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Chilling Adventures: Kit Lange Parents
As únicas pessoas que não sabiam que Kit Lange estava destinado a ser um evento, eram os pais dele, porque como toda boa história, a parte irônica dessa era que as pessoas que tinham lhe dado a vida não faziam a menor ideia no que tinham se metido.
— Ah, ele é tão fofo. — Sarang sussurra com o menino nos braços, enquanto Otto fica com a menina, a gêmea adormecida, em pé do lado da cama dela. Apesar de terem dividido o mesmo espaço por nove meses, fica claro que Harvey é muito mais parecida com o pai, e Kit, bom…
— Tem os seus olhos e eu juro por tudo, sorriu pra absolutamente todas as pessoas que cruzaram o caminho dele do berçário até aqui. — Otto conta para a esposa com um sorriso que começa sutil em seus lábios, mas vai aumentando conforme assiste a mulher interagir com sua cópia dita dela, enrolado naquele cobertor azul genérico da maternidade. — Você precisava ver, ele é…
— Um bebê doce e carismático? — Ela completa em tom sugestivo, mordendo um sorriso quando o pacotinho em seus braços se esforça pra chamar a atenção dos dois, sendo adorável.
— O mais doce e carismático de todos, graças aos nossos genes combinados. Ele é perfeito.
E ele também era diferente de qualquer conceito que eles poderiam esperar, quando descobriram que iam ser pais dele, porque cada dia convivendo com Kit, parecia uma enorme caixinha de surpresas e que só aumentava o nível da proposta.
— Posso usar uma também?
Deixando eles cada vez mais surpresos.
Sarang demora um pouco pra perceber Kit no meio da tarefa de arrumar as meninas, é Otto quem o vê no canto da sala enquanto faz uma trança junto com fitas coloridas no cabelo da caçula, erguendo as sobrancelhas enquanto repete as palavras do filho na cabeça.
— Você quer uma presilha pra colocar no seu cabelo? — O mais velho o questiona, em um tom gentil e cuidadoso, olhando brevemente pra esposa antes de lhe voltar a dar atenção ao garoto. — Quer que a gente faça como as suas irmãs?
Quando as meninas vieram, praticamente uma atrás da outra, o casal tinha entrado em um consenso que gênero não devia e não iria ser algo moldado na vida das crianças a menos que elas quisessem; ambos não tinham vindo de lares saudáveis e abertos pra discussão, então faziam questão que com os filhos seria diferente. Foram anos comprando roupas e brinquedos neutros pros quatro, e só quando as meninas mostraram real interesse e ficaram curiosas, as orelhas foram furadas pra colocar brinquinhos e ficaram muito chocados ao descobrir uma obsessão por presilhas brilhantes e faixas de cabelo cor de rosa compartilhada pelas três.
Então, quando Kit abriu aquele sorriso que fazia acentuar suas covinhas e parecer que seu rostinho todo brilhava, enquanto entrava na sala dando pulinhos ao invés de passos, não teve nem um choque, nem uma surpresa, e muito menos indiferença. Só respeito e diálogo, pra ele se sentir seguro e atendido. O fato dele ser o único menino não influenciava em nada.
— Sim, como a da Harvey, e da Seohyun, e da Jia. Então, vamos ser iguais. E eu achei bonito, acha que vai combinar com meu uniforme? — O mais jovem então junta as mãos na frente do corpo, piscando os olhos de maneira adorável, fazendo o coração dos pais derreter.
— Acho que vai combinar com tudo que você quiser colocar, querido. — Sarang diz, terminando de prender o cabelo da mais velha, então estendendo a caixinha de acessórios de cabelo na direção do filho pra ele escolher os que mais tinha interesse. — Podemos começar a comprar algumas só pra você, o que acha?
— Perfeito, mamãe.
Tudo bem, o fato dele ainda usar uma mochila do Jurassic Park, um moletom do Homem-Aranha e um arquinho decorado de vez em quando era fofo e sempre gerava comentários cômicos e absurdos no grupo da família, mas não superava os relatos no final do dia.
— Kit, amigo, onde foi parar sua borboleta lilás? — Otto sente a respiração ficar presa na garganta, quando passa a mão pelo cabelo mais claro do filho e não acha a presilha de glitter lá. Pensou em todo tipo de cenário trágico envolvendo crianças cruéis e todo tipo de intimidação naquela altura, quando sentiu a mão minúscula do mais jovem agarrar seu pulso, o tranquilizando do mesmo jeito que a mãe fazia.
— Eu dei pra uma colega na aula de artes, ficou muito mais bonito nela, e eu gosto quando ela sorri.
Não podiam dizer que ele já não sabia exatamente o que estava fazendo no jardim de infância.
Do mesmo jeito que não podiam dizer que ele não tinha um coração bom, e que independente das pessoas em volta ou dos ambientes e das situações que ele era colocado, Kit sempre, e sem esforço, era a pessoa mais pró-ativa e gentil, maduro e capaz de lidar com tudo e mais um pouco.
Era férias, a família toda se reunia em Nova York, berço dos Lee, pra passar um tempo naqueles três meses no verão. Era tudo sobre sair, comer fora, atualizar os acontecimentos, e mesmo com as crianças agora na puberdade, obrigando as proles a visitarem templos e bairros coreanos tradicionais com a promessa de biungsu e songpyeon no final do dia.
A família, claro, já tinha aquilo como uma tradição, mas para a prima, Garam, funcionava ainda mais como uma rotina e uma regra impossível de ser quebrada. Se todos não terminassem comprando os doces no mesmo lugar, depois dela ter passado um dia inteiro falando sobre isso, o desfecho só podia ser um caos. A fila não andava, e só a menção de simplesmente esgotar o estoque antes deles conseguirem comprar a deixou nervosa e ansiosa, a quantidade absurda de pessoas desconhecidas em volta não ajudava, e sentindo que uma crise estava prestes a explodir e nem um dos pedidos de paciência e calma vindo dos adultos parecia ajudar, Kit fez o que tinha que fazer.
Desde que o diagnóstico dela se tornou conhecido pela família, ele decidiu que nunca ia deixá-la independente do quão difícil podia ser conviver com ela às vezes. Ela ainda era sua prima favorita.
— Ei, acha que consegue ouvir uma música comigo? Eu também não tô feliz aqui, acho que a gente pode ficar bravo juntos. — Ele só coloca o outro fone no ouvido dela, quando ela acena com a cabeça e deixa ele se aproximar, entrelaçando os dedos com os dele logo em seguida. — Não tem essa de ficar calma, uma puta de uma sacanagem todo mundo decidir vir aqui hoje, logo quando a gente veio também! Um ano inteiro, não dava pra esperar?
— Sim, sim! É o nosso lugar, eles não tinham o direito. Isso é tão… Frustrante. — Garam nem percebe o coração batendo mais devagar, a respiração se igualando a de Kit, e nem o assunto escorregando pra fora de sua mente enquanto o ruído branco passa pelo fone que ele lhe deu.
— Eu concordo, e digo mais: tem uma loja muito melhor e mais acessível no começo da rua. — Lange então pega a outra mão da prima, olhando nos olhos dela, totalmente alheio a forma como a família observa os dois na calçada. Tinha toda atenção em Garam e no exercício de auto regulagem acontecendo entre os dois sem ela nem perceber. — Não tinha fila e eles têm os mesmos sabores daqui, a gente só precisa andar um pouco. Parece bom pra você?
Ver Garam não só concordar, mas guiar a família no caminho até a outra loja, faz Sarang e Otto suspirarem: principalmente de alívio pela sobrinha estar se sentindo bem e ter conseguido inibir uma crise que só ia deixar ela estressada e triste mais tarde, mas também de carinho e orgulho pelo filho e por ele ser exatamente daquele jeito.
Doce e carismático, amável e gentil. A melhor versão que os genes dos dois poderia criar, e muito mais, somando só coisas boas.
— O motivo de vocês, Sr. e Sra. Lange, terem sido chamados aqui, é porque acreditamos que o Kit apresenta uma distração pras meninas do outro lado do pátio.
Pelo menos a maior parte do tempo.
— Sinto muito, acho que não entendi. — E Otto não estava nem falando da barreira de linguagem mínima, mas sim do tom da conversa mesmo. — Que tipo de distração nosso filho pode apresentar pras colegas, se eles nem estudam exatamente juntos?
Sarang, por algum motivo, sabe, mas quer fingir que não, enquanto segura a mão do marido e tenta mentalizar apenas coisas boas. As notas azuis do filho, os elogios dos professores, as amizades que ele vinha fazendo super rápido, como ele estava se adaptando bem e aprendendo a conviver bem com outras culturas e pessoas e até com os próprios primos agora que os via todos os dias.
Sarang quer pensar que seu raio de sol é só isso, e não…
— Os boatos que correm nos corredores são que o filho de vocês é um paquerador desgovernado e tem um objetivo pessoal de beijar todas as colegas antes de se formar. — O diretor então completa, de uma só vez, juntando as mãos em cima da mesa, tentando manter a posição de seriedade quando completa. — E as palavras que eu usei, juntamente com as definições, são as que me esforcei pra traduzir pra essa reunião, porque as originais eram tanto quanto… De baixo calão.
Nem um pai quer ouvir na escola que o filho, não satisfeito em ser um rodo e pau de trepadeira humano, 24/7 procurando pessoas pra satisfazer e acalmar os hormônios, criou um fã-clube pessoal usando o carisma a seu favor. Nem um pai quer assumir que muito além de comportamento, aquilo era DNA.
É. O neném não era mais neném.
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If you think of me, I will think of you: Sarang Lee
Ela não faz ideia do porquê estão levando um pratinho de docinhos de feijão vermelho para a casa ao lado, Sarang conhece os Yang uma vida inteira (quatro anos e meio, agora) e ainda não entendeu que boas-vindas são essas que sua mãe quer dar a eles, mas ainda espera pacientemente atrás da saia dela.
Até ver, e entender, exatamente do que os adultos do bairro estavam falando.
Bom, talvez não tenha entendido totalmente, mas o rosto infantil, escondido atrás da saia de Mrs. Yang, é de alguém que ela nunca tinha visto antes e que a deixa curiosa quase no mesmo instante. Por tantos motivos que ela nem consegue contar, está ansiosa e feliz demais com a possibilidade de fazer um novo amigo pra conseguir pensar com sua cabecinha de criança de quatro anos, de um jeito que nem sua mãe lhe ameaçando com uma voz severa, a impede de andar até o garoto mais alto que ela.
É orgânico a forma como ela sorri sem o dentinho da frente, é orgânico como ela estende a mão para o cumprimentar e diz que seu nome é Sarang, como o amor.
E é orgânico como ela analisa todas as feições dele, antes de soltar um elogio que saiu direto de seu coração, totalmente sincero.
— Você é lindo, sabia?
E adorável, inteligente e muito articulado pra uma criança da idade deles.
Sarang sempre fica muito encantada quando Cas abre a boca, seja pra falar sobre um livro infantil que ele andou gostando muito de olhar as gravuras, seja pra lhe contar uma conversa torta que ele ouviu entre duas Ahjummas na vendinha da esquina, e agora descobre que ama ver a forma como ele tenta convencer Mrs. Yang que ele merece mais cinco minutos brincando ao seu lado na pracinha do outro lado da rua.
Sarang sabe que daria qualquer coisa pra ver ele feliz e que seria incapaz de dizer não pra ele, Cas é muito fofo, mesmo quando escuta outro não. Ela quase não escuta sua própria mãe gritando seu nome e a mandando entrar, precisa que Mrs. Yang a acompanhe até em casa, porque aos seis anos, perdeu o rumo de sua vida por causa de seu melhor amigo fazendo birra e ela não sabe processar o que está sentindo.
O que eles têm, no fim das contas, é esse curto momento antes da hora de dormir pra jogar conversa fora. Ela debruçada na janela do próprio quarto, e ele no dele também, cada um reclamando dos seus próprios problemas e torcendo pro dia seguinte chegar logo, então vão poder passar mais tempo juntos na escola, e no intervalo e na gangorra de novo.
Sarang acha maravilhoso como os olhos dele brilham mesmo naquela distância. Então faz questão de dizer, de novo.
— Você é lindo, sabia?
Se é novidade pra alguém, ela não sabe, mas gosta como seus irmãos e pais nem tentam mais ter expectativa em seus aniversários na hora de partir o bolo.
No aniversário de cinco.
— O primeiro pedaço é do Cas!
No aniversário de oito.
— O primeiro pedaço é do Cas, claro.
No aniversário de dezesseis.
— Vai pro meu melhor amigo.
Ele é o primeiro rosto que ela vê quando acorda, o último que ela vê antes de dormir, e por todo esse tempo, a única pessoa que ela se importa tanto a ponto de pensar várias e várias vezes durante o dia, mesmo que o bairro todo pense sobre ela o tempo todo e principalmente no white day.
É quase uma tradição receber todas aquelas flores e chocolates, agradecer as pessoas na porta enquanto seus pais acham realmente divertido contar se foram mais presentes que nos anos anteriores, enquanto a deixam ouvir todo tipo de ladainha na varanda.
Como ela combina com o sobrinho de fulana de tal. Como ela já está na idade de pensar em namoro sério e se casar antes da faculdade. Como ela não devia perder tempo com um fora do balaio como Caspian Yang.
Ela podia ficar irritada com a forma que era tratada feito um produto, uma boneca, mas seu sangue só fervia mesmo quando tocavam no nome dele. Quando o tratavam daquele jeito, com ele longe e sem poder se defender. Seu melhor amigo, a pessoa que mais a entendia no mundo, o garoto mais gentil e corajoso que ela conhecia.
E o único que merecia receber flores e chocolates dela naquele feriado, também.
— Não fica chateado com o que as pessoas falam de você, não gosto de te ver triste… Eles não merecem te deixar assim. — O consolava da melhor maneira que conseguia, o envolvendo em um abraço tão apertado quanto ela conseguia dar, como se pudesse tirar todo aquele fardo dele e passar pra ela. — Você é perfeito, Cas. Eu não trocaria você por absolutamente nada no mundo todo.
Ele era o único que merecia ganhar presentes dela, o único que merecia ouvir seus testes pra um recital novo da escola, e o único que merecia o sorriso mais genuíno e bonito que ela tinha quando olhava para seu rosto igualmente bonito.
— E você é lindo, sabia?
— Eu acho que vou desmaiar.
Mesmo que o time de baseball sub 12 de Koreatown esteja dando um banho nos meninos catarrentos de Chinatown, naquele amistoso de bairro que ninguém aguenta mais ouvir falar na comunidade asiática num todo, ela acha que vai desmaiar porque a decepção no rosto de Cas é visível e ele nem consegue mais esconder a indignação.
Ela sabia que ele tinha tido uma semana difícil e ouviu de Hui que ele tinha entrado em uma discussão ou duas com uma galera babaca que morava lá na rua, então achou que o que ele precisava era assistir um jogo de crianças desajeitadas. Eles sempre assistem esportes na TV e devia ser divertido, até não ser mais, e ela ter que o consolar por mais uma coisa na volta pra casa.
— Eu não sabia que o Adonis Hwang estava mais pra Aquiles nessa temporada, sinto muito. — Sussurrava em puro pesar para Cas, depois de aplicar uma máscara coreana em seu rosto em cima do colo dela, torcendo pras luzes baixas e música indie em seu quarto ser suficiente pra curar seu coração partido pelo jogo de mais cedo. — Vai ser melhor na próxima, você vai ver.
Ela já tinha ouvido falar que os garotos de Camboja Town estavam ainda maiores que os de Koreatown, mas esperança era a última a morrer e não ia ser ela que ia dar essa notícia ruim. Tinha cancelado todos os planos de sua agenda, até os que tinha com seu namorado, só pra dar atenção e passar um tempo com Cas. Depois que Sarang fecha a porta e eles ficam perdidos na aura tranquila do quarto dela, com os celulares no modo avião e um monte de açúcar disponível, nada mais importa.
Nem seu subconsciente dizendo que é, eles eram super amigos e coisa e tal, mas nem de longe aquele tipo de contato era aceitável pra pessoas que se consideravam só amigas; o jeito que ela passava a mão no cabelo dele, o tom de voz doce que ela usava pra falar com ele, o beijo que ela deposita em sua bochecha antes de deixá-lo dormir meio entrelaçado com o corpo dela e o braço jogado em sua cintura.
Ela até pensa em se questionar sobre tudo, tentando medir o quanto daquilo é inocente e inofensivo, mas a cabeça fica cheia do quanto ela gosta de sentir o calor dele perto dela, e o tanto que ela amou o aperto de posse em sua cintura quando tentou se mexer pra longe dele.
Ele tão, tão lindo, que o resto do mundo podia esperar. Não importa qual fosse a urgência, nem o tamanho do caos prestes a cair sobre sua cabeça.
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Otto&Sarang: rewrite the stars
Tudo que Sarang sabe é que quer ir pra casa, ficar em um quarto escuro por uma semana e não ter que falar com ninguém pelas próximas horas. Hyunjin foi o primeiro a chegar porque estava na França trabalhando, mas sabia que os irmãos estavam vindo em peso pra verificar ela do mesmo jeito. Era isso que ela amava e odiava na conexão que tinha com os irmãos, o jeito que um nunca largava a mão do outro, e o jeito que eles iam estar lá a qualquer momento, se preocupando com ela, esquecendo que tem vidas e que não precisam passar por aquilo com ela.
Se sente cansada, exausta, não quer que eles sofram com ela de novo, não quer sobrecarregar eles com mais um problema. Não quer mais ser uma urgência na vida de pessoas que ela ama, e já basta ter chorado com Hyunjin por todas aquelas horas atrás quando eles falaram do aborto espontâneo que ela sofreu, e da perda que a família inteira tinha sofrido agora.
Ela não quer ser a protagonista de outro desastre, e quando pensa que vai conseguir dormir mesmo com todo aquele barulho em sua cabeça e o mundo desmoronando bem em cima dela, ela escuta uma batida na porta, então uma das enfermeiras de mais cedo a abrindo e entrando, lhe oferecendo um sorriso gentil e padrão quando anuncia.
— Alguém veio ver você!
Aquela mulher com certeza recebia suficiente pra parecer animada e tranquila o dia todo, Sarang tinha certeza, quando ela abre mais a porta e deixa o homem mais velho passar antes de se retirar e deixar os dois um na companhia do outro. No fundo do coração, ela esperava que fosse Otto, ficou surpresa quando Hyunjin disse que não tinha visto ninguém a esperando além de alguns colegas e alunos mais velhos na recepção deixando mensagens e flores durante o dia, uma vez que ela só tinha chegado ali com a ajuda dele.
Mas longe de estar decepcionada, estava surpresa com a presença do Lange mais velho, o próprio dono dos teatros que ela se apresentava, o Conservatório que ela fazia parte e tocava com a orquestra, ali. No minuto que ele usa pra sorrir pra ela e analisar o quarto já abarrotado de flores e cartões com mensagens de preocupação e desejos de melhoras, ela acha que ele está ali pra representar a marca e fazer seu papel como chefe da empresa para a qual ela presta um serviço, mas não tem nem tempo pra admirar aquele gesto.
— A senhorita é mesmo uma pessoa muito querida, senhorita Lee. — Ele começa, lendo cartão por cartão, e Sarang se sente desconfortável com o tom desdenhoso que ele usava. — E quando me disseram que você ajudava a conquistar as pessoas, prendendo elas nos concertos com seu carisma, achei que era bobagem. Como uma garota pode exercer tanto poder nas pessoas, só tocando um piano idiota? — Ele então para, e fica parado na ponta da cama de Sarang, que esqueceu de como respirar com toda a tensão daquela conversa que ela nem conseguia responder, sem entender onde ele queria chegar. — Mas então a senhorita veio, e provou que estava errado. Você é mesmo muito boa no que faz, e torna mesmo a experiência um evento só de estar lá, e é um rosto pra se encontrar na multidão com facilidade. A senhorita é mesmo um diamante, e eu não fui o único que percebeu, e é por isso que estou aqui.
Mr. Lange abre um sorriso mínimo na direção dela, e ela sabe exatamente o que ele quer dizer com aquilo.
— Nós temos assuntos a tratar, senhorita Lee.
♡
Petra odeia o fato de Otto ainda estar magoado e machucado de alguma forma depois de meses, e estar fazendo disso um problema de todo mundo a sua volta, incluindo ela, sua irmã, que nada tinha a ver com aquilo segundo ele mesmo. Mas ela sabe que não é verdade.
Ver ele se esforçando pra manter uma conversa com a garota favorita na lista de interesse do pai, faz ela se sentir tão desconfortável e desanimada quanto ele naquela situação: o jeito que ele balança a cabeça pra parecer que está ouvindo, como ele se deixa vagar no assunto e no ambiente suficiente pra parecer indelicado e saberem que ele não quer estar lá, e como ele se desculpa por tudo aquilo, só pra repetir as mesmas coisas e não fazer nem uma questão de esconder a própria infelicidade.
De sua posição no jardim que aquele almoço beneficente estava acontecendo, ela consegue ver o pai prestes a entrar em combustão observando o comportamento do filho mais velho, e antes que ele faça um escândalo e faça uma cena, Petra está enrolando seu braço com o de Otto, se desculpando enquanto pede a atenção dele emprestada, e a garota na frente dele nem parece se importar quando eles se afastam e Lange não faz nem uma questão de olhar uma segunda vez pra ela.
— Qual o seu fetiche em tornar as coisas mais difíceis pra você e atrair problemas pra sua cabeça, Otto?
— O mesmo que você tem pra achar esse circo todo normal e que merecemos essa vida de merda.
Petra para os dois no meio do caminho, quando sente que estão longe o suficiente pra fugir dos olhares e ouvidos curiosos dos outros convidados, as mãos apoiadas na cintura quando começa a andar de um lado para o outro na frente do irmão.
— Passamos a vida toda desse mesmo jeito. Porra, Otto, você era o maior otário mesmo no dia que a viu pela primeira vez, acha mesmo que algo mudou só por causa dela? — Petra o questiona, tentando manter o tom baixo, mas a voz firme. — Você é o que você é, isso é o que esperam que você faça, é o poder que prometeram pra você. É a sua vida, Otto…
— E ela não precisa ser assim, e nem terminar desse jeito, e ser baseada nos moldes da pessoa que fui criado pra ser. Sarang me ensinou isso, ela me mostrou que eu podia ser mais, às vezes menos, desde que estivesse feliz e satisfeito com o resto. — Petra para de andar e fica parada ao lado do irmão quando ouve a voz dele falhar no final, os dois agora sob o olhar duro do pai, mas ela não se importa mais, Otto precisa de sua total atenção. — E não estou feliz, e muito menos satisfeito com o que tenho aqui. Não gosto do Otto que eu preciso ser aqui, não gosto dos amigos que precisei fazer e manter, não gosto do jeito que as pessoas me tratam, e nem do jeito que elas me consideram. Eu nunca nem mesmo fui o irmão que você merecia, e estou cansado de sustentar esse papel porque colocaram esse destino nas minhas costas. E vou ser um péssimo marido pra qualquer uma dessas moças, porque a única coisa que eu quero e preciso, é de uma garota que não faz ideia do quão bem ela me faz, e de tudo que ela me fez sentir… De tudo que ela me fez perceber que eu merecia viver e sentir. Ela foi embora sem saber o quanto me importava com ela, o quanto a queria, e levou tudo com ela pra outro país. — Então ele faz uma pausa, sem saber que estava segurando o ar quando termina de falar, olhando nos olhos da irmã quando conclui. — As coisas já estão difíceis, eu já arranjei todo tipo de problema pra minha cabeça, e não sei o que fazer.
Petra olha nos olhos dele também, e sabe que ele não está mentindo. Não sobre como ele se sente, não sobre como ele parece esgotado de todo aquele teatro, não sobre seus sentimentos pela garota Lee, e muito menos sobre como ele se sente perdido agora que esteve tão perto de ter uma vida diferente e de repente tudo lhe foi tirado e ele só pôde assistir.
Otto passou uma vida olhando por ela e a protegendo de passar pelas mesmas coisas que ele, sentia que era sua vez, talvez a última em toda sua vida, de lhe conceder o mesmo favor.
— Você sabe exatamente o que fazer. — Ela diz, juntando as mãos na frente do corpo enquanto encara a figura do pai. — E não é aqui, e nem falando comigo, mas em Nova York, com ela.
— Mas você…
— Não tenho mais cinco anos, nem tenho mais medo de monstros. Sou grandinha agora, posso e vou me virar sozinha, tranquila sabendo que você está bem, e feliz.
Era aquele tipo de oportunidade que só se tem uma vez na vida, ele não estava disposto a ignorar outra vez. Só tinha uma chance de viver o nem que queria viver, e ele precisava ser rápido pra agarrar de uma só vez.
♡
Sarang acha que sua carreira como compositora está a um passo de ser enterrada quando joga mais uma partitura na lata de lixo de seu studio, o papel rindo da cara dela de maneira silenciosa, anunciando que mais uma, e ela pode considerar como a última pá de terra e aceitar que ela vai ser a partir de agora uma musicista que só toca o que os outros pedem pra ela tocar e não consegue agregar nada de novo.
Ela admira artistas que conseguem criar a base de tristeza, drama e melancolia, porque mais uma vez em sua vida no estado azul e angustiante, ela não consegue fazer nada com aquilo além de se sentir cansada e uma farsa. Ter tanta gente perambulando pelo seu apartamento fixo também não ajuda, mas ela sabe que sem os irmãos ali, a orbitando quando ela mais precisava, ia ser muito pior e talvez ela nem conseguisse sair da cama e fazer todas as refeições do dia. Quando escuta a voz de Minji na sala de estar, pelo corredor do lado de fora, se lembra do dia que voltou pra casa com todos eles, e como ela foi a única que ela teve coragem de confessar o ocorrido com Mr. Lange, que também costumava ser seu chefe, e consequentemente, pai de Otto.
— Ninguém nunca disse coisas tão cruéis pra mim, eu me senti a pessoa mais suja e sem valor de todas. — Dizia com a cabeça apoiada no ombro da irmã mais velha, o corpo tremendo enquanto ela chorava ruidosamente, minutos depois da visita inesperada daquele homem. — Ele me acusou de estar fazendo a cabeça do Otto, de estar atrapalhando a vida dele, de estar impedindo ele de fazer as coisas que ele gostava de fazer só porque eu o seduzi e estava afastando ele do pai. Ele disse que sou manipuladora e oportunista e que foi assim que cheguei onde estou agora, e que ia usá-lo pra chegar ainda mais longe, e que se eu era mesmo uma pessoa honesta, ia esquecer essa história toda e voltar pra casa. — Seu peito doía, não só pelo luto recente, mas por aquele ataque que tinha recebido e nem conseguido se defender ou reagir enquanto estavam sozinhos e ela só conseguia chorar e pedir desculpas, mesmo sem ter feito nada. — Ele disse que ia pagar pela multa da quebra de contrato, e ainda mais dinheiro se eu quisesse pra nunca mais contatar o Otto… Minji, você acha que sou o que ele diz? Acha que só conquistei o que eu tenho, por que as pessoas me veem desse jeito? Você acha que sou uma pessoa ruim e faço mal pras pessoas?
Se lembra dos irmãos a confortando, e então a ajudando a passar por todas as inseguranças e pensamentos negativos acumulados com aquelas situações, e mesmo agora, é incapaz de não se sentir pequena e triste, oca por dentro, e sem nem uma inspiração pra fazer o que ela mais amava. Quando Sarang acha que vai começar a chorar de novo no quarto mal iluminado, escuta a primeira onda de vozes exaltadas no cômodo no começo do corredor, então uma segunda, e na terceira, jura, escuta Haru ameaçando alguém de morte e se obriga a levantar da cadeira de trabalho e ir ver o que está acontecendo. Enrolada em um moletom enorme e com a certeza que a falta de noites dormidas está estampada em seu rosto, quando precisa se enfiar no meio de Hui e Hyunjin pra alcançar o meio da própria sala.
Otto Lange, em pessoa, e empacotado em um casaco caro e pesado pra lidar com a neve caindo do lado de fora, está no meio, parecendo assustado e sem rumo com tantas pessoas ao seu redor e lhe apontando dedos ao mesmo tempo. Sarang ainda não sabe, mas tinha sido tudo culpa de Hui, que atendeu a porta, reconheceu aquele sotaque e saiu gritando que o pilantra padrão alemão está aqui para ver a Sarang, Minji, bate nele! e Hui acha que um dia ela vai lhe agradecer, mas só acha, porque no mesmo instante que a mais velha percebe o cenário propício a caos e assassinato que aquela sala emana, ela tenta tomar o controle da situação.
— Ei, vocês todos, silêncio! Tem famílias morando nesse prédio, sabiam?
Queria mesmo era chamar eles de arruaceiros e ameaçar de chamar a polícia, mas no mesmo instante todos os olhos estão sobre ela, e Sarang quase esquece que aquilo é uma coisa natural sua, quando Otto parece paralisado com a imagem dela, como se visse um milagre, os dedos firmes num buque de flores maior do que Sarang acha que ele precisa, mas que ainda assim faz seu rosto esquentar.
— Otto…
— Sarang…
— Quem te deu liberdade pra chamar ela pelo primeiro nome? MINJI! — Hyunjin sabe que não é nem um pouco maduro de sua parte, mas aquela altura, colocou em seu coração que está do lado da briga iminente.
E no jeito que as coisas começam a esquentar de novo, até Sarang apoiar as mãos na cintura e se fazer ser ouvida de novo.
— Não devia estar aqui, é minha casa e não foi convidado. — Seu tom é firme e ela tenta não gaguejar, quando os olhos dele estão nos seus, e ele parece ansioso. — Seja lá o que você precise, não me interessa e não posso oferecer a você.
— Você não entende, não quero nada seu, não quero que você me dê qualquer coisa… — Otto começa, então solta um suspiro e olha pros próprios pés, antes de se voltar a ela. — Podemos falar a sós?
Sarang franze o nariz na mesma hora, olhando pra esquerda e agarrando o braço de Minji, e então pra direita e agarrando o braço de Misuk.
— São minha família, meus irmãos. Tudo que tiver que falar para mim, pode falar pra eles. Eu não me importo.
Haru parece um cão de guarda atrás dele, Otto sente a tensão que ele emana e se sente encolher por dentro com todas aquelas pessoas prontas pra lhe tirar a vida ali mesmo naquela sala, e ele sabe que ninguém um dia poderia encontrar o corpo dele de acordo com todas as histórias que já tinha ouvido. Mas ele ainda tenta, pela promessa que tinha feito a si mesmo, de que não ia deixar aquela oportunidade passar mais uma vez.
E faz aquilo da forma mais sincera, direta e honesta. Porque ela merece, e sabe que ele também.
— Eu amo você, me apaixonei por você na primeira vez que a vi e você não fazia a menor ideia de que eu estava lá, e nem do quão perdido e sozinho eu me sentia até encontrar você… Tão bonita tocando aquele piano, parecendo tão feliz no seu próprio ritmo, que pensei que no começo sentia inveja de você, ciúmes do quanto você parecia alegre e contente na sua própria pele, queria me sentir como você, gostar de mim e do que eu era tanto quanto você parecia se amar também, até você me alcançar e me fazer entender que eu podia. Que eu merecia uma vida plena, e me sentir confortável com as coisas que eu dizia, as coisas que queria, porque de repente meus sonhos tinham valor e minhas opiniões também e não era mais um peão no jogo de troca e poder daquelas pessoas. Não sabia que podia ter atenção de alguém, sincera e verdadeira, até conhecer você. Não sabia que alguém realmente me enxergava e se importava comigo, até conhecer você. Não sabia que podia amar alguém de verdade, e sentir todas as coisas boas e não ser só induzido a ter uma relação com outra pessoa, até descobrir que amava você, e que era você quem me fazia sentir todas as coisas boas, e era com você que gostaria de ter um lar, uma família, e uma vida em conjunto. Passei uma vida me privando de tudo e acreditando eu não existia sozinho, sem meu sobrenome, pra descobrir que eu não só poderia existir só, quanto poderia existir com você.
Durante todo o discurso, ele tem os olhos nela e só nela, e mesmo quando ergue as flores em sua direção, ainda tem toda atenção e foco nela. Amando como seu rosto bonito relaxa a cada palavra sua, e como ela aceita o buquê, e como ela não o impede de continuar.
— Sinto muito por ter saído daquele jeito, e por ter machucado você. Não achava que era digno, queria proteger minha irmã daquela confusão e achei que ia ser egoísta se eu fosse o único se libertando daquilo tudo… Mas você vale a pena, Sarang Lee. Você vale muito, e não faz ideia do quão bem me faz e do que me tornei graças a você. É você, Sarang. Sempre foi.
♡
Otto dizia que estava ajudando ela a fazer a mala, mas a cada vez que Sarang volta com uma peça ou objeto pra guardar nos compartimentos, sente falta de algo que ela sabe e se lembra de ter colocado lá.
Ela está estressada, precisa estar no aeroporto e se encontrar com os músicos em breve e não quer fazer ninguém ficar bravo com ela, mas Otto continua sumindo com as coisas dela, a atrasando cada vez mais pro voo que ela tem que pegar, porque ele é um merdinha pegajoso e já está sentindo a falta dela, mas não diz com palavras.
— Ei, sente só o tecido desse casaco. — Otto a para no meio do quarto, erguendo o moletom favorito na direção da esposa, até parece confusa e preocupada quando passa os dedos pelo tecido cinza, quando ele abre um sorriso e completa. — Não parece boyfriend material pra você?
Sarang morde os lábios pra não sorrir, jogando o cabelo por cima do ombro no processo.
— Corajoso da sua parte, uma vez que estamos noivos, você não acha?
Otto congela e jura que a alma quase descola de seu corpo com aquele comentário, mas ainda assim não desiste, jogando a peça de roupa dentro da mala, e dando uma volta ao redor de Sarang, a impedindo de voltar com os itens retirados por ele do lugar.
— Se você for, vou morrer, então não vamos poder nos casar. É isso que você quer?
— Se você for me deixar em paz e jurar que não volta pra encher o meu saco, porra, pode ir com Deus.
Ele quer julgá-la por estar se comportando assim, mas sabe que a culpa é dele. Foi ele quem a ensinou todos os palavrões que ela sabe agora, como responder às pessoas na rua, e como ser uma merdinha insolente e rebelde sem causa. Otto gosta da Sarang doce, amável e encantadora, mas também gosta da versão que ele corrompeu e agora o ataca sempre que sente vontade.
Porque ela não presta, assim como ele. E ela fez dele uma pessoa melhor, assim como ela. Por isso eles são perfeitos.
Por isso ele acredita que eles não podem se separar.
— Preciso trabalhar. — Sarang sussurra, quando se deixa ser abraçada por ele e desiste de resistir às investidas, se aconchegando no calor de seu corpo, a cabeça enterrada em seu peito.
— Eu sei, mas preciso de você, só mais um pouco, então prometo que vou deixá-la ir. — Então ele a envolve em seus braços, e sabe que vai ser difícil cumprir a própria promessa quando escuta ela suspirar e se entregar ao conforto que a combinação dos dois lhes proporciona.
Mas ele vai deixá-la, como prometeu, porque sabe que ela ainda vai voltar pra ele no final das contas.
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Otto&Sarang: locked out of heaven I
Cause all of the small things that you do, are what remind me why I fell for you and when we're apart, and I'm missing youI close my eyes and all I see is you and the small things you do
Otto vai se casar, mesmo que ele não queira, mesmo que ele não pense que é o momento, sabe que só vai sair daquele salão de festas depois de manter uma conversa civilizada com alguém da lista de interesses de seu pai com o intuito de formar um laço social, profissional e de imagem.
Você já tem idade, já se formou em tudo que queria, já sabe como lidar com os negócios da família e como as coisas funcionam. Precisa se estabelecer, encontrar uma pessoa a altura, se casar e ter herdeiros o quanto antes. Você chegou no ponto mais alto da sua missão nessa vida, e agora precisa cumprir essa fase também.
Otto queria falar, o contrariar, sente que deveria, mas nem sabe por onde começar, uma vez que aquela era a única vida que ele conhecia e o único caminho que tinha lhe sido apresentado desde sempre. Quando fica no meio do salão e sente os olhares de todas as jovens da alta sociedade europeia em cima dele, sabe que todos aqueles anos aprendendo a lidar com negócios, pensando no dever, sem levar em conta como ele se sentia, o que ele pensava ou almejava pra si mesmo, foram pra levá-lo aquela posição.
Ele não existia sozinho, era um membro daquela família, e tinha chegado sua vez de ser um produto oferecido para continuar ela. As moças para quem ele sorria, as mulheres que ele conheceu, as outras que ele chamou para dançar e falar do rendimento das empresas interessadas, eram projeções daquela sua prisão, assim como ele era uma na vida de cada uma delas. Era a vida que ele tinha, a vida que tinham escolhido pra ele, não tinha mais pra onde correr ou como adiar. Era assim que ia acabar, e quando ele percebe, sai pela festa sem rumo com uma taça de champagne na mão, ignorando as chamadas do pai e da irmã e do homem mais velho com quem estava negociando uma esposa e uma fortuna, perturbado com o jeito que ele mesmo permitia que tratassem ele assim, até a música da orquestra da festa lhe chamar a atenção, e ele se encontrar bem na frente dos músicos. Quando colocou os olhos na jovem sentada na frente do piano, soube que ela não só não pertencia ao seu mundo, como tinha sido colocada ali pra guiá-lo pra fora dele.
Estava longe de ser um homem religioso, e tão pouco acreditava que alguém pudesse se apaixonar só olhando pra outra pessoa uma vez, mas sentiu em cada célula do seu corpo a música, na maneira como ela tocava o instrumento como se fosse a coisa mais frágil do mundo, como ela parecia concentrada e profissional e ao mesmo tempo entregue aquela apresentação como se fizesse aquilo a vida inteira. O mundo dela parecia tão mais calmo, mais tranquilo, sem nem uma obrigação ou pessoas dizendo o que precisava ser feito se quisesse ter honra e prestígio e ser lembrado como um homem bom. Otto esquece de quem ele é, e abraça aquela sensação de calmaria por um minuto, como se ela fosse um farol procurando por ele no meio de todas aquelas pessoas, como se ela o protegesse de ser devorado pelos interesses dos outros em cima dele.
Era ela, tinha que ser. Ele não a conhecia, mal conseguia ver o rosto dela naquela distância, mas sabia que aquela mulher era um milagre, o melhor que poderia ter lhe acontecido. Ela era destino, seu destino. Ela era única, e algo lhe dizia que ela seria sua, e que ele seria dela também.
♡
Otto quase não se lembra da mãe, mas às poucas vezes que imagens dela vem a mente e nas fotos que ainda guardam em casa, é sobre uma mulher alegre, sorridente, amorosa e extremamente talentosa, que tinha explodido teatros enormes em aplausos e sido uma das maiores musicistas na Alemanha e no mundo. Ela parecia plena, feliz com a família e trabalho e amigos que tinha, tão tranquila mesmo antes de morrer e deixar a todos para trás, que ele gosta do fato de que era muito jovem na época pra se lembrar e carregar os fantasmas de sua perda. Porque ter crescido com o pai já tinha sido difícil o suficiente, e ele nunca teve escolha quanto a isso.
O velho Lange tinha perdido tudo o que tinha e o que não sabia que lhe pertencia quando teve que enterrar a esposa e ficar sozinho com os filhos. Desaprendeu a ser pai, se tornou uma pessoa oca por dentro, suprimiu toda a dor com trabalho e uma busca infinita por poder, e fez daquele um problema de todo mundo. Tinha perdido o amor de sua vida da maneira mais cruel e dolorosa de todas e não encontrou nem uma saída, a não ser se tornar um velho amargo, rancoroso e sem coração.
O conservatório de música clássica e teatros da família espalhados pelo país, eram um jeito de manter a memória da matriarca viva, e por mais que fosse o negócio menos lucrativo e interessante pros investidores que eles conheciam, era o mais bem estruturado e organizado também. Os Lange distribuíam bolsas o ano todo pra musicistas do mundo inteiro, tinham a própria orquestra e ela, ano após ano, subia no conceito entre as melhores do mundo. Estavam tão bem quanto os russos e argentinos, um verdadeiro motivo de orgulho pra nação, coisa que Otto não compreendia e preferia deixar de lado a parte artística e de saber como aquilo tudo funcionava na prática. Ele gostava de números, de resultados, contato mínimo com as pessoas que trabalhavam pra ele e o resto da família, e nunca tinha entrado em um prédio daqueles por livre e espontânea vontade.
— Quem é aquela?
Era bobagem, parecia bobagem pra ele, até o dia em que se sentou em uma das cadeiras destinadas à plateia, e percebeu que nunca esteve tão errado em toda sua vida. Obrigou a irmã, Petra, a deixar o prédio administrativo da família pra acompanhá-lo ao ensaio da orquestra sem dizer ou revelar qualquer coisa, mas não precisava de muito mais pra ela entender o repente interesse dele em ver todos aqueles músicos praticando rotinas pros eventos de fim de ano. Otto não gostava de música clássica, tinha pavor a ficar sentado em um mesmo lugar por mais de uma hora sem fazer nada, e com certeza nem sabia o som que um piano fazia, até aquela noite em que o pai tentou casar os dois com outras pessoas a todo custo e ela o encontrou encarando e quase desmoronando no meio da festa. Olhando pra mesma garota que eles olhavam agora, não parecendo mais perdido, mas sim intrigado.
Ele tinha sido tomado, ela sabia, ela sentia. E era quase cômico como ele mesmo não tinha percebido ainda.
— Sarang Lee, americana, jovem e muito, muito talentosa. A musicista mais cara e difícil de alugar dos russos, papai acha que pessoas como ela podem chamar atenção pro nosso conservatório e fazer as pessoas ficarem ainda mais interessadas no que eles fazem aqui. — Petra começa, abrindo um sorrisinho insolente quando ouve o irmão suspirar ao seu lado, quando a garota no piano, só alguns metros longe dos dois, se vira pros colegas da sessão de cordas e abre um sorriso. — E você acabou de descobrir o por quê. Ela é um espetáculo, você não acha?
Uns dias atrás, Otto em sua versão prática e profissional diria que investiria cada centavo seu naquele contrato e concordaria com a irmã, mesmo sem entender nada sobre música, ela parecia competente. Parecia saber exatamente o que estava fazendo e como tocar nas pessoas, uma funcionária que nunca ia dar trabalho e render os lucros que esperavam dela.
Mas ali, na sua versão arrebatado pela garota que agora ele sabia que tinha um nome e um propósito, ele mal conseguia pensar.
— Ela é linda, Petra. — Dizia em um tom baixo, apertando a mão da irmã no processo. — É a mulher mais bonita que eu já vi.
Bonita e grávida. É a segunda coisa que ele percebe quando ela se levanta do banquinho na frente do piano quando a rotina termina e os músicos começam a se dispersar pelo palco, a leve curvatura na barriga dela, e como os movimentos dela são mais cuidadosos e lentos arrumando as próprias coisas. Otto olha pra irmã, como se a condenasse por não ter incluído aquele detalhe no resumo que ela mesma deu minutos atrás, mas ela dá de ombros e parece tão chocada quanto ele.
Antes que Petra possa o impedir ou segurá-lo em seu lugar, Otto está de pé, andando sem impedimentos e em linha reta até o palco, as mãos apoiadas nos bolsos do blazer caro quando chega perto suficiente das escadas, e ergue um dos braços bem na hora que a pianista está prestes a descer com uma bolsa que não parece nem um pouco leve. Sarang para no meio do caminho e olha pra ele de maneira curiosa, até Otto lhe oferecer um sorriso, e então abaixar a cabeça.
— Eu só quero ajudar, me permita.
São só cinco degraus, Petra assiste aquela cena com uma das mãos apoiada na boca pra segurar a risada que ela quer soltar, quando vê ele alcançar a bolsa de Lee e a colocar no ombro, e então oferecer a mão mais uma vez pra ela segurar enquanto desce a pequena escada direto pra ficar ao lado dele.
Pelo menos ele era esforçado, ela tinha que admitir.
— Obrigada, foi bastante gentil da sua parte, mas não precisava. — E eram só algumas palavras de agradecimento, mas Otto jura, com todo seu coração, que nunca na vida escutou uma voz tão doce e bonita quanto a dela. — Eu podia ter feito sozinha…
— Otto, pode me chamar de Otto, mas eu insistiria mesmo assim. — Ele a interrompe educadamente, apertando a alça da bolsa dela no ombro, pra não gritar quando ela solta uma risadinha ao olhar pra ele. — Imagina o que o pai do seu bebê pensaria…
Sarang ergue as sobrancelhas com aquele comentário seu, e ao invés de se sentir envergonhado por ter escolhido AQUELA carta pra descobrir se ela era solteira ou não, ele a imita, em expectativa pra saber se tinha acertado ou não. A maior cara de pau de todas.
— Bom, eu acho que meu irmão realmente poderia ficar chateado com a situação, já que é o bebê dele, e eu sou só a barriga solidária. Mas ainda é um ponto, quer que eu fale pra ele o quanto foi solícito? — Sarang não quer soar irônica e nem provocativa, mas não consegue, enquanto cruza os braços na frente do corpo e abre um sorriso mínimo. Consegue ouvir a voz de Minji no fundo de sua cabeça agora, a parabenizando pela perspicácia.
— Ainda não tivemos nem um primeiro encontro, e já quer me apresentar pra sua família? Rápido, mas doce, e eu gosto. — Até Otto dar aquela volta, e ela ficar chocada e congelada no mesmo lugar. Os dois ficam em silêncio, Otto sabe que venceu e que conseguiu a primeira impressão que precisava. Talvez não boa, nem perfeita, mas sabe que causou algo naquela mulher e que foi positivo.
Os resultados não o deixavam mentir.
Lee não tinha aceitado sair apenas uma vez com ele, como começaram a passar a maior parte do tempo livre dos dois juntos. Não como um casal, e nem como se aquele fosse o único interesse dos dois, mas como duas pessoas que apreciavam a companhia uma da outra, tomando café, indo almoçar, visitando lugares diferentes e falando da vida. Era a primeira vez na vida de Otto que ele se permitiu viver algo orgânico, lento, e natural, que ele queria e se deixava ficar animado, então não ligava se tudo parecia mais uma amizade muito especial pros dois e que Sarang o tratasse como tal também.
Estar na presença dela, ouvir a voz dela, olhar nos olhos dela… Fazia ele sentir coisas, coisas que sabia que tinha reprimido dentro de si e sido impedido de descobrir e sentir desde que passou a ser criado apenas pelo pai. As coisas simples nunca tinham lhe enchido os olhos ou aquecido o peito até aquela mulher o ensinar como elas eram boas, que Otto merecia uma vida sutil e tranquila, que não exigisse mais dele do que o necessário, e que tudo bem desacelerar as vezes.
Fazia parte, ele podia adotar aquilo também.
— Parece muito nobre da sua parte carregar o bebê do seu irmão, mas como vocês entraram em um consenso, com tantas irmãs na sua família? — Otto descobriu que gostava de ouvir as histórias da familia Lee e todo o caos que sempre parecia envolver os detalhes, e sabe que poderia passar uma tarde inteira só bebendo chá e ficando impressionado com a energia absurda dos irmãos de Sarang, como naquele dia em questão, que tinha ignorado todas as reuniões do dia sem avisar a ninguém só pra passear com ela e a barriga de quase quatro meses que ela exibia por aí também. Ela não sabia ainda, mas tinha se tornado uma prioridade dele. — Não acredito que tenha sido uma decisão tão fácil assim.
— Quando você é considerada a favorita, até entre os seus irmãos, não torna só as coisas mais fáceis, como eles nem disfarçam o quanto te consideram e amam mais do que qualquer coisa. — Lee começa, abrindo um sorriso divertido quando Otto ergue as sobrancelhas na direção dela, então ela continua. — Eles acham que eu sou a criatura mais amável, gentil e honesto que já existiu, e que precisam me proteger do mundo inteiro e que sou preciosa demais pra viver entre as pessoas. Então, um bebê com meus genes…
— Ia ser tão perfeito e doce quanto você. — Otto contempla, sorrindo quando finalmente parece entender como aquela conta fechava, ao completar. — Eu meio que concordo com eles agora.
Sarang joga um guardanapo na direção dele, não querendo admitir que o elogio atravessado tinha deixado ela feliz, enquanto Otto se esforça pra não rir dela.
— É assim que chega nas garotas? Elogia o útero delas?
— Só com as mais bonitas, e com quem eu gostaria de ter filhos.
Sarang não consegue responder Otto no mesmo segundo, e nem no segundo seguinte, e nem no que vem depois, quando uma dor em sua barriga começa a crescer e e ela não consegue respirar, ela não sabe de onde vem, o que fazer ou o que aquilo significava. Quando Otto a carrega e a leva nos braços até o lado de fora do café, ela ainda não faz a menor ideia do porque está chorando, porque tem tanto sangue em seu vestido ou porque ainda dói tanto. São quase quatro meses agora, o bebê não devia estar dando o menor sinal de que ia nascer e isso era certo, e antes que ela possa entrar em pânico, desmaia no conforto desesperado dos braços dele.
Otto também não faz a menor ideia do que está acontecendo, mas sabe que ela precisa de ajuda e que não pode esperar o manobrista trazer seu carro ou o dela de volta, então só começa a correr pela rua com ela em seus braços, os seguranças escoltando os dois todo o caminho até o hospital mais próximo e que ele consegue localizar naquela situação. Não se importa se as pessoas podem reconhecer ele, se o celular não para de tocar no bolso do casaco ou que vai jogar um terno caro no lixo até o final do dia, quando os médicos a levam e não deixam ele passar, é como se uma parte sua ficasse em alerta e sentisse todo o perigo 10x mais do que o normal.
— Sou amigo dela.
— O senhor não pode ficar aqui se for só amigo dela.
O fato da enfermeira não entender a urgência que ele sentia, só o deixava mais nervoso e prestes a arremessar o computador da recepção em uma parede.
— Bom, então eu sou o namorado dela, é melhor assim? Soa importante o suficiente? Porque a família dela de verdade está em outro continente e não vão conseguir chegar a tempo pra responder todas essas perguntas ridículas. — Otto acha que vai explodir, mas sente a mão de um dos seguranças em seu ombro, e é suficiente pro ódio que sente diminuir quase que pela metade quando ele respira fundo, e retoma ao discurso, tentando ser o mais racional possível. — Aquele bebê é muito importante pra ela e a família dela, vocês não fazem ideia do quanto… Eles precisam voltar pra casa, juntos e vivos, custe o que custar e leve quanto tempo for preciso. Eles precisam ficar bem, ela precisa ficar bem.
Eu só vou ficar bem, se ela estiver bem, quase sai pela boca, quando a irmã o encontra na recepção, e o puxa com ela pra fora do lugar.
— Preciso ficar com ela, ela precisa de mim.
— Nós já ligamos pra família dela, estão vindo ver ela e acompanhá-la assim que eles conseguirem. Ela precisa da família dela, Otto, e não do chefe.
Petra odeia ter que fazer ele acordar e se colocar no papel que realmente o pertencia, e odeia o quanto machucado e magoado o irmão parece quando ela diz aquelas coisas, mas sabe que precisa ser firme, e que aquilo é o melhor.
— Otto, ela tem uma família, uma vida, e você também, e vocês dois são completamente diferentes um do outro. — A mais velha apoia uma mão em seu ombro, antes de puxá-lo pra um abraço, sem se importar em arruinar um vestido também. — Isso… Vocês dois… Não vai acontecer do jeito que você acha que vai, você não quer mesmo que ela entre no mesmo mundo que nós dois pertencemos, e sabe que não pode sair dele sem pagar muito caro se ao menos tentar. Você tem responsabilidades, precisa cumprir com seu papel e parar de brincar com uma pessoa que nunca vai poder ter.
Ele quer dizer que nunca brincou com Sarang, que nunca a tratou como menos do que ela era, que todas as vezes que riu das piadas dela, que todas as vezes em que se interessou pelo que ela tinha a falar, foram sinceras. Ele quer dizer que acha ela mesmo uma pessoa incrível e muito mais do que um rosto bonito, que tinha tido os melhores momentos de sua vida com ela, e que ela era a única coisa que ele conseguia pensar quando ia dormir e quando se levantava. Ele quer dizer que gosta dela, não, não, que ama ela. E que não se importaria de deixar tudo só pra viver aquele sonho com ela.
Mas ele não pode, Petra implora olhando em seus olhos pra ele não deixá-la sozinha naquele lugar, pra ele não deixar toda a responsabilidade e o dever cair sobre ela, e ele entende que aquele ia ser o preço que ia ter que pagar. Não pode ser egoísta com a única pessoa que o apoiou e ajudou em todos aqueles anos, deve sua vida a ela, deve lealdade a ela.
E antes de um homem apaixonado e arrebatado por talvez o amor de sua vida, ele era um homem responsável.
— A Senhorita Lee escolheu passar um tempo com a família depois da perda dela, e disse que vai retornar direto pra Moscow quando a pausa dela terminar. Ela agradeceu a oportunidade de lecionar e tocar conosco nos últimos meses, mas vai voltar para a Bolshoi até o final do ano.
Então, quando Sarang é citada na reunião semanal da empresa, ele não deixa parecer que sente qualquer coisa, acenando com a cabeça junto com os outros presentes na sala, quando o pai solta um suspiro na cabeceira da mesa e chama a atenção de todos.
— Uma pena, garota encantadora e muito trabalhadora. Ela vai fazer falta. — O velho Lange comenta, antes de erguer uma das mãos e chamar um dos secretários presentes. — Mande flores pra ela em Nova York, diga que sentimos muito e que foi um prazer tê-la conosco também. Esperamos que ela melhore, e que volte a tocar logo.
Otto não acha que flores vão curar o luto dela e da família, e nem que o pai realmente se importa e que não está agora mesmo fazendo contas na cabeça com o prejuízo que aquilo ia causar. Mas ele não diz.
Não é mais problema seu, Otto Lange não existia sozinho.
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Sarang Lee: My dear, please be happy
Os corredores do conservatório de Moscou com certeza não foram feitos pra se correr, mas a garota em questão que devia estar quebrando todas as regras de conduta e ética do local de estudo e trabalho, com certeza não se importava.
Tinha passado pela caixa de correio naquela manhã não pensando em nada de útil entre aqueles papéis de propaganda de sempre, achando um absurdo ser obrigada a sair do ambiente aquecido e confortável dos dormitórios só porque era a vez dela de enfrentar a nevasca daquela cidade naquela semana, mas assim que viu o nome de uma das colegas e o carimbo postal da Coreia do Sul, sabia que aquilo não era um treinamento.
Aquela carta tinha que chegar nas mãos certas o quanto antes. Era de um voto de honra e prestígio que estávamos falando.
— SARANG! — Alina Boscov, literalmente, grita quando abre as portas do salão de ensaio com pressa. Fica impressionada em como a garota asiática no meio dele, no meio de suas instruções pra jovens instrumentistas, continua calma e serena mesmo vendo ela correndo em sua direção como se sua vida dependesse disso.
Ela tinha a carta erguida no ar, chamando a atenção dos outros colegas pra sua cena, e então solta de uma só vez, num último suspiro antes dos pulmões cederem e ela ser obrigada a se sentar no chão pela exaustão da corrida até ali.
— É da Secretaria de Cultura de Seul, tem seu nome e foi assinado pelo próprio secretário… Se eu entendi mesmo o que eu li.
Sarang fica congelada por um longo período de tempo, sem saber o que dizer, a mão trêmula no ar, não conseguindo se mover um único centímetro depois de ouvir aquela parte. Sabia o que podia ter dentro daquele envelope, só não sabia como ele tinha chegado até ela.
— Sarang, eu juro por Deus!
— Calma, eu já vou abrir, poxa.
Tinha o maior dos sorrisos quando delicadamente rasgou o lacre do papel e tudo o que ela precisava saber estava na primeira linha, numa caligrafia em hangul perfeita, a chamando de Lee Sarang, como os pais faziam quando ela era pequena.
Seria uma honra; teríamos o prazer de receber você; a senhorita tem feito muito pelas nossas crianças; a senhorita merece.
— Fui convidada pra tocar com a sinfônica de Seul, como a pianista, no Teatro Nacional. — Ela suspira, uma mão apoiada no estômago, acha que vai explodir de felicidade, mas outra coisa vem primeiro. — Eu… Eu acho que eu vou…
As únicas pessoas preocupadas com a jovem Lee estirada no chão depois de desmaiar, eram as crianças, porque todos os músicos formados ali sabiam que aquele era o auge da vida que todos eles esperavam um dia.
♡
Depois do desastroso quase casamento de Hui, as coisas ficaram meio quietas na casa dos Lee. O ódio e mágoa ainda eram presentes, mesmo depois de quase duas semanas, deles amaldiçoando a própria prole e voltando aos velhos hábitos de julgar os renegados anteriores a ela pra comunidade toda ouvir. Uma desgraça, mais uma vez, tinha recaído sobre eles, e era como se uma nuvem negra estivesse bem cima não só da casa, mas também do sobrenome e de como eles eram vistos agora.
A família estava quebrada, o clã estava ruindo. Os Lee não eram mais a família mais prestigiada.
Sarang nunca foi uma pra realmente se importar com todos aqueles títulos, mesmo depois de adulta e ciente do quanto tradição, dever e pertencimento significavam, ela ainda achava tudo um enorme exagero. Via a dor dos pais mais pelos filhos se afastando e eles não sendo capazes de colocar seus valores arcaicos de lado pela felicidade e união da família sobre o que ela era e não no que devia ser, acreditava mesmo que eles só precisavam de um tempo pra digerir que estavam criando eles pro mundo e não pra suprir expectativas que um bando de anciãos mortos tinham colocado sobre eles. Ela acreditava, com todo seu coração, que eles só tinham medo de como o mundo os trataria e os moldaria, acreditava com todo seu coração que o amor era o mais importante e que tudo não passava de uma crise.
Em algum momento, eles iam entender que tudo era válido. Eles iam entender que eles estavam onde precisavam estar, com quem queriam estar, e seguindo o caminho que achavam melhor. Tudo ia se resolver. Eles só precisavam de tempo pra lidar.
E eles nem precisaram pedir, quando viu a irmã mais nova passar correndo pelas portas da igreja com Gregory Broussard e nem um dos irmãos mover uma palha pra impedir, sabia que os pais iam precisar de alguém em casa com eles por um tempo. Ela estava feliz por Hui, não ia mentir e nem fingir que não, mas eles pareciam arrasados, e ela prometeu que ia estar lá.
Quando eles resmungavam, quando eles passavam horas de frente pro altar da família fazendo todo tipo de prece em coreano pra que Buda e os antepassados impedissem o clã de desaparecer e se desmanchar em vergonha, quando passavam a maior parte do tempo condenando de Minji até Sungho por terem começado aquele levante e serem péssimos exemplos, quando eles tiravam as fotos das paredes e eram ignorados pelas outras famílias. Ela suportou tudo, ela se manteve em silêncio e compreensiva, paciente e respeitosa, até não aguentar mais.
— Na sexta, queremos que você nos acompanhe na casa dos Kwon. — A mãe a intima no meio do jantar que consistia nos três reunidos na mesa enorme da sala de jantar, mas os lugares vazios não pareceu abalar os pais durante aquelas semanas. Quase como se a presença dela fosse suficiente. — É importante, então você não pode faltar.
Sarang parece contemplar aquele tom de obrigação, enquanto passa tigela de arroz pro pai.
— Eu vou voltar pro conservatório na quinta, pensei que tinha falado pra vocês. — Ela comenta com cuidado, colocando o par de hashis sobre o prato com um sorriso sutil nos lábios, afinal, tudo bem se eles tivessem se esquecido. — Eu tenho muita coisa pra fazer e não dá mais pra acompanhar tudo no remoto, não podem ensaiar sem uma pianista, e os meus pupilos…
— Sarang-ah, achamos que está na hora de você se estabelecer.
Quando o pai começa a falar, naturalmente, ela devia permanecer em silêncio, mas aquela simples frase a ofendia de umas vinte maneiras diferentes.
— Eu estou estabelecida, eu sou uma mulher bem sucedida e tenho uma base forte. — Ela retruca ainda em um tom respeitoso, olhando pra mãe em busca de qualquer tipo de apoio, mas a mesma se limita só a ficar quieta e concordar. — Eu tenho um emprego e preciso voltar pra ele. A orquestra depende de mim e já perdi muito tempo aqui.
— Consolar sua família não é perda de tempo!
— Não foi o que eu quis dizer e vocês sabem disso! Eu estou sempre aqui quando precisam de mim.
— Sua família precisa de você, e é seu dever responder quando ela te chama.
Um silêncio se faz presente na sala, os pais estão com as mãos unidas em cima da mesa e olham pra ela, como um dia olharam pra Minji, como um dia olharam pra Misuk, e Heejin, Sungho e Hui. Era a vez dela.
— Na quinta, você vai nos acompanhar a casa dos Kwon e queremos que você se esforce pra criar um laço já no primeiro encontro.
Era uma ordem, não existia uma segunda opção, ela não tinha o direito de questionar, e pela primeira vez em todos aqueles anos, se sentiu sufocar com o próprio ar quando percebeu que eles eram seus pais, sim, mas não davam a mínima sobre como eles se sentiam.
Achou que ia tropeçar e cair em cima dos próprios pés quando se levantou e correu pro andar de cima, os olhos já estavam borrados com lágrimas que ela se recusava a deixar cair enquanto colocava todos os pertences, desesperadamente, dentro da mala, ignorando completamente os pais a seguindo escada acima e chamando pelo nome dela.
— Quando voltei de Los Angeles e disse como ele tinha morrido, a única coisa que vocês me disseram era que ia passar e que ele nunca foi adequado. Meu noivo morreu nos meus braços e eu não pude fazer nada pra impedir, e vocês estavam felizes porque a filha pródiga finalmente tinha voltado pra casa, a filha que nunca decepciona vocês, a filha que nunca disse não ou se recusou a fazer algo. — Ela desata a falar, sentindo o coração disparado no peito e a garganta doendo com a vontade de chorar, depois de ter ignorado todas aquelas sensações ao longo daqueles anos. — Eu estava em luto, quebrada em milhares de pedaços, e fui tratada como uma mercadoria voltando pra uma prateleira, pronta pra ser oferecida pro primeiro homem coreano ADEQUADO que aparecesse.
Ela se volta aos pais, os dois parecendo um misto de choque e raiva na porta do quarto que ela costumava dividir com Hui, e que, muito em breve, ia ter seu lado tão esquecido quanto o dela quando eles jogaram todas as suas coisas no lixo.
— Estou deprimida, e por muito tempo achei que a única causa disso tudo era porque tinha perdido o amor da minha vida e visto ele levar todas as nossas promessas com ele, mas vocês… Vocês me quebraram e não tem a menor intenção de se desculpar, porque eu sou a Sarang, a filha amável e perfeita, e que perdoou vocês por todas essas agressões, que ficaria feliz em desistir de tudo pra salvar o dia, que diz sim e obrigada e por favor mesmo quando não quer. Estou cansada de ver vocês machucando eles, estou cansada de ser machucada por vocês, estou cansada de ter que perdoar e assentir e aceitar e acreditar que estão fazendo tudo isso porque nos amam. Isso não é amor, é narcisismo. Não somos seus filhos, somos legados. — Ela toma fôlego, sentindo que mesmo todo o ar da sala não é suficiente, as mãos tremendo naquele clássico começo de crise de ansiedade que ela tentou inibir desde que a conversa no jantar começou a ficar intensa, e levou todas as forças dela pra terminar de derramar aquele discurso em cima dos pais. — É isso que nós somos pra vocês. Chances de garantir que o respeito e a ordem continue, ano após ano, geração após geração, porque o dever vem sempre acima da família. O dever é o pilar de todo cl��, e não passamos de estratégias pra manter ele de pé. Não porque nós queremos, mas porque vocês acham que devem isso pra alguém, e fizeram a gente acreditar que nós também devíamos.
O pai é o primeiro a sair dali, em passos pesados e em direção ao quarto no fim do corredor, o baque alto da porta sendo fechada a fez tremer ainda mais e se encolher sob o olhar frio e duro da mãe. Nunca na vida tinha passado por aquilo, e agora sabia exatamente como seus irmãos se sentiram.
— Se ainda quiser fazer parte dessa família e tiver qualquer consideração por ela, esteja aqui na sexta-feira, se não, não existe mais espaço pra você aqui, Sarang.
♡
Sarang observa Dra.Cravalho apoiar a caneta em cima de seu caderninho, e só consegue encolher os ombros e abrir um sorriso na direção dela, suficiente pra mostrar as covinhas e que era genuíno, e que ela não tinha mais nada no coração quando terminou de falar.
— Eu sinto muito, Sarang.
— Eu vou superar não ter mais o título de diamante preciosa, sabe. Ser sempre a garota dos sonhos de todo mundo é cansativo.
E fazer piadas com toda a situação, infelizmente, fazia parte de seu quadro de depressão, depois da crise de recaída que tinha passado ainda na casa dos pais. Passou horas chorando no meio fio na frente da casa até Haru ir buscá-la e ter que levá-la pro pronto socorro, mas ela tinha sobrevivido, e encontrado forças pra parar naquele sofá mais uma vez antes de ir embora.
— Eu presumo que você não vai voltar na sexta-feira… — A mais velha pergunta, ao que ela concorda rapidamente. — E que eles também não sabem que você vai pra Seul.
— Mesmo se eu fosse a própria enviada de Buda, não acho que tenho mais relevância pra eles. — Sarang diz olhando pros próprios pés. — Preferem morrer do que ver uma filha que negou um casamento arranjado, fazendo qualquer outra coisa que não ser uma boa esposa e dona de casa.
— Não faz mal, porque eu me orgulho de você. — Dra.Cravalho diz, naquele tom materno e cuidadoso que fazia dela uma das melhores naquela cidade, e uma das pessoas favoritas da jovem Lee também. — E eu te garanto que existem muitas pessoas lá fora que sentem o mesmo por você, e que ainda vão sentir. Sarang quer dizer…
— Amor. — Lee completa, soltando uma risadinha, porque ela sabia, e já podia prever onde aquilo ia levar as duas.
— Você é a garota do amor. Você é amada, merece ser. Então, querida, por favor, seja feliz.
♡
No final da apresentação, tinham tantas pessoas de pé aplaudindo e gritando que achou que ia ser impossível sair daquele palco com os ouvidos intactos e o coração funcionando. Ia chorar por ter explodido mais um teatro em admiração, e ainda mais por ver os irmãos aguardando ela atrás das cortinas, podia jurar que nunca viu tantas flores espalhadas ali desde que tinha se formado no ensino médio, enquanto Hui e Hyunjin a sufocaram em um abraço na frente dos outros.
— Tudo isso…
— São pra você.
Precisou conferir cartão por cartão pra descobrir que uma parte até tinha vindo de pessoas distantes da família e alguns conhecidos, mas as outras eram de pessoas totalmente aleatórias. Seus professores de Los Angeles, os da NYU, os vizinhos, amigos, colegas, as ahjummas e até a Dra.Cravalho. Pediram desculpas por não ter ido prestigiar ela ao vivo, mas tiveram o cuidado de deixar o quanto estavam felizes por ela com suas flores favoritas do outro lado do mundo.
Ela era amada, e querida. Onde ela estava, por quem ela era, e no caminho que tinha escolhido seguir. Não precisava de mais nada. Não precisava ser mais nada além dela mesma. Estava livre e feliz.
— Eu amo vocês. — Disse aos irmãos, tentando abraçar todos ao mesmo tempo, chorando tanto, mas por todos os motivos bons. — Vocês são a única base que eu preciso, e a única que vou defender até o dia em que eu morrer.
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Sarang Lee: Diamond of the season
I'm the typa girl that make you forget that you got a type, type that make you love me when the only thing you done is like...
Sarang Lee nem sempre foi a garota focada e reservada que a comunidade asiática agora via, vez ou outra, andando por Nova York desde que tinha voltado de Los Angeles.
A Sarang Lee que a maioria das pessoas daquele bairro conheciam, ainda era um anjo, mas com um outro tipo de brilho.
"Mamãe, as ahjummas da rua estão cercando a Sarang de novo!"
Ela era a definição de garota favorita, não ao acaso e nem votado; Sarang Lee simplesmente tínha nascido pra ser a garota favorita de todo mundo. Os olhos que lembravam uma boneca, o rosto em formato de coração, a pele que nunca tinha visto uma espinha mesmo na adolescência. E aquele sorriso, o sorriso que podia iluminar uma cidade inteira e ela oferecia com frequência, fosse pra família, amigos e as insuportáveis e malditas ahjummas daquela cidade.
"Ah, então você tem sete anos e é só uma menina normal?"
A mais jovem pareceu contemplar aquilo, franzindo o nariz fofo, antes de abrir um sorriso super animado e erguer os braços, formando um coração em cima da cabeça e arqueando o corpo todo.
"Ah, eu também aprendi a fazer isso!"
Era digno de palmas, sacos e sacos com doces de feijão vermelho caramelizado, e até dinheiro. Por um bom tempo, todas as tias e avós da comunidade asiática fizeram de Sarang seu motivo pra viver, muito encantadas com a garotinha que sempre usava dois laços no cabelo e parecia ser um sonho.
Com o passar dos anos, todas as muitas pessoas na família Lee pensaram que o prestígio ia perder a força, e que a própria Sarang Lee ia passar a ser só outro rosto pálido e redondo naquela casa, mas foi só uma fase, porque depois do aniversário de dezoito anos e ela já estar legalmente na idade de se casar naquele país, ela atraiu outro tipo de atenção.
Era uma tradição típica dos países do leste asiático, as crianças formadas no ensino médio serem recebidas com flores e caixas de chocolate, e mesmo que os Lee já fossem muitos com buquês de rosas claras e pensy's - que eram as favoritas dela - aguardando a garota do lado de fora da Trinity no último dia de aula, não pareciam NADA comparados ao exército de pais e filhos estacionados na calçada atrapalhando o fluxo dos pedestres. Todos carregando as mesmas flores e a mesma caixa de chocolate, com trufas de cereja e docinhos de feijão vermelho. Porque são os favoritos dela.
Sarang Lee tinha se formado com honras em uma boa escola, tinha sido aceita numa faculdade importante, era bonita e agora elegível pra casamento. Se pudessem, tinham feito daquele dia um feriado. E tudo que ela podia fazer era agradecer, do fundo do coração, ser amada e aplaudida daquele jeito.
"Como uma pessoa pode nascer com tudo isso de peito e bunda e todas as irmãs serem retas e sem graça desse jeito?" Hui Lee tinha só dezesseis anos e já sabia que aquele caos era digno de ser repudiado como um culto. "Quem foi que deixou essa gente toda vir pra cá?!"
Por mais que casamentos e enlaces arranjados fossem comuns, a regra era certa: Sr. e Sra. Lee não estavam obrigando seus filhos a fazer o que eles não queriam, desde que suas raízes e tradições não fossem tiradas deles e que a família continuasse vindo sempre em primeiro lugar, então, quando Sarang Lee retornou a fria e sempre cinza Nova York, com o anel de noivado que costumava usar pendurado em seu pescoço, era como se um parente daquela gente tivesse morrido também.
Ela foi recebida com muitas embalagens dos seus doces favoritos, suas flores favoritas e as versões veganas de todas as comidas que ela gostava desde criança. Ela ainda era a garota favorita e especial daquela comunidade, e foi muito doloroso pra eles perceber que parte daquele brilho tinha ido, e não parecia que ia voltar.
Sarang também era a garota favorita em casa; a filha que sempre ajudava os pais com as pronúncias em inglês e tocava piano músicas tradicionais ou só os hits do Girls Generation quando eles queriam lembrar de casa, a irmã que ajudava as irmãs quando tinham emergências de menina e sempre tinha doces e sorvete e dinheiro guardado pra mimar elas quando se sentiam pra baixo, era ela quem fazia pontes pros irmãos e encorajava eles em suas decisões sempre, por serem os meninos e aquele sentimento de legado cair sobre eles pelo gênero, e quando Hui e Hyunjin tentavam se matar, era ela quem se metia entre ponta pés e cotoveladas pra proteger eles deles mesmos.
Ela era, de fato, a garota do amor, e merecia tudo que existia de bom no mundo.
"Sarang, por favor, perdoa a gente..."
Num dia normal, se acordasse naquele cubículo de dormitório com sete pares de olhos, desesperados e lacrimejando, focados nela, ia ter um ataque do coração e morrer naquele leito, mas ver Hui soluçando e os irmãos se mexendo em desconforto e Hyunjin até tremendo, fez com que ela levantasse em um pulo. Ainda bonita, angelical e perfeita, mesmo depois de dormir por quase dez horas seguidas.
"Gente... O que aconteceu com vocês? O que tão fazendo aqui?" Perguntava tentando manter a calma, a falta dos pais a deixando preocupada, e o os suspiros também.
A colega de quarto deixou eles entrarem, porque tantos asiáticos e já emocionados, só podiam ser irmãos da Sarang.
"A gente esqueceu de que dia era hoje, por isso viemos pra cá e trouxemos presentes e papai e mamãe estão organizando um super jantar onde todos vamos comer carne a base de plantas por sua causa!" Hui foi rápida em introduzir, torcendo as tranças enquanto Hyunjin começava a socar os presentes na irmã mais velha. "Nós sentimentos muito, foi imperdoável todos nós esquecermos, mas..."
Ela abriu um sorrisinho, percebendo a quantidade de produtos, comestíveis e de usar, que tinham logos de livre de crueldade animal e veganos, nas cores, sabores, texturas e perfumes que ela mais amava, mas então se deixou ficar confusa por um minuto, piscando os cílios muito longos no processo.
"Mas vocês esqueceram do que?"
"Sarang, hoje é seu aniversário."
Então a garota alta e com pijama de Game of Thrones olhou pro calendário anual em sua parede, e percebeu que tinha marcado todas as datas comemorativas do ano com milhares de lembretes e adesivos, os aniversários dos irmãos e pais e amigos sempre marcando uma semana de antecedência pra ela nunca esquecer.
De todos, menos o dela.
"Oh, faço vinte e um anos hoje."
Hyunjin ligou a música 21 de Greyson Chance no celular, a parte de você só tem um ano para ter vinte e um, se repetindo com a melodia.
Ela ficava com o coração quentinho vendo todas aquelas pessoas lotando aquela casa mediana no subúrbio por ela. Passou tanto tempo afastando sua família e amigos de presenciar seu período melancólico e miserável, que tinha esquecido o quanto amava abraços, ouvir que eles amavam ela, e como ela nunca odiou Nova York, desde que a casa dos pais, quente e acolhedora, sempre tivesse uma porta aberta.
Recebeu os presentes das ahjummas, dos filhos das ahjummas, e dos netos delas também, mas quando Hui bateu um talher em sua taça com suco de pêssego e começou um discurso, sabia que aquele tinha sido o melhor presente de todos.
"Sarang é o tipo de pessoas que atravessa a cidade e compra bubble tea se você disser que seu favorito é esse que fica numa loja muito longe, é o tipo de pessoa que ama romances e coisas sangrentas pra manter o equilíbrio, é essa garota que diz eu te amo quando a gente diz que ama ela, e não obrigado. É a garota que acorda todos os domingos as seis da manhã pra ensinar inglês pra senhorinhas imigrantes na igreja com música, sejam elas asiáticas, latinas ou Árabes. Sarang é o tipo de pessoa que poderia te matar de ódio, mas ela não o faz, porque ela tem muito amor dentro de si. Sarang é a melhor pessoa, e merece uma vida feliz."
Quando apagou as velas em cima do bolo de chocolate vegano com recheio de cerejas trufadas, pediu pro universo voltar a encher ela com amor, e que a dor fosse embora, e já podia sentir aquilo no momento em que deixou Maddox Smythe-Fèvre ir embora junto com o colar de anel de noivado que ela tinha.
"Feliz aniversário, garota do amor!"
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#love sick #rough #spanking #slightly body worship #face sitting
Estirado na cama enorme do quarto, Maddox pensou que não podia ficar mais entediado com a vida de calouro na universidade.
No ensino médio as coisas pareciam tão fáceis que tinha pena de si mesmo por ter ficado tão animado com sua fase sênior terminando e outra começando logo mais. Gostava de como era simples só estudar o básico, só ter que se preocupar com dever de casa de vez em quando, ficar livre nos finais de semana e não terminar uma sexta-feira chorando em cima de um monte de trabalhos e teses e artigos com dez professores o torturando sem dó.
Poderia facilmente trocar aquela vida sem sentido de jovem adulto pra voltar a ser um adolescente procrastinador, ele pensou, mas só até o som do chuveiro parar, e Sarang passar pela porta com nada além de uma toalha em volta do corpo.
Como poderia abrir mão da UCLA, quando ela lhe deu a namorada mais gostosa do mundo? Não podia nem considerar um sacrifício, porque se sentia mais como um presente, o qual ele não sabia ainda o que tinha feito pra merecer.
O cabelo dela ainda estava úmido, ainda tinha água correndo pela pele exposta fora da toalha, o rosto parecia ainda mais bonito e os lábios se torciam num leve beicinho enquanto ela revirava a gaveta que ele tinha cedido pra ela em seu quarto, e quando ela se virou, como se sentisse os olhos dele muito atentos nela, pensou que ia morrer.
Jura que o menor movimento dela poderia fazer a toalha cair, e só o pensamento fez sua boca secar, e ele ficar ainda mais perturbado.
— Você tá bem?
A preocupação dela parece genuína, soltando o cabelo do coque bagunçado e esperando uma resposta, por isso, ao invés de falar todas as coisas que corriam na cabeça dele e iam direto pro pênis preso na calça de moletom, ele se levanta e caminha na direção dela, as mãos ansiosas em cada lado do corpo, os olhos azuis observando os muito gentis dela.
— Eu posso? — Ele pergunta, olhando pra toalha, e depois pra ela, e quando ela sorri e confirma com a cabeça, não tinha mais nem um pensamento sobre como estudar era difícil e queria desistir de tudo e sair correndo.
Ele só tinha olhos e atenção pra ela, sua garota do amor. Sua garota favorita.
E a única preocupação permitida era em como ia fazer pra sentir cada parte dela contra ele quando puxou aquela toalha e a deixou cair no chão.
— Você é tão bonita… — E ele sabia que falava isso com frequência, só achava difícil não deixar ela saber o tempo todo, enquanto as mãos já subiam pra alcançar seus seios macios e pesados e a boca se chocava contra a dela. Parecia uma eternidade sem sentir o calor dela, o cheiro de morango que ela tinha, e não só um dia de aulas estressantes em prédios diferentes. Ouvindo os gemidos dela contra sua boca que queria se fundir com a dela, sabia que ela se sentia do mesmo jeito.
Uma das mãos agarrou a cintura dela, a outra continuava apertando um de seus seios enquanto lentamente tomava passos na direção da cama sem querer quebrar aquele beijo tão quente e doce. Jura que ouviu Sarang gemer de frustração quando precisou se separar dela, abrindo um sorriso em sua direção quando se deitou na cama, a cabeça confortável entre os travesseiros, os braços abertos a convidando pra se sentar no lugar favorito dela, que também era o favorito dele quando se tratava dela.
E assim que ela passou as pernas longas pelo corpo dele e deixou seu calor perto do rosto dele, com aquele sorriso doce e inocente de quem não sabia o efeito que tinha nas pessoas, achou que estava nas portas do céu, diante daquela mulher que ele nunca tinha visto igual em qualquer outro lugar, porque quando enfim afundou a boca nela e a sentiu se desfazer contra ele no mesmo instante, tinha mesmo chegado no paraíso.
Ele mergulha de uma só vez, a comendo como um homem faminto, com golpes ferozes e as mãos plantadas em seus quadris a segurando com força contra ele, sem qualquer intenção de deixar ela se mover ou se afastar, mesmo quando os gemidos dela começam a ficar intensos e suas coxas estão apertando a cabeça dele com a mesma vontade. Quando ela agarra os cabelos dele, ele sabe que não existe uma coisa no mundo capaz de o interromper de comer ela por horas, os dedos deixando o aperto em suas pernas pra substituir sua língua profundamente dentro dela, enquanto os lábios sugavam seu ponto mais sensível.
Ele sente que ela está quase lá, com a forma como ela parece ficar cada vez mais molhada, apertando seus dedos por dentro e sufocando os próprios gemidos com súplicas pra ele não parar, porque estou perto, tão perto, mais rápido.
Sarang pensou que fosse desmaiar de tanto prazer. A visão estava turva e ela jura que quase esqueceu seu nome enquanto o namorado continuava movendo os dedos longos e tão habilidosos dentro dela mesmo depois de gozar, era como se estivesse provocando ela, quanto mais aquele orgasmo perfeito poderia durar se ele continuasse dando prazer a ela? E ela amava, amava como ele parecia conhecer todo o corpo dela, como ele sabia que aquilo ia prolongar ainda mais seu momento de pura euforia e calor por dentro. Estava tão bêbada de todas aquelas sensações que nem percebeu quando ele a afastou, só o suficiente pra se sentar, e a puxou pra se sentar também em seu colo.
O beijo agora parecia desesperado, molhado e barulhento, como se eles fossem incapazes de ter o suficiente um do outro, como se todo o espaço fosse um incômodo, cada vez que ele a pressionava mais contra seu corpo, até ela finalmente sentir o volume contra seu calor sensível, e gemer dentro da boca dele.
— Eu quero montar você — Podia esperar mais alguns minutos até recuperar o fôlego e a consciência, ou podia simplesmente desfazer as calças dele e continuar a sessão de prazer e sexo intenso que já tinham começado, e foi exatamente o que ela fez. As mãos muito menores que as dele trabalhando pra afastar o elástico de seu corpo, enquanto ele a observava, faminto e desesperado pra sentir ela onde mais precisava. Já estava impossivelmente duro só com o pensamento daquilo, e quando ela se posicionou em cima dele, afundando de uma só vez e deixando seu pênis abrir um caminho dentro dela, jogou a cabeça pra trás e gemeu todos os palavrões que conseguia com as mãos apertando sua bunda redonda e macia.
A tensão era esmagadora, sua umidade e calor o sufocando com nada mais, enquanto ela tentava trabalhar os quadris para frente e para trás com as mãos apoiadas nos ombros dele em busca de algum apoio. Sentia como se estivesse entrando em colapso, o sentindo preencher ela em todos os lugares certos, parecia tão bom, mas ela precisava de mais, erguendo os quadris até nada dele restar dentro dela, e então afundando em cima de seu pênis mais uma vez, com mais força, ficando empalada sobre o corpo dele, os dois gemendo juntos e impossivelmente mais alto com o sentimento de plenitude.
Ela demonstrava o quanto queria aquilo desde o começo movendo os quadris com propósito, os seios saltando só pros olhos dele verem, as mãos dele apertavam sua bunda, dando tapas repetidos contra sua pele delicada, a incentivando a montá-lo com ainda mais força, Sarang tinha as mãos agora apoiadas em suas pernas esticadas atrás dela e a cabeça jogada pra trás, soltando os gemidos mais eróticos e necessitados, ficando mais molhada cada vez que sentia as bolas dele batendo contra ela no deslize profundo e quente.
Maddox achou que era muito tentador ver os seios dela balançando descontroladamente enquanto ela o montava, e não fazer nada, por isso envolveu as mãos nas costas dela, a trazendo pra perto, até ter acesso aos montes perfeitos e quentes e poder chupar eles com força.
— Oh meu Deus!
Sentiu ela sufocar seu pênis dentro dela, o corpo dela convulsionando contra seus braços enquanto ela o montava duramente e sem controle algum, o barulho de suas peles se colidindo enchendo o quarto e com toda certeza todo o andar daquela casa, quando ele desceu uma das mãos até o meio das pernas dela, e esfregou seu ponto sensível até ela gritar.
Sarang acha que nunca gozou com tanta força em toda sua vida, segurando a mão de Maddox contra seu clitóris com força enquanto ela o sufoca dentro dela, até ele alcançar o próprio clímax com o gemido mais desesperado que ela já ouviu. Os dois foram jogados pela borda, despencando sem dó na sensação esmagadora do corpo um do outro.
Ela não sabe quanto tempo eles ficaram naquela posição, suspirando e tentando se recuperar da eletricidade que passou por eles, mas quando ele agarra a cintura dela e parece que vai levantar com ela em seus braços, ela se sente doer com o sentimento dele se movendo pra fora dela e o para, apertando os braços em volta do pescoço dele e se pressionando mais pra baixo, ouvindo um gemido sufocado vindo dele, que também a aperta mais perto de seu corpo.
— Vamos ficar assim só um pouco — Ela implora em uma voz baixa, suspirando quando sente as mãos dele acariciando a pele em seus quadris com um toque suave.
— Não tá conseguindo se mexer, né? — Ele a provoca em um tom divertido, sentindo ela sorrir contra a pele de seu pescoço, desistindo da ideia de levar os dois pro banheiro, sentindo o cheiro dela agora misturado com o seu.
— Eu amo você, Sarang Lee. Você vai ser sempre minha garota favorita.
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Chilling Adventures: Haru, Sarang, Hui and Hyunjin Lee.
A maioria dos vizinhos da família Lee achavam que Newton não tinha levado em consideração a casa deles, quando afirmou que dois corpos não podiam ocupar o mesmo espaço. Naquela casa não só ocupavam dois, mas muitos outros.
E no geral, era simplesmente insuportável morar perto de uma casa com tantas crianças, com idades tão próximas umas das outras, e descontroladas daquele jeito.
Quem não se mudou através dos anos, ficou tempo suficiente pra ver todos eles crescerem e, um por um, começarem a deixar a casa dos pais mesmo que temporariamente pra seguir um rumo até restar apenas os caçulas. Paz não era a palavra certa pra situação, mesmo que brigas e birras e confusões tivessem sido cortadas pela metade.
Porque pra quem morava naquela casa, ocupar o mesmo espaço que os outros e ter que aturar eles também, às vezes, parecia insuportável.
Sarang, inclusive, seria a primeira a concordar com essa afirmação, se não fosse boazinha e compreensiva demais com tudo aquilo. Ela achava que era o único resultado possível quando se tem tantas pessoas morando na mesma casa, e tentava ver aquilo como algo positivo a maior parte do tempo, o que não queria dizer que às vezes ela não se sentia frustrada.
Precisava aprender uma música nova pro festival de inverno, já odiava ficar fora da cama naquele frio e ter tanto trabalho pra fazer em casa por causa das apresentações do clube de música, e ela não queria lidar com os irmãos discutindo no primeiro andar. Já estava muito estressada com aquela produção inspirada em clássicos de Natal na visão americana, e estava a um passo de descer até a sala de estar da família com seu violino e tecladinho e quebrar na cabeça do primeiro que cruzasse seu caminho.
Na sala, o caos tinha se instalado depois de Haru sair dizendo que ali, tudo sumia e nada aparecia, e não estava realmente interessado a citar nomes com Hui e Hyunjin já se provocando por um doce que tinha sido comido sem consentimento do outro, que claramente o tinha escondido na geladeira. Ninguém sabe quem começou a discussão e como eles tinham ido puxando acontecimentos de dois, cinco anos atrás quando ainda eram crianças pequenas, mas quando Sarang desceu as escadas pronta pra xingar em coreano e ameaçar ligar pros pais, as coisas já estavam fora de controle.
Hui, com aquele tamanhozinho e força que todos duvidavam, tinha rendido Hyunjin e agora estava sentada em cima das costas dele, afundando sua cara contra as almofadas do sofá enquanto ele esperneava balançando todos os membros desesperadamente.
— VOCÊ VAI MATAR ELE SUFOCADO!
— SÓ SE TIVERMOS MUITA SORTE!
Haru não sabia se ajudava, se ficava histérico ou deixava que eles se resolvessem sozinhos, então começou a tentar puxar Hui de cima do mais jovem dos Lee, as mãos apoiadas no ombro dela enquanto fazia força pra removê-la dali.
— Você não pode resolver tudo com violência! — Haru tenta chamar a atenção dela, ao que a garota vira a cabeça em sua direção, as sobrancelhas arqueadas como se disse um jura?, e no segundo seguinte, estava mordendo a mão dele em seu ombro, o pescoço rodando como a menina do exorcista. Ele começou a puxar o rabo de cavalo dela, horrorizado e com dor, e foi assim que eles terminaram atacando um ao outro sem propósito.
Sarang… Bom, era Sarang, e todos ali sabiam que se violência fosse a pergunta, sua única resposta automática seria não, com emojis de abraço e corações, por isso que quando se aproximou dos irmãos, a intenção não era atiçar mais a briga mas sim separar eles, e ela jura que deu seu melhor.
Começou tentando soltar a mão de Haru de Hui, então os dentes da mesma da mão dele, e podia jurar que os movimentos de Hyunjin estavam cada vez mais lentos, quando ele finalmente conseguiu se virar do aperto, a cabeça batendo na de Hui, que bateu a sua em Haru, e enfim acertando a pobre Sarang bem no meio do nariz, que ainda tropeçou em um brinquedo deixado na sala e caiu com tudo no chão.
Quando os pais voltaram pra casa e viram toda aquela confusão e os três filhos chorando de horror e desespero com o nariz da irmã sangrando, eles nem precisavam ser informados; era castigo, por um mês, mais por terem ferido a pobre coitada pacifista daquela casa, do que pela briga em si.
— Eu nunca vou ter filhos.
— Nem eu.
— Nem eu.
— Talvez eu tenha… Uma. Eu amo bebês. O nome dela vai ser Sohyun.
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