#cesta de café da manhã dias das mães
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10 Ideias para Vender no Dia das Mães e Fazer Renda Extra
O Dia das Mães é uma das datas comerciais mais importantes do Brasil. Nesta data, as pessoas costumam presentear suas mães como uma maneira de demonstrar amor, carinho e gratidão por aquela que nos trouxe ao mundo. É uma data que movimenta bastante dinheiro nas lojas de roupas, acessórios, perfumes e flores, tanto online, como offline. Portanto, esta data se torna muito importante para…
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você me perguntou qual é o meu momento favorito do dia e eu disse que é a hora de ir dormir. você riu, mas não era para ser engraçado.
tu disse que o momento favorito do dia das pessoas diz muito sobre elas, e aí eu me lembrei de quando você estava radiante contando que naquela manhã uma senhora o parou no terminal e rezou pela sua alma. e você ficou tão contente com aquilo que pediu para ela rezar por mim também, mesmo nenhum de nós dois sermos religiosos. me disse que ela o lembrou sua vó, por isso aquele momento foi tão precioso. me perguntou se eu já tive um momento tão gratificante como aquele antes.
minha resposta continuou sendo a mesma.
o seu olhar não vacilou quando eu comecei a falar do meu dia, mesmo eu sabendo o quão desapontado ficou. naquela mesma manhã, eu não fiz nada além de me irritar com a cafeteira nova do serviço e xingar todos os fabricantes daquela marca maldita que me fizeram tomar um café frio e fraco. o seu olhar não vacilou quando disse que um cliente gritou comigo por mais de duas horas e eu tive que me trancar no banheiro masculino para chorar por mais três horas, porque estava cansada daquele emprego de merda.
me lembrei que você foi aceito no seu emprego dos sonhos. quase ri.
você me perguntou se eu tinha medo do meu chefe, mas eu nem sei o nome dele porque sinto tanta raiva das pessoas que não me dou o direito de as conhecer. eu te contei que a gerente do mês me xingou de piranha e que ela levantou a mão pra mim, e me vi rindo disso como quem conta uma piada de humor negro. você não riu, e eu não entendi o porquê até me contar que a sua chefe te deu uma cesta de frutas pelos seus 30 anos de vida.
minha resposta ainda é a mesma.
você me perguntou se eu também sentia aquela sensação boa em comemorar o meu aniversário e dar graças a deus por ainda estar ali. por ainda poder comemorar. eu quis te contar daquele dia em que fiquei presa no meu quarto até dar meia noite e eu não ser obrigada a apagar a velinha do bolo imaginário que montei, porque eu não recebo um "parabéns" desde os meus 10 anos e que não sei mais cantar a musiquinha do feliz aniversário. eu realmente a esqueci, te disse. quase falei. mas você me perguntou o meu momento mais feliz do dia, não quis estragar isso.
porque você ainda não entende o porquê da minha resposta. porque você nunca entenderia ela.
você me perguntou se eu sentia a mesma felicidade em comer os biscoitos com gotas de chocolate recém feitos pela mãe, enquanto ela acaricia os meus cabelos e com um sorriso no rosto conta mais uma história da sua vivência na terra. e eu quis chorar. eu quis chorar porque não fazia a mínima ideia de como é o toque das mãos dela, de como é o gosto de sua comida. eu não me lembro de nada disso, eu não consigo me lembrar. eu quis chorar tanto, bem.
porque você não faz ideia da minha criação. não faz ideia do que eu sinto. não faz ideia do que passo todos os dia quando acordo.
tu ficou chocado com a minha resposta, porque não entendia como eu não tinha nada bom para contar do meu dia. tu ficou decepcionado pois a sua vida feliz e alegre não eram nada parecidos com a merda de vida que eu tenho.
eu queria te contar daquele dia em que meu pai me bateu tão forte que eu senti o mundo girar e girar e eu chorei a noite toda e tentei me esconder nos braços de mamãe mas ela se foi antes mesmo de eu chegar na porta do seu quarto.
eu queria te contar como eu me senti ao descobrir a traição do meu primeiro ex e de como o perdoei porque senti medo de ficar sozinha.
eu queria te contar daquela vez que deixei ele me bater até o mundo girar e girar e de como eu não senti nada além de desgoto e raiva de mim mesma.
mas, bem.
você não entenderia.
então quando me perguntou sobre a parte favorita do meu dia, eu não pude te explicar o motivo exato do porquê eu não ver nada de bom na vida.
quando voltei para casa no dia seguinte, sem biscoitos com gotas de chocolate ou cestas de frutas, a única coisa que pude fazer foi dormir. e rezar para que eu não acordasse no dia seguinte.
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nunca um pai de família
Assim como Rimbaud, minha linhagem comportou muitos otários malucos e vagabundos em sua maioria. Mas também muitos trabalhadores honestos, pais de família, severamente apegados às suas rotinas infernais, obedientes a um sistema que funciona muito bem quando a ideia é que os pobres sejam miseráveis. Só que eu não. Eu não era trabalhador. Não queria casar muito menos ter filhos. E não por falta de vontade. Deus sabe que eu seria um trouxa fascinado por alguma ideologia, mataria pelo conservadorismo das obrigações. Acordaria todo dia, quando o sol ainda dormisse, tomaria um café escasso e comentaria com a minha mulher como a crise tá acabando com a gente, veja só, o dinheiro não vale mais nada, eu trabalho igual uma mula pra ter grana e me deprime não ter a maldita grana, e ela secaria as mãos no pano de prato, dizendo que me odeia, que eu estraguei a vida dela, e eu direi que a odeio de volta, e, secretamente nos perguntamos porque continuamos com esse casamento desgraçado se um dia nossas crianças crescerão e farão questão de morar bem distante de nós, e quando acontecer, seremos condenados a passar o resto dos anos sendo dois velhos que se odeiam ainda mais. Eu quebraria o copo ao terminar o café, e diria que se soubesse que ela ficaria tão feia, teria comido a irmã mais velha, e aí eu pegaria minha marmita e sairia pra mais um dia, meu corpo pesando pela falta de uma boa noite de sono, já que a cama velha foi comprada numa loja de móveis usados e eu nem quis descobrir porque o colchão tinha tantas manchas brancas. Em pouco tempo, estaria na estação do trem que já vem lotado, rumo ao trabalho, oito horas por dia mais extras, numa loja de departamento, vendendo coisas que nunca poderia comprar, não com esse salário, não com a cesta básica tão cara, e teria que escolher o que é menos agonizante: trabalhar feito maluco por uma miséria no fim do mês e ter que aguentar um gerente que passa a mão nas minhas bolas em troca de me deixar usar a cafeteira do escritório, ou ir pra casa e ter que encarar os olhos da minha mulher, enquanto ela diz que eu sou um fracassado, um molenga, e que só está comigo porque a outra opção é voltar pra casa do pai que a violentou desde os três anos de idade. Ela juraria que ia deixar as crianças comigo, já que nenhum de nós dois consegue amá-las. Essas crianças desgraçadas, eu pensaria, subindo o zíper da calça, sentindo o cheiro do cafezinho, me culpando por ter ficado de pau duro com a mão quentinha do gerente. Já fiz muita coisa terrível e inútil, mas um menino raivoso que destrói os brinquedos aos chutes e matou o Damião e o Anderson, os dois hamster que comprei pra ele, com um barbante no pescoço, e uma garota esquisita que sempre corta os pulsos acidentalmente, vomita tudo o que come na privada e deixa a casa com a mesma atmosfera dos contos de Edgar Allan Poe, foi, de longe, o pior dos meus feitos. E eu pensaria no quanto esses filhos bizarros e essa esposa triste e esse gerente tarado e esse emprego de merda, fazem da minha vida um inferno. Odeio a todos, pensaria. Acordar vivo é torturante, por isso hoje eu vou no bar, de novo, e vou beber em homenagem a injustiça que meu destino é. E então eu descobriria as apostas também, o jogo no bicho e o carteado, e pegaria empréstimo com o agiota pra poder jogar mais. E me endividaria. Iria pra casa, perto das cinco da manhã, chapado e bêbado, sem meus sapatos e com a camisa manchada de sangue, e bateria tanto na minha mulher que ela teria saudades do papai. Depois iria pro quarto do menino, e lhe daria a surra da sua vida. Então eu acordaria a garota, arrastaria seu corpo de peso pena pelos cabelos e a faria ver sua mãe ensanguentada, seu irmão chorando, e quebraria os móveis enquanto ela grita de pânico, mas deixaria ela intacta porque, de todos os covardes coexistindo naquela casa, ela seria a única capaz de me odiar o suficiente pra um dia me matar. E eu a faria desejar isso. E esperaria, até que estivesse pronta.
Mas, infelizmente, tudo o que me resta é ser um otário maluco e vagabundo.
#contos marginais#contos#books and libraries#angst#fiction#celebrities#cronica#livrosnavionais#livro#dicadeleitura
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Dia das Mães: ação beneficente da Aleto arrecada mais de cinco toneladas de alimentos
Os servidores da Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto) arrecadaram 5.170 quilos de alimentos, equivalentes a 517 cestas básicas, que serão destinadas ao Instituto Varal da Fraternidade, de Palmas, que presta assistência a mães chefes de família. A entrega ocorreu durante um café da manhã oferecido pela Casa às suas servidoras, em celebração ao Dia das Mães, que será comemorado no próximo…
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Ernesto Cafés Especiais tem cesta de café da manhã para o Dia das Mães
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08 de março de 2022.
Domingo, Dia das Mães.
Aceito uma corrida, alguém querendo fazer uma entrega, distância 2,3 km, objeto uma cesta de café da manhã.
Uma filha mandando uma cestas de café da manhã, para sua mãe, no dia das mães, que lindo.
Chego no destino, uma senhorinha, já passado dos 70 anos, recebe a cesta e meu desejo de feliz dia das mães com um sorriso tão meigo, um semblante tão sincero, impossível não lembrar do sorriso da minha vó.
Dia das mães, 2,3 km...
Uma mãe, uma filha...
Uma bonita casa, um carro no pátio da garagem.
...
Eu teria ido até mesmo a pé, só pra poder dar uma abraço junto com aquela cesta.
As pessoas estão distantes uma das outras, as vezes estando tão perto.
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◜ gyeongmin "matthew" han, 23 anos, é estudante de artes. está na Califórnia há pouco mais de dois meses e trabalha num restaurante como garçom. mora com a avó no terceiro andar de um prédio residencial e costuma fazer barulho até as 1 da manhã. nos fins de semana pode ficar fora o dia inteiro, mas se estiver deprimido vai cantar muito elvis presley e românticas dos anos 80 no karaokê. cultiva os próprios temperos, mas vai negar se for perguntado. a bicicleta preta com uma cesta é dele (pode rir, ele a usa para transportar os baguettes de manhã). não dá bom dia, nem boa tarde ou boa noite, mas vai sorrir de educação se o desejarem. é da zeta zeta rho, do jornal acadêmico e do atletismo.
PROFILE.
◜ nome completo: gyeongmin han, mas o chame de matthew
◜ idade: 23 anos
◜ aniversário: 10 de setembro de 1997
◜ gênero/pronomes: cismale, ele/dele
◜ orientação sexual: bissexual
◜ orientação romântica: birromântico
◜ qualidades: divertido, sagaz, esperto
◜ defeitos: desonesto, estressado, fechado
◜ hobbies: cozinhar!!!, fazer doces, fazer truques de mágica, ouvir música, ler tarot, dançar, andar de bicicleta, correr
◜ playlist: holiday (green day), mess around (cage the elephant), attention (charlie puth), what goes around comes around (justin timberlake)
WANTED CONNECTIONS/PLOTS.
( plot 1 ) muse tem um pé atrás com matthew porque conhece o jogo de cartas que ele faz nos espaços públicos para roubar dinheiro do povo, e já viu ele aplicar esse golpe. ele costuma ir para lugares distantes para não entrar em contradição com nenhum vizinho ou colega da aias, mas acabou falhando.
( plot 2 ) matthew roubou um pertence de muse, mas conforme conversava com elu e percebeu que era gente boa, decidiu devolver e iniciar alguma coisa parecida com uma amizade.
( plot 3 ) muse se viu afim de matthew e desde que o conheceu convida ele para sair e tudo mais, só que isso dá uma dificultada nos planos dele de aplicar os golpes porque elu tá quase sempre em cima.
( plot 4 ) muse não estava num bom dia quando foi um cliente sem razão no restaurante em que matthew trabalha, e como ele também não estava e o espírito mais infantil se apossa do corpo dele, ele derrubou de propósito o pedido de muse nele mesmo. deu o maior rolo, o patrão passou pano depois de escutar a parte de matt, e desde então ele e muse se detestam.
( plot 5 ) matthew costuma fazer barulho quando está em casa, e muse, u vizinhe, precisa trabalhar cedo. só porque muse não mediu direito as palavras quando foi reclamar, impulsionade pela raiva ou qualquer coisa assim, matthew faz mais barulho ainda, então vivem em pé de guerra.
( plot 6 ) muse é a pessoa dos sonhos de matthew. tudo o que elu é, é o que ele sempre quis para si. então, o que não falta é cantadas, presentes, tentativas de impressioná-lu, inesgotáveis convites para sair e um irreparável coração apaixonado. só que mesmo que muse sempre recuse as investidas, matt tem garra de brasileiro que não desiste nunca.
( conexão 1 ) muse, desatente que é, é um frequente alvo da mão leve de matthew, que simplesmente não suporta ver tanta abertura e não fazer nada. muse vive com as coisas “sumindo”.
( conexão 2 ) muse é cliente assíduo do restaurante e quase sempre, matthew atende sua mesa, chegou a ser costume elu pedir “o de sempre”.
( conexão 3 ) muse sempre pede para que matthew leia as cartas do tarot para elu, e ele o faz com o maior prazer.
( conexão 4 ) matthew é o babá do pet de muse.
( conexão 5 ) colegas de curso, pessoas que também querem fazer gastronomia como ele e se reunem para aprofundar seus conhecidos (lê-se: fazer bagunça
HEADCANONS.
ele nasceu nos estados unidos, papai e mamãe coreanos, mas um belo dia eles reagiram a um assalto e então morreram à tiros. matt tinha doze anos.
até esse fatídico dia chegar ele teve uma infância bem comum. aprendeu inglês e coreano quase ao mesmo tempo.
a mãe e o pai dele bancavam os mágicos, só que eles eram mais uma dupla de golpistas do que tudo. eles faziam aqueles jogos de azar em metrôs, em praças, justamente pra roubar dinheiro do povo e quando dava ruim metiam o coreano na língua pra se safar (se não rolasse, correr era uma boa saída). ele cresceu aprendendo a como tirar a moeda da orelha de alguém, aparecer e reaparecer um objeto, também a como afanar uma carteira sem ser percebido.
a família, mesmo pequena, sofria com a questão do dinheiro, então essa era a rota de fuga que alternavam para contornar as dificuldades. os pais não possuíam diploma e já estavam acostumado a aplicar os golpes mesmo no coreia do sul, então foi o jeito.
a morte precoce dos pais dele acarretou na ida forçada dele ao orfanato. por muito tempo se manteve fechado (nunca foi tratado devidamente, então ele ainda é reservada), com raiva (hoje em dia é mais tranquilo) e triste, chorando pelos cantos. nunca se acostumou de verdade ao orfanato, dispensava amigos, mas abraçava colegas apenas por conveniência — algumas pessoas para conversar/brincar só para passar o tempo.
sempre roubava os pertences das crianças, mais velhas ou mais novas, não importava, gerando confusões e brigas para saber quem era o ladrão. por ter zero valor material aqueles objetos, senão o sentimental, ele os devolvia no fim do dia no sigilo. o que o motivava eram as discussões, falsas acusações e é isso.
aos 17 anos, um ano antes de sentir a liberdade, saiu da escola e foi até o metrô bater carteira para ver se conseguia pagar aqueles cafés caros do starbucks e sair com os amigos da escola no dia seguinte. no entanto, foi pego e só porque a diretora do orfanato implorou para os oficiais, eles o liberaram, mas prometeram ficar de olho.
aos 18 anos teve, enfim, liberdade. continuou o que os pais faziam desde que ele era pequeno, fazia shows de mágica na praça e morava junto a um amigo da escola na garagem dos pais dele, de favor. ele demorou algum tempo, conseguiu emprego de babá e garçonete, mas a vida de honesto não ‘tava funcionando pra ele, só que dava pra guardar o dinheiro que guardava então… sem muitas reclamações. então ele passou a efetuar golpes por telefone, daqueles que “o banco” pede os dados do cartão pra realizar uma checagem e no fim do dia clonam o seu cartão. ele conseguiu comprar várias coisas online fazendo isso.
teve a proeza de roubar as chaves de uma carro mais ou menos, então ele o vendeu por um bom preço que deu para uma passagem só de ida para San Diego, onde sua avó morava. a velha não ficou muito feliz com a vinda dele, não, mas hoje em dia é muito parceira de matthew. o mais novo roubou apenas uma vez dela: um dólar para comprar balas.
foi ideia de Miyoung que ele entrasse na faculdade. não era segredo que matthew era uma criança prodígio, ele havia ganhado competições regionais e nacionais de soletração, redação e afins, mas os pais nunca deram apoio nessa parte então ele largou o interesse. com um pouco de pressão, a avó fez com que ela ao menos tentasse uma bolsa de estudos, já que havia sido exemplar na escola. ele tentou e conseguiu uma vaga na área de artes.
atualmente trabalha como garçom num restaurante próximo a área nobre da cidade e tem uma santa lábia para fazer os clientes gastarem mais do que o pretendido.
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Prólogo: A SERVA LARANJA
Se viam os primeiros sinais do nascer do sol encoberto pelo cenário montanhoso em volta. A manhã estava limpa e g��lida como haveria de estar no outono. Quando Myrella olhou para o céu, viu os desenhos e cores que os feixes de luz faziam no azul profundo de uma noite passada. Acompanhando com os olhos as nuances coloridas dos feixes luminosos, contemplou o enorme pé de laranja do jardim se destacar pelo astro que ainda se escondia entre as cordilheiras. Era a cena mais linda que já havia visto em toda a sua vida. Ao fundo o oceano era misterioso, convidativo e infinito como o céu com quem se fundia em um só no horizonte.
Conforme foi na direção da laranjeira o cheiro dela inundou suas narinas. Já havia se tornado um odor rotineiro no decorrer dos seus dias dentro do templo e agora era o cheiro de sua casa. Agraciada com aquelas sensações, ajeitou a cesta de palha que carregava em seu antebraço para alcançar com a mão livre uma das folhas. Aproximou-a do nariz e inalando profundamente ela fechou os olhos em deleite. O odor a fazia pensar em muitas coisas, mas principalmente em segurança. Como uma serva da deusa laranja, ela seria protegida para sempre. Seus serviços eram insignificantes perto do que aquilo significava para a menina.
E o café-da-manhã da profetisa não seria colhido sozinho. Myrella soltou a folha no chão de grama para começar sua primeira tarefa do dia. Pegou a laranja mais próxima dela, fazendo alguma força para separá-la da árvore. Era uma fruta suculenta, maior do que a maioria das outras que já havia visto antes e de cor tão alaranjado quanto o próprio sol nascente. Na mesa da profetisa nunca faltava comida, então colheu tantas quanto pôde colocar na cesta.
Enquanto percorria o jardim no caminho de volta para o templo ela finalmente conseguiu ver o sol que começava a se revelar de seu esconderijo no momento, o castelo real de Montanhalta. Acima da maior das montanhas da cordilheira, seguindo pela costa montanhosa, ele se erguia imponente como uma lança apontada para o céu. Era uma obra grandiosa demais para a compreensão de uma camponesa. Antes de se mudar para o templo, nunca havia visto o castelo tão de perto. Naquela época ele estava distante demais de sua casa, no cume da montanha, mas mesmo hoje tão perto ele continuava intocável. Nunca seria uma princesa porque era somente Myrella, a filha de um camponês e uma serva laranja.
Era uma vida melhor que muitas. Nunca deixaria de agradecer à deusa por aquela benção. Antes de partir ela reverenciou a laranjeira uma última vez.
Deixou o jardim do templo, adentrando-o por uma imensa porta de madeira trabalhada. Os corredores eram quase sempre escuros, sem janelas e com poucos pontos de luz, sempre apenas as velas de cera presas nas paredes. A escuridão aguçava os outros sentidos da profetiza para suas visões, Myrella aprendeu pelas outras servas, como também outras coisas que jamais imaginou.
Todos os sete corredores davam para o grande salão, onde a profetiza rezava todo nascimento do sol. A menina seguiu seu caminho até o fim da escuridão, transpassando a passagem sem porta, e as luzes da manhã voltaram a aquecer seu rosto juvenil. Ali o templo era aberto, permitindo que o dia entrasse e iluminasse a enorme estátua da Mensageira. Agora Myrella poderia reconhecê-la com extrema facilidade pelos seus aspectos. Quase saindo para fora do templo pelo teto, com seus cinco metros de altura, a mulher esculpida na pedra vestia uma longa túnica, o capuz dela nublando seu rosto sem expressões e nas duas mãos unidas ela carregava uma vela de chama feita de pura espessartita, uma pedra cristalina alaranjada.
Aos pés da grandiosa escultura estava uma mulher de pele alva como a neve, coberta por uma longa túnica laranja adornada com jóias e sua cabeça enfeitada com uma linda tiara de ouro com a mesma pedra da qual a vela da Mensageira era feita no meio. Seus longos cabelos de mel caiam sobre o rosto cabisbaixo, encobrindo seus traços de maturidade da vista. De joelhos no chão a profetisa rezava em silêncio, acompanhada de Rhaena na mesma posição um passo de distância. A menina não quis se mover mais, receosa de atrapalhar a rotina da profetisa, então permaneceu apenas observando a imagem dela. Poucos eram os que conseguiam conhecer a mulher, muito menos aqueles que falavam com ela. Sentia-se honrada por ter sido acolhida no templo.
Mesmo que tivesse tentado não interromper, até mesmo o menor dos ruídos era uma orquestra no silêncio completo. Desperta pela chegada de Myrella, a outra serva se levantou cuidadosamente, ajeitando a túnica comum que vestia. Seu rosto era severo e de idade. Rhaena era a serva mais velha do templo, com seus cabelos escuros já clareando pelo tempo. Era a professora, amiga e mãe das meninas e embora suas linhas fossem marcadas pelas expressões, os lábios sempre desenhavam palavras de carinho. Se lembrava bem de seus olhos, escuros e afetuosos, principalmente no dia que ela apareceu para buscá-la. Foi sua salvadora antes, tornando-a serva e dando para ela um novo lar no templo.
Silenciosa, ela chamou a menina para que a acompanhasse com um gesto com a mão. Guiada pelo salão central, a menina contemplou uma última vez a estátua e fez sua própria prece rápida. Seguiu Rhaena até que alcançassem o corredor de entrada do templo, tão escuro quanto o dos fundos. A mais velha pegou a cesta com as frutas dos braços de Myrella, segurando ela consigo.
- Obrigada, querida. Irei servir a profetisa - falou sussurrando. - Hoje você vai colher os lírios para o banho. Idina te espera lá fora, ela a acompanhará dessa vez.
Myrella concordou sem palavras. Quanto menos interrompesse o silêncio, melhor.
Ela deixou a companheira para trás, se dirigiu para a porta de entrada do templo e a abriu com todo o cuidado que tinha. Idina estava lá, dispersa pela conversa que tinha com os dois soldados do reino que guardavam o templo naquele turno. Eles vestiam majestosas armaduras feitas de placas metálicas marcadas com o símbolo real do gavião no peitoral. Os capacetes em suas cabeças ostentavam longas penas de ave pintadas de preto e vermelho, as cores do Rei. Eram enormes perto de Idina, uma miúda serva com sua singela túnica e adereços nenhum, mas mesmo assim a mulher conversava com eles como se fossem iguais.
- O ladrão da meia noite continua solto - ela resmungava. - Eu nunca vi isso antes! O exército real não conseguir capturar um único homem.
- Senhorita Idina - o soldado mais alto parecia sem graça. - Esse assunto está além do que podemos chegar. Não é coisa da nossa patente. Nós não podemos…
- Vocês peões de lata nunca falam muita coisa, Udyr - desdenhou o soldado com a mão e se virou de costas para eles, abandonando sua intenção de tirar alguma notícia dos soldados. Se deparou com Myrella que se aproximava tímida. - Graças aos deuses podemos finalmente ir.
Os dois soldados arrumaram suas posturas quando perceberam a chegada a serva mais nova, se posicionando um do lado do outro como geralmente ficavam. Ela os fitou, curiosa sobre o que conversavam.
- Anda, menina - Idina chamou.
Ela concordou e começaram a descer a colina onde ficava o templo juntas. Mesmo com sua sandália o terreno era arenoso por cima das rochas, o que dificultava a descida. Idina estava acostumada com o percurso, sendo uma serva quase tão antiga quanto Rhaena, o fazendo com tanta tranquilidade que mal parecia estar descendo Montanhalta. Buscando evitar ser chamada de novo, a serva acelerou os passos para acompanhar a outra, preferindo pisar sempre nas pedras que improvisavam degraus. Abaixo de todos eles estava a primeira parte da cidade, mas no percurso uma pequena comitiva de soldados reais percorria o mesmo caminho no sentido contrário delas.
Três estavam na frente e mais três atrás, escoltando no meio deles uma jovem e bela mulher de cabelos mel e um homem adulto que tinha seu rosto coberto por uma máscara de madeira pintada de preto que cobria todo seu rosto, exceto as duas enormes orbes que eram seus olhos castanhos. Idina agarrou o braço da menina, puxando-a para fora dos degraus para abrir espaço para a comitiva passar sem ser interrompida. Ela quase tropeçou o chão, mas recuperou o equilíbrio a tempo de ver o homem mascarado olhar fixamente para ela.
- A benção da Mensageira - a mulher jovem desejou por um breve momento enquanto passava por elas.
- Que a luz ilumine o seu caminho, lady Magrace - Idina respondeu imediatamente, curvando o tronco em respeito perante ela.
Sem saber como reagir ou quem era a lady que estava na sua frente, Myrella repetiu a atitude da outra serva, desviando os olhos dos enigmáticos do homem que nada disse. Eles passaram por elas indo em direção ao templo e foi só quando já estavam longe o suficiente para não ouvirem que a menina disse.
- Quem são?
- Eu me esqueço que você veio do cume - Idina lamentou, colocando sua mão no ombro da mais nova. - Ela é a lady Omira, filha da profetisa. Fazia tempo que ela não visitava o templo pessoalmente. Que a luz guie seu caminho.
- Que a luz guie seu caminho - Myrella repetiu. - E o homem mascarado?
- Maege Baltazar - ela respondeu conforme voltava descer os degraus. - Um homem de muita sabedoria. Dizem que aconselha o Rei pessoalmente com seu conhecimento sobre as mais antigas histórias do mundo que adquiriu dos livros.
- Eu nunca vi um livro.
- Eu também não. De que adiantaria? Quase nenhum de nós sabe ler - Idina deu de ombros. - Mas vamos logo, o banho não pode atrasar.
O caminho se seguiu, declinado e turvo, cercado por paredes de rochas partidas pelos homens e montanhas inconstantes desenhadas pelos deuses. Depois da última curva a vista do terceiro pico ficou clara para elas. Continuava tão grandiosa quanto havia sido na primeira vez que havia visto aquela região, quando chegou no templo. Ela já podia ouvir os ecos de pessoas e seus barulhos por entre as rochas. Continuou seguindo Idina mesmo depois de terem passado pelo grande arco feito de tijolo de barro que sinalizava a entrada daquela parte da cidade.
A cidade era viva ali em cima, diferente do cume. Sendo a sua primeira vez deixando o Templo Laranja para ir até a cidade colher as flores para o banho da profetisa, Myrella sorria de animação. Andava, absorta pelo cenário, admirada com as enormes casas que mais pareciam pequenos castelos, feitas de pedra e paredes de tijolos de tantas cores diferentes. Pertenciam à lordes de Montanhalta, todas protegidas por seus soldados. Sabia que aqueles que moravam ali faziam parte da corte real e eram lordes, como tantos outros que viviam em seus próprios castelos espalhados pelo reino, mas não sabia seus nomes, símbolos ou lemas.
O Templo Vermelho ficava na entrada do terceiro pico construído em cima de um pequeno cume próximo ao fim da região plana, ele se erguia dois metros do nível do chão.
Elas subiram a escadaria de rochas até a grande porta. Ela era muito mais agressiva que a do Templo Laranja, com placas de ferro fundido acopladas para maior segurança. Dois homens de armadura guardavam a entrada, mas o símbolo que representavam não era o do Rei, era o do Carniceiro, um capacete pintado de sangue, como o que os próprios homens usavam. Ele deixava apenas boca, nariz e olhos à mostra.
Idina se ajoelhou no último degrau antes da entrada, fechando os olhos em prece e respeito. A menina ainda pouco sabia sobre os modos, mas sempre soube que aos deuses devia respeito, por isso fez o mesmo. Quando fechou os olhos, entretanto, não pensou no Carniceiro, mas na Mensageira que era a sua própria patrona.
Quem respondeu foi um homem, não um deus.
- Bendito seja o Carniceiro que nos trouxe donzelas como o prometido! - disse um dos homens de guarda, o mais troncudo deles, de um olho bom, o outro perdido em uma cicatriz grotesca. - A de cabelos vermelhos é minha, a mais nova!
Findando seu contato com o divino para abrir os olhos, Myrella se deparou com o homem, daquele ângulo tão grande quanto o próprio templo. Sua cara era amarga, a boca escondida por uma espessa barba negra e um dos olho faltando, uma cicatriz grotesca no lugar. Horrorizada, a menina se levantou apressada.
- Ela veste laranja, imbecil - o outro interveio, colocando o braço em seu caminho. - Eu sinto muito por isso, senhorita.
- Quem vocês andam aceitando aqui? - Idina perguntou furiosa. Ela se aproximou da mais nova. - Seu capacete pode proteger sua cabeça agora, mas se não usar ela direito, vai acabar perdendo.
- Ser um servo vermelho é para a toda a vida, como ser uma laranja - o soldado mais educado continuou, empurrando o outro para trás que se retirou em um resmungo. - Têm sido difícil encontrar esses voluntários. O Rei nos manda alguns homens para darmos à eles uma função no reino. Nós os treinamos e ensinamos.
- Ótimo, reabilitação de bandidos no templo - a mulher se indignou. - Então trate de dar para aquele umas boas lições!
- Ele aprenderá com seu erro, senhorita - o homem respondeu com firmeza. - O trabalho do Carniceiro é árduo e constante. Quanto mais ferramentas ele tiver, melhor vai trabalhar. Nossos serviços têm sido necessários em todo o reino e cada dia mais.
- Eu suponho que sim - Idina simplesmente ignorou impacientemente. - Viemos aqui para colher os lírios para o banho da profetisa e não podemos perder tempo.
- Que a luz guie seu caminho - ele respondeu de imediato. - Faça alguma coisa de útil e abra a porta, seu traste.
Rapidamente o servo vermelho de um olho só foi até a grande porta do templo e empurrou-a para dentro. Ela se abriu no meio, as duas partes de madeira rangendo conforme eram empurradas. Myrella hesitou em passar na frente dos dois homens e entrar no lugar, mas Idina tomou a iniciativa.
Quando os soldados puxaram a porta do lado de fora o som delas fechando ecoou por todo o corredor e a escuridão tomou conta da vista. Diferente do Templo Laranja, ali não havia nenhuma vela iluminando o caminho até o grande salão, mas Myrella conseguia enxergar uma claridade vinda de lá. O lugar era seco e empesteado de um forte cheiro de fumaça. A menina ainda receava, mas Idina a obrigou a andar quando foi na frente, dando uma pequena olhada para trás antes, nervosa com a possibilidade dos dois homens entrarem também.
Chegando no grande salão, Myrella percebeu que o teto não era aberto e viu a imagem do Carniceiro. A estátua de pedra era imensa, larga como uma árvore, esculpida com uma perfeição inusitada. A armadura que o homem vestia era completa, com ombreiras redondas, mas o capacete se destacava, cintilando em vermelho sangue, feito de rubi cristalino, mas ainda assim tão escuro que o rosto do deus era uma incógnita de sombras e reflexos. De seus pés vinha a luz, uma grande lareira que defumava o templo. Da claridade gerada pelo fogo destacavam-se armaduras empilhadas com espadas, lanças e tantos outros espólios de guerra dados como oferenda.
Manuseando agachado a lareira estava um homem com uma longa toga vermelho sangue. Sua cabeça, desprovida de cabelo, também refletia na luz, sua palidez destacada ainda mais. Ele percebeu a chegada das duas e se levantou, ajeitando as roupas para se aproximar em passos lentos.
- Sacerdote - a mais velha disse, abaixando a cabeça em respeito.
- Sacerdote - Myrella repetiu.
- Vieram colher os lírios de sangue, eu imagino.
- Para o banho - concordou Idina, permanecendo com o corpo em reverência por mais tempo do que a mais nova manteve. - Mas também estou aqui por outro motivo. Quero pedir a benção do Carniceiro para o meu irmão.
- Onde ele está? - o sacerdote perguntou.
- Partiu para o Reino do Meio - respondeu a mulher. - É um soldado.
- Um homem em campo de batalha - concordou enquanto se afastava da estátua, indicando com a mão estendida que ela se aproximasse. Ele baixou seus olhos em condolência - Faça sua oferenda.
Idina foi até a frente do deus de pedra e sua lareira. As chamas crepitavam lá dentro, iluminando o rosto da serva com lufadas de calor intensas. Ela se ajoelhou ali como já havia feito muitas vezes antes e ficou em silêncio. Na escuridão o tempo passava diferente e o pequeno instante se tornou uma eternidade. Quando terminou, ela se levantou, tirou do bolso de sua túnica um cordão de bronze trabalho e colocou-o sob os pés do deus.
- O que é? - ele perguntou, curioso.
Myrella também ficou. Servas não podiam se enfeitar ou ter bens.
- Foi da minha mãe, que dorme no colo da Matriarca - respondeu. - A última lembrança que tenho da minha família para salvar a única família que me resta.
- A guerra é a escolha daqueles que realizam os desejos do Carniceiro - disse o sacerdote, sua voz imponente e forte. - Seu irmão é um homem de coragem e assim será recebido por todos, homens ou deuses.
- A batalha fará o seu destino - ela disse, sensibilizada.
- Como o de todos os homens - com a mesma mão que outrora havia indicado a estátua, o sacerdote apontou para o corredor atrás dela. - Devem seguir sua tarefa agora. Receberei uma visita importante hoje.
- Sim, sacerdote - imediatamente a serva concordou com uma reverência.
Myrella fez o mesmo, como de costume. Elas seguiram contornando a estátua e as tantas outras coisas espalhadas pelo salão. A arquitetura era praticamente a mesma do Templo Laranja, portanto não havia dúvidas de que aquele corredor era o que as levaria para o fundo. Conforme os passos se sucediam, a escuridão voltava a ficar absoluta, mas com a amiga na frente, a menina não teve problemas em chegar no fim.
Quando a porta foi aberta, a claridade inundou sua vista, obrigando-a a colocar a mão na frente do rosto para proteger os olhos. Aos poucos ela se adaptou com a luminosidade, abaixando as mãos para ver o imenso jardim de lírios de sangue, uma bela espécie de flor de pétalas rubras. Já havia visto as flores do banho da profetisa antes, mas nunca o jardim. Eram muitas em um longo campo arenoso com terra lamacenta. Nasciam de forma aleatória e dispersa, mas transformavam o chão em um grande mar vermelho e verde que acabava em paredes montanhosas.
- Cuidado onde pisa - Idina alertou, indo na frente e entrando entre as folhas e flores, tomando cuidado para não esmagá-las com os pés. - É lindo, não é?
- É sim - a menina disse, seguindo a outra.
- Mas os lírios escondem uma terrível história - continuou, dando nuances na voz, olhando para a mais nova de esguelha para ver suas reações. - De muitos e muitos anos atrás, quando os deuses pisavam no mesmo chão que os homens.
- Os primórdios.
- Nessa época, alguns pararam de seguir os deuses. Homens guerreavam pelo simples prazer, em caos, e davam risadas daqueles que seguiam o Carniceiro em sua batalha pela glória. Viveram aqui, nesta terra onde pisamos, duvidando do poder dos deuses - contava com amargor. - Então ele veio para puni-los. Os destruiu por completo, mas deixou que escorresse o sangue profano daqueles homens nesta terra para lembrar a todos os que viriam depois daquele dia - ela parou de repente, retirando do bolso duas fitas de tecido. - A terra arenosa ficou fértil e os lírios de sangue nasceram. São únicos em todo o continente. Pegue isso - e entregou para a menina uma delas. - Amarre com isso os ramos que colher.
A história a deixou boquiaberta. Tratou de pegar a fita logo, mas permaneceu mais tempo do que a companheira contemplando as flores vermelhas antes de começar a colhê-las. Pegou a primeira delas, receosa com a descoberta, e as pétalas eram de cor tão intensa que pareciam mesmo feitas de sangue agora.
- Por que os homens gostam tanto de sangue? - perguntou de repente, a voz baixa.
- Todo homem é um instrumento da morte - explicou com a voz calma e serena enquanto colhia. - Como as mulheres são da vida. Você é muito nova ainda, menina, mas um dia vai entender a balança.
Ela ouviu as palavras sábias da outra, mas pela primeira vez não concordou.
- Homens são mais do que morte. Eles são cruéis.
Ela se lembrou de quando ainda vivia no cume, com sua mãe e o irmão dela, que representava para ela um pai. Mesmo sendo uma vida difícil, tinha sua família e era feliz, até o dia em que seu próprio tio a desonrou quando se tornou madura. Myrella tinha decidido esquecer daquele passado, mas era difícil apagar de sua memórias os terríveis momentos que se lembrava com todos os detalhes.
- O mundo é cruel, mas é o nosso mundo - Idina disse. - Não há mais o que temer, está segura com a Mensageira. Em suas chamas você sempre verá a verdadeira justiça.
Era verdade que aquele terrível homem havia sido executado e que ela agora era uma serva laranja. As palavras de Idina confortaram o coração de Myrella, fazendo-a voltar a tarefa e colher tantos lírios quanto pôde, só parando quando a outra também o fez. Juntando os ramos no chão e apertando-os, passou a fita dada nos caules e deu um nó. Trabalho feito, as duas voltaram pelo mesmo caminho que fizeram, percorrendo o jardim até alcançarem a porta do templo. No grande salão, a lareira continuava a crepitar, mas o sacerdote não estava mais lá. Deveria estar conversando com sua visita, mas o templo estava em um silêncio tão profundo que a garota duvidava que estivessem ali dentro.
Idina deu uma batida na porta de madeira e se afastou dela para que os servos vermelhos pudessem abri-la. Quando saíram do templo, passaram direto pelos homens de guarda, ignorando-os, mas Myrella não conseguiu evitar sua vontade de olhar para trás quando ainda estava nos primeiros degraus para procurar pelo soldado de um olho só, mas não o achou entre os dois que estavam ali.
As servas seguiram seu caminho, passando pelas casas nobres como fizeram antes. Quando passavam pela última delas seu grande portão foi içado para cima, permitindo a saída de um homem de cabelos grisalhos mas braços largos. Estava sujo de trabalho, suas roupas desgastadas pela rotina e tinha a expressão exausta, mas seu rosto se iluminou quando viu as duas vestidas de laranja.
- Senhoritas! - ele exclamou e foi na direção delas.
Pega de surpresa, Myrella se afastou, indo parar atrás da mais velha. Idina pigarreou, mas sorriu para o homem com cordialidade.
- A benção da Mensageira para um simples ferreiro do primeiro pico - ele pediu encarecidamente, colocando as mãos sobre o peito e abaixando o tronco em respeito, revelando cabelos ralos e imundos de ferrugem.
- Que a luz guie seu caminho - Idina abençoou.
- Que a luz guie seu caminho - ele repetiu, depois voltando sua postura. - Obrigado, obrigado - disse, enquanto se retirava lentamente no sentido do Templo Vermelho.
A mais velha buscou Myrella atrás de si mesma, tateando até alcançar a pequenina mão dela com a sua, segurando-a com carinho.
- Logo estaremos em casa - garantiu.
Quando passaram novamente o arco do pico no caminho de volta, chegaram ao caminho tênue de areia. Subir era ainda mais difícil do que descer. O chão repleto de areia e pedregulhos escorregava ainda mais e alcançar os degraus de pedra exigia força. Mesmo no outono, o sol já alcançava altura no céu, estando tão forte naquela hora que as fazia suar de cansaço. Myrella fez menção de parar para descansar algumas vezes, mas Idina era impaciente para isso, mantendo seus passos sempre contínuos.
Foi um árduo caminho, mas quando acabou, a vista do templo iluminado pelo sol encantou os olhos das servas. Uma grande e alta estrutura em formato de domo, suas paredes possuíam desenhos e símbolos, histórias contadas por profetisas de outras épocas gravadas pelas mãos de artistas. Os raios solares projetavam sombras neles, pintando outros pontos com um amarelo vivo, fazendo os desenhos se mexerem pelos reflexos. Eram anos de história sendo contada pelo tempo e pelas mulheres escolhidas pela deusa. Alguns dos desenhos, entretanto, escondiam-se atrás das heras que se enraizavam no chão mas que subiam pelas paredes redondas na direção da luz do sol.
Aquele era o lar de uma deusa e de sua representante entre os homens, mas também de suas fiéis servas. Estar ali de novo era um alívio para a menina que, assim que vislumbrou o templo, acelerou os passos para chegar mais rápido. Estava ansiosa por entregar os lírios de sangue para o banho da profetisa e seguir seu dia, talvez limpar o grande salão com sua amiga Jamasi e rezar pelo irmão de Idina para a estátua da deusa laranja.
Na porta, os soldados do reino a abriram rapidamente.
- Bem-vindas, senhoritas - disse o que conversava com Idina mais cedo.
Naquela altura de idas e vindas, a mudança abrupta de luz já não era mais desagradável como era antes. Ali, Myrella se sentia em casa e conhecia o caminho, então andou apressada e ultrapassou Idina. Quando chegou no grande salão, com a outra atrás de si, Rhaena estava lá. Ela terminava de limpar uma mesa que havia sido colocada ali, segurando na mão direita uma bandeja de prata redonda com laranjas e tantas outras frutas cortadas, enquanto que com a esquerda pegava os outros restos do café-da-manhã da profetisa. Vendo a chegada das duas, ela terminou de recolher o que estava na mesa e foi até as elas.
- Como foi, Idina? - perguntou.
- Trouxemos o suficiente - respondeu, mostrando o ramo para a outra.
- Ótimo - a mais velha de todas elas concordou, estendendo a bandeja para Idina que a pegou imediatamente. - Leve até a cozinha, as demais já estão lá. Vamos começar a próxima refeição logo porque hoje temos convidados especiais.
- Lady Omira e o maege - Myrella disse por impulso, se lembrando de tê-los visto quando elas saíram para pegar as flores.
Rhaena sorriu para a menina, estendendo as mão em um pedido pelos lírios de sangue. Ambas entregaram seus buquês.
- O conselheiro do Rei e a filha da profetisa - respondeu, polida, como se corrigisse a garota. - Cozinharemos para os três hoje um banquete. Já instrui as outras meninas a escolherem o que temos de melhor na dispensa.
- Faremos isso - Idina disse com respeito.
- Enquanto isso irei preparar o banho da profetisa.
Myrella abaixou a cabeça para Rhaena enquanto esta se retirava em direção a um dos corredores com porta onde ela ainda não havia entrado. Era ali que ficava o quarto privado da profetisa e também seu cômodo para o banho. Se perguntava quando poderia entrar lá, desbravar seus mistérios e sanar sua curiosidade, mas enquanto isso era pela porta oposta que ela entrava, a que a levaria para o corredor de serviços.
Extenso e mais bem iluminado, o corredor era repleto de portas do lado direito. Cada uma delas levava para o quarto de uma das servas. Eram doze no total, mas apenas oito tinham moradoras. Seu quarto era o oitavo, o último ocupado. Passaram por todos eles até chegarem no fim do corredor, na única porta a esquerda, que dava para a cozinha. Mesmo do lado de fora a garota já conseguia ouvir as louças e talheres, quando Idina abriu a porta o barulho inundou o corredor.
- Que baderna é essa? - Idina perguntou, brava.
- Temos convidados hoje! - das quatro servas ali, uma de longos cabelos loiros e rosto tão jovial quanto o de Myrella se destacou. - Já ia fazer um ano que a lady Omira não nos visitava -ela estava visivelmente animada, segurando meia dúzia de pratos de porcelana.
- Ela está visitando a mãe, não nós - Idina corrigiu. - Agora calem essas matracas e trabalhem - ela disse enquanto ia em passos largos até a grande mesa central da cozinha, onde se espalhavam inúmeros utensílios e colocou a bandeja. As meninas pareciam arrependidas por terem quebrado o silêncio do templo. - Não entenderam ainda? Serviremos três hoje, vamos! Myrella, pegue batatas na dispensa, e vocês quatro lavem tudo o que vamos usar, especialmente os pratos que estão guardados a muito tempo.
- Sim - respondeu Myrella de prontidão.
Contornando a grande mesa, a menina passou por todas as outras servas e foi até a dispensa, nos fundos da cozinha. Atolada de prateleiras e sacos, o estoque era bem grande, mas conhecendo os caminhos e os ingredientes que precisava, a menina achou depressa o saco de batatas. Precisaria de muitas delas, sabia, mas suas mãos eram pequenas demais para pegar mais do que duas em cada. Mesmo assim, tentou pegar mais, mas elas caíram no chão pelos seus dedos. A cena despertou o riso da serva loira que chegava na dispensa no mesmo momento.
- Esqueceu disso - disse, estendendo uma cesta de palha.
Com o rosto corado de vergonha ela colocou as batatas que tinha nas mãos na cesta e pegou-a para si.
- Obrigada, Jamasi.
Ela era tão jovem quanto Myrella, seu rosto delicado e infantil, mas pelo que se sabia morava no templo desde que era apenas um bebê. De todas as servas laranjas, Jamasi era com quem a menina mais tinha intimidade. Suas idades eram próximas, ambas ainda jovens e com seus quatorze anos a outra era só um ano mais velha que Myrella. Ela tinha os olhos azuis arregalados de excitação.
- Vamos cozinhar cordeiro com cogumelos e batata no vinho de amora. Aproveitei para vir pegar a garrafa - explicou, passando pelo sacos de vegetais procurando nas prateleiras a bebida. - Onde está… ?
- No final - respondeu enquanto continuava pegando as batatas.
- Exatamente aqui! - a outra respondeu quando achou. Ela voltou até a mais nova satisfeita. - Então me diz, como foi no Templo Vermelho? - perguntou, curiosa.
- Nossa casa é mais bonita - respondeu, sem dar muita atenção. - Mas o jardim de taças de sangue é lindo.
- Quem sabe não vamos juntas amanhã?
- A ideia é ótima - concordou, sorrindo com a possibilidade.
- Combinado.
Juntas e felizes com o que tinham marcado para a manhã seguinte elas voltaram para a cozinha com os ingredientes, colocando-os sob a imensa bancada. Enquanto as outras três lavavam pratos e talheres insistentemente, Idina cortava algumas cebolas na grande mesa, separando-as em pétalas, cubos e pedaços grandes. Pincelava mel nelas com cuidado excessivo, separando-as uma por uma até estarem totalmente meladas para a caramelização. O prato era um clássico adorado pela profetisa.
Rhaena estava lá também, observando o processo com olhos atentos e analíticos. Assim como era materna e carinhosa, era dedicada a sua condição como uma serva da deusa laranja. Sempre ao lado da profetisa, ela exercia seu trabalho com afinco e buscando sempre a perfeição. Era uma mulher rígida em suas crenças e em seu amor pela profetisa, por quem nutria um grande laço declarado de gratidão e companheirismo. Myrella não sabia dizer quantos anos Rhaena tinha, mas aquela era a segunda profetisa que ela servia, tendo estado ao lado também da antecessora.
Ela viu Myrella e chamou-a com a mão. Jamasi pegou as batatas da amiga, livrando-a do peso, e ela foi até a mais velha delas.
- Queria te pedir um favor pessoal - disse a mulher.
- Claro, senhora - a menina respondeu.
- O banho está pronto, mas preciso supervisionar e ajudar aqui na cozinha devido aos nossos convidados inesperados - explicou. - Imaginei se não gostaria de acompanhar a profetisa hoje.
O pedido surpreendeu a menina. Finalmente estar a sós com a grande profetisa era um anseio realizado. Nunca tinha conversado com ela, embora tivesse estado em sua presença inúmeras vezes. Ainda assim, devido a sua condição, não poderia ter certeza que tinha sido notada. Auxiliá-la no banho era quase sempre uma responsabilidade de Rhaena, então ela sentiu o peso daquela tarefa. Aceitou de prontidão.
- Seria uma honra!
- Então se apresse antes que a água da banheira esfrie - deu um pequeno tapa no ombro da menina, apressando-a. - Sabe que porta entrar. Ela deva estar no quarto, no fim do corredor. A banheira fica na porta ao lado. Tudo o que precisa estará lá.
Sabia muito bem. Já havia passado uma tarde toda no grande salão, sentada perto da estátua da deusa, olhando para a porta sempre fechada e imaginando o que encontraria atrás dela. Poucas vezes as servas entravam ali, geralmente só Rhaena tinha a permissão e os segredos dos tantos cômodos do corredor pessoal da profetisa residiam em sua boca selada. Jamasi uma vez lhe disse que havia um quarto com várias plantas penduradas no teto que não podiam receber luz solar e que precisavam ser regadas só uma vez a cada trinta nasceres do sol. Necessitavam de um cuidado muito grande porque as folhas eram usadas pela profetisa para tentar entrar em comunhão com a deusa.
Animada com aquela nova oportunidade, se retirou da cozinha, passando sem parar nem mesmo para contar os quartos, uma coisa que geralmente fazia por hábito. Os passos foram apressados, mas diminuíram quando estava na frente da estátua da Mensageira. A menina ajeitou a túnica laranja e abaixou o tronco, reverenciando a imagem, sentindo que precisava agradecer pela nova vida que tinha recebido. Ela lembrou da mãe com saudades, a única coisa boa que restava do passado, mas substituiu a imagem maternal que faltava por Rhaena, pela profetisa e pela deusa. Também aflita, pediu por calma, respirando fundo enquanto olhava para o céu azul revelado pelo domo furado.
Ela cruzou o salão e abriu a porta, entrando no corredor. Ele era como todos os outros, extenso e iluminado pelas velas nas paredes, mas entre cada vela um grande estandarte feito de tecido preto estava pregado, no centro dele bordadas duas asas na cor laranja. No cume não haviam sobrenomes, por isso Myrella nunca havia parado para pensar na família da profetisa antes. Eles eram os Magrace, soube mais cedo por Idina, então aquele haveria de ser o símbolo que eles colocavam em suas cartas e bandeiras.
Saber a qual casa a profetisa pertencia não era mais interessante do que as portas que a menina encontrou no corredor. A primeira estava fechada e ela não teve coragem de abrir, assim como a segunda, a terceira, até a sétima delas. Era surpreendente como o número sete sempre se repetia nas coisas, mas ela sabia que aquele era o número dos deuses. Após aqueles cômodos inalcançáveis, onde um deles deveria ser o das plantas de Idina, ela chegou no final do corredor, onde havia o quarto da profetisa que estava fechado e o banheiro que estava aberto.
Entrando no cômodo aberto, ela viu a banheira cheia, o vapor da água quente que a preenchia perfumando e nublando o ar. Era um móvel estonteante, percebeu a menina, uma enorme bacia de porcelana branca com longas barras de ouro em suas laterais e em sua pequena escada de concreto, como corrimões. Para ajudar a profetisa, percebeu Myrella, e encantou-se com a maravilhosa sensação que deveria ser tomar aquele banho. Sentindo o ar morno preencher seu corpo, tratou de se apressar em fechar a porta para evitar que a temperatura caísse para que o banho fosse perfeito.
Diante da porta do quarto pessoal da profetisa a menina se sentiu ansiosa. Engolindo em seco, encostou os dedos na madeira crua, hesitante, mas empurrou a porta em seguida e com cuidado o suficiente para abrir uma pequena fresta tímida. Bisbilhotou por lá, mas sem sucesso, então continuou abrindo para que conseguisse espreitar o corpo para dentro.
Logo ao lado da porta dois turíbulos pendurados do teto exalavam uma densa fumaça cinza de forte odor. A menina franziu o nariz, perdendo-se na fumaça momentaneamente, mas segurou o fôlego para não tossir dentro do quarto. Nunca havia sentido aquele cheiro antes, era pesado e impregnava dentro nas narinas, mas quando passou pela área quadrada dos incensários e entrou efetivamente no quarto, se deparou com um imenso cômodo, maior do que o próprio grande salão, e pelo que via os ambientes eram divididos por estantes e cortinas. Não haviam janelas, mas velas estavam por todos os cantos, nas paredes, em candelabros e até mesmo no teto, de onde descia um grande lustre. Além dos divãs e sofás, ao centro do quarto, uma grande área circular era coberta por uma pesada cortina alaranjada.
Tentou ser o mais silenciosa possível, procurando a profetisa com os olhos ansiosos. Ela não parecia estar em nenhum lugar próximo, por isso a menina continuou, passando pelo imenso tapete de pelos que cobria a parte de entrada do quarto. Era em forma de funil, estreitando-se pelo amontoado de estantes que saiam da parede para fechar no meio do cômodo. O curioso era que as estantes não tinham livros, o que era de se esperar, mas objetivos de uma variedade tão grande que Myrella mal conseguia distinguir o que eram. Viu pedras de diversas cores e formatos, plantas e ervas com flores que ela nunca tinha visto na vida e ferramentas metálicas. Dentre tudo o que viu, o que mais a deixou perplexa foi um jarro de vidro com uma imensa cobra mergulhada em vinagre. Seu corpo estava enrolado em espiral, cumprido e gordo, sua cabeça fora do líquido e seus olhos ressecados pela morte.
Sentiu calafrios e se afastou da coleção de objetos estranhos para ir até a área coberta pela cortina. Não havia visto a cama ainda, então considerou que ela estaria escondida ali para dar mais privacidade ainda no sono da profetisa. Lentamente ela se aproximou, tentando evitar fazer barulho. Se estivesse dormindo, não sabia como a acordaria.
- Senhora? - ela sussurrou delicadamente, chamando. Sua voz estava trêmula pelo nervosismo.
Entretanto, tudo continuou em silêncio. Ninguém respondeu do outro lado.
- Sou a serva Myrella - insistiu, aumentando a voz. Ela esperou mais um pouco. - Rhaena me pediu que eu a ajudasse no seu banho matinal.
A cortina branca continuava muda. Se demorasse demais o banho esfriaria, então mesmo com medo de receber alguma bronca pela audácia, a menina pegou a cortina com a mão e empurrou-a com cuidado para o lado, decidida em tentar acordar a profetisa da melhor maneira possível. Abriu uma pequena fresta, apenas o suficiente para conseguir vislumbrar a mulher deitada na cama que deveria ter o triplo do tamanho da dela a um passo da cortina.
A confusão tomou conta da sua vista quando conseguiu ver bem o corpo da profetisa. Ela estava deitada de bruço e bem no canto da cama, trajando sua linda túnica bordada e com a tiara em sua cabeça, mas seus cabelos pareciam em desordem. Ela não se mexeu, então Myrella abriu melhor a cortina, conseguindo ver que sua mão esquerda para fora da cama e jogada no ar. Ela parecia segurar um dos lírios do Templo Vermelho primeiro, mas depois a garota percebeu que sua mão estava encharcada e rubra, gotas de seu sangue pingando pelos dedos até o chão de madeira que já se tingia a um tempo ali embaixo.
Myrella abriu a boca e tentou repetir o chamado, mas sua voz falhou antes que conseguisse, terminando em um ruído de medo.
Com força ela abriu toda cortina, indo até a cama e o corpo da profetisa. Sem pensar duas vezes a menina virou o corpo inerte da mulher na cama, revelando uma faca cravada em sua barriga até o cabo. Sua linda túnica laranja estava manchada de vermelho na região, o tecido ensopado e viscoso de sangue. Ela tinha a boca aberta em pedido de ajuda, o rosto de idade marcado por dor e os olhos brancos e leitosos estavam arregalados pela visão tenebrosa que teria tido de seu assassino cruel em seus últimos instantes de vida.
Assustada a serva se afastou do corpo com um grito estridente de horror que ecoou pelo quarto e corredor, quebrando o silêncio do templo. Começou a suar frio, o desespero tomando conta do seu corpo. Ver o corpo morto da profetisa, uma mulher que tanto a inspirou, era horrível demais. Em estado de choque, deu as costas para a cama e saiu correndo do quarto, tropeçando em um divã no caminho.
- Socorro! - ela gritou. - A profetisa! Socorro! Pelos sete deuses… alguém ajude!
Clamou enquanto seus olhos jorravam lágrimas de dor e tristeza. Ela sabia que não havia ajuda capaz de salvar a profetisa a não ser um milagre, mas os passos no corredor indicavam que as outras pessoas no templo ouviram o chamado. Ela viu quando Omira Magrace apareceu. Seus olhos estavam aflitos quando Myrella os viu, mas a filha da profetisa olhava para as mãos da serva, sujas de sangue de quando virou o corpo na cama. Catatônica ainda e enojada com sua própria mão, a menina simplesmente chorou. Com a cortina aberta, o corpo esfaqueado da profetisa ficou visível para a filha.
- Mãe! - ela exclamou antes de correr até a cama.
O maege Baltazar chegou depois, acompanhado de Rhaena. O homem continuava escondendo suas emoções na máscara, mas seus olhos contavam um julgamento em cima da serva. Ele foi ao encontro de Omira e do corpo sem dizer uma palavra, mas Rhaena estava paralisada perto da porta, os olhos vermelhos pela fumaça ou pelas lágrimas que começaram a despencar de seu rosto enquanto ela via a sua amada profetisa morta. Ela levou a mão enrugada até a boca, suprimindo os sons de tristeza do seu choro, e despencou sob os joelhos.
- Rhaena… - Myrella chamou entre soluços. - Rhaena… a profetisa… ela…
Mas a mulher sentia muita dor para responder. Ela fechou os olhos, em lamento, e começou a sussurrar preces rápidas e inaudíveis.
Da cama o choro da filha era uma orquestra. Ela gritava e soluçava, seu rosto desfigurado pela tristeza da perda inusitada da mãe. Naquela orquestra fúnebre, o cheiro do incenso parecia ser cheiro de morte agora.
- Garota! - a voz do maege ecoou pelo quarto, firme e decidida. Ele apontou para Myrella, seu dedo acusador e vergonhoso. - O que você fez?
Sem entender, ela negou com a cabeça, completamente desamparada.
- Eu não fiz nada! - desabou em soluçar, tremendo dos pés a cabeça. - Quando cheguei, ela estava morta assim.
- Mentirosa! - o maege gritou por cima da voz dela, indo em sua direção. Ele pegou o miúdo braço da serva e ergueu-a do chão com brutalidade e facilidade. - Assassina! Impura!
- Eu juro! Eu juro pelos deuses que não fiz nada.
- A Mensageira chora pelo crime que cometeu! Sua escolhida morta a sangue frio por sua própria serva - ele dizia com desgosto nas palavras que saiam de sua boca. Ele se virou para Rhaena que ainda estava sem reação no chão do quarto. - Vá chamar os soldados, mulher, agora! Esta garota deve ser levada imediatamente à justiça.
Demorando para entender que estava sendo chamada, Rhaena olhou para a menina mais nova, a pequena serva que trouxera para o templo poucos dias atrás. Seu rosto estava inchado pelo choro.
- Por favor… Rhaena… eu não fiz isso… - Myrella implorou para a mais velha.
Quando seus olhos se cruzaram, os da outra serva eram duros de luto. Ela se levantou em silêncio com suas bochechas marcadas pelas lágrimas e saiu correndo pelo corredor para buscar os soldados conforme o maege havia pedido.
Ele continuava segurando o pulso da menina com força, seus olhos naquela máscara tenebrosa fitando-a com intensidade e ódio. Tentou se desvincular dele, forçando o braço, e conseguiu sair do aperto. Gritaram atrás de si, mas não conseguia entender na adrenalina que sentia, então só correu assustada pela porta do quarto, passando pela fumaça e depois pelas sete portas do corredor. Encontrou no grande salão todas as outras servas, preocupadas e curiosas com a chegada dos dois soldados de guarda. Eles nunca podiam entrar no templo, muito menos armados, mas empunhavam suas espadas nas mãos.
Quando viram Myrella eles bloquearam o caminho, ambos indo na direção da menina. Não tendo como escapar, ela se entregou exausta quando o soldado que conhecera mais cedo a pegou, prendendo seus braços com força para trás.
- Por favor… por favor… - ela continuava a pedir.
- Parem a serva! - a ordem do maege Baltazar ecoou por todo o templo.
Ele vinha pelo corredor logo depois. Quando apareceu no salão os dois soldados se ajeitaram, recobrando a postura. O soldado que não tinha Myrella em mãos guardou a espada, mas o que a segurava ainda estava alerta. Ele mostrou a menina para o maege.
- Capturamos ela, senhor - o soldado disse. - O que devemos fazer agora?
- Levem para o castelo e a prendam no calabouço - o homem ordenou. - Falarei com o Rei pessoalmente sobre a execução desta assassina, o seu crime é imperdoável aos deuses - sentenciou.
- Sim, senhor! - o soldado respondeu.
Sem forças para lutar mais e afogada em suas próprias lágrimas, a garota foi puxada para fora do Templo Laranja sem falar nada, mas chorava sem parar. Ela viu o rosto de Jamasi pálido e terror, confusa e imóvel, assim como Idina e as outras meninas. A única que não olhava para ela era Rhaena, afundada em sua perda, olhando para o chão com profundidade. Sabia que nunca mais veria sua casa de novo e queria rezar para a estátua da Mensageira uma última vez, mas só conseguia olhar para os terríveis e famintos olhos que aquele homem mostrava atrás da sua máscara de madeira.
Depois que levada para fora do templo, já não demonstrava nenhuma força para tentar resistir. Foi carregada pelos homens, cada um segurando um de seus braços. No caminho o sol do dia castigou seu rosto sensível pela salgaria, e quando olhou para ele viu o fim da montanha, onde o castelo de Montanhalta subia do chão e alcançava o céu claro. Ela lembrou que sonhara um dia em ser uma princesa, viver em uma daquelas grandes fortalezas, mas sabia que aquilo era um só pesadelo de uma menina boba que logo teria um fim.
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CESTA DE QUEIJOS E VINHO MINI BAU COM FLORES - 01 Vinho tinto Chileno Reservado Cocha y Toro 750 ml - 01 Arranjo de Rosas pequeno com 4 botões * Cores podem variar conforme disponibilidade* - 03 tipos de queijos * Provolone, gorgonzola e brie. - 01 Taça - 01 Baú de palha decorado. Total de itens = 12 Confira nossas variedade de cestas de queijos e vinhos, cestas de cerveja, cestas de café da manhã, cestas de chocolate para o dia das mães. #cestas #cestadecafedamannha #cestasdecerveja #cestasdequeijosevinho #cestasdiadasmaes #cestasdechocolate Entrega de cestas de queijos e vinhos dia das mães (11)2361-5884 (11)96938-0796 whatsapp (em Kind Flores e Cestas- Cestas em São Paulo/SP) https://www.instagram.com/p/B_c2B2Mg1i7/?igshid=1p9ovpqk77m3z
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@unshapelygeorgia
Com os nós dos dedos William batera por três vezes seguidas na porta do quarto que dividia com Georgia com o intuito de dar a ela tempo, caso fosse seu desejo, de deixar claro se não quisesse companhia. Ao não receber nenhuma negativa o ex-corvino adentrara ao ambiente empurrando a porta devagar para não assustá-la – desde que descobriram a gravidez, William tornara-se excessivamente cuidadoso em não engatilhar sem querer a ansiedade da mais nova. Tudo para que ela tivesse, na medida do possível, o período gestacional mais tranquilo possível. Contudo, por mais que se esforçasse, certas coisas estavam completamente fora do seu controle, como o que parecia ter acontecido antes de sua chegada em casa. Pela bagunça que encontrara no andar de baixo, e pela breve explicação que Jude dera-lhe, supunha que a ex-sonserina não deveria estar no melhor dos humores - o que, levando em consideração que Jude usara suas chaves para entrar na casa, podia acabar sobrando para si. Suspirou. Esfregou os olhos cansados com as pontas dos dedos, e em seguida fechou a porta atrás de si antes de buscar pela figura de sua namorada. Os quatro meses de gravidez já deixavam suas marcas na aparência dela. Além da óbvia barriga proeminente, os seios pareciam ainda maiores (sua parte favorita), assim como o rosto parecia mais cheio. Saudável. - Halò. – disse, em gaélico escocês, à guisa de cumprimento, testando o terreno dos humores da mais nova. William encostou-se a porta atrás de si, dobrando um dos joelhos para apoiar a perna, ao mesmo tempo em que cruzava os braços – não em uma posição defensiva, mas avaliadora. - Aye! Quanto de risco de vida estou correndo no momento? – questionou, de maneira direta, mesmo tendo a consciência tranquila de quem não fizera nada de errado. - Foi mal. Mandei mensagem mais cedo para avisar que Jude passou na livraria para pegar minhas chaves, mas acho que você não viu. Em minha defesa, ele disse que queria descansar um pouco. Não fazia ideia de que ia rolar uma pegadinha. - apesar de conhecer o humor e extroversão de Jude, o ex-corvino estivera tão concentrado em dar conta do trabalho extra que sequer considerara a ideia do primo de sua namorada estar planejando qualquer traquinagem. E, pela maneira que ele se expressara ao conversarem no andar de baixo, ainda havia mais por vir. – Espero que você e Fallon não me incluam nos planos de vingança. – completou com um ligeiro humor pontuando seu timbre. – Èist, foi mal também por ter saído tão cedo. – naquele pedido havia muito mais senso de desculpas que no anterior justamente pelo ex-corvino sentir-se culpado por não tê-la esperado para o café da manhã, para parabenizá-la antes de qualquer outra pessoa. Embora fosse um domingo, e normalmente tivesse folga nesse dia, desde o mês anterior William vinha aceitando todas as horas extras possíveis - não que estivesse falido e desesperado por dinheiro, mas como tinham uma criança a caminho ele acreditava que o mínimo que podia fazer era se precaver com os gastos futuros. Além do mais, queria poder oferecer o máximo de conforto para Triggs e o bebê. – Não vou mentir e negar que não rolou uma vontade de acordá-la antes de sair, mas acredito que precisa aproveitar todas as horas de sono possíveis. Você parecia relaxada demais e certamente teria cortado minhas bolas por estragar seu momento. Me resta torcer para ter conseguido compensar com os troços que deixei à mesa. – e por troços se referia a cesta de café da manhã acompanhada de um cartão e chocolates que organizara na mesinha da cozinha – o mínimo que podia fazer, pensou, enquanto lançava uma piscadela marota para a mais nova. Embora soubesse com antecedência que não poderia passar a manhã com ela, o que era normal uma vez que aquele dia Georgia devotava a passar com Fallon, William não perdia qualquer oportunidade de demonstrar a ela o quanto era grato por sua existência. Linha de pensamento que levou um breve sorriso aos lábios do ex-corvino que tratou de desencostar-se da porta para se aproximar da mais nova. Ao parar em frente a ela, curvou-se para depositar um beijo suave em sua testa. Como virara sua mais recente mania, apoiou às duas mãos na barriga de Triggs, sentindo a protuberância que crescera consideravelmente no último mês - como vinha se informando a respeito, sabia que a criança começaria a chutar em algum momento das próximas semanas, e queria ser um dos primeiros a senti-la. Embora ainda não se sentisse preparado para a paternidade, ainda mais quando suas referências eram as piores possíveis, sua ligação com a criança já existia, mesmo que ainda não a compreendesse. William acariciou o ventre da namorada por um instante a mais, depositando mais um beijo em sua testa antes de direcionar-se até a cama para empoleirar-se a beirada da mesma. O ex-corvino levou uma das mãos aos cabelos, que para variar estavam compridos demais, esfregando as pontas dos dedos no couro cabeludo como sempre fazia quando possuía coisas demais em mente. Uma delas, que o incomodava especialmente naquele dia, era a culpa que vinha lhe consumindo os neurônios pela briga entre Georgia e Prudence. Não iria tocar no assunto a não ser que Triggs desse a entender que gostaria, mas sabia que naquele dia em especial ela sentiria ainda mais a falta da mãe. - Vem cá. - chamou, esticando uma das mãos para que ela segurasse. O contato de pele contra pele sempre o tranquilizava. Georgia era sua bendita âncora. - Aye. Tenho algo para você. - disse, arqueando uma das sobrancelhas, deixando um sorriso breve desenhar-se em seus lábios. - Wee man, duvido que consiga superar Fallon, e muito menos conseguirei presenteá-la da maneira que merece, mas não podia deixar a data passar em branco. - pontuou enquanto massageava o dorso da mão dela. Seu olhar, como de costume, estava preso ao da mais nova. - Èist, sei que os últimos meses tem sido um turbilhão insano, mas fico feliz em tê-la ao meu lado para dividir o melhor e o pior. - murmurou com o sotaque escocês um pouco mais carregado que o normal, transparecendo sua costumeira honestidade. William colocou a mão livre dentro do bolso do casaco e tirou de lá um saquinho de camurça onde guardara o presente de Triggs. - Aye, tinha uma ideia um pouco diferente do que te daria hoje, ahn, enfim... - voltou a arquear uma das sobrancelhas, liberando em seguida um sorriso um tanto nervoso. Fazia tempo que William não enxergava para si uma vida sem a presença de Triggs, o que instigava o desejo de oficializar a relação de uma maneira que, em outro momento de sua vida, jamais imaginara que consideraria com qualquer pessoa. Contudo, entendia que para além da sua vontade precisava estar de acordo com a dela, e, conhecendo sua namorada da maneira que o fazia, sabia que precisava ter cautela para não dar a ela a ideia errada. Com gentileza William depositou o saquinho sobre a palma da mão de Georgia, dentro havia um bracelete rosa claro decorado com luas, estrelas, e uma minúscula versão de Saturno, que o representava. Na parte interna do bracelete havia entalhada uma frase em gaélico escocês, a mesma que dissera a ela na primeira vez em que realmente dera voz ao que sentia. - Feliz aniversário, naoidhean!
#( ❝ ━ ✩ talk that talk: gilliam. )#{ ✰ w: naoidhean. }#✩ gilliam: conversations.#esse tchongo nunca me deixa começar uma interação com no máximo 500 palavras#perdão#imagem do presente meramente ilustrativa pois willy pobre demais pra cartier#kkkkkkkkkkkk
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Nesse dia das mães a cesta de café da manhã delicada, linda, fofa, deliciosa, orgânica e vegana foi da @qualoseuelixir! Impressionante o cuidado nos detalhes e no sabor de tudo que veio! Pra saber o que é cada coisa, visita o insta deles e prepare-se pra salivar! Adianto que até as flores (e temperos) do buquê são comestíveis! Amamos e aqui em casa já me pediram pra encomendar de novo pro aniversário! 💜 #vegan #mothersday #diadasmães2019 #diadasmães #breakfast #veganfood #zerowaste https://www.instagram.com/p/BxYS4VOAc3B/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=12o61mu8i5rhx
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14 de agosto
Dia dos pais no Brasil, mandei uma cesta de café da manhã pro meu pai, minha mãe disse que ele chorou bastante.
Fui à missa e depois fui no Trader Joe's decidir o que ia fazer para o café da manhã, como estava com saudades de casa peguei coisas improvisadas para fazer um PF - arroz, feixão, bisteca suina, farofa e salada. Ficou muito bom e comemos bastante.
Acabamos comendo mais do que deveríamos. Nossos planos era de ir até o shopping perto do meu trabalho, caminhando pelo rio Charles da estação Kendall/MIT, e depois jantarmos no Cheesecake Factory que tem ali perto.
No fim o caminho não era bonito como eu imaginava, o shopping estava fechado. Estávamos sem fome mas tentamos comer no cheesecake factory mesmo assim e acabamos pedindo comida demais... Enfim, como diria Dwight, nem tudo é uma lição e as vezes nos simplesmente falhamos. Creio que essa foi uma das vezes. Mas fica para mim a lição na verdade de não tentar forçar as coisas. Se parece que elas não vão dar certo não ter por que ser impaciente e tentar frustrantemente até o fim se for algo bobo como uma ida ao shopping que pode facilmente ser feita outro dia.
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Sábado, dia 8/12.
Quarta feira a noite foi minha última refeição de verdade.
Vai ter a festa da Clara, e estou com medo de não caber no vestido. Realmente acho que isso pode acontecer. Também tô com nojo de mim, eu tô uma baleia, e o tanto de gordura que eu tenho é nojento.
No começo, quinta de manhã, ainda estava com fome, e tinha brownie de chocolate na geladeira, então comi dois pedaços e um copo de leite com algo que não lembro. Segundos depois bateu a melancolia. Porra, Gabriela, chocolate? Sério? Assim você vai rasgar o vestido quando ele passar pela sua perna, INFERNOOOOO, nem ficar magra você consegue?
Por algum milagre divino a ansiedade não tá se mostrando nesses últimos dias, o que tá tornando muito mais fácil parar de comer.
E não, não é a primeira vez que paro de comer por paranóia. Acontecia com muita frequência antes mesmo de eu ser diagnosticada com a depressão, depois eu parei, quer dizer, meu corpo decidiu parar, não é como se eu tivesse controle sobre isso.
Agora voltou. Imagina se eu não couber no vestido? Meu Deus. Isso real me assombra várias noites.
Quinta a tarde eu comi um pão de forma com queijo e tomate. Eu amo isso, pelo menos amava, quando a comida tinha gosto.
Quinta de noite eu vomitei tudo. T.u.d.o. e sim, só tinha comido isso que listei, nada mais.
Sexta de manhã não comi nada. Sexta de tarde? Nada. Sem comida, sem ânsia, é melhor assim, já que conheço bem o que está voltando a me assombrar. Eu odeio vomitar, então é melhor assim. De verdade, bem melhor.
Sexta de noite minha mãe chegou com a cesta de natal do emprego dela. "Gabriela, guarda no armário pra mim"
Guardei tudo, nem prestei atenção no que veio, não vou comer mesmo. E por uma vez na eternidade ela não criticou minha organização do armário. Fiquei deitada no meu quarto, no meu canto, quando ela veio aqui e perguntou se eu estava com fome. Respondi que não, e então ela perguntou o que eu comi.
"Nada..." Falei a verdade, ela não se importa na real.
"Nossa, você não come nada e não tá com fome? Me ensina a fazer isso?" Seu tom de sarcasmo fez meu estômago remexer. Puta merda, mãe.
Não rendi, só virei pro canto e ela saiu depois de um tempinho, já que percebeu que eu não rendi seu provocamento. Mas então ela voltou falando que abriu o amendoim e perguntou se eu queria. Falei não de novo e ela me provocou de novo falando que o problema é meu então. Ah, como se eu fosse levantar e comer. Querida, eu não vou vomitar apenas para calar suas provocações. Não.
Mais tarde ainda ela mandou eu abrir o panetone. Abri e deixei em cima da mesa pra ela pegar, mas ela não fez isso, ela só me ofereceu de novo e de novo eu recusei. Não vou repetir tudo, mas ela fez a mesma coisa com um presunto lá. E então ela simplesmente tacou o foda-se pra todos os meus "não" e colocou o prato com presunto de Parma do meu lado na cama. E. Ficou. Me. Encarando. Até. eu. Pegar.
Fiz a maior cara de tédio, que saco, e peguei uma fatia e entreguei pra ela o prato, esperando que ela fosse embora pra eu só jogar a fatia debaixo da cama e esperar meu cachorro que ta la comer. Mas ela não saia, então pedi ela um copo de água. Aiii ela foi, mas deixou a merda do prato na minha cama. Não tinha como eu jogar o prato pro meu cachorro, então me fodi. Tava na hora do meu remédio mesmo, então aproveitei e tomei com a água que ela tinha trago, logo depois de ela me alertar sobre tomar antidepressivo de barriga vazia, puxei uma fatia de presunto e comi.
Eu realmente tava com fome. Eu sabia que ia passar a madrugada vomitando, mas taquei o foda-se. Comi do amendoim e do panetone. Muito, comi muito, pra ser exata. Claro, Gabriela gorda não pode ver comida que já quer. Enfim, não é nenhuma história com final surpreendente, aconteceu o que eu sabia que ia acontecer. Passei a madrugada vomitando.
Hoje acordei um pouco tarde, coloquei café na xícara e tomei, reabasteci a xícara e virei de novo, repeti o processo pela terceira vez. O engraçado é que nunca tive problemas com líquidos. É só a comida mesmo.
E então decidi comer um pedaço do panetone. Ontem tava tão bom, e sei lá, decidi confiar um pouco em Deus. Vai que ele tem piedade e não me faz vomitar.
É, tudo seria bem fácil se Deus existisse. Tentei tomar um café da manhã de gente normal, tentei almoçar igual gente normal, mas não dá. Agora eu tô aqui, encolhida no chão do banheiro depois de vomitar até a bile.
E me estômago contraí e contraí.
E, sinceramente, porque eu me esforço tanto a continuar? Porque eu sofro tanto apenas pra continuar? No fim, é perda de tempo mesmo.
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Uma mamãe bem sortuda tomou o seu delicioso Café da Manhã Especial de Dia das Mães!!! Cesta Personalizada com: * Vaso de Flores; * Café Solúvel; * Leite em Pó; * Biscoito Diet; * Quiche; * Pão de Batata; * Mini folheado; * Pães de Queijo; * Cartão Personalizado; * Brindes. 😍 Vem ser feliz com a gente. 🥰 💜 Vem ser SIMPLESMENTE PRESENTES!!! 💎 (em Simplesmente Presentes) https://www.instagram.com/p/CdVrwgnrWDN/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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@buque_de_make_e_cestas Cestas de café da manhã para datas comemorativas inclusive dia das MÃES 🥳 • • #cestaspersonalizadas #cestasdiadasmães #cestasdecafedamanha #cestasdeaniversário #diadasmães #diadasmaes2022 #datascomemorativas #cestadwcafedamanha #presentespersonalizados #presentesparanamorados #presentesespeciais #presentesdiadasmaes @caieiras_uniao #caieiras_uniao #caieirascity #caieirassp #caieiras #peruscity #perus #francodarocha #francocity #franciscomorato (em Caieiras) https://www.instagram.com/p/CdRVM4du5eq/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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🚨FOTO OFICIAL!!! R!FA E SORT3IO NO AR 🎉 Mês das mães está chegando e nós da @dilayoficial 🐝🍓 em parceira com nossa amiga @isah_incao viemos trazer 2 oportunidades únicas de você presentear a mulher tão querida que te criou!❤️ 1° Oportunidade: A R!FA! Uma cesta de café da manhã recheada com produtos de qualidade e só pra lembrar essa cesta foi montada por vocês pela votação da enquete que rolou lá no stories, então bora lá ver como ficou essa delícia: ✓ 1 Geleia de manga com maracujá (e como vocês votaram muito, vou incluir uma mini geleia de morango com limão siciliano.. eu amo presentear vocês 😍) ✓ 1 espátula de geleia. ✓ 2 Pães artesanais da @padariaintegrale ✓ 1 Caneca de café ✓ 1 Sabonete vegano de Argila Dourada e Capim Limão @madeingaia ✓ 1 uma toalha de rosto *SANTISTA* TUDO ISSO.. por apenas R$5, é isso mesmo que você leu.... 5 REAIS!! (Pagtos por PIX, transferência, débito, crédito, PayPal) 😍 Esse é o custo que você vai ter para presentear SUA MÃE💗 Não perca tempo que os nomes se esgotam rápido, R$ 5 apenas. 2° Oportunidade: O SORT3IO! O que é bom sempre pode melhorar, como já foi dito amamos presentear vocês, agora imagine você ganhando um Kit de Geleia Artesanal com os sabores mais pedidos aqui na @dilay ? Os olhinhos ficaram brilhando né? A gente sabe! 😎 Participe do nosso SORTEIO e concorra esses brindes: ✅ Kit com 3 Geleinhas: - 1 Morango com limão siciliano - 1 Manga com maracujá - 1 Abacaxi com pimenta ✅ Mini colher de madeira ✅ Torradas Bauducco ⚠️ Mas antes, algumas regras básicas: 1️⃣ Siga o perfil @dilayOficial ; 2️⃣ Curta a FOTO OFICIAL (Esta aqui); 3️⃣ Marque quantos amigos quiser, mas apenas 1 por comentário (lembrando quanto mais marcar, mais chances de ganhar) 😍😁 ❌ ATENÇÃO: Repetir o colega, perfis fakes, verificados, profissionais, inexistentes, serão invalidados. 4️⃣ O sorteio será realizado AO VIVO sábado (07/05) às 19h aqui no Instagram, através da plataforma SorteioGram; ⚠️ O perfil deverá está PÚBLICO no dia do sorteio, caso não esteja sortearemos novamente. ⚠️Entrega dos prêmios no centro de Ubatuba/SP Caso não for da Cidade, o frete por conta do ganhador CRUZE OS DEDOS E BOA SORTE À TODOS 🐝🍀 (em Ubatuba, Sao Paulo, Brazil) https://www.instagram.com/p/Cc7-lg2rSR8/?igshid=NGJjMDIxMWI=
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