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resenhando-sorrisos · 9 years

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Assinado: Respeito.

Creio que uma das maiores dificuldades de uma pessoa, principalmente quando chega a adolescência, é lidar com um mostro de cara feia chamado sexualidade, pois ninguém está preparado para sentir tantas oscilações de humor e o despertar do "próprio eu" que todos nós temos dentro da nossa mais profunda intimidade.

Dar de cara com as nossas fraquezas e não se encaixar no mundo dos adultos nem no mundo das crianças, faz com que pensemos: "Nada faz sentido!"

Não faz sentido estudar, pois não conhecemos nossos desejos tão a fundo para saber o que queremos fazer das nossas vidas!

Não faz sentido amar, pois aquela tal pessoa nem nos olha, então pra que irei abrir meu coração a esse ponto?!

Porém a maior questão de imaturidade em busca da maturação encontra-se no desejo.

Desejo de amar. Desejo de ser. Desejo de ter. Desejo de fazer.

Mas... e se o desejo vier errado?!

Afinal é errado sentir-se quente em frente a uma pessoa do mesmo sexo. Ou não?! O que meus pais irão dizer? O que irão pensar? Irão sentir vergonha de mim? Irão me bater? Me expulsar de casa?!

IRÃO ME ENTENDER?

E a pior pergunta de todas: Minha família ainda irá me amar se eu realmente for... gay?

O debate interno começa.

De um lado está "o certo" que é formado pelas regras que a sociedade nos impõe e o que nos achamos que nossa família quer de nós.

Do outro lado encontra-se "a dúvida", sendo gerada pelo nosso corpo que reage ao ambiente, a mídia e o mais difícil: Ao nosso próprio desejo. Porque no fundo, sempre sabemos a verdade.

A cruel e dura verdade que nos estapeia no rosto e chuta nosso peito.

A verdade é que todos nós, gays, lésbicas, transgêneros, transexuais e bissexuais, queremos apenas uma coisa: respeito. Como todas as outras pessoas do mundo.

Em vista que nesse mundo cruel e amargo com pessoas sádicas e selvagens, não ter o respeito da família é, no mínimo, angustiante. Afinal, todos nós vamos sofrer nas mãos dessas pessoas ríspidas e ignorantes! É lastimável quando se olha ao redor e a única coisa que vê é que está sozinho.

Todas as pessoas que são "diferentes" do que a sociedade espera, irão sofrer. E todas elas sabem disso! Todavia... porque começar a sofrer com a recusa da família?! A família não é sinônimo de carinho, amor, atenção e o mais importante, respeito?!

Quando uma mãe diz para o filho que não o aceita e não irá o amor mais se for do jeito que ele é, não fere apenas aquele filho! Fere todos os outros filhos que lutam contra esse mundo ignorante. Ao mesmo tempo que sempre que um filho é morto por ser quem é, ele não fere só o coração da mãe que o perde e sim de todas as mães que perderam os filhos pelo mesmo motivo!

O motivo? Ignorância.

Ignorância não é o mesmo que burrice. Ignorância não é o mesmo que idiotice. Não é o mesmo que retardo!

Ignorância é repudiar alguém apenas por ela ser o que sempre foi. Ninguém escolhe como vai nascer. Ninguém escolhe a família que irá nascer. Ninguém escolhe a sexualidade que terá.

Aliás quero deixar os meus sinceros desentendimentos! Para que tantos rótulos?!

Cada um tem uma denominação, é claro. Não é à toa que cada um é único no seu próprio modo de ser. Porém esses rótulos geram conflitos. E conflitos nos deixa ignorantes.

Percebam que coloquei "deixa" e não "faz" ignorantes. Porque a ignorância é um estar e não um ser.

Ninguém nasce ignorante.

Somos pessoas! Todos temos defeitos. Físicos ou de caráter ou até mesmo psicológicos. Mas escolher ser quem você é e amar quem você realmente ama, não é um defeito. E se uma mulher ama outra mulher ou um homem ama outro homem ou até mesmo se um homem quer mudar seu corpo para ficar parecido com um mulher ou se transformar em uma, o que isso gera de diferente? Todos continuam sendo uma pessoa. A única diferença é sua sexualidade.

E o que a sexualidade influência no modo em como devemos respeitar uma pessoa?!

A resposta é simples. Nada.

A única coisa que deve influenciar no modo que respeitamos uma pessoa são os atos impostos por ela mesma!

Alguém em sã consciência prefere uma filha ladra do que uma filha lésbica?

Alguém com plena razão escolheria um filho assassino do que um filho transexual?

A diferença da resposta será: a filha lésbica mantém seus estudos, ajuda nos afazeres de casa, não usa drogas e nem bebe. E o filho transexual é um trabalhador pacato e honesto.

Se precisa refletir sobre a resposta, por favor, repense os motivos de tanto rancor ou receio!

Além de repensar, eu imploro, reflita sobre suas crenças.

"Eu não criei filho para ser gay!"

A criação apenas aflora aquilo que internamente, somos.

Ontem fui um rapaz com olhos puxados que precisa usar óculos mas tem medo de quebrar por apanhar pois é delicado demais para ser um homem. Eu amei.

Hoje sou uma mulher branca que usa óculos e não se encaixa em algumas exigências da mídia, como ser magra. Eu amo.

Amanhã, serei uma travesti negra que trabalha e sonha em ser enfermeira. Eu amarei.

E eu não entendo o porque "amar" não é direito de todos?!

O amor não é diferente e nem igual para cada pessoa. O amor é amor. Apenas consegui sentir!

Eu amo. Amo ter nascido assim, como sou. Não quero mudar! Não quero ter medo de ser como eu sou, como sempre fui!

Eu sou apenas uma pessoa tentando lidar com a vida adulta, com perdas, falhas, tristezas e alegrias.

Eu sou a justiça. Eu sou a moral. Eu sou a imparcialidade.

Sou e fui criado apenas para um fim: ser feliz.

Porque é isso que todos querem.

Então porque apenas alguns "podem" ter isso que é nosso direito!?

Eu tenho direito de ser feliz. Assim como você, mãe. Assim como você pai. Assim como você que criou um filho para ser feliz. Não importa se ele é gay ou hetero.

Porque uma mulher culta e madura me disse uma vez:

"Criei você para o mundo. Para vivê-lo e para mudá-lo. Apenas para melhor."

E enquanto eu estiver buscando a minha felicidade, quero melhorar tudo que posso.

Melhorar o mundo. Melhorar as pessoas.

Permitam se melhorar. Não apenas mudar!

Mude seus conceitos se isso significa seu filho saudável e feliz invés de triste ou até pior... morto.

Pois a morte realmente muda todos. E não com o mesmo carinho que se tem pela família.

E digo isso porque aprendi com amor. Não precisei apanhar do mundo muito menos da minha própria família.

Obrigada mãe, por me ensinar a amar, a respeitar, a viver e o mais importante: me defender.

- Beatriz Lopes

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