#ㅤ꒰ㅤㅤ⋆ㅤ ͏͏͏ ͏͏͏𝑏𝑙𝑜𝑜𝑑𝑦𝗺𝗮𝗴𝗶𝗰ㅤ ͏͏͏ ͏͏͏。 ㅤ༄ㅤ ͏͏͏ ͏͏͏development.
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magicwithaxes · 4 months ago
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—ㅤㅤnível um,ㅤㅤpov dois.
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CHALÉ 15, ㅤㅤ(CIRCE).
“Mais uma vez.”
A voz da filha de Circe ecoou pelo pequeno espaço que compartilhavam. Em um movimento rápido, ela colocou mais um bloco de madeira sobre a mesa, a poucos centímetros de Natalia. Na teoria, tudo parecia fácil. Durante dias intermináveis, a filha de Hécate leu grimórios e compreendeu todos os conceitos. Mas colocá-los em prática era outra história. Às vezes, a luz esverdeada surgia sem qualquer dificuldade. Outras vezes, não importava a pressão, nada acontecia. O que ela estava fazendo de errado? Logo atrás, havia uma prova extensa de que todos os esforços estavam sendo em vão: múltiplos blocos de madeira não mais em sua forma original, “derretidos”, queimados, em pó. As exigências de Emily a sufocavam, e por um segundo, ela se arrependeu de ter seguido o conselho de Quíron, que, preocupado, indicou uma filha habilidosa da deusa da feitiçaria para ajudá-la, já que sua teimosia a impedia de recorrer a um dos irmãos.
As duas haviam se aproximado na ilha de Circe. Emily foi atenciosa e amigável, guiando-a nos ensinamentos sobre feitiços. O que praticavam agora se tornava um pouco mais suportável, e seria ainda melhor se não fossem as várias imposições que a atingiam a um nível absurdo de cansaço. “Você não está fazendo direito. Não está se concentrando direito”, disse Emily alto, trazendo Natalia de volta à realidade. “Não está usando os gatilhos certos. Está dispersa. Relapsa. Manipular a realidade pode parecer fácil, mas ao mesmo tempo é difícil. Os livros não serão suficientes se não houver prática.” Sua voz era dura e impassível, como a de uma professora que buscava a perfeição em sua aluna. Definitivamente, não haveria “paz” enquanto Natalia não desse o que era pretendido ali. “Vamos lá. Não se faça de boba, Natalia. Deve haver algo aí dentro que pode impulsioná-la. Poderes como o seu são reativos. Raiva, ira, tristeza, alegria… amor...” Ela riu, como se fosse fácil captar o que Natalia estava sentindo. Envergonhada, a filha de Hécate encolheu-se um pouco. “Use isso a seu favor. Pense em algo. E deixe...” Próxima ao seu ouvido, Emily fez questão de tornar ainda mais claro o que queria expressar. “Deixe o caos se expor.”
Caos. Aquela pequena palavra surgia repetidamente nas páginas antigas que Natalia havia se proposto a ler. Claro, a magia era caótica, um poder instável que precisava ser controlado, regido por forças que podiam ultrapassar o limite do natural. A mais nova amiga tinha razão. Natalia precisava de um motivo, ou estaria perdendo tempo. Mas o que deveria escolher? Era irônico. Ela tinha motivos suficientes para fazer tudo acontecer. Entretanto, o que a impedia? Medo, talvez? Por tanto tempo, ela se acostumou com a ideia de não ter poderes desse tipo. Na força física, ela se aprimorou, e nas armas, dedicou toda a sua confiança. A forma como tudo havia acontecido, e aquele poder ter surgido, ainda não fazia sentido. Durante dez anos, não era merecedora ou não estava preparada para lidar com algo assim. Pensando bem, a Natalia de dezoito anos teria lidado muito mal com toda a situação. Ainda que calma, era imprudente, um tanto egoísta… e assustada. Por meses, ela não permitiu a aproximação de muitas pessoas e pouco tinha controle sobre as próprias emoções. O pensamento a fazia rir: teria uma outra reputação e, talvez, não seria a mesma pessoa de hoje. “Eu não sei como posso fazer isso sem ser intensa demais.” Disse, enfim, olhando a outra com seus típicos olhos lamuriosos. “Não sei expressar. Tenho medo… Medo de ser impulsiva demais e assustar. Assustar você, assustar as pessoas de quem gosto. E agora, tenho medo de deixar isso sair de mim e acabar criando uma bagunça que não é necessária.” Um sorriso gentil, porém triste, cresceu em seus lábios. “Os últimos acontecimentos bastaram para reafirmar o que estou dizendo.” Os pesadelos, as visitas oníricas, os traidores, as pessoas machucadas, deuses revoltosos, novos sentimentos que floresciam e pareciam ser recíprocos… tudo isso a atingiu com força. As mãos foram imediatamente ao tampo de madeira da mesa, os dedos apertados ali, tornando os nós esbranquiçados. Por um segundo, ela desejou ter uma caneta e um papel em mãos. Em momentos como aquele, escrever aliviava. Se não expressava em voz, as palavras eram suas amigas, e o sentimento de calma era imediato. Natalia parecia a ponto… de explodir. Do outro lado da sala, Emily a observava com um sorriso pequeno, mas vitorioso, nos lábios. A raiz da situação estava sendo tocada, e não tardaria muito para que os poderes provenientes de Hécate começassem a se manifestar.
A sensação era estranha. Todo o corpo parecia adormecer e as mãos esquentavam, quase em estado febril. A boca secava, tornando-se necessário passar a língua pelos lábios. Fechar os olhos, especialmente, era essencial. Embora tudo estivesse em silêncio, Natalia conseguia ouvir o barulho fraco de algo se aproximando ou crescendo. Os batimentos cardíacos também eram perceptíveis, tornando-se ensurdecedores apenas para ela. Na mente, travava uma batalha consigo mesma, tentando organizar o caos mental. Contudo, uma única lembrança se destacou juntamente com a frustração. A memória da visão que teve no mesmo dia do roubo de energia se intensificou. A cena, que parecia um filme de terror, de pessoas importantes dispostas em um caixão, era algo que ela tentava esquecer, mas que seria sempre um lembrete do que poderia acontecer. As palavras do pai naquele cenário ainda causavam arrepios. A forma como foi comparada à mãe, a mulher que mais detestava entre todos os deuses, trazia-lhe desgosto. Ela era impulsiva, algo que, de algum jeito, era imutável. Contudo, como a deusa, ela protestaria. Não era certo, nem justo.
Enquanto isso, a filha de Circe era a felizarda da vez, assistindo ao pequeno show que se desdobrava diante de seus olhos. O cubo que havia deixado sobre a mesa assumia repetidas e diferentes formas. O papel de parede azulado mudava de cor freneticamente, e as prateleiras cheias de livros acompanhavam o mesmo ritmo. As cadeiras pareciam saltar sobre o assoalho, e de repente, o clima dentro da sala mudou. Parecia que ia chover. O ambiente ficou mais ventilado, apesar da ausência de janelas, como se o próprio Éolo estivesse presente realizando uma de suas façanhas. Mais à frente, havia dois copos com água. Emily se aproximou para se certificar do que estava vendo: ali dentro, parecia haver um pedaço do oceano, e quanto mais se aproximava, mais tinha certeza de que podia ouvir o bater das ondas e o soar alto das gaivotas. Natalia era a fonte de tudo aquilo. Como Hécate, estava mudando a realidade, mas em meio ao descontrole. Era um começo, concluiu. Se continuasse assim, logo poderia se equiparar à própria deusa. Sua atenção foi roubada novamente ao presenciar a magia tomando uma cor. Verde. Verde como campos de baixa gramíneas. Verde como a vastidão de um campo bem cuidado. A luz escapava pelas mãos de Natalia, semelhante a chamas, já que a mesa com a qual estava em contato parecia querer se desmanchar em razão da força ali exercida.
Por outro lado, Natalia estava focada em livrar-se dos pensamentos que a envenenavam, completamente alheia ao que estava acontecendo. Se não houvesse nenhum limite, continuaria daquele jeito por mais tempo, mas o cansaço se fez presente, obrigando-a a parar. O corpo parecia amolecer, semelhante ao que sentiu quando teve a energia usurpada, mas em uma complexidade menor. Não muito antes de voltar à realidade, Emily a tocou, e antes que pudesse abrir os olhos para observá-la, ouviu: “Bloco de madeira, casinha de boneca.” A imagem dos objetos surgiu em sua mente, rapidamente fazendo com que largasse a mesa, tateando pelo primeiro objeto mencionado. Natalia o segurou com força e, em seus dedos, sentiu a mudança ocorrer livremente. Mais um pouco. Estava quase lá. Precisava apenas se concentrar. Aguentar, respirar, imaginar e colocar em prática. Não era tão difícil. “Abra os olhos. Abra os olhos!” Ouviu a exclamação. Ao lado, Emily pulava alegre, largando a postura dura de antes. Em suas mãos havia uma casa perfeita em miniatura, a imagem exata do que havia imaginado. Além disso, viu suas mãos tomadas por aquele verde vivo, precisando levar ambas ao rosto para confirmar o que estava enxergando. “Você causou uma impressão e tanto aqui dentro. Não sei se irá agradar as minhas irmãs, mas a nova decoração não é tão ruim.” Seus olhos pularam do brinquedo para os móveis. Eram diferentes: uma mescla de móveis do século XIX, que em nada tinham a ver com os objetos de antes. O queixo caiu e o olhar lamurioso ganhou novas proporções. “Sinto muito… por tudo. Eu não quis…”
“Relaxe. Relaxe, Natalia.” O tom era calmo e a postura menos exigente. “É claro que vamos precisar de um novo estofado. Talvez veludo. Ainda não sei. Eu gostei muito. Uma pequena novidade para todos as filhas de Circe. Enfim, foi o suficiente por hoje. Não é bom exigir muito, embora gostaria de continuar.” Natalia foi rápida em responder: “Não. Eu não estou cansada.” O olhar sério da outra a silenciou. “Quíron ficará feliz em saber que conseguiu dar o primeiro grande passo, apesar de seus lamentos e sua teimosia. Se quer me agradar, poderá tentar trazer as poltronas ao seu estado de antes, mesmo que mentalmente exausta. Eu quero ter certeza de que o chalé estará como antes para quando você for embora.” Ela não questionaria. Colocar as coisas no lugar parecia uma exigência tão pequena, e não se importava em tentar. Se esticou para o objeto mais próximo, imaginando o que fazer. Ainda que confusa, estava calma e confortável. “Você consegue. Mentalize. Imagine e execute.” A voz da filha de Circe pareceu distante, mais próxima ao canto da sala, então Natalia teve um segundo para respirar. “Velho ao novo.” Disse, em um tom baixo. E as coisas voltaram ao normal. Como mágica, a luz verde desapareceu.
Não havia conseguido fazer muito, mas sentiu um alívio ao ver que o caos que havia criado poderia ser controlado. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios, ainda ofegante, enquanto se virava para Emily, que a observava com um olhar avaliador, mas satisfeito. “Bem feito, Natalia. Apesar de toda a relutância, você conseguiu. Mas lembre-se, o verdadeiro desafio será manter esse controle em situações mais intensas e caóticas. Você tem potencial, mas precisa aprender a confiar em si mesma e, principalmente, a dominar suas emoções.” Natalia assentiu, sabendo que as palavras da semideusa eram verdadeiras. Controlar sua magia significava controlar suas próprias emoções, e isso era algo que ela ainda estava aprendendo a fazer. Mas agora, pelo menos, havia dado um passo na direção certa. A filha de Circe sorriu levemente, um raro vislumbre de afeto voltando a quebrar sua fachada severa. “Você tem um longo caminho pela frente, Natalia, mas não duvide de sua capacidade. Com esforço, você poderá alcançar grandes feitos. Agora vá descansar. Amanhã, começaremos novamente.” Natalia pegou a pequena casinha de bonecas e a segurou com cuidado. Era um lembrete tangível de sua conquista, por menor que fosse. Saindo do chalé, sentiu-se mais leve, embora soubesse que o caminho à frente seria árduo. Ainda assim, com cada pequeno sucesso, sentia que estava um passo mais perto de entender seu poder e a si mesma.
Enquanto se dirigia ao seu mais novo lar temporário, o chalé nove, seu coração estava mais tranquilo. O treinamento tinha sido exaustivo, mas também revelador. A magia dentro dela era real, poderosa e poderia ser perigosa, mas, acima de tudo, era uma parte intrínseca de quem ela era. Agora, ela só precisava aprender a usá-la corretamente, e sabia que, com tempo e prática, conseguiria. Ao chegar no quarto de Kit, Natalia colocou a pequena casa de bonecas na mesa de cabeceira e se deitou na cama. O cansaço finalmente a alcançou, e seus olhos pesaram. Enquanto o sono a envolvia, um último pensamento passou por sua mente: ela tinha medo de quem poderia se tornar, mas estava determinada a descobrir.
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@silencehq
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magicwithaxes · 4 months ago
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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤNatalia não sabia explicar, ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤmas quando começou a recitar os feitiços, ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤsentiu-se inabalável.
savorㅤㅤthe taste,ㅤㅤsavorㅤㅤthe pain i don'tㅤㅤexpectㅤㅤyou toㅤㅤrelease me
Mas havia temor. Seria isso suficiente para ajudar? Estava apta? Não seria mais um empecilho e talvez pudesse servir de auxílio aos outros amigos que se ocupavam em proteger os demais, empunhando armas? No entanto, quando se uniu ao coro dos irmãos, sentiu-se segura o bastante para prosseguir, entoando cada verso como uma canção que precisava ser perfeita, que precisava surtir efeito. As palavras fluíram de sua boca sem preocupações, e a mente, antes em frangalhos, não dava espaço ao que os olhos enxergavam. Os monstros eram visualmente reais, mas os pensamentos, agora munidos de uma súbita coragem, a impediam de acreditar neles. Não podia. Não daria a vitória a Hécate, não seria vítima mais uma vez. As memórias dos últimos dias invadiram sua mente, flashbacks que deixariam mais uma marca em sua história. As dores do luto, os pesadelos e a sensação de trauma que cada um deles causou em seu consciente, as acusações direcionadas a ela e aos irmãos, o enfraquecimento… Tudo isso serviu de motivo, de combustível, para continuar ali, parada, mas aos berros, recitando o que parecia ser a única alternativa que todos tinham para pôr um fim.
Fim... Como definir aquilo? Por tanto tempo foi objeto de desejo, mas sempre pareceu inalcançável, difícil demais para as mãos ávidas de qualquer semideus. A paz finalmente reinaria? Não ter mais que se preocupar com os deuses, voltar a uma vida pacata... Seria ingenuidade demais. Contudo, ela era ingênua, cheia de esperança, alguém que sonhava com dias melhores. E depois de Hécate, se ela não voltasse a atormentá-los, quem seria o próximo? Algum deus ressentido pela falta de atenção dos grandes? Apenas para chamar a atenção e ser lembrado? Ela não sabia, mas não duvidava. Agora, Natalia acreditava piamente na falta de escrúpulos dos deuses, em como eram mesquinhos o suficiente para causar o caos, mais um capítulo sendo escrito em seus dias infinitos de vida, onde, pelos anos seguintes, seriam lembrados por tal armada. O pensamento a enfurecia. Não era justo! Quantos mais morreriam por poder?
Pensamentos, pensamentos... Eles consumiam sua mente enquanto a cena se desenrolava. Ver o irmão e a filha de Circe, mais duas peças do jogo da deusa e protagonistas daquele terror sem fim, foi o primeiro golpe em sua determinação. Natalia sentiu as pernas fraquejarem, e a mão estendida em direção à fenda caiu ao lado do corpo. Ela queria desabar no chão, e sua mente, antes tão confiante, parecia aceitar a ideia. A sensação familiar de enfraquecimento tomou conta dela. Mesmo assim, manteve-se firme. Se parasse o que estava fazendo, poderia prejudicar os outros. Ela não podia permitir erros. Por alguns instantes, ouviu a voz grossa e áspera do pai ecoar em seus pensamentos, um incentivo que gerou o efeito esperado: "Você é uma Pavlov! Honre seu maldito sangue!" Não havia mais espaço para dúvidas. Ela lutaria ali, daria o seu melhor, sem deixar margem para contratempos. Todavia, tudo ao redor começou a se fechar. Os sons desapareceram, restando apenas um zumbido frenético, mas insignificante, com sua visão focada apenas na abertura que dividia dois mundos. Ela ignorou o pequeno teatro criado pelo grimório ao se desmanchar em gosma. Seu corpo parecia ser atraído pela magia que emanava dali em profusão, crescendo, tornando-se intoxicante. Natalia gritava, cegamente acompanhando os irmãos que faziam o mesmo, entoando a plenos pulmões os encantos que haviam aprendido.
Até que houve a última explosão.
Cambaleando alguns passos para trás, Natalia fechou os olhos por instinto, mas logo os abriu a tempo de ver a poeira descendo ao chão lentamente, como se o tempo não importasse. Ela não dizia mais nada, estava hipnotizada, sentindo o corpo mergulhar em êxtase, cumprindo o propósito, pronta para, enfim, descansar. A fenda não existia mais. Havia desaparecido. Era o fim, então? Estavam livres? Poderiam, finalmente, respirar em paz?
A atenção voltou para o céu, mais uma vez encantada com o verde, tão próximo do seu tom favorito. Ela tentou sorrir, esboçar uma reação animadora, aquela que havia ensaiado para si mesma por tanto tempo. Por que não estava feliz? Por que não podia ficar feliz? Por que algo a inquietava, sugerindo que algo estava errado? Quando se deu conta da realidade, Natalia assumiu uma expressão de exasperação. A visão dos três traidores da magia, desmaiados no chão, lhe causou enjoo. Contudo, não era repulsa. Seu âmago estava ferido, e a sensação de culpa a invadia aos poucos enquanto seus olhos recaíram sobre a figura desacordada do filho de Afrodite. Ao irmão, alguém que ela tanto adorava. A filha de Circe, por quem nutria nada além de admiração. Ela precisava pensar. Recuar, esconder-se, refletir, organizar-se e, então, reaparecer. Natalia precisava de tempo. Precisava ficar a sós. Antes que pudesse se afastar, lançou olhares para rostos conhecidos. Viu Kitty e, para a amiga, ofereceu um olhar gentil, mas não deixou de notar o seu desespero. Fez o mesmo para Love, aproximando-se e tocando-lhe o rosto de forma amável, mas sem expressar qualquer emoção. Até que seus olhos encontraram o par de azuis acinzentados de Raynar, e para ele, Natalia conseguiu oferecer um sorriso. Triste, mínimo, mas ainda assim um sorriso, antes de, finalmente, partir.
Estava exausta. Pensou em correr bosque adentro. Precisava gritar, deixar que todos os sentimentos acumulados escapassem do corpo, criando espaço e aliviando a agonia. No entanto, não tinha forças para isso, não naquele momento. Antes que pudesse se afastar completamente da multidão vibrante com a vitória, ouviu falar sobre os desaparecidos. O coração pesou dentro do peito, mas continuou caminhando. Os nomes conhecidos bastaram para encher seus olhos de lágrimas, que, contudo, não caíram como esperava. Se ficasse, entraria em desespero, mesmo sem forças para isso. Natalia caminhou sem rumo, passando por todos os chalés e apreciando a quietude. Seria considerada egoísta por dar as costas, sem oferecer ajuda aos feridos ou por não comemorar junto? Não importava. As reflexões a conduziram a um único propósito: descansar. Talvez, ao acordar, enfrentaria a nova realidade. Seus pensamentos a levaram diretamente ao chalé dezessete, após um convite inesperado da conselheira, mas que foi apreciado e aceito sem hesitação. Natalia entrou no recinto sem cerimônia. A cama que lhe fora prometida estava pronta, esperando por ela naquele momento tão aguardado. A filha de Hécate caminhou lentamente até o móvel, retirando desleixadamente os sapatos e a jaqueta que cobria o corpo.
“Finalmente. Todos merecem. Você merece.” 
Uma voz masculina ecoou em sua mente, mas ela pouco se importou. Talvez fosse o costume. Já havia testemunhado tanta magia que não se surpreenderia se estivesse alucinando.
“Durma, você está precisando.”
A voz feminina, rouca e conhecida também se fez presente, e Natalia reconheceu como a da avó. Claro, a senhora russa havia sido peça principal para que a semideusa não entrasse em surto, guiando-a do melhor jeito que podia durante todos os pesadelos. Quando se deu por si, já estava deitada, deixando que o corpo fosse bem recebido pela maciez do colchão. Movendo-se, ela puxou a coberta disposta, embalando-se no calor, aninhando-se tão confortavelmente, procurando a melhor posição que pudesse receber o corpo ao estado de inércia que tanto buscava.
“Finalmente, finalmente.”
A voz masculina soou novamente, agora mais clara e lúcida, permitindo que fosse reconhecida. Natalia, por fim, deixou-se chorar.
“Durma, você merece. Todos merecem.” Flynn falou como se estivesse presente, embalando o sono da semideusa. A sensação de sua mão acariciando os cabelos, embora a sensação sendo imaginária, foi recebida com uma pequena comemoração, expressa pelo remexer na cama e um suspiro seguido de um baixo gemido de satisfação. Poderia ser uma alucinação, um desfecho que a mente cansada havia criado para encerrar aquele dia. Finalmente, paz.
“Fim, Nati. Fim.” 
O falecido filho de Tânatos pronunciou suas últimas palavras, cuja voz se transformou em eco até se perder no silêncio. A voz do amigo foi o último som que Natalia ouviu antes de, finalmente, esquecer a realidade, mergulhando na escuridão e na certeza que apenas o sono poderia proporcionar.
personagens mencionados,ㅤㅤ@maximeloi, @somaisumsemideus, @stellesawyr, @kittybt, @lottokinn, @zeusraynar, @vitorialada, @fly-musings
@silencehq e @hefestotv
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magicwithaxes · 4 months ago
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—ㅤㅤnível um,ㅤㅤpov um.
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Natalia sabia o que estava acontecendo. Não era ingênua.
“ A sensação que sentiu enquanto recitava o feitiço, observando a fenda e como foi intoxicada por aquela energia segundos depois, era perceptível.
Seu corpo foi tomado por arrepios, e a mente esvaziou-se diante do brilho esverdeado que escapava por entre os dedos. Estava extasiada. ”
(...)
A primeira manifestação ocorreu horas depois do fechamento da abertura que ligava o acampamento ao submundo. Após poucas horas de sono, Natalia estava descansada, mas estressada. A mente parecia borbulhar, pensamentos em frenesi, porém borrados, confundindo-a a cada movimento. Perdia-se no silêncio do chalé, naquela hora da noite em que todos finalmente descansavam após “vencer” mais um trauma. Para a filha de Hécate, a recuperação não era tão simples. Ela precisava agir. Descarregar. Suas mãos pareciam querer adormecer, e seu corpo era tomado por um calor quase febril. Natalia pensou nos desaparecidos e no novo desafio que enfrentariam. A falta de contato entre os dois mundos só dificultava o resgate. Pensou nos “traidores” e na forma rude como havia tratado um deles. Pensou em Hécate e em como a detestava, ou melhor, a odiava com todas as forças. Esse ódio era quase palpável… Natalia poderia jurar que conseguia controlá-lo, torná-lo real, tê-lo em suas mãos ávidas por ação.
Presa a esses pensamentos, seus olhos fixos no vazio, a realidade ao redor parecia distorcer-se, pressionada pela negatividade que a filha de Hécate exalava. Começou com pequenos objetos — medalhas penduradas em prateleiras — assumindo cores e formas diferentes, emitindo sons característicos, como se o metal inerte lutasse para não se transformar. À medida que a intensidade aumentava, objetos maiores entravam no mesmo ritmo, criando ruídos que quebravam o silêncio da noite. Involuntariamente, Natalia levantou-se da cama, ficando de pé. Suas mãos irradiavam energia, mas ela ainda não havia percebido. Estava completamente imersa em seus pensamentos, presa ao sentimento ruim que nutria pela mãe, enquanto a desordem ao redor aumentava. Móveis e objetos maiores começavam a piscar, revelando formas que poderiam tomar. Sua expressão calma estava retorcida, e o brilho daquela luz verde se intensificava, enquanto seus olhos, antes azuis, espelhavam a mesma cor...
Rápido demais, sem aviso algum. Por quê?
A pergunta surgiu em meio aos pensamentos nublados, alcançando sua consciência confusa. Não havia respostas, mas Natalia não podia negar que o sentimento alimentava algo que a satisfazia.
Era filha da deusa tríplice. Mas por que justamente agora?
Parada em frente a um espelho, Natalia recobrou a consciência, surpreendendo-se com a imagem refletida. Estava diferente… sentia-se poderosa. O ímpeto de que poderia fazer qualquer coisa inflamava seus poros, incitando outros pensamentos, guardados por tanto tempo. Por anos, acreditou piamente que algo do tipo jamais aconteceria. Considerava-se azarada, sem aptidão para aquele nível de poder. Ainda que surpresa, entendia como tudo acontecia em sua vida — rápido e sem dar-lhe tempo para respirar. A luz que atravessava seu corpo foi se esvaindo aos poucos, concentrando-se nas mãos, até desaparecer por completo. O resultado daquela pequena demonstração do novo poder era visível no metal derretido e no cheiro perceptível a todos. As medalhas retorcidas tinham formas diferentes, mas ainda reconhecíveis. Ela, por outro lado, tentou acessar o poder mais uma vez, sem sucesso. Não havia luz, energia, nada. Seria ingenuidade desejar e querer tanto assim. Ainda estava começando.
Os dias seguintes foram de pesquisa e aprendizado. Em livros antigos, Natalia procurou pistas, algo que a levasse à exatidão do que procurava. Mesmo sem disposição para conversar, Natalia foi ao encontro de Quíron e depois de Dionísio. Alvoroçada, explicou aos dois o que estava acontecendo:
(...)
“Vocês não fazem ideia…” Disse, esboçando um sorriso sem graça. “Não, não… Claro que devem saber.” As palavras não foram suas amigas naquele momento, escapando-lhe todas, antes que pudesse gerar algo com algum sentido. “Mas eu não entendo! Não entendo como isso pode ter surgido justamente agora, depois de tanto tempo. Passei em alguma prova divina e não estou sabendo?” Duvidar da própria habilidade não era algo novo. Além da impulsividade, a semideusa nutria certa descrença quanto ao assunto. Havia passado tanto tempo apenas aprendendo a manipular sua própria força física, que acabou descuidando-se do principal, a magia que jamais achou que um dia herdaria de tal forma da própria mãe. E em meio a mais um episódio de nervosismo criado por mais uma sessão de pensamentos, a filha de Hécate voltou a manipular a magia, inconsciente de seus atos, incapaz de controlar e fazer parar. Os móveis da Casa Grande sofriam transformações e pareciam pular sobre o assoalho de madeira. Natalia pôde ouvir a risada desconfortável do deus presente, pedindo que parasse, mesmo sem saber como. Até que, ao fechar os olhos com força e abrir os braços rapidamente, com as mãos espalmadas contra o nada, a filha de Hécate esbravejou irritada, ordenando que aquela comoção cessasse. A sensação que surgia quando aplicava sua atenção a isso era arrebatadora, mas também exaustiva. Ela sentia as pernas fraquejarem, ao mesmo tempo que precisava persistir, deixando que o tremor ocupasse todo seu corpo. Era vital entender o que aconteceria ao atingir o ápice daquele calor. Seu caminho para o controle parecia incerto. Quíron, acostumado com situações do tipo, explicou o que ela poderia fazer; procurar instrutores, manter-se calma e por enquanto, manter aquela informação velada até que estivesse apta para moldar e controlar com certa experiência. Ainda que mais velha, as emoções ainda tinham um peso em suas decisões. “Manipulação. Você manipulou a realidade igual a ela.” Captou do deus do vinho, as palavras voltadas para si enquanto partia, mas não deixando de surpreender-se com a revelação.
(...)
Era necessário buscar ajuda. Natalia pensou nos irmãos, hábeis na magia ativa, que sem dúvida poderiam auxiliá-la naquela fase. Entretanto, ainda era teimosa demais para pedir. Tinha em mente manter-se distante do chalé, fugir até que não houvesse outra escolha. Enquanto isso, se manteria fiel aos livros, agarrando-se à teoria, confiando na própria calma e na sensação — que poderia ser falsa, dada a insegurança — de que poderia lidar com a situação sozinha.
@silencehq
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magicwithaxes · 4 months ago
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ou também conhecido como manipulação da realidade! —ㅤㅤuma introdução.
Habilidade em que consiste controlar a magia da forma como desejar, dando-lhe controle sobre tudo e qualquer coisa quando o alto nível de experiência e habilidade for alcançado.
cor da magia: verde ou olivine (9FC098).
Natalia descobriu sua nova habilidade após usar sua força mágica para os encantos do fechamento da fenda. Após alguns pequenos eventos que a deixaram atordoada durante esse intervalo de tempo, a filha de Hécate se deu conta do que estava acontecendo e já começou a estudar para compreender melhor essa nova fase. No entanto, seu novo poder está intrinsecamente ligado às suas emoções, tornando-as um gatilho imprevisível. Isso pode fazer com que o poder se manifeste em intensidades desconhecidas, às vezes sem que ela perceba, especialmente durante o período inicial.
links uteis, ㅤㅤpovs, edits e interações.
Descreve-se a seguir o primeiro nível de desenvolvimento do poder.
NIVEL UM (INICIANTE), ㅤㅤNatalia irá passar por médios ou até mesmo grandes transtornos (mas que não irão machucar ninguém). A magia não acontecerá de repente, mas haverá certas situações que irão levá-la ao uso, às vezes, sem que perceba. Nesse início, será influenciada por fortes emoções ou por descuido. Por exemplo, se ficar triste demais, ela poderá provocar o estouro de encanamentos ou fazer chover/serenar dentro de lugares fechados. Se estiver distraída o suficiente para não perceber conscientemente, poderá causar a mudança na forma de objetos que irão ganhar modelos e tamanhos semelhantes ou completamente diferentes (podendo se aplicar a seres vivos, mas isso em casos muito extremos, como irritação ou desespero extremo). A percepção a itens mágicos ou a própria magia estará ainda mais elevada, além de que poderá desempenhar e realizar feitiços básicos. Todos os efeitos nesse primeiro nível serão temporários e não devem ultrapassar mais que vinte e quatro horas. O uso demasiado pode levá-la ao cansaço. As técnicas de controle usadas serão meditação através da respiração balanceada, em cânticos para auxiliar na canalização da magia descompensada e em gestos mágicos em curta distância através do balançar de dedos e da mão, buscando “descarregar-se” de forma mais precisa.
NÍVEL 2 (INTERMEDIÁRIO),ㅤㅤEm breve.
NÍVEL 3 (AVANÇADO E FINAL),ㅤㅤEm breve.
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magicwithaxes · 5 months ago
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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤpov: ㅤㅤㅤㅤㅤSEGUNDA NOITE,
Como na noite anterior, Natalia havia chegado com trinta minutos de antecedência. Seus olhos percorriam todo o espaço com a mesma curiosidade de antes, buscando acertar o caminho, pegar apenas o necessário e dedicar-se, por aquelas horas, apenas aos escritos antigos — algo que pudesse fortalecê-la e também ajudar os demais. Apesar das opções, mais uma vez, ela se via tomada pela indecisão. Na noite passada, já deveria ter feito sua escolha, usando o curto tempo disponível para aprimorar-se; contudo, a insegurança era imperativa, e Natalia temia não agir conforme o esperado pela deusa. Revisitando o que havia prometido a si mesma esquecer, Natalia encontrou o útil ao agradável: o livro estava aberto propositalmente em um feitiço que seria útil quando necessário, voltado ao fortalecimento e bloqueio mental contra forças mágicas inimigas. Seus dedos percorreram todas as páginas que detalhavam bem o passo a passo para alcançar o sucesso daquele simples feitiço. A filha de Hécate lia as palavras afoita, esperando memorizar cada verso que precisaria ser dito em voz alta.
Não, ela não podia falhar mais uma vez.
A noite anterior havia sido um desastre. Nervosa e ao mesmo tempo extasiada por receber lições diretamente da deusa da feitiçaria, Natalia derrubou grimórios, tropeçou em vasos de plantas e esbarrou em frascos secos e cheios de poções. Para onde tinha ido toda a confiança que passou o dia inteiro reforçando? Bom, ela não sabia; apenas chegou à conclusão de que aquele aspecto tão importante para sua presença ali jamais havia existido.
A segunda noite precisava ser diferente! Definitivamente, Natalia demonstraria seu valor e potencial, evitando aborrecer mais alguém com a bagunça. Escolheu um cantinho mais privado e decidiu se concentrar em apenas um livro por vez. Recitando as palavras baixinho, seus olhos estavam fixos no objeto à sua frente. Como saber se estava fazendo certo? Uma filha de Circe mantinha-se atenta à semideusa, como se esperasse ser chamada a qualquer momento, pronta para ajudar se necessário. Natalia percebia isso, mas, por pura teimosia, recusou silenciosamente qualquer ajuda.
“Da atenção, terá de haver a perfeição. Use sua energia mágica como aliada, não como algo à parte. Você pode fazer melhor que isso.”
As palavras da deusa ecoavam pela mente antes concentrada. Natalia sabia que ela estava certa. Não era tão difícil quanto imaginava. Apesar do pouco apego pela magia daquele modo, não havia possibilidade de erro. Bastava apenas a concentração, eliminando qualquer empecilho que pudesse desanimá-la. Mais uma vez, repetiu as palavras, desejando manifestar a magia ao pé da letra. Com um simples gesto com a cabeça, ela atraiu uma das orientadoras. As mãos inquietas sobre a pequena mesinha evidenciaram toda a ansiedade.
“Você poderia me ajudar? Vou repetir mais uma vez, e quero que tente furar o bloqueio. Um teste para sabermos da eficiência. Por favor.”
Não demorou muito, e as palavras foram ouvidas. Sem muito se movimentar, a filha de Circe parecia querer realizar o que foi pedido. Minutos longos se passaram em silêncio até a primeira resposta. “Você não conseguiu segurar por muito tempo. Fácil. Tente novamente.” Mais uma vez, Natalia aplicou sua força mágica, aumentando o tom da voz e atraindo olhares curiosos para a cena. “Mais uma vez.” Durante todas as horas dedicadas ao treinamento, a filha de Hécate errou, repetiu, concentrou-se novamente, aplicando as energias sem se exaurir. Ainda não havia aprimorado suas habilidades, claro. Era sua primeira verdadeira tentativa, com poucas ressalvas, mas que serviriam como um começo. Talvez, na última noite, ela estaria melhor, mais suscetível a manter e expandir o que havia aprendido. Os estudos não se limitariam àqueles domínios; Natalia buscaria continuar com a leitura, levando consigo o pequeno grimório emprestado, após receber permissão para isso.
Que Candace e Charlie a perdoassem, mas naquela noite, iriam dormir embaladas por palavras mágicas. Pura feitiçaria.
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magicwithaxes · 8 months ago
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ㅤ꒰ㅤㅤ⋆ㅤ ͏͏͏ ͏͏͏tag dropㅤ ͏͏͏ ͏͏͏。 ㅤ༄
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magicwithaxes · 5 months ago
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PLOT DROP: PARTE TRÊS, RACHEL, OLHOS COLORIDOS... UM FIM?
Natalia sabia que estava sonhando. 
O corpo e a mente já estavam acostumados com aquela sensação tão t��pica que a deixava inebriada, completamente fora da realidade. Seus pés descalços tocavam uma superfície diferente, fria e lisa, e seus olhos se abriram preguiçosos. O que quer que acontecesse, ela estava preparada; o corpo poderia demorar a se mover, mas a mente estava afiada, pronta para mais um dos jogos que o traidor havia reservado para ela. O cenário era diferente, não era o chalé nem o exterior do acampamento. Era a Casa Grande. Natalia deu alguns passos à frente, notando a quietude do lugar. Deveria ser de madrugada. Praxe — todos os pesadelos aconteciam naquele mesmo horário. Achando que iria encontrar novamente quem tanto a perturbava, ela identificou um personagem diferente e inesperado.
A cabeleira ruiva denunciava alguém que Natalia conhecia apenas à distância, parada a alguns metros de costas. “Rachel?” Perguntou, mas não obteve resposta. O que iria acontecer? A última vez que havia visto o oráculo fora no dia de sua manifestação quanto à profecia. Ela estranhou. Rachel Elizabeth Dare parecia resmungar, com os ombros chacoalhando sutilmente, a cabeça se movendo para frente e para trás, com as mãos estendidas diante do próprio corpo, como se conversasse com alguém. As pernas de Natalia travaram, e ela hesitou antes de continuar. E se fosse mais uma armadilha? Mais uma prova de que o traidor queria castigá-la, especialmente depois de ter tomado a poção que regenerava lentamente sua energia vital e mágica, que havia sido roubada.
Não, não havia mais tempo para hesitação. Não quando havia prometido para si mesma que não deixaria se deixar afetar por aquilo.
Rapidamente, as mãos tocaram os ombros da mulher, apertando-os para chamar sua atenção. Rachel fixou seu olhar na semideusa e um sorriso mínimo surgiu em seus lábios pálidos. Era real demais, e de repente, a filha de Hécate começou a duvidar, acreditando que talvez estivesse confundindo as coisas e que, na verdade, havia encontrado Rachel ali por acaso. No entanto, a ruiva começou a recitar a profecia mais uma vez, de forma lenta, baixa e em russo, como se buscasse apenas o entendimento e a atenção de Natalia. As paredes ao redor começaram a se desfazer como fumaça e o chão abaixo parecia ruir aos poucos, tremendo qualquer superfície sobre a qual estivesse. Natalia a segurou novamente, chacoalhando o oráculo na tentativa de despertá-la daquele transe. Rachel, por sua vez, ria, divertindo-se com a situação, e suas palavras saíam perfeitamente, sem qualquer empecilho, carregadas com o pesado sotaque de sua terra natal.
Gritos, mais uma vez aqueles malditos gritos. Natalia afastou-se, levando as mãos às orelhas, tentando impedir que a agonia sonora entorpecesse seus pensamentos. Ao andar para trás, sentiu suas costas baterem contra uma superfície plana e ainda mais fria, algo que antes não estava ali e não fazia parte do cenário da Casa Grande. Ao voltar sua atenção para Rachel, encontrou uma cena digna de um filme de terror: o oráculo não falava mais. Não podia. A boca expelia uma gosma preta, assim como seus olhos, que pareciam chorar lágrimas da mesma cor e textura. Rachel aparentava estar sofrendo, enquanto abraçava o próprio corpo. No entanto, não houve pedido de socorro. Seus olhos estavam sem brilho, fixos na filha de Hécate. Ela caiu no chão, o corpo se encontrando com a escuridão sem fazer barulho algum. Rachel deitou-se em posição fetal, mas ainda a observava, balbuciando algumas poucas palavras que eram difíceis de compreender, enquanto estava envolta pela poça que se expandia cada vez mais.
A semideusa não buscou mais a aproximação. No entanto, quanto mais se forçava contra a parede logo atrás, mais ouvia o ruído de algo prestes a se despedaçar… O mesmo som de vidro que ouvira muitos dias antes, quando sonhou com a avó. De repente, sentiu seu corpo ser puxado não por mãos ou objetos, mas por magia. Havia vidro por todos os lados, cortando e criando pequenos ferimentos por toda a extensão descoberta da pele. Natalia se arrastava, assustada, com os olhos percorrendo o espaço, que não passava de um vácuo, ou melhor, um limbo escuro com uma luz central que iluminava Rachel e ela, uma dimensão desconhecida e aparentemente sem saída. Ao lado, estava sugestivamente repousado um par de seus machados, como se tivesse sido disposto de propósito, sabendo que seu primeiro ímpeto seria pegá-lo para se proteger. E foi exatamente o que fez. Levantando-se com dificuldade, Natalia agarrou a arma e assumiu a pose de defesa. 
Um verdadeiro teatro para finalmente aparecer.
O traidor, em suas vestes escuras, surgia da penumbra daquele lugar. Como era típico, o breu era seu aliado, impedindo que o rosto fosse revelado, mas os olhos…
Os olhos não eram mais os mesmos. Agora, estavam mesclados, uma heterocromia de castanho e um azul aterrorizante. Uma novidade! Ele vinha em sua direção, a mão estendida como se fosse repetir o mesmo ato de antes: sugar sua energia, deixando-a fraca e inútil para qualquer coisa. Natalia esquivou-se agilmente, mas reclamou ao sentir os cacos de vidro perfurando a pele de seus pés. “Você só pode estar brincando comigo, hm?” gritou, a voz ecoando amplamente. “Você não vai fazer isso de novo, não vai me machucar de novo. Não vai!” Em um impulso desesperado, ela mirou e jogou o machado em direção ao seu algoz, tentando machucá-lo. Foi em vão. O ser se dissipou em uma nuvem dourada, branca e com tons avermelhados, deixando um rastro para trás.
Surpresa.
O traidor agora a segurava pelas costas, os braços envolvendo-a em um abraço apertado, causando-lhe agonia não apenas mental, mas também física. Parecia impossível se desvencilhar; era forte demais. Mesmo assim, Natalia não resistiu. Incontrolável, ela se debatia e gritava, chamando por Rachel, que ainda permanecia no chão, esperançosa de que levantasse e a ajudasse. Mais à frente, a imagem perfeita de Hécate se formava com a mesma aparência que Natalia conhecia apenas em sonhos. A deusa não pronunciava uma palavra sequer, permanecendo parada, admirando a cena. 
“Mãe, olha pra mim! É isso que você quer? Quer nos fazer perder a cabeça? Qual a razão para tudo isso? O que deu em você?”
Sem resposta. Hécate jamais a responderia. Não importava o que acontecesse. Ela poderia ser morta ali… a mãe jamais faria algo contra. Era ela orquestrando tudo.
“YA zhe govoril tebe, chto eto slishkom rano. Ty ne poslushal menya, i tvoya such'ya mat' razvlekayetsya za tvoy schet i za schet tvoikh brat'yev.”
(Eu te disse que era cedo demais.  Não me ouviu e a megera de sua mãe está se divertindo com tudo as custas suas e de seus irmãos.)
Olga Pavlova surgiu novamente em seus trajes típicos, com o inseparável cachimbo pendendo dos lábios. Ela tragava o tabaco aos poucos, inundando o ambiente com aquele cheiro antes insuportável, mas que agora, estranhamente, trazia conforto para a semideusa. 
“Mne nikogda ne nravilas' eta zhenshchina. Suka, kotoraya ukrala u tvoyego ottsa budushcheye! Eto razryvalo yego na chasti, zastavlyalo plakat'... Vladimir nikogda ne plakal! A potom prishel ty... Ideal'naya kopiya togo, kto prichinil bol'she vsego boli…” (Eu nunca gostei dessa mulher. Uma vadia que roubou o seu pai do futuro dele! O deixou em pedaços, o fez chorar... Vladimir nunca chorava! E aí veio você... A cópia perfeita de quem mais causou dor…)
Os ouvidos de Natalia pareciam doer; o estalo dominante se tornava frenético, a trilha sonora perfeita para aquele momento oportuno. Ela não tinha mais forças para chorar. Já havia chorado demais e também não queria. Não queria ser a vítima perfeita, a imagem fraca que muitos começaram a formar dela após aquele trágico e caótico evento.
Não, ela não daria esse luxo. Não voltaria a ser aquela Natalia depressiva, que se deixou consumir por um abismo aparentemente sem fim por tempo demais.
Os braços que a envolviam começaram a afrouxar, dando-lhe a oportunidade perfeita para fugir. Ela correu até a avó, mas ao se aproximar, percebeu que a senhora não passava de uma névoa. Antes de desaparecer por completo, a mulher acenou, levando a mão ao peito, como sempre fazia ao se despedir da neta.
“Ne seychas, mozhet pozzhe.”
(Agora não, talvez mais tarde.)
Natalia repetiu a frase da avó, deixando sua voz ecoar. Ao livrar-se dos devaneios, ela foi em direção ao machado, agarrando-o, e em seguida foi diretamente ao encontro de Rachel. Virou-se mais uma vez à procura de Hécate, que também já havia desaparecido, restando apenas Rachel, ela e o traidor.
“Não importa o que ela tenha prometido. Você irá pagar pelo o que fez. Não vai passar impune. Você sabe disso. As coisas não acontecem dessa forma por aqui. Traidores sempre hão de pagar por seus pecados…”
Maldição! Outro estalo. Natalia se levantou e tentou avançar, mas dessa vez, quem buscava se afastar era o indivíduo em vestes pretas. Com uma mão erguida, o traidor estalava os dedos energicamente, reproduzindo o mesmo som que ela ouvia constantemente ao acordar no pesadelo e ao despertar para a realidade. Os olhos coloridos a observavam, e ela podia jurar que este parecia sorrir.
Tempo… Era isso que significava? Uma marcação anunciando o fim daquele ato? 
“Espera!” Disse ela avançando, porém, tarde demais.
(...)
Acordando um tanto assustada, Natalia percebeu que havia dormido na pequena escrivaninha mais uma vez, após sucumbir a um novo pesadelo. Suas mãos estavam sujas de algo gosmento e preto. O pensamento foi diretamente ao que havia visto no sonho, lembrando da forma como Rachel havia ficado. No entanto, ao notar o estado bagunçado da mesa, ela respirou aliviada; provavelmente havia adormecido segurando uma caneta que, em algum momento, estourou em sua mão, causando a sujeira característica que coincidia com o que tinha visto no sonho.
Ela passaria o dia todo pensando naquilo. Os olhos coloridos em azul e castanho tornaram-se novas pistas que provavelmente levantariam novas suspeitas. Se tivesse sorte, sua mente atenderia aos desejos e ela voltaria a sonhar com aquilo. Caso contrário, encontraria novamente o declarado inimigo nos mesmos cenários dos primeiros pesadelos. Pouco importava, ela sentia que precisava continuar de onde sempre era abruptamente interrompida. Respostas! Ela queria respostas! Os estalos, a marcação… Uma conclusão estava próxima de acontecer?
Entretanto, a que custo?
Flynn, as noites mal dormidas acarretadas pelo terror, a perda de energia, além do trauma que ficaria guardado em sua memória pelo resto da vida. Dar tempo ao tempo? Superar e seguir em frente? Seria capaz daquilo? Sentar e esperar o próximo ataque para depois agir como se nada tivesse acontecido? Natalia estava cansada de tudo daquilo. Queria paz, retornar à “vida normal” de sempre. 
E no final, restavam apenas três perguntas que até então permaneciam sem respostas: “como, quem e por quê?”
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magicwithaxes · 5 months ago
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task three, point of view: "impulsivity is your mother's thing. not yours", said vladimir.
música inspiração para melhor imersão na leitura.
Gritos e mais gritos. Natalia saiu às pressas do chalé, o corpo utilizando da pouca energia que restava, os sentidos em pura frenesi a guiando até a origem daquele som perturbador. Não, não era um pesadelo. Era real, e a agonia estava sendo compartilhada por todos os semideuses que a rodeavam. Ela procurou pelos irmãos e amigos. Sua voz parecia mínima, mas ainda assim ela gritava chamando pelos nomes de todos, a fim de chamar a atenção e ter a constatação que estavam “bem”. Natalia estava cansada daquela sensação, mas o estalo que ela tanto reconhecia a contra gosto se tornou audível na mente e a completa atenção parecia ser tomada por algo ou alguém. Os olhos ficaram enevoados, focados em um ponto fixo. A energia vital que a mantinha em pé parecia se definhar aos poucos, escapando-lhe pelos dedos sem sua autorização. As pernas pareciam não aguentar o peso do próprio corpo e ela experimentou a fraqueza em seu estado mais completo. O corpo desmoronou no chão, mas o impacto não foi sentido.
Tarde demais, parecia que ela estava dormindo.
(...)
Natalia passou as mãos pelo chão, tateando a superfície texturizada, sentido a terra e pedras sendo espalhadas ao seu redor. Após custar para abrir os olhos, a semideusa ergueu a cabeça e se deparou com um cenário familiar que aquecia o coração, razão suficiente para deixá-la nostálgica e tomada completamente pela saudade. Estava de volta a Zvenigorod, sua cidade natal. Não houve tempo para lágrimas, apenas sorrisos. Ela se levantou às pressas, reconhecendo a pequena estrada. Se fosse rápida, chegaria em casa em poucos minutos. Os pés se moveram para frente, ligeiros em cada passada, a brisa fria mas bem-vinda a atingiu em cheio, lançando os longos cabelos escuros para trás. Seu vigor parecia ter voltado e ela se alegrava com aquilo. Ao avistar a grande casa de madeira em cor branco, Natalia sentiu a adrenalina da emoção a invadir. Tudo estava do jeito que ela lembrava; a casa principal parecia ter sido pintada recentemente, e o celeiro brilhava vibrante em cor azul céu, sua cor favorita e a qual o seu pai fazia questão de retocar todos os anos apenas para deixar a única filha feliz. Vladimir. Deuses, ela estava ansiosa para revê-lo.
Contudo, ao se aproximar da pequena trilha que dava diretamente para a porta principal, Natalia notou um grupo de pessoas em vestes pretas saindo de dentro da casa, segurando velas e alguns aos prantos. O corpo gelou automaticamente, a fazendo parar bruscamente, os pés descalços deslizando com força pelo solo íngreme por conta do cascalho. O que estava acontecendo? Não, não, não podia ser. Ela tornou a correr, passando pelo pequeno grupo fúnebre, empurrando corpos, esgueirando-se dentro da casa para finalmente entender o que estava acontecendo. Não havia explicação lógica — seu lar estava lotado, todos vestidos em vestes fúnebres, transformando a grande sala principal em um local pequeno demais para se dar passos sem esbarrar em outro alguém. 
“Vidish', chto ty sdelal? Vy ne obratili vnimaniya na posledstviya svoikh deystviy i teper' vy vse mertvy. Eto tvoya vina, devochka. Tol'ko tvoy!” (Viu o que fez? Você não prestou atenção nas consequências dos seus atos e agora estão todos mortos. Culpa sua, garota. Apenas sua!)
Estavam?
O mar de corpos estáticos abriram espaço para que ela passasse, mas antes de continuar, ela fitou a dona da voz que havia a chamado atenção. Uma senhora em seus aparentes setenta anos, cabelos grisalhos, alinhados perfeitamente na moldura da face inexistente, cobertos por um véu preto de renda. Sem rosto. Aterrorizante, porém ainda expressiva. De repente, Natalia sentiu múltiplas mãos a segurando, empurrando-a em direção ao grande caixão aberto, velado por mais pessoas, mulheres, que choravam baixinho em meio às suas preces. Ela pensou no pai e riu de tristeza. Havia se passado tantos anos sem entrar em contato direto e agora, sentia-se culpada pelo descaso. Aquele circo, um evento que ela detestava profundamente, em sua casa não teria outro objetivo a não ser aquele? Havia sido levada de volta para dar o último adeus ao corpo inerte mas em paz do pai? 
Suas expectativas quanto aquilo foram repentinamente trocadas ao notar a presença do homem de joelhos, a cabeça baixa em frente ao caixão, também rezando. As lágrimas que molhavam o seu rosto ganharam um novo significado e antes triste, o sorriso se tornou largo e alegre. Ele não estava morto… mas quem estava?
“Davay, Nati. Vstan' na koleni ryadom so mnoy. Davayte pomolimsya. Oni zasluzhivayut togo, chtoby znat', chto ikh oshibki ne byli naprasnymi.” (Vamos, Nati.  Ajoelhe-se ao meu lado.  Vamos rezar.  Eles merecem saber que seus erros não foram em vão.)
Disse Vladimir, ao virar-se para a filha, exibindo a face pálida com os belos olhos azuis agora opacos, o rosto tomado por rugas severas, como se o tempo o tivesse maltratado severamente. Ele também era o único com rosto ali, notou. 
Concedendo o pedido, Natalia se aproximou, ajoelhando-se, as mãos automaticamente unindo-se, preparada para rezar por algo desconhecido, ou melhor, alguém. Quem estava ali? E por que? Por que havia sido tratado no plural se havia apenas um caixão? O cheiro doce e enjoativo preencheu o olfato, e ela precisou desfazer as mãos unidas para levá-las até o nariz, impedindo que continuasse com aquela sensação que tanto rejeitava. Coincidentemente, era o mesmo cheiro que havia sentido no funeral da avó. O cenho ficou franzido e os olhos voltaram-se para o pai, que a mirava perplexo.
“Chto proiskhodit, papa? Kto eti lyudi?” (O que está acontecendo, pai? Quem são essas pessoas?)
Ao virar o rosto para trás, ela percebeu que todos haviam ganhado rostos e Natalia conhecia todos muito bem. Eram semideuses. Semideuses em luto, chorosos e outros em fúria, a fitando intensamente.
“Ty dumal nepravil'no, ty dumal, chto zashchishchayesh' vsekh, no... Moya lyubov', ty ubil vsekh. Ty vo vsem vinovat. Mat' prevratila yeye v monstr.” (Você pensou errado, achou que estava protegendo todo mundo, mas... Meu amor, você matou todo mundo.  É tudo culpa sua. Sua mãe a transformou em um monstro.)
Natalia levantou-se em um salto, se dirigindo até o caixão, ignorando as mãos que tornaram a segurá-la, mas que agora a puxavam para trás. Um grito longo e carregado de terror ocupou o espaço até então em silêncio, e havia partido da semideusa que observava horrorizada, sem acreditar no que os olhos transmitiam. Primeiro viu Kitty, o corpo pálido, mas bem cuidado, perturbadoramente bela, deitada em sono profundo a qual jamais levantaria. Piscou os olhos, e o indivíduo era diferente; era Callista também na mesma pose, em uma tranquilidade assustadora, os olhos fechados sem intenção alguma de abrirem novamente. Mais um grito. Era Maxime, relaxando eternamente, as mãos estrategicamente unidas sobre o peito. Primeiro, pensou em correr mas diferente do que antes acontecia, aquilo não parecia ser um sonho. Não um ruim como pesadelo. Era estranho, atormentador, mas fabricado, como se alguém quisesse torturá-la, esmagando o âmago e no que mais doía, causando-lhe aquela sensação desconfortável, mas que não era dormente. Os olhos voltaram para o caixão e ela testemunhou o surgimento de outras faces, de pessoas que ela amava infinitamente; todos no mesmo estado de paz, corpos inanimados que um dia esbanjaram vida.
“Vy mogli by izbezhat' etogo khaosa. Poteryal vsekh. Vozmozhno, eto bylo yeye namereniye s samogo nachala.” (Você poderia ter evitado esse caos. Perdeu todos. Talvez, essa foi a intenção dela desde o ínicio.)
Ela chorava em silêncio, a mão passando sobre o peito das pessoas que um dia, mesmo que para si mesma, havia jurado cuidar e proteger. A dor da perda a ocupou por completo, massacrando qualquer emoção de forma imperativa, a fazendo criar dúvidas que levantavam questões que pareciam não possuir respostas. A mesma dor que sentiu quando soube de Flynn, mas que trabalhava exponencialmente causando um aperto no peito que poderia matá-la, mas que por enquanto apenas gerava culpa e dor. Ela sabia que era impulsiva, que talvez nunca pensasse nas consequências. Mas se tivesse agido, ela sabia que seria por boas razões. Contudo, à sua frente, estava o resultado — A vida de seus amigos foi o custo a ser pago. Entretanto, por qual razão? 
“I teper' mne nuzhno yeye pokhoronit'.  Moya yedinstvennaya doch'.” (E agora preciso enterrá-la.  Minha única filha.)
E agora deitada no caixão era ela, os cabelos caídos pelos ombros e bem arrumados. O rosto pálido que contrastava-se com os lábios tingidos de vermelho fraco, como se buscassem trazer vitalidade até mesmo na morte, completando o último rosto a ser visto naquele show de horrores. Flores a rodeavam, flores brancas e outras azuis. O silêncio se dissipou, dando espaço a melodia, uma música favorita que ela tinha costume de ouvir quando criança em uma pequena caixinha de jóias, onde uma bailarina começava a girar sempre que ativada. Natalia não tinha mais forças para continuar assistindo aquela cena, mas ficou para ver o caixão ser fechado. O espaço antes lotado ficou completamente vazio, as pessoas que antes estavam ali, desmancharam-se todos em uma fumaça cinza, como em um passe de mágica. 
“No ona moya doch'!  Ona mogla by izbezhat' etogo.  Pochemu ty poslushalsya svoyu mat'?  Natal'ya, ty i bez magii byla sil'noy.  Pochemu eto proizoshlo?” (Mas ela é minha filha! Ela poderia ter evitado isso. Por que você ouviu sua mãe? Natalia, você já era forte. Por que fez isso?)
O homem a fitava enfurecido, com as mãos fechadas preparadas para atacar, se fosse necessário. Decepção e agonia eram transmitidos por aqueles grandes olhos azuis, os quais ela havia herdado felizmente.
“Ne pozvolyay etomu ublyudku zalezt' tebe v golovu. Ne poddavaysya zhelaniyam svoyey proklyatoy materi. Ty luchshiy. Ne pozvolyayte sebe doyti do etogo.” (Não deixe esse maldito entrar na sua cabeça. Não sucumba às vontades da maldita da sua mãe. Você é melhor. Não se permita chegar a isso.)
Ele apontou dramaticamente para o caixão fechado, vociferando as palavras, bradando os braços para se fazer percebido e compreendido. Vladimir era um homem teimoso, irritadiço de comportamento volúvel, mas quando se tratava da filha, era o homem mais amável do planeta. Pelo menos para ela.
“Ty Pavlov, boyets! Uvazhay svoyu chertovu krov', zhenshchina!” (Você é uma Pavlov, uma lutadora!  Honre seu maldito sangue, mulher!)
(...)
De volta à realidade! Natalia sentiu a testa roçar contra o chão, a grama verde amparando, trazendo a leve sensação de cócegas. Os olhos se abriram lentamente e ela buscou olhar para os lados e entender a situação. Semideuses acordando do estado de transe e outros mais agitados percorriam o espaço ao redor, alarmados. 
Então não havia sido a única vítima…
Havia ouvido a voz da mãe?
O corpo tentou levantar, mas não havia forças. Estava esgotada. Os músculos pareciam tremer com o mínimo esforço, porém ela insistiu, colocando-se de quatro, em movimentos lentos, esforçando-se para ficar de pé. Sentiu braços a envolverem e ela chegou a protestar, mas ao notar que tratava-se de Lipnia, ela aceitou a ajuda de bom grado, acenando com a cabeça em agradecimento. Era um truque, uma brincadeira cruel — desestabilizar quem já estava fraco, incoerente. Mas não Natalia. Ela já havia sofrido demais. Conheceu o próprio limite, experimentou o amargo sabor da perda, e não se permitiria voltar ao estado deplorável que havia ficado por dias. 
“Eu sou a porra de uma Pavlov! Se está achando que eu vou deixar você vencer… Não dessa vez. Tente novamente!”
Natalia caminhou aos tropeços, mas conseguiu se distanciar da multidão, arrastando as pernas para continuar, ignorando qualquer sensação que a fizesse parar ou que dissesse o contrário. Não haveria mais espaços para lamúria ou queixas. Não, não podia. A exaustão seria um obstáculo, é claro, mas a mente não consentiria. O traidor não a abalaria dessa vez.
Muito menos a própria mãe.
@silencehq
personagens mencionados: @kittybt, @likethemo0n, @maximeloi, @memoryremainsl
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magicwithaxes · 6 months ago
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POV, NA OFICINA DE HEFESTO EM WATERLAND
Segurando firme o desenho da arma escolhida, Natalia observava, envergonhada, a agitação crescente na Oficina de Hefesto. Depois de muito pensar e usar a imaginação para decidir, a semideusa optou por algo ousado e inesperado: uma besta. Era um tipo de arma com a qual ela não tinha familiaridade ou antes interesse, mas que de alguma forma lhe pareceu uma escolha mais que certa. Atacar inimigos de longe nunca pareceu ser importante para ela. Desde pequena, foi treinada para o combate corpo a corpo, posteriormente usando machados que foram seus leais companheiros por uma década, cumprindo eficazmente sua função de ataque e defesa em distâncias curtas.
No entanto, Natalia estava em busca de mudanças. Uma inquietude crescente a invadia, um desejo de novidade, e talvez uma nova arma pudesse ser o primeiro passo. Com um suspiro, ela permitiu-se sonhar com as possibilidades que a nova arma poderia trazer. A balestra simbolizava muito além de uma mera troca de instrumento; ela era a representação do seu progresso, uma manifestação do seu anseio por algo inovador e estimulante.
Acenando para um autômato que prontamente a atendeu, Natalia entregou o molde, especificando os detalhes que desejava para sua mais nova besta. A estrutura principal e o arco seriam feitos de ferro estígio, mas, apesar disso, a arma não seria tão pesada quanto poderia aparentar. O gatilho principal teria um botão maciço e arredondado, e o elástico preso a ele seria consistente e durável. Os primeiros dardos ou flechas também seriam feitos do mesmo material resistente. Natalia assistia a todo o processo com a fascinação de uma criança prestes a ganhar seu brinquedo novo, seus olhos brilhando de pura excitação.
À medida que o ferro estígio começava a tomar forma, ainda em estado parcialmente maleável, a semideusa pediu um momento ao autômato. Aproximando-se devidamente equipada, preparou-se para uma de suas atividades favoritas: decorar. Com o auxílio de luvas e uma espécie de espinho metálico, cujo nome ela desconhecia, Natalia começou a criar desenhos intricados na superfície da arma. Pequenas ondas e flores surgiram sob suas mãos habilidosas, e, com um toque final, ela assinou seu próprio nome usando o familiar alfabeto cirílico russo. A arma não seria apenas uma ferramenta de combate, mas também uma extensão de sua própria identidade e criatividade.
Pronto.
Seu mais novo artifício bélico estava perfeito, disposto em cima da bancada, brilhando. A besta, nomeada carinhosamente de Baela, serviria ao seu propósito… se Natalia soubesse como usá-la. As mudanças poderiam começar a partir daí, certo? Largar velhos hábitos, adotar novos… A filha de Hécate ainda não sabia por onde começar, talvez tentasse sozinha, após ler livros que explicassem a arma ou procurar alguém que ao menos tivesse a paciência para ensiná-la. Apesar daquele "pequeno" obstáculo, nada a impediria.
@silencehq
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magicwithaxes · 6 months ago
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PLOT DROP: PARTE DOIS, GRIMÓRIO DE HÉCATE
“Yekaterina, prosypaysya... Davay, prosypaysya, lyubimyy...” (Ekaterina, acorde... Vamos, acorde, meu amor…)
Os olhos da semideusa se abriram instantaneamente, arregalados, íris trêmulas. Aquela voz familiar verberou pelos pensamentos confusos, o corpo ainda paralisado que temia se mover parecia ser imobilizado por alguém, ou melhor, algo. “Babushka?” Murmurou, as mãos saindo lentamente de debaixo dos lençóis, a necessidade crescente para realizar o tato, descobrir o que poderia ser, mesmo que a razão acometida pelo medo a repreende-se de continuar com o plano. A avó, que havia morrido muitos anos antes, era tida como tirana, mas que possuía o mesmo comportamento de acordá-la daquela forma quando algo importante estava prestes a acontecer.
E o que poderia ser?
Os dedos deslizaram pela superfície desconhecida por alguns minutos, como se olhar ainda fosse proibido. Ao notar a presença de folhas, seu corpo se moveu abruptamente, sentando-se na cama em um instante. Era um livro, mas não qualquer um. Pesado, com capa em tons terrosos, adornada com feixes de prata oxidada que se assemelhavam a vinhas, e um olho decorando o centro. Natalia permaneceu em silêncio por alguns segundos, os olhos fixos no que parecia ser algo que jamais imaginou ter tão próximo. Era para isso que a voz da avó a havia despertado? O Grimório de Hécate repousava em seu colo, e feixes de magia em tons dourado e branco começavam a escapar entre as páginas de forma intensa. Num reflexo, Natalia lançou o livro para longe, empurrando-o com força, enchendo o ambiente com o som alto do impacto no chão.
“Mamãe?” Berrou na língua materna, mas como esperado, sem resposta.
Ela se afastou para o lado oposto do quarto, mantendo o objeto inesperado em seu campo de visão. Era real ou mais um sonho? O que poderia acontecer dessa vez? E por que, novamente, tudo parecia tão calmo?
Desgostosa, Natalia soltou uma risada. O livro a seduzia, como se a convidasse para folheá-lo, movendo-se sutilmente em resposta. A energia emanada era intoxicante, penetrando sua pele como um doce veneno. Seu corpo já não obedecia, e inconscientemente, ela se dirigiu a ele, os passos rápidos impulsionados por uma vontade insana de explorá-lo. Ao tocá-lo novamente, um sorriso largo surgiu em seus lábios, enquanto sentia seu corpo absorver toda aquela magia. Com as mãos, abriu a capa sem cerimônia. Os escritos, em grego antigo e outras línguas desconhecidas, enchiam os olhos de Natalia, que tentava memorizar tudo para lembrar depois. Sentada ali, poderia permanecer por horas, fascinada e completamente envolvida pela curiosidade. Mas, de repente, ouviu um estalo e o som de vidro se quebrando logo atrás. Levantou-se, assumindo uma postura defensiva. Contudo, o reflexo no espelho estilhaçado trouxe à tona uma imagem que tanto saudava.
“Yekaterina, ty yeshche takaya glupaya, takaya naivnaya. Pozor svoyey babushke! Zakroy glazki, moy medvezhonok. Pochuvstvuyte eto snova.” (Ekaterina, você ainda é tão estúpida, tão ingênua. Que vergonha para sua própria avó! Feche os olhos, minha ursinha. Sinta isso de novo.)
A senhora de cabelos grisalhos e expressão austera, vestida de preto, com um pequeno cachimbo pendendo nos lábios, observava a neta como sempre fazia em vida. Apesar do amor que sentia, Olga Pavlova não hesitava em manter uma postura rígida, especialmente ao descobrir que a única filha de seu primogênito era fruto de um romance impossível. Natalia, por sua vez, chorava em silêncio, maravilhada com a cena. Se era uma peça pregada por sua mente, era convincente e cruel. Mesmo assim, ela fechou os olhos conforme ordenado, segurando o grimório com força contra o peito. Outro estalo foi ouvido, um som familiar para ela nos últimos dias.
A fumaça intoxicava e as chamas queimavam, destruindo tudo que tocavam. Os gritos, antes distantes, agora ecoavam de forma ensurdecedora. No entanto, ao contrário de antes, Natalia não sentia o pavor que costumava arrepiar sua pele, nem o nó na garganta que a fazia chorar. Embora assustada, ela entendia que tudo aquilo não passava de um pesadelo, uma imagem criada pelo causador de todo aquele caos.
Os olhos azuis a observavam de longe.
Não havia expressão facial para interpretar, mas os olhos transmitiam informações diretas; o livro era o objetivo e ela sentiu como ele vibrou em seus braços após a súbita aparição do antagonista. Mesmo com o calor aumentando e a pele começando a arder, a semideusa permaneceu imóvel. O dono dos olhos azuis avançava lentamente em sua direção, seus passos cuidadosamente calculados, como um predador se aproximando de sua presa. Em um confronto, Natalia estaria em desvantagem; sem armas próximas e sem magia ativa para usar.
“O que você quer? Quem é você?” 
Berrou agressivamente. A voz que antes era nula, se fazia presente em alto som. 
“Você sabe que não tem como escapar, que iremos encontrar você e que pagará por tudo que está fazendo. Isso é uma promessa!”
O grimório desapareceu subitamente, ressurgindo nas mãos do vil indivíduo que a ignorava, dando-lhe as costas e partindo em marcha. Insatisfeita, Natalia começou a segui-lo, mantendo-o sob vigilância. A fumaça obscurecia a visão e as chamas lambiam sua pele, mas ela não se deteve. Continuou perseguindo-o, determinada a obter as informações necessárias para pôr fim ao sofrimento e desvendar a identidade do malfeitor. Num impulso audacioso, Natalia se lançou para frente, agarrando a capa preta e interrompendo a perseguição. Os olhos azuis a encararam com intensidade assustadora, e uma mão foi erguida em sua direção, a energia mágica em tons brancos brilhando intensamente, pronta para ser lançada contra…
Mais um estalo.
“Ne seychas, mozhet pozzhe.”
(Agora não, talvez mais tarde.)
Natalia acordou em meio ao tumulto, agitando os lençóis, mas sem gritos nem lágrimas desta vez. Sua garganta estava seca e dolorida. Estendendo a mão até a mesinha ao lado da cama, agarrou o recipiente de água e o esvaziou de uma só vez. Sua pele estava avermelhada, sensível ao toque como se tivesse sido queimada recentemente. Outro pesadelo sem resolução, porém com novos detalhes desconcertantes. Levantando-se, a semideusa dirigiu-se à pequena escrivaninha, pegou um pedaço de papel e um lápis. Decidiu que não deixaria aquela noite de sono perturbado passar em branco; começou a descrever meticulosamente os detalhes dos sonhos recorrentes, conectando informações e preenchendo cada centímetro do papel até não haver mais espaço para mais uma letra sequer. Considerou compartilhar suas descobertas com Quíron ou talvez com Dionísio. Pensou em contar aos amigos. No entanto, algo a deteve — mais uma vez, o medo.
E se não acreditassem? E se fosse tida paranoica? Os olhos azuis… Também faria algo quanto a isso? Voltaria a atormentá-la?
@silencehq
*NOTA: Gritos? Acabaram, amém! Banhos? Todos tomados e à risca! Ainda assim, ela tem medo dos rumores e quando saí, é apenas pelos fundos para evitar a massa de semideuses. Natalia vai voltar a treinar (e até dançar, veremos) e vai chutar essa tristeza para longe, prometo!
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magicwithaxes · 6 months ago
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PLOT DROP: PARTE UM, OLHOS AZUIS & FOGO
Dormir não pareceu ser uma péssima ideia. Fechar os olhos, arranjar um descanso para a mente perturbada, procurar um meio de amenizar a dor eram caminhos que para Natalia pareciam os mais sensatos para serem seguidos. O corpo cedeu automaticamente ao cansaço, a leve neblina do sono a cobriu imediatamente e os tumultos da mente se silenciaram. Finalmente paz. Por algumas horas, Natalia manteve-se daquele jeito, entregue a quietude, sem qualquer realização que pudesse causar também aquela tristeza avassaladora durante o sono. Por algumas horas, ela usufruiu da calma. Até um estalo, um estalo que a fez abrir os olhos e a se mover…
Outro barulho, ela não estava em seu quarto e muito menos em seu chalé. Era o pavilhão, que estranhamente estava em sua mais perfeita ordem, impecável. As mãos foram automaticamente aos braços desnudos ao sentir o arrepio causado pela brisa fria da noite. A semideusa caminhou alguns passos à frente, chegando aos caminhos que davam diretamente a todo roteiro pelos chalés. Seus olhos piscavam rapidamente enquanto a mente era ocupada por dúvidas e porquês.
O que estava fazendo ali? Aquilo era um sonho?
Houve um farfalhar de passos contra as folhas soltas pelo chão. Natalia girou a cabeça imediatamente para descobrir a origem do som. Pela quietude, era madrugada e não deveria haver tantos semideuses acordados ali além dos patrulheiros em prontidão. Mais uma vez o barulho de passos, mas não havia percepção alguma da criatura responsável por aquilo, até que este decidiu revelar a si mesmo. Uma figura coberta, vestida de preto havia parado a alguns metros. A cabeça baixa impediu o reconhecimento facial e fez com que Natalia avançasse, apesar do medo de tentar agir contra isso gritar mais alto. “Quem é você?” Vocalizou sem sucesso. Não havia voz e bastou aquilo para fazê-la entrar em início de desespero. O ser caminhava em sua direção e alguns feixes de magia em tons dourados escapavam a cada passo dado...
Olhos azuis...
Mais azuis que o céu, mais próximos do oceano e a induziram ao mais puro medo. Natalia tentou se mover, mas não conseguiu. Estava presa, enfeitiçada a energia mágica que começava a tomar o espaço entre os dois corpos. Era um humano, não um monstro, isso ela conseguia perceber. Seria aquele causador de todo aquele caos? Que havia tirado a vida de seu melhor amigo? Ela tentou gritar novamente, mas de sua boca nem um som poderia ser ouvido. As mãos foram para a própria garganta, apertando, esfregando a palma em busca de calor que pudesse resolver aquele problema. Mas nada. Ao fechar os olhos, desejando que aquele terror acabasse de uma vez, que acordasse se aquilo fosse um sonho, Natalia fora tomada pela sensação quente contra a pele.
Ela não havia acabado de sentir frio?
Ao tornar abrir os olhos, a figura à sua frente havia desaparecido. Os olhos azuis não estavam mais ali para observá-la, para lhe aplicar terror. Mas aquele cheiro… Madeira, madeira queimada. Natalia girou o corpo para visualizar mais uma vez a origem daquele cheiro. As árvores pegavam fogo e as chamas se espalharam rapidamente pelos chalés, destruindo qualquer coisa que fosse inflamável ao calor puro do fogo. Desesperada, ela começou a correr. Os semideuses… onde estavam todos eles? Estavam dormindo? Por que não apareciam? Deuses, eles precisavam acordar! A filha de Hécate tentou gritar, bateu em portas e tentou criar o maior barulho que pudesse causar. Sua presença passava despercebida.
Estava sozinha?
Começou a chorar. A cena era aterrorizante, mas ainda assim ela não parou. Corria por todo o lugar, procurou os patrulheiros e tentou alcançar a Casa Grande, que infelizmente já havia sido engolida pelas chamas altas. As mãos foram automaticamente para a cabeça. Aquilo não era um sonho, era um pesadelo, um pesadelo ruim. A quentura parecia alcançá-la, um círculo se fechando ao seu redor. A pele já coberta por suor começava a arder. Uma premonição? Morreria daquela maneira? Era isso que os deuses estavam mostrando para ela? Seu fim? Ou aquele era o fim de todos? Num gesto de desespero, Natalia lembrou-se da forma como foi parar no acampamento há dez anos atrás; ela se prostrou de joelhos e começou a orar, o nome da mãe, Hécate, sendo repetido diversas vezes. Se a deusa a amava ou lhe tinha em conta, que por favor aparecesse novamente. Nada. Apenas o som do lume que se aproximava aos poucos. Mas de repente, silêncio. Os olhos novamente fechados se negavam a encarar o exterior. Ela não queria, a consciência em seu estado de proteção não permitia.
Mais pisadas e os próprios sentidos entraram em confusão. Quem quer que fosse, estava próximo demais, Natalia conseguia ouvir uma respiração. O medo agia em seu modo de exagero. Em outros casos, ela levantaria, lutaria, obrigaria a revelação. Mas ali, entregue a fraqueza e a dor da perda, ela pouco fez. Os pensamentos se preencheram de pessimismo e auto degradação; inútil, medrosa e entre outros. Houve a sensação de toque. Mãos desconhecidas pararam em seu rosto, erguendo-a para cima. Os olhos se abriram de novo e ela se deparou com aquela imensidão apavorante em azul. A magia que emanava daquele corpo era palpável e ela poderia sentir entrando em seus próprios poros, magia aquela em sua forma mais pura. A pessoa que havia matado Flynn e que estava por detrás de tudo aquilo era alguém próximo a si? As lágrimas caiam com mais força, deixando a visão turva e mesmo que tentasse enxergar algo, o rosto era inexistente… apenas aqueles malditos olhos azuis.
Mais um estalo e pela segunda vez havia desaparecido de sua frente. Natalia arfava, o corpo tomado por arrepios, enquanto os sentidos voltavam a funcionar normalmente. Gritos? Ela ouvia gritos! Gritos desesperadores que clamavam por ajuda. Os semideuses, o fogo… A semideusa começou a correr, seguindo os sons das vozes mas estava tão desestabilizada que por um descuido acabou caindo por conta do desarranjo dos próprios pés. Deuses! As flamas haviam tragado boa parte do lugar. A fumaça pintava todo o espaço de cinza e aquilo atrapalhava sua localização.
Inútil, você é uma inútil…
Os gritos se tornaram mais altos, ensurdecedores e ela esperava que aquela agonia acabasse, ela não queria…
Outro estalo, e os gritos que ela agora ouvia vinham de si mesma. Havia acordado aos berros, os olhos ainda fechados, lágrimas em dilúvio. Chutando os lençóis que a cobriam, Natalia levantou da cama às pressas, como se o colchão abaixo de si lhe causasse queimaduras. Parando em frente ao espelho, ela tateou o próprio corpo procurando por ferimentos ou qualquer coisa do tipo. Mesmo que não houvesse aquilo que ela esperava, se assustou ao notar a vermelhidão na pele e o suor que também a cobria. O pesadelo havia sido real demais. A boca foi tomada por um gosto ferroso, quase amargo. Natalia ouviu vozes vindo de fora do quarto e mais uma vez ela se sentiu culpada. O pequeno relógio de cabeceira indicava que não passavam ainda das três da manhã. Já haviam se passado vinte e quatro horas do ocorrido. Vinte e quatro horas de sofrimento que pareciam se perdurar, intensificados mais ainda após aquele pesadelo. Visualizando o próprio reflexo, os braços juntos ao corpo em uma espécie de abraço, ela perguntou a si mesma o que estava acontecendo. 
Os olhos azuis…
O que queriam? A quem pertenciam? E por que? Aquele inferno havia apenas começado?
@silencehq
*NOTA: Toda vez que Natalia se permitir adormecer, ela sonhará com as mesmas coisas e também acordará do mesmo jeito, gritando. Então, querida família, se preparem para os gritos de terror por um longo tempo.
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magicwithaxes · 6 months ago
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luto,
sentimento de tristeza profunda pela morte de alguém.
luto: originado por outras causas; amargura, desgosto.
Natalia não estava mais bonita, radiante e muito pouco feliz. A noite que tinha tudo para ser perfeita transformou-se em caos, um pesadelo que ficaria marcado em suas memórias por tempos a fio. A semideusa se encontrava em estado caótico, com o rosto banhado por lágrimas que desciam livremente, torrenciais, e a boca entreaberta expirando o ar morno em uma lentidão controlada. Os olhos estavam pousados em uma caneca, deixada cuidadosamente por alguém que a havia visitado minutos antes, mas que ela não reconheceu por estar em choque. Antes, o objeto pertencia a Flynn, com quem dividia as tardes, se divertiam juntos e mutuamente compartilhavam auxílio quando necessário. Mas agora, aquilo não passaria de memórias. O dono daquela caneca não voltaria a aparecer para encantá-la com sua voz melódica e o sorriso que às vezes lhe arrancava suspiros. Não haveria mais os abraços quentes que lhe proporcionavam conforto e a sensação de segurança que a preenchia por completo. Ele estava morto, havia sido morto. E agora a culpa caía sobre todos os Filhos da Magia. A culpa, consideravelmente, deixava cair sobre si mesma.
Quando acordou do apagão súbito, Natalia foi tomada por uma sensação horrível. O corpo doía por inteiro, e ela demorou alguns minutos para conseguir abrir os olhos por completo. Por algumas horas, a filha de Hécate ficou sem informações, perdida no movimento frenético do chalé de Hécate. Havia choro, berros enfurecidos, murmúrios de vozes e olhares intercalados em sua direção. Sawyer foi a primeira pessoa a vir em sua direção, com uma expressão facial que exprimia a mais pura tristeza, a voz baixa e cautelosa, contando-lhe os detalhes cruéis da noite. Por fim, ao ouvir o anúncio da morte de um de seus melhores amigos, ela sorriu incrédula, absorta por uma sensação que ligeiramente a deixou em estado de dormência. O cérebro parecia querer recusar a informação, mesmo que o tom de seriedade fosse captado na voz da amiga; Natalia se recusava a acreditar. Ela não queria. Não podia. Haviam se divertido tanto naquela noite. Haviam dançado e conversado, criando planos para o dia seguinte, como sempre faziam. A necessidade de chorar que a acometeu foi intensa; a semideusa desabou, gritou enfurecida consigo mesma e também desnecessariamente com a amiga, batendo os braços e pernas contra qualquer coisa que estivesse à sua frente, demonstrando uma ira que lhe era incomum, uma violência provocada pelo momento e que precisava ser liberada.
Lidar com o luto e a perda não eram aspectos nos quais ela tinha vantagem. Sempre que mencionavam a morte, Natalia se sentia desconfortável. Lidar com aquela perda, agora que a culpa dirigida recaía e pesava em seus ombros, era mil vezes pior. Seu primeiro pensamento foi não comparecer à cerimônia fúnebre. Pelo resto do dia, ela ficaria ali presa, remoendo a amargura, descontando a raiva em qualquer coisa que pudesse suportar, enquanto tentava aliviar aquele peso que parecia interminável e do qual não se livraria tão facilmente. Em meio à bagunça no pequeno quarto, ela notou a presença de um ursinho maltratado, quase aos pedaços, que provavelmente havia sido deixado por Sawyer antes de partir do chalé a pedido próprio da Natalia. As mãos trêmulas avançaram até o brinquedo e o chão abaixo de seus pés pareceu desabar novamente quando notou e leu o bordado delicado, mas ironicamente em perfeito estado, na barriga da pelúcia.
De: Flynn Para: Natalia “Você é uma boboca, mas eu amo você.”
As pernas amoleceram e os joelhos acertaram violentamente o chão. Natalia abraçava o que restava do urso com força contra o peito, o choro irrompendo novamente, enquanto murmurava o nome do filho de Thanatos repetidas vezes em preces, como se suas súplicas pudessem ser ouvidas, como se fosse possível e tivesse energia e forças para trazê-lo de volta. O que estava acontecendo? Quem havia feito aquilo? E por quê? Por que ele? Permitindo-se deitar no chão, a semideusa encolheu-se em posição fetal, ainda abraçada ao que parecia ser também o último vestígio do amigo que poderia manter para si.
O choro, agora silencioso, molhava o piso de madeira próximo ao rosto, e os soluços eram constantes a cada minuto. Os olhos, outrora brilhantes, estavam opacos, e as íris azuis aparentavam estar acinzentadas. Natalia se entregava aos poucos à ideia de não se importar com nada, nem consigo própria. Se o que havia ouvido era verdade em todo o acampamento, ela se absteria dos olhares negativos, ficaria ali recolhida, remoendo um luto que mal conseguia suportar, pelo tempo que desejasse. O coração parecia pesar e falhar em seu propósito, dando a impressão de esquecer de bater em alguns momentos. Os sons ao seu redor tornaram-se inúteis aos ouvidos, e, imersa nas lembranças da face gentil de Flynn Ramsey, que surgiam a cada segundo na mente, Natalia entrou em inércia, paralisada, acalentada por uma repentina calma que a permitia apenas o movimento da respiração.
Diferente do que esperava, achou que cairia no sono e acordaria de um pesadelo, mas a vontade para isso também era inexistente. Seus olhos estavam fixos na caneca deixada em cima da cômoda. Os pensamentos corriam soltos, mas não faziam sentido algum. Não sabia quando, mas procuraria pelas próprias respostas. Clamaria pela presença da mãe ou de qualquer deus que estivesse próximo e disposto a atendê-la. Faria proveito do pouco conhecimento em magia, lutaria contra o desconhecido se fosse necessário. Mas não agora. Estava cansada, entregue à imobilidade, lidando com um luto que a faria protagonizar mais cenas de pranto e agonia nos próximos dias, no íntimo do seu quarto, longe de qualquer espectador. Ela se deixaria ser engolida por aquele sentimento e sabia que não estava pronta para deixá-lo ir tão cedo. Por enquanto, não se permitiria.
...
[TRECHO RETIRADO DO DIÁRIO NÃO TÃO SECRETO]
“Ao meu melhor amigo, (…) Não importa onde você esteja, sempre o carregarei comigo. Nos meus pensamentos mais alegres e em um canto especial e único no meu coração. Peço desculpas pela minha ineficiência (…) lutaria com todas as minhas forças para tê-lo aqui ao meu lado, me abraçando e dizendo que tudo ficaria bem. Sentirei falta do seu sorriso e da sua maneira dramática de fingir espanto diante das minhas perguntas absurdas e sem sentido. Sentirei falta da sua paciência e de como você interrompia o que estava fazendo para me ajudar em qualquer coisa que eu precisasse, mesmo que tomasse parte do seu tempo. Obrigada por ter se tornado meu amigo e por não ter fugido de mim. Lembrarei da sua pessoa com o mais infinito carinho. Jamais o esquecerei, isso é uma promessa! (…) Eu te amo!”
😭
Personagens citados, @windynwild, @fantasfly <3
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magicwithaxes · 8 months ago
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𖥦ㅤ ͏͏͏꒰ ͏͏͏ㅤ ͏͏͏ ͏͏͏TASK NUMBER 2 ,
      ໋      No instante em que Natalia recebeu os materiais para escrever, ela tinha uma ideia clara do que queria expressar. No entanto, ao se isolar em um canto tranquilo, livre de distrações, as palavras perfeitas que antes lhe pareciam tão acessíveis, subitamente lhe escaparam. A possibilidade de ter que reviver aquele momento particular parecia paralisar sua mente, ou talvez as memórias, até então nebulosas, começaram a se tornar dolorosamente claras, mais do que ela desejava enfrentar. Depois de muita reflexão, Natalia decidiu que precisava acabar com aquela hesitação. Ela já havia gastado tempo demais pensando, e a tarefa "simples" de documentar o evento estava provando ser mais desafiadora do que imaginara. Determinada, começou a registrar alguns fatos chave relacionados ao incidente, forçando-se a manter o foco para terminar o que havia começado.       ໋      Quando chegou o momento de queimar a folha de louro, Natalia hesitou novamente. Questionava-se sobre a prudência de reviver um momento que havia prometido esquecer e deixar para trás. Seria realmente benéfico para si mesma trazer à tona essas lembranças? Decidindo adiar essas reflexões para mais tarde, ela finalmente acendeu o isqueiro e aproximou-o da folha de louro. Seus olhos ficaram pesados, e o último som que ouviu antes de seus olhos se fecharem completamente foi um baque surdo, um prelúdio para a escuridão que logo a envolveu.
@silencehq
Suas costas doíam e um odor forte irritava seu nariz...
Enquanto Natalia recuperava o fôlego e tentava se orientar na escuridão da caverna, a realidade da situação começava a se tornar evidente. Ela havia subestimado o perigo. Missões anteriores haviam lhe proporcionado uma falsa sensação de segurança, mas cada nova jornada trazia seus próprios desafios e perigos únicos. A dor aguda em suas costas e a dificuldade para respirar eram testemunhas do impacto brusco contra uma criatura desconhecida. Ela pressionou a mão contra a parede úmida da caverna para se levantar, lutando contra a dor que irradiava pelo seu corpo. Os sons medonhos que ecoavam pelas paredes rochosas da caverna pareciam vir de todas as direções, tornando difícil determinar a localização exata da ameaça.
Natalia sabia que precisava se recompor rapidamente. A caverna, um local escolhido por Circe para o recolhimento de ingredientes requisitados pela própria, não era apenas uma passagem subterrânea; era um habitat para criaturas que não apreciavam visitantes. Lembrando-se do objetivo da missão, ela buscou focar na tarefa em vez do medo, puxando da memória a lista de ingredientes que precisava coletar. Com uma mão na parede para manter o equilíbrio e a outra pronta para sacar seus machados presos as costas, caso necessário, Natalia começou a avançar cautelosamente. Cada passo era medido, sua respiração controlada para fazer o mínimo de ruído possível. Ela tinha uma missão para completar, e apesar do começo tumultuado, estava determinada a não deixar que nada nem ninguém a impedisse de cumprir as ordens de Circe.
Decidida e apesar do perigo iminente, Natalia começou a traçar rapidamente um plano de ação com seus outros parceiros. A presença do ciclope na caverna não era uma surpresa total, mas ainda assim impunha um desafio significativo. Ela sabia que enfrentá-lo diretamente seria imprudente, dado o tamanho e a força da criatura. Portanto, a furtividade seria a aliada de todos naquele momento. Ela manteve sua respiração controlada e seus movimentos tão silenciosos quanto possível, aproveitando as sombras da caverna para camuflar sua presença. Seu olhar estava fixo nos ingredientes, localizados numa pequena clareira iluminada por uma abertura no teto da caverna que deixava passar um feixe de luz natural. O brilho sutil dos ingredientes refletia essa luz, guiando-a até eles.
Natalia avançou com cautela, cada passo meticulosamente calculado para evitar detritos no chão que pudessem denunciar sua presença. Enquanto se movia, observava o ciclope, que parecia momentaneamente distraído, vasculhando outra parte da caverna atrás dos outros semideuses que estavam consigo. Chegando ao local, Natalia agiu rapidamente para coletar os itens necessários. Sua mão tremia ligeiramente com a adrenalina, mas sua determinação superava o medo. Com os ingredientes seguros em sua bolsa, ela se preparou para a última parte do plano: a saída discreta de todos, e a parte mais difícil de todas.
Ao contrário do que esperava, o ciclope virou sua cabeça imensa na direção dela, seu olho único e penetrante detectando a presença invasora. Natalia prendeu a respiração, avaliando suas opções. Ela poderia tentar se esconder e esperar que a criatura perdesse o interesse ou correr, confiando em sua velocidade e agilidade para escapar. Escolhendo a segunda opção, ela não pensou duas vezes. Colocou a bolsa firmemente sobre o ombro e disparou em direção à saída da caverna, seus pés batendo no chão com urgência. O ciclope rugiu, um som que ecoou pelas paredes da caverna, enquanto começava a persegui-la. Natalia sabia que não podia hesitar; era uma corrida contra o tempo e contra o gigante, e ela estava determinada a sair daquele lugar viva, juntamente com seus amigos.
Com os machados em mãos, Natalia enfrentou a imponente figura do ciclope. Sabendo que não tinha opção além de lutar, ela concentrou toda a sua habilidade e coragem para enfrentar a gigantesca criatura. O ciclope, com sua força descomunal, rebatia os ataques facilmente, lançando Natalia e seus companheiros através da caverna com seus movimentos bruscos. Em uma rápida análise da situação, Natalia percebeu que precisava mudar de tática. Decidindo usar-se como distração, ela passou sua mochila para um dos outros semideuses, possivelmente alguém mais ágil ou menos notado pelo ciclope, que poderia ter uma chance melhor de escapar com os ingredientes preciosos. Com um aceno rápido, ela confirmou que seu novo plano estava em ação. Natalia, então, partiu para o ataque com o pouco de determinação que ainda tinha em seu ser. Seu objetivo não era mais apenas sobreviver, mas sim criar uma abertura para seus companheiros. Ela atacava com seus machados, mirando pontos que poderiam ser mais sensíveis, buscando qualquer vantagem que pudesse diminuir a eficácia dos contra-ataques da criatura.
Com o corpo exausto e cada movimento exigindo um esforço hercúleo, Natalia continuou sua luta, embora sua eficácia estivesse diminuindo rapidamente. A dor e o cansaço a inundavam, mas um pensamento confortante a manteve ligeiramente aliviada: a missão havia sido cumprida, os ingredientes estavam seguros com seus companheiros. Esse pensamento lhe deu uma paz momentânea, mesmo enquanto o perigo ainda roncava ferozmente à sua volta. Nesse breve momento de distração, o ciclope a agarrou brutalmente. O grito de dor que Natalia soltou foi tanto de surpresa quanto de agonia física, pois as unhas do ciclope cravaram profundamente em suas costas, desenhando sulcos dolorosos que logo se encheram de sangue. O impacto de ser novamente lançada ao chão deixou seu corpo ainda mais dolorido e frágil, enquanto lágrimas involuntárias brotavam de seus olhos, não só pela dor física, mas também pelo peso emocional do momento.
Exausta, Natalia pensou em seu pai, sua mãe e seus irmãos no acampamento. Imaginou o que eles sentiriam ao saber de seu destino, e se perguntou se havia feito o suficiente. Em seu coração, ela acreditava que a missão estava completa, e isso trouxe um lampejo de satisfação. Mas agora, prostrada e dolorida, ela questionava se estava pronta para se entregar ao fim. Ela estava satisfeita por ter tentado, mesmo que o preço fosse a própria vida? Enquanto fechava os olhos, talvez pela última vez, Natalia ouviu o som distante de gritos, o choque de metal contra metal, e sentiu mãos a arrastarem. Ela não tinha forças para ver quem a salvava ou se era apenas um deslocamento final feito pela criatura. Em um estado entre a consciência e a escuridão, ela se permitiu ser levada, esperando que, de alguma forma, isso significasse a chance de sobrevivência ou pelo menos um fim honroso após ter lutado bravamente…
      ໋      Puff... À medida que o efeito do louro se dissipava, a realidade começava a se estabelecer novamente para Natalia. Ela acordou, sentindo o corpo pesado e a mente turva. Instintivamente, suas mãos foram às costas, onde as cicatrizes eram um lembrete palpável da batalha que quase lhe custara a vida. O toque nas marcas menores, agora parcialmente curadas pelos filhos de Apolo, trouxe uma onda de emoções. Eram cicatrizes visíveis e permanentes, testemunhas silenciosas de sua coragem e quase desistência. Enquanto repousava, Natalia se viu confrontada com perguntas profundas sobre seu futuro. Até onde ela iria por honra e dever? Continuaria a arriscar sua vida dessa maneira? E seus parceiros, valeria a pena arriscar tudo por eles novamente? A exaustão mental a impedia de formular respostas claras, mergulhando-a em uma névoa de incerteza.       ໋      Optando por não se levantar, Natalia se permitiu um momento de descanso ali mesmo, onde o peso de suas reflexões poderia ser temporariamente esquecido. As lágrimas silenciosas que escorriam por seu rosto eram tanto de exaustão quanto de alívio, enquanto ela se entregava ao sono, buscando conforto no som suave das árvores balançando e dos pássaros cantando ao redor. Em meio à natureza, ela encontrava uma paz temporária, um respiro necessário antes de precisar enfrentar as inevitáveis decisões sobre seu caminho logo depois.
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