#mutilaÇÃo
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borboleta-expurgada · 5 months ago
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Nenhum corte vai ser tão profundo como a solidão que persiste em meu coração.
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nab-san · 1 year ago
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Eu nunca serei uma filha digna para os meus pais, eles seriam bem melhor e teriam economizado muito mais sem mim. Ou até adotando uma boa criança. Meu pai diz que sou uma decepção pra ele, diz que sou inútil e imprestável. Minha mãe pega todas as minhas mágoas e feridas e esfrega na minha cara, não me deixando seguir e esquecer. Ambos menosprezam minhas conquistas e exaltam meus fracassos, pois, segundo ele, é minha culpa por não fazer como eles quiseram.
No amor eu deixei passar quem um dia quis um futuro comigo por alguém que vê mais erros que qualidade em mim, alguém que fica nas minhas fraquezas e não acredita nem nos meus diagnósticos, segundo ele é minha culpa tudo que acontece comigo e eu sou a pior das pessoas. Eu não sirvo como namorada, noiva, esposa ou mãe. Essa vida, segundo ele, não é pra mim e não tô apta a isso. Segundo ele, ele nem pode contar comigo e nunca vou ser uma de suas prioridades.
Meus amigos seguem a vida deles e eu não faço diferença em nenhuma delas.
Eu não tenho nada.
Nunca construí nada.
Não sou nada além de um chorume que polui tudo e todos.
Eu nem sou boa o suficiente para morrer, já tentei e até a morte me rejeita.
Tô tão farta e tão cansada.
Eu pensei que estava com a pessoa certa, que eu amo, mas errei.
Eu fui uma filha que tinha todos os orgulhos para dar aos pais e nunca reconheceram, aí, depois que eu desisto de mim, eles me culpam por ser essa merda que eu sou.
Até falam "se quer morrer então morre"
Então é isso. Eu cansei.
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odecente · 1 year ago
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Boa noite ursos.
To com medo de amanhã, la mora minha solidão, meu desespero lá mora a vontade de correr do mundo e ser livre, no amanhã que esta o suor e a humilhação, no amanhã sou um animal preso em uma jaula com os visitantes dando gargalhadas soltas. Amanhã é um pesadelo mas hoje, agora é o meu maior desespero por conta do medo.
Socorro!
- Odescente
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clonazepao · 2 years ago
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Adeus ansiedade
Às vezes dá um aperto no peito, a gente quer dizer tanta coisa mas sente que não deve e nem pode. Às vezes choramos de cansaço, choramos de tristeza, por estar sufocados por nossos pensamentos e principalmente pelo peso de existir, meio que ao mesmo tempo queremos viver e morrer… Em silêncio vou dizendo adeus.
Como posso responder ao meu coração? Se quanto mais palavras eu aprendo, mais eu sei que posso começar a me odiar, palavras essas que nunca desaparecem, apenas se acumulam na garganta e permanecem ali, prontos para explodir, aqui dentro está um verdadeiro caos.
A pior ferida que o amor me deixou, foi acreditar em palavras, em palavras e mais palavras, palavras sem verdade. Como posso responder ao meu coração? Como posso aceitar?
As feridas podem doer e latejar às vezes, vou vivendo sem me sentir vivo, e quantas não são as palavras que ainda permanecem inertes? Os Bispos contam mentiras a seus reis, e aquele sentimento de que nada vale a pena ainda permeia no meu peito. Odeio mentiras, odeio todas elas. Contudo chorar não seca a tristeza e frustração que estou sentindo. Como posso responder ao meu coração? Como posso aceitar? Como posso prosseguir? Como encontrar a paz no caos? Deitar no quarto escuro ouvindo música, não posso mais me esconder na escuridão, atrás das cicatrizes. Sinto que o que está comigo não vai embora, não!!! Você não vai se encontrar no trabalho. Você não vai finalmente ter amigos. Seu vazio não vai embora, tudo vai ser igual, vai ser o mesmo, só que em outro lugar e como outras obrigações, você pode ir pro Japão, que nada vai mudar, não dá pra fugir de você mesmo.
Como posso responder ao meu coração? Como posso aceitar? Como posso prosseguir? Se a única maneira de matar a depressão é matando a mim.
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obsesseddiary · 2 months ago
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Porém, o mais valente entre nós teme a si mesmo. A mutilação do selvagem tem sua sobrevivência trágica na abnegação que arruína nossas vidas.
O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)
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giseleportesautora · 1 year ago
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Autocarrasco [Poesia]
Autocarrasco [Poesia] - Ninguém sabe te machucar melhor do que você mesmo faz quando se tortura. Olhando no espelho, se sentindo a criatura pior. A mão que nunca afaga e é tão dura. #poema $poemadark #poesiadark
[Leia com o Áudio da Poesia!] Ninguém sabe te machucar melhor do que você mesmo faz quando se tortura. Olhando no espelho, se sentindo a criatura pior. A mão que nunca afaga e é tão dura. Meu cerébro é meu próprio autocarrasco. A ferida diariamente cutucada nunca vai sarar. A autocobrança e autoexigência já me dão asco. Tanta perfeição para nunca nada de valor entregar. Você só é grande e tem…
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gkscanonline · 1 year ago
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Delegado alerta pais para crimes no Discord: Muito tempo no quarto e uso de casacos para esconder ferimentos
Polícia faz operação para prender suspeitos de induzir meninas a práticas violentas contra elas mesmas; veja quais os sinais de alerta dentro de casa. A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu dois adolescentes de 14 e 17 anos em operação que investigas crimes cometidos na internet pelo aplicativo Discord. Eles são suspeitos de induzir meninas a práticas violentas contra elas mesmas. As vítimas…
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serialcosmico · 2 years ago
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unopokito · 2 years ago
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*Setembro*
Eu sei que é difícil,
Eu sei que dói e entendo,
E agora você pode pensar que essa é a única solução para parar essa dor,
Mas não é
Não é assim que tudo acaba
UnoPokito
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tristeza-nos-olhos · 1 year ago
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Amor
O amor é algo muito relativo , você pode fazer tudo por alguém , mas no fim tudo isso não pode significar moda pois , o quanto você ama alguém , pode ser mais ou menos que a outra pessoas te amo , o sentimento amor é algo tão complicado e relativo que ninguém nunca vai conseguir definir …. Por isso ame , podem falar que está errado , mas ame , seja o que for , por que quem perde é quem não ama , pois quem perde é quem nunca soube valorizar um amor de verdade , seja de amigos ou de namorados
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blackasmodeusa666 · 2 years ago
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No fim, quando menos esperamos, a dor retorna. A dor sempre retorna.
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tellthetruthlikeajoke · 2 years ago
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A única coisa boa de ir pra praia, é conseguir manipular meus pais a acharem que eu passei protetor solar sendo que eu não passei, pegar sol forte por dois dias a ponto de ficar com queimaduras e insolação. Adoro essa forma de auto mutilação disfarçada.
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borboletasnegras · 1 year ago
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ATENÇÃO, USUÁRIOS DO TUMBLR!!
*textão absolutamente necessário.
Não é a primeira vez que me deparo com discursos gordofóbicos pesados aqui no tumblr, até já encontrei tumblrs voltados apenas para destilar gordofobia, incentivar jejuns absurdos e compartilhar dietas malucas. Uma vez (felizmente, não lembro da url) encontrei um tumblr desses em que a menina tinha o maior complexo com o corpo dela e se xingava de forma pesadíssima. No meio desses xingamentos, a dona do tumblr claramente insultava todas as pessoas gordinhas usando termos como "porc4s".
Tá, mas pq precisamos falar sobre isso?
Nós sabemos muito bem que esse ódio ao corpo pode causar depressão, mutilação, suicídio, baixa autoestima, etc. Ninguém merece se sentir assim. É loucura, porque parece que o tumblr virou uma terra sem lei em que pessoas se sentem confortáveis em compartilhar esse tipo de conteúdo, o que é um ABSURDO.
E sabe o que é mais assustador? É que, talvez, esses tumblrs não passem de fakes de pessoas cruéis que destilam ódio gratuito só para ferir os outros e incentivar comportamentos problemáticos. Pensar nisso me deixa muito surpresa com o nível da maldade humana.
Portanto, gente, se vocês encontrarem por aí conteúdos gordofóbicos de tumblrs dedicados a espalhar esse tipo de conteúdo DENUNCIEM para a moderação como discurso de ódio (porque realmente é).
NINGUÉM PRECISA SE SENTIR MAL COM O PRÓPRIO CORPO.
E lembrem-se: só façam dietas passadas por PROFISSIONAIS!!
Obrigada àqueles que leram até aqui. Se puderem, rebloguem para que mais pessoas fiquem cientes!!
Uma palhinha dos conteúdos que andam circulando por aí:
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louismyfather · 5 months ago
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Trash Magic
"Era isso que Louis queria. Ele gostaria de morrer e renascer como algo novo. Ao lado do único ser em sua vida no qual valia a pena almejar longevidade.Ele implorou para que o vampiro o transformasse, e Harry não viu motivos para negar tal pedido tentador."
Tags: Larry Vampiros, Larry tradicional, Harry bottom, Louis tops, transando com outros homens fora o Louis (9k de palavras)
Tw: leve gore com sangue e mutilação
Os dedos de Louis criam ritmo pela insistência das batidas contra a madeira lisa da cadeira. Seu braço direito repousa contra o braço do assento, enquanto o esquerdo se dobra de modo que o cotovelo toque a madeira permitindo que a mão sirva de apoio para que seu queixo se firme imóvel ao contrário de suas pupilas se movem de um lado para outro acompanhando os movimentos sincronizados a sua frente.
Demônio.
É a palavra que Louis atribuí a Harry em certo momento de sua vida, ou da ausência dela, onde percebe que aquele que mantinha o costume de endeusar não é quem imaginava ser, é a palavra que Louis atribuí a ele ali, observando sua pele alva brilhar sob a luz artificial, e apenas nela, a luz natural do sol transformaria aquela delicada e pálida seda em cinzas, mas sob a luz de um lustre de cristais ela é deslumbrante. 
Harry é deslumbrante, ele sempre foi, e é onde seu triunfo começa, pois ele tem total consciência sobre isso, sobre o seu poder e, obviamente, o usa ao seu favor. Ele sorri como um demônio porque sabe que isso não afasta os seres mortais, apenas os atrai ainda mais para o seu domínio. 
Louis tem pena daquele pobre homem sobre o corpo sutilmente curvilíneo, no auge de seus vinte e sete anos, ele se sente o máximo, ter um homem como Harry sob si, obedecendo aos seus comandos, arfando à suas invertidas, o faz sentir como se pudesse conquistar o mundo inteiro. Louis sabe de tudo isso porque é o que consegue ler em sua mente. 
Harry geme tão alto e manhoso que se Louis não escutasse há anos aquele tipo de som, poderia acreditar que ele está no ápice de seu prazer como nunca antes chegou perto de alcançar.
Entretanto, é tudo parte do seu jogo, sua intenção é sempre hipnotizar aquele que o toma, anestesia-lo para chegar ao momento que anseia, e se Louis não estiver enganado, já não demorará tanto.
⸺ Tem certeza que o seu namorado prefere ficar só olhando? ⸺ O homem de cabelos e olhos castanhos ofega no ouvido de Harry ao lembrar da presença de Louis na suíte de paredes brancas e móveis de madeira, mais especificamente ao olhar para o lado esquerdo e ver o homem bem vestido em um terno preto observando-os. Deus, o achava tão quente quanto o homem embaixo de seu corpo. 
⸺ Não imagina o quanto ele adora observar ⸺ Harry responde para ele, mas não com seus olhos nele, as írises verdes mescladas em um azul acinzentado estão ocupadas encarando Louis, e ainda assim tem disposição o suficiente para segurar o homem pelos ombros virando-o na cama grande, trocando suas posições. 
Agora Harry está por cima e toda a sanidade do homem por baixo vai para o espaço, ele fecha os olhos e firma suas unhas nas coxas torneadas, sentindo Harry pular em seu colo como se sua existência dependesse daquilo, os músculos de suas coxas se contraem e todo seu corpo desnudo sua. 
No segundo de mais êxtase, entre um inspirar e expirar, as presas afiadas cravam na veia mais saltada do pescoço desprotegido do homem que agora se debate contra o peito alheio, ele tenta afastar inutilmente Harry de seu corpo, mas a cada segundo suas forças diminuem até o instante que sequer consegue se mover. Ele parece aceitar em certo momento que aquele é seu destino, de seus olhos correm lágrimas de dor por sentir sua pele rasgar do início do pescoço a clavícula enquanto o demônio ainda em cima de seu corpo admira suas expressões e seu sangue escorrendo sem qualquer intenção de suga-lo de uma vez para acabar com sua dor, só ali Louis levanta de onde está e se junta ao seu amante na cama. 
Harry deita ao lado do corpo mutilado após lamber algumas faixas de sangue espalhadas pelo peito de sua vítima e deixa que Louis desfrute de seu banquete sem precisar fazer muito esforço.
O vampiro suga o sangue enquanto ele ainda está quente, pois antes que o coração pare, ele precisa se afastar do corpo sem utilidade. Assim que isso acontece, ele se deita ao lado de Harry, que continua nu, mas sua pele antes pálida está pintada de vermelho desde sua boca à metade de seu abdômen, os cachos castanhos espalhados sobre o travesseiro manchado combinam com a tonalidade das sobrancelhas franzidas ao reclamar sobre sua situação.
⸺ Que sacrifício eu não faço para desfrutar de um bom banquete ao lado de meu amado companheiro ⸺ Harry murmura, esticando-se sobre os lençóis sem qualquer intenção de levantar dali.
⸺ Não finja que não gosta de aumentar seu ego ao ser tomado com tanta devoção por cada um deles. ⸺ Louis responde, e Harry sorri com seu sorriso de demônio, suas feições angelicais contrastam com a cena perturbadora ao ser vista com distância, mais tarde eles se livrarão daquele corpo, como fazem com todos os outros há mais de um século, mas por enquanto Louis fita as pupilas dilatadas de Harry sob a luz clara do lustre e isso faz sua pele arrepiar, sua pele gelada e sem vida se arrepia com memórias da primeira vez que viu aqueles olhos sob um lustre de cristais como aquele, bem menos eficiente em dar atenção todos os detalhes do rosto esculpido, mas iluminado o suficiente para destacá-lo na multidão em uma época bem diferente daquela.
Louis era o filho homem mais novo dentre os seis filhos da prestigiada família Tomlinson, seu pai era um burguês que recebia tratamento de nobreza pela sua influência e seus contatos dentro da corte inglesa. A virada do século XIX para o século XX se aproximava, as festas eram comuns e na da vez se festejava a apresentação à sociedade da única filha mulher da família, um lindo baile havia sido planejado para a comemoração dos quinze anos da garota que provavelmente se casaria antes de seu irmão Louis por mais que ele fosse oito anos mais velho. Louis não compactuava com os costumes e leis da sociedade que vivia, mas também não questionava tanto sobre. 
A aquela altura todos os seus outros irmãos já haviam se casado, por mais que dois deles ainda vivessem ali com suas esposas e frequentemente realizassem piadas sobre sua falta de pretendentes, Louis não se importava com nada disso, ele preferia viver na perspectiva dos livros que lia e dos cadernos que desenhava. 
A noite do baile foi tomada por todos como um evento, mulheres e donzelas chegavam o tempo inteiro com seus cabelos à moda da época, jóias preciosas brilhando em seus pescoços, pulsos e orelhas, e o que falar dos vestidos, um mais chamativo que o outro com detalhes por toda a estrutura. Louis sentia vontade de buscar seu caderno de desenhos em seu quarto e traçar os detalhes em bordado e brilhantes em uma folha branca, mas aparentemente, ao invés disso, precisava tirar uma das moças que trajavam as saias bordadas para dançar.
Ele não sentia vontade alguma de realizar aquela ação, porém escutou por tanto tempo tantas bocas diferentes o ordenando a fazer aquilo que decidiu acatar a ordem. Ele tentou por um momento, parou em um canto estratégico do salão e passou a observar os trajes e os rostos das pessoas dançando ou timidamente tentando se manter naturais ao estarem paradas na multidão. Admirou os traços puros nos rostos delicados, mas um rosto que expressava o contrário do que deveria buscar foi o que prendeu toda a sua atenção.
Dentre os corpos rodopiando e deslizando no salão ao som da música lenta que alcançava todo o ambiente, Louis observou um corpo parado no meio de todos eles, a mão pálida segurava uma taça de vinho, o ponto inicial de foco para o garoto subir seus olhos pelo braço coberto pelo terno azul marinho de botões abertos expondo a camisa branca por baixo da peça. Muitos homens se vestiam de azul e branco aquela noite, mas esse era diferente, o terno azul possuía bordados dourados, a cor brilhava tanto como se a linha que o bordou tivesse sido banhada em ouro, a camisa também se destacava com seus babados por toda a região da gola ao peito.
Era claro que não havia sido os trajes daquele homem de aparência jovem que chamaram a total atenção de Louis de maneira que ele parecia hipnotizado, estático em seu lugar olhando para sua direção, as ondas esvoaçantes no cabelo alheio o fazia imaginar como poderia passar horas gravando o detalhe de cada fio castanho, e como enquanto descansava de sua observação fixa, admiraria seus olhos tentando desvendar a cor deles, pois eles pareciam estranhamente um dia terem sido de um verde intenso, mas que foi tomado por um azul quase acinzentado, se aquilo fizesse o mínimo esforço para ter sentido.
Louis não se importava com o que as pessoas achariam, seus pés quase andaram sozinhos em direção ao rapaz misterioso, mas por precaução virou o rosto rapidamente para ver se alguns de seus irmãos ou seu pai o olhava, ao ver que ninguém prestava atenção em sua figura, voltou-se outra vez ao rapaz que não já não estava mais no mesmo local.
Seus olhos correram eufóricos por todo o salão, caçando sem sucesso aquele que o impressionou, queria torturar a si mesmo por tê-lo perdido de vista. 
Por um segundo de sorte em que conferiu os corredores que levavam para fora, o encontrou entrando no corredor que levava em direção ao jardim. Dessa vez não o perderia tão fácil de novo.
⸺ Quem é você? ⸺ Louis soltou a pergunta em um tom de voz mais agudo que o necessário no instante que seu pé direito tocou a grama do jardim, o rapaz de seu interesse estava a mais de dois metros de distância e continuava a andar rápido até escutar a pergunta deferida para si, na ausência de outra pessoa no jardim extenso e mal iluminado, seu corpo parou e após um pequeno inspirar se virou de frente aquele que o abordou. 
⸺ Não é educado deferir perguntas sem um cumprimento antes. 
Louis sentiu seu rosto corar instantaneamente, não sabia dizer se foi pela devolutiva rápida e esperta de sua pergunta, pela voz rouca e aveludada que a pronunciou, ou pelo sorriso quase angelical estampado no rosto ainda mais bonito visto de perto.
⸺ Me d-desculpe ⸺ Louis se recompôs e refez sua fala. ⸺ Boa noite, eu sou Louis Tomlinson... e você, quem é?
O sorriso, que Louis então teve completa certeza de ser digno apenas de um anjo pelos lábios rosados tão bem desenhados e com direito a uma covinha de cada lado da bochecha, se iluminou no rosto gracioso e enfim obteve sua resposta. 
⸺ Pode me chamar pelo meu primeiro nome Harry, mas meu sobrenome é Styles. 
⸺ Acho que não conheço a família Styles.
O sorriso se tornou mais contido no rosto do rapaz misterioso que Louis descobriu se chamar Harry, suas mãos se cruzaram atrás do corpo, destacando os ombros largos e o formato perfeito de seu peitoral, que Louis tentou não encarar por muito tempo, mas Harry voltou a sorrir abertamente somente por perceber que ele o fez. 
⸺ Um integrante da família Styles não pisa os pés sobre o solo dessa cidade há um bom tempo, Louis Tomlinson. 
⸺ Por favor, me chame apenas de Louis ⸺ mal viu quando seus pés fizeram os passos que o separavam de Harry, seu rosto voltou a corar ao ver a proximidade que deixou seus corpos e voltou a se afastar fingindo uma tosse e continuando o assunto. ⸺ São de outra cidade, então? Está por aqui de passagem?
⸺ É, digamos que não sou da cidade, Louis, mas moro aqui há bastante tempo. ⸺ Explicou refazendo os passos que Louis deu para trás, passeou seus olhos claros por todo o seu rosto corado, tão averso ao seu pálido, e passou ao seu lado, encostando seus ombros ao trocar as posições que estavam de início. 
⸺ Deve ter saído de casa muito cedo, então, se já mora aqui há um bom tempo e ainda parece ser tão jovem. 
Harry admirava a forma espontânea que Louis formulava suas frases, mas não poderia deixar passar sua última fala sem ressaltá-la.
⸺ Jovem? ⸺ Questionou com um sorriso. ⸺ Quantos anos acha que tenho?
⸺ Vinte ou vinte e um anos, pode ter a minha idade, eu tenho vinte e três. ⸺ Louis sorriu cortez.
⸺ Chegou bem perto ⸺ Harry apontou, após crispar os lábios e se demorar a responder.
Louis estava encantado, sua admiração quase não dava espaço para perceber o quão nervoso estava na presença do outro homem, nunca sentiu suas mãos suarem nem suas bochechas esquentarem ao estar próximo de ninguém, perto de Harry essas reações vergonhosas se manifestavam em demasia, mas Louis não desejava que ele fosse embora tão cedo. 
Como se lesse seus pensamentos, Harry não foi a lugar algum por um bom tempo, também não trocaram muitas informações, ao fim daquele momento, Harry perguntou se Louis poderia concedê-lo um "passeio turístico" pelo grande jardim que rodeava a propriedade e ele obviamente não tinha razão para negar. 
Seguiram lado a lado, com seus braços tocando-se vez ou outra, porventura ou propositalmente. Algo dentro de Louis esquentava quando isso acontecia e seu coração acelerava por um instante. 
Quis acreditar que existia a possibilidade de Harry sentir algo parecido quando ao final do passeio ele o questionou quase sem jeito se poderia voltar na outra noite para visitá-lo por ter apreciado sua companhia. Louis não possuía motivos para não confirmar que sim, poderia, não achava que o homem fosse mesmo aparecer, mas assegurou que poderia vir se desejasse.
Na noite seguinte, Harry estava lá. Sentado de pernas cruzadas sobre um banco de madeira que podia ser visto da janela do quarto de Louis e apenas dela, sabia que ele observaria de lá e sabia que mesmo sem esperanças que aparecesse, o esperaria.
Ele desceu ao seu encontro naquela noite, na noite após aquela e em sua sucessora.
Com o passar dos dias, o jardim havia se tornado um ponto fixo para os encontros que duravam horas entre diálogos curtos, olhares intensos e toques sutis quase inexistentes de suas mãos quando ambas se encontravam repousadas uma ao lado da outra sobre o banco. 
Certa noite, após algumas semanas de encontros diários, Louis caminhou pelo jardim segurando duas taças de vinho, ofereceu uma a Harry assim que sentou ao seu lado e se surpreendeu quando ele não aceitou. 
⸺ Eu não bebo, querido ⸺ ele disse.
⸺ Que estranho, lembro-me de tê-lo visto segurando uma taça na noite do baile.
⸺ Não me deixou terminar ⸺ Harry riu penteando com os dedos a franja bagunçada de Louis. ⸺ bebo apenas formalmente em eventos como aquele, mas beba, querido, adoraria admirar suas feições enquanto desfruta de um bom vinho como imagino que este seja.
⸺ Eu também não bebo, não gosto, iria beber apenas para acompanhá-lo. ⸺ Louis assumiu. 
⸺ Pois que bom que eu dei valor a sinceridade e não a educação e não aceitei o vinho. Não gostaria de vê-lo fazer nada que não quisesse. ⸺ Harry comentou, parando de tocar nas mechas lisas do cabelo alheio. Sentiu que mesmo que tivesse passado um bom tempo o acariciando, Louis ainda desejava seu toque, decidiu testar até onde poderia ir, deslizando seus dedos pelo rosto corado e macio, tocando suas bochechas e sentindo sua quentura, seu queixo bem delineado e enfim seu pescoço. 
Contornou o formato das veias que corriam o sangue que permitia que seu corpo continuasse vivo, no entanto não se demorou ali, admirou de fato os lábios finos, rosados e bonitos, mas antes que tomasse qualquer ação foi Louis a eliminar a distância entre seus corpos e rouba-lhe um beijo. 
Louis tremeu em um leve susto ao sentir as mãos de Harry ao redor de sua nuca, elas eram frias como se não houvesse calor em mais uma noite quente de verão, mas não demorou prestando atenção nesse detalhe, se Harry segurou em sua nuca e o puxou para mais perto, significava que ele queria seu beijo, o correspondia. 
Em uma carga de coragem que não duraria por muito tempo, Louis subiu sua mão pelo braço coberto apenas por uma camisa branca de tecido fino, tentou ignorar a frieza em sua pele quando tocou seu pescoço e parou de explorar seu toque ao chegar na bochecha, sua pele era lisa como seda e macia como algodão, mas seus lábios não pediam nesse deleite, Louis sentia-se no céu.
Sentia-se como se estivesse no paraíso, mas rapidamente foi derrubado de volta, caindo no inferno.
Ao se afastar de Harry para tomar fôlego, olhou em direção a porta que conectava o jardim à cozinha e viu uma de suas criadas, estática, encarando a cena assustada e claramente enojada. 
Louis se afastou minimamente de Harry e olhando para a empregada pronunciou seu nome de forma gaguejada, se levantou para tentar impedi-la de sair do jardim e correr para o escritório de seu pai para dedura-lo, mas já era tarde demais, a mulher deu meia volta e deu passos longos na intenção de voltar para dentro.
Com olhos marejados, Louis criou coragem de olhar para Harry e ver sua reação diante aquele deslize, mas ao fitar o banco não o encontrou. De cenho franzido, mirou de volta a porta, encontrando o garoto encostado contra a madeira da porta impedindo que a mulher passasse. 
Ela pediu baixo e rígida que ele a desse licença e a cena que se deu a seguir Louis só conseguiria digeri-la e descrevê-la anos depois do que de fato aconteceu. Em um segundo a mulher pedia passagem para entrar, Louis abaixou a cabeça porque não queria aceitar o que seria o início do fim do que poderia ter com Harry, mas tudo o que escutou em seguida foi um grito agudo e assustado, seu corpo soltou um espasmo pelo susto do som e ao voltar a olhar para frente viu a mulher de olhos arregalados sendo sustentada pelo braço de Harry que tinha os dentes fincados em seu pescoço. 
A criada aos poucos foi fechando os olhos e antes que ela parasse por completo de se mover, Harry a jogou no chão, Louis permitiu que as lágrimas que segurava descessem por suas bochechas ao encarar o corpo sem vida sobre a grama com um corte gigantesco no pescoço. Completamente ofegante, Louis olhou para Harry e viu a frente inteira de sua camisa branca manchada de vermelho, vermelho do sangue da mulher que ele acabou de matar, a parte pior foi reservada ao seu rosto, o sangue se espalhava da boca ao pescoço, mas tinha um destaque maior nas grandes presas ao lado de seus dentes superiores. 
Louis não conseguia raciocinar coisa alguma nem entender absolutamente nada, mas ele permaneceu ali, ele não correu com medo de ser o próximo, na verdade ele não conseguia sentir medo algum de Harry.  
⸺ Você a matou ⸺ Louis falou em voz alta a única coisa que passava em sua mente.
⸺ Não importava o que tentássemos dizer ou explicar, muito menos subornar, ela iria contar ao seu pai o que viu. ⸺ Foi o que disse, secando a boca e as mãos na parte ainda limpa da camisa como se estivessem molhadas com água.
⸺ Como sabe? ⸺ Louis chorou.
⸺ Foi o que li na mente dela. 
Louis se sentiu ainda mais desolado, tampou o rosto com as mãos e fechou os olhos em desespero, escutou Harry começar a dar passos que ficaram cada vez mais altos, sinalizando que ele caminhava em sua direção, no entanto não se afastou. 
⸺ Sei o que se passa na sua cabeça, querido, e nem preciso lê-la para saber disso ⸺ Harry disse ao chegar em sua frente e tocar seu pulso. A princípio, Louis rejeitou o toque, mas Harry o tocou outra vez, fazendo um pequeno carinho em sua pele e acabou deixando que ele retirasse suas mãos de seu rosto. Harry colocou suas próprias mãos sobre o queixo de Louis erguendo-o para que ele olhasse para si, e passou seus dedos em suas bochechas enquanto voltava a falar. ⸺ Entenderei se decidir se afastar por não entender o que acabou de acontecer ou o que eu sou.
Louis chegou a se afastar, por mais torturante que fosse ver aquele por quem estava perdidamente apaixonado aparecer todas as noites para encontrá-lo, mas não ter coragem de descer de sua janela para lhe encarar. 
Louis chegou a se afastar, mas não conseguiu se manter distante por muito tempo.
⸺ Quantos anos você realmente tem? ⸺ Louis perguntou na noite em que se reconciliaram. Estavam sentados sobre a grama em um ponto no jardim afastado da casa. 
Harry riu por antecipação ao imaginar a reação que Louis teria. 
⸺ Eu tenho cento e quarenta e dois anos.
Louis abriu a boca em um perfeito O e quase sentiu sua respiração faltar.
⸺ Vampiros são imortais?
⸺ Apenas os que são inteligentes o suficiente, querido. ⸺ Harry sorriu encostando seu nariz no de Louis antes de tentar chegar em seus lábios, mas o garoto recuou ao seu toque.
⸺ O que o aflige agora? ⸺ Harry perguntou em um tom sussurrado, levando seus dedos à bochecha rosada de Louis.
⸺ Você precisa mesmo matar as pessoas para se alimentar? ⸺ Perguntou e viu o amante o olhar como se fizesse uma pergunta idiota. ⸺ Eu sei que pode parecer uma pergunta idiota, eu só não consigo tirar a imagem de você matando aquela pobre mulher no jardim aquele dia, era uma vida, que teve fim porque você… a matou.
Harry passou alguns bons segundos refletindo sobre o que responder, continuou a fazer seu pequeno carinho no rosto alheio, enquanto mordia de vez em quando seus próprios lábios.
⸺ Lembra que naquela noite você chegou me oferecendo vinho e eu não aceitei? ⸺ Perguntou calmamente, e Louis assentiu. ⸺ A imortalidade é um presente divino, querido, mas tem seus malefícios, minha pele delicada e pálida pode se desmanchar em cinzas se eu me atrever a me expor na luz do sol, assim como posso estar diante das mais deliciosas comidas e bebidas e não posso desfrutar de seus sabores, porque dependo de sangue quente para continuar de pé, sangue é o único gosto que posso sentir sob meu palato, é a forma que sobrevivo. Você entende, querido? ⸺ Voltou a questionar ao fim de sua explicação, Louis assentiu, voltando a se aproximar deixando que seus lábios enfim se tocassem.
O verão que tomou a Inglaterra foi embora permitindo que a primavera chegasse, no entanto a paixão que se formou naquela estação permaneceu firme e estabelecida. Louis estava cada dia mais perdidamente apaixonado por Harry, atraído pela sua imagem inebriante como uma mariposa se atraia pelo fogo. 
O vampiro se tornou seu amado e seu porto de fuga da realidade que contribuía para que sua dependência se intensificasse ainda mais. Antes do fim do verão, sua irmã havia sido obrigada a se casar com um nobre de histórico problemático com o dobro de sua idade, Louis foi obrigado a vê-la aceitar o seu destino sem poder fazer nada a respeito, ele não tinha qualquer poder ou voz, mas foi a si que a garota confiou suas últimas esperanças. Em seus quartos vizinhos, Louis a escutou chorar todas as noites, mas o limite chegou quando na noite anterior a cerimônia, ela chorou copiosamente em seus pés implorando para que impedisse seu casamento. 
Louis não conseguiu fazer nada e se sentiu culpado por isso, mas chorou sendo acolhido nos braços de Harry, que deslizou os dedos por seus cabelos lisos, convencendo-o que não podia ter controle sobre nada daquilo e contando como a sociedade em que viviam era cruel e injusta, mas que nada poderiam fazer para mudá-la além de esperar que o tempo o fizesse. 
Ao relembrar daquele tempo, Louis percebia como Harry o encontrou por meses, mas pareceu querer dar um passo à frente no momento em que estava mais fragilizado para ter menos chance de recusa. Na mesma noite em que acontecia a festa do casamento, Harry convidou Louis para fugir com ele.
Na época não achou motivos para recusar, sua relação com sua família estava em conflito e a única pessoa com quem mantinha uma boa relação havia sido tirada de sua vida sem mais nem menos.
Louis aceitou fugir, mas com uma condição.
Que Harry o transformasse em um vampiro. 
Para Louis, o motivo do pedido era simples, estava apaixonado por Harry, sentiu seu coração se encher de alegria com seu convite, mas sabia que por onde corresse seu passado o perseguiria, sua fraqueza faria parte de sua vida, se a vida continuasse a ser a mesma. Em alguns de seus questionamentos sobre vampiros, Louis questionou a Harry se ele lembrava como havia sido sua transformação, o vampiro negou contar, mas ao receber essa devolutiva negativa, o pediu para detalhar apenas como era a sensação, ele lhe descreveu a forma como aquele que passava pelo processo de transformação precisava estar em um estado de equilíbrio entre a vida e morte e ao beber o sangue esse conceito simplesmente deixaria de existir dando lugar ao poder da imortalidade.
Era isso que Louis queria. Ele gostaria de morrer e renascer como algo novo. 
Ao lado do único ser em sua vida no qual valia a pena almejar longevidade.
Ele implorou para que o vampiro o transformasse, e Harry não viu motivos para negar tal pedido tentador.
Louis nunca se tornou sabedor do real passado de seu amado, por mais que perguntasse várias vezes, Harry nunca o contou como havia sido sua transformação.  
"Não pude contar com o prazer de ter uma escolha, querido, e é por não ter conseguido uma experiência agradável que farei de sua transformação um grande ato."
Foi o máximo que conseguiu em uma de suas tentativas de descobrir como tudo ocorrera.
E ele nunca mais abriu a boca para falar sobre esse assunto, mas sem dúvidas cumpriu com sua promessa de fazer da transformação de Louis uma experiência inesquecível.
Louis apertava seus dedos contra os cachos bagunçados de Harry, seus corpos não usufruíam de vestes em uma noite fria que congelava as flores desabrochadas no jardim, pois aquele quarto de motel nunca esteve tão quente. Louis gemeu alto quando o vampiro rebolou lentamente em seu colo, esfregando-se contra a região mais sensível e suscetível a prazer do corpo que estava há horas sendo estimulado sem receber um alívio.
Quando Louis suspirou leve ao sentir seu ápice se aproximar como nunca, apenas sentiu o baque de seu corpo sendo jogado contra os lençóis e não teve tempo de reagir quando as presas afiadas romperam sua pele em um choque de êxtase.
Em momento algum se debateu sob o outro corpo ou gemeu dolorido, por mais que sentisse uma dor incomparável. Sentia a vida deixar seu corpo lentamente e quanto mais a morte se aproximava, simplesmente apertava com mais força os dedos ressecados e pálidos contra os cachos castanhos e macios. 
Harry continuou a suga-lo, e Louis acompanhou sua visão começar a escurecer, até que tudo parou, tanto a dor quanto a drenagem de seu sangue, seus olhos voltaram a enxergar e seu sistema nervoso sentiu as mãos frias de Harry abertas em suas costas fazendo seu corpo mole e gelado voltar a se sentar. 
Louis se tornou um mero observador, mirou as presas afiadas junto ao contraste da pele extremamente pálida com o vermelho de seu sangue espalhado por uma boa extensão dela. Assistiu Harry levantar um de seus próprios pulsos na altura do rosto de morder a área onde suas veias eram mais ressaltadas, o sangue do vampiro começou a se espalhar pelos lençóis brancos, até chegar nos lábios de Louis, que o sugou como se se tratasse de um líquido vital e essencial e naquele momento realmente era. 
E tudo virou uma grande mistura de sensações, Louis sentiu sua pele esquentar junto a cada gota de sangue que sugava para dentro de seu corpo, a cada segundo achava que precisava de mais, até Harry afastá-lo avisando-lhe que era o suficiente. Ah, Harry, Louis acreditava com toda certeza que não poderia haver ser mais divino para ter ao seu lado, para tê-lo transformado, lhe presenteado como um Deus com o dom da vida eterna. 
Louis não soube em que momento parou de admirar cada detalhe de Harry, para ter seus lábios selados nos dele, o gosto de seus sangues se misturando em suas línguas só não conseguiu ser mais gostoso que a sensação de Harry o montando sem aviso segundos depois, seus cabelos longos acompanharam seus movimentos de subir e descer, e seus lábios vermelhos produziram os sons mais deleitosos que Louis escutou em toda a sua vida.
Naquela noite, Harry então se tornou algo além de um amante para Louis, ele era seu mentor, seu criador, ele o ensinaria como viver em sua nova forma.
Vinte e quatro horas haviam se passado após a transformação e Louis sentia uma fome que quase o debilitava, suas pupilas quase tomavam o azul, que se tornou ainda mais claro em suas irises, Harry disse que era hora da caçada. Ele os vestiu como se fossem dois nobres fugidos no castelo real, e pelas suas aparências límpidas e os sotaques pertencentes a cidade do rei, não era tão difícil assim acreditar. 
Os dois andaram juntos pelas ruas da cidade que escolheram se mudar, sendo ela a capital francesa, até adentrarem um bordel caindo aos pedaços por fora, mas devidamente aconchegante por dentro, Harry chegou no dono do estabelecimento pedindo para eles um quarto e sua garota mais bonita, o homem deu um sorriso aprovador e cúmplice para Harry, chamando uma bela jovem loira de olhos claros vestida em trajes brancos que incluíam um charmoso corset. 
⸺ A sua pele é tão fria ⸺ A moça comentou inocentemente, beijando a pele do pescoço descoberto de Harry. Louis acompanhava a cena sentado sobre uma poltrona, Harry estava em pé a alguns metros de distância, segurando sutilmente a cintura da garota quase pendurada em seu pescoço, ela sorriu levando os lábios em direção aos de Harry na tentativa de beijá-lo, mas o vampiro a segurou pelo queixo inclinando-o para cima, silenciosamente pedindo permissão para ser sua vez de explorar seu pescoço. 
A loira gemeu alto quando Harry começou a chupar a região, mas seu grito foi mudo quando ele cravou as presas em sua pele, enquanto puxava sua pequena adaga de estimação de seu bolso, afastou-se sem sugar uma gota sequer e fez um corte horizontal na pele delicada, seu vestido antes branco em segundos se banhou de vermelho, Harry a deixou cair no chão debatendo-se de dor e tentando falhamente estancar seu próprio sangue colocando as mãos sobre o corte profundo e extenso, quando o vampiro achou que foi o suficiente, pegou a moça ainda viva nos braços e a jogou contra o sofá. 
⸺ Venha desfrutar de seu primeiro banquete, querido, aproveite enquanto ela ainda tem vida, pois sua lição número um é: nunca sugue dos mortos. ⸺ Harry falou, e Louis tratou de levantar, obedecendo o que lhe foi mandado. 
Cenas como essa se seguram nos dias seguintes, por anos e décadas, Louis nunca finalizou uma vida sequer deixando que esse trabalho fosse feito pelo seu amado, não que não tivesse coragem de capturar uma presa e sugar sua vida para fora, mas Harry gostava de fazer isso. E apenas décadas após aquela primeira noite, Louis entendeu o quanto.
⸺ Vocês realmente têm uma bela casa ⸺ O homem elogiou ao adentrar a sala de estar da mansão que Harry e Louis adquiriram quando voltaram para Londres no final da década passada. 
Era verão em 1960 e eles haviam feito uma ótima escolha para aquela época do ano, as janelas de vidro com certeza eram práticas no controle do clima quente, no entanto ameno. 
⸺ Deixe-me ver se entendi, vocês são bonitos, elegantes e ainda por cima ricos, tem certeza que não possuem nenhum parentesco com a rainha? 
Louis riu contido pela chuva de elogios que recebia do homem desde o momento que o buscou em seu apartamento caído na região decadente de Londres. Eles o conheceram em um bar na noite antecessora àquela, o homem, Ryan ⸺ como falou que gostava de ser chamado ⸺ se encantou por seus rostos joviais e as roupas de grife, e com mais um pequeno empurrãozinho da boa lábia de Harry, Ryan aceitou encontrá-los de forma privada na noite seguinte. 
⸺ Você está apenas sendo gentil ⸺ Louis disse com um sorriso ensaiado no rosto. ⸺ Posso lhe servir uma taça de vinho? ⸺ Ofereceu, Ryan assentiu seguindo Louis pela extensa sala de estar, até chegar a um sofá de frente uma parede com prateleiras de garrafas de vinho. ⸺ Safra de 1899, este com certeza foi um grande ano. ⸺ Louis apresentou, entregando a taça pela metade ao homem com lábios entreabertos sentado no sofá pensando como era mais fácil ganhar na loteria do que ter acesso a um vinho tão antigo, aquela com certeza era uma noite de sorte. 
⸺ Não vai tomar também? ⸺ Ryan perguntou antes de levar a taça aos lábios.
⸺ Não gosto de beber entre as refeições. 
O homem assentiu em entendimento. ⸺ Seria esse o segredo para ter um corpo tão bonito? ⸺ Não perdeu tempo em elogiar novamente, fitando o corpo magro marcado dentro de uma camisa preta de mangas longas e gola alta e uma calça social justa, Louis sorriu dizendo que "talvez". ⸺ Onde está Harry? ⸺ Ele perguntou em seguida.
⸺ Oh, Harry está lá em cima a nossa espera. ⸺ Louis disse, começando a dar passos lentos em direção a escada sem olhar para trás, não precisava, sabia que Ryan o seguiria sem hesitar. Chegava a ser ridículo a maneira como aquilo era fácil.
Ao chegarem à porta do quarto, Louis a abriu com um pequeno sorriso no rosto esperando ver Harry sentado sobre a cama pronto para atacar, mas franziu as sobrancelhas ao não encontrar ninguém.
⸺ Harry? ⸺ Chamou incerto.
⸺ Estou aqui ⸺ Escutou sua voz rouca sair de dentro do banheiro, ouvindo seus passos se aproximarem até estar no mesmo cômodo que o homem e o outro vampiro. Ryan ofegou com a imagem a sua frente, e Louis permaneceu estatístico, sem saber exatamente como deveria reagir.
Harry estava completamente nu, seu corpo pálido coberto pelos respingos de água indicavam o banho decente, fora seu cabelo molhado, era covardia como ele ficava mais lindo longo pela ação da água, que fazia com que as ondas das mechas se desfizessem deixando-o liso. O vampiro desfilou até ficar de frente a Ryan, ergueu seu queixo com as duas mãos e o beijou. 
Uma hora havia se passado desde o início da estúpida cena, na opinião do vampiro de olhos azuis. Harry transou com Ryan, ele sentou Louis em um lado da cama deixando o homem no outro e o montou encarando o rosto do outro vampiro, depois da ceninha ridícula, Harry os levou para a sala e amarrou as mãos de Ryan com a fita que amarrava o robe que ele vestia de maneira que imobilizasse o movimento de seus membros superiores e que cada vez que se mexesse tentando se soltar, o nó se apertasse mais. Harry subiu em seu colo, mas dessa vez não para iniciar outra sessão de ciúmes em Louis sentando do lado oposto do sofá e sim para iniciar sua tortura. 
Louis assumiu que no início gostou, gostou de ver Harry mutilando com uma lâmina afiada o homem que tomou o corpo que deveria ser tomado apenas por si, sentiu vontade sufoca-lo com suas próprias mãos cada vez que ele apertou a pele de Harry ou investiu nele, Louis não era ingênuo, sabia que o amante já havia tido outros homens antes dele e que em todas as caçadas usava de seu charme para atrair as vítimas, mas nunca achou que chegaria onde aquilo escalou. 
Gostou de ver Harry o mutilando, provava que tudo o que acontecera minutos atrás no quarto não passou de uma cena como todas as outras, continuou admirando Harry fazer o que fazia, até que começou a achar que aquilo estava se estendendo mais que o necessário. 
Harry abriu o robe de Ryan, expondo sua pernas e fez inúmeros cortes profundos em suas coxas, fazendo-o sangrar, sem sugar uma gota sequer de todo o sangue derramado e não estancado, Louis viu o homem começar a chorar, e entre seus gritos por misericórdia pedia que Harry o matasse de uma vez, mas o vampiro não parecia nem um pouco preocupado em se preparar para fazer isso, apenas permanecia com o sorriso sádico nos lábios. 
⸺ Porque não o morde de uma vez? ⸺ Louis preferiu intervir, todo aquele sangue estava o deixando louco, suas presas começavam a doer, mas ele nunca sugava uma vítima antes de Harry o fazer. ⸺ Ou o mate.
Harry deixou a atividade que fazia um pouco de lado, encarou Louis nos olhos e o questionou sorrindo. ⸺ E que graça isso teria?
O vampiro de cabelos longos se ergueu em direção a mesa de centro para pegar uma tesoura de ponta afiada, mas antes que ele retornasse com ela para cima de Ryan, Louis cerrou os dentes, puxando o corpo do homem em direção a suas presas e sugou o sangue de seu pescoço até achar que fosse o suficiente para tirá-lo a vida.
O sorriso grande de Harry morreu aos poucos quando se virou e viu que Louis havia matado Ryan, logo, acabado com a sua diversão.
⸺ Como você é estraga prazeres, querido. ⸺ Harry revirou os olhos e sorriu sem humor, deixando o amante sozinho na sala. 
Louis se sentia estúpido, um completo idiota por ter demorado sessenta anos para perceber que Harry nunca matou apenas pela necessidade de sobrevivência, ele matava pelo prazer que sentia em fazer isso.
Ele era um demônio, o que tirava Louis da razão porque acreditou e disse por todos esses anos que o vampiro era a mais pura personificação de um anjo.
⸺ Não finja que não gosta de aumentar seu ego ao ser tomado com tanta devoção por cada um deles. ⸺ Louis responde, e Harry sorri como o demônio que é, demorando alguns segundos para sentar na cama, porque Louis o encara em seus olhos como a muito tempo não é de seu feitio fazer.
⸺ Vai querer se livrar do corpo agora ou deixará para mais tarde? ⸺ Louis pergunta ao sair de seu transe. 
⸺ Você poderia fazer as honras, querido? ⸺ Pergunta Harry, sorrindo falsamente meigo. Louis concorda, e o vampiro de cabelos ondulados sorri ainda maior como agradecimento e tenta encostar seus lábios no do outro vampiro, que recua. ⸺ Encontro você na sala de estar depois?
⸺ Claro. ⸺ Louis responde e espera que Harry saia para poder começar seu trabalho.
Ele remove o corpo sem vida de cima da cama com naturalidade, retira os lençóis como se estivessem sujos de vinho e os troca por novos lençóis limpos.
Louis senta na colcha branca e nova, e novamente é tomado por devaneios, ele reflete sobre suas memórias como se antes não tivesse poder sobre ela, como se estivessem adormecidas, presas, e agora estavam livres para tomar conta da razão.
Ter estado com Harry por todos esses anos com certeza foi um erro. Louis não nega que precisou do vampiro nos primeiros anos para aprender a viver sua nova realidade, nem se martiriza por ter demorado tanto tempo para perceber que precisava seguir sem Harry o mais breve possível, pois para quem vive o castigo da eternidade, nunca é tarde para recomeços. 
Precisava deixar Harry. 
Louis troca suas vestes ensanguentadas por novas peças limpas de tonalidade escura. Acaba por seguir em direção a sala de estar após tudo, está decidido de partir na noite seguinte, já que aquela chegará ao fim em poucas horas e não faria sentido partir sem ter o último momento na companhia daquele que por mais cruel que fosse, o criou.
Harry admira o luar sob a vidraça da janela, seus cachos estão presos em uma trança volumosa e seu corpo coberto por um longo sobretudo azul, ele escuta os passos nem um pouco discretos de Louis, maa só se vira em sua direção quando ele senta em uma poltrona alguns metros de distância da janela.
⸺ Louis ⸺ Harry o chama, seus olhos parecem ainda mais claros pela luz da luz.
⸺ Harry.
⸺ Não imagina como em noites frias como essa, eu adoraria tomar um vinho quente servido por você ⸺ Harry comenta em sentença, sem muita pretensão aparentemente. ⸺ Como o que você me ofereceu na noite que descobriu o que eu era. 
⸺ Quem me dera ter descoberto o que você realmente era naquela época. 
Harry senta sobre o apoio de mãos da janela e sorri para Louis que permanece com a expressão fechada. 
⸺ Você está ainda mais bonito do que no dia que eu o transformei. ⸺ suspira, abraçando seus braços com suas mãos quando parece lembrar de algo interessante para dizer. ⸺ Eu já o contei como fui transformado?
Louis quis rir, se não sentisse raiva em lembrar de todas as tentativas falhas de tirar uma informação sequer do outro vampiro sobre esse assunto.
⸺ Tenho tentado há cento e vinte e quatro anos fazer você contar sua história, mas nunca consegui conquistar tal feito. 
Harry morde os lábios e desvia rapidamente o olhar, Louis se acomoda melhor em sua poltrona, está curioso para ver aonde isso tudo vai chegar. 
⸺ Meus pais biológicos morreram em um incêndio causado acidentalmente por eles mesmos em uma pequena casa nos arredores de Londres. Eu tinha três anos e fui levado para um orfanato na cidade e por sorte, ou por olhos verdes e cachos naturalmente enrolados, fui adotado pelos Styles, um casal que não podia ter filhos e era dono de inúmeros hectares de terras na região rural ao sul de Londres. 
Nós vivíamos em uma fazenda devidamente afastada da cidade, minha mãe costumava se recolher cedo da noite e sair de seus aposentos quando o sol raiava no céu, poucos meses foram o suficiente para ela descobrir que eu não seria capaz de preencher o vazio que ela sentia por não poder gerar seus próprios filhos, sentávamos em salas silenciosas e trocavamos algumas poucas palavras durante o horário das refeições e no dia do meu aniversário. 
Possuía uma boa relação com meu pai, no entanto. Caçavamos juntos todo final de tarde, eu adorava caçar, existia algo sobre ter poder sobre a vida daqueles animais selvagens, sobre poder escolher entre deixá-los viver ou morrer sem ter noção do que os acertou, normalmente eu sempre escolhia a segunda opção e era dono de uma pontaria impecável. Meu pai espantava os pássaros com os gritos altos que dava em comemoração a cada animal que eu matava. 
Vinte e um anos era a minha idade quando meu pai estava no auge das festas que gostava de dar para seus amigos, ele sempre gostou de convidar alguns amigos para almoçar, caçar e até mesmo dormir nos inúmeros quartos de hóspedes que tínhamos no casarão. Eu estava acostumado, meu pai adorava exibir minhas habilidades de caçador quando seus convidados apareciam pela tarde, mas uma ocasião em específico se destacou entre as outras.
Meu pai ordenou que toda a casa fosse revirada na faxina e colocada de volta no lugar sem nada em desordem, mandou passar os uniformes das empregadas, comprou um vestido e joias novas para minha mãe e pediu que eu me arrumasse bem. 
Apesar de manter um hobby que andava longe de ser delicado, eu adorava me arrumar com tais trejeitos, meus cabelos eram longos apenas para trança-los ou modelar os cachos ao meu gosto, naquela noite vesti minha melhor calça preta de corte reto, uma camisa branca de mangas bufantes e um colete justo e deixei meus cabelos soltos em ondas perfeitamente enroladas.
Desci as escadas e alguns amigos do meu pai estavam na sala de estar enquanto outro entrava pela porta principal. Senti um arrepio tomar minha espinha quando meus olhos verdes encontraram o azul quase branco do homem que passou pela porta, sua pele era tão pálida que sua imagem era incômoda de se ver, seu terno preto se esticava em sua coluna curvada ao mesmo tempo que as mangas se dobravam em seus braços finos, e enrugados, levando em conta a aspereza e a flacidez que senti em suas mãos quando meu pai nos apresentou e me faz dar um aperto de mão no senhor que descobri se chamar March Chomsky. 
⸺ É um prazer conhecê-lo, senhor Chomsky. ⸺ Falei por educação, não recebendo uma devolutiva também educada. 
O jantar correu relativamente bem, meu pai como sempre tirou risadas de todos os seus convidados e achou assunto para conversar durante todo o banquete, eu senti vez ou outra o olhar de March queimando sobre mim, ele não tocou em um talher sequer, disse que não estava com fome e que acompanharia a mesa apenas por educação. 
Senti que minha respiração poderia correr livre após o jantar, a maioria dos convidados foi embora, restando para passar a noite somente três homens, um deles sendo March, me senti apreensivo em saber que dormiria no mesmo teto que aquele homem, sentia calafrios, mas tentei ignorar, fui para meu quarto decidido de sair no outro dia quando March fosse embora e tudo voltasse ao normal.
Algumas horas se passaram tranquilamente, estava quase cochilando quando escutei batidas em minha porta, tentei fingir que estava em um sono profundo, mas as batidas insistiram e eu acabei cedendo. 
Era minha mãe, ela segurava uma bandeja com algumas fatias de pães, geleia, um copo d'água e algumas frutas. Perguntei para quem era tudo aquilo, ela quis me entregar a bandeja dizendo que eu a levasse para o quarto em que o senhor Chomsky repousava, "ele não comeu nada" ela disse, deveria oferecê-lo uma última refeição por hospitalidade e que deveria ser eu para que houvesse menos chance de recusa, pois segundo ela, March havia gostado de mim.
Me vi encurralado, acatei a sua ordem e caminhei com a bandeja em direção ao quarto de hóspedes, dei algumas batidas na porta, quando não recebi uma resposta, girei a maçaneta e me espantei por ela estar destrancada. 
Vi March deitado sobre a cama com os lençóis cobrindo seu corpo até abaixo de seu peito, desejei boa noite e me impressionei quando recebi um "boa noite" de volta. 
⸺ Minha mãe pediu que eu trouxesse um lanche para o senhor, já que não comeu nada durante o jantar. ⸺ Expliquei, agradecendo mentalmente por ter conseguido falar sem gaguejar. 
⸺ Agradeço a gentileza, querido ⸺ ele disse, e eu senti minha pele arrepiar pelo tom suave de sua voz, e claro, pelo pronome de tratamento que ele usou. ⸺ mas não estou com fome, somente com um pouco de sede.
⸺ Eu trouxe água ⸺ disse e me aproximei a passos lentos de sua cama, deixei a bandeja na mesa encostada ao lado da cama, e dei um pequeno salto assustado quando me afastei para sair e senti a mão calejada e estranhamente gelada segurar meu pulso. 
Pensei que March fosse me falar algo ou pedir por alguma coisa, mas ele simplesmente passou alguns bons segundos com os dedos firmes em minha pele até começar a massageá-la levantando uma curta parte da manga de minha camisa folgada, apenas para me tocar.
⸺ Sua pele é tão macia ⸺ ele disse, fiquei na dúvida se agradecia pelo "elogio" ou me afastava de uma vez, contrariando as duas opções óbvias, eu permaneci estático no mesmo lugar. ⸺ Há muito tempo eu não sentia a maciez de uma pele tão sedosa, se assemelha a uma pétala de rosa. Ah, as dádivas da juventude.
⸺ O que quer dizer com isso? ⸺ O questionei, não estava entendendo onde sua fala queria chegar. 
⸺ Não me entenda mal, lindo príncipe, é dono de uma beleza natural raramente dada de mão beijada para alguém, a pele de suas mãos é macia, mas a de seus braços, seu pescoço e principalmente de seu rosto deve ser ainda mais ⸺ não fazia a menor ideia de onde ele queria chegar falando tudo aquilo, mas estava gostando de receber elogios, não acontecia com muita frequência, vivíamos isolados do resto do mundo, as únicas pessoas diferentes que via era algum amigo de meu pai que não nos visitava com frequência ou quando alguma prima de minha mãe vinha vê-la. Meu declínio começou quando me deixei levar pelas palavras bonitas, March se sentou com dificuldade na cama e puxou meu braço devagar para que eu sentasse em sua frente, eu obedeci.
⸺ Como eu dizia, sua beleza é natural, mas totalmente temporária ⸺ ele falou, e eu franzi o cenho. ⸺ uma dia franzirá as sobrancelhas dessa mesma maneira e as marcas de expressão que se formarão denunciarão sua idade ⸺ ele aproximou seus dedos longos de meus rosto e por um instante eu recuei, mas por fim deixei que ele me tocasse. ⸺ um dia essa pele tão macia se tornará flácida e seca, os belos cachos cor de chocolate ficarão brancos e ressecados, eles são tão macios hoje, querido ⸺ tomou um pequeno cacho entre os dedos e o esticou ao redor de seu indicador, sorrindo ao ver que ele se moldou da forma que enrolou. ⸺ e todos que um dia desejaram possuir seu corpo já não sentirão atração nenhuma pelas marcas que restarão para contar a beleza que um dia já teve.
Senti estupidamente meus olhos lacrimejarem com suas palavras, sabia que tudo o que ele dizia estava em um futuro distante, muito distante, eu só tinha vinte e um anos, mas era um futuro certo, triste e real, não queria chegar no futuro em o que o ele contou fosse concreto, mas iria chegar e não poderia fazer nada para impedir, impedir a cruel e natural ação do tempo.
⸺ Eu sinto que não posso deixar que isso aconteça.
March sussurrou aquela sentença, e eu não entendi absolutamente nada do que ele quis dizer, iria levantar a cabeça para olhá-lo e perguntar, mas tudo o que fiz foi sentir a força de seu corpo contra o meu, ele me jogou contra a cama, ficando por cima de meu corpo e antes que eu pudesse reagir de alguma maneira, senti as lágrimas que segurava descerem por minhas bochechas quando ele enfiou suas presas em meu pescoço.
Me debati sem forças contra seu peito, quando senti que ele drenava todo o sangue de meu corpo, de repente ele se afastou, ficou na altura de meu rosto e eu senti vontade de chorar novamente, dessa vez de ver o horror que eram suas presas enormes e todos seus outros dentes e pele ao redor dos lábios sujos de sangue, meu sangue. March acariciou minha bochecha úmida com as costas de sua mão e escutei quando ele disse uma única frase que ficou em minha mente para sempre.
⸺ Sua beleza precisa ser eternizada. 
March rasgou o próprio pulso com os dentes e pressionou sua pele ensanguentada contra meus lábios, tentei mantê-los fechados, mas me forcei a abri-los, quando a primeira gota desceu por minha garganta, senti sede, e comecei a beber seu sangue como se tomasse vinho.
Os minutos seguintes foram os mais torturantes de minha vida, meu corpo inteiro fervia, sentia como se todos os meus ossos tivessem sido quebrados, porque a dor era insuportável. 
O ar que entrava para meus pulmões descia queimando pela minha garganta, respirar se tornou um ato doloroso, eu acabei desmaiando por não aguentar. 
As cortinas cobriam a entrada do sol pela janela no dia seguinte, quis acreditar que tudo o que aconteceu não passou de um pesadelo, mas acordei na cama do quarto de hóspedes e quando me virei para o lado dei um salto ao ver as extensas manchas de sangue no edredom, olhei para baixo olhando minhas roupas e elas estavam tão sujas quanto os lençóis. Iria tentar resolver esse problema andando pelo quarto à procura de March Chomsky, mas de repente senti um cheiro de fumaça vindo do andar de baixo e escutei o grito de minha mãe. 
Corri em direção às escadas e o que eu temia se materializou. O fogo tomava tudo, pouco se via entre as chamas, mas eu vi tudo o que precisava ver, March entre os corpos carbonizados de meus pais, senti um ódio surreal subir pelo meu corpo e corri na intenção de matá-lo com minhas próprias mãos, mas antes que eu chegasse até o desgraçado, o vi acender um fósforo e incinerar o próprio corpo.
O teto da casa caía ao meu redor, e quem eu queria me vingar já tinha selado seu destino por conta própria, eu iria morrer como ele se permanecesse ali dentro, por isso corri para porta e sai. 
O fogo talvez doesse menos que a queimação que senti quando os raios de sol tocaram minha pele, pensei que não teria forças para me mover e ficaria ali parado esperando meu corpo virar cinzas, por sorte a pequena casa que os empregados dormiam era a poucos metros do casarão e estava intacta, corri para baixo do seu teto, o lá permaneci até a chegada da noite. 
Quando o sol se pôs no horizonte, voltei para casa, ou para o que sobrou dela, não existia sequer ossos para enterrar, mas sabia que tinham morrido meus pais, os dois amigos de meu pai que passaram a noite, as cozinheiras e as arrumadeiras e claro, March Chomsky.
Após a passagem de alguns dias e do sangue quente de alguns capatazes, aquele lugar não tinha mais nada para mim.
Vaguei por meses pelos arredores Londres até decidir me aventurar pela cidade, matei mais pessoas por noite do que tinha de idade quando fui transformado, o que eu mais sentia saudade da fazenda era de poder caçar, quando vi que existia uma grande semelhança no momento da escolha da pessoa que iria sangrar, acabei tomando um verdadeiro gosto pela coisa.
Passei as décadas seguintes viajando pelo continente, fui a Roma, Paris, Madrid, Lisboa, estive sozinho na passagem de todas elas e então decidi voltar para Londres, a cidade havia mudado, as pessoas também, ainda cheias de pudores e conservadoras, mas davam ótimos bailes, dancei sozinho em muitos até ir em um que desejei ter companhia.
Harry olha para Louis com um sorriso singelo no rosto, relembrar é viver, por mais que viver seja uma dádiva que já não o pertence há quase trezentos anos.
⸺ Quem garante que você não inventou tudo isso? ⸺ É a única resposta que Louis dá a longa história que escutou.
Harry rosna e toma a frente de Louis quando ele ameaça levantar da poltrona. 
⸺ Saia da minha frente Harry, você não pode me impedir de ir embora. ⸺ Louis disse, seus rostos estão tão próximos que podem sentir o ritmo da respiração um do outro.
⸺ Você não vai a lugar nenhum, querido. ⸺ Harry solta um beijo no ar para Louis e é pego desprevenido quando o outro vampiro o arremessa do outro lado da sala, batendo seu corpo contra a parede a ponto de rachar-la. 
Louis anda em direção a porta principal, é melhor não esperar até a noite seguinte, ele pensa, por mais que doa, a ida é necessária, já a despedida nem tanto. 
O vampiro de olhos azuis vira a chave na fechadura e gira a maçaneta para abrir a porta, mas antes que consiga completar o feito, seu corpo é segurado por mãos pesadas com unhas afiadas e jogado contra o chão metros de distância da saída. Suas costas batem com tanta força contra o piso que é possível escutar o som de ossos quebrando, só não é tão doloroso quanto a pontada que sente em seu coração e o desespero que toma todo o seu corpo quando observa o cabo da adaga de Harry firme sob a mão do vampiro em seu peito esquerdo.
Harry consegue tomar a ação rápida de apunhalar Louis, por ser vampiro, sabe que ele tem o poder de regeneração, mas não se dá ao trabalho de retirar a lâmina do órgão para que as células façam seu trabalho. 
⸺ Ah, querido ⸺ Harry sorri como o psicopata que é. ⸺ será que por algum momento você acreditou mesmo que poderia me enfrentar? ⸺ ri abertamente ao ponto de deixar suas presas a mostra. ⸺ você achou que poderia lutar contra mim? Logo contra mim, o seu criador? Não consigo crer que achou que poderia me desafiar. 
⸺ Harry… ⸺ Louis bate contra a mão de Harry para afastá-lo, mas ela permanece imóvel. Louis sente o sangue começar a molhar sua língua. 
Harry retira com cuidado sua adaga do peito de Louis e se deita ao lado de seu amado.
⸺ Minha história é verdadeira. ⸺ Harry diz, ele abre seu sobretudo revelando seu peito desnudo com pequenas manchas acinzentadas no mesmo formato que sardas costumam ter. Volta a sentar e expõe as manchas para Louis, que sente o corte em seu peito aos poucos cicatrizar. ⸺ Falei que essas marcas eram de nascença quando me mostrei nu em sua frente pela primeira vez, mas na verdade são as marcas do que um dia foi uma pele tão macia quanto a que cobre o resto do meu corpo, mas que se desfez em cinzas quando me expus no sol.
Louis toca as marcas no peito de Harry, e o vampiro de cabelos longos deixa que seus olhos se encham de lágrimas antes de deitar no braço estendido Louis no chão, com a mão sobre seu peito.
⸺ Você não gostaria de ir naquele motel que gostamos, querido? ⸺ Harry pergunta com o nariz pressionado contra o pescoço de Louis. ⸺ Não gostaria de me abraçar forte e dizer que me ama? Porque posso nunca ter contado, mas eu nunca, nunca amei ninguém como amo você.
Harry abraça forte o corpo alheio, no entanto relaxa seus músculos quando tem seu abraço retribuído em conjunto a seus lábios tomados em um doce selar.
⸺ Podemos ir aonde você quiser.
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bakrci · 4 months ago
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If the people who were supposed to protect you played so fast and loose with your life . . . then how did you survive? Not by trusting them, that was for sure. And if you couldn’t trust them, who could you trust? All bets were off.
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aviso de gatilho: violência, serpentes, mutilação.
Era de se pensar que eles teriam alguma vantagem, com tantas informações repassadas por Circe. Uma Guerra Esquecida. Deuses maquinando contra outros. Mortes incontáveis, tantas que os livros de registros deveriam “lotar toda uma sala”. Não que os deuses se importassem com a vida deles - eram apenas instrumentos para o alcance de um fim, Remzi bem sabia. Contudo, nem o filme ou projeção mais gráfica seria capaz de prepará-los para o que estava por vir. A inquietude que o acompanhou ao longo dos três dias na ilha persistia naquele pós retorno ao Acampamento Meio-Sangue. Era um ímã para desgraças, por que seria diferente quando a desgraça já estava prenunciada? Aliás, o sentimento tinha apenas se intensificado diante das palavras agourentas de Circe, como se estivesse pressentindo seu sucumbir naquela noite.
Era ainda cedo quando se colocou a postos, às margens da fenda, apoiado em Penumbra, o suor frio a escorrer-lhe pelas costas, ao mesmo tempo em que as mãos apresentavam um leve tremor. Ele já não ouvia as ordens de Lecomte àquela altura, mesmo que quem olhasse em sua direção o tomasse por alguém focado. A tensão dos músculos fazia com que se mantivesse teso, como se a fenda irradiasse, desde já, seu descontentamento em ser atacada, direcionado a todos aqueles que ousassem fazê-lo e àqueles que estavam ali para garantir que o feitiço fosse executado.
Assim que os cânticos começaram a ser entoados, a postura se endireitou. Gostaria de vedar o som das vozes dos Filhos da Magia, se pudesse, como se as palavras ditas fossem um convite para o desastre que se aproximava, tornando o Bakirci ansioso enquanto segurava a foice com mais firmeza, duvidando de sua capacidade de suportar o peso. 
Então, o estalo, acompanhado do tremor que o desestabilizou.
A partir daí, foi como se acompanhasse a ação de fora do próprio corpo, analisando a cena como um espectador desinteressado de cinema mudo. Os gritos dos semideuses o desconcentrariam, então tinha de focar no silêncio da própria mente. Um grito, no entanto, se sobressaía, vindo diretamente do interior da fenda.
Ele conhecia Campe, mas não com aqueles olhos.
A criatura traiçoeira avançou com suas extensões ofídias, varrendo alguns semideuses que encontrava no caminho. Ele devia ter dado mais atenção aos avisos de Circe, pois só agora reparava que nem todos eram atacados pelo monstro, que  parecia ter predileção por alguns campistas em específico.
Ao ouvir o sibilar de uma das cobras junto à lateral do rosto, soube que ela estava perto demais para que ele estivesse confortável. Por instinto, se virou com agilidade, erguendo a lâmina dupla na tentativa de decepar a cauda de escorpião do monstro, antes que o atacasse diretamente. Entretanto, o golpe apenas serviu para fazer com que fosse empurrado para trás por outra das extensões da besta, derrapando no terreno e caindo de costas no solo, colidindo com o ombro e a lateral do torso contra as rochas.
Não é real - não era o que todos vinham avisando? Mas, então, por que parecia tão realista?
Acompanhava de perto os esforços de Santi para conter a criatura, e até fez esforço para se juntar a ele, conjurando escudo a partir de suas sombras e mirando as adagas no quadril do monstro, para que atingisse a testa dos bestantes que saíam de sua cintura. 
Avançou uma vez mais empunhando a foice, dessa vez para ser repelido pelo rabo de escorpião que, com a força, o lançou contra o chão, os pulmões explodindo em dor quando o ar foi forçado para fora do corpo. O golpe foi brutal, e por um momento a visão do filho de Nyx escureceu nas bordas, os sons ao seu redor se tornando ecos distantes.
Ele tentou se levantar, as mãos escorregando no solo enquanto a força do monstro o mantinha preso. Penumbra estava fora de alcance, caída alguns metros adiante. O turco estendeu a mão em sua direção, convocando a foice de volta com um gesto rápido. A arma voou para sua mão, tendo o semideus girado com toda a força que lhe restava, acertando Campe em um golpe desesperado.
O som metálico de lâmina contra escama ressoou no ar, mas o monstro não vacilou. Suas armas, constatou, eram completamente ineficazes contra Campe, especialmente quando, no momento seguinte, inúmeras serpentes começaram a se assomar aos seus pés, vindas do monstro, afundando suas presas tóxicas em uma das pernas dele. Remzi soltou um grito involuntário, o veneno queimando através de suas veias como fogo líquido. A dor era excruciante, como se sua carne estivesse sendo corroída de dentro para fora.
Tentando ignorar o pânico crescente, ele conjurou sombras ao seu redor, tentando afastar o monstro o suficiente para que pudesse se reposicionar. Mas Campe era implacável. Outro golpe de sua cauda o atingiu, dessa vez diretamente no joelho, quebrando o osso com um estalo horrível que o assombraria para o resto da vida.
Remzi gritou; a perna cedendo sob seu peso no instante em que ele caiu de joelhos, incapaz de continuar lutando de pé. A dor era um borrão confuso, cada respiração uma luta, e o Bakirci sabia que precisava continuar se movendo ou estaria perdido. Porém, o corpo protestava, implorando pelo desligamento. 
O veneno injetado por um sem número de presas agiu rápido em seu sistema, ao ponto de não saber se o que via era real ou se estava alucinando - a cena caótica se desenrolando como se o tempo estivesse acelerado e desacelerado ao mesmo tempo.
Uma semideusa filha de Morfeu atingida no ombro pela cauda de escorpião.
Santiago sucumbindo junto com ele.
Seus irmãos, Damon e Alina, padecendo diante de uma hidra. 
E depois, uma voz: o segredo precisa ser revelado, o Silêncio irá cair e o Olimpo sucumbirá em conjunto.
O… Segredo?
Já não importava qual era. Ele nem estaria vivo para descobrir.
Os olhos já estavam se fechando sozinhos e Remzi já estava meio grogue - completamente envenenado, a visão embaçada e desfocada, a boca seca - quando sentiu alguém o arrastar para longe da batalha como o peso morto que tinha se tornado. Uma garota. Uma Caçadora da deusa da lua.
Não sentiu a terra tremer ou o mundo ser sugado para baixo, porque assim que se viu arrastado por Thalia Grace, ele se permitiu desistir e aceitar que tinha falhado, a escuridão tomando sua visão, o veneno corroendo sua carne... E então, finalmente, o alívio da inconsciência o envolveu.
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try not to look down on people who had to choose between death and disgrace.
Essa não é a primeira vez que Hécate usa vocês como marionetes, semideuses. Não é a primeira vez que a fenda se abre no acampamento, não é a primeira vez que um de vocês… Crianças dos Três Grandes são semideuses de ego elevado, de orgulho maior do que os próprios feitos… A fenda é obra de Hades e Hécate... Ambos estavam trabalhando juntos pois desejavam trazer à tona um segredo dos deuses…
A dor era insuportável. Remzi acordou com um grito preso na garganta, os pulmões falhando em puxar o ar enquanto uma queimação pulsava em sua perna. Ele tentou se mexer, mas qualquer movimento trazia uma nova onda de agonia. A sala ao seu redor era fria e escura, o som distante de murmúrios e vozes o alcançando como se viessem de muito longe.
O filho de Nyx piscou várias vezes, tentando clarear a visão turva. Estava deitado em uma maca improvisada, na enfermaria do Acampamento, seu corpo envolto em cobertores pesados para conter a febre. Mas nada disso importava. Tudo que ele conseguia sentir era a dor lancinante em sua perna. Quando seus olhos finalmente focaram, ele notou a mancha escura de sangue na lateral do colchão, onde a perna direita estava estendida.
Algo estava errado. Muito errado.
Remzi tentou mover o pé, mas não houve resposta. Ele se forçou a olhar para baixo, engolindo o nada quando viu o estrago. A perna estava enfaixada, a atadura saturada de sangue, e o inchaço era grotesco. Além disso, a pele estava descolorida, manchada de preto e azul, as marcas das mordidas das serpentes ainda visíveis ao longo de sua panturrilha. E o veneno... Ele sabia que o veneno ainda estava ali, se espalhando como uma praga, queimando tudo por onde passava.
Uma figura se aproximou dele, a silhueta alta e familiar de Quíron, o centauro com expressão grave, algo que Remzi raramente via. Ao seu lado, Esthis, filha de Poseidon, segurava um frasco de néctar com as mãos trêmulas, os olhos cheios de preocupação.
"Remzi," Quíron começou, sua voz profunda carregada de uma tristeza que o semideus não sabia decifrar. "A situação é grave. O osso se partiu durante a batalha. E o veneno... Se espalhou mais rápido do que conseguimos controlar. Nós tentamos, mas a sua perna... Ela não está reagindo aos nossos tratamentos."
O coração do semideus afundou. Ele olhou para Quíron, tentando entender o que ele estava dizendo, mas as palavras pareciam flutuar no ar, pesadas demais para absorver.
"O que quer dizer com isso?" Remzi perguntou, sua voz áspera devido à falta de uso, quase inaudível.
Quíron respirou fundo antes de continuar. "Se não agirmos agora... O veneno vai se espalhar para o resto do seu corpo. Já está começando a afetar outros órgãos. Se não cortarmos... Você não vai sobreviver."
Remzi piscou, o choque se espalhando pelo seu corpo como um golpe físico. Cortar...?
"Você quis dizer... amputar?" ele mal conseguia dizer a palavra, seus olhos fixos em Quíron, esperando que o centauro negasse, dissesse que havia outro jeito, qualquer outra solução. Mas não houve resposta.
Ainda assim, talvez o mais digno a se fazer fosse oferecer uma negativa, morrer como um dos seus, em decorrência de seus ferimentos. Porém, não pode deixar de pensar que até mesmo a honra de morrer em batalha os deuses haviam tirado dele. Por que não tomariam sua perna?
“Remzi, eu sinto muito…” foram as palavras de Essie, como se se desculpasse pelo que seus superiores estavam prestes a fazer, depois que ele anuiu, de maneira quase imperceptível, ao mesmo tempo que encarava o nada.
Sim. Teria sido melhor se tivesse morrido.
mencionados: @lleccmte, @aguillar, @notodreamin, @sonofnyx, @nyctophiliesblog, @essalis
para @silencehq e @hefestotv
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ncstya · 6 months ago
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SCARS to your beautiful    .      
PLOT DROP : o que aconteceu com Anastasia de Bragança .
trigger warning. menção à ansiedade e leve mutilação.
Sabia que tinha sido ingênua em pensar que suas ações de bravura repentinas, impulsionadas pelo álcool, não teriam consequências. Foram vários dias na enfermaria, implorando para que a mãe permitisse que não tivesse nada que a fizesse lembrar para sempre aquele dia. Mesmo que não fosse próxima de Flynn, havia algo em si que lembrava das lâminas das pelúcias enfiando em suas pernas, em seus braços e, acima de tudo, em seu rosto. Os dedos tocaram o curativo como se soubesse o que estava prestes a acontecer.
PART ONE . THE BRAVE BEAUTIFUL GIRL .
Contexto : Pós interação com Kitty ( você confere mais aqui ) .
Não virou novamente para verificar se a filha de Hades tinha ido embora. Esperava firmemente que tivesse sido esperta o suficiente para correr para longe, já que as pelúcias avançavam cruelmente na direção de Anastasia. Sabia que aquilo aconteceria, mas precisava ganhar tempo para os outros campistas. A espada empunhada, a Sharp Beauty, repousava naturalmente e confortavelmente em sua mão, fazendo com que tomasse a postura defensiva rapidamente. Os primeiros golpes foram dados contra um dos primeiros ursos que tentavam chegar perto e, ao cortar os braços e a cabeça, achou que seria o suficiente. Como estava errada. Quanto mais tentava cortar, mais parecia irritá-los a ponto que chegassem por todos os lados, encurralando ela. A cena era quase cômica se as lâminas não fossem afiadas o suficiente para que brilhassem sob a luz do lugar.
Sentiu o cheiro de fogo, mas estava tão focada em conseguir tempo que sequer teve tempo de olhar ao redor. Mesmo que fossem pequenas, era impossível contê-las para que não atacassem o corpo. O vestido era rasgado facilmente pelas lâminas e Anastasia fazia o seu melhor para desviar, reposicionando com uma postura de ataque. Ainda sim, sentia as lâminas rasparem superficialmente contra a pele das pernas, algo que era um incômodo, mas os reflexos faziam com que desviassem, colocando-se no caminho dos mais fracos e permitindo para que corressem para onde Dionísio tinha indicado. Estava prestes a fazer o mesmo quando sentiu um cheiro diferente, algo que não estava ali antes. Não sabia o que era e viu apenas uma névoa vermelha invadir os olhos, depois as narinas e, enfim, a mente.
O coração pareceu despencar do peito e, então, bater de forma mais acelerada novamente. A mão fechou-se mais forte contra a espada, conforme as lágrimas invadiam a visão. Precisava lutar mais, precisava proteger aquele lugar independente do custo. Olhou rapidamente para o lado, percebendo que aquela fumaça estranha parecia emanar de Aidan, mas não importava. Nada daquilo importava, nem a própria vida. As memórias dela chorando embaixo da mesa da sala, escutando o pai bravamente lutar contra um monstro que sabia que não tinha chance, invadiam a cabeça dela, fazendo com que quisesse permanecer mais e tomar a decisão que, para ela, era a mais corajosa do mundo. Desejava se sacrificar para que todos tivessem tempo de escapar, mesmo que isso significasse que não saísse do pavilhão. Combatia firmemente com as pelúcias, mesmo que estivessem ainda mais agressivas. A cada lâmina que tocava a pele macia de Anastasia, mais um soluço saía dela. Fraca, era fraca, assim como aquela noite que tinha perdido o pai.
Não soube quantos minutos tinha passado ali, mas sentia o corpo fraco. No entanto, recusava-se a dar por vencida, conforme batalhava com as pelúcias e fazendo o máximo para que fossem completamente eliminadas. O corpo dela estava ensanguentado do próprio sangue, mas recusava-se a parar, o coração tomado pela fúria e pela mágoa das próprias ações. Não podia permitir que tivessem perdas aquela noite. Mesmo que a pessoa não fosse alguém que se importasse, com certeza o semideus teria amigos e família e amores; aquelas pessoas se importariam e chorariam pela sua morte. Anastasia sabia que o luto era muito difícil de lidar.
Quando tudo pareceu acabar e escutou a voz de Quíron, anunciando a morte de Flynn, Anastasia caiu de joelhos, as pernas incapazes de sustentá-la. Independente do quanto tinha se esforçado, alguém tinha morrido e era toda sua culpa. Era fraca. Precisava melhorar, devia melhorar. A mente estava enevoada pela falta de sangue do corpo, assim como pela gravidade dos ferimentos no corpo inteiro. Não sabia exatamente quando tinha sido atingida tão gravemente, mas estava tão focada nos próprios pensamentos que sequer teve tempo para pensar em si mesma. Conseguia ver cortes pelos braços, mas sentia o rosto arder em chamas, a dor infiltrando-se em cada músculo facial. Os olhos varreram o ambiente, como se tivesse tentando definir se realmente estava tudo bem. Com um suspiro, se rendeu à escuridão.
Os próximos minutos (ou horas, não se sabe ao certo) foram marcadas por ela recuperando a consciência por alguns segundos. Acordou no chão do pavilhão, desmaio. Estava sendo carregadas por braços que não sabia distinguir de quem era, mas eram fortes o suficiente para colocá-la em algum lugar. "Eu vou morrer." A voz saiu fraca quando decidiu isso para a pessoa dona dos braços que a carregavam, já que talvez fosse a última pessoa que encontrasse. Antes que pudesse absorver mais qualquer coisa, a escuridão a engoliu novamente. Piscou mais uma vez, encarando olhos azuis e realmente quis dizer algo inteligente, talvez algumas últimas palavras inspiradoras, mas tudo que conseguia pensar era que queria dormir. "Se eu morrer, espero que eu não sinta." E, novamente, nada.
Quando acordou na enfermaria, a cabeça estava confusa e o corpo inteiro encontrava-se cheio de bálsamos com faixas. Estava completamente dolorida e confusa com o que tinha acontecido. Sequer se lembrava. Estava tão cansada que decidiu voltar a dormir.
PART TWO . FALLING INTO YOUR OCEAN EYES .
Depois de semanas com as bandagens e curativos, Anastasia tinha criado uma expectativa a respeito dos machucados. Os mais leves tinham fechado perfeitamente nas primeiras horas, principalmente em decorrência da cura mais acelerada. Jamais tinha estado em um processo mais longo de cura, ainda mais quando quase todas as missões que fora aconteceram quando tinha um nível mais profundo de conhecimento a respeito do poder e da espada. O coração batia mais acelerado contra o peito quando recebeu o veredicto que, quando estivesse preparada, poderia remover os curativos do rosto. Aqueles eram os que mais estava ansiosa, para ser sincera. Independente do que tivesse acontecido, esperava que não fosse tão terrível quanto imaginasse. A mãe também tentaria ajudá-la de alguma forma com aquilo, certo? Sabia que Afrodite não aceitaria uma filha que fosse feia sob os olhos dos outros.
Ao chegar no chalé, fechou a porta atrás de si e sentou em frente a penteadeira branca que era decorada por enfeites cor-de-rosa e creme. Precisou de alguns minutos para finalmente tocar no rosto, temendo o que fosse encontrar atrás do curativo. Mais um tempo foi necessário para que a coragem viesse até ela, já que tocava na borda e desistia. Contou até três e, com os olhos fechados, sentiu a cola desvencilhar da pele. Um suspiro saiu dela assim que sentiu o ar tocar a pele que estava escondida durante aquele tempo, aliviando e sensibilizando. Foram dias repletos de agonia e incertezas, algo que não estava acostumada. Fazia tempo que não sentia-se tão mal a respeito de si mesma e do que era capaz. Desde que foi proclamada, Anastasia estava acostumada a ser naturalmente bonita, com o cabelo sempre alinhado, a pele impecável e uma maquiagem inata. Não esforçava-se excessivamente, já que ser filha de Afrodite era o suficiente, mesmo que adorasse passar horas planejando o guarda-roupa da semana e pintando as unhas para que combinassem com as cores que utilizaria.
Quando os olhos finalmente abriram, encarou-se no espelho como se fosse a primeira vez que se visse. O rosto não parecia mais o mesmo, principalmente graças a cicatriz gigante que havia em sua bochecha que descia até o maxilar. As mãos cerraram-se no colo, tentando absorver a imagem que a encarava. Era estranho, muito diferente. Pela primeira vez em anos, a filha de Afrodite se sentiu horrorosa. Mesmo que os olhos azuis fossem os mesmos, a boca cheia continuasse, a cicatriz parecia tomar toda a atenção. Tudo que tinha de positivo no rosto era anulado pela grotesca linha que parecia deformar a pele. O enjoo invadiu antes que pudesse perceber e a mente foi invadida pelos pensamentos negativos que pareciam salpicar em sua mente. Sentia-se como se pudesse morrer naquele momento. O mundo girava ao seu redor, a visão parecendo fazer com que a cicatriz parecesse ainda maior. Como poderia livrar-se daquilo imediatamente? E se olhassem para ela e nunca mais sentissem nenhum desejo? E se zombassem toda que vez aparecesse, porque, além de lutar excessivamente com pelúcias, tinha ganhado aquela lembrança terrível? As pessoas definitivamente nunca mais gostariam dela, já que tudo que importava era como se parecia. Costumava ser perfeita, mas tudo que restava agora era a deformação.
Não percebeu quando começou a chorar, já que a respiração acelerada e inconstante parecia levá-la a um ponto de ebulição. Antes que pudesse perceber o que estava acontecendo, a destra foi para a pulseira e puxou Sharp Beauty. Talvez nem merecesse mais a espada, já que era bonita demais para um monstro como ela. A lâmina atravessou o frágil espelho, fazendo com que as partes caíssem na madeira. O mundo era um borrão dentre as emoções de perda, culpa, mágoa, tristeza e raiva que a invadiam. As lágrimas eram incontroláveis e, por mais que tentasse respirar para se acalmar, assim como tinham ensinado, não parecia o suficiente. Se não era bonita, o que era? O que deveria fazer?
personagens mencionados no pov : @zeusraynar e @aidankeef
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