#a periferia lê
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Um detido e mais de 121 quilos de canábis em planta apreendidos em Aveiro
Um homem foi detido por suspeita de tráfico de droga e mais de 121 quilogramas de canábis em planta foram apreendidos uma casa na periferia de Aveiro, revelou a PSP em comunicado.
A plantação foi descoberta em estufas equipadas para o efeito, acrescenta a Polícia.
Para além dos 121,516 quilos, os agentes apreenderam moinhos, balanças de precisão, máquinas de corte e embalamento e desumidificadores, lê-se ainda na nota de imprensa.
Segundo a PPS de Aveiro, o detido é suspeito de tráfico de estupefacientes (produção, embalamento e posterior venda).
O homem, acrescenta o comunicado, será oportunamente presente à autoridade judiciária competente, para primeiro interrogatório judicial e aplicação de possível medida de coação.
Foto PSP Aveiro
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Contra os pobres
Vamos levantar a hipótese de que um governo seja contra os pobres. Que tipo de medidas esse governo poderia tomar? Talvez pudesse escravizar os pobres, valendo-se de legislação que permita e institucionalize essa prática abominável; depois poderia libertá-los sem se preocupar, minimamente, em permitir inclusão, integração e desenvolvimento, deixando-os morar em barracos provisórios e sem reconhecer títulos de propriedade sobre as próprias posses, impedir de fato de ligar luz, água, gás, telefone legalmente.
Dessa forma, os miseráveis não poderiam pedir a uma empresa que asfaltasse a rua; não poderiam usar os próprios ativos (seus barracos) para abrir uma loja, empreender e melhorar de vida. Seriam também obrigados a deixar alguém em casa o dia inteiro, pois, sem título legal, poderia ser tomada por alguém a qualquer momento. Provavelmente, então, um filho ficaria em casa sem estudar.
Se esses pobres ousassem empreender e capitalizar o tempo em casa, inventando um trabalho, como cuidar das crianças dos vizinhos, cozinhar e vender comida, costurar, fazer cabelos, unhas, depilação, vender produtos básicos diretamente da porta de entrada, esse governo imaginário poderia proibir as creches informais, poderia pedir uma licença e um curso custoso para virar cabeleireiro e esteticista, poderia aumentar os requisitos higiênicos e de qualidade de comida e roupa, jogando milhões no mercado informal.
Se, ainda assim, alguns obstinados tentassem vender produtos na rua, aí seria fácil proibir vendedores ambulantes de pipoca, algodão-doce, churros, relógios, balões, sorvetes, pôr um monte de fiscais a apreender a mercadoria. E para pagar esses fiscais, seria preciso aumentar os impostos sobre os pobres.
Quando alguns desses pobres conseguissem construir ou comprar uma humilde moradia, o governo poderia tranquilamente expropriá-la para construir ruas, pontes, estádios, deixá-los ao próprio destino ou mandá-los a bairros-dormitórios nas periferias das cidades. Agora, finalmente, esses pobres seriam menos visíveis e talvez se consiga desincentivá-los a vir às praias e à Zona Sul.
Mas suponhamos que ainda alguns cabeças-duras tentem transportar as pessoas no centro por um preço acessível; nesse caso se poderia proibir o transporte voluntário, alegando motivos de segurança (funciona sempre) e chamando-os de “piratas”, “clandestinos” ou “perueiros”.
E se, por acaso, alguns desenvolvessem espíritos antigoverno, e se nesses bairros abandonados surgissem outros grupos de poder (quem diria!), imaginemos, vendendo cigarros, licores ou droga, se poderia então proibir tudo e punir sumariamente os recalcitrantes. Afinal, com a justificativa de que as drogas fazem mal, será fácil prender jovens, pais, filhos e mães, destruindo famílias inteiras e o tecido social.
Vamos supor agora que alguns bem-intencionados critiquem o governo e peçam uma inversão de marcha – poderiam propor ajudar os pobres, por exemplo, com “mais educação” (um bom slogan para o horário eleitoral). Aí o governo poderia criar escolas estatais para pobres com o dinheiro dos próprios pobres, ensinando disciplinas pouco úteis para passar da miséria à classe média (filosofia, sociologia, antropologia), mas muito úteis para criar súditos obedientes (lê-se cidadãos críticos), em lugar das únicas disciplinas com as quais pobres do mundo inteiro melhoraram de vida (ciência, matemática, português). Com militantes no lugar de professores e deturpando a ciência com conteúdo ideológico, a obra é completa.
Para fazer tudo isso, precisa de muito dinheiro, claro. A arrecadação do imposto de renda dos ricos não basta, é preciso taxar os pobres, mas com a informalidade da economia é difícil. A única solução é taxar o consumo. Aí não tem como escapar, a arrecadação do governo aumenta e talvez alguns deles nem notem.
Agora qualquer aumento de gasto é financiado pelos pobres; todas as vezes em que falaremos em “gasto social”, estaremos na verdade gastando o dinheiro dos pobres!
Qualquer referência a fatos reais é puramente casual.
*Este artigo foi originalmente publicado como capítulo do livro “O Futuro da Democracia”, org. Ângela Francesca Grando Veit e Pedro Maciel Echel. Porto Alegre: Buqui, 2017. Série “Pensamentos Liberais”, 21ª edição.
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O dia em que o inferno no Subúrbio de Sobibor deu lugar ao Subúrbio de Salvador!
Por: Fred Borges
Dizem que só se valoriza a paz quando se passa pela guerra, é preciso se desfazer do sofrer para viver!
Sobibor foi um campo de extermínio alemão, localizado na Polônia ocupada pela Alemanha Nazista, que foi parte da Operação Reinhard, no Holocausto. Judeus, prisioneiros de guerra soviéticos e possivelmente ciganos, foram transportados para Sobibor de comboio e sufocados em câmaras de gás alimentadas pelo escapamento de um motor a diesel.
Cerca de 260 mil pessoas foram assassinadas em Sobibor pelos alemães.
Subúrbio é um substantivo masculino,no Terceiro Mundo, periferia das cidades ou aglomerado de terrenos de difícil utilização, carentes de serviços, nos quais o valor da terra é baixo e o transporte, precário, sendo, por isso, seu valor locativo o único acessível às classes menos favorecidas.
Já nos países desenvolvidos,era uma área de expansão espacial das cidades resultante da formação de uma classe média de renda alta, que buscava localização residencial na qual desfrutasse de um espaço confortável e ambientes saudáveis, relativamente próximos do centro urbano.
Entre Sobibor e o Subúrbio surge um paralelo: o convívio entre guerra e paz!
Entre a Polônia e um subúrbio nos EUA, o drama e a tragédia da perda da dignidade e da liberdade.
A população é pressionada a aceitar ou morrer.
A democracia "fez e faz água",onde a ditadura travestida de democracia impera.
Imperou o Nazismo,agora impera a nua e crua realidade de apartheid ideológico educacional, social, cultural e financeiro ou o comunismo corporativista dos democratas brasileiros e americanos.
Não é mais preciso câmeras de gás, gerado pela combustão de motores a diesel,nem carrascos como Gustav Wagner, basta o Algoritmo da Inteligência Artificial para resultar na devastação, desertificação e humilhação dos homens pelas máquinas gerando o empobrecimento do sonho americano e brasileiro que acabam a cada dia.
Onde a terra presenciou adubo de cinzas humanas, hoje as cinzas vêm da poluição dos carros a combustão, elétricos vem de baterias,ditas ou tidas como ecologicamente corretas.
Bateria antiaérea tentaram barrar o avanço dos Aliados,mas no final, apesar da vitória dos últimos, cinzas humanas cobertas por pedras brancas revelaram o holocausto do povo Judeu.
Quem são os aliados dos povos desolados e marginalizados?
Terroristas de verdade nunca Hamarás!
Terroristas de mentira cabe ao juiz vitimado, indiciarás,julgarás ou setenciarás?
Um misterioso ruído atormenta o sono em um subúrbio nos EUA, foi a manchete no noticiário em 2006.
No subúrbio de Portland, no noroeste dos EUA, ninguém conseguia dormir, o sono era substituído por um estranho barulho.
"O ruído é uma combinação de um tom alto e um ambíguo ponto de origem, o que dificulta a possibilidade de identificar de onde ele está vindo", disse o engenheiro de ��udio Tobin Cooley, que avaliou o caso a pedido da agência de notícias Reuters.
Um outro ruído foi quebrado em 1943 em Sobibor quando a revolta se espalhou e judeus tomaram o campo de concentração nazista,muitos anos depois, souberam por Stanislaw Szmajzner radicado no Brasil, no livro Inferno em Sobibor que a morte nunca foi pacífica e nem inglória e que portanto o destino de Gustav estaria desde já selado.
Mas eis que surge uma esperança, entre a guerra e a paz em Salvador da Bahia,Brasil,à luz do sol, à luz do sol,brilha no mar e a praia do subúrbio expulsa a depressão, tristeza e todo tipo de preconceito,enquanto houver sol há luz.
Alto da Terezinha, Alto do Cabrito, Calçada, Coutos, Fazenda Coutos, Itacaranha, Lobato, Nova Constituinte, Paripe, Periperi, Plataforma, Praia Grande, Rio Sena, Santa Luzia, São João do Cabrito e São Tomé presenteiam o mundo, os judeus,e americanos com a esperança de dias melhores!
O ruído que ouve é dos atabaques Rum, Rumpi e o Lê do Ilê Asé Ajunsun,misturado aos cânticos evangélicos, católicos, a boêmia,o almoçar no Boca de Galinha,o visitar o Acervo da Laje,o tomar banho de mar na Praia de São Tomé de Paripe,o terminar o dia vendo o pôr do sol do Alto da Colina onde fica o Casarão do Alto.
Presente melhor não há, celebrar a vitória sobre a injustiça e soberba, o subúrbio Soteropolitano sobre o Sobiboritano, em franca e derradeira guerra desacerba!
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Doca do Reduto, c. 1900 ~ Marc Ferrez / Instituto Moreira Salles
A Doca do Reduto no início do século XX, apesar não ter o requinte da avenida da República, já contava com calçamento, trilhos de bonde, iluminação pública e meio fio. Para se evitar o acúmulo de imundícies, a municipalidade procedia “medidas tendentes a evitar que a peste negra invada esta cidade, tenho em vista mandar, com urgência, proceder ao saneamento das docas do Reducto e Ver-o-Peso”.
Não só a doca tinha medidas mais modestas que a Doca do Ver-o-Peso, mas as casas comerciais instaladas ali também são mais acanhadas e frugais, que as localizadas no entorno do que viria ser o boulevard Castilhos França.
De fato, a Doca do Reduto estava na periferia do centro de Belém.
Sem vapores e gaiolas, o��pequeno comércio era tocado ali nas montarias e igarités, nos pregões de rua das vendedoras descalças, pelos moleques de leva e traz, pelos carregadores, carroceiros. Também estavam por lá as vendas a retalho de libaneses e portugueses, “onde a farinha e o peixe sempre foram objecto de animadas transacções”.
No canto esquerdo, hoje r. General Magalhães, havia um imóvel subdividido em diferentes comércios. Em sua fachada lê-se: Hotel Fraternidade, Agulha de Marear e Officina ourivesaria-relojoaria, da qual não se consegue distinguir o nome.
No número 24 estava A Agulha de Marear (uma bússola náutica), era mais uma das casas de comissões e consignações, que compravam e vendiam mercadorias. Em um anúncio de 28 de setembro de 1889, há uma pista de que os donos seriam lusitanos:
"CAIXEIRO. Precisa-se de um, de 12 a 15 anos, na Agulha de Marear, Reducto; prefere-se português e que tenha alguma prática”.
O Hotel Fraternidade aparece em ao menos três menções constrangedoras no noticiário da cidade:
“Procurou-nos hontem o Sr. Francisco Garcia Mobilia, proprietario do Hotel Fraternidade, à doca do Reduto e apresentou-nos uma conta no valor de 1:628$650, proveniente de comedorias fornecidas a inferiores e soldados do CORPO de INFANTARIA do Estado, desde outubro de 1891 até 3 de abril 1892.
Tem sido os meios inuteis empregados por aquelle laborioso estrangeiro afim de obter o pagamento das suas dividas comprovadas por elles que mostrou-nos;
O commandante do CORPO DE INFANTARIA não deve ser indifferente a este facto que muito desabona os creditos do seu batalhão.
Nem nos digam que s.s. nada tem que ver com estes factos que se dão fora do quartel; a disciplina militar é por demais severa e não tem condescendencias com os que não sabem honrar a farda que vestem.
Seria pois um acto digno de louvor providenciar para que o proprientario do Hotel Fraternidade seja embolsado da elevada somma que está ameaçado de perder”.
O Democrata, 11 de janeiro de 1893
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Já com um novo proprietário, novo infortúnio:
“Pelo 1º prefeito, foi multado o indivíduo Romão Martinho, proprietario do Hotel Fraternidade por infracção do art. 193 do Cod. de Posturas municipaes”.
Diário de Notícias, 3 de Maio de 1896
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Três anos depois mais um calote:
“Foi hontem preso o individuo Manoel Antonio de Mell que, servindo-se à vontade de comedorias no hotel Fraternidade do Reducto, não quiz satisfazer os 15:000 reis de que era devedor”
A República de 10 de Outubro de 1899
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Nesta foto tomada alguns anos após a de Marc Ferrez, há modificações na margem direita da doca. O imóvel que abrigava a o Hotel Fraternidade e a Agulha de Marear foi parcialmente demolido, dando lugar a uma rua e um sobrado, onde embaixo funcionava a Casa Moraes (?). Ao fundo é possível ver mais um hotel, o Paraense.
No relatório de 1902 apresentado por Antonio Lemos, é comentada essa modificação urbana:
“No bairro do Reducto pretendo continuar os melhoramentos já por alli iniciados com o calçamento da travessa Piedade. Tenho, com effeito, em vista abrir definitivamente a passagem que communica a referida travessa com a doca do Reducto, pelo lado posterior do estabelecimento da firma Caniceiro, fazendo para isso as pequenas expropriações que se tornam mister, com o fim de manter, não só a largura da passagem, de accordo com os alinhamentos dos prédios situados no canto occidental da referida doca, como também o alinhamento da travessa, que tem um prédio fora d'este, junto das ruinas de uma casa que fora incendiada”.
A passagem que comunica a doca com a travessa Piedade é a alameda Piedade, a qual passa exatamente atrás das antigas Oficinas de carpintaria e serraria de Manoel Caniceiro da Costa.
A intenção de Lemos é a melhoria do bairro, mas resta uma suspeita se essa abertura de via não atenderia mais a empresa, do que ao conjunto do moradores. Como até hoje ocorre, ripas de madeira são desembarcadas nos portos da cidade para comércio nas estâncias. A nova via faria a matéria prima chegar pelos fundos da empresa, depois de descarregada na doca. A foto abaixo mostra a frente da empresa, situada na rua Gaspar Vianna.
Menos de uma década depois dessas fotos, o movimento comercial na Doca do Reduto se reduziria com a construção do Porto de Belém, bloqueando o acesso do rio a este local, anos mais tarde a doca seria canalizada. As embarcações passariam atracar somente da Doca de Souza Franco no Reduto, onde seria construído um mercado, reproduzindo o antigo fluxo da doca da 28 de Setembro. Talvez esse tenha sido o primeiro passo para o esvaziamento do bairro, que em mais algumas décadas perderia suas fábricas.
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meu nome não é Alice
Em um albergue situado em uma das periferias mais perigosas da cidade, alguém lê um jornal.
(Agá)-oi, Alice. Se lembra de mim?
O jornal é rapidamente esmagado por mãos aflitas. Os olhos se erguem, ainda cheios de ódio e rancor.
(Alice)-como descobriu meu paradeiro?
(Agá)-esqueceu que tenho contatos? A minha pena finalmente acabou. Foram longos seis anos encarcerado.
(Alice)-devia ter ficado lá o resto da vida.
(Agá)-vejo que muita coisa mudou. As pessoas que tanto quis fazer mal, hoje estão felizes. O Enrico e a Eleonor recuperaram o dinheiro que VOCÊ roubou e moram no exterior. Tá sabendo?
(Alice)-isso pouco me importa. Eu vou me vingar de um por um.
(Agá ri)-acha que ainda tem chances? Nem a sua mãe se importa com você.
(Alice)-não quero a piedade de ninguém.
(Agá)-muda, Alice. Nunca é tarde pra se arrepender. Olha pra você: cega de um olho, sem conseguir andar, completamente desfigurada.
(Alice)-cala a boca, imbecil.
(Agá)-ai, Alice...ou melhor, Anastácia. Porque Alice nunca existiu. Era mais um dos seus delírios.
Essa foi a história de Alice. Uma jovem que teve tudo e ao mesmo tempo, nada. Uma jovem cheia de sonhos distorcidos, de mágoas, de desejo de vingança. Ninguém sabia ao certo qual seria seu destino.
E mesmo não sendo Alice, ela continuou procurando pelo país das maravilhas. Incansavelmente. Até não conseguir mais.
FIM
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banco molhado
Mais uma vez pela última vez, dou passos largos e molhados à prazerosamente necessária mentira. O all star vermelho sujo pelas poças deslizava ansiosamente pelas calçadas mal encaixadas e erguidas pela força derradeira das raízes das árvores na periferia das ruas centrais. Em uma das mãos levava a sombrinha com uma haste torta que me protegia parcialmente da chuva impiedosa, e a outra mantinha a bolsa azul próxima ao meu corpo. Enquanto as pernas me levavam inerte, o encéfalo continuava em seu estado basal de preocupações, embates e reflexões, ao som de Cartola e Belchior nos fones que desciam por dentro de minha camisa também vermelha aberta em seus dois primeiros botões. Os óculos, além de embaçados pelo uso da máscara, já não cumprem devidamente sua função e me lembram do quanto minha visão depende deles. Me questiono sobre que seria de mim em algum período anterior ao século XIX, fraco como estou e com a visão tão prejudicada. O fluxo impiedoso de carros no fim de tarde cinzento quase me convence que a anormal normalidade urbana está presente novamente após meses de reclusão pela pandemia. Vejo que ainda é muito cedo inclusive para chegar cedo na casa dele, então viro ao lado oposto e me dirijo lentamente ao pequeno refúgio arborizado em meio ao centro da cidade. Enquanto meus pés sobem e descem apáticos pela rua, um biarticulado vem com o cansaço acumulado de muitas 8 horas diárias de trabalho, e um velho e conhecido pensamento cruza minha mente criando uma linha temporal alternativa e curta onde o vermelho do ônibus se mescla ao da minha roupa e de meus órgãos dramaticamente expostos ao público que me assiste de seus apartamentos, como num teatro de arena. Mas um anúncio interrompe não apenas minha música, mas também o pensamento. Não foi dessa vez. Deparo-me com um banco mais molhado do que gostaria, de costas para a rua e em frente a uma fonte e laguinho com carpas gordas pelas pipocas jogadas por crianças e velhos. Não gosto de ficar de costas para a rua, mas memórias prévias me atraem inconsciente e magneticamente para este banco. Tudo bem. Seco mediocremente uma pequena área em seu lado direito, sento-me e dedico alguns minutos a concentrar meu pensamento totalmente nos estímulos à minha volta. Ouço os pneus rolando sobre o asfalto molhado; sinto o frio úmido do vento não muito forte; percebo minhas coxas e minhas costas gelarem pela água que passava da madeira para o tecido e então para minha pele. Minha respiração quente e abafada pela máscara gradualmente se acalma, junto com minha frequência cardíaca. Tiro os fones, deixando-os pendurados sobre minha camisa, abro minha bolsa e pego meu livro. Localizo a página marcada por uma longa pena amarela e entro na narrativa. Parágrafos depois, ao ver algumas palavras esparsas se entumecerem e ficarem transparentes pelas gotas crescentes que recomeçam a escorrer do céu, abro novamente o guarda-chuva e sigo minha leitura até que ouço passos ligeiros de um casal risonho fugindo da chuva. Talvez estivessem indo para a casa dela, em um dos muitos apartamentos por ali. Ou talvez fossem para o mercado comprar algo para o jantar. Quem sabe. Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos livros. Lê, escreve, fantasia e teoriza quem não vive. Olho para frente novamente depois de acompanhar o trajeto dos dois, seguro firme minha proteção contra a chuva e acendo um cigarro amassado que tirei do bolso da jaqueta. Inspiro a nicotina profundamente em meus alvéolos, sinto aquela tonturinha gostosa e exalo a fumaça e os pensamentos.
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A amiga genial
Texto de Fabiane Secches
No filme italiano Anos felizes (2013), o protagonista é um artista plástico que passa todo o tempo perseguindo um feito notável, mas é acusado pela crítica de ser artificial — faltaria verdade em sua obra. Apenas ao final, depois de viver uma dolorosa separação, ele consegue o reconhecimento pretendido ao criar uma escultura enorme, um corpo feminino de formas infladas que ocupa todo o espaço de seu ateliê, invadindo os ambientes. Quando sua ex-esposa, antes constantemente privada desse mesmo espaço pelo artista, vem enfim visitá-lo, ela lhe pergunta, olhando para o rosto da escultura, quem é ela. Ao que ele responde: “sua ausência”.
Assisti ao filme pouco antes de ler o também italiano A amiga genial, de Elena Ferrante, e agora me recordo dessa cena menos pela sua nacionalidade do que pelo seguinte: assim como a escultura, a ausência de Ferrante é uma forma de presença inegável, mais afirmativa do que se encontrássemos seu retrato na orelha do livro ou notícias sobre a sua vida em uma busca pela internet. Elena Ferrante, para quem ainda não sabe, é o pseudônimo de uma autora italiana que publica desde 1992.
É difícil escrever um texto sobre uma obra específica de Ferrante sem passar pela sua própria história, ou por sua não-história. Em carta datada de 1991, explica aos editores por que gostaria de se manter ausente: “eu acredito que os livros, uma vez que tenham sido escritos, não tenham qualquer necessidade de seus autores. Se eles têm algo a dizer, vão encontrar cedo ou tarde seus leitores”. A ficção acaba competindo com os rumores que passam ao lado, e que de certa forma a atravessam.
De todo modo, seu texto é tudo o que temos. O restante, além das entrevistas (sempre concedidas por intermédio de seus editores italianos, Sandro e Sandra Ferri), é especulação. “O caminho das minhas obras é o meu caminho”, afirmou em uma entrevista recente. “O meu trabalho pretende chamar a atenção para a unidade original entre autor e texto e para a autossuficiência do leitor, que pode deduzir dessa unidade tudo aquilo que for necessário.”
A amiga genial é o primeiro livro da chamada tetralogia napolitana, publicado na Itália em 2011. Chegou ao Brasil em 2015 pela Biblioteca Azul, selo da Globo Livros, com tradução de Maurício Santana Dias. Entre 2012 e 2014, Ferrante lançou as sequências: História de um novo sobrenome, História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida.
Nos quatro volumes, acompanhamos a história da amizade entre duas mulheres, Elena Greco (Lenu) e Rafaella Cerullo (Lila), desde a infância até os dias atuais. A premissa da tetralogia também passa pela questão que nos assombra sobre a autora: a ausência. A amiga genial tem início com um prólogo no qual Elena, a narradora da história, recebe um telefonema sobre o desaparecimento de Lila, sua amiga há quase sessenta anos. Quem está do outro lado é Rino, filho de Lila. Por orientação de Elena, ele procura por qualquer vestígio que a mãe possa ter deixado, sem sucesso. Nenhuma roupa, nenhum documento. Até as fotos em que apareciam juntos, quando menino, foram recortadas. Lila havia desaparecido por completo.
Elena nos conta que há cerca de trinta anos, a amiga lhe fala sobre o desejo de desaparecer. Não se tratava de fugir, nem de recomeçar em um lugar distante com nova identidade, tampouco considerava a ideia de cometer suicídio. Lila “queria volatizar-se, queria dissipar-se em cada célula, e que ninguém encontrasse o menor vestígio seu”. A narradora recebe a notícia de maneira intrigante:
“Como sempre Lila exagerou, pensei.
Estava extrapolando o conceito de vestígio. Queria não só desaparecer, mas também apagar toda a vida que deixara para trás.
Fiquei muito irritada.
Vamos ver quem ganha desta vez, disse a mim mesma. Liguei o computador e comecei a escrever cada detalhe de nossa história, tudo o que me ficou na memória.”
É este, então, o texto que verdadeiramente nos aguarda: não a história sobre o desaparecimento de Lila, mas a tentativa de Elena em recuperá-la, em não deixá-la desaparecer, ao escrever cada pequena recordação sobre a história da amizade entre ambas. Conhecemos Lila através de seus olhos, portanto temos dela uma imagem limitada tanto pela perspectiva da narradora quanto pelos caminhos obscuros da memória, mas essa é a única versão da história que poderemos conhecer.
Elena e Lila nasceram em Nápoles e cresceram em um contexto violento: uma periferia pós-guerra em uma cidade que convive com a máfia (a Camorra). Além do contexto sociopolítico tão bem retratado, uma das maiores qualidades de A amiga genial é a construção de personagens complexas e verossímeis. Ao contrário da figura misteriosa de sua autora, Elena e Lila são tão tangíveis que é difícil acreditar que não sejam reais. Se para alguns isso resulta na suspeita de uma autobiografia, para outros prova apenas o talento de Ferrante ao manusear a palavra escrita.
James Wood, um dos críticos literários mais prestigiados do cenário atual, escreveu um texto sobre Ferrante na revista New Yorker e se desdobrou em elogios: “ela é autora de romances memoráveis, lúcidos, ferozmente honestos”. A sinceridade que atinge através de uma prosa muito clara é impressionante. Falar sobre seu texto é reduzi-lo. Para entender, é preciso lê-la.
A amizade entre as protagonistas é tão forte quanto conflituosa. Antes do prólogo, o livro começa com uma citação do Fausto de Goethe, no qual o Senhor (Deus) fala: “O agir humano esmorece muito facilmente, em pouco tempo aspira ao repouso absoluto. Por isso lhe dou de boa vontade um colega que sempre o espicace e desempenhe o papel do diabo”. É precisamente sobre isso do que trata este primeiro livro: quem seria Elena sem a Lila que a desafiasse? E quem seria Lila, do mesmo modo, sem que Elena a narrasse? Se uma instiga a outra, “acende” a outra, também o afeto que as une é uma faísca que nos ilumina por toda leitura. A relação entre ambas é também um exílio onde se refugiam de uma realidade opressora: a imaginação contra o bairro, a literatura contra a violência cotidiana.
Não me lembro de ter lido uma história tão bonita e complicada sobre a amizade entre duas mulheres, não com todas as nuances que encontrei aqui. Fez com que pensasse em algumas das referências que tenho eu mesma, nas Lilas de minha história.
O primeiro volume da tetralogia é dividido em duas partes, a infância (“História de Dom Achille”) e a adolescência (“História dos Sapatos”) das personagens. Duas garotas descobrindo a si mesmas e o mundo em volta, tentando entender quais limites definem quem são e quais limites separam uma da outra. Elena percebe quem é ao tomar conhecimento do que não é, do que Lila traz para a sua vida e não existiria sem a presença da amiga. De outro lado, mesmo em sua ausência, existe uma Lila internalizada que a acompanha sempre e surge como referência em cada conflito, como a única figura feminina que lhe permite a possibilidade de escapar de seu destino, de não se tornar sua própria mãe:
“Algo me convenceu, então, de que se eu caminhasse sempre atrás dela, seguindo sua marcha, o passo de minha mãe, que entrara em minha mente e não saíra mais, por fim deixaria de me ameaçar. Decidi que deveria regular-me de acordo com aquela menina e nunca perdê-la de vista, ainda que ela me aborrecesse e me escorraçasse.”
Lila era “levada sempre, pior que os meninos” e uma menina brilhante. Foi a primeira da classe a aprender a ler e escrever, e fez isso por conta própria. Mesmo quando é impedida de continua na escola, continua sendo o baluarte intelectual de Elena. É capaz de aprender latim e grego sozinha, antes da amiga: “Ela sempre fazia as coisas que eu precisava fazer, e antes, e melhor? Escapava quando eu a perseguia e enquanto isso me encalçava para superar-me?”. Elena também nos conta que Lila escrevia com tal habilidade que “não deixava nenhum vestígio de inaturalidade, não se sentia o artifício da palavra escrita”. Lila “sabia ser autônoma, ao passo que eu dependia dela, porque tinha coisas dentro de si às quais eu não podia ter acesso”, conta.
Por isso, chegamos às últimas páginas do primeiro volume enxergando Lila como a amiga genial do título. Mas, no final, descobrimos que quem usa a expressão é ela, para se referir a Elena: “você é minha amiga genial”. Cada uma é a amiga genial da outra. As duas personagens alternam sentimentos e papéis de modo que muitas vezes fica difícil separar uma da outra.
Na narrativa de Elena, o afeto que sente por Lila, ainda que controverso, soa tão genuíno que quase conseguimos tocá-lo, como um terceiro protagonista do livro. Ferrante escreve com domínio completo da história, nada parece lhe escapar. Mesmo os assuntos mais espinhosos são conduzidos de maneira franca. Impressiona também a relação de Elena e Lila com a literatura e a capacidade da autora em passar por questões tão espinhosas. Muito tem sido dito sobre o conhecimento que Ferrante demonstra ter da cultura clássica e do contexto histórico, mas vale notar também as referências freudianas e um certo olhar psicanalítico, como no episódio de “desmarginação”, neologismo criado por Lila para exprimir uma espécie de ruptura, de perda de contornos que acomete a personagem em uma noite de ano novo, ou na narração da panela de cobre que se desfaz, como Lila relata em carta à Elena.
Quando questionada sobre por que teria escolhido um pseudônimo e a posição à sombra de seus livros, Ferrante respondeu: “Talvez por qualquer desejo neurótico de intangibilidade”. Em entrevista publicada na revista The Paris Review, a autora teria dito a seus editores italianos que tem o hábito de escrever seus próprios sonhos: “Eu tenho feito isso desde que era uma garota. É um exercício que recomendo a todos. Submeter a experiência do sonho à lógica da vigília é um teste extremo de escrita. Nunca seremos capazes de reproduzir um sonho com precisão. É uma batalha perdida. Mas colocar em palavras a verdade de um gesto, de um sentimento, de um fluxo de eventos, sem domesticá-los, não é uma tarefa tão simples quanto pode parecer”.
Em outras passagens da mesma entrevista, Ferrante usa expressões como “fragmentos de memória”, que sua mãe, em italiano, chamava de frantumaglia. O termo intitula um livro de entrevistas, cartas e escritos de Ferrante classificados como autobiográficos, que foi publicado na Itália em 2003.
O poeta italiano Attillio Bertolucci escreveu que não existe presença mais aguda do que a ausência. Elena Ferrante parece concordar: “Estou presente, tanto nos meus romances como nas respostas às suas perguntas. O único espaço onde o leitor deveria procurar e encontrar o autor é o da sua escrita”.
Com um texto como a dela, fica difícil acreditar que não seja o bastante.
* * *
Nota: uma primeira versão desse texto foi publicada na revista Confeitaria em 25 de agosto de 2015.
A imagem que abre o post é daqui.
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Gays X Travestis
CHEGUEI da PUC às 21h30, preparei um lanche, vi o finalzinho da novela que está última semana, mudei de canal para a Globo News. Lembrei que hoje começou uma nova temporada de Keeping up with the Kardashians, mas só vi os 10 minutos finais... Esqueci. Só lembro das Kardashians aos domingos.
ONTEM terminei de ler as "21 lições para o século 21" do Yuval Noah Harari, ele termina falando sobre meditação Vipassana. Há uns 10 anos eu queria fazer um retiro de meditação Vipassana, que são 10 dias em retiro sem falar nada, boca fechada, mente liberta de pensar. Nunca fiz. Sou um praticante de meditação, em alguns épocas diariamente, até duas vezes por dia, de manhã e à noite. Mas também tem umas temporadas que não medito.
PEGUEI um outro livro, o escolhido foi Misto Quento de Charles Bukowski. Li um, dois, três capítulos. Acho que não estou para Bulowski. Devolvi o livro à estante e peguei o volume 4 de Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust. Nestas 600 páginas que Proust dá o subtítulo de Sodoma e Gomorra o tema é a homossexualidade. O texto estará em harmonia com o atual módulo da pós de Antropologia, Gênero e Sexualidade.
ESTOU lendo um texto para a aula de sábado, de Gênero e Sexualidade, sobre travestis de Salvador, é um texto etnográfico. Ao que me parece, até agora, até o que li, que travesti de Salvador é igual travesti de Curitiba ou de qualquer outra parte do Brasil. Talvez em outros países mude um pouco o conceito de ser travesti. O que chama atenção do autor do texto é que o travesti sem diz mulher porque dá o cu, assim como o viado. O homem come, não pode se interessar pelo pau do travesti e nem do viado. Nada deixa o travesti mais puto do que quando o boy do travesti resolve dar para o travesti ou mesmo faz um boquete, basta uma vez e o travesti abandona o boy. Travesti quer homem, assim como alguns gays. É um conceito diria que da cultura brasileiro que o homem que penetra e nunca é penetrado sempre será homem. Travesti não gosta de viado, não gosta de cara que é gay e mantém a aparência de homem, para travesti viado gosta de dar o cu, portanto, é mulher. O travesti assume a forma de mulher, ainda que mantenha o pau, mas é mulher porque gosta de dar o cu e chupar pau, ainda que precise comer o cu de "homem" que curte ser enrabado por travesti, neste caso o travesti faz programa com esses homens que pagam para transar com travesti. Na outra ponta estão os gays ativos e passivos que quase sempre tem uma situação sócio-econômica muito superior e privilegiada, estudaram e em sua maioria são graduados e tem um profissão. Os gays são visto pelo mercado como consumidores em potencial, o pink money é sempre bem vindo no turismo, na moda, no entretenimento etc. Os gays são consumistas. O travesti é pobre, em sua maioria estudou muito pouco, não tem uma profissão a não ser aquelas que travesti podem exercer, sendo que a maioria vive da prostituição, são marginalizados, moram na periferia e em lugares violentos. Gays em geral tem medo de apanhar de travesti na noite. Quando eu saia na noite e ia a lugares que os travesti também vão, não raro via as travestis com seus boys, elas bancam os boys, mas ficam alvoroçadas porque sabem que os gays também gostam do mesmo tipo de boy e também estão dispostos a bancar e há aqueles dispostos a bancar melhor que os travestis. Sempre houve e sempre haverá conflitos entre gays e travestis, não é um estudo antropológico que vai legar essas duas categorias de gênero a viverem em harmonia, até porque a maioria dos travestis não lê uma etnografia.
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Estou resgatando alguns textos de eventos de HQ e lembrei desse de 2014, a Primavera dos Livros. Logo quando cheguei, só o Sergio Vaz, poeta e fundador da Cooperifa, me entregou um postal lindo! Claro que fui vê-lo declamar.
Depois, segui para uma palestra sobre Quadrinhos, foi um dos primeiros eventos do tipo que fui, e cobri para o saudoso Quadro-a-Quadro.
Bom, agora posto aqui!
Caramba, como meu ânimo para tais coberturas caiu nos últimos tempos...
Tomara que eu consiga revitalizar essa vontade, rs!
Enquanto isso, confira o que escrevi, na época:
Quadrinhos na Primavera dos Livros
Keli Vasconcelos
Quem passou pela Praça Dom José Gaspar, em São Paulo, entre os dias 11 e 13 de abril (2014), conferiu mais uma edição da Primavera dos Livros, evento promovido pela LIBRE (Liga Brasileira de Escritores), que este ano prestigiou a poesia da periferia, com direito a sarau a céu aberto, música e lançamentos.
Destaque para um espaço dedicado à Nona Arte, com o bate-papo “Quadrinhos em ação”, na Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade, na tarde de sábado, 12.
Capitaneado por Guilherme Kroll, editor da Balão Editorial, foram convidados para a conversa Walter Tierno, editor da Giz Editorial, Eloar Guazelli, ilustrador e quadrinista, e Celso Oliveira, roteirista e redator.
Para debater o mercado de Quadrinhos, Tierno tomou emprestado, de uma colega, a seguinte teoria: “É como o voo da galinha. Quando a gente pensa que vai decolar, ela acaba perdendo força e caindo. Deveria aparecer um gavião e levantá-la de vez”, enfatizou o editor, que tem no currículo passagens pela área da publicidade e autor da obra “Cira e o Velho” (Giz Editorial).
Guazelli também se valeu da ‘galinha’ para falar do setor. “Ela tomou um ‘banho de loja’, está se aprimorando. Com a crise na Europa, vemos muitas editoras e profissionais perdidos por conta da falta de subsídios do governo”, analisou e completou: “Aqui muita gente corre atrás, mesmo quando não consegue tal benefício”.
A carência de bons roteiristas, para adaptações de clássicos como Machado de Assis e inéditos, foi também discutida. Celso Oliveira, que roteirizou a série "Jambocks”, sobre a participação da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial, frisou que muitos iniciantes já querem publicar sem fazer uma análise prévia. Muitas vezes desconstruir uma obra a ser adaptada, sem fugir de seu contexto, por exemplo, pode tornar o trabalho mais robusto, ressaltou. “Não é porque você lê muito que escreverá excepcionalmente bem e não adianta ter bagagem se não passar para frente. É preciso uma visão crítica do próprio trabalho, muita pesquisa, treino, dedicação”, disse Oliveira.
Outro destaque foi para o preconceito entre Literatura e Quadrinhos, durante as perguntas feitas aos convidados. Uma bibliotecária do bairro da Penha, zona leste da capital paulista, relatou o gosto da filha por mangás, embora seu esposo não ‘achar interessante’ tal leitura. “É preciso entender que são linguagens irmãs e que devemos ler de tudo, não apenas um ou outro. Houve tempos em que, numa livraria, a estante de Quadrinhos ficava em um lugar nada a ver, quando tinha! Hoje é bem diferente”, finalizou Guazelli.
Pegando a ‘teoria do voo da galinha’ para a Nona Arte, é não deixá-la cair, muito menos morrer, em suma.
#TBT#eventos#historiasemquadrinhos#sampalovers#2014#primaveraoslivros#books#books livros#Books and Literature#Literatura brasileira
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Rua 12.
...e eu vejo essa cena jovem que só se preocupa com cancelamento e ataque, todo mundo fingindo que se ama e atacando pelas costas só pra entrar em destaque — enquanto quem lê poesia era pra mudar o mundo e só mudam a camisa do hype, enquanto vocês brigam pra ter pronome neutro eu brigo pra tirar os verdadeiros do vício do crack. Prioridades, né? Cada um briga pelo que fica incomodado, uns querem dizer como o outro é chamado porém não salvam o seu estado, deixando-o abandonado. Hoje os jovens preferem cantar baboseiras pra criar dancinha no app do lado, até acho legal as dancinhas mas ainda prefiro ver meu povo sendo resgatado. Antes bandido virava MC com o intuito de mudar de vida, hoje o MC quer virar bandido pra ter o que dizer na batida, e a maioria que canta de crime nunca foi do crime na vida, vocês ganham dinheiro com a vida dos outros e ainda usam umas rimas batidas? Você quer ser o Nego Di? No Big Brother retrasado ninguém entendeu, ao invés de ganhar um milhão, poucos vão preferir um diploma na periferia, por isso, obrigado Eduardo Tadeu. Um brinde pra você que trabalha e estuda, um dia você recebe o que é seu e não caia no conto de que o crime compensa, quem caiu nessa tá preso ou morreu. Não caia no conto do homem que fala que quando a mulher é pobre ela abre as pernas, não foi isso que minha mãe me ensinou, então desculpa mamãe falei merda. Infelizmente viver na merda é o novo conceito de ser brasileiro, tem quem esconde o dinheiro no cu e quem toma no cu porque tá sem dinheiro.
Estava aqui na rua 2, dez ruas depois chamei Deus pra outro feat, mas só o Diabo se dispôs — penso em uma rima e ele completa, tenho a sensação que essa letra foi ele que compôs. Por falar no capeta, pior que o capa preta foi o acéfalo que na presidência a gente pôs, segurando uma foice, você sabe bem quem são os bois, filhos do ódio que mataram um congolês chamado Moïse que foi espancado até a morte a sangue frio, veio do Congo pra fugir da guerra civil mas esqueceu que aqui no Brasil, a guerra mata por ano mais de 60 mil e os que assistiram sequer reagiram porque eles pensaram que era ladrão e o preto apanhando fazia o perfil, não é? Racistas! Puta que pariu. Eu vim do país da fome onde a bala come, onde terrorista aqui não é Osama e sim "os hómi". Não adianta falar que a favela venceu e cantar da roupa que consome porque você vai ser visto como um playboy porque você comprou um carro novo e iPhone. Essa não é pro Bolsonaro, essa aqui eu fiz com amor, no país onde desfila a dor minha letra é o desfibrilador pra te resgatar igual Samu e te salvar com essa mú-sica contra esses filhos da pu-lític que querem nos pulverizar, pó-pó-pólvora, pode gorar, enquanto eu componho eu sei que o Sol virá, pode orar mas não adianta esperar um futuro certo igual a mãe Diná, quantos garotos aqui sem pai e quem salva são as mães de lá.
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Capítulo 01 [Sonho de Inverno]
P.O.V Lizzie
Suspiro profundamente enquanto espero o trem chegar, pegar o metro em Toronto era algo que eu estava acostumada a fazer, mesmo que meus pais não aprovassem a ideia. A maior vantagem era a linha amarela, quase unicamente universitária, permitia o deslocamento entre os campus sem nenhum esforço, sorri com essa constatação, enquanto o cheiro familiar do trem e o vento me atingiam. Mais algumas horas apenas, Gabriela vai estar em casa, Gabe finalmente vai sair daquele bendito quarto e Dan e eu teremos um pouco de paz!
Embarco no metro e consigo um assento vago, não é um horário muito lotado, a maioria dos estudantes já estão no campus ou já saíram de lá, mas o professor de literatura marcou uma reunião comigo, sinceramente não sei o porquê, provavelmente algum comentário sobre o meu trabalho.
Assim que desembarco do metro ando calmamente pela estação, fazendo questão de respirar fundo quando saiu do buraco no chão, é um dia típico de verão, um vendo frio faz cócegas no meu rosto bagunçando, o sol é presente o suficiente para contrabalancear o ar frio da cidade, alguns esquilos andam pelas calçadas na esperança de conseguir alguma sobra.
- Lizzie! - Sinto alguém tocar meu ombro e me sobressalto, me acostumei durante os anos com as pessoas me confundirem com Gabriela, ficando muito decepcionados quando descobriram que era a irmão sem graça, por isso comecei a pintar meus cabelos de ruivo. Mas não é nenhuma fã louca, apenas Camila Stevens, a filha do professor de Economia e minha melhor amiga.
- Camis - Sorrio - Indo ou voltando?
- Indo - Ela engancha o braço no meu e seguimos em direção aos prédios - Sua irmã não chegou ainda?
- Não, só a noite...
- Aproveita os momentos de paz - Ela sorri torto - Desculpa, mas sabe que eu não sou fã da Gabi.
- Sei disso, nem você nem a Lex, as vezes nem eu mesma. Gabriela pode ser um pouco demais as vezes.
- Para o nosso bem, Gabe pode grudar nela.
Aceno positivamente com a cabeça, Gabis e Gabe são gêmeos univitelinos, o que significa que são idênticos, Dani e eu somos os que sobraram na barriga, apesar de termos todos uma conexão forte, Daniel e eu temos algo a mais, o mesmo diferencial dos outros dois.
- De toda forma, eu tenho muito o que fazer, com o trabalho com o Sr. Morgan e os treinos com o Trovão...
- Mal posso esperar para ver você nas semifinais! Vai ser a melhor amazona da geração, tenho certeza!
- Não exagera Camis - Sinto minhas bochechas corarem e agradeço a Deus por ter chegado na sala dos professores - Sou apenas eu... E eu tenho que ir!
Ela estala um beijo na minha bochecha e murmura algo em francês que eu entendo como "boa sorte", enquanto se afasta saltitante pelo corredor, as madeixas pretas com listras azuladas balançando em um lindo rabo de cavalo. Camila é especial, penso comigo mesma enquanto bato na porta.
Sorrio para mim mesma ao constatar as mensagens no twitter, por algum motivo os últimos 15 minutos parecem ter saído de algum romance clichê do tipo que se lê em aviões. Fiquei muito surpresa ao constatar que o Sr. Morgan não era o único na sala de aula, e que todo aquele suspense era na verdade um pedido de ajuda. Um que fiquei feliz em atender. Meu celular vibra no bolso, mas ignoro enquanto o ônibus percorre as ruas de Toronto em direção a periferia, a hípica não é muito longe, mas não é perto também e eu tenho muito trabalho a fazer hoje.
Essa ultima mensagem me irritou mais do que deveria e minha distração é suficiente para Cometa roubar uma cenoura do meu bolso quase levando minha calça junto. Thomas e Lexie estão juntos desde o Ensino Médio e ela sempre detestou o irmão mais novo dele, não que eu goste de Christopher, se eu acreditasse em gêmeos malignos e se Chris e Thomas fossem irmãos, então Thomas seria o anjinho e Chris o próprio demônio, mas apesar da atitude, Baring é incrível com os cavalos e talvez o melhor cavaleiro da geração. Claro que isso afetou um pouco o que eu penso sobre ele e eu talvez tivesse um crush quando éramos adolescentes, mas agora ele é apenas o cara que vai perder a bolsa de estudos se não passar em literatura e se ele perder a bolsa...
"Adeus semifinais - Christopher disse simplesmente, enquanto inclinava a cadeira num angulo perigoso.
- Você quer dizer que seu eu não ajudar, você não compete?
- Não, o que estou dizendo é que eu preciso dessa nota e o Sr. Morgan disse que você é a melhor aluna.
- E o que eu ganho com isso?
- Crédito extra - Interrompeu o professor ajeitando algumas pastas na mesa - E eu gostaria muito que a senhorita publicasse seu trabalho e isso contaria pontos na bancada de orientação.
Baring passou os olhos de mim para o professor como se tentasse entender nosso dilema pessoal, a publicação de um trabalho acadêmico demandava um certo apoio, e transformar o irmão delinquente de Thomas Baring em um aluno dedicado seria um belo feito, sorri para mim mesma.
Não havia o risco de me apaixonar por Chris, eu o conhecia bem demais, mesmo que mal tenhamos nos falado ao longo dos anos, era Christopher, o badboy, o cunhado da Lexie, o cavaleiro talentoso, o último rapaz que eu poderia me interessar.
- Feito"
Terminei de passar a sela do Cometa para o Trovão e fui em direção a pista, precisava treinar cada segundo se tivesse uma chance de vencer as regionais. Senti meu celular vibrar e espiei rapidamente, um formigamento percorreu meu corpo, montei em Trovão e concentrei todo meu ser naquele treino, mesmo sentindo os olhos de alguém me observando.
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A Cidade Inteira Dorme e Outros Contos - Livro
A Cidade Inteira Dorme e Outros Contos é uma coletânea do autor Ray Bradburry, o mesmo de Fahrenheit 451. Eu li a versão Kindle da Biblioteca Azul, depois de comprá-lo em uma promoção por R$ 5,90.
Ao todo são 13 contos de ficção com diferentes estilos, indo desde contos que parecem filmes de Sessão da Tarde até contos que são repletos de suspense:
Uma pequena viagem
O lixeiro
O visitante
O messias
A autêntica múmia egípcia feita em casa
A cidade inteira dorme
O homem Ilustrado
O homem em chamas
As frutas no fundo da fruteira
O dragão
A pedestre
O alçapão
A hora zero
Li o livro tem alguns meses e pelos títulos não consigo me lembrar de todos. Acho que isso se deve ao fato de ter gostado bem mais de uns do que de outros e os preferidos são os que ficaram na lembrança. Por isso, inclusive, pretendo falar um pouco sobre eles. Fica ai uma lista: O lixeiro, A autêntica múmia egípcia feita em casa, A cidade inteira dorme, O homem Ilustrado, O dragão, O alçapão, A hora zero.
Ter gostado mais desses não significa que os outros são ruins. Gostar de algo está muito relacionado a bagagem que temos, as vezes o que acontece é que nossa bagagem não se assemelha muito ao conteúdo da história, o que pode torná-la desinteressante para nós, ou pode tornar a nossa compreensão sobre os acontecimentos mais rasa, até mesmo confusa.
Além disso, precisamos levar em consideração nosso humor e nossos sentimentos. Tem dias que certos tipos de histórias não são bem-vindos e dias em que gostaríamos de ver/ler algo mais específico. Não sei quanto a você, mas depois de muito tempo lidando com questões pessoais, ou problemas eu me sinto muito mais aberto a assistir filmes/séries ou ler livros que não exijam muito da minha cabeça, é a melhor hora para assistir aquele filme de ação em que tudo explode e que os roteiristas forçam a barra com situações impossíveis. Ou assistir aquela comédia romântica bobinha. Por outro lado, na maior parte do tempo eu gosto de filmes, séries e livros que mexem com a minha cabeça, tem um humor mais ácido, ou viajam na ficção-científica. Como já disse o livro possui contos bem diversos, então pode ser que você esteja em um bom dia para ler o conto O Alçapão, mas talvez não seja o melhor para ler o seguinte A Hora Zero.
Continuando, tenho a impressão de que os personagens de Ray Bradburry são sempre um tanto “estranhos”. Andei pensando um pouco sobre o assunto e na minha opinião eles não agem como imagino que pessoas agiriam em determinadas situações, o que faz com que certos acontecimentos pareçam um pouco forçados.
O melhor exemplo dos personagens estranhos, nessa coletânea, foram as garotas apresentadas em A cidade inteira dorme. Esse foi o conto que eu mais gostei, mas também o que achei mais forçado. Gostei principalmente pela maneira como Ray desenvolve o suspense, ele vai crescendo ao longo da narrativa e você vai ficando cada vez mais tenso, envolvido e interessado na história. Tudo começa com um corpo sendo encontrado no meio de uma ravina por duas amigas e com a suspeita de um assassino em série que busca jovens garotas como vítimas. As amigas pretendiam ir ao cinema, porém depois de encontrarem o corpo começam a pensar sobre voltar para casa, mas uma delas se mantem firme aos plano original e convence as demais que elas devem ir ao cinema, à noite, sozinhas, com um assassino em série matando mulheres na periferia da cidade, próximo de onde elas moram. É por isso que eu achei forçado, qualquer um em sã consciência ficaria em casa, trancaria todas as portas e janelas e não sairia a noite.
Entendo que isso foi meio que necessário, a obsessão da protagonista em continuar faz com que o autor possa adicionar novos acontecimentos que só reforçam como essa ideia parece estúpida. Todos os acontecimentos contribuem para gerar algum tipo de medo em quem lê e nas garotas. Ou seja, é um conto bem tenso e envolvente, por mais que tudo ocorra por conta de uma obsessão “boba”.
No entanto, isso não foi algo que afetou meu entretenimento, embora eu acredite que esse seja um ponto negativo nas obras do autor, os personagens agindo de forma forçada, acho que o maior ponto positivo são sempre as premissas de cada história. Todas são muito interessantes e inspiradoras.
Como por exemplo, a premissa por trás de O lixeiro, em que um lixeiro se assusta com a possibilidade de seu caminhão precisar ser usado caso as cidades sejam bombardeadas. Nesse caso ele seria encarregado de carregar os corpos.
O mesmo também ocorre com o conto O homem ilustrado, em que um homem decide virar atração de circo e vai até uma tatuadora que preenche o corpo dele com diversas artes, porém duas artes mostram o futuro e só devem ser reveladas depois de certo tempo... no caso o que elas revelam não é muito agradável.
O dragão se apresenta como um conto bem original, ele parece o mais distante dos demais por se passar em um período medieval, mas no fim entendemos melhor porque é um conto de Bradburry.
O alçapão foi um conto que tive muita vontade de tentar adaptar, ou até mesmo expandir. A história deixa muito para nossa imaginação, mas segue uma linha narrativa muito tensa. Enquanto lia, lembrava de filmes como Babadook, ou Invocação do Mal, imagino que se fosse adaptado ou expandido seguiria um estilo similar. A narrativa aqui gira em torno de um alçapão que surge misteriosamente na casa de uma mulher. Ela decide não o investigar, porém barulhos estranhos começam a surgir durante a noite. Achando que são ratos ela chama um dedetizador e o resto deixo para você ler.
A hora zero, embora eu tenha achado um conto previsível, adorei a ideia de que as crianças estariam trabalhando com alienígenas, ajudando-os a invadir a Terra. Tudo com a maior inocência.
Por fim, temos A autêntica múmia egípcia feita em casa, pra mim esse conto tem muita cara de Sessão da Tarde e apresenta a aventura fechadinha de um coronel aposentado e um garotinho, que decidem fazer uma múmia em casa e pregar uma peça na cidade, afinal, nada acontece lá nunca e uma múmia seria uma ótima forma de agitar as coisas. É um conto bem tranquilo e divertido de ler.
Conclusão: Acho que esses contos valeram o investimento, foi uma leitura bem divertida que, inclusive, me incentivou a adicionar mais livros de Bradburry na minha lista de desejos. Então, você vai ver mais aqui no futuro. Os outros contos, não citados, também são interessantes e talvez eles instiguem você mais do que a mim. Sem dúvida, todas as histórias têm premissas fascinantes, embora algumas decisões de personagens pareçam forçadas, do meu ponto de vista, não senti que elas atrapalharam muito meu apreço pela obra.
#ray bradbury#a cidade inteira dorme#conto#livro#resenha#análise#crítica#o homem ilustrado#o alçapão#a hora zero#o dragão#múmia
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Lula diz que Bolsonaro converteu vírus em “arma de destruição em massa”
Ex-presidente divulgou um vídeo em que lê uma carta aberta aos brasileiros nesta segunda-feira O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nesta segunda-feira um vídeo em que lê uma carta aberta aos brasileiros. Nela, o petista afirma que o governo de Jair Bolsonaro “converteu o coronavírus em uma arma de destruição em massa” e subordinou o Brasil aos Estados Unidos “de maneira humilhante”. Diz ainda que a nomeação de “centenas de militares” para cargos estratégicos faz parte de uma “escalada autoritária” que lembra “os tempos sombrios da ditadura”. No pronunciamento, Lula discorre sobre variados temas, do financiamento do SUS à Amazônia, do que considera sucateamento da Petrobras ao “furor privatista” do governo, da violência da polícia contra os negros no Brasil à perseguição de “pesquisadores, professores” e artistas.
Reprodução / YouTube Diz que “as eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim”. E afirma: “Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos”. Apesar de Lula hoje não poder se candidatar, já que foi condenado e está sem seus direitos políticos, a iniciativa está sendo interpretada como uma mensagem de que, caso a situação seja revertida na Justiça, ele concorrerá, sim, à Presidência da República em 2022. Lula inicia a carta afirmando que “uma tristeza infinita vem apertando o meu coração”. Leia, abaixo, a íntegra do manifesto: “Minhas amigas e meus amigos, Nos últimos meses uma tristeza infinita vem apertando meu coração. O Brasil está vivendo um dos piores períodos de sua história. Com 130 mil mortos e quatro milhões de pessoas contaminadas, estamos despencando em uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista. Mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros acordam, todos os dias, sem saber se seus parentes, amigos ou eles próprios estarão saudáveis e vivos à noite. A esmagadora maioria dos mortos pelo Coronavírus é de pobres, pretos, pessoas vulneráveis que o Estado abandonou. Na maior e mais rica cidade do país, as mortes pelo Covid-19 são 60% mais altas entre pretos e pardos da periferia, segundo os dados das autoridades sanitárias. Cada um desses mortos que o governo federal trata com desdém tinha nome, sobrenome, endereço. Tinha pai, mãe, irmão, filho, marido, esposa, amigos. Dói saber que dezenas de milhares de brasileiras e brasileiros não puderam se despedir de seus entes queridos. Eu sei o que é essa dor. Teria sido possível, sim, evitar tantas mortes. Estamos entregues a um governo que não dá valor à vida e banaliza a morte. Um governo insensível, irresponsável e incompetente, que desrespeitou as normas da Organização Mundial de Saúde e converteu o Coronavírus em uma arma de destruição em massa. Os governos que emergiram do golpe congelaram recursos e sucatearam o Sistema Único de Saúde, o SUS, respeitado mundialmente como modelo para outras nações em desenvolvimento. E o colapso só não foi ainda maior graças aos heróis anônimos, as trabalhadoras e trabalhadores do sistema de saúde. Os recursos que poderiam estar sendo usados para salvar vidas foram destinados a pagar juros ao sistema financeiro. O Conselho Monetário Nacional acaba de anunciar que vai sacar mais de 300 bilhões de reais dos lucros das reservas que nossos governos deixaram. Seria compreensível se essa fortuna fosse destinada a socorrer o trabalhador desempregado ou a manter o auxílio emergencial de 600 reais enquanto durar a pandemia. Mas isso não passa pela cabeça dos economistas do governo. Eles já anunciaram que esse dinheiro vai ser usado para pagar os juros da dívida pública! Nas mãos dessa gente, a Saúde pública é maltratada em todos os seus aspectos. A substituição da direção do Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária é apenas a ponta de um iceberg. Em uma escalada autoritária, o governo transferiu centenas de militares da ativa e da reserva para a administração federal, inclusive em muitos postos-chave, fazendo lembrar os tempos sombrios da ditadura. O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para, sorrateiramente, cometer um crime de lesa-pátria. Um crime politicamente imprescritível, o maior crime que um governante pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional. Não foi por acaso que escolhi para falar com vocês neste 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil, quando celebramos o nascimento do nosso país como nação soberana. Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão, submissão. Ao longo de minha vida sempre lutei pela liberdade. Liberdade de imprensa, liberdade de opinião, liberdade de manifestação e de organização, liberdade sindical, liberdade de iniciativa. É importante lembrar que não haverá liberdade se o próprio país não for livre. Renunciar à soberania é subordinar o bem-estar e a segurança do nosso povo aos interesses de outros países. A garantia da soberania nacional não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo. Supõe também defender nosso povo, nossas riquezas minerais, cuidar das nossas florestas, nossos rios, nossa água. Na Amazônia devemos estar presentes com cientistas, antropólogos e pesquisadores dedicados a estudar a fauna e a flora e a empregar esse conhecimento na farmacologia, na nutrição e em todos os campos da ciência – respeitando a cultura e a organização social dos povos indígenas. O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de maneira humilhante, e submete nossos soldados e nossos diplomatas a situações vexatórias. E ainda ameaça envolver o país em aventuras militares contra nossos vizinhos, contrariando a própria Constituição, para atender os interesses econômicos e estratégico-militares norte-americanos. A submissão do Brasil aos interesses militares de Washington foi escancarada pelo próprio presidente ao nomear um oficial general das Forças Armadas Brasileiras para servir no Comando Militar Sul dos Estados Unidos, sob as ordens de um oficial americano. Em outro atentado à soberania nacional, o atual governo assinou com os Estados Unidos um acordo que coloca a Base Aeroespacial de Alcântara sob o controle de funcionários norte-americanos e que priva o Brasil de acesso à tecnologia, mesmo de terceiros países. Quem quiser saber os verdadeiros objetivos do governo não precisa consultar manuais secretos da Abin ou do serviço de inteligência do Exército. A resposta está todos os dias no Diário Oficial, em cada ato, em cada decisão, em cada iniciativa do presidente e de seus assessores, banqueiros e especuladores que ele chamou para dirigir nossa economia. Instituições centenárias, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, que se confundem com a história do desenvolvimento do país, estão sendo esquartejadas e fatiadas – ou simplesmente vendidas a preço vil. Bancos públicos não foram criados para enriquecer famílias. Eles são instrumentos do progresso. Financiam a casa do pobre, a agricultura familiar, as obras de saneamento, a infraestrutura essencial ao desenvolvimento. Se olharmos para o setor energético, veremos uma política de terra arrasada igualmente predadora. Depois de colocar à venda por valores ridículos as reservas do Pré-Sal, o governo desmantela a Petrobrás. Venderam a distribuidora e os gasodutos foram alienados. As refinarias estão sendo esquartejadas. Quando só restarem os cacos, chegarão as grandes multinacionais para arrematar o que tiver sobrado de uma empresa estratégica para a soberania do Brasil. Meia dúzia de multinacionais ameaçam a renda de centenas de bilhões de reais do petróleo do Pré-Sal – recursos que constituiriam um fundo soberano para financiar uma revolução educacional e científica. A Embraer, um dos maiores trunfos do nosso desenvolvimento tecnológico, só escapou da sanha entreguista em função das dificuldades da empresa que iria adquiri-la, a Boeing, profundamente ligada ao complexo industrial militar dos Estados Unidos. O desmanche não termina aí. O furor privatista do governo pretende vender, na bacia das almas, a maior empresa de geração de energia da América Latina, a Eletrobrás, uma gigante com 164 usinas – duas delas termonucleares – responsável por quase 40% da energia consumida no Brasil. A demolição das universidades, da educação e o desmonte das instituições de apoio à ciência e à tecnologia, promovidos pelo governo, são ameaça real e concreta à nossa soberania. Um país que não produz conhecimento, que persegue seus professores e pesquisadores, que corta bolsas de pesquisas e nega o ensino superior à maioria de sua população está condenado à pobreza e à eterna submissão. A obsessão destrutiva desse governo deixou a cultura nacional entregue a uma sucessão de aventureiros. Artistas e intelectuais clamam pela salvação da Casa de Ruy Barbosa, da Funarte, da Ancine. A Cinemateca Brasileira, onde está depositado um século da memória do cinema nacional, corre o sério risco de ter o mesmo destino trágico do Museu Nacional Minhas amigas e meus amigos, No isolamento da quarentena tenho refletido muito sobre o Brasil e sobre mim mesmo, sobre meus erros e acertos e sobre o papel que ainda pode me caber na luta do nosso povo por melhores condições de vida. Decidi me concentrar, ao lado de vocês, na reconstrução do Brasil como Nação independente, com instituições democráticas, sem privilégios oligárquicos e autoritários. Um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com fundamento na soberania popular. Uma Nação voltada para a igualdade e o pluralismo. Uma Nação inserida numa nova ordem internacional baseada no multilateralismo, na cooperação e na democracia, integrada na América do Sul e solidária com outras nações em desenvolvimento. O Brasil que quero reconstruir com vocês é uma Nação comprometida com a libertação do nosso povo, dos trabalhadores e dos excluídos. Dentro de um mês vou fazer 75 anos. Olhando para trás, só posso agradecer a Deus, que foi muito generoso comigo. Tenho que agradecer à minha mãe, dona Lindu, por ter feito de um pau-de-arara sem diploma um trabalhador orgulhoso, que um dia viraria presidente da República. Por ter feito de mim um homem sem rancor, sem ódios. Eu sou o menino que desmentiu a lógica, que saiu do porão social e chegou ao andar de cima sem pedir permissão a ninguém, só ao povo. Não entrei pela porta dos fundos, entrei pela rampa principal. E isso os poderosos jamais perdoaram. Reservaram para mim o papel de figurante, mas virei protagonista pelas mãos dos trabalhadores brasileiros. Assumi o governo disposto a mostrar que o povo cabia, sim, no orçamento. Mais do que isso, provei que o povo é um extraordinário patrimônio, uma enorme riqueza. Com o povo o Brasil progride, se enriquece, se fortalece, se torna um país soberano e justo. Um país em que a riqueza produzida por todos seja distribuída para todos – mas em primeiro lugar para os explorados, os oprimidos, os excluídos. Todos os avanços que fizemos sofreram encarniçada oposição das forças conservadoras, aliadas a interesses de outras potências. Eles nunca se conformaram em ver o Brasil como um país independente e solidário com seus vizinhos latino-americanos e caribenhos, com os países africanos, com as nações em desenvolvimento. É aí, nessas conquistas dos trabalhadores, nesse progresso dos pobres, no fim da subserviência, é aí que está a raiz do golpe de 2016. Aí está a raiz dos processos armados contra mim, da minha prisão ilegal e da proibição da minha candidatura em 2018. Processos que – agora todo mundo sabe – contaram com a criminosa colaboração secreta de organismos de inteligência norte-americanos. Ao tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, nós fizemos uma revolução neste país. Uma revolução pacífica, sem tiros nem prisões. Ao ver que esse processo de ascensão social dos pobres iria continuar, que a afirmação de nossa soberania não iria ter volta, os que se julgam donos do Brasil, aqui dentro e lá fora, resolveram dar um basta. Nasce aí o apoio dado pelas elites conservadoras a Bolsonaro. Aceitaram como natural sua fuga dos debates. Derramaram rios de dinheiro na indústria das fake news. Fecharam os olhos para seu passado aterrador. Fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e a apologia pública que ele fez do estupro. As eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim. Com ascensão de Bolsonaro, milicianos, atravessadores de negócios e matadores de aluguel saíram das páginas policiais e apareceram nas colunas políticas. Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos. Um dado escandaloso ilustra essa conivência: nos quatro primeiros meses da pandemia, quarenta bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 170 bilhões de reais. Enquanto isso, a massa salarial dos empregados caiu 15% em um ano, o maior tombo já registrado pelo IBGE. Para impedir que os trabalhadores possam se defender dessa pilhagem, o governo asfixia os sindicatos, enfraquece as centrais sindicais e ameaça fechar as portas da Justiça do Trabalho. Querem quebrar a coluna vertebral do movimento sindical, o que nem a ditadura conseguiu. Violentaram a Constituição de 1988. Repudiaram as práticas democráticas. Implantaram um autoritarismo obscurantista, que destruiu as conquistas sociais alcançadas em décadas de lutas. Abandonaram uma política externa altiva e ativa, em favor de uma submissão vergonhosa e humilhante. Este é o verdadeiro e ameaçador retrato do Brasil de hoje. Tamanha calamidade terá que ser enfrentada com um novo contrato social que defenda os direitos e a renda do povo trabalhador. Minhas queridas e meus queridos, Minha longa vida, aí incluídos os quase dois anos que passei em uma prisão injusta e ilegal, me ensinou muito. Mas tudo o que fui, tudo o que aprendi cabe num grão de milho se essa experiência não for colocada a serviço dos trabalhadores. É inaceitável que 10% da população vivam à custa da miséria de 90% do povo. Jamais haverá crescimento e paz social em nosso país enquanto a riqueza produzida por todos for parar nas contas bancárias de meia dúzia de privilegiados. Jamais haverá crescimento e paz social se as políticas públicas e as instituições não tratarem com equidade a todos brasileiros. É inaceitável que os trabalhadores brasileiros continuem sofrendo os impactos perversos da desigualdade social. Não podemos admitir que nossa juventude negra tenha suas vidas marcadas por uma violência que beira genocídio. Desde que vi, naquele terrível vídeo, os 8 minutos e 43 segundos de agonia de George Floyd, não paro de me perguntar: quantos George Floyd nós tivemos no Brasil? Quantos brasileiros perderam a vida por não serem brancos? Vidas negras importam, sim. Mas isso vale para o mundo, para os Estados Unidos e vale para o Brasil. É intolerável que nações indígenas tenham suas terras invadidas e saqueadas e suas culturas destruídas. O Brasil que queremos é o do marechal Rondon e dos irmãos Villas-Boas, não o dos grileiros e dos devastadores de florestas. Temos um governo que quer matar as mais belas virtudes do nosso povo, como a generosidade, o amor à paz e a tolerância. O povo não quer comprar revólveres nem cartuchos de carabina. O povo quer comprar comida. Temos que combater com firmeza a violência impune contra as mulheres. Não podemos aceitar que um ser humano seja estigmatizado por seu gênero. Repudiamos o escárnio público com os quilombolas. Condenamos o preconceito que trata como seres inferiores pobres que vivem nas periferias das grandes cidades. Até quando conviveremos com tanta discriminação, tanta intolerância, tanto ódio? Meus amigos e minhas amigas, Para reconstruirmos o Brasil pós pandemia, precisamos de um novo contrato social entre todos os brasileiros. Um contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria. E no qual sejam respeitados nossos tesouros naturais, como o Cerrado, o Pantanal, a Amazônia Azul e a Mata Atlântica. O alicerce desse contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto. É através do exercício do voto, livre de manipulações e fake news, que devem ser formados os governos e ser feitas as grandes escolhas e as opções fundamentais da sociedade. Através dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático, soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião, protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania. Um Brasil de todos e para todos. Se estivermos unidos em torno disso poderemos superar esse momento dramático. O essencial hoje é vencer a pandemia, defender a vida e a saúde do povo. É pôr fim a esse desgoverno e acabar com o teto de gastos que deixa o Estado brasileiro de joelhos diante do capital financeiro nacional e internacional. Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos. Minhas amigas e meus amigos, Queremos um Brasil em que haja trabalho para todos. Estamos falando de construir um Estado de bem-estar social que promova a igualdade de direitos, em que a riqueza produzida pelo trabalho coletivo seja devolvida à população segundo as necessidades de cada um. Um Estado justo, igualitário e independente, que dê oportunidades para os trabalhadores, os mais pobres e os excluídos. Esse Brasil dos nossos sonhos pode estar mais próximo do que aparenta. Até os profetas de Wall Street e da City de Londres já decretaram que o capitalismo, tal como o mundo o conhece, está com os dias contados. Levaram séculos para descobrir uma verdade inquestionável que os pobres conhecem desde que nasceram: o que sustenta o capitalismo não é o capital. Somos nós, os trabalhadores. É nessas horas que me vem à cabeça esta frase que li num livro de Victor Hugo, escrito há um século e meio, e que todo trabalhador deveria levar no bolso, escrita em um pedacinho de papel, para jamais esquecer: “É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos…” Nenhuma solução, porém, terá sentido sem o povo trabalhador como protagonista. Assim como a maioria dos brasileiros, não acredito e não aceito os chamados pactos “pelo alto”, com as elites. Quem vive do próprio trabalho não quer pagar a conta dos acertos políticos feitos no andar de cima. Por isso quero reafirmar algumas certezas pessoais: Não apoio, não aceito e não subscrevo qualquer solução que não tenha a participação efetiva dos trabalhadores. Não contem comigo para qualquer acordo em que o povo seja mero coadjuvante. Mais do que nunca, estou convencido de que a luta pela igualdade social passa, sim, por um processo que obrigue os ricos a pagar impostos proporcionais às suas rendas e suas fortunas. E esse Brasil, minhas amigas e meus amigos, está ao alcance das nossas mãos. Posso afirmar isso olhando nos olhos de cada um e de cada uma de vocês. Nós provamos ao mundo que o sonho de um país justo e soberano pode sim, se tornar realidade. Eu sei – vocês sabem – que podemos, de novo, fazer do Brasil o país dos nossos sonhos. E dizer, do fundo do meu coração: estou aqui. Vamos juntos reconstruir o Brasil. Ainda temos um longo caminho a percorrer juntos. Fiquem firmes, porque juntos nós somos fortes. Viveremos e venceremos.”
Leia o artigo original em: Valor.com.br
Via: Blog da Fefe
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Lula diz que Bolsonaro converteu vírus em “arma de destruição em massa”
Ex-presidente divulgou um vídeo em que lê uma carta aberta aos brasileiros nesta segunda-feira O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nesta segunda-feira um vídeo em que lê uma carta aberta aos brasileiros. Nela, o petista afirma que o governo de Jair Bolsonaro "converteu o coronavírus em uma arma de destruição em massa" e subordinou o Brasil aos Estados Unidos "de maneira humilhante". Diz ainda que a nomeação de "centenas de militares" para cargos estratégicos faz parte de uma "escalada autoritária" que lembra "os tempos sombrios da ditadura". No pronunciamento, Lula discorre sobre variados temas, do financiamento do SUS à Amazônia, do que considera sucateamento da Petrobras ao "furor privatista" do governo, da violência da polícia contra os negros no Brasil à perseguição de "pesquisadores, professores" e artistas. Reprodução / YouTube Diz que "as eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim". E afirma: "Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos". Apesar de Lula hoje não poder se candidatar, já que foi condenado e está sem seus direitos políticos, a iniciativa está sendo interpretada como uma mensagem de que, caso a situação seja revertida na Justiça, ele concorrerá, sim, à Presidência da República em 2022. Lula inicia a carta afirmando que "uma tristeza infinita vem apertando o meu coração". Leia, abaixo, a íntegra do manifesto: "Minhas amigas e meus amigos, Nos últimos meses uma tristeza infinita vem apertando meu coração. O Brasil está vivendo um dos piores períodos de sua história. Com 130 mil mortos e quatro milhões de pessoas contaminadas, estamos despencando em uma crise sanitária, social, econômica e ambiental nunca vista. Mais de duzentos milhões de brasileiras e brasileiros acordam, todos os dias, sem saber se seus parentes, amigos ou eles próprios estarão saudáveis e vivos à noite. A esmagadora maioria dos mortos pelo Coronavírus é de pobres, pretos, pessoas vulneráveis que o Estado abandonou. Na maior e mais rica cidade do país, as mortes pelo Covid-19 são 60% mais altas entre pretos e pardos da periferia, segundo os dados das autoridades sanitárias. Cada um desses mortos que o governo federal trata com desdém tinha nome, sobrenome, endereço. Tinha pai, mãe, irmão, filho, marido, esposa, amigos. Dói saber que dezenas de milhares de brasileiras e brasileiros não puderam se despedir de seus entes queridos. Eu sei o que é essa dor. Teria sido possível, sim, evitar tantas mortes. Estamos entregues a um governo que não dá valor à vida e banaliza a morte. Um governo insensível, irresponsável e incompetente, que desrespeitou as normas da Organização Mundial de Saúde e converteu o Coronavírus em uma arma de destruição em massa. Os governos que emergiram do golpe congelaram recursos e sucatearam o Sistema Único de Saúde, o SUS, respeitado mundialmente como modelo para outras nações em desenvolvimento. E o colapso só não foi ainda maior graças aos heróis anônimos, as trabalhadoras e trabalhadores do sistema de saúde. Os recursos que poderiam estar sendo usados para salvar vidas foram destinados a pagar juros ao sistema financeiro. O Conselho Monetário Nacional acaba de anunciar que vai sacar mais de 300 bilhões de reais dos lucros das reservas que nossos governos deixaram. Seria compreensível se essa fortuna fosse destinada a socorrer o trabalhador desempregado ou a manter o auxílio emergencial de 600 reais enquanto durar a pandemia. Mas isso não passa pela cabeça dos economistas do governo. Eles já anunciaram que esse dinheiro vai ser usado para pagar os juros da dívida pública! Nas mãos dessa gente, a Saúde pública é maltratada em todos os seus aspectos. A substituição da direção do Ministério da Saúde por militares sem experiência médica ou sanitária é apenas a ponta de um iceberg. Em uma escalada autoritária, o governo transferiu centenas de militares da ativa e da reserva para a administração federal, inclusive em muitos postos-chave, fazendo lembrar os tempos sombrios da ditadura. O mais grave de tudo isso é que Bolsonaro aproveita o sofrimento coletivo para, sorrateiramente, cometer um crime de lesa-pátria. Um crime politicamente imprescritível, o maior crime que um governante pode cometer contra seu país e seu povo: abrir mão da soberania nacional. Não foi por acaso que escolhi para falar com vocês neste 7 de Setembro, dia da Independência do Brasil, quando celebramos o nascimento do nosso país como nação soberana. Soberania significa independência, autonomia, liberdade. O contrário disso é dependência, servidão, submissão. Ao longo de minha vida sempre lutei pela liberdade. Liberdade de imprensa, liberdade de opinião, liberdade de manifestação e de organização, liberdade sindical, liberdade de iniciativa. É importante lembrar que não haverá liberdade se o próprio país não for livre. Renunciar à soberania é subordinar o bem-estar e a segurança do nosso povo aos interesses de outros países. A garantia da soberania nacional não se resume à importantíssima missão de resguardar nossas fronteiras terrestres e marítimas e nosso espaço aéreo. Supõe também defender nosso povo, nossas riquezas minerais, cuidar das nossas florestas, nossos rios, nossa água. Na Amazônia devemos estar presentes com cientistas, antropólogos e pesquisadores dedicados a estudar a fauna e a flora e a empregar esse conhecimento na farmacologia, na nutrição e em todos os campos da ciência - respeitando a cultura e a organização social dos povos indígenas. O governo atual subordina o Brasil aos Estados Unidos de maneira humilhante, e submete nossos soldados e nossos diplomatas a situações vexatórias. E ainda ameaça envolver o país em aventuras militares contra nossos vizinhos, contrariando a própria Constituição, para atender os interesses econômicos e estratégico-militares norte-americanos. A submissão do Brasil aos interesses militares de Washington foi escancarada pelo próprio presidente ao nomear um oficial general das Forças Armadas Brasileiras para servir no Comando Militar Sul dos Estados Unidos, sob as ordens de um oficial americano. Em outro atentado à soberania nacional, o atual governo assinou com os Estados Unidos um acordo que coloca a Base Aeroespacial de Alcântara sob o controle de funcionários norte-americanos e que priva o Brasil de acesso à tecnologia, mesmo de terceiros países. Quem quiser saber os verdadeiros objetivos do governo não precisa consultar manuais secretos da Abin ou do serviço de inteligência do Exército. A resposta está todos os dias no Diário Oficial, em cada ato, em cada decisão, em cada iniciativa do presidente e de seus assessores, banqueiros e especuladores que ele chamou para dirigir nossa economia. Instituições centenárias, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES, que se confundem com a história do desenvolvimento do país, estão sendo esquartejadas e fatiadas - ou simplesmente vendidas a preço vil. Bancos públicos não foram criados para enriquecer famílias. Eles são instrumentos do progresso. Financiam a casa do pobre, a agricultura familiar, as obras de saneamento, a infraestrutura essencial ao desenvolvimento. Se olharmos para o setor energético, veremos uma política de terra arrasada igualmente predadora. Depois de colocar à venda por valores ridículos as reservas do Pré-Sal, o governo desmantela a Petrobrás. Venderam a distribuidora e os gasodutos foram alienados. As refinarias estão sendo esquartejadas. Quando só restarem os cacos, chegarão as grandes multinacionais para arrematar o que tiver sobrado de uma empresa estratégica para a soberania do Brasil. Meia dúzia de multinacionais ameaçam a renda de centenas de bilhões de reais do petróleo do Pré-Sal – recursos que constituiriam um fundo soberano para financiar uma revolução educacional e científica. A Embraer, um dos maiores trunfos do nosso desenvolvimento tecnológico, só escapou da sanha entreguista em função das dificuldades da empresa que iria adquiri-la, a Boeing, profundamente ligada ao complexo industrial militar dos Estados Unidos. O desmanche não termina aí. O furor privatista do governo pretende vender, na bacia das almas, a maior empresa de geração de energia da América Latina, a Eletrobrás, uma gigante com 164 usinas – duas delas termonucleares – responsável por quase 40% da energia consumida no Brasil. A demolição das universidades, da educação e o desmonte das instituições de apoio à ciência e à tecnologia, promovidos pelo governo, são ameaça real e concreta à nossa soberania. Um país que não produz conhecimento, que persegue seus professores e pesquisadores, que corta bolsas de pesquisas e nega o ensino superior à maioria de sua população está condenado à pobreza e à eterna submissão. A obsessão destrutiva desse governo deixou a cultura nacional entregue a uma sucessão de aventureiros. Artistas e intelectuais clamam pela salvação da Casa de Ruy Barbosa, da Funarte, da Ancine. A Cinemateca Brasileira, onde está depositado um século da memória do cinema nacional, corre o sério risco de ter o mesmo destino trágico do Museu Nacional Minhas amigas e meus amigos, No isolamento da quarentena tenho refletido muito sobre o Brasil e sobre mim mesmo, sobre meus erros e acertos e sobre o papel que ainda pode me caber na luta do nosso povo por melhores condições de vida. Decidi me concentrar, ao lado de vocês, na reconstrução do Brasil como Nação independente, com instituições democráticas, sem privilégios oligárquicos e autoritários. Um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com fundamento na soberania popular. Uma Nação voltada para a igualdade e o pluralismo. Uma Nação inserida numa nova ordem internacional baseada no multilateralismo, na cooperação e na democracia, integrada na América do Sul e solidária com outras nações em desenvolvimento. O Brasil que quero reconstruir com vocês é uma Nação comprometida com a libertação do nosso povo, dos trabalhadores e dos excluídos. Dentro de um mês vou fazer 75 anos. Olhando para trás, só posso agradecer a Deus, que foi muito generoso comigo. Tenho que agradecer à minha mãe, dona Lindu, por ter feito de um pau-de-arara sem diploma um trabalhador orgulhoso, que um dia viraria presidente da República. Por ter feito de mim um homem sem rancor, sem ódios. Eu sou o menino que desmentiu a lógica, que saiu do porão social e chegou ao andar de cima sem pedir permissão a ninguém, só ao povo. Não entrei pela porta dos fundos, entrei pela rampa principal. E isso os poderosos jamais perdoaram. Reservaram para mim o papel de figurante, mas virei protagonista pelas mãos dos trabalhadores brasileiros. Assumi o governo disposto a mostrar que o povo cabia, sim, no orçamento. Mais do que isso, provei que o povo é um extraordinário patrimônio, uma enorme riqueza. Com o povo o Brasil progride, se enriquece, se fortalece, se torna um país soberano e justo. Um país em que a riqueza produzida por todos seja distribuída para todos – mas em primeiro lugar para os explorados, os oprimidos, os excluídos. Todos os avanços que fizemos sofreram encarniçada oposição das forças conservadoras, aliadas a interesses de outras potências. Eles nunca se conformaram em ver o Brasil como um país independente e solidário com seus vizinhos latino-americanos e caribenhos, com os países africanos, com as nações em desenvolvimento. É aí, nessas conquistas dos trabalhadores, nesse progresso dos pobres, no fim da subserviência, é aí que está a raiz do golpe de 2016. Aí está a raiz dos processos armados contra mim, da minha prisão ilegal e da proibição da minha candidatura em 2018. Processos que – agora todo mundo sabe – contaram com a criminosa colaboração secreta de organismos de inteligência norte-americanos. Ao tirar 40 milhões de brasileiros da miséria, nós fizemos uma revolução neste país. Uma revolução pacífica, sem tiros nem prisões. Ao ver que esse processo de ascensão social dos pobres iria continuar, que a afirmação de nossa soberania não iria ter volta, os que se julgam donos do Brasil, aqui dentro e lá fora, resolveram dar um basta. Nasce aí o apoio dado pelas elites conservadoras a Bolsonaro. Aceitaram como natural sua fuga dos debates. Derramaram rios de dinheiro na indústria das fake news. Fecharam os olhos para seu passado aterrador. Fingiram ignorar seu discurso em defesa da tortura e a apologia pública que ele fez do estupro. As eleições de 2018 jogaram o Brasil em um pesadelo que parece não ter fim. Com ascensão de Bolsonaro, milicianos, atravessadores de negócios e matadores de aluguel saíram das páginas policiais e apareceram nas colunas políticas. Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos. Um dado escandaloso ilustra essa conivência: nos quatro primeiros meses da pandemia, quarenta bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 170 bilhões de reais. Enquanto isso, a massa salarial dos empregados caiu 15% em um ano, o maior tombo já registrado pelo IBGE. Para impedir que os trabalhadores possam se defender dessa pilhagem, o governo asfixia os sindicatos, enfraquece as centrais sindicais e ameaça fechar as portas da Justiça do Trabalho. Querem quebrar a coluna vertebral do movimento sindical, o que nem a ditadura conseguiu. Violentaram a Constituição de 1988. Repudiaram as práticas democráticas. Implantaram um autoritarismo obscurantista, que destruiu as conquistas sociais alcançadas em décadas de lutas. Abandonaram uma política externa altiva e ativa, em favor de uma submissão vergonhosa e humilhante. Este é o verdadeiro e ameaçador retrato do Brasil de hoje. Tamanha calamidade terá que ser enfrentada com um novo contrato social que defenda os direitos e a renda do povo trabalhador. Minhas queridas e meus queridos, Minha longa vida, aí incluídos os quase dois anos que passei em uma prisão injusta e ilegal, me ensinou muito. Mas tudo o que fui, tudo o que aprendi cabe num grão de milho se essa experiência não for colocada a serviço dos trabalhadores. É inaceitável que 10% da população vivam à custa da miséria de 90% do povo. Jamais haverá crescimento e paz social em nosso país enquanto a riqueza produzida por todos for parar nas contas bancárias de meia dúzia de privilegiados. Jamais haverá crescimento e paz social se as políticas públicas e as instituições não tratarem com equidade a todos brasileiros. É inaceitável que os trabalhadores brasileiros continuem sofrendo os impactos perversos da desigualdade social. Não podemos admitir que nossa juventude negra tenha suas vidas marcadas por uma violência que beira genocídio. Desde que vi, naquele terrível vídeo, os 8 minutos e 43 segundos de agonia de George Floyd, não paro de me perguntar: quantos George Floyd nós tivemos no Brasil? Quantos brasileiros perderam a vida por não serem brancos? Vidas negras importam, sim. Mas isso vale para o mundo, para os Estados Unidos e vale para o Brasil. É intolerável que nações indígenas tenham suas terras invadidas e saqueadas e suas culturas destruídas. O Brasil que queremos é o do marechal Rondon e dos irmãos Villas-Boas, não o dos grileiros e dos devastadores de florestas. Temos um governo que quer matar as mais belas virtudes do nosso povo, como a generosidade, o amor à paz e a tolerância. O povo não quer comprar revólveres nem cartuchos de carabina. O povo quer comprar comida. Temos que combater com firmeza a violência impune contra as mulheres. Não podemos aceitar que um ser humano seja estigmatizado por seu gênero. Repudiamos o escárnio público com os quilombolas. Condenamos o preconceito que trata como seres inferiores pobres que vivem nas periferias das grandes cidades. Até quando conviveremos com tanta discriminação, tanta intolerância, tanto ódio? Meus amigos e minhas amigas, Para reconstruirmos o Brasil pós pandemia, precisamos de um novo contrato social entre todos os brasileiros. Um contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria. E no qual sejam respeitados nossos tesouros naturais, como o Cerrado, o Pantanal, a Amazônia Azul e a Mata Atlântica. O alicerce desse contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto. É através do exercício do voto, livre de manipulações e fake news, que devem ser formados os governos e ser feitas as grandes escolhas e as opções fundamentais da sociedade. Através dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático, soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião, protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania. Um Brasil de todos e para todos. Se estivermos unidos em torno disso poderemos superar esse momento dramático. O essencial hoje é vencer a pandemia, defender a vida e a saúde do povo. É pôr fim a esse desgoverno e acabar com o teto de gastos que deixa o Estado brasileiro de joelhos diante do capital financeiro nacional e internacional. Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco à disposição do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores e dos excluídos. Minhas amigas e meus amigos, Queremos um Brasil em que haja trabalho para todos. Estamos falando de construir um Estado de bem-estar social que promova a igualdade de direitos, em que a riqueza produzida pelo trabalho coletivo seja devolvida à população segundo as necessidades de cada um. Um Estado justo, igualitário e independente, que dê oportunidades para os trabalhadores, os mais pobres e os excluídos. Esse Brasil dos nossos sonhos pode estar mais próximo do que aparenta. Até os profetas de Wall Street e da City de Londres já decretaram que o capitalismo, tal como o mundo o conhece, está com os dias contados. Levaram séculos para descobrir uma verdade inquestionável que os pobres conhecem desde que nasceram: o que sustenta o capitalismo não é o capital. Somos nós, os trabalhadores. É nessas horas que me vem à cabeça esta frase que li num livro de Victor Hugo, escrito há um século e meio, e que todo trabalhador deveria levar no bolso, escrita em um pedacinho de papel, para jamais esquecer: "É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos..." Nenhuma solução, porém, terá sentido sem o povo trabalhador como protagonista. Assim como a maioria dos brasileiros, não acredito e não aceito os chamados pactos "pelo alto", com as elites. Quem vive do próprio trabalho não quer pagar a conta dos acertos políticos feitos no andar de cima. Por isso quero reafirmar algumas certezas pessoais: Não apoio, não aceito e não subscrevo qualquer solução que não tenha a participação efetiva dos trabalhadores. Não contem comigo para qualquer acordo em que o povo seja mero coadjuvante. Mais do que nunca, estou convencido de que a luta pela igualdade social passa, sim, por um processo que obrigue os ricos a pagar impostos proporcionais às suas rendas e suas fortunas. E esse Brasil, minhas amigas e meus amigos, está ao alcance das nossas mãos. Posso afirmar isso olhando nos olhos de cada um e de cada uma de vocês. Nós provamos ao mundo que o sonho de um país justo e soberano pode sim, se tornar realidade. Eu sei – vocês sabem – que podemos, de novo, fazer do Brasil o país dos nossos sonhos. E dizer, do fundo do meu coração: estou aqui. Vamos juntos reconstruir o Brasil. Ainda temos um longo caminho a percorrer juntos. Fiquem firmes, porque juntos nós somos fortes. Viveremos e venceremos." Lula diz que Bolsonaro converteu vírus em “arma de destruição em massa”
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Resenha do livro: “Cristo, Maria, a Igreja e os povos: a mariologia do Papa Francisco”
Rodrigo de Lima Gomes da Silva
O papa Francisco nutre um amor incondicional pela Mãe de Deus. Desde criança, no seio familiar, já demonstrava essa pura devoção. Enquanto papa, demonstra seu amor à Virgem em suas orações, homilias e gestos, sobretudo, em seu magistério.
É importante salientar que o papa Francisco advém de um continente riquíssimo em piedade popular – América Latina – onde a devoção à Santíssima Virgem está presente de forma peculiar. O papa, através da Evangelii Gaudium, afirma que a piedade popular é uma obra do Espírito Santo e que possui uma força evangelizadora que não pode se subestimada. É na América Latina que a história, espiritualidade e teologia marianas se escrevem. O povo latino-americano, tendo Nossa Senhora de Guadalupe como padroeira, absorve a teologia e dá a devida honra à Virgem através de sua inculturação.
O papa João Paulo II dedicou uma Encíclica toda à Mãe de Jesus – Redemptoris Mater. Nessa encíclica, são João Paulo II explicava Maria à luz dos mistérios de Cristo. Na verdade, para ele, seria possível contemplar os mistérios do Cristo e de sua Igreja partindo de Maria. Além disso, Maria é a cooperadora de Cristo, pois seu sim possibilitou que o projeto de Deus – a encarnação de seu Filho – se torna-se real. O papa Francisco “se situa na tradição da fé do Povo de Deus e em continuidade com o magistério do Vaticano II e dos seus predecessores... Contempla a imagem de Maria e nela lê uma síntese do Evangelho.” (pág 32)
FRANCISCO
O papa Francisco aderiu ao nome cujo titular ilustre era um amante dos pobres. Foi o cardeal brasileiro dom Cláudio Hummes quem sugeriu o nome a Sua Santidade. A escolha do nome de São Francisco teve a intenção de mostrar a que veio Bergoglio. Um homem de nacionalidade latino-americana – argentino – cuja eclesiologia está enraizada nas periferias; uma realidade que não estava em evidência para a Igreja até sua chegada. Com seu pontificado, muitos católicos podem dizer “o papa é um de nós”.
O continente latino-americano é apresentado pelo papa como um solo fecundo para a piedosa devoção mariana. Um lugar repleto de santuários dedicado à Virgem, onde é possível um encontro dos filhos com a Misericórdia Paterna, sob o olhar de Nossa senhora.
O continente latino-americano foi palco de grandes conferências do episcopado; podemos destacar Medellín, Puebla e Aparecida. Esta última foi “um verdadeiro Marco no caminho sinodal colegial da Igreja latino-americana e caribenha.” (pág. 47)
Medellín foi a Conferência que recepcionou o Vaticano II, quando a Igreja adentrou numa nova etapa da história. Nela, fomos chamados “a renovar a vida eclesial” pensou-se a transformação do continente e foi feita uma opção pelos povos mais simples. Já a Conferência de Aparecida, o então cardeal Bergoglio foi o presidente da Comissão responsável pela redação do Documento final. Essa função foi importantíssima para que, como papa, ele pudesse dar uma atenção maior ao continente. Ele recorre inúmeras vezes e em muitas encíclicas ao Documento de Aparecida, por isso é possível dizer que “Ontem Bergoglio contribuiu para Aparecida; hoje Aparecida ajuda Francisco.” (pág. 49) O cardeal Bergoglio, em um dos textos do Documento, falando sobre Maria, discípula e missionária, disse, tendo como base a Visitação: “Ela foi a primeira a ‘partir apressadamente’ para levar Jesus, e com Ele a graça, o Espírito Santo, comunicando a alegria da salvação” e ainda: É a mulher orante e trabalhadora em Nazaré, mas é também nossa Senhora da Prontidão, a que sai ‘apressadamente’ da sua povoação para ir ajudar os outros.” (DAP, n. 288)
Maria é aquela que leva a Boa Nova porque leva o próprio Jesus em seu ventre ao visitar sua prima Santa Isabel: “O Nascimento de Jesus Cristo, Salvador, o Messias, O Senhor é uma mensagem de alegria: ‘Não temais, eu vos anúncio uma grande alegria que será também a de todo o povo’”. (pág 57). Interessante é o canto entoado por Nossa Senhora ao se encontrar com sua prima Santa Isabel – Magnificat. Sobre ele, o então cardeal Bergoglio disse: “O olhar de Maria no Magnificat pode ajudar-nos a contemplar este Senhor sempre maior.” e ainda: “O olhar de Nossa Senhora é combativo ao recordar: nada ofusca nem mancha o passado, as grandes coisas que o Senhor fez.” (pág 58)
Nossa Senhora é um modelo ideal de discipulado. Essa é a afirmação de Aparecida, pois o Documento vê em Maria um “modelo, mãe e educadora de discípulos missionários”. Antes de discípula, Maria é a que primeiro acreditou em seu Filho.
MARIA E O POVO DE DEUS
Falando um pouco da Igreja como Mãe hierárquica, o então cardeal Bergoglio, em um retiro para bispos em 2006, elencou três conceitos para explicar essa hierarquia maternal da Igreja: santidade, fecundidade e disciplina. “A santidade da Igreja porque fomos gerados por Deus no corpo Santo da igreja ela se reflete no rosto limpo e puro de Maria Imaculada. A fecundidade da igreja gera filhos com a força da fé, com a fé de Maria que deu à luz o Verbo da Vida. A maternidade passa pela fecundidade paradoxal do Evangelho. A disciplina ou amor disciplinado se insere no corpo eclesial e faz servidores da evangelização, que é ato eclesial. A disciplina é uma dimensão do amor santo e fecundo. A adesão ao Reino se adentra no lado de Cristo adormentado sobre a Cruz, de onde nasce a Igreja, sua esposa, Mãe fecunda e Corpo disciplinado e nutrido pela Eucaristia”. (pág. 75)
Maria, sem dúvida, representa a Igreja em pessoa e como pessoa. Ela representa a Igreja na sua dimensão histórico-escatológica.
A intenção do autor é apresentar a figura de Nossa Senhora, na América Latina, como modelo de evangelização. O Concílio Vaticano II impeliu e inspirou a Igreja a uma reforma por obra do Espírito Santo. O Papa Francisco busca mobilizar os fiéis para uma reforma missionário e uma conversão pastoral. Esse processo consiste, sobretudo, em passar a observar e servir aos pobres, aos excluídos e aos migrantes.
Encontra-se no Magnificat a descrição do amor de Deus e preferência pelos pobres, eles são uma categoria teológica. “A Igreja recita o canto de louvor de Maria e renova a consciência da misericórdia salvadora de Deus pelos pobres” (p. 97). Para o papa Francisco Maria é a mãe dos pobres e marginalizados, de acordo com o autor.
Para a América Latina, o acontecimento em Guadalupe é um fato importante: “aqueles que já existiam então e aqueles que chegariam depois em uma dramática história de encontros e dominações” (p. 101).
Nossa Senhora é a mãe e, ao mesmo tempo, modelo para o povo. Um povo marcado pela alegria e acolhida calorosa de outros povos. Ela é a Mãe misericordiosa e evangelizadora por excelência.
REFERÊNCIA:
GALLI, Carlos.
Cristo, Maria, a Igreja e os povos: a mariologia do Papa Francisco.
Brasília: Edições CNBB, 2018.
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