#minha alma livre
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Meu coração é seu
Desde o primeiro instante que o vi.
Foi como uma chama que acendeu em meu peito e desde então, não consegui mais apagá-la.
É como se o seu amor fosse o único capaz de mantê-lo batendo, pulsando vida em minhas veias.
Day Elias
#dayelias#projetoalmaflorida#carteldapoesia#novospoetas#liberdadeliteraria#autorias#novopoetas#caligraficou#novosescritores#projetosonhantes#life quote#quoetes#26/04/23#meus pensamentos#autoral#compartilharemos#lardospoetas#minha alma livre
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QUE DEUS ME LIVRE!
Meu poeminha musicado pelo amigo, cantor, compositor e colega de trabalho Prof. Tony Gabriel. Presente que não tem preço!
#Deus me livre#risadas amarelas#olhares incolores#paredes sem janelas#espinhos sem flores#alma insana e sebenta#verdade que não convém#mentira que acorrenta#carícias sem pimenta#beijos sem sal#prece#minha prece#oração#minha oração#poesia
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paisagem tropical 花 (顔) viajo pelo teu sorriso, tua companhia é o frescor que acalenta minh'alma por todo esse verão. sua voz é a maresia que me faz velejar sem rumo, sem──fim, só para estar contigo.
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𝙱𝙾̂𝙴𝙼𝙸𝙰ㅤ ㅤ✿ㅤ 𝖼𝗈𝗇𝖾𝗑𝖺̃𝗈ㅤㅤ⋮⋮🪴 ㅤ ♡ㅤ 𝘁𝘂·𝖾·𝖾𝗎 ㅤ﹢ 𝙵𝙸𝙻𝙼 : 𝗋𝗈𝗆𝖺𝗇𝖼𝖾𝗌 𝖽𝖾 𝗏𝖾𝗋𝖺̃𝗈.
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𝗮𝗿𝗼𝗺𝗮 𝖽' 𝗆𝖺𝗋
【🪴🕶️】
0:56"
𝗌𝗎𝗇𝗸𝗶𝘀𝘀𝖾𝖽 ` 𖤓
愛♡ ᴘᴏᴇ́ᴛᴀ.
𝗻𝗼𝘀𝘀𝗮;𝖾𝗌𝗍𝖺𝖼̧𝖺̃𝗈
𝟤𝟫°ᴄ
𝗉𝖺𝗅𝗆𝗍𝗋𝖾𝖾𝗌 ., 🌴
𝖻𝗋𝗂𝗌𝖺 𝑠𝑢𝑎𝑣𝑒 เช้า ㅤㅤ𝗏𝗂𝖻𝖾𝗌ㅤ ㅤ& ㅤ 𝗣𝗢𝗘𝗦𝗜𝗔𝗦ㅤㅤ🏝️🥝ㅤㅤ𝖽𝗂𝗌𝖼𝗋𝖾𝗍𝖺𝗌 ㅤ ; ㅤ 𝗋𝗂𝗍𝗆𝗈ㅤ 𝖽𝖺 ㅤ #ONDA.
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lábias poéticas ── ii 海(♡︎)心臓 ' você é a natureza que inspira minha poesia, sou a alma que floresce lentamente banhada pelo sol do teu amor.
-> ㅤmoodㅤ __ ㅤBIOS⠀·⠀modificação livre.
#͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏#baenuit#like or reblog#bios#aesthetic#messy bios#nicknames#kpop bios#messy icons#kpop nicks#soft#yu jimin#karina#karina moodboard#ig bios#tropical moodboard#rp moodboard#rp highlights#h names#rpg bios#messy moodboard#aespa#aespa moodboard#bios rp#bios rpg#moodboard karina#kpop moodboard#long locs#destaques rp#long bios
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A paixão não me caí bem.
A liberdade de ter a alma livre, o coração alegre e a empolgação de viver são a minha satisfação. Mas a paixão nunca me caiu bem, pois essa agita a minha alma, sufoca o meu ser e me faz querer mais a você do que a mim.
-Eu não quero te querer tanto
#conhecencia#autorias#arquivopoetico#carteldapoesia#saudade#projetocartel#flagelos de um poeta#mardeescritos#projetoversografando#cancionaria#eglogas#caligraficou#projetomardeescritos#novospoetas#pequenosescritores#quandoelasorriu#florejo
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você [é] chama e eu vou.
tem data de fim e eu já sabia, mas fui mesmo assim. subi Bahia, desci Floresta, te seguindo por cada rua desta cidade para não arriscar perder um segundo só da sua passagem. te acompanhei metódica e me fiz flexível a sua suavidade, porque quando você chama, eu vou. temendo piscar e perder algo valioso que vai me seguir pelos próximos dias e meses, capturando tudo que há para capturar. me habituando lentamente à gentileza do seu toque, aproximando e despedindo, dando e tirando tudo de mim. pensei que vermelho era minha cor, mas é sua, sempre escondida entre as outras, ardendo como sua alma arde em mim também. levantei as defesas, olhei o calendário e contei os dias, então você gargalhou no meio da avenida no carnaval e eu não pude evitar abrir meus portões. a madrugada curta com a voz ecoando nos fones, o cheiro da flor que você pegou, a sua insistência em acreditar em karma. sua essência me acerta em cheio porque a minha peca na transcendência enquanto a sua sobra. minhas respostas retas e prontas se encerram na sua mania de ir além. meu peito contem as faíscas desde o começo, por medo de fugir do controle e você incendeia. você chama e eu vou. agora o relógio corre mais que antes, dias contados vão passando enquanto procuro algum espaço que me liberte e te coloque aqui de novo. perto. colada em mim. cedo à contagem regressiva mesmo quando seu calor ainda aquece meu corpo em meio a garoa desse começo de tarde, cedo ao fim iminente mesmo enquanto nossos olhos estão próximos e o gosto do chopp ainda na boca, cedo a sua capacidade única de movimentar meu mundo e me obrigar a ser livre porque seu afeto é fogo, labareda, e se você chama, eu vou.
#liberdadeliteraria#espalhepoesias#pequenosescritores#eglogas#poecitas#projetocores#meuprojetoautoral#lardepoetas#lardospoetas#mentesexpostas#arquivopoetico#pescmembros#rvb#reverberando#poetaslivres
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tem dias que eu almejo tanto a solidão, o silêncio e a sensação de que nada e nem ninguém pode me machucar, que chega a doer.
tem dias que eu almejo a plenitude de estar na companhia de alguém, do som da risada misturada a minha e a sensação de estar recebendo aquele abraço que cura tudo, que chega a doer.
e tem dias que eu almejo não almejar nada, dias esses que eu enrolo na cama o máximo que posso, dias esses que deixo livre todos os pensamentos negativos que azedam a essência de ser quem sou.
acho que hoje é um dia desses, não quero aproveitar minha própria companhia e não quero estar na companhia de ninguém. eu só quero fechar os olhos e cair em um estado de inércia completo, sem corpo, sem alma, sem nada.
#conhecencia#liberdadeliteraria#mentesexpostas#pequenosescritores#autorais#projetomardeescritos#projetoversossubmersos#buscandonovosares#novosautores#lardepoetas#espalhepoesias
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Previous / Next Beginning (Gen 8)
Image transcripts (PT):
Yuna: Você não tem nada a ver com isso, certo??
Touma: Por que eu forçaria minha querida colega a trabalhar com um cara bagunceiro como eu?
Yuna: Você está chateado? Eu não quis dizer isso de um jeito ruim. Quero dizer, eu sou a única que é organizada demais.
Touma: Eu não vejo nenhuma maneira positiva de dizer isso, honestamente...
Yuna: Foi mal...
Touma: De qualquer forma, foi nossa chefe que nos designou para esta patrulha hoje, mesmo que não seja exatamente meu departamento. Mas... ordens são ordens.
Yuna: Eu sei... É que, de todas as pessoas, somos nós.
Touma: Relaxa, logo sairemos daqui. E ei, olha só; o carro está limpo e organizado!
Yuna: [em pânico] Eu não quis dizer...
Touma sorriu, divertido com a reação de Yuna. Ele não estava genuinamente chateado, mas foi uma boa jogada para deixá-la se sentir culpada. Talvez isso a fizesse concordar em assumir a missão com ele.
Yuna: Está tão quieto aqui... Não tem uma única alma por perto.
Touma: Bem, isso só significa que não teremos muito trabalho hoje.
O bairro em questão era conhecido por algumas atividades ilegais e suspeitas, mas nem mesmo a polícia se envolveu muito. Sua abordagem usual era uma patrulha, nada mais. Os moradores raramente saíam de suas casas e, quando o faziam, retornavam rapidamente. Em suma, não era o tipo de lugar onde você pudesse passear confortavelmente.
Touma: Você não acha que formamos uma ótima equipe? Todo mundo na estação diz isso! Deveríamos trabalhar juntos nessa missão!!
Yuna: Ugh, tava demorando. [Ela abre a porta do carro e sai, um pouco irritada.]
Touma: Se o problema é eu ser bagunceiro, eu consigo manter a casa organizada, na maioria das vezes… De qualquer forma, isso é um assunto profissional, então essa é uma reclamação bem trivial da sua parte!
Yuna: Trivial? Da minha parte??
Yuna: Acho que tenho todo o direito de não querer trabalhar com pessoas que considero suspeitas.
Touma: Você está dizendo que sou suspeito??
Touma: Não entendi, o que eu fiz de suspeito?
Yuna: Aquela mulher, de cabelo vermelho...
Touma: Carla? O que tem ela?
Yuna: Você ao menos sabe quem ela é? Ou você está apenas se fazendo de inocente?
Touma: Ela é só alguém que eu conheci aleatoriamente durante meu tempo livre.
Yuna: Para uma policial, você é terrivelmente lento!
Touma: Então me diga. Quem é Carla??
???: AJUDA, POR FAVOR! OFICIAIS, POR FAVOR!!
#família vilela#Gen 8#nsb peach#not so berry challenge#active simblr#simblr#the sims 4#ts4#ts4 gameplay#ts4 legacy#ts4 screenshots#sims 4 simblr#sims 4
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Legendas para fotos.
De perto ela é linda, por dentro ela é única.
Os olhos não precisam de legenda.
Ao menor sinal de amor, retribua! 💜✨
De luz em luz eu me tornei o próprio sol. ☀️
De alma leve e mente livre, o coração só pulsa amor. 💙
In a sunshine state of mind (Em um estado de espírito ensolarado)
Be a little more you, and a lot less them. (Seja um pouco mais você e um pouco menos os outros)
Conserve sua luz mas ame sem economia. 💝
A vida é muito curta para brilhar apenas no Carnaval.
Os olhos dela são da cor do cabelo e sempre que o sol batia ela brilhava por inteiro e de todas as lembranças, essa sempre vai ser a minha favorita. 🌸
Tem que ser imensa para saber ser sozinha.
Only from the heart can you touch the sky. - Rumi (Somente com o coração você pode tocar o céu)
Coloca o mundo no mudo e escuta seu coração. ❤
Make today magical. (Faça o hoje mágico)
Brilhe sem medo menina, a luz que te ilumina vem lá de cima!🌟
Feita de ferro e flor. 🌻
Keep your heels, head and standards hight. (Mantenha seus saltos, cabeça e padrões altos)
Dream big, sparkle more, be strong. (Sonhe grande, brilhe mais, seja forte)
Dream without fear, love without limits. (Sonhe sem medo, ame sem limites)
She is fierce. (Ela é feroz)
Sobre ela? Alma transparente, sorriso aberto, gênio forte, coração sensível.
Decifra-me, mas não me concluas.
A beleza começa quando você decide ser você mesma.
I am my own definition of perfect. (Eu sou minha própria definição de perfeita)
Transbordo, não nego, volto quando couber.
Uma mulher de sol deve sempre estar iluminada ☀️
As vezes você precisa ser a bela e a fera.
Se você vir alguém sem um sorriso, dê a ele um de seus.
He said, "you are beautiful" I told him "Beautiful is a lazy and lousy way to describe me." - Ijeoma Umebinyuo. (Ele disse: "Você é bonita". Eu respondi: "Bonita é um jeito preguiçoso e torpe de me descrever.")
Seu brilho é diferente quando você está feliz.
But I see your true colors shining through. I see your true colors and that’s why I love you. So don’t be afraid to let them show your true colors. True colors are beautiful like a rainbow - Cyndi Lauper (Mas eu vejo suas verdadeiras cores brilhando. Eu vejo suas verdadeiras cores e é por isso que eu amo você. Portanto, não tenha medo de deixá-los mostrar suas cores verdadeiras. As cores verdadeiras são lindas como um arco-íris - Cyndi Lauper)
Perfectly imperfect. (Perfeitamente imperfeita)
Just a summer kind of girl. (Apenas um tipo de garota do verão.)
Strawberry lipstick state of mind. - Harry Styles (Estado de espírito batom de morango)
E se você tem a capacidade de amar, ame primeiro a si mesmo. - Charles Bukowski
É preciso salgar os pés para adoçar a alma.
Her smile is like armor & every day she go to war. (O sorriso dela é como uma armadura e todos os dias ela vai para a guerra)
Não importa o que o mundo diz: Gente bonita é gente feliz!
Nunca fui do tipo que faz sentido. 🍃
A melhor maquiagem é a luz do sol no rosto. ☀️
Can see the night skies in the mirror of your eyes. (Posso ver os céus da noite no espelho de seus olhos.)
#frases textos status sentimentos#legendas#legendas para fotos#status sorriso#frases para descriçáo#legendas de música#legendas para facebook#status legendas#frase tumblr
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casos ilícitos
Matias Recalt X f!Reader
Cap. 19
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E minhas palavras atiram para matar quando estou brava. Eu me arrependo bastante disso.
Avisos: linguagem imprópria, menções a hospital e lesões.
Palavras: 8,1 k
Primeiro capítulo do anoooo, aproveitem 🥳🎉
————
Os fatos das últimas horas ainda rodavam como um disco arranhado pela sua mente, se repetindo sem parar, e te causando dúvidas junto com um aperto profundo no peito.
Não houve um único dia após o término entre você e o garoto de cabelos castanhos que tenha sido cem por cento perfeito ou nulos de dor. Claro que tinham dias melhores que outros, às vezes com sorte, até mesmo semanas melhores que outras. Mas nunca era algo duradouro. Sempre que uma centelha de felicidade parecia te preencher em um momento bom, no instante seguinte isso se extinguia. Fosse durante o dia, ou no cair da noite, quando estava sozinha, ou nos braços de seu novo namorado.
Você poderia por uma máscara e tentar mentir o melhor que fosse para seu parceiro, amigos e até familiares de que tudo estava bem, e que você estava feliz com esse recomeço, mas no fundo, não poderia mais mentir para si mesma.
E você tentou. Por muito tempo.
Pensando que não importava que durante o sexo os seus olhos sempre estivessem fechados e sua mente vagando para outra pessoa, ou que sempre que passava pelo parque no caminho de volta para casa, e visse garotos em cima de um skate, um nome sempre vinha a sua cabeça. Ou quando foi no mercado na semana passada, e havia comprado todos os ingredientes para preparar a refeição preferida de uma pessoa, que nem ao menos estaria lá para apreciar.
Ele sempre estava presente na sua vida, mesmo sem estar necessariamente lá. Se é que isso fazia sentido.
Mas como você sempre fazia nos últimos tempos, você somente engolia o que sentia, reprimindo tudo, e tentava ainda mais duro para fazer as coisas fluírem e funcionarem no seu relacionamento. Você fez sua família e amigos se darem bem com Santi (se bem que a maior parte disso se devia a ele, e sua personalidade amigável), começou a sair mais, e marcou programas com as pessoas de que você mais gostava no seu círculo social. Fosse compras com as garotas, jantares com namorado e passeios ao ar livre com a família, mas sempre com o peso nos ombros da culpa da mentira, e só esperando até o sentimento de vazio te alcançar novamente.
E é claro, que bem no dia que seus pensamentos estavam mais inquietos do que o normal, com nervos à flor da pele, e quase arrancando os cabelos de nervosismo, ele decide aparecer e fazer tudo ficar mil vezes pior.
Seus instintos estavam alerta desde a sala de cinema escura, se sentindo observada e vigiada, mas como não encontrou nada vagando os olhos brevemente pelas pessoas, você apenas ignorou achando que estava ficando maluca. E agora você sabia exatamente o motivo disso.
Apesar de tudo, falar com os garotos foi a parte fácil. Distribuir abraços, sorrisos verdadeiros e calorosos foi realmente bom para sua alma, e quando não viu Matías com eles, sentindo um nó em seu estômago, pensando que ele poderia estar em outro lugar, com outro alguém, fazendo outras coisas, que te traziam um gosto amargo na boca, finalmente o avista mais a frente conversando com sua irmã.
E como se já não bastasse os olhares embaraçosos quando ficaram frente a frente, enquanto todos tentavam ignorar o grande elefante na sala, tudo ficou ainda mais intenso quando ele te pediu para conversarem a sós, o que a contragosto, você aceitou.
Imagine a sua surpresa quando Matías te perguntou se você amava Santi. Foi tudo tão estranho, confuso e desesperador, pois para você o amor parecia algo estrangeiro e de outro mundo se direcionado a outra pessoa que não fosse Matías. Você estava confusa e com raiva. Raiva que justamente a primeira vez que ele ousasse tocar no assunto “amor”, é justamente para te perguntar a respeito de seus sentimentos por outra pessoa.
Você não tinha que se justificar para ele. Ele não podia te perguntar a respeito de amor, se ele nem ao menos chegou a te falar as tais palavras ao menos uma vez. Nem mesmo depois de sua confissão no casamento, que parecia ter sido feita há um milhão de anos atrás.
É claro que durante a briga do término no apartamento dele, o mesmo tentou te dizer as três palavras que você uma vez tanto sonhara em ouvir, só que de maneira diferente. Te falando como o seu lugar era ao lado dele, e como você era importante para o mesmo. Mas naquela época, nada do que saía da boca dele você poderia considerar sincero ou real.
Mas e agora?
Você se odeia por saber bem claramente o desfecho que a conversa desta noite poderia ter tomado no estado em que você estava. Se ele tivesse dito o que você queria escutar, se declarado com honestidade, então provavelmente você teria deixado tudo de lado por ele.
Mas ele não disse. E ele nunca iria dizer.
Então você mentiu, e disse que amava outra pessoa. Mas junto com a mentira, também veio o conhecimento e a realização de algo maior. Pois foi nesse momento que você soube que tinha ido longe demais. Santi era um cara incrível, e não um troféu para você exibir, e usar para se sentir desejada, e depois descartar quando tiver outro brinquedo. Tudo isso era injusto com ele.
Matías poderia ir se foder, mas Santí merecia ao menos a verdade. E depois desta noite, você sabia exatamente o que isso significava, e o que precisava fazer.
— — — —-
Depois que saem do cinema e se dirigem ao jantar tedioso, o qual você passou mais tempo dispersa e brincando com a comida do seu prato, enquanto esperava que um raio caísse em sua cabeça só para você poder sair dali, finalmente todos terminam suas refeições e se encaminham para casa. Santi passaria a noite com você como de costume, e assim ambos os casais começaram o trajeto de retorno ao apartamento. Foi tudo bem tranquilo, com todos se recusando a tocar no assunto “ex”,e somente falando de vários assuntos irrelevantes. Seu cunhado e namorado divagando sobre o jogo que aconteceria na próxima semana e sua irmã tentando te introduzir no meio quando começaram a falar sobre o filme que acabaram de assistir.
Um olhar cortante seu é o suficiente para que ela pare de tentar.
Assim que chegam em casa, você solta um suspiro cansado, sabendo que agora iria ser a hora chata, e que teria de ter coragem para enfrentar isso. Wagner entra com o carro no estacionamento, e assim que todos se soltam dos cintos, e saem do veículo com segurança, você aborda o rapaz:
- Santi, podemos conversar? - Você pede, e pela cara dos mais velhos a sua frente, a sua tentativa de parecer tranquila sobre o motivo, foi totalmente falha.
-Claro - Ele concordou prontamente te seguindo.
Seu cunhado e irmã entram no prédio, deixando apenas os dois do lado de fora, os dando privacidade e espaço. Ambos vão para a calçada, em silêncio e cautelosos, sendo saudados com a briza suave da noite nos seus rostos.
-Eu… - Você começa, olhando para os próprios pés com vergonha, e tentando encontrar as palavras certas para transmitir o que você queria dizer.
Mas você não sabia bem o que queria dizer. Você nunca tinha chegado nessa parte. Terminar com Matias foi rápido pois ele havia pisado na bola, mas com Santi era diferente, pois ele não tinha sido nada senão perfeito. Como você poderia encontrar as frases certas para partir o coração de alguém com o mínimo de dano possível? A resposta era simples: Não tinha como.
-Você vai terminar comigo, não é? - Ele te corta, te aliviando o fardo das palavras pesadas e duras. Quando o seu olhar finalmente encontra o dele, você nota que a feição dele ostenta um olhar manso e resignado no rosto, como se já suspeitasse disso o tempo todo.
Ele não parece bravo, confuso e muito menos irritado. Totalmente o contrário do que o seu coração medroso esperava. Mais uma vez te mostrando o quão perfeito ele sempre é, e foi.
-Sim, eu sinto muito Santi.- Você confirma, engolindo em seco - Não acho que esteja funcionando mais entre a gente, mas quero que saiba que o problema não é você, sou eu. - Tenta explicar ao garoto de olhos gentis, e sentindo lágrimas começarem a surgir conforme as palavras iam fluindo, e seu corpo começando a tremer.
-Calma, tá tudo bem. -Ele diz, e antes que perceba, os braços dele estão à sua volta te abraçando, e te consolando uma última vez.
A presença dele te envolve, em uma espiral de aconchego, calor e um cheiro gostoso que você reconhece como sendo do perfume dele. Estando assim, tão próximos, você até consegue entender como se deixou ficar confusa romanticamente por tanto tempo. Ele era tudo o que você um dia idealizou, mas infelizmente, ele chegou tarde demais, e você já tinha deixado esse barco para trás há muito tempo.
Vocês ficam assim por alguns minutos, com os corpos ainda grudados um no outro, enquanto ele esfrega suavemente carícias nas suas costas, e sussurra palavras doces no seu ouvido. Você não consegue deixar de notar a ironia da situação e se sentir ainda mais patética e ridícula com isso. Foi você quem terminou com ele, e é ele quem está vindo te acalmar e te escutar chorando como uma criança.
Quando a noção de autopreservação e vergonha voltam a você, fazendo sua onde de frenesi e histeria passar, Santi tenta ter uma conversa de verdade, tomando cuidado com o seu bem estar, sendo atencioso e paciente como sempre.
-Tá tudo bem. - Ele te garante mais uma vez - Pra ser sincero, eu meio que sabia que isso iria acontecer alguma hora, eu vejo o jeito que você olha pra ele toda vez que o encontra, ou quando alguém menciona o nome dele. - Santi diz, e não é preciso que ele cite nomes, pois os dois sabem de quem estão falando.
-Isso não tem nada haver com ele - Você retruca na defensiva - Eu só acho que tenho que ficar sozinha e cuidar dos meus próprios sentimentos antes. - Justifica com a voz ainda trêmula - Não posso mais te arrastar pra essa bagunça. - Termina, deixando ainda mais óbvio o quão arrependida está por toda esta situação.
Ele segura a sua mão firmemente, fazendo carinho com os dedos e te transmitindo tranquilidade com o gesto simples:
-Fico feliz que queira um tempo pra você, pois você merece. Mas se você quer realmente resolver os seus sentimentos, talvez deva começar com o fato de ainda sentir coisas pelo seu ex- Ele aponta duramente, mas ainda sendo gentil.
E mesmo te enfurecendo o quão sincero ele está sendo, o que mais te deixa brava, é que o que ele diz realmente faz sentido. Mas você ainda não está pronta para admitir isso para ninguém, muito menos para si mesma.
-Talvez, vou pensar sobre isso. - O responde, deixando claro que é o mais perto de uma concordância que ambos vão chegar esta noite.
Ele te solta, te deixando por si mesma agora que está mais composta, e você tenta não se deixar afetar pelo modo como já sente falta do calor amigo do mesmo. Ambos se encaram sem saberem muito bem como prosseguirem com a conversa. Você ainda está pensando em como acabar com esse embaraço quando ele solta uma tosse falsa, e continua a falar:
- Acha que podemos ser amigos? Mesmo se vocês dois voltarem juntos? - Ele questiona, inseguro. - Eu entendo se você quiser distância e quiser ser apenas colegas de trabalho, não vou ficar chateado. - Ele te assegura, colocando suas emoções em primeiro lugar, e parecendo nervoso com sua resposta.
Você solta uma risada anasalada e baixa com a timidez repentina dele. Era óbvio que você iria querer a presença dele na sua vida, mesmo que de outra forma. Ele era um dos poucos caras que você conheceu que realmente valiam a pena e tinham decência dentro de si mesmos. Não precisava nem pensar muito para responder:
-Claro que sim - Você o afirma com um sorriso - Eu ainda gosto muito de você, só que agora é diferente, é mais como amigo, não no sentido de… você sabe…desse jeito…- As palavras certas não vem a sua mente.
-No sentido sexual? romântico? - Ele oferece descaradamente, para fazer graça.
-É…acho que podemos dizer isso - O diz, e sente as bochechas corarem com o sorriso maroto do mesmo - Mas acho que podemos ser bons amigos - Termina, recebendo um aceno satisfeito dele.
E então se lembra da segunda implicação do mesmo, e fica mais séria:
-Mas não vou voltar com o Matías, como eu disse, o que eu preciso é pensar e ficar um tempo sozinha. - Repete suas afirmações - E de qualquer modo, eu e ele não iriamos funcionar mais juntos. - Diz com convicção.
Santi solta um suspiro profundo com isso:
-Não acredito que vou dizer isso, mas… mesmo concordando que ele foi um idiota, eu sei que ele ainda gosta de você, eu consigo ver isso. - O garoto afirma, se aproximando - Só usa esse tempo pra pensar bem no que vai te fazer mais feliz e corra atrás disso - Ele diz, e aperta gentilmente o seu ombro, te aconselhando.
E antes que você possa rebater alguma coisa, ele já está te abraçando, e se despedindo com um beijo singelo no seu rosto. Somente quando a silhueta dele desaparece no horizonte, é quando você se permite ir para dentro e pensar no que acabou de acontecer.
— — —
Na volta até casa, desde que entra no elevador, ou quando passa pela porta do seu apartamento silencioso, as palavras de Santi ainda pesam em sua mente, assim como a culpa. Você machucou e magoou um garoto bom e inocente em toda esta história, tudo por conta de uma solidão e necessidade de preencher um vazio deixado por outra pessoa. O que te conforta, é que pelo menos agora Santi está livre disso tudo, e pode encontrar alguém melhor e emocionalmente disponível.
Seus ombros estão baixos em desânimo e cabeça curvada em uma expressão sem emoção. Ele disse que estava tudo bem, mas ainda assim era difícil não sentir um pouco de remorso e culpa.
Em meio a neblina de confusão, você consegue escutar um som do vapor saindo de uma chaleira. E assim que se aproxima da cozinha para averiguar, é recebida com o cheiro de ervas doces que preenchem os seus sentidos e te acalmam quase que instantaneamente.
Só tinha uma pessoa que poderia estar tomando chá a esta hora:
-Quer tomar um chá? - Sua irmã oferece, já pegando uma xícara no armário mesmo antes de ouvir a sua resposta.
-Claro - Você responde, se juntando a ela na bancada da cozinha e aceitando a xícara com o líquido quente.
Só estão as duas aqui. De frente uma para outra, enquanto ela te oferece alguns biscoitos que tinha assado mais cedo, os quais você não tinha notado até agora. Pelo silêncio, seu cunhado provavelmente já tinha ido se deitar por conta do dia longo. O que era bom, pois era uma pessoa a menos para encarar depois de tudo.
-Noite difícil?- Sua versão mais velha te pergunta, te acordando de seus pensamentos.
-É- Você concorda, soprando a beirada do recipiente esperando que fique mais morno antes de levar aos lábios. - Acabei de terminar com o Santi.- Solta de uma vez.
Você não sabia muito bem o motivo de estar contando isso já que era algo recente, e o qual você nem teve tempo de digerir muito bem. Mas outra parte sua queria arrancar o band-aid de uma vez. Quanto mais cedo você falasse, mais rápido deixaria de ser novidade e logo passaria toda a comoção.
-Sinto muito - Ela diz, trazendo uma mão ao seu ombro em consolo - Mas foi o melhor. - Constata por fim, e volta a atenção a sua bebida.
-Porque você diz isso?- Você questiona, confusa com a rapidez com que ela parece ter aceitado a novidade.
-Ele não era o cara certo pra voce. Eu sabia disso, ele sabia disso e mesmo você não querendo admitir, você também sempre soube disso - Ela responde, sem papas na língua e com a sobrancelha arqueada.
Vocês ficam em silêncio por um tempo depois disso, com o espaço sendo preenchido apenas pelo som dos biscoitos sendo comidos e o barulho do chá abastecendo suas xícaras que ficaram vazias muito rápido. O que você menos queria agora, era dar abertura para ela começar a falar de seu ex (Matias), assim que você a informa de seu término com Santi (que agora também era seu ex). Mas querer não é poder, e assim que o terceiro biscoito encontra sua boca, ela começa a falar novamente:
-Hoje no cinema, o Matías me falou que te ama, sabia?- Ela pergunta ironicamente, olhando no fundo dos seus olhos.
O QUE? COMO ASSIM?
Seu coração começa a bater mais rápido, e suas bochechas a corar violentamente com a confissão dela. Ele disse que te ama. Ele disse, de verdade. Suas mão estão suando e tremendo em ansiedade. A sua mente te leva de volta para o cinema, a imagem dos dois conversando e você tenta visualizar como foi na hora. Ele disse com essas mesmas palavras? Como surgiu o assunto? Ele estava nervoso? E o mais importante de tudo, porque drogas ele não disse isso na sua cara?
Ele deveria ter dito algo, e ter feito alguma coisa. Mas quando seus devaneios ficam mais selvagens, em um cenário que ele se declara em sua frente, e te puxa para um beijo na frente de todos, você decide que é hora de parar. Sua mente pode te levar para lugares perigosos algumas vezes. E isso nunca acaba bem.
- Isso não muda nada. - Você responde voltando a si, engolindo em seco, e mentindo na cara dura.
-Na verdade muda tudo. - Ela retruca prontamente - Acha que eu não vi como você ficou olhando pro Matias no cinema quando estava com os meninos?- Ela pergunta.
Isso te pega de surpresa também. Você não sabia que estava sendo tão óbvia sobre isso. Mas não é porque você estava com saudades. Claro que não. Deve ter sido só porque fazia tempo que você não o via e ficou chocado em revê-lo ali. Só isso. Nada demais. Totalmente sem significância.
-Você tá vendo demais! - Você afirma, fugindo do assunto.
-Bom, já está tarde e eu não vou ficar aqui discutindo com você - Ela diz, começando a se levantar e a guardar as coisas.- Só saiba que, independente do que aconteceu hoje, eu só espero que você não se arrependa das suas decisões lá na frente. -Ela diz, e solta um bocejo, mostrando pela primeira vez o quão exausta ela está - Boa noite pirralha - Ela diz, depositando um beijo em sua testa, e depois saindo da cozinha te deixando sozinha perdida em pensamentos conflitantes.
— — —
As duas conclusões que você havia chegado depois de alguns dias pensando era: você estava melhor sozinha para cuidar melhor de si mesma e de seus sentimentos. E a segunda, é que mesmo após a conversa que teve com Santi e sua irmã, nada delas poderiam impactar na sua decisão final. Eles não sabiam como era. Santi era muito puro, e sua irmã sempre teve um relacionamento perfeito. Como ela poderia te entender? Se sempre teve um príncipe encantado esperando por ela na porta?
Você estava na área de piscina do condomínio, sentada confortavelmente em uma espreguiçadeira, com as pernas esticadas e com um copo de refrigerante ao lado para refrescar do dia infernalmente quente. Um livro está apoiado no seu colo, enquanto você observa algumas das crianças dando um mergulho ou brincando perto dos pais que estão aproveitando o churrasco, e o almoço caseiro preparado por todos.
Um suspiro frustrado sai de seus lábios com a situação. Você não está de biquini, somente trajando algumas roupas leves, pois não queria nadar, só aproveitar o ar fresco e ler um pouco. Mas era óbvio que a ideia de ler o seu romance havia ido para o ralo conforme a agitação infantil, ou os outros inquilinos conversando atrapalhavam a sua leitura. Mas não poderia culpa-los, pois foi você quem teve essa ideia idiota para começar, e esqueceu que hoje era o dia marcado para a confraternização dos moradores. O que estavam comemorando? Nada! Era só uma desculpa para comerem bem, usarem a piscina o dia todo e beberem enquanto conversam sem parar.
Você está prestes a guardar o livro e se dirigir para dentro quando Wagner te aborda:
-Tá indo onde? - Ele questiona.
Um outro suspiro quase escapa de você quando pensa no quão irritantemente bem ele e sua irmã se encaixam aqui. Eles passam alguns dias na sua casa e de repente se tornam os vizinhos favoritos dos outros inquilinos. Isso fica ainda mais aparente agora, quando sua irmã está conversando animadamente com as outras mães na beira da piscina, seja sobre a comida ou sobre as crianças, e o modo como Wagner se deu bem com os outros pais aproveitando o churrasco com uma lata de cerveja gelada na mão.
Eles são o casal perfeito do subúrbio e nem percebem isso. Só está faltando realmente um filho/a para terem a imagem perfeita de uma família tradicional. Mas até que um ser pequeno e inocente entre na vida deles, você é quem recebe essa carga por ser o mais jovem dos três ali. Sendo tratada na maioria das vezes como a filha adolescente dos dois. O que às vezes é legal, só que às vezes ele extrapolam somente com a superproteção, e te sufocam.
-Tava pensando em entrar e terminar o livro - Diz, erguendo o pequeno objeto em suas mãos - Tá muito barulhento aqui- Esclarece, apontando com a cabeça para a multidão de pessoas.
-Fica mais um pouco - Ele pede - Daqui a pouco vão trazer sorvetes para as crianças e eu quero aproveitar. -Ele diz a última parte sussurrando e arrancando uma risada sua.
Você concede a essa vontade dele (não por conta dos sorvetes, é claro) ficando por mais alguns minutos, e ele se senta na espreguiçadeira ao seu lado para te fazer companhia.
-Não fica brava, mas eu ouvi você conversando com sua irmã uns dias atrás - Ele comenta.- Sinto muito pelo término, o rapaz era gente fina.
-Obrigado - Você responde - Mas tá tudo bem, foi o melhor a se fazer. -Conclui.
-Não fica brava - Ele repete- com sua irmã, mas… ela meio que me contou o que aconteceu, no cinema - Ele diz, o que traduzindo, significa que sua irmã contou absolutamente tudo a ele.
-Claro que contou - Você diz sarcasticamente. -Eu sei que vocês querem me ajudar, dando todos esses conselhos e tals, mas eu não preciso disso. - Fala séria para Wagner - Ele me magoou, e eu não estou pronta para perdoá-lo ainda, ao menos é o que eu acho - Termina, sussurrando a última parte acanhada.
-Ainda tem raiva dele? - Questiona curioso.
-Um pouco - Você admite - Tenho raiva do que ele fez, raiva do que ele NÃO fez, e raiva de não ter ele por perto. Mas não posso deixar que esse erro dele passe em branco - Um grunhido feio escapa de sua boca - Eu quero ser como meus pais, ou como vocês dois - Aponta para sua irmã do outro lado da piscina - Quero ter um relacionamento perfeito com um cara que me dê valor. - Termina, relaxando os ombros.
-Eu sei que você pensa isso mas… eu e sua irmã não temos o relacionamento perfeito - Ele diz, arrancando um olhar curioso seu - Nenhum casal tem, na verdade, sempre vai ter brigas e desentendimentos, só tem que saber driblar isso - Ele finaliza.
-Vocês brigarem sobre quem paga a conta do restaurante não é necessariamente uma briga séria Wagner! - Diz revirando os olhos com o comentário dele. - Vocês saem juntos desde a faculdade, você foi o primeiro namorado sério dela e um príncipe encantado desde o começo - Começa a listar os fatos - Literalmente, vocês são o casal mais afinado que eu conheço.
Ele parece pensar bem em suas palavras, decidindo se deve ir em frente ou não com a discussão. E depois de pensar por alguns instantes, ele prossegue:
-Eu não fui necessariamente o cara mais legal de todos, muito menos a sua irmã - Ele começa - Eu sei que não parece assim, mas é a verdade.
-Como assim? Vocês não eram bons um para o outro? O que aconteceu? - Questiona, de repente muito interessada no que ele tem a dizer.
-Antes da gente namorar, muita coisa aconteceu. -Ele diz - Sua irmã partiu meu coração várias vezes, ela não só ficou com vários outros caras, como inclusive, ficou com meu colega de quarto na época. - Ele admite, tirando sarro da situação.
-O que? Mas como? - Pergunta, perplexa.
-Pois é - Ele diz - A gente tinha saído uma vez, e eu já tinha ficado louco por ela - Ele parece pensar, como se estivesse se lembrando do momento - No nosso primeiro encontro eu sabia que ela era a pessoa certa, mas ela não pensou assim - Ele faz uma careta com essa lembrança - E disse que tinha que ser casual, pois a gente era novo e ia conhecer muita gente ainda - Ele ergue a mão com a aliança de casamento - Obviamente, não foi casual pra mim, e depois disso, nos desentendemos bastante.
-Como vocês se acertaram? - Questiona, ainda mais imersa na história.
-O relacionamento casual não foi o bastante pra mim, então terminamos tudo - Ele conta, e você fica ainda mais chocada, pois nunca soube que eles já tinham terminado ou ao menos dado um tempo. Em sua cabeça eles sempre estiveram juntos e pronto. - Ela ficou com outros caras, eu com outras mulheres, mas eventualmente acabamos voltando um para o outro. - Ele te olha e suspira - Mas isso foi só depois de meses, e com muita conversa e comunicação. Foi assim que eu entendi que ela tinha medo de compromisso - Ele argumenta - Mas nesse meio tempo, nos machucamos bastante, não tem como apagar isso, o que nos resta é perdoar e seguir em frente.
-Eu…não sei, estou confusa agora - Admite, encolhendo as pernas e as abraçando conforme se encolhe na espreguiçadeira.
-Acha que sua irmã me ama? - Wagner questiona.
-Claro que sim! - Você responde na mesma hora.
-Exato! - Ele comemora- Ela cometeu um erro, mas nem por causa disso eu desisti dela. Eu a amo, vou a amar até o dia em que morrer, e mesmo tendo sido um inferno o tempo separados, eu passaria por tudo isso de novo se fosse pra ter ela no final. - Ele diz, e te dá um olhar que transmite sinceridade e verdade em suas palavras.
-Eu entendo que o perdão é importante. Mas em relação a voltar com ele, eu ainda tenho medo de acabar me machucando e me decepcionando no final - Confessa e olha para os próprios pés em desânimo.
-O seu problema com o Matias é porque você diz que ele não respeitou o compromisso do relacionamento de vocês dois, mas…vocês não estavam juntos oficialmente. -Ele aponta.
-Eu sei. - Você responde em um sussurro mal humorado.
-E ele te ver com outro homem também não ajudou. -Wagner continua, enquanto recapitula os acontecimentos - Não estou dizendo que ele fez as coisas certas, pois Deus sabe que vocês dois tem um problema enorme de comunicação, mas se não estão juntos, então não tem necessariamente que ser exclusivo. - Ele continua - Por isso que juntei as escovas com sua irmã o mais rápido que pude - Ele conclui, orgulhoso.
-A minha parte racional sabe disso. Mas a outra não.- Retruca - E o pior de tudo, de todas as pessoas, porque com ela?- Fala raivosa, se lembrando do rosto de Malena.
-Porque era o mais fácil- Ele responde - E talvez no fundo ele soubesse que era o que iria te machucar mais. - Wagner reflete, mais profundamente.
-Então ele conseguiu o que queria. - Diz emburrada.
-Mas você nunca fez isso, certo? Disse ou fez algo apenas para deixá-lo magoado. - Ele questiona, já imaginando a sua resposta.
A primeira coisa que vem à sua mente do que você fez (talvez mais egoisticamente do que propriamente para magoar Matías), foi o relacionamento com o Santi. Totalmente baseado na necessidade de preencher a sua solidão e se sentir desejada novamente, e o fato dele ser quem ele é, só ajudou em tudo. Mas não poderia mentir que adorava quando Matías ficava com ciúmes explícitos e o sentimento de poder que te trazia ao aumentar o seu ego. A segunda coisa que vem a sua mente, que com certeza você fez, apenas para vê-lo magoado e ferido, foi quando disse que amava Santi. Quando admitiu que seus sentimentos agora pertenciam a outro, mesmo quando não os faziam.
Essa mentira não iria fazer bem a ninguém, e você sabia disso mesmo quando a falou apenas para desfrutar de alguns segundos amargos de vingança e retorno. Você quis ver ele se sentindo um bosta. Você quis que ele se sentisse miserável quando te visse com outro. Que se sentisse traído e trocado, assim como você se sentiu. E pela primeira vez, você conseguia admitir isso, mesmo que só para você mesma.
-Talvez. - Diz vagamente, olhando para as crianças começando a se agitar.
Só então que você nota as moças começando a distribuir picolés e casquinhas de diversos sabores de sorvetes para os pequeninos ansiosos.
-Vocês são jovens, tem muito o que aprender ainda. - Wagner diz por fim, e se levanta, indo atrás de seu próprio doce antes que os mais novos acabem com tudo, e voltando minutos depois com uma casquinha do seu sabor favorito.
— —
Meia hora depois, mesmo contra os maiores esforços de Wagner, você acaba entrando em casa e se trancando no quarto. Não é como se os últimos dias tivessem sido muitos bons para colaborarem com a sua bateria social, então ele entendeu e te deixou ir, prometendo te trazer a sobremesa depois (o que você suspeitava ser ainda mais sorvete).
Mas o que você só queria mesmo, era assistir alguma coisa idiota, até acabar pegando no sono e capotar pelo resto do dia (já que sua leitura já havia sido jogada pelo ralo).
Pouco tempo depois, quando os seus olhos já estão pesados, tendo perdido o interesse pela tela do notebook no seu colo, que passava um filme há muito tempo esquecido, o seu telefone toca, e te acorda da sua quase bem sucedida soneca.
A sua mão viaja preguiçosamente pela mesa de cabeceira, apalpando todos os objetos, até encontrar finalmente o telefone vibrando e tocando alto:
-Alô - Você responde, com a voz ainda grogue de sono e sem se dar ao trabalho de ver quem era no visor do aparelho.
-Oi - Saúda a voz exasperada - Graças a Deus você atendeu, preciso falar com você - Continua a voz, soando aflita e nervosa.
Você desencosta o celular do rosto, e lê finalmente o nome na tela. Por um instante você pensou que pudesse ser Santi, com alguma emergência do trabalho ou algo do tipo. Ou até mesmo alguém de sua faculdade. Mas definitivamente não esperava que fosse ele.
-Fran? - Você pergunta - É bom você ter um bom motivo pra estar me ligando, eu estava quase caindo no sono. - O repreende, ainda frustrada pelo descanso perdido.
-É o Matías, ele… - Fran começa a explicar.
-Eu não quero saber! - Você o interrompe rudemente, antes que ele possa dizer mais alguma coisa - Nada do que diz respeito a ele me interessa. - Fala, levando a mão até o rosto, e limpando o queixo ao notar que tinha babado um pouco.
Maldito Matías que sempre arrumava um jeito de te irritar!!! E agora estava atrapalhando o seu sono também.
-Mas… - Fran tenta recomeçar, sendo mais uma vez interrompido pela sua voz impaciente.
-Mas nada Fran! - Diz brava - Ele pode cair duro agora, e ir se foder sozinho na casa do caralho que eu não me importo. Eu quero distância e voltar ao meu descanso merecido, pode ser? - Pergunta agressivamente, mas sem se importar com as consequências.Você tinha que admitir, a sua pessoa com sono ou com fome não eram as melhores versões de si mesma para enfrentar.
-Ele está no hospital, em estado grave. - Fran fala com a voz afetada - Mas beleza, bom descanso - Ele fala, e com isso desliga bem na sua cara.
O seu mundo cai com isso, conforme as palavras dele se repetem na sua mente sem parar, com você torcendo para que seja só uma pegadinha do seu subconsciente e que tenha ouvido errado. Foi tudo tão repentinamente que você mal tem tempo de processar o que está acontecendo antes que se encontre saindo da cama em um pulo, agora muito desperta, e retornando a ligação no mesmo instante, com esperança de que ele atenda no primeiro toque.
Por sorte ele atende e já começa a te jorrar palavras duras, que você sabe muito bem que são merecidas:
-Quer saber? Deixa quieto, eu nem sei porque te liguei, eu só entrei em desespero e você tá certa, você não tem nada haver com isso. Vou desligar. - Ele responde, agora mal humorado com o seu descaso anterior, e puto com o seu comportamento.
-Espera! - Você diz desesperada, com a voz começando a ficar embargada - Eu não quis dizer isso, eu sinto muito Fran - Diz verdadeiramente arrependida, e engolindo o nó em sua garganta, enquanto pula pelo quarto a procura de seus sapatos e sua bolsa - Mas como assim hospital? O que houve? Ele tá bem? - Começa a metralhar perguntas nele obsessivamente.
Sua cabeça só conseguia se perguntar em que merda Matías havia se metido agora para ir parar no hospital. Ainda mais em estado grave. Ele tinha caído de skate? Sofrido um acidente de carro? Entrado em alguma briga com alguém por pouca coisa? Há quanto tempo havia sido isso? Ele ia morrer? Eram um monte de perguntas sem respostas.
De repente o motivo de você estar brava com ele parecia tão insignificante que você nem se lembrava mais disso enquanto começava a se apavorar. E algo em sua voz deve ter mostrado o quão arrependida e preocupada estava, pois Fran decide dar uma trégua e deixar suas transgressões de lado, e começa a contar do ocorrido:
-Foi no jogo de Rugby, teve um acidente e ele se machucou feio. - A voz dele começa a falhar, e lágrimas começam a brotar de seus olhos, já sentindo o pânico começando a te dominar - Foi horrível, o osso ficou pra fora da perna dele, tinha muito sangue, e pra piorar ele ainda bateu a cabeça. - Fran termina, dando os detalhes dos acontecimentos.
-Meu Deus! - Exclama trazendo a mão ao peito, já sentindo ele doer fortemente conforme imagina a cena.
Você sempre odiou que ele jogasse Rugby por esse motivo. Era um esporte divertido e em equipe, mas tinha vezes que era muito violento, e implacável. O pensamento dele no gramado, com a perna machucada, com dor e sofrendo te fazem querer gritar e desabar em choro. Suas pernas neste ponto já viraram gelatina, a forçando a se escorar na cama para se manter de pé, e seu estômago começa a embrulhar com o sentimento se apossando de você.
Medo.
Muito medo.
Medo de perdê-lo e não poder dizer a ele como você realmente se sentia em relação ao mesmo.
Mas você tem que ser forte agora, por ele e pelos rapazes. Ir ver de fato o que houve e como ele se encontra agora. E você não vai encontrar essas respostas no seu apartamento.
-Me fala em qual hospital vocês estão, eu quero ver ele - Pede, terminando de calçar os sapatos, e encerrando a ligação após a confirmação de Fran do endereço.
— —
Você não teve tempo de avisar sua irmã ou Wagner do que havia acontecido, e também não queria incomodá-los quando você mesma não tinha ainda muitas informações do ocorrido, e preocupá-los também. Então, só foi rapidamente até a sala, pegou as chaves de Wagner no molho de chaves, e seguiu até a garagem onde pegou o carro dele.
Tecnicamente não seria considerado furto, já que o carro estava na vaga de garagem do condomínio que VOCÊ paga, e se fosse, esperava que Wagner entendesse a situação e te perdoasse por isso. Afinal, não é como se você estivesse se importando muito com isso agora de qualquer maneira.
Já no volante, as suas lágrimas borram sua visão do trânsito, as quais você limpa rapidamente com a mão, e amaldiçoa cada sinal vermelho que encontra no trajeto. Mas antes que possa ter um ataque, e acabar piorando as coisas, você finalmente chega ao hospital, e entra pelas portas quase correndo e não se importando em parecer maluca com o seu desespero, e falta de controle emocional. Após rapidamente pedir informações na recepção e ser levada à sala de espera, você avista os garotos mais ao canto.
Todos eles. Cada um deles.
Fran é o primeiro que te avista, provavelmente já esperando a sua chegada, e você não espera um segundo antes de se jogar nos braços dele em um abraço bem apertado. Ele fica surpreso de primeiro instante, mas não se afasta e nem se esquiva, rapidamente retribuindo o gesto, e te abraçando de volta.
-Você veio - Ele sussurrou ao seu ouvido, com o rosto ainda enterrado no seu pescoço.
-É claro que sim - Você diz de volta, se afastando um pouco para poder olhar bem nos olhos dele -Fran, eu sinto muito pelo o que eu disse antes no telefone. Eu não sabia, eu… é óbvio que eu não queria que isso acontecesse, é que…- Ele te interrompe.
-Eu sei. Pelo menos você está aqui agora.- Ele te acalma, e te solta para cumprimentar os outros meninos.
Todos estão com os rostos abatidos, preocupados e extremamente tensos com o que pode acontecer. Você os abraça e os consola, tentando convencer a si mesma e a eles de que tudo ficaria bem, enquanto tenta entender melhor o que houve. Eles te relatam sobre o jogo, o acidente e como vieram desesperados para cá. Eles não estão aqui há muito tempo, assim que chegaram Fran já te ligou e você veio correndo. Ou seja, eles têm quase tantas informações quanto você. Somente sabem que Matias teve que fazer uma cirurgia de emergência, e que vai precisar ficar internado, por conta do estado dele que no momento é grave.
-E a família dele? Você conseguiu contato? - Questiona, pensando em como eles estão agora, ou se já sabem dessa fatalidade.
Você nunca conheceu a família de Matías pessoalmente. Só sabia um pouco por conta de histórias e algumas fotos que o rapaz mantinha guardadas no apartamento. Fotografias dele, e do irmão mais novo, em um jogo de futebol em um dia quente, outra dele junto da mãe em um evento da escola, e algumas com o falecido pai em festas de família. Nada muito profundo. O mais perto que chegou de ter contato com eles, foi quando atendeu o telefone dele uma vez, e se deparou com a mãe dele do outro lado da linha.
Matías não tinha ficado chateado com isso na época, ele somente pegou o telefone depois, e explicou que a companhia feminina era apenas uma amiga que estava de passagem. Vocês nunca conversaram sobre isso depois do ocorrido. Ele estava claramente desconfortável com a situação, e você não quis se mostrar muito apegada ou grudenta.
Se ele quisesse que você conhecesse a família dele, ele teria feito acontecer. Será que Malena conhecia eles? Provavelmente. Mas não valia a pena se machucar pensando no quão mais longe ela foi do que você, quando o rapaz em questão estava todo ferido.
-Eu liguei pra mãe dele e contei para ela, então o irmão mais novo também já deve estar sabendo. - Diz Enzo, passando as mãos nervosamente pelo cabelo.
-Eles tão vindo pra cá? - Pergunta, se sentando ao lado dele na sala de espera.
-Vão pegar o próximo avião, mas não sei que horas vão pousar, provavelmente amanhã pela tarde, é um voo longo. - Enzo responde, vendo a hora e checando o telefone para ver se tem alguma atualização.
-Já tem uns quarenta minutos desde que chegamos aqui, ninguém vai vir nos avisar da cirurgia? Se deu tudo certo, ou o que tá acontecendo? - Esteban devaneia, começando a ficar irritado e bravo com a falta de notícias.
-Não sei - Fran responde - Eles já deveriam ter falado alguma coisa. Vamos esperar alguém passar e pedir informações. - Ele fala, levando a mão ao ombro do amigo, o pedindo para se acalmar.
Bem nessa hora, como que por milagre, uma enfermeira em trajes neutros brota, e passa ao lado de vocês. E não demora um segundo para decidirem abordá-la:
-Com licença, estamos aqui pelo paciente…- Esteban começa a falar, relatando os dados de Matías e outras informações para identificação.
-Ah sim - A enfermeira responde em reconhecimento - Ele está saindo de cirurgia agora. - Ela informa, olhando a prancheta em suas mãos à procura dos resultados dos procedimentos médicos - Conseguimos estabilizar ele com sucesso, e estamos o enviando para o quarto para que repouse e possamos acompanhá-lo pelas próximas horas. - Diz por fim, em uma expressão calma.
O alívio corre pela veia de todos vocês. Você não nota a lufada de ar que solta em uma expiração profunda, devido a respiração que estava prendendo sem nem ao menos notar.
Ele não está totalmente bem, mas ao menos já está fora de risco, e é isso que importa.
-A gente pode entrar pra ver ele então? - Simon pergunta, antes que qualquer um de vocês tenha a chance.
-Eu preciso ver com o médico e ver se ele autoriza a entrada de alguém - Ela diz, franzindo o rosto - Mas acho difícil, algum de vocês são familiares dele? - Ela questiona, arqueando a sobrancelha.
Todos negam com acenos de cabeça desanimados, sabendo que isso dificultaria mais a entrada de vocês.
Ela solta um suspiro baixo com isso - Tudo bem, vou chamar o doutor e ver o que posso fazer. - Ela diz prontamente - Assim, ele também pode explicar melhor como o paciente está, com licença - A enfermeira fala se despedindo, e logo em seguida, voltando à área médica.
A única coisa que restou para vocês fazerem, é esperar o retorno dela junto do responsável e torcerem para que sejam liberados para entrarem. Neste meio tempo, você tenta imaginar como ele está. Ele deve estar inconsciente, certo? Você esperava que sim. Pelo menos deste jeito, ele não sentiria dor.
Se ele estivesse acordado, ele gostaria de te ver? Ou pediria para que você se retirasse já que você só apareceu quando era quase tarde demais?
Antes que seus pensamentos possam te levar para mais longe, em um lugar mais sombrio e melancólico , o médico aparece, e vocês se levantam na hora para escutá-lo:
-Olá - O médico, que se trata de um senhor de meia idade e óculos grossos, diz os saudando - Desculpe a demora, mas peço que o paciente fique em repouso, e as visitas ocorram apenas aos familiares próximos no horário de visita - Ele responde sério, desapontando a todos vocês.
Você fica extremamente revoltada com isso. Óbvio que isso não era a culpa do doutor, e que para ele, isso já era procedimento padrão, mas ainda assim, o seu cérebro a mil por hora, assustado e inconsequente não se importava com nada disso.
Você queria vê-lo, estar perto dele, e tocá-lo, pois só assim você entenderia que ele estava realmente bem. Então com um olhar afiado, e língua mais afiada ainda, você o enfrenta, com ousadia e sem pensar nas consequências:
-Eu sou noiva dele - Você diz sem pensar duas vezes, fazendo os rapazes ao seu lado arregalar os olhos. - E eu quero entrar agora pra ver ele. - Diz autoritária, sem nem piscar ou falhar a voz.
O doutor fica surpreso com seu afrontamento repentino, e tenta remediar a situação com calma:
-Senhorita, entenda que é complicado, vocês estão noivos, então ainda não são tecnicamente “família”. - Ele tem a audácia de dizer, e ainda fazer aspas no ar.
-Isso é ridículo! - Você exclama alto, atraindo a atenção de todos, e decidindo ir mais longe - Eu estou carregando o filho dele em mim - Anuncia, e leva a mão dramaticamente a barriga- Tenha consideração pelo menos pelo meu bebê, o pai dele gostaria que estivéssemos perto dele neste momento. - Diz, e deixa as primeiras lágrimas escorrerem livres por seu rosto.
Os pacientes ao redor começam a olhar para a cena, lançando olhares feios ao médico e sussurrando palavras que com certeza não são nada amigáveis. O doutor rapidamente fica constrangido com a sua histeria, e toma a decisão de concordar com suas exigências:
-Tudo bem. A senhorita pode entrar. - Ele diz, com a mandíbula cerrada, obviamente a contragosto.- Só cinco minutos. - A adverte, e sinalizando para que você o siga.
Quando você começa o acompanhar, quase não nota as piscadinhas discretas que os rapazes te lançam, e o sussurro mudo de Fran em um “muito bem!” com a mão em um joinha para cima.
— — — —
O médico te deixa na frente da sala, te permitindo ter alguns minutos a sós com o seu “noivo”, mas te lembrando que os minutos são contados, quase ganhando um revirar de olhos seu, o que por pouco você consegue controlar. E assim que você passa pela porta do quarto de Matías, é como se o mundo parasse por completo, e o ar começasse a faltar em seu pulmões conforme se depara, e encara a cena avassaladora.
Parte de você esperava que os meninos tivessem exagerado e não fosse nada demais, talvez apenas um tornozelo torcido e alguns arranhões que precisavam de cuidados maiores. E mesmo tendo escutado os relatos, e a notícia da cirurgia, nada poderia te preparar para isso. Talvez fosse você e o seu otimismo cego os culpados de não quererem enxergar a gravidade da situação, até se encontrarem de frente com os estragos que elas causaram.
Ele estava horrível, e gravemente ferido.
Matías está, assim como você imaginava, inconsciente em uma cama, com os olhos pesados e fechados em um sono profundo, provocados pelos remédios circulando pelos tubos ligados ao braço dele. A perna direita (a que você supunha que era a que Fran tinha falado do osso para fora) estava engessada e coberta. A parte do corpo visível pelo roupão do hospital, mostra os membros com escoriações, arranhões e marcas causadas pela lesão. Atrás da nuca, você consegue ver um pouco do curativo feito ali. E a memória do Fran te falando que ele bateu a cabeça gravemente, e que não parava de sair sangue te assusta. O rosto dele está em uma expressão calma e serena, enquanto você o examina, com medo de se aproximar demais e ele quebrar.
Ele nunca pareceu tão pequeno e indefeso antes. Tão sozinho e vulnerável, que você não consegue evitar as lágrimas que brotam nos seus olhos quase que instantaneamente. O arrependimento se instaura no seu peito, junto com o instinto e vontade de querer protegê-lo e cuidar dele para sempre.
Você não consegue evitar quando sua mão vá de encontro a testa dele, afastando as madeixas de cabelos longos que estão grudados ali, devido ao suor e até mesmo um pouco de grama que você apostava que era do gramado do campo. Só de imaginar a cena te causava dor e agonia. Seus dedos se moviam lentamente e com cuidado enquanto fazia carinho no rosto do rapaz, como se de alguma forma isso pudesse o confortar e o ajudar a passar por tudo isso.
Seu toque é tão gentil, e cuidadoso, que por um instante é como se o tempo não tivesse passado e as duas pessoas nesta sala fossem os antigos vocês. As versões um pouco mais novas que tem medo de nomear o sentimento arrebatador que tem desde que se viram, mas que ainda assim sempre voltam e se entregam nos braços um do outro.
-Oi - Você fala, aproximando o seu rosto bem perto do dele, e sussurrando como se estivesse contando um segredo - Eu t�� aqui - Você diz, apertando a mão dele e sem obter qualquer tipo de resposta ou estímulo do mesmo - E se quando você acordar, quiser que eu continue ao seu lado, eu vou - Promete, encostando a sua testa na dele, e engolindo um soluço devido ao pranto, querendo transbordar - Eu juro. - Fala por fim.
Depois disso, você gasta o restante dos poucos minutos que te sobram, falando como ele tinha deixado todo mundo preocupado, e que era pra ele acordar e melhorar logo para poderem ir pra casa. Não muito depois, uma enfermeira entra no quarto, anunciando o final do tempo estipulado, e te convidando educadamente a se retirar do quarto, prometendo que todos podiam vê-lo mais tarde.
Com um último olhar, você deixa o lugar, esperando que na próxima vez que entrasse ali, ele estivesse acordado, melhor, e positivamente querendo te ter ao lado dele.
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Demorou mas finalmente saiuuu, espero que tenham gostado. Até o próximo 💖, e feliz 2025 🙏🥳
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Trinta. Três décadas infinitas não tão bem vividas. Aos olhos da primavera, parecia uma flor bela a esconder-se do restante do jardim, mantinha seu brilho apagado para chamar o mínimo de atenção. Sobressaltava as veias pensar em comparação. Por favor, deixe-me quieta em meu canto, para meu espanto pareciam consentir. Até certo ponto. Toda aquela nostalgia da infância foi arrastada pelo vento. Sinto o fardo do tempo sobre meus ombros. As cobranças, as responsabilidades. Sinto saudade de casa, essa sempre foi a minha real necessidade. A verdade é que desejava pegar a primeira condução e partir. Bem longe daqui, na esquina do universo. Lá existirá algum bar para aterrar e brindar a liberdade da alma. Os seres celestiais são mais felizes, pois estão livres dos grilhões carnais. Há um aspecto de Sísifo na raça humana de quem eternamente carrega seus pecados e vive de modo automático sem compreender suas motivações, ou seria um complexo de Atlas por querer carregar o mundo nas costas? Só sei que estava pesado, asfixiante, torturante. Estive acostumada com o ar rarefeito, causa-me estranheza respirar o ar puro da natureza e contemplar toda a sua beleza. Por quanto tempo adormeci? Trinta anos. Trinta invernos rigorosos onde a alma gélida permanecia estática sem estética em sua forma de massa de gelo. Havia algo maior, sem dúvidas. Haveria um fogo para me derreter. Onde encontrar esse calor, esse fulgor? Nas estrelas persigo as tão aguardadas respostas. “Olhe para dentro”, é tudo que eles me dizem. Quando retorno ao meu núcleo deparo-me com o vazio. Em outros tempos, já foi deveras assustador confrontar esse abismo. Luz e sombra a duelar em meu coração. Atinge novos picos de entusiasmo e satisfação. Sinto-me uma estrangeira em minha própria pele, confundem-me constantemente com o fracasso. Apenas não aceito viver de modo raso. Necessito de uma quantidade diária de fantasia mascarada com pingos de realidade para sobreviver a esse caos. Essa selva de concreto e insensatez já não consegue me acorrentar. Sinto saudade de casa, desde a tenra infância, essa é a minha única verdade. E desejo. Retornar aos braços do além de onde essa alma não-pertencente provém. Trinta anos e ainda não encontrei meu lugar no mundo. Escuto dizer que é uma bênção disfarçada, já que o apocalipse encontra-se logo adiante. Talvez seja realmente uma proteção divina não encontrar todas as respostas para as diversas indagações que possuo. “Na hora certa, tudo será esclarecido”, é o que alegam. Aceito com certa insatisfação tal explicação, pois me confortava saber que tinha o controle em minhas mãos. Trinta anos e ainda escrevo sobre solidão, incompreensão, outra dimensão. Esse é o cerne da questão. A minha alma volita pelos ares em busca de uma nova direção. A máscara do escapista fez-me escapar da realidade, enquanto a alma transitava bailando pelas ruas com os pensamentos na lua. Como ser humano se me sinto do Todo? Reside em mim uma saudade de casa e, aos trinta, vislumbro pequenas luzes a me guiar. Sei que um dia hei de retornar.
Ps: texto escrito ano passado, postado as vésperas do meu aniversário de 31 anos.
@cartasparaviolet
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Mal sabe ela que foi a única garota com quem eu me senti verdadeiramente à vontade, livre para ser quem eu sou, sem máscaras, sem medo de julgamentos, apenas eu, com todas as minhas imperfeições e verdades. Ela foi o único lugar onde minha alma encontrou descanso, onde meu coração se sentiu em casa.
#mentesexpostas#espalhepoesias#pequenosescritores#carteldapoesia#desabafos#arquivopoetico#lardepoetas#liberdadeliteraria
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Que a essência da luz seja sempre o combustível do meu coração. Quero alcançar meus medos e enche-los de coragem, poder voar na vida como um pássaro livre, leve. Que a minha alma seja amiga das sutilezas e abrace em mim o maior e melhor amor que há. Que a vida me recepcione diariamente com a felicidade, pois de todas as coisas que amo a melhor delas é Viver!
É claramente o início de tudo.
Lanna Borges
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Finney Blake x Male Reader
"Um dia que vale por todos"
. Sinopse: você e seu grupinho passaram a semana inteira planejando uma ida ao cinema, mas, após alguns imprevistos, apenas você e Finney conseguiram comparecer à sessão. Naquela poltrona macia, ao lado do seu melhor amigo e interesse amoroso, as borboletas se agitavam no estômago.
. Gêneros: sombrio, fluff e angst
. Avisos: "M/n", morte/sequestro subentendidos e final triste.
. Palavras: 2.5k | 3ª pessoa - passado
*essa é uma reescrita do primeiro imagine que escrevi. Tava uma bagunça antes mds 😮💨 minha escrita no início era tão precária
— Porra… muleque do caralho! – o garoto mais velho estava farto da insistência de M/n, com as veias pulsando na testa em pura irritação. — Eu já falei que não! Vende esses ingressos, enfia no seu cu, sei lá! Só para de encher o saco. – Vance levantou do sofá, marchando para seu quarto antes que defenestrasse o irmãozinho janela afora.
— Por favooor! – prolongando a palavra, M/n viu-se a um passo de se jogar aos pés do loiro e implorar aos prantos. — Eu pago suas fichas do fliperama por uma semana!
— Com que dinheiro? – questionou, como quem nada queria. — Nem bala de troco você tem no bolso.
— Eu faço o que você quiser por um mês inteiro!
Vance parou na entrada do quarto, interessado, já não planejando mais bater a porta na cara da pulguinha agitada às suas costas.
M/n sabia que sua vida seria um inferno durante trinta dias consecutivos, com Vance lhe atazanando por coisas banais, como encher um copo d'água e entregá-lo em suas mãos, arrumar a zona de guerra que Vance chamava de quarto e acabar com o pão de forma montando sanduíches. No entanto, chegar àquela sessão era realmente importante para M/n e seus amigos.
Sem contar que os ingressos custaram os olhos da cara.
— Quando vai ser? – Vance perguntou, e isso já serviu de confirmação para o caçula.
— Sábado! – M/n não disfarçava sua animação, o sorriso de orelha a orelha sendo apenas um dos sinais visíveis de alegria estampada na face iluminada. — Obrigado, obrigado mesmo! – abraçou o corpo maior.
Vance curvou o pescoço, tocando o topo da cabeça do irmão com o queixo.
Apesar de não ser A+ em demonstrar, por trás da carranca, bem lá no fundo, no fundo mesmo, muito lá no fundo, existia uma pequenininhazinha parcela de gentileza, e muito bem filtrada.
— Agora some da minha frente, cansei da sua cara.
Como M/n intitulava, o destino era uma tremenda vadia sem coração.
Mesmo estando na mesma série, o garoto e sua alma gêmea eram de turmas diferentes; não frequentavam a mesma sala.
M/n poderia simplesmente aguardar, afinal, Finney sempre vinha até ele. Mas a ansiedade, feito bomba, estava prestes a explodir dentro do peito, e o menino não queria ter seus membros e vísceras espalhados pelo chão da escola antes de sábado.
E, de preferência, depois de sábado também não.
Mas, se tivesse que acontecer, que fosse depois de sábado.
Além de serem amigos, M/n também desempenhava a função de escudo-sobrenome; ser parente do cara mais intimidador da escola tinha lá suas vantagens. Finney estava livre de valentões ao lado do Hopper mais novo.
No dia em que M/n percebeu que, mesmo de longe, seu irmão o protegia, a casinha de Vance em seu coração expandiu-se num quarto.
Durante o caminhar contente no corredor lotado de mini-homens e mini-mulheres, M/n teve a segunda interrogação ilustrada naquele dia ao ver Finn nadando sozinho contra a maré de corpos: "Ué… cadê Robin?". Linhas pontilhadas traçaram a silhueta do rapaz ausente.
M/n havia despertado com atraso de manhã, madrugado imaginando cenários e, consequentemente, chegando na hora exata em que a aula iria começar, acabando por não topar com os amigos na entrada. Sua primeira interrogação piscara na cabeça quando não viu Robin perambulando despreocupado enquanto todos se apressavam. Era costume do Arellano cabular o primeiro horário.
Um "oi" animado saiu dos lábios de M/n para Finney, que respondeu com um "e aí" tímido. — Fi, você sabe do Robin? – andavam devagar, perdendo lugar no refeitório, lentos para as arestas quando juntos.
— Ontem eu fui na casa dele pra ajudar com os estudos, como a gente tinha combinado, mas nem falar direito ele conseguia. Disse que, se não viesse essa semana pra escola, significaria que a febre piorou e que a gente podia ir ao cinema sem ele. – informou com desânimo, trombando em alguns ombros por focar mais no corpo ao lado que nos vários à frente.
— Ontem mesmo ele tava fazendo o nariz de gente babaca sangrar… – um biquinho de chateação protuberou nos lábios de M/n ao que a voz interna ecoava na cabeça: "a gripe não podia esperar mais um cadinho? Podia até voltar em dobro depois!" — Mas que droga! Robin era quem mais queria ver o filme. – a vadia sem coração dava descarga nos planos, como de costume.
Finney nutria a mesma frustração, mas não conseguia evitar sorrir para M/n. Ele achava a expressão do outro tão fofa! E M/n sequer percebeu, concentrado demais em chutar pedras-imaginárias-antiestresse piso liso à frente. O destino foi bondoso com o garoto, não lhe enviando nenhuma canela azarada para colorir.
— De qualquer jeito, não é como se fosse dar certo. Seu irmão com certeza não toparia levar a gente. – Finney murmurou convicto, sem saber que o quadrado havia entrado no círculo após longos minutos de insistência patética.
— Na verdade... – ao transparecer da dúvida, os olhos de Finney transbordaram esperança na direção de M/n. — Precisei oferecer minha mão de obra em troca, mas o cabeludo aceitou sim.
— Que massa! Pelo menos alguma coisa deu certo. Mas então… Como vai ser? – Finney escorreu um braço em volta do pescoço de M/n, aproximando-se para ouvir bem.
Páprica temperava as bochechas jovens.
As horas monótonas de algarismos e parágrafos terminaram em perfeita sincronia com o fim do lacrimejar das nuvens.
Tempestades eram frequentes naquela estação; M/n estava cogitando orar ao pé da cama pela imunidade daqueles que importavam para o seu fim de semana perfeito.
Ele voltava para casa na companhia de Finney, as borrachas dos tênis arrastando na água que escurecia o concreto de uma calçada direita.
Avançavam lentamente sobre os pingos de maio.
Porque rir e andar não era uma união muito harmoniosa.
M/n havia pedido ao amigo que o fizesse sorrir, e Finney contou uma piada terrível. M/n não esperava algo tão ruim e ria justamente pelo baixo nível.
Os dois não faziam questão de que o tempo voasse.
— Pulguinha!
Uma voz alta e conhecida chamou à distância. Girando os calcanhares, o par notou Vance ainda na entrada do colégio, encarando-os.
— Aonde pensa que vai?
M/n ficou na ponta dos pés, inclinando a parte superior do corpo para frente, como se isso ampliasse a voz. — Ué, tô indo embora! – devido à distância, o diálogo seguia em tons elevados.
Ele planejava ir pela rua mais longa, querendo passar mais tempo com Finney; sempre fez assim, e, quando o amigo pousava no lar, ele concluía o restante do caminho sozinho.
Entretanto, nos últimos dias, surgiu um empecilho chamado Vance, que com todos os retratos grudados nos postes e estampados nas caixas de leite, adotou um lado protetor que não conhecia muito bem.
— Nem fudendo, pode voltar! Você vem comigo, pirralho.
M/n sabia que protestar não adiantaria; seu irmão era capaz de apagá-lo e carregar seu corpo inconsciente até chegarem em casa. Finney não morava tão longe dali, regressar era tranquilo. Então, M/n se despediu do garoto com um longo abraço, pensando se encerrava o contato com um beijo na bochecha ou não.
— Tchau, Finn! – o menino em colapso disse sem freios, estalando rapidamente os lábios no lado esquerdo do rosto alheio e correndo rumo à versão alternativa da Cachinhos Dourados, que testemunhava toda a cena com um sorrisinho no canto da boca.
— Até… – Finney entrou em parafuso, tocando com os dedos a pele beijada. — amanhã…
Vance usaria uma identidade falsa para entrar na sessão com dois menores de idade. Concluída a parte complicada, deixaria Finney e M/n por ali. Quando o filme acabasse, bastaria que os garotos se misturassem na multidão ao saírem. Poderia dar errado?
De cabo a rabo.
Depois de pedir a identidade, a ruiva atrás do balcão passou a encarar Vance fixamente. Naquele momento, só se ouvia o barulho do chiclete que ela mascava.
— O que foi? – Vance perguntou, engolindo o "porra" que quase saiu no fim da frase.
E, logo atrás do embaraço, os orquestrantes aguardavam.
M/n sentia o nervosismo de Finney; ele estava inquieto, provavelmente pensando no pior. M/n queria segurar a mão dele, mas ambos estavam ocupados demais tentando manter o equilíbrio com a quantidade de besteiras que compraram.
— Eu tenho a genética boa. – Vance abriu um falso sorriso galanteador para a mulher, certeiro, ainda que zerado na sinceridade.
— Vai logo. – ela devolveu o 'documento', resmungando um "xispa" e gesticulando com os dedos.
M/n sorria tão largamente que as maçãs do rosto doíam. Finney estava desacreditado; tinha em mente os piores finais e, no fim, tudo deu certo.
Os dois trocavam risadinhas entre si enquanto Vance, liderando o caminho, sussurrava os piores xingamentos que poderiam sair da boca de um ser humano, jurando que nunca mais faria algo do tipo. Ele tinha absoluta certeza de que sentira a pressão abaixar quando a possibilidade de ser pego pintou a cabeça. Vance não queria ter outro papo com a polícia.
Uma boa grana por pouco não foi desperdiçada no tempo em que M/n e Finney desbravavam a fileira de seus acentos. Como era fim de semana, o cinema estava cheio. Era impossível chegar às poltronas em completa plenitude; no mínimo, uma cotovelada levaria. Seria honroso manter todos os grãos de milho dentro do balde naquele cenário caótico.
Vance colocou o capuz de seu moletom; tentaria ser discreto ao voltar.
Todo esse cuidado parecia um exagero, afinal, estava tarde, os funcionários trabalhavam no piloto automático àquele patamar da lua, com a cabeça já sentindo o macio do travesseiro.
Mas o loiro aprendera a não dar brechas após seu primeiro vacilo.
Vance deixou bem claro para M/n que, quando o filme acabasse, eles deveriam esperá-lo na praça em frente ao cinema e que, se não os encontrasse, daria uma surra tão forte nos dois que eles adquiririam a habilidade de girar a cabeça em 360 graus.
Não era verdade, mas o truque geralmente funcionava.
Geralmente.
— Se você ficar com medo, pode segurar na minha mão. – Finney havia proposto a M/n, sem ter noção do efeito que aquela frase, contida na doce campânula de sua voz, tinha sobre o garoto na poltrona ao lado. Caso estivesse ciente, faria o mesmo com mais intenções.
M/n sorriu acanhado, com as bochechas temperadas. Ele não sabia o que dizer, pois só tinha estudo nos tufões que gelavam o interior, oriundos do anseio que guiava os movimentos desequilibrados e majestosos das borboletas nascidas no intestino.
Felizmente, uma lagarta miudinha subiu prematura pela garganta e mandou o menino dizer: — Valeu. – a palavra automática, tão baixinha, pingava rouquidão singela.
Mas Finney ouviu e retribuiu os lábios esticados, encantando de ponta a ponta, porque, enquanto os trailers passavam, o foco dele não era nenhum outro além de M/n.
Finney sentira o temporal mais cedo, ainda no caminho para o cinema; na calçada, enquanto falavam sobre o filme que estavam para ver, ele vomitava borboletas toda vez que os lábios se separavam.
Era confuso e diferente, mas especialmente recíproco.
Assim que o filme começou a rodar, a trilha imersiva dominou os ouvidos e a cena instigante capturou os olhos de todos ali.
Foi cômico quando Finney, na primeira transferência de tensão, agarrou a palma de M/n. A união se formou por impulso e se encerrou pela mesma razão. Finney, envergonhado, encarava o outro garoto.
E, juntando as palmas novamente, M/n acalmou o bater das asas. — Pode segurar minha mão também.
A noite se moldou no entrelaçar dos dedos, laço que só era rompido quando precisavam levar pipoca ou refrigerante à boca, coisa, inclusive, evitada pelos meninos.
Os corpos se rendiam ao elo crescente e era confortável demais só estar como estavam.
Aos poucos, o sentimento deixava de ser uma dúvida.
E, além da paixão faiscando, também era compartilhada a infeliz decisão de deixarem os baldes de pipoca no colo; os grãos estourados voavam para todas as direções com os constantes sobressaltos nas poltronas.
Tanto M/n quanto Finney não tinham o costume de consumir filmes de terror; toda a empolgação nasceu através das maravilhosas descrições que Robin fazia.
O resultado? Dois garotos impressionados e apavorados na quarta fileira em frente ao telão.
'A enigmática figura detentora da máscara pálida surgiu na traseira interna do carro, para o horror da babá na dianteira. A trilha sonora subiu quando Michael Myers rodeou o pescoço da pobrezinha com as próprias mãos.' O susto de M/n superou o da moça, e só não foi vaiado porque grande parte da sala gritou junto.
Finney já previa. Ele era mais rendido pelas cenas onde a tensão silenciosa se construía; ficava sem respirar nesses momentos.
Fora o lanterninha cegando os garotos, perguntando o que dois moleques desacompanhados estariam fazendo numa sessão como aquela e que, pelo nervosismo, Finney quase deu com a língua nos dentes, tudo ocorreu perfeitamente bem. O "tio" no banheiro foi o maneirismo usado.
Durante a subida dos créditos, as pessoas passaram a deixar a sala, comentando fervorosamente sobre o longa enquanto preenchiam o espaço rumo à saída.
M/n e Finney mesclaram-se no mar de gente. M/n pensava na fita vhs que compraria para rever o filme com Robin, e Finney procurava pelo impulso necessário para espremer a espinha do coração.
E ele encontrou.
Finney abraçou com força o surto repentino de coragem que lhe cutucou a costela, guiando M/n para dentro da redoma onde as borboletas poderiam eclodir.
Nenhum deles esperava que o primeiro beijo na boca fosse acontecer na cabine do banheiro de um shopping.
Foi mágico.
O contato inexperiente, o medo de ser pego, a inexplicável sensação de experimentar algo novo e o desejo de permanecer naquilo… eram o tato, o receio, a questão e a vontade que faziam daquele momento uma linda explosão.
M/n queria prolongar o desastre florido que chamava suas borboletas para voarem sobre ares com cheiros, então, naquela noite, trilhou o caminho mais longo.
Não esperaram por Vance.
Na calçada da casa de Finney, com os pares de mãos coladas, aquele que residia nas quatro paredes às quais dava as costas abria a boca para convidar sua lasca de peito a passar a noite, mas lembrou-se do pai fora de si, e a frase morreu antes de nascer.
M/n amenizou a própria jornada.
Apaziguou forçadamente e disse que ficaria bem.
O adeus veio no formato de um selinho.
Naquele instante, para M/n, o dia havia sido perfeito.
Mas não foi, e ele só saberia disso amanhã.
Se a cabecinha ingênua tivesse tido um vislumbre, naquelas vinte e quatro horas, ele teria abraçado o irmão uma última vez, beijado a testa de Robin até salvá-lo do resfriado e transformado aquele derradeiro selinho em Finney num beijo que seria renovado até o laranja tingir o céu, lapidando, assim, os milhares de segundos antes que tudo zerasse.
Talvez o garoto perdesse as boas memórias com o tempo.
Mas o sentimento era uma chama que flamejava até o fim.
Um sábado de 78 seria um dia eterno para M/n.
Porque no fim da rua, iluminado pela fraca e falha luz de um poste, ao lado de uma van preta, um homem pedia por ajuda.
Suas compras haviam caído no chão.
E M/n nunca mais foi visto depois de sábado.
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p a i x ã o
Quero colar tua pele na minha
te despir de tuas agonias
te elevar a quinta dimensão
te dar prazer, muito além do vulgar tesão
transbordar teu coração
te fazer gemer, gozar. . .
e sentir, tua alma voar livre com a minha, unida, misturada na imensidão que chamamos
paixão.
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Amar é deixar ir
Gosto de imaginar uma vida contigo cheia de possibilidades e com muitos desafios, porque em todos esses momentos passaríamos juntos. Não imaginava que o amor iria com a minha cara e batesse na minha porta tão cedo, mas então você chegou sem avisar e me deixou vulnerável para qualquer sentimento que me permitiu sentir. A dor de cabeça é frequente quando paro para pensar a onde o meu coração escolheu ficar e mesmo sabendo que existe a possibilidade de se machucar, ele insiste em te acolher e deixar você fazer o que quiser. Não tenho controle dos meus pensamentos e da minha imaginação quando se trata de nós, porque é uma gama de planos e sonhos que quero viver com você mesmo sabendo que a nossa história não irá acontecer, você é bom demais para mim e quando olho para a pessoa que me tornei em frente ao espelho entendo porque muitas pessoas decidiram ir embora da minha vida, só restou um corpo sem alma, sem essência e apenas uma casca que cobre as minhas cicatrizes e se existisse a possibilidade até ‘’eu’’ fugiria de mim mesma. Vou permitir sentir o que tiver que sentir, irei amar, sentir saudades, sentir vontade de ligar e de mandar mensagem, irei fazer planos, sorrir por pensar em você e ouvir a sua voz, sentir o meu coração disparar quando chegar uma notificação sua ou ligação, irei colocar a passagem até a sua residência na sacola de compras do site de viagens e idealizar uma futura compra para chegar até você, irei inventar nossa história e como seria nós dois juntos mesmo sabendo que não irá acontecer, não tem como dar certo, você é do mundo, livre, sonhador e a minha pessoa é simplesmente uma pessoa, estou apenas tentando ficar viva ao final do dia para poder conversar um pouco contigo antes de entrar em um sono profundo onde tenho sonhos maravilhosos que vivo com você, mas são apenas sonhos que não irão se realizar. A parte de amar você e saber que esse sentimento irá ficar guardado dentro de mim é desesperador, pensar em você com outra pessoa e vivendo os nossos os sonhos e a nossa história é triste, mas a sua felicidade é a minha, não importa se irá doer feito um inferno, colocarei o sorriso no rosto e falarei para mim mesma que ‘’me permitir amar novamente e me senti viva como nunca, amei, desejei, pensei, sonhei, almejei, sentir saudades e sentir um amor puro e através disso me sinto humana por tudo o que ele me proporcionou e agora seguirei em frente como sempre e quem sabe no final a gente possa rir de tudo isso’’, amar é deixar ir, cuidar, proteger, desejar coisas boas, abrir mão por ter a consciência de que você não pode fazer aquela pessoa feliz, infelizmente não é fácil, mas não podemos segurar algo que não é nosso e com isso espero que onde você estiver e com quem estará ao seu lado que ela te faça feliz como nunca conseguir fazer, tudo o que vivemos será guardado na parte mais pura do meu coração e carregarei o som da sua voz como uma lembrança viva que me fará companhia no caminho que irei seguir, um caminho que andarei sozinha.
Elle Alber
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Não sei dizer se realmente é fingimento da sua parte ou não consegue perceber de fato o quanto o sentimento que me transmite mostra-se como base o interesse. Porém, jamais quero afirmar que age intencionalmente, mas torna-se confuso todo esse comportamento de quero ter por perto com o de não quero ter por perto. O fato é que todo este seu comportamentome consegue me deixar confusa. Contudo, quando me vejo em situações de vulnerabilidade de chegar a ser manipulada normalmente costumo fugir, tenho medo de ficar sempre vunerável a um sentimento ou pessoa que no final tem tudo para dar errado. Pois onde não existe espaço para a reciprocidade, não há possibilidade de florescer quaisquer que seja o sentimento bom.
Então... se ainda der tempo de fugir, assim o faço. Porque tudo é questão de escolhas e continuar te amando sem entender qual é o meu lugar na sua vida é também uma forma de resposta da sua parte. Entender que tudo é questão de como enxerga e interpreta os sinais que recebe ao qual em alguns momentos vem acompanhado da falta de reciprocidade. No final sempre é bom encarar que esse também de de fato é uma forma de resposta. Só não permita parar no tempo por questões que insiste em alimentar involuntariamente e indiretamente a sua consciência.
Todo e quaisquer sentimento deve ser nutrido e transmitido sem cobrança, para ser leve e livre pra que assim possa querer darr-te uma resposta. Pois a partir do momento em que se tem que cobrar o mínimo que você já deveria receber do outro por já fazer muito mais do que até mesmo vai além dos seus esforços você está aceitando migalhas e dando mais que seu coração, entregando sua alma.
A partir do momento que percebi que estava entregando tudo o que tinha e mais um pouco a você e recebendo o mínimo, decidi partir, melhor não estar com alguém que quando mais preciso não entende minhas dores, não entende minhas fases, que na verdade só gosta de estar comigo quando estou bem.
Alguém que tem vergonha de estar ao meu lado não me merece. Eu decidi que a partir de hoje nunca mais entregarei meu coração para ninguém que no mínimo não me trate como se eu fosse a última pessoa da terra, mas antes preciso mais uma vez me curar e juntar os caquinhos do meu coração.
@rascunhosdeescritas + @pecaveis para @chovendopalavras
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