#ottolange
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madneocity-universe · 2 years ago
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Chilling Adventures: Kit Lange Parents
As únicas pessoas que não sabiam que Kit Lange estava destinado a ser um evento, eram os pais dele, porque como toda boa história, a parte irônica dessa era que as pessoas que tinham lhe dado a vida não faziam a menor ideia no que tinham se metido.
— Ah, ele é tão fofo. — Sarang sussurra com o menino nos braços, enquanto Otto fica com a menina, a gêmea adormecida, em pé do lado da cama dela. Apesar de terem dividido o mesmo espaço por nove meses, fica claro que Harvey é muito mais parecida com o pai, e Kit, bom…
— Tem os seus olhos e eu juro por tudo, sorriu pra absolutamente todas as pessoas que cruzaram o caminho dele do berçário até aqui. — Otto conta para a esposa com um sorriso que começa sutil em seus lábios, mas vai aumentando conforme assiste a mulher interagir com sua cópia dita dela, enrolado naquele cobertor azul genérico da maternidade. — Você precisava ver, ele é…
— Um bebê doce e carismático? — Ela completa em tom sugestivo, mordendo um sorriso quando o pacotinho em seus braços se esforça pra chamar a atenção dos dois, sendo adorável.
— O mais doce e carismático de todos, graças aos nossos genes combinados. Ele é perfeito.
E ele também era diferente de qualquer conceito que eles poderiam esperar, quando descobriram que iam ser pais dele, porque cada dia convivendo com Kit, parecia uma enorme caixinha de surpresas e que só aumentava o nível da proposta.
— Posso usar uma também?
Deixando eles cada vez mais surpresos.
Sarang demora um pouco pra perceber Kit no meio da tarefa de arrumar as meninas, é Otto quem o vê no canto da sala enquanto faz uma trança junto com fitas coloridas no cabelo da caçula, erguendo as sobrancelhas enquanto repete as palavras do filho na cabeça.
— Você quer uma presilha pra colocar no seu cabelo? — O mais velho o questiona, em um tom gentil e cuidadoso, olhando brevemente pra esposa antes de lhe voltar a dar atenção ao garoto. — Quer que a gente faça como as suas irmãs?
Quando as meninas vieram, praticamente uma atrás da outra, o casal tinha entrado em um consenso que gênero não devia e não iria ser algo moldado na vida das crianças a menos que elas quisessem; ambos não tinham vindo de lares saudáveis e abertos pra discussão, então faziam questão que com os filhos seria diferente. Foram anos comprando roupas e brinquedos neutros pros quatro, e só quando as meninas mostraram real interesse e ficaram curiosas, as orelhas foram furadas pra colocar brinquinhos e ficaram muito chocados ao descobrir uma obsessão por presilhas brilhantes e faixas de cabelo cor de rosa compartilhada pelas três.
Então, quando Kit abriu aquele sorriso que fazia acentuar suas covinhas e parecer que seu rostinho todo brilhava, enquanto entrava na sala dando pulinhos ao invés de passos, não teve nem um choque, nem uma surpresa, e muito menos indiferença. Só respeito e diálogo, pra ele se sentir seguro e atendido. O fato dele ser o único menino não influenciava em nada.
— Sim, como a da Harvey, e da Seohyun, e da Jia. Então, vamos ser iguais. E eu achei bonito, acha que vai combinar com meu uniforme? — O mais jovem então junta as mãos na frente do corpo, piscando os olhos de maneira adorável, fazendo o coração dos pais derreter.
— Acho que vai combinar com tudo que você quiser colocar, querido. — Sarang diz, terminando de prender o cabelo da mais velha, então estendendo a caixinha de acessórios de cabelo na direção do filho pra ele escolher os que mais tinha interesse. — Podemos começar a comprar algumas só pra você, o que acha?
— Perfeito, mamãe.
Tudo bem, o fato dele ainda usar uma mochila do Jurassic Park, um moletom do Homem-Aranha e um arquinho decorado de vez em quando era fofo e sempre gerava comentários cômicos e absurdos no grupo da família, mas não superava os relatos no final do dia.
— Kit, amigo, onde foi parar sua borboleta lilás? — Otto sente a respiração ficar presa na garganta, quando passa a mão pelo cabelo mais claro do filho e não acha a presilha de glitter lá. Pensou em todo tipo de cenário trágico envolvendo crianças cruéis e todo tipo de intimidação naquela altura, quando sentiu a mão minúscula do mais jovem agarrar seu pulso, o tranquilizando do mesmo jeito que a mãe fazia.
— Eu dei pra uma colega na aula de artes, ficou muito mais bonito nela, e eu gosto quando ela sorri.
Não podiam dizer que ele já não sabia exatamente o que estava fazendo no jardim de infância.
Do mesmo jeito que não podiam dizer que ele não tinha um coração bom, e que independente das pessoas em volta ou dos ambientes e das situações que ele era colocado, Kit sempre, e sem esforço, era a pessoa mais pró-ativa e gentil, maduro e capaz de lidar com tudo e mais um pouco.
Era férias, a família toda se reunia em Nova York, berço dos Lee, pra passar um tempo naqueles três meses no verão. Era tudo sobre sair, comer fora, atualizar os acontecimentos, e mesmo com as crianças agora na puberdade, obrigando as proles a visitarem templos e bairros coreanos tradicionais com a promessa de biungsu e songpyeon no final do dia.
A família, claro, já tinha aquilo como uma tradição, mas para a prima, Garam, funcionava ainda mais como uma rotina e uma regra impossível de ser quebrada. Se todos não terminassem comprando os doces no mesmo lugar, depois dela ter passado um dia inteiro falando sobre isso, o desfecho só podia ser um caos. A fila não andava, e só a menção de simplesmente esgotar o estoque antes deles conseguirem comprar a deixou nervosa e ansiosa, a quantidade absurda de pessoas desconhecidas em volta não ajudava, e sentindo que uma crise estava prestes a explodir e nem um dos pedidos de paciência e calma vindo dos adultos parecia ajudar, Kit fez o que tinha que fazer.
Desde que o diagnóstico dela se tornou conhecido pela família, ele decidiu que nunca ia deixá-la independente do quão difícil podia ser conviver com ela às vezes. Ela ainda era sua prima favorita.
— Ei, acha que consegue ouvir uma música comigo? Eu também não tô feliz aqui, acho que a gente pode ficar bravo juntos. — Ele só coloca o outro fone no ouvido dela, quando ela acena com a cabeça e deixa ele se aproximar, entrelaçando os dedos com os dele logo em seguida. — Não tem essa de ficar calma, uma puta de uma sacanagem todo mundo decidir vir aqui hoje, logo quando a gente veio também! Um ano inteiro, não dava pra esperar?
— Sim, sim! É o nosso lugar, eles não tinham o direito. Isso é tão… Frustrante. — Garam nem percebe o coração batendo mais devagar, a respiração se igualando a de Kit, e nem o assunto escorregando pra fora de sua mente enquanto o ruído branco passa pelo fone que ele lhe deu.
— Eu concordo, e digo mais: tem uma loja muito melhor e mais acessível no começo da rua. — Lange então pega a outra mão da prima, olhando nos olhos dela, totalmente alheio a forma como a família observa os dois na calçada. Tinha toda atenção em Garam e no exercício de auto regulagem acontecendo entre os dois sem ela nem perceber. — Não tinha fila e eles têm os mesmos sabores daqui, a gente só precisa andar um pouco. Parece bom pra você?
Ver Garam não só concordar, mas guiar a família no caminho até a outra loja, faz Sarang e Otto suspirarem: principalmente de alívio pela sobrinha estar se sentindo bem e ter conseguido inibir uma crise que só ia deixar ela estressada e triste mais tarde, mas também de carinho e orgulho pelo filho e por ele ser exatamente daquele jeito.
Doce e carismático, amável e gentil. A melhor versão que os genes dos dois poderia criar, e muito mais, somando só coisas boas.
— O motivo de vocês, Sr. e Sra. Lange, terem sido chamados aqui, é porque acreditamos que o Kit apresenta uma distração pras meninas do outro lado do pátio.
Pelo menos a maior parte do tempo.
— Sinto muito, acho que não entendi. — E Otto não estava nem falando da barreira de linguagem mínima, mas sim do tom da conversa mesmo. — Que tipo de distração nosso filho pode apresentar pras colegas, se eles nem estudam exatamente juntos?
Sarang, por algum motivo, sabe, mas quer fingir que não, enquanto segura a mão do marido e tenta mentalizar apenas coisas boas. As notas azuis do filho, os elogios dos professores, as amizades que ele vinha fazendo super rápido, como ele estava se adaptando bem e aprendendo a conviver bem com outras culturas e pessoas e até com os próprios primos agora que os via todos os dias.
Sarang quer pensar que seu raio de sol é só isso, e não…
— Os boatos que correm nos corredores são que o filho de vocês é um paquerador desgovernado e tem um objetivo pessoal de beijar todas as colegas antes de se formar. — O diretor então completa, de uma só vez, juntando as mãos em cima da mesa, tentando manter a posição de seriedade quando completa. — E as palavras que eu usei, juntamente com as definições, são as que me esforcei pra traduzir pra essa reunião, porque as originais eram tanto quanto… De baixo calão.
Nem um pai quer ouvir na escola que o filho, não satisfeito em ser um rodo e pau de trepadeira humano, 24/7 procurando pessoas pra satisfazer e acalmar os hormônios, criou um fã-clube pessoal usando o carisma a seu favor. Nem um pai quer assumir que muito além de comportamento, aquilo era DNA.
É. O neném não era mais neném.
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bm-european-art · 3 years ago
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Three Donkeys, Otto Lange, Brooklyn Museum: European Art
Size: 12 3/4 x 16 1/2 in. (32.4 x 41.9 cm) Medium: Watercolor
https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/30808
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moma-prints · 4 years ago
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Foxes (Füchse) (plate, loose leaf) from the periodical Das Kunstblatt, vol. 1, no. 11 (Nov 1917), Otto Lange, 1917, MoMA: Drawings and Prints
Transferred from the Museum Library Size: composition: 5 13/16 x 7 7/8" (14.8 x 20 cm); page: 8 9/16 x 11 1/8" (21.7 x 28.2 cm) Medium: Woodcut
http://www.moma.org/collection/works/72813
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magicalshopping · 5 years ago
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♡ Heart Earrings ♡
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otto-pedia · 7 years ago
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First layer on my Babe Ruth baseball. #ottolange #oilpainting #realism #representationalart #baberuth #baberuthbaseball
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riniredrum · 6 years ago
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♡ Heart Earrings ♡
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figdays · 6 years ago
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“Glitter Heart” Earrings // ottolangs
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terciariosfranciscanos · 2 years ago
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‘Consummatum est’ (It is Finished), “Die Kunst unserer Zeit”, 1897
#OttoLang
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bm-european-art · 4 years ago
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Three Donkeys, Otto Lange, Brooklyn Museum: European Art
Size: 12 3/4 x 16 1/2 in. (32.4 x 41.9 cm) Medium: Watercolor
https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/30808
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madneocity-universe · 2 years ago
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Otto&Sarang: rewrite the stars
Tudo que Sarang sabe é que quer ir pra casa, ficar em um quarto escuro por uma semana e não ter que falar com ninguém pelas próximas horas. Hyunjin foi o primeiro a chegar porque estava na França trabalhando, mas sabia que os irmãos estavam vindo em peso pra verificar ela do mesmo jeito. Era isso que ela amava e odiava na conexão que tinha com os irmãos, o jeito que um nunca largava a mão do outro, e o jeito que eles iam estar lá a qualquer momento, se preocupando com ela, esquecendo que tem vidas e que não precisam passar por aquilo com ela.
Se sente cansada, exausta, não quer que eles sofram com ela de novo, não quer sobrecarregar eles com mais um problema. Não quer mais ser uma urgência na vida de pessoas que ela ama, e já basta ter chorado com Hyunjin por todas aquelas horas atrás quando eles falaram do aborto espontâneo que ela sofreu, e da perda que a família inteira tinha sofrido agora.
Ela não quer ser a protagonista de outro desastre, e quando pensa que vai conseguir dormir mesmo com todo aquele barulho em sua cabeça e o mundo desmoronando bem em cima dela, ela escuta uma batida na porta, então uma das enfermeiras de mais cedo a abrindo e entrando, lhe oferecendo um sorriso gentil e padrão quando anuncia.
— Alguém veio ver você!
Aquela mulher com certeza recebia suficiente pra parecer animada e tranquila o dia todo, Sarang tinha certeza, quando ela abre mais a porta e deixa o homem mais velho passar antes de se retirar e deixar os dois um na companhia do outro. No fundo do coração, ela esperava que fosse Otto, ficou surpresa quando Hyunjin disse que não tinha visto ninguém a esperando além de alguns colegas e alunos mais velhos na recepção deixando mensagens e flores durante o dia, uma vez que ela só tinha chegado ali com a ajuda dele.
Mas longe de estar decepcionada, estava surpresa com a presença do Lange mais velho, o próprio dono dos teatros que ela se apresentava, o Conservatório que ela fazia parte e tocava com a orquestra, ali. No minuto que ele usa pra sorrir pra ela e analisar o quarto já abarrotado de flores e cartões com mensagens de preocupação e desejos de melhoras, ela acha que ele está ali pra representar a marca e fazer seu papel como chefe da empresa para a qual ela presta um serviço, mas não tem nem tempo pra admirar aquele gesto.
— A senhorita é mesmo uma pessoa muito querida, senhorita Lee. — Ele começa, lendo cartão por cartão, e Sarang se sente desconfortável com o tom desdenhoso que ele usava. — E quando me disseram que você ajudava a conquistar as pessoas, prendendo elas nos concertos com seu carisma, achei que era bobagem. Como uma garota pode exercer tanto poder nas pessoas, só tocando um piano idiota? — Ele então para, e fica parado na ponta da cama de Sarang, que esqueceu de como respirar com toda a tensão daquela conversa que ela nem conseguia responder, sem entender onde ele queria chegar. — Mas então a senhorita veio, e provou que estava errado. Você é mesmo muito boa no que faz, e torna mesmo a experiência um evento só de estar l��, e é um rosto pra se encontrar na multidão com facilidade. A senhorita é mesmo um diamante, e eu não fui o único que percebeu, e é por isso que estou aqui.
Mr. Lange abre um sorriso mínimo na direção dela, e ela sabe exatamente o que ele quer dizer com aquilo.
— Nós temos assuntos a tratar, senhorita Lee.
Petra odeia o fato de Otto ainda estar magoado e machucado de alguma forma depois de meses, e estar fazendo disso um problema de todo mundo a sua volta, incluindo ela, sua irmã, que nada tinha a ver com aquilo segundo ele mesmo. Mas ela sabe que não é verdade.
Ver ele se esforçando pra manter uma conversa com a garota favorita na lista de interesse do pai, faz ela se sentir tão desconfortável e desanimada quanto ele naquela situação: o jeito que ele balança a cabeça pra parecer que está ouvindo, como ele se deixa vagar no assunto e no ambiente suficiente pra parecer indelicado e saberem que ele não quer estar lá, e como ele se desculpa por tudo aquilo, só pra repetir as mesmas coisas e não fazer nem uma questão de esconder a própria infelicidade.
De sua posição no jardim que aquele almoço beneficente estava acontecendo, ela consegue ver o pai prestes a entrar em combustão observando o comportamento do filho mais velho, e antes que ele faça um escândalo e faça uma cena, Petra está enrolando seu braço com o de Otto, se desculpando enquanto pede a atenção dele emprestada, e a garota na frente dele nem parece se importar quando eles se afastam e Lange não faz nem uma questão de olhar uma segunda vez pra ela.
— Qual o seu fetiche em tornar as coisas mais difíceis pra você e atrair problemas pra sua cabeça, Otto?
— O mesmo que você tem pra achar esse circo todo normal e que merecemos essa vida de merda.
Petra para os dois no meio do caminho, quando sente que estão longe o suficiente pra fugir dos olhares e ouvidos curiosos dos outros convidados, as mãos apoiadas na cintura quando começa a andar de um lado para o outro na frente do irmão.
— Passamos a vida toda desse mesmo jeito. Porra, Otto, você era o maior otário mesmo no dia que a viu pela primeira vez, acha mesmo que algo mudou só por causa dela? — Petra o questiona, tentando manter o tom baixo, mas a voz firme. — Você é o que você é, isso é o que esperam que você faça, é o poder que prometeram pra você. É a sua vida, Otto…
— E ela não precisa ser assim, e nem terminar desse jeito, e ser baseada nos moldes da pessoa que fui criado pra ser. Sarang me ensinou isso, ela me mostrou que eu podia ser mais, às vezes menos, desde que estivesse feliz e satisfeito com o resto. — Petra para de andar e fica parada ao lado do irmão quando ouve a voz dele falhar no final, os dois agora sob o olhar duro do pai, mas ela não se importa mais, Otto precisa de sua total atenção. — E não estou feliz, e muito menos satisfeito com o que tenho aqui. Não gosto do Otto que eu preciso ser aqui, não gosto dos amigos que precisei fazer e manter, não gosto do jeito que as pessoas me tratam, e nem do jeito que elas me consideram. Eu nunca nem mesmo fui o irmão que você merecia, e estou cansado de sustentar esse papel porque colocaram esse destino nas minhas costas. E vou ser um péssimo marido pra qualquer uma dessas moças, porque a única coisa que eu quero e preciso, é de uma garota que não faz ideia do quão bem ela me faz, e de tudo que ela me fez sentir… De tudo que ela me fez perceber que eu merecia viver e sentir. Ela foi embora sem saber o quanto me importava com ela, o quanto a queria, e levou tudo com ela pra outro país. — Então ele faz uma pausa, sem saber que estava segurando o ar quando termina de falar, olhando nos olhos da irmã quando conclui. — As coisas já estão difíceis, eu já arranjei todo tipo de problema pra minha cabeça, e não sei o que fazer.
Petra olha nos olhos dele também, e sabe que ele não está mentindo. Não sobre como ele se sente, não sobre como ele parece esgotado de todo aquele teatro, não sobre seus sentimentos pela garota Lee, e muito menos sobre como ele se sente perdido agora que esteve tão perto de ter uma vida diferente e de repente tudo lhe foi tirado e ele só pôde assistir.
Otto passou uma vida olhando por ela e a protegendo de passar pelas mesmas coisas que ele, sentia que era sua vez, talvez a última em toda sua vida, de lhe conceder o mesmo favor.
— Você sabe exatamente o que fazer. — Ela diz, juntando as mãos na frente do corpo enquanto encara a figura do pai. — E não é aqui, e nem falando comigo, mas em Nova York, com ela.
— Mas você…
— Não tenho mais cinco anos, nem tenho mais medo de monstros. Sou grandinha agora, posso e vou me virar sozinha, tranquila sabendo que você está bem, e feliz.
Era aquele tipo de oportunidade que só se tem uma vez na vida, ele não estava disposto a ignorar outra vez. Só tinha uma chance de viver o nem que queria viver, e ele precisava ser rápido pra agarrar de uma só vez.
Sarang acha que sua carreira como compositora está a um passo de ser enterrada quando joga mais uma partitura na lata de lixo de seu studio, o papel rindo da cara dela de maneira silenciosa, anunciando que mais uma, e ela pode considerar como a última pá de terra e aceitar que ela vai ser a partir de agora uma musicista que só toca o que os outros pedem pra ela tocar e não consegue agregar nada de novo.
Ela admira artistas que conseguem criar a base de tristeza, drama e melancolia, porque mais uma vez em sua vida no estado azul e angustiante, ela não consegue fazer nada com aquilo além de se sentir cansada e uma farsa. Ter tanta gente perambulando pelo seu apartamento fixo também não ajuda, mas ela sabe que sem os irmãos ali, a orbitando quando ela mais precisava, ia ser muito pior e talvez ela nem conseguisse sair da cama e fazer todas as refeições do dia. Quando escuta a voz de Minji na sala de estar, pelo corredor do lado de fora, se lembra do dia que voltou pra casa com todos eles, e como ela foi a única que ela teve coragem de confessar o ocorrido com Mr. Lange, que também costumava ser seu chefe, e consequentemente, pai de Otto.
— Ninguém nunca disse coisas tão cruéis pra mim, eu me senti a pessoa mais suja e sem valor de todas. — Dizia com a cabeça apoiada no ombro da irmã mais velha, o corpo tremendo enquanto ela chorava ruidosamente, minutos depois da visita inesperada daquele homem. — Ele me acusou de estar fazendo a cabeça do Otto, de estar atrapalhando a vida dele, de estar impedindo ele de fazer as coisas que ele gostava de fazer só porque eu o seduzi e estava afastando ele do pai. Ele disse que sou manipuladora e oportunista e que foi assim que cheguei onde estou agora, e que ia usá-lo pra chegar ainda mais longe, e que se eu era mesmo uma pessoa honesta, ia esquecer essa história toda e voltar pra casa. — Seu peito doía, não só pelo luto recente, mas por aquele ataque que tinha recebido e nem conseguido se defender ou reagir enquanto estavam sozinhos e ela só conseguia chorar e pedir desculpas, mesmo sem ter feito nada. — Ele disse que ia pagar pela multa da quebra de contrato, e ainda mais dinheiro se eu quisesse pra nunca mais contatar o Otto… Minji, você acha que sou o que ele diz? Acha que só conquistei o que eu tenho, por que as pessoas me veem desse jeito? Você acha que sou uma pessoa ruim e faço mal pras pessoas?
Se lembra dos irmãos a confortando, e então a ajudando a passar por todas as inseguranças e pensamentos negativos acumulados com aquelas situações, e mesmo agora, é incapaz de não se sentir pequena e triste, oca por dentro, e sem nem uma inspiração pra fazer o que ela mais amava. Quando Sarang acha que vai começar a chorar de novo no quarto mal iluminado, escuta a primeira onda de vozes exaltadas no cômodo no começo do corredor, então uma segunda, e na terceira, jura, escuta Haru ameaçando alguém de morte e se obriga a levantar da cadeira de trabalho e ir ver o que está acontecendo. Enrolada em um moletom enorme e com a certeza que a falta de noites dormidas está estampada em seu rosto, quando precisa se enfiar no meio de Hui e Hyunjin pra alcançar o meio da própria sala.
Otto Lange, em pessoa, e empacotado em um casaco caro e pesado pra lidar com a neve caindo do lado de fora, está no meio, parecendo assustado e sem rumo com tantas pessoas ao seu redor e lhe apontando dedos ao mesmo tempo. Sarang ainda não sabe, mas tinha sido tudo culpa de Hui, que atendeu a porta, reconheceu aquele sotaque e saiu gritando que o pilantra padrão alemão está aqui para ver a Sarang, Minji, bate nele! e Hui acha que um dia ela vai lhe agradecer, mas só acha, porque no mesmo instante que a mais velha percebe o cenário propício a caos e assassinato que aquela sala emana, ela tenta tomar o controle da situação.
— Ei, vocês todos, silêncio! Tem famílias morando nesse prédio, sabiam?
Queria mesmo era chamar eles de arruaceiros e ameaçar de chamar a polícia, mas no mesmo instante todos os olhos estão sobre ela, e Sarang quase esquece que aquilo é uma coisa natural sua, quando Otto parece paralisado com a imagem dela, como se visse um milagre, os dedos firmes num buque de flores maior do que Sarang acha que ele precisa, mas que ainda assim faz seu rosto esquentar.
— Otto…
— Sarang…
— Quem te deu liberdade pra chamar ela pelo primeiro nome? MINJI! — Hyunjin sabe que não é nem um pouco maduro de sua parte, mas aquela altura, colocou em seu coração que está do lado da briga iminente.
E no jeito que as coisas começam a esquentar de novo, até Sarang apoiar as mãos na cintura e se fazer ser ouvida de novo.
— Não devia estar aqui, é minha casa e não foi convidado. — Seu tom é firme e ela tenta não gaguejar, quando os olhos dele estão nos seus, e ele parece ansioso. — Seja lá o que você precise, não me interessa e não posso oferecer a você.
— Você não entende, não quero nada seu, não quero que você me dê qualquer coisa… — Otto começa, então solta um suspiro e olha pros próprios pés, antes de se voltar a ela. — Podemos falar a sós?
Sarang franze o nariz na mesma hora, olhando pra esquerda e agarrando o braço de Minji, e então pra direita e agarrando o braço de Misuk.
— São minha família, meus irmãos. Tudo que tiver que falar para mim, pode falar pra eles. Eu não me importo.
Haru parece um cão de guarda atrás dele, Otto sente a tensão que ele emana e se sente encolher por dentro com todas aquelas pessoas prontas pra lhe tirar a vida ali mesmo naquela sala, e ele sabe que ninguém um dia poderia encontrar o corpo dele de acordo com todas as histórias que já tinha ouvido. Mas ele ainda tenta, pela promessa que tinha feito a si mesmo, de que não ia deixar aquela oportunidade passar mais uma vez.
E faz aquilo da forma mais sincera, direta e honesta. Porque ela merece, e sabe que ele também.
— Eu amo você, me apaixonei por você na primeira vez que a vi e você não fazia a menor ideia de que eu estava lá, e nem do quão perdido e sozinho eu me sentia até encontrar você… Tão bonita tocando aquele piano, parecendo tão feliz no seu próprio ritmo, que pensei que no começo sentia inveja de você, ciúmes do quanto você parecia alegre e contente na sua própria pele, queria me sentir como você, gostar de mim e do que eu era tanto quanto você parecia se amar também, até você me alcançar e me fazer entender que eu podia. Que eu merecia uma vida plena, e me sentir confortável com as coisas que eu dizia, as coisas que queria, porque de repente meus sonhos tinham valor e minhas opiniões também e não era mais um peão no jogo de troca e poder daquelas pessoas. Não sabia que podia ter atenção de alguém, sincera e verdadeira, até conhecer você. Não sabia que alguém realmente me enxergava e se importava comigo, até conhecer você. Não sabia que podia amar alguém de verdade, e sentir todas as coisas boas e não ser só induzido a ter uma relação com outra pessoa, até descobrir que amava você, e que era você quem me fazia sentir todas as coisas boas, e era com você que gostaria de ter um lar, uma família, e uma vida em conjunto. Passei uma vida me privando de tudo e acreditando eu não existia sozinho, sem meu sobrenome, pra descobrir que eu não só poderia existir só, quanto poderia existir com você.
Durante todo o discurso, ele tem os olhos nela e só nela, e mesmo quando ergue as flores em sua direção, ainda tem toda atenção e foco nela. Amando como seu rosto bonito relaxa a cada palavra sua, e como ela aceita o buquê, e como ela não o impede de continuar.
— Sinto muito por ter saído daquele jeito, e por ter machucado você. Não achava que era digno, queria proteger minha irmã daquela confusão e achei que ia ser egoísta se eu fosse o único se libertando daquilo tudo… Mas você vale a pena, Sarang Lee. Você vale muito, e não faz ideia do quão bem me faz e do que me tornei graças a você. É você, Sarang. Sempre foi.
Otto dizia que estava ajudando ela a fazer a mala, mas a cada vez que Sarang volta com uma peça ou objeto pra guardar nos compartimentos, sente falta de algo que ela sabe e se lembra de ter colocado lá.
Ela está estressada, precisa estar no aeroporto e se encontrar com os músicos em breve e não quer fazer ninguém ficar bravo com ela, mas Otto continua sumindo com as coisas dela, a atrasando cada vez mais pro voo que ela tem que pegar, porque ele é um merdinha pegajoso e já está sentindo a falta dela, mas não diz com palavras.
— Ei, sente só o tecido desse casaco. — Otto a para no meio do quarto, erguendo o moletom favorito na direção da esposa, até parece confusa e preocupada quando passa os dedos pelo tecido cinza, quando ele abre um sorriso e completa. — Não parece boyfriend material pra você?
Sarang morde os lábios pra não sorrir, jogando o cabelo por cima do ombro no processo.
— Corajoso da sua parte, uma vez que estamos noivos, você não acha?
Otto congela e jura que a alma quase descola de seu corpo com aquele comentário, mas ainda assim não desiste, jogando a peça de roupa dentro da mala, e dando uma volta ao redor de Sarang, a impedindo de voltar com os itens retirados por ele do lugar.
— Se você for, vou morrer, então não vamos poder nos casar. É isso que você quer?
— Se você for me deixar em paz e jurar que não volta pra encher o meu saco, porra, pode ir com Deus.
Ele quer julgá-la por estar se comportando assim, mas sabe que a culpa é dele. Foi ele quem a ensinou todos os palavrões que ela sabe agora, como responder às pessoas na rua, e como ser uma merdinha insolente e rebelde sem causa. Otto gosta da Sarang doce, amável e encantadora, mas também gosta da versão que ele corrompeu e agora o ataca sempre que sente vontade.
Porque ela não presta, assim como ele. E ela fez dele uma pessoa melhor, assim como ela. Por isso eles são perfeitos.
Por isso ele acredita que eles não podem se separar.
— Preciso trabalhar. — Sarang sussurra, quando se deixa ser abraçada por ele e desiste de resistir às investidas, se aconchegando no calor de seu corpo, a cabeça enterrada em seu peito.
— Eu sei, mas preciso de você, só mais um pouco, então prometo que vou deixá-la ir. — Então ele a envolve em seus braços, e sabe que vai ser difícil cumprir a própria promessa quando escuta ela suspirar e se entregar ao conforto que a combinação dos dois lhes proporciona.
Mas ele vai deixá-la, como prometeu, porque sabe que ela ainda vai voltar pra ele no final das contas.
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madneocity-universe · 2 years ago
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Otto&Sarang: locked out of heaven I
Cause all of the small things that you do, are what remind me why I fell for you and when we're apart, and I'm missing youI close my eyes and all I see is you and the small things you do
Otto vai se casar, mesmo que ele não queira, mesmo que ele não pense que é o momento, sabe que só vai sair daquele salão de festas depois de manter uma conversa civilizada com alguém da lista de interesses de seu pai com o intuito de formar um laço social, profissional e de imagem.
Você já tem idade, já se formou em tudo que queria, já sabe como lidar com os negócios da família e como as coisas funcionam. Precisa se estabelecer, encontrar uma pessoa a altura, se casar e ter herdeiros o quanto antes. Você chegou no ponto mais alto da sua missão nessa vida, e agora precisa cumprir essa fase também.
Otto queria falar, o contrariar, sente que deveria, mas nem sabe por onde começar, uma vez que aquela era a única vida que ele conhecia e o único caminho que tinha lhe sido apresentado desde sempre. Quando fica no meio do salão e sente os olhares de todas as jovens da alta sociedade europeia em cima dele, sabe que todos aqueles anos aprendendo a lidar com negócios, pensando no dever, sem levar em conta como ele se sentia, o que ele pensava ou almejava pra si mesmo, foram pra levá-lo aquela posição.
Ele não existia sozinho, era um membro daquela família, e tinha chegado sua vez de ser um produto oferecido para continuar ela. As moças para quem ele sorria, as mulheres que ele conheceu, as outras que ele chamou para dançar e falar do rendimento das empresas interessadas, eram projeções daquela sua prisão, assim como ele era uma na vida de cada uma delas. Era a vida que ele tinha, a vida que tinham escolhido pra ele, não tinha mais pra onde correr ou como adiar. Era assim que ia acabar, e quando ele percebe, sai pela festa sem rumo com uma taça de champagne na mão, ignorando as chamadas do pai e da irmã e do homem mais velho com quem estava negociando uma esposa e uma fortuna, perturbado com o jeito que ele mesmo permitia que tratassem ele assim, até a música da orquestra da festa lhe chamar a atenção, e ele se encontrar bem na frente dos músicos. Quando colocou os olhos na jovem sentada na frente do piano, soube que ela não só não pertencia ao seu mundo, como tinha sido colocada ali pra guiá-lo pra fora dele.
Estava longe de ser um homem religioso, e tão pouco acreditava que alguém pudesse se apaixonar só olhando pra outra pessoa uma vez, mas sentiu em cada célula do seu corpo a música, na maneira como ela tocava o instrumento como se fosse a coisa mais frágil do mundo, como ela parecia concentrada e profissional e ao mesmo tempo entregue aquela apresentação como se fizesse aquilo a vida inteira. O mundo dela parecia tão mais calmo, mais tranquilo, sem nem uma obrigação ou pessoas dizendo o que precisava ser feito se quisesse ter honra e prestígio e ser lembrado como um homem bom. Otto esquece de quem ele é, e abraça aquela sensação de calmaria por um minuto, como se ela fosse um farol procurando por ele no meio de todas aquelas pessoas, como se ela o protegesse de ser devorado pelos interesses dos outros em cima dele.
Era ela, tinha que ser. Ele não a conhecia, mal conseguia ver o rosto dela naquela distância, mas sabia que aquela mulher era um milagre, o melhor que poderia ter lhe acontecido. Ela era destino, seu destino. Ela era única, e algo lhe dizia que ela seria sua, e que ele seria dela também.
Otto quase não se lembra da mãe, mas às poucas vezes que imagens dela vem a mente e nas fotos que ainda guardam em casa, é sobre uma mulher alegre, sorridente, amorosa e extremamente talentosa, que tinha explodido teatros enormes em aplausos e sido uma das maiores musicistas na Alemanha e no mundo. Ela parecia plena, feliz com a família e trabalho e amigos que tinha, tão tranquila mesmo antes de morrer e deixar a todos para trás, que ele gosta do fato de que era muito jovem na época pra se lembrar e carregar os fantasmas de sua perda. Porque ter crescido com o pai já tinha sido difícil o suficiente, e ele nunca teve escolha quanto a isso.
O velho Lange tinha perdido tudo o que tinha e o que não sabia que lhe pertencia quando teve que enterrar a esposa e ficar sozinho com os filhos. Desaprendeu a ser pai, se tornou uma pessoa oca por dentro, suprimiu toda a dor com trabalho e uma busca infinita por poder, e fez daquele um problema de todo mundo. Tinha perdido o amor de sua vida da maneira mais cruel e dolorosa de todas e não encontrou nem uma saída, a não ser se tornar um velho amargo, rancoroso e sem coração.
O conservatório de música clássica e teatros da família espalhados pelo país, eram um jeito de manter a memória da matriarca viva, e por mais que fosse o negócio menos lucrativo e interessante pros investidores que eles conheciam, era o mais bem estruturado e organizado também. Os Lange distribuíam bolsas o ano todo pra musicistas do mundo inteiro, tinham a própria orquestra e ela, ano após ano, subia no conceito entre as melhores do mundo. Estavam tão bem quanto os russos e argentinos, um verdadeiro motivo de orgulho pra nação, coisa que Otto não compreendia e preferia deixar de lado a parte artística e de saber como aquilo tudo funcionava na prática. Ele gostava de números, de resultados, contato mínimo com as pessoas que trabalhavam pra ele e o resto da família, e nunca tinha entrado em um prédio daqueles por livre e espontânea vontade.
— Quem é aquela?
Era bobagem, parecia bobagem pra ele, até o dia em que se sentou em uma das cadeiras destinadas à plateia, e percebeu que nunca esteve tão errado em toda sua vida. Obrigou a irmã, Petra, a deixar o prédio administrativo da família pra acompanhá-lo ao ensaio da orquestra sem dizer ou revelar qualquer coisa, mas não precisava de muito mais pra ela entender o repente interesse dele em ver todos aqueles músicos praticando rotinas pros eventos de fim de ano. Otto não gostava de música clássica, tinha pavor a ficar sentado em um mesmo lugar por mais de uma hora sem fazer nada, e com certeza nem sabia o som que um piano fazia, até aquela noite em que o pai tentou casar os dois com outras pessoas a todo custo e ela o encontrou encarando e quase desmoronando no meio da festa. Olhando pra mesma garota que eles olhavam agora, não parecendo mais perdido, mas sim intrigado.
Ele tinha sido tomado, ela sabia, ela sentia. E era quase cômico como ele mesmo não tinha percebido ainda.
— Sarang Lee, americana, jovem e muito, muito talentosa. A musicista mais cara e difícil de alugar dos russos, papai acha que pessoas como ela podem chamar atenção pro nosso conservatório e fazer as pessoas ficarem ainda mais interessadas no que eles fazem aqui. — Petra começa, abrindo um sorrisinho insolente quando ouve o irmão suspirar ao seu lado, quando a garota no piano, só alguns metros longe dos dois, se vira pros colegas da sessão de cordas e abre um sorriso. — E você acabou de descobrir o por quê. Ela é um espetáculo, você não acha?
Uns dias atrás, Otto em sua versão prática e profissional diria que investiria cada centavo seu naquele contrato e concordaria com a irmã, mesmo sem entender nada sobre música, ela parecia competente. Parecia saber exatamente o que estava fazendo e como tocar nas pessoas, uma funcionária que nunca ia dar trabalho e render os lucros que esperavam dela.
Mas ali, na sua versão arrebatado pela garota que agora ele sabia que tinha um nome e um propósito, ele mal conseguia pensar.
— Ela é linda, Petra. — Dizia em um tom baixo, apertando a mão da irmã no processo. — É a mulher mais bonita que eu já vi.
Bonita e grávida. É a segunda coisa que ele percebe quando ela se levanta do banquinho na frente do piano quando a rotina termina e os músicos começam a se dispersar pelo palco, a leve curvatura na barriga dela, e como os movimentos dela são mais cuidadosos e lentos arrumando as próprias coisas. Otto olha pra irmã, como se a condenasse por não ter incluído aquele detalhe no resumo que ela mesma deu minutos atrás, mas ela dá de ombros e parece tão chocada quanto ele.
Antes que Petra possa o impedir ou segurá-lo em seu lugar, Otto está de pé, andando sem impedimentos e em linha reta até o palco, as mãos apoiadas nos bolsos do blazer caro quando chega perto suficiente das escadas, e ergue um dos braços bem na hora que a pianista está prestes a descer com uma bolsa que não parece nem um pouco leve. Sarang para no meio do caminho e olha pra ele de maneira curiosa, até Otto lhe oferecer um sorriso, e então abaixar a cabeça.
— Eu só quero ajudar, me permita.
São só cinco degraus, Petra assiste aquela cena com uma das mãos apoiada na boca pra segurar a risada que ela quer soltar, quando vê ele alcançar a bolsa de Lee e a colocar no ombro, e então oferecer a mão mais uma vez pra ela segurar enquanto desce a pequena escada direto pra ficar ao lado dele.
Pelo menos ele era esforçado, ela tinha que admitir.
— Obrigada, foi bastante gentil da sua parte, mas não precisava. — E eram só algumas palavras de agradecimento, mas Otto jura, com todo seu coração, que nunca na vida escutou uma voz tão doce e bonita quanto a dela. — Eu podia ter feito sozinha…
— Otto, pode me chamar de Otto, mas eu insistiria mesmo assim. — Ele a interrompe educadamente, apertando a alça da bolsa dela no ombro, pra não gritar quando ela solta uma risadinha ao olhar pra ele. — Imagina o que o pai do seu bebê pensaria…
Sarang ergue as sobrancelhas com aquele comentário seu, e ao invés de se sentir envergonhado por ter escolhido AQUELA carta pra descobrir se ela era solteira ou não, ele a imita, em expectativa pra saber se tinha acertado ou não. A maior cara de pau de todas.
— Bom, eu acho que meu irmão realmente poderia ficar chateado com a situação, já que é o bebê dele, e eu sou só a barriga solidária. Mas ainda é um ponto, quer que eu fale pra ele o quanto foi solícito? — Sarang não quer soar irônica e nem provocativa, mas não consegue, enquanto cruza os braços na frente do corpo e abre um sorriso mínimo. Consegue ouvir a voz de Minji no fundo de sua cabeça agora, a parabenizando pela perspicácia.
— Ainda não tivemos nem um primeiro encontro, e já quer me apresentar pra sua família? Rápido, mas doce, e eu gosto. — Até Otto dar aquela volta, e ela ficar chocada e congelada no mesmo lugar. Os dois ficam em silêncio, Otto sabe que venceu e que conseguiu a primeira impressão que precisava. Talvez não boa, nem perfeita, mas sabe que causou algo naquela mulher e que foi positivo.
Os resultados não o deixavam mentir.
Lee não tinha aceitado sair apenas uma vez com ele, como começaram a passar a maior parte do tempo livre dos dois juntos. Não como um casal, e nem como se aquele fosse o único interesse dos dois, mas como duas pessoas que apreciavam a companhia uma da outra, tomando café, indo almoçar, visitando lugares diferentes e falando da vida. Era a primeira vez na vida de Otto que ele se permitiu viver algo orgânico, lento, e natural, que ele queria e se deixava ficar animado, então não ligava se tudo parecia mais uma amizade muito especial pros dois e que Sarang o tratasse como tal também.
Estar na presença dela, ouvir a voz dela, olhar nos olhos dela… Fazia ele sentir coisas, coisas que sabia que tinha reprimido dentro de si e sido impedido de descobrir e sentir desde que passou a ser criado apenas pelo pai. As coisas simples nunca tinham lhe enchido os olhos ou aquecido o peito até aquela mulher o ensinar como elas eram boas, que Otto merecia uma vida sutil e tranquila, que não exigisse mais dele do que o necessário, e que tudo bem desacelerar as vezes.
Fazia parte, ele podia adotar aquilo também.
— Parece muito nobre da sua parte carregar o bebê do seu irmão, mas como vocês entraram em um consenso, com tantas irmãs na sua família? — Otto descobriu que gostava de ouvir as histórias da familia Lee e todo o caos que sempre parecia envolver os detalhes, e sabe que poderia passar uma tarde inteira só bebendo chá e ficando impressionado com a energia absurda dos irmãos de Sarang, como naquele dia em questão, que tinha ignorado todas as reuniões do dia sem avisar a ninguém só pra passear com ela e a barriga de quase quatro meses que ela exibia por aí também. Ela não sabia ainda, mas tinha se tornado uma prioridade dele. — Não acredito que tenha sido uma decisão tão fácil assim.
— Quando você é considerada a favorita, até entre os seus irmãos, não torna só as coisas mais fáceis, como eles nem disfarçam o quanto te consideram e amam mais do que qualquer coisa. — Lee começa, abrindo um sorriso divertido quando Otto ergue as sobrancelhas na direção dela, então ela continua. — Eles acham que eu sou a criatura mais amável, gentil e honesto que já existiu, e que precisam me proteger do mundo inteiro e que sou preciosa demais pra viver entre as pessoas. Então, um bebê com meus genes…
— Ia ser tão perfeito e doce quanto você. — Otto contempla, sorrindo quando finalmente parece entender como aquela conta fechava, ao completar. — Eu meio que concordo com eles agora.
Sarang joga um guardanapo na direção dele, não querendo admitir que o elogio atravessado tinha deixado ela feliz, enquanto Otto se esforça pra não rir dela.
— É assim que chega nas garotas? Elogia o útero delas?
— Só com as mais bonitas, e com quem eu gostaria de ter filhos.
Sarang não consegue responder Otto no mesmo segundo, e nem no segundo seguinte, e nem no que vem depois, quando uma dor em sua barriga começa a crescer e e ela não consegue respirar, ela não sabe de onde vem, o que fazer ou o que aquilo significava. Quando Otto a carrega e a leva nos braços até o lado de fora do café, ela ainda não faz a menor ideia do porque está chorando, porque tem tanto sangue em seu vestido ou porque ainda dói tanto. São quase quatro meses agora, o bebê não devia estar dando o menor sinal de que ia nascer e isso era certo, e antes que ela possa entrar em pânico, desmaia no conforto desesperado dos braços dele.
Otto também não faz a menor ideia do que está acontecendo, mas sabe que ela precisa de ajuda e que não pode esperar o manobrista trazer seu carro ou o dela de volta, então só começa a correr pela rua com ela em seus braços, os seguranças escoltando os dois todo o caminho até o hospital mais próximo e que ele consegue localizar naquela situação. Não se importa se as pessoas podem reconhecer ele, se o celular não para de tocar no bolso do casaco ou que vai jogar um terno caro no lixo até o final do dia, quando os médicos a levam e não deixam ele passar, é como se uma parte sua ficasse em alerta e sentisse todo o perigo 10x mais do que o normal.
— Sou amigo dela.
— O senhor não pode ficar aqui se for só amigo dela.
O fato da enfermeira não entender a urgência que ele sentia, só o deixava mais nervoso e prestes a arremessar o computador da recepção em uma parede.
— Bom, então eu sou o namorado dela, é melhor assim? Soa importante o suficiente? Porque a família dela de verdade está em outro continente e não vão conseguir chegar a tempo pra responder todas essas perguntas ridículas. — Otto acha que vai explodir, mas sente a mão de um dos seguranças em seu ombro, e é suficiente pro ódio que sente diminuir quase que pela metade quando ele respira fundo, e retoma ao discurso, tentando ser o mais racional possível. — Aquele bebê é muito importante pra ela e a família dela, vocês não fazem ideia do quanto… Eles precisam voltar pra casa, juntos e vivos, custe o que custar e leve quanto tempo for preciso. Eles precisam ficar bem, ela precisa ficar bem.
Eu só vou ficar bem, se ela estiver bem, quase sai pela boca, quando a irmã o encontra na recepção, e o puxa com ela pra fora do lugar.
— Preciso ficar com ela, ela precisa de mim.
— Nós já ligamos pra família dela, estão vindo ver ela e acompanhá-la assim que eles conseguirem. Ela precisa da família dela, Otto, e não do chefe.
Petra odeia ter que fazer ele acordar e se colocar no papel que realmente o pertencia, e odeia o quanto machucado e magoado o irmão parece quando ela diz aquelas coisas, mas sabe que precisa ser firme, e que aquilo é o melhor.
— Otto, ela tem uma família, uma vida, e você também, e vocês dois são completamente diferentes um do outro. — A mais velha apoia uma mão em seu ombro, antes de puxá-lo pra um abraço, sem se importar em arruinar um vestido também. — Isso… Vocês dois… Não vai acontecer do jeito que você acha que vai, você não quer mesmo que ela entre no mesmo mundo que nós dois pertencemos, e sabe que não pode sair dele sem pagar muito caro se ao menos tentar. Você tem responsabilidades, precisa cumprir com seu papel e parar de brincar com uma pessoa que nunca vai poder ter.
Ele quer dizer que nunca brincou com Sarang, que nunca a tratou como menos do que ela era, que todas as vezes que riu das piadas dela, que todas as vezes em que se interessou pelo que ela tinha a falar, foram sinceras. Ele quer dizer que acha ela mesmo uma pessoa incrível e muito mais do que um rosto bonito, que tinha tido os melhores momentos de sua vida com ela, e que ela era a única coisa que ele conseguia pensar quando ia dormir e quando se levantava. Ele quer dizer que gosta dela, não, não, que ama ela. E que não se importaria de deixar tudo só pra viver aquele sonho com ela.
Mas ele não pode, Petra implora olhando em seus olhos pra ele não deixá-la sozinha naquele lugar, pra ele não deixar toda a responsabilidade e o dever cair sobre ela, e ele entende que aquele ia ser o preço que ia ter que pagar. Não pode ser egoísta com a única pessoa que o apoiou e ajudou em todos aqueles anos, deve sua vida a ela, deve lealdade a ela.
E antes de um homem apaixonado e arrebatado por talvez o amor de sua vida, ele era um homem responsável.
— A Senhorita Lee escolheu passar um tempo com a família depois da perda dela, e disse que vai retornar direto pra Moscow quando a pausa dela terminar. Ela agradeceu a oportunidade de lecionar e tocar conosco nos últimos meses, mas vai voltar para a Bolshoi até o final do ano.
Então, quando Sarang é citada na reunião semanal da empresa, ele não deixa parecer que sente qualquer coisa, acenando com a cabeça junto com os outros presentes na sala, quando o pai solta um suspiro na cabeceira da mesa e chama a atenção de todos.
— Uma pena, garota encantadora e muito trabalhadora. Ela vai fazer falta. — O velho Lange comenta, antes de erguer uma das mãos e chamar um dos secretários presentes. — Mande flores pra ela em Nova York, diga que sentimos muito e que foi um prazer tê-la conosco também. Esperamos que ela melhore, e que volte a tocar logo.
Otto não acha que flores vão curar o luto dela e da família, e nem que o pai realmente se importa e que não está agora mesmo fazendo contas na cabeça com o prejuízo que aquilo ia causar. Mas ele não diz.
Não é mais problema seu, Otto Lange não existia sozinho.
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magicalshopping · 5 years ago
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magicalshopping · 5 years ago
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otto-pedia · 8 years ago
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magicalshopping · 5 years ago
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otto-pedia · 8 years ago
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