#Anjo Tintas
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A caligrafia dela (texto, 2024)
Ela mostrou pra mim uma vez. Ela abriu a página de seu caderno, e pude enxergar tudo. As curvas das suas letras, a variação de cores nas palavras, o perfume na página, as marcas do papel ainda branco, nunca usado, reservado para alguém.
Ela pediu que eu escrevesse. Qualquer coisa. Peguei minha caneta e toquei de leve o papel, o suficiente pra tinta não sujar aquela bela folha.
Eu ensaiava com a ponta algo para escrever. Não poderia ser qualquer coisa, teria que ser especial, como aquele acontecimento.
"Nunca mostrei isso pra mais ninguém..." ela disse timidamente, o que aumentava ainda mais minha responsabilidade.
Segurando minha caneta com um certo nervosismo, eu agora batia com a ponta com mais força, mas de lado, como uma baqueta de bateria. Eu suspirava imaginando como deixar minha marca ali, pois queria que fosse inesquecível.
Ela aguardava ansiosamente para que eu preenchesse aquela parte da folha, que era como se fosse uma camada mais interna do caderno.
"Ninguém mais no mundo teve acesso à essa parte minha. Você é o único que já deixei chegar até aqui."
Apesar da voz doce, como de um anjo, a frase soava como uma sentença de morte. Tanto carinho e dedicação assim, pra mim?
Ela queria ter para sempre minhas palavras, minha letra, a presença da minha tinta naquele espaço tão único.
Parecia tão simples mas eu sentia como se nunca mais fosse sair daquele quarto. Como se meu corpo fosse sugado por um buraco negro no meio daquele caderno.
Até que enfim eu consegui escolher as palavras. Comecei a escrever, a caneta deslizando em movimentos certeiros, ritmados. Ela sorria ao me ver sorrindo, percebendo minha tinta se espalhando pelo espaço, agora pertencente a mim.
Terminei, ela olhou com alegria o que escrevi, minha marca no caderno dela, na sua página especial do centro, e me abraçou.
#delirantesko#espalhepoesias#pequenosescritores#lardepoetas#carteldapoesia#poetaslivres#projetoalmaflorida#projetovelhopoema#semeadoresdealmas
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Articular Hospícios
Essa tez que celebra o desamor Desabriga rinhas ao público Mordaças lastimadas ao que línguas Erguem sem propósito algum
Medusa náufraga uma quietude lúcida Tanto tango purificando o afeto Recolhendo os pedaços cheios de fantasmas Que pulmões movediços tentavam esconder
Se move o auto devorado no principiado Todo o buquê se redime ao terrível das histórias Um esquecimento repentino, o moldar de algoz As vozes que penduram invenções em seus dedos
Queria viver plenamente todas as suas potências Mas esteve atado em seus disfarces coexistindo No mesmo deserto que a serpente de vidro Entalhando seu evangelho em prateleiras
Um Homero honesto fazendo mea-culpa Observação ébria, outra vez uma carroça de delírios A salvação esteve no perdão ou no martírio Mas você escolheu desencalhar o teu cordeiro do peito
Cavar o pretérito com as unhas Descascando excomungados Desabados com os restos de tinta Se intoxicando com um idioma requintado
Olhos de azeite derramam cores sob o corpo Tudo que floresce é um cínico estrangeirismo Capaz de enforcar a nossa rara felicidade Em um costume de primeiro mundo
Essa casa onde anjos saltavam das paredes Subitamente para dissolver suas vítimas Em um beijo mesclado de cerâmica e azul índigo Com teus restos fazer substância ungida de euforia
#inutilidadeaflorada#poema#pierrot ruivo#carteldapoesia#projetoflorejo#mentesexpostas#lardepoetas#clubepoetico#peuenosautores#pequenosescritores#poetaslivres#espelhepoesias#autoral#projetoalmaflorida#projetoartelivre#projetocaligraficou#poesiabrasileira#projetomardeescritos#projetonovosautores#projetovelhopoema#projetoversografando
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Conto Homérico
Com bastante poesia e sem Odisseia alguma, assim vivia Homero, filho de uma dona Maria N. Inguém e do senhor Fulano de Tal em uma terra sem musas.
Vivia por fiscalizar a natureza, em uma Taxionomia diária entre nomear assuntos velhos e notícias novas, também era versado na Arte de advogar putas pobres, coadjuvando em alguns fatos nas esquinas.
Mas nem tudo era grande na existência de Homero, seu melhor amigo, José, de estatura baixa mais que precisava curvar o corpo para entrar pelas portas do altruísmo. Sim, amigo para todas as horas, minutos e dívidas, Homero já devia muito a José, e nem se vendesse toda a sua obra e pedisse aos deuses, conseguiria saldar os débitos para com o amigo.
Ah, sim! A poesia... Verdade! Nisto, verdade se diga é que Homero de fato sabia mentir em versos como ninguém, também pudera, após suas inúmeras leituras pelas tardes eternas de um fazedor de coisas alguma, algo deveria ter aprendido. E aprendeu. Era poeta.
Compunha: odes, sonetos, prosas, com rimas ou sem rimas, com inspirações ou com segundas intenções, mas sempre escrevia como um legítimo bardo clássico.
Finalmente, como ocorre com todo poeta, apaixonou-se pela a encantadora e clichê menina que mora em frente.
“Ela é o anjo mais antigo e chegado a Deus, Serafim que possui a voz inigualável, e os demais seres celestes não conseguem superar seus encantos e bênçãos. Sua beleza, talvez, foi à causa da rebelião no Paraíso, e o inimigo de sua luz é a falta de amor, pois ela é o próprio amor!”
Entre o panegírico do exagero de todo o traje angelical, vestia Homero sua amada e louvava �� Grécia, ou a sua rua esburacada, enfim, exaltava a beleza da menina que mora em frente e chegou até a ganhar uns concursos de poesia, porém a falta de aptidão de exercer algum ofício que seja antes do meio-dia, impediu esse filho de Apolo de chegar ao Parnaso.
E as leituras seguiam, parecia que quanto mais o tédio penetrava as paredes do seu quarto, mais ele mergulhava nos livros, a desgraça da introspecção poética era o presente de grego da vida, e isto o fazia prisioneiro de si mesmo, estava enjaulado em seu quarto e em sua alma, e a única forma de possuir as chaves da liberdade era se rendendo aos versos.
A prisão domiciliar não o deixava atravessar a rua e a esquina para dar ao menos um bom dia à menina que mora em frente, e Homero perdia as noites pensando em seus pensamentos, com a menina em seus sonhos, enquanto Cronos agia em sua narrativa traçando a Moira dessa epopeia escrita com tinta, preguiça e covardia.
Por fim, a mitologia finda, e a “menina que mora em frente”, noivou, casou, e passou a se chamar: “a mulher que reside em outro bairro”.
Homero chorou tanto que quase naufragou seus livros e manuscritos (como Camões conseguiu salvar sua obra).
Ainda bem que seu amigo José, agora, José Doutor Importante, estava lá para consolá-lo e pagar o almoço. A esta altura Homero já se encontrava órfão e velho para ser poeta e romântico, já era tempo de cessar do grego e do troiano, porque a voz da musa já desafinava, deveria atingir a idade moderna e talvez perder a virgindade.
Um dia Homero recebe um cavalo de troia de seu amigo: um curso de Matemática.
Agora era o fim da Literatura e da subjetividade em sua vida, só havia espaços para os ângulos e linhas paralelas, traçavam perpendiculares e bissetrizes pelo o quarto e quando se deu conta já estava se formando em Geometria.
Enfim, a Odisseia chega ao término, Homero feliz lecionando, dando luz ao conhecimento, sendo que agora sem Píndaro, sendo discípulo de Pitágoras.
Se os números são melhores que as letras, isto não se sabe, o que se sabe é que ele casou com uma professora de Matemática que tinha a mesma idade, altura, fazia aniversário no mesmo mês e o MDC entre os dois eram semelhantes, fatores primos contribuíram para o resto.
Seu nome era Penélope.
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Anjo caído
Eu acordei antes do sol nascer. Olhei para o lado da cama e lá estava você, dormindo sereno e tranquilo, parecendo um anjo caído que caiu do céu e dormiu na minha cama. Saí devagar para não te acordar. Tomei um banho, vesti sua blusa que estava no chão com seu cheiro e uma calcinha limpa. Enrolei a toalha na cabeça para secar o cabelo molhado e preparei um café amargo, igual antes a minha vida era. Sentei-me no sofá, cruzei as pernas e pegue uma folha de caderno em branco e uma caneta com a tinta quase acabando e resolvi escrever. Desabei bem ali em cima daquela folha e as lagrimas borrando a tinta da caneta, no silêncio daquela sala e com você dormindo um sono profundo na minha cama. Eu estava em soluços e com o rosto molhado me perguntando o porquê daquilo está acontecendo e porque merecia aquilo. Ele era tão lindo, um Deus grego esculpido em mãos. Ele era amoroso, atencioso e romântico. Ele era presente, me respeitava e me entendia. Fazíamos planos, conversávamos todos os dias, ligações umas três vezes por dia. Nos conhecemos em uma dessas noitadas de sábado a noite, trocamos um olhar e já iniciamos um papo bacana. Terminamos a noite assim, engrenhados e perdidos um no corpo do outro. E agora estou vestida com a camisa dele tamanho GG e com cheiro de perfume importado. Chorando e me perguntando o porquê de as coisas terem acontecido dessa forma. Então olhei para o quarto novamente e lá estava ele me olhando com a cara amassada de sono e com o lençol até a cintura escondendo o seu pior pecado e o caminho para os meus sonhos mais obscenos. Ele me chamou de volta para cama e eu disse um ‘’já vai’’ com a voz de choro, ele voltou a dormir e olhei para o pedaço de papel com um sorriso no rosto não acreditando que realmente aquilo estava acontecendo. Voltei para cama onde ele estava e pensei ‘’eu te superei. Eu estou amando novamente e estou sendo amada da forma que eu mereço. Não existe mais você na minha memória, existe ele. Somente ele. O meu anjo caído. O meu deus grego’’
Verso e Frente
#pequenospoetas#pequenos textos#escritos#pequenosautores#pequenosescritores#pequenosversos#pequenasescritoras#autorias#autorais#versoefrente#lardospoetas#lardepoetas
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14 DE OUTUBRO 🌧️
Voando nas nuvens, ao seu lado eu me sentia seguro. Mesmo que não pudesse me levantar do chão, você conseguiu me levar nas nuvens com seu sorriso bonito.
Esperei seu retorno, ansioso. Te aguardei por meses. Todos os dias eu fazia rascunhos do seu rosto, desenhando detalhadamente cada curva e cada pequena imperfeição.
Dançando as nossas canções e lembrando dos nossos beijos nas tardes de primavera. Eu te mostrava flores, acariciava seu cabelo e você me beijava até me deixar sem ar.
Eu sinto o cheiro do seu perfume, mesmo que você esteja tão longe agora.
Odeio pensar que você teve de voltar aos céus. Eu vivi cada momento como um espetáculo, mas agora devo me acostumar com a dor de não ter como aliviar minha saudade. Você não está aqui, mas ainda tenho essas lembranças de como era um feixe de luz toda vez que te via. Se pudesse mudar esse roteiro, colocaria você vivendo pra sempre e sendo o mais feliz possível comigo.
Olá! Esta história, com suas palavras tecidas em sonhos e tinta, pertence a mim. A cada página, a cada linha, a cada sussurro de emoção, reside um pedaço do meu coração. Que ela encontre um lar em sua mente, um espaço em seu tempo, e que, ao final da leitura, você possa sentir a mesma chama que a alimentou.
O mundo acabará, você estará comigo? Me abraçando forte e me dizendo pra não sentir medo. Você estaria comigo para iluminar cada passo meu?
Não é a hora certa pra eu chorar. Almejei ser céu no dia 14 de outubro. Lindo anjo, eu logo o verei.
━☆゚.*・。゚。*゚+
Com amor e carinho,
ℒ. ♡
#escritores#autorais#autores brasileiros#escritas#pensamentos#devaneios excessivos#tristeza#drama#livros#poesias#poetaslivres
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Fruto Proibido
Jazia na cidade dos anjos
Patrícia, a desenhista
Pintava em aquarela
Seu Criador na quaresma
Sublime arte, perfeição em cores
Porém, a tinta não curava suas dores
Confidenciou aos anjos,
Que com muito espanto,
Lhe disseram para não perder o encanto
Mas o que será de minha arte?
Pensou a desenhista
Se nela não sinto animosidade.
Muito queria cantar
E das amarras do Criador se soltar
Para sempre dançar
Ao som de sua doce liberdade
Ao descobrir seus sonhos
O Homem que a inspirou a pintar
A soltou do mais alto altar
E por muito tempo ela caiu
E em seu ato final,
O Criador a transformou em um salgueiro
Certo de que este seria seu fim
A queda de Patrícia,
O anjo que em sua dor
Negou para sempre seu Criador.
A dor se transformou em pudor
O pudor em ódio
O ódio, em vingança
Antes sagrada,
O Criador vetou sua arte
A transformou no fruto proibido
Fruto que jamais seria concebido
Patrícia se absteve, inerte
Folhas envolviam seu novo ser
Sua voz, inaudível
Sua única expressão de arte,
Pendurada em galhos:
A maçã
Aquela que um dia Eva abocanhou
Aquela que a fez ter voz e conhecimento
Aquela que o Criador se enfureceu.
Expulsa do paraíso, Eva partiu
O Criador ganhou, ele pensou
E o paraíso ele abandonou
Milênios se passaram,
Limites gerações ultrapassaram
E prédios cresceram no lugar do paraíso
A humanidade evoluira, finalmente.
E ela.
Patrícia.
Continuou invicta.
O salgueiro seguiu ereto
Vivendo através das estações
Em Nova Iorque
Terra dos ianques
Todos que ainda passam por ali
Mal sabem eles que,
O novo mundo em volta
Se deu por uma mordida da maçã
Resquício da voz de uma artista
Que por muito tempo foi silenciada
E quando o Criador retornar,
Na estação certa ela irá florescer
Concedendo a maçã
Àquela que virá ser a nova salvadora
Tal como Eva
Tal como Patrícia, a artista da vida.
Para: 🌳 @pattylici0us 🍃
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Jeon abre a porta? - Escuto a voz irritada de Jimin.
O que eu posso fazer se não estou sentindo minhas pernas? Sou apenas um jovem pintor famoso que não pega em um pincel há cinco anos, sentado no meio do caos do meu estúdio de arte, princes,tintas, lápis, pedaços de papeis rasgados estão espalhando por toda parte. Sinto meu peito doer e meus olhos transbordarem enquanto estão fixos em uma tela que há na minha frente, onde um esboço mal feito.
Alinha os fios dos meus cabelos castanhos escuros que estão cobertos de resquícios de tinta branca. Minha causa e meu all star encontra-se incrivelmente sujas, mas isso parece ser a menor das minhas preocupações.
—Por… por que ele? — abraço minhas pernas. Com esse mar de sofrimento dentro de mim, as lágrimas fazendo caminhos limpos em meu rosto nojento. Sinto uma profunda falta dele que costumava ser meu modelo, meu anjo e meu vício. Isso é evidente em minha expressão de desespero e na bagunça no meu próprio ateliê, mas agora, tudo o que consigo fazer é chorar e ficar preso aqui para não fazer uma loucura.
— Taehyung! Por que você fez isso comigo?
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Minie quais tipos de fotos o psd elowen fica bom?
oi anjo. meus psds são feitos pra funcionar em tudo mesmo, antes de postar sempre testo.
mas, se for usar em fotos já editadas ou com whitewhasing eu não recomendo os meus e de nenhum outro blog, porque fotos assim não tem base pra sustentar o coloring. é tipo usar tinta guache em um papel transparente e liso, não vai funcionar infelizmente porque precisa de base.
no entanto, em base natural e sem efeitos, meus psds funcionam bem. daí se for usar em outro tipo, como fotos que as agências de idols soltam e até de fansites, recomendo sempre ajustar o psd.
e claro, se o psd ficar escuro ou claro é só ajustar. isso eu libero pra fazerem porque entendo que cada foto é uma foto. ❤️
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Espelho
Por: InkLoup
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Um dia desses, entrei no banheiro e decide olhar para o espelho, eu já tinha brigado com ele algumas vezes, mas decidi ter uma conversa sincera com a superfície espelhada naquele dia.
Ele primeiro falou de meus olhos, que não eram os mesmo da pequena criança que amava fazer caretas, eles eram coloridos como meus giz de cera dos desenhos, mas agora eles eram escuros como a tinta da minha caneta que copiava meus deveres.
Depois passamos pelo rosto, a risada que ouvi foi quase como um gatilho em minha mente, mas guardei pra mim, em meio as gargalhadas ele disse como minha pele parecia cheia de traços tortos e descuidados, e que a maquiagem que derretia devido as minhas lágrima fazia parecer que eu estava derretendo de verdade lentamente.
Ele questionou sobre meu cabelo, porque eu tinha cortado minhas longas tranças que eu tanto amava, e eu não podia responder, estava envergonhada de admitir que não estava satisfeita com aquilo, que eu tinha me deixado levar pelo o que me diziam.
Mas tudo ficou evidente quando ele ficou quieto, em meus pescoço havia aquela marca, a marca de um anjo que quase falhou em sua única missão... me proteger desse mundo vazio e cinza que eu estava vivendo.
Ele demorou muito para voltar a dizer algo, mas logo veio com um sorriso tão falso que reflita inverdades.
"Como posso salvar você pequena flor?"
Pequena certo?... Bem, não se pode fazer muito por aqueles que já morreram, então disse de forma que as palavras saíssem quase sem força de minha garganta.
"A pequena flor morreu"
Ele pareceu desmanchar o sorriso e sentir tristeza, tamanha tristeza que ele se quebrou, os cacos se mantiveram na parede devido a cola que o forçava a me encarar.
E por um momento, mesmo que fosse por pouco, eu pude ver a verdade dolorosa.
Ela ainda estava lá, chorando, pedindo que eu não desistisse dos sonhos dela
Após aquele dia, parei de olhar espelhos, tenho medo de ver aqueles olhinhos chorando de novo, mas ao menos, eu estou tentando cumprir o último pedido da menina que eu um dia fui.
Viver
(Ainda não sei usar # nessa rede social, foi mal)
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Eu bati a porta inúmeras vezes, enchi ela de flores, joguei cartas e declarações por baixo dela, eu cantei em frente a ela, eu a pintei e também a beijei, tudo porque queria que ela abrisse, queria que ela fosse a minha porta colorida, tudo porque acreditava no que havia ali dentro, cheguei até a gritar:
- tem alguém ai?
Mas só ouvi ecos da minha própria voz. Aquela porta estava vazia e não havia nada ali para mim. Então, eu entendi. Recolhi minhas flores, passei o pano para tirar a tinta e os inúmeros corações que havia desenhado naquela porta. E então bati pela última vez, e novamente ouvi o eco das minhas próprias batidas. Eu fui embora sem saber o que havia ali dentro, se era um monstro, um anjo ou um homem, eu nunca saberei, porque aquela porta não era para mim.
Minha intenção era ir em direção a saída daquele corredor com inúmeras portas, mas uma porta abriu em uma fresta e sem que eu se quer batesse, é como se ela tivesse sentido minha presença, e então uma voz ecou dela, dizendo:
- Eu estava esperando você.
Aquela porta era a minha porta e já era colorida sem que eu precisasse pintar.
Essa história não é sobre portas.
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Uma leitora voraz (conto, adulto, 2023)
Era uma terça-feira como outra qualquer. Eu passeava no shopping, um costume que eu tinha adquirido alguns anos atrás e fazia pelo menos duas vezes por mês desde então. Mas só tinha um produto que gerava meu interesse: livros.
(Eu costumava visitar os sebos, lojas de livros usados também com uma certa frequência!)A livraria estava cada vez menor, e cada vez mais cheia de bugigangas inúteis e eletrônicas, como merchandise de magos juvenis e super-heróis com poderes mirabolantes.
Bem, eu não era simplesmente um velho que só se interessava por autores falecidos a muito tempo. Para cada gênero havia um novo representante, e eu sempre procurava algo novo de Murakami, Anne Rice, Palahniuk, Ursula K Le Guin, Gaiman, Douglas Adams, entre vários outros autores, ou alguma obra que me chamasse a atenção, seja pela capa, pela sinopse, premissa, etc.
Enfim, tinha de tudo um pouco nesse universo. E mesmo que eu fosse um dos últimos que resistiam a digitalização das obras, estava fazendo meu papel. Claro, um leitor de livros eletrônicos é muito útil, afinal, você poderia ter uma Alexandria inteira nas suas mãos, mas e as capas duras? E as artes exclusivas? E o cheiro do livro, de suas páginas, da tinta?
Não tinha comparação, colocar o livro na estante, como se fosse um troféu, como se fosse uma besta que você tivesse domado e agora está pendurada na sua parede para que todos vejam (bem, na verdade organizado numa estante).
Era todo um ritual. Eu já conhecia onde estava cada um dos gêneros e os atendentes da livraria já quase ignoravam minha presença, pois sabiam que eu ia passar um bom tempo dentro da loja, até escolher alguns livros (geralmente eu levaria pelo três obras novas a cada visita.)
Como um caçador, eu espreitava e observava cada cantinho, verificando se alguns livros ainda continuavam no mesmo lugar.“Ah, eles trocaram esse aqui de lugar, e colocaram esse aqui?”“Sim, esse é muito bom, eu já li.”“Nossa, me desculpe autor X, eu já deveria ter lido essa e outras obras suas.”E eu ficava ali conversando com livros e autores, como se fosse um maluco ouvindo vozes. E eram tantas vozes! Eu finalmente me sentei depois de ter separado alguns títulos. Eram três livros que me chamaram a atenção.
Me sentei num dos sofás disponíveis para se ler. Dei uma boa olhada na capa, contra-capa, lendo as orelhas e então abri na primeira página e comecei a ler.
O texto era envolvente e em alguns minutos eu já estava na décima página.
Quando levantei os olhos, tive uma das visões mais deslumbrantes que já vi na minha vida.
Ela estava ali, num sofá um pouco a minha frente, quase virada na minha direção.
Ela usava um vestido azul decorado com estrelas brancas estilizadas. Parecia um anjo e segurava um livro grosso e pesado, como se fosse uma criança carregando um objeto muito maior que sua pequenina e graciosa mão.
Ela usava óculos escuros, então não pude ver seus olhos, mas ela sorriu discretamente pra mim quando nossos rostos se cruzaram. Seu cabelo dela era loiro e encaracolado o que reforçava a estética angelical, e eu me perguntei se finalmente eu tinha morrido e ido para a biblioteca celestial.
Ela ainda tinha uma gargantilha rosa em forma de asas de anjo, então não me culpem pelas associações.
Afinal, era um anjo ou um demônio disfarçado tentando roubar minha alma?
Se eu sobrevivesse a essa terça-feira talvez eu pudesse responder.
Eu tinha ficado tão impressionado com ela que precisei me ajustar na cadeira. Ela percebeu, pois apesar de não ter virado o rosto na minha direção, deu outro sorrisinho malicioso que começava a causar um desconforto febril abaixo da minha cintura.
Ela parecia ter pouco mais de vinte anos, metade da minha idade, então eu me sentia um pouco culpado, afinal ela poderia ser minha filha.
Enfim me resignei, afinal ela parecia alguém que deveria estar esperando o namorado, um sortudo que poderia enrolar seus dedinhos naqueles caracóis e sentir a maciez daqueles lábios em qualquer lugar, a qualquer momento.
Aceitei que era apenas uma brincadeira da parte dela, parecer como alguém que teria algum interesse nesse tio que já tinha alguns fios brancos no cabelo e na barba.
Provavelmente depois enquanto estaria aos amassos com seu jovem namorado ela me mencionaria, para causar ciúme, “sabe aquele tio na livraria, ele não parava de me olhar, aquele pervertido”.
E então o jovem apertaria levemente o pescoço dela, encostando ela na parede e diria “da próxima vez que eu ver ele…”
Minha imaginação foi pausada no momento porque eu comecei a reparar em algo inusitado.
Ela tinha erguido uma das pernas no sofá, e eu olhei pros lados preocupado se alguém ou alguma câmera estava direcionada pra ela, mas por sorte ou por planejamento, a posição dela, encoberta por estantes, tornava a minha visão um espetáculo para um homem só.
Pesquisei em minha memória mas não tinha lembrado de ter visto ela ali em nenhum momento anterior. Será que ela vinha em datas ou horários diferentes e hoje nos esbarramos?
Se eu já estava hipnotizado, agora eu era um objeto estacionário, cuja única diferença entre os móveis e eu era minha respiração e batidas do coração acelerado. Qualquer predador poderia aproveitar a chance e me derrubar no chão e me fazer de presa.
Anjo? Talvez uma vampira, exercendo seus poderes hipnóticos, e então logo eu seria drenado de todo meu sangue, esse que palpitava e corria por minhas veias e fazia o caminho para baixo, deixando não só meu corpo rígido.
Mas a tortura estava só começando…
O livro grosso que quase não cabia nas mãos dela, bem… eu nunca… nunca imaginei que ele seria usado da forma como seria usado a seguir.
Com suas duas pernas erguidas, pude ver sua roupa de baixo rosada. Em seguida ela segurou o livro da forma que a ponta da lombada dele se esfregava bem no meio das suas pernas.
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Eu nunca tinha visto ou ouvido falar de alguém fazendo isso. Na verdade eu passei alguns dias sem conseguir processar direito o que tinha acontecido.
Você já passou por isso? Quando o tempo parece dissolver e perder o sentido? Não havia mais nada, como se todas as paredes tivessem derretido e estivéssemos flutuando no espaço.
Aos poucos, com você se segurando pra não gemer alto, tanto sua calcinha como o sofá e a lombada do livro se tornaram mais úmidos.
Eu não conseguia fazer absolutamente nada, a não ser assistir, num misto de terror e êxtase. Sentia que da cintura pra baixo, estávamos ligados, mesmo a essa pequena distância, pois conseguia perceber que eu também estava muito molhado, como nunca havia estado na minha vida, com ninguém em nenhuma situação antes.
Ela deve ter percebido a gravidade da situação, pois a qualquer momento alguém poderia aparecer e ver a devassidão do que ela estava fazendo.
De repente ela abre a boca, segurando a intensidade do momento, e escorrem gotas pelo sofá até o chão. Ela recupera o fôlego e então tira os óculos escuros, com seus olhos castanhos fixos nos meus, e puxa a calcinha pro lado, e quando olho, é a visão mais excitante que já tive.
Sinto que outro líquido agora inundara minha calça, e gemo baixinho.
De repente, sinto uma dor de cabeça e tudo fica escuro.
Quando acordo, uma das atendentes me chama a atenção para o horário. Eles iriam fechar a livraria.
Quase ganhando um torcicolo, giro minha cabeça tão rápido para ver o sofá onde a garota estava, mas nada. Estava vazio, e seco, assim como minha calça.
Foi tudo um sonho? Eu teria dormido e imaginado toda aquela cena?
Eu perguntei para a atendente se ela tinha visto uma moça de vestido azul carregando um livro grande, mas ela disse que não lembrava de ter visto.
Tão encabulado, peguei os três livros que tinha separado, e fui ao caixa, paguei rapidamente, e voltei pra casa.
Aquela noite eu não dormi.
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Discerner la ventriloquie du cœur maternel
Um continente faminto almejando qualquer intenção Para sentenciar pátrias, para abrigar inúteis Ao fissurar o sexo eterno, cais e despedida perfilados O tango descamado dos gestos de amor
Esvaziar uma casa de símbolos Despir os ícones dos espelhos Enterrar duas mãos de tinta Para sublimar a infiltração
Essa casa não é mais minha Mas de quem me arma Cogitará um Tânatos A cada silêncio de quina
Testemunhará uma desassociação Quem sabe receber visitas nessa década? O anfitrião que come dos eventos E de inestimáveis talheres de estimação
Um discurso transitando livremente Em cada brecha do subtexto Esta tragédia consideras muitos enunciados: Talvez Gregor Samsa ou talvez Shakespeare
Carregará anjos caídos embaixo da língua Um discernimento imputado Ao descrever a matéria orgânica Dissolvida em sonhos de zinco
Identifica-me no monólogo Identifica-me na comédia Tema meu desejo e desatino Tema meu oportunismo
Para amá-la, raramente desarmamento Tête-à-tête e me desfragmentará Todas as ocasiões em que me revoltaria Contra a prescrição de seu monastério
#inutilidadeaflorada#poema#poesia#pierrot ruivo#carteldapoesia#projetoflorejo#mentesexpostas#lardepoetas#espalhepoesias#poetaslivres#semeadoresdealmas#pequenosautores#pequenosescritores#projetovelhopoema#quandoelasorriu#projetoalmaflorida#poesia brasileira#literatura brasileira#autoral#projetoverboador#projetoversificando#projetoversografando#projetoversossubmersos
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❪ character study ❫ / . ⊹ tatuagens.
mesmo com os preconceitos não só do meio de saúde, quanto de seu país, com tatuagens, sungyeol fez questão de cobrir seu corpo com tinta. a maioria fica muito bem escondida por baixo dos scrubs: anjos com sol e lua nos ombros e parte do peito, coração realista com espinhos sobre o esterno, um dragão no estilo asiático nas costas, e mais anjos, sol, lua e também leões nos braços. mas as tatuagens mais visíveis, e também mais chocantes, são as das mãos: um polvo na mão direita, com seus tentáculos se espalhando pelos dedos, e uma caveira na mão esquerda, com DEATH escrito nos dedos. seus pacientes sempre ficam impactados quando percebem isso, o que lhe rendeu o título de cirurgião da morte entre seus colegas.
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Noites mal dormidas Vislumbrava um navio negro Era imenso e desolado Dele saiam formas em penumbra Elas vieram até mim Fiquei imóvel Me arrastaram a força até dentro do navio Num salão amplo me deixaram Sumiram na escuridão Que diabos de navio é esse - Pensei Quando um feixe de luz surge E então um clarão Um anjo aparece e eu sem entender O que quer comigo? - Perguntei Nada, apenas pegue Me entregou uma pena. O que faço com isso? - Perguntei Escreva Escrever o que? Não tenho nada na cabeça - Afirmei. Se tem eu não sei, a ordem era a pena. Ordem de quem? - Perguntei Do teu superior. Meu quem? VUSH! E sumiu Me deixou lá na escuridão com uma pena em mãos. As formas em penumbra voltaram e me levaram Largaram bem onde pegaram Ei, esperem o que faço com isso? - Perguntei Se não sabe como saberemos, haha Andei por um tempo sem entender O que faria com aquilo ��Teu superior” Nem chefe eu tenho. - Balbuciei Andando na beira encontrei um papel A pena riscava e nem tinta tinha Sentei e escrevi Sabe-se lá o que escrevi Mas fui escrevendo e no fim entendi Bastava tinta e um papel Pra algo sair Fora do comum. - Jorrian
#escrita#writing#novosescritores#jorrian#escritos#textolongo#texto en tumblr#texto#escritor brasileiro
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Devocional da Mulher
VOCÊ É PRECIOSA
Visita a uma prisão
_Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo ou a espada? [...] Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor._ *Romanos 8:35, 38, 39*
Mulheres na prisão é muito triste. Na África, vi e senti essa tristeza. Muitas estão ali sem justificativa nenhuma ou simplesmente porque ninguém se importa com elas. Algumas permanecerão ali com poucas chances de ser libertadas. Certa vez, fiquei preocupada com um convite para falar a mais de 200 mulheres aprisionadas. Buscando conselhos de amigos e orando fervorosamente, decidi meu tema: “Nada pode nos separar do amor de Deus.” Assim, fui até a prisão acompanhada por uma equipe de médicos missionários.
As mulheres dormiam em colchões finos no chão de quatro dormitórios de concreto, e cada uma delas tinha um pequeno cobertor cinza. Quando perguntei onde estavam os travesseiros, elas simplesmente deram risada.
Bem no alto, uma abertura com barras de metal permitia a circulação do ar e a entrada de luz. Tinta descascando e rabiscos desfiguravam as paredes. Algumas das mulheres tinham bebês que dormiam em berços no berçário – isto é, até que eles completavam quatro anos de idade e eram levados para viver com membros da família ou em um orfanato. Todas as mulheres usavam um uniforme listrado com uma ou duas letras estampadas na frente e atrás, significando seu crime. Crimes supostamente cometidos variavam de água fervente sendo jogada em um marido abusivo, policiais encontrando drogas ilegais embaixo do seu assento de ônibus, e chaves de carros ou computadores (roubados pelo marido que havia fugido) sendo encontrados na residência.
O barulho de mais de 2 mil homens, alguns deles maridos, podia ser ouvido pela parede de madeira que separava as prisões. Lindos bebês passeavam e brincavam na grama desgastada. Uma banana dada para cada mãe era um presente especial para seu bebê.
A fome óbvia das mulheres por alimento e liberdade espirituais era evidente. Elas cantaram e oraram intensamente. Acredito que Deus ouviu e aceitou sua adoração. Fiquei admirada com sua coragem e as incentivei – embora eu me sentisse muito inadequada falando para essas mulheres preciosas – a continuar crendo que, a despeito de sua situação, nada jamais pode separá-las do amor de Deus. Acredito que elas entenderam a mensagem.
Joy Marie Butler
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Não tínhamos nada em comum, um era um anjo o outro tinha mil demônios… Um matava com seu sorriso outro com o silêncio, Um era luz o outro escuridão
Nós não andávamos da mesma maneira. nem a altura combinava. nem as ideias, Ela defendia a esquerda o outro bem ultra direita
Ela é muito insegura Ele com meus mil problemas… Eu morria todas as noites. Mas o seu “ bom dia” me resgatava todas as manhãs.
Ela mate amargo
Ele café e cigarro
Nada em comum. .. ou quase nada… excepto a música, o chocolate, o pôr do sol e esse interesse pelas estrelas e a admiração pela lua ou os sonhos que poucos têm. Eu era toda dele…
Ele só um pouco meu…
Mesmo assim ele é tinta para meus poemas.
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