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#Golpe de Estado no Brasil em 2016
antoniodatsch · 1 year
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Os direitos de povos indígenas às suas terras tradicionais, ponto central do debate hoje no STF sobre o marco temporal, há tempos têm sido usados pela extrema direita ruralista para se fortalecer. Não à toa, Bolsonaro já era tratado como "mito" por fazendeiros em áreas em disputa, como no Mato Grosso do Sul, muito antes de ser presidente.
A construção discursiva falsa de que indígenas são preguiçosos e que, apesar de serem menos numerosos, querem se apossar das terras daqueles que querem trabalhar, vem sendo usada sistematicamente por atores da extrema direita para agregar simpatizantes. Terceirizam a eles as culpas pelas desgraças do mundo.
E, uma vez agregados, são convidados a abraçar outros temas do receituário radical - da antivacina o golpe de Estado.
Bolsonaro já chamou indígenas de "fedorentos" (abril de 2004), disse que deviam "comer capim para manter as suas origens" (maio de 2008), afirmou que acabaria com a demarcação da Raposa Serra do Sol, dando "fuzil com porte de arma para todos os fazendeiros" (janeiro de 2016), comparou indígenas a animais de "zoológicos" (novembro de 2018), entre outras declarações.
Por conta disso, não interessa a esses grupos radicais que operam no campo, formando milícias rurais e financiando acampamentos golpistas, uma solução para a questão. Pelo contrário: para eles, quanto pior, melhor, pois ganham politicamente (elegendo candidatos) e economicamente (grilando e vendendo terras) com o caos atual.
A Constituição Federal de 1988 foi clara quanto ao direitos aos povos indígenas aos seus territórios tradicionais. A pressão de grupos ruralistas diante do processo de demarcação é que gerou a ideia do marco temporal durante o julgamento do caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2009, para limitar os direitos de reivindicação.
Com exceção dos radicais e dos criminosos, os produtores rurais envolvidos afirmam que a solução passa por algum tipo de indenização não só pelas benfeitorias, mas pelas terra, pois muitos compraram de terceiros - esses sim responsáveis pelo esbulho.
O ministro Alexandre de Moraes sugeriu, em seu voto, que os envolvidos sejam indenizados previamente pelas terras que forem devolvidas aos indígenas.
Daí, surgem problemas: considerar títulos de propriedade emitidos ilegalmente sobre terras indígenas como atos jurídicos perfeitos pode ser usado como argumento para expulsar indígenas que ocupam áreas? E a indenização prévia antes mesmo da devolução da terra aos indígenas não atrasa o processo de demarcação para o Dia de São Nunca?
Um dos maiores problemas para as demarcações hoje é que os atuais ocupantes não indígenas, munidos de títulos de propriedade, levam a discussão à Justiça que gasta décadas para tomar decisões. Enquanto isso, esses ocupantes continuam explorando economicamente a área, usando - inclusive - a venda da produção para bancar os advogados, postergando sua permanência no local.
O tema é complexo e, infelizmente, o debate público sobre o assunto ficou embargado no Brasil nos últimos anos, com um Congresso deliberadamente omisso e uma Justiça lenta quando interessa a quem tem poder. Mas há uma tragédia em curso, atingindo os Guarani e os Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e os Xokleng, em Santa Catarina, por exemplo.
O problema do marco temporal foi criado há 14 anos por um julgamento do próprio STF. Agora, o tribunal está buscando resolver a confusão. Não pode, portanto parir outro problema com uma questão aberta demais sobre a indenização para ser resolvido só em 2037.
Se o resultado não produzir uma forma de garantir os direitos dos povos indígenas no curto prazo, vamos apenas criar um caminho para que criminosos façam dinheiro fácil, na melhor das hipóteses, ou manter a demarcação paralisada, como extrema direita quer, na pior delas.
Com indígenas sendo massacrados, em discursos e por balas.
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brasil-e-com-s · 2 years
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O povo está cansado
Ainda está em tempo e pode ser feito. Ainda falta mais de um mês até o novo governo e não dá para deixar a população inocente sofrer ataques e humilhações porque não concordam com a opressão, a violência e os abusos do governo Bolsonaro.  A lei 1079/50, art. 15 diz  que a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. (Doutrina Relacionada).
Se é demorado, a aplicação da lei 1079/50, há outras possibilidades legais diante de toda essa baderna que vem sendo organizada com empresários, militares e cidadãos em vários Estados. É uma questão muito séria. 
E sem violência, sem armas ou guerras, o povo pode ajudar a defender o Estado Democrático de Direito impedindo que haja novo golpe como o que foi feito em 2016, o que agora ficou mais do que claro.
Veja só, quanto tempo já se passou e no que o Brasil se transformou, porque não tomada a medida certa, na hora certa.
Precisamos de paz, ainda faltam mais de 56 dias para o novo governo de fato.
Deixem o Lula governar em paz.
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interessa · 2 years
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Crônica: O outro dia há de chegar
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Soldados marchando / Crédito: Filip Andrejevic
Devaneios escritos pela interferência de discordar do próprio lar catarinense
por Viviane Pasta
Militarismo. Segundo o dicionário:
sistema político em que prevalece o poder dos militares.
tendência para fortalecer as forças armadas e solucionar os conflitos internacionais pela guerra.
Para aqueles que viveram em março de 1964, as palavras são outras: Medo. Abuso. Censura. Guerra. Morte.
Caso não se sinta capaz de amar seu país no caos presente, a solução é óbvia: deixe-o. Do contrário, uma receita de bolo irá te calar. Exalte as cores verde, amarelo e azul anil.
Direitos humanos? Inexistentes. Democracia? Rejeitada.
Tais pesadelos causados pelo golpe militar no Brasil, foram cessados somente em 1985, e muitos não tiveram a chance de acordar novamente.
Que ironia seria imaginar que, na virada de ano de 2018 para 2019, viajaríamos no tempo e todo aquele pavor viesse à tona.
Não era ironia. Não era sarcasmo. Era real.
Posição de sentido. Saúda os poderosos. Aceite a sua condição de subordinado. Afinal, você quem implorou por isto em nome dos valores nacionalistas que diz ser uma enorme luta.
O estado com nome de mulher santa não exala bênçãos. A capital foi batizada com o nome de militar. O número de concorrentes fardados e, nada surpreendente, homens, a cargos políticos nos faz temer o retorno da era golpista.
O olho gordo cresce mais e mais nos endinheirados de Santa e bela Catarina. O pânico em ter sua aclamada liberdade correndo pelas mãos os paralisa.
Meu Brasil, minha Santa Catarina, ore pelo tempo. 
O ano de 2023 bate à porta. Desta vez, a democracia vence. E amanhã há de ser outro dia.
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A título de curiosidade:
- Em 2016, 56% dos brasileiros afirmaram confiar plenamente nas Forças Armadas. Em contrapartida, apenas 7% disseram confiar nos partidos políticos do país.
- Nas Eleições municipais de 2020, Santa Catarina teve 202 candidatos militares, que variam suas ocupações como policial militar (122 candidatos), bombeiro militar (20) ou militar reformado (60). O número foi 66% maior do que nas eleições ocorridas em 2016.
- O cargo que registrou maior aumento foi o de prefeito. Em 2016, o Estado teve apenas um candidato identificado como militar. Em 2020, foram 16.
- Quanto aos candidatos a vice-prefeito, o número subiu de seis para 11. E para vereador, 175 eram militares. Em 2016, este número era de 114.
- Em 2022, no primeiro turno da decisão histórica para presidente da república, Jair Bolsonaro (PL) ganhou no Estado, com 62,21%, enquanto Lula (PT) pontuou 29,54%. O feito se repetiu no segundo turno, desta vez, Bolsonaro levou 69,27% dos votos e Lula 30,73%. A porcentagem nacional foi de 50,9% para Lula e 49,1% para Jair Bolsonaro, garantindo vitória deste primeiro.
- Ainda sobre as Eleições de 2022, pela primeira vez o Partido dos Trabalhadores disputava o segundo turno para governador com o candidato Décio Lima. Seu oponente, Jorginho Mello (PL) acabou sendo eleito com 70,69%, e Décio ficou com 29,31%.
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bunkerblogwebradio · 11 months
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As dez piores, ENTRE AS MELHORES teses premiadas pela Capes em 2023
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A cada ano, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) premia o que considera ser as melhores teses de doutorado em cada área no Brasil, naquilo que o próprio governo federal define como “o Oscar da ciência brasileira”.
O resultado de 2023 acaba de sair, e mostra um sinal preocupante: além das ciências humanas e sociais, a militância política rasa se alastrou para áreas como Arquitetura, Saúde e Ciências Ambientais.
A nova lista traz 49 teses premiadas e outras 97 que receberam menção honrosa. Os vencedores (quase sempre, previamente financiados pela própria Capes ou outro órgão público) recebem uma bolsa de até um ano para um pós-doutorado no Brasil. Os orientadores recebem R$ 3 mil. Algumas entidades parceiras oferecem prêmios adicionais para algumas das categorias.
Apresentamos as dez piores teses premiadas pela Capes em 2023 — não só pela carga ideológica e os ataques sem fim ao “neoliberalismo” e o “patriarcado”, mas pelos cacoetes acadêmicos vazios, a falta de clareza e a fragilidade dos argumentos. 
É bom reforçar: esta não é uma coletânea das piores teses de doutorado do Brasil. São as dez piores entre aquelas que foram consideradas as melhores teses pela Capes, um órgão do Ministério da Educação cuja missão é justamente promover a excelência no ensino superior.
1) Categoria: Ciência Política e Relações Internacionais  
Título: Legitimando a violência: operações militares dentro das fronteiras brasileiras
Autor: David Paulo Succi Junior
Instituição: UNESP (Universidade Estadual Paulista)
Resumo: A tese, escrita em inglês, afirma que os militares brasileiros têm uma tradição de uso da violência à margem da lei, e que isso se reflete sempre que as tropas são empregadas dentro do território nacional.
Trecho: “O conjunto de ideias exclusionárias, militaristas, coloniais e não-democráticas que proveu tanto a matéria-prima para a legitimação dos discursos legitimadores a serem elaborados quanto o terreno social propício para que a mobilização interna do instrumento de letalidade fosse aceita e desejada no Brasil não é exclusiva deste tipo de prática de segurança ou dos casos empíricos abordados nesta tese. A mesma topografia ideacional, constituída tanto pelas expectativas sociais sobre as Forças Armadas quanto pela identidade militar, permeia a totalidade das relações das Forças Armadas com o Estado e a sociedade brasileira.”
2) Categoria: Linguística e Literatura  
Título: Estudos Feministas da Tradução no Brasil: Percursos históricos, teóricos e metodológicos na produção científica nacional (1990-2020)
Autor: Naylane Araújo Matos
Instituição: UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina)
Resumo: Esse trabalho mapeia estudos feministas no campo da Tradução no Brasil, e carrega nas críticas ao “patriarcado”. Já no início, a autora faz questão de rejeitar qualquer expectativa de objetividade.
Trecho: “Tenho que advertir: este não é um texto neutro. A mulher que o escreve não é neutra, sua sexualidade não é neutra, sua classe social não é neutra, seu lugar não é neutro, seu corpo não é neutro, seu país não é neutro, seu continente não é neutro. A linguagem que escreve este texto/tese não é neutra, como também não o é a sociedade patriarcal capitalista de supremacia branca na qual ela se insere (...). Vivemos um cenário de retrocessos sociais e políticos agigantados nos últimos anos – especialmente desde o golpe jurídico parlamentar que destituiu a primeira mulher presidenta do Brasil Dilma Rousseff (2016)  – que assolam os direitos das trabalhadoras e trabalhadores deste país e que se acentuaram drasticamente com a pandemia do Covid-19, cujas políticas de isolamento refletem marcadamente divisões raciais, de classe, de gênero e geopolíticas”
3) Categoria: Saúde Coletiva  
Título: Tecnologias Biomédicas e Aborto em uma Maternidade Pública de Salvador: Estudo Etnográfico
Autor: Mariana Ramos Pitta Lima
Instituição: UFBA (Universidade Federal da Bahia)
Resumo: A autora entrevistou 27 mulheres que abortaram. Embora o tema seja relevante, a perspectiva adotada por ela é a da agenda radical de esquerda, segundo a qual o aborto é um direito absoluto.
Trecho: “Como as teóricas feministas de gênero a exemplo de Scott (1995) nos levam a entender, existe uma dinâmica simbólica e prática enraizada, fundada na estreita relacionalidade das categorias e das pessoas, em que a vulnerabilidade específica das mulheres é produzida e reproduzida, por meio de conceitos generizados, sobretudo no campo reprodutivo em que tudo é associado à noção da ‘boa mãe’ e a maternidade é tida como destino. O aborto como prática e a mulher que aborta como categoria representam a antítese simbólica de tudo que é valorizado no regime de gênero vigente no Brasil.”
4) Categoria: Antropologia / Arqueologia (menção honrosa)
Título: Letalidade Branca: Negacionismo, violência anti-indígena e as políticas de genocídio
Autor: Felipe Sotto Maior Cruz 
Instituição: UnB (Universidade de Brasília)
Resumo: São mais de 200 páginas afirmando que os brancos mataram indígenas e descrevendo a “letalidade branca”. A tese usa o termo “genocídio” de forma pouco precisa, e é repleta de referências em primeira pessoa.
Trecho: “Antropoceno, capitaloceno (Moore 2015) e tecnoceno (Holnborg 2001, 2015) são alguns dos nomes dados a esses múltiplos processos destrutivos, o primeiro nomeia o atual período geológico do planeta colocando no centro de sua definição a espécie humana e seus efeitos avassaladores sobre a Terra acelerados, sobretudo, a partir do aumento do uso de combustíveis fósseis no século XIX. Capitaloceno põe no centro da discussão o capitalismo, pautado na acumulação não-reflexiva, e a sua versão neoliberal globalmente mais letal e predatória que nunca, responsável pelo esgotamento do equilíbrio ecológico do planeta, nos conduzindo ao fim. Tecnoceno, por sua vez, enfatiza os efeitos da alta tecnologia, responsável pela degradação do sistema ecológico da Terra.”
5) Categoria: Arquitetura, Urbanismo e Design (menção honrosa)
Título: Linguagens e Corpos no Discurso do ‘Slam das Minas’:ambiências de resistência e ressignificação espacial por meio de mulheres nas batalhas de poesia urbana
Autora: Mariana Valicente Moreira
Instituição: UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Resumo: Aqui, o tema da arquitetura e do urbanismo parece ser apenas um pretexto para longas digressões sobre a opressão machista. A tese é repleta de palavras de ordem saídas do dicionário radical de esquerda.
Trecho: “Pensar em espaços públicos é pensar em diversidade. Diferentes corpos e necessidades, assim como diferentes contextos. No Brasil, essa complexidade e diversidade fazem com que muitas opressões históricas sejam naturalizadas, assim a diversidade se transforma em desigualdade, que pode ser reconhecida nos espaços públicos. Uma vez que a ideia de opressão pode ser territorializada e, de fato, demarcada tanto por ausências e abandonos quanto por planos e projetos de controle, é preciso regenerara ideia de um urbanismo inclusivo ao planejar espaços democráticos em nosso tempo.”
6) Categoria: Artes (menção honrosa)
Título: Uma perspectiva crítico racial da História da Música Brasileira (1926) de Renato Almeida
Autor: Jonatha Maximiniano do Carmo
Instituição: UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Resumo: A tese se propõe a procurar (e diz encontrar) trechos racistas em um livro sobre a música brasileira escrito 100 anos atrás. A principal acusação tem a ver com o fato de o autor do tal livro, Renato Almeida, ter defendido a miscigenação racial brasileira como algo positivo.
Trecho: “A tese aqui desenvolvida tem por objetivos identificar e descrever criticamente o discurso racista presente na História da música brasileira de Renato Almeida, publicada no ano de 1926, verificando de que forma o conceito de mestiçagem foi transposto para o conceito de música brasileira, se tornando importante justificativa para o ideal de limpeza racial, disfarçado de evolução civilizatória.”
7) Categoria: Ciências Ambientais (menção honrosa) 
Título: Saberes e Fazeres de Mulheres Camponesas e Quilombolas nas Agriculturas: Produzindo Formas de Resistências e Existências
Autor: Renata Borges Kempf
Instituição: UFPR (Universidade Federal do Paraná)
Resumo: Embora o objetivo da tese possa parecer inócuo, o conteúdo é recheado de palavras-de ordem a favor do socialismo e contra as mais diversas formas de “opressão”. As palavras “capitalismo” e “capitalista” aparecem 74 vezes no texto.
Trecho: “Compreendemos, portanto, que a exploração de raça, classe e gênero é a base da modernidade e do capitalismo, que se consolidou com base no patriarcado, no sexismo e no racismo. Nesta tese, analiso as intersecções das opressões e resistências em meio à diversidade das ruralidades camponesas, por isso as contribuições teóricas do feminismo negro e decolonial são fundamentais para esta análise na medida em que tecem reflexões acerca do ‘[...] profundo vínculo ideológico, entre racismo, viés de classe e supremacia masculina’, nas palavras da intelectual negra, feminista e marxista, Angela Davis.”
8) Categoria: Comunicação e Informação (menção honrosa)
Título: Conexão Atlântica: branquitude, decolonialitude e educomunicação em discursos de docentes de Joanesburgo, de Maputo e de São Paulo
Autor: Paola Diniz Prandini
Instituição: USP (Universidade de São Paulo)
Resumo: O texto, repleto de palavras inventadas, parece uma paródia. A linguagem passa longe do rigor acadêmico. Em vez disso, a tese traz frases como "O afeto é revolucionário" e um acróstico que combina palavras como "Ancestralidade", "Troveja", "Comunitariamente".
Trecho: “Sendo brasileira, sinto que sou parte de uma população que sobrevive (também) pelo consumo de infinitos memes (CALIXTO, 2017), que faz piada com a própria sorte, mas, que, ao fim do dia, só queria mesmo poder ter seus direitos básicos garantidos, mas que os vê sendo retirados, corriqueiramente, estruturalmente, visto o aumento de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria ter se multiplicado, nos últimos anos, até a aprovação de medidas que visam garantir a manutenção de privilégios a quem historicamente os acessa. E quem são essas pessoas? Uma maioria de homens brancos cisgêneros, publicamente assumidos heterossexuais e cristãos, ricos, sexistas e patriarcais, velhos e herdeiros de um sistema colonial ainda vigente nas mentes e nos corpos de quem é oprimido por esse sistema.”
9) Categoria: Educação (menção honrosa) 
Título: XI HÕNHÃ? E AGORA? VAMOS SER PESQUISADORES: um fazer pesquisa tikmũ’ũn entre múltiplos seres, saberes e fazeres
Autor: Paula Cristina Pereira Silva
Instituição: UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Resumo: A autora afirma ter identificado “metodologias de pesquisa indígena”, que ela própria classifica como mera “contação de histórias.” Paula critica a visão “eurocêntrica” e “ocidental” que diz prevalecer no ambiente acadêmico quanto às formas aceitáveis de se fazer pesquisa.
Trecho: “Presenciamos, atualmente, no Brasil, um trágico momento na história de sua democracia. O país está sendo governado por uma política autoritária, que não zela pela vida, tampouco pela diversidade e pela justiça social. Pelo contrário, um desgoverno que fomenta a violência e o desrespeito, que falha em suas obrigações legais para com os povos indígenas e diversas outras minorias (...). De certa forma, as crises reveladas pela pandemia de Covid-19 deram visibilidade a outras ciências, outras formas de viver e de nos relacionar com mundos outros que reforçaram a fragilidade do modelo de sociedade dominante. O considerado ‘homem moderno’, fruto de um passado imperialista, colonialista, de dominação de saberes, seres e fazeres, foi rendido e, por hora, vencido pelo invisível.”
10) Categoria: Interdisciplinar (menção honrosa)
Título: Agência feminina, terra e multissensorialidade: a mitopráxis Tikmũ’ũn no cinema.
Autor: Joana Brandão Tavares
Instituição: UFBA (Universidade Federal da Bahia)
Resumo: O trabalho analisa a perspectiva de gênero dentro de uma tribo indígena na Bahia. O tema é válido, mas a autora se perde em devaneios sobre o “feminismo indígena”, que é um conceito estranho à própria cultura dos povos indígenas.
Trecho:  “Portanto, com a construção do conceito de gênero, o feminismo busca mostrar como as diferenças nas relações sociais de sexo são construídas culturalmente e não possuem uma relação de causa e efeito com a natureza, ou com o sexo – para usar o termo cunhado na dualidade do sistema sexo/gênero que vincula a natureza ao primeiro, e a cultura ao segundo. O próprio conceito de relações de gênero já passa então a ser impregnado do social, em oposição a relações sociais de sexo, no qual, entretanto, a natureza social da elaboração do sexo ainda precisaria ser explicitada.”
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Paz depende dos acontecimentos na Ucrânia, diz embaixador da Turquia Existem várias outras tentativas de intermediação do conflito, disse nesta sexta-feira (14) o embaixador da Turquia no Brasil, Halil Ibrahim Akça, na solenidade do aniversário da tentativa fracassada de golpe ao Estado na Turquia, em 15 de julho de 2016. “Existem as tentativas da China, de países africanos, da própria Ucrânia e, também, a oferta turca, entre outras”, disse o embaixador em entrevista coletiva na solenidade. O embaixador entende que a chance de alguma das mediações de paz ser exitosa dependerá do que ocorre no território ucraniano, em cada momento do confronto. “O sucesso das tentativas é influenciado pelo andamento do que acontece no campo [de batalha, entre Rússia e Ucrânia] e, ainda, se [as tentativas] ocorrem na hora certa, em um determinado momento [certo]. Acho que tudo caminha junto com o que está ocorrendo lá, no terreno do conflito mesmo”. Halil Ibrahim Akça externou, em entrevista coletiva, em Brasília, que a própria Turquia tentou criar pontes para solucionar a questão. “Logo nos primeiros dias [da guerra], a Turquia tentou ser mediadora, mas com o caminhar da situação, o cenário mudou. Por isso, não posso comentar o timing da tentativa brasileira”. Otan Halil Ibrahim Akça avaliou que a recente mudança de decisão do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de aceitar a Suécia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se deve a mudanças promovidas na legislação sueca para não abrigar terroristas em seu país e não patrocinar atos terroristas, por exemplo, com a venda de armamentos. “A conversa girava em torno de mudar as leis da Suécia, que inclusive foram mudadas agora, em parte da Constituição deles. Apesar de não ser suficiente, a Suécia tomou algumas ações que ajudam na luta contra o terrorismo. O presidente Erdogan enviará ao parlamento turco os documentos para ratificar a adesão da Suécia à Otan, disse o embaixador turno. “Agora, essa proposta ainda tem que ser aprovada pelo parlamento turco. E essa aprovação deve demorar alguns meses”. Golpe A conversa com jornalistas e uma exposição de fotografias marcam o sétimo aniversário da tentativa fracassada de golpe ao Estado na Turquia, em 15 de julho de 2016. Naquela noite, facções das Forças Armadas do país tentaram derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan e o governo do primeiro-ministro Binali Yıldırım. À época, prédios do governo da Turquia, como a Assembleia Nacional e o Complexo Presidencial, foram bombardeados e os militares conseguiram controlar locais estratégicos, mas, de acordo com embaixador, o golpe falhou porque teria havido forte rejeição dos cidadãos à tentativa de golpe. No conflito, 251 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas. Atualmente, na Turquia, o 15 de julho é celebrado o Dia da Democracia e da Unidade Nacional da Turquia. Fonte: Agência Brasil
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dfsoberano · 1 year
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Paz depende dos acontecimentos na Ucrânia, diz embaixador da Turquia
Como a proposta do governo brasileiro para intermediar a paz e colocar fim na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, existem várias outras tentativas de intermediação do conflito, disse nesta sexta-feira (14) o embaixador da Turquia no Brasil, Halil Ibrahim Akça, na solenidade do aniversário da tentativa fracassada de golpe ao Estado na Turquia, em 15 de julho de 2016. “Existem as tentativas da…
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gazeta24br · 2 years
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O longa-metragem "Hamlet", de Zeca Brito, faz sua première mundial na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, no dia 25 de outubro (terça-feira), às 21h20min, no Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca, com reprise na quinta-feira (27) às 14h, no Cine Satyros Bijou, dentro da Mostra Brasil. Em meio ao caos político no Brasil de 2016, os estudantes secundaristas se unem aos movimentos sociais, tomam as ruas em passeatas, protestos e reivindicações. Testemunhando um golpe de estado, o Jovem Hamlet (Fredericco Restori) tem de enfrentar seus maiores fantasmas, sua transformação em adulto e seu lugar na sociedade. "Neste filme buscamos interpretar a sociedade do Brasil atual a partir de suas ruínas, da falência do Estado e de uma juventude que resiste e sonha com outra realidade", explica o realizador Zeca Brito ("Legalidade"). A produção rodada em abril de 2016 em Porto Alegre traz em seu elenco o crítico a ator Jean-Claude Bernardet e uma participação especial da ex-presidenta Dilma Rousseff. "A leitura poética das ocupações estudantis é o contexto da ação em 'Hamlet', e a tentativa de contribuir com mais um capítulo da história brasileira", conclui o diretor que também assina produção (junto com Clarissa Virmond, Frederico Ruas e Tyrell Spencer) e roteiro (dividido com Ruas). Segundo o cineasta, o filme explora o dilema do existir como ser político em meio à desconstrução da democracia brasileira da segunda metade da década de 2010 até hoje. "A dúvida do protagonista fica entre assumir a ação, tomar as rédeas da vida e escrever o próprio destino ou entregar-se aos rumos da história", delimita Zeca. O realizador combina os gêneros de ficção e documentário para retratar uma sociedade dividida entre a cartilha ditada pelas elites e a reflexão da própria ação dos movimentos sociais. "Hamlet" é uma produção da Anti Filmes, com coprodução da Galo de Briga Filmes. Sinopse Em meio ao caos político no Brasil de 2016, os estudantes secundaristas se unem aos movimentos sociais, tomam as ruas em passeatas, protestos e reivindicações. Cobram o fim da desigualdade e denunciam manobras políticas. Diante de um iminente golpe de estado, o Jovem Hamlet tem de enfrentar seus maiores fantasmas, sua transformação em adulto e seu lugar na sociedade. Agir ou não agir? Enquanto as bombas explodem, o coração entra em chamas, o mundo exterior em ruínas e por dentro a construção da cidadania e a chegada da maturidade. Ser ou não ser? Serviço Première mundial - 'Hamlet', dir. Zeca Brito 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo Dia 25 de outubro (ter), às 21h20min, no Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca (R. Frei Caneca, 569 - Consolação); Reprise: dia 27 de outubro (qui), às 14h, no Cine Satyros Bijou (Praça Franklin Roosevelt, 172 - Consolação). Ficha Técnica Híbrido de Ficção e Documentário | 87 min | P&B | Brasil | 2022 Elenco: Fredericco Restori, Jean-Claude Bernardet e Marcelo Restori Participação especial: Dilma Rousseff Produção executiva: Clarissa Virmond, Frederico Ruas, Tyrell Spencer e Zeca Brito Direção de produção: Maria Elisa Dantas Fotografia: Bruno Polidoro, Joba Migliorin, Lívia Pasqual e Zeca Brito Montagem: Jardel Machado Hermes Supervisão de pós-produção: Tyrell Spencer Desenho de som e Mixagem: Tiago Bello Trilha sonora original: Rita Zart Roteiro: Frederico Ruas e Zeca Brito Direção: Zeca Brito Empresa Produtora: Anti Filmes Coprodutora: Galo de Briga Filmes Instagram: @hamletofilme
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rodadecuia · 2 years
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depredando · 6 years
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"O Muro", documentário de Lula Buarque Hollanda, revela um Brasil com fratura exposta
“O Muro”, documentário de Lula Buarque Hollanda, revela um Brasil com fratura exposta
O MURO, documentário de Lula Buarque de Hollanda (2018, 1h 27min), produzido pelo Canal Curta, foca sua atenção sobre o Muro do Impeachment construído em Brasília no ano de 2016 durante o processo de deposição da presidenta Dilma Rousseff, considerando-o como emblema de uma pátria com fratura exposta. Em entrevista à Revista Select, o cineasta disse:
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“Ver Brasília, a capital utópica, aquele lugar…
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sorella2 · 3 years
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RETROSPECTIVA DIABÓLICA...
Vejam essa histórica linha do tempo até a destruição do Brasil...
*2001* - queda das torres gêmeas nos EUA
*2003* - EUA invadem o Iraque sob a alegação de que o Iraque desenvolve armas químicas e nucleares
*2006* - EUA capturam e executam Saddam Hussein. Tomam 100% dos poços de petróleo do país
*2008* - EUA mergulham na maior crise imobiliária e econômica dos últimos 50 anos. Milhares de americanos perdem as casas por falta de pagamento, indo morar em trailers e nas ruas
*2009* - EUA invadem a Líbia e matam Muhamar Gadafi. Usam o msm argumento que usaram contra o Iraque e tomam 100% do petróleo líbio
*2009* - Brasil descobre o pré sal, segunda maior reserva de petróleo da América
*2010* - Embargo econômico imposto pelos EUA à Venezuela que se negou a entregar o domínio do petróleo às petrolíferas americanas
*2011* - Brasil assume o protagonismo nos Brics, com o maior crescimentos do PIB ultrapassando o Reino Unido, assumindo a 6a. posição mundial na economia
*2012* - Europa derrete, sob o efeito da crise iniciada nos EUA. De cada 3 europeus, 1 estava desempregado
*2013* - Brasil apresenta o menor índice de desemprego do mundo, 4,3%. Milhares de estrangeiros migram para o Brasil em busca de emprego
*2013* o vice-presidente dos EUA, Joe Biden vem ao Brasil para abrir o pré-sal às petrolíferas estadunidenses e recebe um "não" da presidente Dilma... Na mesma semana se reúne a sós com Temer!
*2013* Biden retorna aos EUA e em apenas 1 mês e meio começam as manifestações contra Dilma, as "Jornadas de Junho"
*2014* - Sérgio Moro começa a viajar para a sede da CIA e no Depto de Estado dos EUA sob o pretexto de fazer cursos. Faz 14 viagens aos EUA em dois anos
*2014* Aécio estava em 3° nas pesquisas e de repente o superjato biturbinado Cessna cai, mata Eduardo Campos e a vice da chapa passa a apoiar Aécio que vai ao 2° turno
*2014* - Dilma Rousseff é reeleita e Aécio faz discurso inflamando o país ao dizer que iriam paralisar o governo Dilma
*2015* Temer viaja aos EUA no final do ano pra combinar o golpe
*2015* José Serra (PSDB) entra com o PL-131/2015 pra tirar o pré-sal da Petrobrás e do Brasil fazendo a abertura que Biden havia tentado em 2013
*2015* - Dilma Rousseff não aceita aliança com o centrão para se proteger do impeachment e para barrar as investigações contra Eduardo Cunha
*2016* vazam as gravações reveladoras da trama do golpe entre Jucá, Calheiros e Sarney (MDB) e Sérgio Machado (PSDB) onde falaram a famosa frase: _"Vamos tirar a Dilma e colocar o Michel para estacar a sangria. Num grande acordo, com o Supremo com tudo. E combinado com a imprensa"_
*2016* - Dilma Rousseff é afastada sob o falso argumento de "pedalada fiscal" e dois anos depois foi absolvida por falta de elementos legais
*2016* na sessão do impeachment de Dilma, vários deputados golpistas corruptos exaltam suas famílias e Deus, e Bolsonaro faz menção ao torturador carniceiro da ditadura Brilhante Ustra
*2016* o golpista Temer assume e o PL de abertura do pré-sal aos estrangeiros é logo aprovado com relatoria de Jucá
*2016* Temer nomeia o tucano Pedro Parente na Petrobras (processado no STF por corrupção no governo FHC)
*2017* a Petrobrás começa a paralisar refinarias e passar exportar o óleo cru
*2017* Temer (com MDB, PSDB, DEM, PP etc) aprovam a MP do Trilhão, isentando as petrolíferas estrangeiras em R$ 1 trilhão de impostos ao Brasil
*2017* - Michel Temer entrega 2 dos 3 maiores poços de petróleo aos EUA. Shell e Esso assumem a exploração e o refino de petróleo
*2017* - os preços dos combustíveis disparam subindo 212 vezes em 2 anos
*2017* Temer aprova a maldita Reforma Trabalhista retirando uma centena de direito dos trabalhadores
*2018* - Sérgio Moro condena Lula "sem provas" sob o argumento de objeto indeterminado, ou seja, sem provas. Lula não pode concorrer às eleições
*2018* a chapa Bolsonaro/Mourão faz a maior campanha eleitoral de fakenews espalhando milhares de mentiras pelas redes sociais na internet e o TSE aprova essa enorme corrupção Eleitoral
*2018* - nomeiam Sérgio Moro como ministro da Justiça
*2018* governo passa a liberar mais agrotóxicos importados e já passam de 800 novos
*2019* Governo aprova a maldita Reforma da Previdência condenando os brasileiros a trabalharem até a morte (ficam de fora: juízes, militares e políticos)
*2019* - Todas as reservas subterrâneas de água doce do Brasil são entregues à Coca Cola, americana
O Brasil cai de 6a economia para 14a. O papel dos Brics é enfraquecido. A Lavajato de Dallagnoll, Moro e CIA-EUA paralisam as grandes empreiteiras brasileiras que ganhavam concorrência de obras no exterior.
O desemprego explode...
O Brasil perde os estaleiros de construção de navios petroleiros. Nosso projeto do inédito submarino nuclear é fechado. Governo vende distribuição de gás.
Governo tenta entregar a Embraer, 2a maior do mundo em jatos comerciais à Boeing dos EUA.
Governo planeja entregar Eletrobras, Correios, BB, Serpro, Datasus, Dataprev, CeasaMinas, Ceagesp etc. As demais áreas do pré-sal seguem sendo entregues aos EUA. Voltamos a ser quintal dos EUA e fadados ao eterno atraso econômico, social e moral do Brasil.
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diveriler · 4 years
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Demerara
Demerara
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Em seu livro de estreia como romancista Wagner  G. Barreira nos conta a trajetória do jovem Bernardo, que embarca no Demerara apontado como sendo o navio que trouxe a gripe espanhola para o Brasil. O personagem do protagonista surgiu a partir de conjeturas sobre as origens do avô paterno de Barreira.
Numa rápida sinopse: Bernardo nasceu na Galícia, no norte da Espanha. Ainda criança foi para um orfanato na cidade de Vigo, onde estudou e perdeu a chance de se tornar padre. Em 1918, dois anos após deixar a instituição, leva uma vida errante, vivendo de pequenos golpes ao redor do porto. Convencido por um amigo e precisando desaparecer por um tempo, embarca no vapor Demerara a caminho da América do Sul, na mesma viagem que trouxe a pandemia de gripe espanhola para o continente. Wagner G. Barreira dá voz ao narrador personagem ao relatar a travessia do Atlântico, a acusação de ter assassinado o amigo, a prisão em Santos, a convivência com infectados pelo vírus, a fuga para São Paulo e as dificuldades de adaptação na cidade em construção pelas mãos de imigrantes de todo o mundo.
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A primeira ideia de Demerara nasceu lá em 2016 numa realidade em que não se podia nem remotamente imaginar o quando o assunto ‘pandemia’ estaria em alta no momento de seu lançamento. Foi uma dessas ‘coincidências’ que também acontecem muito na vida do protagonista de Demerara. Bernardo participa de eventos históricos meio ‘sem querer’, a meu ver mais por inércia que por escolha. Ele vai se deixando levar, sem grandes ambições. Não tem planos muito elaborados para o futuro e as escolhas que faz, faz apenas quando se apresentam inevitáveis a sua frente.
Bernardo não é muito ‘reflexivo’. É um sobrevivente! Um cara prático que ‘faz o que tem que fazer’. O que às vezes pode tirar um pouco da carga emocional de algumas cenas (pelo menos pra mim). Cenas que de outra forma provavelmente teriam me feito chorar. É o caso de quando trabalha recolhendo os corpos dos mortos nas ruas. Ele só faz. Porque é preciso que se faça. Ele não se prende a refletir sobre as dificuldades, ele as enfrenta sem te dar espaço para sentir pena dele. Os momentos em que Bernardo mais me emociona são quando se mostra atento a coisas boas e belas. É quando ele mais deixa a mostra seus sentimentos. Diante da oliveira quando promete voltar a sua terra, ao se surpreender com a gentileza de estranhos que o ajudam quando chega a SP, ao falar com carinho dos amigos e das mulheres. Bernardo é um bon-vivant e tendo um trocado para beber e jogar no fim do dia e uma mulher para lhe fazer companhia na cama ele está mais que satisfeito.
Para contrabalancear com esse protagonista que apesar de ‘gente boa’ é um “homem de sua época”, branco, cis e hétero com pensamentos e atitudes condizentes a esses papeis que ocupa; temos um bom time de mulheres maravilhosas! Gostei bastante do elenco feminino de Demerara. Dentro das possibilidades da época claro… elas são livres, fortes e decididas.
Amália a primeira que nos é apresentada ainda em Vigo foi renegada pela família quando engravidou fora do casamento, mas acabou se dando bem como prostituta e gostava e vivia muito bem ao que parece. Aproveitando a vida sem remorso. Arminda que Bernardo conhece no navio a caminho do Brasil sabe aproveitar as oportunidades e acaba muito rica casada com um indiano. Maria é a que ele conhece no cortiço onde passa a morar em SP, com um filho ela dizia ser viúva e de livre vontade toma a inciativa de começar a frequentar a cama dele. Por fim Lina o adota quase como um amante de estimação e o mostra o lado mais rico da cidade. Elas ‘se viram como dá’ em meio ao cenário tão hostil. Mas se disse que Bernardo não nos deixa ter pena de si porque é um sobrevivente, delas também posso dizer o mesmo! São sobreviventes. Com personalidades fortes.
São muitos os personagens interessantes de Demerara. E a parte histórica do livro não se resume a gripe Espanhola e consequências dessa. Wagner mostra com muita habilidade o inicio dos movimentos dos trabalhadores por exemplo. Gostei muito de observar a dinâmica entre os diversos grupos de imigrantes, o ambiente do cortiço onde Bernardo passa a morar, assim como o ambiente do seu trabalho no matadouro e os jogos (e brigas) de futebol.
Dois pontos que a meu ver moldaram o resultado final da produção do livro parecem ter sido o cuidado do Wagner com os aspectos formais do ‘narrador’ e do ‘tempo’. O livro é narrado em primeira pessoa e a história micro do personagem tem que encaixar na cronologia da história macro dos fatos históricos. Esses dois pontos me parecem moldar a obra.
Nessa mistura delicada de ficção, memória familiar (que dá corpo e riqueza ao texto) e pesquisa histórica Wagner vai compondo um cenário claro do Brasil (e principalmente de SP) no início da imigração.
Com o momento que estamos vivendo é claro que o grande destaque quando se vai apresentar o livros é falar sobre a gripe espanhola! Falar sobre os paralelos das duas pandemias. Bernardo chegar ao Brasil no momento em que chegou e vivenciar a doença se alastrando, os mortos… é claro que isso afeta nossa leitura e nossa relação com o livro. Mas não é o único acontecimento histórico que pode ser observado em Demerara.
São tantos os acontecimentos que me surpreendo quando lembro que são apenas 150 páginas! Por fim… bem… o livro está em primeira pessoa, de forma que termina com Bernardo indo batizar o seu filho (pai de Wagner). Termina aí porque Wagner não queria rivalizar com Machado e colocar na literatura nacional outro autor defunto! Afinal além da informação de que seu avô veio para o Brasil no navio que trouxe a gripe espanhola, a única outra informação que ele tinha era de que o avô morreu no dia do batizado do único filho.
Apesar de que essa informação não está no livro… só no prefácio do Laurentino Gomes! Então, sendo uma informação extratextual, podemos dizer que o final é em aberto. Nada no texto fala que Bernardo morreu… então… quem sabe Bernardo não reaparece num próximo livro!
SOBRE O AUTOR
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Wagner G. Barreira nasceu em São Paulo, em 1962, cidade onde vive com seus três filhos. É jornalista, trabalhou na revista Veja, no jornal O Estado de S.Paulo e teve passagens por TV Cultura, Jornal do Brasil e revista Aventuras na História. Foi o primeiro diretor editorial de mídias digitais da Editora Abril. Também atuou como professor de Técnicas de Reportagem e Teoria do Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2018, escreveu a biografia Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas (Editora Planeta).
Título: Demerara Autor: Wagner G. Barreira Editora:Instante Número de páginas:152 Edição:1a Ano de lançamento:2020
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seasickpoetry · 4 years
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[SOBRE MADURO/VENEZUELA E BOLSONARO/BRASIL]
Amigos, vejo que a maioria de vocês está permeado por boas intenções quando compartilham e ventilam a ideia de que Bolsonaro e Maduro sejam gêmeos militares siameses [alô Geopolítica freestyle], mas eu gostaria de trazer algumas questões à luz desse debate. Como não dá para fazer isso de um jeito rápido e eu preciso corrigir 80 exercícios, gravar um podcast, ler um artigo para a pesquisa [desculpem o desabafo], e assistir harry potter e a ordem da fênix, até o fim do dia, aqui vai, por enquanto, o contexto histórico desse debate. Espero que ajude a entender. Parte I Contexto [indo e voltando na história porque é importante] A mídia brasileira é anti-Venezuela, anti-Cuba, entre outros, e, se pudesse, seria anti-China. Percebemos isso porque as notícias e artigos sobre essas nações geralmente vem permeadas de preconceitos, de chavões [e não chavismos, rs] sobre o que seria o socialismo e planificação econômica, e com o guarda-chuva maravilhoso do "antidemocrático", que serve para qualquer país [quando não chama 'antidemocrático', vem vestido da sua capa teórica: totalitarismo, palavra adorada pelo General Mourão, que vê regimes totalitários nesses mesmos países, mas uma maravilhosa democracia no Brasil de 64-88]. Lembremos que essa mesma mídia brasileira, dominada por seis famílias, é porta voz das elites econômicas historicamente. Elites econômicas que são centenárias - não se esqueçam que as plantations, minerações e genocídios que ocorreram aqui, durante a colonização, aconteceram também com nossos vizinhos, e permanecem evidentes as estruturas de desigualdade econômica que não apenas marcaram nossa história, como resultado, mas também definiram nossa identidade confusa de brasileiro. Gosto sempre de lembrar que, se você ganha algo perto de R$ 5.000,00, está perto do 5% mais rico do Brasil. Isso não significa que você é rico, mas que 95% das pessoas ganham menos que isso. Chegue no 1% e você vai descobrir cerca de 10 famílias. Em um país de 211 milhões de pessoas. Esse tipo de coisa não acontece como resultado de apenas uma geração. [calcule seu salário na média brasileira ou experimente valores por aqui: https://www.nexojornal.com.br/interativo/2016/01/11/O-seu-salário-diante-da-realidade-brasileira Observe o mapa de oportunidades e desigualdades e o estudo sobre a contribuição dos mais ricos para a desigualdade produzidos pelo IPEA: https://www.ipea.gov.br/acessooportunidades/ https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34230&Itemid=433 Leia UM DOS estudos sobre a oligarquia de mídias no Brasil https://www.dw.com/pt-br/mídia-no-brasil-ainda-é-controlada-por-poucos-diz-estudo/a-41188603] Junto a outros setores da plutocracia-aristocracia-gerontologia [ricaços] brasileira, impediram, entre 2002 e 2006, a implementação da Telesur, agência de notícias venezuelana e com viés anti imperialista [anti impérios econômicos e políticos] e latino americano. Impediram também a realização da reforma na estrutura de distribuição e mídia, que, diga-se de passagem, utiliza até os dias de hoje a infraestrutura começada por Vargas, aberta pelos desenvolvimentistas dos anos 50 e cimentada pelos militares na ditadura. Todos esses tem em comum o Estado como motor. Então, sim, é óbvio que a Globo melhorou a qualidade das suas séries e câmeras - a maior parte do seu lucro não precisa ser reinvestido em infraestrutura básica. É por isso também que nosso cabeamento, antigo, ainda é insuficiente. Aliás, misturando os assuntos, todo capital privado brasileiro tem uma história conectada ao Estado, aparelhando-o para o seus interesses, dominando-o e, eventualmente, estraçalhando-o - basta investigar. Se quiser, posso enviar referências, pede aí (:)). [Saiba, nesse artigo de 2009 do diplomatique, um pouco da história da Telesur https://diplomatique.org.br/telesur-e-as-mentiras-da-imprensa-privada/] Porém, ao contrário do que ocorreu no Brasil, o processo de modernização e redistribuição de recursos efetivamente ocorreu, em alguma medida, na Venezuela a partir do início dos anos 2000. E, para entender esse processo, e seus agentes motores, é necessário voltar ao século XIX [1800's..]. Enquanto o Brasil se tornava um império comandado pelo filho do Rei de Portugal [desculpem, amigos historiadores :(], havia um processo violento de independência acontecendo nas colônias espanholas à norte do cone sul, a Grande [ou Grã]-Colômbia [que corresponde as atuais regiões da Colômbia, Venezuela, Equador e Panamá] estava sendo conquistada por independentistas locais. Esse processo foi capitaneado pelas elites 'criollas', grandes senhores de terras - lembre-se, naquela época as elites estavam bem ~putaças~ com as coroas ao redor do mundo - e dentre eles, havia um em especial, Símon Bolívar. Enquanto o império brasileiro discutia, ao longo do século XIX, como oficializar a obtenção de terras [já que não havia ainda legislação para a propriedade e todos os senhores de terras eram apenas posseiros, poderosos, mas posseiros]; e também uma maneira de trazer trabalhadores europeus para 'embranquecer' a população brasileira, vista a aproximação do fim da escravatura [com a aprovação, em 1850, da Lei Eusébio de Queiroz, que proibia o tráfico de escravizados], se fundavam, no sangue, na luta e na raiva, processos de descolonização e de independência nos nossos vizinhos. Enquanto nossa república só chega em 1889, na Venezuela ela já era construída a partir da segunda década desse mesmo século. Como aqui - durante o breve período inicial partidário na coroa e posteriormente republicano no Brasil - lá, na Venezuela, também houve uma super divisão entre dois partidos: liberais e conservadores [se você observar, trata-se de uma tendência histórica de ex-colônias, faça uma pausa e pense sobre como as eleições por aqui, na América, se polarizam - ajuda?]. A luta pela fundação da nação agora enfrentava dois aspectos diferentes de elite: aquelas mais ligadas à estrutura europeia, que queriam a continuidade, por exemplo, da escravidão, e aqueles que queriam 'modernizar' a nova nação. Esse debate se repete em quase todas as nações desse 'novo mundo'. Como é de praxe nas ex-colônias, uma das instituições e corporações que se fortalece, constitui e 'nacionaliza', no sentido de ser mais-nacional-que-de-fora, rapidamente - antes da república/governo - é o exército. E na Venezuela é justamente o exército, constituído também por Bolívar e outros independentistas, que se funda como anti império na sua origem. Não significa que era socialista ou algo do tipo: era apenas anti império espanhol. A ideia é constituir uma nação local independente, e as metrópoles coloniais são inimigas nesse processo. Essa divisão entre conservadores e liberais também vai marcar as fileiras do exército historicamente. Serão mais de 10 golpes, revoltas, revoluções e juntas civis-militares, que vão acontecer entre o século XIX e XX, e, entre seus protagonistas, estão lá, eles, os militares. Politizando-se e politizando. "Tim" "Oi?" "Mas no Brasil também não foram os militares - como o Marechal Deodoro - que declararam a independência?" Sim. Porém dois raios não caem no mesmo lugar. O exército brasileiro declara a independência depois de ajudar a manter um império que, por mais que seja comandado por uma dinastia portuguesa, era 'nacional'. Eles não precisaram 'fundar' uma nação. O exército derruba a monarquia porque as elites retiram sua legitimação com o fim oficial da escravatura, tanto que ocorre um ano depois [1888-1889]. O que mantinha o império era um tripé: terra, escravatura e igreja. Com a aprovação da Lei de Terras em 1850, as sesmarias e posses passam a ser propriedade dos senhores de terras - não mais da coroa - e terra é riqueza. Cai um pé, a riqueza passa a ser totalmente da elite. Com o fim da escravatura, não há porque manter uma elite aristocrática que não mantém nem as leis que favorecem a elite econômica [sobra um pé]. O exército precisa de recursos. De que lado ficará? Deus é bom, mas não paga salários e nem compra armas. O pé que sobra não é suficiente. O que constitui os militares brasileiros como instituição nacional e republicana está ligado à sua conexão corporativista - de defender interesses da corporação - com as elites. Não sua relação de independência. Isso é fundamental - fazendo um salto temporal de volta ao presente - ajuda a entender como esses se posicionaram, por exemplo, na aprovação da reforma da previdência. Ajuda a explicar o modus operandi de Bolsonaro e da casta militar do governo. Os militares brasileiros também serão agentes políticos definitivos no século XX, seja ao lado de Vargas, seja nas tentativas de golpe dos anos 1950, seja no golpe consumado em 1964 - e estarão, também, sujeitos a infusões ideológicas. A Revista Opera, na minha opinião o veículo mais comprometido com a análise militar e a constituição de um polo de mídia anti imperialista no Brasil, traça um perfil ideológico dos militares em diversas ocasiões e artigos. Leia uma dessas aqui: https://revistaopera.com.br/2020/05/06/brasil-sempre-ideais-traidos-e-lacaios-eminentes/. Qual é a diferença? Na Venezuela, uma das infusões ideológicas que se manteve no exército foi o anti imperialismo - com inclusive um episódio de expurgo comunista dentro das forças armadas em 1962 com um levante de marinheiros que terminou em mais de 400 mortos - a ponto de ter sido o único país que rechaçou a Operação Condor [operação articulada por norte americanos entre as ditaduras militares da América do Sul], devido a sua visão nacional e, também, ao poder do petróleo. Na década de 1970 essa commoditie deu um respiro econômico à Venezuela. [Saiba como foi a Operação Condor nesse artigo também do Diplomatique https://diplomatique.org.br/o-pesadelo-da-operacao-condor/] No Brasil, se manteve como dominante no exército uma visão ou ideologia corporativista [defendendo seus próprios interesses de classe], com exceção de uma corrente minimamente crítica a partir do Geisel [o déspota "esclarecido"], que rompe com a CIA em 1979. 
[Infusão: sendo o militar que rompe com a CIA, é também o militar com mais documentos - liberados pela CIA - sobre a tortura na ditadura. Seria coincidência? Leia aqui:
https://g1.globo.com/politica/noticia/para-ex-membro-da-cnv-documento-sobre-geisel-e-estarrecedor-e-forcas-armadas-deveriam-reconhecer-responsabilidade.ghtml]
Porém, com o fim da ditadura, houve uma doutrina deliberada de não envolvimento direto de militares na política - que pode, inclusive com força de lei, levá-los à cadeia quando se manifestam estando na ativa. Isso não is impediu de, internamente, continuarem seus estudos e, alinhada à visão corporativista, a visão anticomunista do período da guerra fria só se fortaleceu. Uma breve pesquisa sobre "Marx" nos artigos acadêmicos, traduções e leituras produzidas na Escola Superior de Guerra indica o quanto os militares estão preocupados com a questão do marxismo. Aqui, traduzindo um artigo de George Friedman ["Metodologia da Geopolítica: O Amor aos Seus e a Importância do Lugar de Origem", Edição 52 Revista ESG], comparam os marxistas aos liberais: "É interessante notar que, aparentemente inimigos irreconciliáveis, tanto os economistas liberais como os marxistas compartilhavam da opinião de que a nação, considerada como a comunidade unitária que possibilita todas as realidades, seria, na melhor das hipóteses, uma mera conveniência e, na pior, uma prisão. Os membros de ambas as correntes esperam que a nação e outras comunidades se definhem: os liberais, por efeito do transnacionalismo do capital, e os marxistas, por ação do transnacionalismo da classe operária" [p.67]. Ou este, da mesma edição 52, de J. Carlos Assis ["Banco Central: Último Reduto da Luta de Classes Depois da Guerra Fria"] que analisa o "pragmatismo" das direitas no mundo, e o "idealismo" das esquerdas. "Tradicionalmente, os partidos de direita tiveram e continuam tendo em todo o mundo uma relação funcional com as ideologias. Constroem-nas e fazem delas instrumentos de defesa de seus interesses, assim como meio de dominação, no que for possível, de todo ou parte do aparelho do Estado. Os de esquerda, quando autênticos, usavam ideologias como um farol de orientação na busca e na construção do próprio poder político, ou de uma utopia. Há fundamental diferença entre essas duas atitudes: malgrado o “materialismo” de Marx, a esquerda tornou-se ideologicamente idealista, enquanto a direita manteve-se simplesmente realista" [p.110]. [acessem aqui: https://www.esg.br/publi/arquivos-revista/revista_52.pdf/view] Ilhados em si, defendendo seus próprios interesses, com uma ideia distorcida de nação [fundada em algo externo], paranoicos e conservadores [te parecem o Bolsonaro?], nossos militares se constituem quase em uma antítese dos militares venezuelanos e do fenômeno político que originará o Chaves e posteriormente o Maduro, e explica o apreço dos norte americanos pelos nossos militares e não pelos venezuelanos. As origens militares - foco de comparação - de ambos os movimentos são essencialmente diferentes. Essencialmente opostas. Pois bem, voltemos à mídia. E finalmente finalizando essa parte I. Não apenas nossos militares tem essa concepção - as elites, que os fundamentam, e se fundamentam a sua imagem e semelhança, e que dominam e aparelham as estruturas de mídia, sabem que os chavões "comunista" e "Venezuela" se tornaram quase que como hashtags do que não fazer economicamente. Primeiro porque ajudaram a construir essa visão - ignorando todo o processo conduzido pelos EUA que isolou, encheu de sanções econômicas e impediu a Venezuela de prosperar, e que conversaremos na parte II - segundo porque são clientelistas: seu poder econômico é subsidiário a demandas de compra dos países "desenvolvidos" e sua oferta industrial, montadora, também subsidiária, depende de uma economia menos nacional e mais internacional. Então é preciso parecer nacionalista - para fundar uma visão de coletivismo, por mais torta que seja - e transforma esse nacionalismo em total abertura e subsidiencia a potências externas. Um nacionalista de camisa da CBF e bandeira dos EUA na mão: reconhece? Por isso percebemos que todo discurso nacionalista dos militares - e em especial do Bolsonaro - não fazem sentido se não em um contexto próprio, de defesa dos próprios interesses. Nada mais. Colar a imagem de Bolsonaro na de Maduro, nesse momento em que as políticas conservadoras bizarras de Bolsonaro nos matam e isolam internacionalmente, criando problemas econômicos para a parte liberal da elite, aquela que se conecta a serviços e indústria - diferente do agronegócio que está ganhando e que está na raiz da questão militar (lembra? O tripé que citei?) - é importante para sangrá-lo, sabendo que os anos de guerra fria, engano e falta de informação, levam a opinião pública a entender apenas a forma aparente da crise. Ambos, Venezuela e Brasil parecem isolados. Mas um deles é por escolha. E somos nós. Então, cuidado ao compartilhar isso. Você está ajudando a difundir uma informação falsa. Está ajudando a confundir o debate. E eles estão lá em cima sorrindo. Sempre. Aguardem a parte II com o estudo sobre o movimento chavista pré e posterior a 1999. ----- Comentário de Guilherme Silva​ que adiciona à questão militar no Império: Só apontando duas coisas que corroboram seu texto: a aproximação dos interesses da elite com as forças armadas pode ser traçada desde 1834 com a criação da instituição da Guarda Nacional, que subordinava o poder militar aos grandes proprietários de terra à nível provincial; e a fundação do Exército Brasileiro moderno, que foi justamente uma guerra "imperialista" de domínio hegemônico local, travada contra países vizinhos: a guerra do Paraguai.
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Brasil é um país diverso, mas preconceituoso. Primeira transexual a posar para a marca Victoria’s Secret, modelo diz que seu sucesso não é vitória só dela, mas da sociedade inteira
Folha de S.Paulo 29 Dec 2019  Gabriel Rigoni
A vida de Valentina Sampaio, 23, é puro contraste. A cidade de Nova York, nos EUA, onde mora sozinha, em nada lembra o pequeno vilarejo de pescadores no qual cresceu no Ceará com seis irmãos. Os rumos profissionais a levaram para longe dos pais, com quem sempre foi grudada. A carreira de modelo não é a que ela imaginava seguir na infância. Valentina customizava as próprias roupas: queria ser estilista. E o sucesso na trajetória, que a consagrou como a primeira transexual a posar para a grife Victoria’s Secret, em agosto deste ano, é encarado como um golpe na intolerância que poderia ter barrado seu caminho. “Lembro que minha carreira estava bem no início. Foi lá em Fortaleza”, começa a contar. “Estava no estúdio, pronta para fotografar, até que descobriram que eu era trans.” “Me senti mal, como se eu fosse a errada. Como se estivesse enganando alguém. Só queria sumir de lá. Na hora, o diretor me disse que eu estava fora por não saber como os clientes da marca reagiriam à campanha”, relembra. Valentina tinha deixado seu vilarejo para cursar moda em Fortaleza. Quase foi reprovada por faltas —apesar de comparecer a todas as aulas e ter bom desempenho nas provas. “Eu só respondia como Valentina. E, no sistema, não havia esse nome matriculado. Então eu nunca assinava as chamadas”, explica ela. A capital cearense a colocava de frente para os desafios. Não havia mais cajueiros, que sempre serviram de refúgio na infância. “Tenho muita saudade da praia, do meu lugar. Quando chega agosto isso aumenta, porque é quando começam a florescer os cajus, minha fruta preferida.” “Passava horas embaixo dos cajueiros desenhando. E o caju tem uma essência muito forte, muito característica. É um cheiro que remete muito ao meu lugar. E isso me faz perceber que o que importa é a nossa essência. Ela é única. Eu posso pegar um caju, cheirar, comer ele. Mas eu não posso pegar a essência dele para mim.” Hoje, quando volta à prainha, é recebida com orgulho pela vizinhança que a viu crescer. Mas as passadas são rápidas. Tempo para ficar não há muito. “Embora eu tenha apartamento em Nova York, vivo mais dentro do avião. Minha mala está sempre comigo. É tudo muito imprevisível”. Ela roda o mundo, mas faz um esforço enorme para não perder as raízes. Conversa pelo celular com os pais todos os dias. Era a eles que ela contava o passo a passo das negociações com a Victoria’s Secret. “São as pessoas que mais torcem por mim.” Eles ainda não conseguiram visitá-la no exterior. Há crianças pequenas na família, o que dificulta as viagens. “Mas minha vontade é trazer todos eles para perto de mim”, afirma. Ainda não houve muito tempo para que a família assimilasse a mudança dos rumos de sua estrela. A ascensão de Valentina foi rápida. Foi selecionada para o filme “Berenice Procura”, lançado em 2018, e atuou ao lado de atrizes como Cláudia Abreu e Vera Holtz. Assim que as gravações no Rio de Janeiro terminaram, foi convidada para protagonizar uma campanha do Dia Internacional da Mulher pela L’Oréal. “Aquilo já me trouxe uma visibilidade maior”, diz ela. Mudou-se para São Paulo, onde desfilou na SP Fashion Week pela primeira vez em 2016. Começou a construir uma carreira internacional, e já reside nos Estados Unidos há mais de um ano. “O Brasil é um país muito diverso, mas muito preconceituoso. A gente [transexuais] não tem o mesmo espaço na sociedade. Somos marginalizadas, vistas como pervertidas, aquela coisa meio escandalosa, que faz programa, uma imagem negativa.” “Então, ser a primeira transexual da Victoria’s Secret, não é uma vitória só minha, nem só da comunidade trans. É da sociedade inteira, que pode perceber que é possível haver inclusão.” A própria Victoria’s Secret esbarrou em casos de intolerância neste ano. O ex-diretor de marketing da grife Ed Razek deixou a empresa após declarar que não achava que a marca exibiria modelos trans ou plus size em seu desfile anual “porque esse show é uma fantasia”. “São 42 minutos de entretenimento”, chegou a acrescentar ele. O desfile acabou sendo cancelado em 2019. “A marca está aprendendo a importância disso. Muitas grifes do mundo da moda estão aprendendo a importância de abraçar a diversidade”, diz Valentina. Nas redes sociais, recebe muitas mensagens de apoio. Conta que muitas transexuais a procuram, e ela responde. “Mas amor, eu tenho um monte de haters [“odiadores”] também. Antes, eu reagia muito pior [do que agora] aos ataques. Ainda hoje ainda apago algumas mensagens”, admite. Não sabe onde estará no futuro —apenas tem noção do potencial, já que ascendeu meteoricamente. Quer ter filhos mais para a frente. Mas quando perguntada se sonha em seguir carreira como atriz, se deseja escrever um livro, ela escapa. “Só quero viver em tempos melhores no futuro. Me imagino num mundo melhor para todo mundo. Onde nós todos tenhamos os mesmos espaços e oportunidades. Que as chances não sejam limitadas apenas por sermos quem somos.” “As pessoas julgam. Mas ainda não param para ver a história que há por trás.” A gente [transexuais] não tem o mesmo espaço na sociedade. Somos marginalizadas, vistas como pervertidas, aquela coisa meio escandalosa, que faz programa, uma imagem negativa. Só quero viver em tempos melhores no futuro. Me imagino num mundo melhor para todo mundo. Onde nós todos tenhamos os mesmos espaços e oportunidades” Que as chances não sejam limitadas apenas por sermos quem somos.” “As pessoas julgam. Mas ainda não param para ver a história que há por trás.”
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grupo-demode · 5 years
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Bolsonaro e o nazismo
Luis Felipe Miguel
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Há uma estranha obsessão - de Bolsonaro, Olavo de Carvalho e outros chefes da direita brasileira - por defender em público a ideia de que o nazismo foi um movimento de esquerda.
É um disparate, que só se torna possível no ambiente de “pós-verdade” em que caímos. Enquanto as chamadas “fake news” são mentiras destinadas a orientar a compreensão dos fatos correntes (e as consequentes escolhas políticas), a pós-verdade constrói narrativas amplas baseadas na desqualificação das fontes antes aceitas como legítimas de validação, como a ciência, a academia e a lógica elementar, a partir em geral de uma visão conspiratória.
A terra é plana. Não existiu ditadura no Brasil. O nazismo era de esquerda.
O terraplanismo difere dos outros exemplos porque remete a um par conceitual menos complexo (plano, esférico). Para afirmar que o regime de 1964 foi uma ditadura, preciso ser capaz de definir em que consiste uma “ditadura”. Mas é possível alcançar uma definição suficientemente consensual - ausência de autorização dos governados, uso de violência aberta contra os opositores, negação das liberdades civis, imposição unilateral da vontade do grupo no poder - para nela incluir, sem margem para dúvida, um caso tão pouco complexo quanto o da ditadura brasileira.
A (correta) crítica ao silenciamento de vozes alternativas pela imposição dos saberes dominantes fez com que, muitas vezes, pessoas progressistas não saibam como reagir a esse tipo de ofensiva. Se acreditamos no relativismo radical que esteve na moda por certo tempo, não temos como combater a pós-verdade.
Um exemplo: quando o Ministério da Educação tentou proibir os cursos sobre o golpe de 2016 nas universidades, muita gente protestou, em defesa da liberdade de cátedra e prosseguiu afirmando que, se fossem oferecidos cursos sobre a “revolução” de 1964, também deveriam ser aceitos. Não deveriam. A discussão sobre o caráter da derrubada de Dilma Rousseff é uma controvérsia legítima. Já a discussão sobre a quartelada de 1964 já está bem encerrada entre os historiadores, pelo menos no que se refere a ter sido um golpe. Seriam necessárias muitas novas evidências para reabrir o debate, tanto quanto só novas descobertas muito fortes e surpreendentes tornariam legítima uma disciplina sobre a terra plana em um curso de Astronomia.
No caso de “direita” e “esquerda”, há ainda o fato de que se trata de uma metáfora, baseada em algo fortuito - a disposição dos assentos na Assembleia revolucionária francesa. Nesse sentido, é um rótulo arbitrário; nada indica que exista relação entre ser destro ou ser canhoto e ter tal ou qual simpatia política.
A rigor, qualquer um poderia inventar uma distinção esquerda/direita de acordo com os critérios que bem quisesse. O uso, no entanto, reduziu muito essa margem de arbítrio.
A não ser para um insustentável nominalismo radical, que seguisse o moto de Humpty Dumpty, a personagem de Alice através do espelho (”cada palavra significa exatamente aquilo que eu quero que ela signifique naquele momento”), temos sempre que remeter o conceito ao uso consolidado, que permite que ele - a despeito de eventuais polêmicas pontuais - faça parte de uma linguagem compartilhada. E a clivagem direita/esquerda, desde que surgiu, se organiza em torno de duas questões.
A primeira é a questão da igualdade, que Norberto Bobbio, num livrinho famoso, afirmou ser a grande linha divisória. A esquerda defende uma sociedade mais igualitária. A direita afirma que a desigualdade é necessária, é inevitável, é a consequência automática das diferenças naturais entre os seres humanos, é o resultado incontornável das interações entre as pessoas.
Regimes que classificamos como sendo de esquerda podem produzir desigualdades terríveis, mas seu discurso sempre é igualitário. Já o fascismo e o nazismo são abertamente anti-igualitários. Pregam uma ordem social hierárquica. Afirmam que existe uma raça superior às outras.
A outra questão é o lado em que se colocam no conflito entre capital e trabalho. Os regimes nazi-fascistas foram apoiados pelas grandes corporações capitalistas, que financiaram os movimentos que deram origem a eles. Foram vistos como a salvação diante da ameaça representada pelo avanço da classe trabalhadora a partir da Revolução Russa - posição, aliás, do próprio Ludwig von Mises. Eram regimes de Estado forte, sim, mas que permitiam lucros crescentes, exatamente pela repressão feroz sobre os trabalhadores. Como disse alguém, enquanto a União Soviética estatizava as empresas, o nazi-fascismo estatizou o trabalho e cedeu-o aos capitalistas, que usavam a mão de obra escravizada dos prisioneiros.
Resolvida a questão conceitual, sobram apenas anedotas, como o fato de que Mussolini começou sua vida política no Partido Socialista. O que isso quer dizer? José Serra, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Aloysio Nunes Ferreira... O número de direitistas que foram de esquerda no passado é enorme. E não custa lembrar que o Mussolini "socialista" foi, na verdade, um agente do serviço secreto britânico (https://www.theguardian.com/world/2009/oct/13/benito-mussolini-recruited-mi5-italy).
Ou então lembram que o nome completo do Partido Nazista era "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães". Deve ser o mesmo pessoal que acredita que a Coreia do Norte é democrática porque o nome oficial é "República Democrática da Coreia". Ou que o PSDB é social-democrata, que o Novo não é velho. Na verdade, a inclusão de "socialista" e "trabalhadores" no nome serve apenas para lembrar que o nazi-fascismo surge como reação do capital à ameaça da revolução operária.
É possível ser de esquerda e se opor a Stálin ou Mao, sem negar que eles também assumiam um discurso de esquerda. É possível julgar que a esquerda é o lado certo, sem achar que todo mundo que está à esquerda é necessariamente bom. A direita podia fazer o mesmo.
Mas uma parte cada vez maior dela não o faz. Por quê?
Uma hipótese é a cortina de fumaça. Bolsonaro lançaria factoides para desviar a atenção do principal - ficamos discutindo a Alemanha dos anos 1930 e, enquanto isso, a Reforma da Previdência, as milícias, o corte no gasto social etc. Talvez, embora o timing e o tom desastrados de muitas de suas declarações não colaborem para pensar que é algo tão bem planejado. De todo modo, o campo democrático não tem como se furtar desse tipo de debate. Pode ser diversionismo para eles, não para nós, que acreditamos (de verdade, não como frase de efeito) que é necessário conhecer o passado para entender o presente.
Outra hipótese é o retorno do recalcado. O nazismo é o horizonte final do delírio repressivo e autoritário que move Bolsonaro, o que o torna tanto uma sombra sempre presente em sua mente quanto algo do que se faz necessário se afastar de público.
A terceira hipótese se liga à produção do pânico e do ódio, que é central na estratégia política da extrema-direita. O outro lado - a esquerda - tem que ser a fonte de todo o mal, da destruição da família à corrupção, de mamadeiras excêntricas à doutrinação nas escolas. Ter o exemplo mais acabado do mal no mundo contemporâneo associado à direita compromete essa narrativa e leva ao sério risco de colocar alguma dúvida na cabeça dos seguidores.
(3 de abril de 2019.)
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forapsdb · 5 years
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Glenn denuncia ao mundo que Sergio Moro quer ressuscitar Lei de Segurança Nacional da Ditadura para prendê-lo
O jornalista Glenn Greenwald lançou globalmente um tweet em inglês no começo da tarde desta quinta-feira anunciando que o ministro Sérgio Moro ameaça transformar o Brasil numa ditadura; o editor do Intercept afirmou que Moro pode ressuscitar a Lei de Segurança Nacional para prendê-lo
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247 - O jornalista Glenn Greenwald lançou globalmente um tweet em inglês no começo da tarde desta quinta-feira (25) anunciando que o ministro Sérgio Moro ameaça transformar o Brasil numa ditadura. O editor do Intercept afirmou que Moro pode ressuscitar a Lei de Segurança Nacional para prendê-lo.
No tweet, lançado às 13h44, o editor do Intercept escreveu (em tradução livre): "Impensável em qualquer democracia: o ministro da Justiça, Sergio Moro, está comandando a investigação contra nosso jornalismo, apesar de ser sua corrupção o que temos tornado pública. Ele está ameaçando utilizar uma lei da época da ditadura, a Lei de Segurança Nacional, para prender-me por fazer jornalismo". O tweet referia-se a uma reportagem da versão internacional da Folha de S.Paulo sobre a tentativa de Moro de vincular os "hackers" aos vazamentos da Vaza Jato.
"Unthinkable in any democracy: Justice Minister Sergio Moro is commanding the investigation into our journalism even though his corruption is what we've exposed. He's threatening to revise a dictatorship-era national security law to arrest me for reporting"
Na manhã desta quinta-feira, o Ministério da Justiça divulgou nota segundo a qual os supostos "hackers" de Araraquara teriam atacado celulares usados por Jair Bolsonaro. A estratégia de Moro é transformar o escândalo que desmoralizou-o e à Lava Jato num caso de "segurança nacioal" para justitificar medidas repressivas contra o Intercept, o jornalista Glenn Greenwald e atacar a liberdade de imprensa no país. 
Numa nota de apenas quatro linhas, Moro usou a expressão "segurança nacional" duas vezes. Se agora Moro alega "segurança nacional",  em 2016  grampeou ilegalmente uma presidente da República, Dilma Rousseff, para criar as condições para o golpe de Estado.
Leia a nota de Moro: "O Ministério da Justiça e Segurança Pública foi, por questão de segurança nacional, informado pela Polícia Federal de que aparelhos celulares utilizados pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro, foram alvos de ataques pelo grupo de hackers preso na última terça feira (23). Por questão de segurança nacional, o fato foi devidamente comunicado ao Presidente da República".
Ecoando seu ministro, Bolsonaro foi ao Twitter e disse que a suposta invasão representa um “atentado contra o Brasil”, embora existam indícios de que os “hackers” tenham sido fabricados pelo governo.
"Por questão de segurança nacional, fui informado pela Polícia Federal e @JusticaGovBR de que meus celulares foram invadidos pela quadrilha presa na terça, 23. Um tentado grave contra o Brasil e suas instituições. Que sejam duramente punidos! O Brasil não é mais terra sem lei", escreveu o chefe do Planalto no Twitter.
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revistazunai · 6 years
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O ovo da serpente
Editorial Volume 4 Número 2
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Charge em jornal francês
Desde o golpe de estado de 2016, que derrubou a presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff, eleita com 54 milhões de votos, por um movimento de direita liderado pela grande imprensa – sobretudo a Rede Globo de Televisão – e pelo Judiciário, teve início a implantação de um regime autoritário no Brasil, sustentado por grandes empresários, proprietários rurais, banqueiros, militares, pastores neoevangélicos e setores da classe média alta. A prisão sem provas do ex-presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e a  vitória de Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, defensor da tortura praticada na ditadura militar, nas eleições presidenciais de 2018, deram a esse regime autoritário uma coloração semifascista. É possível verificarmos várias afinidades entre os métodos violentos e o discurso de ódio de Jair Bolsonaro com os de Franco, Hitler ou Mussolini, mas há também diferenças importantes. Se a ideologia é similar – negação da diversidade sexual e dos direitos sociais, anticomunismo, antifeminismo, irracionalismo, afirmação da supremacia masculina, branca, cristã e heterossexual, defesa de valores tradicionais em relação à família e à religião, “nacionalismo” (ainda que caricatural) – e também as práticas de intimidação violenta, o projeto econômico do líder autoritário brasileiro é muito diferente. Os regimes fascistas clássicos europeus estavam baseados no modelo do estado nacional forte, para fazer frente ao hegemonismo anglo-americano nos campos econômico, político, cultural e militar; havia intervenção estatal direta na economia e algumas concessões foram feitas aos trabalhadores, como a Carta del Lavoro, na Itália, em nome de uma unidade de classes em defesa da “raça” e da “nação” contra a “ameaça comunista”.  Já o modelo bolsonazista vai em outra direção: defensor do “estado mínimo” neoliberal, pretende extinguir os direitos trabalhistas e previdenciários, permitir que as empresas privadas explorem os trabalhadores sem qualquer tipo de proteção legal aos assalariados, eliminar qualquer barreira protecionista, abrir o mercado brasileiro para o grande capital internacional, privatizar bancos públicos (responsáveis por programas sociais e projetos de desenvolvimento), entregar nossas riquezas naturais – como a Amazônia e as reservas de pré-sal – a investidores estrangeiros, cortar drasticamente os investimentos públicos em educação, saúde, ciência, tecnologia, esportes, além, é claro, de golpear fortemente os sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda, até colocá-los na ilegalidade, utilizando para isso a bizarra lei antiterrorismo e a força policial-militar, incluindo os métodos da tortura e do assassinato de opositores. O obscurantismo do novo regime, cujo principal ideoleógo, o radialista e astrólogo Olavo de Carvalho (que se apresenta como “escritor” e “filósofo”), acredita que a terra é plana – inclui ainda a retomada das terras de índios e quilombolas para a atividade econômica, a legalização da posse de armas e da prática da caça, o desrespeito ao meio ambiente, a restrição xenofóbica à entrada de imigrantes no Brasil e a retirada do país de acordos internacionais em relação ao meio ambiente e ao clima (questões consideradas pelos novos detentores do poder como formas de “marxismo cultural”). No campo da educação, o novo regime defende a redução orçamentária, a privatização de universidades públicas, o fim das cotas para afrodescendentes, o ensino à distância desde o fundamental e ainda a extinção de cursos de humanidades, a censura  aos professores, o fim da aplicação do método Paulo Freire, o controle ideológico da bibliografia educacional, a concessão de bolsas de mestrado e doutorado de acordo com o perfil político de cada estudante, entre outras práticas ditadoriais. A implementação desse projeto, evidentemente, só será possível pela destruição do estado democrático de direito e sua substituição por uma ditadura militar-policial. Claro, tudo com as bênçãos dos pastores neoevangélicos do chamado “sionismo cristão”, que colaboram com a disseminação de preconceitos contra negros, mulheres, gays, índios e outros setores sociais e fazem o proselitismo político direto pró-Bolsonaro em seus “templos” e emissoras de rádio e televisão. A brutalidade neofascista (ou semifascista) brasileira está a serviço de um neoliberalismo radical, com vestimenta messiânica, que abre mão da soberania do país, inclusive oferecendo nosso território para bases militares dos Estados Unidos, para atender aos interesses da grande burguesia imperialista. Neste sentido, o que se passa no Brasil está mais próximo do que ocorre no Leste Europeu, e em particular a Ucrânia, após a queda do bloco socialista e sua substituição por regimes autoritários de direita. Com os Estados Unidos liderados por um gorila como Donald Trump, Israel por Netanyahu, o Brasil por Bolsonaro e a possível vitória da Frente Nacional na França, o mundo viverá um longo período de trevas. 
Claudio Daniel
Links com exemplos da violência praticada no país pelos adeptos de Bolsonaro:
CAPOEIRISTA é morto com 12 facadas por eleitor de bolsonaro
PROFESSOR é ameaçado de morte por eleitores de bolsonaro
GAY é morto em Curitiba por eleitor de bolsonaro
JORNALISTA é agredida e ameaçada de estupro, por eleitores de bolsonaro
ELEITORES de bolsonaro postam fotos com armas nas urnas
IRMÃ DE MARIELLE É AGREDIDA, COM A FILHA, por eleitores de bolsonaro
JOVEM É AGREDIDO por estar vestindo vermelho, por eleitores de bolsonaro
MILITANTE é agredida por eleitor de bolsonaro
FUNCIONÁRIA da campanha de Boulos é amaçada com arma por simpatizantes de bolsonaro
CACHORRO é morto em carretata, por eleitores de bolsonaro
JOVENS SÃO EXPULSOS de condomínio por eleitores de bolsonaro
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