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Um Estudo da História e Evolução da Lei Islâmica
Um observador atento ao discurso predominante sobre a shari‘a hoje, mas desavisado da complexidade conceitual e histórica, pode ter a impressão de que a shari‘a é uma coleção determinada de decisões que podem ser aplicadas ou negligenciadas, ou que é uma coleção de regras com características claras que podem ser reconhecidas intuitivamente ou pela inteligência nativa, como se fosse um código de lei ou pelo menos uma coleção de princípios gerais, cujas chaves podem ser obtidas dos guardiões da shari‘a, dos quais existem muitos hoje, formais ou informais, e em competição, os ulama. A realidade histórica, no entanto, não mostra que havia material original da shari‘a, mas práticas lembradas em várias extensões e de várias maneiras se tornam material da shari‘a pela tradição. A shari‘a tem uma história. Talvez suas primeiras histórias se referissem às relações entre partes do Quran. A regulamentação da herança e do casamento temporário no Quran não foi o resultado das mudanças de uma interpretação do texto para outra, mas o resultado de mudanças políticas e sociais que levaram a uma mudança nas qualidades e sentidos atribuídos ao texto. Versículos diferentes e contraditórios do Quran foram usados como justificativa para julgamentos contraditórios sobre o status de terras conquistadas que nos dias do Profeta eram consideradas espólio de guerra e como fay’ (o que por direito pertencia a Deus e consequentemente aos muçulmanos coletivamente) nos dias de ‘Umar. Este é um desenvolvimento natural na constituição social e política dos textos. A história inicial da shari‘a é responsável por apenas uma pequena parte das decisões que se acumulariam com o passar do tempo – nem todas inequívocas – relacionadas a punição, família, devoções, contratos e muito mais. A história social da lei muçulmana ainda está em suas fases iniciais de pesquisa, mas houve muito progresso nas últimas décadas. Grande parte dessa história real se relacionou discursiva e historicamente ao hadith, que permaneceu efetivamente fora do escopo da crítica histórica. É verdade que, como Ibn Khaldun disse, al-Bukhari e Muslim coletaram hadith que alcançaram reconhecimento prático na legislação, enquanto al-Tirmidhi e os autores dos seis livros de hadith canônico coletaram as tradições que eram acionáveis. Fakhr al-Din al-Razi observou corretamente que al-Bukhari e outros não tinham acesso ao conhecimento do invisível, e coletaram tradições usando julgamentos da melhor forma possível. O máximo que se podia fazer, assim era sustentado, era pensar bem dos coletores de hadith e dos Companheiros do Profeta, que às vezes amargamente, e ocasionalmente mortalmente, minavam uns aos outros. Essas declarações destacam um dos fatos mais importantes conectados ao hadith quando considerado como fonte da shari‘a: a autenticidade dos textos do hadith e a qualidade vinculativa das regras que podem derivar de sua exemplaridade não são propriedades internas dessas enunciações baseadas em autenticidade histórica probatoriamente verificável, mas sim de sua atestação por meio do que as tradições muçulmanas chamam de consenso (ijmā‘), que era basicamente uma certificação política e não cognitiva. A atestação da validade do hadith é derivada de uma atestação da validade de sua transmissão. A veracidade do hadith, portanto, atesta a autoridade que controla a herança, com base em um consenso passado autoatestado e autoautorizado, sem que este ijmā‘ em si seja autenticado historicamente.
Por esta razão, Razi acrescentou que ele rejeitou relatos que contradizem o que ele presume ser verdade sobre o Profeta e figuras relacionadas. O Profeta, portanto, se torna uma figura de profecia conforme determinado teologicamente e doutrinariamente, em vez de uma figura da história. Pela mesma razão, os ulama, incluindo os principais críticos do hadith, indicaram a necessidade de privilegiar a certificação de testemunhas (ta‘dil) sobre sua censura (jarh): “se abríssemos este capítulo ou priorizássemos a censura sem limites, nenhum mestre [imam] emergiria intacto.”
A autenticação do hadith é baseada na autoautenticação de uma tradição e essa herança é incorporada a todo momento naqueles que a carregam e transmitem: a instituição religiosa e legal que existe nas formas de madrasas, escolas jurídicas (madhāhib) e os ofícios legais e devocionais ocupados pela sodalidade ulama coletivamente. Este é o intermediário entre Deus e as fontes da shari‘a, exercendo autoridade em virtude do conhecimento da shari‘a e controlando a shari‘a por seus atos contínuos de verificação e autenticação: um ritual de repetição, com recompensa devocional. Talvez a posição inflexível de Abu Hanifa (m. Bagdá 767) em questões de hadith e sua relutância em aceitar seus textos indicasse não apenas sua preferência por opinião considerada em vez de hadith atestado, mas, de forma mais geral, indicasse prova da fraqueza congênita do hadith como uma raiz da shari‘a cujas decisões eram, na realidade, baseadas em opinião considerada, preferência, costume e outras práticas. Posteriormente, a legislação foi reformulada como shari‘a com uma base principal em hadith, tendo a autoridade para anular o Quran – esta foi a contribuição marcante e duradoura de al-Shafi‘i (m. Cairo 767) aos princípios da jurisprudência muçulmana. No caso deste último, os princípios da jurisprudência eram, em sua relativa generalidade e abstração, congruentes com a unidade legal e cultural decorrente das condições do emergente contexto imperial abássida. A jurisprudência havia sido composta anteriormente de práticas sírias, iraquianas e de Medina, decisões ad hoc e uma Sunna Profética em processo de construção. As tradições locais tornaram-se hadith, e o consenso confirmou esta atribuição, tornando-se o hadith uma tradição legal, redigida nas coleções canônicas e pré-canônicas (sihah e masanid).
Assim como a legislação baseada no Quran tem uma história, como a legislação baseada em hadith, duas histórias obscurecidas pela jurisprudência que atribuem suas tradições a começos postulados como tais, assim também a história da jurisprudência muçulmana é construída para ser baseada nesses começos, conectados por analogia (qiyās), entre julgamentos legais individuais e sua origem ostensiva, construída como norma vinculativa, norma no Quran e hadith. A analogia não é uma operação lógica demonstrativa baseada em princípios gerais, cujas discussões podem ser encontradas na epistemologia jurisprudencial que normalmente prefacia, longamente, obras dos Princípios da Jurisprudência (‘ilm usūl al-fiqh). Qiyās envolve conectar uma origem ostensiva chamada asl, seja um princípio normativo, precedente exemplar ou uma máxima, com um caso específico (“ramo”: far’) e transferir julgamentos deriváveis do primeiro para o último.
Secularism in the Arab World: Contexts, Ideas and Consequences - Aziz Al-Azmeh
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Iazul
Em nome de Allah, Clemente e Misericordioso! Viveu, outrora, na Pérsia, meio século depois de Timur Lenk, um Príncipe, generoso e bravo, que se chamava Shack Bock. Afirmam historiadores altamente abalizados que esse glorioso Emir tinha, em sua imponente corte, um sábio, mestre e conselheiro, cuja nobre função era orientar o monarca em suas decisões, esclarecê-lo em suas dúvidas e corrigi-lo em seus erros e injustiças. Esse ulemá, judicioso e previdente, chamava-se Ismail Hassan, e era, pelos nobres muçulmanos, apelidado o Saryh (aquele que é sincero).
Um dia muito cedo, logo depois da prece da madrugada, prece do ritual que os árabes denominam sobh, o Príncipe mandou que viesse à sua presença o douto conselheiro da corte. Fazia todo o empenho em ser urgentemente elucidado sobre um caso que se apresentava enrodilhado pelo mistério.
Sem perda de tempo, o ilustre Ismail, o Saryh, deixou os seus aposentos, e foi ter ao luxuoso divan (sala de audiências) do soberano persa. O que teria acontecido? Que caso, assim, tão grave, intrigava o Rei? O monarca parecia pálido. Em sua fisionomia morena surgiam, tracejando linhas incertas, as sete rugas da intranqüilidade.
Depois das saudações habituais, sem mais preâmbulo, disse o Emir ao judicioso Ismail:
— Acabo de receber, do Khorassan, este pequeno cofre, encontrado pelos meus agentes secretos, entre os despojos do infeliz e estouvado Khalil, senhor de Candahar. Dentro desse cofre vinha, apenas, esse singularíssimo anel de ouro. Desconfio que se trata de jóia raríssima, que pertenceu ao grande Timur Lenk. Como poderei descobrir o enigma que envolve esse anel?
E o Príncipe, estendendo a mão, entregou ao douto Ismail o misterioso anel de Candahar. Ismail, o sábio (Allah, porém é mais sábio!), examinou detidamente a jóia, virando-a e revirando-a na palma da sua mão. E depois de refletir, em silêncio, durante algum tempo, assim falou ao Príncipe, seu amo e senhor:
— Julgo-me capaz de esclarecer esse mistério. Afirmo que uma das peças mais valiosas do tesouro persa acaba de chegar às vossas mãos. Este anel é o precioso e tão ambicionado anel mágico, que pertenceu ao invencível Timur Lenk, o Perseverante (que Allah o tenha entre os eleitos!). Como podeis ver, este anel, no rico escudo em forma de tâmara, ostenta, em letras bem talhadas, a palavra tão bela e sonora: - Iazul.
Sim, sim – confirmou o Príncipe, muito sério – já o havia notado. No escudo, entre dois brilhantes pequeninos, lê-se a palavra Iazul. O mistério, a meu ver, permanece. O que significa, afinal, Iazul?
O sábio Saryh ergueu o rosto e, discorrendo em tom pausado e claro, explicou:
— Cumpre-me dizer-vos, ó Rei do Tempo!, que Iazul é uma palavra mágica, de alto e misterioso poder. Asseguro que é a palavra mais expressiva e eloqüente entre todas as que figuram no riquíssimo vocabulário persa. É mágica, repito. Reparai bem: Tem o dom de nos tornar alegres, quando estamos tristes, e de moderar as nossas alegrias, nos momentos de extrema felicidade e ventura.
Singular, muito singular – refletiu o Rei. - É, realmente, de alta magia, essa palavra que transforma as alegrias em preocupações, e que consegue aniquilar, ou pelo menos conter, as mágoas e tristezas que pesam em nosso coração!
E, fitando gravemente o sábio, acrescentou:
— Mas insisto em perguntar: O que significa essa palavra Iazul? Como podemos traduzi-la? Respondeu o eloqüente e esclarecido ulemá:
Iazul, ó Rei!, dentro da sua espantosa simplicidade, significa, apenas Isso passa! Ou ainda: Tudo passa! Quando o homem atravessa períodos de felicidade, de alegria cor-de-rosa, de sorte e tranqüilidade, deve pensar no futuro e ser comedido em suas expansões, sóbrio em suas atividades. Convém que o afortunado não esqueça: Iazul! (Isso passa!), a roda do Destino é incerta; a vida é cheia de mudanças. Há ocasiões, porém, em que nos sentimos anavalhados pelos sofrimentos, pelas enfermidades, feridos pelas desgraças, caminhando sob a nuvem da má sorte, da ruína e atingidos pelos golpes imprevistos do infortúnio. Para que o ânimo volte ao nosso espírito, proferimos, cheios de fé, fortalecidos de esperanças: Iazul! (Isso passa!). Sim, tudo passa! Virão dias melhores, dias calmos, dias felizes; a prosperidade e a boa sorte voltarão a iluminar a nossa jornada; a saúde será reconquistada; a serenidade procurará pouso em nosso atribulado coração!
E, depois de ligeira pausa, o sábio concluiu:
— E, assim, ó Rei!, posso afirmar que Iazul, a palavra contida no pequeno escudo deste anel, é mágica! Alivia e abranda as tristezas dos infelizes; controla e arrefece as alegrias alucinadas dos exaltados!
Ao ouvir as eloqüentes e judiciosas explicações do velho ulemá, o Rei tomou o anel, colocou-o no dedo indicador da mão esquerda e disse, serenamente:
— Que notável, interessante e proveitosa lição recebi hoje! Conservarei comigo este precioso anel. Jamais esquecerei em todos os momentos culminantes de minha vida, no meio de estonteantes triunfos, ou sob o guante da desgraça, de recorrer ao eterno ensinamento contido nesta palavra mágica: Iazul!
Quero, ó irmão dos árabes!, terminar esta lenda exatamente como a iniciei: Esquece, pois meu amigo, esquece, por um momento, as tuas tristezas e aflitivas preocupações; livra-te desta angústia instilada em tua alma pelas incertezas da vida, senta-te, aqui a meu lado, e escuta, com religiosa atenção a palavra mágica: Iazul!
E vale a pena repetir: Iazul! Iazul! Isso passa! Isso passa!
Iazul, Malba Tahan
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Al-Fatihah: 7 (Al-Tafsír al-Muyassir)
[EN-US] – From the book ‘The Simplified Tafseer’
{The Path of those upon whom You have bestowed favor, not of those who have evoked (Your) Anger or of those who are astray}: The Path of those upon whom You have bestowed favor from the Prophets, the truthful ones, the martyrs, and the righteous ones, for they are the people of guidance and standing straight, and do not make us from those who seek the path of those upon whom is the Anger (of Allah), those who knew the Truth and they have not practiced it – and they are the Jews and those who were upon their likeness –; and those who are astray, and they are those who did not guide (themselves) so they deviated from the Path – and they are the Christians and those who follow their ways.
And in this supplication (du’a) there is cure for the heart of the Muslim from the sickness of ingratitude, ignorance, and deviation, and there is proof that the greatest favor is absolutely the favor of Islam, so whoever knew the truth and followed it, is the first to the Straight Path. And there is no doubt that the Companions of the Messenger of Allah ﷺ are the first of people in that, after the Prophets عليهم السلام. So, the verse proves their excellence and their great status رضى الله عنهم.
And it is encouraged that the reciter says in prayer, after the recitation of al-Fatihah ‘Âmeen’, and the meaning of it is ‘Oh Allah! Answer (the supplication)’. And it is not a verse from surat al-Fatihah by the agreement of the scholars. And for this reason, they unanimously agreed to not write it down in the mus-hafs.
[PT-BR] – Do Livro ‘O Tafsír Simplificado’
{À Senda dos que agraciaste; não à dos incursos em Tua ira nem à dos descaminhados}: A Senda daqueles que Tu agraciaste dentre os Profetas, os verazes, os mártires, e os piedosos, pois eles são o povo da guia e da retidão, e não nos faça dentre aqueles que seguem o caminho dos incursos na ira, aqueles que conheceram a Verdade e não a praticaram – e eles são os judeus e aqueles estiverem na sua similitude –, e os descaminhados, e eles são aqueles que não se guiaram, então eles se desviaram do caminho – e eles são os cristãos e aqueles que seguem os seus caminhos.
E nessa súplica (du’á), há cura para o coração do muçulmano contra a doença da ingratidão, da ignorância e do descaminho, e há prova de que o maior favor absolutamente é o favor do Islam, pois quem quer que conheça a Verdade e a segue, ele seria o primeiro na Senda Reta. E não há dúvida que os Companheiros do Mensageiro de Allah ﷺ são os primeiros das pessoas nela, após os Profetas عليهم السلام. Portanto, o verso prova a excelência deles, e o seu status elevado رضى الله عنهم.
E é encorajado ao recitador que ele diga na oração, após a recitação da
Fatiha: ‘Âmîn’, e o seu significado é ‘Ó Allah, responda. E ela não é um verso da Surah al-Fatiha de acordo com os ulemás, e por isso eles concordaram que ela não é escrita nos mus-hafs.
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Preciosos Manuscritos Escritos preciosos estão ameaçados de decomposição e de pilhagem por traficantes
Em Timbuktu, a descoberta progressiva de antigos manuscritos, dentre os quais alguns datados do século XIII, está em vias de se tornar uma referência histórica importante para toda a África.
Durante o período colonial, as famílias de Timbuktu, que tinham o hábito de colecionar bibliotecas particulares constituídas por manuscritos em pergaminho, decidiram esconder seus livros, para evitar a pilhagem. Por isso, as obras passaram os últimos séculos escondidas. Os manuscritos foram enterrados, escondidos no fundo de poços ou levados para longe, em grutas ou no deserto do Saara. Desde 1964, a Unesco lançou um apelo para recuperar e reunir esse precioso acervo. A partir dos anos 90, parte dele começou a aparecer (cerca de 200 bibliotecas particulares), e vem sendo alvo de projetos de preservação e conservação.
Mais de 15 mil documentos já foram exumados e catalogados sob orientação da Unesco. Outros 80 mil jazem ainda em algum lugar, em baús ou no fundo de celeiros da cidade mítica. Esses escritos preciosos, que fizeram a glória do vale do rio Níger entre os séculos XIII e XIX , estão ameaçados de decomposição e de pilhagem por traficantes.
Obras raríssimas, escritas em língua árabe, por vezes no dialeto fula (peul), por eruditos originários do antigo império do Mali , circulam pela Suíça, onde são alteradas e depois oferecidas a colecionadores que disputam sua posse. Chefe da missão cultural de Timbuktu, Ali Uld Sidi não esconde sua preocupação: “Os manuscritos cujos depositários são os habitantes devem ser identificados, protegidos e restaurados, caso contrário Timbuktu será privada de sua memória escrita. É uma memória que quem guarda nem imagina o valor”.
Frágil tesouro Para conhecer o conteúdo dos manuscritos, basta se aproximar de famílias que os guardam
O Cedrab recebeu como missão catalogar, proteger e restaurar os manuscritos encontrados. O papel é um suporte frágil: sofre com a umidade e o fogo; seca, quebra, rasga-se e acaba em poeira. Os cupins o adoram. O ministro da cultura, xeque Omar Sissolo, especifica: “Por não poder recuperar a totalidade desses manuscritos, procuramos estimular a criação de fundações particulares que permitam reconstituir rapidamente acervos de origens familiares; é o melhor meio de responsabilizar os cidadãos e ao mesmo tempo proteger esse tesouro”.
Pois a maioria desses misteriosos manuscritos pertencem a particulares. Para conhecer o conteúdo deles, basta se aproximar de famílias que nos acolhem de braços abertos. Por exemplo, Ismael Diadé Haidara, que encontramos diante de seu computador com o qual escreve livros de filosofia e de história, como Les Juifs à Tombouctou. Os judeus desempenharam um papel importante no transporte do ouro do Sudão para a Espanha cristã. Foi por meio deles que um dos pais da cartografia, Abraham Cresques (1325-1387), judeu das ilhas Baleares, cuja família emigrou do norte da África no início do século XII, teve conhecimento de Timbuktu, que era ligada ao norte da África por caminhos cujos portos eram habitados por judeus. Leon, o Africano, desde a primeira metade do século XV, menciona a presença de judeus no reino de Gao.
Saber medieval Graças a alguns tradutores contemporâneos, todo um afresco africano remonta à superfície da história
A descoberta desses manuscritos dá à África subsaariana o substrato histórico que lhe foi negado durante muito tempo e do qual se começa a perceber a importância. Como uma resposta aos trabalhos de um grande historiador senegalês, o xeque Anta Diop, ela destaca a profundidade espiritual da África pré-colonial. Mostra também que a riqueza dessa região foi construída ao redor de uma dinâmica comercial ���trans-tribal” da qual o Islã foi o desencadeador, e os ulemás, por sua aptidão para o ensino de “massa”, os realizadores.
Daí resultou uma espécie de continuum cultural a partir do qual a dimensão mística se consolidou sobre heranças mais ou menos estruturadas, até a chegada dos portugueses no século XV. O xeque Dan Fodio (1754-1817), por ter se inspirado em seus predecessores, em particular Ahmed Baba, confirma em suas memórias que, até a chegada dos europeus, “o pensamento africano cultivava o amor de um islã aberto para o universal que se distinguia muito nitidamente daquele observado no mundo arabo-muçulmano”. Constatação confirmada no início do século XX.
Do deserto para a internet Os importantes manuscritos do Timbuktu, datados dos séculos XV a XIX e descobertos nos últimos anos, estão sendo digitalizados e colocados na internet
De Timbuktu até aqui, revertendo a famosa expressão, as palavras escritas do lendário oásis africano estão sendo entregues via caravana eletrônica. Um carregamento de livros e manuscritos, alguns apenas recentemente resgatados da decadência, foi digitalizado para a internet e distribuído para acadêmicos por todo o planeta.
São trabalhos sobre leis e história, ciência e medicina, poesia e teologia, relíquias da era dourada de Timbuktu como uma encruzilhada em Mali para troca por ouro, sal e escravos ao longo do limite meridional do Sahara. Se o nome é agora sinônimo para uma distância misteriosa, a literatura declara que seu papel anterior era o de um vibrante centro intelectual.
Nos anos recentes, milhares destes livros amarrados em couro e frágeis manuscritos foram recuperados de arquivos de família, bibliotecas particulares e depósitos. Os primeiros cinco dos raros manuscritos de bibliotecas particulares foram digitalizados e disponibilizados na internet para acadêmicos e estudantes no site www.aluka.org.
O projeto para colecionar os manuscritos digitais foi organizado pela Aluka, uma companhia internacional sem fins lucrativos dedicada a trazer conhecimento da e sobre a África para o mundo acadêmico.
Em parceria com um consórcio de bibliotecas privadas em Timbuktu e com o financiamento da Fundação Andrew W. Mellon (Andrew W. Mellon Foundation), a Aluka alistou técnicos em mídia da Northwestern University para projetar e montar um estúdio de fotografia de alta resolução em Timbuktu. Uma equipe local foi treinada para operar o estúdio.
Muitos documentos na graciosa caligrafia Arábica são um deleite visual. Embora a escrita seja em sua maioria em Arábico, alguns manuscritos trazem vernáculos adaptados para a escrita Arábica, o que com certeza representará um desafio para os acadêmicos.
“Os manuscritos de Timbuktu agregam grande profundidade ao entendimento da diversidade de história e civilizações da África,” diz Rahim S. Rajam, gerente de desenvolvimento de coleção da Aluka.
Pesquisadores têm sido atingidos pela gama de assuntos que atraíram os acadêmicos de Timbuktu por muitos séculos e adentrando o século XIX. A maior parte dos primeiros manuscritos digitalizados é do século XV ao XIX. Os tópicos incluem as ciências da astronomia, matemática e botânica; artes literárias; práticas e pensamentos da religião Islâmica; provérbios; opiniões legais; e explicações históricas.
“É um rico arquivo de literatura histórica e intelectual que está apenas começando a tornar-se mais amplamente entendida e acessível a um largo grupo de acadêmicos e pesquisadores,” comenta Rajan, que é especialista em estudos do Oriente Médio.
Enquanto não há substituto para consultar os manuscritos reais, diz Wallach, é melhor lê-los em sua forma digital. Muitas das páginas dos originais são tão frágeis que não podem ser manuseadas.
Mesmo que a Timbuktu contemporânea seja uma sombra opaca e poeirenta de seu renomado passado, vivendo principalmente dos poucos turistas ainda atraídos por seu nome e lenda, as páginas de sua história estão emergindo da obscuridade e, em alguns casos, sendo disseminadas à velocidade da luz.
Fontes: Biblioteca Diplo / Revista História Viva / Pesquisa Mundi
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CoronaVac recebe permissão islâmica de líderes religiosos da Indonésia
Os líderes religiosos da Indonésia anunciaram nesta sexta-feira, 8, que a CoronaVac foi considerada adequada para os muçulmanos. O imunizante, desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac, começará a ser aplicado no próximo dia 13, que é dono da maior população islâmica do mundo. A aprovação veio do Conselho Indonésio de Ulemás, que considerou a vacina “santa” e “halal”, palavra que se refere às ações e aos objetos permitidos pela religião. No entanto, a entidade aguarda o sinal verde da Agência Nacional de Controle de Medicamentos e Alimentos para emitir uma “fatwa”, ou seja, um decreto legal islâmico.
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O porta-voz do gabinete do vice-presidente do país, Masduki Baidlowi, anunciou que tanto a “fatwa” quanto a certificação de emergência para a vacina serão liberadas a tempo do início das vacinações no dia 13. Com uma população de 267 milhões de habitantes, a Indonésia vai priorizar os seus 1,3 milhão de profissionais da saúde na campanha de vacinação contra a Covid-19. Na sequência, serão imunizados 17,4 milhões de funcionários públicos. O governo está considerando adiar a vacinação dos idosos enquanto aguarda mais dados sobre a eficácia da CoronaVac neste grupo. Enquanto isso, a Indonésia continua sendo o país do sudeste asiático mais atingido pela pandemia do novo coronavírus.
*Com informações da EFE
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CoronaVac recebe permissão islâmica de líderes religiosos da Indonésia
CoronaVac recebe permissão islâmica de líderes religiosos da Indonésia
Os líderes religiosos da Indonésia anunciaram nesta sexta-feira, 8, que a CoronaVac foi considerada adequada para os muçulmanos. O imunizante, desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac, começará a ser aplicado no próximo dia 13, que é dono da maior população islâmica do mundo. A aprovação veio do Conselho Indonésio de Ulemás, que considerou a vacina “santa” e “halal”, palavra que se refere…
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MONSTRUOSIDADE: Líderes muçulmano diz que até bebês podem ser dadas como esposas
O líder máximo da linha ultra-conservadora do islamismo sunita da Arábia Saudita, Grão-mufti Abdul Aziz al-Sheikh, declarou de forma oficial que não há idade mínima para que os homens se casem com meninas. No Ocidente a prática seria vista como pedofilia e estupro. Casamentos arranjados entre o pai da noiva e o noivo são costumeiros entre os árabes.
Apesar dos esforços fracassados do ministério da justiça da Arábia para definir 15 anos como a idade mínima para o casamento, Abdul emitiu uma fatwa, espécie de decreto religioso. Como o grão-Mufti é presidente do Conselho Supremo do Ulema (estudiosos islâmicos), todos os seus ensinamentos tem força de lei no país governado pela sharia.
Na verdade, ele apenas repetiu uma fatwa de 2011 do Dr. Salih bin Fawzan, proeminente membro do mais alto conselho religioso da Arábia. Seu decreto afirmava que o casamento era possível, “mesmo se elas estiverem no berço.”
“Os ulemás concordaram que é permitido para os pais casarem suas filhas ainda pequenas. Mas não é admissível que seus maridos façam sexo com elas antes que sejam capazes de suportar sobre si o peso dos homens. Essa capacidade varia de acordo com a natureza de cada uma. Aisha tinha seis anos quando se casou com o profeta Maomé, mas ele só fez sexo quando ela tinha nove anos, ou seja, quando foi considerada capaz”, afirma o decreto, que cita ainda a sura 65 do Alcorão 65.
Mesmo entre os estudiosos islâmicos, o fato de Maomé ter se casado com uma criança é controverso. O especialista em Oriente Médio Raymond Ibrahim protestou em artigo no Middle East Forum. “As vidas de incontáveis meninas são devastadas todo ano por causa desse ensino”. Ele resgatou duas histórias recentes, de uma menina de 8 anos de idade que morreu na sua noite de núpcias, quando seu “marido” a estuprou. Também se referiu a uma menina de 10 anos de idade que fugiu de seu “noivo” de 80 anos e a família foi obrigada a devolvê-la.
As declarações feitas na Arábia sempre têm ampla repercussão pois o reino é o país onde fica a cidade sagrada de Meca. O site WND noticiou recentemente que homens ricos da Arábia Saudita estavam comprando meninas sírias nos campos de refugiados no Líbano e na Jordânia.
A maioria dos homens tem mais de 60 anos. Eles se aproveitam da lei sunita que permite o casamento temporário, e quando se cansam das meninas, muitas vezes as entregam a outros homens. Por cerca de 200 dólares eles conseguem noivas a partir de nove anos. Como as famílias dos refugiados estão desesperadas, acabam aceitando.
(Gospel Prime)
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Maior país islâmico do mundo protesta contra inauguração de embaixadas em Jerusalém
Milhares de muçulmanos da Indonésia pediram que Allah ‘salvasse’ Jerusalém
Com 200 milhões de habitantes, a Indonésia é o maior país islâmico do mundo. Nesta sexta-feira (11), dia sagrado para os muçulmanos, milhares de indonésios saíram às ruas para manifestações contra o reconhecimento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de Jerusalém como a capital de Israel.
Eles também reclamavam da inauguração das embaixadas, previstas para começarem na semana que vem.
Diante do monumento nacional da capital Jacarta, os manifestantes exibiam bandeiras da Palestina e gritavam palavras de ordem. Além do Allahu Akbar [allah é maior], declaração de fé que é comumente usada por jihadistas, eles pediam que Allah salvasse al Quds – nome árabe para Jerusalém – das mãos de Trump.
Na próxima segunda-feira (14), data do calendário ocidental que marca os 70 anos do ressurgimento e Israel como nação, os EUA irão transferir sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, cerca de cinco meses após o reconhecê-la oficialmente como a capital de Israel. Na mesma semana, estão previstas as inaugurações das embaixadas da Guatemala.
Honduras, Paraguai, República Tcheca e Romênia também anunciaram a mudança, mas não definiram as datas oficiais.
Os protestos na Indonésia, país que não tem laços diplomáticos com Israel foi organizado por um Conselho de Ulemás, clérigos islâmicos, mas teve apoio do governo.
O presidente indonésio, Joko Widodo, condenou o movimento iniciado por Trump, que descreveu como uma “violação das resoluções da ONU”. Embora não admita, estão seguindo o pedido da Autoridade Palestina para que todos os islâmicos do mundo se unam contra Israel e os EUA. Com informações de Associated Press
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Novo artigo do Blog Ipitanga http://ipitanga.com.br/rei-autoriza-mulheres-a-tirar-licenca-para-dirigir-na-arabia-saudita/
Rei autoriza mulheres a tirar licença para dirigir na Arábia Saudita
O rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdelaziz, autorizou nesta terça-feira (26) que mulheres possam tirar carteiras de motorista e dirigir veículos no ultraconservador reino muçulmano. A agência oficial de notícias saudita SPA informou que a ordem real entrará em vigor em junho do ano que vem, sem dar mais detalhes a respeito. A informação é da EFE.
O monarca saudita criou um comitê formado pelos ministérios de Interior, Fazenda, Trabalho e Desenvolvimento Social para que apresentem suas recomendações sobre o tema em um prazo de 30 dias. Segundo a SPA, o comitê estudará como aplicar a medida do rei e homologar a lei de trânsito para que inclua as mulheres com igualdade de condições em relação aos homens.
A agência explicou que a decisão foi tomada após a maioria dos membros da Autoridade dos Ulemás do reino não se opor ao fato de mulheres dirigirem, dentro das “garantias da ‘sharia’ (lei islâmica) para evitar problemas”. A ordem se baseia nas “consequências negativas de não permitir à mulher dirigir e as previsíveis vantagens” de fazê-lo, de acordo com a SPA.
Até agora, as mulheres não podiam dirigir na Arábia Saudita e precisavam contar com um motorista particular ou um familiar homem que as ajudasse em seus deslocamentos. Ativistas dos direitos das mulheres fizeram campanhas durante anos para acabar com a proibição e dezenas de sauditas foram presas por se atreverem a dirigir como forma de protesto.
Esta medida se enquadra nas reformas promovidas pelo rei desde sua chegada ao trono, em 2015, que proporcionaram pequenas melhorias para a vida das mulheres sauditas, que mesmo assim continuam sujeitas a um sistema de tutela masculina. Da Agência do Brasil
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Ascensão e Influência dos Ulama
Um dos principais juristas do período mameluco distinguiu entre ulama, estritamente falando, e detentores de cargos. Entre os primeiros, ele contou especialistas em tradições proféticas e gramáticos e outros, enquanto juízes (qadis) e inspetores de mercado (muḥtasib) e instrutores de madrasa deveriam ser considerados detentores de cargos. Não há dúvidas sobre a precisão dessa distinção técnica, que parece ter tido um propósito avaliativo. Entre outras coisas, os detentores de cargos eram distinguidos por vestimentas especiais. Altos cargos eram acompanhados por grande poder econômico advindo do acesso a recursos waqf, riqueza e prestígio, além de autoridade cultural e legal, e do acúmulo de capital social.
Ibn Khallikan (m. 1282) ocupou o cargo de qadi na Síria de al-‘Arish ao Eufrates, e foi inspetor de todos os awqāf da Síria e instrutor em sete madrasas ao mesmo tempo, cada um dotado de um estipêndio. Seu contemporâneo Ibn bint al-A‘azz acumulou os cargos de chefe qadi no Egito, pregador em al-Azhar, inspetor do Tesouro e do awqāf, shaykh al-shuyukh (inspetor de ordens sufis) e supervisor dos legados de al-Zahir Baybars, além de vários cargos de ensino. Badr al-Din ibn Jama‘a foi o primeiro a acumular os cargos de shaykh al-shuyukh, chefe qadi e pregador chefe. Os detentores de cargos também se beneficiaram das concessões fiscais que continuaram até o final do período otomano. Um qadi em Fès no período de Ibn Khaldun escolheu para seu emolumento os impostos a serem coletados na venda de vinho. Existem tantos exemplos de probidade e de ulama individual enfrentando a autoridade quanto exemplos de conluio e cumplicidade entre ulama e aqueles próximos à autoridade para vender awqāf e outros assuntos ilegais. Embora seja verdade que acadêmicos e detentores de cargos nos sistemas legais e devocionais do estado eram grupos distintos, é certo que todos esses detentores de cargos eram retirados das fileiras dos ulama. Essa sodalidade não surgiu apenas da interação social, mas de instituições oficiais de aprendizado funcionalmente diferenciadas, distintas das relações sociais. Essas instituições treinavam os ulama, dos quais os detentores de cargos eram selecionados por funcionários do estado com base em considerações sociais e políticas. Por qualquer medida histórica e social, as estruturas administrativas para a instituição religiosa e legal constituem o que era, na verdade, uma Igreja estatal ou pelo menos uma hierarquia sacerdotal patrocinada pelo estado, com o qadi chefe à frente, e membros incluindo juízes de todas as fileiras, e os nomeados do qadi chefe ou seus representantes: detentores de cargos devocionais, como imãs e pregadores, detentores de cargos na administração do awqāf e coleta de impostos relacionados, administração da propriedade de órfãos e menores, bem como a manutenção e serviço das propriedades do awqāf. Além disso, havia a supervisão dos estabelecimentos educacionais vinculados à instituição awqāf, como madaris e unidades de ensino de hadith, sua administração e finanças, e a nomeação de professores e repetidores. Pode-se também incluir a supervisão de instituições devocionais sufis, como as irmandades, edifícios conectados às irmandades, como ribāts e khanqāhs, e a ratificação da eleição de sheikhs para as irmandades.
Secularism in the Arab World: Contexts, Ideas and Consequences - Aziz Al-Azmeh
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