Blog do Curso Livre de Contos na Biblioteca de Pirabeiraba. Este projeto foi selecionado pela Bolsa de Fomento à Literatura do Ministério da Cultura.
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Easy reading is damn hard writing.
Maya Angelou, The Art of Fiction No. 119 (via theparisreview)
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O curso acaba aqui, mas não nossa paixão pela escrita!
Chegamos ao décimo e último encontro no sábado (30/4/16). Já às 8h da manhã, quase todos os cinco alunos que concluíram a atividade final estavam presentes, aguardando nossas convidadas especiais: a escritora Vanessa Bencz, que ao final não pôde vir, e a escritora, dramaturga e performer Melanie Peter – que não tardou a abrir silenciosamente a porta da biblioteca com seu vestido rosa pink, com estampa de pássaros, e seu cachecol verde escuro, com estampa de caveiras...
As cores da roupa de Melanie, suas nuances, contrastes e combinações também estavam em suas falas. Leitora atenta tanto à estrutura do texto quanto a detalhes como a verossimilhança e a coerência psicológica de certos personagens, assim como intenção e tensão do texto, Melanie deixou contribuições bastante produtivas para os cinco contos apresentados pelos que concluíram a atividade final.
Os contos longos dos cinco alunos que concluíram o curso possuem uma diversidade de temáticas e formas narrativas que representam, também, a heterogeneidade de estilos, ou tendências de estilos, já bem definidos em cada autor.
"Em uma galáxia muito, muito distante" (título provisório), de Guilherme Caetano Braga, conta a história metafórica de um jovem astronauta sozinho no espaço. Bastante imagética, com ritmo de HQ, a história apresenta um autor que amadureceu ao longo do curso e que está em franco desenvolvimento.
"Último encontro" (título provisório), de Tamara Silveira, encontra nos diálogos uma forma inteligente de apresentar personagens e um enredo imbrincado, em temática coerente com outros enredos criados pela autora durante o curso. Reunindo estas histórias, Tamara tem material suficiente para lançar uma antologia ou coletânea de tirar o fôlego.
"Há vagas!", de Rita Pabst Martins, é uma narrativa de mistério em ambiente escolar, que ainda vai ter novos desdobramentos. O estilo do texto, sua estrutura narrativa, com a segunda história ou a "verdade" ficando clara apenas no final, é de um conto clássico, muito bem escrito.
Já "O cão virado do avesso", de Antonio Pokrywiecki Neto, aproveita as estratégias do "duplo" (espelho) e do narrador em que não se pode confiar. O texto tem desdobramentos, o duplo se duplica, e o leitor fica com vontade de continuar lendo quando o texto acaba.
Virgínia Cunha Barros, por sua vez, apresentou "Estrela Dourada", conto com potencial para se transformar em novela ou romance. Virgínia criou personagens com mais profundidade psicológica do que em um simples conto, e um enredo instigante que quase pede para ser filmado.
Alguns contrapontos aos aspectos positivos de cada texto, com sugestões de aprimoramento, foram mencionados com delicada firmeza por Melanie. "É difícil comentar o texto do outro, mas espero que tenha contribuído em algo", ela disse, ao final da atividade.
Com certeza, contribuiu, e tanto que todos sentiram saudades desses momentos de troca proporcionados pelo curso.
Por isso, já marcamos um novo encontro para conversar sobre estes e outros textos, no dia 4 de junho – o curso acabou, mas não a nossa paixão pela escrita!
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texto: Katherine Funke fotos: Karin e Antonio agradecimento: Melanie Peter -
Este projeto foi selecionado pela Bolsa de Fomento à Literatura do Ministério da Cultura.
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Escreva um pouco a cada dia, sem esperança e sem desespero.
Karen Blixen (Isak Dinensen) citada por Raymond Carver.
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CONVITE – Nosso aluno Antonio, 19, convida todos os leitores do blog do curso a participarem do clube do livro da livraria Barba Ruiva. O primeiro título em debate é "No Sufoco", do mesmo autor de "Clube da Luta", tema do encontro marcado para 28 de maio. A Barba Ruiva fica ao lado da Rock Total, no centro de Joinville.
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O que os alunos acharam do curso? Leia depoimentos.
“Eu não acredito em evolução literária sem referências. Aliás, minha paixão por literatura surgiu do convívio com pessoas que, al��m de apaixonadas por literatura, me instigaram a tentar escrever também, a competir com elas e a superá-las. No curso, não pensei em aprender a escrever, mas sim em ter acesso a novas referências, as quais não descobriria facilmente por conta própria, e também compartilhar o pouco que sei. Tenho pra mim que se algum dia puder instigar alguém a competir comigo, a me superar, terei obtido sucesso. O universo literário é infinito, mesmo, e eu precisava de um direcionamento, que encontrei no curso, expandindo meus conhecimentos e referências.” - Antonio Pokrywiecki Neto, 19, estudante de jornalismo
“Minha cabeça era e ainda é muito influenciada por coisas 'comerciais’ ou menos artísticas e eruditas, mas isso mudou com o tempo de curso junto com minha escrita. Está melhor, mas ainda não o essencial, ainda não me achei. Mas sou jovem e ainda tenho muita leitura e escrita pela frente. Eu só tenho a agradecer o curso por me guiar, dar direção às tendências da minha mente e por me mostrar e fazer apreciar a arte de escrever – o que, por consequência, acaba mudando sua vida." - Guilherme Caetano Braga [foto acima], 18, estudante de psicologia
“Também não acredito que seja possível ‘ensinar' alguém a escrever literatura. Não é isso. Mas esses momentos de troca, de leitura e de lapidar o que escrevemos, com alguém que tem experiência em escrever e publicar, faz com que possamos entender os caminhos por onde nossas escolhas nos levam. (...) Quanto a mim como escritora, gostei de algumas coisas que escrevi. Também acho que preciso criar uma disciplina de escrita, me organizar, porque eu gostei disso. Acho que vai fazer falta ter uma (ou mais) pessoa crítica para quem ler o que escrevo, porque as pessoas em geral só dizem que está legal mas não sugerem coisas que podem tornar o texto mais interessante." - Rita Pabst Martins, 35, professora do Ensino Médio, graduada em Letras e mestre em Educação
“Já no primeiro dia me senti bastante inexperiente. Sempre gostei de escrever contos, mas nunca li muito a respeito. O curso ‘abriu meus horizontes’, desculpe o clichê, e conhecendo mais autores e mais técnicas, espero correr atrás também de mais informações. Sinceramente, não consigo pensar em algo para melhorar no curso. Talvez o tempo apenas, algumas aulas a mais não me fariam mal. Gostei bastante dos textos de autoedição, achei bastante proveitosos. As dicas foram valiosas e gostei muito do ‘pensamento’ de hoje [aula 9], escrever sem esperança nem desespero.” - Tamara da Silveira [foto abaixo], 23, professora de matemática
“Eu vou sentir falta desse curso, da pressão (boa) que finalmente me levou a escrever, melhor que uma terapia! Só tenho a agradecer, pois é difícil ter coragem de mostrar o que se escreve, mas o resultado é compensador. Para ser melhor ainda, era só não começar às oito da manhã… brincadeira. A grande vantagem foi descobrir que as palavras ‘saem’ se a gente se forçar, mesmo, principalmente se o foco estiver no lugar certo. Ou seja, os contos e os textos teóricos, como as Novas Teses e o Decálogo do Perfeito Contista, ajudaram a abrir a mente para o que é importante, mesmo que a gente não concorde com tudo que os autores dizem. Melhor ainda, descobrimos que também temos opinião! E isso nos faz ainda mais maduros. Ser escritor é uma forma de viver a vida, de enxergar por trás das palavras, das situações, das paisagens… perceber os detalhes e relacionar uma coisa com a outra. Ao menos foi isso o que aprendi do passeio pelas ruas de Pirabeiraba, ouvindo os comentários e opiniões da Katherine e dos colegas. Esses momentos com certeza deixarão saudades. “ - Virgínia Cunha Barros, 26, funcionária pública
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Bloqueio criativo II
- um conto de Antonio Pokrywiecki Neto*
Desde molequinho, quando ia à escola, se Sancho conseguia boas notas, era porque brincava de ser um aluno exemplar. Seu tom de voz, as palavras escolhidas, até mesmo o penteado, mudavam conforme a companhia e a situação. Por exemplo, quando estava entre meninos, emendava um palavrão seguido de outro, era prepotente e pretensioso; enquanto na presença de meninas, certificava-se de que o cabelo não caía sobre os olhos, endireitava a coluna e tentava parecer inteligente. Na volta pra casa, chutava as pedrinhas que encontrava pelo caminho, fingindo ser Zidane. Às vezes, preferia ser Gerrard, e até mesmo a forma como ajeitava o corpo pra chutar as pedrinhas se modificava.
Marla surpreendeu-se quando Sancho revelou que preferia que ela não fosse até sua casa porque tinha medo de como agiria em frente à namorada e aos próprios pais simultaneamente, qual personalidade deveria seguir. Conforme o relacionamento amadureceu e o encontro se mostrou inevitável, Sancho se viu diante de dilemas insolúveis como: deveria andar descalço, como o fazia com os pais em casa, ou usar tênis, como sempre fazia com Marla? Na dúvida, ficou de meias.
Anos depois, sentado na beirada da cama do quarto do hotel, enquanto os colegas de time jogam videogame na sala, Sancho assiste ao noticiário esportivo. Se vê na televisão, carrega a bola, toca pro lado, enxerga um companheiro, abre o jogo, dá uma assistência, arrisca um chute ou outro, a bola vai pra fora ou o goleiro pega. Seu passe preciso no lance do gol de empate e a arrancada que puxou aquele contra-ataque foram essenciais para a vitória. Os comentaristas da TV o reverenciam, Sancho estampa a capa dos jornais esportivos ao lado dos companheiros e, se olhasse pela janela do quarto algumas horas antes, veria uma pequena legião de torcedores, que já havia se dispersado.
Contudo, é um infeliz. Ao menos, assim enxerga a si mesmo. Sancho ainda imita o jeito que Zidane tocava na bola e, quando bate no gol, pensa em Xavi. Quando tenta um desarme, atira-se ao chão fingindo ser Gattuso. Sancho não joga, atua. Aquele passe preciso pro gol de empate, o revolta que ninguém o percebesse, foi uma réplica quase exata de um passe de Ryan Giggs pra Keane, na Copa da Inglaterra de 98, contra o Portsmouth, em que o meia cortou na intermediária e enfiou a bola entre os zagueiros, em diagonal. Além de parecer-se muito com um lance de Pirlo, ainda nos tempos de Milan. Há mais de um ano que não faz um toque original sequer, embora a execução débil dos movimentos que conhece o façam parecer autêntico.
O bloqueio criativo o atormenta de tal forma que, contrariando o que se pensa em relação à jogadores de futebol, não transa há mais de três meses. No entanto, isso é o que menos o perturba. Sancho gosta mais de jogar futebol que de transar. Afirma isso sem medo, com convicção: “entre um escanteio bem batido e uma gozada, fico com o escanteio”. Sancho respirava futebol, absolutamente. Chegou até a confessar, certa vez, que amava mais Andrés Iniesta do que a própria mãe.
Esses amores, cujas raízes remontam a infância, geram frustrações incalculáveis no adulto. Sancho vive pilhado, ansioso, com a cabeça a mil, hiperativo; pensando no próximo passe, no próximo cruzamento, idealizando lançamentos longos, ou passes de efeito; sua mente gira torno de esquemas táticos e jogadas ensaiadas, linhas de fundo e tiros de meta. É um miserável, afinal de contas, pois dedica a vida a algo que é incapaz de executar. Por mais que os críticos o aclamem, por mais que seja objeto do indiscutível amor da torcida, o meia não se julga digno.
Sancho se levanta da cama e caminha até a janela aberta. Aperta com as mãos o parapeito e olha pra baixo: há um carro estacionado e algumas pessoas caminham na rua. Pela cor do asfalto, chovera recentemente. Afrouxa as mãos e dá dois passos pra trás. “Além de uma farsa, é covarde”, balbucia. Sancho senta-se na cama novamente, desliga a TV e deixa o corpo despencar.
- Antonio, 19, estuda Jornalismo. Este conto foi publicado originalmente no jornal Notícias do Dia.
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Mais fotos da caminhada à beira do Rio da Prata, atividade realizada na nossa aula 9 (16/04/2015). Imagens deste post: Tamara Silveira.
"Ficar sentado o menor tempo possível; não dar crença ao pensamento não nascido ao ar livre, de movimentos livres – no qual também os músculos não festejem. Todos os preconceitos vêm das vísceras. – A vida sedentária – já o disse antes – eis o verdadeiro pecado contra o santo espírito. –"
(Friedrich Nietzsche em Ecce Homo: trecho final da nota 3, do capítulo "Por que sou tão inteligente")
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Nas fotos, o Rio da Prata, o Morro do Tromba e alguns alunos presentes na nossa aula #9, realizada fora da Biblioteca de Pirabeiraba.
Neste encontro – o penúltimo do curso – tivemos a oportunidade de "arejar" a escrita à beira do Rio da Prata, na residência de uma das alunas, e concentrar esforços no lançamento da flecha, e não no alvo (para usar a metáfora do cubano Pedro Juan Gutiérrez, em Velhas Teses sobre o Conto) durante toda a manhã, em perfeita conexão com a natureza e com a própria intenção narrativa.
Nossos agradecimentos especiais à Rita Pabst Martins pela acolhida. Todos tiveram ótima produtividade e encontraram o caminho para o conto longo, a ser apresentado até o dia 23/4, por email. Em tempo: o texto de Raymond Carver comentado durante a aula pode ser acessado, em versão traduzida para o português, neste link.
O próximo (e último) encontro do curso será no dia 30/4, na Biblioteca de Pirabeiraba, com a presença das convidadas Melanie Peter e Vanessa Bencz.
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Aula #8 - autoedição
Na aula #8 do nosso curso, trabalhamos um check-list de elementos a serem observados pelo próprio autor no momento de dar seu texto por finalizado. A autoedição é uma das práticas mais importantes de autocrítica, porque vai desde a revisão mais superficial da ortografia do texto até uma análise da estrutura do conto – e mesmo do seu propósito.
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o jornal Notícias do Dia (Joinville, SC) publicou hoje algumas produções inéditas de alunos do Curso Livre de Contos. leia agora!
- reportagem de Roberto Szabunia no jornal Notícias do Dia de hoje (13.04.2016, p.12) sobre o Curso Livre de Contos na Biblioteca de Pirabeiraba .
Este projeto foi selecionado pela Bolsa de Fomento à Literatura do Ministério da Cultura.
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Queriam que eu fosse contador
- um conto de Antonio Pokryewicki Neto*
Meus pais queriam que eu fosse contador. Contador, como eles. Tinham um pequeno escritório, num bairro bacana da cidade, em uma rua onde duas árvores davam as mãos, uma de cada lado da calçada. A casa da minha tia ficava nos fundos do escritório, enquanto a do meu primo ficava ao lado. Era comum que eu passasse as manhãs ora no meu primo, ora na minha tia; assistindo tevê, comendo bolacha com leite, mingau; jogando videogame, ou fazendo qualquer coisa que uma criança da minha idade pudesse fazer para passar a manhã. De tarde ia para aula. Meus pais queriam que eu fosse contador. Como eles. Mas eu queria mesmo era ser jogador de futebol. No caminho da escola, ia chutando as pedrinhas como se fossem bolas. Metia a blusa pra dentro do calção e passava os recreios sozinho, chutando bolas imaginárias, recriando os gols do fim de semana e criando os gols do que ainda viria. Eu era o Barcelona, o Corinthians, Flamengo, Borussia e Real Madrid. Era quem que eu quisesse, era Ronaldinho, Giuly e Eto’o, metamorfoseados numa criança de oito anos. Quando contei a minha mãe que seria jogador de futebol, não houve oposição alguma. Pelo contrário, me repreendeu: não pense em ser o terceiro melhor do mundo, tu vai ser o melhor. Contudo, eu tinha os pés no chão, era impossível que não houvesse, no mundo todo, dois ou três moleques de oito anos melhores que eu. Ser o terceiro melhor do mundo, essa era minha meta. Por sua vez, meu pai fazia pouco caso. Hum, legal.
A culpa era toda dele, afinal. Foi ele quem me levou ao estádio, me ensinou o que o bandeirinha fazia, quem era o juiz e me mostrou os canais de tevê que passavam futebol. Porém, era compreensível seu descaso, isso não estava em seus planos para mim. Meus pais, repito, queriam que eu fosse contador. Mas não, eu queria mesmo era ser um astronauta. Viajar pelo espaço, destruir naves inimigas, pisar na Lua. Na Lua o caralho, eu ia pisar em Marte, Júpiter, Plutão. Ia fazer o escambau no espaço, dar piruetas no vácuo, atirar armas de raio laser em rochedos, operar satélites defeituosos, enfim, faria tudo que a mínima gravidade pode permitir. Eu era um astronauta e o espaço era, pra mim, o quintal do escritório-dos-meus-pais/casa-da-minha-tia. O cachorro era um marciano e meu triciclo era a nave.
Até que meu pai me advertiu: Com menos de um e oitenta tu não entra nem na aeronáutica. Eu devia ter menos de um metro e vinte centímetros na época. Não, com certeza eu tinha bem menos que isso. O que eu tinha também eram duas certezas: era baixo e meus pais eram baixos. Contudo, o tempo era ao meu favor, tempo atrás do qual correr.
Comia como um touro, cada colherada era um investimento na minha altura, podia me sentir crescer na cadeira durante o jantar, a cada garfada eu ficava mais perto dos um metro e oitenta. Andava sempre com a postura ideal, espichava os músculos das costas e também das coxas, além de tentar alongar o pescoço os braços.
Todo o esforço foi em vão, mal passei de um e setenta.
Tem profissões que servem até para cachorros, mas não para homens baixos.
Eu ainda poderia ser contador, e meus pais queriam que eu o fosse. Mas não, não eu, eu queria ser o Zorro. Mascarado, eu corria pela pelo quintal do escritório/cafofo-da-tia empunhando uma espada de bico arredondado, e a capa negra ondulava às minhas costas. O cachorro era o dragão e, embora não houvesse dragões nas histórias do Zorro, eu o chicoteava sem dó. Entretanto, a vaga do Zorro já estava preenchida por um outro Antonio, um espanhol, o Banderas.
No geral é assim mesmo que ocorre, os sonhos se amontoam pelo caminho. Ora se é muito baixo, ora muito alto, ora não se é esperto o bastante, ora não se tem sorte. Ou, por vezes seguimos o roteiro que planejamos, executamos com certa debilidade, mas o executamos e, num desvio, a vida deixa a desejar.
Meus pais, por exemplo, queriam que eu fosse contador.
Já eu não, eu queria mais era ser jogador de futebol, astronauta, o Zorro, o Batman, dono de um zoológico, ator de novela. No fim das contas, virei contador, mesmo: um contador de histórias.
– Antonio, 19, estuda Jornalismo e conta histórias no Curso Livre de Contos.
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Resenha de uma antologia de contos contemporâneos brasileiros
por Rita Pabst Martins*
“Contos brasileiros contemporâneos” reúne textos publicados a partir de meados dos anos 1950, organizados por Julieta de Godoy Ladeira. A Biblioteca de Pirabeiraba tem um exemplar para empréstimo (Salamandra, 2ª edição, 2005).
Na introdução, a organizadora lamenta as dificuldades em se conseguir realizar esse trabalho por causa da burocracia que envolve direitos autorais, especialmente no caso de autores já falecidos, quando a família detém esses direitos. Destaco, nesse sentido, a nota presente na obra em relação à impossibilidade de juntar a essa antologia um conto de Guimarães Rosa.
Dito isso, vamos aos autores reunidos, na sequência em que estão na obra: Clarice Lispector, Dalton Trevisan, Ignácio de Loyola Brandão, João Antônio, Lygia Fagundes Telles, Luiz Vilela, Marina Colasanti, Moacyr Scliar, Murilo Rubião, Osman Lins, Ricardo Ramos, Sérgio Sant’Anna e Silvio Fiorani. Os contos escolhidos são representativos da produção de cada um. Embora cada autor mereça destaque por sua produção, e Clarice figure entre minhas preferidas, nessa antologia minha escolha é Marina Colasanti (certo, não precisamos escolher um em detrimento do outro, mas esse conto da Marina...).
“A moça tecelã” é para mim, sem dúvidas, um dos textos mais profundos e poéticos da nossa literatura. Aborda o feminino e a autonomia de quem “faz e desfaz o destino” (palavras da organizadora, p. 147), misturando realidade e fantasia na medida da arte. Enquanto a moça tece, as coisas se fazem reais. Quando a presença masculina se torna exigente e imperiosa, é hora de desfazer o que havia tecido e voltar à simplicidade de antes.
Grata, Marina, por essa sua contribuição! Essa antologia, é, portanto, leitura indicada para quem quer conhecer a produção literária do período apresentado, levando, talvez, a leituras outras no intento de conhecer melhor alguns desses autores.
* Rita Pabst Martins é professora do Ensino Médio e aluna do Curso Livre de Contos.
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O cúmulo de ler Bukowski
- um conto de Guilherme Caetano Braga *
Estou na minha cama deitado, olhando o teto e deixando minha consciência fluir, quando sinto que a capivara quer sair da jaula. A natureza me chama. Estou caminhado do meu quarto para o banheiro apurado, mas não me incomodo em voltar dois passos para pegar meu livro e dois cigarros em cima da estante. Para mim, não há lugar e momento melhor para fumar.
Já no banheiro, sentado com Misto Quente aberto em uma mão e na outra o cigarro aceso pelo isqueiro que estava em meu bolso, leio a parte em que Henry Jr. diz que segurava a vontade de cagar ao ponto de a merda se petrificar em seu intestino. Isso com certeza não deve ser saudável. Nunca tive esse problema, seja na escola, no shopping, casa dos outros, uma vez que a necessidade batia forte, merda saia do meu rabo pra privada. Estou pensando sobre merda enquanto leio um livro no qual o personagem não faz merda de um autor que não tem vergonha de escrever sobre fazer merda enquanto faço, literalmente, merda. Estou no cúmulo de ler Bukowski no banheiro. Mas que sacada, hein, velho Charles?
A poesia pode estar ali, no excremento, no vômito de um bêbado. Por isso virei fã, ele mudou minha visão, tanto da arte quanto, de algumas maneiras, da vida. Quando volto de ônibus da faculdade e vejo as crianças e adolescentes voltando de suas escolas – especialmente públicas – sinto certa empatia, tanto eu como Henry como aquelas pessoas, passaram ou estão passando por essa fase, cada um com seus problemas intestinais.
Ter lido Bukowski me faz não olhar com olhos negativos a infância na qual eu era uma criança retardada, me faz não sentir culpa por ter esquecido de estudar pra duas provas essa semana, afinal não é esse o conceito de subjetividade? Não somos moldados pelo aparato biológico e o meio social em que somos inseridos? É tudo culpa dos nossos pais! não escolhemos ser quem somos. Livre arbítrio é meu pau de óculos!... Quem estou querendo enganar? Digo isso só pra justificar minhas falhas, afinal "não importa o que fizeram de mim, e sim o que eu faço com o que fizeram de mim", não?
Mas ainda não sinto culpa, só frustração. Eu sempre tive esse plano de fuga, caso nada me der certo profissionalmente, serei escritor, talvez contaria minha vida de forma artística e profunda. Admito, teria que quebrar a cabeça pra fazer os 60% da minha vida em que passei jogando videogame interessante, mas eu daria um jeito, igual a quando dei um jeito de emagrecer como havia objetivado ano retrasado e esquecido no resto do ano.
Acabo. O paralelepípedo marrom e consistente cai na água fazendo barulho, levanto e como sempre não sei o que fazer com tantas coisas na minha mão, finalmente jogo o final do cigarro na privada, puxo a calça e ponho o livro no bolso. Dou uma última olhada na minha produção antes de puxar a descarga. Tá aí uma ideia: caso nada der certo, inovarei ao considerar fazer cocô a mais nova forma de arte, acho que só assim vou conseguir me sobressair. Nessa arte, meus amigos, eu seria o artista mais premiado!
- Guilherme Caetano Braga, 18, estuda Psicologia e é claro que adora ler Bukowski... e agora quer começar a ler algo de Hemingway.
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Mais um registro da aula # 7 - depois da caminhada, a produção de contos com elementos grotescos, bizarros ou estranhos. "Depois do passeio, uma constatação: é bizarro ser normal" – Rita Pabst Martins.
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Revelações de um retrato perdido
– um conto de Virgínia Cunha Barros*
Sento na poltrona cor de vinho como se ainda fosse dez anos atrás. O risco sujo na parede de onde tiraram o quadro da minha infância me desafia, assim como os móveis errados, trocados. Levanto-me, inquieta; é pecado tomar o lugar dos mortos. “Por que só a poltrona?”, pergunto-me, enquanto deslizo até a janela para tentar vislumbrar as flores vermelhas que minha falecida avó cultivava com tanto zelo. Estendo as mãos para agarrar as grades. Sempre estiveram ali, formando retângulos de ferro que sujam e mancham. São tudo que resta, além da poltrona. O que terão feito com o quadro? Volto-me para passear os olhos pelo quarto abandonado e me deparo com a mulher de chapéu no rosto. Quando era criança, pensava tratar-se de um retrato da minha avó. Não lhe podia ver os olhos, apenas as roupas elegantes, o nariz reto e a boca, vermelha e séria. Estremeço. Um minuto atrás, a parede estava nua e vazia como meu espírito. Eu me sentei na poltrona e a encarei, mas não havia mais para ver que um risco sujo, tenho certeza. Estão brincando comigo, só pode. Mas quem? Subitamente, estou arrepiada, a saudade de outrora em pavor transfigurada. Contudo, o medo só me torna mais curiosa. Será este o mesmo quadro? A mulher está sorrindo. De resto, corresponde às minhas lembranças. Alguém o terá alterado? Aproximo-me, espremendo as pálpebras. Agora que estou frente a frente com seu rosto, quero continuar a vê-lo. Já que enfim me mostrou um sorriso, também desejo ver seus olhos. Sempre me perguntei como seriam…
Tento tirar o quadro da parede, mas está preso, de alguma forma mais forte do que eu. Penso em chamar meu pai para me ajudar, mas mesmo se chegasse até ele, o que poderia acontecer com a mulher de chapéu? Esforço-me em vão, a moldura está solidamente colada à parede. Sou mesmo uma inútil, é bom que minha avó não esteja aqui para ver o fracasso que me tornei. Um súbito clarão me percorre a mente. “Estúpida. A moldura agora é parte da parede, jamais poderias arrancá-la” Recuo com um sobressalto, sentindo o sangue me subir ao rosto. Meu coração é uma bomba no peito, minhas mãos trêmulas largam a madeira envernizada. Ergo os dedos lentamente, afago o rosto da mulher; sempre a achei tão bela e doce. Já não há tela alguma entre nós. Acaricio as vestes de cetim rosado que aumentam seu corpo frágil. Há rugas em volta de seu sorriso. Como ela é macia, parece prestes a desmanchar sob meus dedos. Enfim chega o momento que aguardei por tantos anos; agarro o exagerado chapéu e o lanço fora, para olhar bem dentro de seus olhos.
* Virgínia, 26, é funcionária pública e aluna do Curso Livre de Contos. Mantém um perfil ativo no Recanto das Letras.
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Aula # 7 - Grotesco, bizarro, estranho
Mateus, Rita, Guilherme, Tamara e Virgínia descansam por um instante da caminhada de meia hora pelo centro de Pirabeiraba.
O passeio teve por objetivo "caçar" elementos grotescos, bizarros ou estranhos para contos a serem produzidos de imediato na volta, com os corpos e ideias ainda aquecidos pela observação.
Enriquecemos o trajeto com breves entradas em alguns estabelecimentos e interações anônimas que possibilitaram a criação de narrativas breves que, à primeira vista até para seus autores, saíram – ãhn? – "meio estranhas".
Da estranheza do novo, da sensibilidade de incluir novos elementos no repertório criativo, surgiram cinco histórias (seis, com o da professora, que também se inclui nos exercícios sob pressão) inéditas, com um clima sombrio no mínimo inquietante para seus próprios autores.
Para esta aula, lemos ou recomendamos a leitura de: Verônica Stigger (Os Anões), Murilo Rubião (Petúnia), Joca Reiners Terron (A flor de nenhum buquê), David Foster Wallace (Sem querer dizer nada), entre outros.
>> Tarefa de casa - reunir contos inéditos, no mínimo um e no máximo três, para trabalhar a autoedição na aula #8. Pensar no argumento do conto longo a ser finalizado na aula #9 e, se puder, já começar a escrevê-lo - o tempo foge!
fotos: Katherine Funke + livre2016.tumblr.com
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