#toma aí um poema
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Recebi hoje a Antologia VOTE: POESIA POLÍTICA, mais um amável projeto realizado pela iniciativa @tomaaiumpoema , em que participo com o poema "Sobre os nossos tambores em resposta para Rimbaud" (página 9)
SOBRE OS NOSSOS TAMBORES EM RESPOSTA PARA RIMBAUD
arranquemos as nossas bandeiras das paisagens sujas
construídas pelas sentenciosas falas bárbaras
toquemos os nossos tambores
para abafar os gritos amarelados de insanidade e de ódio
nas periferias, serão eliminadas as matanças dos corpos que,
sobreviventes, empreenderão revoltas outrora fustigadas, engasgadas
aos milhares, nos negaremos em ver nosso futuro, nosso presente e nosso passado
pelo filtro colonizado, institucionalizado por exploradores brancos, bancos, militares e outros tantos
seja bem-vindo, venha você de onde vier, seja você quem for e quiser
braços fortes, somas da consciência, prestes a lutar pela sobrevivência
contra a morte, pela liberdade, pela sorte
eis a derradeira batalha
avante e que a esperança nos valha
_________
Deixo aqui meu abraço a todxs xs poetas presentes no livro e a reafirmação de que a DEMOCRACIA É PARA SEMPRE.
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Update: Post atualizado toda vez que tem história nova! Temas de cada capítulo aqui mesmo. Clique no que te parecer interessante! ÚLTIMO CAPÍTULO: TUDO ISSO POR CAFÉ, 12/11
Post original:
e aí galera como estão, decidi que a vida é fácil demais e portanto criei um desafio pessoal: fazer um texto por dia todo dia de novembro. E aí notei desesperado que já era 3 de novembro quando tive essa ideia, então, quer dizer, começamos bem.
Vou estar produzindo textos originais e postando eles no Archive of our Own até dezembro. Esses textos vão ser o que der na telha; poesia, prosa, gritos de socorro, o que der pra eu produzir nas 24 horas que eu me deixo pensar sobre o assunto. Vou fazer isso em duas línguas, inglês e português.
Esse é o post para a versão em português da antologia, vai ter um em inglês quando eu escrever em inglês pela primeira vez. Eventualmente, as duas coletâneas serão totalmente traduzidas para as duas línguas, mas não durante novembro. Tenha piedade, só é eu aqui.
HISTÓRIAS ATÉ O MOMENTO:
Liminar: Homem local morre e não encontra o que estava esperando, mas pelo menos toma café com uma aranha.
Luneta: Um poema sobre olhar para fora e ver tudo.
Morto-vivo: Um zumbi é demitido.
Kopi Luwak: Um homem que não tem reação nenhuma a maioria das substâncias decide tornar seu último gole de café especial.
Tudo isso por café: Duas cientistas abordo uma nave espacial conversam sobre tradução, amizade e casamento.
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Pra mim a melhor explicação de quem é "Deus"
♥️🌈🍀🌞😍🙌🌺
O Deus de Spinoza
O poema abaixo é atribuído a Baruch Spinoza – nascido em 1632 em Amsterdã, falecido em Haia em 21 de fevereiro de 1677, um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Era de família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno. Há controvérsias se essas palavras deveras vieram dele, porém refletem a forma como ele via DEUS na harmonia da natureza vivente, bem como seu pensamento inquisitivo em relação à Bíblia, que, segundo nos ensina INRI CRISTO, é um livro de letras mortas, repleta de fábulas, lendas, parábolas, metáforas e até charadas, e só o homem inspirado por DEUS pode compreendê-la sem enveredar pela senda do fundamentalismo religioso. DEUS é inefável, indefinível, intraduzível, porém se manifesta peremptoriamente na vida pulsante do Universo.
DEUS SEGUNDO SPINOZA
“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.
Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste
comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.”
Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.
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Ela.
Essa dor sempre finge ir embora para que eu possa viver, sentir tudo em minha volta, agradecer e ser feliz. Ela me dá espaço, me deixa vivenciar todos os momentos genuinamente. Porém quando, por acaso, enxergo de longe as suas fotos, me recordo do seu rosto acompanhado por um sorriso singelo que toma todos os movimentos do meu corpo.
Sempre me pego pensando em absolutamente tudo, especialmente de como costumava me chamar. É exatamente aí que a dor chega, sem classe, muito menos leveza. Ela assoalha cada vez mais esse sentimento único em meu coração, me fazendo senti-lo mais e mais que eu nunca mais terei uma vida completa; pois sempre faltará você. Em certos momentos eu me conformo com isso, me acostumo com a dor da saudade. Mas basta uma lembrança, uma história ou uma música para me fazer lembrar do quanto eu era feliz quando você estava aqui.
Hoje, de maneira inesperada, me peguei sentindo o seu cheiro. Cheiro esse que me transporta para as nossas manhãs juntas, do seu alarme sempre às 05:40 e dos seus vestidos de tecidos leves, floridos. Da sua voz amena me acordando para tomarmos café, enquanto passeia sobre o corredor com um quadro enorme com fotos da família que você amava completar. Sinto falta das nossas trocas diárias, do seu dia a dia, das nossas inúmeras risadas misturadas, pensamentos compartilhados e que hoje se tornaram distantes.
Penso o quanto você viveu, quantas pessoas conheceu, quantas vidas coloriu com os seus mais diversos pensamentos espíritas, quantas paisagens viu, nasceres do sol e tantas outras coisas. Sinto saudade de você, uns dias mais e outros menos, mas te sinto no tempo, no vento, na chuva, nas minhas conquistas, no prazer de observar atentamente pessoas felizes, no cuidar do outro, nas músicas, no céu, nas manhãs, no domingo, nos jantares, nas memórias da infância e em mim mesma. Você sempre fez parte de tudo.
Eu espero que esteja orgulhosa, vendo o quanto eu cresci e aprendi com a sua perda, o quanto eu fui forte e continuo sendo todos os dias. Fico feliz de ter vivido essa vida com um ser tão bonito como era o seu, mas acima de tudo, por ter feito parte da sua vida tão bem vivida. Você foi e sempre será a alma mais intocável que eu já conheci.
Sua partida me fez entender aquele poema do Quintana que diz: “a vida é breve, e o amor mais breve ainda”.
— Gabriela Mello.
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Toma Aí Um Poema – Originais 2025 (Livro Completo, Prosa, Poesia, Gratuita) – 15.12.24
#SeleçõesLiterárias — Vai até 15.12.24 a seleção de obras para os Toma Aí Um Poema – Originais 2025, a serem publicados pela Toma Aí Um Poema. Proposta: “A Toma Aí Um Poema — ONG dedicada à inclusão de autores e autoras independentes no mercado editorial, defendendo o acesso à publicação como um direito de todes — anuncia a abertura de uma nova chamada para envio de originais, com foco em autores…
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"Sou mestrado em... tirar você do sério
Oh meu bem... Desculpa, não me leve a sério
Ela tem... um beijo interestelar, leva a gravidade zero
Eu tenho Mary Jane, poemas, e um Ferro
Pique Lois Lane,
Mas de shortinho e chinelo
Furtamos uma Mercedes Benz
Banco caramelo
A filha do burguês,
E o pobre louco cadelo
Cenas de nudez, pura insensatez,
Um foda-se sincero
Boy e bico , não tem vez, manda busca, toma relo
Fumin paquistanês, e o oitao com tamborzao de seis
Se eu sacar, é cemitério,
Sou da guerra, vivo em paz, aí fica à seu critério
Quantas outras vezes???
Quantas vezes mais???
Vai fingir que não me quer
Pra eu fingir que não te quero
Me leva a lucidez, te roubo a paz ,
Menos é mais
Quartos de motéis,
Viram castelos
Contos de cine privê,
Romances marginais,
Versos autorais
Segredos que só conto pro caderno
Transando um pagodin nos litorais
Atos criminais
Fuga dos oficiais
Na Anhaia Mello
( A gente casa na Universo Paralelo)"
(ZS Mc)
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die post mortem meam.
Um dia depois da minha morte. Está nublado, porque eu recorri a previsão do tempo no momento certo, e chove. Chove muito, forte, rápido e cortante. E alguém com memória boa vai lembrar, que esses eram os melhores dias para mim; daqueles dias que você não levanta da cama, que o peito dói e a alma corroí, mas é nesses dias que eu levantava. Então alguém saí de casa, toma banho de chuva, dói no começo, mas ei, olha pra cima, vai passar alguma hora, então 'cê relaxa. Fica aí que 'já já passa.
Mamãe não vai levantar, 'tá cansada de chorar já. Ela já chorou muito. Então ele, meu pai, vai fazer um café bem doce, do jeito que um dia eu já tomei. Daqueles que eu fazia, e ela vai perguntar pra ele: "cê t�� apaixonado?"; do jeito que ela mesma perguntava quando adoçava demais. Quando eu realmente tava perdidamente apaixonado.
Alguém vai sair na rua e correr, porque vai lembrar que eu o amava fazer. Só correr. Não tem 'pra onde ir, só corre por aí. Vai parar em uma rua qualquer, vai pedir informação e vai voltar correndo. Com o peito doendo e falta de ar, do jeito que eu fazia, e vai me amar por isso. Porque era isso que eu fazia quando achava que precisava emgrecer.
Alguém vai comer, porque eu não o podia fazer. Mas vai lembrar, minha voz vai cutucar, no canto da memória, que eu te pedia pra comer. Come por mim por favor, eu sei que dói, que não desce e que você quer usar os seus dois malditos dois dedos na guéla, pra fazer sair, mas deixa ai. Deixa ai...
Alguém vai vir nessa maldita conta, ler meus poemas e chorar. Vai ler todos, repetitivamente, sem tempo para acabar. Vai ler até não ter lágrimas 'pra derramar. Vai sentir o que senti, vai ouvir com o coração cada linha escrita por alguém que se foi só com algumas cartas na mão.
Vão ir ver as fotos dos meus gatos, como eu fazia para recordar. Quando eu fazia pra ver o quanto eles cresceram, e vão rir quando lembrarem dos apelidos que eu os dei.
Alguém vai querer comer as minhas receitas aleatórias só porque eu comia feliz. Vai beber coca-cola de café, porque eu bebia e gostava. Vai passar pelos corredores do mercado e vão ver as barrinhas de cereais que eu comprava, de mel e banana. Vão tomar leite puro e gelado quando precisar dormir, só pela maldita lembrança que eu deixei aqui.
Vão ouvir as músicas que eu gostava, pra relembrar da minha voz desengonçada. Vão ouvir "Carta aos Desinteressados" porque eu ouvia quando 'tava mal.
Vão ler "O Pequeno Príncipe" quantas vezes flor, só pra lembrar do quanto eu me sentia aquela flor. Aquela rosa espinhenta, que amou puramente um menino; que se deixou cortar fundo, só pra priorizar aquele momento do mundo.
Vão começar a fumar, mas por favor não os faça. Compra um Marlboro, pendura atrás da orelha como uma caneta ou pincel, deixa ali, vê a avenida agitada. Observa de longe, ouve os sons dos carros. 'Tá de madrugada, vai lá, ninguém vai ver se você fumar mesmo.
Ouve os carros. Observa a cidade a noite, a imensidão de brilhos, das estrelas urbanas. Faz o que fiz. Perde até fim. Morrer aos poucos, mas pede ajuda. Mas por favor, não me esquece. Não esquece a minha risada, minhas piadas sem graça, meus desenhos e meus poemas. Não esquece. Lembra de tudo. Ouve tudo. Sente tudo. Abraça os outros, porque eu não fiz. Pede perdão pra minha mãe por mim, diz pra ela que a minha intenção nunca foi vê-la sofrer. Fala 'pro meu pai que eu quis ser melhor, e que eu sinto muito por ir para o inferno. Pede desculpa pro Nenão, perdão por não cumprir tudo que eu prometi; por não proteger ele direito, por deixar ele ver as coisas que ele viu. Pede desculpa pro Erick e o Alex, perdão por não falar com eles e não jogar mais Yu-Gi-Yo do jeito que a gente fazia. Pede perdão pro Mufasa e pro César, por não 'tá lá pra pedir beijo pra eles antes de por a ração. Pede desculpa pelos amigos que eu não abracei por ser um cuzão; pra aqueles se que foram e os que eu conheci recentemente. Pede desculpa pros meus amores reais, que eu fiz ser agora tão banais.
Desculpa por ser fútil e inútil, por chorar, por socar a parede e por não me amar como eu sei que vocês me amam. Desculpa por não ser o que vocês queriam que eu fosse. Desculpe por nascer no corpo errado, com essa mente bagunçada. Por estar morrendo por dentro e não contar.
Desculpe. -Addie, o Azarão. O inútil. O intenso.
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Sofia
Mais de 5 mil amigos no Facebook pra maioria reparar só no decote. Tirou uma foto e ao invés de 200 teve só 50 likes, então foi ao salão tentar um novo corte, que também gostava de dar no corote. Olhou a sua foto pelo telefone e pensou que poderia melhorar se colocasse uns 300ml de silicone. "Quem sabe assim... posso ficar mais bonita pros meus amigos gostarem de mim".
Quem diria, mais uma menina com depressão, ansiedade e provavelmente anorexia, por falta de elogios a sua magreza quase não dormia, sempre vomitava depois que comia porque “Para ser perfeita, alguns sacrifícios tem que ser feitos” sua amiga modelo dizia.
Se chamava Sofia, tinha 16 anos e já foi parar no hospital mais de 5 vezes por quase ter morrido de fome. Sofia era jovem, mas apesar disso tentou se suicidar várias vezes tem cicatrizes nos pulsos e no abdômen.
Não fala com a mãe e toma remédio para emagrecer, quase não tem amigos de verdade os que têm são tão falsos quanto notas de 400 reais. Desde cedo sonha em aparecer em capas de revistas e ter o nome comentado nas colunas sociais.
Quase tudo de ruim já havia acontecido à Sofia até que conheceu a poesia, depois de um ou outro poema conheceu Florbela Espanca, se encantou com seu poder e perseverança. Procurou tratamento e pouco a pouco teve mais esperança depois de alguns dias seu olhar já brilhava e voltara a sorrir feito criança. Até engordou um pouco.
Não tinha pai, pelo menos não o conhecia. Um dia chegou do sarau e descobriu que sua mãe iria se casar. Ganhou um padrasto, que a tratava de forma muito carinhosa, sempre que podia dava um presente para Sofia, mas como diz o ditado, nada é de graça. O diabo existe e dorme no quarto ao lado.
Para sua desgraça, seu padrasto era um alcoólatra degenerado, certo dia ele bebeu mais que o normal, entrou no quarto de Sofia em busca de exercer poder, sentir prazer ao se tornar algoz. Tão rápido quanto um jumpscare a espancou, estuprou e após uma luta feroz, o corpo desta menina foi encontrado nu e desfigurado num matagal. Ela que sonhava com a fama ganhou a primeira página do jornal, mas você sabe como funciona, “é só mais uma”, ninguém dá tanta moral.
Talvez você conheça ou tenha visto alguma Sofia por aí, com nomes e histórias diferentes, mas com um destino em comum. Entrando para a estatística, virando notícia na Record, sendo abusada e morrendo por ser mulher. Qual a mão que te machuca? Que silêncio te oprime? O que te invade sem opção de recusa? Qual máscara você usa?
@u_Bantu_
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#1
não chegou a completar nem 24 horas e já pensei em desistir. desistir tem sido recentemente o verbo que mais gosto de usar, melhor ainda, o verbo que mais gosto de praticar, afinal verbo é ação, né? hoje já acordei tarde, não era tarde tarde, mas era mais tarde do que eu esperava acordar. queria muito me regular com o sol e acordar antes das seis, sair pra caminhar, meditar e fazer todas essas coisas que são ditas saudáveis, mas acordei já emburrado, com barulho e calor, pele seca e já irritada. é algo que tenho odiado muito no meu corpo, a pele seca, já cansei de usar hidratante toda vez que tomo banho, dois jatos precisamente, tem dias que são fartos e outros mais ou menos, mas sinto que aperto com a mesma força sempre. todo dia acordo mais desidratado que o dia anterior, e todo dia tomo mais de quatro litros de água sem parar, um mija mija desgraçado da porra, já cansei de ir ao banheiro e sair mais límpido que água, e acho que na verdade eu deveria era agradecer por ter água boa pra beber. não gosto sempre de ficar revisando as coisas e sempre pensando que deveria ser grato por alguma coisa que é básica pra mim, eu sei que pode não ser básica pra alguém, e pensar nisso me deixa pior do que já sou naturalmente, então melhor protelar. não pensar não faz desaparecer, mas também não me bota numa nóia infinita e nem me deixa preso nesse buraco de refletir sobre a vida dos outros. isso tudo cedo sabe? deu nem dez da manhã ainda. e eu já quis me desligar de tudo de novo, comecei uma minissérie, talvez esse seja meu formato preferido de histórias atualmente. penso comparativamente sobre literatura e cinema. curtas metragem são tipo crônicas ou poemas, talvez uma tirinha (mas isso conta como literatura, que vai saber?) e são coisas que gosto de ver depois do almoço, quando estou cagando ou com aquele sono batendo na porta quando vou dormir. longas metragens são como contos, não vejo com frequência, mas tenho aprendido a apreciar cada vez mais, quase que um ritual regrado pra fazer acontecer, é inatural para mim, mas tem muitas coisas não naturais que deveriam ser, é tipo aquele negócio de ser normal, mas não deveria ser e isso dá uma lista gigantesca que só de pensar já me dá uma enxaqueca daquelas que remédio nenhum no mundo faz passar. me perdi já. minisséries são exatamente a perfeição, são como novelas, e eu amo o tempo exato que dura uma novela, não é grande pra cansar, nem pequena pra sobrar espaço, eu consigo pegar e acabar no mesmo dia, às vezes até na mesma hora por que eu tenho um pouco da mania de ler rápido desenfreado, e isso acontece também quando eu tô escrevendo. novelas são, na minha opinião, a melhor forma de contar histórias, mas também não são nada disso. romances aí já são como séries, e eu costumo consumir muito com muita frequência, sempre que dá, me enfiando em várias ao mesmo tempo, em todo espaço livre que acho, muitas vezes até abro espaço onde não deveria. gosto das grandes mais que das pequenas, por que gosto de evolução, e pra mim evolução toma tempo, o ruim é só quando você chega mais da metade e desagrada, perde sentido ou fica num estado de inanição tremendo que não existe pavio no mundo pra fazer se mexer direito. e mesmo assim eu gosto. tive fome já, e essa relação que tenho com comida atualmente já dá pano pra tanta outra coisa, um ensaio sei lá, e eu resumi e exclui muitos outros gêneros, não sei se o que disse faz sentido, e se não fizer também tanto faz, no fundo o tempo perdido de ler isso aqui eu poderia estar passando hidratante na pele, bebendo mais água ou até já tivesse desistido disso tudo e deixado a pele ficar vermelha da inflamação, talvez houvesse remédio nesse mundo que curasse.
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O DIÁRIO DE RENIA SPIEGEL.
Traduzido do polonês pela primeira vez, o diário de Renia Spiegel nos apresenta uma impressionante narrativa em primeira pessoa da vida como jovem judeu durante a Segunda Guerra Mundial. Para conhecer a história de fundo da vida de Spiegel e como suas palavras chegaram às nossas páginas, convidamos você a ler esse prólogo do jornalista Robin Shulman. Juntamente com os trechos do diário abaixo, adicionamos o tipo vermelho com datas contextuais da história de como a Segunda Guerra Mundial chegou à Polônia, quando os nazistas invadiram o oeste e os soviéticos do leste, deportando, aprisionando e matando judeus nas cidades. como Przemsyl, onde Spiegel viveu e pereceu.
31 de janeiro de 1939
Por que decidi começar um diário hoje? Alguma coisa importante aconteceu? Descobri que meus amigos estão fazendo seus próprios diários? Não! Eu só quero um amigo.
Alguém com quem posso conversar sobre minhas preocupações e alegrias diárias.
Alguém que vai sentir o que eu sinto, acreditar no que digo e nunca revelar meus segredos. Nenhum ser humano poderia ser esse tipo de amigo.
De qualquer forma, prometo sempre ser honesto com você. Em troca, você ouvirá meus pensamentos e preocupações, mas permanecerá em silêncio como um livro encantado, trancado com uma chave encantada e escondido em um castelo encantado. Você não vai me trair.
Primeiro de tudo, permita-me apresentar-me. Sou estudante da Escola Média Maria Konopnicka para Meninas.
Meu nome é Renia, ou pelo menos é o que meus amigos me chamam. Eu tenho uma irmãzinha, Ariana, que quer ser uma estrela de cinema. (Ela já esteve em alguns filmes.)
Nossa mãe mora em Varsóvia. Eu morava em uma linda mansão no rio Dniester. Eu adorava lá. Havia cegonhas em velhas tílias. Maçãs brilhavam no pomar e eu tinha um jardim com fileiras de flores elegantes e encantadoras.
Mas esses dias nunca retornarão. Não há mais mansão, nem cegonhas em velhas tílias, nem maçãs nem flores.
Tudo o que resta são memórias, doces e amáveis. E o Rio Dniester, que flui, distante, estranho e frio - que zumbe, mas não para mim.
Agora eu moro em Przemysl, na casa da minha avó. Mas a verdade é que não tenho um lar real.
É por isso que às vezes fico tão triste que tenho que chorar. Sinto falta da minha mãe e do seu coração caloroso. Eu sinto falta da casa onde todos nós moramos juntos.
Mais uma vez a necessidade de chorar toma conta de mim Quando me lembro dos dias que costumavam ser As tílias, casa, cegonhas e borboletas Foram para algum lugar e ... longe demais para os meus olhos Eu vejo e ouço o que sinto falta O vento que costumava embalar árvores velhas E ninguém mais me diz Sobre a neblina, sobre o silêncio A distância e a escuridão do lado de fora da porta Eu sempre ouvirei esta canção de ninar Vejo nossa casa e lagoa deitados E tílias contra o céu...
Mas também tenho momentos de alegria e são muitos. Muitos! Deixe-me apresentar alguns dos meus colegas de classe para você.
Minha melhor amiga, Nora, senta-se ao meu lado. Compartilhamos todos os mesmos pensamentos e opiniões.
Na nossa escola, as meninas costumam ter “paixões” por nossos professores, então Nora e eu temos uma queda, uma verdadeira queda (algumas meninas fazem isso apenas para encher os professores) pela nossa professora de latim, Sra. Waleria Brzozowska, nee Brühl .
Nós a chamamos de "Brühla". Brühla é a esposa de um oficial bonito que vive em Lwow. Ela vai vê-lo todos os domingos. Tentamos obter o endereço dele na agência de endereços, mas não obtivemos sucesso porque não sabemos o nome real dele. (Nós o chamamos de "Zdzisław".)
A próxima garota da nossa fila é Belka - gorda e atarracada como 300 demônios! Ela tem um talento excepcional para acadêmicos e um talento ainda mais excepcional para ganhar aversão.
A seguir vem Irka. Eu não gosto de Irka e está no meu sangue. Eu herdei esse ódio: minha mãe não gostava muito da mãe de Irka quando estava no ensino médio.
Comecei a não gostar mais de Irka quando ela começou a me prejudicar na escola. Isso - combinado com sua nojenta conversa doce, mentira e falta de sinceridade - me fez realmente odiá-la.
Estamos planejando uma festa há meses. Nós brigamos e discordamos, mas a festa está marcada para o próximo sábado.
5 de fevereiro de 1939
Estou tão feliz. Foi uma grande festa e todos, especialmente Brühla, se divertiram muito. Mas pela enésima vez, pensei: “Gostaria que mamãe estivesse aqui”.
A mãe de Irka, a Sra. Oberhard, era toda Brühla, conversando com ela o máximo que podia, o que certamente beneficiaria Irka e sua irmã mais nova no futuro próximo.
Ah, querido diário, se você pudesse saber o quão difícil é querer algo tão mal, trabalhar tanto para isso e então lhe ser negado na linha de chegada!
O que foi realmente que eu queria? Eu não sei. Brühla foi muito legal. Mas ainda não estou satisfeita.
11 de fevereiro de 1939
Está chovendo hoje. Em dias de chuva, fico em pé junto à janela e conto as lágrimas escorrendo pela vidraça. Todos correm, como se quisessem cair na rua molhada e lamacenta, como se quisessem torná-la ainda mais suja, como se quisessem tornar esse dia feio, ainda mais feio do que já é.
As pessoas podem rir de mim, mas às vezes acho que objetos inanimados podem falar. Na verdade, eles não são inanimados. Eles têm almas, assim como as pessoas.
Às vezes, acho que a água nos canos ri. Outras pessoas chamam essa risada de nomes diferentes, mas nunca passa pela cabeça que é apenas isso: uma risadinha. Ou uma lixeira:
Uma página saiu limpa De uma revista semanal de cinema. “Eles só me compraram ontem e eu já estou no lixo, de jeito nenhum! Pelo menos alguma coisa que você viu. Pelo menos no mundo você tem sido. Você levou uma vida pacífica quando estava na banca de jornal Enquanto eu tive que correr nas ruas, gritando o tempo todo. É melhor ser um semanário do que um diário que passa rapidamente ”.
15 DE MARÇO DE 1939 - As tropas alemãs invadem a Tchecoslováquia, mostrando que a estratégia de apaziguamento da Grã-Bretanha fracassou.
28 de março de 1939
Deus, estou tão triste, tão triste. Mamãe acabou de sair e quem sabe quando eu vou vê-la novamente.
Eu estive passeando com Nora por vários dias, então eu preciso sair com Irka, o que não está ajudando.
E depois há as lembranças. Mesmo que elas partam meu coração, eles são memórias dos melhores momentos da minha vida.
Já é primavera! A primavera costumava ser tão boa lá. Pássaros cantavam, flores desabrochavam; era tudo céu, coração e felicidade!
As pessoas lá estariam pensando nos feriados agora. Tão tranquilo, caloroso e amigável; Eu adorei tanto.
Nas noites do Sêder de Pessach (jantar cerimonial judaico em que se recorda a história do Êxodo e a libertação do povo de Israel), eu costumava esperar por Elias.
Talvez tenha havido um tempo em que esse velho santo veio ver as crianças felizes. Mas ele tem que vir agora, quando eu não tenho nada.
Nada além de lembranças. Vovô está doente. Mamãe está muito preocupada comigo. Oh! Estou tão infeliz!
31 DE MARÇO DE 1939 -A França e o Reino Unido se comprometem a defender as fronteiras da Polônia do ataque nazista.
2 de abril de 1939
Estou aprendendo francês agora e, se não houver guerra, posso ir para a França.
Eu deveria ir antes, mas Hitler assumiu a Áustria, depois a Tchecoslováquia, e quem sabe o que ele fará em seguida.
De certa forma, ele está afetando minha vida também. Eu quero escrever um poema para Ariana. Ficarei muito feliz se sair bem.
18 de junho de 1939
Hoje é meu aniversário. Não quero pensar em nada triste. Então, em vez disso, estou pensando em todas as coisas úteis que fiz até agora na minha vida.
UMA VOZ: "Nenhuma". EU: “Eu tiro boas notas na escola”. VOZ: ���Mas você não trabalha duro para ganhar isso. O quê mais?" EU : “Nada. Eu realmente quero ir para a França”. VOZ: "Você quer ser famosa?" EU: “Gostaria de ser famosa, mas não serei. Então, eu quero ser feliz, muito feliz”.
Amanhã é o fim do ano letivo, mas não me importo. Sobre qualquer coisa. Qualquer coisa. Qualquer coisa.
23 DE AGOSTO DE 1939 - A Alemanha e a URSS assinam o Pacto Molotov-Ribbentrop, comprometendo-se a permanecer neutros entre si e a dividir a Europa entre eles.
25 de agosto de 1939
Minhas férias de verão estão quase no fim. Fui ver minha tia no campo, fui a Varsóvia, vi mamãe e agora voltei. Mas você não sabe nada disso. Você estava deitado aqui, deixado sozinho.
Você nem sabe que os russos assinaram um tratado com os alemães. Você não sabe que as pessoas estão estocando comida, que todo mundo está em alerta, esperando a guerra.
Quando eu estava me despedindo de mamãe, eu a abracei com força. Eu queria contar tudo a ela com aquele abraço silencioso. Eu queria pegar a alma dela e deixar a minha, porque - quando?
1º DE SETEMBRO DE 1939 - A Alemanha invade a Polônia, a centelha que acenderá a Segunda Guerra Mundial na Europa.
3 DE SETEMBRO DE 1939 - A Grã-Bretanha e a França, tendo emitido ultimatos a Hitler para retirar tropas da Polônia, declaram guerra à Alemanha.
6 de setembro de 1939
A guerra estourou! Desde a semana passada, a Polônia vem lutando contra a Alemanha. Inglaterra e França também declararam guerra a Hitler e o cercaram em três lados.
Mas ele não está sentado à toa. Aviões inimigos continuam sobrevoando Przemysl, e de vez em quando há uma sirene de ataque aéreo.
Mas, graças a Deus, nenhuma bomba caiu em nossa cidade até agora. Outras cidades como Cracóvia, Lwow, Czestochowa e Varsóvia foram parcialmente destruídas.
Mas todos nós estamos lutando, desde garotas jovens até soldados. Eu tenho participado de treinamento militar feminino - cavando trincheiras de ataque aéreo, costurando máscaras de gás.
Eu tenho servido como uma mensageira. Eu tenho turnos servindo chá para os soldados. Eu ando por aí e distribuo comida para os soldados.
Resumindo, estou lutando ao lado do resto da nação polonesa. Eu estou lutando e vou ganhar!
10 de setembro de 1939
Oh Deus! Meu Deus! Estamos na estrada há três dias. Przemysl foi atacada. Tivemos que fugir. Nós três escapamos: eu, Ariana e vovô.
Deixamos a cidade em chamas no meio da noite a pé, carregando nossas malas. Vovó ficou para trás. Senhor, por favor, proteja-a. Ouvimos na estrada que Przemysl estava sendo destruída.
17 DE SETEMBRO DE 1939 - Os soviéticos invadem a Polônia a partir do Lado Oriental.
18 de setembro de 1939
Estamos em Lwow há quase uma semana. A cidade está cercada. A comida é escassa. Às vezes levanto-me de madrugada e fico em uma longa fila para pegar pão.
Além disso, passamos o dia todo em um bunker, ouvindo o terrível assobio de balas e explosões de bombas. Deus, por favor, salve-nos.
Algumas bombas destruíram várias residências e, três dias depois, desenterraram as pessoas vivas. Algumas pessoas estão dormindo nos bunkers; aqueles que são corajosos o suficiente para dormirem em suas casa precisam acordar várias vezes a cada noite e descer as escadas para os porões.
Essa vida é terrível. Estamos amarelos, pálidos, desta vida na adega - da falta de água, de camas confortáveis e de sono.
Mas os pensamentos horríveis são muito piores. Vovó ficou em Przemysl, papai em Zaleszczyki e Mamma, minha mãe, está em Varsóvia.
Varsóvia está cercada, defendendo-se bravamente, resistindo a ataques repetidas vezes. Nós poloneses estamos lutando como cavaleiros em um campo aberto onde o inimigo e Deus podem nos ver.
Não como os alemães, que bombardeiam casas de civis, que transformam igrejas em cinzas, que envenenam crianças pequenas com doces tóxicos (contaminados com cólera e tifo) e balões cheios de gás mostarda.
Nós nos defendemos e estamos vencendo, assim como Varsóvia, como as cidades de Lwow e Przemysl.
Mamãe está em Varsóvia. Eu a amo mais que tudo neste mundo, minha mais querida, minha mais preciosa alma.
Eu sei que se ela vê crianças agarradas a suas mães em bunkers, ela deve estar se sentindo da mesma maneira que sentimos quando a vemos. Oh meu Deus! O maior, o primeiro e o único.
Deus, por favor, salve mamãe, dê-lhe fé de que estamos vivos. Deus misericordioso, por favor, faça a guerra parar, faça todas as pessoas boas e felizes. Amém.
22 DE SETEMBRO DE 1939 - Tropas soviéticas entram na cidade de Lwow.
22 de setembro de 1939
Meu querido diário! Eu tive um dia estranho hoje. Lwow se rendeu. Não para a Alemanha, mas para a Rússia. Os soldados poloneses foram desarmados nas ruas.
Alguns, com lágrimas nos olhos, simplesmente jogaram as baionetas no chão e viram os russos quebrando seus rifles. Sinto tanta dor, tanta dor.
Apenas um pequeno punhado ainda está lutando. Apesar da ordem, os defensores de Lwow continuam sua luta heroica para morrer por sua terra natal.
28 de setembro de 1939
Os russos entraram na cidade. Ainda faltam alimentos, roupas, sapatos, tudo. Filas compridas estão se formando na frente de cada loja.
Os russos estão especialmente ansiosos para comprar coisas. Eles estão organizando saques para roubar relógios, tecidos, sapatos etc.
Este Exército Vermelho é estranho. Você não pode falar mal de um oficial. Todos usam os mesmos uniformes castanho-acinzentados. Todos falam uma língua que não consigo entender.
Eles chamam um ao outro de "Tovarishch" ["Camarada"]. Às vezes, os rostos dos policiais são mais inteligentes. A Polônia foi totalmente inundada pelos exércitos alemão e russo. A única ilha que ainda luta é Varsóvia. Nosso governo fugiu do país. E eu tinha muita fé.
Onde está Mamma? O que aconteceu com ela? Deus! Você ouviu a minha oração e não há mais guerra (ou pelo menos eu não a vejo). Por favor, ouça também a primeira parte da minha oração e proteja Mamma do mal.
Onde quer que ela esteja, o que quer que esteja acontecendo com ela, fique de olho nela e em nós e ajude-nos em todas as nossas necessidades! Amém.
28 DE SETEMBRO DE 1939 - Varsóvia se rende aos alemães.
29 DE SETEMBRO DE 1939 - O presidente polonês Ignacy Moscicki renuncia e transfere o poder para um governo polonês exilado em Paris.
27 de outubro de 1939
Estou de volta a Przemysl há um tempo. A vida voltou à sua rotina diária, mas ao mesmo tempo é diferente, muito triste. Não há mamãe. Nós não temos notícias dela.
Eu tive um sonho terrível de que ela estivesse morta. Eu sei que não é possível. Eu choro o tempo todo.
Se eu soubesse que a veria em dois meses, até um ano, desde que soubesse que a veria com certeza. Não, deixe-me morrer. Santo Deus, por favor, me dê uma morte fácil.
28 de outubro de 1939
As mulheres polonesas se revoltam quando ouvem pessoas saudando Stalin. Elas se recusam a participar.
Elas escrevem mensagens secretas dizendo "A Polônia ainda não pereceu", embora, para ser sincera, tenha perecido há muito tempo.
Agora estamos sob o domínio do comunismo, onde todos são iguais. Dói-lhes que eles não possam dizer "Você é péssimo Yid". Eles ainda dizem isso, mas em segredo.
Esses russos são garotos tão fofos (embora nem todos). Um deles estava determinado a se casar comigo.
França e Inglaterra estão brigando com os alemães e algo está se formando aqui, mas com o que eu me importo?
Eu só quero que a mamãe venha ficar conosco. Então eu posso enfrentar todas as minhas provações e tribulações.
NOVEMBRO DE 1939 - Sob Stalin, os judeus em Lwow são despojados de seus empregos e licenças comerciais.
1 de novembro de 1939
Há um novo clube aqui agora. Muitos meninos e meninas estão indo para lá. Eu não tenho mais uma queda por Brühla. Finalmente contei a Nora e ela me disse que se sente da mesma maneira.
Agora, de acordo com os estágios do desenvolvimento de uma garota, eu deveria “me apaixonar” por um menino. Eu gosto do Jurek. Mas Jurek não sabe disso e nunca descobrirá.
O primeiro dia no clube foi divertido, mas hoje eu me senti como um peixe fora d'água. As pessoas jogaram esse jogo de paquera e eu não recebi nem uma carta.
Tenho vergonha de admitir isso até para você. Um garoto chamado Julek (não Jurek) supostamente gosta de mim, mas por quê? Talvez porque eu sou tão diferente das minhas amigas.
Não estou dizendo que isso é uma coisa boa - pode até ser uma coisa ruim -, mas sou muito diferente delas. Eu nem sei rir de um jeito paquerador. Quando eu rio, é real. Eu não sei como "me comportar" em torno dos meninos.
É por isso que sinto falta dos velhos tempos, quando mamãe ainda estava comigo, quando eu tinha minha própria casa, quando havia paz no mundo, quando tudo era azul, brilhante, sereno.
A Alemanha e a URSS anexaram a Polônia em 1939, reduzindo seu território (inserido). Ocupantes nazistas logo confinaram judeus poloneses em centenas de guetos. Em julho de 1942, Renia foi detida no gueto de Przemysl; Os nazistas mataram a maioria de seus moradores ou os enviaram para campos de extermínio. (Ilustração de Lauren Simkin Berke. Fonte: holocaustresearchproject.org)
JANEIRO DE 1940 - Os estudantes de Przemysl são transferidos para escolas mistas; Os soviéticos se opõem à educação entre pessoas do mesmo sexo que os burgueses.
9 de janeiro de 1940
Estamos saindo da nossa escola. Agora vamos estar em uma escola com meninos. Ugh, horrível. Eu odeio tudo.
Eu ainda vivo com medo de buscas, de violência. E agora essa coisa toda de ir à escola com garotos! Bem, vamos esperar e ver como isso funciona.
A tortura começa no dia 11. Tchau, meu querido diário. Mantenha seus dedos cruzados para mim. Vamos torcer para que tudo corra bem!!!
12 de janeiro de 1940
Os meninos são jovens inocentes; eles não sabem muito e são muito educados. Eles não são particularmente atraentes, com exceção de um, Ludwik P., muito fofo, e do doce Majorko S.
Você sabe, eu passo por essas diferentes fases em que escolho maridos diferentes. Eu devo ter tido cerca de 60 dessas fases na minha vida. Tchau, beijos, Renia.
17 de fevereiro de 1940
Papai veio aqui (ele nos trouxe provisões) e agora ele se foi novamente. Uma carta de mamãe chegou. Ela já deve estar na França. Eu me matriculei em aulas de piano.
Enquanto isso, não estou mais apaixonada por Ludwik. O que não significa que não gosto dele, mas também gosto de Jurek Nowak.
Irka começou a ir atrás de Ludwik de uma maneira impossível. Uma vez que me sento bem perto deles, posso ver e ouvir tudo.
Por exemplo: "Irka, pare de me beliscar ou eu vou beliscar você de volta com força”. Eles flertam um com o outro como loucos.
Nossa turma é a melhor de nossa escola, embora nossa presença seja terrível. Já falamos de física três vezes.
Mamãe disse em sua carta que pensava em nós o dia todo em seu aniversário. Ela disse que estava arrependida por não ter recebido nenhum dos meus poemas.
Eu não escrevi nenhum; Eu sou tão horrível. Vovó e Vovô são bons para mim, mas é tão difícil ficar sozinha com meus próprios pensamentos.
1 de março de 1940
Quarta-feira foi um dia bonito, então nossa turma brincou às 11 da manhã e fugiu para o castelo. Jogamos bolas de neve, cantamos canções e escrevemos poesias.
Eu escrevi um poema que já está no jornal da escola. Nossa aula é realmente agradável e doce. Nós nos tornamos muito próximos.
16 de março de 1940
Nora e eu decidimos que daqui a dez anos, onde quer que estejamos, se ainda formos amigas ou mesmo bravas uma com o outra, com boa saúde ou má saúde, vamos nos encontrar ou escrever uma para o outra e comparar o que mudou em nossas vidas. Então lembre-se: 16 de março de 1950.
Eu comecei a gostar de um garoto chamado Holender. Nós fomos apresentados um ao outro, mas ele já se esqueceu de mim.
Ele é bem construído e de ombros largos. Ele tem lindos olhos negros e sobrancelhas que parecem falcões. Ele é lindo.
PRIMAVERA DE 1940 - Os soviéticos começam a deportar 7.000 judeus de Przemysl para campos de trabalho na Rússia e na Sibéria.
24 de abril de 1940
Coisas terríveis têm acontecido. Houve incursões noturnas inesperadas que duraram três dias.
Pessoas foram reunidas e enviadas para algum lugar no interior da Rússia. Tantos conhecidos nossos foram levados embora.
Houve gritos terríveis na escola. Garotas choravam. Eles dizem que 50 pessoas foram acomodadas em um vagão de trem de carga.
Você só podia ficar de pé ou deitar em beliches. Todo mundo estava cantando "A Polônia ainda não pereceu".
Sobre aquele garoto, Holender, que mencionei: me apaixonei, persegui-o como uma louca, mas ele estava interessado em uma garota chamada Basia.
Apesar disso, eu ainda gosto dele, provavelmente mais do que qualquer outro garoto que conheço.
Às vezes sinto essa necessidade poderosa e avassaladora ... talvez seja apenas o meu temperamento. Eu deveria me casar cedo, para que eu possa suportar.
1 de maio de 1940
Eu nunca teria pensado, há um ano, que marcharia, não no dia 3 de maio [Dia da Constituição da Polônia], mas no dia 1º de maio [Dia Internacional dos Trabalhadores].
Apenas dois dias separados, mas esses dois dias significam muito. Isso significa que não estou na Polônia, mas na URSS. Isso significa que tudo é tão ... Eu sou tão louca por Holender!
Ele é divino, adorável; ele é incrível! Mas o que isso importa, já que eu não o conheço? Diga-me, algum dia vou me contentar?
Terei alguma notícia feliz para contar a você sobre um garoto? Oh, por favor Deus. Eu estou sempre tão descontente!
14 DE JUNHO DE 1940 - Os trens transportam 728 prisioneiros poloneses para Auschwitz - os primeiros presos transportados para o campo de extermínio nazista na Polônia.
17 de junho de 1940
É meu aniversário amanhã. Estou completando 16 anos. Esse deveria ser o melhor momento da minha vida.
As pessoas sempre dizem: "Oh, aos 16 anos de novo!" Mas eu sou tão infeliz! A França capitulou. O exército de Hitler está inundando a Europa.
Os Estados Unidos estão se recusando a ajudar. Quem sabe, eles podem até começar uma guerra com a Rússia?
Estou aqui sozinha, sem mamãe ou papai, sem casa. Oh, Deus, por que um aniversário tão horrível tinha que vir? Não seria melhor morrer?
Então eu teria um funeral longo e triste. Eles podem chorar. Eles não me tratariam com desdém.
Eu só sentiria pena da minha mãe, minha mãe, minha mãe ... Por que você está tão longe de mim, tão longe?
JULHO DE 1940 - Stalin continua a deportar judeus poloneses para a Sibéria e para Birobidzhan, uma cidade soviética perto da fronteira chinesa que era o centro administrativo de um estado autônomo judeu formado em 1934. Os moradores foram submetidos a trabalho duro e condições adversas durante a guerra.
6 de julho de 1940
Que noite terrível! Horrível! Terrível. Deitei lá com os olhos bem abertos, meu coração batendo forte, tremendo como se estivesse com febre.
Eu podia ouvir o barulho de rodas novamente. Oh, Senhor Deus, por favor nos ajude! Um caminhão passou.
Eu podia ouvir uma buzina de carro apitando. Isso estava vindo para nós? Ou para outra pessoa?
Eu escutei, esforçando-me tanto que parecia que tudo em mim estava prestes a estourar.
Ouvi o tilintar das chaves, um portão sendo aberto. Eles entraram. Eu esperei um pouco mais. Então eles saíram, levando muitas pessoas com eles, crianças, idosos.
Uma dama tremia tanto que não podia suportar, não podia se sentar. As prisões foram lideradas por uma bruxa gorda que continuava gritando em russo: "Sente-se, sente-se agora!"
Ela carregou crianças na carroça. A noite toda foi horrível. Mal podia esperar pelo amanhecer.
Algumas pessoas estavam chorando. A maioria das crianças estava pedindo pão. Eles foram informados de que a viagem levaria quatro semanas. Pobres filhos, pais, idosos.
Seus olhos estavam cheios de medo insano, desespero, abandono. Eles pegaram o que puderam carregar nas costas delgadas. Eles estão sendo levados para Birobidzhan.
Eles viajarão em vagões fechados e escuros, com 50 pessoas cada. Eles viajarão em condições sem ar, sujas e infestadas.
Eles podem até estar com fome. Eles viajam por muitas semanas, crianças morrendo enquanto passam por um país supostamente feliz e livre.
E quantos chegarão ao seu destino? Quantos morrerão no caminho de doenças, infestações, anseios?
Quando finalmente chegarem ao final da rota desses deportados em algum lugar distante da Ásia, ficarão presos em cabanas podres de lama, famintos, exaustos, ironicamente forçados a admirar o paraíso dos trabalhadores felizes e cantar esta canção:
Um homem permanece como o mestre Sobre sua vasta pátria
8 de agosto de 1940
Nossa visita ao papai foi adiada dia após dia. Agora não temos mais muitas férias de verão, mas ainda estamos indo.
O que importa que eles tenham destruído terras, que tenham dividido irmãos, enviado filhos para longe de suas mães?
O que importa que eles digam "Isto é meu" ou "A fronteira está aqui"? As nuvens, os pássaros e o sol riem dessas fronteiras, dos seres humanos, de suas armas.
Eles vão e voltam, contrabandeando chuva, folhas de grama, raios de sol. E ninguém sequer pensa em bani-los.
Se ao menos tentassem, o sol iria explodir em gargalhadas e eles teriam que fechar os olhos.
As nuvens, os pássaros e o vento seguiriam. O mesmo faria uma pequena alma humana, e muitos dos meus pensamentos.
21 DE AGOSTO DE 1940 - Cerca de um terço dos moradores de Horodenka, uma cidade de cerca de 9.000 habitantes, são judeus. Alemães e ucranianos vão atirar na maioria deles; apenas uma dúzia ou mais escapará.
21 de agosto de 1940
Papai veio nos buscar em Horodenka. Tivemos que andar quatro horas em uma carroça puxada por cavalos. Eu senti tanto a falta dele.
Você não pode chamá-lo de outra coisa senão saudade. Eu tenho saudades de alguém próximo! Estou envolvido por essa ternura estranha.
22 de agosto de 1940
Passei metade da noite chorando. Sinto muito pelo papai, mesmo que ele continue assobiando alegremente. Eu disse a ele, quase chorando: "Eu sei, papai, que você teve os melhores sonhos, mas este não é o seu lar".
21 de setembro de 1940
Eu conheci um garoto chamado Zygmunt S. hoje. Nora admitiu que gostava dele, mas como sabia que ele era o meu tipo, deixou para lá.
Nora tem Natek fofa e doce e Irka tem Maciek. E? Não sei no que vai dar e realmente não tenho muita confiança em mim.
12 DE OUTUBRO DE 1940 - Os alemães decretam a construção de um gueto judeu em Varsóvia.
12 de outubro de 1940
Hoje é Yom Kipur, o Dia da Expiação. Ontem todo mundo saiu de casa; Eu estava sozinha com velas acesas sobre a mesa em um enorme castiçal de latão.
Ah, um único momento de solidão. Eu era capaz de pensar em todas as coisas que se perdem no turbilhão diário.
Eu me fiz a mesma pergunta que fiz no ano passado: mamãe, quando eu vou te ver de novo? Quando eu vou te abraçar e contar o que aconteceu e Bulus [apelido de Renia para a mãe], como estou me sentindo terrível?
E você me dirá: "Não se preocupe, Renuska!" Só você pode dizer meu nome de maneira tão calorosa e terna.
Mamãe, estou perdendo a esperança. Eu olhei para aquelas velas acesas - mamãe, o que você está fazendo aí? Você também pensa em nós, em nossos corações partidos?
Vemos os meninos na cidade. Estamos perto. Vemos Maciek quase todos os dias. Zygus voltou da escola conosco hoje.
Ele olhou diretamente para mim. Ele tem olhos muito poderosos e eu fiquei vermelha no rosto e não disse nada.
Planejamos ir a uma festa em breve - vou me divertir? É mais provável que Nora se divirta do que eu, já que alguém está apaixonado por ela. Eu não acredito em nada. A menos que Bulus venha.
19 de outubro de 1940
Sentamos um em frente ao outro no clube russo esta semana. Ele olhou para mim, eu olhei para ele. Assim que desviei os olhos dele, pude sentir seus olhos em mim.
Então, quando ele me disse duas palavras, fiquei louco, cheio de esperança. Eu senti como se um sonho estivesse se tornando realidade, como se o cálice estivesse bem nos meus lábios.
Mas o cálice ainda está longe. Muita coisa pode acontecer antes dos lábios tocarem nos lábios. Tantas coisas podem acontecer para impedi-los de se tocar.
Este é o mais próximo que eu já experimentei de um amor verdadeiro, porque minha vítima está realmente olhando para mim e dizendo duas palavras. (A propósito, Holender vai se casar! Bem, eu não estou mais interessada nele. Não tenho há muito tempo).
23 de outubro de 1940
Esta é uma semana de competição, então estou pensando nisso mais do que em Zygus. Não tive sorte com ele, mas se tudo mais falhar, sempre terei você!
31 DE OUTUBRO DE 1940 - O oficial do governo polonês Jan Stanczyk afirma que "os judeus como cidadãos da Polônia serão, na Polônia libertada, iguais em relação aos direitos e responsabilidades de todos os poloneses".
NOVEMBRO DE 1940 - A construção é concluída no muro de três metros de altura em torno do gueto de Varsóvia. Um pé adicional de arame farpado acabará por coroar a parede.
6 de novembro de 1940
Ganhei o primeiro lugar na competição! Zygus me parabenizou. Ele era simplesmente lindo. Todas as minhas esperanças reverberaram em mim. Oh, que triunfo.
Então eu fui para aquela festa miserável. Eu fiquei lá sozinha enquanto Nora estava dançando. Eu deixei. Andei pelas ruas molhadas, tentando não chorar alto. Pensei:
"Hoje à noite venci no nível espiritual, mas perdi na vida". Jurei que nunca mais iria a uma festa.
Mas não, eu vou! Tímida ou não, preciso vencer nesta outra arena. Mesmo que isso signifique que minha alma perderá, deixe a vida ganhar!!!
18 de novembro de 1940
Hoje estou sob o feitiço de um filme chamado Jovem Pushkin. Pushkin é meu novo herói. Estou começando a me perguntar se talvez seja melhor ser famosa do que feliz depois de tudo.
Quando Pushkin estava no ensino médio, ele não estudou nada. Ele se encontrava com as outras crianças, passeava à luz da lua em noites perfumadas, pegava nenúfares brancos para sua amante. Ele chorou, sonhou, amou. Pushkin! Pronuncio o seu nome com reverência.
Mas eu nunca poderia me tornar famosa assim. Eu tenho sido como um diabrete de rua há quatro anos. Tudo o que vejo são paralelepípedos cinzentos e rachados e lábios rachados e sedentos.
Eu não vejo o céu, porque o céu é apenas um pedaço de nuvens empoeiradas e mofadas.
Tudo o que vejo são cinzas e fuligem que sufocam, que corroem os olhos, que sufocam a respiração. Nenhuma revolução será capaz de consertar isso. Nada será capaz.
Mais tarde naquele dia
Meu romance parece ter terminado. Que idiota estúpido, bruto e arrogante. Ele gosta de brincar comigo. Mas você sabe o que? Ele não vale a pena que eu escreva sobre ele.
20 de novembro de 1940
Eu tive minha vingança hoje. Escrevi para ele um poema ofensivo. Ele ficou irritado. Agora ele vai me deixar em paz. Eu não suporto ele.
"Rhymester" é o que ele me chamou hoje. Eu queria estar morto! Não, isso não importa. Estou tão triste ... tão triste.
DEZEMBRO DE 1940 - Um relatório do governo polonês no exílio estima que 410.000 pessoas foram trancadas dentro do gueto de Varsóvia.
8 de dezembro de 1940
De repente, eu o amo como uma louca. Apenas pense, tudo estava prestes a ficar adormecido e hoje voltou à vida.
Nada aconteceu - mas ainda assim! Ele brincou com meu capuz, acariciou-o e chegou mais perto! Zygus maravilhoso, maravilhoso, tão maravilhoso!!!
Ei, vamos beber nosso vinho Vamos beber de nossos lábios E quando o copo secar Vamos mudar para beber sangue Querendo e desejando Inspiração e amor ardendo Deixe-os começar um fogo Deixe a raiva queimar como pira Mas lembre-se, garota, que chamas viajam em suas veias que sangue pode explodir você por dentro Querendo e desejando Inspiração e amor ardendo Deixe-os começar um fogo Deixe a raiva queimar como pira Tanto vinho e lábios são vermelhos Uma vida antes de você estar morto Nossos corações estão famintos, jovens, em chamas Somente um para o outro bater . Lembre-se, garota, que chamas viajam em suas veias
10 de dezembro de 1940
Sabe, quando vejo Zygus, tenho uma sensação agradável e feliz que é desagradável ao mesmo tempo.
Algo me paralisa. Ah, esse idiota, se ele soubesse o quanto eu o amo. Há um fio invisível nos conectando.
Pode quebrar, mas não ... Se pudéssemos realmente ficar juntos, seria maravilhoso e terrível ao mesmo tempo! Eu não sei. Não tenho ideia do que está acontecendo comigo.
18 DE DEZEMBRO DE 1940 - Hitler assina a Diretiva 21, a primeira ordem para invadir a União Soviética. A diretiva enfatiza a necessidade de "esmagar a Rússia soviética em uma campanha rápida" e evitar ser arrastada para o leste no vasto interior da URSS. A invasão não ocorre até junho de 1941.
25 de dezembro de 1940
Ontem foi seu aniversário Bulus. Este foi o seu segundo aniversário que não passamos juntos. Quando esta tortura finalmente terminará?! Meu desejo fica mais forte, me sinto cada vez pior.
Às vezes me sinto tão vazio que parece que minha vida está quase acabando - quando, de fato, minha vida está apenas começando. Não consigo ver nada à minha frente.
Não há nada, apenas sofrimento e luta, e tudo vai acabar em derrota. Eu rio durante o dia, mas é apenas uma máscara (as pessoas não gostam de lágrimas).
28 de dezembro de 1940
Zygus vai estar no show de variedades! De fato, ele e eu estaremos na mesma cena, lendo da mesma página.
Irka diz que ele ouviu com admiração quando cantei dísticos. (Eu pensei o contrário, mas tudo bem!)
Quando fomos para a aula, ele pegou minha mão! Parecia que minha mão não me pertencia. Ou foi, mas parecia totalmente diferente da minha outra mão.
Alguns calafrios subiram e desceram. Mais cedo, quando ele estava lá lendo sua parte, eu não conseguia desviar os olhos de seus maravilhosos lábios vermelhos, tenho vergonha de admitir.
31 de dezembro de 1940
Véspera de Ano Novo! Nós colocamos no show de variedades. Eu recebi uma ótima resposta da plateia. Nos bastidores, Zygus tirou minha capa e desembaraçou meu cabelo.
Ele é tão maravilhoso, divino, tão charmoso. Quando eu estava indo embora, ele correu até mim e perguntou se eu iria a uma festa com ele amanhã.
Foi tão emocionante; Eu contei tudo para Nora. Mas ela e Maciek não estão mais tão perto, então ela me inveja. Eu sinto muito por ela.
Hoje é o último dia de 1940. Amanhã é o começo de um novo ano, que trará novos arrependimentos, novas risadas (talvez), novas preocupações, novas lutas.
Meu maior desejo é recuperar minha pobre e amada mãe. Também desejo boas relações políticas e que "algo" aconteça com Zygus. Quero que este novo ano seja alegre e feliz.
Os nazistas forçaram os judeus que moravam no lado alemão de Przemysl a atravessar a ponte ferroviária sobre o rio San e a se mudar para o lado ocupado pela Rússia. (Ilustração de Lauren Simkin Berke)
3 de janeiro de 1941
Então, como foi a festa? Tudo foi doce. Qual foi o melhor momento? Foi quando ele falou comigo enquanto estávamos dançando?
Ou quando ele passou o braço em volta de mim enquanto eu tropecei durante uma valsa?
Ou quando ele sorriu maravilhosamente e perguntou: "Renia, por que você está fugindo de mim?" Ele cheirava tão incrível! E quando ele me tocou ... brrr ... ah ... que ótimo! Tão doce, tão bom! Sentamos e conversamos juntos.
Que noite. Está nevando o dia todo. Mas eu passaria por qualquer tempestade de neve, furacão, chuva com ele - desde que estivéssemos juntos.
Meu maravilhoso, meu menino de ouro, meu amante. Preciso terminar um trabalho para entregar amanhã, mas só quero ver Zygus.
Eu estou ficando louca. E, ao mesmo tempo, não quero vê-lo, porque estou com tanto medo de que algo dê errado, que essa lembrança maravilhosa, doce e perfumada seja estragada.
9 de janeiro de 1941
Hoje uma bola acertou meu maravilhoso e querido Zygus na mandíbula; Foi tão ruim que ele se agachou de dor. Meu pobre querido!
Depois disso, eu disse a ele que estava chateada durante a partida. Ele perguntou:
"Por quê?" Eu disse: "Porque sim." Ele insistiu: "Por quê?" Eu disse: "Eu estava apenas chateada. Deixe me ser assim!"
Ele estava otimista o tempo todo, murmurando algo em iídiche. Ele está planejando estudar medicina e disse:
“Renia, o que faremos no próximo ano? Você virá para Lwow e nós estudaremos juntos".
Se pelo menos mamãe estivesse aqui, eu poderia facilmente contar esses dias como os meus mais felizes até agora. (Ele é apenas um pouco malcriado, não como os outros garotos, que são vulgares.)
20 de fevereiro de 1941
Eu sonhei com Mamma a noite toda. Zygus e eu estávamos resgatando ela, procurando por ela em Varsóvia. Hoje lembrei-me de todas aquelas coisas dolorosas e ardentes.
Estou preocupada com o fim de semana; as coisas sempre dão errado então. Ajude-me, Deus Todo Poderoso. Ajude-me, meu único e verdadeiro amigo, minha maravilhosa, distante e próxima Mamma ...
26 de fevereiro de 1941
Eu não deveria mais duvidar dele. Ele não me perguntou hoje, tão docemente, se eu estava indo para o clube? Ele não veio apenas porque eu estava indo também? Ele não carregou minha mochila e me ajudou a descer as escadas?
Ele não esperou do lado de fora da escola? Quando compartilhei minha halvah com ele, ele pegou um pedaço sem perguntar - era tão íntimo. Mas você sabe o que eu mais gosto de pensar?
Um momento doce quando meu Zygus me comprou um pãozinho e colocou um pedaço dele na minha boca. Além da doçura, havia algo de tão masculino, tão parecido com o marido.
Mamãe e você, Deus maravilhoso, me levem.
7 de março de 1941
Hoje, depois da aula, ele me empurrou (gentilmente) contra a parede e aproximou seus lábios dos meus. Ele disse: "O que devo fazer com esses olhos?" Eu disse a ele para me pegar óculos de sol.
Ele perguntou por que eu era tão malvada. Eu disse: “O que, Zygus? Eu sou malvada?” Ele pegou minhas mãos e repetiu docemente não, não, não! E ele perguntou sobre meus planos para amanhã.
Me sinto estranha. Eu poderia ir para o lugar dele. Tudo vai dar certo, pelo menos um pouquinho? Eu oro a Deus e Bulus. Peço sinceramente que cuide de mim.
18 de março de 1941
Zygus me pegou hoje às 18:00. Primeiro fomos ao Socialist Club, depois ao de Irka, depois voltamos para casa. Parecia que havia algo pairando entre nós, algo indescritível, algo não dito. Fiquei pensando em uma sinfonia inacabada.
Eu mal sou capaz de me controlar. Estou fervendo, estou fervendo, mal consigo parar de ... ah, sou tão descaradamente vulgar!
Z. disse: "Eu esqueço tudo quando olho nos seus olhos." Ele fez um beicinho com seus maravilhosos lábios - tão, tão, tão doce! A sinfonia será concluída?
19 de março de 1941
Estou me sentindo culpada. Eu posso sentir algo poderoso crescendo dentro de mim. Preciso confessar para alguém ou ficarei louca. Todos os meus sentidos estão agitados:
Eu me sinto tão feroz, tão feroz com o amor O sangue quente está fervendo em minhas veias Eu estou tão bêbado de proximidade com cabeça quente, atordoada com chamas desejosas Meus sentidos me mandam se contorcendo Eles estão me amarrando, enredando Eu sei que sou como uma fera Meu auto-respeito diminuiu Eu desprezo, me degradei tanto Mas ainda assim eu entendo que como um cachorro, como um lince ferido, eu não posso mexer Meu coração se contorce, eu uivo por dentro, em um piscar de olhos Eu vou pular e partir selvagem chacoalhar tudo e bufar e gritar. Aqueles lábios vermelhos vão pelos meus lábios serem devastados. Eu estou em um frenesi, meu desejo e medo não são suaves Eu estou viva agora, eu não vou embora e eu quero ... Eu não posso ir ...
Isso é nojento, repulsivo, animalesco.
28 de março de 1941
Hoje fizemos uma longa caminhada. Foi tão bom - nós apenas conversamos, conversamos, conversamos. Ele me disse que iríamos juntos para a Riviera um dia, em algum lugar distante de outras pessoas, com "céu azul" - ao qual acrescentei "" e mar azul "- e ele terminou" e olhos azuis ". Uma caminhada longa e amigável como essa talvez seja ainda melhor do que ... Mas o que eu sei?
ABRIL DE 1941 - A taxa de mortalidade de prisioneiros judeus no gueto de Varsóvia excede 2.000 por mês pela primeira vez. Seu pico será em agosto, com 5.560 mortes.
27 de abril de 1941
Mamãe, eu estou tão triste. Você sabe, às vezes eu acho desculpas para Zygus. Por exemplo, ele não veio me ver e eu disse que era só porque ele estava se sentindo tímido (ele fica facilmente envergonhado!).
Hoje, a pobre e querida Vovó fez uma tentativa desajeitada de me ajudar a me sentir melhor, mas, em vez disso, apenas dilacerou meu coração já sangrando. Vai demorar um pouco para curar. Não sei por que esse dia está tão sujo.
ABRIL DE 1941 - As forças do Eixo se aprofundam na Europa Oriental, conquistando o Reino da Iugoslávia e dividindo-o entre si.
30 de abril de 1941
Eu sou a pessoa mais infeliz. Por que Zygus providenciou para levar Irka para uma festa? Por que ele quer me irritar?
Você sabe, eu vou de qualquer maneira. Vou me deixar torturar. Eu não posso simplesmente desistir completamente.
10 de maio de 1941
Viva o mês de maio! Estou me sentindo renovada. Fomos ao cinema e nos sentamos estreitamente entrelaçados. Zygus gosta de ler meus poemas. Ele diz que um dia serão publicados. Ele é geralmente maravilhoso e eu o amo! Isso me sufoca tanto.
13 de maio de 1941
Toda a minha vida está inflando em mim, todos os meus 17 anos. Todas as minhas emoções estão se acumulando em um monte de folhas secas, e Maio é como combustível derramado naquele monte.
E está crescendo, crescendo, apenas uma faísca e vai explodir, as chamas vão estourar no céu.
Deixe o coração, o cérebro, a mente, o corpo pegarem fogo, deixe que haja apenas conflagração e calor - e desejo de queimar, lábios em brasa ...
Eu perdi o controle da minha mente? Faltam apenas três dias para o final do semestre! Estou vagando por aí, sonhando acordada, ruminando.
Eu não estou estudando para os meus exames. Eu não posso! Os olhos de Zygus são verdes, mas seus lábios são os mais bonitos. Que lábios incríveis!
18 de maio de 1941
Eu tive a mais maravilhosa noite de maio. Subimos as colinas ao longo dos caminhos. O San estava fluindo - poderoso, cintilante, vermelho no pôr do sol.
Nossos espíritos estavam tão conectados que não tenho certeza se algum contato físico poderia ter nos aproximado. É difícil até lembrar do que falamos.
Eu só sei que quando eu mencionei algo sobre sua reputação, ele respondeu: "Então você não gostaria de um marido famoso?"
Eu estou realmente sem palavras, então apenas imagine silêncio, vegetação, maio, pôr do sol e fogos de artifício, e nós dois, apaixonados.
Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
11 de junho de 1941
Zygus passou no exame final da escola hoje! Ele estava tão maravilhoso hoje! Muito, muito terno e muito querido.
20 de junho de 1941
Tivemos outra noite maravilhosa. As estrelas começaram a surgir, a lua flutuou e nos sentamos um ao lado do outro e conversamos.
Quando partimos, estava escuro; não conseguimos encontrar o caminho. Nos perdemos. Foi tudo tão repentino e inesperado, doce e intimidador - ele disse:
"Renuska, me dê um beijo" e, antes que eu percebesse, aconteceu. Ele queria mais tarde, mas eu não podia, estava tremendo por toda parte.
Z. disse: "Podemos fazer isso de novo agora ou amanhã". Eu me sinto tão estranho e agradável.
Era tão leve, ilusório, etéreo, delicado. Como isso aconteceu? Agora não preciso mais pensar e sonhar.
21 de junho de 1941
Eu amo aqueles olhos verdes. Nós nos beijamos pela segunda vez hoje. Era tão bom, mas você sabe, não era ardente ou selvagem, mas de alguma forma delicada e cuidadosa, quase com medo - como se não quiséssemos extinguir algo que estava crescendo entre nós. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
26 de junho de 1941
Eu não sei escrever. Estou fraca de medo. Guerra de novo, guerra entre a Rússia e a Alemanha.
Os alemães estavam aqui, depois se retiraram. Dias horríveis no porão. Querido Senhor, me dê minha mãe, salve todos nós que ficamos aqui e aqueles que escaparam da cidade nesta manhã. Salve-nos, salve Zygus.
Eu quero tanto viver. Estou me humilhando diante de você e implorando em nome de todos nós. Esta noite vai ser terrível. Eu estou assustada.
Acredito que você vai me ouvir, que não vai me deixar nesta hora terrível. Você me salvou antes, me salve agora. Deus, obrigado por me salvar.
Não sei o que vai acontecer conosco. Quase toda a cidade está em ruínas. Um pedaço de estilhaço caiu em nossa casa. Foram dias terríveis.
Por que tentar descrevê-los? Palavras são apenas palavras. Eles não podem expressar como é quando toda a sua alma se apega a uma bala zunindo.
Quando toda a sua vontade, toda a sua mente e todos os seus sentidos pairam nos mísseis voadores e imploram: "Não nesta casa!"
Você é egoísta e esquece que o míssil que sente sua falta atingirá outra pessoa.
Querido Diário! Quão precioso você é para mim! Quão horríveis foram os momentos em que te abracei no meu coração!
E onde está Zygus? Eu não sei. Acredito, fervorosamente, que nenhum dano lhe ocorreu. Proteja-o, bom Deus, de todo o mal.
Tudo isso começou quatro horas depois do momento em que ele me mandou o último beijo até a varanda.
Primeiro, ouvimos um tiro, depois um alarme e depois um uivo de destruição e morte. Também não sei onde Irka e Nora estão, onde está alguém.
É isso por hoje à noite; Está ficando escuro. Deus, salve a todos nós. Faça com que a mamãe venha e deixe que não haja mais miséria.
30 DE JUNHO DE 1941 - As forças alemãs capturam Lwow e seus arredores dos soviéticos. Os judeus são obrigados a usar braçadeiras estampadas com a Estrela de Davi.
JULHO DE 1941 - Os massacres do Ponary começam em Vilna, uma cidade judia predominantemente polonesa. Nazistas e lituanos juntos acabarão matando 70.000 judeus lá.
1 de julho de 1941
Estamos todos vivos e bem. Todos nós, Nora, Irka, Zygus, meus amigos, minha família. Amanhã, junto com todos os outros judeus, terei que começar a usar uma braçadeira branca.
Para você, continuarei sempre a mesma Renia, mas para outros me tornarei alguém inferior: uma garota usando uma braçadeira branca com uma estrela azul. Eu serei um Judeu.
Não estou chorando ou reclamando. Eu me resignei ao meu destino. Parece tão estranho e triste.
Minhas férias escolares e meus encontros com Zygus estão chegando ao fim. Não sei quando o verei novamente. Nenhuma notícia sobre Mamma. Deus proteja a todos nós.
Adeus, querido diário. Estou escrevendo isso enquanto ainda sou independente e livre. Amanhã serei outra pessoa - mas apenas do lado de fora.
E talvez um dia eu te cumprimente como outra pessoa ainda. Conceda-me isso, Senhor Deus, eu acredito em você.
3 de julho de 1941
Nada de novo até agora. Usamos as braçadeiras, ouvimos notícias aterrorizantes e consoladoras e nos preocupamos em sermos selados em um gueto.
Ele me visitou hoje! Eu pensei que iria enlouquecer de alegria e ... confusão. Ele está trabalhando na clínica, fazendo curativos. Ele é doce e maravilhoso, como sempre.
É uma pena que ele não possa ir para a universidade agora. Ele seria um excelente médico. Mas ele será um de qualquer maneira, você verá.
Nós combinamos de nos encontrar amanhã na clínica. Parece um pouco estranho, mas porque não? Mesmo agora que estamos usando essas braçadeiras - a coisa é estar com ele.
Eu quero que Bulus venha com todo o meu coração. Deus, traga mamãe, deixe-a estar conosco para melhor e para pior. Zygmunt é maravilhoso. Você vai me ajudar, Bulus e Deus!
9 de outubro de 1941
Eu estava com mamãe e parecia maravilhoso, extraordinário. Para outras meninas, é natural passar tempo com as mães.
Mas, novamente, minha mãe também é diferente. Ela é como uma amiga, uma colega. Agora estou de volta ao outro lado, desejando-a novamente.
Eu acredito em Deus, em você e em Mamma. Eu acredito que será como Zygus diz. Nós vamos sobreviver a esta guerra de alguma forma, e mais tarde ... ah, será realmente como ele diz?
Sou apenas uma das milhões de garotas caminhando por este mundo - mais feia que algumas, mais bonita que outras, mas ainda assim, diferente de todas elas.
Zygus também é diferente de todos os outros. Ele é tão sutil e sensível. Mamãe, por que você me diz que eu não deveria me afogar em seus olhos verdes? Você não vê que eu já me afoguei?
15 DE OUTUBRO DE 1941 - Os nazistas começam a deportar judeus austríacos para guetos na Polônia ocupada.
OUTONO DE 1941 - Em Przemysl, os nazistas declaram uma área chamada Garbarze como o distrito oficial dos judeus. É delimitada por três lados pelo rio San e por outro por linhas ferroviárias. As autoridades finalmente obrigam judeus de outros bairros a se mudarem para lá.
7 de novembro de 1941
Gueto! Essa palavra está tocando em nossos ouvidos. Não sabemos o que vai acontecer conosco, onde eles vão nos levar.
Fomos obrigados a deixar nossos apartamentos antes das 14h com 25 kg de pertences.
Talvez haja um gueto, mas parece que definitivamente teremos que sair das ruas principais de qualquer maneira.
Às 10:30 da noite passada, de repente a campainha tocou e quem estava lá? A polícia! Pressionei minhas mãos no meu rosto e te liguei, oh Deus, e você me ouviu.
Era um policial da nossa antiga vila e ele se deixou subornar. Lembrei-o dos bons tempos, dos amigos, dos prazeres e, de alguma forma, funcionou.
E agora estou perguntando a você, ó Grande, estou perguntando a você - eu, um grão de poeira, eu, sem pai ou mãe aqui ... ouça a minha súplica!
24 de novembro de 1941
Bulus chegou na sexta-feira e saiu hoje! Ela não gosta de Zygus, talvez porque prefira que ele seja ariano. Ela me avisou para não levar esse relacionamento muito a sério.
É estranho, mas depois desses conselhos, sinto que estou me afastando dele, que simplesmente não gosto dele e tenho medo dele. Às vezes Bulus está errada, e ela não o conhece. Mas às vezes ela está certa!
Porque sua natureza assertiva - que agora acho tão atraente - não me atormentará um dia? Ele não fará o que bem entender comigo e consigo mesmo?
Alguma Halina ou Lidka não envenenarão minha vida? Tudo acabaria então. Eu só teria mais uma casa pela frente: a sepultura.
Por que estou tão brava, sério? É por causa do que Bulus disse? Não, ainda quero que ele seja meu marido. Mamãe diz que você não deve querer tanto, porque pode não conseguir.
Acho que talvez Deus ouça meu pedido sincero e feminino. Sim, pode acontecer!
Deus, que meus sonhos continuem se tornando realidade. Eu serei muito grata. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
26 de novembro de 1941
Depois que Bulus partiu, sonhei que tinha uma discussão a noite toda com Zygus. Eu nem sei do que estava com raiva.
Z. estava muito doce e terno hoje e fiquei irritado comigo mesmo. Ou talvez seja como mamãe diz. Talvez eu seja infeliz. Mas estou pronto para desistir do meu sonho?
Renia com Zygmunt Schwarzer. “Agora me chamo Sra. Schwarzer o tempo todo, mesmo na frente de Zygmunt”, escreveu ela feliz em 1941. (Ilustração de Lauren Simkin Berke)
19 de janeiro de 1942
Era o aniversário dele hoje. Dei-lhe uma coleção de poemas e ele ficou tão emocionado! Eu não sabia que isso o agradaria tanto.
Perguntei o que ele gostaria que eu desejasse. Ele disse para nós sobrevivermos a essa guerra sem nos separarmos. Eu também quero isso? Não quero que nos separemos.
Como Z. colocou, os poemas nos conectam. Que bom que ele entende isso. Os poemas conectam almas e elevam o amor. Deus, obrigado e que meus sonhos se tornem realidade.
25 de março de 1942
Eles estão fechando nosso trimestre; eles estão levando as pessoas para fora da cidade; há perseguições, ilegalidade. E acima disso - há primavera, beijos, carícias doces, o que me faz esquecer do mundo inteiro.
20 de abril de 1942
Hoje é o aniversário do Führer. Eu quero gritar com todas as minhas forças.
Como você pode se apaixonar por 18 meses? Tudo é real, pulsante, fervilhando de vida, amor e juventude.
Sinto como se estivesse andando de carruagem ou correndo contra o vento e a chuva. Não consigo recuperar o fôlego, não consigo encontrar palavras.
Eu posso dissolver em minha própria ternura, meu próprio carinho. Hoje eu estava realmente pronto para estrangulá-lo, mas o que eu faria então?
Zygus, eu estou realmente escrevendo isso para você e você! Eu abri meu coração para você e você é muito querida para mim!
Estou feliz, feliz e leve e ... Sonhos! Sonhos estúpidos, loucos e maravilhosos!
MAIO DE 1942 - A cerca de 595 quilômetros de Przemysl, em Treblinka, os nazistas ordenam a construção de um campo de extermínio. Nos dois anos em que os nazistas operam, 870.000 a 925.000 pessoas serão mortas lá.
11 de maio de 1942
Passei o dia com Nora hoje. Sua atitude em relação ao amor é leve, enquanto a minha é séria. Ela diz que isso vai me deixar infeliz.
Talvez, mas sei que não posso fazer de outra maneira. Depois da nossa conversa, eu estava exausta e tive uma dor de cabeça. E esse gueto, essa situação, essa guerra ... Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
12 de maio de 1942
Algum tipo de febre tomou conta da cidade. O espectro do gueto voltou. Fico feliz por estar chorando agora, quando ninguém pode me ver.
Eu gritei hoje: "Oh, Deus, eu quero que o momento deles me levarem embora chegue logo!"
Não, eu não quero isso! Senhor, perdoa-me! Mas minha alma estava tão amarga que eu senti que isso talvez fosse o melhor.
Mamma nos escreve que as crianças estão sendo levadas para o trabalho forçado. Ela me disse para fazer as malas.
Ela quer estar conosco e, ao mesmo tempo, quer enviar uma carta oficial a papai pedindo divórcio.
Eles nunca vão consertar isso. Mamãe se casará novamente e eu nunca mais voltarei à porta da casa dos meus pais.
O marido dela será um estranho. E papai me escreveu dizendo que não tinha certeza se iria me ver de novo!
Papai, você é um judeu azarado, assim como eu, trancado no gueto. Santo Deus, você pode me salvar? Você pode salvá-los? Todos eles. Oh, por favor, faça um milagre!
A vida é tão miserável. Mas meu coração ainda se enche de tristeza, quando penso ... vou morrer? O que nos espera no futuro?
Oh, Deus Todo-Poderoso! Muitas vezes perguntei a você e você me ouviu - por favor, ponha um fim à nossa miséria.
Eu me sinto melhor agora; é tão bom chorar. As pessoas dizem que agora a comida é a coisa mais importante.
Eu jantei bem e me sinto muito mal. Não estou com fome, mas estou com fome pela proteção de alguém.
E Zygus? Sim, talvez seja por isso que não quero me despedir da vida. Mamãe, não se prenda por mim. Você terá sua própria vida agora. Você pode até ter mais filhos.
Eu realmente não contava que teríamos uma casa juntos no futuro; Eu apenas tive esse sonho tímido e ingênuo.
Não estou realmente desapontada, apenas olhei em volta para o mundo e isso me assustou com o seu vazio.
E mamãe, tão querida, estará com um homem que é um estranho para mim. Não estou mais chorando.
O homem com quem estarei será um estranho para ela. A vida une as pessoas e depois as separa.
20 de maio de 1942
Ontem, Z. veio me buscar no meu trabalho na fábrica e saímos de mãos dadas. Os pomares estão florescendo, maio está brilhando com seu céu azul e eu também estou brilhando de alegria. Eu me sinto como sua filha e eu gosto muito!
23 de maio de 1942
Algo tem me incomodado terrivelmente nos últimos dias. Eu sei que Nora está pensando em como será quando meu romance terminar.
Ela está me acusando de levar isso muito a sério e (ela tem uma visão clara disso?) ela faz meu coração doer.
Eu sei que ela duvida se Z. realmente me ama. Eu sei isso; Eu posso sentir isso.
E Zygus às vezes diz algumas coisas sem perceber e isso me machuca tanto. Às vezes, quando me incomoda demais, penso em fugir.
Mas quando eu o seguro com força, quando ele está perto, tão perto, sinto que não seria capaz de me separar dele nem por todos os tesouros do mundo. Isso significaria desistir da minha alma.
Nora, você está errada. Você é diferente, mas eu ficaria sem nada.
Quando Z. é bom para mim, tudo é bom, brilhante e cheio de sol. É uma pena que o mês esteja prestes a terminar.
As noites estão cheias de estrelas. Elas são tão apaixonantes e eu sonho tanto, eu sonho, eu sonho.
2 de junho de 1942
Agora eu sei o que a palavra êxtase significa. É indescritível; é a melhor coisa que duas criaturas amorosas podem alcançar.
Pela primeira vez, senti esse desejo de me tornar um, ser um corpo e ... bem ... sentir mais, eu poderia dizer.
Morder, beijar e apertar até o sangue aparecer. E Zygus falou sobre uma casa e um carro e sobre ser o padrinho para mim.
Senhor Deus, sou muito grato a você por esse carinho, amor e felicidade! Estou escrevendo essas palavras de maneira diferente, sussurrando-as em minha mente para não assustá-las ou explodi-las.
Não quero pensar em nada, só quero tanto, tão apaixonadamente como ... você sabe. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
3 DE JUNHO DE 1942 - OS nazistas matam todos os residentes judeus no bairro de Zasanie, em Przemysl, no lado oeste do rio San.
JUNHO DE 1942 - Cerca de 5.000 judeus de várias outras cidades polonesas são deportados para Przemysl.
6 de junho de 1942
Eu desejo com cada pedacinho do meu corpo, meus pensamentos, minha imaginação. Até o livro mais inocente me excita. Ah, eu luto com esses sonhos nojentos.
Eu não vi Zygus hoje, ele está sobrecarregado, cansado e fraco. É muita sorte, porque agora estou cheia de energia. Minha ganância pela vida me torna feroz. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
7 de junho de 1942
Estou em paz. Nora e eu fizemos uma longa caminhada até o fundo do quarto e conversamos.
Ela foi a primeira pessoa a quem eu contei. Percebi que esse fardo estava me atormentando. Eu me senti em paz.
Onde quer que eu olhe, há derramamento de sangue. Que pogroms terríveis. Há matança, assassinato.
Deus Todo-Poderoso, pela enésima vez que me humilho na sua frente, ajude-nos, salve-nos!
Senhor Deus, vamos viver, eu te imploro, eu quero viver! Eu experimentei tão pouco da vida. Eu não quero morrer Eu tenho medo da morte.
É tudo tão estúpido, tão mesquinho, tão sem importância, tão pequeno. Hoje estou preocupada com a minha aparência; amanhã eu posso parar de pensar para sempre.
Pense, amanhã nós podemos não ser Uma faca fria de aço Deslizará entre nós, você vê Mas hoje ainda há tempo para a vida Amanhã o sol pode ser eclipsado Balas podem rachar e rasgar E uivar, calçadas inundadas Com sangue, sujo e fedido escória, lavagem de porco Hoje você está vivo Ainda há tempo para sobreviver Vamos misturar nosso sangue Quando a música ainda avança A música da inundação selvagem e furiosa Trazida pelos mortos-vivos Ouça, todos os meus músculos tremem Meu corpo por sua proximidade atrapalha Supõe-se para ser um jogo de estrangulamento, essa não é a eternidade suficiente para todos os beijos.
14 de junho de 1942
Está escuro, não consigo escrever. Pânico na cidade. Tememos um pogrom; tememos deportações. Oh Deus Todo Poderoso! Ajude-nos!
Tome conta de nós; nos dê sua bênção. Vamos perseverar, Zygus e eu, por favor, vamos sobreviver à guerra. Cuide de todos nós, das mães e crianças. Amém.
18 DE JUNHO DE 1942 - A Gestapo reúne mais de 1.000 homens judeus em Przemysl e os envia para o campo de trabalho de Janowska. Os agentes assassinam inúmeros membros das famílias dos prisioneiros.
19 de junho de 1942
Deus salvou Zygus. Oh, estou fora de mim. Eles levavam as pessoas a noite toda. Eles reuniram 1.260 meninos. Há tantas vítimas, pais, mães, irmãos.
Perdoe-nos nossas ofensas, ouça-nos, Senhor Deus! Foi uma noite terrível, terrível demais para descrever.
Mas Zygus estava aqui, meu doce, doce e amoroso. Foi tão bom; nos abraçamos e nos beijamos sem parar.
Foi realmente tão deliciosamente agradável que valeu a pena todo o sofrimento. Mas às vezes acho que não vale a pena, que uma mulher amorosa tenha que pagar um preço muito alto. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
23 de junho de 1942
Ontem houve uma espécie de pogrom em nosso trimestre. Bulus escreveu e me disse para deixar a cidade com Zygus.
Ela escreveu "juntos". "Juntos"! Seria tão delicioso, tão doce! Embora seja absurdo por enquanto. Mas hoje em dia, mesmo o maior absurdo pode se tornar realidade.
27 de junho de 1942
Bom, tranquilo, tranquilo, abençoado sábado à noite. Minha alma se acalmou. Por quê? Porque eu me aconcheguei contra ele, ele me acariciou e me fez sentir como sua pequena filha.
Eu esqueci tudo de ruim. É uma pena que Zygus se foi agora. Eu poderia continuar deitada contra ele por um longo, longo tempo.
29 de junho de 1942
Zygus me diz coisas ruins. Ele me diz coisas doces também. Sou sempre mais bonita depois - com olhos brilhantes, lábios ardentes e bochechas coradas. Zygus também é o mais bonito da época. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
JULHO DE 1942 - A Gestapo estabelece um Judenrat , ou Conselho Judaico, para executar ordens nazistas na comunidade judaica de Przemysl. O Judenrat inclui médicos, advogados, rabinos e líderes empresariais.
5 de julho de 1942
Temíamos e finalmente aconteceu. O gueto. Os avisos saíram hoje. Supostamente, eles estão planejando deportar metade das pessoas.
Grande Senhor Deus, tenha piedade. Meus pensamentos são tão sombrios, é um pecado sequer pensar neles.
Eu vi um casal de aparência feliz hoje. Eles estiveram em um passeio; eles estavam voltando, divertidos e felizes.
Zygus, meu querido, quando iremos a um passeio como o deles? Eu te amo tanto quanto ela o ama.
Eu olhava para você da mesma maneira. Mas ela é muito mais feliz, é a única coisa que sei.
Ou talvez - oh, Santo Deus, você está cheio de misericórdia - nossos filhos dirão um dia: "Nossa mãe e pai moravam no gueto". Oh, eu acredito fortemente nisso.
14 DE JULHO DE 1942 - Os nazistas estabelecem um gueto selado em Przemysl, ordenando que 22.000 a 24.000 judeus da cidade se movam dentro de seus limites no dia seguinte. Somente membros do Judenrat e suas famílias podem permanecer temporariamente em casas fora do gueto. Qualquer pessoa que ajude ou dê abrigo aos judeus está ameaçada de execução.
15 de julho de 1942
Lembre-se deste dia; lembre-se bem. Você dirá às gerações vindouras. Desde as oito horas de hoje, estamos trancados no gueto.
Eu moro aqui agora. O mundo está separado de mim e eu estou separado do mundo.
Os dias são terríveis e as noites não são nada melhores. Todo dia traz mais baixas e eu continuo orando a você, Deus Todo-Poderoso, para me deixar beijar minha querida mãe.
Oh, Grande, nos dê saúde e força. Vamos viver. A esperança está murchando tão rápido. Há flores perfumadas na frente da casa, mas quem precisa de flores?
E Zygmunt - eu o vi à distância hoje, mas ele ainda não apareceu. Senhor, por favor, proteja sua querida cabeça.
Mas por que não posso me aconchegar ao lado dele? Deus, deixe-me abraçar minha querida mãe.
16 de julho de 1942
Você provavelmente quer saber como é um gueto fechado. Bastante comum. Arame farpado por toda parte, com guardas vigiando os portões (um policial alemão e uma polícia judaica).
Deixar o gueto sem passe é punível com a morte. No interior, existem apenas nosso povo, entes queridos.
Lá fora, existem estranhos. Minha alma está muito triste. Meu coração está tomado pelo terror.
Senti muita falta de Zygus hoje. Eu pensava nele o tempo todo. Eu ansiava tanto por suas carícias, ninguém sabe quanto. Afinal, enfrentamos uma situação tão terrível. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
18 de julho de 1942
Os dias passam. São todos iguais, como gotas de chuva. As noites são as mais agradáveis. Sentamos no quintal em frente à casa, conversamos, brincamos e - respirando a fragrância do jardim - consigo esquecer que moro no gueto, que tenho tantas preocupações, que me sinto só e pobre, que Z. é um estranho para mim, que, apesar de todo o meu desejo, não posso me aproximar dele.
Aqui, no quintal, as pombas arrulham. O crescente da lua flutua silenciosamente no céu. Eu estava à beira das lágrimas três vezes hoje.
Culpei as condições de vida, mas o amor pode florescer em qualquer lugar. E, no entanto, sombras sempre voam no meu caminho. De onde vêm essas sombras? Meu coração dói tanto.
Não quero pedir a Deus mais nada, apenas a nossa sobrevivência. Sonho em colocar minha cabeça no peito de mamãe e chorar docemente.
Mamãe não está aqui. Nora esta, então eu vou até ela e choro. Ela é uma alma querida, ela vai entender.
Não quero ver mais nenhum amigo. Irka disse que iria passar por aqui. Pra que? Eu não a suporto. É tudo estúpido, calculado, artificial.
Tchau, querido diário, meu coração está pesado, como se fosse chumbo. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
19 de julho de 1942
Zygus, meu amado Zygus, é meu coração batendo novamente; ele é tão deliciosamente doce.
O mundo é bom para nós, mesmo no gueto. Então hoje eu estou muito mais calma. Agora terei bons pensamentos sobre tudo!
Amanhã Nora completará 18 anos. Gostaria de dar a ela algo mais que um álbum e flores, algo que ninguém mais dará a ela.
Prometi comprar-lhe uma câmera maravilhosa quando sairmos daqui e fazer caminhadas nas montanhas, para fazer a minha amiga feliz. Isso também me faria feliz.
20 DE JULHO DE 1942 - As autoridades alemãs exigem 1,3 milhão de zloty (aproximadamente US $ 250.000 em moeda de 1942) dos moradores do gueto de Przemysl para garantir "paz e sossego".
22 de julho de 1942
Eu tenho que escrever para silenciar a dor. Um tempo tão terrível e sombrio. Não sabemos o que o amanhã trará. Esperamos que as famílias sejam levadas embora.
Nem uma palavra de mamãe ou papai. Também não é bom com Zygmunt. Eu realmente não queria admitir que estou fervendo de raiva.
Mas não consigo me conter. Tenho lágrimas nos olhos de dor e as pontas dos meus dedos estão formigando de raiva.
Não quero escrever sobre os detalhes, como posso escrever palavras ranzinzas, clamando, e qual é o objetivo? Será sempre o mesmo. Estou ressentido e impotente no amor.
Quando penso nisso, fico tão furiosa que não quero mais vê-lo novamente. Já tive o suficiente disso tudo.
Cubro meus ouvidos com as mãos e fecho os olhos. Eu gostaria de usar meu sofrimento para criar sofrimento, para me tornar doente.
Mas nos meus sonhos, é completamente diferente. Meus sonhos são doces. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
24 DE JULHO DE 1942 - O Judenrat em Przemysl está autorizado a emitir 5.000 licenças de trabalho carimbadas que salvarão temporariamente os residentes do gueto da deportação.
24 de julho de 1942
Querido Deus, ajude-nos. Precisamos pagar nossa contribuição amanhã às 12 horas.
A cidade está em perigo. Mas ainda tenho fé. Minha fé é profunda e eu imploro. Você nos ajudará, Bulus e Deus.
25 de julho de 1942
A polícia do gueto judeu veio ontem à noite. Ainda não pagamos tudo. Oh! Por que o dinheiro não pode chover do céu? Afinal, é a vida das pessoas.
Tempos terríveis chegaram. Mamãe, você não tem ideia do quão terrível. Mas o Senhor Deus cuida de nós e, embora eu esteja terrivelmente assustado, confio nele.
Confio, porque nesta manhã um raio de sol brilhante atravessou toda essa escuridão. Foi enviado por minha mãe em uma carta, na forma de uma maravilhosa fotografia dela.
E quando ela sorriu para mim da foto, pensei que Deus Santo nos tem sob seus cuidados!
Mesmo nos momentos mais sombrios, há algo que pode nos fazer sorrir. Mamãe, rogai por nós. Eu te mando muitos beijos. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
À noite!
Meu querido diário, meu bom e amado amigo! Passamos por momentos terríveis juntos e agora o pior momento está sobre nós.
Eu poderia ter medo agora. Mas Aquele que não nos deixou então também nos ajudará hoje.
Ele vai nos salvar. Ouça, ó, Israel, salve-nos, ajude-nos. Você me manteve a salvo de balas e bombas, de granadas. Ajude-me a sobreviver!
E você, minha querida mamãe, reze por nós hoje, reze muito. Pense em nós e que seus pensamentos sejam abençoados.
Mamma! Meus queridos, primeiro e único, tempos terríveis estão chegando. Eu te amo com todo o meu coração. Eu te amo; nós estaremos juntos novamente.
Deus, proteja a todos nós e Zygmunt e meus avós e Ariana. Deus, nas tuas mãos eu me comprometo. Você vai me ajudar, Bulus e Deus.
Anotações de Zygmunt no Diário
27 DE JULHO DE 1942 - O tenente Albert Battel, da Wehrmacht, toma uma posição incomum contra a deportação de judeus de Przemysl. Ele usa caminhões do Exército para resgatar até 100 trabalhadores armados judeus, juntamente com suas famílias, protegendo-os da deportação para o campo de extermínio de Belzec.
27 de julho de 1942
Está feito! Primeiro de tudo, querido diário, por favor, perdoe-me por entrar em suas páginas e tentar continuar o trabalho de alguém de quem não sou digno.
Deixe-me dizer-lhe que Renuska não recebeu o carimbo de permissão de trabalho que precisava para evitar ser deportada, então ela precisa ficar escondida.
Meus queridos pais também foram recusados com carimbos de permissão de trabalho.
Juro por Deus e pela história que salvarei as três pessoas que são mais queridas para mim, mesmo que isso me custe minha própria vida. Você vai me ajudar, Deus!
28 de julho de 1942
Meus pais tiveram sorte de entrar na cidade. Eles estão se escondendo no cemitério. Renia teve que sair da fábrica.
Eu tinha que encontrar um esconderijo para ela a qualquer custo. Eu estava na cidade até as 8 horas. Eu finalmente consegui.
29 de julho de 1942
A Aktion [deportação em massa] foi impedida por causa de uma disputa entre o exército e a Gestapo.
Não consigo descrever tudo o que aconteceu nos últimos três dias. Não tenho energia para isso após 12 horas de corrida pela cidade.
Esses eventos me abalaram profundamente, mas não me quebraram. Eu tenho uma tarefa terrivelmente difícil.
Eu tenho que salvar tantas pessoas sem ter nenhuma proteção para mim ou qualquer ajuda de outras pessoas.
Esse fardo repousa apenas nos meus ombros. Eu levei Ariana para o outro lado.
30 de julho de 1942
Hoje tudo será decidido. Reunirei toda a minha força mental e física e alcançarei meus objetivos. Ou eu vou morrer tentando.
5 horas
Ao meio-dia, eles levaram nossos cartões para carimbar (junto com os cartões das esposas). Decidi arriscar meu documento, porque pensei que era minha última chance de salvar Renuska. Sem sorte! Eles ameaçaram me mandar para a Gestapo.
Depois de muito pedido, eles finalmente retiraram essa ameaça. Mas essa falsificação me custou meu trabalho gerenciando quartéis militares. Às 8 horas, vou descobrir se vou ou não ficar.
Na noite
Oh, deuses! Que horror! Foi tudo por nada! O drama durou uma hora. Não recebi meu cartão. Acabei de me matar ?! Agora estou sozinho. O que vai acontecer comigo?
Eu queria salvar meus pais e Renia, mas, em vez disso, acabei me metendo em mais problemas. Parece que o fim do mundo está aqui. Eu ainda tenho esperança.
31 de julho de 1942
Três tiros! Três vidas perdidas! Aconteceu ontem à noite às 22:30. O destino decidiu tirar meus queridos de mim. Minha vida acabou.
Tudo o que posso ouvir são tiros, tiros tiros ... Minha querida Renusia, o último capítulo do seu diário está completo.
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Revirando o Baú V - Um Trabalho da Faculdade para uma saudosa professora
ISABELA TAÍLA BIEHL RGA: 201508050015
1° semestre de letras
Alice no País das Maravilhas e a Busca pela identidade
A construção da identidade e o questionamento a respeito da mesma sempre foi objeto de estudo da psicologia e também fora representada de diversos meios na literatura e nas artes. As perguntas “Quem sou eu?” “O que sou eu?” “Qual o meu papel no mundo?” sempre fizeram parte não só do nosso processo de autoconhecimento como também ressurge em diversas vezes na nossa vida quando nos deparamos com profundas questões existenciais e/ou relacionadas à nossa estima.
No livro Alice no País das Maravilhas, a personagem principal Alice é levada a fazer por diversas vezes este questionamento, e não somente sobre sua identidade, mas também sobre seu estado de espírito e sanidade, quando se envolve em situações confusas e estranhas em comparação ao seu estilo de vida até ali. Como por exemplo, quando ela se encontra presa no salão das portas, por que comeu um bolo que a fez crescer mais do que o espaço, Alice então começa a se questionar se não foi trocada durante a noite e passa a se comparar a todas as meninas de sua idade que conhecia, por notar diferença existente entre o que ela sabe que é e o que ela sabe que as outras são, realiza um processo de eliminação. Uma atitude que às vezes tomamos quase inconscientemente e muito importante para a afirmação de nossa identidade, afinal, para saber quem somos e do que gostamos precisamos definir quem não somos e do que não gostamos. Ela se dar conta de que deve ser Mabel, a menos inteligente de sua turma..
Alice chega a essa conclusão após tentar recitar um poema, “ A abelhinha esforçada” (um poema vitoriano que as crianças eram obrigadas a decorar e recitar em sarais) mas acaba recitando uma paródia, Lewis Carroll, autor do livro, tinha por costume parodiar muitos poemas e musicas de sua época, e expôs na boca e sua personagem uma de suas paródias, mas Alice não vê como paródia, para ela a música está toda errada mesmo ela sabendo a de cor, ela então tenta fazer cálculos, mas novamente acaba errando, Alice não sabe (é nós só somos informados no final do livro) que ela está sonhando, e quando sonhamos não temos as vezes total controle sobre nossos conhecimentos. A pobre Alice não aceita ser Mabel, pois o que ela sabe de sua coleguinha (que pelo visto é ela mesma) é mora em uma casa pequena, sem muitos brinquedos e com muitas lições para estudar, então toma uma decisão:
“Eu vou ficar aqui em baixo até que alguém me chame aí eu vou perguntar quem eu sou e se eu gostar de ser essa pessoa eu subo (...)”
Não sabendo como lidar com o mistério de sua verdadeira identidade, Alice transfere a pergunta a quem lhe conheça melhor, ou quem se importe com ela. Mas essa está longe de ser a única vez em que ela se questiona sobre quem ela é, na mesma cena, ela entra em conflito consigo mesma, literalmente, mas agora a questão não é exatamente a identidade, mas a divisão dela. Alice costuma às vezes fingir ser duas pessoas, geralmente para se auto repreender, ela é uma criança curiosa e travessa, mas tem um lado que dá broncas em si mesmo, dá conselhos e ordem, ela precisa se manter estável, não ser levada demais, algo que esse lado sério dela impede (ou tenta impedir) mas também não é comportada e contida o tempo todo, o fato de ter parado naquela situação é um exemplo disso, podemos aí então reparar a luta da razão e do desejo, o lado ‘racional” de Alice, manda ela não chorar tanto, não trapacear nos jogos, e talvez seja ele quem decide olhar duas vezes em frasco para ver senão está escrito veneno antes de bebê-lo (como manda a etiqueta deste) já o lado mais impetuoso dela é quem decide correr atrás de um coelho nem que para isso ela entre em um túnel e caia em um buraco, é este último que acaba sempre vencendo, pois no decorrer da história ela sempre acaba por tomar atitudes não muito bem pensadas. Outro momento em que Alice se questiona ou/e é questionada é quando encontra o personagem do Gato de Cheshire, um gato que sorri e se evapora
“-Todos são loucos por aqui, eu sou louco, você é louca- diz o gato
-Como sabe que eu sou louca?
-Deve ser, se não teria vindo para aqui-“
O Gato de Cheshire sabe (ou parece saber) que uma pessoa normal (ou considerada normal) jamais iria para um lugar onde todas as criaturas são loucas e não podemos contradizê-lo quanto a isso, tanto quanto ao fato de o lugar ser de loucos quanto ao de Alice ser louca para estar lá, mas afinal, o que é a loucura? No livro o Gato põe como exemplo todos os gatos, diz que são loucos por terem atitudes contrárias as dos cães, e em todo o País das Maravilhas, Alice vê personagens agindo a todo instante de maneira muito diferente ao que ela está acostumada em sua sociedade, mas no livro todo vemos grandes críticas a sociedade na época, Carroll mais uma vez faz um grande paródia de todas as convenções e modas de seu tempo: meados do século XIX. Mas voltando ao questionamento principal, tem-se aí uma outra afirmação interessante sobre a identidade de Alice, a de que seu lado menos racional é louco, pois foi este lado que a levou aquele lugar, ora isto é fato, não só na era vitoriana mas inclusive nos dias de hoje, qualquer pessoa que decida satisfazer seus desejos de curiosidades e agir de maneira menos racional é chamado de louco. Mas também vemos novamente o princípio de saber o que se é por saber o que não se é, já que “louco” é tudo aquilo que contrário ou diferente do que é “normal”. Uma outra ocasião em que Alice é questionada é quando encontra a lagarta:
‘-Quem é você?
-Eu não sei dizer Sir.. Eu sabia quem eu era quando eu acordei agora de manhã... mas já mudei tantas vezes desde então..(...) ‘
Alice se refere às mudanças de tamanho que sofreu até ali, e durante todo o diálogo com a personagem da Lagarta, cita elas para explicar o quanto está confusa sobre a sua identidade. Ela de fato mudou muitas vezes de tamanho, sempre em decorrência de alguma coisa que ingeria, ora estava muita alta, ora muito baixa, mas nunca no seu tamanho ideal, mas as mudanças não são os únicos motivos para Alice se sentir estranha, novamente ela tem de recitar um poema, “Pai William” e novamente ela recita uma geniosa paródia, que a Lagarta por sua vez diz estar tudo errada. Não é a última vez em que Alice recita paródias ao vez do texto original e é confrontada pelas palavras estarem fora de lugar, mas o fato de não demonstrar os seus conhecimentos não pode fazer juz a usa confusão o tempo todo, já que em outras passagens do livro ela não perde a oportunidade de demonstrá-los, mesmo que esteja sozinha.
Sendo essas auto-indagações muito recorrente na adolescência ou no período da puberdade, poderíamos supor (como muitos já o fizeram) que as passagens em que Alice se confronta sobre sua identidade são metáforas da vida que fazem total alusão ao crescimento e claro, ao auto conhecimento. Não tirando a razão dessa e de outras interpretações, acrescento, porém que o autor da obra, Lewis Carroll, também vivia em constante questionamento sobre sua real essência, compartilhando com sua personagem (e até por que não, alterego) o costume de se autorepreender, e de se dividir, ora Lewis Carroll, o escritor de história infantis, eternizado por sua obra nonsense, contador de fábulas fantásticas e amigo de muitas, muitas crianças, ora Charles Lutwidge Dodgson, (nome de batismo) professor de matemática na universidade de Oxford, clérigo e conservador, totalmente oposto um ao outro, em uma época em que não se permitiam muitas liberdades, e a construção da identidade era por vez mais complexa, além de fazer uma critica a uma sociedade caótica e censora.
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#carrollian#alice no país das maravilhas#lewis carroll#identidade#aritgo#academia#trabalhos academicos#textos antigos
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hoje / professorodisseia
acordei com pressa às 4:35 da manhã, comi bisnaguinhas minhas
requeijão & apresuntado
café do metrô, atravessando a cidade, vocês já sabem dessa parte e etc
seis aulas entre provas e idas :: alunos respondendo perguntas ao som de "Avengers Assemble" na caixinha do celular, literalmente, vibranium de emoção
Quanto poder mas quanta desgraça mas quanta sorte mas quando azar mas quanta possibilidade nas mãos
fui elogiado & desrespeitado (duas vezes e meia cada!!! Só hj!!)
comecei amigo, virei inimigo, depois voltei a ser amigo, não sei como fui embora
olhei nos olhos de todos os alunos
vi repetirem minhas frases nas provas, uma mãe elogiou meu bigode, um pai falou de mim
hoje eu também fui assunto
Amanhã serei mais em algum momento
outro dia, lembrado com raiva assistindo o jornal
talvez saudoso pelas turmas de antes
quem sabe amanhã sou tema de discussão no jantar
(nunca se viu profissão tão desimportantemente lembrada)
tem um espectro rondando o Brasil, o espectro do professorado
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eu dou 37 aulas & 18 horas de plantão
na semana
(faça as contas)
planejo nos intervalos. repenso na prática. meu objetivo é inventar mas inspirar
& meu trabalho é defender a geografia enquanto ensino crianças a mudar o mundo por entendê-lo
uma jornada comum de trabalho diária me dura 12 horas, média de 7h30 por noite de sono contando os finais de semana
carteira assinada, amo o que faço
tem a pesquisa de mestrado - isso não é um poema - ok
não estou tão cansado quanto pareço, o que me dói é o medo de perder a língua
ouço tantos colegas choramingando que cogito chamá-los companheiros
espectro, dizia, eu sei, não reclamarei
afinal
- nada temos a perder, se não as chaves das correntes e cadeados do mundo -
-------------------------
acabei de animar uma pessoa com todas as forças que tenho a prestar geografia - ela chegou perguntando durante minha watch no plantão
"Como é o mercado do curso?"
- denso, complicado, injusto - mas respondi a verdade :: teria bastante emprego
teria, talvez tenha ainda, mas por enquanto.. teria
*Só trato das coisas no campo da possibilidade*
"A geografia é um instrumento de guerra, uma ferramenta de localização - tudo que aprendi sobre olhar para o mundo interpretando-o e fazendo de mim com ele e fazendo muito de tudo foi nas experiências a partir da geografia. Feita na FFLCH, ou quase sempre extrafflch, em casa, na vida, com mãe e pai. Geografia é viver. Mas o mercado é quente na guerra".
- guerra? e para pesquisa?
Olha, eu sou pesquisador.
- uhum
Mas tem que melhorar - a geografia é a prova disso. Mais do que nunca ela é necessária. Indiquei o Xadrez Verbal e avisei: mas.... CUIDADO COM O MUNDO!!
* E com as três horas de podcast *
- tem no Spotify?
*Às vezes eu sou um professor meio dramático*
Depois que você descobre como ele (o mundão) funciona, não consegue mais parar de produzi-lo a partir da sua realidade. É o cabo de guerra que a geografia registra. A gente só interpreta. Atua de vez em quando.
- mas como é o curso?
É poderoso. Você aprende do chato ao legal, se apaixona por agrária, por urbana, por geomorfo, cai de ódio por hidro mas adora hidro, geopolítica te deixa de orelha em pé com a própria geopolítica, tem aquele Marx te dando Oi, é muito erudito e muito local e muito muito poderoso. Já disse isso? Saber sobre o mundo é perigoso. Toma esse livro aqui - indiquei -
"A geografia serve em primeiro lugar para fazer a guerra" * Yves Lacoste *
Sussurro (você vai achar o PDF por aí)
Sussurro (okk)
- a geografia come pelas beiradas, ou você pisa nela -
É assim que começo todas as minhas primeiras vezes em turmas novas:
" Oi. Meu nome é Joaquim. Pausa Muito Dramática. E.. se eu contar que a geografia não serve só para conhecer tudo (já que tudo nunca é suficiente)......
.... Mas que serve mesmo para fazer a guerra?
(aqui o "mesmo" vem em negrito em textos editados e com ênfase na vida real)
As caras de surpresa são as melhores.
- se o povo produz toda geografia, então toda geografia pertence ao povo - diz o espectro sobre mim antes que tenha de parar
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A alma da Poeira
Sou feito de pouco brilho, invejo em veemência as estrelas do céu e da terra. De tanto ansiar ver-me, eu me desmancho no que penso ter sido. É melhor, eu sei, uma manhã vazia de um contato quente e acolhedor do que uma figurada de falsos risos, daqueles cujo presença equivale, ao fim do dia, à nada. Desses contubérnios sem finalidade eu tomei grande distância. E distanciando-me do mundo, é que pude enxergar as formas de meu coração. Depois de renunciar o que eu antes quis com ardor, fiquei estatelado em pleno ar, flutuando na terra firme.
Após infinitos toques, depois de resvalos que se disseram eternos, eu posso finalmente dizer o a verdade que o silêncio me impõe: a solidão é melhor; é quase como mão acolhedora que guia a alma. Ademais, venho procurado o meu mais genuíno modo de agir. Ser como um bicho bruto e imparável, mas que move-se pela força da verdade, da coragem e do amor. Não cesso a busca desse meu verdadeiro existir. Eu quero que cada ação minha no mundo justifique minha existência, esclareça essa minha posse de alma. Porque ela foi me dada sem aviso prévio. Como se alguém rompesse o espaço-tempo, olhasse-me nos olhos e pronunciasse: “Tomas, isto é uma alma, ela tem faculdades profundas de claro e alado diamante, uma altíssima arquitetura que guarda grandioso microcosmos; vais sentir muito, desejar ardorosamente. Às vezes, em vão. Mas tomas, és tu e és tua.” Aí, quê que eu faço? Eu procuro então a verdade que todos querem possuir. E já a guardo em profunda escuridão, vestindo-a de virtudes, altura e amor latente. Foi-me dada a capacidade de me levantar pela manhã, e isso é um motivo de ter coragem e força. Essas palavras não saem de meus olhos jamais. Precisei desistir de mim algumas vezes para poder recomeçar claramente sob antigas dores e doeres. Caminho sobre meu corpo morto. Tenho inveja de mim porque ressuscitei-me sem me avisar, cuidando para não alardear os ares, sem fazer saber e conhecer a todos que eu estava ali e que eu existia, enfim. Me odiei por contar inumeráveis mentiras a mim, mesmo que inconscientemente. Eu não gosto de ser levado por tão indiferente rio. Preciso possuir minhas atitudes, quero regrar e alinhar à busca da arte interior o meu mais bruto proceder. A minha intuição deve se escrever em um poema de verdadeiros versos.
Sabes que eu não sei ao certo o que te digo? O que te digo faz sabor aos teus ouvidos? Mas quem és tu que me escuta? Tens alma? Como eu gostaria de permanecer, somente. Não me importaria mais nada sobre o mar, sobre as colinas de névoas e fumaças, nada sobre os jardins que temi conhecer, nem nas pessoas que jamais toquei. Gostaria de perdurar a voz ao vento, talhá-las ao tronco das árvores, e que durasse o brado solto aos povos longínquos. Eu…eu só posso quedar-me no poema. Mesmo sendo um incontido poeta, eu me desposei no poema. Já não saberia eu o que fazer de mim….não mais o doce sonho alaranjado de entardecer. Não mais a vontade rompendo tudo para realizar-se. Nem mais o elã de alguns olhos. Eu finalmente ando me tornando simétrico à realidade. Ando sonhando menos, escrevendo e sendo e agindo em maiores dimensões. Mesmo sendo tão débil o montante de mim. Tudo isso sou eu me ajuntando pra ver quanto que sou. E sou muito pouco, reles pó algum. Um solo consumido de flores mortas. Minha energia de viver desfalece… Eu sou essa poeira cansada de guardar sonhos nos olhos
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1º Troféu Capivara - Prêmio Literário da Cidade de Curitiba (Gêneros Diversos, Livro Completo, Gratuita) – 15.06.24
#SeleçõesLiterárias — Vai até 15.06.24 a seleção de textos para o 1º Troféu Capivara, a ser promovido pela Editora Toma Aí Um Poema. Proposta: “O Prêmio Literário da Cidade de Curitiba, uma iniciativa da EDITORA TOMA AÍ UM POEMA, celebra a literatura da capital paranaense. Com o apoio cultural da Lei Paulo Gustavo de Curitiba, este prêmio é uma homenagem à criatividade e ao talento das pessoas…
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MÁRIO E EU
“É ali!” - gritei e logo após meu avô freou bruscamente em plena Avenida Paulista.
“Vê se toma cuidado ein Lia! Qualquer coisa me liga!” - é engraçado como meus avós sempre estavam presentes como coadjuvantes em encontros de última hora. Mas no final das contas eles sempre entravam na minha.
Desci e fui procurar algum lugar para esperar. Fazia tempo que não nos víamos e não é sempre que se decide esperar alguém em plena Paulista, capaz de levar um bolo.
O bolo não veio, mas muito confete, conversa, livrarias, beijos e livros do Sebastião Salgado. O cabelinho cortadinho, perfume, óculos com óculos, “peraí vou limpar meu óculos tá embaçado”, rimos.
Antes irmos embora decidimos passar em uma última livraria, e foi lá quando me deparei com “A lição do amigo : cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade.” O livro mostra as cartas de Mário, com notas feitas pelo próprio Drummond. Vocês tem noção disso ?!
////////////////////////////////////////////////
Sobre ambos os escritores eu já tinha escutado em alguma aula do Ensino médio ou cursinho. Lembro de sentir o peso das poesias de Drummond e de me encantar com os contos de Mário.
O primeiro poema que me levou à curiosidade sobre o Carlos, tal qual como o nome do próprio tumblr , foi “Sentimento do mundo”.
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais noite que a noite.
Carlos mandou esse e outros poemas para Mário, que nas tantas análises que escrevia nas cartas, disse:
“Sentimento do mundo é o resultado de um poeta verdadeiro cuja vida se transformou. O poeta não mudou, é o mesmo, mas as vicissitudes de sua vida, novos contatos, e contágios, novas experiências, lhe acrescentaram ao ser agressivo, revoltado, acuado em seu individualismo irredutível, uma grandeza nova, o sofrimento pelos homens, o sentimento do mundo. (…) É realmente um exemplo extraordinário e excepcional. E dentro desse seu caso de humanização, Carlos nos deu alguns gritos dos mais lancinantes, alguns estados de revolta dos mais angustiosos da nossa poesia. Que poesia verdadeira!” (p.309)
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Mas foi o Mário mesmo, quem eu acabei amando ainda mais. Só havia lido “Contos novos” para alguma prova que ia prestar, e já tinha me interessado pela sua escrita : sincera. Alguns ainda dizem que esse livro é uma autobiografia do autor, e talvez até seja, assunto como a morte do pai (conto “Peru de Natal”) é até falado em algumas cartas no “Lição do amigo”, mas por outro lado, a homossexualidade de Mário (conto “Frederico Paciência”) só foi sabida anos depois de sua morte.
Em uma carta para Manuel Bandeira, também eu amigo, Mário desabafou.
“(…) Está claro que eu nunca falei a você sobre o que se fala de mim e não desminto. Mas em que podia ajuntar em grandeza ou milhoria pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e elucidar você sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em nada.(…)
Mas si agora toco nesse assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de pressão) e si saio com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só minhas. “
E ele ainda finaliza “ Eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem sequencia, faça deles o que quiser.”.
Mário era tão lúcido, original, sincero, “sinceridade absoluta”. Tinha mania de criar palavras, ficava sempre doente e também tinha problemas com dinheiro.
Queria sentar com ele em algum bar em São Paulo, despretensiosos, conversar sobre a política atual do país, o ódio que se dissemina por quem não possui uma família tradicional brasileira ou por apenas quem é contrário ao fascismo e é taxado de comunista, mas essa última ele já conhecia. O próprio já entendia a imagem do “monstro do comunismo no Brasil”, só não chegou a pegar a parte que o país viraria uma Venezuela, mas isso eu poderia ir contando a ele. Íamos rir muito. Além disso comentaríamos de Minas, todas as obras do Aleijadinho, eu ia aproveitar e dizer sobre todas as aulas do Puppi, e da flor e o cristal.
////////////////////////////////////////////////
Certa vez meu professor de literatura (eu amava o Giba, ele era todo magrelo, meio teatral, o chamei para um almoço no vegetariano perto do cursinho, pena que não deu certo, eu amo almoços) recitou um dos poemas de “Lira Paulistana”, e talvez tenha sido aí, e não nos contos, quando Mário realmente me arrebatou.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade…
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade…
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
/////////////////////////////////////////////////
“(…)No princípio eu quis mudar você, fazer você que nem eu.Porque, já falei, você me esfolava e eu queria ser amigo de você.Mas você foi discreto, me engambelou, continuou na mesma, deu tempo ao tempo. Foi bom porque hoje você não me esfola mais, não me contunde, eu já não quero mais mudar você.E vem a verdade surpreendente : E nós perseveramos amigos. Afinal das contas tudo foi principalmente muito lindo e estou pacífico, dizendo bom-dia pra você, sabendo como vai a gente de você, dizendo que sou sempre o mesmo. De você.
Mário” (p.205)
////////////////////////////////////////////////
Claramente não é com esse texto que venho expor a grandeza e genialidade do morador da Rua Lopes Chaves, visto que ainda temos muito o que viver. Arrume amizades que te arrebatem como o paulista e o mineiro do livro, “ Estabeleceu-se imediatamente um vínculo afetivo que marcaria em profundidade a minha vida intelectual e moral, constituindo o mais constante, generoso e fecundo estímulo à atividade literária por mim recebido em toda a existência” ( Drummond ). E se não tivesse um empurrãozinho ?! Teria “Sentimento do mundo” ?! Ou tantas outras obras do Carlos…
Mário, você faz falta aqui.
( foto do escritor em seu apartamento no Rio de Janeiro, em 1938, na parede a tela “ O mamoeiro”, de Tarsila do Amaral )
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Vagalume
Sinto saudade daquele teu afeto
Que nunca me foi direcionado.
E a curiosidade de entender o que é correto,
Naquele amor, me deixa intacto.
Saio por aí juntando cacos,
E por aí, eu saio distribuindo vasos.
Vasos cheios de flores, cultivadas pelos diversos amores que guardo no peito e rego com meu sentimento.
E daquelas diversas meias canções que eu escrevo,
Em metade delas, tu és meu trevo.
Tu é a letra que guia minhas rimas sem nexo.
Discreto e calmo, como o sexo
De duas almas apaixonadas, blindadas.
Pelo calor do carinho e pelo frescor do nosso ninho.
E os brotos que no caminho vou colhendo, distribuo para cada sorriso que me mostrar alento,
Atento, eu me permito amar a cada rosto e a cada peito.
A cada coração vazio, e a cada olhar frio.
Eu me permito enxergar luz, constraste que reluz.
E brilho que por vezes foge d'alma
Mas que só precisa de calma
Paciência, até mesmo inocência
Pra voltar a transcender nossas auras.
A escuridão que nos assola é corrupta.
E a liberdade nos enrola, transformada em solidão que sempre ao fim retorna.
A alma anoitece, e sem a luz do luar
A dor toma conta, e da felicidade desconta todos os momentos de alegria que em torno de nós gira.
O destino é determinista, mas 'destino' é só uma palavra.
Três sílabas, significado não falta.
Quem faz ele é a gente, é quem não se deixa levar pela corrente.
Somos nossos próprios sóis
E temos um sistema inteirinho girando frequentemente
Em torno do calor que se instaura, por isso não deixe que a tua luz se ausente.
Vagaluma-me.
Brilha até o fim dos teus dias.
Que até lá não haverá uma só rima.
Que tropece no caminho da harmonia.
Anote este poema, não te apequenha.
Tu é mais que imaginas.
E a tua força, não há quem expira.
Respira,
Porque a dor é feito pira,
Queima tudo até virar cinzas.
Até que teu mundo seja ranzinza.
Mas com sutileza e com destreza
Tu desmonta essa fogueira
Usa de todas aquelas madeiras
Pra construir um forte, se proteger e gerar sorte.
A vida não é passageira, é ligeira.
É corriqueira.
Não te tornes estrangeira
Daquilo que te pertences
Atenua tuas nuances e luta nas trincheiras
Tu é guerreira, e nós somos aventureiras.
Bora viver nessa clareira.
E queimar só se for pra criar incêndio
De afeto e paixão em todos, isso sim, é viver e crer,
No esplêndido.
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