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The Mummy (1999) dir. Stephen Sommers
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missão 02 - inspeção de chalé
Os dias de inspeção do chalé nunca estiveram entre os seus preferidos. Entre todas as responsabilidades que recaíam sobre seus ombros como conselheira — um fardo que Narin carregava com certa dose de orgulho ao longo dos últimos anos —, aquela era, sem dúvida, a que mais desgostava. Vasculhar entre os pertences alheios fazia com que se sentisse uma intrometida e a envolvia em uma aura de bisbilhotice que reforçava sua reputação de mandona e controladora. Não que essa fama não tivesse seus fundamentos.
A verdade, porém, era que raramente encontrava indícios de problemas de verdade, armas perigosas ou artefatos amaldiçoados, o que, considerando a natureza de seus irmãos e irmãs, era até surpreendente. Embora carregassem em seu sangue o caos que acompanhava os deuses, havia algo tranquilizador nas pequenas banalidades — lembretes de que, apesar de tudo, ainda restava alguma humanidade. Uma humanidade desordenada e, francamente, muito bagunceira. Na maior parte das vezes, ela costumava tropeçar em pilhas de roupas sujas, embalagens vazias de doces e guloseimas e, ocasionalmente, algum pacote suspeito quase certamente adquirido de forma clandestina no chalé de Deméter.
Aquela manhã não fora diferente. Seus irmãos, enfileirados com rostos ligeiramente envergonhados, haviam se esforçado mais do que nas semanas anteriores, mas Narin começava a suspeitar que a maldição de Mnemosine apagara mais do que seus dons divinos. Talvez também tivesse levado embora seu bom comportamento e tudo o que sabiam sobre regras de convivência e organização.
— O que está acontecendo com vocês? Acham que grandes heróis se esquecem de arrumar a própria cama pela manhã? Ou de espanar a poeira de seus livros? — Perguntou, a voz carregada de uma exasperação genuína, embora soubesse que a resposta provavelmente fosse que sim. Mas isso não vinha ao caso. — E aquilo ali? — Seu olhar se estreitou, a sobrancelha arqueando enquanto apontava para um par de sapatos enlameados escondidos de maneira patética sob uma das camas. Com uma expressão de desgosto, pegou um dos sapatos pela ponta dos dedos, desejando acreditar que a lama era fruto de um treino em um dia chuvoso e não de uma escapada sorrateira pela floresta. Entregou o sapato ao dono, que apenas sorriu, sem jeito. — Dê um jeito nisso.
O cesto de objetos confiscados começava a transbordar. Já havia recolhido uma espada de madeira que deveria ter sido devolvida à arena, uma adaga de verdade que pertencia ao arsenal, um livro atrasado da biblioteca e, no mínimo, três pacotes vazios de flaming hot cheetos.
— Onde vocês estão arranjando essas coisas? Aposto que é obra daquele filho de Hermes… Evitem filhos de Hermes se não quiserem se ver em problemas. — Ela advertiu, enquanto os murmúrios de concordância se espalhavam entre os irmãos mais novos.
Uma vez que todas as beliches, prateleiras e colchões tinham sido submetidos a um minucioso exame pelos olhos atentos de Narin, ela quase considerou a inspeção semanal encerrada. Quase.
— Eu vou devolver essas coisas, — anunciou, agarrando uma camiseta amassada que repousava de forma desleixada sobre uma cômoda e jogando-a para sua irmã mais nova em seu caminho para a porta. — Quando eu voltar, quero este chalé brilhando como o de Apolo.— Exagerou, arrancando um ou outro resmungo dos campistas. — Ou então nunca vamos ser os primeiros a usar os chuveiros.
@demigodscurse-av
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flashback
Os primeiros dias de outono sempre traziam aquela sensação inevitável de melancolia. Por mais que Narin tentasse se livrar do clichê previsível de sua herança materna, havia uma urgência quase física em se afastar do mundo, como se sua mente pedisse por um pouco de silêncio e solitude. Ela evitava qualquer contato humano — em partes porque sabia que seu humor certamente estaria afetado e, em partes, porque sentia que carregava no peito o peso de um antigo acordo que não era seu, mas que a lembrava, de modo pungente, do destino de sua mãe.
Narin não tinha ficado exatamente entusiasmada com a ideia das festividades de equinócio acontecerem no Acampamento Meio-Sangue. A perspectiva de ver tantos rostos sorridentes e festivos a levaram a apenas uma coisa: reclusão. Preferiu se esconder no chalé durante os longos dias, mergulhada em romances do século anterior que surrupiara da mesa de cabeceira de Cecile ou nas páginas empoeiradas dos volumes teóricos da biblioteca. Entre se perder em teorias alquímicas e enfrentar a energia vibrante daquelas celebrações, Narin nem precisava pensar duas vezes para fazer sua escolha.
Mas agora, quando as comemorações se encaminhavam para o fim, o desalento começava a se dissipar, como uma névoa ao amanhecer, e algo dentro de Narin se reacendia. Era sutil, quase imperceptível, mas o suficiente para fazê-la abandonar seu breve retiro. Planejava bater à porta do chalé treze, mas encontrou Cecile na varanda. Ergueu o exemplar de Os Sofrimentos do Jovem Werther que planejava devolver a ele e o olhar se iluminou com um toque de ironia.
— Um cara que escreve cartas infinitas sobre seu amor impossível e depois... Bem, você sabe, se mata por ela? — Ela revirou os olhos com uma expressão divertida, jogando-se casualmente ao lado dele no degrau. — Achei meio pedante.
Entregou-lhe o volume que tinha usado como um pretexto para encontrá-lo.
— Vim te agradecer pela torta de morangos. Foi um gesto muito gentil, Cecil. — Havia uma pitada de orgulho na voz de Narin. Cecile não era exatamente famoso por sua gentileza no acampamento, o que tornava aquele gesto ainda mais especial. Com Narin, Cecile parecia abaixar suas defesas, revelando um lado que pouco se via. Ela sabia reconhecer pois, de forma muito parecida, o comportamento se repetia nela mesma. — Tive que ameaçar dois dos meus irmãos com uma vida de condenação eterna para ficar com o último pedaço, mas valeu a pena.
Narin sorriu, tamborilando os dedos no metal do bracelete em seu pulso, meio nervosa.
— Como está sendo o equinócio? Ouvi dizer que sua interpretação de Romeu agitou os críticos do mundo todo.
@cecilez
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missão 01 - treinamento simples
O céu noturno girava sobre ela, pintado com estrelas como um punhado de diamantes soltos. Não era preto, mas de um tom azul-violeta — a cor que antecipava o alvorecer.
Narin não tinha conseguido dormir.
A cama, que em outras noites era um refúgio confortável e acolhedor, nesta tinha parecido sufocante. Estava quente demais, macia demais, e mesmo o farfalhar incessante dos lençois a tinha irritado.
Mas o desconforto em nada tinha a ver com sua cama, a mesma há mais de dez anos, no espaço junto à janela do chalé. Havia uma urgência corroendo-a por dentro, um incômodo que ia além de sua pele e se espalhava em seu peito como raízes sufocantes. O quarto estava mergulhado em silêncio quando Narin se levantou, um tipo de quietude que fazia seu coração bater mais rápido ao invés de acalmá-lo.
Vinham sendo dias silenciosos desde a mensagem de Hermes, que ainda ecoava na mente de Narin. O rei e a rainha do Submundo caíram, ele tinha proclamado, como uma sentença que Narin sentia começar a pesar sobre ela.
Por quase toda sua vida, sua mãe fora apenas uma presença distante, algo etéreo, uma sensação peculiar alojada em seu peito e, por mais que não compreendesse a origem daquele sentimento, ele tinha se tornado parte dela. Agora, porém, tudo o que sentia era um vazio insuportável.
A morte já havia cruzado seu caminho muitas vezes — ela conhecia a sua frieza e estava, de certo modo, acostumada a ela. Mas aquilo era diferente. Era como se, dessa vez, no lugar da tristeza familiar que ela conhecia tão bem, houvesse apenas um buraco vazio.
Sem sono e com a mente tomada por preocupações, Narin se dirigiu à arena de treinamento. Era estranho ver o lugar envolvido em silêncio; deu-se conta de que preferia o som das espadas de madeira se chocando, da vida acontecendo. Pela primeira vez em anos, ela se sentia vulnerável, impotente. Acostumada a agir, a simples ideia de esperar era uma tortura. E agora, nada parecia estar sob seu controle.
Desde que chegou ao acampamento, havia se dedicado a aprender como ser uma boa combatente. Embora seus poderes a ajudassem, havia algo no confronto físico que a fascinava. O tilintar dos metais, os movimentos precisos e graciosos que lembravam um balé letal — para Narin, aquilo era uma forma de arte. Era extasiante, estimulante. Mas, apesar de todo o esforço que depositara ao longo dos anos, a sensação de fraqueza agora se agarrava a ela. Não era apenas uma questão de força física, mas algo mais profundo. Esperava que os treinos intensos e todo seu esforço fossem o bastante para driblar as amarras que a maldição tinha posto sobre ela.
O chicote estranho não parecia se ajustar à palma de sua mão. Suas tiras feitas de fibra teimavam em se enrolar enquanto traçavam seu caminho pelo ar. Tinha um peso diferente de Ankáthi que, àquela altura — ou pelo menos antes de tudo — era como uma extensão de seu próprio corpo. Enquanto adornava o braço de Narin na forma de um bracelete, a arma parecia cintilar.
O boneco sem rosto a encarava na penumbra, esperando uma oportunidade para espalhar o que restava de suas entranhas — palha seca e estopa. Estava meio torto, como se o responsável por organizar a arena no dia anterior tivesse tido pouco interesse em alinhar seus membros.
Narin suspirou, buscando equilíbrio entre o fôlego e a concentração. A frustração acumulada pelas últimas semanas parecia queimar em suas veias, pedindo para sair, e ela fez o que estava treinada a fazer: canalizou essa energia para o movimento. Com um gesto firme, ergueu o braço, deixando o chicote deslizar no ar com um silvo agudo. O couro se curvou antes de se esticar em um arco, cortando o ar.
A ponta do chicote encontrou seu alvo com um estalo. Estava longe de ser seu golpe mais preciso, mas ainda assim, o impacto cavou um talho profundo na estrutura do manequim, exibindo uma parte de seu recheio. Um sorrisinho satisfeito brincou em seus lábios, seu rosto se iluminando com uma nova carga de adrenalina. Pelo menos a sensação ainda era boa.
Repetiu o movimento, vez após vez, aperfeiçoando-o a cada golpe. O chicote dançava no ar e, a cada estalo, Narin tentava ajustar o ritmo, entrando em sintonia com as tiras de couro.
Cada golpe carregava o peso de uma memória, como se a cada curva sinuosa de sua arma improvisada fosse uma libertação de tudo o que ela guardava dentro de si. Pela primeira vez, Narin se sentia grata por ter tantas memórias às quais se apegar. Era nelas que encontrava força — mesmo nas mais dolorosas. Principalmente nelas.
O sol já havia nascido quando, arfando, Narin largou o chicote. O som distante das trombetas do acampamento ecoava no ar da manhã, junto do burburinho que começava a crescer. Para um dia que só começava, ela estava exausta. Seus músculos queimavam, estava dolorida, faminta e o suor fazia seu cabelo se encaracolar ao redor do rosto.
Na boca, a insatisfação com seu desempenho deixava um gosto amargo. "Não se cobre tanto", Aylin teria dito, se estivesse ali. Mas ela não estava. E aí estava a maior de suas insatisfações.
Mas aquilo era, ao menos, um primeiro passo. Talvez não fosse perfeito, talvez não fosse o bastante — mas era um avanço. Um começo. E se havia uma coisa que Narin sabia fazer bem, era recomeçar.
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hc + 👪 for a family-themed headcanon
Por mais que Perséfone sempre estivesse presente na vida de Narin, seja em sonhos ou pequenas manifestações silenciosas, a primeira vez que a deusa realmente apareceu diante dela foi no funeral de seu pai. Como semideusa, Narin havia aprendido a lidar com a morte — ela a encontrava com mais frequência do que gostaria. Já tinha perdido amigos em batalha, sua irmã e melhor amiga, e agora o pai havia partido. Quanto mais Narin tentava manter as coisas sob controle, mais elas pareciam lhe escapar. Talvez Perséfone tivesse sentido a dor de sua filha, pois, em meio ao silêncio do cemitério vazio, Narin percebeu uma silhueta se aproximando. Era sua mãe, caminhando com passos suaves, exalando uma beleza sóbria e etérea.
Não trocavam palavras havia muito tempo, e Narin não sentia que tivesse algo a dizer naquele momento. Perséfone apenas se aproximou e, com um olhar compreensivo, garantiu à filha que, mesmo com a morte, não estava totalmente sozinha. Naquele instante, o peso da perda pareceu um pouco mais leve.
Desde então, o túmulo do pai está sempre enfeitado com papoulas, que perduram apesar do tempo.
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10. would you say you’re an emotional person?
— Eu não consigo evitar. — A confissão saiu meio hesitante, embora Narin raramente se censurasse por se expressar. Tinha seus momentos — alguns mais intensos que outros, é verdade —, mas já travara essa batalha antes, e a havia perdido. Por mais que tentasse ser indiferente, apatia simplesmente não fazia parte dela. Era cheia de sentimentos, sempre à beira de transbordar.
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🦉 Are you a morning person or a night owl?
— Isso depende. — Admitiu Narin, franzindo o cenho enquanto a pergunta a fazia travar um debate interno. Não que fosse indecisa — o que não era — mas, às vezes, não conseguia dominar sua própria natureza, e esta sim era um tanto quanto oscilante. — Normalmente, prefiro a noite. Gosto da sensação de que todos estão dormindo e só eu permaneço acordada. Sei que é bobagem, mas gosto de imaginar que estou sozinha, às vezes.
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sign, sender walks into a sign and receiver sees.
— Holy Hera, Desmond! — Narin apressou-se, dividida entre preocupação e um toque de diversão ao ver o que havia acontecido. Desmond tinha batido de frente com uma placa, e o impacto certamente deixaria uma marca arroxeada — uma lembrança de um momento de distração que ele certamente não gostaria de explicar. Narin inclinou a cabeça, examinando o ferimento de perto. — Você tá bem? — Apesar da pergunta preocupada, ela lutava para conter o riso, deixando escapar o sorriso que insistia em aparecer. — Quanto tempo você passou no chalé de Dionísio?
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ps. como acabei de chegar, podem mandar qualquer coisa e supor conexões se quiserem! a gente desenrola
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( Aslihan Malbora ) Pelos portões do Acampamento Meio-Sangue podemos ver entrar uma nova esperança. Narin Malik, filha de Perséfone, com seus vinte e quatro anos, será a nova luz ao nosso lado.
personalidade
Narin sempre foi impetuosa e questionadora, de olhar intenso e mente ligeira. Apesar de ter recebido pouca educação formal, sempre foi esperta e inteligente a seu próprio modo, com ótima memória e pensamentos articulados. É leal, fiel e atenciosa com aqueles em quem confia, além de muito protetora. Odeia mudanças e nutre um medo constante de perder as pessoas que lhe são queridas, o que a faz lutar intensamente para mantê-las seguras e a torna bastante controladora.
Também tem um lado provocador e desobediente, gosta de tirar sua própria conclusão sobre as coisas e detesta que lhe dêem ordens — estas costumam provocar nela o efeito contrário ao desejado.
Com uma personalidade marcada pela dualidade, o humor de Narin parece ser de lua: se num dia a filha de Perséfone é gentil, terna, vibrante e calorosa, noutro se mostra introspectiva, soturna, melancólica e até um tanto fria.
É ciumenta, tem dificuldade de expressar seus sentimentos e seus relacionamentos geralmente são marcados por uma entrega exagerada de si mesma ou, em contrapartida, por um afastamento silencioso. Crescer cercada por semideuses, mitos e lendas fez com que Narin se tornasse corajosa e quisesse merecer seu lugar ao lado dos grandes herois do acampamento Meio-Sangue. Constantemente sendo subestimada por sua aparência frágil e com uma terrível tendência a se autocriticar, é exigente e está sempre insatisfeita com seu desempenho, por isso nunca mediu esforços para ser uma boa guerreira, ter êxito nas tarefas e ganhar novas habilidades, o que torna bastante incomum vê-la pouco atarefada.
passado
tw: morte
O pai de Narin costumava dizer que o melhor perfume que ele já tinha criado tinha o cheiro da primavera. Embora ele a tivesse treinado desde pequena para reconhecer e criar fragrâncias, Narin nunca entendia exatamente o que ele queria dizer com isso. Para ela, a primavera tinha muitos aromas diferentes. Em Ancara, sua cidade natal, o ar estava repleto do perfume de anêmonas, tulipas e pêssegos. Já em Chicago, onde passou a maior parte de sua infância, o cheiro era de lilases, flores de cerejeira e grama recém-cortada.
Tinha sido o tal perfume de primavera o responsável por impulsionar a carreira de seu pai como perfumista. Foi o sucesso dessa criação que os levou a trocar a Turquia pela América do Norte, onde a maior parte dos negócios comerciais ocorria.
Foi nesse novo cenário que Narin e sua irmã gêmea, Aylin, cresceram, inseparáveis. Nascida poucos minutos antes de Aylin, Narin sempre sentiu uma responsabilidade enorme pela irmã. Embora ambas compartilhassem o mesmo sangue e muitos dos mesmos traços, as personalidades eram claramente distintas. Aylin, sempre sonhadora, via beleza em tudo ao seu redor, enquanto Narin, mais prática e protetora, encarava o mundo de forma mais ameaçadora, tomando para si a responsabilidade de cuidar da irmã mais nova.
A casa em que Narin e Aylin cresceram era um lugar vibrante, repleto de cores, aromas e histórias. Elas passavam horas nas estufas do pai, cercadas pela vida que pulsava ao redor. Aylin adorava a beleza delicada das flores, enquanto Narin apreciava o desafio de criar fragrâncias complexas. Para Aylin, cada flor era uma nova possibilidade de descoberta; para Narin, cada aroma tinha uma função espec��fica, um propósito. Juntas, complementavam-se.
Narin gostava de ajudar o pai, sentindo uma conexão com as flores que, segundo ele, pareciam ganhar vida sob seus cuidados. A irmã ria, dizendo que Narin era mágica. Talvez ela fosse, pensava Narin, mas a magia não a deixava mais leve. Ao contrário, parecia pesar sobre seus ombros com um fantasma inquieto e sempre presente.
À medida que cresciam, o maior mistério em suas vidas se tornava cada vez mais perturbador: a ausência da mãe. O pai, embora amoroso e sempre disposto a contar histórias, evitava o assunto. Ele dizia que a mãe havia partido quando ambas eram muito pequenas, mas a resposta vaga não satisfazia Narin. Ela percebia o sofrimento no rosto do pai sempre que trazia o assunto à tona, e embora tentasse não pressioná-lo, sua inquietação era forte demais para simplesmente aceitar aquela explicação.
Aylin, por outro lado, era mais conformada. Preferia acreditar nas palavras do pai e aceitar a ausência da mãe como parte da vida, mas isso só tornava Narin ainda mais determinada a descobrir a verdade, sentindo que precisava encontrar respostas para ambas. Narin vasculhou as coisas do pai em segredo, procurou nos álbuns de fotografias e até tentou buscar informações no arquivo online do cartório turco onde elas foram registradas. No entanto, tudo o que conseguiu foi acumular uma série de perguntas sem respostas.
O que o pai dizia mesmo? A mãe tinha partido, não morrido. Aylin sempre tentava confortá-la, dizendo que talvez um dia elas soubessem a verdade, mas Narin sabia que não poderia esperar por um acaso do destino.
E, de tanto desejar encontrar respostas, as respostas vieram até Narin.
Aos treze anos, seus poderes divinos começaram a se manifestar, atraindo monstros e cada vez mais confusões. O pai, finalmente vendo que não podia mais protegê-las apenas com seu amor e cuidados, decidiu revelar a verdade sobre sua origem. Explicou que havia mantido o segredo para preservá-las de um mundo perigoso e desconhecido. A decisão de mandá-las ao Acampamento Meio-Sangue não foi fácil, mas necessária para mantê-las a salvo.
Mas não houve tempo. No caminho para o Acampamento Meio-Sangue, Aylin foi picada por um escorpião das profundezas, seu corpo sendo rapidamente intoxicado pelo veneno mortal. Elas estavam perto o suficiente do acampamento para que Narin acreditasse que ainda havia tempo de salvá-la. Com uma esperança desesperada, ela correu, carregando a irmã gêmea nos ombros. Mas não foi o suficiente. Ao atravessar a barreira mágica, sentiu metade de sua alma partir: Aylin já estava morta.
A perda de sua irmã foi um golpe devastador. Se antes Narin já era prática e fechada, após a morte de Aylin, ela se tornou ainda mais distante. A responsabilidade que sempre sentira se transformou em culpa. Tinha falhado em proteger a pessoa que mais amava no mundo.
A partir daquele momento, o Acampamento Meio-Sangue se tornou seu novo lar. No início, Narin era apenas uma campista de férias, insistindo em voltar para casa durante o ano letivo para fazer companhia ao pai, que se tornara ainda mais solitário após a perda de Aylin. No entanto, a presença constante das memórias de sua irmã e a visão de seu pai afundando cada vez mais na depressão eram insuportáveis. Eventualmente, Narin decidiu se tornar uma residente permanente do acampamento.
Anos depois, o pai de Narin também sucumbiu. Consumido pela mesma culpa que a atormentava, sua morte foi uma tragédia que, de certa forma, já havia sido anunciada há muito tempo.
A memória de Aylin, doce e sonhadora, continua viva em Narin, mas também serve como um lembrete constante do que ela perdeu. Foi inevitável que desenvolvesse uma obsessão por cura, venenos e antídotos, motivada por seu desejo de salvar os outros e seu medo de falhar.
Narin raramente fala sobre sua vida antes do acampamento — é doloroso demais reviver as lembranças de uma época em que a felicidade ainda era parte de sua rotina. No entanto, ela acha curioso quando alguém menciona os perfumes do pai. Suas fragrâncias se tornaram mundialmente renomadas, especialmente após sua morte.
Hoje, Narin finalmente compreende o verdadeiro significado do "perfume de primavera", e, apesar da dor, sente-se orgulhosa da herança que carrega.
arsenal
[ Ankáthi ] É um chicote longo e flexível, com lâminas de ferro estígio distribuídas ao longo de seu comprimento. Sua aparência remonta às vinhas espinhosas e daí vem seu nome.
Sempre que em repouso, o chicote se enrola no pulso de Narin, na forma de um bracelete do mesmo metal.
poderes e atributos
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