#eu só não conseguia formular uma resposta na cabeça
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tenho uma pequena divagação sobre grande sertão veredas que eu acabei de ter e eu achei que seria interessante compartilhar com vc. gostaria de falar também, que eu acabei de ler o livro, primeira leitura. hahah importante levar isso em consideração
fala-se muito sobre os sentimentos de não aceitação do riobaldo na história, mas eu parei para pensar no que diadorim pensava. pois vamos imaginar que ele fosse mesmo uma mulher que se vestia de homem por quaisquer razão que fosse: o que diadorim pensava sobre os sentimentos que riobaldo tinha por si? se ela sendo mulher e desconfiando que aquele amigo dela a via como homem e isso não o impedia de sentir atração e afeto por ela? pq ela também teria, dado as circunstâncias, a ideia que o próprio riobaldo disse algumas vezes: que o amor entre dois homens não podia acontecer; era impossível. e ela via no riobaldo momentos de ciúme que ele teve (lá no começo qnd alguém mencionou um fulano que era amigo do diadorim e o riobaldo deu umas voltas mas no fim confessou que o que ele sentia era ciúmes e até "confrontou" o diadorim, sabe? eu adoro essa cena) - e o que será que ela pensava? tipo algo, "esse homem que me vê como homem e age desse jeito comigo?"
ou ainda. diadorim que não era mulher - não se sentia, não queria ser - encima de todas essas questões que eu falei. além disso ainda o fato de ele não se sentir mulher e viver como homem pq era o que ele era de fato, e como se já não bastasse isso olha só: ele gosta de homens também.
eu fiquei me perguntando isso sem nenhum fim ou conclusão então as ideias estão meio jogadas mesmo hahah
Oii!!!
Sua pergunta me deixou muito feliz!!
Então eu fui reler a parte em que o Riobaldo chama o Diadorim de meu bem sem querer e a reação do Diadorim é de desprazer. Depois parece q ele dá uma risada sem graça.
Além disso eu não consigo chegar na conclusão se o Diadorim sabia que o Riobaldo gostava dele, pq apesar do Riobaldo ser muito romântico na cabeça dele, fora dela ele não é.
Eu não tenho uma boa resposta pra essa pergunta até agora, desculpa :(
Mas assim, se vc ler a parte em que o Riobaldo chama o Diadorim de meu bem e comenta sobre os olhos dele, você vê o Diadorim desconfortável e desprazido. Qnd eu leio essa parte eu me lembro de quando aqueles homens chamaram ele de delicado e ele saiu na porrada. Não posso dizer como o Diadorim viu esse momento, mas qualquer que foi a interpretação dele, ele não gostou.
Eu acho que independe de do Diadorim ser homem ou mulher ele teria que ter uma pequena jornada para entender e aceitar que o Riobaldo gostava dele como homem e tá tudo bem com isso, de mesmo modo que o Riobaldo precisava lidar com sua homofobia internalizada.
Eu pessoalmente, vendo o Diadorim como um homem trans, acho que se o Riobaldo beijasse o Diadorim ou tornasse os sentimentos dele claros como água o Diadorim ia empurrar ele e ir embora. Depois dele processar tudo ele iria voltar e então eles teriam um relacionamento amoroso.
#ask#moony1st#grande sertão veredas#riobaldo e diadorim#mds que vergonha por demorar tanto pra responder uma pergunta tão simples#eu só não conseguia formular uma resposta na cabeça#mas muito obrigada mesmo por ter me mandado essa pergunta#ela me deixou muito feliz
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Capítulo 2
Leo nunca desejou tanto a morte quanto quando recobrou a consciência. Tudo em si doía. Ele se encontrava fisicamente restringido, em algo que julgou ser uma maca de hospital. Braços, pernas, pescoço e tórax firmemente presos com algo que queimava a pele. Estava frio, percebeu ele com horror que estava nu. Mas mesmo o ardor de suas amarras, mesmo a brasa queimando firme em seus pulmões ou o pavor de estar nu, maculado e indefeso, nada disso se comparava com a dor em seu cérebro. Ele teria ficado feliz ao perceber que não estava cego, se isso não significasse que a luz estivesse penetrando através de suas pálpebras, e queimando suas córneas. E som, havia tanto som. Ele não conseguia se lembrar de quando não foi capaz de ouvir sua respiração ou o martelar do próprio coração. Seu cérebro estava sendo bombardeado por todos os lados, e Leo não conseguiu se conter a tempo de deixar escapar um grito doloroso e angustiado do fundo de sua garganta, o choque o fazendo novamente desmaiar.
- Devo admitir que esperava mais de você, Leo Mangi, filho da grande matriarca Ísis Mangi, o incubador mestiço de Matteo, aquele que foi responsável por dizimar sozinho metade dos exércitos do Senhor das Sombras e da Noite. E aqui está você, subjugado e assustado como um filhote ferido em minha maca.
- Imagino que o Alfa da Constelação Lúpus sabia que você nunca teria a presença de espírito necessária para reclamar seu posto de sucessor, e por isso nem mesmo se importou em reconhecê-lo como tal - continuou debochando o homem.
A mente de Leo trabalhava incansavelmente tentando assimilar as novas informações. Ele era uma besta? Seu nome era Mangi? Seria Mangi o primeiro nome que tivera? Alfa Lúpus? Ele mal sabia o próprio nome, ele precisava dizer a eles que haviam pego a pessoa errada.
O homem se aproximou da maca onde Leo se encontrava, e o forçou a abrir os olhos. Leo tentou recuar diante da invasão, a luz causando uma dor penetrante em seus olhos, e se percebeu gritando de dor. Quando o toque deixou seu rosto, ele pôde perceber com espanto, que dessa vez não houve choque ao produzir som.
- Sim, você tem permissão para falar, por enquanto - esclareceu o homem ainda ao seu lado, e quando Leo não falou, ele continuou - você sabe onde está?
Leo abriu a boca, mas com horror, percebeu que não sabia como formular as palavras que estavam em sua mente. Ele tentou, mas apenas sons sem sentido saíram do fundo de sua garganta.
- Oh. Você fez um trabalho e tanto fritando o próprio cérebro. Consegue entender o que eu lhe digo? - quando Leo não mostrou qualquer sinal de resposta, o homem completou - acene a cabeça verticalmente para sim e horizontalmente para não.
Após um momento, Leo acenou positivamente.
- Ótimo. Vejo que seus olhos foram prejudicados, sua pupila está extremamente dilatada, vou diminuir as luzes, e mesmo sabendo que esta dificilmente será uma opção, devo acrescentar que não hesitarei em lhe causar dor, com qualquer tentativa de fuga de sua parte.
Após um momento, Leo acenou de forma positiva novamente. E então, a dor em seus olhos diminuiu o suficiente para que ele arriscasse abri-los.
Ao olhar em volta, ele sentiu as lágrimas molharem suas bochechas magras. Ele podia ver. Era como se houvesse uma grande cortina de fumaça, mas ele podia ver um homem em vestes brancas acima de si, ele estava em um hospital, embora não soubesse onde. Ele sorriu.
- Você sabe onde está? - repetiu o médico
Ele olhou novamente ao redor, e balançou a cabeça de forma afirmativa, e logo depois fez um pequeno movimento na horizontal, na tentativa de demonstrar confusão, apesar de ter certeza de que estava em um hospital, não sabia exatamente onde.
- Você sabe seu nome?
Leo fez que sim com a cabeça, o médico pensou por um momento e sumiu de vista, voltando com três folhas de papel, e pôde ver com um foco maior, quando algo que só poderia ser descrito como uma grande lupa, foi colocado entre seu rosto e o primeiro papel que o médico segurava em sua linha de visão.
- Você pode ler?
Leo semicerrou os olhos, e pôde distinguir o nome Alice Mangi escrito em letras grandes, ele fez um novo movimento afirmativo.
- Este é o seu nome?
Não
- Este segundo é o seu nome? Pense com cuidado.
Não
- Este?
Leo assentiu ao ler novamente "Leo Mangi" em letras garrafais.
- Gosto de pensar em mim como alguém benevolente, pelo menos com os que dividem a mesma língua materna que eu, então como cortesia, lhe tratarei como igual por hora. Mas tenha em mente, que assim que sair por aquela porta, você será para sempre In-468. Teve sorte de nascer um incubador.
Leo olhava para o homem com uma expressão curiosa em seu rosto, ele não conseguia entender sobre o que aquilo tudo se tratava.
- Veja, este é o seu cérebro - disse o homem ao remover a grande lupa e apontando para uma espécie de holograma que se projetou acima de Leo - vê como parece natal? Ele não deveria estar dessa forma. Cada luminosidade, representa uma memória, quanto mais vibrante, mais danificada e de difícil acesso está.
Praticamente todo o cérebro de Leo estava iluminado, exatamente como uma árvore de Natal, pensou ele a contragosto. Haviam pontos que brilhavam intensamente, e alguns que havia apenas uma fina camada luminosa, sempre conectados aos de maior luz.
- Faremos um tratamento inicial de recuperação, e ao longo de algumas semanas você deve recuperar sua capacidade de fala, bem como a maioria de suas memórias menos danificadas. Após o tratamento, será enviado a alguma família para que possa cumprir seus deveres perante Aquele Que Tudo Vê.
Houve uma pausa, então o m��dico estava olhando diretamente nos olhos de Leo, rostos a centímetros de distância
- Como último conselho, eu desencorajo fortemente qualquer tentativa de heroísmo vindo de sua parte. Você não precisa estar inteiro para servir ao seu propósito, e quanto mais opoente você for, mais persuasivos serão os meios para torná-lo dócil.
As últimas palavras do homem saíram com um sorriso sádico e um olhar de quem esperava que surtisse o efeito oposto. E sem nenhum aviso prévio, a luz estava em toda parte novamente, machucando os olhos de Leo, o suficiente para que ele mal sentisse quando algo espetou seu corpo, lançando fogo por todas as suas veias e vasos sanguíneos.
Nos dias em que se seguiram, Leo mal pôde se manter consciente, e em seus poucos momentos de consciência, sentia uma dor avassaladora em seu cérebro. Seus ferimentos nunca foram tratados, ele nunca pôde sair de��sua maca.
---.---
Leo estava em um campo aberto, grama alta, o cheiro de natureza inundando suas narinas, se alojando em seus pulmões e trazendo paz para seu coração.
- Você sabe, minha criança, que este posto é por direito, seu - seu pai lhe falou.
- E eu ficarei contente de entregá-lo ao Frederico quando for a hora.
Após um momento de silêncio, ele completou:
- Você sabe, eu tenho muito amor e respeito pela alcateia, pelos costumes, por você meu pai, mas se eu escolher ser o alfa, tendo a chance de passar a responsabilidade adiante, eu nunca mais poderia voltar para casa. Mamãe já odeia o suficiente o fato de seus genes serem predominantes em mim, ela encararia tal atitude como traição, uma vez que ela já acredita que esta é a razão para que eu negue o sagrado feminino para me tornar um incubador.
- Aqui pode ser seu lar, alcateia também é sua família – seu pai lhe respondeu com um suspiro cansado.
- Eu sei, nunca foi minha pretensão negá-lo, mas me parece muito drástico e definitivo nunca mais ver minha mãe, meus irmãos...e até mesmo o Eduardo - completou Leo, engasgando a última parte. O que seu pai pareceu notar, uma vez que assumiu a posição protetora de alfa ao perguntar.
- Qual o problema, meu filho? Ele não é bom pra você?
- Não, não é isso. Ele é ótimo, tão bom quanto um padrasto poderia ser, talvez até melhor - ele suspirou - é o bebê que me preocupa. Tenho medo que ele tenha os genes do pai predominantes, e que sua vida seja como a minha - Leo admitiu com os olhos cheios de preocupação mal escondida.
- Sua primeira lua cheia se aproxima - o Alfa mudou de assunto, desconfortável - já escolheu um nome?
- Leo - respondeu ele com um sorriso - Matteo me nomeou, significa valente como um leão.
- Você e Matteo são bastante próximos, vocês dois não... digo, eu achei que ele e Alice estavam...
- Não! - interrompeu Leo, corando - Matteo é meu melhor amigo, e além disso, ele e Alice se pertencem
- Você parece nutrir sentimentos especialmente fortes por Matteo - observou seu pai - Você sabe como não temos controle sobre quem nosso coração escolhe amar.
- Bem, eu amo Matteo, e também amo Alice, assim como amo você, mamãe, Fernanda, Frederico, Eduardo, Lucas e mesmo Isaque, que ainda nem nasceu. Vocês todos são igualmente minha família, e eu os amo da mesma forma.
-Leo? - seu pai o chamou mais uma última vez - posso dar a você um segundo nome?
---.---
Leo piscou para o quarto frio e iluminado, e em um segundo, o mesmo médico de antes apareceu novamente.
- Eu sou o doutor Lopez, percebi que não me apresentei em nosso último encontro, como se sente In-468? Vejo que suas memórias estão retornando, seus sinais vitais estão ótimos, espero que em breve possamos obter todas as informações que sua mente guarda, para que você possa ser finalmente mandado a uma boa família pura, para que possa cumprir a seus propósitos.
Quando Leo não respondeu, o médico perguntou:
- Você ainda não pode falar?
Leo balançou a cabeça negativamente.
- Curioso, a essa altura, com suas memórias cedendo, achei que algo básico como falar, seria a primeira coisa a voltar. Não faz mal, em breve você começará a ver um psíquico, e sua faculdade oral pouco importará - o médico disse aplicando mais uma dose de um líquido amarelado no acesso de Leo.
---.---
A noite estava quente, todos estavam bebendo, e festejando ao redor da fogueira. Leo pode notar que até mesmo Alice, sua irmã, emanava excitação, enquanto segurava firmemente a mão de Matteo. Seria a primeira lua cheia de ambos, e mesmo que Alice não possuísse os genes do lobo de forma dominante, ela ainda era parte da alcateia. Leo encontrou os olhos de Matteo, e se sentiu corar ao se lembrar dos trajes que vestia. Note que para os lobos, não há sentido em excesso de roupas em uma noite de lua cheia. Na maioria das vezes, cada um vestia o que fosse mais confortável para a hora da transformação, mas a primeira lua cheia de jovens lobos, é um evento de celebração, e existem roupas específicas para esse rito. Em grande parte, para que a primeira transformação seja o menos desconfortável possível, e em parte para que os mais jovens se sintam pertencentes a alcateia, algo sobre ver todos iguais. E hoje, bem, hoje era a grande noite de Leo. Não somente sua primeira transformação, como o garoto mestiço rejeitado pela magia da mãe e não merecedor da magia do pai. Mas como sucessor do grande Alfa Marcos De Cataguá. Em poucos minutos, todos os olhos estariam nele, ansiosos por suas palavras, ávidos para ouvirem seu discurso ritualístico antes de se tornar oficialmente um lobo da alcateia da constelação lúpus, e estar usando apenas um saiote e algumas miçangas não ajudavam em nada, mesmo que Leo tenha passado seus últimos meses trabalhando em seu peitoral, para não ter do que se envergonhar com relação aos outros machos da alcateia.
Quando o sinal em sua clavícula começou a coçar, Leo soube que era a hora. Ele e sua irmã foram conduzidos até o centro de um semicírculo que se formou de maneira natural. Seu pai lhes pediu para ajoelharem, e ele mesmo também se ajoelhou, pegando um pouco de terra lamacenta e passando em seus rostos e seus corações, perto de onde havia, em ambos os peitos dos jovens, uma marca de nascença, com o formato da constelação lúpus. Marcos parecia ainda maior quando ficou entre seus dois filhos, segurando as mãos de ambos e se levantando com eles ao dizer:
- Eu, Marcos De Cataguá, líder e alfa da alcateia da Constelação Lúpus, dou minha benção e minha permissão para que estes dois jovens, Leo e Alice de Cataguá Mangi, se tornem parte de nossa alcateia com o levantar da lua cheia, se assim for a vontade em seus corações. Existe algum lobo aqui presente que seja contra esta nomeação?
Após vários uivos de aprovação, Marcos se virou para Leo e Alice, e disse:
- Repitam depois de mim:
- Eu, Leo Antônio de Cataguá Mangi
- Eu Alice de Cataguá Mangi
- Juro pelo coração que bate em meu peito, pelo solo sagrado que me abriga, pela lua que rege minha vida e as estrelas que me guiam, que viverei sob os preceitos e o código da alcateia Constelação Lúpus, honrarei meus antepassados e meus sucessores herdarão a matilha como sua família, para honrar e proteger, agora e sempre.
Quanto mais tempo passava, mais o peito de Leo e Alice queimavam. O do primeiro, por carregar os genes ativos de lobo, queimava de uma forma que doía, incitando a transformação, tanto que Leo mal percebeu quando sua irmã terminou sua parte do discurso e ele entendeu que agora seria sua vez de falar. Contudo, todo o pânico que começou a se formar em sua garganta desapareceu quando novamente encontrou os olhos de Matteo, que transmitiu toda confiança e admiração através do olhar para o jovem lobo.
- Eu Leo Antônio de Cataguá Mangi, filho do alfa da alcateia da Constelação Lúpus, Marcos de Cataguá, e da grande matriarca e líder de seita Ísis Mangi, juro pela terra, a lua, as estrelas e meu coração, desde agora honrarei com todos os deveres e obrigações como primogênito do alfa, até que Frederico de Cataguá tenha seu primeiro ciclo lunar que possa pegar o lugar que é seu por direito.
Quando terminou de falar, Leo percebeu que seu rosto estava molhado, e ele não sabia se era de dor ou emoção. Logo após o alfa entregou a cada um dos jovens uma garrafa contendo uma mistura de cachaça de cana de açúcar, mel e algumas ervas calmantes.
- Vai ajudar com a dor. Estaremos aqui a todo momento. Alice, não há nada a temer. Mesmo em nossa forma de lobo, o que fala mais alto é a alcateia, esteja você transformada ou não. Mas sinta-se livre para voltar com Matteo passar a noite em casa com sua mãe. - disse Marcos, a última parte, com uma tensão mal disfarçada, se afastando das crianças ao sentir sua própria transformação se iniciando.
Leo já estava de joelhos, havia secado toda sua garrafa, que se encontrava em pedaços no chão. Sua marca queimava e ele sentia que seria incendiado de dentro pra fora. Todo seu corpo irradiava calor, e ele não pôde conter o grito de pavor quando sentiu seus ossos se quebrando.
#dark romance#dark fantasy#dark aesthetic#werewolf#lobisomem#lobos#dragão#dragon#lua pálida#lua palida#leo mangi#alice mangi#dominic haddock#matteo dubois#tay j.r.correa#ptaylorssauro#ao3#book#livro#wattpad#manacled
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❛ is it my fault? ❜ // @notprinceadonis
a notícia do noivado de adonis chegou como uma flecha aos ouvidos de nicolás e como uma dor de cabeça, o tirou de sua paz e pareceu não passar com remédio algum. uma dor crônica, que como uma tragédia anunciada, parecia ocupar algum canto do seu peito desde o primeiro dia. a irritação tomou conta do seu corpo, porque de que outra maneira ele poderia reagir? começou a dar respostas curtas, a evitar passear pelo castelo em horários que pudesse dar de cara com o amigo e também não se mantinha muito tempo na mesa nos jantares. tudo que pudesse evitar, ele evitava… mas é claro, nunca foi tão fácil e nem iria se tornar só porque ele quer. as perguntas eram muitas, mas o medo de encarar adonis era ainda maior. a bagunça de sentimentos e ressentimentos que ele iria se tornar com certeza o impediria de formular uma mera frase. evitar era mais fácil. evitar significava que ele poderia assumir o que quisesse do outro e essa ideia viveria apenas na sua cabeça. não teria que ter sua resposta que com certeza seria apenas uma faca enfiada ainda mais fundo em seu peito.
é claro que mais cedo ou mais tarde iria acontecer e quando esse momento chegou, nico não poderia estar mais ridículo. era uma palavra dura, mas era a mais pura verdade. naquele momento, adonis havia resumido o príncipe da espanha em um homem de coração quebrado e muitas lágrimas, constantes. nico foi surpreendido pela voz de adonis enquanto tentava contar pela milésima vez o número exato de estrelas que conseguia ver. ele não tinha um objetivo real, aquilo sendo apenas uma tentativa falha de se distrair. seus olhos estavam atentos, mas seu rosto estava molhado e não iria secar tão cedo. seus ombros balançavam e só pararam quando a pergunta o fez sentir uma certa raiva sem motivo. o que você quer que eu diga? sua pergunta veio mais rouca do que ele imaginou, talvez porque não estava usando sua voz havia um bom tempo. que não é? pois saiba que eu não posso mentir dessa maneira. ele olhou para os pés do outro, seu rosto virando lentamente enquanto ele olhava sobre o ombro. se isso irá lhe tranquilizar ou lhe machucar, que seja. é óbvio que a culpa é sua. menti para mim mesmo durante todo esse tempo e agora tive a realidade escancarada na minha frente. ele escutou um suspiro vindo do outro, como se ele estivesse se preparando para falar, mas nico o cortou. o que quer que seja que tenha para me dizer, guarde para si mesmo. por favor.
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danilcc
Estava sentado no sofá, próximo da janela, no momento em que viu a neve caindo e isso acabou inspirando o brasileiro em uma música, desde cedo estava dedilhando em sua guitarra, com o fone me seu ouvido enquanto cantarolava qualquer coisa sem uma letra específica, apenas o suave de sua voz no ritmo em que as palavras que surgiam em sua cabeça pareciam formular. O tempo estava fechado e não parecia ser atrativo para que pudesse tocar, seria uma semana complicada sem trabalho, então precisava ocupar o seu tempo e gravar novos vídeos para ver se conseguia pelo menos um extra com isso.
Seu pensamento e suas preocupações, principalmente a que envolvia uma certa visita que faria na semana, fugiram de sua mente quando Daniel desviou por um segundo o olhar e viu Naseon, parando com o que fazia e tirando os fones de ouvido. “Seria bom fazer alguma coisa pro frio né? O que você acha?” Colocou a sua guitarra no apoio e o fone pendurado nela enquanto se aproximava do mais velho. “Eu sei fazer tteokbokki, não sou o melhor cozinheiro do mundo, mas acho que posso tentar. Você me ajuda?” Daniel podia soar um pouco infantil ali, mas ele realmente sabia fazer porque aprendeu na clínica, fazia parte de sua terapia e era um dos poucos pratos que conseguia preparar pra ele quando estava afim de cozinhar de verdade, e não só viver de macarrão instantâneo. “Só precisamos comprar algumas coisas no mercado antes”
foi tirado dos devaneios com a pergunta de daniel, apenas assentindo em resposta. ━ esqueci que você não sabe que sou terrível na cozinha. ━ jihan já sabia afinal sempre que estavam juntos naseon optava por comprar comida pronta por aplicativo ou ir em algum restaurante, não deixava o outro homem cozinhar porque ele já fazia isso diariamente então era legal sair da rotina mesmo que pra naseon fosse o contrario. como nunca precisou aprender a cozinhar não sabia fazer nada e aquele ano morando sozinho no complexo não o ajudou em nada, era capaz de queimar até pipoca, mas se alguém o ensinasse podia se sair bem, era bom com instruções e se esforçaria, além do mais seria legal retribuir de alguma forma a estadia ali preparando comida né? ━ se você me supervisionar e mostrar como fazer, tudo bem, acho que dá certo. ━ acrescentou entre um sorriso esperançoso antes de fitar o outro de cima a baixo e a si mesmo, como estavam dentro de casa o aquecedor ajudava a usar roupas de um tecido mais leve mas lá fora estava nevando então era melhor trocar. ━ vamos vestir algo mais quente, tá bem frio hoje. ━ e sabia que daniel não era criança, não precisava de suas orientações mas ficava preocupado com a ideia vê-lo pegando um resfriado então só acabou dizendo. pegou o celular e mandou mensagem pra jihan só pra avisar que iriam sair rapidinho, porque ele podia chegar mais cedo e ficar preocupado, quer dizer talvez não mas sentia que deveria mandar então só o fez, também pra conferir se ele não queria que comprasse alguma coisa.
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Depois que a chuva acabou.
ALERTA DE GATILHO.
Só gostaria de dizer antes que você leia, se você é sensível a esse tipo de conteúdo, aconselho que não leia meu conto a seguir.
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Naquela noite, o que eu mais me lembro é da chuva. Me lembro de sentir uma dor tão forte em meu peito, que minha respiração era pesada e queimava meus pulmões. Já não sabia se eram minhas lágrimas, ou a chuva forte que molhava meu rosto. Enquanto eu corria, só pensava nela.
Vislumbres de seu sorriso em um pôr do sol na praia, me faziam chorar ainda mais. Agora já não tinha mais volta. O que passou, passou.
Assim que virei a esquina de um pequeno bar, homens bêbados me encaravam assustados e alguns pararam suas jogadas de bilhar e me olhavam confusos.
Encharcada, tremendo por conta do frio noturno e com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, disse com a voz trêmula:
– Me diz que ela ainda está aqui.
A moça atrás do balcão, apenas abaixou a cabeça em silêncio.
Meu coração estava apertado e eu mal conseguia formular uma única frase como resposta.
“Por que não cheguei antes? ”.
“ Por que não me dediquei mais? ”.
“Por que não disse o que eu realmente sentia? ”.
Ainda em silêncio, a mulher deixou o balcão entrando na porta dos fundos. Quando voltou, carregava consigo uma pequena manta de algodão bege.
– Eu sei querida, não precisa dizer nada. – Ela me estendeu a manta e eu apenas me enrolei enquanto olhava para a chuva do lado de fora.
Fiquei sentada naquela cadeira de plástico por pelo menos uma hora. Depois que a chuva acabou, me levantei pesadamente e agradeci a moça do balcão.
– Você sabe querida, ela está em um lugar muito melhor que nós agora. Não tenha dúvidas que ela olha por você. Você é como minha filha também. Vá para casa e descanse, tome um banho e quando quiser, pode vir visitar, tudo bem?
Apenas concordei em silêncio e me retirei do bar que agora já estava vazio.
Enquanto andava, me lembrava de nossos momentos juntas, momentos lindos, lembrava de seus beijos e do jeito engraçado que ela emburrava quando só queria a minha atenção.
Eu ainda estava desacreditada que a pessoa que eu mais amava, havia ido embora, sem mais nem menos. Sem me avisar, sem conversar comigo uma última vez. A chuva agora, já não existia mais. Uma brisa gelada me arrepiava enquanto eu voltava para casa.
Uma pequena e estúpida briga, me tirou a coisa mais importante do mundo e agora, não tinha mais volta.
Agora eu sei que, cada um tem suas lutas e a dela, era grande demais para que ela suportasse. Eu? Segui em frente. Me lembro dela todos os dias, sou apaixonada por ela e vou guardá-la para sempre comigo, mas, eu não vou embora agora, não quero ir.
Quero ficar, e mostra-la as coisas lindas que esse mundo ainda tem a oferecer e só basta procurar.
Ainda quero viver coisas que nunca vivi.
Ainda quero ver, ouvir, experimentar coisas que nem sequer pensei que existiam.
Ainda penso em você.
Todos os dias.
E eu te amo
Hoje
Ontem
E para sempre.
By: Laura Vidal.
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Amor de Outras vidas - Capitulo 128
Gomes: Bom dia, bom dia...-entrando na delegacia- Ricardo...-lhe estendendo a mão
Ricardo: Bom dia doutor....-o cumprimentando
Gomes: Fico surpreso, de te encontrar aqui, achei que estivesse na Europa.
Ricardo: Situações extremas, exigem medidas extremas...-firme
Gomes: Já estou sabendo do ocorrido...-se referindo ao caso- dias dificeis?
Ricardo: Pois é, um mês se passou e o caso segue sem pistas e sem solução...montando pouco a pouco um quebra-cabeça
Gomes: como sempre, muito eficaz.- orgulhoso
Ricardo: Tive o melhor professor! -sorrindo
Gomes: Veio para falar sobre isso?
Ricardo: Gostaria, mas sem o "delegado" aqui...-fazendo aspas- não posso prosseguir.
Gomes: O delegado não está ai?--encarando o policial
Policial: Saiu de licença senhor…
Gomes: O delegado não está ai…-pensativo
Ricardo: Alguma idéia do que possa ter acontecido?
Gomes: Não, não…-encarando o policial- nenhuma.
Ricardo: Bom, eu preciso ir, já que aqui não vou conseguir nada, vou atrás de um recurso…-pegando a pasta
Policial: Com licença senhores…-saindo
Gomes: Gostaria de me acompanhar até a cafeteria? -diminuindo o som e se aproximando mais dele
Ricardo ficou um pouco confuso, mas ao olhar em volta percebeu que os dois estavam tendo aquela conversa na frente de todos, ele e o superintendente da policia eram velhos conhecidos, e Ricardo o conhecia bem. Não pensou duas vezes e aceitou seu convite, ele seria de grande ajuda para sua investigação, principalmente quando o assunto era, seu substituto.
Gomes: Eu vou querer um café, descafeinado por favor.-olhando o cardápio
Ricardo: Uma água por favor…--agradecendo a garçonete
Gomes: Aqui é o melhor lugar para conversarmos, a delegacia está sempre cheia…
Ricardo: Como preferir…--assentindo
Gomes: Fiquei bastante feliz quando soube que…voltou as suas atividades de investigador, eu sabia que você iria se dar bem.
Ricardo: Obrigada pela confiança…
Gomes: Espero que não haja rancor, pelo o que aconteceu-se referindo ao seu afastamento
Ricardo: Sem ressentimentos, apesar de ser algo que me causou bastante choque, eu entendo, ainda existe muito preconceito.-pensativo- mas agora eu estou focado em ajudar meus amigos a solucionar um caso de extrema importância para eles, independente do cargo que ocupo….
Gomes: Tem tanta coisa errada nessa corregedoria.-negando com a cabeça- preconceito seria o menor deles.
Ricardo apenas o encarou
Gomes: Me conta ai, o que aconteceu?-se referindo ao caso
Ricardo: Nada muito diferente do que a impresa está falando…-lhe entregando o inquerito- trabalhamos com a hipótese de um suposto acidente, mas não há a vitima, outra hipotese, sequestro, mas não temos pistas, e a outra assassinato, mas não há corpo, não há testemunhas, o carro também desapareceu…--enquanto folheava as fotos
Gomes: E isso?-apontando para uma foto
Ricardo: As alianças, encontramos nas buscas, Vanessa se casaria naquele dia, tinha um dia no SPA, mas algo a fez mudar seu trajeto…-pensativo- as entreguei para a sua noiva.
Gomes: Foi aqui que vocês procuraram…-vendo as fotos do local
Ricardo: O mais perto que chegamos de descobrir algo, e o mais longe também…-suspirando- vasculhamos toda a área...nada.
Gomes: Suspeitos?
Ricardo: Não há muitas provas para se ter algum suspeito, mas…-pegando uma ficha- Junior Gianetti, já teve problemas com a Vanessa…-o entregando- foi liberado alguns dias antes dela desaparecer-apontando-conhece
Gomes: Claro, é a minha assinatura…-o encarando
Ricardo: Eu sei, você autorizou a soltura de um assassino, ladrão e com indícios de psicopatia.- irônico
Gomes: Lembre-se Ricardo, assim como você, eu também tenho meus superiores…-pigarreando
Ricardo: Entendo, mas já te vi inúmeras vezes mudando cursos de alguns casos…
Gomes: Você não entende...-olhando para os lados- Foi por isso que te chamei aqui.
Na Fazenda
Esperei que minha mãe viesse me visitar novamente e disse que precisava dormir, ela respeitou, e me aproveitei disso para sair daquela cama, nada em meu corpo doia, e me dei conta disso quando me levantei, mas era a minha única chance, peguei umas roupas qualquer que estavam ali, pareciam com as toalhas de mesa de Eli, uma camiseta larga colorida, e uma calça larga também, porém um pouco mais neutra, estava ridicula, mas dava para o gasto. Acabei encontrando as minhas junto a chave do meu carro e minha carteira, achei melhor não sair com elas, e nem com o carro para não chamar atenção, peguei somente a carteira.
Para minha sorte, a casa tinha apenas uma andar, era enorme, mas as janelas davam direto para o lado exterior, me aproveitei disso para sair.
Tinha muita gente ali, todas vestidas com aquelas roupas ridiculas, foi até bom, facilitou que eu passasse batido por todos, era um lugar esquisito, escondido, acredito que muitos não saberiam da existência daquele lugar, Eli sempre foi um homem misterioso para mim, sempre me incomodou, aquele lugar era seu pelo que deixou a entender já que todos os tratava como senhor, então porque diabos ele atendia em um prédio antigo do Rio de Janeiro? Era algo que eu precisava descobrir, mas isso ficaria para depois. Avistei uma caminhonete um pouco afastada da casa principal, fui até lá da forma mais discreta que conseguia. Tentei forçar a porta algumas vezes mas estava trancada.
Najawa: Quer ajuda! -chamando atenção de Van
Me levantei rápido ao escutar a voz atrás de mim e acabei batendo a cabeça no retrovisor, o que fez com que o alarme disparasse, ótimo, mal sai de um coma, e quase arrumo outro.
Van: Merda! - passando a mão na cabeça
Najawa: Me desculpe…-desligando o alarme e indo até ela- machucou?
Van: Não…- fazendo cara de dor
Najawa: Não foi a intenção, perdoe-me.
Van: Tudo bem…-ainda sentindo dor
Najawa: Essa caminhonete é minha, o que estava fazendo aqui?
Van: Nada! Eu precisava…eu só estava…-tentando formular algo
Najawa arqueou as sobrancelhas
Najawa: Você poderia ter me pedido as chaves.-abrindo a caminhonete- É nova por aqui? Nunca te vi…
Van: Pois é, cheguei faz pouco tempo…-sem saber o que dizer
Najawa: Todos os aprendizes tem autorização para pegar os óleos daqui…-lhe entregando um frasco- mas não sem a minha permissão.
Van: Desculpe-me…-pegando o frasco
Najawa: Ninguém nasce aprendendo…-a observando- Simbólica né?-se referindo as tatuagens
Van: É mais uma questão de gosto rsrs…
Najawa: É de onde?
Van: Eu? -Najawa arqueou as sobrancelhas- Interior…
Najawa: Seu nome?
Van: Vanessa…mas pode chamar de Van...
Najawa: Sou a Najawa Van, instrutora de meditação guiada…
Van: Interessante…
Najawa: É ótimo, deveria tentar qualquer dia desses.--entrando no carro
Van: Eu adoraria…-a observando- aprender é sempre bom…
Najawa: Bom Vanessa! Tenho que ir ao mercado municipal, no centro..
Van: No Centro?
Najawa: Sim...-sorrindo- tenho que comprar alguns incensos e ervas…amo a medicina natural.
Van:Sempre tive interesse de aprender maia sobre isso…--simpatica
Najawa: É mesmo? -sorrindo
Van: Sim…-sorrindo- até conheço algumas receitas, esse mercado carioca é muito famoso, gostaria de conhecer.
Najawa: Eu adoraria te levar, mas hoje estou com o dia bem corrido, não terei tempo para um tour…
Van: Não tem problema, ficarei feliz apenas em te acompanhar, sabe como é, cidade pequena, a gente tem ânsia de conhecer a cidade grande…
Najawa: Bom, talvez eu precise de ajuda para novas receitas…-fazendo sinal para ela entrar
Entrei no carro e fomos o caminho inteiro falando sobre aquele assunto sem pé nem cabeça, minhas respostas eram "interessante", " isso parece bem interessante" "Estou impressionada" mas na verdade eu mal estava prestando atenção. Olhando as paisagens ao redor eu realmente não conhecia aquele lugar, eu nem sabia que aquilo existia no Rio, se é que estávamos no Rio né, pela demora que levamos para sair daquela estrada.
Ao chegarmos no centro, aquilo me deu uma certa angustia, eu havia ficado off por um mês, era difícil imaginar que há um mês as pessoas que amo estivessem lamentando minha suposta morte.
Najawa: Tá tudo bem?- a encarando
Van: Está...-sorrindo de canto
Najawa: Assustada com a movimentação?-rindo
Van: Hã?-sem entender
Najawa: Imagino que no Interior seja mais tranquilo não é?
Van: Ah sim, é...sim.-Olhando tudo em volta
Najawa: Bom, vamos entrar…--estacionando- você vai adorar esse lugar.
Van: É…-antes dela sair do carro- será que você tem um casaco para me emprestar? Estou com um pouco de frio…
Najawa: Frio?-franzindo o cenho- Mas tá um sol lindo lá fora…está doente?
Van: Não sei, eu não me dou muito bem com esse clima.-fungando
Najawa: Bom, eu tenho um aqui atrás…-pegando e olhe entregando- É um cardigã na verdade…
Van: Ta perfeito…-pegando
Najawa: Se quiser ficar aqui me esperando? Eu posso ir lá bem rápido e volto.
Van: Magina, não quero interromper suas compras, eu estou bem…-saindo do carro- vamos.
No café
Ricardo: Perai…-digerindo a informação- tá me dizendo que a soltura do Junior partiu do governador?
Gomes: Não sei se dele diretamente, mas partiu de lá…-pensativo- duas semanas depois de você ter sido destituído do cargo, muita coisa estranha passou a acontecer…
Ricardo: Tipo?
Gomes: Medeiros, Policiais sem nenhum curriculo, alguns com passagens sendo integrados, soltura de alguns bandidos perigosos…a lista é grande.--preocupado
Ricardo: Mas essas ordens partiram de algum lugar…
Gomes: Sim, mas não acredito que diretamente do governador…
Ricardo: E de quem?
Gomes: Ricardo, você já tem um currículo longo pra saber que o que mais tem nessa cidade é miliciano, governadores, deputado, prefeito, e até o presidente da republica.
Ricardo: Porque a Vanessa seria um foco deles?
Gomes: Não sei, mas eu sei que esse crime tem mandante, e na delegacia informante…--retirando algo do bolso- É por isso que te chamei aqui, porque lá é arriscado…
Ricardo:O Valter…--estranhando
Gomes: 3 dias antes do assassinato, ele encontrou essa mulher…a foto é de uma gravação, mas não foi usada nos autos, e essa gravação 2 dias depois foi excluída.-suspirando- não sei se isso pode te ajudar…
No mercado
Najawa estava entretida em suas compras enquanto eu apenas a.acompanhava, nessa altura eu já tinha comprado um óculos escuro, o que ela estranhou, mas passar de louca na frente dela era o menor dos meus problemas. Aproveitei que ela estava entretida com em uma das bancas e disse que iria ao banheiro. Sai do mercado e caminhei pelas ruas que eu conhecia bem, a empresa ficava a poucas quadras dali, pensei se tava certo eu fazer aquilo e cheguei a conclusão que não, mas eu precisava.
20 minutos de caminhada e logo estava ali, em frente a CIA Mesquita, foi inevitável a emoção de estar ali novamente, no lugar que eu havia dedicado toda a minha vida, eu estava tão confusa, ao mesmo tempo que estava ali tentando me esconder, meu desejo era de correr e entrar e dizer a todos que eu estava bem, que eu estava viva, enquanto eu encarava aquele enorme arranha-ceu, senti meu coração acelerar ao focar minha atenção em dois carros que chegaram praticamente juntos ai.
Edu: Bom dia…-descendo do carro
Clara: Bom dia Edu, Mai, Thais…-os cumprimentando
May: Bom dia irmãzinha...-sorrindo de canto para ela
Thais: Oi Clarinha...
Edu: Gatinha…-a abraçando de lado- tá bem?
Clara: Estou…-sorrindo de canto
Todos encaravam Clara com aquele olhar de "coitada" aquilo sempre a incomodavam, desde o que aconteceu todos a tratavam como se ela fosse um cristal bem fragil, e apesar de entende-los, aquilo a incomodava.
Clara: Nossa Thais, sua barriga ta cada dia maior…-quebrando o clima
Thais: Pois é, e eu tô crescendo junto, inchada igual um…sei la o que.-suspirando
Clara: Que isso Thais, você está linda…-sorrindo de canto
Thais: Ah sim, toda inchada, minhas roupas não cabem, minhas calças não fecham, e mal consigo caminhar sem ter a sensação de estar me arrastando...imagino o quão linda que estou.-mal humorada
Edu: Eu to achando você uma gravida linda.
Clara: Eu também, deixe de ser boba.-sorrindo
Mai: Não adianta gente, ela não acredita.-revirando os olhos
Thais: Porque será né Mayra?! -irritada- bom dia pra vocês…-entrando na empresa
Mai: Thais…-suspirando
Clara: Desculpa May, eu não queria…-sem jeito
Mai: Relaxa mana! São os hormônios…ela tá uma pilha.
Edu: Normal né gente, gêmeos, eu também estaria assim.-rindo
Clara: Boa sorte Mai…-rindo
Mai: Eu vou precisar…-indo atrás dela- vocês não vem?
Edu: Vamos…
~celular tocando~
Clara: É o meu! -o pegando
Clara ao olhar no visor respirou fundo
Edu: Quem é?
Clara: Amanda…-guardando o celular
Edu: Esqueci de avisar, ontem ela me ligou, mas como eu tava dormindo, acabei não vendo…
Clara: Onde ela conseguiu seu número?
Edu: Deve ter sido no grupo…aconteceu alguma coisa?
Eu estava perto de uma banca de jornais que havia em frente a observando, ela estava linda, eu conhecia aquela roupa que ela usava, era uma das minhas, sorri ao constatar, também não pude deixar de reparar nos outros, Thais, como estava enorme e lindo aquele barrigão, ainda bem que Mai estava ali para cuidar dela e o Edu pelo que vejo estava de volta ao Rio.
Pov Clara
Eu conversava com Edu em frente a empresa, sobre Amanda, ele me contava o que ela havia dito na ligação, fiquei pensativa em sobre o que ele me dizia, e estava achando tudo aquilo demais, Amanda estava se mostrando uma verdadeira maluca.
No meio da conversa passei meus olhos sobre a rua, sabe quando alguém te deixa esperando em um lugar e te pede para esperar, pois então, era assim mesmo que eu me sentia, Passei meus olhos por todos os lados e algo do outro lado da rua me chamou atenção a ponto de fazer meu coração acelerar, olhei na direção da banca de jornal e era como se eu tivesse visto…
Edu: Clara?-olhando na direção que ela olhava- o que foi?
Clara: Não…é que…-ainda encarando a banca de jornal, não havia ninguém- ali- não é nada, do que falávamos mesmo?
Edu: Sua amiga Amanda, que te ligou ontem…-entrando
Clara: Assim, tenho que te contar algo…-o acompanhando
Pov Vanessa
Quando seus olhos cruzaram rapidamente como os meus é como se uma onde magnética tivesse tomado conta do meu corpo, foi questão de segundo, ela olhou, voltou sua atenção para Edu e voltou a olhar para onde eu estava novamente, entrei na banca e me xinguei mentalmente, o vendedor me encarava franzindo o cenho sai dali rapidamente e ao olhar para a entrada do prédio, eles haviam entrado.
Caminhei no sentido oposto de onde eu estava e avistei um ponto de taxi, me lembrei do cartão que eu havia pego, e peguei o primeiro que vi, eu já havia me arriscado, e agora me arriscaria um pouco mais, indo até o meu apartamento.
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Youngblood | An Amour Sucré OneShot (NSFW)
Casal: Nathaniel e Eponine (MC criada por mim)
Tema: Romance e Drama.
Avisos: Essa história aborda temas como uso de narcóticos, linguagem de baixo calão e possuí conteúdo sexual pesado. Leia por sua própria conta e risco.
Classificação indicativa: +18
Observações: Para entender mais sobre a história é recomendado conferir a letra de todas as músicas da trilha sonora. Elas sempre vão mostrar um pouco mais sobre o passado e, talvez, dar uma dica sobre futuras histórias.
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Mesmo do lado de fora do apartamento Eponine podia sentir a música pulsando por todo o seu corpo, acompanhando as batidas aceleradas de seu coração que gritava em alerta.
Isso é loucura. Ela repetia para si mesma, tentando ignorar um rapaz seminu que vomitava em um vaso de planta próximo do elevador antigo. Eu deveria voltar para o dormitório. Tenho aula amanhã cedo.
Mas é claro que ela não deu ouvidos para sua consciência. Em algum momento entre o final de sua infância e o início de sua adolescência ela havia perdido toda a confiança que tinha por essa voz.
— Você está incrível. - Chani disse, parecendo notar a expressão incerta no rosto sardento da nova amiga. — Não se preocupe, eu já vim em festas assim um milhão de vezes. A galera é bem bacana.
— Uhum. - A ruiva respondeu, forçando um sorriso confiante. — Obrigada por me convidar, eu precisava disso.
— Você vai ver, todo mundo aqui precisa dar uma escapada de vez em quando.
— Escapada? Da faculdade?
— Não, bobinha. - Um sorriso sombrio se abriu entre os lábios pintados de preto da garota. — Da vida.
A porta se abriu de repente, revelando um estúdio enevoado, com luzes neon iluminando o ambiente naturalmente escuro e muitas, MUITAS pessoas.
Chani seguiu adiante, passando entre os corpos em movimento com maestria louvável. Ficou claro para Eponine que a amiga não estava mentindo quando disse que era familiarizada com aquela situação, ela parecia... Bem, estranhamente, ela parecia estar em seu habitat natural.
Para todos os lados que olhava a ruiva encontrava situações completamente diferentes. Uma mesa de strip-poker, um grupo jogando minecraft enquanto repassava um bong cheio de adesivos de folha de cannabis, beer pong, karaokê... E o cara seminu que estava vomitando no corredor agora estava pendurado de ponta cabeça no mezanino cantando Chandelier à plenos pulmões.
— Minha nossa...
— Bem vinda ao meu paraíso. - Chani respondeu, gargalhando ao entregar um copo vermelho cheio de cerveja à amiga. — Abrace o caos, sério. Vai te fazer bem. Só toma cuidado, você sabe, com o básico. Não aceite bebida de caras esquisitos, não aceite participar de rituais satânicos e, por favor, não transe sem camisinha.
— Você parece ter uma lista de proibições bem específicas para alguém que está me encorajando à abraçar o caos.
A loira balançou os ombros, dando um longo gole em sua bebida antes de se pronunciar. — Você ficaria surpresa com as coisas que já presenciei nessas festas.
[...]
A música alta já estava começando à lhe causar dor de cabeça.
Nathaniel finalmente levantou da poltrona onde passou a maior parte da festa só esperando que amanhecesse logo, mas aquela noite parecia durar uma eternidade. Ele deixou a garrafa vazia de cerveja sobre a mesinha de centro lotada de outras garrafas, latinhas e copos vazios, sem falar é claro dos pinos e bitucas, e caminhou pelo estúdio, sem um rumo específico. Felizmente o lugar estava bem mais tranquilo àquela hora, a maioria das pessoas estavam no deck aproveitando a piscina, mas ele sabia que ainda era cedo para ir embora. Precisava se certificar de que nada aconteceria.
— ... tudo sobre controle. Não vai te viciar se você souber usar.
Ele ouviu a voz de um de seus colegas vindo do corredor que dava para os quartos, reconheceu imediatamente o discurso programado que estava na ponta da sua língua. Nos anos 70 você só precisava vender, mas em 2019 os jovens estão menos preocupados com o barato, eles querem estar sobre controle, independente da situação. Nathaniel não podia os culpar, depois de tudo pelo que passou quando era mais novo ter controle de sua vida foi definitivamente sua maior prioridade.
— Eu realmente preciso de algo pra me manter focada amanhã. Toda essa pressão da faculdade vai acabar me matando, se a Melody não me matar antes por causa do professor Zaidi...
Os olhos dourado do ex-representante de sala se arregalaram, imediatamente reconhecendo a voz feminina e melodiosa que parecia estar sempre presente nos seus piores pesadelos.
Ele estava evitando-a desde a noite em que a salvou do ataque, apesar de negar isso para si mesmo. Em partes porque se sentia responsável, mas também porque não conseguia suportar o quanto aquela voz ainda lhe tirava do sério. Como podia?
Depois de tantos anos, como ela ainda podia lhe causar tanto estrago?
Seus pés se moveram antes mesmo que pudesse processar a situação. A porta do cômodo estava aberta, um dos caras da gangue estava sentado em um sofá, e ela estava ao lado dele, se inclinando sobre a mesinha de centro com uma nota euro enrolada próxima ao nariz e seus longos cachos ruivos cobrindo os olhos de duas cores.
— Eponine!
Tanto sua ex-namorada quanto o traficante viraram na direção do loiro, ambos surpresos, mas não tão surpresos quanto Nathaniel.
— Nath? Eu não sabia que você...
— Oquê você tá fazendo?! Que porra é essa?!
Eponine abriu a boca, tentando formular uma resposta. Seu novo amigo foi mais rápido, no entanto, deslizando uma mão pela coxa sardenta dela e lhe dirigindo um breve sorriso reconfortante.
— Ei cara, relaxa! Eu e a ruiva só estamos curtindo. Eu ofereci pra ela um pouco do nosso pó mágico como presente de boas vindas, ela disse que nunca tinha vindo em uma festa nossa, dá pra acreditar?! Uma princesa dessas merece convite vitalício para todas as festas da cidade!
— Evan saí de perto dela.
A voz de Nathaniel não passou de um resmungo, mas alto e claro o suficiente para ser entendido pelo outro rapaz.
— Essa festa é sua, Nath? Tá tudo tãããoooo legal!
A garota estava claramente bêbada, o que só deixou o loiro ainda mais fora de si.
Ele atravessou o cômodo com passos rápidos, agarrando o pulso da eslava e a tirando de perto das mãos sujas de seu colega de trabalho e da longa carreira de cocaína alinhada sobre a superfície de vidro da mesinha de centro.
— Nós estamos indo embora, agora!
— Cara, para de ser careta. A gente tava curtindo!
— O Evan disse que eu pareço a Scarlett Johansson, ele é tão fofo!
Eponine agarrou a cintura do ex-namorado, enterrando a cabeça em seu peito e sorrindo enquanto suspirava em contentamento. Nathaniel teria ficado extremamente desconfortável com aquilo se Evan não tivesse se levantado para tentar recuperar sua potencial cliente.
— Espera!
— Dá mais um passo e nós vamos ter que resolver isso da forma difícil, Evan.
O loiro sacou um canivete do bolso da calça, liberando a lâmina e a mantendo abaixada, longe das vistas de Eponine. Sua mão livre envolvia o ombro da ruiva, mas ele não ousou dirigir o olhar em direção à ela, estava no seu limite e tudo de que não precisava era mais incentivo para usar aquela lâmina no traficante à sua frente.
— Foi mal cara, não sabia que ela era sua. Tá tranquilo.
— Foi oque eu pensei.
O caminho até a saída do apartamento foi como um borrão na mente de Nathaniel.
Ele navegou entre a zona do lugar sem olhar para trás, sua respiração rápida saindo quase como rosnados. Felizmente Eponine se manteu em silêncio durante todo o trajeto, sem se opor ou resistir contra o aperto dele.
— Eu tô encrencada?
A voz dela soou baixinho, quase abafada pelo ronco do motor do carro enquanto ele manobrava para fora do estacionamento. Nathaniel resolveu ignorar, apertando os punhos ao redor do volante e se concentrando na rua.
— Eu senti sua falta...
— Mas que porra, Eponine!
Ele quase se arrependeu de sua explosão ao ver a ruiva se encolher em seu assento, tinha tanta coisa acontecendo e ela ainda encontrava tempo para piorar a situação ainda mais. Nathaniel não podia se dar ao luxo de pensar no que eles sentiam, não naquele momento.
— De todas as festas do mundo você teve que vir nessa?! Porque?!
— E-eu não tava tentando te encontrar, eu só... A Chani me convidou...
— Sério? Sua amiga te convidou pra cheirar? Que ótimas amizades você anda fazendo! A quanto tempo você tá usando?!
— Eu não uso nada!
— Não mente pra mim! - Sua mão direita se ergueu do câmbio do carro, agarrando o queixo da ruiva, obrigando-a a olhar em seus olhos. — Sua pupila tá dilatada, não mente pra mim!
— O seu amigo disse...
— Evan não é meu amigo. Ele é a porra de um traficante, e você deveria ter ficado bem longe dele!
Silêncio. Ele fez uma curva fechada, os pneus cantando sobre o asfalto, quando retornou a atenção para a ruiva os soluços dela preencheram o silêncio. Aquilo cortou seu coração, talvez mais do que quando a viu partir anos atrás, mas o estrago já estava feito.
[...]
| POV • Eponine |
Uma pontada em meu crânio me despertou, até onde eu sabia podia estar no meio de uma lobotomia, não conseguia me recordar de nada.
A primeira coisa que vi quando abri meus olhos foi uma bola de pelos branca. Um gato. Ronronando tão alto que fazia minha cabeça doer, apesar de eu suspeitar que àquela altura até minha respiração estava fazendo minha cabeça doer. Eu estava em um apartamento bem arrumado, tinha um copo de água na mesinha de cabeceira que eu esvaziei em um único longo gole, e estava de noite lá fora.
Além disso, Nathaniel estava deitado na cama ao meu lado, aparentemente dormindo. Eu tentei me recordar em que momento durante a festa eu o encontrei, e, o mais importante: Como diabos eu vim parar em sua cama?
O gato (A gata, eu lembrei, seu nome é Branca e eu havia ajudado Nathaniel à adotar ela) miou em protesto quando eu me sentei, mas voltou a ronronar quando cocei sua cabeça. Pensei em acordar o loiro e perguntar sobre o que estava acontecendo, mas quando me voltei para ele seus olhos dourados me encaravam fixamente.
— Belo lugar. - Comentei, desviando o olhar imediatamente. — A Branca tá enorme...
— Eponine.
Eu respirei fundo, mal suportando ouvir meu nome saíndo da boca dele. Havia sido exatamente meu nome a última coisa que ouvi de seus lábios anos atrás, eu sabia naquela ocasião o que ele queria, mas não deixei que ele terminasse, entrei no carro com meus pais e fui embora.
Jamais iria me perdoar por não ter ouvido ele.
— Quanto tempo eu dormi?
Murmurei, ajeitando a meia rastão em minhas pernas enquanto via o loiro se sentar pela minha visão periférica. Ele estava sem camisa e, pelos deuses, seu abdômen literalmente me deixou com água na boca.
— O dia todo. Achei melhor te trazer pra cá pra poder monitorar você. Não sei o quanto você usou, mas não ficaria tranquilo sabendo que você poderia ter uma O.D. no dormitório da faculdade.
— Ah, droga! A prova! O Sr. Zaidi vai me matar! - Fechei meus punhos com força, gemendo de dor quando meu próprio tom de voz provocou uma pontada em minha cabeça. — Espera, O.D?!
Franzi o cenho, deslizando uma das mãos por minha testa. Não demorou muito para que minha cabeça ligasse os pontos, imediatamente reconhecendo o significado das palavras do loiro. E logo tudo ficou mais claro, as lembranças da noite passada ressurgindo e se conectando até que eu estivesse completamente em choque.
— Overdose. - Ele confirmou, provavelmente reconhecendo o olhar apavorado em minha face. — Eponine, o que quer que esteja acontecendo com você pra te levar até isso... Só... não vale a pena, ok? Isso não é vida pra você. Você deveria ficar longe dessa merda. Você precisa ficar longe disso.
— Nathaniel, você me conhece! Eu nunca faria uma merda dessas!
— Eu conhecia você, Eponine. Mas já fazem muitos anos. Nenhum de nós é o mesmo.
O peso de suas palavras me acertou, me fazendo fechar os olhos com força, desejando do fundo do meu âmago voltar atrás e só recusar o maldito convite da Chani. Se eu tivesse passado a noite no dormitório estudando nada disso teria acontecido, e eu não estaria tendo aquela conversa com ele.
— É claro que você não me conhece mais! Eu tentei me reaproximar e você simplesmente fugiu, me evitando como se eu fosse uma doença!
A gata se assustou com minha explosão, se levantando e correndo para longe. Nathaniel a observou por um instante, e então voltou a me encarar. Seu rosto parecia tão calmo que subitamente senti uma enorme vontade de lhe dar um soco, a cicatriz em seus lábios chamou minha atenção, e eu me perdi em meio ao meu próprio surto, tentando encontrar uma explicação ou qualquer outro argumento que pudesse me salvar do silêncio desconfortável que fazia minha garganta se fechar e meus olhos arderem.
— Eu já disse. Isso não é vida pra você.
— Isso não responde porra nenhuma!
Gritei, me virando bruscamente em direção ao loiro, com os punhos cerrados e as longas e afiadas unhas afundadas na palma de minhas mãos.
Minha respiração estava acelerada, bem como meus batimentos. O mundo ao meu redor ainda parecia mais lento do que minha mente conseguia processar, provavelmente um efeito colateral da droga, mas meu ex-namorado permanecia imóvel como uma maldita estátua grega. A porra da estátua de um deus grego tão lindo que eu só conseguia pensar em chorar diante da sua imagem.
— Eu não te devo satisfação alguma. - Ele respondeu por fim, erguendo uma das sobrancelhas douradas brevemente, a cicatriz em seus lábios fazendo parecer com que ele estivesse achando tudo aquilo muito engraçado. — Se você quer se meter em encrenca o problema é seu. Mas não conte comigo pra te resgatar sempre que acabar em apuros, eu não sou seu guarda-costas.
— Não, você só é o desgraçado com quem eu perdi a minha virgindade, não é mesmo?! Eu não significo nada além da menina que você fodeu no colégio!
— Eu te amava e você sabe disso, pare de tentar me culpar por algo que eu não fiz! Você era tudo o que eu tinha e mesmo assim resolveu ir embora mesmo sabendo que eu te amava! Você me deixou porque tinha medo!
— CALA A BOCA!
Mesmo com meus reflexos atrasados pela bad trip, de alguma forma meu corpo reagiu imediatamente as palavras do rapaz. Eu me lancei contra ele, uma de minhas mãos mirando seu peito enquanto a outra tentava acertar um soco em sua face estupidamente linda.
É claro que eu fui impedida sem nenhum esforço, ele só segurou meus braços e me observou, completamente inabalado, mas bem lá no fundo, refletido em seus olhos dourados, estavam espelhados todas as emoções descontroladas dentro de mim. A dor, a raiva, e, acima de tudo, o sentimento de estar perdido no escuro. Uma solidão e sentimento de vazio tão profundos que me fizeram soluçar.
Até que o ódio retornou, mais forte e selvagem, explodindo em meu interior e me fazendo rosnar enquanto lutava para socar seu peitoral definido.
— É mentira! - Eu retruquei, minha voz encontrando problemas para se manter estável em meio aos soluços. — É mentira! Cala a boca! Eu te odeio!
O vento zumbiu em meus ouvidos e meus cachos ruivos se espalhando pelo lençol branco quando, de repente, me vi prensada debaixo de Nathaniel. Sua respiração estava pesada, suas mãos prendiam meus pulsos com força contra o colchão, um de cada lado da minha cabeça, e seu corpo estava suspenso sobre mim, suas pernas entre as minhas, o calor emanando de sua pele desnuda me deixando alerta sobre a proximidade de nossos corpos.
Eu tentei engolir o choro, exercendo um esforço sobrehumano para prender os soluços em minha garganta. Meu peito doía tanto que a dor em minha cabeça agora não passava de uma lembrança distante.
Ele não estava mentindo, eu sabia, e isso só tornava tudo pior.
Meu choro pareceu despertar o loiro de seu transe, eu senti o aperto em meus pulsos diminuir. Sua expressão furiosa foi suavizando, até que só restasse o olhar de pena, definitivamente o combustível que eu não precisava para me sentir ainda pior.
Estava pronta para gritar novamente, me debater, lhe atacar, qualquer coisa que pudesse fazer eu me sentir menos impotente. Mas então, em um ato completamente impulsivo, ele diminuiu a distância entre nossas faces, tomando meus lábios em um beijo urgente que arrancou o fôlego de meus pulmões imediatamente.
Ninguém jamais havia me beijado daquela forma. Havia tanto desespero, tanta fúria, tanta dor... E então, em meio àquele turbilhão intenso, estava o sentimento que eu havia tentado reprimir por anos desde minha mudança. De repente era como se eu precisasse daquele beijo assim como ele, como se a ausência daquela carícia fosse literalmente nos levar à morte.
Minha razão tentou lutar contra aquele sentimento, gritando para que eu empurrasse ele para longe e voltasse a gritar sobre como tudo o que ele fez foi me machucar. Mas meu corpo já não tinha forças para lutar, seu cheiro havia invadido meus sentidos, suas mãos deslizavam por minha pele despertando arrepios por todo o trajeto e antes que eu pudesse me dar conta do enorme erro que estávamos cometendo, eu me entreguei ao momento.
— Você não me odeia. - Ele resmungou por fim, sua voz rouca soando inflamada, perigosamente ameaçadora. — Diz pra mim!
— Eu te odeio. - Reafirmei, meus olhos fixos nos dele. De alguma forma, finalmente provocar alguma reação nele era prazeroso, mesmo que o machucasse, ao menos eu sabia que ele ainda sentia alguma coisa. — Eu te odeio tanto que meu peito dói quando penso em você. Te odeio tanto que tenho vontade de chorar quando te vejo. E o seu cheiro, ele parece que está impregnado em tudo, como se eu não pudesse viver um segundo da minha vida sem sentir essa dor que...
Seus lábios voltaram a me calar, me fazendo ofegar e arquear o corpo, minhas mãos agarrando seus fios loiros, apertando-os entre os dedos com tanta força que pude ouvir Nathaniel rosnar em meio ao beijo. Aquilo, é claro, só me incentivou ainda mais.
Veja bem, eu sempre tive problemas de raiva. No ensino médio era o estereótipo da garota problema, a junkie que praticava bullying com os valentões. Mas Nathaniel sempre parecia saber o que fazer para contornar todos aqueles sentimentos ruins dentro de mim. No começo, é claro, ele só ficava horrorizado e desaprovava minha personalidade inquieta e imprevisível, mas em algum momento ele acabou assumindo para si a responsabilidade de me manter longe dos pontos de conflito, e desde então eu nunca jamais havia dirigido minha raiva para ele.
Até aquele momento.
Eu sofri muito com nossa separação, e pra minha mente adolescente aquilo foi o fim do mundo. Depois de termos terminado de vez ele nunca mais se deu ao trabalho de me procurar, nunca sequer mandou uma mensagem. Tudo o que eu queria agora era me vingar de toda a dor que aquela adolescente estúpida guardou dentro de si, todo o rancor, todas as noites em que fui dormir chorando... Eu só queria que ele sentisse a dor que eu havia sentido por tanto tempo.
Minhas unhas afundaram em suas costas estupidamente musculosas, trazendo-o para mais perto enquanto mordia seu lábio inferior e o puxava, deliciando-me com cada grunhido de raiva e, provavelmente, dor.
Para a minha surpresa, quem quer que fosse o novo Nathaniel, ele não parecia querer controlar minha raiva. Ele queria alimentar ela ainda mais.
— O que mais você odeia em mim? - Sua voz não passava de um sussurro, mas era tão firme e autoritária que só consegui arfar em resposta. — Responde!
Uma de suas mãos agarrou meu pescoço, seu dedão pressionando o centro da minha garganta, deslizando rumo ao queixo. Não era um aperto doloroso, mas definitivamente era pessessivo. Tão possessivo quando a forma como eu havia agarrado seus cabelos.
— Eu odeio o quanto você não parece se importar com mais nada! Odeio o fato de que você parece não sentir nada nunca! - Sua boca envolveu o lado livre do meu pescoço, mordendo o local e depositando um chupão tão forte que fez meus dedos dos pés se retorcerem. — E-e-eu odeio... Eu odeio não conseguir mais te afetar!
— Você quer que eu sinta ódio de você?
O loiro retrucou ao pé do meu ouvido, praticamente rosnando. Eu tentei balançar a cabeça, concordando, porque estava difícil falar qualquer coisa naquele momento sem gemer.
— Qualquer coisa. - Choraminguei por fim, deslizando uma de minhas mãos por sua face. — Eu quero que sinta qualquer coisa por mim, porque preciso saber se você ainda sente algo, seja o que for...
Novamente ele me calou com um beijo, dessa vez menos furioso e mais... intenso, como se ele estivesse se deixando realmente saborear cada toque de nossas línguas.
Sua mão livre alcançou o zíper do cropped de couro que eu usava, abaixando-o e libertando meus seios, que àquela altura estavam mais do que agradecidos por poderem respirar ar fresco.
Nathaniel não perdeu tempo e logo estava massageando um dos seios, seus dedos beliscando o bico rosado, arrancando de mim um gemido abafado pelo beijo.
— Hmm, isso é novo...
Segui seu olhar, observando tensa enquanto ele deslizava o dedão pelo piercing em meus mamilos. A sensação era tão intensa que eu não pude evitar de me contorcer brevemente, agarrando mais uma vez os cabelos do loiro afim de me manter sobre controle, o que aquela altura era um tanto quanto inútil.
Com certo choque eu vi o ex-representante de classe abrir um enorme sorriso travesso, e o resquício de sensatez dentro de mim gritou diante do perigo eminente, mas antes que eu pudesse bolar qualquer resposta malcriada sua língua deslizou por um dos meus mamilos já tão sensíveis, me fazendo fechar os olhos e, de uma vez por todas, desistir completamente de contra-atacar.
Sua boca envolvia minha pele, chupando meu seio de forma faminta. Eu sabia que estava perdida, em um estado tão deplorável que só conseguia gemer e puxar seus cabelos quando, vez ou outra, seus dentes resolviam mordiscar o bico, puxando-o brevemente antes de voltar a sugar.
— Nath...
— Você queria que eu sentisse algo?! - Resmungou, me fazendo abrir os olhos com certa frustração. Uma de suas mãos ainda envolvia meu pescoço e a outra soltou meu seio, agarrando um de meus pulsos e guiando minha mão até sua ereção. Estava tão duro que eu literalmente senti minha boca salivar. — Você conseguiu! - Ele rosnou, me fazendo arfar mais uma vez e, instintivamente, apertar o volume em sua cueca. — Eu tô louco pra te foder, Eponine. Não consigo parar de pensar em você desde aquela maldita noite. Não importa o quanto eu tente te esquecer e fugir de você, você é como a porra de uma sereia! Eu sei que isso vai acabar me matando, mas eu simplesmente preciso de você, mesmo sabendo que você vai fazer eu me afogar na porra do mar.
— Meu deus, você é TÃO nerd!
Minha gargalhada ecoou pelo cômodo, e eu simplesmente não conseguia parar de rir, mesmo quando seus olhos dourados me encaram cheios de selvageria e a mão em meu pescoço voltou a pressionar minha garganta. Para piorar eu podia ver um sorriso lutando para escapar pelo canto dos lábios do loiro, e de repente eu sabia que era verdade.
Tudo aquilo, inclusive a parte onde ele queria me foder.
— Eu te odeio. - Repeti, a risada morrendo subitamente diante de minha realização. Meus dedos massagearam mais uma vez seu membro, arrancando um suspiro exasperado dele, e então eu sorri, finalmente satisfeita. — E quero que você me foda como se me odiasse também.
Suas mãos agarraram meu corpo, me girando com uma facilidade extraordinária e me colocando de bruços contra o colchão. Com o pouco de espaço que restava para me mover eu empinei minha bunda, esfregando-a contra a ereção de Nathaniel e o fazendo rosnar em resposta até que, em um ato que me pegou completamente de surpresa, sua mão desceu contra um dos meus glúteos, depositando um tapa que me fez afundar o rosto nos travesseiros afim de abafar um gemido alto.
— Isso!
Incentivei, me amaldiçoando logo depois por deixar ele saber que eu estava gostando. Não que fizesse muita diferença, já que mesmo quando éramos namorados eu sempre implorava que ele fosse mais rude, então ele sabia que eu ia gostar. A diferença era que agora, aparentemente, ele também estava gostando de fazer aquilo comigo.
— Você gostou, não é? - Ele provocou, parecendo ler minha mente. — Admita!
— Eu te odeio!
O observei por cima do ombro, arfando, o sorriso felino que brilhava entre seus lábios rosados deixando claro que ele já sabia exatamente o que faria comigo.
Nossos olhos se encontraram e, de repente, o barulho de tecido sendo rasgado sobrepôs o de minha respiração acelerada quando Nathaniel afastou minha saia e rasgou, sem piedade, a calcinha preta de renda que eu usava.
— Ei, era uma calcinha da agent provocateur!
— Foda-se.
Eu não tive muito tempo para protestar sobre a lingerie cara que eu havia comprado em Londres no verão passado.
Sabe quando as pessoas usam a expressão "Ver estrelas" para quando sentem uma sensação extremamente forte que a faz perder todos os sentidos por alguns segundos? Bem, elas não estão exagerando.
O barato da droga não era nada comparado ao que eu senti quando Nathaniel finalmente me penetrou.
Ele estocou com força, me fazendo agarrar os lençóis e gritar seu nome tão alto que provavelmente até a Ambre do outro lado da cidade saberia o que estávamos fazendo naquele apartamento, mas eu não me importei, porque eu estava literalmente à beira de um precipício, perigosamente próxima de gozar com uma única maldita estocada daquele deus grego filho da puta sobre mim.
— Vamos, diz que me odeia!
Agora era ele quem estava rindo, isso é, em meio aos grunhidos de prazer que soltava à cada nova estocada. Sua mão livre agarrou meus cabelos, enrolando-os ao redor de seu pulso e me puxando conta ele ao apressar o ritmo.
Vejam bem, crianças: Vocês provavelmente já devem ter visto um pornô, certo? Levando em conta que... Bem, a internet existe.
De qualquer forma caso não tenham visto, vocês ainda assim devem saber como as mulheres sempre são supostamente escandalosas em um pornô, sobre como elas parecem estar sempre próximas de um colapso mental, gritando à plenos pulmões, certo?
Bem, deixe-me te esclarecer uma coisa: Quando a transa é tão boa que você realmente acha que vai ter um infarto enquanto goza, você fica absolutamente sem palavras.
Não sem palavras no sentido de lisongeada, como "Ah... Será que eu chamo ele de cachorrão? Isso seria sexy? Ele vai se sentir viril se eu disse isso?" não, longe disso na verdade (bem longe, eca). Você só simplesmente NÃO CONSEGUE falar. Não importa o quanto você queira gemer de forma sexy um "Oh yes, oh god" como a Mia Khalifa te ensinou, você simplesmente não tem forças nenhuma para emitir nada que não seja o doce som do desespero. Isso é, o som do seu corpo entrando em pane porque parece simplesmente impossível sentir tanta quantidade de prazer de uma só vez.
Provavelmente é seu cérebro tentando decidir se é um orgasmo ou um ataque cardíaco também, mas eu sou só uma junkie e você deveria consultar um cardiologista antes de entrar de cabeça nessa coisa de trepar com raiva.
Então lá estava eu, transando com meu ex-namorado depois de sobreviver à uma possível overdose de cocaína porque, por algum motivo, a Eponine bêbada achou que precisava encher o cu de drogas para sobreviver à faculdade sem assassinar a Melody ou transar com o professor Zaidi na frente de toda a sala de aula em um surto digno de Um Dia de Fúria.
Que forma patética de ingressar a vida adulta, ein? Só seria mais patético se, ao invés disso, eu tivesse recusado o convite da Chani e tivesse passado a noite escrevendo fanfics eróticas sobre personagens de um date sim.
Sim eu estava meio obcecada por The Arcana.
— Eu estou mandando você falar Eponine!
Sua mão livre espalmou novamente minha bunda, e eu encontrei forças, de alguma forma, para gemer alto seu nome, por mais que estivesse realmente tentada a chamar ele de princesa como o Castiel costumava fazer. Afinal, porque não? Aposte alto ou vá para casa, não é mesmo?
— Eu te odeio!
Rosnei entredentes, o que soou mais como "Eu febndwnjfjeb ODEIO". Nathaniel gargalhou novamente e puxou meus cabelos, me obrigando a inclinar a cabeça para trás enquanto seus quadris se chocavam contra os meus com brutalidade, preenchendo o quarto com o doce som molhado das estocadas.
— Mais alto!
— Vai se foder!
— Eu disse mais alto!
Outro tapa. Meu corpo estremeceu e minha intimidade pulsou contra o pau dele, fazendo-o gemer e depositar outro delicioso tapa.
— Eponine!
Dessa vez foi ele quem gritou, sua voz tão imponente que meu corpo respondeu imediatamente contra a minha vontade, explodindo em um orgasmo que, mais uma vez, me fez perder completamente os sentidos.
— Eu te odeio!
Minhas unhas afundaram nos lençóis, rasgando o tecido ao passo em que eu colapsava contra o colchão, tremendo e ofegando desesperada em busca de ar enquanto o loiro mantinha as estocadas, quase como se quisesse me castigar, o que eu sinceramente não duvidava.
— Eu te amo, porra.
Ele sussurrou contra meu ouvido quando, com uma última e decisiva estocada, Nathaniel atingiu seu próprio orgasmo.
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aquarela [ditadura au]
Ele sabia que não era para ser assim. Já fora muito diferente, mas não poderia dizer como, ao certo. Mas o mundo já fora, tinha que ter sido mais do que este borrão cinzento e frio, que tinha apenas dureza crua a ser oferecida.
Havia outras pessoas ali. Alguns se pareciam com ele, olhares vagos e quebrados, movimentos lentos e inexpressivos. Eles não conversavam entre si. Também havia aqueles que mandavam. Esses lhe dirigiam a palavra, tons rijos e grosseiros, mas há muito ele desistira de se concentrar em suas nuances e significados. Contanto que não se aproximassem, ele não se importava, também.
Havia outras pessoas ali, mas ele estava sozinho há muito tempo.
O mais próximo que tinha na forma de contato físico era quando lhe puxavam ou empurravam em qualquer que fosse a direção desejada. Não era muito, mas era algo. Já fora muito pior do que isso, quando um toque era sinônimo de dor, mas eles não se davam mais ao trabalho. Os que iam parar ali não ligavam mais.
Alguns dias as coisas ficavam mais nítidas. Os borrões se tornavam uma miríade de tons diversos, coloridos, e parecia que alguém pusera tudo no volume máximo e seus ouvidos latejavam com a sobrecarga súbita. Tudo girava gritava e doía e era demais e então ele lembrava – não só lembrava como se importava; ele não deveria estar ali não era justo e por quê? e seu coração começaria a bater rápido demais e ele tentaria correr, fugir, voltar–
Mas não demorava até que eles fizessem tudo ficar cinza novamente. E ele respirava fundo, esperando nunca ver cores de novo. Porque era mais fácil assim, praticamente esquecer que um dia conseguira vê-las. O sentimento de algo faltando era uma das poucas coisas que verdadeiramente lhe incomodava em sua sobrevivência insensível e irreal.
Ele tentara acabar com tudo, mais de uma vez. No início, quando ainda conseguia se importar. Mas até isto lhe foi tirado, e hoje ele não consegue mais se dar ao trabalho de tentar.
Mesmo o torpor que parecia permear o absoluto não era suficiente para afogar todas as suas tormentas, por mais que às vezes ele desejasse que fosse. À noite, em preto e branco saturado, ele revivia os gritos, a dor e o medo. Ele não dormia muito. O agora não lhe era gentil, mas nada era pior do que as horas em que era refém de seu próprio subconsciente.
Dentro dele, podia sentir algo ainda a gritar. A mesma voz dos dias em que as cores voltavam para ele. Mas toda manhã ela era abafada de novo e então outra vez, e ele se perguntava se não era melhor assim, afinal.
De quando em quando, se havia passado muito tempo desde que tivera um dia colorido, ele podia ir para Fora. Era bom. O vento acariciava seu rosto e bagunçava seus cabelos longos demais, e aqueles eram os toques mais gentis que ele podia lembrar. O cheiro de terra molhada lhe lembrava de algo (ou alguém?) que antes ele pudera chamar de lar. Hoje ele não poderia explicar o exato sentido da palavra, conceito abstrato demais para sua realidade, mas se lhe perguntassem (ninguém nunca o faria), aquela seria sua resposta.
“O cheiro dela”, a voz tentava lhe dizer, implorando dentro de si, mas ele não lhe dá mais ouvidos. A dor não era tão grande, dessa forma. De todo jeito, nunca demorava antes que o prendessem trouxessem de volta para dentro, e o pensamento se esvaneceria, como tudo mais.
A noção de tempo havia sido perdida há o que poderiam ter sido éons. Ele sabia que houvera um [ANTES – o preto o branco o vermelho os gritos e a DOR que o visitam toda noite e que prometem continuar por muitas mais]; mas também um (antes, e poderia mesmo ser uma ilusão criada por sua mente falha e não confiável, mas como mais ele saberia o significado de bondade, gentileza, resistência e amor, quando nada disso existia ao seu redor?). Mas ambos passados lhe pareciam tão distantes que poderiam ser outra realidade completa, e ele hoje era apenas uma sombra, o que restara e fora desprezado da mistura atroz de dois universos intimamente opostos e em guerra.
As únicas vezes que poderia dizer que vivia, ao invés de apenas existir, era quando escutava. Acordes, a maioria conhecidos, vozes difusas e diversas chiando de um rádio antigo por trás de uma porta. O músculo do lado esquerdo de seu peito bombeava acompanhando ritmos familiares, dedos se mexendo no ar ao tocar um instrumento incorpóreo. Seus olhos se fechavam e lábios pálidos e rachados se moveriam minimamente em um fantasma, quase invisível, daquilo que poderia se chamar sorriso. Um fantasma que só podia existir entre as quatro paredes de sua cela seu quarto, mas que era boa companhia.
Ocasionalmente, percebe que nem mesmo poderia responder o próprio nome. Eles nunca conseguiram o Dela, mas lhe tomaram o seu. Fora enterrado muito fundo, bem longe daqueles que ele se recusara a entregar.
E ele choraria, se ainda soubesse como.
Ele não percebe a mulher estranha, de início. Nunca nota os rostos ao seu redor, sejam os dos outros prisioneiros pacientes ou daqueles que mandam.
Ela não é nenhum dos dois.
São os passos que a denunciam. Passar tanto tempo olhando para baixo lhe deu conhecimento suficiente sobre as diferentes pessoas que aparecem ali. Os de jaleco que por vezes aparecem são calmos e conscientes, movimentos frios e calculados; os mais abaixo são entediados e quando necessário, brutos, agressivos. Ela usa uma bata, mas carregava uma determinação completamente estrangeira em seu andar, não era apenas uma obrigação que tinha a cumprir ali. Não, aqueles eram os passos de alguém com um objetivo específico, e de alguém que pretendia alcançá-lo.
Quando ela se aproxima, ele não se move. Tenta, na realidade, ficar o mais parado e encolhido possível, como se dessa forma pudesse ficar invisível. É uma reação muito mais instintiva do que consciente, como a maior parte das coisas que faz. Seus olhos encaram firmemente o chão, com uma intensidade que poderia rachar o assoalho.
Não registra as palavras, de início. É apenas quando ela diz-
“João?”
O nome fora proferido em um tom urgente que lhe dizia que ela já havia se repetido, mais de uma vez.
Era seu. Era seu nome que ela acabava de devolver, e ele não sabe se fora de propósito ou ela havia apenas confundido, mas não importava. Era simples e fora dito milhares de vezes antes ao seu redor, mas nunca... nunca para ele. João. Quatro letras. Quatro letras que eram suas. Ele não tinha nada, mas agora tinha seu nome.
Com algo novo dentro de si, ele obriga sua visão desfocada a finalmente encontrar o rosto da mulher, tentando fazer sentido das imagens novas.
O rosto era bronzeado e magro, os cabelos pretos e lisos presos em um coque profissional atrás da cabeça. Os olhos castanhos estavam emoldurados por óculos de armação grossa que ele imediatamente, sem saber como, reconheceu como falsos. Ela lhe encarava com um misto de esperança, angústia e felicidade, e ele não sabia como reagir.
Ela esperava uma resposta. Uma resposta dele.
“Eu- não...” as palavras pareceram ficar presas por uma eternidade em sua garganta, e sua mente anuviada tentava encontrar algo adequado para se dizer. A sua própria voz lhe era estranha a ouvidos tanto tempo privados de escutá-la. Rouca e fraca, com algumas falhas comparáveis as de alguém muito mais jovem ou mais velho. Conversas não eram algo que acontecia, ali.
“Desculpe. Me desculpe.” É tudo que consegue dizer para a face desesperada da mulher; porque ele sabe que há uma ligação, que há algo mais entre essa estranha de passos determinados e a sombra do homem que ele fora, mas sua mente é confusa e desfocada e ele não consegue tirar uma resposta dali.
Ela não é uma desconhecida, afinal. Isso deveria tornar as coisas mais fáceis, mas só serve para deixá-lo com mais dúvidas. Era mais algum truque que pregava em si mesmo? Não. O toque em seu ombro era definitivamente real, a mulher estava mesmo ali.
De súbito, ela agarra seu outro braço, e ele se prepara para o puxão, o empurrão, mas-
Ela está lhe abraçando.
A ação deixa João impossivelmente imóvel – ninguém tocava nele daquela forma há... a verdade é que não conseguia se lembrar da última vez que um toque lhe fora tão delicado. Algo lhe dizia que aquele não era o usual para a mulher, mas isso só tornava a ação mais importante. O afeto transmitido, o calor... ele não conseguia encontrar palavras para descrever.
“Não, João. Me desculpe. Por ter demorado tanto. Por não ter matado todos que fizeram isso com você.” A estranha conhecida se afasta e respira fundo, os olhos brilhando de uma forma que ele sabia não vir apenas da luz. Seu rosto assume uma seriedade e fúria implacáveis antes de continuar. “Eu vim te tirar daqui.”
Seu tom, unido com a expressão de seu rosto, são o suficiente para clarear seus pensamentos e trazer de volta algo que ele parecia não alcançar pouco antes.
“Cristina.”
A mulher sorri, lábios pintados com um batom escuro, e afirma com a cabeça.
“Ao vivo e em cores, meu amigo.” Responde, finalmente agindo de forma estranha e completamente familiar. “Vamos.”
Ela põe uma das mãos na base das costas dele e o conduz no labirinto de corredores que João nunca fora capaz de desvendar por completo. Quando parados por alguém, ela apenas mostrava um crachá que possuía pendurado em sua roupa, para então voltar a seguir. Ele passa o caminho todo encarando o chão, costume ainda bem intrincado dentro de si. Horas parecem se passar antes que cheguem às portas dos fundos, mas não podia ter sido mais do que alguns minutos.
João espera as sirenes, os gritos, as mãos duras e violentas o arrancando de volta para dentro e apagar a pequena e frágil chama de esperança e sentido que voltou a se acender no interior seu corpo. Mas não há ninguém.
Ele respira, e o ar nunca pareceu tão puro.
Os dois seguem para um carro que ele não reconhece e ela assume o volante, deixando para trás o prédio icógnito e ordinário que serviu de prisão, limbo e purgatório por o que foi uma eternidade por si só.
“Catarina?” é a primeira coisa que consegue formular quando alcançam a estrada, o único nome que nunca perdeu, a única coisa que nunca perdeu em todo esse tempo.
“Ruiva está bem, na medida do possível.” Uma angústia que o acompanhou durante um período infindável simplesmente desaparece com essas palavras. Cristina completa logo depois: “Nunca deixou de procurar por você. Nenhum de nós deixou.”
Ele não sabe o que responder, sua mente ainda ocupada e obscurecida de formas abstratas demais para se prender a algo mais específico.
“Clarice?” sua voz está falhando novamente e sua mente está divagando mais uma vez, e ele sabe que é a última coisa que vai perguntar antes de deixar de fazer o esforço hercúleo que precisa para se concentrar.
“A mesma coisa. Acho que chega amanhã, na verdade. Você vai ver todo mundo, João.” Em sua visão periférica, ele pode vê-la balançando a cabeça. “Você não sabe a saudade que a gente estava de você.” E a frase simples invoca um pico de ansiedade em João. Ele não é a mesma pessoa que qualquer um deles conhecera. Não sabia o quanto restava de si mesmo, na realidade. Só esperava que quando percebessem, não- não. Ele nunca voltaria. Nunca.
E teria ficado preso em seu próprio redemoinho de desespero por muito mais tempo, mas ele logo se dissipou junto ao mar de seus outros pensamentos, simplesmente porque:
As janelas estão abertas, e a brisa acaricia seu rosto. Ele vê o borrão de árvores passando por cima deles, a aquarela de cores se misturando com a velocidade. E ele escuta. Ele escuta buzinas e pássaros e vozes e o rádio está cantando acordes desconhecidos e estrangeiros que acalmam seu coração acelerado. O perfume da estranha conhecida amiga ainda lhe é familiar. Seu rosto está molhado (ainda lhe restam lágrimas, ao que parece) e seus lábios racham porque ele está, não completamente e não totalmente, mas ele está.
Está sorrindo.
E a liberdade para fazer isto tinha uma beleza mais simples e mais preciosa do que ele jamais pensara que fosse sentir.
#eu estou muito orgulhosa disso???#yay!!#ditadura au#kristen#turn: kristen#apesar de que não é um turno#nem sei o que é isso pq n foi nem prompt#mas que se lasque#aquarela#que foi um nome muito aleatório que eu botei por falta de nome#fun fact o nome provisório foi ao vivo e a cores#mas eu não sei se usavam essa expressão#por sinal isso se passa em junho ou julho de 1979#foi tipo dias depois da lei da anistia ter sido anunciada
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4. u said
Fugir de você leva tempo e dor
e eu nem mesmo quero
então eu estou ficando alto toda semana sem você
(Lil Peep)
Chanyeol costuma dizer que o tempo cura tudo.
Acho que é a forma que ele criou para si mesmo de lidar com as coisas, porque, no fim das contas, isso funcionou superbem pra ele. Meu irmão era estudante de Arte, depois mudou pra Música, depois fez uma cadeira de Contabilidade e Finanças, depois Desenvolvimento de Software, e então finalmente acabou no que ele trabalha hoje: Desenvolvimento de Jogos.
Ele passou anos fazendo as coisas sem que nossos pais soubessem, e eu acho que ninguém além de Irene e eu sabemos que ele só pediu para se transferir dos Estados Unidos para a Coreia do Sul porque tinha conhecido um cara pela internet e as coisas estavam dando certo.
Chanyeol diz que o tempo cura tudo porque o relacionamento deles foi consideravelmente conturbado, embora eu não saiba exatamente porquê, já que ele não é de falar muito sobre essas coisas, mas eles voltaram anos depois. E, tecnicamente, agora tá funcionando, eles se entenderam e coisa do tipo.
O tempo ajudou os dois, e eu me pergunto se Baekhyun e eu também seremos assim.
Me pergunto se ele vai sumir do mapa e voltar anos depois como se nada tivesse acontecido.
Também me pergunto se ele vai ficar tempo suficiente pra ver nosso filho crescer.
Eu faço muitas perguntas. E a falta de uma resposta pra elas me mata mais a cada dia.
+
"Você não tem alguma coisa pra me dizer?"
Junmyeon estava sentado no chão do meu quarto, um livro sobre a história do Marketing numa mão e um copo de café na outra. Tecnicamente, ele estava ali pra me consolar pela merda que a minha vida estava sendo naqueles dias, mas desde que ele apareceu com a porcaria do livro, eu soube que não teria sua atenção a menos que me esforçasse muito pra isso. E, é, eu tava me esforçando um pouquinho, sim.
Ele ergueu os olhos das páginas e ajeitou os óculos.
"Que tipo de coisa?" Questionou, e continuou me encarando. Acho que ele tentou disfarçar seu nervosismo com a minha pergunta, mas não funcionou.
"Não sei, tipo o motivo de você ter desaparecido do Clockweight's depois de receber uma mensagem no celular?" Resmunguei, me virando pra deitar de lado e abraçando meu travesseiro com fronha de foguetes.
Ele voltou os olhos para o livro.
"Não quero falar sobre isso agora."
"E quer falar quando?" Continuei com meus resmungos. Eu era curioso pra caralho e sabia que ele estava escondendo alguma coisa de mim. Mas o pior nem era isso, o pior era o fato de que Joy parecia saber do que se tratava, porque eles dois andavam muito cúmplices ultimamente, mais até do que nós, e eu sentia cada vez mais como se estivesse sendo excluído do grupinho.
"Não sei, Sehun, mas não agora." Jun suspirou de uma forma excessivamente longa, o que fez com que eu me sentisse idiota, porque significava que ele estava incomodado.
Me movi na cama, esticando as pernas para fora dela e deslizando preguiçosamente para o chão, me juntando a ele no carpete. Arrastei o travesseiro para perto do meu amigo e deitei ao lado dele, esperando que fosse carência suficiente para ganhar um pouco da sua atenção.
Ele suspirou de novo, não tão longamente dessa vez, e tirou os óculos, deixando o livro e o café de lado para se concentrar em mim.
"Tem a ver com aquele cara de quem você costumava falar?" Perguntei, flexionando os joelhos e me ajeitando contra o travesseiro apoiado na parede. "Você nunca me disse o nome dele."
"Tem a ver, sim." Ele esticou as pernas, cruzando os tornozelos, e inclinou a cabeça contra a parede. "Eu gosto dele pra caralho e não tenho ideia do que fazer para que a gente fique junto de novo."
Me encolhi com aquelas palavras, porque coincidentemente meu irmão havia passado por aquilo e coincidentemente eu provavelmente passaria também. Olhei para ele, esperando que dissesse mais alguma coisa, mas pelo visto ele realmente não estava a fim de falar sobre.
"Já tentou, sei lá, conversar com ele?" Sugeri. Sabia que soaria idiota, mas eu não conseguia pensar em nada que pudesse ser melhor do que aquilo. Não naquele momento, pelo menos.
"Não é assim que funciona. Ele não é do tipo que senta pra conversar com pessoas que fizeram merda." Jun parecia extremamente incomodado, puxando os joelhos pra junto do peito pra depois esticar as pernas de novo. Era a primeira vez que ele ficava desconfortável perto de mim, e aquilo estava fazendo meu estômago revirar. "Ele é do tipo que segue em frente, e eu to na merda com isso, achando que qualquer dia a gente vai se esbarrar e ele vai estar com outro cara, melhor do que eu consegui ser pra ele."
Fiquei em silêncio, porque eu sabia que ele queria falar mais, só precisava de tempo pra formular as frases certas.
"É que sei lá, ele é um cara foda, entende? As pessoas são atraídas pra perto dele o tempo todo." Jun suspirou, e soou trêmulo, então eu sabia que ele estava quase chorando. Cutuquei sua perna e indiquei que ele deveria deitar também, pra pelo menos chorar no limite do fracasso, no chão do quarto do melhor amigo. "E eu morro de ciúmes, porque amo ele pra cacete e é um inferno estarmos na mesma festa e eu ser obrigado a ver um monte de gente dando em cima dele sem poder fazer nada. Eu nunca pude."
"Foi por isso que vocês terminaram?" Perguntei em tom baixo, deitando de lado pra poder esticar o braço e acariciar o cabelo dele, numa tentativa de acalmá-lo e deixá-lo mais confortável.
"Não. Terminamos porque eu sou uma pessoa de merda e não consegui mudar isso a tempo de ele parar de me amar."
Eu não fazia ideia do que ele estava sentindo, mas sabia que deveria ser um inferninho particular, principalmente porque eu tinha o meu próprio. Não sabia qual era o nível da dor emocional que Junmyeon estava enfrentando, mas sabia que ele definitivamente precisava se distrair daquilo, antes que acabasse explodindo.
Desejei que tudo ficasse bem com ele, que aquelas coisas passassem. Eu não gostava de ver meus amigos chorando ou o que quer que fosse, por qualquer motivo, era como se aquela dor pudesse ser minha também.
Tive vontade de protegê-lo, mas eu mal conseguia proteger a mim mesmo.
"Ainda acho que você deveria pelo menos tentar falar com ele." Murmurei.
"E você acha que eu já não tentei? Acha que eu já não fui até a merda da casa dele pra tentar conversar e passar essa história a limpo pra, talvez, um dia a gente recomeçar? Não é tão simples, Sehun. Nada nessa merda é simples."
"Você não precisa brigar comigo."
"Não to brigando." Ele se moveu e deitou de costas, pegando a minha mão que ainda estava em seu cabelo e colocando entre as suas, apertando de leve. Era a forma dele de reconfortar as pessoas, e eu achava aquilo engraçado porque era mega paternal. "É que eu to cansado de todo mundo me dizendo que conversa resolve. Não resolve merda nenhuma. Pelo menos, não o tipo de merda que eu fiz."
Olhei para ele, buscando uma resposta em suas expressões, na forma enraivecida com que ele encarava o teto cheio de estrelas de plástico do meu quarto. Mas não havia nada, pelo menos não algo que eu fosse capaz de identificar.
"Um dia você vai me contar o que aconteceu, de verdade?"
Outro suspiro.
"Um dia."
+
"Não vai se atrasar pra aula?" Chanyeol passou por mim no corredor, uma toalha enrolada na cintura enquanto usava outra pra secar o cabelo.
Estranhei que ele ainda estivesse em casa quando levantei pra tomar café, mas eu estava correndo de um lado pro outro há tanto tempo que havia esquecido daquilo. Eu tinha um trabalho sobre Daguerre pra entregar no dia seguinte e não tinha nem sequer começado a fazê-lo.
"Não vou hoje." Disse, recebendo um olhar inquisitivo, com direito a sobrancelha erguida e tudo.
"Por quê? Você não tem TCC hoje?" Ele estava parado no meio do corredor, me encarando de forma analítica e pingando água no chão que eu havia limpado um dia antes.
"Não, o meu é amanhã." Resmunguei, mudando de posição na cadeira pra continuar lendo a porcaria do livro sobre Daguerre, para pelo menos ser capaz de formular alguma coisa coerente pra colocar de introdução no meu trabalho. "Não pega no meu pé, eu só não vou porque acordei passando mal."
A expressão dele mudou de inquisitiva pra preocupada em dois segundos.
"Você comeu alguma coisa muito gordurosa ontem?" Perguntou, se movendo de onde estava para se aproximar de mim, encostando a mão gelada na minha testa.
"Não to com febre." Revirei os olhos. "To mal do estômago, Chanyeol. Só isso."
Eu me sentia uma bosta de irmão por mentir pra ele, mas não tinha coragem de contar sobre meus problemas, porque eu achava que seria muito filho da puta se fizesse isso, ainda mais com ele, o melhor irmão do mundo.
Me senti um merda quando ele sentou do meu lado e começou a me encher de perguntas sobre meu estado de saúde, porque eu sabia que ele estava se sentindo mal por não ter percebido aquelas coisas.
"Eu to bem, daqui a pouco já volto ao normal." Falei, só pra que ele se tranquilizasse. Seu olhar era sério sobre mim, e eu ri pra aliviar a situação. "É sério, Yeolie. Não precisa se preocupar, não é nada demais. E... você não deveria estar no trabalho? São quase nove horas."
"Consegui uma folga." Ele respondeu de forma tranquila, e eu relaxei imediatamente por perceber que havia conseguido desviar do assunto anterior. Ele bagunçou meu cabelo, deixando o braço cair sobre meus ombros. "É o seu TCC, não é seu merda? Precisa de ajuda?"
"Depende, você sabe alguma coisa sobre Daguerre?"
Ele ergueu os olhos para o teto e começou a sorrir.
"Ele não é o cara que inventou a Selfie?"
"Ah, vai se ferrar, Chanyeol."
Meu irmão começou a rir, então se levantou e desapareceu no quarto, indo vestir alguma roupa, pra depois voltar e secar o chão molhado do corredor com a toalha.
"Olha, eu posso não ser um gênio da Fotografia, mas posso te ajudar a pesquisar algumas coisas se você precisar." A calma na voz dele era invejável. Queria ter metade da paz de espírito que Chanyeol tinha. "Meu namorado vem almoçar hoje, ele conhece um pouco sobre esse assunto, ele pode te ajudar também."
Fiz uma careta.
"Vai ser a primeira vez que eu vou ver o cara e você já quer que ele me ajude nos trabalhos?" Resmunguei. "Acho um pouco perigoso, ele vai morrer de tédio."
"Ele é legal, Sehun. E é professor, acho que é você que vai morrer de tédio." Chanyeol rebateu, indo até a geladeira pra pegar uma garrafa de água.
"Caralho, como alguém como você namora um professor?" Brinquei. "Isso não é tipo, sei lá, o limite do clichê?"
"Clichê?" As sobrancelhas dele franziram.
"É, tipo, badboy e nerd, essas coisas?"
As sobrancelhas continuaram franzidas.
"Eu não faço ideia do que você tá falando, eu sou muito melhor do que um badboy, garoto."
Eu ri, e ele riu também, se aproximando pra realmente me ajudar a terminar aquele TCC maldito.
+
No dia seguinte, depois de apresentar meu TCC — e receber alguns aplausos e incentivos — para Junmyeon e Joy, recebi uma ligação do hospital.
Na verdade, quem recebeu foi Chanyeol, que ficou vinte minutos me perguntando porque eu tinha consulta marcada no laboratorial se estava tudo bem comigo.
Eu falei um monte de coisas pra encobrir a verdade, e ele me deu dor de cabeça com todas as perguntas que fez, logo de manhã, então eu estava um prego quando cheguei na aula. Pensei em tomar remédios para ver se aquele inferno de enxaqueca passava, mas fiquei com medo de alguma coisa mexer com... com o bebê, então tudo o que eu fiz foi beber litros de água e comer o sanduíche que Jun havia levado de café para mim.
Ele imaginou que eu fosse me estressar pra caralho com o TCC e esqueceria de comer, de tomar banho, de escovar os dentes e até de vestir a camiseta do lado certo, então preparou um monte de coisas pra me ajudar nesse processo, mandando mensagens pra eu acordar mais cedo e levando algo para eu comer antes da aula.
Joy nos encontrou no corredor. Ela estava vestindo um jaleco branco e aqueles sapatos sem cadarço de enfermeiro. O cabelo estava preso por um lápis num coque e ela estava usando óculos de proteção.
"O que você vai explodir hoje?" Perguntei, no limite do meu bom humor, enquanto caminhávamos lentamente pelo corredor das salas de aula, porque queríamos conversar e nos separaríamos assim que chegássemos à bifurcação no fim dele.
"To ajudando minha sobrinha com um trabalho de Química pro colégio." Ela sorriu e roubou um pedaço do meu sanduíche. "Meu professor teve uma emergência e o TCC de Biotec vai ser só na semana que vem. To tão aliviada que me sinto quase bêbada."
Junmyeon olhou para ela com uma cara estranha e eu sorri de forma preguiçosa. Aquela era minha expressão para 'eu quase ri mas to cansado demais pra isso'.
"Que alusão saudável." Eu reconheci aquela voz na hora, e por isso não me virei pra olhar pra ele no mesmo momento. Sinceramente, eu nem teria virado, mas os outros dois fizeram isso, então eu naturalmente segui a inércia coletiva.
Era Jongdae, segurando uma garotinha pela mão e, pela primeira vez em todo o tempo que eu o conhecia, usando uma camiseta branca sem estampa de coisas bizarras. Na verdade, ele parecia bem normal até, diferente do cara que eu costumava ver nas quartas-feiras, que ia para a minha casa vestindo preto e jaqueta de couro e que tocava bateria. Para ser sincero, ele parecia um enfermeiro com toda aquela roupa clara.
"Jiyeon!" Joy exclamou, entusiasmada, e a garotinha correu na direção dela, abraçando sua cintura. Observei as duas terem algum tipo de ataque de melhores amigas, depois olhei pra Jongdae, só percebendo naquele momento que ele estava usando jaleco também.
"Você estuda aqui?" Perguntei, estranhando o logo do complexo de Medicina bordado no bolso da roupa dele.
"Acho que só você não sabia disso." Ele sorriu, parecendo se divertir com a minha cara de confusão. "To no quarto ano de Odontologia, Sehun. E seu irmão dizia que eu não tinha futuro."
"Um monte de gente deve ter dito que você não tinha futuro." Reclamei enquanto mastigava o resto do meu sanduíche.
"Isso soou bem ofensivo."
"Não foi intencional." Me desculpei. "E aí, como vai a banda?"
Ele intercalava olhares entre Joy e eu, tomando conta da garotinha, provavelmente. Não me lembrava de já ter visto Jongdae agir com seriedade, mas ele parecia bem mais... maturo naquele momento. Talvez ficar perto do meu irmão e de Baekhyun deixasse as pessoas meio idiotas, ou talvez diminuísse a taxa de QI, alguma coisa do tipo. Não sei, ele apenas não parecia o mesmo Jongdae que eu costumava ver nas quartas-feiras.
"Hum... quebrada?" Ele parecia buscar uma palavra melhor. Quando não encontrou nada, deu de ombros. "Baekhyun foi..."
Ele se interrompeu quando o sinal que indicava o início das aulas — que era um sino de colégio que não mudava droga nenhuma porque todo mundo sempre chegava atrasado do mesmo jeito — começou a soar pelos corredores, dispersando as multidões lentamente.
"A gente vai se atrasar pra aula." Junmyeon interveio em um tom baixo, me puxando pelos ombros.
Levei dois segundos pra perceber a expressão esquisita no rosto dele, uma que eu via muito pouco: angústia. Eu não o repeli, em vez disso preferindo acompanhá-lo enquanto caminhávamos pelo corredor, na direção da primeira aula do dia e do tão problemático e profundamente estressante Trabalho de Conclusão de Curso.
"O que foi?" Eu quis saber, olhando para a cara de 'estou triste pra caralho no momento' dele.
"Jongdae." Ele só foi responder quando nós estávamos quase na sala de Fotografia.
"O que tem ele?"
Junmyeon suspirou e passou na minha frente para entrar na aula primeiro.
"Nada."
+
Eu odiava consultas, odiava hospitais e odiava procedimentos médicos.
Quando eu era criança, caí de bicicleta e quebrei o braço, e eu lembro que foi horrível precisar ficar internado por uns dias, com um gesso de oito quilos limitando meus movimentos e dores fortes e extremamente desconfortáveis enquanto o osso era realinhado.
Eu nunca mais andei de bicicleta depois daquilo, e minhas consultas no médico eram as coisas básicas, urologista, dentista e centros de enfermagem quando precisava tomar alguma vacina ou tirar sangue. Eu não fazia ideia de como era estressante estar no laboratorial com uma enfermeira e uma obstetra, as duas disparando perguntas como se estivessem numa competição para ver quem fala mais rápido, enquanto me apertam, furam e inspecionam de uma forma tão atenta que preocupa.
"Quanto... quanto tempo leva para sair os resultados?" Perguntei, enquanto a enfermeira tirava meu sangue. Eu não fazia da utilidade que aquilo teria num exame de paternidade, mas também não queria perguntar, mesmo que estivesse curioso pra cacete.
"Pode ficar pronto em até três dias." A obstetra disse, usando os dedos enluvados para apertar a base da minha barriga. "Você é magricela, então a barriga vai aparecer com um pouco mais de facilidade que para algumas pessoas. Ela vai começar a ficar firme no baixo-ventre, é como um acúmulo de gordura, mas firme e que não vai sair dali se você fizer exercícios ou dietas."
A enfermeira tapou o buraco da agulha no meu braço com esparadrapo e se afastou, levando as amostras de tudo o que precisava pra fazer o teste consigo ao sair da sala.
"Você tem carinha de que não se alimenta muito bem, Sehun, então estou sugerindo que você corte coisas excessivamente gordurosas durante a gestação, porque pode fazer mal para vocês dois." Ela havia se recostado na mesa perto de mim, me olhando de forma séria, analítica. "Você também apresentou níveis extremamente altos de estresse. Eu sei que isso é normal na sua idade, mas corre o risco de ter um colapso nervoso se não colocar a cabeça no lugar e fazer as coisas com mais calma. Estresse não é bom para o bebê, mesmo que eu saiba que provavelmente ele é o motivo de a sua cabeça estar um furacão."
Eu olhava para ela sem saber o que dizer, e acho que ela provavelmente estava acostumada com esse tipo de reação, porque parecia super compreensiva com a minha situação, sem cobrar que eu lhe respondesse ou fizesse mais do que assentir e concordar verbalmente.
"Depois que o teste estiver pronto e você decidir o que vai fazer com ele, eu quero te ver uma vez por semana, quero acompanhar sua gestação e te ajudar durante esse período." Ela sorriu. "Eu sei que é muito complicado, e é justamente por isso que precisamos de algum apoio psicológico. Seria bom se pudesse trazer alguém com você, só para termos uma garantia de que tem uma pessoa que está tomando todo um cuidado e te ajudando a, sabe, passar por isso nos primeiros momentos, que são os mais difíceis sempre. Você consegue pensar em alguém que poderíamos contatar?"
Pensei imediatamente em Chanyeol, mas precisei tirá-lo da cabeça no segundo seguinte, ao me lembrar que toda aquela situação não era um problema dele, e que eu não queria envolvê-lo em toda a merda que estava rolando antes da hora. Então pensei em Junmyeon, porque era meu melhor amigo e sempre estaria do meu lado.
Foi ele que eu escolhi.
Nem cogitei a ideia de chamar Baekhyun para aquilo.
Eu tinha certeza de que ele se negaria.
+
Eu sempre fui do tipo que pensa um milhão de vezes antes de fazer qualquer coisa, pelo medo fundamental de dar errado, porque eu conhecia bem demais a lei que diz que, se algo puder dar errado, dará. Se eu falasse sobre isso com Chanyeol, ele muito provavelmente me diria que preciso ser mais otimista, e que atraímos energias negativas quando falamos sobre essas coisas, etc., etc.
O que acontece é que eu me esqueci da Lei de Murphy no momento em que conheci Baekhyun. Nós tínhamos uma conexão boa demais, era tão gostoso e tão confortável estar perto dele, que eu conseguia facilmente me esquecer de todo o resto.
Me lembrava de já ter lido sobre isso em um monte de livros de romance clichê e nunca ter realmente entendido o que significava estar tão perdido em outra pessoa que você não consegue mais encontrar a si mesmo em meio a tudo e todas as coisas que também estão à deriva. Eu pensava que isso era puramente ficcional, que essas coisas não existiam na vida real, mas acontece que elas existiam, sim. E eu já não sei se posso culpar o carma por me provar isso, ou se devo culpar a mim mesmo.
Minha primeira vez foi no meu quarto, na minha cama, em cima dos meus lençóis e debaixo dos meus cobertores com estampa de espaço, estrelas e foguetes. Eu estava muito nervoso e Baekhyun foi tão gentil... Ele não tentou me tocar ou me guiar para tocá-lo até que eu estivesse calmo e me sentindo confortável com aquilo. Acho que isso era o mínimo que ele deveria fazer, é claro, mas mesmo assim, eu não conseguia deixar de me sentir... não sei, grato por aquilo.
A gente não usou preservativo da primeira vez, mas tomamos cuidado para usar nas outras e, bem, eu meio que não tomava anticoncepcional ainda, porque meus pais nunca conversaram comigo sobre e eu não fazia ideia de que não serviam só pra evitar gravidez, eles também regulavam a ovulação e as taxas hormonais. Como ninguém nunca tinha me explicado isso, eu pensava que tomar anticoncepcional era ter um tipo de atestado de que já tinha iniciado minha vida sexual, e eu queria ser o mais discreto possível sobre isso, principalmente por causa do meu irmão.
Baekhyun era a única pessoa que conversava comigo sobre, mas ele nunca cobrou que eu tomasse remédios nem nada do tipo, até porque ele vinha usando camisinha todas as outras vezes, só que... É.
Quando eu me lembrava da nossa primeira transa, eu também lembrava de todas as sensações dos beijos dele, dos apertos na minha pele, na minha cintura, na minha bunda, do gosto que a língua tinha e de como a boca dele era quente e macia. Lembrava de ouvir a risada baixa dele quando meu abraçou pelos ombros, me puxando para próximo de si depois que já tínhamos gozado, porque me queria bem pertinho.
A gente se fechou num mundinho só nosso, e eu dormi naquela noite com Baekhyun fazendo carinho nas minhas costas, beijando meu rosto e enrolando as pernas nas minhas.
Quando eu acordei na manhã seguinte, ele tinha ido para casa, mas tinha mensagem de bom dia no meu celular, com um coração no final.
Sempre que eu pensava nisso, eu me perguntava como o cara que fez todas essas coisas estava se negando a assumir um filho que ele ajudou a fazer.
Eu duvidava muito que o Baekhyun que sempre sorria de um jeitinho simplista e cúmplice depois de me beijar fosse o mesmo Baekhyun que me evitava nos corredores da universidade.
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emoutrouniverso5²
− Bem, eles não só são seguros, mas ... Even tocou a ponta de sua língua na orelha de Isak, que quase gritou − eles fazem o sexo oral muito mais divertido. E, você sabe, quando a língua se move para cima e para baixo ao longo do eixo ...
Even continuou traçando a língua sobre a orelha e o pescoço, imitando os movimentos exatos de que ele estava falando. Isak pôde sentir-se endurecendo e ele gemeu em resposta
– tem um gosto doce...
Even usou sua mão livre para segurar a cintura de Isak, enquanto Isak ofegava ao toque, estava tão ligado como nunca em sua vida , não era como assistir pornô, seus jeans estavam ficando cada vez mais apertados, enquanto Even continuava brincando com seus quadris e respirando pesadamente em sua orelha. Isak não podia acreditar que isso esta acontecendo no meio de um maldito supermercado, pelo amor de Cristo.
− $&@%¨*@% Even . ele gemeu, enquanto Even continuou a moer contra Isak em pequenos movimentos, movimentos que poderiam passar despercebidos por estranhos, mas foi muito, muito notado para Isak e seu p*u.
− Então, o que vai ser? Even respirou pesado quando começou a unir seus lábios ao pescoço de Isak
− Eu ... eu ... Isak lutou para formular uma resposta mas estava focado demais em Even e no que ele estava fazendo com ele. Isso até, eles ouvirem um barulho vindo de um corredor.
Even e Isak se distanciaram e voltaram a realidade , se entreolharam, cada um de seus rostos corados e seus pulmões sem fôlego. Isak deixou seus olhos vagarem pelo corpo de Even, até que ele encontrou a protuberância crescente nas calças de Even ,que fez ele se sentir tonto mas ele também estava assim e ... muito envergonhado, percebeu que ainda não tinha escolhido uma caixa de preservativos para Eskild. Isak ficou sem palavras. Even ainda estava olhando para ele, só que desta vez ele exibiu um sorriso tão brilhante e tão grande que poderia provavelmente curar o câncer.
−Por que diabos você está sorrindo? −Você é uma linda bagunça . Respondeu, sorrindo. −Não, eu não sou!
Isak pegou a primeira caixa da sua frente e não às que Even tinha lhe mostrado . −Obrigado pelas recomendações , de qualquer maneira . − Acho que não fui bem sucedido , você não escolheu nenhuma das minhas ele disse sorrindo , olhando para as mãos de isak, segurando uma caixa – mas divirta-se com isso . − Huh? Não ...isso não...
Isak tentou explicar enquanto Even passou por ele e começou a se afastar dando-lhe um último olhar antes de se virar e desaparecer da visão de Isak. Isak continuou no corredor, a boca ainda aberta e o corpo ainda incapaz de se mover. Ele ainda não conseguia entender o que tinha acontecido e para piorar agora Even estava pensando que ele iria transar com outra pessoa ?! Suspirou e fechou os olhos, antes de inclinar a cabeça contra uma das prateleiras de preservativos.
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Heart Out (Scenario)
Jung Hoseok (J-Hope) Autora: Florence Rivers Gênero: Romance, drama Sinopse: "Só eu sei quanto amor eu guardei sem saber que era só pra você." Contagem de palavras: 1.859 Avisos: Depois de apagar todas as minhas histórias e levar meses pra superar o bloqueio criativo, estou de volta. Tenham paciência comigo. A sequência desse scenario é Soneto XVII.
It’s just you and I tonight Why don’t you figure my heart out?
Durante os primeiros minutos de caminhada, me concentro apenas em manter os braços envoltos com firmeza ao redor do pescoço de Hoseok e as pernas fixas em suas laterais, seguras por ambas as suas mãos que envolvem minhas coxas com força suficiente para que seus dedos afundem ligeiramente no local por cima da calça jeans justa. Quando tenho certeza de que ele será capaz de me carregar durante as seis próximas ruas que nos separam de meu apartamento, arrisco um tímido comentário de incentivo:
— Você está se saindo bem. — elogio, desviando a atenção momentaneamente para um familiar letreiro neon na calçada oposta. — Estamos quase lá. — É fácil dizer isso quando você está sendo carregada nas minhas costas. — diz, rabugento, ainda que seu tom de voz denuncie que ele não estava realmente incomodado. — Eu posso continuar caminhando daqui, se você quiser.
Falo, a entonação manhosa, e Hoseok freia os movimentos de imediato, ainda que não faça menção alguma de me devolver ao chão novamente. Ele parece ponderar a proposta por alguns segundos e o ambiente cai em silêncio — com exceção dos ocasionais carros que atravessam a calma avenida que nos guia e sirenes que soam à distância —, para então dar um pequeno pulo e jogar meu corpo um pouco mais para cima, ajustando minha posição mais confortavelmente ao redor de sua figura.
— Chegue mais perto e segure com mais força. — ordena entre suspiros, o falso tom de aborrecimento arrancando um sorriso arteiro meu. — Você é o melhor, Hobi. — faço como pedido, me pressionando contra seu dorso de forma que meu corpo se encaixe o mais precisamente possível no seu. — É, é, é. Eu sei. — resmunga, denunciando seu verdadeiro humor ao deixar uma risada discreta escapar, alcançando meus ouvidos com facilidade devido à distância quase inexistente entre nós.
Interpreto aquilo como minha deixa para encaixar o rosto no espaço entre seu pescoço e ombro, apoiando minha bochecha sobre um de meus dois braços que continuam entrelaçados com convicção ao seu redor. Tomo o cuidado de não relaxar por completo o corpo em seu enlace para não dificultar ainda mais o seu esforço, mesmo que seja particularmente difícil após inalar o perfume com uma nota suave de vetiver que exala da pele de Hoseok.
Sua fragrância parece impregnar todo o ar ao meu redor quando uma lufada de vento forte faz com que seus fios de cabelo escuros ricocheteiem contra meu rosto, e eu sequer me importo com o fato de me sentir ligeiramente sufocada com sua presença, sua proximidade e seu cheiro. Eu ignoro totalmente os alertas enviados por meu cérebro, que sugere de forma sutil que eu me distancie e aguente a caminhada até meu apartamento com a dor nos pés causada pela maldita bota nova de saltos grossos que eu havia resolvido usar justamente hoje.
Meu cérebro também aconselha que eu afaste todos aqueles pensamentos sobre Hoseok — que eu acreditava estarem abandonados em um canto qualquer de minha consciência —, principalmente quando sou capaz de sentir com clareza o calor que emana de seu corpo, a temperatura suficiente para que eu amoleça, derreta e me molde ao seu formato.
— Me lembre de novo por qual motivo eu concordei em te carregar até em casa? — ele interrompe minha arriscada linha de raciocínio, e eu saio de meu transe momentâneo abruptamente. — Por que você está precisando se exercitar um pouquinho. — murmuro, minha voz saindo levemente abafada por estar comprimida contra seu pescoço. — E por que meus pés estavam doendo muito e você não aguenta ver sua amiga sofrer. — Só por isso? Eu não acho que é o suficiente. — Talvez por que eu não seja apenas uma amiga, mas sim uma amiga incrível que acabou de pagar o seu jantar mesmo contra sua vontade. — Ainda não estou convencido. — conclui, pensativo, e eu me esforço para formular alguma justificativa plausível para sua boa ação. — Por que você me ama.
Meu tom é de provocação, ilustrado por um aperto significativo ao redor de seu corpo, e eu deixo um riso debochado escapar ao refletir sobre o quão absurda aquela suposição parecia, ainda que fosse apenas uma sugestão despretensiosa. Levo alguns segundos imersa em minha festa particular de autopiedade, imaginando o quão hilário seria se Hoseok realmente me amasse, para então perceber que eu não estava sendo acompanhada por sua usual risada escandalosa. Levo mais um tempo esperando que ele finja me derrubar no chão como punição por meu comentário absurdo ou faça alguma observação sarcástica — “Eu? Amando? Francamente.” —, e quando nada acontece eu deixo que meu riso morra e minha mente vá da calma à calamidade em uma fração de segundo.
Ele parece ignorar totalmente o fato de que eu havia sugerido algo ridículo por pura diversão, seu silêncio fazendo com que meus batimentos cardíacos vagarosos evoluíssem para staccatos e consequentemente me fizessem questionar se ele podia senti-los pulsar contra suas costas coladas em meu peito. Minha mente formula dezenas de perguntas consecutivas, formando conexões que pudessem justificar sua falta de resposta, sem sucesso; Hoseok parecia não se importar em negar minha acusação, o que apenas alimentava meu desespero.
Durante o resto do caminho me limito a repetir mentalmente o mantra “Isso não significa nada” enquanto tento me concentrar, totalmente em vão, em acalmar minha respiração da forma mais discreta possível, ainda que eu estivesse certa de que Hoseok conseguia sentir meu hálito quente contra seu pescoço devido à nossa proximidade. E se ele havia reparado em algo diferente no meu comportamento — as mãos trêmulas, o ar inspirado e expirado com mais força que o necessário e a intensidade com que meu coração pulsava contra minhas costelas —, ele evitou demonstrar ou fazer qualquer tipo de comentário.
Continuo em silêncio ainda que minha mente esteja conturbada, e quando retomo minha consciência já estamos subindo os poucos degraus de mármore que levam ao lobby do meu prédio. Seguimos até o elevador, e Hoseok manobra o corpo de forma que eu alcance o painel para pressionar o número 9, observando as portas de metal fecharem-se à nossa frente e o ambiente quieto ser preenchido apenas pela respiração ofegante do garoto sob mim. Ao chegarmos e desembarcarmos no andar correto, ele repete a estratégia anterior para que eu consiga pescar a chave em minha pequena bolsa transversal e destrancar a porta de entrada.
— Muito, muito obrigada. — mio, constrangida, ao que Hoseok passa a caminhar em direção ao sofá, se abaixando levemente para que eu possa descer de suas costas e me acomodar no móvel. — Você está me devendo uma. — ele estica o corpo, girando os ombros para trás, e seus olhos escuros estreitam em minha direção ao fazê-lo. — Duas, até. — Eu sei. — abro o zíper lateral de minha bota e suspiro em alívio ao libertar um de meus pés, reproduzindo o gesto no outro em seguida. — Você tem todo o direito.
Arremesso o par de sapatos do outro lado da sala em protesto, os saltos fazendo um barulho escandaloso ao entrarem em contato com o assoalho de madeira, e me derramo sobre o assento, esticando as pernas. Antes que eu consiga me acomodar confortavelmente, contudo, sinto algo — alguém — deitar-se sobre mim, e levo alguns segundos para processar o fato de que Hoseok havia ignorado totalmente qualquer tipo de barreira de contato físico entre nós, a cabeça agora apoiada em meu peito e a parte inferior de seu corpo encaixado entre minhas pernas.
Ainda que demonstrações de afeto não fossem incomuns entre nós, com toda certeza aquele nível de intimidade era inusual; normalmente Hoseok tinha cuidado para não me deixar desconfortável com sua ternura esmagadora. E ao julgar pela forma como ele havia se aconchegado ainda mais, envolvendo minha cintura com seus braços e expirando o ar audivelmente em sinal de satisfação, sua cautela agora parecia uma memória distante.
Hoseok parece sentir minha inquietação quando eu me movimento sob sua figura, tentando encontrar alguma maneira mais satisfatória de acomodar dois adultos em um pequeno sofá de dois lugares, e murmura em apreciação quando o comporto melhor entre minhas pernas. Não satisfeito, ele tateia cegamente em busca de uma de minhas mãos, sem levantar da posição em meu colo, trazendo-a até o topo de sua própria cabeça, em um pedido silencioso de que eu afagasse o local. Eu hesito por alguns segundos, enterrando timidamente os dedos entre seus fios de cabelo finos e deslizando as unhas curtas em seu couro cabeludo, recebendo como resposta o som mais próximo de um ronronar que um ser humano poderia produzir.
O ruído arranca um sorriso meu, largo e sincero, e sinto todo o meu interior se acalmar, a sensação intensa o suficiente para que meu corpo finalmente descontraia. Minha reação é acompanhada pela mudança na posição de uma das mãos de Hoseok, que escorrega ao redor de minha cintura e encontra minha pele por baixo da camisa, seu dedão fazendo movimentos circulares na região e aplicando pressão o suficiente para que eu relaxe ainda mais, fechando os olhos de imediato.
— Isso é bom. — o garoto resmunga, as palavras arrastadas e carregadas de sonolência. — Acho que eu poderia ficar assim pra sempre.
E como se algo houvesse clicado subitamente em minha mente, me apegando ao fato de que eu também realmente poderia ficar assim para sempre, seu comentário inocente contribui para a realização de que eu havia me tornado o velho clichê do “apaixonar-se pelo melhor amigo”.
A epifania faz com que eu segure a respiração por alguns segundos, tentando controlar o desespero que ameaçava se manifestar, e eu torço para que mais uma vez Hoseok não perceba o caos interno que ele havia causado; torço para que ele não perceba o quão forte meu coração havia voltado a bater devido à sua presença e o quão quente meu corpo havia se tornado por consequência de seu toque.
Ironicamente, sua reação imediata é a de finalmente levantar a cabeça, seus braços descruzando-se de minha figura e suas mãos se apoiando no tecido macio do sofá, ambas nas laterais de meu tronco, prendendo-me entre seu corpo e o assento. Incapaz de mover-me, minha visão desvia de seu torso para seus olhos, varrendo toda a sua superfície no caminho com o olhar, e separo os lábios com a intenção de perguntar o que ele pensava estar fazendo. Quando o faço, alcançando suas orbes castanhas, todo o ar é expelido de uma só vez para fora de meus pulmões ao encontrá-lo já com o olhar fixo no meu, me examinando com intensidade o suficiente para que as palavras se percam no trajeto entre meu cérebro e minha boca.
Suas feições estão excepcionalmente sérias, os olhos incisivos me despindo de tudo o que tento esconder — em vão —, e sinto um nó formar-se em minha garganta, sufocada em um turbilhão de sentimentos simultâneos; entorpecida, entregue e exposta.
E enquanto eu luto para sustentar à altura a expressividade que transborda de suas vistas cravadas nas minhas, me pergunto como, com um só olhar, ele havia sido capaz de me virar pelo avesso e encontrar todo o amor que eu havia guardado, sem saber, que era só dele.
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um mês depois, um estalo momentaneo.
eu entendi que a gente não tá mais naquele lugar. que o tempo que eu passei conhecendo pessoas e vivendo coisas que me cansaram e me deram esperança, tudo num mesmo pacote e de uma só vez (porque a vida é mesmo cansativa e encantadora e isso faz parte), foi um tempo que você passou dando com a cabeça na parede e tentando recomeçar de todos os jeitos errados. eu entendi que você mudou milhões de vezes todos os dias de lá pra cá, do zero ao infinito. e eu entendi que quando, enfim, eu sentei ali pronta pra te contar tudo o que eu descobri da vida e de você e de mim, você só tinha as respostas automáticas que sua cabecinha problemática conseguiu formular. não foi só o mesmo papo antigo sobre como você sempre foi essa pessoa ruim, mas um foda-se. e eu fiz piada, porque quando eu fico nervosa eu faço piada, porque eu sempre te vi lá no fundo, atrás de tudo o que você sempre se esforçou tanto pra parecer. eu te vi insegura e indefesa diante da incerteza que é dividir a própria existência. e eu sempre soube que não era um sinal de morte emocional ou incapacidade, mas de medo. eu me disse uma vez: it takes one to know one. e eu sei que a sua reação ao medo é parar e a minha é fugir, mas eu consigo ver o medo igual ali no fundo dos seus olhos. quando você conseguia me olhar nos olhos e não tinha vergonha de todas as vezes que supostamente falhou comigo. o que eu queria ter te dito dessa vez é que nesse tempo todo eu também estive em falha e que, de maneira geral, isso é uma regra sobre todos os relacionamentos de qualquer tipo: você escolhe alguém que tenha qualidades e divide com ela tudo o que for possível até que ela cometa erros grandes. e então você perdoa e perdoa até que eles se tornem grandes demais. então você se afasta e deseja coisas boas. eu queria ter te dito que eu cometi meus erros e você nem sequer sabe, então talvez isso torne difícil de entender que eu escolhi você porque eu vi qualidades e que, aparentemente, nenhum erro foi grande demais.
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UM
Jenna estava de braços cruzados, batendo o pé esquerdo no mesmo ritmo que o homem parado à sua frente batucava o painel de metal com os dedos da mão direita ao redor do botão para solicitar o elevador - o mesmo botão que ele já havia apertado no mínimo umas três vezes. Ela seguiu o homem de meia idade, apertando o botão ao lado do número quatro enquanto ele se adiantava e apertava o número seis. Os dois dividiram o cubículo de metal espelhado por não mais que dois minutos mas Jenna soube que que foi o suficiente. Ela soube quando sentiu o suor na palma de suas mãos e percebeu seus próprios passos se apressarem em direção ao escritório, e quando mesmo após sentar em uma das cadeiras vazias na sala de espera seus pés não se acalmaram, parecendo ter vida própria enquanto batiam no chão e atraíam olhares aborrecidos.
Ela não sabia o motivo da ansiedade daquele homem com quem ela havia dividido o elevador, e muito menos o porquê dela conseguir senti-la como se de alguma forma aquilo tivesse sido passado para ela, no entanto uma coisa era certa: levaria algum tempo até aquela sensação desagradável na boca de seu estômago desaparecer, especialmente quando ela mesma tinha suas razões para se preocupar.
-Senhorita Harris?
Ela levantou o rosto e seguiu a voz em direção ao pequeno escritório da secretaria. Jacqueline Tyler, uma das funcionárias na administração da Universidade, estava sentada atrás da escrivaninha mogno e usava um paletó azul claro que contrastava com a parede carmim logo atrás de si. Ao ver Jenna, ela gesticulou para que a estudante se sentasse à sua frente.
-Olá, querida. - Jacqueline a cumprimentou com um sorriso, em seguida perguntando:
- Você sabe o motivo de estarmos aqui?
-Mais ou menos - Jenna admitiu - tem alguma coisa a ver com minha bolsa de estudos?
E sentiu sua pergunta suspensa no ar enquanto a senhora Tyler a encarava por trás dos cílios pesados pela quantidade de rímel, quase a matando de suspense antes de responder:
-Exato. Eu temo que sua bolsa de estudos terá que ser cancelada.
-O quê?!
O leve espasmo da secretária em sua cadeira fez Jenna perceber que talvez sua voz tenha saído alterada demais, mas não era para menos. Ela cruzou os braços em uma postura defensiva; e a senhora Tyler levantou seu indicador a pedindo para esperar um momento para buscar por algo no computador, fazendo o som das suas unhas postiças batendo no teclado preencherem o cômodo.
-Aqui, achei! - Jacqueline exclamou animada, em seguida se arrependendo ao ver a expressão apreensiva da garota à sua frente. Jenna se limitou a esperar pelo que a secretária tinha a dizer:
-O sistema mostra suas notas, além do seu percentual de frequência por período. Além da sua frequência estar abaixo do permitido pelo regulamento, suas notas estão zeradas em praticamente todas as matérias, o que infelizmente...
-Isso não é justo!- Jenna a interrompeu - Eu estava doente e eu falei com os professores.
Parte da afirmação de Jenna era verdade. De fato, Jenna havia passado boa parte do primeiro dia do período- e - o primeiro após semanas faltando aulas - negociando trabalhos e prazos com praticamente todo o corpo docente do curso de belas artes da Universidade de Strathwood. Para sua sorte,e graças a sua lábia,a maioria dos professores foram compreensivos.
- Senhorita Harris... - Jacqueline suspirou de um jeito aborrecido - Por mais que seus professores tenham deixado passar,você não trouxe para a secretaria nenhum documento justificando seu afastamento.
-Meu amigo, o nome dele é Sebastian … -Ela começou a formular a resposta sem muita certeza de aonde queria chegar com ela, fazendo com que as sobrancelhas da senhora Tyler se levantassem em antecipação. -Ele trouxe o atestado médico, você não recebeu?
As sobrancelhas de Jacqueline despencaram e franziram em sua testa, mas para o alívio de Jenna aquilo aparentemente era produto da sua confusão, e não de desconfiança. A verdade era que não existia nenhum pedaço de papel sequer que justificasse suas faltas,mas apenas a menção dele foi suficiente para plantar a dúvida na funcionária
-Eu creio que não, mas eu vou verificar.
-Talvez ele entregou para outra pessoa - Jenna disse e deu de ombros, quase acreditando na história que ela havia acabado de inventar,e do outro lado da escrivaninha, Jacqueline parecia ter se dado por vencida:
-Certo… Enquanto esse documento não aparece, eu preciso apenas que você assine nosso termo de responsabilidade.
E, após imprimir, depositou em cima da mesa uma folha de papel com um texto relativamente grande em letras miúdas, que Jenna apenas passou os olhos sem prestar muita atenção antes de assinar com sua caligrafia grande e arredondada, perguntando:
-Isso significa que minhas faltas foram perdoadas?
-Não, apenas uma notificação - Senhora Tyler respondeu, a encarando - Se você não trouxer nenhum tipo de documento para comprovar o motivo das suas faltas até a próxima semana, nós infelizmente teremos que cancelar seu benefício.
Jenna enterrou os dedos em seus cabelos, querendo arrancá-los da cabeça com o que ela havia acabado de ouvir e em seguida disse, mais para si mesma do que para Jacqueline:
-Eu vou dar um jeito nisso.
E saiu do escritório transtornada, de tal maneira que nem mesmo o tédio emanado pelas pessoas na sala de espera foram suficientes para acalmar seus pensamentos e todo o trajeto desde a secretaria, descendo os quatro andares do prédio principal da universidade e cruzando o campo de futebol, para finalmente chegar aos prédios universitários, foi realizado em poucos minutos enquanto suas pernas a levavam sem ela sequer perceber. Ela finalmente parou para tomar fôlego ao chegar ao seu destino final: a cozinha. Todo aquele estresse havia causado um buraco no seu estômago.
-Hey, Jenn.- Ela ouviu a saudação assim que entrou no cômodo.
Sierra estava sentada no balcão da cozinha, mexendo no celular enquanto suas pernas finas balançavam no ar sem tocar o chão. Jenna pode instantaneamente sentir a irritação da amiga, que parecia determinada em transferir toda sua frustração para a ponta dos seus dedos.
-Você em casa? - Jenna perguntou, surpresa- Achei que você ia…
-Pois é - Sierra a interrompeu - Eu ia fazer a visita guiada para uma tal de Esther Morris ou seja-lá-qual-for-o-sobrenome, mas ela simplesmente resolveu não vir.
-Então ela está oficialmente na sua lista negra?
Sierra assentiu com a cabeça para o divertimento de Jenna, em seguida perguntando:
-Mas e você? Conseguiu falar com os professores?
Jenna deu um suspiro cansado e começou a procurar por algo para comer nos armário de madeira da cozinha. Após checar a validade e jogar fora algumas embalagens vencidas, ela resolveu buscar por algo na geladeira enquanto narrava resumidamente o que havia se passado na sala da senhora Tyler, deixando convenientemente de fora a história contada sobre o atestado médico.
Ao terminar, ela encarou Sierra, que não havia desgrudado os olhos do celular até o momento, e a garota apenas comentou:
- Eles não estão errados,você sumiu por semanas.
E lá estava, Jenna pensou.
O ressentimento de Sierra, apesar de ser contido, não era menos perceptível.
-Desculpe por isso - Jenna respondeu pela acusação não feita, e Sierra finalmente encarou a amiga:
-Pelo quê? - ela perguntou
-Por sumir. Eu sei que isso te chateou.
Sierra deu de ombros sem dizer nada,tentando evitar um confronto. E talvez essa tática de fingir indiferença funcionasse com outras pessoas, mas não com Jenna - não quando ela sabia o que estava por baixo da superfície de toda aquela calma. Jenna preferia que a amiga gritasse e jogasse tudo na cara dela, qualquer coisa para acabar com a mágoa alheia e com a própria culpa.
-Eu fui atacada. - Jenna resolveu jogar a frase no ar quando o silêncio passou a ser demais.
E pela primeira vez ela recebeu uma reação honesta de Sierra: seus olhos castanhos arregalaram e o celular foi deixado de lado, virado com a tela para baixo sobre a superfície do balcão. No entanto, antes que seus lábios pudessem formular alguma frase, jenna a interrompeu, perguntando:
-Você lembra daquela festa que eu fui com o Seb, logo antes das provas?
Sierra assentiu com a cabeça sem entender direito o motivo da lembrança e Jenna prosseguiu:
-Naquela noite alguém colocou algo em nossas bebidas e nós apagamos. Eu acordei em algum lugar estranho e não via o Seb em lugar algum, mas ele estava lá e se não fosse por ele…
A garota pausou pela primeira vez para respirar após despejar todas aquelas palavras sobre a amiga atenta e cada vez mais apreensiva. Havia um nó em sua garganta que a impedia de continuar a frase.
- Eles tentaram ...? -Sierra perguntou com cautela e ela negou com a cabeça imediatamente, sabendo o que a amiga quis dizer. Apesar da verdade ser mais estranha do que ela podia imaginar, Jenna sentiu algo no estômago se revirar só de pensar no que mais aqueles homens poderiam ter feito com ela.
-Eles só bateram em nós e levaram nosso dinheiro. E eu simplesmente não conseguia sair de casa depois disso - Jenna concluiu, tentando encerrar o assunto de uma vez por todas. E sem o menor aviso, Sierra saltou do balcão e Jenna sentiu os braços finos da amiga em volta de si em um abraço apertado.
-Eu sinto muito Jenn, eu não sabia…
Jenna assentiu com a cabeça, sentindo os olhos arderem com o peso das lágrimas que queriam cair. E mesmo dizendo para a amiga que estava tudo bem, ela podia sentir a culpa a consumindo,fazendo com que ela escolhesse mentir que havia perdido o apetite apenas para ir direto para seu quarto. Com a mente exausta de preocupações, ela resolveu tentar calar os pensamentos e acabar com o silêncio do quarto colocando alguma música para tocar enquanto trocava sua roupa para o uniforme de trabalho. Todas as garçonetes no pub onde Jenna trabalhava usavam a mesma combinação de shortinhos vermelhos de cintura alta e blusas listradas, além do delineador destacando os olhos e o batom vermelho marcando os lábios - mandatórios para seguir a estética pin up do estabelecimento. Jenna duvidava que haviam garotas negras de cabelos naturais como ela estampando os calendários daquela época, mas mesmo assim ela gostava do estilo e vestiu-se sem muita pressa antes de sair.
***
O ar gelado da noite de Strathwood soprava seu rosto enquanto Jenna saía do prédio e andava até seu carro, amaldiçoando o short curto pelo frio que parecia determinado em congelar suas pernas, até sentir de repente um arrepio na espinha - que nada tinha a ver com o clima.
Jenna olhou para trás, e jurou por um segundo que havia algo ali, uma presença que ela sentia como dedos invisíveis que tentavam alcançá-la.
- Ok, isso é coisa da sua cabeça - ela disse para si mesma, tentando se convencer que não estava louca enquanto dava passos ligeiramente mais rápidos até seu carro, finalmente soltando o ar que estava preso em seus pulmões ao dar a partida.Depois de alguns minutos dirigindo, estacionou na esquina mais próxima ao pub, ouvindo a música e o som de risadas atravessando as janelas de vidro.Ao mesmo que toda aquela agitação a energizava, Jenna já podia sentir antecipadamente o cansaço em ficar horas em pé servindo mesas e absorvendo tantos humores.
Mesmo assim, ela empurrou a pesada porta de madeira e sorriu quando passou pelo enorme pôster do Elvis Presley que cumprimentava todos que entravam.Meghan, sua chefe e proprietária do Around the Clock, era levemente obcecada pela temática retrô e isso transparecia na decoração do bar: haviam fotos do rei do rock e outras personalidades da época espalhadas nas paredes, junto com diversos posters pin ups e relógios de paredes antigos, fazendo uma alusão óbvia ao nome do estabelecimento. Jenna passou pelas mesas tentando não esbarrar nos clientes ou ouvir gracinhas daqueles que já estavam bêbados antes de entrar na sala dos funcionários - o nome pretensioso dado ao minúsculo escritório de Meghan escondido nos fundos do bar, onde Jenna e os outros guardavam os pertences antes de começar mais um expediente.
-Hey, Jenna!
Sebastian veio andando na sua direção usando uma jaqueta de couro e os cabelos cor de areia em um topete estilo James Dean que complementava a versão masculina do uniforme de trabalho. Ele a puxou para um abraço apertado, e apesar da aparente alegria, ela podia sentir a tensão a esmagando. Apesar de não entender bem como aquela “percepção’’ funcionava, Jenna acreditava que algumas pessoas causavam nela sensações mais fortes que ela poderia considerar normal, e Sebastian era uma dessas pessoas. Ele era alguém que sentia tudo por inteiro, de um extremo ao outro em intervalos irregulares que quase levaram Jenna à loucura quando os dois moravam juntos. No entanto, saber que o amigo passava por aquela luta mental diária sem perder sua brandura era um dos principais motivos pelo qual Jenna gostava tanto dele.
-Certo, desembucha - ela disse, quebrando o abraço.
-Eu realmente não consigo esconder nada de você, não é?
Ela balançou a cabeça, tentando não sorrir com sua exasperação. No entanto, a garota entendeu no mesmo instante o motivo da sua angústia quando ele fez a seguinte pergunta:
-Você pode olhar as minhas costas?
Ela assentiu e ele tirou a jaqueta e a camisa, puxando o tecido pela nuca e a arrancando do corpo antes de virar-se de costas. Sem tempo para invejar sua prática, Jenna ficou na ponta dos pés e não precisou procurar muito para avistar os círculos intrincados que estavam marcados na pele sardenta de Sebastian, um símbolo que parecia não ser nada, mas significava tanto ao mesmo tempo. O símbolo, combinado com a tinta, possuíam propriedades mágicas que impediam que Sebastian se transformasse em um lobisomem durante a lua cheia.
-Ainda dá pra ver - Jenna respondeu, tentando soar o mais tranquilizadora possível
Ela também tentava não pensar o quanto era esquisito - para dizer o mínimo - que se não fosse aquela tatuagem, seu melhor amigo estaria correndo por aí em quatro patas uivando para a lua. A garota também tentava ignorar aquele pensamento de que ela mal havia arranhado a superfície ao descobrir a existência de lobisomens e bruxos que criavam tatuagens mágicas, se recusando a pensar demais no assunto. Aquele ditado que dizia que a ignorância é uma benção nunca fez tanto sentido em toda a sua vida.
-Sério, não dá pra vocês ficarem sozinhos cinco minutos sem arrancar as roupas um do outro?
A dupla se virou com a frase, e a garota tentou esconder a irritação ao ver a dona dela.
Lucie se aproximou deles com um sorriso no seu rosto redondo, mas apesar da brincadeira parecer inofensiva, Jenna sabia que havia malícia por trás das palavras da sua colega de trabalho, que tinha a mania constante de transformá-la em um alvo.
-É mais forte que eu - Jenna respondeu imitando o sorriso fingido da outra e sentindo seu antagonismo aumentar.
Sebastian, alheio à sutil troca de farpas, deu uma piscadinha para Lucie e respondeu:
-Você pode se juntar à nós quando quiser, Lucie
A garota se afastou com uma risadinha e Jenna revirou os olhos enquanto Sebastian colocava a camisa outra vez. Percebendo o gesto, ele perguntou do que aquilo se tratava e recebeu uma resposta bem direta em troca:
-Eu já disse que essa garota não é boa coisa - Jenna falava em voz baixa, mas sem esconder a indignação - e ao invés de se segurar nas calças, você fica flertando com ela!
-É mais forte que eu - ele repetiu a frase, fazendo uma imitação exagerada do sotaque de Jenna ,que ainda denunciava que a garota não era originalmente da cidade.
-Certo, depois não diga que eu avisei quando você precisar de uma ordem de restrição.
Sebastian gargalhou com o exagero da amiga, mas sua preocupação ainda estava ali. Jenna colocou a mão sobre seu ombro e tentou tranquiliza-lo:
-Seb, a tatuagem ainda está visível, você não tem com o que se preocupar.
-Eu já devia ter retocado, mas eu não consegui arranjar o dinheiro - ele respondeu, suspirando audivelmente.
Não bastando ser um lobisomem contra a própria vontade, Sebastian precisava sentir a dor de ser tatuado a cada ciclo lunar para que o feitiço continuasse funcionando, e cada “sessão�� custava uma quantia razoável de dinheiro. Jenna acreditava que o tal bruxo estava sugando o dinheiro de Sebastian e fazia questão de aproveitar qualquer oportunidade para dizer isso a ele, mas o amigo continuava confiando a vida à esse estranho.
-Você podia pedir para esse… bruxo - Jenna reproduziu a palavra da forma mais séria que conseguiu, mesmo com a tentação de fazer alguma piadinha - fazer um desconto ou algo assim. Aliás, quem é esse cara? Você nunca nos apresentou oficialmente.
-Ele disse que vocês se conhecerão na hora certa -Sebastian respondeu
-Palhaçada - Jenna bufou e seu amigo sorriu, balançando a cabeça.
-Vamos sua encrenqueira, já estamos atrasados.
Apesar da noite ter sido relativamente tranquila - não haviam tantas pessoas dispostas a beber em um segunda à noite, ao final do expediente Jenna se sentia exausta. Ela dirigiu o mais rápido possível para casa e se livrou do uniforme assim que chegou em seu quarto, se jogando na cama e sentindo seus olhos ficando cada vez mais pesados…
Luzes se acenderam e Jenna estava sentada, seus pulsos estavam presos nas costas da cadeira de madeira por tiras de plásticos que machucavam a pele, sendo observada por dois homens que tinham sorrisos cruéis e tão brilhantes que machucavam seus olhos. Ela tentava gritar, mas a voz não saía, até de repente tudo explodir ao seu redor e seu cérebro conseguir registrar apenas alguns detalhes da confusão: o enorme vulto escuro, gritos excruciantes de dor saindo das bocas que anteriormente sorriam e acima de tudo, o vermelho. Para todas as direções que ela podia olhar, espalhado em pedaços pelo chão e espirrados nas paredes. Seu corpo ainda preso à cadeira desabou em algo quente e molhado, e o cheiro metálico foi a última coisa que sua mente registrou antes de tudo se tornar escuridão novamente.
Jenna…
Ela abriu os olhos, e voz que a chamava para fora de suas lembranças parecia ter um rosto que se misturava com a escuridão do quarto. Jenna sentiu um arrepio na espinha e uma sensação aterrorizante que havia mais alguém ali, e acendeu a luz do abajur sentindo o coração pulsar na garganta. No entanto, apesar do que seus instintos diziam, ela estava sozinha, sã e salva. Ou talvez não tão sã assim, ela pensou enquanto se levantava da cama e pegava o caderno mais próximo e um lápis antes de sentar outra vez.Sua mão rabiscava com pressa o máximo de detalhes sua mente ainda conseguia registrar: os olhos escuros em sombras, o maxilar definido e os lábios que davam um meio sorriso ligeiramente arrogante, como se o homem da sua visão soubesse o que ela estava fazendo naquele exato momento.
Jenna fechou o caderno com força e o jogou no chão, antes de apagar a luz e se esconder em suas cobertas. Isso é loucura, ela dizia para si mesma. Ela já havia constatado a existência de bruxos e lobisomens, mas não podia acreditar que assombrações também eram reais.
Sua vida já era estranha o suficiente.
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