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NOUTROS LUGARES
Não é que ser possível ser feliz acabe, quando se aprende a sê-lo com bem pouco. Ou que não mais saibamos repetir o gesto que mais prazer nos dá, ou que daria a outrem um prazer irresistível. Não: o tempo nos afina e nos apura:
faríamos o gesto com infinda ciência. Não é que passem as pessoas, quando o nosso pouco é feito da passagem delas. Nem é também que ao jovem seja dado o que a mais velhos se recusa. Não. É que os lugares acabam. Ou ainda antes de serem destruídos, as pessoas somem, e não mais voltam onde parecia que elas ou outras voltariam sempre por toda a eternidade. Mas não voltam, desviadas por razões ou por razão nenhuma. É que as maneiras, modos, circunstâncias mudam. Desertas ficam praias que brilhavam não de água ou sol mas de solta juventude. As ruas rasgam casas onde leitos já frios e lavados não rangiam mais. E portas encostadas só se abrem sobre a treva que nenhuma sombra aquece. O modo como tínhamos ou víamos, em que com tempo o gesto sempre o mesmo faríamos com ciência refinada e sábia (o mesmo gesto que seria útil, se o modo e a circunstância persistissem), tornou-se sem sentido e sem lugar.
Os outros passam, tocam-se, separam-se, exatamente como dantes. Mas aonde e como? Aonde e como? Quando? Em que praias, que ruas, casas, e quais leitos, a que horas do dia ou da noite, não sei. Apenas sei que as circunstâncias mudam e que os lugares acabam. E que a gente não volta ou não repete, e sem razão, o que só por acaso era a razão dos outros. e do que vi ou tive uma saudade sinto, feita de raiva e do vazio gélido, não é saudade, não. Mas muito apenas o horror de não saber como se sabe agora o mesmo que aprendi. E a solidão de tudo ser igual doutra maneira. E o medo de que a vida seja isto: um hábito quebrado que se não reata, senão noutros lugares que não conheço.
Jorge de Sena (1967)
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porque eu te amo
...poderia imaginar ou até acostumar o meu querer noutro lugar...
notas: sim, eu estou permanentemente em jeno brainrot.
"mô, posso te contar um segredo?"
sua voz corta o silêncio que indica o sono que já chega no ninho em que estão. como sempre, um entrelaçado no outro. perna em baixo, perna em cima, cabeça no colo, cafuné e mão dada. não dá pra saber onde começa um e termina o outro.
assim como não tem como dizer se quem assiste a série de investigação são vocês, ou se é a série que assiste o casal.
sua pergunta desperta jeno levemente, ele já sabe o que vem por aí.
"hm, fala." ele se vira para te encarar, forçando as pálpebras pesadas a abrirem.
"tô com fome." o sorriso infantil que aparece nos seus lábios reflete nos de jeno, mas ele protesta.
"ah, não." passa a mão pelo rosto cansado. "a gente já jantou, vida. como que você tá com fome de novo?"
"não sei, ué." responde um pouco brava com o namorado. "deixa pra lá, então."
"o que cê quer comer? tá com fome de quê?" afaga sua bochecha visando amolecer a pirraça que faz.
"não quero nada, deixa."
"para com isso, amor. fala pra mim."
anos de experiência e ele ainda acha que você vai responder alguma coisa. não adianta insistir, ele sabe, então ficam em silêncio novamente.
você de barriga para cima, voltando a prestar atenção na série. nada faz sentido porque perdeu muito tempo dos episódios, mas porque está fazendo birra, finge que está super concentrada.
jeno se levanta com preguiça, alonga as costas e caminha pelo quarto.
"eu não quero nada, jeno." tenta impedir o namorado de sair dali. parte porque se sentiu culpada de tê-lo incomodado, parte porque não queria ficar na cama vazia.
"vou no banheiro, garota."
"ah..."
funciona todas. as. vezes. não é incomum esse tipo de coisa acontecer, e como o bom namorado que é, o protocolo já está pronto na cabeça. obviamente não vai ao banheiro.
na cozinha ele faz dois mistos com bastante queijo. preparou um para ele também porque é regra, não pode acontecer o lanche da meia-noite sem ele também. põe um copo de suco para ele, mas para você, mistura o nescau com duas colheres e meia no leite bem geladinho. tenta ser o mais quieto possível para não te alertar.
volta ao quarto com a cara mais lavada do mundo, segurando o prato com os sanduíches e com a própria bebida. na outra mão está a sua caneca favorita com o achocolatado.
"pronto, fominha."
você se vira e vê a obra de arte de jeno, o bico se desfaz em segundos.
"ah, mô. não precisava."
"aham, sei."
"é sério, me desculpa?"
ele suspira, mordendo o pão quente e queimando a boca.
"não desculpo, só se der beijinho."
está aí a razão de serem um par perfeito. jeno é tão dengoso quanto você, senão mais por vezes.
você se inclina e beija os lábios quentinhos do namorado, murmurando um vai sarar para confortá-lo.
"tá gostoso?" ele pergunta enquanto você dança feliz ao mastigar a primeira mordida.
balança a cabeça animada, "tá delícia, vida."
"só come besteira, cara." jeno murmura numa falsa repreensão após terminarem, já se levantando outra vez para levar as louças sujas para a pia.
"foi você que fez, eu nem pedi."
não é necessário dizer que ele não refuta seu argumento. pode até ser que ele se faça de reclamão, que ele tenha preguiça de fazer tuas vontades, que você fique de birra... mas é tudo amor. e é tanto que não cabe, é tanto que ele se vê feliz de poder viver as pequenas coisas, os clichês, as brigas e as reconciliações, as promessas, o colo que refugia nos dias tristes, tudo.
não tem outro lugar que ele queira estar, nem você. só ao lado do outro é onde pertencem.
#jeno fluff#jeno x reader#jeno drabbles#jeno imagines#nct imagines#nct dream imagines#nct fluff#nct dream fluff#nct pt br#nct br au
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Os lugares que não vi também tem um pouco de mim
Minhas intenções e sonhos vagueiam por frestas dimensionais
Entre memórias e inspirações
Momentos já vividos noutros planos existenciais
Mas há um pouco de ti em cada cor, cada fragmento de belo e erótico que permeou minha existência desde sempre
Antes mesmo de nos reencontramos
Sempre soube que você existia
Em muitos momentos desacreditei ser possível vivencia-la
Talvez não me sinta suficientemente afortunado para tanto.
#lardepoetas#mentesexpostas#meus devaneios#escritos meus#mardeescritos#espalhepoesias#semeadoresdealmas#projetovelhopoema#novosautores
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Eu já não gosto mais de você, e vou te contar a razão, isso pra mim também é uma surpresa, eu mentiria se dissesse que não.
Eu deixei de gostar de você quando nos perdemos em nossos desejos e nos encontramos noutro plano, em um lugar onde tudo é poesia e um segundo ao seu lado é como se fossem anos.. felizes é claro.
Eu deixei de gostar de você quando meu mundo desabou e tudo que eu conseguia ver eram destroços e poeira, a cegueira de alguém que só conseguia enxergar o fim, perdido, sem lugar pra ir, e você vendo tudo isso decidiu não partir, mas sim repartir a dor comigo, me fazendo pensar "por que faz isso comigo? "Nem eu sei se mereço isso", mas te agradeço ao infinito.
Eu deixei de gostar de você quando nos tornamos únicos, feitos um para o outro, quando me perguntaram de você e eu sorri...
Eu deixei de gostar de você quando o amor apareceu pra mim, e ele tinha seu nome.
#poesia poema#mentesexpostas#carteldapoesia#projetocartel#projetoflorejo#projetovelhopoema#projetoalmaflorida#projetoversografando#jovens poetas#autorias#pequenosautores#pequenosescritores#lardepoetas#liberdadeliteraria#clubepoetico#clubedaleitura#espalhepoesias
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( Aslihan Malbora ) Pelos portões do Acampamento Meio-Sangue podemos ver entrar uma nova esperança. Narin Malik, filha de Perséfone, com seus vinte e quatro anos, será a nova luz ao nosso lado.
personalidade
Narin sempre foi impetuosa e questionadora, de olhar intenso e mente ligeira. Apesar de ter recebido pouca educação formal, sempre foi esperta e inteligente a seu próprio modo, com ótima memória e pensamentos articulados. É leal, fiel e atenciosa com aqueles em quem confia, além de muito protetora. Odeia mudanças e nutre um medo constante de perder as pessoas que lhe são queridas, o que a faz lutar intensamente para mantê-las seguras e a torna bastante controladora.
Também tem um lado provocador e desobediente, gosta de tirar sua própria conclusão sobre as coisas e detesta que lhe dêem ordens — estas costumam provocar nela o efeito contrário ao desejado.
Com uma personalidade marcada pela dualidade, o humor de Narin parece ser de lua: se num dia a filha de Perséfone é gentil, terna, vibrante e calorosa, noutro se mostra introspectiva, soturna, melancólica e até um tanto fria.
É ciumenta, tem dificuldade de expressar seus sentimentos e seus relacionamentos geralmente são marcados por uma entrega exagerada de si mesma ou, em contrapartida, por um afastamento silencioso. Crescer cercada por semideuses, mitos e lendas fez com que Narin se tornasse corajosa e quisesse merecer seu lugar ao lado dos grandes herois do acampamento Meio-Sangue. Constantemente sendo subestimada por sua aparência frágil e com uma terrível tendência a se autocriticar, é exigente e está sempre insatisfeita com seu desempenho, por isso nunca mediu esforços para ser uma boa guerreira, ter êxito nas tarefas e ganhar novas habilidades, o que torna bastante incomum vê-la pouco atarefada.
passado
tw: morte
O pai de Narin costumava dizer que o melhor perfume que ele já tinha criado tinha o cheiro da primavera. Embora ele a tivesse treinado desde pequena para reconhecer e criar fragrâncias, Narin nunca entendia exatamente o que ele queria dizer com isso. Para ela, a primavera tinha muitos aromas diferentes. Em Ancara, sua cidade natal, o ar estava repleto do perfume de anêmonas, tulipas e pêssegos. Já em Chicago, onde passou a maior parte de sua infância, o cheiro era de lilases, flores de cerejeira e grama recém-cortada.
Tinha sido o tal perfume de primavera o responsável por impulsionar a carreira de seu pai como perfumista. Foi o sucesso dessa criação que os levou a trocar a Turquia pela América do Norte, onde a maior parte dos negócios comerciais ocorria.
Foi nesse novo cenário que Narin e sua irmã gêmea, Aylin, cresceram, inseparáveis. Nascida poucos minutos antes de Aylin, Narin sempre sentiu uma responsabilidade enorme pela irmã. Embora ambas compartilhassem o mesmo sangue e muitos dos mesmos traços, as personalidades eram claramente distintas. Aylin, sempre sonhadora, via beleza em tudo ao seu redor, enquanto Narin, mais prática e protetora, encarava o mundo de forma mais ameaçadora, tomando para si a responsabilidade de cuidar da irmã mais nova.
A casa em que Narin e Aylin cresceram era um lugar vibrante, repleto de cores, aromas e histórias. Elas passavam horas nas estufas do pai, cercadas pela vida que pulsava ao redor. Aylin adorava a beleza delicada das flores, enquanto Narin apreciava o desafio de criar fragrâncias complexas. Para Aylin, cada flor era uma nova possibilidade de descoberta; para Narin, cada aroma tinha uma função específica, um propósito. Juntas, complementavam-se.
Narin gostava de ajudar o pai, sentindo uma conexão com as flores que, segundo ele, pareciam ganhar vida sob seus cuidados. A irmã ria, dizendo que Narin era mágica. Talvez ela fosse, pensava Narin, mas a magia não a deixava mais leve. Ao contrário, parecia pesar sobre seus ombros com um fantasma inquieto e sempre presente.
À medida que cresciam, o maior mistério em suas vidas se tornava cada vez mais perturbador: a ausência da mãe. O pai, embora amoroso e sempre disposto a contar histórias, evitava o assunto. Ele dizia que a mãe havia partido quando ambas eram muito pequenas, mas a resposta vaga não satisfazia Narin. Ela percebia o sofrimento no rosto do pai sempre que trazia o assunto à tona, e embora tentasse não pressioná-lo, sua inquietação era forte demais para simplesmente aceitar aquela explicação.
Aylin, por outro lado, era mais conformada. Preferia acreditar nas palavras do pai e aceitar a ausência da mãe como parte da vida, mas isso só tornava Narin ainda mais determinada a descobrir a verdade, sentindo que precisava encontrar respostas para ambas. Narin vasculhou as coisas do pai em segredo, procurou nos álbuns de fotografias e até tentou buscar informações no arquivo online do cartório turco onde elas foram registradas. No entanto, tudo o que conseguiu foi acumular uma série de perguntas sem respostas.
O que o pai dizia mesmo? A mãe tinha partido, não morrido. Aylin sempre tentava confortá-la, dizendo que talvez um dia elas soubessem a verdade, mas Narin sabia que não poderia esperar por um acaso do destino.
E, de tanto desejar encontrar respostas, as respostas vieram até Narin.
Aos treze anos, seus poderes divinos começaram a se manifestar, atraindo monstros e cada vez mais confusões. O pai, finalmente vendo que não podia mais protegê-las apenas com seu amor e cuidados, decidiu revelar a verdade sobre sua origem. Explicou que havia mantido o segredo para preservá-las de um mundo perigoso e desconhecido. A decisão de mandá-las ao Acampamento Meio-Sangue não foi fácil, mas necessária para mantê-las a salvo.
Mas não houve tempo. No caminho para o Acampamento Meio-Sangue, Aylin foi picada por um escorpião das profundezas, seu corpo sendo rapidamente intoxicado pelo veneno mortal. Elas estavam perto o suficiente do acampamento para que Narin acreditasse que ainda havia tempo de salvá-la. Com uma esperança desesperada, ela correu, carregando a irmã gêmea nos ombros. Mas não foi o suficiente. Ao atravessar a barreira mágica, sentiu metade de sua alma partir: Aylin já estava morta.
A perda de sua irmã foi um golpe devastador. Se antes Narin já era prática e fechada, após a morte de Aylin, ela se tornou ainda mais distante. A responsabilidade que sempre sentira se transformou em culpa. Tinha falhado em proteger a pessoa que mais amava no mundo.
A partir daquele momento, o Acampamento Meio-Sangue se tornou seu novo lar. No início, Narin era apenas uma campista de férias, insistindo em voltar para casa durante o ano letivo para fazer companhia ao pai, que se tornara ainda mais solitário após a perda de Aylin. No entanto, a presença constante das memórias de sua irmã e a visão de seu pai afundando cada vez mais na depressão eram insuportáveis. Eventualmente, Narin decidiu se tornar uma residente permanente do acampamento.
Anos depois, o pai de Narin também sucumbiu. Consumido pela mesma culpa que a atormentava, sua morte foi uma tragédia que, de certa forma, já havia sido anunciada há muito tempo.
A memória de Aylin, doce e sonhadora, continua viva em Narin, mas também serve como um lembrete constante do que ela perdeu. Foi inevitável que desenvolvesse uma obsessão por cura, venenos e antídotos, motivada por seu desejo de salvar os outros e seu medo de falhar.
Narin raramente fala sobre sua vida antes do acampamento — é doloroso demais reviver as lembranças de uma época em que a felicidade ainda era parte de sua rotina. No entanto, ela acha curioso quando alguém menciona os perfumes do pai. Suas fragrâncias se tornaram mundialmente renomadas, especialmente após sua morte.
Hoje, Narin finalmente compreende o verdadeiro significado do "perfume de primavera", e, apesar da dor, sente-se orgulhosa da herança que carrega.
arsenal
[ Ankáthi ] É um chicote longo e flexível, com lâminas de ferro estígio distribuídas ao longo de seu comprimento. Sua aparência remonta às vinhas espinhosas e daí vem seu nome.
Sempre que em repouso, o chicote se enrola no pulso de Narin, na forma de um bracelete do mesmo metal.
poderes e atributos
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" A vida é assim. A gente vai aprendendo um pouquinho a cada dia. Em alguns, vamos soluçar de tanto rir; noutros, talvez solucemos de tanto chorar. É óbvio que aprender com as alegrias é muito melhor, mas é que só com as lágrimas nós aprendemos o que é preciso deixar ir. E deixar ir não significa esquecer. Não é isso. Deixar ir significa guardar aquilo que dói em um lugar dos nossos corações que, ao invés de nos fazer sofrer, faça com que tenhamos mais força para seguir adiante. Porque esta é a única direção para a vida: em frente."
— Frederico Lima
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Filósofo marinheiro navego por marés vivas e mortas, converso com quem está igualmente perdido ou nunca se encontrou.
É de facto preciso estar vivo para estar só, quando morremos todos nos falam, todos nós visitam.
Existe todo um apreço pelo lado do lê, que nos recusamos a reconhecer deste lado, ignorando o abraço, esquecendo o acaso.
A desculpa é sempre relativa, tal como o tempo o é, rodeia-te de quem arranja tempo, quer mesmo e abandona o vazio de quem já te colocou noutro barco.
São pequenos sinais que vemos, que se notam mais quando tens tempo para pensar.
Larga o temos de combinar, deixa cair a a filosofia vaga, mas conversa ou tenta.
Somos incrivelmente hábeis em ver sinais, mas fazemos vista grossa aos nossos, fingimos uma cegueira selectiva, quase sempre autodestrutiva.
A vida como as marés não pára, como pode ela parar?
Estamos em constante movimento, mesmo estando só a respirar. E respirar é tempo, o tempo que não aproveitamos é descontentamento até se tornar em arrependimento.
Os barcos por vezes são os culpados dos episódios magnificos da natureza que se expressa e grita, que sussurra e ninguém parece querer ouvir.
Os discursos que fazemos em silêncio são avisos, pedidos de ajuda, cordas que por vezes ninguém atira até ser tarde.
É nesse momento tão nefasto em que toda a gente ouve os gritos, algjns perguntam porque é que não disseste nada e poucos, muito poucos entendem só um.
A vida segundo a filosofia, revê-se mais em tentar procurar respostas depreesa do que em tentar entender as perguntas num final de tarde a ler ao pôr do sol.
Todas as perguntas são consequências de outras que fizemos antes, regem-se na verdade por tantas mais que deixámos para trás sem saber se o cerne estava mesmo no fim ou se onde tudo um dia se engendrou por um automatismo no tempo que nos fez filosofar em primeiro lugar.
É certo e sabido, mesmo que sejamos ignorantes, porque advém do senso comum esquecendo o princípio mais básico do que quando nascemos não somos só mais.
É preciso ter coragem para sair desse molde, dessa prisão em que insiste a humanidade em nos meter.
Saber ouvir, saber pensar, saber falar e acima de tudo saber calar.
O silêncio é por si só fascinante, se olharmos para ele como um livro de instruções.
Os olhos falam mesmo que a boca esteja fechada, o corpo respira, mesmo que haja um sorriso nos lábios e a postura muda quando nos sentimos observados.
Do tamanho implícito e ínfimo de coisas que realmente controlamos, tratamos tantas e tantas vezes de controlar (ou pelo menos tentar) o que os outros pensam de nós, com que imagem ficam de nós e o que os vai levar a fazer. Degradamos a essência a natureza e a sua espontaniedade. As oportunidades que nos trazem de ser felizes de uma outra maneira, quiçá mais inteira. Mas parem, pensem bem se querem entrar.
Esta é uma viagem de marés por mares onde só alguns conseguem sair, menos ainda conseguem sair vivos e nem todos podem ser realmente felizes.
É arriscado filosofar, seja a viver ou a fazer de conta, podemos sempre entrar, sempre sair, mas só quem se quiser salvar poderá morrer feliz um dia, mesmo sem saber nada(r).
Passaremos para além da taprobana quer Deus queira quer não, quer o barco seja metafórico ou literal quer estejamos no destino a querer voltar, ou a ir em nova vaga de exploração. Querer mais não é crime, crime é este poeta não estar publicado. Seja ele anónimo ou pela crítica adorado. São todos os que escrevem para si, com muitos, mas poucos a ler.
Há excepções obviamente, há marés sem corrente e barcos que não estão em condições de filosofar.
Por medo.
Por solidão.
Por acha que não há mundo para ver.
Por cansaço de viver.
Qual é o teu?
Tenho medo, estou cansado e apreensivo.
Se me faz querer não embarcar?
Não.
Mas faz-me querer esperar por ventos mais favoráveis.
E se o tempo decidir acabar?
Viajo sem sair do lugar, a minha mente anda ao dobro da velocidade. Da qual quero tantas vezes me separar, mas se não for assim que parte de nós irá realmente partir, que sucedâneo de nós irá realmente chegar e no fim disso tudo sobrará alguém?
Alguém possível de salvar?
Ou só mais um filósofo louco confundido por velho do Restelo rotulado?
Não sei. Talvez não me importe, mas nunca me nego nem me coibo de ainda assim perguntar.
Um dia, numa delirante epifania, numa qualquer conversa entre Deus e o diabo, uno os pontos.
Saberei nesse dia o significado da filosofia, interpretar de todas as formas a poesia e responderei com as certezas de um pobre tolo que é por ali que quero ir.
E nesse dia, nesse dia entrarei sem arrependimentos, sem medos, com a bagagem que tomei por cansaço, mas não passavam de rios que corriam para o mar.
E controlando o tão incontrolável tempo, caminho.
Sem pressa de nada mais.
Pressão só da ânsia...
Ds soma das partes, da subtração das tardes.
Um brinde às madrugadas, aos céus estrelados, às noites escuras e aos nevoeiros cerrados.
Desejando metafóricamente a tempestade, esquecendo de forma quase inconsciente a devastação e a sua literalidade. A sua imprevisibilade.
Assim se vive.
Assim penso..
Assim vivo,
Assim por um qualquer golpe de sorte um dia partirei.
Ficará só a minha doutrina.
Estes versos de filosofia,
Estes pensamentos que às vezes rimam, mas não se atrevem sequer a sonhar ser poesia.
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NOVO LIVRO ASA DO AVÔ Amândio Reis chancela Fora de Colecção https://livrosnaoedicoes.tumblr.com/post/766846104937660416/fora-de-colecção-asa-do-avô-autor-amândio
/// do livro: Asa do Avô visita alguns lugares da imaginação de uma criança. Esses lugares agregam-se para formar uma morada incerta. Ao passar entre eles, a criança descobre que não ganha nem perde sozinha a sua própria memória. Dez fotografias, mais uma, acompanham os textos em prosa. Umas são um espelho e outras são uma porta, mas todas têm um pouco das duas coisas. Talvez a história tenha começado com uma imagem extraviada, talvez com uma frase solta, entreouvida há muito tempo, noutro lugar.
/// do autor: Amândio Reis é professor e investigador na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Os seus estudos têm incidido sobre o período oitocentista e as formas breves na literatura portuguesa. Publicou três livros de poesia, traduziu A Imagem Fantasma, de Hervé Guibert (BCF, 2023), e está actualmente a organizar a colecção Contos Completos de Machado de Assis (E-Primatur, 2024-2027).
/// lançamento no dia 23 de Novembro, em Lisboa, mais detalhes em breve. /// livro já disponível: pedidos via [email protected]
#livros#não edições#novo livro#novidade#fora de colecção#lançamento#prosa#imagem#poesia#amândio reis#asa do avô
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LIVRO: Caim - José Saramago
Depois de chegar na metade do Livro do Desassossego pelo Kindle, eu CISMEI que precisava comprar a versão física. Eu não viveria sem. Então, em um dia de semana normal, pesquisei uma livraria, desci a rua e fui. Chegando lá, perto do livro que eu estava buscando, assim, do ladinho mesmo, vi aquela versão clássica portuguesa dos livros do Saramago e um título que eu não conhecia: Caim.
Li poucas coisas dele, apenas algumas obras soltas e Ensaio Sobre a Cegueira. E esse era o ÚNICO livro dele na mesa, e com o nome da história bíblica que também inspirou outro título que li recentemente: Véspera, da Carla Madeira. Entendi como um sinal. Que eu poderia até chamar de divino, rs... se esse livro não tivesse o objetivo de revirar essa ideia do avesso.
Saramago vai passando pelas histórias bíblicas com uma enorme dosagem de crítica e ironia. Ironia essa que não se vê apenas no storytelling, mas também na escolha consciente de algumas palavras, como, por exemplo, "deus" com letra minúscula, etc.
"Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado. (...) e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons ou tão maus como os demais."
Eu queria reduzir esse destaque, mas tenho tanta coisa para falar que não consegui escolher o que cortar. Primeiro, ao longo das histórias, Saramago insere sua opinião pessoal, seus questionamentos e sua interpretação para a história. O segundo ponto foi me questionar o que de fato gerou tanto alvoroço quando este livro saiu. E, por fim, mas não menos importante, gosto de descobrir algumas pequenas obsessões dos autores que vão se repetindo quase que involuntariamente. Como, por exemplo, neste trecho, Saramago mostra sua pequena obsessão pela cegueira subjetiva. Ou como em Pequena Coreografia do Adeus, onde a autora tem uma grande questão com descrição de cheiros. Ou no Livro do Desassossego, onde Pessoa traz o tempo todo suas questões em relação ao sono.
Mas e Abel, hein? Ele é vilão, afinal?
Quando li a primeira vez, vi grandes semelhanças com a interpretação da Carla Madeira para o mesmo personagem e fiquei intrigada com o que os fez pensar que, em uma história tão rápida e sem detalhes, imaginaram que Abel fosse egoísta e exibido, quase com um toque de "vilão". Mas, depois percebi que, na verdade, Véspera é inspirada em Caim, principalmente na questão de Caim ser chamado de Abel de vez em quando.
A versão original é bem curta também e com certeza não abre espaço para pensarmos isso. Mas há outro ponto que me intriga na história original. Acho curioso Deus ter conversado com Caim antes mesmo do acontecimento, como se previsse:
E aí volta o primeiro questionamento, aquele que eu fiz lá em Véspera: Deus queria mesmo testar até onde ele ia? O tal do livre-arbítrio... Será por isso a misericórdia de um Deus que, até então, não era tanto assim?
Gostei da forma como ele interpretou o castigo de Caim como andarilho. Gosto de como algumas referências religiosas distintas se misturam ao longo das páginas. Gosto de como ele misturou a misteriosa mulher de Caim com Lilith. E gosto de como Saramago questiona tudo o tempo todo.
#caim#resenha#review#josé saramago#livro#trecho de livro#livros#citação de livro#dica de livro#leitura
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Este Janeiro trouxe dois livros da biblioteca pública, estou a ler o de cima e a adorar (é uma obra recomendada pelo Plano Nacional de Leitura, desta não estava à espera)!
Queria só aproveitar para vos relembrar da importância (e da praticidade) de apoiar as bibliotecas locais, que além de serem um ponto de união especialmente importante nas cidades, disponibilizam recursos maravilhosos que, muitas vezes, não se encontram noutros lugares. Eu gosto tanto de ter cópias dos meus livros favoritos como qualquer pessoa, mas, depois de ultrapassar a resistência ignorante relativamente a obras usadas, percebi que faz muito mais sentido (e salva bastante dinheiro) ler tudo o que me apeteça de graça e comprar apenas o que depois sei que adoro.
Fazer um cartão é super simples e ou não custa nada ou então um pequeno valor simbólico, e garante acesso a milhares de livros (muitos dos quais são tão recentes como os que se encontram nas livrarias), filmes, jogos e muito mais. Frequentar a biblioteca pública também é uma forma de lutar contra o crescente consumismo que se está a apoderar da indústria literária e do declínio da qualidade do que é publicado, por isso é só ganhar.
Por isso agora quero passar para vocês "a batata quente", qual foi a última vez que frequentaram a biblioteca mais próxima? Quantas das vossas últimas compras literárias acabaram por se revelar desapontantes sem necessidade? Pois.
Não há desculpa minha gente, vão fazer das bibliotecárias vossas amigas.
Assɪɴᴀᴅᴏ: Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ 𝐿���𝓏 Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ
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"Te adoro em tudo, tudo, tudo. Quero mais que tudo, tudo, tudo. Te amar sem limites, viver uma grande história, aqui ou noutro lugar, que pode ser feio ou bonito, se nós estivermos juntos haverá um céu azul."
Um amor puro - Djavan.
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QUE TEMPOS SÃO ESTES
Há um lugar entre dois renques de árvores onde a erva cresce colina acima
e a velha estrada revolucionária se desfaz em sombras
perto de uma capela abandonada pelos perseguidos
que desapareciam naquelas sombras.
Eu andei por lá colhendo cogumelos à beira do pavor, mas não se enganem
isto não é um poema russo, isto não está noutro lugar, mas aqui,
o nosso país aproximando-se da sua própria verdade e pavor,
as suas próprias maneiras de fazer as pessoas desaparecerem.
Não te vou dizer onde fica este lugar, onde a malha escura da floresta
encontra a súbita faixa de luz —
encruzilhada de fantasmas, paraíso de folhagem:
Já sei quem quer comprá-lo, vendê-lo, fazê-lo desaparecer.
E se não te vou dizer onde fica, porque estou então a falar
contigo? Porque tu ainda ouves, porque em tempos como estes
para que tu ouças, é necessário
falar de árvores.
Adrienne Rich, USA (1929-2012), Tr. Jorge Sousa Braga
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Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar; prefiro ficar à porta da casa do meu Deus a habitar nas tendas dos ímpios.
Salmos 84:10
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youtube
♪O que há dentro do meu coração Eu tenho guardado pra te dar E todas as horas que o tempo tem pra me conceder São tuas até morrer
E a tua história, eu não sei Mas me diga só o que for bom Um amor tão puro que ainda nem sabe a força que tem Que é teu e de mais ninguém
Te adoro em tudo, tudo, tudo Quero mais que tudo, tudo, tudo Te amar sem limites Viver uma grande história
Aqui ou noutro lugar Que pode ser feio ou bonito Se nós estivermos juntos Haverá um céu azul...♪
Bem assim amor, só com tu, só pra tu.. kiii' láa e láa' rsrs
Amo Nós, a sós, garradinhus.
Eu Ty Amooo Tyago, sempre, pra sempre juntinhus.
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Aqui ou noutro lugar que pode ser feio ou bonito se nós estivermos juntos, haverá um céu azul.
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eu vejo a tempestade com a cor dos nossos sonhos
nos tornamos o que detestamos
o ditado tava certo
os opostos se atraem
e a gente que se gosta se distrai
não posso mais perder tempo aqui
meus pais ainda estão lá
preciso voltar vivo para casa
matei a saudade
e deixei flores no tumulo
quando foi a ultima vez que você disse eu te amo olhando nos olhos?
eu não lembro
mas escrevi, porque tá tudo tão digital
eu queria usar mais as minhas digitais
para secar as suas lagrimas
seu sorriso parece um raio de sol na tela do meu samsung
meus pensamentos acelerados
me deixam inerte
um dia eu me odeio
e noutro quero me amar
estou desconectado do mundo
mesmo estando com internet
estou desconectado de tudo
voltei para a rotina do meu quarto
cansado de me cansar
eu queria chorar mas não sei por onde começar
vendo fotos dos passado
um oceano cabe dentro do meu olhar
se não fosse a ancora em minha garganta
eu te gritaria aos quatro ventos
se eu não fosse um deus em desuso
eu te inventaria
eu queria te ligar
mas o que ia adiantar
o passado morre e a gente tem que continuar
ainda tenho os meus irmãos
um amigo, um cachorro chamado boby
e a minha sombra chamada shadow
sem duvidas estou longe de qualquer dadiva
apesar de nesse mês estar ganhando mais experiência
e perdendo um ano de vida
já estou ficando sem paciência
quando é que isso vai acabar?
as vezes, eu penso demais
até pesar
até que passa
e volta
a esperança
mas deixei de contar com a sorte e com a morte
eu sou o raio que cai sempre no mesmo lugar
meus dias se repetem e eu repito a ruptura
como um traidor
conto os meus segredos pro computador
meu coração de poeta é um farejaDOR
[...]
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