Chapter 3 - ensejo de paixão
Bianca estava no quarto, organizando os brinquedos de Luna enquanto segurava as lágrimas, no dia anterior ela havia levado uma surra de sua tia por algo que não era culpa sua, Carlos foi olhar Bianca tomar banho escondido, aquilo irritou tanto a mulher que ela praguejou Bianca e a agrediu.
Ontem ela precisou ir em casa pegar mais roupas para ficar na casa de Edilene, sabia que receberia mais violência, mas ela tentava não ficar triste, pensava que em breve estaria saindo de casa e se livrando deste inferno.
Mari entrou no quarto da neta, ela estava procurando por Bianca, ela gostou de conversar com Bianca nessas poucas horas, se sentia bem, mesmo que passasse mais tempo no hospital fazendo vários exames médicos, os poucos momentos que passava em casa, Bianca sempre conversava com a mesma. Além disso, queria pedir ajuda a Bianca para encontrar uma namorada para Enzo ou até mesmo uma mãe para Luna, a cirurgia para retirar o nódulo do seio direito seria em um mês, ela tinha medo de não sobreviver.
— Ah, oi, Dona Mari. — a garota sorriu. — Posso te ajudar em alguma coisa?
— Você já me ajuda muito, minha flor. — a mulher segurou o rosto de Bianca e sorriu.
— Luna dormiu bem rápido, é engraçado porque ela só dormiu ontem depois que viu o pai. — Bianca comentou.
— Quando ela era bebê, a única pessoa que fazia ela dormir rápido era a mãe, depois foi só o pai. — Mari acabou ficando reflexiva, Bianca conseguiu algo que só seu genro e sua filha conseguiam, fazer sua neta se sentir segura o suficiente para dormir sem falar "papá/mamá, não sai daqui, tô com medo", só Bianca teve esse efeito.
Bianca não era parecida com Carol na parte de aparência física, até porque Marilene sabia que sua filha era única e ninguém nunca seria como Carolina, mas Bianca também era única, uma jóia rara, uma menina de muita luz e que claramente se importava com Luna não porque era paga, mas sim porque se apegou rapidamente a sua neta.
— Luna se apegou a você tão rapidamente. — Mari comentou alegre.
— Eu que me apeguei a ela, quando eu não venho já fico triste. — Bianca respondeu sincera.
Bianca gostava muito de cantar aquela música da Roberta Campos "minha felicidade" e o motivo disso era que para ela, depois de conhecer Luna, ela conheceu o real significado de felicidade, ela se esquecia dos problemas e dos medos.
— Você leva jeito com crianças para alguém tão jovem. — Bianca riu assentindo.
— Eu fazia parte da pastoral da criança na Igreja Católica, além das visitas aos finais de semanas, tinha eventos para alertar as mães, brincar, doar brinquedos e roupas, eu acabei pegando o jeito. Atualmente dou aulas de inglês num projeto da pastoral da juventude para a comunidade.
O fato de Bianca ser uma garota com tão pouco e mesmo assim sempre se dispor a ajudar o próximo era admirável para Mari, ela conhecia a pastoral da criança, Carol foi uma criança que foi salva graças aos cuidados que a organização tinha com crianças.
A verdade é que Bianca fazia porque gostava de ajudar o próximo, ela realmente possui muita empatia, mas no caso de tudo que ela participa na paróquia próximo a casa de Edilene, é mais com o intuito de fugir, quanto mais tempo fora de casa, menos abusos sofria.
— Você é uma caixinha de surpresas, minha filha. — A mulher sorriu encantada.
"A mãe perfeita para Luna". Mari pensou inconscientemente. Foi nesse momento que ela sabia que sua escolha estava feita, iria falar com o advogado sobre o assunto, ver o que poderia fazer, Mari tinha uma ótima intuição sobre Bianca.
— Nem tanto, mas se a gente pode fazer o bem, por que não fazer? — a mais velha concordou. — Eu vi aquela foto da senhora com aquele vestido maravilhoso, aquele lugar era um pagodinho, não é?
— Sim, como adivinhou? — Mari riu surpresa.
— Dona Lene ama um samba, as vezes meus tios me deixam passar o final de semana na casa dela, ela sempre me leva ou organiza na casa dela.
— Então a senhorita gosta de um pagodinho?
— Quem não gosta? — as duas riram. — Eu sou eclética, gosto de tudo um pouco, mas pagode é um ritmo que eu amo.
— Nossa, um pagodinho, uma geladinha e um churrasco melhores coisas do mundo. — Mari sentia muita saudade de se divertir.
Mari sentia falta de ir para rodas de samba e de pagode, sentia falta de ir aos forrós, ela amava sentir-se jovem e curtir sua vida, mas depois da doença, Enzo passou a surtar com a possibilidade da mulher ir para esses lugares e prejudicar seu tratamento, eram brigas atrás de brigas e para evitar atritos, ela parou de ir.
Enzo nunca viu problemas na sogra saindo para se divertir antes da doença, pelo contrário, ele foi o primeiro a incentivar, quem achava meio esquisito era Carol que não gostava muito disso, inclusive ele sempre chamava atenção da esposa por querer que a mãe deixasse de viver a vida por conta da viuvez, mas depois da doença, o medo de perder outra pessoa que ama fez com que ele quisesse que ela focasse unicamente no tratamento.
— Por que a senhora não vai mais para as rodas de pagode? — Bianca perguntou curiosa. — Tem umas sem graça de branquelos aqui pela região, posso indicar.
— Ah, Bibia, só você mesmo. — a mulher riu. — Eu não sei se o Enzo já te contou, mas eu tenho câncer e depois do tratamento não é muito legal ficar saindo assim.
Bianca ficou bem abalada com a informação, ela sentiu o coração se apertando e uma vontade imensa de vomitar, a garota entendeu a super proteção de Enzo em relação a mulher, mas ela também não poderia permitir que ela ficasse presa unicamente ao tratamento e se esquecesse de viver para si e fazer as coisas que ama.
— Bem, a senhora está doente e em tratamento, não é? — Mari assentiu. — A senhora está morta?
— Não, se Deus quiser vou me curar. — Mari não tinha muita certeza dessa cura, mas tentou ser esperançosa.
— Ótimo, a senhora não está morta, não deixe de viver a sua vida por causa dessa doença, dona Mari. — Bianca disse a mulher o que desejou dizer a sua mãe durante o tratamento. — A senhora precisa viver, comemorar as pequenas vitórias que Deus está te dando.
— Que vitórias são essas? — A mulher já estava descrente de uma cura, o psicológico ajuda muito no tratamento contra o câncer e não se privar de viver é uma ajuda imensa, Bianca sabia disso mais do que ninguém.
— Eu não sei como está o tratamento da senhora...
— Eu fiz quimioterapia para diminuir o nódulo e fazer uma cirurgia, por sorte vou conseguir fazer a cirurgia em um mês.
— Está vendo? É uma vitória imensa, dona Mari. — a garota sorriu. — Quando se trata dessa doença são pequenas vitórias vencidas diariamente, a senhora está vencendo, não se prive de comemorar que está sobrevivendo.
— Mesmo se for assim, não tem como eu ir, quem ficaria com a Luna?
— Eu! — Bianca apontou para si mesmo.
— Bibi, seus finais de semana são livres, eu não vou privar você de viver sua própria vida.
— E eu não vou permitir que a senhora deixe de viver, para mim não vai ser problema algum e eu adoro sua neta.
— O Enzo vai ficar meio irritado, ele é meio super protetor...
— Que se dane o seu Enzo! — a mulher gargalhou, isso fez Luna se mexer na cama, o que fez as duas fazem um sinal de "shh" uma para outra. — Bem, se ele falar alguma coisa, eu irei falar umas boas verdades para ele mesmo que isso custe o meu emprego, não estou nem aí, serei o jurídico Marilene.
As palavras acertaram em cheio a mais velha, nesse momento as duas criaram uma conexão linda e pura, algo como mãe e filha, Bianca estava disposta em cuidar da mulher como fez com sua mãe e a mulher estava disposta a ajudar Bianca com o que fosse preciso assim como fez com sua filha.
— Dona Lene sempre faz um pagodinho na casa dela, ela disse que eu poderia chamar quem eu quisesse, quero que a senhora vá e se o seu Enzo encher o saco, eu distraio ele. — Bianca murmurou, dando de ombros.
— Eu irei, mas vou logo avisando que Enzo pode até ceder, mas vai querer ir junto e ficar no meu pé. — Mari suspirou pesadamente.
— Não se preocupe, irei falar umas verdades para ele caso ele passe dos limites, farei de tudo para que senhora se sinta bem e saiba que a senhora pode fazer o que quiser. — Bianca assegurou, dando sua palavra.
— Quando eu vi você ajudando minha neta, eu achei que você era um milagre, mas na verdade, eu vi que o milagre vinha de você, Bibi, você é uma santa na minha família, nunca vou poder agradecer de fato o que você fez por nós. — Mari abraçou a garota, que logo correspondeu o abraço. — Muito obrigada mesmo, Bia. — Mari estava chorando, não era desespero, era alívio, ela sentia que finalmente estava conversando com alguém que a entendia e que estava cuidando dela.
Ela compreende que Enzo faça o que pode para ajudá-la, mas ele é tão super protetor que acaba a sufocando.
— Não precisa agradecer, isso é o mínimo que eu posso fazer pela senhora e por todos, faço de coração. — Bianca
— Eu escutei você cantando para Luna dormir, você tem a voz de um anjo, Bibi. — elogiou, mudando de assunto.
Antes da mãe descobrir o câncer, o sonho de Bianca era ser uma cantora, ela fazia aulas de canto e dança, era excelente em vários tipos de arte. Apesar de não ser mais seu sonho, ela ainda canta no coral da igreja, dança na aula de ballet comunitário de ONG do bairro de Lene aos finais de semana, pouquíssimas pessoas sabem desse talento da garota atualmente.
— Está exagerando, dona Mari. — ela negou com cabeça um pouco tímida.
— Não estou, você canta muito bem, por que não a música, Bia? — essa pergunta, tom utilizado e a forma como Mari a chamou de "Bia" fez a mesma lembrar de seu pai, ele a chamava assim.
— Bem, quando minha mãe ficou doente, muita coisa poderia ser resolvida na justiça, mas não foi, aí eu decidi que seria uma advogada para ajudar aqueles que não tiveram assistência devida como minha mãe. — respondeu, suspirando pesadamente. — E hoje em dia eu não me vejo mais nessa área, é muita exposição e eu gosto da minha vida como uma bela desconhecida.
Alguns dias se passaram e a ligação entre Mari e Bianca aumentou consideravelmente, as duas conversavam sobre tudo, eram como mãe e filha. Infelizmente, após uma semana desse momento de paz para Mari, a mesma precisou passar pela série de exames novamente para saber se a mesma estava apta para a cirurgia de retirada da mama ou se precisaria fazer quimioterapia antes.
— Então, doutor, os exames estão bons? — Enzo perguntou ansioso.
— Sim, os exames estão ótimos, Marilene está apta para cirurgia e sem passar pela quimioterapia. — o médico respondeu, fazendo Enzo abraçar Mari apertado.
A mulher estava com medo, mesmo que não precisasse passar pela quimioterapia novamente, ela ainda tinha tendências a ter várias complicações devido a anestesia ou as infecções, quando a mesma fez a cirurgia de ligadura depois que seu filho nasceu, ela quase morreu na sala de cirurgia devido a esses problemas.
— A cirurgia será marcada para quando? — ela perguntou.
— Dia 4 de abril.
— Está um pouco longe essa data.
— Para mim está perfeito, Enzo. — Mari segurou em sua mão, indicando que ela queria aquela data.
Mari queria ter tempo de aproveitar com a neta e com o filho, pois ela não sabia se sobreviveria a essa cirurgia.
— Tem certeza?
— Sim, para mim está ótimo essa data. — Mari assegurou, ela já havia comentado com o médico sobre essas complicações e por isso essa data foi escolhida.
Enzo percebeu que a sogra estava triste, o que indicação que a mesma estava preocupada, aquilo o desanimou. Quando estavam voltando para casa, Mari resolveu expor suas preocupações.
— Eu sou um tanto alérgica a certos medicamentos utilizados em cirurgia, por isso sempre fico mal em qualquer procedimento cirúrgico, a última vez que eu fiz uma cirurgia dessa magnitude, quase vim a óbito.
— Mas isso não vai acontecer, o doutor Ramon é um dos melhores médicos do Brasil em relação a câncer de mama...
— Enzo, não tem como saber se isso não vai acontecer, estou correndo um risco enorme de qualquer forma, com a cirurgia ou sem a cirurgia. — a mulher o interrompeu. — Me prometa só uma coisa caso eu venha faltar.
— Você não vai morrer, Mari.
— Não tem como saber, apenas me prometa que vai deixar essa promessa estapafúrdia que fez a Carol no dia do funeral se lado, se abrirá ao amor novamente e irá sempre ser um bom pai para minha neta.
Enzo queria brigar e dizer que não seria necessário, mas ele viu Mari estava séria, assim que chegaram em casa, ele estacionou o carro e começou a chorar compulsivamente.
— Meu filho, não fique assim, todo mundo vai desse mundo um dia. — ela o abraçou apertado enquanto o homem em seus braços chorava como um bebê.
— Mas eu não quero que você morra, eu não quero perder outra pessoa que eu amo, Mari. — Enzo murmurou choroso. — Eu não quero perder a minha mãe.
Enzo era do tipo severo, quase nunca expressava sentimentos que o deixasse ser vulnerável para as pessoas, mas neste momento, ele não conseguiu segurar as lágrimas, Mari era realmente a mãe que ele nunca teve.
A genitora de Enzo ainda estava viva, mas sua família como qualquer família aristocrata, só se importava com dinheiro, poder e boa aparência, sua mãe biológica não era diferente do resto da família e Enzo renegou a família totalmente após a morte de Carol, especialmente os pais depois de ter visto eles destratando Mari.
Mesmo que não demonstre, Enzo é um homem sensível, que chora e se sente mal, mas, infelizmente ele ainda carrega dentro de si comportamentos que aprendeu com sua família.
— Por enquanto apenas foque no fato que eu estou aqui e me prometa, meu filho.
— Está bem. — ele cedeu. — Mas eu só prometo se você prometer para mim que vai lutar para continuar conosco e eu vou precisar da minha mãezinha me ajudando a vestir uma roupa adequada para os meus encontros. — Enzo não estava pensando em seguir com isso, mas iria a poucos encontros apenas para fazer os gostos de Mari.
Depois de uns minutos chorando dentro do carro, os dois subiram para o apartamento, quando chegaram escutaram a voz de Bianca ecoando pelo apartamento e as risadas de Luna, aquilo encheu o coração dos dois de alegria.
Bianca estava no quarto tentando secar Luna que corria de um lado para o outro dizendo que era um golfinho.
— O que está acontecendo? — Enzo indagou um pouco surpresa em encontrar um ambiente tão alegre.
— Luninha está imitando animais aquáticos e está impedindo a coitada da Bibi de cuidar dela. — Cora respondeu alegre.
— Isso foi por causa da atividade da escolinha, agora ela está viciada em imitar animais. — Nadir explicou.
— E a Lulu está rindo desse jeito?
— Sim, Bianca sempre ajuda ela fazer lição brincando ela imitando os animais e a Lulu cai na risada das brincadeiras, o senhor tem que ver, a coisa mais fofa do mundo. — Cora contou.
— Eu te disse que contrata-la foi a melhor coisa que fizemos esse ano. — Mari murmurou completamente convencida.
— Ah, tem um plus, depois de brincar com Luna, quando ela vai tirar o soninho da tarde, Bibi ainda canta para ela dormir e a voz dela é tão linda, dona Mari.
— Eu vou pedir para ela cantar qualquer "Amargurado" para mim. — Mari sorriu empolgada.
— Você não me pega, cara de meleca. — Luna apareceu na sala correndo com o ursinho favorito.
— Eu sou uma leoa e vou pegar você. — Bianca apareceu correndo logo atrás.
Obviamente ela acompanhou Luna, neste momento ela pegou a pequena no colo e começou a fazer cócegas, o que fez a gargalhada de Luna ecoar por todo apartamento.
— Quem é cara de meleca agora?
— Você. — Luna respondeu entre risos.
— Ah, você vai ver agora, mocinha. — Bianca continuou as cócegas o que Luna gargalhar sem parar.
— Bibi, eu vou fazer xixi. — a pequena comunicou.
— Ok. Agora eu paro. — Bianca parou e colocou pequena no colo. — Fala para o papa e para vovó o que você aprendeu na escolinha hoje.
— Eu aprendi a que meu nome começa com a mesma letra do nome do leãozinho. — a pequena contou empolgada.
— E como o leão faz? — Enzo perguntou, pegando a pequena no colo, Luna imitou um rugido.
— Nossa, mas que rugido forte. — Mari fingiu que estava impressionada com o rugido da criança apenas para fazer a pequena ficar alegre.
— Eu fiz duas amiguinhas na escola, a Bibi me disse para não ter medo das outras crianças e eu fui bem corajosa agora eu tenho amiguinhas igual as outras meninas. — Luna contou fazendo Mari ficar emocionada.
Luna passa por atendimento psicológico desde a morte da mãe, ela estava no carro no momento do acidente, mesmo sendo um bebê de meses de vida, Enzo se preocupou com aquele trauma na vida da pequena, por só ter a vó como figura feminina e não conviver com outras crianças, ela acabou se tornando bem introvertida, ela se soltava com Mari e Enzo. Ela estava se tornando mais independente era um milagre e para a mais velha do recinto aquele milagre só poderia ser atribuído a uma santa...santa Bianca.
— Ela disse que você ficaria muito orgulhosa de mim por ser forte igual a você, abuela. — Luna disse sincera.
Mari acabou desabando de emoção, ela morria de medo de partir e deixar Luna sem figura feminina alguma, além disso, ela não se sentia forte ou corajosa para inspirar Luna, isso a consumia por dentro e Enzo percebeu que parte daquele choro era por isso, isso o deixou triste e sentindo sufocado.
A mais velha havia percebido que Bianca era essa figura e que ela fazia de tudo para cuidar da netinha dela, se um dia ela partisse, sabia que Bianca não deixaria Luna sozinha mesmo que não trabalhasse mais nessa casa.
Em uma semana Bianca foi capaz de transformar a vida da pequena como pôde em uma semana, ela ver em Luna muito a sua irmã Nicole, ela faz por Luna tudo aquilo que ela sente que deveria estar fazendo por Nicole.
— Vovó, não chora, eu vou ficar triste também.
— A vovó está chorando de felicidade. — Mari sorriu. — Obrigada por cuidar da minha abejita, Bibi. — a mulher agradeceu.
— É o mínimo que eu posso fazer, Luna me lembra aquela música da Roberta Campos "felicidade", ver essa pequena feliz, me deixa alegre. — Bianca disse sincera. — Bem, já deu meu horário, eu tenho que ir para faculdade.
— Ah, não vai não, assiste Mulan comigo, Bia? — Luna pediu.
— Não tem como, eu realmente preciso ir, Lulu, mas amanhã podemos assistir seus filmes favoritos da Disney. — Bianca sugeriu, confortando a garota. — Obedece o papai e a vovó. — Bianca deu um beijo na testa da pequena e foi para o banheiro de serviço se trocar para ir a faculdade.
Mari resolveu assistir com Luna em seu sala uma animação da Disney, Enzo ficou sem saber o que fazer, mas assim que ficou sozinho, o sentimento de medo e de angústia voltou, ele só queria fugir de casa por algumas horas para aliviar um pouco a pressão, ele se sentia inútil por não poder fazer nada para curar a mãe, um pateta por está querendo chorar e covarde por querer fugir.
Enzo foi para o banheiro social e começou a chorar escondido naquele recinto, tinha vontade de gritar e colocar todo aquele mix de sentimentos para fora, mas não podia fazer isso. A lâmpada do banheiro utilizado pelos funcionários tinha queimado e Bianca estava sem tempo para esperar o "faz tudo" do prédio ir trocar, então resolveu ir para o banheiro onde Enzo estava chorando escondido, como ele não trancou a porta, ela entrou com tudo e se surpreendeu com a cena do homem chorando como uma criança sentando no chão.
Ele logo tratou de limpar as lágrimas, mas Bianca já tinha visto, ela deixou a mochila de lado e se ajoelhou no chão ficando de frente para o homem, pegou no rosto dele e o fez encara-la.
— Eu não estava chorando...
— Enzo, está tudo bem você chorar, você é um ser humano e está passando por um momento delicado. — Bianca o interrompeu, mostrando compaixão.
— Eu estou sendo patético, deveria está ensinando a minha filha como ser forte e não como ser uma pessoa fraca. — ele murmurou, tentando segurar o choro que estava tentando vir.
— Enzo, um ser humano forte de verdade é aquele que admite que nem sempre ele vai ser imponente, que as vezes ele vai chorar e vai se sentir fraco, isso é ser um ser humano, eu sei que as vezes ele vai chorar e vai se sentir fraco, isso é ser um ser humano, eu sei que você escutou a vida inteira devido ao futebol que você é uma máquina, mas você não é, você é um ser humano como qualquer outro. — Bianca falou, sentitdo seu coração se apertar ao ver o homem tão vulnerável quanto uma criança.
— Eu não sei o que fazer, minha mãezinha está morrendo e eu não consigo fazer nada. — Enzo abraçou Bianca e começou a chorar compulsivamente a ponto de soluçar. — Eu não deveria ser fraco, mas eu sou.
Bianca ficou muito surpresa, mas ela não recuou, com outras pessoas aquele abraço seria repudiado, mas com Enzo ela sentia segurança.
— Shh...— Bianca afagou suas costas. — Você não é fraco, é só um filho que está com medo de perder a mãe. — Bianca o apertou um pouco no abraço.
Ela sabia exatamente o que Enzo estava sentindo, a jovem sentiu aquilo quando a mãe estava prestes a morrer, assim como o homem, ela se sentiu sozinha e vulnerável, mas ela prometeu a si mesma que se els conhecesse alguém que estivesse passando pelo mesmo que ela passou quando era criança, iria dar todo apoio a pessoa.
— Você não é fraco. — Bianca se afastou dele e o encarou, mas Enzo desviou o olhar, pois estava envergonhado. — Olha pra mim. — Bianca segurou o rosto do homem que finalmente a encarou. — Sua mãe está doente, você precisa ser pai, filho e ainda um homem que gere uma série de negócios, fora o assédio da mídia, o que você pode fazer para ajudar a sua mãe, você faz, que é proporcionar um tratamento com os melhores médicos do país, mas o processo de cura dela está nas mãos de Deus, você não tem poder para interferir nisso. — Ele conseguia enxergar de forma mais "limpa" a situação e sentia mais calmo, mas ainda queria sair de casa. — Você está se sentindo sufocado, não é?
— Estou, eu sei que tem pessoas passando por coisas piores que eu, mas eu estou prestes a explodir, é um sentimento tão pesado e angustiante.
— Enzo, é lindo que você pense no próximo, mas o importante agora é como você se sente, sua dor também é válida. — Bianca deu um beijo na testa dela e o abraçou novamente.
Enzo sentiu como se estivesse em um porto seguro, o abraço de Bianca fez com que ele sentisse que tinha alguém para contar, conversar e se apoiar em meio aquele caos. Os dois haviam se conectado como nunca antes, com certeza havia uma ligação entre eles pura e sincera a partir daquele momento.
— Vou te levar para bater perna em São Paulo hoje. — Bianca comunicou.
— Mas você tem aula. — ele se afastou dela e a fitou extremamente preocupado.
— Eu eu peço para Bru me passar as anotações da aula e as listas de chamadas ainda não foram passadas para os professores, eu vou ficar bem, o importante para mim é que você fique bem.
— Bi, eu não quero ferrar com o seu futuro, sei que isso é a oportunidade da sua vida.
— É, mas eu não dormiria a noite sabendo que eu poderia ajudar alguém e não ajudei.
— Eu te contratei para cuidar da Luna e olha você cuidando de mim. — Enzo sorriu.
— Todo mundo precisa ser cuidado as vezes, Enzito. — Bianca retribuiu o sorriso, Enzo sentiu seu coração se encher de alegria ao escutar ela o chamando de "Enzito", achou extremamente fofo e carinhoso.— Agora vai passar uma água nesse rosto e se manda daqui para mim poder se trocar. — Bianca comandou fazendo Enzo rir.
Ele obedeceu Bianca e saiu, Enzo foi para sala, onde Marilene e Luna estavam assistindo juntas.
— Mari, eu vou sair umas horas, tem algum problema?
— Desde quando o senhor precisa ter minha autorização para sair, mocinho? — Mari se sentou no sofá onde estava deitada e sua neta fez o mesmo.
Ela estava feliz em ver Enzo querendo sair, desde que foi diagnosticada com câncer, o homem não sai mais de casa e até para trabalhar, ele prefere ficar em casa, para ele é mais fácil para cuidar de Mari, isso sempre entristeceu a mulher que nunca aceitou bem o fato do genro parar sua vida para cuidar exclusivamente dela e da filha sem nem mesmo se dá oportunidade de aproveitar com os amigos.
— Não, é que eu não quero deixar vocês sozinhas.
— Enzo, nós ficaremos bem e se algo acontecer não se esqueça que existe algo chamado telefone celular. — a mulher murmurou divertida. — Você vai sair com seus amigos? Camila está te fazendo sair,não é? — Mari deduziu que a namorada de Giorgian estava na cidade.
— A dinda está aqui? — Luna indagou empolgada.
— Não, eu não vou sair com a Camila, ela não está na cidade. — ele respondeu, olhando para os próprios dedos. — Eu vou sair com Bianca.
— Bianca te fez sair de casa? — ele assentiu. — Estou começando achar que Bianca é uma santa, ela está fazendo milagres nessa casa. — Enzo sorriu concordando.
— A Bi é incrível e faz qualquer pessoa se sentir bem, acho que nunca me senti tão empolgado em sair com alguém como estou para sair com ela.
— Hmm...— Mari murmurou, dando um sorriso malicioso. — Empolgado para sair com a Bianca, é?
— Eu disse para você que a Bibi vai ser a esposa do papai, vovó. — Luna sorriu, fazendo o Enzo negar com cabeça. — Ele vai casar com ela.
— Eu sei, meu amor, Bibi será a sua madrasta.
— Parem com isso! — Enzo comandou. — Eu nunca olharia para Bianca com esses olhos, tenho muito respeito por ela e Carol é a única mulher que eu me casei e vai continuar sendo a única, eu só não estava me sentindo bem e ela quis me ajudar.
— Se você diz. — Mari segurou o riso.
— Bianca é só uma pessoa que tem sido muito amiga, vocês estão confundindo as coisas. — Enzo estava falando mais para si mesmo do que para as meninas.
— Você está querendo enganar quem, papá? — Luna queria muito que o pai namorasse Bianca.
— Não estou enganando ninguém.
Antes de Mari retrucar, Bianca apareceu na sala, Enzo não conteve o sorriso bobo nos lábios, o coração dele estava acelerado. Bianca não estava com uma roupa diferente dos outros dias, nem que desenhava seu corpo, era uma calça larga, blusa masculina larga, all star e os cabelos soltos, o único diferencial é que a mesma estava usando gloss, rímel e delineador.
Para Enzo era simplesmente a combinação perfeita, ela ainda estava linda e estonteante, ele não compreendia porque achava Bianca tão bonita, desde que conheceu sua falecida esposa, o homem não via nenhuma mulher como um ser bonito, mas Bianca mudou isso drasticamente, ela poderia estar no pior dia e completamente desajeitada, mas ele ainda achava a mesma bonita.
— Você está linda. — Enzo não pensou em falar, apenas disse o que queria sem hesitar, o que fez Luna cutucar a avó vendo o pai se mostrar completamente encantado pela babá.
— O-obrigada...eu acho. — Bianca abaixou a cabeça e engoliu em seco, não estava acostumada com elogios e é claro, seu coração estava acelerado.
— Então a senhorita está fazendo esse teimoso sair um pouco se casa? — Mari chamou atenção da garota.
— Sim, vou roubar ele por algumas horas, espero que não se importe. — Bianca sorriu encarando a mulher.
— Papa, está tentando roubar a Bibi de mim, abuela, vê se pode? — Luna era realmente uma criança ciumenta, ela se apegou muito a Bianca.
Todo mundo riu com as palavras da pequena, Enzo não conteve o sorriso ao ver que a filha que estava bem apegada a jovem.
— Ninguém poderia me roubar de você, a Bibi é só da Lulu. — Bianca foi até a pequena e a pegou no colo.
— Você promete? — Bianca assentiu levantando o dedo mindinho para a pequena poder entrelaçar.
— Sim, prometo, bebezinha.
— Bibi, você não deveria está na sua escolinha?
— Sim, mas a Bibi vai fazer o seu pai sair um pouco da toca.
— Você vai fazer o papai sorrir igual você faz comigo quando eu estou triste?
— Exatamente isso, a Bibi vai cuidar de mim também, o papai tava triste. — Enzo explicou. — Viocê deixa a Bibi cuidar do papa, não é?
— Eu deixo, não quero que você fique triste. — Luna autorizou. — Mas só porque quero que a Bibi seja sua amiguinha igual o Samuca é meu amigo. — Enzo se derretia ao ver o quão esperta sua filha era. — Bibi, você cuida do meu papa igual você cuida de mim?
— Se você e sua vovó não se importarem, eu irei sim cuidar do seu Papa.
— Eu não me importo, pelo contrário, apoio muito que você faça isso, Enzo estava criando raízes dentro de casa, só sai para os médicos comigo ou para trabalhar, precisa sair para se divertir, estou feliz em ver que ele queira sair. — Mari foi sincera, Enzo ficou mais aliviado em ver a mãe radiante por notar que ele queria sair. — Obrigada por cuidar não só da minha neta, mas também fazer um milagre com o teimoso do meu filho.
— Ele é teimoso mesmo. — Bianca concordou rindo. — Mas não precisa me agradecer, é o mínimo que eu posso fazer.
— Precisamos sim, você tem sido nossa santa, Bianca. — Enzo sorriu. — Você não faz ideia do milagre que fez nas nossas vidas.
— Vou fazer um milagre maior, fazer você trocar de roupa, é sério que você quer ir assim? — Bianca colocou as mãos na cintura analisando o look do homem.
Ela gosta do estilo de Enzo, para a garota a combinação de um terno de cores frias e básicas com uma camisa social branca ou preta, sapatos sociais ou apenas a calça de alfaiataria e a camisa social, relógio Armani e sapatos social fazem dele o homem mais charmoso e elegante do mundo, mas ele não precisava se vestir assim o tempo inteiro.
— Vamos sair para algo casual, coloca uma calça jeans, um tênis e uma camisa de gente normal. — Bianca comandou montando um look para o homem em sua cabeça.
— Bibi vai dá um tapa no visual do papá. — Luna riu, ela igualzinho a avó.
— Ah, agora você vai mandar nas minhas roupas? — Enzo achou a atitude dela tão divertida, se fosse outra pessoa ele teria odiado, mas era Bianca, ele realmente não conseguia interpretar como algo ruim.
— Sim, agora anda rápido.
Enzo acha extremamente atraente quando Bianca ficava sério ou mandona, ele simplesmente achava hipnotizante, ele faria tudo por Bianca se ela mandasse.
— Você escutou, papá.
Enzo riu, negou com a cabeça e foi trocar de roupa, optou por uma calça jeans, uma blusa preta, um tênis da Nike branco e uma bolsa no estilo pochete para poder guardar o celular, carteira e documentos e não ter risco de ser furtado.
— Está satisfeita?
— Muito satisfeita. — Bianca sorriu convencida.
— Papá, você está um gato! — Luna elogiou fazendo Enzo se derreter.
— Se a menina mais fofa do mundo disse isso, eu acredito. — Enzo foi até a mesma e deu um beijo na bochecha da pequena.
— Você está muito bonito, mas precisa dar o fora daqui, vá viver um pouco. — Mari murmurou, fazendo o homem rir. — Bianca, cuide bem do meu menino. — a mulher piscou para a jovem.
— Eu não preciso de babá. — Enzo se defendeu.
— Mas precisa d uma namorada. — Luna deu de ombros.
— Que com certeza não será a Bibi. — Bianca logo cortou o assunto, Enzo de alguma forma queria que aquele assunto viesse à tona novamente. — E pode deixar, irei cuidar bem do seu filho, dona Mari.
A mulher sorriu e assentiu, Enzo deu um beijo na mãe e em sua filha, pegou a mochila pesada de Bianca, colocou nos ombros e saiu com a jovem, ele sentia que seria um bom passeio só por ter Bianca ao seu lado.
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