#eu ou o adam do presente
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Quando leu o conto reescrito, Adam esperava sentir uma certa familiaridade com a pessoa que estava fadado a se tornar. A história meio que se repetia, afinal – um príncipe arrogante, uma feiticeira ofendida, uma maldição. Mas aquela versão de si era muito pior, ou ao menos era isso que pensava. Talvez estivesse acostumado a detestar-se há tanto tempo, que conviver de novo consigo mesmo lhe dava a impressão de que aquela versão era ainda mais autocentrada, ainda mais inconsequente e ainda mais... revoltada. Aquele Adam achava que tinha justificativas para ser como era, vivendo à sombra de uma irmã mais velha que era tão adorada e admirada pelo reino inteiro enquanto ele era apenas ele. O que veio depois, o que não seria nada. E o que ele podia fazer além de aproveitar o berço rico em que havia nascido, o único privilégio do qual a irmã não podia privá-lo apenas por existir?
Também estivera evitando Reyna a todo custo, cada uma de suas versões por motivos diferentes. O Adam de verdade sentia-se amargamente culpado por todo o sofrimento que ela devia estar passando – se ele estava passando pelas transformações em algumas noites, ela certamente estaria, também, e tudo aquilo por causa dele. Não ele, realmente, mas ele de alguma forma. Ela deveria estar ressentida, e ele não poderia culpá-la pelo tal, era totalmente justo. O outro Adam, no entanto, evitava a Princesa Fera porque, em algum lugar da sua mente magoada e distorcida, a culpa pela maldição era dela, que fez com que ele se sentisse daquela forma e se comportasse daquele jeito em primeiro lugar. Independente de qual Adam estivesse lhe motivando naquele momento, o completo desespero ao trocar olhares com ela era unânime. Por sorte, ter acabado de sair de uma sessão de terapia ajudou a manter apenas o Adam mais adequado no controle, ao menos. Franziu o cenho com o comentário, inicialmente achando meio rude – era um lugar adequado mesmo, mas precisava falar daquele jeito? –, mas logo percebeu que ela estava tão nervosa quanto ele com a coisa toda. “É... realmente adequado, confesso” coçou a nuca, olhando para a porta do estabelecimento como se estivesse cogitando voltar para dentro correndo. “Você também veio para uma consulta, ou...?”
𝐬𝐭𝐚𝐫𝐭𝐞𝐫 𝐟𝐨𝐫: @adamthebcast
𝐰𝐡𝐞𝐫𝐞: por aí.
Nos últimos dias, Reyna vinha evitando Adam como o diabo evita a cruz. Quando estava transformada, evitava-o porque as memórias sobre o irmão ter sido o culpado pela sua maldição eram fortes demais para que ela simplesmente ignorasse o rancor enraizado no coração da Princesa Fera. E quando estava em sua forma normal, como Reyna, evitava-o porque... Bem, ela tinha beijado a esposa dele — o que seria um detalhe pequeno e irrelevante para a Reyna de alguns meses atrás, que tinha o seu body count de mulheres casadas e havia chegado naquele mundo apostando com Robert as suas chances com Astrid, mas havia se tornado um problema enorme agora. Ela não só se tornara amiga de Adam, como deveria ser a sua irmã mais velha; e por mais que tivesse sido transportada para um mundo mágico dos contos de fadas como Dorothy para Oz, a vida não era uma fanfic do Wattpad e Reyna não poderia escapar daquela revelando ter uma irmã gêmea do mal que trabalhava para o chefe da máfia coreana, Jungkook, ou algo do tipo. Ela teria que lidar com as consequências de seu próprio tesão dessa vez. Caminhava pelas ruas do Reino dos Perdidos procurando pela loja de Cruella porque precisava de um casaco pirate-chic novo, e percebeu tarde demais a presença de Adam saindo de algum estabelecimento. Poderia virar as costas e fingir que não havia o visto, mas os olhares de ambos se encontraram, e Reyna abriu o maior sorriso amarelo de sua vida. "Adam! Você... por aqui! Caramba. Que lugar apropriado para você estar!" Suas palmas suavam. Ela encarou a fachada do lugar que ele havia acabado de sair: Consultório Toca do Coelho... Droga. "Quero dizer... Porque eu sei que você vem aqui algumas vezes! Então é claro que eu sabia que te encontraria aqui, em frente ao Consultório Toca do Coelho, onde você vem algumas vezes."
#filed under: threads.#w: reyna.#amiga eu fiquei com RAIVA escrevendo isso po KKKKKK#competição de quem odeia mais o adam do conto novo#eu ou o adam do presente
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Eu assisti as virgens suicidas em uma tarde qualquer. Eu já havia visto algumas curtas sobre o filme e resenhas do livro. Eu gosto da ideia dos escritores em colocar o que acontece exatamente no livro, em seu título, como: "Os dois morrem no final", de Adam. Eu não consigo explicar bem o que senti lendo ambos, principalmente em, "As virgens suicidas".
Eu não irei mentir, fiquei confuso ao ver Lux perder sua virgindade, enquanto o título está lá "VIRGEM". Mas acabei lendo de algum comentário qualquer que, ela permanecia virgem em sua mente. Não consigo entender que diferença grotesca acontece na vida de algumas meninas ao perderem a virgindade. Ao mesmo tempo, eu invejo as mesmas por tratarem isso tão mágico.
"O cheiro de mulher madura" parece ter a ver com o sangue menstrual. Na primeira tentativa, Cecelia cortou os pulsos na banheira, então presumo que o cheiro de sangue estava forte. Há outros momentos em outros pontos da narrativa em que a "menstruação" ocupa um espaço no imaginário dos meninos dentro do bloco de "mistérios femininos" na visão deles..."
— De alguma mulher desconhecida da Internet.
Quando se para e pensa, os garotos que estão narrando a história não parecem entender com clareza o que se retrata a adolescência feminina, ou o que ela é, e como ela se manifesta de forma silenciosa e dócil (ou perturbadora).
"Homens não entenderiam "As virgens suicidas". Homens não entenderiam as mulheres"
A adolescência é um período difícil para todos nós, mas isso é claro para ambos que na adolescência feminina, é muito mais difícil. O primeiro sangue nao-mortal, as primeiras relações, os primeiros amores e diversas coisas mais extensas & intensas, mas todos só lembram dessas. Porque ninguém se fala sobre a adolescência feminina de verdade, sobre a puberdade e as mudanças que elas causam, sem ser apenas corporal.
A adolescência feminina é sim prazerosa, mas tão triste quanto. Depressão é algo que se manifesta na maior parte, em pessoas jovens. Me descobri depressiva aos 11, mas conheci pessoas que se descobriram aos 7. Ambas meninas, ambas garotas, todas crianças procurando diversas coisas que não poderiam ter. Ou que se algum dia tiveram a oportunidade de conquistá-las, perderam.
"Numa sociedade que tenta, desde muito cedo, limitar suas mulheres criando padrões e regras que seriam ridículas se não fossem trágicas, a prisão das irmãs Lisbon se torna uma representação simbólica daquilo que todas nós vivemos em alguma medida. Assim como Cecilia, Lux (Kirsten Dunst), Bonnie (Chelse Swain), Mary (A. J. Cook) e Therese (Leslie Hayman) foram privadas de viver a vida que queriam pelos medos da mãe, que apoia a criação das filhas em conceitos pregados pela Igreja Católica, e pelo pai, que nunca foi capaz de fazer nada para verdadeiramente ajudar as filhas, muitas meninas são privadas de conhecer o mundo que as cercam, de fazer as próprias escolhas e de conhecer a si mesmas pelo simples fato de serem mulheres. Desde muito cedo, meninas são ensinadas a se esconder, como se vestir e se portar, a ter vergonha dos próprios desejos, a reprimir seus impulsos e não explorar a própria sexualidade."
Descobri meus desejos e sexualidades de fato, aos 11, mas só consegui explora-los aos trezes. Se eu falasse aos meus pais que isso aconteceu, eles iriam me matar! Mas os pais de rapazes são tão limpos ao falarem sobre assuntos sexuais e íntimos, que por mais presentes que fossem, eles não ligariam de forma alguma que seu filho perdeu a virgindade, ou descobriu a mesma mais cedo.
Eu tenho interesse diversos, já tive milhares de pensamentos, mentes, estilos e cabelos. Não, minha mãe não apoia e nunca apoiou. Via-se garotas da minha rua sentada em cima do colo de um rapaz e resmungou "ela logo irá engravidar", mas e o rapaz? Ele não engravidara ela logo?
"É triste pensar que, preocupados em manter suas filhas longe das tentações adolescentes, os pais tenham deixado de enxergar o verdadeiro transtorno que culminou no suicídio de Cecilia e, posteriormente, de Lux, Bonnie, Mary e Therese – e mais triste ainda é pensar que, cegos por dogmas religiosos ou movidos pela crença de que conflitos vividos por adolescentes não são importantes, muitos pais deixam de enxergar doenças como a depressão e a ansiedade. Da mesma forma que transtornos mentais em adultos são vistos como tabus, adolescentes são silenciados e têm seus problemas tratados como uma mera busca por atenção – ou como uma mentira –, sendo muitas vezes motivo de chacota. É só uma fase, eles diriam. São só os hormônios. É só coisa da sua cabeça, diriam eles mais uma vez."
É uma pena, que por mais estudiosos ou perto de conhecimento as pessoas fiquem, a ignorância continuará. Não importa o que faça, as pessoas criam diversas opiniões para alimentar sua própria realidade imaginária, com seus padrões e que quem faça diferente, custe á tentar.
"Lembro de, aos 13 anos, ter muitos dos meus próprios sentimentos invalidados por pessoas mais velhas e como essa fase foi particularmente difícil pra mim, desenvolvendo alguns traumas que carrego até hoje. Lembro também de todos os jovens que apareciam em jornais locais, na internet ou na televisão, por terem pulado de um prédio específico de Brasília, pondo fim a própria vida. Muito se falava sobre a má influência nessa época, sobre a falta de religião (!) na vida desses jovens e como eles eram fracos (!) por tomarem tal atitude. No entanto, nada era questionado sobre os problemas que eles estavam enfrentando, sobre os gatilhos que os impulsionaram, muito menos sobre como doenças mentais são problemas reais, que não são tratados com orações e que não vão embora quando colocamos um sorriso no rosto, mas que necessitam de acompanhamento médico e/ou medicação, e que não fazem distinção de idade, raça ou classe social. Não existe uma vida, muito menos uma pessoa imune aos efeitos de um transtorno mental."
Não se diminuam para caber em uma sociedade que não faz questão de existir. Não diminuía seus requisitos, metas e objetivos porque são grandiosos demais ou "impossíveis". Se achas que merece o melhor, se acredita que vai viver o que quiser, a realidade se transformará no que você quiser que ela se transforme.
— Leia sempre que desacreditar.
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missão: consiga 13 máscaras de gás padrão, disponível em qualquer loja de caça e pesca do shopping, em uma das unidades da merryweather no campus ou no departamento de uniformes das Indústrias dragna, nas dragna towers.
status: missão bem-sucedida.
ㅤㅤ⸻ TRECHO #OO3 / uma das páginas do diário de guinevere, 2014, queimado pouco tempo depois pela mesma.
ㅤㅤEu admito, detestei que a Quarks me deu uma missão tão pífia como essa. Tudo bem que eu ainda tenho minhas dúvidas quanto o que ela quer e até que ponto fazer o que ela manda, porém é tão pouco uso da minha cabeça e foi tão simples que nem deveria contar como algo. De toda forma, elas estão escondidas aqui debaixo da cama e não deixei nem o Dash ver porque nem sei como isso vai ser usado, não preciso de alguém fuxicando e mudando mais ainda o futuro. Foi bem simples porque foi tudo trabalhado na mais pura casualidade. Talvez assim não mude tanto minha vida, espero.
ㅤㅤEu estava nos Partons, como virou mais ainda o costume depois que decidimos que o ateliê da Cora viraria o ponto de encontro. Como de costume, esse não tão feliz, esbarrei com o Adam na sala e tive que ficar ouvindo pela milésima vez como eu nunca tinha superado ele, que a minha insistência em viver ali era para que ele caísse nos meus encantos de novo e toda a ladainha de sempre. Naquele dia em específico, sem muita paciência, quase pedi pra Riley ir dar um apavoro nele, mas qual seria o motivo? Não consegui discernir e, por isso, deixei a ideia pra lá. Foi até melhor, não queria que a Franny me achasse uma desordeira.
ㅤㅤO ponto é: quando ele cansou e foi pra cozinha, percebi que a mochila ficou em cima do sofá e possuída por um espírito que não era lá muito meu, peguei o cartão de crédito dele e corri para o ateliê. No dia seguinte, em posse de um cartão black — e que eu sabia a senha —, peguei uma peruca ruiva emprestada com a Garibalda, óculos escuros, roupas de frio junto com uma touca e fui até a loja de caça. É fascinante pensar que as pessoas gastam tempo e dinheiro com esse tipo de coisa, porém não vou julgar hobbies alheios.
ㅤㅤComprei as benditas máscaras, um canivete suíço, um soco-inglês, uma luneta pra arma, um carretel de linha de aço e uma barraca de acampar, sendo a última apenas um item pra disfarçar um pouco a coisa toda. A linha de pensamento foi conseguir a maior quantidade de material possível aproveitando que quem bancaria tudo não seria eu, apesar que o soco-inglês era para mim. Comprei ainda alguns materiais de pintura de presente para Cora, kits de utensílios de cozinha novos em tons pastéis pra que Harper continuasse fazendo suas comidas deliciosas e um kit de essências de narguilé pra Riley.
ㅤㅤMe livrei da peruca, da touca e da barraca no caminho da volta. Acabei contornando os prédios e escondi parte do que comprei em um armário velho pouco usado do clube de astronomia. Entreguei primeiro os presentes pra me ver livre do volume e depois trouxe as coisas aqui para o dormitório. Em todo caso, achei engraçado que gente rica parece não se importar muito com as coisas. Deve ser porque a abundância de recursos os façam sequer sentir o peso de algo tão fora do comum como aquilo. Devolvi o cartão dele com cuidado naquele mesmo dia aproveitando que Franny havia me chamado para jantar com eles, jogando de qualquer jeito na mochila e não fiquei sabendo até agora se ele sequer se deu falta dele ou não.
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•Tudo é mais fácil em um filme.•
Quando penso em filme me vem em mente o gosto de sal misturado com água quente. Por trás de telas e telas, sempre me perdia imaginando quantas coisas não poderia fazer. Ou qual da queles clichês queria viver.
Na minha infância os filmes estavam mais presentes até mesmo que meus pais.
Lembro-me de me trancar no quarto com meus irmãos mais novos e assistir um filme que tinha o Adam sandler. Não lembro qual, mas lembro-me de aumentar o filme no volume máximo. Assim, talvez, não ouvissem os gritos e as brigas do outro lado da porta. Quando os gritos e as brigas cessaram, nada ficou melhor. A tempestade da casa saiu, o furacão sempre vinha e partia, como uma espiral. O furacão repetiu o mesmo círculo vicioso por semanas.
Enquanto isso acontecia, toda noite eu e meus irmãos pegávamos biscoitos e garrafas de água. Entrávamos nos quartos e trancavamos a porta. Star vs as Forças do Mal. Era isso que assistimos pra não ouvir o assustador silêncio da madrugada. - Nem imaginamos que a gritaria faria falta. -
E era como uma droga que sempre usávamos de novo, e de novo. Todas as noites, até dormi e o dia passar, e de novo assistíamos isso.
Hoje em dia não fico mais imaginando quantos clichês irei viver, ou quantas das coisas não poderia fazer. Pois já não fiz nenhuma delas.
Porém, não posso deixar de admitir que "Tudo é mais fácil em um filme."
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Os biscoitos eram velhos e tinham gosto de sal.
A água era quente.
A tempestade é meu pai.
O furacão é minha mãe.
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it's fun to fantasize
aviso: reescrevendo isso porque exclui sem querer
o dia estava levemente chuvoso. não havia uma grande tempestade, mas algumas gotas no interior são o suficiente para todo o bairro estar sem luz. não havia ninguém em casa além de mim e um livro. estava no ultimo capítulo de "a hipótese do amor", tudo estava se desenrolando bem, todos os problemas solucionados, tudo devidamente dado como certo. era o momento de finalização de todas as guerras. eu estava bem, olive e adam, os personagens que acompanhei também estavam tão bem quanto eu mesma estava. bem em uma dessas cenas finais, me peguei rindo de uma frase boba, algo tão trivial até que o momento em si caiu sobre mim: toda a discrição que fiz, me veio a mente como se eu mesma fosse a personagem de minha pequena história, em um momento tão trivial quanto quanto a protagonista do livro que eu lia pegando um uber, coisas tão pequenas que poderiam ser descartadas em um piscar de olhos, mas aquele era o meu momento, eu e eu, e o livro e a chuva, éramos um. então eu ri de minha própria felicidade, a incongruência de estar feliz por estar feliz. e eu estava realmente feliz.
quis então compartilhar, não é a toa que estou aqui, redigindo esse blog com meus óculos-de-garota-esperta (totalmente sem grau, apenas algo para eu me sentir um pouco melhor comigo mesma) e naquele fatídico momento senti que eu podia. que não havia problemas quanto as curtidas, aos comentários ou mesmo se eu era realmente alguém relevante. todos querem se sentir minimamente especiais no mundo e enquanto eu estava com a cabeça lançada para trás em uma risada genuína, sentia que eu não era mais um átomo em um turbilhão de estrelas nascendo e morrendo a cada segundo, minha existência não era só um suspirar tão breve do universo que de nada alteraria o curso de nem mesmo a comunidade da rua onde moro, porém, por alguns momentos, senti que eu era minha própria estrela. eu estava lá, presente, eu estava expandida em meu ser para tocar todo o universo com minhas mãos. tudo tão rápido, um mero sorriso inflou meu corpo com a razão de existir, eu era importante.
queria que tivesse durado mais, entretanto. alguns segundos depois, a terra voltou a rodar, o livro voltou a ser um livro, a chuva continuava a cair e a energia continuava cortada. a luz solar já estava abaixando e eu precisava fazer o jantar daquele dia ainda, o que poderia fazer? talvez fritar alguma coisa? tentar colher algo da horta? ainda havia arroz? a normalidade estava lá, de volta ao que sempre foi, mesmo eu não querendo e me agarrando com todas as forças ao que foi meu momento de êxtase então por que não só seguir um dos melhores conselhos que ouvi na minha existência como ouvinte de música?
it's fun to fantasize.
quero falar mais disso, mas sinto que é assunto para outro blog...
#tumblrbrasil#meu diário#daily diary#personal diary#personal blog#a hipotese do amor#livros#frase de livro#coqutte#light acadamia aesthetic
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Capítulo 1 - O admirável mundo novo
Maio de 2023 – Domingo, 22:00 PM
Nova York pode ser o lugar das surpresas, se souber surpreender-se. Mônica acreditava ter passado dessa fase, mas, acabou se rendendo quando Cecília, sua cunhada, resolveu comemorar a promoção de Vic no trabalho, arrastando ambas para uma boate muito louca no centro de Manhattan.
Todos concordam que é demais para um domingo à noite. Mas, ainda assim, se orgulhavam da amiga mais espevitada nesse trio. Essa seria a última semana das garotas na faculdade, e então, a vida adulta começaria com força total.
Cecília, a mais popular do bando, afirmava que aquela era a melhor boate que as garotas já haviam visitado. Mônica discordava, porque para ela, nenhuma boate foi, é, ou, será, melhor que a Whisky a Go Go em Los Angeles. Ela acreditava que sua cunhada tinha como base o perfil dos caras que a frequentavam, mas, usando o mesmo critério, a Whisky ainda venceria. Mônica decidiu não iniciar um debate sobre, apenas entrou, acompanhando o fluxo da área vip.
- Hoje o Menéga vai cantar aqui, tenho certeza de que vai se apaixonar por ele! – Cecília provocou sua cunhada.
- Assim como me apaixonei por todos os outros que vocês apresentaram! – Mônica respondeu, revirando os olhos e se encaminhando para o bar.
- Ele é um gato, você vai ver! – Vic completou, sorrindo.
- Ainda que ele seja gato, não estou aqui para isso! – Pontuou, finalmente sentando-se no banco frente ao bar.
- Não seja fresca, todo mundo está pra jogo! – Vic disse, zombando, enquanto acomodava-se também.
Antes que alguma coisa mais pudesse ser dita, o barman se aproximou. – O que as princesas querem de mim essa noite? – O jovem ruivo e atlético perguntou.
- Três cosmos, Adam, e mantenha suas mãos atrás desse balcão! – Cecília respondeu, rindo de sua ousadia.
Após alguns minutos, ele entregou os drink’s para as moças, mantendo um sorrisinho sacana em seus lábios enquanto o fazia. O organizador do evento subiu ao palco, anunciando Menéga. As garotas se viraram em sua direção, olhando diretamente para ele. Cecília tinha razão, o desgraçado era lindo.
- Ele é mesmo um gato, mas, não quer dizer que vá rolar algo! – Mônica sussurrou ao ouvido de Vic e sua amiga assentiu, enquanto apreciava a bebida.
- Está bem, faça o que quiser. Eu estou de olho no baixista! – Vic sussurrou de volta.
- Ótima escolha! – Mônica disse, puxando a amiga para o centro do salão. Cecília as acompanhou, certa de que tinha arrasado ao trazê-las a esta boate.
Menéga começou a cantar Mustang Sally, e o tom rouco de sua voz combinou perfeitamente com a música. Mônica foi à loucura. As garotas começaram a dançar, sendo acompanhadas por todos os presentes no local. O vocalista percebeu a empolgação das moças, e decidiu inclinar-se até elas, segurando a mão de Mônica, cantando o refrão enquanto encarava os olhos dela.
Seus movimentos eram provocantes, parecia beijar o microfone, seus quadris tinham ótima rotação peristáltica, e o coração dela beirava a explosão. O cabelo bagunçado, os braços musculosos e a maior cara de pau, faziam com que ela desejasse agarrá-lo.
Quando a música acabou, Menéga agradeceu, piscou para Mônica e desceu do palco, se encaminhando em direção a ela, ajeitou a camisa. Após recuperar o fôlego, deslizou os dedos pelo cabelo castanho bagunçado e perguntou: – Posso saber o nome da morena mais linda que já vi na vida? – Ele sorriu, enquanto inclinava-se para beijar o rosto dela.
- Sou a Mônica, mas, pode me chamar de Moe! – Ela sussurrou ao ouvido dele, nesse instante sentiu seu perfume amadeirado.
- É um prazer conhecê-la, sou Matteo Menegazzo, mas, pode me chamar de Menéga! – Ele disse, se afastando um pouco, à fim de poder vê-la melhor.
Cecília, Vic e o baixista se aproximaram, então, Menéga se virou para cumprimentar as outras garotas.
- Eu disse que viríamos! – Cecília comentou, rindo com seus amigos. – Vejo que conheceu minha cunhada, ela é uma gata, não acha?
- A mais gata. Vocês foram minhas musas nessa música, deixem-me agraciá-las com um drink! – Ele respondeu, encaminhando as garotas para a mesa dele na área vip.
Menéga pediu uma garrafa de tequila ao Adam, que se apressou em atendê-lo. Mônica não sabia, mas, aquela boate pertencia a ele. O limão e o sal já estavam a postos sobre a mesa.
O grupo se reuniu, preparou as doses e entoou em um coro: – Arriba, abajo, al centro ý adentro! – Chuparam o limão com sal e em seguida tomaram suas doses.
A mesa dele estava na área de fumantes, então, Mônica acendeu um cigarro, sentou-se em uma das cadeiras e cruzou as pernas preguiçosamente. Após isto, pegou uma garrafa de água no balde de gelo da mesa. Menéga se surpreendeu com a atitude da morena.
- Já vai parar? – Ele perguntou, olhando fixamente para ela.
- Vim brindar à Vic, já brindei! – Ela respondeu, piscando para ele. Menéga se sentiu impelido a uma aproximação.
- Gostou da música? Acha que acertei na escolha? – Ele perguntou, sentando-se ao lado dela.
- Acertou, é muito contagiante; adoro essa música! – Ela afirmou, sorrindo gentilmente.
Moe não destruiria a base sobre a qual esse flerte foi construído, mas, era plenamente capaz de enxergar as digitais de Cecília nessa cena de crime.
- Estou feliz por não ter decepcionado! – Ele disse, colocando seu braço sobre o encosto da cadeira dela. Mônica podia ver os olhares e risinhos diabólicos vindos de sua cunhada.
- Não decepcionou, será um prazer ouvi-lo outra vez! – Ela comentou, tragando pela última vez seu cigarro.
- A noite é uma criança, tudo pode acontecer! – Ele disse, se aproximando de seu ouvido.
- Pois é, mas, isso costuma ser verdade aos sábados! – Ela respondeu, olhando para ele com o canto dos olhos, enquanto tirava um baseado de dentro da bolsa.
- Você é bem direta, gostei disso. Inclusive, se me der um trago, faço serenatas frente a seu prédio! – Ele afirmou, rindo. Mônica acendeu, tragou, prendeu e passou.
- Se fizer serenatas frente a meu prédio, te dou uma tijolada! – Os dois gargalharam. Menéga gostou da energia dela.
- Você é fogo puro! – Ele disse, devolvendo a vela para a dona.
Todo o grupo aproveitou para fazer suas cabeças, acomodando-se em suas respectivas cadeiras. A música ao vivo continuou rolando a cargo de outra banda local, eles eram tão bons quanto Menéga e seus amigos.
Vic e Cecí continuaram a beber. As três teriam uma semana agitada. Moe e Vic iniciariam a jornada de eventos pré formatura, já Cecí, teria vários ensaios, com grifes, supermodelos e uma fotógrafa extremamente concorrida.
Não demorou e Vic começou a se gabar. – Meu chefe vai fazer uma palestra no campus em algumas horas, terei de acompanhá-lo o tempo todo. Não que seja um sacrifício, ele é uma delícia!
- Como assim? – Moe perguntou, parecendo chocada ao ouvir a amiga falar frente ao cara com quem estava flertando.
- Se falo é porque provei! – Vic zombou.
- Que loucura, mana! – Moe exclamou.
- Falando no idiota do seu chefe, achei que viria com vocês! – Menéga pontuou.
- Mesmo que todas as mulheres da boate estivessem nuas, não viria! – Cecí exclamou, demonstrando o incômodo com o rumo da conversa.
- Ótimo, teremos um maníaco como palestrante! – Moe disse, rindo.
- Não o julgue pelas palavras desses dois, ambos têm seus motivos para se ressentir! – Vic expôs, fazendo com que Cecília ficasse ainda mais desconfortável.
- Não estou ressentido, apenas não acho necessário cortar relações! – Menéga esclareceu, mas, Cecí preferiu o silêncio e as expressões efusivas como resposta. Se pudesse, estrangularia Victória e Matteo.
- Ele realmente abalou o ego de vocês! – Moe exclamou, percebendo que havia algo de estranho na história.
- Você não sabe de nada! – Cecília respondeu.
- Será que não sei? Parece recalque! – Moe contra argumentou, lançando um sorriso debochado à sua cunhada. O clima pesou ainda mais.
- Vai se foder, Mônica! – Cecília respondeu com toda aspereza.
- Por que está tão irritada? Bastou mencionarem o cara para você surtar! – Moe expôs, sentindo vontade de alfinetar Cecília, este jogo havia se tornado interessante, e ela gostaria de entender o que estava rolando.
- Dor de cotovelo! – Menéga deixou escapar.
- Eu vou dar na sua cara! – Cecília disse à ele, demonstrando todo descontrole possível.
- Você não seria a primeira! – Menéga provocou, querendo apimentar ainda mais o salseiro.
- O Gago ficaria decepcionado com toda a infantilidade de vocês, e é por isso que ele não aparece! – Vic debochou, ajudando a aumentar a crise.
- Vadia! – Cecília disse, levantando-se e parando frente à sua amiga. Stevie, o baixista, colocou-se entre as duas, tentando evitar o pior.
- Esse tal de Gago deve ser fodão demais, nunca vi a Cecília perder a linha assim! – Mônica chamou a confusão para si.
- Com certeza ele é, amiga! – Vic disse, gargalhando ao ver todo rebuliço criado.
- Todas as garotas já foram pousadas nele! – Menéga afirmou, lançando um sorriso sacana para Moe e isso a fez rir muito.
- Ai Menéga, você é o auge! – Ela disse, em meio a gargalhadas.
- Vai rindo, aposto que vai ficar pousada nele também! – Ele disse, zombando dela.
- Faça-me o favor, eu tenho bom-senso! – Moe exclamou, rindo ainda mais.
- Tá cuspindo pra cima, gatinha? Você ainda não o conheceu! – Ele zombou mais uma vez.
- Se você acha que vou me apaixonar por esse cretino, pode esquecer! – Mônica zombou de volta.
- Com a Mônica não precisa se preocupar, ela é seca como a boceta de uma idosa! – Cecília disse, tentando provocá-la também.
- Para alguém que está com o casamento marcado, você parece bastante enciumada! – Moe expôs, sacaneando com ela.
- Nem fodendo! – Cecí respondeu.
- Não seja leviana, amiga, você e o Menéga vacilaram; mereceram o afastamento dele! – Vic disse, recuando frente ao ataque iminente de Cecília.
- Você sabia que sua cunhada largou o Gago para ficar com seu irmão? Ele é mais rico, não é mesmo? – Menéga disse. Cecília estava prestes a voar em sua jugular.
- E você acobertou, seu imbecil de merda! – Cecília expôs aos berros.
- Parem com essa cena e vamos embora, à menos que queiram dormir na rua! – Mônica exclamou, encaminhando-se para a saída. Ela já estava cansada de tantas alfinetadas, e tinha certeza de que o rumo da conversa só iria ladeira à baixo.
- A Victória não sabe a hora de calar a boca! – Cecília disse, seguindo sua cunhada.
- Não importa quem sabe o quê, todo mundo perdeu a linha nessa porra. Não é justo você ficar atacando o Federico! – Vic expôs.
- As duas estão completamente fora da realidade; parem de discutir! – Mônica exclamou, fazendo ambas se calarem.
A madrugada chegou sorrateiramente, então, às três da manhã as garotas saíram da boate, se encaminhando ao sedã preto que as aguardava. O Destino era o apartamento de Mônica.
Segunda-feira, 07:00 AM
O despertador tocou, as garotas pularam da cama, correndo pelo quarto em busca de se preparar para o novo dia que iniciava. Elas não admitiriam, mas, se arrependeram de ir dormir tão tarde. Após todo o tumultuo do banho, da troca de roupas e do processo de maquiar-se, seguiram para a cozinha e prepararam grandes doses de café extraforte para abastecer seus copos térmicos.
Cecí tomou um táxi até o trabalho, Moe e Vic seguiram de carro até o campus da universidade de Columbia. Faltava pouco até elas estarem realmente atrasadas, mas, a fila de veículos para entrar no estacionamento as ajudaria com isso.
Quando encontraram uma vaga, comemoraram, apressando-se em estacionar. O evento seria no auditório principal, e Vic havia garantido lugares bem em frente ao palco. Isso seria bom se ambas tivessem chegado com antecedência, mas, na atual situação, Federico notaria que sua assistente administrativa e a amiga dela eram relapsas, ou seja, uma péssima impressão.
Federico Leone, alguém a quem Mônica não conhecia pessoalmente, mas, já havia mencionado mais vezes do que gostaria, entre a noite de domingo e esta manhã quente de segunda.
Nem sob tortura admitiria, mas, estava preocupada em lhe causar boa impressão. Ao chegar a esta triste conclusão, as piadas de Menéga trouxeram-na de volta da Gagolândia.
- Na boa, seu chefe é um boqueteiro. Por que caralhos ele quer motivar as pessoas a essa hora? É a mesma coisa de entrar dando bom dia no metrô às cinco da manhã, mais desagradável impossível! – Mônica desabafou, caminhando a passos largos ao lado de sua amiga.
- Ele é um cara bem-sucedido, obviamente vão colocá-lo para falar alguma coisa que faça esses vagabundos quererem trabalhar! – Vic expôs, bebendo um pouco de seu café.
- Seu argumento é válido! – Mônica disse, considerando seus companheiros de turma. A maioria deles não precisava se preocupar em fazer algo de útil na vida, incluindo ela própria. Ambas se aproximaram do mestre de cerimônias, que estava em cólera frente à porta do auditório.
- As senhoritas estão bastante atrasadas, não acham? Se o palestrante já estivesse no palco, não as deixaria entrar! – Ele disse, completamente insatisfeito.
- O palestrante ainda não começou e o senhor está preocupado conosco? Acho que deveria cobrar mais responsabilidade dos colaboradores, não de duas universitárias jovens e relapsas, o verdadeiro milagre é estarmos aqui; se o senhor não se importa, temos um palestrante ainda mais relapso que nós duas para esperar! – Mônica disse, puxando sua amiga boquiaberta para dentro do recinto. O mestre de cerimônias estava completamente estarrecido com a insolência de Mônica, mas, ela tinha razão, ele não poderia repreendê-la.
- Você enlouqueceu? O senhor Schneebly é uma groupie do Gago, você acabou de ofender a honra dele! – Vic disse, parecendo bastante preocupada.
- Victória, o Ned é um velho solitário! – Mônica disse, enquanto ambas se aproximavam de seus assentos.
- Você é uma déspota às vezes; por isso, eu e a Ceci ainda não conseguimos arranjar alguém forte o suficiente para ser padrinho do casamento dela e do Marco ao seu lado! – Vic desabafou, mas, alguns instantes depois, ao perceber a expressão furiosa de Moe, arrependeu-se, murchando em sua cadeira.
- Vocês o quê? – Mônica perguntou, completamente estarrecida com suas amigas.
- Não fique com raiva, o casamento está chegando e você não tem nenhum acompanhante! – Vic esclareceu, tentando se defender.
- Por que você e o Federico não fazem isso? São tão íntimos, não é mesmo! – Mônica esclareceu, expressando abertamente seu incomodo. Após alguns instantes de revolta interna, levantou-se do assento, rumando para fora do auditório.
- Aonde vai? – Vic perguntou, ajoelhando-se em sua cadeira, acompanhando a amiga que se distanciava.
- Pro inferno! – Mônica respondeu, mostrando-lhe o dedo, antes de voltar a caminhar. Vic voltou a se sentar, pegou o celular e enviou uma mensagem à Ceci, dizendo que tinha estragado o plano.
Mônica ficou chateada com a atitude de suas amigas. Elas não tinham o direito de ficar lhe apresentando homens na esperança de que se apaixonasse por algum, apenas para não aparecer sozinha nas fotos do casamento.
Ao sair do banheiro, Mônica esbarrou em algo que acreditava ser uma parede. Ela já estava pronta para xingar os maiores palavrões conhecidos pelo homem, quando olhou para frente e viu a figura mais linda já contemplada por seus olhos.
Ele usava uma camiseta preta em gola v, uma calça jeans da mesma cor e um par de Vans. Ela estava vendo tudo em câmera lenta. Ele parecia jovem, talvez um doutorando.
Ela ainda estava nos braços dele, com as mãos repousadas sobre seu peito. Seus rostos estavam próximos, e ambos estavam deixando o tempo ir. O mundo havia sumido.
Após alguns instantes, aquela criatura divina rompeu o silêncio: – Desculpe por isso, você está bem? Eu sou um desastre! – Ele disse, observando-a para ter certeza de que não a machucou.
- Nesse caso, deveria olhar por onde anda! – Ela disse, soltando-o rapidamente, isso o fez rir.
- Você tem toda razão, flor de lírio. Me desculpe mais uma vez! – Ele disse, parecendo curioso ao ver a expressão espantada dela.
- Me desculpe também, essa manhã está sendo uma merda! – Ela disse, apressando-se em voltar para junto de sua amiga traidora.
O palestrante estava pra lá de atrasado. Mônica já havia se acomodado ao lado de Vic, recusando-se a conversar com ela. Seus pensamentos pairavam sobre aquele cara misterioso ao qual havia encontrado na saída do banheiro.
Flor de lírio, esse apelido também estava rondando a mente dela. Quem era aquele cara, e por que ele a comparou a uma planta alucinógena e altamente letal? Parecia mesmo encantador, ela jamais poderia negar. Mas, sua ousadia a irritava um pouco.
O auditório estava parecendo um estádio durante o Superbowl. Os alunos do curso de administração de todos os anos conversavam ao mesmo tempo. Mônica sacou seu Pod de canabidiol dentro da bolsa, tragando discretamente. Vic percebeu, e estendeu a mão, pedindo um trago. Mônica revirou os olhos e passou para ela. Após alguns minutos e vários tragos, o senhor Schneebly subiu ao palco. Ele precisou de mais algum tempo para acalmar a multidão enfurecida.
O orgulhoso mestre de cerimônias não poupou adjetivos para descrever a criatura que encheria os ouvidos de todos naquela manhã. Ao acabar a pantomima, finalmente anunciou a entrada do Doutor Federico Caparrós.
Seria o fim de todo o suspense. Mônica deu o último trago antes de guardar o apetrecho na bolsa. Quando ele finalmente subiu ao palco, ela quase enfartou. Federico Caparrós era o cara com quem ela havia trombado na saída do banheiro.
Vic podia farejar o ódio vindo de seu lado direito. Um risinho sacana brotou nos lábios da loira, ao ver a expressão incrédula de sua amiga. – Aposto que você não esperava por esse gostoso, não é mesmo? – Vic sussurrou, importunando-a. – Se você não o quiser, talvez, eu o leve ao casamento de Ceci e Marco!
- Você é uma cretina! – Mônica sussurrou de volta, franzindo o cenho.
- Cretina, eu? – Vic sussurrou. – Há pouco me encorajou a fazer isso!
- Que seja, não me importo! – Desdenhou, fazendo Vic rir.
Mônica sentia que poderia arrancar os olhos de Victória, mas, em alguns minutos, os tragos de canabidiol a dissuadiram da ideia, e ela só conseguia olhar para o rosto dele. Relaxou na cadeira, cruzou as pernas e abandonou os risinhos insuportáveis de sua amiga.
Ambos mantiveram contato visual por boa parte da apresentação, ele não poupou sorrisinhos sacanas, e isso a deixou desconfortável de certa forma. Ela não poderia negar que ele era realmente gostoso, isso com certeza o afastava de seus limites. Imediatamente, Mônica colocou em Fredo a etiqueta de homem perigoso.
Quando a palestra acabou, o mestre de cerimônias homenageou seu ilustre convidado e anunciou o coquetel de abertura dos eventos da semana. Ao final do discurso, quase todas as mulheres presentes correram em direção as escadas de acesso ao palco. Mônica reafirmou sua teoria.
Nem mesmo a velha bibliotecária ficou intimidada com a fila de franguinhas, ela também precisava tocá-lo, como se sua vida dependesse disso. Mônica era capaz de compreender o frenesi, mas, decidiu ficar em seu assento.
Vic ficou inconformada com o desdém de sua amiga, então, levantou-se, parando em sua frente, apoiando as mãos na cintura e lançando sobre ela um olhar sombrio.
- Você não pode desprezá-lo apenas porque o Menéga pesou na sua mente! – Vic afirmou.
- Não estou o desprezando, apenas, não me peça para enfrentar uma fila dessas, ainda mais depois da noite de ontem. Até parece que ele é um astro do rock. Me poupe, se poupe, nos poupe! – Mônica desabafou, sacando seu Pod dentro da bolsa. – Ademais, ambas temos um único objetivo: Assinar a lista de presença e vazar daqui!
- Você sabe que teremos de ir ao coquetel se quisermos assinar a lista, certo? – Vic perguntou, sentando-se novamente.
- Óbvio, por isso vou esperar sentada. O senhor Schneebly não vai deixar ninguém comer os canapés até que o Bon Jovi tenha acabado sua sessão de autógrafos! – Mônica debochou, bufando e revirando os olhos em seguida.
- Você e o tio Raul são as criaturas mais amargas do planeta. Acho que o está desprezando porque ficou tão alucinada quanto as centenas de garotas na fila, mas, seu orgulho não permite ser sincera! – Vic zombou, cruzou os braços sobre o peito e lançou um olhar desafiador a sua amiga.
- Não estou desprezando ninguém, apenas não quero me sujeitar a pegar fila para tirar foto com um cara a quem eu não conheço. Entendo que ele seja famoso na cena empresarial, mas, para mim, é um estranho bonito que custou uma noite muito mal dormida! – Mônica afirmou, tragando novamente antes de passar para Vic.
- Você tem razão em não se jogar aos pés dele, todas fazem isso, mas, nenhuma consegue fisgá-lo. É só uma noite e adeus, bon voyage!
- Óbvio, já viu a horda de mulheres que o cerca? – Moe afirmou.
- Credo amiga, cadê seu espírito esportivo? – Vic perguntou, rindo ainda mais ao ver a expressão furiosa dela.
- Enfiei no cu! – Mônica afirmou, bufando e revirando os olhos em seguida.
- O Menéga é foda! – Vic zombou novamente, não conseguindo conter o riso.
- Do que você está falando? – Mônica exigiu.
- Você ficou mexida com aquele gostoso! – Vic queria uma confissão.
- Não fiquei mexida pelo gostoso! – Mônica disse, abusando do escárnio.
- Então admite que ele é um gostoso! – Vic estava rindo muito alto. Moe deu uma cotovelada nela.
- Tomar no cu, Victória!
Fredo estava cercado de mulheres, o que não é uma novidade, considerando sua aparência e poder aquisitivo, acontece que naquele momento toda essa atenção era um inconveniente para ele; seu affair nem sequer saiu do assento, permaneceu ao lado de sua amiga, fumando, conversando, rindo, longe dele, mas, não de seus olhos. Isso o aborreceu com certeza.
Após atender todas suas admiradoras, Fredo seguiu Ned até o salão onde aconteceria o coquetel. A esta altura ele precisava de muito whisky, sua mente estava em um looping incessante de perguntas sem respostas, afinal, não havia um motivo plausível para sua pequena dose de escopolamina não ter se aproximado para cumprimentá-lo.
Ele tinha isso como certo, afinal, guardou esse apelido para aquela a quem o fizesse delirar por dias antes de finalmente morrer. Flor de lírio.
Os elogios de Ned eram esquecidos por Fredo à medida em que eram proferidos. Ambos se posicionaram em um ponto que os permitia uma melhor visão do evento.
A situação era essa, ela o estava ignorando, e isso o incomodava, como uma coceira no meio das costas, em um lugar onde não dá pra alcançar. Ele não conseguia conceber o fato de que seu objeto de desejo era a única mulher a quem seus encantos não atingiam. O aborrecimento dele se tornou evidente.
- Você está bem? – Ned perguntou, com um tom de preocupação em sua voz; isso tirou Fredo do transe.
- Depois de uma generosa dose de whisky ficarei. A lista de presença está com você? – Ele respondeu, ainda seguindo a morena com os olhos. Rapidamente Ned providenciou a dose.
- Sim, mas, por quê? – Ned perguntou, parecendo bastante espantado.
- Perfeito, acomode-se ao meu lado! – Fredo disse, e sem desviar seu olhar, pegou o copo e tomou um pouco de sua dose.
- Algo está o incomodando? – Ned perguntou, parecendo genuinamente preocupado.
Fredo lançou um sorriso debochado a Ned, em seguida colocou seu braço esquerdo sobre os ombros dele. – Só a amiga de minha assistente; a que está desfilando com sua beleza exuberante, evitando a todo custo me encontrar novamente! – Fredo respondeu, deixando Ned ainda mais preocupado.
- Ela incomoda várias pessoas, basta não cruzar seu caminho e ficará tudo bem! – O mestre de cerimônias pontuou, e ele estava sendo brutalmente sincero.
- Não é nesse sentido! – Fredo disse, rindo para ele, apertando-o junto a si. – Imagine, Ned, meu velho, que você tenha encontrado a garota dos seus sonhos, mas, ela está te evitando a todo custo. O que você faz? Arma uma cilada. Não sou do tipo que gosta de perder, entende? Isso me instiga! – Fredo soltou Ned repentinamente, assustando-o.
- Você está interessado naquela cobra vestida com Versace? – Ele perguntou, mas, dessa vez estava indignado.
- Interesse eu tenho na cotação do dólar, meu amigo. Eu quero essa mulher! – Fredo passou a mão pelo cabelo. – Você pode até me dizer: Fredo, seu trapaceiro, mas, eu sou, Ned, meu velho, eu sou. A única coisa que me desequilibra é essa mulher, e porque ela não vem até mim!
- Você pode ter feito algo que ela não concorda; isso é típico dela, ignorar aqueles que não a agradam. Uma víbora! – Ned afirmou.
Ambos debateram por algum tempo, à cerca dos prós e contras de ficar com a morena que estava prestes a ouvir toda a conversa. Mônica e Vic se aproximavam discretamente, e ambas traziam sensações opostas quanto a atual localização geográfica de Ned Schneebly.
Vic estava animada, Moe não poderia estar mais insatisfeita.
- Aquele maldito puxa saco! – Mônica sussurrou, mencionando o fanatismo do mestre de cerimônias.
- O universo quer que vocês se conheçam, amiga! – Vic zombou, recebendo outra dolorosa cotovelada como resposta.
- Por isso fujo dessas ideologias, é sempre bom tomar cuidado com as utopias que dizem como o mundo deve ser! – Mônica rechaçou o argumento esotérico de sua amiga.
- Engraçado, achei que você gostava mais de Nicholas Sparks do que de Nietzsche! – Vic zombou, parando frente a Ned, obrigando Mônica a ficar próxima a Fredo. Ela ficou bastante incomodada.
- Olá, nos deem licença por um instante. Poderíamos assinar a lista? – Vic perguntou calmamente.
- Claro que podem! – Fredo disse, tomando caneta e prancheta das mãos de Ned, estendendo-os à Mônica.
Esta por sua vez apenas acompanhou a cena, sem esboçar reações. Fredo sentiu um frio na barriga, e o mesmo se espalhou por seu corpo. Aquela presença esmagadora e real, fazia com que ele percebesse o anonimato. Finalmente havia encontrado alguém sincero o suficiente para não se importar com quem ele era.
- Obrigada! – Mônica respondeu instintivamente, ao notar que o constrangimento esmagador estava prestes a findar.
- Não por isso, flor de lírio! – Fredo disse, piscando para ela. A expressão séria de Mônica era um péssimo presságio para Vic e Ned, que esperavam uma reação brutal ao apelido atribuído a ela. – Permita-me ajudar! – Ele disse, segurando a prancheta para que ela pudesse assinar.
Após percorrer várias páginas repletas de nomes, ela repousou a ponta da caneta tinteiro do mestre de cerimônias carente e blasé sobre o espaço em branco frente à Mônica Gutiérrez Palácios Cortez.
Nesse momento, os olhos de Fredo ficaram vidrados, seu coração explodiu contra o peito e suas mãos começaram a suar. A prancheta caiu, e Mônica acabou por rabiscar a página.
Imediatamente, Mônica levantou a cabeça para encará-lo, e havia fogo em seus olhos. Ele conhecia esse fogo, e certamente fazia jus ao sobrenome de quem o ostentava.
O mundo veio sobre ele e à sua frente um abismo se abriu; apesar da fúria que o fazia lembrar de seu padrinho, houve um silêncio glacial vindo dela. Isso não durou.
- Desculpe, fui firme demais? – Ela perguntou, zombando baixinho, enquanto Fredo se inclinava para recuperar o objeto.
- É exatamente o que se espera de uma Cortez! – Ele respondeu, piscando para ela novamente.
- Supondo que você conheça a família Cortez, imagino que o orgulhoso chefe da mesma não lhe seja estranho! – Ela respondeu com desdém, esperando que não fosse esse o caso. Infelizmente, era.
- De fato, ele é meu padrinho! – Fredo zombou, ao notar a expressão de insatisfação de sua flor de lírio.
- Nem fodendo! – Mônica respondeu, e um risinho sacana brotou no canto de seus lábios, enquanto tomava para si a prancheta. Vic e Ned estavam boquiabertos.
- Não fala assim, eu me apaixono fácil! – Fredo pontuou. Mônica lançou sobre ele um olhar sombrio, voltando-se finalmente para a tarefa à qual desencadeara todo esse rebuliço.
Ao acabar, tentou devolver a prancheta para Fredo, mas, ele estava ocupado fazendo uma chamada de vídeo com seu padrinho, e chefe da família Cortez em questão.
Ele achou prudente virar o celular, obrigando Mônica a encarar Raul. Seu coração congelou e ela gaguejou um pouco enquanto dizia: – Olá papai, bom dia, desculpe o incômodo!
- Bom dia, minha vida, não há incomodo algum, é sempre bom vê-la! – Raul respondeu, rindo da situação.
- Tenho que voltar aos meus afazeres, nos falamos mais tarde. Te amo mais que tudo! – Mônica disse, mostrando a língua para seu pai e dando as costas para todos em seguida.
Fredo virou o aparelho para si.
- Ela me odiou desde o primeiro instante! – Fredo disse a Raul, e este sorria amplamente.
- Vamos, não seja dramático! – Raul notou a expressão desapontada de Fredo.
- Ele está certo, a Mônica odeia a todos nós! – Vic disse ao fundo, deixando os três caras intrigados.
- O que aconteceu? – Raul perguntou, obrigando Fredo a virar o telefone para Vic.
- Saímos ontem à noite para comemorar minha incorporação à firma; fomos à boate do Menéga, bebemos um pouco, mencionamos alguns rolos antigos. O Fredo acabou sendo citado e a Mônica ficou bastante decepcionada com a espécie humana!
- Que caralho vocês foram fazer na boate do Menéga? – Fredo aproveitou o ensejo para inquerir também.
- A Cecília descolou pulseirinhas da área vip pra gente, foi só isso, não fizemos nada demais! – Ela disse.
- Gago, você fez parte disso? – Raul perguntou, com certo tom de rispidez.
- É claro que não! – Fredo disse.
- Coloca essa porra no privado e vamos conversar! – Raul exigiu. Fredo obedeceu, tomando uma certa distância dos presentes.
- Pode falar! – Ele exclamou, preparando-se para o esparro.
- Como a Mônica foi parar na boate do Menéga e só estou sendo informado agora? – Raul bradou, completamente fora de si.
- Eu gostaria de ter uma resposta! – Ele declarou, sua voz estava trêmula.
- Porra, Gago, que vacilo! – Raul exclamou.
- Me desculpe, padrinho! – Ele disse, sentindo seu coração tamborilar.
- E agora, o que faremos com essa situação? – Raul exigiu.
- O que o senhor achar melhor! – Fredo pontuou.
- Quero saber exatamente o que aconteceu naquela maldita boate. Resolva essa porra com a Victória e a faça entender com quê estão lidando! – Raul disse, antes de desligar.
Vic fez algumas confissões, mas, isso não contou pontos a seu favor. Ao se aproximar, Fredo indagou: – Por que fizeram uma coisa dessas? Vocês estão fumando muita maconha, não é possível, cara!
- A Ceci queria levá-la para conhecer o Menéga! – Vic defendeu-se.
- Puta que pariu, caralho, Victória! – Ele exclamou, perdendo a linha.
- A culpa não foi minha, a Cecília apareceu com as pulseiras! – Ela rebateu.
- Vocês perderam a porra da razão? – Fredo pontuou.
- Isso não é totalmente verdade. Precisamos encontrar um homem que suporte ficar ao lado da Mônica por quatro ou cinco horas, por isso a levamos até a boate. Não funcionou, ela barbarizou o Menéga!
- Você se acha muito esperta, certo? – Fredo exclamou.
- Olha, não quero ser pessimista, mas, você vai ter que pular para sair dessa! – Vic debochou.
- Você está fodida na minha mão! – Fredo respondeu, lançando um olhar desafiador para ela.
- Nós não fizemos nada demais! – Vic se defendeu.
- Nada demais, não é? O tio Raul está muito puto! – Fredo respondeu. Vic sentiu que havia passado do ponto.
- Vamos nos acalmar! – Disse Ned, bastante aflito. Fredo se irritou ainda mais.
- Não tenho condições de continuar esse evento, melhor encerrar; tenho que pular para sair dessa. Senhorita Chaccón, me acompanhe! – Ele exigiu. Vic não se atreveu a contestar.
Fredo caminhava a passos largos rumo ao estacionamento, Vic teve de se esforçar para alcançá-lo. Ela estava apavorada, pois, sua demissão parecia iminente. Em um ímpeto de coragem, irrompeu o silêncio.
- Fredo, me perdoe, não tinha intenção de causar tamanha confusão, precisa acreditar! – Ela suspirou, quando pararam ao lado da Porsche Macan dele.
- Vocês têm merda na cabeça! – Fredo disse, sentindo extrema irritação.
- Me desculpe, ok? Não imaginei que daria tanta bosta! – Ela lamentou.
- Vocês me foderam! – Apesar do brando tom de voz, mantinha a firmeza.
Ambos entraram no carro, rumando ao edifício mais exuberante da South Street.
- Nós só queríamos ouvir o Menéga cantar, e quem sabe descolar um par de confiança para a Moe! – Vic respondeu, parecendo chateada.
- Desde quando o Menéga é de confiança? Vocês enlouqueceram? Entendo que a Cecília viva em Nárnia e escolha fingir que não sabe o que o pai dela faz, por isso, não se importa com lealdade e coisas afins; mas, você trabalha comigo em off há quantos anos? O envolvimento dele com o Ortega é inaceitável. Preciso falar mais?
- Você se afastou do Menéga por causa da "amizade" dele com o Ortega? – Ela questionou. Vic tinha alguns lapsos de julgamento severos.
- É óbvio, o tio Fico não tolera essas paradas, cara. A boate do Menéga é ponto de encontro dos associados, é um esquema de lavagem de dinheiro e depósito de cocaína do Ortega. Daí as duas resolvem levar a Mônica até lá, para conhecer o vagabundo! – Fredo esclareceu.
- Eu não fazia ideia! – Ela exclamou, percebendo o tamanho da roubada em que havia se metido.
- Aparentemente, você não faz ideia de um monte de coisas! – Fredo desabafou, apertando o volante.
- O tio Fico vai acabar comigo! – Vic exclamou, sentindo o desespero chegar.
- Ele me paga para fazer isso em seu lugar. Espero que tenha aprendido a lição! – Ele expôs, mesmo sem saber das reais inquietações de Victória.
Ambos adentraram o estacionamento da P.C Média em silêncio, e da mesma forma tomaram o elevador até o andar da presidência. Vic temia ter destruído sua relação com Raul, e Fredo sentia um imenso aperto em seu peito, pois, sabia que esta história estava longe de acabar.
Chegando em seu escritório, Fredo se deparou com Otto Werneck e Caio Valério Rojas, sintonia de tecnologia e logística respectivamente. Seu coração tamborilou, e ele sentia o ar escapar a seus pulmões.
- O Fico decretou o Menegazzo, e quer que seja feito até a meia noite! – Valê disse, deslizando as mãos pelos cabelos louros, demonstrando sua inquietação.
- Isso vai dar uma merda do caralho, quero nem ver! – Fredo exclamou, sentindo a gélida morte passar por ele.
- Ossos do oficio! – Otto pontuou, sorrindo discretamente.
- E como ele quer que façamos? – Fredo inqueriu, suas pernas amoleceram.
- Disse que não importa, desde que seja feito! – Werneck pontuou. – Graças à Cecília e a Victória, também estamos decretados até segunda ordem!
- Puta que pariu! – Fredo bradou, dando um soco na mesa.
- Penso o mesmo, irmão. Peço desculpas pela falta de noção da minha filha! – Valê lamentou.
- Lamentar não vai livrar nossa cara, porra! – Fredo desabafou; suas mãos tremulas buscaram a garrafa de whisky à sua frente.
- Como faremos, Otto? – Valê questionou.
- Bem, a boate costuma ser reabastecida às segundas-feiras, temos uma chance se desativarmos as câmeras de segurança e usarmos um caminhão de bebidas para entrar. Já avisei o Michael, ele está à caminho com nosso veículo de fuga. Ele irá nos esperar no estacionamento que divide o beco com a entrada de serviço da boate. Vamos contar com a intransigência do Menéga para isso! – Otto pontuou, com uma placidez invejável.
- Quando estivermos lá dentro, fazemos o quê? – Fredo inqueriu, se valendo de toda expertise de seu jovem amigo.
- Lá dentro o Valê cuidará de implantar as bombas no subsolo, enquanto você e o Treze rendem o babaca e esvaziam o cofre. Precisa parecer uma ação das gangues locais, então, seremos discretos, mas, nem tanto. Estarei com Michael, rodando o spam que vai nos dar pouco mais de trinta minutos para concluir e dar o fora! – Otto explicou.
- A que horas vai ser essa cena? – Valê questionou, tomando para si uma dose de whisky.
- Agora mesmo, queridos. Michael já chegou a seu destino, e o Treze nos aguarda na entrada de serviço da P.C! – Otto exclamou, confirmando as informações em seu celular pré-pago.
- Você não será reconhecido ao trocar de veículo? – Fredo perguntou, ainda aflito.
- O Treze trouxe as roupas, as bombas, as armas e meu equipamento; acham que estamos dormindo? Mexam-se! – Ele disse, apressando-se em direção ao elevador de serviço; foi seguido por seus comparsas.
14:00 PM – Entrada de serviço da boate
Otto havia hackeado todas as câmeras de trânsito em seu caminho, impedindo que fossem identificados pela polícia. Quando chegaram ao beco, ele saiu do caminhão, pulou a mureta do estacionamento e se dirigiu à Mercedes C63, onde Michael o aguardava. Ao seu comando, a enorme porta de ferro do armazém se abriu, e eles adentraram.
Valê esgueirou-se e usou as escadas de incêndio para alcançar o subsolo, onde se encontrava um dos depósitos de cocaína de Ortega. Implantou as bombas nos pilares de sustentação e próximo ao tanque de combustível do gerador de energia. O cronômetro das bombas começou a correr contra ele e seus amigos.
No andar de cima, Fredo e Treze rendiam Menéga e Stevie, que contavam o dinheiro preguiçosamente em suas cadeiras; descuidados e relapsos como sempre, deixaram a porta do cofre aberta.
Antes que pudessem reagir, Fredo disparou sua ponto cinquenta, alvejando Menéga no pescoço e no peito; Treze o seguiu, acertando Stevie na cabeça. Alguns diriam que Fredo gostaria de ver Menéga sofrer, agonizando por alguns instantes antes de finalmente partir, mas, outros saberiam que estava sob extrema tensão.
Quinze minutos de operação; Treze estava enchendo as bolsas com o dinheiro do cofre, enquanto Fredo assistia paralisado à fatídica cena de seu ex melhor amigo cuspindo sangue e gorgolejando sobre as notas em suas mãos. Achou por bem deixá-lo morrer empunhando aquilo que mais amava. Dinheiro.
Valê adentrou o escritório, e ajudou Treze a guardar o resto da grana; ao acabar, puxou Fredo para fora, afinal, este ainda estava atônito com sua visão. Talvez, ele nunca chegasse a se recuperar do ocorrido.
Os três saíram em disparada, carregando as bolsas com o dinheiro e suas roupas; pularam a mureta e entraram no carro. Michael tinha experiência em fugas, por isso, não se demorou em arrancar e deixar o local. Alguns quarteirões depois, ouviram a mega explosão.
A fumaça poderia ser vista do outro lado de Manhattan, assim pensava Valê. E ele estava certo. Ao chegar no hangar de Fico, na mencionada parte da cidade, conseguia observar o tamanho da merda que haviam feito.
O pré-pago de Werneck tocou, e este ativou o alto falante, para que todos pudessem ouvir Fico.
- Belo trabalho senhores; espero que todos tenham aprendido algo hoje. Livrem-se do carro, das roupas e entreguem o dinheiro ao Michael; este será seu pagamento. – Raul fez uma breve pausa para tragar seu baseado. – Quanto aos demais, nos vemos na sexta-feira!
Ele desligou o telefone, tendo a certeza de ter sido ouvido. Fredo não havia dito uma palavra até o momento, pois, a visão de Menéga agonizando ainda pairava por trás de seus olhos. Werneck e Treze se beijaram, comemorando a conclusão majestosa de seu feito. Valê se sentou no chão e observou Michael atear fogo em um velho tonel.
Fredo se aproximou de Valê, e este pôde perceber sua confusão interna. – Já foi, mano, agora é só deixar a poeira baixar!
- Sinto que é só o começo e a poeira está longe de baixar! – Fredo disse, sentando-se ao lado do amigo.
- Deveríamos dar o fora daqui! – Valê disse, mas, assim como Fredo, não tinha forças para se levantar. Quando a adrenalina baixa, a consciência pesa.
- Não sei se aguento muito mais disso! – Fredo expôs, esfregando o rosto nervosamente.
- Não quero te desanimar, mas, essa sensação só piora com a idade! – Valê disse, com um riso amarelo em seus lábios.
- Por que decretar o Menéga? Essa parada está muito estranha! – Fredo questionou, parecendo desapontado.
- Fez para nos punir, as ações das garotas são nossa responsabilidade perante o comando! – Valê respondeu, enquanto acendia um cigarro.
Michael começou a lançar as roupas incriminadoras no fogo e as chamas dançavam frente aos olhos de Fredo.
- Esse vacilo me quebrou muito! – Fredo admitiu, lamentando a morte de Menéga.
- Não se deixe levar, Gago, essas coisas acontecem à todo momento nesse ramo! – Valê disse, apertando o ombro de seu amigo.
- Não foi a primeira vez que matei alguém nesse ramo, mas, isso foi diferente! – Fredo disse, enquanto acendia um cigarro.
- Querem algo para beber? – Michael ofereceu aos retardatários. Otto e Treze já haviam deixado o local.
- Acha que conseguiremos ficar em pé quando essa guerra chegar às ruas? – Fredo perguntou, enquanto estendia a mão para apanhar a dose de whisky vinda de Michael.
- Temos tudo para ficar, basta não deixar a cabeça quebrar! – Valê expôs, recebendo sua dose também.
19:00 PM
Ao chegar em sua cobertura, Fredo sentiu um pouco de paz. O silêncio reinava. No caminho para seu quarto, passou pela sala de estar, vendo seu irmão caçula, que dormia tranquilamente no sofá. Subindo as escadas, lembrou-se do rosto angelical de Mônica, e isso o fez sorrir. Por trás daquele lindo par de olhos, ele podia ver o diabo, bem como na música do Elvis, assim pensou.
Aparentemente, Alexandre, o irmão do meio, não estava em casa. Fredo agradeceu aos céus por essa dádiva. Não queria explicar o porquê de estar com a maior cara de bosta. Por isso, apressou-se rumo a seu destino. Tomou um longo e relaxante banho quente, dropou um opioide e se jogou em sua cama, esperando que uma boa noite de sono pudesse aplacar seu desespero.
Enquanto isso, na cobertura de Mônica, as apostas no cassino online estavam quentes. Frente a seu setup full Corsair, ela tratava de aproveitar o padrão de multiplicação para levantar sua banca. Fredo estava em sua mente, e ela cogitava a hipótese de estar mexida. Mas, não bancaria a vítima das circunstâncias, sabia que suas escolhas e os fatos haviam confluído para estar nessa situação. Aceitou bem o desastre, assim pensou.
Só para ter certeza, abriu uma nova aba em seu navegador, acessando o site da universidade. Para surpresa de ninguém, havia centenas de fotos do evento, mas, uma em especial lhe chamou a atenção. À longa distância, Fredo foi eternizado olhando para ela por cima dos ombros, e o sorrisinho convencido em seus lábios a deixou estarrecida.
Ali estava evidenciado o que Menéga havia dito. Embora soubesse perfeitamente dos riscos, resolveu abrir uma foto só de Federico. O chão deixou seus pés, ao lembrar-se do encontrão na porta do banheiro.
Como alguém que almeja ser um “espírito aristói”, ela imergiu em um estado de contemplação, lembrando-se de cada detalhe desse momento, revisitando-o em seu palácio mental. Em alguns minutos, seu celular tocou, despertando-a do transe. Era seu pai. Ela sabia que essa ligação viria, então, tratou de se recompor e atendeu.
- Olá, papai, boa noite. Como o senhor está? – Ela perguntou.
- Boa noite, minha joia. Já estive melhor e você? – Ele disse.
- O que houve? – Moe questionou, demonstrando preocupação.
- Soube que você e suas amigas se desentenderam ontem. Aconteceu algo que deva saber? – Ele respondeu.
- Nada demais, só babaquice de gente bêbada! – Ela desconversou.
- Já está pronta para dormir? Terá uma semana agitada, não acha? – Raul disse.
- Dificilmente conseguirei dormir nos próximos dias, mas, não há motivos para preocupação, é só ansiedade pré formatura! – Ela se esquivou mais uma vez.
- O que rolou entre você e o Federico? – Ele exigiu.
- Não rolou nada, pai. O conheci esta manhã e sinceramente, não têm nada de tão interessante sobre ele! – Moe estava determinada a desviar o foco.
- Você parece bastante escorregadia; está querendo me enrolar, Mônica? – Raul exigiu.
- Qual motivo teria para te enrolar? Discuti com minhas amigas esnobes, tomei um chá de cadeira em uma palestra chata e conheci um galinha qualquer, que por uma ironia do destino causou o atrito na boate e conhece o senhor. Tem algo de especial nisso? – Moe questionou.
- Não sei, amor, me diz você. Tem algo especial nisso? – Ele voltou a questionar.
- Teria, se o universo fosse um roteirista melhor! – Moe sacaneou.
- Você já havia encontrado o Menegazzo antes da noite de ontem? – Raul perguntou, tentando parecer casual.
- Nossa, pai, o senhor ama uma conspiração. Não, nunca havia encontrado o Menéga; e antes que pergunte, não tem nada de especial nele também! – Ela esclareceu. – Satisfeito?
- A Victória tinha razão, você odeia todo mundo! – Raul zombou.
- O que foi que aquela ordinária falou à meu respeito? – Moe exigiu, sentindo-se incomodada com a falação de sua amiga.
- Calma, amor; ela disse que você está com raiva. Só queria ter certeza se suas versões se confirmavam! – Raul esclareceu, recuando um pouco.
- Caralho, CSI. Não aguento vocês! – Ela desabafou, revirando os olhos em seguida.
- Essa agressividade tem alguma outra causa? – Ele perguntou.
- O que quer ouvir? Porque, sinceramente, não sei o que dizer! – Moe expôs.
- A verdade, meu amor! – Raul disse.
- Toda hora vem um chato me enchendo de “por quê?” – Ela exclamou.
- Posso imaginar! – Raul respondeu, deixando implícita certa desconfiança.
- Aproveitando o inquérito, já vou deixar claro: Não quero ser madrinha de casamento do Marco; ele e a Cecília são uns malas! – Moe desabafou.
- Sua mãe vai surtar! – Raul expôs, tentando conter o riso.
- Deixa surtar. Ela precisa aceitar que não sou sociável, inferno! – Ela disse, realmente incomodada.
- Por que não convida o Federico? – Ele questionou, preparando-se para o esparro.
- O senhor deveria parar de usar drogas! – Moe exclamou.
- Eu não uso drogas! – Raul disse, rindo amplamente.
- Usa sim, seu nóia. Por que o senhor não vai deitar? Velho e viciado como é, vai ter uma taquicardia! – Moe disse, sacaneando com ele.
- Filha da puta! – Ele disse, gargalhando.
- Vou contar pra minha mãe! – Moe respondeu, sem conseguir conter o riso.
- Vou dizer ao Federico que você quer sua companhia para o casamento! – Ele disse, provocando-a.
- Nossa, pai, como o senhor é chato. Coitada da Denise! – Moe exclamou.
- Vocês são uma combinação explosiva e por mais que isso me desagrade, sabia que em algum momento esse encontro chocante aconteceria! – Ele declarou.
- Não foi um encontro chocante, apenas esbarramos no corredor! – Moe disse, tentando livrar-se do assunto.
- Você está afiada, e só fica assim quando se sente encurralada! – Raul destacou, tentando arrancar alguma espécie de confissão.
- Pai, se eu precisar de terapia, procuro um profissional; até onde sei, o senhor é advogado! – Ela respondeu.
- Isso mesmo, coloca a raiva pra fora, vai te ajudar! – Raul disse, zombando.
- O senhor poderia dar uma trégua, por favor? Sei que está enciumado, mas, não se preocupe, jamais deixará de ser o amor da minha vida! – Moe disse, rindo.
- É claro que não deixarei, antes disso, mando aquele moleque pro inferno! – Raul pontuou.
- Ciumento! – Mônica exclamou. Ela não imaginava o quão longe esse sentimento o levava.
- Pare de ser tão rabugenta com o Federico e verá que é um bom rapaz! – Raul disse, surpreendendo-a.
- O senhor está impossível, depois vem dizer que não usa drogas! – Moe exclamou.
- Admita que gostou dele, então, eu paro com as drogas! – Raul disse, gargalhando.
- Ele é bonito, mas, como disse, não tem nada demais! – Ela divagou.
- Sabia, está gostando dele! – Ele exclamou, zombando dela.
- Aff, para de ser cuzão, pai! – Ela disse, revirando os olhos.
- Escolha, paro com as drogas ou paro de ser cuzão? – Ele disse, gargalhando.
- Idiota demais, pelo amor de Deus! – Moe exclamou.
- Também te amo, filha. Durma bem, e até amanhã! – Raul respondeu, e ainda ria quando encerrou a chamada.
Terça-feira, 00:00 AM
Após a rodada em que “saqueava o cassino”, e aplicava os lucros, Mônica tomou outro longo e relaxante banho de sais; fumando um baseado enquanto pensava na energia emocional investida em Chibs, e no tamanho do prejuízo que isso a causou.
Até encontrar Fredo na porta do banheiro, não sentia nada. Isso mudou ao vê-lo. Talvez fossem seus músculos, os belos olhos, o cabelo e a voz perfeita; de qualquer forma, ela não gostava da ideia de estar tão envolvida.
Um pensamento lhe ocorreu. Sentir algo, não significa necessariamente que deva virar um romance, ou, que alguém além de seu pai deva saber disso. Assim, conseguiu acalmar-se.
Contudo, nem sob rezas ela poderia dormir, então, o convite para uma corrida modo sprint ida e volta até Nova York parecia pertinente no momento. Seu Porsche Carrera GT 2003 era o escolhido. Envelopado, ouro rosê fosco, com placas alteradas.
A dificuldade do trajeto estabelecia o prêmio de quinhentos mil dólares para o primeiro colocado. A grana não era o lance de Mônica. O controle, a técnica e a velocidade sim.
O verão não estava perdoando, então, ao vestir-se para sair, escolheu um conjunto branco e um par de All Stars da mesma cor. Fez tranças em seu cabelo, pegou a chave do carro e o celular, encaminhando-se para o elevador. Selecionou o andar da garagem e respirou fundo.
Entrando em seu carro, teve a impressão de que Fredo estava sentado a seu lado, afivelando os cintos, falando alto e gesticulando horrores. Esse pensamento a fez sorrir e querer repreendê-lo. Mas, ao notar que não passava de um devaneio, disparou até a zona portuária de Manhattan.
O som do motor sob o capô, e as melodias dos escapes a cada passada de marcha embalavam os mistérios das primeiras horas de terça. Nada mais a preocupava. Seu carro, uma extensão de seu corpo, ela pensava.
Ao chegar, deparou-se com os competidores, dentro de seus carros, vidros fechados, faróis apagados. Afinal, ninguém estava procurando a mãe.
Sinalizadores vermelhos marcavam a largada. No grid, ela se posicionou na dianteira, o lugar dos campeões. Somente os melhores pilotos têm o privilégio. A seu lado, uma Ferrari 488 Itália, vermelha. Óbvio.
03:55 AM
O toque do celular de Fredo ressoava ao longe, e este, ainda sereno, não imaginava o que estava por vir quando finalmente acordasse e atendesse. Infelizmente, para o azar dele, a vida tem coisas, ou, irmãos mais novos fazendo merda.
- Federico falando! – Ele disse, ainda sonolento.
- Olá Federico, sou o oficial Poole; estou entrando em contato, pois, seu irmão, Saulo de Tarso Goicoléa Pardo Caparrós, está detido e nos deu seu contato como referência! – A voz masculina do outro lado fez Fredo saltar da cama.
- Me envie a localização do distrito nesse número, por favor! – Ele respondeu, sentindo seu sangue ferver.
Fredo se vestiu e adentrou o quarto de Alê feito um raio. Acordando o maré mansa do meio. – Levanta logo, caralho. O idiota mirim tá grampeado!
- Como é? – Alê respondeu, atordoado.
- Seu irmão está preso, vista-se rápido! – Fredo repetiu, enquanto atirava as peças de roupa nele.
- O que ele fez? – Alê perguntou, acabando de calçar seus tênis.
- Provavelmente fez merda em outra corrida! – Fredo exclamou, saindo do quarto. Alê o seguiu.
Ambos chegaram rápido à garagem, notando a ausência da Ferrari de Saulo. Fredo ficou furioso, pois, sabia que morreria em uma grana para tirá-lo da tranca no sigilo.
- Esse moleque não dá uma trégua! – Alê disse, esfregando o rosto, tentando afastar-se do sono. Ligou o rádio do carro. Crazy de Gnarls Barkley era a trilha sonora.
- Não sei como tem a audácia de colocar um low pra tocar. Quando vocês vêm pra casa o caos se instala, toda sorte de praga me atinge! – Fredo disse, rindo de nervoso.
- Dessa vez não tenho nada à ver com seu flagelo, mas, sugiro mandar uma marola de encontro! – Alê disse, acendendo um baseado.
- Quando é que vão crescer? – Fredo perguntou, abusando da rispidez.
- Pega leve, mano, ele sente sua falta, sabia? – Alê disse, tragando profundamente, antes de passar para o irmão.
- Não tente inverter a situação, vocês vivem fazendo merda, caralho. Toda hora aparece uma pipa diferente. Vivo em função de consertar as cagadas de vocês! – Fredo tragou, prendendo a fumaça, escolhendo suas palavras.
- Não precisa ser tão duro! – Alê exclamou.
- Acho que o problema é exatamente esse, não sou duro o suficiente; vocês vivem me contornando! – Fredo pontuou, exalando irritação. Devolveu o beck para Alê.
- Para com isso, cara, a gente te respeita muito, sabia? – Alê riu.
- Babaca! – Fredo desabafou.
- O Saulo é um moleque desajustado, eu gosto de festas de arromba, qual o problema? Claro, às vezes acabamos fodendo com tudo, mas, felizmente, temos você. Nossos pais estão longe o tempo todo, e além disso, desde que você se mudou, eles não são mais os mesmos! – Alê expôs.
- Não suporto essa conversinha de maior abandonado, pode ir parando! – Ele disse, pegando de volta o baseado.
- Não é conversa, Fredo, é verdade! – Ele estava sendo o mais sincero possível.
- Certo, o que acham de começar a trabalhar? Ter responsabilidades? Você deveria estar cursando sua residência, e o idiota do Tarso, deveria estar terminando o colégio! – Fredo disse, mas, ele próprio não tinha certeza quanto a essa afirmação. A imagem de seu amigo morto voltou à sua mente.
- Minha residência no St. Thomas começa em alguns dias; o tio Fico disse que posso ficar na casa dele até arranjar um lugar só meu. Quanto ao Tarso, acho que fica à cargo da sua decisão! – Alê esclareceu.
- Caralho, o tio Fico é mais louco que eu imaginava! – Fredo afirmou.
- É nada, ele é da galera! – Rebateu.
- Vai nessa, ele te enche de porrada, maluco! – Fredo disse, rindo.
- Acho que nossos pais estão sempre viajando porque confiam muito nele e naquilo que faz por nós! – Alê não fez questão de esconder sua tranquilidade.
- Claro, mas, isso não significa que podemos ficar abusando de sua bondade; ele não é um hippie, caralho. Abre teu olho! – Fredo expôs.
- Cara, são só algumas semanas, o que pode dar errado? – Alê questionou.
- Do jeito que você é, tudo pode dar errado! – Pontuou com veemência.
- Isso é verdade! – Alê debochou.
- Antes de ir, precisa me ajudar a colocar o Tarso na linha! – Fredo não deixou de esclarecer.
- Qual seu plano? – Alê questionou.
- Não posso deixar vocês dois à cargo do tio Fico, então, terei de matriculá-lo em um internato por aqui, e quem sabe, obrigá-lo a estagiar na P.C Média! – Ele disse, enquanto ponderava sobre isso.
- Acha que pode dar certo? – Alê questionou.
- Vai ter que dar, senão, vou expulsá-lo de casa. Não aguento mais esse tormento! – Fredo disse, sem pensar muito mais sobre o assunto; sua mente voltou a fervilhar.
- Tá certo, se é isso que você quer! – Alê disse, sorrindo e dando uns tapinhas no rosto de seu irmão.
- Você pode ao menos fingir que me respeita ? – Fredo disse, depois estacionou, desceu do carro, contornou Alê e se encaminhou para dentro do distrito.
Já dentro do prédio, ele se depara com seu irmão, discutindo com outro detido. – Não acha que já causou problemas demais por uma noite? – Ele perguntou, fazendo Tarso congelar.
- Esse imbecil é o culpado por estarmos aqui! – Ele disse, empurrando o rapaz. Fredo se colocou entre os dois imediatamente. – Ele amassou meu carro!
- O único responsável por isso é você, moleque do caralho! – Fredo bradou, segurando-o pela camiseta. Alê tentou intervir, mas, acabou sendo empurrado para longe por Fredo. Os policiais resolveram agir, separando os irmãos. – Quanto é que vai custar pra mandar todos esses filhos da puta ruins pra casa? – Ele perguntou sem rodeios.
- Bem, precisamos averiguar, mas, não vai ser barato! – O oficial Poole disse, imaginando que poderia explorar a situação ao máximo.
- Estou sem paciência para discutir, fala o preço logo, antes que eu vá embora e mande explodir essa porra de lugar! – Ele disse, pronto para crivar de bala todos os cabeça seca e liberar os moleques de graça.
- Cinco milhões! – O oficial respondeu, gaguejando.
- Bem, vamos tratar isso com o respeito merecido! – Fredo disse, agarrando a farda dele.
- Quinhentos mil, o valor do prêmio da corrida! – Tarso sugeriu, completamente apavorado.
- Acha que está em condições de negociar, filho da puta? – Fredo inqueriu, avançando sobre ele novamente. À essa altura, os moleques estavam se mijando. Até mesmo Alê precisava reconhecer que Fredo tinha culhões, isso o fez rir como louco.
- Aceita essa porra logo, o outro já começou a enlouquecer! – Disse o segundo oficial, estremecido de pavor.
Fredo explicou a eles as condições do pagamento, colocando todos os maloca na rua novamente. Mas, antes de entrar em seu carro, ele parou Tarso.
- Pode ir tirando esse sorrisinho convencido da cara, me deve o dinheiro gasto aqui. Não te esculacho porque é meu irmão; mas, suas regalias estão suspensas por tempo indeterminado! Nada de celular, festas, ou namoradinhas; isso porque eu nem cheguei na parte onde você fica a quinhentos metros de qualquer coisa que tenha um motor! Você vai tomar jeito, e trabalhar!
- Porra Fredo, não nos vemos há meses, é assim que me recebe? – Ele o desafiou.
- Cala boca, Saulo! – Alê aconselhou.
Fredo abriu a porta do carro com violência, atirando o irmão dentro. – Alexandre, leva essa mutação genética pra casa. Sou capaz de fazer uma loucura se ficar a seu lado agora! – Bateu a porta do carro.
- Pega leve com o moleque! – Alê disse. Fredo não respondeu, apenas encaminhou-se para a Ferrari, sentindo muita raiva.
Ao chegarem em casa, ele parecia bem menos arrogante. Sabia que teria de encarar tudo que deu errado. Fredo já esperava na sala. Mandou Alê subir, e este não questionou.
- O que te falta? – Ele perguntou. – Não entendo o motivo para agir assim!
- Me desculpe, Fredo, estava aborrecido por causa da corrida e do carro, mas, já pensei melhor! – Saulo disse, cabisbaixo.
- Você estava aborrecido? – Fredo perguntou. – Estou sempre do seu lado, livrando sua cara e me desafia porque estava aborrecido?
- Me desculpe, não sei o que dizer! – Ele lamentou.
- Você me deve muito mais do que desculpas. Dessa vez não tem pra onde correr, vai arcar com suas responsabilidades, vai aprender a ser homem! – Fredo estava perpassado dos nervos, sua cabeça começou a latejar.
- Você está bem? – Ele perguntou, percebendo a palidez do irmão. – Me perdoe, não queria te preocupar assim!
- Pare de se desculpar, você tem que ser zero mancada, já falei um milhão de vezes. Essa porra pode custar a sua vida! – Fredo disse, dessa vez em um tom mais brando; sentou-se no sofá, sentindo que ia desmaiar.
- Cara, você está mal, quer que chame o Alê? – Saulo questionou, ajoelhando-se frente ao irmão.
- Duvido que um médico possa resolver meus problemas! – Ele expôs, reclinando-se e respirando fundo.
- O que houve? – Alê perguntou, enquanto descia as escadas apressadamente.
- O Fredo está fodido de raiva, e a idade não ajuda, então, acabou sentindo um mal-estar! – Saulo pontuou, denotando preocupação.
- Velho é o seu cu, moleque. Não estou fodido de raiva, só estou fodido mesmo! – Admitiu.
- Tudo isso por causa de um carro? – Alê perguntou, debochando.
- Cara, se minha vida se resumisse às merdas que vocês fazem, diria que sim, mas, é óbvio que não é só isso. As coisas estão ficando cada vez mais loucas no comando, não sei dizer se conseguirei continuar a viver assim! – Ele disse, enquanto tentava afastar a imagem de Menéga de sua mente.
- Eu sabia que o tio Fico estava envolvido. Você pareceu bastante descontrolado mais cedo, acho que está iniciando um quadro de ansiedade! – Alê exclamou. – Tente relaxar e limpar a mente, respire fundo!
- Eu não estou dando a luz, parem de me bajular! – Ele disse, enquanto levantava cambaleando. Seus irmãos ampararam sua queda.
- Cara, você tem que pegar leve! – Alê disse, enquanto o acomodava de volta no sofá.
- Claro, e então terei de me prostituir para bancar os luxos dos dois bacanas, não é? – Fredo sussurrou.
- Deixe de ser ranzinza, apenas relaxe, estamos ao seu lado; nos prostituiremos juntos se for preciso! – Saulo disse, sorrindo para ele.
- Idiota! – Ele respondeu.
- Pare de falar, apenas relaxe e deixe os pensamentos irem embora! – Alê exigiu, tomando seu pulso em mão, acompanhando os batimentos acelerados de seu coração.
- O desgraçado era talentoso, foi uma pena o que aconteceu! – Fredo sussurrou, e lágrimas brotaram em seus olhos. Seus irmãos, aninharam-se no sofá ao seu lado. – Mas, se não fosse ele, seriam as garotas. Não posso lidar com tantas coisas ao mesmo tempo, sei que não vou aguentar!
- O que você fez? – Saulo questionou; neste instante, Alê lançou sobre ele um olhar efusivo.
- Eu tive que matar o Menéga! – Ele admitiu, soluçando; ambos o abraçaram fortemente, apesar do estarrecimento.
- Não foi culpa sua! – Alê disse, sentindo pena de seu irmão.
Em um surto de adrenalina, Fredo levantou-se, pegou o controle remoto, ligou a TV, e a única notícia em todos os jornais locais era: Polícia investiga a explosão de uma boate em plena luz do dia.
- Ele agonizou por alguns minutos, encarando meus olhos, tentando pedir ajuda, mas, eu não poderia fazer nada, mesmo que conseguisse. Fiquei em choque! – Ele disse.
- Essa merda está na conta do tio Fico, relaxa! – Alê exclamou.
- Fui eu quem puxou o gatilho, como pode estar na conta dele? – Fredo exigiu, chorando copiosamente.
- O tio Fico deve ter algum motivo; ele jamais decretaria alguém que não tenha vacilado em algum ponto! – Saulo argumentou, tentando aliviar o fardo do irmão.
- Pare de falar, Tarso; você não entende como essas coisas funcionam! – Alê exigiu, franzindo o cenho.
- Essa porra vai chegar às ruas em breve, não tem como prever o quão longe isso vai nos levar; têm muito idiota ganancioso na praça, e infelizmente, o Menéga era um desses! – Fredo expôs.
- Acha que pode sobrar pra você? – Alê exigiu, arfando, sentindo a ansiedade tomar conta.
- Acho que essa porra pode sobrar pra todo mundo, principalmente se não formos extremamente cuidadosos em nossos próximos passos! – Fredo disse, caminhando de um lado para o outro na sala de estar.
- O que o Menéga pode ter feito para acabar assim? – Alê questionou.
- Se meteu com a pessoa errada! – Fredo esclareceu.
- Caralho, que fita! – Saulo exclamou.
- Isso é suficiente para um decreto? – Alê exigiu.
- O Menéga pagou o preço da ganância! – Fredo expôs.
- Ele morreu por ser idiota? – Alê questionou.
- Na ausência de algo mais concreto, sim! – Fredo disse, e se encaminhou para as portas da varanda, sentindo a brisa fresca do amanhecer.
- Considerando a forma como as coisas se desenrolam nesse ramo, foi melhor assim! – Alê expôs, e Fredo não poderia discordar.
- Ele deveria ter ponderado melhor sobre as coisas que fez! – Fredo lamentou.
- Ele pagou o preço da ganância! – Alê concordou com seu irmão. Os três admiraram o nascer do sol, sabendo que com ele viria o desenrolar dos próximos eventos ligados ao triste acontecimento.
09:00 AM – Charming, CA
Raul adentrou o estacionamento da oficina Teller, e o som do motor V8 de sua Mercedes AMG GTR ecoou em todos os cantos, as vidraças tremeram com o corte de giro. J.T veio a seu encontro apressadamente. Ambos eram amigos de longa data, mas, ele nunca aparecia sem avisar, então, John supôs o pior.
Antes que pudessem se cumprimentar, o celular de Raul tocou, e este sinalizou a John, pedindo um instante para atender à Victória.
- Por que ligou nesse número? Tá em choque? – Ele perguntou, parecendo aborrecido.
- Desculpe, mas, senti saudade! – Ela disse, tentando evitar o sermão.
- O que quer? – Exigiu, tomando certa distância de seu amigo.
- Vou às compras com a Moe hoje, posso usar seu cartão? – Ela perguntou, em um tom doce e gracioso.
- Porra, assim você quebra minhas pernas, mas, tudo bem; apenas, pegue leve! – Ele disse, enquanto deslizava os dedos através do cabelo.
- Você disse que poderia usar sempre que precisasse, além disso, não vou comprar nada demais! – Ela prometeu, sorrindo.
- Era para usar em emergências! – Raul expôs, querendo encerrar a chamada.
- É uma emergência, minha formatura é na sexta-feira, esqueceu? – Ela questionou, parecendo chateada.
- Como poderia me esquecer desse arrombo? – Ele disse, rindo de nervoso.
- Até parece que vai falir, tenha dó! – Ela desabafou, revirando os olhos.
- Você não tem limite, já estou me arrependendo de ter permitido! – Ele disse, em um tom mais ríspido.
- Não seja tão sovina, Juju! – Ela disse, rindo dele.
- Espero que ninguém esteja te ouvindo! – Raul respondeu.
- Te amo, você sabe! – Ela zombou.
- É só isso? Posso voltar aos meus afazeres, ou, há alguma coisa mais que queira arrancar de mim? – Ele disse, pronto para desligar.
- É só isso mesmo, gato. Obrigada por me mimar. Até sexta! – Ela disse, enquanto planejava explodir o cartão dele.
- Até! – Ele disse, antes de encerrar a chamada e guardar o celular no bolso. John podia imaginar do que se tratava, mas, preferiu não comentar o fato.
- O que o trouxe até aqui, irmão? – John questionou, antes de abraçá-lo.
- Preciso que alerte a filial de Nova York, vamos entrar em uma pequena desavença nas ruas; não precisa se preocupar, mas, é sempre bom estar esperto! – Ele respondeu, tentando se desvencilhar dos dólares que perderia em algumas horas.
- É sobre aquela fita com o cagoete na cena do Ortega? – Perguntou, enquanto se encaminhavam para dentro do clube.
- Pode crer, ele estava chegando muito perto de mim! – Raul respondeu, sacando seu maço de cigarros.
- Acha que alguém pode estar tramando contra a firma? – John inqueriu, encarando-o com espanto.
- Não mais! – Ele zombou.
- Têm à ver com a boate que foi pelos ares? – John disse, zombando também.
- Alguma coisa assim! – Raul admitiu, adentrando a sala de reuniões. John fechou a porta atrás de si.
- O que desencadeou a operação? – John questionou, enquanto tomava para si uma garrafa de whisky e dois copos; em seguida, sentou-se em sua cadeira de presidente. Raul sentou-se no lugar de Chibs, o sargento de armas.
- Minha nora achou prudente levar a Mônica à boate do Menegazzo! – Raul admitiu, balançando a cabeça em negação.
- Caralho, que merda! – John disse, enquanto servia os dois copos.
- Põe merda nisso. Aquele lugar vive cheio de associados do Ortega, além de ser um dos maiores depósitos de coca que eles têm! – Ele expôs, antes de matar sua dose.
- O Menegazzo tentou usar o Gago para se filiar à você há algum tempo, não é? – John perguntou.
- O Gago está descalço na história. Ele nem imagina há quanto tempo o cara está tentando me vender aquela merda de esquema que o Ortega tem! – Raul esclareceu, antes de servir mais uma dose para si e para John.
- Não seria melhor colocar todos na sintonia final à par dos detalhes? – John questionou, temendo ser repreendido.
- Farei isso! – Raul disse.
- Acha que o Caio tem alguma participação? – John inqueriu, com preocupação em sua voz.
- Se ele foi burro o suficiente para isso, vou descobrir! – Ele respondeu, acendendo um cigarro e tragando tranquilamente.
- Será que eles estavam faturando juntos? – John apontou, acendendo um cigarro também.
- Como disse, vou descolar a cena inteira! – Raul afirmou.
- Pelo que soube, a perícia alegou irregularidades nas instalações e a polícia não disse uma palavra sobre as atividades à margem da lei! – John reiterou.
- Bem, digamos que os cabeça seca não queiram treta com o Gago! – Raul expôs, zombando novamente.
- O moleque apavora! – John disse, gargalhando.
- Eles sabem que o Gago está envolvido, mas, são pagos o suficiente para não mencionar isso! – Raul acrescentou.
- Acha que ele pode estar recuado depois da operação? – John questionou, colocando-se no lugar de Fredo. Ele era bastante empático, e geralmente, as dores de seus amigos eram suas também.
- Com toda certeza; pretendo mantê-lo afastado das consequências por um tempo, o garoto precisa respirar um pouco e retomar seu foco! – Raul esclareceu, pensando em seu afilhado. – Está na hora de colocar o Alê e o Tarso no jogo. Sei que o Gago precisa compartilhar o fardo do comando. Vou providenciar isso também!
- O Ortega vem se metendo no seu caminho há um tempo, estou certo? – John questionou, para ter certeza de que sabia exatamente do que se tratava.
- Ele é só um aviãozinho do Galindo, mas, sim, eles vêm me enchendo o saco há alguns anos. Se eu abrir uma filial no inferno, o Galindo abre uma tenda ao lado. Não que isso me preocupe, afinal, ele não tem bala na agulha para iniciar uma guerra contra mim, mas, acaba atrapalhando meus negócios. Na real, ele é um mala! – Raul expôs; John sentiu-se aliviado.
- Soube que ele trabalha com os federais, é verdade? – John perguntou, aproveitando o ensejo.
- Fui eu quem colocou o Romero na cola dele; quero evitar que faça qualquer merda e acabe me explanando por tabela! – Ele admitiu, sorrindo de um jeito sacana.
- Você é péssimo; travou os caras! – John disse, rindo novamente.
- Galindo e Sonora acabam se fodendo no meu lugar, e isso é reconfortante o suficiente! – Raul expôs, rindo também.
- Acha que podem desconfiar do seu envolvimento no ataque à boate? – John voltou a questionar.
- O Ortega não é inteligente o suficiente, e o Miguel Galindo vai suspeitar dos próprios associados, então, não acho! – Ele disse, enquanto reabastecia seu copo.
- Posso fazer uma pergunta indiscreta? – John se atreveu, afinal, Raul parecia tranquilo.
- Era a senhorita Chaccón ao telefone, e sim, ela pediu para utilizar um de meus cartões de crédito para fazer compras! – Ele admitiu, gargalhando.
- Você ainda não cortou relações? – John perguntou.
- Cara, lido com tantas merdas diariamente; essa relação não me faz bem ou mal, apenas me distrai! – Raul disse, desconsiderando a indiscrição.
- E te deixa mais pobre! – John exclamou, gargalhando.
- Porra, sem dúvidas! – Ele disse, balançando a cabeça em sinal de negação.
11:00 AM – Manhattan, NY
Mônica pulou da cama ao ouvir o despertador tocar. Teria de ir almoçar com Vic, Cecí e Marco, antes de ir comprar o look da formatura e experimentar a beca. Em sua opinião, todo este rito cerimonial era dispensável.
Tomou banho, vestiu-se, maquiou-se, perfumou-se, amaldiçoou o estado de civilização e saiu, rumando novamente à zona portuária de Manhattan. Dessa vez, iria a um local mais refinado. As companhias não contribuíam muito, mas, o bistrô segurava essa sozinho. A comida era incrível, na opinião de Moe.
Seus pais chegariam no fim de semana, com seus respectivos cônjuges e agregados. Raul, Denise, Jordana e Bianca ficariam com Mônica; já Cristina e Antonio ficariam com Marco e Ceci.
Dentro do táxi, ela observava as gotas de chuva na janela. Moe ligou para seu melhor amigo, Otto Werneck. Ambos combinaram de fazer uma social após seus estressantes compromissos da tarde. Ela precisava muito disso.
Ao chegar, a chuva havia engrossado, então, mesmo sendo rápida em abrir o guarda-chuvas, molhou se um pouco. Aquele lugar era muito bem frequentado, isso a aborrecia. CEO’s de empresas, políticos, famosos e outras figuras de renome. Ela odiava a elite e seus costumes, apesar de pertencer a ela.
O maître a recebeu como uma Condessa, e Mônica sabia que sua irritação alcançaria escalas astronômicas naquela maldita tarde. Então, encaminhou-se apressadamente para sua mesa. Já era aguardada por seus algozes.
- Finalmente! – Vic provocou.
- Bom dia! – Mônica respondeu, acomodando-se e virando para pegar a carta de vinhos.
- Achei que não viria! – Marco disse, revirando os olhos. – Está com cara de quem não dorme há dias!
- Não sabia que lhe devia satisfações! – Moe exclamou, zombando dele.
Ceci estava com medo de Mônica dar com a língua nos dentes, por isso resolveu aguardar alguns segundos, até que os ânimos baixassem. – Bom dia, amiga! – Ela disse, percebendo que sua cunhada estava entretida com a carta de vinhos. – Estamos bebendo Chianti!
- Quero uma dose de whisky, por favor! – Moe disse, sorrindo gentilmente para o rapaz a seu lado. – Quais as novidades, queridos?
- Você está tão bem-humorada que temos medo! – Marco disse, rindo para ela. As amigas apenas assentiram com a cabeça.
- Considerando o quanto você pode ser inconveniente, acho que estou indo bem. Ademais, viemos brindar à formatura e ao amor de vocês! – Mônica disse, mas, ninguém acreditou.
Apesar dos olhares de suspeita de suas amigas, Mônica se manteve em seu papel; segurando a onda, como sabia que deveria ser. O almoço ocorreu sem maiores problemas. Ela pediu um peixe com ervas, algo leve e nutritivo, para ter energia extra durante a tarde.
- Soube que a boate do Menéga explodiu ontem; aparentemente, ele não tinha as licenças dos bombeiros! – Marco exclamou, parecendo animado e eufórico.
- Você acha isso engraçado? – Moe questionou, sentindo uma pontada de desgosto pela falta de empatia de seu irmão.
- Ele está bem? – Vic perguntou, sentindo um aperto na garganta.
- Deve estar, soube que não houve vítimas! – Cecí expôs, tentando afastar o assunto.
- Vocês são péssimos! – Moe disse, lamentando o acontecido.
- Vou ligar pra ele, saber se precisa de algo! – Vic disse. Ela temia o pior, pois, sabia que sofreriam as consequências de sua falta de noção.
- O que você pode fazer por ele? Vai reconstruir sua boate? – Cecília zombou, e sua falta de consideração assombrou suas amigas.
- Às vezes você me dá nojo, não surpreende estar noiva do Marco! – Moe disse, alfinetando-a.
- Do que está falando? – Marco questionou.
- Vocês não têm o mínimo de empatia ou consideração. Isso é muito leviano! – Moe expos, sentindo seu estomago revirar.
- Você é muito dramática, o Menéga não era nosso amigo! – Ele disse, revirando os olhos em seguida.
- Nossa! – Vic exclamou, notando a completa falta de bom-senso do casal, sentiu-se culpada por deixar que Cecília a influenciasse tanto.
- Aproveitando a falta de pudor do momento, tenho de recusar formalmente o convite de vocês para ser madrinha. Não tenho intenção de participar ativamente desta união! – Moe exclamou.
- Como assim? – Marco exigiu.
- Acho que deveriam convidar alguém com engajamento social, afinal, vocês só se importam com isso! – Ela disse, revirando os olhos em seguida.
- Não seja babaca, você é minha irmã! – Ele exclamou, parecendo decepcionado.
- Por uma ironia do destino; mas, não significa que concorde com a forma com que este casal lida com as coisas! – Mônica expos seu asco.
- Se quer dizer algo, diga! – Cecí a desafiou.
- Não vou entrar em detalhes. Aposto que têm muitas opções em mente! – Ela respondeu. Mônica não era cagoete, e não gostaria de dar toda essa moral para Cecília.
- Se você não se sente confortável, ficaremos felizes em tê-la apenas como convidada! – Marco disse, tentando amenizar o clima.
- Talvez eu apareça na cerimônia! – Moe exclamou, revirando os olhos.
- O papai vai saber! – Marco disse, inconformado.
- Não acha que passou da idade de ficar incomodando o papai com seus chiliques? Vamos agir como adultos racionais. Manterei o presente que dei a vocês e é mais que suficiente! – Ela pontuou, perdendo a paciência que lhe restava.
- O que você deu a eles? – Vic perguntou, sendo super indiscreta.
- Um apartamento em Paris! – Cecí disse, com chateação em sua voz.
- Caralho, arrasou! – Vic disse. Ela podia ser bastante aérea em algumas situações.
- Enfim, Vic e eu precisamos pular a parte da sobremesa, temos muito à fazer hoje! – Moe disse, fazendo uma transferência para o irmão com o valor da conta e da gorjeta.
- Deixa de ser desaforada! – Marco disse, mas, ambas já estavam próximas à porta de saída; não foram capazes de ouvi-lo.
Mônica tratou Vic com amenidade durante toda a jornada. Saber que seu encontro com Otto estava próximo a deixava tranquila. A prova de roupas, sapatos, acessórios e maquiagem levou a tarde toda. Já estava anoitecendo quando ambas saíram da Tiffany, despedindo-se. Cada qual seguiu seu rumo.
20:00 PM
Após preparar-se para a festinha particular da noite, Mônica rumou até a cobertura de seu amigo. Ao adentrar o prédio, encontrou Victória às portas do elevador, carregando sua bolsa da Chanel e um fardo de cerveja. Parou a seu lado, segurando uma garrafa de whisky old scoth doze anos e uma caixa de charutos cubanos.
- Achei que não viria! – Vic disse, sorrindo para ela.
- Fui eu quem convocou a reunião, amada! – Moe expos, sorrindo também. Ambas adentraram o elevador.
- Até que enfim voltou a ser você! – Ela exclamou, selecionando o andar da cobertura.
- Nunca deixei de ser eu mesma, mas, os últimos eventos me desapontaram bastante. Sinceramente, acho que deveríamos nos afastar da Cecília; ela é uma vadia asquerosa e vai acabar nos apunhalando também! – Moe desabafou, revirando os olhos.
- Não posso discordar! – Vic pontuou.
- Conseguiu falar com o Menéga? Como ele está? – Moe questionou, realmente preocupada com seu bem-estar.
- O telefone dele parece estar desativado; liguei várias vezes, mas, não obtive resposta! – Vic esclareceu, sem deixar transparecer suas suspeitas.
- Meu irmão é um imbecil, não me espanta a falta de modos, mas, a Cecília está se mostrando uma cretina sem alma. Como pôde reagir daquela forma ao que aconteceu? Naquela noite na boate, agiu como se fossem muito íntimos, mas, hoje fingiu que ele era um qualquer! – Moe desabafou.
- Eu a conheço há alguns anos, mas, não imaginava que fosse capaz de ser tão filha da puta! – Vic disse, sentindo-se decepcionada com a atitude de sua amiga.
- Bem, vendo o modo como ela trata você, é de se esperar que seja assim. Mas, ela definitivamente passou do ponto dessa vez! – Moe disse, saindo do elevador. Vic a seguiu.
A música podia ser ouvida do corredor. Ao tocar a campainha, houve uma enorme surpresa. Um cara alto, com cabelos compridos e olhos azuis atendeu à porta. Não era o Otto. – Prazer em conhecê-las. Sou Rodolfo Moretti, mas, podem me chamar de Treze! – Ele disse, sorrindo para ambas.
- Prazer em conhecê-lo. Onde está o Werneck? – Vic questionou.
- Na sala, com os outros convidados! – Ele disse, apontando a localização de seu namorado. Ela se encaminhou para dentro, sem dar muita importância.
- Olá, sou a Mônica; prazer em conhecê-lo, Treze! – Moe declarou, esticando-se para cumprimentá-lo decentemente.
- O Otto me falou de você, são melhores amigos, certo? – Ele questionou, recebendo a garrafa de whisky e a caixa de charutos.
- Você deve ser o namorado misterioso, estou certa? – Ela perguntou, lançando um sorriso sacana para ele.
- Estou feliz que esteja aqui. Vamos entrar! – Moretti convidou; ambos adentraram o apartamento.
Otto deixou seus convidados, se aproximou de sua amiga, abraçando-a. Victória já estava familiarizada com todos os presentes, e conversava com um grupo do outro lado da sala. Moretti serviu whisky para Otto e Moe, ambos brindaram e sorriram para ele.
- Vou deixar essa joia em off, esses bêbados que se virem com vodka e cerveja! – Moretti disse, antes de servir-se também.
- Eles que lutem! – Otto exclamou, tomando um pouco do old scoth.
- Soube que você detonou na corrida essa madrugada. Os outros competidores ficaram para trás e se foderam com os canas! – Moretti comentou, fazendo Moe rir.
- Não se foderam tanto assim; o Gago deu um jeitinho pra gente! – Otto exclamou, rindo também.
- Espera, como assim? – Moe questionou, tentando entender como Fredo poderia ter se envolvido nessa cena.
- O irmão mais novo dele também estava participando, então, ele teve que tirar todo mundo da tranca! – Otto esclareceu.
- Puta merda! – Moe disse, antes de matar sua dose e solicitar à Treze que enchesse seu copo.
- Vocês se conhecem? – Treze questionou, sorrindo de um jeito sacana.
- Nos conhecemos ontem, em um evento da faculdade! – Moe disse, tentando parecer casual.
- O Alexandre está aqui; ele é irmão do Gago também, e acabou nos contando sobre o desfecho da corrida. Além disso, é nosso fornecedor de balinhas! – Otto expôs, apontando Alê, que estava beijando Vic no cantinho.
- Que família! – Moe exclamou, rindo nervosamente.
- Você não faz idéia! – Treze expos, rindo amplamente.
- Não sei por que o Gago não apareceu; nós o convidamos! – Otto disse, lamentando.
- Alê, chega mais! – Moretti o chamou, e este veio acompanhado de Vic.
- Fala, Treze! – Ele disse, rindo.
- Queremos que conheça a Mônica! – Otto apresentou os dois.
- Prazer em conhecê-la, gatinha! – Alê disse, antes de beijá-la no rosto. – Quer uma coisinha pra animar?
- Estou animada o suficiente! – Moe respondeu, mostrando-lhe seu copo de whisky.
- Ela conhece o Gago! – Treze disse, bastante animado com a ideia.
- O Gago está numa bad trip, lamento que não tenha vindo! – Alê esclareceu, puxando Vic para mais perto de si.
- Garanto que ela agradece por ele não ter vindo! – Vic zombou, bebendo sua cerveja.
- Nossa, me desculpe, não sabia que ele havia aprontado contigo! – Alê disse, sorrindo um pouco sem graça.
- Ele não aprontou nada, mas, a Moe não foi muito com a cara dele! – Vic disse, rindo.
- Às vezes acontece! – Treze disse, rindo também.
- Não se deixe levar pela cara de poucos amigos, meu irmão é muito de boa! – Alê esclareceu, pegando o copo de Otto para experimentar sua dose. – Caralho, whisky doze anos, tá patrão, moleque!
- Foi a Mônica que trouxe! – Treze expos.
- Vamos acender um charuto! – Ela disse, pegando um deles na caixa sobre a bancada da copa.
- É pra já! – Otto respondeu, pegando os apetrechos necessários para fazê-lo.
- Você é fã de corridas de rua? – Alê questionou Moe.
- Não só é fã, como me ajudou a criar o app das corridas! – Otto respondeu, dando uns tapinhas no ombro de sua amiga.
- Ela acabou com o Tarsinho! – Treze disse para Alê, sacaneando.
- Caralho, arrasou! – Alê disse, chamando Moe a tocar em sua mão, como um high-five.
- Estávamos dizendo à ela que o Gago limpou a barra de geral; quase todos os participantes estão aqui! – Otto expôs.
- O Tarso está de castigo! – Alê exclamou, gargalhando.
- Coitado do moleque! – Vic disse, rindo também.
- O Gago está puto com ele! – Alê disse, antes de solicitar um copo de whisky à Treze.
- Ele obrigou o Tarso à ir para a P.C Média hoje; eles deram expediente o dia todo! – Vic zombou, lembrando-se do quanto o garoto parecia perdido meio aos executivos.
- Ele ficou estranho de terno! – Alê pontuou, tomando um pouco de sua dose.
- Caralho, o que aconteceu? Quando acabei a corrida, dei linha, não esperei pra ver o resultado! – Moe exclamou, parecendo bastante interessada no desfecho.
- O terceiro colocado errou a passada em uma curva, acabou batendo no Tarso e no quarto colocado! – Alê esclareceu. – Os canas já estavam na cola. Não deu tempo de voltar pra corrida e vazar!
- Puta que pariu, que merda! – Moe lamentou, sentindo pena de Tarso.
- Relaxa, os cabeça seca eram tão ilegais quanto a corrida, foi só molhar suas mãos e a liberdade cantou pra geral. Mas, o Gago odeia perder tempo e dinheiro, então, o Tarso acabou se ferrando de qualquer jeito! – Alê expos, matando sua dose e tomando o charuto para si.
- Ele sempre fica muito puto com vocês, não é? – Vic disse, rindo.
- O Gago tem muitas responsabilidades, e isso acaba o deixando ranzinza! – Alê pontuou, sem entrar nos detalhes mais íntimos da madrugada.
- Me surpreende ele ter deixado você vir aqui! – Otto exclamou.
- Ele nem sabe que estou aqui; quando saí, ambos já estavam dormindo. Digamos que tivemos uma madrugada bastante intensa! – Alê pontuou, pronto para encerrar o assunto.
23:45 PM
Fredo estava subindo até a cobertura de Werneck. Havia falado com Rodolfo, sabia que estariam lá, e não seria incomodo recebê-lo, pois, já estavam recepcionando uma galera.
Ao chegar, foi recebido por Moretti. Este o abraçou e convidou a entrar. – Como está, vagabundo?
- Estou bem, Treze e você? – Fredo perguntou, enquanto adentrava o apartamento.
- Me sinto incrível, estamos nos divertindo! – Ele disse, bastante animado. Fredo notou que Moretti parecia incrível mesmo. Isso o intrigou.
- Não consegui ficar na cama, resolvi vir pra cá e me divertir um pouco também! – Ele exclamou, inspecionando brevemente o interior do apartamento.
Ambos entraram, e quando chegaram à sala, Fredo quase enfartou. Mônica estava sentada frente a mesa de centro, bolando um baseado. Seu coração disparou, suas mãos suaram. Ele sabia que a noite lhe reservaria fortes emoções.
- Que surpresa boa, Gaguinho! – Otto exclamou, aproximando-se dos dois.
- Acho que sim! – Fredo exclamou, sorrindo e cumprimentando seu amigo.
- Seu irmão e sua assistente estão dando um show à parte! – Moretti exclamou, apontando o casal que dançava alegremente em meio aos convidados.
- Imaginei que ele estaria aqui! – Ele disse, revirando os olhos.
- Quer que os chame? – Moretti questionou, servindo-o com uma generosa dose de whisky.
- Não, deixe-os curtir sua brisa! – Fredo pontuou, bebendo um pouco do old scoth.
- A Mônica está aqui também, mas, acho que já notou! – Otto expos, percebendo o incomodo de seu amigo.
- Cara, a última coisa que quero é lidar com outro Cortez agora! – Ele exclamou, rindo nervosamente.
- Espera, como assim? – Moretti questionou.
- É a filha do tio Fico, eu já tinha te contado isso! – Otto disse à ele, revirando os olhos em seguida.
- Eu deveria ter sacado quando vi o whisky e a caixa de charutos! – Moretti disse, gargalhando.
- Esquece essa fita, vamos beber! – Fredo exigiu, dando as costas para ela.
- Você está à fim dela, não é, Gaguinho? – Moretti exigiu, rindo ainda mais.
- Cara, não mexe nessa fita agora; deixa baixo! – Ele admitiu, rindo também.
Em alguns minutos, quando Alê voltou-se para pegar uma cerveja no balde de gelo, notou a presença de Fredo, que conversava com Otto e Moretti, bem frente à entrada da sala.
- Achei que não viria! – Alê exclamou, aproximando-se.
- Eu não vinha mesmo, mas, não consegui dormir! – Fredo exclamou, sem dar muita importância.
- Ele não está tancando a presença da Mônica! – Otto exclamou, rindo alto.
- Ela é gata demais, estaria na mesma! – Alê disse, lançando um olhar sacana sobre a morena maconheira.
- Se liga, vagabundo! – Fredo exclamou, sentindo uma pontada de ciúmes.
- Tá com ciúmes, Gagolino? – Moretti questionou, sacaneando com ele.
- Tomar no cu, Treze! – Ele exclamou, revirando os olhos e bebendo um pouco de sua dose.
- Relaxa, mano, às vezes vocês acabam saindo do zero à zero hoje! – Moretti zombou.
- Caralho, deveria ter ficado em casa! – Fredo disse, revirando os olhos mais uma vez.
- Gaguinho! – Victória gritou, ao notar a presença dele. Ela veio correndo em sua direção e pulou em seu colo.
- Tá louca já, ordinária? – Ele questionou, retribuindo o abraço e gargalhando.
- A Moe vai pirar quando te vir! – Ela disse, sacaneando com ele.
- Até você nessa brisa torta?! – Fredo exclamou, rindo e matando sua dose. Seu sangue estava começando a esquentar e a coragem chegaria em breve.
- Bota sua cara de ordinário e vai pra cima! – Vic exclamou, rindo alto.
Alguns minutos depois, Fredo se aproximou de Moe, que dançava com alguns amigos em meio a sala. Ele esbarrou nela propositalmente, chamando sua atenção.
- Você tem que parar de se jogar em mim! – Ele exclamou, provocando-a. Moe ficou um pouco nervosa, pois, estava novamente nos braços dele.
- Não sou eu quem anda distraída por aí! – Moe disse, tentando se livrar dele.
- É difícil me concentrar estando tão perto de você! – Fredo pontuou, olhando para a boca dela e mordendo os lábios.
- Quer um trago? – Moe perguntou, oferecendo o baseado, tentando evitar ceder à sua vontade de beijá-lo.
- Quero um beijo! – Ele disse, puxando-a para si, aproximando-se ainda mais de seu rosto.
- Deixa de ser ordinário! – Moe disse, rindo alto. Fredo tomou o baseado, tragou profundamente antes de soltar a fumaça e voltar a se aproximar de sua boca. Ela não poderia resistir por muito mais tempo, então, acabou cedendo à tentação de beijá-lo. Eles acabaram se atracando no meio da sala. O old scoth havia cumprido bem seu papel, mandando a timidez para longe.
O beijo intenso acabou roubando o fôlego de ambos. Ela ainda estava atordoada, olhando para ele quando deu um tapa em sua cara. Foi involuntário, mas, acabou deixando-o excitado. – Você tá me provocando, não é, safada!
- Você é muito cretino! – Ela disse, rindo, enquanto tentava se soltar de seu abraço.
- Do jeito que você gosta! – Fredo exclamou, rindo também. Ela não podia resistir ao seu toque e seu perfume, então, acabou beijando-o novamente. Seus amigos gritavam: tá namorando, tá namorando.
A pegação estava intensa. Moe acabou arranhando as costas dele, enquanto sentia sua ereção. Ele mordeu seu pescoço e em seguida chupou sua pele, deixando-a marcada. O tesão estava tomando conta de ambos, os demais convidados não os incomodavam. As coisas ficaram realmente quentes.
Moe o empurrou contra a parede, vindo sobre ele novamente. Fredo agarrou seus cabelos, apertando-a contra si. Nem mesmo uma brigada inteira de bombeiros poderia apagar o fogo dos dois nesse momento.
Madrugada à dentro, ambos se pegaram com força. Ninguém imaginaria um desfecho como esses, nem mesmo os dois. Moe estava com as pernas amolecidas e a pele estremecida, e Fredo lamentava não poder levá-la para o quarto imediatamente.
Disfarçadamente, ela o arrastou para dentro do banheiro, fechando a porta atrás de si. – Isso tudo porque você não me queria! – Ele sussurrou no ouvido dela, fazendo-a estremecer.
A música do lado de fora abafava os gemidos, mas, seus amigos estavam amontoados sobre a porta, tentando ouvir o que estava acontecendo ali. Eles não se atreveriam à perder nenhum detalhe sequer.
Fredo a agarrou pela cintura e a colocou sobre a pia, abriu a braguilha de sua calça. Moe arrancou sua camiseta e mordeu seu peito, fazendo-o arrepiar. Em alguns instantes, o vestido dela havia subido, e sua calcinha havia sido guardada no bolso dele, afinal, não se fazia mais necessária.
Ele a penetrou profundamente, fazendo com que jogasse sua cabeça para trás e gemesse intensamente. Ela estava pronta para recebê-lo, mas, foi muito melhor do que imaginava. Suas investidas eram firmes, faziam as pernas dela tremerem. Suas unhas estavam cravadas nas costas dele, deixando-o ainda mais excitado.
Ambos estavam entregues a sensação lancinante, dominados por seus instintos. Quando ele estava próximo de seu clímax, parou, terminando fora. Moe o encarava, examinando suas feições satisfeitas enquanto tentava se recompor. – Gostoso! – Ela sussurrou, recebendo um sorriso sacana em troca.
Suas peles estavam marcadas, seus cabelos bagunçados, sinalizando o quão bom foi aquele encontro. Tesão reprimido sempre explode, e ambos sabiam disso. Tudo quanto é proibido instiga muito mais. Nenhum deles estava preocupado com as consequências.
Ao saírem do banheiro, Moe, esgueirou-se sozinha para a sacada, procurando um canto para fumar sua ponta e refletir. Apesar de não estar em seu juízo perfeito, pensava no quanto havia mudado nos últimos cinco anos. Sua vida em Charming era completamente diferente e modesta. Fredo ficou observando seu súbito afastamento, imaginando que havia se arrependido.
A mente dela vagava ao longe, nas lembranças de sua adolescência, junto às suas amigas, Bianca e Jéssica. Tudo parecia fácil e passageiro naquela época, e por alguns instantes, quis voltar no tempo. Nada disso tinha relação com o fato de ter se agarrado com Federico, afinal, estava acostumada à dar algumas escapadas nas milhares de festas que passou a frequentar em Nova York.
O choque dela estava ligado à mudança, e em como a pequena Moe teria encarado esta selva de pedra em que se encontrava agora. Seu irmão havia se tornado um babaca, sua cunhada era fútil e mau-caráter e sua amiga mais próxima não entenderia suas ressalvas pós sexo. Nesse momento, ela sentiu que não pertencia à este novo mundo que se insinuava frente a seus olhos. Os carros indo e vindo nas ruas, muitos metros à baixo de seus pés, na cidade que nunca dorme, pela primeira vez pareceram estranhos.
Fredo venceu seu temor e se aproximou, notando que a maioria dos convidados já haviam deixado a festa. – Foi tão ruim assim? – Ele questionou, tirando-a do transe.
- Do que você está falando? – Ela disse, ainda sem entender o que estava acontecendo.
- Nossa, já me esqueceu! – Ele exclamou, realmente decepcionado.
- Não, me desculpe, estava longe! – Moe esclareceu, passando a ponta para ele.
- Onde? – Fredo perguntou, tragando longamente antes de devolver o baseado.
- Em um lugar onde a vida era mais simples, os amigos mais verdadeiros e as coisas tinham a profundidade adequada! – Ela pontuou calmamente, surpreendendo-o.
- Essa cidade tende a mexer com a gente! – Fredo desabafou, pensando nos últimos acontecimentos de sua semana.
- Mexe de um jeito ruim, devo admitir! – Ela exclamou, tragando pela ultima vez antes de afogar a ponta no cinzeiro.
- Não sou a melhor pessoa para lhe aconselhar, mas, com o tempo, recuperamos quem éramos, nossa essência acaba se livrando da sujeira adquirida! – Fredo expôs, sendo brutalmente sincero.
- A Vic tem razão sobre você, é um bom amigo! – Moe admitiu, surpreendendo-o.
- Por essa eu não esperava! – Ele expos, sorrindo.
- Desculpe por ter agido como uma troglodita no dia do evento, não é quem sou de verdade! – Ela exclamou.
- Não esquenta com isso, todo mundo tem dias ruins! – Ele declarou, enquanto encarava o rosto dela. Fredo sentia que poderia se apaixonar.
- Concordo! – Ela disse, sorrindo para ele. O olhar dele era intenso e penetrante, e a estava deixando sem graça.
- Posso te levar pra casa? – Fredo questionou, encarando os olhos dela. Moe odiaria admitir, mas, lembrou-se de Chibs. Ele e Federico não poderiam ser mais diferentes.
- Acha que é uma boa ideia? – Ela questionou, sorrindo um pouco sem graça.
- É a melhor ideia que tive em semanas! – Ele admitiu, rindo.
- Nesse caso, aceito! – Ela disse, encaminhando-se para a porta. O apartamento já estava completamente vazio, nem mesmo os anfitriões se encontravam ali.
- Somos os últimos! – Fredo zombou.
- Inimigos do fim! – Moe exclamou, rindo amplamente.
Ambos tomaram o elevador no mais completo silêncio, pois, não gostariam de ser xingados pelo síndico. Ao chegar à garagem, rumaram à Mercedes G63 de Fredo. Ela precisava admitir que ele tinha bom gosto para carros.
Ao chegarem frente ao prédio dela, Fredo desceu do carro e o contornou rapidamente, abrindo a porta e oferecendo seu braço para que ela pudesse se apoiar. – Estes saltos são divinos, mas, devem te deixar bastante cansada!
- Realmente! – Moe admitiu, sorrindo. Ela sabia que era apenas uma desculpa para se aproximar, mas, decidiu não recusar a gentileza.
- Vou te deixar na porta de casa. Não quero que pense que sou um vagabundo! – Fredo exclamou, desencadeando o riso de ambos.
Já no corredor de acesso à cobertura dela, ambos voltaram a caminhar em silêncio, lado a lado, e ela ainda não havia soltado seu braço. Eles estavam muito próximos, e Moe não ousaria dizer que não estava gostando. Finalmente chegaram à sua porta, e era a hora da despedida. Nenhum dos dois queria isso, mas, sabiam que não deveriam insistir e acabar estragando seu momento.
- Foi um prazer reencontrá-la em um ambiente menos formal. Deveríamos repetir a dose! – Fredo propôs, sorrindo de um jeito tímido. Ele já não parecia o mesmo cafajeste de algumas horas atrás, e ela, não tinha mais vestígios de seu álter ego pervertido.
- Tenho que concordar, foi muito divertido! – Ela admitiu, sorrindo também.
- Pode parecer pretensioso, mas, sua festa de formatura será em meu iate, como uma cortesia da P.C Média, e eu ficaria muito feliz se pudesse tê-la como minha companhia no evento! – Fredo propôs, tentando parecer sutil. Moe sabia como ele podia ser pretensioso, mas, ficou surpresa.
- É bastante pretensioso, mas, eu aceito! – Ela admitiu, sorrindo de um jeito sacana. Fredo não esperava por isso.
- Você poderia me dar seu contato? Precisamos combinar os detalhes! – Ele disse, abusando da cara de cretino.
- Ordinário! – Moe exclamou, antes de pegar seu celular. Ambos trocaram os contatos. Depois de alguns instantes, Fredo lhe deu um beijo no rosto e saiu. Moe ficou parada em sua porta, vendo-o se afastar e adentrar o elevador.
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𝑅𝒪𝒟𝒜 𝒟𝒜 𝐹𝒪𝑅𝒯𝒰𝒩𝒜, ❝ não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. eu não: quero é uma verdade inventada ❞
Ganhar ou perder? Um saudoso ditado popular afirma que não iremos ganhar ou perder, uma vez que iremos todos perder. Você mais do que ninguém sabe o significado dessa frase. A sortuda, a venturosa, felizarda, a garota que nasceu virada para a lua; um verdadeiro amuleto da sorte para todos ao seu redor desde sempre, e isso não foi só porque sua família ficou rica do dia pra noite, mas também porque se viu salva pelo gongo muito mais do que uma vez em casos de vida e morte. Sua vida é uma verdadeira montanha russa, cheia de altos e baixos, digna de um dramalhão mexicano da melhor qualidade! Você exala energia, juventude, e mesmo sendo nova em Bolonha é a verdadeira definição de cool kid... Como é que não teria chamado atenção da Adam? O preço que você paga, por outro lado, é a inconstância, inconsistência e displicência: sua cabeça é um turbilhão, entregue aos seus impulsos, escrava da sua vontade de sempre viver a sua melhor vida (e se você se preocupa tanto com isso, será que está mesmo vivendo?). Ainda assim, aqueles ao seu redor ficam impressionados com como as coisas vem "fáceis" para você; o que eles não aprenderam e você sim é que a Fortuna favorece os ousados e isso você é e sempre será — no fim das contas, tem menos a ver com uma força divina e mais com a sua estratégia, malandragem e confiança. E se a vida é mesmo uma montanha russa, você quer sempre estar em cima.... Mas cuidado, garota, porque tudo que sobe precisa descer.
𝑵𝑶𝑴𝑬 𝑪𝑶𝑴𝑷𝑳𝑬𝑻𝑶: EVELYN ALEXANDRIA MONTALBÁN Y CABRERA.
𝑰𝑵𝑭𝑶𝑺:
EVELYN é uma MULHER CIS de 20 ANOS que nasceu em GUADALAJARA/MÉXICO em 23 DE NOVEMBRO DE 2001;
EVELYNestá na Università di Bologna como BOLSISTA para cursar MODAe está atualmente no SEGUNDO ano;
EVELYN entrou na sociedade porque É DESTAQUE PESSOAL e é uma RECRUTADA;
na disputa entre os irmãos, ela é NEUTRA;
ela é conhecida principalmente por ser ESPERTA e MALANDRA.
𝑪𝑶𝑵𝑬𝑿𝑶𝑬𝑺:
ENAMORADOS — recrutadora. É claro que a sortuda RODA DA FORTUNA ia chamar atenção da sonhadora ENAMORADOS. Ela ficou completamente encantada pela energia que a garota emanava, como se ela fosse realmente um amuleto de boa sorte. Assim que a temporada para recrutação começou, RODA DA FORTUNA foi a primeira opção de ENAMORADOS e não houve muita competição; ela podia ser indecisa em muitas coisas, mas sabia interpretar perfeitamente a energia de outra pessoa. RODA DA FORTUNA, por sua vez, aprecia a oportunidade concedida, mas fica meio insegura com as expectativas colocadas sobre si
LOUCO — Os dois se conheceram antes mesmo de serem considerados recrutados para a Adam. RODA DA FORTUNA, sempre presente em lugares que envolvem apostas, ilegais ou não, surpreendeu LOUCO uma certa noite em uma das suas empreitadas pelo submundo da cidade ao simplesmente ganhar todas as vezes. Desde então, eles se encontram regularmente e guardam o segredo um do outro, virando “sócios”.
MAGO — Um acaso do destino, um incidente engraçado e questionável: foi isso que uniu essa dupla de (des)afortunados. É claro que um acidente é capaz de unir duas pessoas para sempre, ainda mais um que passa de raspão, mas a conexão entre RODA DA FORTUNA e MAGO vai além disso: acontece que ela é sortuda por natureza e ele sabe destinar essa sorte para os lados certos. A energia confusa dela é muito bem administrada pelo empreendedorismo e criatividade dele e, assim, eles se tornam parceiros em absolutamente tudo que fazem.
TORRE — Lendas urbanas são uma coisa bem comum na UNIBO e RODA DA FORTUNA descobriu isso logo. Depois de saber que a lenda da Adam Societatis era verdadeira, a garota começou a pensar que talvez outras também pudessem ser. Desde sempre, ela sempre foi muito interessada pelo local que chamavam de Círculo. Teoricamente havia um negócio intenso de lutas e apostas e era exatamente isso que fazia o coração da garota bater mais forte. Para chegar ao fundo desse mistério, RODA DA FORTUNA sabia que precisaria de um guia e imaginou que TORRE, como presidente e um dos mais excêntricos membros, provavelmente teria pistas. Foi assim que se aproximou dele, sem exprimir as suas intenções inicialmente.
𝑭𝑨𝑪𝑬𝑪𝑳𝑨𝑰𝑴: lizeth selene. 𝑺𝑻𝑨𝑻𝑼𝑺: aberto.
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Bom dia!
Learn em inglês é Aprenda!
“Tell me and I forget, teach me and I may remember, involve me and I learn.”
Tradução livre: Fred Borges
"Diga-me e eu esquecerei, ensine-me e talvez eu me lembre, envolva-me e eu aprenderei.”
Benjamin Franklin
É sobre o aprendizado nos filmes ou séries, suas mensagens e como lidar com as vitórias ou fracassos, ganhos e perdas, dias bons e dias nem tanto, é sobre exercitar o equilíbrio sem pretender ser equilibrista, mas procurar ver tudo pelo lado positivo e resguardar a esperança de que dias melhores sempre virão ou amanhãs são não só realidade concreta de um novo dia, mas a oportunidade real de sermos uma melhor versão de nós mesmos, o que mais interessa, ao envelhecermos não é ser ou se tornar passa por fora, mas permanecer uma uva saborosa, doce, suculenta e jovial por dentro, afinal ninguém convive mais com nós, se não nós mesmos!
Respeitemos o tempo, o momento, as etapas, as necessidades, os desejos, os sonhos presentes em nós e que a realidade não seja " ponte caída", mas a oportunidade de construir e reconstruir novas pontes!
Dedicado a Mila que perdeu a filha, o marido, e manteve a "uva" dentro de si!
As séries: Vikings( meus amigos Ragnar Lodbrok, Laguerta e Floki.).
A série Westworld.
Aos filmes: Mary & Max- Uma amizade diferente do diretor: Adam Elliot e O Conde de Monte Cristo escrito por Alexandre Dumas (pai), em colaboração com Auguste Maquet, concluído em 1844.
E a John Steinbeck que disse:
"Qualquer coisa que custa apenas dinheiro é barata!"
Dizem que a mente "sente" primeiro, o coração processa bem depois por negação a dor ou sofrimento que fatos e pessoas nos causam ou podem nos causar.
Nossa capacidade de acreditar que algo em nós se partiu, se quebrou, e que não há possível remendo, "Bandaid"ou improvisação que volte a funcionar do jeito que funcionava, e este comportamento condiz com uma resposta que nos faz resistentes e intolerantes à própria especulação de uma mudança.
Uma mãe que perdeu a filha para a COVID em 2020 descreveu a dor sendo dilacerante, de perder sua filha que ainda amamentava.
Ele, o pai, pegou COVID, mas não queria sair do convívio da família e se curar, tudo neste início da pandemia era um novelo sem ponta, sem início ou fim, muitas informações em quantidade e poucas em qualidade, muita desinformação, muita deformação, muita opinião e pouca base científica, no meio disto tudo, o pai soube do diagnóstico e se silenciou, mas a criança veio a pegar o vírus, e quando pegou, ele falou a verdade para mãe, e ela, não querendo acreditar que tinha sido também contaminada e responsável ou cúmplice, sem conhecimento,pela tragédia familiar, se recusou até o último segundo a fazer o teste, e só o fez quando a criança foi entubada, pois sabia que se fosse diagnosticada positivo, perderia definitivamente o convívio da amamentação da criança, e assim foi dado o resultado positivo para ela, e logo depois houve o falecimento da criança e em consequência de todo este abalo, o casal veio a separar pois nada restou, deserto de sal se tornou,pois nada restava de confiança entre mulher e marido, e não foi preciso tragédias ocorrerem como esta para casais se separarem, mas a simples convivência diária "forçada" ou " obrigada" em quarentena para se precaver contra a doença, a rotina, antes descontinuada, agitada, de convívio com outras pessoas, de ter e sentir a privacidade, individualidade " invadida" fez com que muitos casais tenham se separado e isto foi determinante para tornar mais visível as bases do " iceberg humano" e sua complexidade emocional.
O relacionamento é um exercício constante de negociação, entre perdas e ganhos ou vice- versa, é preciso ceder para preservar, dar para receber, renunciar, dar dois passos atrás para ambos crescerem juntos e unidos.
Mas conviver a dois não tem escola, aprende-se no conviver,e convivendo-se vive-se, vive-se a essência da aparência, pois aparência ajuda, mas fora dela, é um Deus nos acuda!
Nem tudo que planejamos é viável de ser cumprido, os prazos, os objetivos, as metas, devem ser sempre revisados.
O relacionamento é um exercício de articulação onde pessoas desarticuladas com a realidade da sobrevivência tendem a ver o casamento como uma nova estrutura para um velho contexto, o contexto do eu só, do meu individualismo, egoísmos ou egocentrismo e tem-se a impressão de um novo status, e assim, pensam e agem igual quando eram solteiras. E o casamento se torna uma fábrica de conflitos, atritos, discussões, de poder, de poder ter razão sobre tudo, de estar dominador, controlador, e assim configurando-se em ambiente propício para o abuso físico, emocional e comportamental por ambas as partes.
O poder é sempre perigoso.Ele atrai o pior,e corrompe os melhores.
A base fundamental do relacionamento não é o poder, mas o interesse comum do casal, e se houver frutos, frutos cada vez mais raros,interesse maior da criança ou das crianças ou filhos, da família como um todo.
Neste processo é preciso se resguarde em liberdade, liberdade, livre arbítrio, opção, escolhas e decisões individuais enquanto não afetem o outro na sua também individualidade, privacidade e livre-arbítrio.
E este é o cadeado que perde segredo, perde a atenção ou foco em muitos casais, pois a liberdade sem responsabilidade é libertina, por exemplo: dar satisfação ao outro da sua rotina diária é uma questão fundamental para a confiança mútua do casal, pois aos dois ou três ou quatro todos devem satisfações para o vigiar e ter segurança, pois quem ama protege um ao outro e nada está relacionado a desconfiança, ou perda de credibilidade, manipulação, invasão, mas ao cuidar do outro, se cuidar, de todos cuidar um por todos e todos por um.
A alma triste pode matar mais rápido que um germe! É preciso vigiar o emocional, psiquê, comportamento do outro, que ama cuida!
A tristeza, a felicidade, a introspecção, a extroversão ,a risada e o choro que não para, o isolamento, o juntar-se um ao outro deve ser livre, e deve ser entendido como a expressão da alma em meditação,calma, paciência,pensando, dando tempo ao tempo, e nada disto mudou seu amor,apenas amor, assim como todas as emoções se modificam e é de suma importância entender que distanciamento um do outro pode e não deve ser entendido de imediato, de maneira superficial, de desamor ou menos amor, mas talvez amor que abrandou, mas que não apagou, pois continuamos sendo o que fomos, instinto e depois razão, pensamos e nos comportamos diante das oportunidade e as ameaças,nossas fragilidade e nossas forças, sempre em complementaridade, cooperação, adição, agregação ou soma ao outro e se não for assim é opção do estar só ou do " melhor só do que mal acompanhado!"
Para mim, não tenho dúvidas, casar é um estado intenso, inteiro, progressivo, autêntico de constante aprendizado e muitas vezes é melhor estar " mal acompanhado" que sozinho, afinal quem de vocês é perfeito?
Os humanos são solitários neste mundo por uma razão.
Marcamos e massacramos tudo que desafiava nossa primazia.
Devemos ver o outro com a parcimônia, tolerância,devida resignação, resiliência, e paciência, diferença, da complementaridade, da soma.
Desde quando entendemos que a vida é um processo constante,um movimento.marcado por um metrônomo dando ritmo,melodia e harmonia, movimento pendular de altos e baixos, uma oscilação constante entre momentos muito bons e não tão bons, paramos de nos preocupar com o percurso, com seu início e fim,o fim sempre será um fato, mas pode ser o.fim de um ciclo e o início de outro.
Portanto com o durante, o meio, a manutenção do meio, meio de vida, meio da vida, equilíbrio da vida, maximizando e otimizando o aprendizado sobre as pessoas, com as pessoas, pelas pessoas, enfim por nós, nosso crescimento pessoal, profissional, físico, emocional e espiritual deve ser nossa missão!
Afinal não há melhor religião no mundo que ser bom!Bom com as pessoas!
Bom consigo, comigo, conosco,de passagem,entre a hora da saída e da chegada do durante seremos amantes!
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@elliebass
Ellie deu uma risadinha. "That's pretty normal. Some of them get attached to who I'm dating. Era a mesma coisa com o..." Por sorte se interrompeu. Adam foi o único outro cara não famoso com quem se relacionou, e aquilo havia acontecido com ele também. Por sorte, Ellie não precisou se explicar, alguém chegou por trás e pediu: "Excuse me, could we get an autograph?" Ela se virou para encontrar as faces familiares de seu passado ali, no meio de seu presente maluco. Mais velhos, mais maduros, mas ainda eram eles. Mike havia falado, e ele foi o primeiro quem Ellie abraçou. "Oh, my fucking god, you fucking bastards."
A expressão de Mat se agravou com a palavra não dita. O nome. A forma como foi agrupado como mais um na caixa de "pessoas que eu namoro" já teria sido chata, mas a menção a Adam naquele momento foi uma merda. O fato do Frost estar na cabeça dela. Os meninos os interromperam e Matías não saberia dizer se foi pra melhor ou pra pior. Danny foi o primeiro a perceber que havia algo de errado, enquanto Ellie abraçava Mike. Trocou um olhar com Matías e foi engraçado, porque eles já não se falavam mais como antes, mas como mágica, se entenderam. Andy, parecendo querer adiar o contato com Ellie, se adiantou para estender uma mão para Mat em cumprimento. "Nice seeing you, man." Matías correspondeu e sorriu sem mostrar os dentes. "Legal que você veio. Todos vocês." Mike apertou os olhos. "Não era pra ter sido uma surpresa? Você não parece surpresa." A pergunta foi para Mat, a afirmação para Ellie.
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VINCINT - Dicas GAYs - Músicos/cantores/compositores Gays #1
Vincint Cannady
Aqui vai a minha lista de músicas e versões favoritas dele:
• Be Me ( Versão Acústica)
• Creep (cover no programa The Four)
• Remember me (Versão Acústica)
• Higher
• Please don't fall in love.
• Someday
• Marrow
• All over again
• Wherever you are (Live in LA)
• Simple
Já começo minha lista de dicas musicais com um dos meus favoritos. A voz desse homem quando está cantando sem as restrições da música enlatada é ainda mais absurda. Difícil não se apaixonar quando ele começa a cantar, seja com a doçura ou com a agressividade presentes na sua magia vocal. Eu sou um cara que valorizo muito as vozes, os arranjos instrumentais, a interpretação e principalmente as letras poéticas e suas mensagens, então realmente não é qualquer coisa que me atrai musicalmente. No caso do Vincint, ele me pegou de primeira. Só de ver a versão dele de Creep eu já me apaixonei.
Para resumir, esse cara é FODA e canta demais. Tendo a amar mais os seus acústicos do que as gravadas em estilo pop porque a voz desse boy é de arrepiar os pelos da alma e derreter o coração.
Demorei bastante para achar os artistas que aqui irei postando aqui, embora já tivesse conhecido alguns (como meu também crush Adam Lambert). Mas muitos que eu trarei têm pouquíssimos likes e views no YouTube e certamente isso não é merecido.
Pessoalmente acho um pouco incoerente cultuar divas pops do jeito que cultuam e nem sequer parar para ouvir e apoiar pessoas como nós que tentam com dificuldade viver sua arte. Muitos foram expulsos de casa, sofreram homofobia, tem traumas e questões como as nossas e que se refletem nas músicas. Mas não é só isso, tem o AMOR. O NOSSO amor e suas simbologias enaltecidas ao máximo. Não vou ficar contando as histórias deles e dos outros que citarei, pois isso se acha fácil. Vale muito buscar essas músicas e artistas. Contudo, agora gostaria de esclarecer um ponto que sempre é perguntado quando inicio essas listas: "Por que focar em artistas gays?".
Bom, já passei 27 anos consumindo um mundo hétero e um entretenimento também assim. De uns anos para cá, resolvi inverter essa lógica e recuperar o tempo perdido. E, devo dizer, tem valido MUITO a pena. Porque mesmo que eu ame outros artistas, nem a Beyoncé, nem a Avril, nem o Nightwish (minha banda favorita), nem o Alex Band, nem o Kamelot, nem o Aerosmith precisam tanto do meu apoio e também nenhum deles canta a minha existência. Eles não cantam meu amor, nem minhas dores, meus símbolos, meus mistérios, minha vida e nem o meu divino homoteótico.
Tem muita gente como nós fazendo coisas incríveis e sendo apagados até mesmo pela captalização do Movimento LGBT. Valorize esses artistas, filmes gays independentes, pintores, escritores, poetas e todos os outros demais profissionais LGBT+. Eu focarei nos gays simplesmente por identificação e porque não é também como se os gays já tivessem conquistado tudo. Aliás, estamos beeeeeeeem longe disso e qualquer um com o mínimo de visão e bom senso sabe constatar essa situação. Muitos têm menos de 50 likes em suas músicas e não contam com o apoio nem do Movimento LGBTQ+ que em parte considerável foi consumido pela retórica do consumismo enlatado e do falso poder. Ainda falta muito para sermos realmente valorizados nesse mundo homofóbico, doentemente capitalizado e desigual.
Sirius Cor Leonis.
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Sayyids #25 - Filhas
Durante a noite, um gênio entrou na casa da família de Qabil e resolveu botar fogo no quarto da bebê.
During the night, a genie entered the house of Qabil's family and decided to set fire to the baby's room.
O gênio é meio desastrado e botou fogo em si mesmo.
The genius is kind of clumsy and set himself on fire.
Para a sorte de todos, o fogo foi apagado e a bebê resgatada por Iblis.
Luckily for everyone, the fire was put out and the toddler rescued by Iblis.
"Por que você ajudou aqueles humanos, Iblis?" o gênio questionou.
"Desculpa, mas isso é um acordo entre os humanos e eu. Melhor cair fora ou vou ter que tomar medidas drásticas."
"Why did you help those humans, Iblis?" the genie questioned.
"Sorry, but this is an agreement between the humans and me. Better get out or I'll have to take drastic measures."
Ela se recusou a se retirar e Iblis teve que usar seus poderes para lhe dar uma lição. Ele não gostava de outros gênios perturbando os seus humanos.
She refused to withdraw and Iblis had to use her powers to teach her a lesson. He didn't like other jinn upsetting his humans.
Enquanto isso na família príncipal...
Meanwhile in the main family…
Sem os seus dois filhos, Habil que foi morto por Qabil, e este que fugiu para longe. Adam vê em Sheeth um recomeço. Como se Deus tivesse lhe dado aquele lindo presente para poder recomeçar e desta vez não falharia.
Without his two sons, Habil who was killed by Qabil, and Qabil who fled far away. Adam sees in Sheeth a fresh start. As if God had given him that beautiful gift so he could start over and this time he wouldn't fail.
O último filho de Iqlimiya nasceu, Taimoon nunca conhecerá o pai pessoalmente, mas a mãe fazia questão de contar histórias para eternizá-lo, pois Habil tinha sido um bom homem.
The last child of Iqlimiya was born, Taimoon will never know his father personally, but his mother insisted on telling stories to immortalize him, as Habil had been a good man.
Infelizmente em uma noite esqueceram o forno a lenha acesso, o que acabou queimando Sana, mas graças a Deus conseguiram salvá-la.
Unfortunately, one night they forgot the wood oven, which ended up burning Sana, but thank God they managed to save her.
Uma foto conceitual.
A good picture.
Um dia estava tão quente, que Adam cuidou dos animais bem a vontade.
One day it was so hot that Adam took care of the animals quite freely.
Iqlimiya relaxa um pouco nas fontes termais, ela está sobrecarregada de ter que cuidar de quatro bebês.
Iqlimiya relaxes a bit in the hot springs, she is overwhelmed with having to take care of four babies.
Apesar de ter passado alguns meses após a perda dos filhos, Hawa ainda sentia saudades de sua família completa.
Even though it was a few months after the loss of her children, Hawa still missed her whole family.
Iqlimiya deu a si mesma a função de transformar Sheeth no próximo sucessor da família, a maior parte do seu dia era dedicada ao seu filho.
Iqlimiya took it upon herself to make Sheeth the next successor to the family, most of her day devoted to her son.
Coitado do Adam, atacado pelas abelhas :c
Poor Adam, attacked by bees :c
Voltando a Qabil...
Back to Qabil...
Layudha está grávida e prepara a roupinha do novo bebê. Uma de suas filhinhas a assiste vidrada, achando divertido como sua mãe mexe as mãos.
Layudha is pregnant and is preparing the new baby's outfit. One of her little girls watches her glazed over, finding it amusing how her mother moves her hands.
Layudha passa um bom tempo com suas meninas. Elas conversam sobre o futuro irmãozinho, será que ela daria finalmente a Qabil um filho homem? Azura já lhe deu um, mas ela também gostaria de ter um menino.
Layudha spends a lot of time with her girls. They talk about the future little brother, will she finally give Qabil a son? Azura already gave her one, but she would also like to have a boy.
Iblis também marca presença na vida das meninas após salvar a primogênita do incêndio da outra jinn. Elas o chamam de "titio Iblis".
Iblis is also present in the girls' lives after saving the firstborn from the other jinn's fire. They call him "uncle Iblis".
"Encontrei informações sobre aquela jinn que atacou Dania." disse Ibles a Qabil quando conversaram em uma noite.
"Ótimo! Eu desejo me vingar dela por atacar minha família!"
"Não se preocupe, ela deve estar fraca após aquela luta que tivessemos, será fácil."
"I found information about that jinn that attacked Dania." said Ibles to Qabil when they talked one night.
"Great! I want revenge on her for attacking my family!"
"Don't worry, she must be weak after that fight we had, it will be easy."
"Mas em troca das informações eu gostaria de pedir uma coisa."
"Está me cobrando algo, Iblis?"
"Eu fiz muito por você, te dei uma aparência agradável, salvei sua filha da morte, é o mínimo que se pode fazer."
"But in exchange for the information I'd like to ask you something."
"Are you charging me something, Iblis?"
"I've done a lot for you, given you a nice appearance, saved your daughter from death, it's the least you can do."
Qabil não gostou disso, sabia que Iblis um dia iria lhe cobrar, mas não esperava que tão cedo. Ele tem estado ocupado a maior parte do tempo, durante a noite se embrenhava na mata para lutar contra animais e lhe roubar o sangue, ele não podia sempre sugar os sangues de suas esposas, ainda mais agora que estavam grávidas.
"Tudo bem, me diga o que quer."
Qabil didn't like that, he knew Iblis would one day charge him, but he didn't expect that so soon. He'd been busy most of the time, at night going into the woods to fight animals and steal their blood, he couldn't always suck the blood of his wives, even more so now that they were pregnant.
"Ok, tell me what you want."
"Que tal para selar nossa amizade você me dê uma de suas filhas em casamento?"
"Uma das minhas filhas com você? Mas você é um jinn..."
"E agora você é algum tipo de criatura amaldiçoada e é casado com duas mulheres que estão grávidas. Pode não parecer, mas também gostaria de uma família e tenho certeza que suas filhas serão uma beldade quando crescerem."
Como na primeira vez em que se conheceram, Qabil concordou o trato, ele teve muitas filhas e apenas um filho, talvez Iblis possa dar a uma delas uma boa vida com conforto.
"How about to seal our friendship you give me one of your daughters in marriage?"
"One of my daughters with you? But you're a jinn…"
"And now you're some sort of cursed creature and you're married to two women who are pregnant. It might not look like it, but you'd also like a family and I'm sure your daughters will be a beauty when they grow up."
As the first time they met, Qabil agreed to the deal, he had many daughters and only one son, perhaps Iblis can give one of them a comfort life.
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Era inevitável que começasse a se sentir impaciente com aquela discussão. Mais do que isso, sua própria experiência passada reforçava que a única forma de vencer a fera, fosse Adam ou Reyna, em seus hábitos seria sendo tão teimosa quanto — senão mais. A rispidez de sua resposta fez com que Belle estreitasse seus olhos em irritação, cruzando os braços enquanto contornava seu corpo para encará-la de frente novamente. "Eu não me importo." Declarou simplesmente, sentindo o próprio peito dilatar sob o peso de sua preocupação, irritação e carinho. Era um emaranhado de sensações que não conseguia diluir diante da gravidade da situação, então apenas deixar borbulhar até à superfície. "Eu gosto de te admirar." E precisava garantir que não iria se machucar, embora essa parte não pudesse tomar forma concreta em suas ondas sonoras se não quisesse afastar Reyna de si novamente, uma prova sendo sua próxima reclamação que fizera a mulher suspirar exasperada. Preferiu não rebater nesse caso, ciente que ficariam discutindo mais um tópico sem chegar em lugar algum. "Eu obedeceria se fossem ordens que fizessem sentido." Devolveu com um grunhido, ciente que era uma grande mentira que não admitiria em voz alta: era, sim, bastante teimosa e a probabilidade de obedecer qualquer ordem em silêncio era praticamente nula, mesmo que viesse de Reyna. Queria prosseguir com seus carinhos e relembrar a mulher de que nada daquilo importava para si, porém sua prioridade no momento era seu bem estar, motivo pelo qual passou a buscar uma forma de apaziguar a dor presente em seu tom de voz. Suas mãos trêmulas provocaram-lhe uma irritação consigo mesma, afinal, cada segundo a mais contava como um prolongamento da tortura de Reyna e precisava ser melhor do que isso. Felizmente, conseguiu encontrar o que procurava dentro de pouco tempo, buscando-a com a mesma urgência de antes. Sorriu com o carinho em seus cabelos enquanto lutava para abrir o pote, um gesto manchado pela própria tristeza em vê-la sofrendo. "Uma poção para ajudar na dor." Explicou em um tom suave, sendo sua a vez de cariciar os fios da mulher ao ajoelhar-se ao seu lado. Tomou uma de suas mãos — patas— na sua, guiando-a para envolver o próprio corpo em uma abraço que as forçasse a permanecerem mais próximas enquanto respondia sua próxima pergunta com um beijo em sua têmpora, mais demorado do que o anterior. Ao quebrar o contato, fechou os olhos enquanto encostava a própria testa ali, mantendo a proximidade e o carinho em seus cabelos. "Eu jamais sentiria nojo de você, ou medo. Você parece um filhote de cachorro tentando aprender a latir." Brincou, utilizando o tom mais suave e gentil que possuía com a intenção de apaziguar a tensão em seus ombros e o receio em sua voz. Sua próxima fala, entretanto, fez com que o coração de Belle apertasse em seu peito e se afastasse o suficiente para encontrar seu olhar. "Você não vai ser assim para sempre." Garantiu, mesmo que talvez fosse uma promessa muito maior do que poderia cumprir. Não importava, iria encontrar uma forma de tornar realidade as palavras que deixavam sua garganta. "Você vai me proteger, eu vou te beijar e quebrar a maldição… E então você vai passar nosso felizes para sempre testando minha paciência com as mudanças que quiser fazer no castelo e que eu vou detestar." Brincou em um tom leve, ainda que seu coração falhasse algumas batidas. Então, inclinou-se novamente, dessa vez para unir sua testa à dela em um gesto de carinho. "Nós vamos ter um final feliz."
Belle era teimosa — isso era um fato universal: em todas as suas versões, ela ganhava da Fera pelo cansaço. Em seu estado natural, Reyna saberia reagir à teimosia da mulher (mesmo que para isso tivesse de adicionar mais teimosia e algumas provocações). As memórias da Princesa Fera, porém, ainda não haviam avançado o suficiente para que ela tivesse aprendido a lidar com o gênio da outra, e isso fazia com que toda a impaciência que borbulhava dentro de si fosse direcionada à Belle. "Eu não quero que você me olhe." Respondeu, ríspida, virando as costas para a inventora. A humilhação doía tanto quanto a transformação, e era ali onde Reyna e Fera se entrelaçavam, como raízes em solo profundo: ambas sentiam-se envergonhadas por terem ido até Belle; e ambas ressentiam a transformação. "Estou bagunçando a sua livraria." Ela não se lembrava, não agora, mas não respondeu isso. Parte de si reconhecia os esforços de Belle, e parte também sabia que tudo o que estava acontecendo era combustível para a preocupação latejante da princesa. "E você não obedece nenhuma delas!" Exclamou, algo entre um urro e um resmungo.
Ainda que relutasse; que tremesse sob o toque gentil e sentisse todo o seu interior inflamar com a vergonha, ela não queria ir embora. O beijo em sua testa lhe pegou desprevenida, mas foi como acordar de um transe. Reyna se lembrou da maciez dos lábios de Belle, deles contra os seus naquela última noite, e de como eram quentes como o castanho de seus olhos. O corpo todo ainda doía, mas seu coração estava mais calmo. Levantou os olhos para encarar Belle, arriscando levar uma mão hesitante até os cabelos longos e escuros dela. Não os tocou com a mesma firmeza da noite no Salão dos Espelhos. Tocou-os com a leveza de uma pena, o que chegava a ser irônico considerando o seu tamanho agora. "O que é isso?" Seu olhar permanecia sobre a inventora, embora se referisse ao frasco em sua mão. "Você não está com medo? Não sente nojo de mim?" Mais uma vez, a pergunta poderia ser respondida por qualquer pessoa com o mínimo conhecimento da história de Belle, mas não era como Reyna estivesse pensando tão claramente assim. Ademais, agia como um animal selvagem com a pata machucada, cuja confiança para receber cuidados do veterinário era conquistada aos poucos. "Não quero ser assim para sempre." Desviou o olhar, sentindo o peito apertar.
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𝑰 𝒔𝒆𝒆 𝒂 𝒃𝒓𝒊𝒈𝒉𝒕 𝒇𝒖𝒕𝒖𝒓𝒆
𝑷.𝑶.𝑽. 𝟎𝟎𝟐
❝ A serious prophet upon predicting a f l o o d should be the first woman to climb a tree This would demonstrate that she was indeed a seer. . ❞ — stephen crane
Depois do dia cansativo correndo atrás de escrever uma matéria boa o suficiente no Bibbidi para que aquela droga de jogo fosse esquecida, e ainda enfrentar todo o período da noite atendendo um duque idiota que me fez usar uma fantasia de pinguim, eu estava cansada. Exausta ao ponto de apenas tomar um banho quente e me guiar diretamente para a cama, sequer me preocupando em colocar a touca de cetim no cabelo ou a máscara de dormir. Precisava recuperar minhas energias para me manter racional no dia seguinte, independente de quem fosse o vilão usado de alvo — mesmo se fosse mamãe. Ignorei a leve sensação angustiante que veio com o pensamento, sem sequer perceber que fui levada para o reino do sono com facilidade. Ele jamais seriam burros ao ponto de libertar Úrsula do Isolamento, mesmo que por um único dia.
Não foram sonhos tranquilos, contudo, que Sandman me presenteou. Mas eu não esperava que fossem. Desde a lua de sangue, não eram.
“Tirem essa garota imunda de cima de mim!”
Ouvi a voz impassível, fria e monótona de Úrsula instruir que os defensores da távola que a algemaram me tirassem de perto dela. Eu ainda conseguia sentir o cheiro das panquecas que ela própria havia preparado para nós naquele café da manhã, pouco antes da porta ser arrombada e o pequeno esquadrão anunciar a prisão dela. Leram um ofício sobre a morte de Adam e Belle enquanto minha mãe ouvia tudo com o semblante pacífico, muito diferente dos surpresos meu e de meus irmãos. O que estava acontecendo?
Ela não resistiu às algemas, colaborou para que a levassem para fora da espelunca que chamei de lar por bons anos. E eu só fui entender o que estava acontecendo quando falaram ISOLAMENTO.
Foi nesse momento que atirei-me contra ela, segurando sua cintura e a puxando para mim enquanto repetia não, não, não. Lágrimas escorriam sem minha autorização. Eu não podia deixar que a levassem para lá, ela era a minha pessoa. Mas então as palavras duras dela, antecederam o par de braços que pegou-me pelas costas e me arrastou para longe enquanto eu me debatia, tentando me soltar. Cega pela necessidade de a proteger, de alguma forma, eu não enxergava se meus irmãos faziam o mesmo ou algo similar. Eu só via ela afastando-se de bom grado com aqueles guardas imbecis.
Já era noite quando eu me levantei do meio da rua, onde havia sido deixada sem forças por tanto chorar depois de a terem levado. Dentro de casa tudo estava silencioso, mas eu podia sentir o cheiro do chá que eu tanto gostava, por isso parei na cozinha. O bule estava cheio em cima do fogão e servi uma xícara para mim. Estava de frente para a janela da cozinha, observando o movimento do lado de fora, quando o reflexo de algo no vidro chamou minha atenção. Mamãe? A xícara caiu, partindo-se em mil pedacinhos, conforme eu me virava para a encarar de frente.
Mas conforme isso acontecia, a paisagem ao meu redor alterou, e se antes eu estava em casa, agora estava no Isolamento. Mais precisamente, do lado de dentro da cela de minha mãe.
O lugar apresentava um odor horrível, e estava vazio não fosse a presença de Úrsula, de quem eu estava às costas. Por aquele ângulo, sabia que ela estava curvada, mas não sabia sobre o que, e por isso fui me aproximando. Parecia uma maquete, inofensiva até receber um olhar mais atento. Era o festival? Ela tinha uma cruzeta em cada mão, e baixando um pouco o olhar era possível ver que controlava duas marionetes, aparentemente iguais — não devia gozar de artifícios de artes para caracterizar cada uma como bem entendesse, dã! “Segura aqui!” Ela disse, entregando uma cruzeta em minhas mãos e pegando a marionete oposta com as dela. Sem aplicar muita força, arrancou a cabeça, que foi jogada sobre o próprio ombro para um canto qualquer da cela.
“Bem melhor!” Ela concordou ao dar de ombros, analisando sua obra-de-arte, o sorriso macabro exibindo dentes podres antes de jogar a marionete decapitada de volta em sua maquete. Foi apenas quando pegou de volta a cruzeta do fantoche que estava em minhas mãos, que ela me enxergou. E toda sua brincadeira foi jogada de lado antes de Úrsula se levantar, me analisar de cima à baixo e então, rir. “Os mocinhos devem morrer. HA-HA-HA!”
Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer. Os mocinhos devem morrer.
“Os mocinhos devem morrer.” É o que ela repetia enquanto avançava em cima de mim, sorrindo macabramente. E eu apenas me encolhia, com dificuldades para processar que eu era uma vilã, que eu deveria me levantar e segui-la antes que mamãe me engolisse.
Me en-go-lis-se.
Me engolisse...
Me engoliu.
Acordei em desespero e analisei onde eu estava, conseguindo respirar fundo ao perceber que se tratava da minha barraca em Seatopia. Levei a mão ao peito, como se pudesse acalmar o coração disparado. Sabia que tinha gritado, porque minha garganta doía e embora as lágrimas saíssem copiosamente, minha expressão estava impassível. Era manhã do festival do Salvador, e ter sonhado com aquilo não ajudava a manter minha habitual apatia.
Principalmente quando, no fim daquele dia, Wendy Darling foi decapitada em um palco com Wolf, similar à maquete do meu sonho.
QUE DROGA AQUILO SIGNIFICAVA?
#quem pegou as referências de bonding tem todo meu amor#quem não pegou eu recomendo a série#é da netflix#lhqssaviorday#é algo que vou usar em desenvolvimento daqui pra frente#៹ ་ ༄ ་ 𝟎𝟎𝟒 : development.#pov.
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Em sua primeira passagem pelo Brasil, Ali Hazelwood integrou a programação da Bienal do Livro de São Paulo 2022. Foi também sua primeira participação em um evento de tamanha proporção – não à toa sua emoção (e surpresa) ao ser recebida com gritos e aplausos na Arena Cultural lotada. Esbanjando simpatia e carisma, a autora italiana falou sobre "A Hipótese do Amor" e suas outras histórias, além de muitos outros assuntos que fizeram uma hora de conversa passar voando.
Mas, antes, vamos falar da história. Com personagens cativantes, diálogos afiados, cenários divertidos e uma narrativa inteligente que foge dos clichês, "A Hipótese do Amor" vem fazendo um sucesso estrondoso entre adolescentes e jovens adultos – o Instagram e o TikTok que o digam. No Brasil, a história escrita por Ali Hazelwood chegou às prateleiras em julho de 2022, quase um ano após a publicação original. E, durante a Bienal, integrou o TOP 10 Mais Vendidos da Editora Arqueiro. Já conhece a sinopse?
Quando um namoro de mentira entre cientistas encontra a irresistível força da atração, todas as teorias cuidadosamente calculadas sobre o amor são postas à prova.
Olive Smith, aluna do doutorado em Biologia da Universidade de Stanford, acredita na ciência – e não em algo incontrolável como o amor. Depois de sair algumas vezes com Jeremy, ela percebe que sua melhor amiga Ahn gosta dele e decide juntá-los.
Para mostrar que está feliz com essa escolha, Olive precisa ser convincente: afinal, cientistas exigem provas. Sem muitas opções, ela resolve inventar um namoro de mentira após beijar o primeiro homem que viu pela frente em um momento de pânico.
O problema é que esse homem é Adam Carlsen, um jovem professor de prestígio (e também conhecido por levar os alunos às lágrimas). Por isso, Olive fica chocada quando o tirano dos laboratórios concorda em levar adiante toda essa farsa e finge ser seu namorado.
De repente, o experimento parece perigosamente próximo da combustão e aquela pequena possibilidade científica, que era apenas uma hipótese sobre o amor, transforma-se em algo totalmente inesperado.
Ali contou que entrou para o universo literário por meio das fanfictions – e que suas histórias envolvem o meio acadêmico e a ciência porque é o que mais conhece. Ela gosta da ideia de misturar aspectos de sua vida com as coisas que ama, como romances. E escreveu "A Hipótese do Amor" enquanto terminava sua tese de doutorado (ela é PhD em neurociência!) e passava por momentos estressantes, então foi uma forma de lidar com seus problemas, de deixar tudo mais leve por meio de suas histórias e personagens.
"'A Hipótese do Amor' era originalmente uma fanfic Reylo. Eu peguei o que mais gostava de cada personagem. Pensei no que eu mais gostaria de ver no mundo moderno e como eles se comportariam. A desenvoltura de Olive e o mau humor de Adam, por exemplo. Ela tem sonhos e esperanças – e luta por eles. E ele está sempre lá por ela, por inteiro. O resto da história foi coisas que eu realmente gostaria de ver", disse ela.
"A Hipótese do Amor" se encaixa na trope enemies-to-lovers. Quando perguntada sobre o assunto e sobre suas personagens não serem o que estamos acostumadas a ver, Ali respondeu: "Eu amo tropes. Eu gosto de saber o que vai acontecer, mas também sempre penso em trazer novas personagens nas tropes que amo. É tradicional, mas diferente ao mesmo tempo. Representatividade importa. E acho incrível que isso esteja cada vez mais presente em comédias românticas e romances, em geral – e que essas histórias estejam se tornando mainstream, best-sellers."
E quem segue Ali nas redes, sabe que ela tem uma nova obsessão – isso é, além de ciência, fanfics e romance. "Doramas. Três meses atrás, eu devo ter assistido uns 15 e agora é tudo o que eu penso fazer. Os episódios são longos, mas você nem se importa, porque são muito bons. Meu favorito é 'Pousando no Amor'. E quero escrever um livro em que a personagem se imagine em uma dessas histórias ou algo do tipo. Estou obcecada!"
E será que veremos mais de Olive e Adam? Sim! Eles aparecerão no terceiro livro de Ali e será como um update, uma forma de sabermos como eles estão. Sem mais spoilers, a autora aproveitou para dizer que sua outra história "Love On The Brain" (ainda sem tradução para o português) chegará ao Brasil em novembro.
#livros#literatura#leitura#ali hazelwood#the love hypothesis#a hipótese do amor#olive smith#adam carlsen#olive and adam#bienal#bienal do livro#004
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this is a starter for 𝐀𝐃𝐀𝐌 𝐃𝐔𝐁𝐎𝐈𝐒 ( @adamsfavoriteleaf ) !!
✧ ˚ · . Era estranha, a sensação de vê-lo novamente. Quer dizer, não que tivessem não��se visto há muito tempo, afinal, Lake City era uma cidade pequena. Mas desde que casara com Jack, desde que tivera os gêmeos e desde que a cidade parecera ter virado de cabeça para baixo com suas verdades e mentiras expostas, a vida se tornara mais complicada, e tanto ela quanto Adam focaram apenas em suas famílias. Porém, o destino não foi gentil com nenhum dos dois. Para ela, a relação conturbada com Jack levou a um divórcio, e o ex-marido pareceu não fazer questão nenhuma de ser um pai presente para as gêmeas, deixando que fossem criadas sozinhas por Ruby. Para Adam, a notícia da morte de Belle em um acidente com seu pai foi impactante, e a Lucas até mesmo estivera presente no velório, mas não se achou no direito de dizer qualquer coisa a ele.
Por isso, quando o avistou no café naquele fim de tarde, se perguntou se talvez aquela fosse a hora. Talvez eles finalmente tivessem a oportunidade de voltar a conversar como antes, as inúmeras brincadeiras e trocas de provocações que divertiam os dias da policial. Havia tanto que queria perguntar a ele: como estavam os seus filhos, seu emprego, a Fera..., mas imaginou que ir devagar fosse a chave do negócio. Por isso, não se deixando ser notada, comprou o café preto e sem açúcar que se lembrava dele tanto gostar. Em seguida, caminhou a passos gatunos até a mesa que ele estava, colocando o copo de papel em frente a ele. “Ouvi dizer que bons empresários precisam de pelo menos três desses por dia para fazerem um bom serviço.”, comentou, um sorriso genuíno nos lábios. “E como eu sou uma boa amiga, decidi ajudar.”, e então, permitiu-se puxar a cadeira para sentar de frente para ele. “Como você está, Adam?”, esperava não ser expulsa da mesa ou coisa parecida; a personalidade dele sempre andava em ondas, então era muito difícil prever suas ações.
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Encolhido daquela forma e com a respiração mais estabilizada, ele se sentia muito menor do que realmente era – a Fera tinha uma altura considerável a mais que ele mesmo, que por si só já era uma pessoa bem alta. No fundo de seu coração, desejava poder diminuir ainda mais, até que se tornasse tão pequeno que os problemas do universo fossem incapazes de alcançá-lo; mas não havia motivo algum para que aquele pedido fosse realizado. Naquele momento, discordava fortemente do que ela dizia, independente do quão firme soava o seu tom. Ele tinha muito pelo que pedir desculpas, independente de estar se referindo ao seu próprio passado, ao presente ou ao suposto futuro, mas de fato, Belle já tinha lhe garantido e provado mais de uma vez que ela não precisava ouvi-las. A última coisa que queria, no entanto, era argumentar sobre aquilo, já que ela era muito melhor argumentadora do que ele em praticamente qualquer cenário, então apenas assentiu. Não deixou de reparar que a pergunta sobre o seu bem estar foi ignorada, apenas confirmando as suspeitas que ele já tinha, mas era realmente melhor focar numa forma de sair dali, por hora.
“Talvez os espelhos sejam portais aqui também” sugeriu, aceitando a ajuda para se levantar, “…droga.” A memória invadiu a sua mente logo depois da própria sugestão: assim como na sua própria história, o Adam daquele universo não era um apreciador tão ávido da própria aparência, e ele tinha quase certeza que a Reyna daquele mundo compartilhava do mesmo complexo. Espelhos, naquele castelo enorme, eram raros. Estava prestes a explicar o empecilho quando ela fez uma tentativa de descontração, e foi tão inesperado que de fato lhe arrancou um risinho. “Ei!” protestou de brincadeira prestes a se defender com o fato de que ele e os funcionários amaldiçoados se esforçaram bastante pelo seu bem estar no passado... mas era realmente difícil ignorar que ainda era um enorme amontoado de pelos. “Digamos que eu realmente não queria ser visto” confessou, coçando a nuca. “Não por você, é claro! Mas é que a minha primeira festa foi o luau e eu estava... bem... autoconsciente.” Uma das pouquíssimas coisas boas sobre estar daquele lado do espelho era que sua vestimenta também tinha mudado. “Encontrei com pouca gente. Também acha que foi um pouquinho exagerado ter quatro festas? Tecnicamente cinco, em breve, mas enfim” perguntou, baixinho, como se Glinda ou os outros integrantes da Academia pudessem ouvi-lo ali dentro.
Era muito fácil para si colocar de lado as próprias emoções para lidar com uma situação nova, o que não era sempre um bom atributo. Por vezes, acabava falhando em manter sob controle todas as variáveis de seu comportamento, como ocorrera com a chegada dos perdidos e seu primeiro encontro com Reyna, mas isso não apagava sua habilidade inegável de se reprimir se fosse necessário — o problema era ser muito fácil se convencer da necessidade em muitas situações. Naquele momento, entretanto, o havia feito inconscientemente ao ouvir Adam adentrando o castelo abandonado e notar o que lhe ocorria, correndo em sua direção o mais rápido que seus saltos e vestido permitiam. Agachada à sua frente e com seu rosto entre as mãos, tentou se manter calma o suficiente para que o exercício de respiração realmente funcionasse, mas só foi relaxar à medida que a de Adam se tornava mais uniforme. "Você não tem porquê pedir desculpas." Rebateu em um tom firme, ainda que marcado por sua habitual suavidade. Com um sorriso fraco, ergueu o olhar para o restante do salão, pensando em como poderiam voltar. "Deve ter algum lugar que aparente ser real, porém é um portal... Certo?" Franziu o cenho em incerteza para si mesma, concentrando-se em tomar as mãos de Adam nas suas e ajudá-lo a se reerguer. "Melhor encontrarmos antes que eu comece a espirrar..." Brincou, enrugando o nariz como se estivesse prestes a fazê-lo, fitando-o pelo canto do olho em um ar levemente travesso. "Não tinha te visto pelas festas."
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