#godriguesteixeira
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godrigues · 2 days ago
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radicis.
Poder olhar para trás é saborear o privilégio de nos sabermos continuar numa permanente metamorfose. Mutando. Mudando. As luzes que não levantei este ano ao vermelho festivo sinalizam o caminho como o medo que sentimos nos novos passos. Novos sapatos. Só assim avançamos, com as questões que crescem daninhas e procriam com os passos de dança dos outros que pouco sabem dançar, na verdade. Talvez com outro instrumento, mas não ao som das melodias que ouvimos e somos obrigados a decorar a letra. Nunca percebi de tons, apesar de namorar um piano que não tenho. E tento saltar mais um passo em branco. Só assim sabemos ser nossa a linha que traçamos e não o molde da fábrica de origem. Não rejeito a etiqueta, mas apelo a reclassificação de uma função que não me foi premeditada, como detergente da loiça para tirar nódoas da roupa. Descasco-me daquilo que já não reconheço e aceito os pilares e os mal-estares que me permitiram aqui chegar. Aqui mudar. Aqui arriscar na instabilidade do fruto que semeei.
Enquanto sonho ser árvore, talvez chegue a brotar um arbusto, sabendo-me feliz por não me ter impedido de aspirar ser mais do que uma folha.
Despeço-me para uma nova raíz.
20 | 12 | 2024 | do sótão, até já
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monstrosemcompanhia · 10 years ago
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you are wow in a world of blah.
Godrigues Teixeira
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godrigues · 9 days ago
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Será entusiasmo o comprimento Do cumprimento De amanhã?
Trago-te no vento um bolso de palavras Promessas Avessas Travessas.
Leva-me o calor à bússola do Norte Evita-me a morte Dá-me sorte.
És a minha sorte.
13 | 12 | 2024 | arrumando o sótão
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godrigues · 16 days ago
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sobre palas sem cavalos.
A cada mês pareço descobrir um novo canto do mundo que não fazia ideia existir. Mesmo com a abrangência da internet, sofremos vítimas de um algoritmo que nos ajusta as palas ao lado dos olhos e nos dá do mesmo, numa luta difícil de contrariar, mesmo apagando as bolachas. E eu não sou bom a fazer doces. Então encaro estes furos de otimismo e estranheza de braços abertos e convidativos, tentando manipular a artificialidade a servir-me mais variedade na mesma, mas ela escolhe apenas um novo prato, e repete as doses. Há tempos descobri que havia competições oficiais federadas de salto à corda, imagine-se. Outros não acharão estranho, mas para mim que venho de um mundo de voleibol e outros desportos mais tradicionais, saber que um dos motivos com que se criava gargalhadas à minha volta quando era mais novo por eu gostar e até ter jeito de o fazer, se transformou numa modalidade respeitada, traz-me não só alegria pelo progresso da sociedade em entreter-se, que de tantas coisas negativas costumamos ter a bola de cristal cheia, como o fascínio que tantos outros desportos ou hobbies ou grupos de atividades e lazer existam e que desconheço. Admirável a variedade e complexidade que todas as combinações que formamos geram mesmo que em clusters focais e mais recônditos. E ainda me perguntam porque é que gosto de ouvir música menos conhecida. Não é pelo valor de fuga ao mundano que acham que procuro, mas antes por todos os outros cantos que se descobrem com um menor peso da seleção refinada do menu do dia. Não é uma questão de qualidade que padecem, mas de mil fatores abraçados num embrulho de sorte, que nem todos os artistas conseguem manifestar verdade, em qualquer tipo de arte.
Hoje descobri que existe uma competição de ciclismo sincronizado. Foi isso que despoletou este pensamento que tanto cozinhava em temperaturas baixas, mas nunca consegui por ser dar por formado. Terminado. Aqui tento, com tanto ou menos jeito na minha própria arte.
No meio de tantas possibilidades, é reconfortante a ideia de que haverá sempre um lugar para o qual consigamos fazer parte.
06 | 12 | 2024 | sótão
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godrigues · 23 days ago
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crises.
O que raio faço se a máquina padece com a mordida no sítio certo? É pão que amasso, ou repenso duvidando se a cicatriz encaixa, no paralisante medo de perder? Não é competição, mas a acusação mantém-se pela imagem que ficou sem nos apercebermos que já vão seis, treze, vinte e um anos. E são só números. Controlamos a magnitude da existência pintando a essência do que queremos valorar. Vestir aquilo que queremos ser torna-se num lema inesperadamente certeiro ao degrau que se apresenta, acoplado à terapia que continuo a culpar no mar. Monto as mudanças como legos para não sentir a queda da torre, do não, e culpo o signo da perfeição. Da luta contra a insatisfação constante de o rever, como uma peça de roupa que tanto nos deixa de dizer sem alterar em si as suas características. Como as pessoas. Mudamos e deixamos de fazer sentido nas histórias dos outros, e isso não nos tira valor, nem aos outros. Nem aos desenhos que fizemos juntos. Mas revejo-me no egoísmo de os querer manter como peças de roupa num guarda-fatos que não abro há dez anos, mas que pode vir a ser útil. Ou as caixas de cartão. Até ao pico de energia que me abate. Até à preguiça de comprar abacate mas gostar do guacamole, no receio de nunca o vir a saber fazer, e continuar sem tentar. Do que raio falo? De tudo o que me chega num abalo que vou aguentando como quem troca de perna ao segurar paredes. É verdade que a mente fica mais vazia na estagnação? Até certo ponto. Até o balanço que nunca se sabe certo dirigir os ponteiros na conta certa de me deixar livre e prudente. Producente. Eloquente dentro do caos que vendo como assinatura (vamos ver se dura), e continuo a absorver. Sempre fui bom a seguir regras, mas também a aprender. E voltei a ler.
Só mais um tropeço, dobro a vida num laço, e vejo o raio que com ela faço.
28 | 11 | 2024 | sótão
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godrigues · 1 month ago
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“Se tiver que morrer, morro, olha.”
Devia ter treze anos quando fiz esse comentário. Uma mistura de desabafo com a bêbada vontade de querer ser mais e melhor e determinado. Destemido. Mas talvez eu não mentisse, de facto. Talvez, e aposto, eu não tivesse sequer pensando no assunto até então e, na primeira reflexão e avaliação, tenha concluído que, se súbito, morrer não me traria fastio ou preocupação.
Curioso como o tempo nos torna nesta plasticina ressequida  de d��vidas e  planos e aspiração e covardia. Ou talvez seja coragem. Talvez viver independentemente disso  seja o verdadeiro significado  de o ser. Destemido.
22 | 11 | 2024 | sótão [texto integral de 11.01.2018, caderno azul]
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godrigues · 1 month ago
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o google não traduz overthinking
Aguardo que a espuma acalme as ramificações que me prendem aos passos que não dei. Prometo aprender com o descrédito de perder as horas sobre sinapses que não se cansam pelo potencial neurológico. Desligo as vozes, não são mais que não os diferentes tons das minhas cordas, cada canto com a sua nota, mesmo eu não percebendo de dominós, nem réguas de medir. Poderei satisfazer-me com a triagem de um caminho que pareço sempre tropeçar? Não quero voltar, mas revejo as marcas do ouro que preenchi nas rachas de tudo o que me partiu. E tudo o que deixei partir. Sou egoísta. Sou avarento. Sou todos os pecados e mais um, governados pela inveja de todos os passos que não tomei. De todas as vidas que eu poderia ter e que não são minhas agora. Não neste momento. É de momentos que sobrevivo, e aceito a tranquilidade de avançar. Vou sempre a tempo de mudar, mas até que ponto fará sentido? Até que ponto tenho as ferramentas que preciso para restaurar a mobília que já cede ao tempo como rugas?  Controlo o que gasto no consumo da dopamina fugaz e que não alimenta, mas a balança desequilibra-se com todas as mudanças que me vi atravessar.  E agora mais uma.  Será essa a minha sina? Procurar a diferença e exigindo de mim todas as cores de um camaleão? Até quando? Até onde?  Até já.
Treino-me para tentar não me afogar em todos as braçadas que não dei. Mais, neste momento, não sei.
15 | 11 | 2024 | sótão
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godrigues · 1 month ago
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bolha.
Luto para me consciencializar que é tudo temporário. Que nada se define senão com um fim, e a incerteza da sua proximidade pode ser ocasionalmente assoberbante. Assustadora. Incapacitante. E retorno à procrastinação de um motor parado que corre neuronalmente a uma velocidade que me recuso a arriscar na autoestrada. Sou cuidadoso. Penso o passo. E com o medo voltamos às origens. Voltamos à essência que nos compõe. Os hábitos entranhados que tanto treinamos para suavizar e que na cova do lobo nos salta como uma mola a aliviar por fim a pressão de todos os anos que não a deixamos existir. Se dizem que em cova de lobo não há ateus, nas que entro há de tudo. E é fascinante compreender o quanto os traumas de cada criatura (e a sua ausência) se transformam na visão personalizada e complexa que projetam no que ouvem e no que veem. Nas prioridades que tomam. Em qual a verdadeira necessidade que está na base da pirâmide da existência. Acreditando não haver discussão sobre estima quando não se garante as necessidades fisiológicas, perdemo-nos logo no segundo degrau. Qual se sobrepõe? A segurança pessoal e familiar ou a segurança económica e laboral? Estão entrelaçadas? Podemos proteger uma ameaçando a outra, e se sim, qual deve ser priorizada? Acho que a distância adubada pelos algoritmos da chuva de conteúdos e informações aumentam apenas a divisão de Moisés sobre o mar vermelho. Seria de todo o sangue daqueles que ficaram pelo meio? Assusta-me a desumanização da vida como um número, um negócio populista onde tudo vale para chamar a cruz, mas aguento a pressão esperando que a própria democracia não se permita à exaustão. Assusta-me a vocalização de violência como sintoma de uma liberdade vingada, como uma criança que se acha triunfante com uma frase decomposta e sem sentido. Não há bússolas que aguentem a profanação proclamada que validam na defesa daquilo que está nas entrelinhas. Ignora-se as linhas? Ou estamos a querer testar a teoria da cova dos lobos? Tolerabilidade não é liberdade total inconsequente, senão a quebra de tudo o que a ameaça. E sinto-me ameaçado. E não tenho solução. Apenas medo. Que se espalhe como a pandemia e se torne o novo normal. E aos poucos não saibamos quantos passos já demos atrás. A calibração da balança não é universal, mal não fosse pela singularidade de tudo o que nos compõe como sociedade, e espero que seja pelo melhor. Pelo progresso. Pela aceitação do outro na sua existência humana basal.
Estou assustado, entre todas as outras decisões de vida que me obrigo a estudar, e tento não me esquecer que é tudo temporário. Até o próprio medo. Até chegar o fim. E, portanto, continuo a negá-lo, um dia mais. Um dia a menos.
08 | 11 | 2024 | sótão
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godrigues · 2 months ago
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a quem de direito,
[sobre “Something breaking and I don't know what to do, am I breaking down, or am I breaking through?”, de Cinders]
A diferenciação será sempre o grande dilema da catarse de existir em caos. É como duvidar se “está a funcionar” ou se “estou a fazer funcionar”, com as respetivas e pesadas implicações de cada uma das conclusões. De uma forma dir-se-ia que o importante de ambas é que o outcome é atingido de qualquer forma. Mas a que custo? O que sobra no final do passo? Um de cada vez. Dito e repito. Um lema que me é tão presente e que regressa num novo momento de tamanha necessidade. Continuo sem saber o que amanhã trará, mas revejo ainda mais agora a importância de o enfrentar com calma, pois a vida mantém-se irrepreensivelmente rápida para os meus pés. E eu até tenho voltado a fazer exercício. O ponto é chegar ao fim da corrida, ou importa mais o estado em que chegamos? Então adio. Protelo coisas na tentativa de abrandar o tempo para que algo não chegue. Mesmo que eu o queira. Tenho medo da expectativa que criei, pelas cicatrizes que colecionei do passado e, no entanto, perco tempo nessa procrastinação viciada para chegar ao mesmo lugar. Com menos feito. Com menos efeito.
Quando era pequeno fazia isso com os autocolantes para os cadernos. Nunca achei a oportunidade ideal para os usar sem desperdiçar. Então anos mais tarde dei-lhes por fim uma casa: o lixo. Este ano quase fiz o mesmo com os chocolates da páscoa, mas os que ainda sobram foi mesmo por me esquecer daquele canto do sótão. Daquela prateleira de coisas a fazer que pousei e não retornei. Já me indaguei se é patológico, mas não sei se quero saber. Não sei se mudaria alguma coisa. Então foco-me noutras, como a páscoa ser um excelente esquema de marketing, entre outras razões senão pela principal de vender os chocolates que sobraram do natal e do dia dos namorados antes que se estraguem com o calor do verão. Calor que se tem esticado no seu espreguiço a cada ano, ou tenho memória curta? Sei que ainda é outono, mas estamos quase no fim de outubro e ainda durmo de cuecas. Boxers. Importa? Está a funcionar?
Se estás a fazer funcionar, continua, mas não negues o presente. Um dia deixarás de ser ambos, e as coisas não deixam de ser verdade só por não serem para sempre.
01 | 11 | 2024 | sótão
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godrigues · 2 months ago
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aporia, parte II
Anda cá, Tentemos outra vez. Aperta-me as dores das aftas que me destroem a cada bocado, Ignora o sol, a chuva da janela, e deixemos o mar de lado. Estou à vista em todas as letras das sílabas que não lês.
Anda cá, Sente a minha pele. Atópica, macia, descuido-me na temperatura que não regulo. Reflito o conforto pesado em todas as memórias que manipulo Ingenuamente adiando cada passo na expetativa de algo que mais me apele.
Anda cá. Não me deixes sozinho. Se eu aprender sobre a construção de silabas fonéticas dos poemas Esdrúxulas graves e agudas vontades, sem dilemas, Prometes ficar só mais um bocadinho?
Já vais, novamente? Não falemos sobre as dores Articulações, artroses emocionais de uma aventura pelo país Pedaços que sobram nos restos da metamorfose que já não condiz Como a suculenta que morre no meu parapeito. Nunca tive jeito com flores. É de jeito?
Já sais? Espera, Do teu lado ainda há luz? Não peço promessas, incomoda-me os quebrados Sou mais inteligente que isso, são os meus bravados Morde-me o nome, é isso que me seduz.
Não estás, mas voltas. Somos aves, soltas, há procura de um biscoito. Desdobro os degraus, celebro a vitória contra os minutos. Reajusto a rota dos planos adaptados, substitutos, E volto ao lema dos dezoito.
25 | 10 | 2024 | sótão
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godrigues · 2 months ago
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Se fosse um pássaro, cansar-me-ia de voar?
Estou cansado, mas continuo a arranjar novas formas de me cansar. Será masoquismo? Talvez seja esse o novo basal de ser adulto. Acoplar o trauma à personalidade e assumir funcionalidade no arco-íris das emoções. Um dia achei ser adulto era só ser triste, mas hoje percebo as expectativas e consigo apreciar o sol. Um sol. Apenas mais uma estrela no meio de tantas outras que não apelidamos da mesma forma por estarem mais longe. Que idade tinhas quanto percebeste que o sol não passava disso? De uma estrela? Foi um choque para mim. Igual a todas as outras que não consegues ver na cidade. Compõe desenhos mal-interpretados, mas com nome. Nós e a obsessão em querer dar nome a tudo. É assim que compreendemos as coisas. Então porque demoramos tanto a dar um nome a nós? Aceitamos a certeza de ser incertos e ignoramos a astrologia que nenhum acredita. E mesmo assim invejamos as luzes do céu que visitam o monte. A magnitude que nos proporcionam. Vastidão. Imensidão. Palavras que não descrevem a grandiosidade do que existe, sem nos impedir de tentar. E, portanto, temos o infinito. Uns maiores do que outros. E inventamos matemática. Imaginamos números. Criamos condições para validar a existência do impossível, tentando definir o sempre que acaba por falhar. E o nunca a acontecer num dia de só-nunca-de-manhã enquanto a vaca canta, ou tosse. De tarde não. Sou mais pássaro que madruga do que mocho que atormenta as nuvens à noite. E as estrelas. Não tenho a classe mística de uma coruja. Serão familiares? Sempre as confundo, mas se fosse pássaro não sei se parava de voar. Quanto tempo passaria até me aborrecer da liberdade? Quanto tempo até perder o gosto, invejando o mar? Podem os pássaros comer queijo?
Estamos abençoados com a condenação de existir. Condenados com a bênção de continuar. Qual o que se aplicar melhor a nós, ainda estou para descobrir.
18 | 10 | 2024 | sótão
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godrigues · 2 months ago
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Deixaremos de procurar sempre a validade de existir?
[sobre “E então? Já sabes o que é? Já sabes a etiqueta? Talvez agora não te queiras definir. Talvez ainda não o saibas. Mas deixa estar. Eu também não.” em 01|2016]
Se o que me define está sempre a mudar, devia deixar-lhe esse poder? Devia defender o que se mantém constante? Será apenas isso a definição? O aguçamento das linhas que se sobrepõe pelos anos dos ponteiros. É o que quero atingir? O que quero fazer? E porque é que o quero fazer? Terminarei as frases e as fases da lua por teimosia como algumas séries que já não me respondem, ou aceitarei mudar-me com a definição das marés por já não caber a peça? Somos plasticina. Volto a essa ideia. Mas mantenho a cor. Os tons. As paletes. Mantenho a consistência de um caos estável na minha busca pela definição. Por um propósito que recuso divino e aceito imperfeito. Humano. Cru. Defino-me como carne. Defino-me com pensamentos e ideias e histórias que semeei e continuam a brotar novas folhas mesmo que nem sempre as regue. Sou isso. A resiliência de uma teimosia que sobrevive ao deserto. Uma suculenta macia que perde parte de si para ganhar outras. Morro e volto. Caio e regresso. Faço o luto pelas partes de mim que fui perdendo e tremo pela novidade de todas as novas que aí vêm. Todas as que desconheço. Todas as que são e serão, ainda, definidas em mim.
Há oito anos debati-me pelas palavras do que isso significava para mim. O que me define. Como quero que se lembrem de mim, e o medo paralisante de desaparecer na memória de quem nunca me conheceu. E se o meu valor intrínseco dependia disso. Quase uma década depois ainda não tenho as respostas, mas acho que arranjei forma de não serem essenciais ao meu passo. De não me pesarem tanto a mochila que carrego agora. Neste momento. E não a perspetiva do que terei. Do que me definirá. Da verdade inquestionável que por muito que eu tente, não controlarei os pedaços de mim que sobrarão nos outros quanto partir.
Sem hábito, tento-me acomodar à aparente maturidade. Se lá não chegar, hoje sei que vou menos chateado.
11 | 10 | 2024 | sótão
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godrigues · 3 months ago
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sim, ando a beber mais água
Por vezes fico simplesmente abismado pela complexidade da existência. Do mundo. De todas as combinações e interconexões de todas as vidas em todos os seus diferentes tempos de prazo. Prazo, sim, apesar da ingratidão das sílabas. Deixaremos todos de existir, pelo menos nesta forma. Cada um de nós coleciona um conjunto particular de expectativas consequentes de uma existência condicionada à aldeia em que crescemos, seja de acordo com as linhas que desenham nas ruas, seja contra elas. Contra o espaçamento evidente de uma visão que naufragou para ondas que não são nossas. Somos o que nos rodeia, e aquilo que nasceu connosco, e frequentemente me debato sobre aquilo que mais nos pesa. Se estamos irremediavelmente condicionados ao ambiente, ou se há escondido na nossa bíblia genética o porquê do nosso gosto musical, da preferência pelos salgados, ou do especial conforto pelas cores do mar. Reconhecendo em mim o peso da nostalgia, que desde cedo se decidiu empregar na minha matriz, que razão se justifica quem nunca o viu, e lhe tem sede? O quanto de nós está influenciado pelo acaso das mutações? O quanto de nós está predestinado nos segredos do mundo que dizem estar escondido no nosso DNA? Quando se define a nossa inteligência? A nossa capacidade? A nossa fome? Somos fortes o suficiente para contrariar as profecias que nos atribuem, mesmo não as sabendo de cor? Talvez o façamos todos os dias. Talvez sejamos deuses de nós próprios, esculpindo-nos em volta daquilo que nos compõe o núcleo, e desafiando as sementes mais escondidas por lhes prestar mais tempo de rega. E atenção. E é complexo. A frustração de não conseguir conceber na sua totalidade a ramificação como as árvores de habilidades dos jogos que tanto me impressionam, e tanta pena tenho de não completar a cem por cento. Se calhar é por isso a minha insatisfação com tantas partes da minha vida. Esta obsessão. Compulsividade anancástica. A insatisfação de não poder ter tudo. Desenvolver tudo. Todas as habilidades. Todas as complexidades de existir. Mas talvez seja melhor assim. Talvez seja demasiado para os meus circuitos conseguirem aguentar. Um mecanismo de defesa bordado em ponto cruz. Pregam-me na cruz enquanto me pregam as linhas do desenho que devia seguir. Antes de fugir. Como se a complexidade que nos compõe nos permitisse seguir todos a mesma forma de existir.
04 | 10 | 2024 | sótão, ainda
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godrigues · 3 months ago
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dos rascunhos, depois de um não
É um murro na barriga. Fria estima em queda sem engate. Trajo o orgulho racional, sem o gancho Da força que defendo pelo sangue que espalho, e mancho Enquanto refugo-me no queijo, e no chocolate.
Dizem que faz crescer. O não num tabuleiro que nunca sei jogar. Se mexo a torre, ataca-me a bisca sem trunfo, Tenho o naipe certo, mas fora de jogo o triunfo De um manual que tenho guardado, mas não sei onde o encontrar.
Pondero os horizontes, O sono repara o coração. É mais do que um ego ferido, magoado, Mais do que um prestígio, um capricho elaborado. É amizade, amor, compromisso e exasperação.
Perco dinheiro, por não o verem na carteira? Estou atrasado, se não me querem em tempo que fadiga? Volto às letras. Revejo os objetivos. Se a meta vale a pena, vem. Vá. Eu aguento mais um murro na barriga.
27 | 09 | 24 | sótão
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godrigues · 3 months ago
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Quantas vezes choraste no último mês?
[sobre “would I be who I am without the sadness in me?”, de Bastille]
És do sortudos que se desconforta com a questão e a descarta pois não te lembras de facto da última vez que regaste as bochechas, ou já percebemos como adultos que isso não é sorte? Nem tabu. Nem fraqueza ou excesso de compaixão. Eu costumava apontar, entre o meu jeito roçando a obsessão com quadrados e cor em tabelas de Excel. Vi nas redes sociais. Mas mesmo antes disso, ainda na faculdade o tinha feito por uma vez. Um diário de enxaquecas, mas com lágrimas. Um registo de tensões, num tom qualitativo. Uma glicémia em jejum em versão humor. Mas não era comédia. Não era filme sequer. E como a ausência de resultados é um resultado por si, a conclusão acoplou-se ao nada. Ou então foi o que transformei verdade, no balancé entre o conhecimento de causa, o conhecimento da causa, e a naturalidade das emoções. Talvez não tão divertidamente. Concluí que não era assim tanto. Os dias tristes cortavam os dias mais felizes e em média ficava um “meh” generalizado e familiar. Como uma pizza grande que não deixam escolher às metades, mas que até vem bem composta. Muitos ingredientes. Muitas cores. Mas porquê então esta constante perspetiva volátil? Porque é que nos dias azuis parece tão difícil sentir que os temos tido de outra cor? E eu até gosto de azul. Traz-me o mar. Traz-me a água. Traz-me o céu aberto pintado em algodão doce. Serão os parafusos a destabilizar a madeira no balanço, ou é ressaca por um comprimido da felicidade que nunca aceitei?
Há uns tempos, num dia com uma cor diferente e mais carregada escrevi as veias num texto similar. Talvez em breve me sinta longe o suficiente dessa cor para o partilhar ao mundo. Mas hoje ainda me sinto perto do espectro. Admirando a íris. E não há pote de ouro no final do arco. Não é essa a riqueza que me enriquece. Mas foram três? Meia dúzia? Mais? A vergonha já não me arrefece. Tem sido mais fácil a liberação de uma descarga acumulada. Um pote a transpirar a espuma da massa. Um estalido nos ouvidos depois da subida. Uma barriga acalmada pela expulsão do gás. Mas então a consciência. E então a tensão, e a dúvida da validez do nosso ato. Como se de um ato nefasto se tratasse, mesmo que na minha cama.
Quantas vezes chorei? A inocente e ingénua experiência de viver diz-me que foram tantas quantas as vezes que ri. E se ainda não estiver equilibrado, é só dar tempo. O universo tem este seu jeito particular de se equilibrar na entropia. Afinal de contas, foi só mais um dia. E eles existem de todas as cores.
20 | 09 | 2024 | cama do sótão
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godrigues · 3 months ago
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O precipício é sempre maior visto de cima.
Guardo bolachas nas gavetas debaixo da televisão e achei que já não me incomodava. Jogo tetris no frigorífico entre tupperwares e cincos tipos diferentes de queijo embora não os assalte diariamente. Tenho um caderno azul na mesa de cabeceira a lembrar o meu punho que já gostou de escrever a caneta. Agora cansa-se. Canso-me. De ver as caixas de cartão e todos os bonecos e letras dos jogos que acumulo sem poder ao certo receber a casa. Receber em casa. Já fui do povo, agora não sei a quem pertenço. Se ao familiar vento que arrebata o mar contra a capela, se à novidade dos caminhos que são mais difíceis de encaixar. Estamos gastos pelos dias que deixamos de contar. Como as cruzetas no guarda-fatos, que até é grande. Comprei mais gavetas, daquelas que se penduram. Não contam se não tocarem no chão. Capitalismo. Consumição. Gosto de ver as diferentes cores dos diferentes bonecos das diferentes memórias que me constroem, diferente. Recuso-me a estragar mobília neste espaço temporariamente mais extenso que o planeado. Ainda não larguei os planos. Ainda não aprendi. Talvez não seja tão inteligente como me ache ser. Ou não seja o que ache saber.
Fui do povo. Agora já não sei, mas ainda o tenho. Comigo, nas peças que espalham a boa nova pelo mundo. Nas sementes que se multiplicam pelos genes. Nas metas cruzadas anunciadas no privado de uma cumplicidade ainda nua. Celebra-se a nudez da alma. Não há pudor, apenas a dor que partilhamos. Apenas o amor que celebramos. O que desenhamos na nossa forma geracional de contrariarmos a corrente. Contrariarmos o que nos foi deixado. Aceitamos a herança, mas reconhecemos as rachas por onde entra a humidade. Não fechamos os olhos. Isso não demonstra respeito. O orgulho leva-se ao peito, e não pelos sussurros nos bancos de jardim. Não ao preconceito.
Abro o esterno. Escorre o sangue, interno, e dou mais um pedaço para o povo morder. Serei ainda do povo se não confiar que não o vou perder?
13 | 09 | 2024 | sótão
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