandando a localização com vários emojis de perigo. Estão nas docas perto da Ponte Brown.
Arsenal era o verdadeiro Roy Harper. Ele havia sido capturado por Luthor e levado até Cadmus para ser clonado. Ficou congelado criogenicamente, o que resultou em ficar preso a idade que tinha. Ficou assim por oito anos até ser encontrado e resgatado. Não havia razões para não o reintegrar. Não estava inteiramente completo, pois havia perdido um braço, mas ainda era ele. Era aquele jovem que Oliver havia escolhido como seu pupilo e amigo daqueles que já tinham virado homens.
A descida foi como uma tortura.
A roda de Gotham é gigante e terminar sua volta demorava cerca de vinte minutos. Estávamos há dez minutos do chão e uma angustia no peito. Ao saímos da cabine, corremos para o estacionamento e adentramos no carro sem nos despedirmos dos meus colegas. Joguei a pelúcia no banco de trás e acelerei torcendo para que o carro não derrapasse muito na pista até Dixon Docks. Ultrapassei carros, caminhões, furei faróis e quase atropelei alguns pedestres. Tinha que atravessar a cidade, literalmente.
Pedi aos deuses para que desse a sorte de que ninguém visse que a motorista era eu e noticiasse no site de fofocas minhas habilidades ao volante. Ainda bem que os vidros eram negros, fumês e o carro era um SUV comum.
Perto da Ponte Madison, acessei o computador da caverna e procurei pelo localizador dos Robins. Meu pai colocou um em cada um para que se houvesse alguma fatalidade ou por simplesmente vigiar os novatos, pudéssemos localizar o corpo. Batman estava na Químicas Ace junto com Robin (Damian). Robin (Tim) não estava na cidade e o último e que sempre nos preocupava, Dick, estava na localização que Arsenal me enviou. Algo muito ruim havia acontecido. Sabia por apenas buscar sua energia.
Não havia uma semana se quer que Dick não fosse para a enfermaria
Vi rostos pálidos e molhados quando cheguei. Estavam embaixo da ponte, a neve tinha resquícios de pólvora, pedaços de metal e gotículas de sangue. Olhei para Donna e vi seu rosto pálido. Senti a presença de Gar e Rachel. A boa e velha equipe dos Titãs.
Dick estava deitado sobre a neve, sangue em volta. Roy fazia massagem cardíaca. Rachel chorava e Gar tentava manter a cabeça do Dick estabilizada. Meu coração disparou. Seus batimentos estavam cada vez mais baixos. Não havia hospital por perto e nem um ponto de extração para a Batcaverna ou para a Caverna.
- O que houve?!  – Tropecei na neve e me arrastei até ele. – Como isso aconteceu?! O que aconteceu?! – Rachel olha para mim assustada.
- O Dick tentou expelir uma bomba... ele conseguiu, mas... – Ela aperta os olhos. Estava lembrando da cena e eu estava sentindo sua energia variar. Ela não estava estável e isso era nada bom.
- A bomba explodiu no ar e acabou o atingindo. – Completou Roy. – Ele caiu dos containers. Foi muito rápido. Não tivemos tempo de pensar.
- E por que não levaram ele para o hospital?! O que vocês têm na cabeça?!!
- Você é a médica da Liga, Victoria. Só você pode cuidar de nós, lembra?
- Conner!! Pega o kit que na mochila. É... uma bolsa de couro. Pesada. Para a massagem, Roy. Não vai ajudar mais. O coração dele tá fraco. Pode ser hipotermia.
Afasto Roy e rasgo a roupa de Dick para ver se estilhaços perfuraram seu peito, mas minha atenção se voltou para a cabeça. Por mais que a neve estivesse fofa, não teria neutralizado o impacto da queda. Utilizo a visão de raio-x para averiguar sua coluna e ter a certeza de que ali nada está danificado para que eu possa mexer. O que vi acima, em seu crânio, foi o que realmente me preocupou.
Traumatismo Cranioencefálico
Droga
Ele iria morrer mesmo que eu desse choque em seu coração. A pressão estava crescente e seu crânio e precisava urgentemente furar para que a pressão diminuísse gradativamente e suas funções e sinais vitais retornassem. Assim poderia dar choque em seu coração e normalizar o bombeamento de sangue. Ainda assim, precisávamos aquecê-lo ou a hipotermia também o mataria. Tinha que levar em conta que demorei vinte minutos para atravessar a cidade. Conner chega com o kit. Sinto medo de errar, mas teria que o fazer. Era por isso que existe a regra de não operarmos conhecidos e familiares. Nossos sentimentos entram em conflito com o profissionalismo.
Confie em você, Victoria
Confie
Abro a bolsa de utensílios cirúrgicos e pego o bisturi. O aqueço suficientemente com meus poderes para deixar esterilizado e limpo a região em que vou realizar o furo em Dick. Encosto a ponta do bisturi perto da têmpora e respiro fundo para criar coragem. Longe o suficiente de qualquer veia e certo o suficiente para encaixar no crânio e perfurar minimamente. Um furo pequeno demais não resolveria e um maior do que o necessário o levaria à morte.
- Roy. Conner. Segurem ele firme. Bem firme. Vou tentar manter ele aquecido, mas preciso que o segurem.
- O que você vai fazer? – Questionaram arredios.
- Tenho que furar a cabeça dele ou ele morre aqui mesmo. Sem anestesia ele vai se mexer e se eu errar... ele também morre.
Os dois assentiram com preocupação, mas eu tinha que confiar neles assim como eles deveriam confiar em mim. Com coragem, finquei o bisturi e o aprofundei na carne com cuidado até sentir chegar ao osso. Meu coração batia na cabeça, mas me concentrei para o silenciar. Seu corpo estrebuchava e os rapazes faziam de tudo para o manter o mais paralisado possível.
Apenas um pequeno furo
- Gar, os ajude. Segure com toda força que tiver.
Concentrei-me ainda mais para manter a cabeça de Dick travada naquela posição. Mantive o bisturi parado e, com a outra mão, comecei a dar leves batidas até ver o sangue grosso escorrer. Tirei o bisturi com delicadeza e desci meus dedos para o pescoço sentir o pulso. Estava voltando ao normal. Vi seu coração bater um pouco mais forte e ouvi o meu se acalmar. Fechos os olhos sentindo alívio. Mais calma, afastei os rapazes e com uma pinça e com a ajuda do bisturi, tirei os estilhaços da carne do corpo. Havia muitos perto do coração e do pulmão. A bomba deve ter explodido na altura do peito para que isso acontecesse.
Preocupada, senti medo do que poderia vir a seguir e, mesmo sem ter a certeza de que conseguiria o fazer, toquei sua testa na esperança de conseguir ler sua mente. Quanto mais o tempo passava, menos eu sentia esse poder em mim.
Meu irmão estava preso em um looping do dia da morte do Wally, seu melhor amigo. Dick chegou a tempo de ver o amigo desaparecer enquanto salvava a Terra. Era surreal conseguir acompanhar os movimentos, ouvir a respiração, sentir tudo que estava acontecendo naquele momento como se, assim como Dick, eu também estivesse presenciando o que havia acontecido.
Mesmo que com dificuldade de atravessar esse looping que insistia em permanecer na cabeça do meu irmão, consegui ver que ele estava bem. Sua massa cinzenta estava com bom funcionamento e praticamente intacta. Pedi para colocarem Dick no meu carro e mesmo me sentindo tonta, o mantive estável até chegarmos em Bristol para que o transportássemos para a Torre de Vigilância, espaço. Dick tinha que sobreviver.
Torre de Vigilância – Espaço, Universo
Dia seguinte, 02 horas e 25 minutos
Em melhores condições, fiz os procedimentos mais adequadamente. Coloquei uma tela em sua cabeça, faixas e deixei os aparelhos o monitorarem. Coloquei os acessos, a medicação e finalmente pude relaxar. Ao menos tentar. Ele ainda continuava instável, mas a pressão intracraniana havia estabilizado. Não conseguia sair da frente da UTI.
- Como você está? – As mãos de Conner passavam do meu pescoço e desciam por meus braços como toques delicados e reconfortantes. Carinho. Estava atrás de mim deixando sua cabeça ao lado da minha.
- Preocupada. Meu irmão está naquela cama, apagado. Não tenho expectativas de quando ele irá acordar.
- Por que não vem tomar um banho e tenta relaxar? Ficar aqui não vai fazer com que ele se recupere mais rápido. Você já fez tudo que podia.
Vendo o sangue começar a manchar as faixas, coloquei a máscara no rosto e entrei na UTI com pressa. Era melhor verificar o que estava acontecendo com mais exames e, se necessário, fazer uma ressonância. Por um acesso novo, tirei dois tubos de sangue e refiz a sutura na cabeça. Isso me deixava ainda mais preocupada do que antes. Meu coração disparava, minha respiração descompassava. Era minha família. Era o meu irmão nas minhas mãos.
Olhei para trás e vi Conner com Kory e Roy ao seu lado. Estavam tão preocupados que o nervosismo refletia nos dedos nervosos. Sai do quarto rumo ao laboratório para pedir a medição dos d'dímeros e um hemograma completo. Kory se aproximou de mim e, sentindo sua energia, já tinha noção do que ela queria.
- Você não consegue curar ele de outra forma? – Perguntou. Sabia bem o que ela queria dizer.
- Ela não pode fazer isso, Kory. – Roy declarou.
- Roy está certo. Eu não posso. Apenas fiquem de olho nesse cabeça dura e me avisem se alguma coisa sair do estável. Vou avisar aos outros que a equipe chegou e sobre o que aconteceu. Vocês foram imprudentes. – Digo olhando para Roy. – Poderia ter custado a vida dele. Isso se ele não ficar vegetando.
- Mas Victoria. Seus poderes. Você fez isso com Conner. – Kory tentava me fazer mudar de ideia.
- Não e ponto final! O que fiz pelo Conner foi imprudente e eu jurei ao meu pai e a Liga que isso jamais aconteceria de novo. Eu cumpro o que prometo. Vamos torcer para que ele fique bem. Fiz o meu melhor para que isso aconteça.
- Kory, deixe a Vic. Ela está certa e cumpriu com o dever dela.
- Agora, com licença. Estou indo para a sala de transmissão. O que aconteceu esta noite deve ser reportado. É a regra. Sou médica da Liga e não posso deixar isso fora do meu relatório. Já demos sorte demais por estar nevando. O gelo e o frio ajudaram a estancar a hemorragia e diminuir consideravelmente o fluxo de sangue. Se estiverem precisando se ocupar mais, fiquem de olho para ver se Donna e Rachel acordam. Tive que dopá-las. Estavam em choque.
Pode ser injusto, mas eles não deveriam ficar esperando por mim. Eu podia estar em cirurgia, atendimento. Podia estar fora da cidade. Não sou dona da minha empresa ou minha chefe para poder sair a hora que eu quiser ou quando me chamam. Essa imprudência podia ter custado a vida de Dick e eu tenho certeza de que eles não se perdoariam por isso. Garfield seria o que ficaria mais abalado pela idade e isso ia custar muito. Talvez ele nunca mais voltasse a ativa. Outra imprudência dos mais velhos.
Segui para a sala de transmissão para reportar ao Tornado Vermelho e a Canário Negro para que eles pudessem lidar melhor com a situação e aplicar as devidas medidas. Não me cabia encontrar as respostas e as justas punições para a equipe. Diante dos nossos superiores, soube que não havia qualquer missão indicada pela Torre em Gotham, ou seja, estavam trabalhando por conta própria. Erros atrás de erros. Parecia que quanto mais velhos ficavam, menos medo de morrer tinham. Era totalmente o inverso do que se esperava.
- Victoria... – Era Roy. Estava de frente para a porta da sala de transmissão. Parecia estar me esperando ali.
- O que vocês estavam fazendo nas docas? – O questiono para entender os motivos de Dick se meter nessa e os colocarem nessa enrascada.
- Tráfico de drogas. Dick estava acompanhando várias mortes aparentemente aleatórias. Encontrou contrabando de telas, animais e drogas. Um esquema grande.
- Souberam de quem era? – Ele negou. – Por que você estava lá com ele?
- Somos amigos. Não ia deixá-lo na mão. Ele comentou no Titãs e todos decidiram ajudar. Somos uma equipe. Não era para ser difícil. Não era para terminar assim.
- Ele te contou há quanto tempo ele estava nisso?
- Há algumas semanas. Me desculpe. – Ele segurou meu rosto e me abraçou. Estava machucado por dentro. – Eu devia ter prestado mais atenção. Os caras viram a Donna e atacaram para escapar.
- Tudo bem, Roy. Tudo bem. – O abraço em retorno e passo as mãos por suas costas o energizando para se acalmar. – Vai descansar. Foi uma noite puxada. Tome um banho e durma um pouco.
Ele assentiu visivelmente chateado. Caminhou pelos corredores da Torre balançando a cabeça. Estava se culpando pelo que havia acontecido, mas não era culpa de ninguém. Poderia ter acontecido com qualquer um. O erro foi ter ido por conta própria e não ter avisado a ninguém.
Passando pela porta do quarto de Garfield, o vi ainda paralisado. Pelo menos ele já havia tomado um banho e trocado de roupa, mas ainda estava em choque. Olhava para o nada. Apertava os dedos. Os punhos. Suspirei. Caminhei até ele, sentei-me ao seu lado e o abracei. Seus braços me rodearam com força. Suas lágrimas caiam na minha roupa. Ele precisava de colo. De carinho.
- Está tudo bem, Gar. Não foi culpa sua.
- Mas.
- Você fez o que podia e ajudou a salvá-lo. Sinta-se orgulhoso. A Canário vai te ajudar a passar por isso com mais facilidade do que eu. Começa amanhã.
- Eu não queria precisar disso. – Disse chorão.
- Eu sei que não, mas todos precisam de ajuda. – Passo a mão em seu rosto, acariciando-o. – Descanse. Você vai ter folga por uns dias. Eu mesma irei providenciar. Apenas aproveite esse tempo. Ajude a cuidar da Rachel e me procure se precisar conversar.
Garfield era tão jovem quanto Dick quando entrou na equipe, mas era muito mais sensível. Um garoto doce e gentil. Não tinha as amarguras que Dick carrega. Ele não teve uma vida fácil e eu sei que perdas e situações de estresse como essa o afetam de maneira significativa. Beijei o topo de sua cabeça e o deixei sozinho em seu quarto quando se acalmou. Tínhamos muito trabalho a fazer ainda.
Exausta, apenas vou para o meu quarto para esquentar o corpo. Odeio frio, sempre odiei. Mais uma vez senti as mãos carinhosas de Conner pelo meu corpo. Ele havia entrado no banho comigo e distribuía beijos pelo meu pescoço, descia pelo trapézio e chegava aos ombros. Isso me relaxava e me fazia sorrir. Era muito sortuda em ter Conner ao meu lado.
Me virei para ele e o abracei com força. Deixei meu medo sair, as lágrimas escorrerem. Levei a mão até seu cabelo e o olhei por um tempo. A água quente escorria pelas minhas costas e fazia o banheiro ficar embaçado por causa do vapor. Olhá-lo me acalmava. Trazia um acalento para o coração. Fiquei na ponta dos pés para o beijar para logo depois voltar a abraçá-lo. Era a primeira vez que me sentia tão cansada e estressada depois de meses.
Cansada e com sono.
Terminamos o banho e fomos direto para a cama. O relógio marcava quatro e meia da manhã. Dia longo, pensei. Conner se deitou ao meu lado e me presenteou com a visão de suas costas. Eu as amava. Deitada ao seu lado, meus dedos passeavam pela linha da coluna e delineava os músculos até adormecer.
Estava ao lado de Kid, Impulso e Flash. A corrida era demais para mim e comecei a sentir os golpes. Não podíamos parar. A crisálida tinha de ser neutralizada. Mas a dor, aquela dor era demais. Eu conseguia sentir cada golpe de energia que escapava e o atingia. Dezesseis segundos. Era esse o tempo que restava e Wally sabia bem disso. Sabia que estava indo e mesmo assim continuou a se sacrificar pelo bem da Terra e de toda uma humanidade.
Quando o senti desaparecer foi como um choque, uma descarga elétrica que percorreu meu corpo. Doía e me fazia chorar. Eu conseguia ver cada parte do cenário. Cada pequeno detalhe, mas não entendia o porquê de estar vendo Wally ou porquê eu estava conectada a essa parte da história quem nem vivi.
Acordo com um barulho ensurdecedor e agudo. Assustada e suada. Minha boca seca e um sentimento estranho alastra pelo meu peito. O corpo pulava como pipoca e trazia arrepios juntos aos pequenos impulsos elétricos que percorriam meu corpo e dançavam pela minha pele.
Eu era azul
- Victoria...?! – M’gann estava na porta do quarto, assustada.
- M’gann...? Que barulho foi esse?
- Você estava gritando. – M’gann se senta ao meu lado e tenta segurar minhas mãos, mas percebo que ela se afasta. Eu deveria estar dando choques nela. – Você desligou a Torre... estamos sem proteção e energia.
- Na realidade... – Roy aparecia de modo sutil e sonolento. – Você acabou com a energia de metade de Metropolis. A Torre estava em conexão com o Superman quando você deu pane no sistema.
Tentando me levantar, sinto minhas pernas falharem. M’gann me coloca de volta à cama e faz com que eu me deite.
- Vamos cuidar disso. – Disse tentando me acalmar e me manter na cama. – Vou chamar a Canário.
- Mas o Dick... ele... os sistemas... ele precisa dos aparelhos. – Começo a me apavorar. Ele não podia ficar sem monitoramento.
- O transferimos faz um pouco mais de meia hora. Ele está bem. Estabilizou. Achamos melhor deixar ele em terra para que sua família assistisse ele. Apenas descanse. Quer que eu avise ao Batman para te buscar?
- Não... melhor não preocupar meu pai... ele já tem problemas demais. Conner?
- Ele foi ajudar com a transferência. Já deve estar voltando. Só precisamos reiniciar a Torre e verificar se nada foi danificado. Você teve uma explosão daquelas. Está brilhando até os fios de cabelo.
Nem nos meus piores dias eu desliguei meia cidade. Não que eu saiba. Bristol sempre foi afastada, então dificilmente eu atingia outra propriedade. Em Cadmus eu não sei, já que ficava nas instalações subterrâneas. Esperei que M’gann e Roy fossem embora e torci para conseguir chegar até a sala de transmissão. As pernas não estavam firmes, bambeava toda hora, mas consegui. Acho que já tinha amanhecido.
Encostei a mão no computador e me concentrei. Sinto a energia fluir, as ondas, as camadas. Ligar a Torre, esse era o objetivo primário. Sem ela não conseguiria alcançar Metropolis. Sinto meus pelos eriçarem, a energia dançar pela minha pele. Não demorou muito para que escutassem as máquinas e os computadores religarem. Aos poucos tudo estava ativado e sendo recuperado. Não poderia deixar os equipamentos fritados.
Depois, me conectar com a cidade. Se eu não fosse rápida o suficiente, existiriam acidentes devido aos faróis desligados, criminosos conseguiriam fugir das prisões, hospitais perdendo pacientes. Tudo por minha culpa. Era só recuperar o básico e tudo ficaria bem.
Procuro a estação de energia.
Avalio a situação da estação e vejo que ocasionei uma sobrecarga e isso fez com que tudo apagasse. Uma nova sobrecarga reestabeleceria o suprimento de energia para a cidade. Tento uma, duas, três vezes. Minha força ainda não estava sendo suficiente.
Decido ficar na minha forma pura – meta-humana original.
Fecho meus olhos, respiro fundo e tento uma última vez com toda força que tenho. Sinto meu brilho crescer e sobressair. Fora da Terra a força e a energia em mim estavam incrivelmente forte, intensa e expandida. Uma carga superpotente de energia é transmitida e finalmente vejo o painel da estação de energia iluminado. As luzes da cidade acompanharam como uma onda. Eu tinha conseguido.
Mansão Wayne – Bristol, Gotham
Dias depois
- Finalmente acordou.
- Tim.
Minha cabeça latejava e os olhos reclamavam da claridade. O som a minha volta era resumido a zunidos e a sons de algo correndo em círculos em alto velocidade. Sons metálicos. Olhando em volta, vi que estava em Gotham. Especificamente no meu quarto.
- O que estou fazendo na mansão? A Torre estava instável, não tinha como me trazerem para Gotham. Os teletransportadores não estavam ativados ainda. – Olhando para o relógio, vi que já passava das dez da manhã. Meu chefe me mataria. Levanto rapidamente para me arrumar, porém Tim me segura e faz sinal para que eu me acalme e que o escute.
- Você foi dispensada, Vic. Se acalme. Não está atrasada.
- Eu o quê?! Como fui dispensada? – Me exaspero. Tinha meus pacientes para acompanhar.
- Bruce foi até o hospital e informou sobre sua situação. Claro que, de certa forma, o chefe do hospital é um dos conhecidos de Bruce e ele deixou que tirasse uma licença como desculpa de esforço extremo. Sugeriram que deveria evitar de se esforçar por esses dias devido a sua saúde frágil. A dispensa também incluiu seu acompanhamento em Arkham. Crane não ficou muito feliz com isso, mas acredito que depois o informaram sobre suas condições e ele se acalmou.
- Ele inventou isso?
- Você sabe como Bruce é. – Tim deu de ombros. – O que aconteceu?
- Dick se machucou em uma missão não oficial com a equipe Titã. – Respiro fundo e me sento. – Ele podia ter morrido. Depois que forcei uma entrada na mente dele, vi a morte do Wally. Foi como se estivesse lá, como se presenciei o que aconteceu e senti todo aquele turbilhão de sentimentos da perda. Causei uma pane enquanto estava dormindo. Foi o que M’gann disse quando entrou no quarto em que eu estava e não era para menos. Eu estava brilhando em azul. Até o cabelo estava azul. Só me lembro de um som bem agudo e muito alto.
- E como conseguiu recuperar Metropolis da Torre? Seu velho está bem orgulhoso.
- Consegui ser apenas a meta-humana que sou, mas de alguma forma meus poderes estavam potencializados no espaço. Era muito forte. O controle que tinha sobre mim era magnifico.
- O velhote está orgulho de você. – Sorri.
- Que bom que ele está. Mas e o Dick? Ainda o sinto ruim. Desacordado.
- Isso é porque você entrou na mente do Dick... – A voz grave do meu pai fez com que eu me arrepiasse. – Vocês estão interligados. O Caçador mesmo reconheceu a ligação entre vocês dois. Vai demorar um tempo até que você controle isso, então tome cuidado. Seu nível alto de estresse junto ao dele faz com que memórias de perdas sejam compartilhadas. Dick vai sentir tudo que aconteceu naquele dia com Conner assim como você vai sentir com Wally. Talvez, com o tempo, isso desapareça ou se torne apenas sonhos que não mexam com vocês.
- E como ele está? - Se recuperando. Você fez bem em operá-lo. Talvez ele estivesse vegetando agora. Fez um bom trabalho, filha. Conner logo vai vir te visitar, então descanse um pouco mais. Faz cinco dias que apagou. Está querendo competir comigo? – Rimos. – Alfred vai trazer o kit dinossauro. Volto logo depois da reunião na empresa para cuidar de você pessoalmente.
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inutilidadeaflorada · 2 years
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Narciso Arrota Arcadas Dentárias Não Identificadas
Sonho de micro-ondas, guilhotinas Abomináveis distúrbios, guerras no asfalto Assommons les pauvres, o recado doado Mastigado entre juízes e doutores Subam-se cordas, desçam calcanhares Me estendera as mãos com um olhar De quem põe chamas em cidades Me coma como se fosse veste de reis em Roma No rio se corre invisível ao atestado inconsciente de toda a gente Há carnaval, chacina, miséria, graça, mistério, noites de verão Outro vilão reverbera a canção perdidas dos esquecidos Os desdobramento que envenenam pulmões, a intenção vértice dupla Os moinhos duplos, quiçá sopram Bandeiras dúbias, intenções opostas Caminhos bifurcados e decadências A elegância de morrer docemente O rio vermelho-neon corre sobre nós: Tinge o instante de rostos que se amam Para negarem-se da boca arrotada no amanhã Mesmo cobertos de peles, álibis , digitais e perfumes vadios Desterra o corpo, entre lama e buracos de bala A celebração escorre ladeira abaixo O sangue pulverizado nas paredes silenciosas O silêncio compra o medo, o temor engole a vida O artificio tem hora, envolvida com a paz Atraí e afoga fantasmas tristes Cumpra teu compromisso com os que te assanham Assuma teu lugar de cortina de chumbo química Maravilhosa benevolência indecente Maravilhoso espetáculo da hipocrisia Maravilhosa vocação para o desleixo Maravilhoso atestado de impunidade
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epitetoespecifico · 1 year
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“City of stars”
“Sob o céu cor de prata Sob o chão cinza-chumbo “
“Are you shining just for me?”
Como se todo o mundo revolvesse a mim ao alto da derrocada de Copérnico e ascensão do Ego.
“City of stars”
Morando no lar de arranha céu.
“There's so much that I can't see”
From the bottom over here.
“Who knows?”
Mal sabem o que querem saber.
“I felt it from the first embrace”
A primeira entrega, o ato de acreditar mais puro de que sua qualquer vontade pode se tornar parte da floresta de aço.
“I shared with you”
Pois alguém sempre sabe por você: os primeiros a se cegarem do final.
“That now”
A dois passos do paraíso.
“Our dreams”
Os seus e deles.
“They've finally come true”.
Há incerteza?
“City of stars”
Dentro desse aglomerado de metrópole.
“Just one thing everybody wants”
Querem paz, liberdade, vitrine e saciedade.
“There in the bars and through the smokescreen”
É a adaga da vontade que rasga a fumaça dos jovens e a poeira dos velhos.
“Of the crowded restaurants”
Em qualquer lugar desse mapa torto e atordoante.
“It's love”
O engano da pele macia e reluzente da boneca de carne, junto dos olhos de cobra e todo conjunto harmonizador, o cheiro de álcool doce, a boca dormente, o spray de pimenta e o pano que te cobre, de prato.
“Yes, all we're looking for is love”
Foi objetivo e será saudade final.
“From someone else”
We’ll never be enough.
“A rush”
O corre.
“A glance”
A Maria.
“A touch”
Celular.
“A dance”
Alicia.
“To look in somebody's eyes”
E o meu reflexo na boca de lobo.
“To light up the skies”
Sem a luz das estrelas encobertas pelo brilho da audácia e ineficácia humana.
“To open the world and send me reeling”
A reflexão no meio do mar de cansaço.
“A voice that says”
I’ll get crazy.
“I'll be here, and you'll be alright”
Porque nada really matters.
“I don't care if I know”
Porque já esqueci o que quero e mesmo querendo lembrar outra coisa irá me engolir.
“Just where I will go”
Apesar da proximidade de tudo a palma da mão e a distancia da aorta.
“'Cause all that I need, this crazy feeling”
Um doce, um pó, uma bala. Fumaça, pedra e água da vala.
“Ra-ta-tat of my heart”
Com as paixões que nos arrastam.
“Think I want it to stay”
Ainda dá vontade de continuar na loucura da cidade.
“City of stars”
O papo reto no piche.
“Are you shining just for me?”
Quando será minha vez e quem será o próximo.
“City of stars”
Where lives the lack of love.
“Never shined so brightly”
Apagando seus ideais.
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joseane-assis · 1 year
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Distante e Abatido
"Sansão desceu a Timna e viu ali uma mulher do povo filisteu." (Juízes 14:1)
Na época em que eu era um cristão novinho em folha, eu tinha a necessidade de compartilhar o evangelho exclusivamente com lindas garotas. Eu pensava: por que conversar com qualquer pessoa? Vou falar com as garotas mais bonitas. Elas precisam do Senhor também. Porém, Deus chamou a minha atenção e eu mudei a minha maneira de pensar.
O problema de se envolver com um não cristão é que, na maioria das vezes, um não cristão vai atrapalhar a vida espiritual de um cristão - e não o contrário. Há exceções, mas geralmente este é o caso. É triste, e esse não é o plano de Deus para um crente.
Vemos isso acontecer na vida de Sansão, a quem Deus criou para ser o líder sobre Israel. Aparentemente, Sansão não se importava muito com o plano de Deus, porque ele se envolveu com uma mulher não cristã. Assim, uma coisa levou à outra, e as coisas ganharam uma péssima proporção. O diabo fisgou o poderoso Sansão com linha, anzol e chumbo.
O problema de Sansão era que ele tinha poder sem pureza e força sem autocontrole. Por vinte anos, Sansão experimentou a vibração da vitória. Nem uma vez ele foi derrotado. Ele deveria ter sido muito grato a Deus por isso. Podemos dizer que Deus deu a Sansão tanta corda que ele acabou se enforcando.
Qualquer passo longe de Deus é sempre um passo para trás. Depois que Deus mandou Jonas ir a Nínive, a Bíblia diz: "Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor" (Jonas 1:3).
Quando você está indo para longe de Deus, você está sempre indo para trás, nunca para frente.
Oração - Domínio Próprio
SENHOR, desperta-nos para que busquemos sempre andar no Espírito e assim possamos usufruir de uma das partes do Fruto do Espírito que é o domínio próprio. Amém.
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mayura-chanz · 2 years
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Kagerou Daze VI — over the dimension — Lost Days V
Tradução feita a partir da tradução em inglês da Yen Press.
Apoie o autor comprando a novel original.
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O sol poente lançava uma deslumbrante variedade de cores na silenciosa cidade fantasma.
O lugar negligenciado estava desprovido de seres humanos que uma vez governaram sobre ele. Tudo o que restava era os “monstros” hediondos e aterrorizantes, evoluindo para bestas toda-poderosas que agora eram os governantes supremos da terra.
Levou apenas um mês para esses monstros causarem estragos em todas as criaturas do mundo, suas formas musculosas e ferozes não oferecendo misericórdia enquanto devastavam a terra... ou assim eles pensavam.
Mas uma única garota sobreviveu à carnificina.
Um tiro ressoou no ar em um flash laranja, o qual combinava com o céu do início da noite. O monstro “Bear-Rilla” que quase chegou ao cano da arma explodiu e sangue e carne caiu como confete na calçada.
Uma única garra crescida rasgou a torrente de sangue, mirando direto na cabeça da garota. Ela se esquivou bem a tempo, calmamente ajustando o punho de sua arma.
O Meowtaurus atacando a garota perdeu o equilíbrio após o ataque, expondo seu peito desprotegido. Ela respondeu imediatamente sem piedade, apontando sua arma para o estômago do monstro e puxando o gatilho. Chumbo abriu caminho em seu intestino e, com um grito, o Meowtaurus explodiu.
A garota, salpicada de sangue, lançou um olhar para o antigo distrito comercial. Uma horda de monstros saqueadores avançou sobre ela, babando e gritando. Tomando um momento para recuperar o fôlego, a garota girou sua arma. A revista vazia voou do aperto, tilintando contra o pavimento. No momento em que a nova foi carregada, ela apontou sua arma de volta para os monstros e falou.
— Que tal eu explodir todos vocês em pedacinhos, hein...?
Com um estrondo alto, sua arma começou a cuspir fogo. Seus tiros, vindos em rajadas de um ou dois, rasgaram a horda como um laser guiado por computador, transformando todos em pedaços de carne vermelha.
A garota sorriu maliciosamente. Apesar de estar irremediavelmente em menor número, ela era a imagem perfeita de serenidade. E assim que o exército de monstros aparentemente infinito começou a aborrecê-la, o tiro final da garota trouxe o fim da guerra em plena floração na rua encharcada de sangue...
Suspirei com a façanha perfeita da jogabilidade acontecendo diante de mim enquanto o monólogo continuava em minha mente.
“Dancing Flash Ene.”
...Eu vi lá um outro lado da Takane que eu nem tinha ideia que existia.
*
O dia do festival chegou.
Graças principalmente aos esforços sobre-humanos do Sr. Tateyama, o Headphone Actor estava completo. Na verdade, foi surpreendentemente bem montado. Eu duvidava que alguém adivinhasse que foi feito em apenas uma semana.
Mas ainda mais do que a qualidade do jogo em si, as habilidades da Takane não eram nada deste mundo. Era mais preciso, como se ela fosse um robô programado para destruir este jogo, e todos que a viram jogar ficaram impressionados.
Hoje, pela primeira vez, percebi o quão legal alguém jogando um videogame pode realmente ser.
Nós esperávamos dezenas de partidas hoje, mas à medida que o dia se desenrolava, as coisas ficaram cada vez mais unilaterais.
Eu nem precisei verificar a tela de resultados. Takane dominava.
Ela é incrível! Isso é tão legal, Takane!
Assisti com admiração respeitosa enquanto ela encerrava a partida. A penumbra da sala tornou difícil avaliar sua expressão, mas depois de conseguir uma vitória tão perfeita e magnífica, tenho certeza que ela deve ter ficado satisfeita consigo mesma. Ela tinha que estar. O pensamento fez Takane parecer um verdadeiro soldado aos meus olhos, endurecido pela batalha e pronto para a ação.
A adulação saiu da minha boca. — Bom trabalho, Takane! Você ganhou de novo! Cara, isso foi...
Takane estava bem ao meu lado, mas de certa forma, não estava. Eu preciso chama-la pelo nome que todo mundo usa para elogiá-la...!
— ...Talvez eu devesse te chamar de Ene, hein?
Takane, aproveitando a luz do monitor, casualmente abriu a boca.
— Cala a boca, seu idiota...
As palavras, apoiadas pela música pulsante do jogo, mexeu comigo. Senti um arrepio percorrer meu corpo.
Outra coisa que eu tinha acabado de aprender hoje era que a Takane aparentemente ficou em segundo lugar no campeonato nacional de algum jogo online. Isso a fez, tipo, superfamosa na Internet.
Ela tinha fãs de verdade e tudo. Eu apenas pensei que ela era uma garota típica e agora eu não podia acreditar que ela tinha esse aspecto também.
Mas... cara. Essa serenidade, essa presença de espírito... em todos os sentidos, ela fazia jus ao nome Dancing Flash. Sim! Sim, eu sei que sou um idiota! Caramba, isso é legal!
Eu não estava em posição de sentar e admirá-la, no entanto. Levantei-me e sorri para o desafiante.
— Tudo bem, obrigado por jogar! Receio que você não possa enfrentar o desafio duas vezes seguidas. Muito obrigado por essa batalha incrível!
No momento em que terminei de falar, aplausos ecoaram pelo depósito da sala de ciências mal iluminada. Cada pedacinho do chão estava ocupado por espectadores. Sem dúvida, estávamos atraindo um público bem grande.
O desafiante, usando roupas militares, levantou-se e saudou a Takane: — Obrigado! — Ele gritou. — Eu nunca pensei que poderia jogar contra a Dancing Flash Ene em um lugar como este... É uma honra!
Sim. Eu concordo. Essa também foi uma ótima partida. Só de olhar de lado me deu arrepios.
Logo, o público começou a sussurrar para si mesmo. “Eu sou o próximo!” “Não, deixe-me ir contra ela em seguida...!” Era uma visão impressionante. Toda a base de fãs da Takane deve ter estado nesta sala.
Aparentemente tudo isso começou porque nosso primeiro convidado sabia sobre a Takane e contou a todos os seus amigos na net sobre este festival escolar.
Assim que souberam do evento, os fãs da Takane de todo o país invadiram nossa escola para uma chance de competir contra ela.
Foi assim que tudo aconteceu. Bem, talvez não “de todo o país”, mas meio que me senti assim.
Em meio à conversa, dei o sinal para a próxima pessoa e o guiei até o assento do desafiante. Após um rápido resumo das regras de Takane, o jogo começou e o público instantaneamente ficou em silêncio.
Essa tensão… é como assistir a um verdadeiro evento esportivo.
Eu não sabia disso porque nunca tinha visto alguém jogar antes, mas não fazia ideia de que videogames competitivos pudessem ser tão emocionantes. Eles tiveram muitos campeonatos assim? Eu adoraria ver algum dia.
— …Nossa, merda! A hora!
Ops. Eu estava tão perdido no calor do momento que esqueci do meu próprio trabalho. Eu relutantemente tirei meus olhos da tela do jogo e verifiquei o relógio e o número de pessoas na plateia.
Assim como eu temia, tínhamos menos de quinze minutos antes do final do festival. Não tinha como todos na sala terem permissão para uma partida com a Takane, atualmente absorvendo os aplausos mais uma vez após outra explosão. Essa guerra constante deve tê-la cansado agora. Eu me aproximei para dar a ela um pouco mais de espaço para respirar entre as partidas, usando seu novo nome para ela neste reino.
— Você ainda está bem, Ene?! Estamos fechando em dez minutos, então aguente firme!
Takane murmurou alguma coisa ou outra em resposta, mas não consegui distinguir entre a música do jogo e o clamor do público ao nosso redor.
Em termos de tempo restante, tínhamos espaço para mais dois, talvez três jogadores. Se estivéssemos prosseguindo com nosso plano, Takane precisaria produzir um “vencedor” para nós em breve. O objetivo disso não era estabelecer a lenda da Takane como este monólito imbatível. Alguém precisava voltar para casa hoje com aquele espécime de peixe em mãos.
Takane disse que perder em algum momento durante a segunda metade do dia ajudaria a manter as coisas animadas. Mas ela ainda se lembrava disso? Eu não tinha mais certeza. Ela estava no modo Flash Dancing completamente agora, tanto que faria você vibrar. Talvez tudo o que ela estava pensando era como ela iria caçar seu próximo oponente e torcer cada gota de vida dele.
Isso seria uma notícia seriamente ruim. Mas eu também não queria destruir sua concentração incomodando-a muitas vezes também... Eu estava começando a ficar um pouco inquieto, sem saber que rumo tomar, quando alguém deu um tapa com a mão no meu ombro e uma voz sussurrante encontrou meu ouvido.
— …Perdoe-me, Haruka!
Eu me virei para encontrar a Ayano parada ali. Kousuke mencionou que ela viria, mas finalmente vê-la pessoalmente me encheu de felicidade. Pensando bem, ele mencionou que seus outros irmãos também viriam, não foi? Eles já apareceram?  
— Ah, Ayano! Desculpe estou sendo puxado em um milhão de direções agora...
— Não, não, desculpe aparecer quando você está tão ocupado. — Respondeu ela, examinando seus arredores. — Fazendo uma cena de muito sucesso, hein? Isso é uma grande surpresa!
— Cara, você viu. Estou bastante chocado também. Recebemos muito mais pessoas do que esperávamos. Sinto muito, Ayano, não tenho certeza se posso encaixar você...
As chances da Ayano conseguir uma partida eram pequenas. Inclinei minha cabeça para ela em sinal de arrependimento, mas ela apenas sorriu, presumivelmente esperando ficar desapontada.
— Ah, eu vou ficar bem. O cara com quem vim aqui está na fila para jogar, então ela pode jogar com ele invés de mim...
Ela desviou os olhos de mim e se virou para alguém ao lado da Takane. Lá eu vi um garoto com um casaco vermelho olhando fixamente para a tela. Ao contrário da maioria dos nossos desafiantes, ele não parecia ter nenhuma paixão por videogames, mas dada sua posição na fila, ele provavelmente seria o próximo a enfrentar a Takane.
— Esse cara está na minha classe na escola, — explicou Ayano, aparentemente inquieta sobre alguma coisa. — Eu não queria ir para o festival sozinha, então o convidei e ele... bem, disse que vinha, eu acho. E quando digo que o “convidei” é realmente apenas isso, tá? Nada de estranho nem nada.
…Hum sim. Claro. Posso te ler como um livro, Ayano. Eu estava prestes a zombar dela e dizer “Ha-haaa!”, mas me parei bem a tempo, não querendo sair como um sacana.
Enquanto conversávamos, o garoto de casaco vermelho sentou-se no banco do desafiante. Ele foi nosso primeiro competidor mais novo em um bom tempo. Até a Takane parecia um pouco surpresa.
Espera. Isso pode realmente funcionar muito bem, em termos de tempo. Se a Takane jogasse como ela sempre fazia, ela quase certamente iria chutar a bunda desse cara. Isso provavelmente faria ele parecer muito sem graça na frente da Ayano, e... hum, isso provavelmente não seria bom para ele, imaginei.
Então, vamos convencer a Takane a perder o jogo de propósito. Já está na hora de fazermos isso de qualquer maneira, então... é. Soa como um plano para mim. Não há tempo como o presente também. Eu rapidamente dei um tapinha no ombro da Takane, mais uma vez chamando-a pelo único nome apropriado para ela agora.
— Ene... desculpe interromper enquanto você está no ritmo, mas é melhor entregarmos nosso prêmio antes que tenhamos que fechar. Você se importaria muito se deixasse esse garoto derrotar você...?
Takane fixou seu olhar no garoto de casaco. Depois de todo o trabalho duro que ela fez hoje, ter que dizer isso a ela no final, honestamente, não me fez me sentir muito bem. Mas nosso objetivo hoje era fazer a melhor “galeria de tiro” que pudéssemos e isso significava manter nossos clientes felizes também.
Ela me deu um aceno afirmativo e começou a explicar o jogo para o garoto sem reclamar. Dei alguns passos para trás para obter um ponto de vista melhor, esperando aproveitar cada momento dessa batalha final.
...Eles pareciam levar um tempo estranhamente longo para começar.
Olhando mais de perto, Takane e o cara de casaco pareciam estarem conversando um com o outro. Mas e quanto a isso? Não parecia um bate-papo amigável, fosse o que fosse. Eu estava um pouco preocupado, mas da minha posição, a música do jogo abafava toda a conversa.
Como eu não podia fazer muito onde estava, olhei para o lado, apenas para encontrar a Ayano olhando para eles com uma expressão severa. Mais ou menos como uma mãe durante o dia de visita dos pais na escola. Acho que vou falar sobre isso.
— O que foi, Ayano? Você está preocupada com alguma coisa?
Os ombros de Ayano se contraíram um pouco em surpresa. — Mais ou menos, acho — disse ela com relutância. — Ele... Ele pode ser meio rude às vezes. Ele não gosta de medir palavras com as pessoas. Espero que ele não esteja sendo mau com ela ou algo assim...
Ela realmente estava agindo como uma mãe preocupada.
Quando se tratava de ser rude, Takane não era desleixada. Esse era um de seus primeiros traços de personalidade. Isso me fez pensar se esse garoto era do mesmo jeito.
...Aah, se ele for, isso pode ser uma má notícia. Praticamente, imediatamente, pegaria o barco de Takane, para começar. Eu tinha um mau pressentimento sobre isso, mas não fazia sentido preocupar desnecessariamente Ayano se não precisasse, então tentei manter a conversa inócua.
— Bem, acho que vai ficar tudo bem. Takane pode ser bastante paciente com as pessoas, então...
No momento em que eu disse isso, Takane falou:
— ...eu não vou!! …perder.
…Bem, isso é estranho. Ela estava fazendo exatamente o oposto do que estávamos planejando.
Com pressa, abri caminho para o lado de Takane. Ela vai ganhar dele?! Isso não é bom!
— Espera um segundo, Takane... Você tem que perder essa, lembra?
Mas eu nem precisei olhar para o rosto dela para saber que ela estava irritada. Acho que nenhuma das minhas palavras sequer ficou registrada na sua mente.
— ... Eu vou me tornar sua serva e o chamarei de “mestre” e tudo mais! Mas eu não vou perder!
Mais uma garantia de vitória. Tínhamos que perder agora, mas Takane estava mais animada para essa luta do que qualquer uma das dezenas que ela batalhou antes.
Alguém mais na plateia a ouviu gritando? Aah, acho que Ayano sim. Seu rosto estava vermelho de orelha a orelha. Excelente. Bem, nada que eu pudesse fazer agora. Desistindo do esforço, levantei e voltei para o lado da Ayano. Meu “desculpe” e seu “peço desculpas” saíram quase simultaneamente.
Um efeito sonoro indicava que a partida final do dia estava em andamento.
...Desde o início, percebi algo.
Havia um número insano de monstros aparecendo na tela. Ela deve ter aumentado o nível de dificuldade para o máximo. Se ela estivesse pensando em perder, ela nunca teria feito isso. Mesmo que ela estivesse apenas tentando entreter o público, ela ainda assim não faria isso. Não era difícil adivinhar o que estava passando pela mente da Takane naquele exato momento.
— Droga, ela está fula da vida...
Eu embalei minha cabeça com uma mão. — Ela está?! — Ayano exclamou, o sangue drenado de seu rosto. Mas não importa o que tivéssemos a dizer sobre isso, essa batalha não poderia ser interrompida. Isso eu poderia dizer com um olhar para a cena diante de mim.
Os botões dos dois competidores habilidosos em seus respectivos controles resultaram em um oceano de jatos de sangue na tela.
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Os tiros, gritos de morte, ruídos de carne se rasgando... Eles saíram dos alto-falantes, criando uma cacofonia que encheu a sala. Parecia nada que um jogo de tiro deveria gerar e isso me impressionou. A plateia silenciosa até agora, estava começando a explodir em aplausos e suspiros.
Era maestria em movimento, desdobrando-se diante de nós segundo após segundo emocionante.
Os monstros, aparecendo na tela antes de serem instantaneamente explodidos, eram difíceis de distinguir a olho nu agora. Identificando-os, mirando, atirando—ambos repetiram esse processo várias vezes com velocidade e precisão surpreendentes. Era impossível colocar em palavras, mas se fosse preciso, só poderia se chamar de “intenso”.
Esta batalha, sem dúvida, seria uma para os livros de história. Aquele garoto de casaco era facilmente páreo para Takane... Talvez até melhor do que ela, na verdade. E Takane, por sua vez, mandava bala. Eu não tinha mais ideia de quem ia ganhar.
Os monstros devem ter gostado de ter esses dois mestres de seu ofício os enfrentando. Ótimo trabalho, pessoal. Foi um papel difícil de cumprir, mas vocês tornaram isso divertido para muitas pessoas. Eu definitivamente vou fazer broches de todos vocês mais tarde.
Os dois minutos pareciam se arrastar para sempre. Agora, no entanto, faltava os dez segundos finais. Nenhum dos lados desistiu de sua busca pela perfeição e o empate continuou até o fim. Apenas um deles poderia vencer.
Qual é? Quem? Enquanto todos assistíamos com a respiração suspensa, encontrei uma emoção que não esperava começar a se tornar conhecida em meu coração.
....Estou com tanta inveja.
Ambos são tão legais. Eu estou incrivelmente com inveja deles. Por que estou aqui, deixando isso me surpreender como um idiota?
Olha para a Takane, perdida na batalha, o corpo se contorcendo para um lado e para o outro enquanto joga... O que ela pode estar sentindo agora? Deve ser muito divertido para ela.
...Eu não aguento. Isso é tão frustrante. Eu quero sentar ao lado da Takane e jogar um jogo com ela também. Eu quero me tornar bom o suficiente para deixar a Takane apaixonada assim.
Ah, que maravilhoso seria, se eu conseguisse fazer isso. Se eu tivesse esse tipo de futuro reservado...
Os dois, recortados pela luz da tela, pareciam presenças distantes. Tudo o que eu podia fazer era ficar atrás deles, olhando para eles com olhos cheios de inveja.
*
A campainha de fim de jogo tocou e a tela de “resultados” apareceu.
Eu me agachei ao lado da Takane novamente. Eu queria dizer algo para ela.
Eu queria que fosse algo como “Isso foi ótimo!” ou “Fiquei tão impressionado!” ...mas não consegui pronunciar nenhuma palavra.
A tela de “resultados” era bem simples. Tudo o que lhe dizia era se você ganhou ou perdeu. É isso. A pontuação da Takane foi a mais alta do dia, mas a palavra VENCEDOR não estava por baixo.
Takane perdeu.
— Takane...
Enquanto eu procurava as palavras, o garoto de casaco se levantou silenciosamente e se dirigiu para a saída.
Ah não. Preciso dar a ele nosso prêmio. Depois de um duelo tão apaixonado, eu nunca poderia deixa-lo ir para casa de mãos vazias.
Pensei por um momento antes de descobrir o que eu diria a Takane. Escolhi apenas ir com o que eu estava sentindo.
— ...Ene, isso foi incrível, até o fim! Ótimo trabalho hoje!
*
— Ei! E-espera um pouco...!
Corri atrás do garoto, sem fôlego.
O espécime que eu tinha em mãos era bem pesado. Também não era exatamente atraente. Como prêmio, apresentava algumas questões. Por que eu não notei isso antes? Ele pode pensar que eu estava apenas sacaneando ele ou algo assim. Mas, como anunciamos um “prêmio maravilhoso”, tinha que dar algo a ele. Se eu não o fizesse e a Takane fosse rotulada de mentirosa, seria simplesmente horrível. Mesmo que ele diga que não precisa, eu tenho que fazê-lo aceitar...!
— Pare, por favor…!
Chamei o garoto várias vezes, mas ele não me deu atenção enquanto se dirigia rapidamente para a porta da frente.
Ele não deveria estar saindo com a Ayano? Porque ele praticamente a deixou comendo poeira. Estava tudo bem?! Lembrei-me de Ayano cautelosamente apresentando o garoto mais cedo. Ela devia estar esperando muito por esse dia. Ficar de pé assim me fez ter pena dela um pouco.
Como se meus sentimentos telepaticamente chegassem a ele, o garoto de casaco de repente se virou. Nossos olhos se encontraram. Era agora ou nunca. Tentei soar o mais autoritário possível:
— Hum, este é o seu prêmio! Por favor, pegue!!
O garoto olhou desconfiado para mim. Ele deve ter se lembrado de mim da sala, pois, ele não bancou o idiota. Consegui alcança-lo assim que ele tirou os fones de ouvido e os colocou no bolso. Ah. Bem, não é à toa que ele não estava me ouvindo.
— Uh, o que é isso...?
A pergunta só poderia ser descrita como depreciativa. Eu tive que concordar com ele. O que é essa coisa que estou carregando?
...Espera. Não. Eu preciso responder ele.
— Este é o seu prêmio por vencer naquela galeria de tiro... eu vim aqui dar ele para você.
— Hã?!
— É o seu prêmio. Você ganhou. É, hum, todo seu.
Ugh. Eu sinto que estou tentando vendê-lo para ele. Mas eu tinha que ficar forte. Caso contrário, eu não tinha certeza se ele iria aceitar. Aah, olha para ele, ele parece estar odiando cada momento disso.
— Humm... eu não preciso disso.
Eu sabia.
— Bem, você poderia simplesmente pegar, talvez? Seria como levar para casa uma lembrança de hoje. O que você acha?
Sim eu sei. Estou pedindo muito de você. A única coisa que isso seria uma memória é de uma expedição em alto mar. Ugh, o que eu vou fazeeeeee....? Ele nunca vai aceitar isso agora. Tipo, por que alguém iria querer algo como...
...Ah.
— ...Ei, você veio com a Ayano hoje, certo?
— Sim, e daí?
O garoto agora parecia ainda mais desconfiado de mim. Talvez eu tenha sido muito súbito com isso. Mas eu não podia voltar atrás agora.  Vamos apenas empurrar um pouco mais forte...
— Bem, talvez você não precise disso, mas acho que a Ayano realmente gostaria se você desse para ela. Estou, tipo, totalmente certo disso.
Sinceramente, senti que esta era a minha ideia mais brilhante do dia. Quem comprou isso em primeiro lugar, afinal? Era o pai da Ayano, Sr. Tateyama. Se a Ayano o pegasse, pelo menos seria útil para alguma coisa. Na verdade, ela provavelmente adoraria se fosse um presente desse cara. Eu tinha certeza de que ela gostava muito dele.
Sim. Eu sou tão inteligente às vezes. Não só eu estava fazendo meu trabalho aqui; eu também estava potencialmente bancando o cupido para esses dois pombinhos. Ah, o que eu posso dizer? Heh-heh-heh...
— Ah, tudo bem. Você poderia dar isso para a Ayano diretamente por mim? Até.
O garoto se virou e começou a andar de novo, sem pensar nisso. Eu o peguei em pânico.
— O que-?! Não, espera um pouco! Isso não significa nada a menos que seja você dando isso para ela... Tipo, se você é a pessoa de quem ela está recebendo...!
— Uh, você está falando coisa com coisa. Para de me seguir, está bem?
O garoto se recusou a desacelerar enquanto cuspia as palavras para mim, abrindo caminho pela multidão do festival. Com a bagagem que eu carregava, tive dificuldade em acompanhar.
Finalmente, chegamos à porta da frente da escola. O garoto tirou os sapatos e estava quase terminando de pôr os seus próprios sapatos quando o alcancei.
— Ah, espera um minuto! Vou pensar em algo, então... hum...!
Porcaria. Se ele sair do terreno da escola, não poderei persegui-lo para sempre. O que eu faço agora...?!
Então, naquele momento, alguém esbarrou no meu ombro. “Desculpe!”, ela disse. Virei-me para encontrar uma aluna vendendo bebidas olhando para mim com olhos tristes. O cooler pendurado em seu ombro tinha REFRIGERANTE 100 YEN escrito nele.
— Bem, estou caindo fora. Por favor, não me si—
— Você quer um refrigerante?!
O garoto me olhou de queixo caído.
— Uh, eu não gosto de bebidas açucaradas assim, então...
— Por favor! Apenas uma pode! Você deve estar com sede, certo?! Essa foi uma partida tão matadora, aposto que um pouco de refrigerante seria ótimo agora! Vamos lá. Vamos tomar um refrigerante! Vamos!
O garoto respondeu com o que quase parecia medo ao meu pedido fervoroso. Outras pessoas próximas a nós pararam, perguntando-se do que se tratava.
A vendedora de bebidas deu uma olhada em nós. — Hum, você gostaria de dois, então? — ela perguntou otimista.
— Sim, dois, por favor! — Eu imediatamente respondi. — Ok?!
O garoto abriu a boca algumas vezes, tentando dizer alguma coisa, mas então suspirou pesadamente, desistindo.
— ...Tuuuudo bem. Se você quer que eu beba, eu bebo.
A resposta me fez querer acenar com o punho no ar. Sim! Eu consegui! Eu consegui, Takane! Eu parei ele! Agora nosso estande é um sucesso total!
— Muito obrigada! — A menina disse, sorrindo. Algumas pessoas ao nosso redor começaram a aplaudir. — Não sei o que está acontecendo, — disse uma delas, — mais, hein, bom trabalho.
Foi um bom trabalho. Sério...
...Por que eu estava passando por tudo isso de novo?
*
Havia espaços comuns espalhados pela escola para fins do festival. Escolhemos um banco simples no lado norte do primeiro andar, não muito longe da entrada da frente, para sentar e tirar a carga.
— ...Aah, isso é bom.
O garoto com casaco, que se apresentou como Shintaro Kisaragi, olhou carinhosamente para sua lata. Era como se ele nunca tivesse experimentado refrigerante antes. Eu dei a ele um olhar questionador.
— Não tem nada de raro nisso, tem?
Não tinha. Na verdade, ele estava bebendo a marca de refrigerante mais conhecida do mundo. Como diabos ele não sabia disso?
— Bem, eu sei sobre isso e tudo mais. — Respondeu Shitaro, parecendo um pouco magoado. — Eu nunca escolho para mim porque não gosto muito dessas coisas açucaradas.
— Ah, entendi! — Eu sorri. — Acho que você acabou de fazer uma nova descoberta.
— Acho que sim. — Disse Shintaro, já desinteressado no assunto.
— ...Então você quer que eu dê isso para a Ayano?
Shintaro olhou para o espécime de peixe aos nossos pés.
Eu finalmente consegui fazer com que ele aceitasse, embora eu estivesse honestamente começando a me arrepender de mencionar o nome da Ayano.
— Acho que ela ficaria feliz, mas... desculpe. Se ela disser que não quer, podemos devolvê-lo.
— Ahhh, tudo bem. Mesmo que ela não goste, eu tenho uma irmã que gosta de coisas estranhas como essa, então vou dar para ela invés disso.
Shintaro se levantou e jogou sua lata vazia em uma lata de lixo ao lado do banco. Hmm. No fim, ele é um garoto muito legal, não é? Eu não sei o que ele fez para deixar a Takane tão brava. Ele é um jogador muito bom, também. De onde ele veio, afinal? Decidi sondar.
— Sabe, porém, você foi muito bem nesse jogo. Você joga em alguma competição ou algo do tipo?
— Hã? Ah, isso era só por jogar mesmo. Tudo o que você precisava fazer era atirar nos inimigos quando eles apareciam na tela. É bem fácil.
Uau. É, ele e Takane nunca seriam muito compatíveis. Tipo óleo e água, de fato.
— É-é…? Bem, ainda foi realmente impressionante. Quero dizer, fazendo o que você fez... fiquei realmente com inveja. Eu com certeza não posso fazer nada assim...
…Ops. O que agora? Eu estava começando a ficar frustrado comigo mesmo novamente. Merda, eu sou um idiota. Por que eu estou com inveja? Eu nunca poderia jogar como eles.
Mas… aah, aquilo foi tão legal. Se eu pudesse jogar como o Shintaro, então talvez a Takane e eu pudéssemos—
— Hum? — Shintaro parecia perplexo. — Bem, se você quer, por que não?
— …Hã?
— Só estou dizendo que, se você quiser jogar online ou qualquer outra coisa, faça o que quiser. Não é como se alguém estivesse parando você, não é?
— Bem, não, mas...
Shintaro suspirou e coçou a cabeça. — Então apenas jogue. — Ele repetiu. — O que você gosta. Se você quiser, eu poderia te apresentar a alguns bons... jogos...
Os sentimentos que passavam pela minha mente provavelmente estavam escritos em todo o meu rosto. O olhar de choque “Uh-ah, o que eu fiz agora” de Shintaro tornou isso bastante óbvio.
Eram quatro da tarde. Assim que alguém no sistema do alto-falante anunciou que o festival havia terminado, eu me levantei e falei o mais claro que pude.
— Sim! Por favor! Eu adoraria!
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elcitigre2021 · 2 years
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7 Princípios da Metafísica...
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“A mudança fundamental acontecerá quando o Pensa dor… mudar de mentalidade”.
Os 7 Princípios foram escritos por Hermes Trimegisto no antigo Egipto. Hermes Trimegisto é considerado o Pai da Sabedoria, fundador da Astrologia e descobridor da Alquimia. Todo o seu ensino manteve-se guar dado em forma secreta para as pessoas e só foi revelado a uns poucos escolhidos naquela altura. Ai nasceu o conceito “hermeticamente” guardado.
Originalmente, toda a informação transmitiu-se de boca em boca, sem material escrito. Depois, iniciouse a compilação destes ensinos num conjunto de axiomas e máximas, no livro chamado El Kybalión, escrito por Hermes Trimegisto “três vez grande“.
Muitos dos ensinos metafísicos também se difundiram sob a autoria do Conde de Saint Germain, quem segundo asseguram os estudiosos do tema, foi uma das reencarnações do Mestre Hermes Trimegisto.
Os estudantes e mestres herméticos modernos consideram a Alquimia como uma “arte de transmutação mental”, pela qual se substituem pensamentos de baixa natureza por outros mais elevados. Eles sustentam que a chamada “pedra filosofal”, capaz de transmutar metais em ouro, era só um símbolo que os antigos tomavam para representar a transformação do homem de “chumbo” em homem de “ouro”. O conhecimento das Leis do Universo dá-nos a oportunidade de nos transformarmos a nós próprios e ao material que nos rodeia.
Diz textualmente El Kybalión: “Os princípios da verdade” são sete:
Princípio do Mentalismo Princípio de Correspondência Princípio de Vibração Princípio de Polaridade. Princípio de Ritmo Princípio de Causa e Efeito Princípio de Geração. O que compreende isto perfeitamente possui o “código mágico perante o qual todas as portas do Templo abrir-se-ão de par em par”.
O conhecimento e o pôr em funcionamento dos sete princípios permitem ao estudante tornar-se um “mago” que, conhecendo o “código mágico”, poderá entrar em outra dimensão de vida.
A Fundação Metafisica Activa não exerce nem apoia nenhum tipo de atividade que tenha algo a haver com comunicações extrassensoriais, magia negra, trabalhos, praticas que atentem contra o livre arbítrio, ritos, cerimonias, dietas, disciplinas, obrigações impostas por alguma personalidade, nem adivinhações do futuro. Tão pouco outorga graus, iniciações, nem títulos, já que reconhece que a nível espiritual todos os seres humanos são iguais.
Para ler mais, peça o Manual de Metafisica 4 em 1, e o Manual para a vida por email.
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CONSPIRAÇÃO ESPIRITUAL...
Na superfície da Terra, exatamente agora, há guerra e violência e tudo parece negro. Mas, simultaneamente, algo silencioso, calmo e oculto está a acontecer e certas pessoas estão a ser chamadas por uma Luz mais elevada.
Uma revolução silenciosa está a instalar-se de dentro para fora. De baixo para cima. É uma operação global. Uma conspiração espiritual.
Há células dessa operação em todas as nações do planeta. Não vão ver-nos na TV. Nem ler sobre nós nos jornais. Nem ouvir as nossas palavras na rádio. Não buscamos a glória, não usamos uniformes.
Nós chegamos em diversas formas e tamanhos diferentes, temos costumes e cores diferentes. A maioria trabalha anonimamente. Silenciosamente, trabalhamos fora de cena...
Em cada cultura do mundo. Nas grandes e pequenas cidades, nas suas montanhas e vales, nas fazendas, vilas, tribos e ilhas remotas. Talvez se cruze connosco nas ruas, e nem percebe... Seguimos disfarçados. Ficamos atrás da cena.
E não nos importamos quem ganha os louros do resultado, e sim que se realize o trabalho. De vez em quando  encontramo-nos pelas ruas.
Trocamos olhares de reconhecimento e seguimos o nosso caminho.
Durante o dia, muitos se disfarçam nos seus empregos normais, mas à noite, por trás de nossas aparências, o verdadeiro trabalho  inicia-se.
Alguns chamam-se Exército da Consciência. Lentamente, estamos a construir um Novo Mundo. Com o poder dos nossos corações e mentes, seguimos com alegria e paixão.
As ordens  chegam até nós, vindas da Inteligência Espiritual e Central. Estamos a atirar bombas suaves de amor sem que ninguém note: poemas - abraços - músicas - fotos - filmes - palavras carinhosas - meditações e preces - danças - activismo social - sites - blogs - actos de bondade... Expressamos de uma forma única e pessoal, com nossos talentos e dons.
Somos a mudança que queremos ver no mundo. Essa é a força que move os nossos corações. Sabemos que essa é a única forma de conseguir realizar a transformação. Sabemos que no silêncio e humildade, temos o poder de todos os oceanos juntos.
O nosso trabalho é lento e meticuloso. Como na formação das montanhas.
O amor será a religião do século 21. Sem pré-requisitos de grau de educação.
Sem requisitar um conhecimento excecional para sua compreensão. Porque nasce da inteligência do coração. Escondida pela eternidade, no pulso evolutivo de todo ser humano. Sê a mudança que queres ver acontecer no mundo.
Ninguém pode fazer esse trabalho por ti.
Nós estamos a recrutar-te. Talvez te juntes a nós, ou talvez já estejas unido. Todos são bem bem-vindos! A porta está aberta...
(Autor desconhecido)
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 UM abraço de luz! ~ Marco Pollastro ~
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erikahespanhol · 2 years
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Cemitério Particular
“Sentir medo da noite não fará com que o dia escureça mais devagar”
Na cidade em que eu morava, havia uma família muito rica e influente chamada Dal Farra. Eles tinham algumas particularidades, que faziam o pessoal da cidade os chamarem de família Adams, como a licença de um cemitério familiar no quintal. No entanto, o terreno era grande o suficiente para terem esse tipo de espaço e, se algumas famílias podiam ter uma quadra de tênis, por que outras não poderiam ter um cemitério? Desde que estivesse dentro da legalidade ambiental...
Particularmente, sempre tive interesse na propriedade dos Dal Farra. A casa não era muito grande, mas sua arquitetura era absurdamente diferente de tudo na cidade, quase um ponto turístico. Era uma casa de pedras escuras, tinha dois pisos. Sua frente possuía uma pequena escada que dava para a área, levemente arredondada, sustentada por alguns pilares cheios de formas. No segundo piso, havia uma miniárea também, de um lado, provavelmente à porta de um quarto que dava para a rua da frente e, ao seu lado, uma sacada sem cobertura. Era um cenário meio Romeu e Julieta, mas sem as flores. As pedras mesclavam entre um tom de chumbo e um vermelho desbotado. Tinha um ar bem antigo, mas elegante e muito sério. Era a minha casa dos sonhos.
Eu devia ter por volta dos trinta anos quando o Sr. e Sra. Dal Farra faleceram juntos em um acidente de carro. Os filhos, que tinham mais ou menos minha idade, e nunca se casaram ou saíram da casa dos pais, decidiram voltar para a cidade natal deles, em que viviam os tios e primos. Ninguém sabia muito sobre os Dal Farra, mas muita gente comentava que eles eram fechados a ponto de casarem-se apenas com membros da própria família. Havia um boato, inclusive, de que o Sr. e Sra. Dal Farra eram primos de segundo grau criados praticamente juntos.
Foi nessa época, inclusive, que comprei a residência dos Dal Farra. Com a mudança dos irmãos, a casa foi posta a venda e eu, que sempre vivi de olhos nela, não perdi a oportunidade. Assim que a papelada ficou pronta, já resolvi minha mudança imediata. Felizmente, não precisei carregar muitos móveis, pois a casa havia ficado com todos. No entanto, achava um pouco estranho utilizar aqueles mesmos móveis que a família metade falecida havia usado por anos, mas preferi o conforto e calmaria da não necessidade de transformação dentro dos cômodos, afinal, o jeito que era por dentro, combinava com a parte de fora.
Lembro-me bem da primeira noite naquele lugar. A escuridão da paleta de cores da decoração da casa piora quando o sol se vai. Toda seriedade e elegância dão lugar a um ambiente assombroso. As coisas pioraram ainda mais quando rapidamente lembrei que havia um cemitério no quintal. Assim como muitas pessoas no mundo atual, eu sou bem cética. No entanto, também acredito naquilo que vejo. Eu nunca vi uma assombração fantasmagórica, por isso não acredito, mas… e se um dia eu ver? Talvez seja por isso que, nos momentos de pânico, cobrimos nossos olhos.
Passei três dias tentando entender que não havia nada de mais em ter corpos enterrados no quintal e que isso não assombraria minha nova casa, que tudo que andava sentindo nos últimos dias era fruto de um medo imaginativo. É claro que não manteria o tal cemitério comigo. Não só por questões culturais (não eram meus parentes) como por questões ambientais. Eu pretendia transformar o quintal em um ambiente de lazer com piscina e precisaria utilizar partes mais profundas daquele espaço do terreno. Pensando nisso, tentei entrar em contato com um primo meu, que é policial, para comunicar aos responsáveis sobre a situação. Não tive muito sucesso, mas nem foi preciso, no dia seguinte eles apareceram no terreno justamente para resolver essa questão.
Ninguém conseguiu contato com os Dal Farra, para saber o que pretendiam fazer com os corpos. Era como se eles tivessem deixado de existir. O que não foi tão surpreendente, já que tinham hábitos estranhos e eram absolutamente reservados. O fato de terem vendido a residência, também, sem informar nada a respeito do cemitério familiar, nos fez chegar à conclusão de que não se importavam. De qualquer modo, meu primo deixou um espaço legista encaminhado para os corpos, caso alguém aparecesse para procurar informações.
Por ser prima do policial, eu estava presente no dia em que foram desenterrar os corpos. Alguns estavam em caixões, mas encontramos outros enrolados apenas em tecidos sem o menor cuidado. No entanto, o que mais nos chamou a atenção foi um corpo que parecia ter sido enterrado recentemente. No primeiro momento, imaginamos que pudesse ser um dos corpos do casal, mas estranhou-nos que estivesse sozinho. Ao abrir para conferir quem estava enrolado naquele tecido, meu primo e a equipe legista ficou petrificada. Tentei questioná-los sobre o que estava acontecendo, mas ninguém me deu atenção. Após alguns segundos, consegui me aproximar do corpo para sanar minha curiosidade em saber a quem pertencia, pois para meu primo parecer tão assustado, poderia ser que eu conhecesse também.
Um imenso assombro, maior do que o que passei nos últimos dias na casa, tomou conta de mim. Ao olhar para o corpo descoberto e sujo deitado no chão, vi a mesma imagem que via todos os dias no espelho. Já não sabia mais se estava de pé vendo meu corpo, sujo de terra, no chão, ou se estava no chão, suja de terra, olhando meu corpo de pé em minha frente. Uma confusão tomou conta de minha mente e quando ouvi meu primo citar meu nome para o corpo, o choque foi ainda maior. Na tentativa de me afastar visualmente do que tinha em minha frente, fechei os olhos. E nunca mais os consegui abrir.
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hotnew-pt · 13 days
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Alexandria Antiga: História e legado da cidade mais famosa do Egito #achadinhos
Hot News “No porto de Alexandria fica a torre chamada Faros, a primeira maravilha. Ela é sustentada por vidro e chumbo e tem 600 metros de altura” – Epifânio, o Monge A África pode ter dado origem aos primeiros humanos, e o Egipto provavelmente deu origem às primeiras grandes civilizações, que continuam a fascinar as sociedades modernas em todo o planeta quase 5.000 anos depois. Da Biblioteca e…
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cenaindie · 3 months
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Cidade Chumbo – Pílulas Diárias de Insurgência https://cenaindie.com/album/cidade-chumbo-pilulas-diarias-de-insurgencia/
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chrisamaral · 22 days
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O destino é quando o acaso cansa de esperar
Por Chris Amaral
Há muitos anos fui envolvida assim meio sem perceber nessa história que vou contar agora, seu desfecho levou algum tempo para acontecer.
Para situar o contexto vou falar um pouco de mitologia, de Apolo e Dafne. E como tudo que envolve deuses, amor e mitologia não tem final feliz. Apolo era um dos deuses mais lindo, o grande senhor das artes, música e medicina, conhecido como o deus do Sol. Ciente de seus enormes predicados, Apolo se vangloriou dizendo para Eros, o Cupido, o pequeno deus do amor, que suas flechas eram mais poderosas.
O Cupido responde que as flechas de Apolo eram poderosas sim, pois podiam ferir a todos, porém as dele eram mais, pois podiam ferir até mesmo o próprio deus Apolo, e ele desdenhando riu do Cupido.
Eros então, como cabe a natureza vingativa dos deuses, lançou uma flecha com a ponta de ouro, diretamente no coração de Apolo, nascendo assim, uma paixão avassaladora dele pela bela ninfa Dafne, filha do deus - Rio Peneu. Mas, em Dafne, o Cupido lançou uma flecha com a ponta de chumbo, gerando a repulsa eterna por Apolo.
Apolo, um deus perdidamente apaixonado perseguia sua amada de todas as formas possíveis que fugia dele o quanto podia, para se livrar de Apolo, para se salvar a ninfa implora ao seu pai que a transforme num Loureiro. Que posteriormente será visto como o símbolo de Apolo na forma de uma coroa de louros.
E aí você se permite viver o imprevisível?
Muitas vezes com essa pergunta percebi que cada viagem era uma experiência nova que podemos nos presenteamos ou não. A Grécia para mim, é única, não só meu imaginário, nas lembranças dos livros de mitologia, como nos sonhos de navegadora. A Odisseia de Ulisses fez das minhas navegações por esse mar azul uma aventura.
Chegamos na ilha de Kalamos, no mar Iônico, ao entardecer. Ela é um parque ecológico marinho, também conhecida por ilha do amor por causa do mito grego, Kalamos e Karpos, que um dia posso contar, mas hoje vou escrever sobre outra história.
Eu estava esperando na fila do telefone público, um adendo: era uma época que celular era só para chamadas e sms, praticamente zero roaming internacional. Na minha frente estavam um garoto norte americano de 12 ou 14 anos e um senhor grego, os dois, em vão, tentando se entenderem e uma velhinha ao telefone.
Na fila, me perguntaram de onde era e essas coisas que se diz quando se é turista, quando disse Brasil foi uma chuva de perguntas, o garoto me perguntou até do Pelé, há muito aposentado, e olha que isso foi no verão de 2004.
Percebi mesmo com a pouca luz do entardecer, um brilho no olhar do senhor que começou a falar as poucas palavras que ele lembrava em português, me contando emocionado, meio em italiano meio em inglês, que tinha estado no Brasil há 50 anos por 6 vezes, e repetiu a palavra saudades algumas vezes, como num mantra.
Olhou para os lados, conferiu que a esposa continuava numa longa conversa, me afastou do telefone, então começou a contar que tinha deixado o melhor da vida dele no Brasil, com lágrimas nos olhos, segurou e beijou minha mão e me deu seu amuleto, um pequeno cordão de contas.
Aceitei com um nó na garganta. Como não sou ficar quieta, perguntei por que não voltava ao Brasil de férias um dia e com seu olhar perdido sobre o mar me respondeu: quem dera...
O que ele me relatou depois, acabou fazendo parte da minha própria história:
‘Eu era um jovem de 18 anos quando embarquei para trabalhar num navio. Chegamos no Brasil no mesmo ano, em um Café na cidade Santos, conheci uma jovem da mesma idade, ficamos amigos e trocamos cartas depois da minha partida. Mas veio a sorte ou o destino, e o navio voltou para o Brasil seis meses depois, e desde então nós nos víamos com frequência, e nos apaixonamos.’
O Português e o Grego viraram uma nova língua do amor. Esse namoro durou uns 3 anos, pelo que pude entender, e nesse meio tempo se viram todas as cinco vezes que esteve em Santos. As cartas eram muitas. Quando os dois já estavam perto de completar 21 anos decidiram se casar e Kostas a levaria para Grécia e viveriam no país das 3 mil ilhas do mar azul.
Tudo combinado com a amada e as famílias, ele chega no porto com os documentos para o casamento e uma licença de três dias concedida pelo capitão do navio. Comprou flores no caminho da casa de sua amada e com as alianças foi encontrá-la.
A casa estava fechada, com ares de abandono, não quis acreditar no que via, bateu chamou, gritou, mas não houve resposta. Uma vizinha de frente saiu para ver o que era todo aquele barulho, ela contou que toda a família havia se mudado da cidade sem deixar rastros, nem endereço, nada.
Ele me contou ainda que passou os três dias sentado na frente da casa vazia de sua amada.
Por fim um outro vizinho conseguiu convencê-lo de voltar para o navio, dizendo que a família era contra o casamento e que mudaram para o interior para afastar a garota dele.
Ele voltou para o navio, e quando chegou na Grécia desembarcou definitivamente e foi curar suas feridas em terra. O tempo aliviou sua dor, mas nunca mais restaurou seu amor pelo mar.
A vida seguiu seu curso, ele seguiu em frente, e depois de alguns anos casou teve filhos e netos.
Estive em Nísos Kálamos por 10 horas. Naquela noite, conversando, na fila do telefone público, quis o destino, que eu fizesse alguém se recordar que estava vivo, que o que vivemos é o que vale a pena, e aprendi com esse senhor, que é um tesouro ter as lembranças do que nos permitimos viver.
Fui embora para o barco sem conseguir falar com o Brasil, e com saudades também.
Esse encontro foi em 2004, ou seja, somados ao tempo que a história aconteceu em Santos se passaram mais de 60 anos, quando voltei para o Brasil busquei por curiosidade pelo nome da noiva, imaginei que seria impossível encontrá-la, mas busquei por cartórios online de certidão, afinal eu tinha o nome, o local e o ano.
Demorou uns 3 anos, mas um dia assim sem mais nem menos procurei no Facebook e achei o nome completo, em Santos, era pouco provável que fosse a mesma pessoa.
Mas ainda assim, escrevi uma mensagem me identificando e que estava buscando uma pessoa que devia estar com cerca de 80 anos, expliquei por alto porque procurava essa pessoa. Dias depois me respondeu uma jovem que tinha o mesmo nome da avó, e me pediu para explicar por que estava procurando sua avó. E contei tudo para Sophia.
Houve um silêncio de dias, aguardei a resposta e nada, eu. Achei por bem não forçar um novo contato, talvez minha história tenha causado algum problema. Somente depois de cinco semanas, na véspera do embarque para o Mediterrâneo, recebi uma resposta da neta.
Santos, 25 maio de 2007.
Cara Christina
Às vezes não entendemos por que as coisas nos caem nas mãos. Qual seria a sua função em toda essa história?
Minha avó estava muito doente nos últimos meses, eu dei um tempo na faculdade para ficar com ela, era o mínimo que podia fazer por quem era mais que avó, tinha sido pai e mãe para mim.
Depois que você me escreveu comentei com a vovó sobre o seu interesse e se era ela a pessoa da história. Os olhos da minha avó brilharam e sorriram de um jeito que eu nunca tinha visto antes.
Li para ela a sua enorme mensagem, naquela noite o silêncio na rua era incomum, sua respiração estava descompassada. Minha avó pediu para te agradecer por ter trazido paz ao seu coração, a minha avó é a garota da história e o amuleto foi ela quem fez para ele na última vez que se viram.
O dia 20 de maio amanheceu com uma chuva fina, como se o céu estivesse de luto, minha avó faleceu durante a madrugada, dormindo.
Mexendo nas coisas dela, achei todas as cartas que eles trocaram durante o namoro. Posso dizer que eram emocionantes, a última carta que minha avó escreveu para o Kostas não foi enviada. Mas eu acho que você poderia levar para ele. Por favor me manda seu endereço para enviá-la.
Agradeço por não ter desistido de procurar minha avó. Você trouxe o último alento com as palavras de amor e saudades do seu antigo amor.
Um abraço sincero meu e da minha avó.
Sophia
Avisei a neta que eu estava embarcando no dia seguinte para trabalhar, a carta não chegaria a tempo, ela então me mandou uma cópia por e-mail. A imprimi e fui para o Mediterrâneo.
Fiquei imaginando como faria essa carta chegar às mãos do Kostas, só sabia que morava em Nísos Kálamos.
Consegui organizar um roteiro de navegação que passasse por lá, o tempo não ajudou muito, demorei um mês para chegar na ilha.
Ao atracar fui até o telefone público, no lugar que conheci Kostas. Havia um Kaffé quase em frente, com a carta na mão procurei algum nativo que conhecesse ou soubesse onde Kostas morava. Um dos jovens, barista do café, entendeu o que eu queria.
Ele me levou até a esquina seguinte e disse Kostas morava ali, usou o tempo passado, eu o olhei nos seus olhos e perguntei ele não mora mais aqui?
O garoto, como um gesto de consolo, colocou a mão no meu ombro e disse em italiano: mio nonno scomparso poco più di un mese fa. Minha avó está em casa, mas não fala com estranhos, sinto muito. Ele morreu dormindo no dia 20 do mês passado. O que você queria com meu avô?
Nem me lembro o que respondi, devo ter dado uma desculpa qualquer. Só consegui me despedir sem muitas palavras e voltei para o barco. Zarpamos ao entardecer, teríamos algumas horas de navegação sob o luar.
Era meu turno lá fora, sozinha. Coloquei a mão no bolso e encontrei a carta e sem ler fiz um barquinho com o papel - um origami, no sentido original dessa prática, somente dobraduras, onde se honra as forças divinas das árvores que se doaram para nascer o papel – coloquei no barquinho o amuleto e no rastro da lua uni aqueles dois corações flechados com ouro e os deixei flutuando pelo mar grego em paz, talvez só Cupido tivesse poder sobre o amor mesmo.
Claro que troquei o nome dos protagonistas, essas pessoas são reais, o restaurante na ilha ainda existe, e quis o acaso que eu fosse testemunha de um amor além mar. Então só aceito meu destino de contadora de histórias sem buscar razões, nem porquês.
E aquela foi a última vez que Kalamos, a ilha do amor, esteve na minha rota.
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schoje · 2 months
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O maior desfile de Natal da história de Florianópolis acontece neste sábado, 16, na Avenida Beira-mar Norte, a partir das 20 horas. O desfile gratuito faz parte da programação natalina da cidade. O trajeto de 700 metros sai do Bolsão da Casan até o Trapiche da Beira- mar Norte. Será uma noite de magia, alegria e de muita inspiração, com surpresas e atrações para todas as idades. Por conta do desfile, a Beira-mar estará fechada a partir das 18 horas de sábado no sentido bairro centro. Atrações do desfile Mais de 250 artistas estão envolvidos no desfile, que terá renas dançantes, duendes e carro alegórico do Papai Noel e seus ajudantes, tudo ao som de uma trilha especialmente composta para o desfile de natal de 2023. No total são nove alas coreografadas, compostas por bailarinos e dançarinos de diferentes modalidades e estilos. A comissão de frente é formada por colibris, simbolizando a paz, com o Anjo Gabriel na condução. Logo em seguida surge um mar de anjos rodeando o carro alegórico da Sagrada Família. E no clima da natureza, seguem as alas que representam as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Na sequência, uma ala destaca as etnias mais representativas que formam a identidade da população de Florianópolis. O desfile prossegue com toda a simbologia do Natal, apresentando os personagens típicos da festa que celebra o nascimento de Jesus: duendes, renas, bolachinhas de natal, noeletes, bailarinas de porcelana e soldadinhos de chumbo. E não poderia faltar uma alegoria em forma de árvores de natal, com brinquedos e onde vai estar a Mamãe Noel, sempre presente no imaginário das celebrações natalinas. E para fechar o desfile, a presença muito esperada, Papai Noel que chega num carro alegórico especialmente preparado para o grande anfitrião da festa. "Estamos tendo um Natal mágico em Floripa e o Desfile de Natal é um espetáculo para reunir toda a família. Nossas equipes estão mobilizadas para este grande evento. Contamos com a presença de todos", convida o Prefeito Topázio Neto. Produção do evento é realizada há meses Além dos artistas, especialmente selecionados para o desfile, muitos profissionais estão envolvidos nesta grande produção, que vem sendo organizada há alguns meses. "Estamos preparando um grande espetáculo, com muito carinho e pensando na mensagem de paz, alegria, fraternidade, muito brilho e diversão, sem perder de vista o verdadeiro espírito do Natal", conta a diretora artística, Barbara Rey. Os figurinos foram criados pelo estilista José Alfredo Beirão Filho, o conhecido Beirão, um dos grandes especialistas na criação de figurinos para teatro, cinema, carnaval, entre outras áreas da cultura e das artes. "Estamos trabalhando com um equipe de 25 pessoas, entre costureiras, contramestres, bordadores, aramistas e emplumadores. O trabalho tem virado dias e noites para que tudo esteja preparado para ser visto nos diferentes segmentos do desfile, com toda a grandeza das festas natalinas, destaca Beirão. A direção geral do espetáculo é da produtora cultural Eveline Orth, da Orh Produções, que concebeu o projeto. "O desfile é um desafio muito grande, porque envolve muito planejamento e muitas equipes de diferentes atuações nesse tipo de projeto. Mas tenho certeza que vamos levar à Avenida Beira- Mar Norte um espetáculo do tamanho que a cidade merece e para que a população da cidade e região viva intensamente esse período de festas, sempre cheio de emoções e que todos possam celebrar seu Natal com muita alegria", diz Eveline Orth. A produção executiva é da Ginga Eventos, sob coordenação de Dani Abilhoa, que coordenou as equipes operacionais dos desfiles de 2021 e 2022. Para o presidente da CDL Florianópolis, Júlio Geremias, o Desfile de Natal na Avenida Beira-Mar Norte é um presente para nossa comunidade. "É um evento que promete encantar toda a família, e o melhor de tudo, é gratuito. Este desfile é um reflexo do espírito natalino que une nossa cidade. Convido todos a participarem desta
noite única, celebrando a magia do Natal e fortalecendo os laços que nos unem", convida Geremias. O projeto do desfile Natal Magia de Florianópolis foi viabilizado através do Programa de Incentivo à Cultura (PIC), através da Fundação Catarinense de Cultura e do Governo do Estado de Santa Catarina. E tem como Incentivadores as empresas Koerich e Brasil Atacadista. Apoio da CDL e Prefeitura Municipal de Florianópolis. "O Natal é uma época bonita e emocionante. E, sobretudo, santa. Gerir a ferramenta que viabiliza a arte de maneira tão satisfatória, o nosso Programa de Incentivo à Cultura (PIC), e ver o resultado que ela proporciona, é algo que nos traz muita alegria", comenta o presidente da FCC, Rafael Nogueira, a respeito do mecanismo de incentivo cultural. Fonte: Prefeitura de Florianópolis - SC
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dunamisx · 2 months
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CARMILLA KARNSTEIN nascida na ESTÍRIA, em ano desconhecido. IMORTAL, transformada em VAMPIRA há muitos anos.
Pouco se conhece sobre quem era Condessa Mircalla Karnstein, o que fizera durante sua vida terrena e qual era sua verdadeira personalidade. Em uma Áustria/Alemanha de 1453, vivia isolada em um Schloss da família, afastado da cidade. Dizem que Mircalla era uma moça reclusa, de poucos sorrisos e olhares melancólicos, como se escondesse algo pérfido que ninguém deveria saber e com repulsa de si mesma. Possuiu, na época, um pretendente a  noivo vindo da cidade e pareceu alegrar-se momentaneamente com a ideia, até que desde então apenas decaiu até suicidar-se e colocar um fim na própria miséria. Seu corpo então foi enterrado nas catacumbas do Schloss, em um caixão de chumbo, mas a verdade é que a morta não permaneceu em estado de putrefação por muito mais tempo. Dizem-se as superstições austríacas, que quando um suicídio é cometido por uma alma vil, das mais más, essa então adquire a forma de um vampiro mesmo que jamais tivessem sido avistados em terras germânicas até o momento.
Mircalla, no entanto, basicamente tornara-se aquilo que mais temiam. Assumia a forma de descendente Karnstein e por alguns séculos ninguém questionava-a. Em 1638, havia mandado pintarem um quadro seu, que fora pendurado nas parede do Schloss, mas foi a partir daí que a derrocada Karsntein iniciou-se e a família desfez-se, o local tornando-se inabitável e uma grande ruína abandonada. Isso, porque Mircalla havia transformado moças demais em seres exatamente como o seu, seu segredo sendo aos poucos revelado ainda que ela terminasse seu trabalho quando qualquer chegava perto demais da verdade. As outras, porém, instauraram o caos nas vilas mais próximas e assim os Karsntein se desfizeram e seu caixão manteve-se nas catacumbas do Scholoss.
Contudo, Mircalla continuou a realizar seus ataques furtivos ás damas que recordavam-lhe de seu passado. Fingia-se uma jovem doente para que pudesse permanecer como hóspede nas residências alheias e drenava-as lentamente quando conseguia consentimento, se houvesse alguma ligação emocional. Camponesas, porém, continuavam misteriosamente perecendo devido à uma febre cerebral sem motivo algum e de maneira rápida, direta. Mircalla, porém, passava sempre algumas décadas em hibernação, deixando o mundo ao seu redor modificar-se enquanto algumas de suas criadas preparavam tudo para a sua chegada. Mircalla significava, basicamente a rebeldia da mulher para uma sociedade patriarcal, jamais buscando alimentar-se de indivíduos do sexo masculino. As suas únicas vítimas eram as moças, alimento preferido e também as únicas cuja qual a vampira direcionava sua atenção romântica e sexual. Nunca, jamais conteve seus desejos e demonstrava-os abertamente, até mesmo de maneira desconfortável as jovens que viviam dentro das redes da sociedade e por isso diziam que ela possuía alguma moléstia que causava-lhe a sua palidez, languidez e suas crises de luxúria. Nada disso, porém, era verdade.  Com o passar dos anos, Mircalla tornou-se Marcilla, Micarlla, Carmilla, todos os nomes utilizados, anagramas de seu nome original.
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gralhando · 3 months
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O pensamento do silêncio.
Estou pensando em alguns sintagmas, e noto que em torno da palavra "silêncio" se aglutina eventos os mais poderosos ou talvez assédios semânticos descarados. Tlvez seja caso de uma pesquisa especial ou mesmo uma atenção a mais na anotações sobre o reino que está entre nós. Em todo caso, mesmo sem ser algo que imediatamente salte talvez, seria válido dizer que "The Sounds of Silence" é uma música das mais poderosa no pathos semântico. Imagino até que existiu uma sinergia entre letra e melodia no momento da composição, concorrendo os dois fios em uma força de equilíbrio que exigia aprofundamento semiótico tanto quanto intervalos tonais de sentimento profundo. Ou vice-versa. Foi escrita em fevereiro de 1964 pelo cantor e compositor Paul Simon nas sombras do assassinato de John F. Kennedy ocorrido no ano anterior.
Minha pesquisa começou ontem com "ecos do silêncio". O primeiro resultado nos buscadores vem para um livro com as seguinte informações: organizado por Cassandra Pereira França, editora Blucher, São Paulo, 2017, 248 páginas. Parece que se trata de um compilado de textos sobre violência sexual, não tenho certeza. Uma apresentação tem o seguinte período: "A sexualidade humana é inerentemente traumática, escreve Joyce McDougall. Se já não conseguimos alcançar uma narrativa que comporte o sexual freudiano, imagine quando estamos diante dos excessos, do que transborda, do que não tem contorno, representação, do que não tem palavra." Semanticamente muito justo. A ideia de silêncio, e neste caso silêncio também arrasta um tipo de escuro, ou ainda um abismo indefinido, que esta indefinição vem de realmente não existir palavra, e então "silêncio" abarca uma espécie muito real de silêncio. Seria um silêncio cerebral.
Outra ocorrência para "ecos de silêncio" é um filme sobre a ditadura militar no Brasil. Dirigido por Davi Sant´Anna, produzido em 2006: "Muitos sobreviveram aos anos de chumbo da ditadura militar, outros, alienados, não sabem até hoje o que aconteceu e apenas vangloriam o tri-campeonato mundial de futebol de 1970. Porém outros milhares simplesmente foram eliminados. Extinguiram seus corpos, porém suas vozes não cessaram e o silêncio é ouvido até hoje nos corações daqueles que acreditam na liberdade de escolha e pensamento, em poder lutar por seus ideais, e mesmo que seja utópico, em sonhar com um país mais justo e digno ao semelhante." Acontece que a Comissão Nacional da Verdade, em seu relatório final, reconheceu 434 mortes e desaparecimentos políticos entre 1946 e 1988, dos quais a maioria ocorreu no período da ditadura militar. Será que o filme fala mesmo em milhares? Um estudo de verdade seria necessário no Brasil, porém às portas do fim do mundo não importam mais os estudos, mas sim reconhecer a honestidade e a desonestidade quando nos depararmos com algo assim, da mesma maneira que reconhecemos o silêncio e a palavra.
Para "voz do silêncio" chega como principal ocorrência o livro de Helena Petrovna Blavatsky traduzido em 1916 para a língua portuguesa por Fernando Pessoa: "Reúne preceitos espirituais retirados do Livro dos Preceitos de Ouro, que tem uma origem comum com as célebres Estâncias de Dzyan, uma das fontes para o monumental A Doutrina Secreta. O texto traça, em linguagem poética, um panorama sucinto do caminho que leva à santidade ou à iluminação, e faz diversas recomendações práticas para os aspirantes. Foi escrito em Fontainebleau, uma cidade da França." Para os perdidos nos nomes de livros citados da descrição, informo que se trata do cânon sagrado tibetano, composto por 1707 obras entre as quais se encontram As Estâncias de Dzyan e o Livro dos Preceitos de Ouro. Estas duas obras foram em parte traduzidas pela filósofa russa Helena Petrovna Blavatsky, no século XIX, através de suas obras A Doutrina Secreta e A Voz do Silêncio. Essa autora impressionou muita gente, e inclusive o Fernando Pessoa. Mas só por essa descrição se nota como foi derivativa ou refundadora. Não sei qual das duas coisas pesaria mais.
E o "silêncio" continua. Como quando eu criança o imaginava no espaço escuro acima dos planetas. E nessa época já era para mim a única resposta válida, simples e profunda sobre os mistérios da existência. O que me opõe já de início, e desde então, a toda palavra que eu ainda leria no futuro a descobrindo formulada nos passos para uma real transformação em direção a um mundo novo e melhor.
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nadamudatudo · 6 months
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vênus cansada
Farta.
Farta da existência. Farta dos maneirismos. Compro girassóis porque morrem, eu preciso morrer um pouco com eles todos os dias mesmo sob o sol de setembro. Estou doente, se algum deus ainda estiver vivo e possa ler meus pensamentos, porque todo deus deveria acessar nossa mente e nos salvar de nós mesmos, vai saber que já tentei de tudo. O inferno então não será minha morada. 
Queria renascer em uma cidade subterrânea com monumentos de mármore e jardins com flores de todas cores, centenárias, não feitas em fábricas e coloridas artificialmente. Flores que vivem por séculos escondidas, que nada tem a ver com girassóis murchos. 
Lá, seria eu mesma e teria asas para poder alcançar todos céus noturnos, minha alma não seria motivo de chacota ou uma prisão de grades de chumbo, meu corpo não seria um instrumento décrepito e frágil ao toque projetado, exclusivamente, para as dores e ação do tempo. Eu seria a guerreira de aço e meus cavalos-marinhos voariam comigo, não teriam centímetros, mas sim, metros e metros, seriam maiores que bestas marinhas saídas de alguma história lovecraftiana.
Fadigada dos padrões pré-estabelecidos há 3 décadas, mudam os tempos, as pessoas continuam pessoas, nada poderá ser feito em relação a isso. Ontem tentei conversar  com aquele homem e não obtive êxito. Ele é surdo e tem a boca fechada por ataduras como os outros. Os seres humanos não são humanos, apenas simulacros de algo entre a besta e o macaco.
Lá, na cidade branca haveria um idioma que ligasse todas raças, inclusive a natureza e os bípedes que por ela fossem mantidos vivos. A natureza poderia continuar sendo natural, porque os homens não seriam homens, talvez eles fossem deuses.
Fecho os olhos, minha mente está apodrecendo e sobrevoa meus pensamentos mortos como um abutre faminto. Procuro algo para me manter sã, nada cura um buraco tão grande, nada pode cobri-lo. Estou farta da sociedade a qual (não) pertenço, seus jogos, guerras de crianças e soldados de plásticos derretendo ao sol, crianças mimadas e seus brinquedos eletrônicos em piqueniques onde se servem dos corações recém-nascidos. Tudo é o embuste exibicionista de Febos consagrados em seus mitos. Cefiso é uma das portas pela qual todos caminham em direção a morte.
Minhas palavras não têm sentido, nunca tiveram. Elas não soam como arte, não há arte nisso, apenas súplica. A imagem é tudo, perca a noção de si mesmo e morrerá, você está tão perdido quanto todos outros. Farta, enfadada, enforcada, eles vem e vão pisoteando as flores, destruindo o mármore, se consideram deuses no seu interior podre. Ainda continuo escrevendo enquanto resta-me dedos roídos, resta em mim (in)sanidade suficiente para me manter escrevendo e escrevendo...até que o último pulsar faça ondas elétricas saltaram de uma partícula a outra. Estarei escrevendo para ninguém em um tempo morto onde permanecerei escrevendo ao renascer em outro sistema, a estrela-morta mais brilhante que essa constelação já possuiu. 
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