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#Rubem Braga
maryflorlovyblog · 2 months
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"It's a flower! It's unbelievable how the woman looks like the flower. Let's fix a flower. We know what it is, how it was born, and that it will die. But our botany does not explain the freshness of this miracle; not much less because it moves us. We can pass by a flower house, and see, and find the flowers beautiful. But the flower that suddenly grows on the family wall, what's the point of tasting it? It is an apparition; something that brings from the depths of the earth an unexpected word of candor. It seems to say: here I am. And it's not just the breeze that shakes her: it's life"
—Rubem Braga
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amor-barato · 8 months
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E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação. Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito. E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho? Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Rubem Braga (Despedida)
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robertodutrajr · 4 months
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Resolvidos os problemas do sábado, eu me volto para os encontros improváveis. Do fundo de um brechó me esperava a "mocinha do Calóca". Essa referência, do próprio Rubem Braga à capa elegante do colega Carlos Leão. Tiro o chapéu pras crônicas do Rubem Braga não é de hoje, ainda mais na fatiota da Editora Sabiá.
Melhor programa de sábado cinzento.
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fragmentosdeginevra · 11 days
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Imagino que em algum lugar do mundo há alguém que neste momento remexe, por acaso, uma gaveta qualquer, encontra uma velha carta minha, passa os olhos por curiosidade no que escrevi, hesita um instante em rasgar, e depois a devolve à gaveta com um gesto de displicência, pensando, talvez: “é mesmo, esse sujeito onde andará? eu nem me lembrava mais dele…” E agradeço a esse alguém por não ter rasgado a minha carta; cada um de nós morre um pouco quando alguém, na distância e no tempo, rasga alguma carta nossa, e não tem esse gesto de deixá-la em algum canto, essa carta que perdeu todo o sentido, mas que foi um instante de ternura, de tristeza, de desejo, de amizade, de vida — essa carta que não diz mais nada e apenas tem força ainda para dar uma pequena e absurda pena de rasgá-la.
Velhas cartas, Rubem Braga.
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homocausticus · 3 months
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Crônicas e Pensatas
Meu amigo social-democrata gosta de falar dos cronistas da imprensa carioca nos tempos onde havia o estado da Guanabara e não tínhamos a ponte rio-niterói. Pensei nisso quando vi uma amiga no Threads reclamando dos escritores contemporâneos escrevendo em primeira pessoa em suas newsletters invés de descrever o espírito coletivo de um tempo como o nosso onde temos tantos desafios a serem descritos…
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flavia0vasco · 8 months
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Rubem Braga
Gosto de estar só.
Rubem Braga também gostava. Ficava sentado em sua rede na varanda a ver passarinhos.
E eu que não tenho pássaros pra cantar minha necessidade de solidão, me contento em estar só.
Escrito a mais de 6 anos - Itamogi
Publicado neste blog em -09/02/2024
"A liberdade é essencial."
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ENTREVISTADO:Rubem Braga
Segundo Clarice Lispector, há qualquer coisa de rural em Rubem Braga. Aliás, ele se sente, no Brasil de hoje, como uma velha vaca atolada num brejo. Até parece que conheço Rubem Braga desde sempre. Gostei dele à primeira vista. Sei coisas a seu respeito. Por exemplo, bondades que faz discretamente sem pedir nada em troca. Por exemplo, ele é pessoa que perdoa muito e entende tudo e não se faz juiz de ninguém. Ele é corajoso. Simples. Delicado. Ele tem qualquer coisa de rural em si. E foge a tudo o que seja "sentimentalismo" falso.
Mas há mil "rubens" dentro de Rubem Braga, é claro, assim como há mil "clarices" em mim. E tanta coisa eu desconheço em Rubem, que era melhor entrevistá-lo de vez. Pelo menos tentarei atenuar o seu mistério (porque ele é um pouco misterioso). Mas desconfio que o seu mistério está na sua simplicidade - e simplicidade é das coisas mais raras no ser humano, a ponto de construir uma qualidade insólita.
Clarice Lispector- Rubem, eu te conheço há tantos anos que, se você não fosse misterioso e calado, eu não teria pergunta nenhuma a fazer. Concorda? Rubem Braga - Mas acontece que sou uma esfinge sem segredo. Calado, nem tanto. Ou nem sempre. Até que já tenho falado demais. E estou aqui falando. Clarice Lispector - Você para mim é um poeta que teve puder de escrever versos, e então inventou a crônica (pois foi você quem inventou esse gênero de literatura), crônica que é poesia em prosa, em você. É ou não é? Rubem Braga - Não é bem isso. Há um fato importante em minha carreira: eu sempre escrevi para jornal. A partir do Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, que era de meu irmão Armando e chegou a sair três vezes por semana. Lá publiquei alguns versos mas escrevia principalmente artigos terrivelmente sérios sobre política, lavoura, economia etc., e uma ou outra crônica ligeira. Em suma: eu escrevia o que me dava na telha e, na verdade, nunca tive pudor de fazer versos. É que fazer bons poemas (em versos) exige um tipo de habilidade e de economia, síntese e ao mesmo tempo, desculpem a palavra, inspiração. É muito mais fácil ir na cadência da prosa, e quando acontece ela dizer alguma coisa poética, tanto melhor. Clarice Lispector - Quantos livros você já escreveu, e quais? Rubem Braga - Comecei com O conde e o passarinho, em 1936; depois, outro pequeno livro de crônicas, O morro do isolamento, em 1944. A seguir um livro que é mais de reportagem: Com a FEB na Itália, depois reeditado sob o título Crônicas de guerra: é uma parte da minha experiência como correspondente de guerra. Depois vieram outros livros de crônica: Um pé de milho, O homem rouco, A borboleta amarela, A cidade e a roça,  Ai de ti, Copacabana, e A traição das elegantes.
Clarice Lispector - Tem algum livro para publicar? Rubem Braga - Quase todos esses livros estão esgotados e não pretendo reeditar nenhum. Penso, por isso, em fazer, este ano, uma seleção de todos os meus livros num só volume. Fernando Sabino fez a escolha para mim, mas estou revendo penosamente seu trabalho. Como é chato a gente se reler! Clarice Lispector - Também eu evito ao máximo ter que me reler, e fico espantada quando encontro pessoas que leram um livro meu várias vezes. Como vai se chamar o livro?
Rubem Braga - As melhores crônicas de Rubem Braga, ou algo assim. Terá apenas algumas crônicas ainda não publicadas em livro. Deve sair lá pelo meio do ano. Clarice Lispector - É verdade que você amou muito? E que é que você queria na vida? Qual sua atitude diante da morte?
Rubem Braga - Começarei pelo fim, isto é, pela morte. Não anseio por ela mas também não morro de medo. Tenho experiência bastante para poder dizer que não tenho medo da morte em si mesma. Meu medo é da doença, da dor, da impotência, da humilhação. Além disso acho na ideia da morte um grande consolo. Quanto a amor, é verdade que amei muito e amei errado, com demasiada paixão. Mas alguém ama certo?
Clarice Lispector - Conheci você mais combativo, não é verdade? Rubem Braga - É verdade. Você me conheceu na volta dos meus trinta anos, eu ainda era muito rapaz. Ainda pensava em dar um jeito nesse mundo ou pelo menos no Brasil. Hoje estamos em um brejo com mormaço, e acho que tão cedo não sairemos disso. Eu sou uma velha vaca atolada. No brejo, naturalmente. Clarice Lispector - Você ainda acredita em alguma coisa, em política? Rubem Braga - Acho que a liberdade é essencial. Sou contra toda e qualquer forma de ditadura: de classe, de indivíduo ou de casta. Mas para que dizer isso? Escrevi milhares de crônicas, e não creio que tivessem qualquer influência na vida política do meu país.
Clarice Lispector - Será pessimismo seu?
Rubem Braga - Não é. Vou lhe dar um exemplo. Em 1950 fiz uma excursão a Parati e na volta escrevi uma crônica falando das belezas da terra, mas reclamando contra os alto-falantes existentes em uma praça. Eles berravam altíssimo durante toda a tarde de domingo, não deixando ninguém descansar. Soube que essa crônica tinha causado grande impressão em Parati. Voltei lá 25 anos depois e na tarde de domingo, na mesma praça, os alto-falantes ainda estavam a berrar. Ainda devem estar berrando alto em 1977. A gente escrever não adianta nada, Clarice.
Eu também acho. Como já foi dito, "no Brasil, o escritor escreve para os colegas". _______ Fonte:  - LISPECTOR, Clarice. Clarice na cabeceira: jornalismo. 1º edição. Rio de Janeiro: Rocco, 2012. [Originalmente publicado em: Revista "Fatos e Fotos", 27 de junho de 1977.]
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aretis · 1 month
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"It's a flower! It's unbelievable how the woman looks like the flower. Let's fix a flower. We know what it is, how it was born, and that it will die. But our botany does not explain the freshness of this miracle; not much less because it moves us. We can pass by a flower house, and see, and find the flowers beautiful. But the flower that suddenly grows on the family wall, what's the point of tasting it? It is an apparition; something that brings from the depths of the earth an unexpected word of candor. It seems to say: here I am. And it's not just the breeze that shakes her: it's life"
-Rubem Braga-
Good morning!
Happy Wednesday 🤍🤍🤍
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Meus desejos para tua caminhada
Tua caminhada ainda não terminou... A realidade te acolhe dizendo que pela frente o horizonte da vida necessita de tuas palavras e do teu silêncio.
Desejo a vocês... Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem mau humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope com amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV
Se amanhã sentires saudades, lembra-te da fantasia e sonha com tua próxima vitória. Vitória que todas as armas do mundo jamais conseguirão obter, porque é uma vitória que surge da paz e não do ressentimento.
Desejo a vocês... Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma surpresa agradável Ver a Banda passar Noite de lua cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus
É certo que irás encontrar situações tempestuosas novamente, mas haverá de ver sempre o lado bom da chuva que cai e não a faceta do raio que destrói.
Desejo a vocês... Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho. Sarar de resfriado Escrever um poema de Amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um bronzeado legal Aprender um nova canção Esperar alguém na estação
Tu és jovem. Atender a quem te chama é belo, lutar por quem te rejeita é quase chegar a perfeição. A juventude precisa de sonhos e se nutrir de lembranças, assim como o leito dos rios precisa da água que rola e o coração necessita de afeto.
Desejo a vocês... Queijo com goiabada Pôr-do-Sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegria Uma tarde amena Calçar um velho chinelo Sentar numa velha poltrona
Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais. Teus passos ficaram. Olhes para trás... mas vá em frente pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te.
Desejo a vocês... Tocar violão para alguém Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel E muito carinho meu.
Rogerio Messineo Luchi
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lune-sz · 2 years
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De Fernando Sabino para Clarice lispector
Nova York, 10 de junho de 1946
Clarice,
Esta é a quarta carta que inicio para responder a sua. A primei­ra eu deixei no Brasil, só trouxe a primeira página, que vai junto. A segunda eu rasguei. A terceira eu não acabei, vai jun­to também. Hoje recebi uma carta do Paulo [Mendes Campos], dizendo que não tinha mandado até agora a resposta dele. Positivamente somos uns cachorros irremediáveis. Você por favor não ligue para isso não. Pode ter certeza de que não te esquecemos. Ainda ontem me lembrei muito de você, porque um america­no me perguntou se o meu relógio era suíço. A Suíça existe mesmo? Serão daí mesmo os queijos suíços? Me escreva, Clarice, sou tão cínico que te peço para me escrever, me res­ponder com a pontualidade e a presteza que não tenho, con­tando tudo, suas aventuras e desventuras nessa poética Seminarstrasse.¹ Do Brasil não posso te contar nada, senão o que o Paulo me contou hoje na carta dele: que o Pajé² tem tomado aos domingos porres gigantescos, colossais. Que a sensação de um libertino ao acordar na segunda-feira é a pior coisa do mundo. Que houve um comício no largo da Carioca onde choveu bala sobre os comunistas, mataram um estudante.³ Que o Rubem Braga vai indo bem. Que num chá que os aca­dêmicos ofereceram a outros acadêmicos ninguém pergun­tou por você.
Daqui de Nova York não posso te contar nada além do que você calcula. Outro dia abri um livro do Erico Verissimo sobre literatura brasileira escrito aqui,⁴ mesmo na página em que ele fazia uma referência a você. Tenho sentido muita fal­ta de seu livro que deixei no Brasil,⁵ para plagiar uns pedaços quando vou escrever o meu. Tenho tido muitas dores de cabeça, tenho ouvido histórias de espantar. Uma: o homem mais gordo do mundo fez um regime para emagrecer, ema­greceu cinquenta quilos e morreu. Tenho dado muitas gafes aqui com o meu pobre inglês. Uma: entrei num drugstore para comprar remédio para dor de cabeça e acabei levando uma loção para cabelos. Tenho tido muitos pesadelos. Um: ontem sonhei com um rato encravado na parede, guinchando de dor. Tenho reformado muitos conceitos, por exemplo: o Jayme Ovalle não é tão chato como eu imaginava. Tenho imitado Otávio de Faria em tudo o que ele não faz. Tenho feito des­cobertas importantes, por exemplo: o pecado é simplesmente tudo o que Cristo não fez. Tenho conhecido sujeitos famosos, por exemplo: Duke Ellington. Tenho tido muito pouco dinheiro. Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado. Tenho tido muita decepção com os Correios. Tenho tido can­saço, saudade e calma. Tenho bebido muito, muito, muito. Tenho lido os suplementos dominicais. Tenho tido vontade de voltar. Tenho escrito muitas cartas para você. Tenho dor­mido muito pouco. Tenho xingado muito o Getúlio. Tenho tido muito medo de morrer. Tenho faltado muita missa aos domingos. Tenho tido muita pena de Helena ter se casado comigo. Tenho tido dor de dente. Tenho certeza que não vol­to mais. Tenho contado muito nos dedos. Tenho franzido muito o sobrolho. Tenho falado muito com os meus botões. Tenho tido muita vontade de brincar. Tenho feito muitas manifestações de apreço ao senhor diretor.⁶ Clarice, estou perdido no meio de tantos particípios passados. Estou com vontade de fumar e o meu cigarro acabou, estou com vonta­de de namorar de tarde numa pracinha cheia de árvores, estou com muitas saudades de mamãe. Aqui na minha frente, na minha mesa do escritório, tem uma pilha de 1834 fichas me esperando para serem conferidas. São tão simpáticas, as fichinhas. Me esperam e sorriem burocraticamente: conhecem o meu triste fim. Sorrio também para elas, digo que esperem: agora estou indo para Seminarstrasse.
Só de pensar que você estará lendo esta carta muitos dias depois de ter sido escrita me dá vontade de não mandar. Mas mando, isso é uma desonestidade. Você nos escreveu há um mês. Juro que não faço mais isso, foi só da primeira vez, ago­ra não faço mais. Me escreva, que responderei imediatamente. Como vai indo o seu livro? O que é que você faz às três horas da tarde? Quero saber tudo, tudo. Você tem recebido notícias do Brasil? Alguém mais escreveu sobre o seu livro? É verda­de que a Suíça é muito branca? Você mora numa casa de dois andares ou de um só? Tem cortina na janela? Ou ainda está num hotel? Oh, meu Deus, Seminarstrasse será simplesmen­te um hotel? Qual é o cigarro que você está fumando agora? Pipocas, Fernando!⁷
Clarice, em Belém eu procurei no hotel uma carta do Mário [de Andrade] para você, não encontrei. Eu delirava se pudesse te dar essa alegria. Tinha certeza de encontrar e não encontrei.
Manuel Bandeira é um sujeito muito triste, Clarice. Também não me despedi de muita gente. Também me esque­ci de muitas coisas no Brasil. Quando eu era menino, chupei uma vez tanta manga verde que fiquei doente de cama por três dias, faltei ao grupo, só vendo. Eu tinha um coelhinho chamado Pastoff. Um dia meu pai pegou o coelho e deu para um amigo, fiquei triste mesmo, chorei muito, papai foi mui­to mau. A coisa que mais gostava era no tempo de frio sair fumacinha da minha boca. Pipocas, Fernando! Clarice Lispector é uma coisa riscadinha sozinha num canto, esperando, esperando. Clarice Lispector só toma café com leite. Clarice Lispector saiu correndo no vento na chuva, molhou o vestido, perdeu o chapéu. Clarice Lispector sabe rir e chorar ao mesmo tempo, vocês já viram? Clarice Lispector é engraçada! Ela parece uma árvore. Todas as vezes que ela atravessa a rua bate uma ventania, um automóvel vem, passa por cima dela, e ela morre. Me escreva uma carta de sete páginas, Clarice.
Fernando
***
Clarice Lispector. Correspondências. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, pp. 82-85.
[1] N.S.: Seminarstrasse, número 30, sede da Legação Brasileira em Berna, Suíça, onde trabalhava o marido de Clarice.
[2] N.S.: Pajé era como Otto Lara Resende era chamado no grupo dos quatro mineiros, composto por ele, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino.
[3] N.S.: No dia 26 de maio de 1946, a polícia reprimiu um comício de Imprensa Popular do Partido Comunista Brasileiro, no largo da Carioca. A violência resultou na morte da estudante Zélia Magalhães, de 22 anos, militante do Partido.
[4] N.S.: Brazilian Literature: An Outline. Nova York: MacMillan, 1945. Reúne as conferências de Erico Verissimo do período em que lecionou na Universidade da Califórnia. Publicado no Brasil com o título Breve história da literatura brasileira pela Editora Globo em 1995.
[5] N.S.: Trata-se possivelmente de Perto do coração selvagem (1943).
[6] N.S.: Alusão à primeira estrofe de “Poética”, de Manuel Bandeira, que se encontra no livro Libertinagem (1930): “Estou farto do lirismo comedido/ Do lirismo bem comportado/ Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. Diretor.”
[7] N.A.: Referência à sua predileção por pipocas, que a levou um dia a me assustar com esta incontida exclamação de alegria infantil ao passarmos no meu carro em Copacabana diante de um pipoqueiro.
Fonte: https://correio.ims.com.br/carta/clarice-lispector-parece-uma-arvore/
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ceulajeado · 2 years
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estrago seu amor em três dias
Nunca entendi a razão de haver tantos orelhões próximos um do outro por aqui. Todos eles com citações que Caio Fernando Abreu nunca disse, números aleatórios de putas ou cartomantes e frases religiosas genéricas. 
Fraldas e políticos precisam ser trocados regularmente (Caio Fernando Abreu), trago seu amor em três dias, 2 garota-surpresa por 45 reais, Jesus te ama. Essas e outras promessas vazias.
Eu tava em horário de almoço no trabalho. Tom ficou de me ligar uma e meia da tarde porque era quando ele estaria no intervalo das aulas também. Passei pra ele o número do orelhão da Rua dos Cavalos onde eu aguardaria pela sua boa vontade de gastar as fichas de telefone. 
Tinha o orelhão da Santa Rita, perto de uma escola militar, e o da Rua dos Trilhos, porém não eram vazios o suficiente. Gente demais passando na calçada me acanhava. 
Era sexta-feira. Acendi um cigarro enquanto esperava. 
Havia esse pequeno armazém com promoção de vinho: uma garrafa de 700ml por 8 contos. Chorei pra dona do lugar fazer por 6, só que ela era boliviana e não conseguimos nos entender. Levei por 10. 
Então o orelhão tocou. 
– Pois? 
– É o Tom.
Conversamos um pouco sobre futilidades. O tempo, a rotina, o café, as notícias, aham, e a política, hein?, pois é, pois é, você sabe, já dizia Caio Fernando Abreu: amores, lençóis, fraldas e políticos precisam ser trocados regularmente, aham, sim, dia 30 de setembro fez um ano que ela morreu, pois é, pois é, jura?, tá dando aula de literatura?, o uniforme tem cores do Brasil?, isso é muito específico, já vi uma dessas escolas militares, na verdade tem uma de frente do meu trabalho, sim, o hino nacional, todo dia, o quê, não me diga, teve que levar sua pasta com documentos pro orelhão?, que Brasil é esse que nem em escola militar a gente tem sossego?, apesar que eu também roubaria as respostas da prova do professor se ele não tivesse na sala.
Nos tratávamos como profissionais. Profissionais de alguma coisa não muito profissional. Era como encontrar outro paciente na sala de espera do psicanalista. Sempre fomos assim. 
Eu só tinha visto Tom uma vez, e foi um desastre. Uma experiência que eu, particularmente, pretendia repetir. Ele nem tanto, era covarde. Combinamos de manter nossa interação somente por correspondência, de modo que ligações eram um avanço. 
Transitamos por muitos assuntos, alguns dos quais eu sequer conseguia entender a conexão dos fatos. Era como comer pavê numa trincheira: doce e explosivo. 
– Viu, é por isso que eu nunca namoraria você – ele disse. 
– E quem disse que eu namoraria você?
– Bom, Rubem Braga falou uma vez que-
– Você baseia todas as suas opiniões no que foi dito por outros idiotas?
Ele suspirou. 
– Todos nós fazemos isso. A diferença é que eu sei a fonte e você prefere agir como se tivesse pensado sozinha numa frase de efeito. 
Eu não levava tão a sério as provocações em partes porque Tom tinha a voz fina e suave, às vezes era como escutar o Gato Félix me chamando pra brigar. E ele era péssimo nessa coisa de debate direto.
Ele riu e perguntou:
– Espera aí, você realmente acha que é autêntica?
– Eu sou quando não dou a bibliografia de tudo que digo. Por exemplo, eu posso pintar um quadro e cortar minha orelha, se eu nunca mencionar Van Gogh você vai me considerar artista. 
– Não diria artista. Talvez maluca... psicótica... suicida... – disse o Gato Félix.
Apoiei o telefone no ombro e peguei outro cigarro. 
– Qual é a diferença?
Uma Brasília quase bateu num Corsa no cruzamento. O falsete agudo de pneus marcou o asfalto. 
Engraçado: alguém realmente paga pra conseguir um amor em três dias?, essas coisas costumavam levar mais tempo antes. Mas se o homem foi à lua e conseguiu criar um telefone pra que eu escute os pensamentos idealistas de um jovem adulto no ápice de sua loucura, que acredita fielmente ser capaz de amar com verdade todas as mulheres alfabetizadas desse mundo, então tudo pode ser feito.
– Você ainda acha que o amor acontece uma única vez?, ou será que eu sou um romântico que não suporta a ideia de ficar sozinho?
– Sim – respondi.
– Sim o quê?
– Minha resposta.
– Tá, mas pra qual das perguntas?
– Eu deixo você escolher. 
Uma mulher muito jovem atravessou a rua com um carrinho de bebê. Um cara de regata branca no Chevette vermelho parou, abaixou o vidro e gritou nossa senhora, eu faria uns dez desse em você. 
Tom era um bom ouvinte. Mas se argumentava mal, costumava ser pior ainda com alegorias. 
– ...sim, tipo, imagina que você entra no trem que vai pra Sé – ele disse –, vai ver muitos lugares mas não é o seu destino. 
– E daí, porra? O que isso tem a ver com a morte?
– A morte é o destino.
– Mas ir pra Sé não é. 
–  É sim. Você vai ter que ir pra lá.
– Não. Eu posso simplesmente descer na São Bento. Destinos são mutáveis. 
– Você não pode. 
– Eu posso sim.
– Não pode. 
– Claro que posso. 
– NÃO, VOCÊ NÃO PODE.
Cocei minha testa atrás de alguma paciência. 
– Escuta, meu filho, sua metáfora não tem a menor lógica. A gente não muda o fato que vai morrer.
– Sim, é por isso que você precisa descer na Sé. É um dest...
– Eu juro por deus que se você disser destino mais uma vez...
– O problema é que você nem se esforçou pra entender. 
– Tá bom, então digamos que você tá no metrô sentido Jabaquara, o final é Jabaquara, isso você não pode alterar. Pode descer na Sé, antes ou depois, mas ele ainda vai pra Jabaquara, e em algum momento você vai precisar voltar pro metrô e, adivinha só: ir pra Jabaquara. Não é seu destino, é somente o fim da linha. 
Tom ficou num silêncio suspeito. 
Uma charrete parou no sinal vermelho e um carteiro de bicicleta assobiou pro motorista do ônibus. 
– Eu posso apenas voltar pra Tucuruvi e nunca ir pra Jabaquara. 
– Mas não muda o final. 
– Que final?
– Jabaquara. 
– Você bebeu? 
– O que isso tem a ver, Tom?
– Tá me dizendo que Tucuruvi é o nascimento?
– Você bebeu?
– Não.
– Deveria. 
Um caminhão de colchões tombou na sarjeta da Santa Rita, bem na esquina da frente. O poste caiu em cima de um Fusca, os fios de energia se embolaram no capô e os retrovisores de uma moto quebraram com o impacto. 
Tive a impressão de ter ouvido a batida pela linha do telefone também.
– Droga – disse Tom –, desculpa o barulhão, aconteceu um acidente. 
O motorista do caminhão gritou um protesto, disse que o bueiro tava sem tampa e agora ele ia ter que arcar com o prejuízo. Sentou no chão, desesperado. Parecia ter dito no meu ouvido. 
– Eita, parece que o bueiro tava sem a tampa.
– Como você sabe disso? — perguntei, atônita.
– Acabou de acontecer aqui na minha frente. 
Parei um segundo, refletindo sobre algumas coisas da vida. Por que o céu é cinza?, por que paguei 10 num vinho que custava 8?, por que o amor viria em 3 dias e não em uma semana?, por que Caio Fernando Abreu e não outro autor aleatório da contracultura?, por que tiraram a tampa do bueiro?, o que as pessoas vão fazer em Jabaquara?, é possível acontecer dois acidentes semelhantes, ao mesmo tempo, entre Guarulhos e o Brás?, quantas escolas militares com uniforme verde e amarelo existem por aí?
– O colégio que você dá aula, fica no Brás? – perguntei.
Ele respondeu um aham confuso e hesitante.
Olhei para trás, lá estava a escola. 
Apertei os olhos e, na outra esquina do caminhão tombado, de frente a uma pastelaria, havia duas pernas e uma pasta de couro debaixo do orelhão. 
– Merda, Tom.
Coloquei o telefone no gancho e sai andando para o lado contrário. Não ia voltar pro trabalho, decidi que tava doente. De qualquer maneira, o vinho não ia me fazer bem mesmo.
Eu menti quando disse que queria encontrá-lo novamente, para algumas relações, a distância e os raros momentos são essenciais. Mas admito que é necessário ter muita coragem pra ser covarde assim.
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sunshineblogsposts · 2 years
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"Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa. "
- Rubem Braga
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romanticaperfeita · 1 year
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Tenho uma tendência romântica a imaginar coisas.
- Rubem Braga
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semioticas · 2 years
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Rubem Braga Ilustríssimo aniversariante de 12 de janeiro, o mais celebrado cronista brasileiro: Rubem Braga (1913-1990), fotografado em 1984 em visita a sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Veja também: Semióticas –Caras do Brasil https://semioticas1.blogspot.com/2012/10/caras-do-brasil.html
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blogdavania · 2 months
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Calder/Miro
O Instituto Tomie Ohtake estava cheio de gente e de arte
As esculturas de Miro e Calder bem na entrada nos recepcionavam.
Na sala da esquerda a gigantesca, Viúva Negra com seu movimento e mistério, ocupava todo o espaço.
No andar de cima as telas de ambos, lúdicas, coloridas, em um perfeito diálogo entre os artistas e em sintonia com vários brasileiros.
Os móbiles em sua dança, a magia do Miro na sua simplicidade genial.
Tudo lindo!
Sentamos para almoçar cercadas de arte e de sensibilidade.
A arte salva!
P.S. " Ter um brinquedo assim é como ter dentro de casa uma árvore que gira sobre si mesma e cada vez parece mais bela; uma árvore que fosse viva como um pássaro. Sim, essas coisas do Calder parecem pássaros, quem sabe são capazes de comer alpiste, talvez num sábado a tarde, se a amada de olhos de luz, nos visitar, quem sabe, cantem , acredito que possam cantar como estranhos canários". Rubem Braga.
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89rooms · 3 months
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Desejo a você: Cheiro de jardim. Namoro no portão. Domingo sem chuva. Segunda sem mau humor. Sábado com seu amor. Filme do Carlitos. Chope com amigos. Crônica de Rubem Braga. Viver sem inimigos. Filme antigo na TV. Ter uma pessoa especial - e que ela goste de você. Música de Tom com letra de Chico. Frango caipira em pensão do interior. Ouvir uma palavra amável. Ter uma surpresa agradável. Ver a Banda passar. Noite de lua cheia. Rever uma velha amizade. Ter fé em Deus. Não ter que ouvir a palavra não. Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança. Ouvir canto de passarinho. Sarar de resfriado. Escrever um poema de amor, que nunca será rasgado. Formar um par ideal. Tomar banho de cachoeira. Pegar um bronzeado legal. Aprender um nova canção. Esperar alguém na estação. […]Uma festa. Um violão. Uma seresta. Recordar um amor antigo. Ter um ombro sempre amigo. Bater palmas de alegria. Uma tarde amena. Calçar um velho chinelo. Sentar numa velha poltrona. Tocar violão para alguém. Ouvir a chuva no telhado. Vinho branco. Bolero de Ravel. E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade
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saviochristi · 4 months
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Divulgação de O Desespero de um Solteiro e de Confusões Conjuntas: A Grande Viagem, leiam o resto:
Galera, fiz as inscrições de dois de meus romances literários (O Desespero de um Solteiro e Confusões Conjuntas: A Grande Viagem), na Lei Rubem Braga (edital de incentivo à cultura, daqui, de Vitória [Espírito Santo] mesmo), e os resultados saem no dia 04 de junho deste ano!Torçam por mim… são livros bem legais de serem lidos! Foi isso o que falaram minhas três melhores amigas (quem conheço,…
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