8 DISCOS MAGISTRAIS DO MESTRE JOÃO DONATO (POST IN MEMORIAM)
Bem, como sabem o homi deixou este plano e foi pra Orum... ou deve ser Emoriô.
E em homenagem ao grande mago do jazz e do groove brasilis, lançaremos aqui 3 obras que as vezes podem ser pouco lembradas, mas tratando-se de João Donato, jamais dá pra se afimar que é algo ruim. Aliás, tocou em mais de 20 discos de artistas consagrados como Gil, Caetano, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Gal Costa, e a lista não acabaria tão cedo...
Donato, um pioneiro da bossa nova - termo no qual não gosta, já que a define como "apenas outra alcunha para Samba produzido pelos garotos da Zona Sul" - nos presenteou com melodias envolventes e harmonias cativantes que transcenderam gerações. Sua abordagem inovadora e singular trouxe uma nova dimensão à música, que poucos instrumentistas conseguiram. Apesar de atuar predominante como instrumentista, foi com canções com vocal que a carreira de João atingiu seu auge, após conselho informal de seu compadre e colega de profissão Agostinho dos Santos.
Com mais de 30 discos lançados , sua discografia é uma viagem pela diversidade de estilos pelo Brasil. Donato sempre se reinventou, presenteando-nos com álbuns marcantes que se tornaram trilhas sonoras das nossas vidas. E nesse quadro em específico, vamos focar nas parcerias, que também não são poucas.
Sempre ativo, João costumava colar com todo tipo de gente, desde a rataria do underground como Marcelo D2, até poetas como Haroldo Campos. Conseguiu furar a bolha entre o morro e o asfalto de forma classuda e sem forçar nada. Sua música é fluída. Em cada nota, em cada acorde, o multi-instrumentista nos transporta pra paisagens sonoras impregnadas de suingue, e de sua sensibilidade ímpar.
Hoje, completam exatos um mês da partida de João, talvez o acreano mais querido do Brasil. Orgulho do norte, e fruto da Amazônia. E total traquejo brasileño. Do lado das ruas, na praia, nos morros, no campo, nos palcos, em casa. João Donato detalhava sua vida e buscava influências em coisas do cotidiano. Seu virtuosismo ecoava e ecoa até hoje por cada avenida da história da música brasileira.
Mestre maior, que descanse em paz.
E por aqui fica nossa homenagem a esse ícone. Discos dele com parcerias que abrilhantaram ainda mais a luz que João emana, e que assim como seus parceiros, também há de alumiá nós tudin lá de cima!
Donato/Deodato - 1969/1973
Primeiro da lista, o álbum foi originalmente lançado 1969, pela RCA, sem precedentes pelo Brasil, até a reedição, que hoje completando 50 anos, assim como um dos grandes tesouros de João - o incrível "Quem é Quem", 1973.
Muito tempo depois esquecido por muitos da crítica e mídia musical, nós viemos aqui reverenciar esta jóia.
Dividindo os teclados, seu gênio e seu brilho com o também genial e brilhante Eumir Deodato, outro que hoje com 80 anos, continua em um ostracismo bizarro por terras brasilis, fazendo mais sucesso comercial e intelectual na gringa. Talvez por ter se mudado cedo, ou ter estourado com trabalhos feito entre a década de 70 e início de 80 com o grupo de Black Music Kool & The Gang, além de outras grandes produções e arranjos sem consentimento do público e mídia brasileira.
"Deodato/Donato" marca o início da fase mais progressiva de João, onde misturava cadências do samba com grooves afronorteamericanos como soul e funk, além de texturas psicodélicas com efeitos nos teclados. O álbum tem três composições do mestre Donato e mais quatro em parceria com Eumir.
irreverente e diferente, o álbum que a época era considerado exquiste jazz, por sua textura experimental, décadas depois pode ser considerado, e é, um clássico do jazz underground e brasileiro. Não bastasse a presença e alma dos brasileiros Eumir e João - entre gringos, latinos e brasileiros - o elenco vem com máxima potência e estimada cadência, com Ray Barreto (congas), Airto Moreira (percussões e efeitos), Allan Schwartzberg (bateria), Romeo Penque (flauta e assovios), Bob Rose (guitarra), Mauricio Einhorn (gaita), e metais por Michael Gibson (trombone) e Randy Brecker (trompete).
"Deodato/Donato" foi todo arranjado por João e Deodato que também conduziu a big band.
Incorporam o melhor do jazz, fazendo uma espécie de fusion samba, com notas longas, harmonias incríveis e alguns improvisos que aumentam a eloquência do álbum.
Com seis faixas, Deodato/Donato certamente é mais uma obra-prima injustiçada nas páginas da nossa música. O álbum foi produzido por George Kablin e gravado por ele próprio, distribuída pelo selo gringo Muse (EUA).
Emilio Santiago Encontra João Donato - 2003
Esse aqui sim é um tesouro. Fora do catálogo e do radar das grandes plataformas, "Emílio Santiago encontra João Donato", 6 parcerias inéditas com seu irmão Lysias Ênio, poeta de grande trato com as palavras, assim como os grandes nomes que também compõe a lista de letristas e parceiros de Donato; Joyce, Carmen Costa, Norman Gimbel, Abel Silva, Caetano e Gil - além de duas faixas assinadas pela escriba de Arnaldo Antunes, sendo uma delas em parceria com Marisa Monte.
O disco segue a síncope do piano de João passeando entre a bossa nova, o samba, o bolero, e criando uma atmosfera das mais agradáveis, ainda mais contando com a voz do saudoso Emílio Santiago, certamente uma das vozes mais bonitas que esse país já ouvin.
Jazz Latino de alta qualidade, entre esboços de um samba ou outro, de vez em sempre, o sambolero come solto, carregada pela alta competência do bando de craques que os acompanham. São eles;
Nos sopros temos o grande Bigorna (sax tenor e flauta), Bidinho e Jessé Sadoc (trompete), além de Ricardo Pontes (flauta e sax alto). Nas cordas, começando pelo baixão, temos Jamil Joanes e Jorge Helder. Na guitarra/violão, ninguém mais ninguém menos que Nelson Faria e Ricardo Silveira. No bloco rítmico, temos Jurim Moreira, Renato Massa e o lendário Robertinho Silva na batera, também tem Sidinho na percussão desenhando nos espaços. O disco foi totalmente arranjado pelo próprio João, com pitacos de Emílio, e produzido por Almir Chediak.
Parceria mais que antiga, os dois artistas vem de uma caminhada de muitos sambas e experimentações juntos. Desde sua estreia com o disco homônimo de 195, Emílio Santiago é acompanhado como pupilo de João, com muitos discos como esse, arranjado por João.
20 anos após seu lançamento, "Emílio Santiago encontra João Donato" continua uma jóia que costura a alma de quem ouve com seu jeito único de misturas estilos latinos, assim como a maestria de seu parceiro nas interpretações de cada canção. O álbum contém 16 faixas e foi lançado pela Lumiar Discos. Foi bem recebido pela crítica da época, onde saíram em turnê por parte do Brasil e emocionando muitos . Apesar de hoje apagado o holofote, o brilho desses dois eternos mestres sempre estará altamente lá em cima, na cadência cadente, alumiano o céu del'américa!
Síntese do Lance - 2021
Aqui é uma parceria antiga e prometida de tempos, mas que só foi se concretizar final de 2020, quando iniciaram a proposta do projeto Síntese do Lance, disco com o grandessíssimo Jards Macalé, o maldito poeta, o cara da caneta mais violenta e sentimental da tropicália ao mesmo tempo.
No álbum "A Síntese do Lance", uma agradável surpresa neste ano tumultuado, João Donato e Jards Macalé se unem para trazer uma obra que reflete despojamento e modernidade. A capa, com os músicos idosos nus e escondidos por folhagens, simboliza o retorno ao início da vida. O álbum evoca a sonoridade da Bossa Nova dos anos 50 e 60, destacando a influência de Donato, precursor do movimento, e Macalé, seu fiel seguidor.
A música "Côco Táxi", única colaboração entre eles, é uma alegre melodia com toques caribenhos, lembrando composições anteriores. A canção título "A Síntese do Lance" traz um samba à moda de Donato, antecipando tendências eletrobossa. O álbum inclui outras parcerias musicais, oferecendo uma rica mistura de piano, metais e percussão, criando uma atmosfera relaxada e musicalmente rica.
Há muito esperado, celebrando não apenas a Bossa Nova, mas também suas figuras centrais, como João Gilberto, álbum é uma joia, uma adição valiosa às carreiras ilustres de Donato e Macalé, transmitindo talento e bom humor, e prestando homenagem aos clássicos da música brasileira.
No álbum "A Síntese do Lance", uma agradável surpresa neste ano tumultuado, João Donato e Jards Macalé se unem para trazer uma obra que reflete despojamento e modernidade. A capa, com os músicos idosos nus e escondidos por folhagens, simboliza o retorno ao início da vida. O álbum evoca a sonoridade da Bossa Nova dos anos 50 e 60, destacando a influência de Donato, precursor do movimento, e Macalé, seu fiel seguidor.
A música "Côco Táxi", única colaboração entre eles, é uma alegre melodia com toques caribenhos, lembrando composições anteriores. A canção título "A Síntese do Lance" traz um samba à moda de Donato, antecipando tendências eletrobossa. O álbum inclui outras parcerias musicais, oferecendo uma rica mistura de piano, metais e percussão, criando uma atmosfera relaxada e musicalmente rica.
As gravações foram prazerosas para os artistas, que finalmente realizaram um encontro há muito esperado, celebrando não apenas a Bossa Nova, mas também suas figuras centrais, como João Gilberto. O álbum é uma joia, uma adição valiosa às carreiras ilustres de Donato e Macalé, transmitindo talento e bom humor, e prestando homenagem aos clássicos da música brasileira.
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