12 months — mark lee! parte I.
mark cria de sp!au × reader patricinha de sp!au (pt-br, +18)
sinopse: você demora doze meses para notar que está completamente apaixonada por mark lee.
contém: slowburn, SMUT, fluff. mark paulista, estudante de história, corinthiano e rapper. a reader é popular e estudante de arquitetura. menções à todos os membros do dream + karina e yunjin. menção à reader × jaemin. isso aqui deve ter TRÊS partes!!
notas: tá aí 😍😍😍
março : mudança de vida.
nada como o início da vida universitária. nesse momento, você 'reza' por muitas festas, jogos universitários, novas amizades e, quem sabe um ficantezinho. está na frente do espelho fazendo cachos para o seu primeiro dia de aula na faculdade de arquitetura e urbanismo. você passou de primeira, direto do ensino médio para a usp, o orgulho dos seus pais! mesmo que isso não fosse, de fato, surpresa para alguém, afinal, você sempre levou os estudos a sério – e teve condições para tal. você não poderia estar mais feliz, porque, além disso, dois de seus melhores amigos, também passaram para o mesmo curso, já a sua melhor amiga, passou para gestão de políticas públicas.
quando o relógio bateu seis e quarenta da manhã, você pegou a sua bolsa e acompanhou seus pais até o carro. sua mãe fez questão de levar você para o seu primeiro dia na melhor universidade da américa latina.
— eu estou tão orgulhosa de você, meu bebê! eu sabia que chegaria longe. dá teu nome. – a mais velha, sorridente, diz. faz questão de beijar a sua bochecha e te esperar sair do carro para acelerar. você se despede com um sorriso caloroso.
você também sorriu para a imensidão na sua frente, dali em diante, sua vida seria outra. e não demorou muito tempo para que você se encontrasse com jaemin e donghyuck, seus 'fiéis'. os três se abraçaram coletivamente, felizes. vocês haviam se visto dois dias antes, no rolêzinho de despedida das férias: você, os dois e karina, sua melhor amiga. e foi nessa animação toda, que vocês seguiram para as palestras de boas vidas oferecidas pela faculdade naquele dia. depois, provaram o seu primeiro bandeijão. passearam por todo o campus, encontraram colegas da escola (tais como chenle, que havia capturado karina por estarem no mesmo curso) e foram parar na 'FFLCH', a faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da USP, atraídos por chenle.
chenle estudou na mesma escola que você e seus amigos, foi da sua sala em algumas séries. ele têm amigos para todos os cantos do mundo, é amigável, engraçado e tagarela, então não foi surpresa quando ele os arrastou para conhecer seus amigos do curso de história. chenle é uma pessoa de amizade fácil, vocês rapidamente se aproximaram ainda mais dele.
os estudantes de história que chenle apresentou eram renjun, jisung e mark. você já os conhecia brevemente: jisung estudou com você na sétima série, renjun e mark eram mais velhos e estavam uma série acima, portanto, não eram calouros na faculdade. você já havia os visto no colégio, mas sempre se manteve com a galera da sua idade. apesar disso, os três foram muito gentis.
você acabou pegando o número de telefone de renjun no final da tarde. não como uma forma de flerte! vocês tinham muitos gostos em comum e seria legal fazer amizade com alguém novo na faculdade. de qualquer forma, ele é bem bonitinho.
abril : rolê universitário.
nas primeiras semanas de aula não rolou muita coisa. no primeiro final de semana, você foi para um barzinho com seus colegas de curso, na intenção de se conhecerem melhor. acabou fazendo amizade com jennifer huh, uma ruiva do interior de são paulo que agora estava morando na moradia da universidade. depois disso, os professores começaram a jogar matéria atrás de matéria, então, os rolêzinhos começaram a melar.
no entanto, era o fim da tarde de uma sexta-feira quando chenle adicionou você e seus amigos à um grupo no whatsapp. ele e seus colegas estavam convocando para uma noitada no beco do batman; bebida e uma roda de rap 'daora. é claro que você topou de cara, então, todo mundo decidiu se dividir 'pra ir de uber e beber à vontade. como sempre, você resolveu fazer chamada de vídeo com karina para escolherem as roupas juntas e, dessa vez, adicionou jennifer também. as duas se deram bem, o que foi um grande alívio. com ajuda das meninas, você escolheu um cropped preto de mangas cumpridas, uma minissaia de tecido brilhante e o seu inseparável vans old skool.
depois que desligou a chamada, foi direto para o seu banho. você curte se arrumar ouvindo música, então colocou uma playlist de música brasileira bem animada e partiu pro chuveiro. cabelo lavado, seco e babyliss feito. você levou duas horas para terminar sua maquiagem e escolher seus acessórios – sempre foi extremamente vaidosa e isso não era surpresa entre seus amigos, bem como não era surpresa para seus recém conhecidos. quando finalizou, ainda faltavam cerca de vinte minutos, então passou um tempinho tirando fotos para postar nos stories do instagram.
você chegou junto de suas amigas no local marcado, encontrando todos os meninos e mais uma galera. é claro que jaemin implicou, dizendo que você sempre gasta cinco horas pra se arrumar e se atrasa, mas posteriormente, beijou sua bochecha e abraçou sua cintura de maneira carinhosa. todo mundo se cumprimentou e foi aquela coisa; cerveja e um bate papo legal.
depois das duas primeiras horas, o grupo resolveu entrar numa balada qualquer pra aproveitar até o horário da roda de rap. uma galera acabou sumindo; tinha gente se pegando, gente que foi procurar maconha e outros exaltando a pista de dança. você permaneceu com os seus conhecidos. naquele ponto, já havia bebido o suficiente para se soltar. fazia um tempo que você não ficava com alguém, então acabou apelando para o que seria fácil e confortável naquele momento: jaemin.
você e jaemin eram melhores amigos, porém, beneficiavam um ao outro quando necessário. 'cês tinham aquele coisa de amizade colorida e todo mundo sabia. nos últimos meses vocês se viram dessa maneira poucas vezes, por falta de tempo. mas, não quer dizer que não rolava por telefone mesmo. o lema era: tá com vontade? eu também tô. a real é que teu grupo de amigos já tinha se pegado de alguma forma.
jaemin estava conversando com mark, chenle e karina, enquanto você, renjun, jisung e donghyuck aproveitavam a pista. você disse para os meninos que iam pegar alguma coisa 'pra beber e se aproximou do outro grupo. mark sorriu pra você e te ofereceu um gole da cerveja dele, você sorriu de volta e aceitou a garrafa.
— cansou de dançar? – karina te abraçou por trás num gesto carinhoso.
— eu vim buscar algo pra beber, linda. – acariciou os dedos delicados da amiga. — e eu queria roubar o jaemin de vocês um pouquinho. eu posso, nana? – fez biquinho, encarando os olhos do mais alto.
— claro! – quando vocês se arrastaram para o escuro, jaemin já sabia exatamente o que você queria.
jaemin te encurralou na parede e por ali vocês ficaram: se beijando devagarinho, gostoso, com muita pegada. vocês não tinham muitos limites, em poucos minutos, ele já estava com a sua calcinha no bolso e dois dedos fodendo sua bocetinha, malandro. ainda te beijando, abafando seus gemidos e suspiros com a língua. ele sabia exatamente o que fazer 'pra te deixar encharcada e molinha, e justamente por isso, era sua primeira opção quando o tesão batia. sem vergonha, você enfiou uma das mãos dentro da calça dele, iniciando uma masturbação gostosa no pau grosso.
vocês ficaram ali por cerca de uma hora e, depois que ambos gozaram, resolveram voltar para o grupo. fizeram o melhor para que ninguém notasse.
— o que vocês dois foram fazer? – karina questionou.
— a gente foi procurar um amigo do jaemin, nada demais. – você sorriu gentilmente e os amigos deram ombros.
quando bateu a hora, toda a galera que sobrou saiu da balada e então, vocês seguiram para a roda de rap. descobriu que mark lee curtia improvisar e ficou curiosa para ver sua performance. surpreendentemente ou não, ele realmente arrasou e acabou sendo aplaudido por geral. você gostou de ouvir a voz dele e tomou coragem para elogiar.
— nossa, você manda muito bem no improviso, mark! parabéns. – aproximou-se do moreno, que trajava uma camisa do corinthians e um óculos estilo juliette. você ficou surpresa, mais uma vez, por ele torcer pro seu time do coração. — tu é corinthiano?
— valeu, linda! – ele sorriu de maneira contagiante. — sim, 'pô, é óbvio. tu também é? – lee não escondeu a surpresa em sua voz. — qualquer dia vamos num jogo juntos? meus amigos, a maioria, torce pra outro time.
— bora! meus amigos também torcem 'pra outros times. eu tô precisando de amigos corinthianos mesmo... – você riu, desviando o olhar para o chão.
— me passa seu número? – mark te entregou o próprio celular e você anotou seu número ali.
a noite acabou dessa forma. você passou mais alguns minutos trocando ideia com mark e depois, chamou um uber com suas amigas. chegou em casa, tomou banho e simplesmente capotou.
maio e junho : amizade.
maio e junho foram meses corridos. o semestre já estava chegando ao final; foram provas atrás de provas, trabalhos atrás de trabalhos e matérias atrás de matérias. você estava sentindo dificuldade de conciliar tantas atividades e a sua vida social. durante esse tempo, você acabou vendo seus amigos somente na hora do almoço ou horários livres – que eram raros. você acabou se aproximando bastante da galera que chenle te apresentou, por conta do grupo que vocês tinham no 'zap. vocês conversavam bastante durante a noite e nos fins de semana. em especial, tu criou uma amizade bem legal com mark depois que descobriu que ele também é apaixonado pelo homem aranha, justin bieber e frank ocean, assim como você.
você e mark trocavam mensagens todos os dias, sobre os mais diversos assuntos e até dividiam o fone de ouvido ás vezes durante o horário livre. se seguiam no spotify e criaram uma playlist com recomendações um para o outro. também pegava carona com ele quando vocês tinham horários parecidos e se sentia agradecida pela possibilidade.
um certo dia, você virou a noite só conversando com mark no chat privado. vocês começaram falando sobre cinema e terminaram refletindo sobre a vida; a infância, ser cobrado na escola, atividades extracurriculares e até mesmo complexo de inferioridade. estava impressionada com a capacidade do meio-canadense de manter um assunto até o final e recomeçar outra coisa, ele não deixa a conversa morrer de forma alguma.
então, a amizade com mark foi, definitivamente, o ponto forte. você não se veria mais sem ele; sem o bom dia dele, o boa noite dele e a áurea dele. mark te trazia uma felicidade e liberdade genuína. dessa maneira, você se sentia agradecida pela existência dele.
julho : o mês em que tudo mudou.
julho sempre foi o seu mês favorito: férias de meio ano e clima agradável. suas provas e trabalhos passaram ligeiros e logo você concluiu o primeiro período de arquitetura e urbanismo na universidade de são paulo. honestamente, você só queria descansar e passar tempo com a sua galera. e é claro que vocês já tinham planos para o recesso: passar uns dias na casa de campo da família de chenle. piscina, bebida, natureza e diversão, era disso que você precisava.
logo na primeira noite de segunda feira livre vocês pegaram estrada rumo ao sítio. você, jaemin, karina, renjun e chenle num carro, o resto no se dividiu em mais dois carros. o caminho foi tranquilo, você dormiu no ombro do melhor amigo e só acordou quando estavam estacionando. a casa enorme, porém, nada de extravagante, na verdade, era um local extremamente aconchegante. você e as meninas correram para escolher um quarto antes de todo mundo. todos estavam cansados, então a noitada naquele dia, consistiu em cada um na sua cama pelo resto da madrugada.
no dia seguinte, você acordou por volta de meio dia. espiou a varanda e se deu conta de que todos os seus amigos já estavam na beira da piscina. depois, se apressou para trocar de roupa e dar um jeito no rosto. deu uma olhadinha rápida no espelho para conferir se o biquíni cor de rosa parecia bem em você e sentiu-se satisfeita com o próprio corpo – afinal, ele nunca havia sido um problema para você, era uma garota cheia de confiança.
quando desceu a escadaria de mármore, deu de cara com mark e, sem vergonha, ele te olhou de cima a baixo, sorrindo de cantinho. você ficou envergonhada, mas não demonstrou qualquer tipo de timidez. ao invés disso, aproximou-se do mais alto, o abraçando de maneira desleixada. sentiu o corpo dele se estremecer e foi quando você parou para pensar que vocês nunca estiveram tão próximos fisicamente, muito menos tão próximos fisicamente em poucas roupas, mesmo assim, ele retribuiu o abraço, segurando sua cintura.
— ontem 'cê não falou comigo quando a gente chegou, achei que tu ia me ignorar. – mark murmurou em tom rouco, fazendo você estremecer agora. lidar com o jeitinho canalha dele por celular era fácil. lidar com o jeitinho canalha dele por perto de outras pessoas era suportável. lidar com o jeitinho canalha dele cara a cara, era um desafio.
— desculpa, markie. – você murmurou de volta, sorrindo meiga para ele. — eu estava muito cansada e fui direto dormir.
— tranquilo, boneca. – ele piscou um dos olhos. — bora, vamos 'pra piscina.
você quase obrigou suas pernas a funcionarem. caminhou com mark até o lado de fora, onde todo mundo fazia bagunça e se sentou numa das cadeiras, pertinho de karina.
e por incrível que pareça esse dia foi tranquilo. a quarta-feira também foi tranquila. a quinta-feira também. a sexta era o último dia e vocês resolveram fazer uma resenha, só pra comemorar no último dia. e tá aí o problema.
você se acostumou com o jeitinho de mark depois de passar bastante tempo sozinha com ele. bastante tempo sozinha conversando, é claro. ele acabou sendo tua companhia de fim do dia; quando todo mundo dormia, vocês ficavam acordados botando o papo em dia até caírem no sono.
acontece que, você nunca foi boba e mark não era de perder tempo. apesar dele ser seu amigão do peito e tu curtir muito os aspectos da personalidade dele, estaria mentindo se dissesse que nunca notou o quão gatinho ele é. e que nunca notou o jeito que ele te olha. ou que nunca imaginou algo a mais. você já imaginou coisa demais.
naquela noite, mark te pegou de cantinho. você meio alterada e ele também, com o típico bafo de cerveja e cigarro.
— vem cá, o que eu preciso fazer pra tu me dar um beijo? – ele perguntou, apoiando as duas mãos ao lado do seu rosto.
— me beijar.
ele não perdeu tempo, agarrou sua cintura e te arrastou para dentro do primeiro quarto do corredor. ali, ele permaneceu na mesma posição, apenas a empurrando na parede antes de colar os lábios num beijo lento, lento e quase torturante. mark brincava com a sua língua, suavemente a sugando. você suspirou durante o beijo, o fazendo rir. ele mesmo se cansou do ritmo torturante e transformou aquilo num beijo fervoroso, lotado de tesão e vontade. as mãos do canadense tocavam seu corpo sem vergonha alguma; ele apertou sua bunda e bateu com força só para mostrar quem é que manda.
quando se separaram, você se assustou com a rapidez em que ele tomou uma nova atitude.
— 'cê quer continuar, boneca? – você assentiu ansiosa e ele riu baixo, estalando a língua. — imaginei. – ele se ajoelhou de qualquer jeito e você ficou curiosa. ele acariciou suas coxas expostas pela saia curtinha que estava usando. o cômodo estava escuro e a única luz que podiam ver, era a da área da piscina, onde geral estava festejando. mark deslizou os dedos pelo interior da sua coxa, tocando a barra da calcinha rosa de renda.
você sentiu a peça íntima molhada, grudada na sua pele, incômoda. queria alguma coisa e não sabia exatamente o quê, precisava de qualquer estímulo de mark lee. ele pareceu ter lido a sua mente e, em seguida, segurou sua coxa com uma das mãos, te fazendo levantar e abrir as pernas imediatamente.
— porra, você 'tá me deixando bêbado com esse seu cheiro doce e gostoso. – ele beijou o interior da sua coxa, a mesma que estava segurando e esfregou a ponta do nariz na sua boceta coberta.
— markie... – gemeu manhosa, puxando os fios escuros do canadense.
— o que você quer? diz pra mim o que 'cê precisa. – você não o respondeu, apenas empurrou o quadril contra o rosto dele. — quer que eu chupe essa bocetinha gostosa, é? – mark afastou sua calcinha, expondo sua boceta encharcada, pingando, precisando dele.
estava ansiosa, fechou os olhos e chamou por ele baixinho. mark não hesitou em abocanhar todo o seu mel e se sentiu incentivado quando você gemeu o nome dele outra vez.
e como nunca pode dar tanta sorte de uma vez, foi retirada do seu transe quando ouviu vozes se aproximando. mark se colocou de pé e foi apenas o tempo de você se colocar em sua posição inicial outra vez para encontrar chenle e donghyuck na porta. para piorar, eles acenderam as luzes. mark conseguiu a esconder a ereção, mas seus lábios ainda possuíam resquícios do melzinho. você, toda descabelada e desarrumada, entrou em pânico.
— que merda vocês estavam fazendo, caralho? esse é o quarto que eu estou dormindo. – donghyuck tomou as rédeas da situação, encarando ambos de forma incrédula. — pelo menos fechem a porta, desgraça. dá pra te ouvir gemendo lá de baixo. – desviou os olhos para os seus olhos. chenle concordou e tampou a boca para rir.
você ficou completamente sem palavras. e genuinamente, com lágrimas nos olhos de tanta vergonha.
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For a lifetime parte II - Pt-Br
Parte I aqui
avisos: +18. NSFW, angústia, smut, palavrão, fluff, personagem original.
Palavras: 12.141 (eu sei, exagerei um pouco)
Sinopse: Lewis e Angie se conheceram na adolescência e depois de pouco tempo já eram inseparáveis, essa relação foi escalando e logo eles se tornaram mais do que amigos. Mas a vida aconteceu para os dois e eles acabaram tendo que se separar. 9 anos depois eles se reencontram e descobrem que aquele amor nunca foi embora.
Notas: Para ler a segunda parte não é necessário ter lido a primeira, mas pode ser que você fique boiando em alguns assuntos abordados.
Alguns acontecimentos estão fora de ordem cronológica.
Agosto 2015
Ajeito o colar com a minha inicial em meu peito e dou uma última olhada no espelho. O batom vermelho destaca meus lábios de uma forma que eu não tenho certeza se é agradável ou vulgar. Mas tento afastar esse pensamento já que já troquei de batom 3 vezes nos últimos minutos.
-Se acalma. -Sussurro para mim mesma enquanto encaro meu reflexo.
Ainda estava desacreditada em tudo o que aconteceu em minha vida, tudo caminhou tão bem nos últimos anos, mas não pensei que chegaria a esse ponto. Fazer parte da direção criativa de uma marca do tamanho da Valentino é muito mais do que sonhei. Mas aqui estou, em Londres, minha nova casa desde o último ano, trabalhando com meu maior sonho. O trabalho é maravilhoso, e por mais que eu não use meus próprios desenhos, ajudo a gerenciar tudo que envolve a marca e suas coleções.
Quando tudo aquilo aconteceu entre eu e Lewis, por um momento eu pensei que meu plano não fosse dar certo, tive medo de ter aberto mão da melhor coisa da minha vida por um sonho longe de se tornar realidade. Foi difícil no começo e até hoje penso muito em como poderia ter sido, mas não me arrependo por um segundo da decisão que tomei, por mais que tenha doído por anos.
Precisei da maturidade que o tempo trás para conseguir lembrar de Lewis com um sorriso no rosto, e admito que não deixei de torcer por ele em nenhum momento em todo esse tempo. Ver ele ganhando 2 títulos mundiais e indo a caminho do 3º me fez a pessoa mais feliz e orgulhosa do mundo. Mas sei que a nossa história teve seu fim, demorei para aceitar isso, mas eventualmente aconteceu, eu consegui fazer as pazes com a minha decisão e com o fim da nossa relação.
Pego meu celular e checo por uma última vez o endereço do salão onde acontecerá o coquetel de apresentação da nova coleção da Valentino. Por mais que eu esteja nesse trabalho há algum tempo, eu ainda não me acostumei com todo o luxo em volta disso, coquetéis exclusivos como esse é algo que não sei se vou me acostumar um dia.
❀
Desci do banco de trás e agradeci ao motorista antes de bater a porta, olho para a grande construção e me sinto intimidada por seu tamanho. As escadas e colunas de mármore do salão só mostram um pouco de toda a magnificência que contém dentro do local.
Toda a decoração do salão está no lindo tom de rosa Valentino e eu não poderia imaginar algo a mais do que tamanho bom gosto.
Não demoro a achar minhas colegas de trabalho perto do bar, o lugar está cheio e eu não conheço a maioria dessas pessoas, há muitos convidados, funcionários, e outros estilistas de todas as partes do mundo. Valentino não economizou nem um pouco nesse coquetel.
-Angie! -Tinha deixado meus colegas e ido explorar o salão quando escutei sua voz me chamando.
-Paolo, querido! Como está?
Paolo é o diretor chefe da Valentino, fora ele quem me descobriu em Paris e me chamou para trabalhar em sua marca, com o passar do tempo acabamos virando grandes amigos.
-Tudo ótimo. -Paolo me entregou seu braço, que aceitei e passamos a andar juntos pelo salão. -Que vestido maravilhoso, eu me pergunto que mão talentosa o assinou.
Ri com seu comentário e bati de leve minha mão na dele. Meu vestido grita Valentino.
-O melhor de todos, é claro.
Paolo me guiava pelo salão e parecia em busca de alguém.
-Venha bela, quero te apresentar ao nosso modelo principal dessa nova coleção.
-Pensei que continuaríamos com o Miles, não?!
-Ah não, acho que essa nova coleção merece alguém com mais…Personalidade, sabe? E felizmente conseguimos achar alguém perfeito.
Eu andava olhando para Paolo, então quando chegamos até a tal pessoa, eu mal reparei em quem era, até escutar seu nome.
-Lewis, deixa eu te apresentar nossa diretora criativa. -Ele se virou para nós e pude ver o pânico em seu olhar assim que pousou em mim. Já eu não estava diferente. Não. Não pode ser. -Angie, esse é Lewis Hamilton. Você deve conhecer ele, grande piloto de fórmula 1, e agora nosso mais novo modelo da nova campanha.
Oh não.
Não.
Por favor não.
A dor que estava sentindo em meus pés por conta do salto alto sumiu de um segundo para o outro. De repente eu não sinto mais nada, o imenso salão se tornou um pequeno cômodo no momento em que percebi quem estava na minha frente. Apertei o braço de Paolo inconscientemente, não faço ideia de como minha feição está nesse momento, mas se o meu choque estiver transparecendo, estou deixando claro para todos a surpresa em reencontrá-lo.
Tenho a sensação de que posso desmaiar, é como se todo o meu sangue tivesse sido drenado do meu corpo, estou gelada, tentando processar tudo e não acabar vomitando aqui mesmo, na frente de todo mundo.
Lewis está tão diferente. Mas ao mesmo tempo parece a mesma pessoa que deixei em Stevenage nove anos atrás. É quase que uma afronta a forma em como a passagem de tempo só serviu para deixá-lo ainda mais atraente.
Ao mesmo tempo em que a minha vontade é sair correndo desse salão e não olhar para trás, eu também poderia ficar horas aqui, olhando para ele e marcando em minha mente cada coisa que mudou em seu corpo e cada coisa que continua exatamente igual. Como seus olhos, esses olhos lindos que eu reconheceria em qualquer lugar desse mundo e em qualquer momento da minha vida, esses mesmos olhos que choraram comigo, e essa mesma boca que me fez promessas em vão.
Eu quero chorar, quero dar um abraço e depois bater nele. Tudo de uma só vez. Mas é claro que não farei nenhuma dessas coisas, ao invés disso ficarei aqui, olhando para ele e fingindo que estou bem e que as memórias de anos atrás não me afetam mais.
Me enganei muito bem ao me fazer acreditar que pudesse superar esse homem que está agora parado bem na minha frente.
Não consigo deixar de olhar para ele, mas pela minha visão periférica consigo sentir o olhar de Paolo ao meu lado me queimando, eu sei que tenho que agir, mas não sei como. Mas então Lewis faz isso por mim, vejo sua mão se deslocando do lado de seu corpo, onde estava relaxada, e se estendendo em minha frente, esperando por um aperto.
-Prazer em conhecê-la, Angie.
Espera aí. O quê? Ele vai fingir que não me conhece?
Se eu estava com cara de confusão antes, isso só aumentou agora. Por que ele faria isso? Por que está agindo como se não me conhecesse?
Ainda estava imóvel e foi preciso um pequeno empurrão de Paolo para eu voltar a realidade.
Rapidamente aperto sua mão, tentando não ficar mais do que o necessário em contato com ele. E torcendo para minhas mãos trêmulas passarem despercebidas por ele e por Paolo
-O prazer é meu.
Também não sei porque não o desmenti, poderia ter falado algo mas não fiz. Só segui o seu jogo, seja ele qual for. Não quero estender isso nem por um segundo a mais do que o necessário.
Lewis sorri para mim, o que faz meu estômago revirar de ansiedade, esse não é o sorriso dele, eu o conheço. Esse sorriso de agora é como se fosse um sorriso programado, estudado e ensaiado. Eu estava lá quando os sorrisos eram verdadeiros e sem cicatrizes, passei horas a fio olhando para aquele sorriso e rindo com ele, analisando cada detalhe de sua feição quando havia o mínimo de felicidade nela para eu poder tatuar em minha mente. E há uma grande diferença para esse sorriso de agora. Torço com todas as forças para que seja uma consequência de seu nervosismo e não uma mudança que veio com esses anos que passamos separados. Seria maldade com o mundo as pessoas não terem a oportunidade de ver a tamanha perfeição de seu sorriso verdadeiro.
Não sorrio de volta para ele, se eu tentar curvar meus lábios em um sorriso é bem capaz que eu acabe conseguindo o exato oposto e comece a chorar.
Consigo ouvir a voz de Paolo ao fundo, mas quando começo a prestar atenção Paolo já havia parado de falar e agora me olha com uma feição que eu não consigo decifrar como sendo de muita raiva ou muita vergonha, de qualquer forma eu posso ver em seu semblante o quão ferrada eu estou.
-Sim. Mal posso esperar para começar a trabalhar com vocês, já tive a oportunidade de ver algumas peças e pelo o que me parece será uma ótima coleção. -Lewis diz olhando atento para Paolo. A esse ponto eu já não sei se a pergunta foi direcionada a mim ou a Lewis.
Eles engatam em uma conversa sobre a marca, mas eu não consigo prestar atenção em nada. Tirei meus olhos de Lewis e desde então o barulho em minha mente parece que ficou ainda maior. Não demoro muito até arrumar uma desculpa e sair dali.
Vou até o banheiro e tranco a porta, a gola alta de meu vestido consegue me deixar ainda mais sufocada, respiro uma, duas, vinte vezes antes de tentar colocar meus pensamentos em ordem. Isso não está certo, ele é um piloto de fórmula 1, eu trabalho com moda, nossos caminhos nunca iriam se cruzar, eu sei disso, pensei nisso por muito tempo. Planejei meus passos para não encontrar com os dele, era para ser um campo seguro e bem longe de Lewis. Por que isso está acontecendo? Por que justo agora? Justo quando eu estava pensando menos em nós, imaginando menos nós. Sofrendo menos por nós.
Nós...
E agora foi tudo por água a baixo, todo o esforço que eu fiz para tirar ele da minha mente, e ele aparece bem na minha frente, em carne, osso e Valentino.
Eu deveria ter feito parte da escolha do novo modelo da marca. Penso em falar com Paolo que não gostei de Lewis como nosso modelo principal, mas não poderia fazer isso, e de qualquer forma já está muito em cima da hora para uma mudança como essa.
Penso até em pedir demissão, mas isso está fora de cogitação, não quando eu demorei anos para realizar esse sonho, e não por um fantasma do meu passado que eu insisti em manter vivo.
No fim das contas eu vou ter que acabar engolindo isso, e vivendo as próximas semanas fugindo de Lewis. E só de pensar nisso eu me sinto sufocada novamente.
Pego meu celular e checo as notificações, dou de cara com um Paolo furioso em minhas mensagens.
"O que há de errado com você?"
"Porque tratou nosso PRINCIPAL modelo daquela forma Angie? Ta maluca?"
"A sua sorte é que eu te amo e seu trabalho é excepcional, se não eu juro que você estava fora. Eu to muito puto com você."
-Merda.
Deus, eu poderia gritar agora, tudo acontecendo de uma só vez. Digito e apago várias vezes uma resposta a Paolo, não sei o que dizer a ele. Que desculpa posso dar a o que acabou de acontecer?
"Desculpa, eu não sei o que deu em mim. Prometo que não vai mais acontecer."
Envio a mensagem para Paolo e checo o horário antes de bloquear a tela do meu celular. Mais duas horas e eu posso ir para casa. Mais duas horas, só isso, e eu vou para casa, me jogo em baixo das cobertas e não saio nunca mais.
Saio do banheiro e volto para onde eu estava antes da minha noite virar essa loucura.
-Um wisky duplo, sem gelo. -Peço para o barman assim que me encosto no balcão do bar. Ele não demora a entregar minha bebida.
Tomo todo o líquido âmbar em poucos goles, a queimação do álcool descendo pela minha garganta não tem o efeito imediato que eu gostaria que tivesse, ainda consigo sentir meu corpo todo tensionado. Acho que nem um coma alcoólico conseguiria me acalmar agora.
O bar está mais vazio, a maioria das pessoas se encontram na pista de dança. Tento avistar Lewis mas não o acho em lugar nenhum, quero ter certeza de que estou a uma distância segura dele.
Depois de bater o copo no mármore do balcão, eu desço do banco e vou até a parte de fora do salão, que está ainda mais vazia.
Acendo um cigarro e tento dissipar ele da minha mente.
Não me culpe, 4 anos em Paris faz de qualquer um fumante.
Tento com todas as táticas que desenvolvi com o passar dos anos colocar ele longe de meus pensamentos. Mesmo depois de todo esse tempo ainda não encontrei a receita para isso.
Sinto seu cheiro antes de escutar sua voz, o cheiro que está impregnado na minha memória desde a última hora quando nos encontramos pela primeira vez. Sua nova fragrância é deliciosa, com certeza um perfume caro que agora claramente ele consegue bancar sem dificuldade alguma.
-Isso não é um hábito muito saudável. Que eu me lembre você odiava esse tipo de coisa.
Me viro para encará-lo.
-Ah, então você se lembra de mim.
Ele porta um meio sorriso devasso que me deixa com raiva.
-Me desculpa, eu travei lá. Não quero que as pessoas comecem a achar nada.
Prepotente.
-E porque as pessoas começariam a achar qualquer coisa? -Apago meu cigarro e jogo a bituca no cinzeiro que está ao meu lado.
Seu meio sorriso desaparece. Lewis não me responde. Espero alguns segundos antes de dar a conversa por encerrada e passo por ele para voltar para dentro da festa. Sinto seus dedos envolvendo meu pulso e pelo choque do contato paro no mesmo instante para olhar para ele. Agora Lewis está a poucos centímetros de mim, e se não fosse pelo wisky e pelo cigarro eu já teria explodido de nervoso.
Ele está tão perto, perto demais para me deixar inebriada, perto demais para me fazer parar de pensar com clareza.
-Por favor, vamos conversar. -Sua voz é tão baixa que eu tenho que pensar duas vezes se isso realmente foi dito por ele, ou se foi só um devaneio meu.
-Nós não temos nada para conversar, Lewis.
Com calma me solto dele e começo a subir as escadas para adentrar o salão.
-Nós nos reencontrarmos assim, depois de todo esse tempo, depois de tudo o que a gente teve, de toda a nossa história. Você não acha que significa alguma coisa?
Rio com seu comentário. Desço os poucos degraus que consegui subir antes de ser interrompida e volto a posição que estava antes.
-Significa que você aceitou ser modelo da marca pela qual eu trabalho e que agora vou ter que lidar com você por semanas até isso tudo acabar. Só isso. -Voltei a subir as escadas enquanto segurava meu vestido para não acabar pisando no mesmo. Como ele ousa falar esse tipo de coisa quando quem estava sofrendo por ele enquanto ele estava com outra era eu!? Me virei para ele por uma última vez. -E nós não tivemos nada, não tem "história" alguma, Lewis, pelo amor. Foi um namoro de infância que não deu em nada.
Deixo Lewis para trás e volto a festa mais nervosa ainda. Não demora muito para o coquetel acabar e todos começarem a sair do salão. Já estava deixando o local quando Paolo me puxa para o canto da festa.
-Você está bem? O que aconteceu ali?
Ele não parece mais nervoso, o olhar dele é um olhar curioso.
-Estou. Me desculpa por isso, eu realmente não sei o que aconteceu comigo. Já consegui me desculpar com ele também. -Minto.
-Sim, eu vi vocês conversando juntos ali fora. -Merda. Eu não precisava de mais isso. -Vocês se conhecem?
-Não. -Minto. -Nós já nos vimos antes mas nunca fomos apresentados.
Torço como nunca para Paolo não ter escutado nossa conversa, não sei como explicaria para ele tudo o que aconteceu. Mas Paolo não parece ter dúvidas da minha resposta, e isso me acalma.
Ele assentiu e já estava caminhando para longe de mim quando o chamei de volta.
-Paolo. -Não pensei que fosse tomar coragem para perguntar isso a ele. -Por que eu não participei da reunião de decisão do novo modelo? Eu deveria ter participado, faz parte do meu trabalho.
-Porque não teve reunião nenhuma. Foi ele quem se ofereceu para ser modelo, nós apenas aceitamos. Não pensei que isso fosse ser uma questão para você.
Fico estática por um segundo antes de respondê-lo. Porque Lewis faria isso? De todas as marcas no mundo e ele se oferece para um patrocínio justo com a Valentino. Eu não posso evitar pensar que ele já sabia que me encontraria aqui, e isso faz meu estômago revirar de ansiedade.
-Não. Não é. Eu só fiquei curiosa.
Sorrio tentando disfarçar para Paolo minha confusão.
-Tudo bem. Te vejo na segunda então.
Me despeço de Paolo e sigo para fora do salão. Ainda confusa. Ainda sem conseguir acreditar em tudo o que aconteceu.
Quando entro no carro e cumprimento o motorista agradeço aos céus pelo fim da noite, fecho meus olhos e espero o carro ser ligado, mas ao invés disso o que acontece é a porta ao meu lado abrindo. Olho para quem é e fico desacreditada em quem encontro.
-Nem fodendo. -A esse ponto eu nem estou mais tentando manter minha compostura.
-Não tem mais carros disponíveis e meu hotel fica perto do seu destino então me colocaram com você. -Lewis bate a porta e se ajeita ao meu lado.
-Não tem mais carro? Em um evento desse tamanho? E você quer que eu acredite nisso?
-Quero. Porque eu to falando sério. Eu até chamaria um táxi mas estamos no meio do nada, são duas da manhã e eu estou cansado.
Estou exausta demais física e emocionalmente para fazer qualquer coisa, então continuo em meu lugar e torço para isso passar logo de uma vez.
Antes mesmo de o carro sair fecho meus olhos e finjo que estou dormindo para não ter que falar com ele. Mas mesmo de olhos fechados consigo sentir seu olhar em mim e isso me deixa louca de raiva.
-Para com isso. -Digo ainda de olhos fechados.
-Parar com o que?
-De me encarar, para com isso.
-Eu só quero poder conversar, e te explicar.
-Porquê? Pra quê? -Não quero abrir meus olhos e ter que lidar com ele. Dessa forma eu posso fingir que tudo isso não passa de um sonho.
-Porque eu sei o quanto te magoou, e me magoou também. E eu quero poder me explicar e fazer você entender o meu lado disso tudo.
Abri meus olhos finalmente encarando a minha realidade de um metro e setenta e cinco parado ao meu lado me encarando como se quisesse muito tirar qualquer coisa de mim.
-Eu acho que você está um pouco atrasado para isso. -Lewis parecia sério como nunca o vi na vida, e a cada palavra que saía de minha boca sua atenção parecia ser redobrada. -Você nunca veio atrás de mim pra nada. E depois daquela última ligação eu parei de existir na sua vida. E você só apareceu agora por uma coincidência infeliz do destino.
-Para com isso, Angie.
-Parar com o quê? -Meu tom é mais alto agora.
-Para de me tratar dessa forma.
Rio em um tom divertido por mais que não tenha diversão alguma no momento.
-Você me tratou muito pior.
Eu já mal conseguia olhar para ele. De repente todas aquelas sensações do começo me invadiram, tudo o que eu achava que estava curado se mostrou ainda mais ferido. Abro a janela em uma tentativa frustrada de respirar melhor dentro daquele carro.
-Para alguém que diz que nós não tivemos nada você parece estar muito abalada.
O fuzilei com o olhar ao ouvir aquelas palavras.
-Esquece isso Lewis.
-Não. Por favor. Eu quero escutar você, e eu quero que você me escute. Vamos fazer isso. Mas quando a gente estiver de cabeça limpa, mais calmos. Deixa eu te levar para almoçar amanhã.
-Esquece. Não. Você perdeu a sua chance.
-Por favor. Por favor, é só isso que eu te peço. A gente vai ter que se lidar pelas próximas semanas. Vamos pelo menos tentar colocar as cartas na mesa e sair dessa amigos.
Minha gargalhada soou pelo carro.
-Amigos?! Você acha mesmo que existe alguma chance de nós sermos "amigos" algum dia?
-Para de ficar na defensiva. -Ele está com raiva também. Eu consigo ver isso em seu olhar. Não sei se raiva da situação ou de mim. Mas eu espero que seja raiva dele mesmo.
-Foi você quem me colocou aqui. Foi você que fez isso comigo.
Sua feição mudou para preocupação.
-Me desculpa.
-Escuta Lewis, vamos fazer o seguinte. Vamos agir como se realmente a gente não se conhecesse, vamos tentar lidar durante essas semanas e depois, depois cada um segue sua vida, da forma que estávamos fazendo até agora.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, pensei que a conversa tinha finalmente acabado, mas logo ele voltou a falar.
-Só um almoço. E eu prometo que vou te deixar em paz. Só almoça comigo amanhã para a gente conversar. -Lewis me olha com uma cara de cachorrinho abandonado que eu não sabia que era capaz no semblante de um homem na casa dos 30. -Eu sou outra pessoa agora. E você também é.
Suspiro derrotada e finalmente cedo ao seu pedido, eu só quero que ele fique quieto.
-Tudo bem. Um almoço. E nada mais.
-Tudo bem. Nada mais.
Ele não consegue esconder seu sorriso. Já eu, volto a fechar meus olhos e esperar pelo fim da viagem.
Não demora até o motorista parar em frente ao prédio onde moro. Agradeço e desço do carro. Escuto a outra porta batendo também e sei que Lewis desceu junto comigo.
-Seu apartamento é legal. -Ele diz colocando as mãos no bolso de sua calça.
-Não é meu. É do meu namorado.
Uma mentira deslavada, não existe namorado algum, depois dele tive poucos namoros e várias experiências de poucos dias que acabaram não dando em nada. A verdade é que eu nunca me senti da forma que eu conseguia me sentir ao seu lado, e quando percebi que mais ninguém iria preencher isso em mim, eu desisti de tentar. Mas é claro que eu não vou admitir isso a ele. E além do mais eu queria sim ver qual seria sua reação com essa notícia falsa.
-Oh. -Ele sequer conseguiu disfarçar. É ridículo ele cogitar ficar chateado com algo assim. Nós somos completos desconhecidos agora. -Entendi.
Sorri amarelo para ele. Pelo menos um ponto para mim essa noite.
-Mas enfim. Que horas posso passar para te pegar?
O mais cedo possível para isso acabar logo.
-Não sei, tanto faz.
-Então passo aqui ao meio-dia. Tudo bem?
-Ok. Combinado.
-Te vejo amanhã.
Vi ele voltando para dentro do veículo e depois assisti o mesmo saindo de minha rua. Suspiro fundo, já pensando de o que será desse almoço.
❀
Como parecer deslumbrante sem dar na cara que você passou horas tentando?
Não que eu tenha passado horas tentando. É só que. Sei lá.
Já são mais de meio-dia. Eu sempre odiei me atrasar, mas dessa vez confesso que é meio que proposital. Não há nenhuma mensagem no meu celular poque não cheguei a dar meu número para ele ontem. Combinamos que seria apenas um almoço, não há motivo para ter qualquer forma de contato comigo.
Eu deveria trocar de roupa, esse azul todo não está combinando. Mas de qualquer forma é ridículo colocar tanto esforço assim nisso.
Pego minha bolsa e me olho por uma última vez no espelho.
Vai de azul mesmo.
Encontro Lewis encostado em seu carro logo na entrada do prédio. Sua roupa casual consegue deixá-lo ainda mais bonito do que estava ontem. Agora na luz do sol eu consigo ver ainda mais detalhes, reparo em suas novas tatuagens a mostra e em como elas só aumentam o ar de destemido que ele adotou nos últimos anos. Por mais que ele tenha mudado completamente, eu ainda vejo aquele menino na minha frente, por isso é difícil para mim acreditar em toda essa nova pessoa que ele construiu.
-Você está linda.
-Obrigada. -Ele não percebeu que passei tempo demais me arrumando, né? Ele só está sendo legal. -Desculpa o atraso.
-Sem problemas. Podemos ir? -Lewis abre a porta de seu carro e espera eu entrar.
-Aonde nós vamos? Porque tem um restaurante por aqui que..
-Na verdade. -Ele me corta no meio da minha frase, me deixando gesticulando no ar. -Eu já tenho o local planejado.
-Oh, tudo bem.
Entro no carro e aguardo por ele.
Deixar meu ex-namorado que eu não vejo há 9 anos me levar para um lugar "surpresa" é tão amedrontador quanto parece.
Já estamos percorrendo as ruas de Londres a algum tempo, o silêncio grita dentro desse carro, não chega a ser constrangedor, mas é como se tivesse um elefante com a gente no banco de trás e que nenhum de nós dois quer comentar sobre.
-Você ainda dirige um manual. -Comento com ele cortando o silêncio.
Lewis ri antes de me responder. A primeira risada dele que escuto pessoalmente em 9 anos, e soa exatamente igual. Esse sim é o sorriso verdadeiro dele, sem máscara alguma, fico feliz em ver que ele ainda está aí.
-Claro que sim. Se eu não trocar a marcha nem parece que eu estou mesmo dirigindo.
-Pelo visto isso não mudou.
-Muita coisa continua exatamente igual, Angie. -Ele olha para mim, tirando a atenção da estrada por alguns segundos. Me sinto queimando em meu assento e tento não ter contato visual com ele durante esses pouquíssimos segundos.
-Você parece mais calma. -Ele esperou certo tempo para voltar a falar comigo. Talvez estivesse esperando eu respondê-lo.
-Tive mais tempo para tentar entender a situação.
-Eai? A que conclusão chegou?
-Que o universo me odeia.
O sorriso de Lewis sumiu e imediatamente eu me senti mal por isso. Por mais que ele tenha me machucado, eu não quero ser má com ele. O que aconteceu já tem muito tempo e eu sei melhor do que ninguém como o tempo é capaz de mudar as pessoas, acredito que ele seja uma pessoa completamente diferente de quem fez aquilo comigo. E de qualquer forma eu sabia o que iria acontecer, eu não tenho o direito de ficar brava e descontar em Lewis, não depois de 9 anos de toda aquela merda.
Não pedi desculpas. Mas prometi a mim mesma que tentaria ser mais legal.
Lewis pegou a rodovia M1 e já estávamos seguindo por um tempo, eu não estava prestando atenção no trajeto, até passarmos pela saída de Londres.
-Lewis, porque saímos de Londres? Onde estamos indo?
-Calma. Você vai ver. Mais uns 40 minutos e estamos lá. Mas você vai perceber antes de chegarmos.
-Você não vai me matar e me jogar na beira da estrada né?
Lewis voltou a sorrir antes de me responder.
-Naah. Meu tempo é muito precioso para gastar dessa forma. Se esse fosse o caso, eu pediria para um matador de aluguel fazer o trabalho ou algo assim. -Ri com ele e bati em seu braço de leve. -Relaxa. Acho que você vai gostar.
Tomei a liberdade para ligar o rádio mas me arrependi assim que o fiz. A melodia de in my place do coldplay começou a soar pelo veículo. Fui lavada novamente pelas memórias de anos atrás, como se eu precisasse de mais isso nesse momento.
O meu riso de segundos atrás foi substituído por melancolia, prometi para mim mesma que não pensaria mais em o que poderia ter sido de nós, mas fica impossível quando ele está bem ao meu lado, murmurando uma música que nós costumávamos a escutar e cantar juntos o tempo todo.
Calma. É só um almoço. Em poucas horas isso chega ao fim.
Comecei a ficar ansiosa quando percebi que caminho Lewis estava tomando. De repente as rodovias começaram a ficar mais familiares. Meu ar foi indo embora, e quando passamos pela placa que indicava a chegada a cidade, eu estava inquieta.
-Lewis, porque você me trouxe aqui? -Tive dificuldade para falar, e minha voz acabou saindo em um sussurro.
-Achei que seria uma boa ideia. Relembrar os velhos tempos.
Havia diversão em sua voz, como se estar de volta a Stevenage ao meu lado não trouxesse para ele toda a angústia que traz para mim.
Olho para o lado de fora e tento focar nas ruas de Stevenage, já tem muito tempo desde a última vez que voltei aqui, tento não vir muito porque tudo nessa cidade grita Lewis para mim. Se quero ver meus pais, sempre acabo mandando passagens para eles virem até mim.
Passamos pela minha antiga vizinhança, depois a dele. Eu não sei aonde exatamente ele está me levando, mas já ficou mais do que claro que ele quer passar por todos os "nossos" lugares antes de conversar comigo.
Não demora até Lewis estacionar o carro, só então percebo onde estamos.
-Esse lugar ainda está de pé? -É a primeira coisa que digo desde entramos na cidade.
-Mas é claro. A pizza do Tony é a melhor que tem. Esse lugar não pode fechar nunca. -A gente vinha aqui o tempo todo. Lewis me pegava na porta da escola e me trazia pra cá religiosamente toda semana, as vezes mais de uma vez. -A gente vinha o tempo todo, você lembra?
Assenti sem olhar para ele. Como eu poderia esquecer? Nossos melhores momentos foram aqui, comendo pizza de queijo e lendo exemplares velhos da Rolling Stones magazine que Tony guardava nos fundos da pequena lanchonete.
Lewis sai do carro mas eu fico ali por um pouco mais de tempo, tentando me preparar para Deus sabe o que vai rolar agora.
Sou tirada de meus pensamentos com Lewis abrindo a porta do passageiro, meu olhar que até então estava fixo na fachada do local, vai até ele, que por sua vez está curvado em minha direção, me estendendo a mão e esperando eu sair do carro. Pego sua mão e não sei como, mas consigo me manter firme no chão quando desço do carro.
Corto nosso contato rapidamente depois que saio do veículo. Lewis faz um gesto me pedindo para ir em sua frente, que obedeço. Dou lentos passos até chegar na porta de entrada da lanchonete.
Não me lembro o exato momento em que percebi há mais de 10 anos atrás que estava apaixonada por Lewis. Mas me lembro de todas as vezes que olhei para ele e senti as borboletas no estômago, me lembro de todas as vezes que pensei "não pode ser" quando se tratava dos meus sentimentos por ele. E muitos desses momentos foram aqui, depois da aula, sentada ao seu lado assistindo ele falando de mais uma matéria sobre alguma banda esquisita que ele gostava na época. Ele me trazer aqui, depois de todo esse tempo, é um golpe muito baixo. Muito baixo mesmo.
Entro na lanchonete e é como se tivesse voltado no tempo, sei que esse lugar já virou tradicional aqui de Stevenage, mas manter tudo exatamente igual dessa forma é bizarro. Até as cores estão as mesmas. As paredes beges que já não eram moda à 13 anos atrás continuam intactas.
Lewis vem logo atrás de mim e posso notar como isso também o pegou de surpresa.
-Não tiveram coragem nem de mudar aquela banqueta que espeta a bunda de todo mundo que senta. -Ele cochichou em meu ouvido.
O som da minha risada alta ressoou a loja toda. Não havia quase ninguém, mas acabei chamando uma atenção desnecessária graças a piada de Lewis. Mas ele não pareceu bravo, pelo contrário, ele começou a rir comigo.
Fomos até o balcão e vimos Tony saindo do fundo da loja para nos atender. Tony é uma das poucas coisas aqui que mudou e muito. Na época que vínhamos ele era um cara de meia idade, magro até demais, e tinha um bigode enorme que cobria sua boca. Agora está bem mais velho, com uma barriga saliente e os cabelos grisalhos, mas o bigode continua aí, firme e forte. Tony veio até nós com uma carranca.
-Boa tarde, o que vão querer? -Sua feição mudou de imediato assim que colocou seus olhos em nós. -Meu Deus. Angie?! Quanto tempo menina.
-Oi Tony. -Me sinto tímida por sua reação.
-E esse rapaz. Não. Não pode ser. Lewis? É você meu filho?
-Sim senhor. Em carne e osso.
Lewis saiu de trás de mim e foi até o velho, dando-o um aperto de mão em seguida.
-Ah que ótimo ver vocês dois. Parece que foi ontem que vocês vinham quase todos os dias aqui torrar a minha paciência. Então quer dizer que vocês ainda estão juntos? Como a vida é né. Quando é para ser...
-Não Tony. -O cortei. Se ele continuar falando essas coisas eu vou surtar. -Na verdade nos reencontramos ontem depois de muito tempo. E por algum motivo Lewis achou que seria uma boa ideia me trazer aqui hoje.
Tony ficou vermelho, provavelmente com vergonha dessa situação. Mas definitivamente não com tanta vergonha como eu agora. Tanto Tony como Lewis me encaram ser saber o que dizer.
-Então. Podemos pedir? -Perguntei tentando trazer a atenção dos dois de volta.
-Sim, claro. -Lewis diz voltando para onde estava antes de ir para o outro lado do balcão cumprimentar Tony.
-Deixa eu ver. Duas fatias grandes de 4 queijos?
-Com certeza. -Disse sorrindo. Lewis concordou atrás de mim.
-Certo. Acho que a mesa de vocês está livre, podem ir lá. Eu levo a comida em um minuto.
-Obrigado Tony. -Dizemos em uníssono e andamos até a "nossa mesa", que fica bem no canto da lanchonete, grudada com a grande janela de vidro.
O nervosismo volta a tomar conta de mim assim que me sento em sua frente e encaro Lewis.
Lewis se sentou no banco de trás, enquanto eu me sentei no da frente. Decidimos esses lugares quando tínhamos 14 anos de idade, e depois de todo esse tempo ainda somos fiéis a eles.
É impossível olhar para Lewis agora e não ver aquele menino por quem me apaixonei, com adição de tranças e tatuagens, mas ainda assim, é o Lew.
Lewis pega o cardápio em cima da mesa e começa a folhear, ele parece calmo, o total oposto de mim nesse momento.
-O que você está fazendo?
Lewis tira seu olhar do cardápio e o direciona para mim.
-Estou escolhendo algo para beber.
-Não. O que você está fazendo? Por que me trouxe aqui, Lewis?
Minha voz não sai tão calma quanto eu gostaria, acho que nem se eu tentasse muito conseguiria parecer menos nervosa do que estou. Minhas mãos estão tão apertadas uma na outra que já estou tendo câimbras.
-Eu te disse o porquê.
-Não. Você me deu uma explicação meia boca e que eu não acreditei por um segundo. -Lewis abaixa o cardápio e passa a prestar total atenção em mim. E eu não sei se isso é melhor ou pior. -Não é como se eu fosse uma velha amiga que você foi perdendo contato. Nós terminamos as coisas, e nem foi de uma forma amigável. Eu só estou tentando entender o que infernos você está fazendo.
-Talvez não tenha sido uma boa ideia te trazer aqui.
Sua voz é mais baixa do que o normal.
-Talvez não. Mas aqui estamos.
Lewis já não me olha. Seu olhar agora está direcionado a minhas mãos. Respiro fundo antes de fazer a pergunta.
-Lewis. -Ele volta seu olhar para mim. -Porque você voltou?
Posso sentir meus olhos queimando, eu não posso me deixar chorar, mas aqui nesse lugar, e com ele, eu quero explodir em lágrimas.
-Porque eu percebi que nunca deveria ter saído.
Eu o olho incrédula, posso sentir minha visão começando a embaçar por conta das lágrimas insistentes, mas logo limpo meus olhos, não deixando ele ver por mais um segundo o efeito que está causando em mim.
-Aqui está crianças. Duas grandes de 4 queijos.
Nem percebi Tony vindo em nossa direção. Eu não o olho enquanto ele nos serve. Olho apenas para Lewis, tentando digerir o que acabei de ouvir, tentando não surtar aqui mesmo e voltar para Londres andando.
Lewis agradece Tony e logo volta seu olhar a mim. Ele parece tão assustado quando eu, como se estivesse chocado com suas próprias palavras proferidas.
Eu estou estática, um milhão de pensamentos passam por minha mente, preciso de um tempo para tentar colocar tudo em ordem e responder Lewis.
-Você tem noção do quanto isso é maldoso comigo?
Encosto na cadeira me colocando mais distante dele, tentando inconscientemente me sentir um pouco mais segura.
-Eu só estou te falando a verdade.
Ele também parece desnorteado, seus olhos brilham mas também há muita tristeza nas orbes pretas me encarando
-Eu não quero isso, essa verdade não me interessa mais Lewis. Você tem noção de como eu fiquei? Do estado em que você me deixou depois de tudo aquilo?
As lembranças que tento esquecer voltaram com tudo e dessa vez não consigo mais esconder as lágrimas. Felizmente sei que não há quase ninguém em volta, mas mesmo se tivesse centenas de pessoas nesse recinto, eu não saberia dizer.
-Eu nunca deixei de pensar em você, nunca. Eu fui colocado em um ambiente completamente novo, com pessoas novas, com a vida em que eu sempre sonhei. E eu falava de você o tempo todo para todo mundo. Só que você mesma me disse que isso não ia dar certo, e de repente eu comecei a acreditar nisso. Comecei a acreditar porque parecia um mundo completamente diferente daquele que eu vivi do seu lado. E eu não tinha certeza se você se encaixaria nessa nova vida.
Ele está agitado, colocando palavras em cima de palavras, gesticulando como se sua vida dependesse disso. Ele levou alguns segundos mas logo voltou a se explicar.
-E eu tomei uma atitude errada. Eu sei, eu fui um babaca.
Eu fiquei com outra pessoa e eu sabia que as fotos iriam vazar. eu fiz isso porque não queria tomar a decisão, então coloquei ela em suas mãos, e você a tomou. E foi sim uma atitude ridícula e infantil eu sei. Eu vejo muito isso agora. E eu me martirizei por anos por causa disso. Mas foi o único jeito que eu achei no momento. -Consigo ver as lágrimas em seus olhos e me espanto um pouco depois dessa percepção. -E novamente, me desculpa por isso, Angie. eu peço desculpas para você, e eu peço desculpas por nós e pela nossa história. O que eu fiz não foi certo.
Ele parou, ele tinha que parar, sua voz estava cada vez mais alta, dessa forma todos ali iriam escutar. Eu me mantenho na mesma posição, imóvel, só que agora com os braços cruzados e o rosto molhado por lágrimas. Ele não acabou, eu sei que agora vem a outra parte, a parte do ressentimento, a parte que vai acabar comigo.
-Só que você também não tentou. -Agora sua voz é muito mais baixa. -Você foi a primeira pessoa a tentar sair fora, você disse que não ia dar certo antes mesmo de você sair do meu quarto naquela noite. Você olhou nos meus olhos e me disse que não ia dar certo. E foi essa a imagem que me perseguiu durante aqueles meses.
Suas mãos vão de cima da mesa para seus olhos, afastando as lágrimas que começaram a cair. Ele olha em volta por um segundo antes de se curvar na mesa em minha direção.
-Eu to aqui agora e eu te trouxe aqui agora porque eu quero que você me perdoe. Eu quero poder recomeçar as coisas com você, porque eu cansei de me torturar com isso. E eu quero resolver. Eu quero te escutar, porque eu preciso te escutar, eu preciso saber como você está. Eu quero morrer toda vez que eu penso que tudo o que nós tivemos não resultou em nada, eu não quero que seja assim. Não quero que seja tudo em vão.
Ainda com lágrimas nos olhos, Lewis sorri para mim antes de continuar.
-Eu penso todos os dias em como seriam nossas conversas, e como você me contaria cada coisinha que aconteceu no seu dia. Eu quero saber tudo de você. Eu sinto que eu estou diante de uma mulher que foi o amor da minha vida e que agora é uma desconhecida, e isso dói tanto. Eu também sofri, Angie. Então por favor me perdoa. Eu não quero mais viver com esses pensamentos, eu quero fazer acontecer. Mas se você me disser que não, se você não quiser me perdoar eu vou entender, e vou poder colocar um ponto final nisso por mais que eu não queira. Eu só preciso de algo, qualquer coisa de você. Eu não aguento mais isso me torturando. Então pode me mandar a merda se você quiser. Mas se você acha, nem que seja uma parte minúscula dentro de você, que você pode me perdoar, então por favor me perdoe.
Eu encaro a mesa e as duas fatias de pizza intocadas estão embaçadas por conta das lágrimas. Não sei se consigo olhar para ele. Não sei se consigo formular uma frase agora. Eu quero me levantar daqui, quero abraçá-lo e pedir perdão também. Mas não faço nada, eu estou congelada em meu lugar, e só me movo para puxar ar e poder chorar ainda mais.
Não sei quanto tempo passamos quietos até eu começar a falar.
-Eu quero poder te perdoar. E eu sinto muito por isso tudo. Mas o que eu faço com a antiga Angie que está gritando nesse momento dentro de mim me pedindo para correr daqui e de você?!
Me inclino na mesa e fico na mesma posição de Lewis.
-Eu passei por muita coisa, e o começo foi tão difícil que eu pensei que nunca fosse me levantar. Eu estava no pior momento da minha vida por sua culpa enquanto você estava exibindo ela no paddock. Eu quero poder te perdoar, e eu acredito na sua mudança. Eu só não sei se eu seria forte o suficiente para poder vê-la com meus próprios olhos.
-Me deixa te mostrar que eu sou merecedor de uma segunda chance. Vamos começar de novo, como se a gente tivesse acabado de se conhecer. Me dá só umas semanas assim, e se depois disso você não quiser mais olhar na minha cara nós nunca mais precisamos nos falar de novo.
Eu consigo ver em seu rosto o desespero, consigo ver a mudança dele em cada fala e gesto. E tudo isso só consegue me deixar ainda mais nervosa e confusa.
-Eu preciso de um minuto.
Saio da mesa e caminho até a parte de fora da lanchonete. Não olho para ele em nenhum momento do meu percurso. Quando chego na área aberta eu respiro fundo. Como se até agora eu estivesse embaixo da água e tivesse finalmente conseguido alcançar a superfície.
Controlo minhas emoções e consigo parar de chorar, meu nó na garganta parece um pouco menor agora. Eu precisava escutar ele, precisava de sua explicação. Passei todos esses anos acreditando que tudo o que nós tivemos não foi recíproco. Me senti como uma trouxa todo esse tempo. Escutar dele essas palavras fez toda a diferença no meu modo de ver a nossa situação.
Eu estou feliz por ter aceitado esse encontro.
Não sei quanto tempo passei aqui fora. Só saio de meus pensamentos quando escuto sua voz me chamando.
-Está tudo bem?
Assinto enquanto observo Lewis saindo da porta da lanchonete e vindo até mim. Se sentando ao meu lado no meio fio logo em seguida. Ele também parece recomposto. A rua é deserta e além de seu Mercedes, não há nenhum carro por perto. Passo a olhar para frente, já ele me encara.
-A Valentino não te chamou para ser modelo. Você se ofereceu. -Não é uma pergunta. Digo ainda sem olhar para ele.
-É verdade.
Ele não parece chocado em saber que eu tenho conhecimento sobre isso.
-Por que?
-Porquê eu sabia que você estava lá. E eu sabia que esse seria o único jeito de eu chegar perto de você sem você correr de mim. Eu gosto da Valentino. Mas existia sim uma força maior.
Desvio meu olhar da estrada e olho para ele. Deve haver confusão em meu semblante porque não demora para Lewis se explicar.
-Não que eu seja um stalker ou algo do tipo. -Ele ri nasalado. -Mas eu fiquei sabendo que você trabalhava lá e desde então não tirei você da minha cabeça. E aquelas memorias ficaram mais fortes ainda. Eu não descansei enquanto não liguei para o Paolo e me ofereci como modelo.
-Porque agora? Eu entendi que você passou todo esse tempo pensando nisso. Mas porque justo agora? -Minha voz é baixa. Me sinto tímida depois dessa confissão dele.
-Porque se eu tivesse vindo antes você não ia me aceitar. Você precisou do seu tempo para curar, como eu precisei do meu. E se eu viesse antes você iria me escutar? Viria aqui comigo? Você fugiria, eu tenho certeza disso. Porque querendo ou não eu te conheço muito bem.
-Então era tudo um plano?
Brinco com um pedaço de galho seco que encontrei no chão para não ter que olhar para ele.
-Não. Muitas coisas aconteceram por destino. Mas desde o momento em que eu desliguei o telefone aquele dia 9 anos atras, eu penso em como te reconquistar.
Eu sei o que vou acabar fazendo no momento em que escuto as palavras saindo de sua boca, eu tenho que fazer isso não só por mim, mas por nós dois. Eu ficaria me remoendo pelo resto da vida se dissesse não. Eu preciso saber se isso vai dar certo ou errado. Eu mereço isso, e ele também.
-Como se a gente tivesse acabado de se conhecer? -Olho para ele para esperar a resposta. Vejo seu rosto se iluminando diante de meus olhos e consigo sentir as borboletas em meu estômago.
-Isso. Como se tivéssemos acabado de se conhecer.
Seu sorriso me faz sorrir também. Assinto para ele, topando o seu pedido.
Lewis estende sua mão para mim em uma forma de comprimento.
-Prazer em te conhecer. Eu sou Lewis Hamilton.
Rio de sua performance mas logo entro na brincadeira e aperto sua mão.
-Prazer Lewis. Meu nome é Angie Woods.
❀
Me levanto da cadeira que estive sentada por horas e vou até minha bolsa para poder guardar minhas coisas.
Paolo e o resto de nossa equipe se despedem de mim e logo saem da sala de reunião. Eu sigo até meu escritório e corro para finalizar uma papelada antes de encerrar o dia. O pré season está me consumindo por inteira. Mal tive tempo de fazer mais nada que não tenha sido relacionado a trabalho na última semana. Vi Lewis algumas vezes na empresa fazendo alguns photoshoots, mas não tivemos tempo de conversar pessoalmente desde o nosso encontro por conta de todo o trabalho que nos cerca.
Mas as mensagens de texto não pararam de chegar desde aquele dia. Vai desde um simples bom dia para conversas complexas sobre nossa vida. Pude tentar entende-lo mais durante essas conversas e estou feliz com a nova pessoa que ele vem se mostrado ser. Ele consegue juntar a mesma essência de antes, com todo o aprendizado de agora, e tudo isso acaba formando uma pessoa maravilhosa.
Não estou me cobrando em relação à o que sinto por ele. Prometi a mim mesma que me deixaria levar e estou fazendo isso. Ele tem me dado o espaço que me prometeu para eu conseguir me acostumar com essa nova ideia, e é isso que importa.
Tomo um susto ao escutar a porta do escritório sendo aberta, já passam das onze da noite, não pensei que teria mais alguém no prédio.
Me viro rapidamente para porta e encontro Lewis me encarando, com metade do corpo para dentro da sala.
-Jesus! Você quase me matou de susto. -Coloco a mão no peito em uma forma de me acalmar. -Você não bate mais não?!
-Desculpa . -Ele ri do meu desespero. -Eu não tinha certeza se você ainda estava aqui.
-Ainda sim. Essa pré temporada está me matando. Mas pelo menos está acabando.
Lewis ainda me encarava na mesma posição.
-Eu queria falar com você.
-Entra. Pode falar.
Lewis finalmente entra na sala e fecha a porta. Ele vem calmamente até mim, chegando muito perto. Perto demais. Eu estou encostada na minha mesa e o olho com atenção.
Ele está lindo, a roupa casual só consegue deixá-lo ainda mais atraente, como se isso fosse possível. Mas logo percebo que tem algo que o incomoda.
Ele puxa o ar para começar a falar mas para antes mesmo de pronunciar qualquer frase. Seu olhar vai até meu tórax e se mantém ali por alguns segundos. Vejo sua feição ir de confusão a contentação em segundos. Sua mão vai até meu peito e ele pega com cuidado o pingente do meu colar. O mesmo colar que ele me deu no ano em que nos conhecemos. Sinto minhas bochechas queimarem com a timidez pela percepção dele.
-Você ainda tem isso.
Estamos tão perto que mesmo sua voz saindo em um sussurro, eu consigo escutar perfeitamente.
-Eu jurei que nunca o tiraria, e eu nunca tirei. Ele está comigo desde então. -Minha voz sai na mesma entonação que a sua.
Lewis larga o pingente mas não se move nem um centímetro longe de mim. Estou começando a me acostumar e a gostar de sua proximidade. Seu olhar vai do meu colar para meus olhos, e eu consigo ver uma felicidade sincera em seu rosto.
-Você é mesmo a mesma Angie de sempre não?! -Não entendo muito bem o que ele quer dizer com isso então não respondo sua pergunta. -Desde sempre com a mesma paixão por tudo, mesmo isso te magoando as vezes.
-Eu acredito na benevolência.
-Eu sei, e isso é uma das minhas coisas preferidas em você.
Seu sorriso some de repente e logo ele volta a falar.
-Eu volto a correr daqui duas semanas. Terminei hoje todos os trabalhos com a Valentino. Devo voltar para Mônaco em alguns dias.
-Oh. Entendo.
Lewis chega ainda mais perto, eu já estou embevecida com sua figura tão perto de mim depois de todo esse tempo. Seu cheiro me deixa tonta e eu consigo sentir sua respiração em meu rosto. Eu deveria me afastar, toda essa proximidade já está ficando perigosa, mas eu não quero nem um pouco me mover agora.
-Eu não vou ficar longe por muito tempo. -Sua mão vai até meu cabelo que estava pousado em meu ombro e o joga para trás em um movimento sutil. -Eu volto na segunda semana de setembro. Você vai estar aqui, certo? E eu vou poder te ver.
-Claro que sim.
A esse ponto já nem estou prestando atenção do que sai da minha boca, todo o meu foco está nele e em seus movimentos.
-Que bom. -Com muito cuidado sua mão vem até meu rosto, sinto um choque no momento em que sua pele se encosta na minha, ah esse toque, como pensei nele, por vezes jurava que podia senti-lo.
Fecho meus olhos por um segundo para aproveitar a sensação de seu toque quente em minha pele.
Esse Lewis, com toda essa sedução, seguro de si, é uma nova personalidade que eu estou apreciando, e muito.
Minha cabeça tomba um pouco para o lado, para tirar mais proveito dessa situação.
Deus, como eu sou carente.
Lewis vem até meu ouvido mais exposto e sussurra para mim.
-Eu quero muito poder deixar algo contigo. Uma lembrança mais recente de nós dois.
-Que tipo de lembrança? -Meus olhos se abrem e encontro um olhar de luxúria sob mim. Sinto sua mão se deslocando de minha bochecha para minha nuca.
Isso não pode acontecer, isso vai acabar com o meu senso crítico sobre ele, eu sei disso. Mas esse transe está tão bom, que eu não quero sair daqui nunca mais.
Sua mão pousa ali e me puxa um pouco mais para ele, ele se aproxima ainda mais de meu corpo, se colocando no meio de minhas pernas. Coloco minhas mãos em seus bíceps, numa forma de me preparar para afastá-lo, ou numa forma de sentir mais partes dele.
-Lewis, nós não podemos.
Minha cabeça encostada em sua mão, minhas mãos segurando seus braços, suas pernas no meio do meu corpo, e cada centímetro do meu corpo gritando por ele, está claro como o dia o quanto eu quero isso, e ele está vendo. Sua cara de satisfação está óbvia. Quem eu estou querendo enganar?
-Como não podemos se você está chamando por mim nesse exato momento?
Não sei quem toma a atitude primeiro, mas logo nos conectamos em um beijo cheio de fome e saudade, o beijo é rápido, como se estivéssemos tentando fazer valer todo o tempo perdido. Ele está ainda melhor nisso, suas mãos percorrem lugares estratégicos para me deixar ainda mais alucinada. Eu não penso no que estamos fazendo, não penso na possibilidade de alguém entrar aqui e ver essa cena, eu só penso nele, e em como ele melhorou, em seu corpo pesado prensando no meu, e em como isso aqui vai me deixar completamente louca.
Me sento na grande mesa de madeira e suas mãos percorrem meu corpo como se quisesse marcar na memória cada coisinha que mudou em mim. A mão em minha nuca puxa meu cabelo para trás, colocando meu pescoço em evidência, Lewis o abocanha e distribui beijos e chupões que eu sei que vão ficar marcados, mas eu não me importo nem um pouco com isso.
Levo minha mão até sua calça em sua protuberância, Lewis geme quando eu o faço e vai até a barra da minha blusa, a tirando logo depois.
-Você não sabe o quanto que eu esperei por isso, passei esse tempo todo lembrando de você, com saudade do seu gosto, louco esperando por isso. -Ele diz para mim com uma voz mais rouca do que o normal, sua excitação implícita em cada palavra dita.
-Me mostra Lew. Me mostra o quanto que você sentiu minha falta.
Lewis se livra da minha calça rapidamente depois disso, logo depois consigo o ajudar a tirar a parte de baixo de sua roupa. Há desespero em nossos movimentos, queremos nos conectar como se estivéssemos esperando a vida toda por isso, e o sentimento é parecido com isso mesmo.
Já estou molhada desde o momento em que ele entrou nessa sala, então não há dificuldade para ele se colocar dentro de mim. Gostaríamos de nos prolongar por horas em beijos e preliminares, mas a necessidade de nos sentir é tão grande que não há espaço para mais nada.
Lewis se coloca dentro de mim sem hesitar, e nossos gemidos nem um pouco contidos são ecoados por toda a sala. Ele me abraça e me encara enquanto eu me acostumo com seu tamanho, ele parece ainda maior do que na última vez, e a sensação beira a dor, mas é um prazer imenso que me completa, em todos os sentidos da palavra.
-Deus. Essa boceta é tão gostosa. Tão apertada para mim.
Nossos olhos estão conectados desde o início, a sensação de seu corpo no meu e suas falas fazem meu corpo se arrepiar. As estocadas Já começam em um ritmo diligente e nossos gemidos são soltos sem tentativa alguma de prendê-los. Sem se importar com nada que não seja nós dois nesse momento. Lewis me pega no colo e me leva até o pequeno sofá de couro do meu escritório, me coloco de quatro e espero por ele novamente.
-Você está tão linda assim. Tão bonita para mim. Pronta para pegar esse pau. -Sua fala é seguida por um tapa em minha bunda. Um gemido alto sai de meus lábios junto com o som do estalo de sua mão em mim.
-Então vem e me fode do jeito que só você sabe fazer.
Um grunhido sai de sua boca e ele logo se posiciona em mim novamente. A sensação é ainda mais prazerosa. Lewis da algumas estocadas e logo me puxa para perto de seu peito, sua mão vai até meu clitóris e me estimula ainda mais. Minha boca está perto da sua e nossos gemidos saem como se fossem um só.
-Eu senti tanta falta disso. -Ele sussurra em meu ouvido. Eu já mal consigo raciocinar mas sorrio com sua confissão.
-Oh, eu estou tão perto.
-Vem. Vem para mim amor, goza nesse pau que é seu.
Depois disso não consigo segurar por muito mais tempo e a forte onda do orgasmo me atinge, Lewis conecta sua boca na minha para abaixar o som dos gemidos, já que nem temos mesmo a certeza de que estamos sozinhos aqui.
Meus tremores deixam evidente que eu não aguentaria mais nenhum tipo de estimulação. Não me lembro da última vez que tive um orgasmo tão rápido e tão poderoso, é como se meu corpo estivesse esperando por ele, e quando eu finalmente o consegui, explodi em excitação.
Lewis sai de mim e se senta no sofá, não demoro um segundo a me abaixar entre suas pernas para terminar o que começamos.
Sua cabeça tomba para trás no momento em que coloco minha boca nele, o levo até onde consigo e com a ajuda das mãos estimulo sua base, ele é grande e acabo engasgando um pouco. Minha saliva de mistura com seu pré gozo e minha lubrificação que ainda está nele.
-Como eu amo a sua boca meu bem. -A voz sai em uma expiração exacerbada.
Eu poderia fazer isso por horas, me ajoelhar na sua frente e sentir seu pau fodendo minha boca é como um paraíso. Brinco com a minha língua em sua glande antes de levá-lo novamente ao fundo da minha garganta, ele geme alto e leva suas mãos até meu cabelo, passando a me guiar nos movimentos. Ele aperta meus fios e passa a se contrair e eu sei que ele está chegando lá.
-Angie eu vou gozar. -Continuo com minha boca nele e logo sinto seu jato descendo pela minha garganta. -Isso. Engole tudo como a boa menina que você é. -Ele diz entre gemidos. É tão sujo e tão bom. E com ele.
Lewis me puxa para cima quando termina e me beija, colocamos nossas roupas logo depois, só então percebemos o risco que corremos com tudo isso, me sinto envergonhada e com medo de alguém ainda estar no prédio e ter nos escutado, nesse caso a demissão seria o menor dos meus problemas, mas depois de tudo isso, posso dizer que valeria a pena.
Depois de vestidos voltamos para o sofá para recuperarmos o fôlego. Lewis me coloca encostada em seu peito e eu me lembro de como amávamos ficar assim o tempo todo. Ter isso de volta por um tempinho que seja é maravilhoso. Não pensei que teria essa sensação de volta na minha vida algum dia.
-Não pensei que você fosse do tipo que trai. -Ele diz depois de bastante tempo juntos.
Seu comentário me deixou confusa nos primeiros segundos, mas então logo me lembro do namorado falso que inventei para ele.
-Que bom. Porque não sou. -Me sinto envergonhada mesmo não tendo namorado algum, envergonhada por fazê-lo pensar que eu seria capaz de algo assim.
-E seu namorado?
-Ele não existe.
Me desvencilho de seu colo e olho para ele. Lewis ri enquanto me encara.
-Porque mentiu sobre isso? -Seu tom de voz é brincalhão.
-Porque queria ver o efeito que teria em você. Foi algo do momento, eu só decidi falar aquilo, mesmo sendo mentira.
Fui sincera com ele. Ele me olha com atenção mas não parece bravo. Ele me puxa novamente para ele e selamos nossos lábios, ficamos nos beijando por um bom tempo e mesmo assim a sensação é de que nunca vai ser o suficiente.
-Nós precisamos ir. -Digo em meio ao beijo. Ele geme triste.
-Eu não quero que isso acabe. -Seus lábios ainda estão encostados nos meus enquanto ele fala isso. -Vem passar esses dias comigo.
Me afasto um pouco e olho para ele.
-Lew, eu não sei. Tenho que finalizar algumas coisas ainda e não acho que seja uma boa ideia.
-Vamos. Podemos só nos curtir, nós nos fazemos bem Angie, eu sei que você vê isso. E por mais de tudo o que tenha acontecido nos acabamos aqui de qualquer forma. -Ele conecta nossos lábios rapidamente mais uma vez. -Vamos se entregar a isso.
Como se já não tivéssemos completamente entregues um ao outro nesse exato momento.
Assinto para ele.
-Tudo bem.
❀
Sinto o peso de seu corpo em cima do meu. Sorrio antes mesmo de abrir os olhos. Seus beijos começam em minha nuca e descem para minhas costas nuas.
-Bom dia. -Ele volta para meu ouvido e sussurra para mim, com a voz de quem acabou de acordar.
Me viro para ele e abro meus olhos.
-Bom dia. -A visão de Lewis, deitado na minha cama, com seu torso descoberto cheio de tatuagens e seu rosto ainda com vestígios de sono me faz sentir borboletas no estômago.
Levo a mão até o leão desenhado em sua pele e a contorno com a ponta dos dedos. Meu sorriso cede porque me lembro que dia é hoje. O dia em que ele volta para Mônaco. Os dias foram mais do que perfeitos, consegui terminar meu trabalho antes do prazo então passamos todo o tempo juntos, as vezes em seu quarto de hotel, as vezes na minha casa, mas sempre juntos em algum lugar, sozinhos, e com uma cama.
Conversamos sobre como iremos fazer depois que nossas agendas voltarem a lotar por conta do trabalho. Não colocamos rótulo e nem expectativas, não queremos cometer o mesmo erro da última vez. Então decidimos que nos deixaremos levar. Hoje viajar é muito mais fácil e fazemos isso com muito mais frequência. Vamos nos ver quando conseguirmos, e enquanto isso continuar vivendo nossas vidas, com nossos objetivos e metas em prioridade, como deve ser, e como sempre foi.
Ele pega minha mão de seu peito e a leva até a boca, depositando um beijo em meus dedos.
-Que horas é seu voo?
-Ás cinco. -Ainda com a minha mão em contato com a dele, ele entrelaça nossos dedos juntos.
-Você tem que ir arrumar suas coisas, não tem? -O desapontamento em minha voz é evidente.
-Uhum. -Ele soa tão desanimado quanto eu.
-Eu nem vi os dias passarem.
-É porque nós ficamos muito ocupados. -Acompanho Lewis em uma risada. -Você poderia vir comigo.
-Você sabe que eu não posso. A fashion week vai começar daqui a pouco, esses dias foram um respiro antes da maratona que está por vir.
-Tudo bem. Eu entendo. -Ele sorri para mim. -É muito bom ver você conquistando o que sempre quis.
Eu não estou me vendo mas sei que meus olhos brilham quando escuto isso vindo dele. Fico aliviada por Lewis entender e levar meu sonho tão a sério quanto os dele.
-Obrigada. -Meu sorriso é sincero. Nesse momento estou completamente exposta a ele, mostrando como eu esperei por isso, mesmo que no fundo, como sempre estive com ele apesar de toda a distância. Não posso dizer que não tenho dúvidas sobre qualquer tipo de relação com ele, mas posso dizer que estou feliz de ter recebido ele novamente em minha vida. Eu me sinto em casa em seus braços como nunca, e isso não mudou mesmo depois de todo esse tempo.
-Você me espera? -Sua mão aperta na minha quando ele profere a pergunta. -Eu posso voltar em duas semanas, só por alguns dias mas pelo menos vamos conseguir nos ver por um tempinho. Se você quiser.
-Eu te espero, Lew.
Minha voz sai embargada, e ele percebe. Tudo isso parece um deja vú. Consigo sentir parte do meu orgulho descendo goela à baixo, não quero me sentir assim, sei que dei a ele uma oportunidade que queria muito e não me arrependo nem por um segundo. Mas tenho medo de acontecer de novo, não sei se conseguiria passar por tudo aquilo outra vez.
-Eu não vou deixar acontecer de novo. -É como se ele tivesse lido minha mente. -Eu volto aqui para te buscar.
❀
E ele voltou, depois de duas semanas, como o combinado. Ele voltou e trouxe consigo um buque de peônias e todo o amor do mundo. Ficou apenas por alguns dias mas a despedida foi diferente da última vez, dessa vez não houve hesitação ou medo, só a certeza de que nos veríamos de novo, e de novo, e de novo.
Quando ele não podia vir até mim eu ia até ele, aprendemos a lidar com a distância e aproveitar cada dia que tínhamos juntos. Conheci seus colegas de trabalho e sua vida como piloto, lembrei de todos os momentos em que passamos em garagens de karting mas quase não há comparação, fórmula 1 é um outro nível. Comemorei cada vitória como se fosse a primeira, da mesma forma em que ele comemorou comigo quando eu consegui abrir meu próprio ateliê e sai da Valentino.
Com o passar do tempo a convivência com ele só me dava mais certeza de que fiz a escolha certa, não demorou muito para qualquer dúvida sanar, e de repente tudo era perfeito de novo. Como se ainda fôssemos aquelas duas crianças de 13 anos, como se nada nunca tivesse dado errado.
Me tornei a pessoa mais feliz do mundo ao seu lado, e a cada dia que passa fica mais claro que era para ser. Era para ser nós dois.
Por toda a vida.
15 de novembro de 2020. 14:52pm – Istambul, Turquia
Lágrimas escorrem dos meus olhos. Eu nunca me senti tão eufórica, tão feliz, e tão orgulhosa na minha vida.
Ele conseguiu, ele conseguiu de novo, pela sétima vez. Estou quase tremendo de tanta euforia.
Angela vem até mim e me dá um abraço apertado, a garagem toda explode em comemoração. A emoção de todos é de como se tivesse sido o primeiro. Isso nunca vai perder a graça.
Escuto seu choro e suas palavras assim que ele cruza a linha de chegada, choro ainda mais. O assisto saindo do carro, indo até o pódio e comemorando sua obra-prima, assisto tudo de perto, com olhos cheios de lágrimas e com um orgulho que não cabe em meu peito, depois de tudo o que pude ver pessoalmente, depois de todas as dificuldades que vi eles passarem, depois de todas as vezes que assisti ele correndo pela TV e jurei que seria a última vez, mas simplesmente não conseguia parar de torcer por ele. Eu nunca deixei de acreditar, nem por um segundo. Vê-lo chegar aqui, e conseguir esse feito, me faz a mulher mais feliz do mundo.
Seus olhos me encontram na multidão e brilham ainda mais, ele me mostra o troféu com orgulho como se eu ainda não tivesse notado a taça em suas mãos. Eu só quero ele, aqui comigo, mas agora deixo e o vejo aproveitar sua vitória, as comemorações de hoje se iniciam com o banho de champanhe no pódio.
00:46
Entramos no quarto rindo. Nossos olhos ainda marejados de emoção. O barulho de toda comemoração ainda ecoando na minha cabeça. Finalmente sozinhos. Paro no momento em que fecho a porta, olho para ele, que por sua vez está no meio do quarto, com as mãos na cabeça, ainda desacreditado. Nossos olhos se conectam e começamos a gargalhar juntos, nesse momento parece que a ficha finalmente cai para nós dois. Nunca me senti assim, parece que dessa vez foi diferente, como se ele finalmente tivesse provado para si mesmo que conseguiu chegar lá.
ele corre até mim e me abraça forte. Mesmo pegajoso de champanhe não consigo imaginar contato melhor. Ficamos ali, grudados, por minutos. Sinto Lewis chorando em meu pescoço, ele não é o tipo de cara que mostra suas emoções, mas perante a tudo isso é impossível não se emocionar. O abraço ainda mais forte e as lágrimas de alegria voltam em meus olhos também.
-Eu sabia que você ia conseguir. -Digo a ele.
Lewis então se afasta de nosso abraço, mas ainda tem os braços ao meu redor, seus olhos marejado pelas lágrimas brilham como nunca.
-Nós conseguimos. -Sua euforia é quase palpável. -Você ficou, me apoiou durante todo esse tempo, nunca me deixou parar. Entendeu todos os momentos em que não pude estar presente. Meu Deus, eu te amo tanto Angie, tanto.
Limpo as lágrimas de seu rosto com a palma da minha mão.
-Eu te amo. E não poderia ser diferente. Eu estou aqui, desde o começo, e vou ficar aqui até o final, aqui do seu lado, não importa o que aconteça. Ver você alcançando tudo o que você sempre quis me deixa mais do que feliz, Lewis.
-Mas eu ainda não tenho tudo o que eu quero.
Uma feição de confusão transparece em meu rosto. Lewis enfim se afasta de mim, indo até sua mala que está jogada no canto do quarto. Ele pega algo mas não consigo ver o que é de primeira.
-Eu tenho carregado isso comigo nas últimas semanas, esperando pelo momento perfeito, e eu acho que chegou.
Ele soa nervoso, e um pouco tímido. Meu coração da um solavanco quando percebo que o que ele está carregando é uma pequena caixa azul Tiffany.
-Lewis... -Minha voz sai chorosa, não consigo mais conter as lágrimas a esse ponto. Não pode ser isso, nós nunca conversamos sobre isso, por mais que ele saiba que isso é um dos meus maiores sonhos.
Lewis caminha calmamente em minha direção, eu mal consigo ficar parada, meus batimentos devem passar de 150bpm. Vejo ele se ajoelhando lentamente e pegando minha mão esquerda, a ficha cai completamente do que está acontecendo, ele vai fazer isso, ele vai mesmo fazer isso bem agora, banhado de champanhe e mais eufórico do que nunca.
-Eu te prometi que te faria minha esposa anos atrás em um quarto de hotel em Monza, você lembra? -Assinto. Na minha mente é como se tivessem passado poucos dias desse momento. -Eu te amo mais do que tudo. Eu quero poder te dar o mundo todo e mesmo assim ainda não seria o suficiente. Te amo por quem você é, por toda a sua bondade e empatia, te amo por sua perseverança e esperança em tudo e todos, te amo até por sua teimosia porque foi isso o que me moveu em alguns momentos. Angie, eu não me imagino sem você do meu lado, eu quero poder passar o resto da minha vida com você, quero que você seja a mãe dos meus filhos, quero poder cuidar de você até o fim. -Meus soluços já são audíveis e consigo ver o quanto ele está tentando não se entregar ao choro. -Você me faria o homem mais feliz do mundo me chamando de marido. Você aceita se casar comigo?
Me ajoelho em sua frente, ficando na mesma estatura que ele, olho para a caixa que agora está aberta e dou de cara com um anel de diamante oval, grande e brilhante o suficiente para chamar a atenção de qualquer um. Lewis me olha com expectativa.
Coloco minhas mãos em seu rosto e o beijo como se nunca o tivesse feito antes, a mão de Lewis que não está segurando a caixa envolve minha cintura.
-É claro que eu aceito. -Minha voz sai em um misto de choro. -É tudo o que eu mais quero.
Lewis se separa de mim, volta a pegar minha mão, e com cuidado coloca o anel em meu dedo anelar. Ele leva minha mão até sua boca e deposita um beijo. Logo depois voltando até mim e selando nossos lábios com ternura.
Sinto que toda a minha história e fases me trouxeram até aqui, nesse momento. Lembro-me de todos os pontos em nossa vida juntos e separados que me deixaram claro que ele é o meu grande amor, e não há nada que ninguém possa fazer quando o destino está selado.
-Não vejo a hora de passar o resto da minha vida ao seu lado.
Nota final:
Obrigado para quem leu até aqui :). Fiquei muito feliz com a história e queria ter adicionado mais detalhes nela, mas por se tratar de uma one shot dividida em duas partes acabou que eu não consegui dar toda a profundidade que eu gostaria, por isso pode ser que vocês achem ela corrida demais. Mas mesmo assim estou super feliz com o resultado e espero que vocês tenham gostado também.
Estou completamente apaixonada e rendida por esses dois então pode ser que eu acabe escrevendo mais sobre eles em um futuro próximo. <3
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