artistas multilinguagem na encruza incandescente movendo uma agência antipatricapitalista de resistência cultural comunitária no sul da bahia dos mistérios
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Qual é o papel da intelectualidade no combate à violência contra os povos afrodiaspóricos e originários? - Colóquio Kàwé 2024 (parte 1)
Relato sobre o primeiro dia da programação do Colóquio Kàwé 2024, por Mariane Lobo
Nos dias 16 e 17 de Outubro aconteceu o Colóquio Kàwé 2024. O Núcleo de Estudos Afrobaianos Regionais (NEAB) Kawé nasceu em 1996 dentro da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) como uma iniciativa de aproximação entre a Universidade e a comunidade que a cerca e de construção do conhecimento sobre o legado africano na Região Sul da Bahia.
O Colóquio aconteceu no auditório do Pavilhão Waldir Pires, na UESC. O tema deste ano, Poéticas e Narrativas Indígenas e Negro-brasileiras, representa um marco histórico para o núcleo de estudos, pois se antes o Kàwé dedicava-se apenas aos estudos afrodiaspóricos regionais, a partir deste colóquio passa a incluir em seu campo de investigação as questões indígenas, ação extremamente necessária num território como o sul da Bahia onde os povos indígenas originários, especialmente os Tupinambá vivem uma constante de violências e seguem na resistência desde o início da colonização até os dias de hoje.
A conferência de abertura foi formada pela escritora Rita Santana, a linguista Maria Pankararu e mediada por professora doutora licenciada em História pela UFRJ Diadiney Helena de Almeida.
Maria Pankararu é conhecida por ser a primeira mulher indígena a obter um doutorado no Brasil, sendo pioneira ao abrir caminhos para a entrada de pessoas indígenas nas universidades brasileiras. Em sua fala durante a conferência falou menos si e escolheu fazer um panorama da atuação de artistas indígenas no país entre nomes já consagrados e a juventude que traz a visão contemporânea de ser descendente dos povos originários desta terra através das próprias experiências. Boa parte dos nomes citados por Maria Pankararu compõe o livro “11.645: Indígenas e Diversidade para a Paz”, obra colaborativa que reúne textos e ilustrações sobre a cultura de várias etnias além de sugestões de atividades pedagógicas que respondem à Lei 11.645/2008 que altera as diretrizes básicas de educação nacional ao incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Indígena. O livro colaborativo faz parte do projeto “Indígenas e Diversidade para a Paz”, da ONG Thydewá, fundada em 2002, organização da qual Maria Pankararu é uma das colaboradoras. O livro está disponível para leitura online neste link.
Já Rita Santana em sua fala para a conferência escolheu trilhar o caminho do próprio fazer literário, retornando até a raiz, onde encontra na beleza da avó um vestígio Tupinambá, para em seguida atravessar tal descoberta com o tudo o mais que a Literatura e o mercado literário nos diz que devemos fazer e ainda mais, com as questões de ser também mulher preta, aposentada e separada, de ser acadêmica devotada a sua Alma Mater, de ser artista e reconhecer que não sendo artista, ela própria não existiria e que por isso precisaria continuar escrevendo, criando. Em sua investigação detalhada dos próprios veios, das próprias paixões, Rita nos conduz por fim até a sua festa de aniversário, citando o filme dinamarquês “A Festa de Babette” para lembrar a si mesma que entre tantas agonias, aventuras, desejos e desafios, ser artista também é saber celebrar-se.
Na plenária o principal questionamento reverberado pelos presentes foi sobre autoria dentro da universidade: como garantir que as vidas negras, afrodiaspóricas e indígenas existam dentro do mundo acadêmico sem a necessidade de mediação e sem fazer concessões? Como é possível assegurar a liberdade de quem a priori nem se encaixa no mundo acadêmico branco, mas “precisa” seja para criar alimento para políticas públicas brasileiras mais justas (na medida do possível), seja porque a academia ainda é esse lugar oficial de guardar memória ou por qualquer outra razão? Como encaixar uma bola num quadrado?
A mesa temática da tarde foi para mim a oportunidade de lembrar que é impossível dar uma resposta de um parágrafo ou mesmo de uma dissertação inteira para perguntas que vêm sendo forjadas ao longo dos séculos.
Ler e compreender a estrutura do racismo - e depois fazer o quê?
Na mesa "Racismo Religioso ou Intolerância?" estiveram presentes o Babalaô e Professor Doutor Carlos Alberto Ivanir dos Santos (UFRJ) e a Yalorixá e Professora Doutora Denise Maria Botelho (UFRPE). Na mediação a coordenadora do Kawé, Dra Valéria Amim (UESC). O professor Ivanir fez uma recapitulação histórica desde o século XV até os dias de hoje para evidenciar os pontos de influência das transformações religiosas e suas leituras filosóficas nas dinâmicas política, econômica e social na Europa e em seguida abordar como esse cenário alimenta o Brasil desde a colônia até a república, construindo o país racista no qual vivemos hoje.
A professora Denise, por sua vez, contextualiza o racismo no Brasil como um racismo de marca, definido não só por um fenótipo mas pelo conjunto de símbolos associados a esse fenótipo que definem um imaginário. Somado a isto, denota que a imposição da doutrina cristã pela colonização europeia e marginalização das práticas de matriz africana e indígenas não pode ser tratada apenas como intolerância religiosa posto que as práticas dos povos originários e dos que foram trazidos para cá à força representam muito mais do que uma religião, um dogma, tratam-se de um modo de vida, uma cultura, portanto. A negação dessas identidades culturais e espirituais é parte do racismo estrutural no qual vivemos e afeta todos os setores da vida além da liberdade de crença. “Ao lado dessa discussão religiosa existe uma discussão econômica”. Os modos africanos e indígenas de ver o mundo não apenas se contrapõem ao sistema vigente, mas representam de fato uma ameaça quando cultivam a vida em coletividade combatendo assim o individualismo que gera o lucro que é a definição básica do neoliberalismo, afinal, como disse a professora Denise, cada cura realizada por uma Yalorixá significa uma venda de remédio não realizada pela indústria farmacêutica.
Embora Denise e Ivanir apresentem divergências quanto a abordagem do nome "racismo religioso", ressaltem a interseccionalidade também como fator diferenciador de experiências e tenham dialogado por vias diferentes durante todo o tempo, os dois estão unidos na dissidência e juntos apresentaram o complexo painel do racismo no Brasil para apontar no final das contas o mesmo caminho: se desejamos liberdade real precisamos ler e compreender a estrutura e a trajetória histórica de violência e resistência que nos trouxe até aqui.
Mas para quem nós estamos falando?
Um dos últimos tópicos abordados nesta mesa mais uma vez se relaciona com a problemática dos limites e barreiras entre a universidade e o “mundo real”. A professora Denise lembra que no final do século XX e início do século XXI, quando o Brasil estava vivendo a ascensão do governo socialista com o presidente Lula, muitas esperanças em relação à mudança do nosso contexto social racista foram levantadas. Um exemplo é a alteração do Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) feita em 2003 e que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio, o que parecia ser a solução para ao menos iniciar a transformação do imaginário de crianças e adolescentes do Brasil. Mas assim como políticas públicas em qualquer outra área e a própria Constituição Federal, um texto escrito no papel serve pra quê se não houver fiscalização, acompanhamento e formação? “Serve pra enganar a gente”. A professora reconhece que ações como essa esmoreceram os movimentos de resistência. A estratégia do governo Lula de levar as lideranças desses movimentos para trabalhar na Esplanada dos Ministérios desmobilizou a luta de base nos municípios e estados. Quem continuou trabalhando nos bairros, nos centros urbanos, na zona rural foram os neopentecostais, “pregando que Exu é o diabo sim”. A professora pondera que é fácil falar que "o diabo é uma construção cristã" dentro de uma sala de aula na Universidade, para pessoas entraram na sala por vontade própria, que tem afinidade e interesse pelo assunto. Mas quem está falando com a classe trabalhadora, com as associações, com as periferias? “Não somos nós, acadêmicos, intelectuais que estamos falando para essas pessoas”. Uma prova recente do crescimento do neopentecostalismo foi vista no resultado das eleições municipais deste ano. Associada a pregação religiosa, a Teologia da Prosperidade que promete a ascensão social e assim coopta pessoas racializadas que não possuem poder aquisitivo ampliando ainda mais o poder neoliberal.
Após muitas idas e vindas e tantas reflexões sobre o que é racismo religioso e o que é intolerância religiosa, permaneceu no ar o enigma sobre quando e como a universidade vai se levantar da cadeira e dialogar diretamente com as pessoas que estão na base da sociedade sobre essas e outras questões que perpetuam injustiças, perseguições e violências perpetradas por quem detém o poder na lógica capitalista neoliberal e mantém firme racismo estrutural.
(continua)
2 notes
·
View notes
Text
5 notes
·
View notes
Text
Poesia para despertar revoluções possíveis
reportagem sobre a noite do Slam das Minas Bahia em 13 de julho de 2024 (Salvador, BA)
para a Theia Acesa
Ontem estive presente na batalha de poesias Slam das Minas Bahia. Foi a terceira edição e última classificatória para a batalha final de 2024. A vencedora deste ano seguirá para a competição no Slam Bahia, com a possibilidade de seguir para a disputa nacional. Em atividade desde 2017, a iniciativa que busca fortalecer o protagonismo de escritoras e poetas pretas da Bahia, realiza mais do que uma competição quando ocupa a cidade de Salvador amplificando vozes de suas periferias.
Esta edição do Slam fez parte da programação do 12º Julho das Pretas, articulação criada pelo Odara - Instituto da Mulher Negra para mobilização de uma agenda conjunta de ações em torno do Dia Internacional da Mulher Negra Afrolatina Americana e Caribenha, celebrado anualmente em 25 de julho. A agenda do Julho das Pretas deste ano conta atividades de mais de 250 organizações por todo Brasil, Argentina e Uruguai.
Essa foi minha primeira vez numa batalha de poesia depois de mais de 10 anos namorando pela internet diversos slams, vendo inclusive o nascimento do Slam das Minas BA e de outras competições da palavra falada. O Slam aconteceu na Casa do Benin, museu histórico situado no Pelourinho que guarda memórias das culturas afrodiaspóricas ancestrais e contemporâneas. Instrumentos musicais, tecidos estampados, peças de cerâmica, fotografias e outros itens compõem a exposição permanente. Destaco aqui uma peça com o mapa da República do Benin todo feito em tecido, com retalhos coloridos demarcando cada estado e seus respectivos nomes costurados com linha. Já entre as fotografias, estão duas que marcam a visita de Gilberto Gil ao país na década de 80.
Dialogar abertamente para evidenciar a estrutura racista que sustenta a "guerra às drogas"
Nesta edição a batalha foi precedida pela roda de conversa “Por uma política sobre drogas com redução de danos e reparação”, com participação de Lorena Pacheco (Odara Instituto da Mulher Negra), Belle Damasceno (Iniciativa Negra) e Laina Crisóstomo (Pretas por Salvador). O maior lembrete para esta conversa foi dito mais de uma vez: quando falamos de políticas sobre drogas, não estamos falando sobre as substâncias, mas sobre as pessoas. “Ninguém atira num saco de pó, ninguém atira em um beck”, como foi bem colocado por Belle. Ainda estamos na batalha para que a sociedade compreenda que falar sobre drogas não é falar sobre segurança mas sim sobre saúde pública, ainda mais quando tal “segurança pública” mata a população preta no Nordeste de Amaralina com a justificativa de uma suposta guerra às drogas enquanto o bairro branco da Pituba aparece nas estatísticas com alto índice de apreensão de uso/porte de entorpecentes e nem por isso vira um campo de batalha nessa tal guerra. A conversa também é oportuna, pois acontece logo após a notícia da decisão do STF pela descriminalização do porte pessoal de maconha em parâmetro de 40 gramas ou 6 pés da planta cannabis sativa, diferenciando o usuário de traficante. “Se para uma pessoa branca essa decisão é sobre o direito de fumar, para a população negra, é sobre o direito de viver”. E justamente porque é um assunto de vida e morte, todas as falas da roda afirmaram e demandaram das pessoas presentes um posicionamento coletivo sobre o assunto através do diálogo em todos os âmbitos e círculos da vida cotidiana. Sem contar o bom e óbvio lembrete da Laina Crisóstomo: ao falar de maconha “estamos falando da história da criminalização de uma planta”.
“Protagonismo, acolhimento e potência na rima” para além das batalhas
Uma vez fechada a roda organizamos os assentos para a batalha de poesia. O público do Slam é formado majoritariamente por mulheres da juventude negra da capital baiana, mas naquela noite um dos momentos mais emocionantes foi protagonizado pelas ainda mais jovens, as crianças. Nos momentos de microfone aberto nos intervalos da batalha, três delas apresentaram textos de nomes contemporâneos da poesia soteropolitana como Giovane Sobrevivente, abordando o racismo estrutural, misoginia e violências coloniais ao mesmo tempo que, em suas poesias autorais, as meninas ressaltaram as características singulares de beleza e força dos povos que criaram nesta terra raízes de resistência. Ao final do Slam conhecemos a mobilizadora que acompanhava as meninas junto com seus responsáveis. Gisele Soares, deusa do ébano do Ilê Ayê, apresentou o projeto “Omodê Agbara: Criança Empoderada”, em que trabalha pela construção identitária de meninas e meninos de Salvador através da dança afro.
“Protagonismo, acolhimento e potência na rima”, a frase de convergência para as poetas no palco também é a atmosfera que envolve o Slam das Minas. A condução da Mestra de Cerimônias Ludmila Singa, do início ao final, foi de incentivo, encorajamento e abertura para que as poetas na casa se abrissem pra jogar suas palavras no microfone. Uma informação interessante que ouvi foi sobre o desaparecimento de muitas slammers após o período de pandemia e que nesse sentido o Slam das Minas além de fomentar a chegada de novas poetas, busca chamar de volta aquelas que por quaisquer razões se afastaram ou desistiram da prática. Também foi pontuado por Ludmila a trajetória de “sucesso” de alguns slammers nos últimos anos. Xamã foi citado como um desses exemplos, poeta que ascendeu nas batalhas de poesia e que agora está atuando na Rede Globo. Vejo sucesso entre aspas pois, no caminho de prática anticapitalista que aprendemos enquanto vivemos na lida diária da Guilda Anansi, observamos as armadilhas de associar o dinheiro e a visibilidade nacional à ideia de êxito. Há de se ponderar o quanto ser bem sucedido nacionalmente nos distancia da nossa comunidade mesmo que “lá fora” estejamos falando por ela. A “globalização” permanece sendo uma grande armadilha quando se deseja subir ao topo e, indo no caminho contrário, ressalto que assim como todo mundo ali presente, eu vi o sucesso e êxito do trabalho de 7 anos do Slam das Minas quando a menina Dandara recitou seus poemas no microfone representando o futuro que já brinca aqui entre nós.
Confesso que me surpreendi com a quantidade de poetas que se apresentaram para a batalha da noite. Apenas Ane, Eva e La Isla se inscreveram, de forma que não houve uma disputa pelo pódio, apenas pelos lugares a serem ocupados. Nas três rodadas as poesias declamadas conhecemos a verve de cada poeta em palavras de combate ao verdadeiro inimigo, de acolhimento e cuidado entre mulheres, de saudação às raízes ancestrais. Ouvir poesia é raro e ali fiquei à vontade pra me deixar permear por cada fala.
Quando vou a Salvador sempre faço uma breve passagem pela praça Castro Alves e lembro o poeta basilar que inspira justamente por isso, por usar a própria voz e dizer em versos (ou não) o que lê do mundo ali, na Rua, lugar que a Bruxaria Mariposa me ensina a amar. E se essas mulheres me inspiram ainda mais é também porque elas vão mais fundo que Castro Alves pois são mulheres e porque não silenciam mesmo quando vemos lá do fundo do palco a luz piscante da viatura policial que se manteve parada à porta da Casa do Benin durante todo o evento. De forma que a competição, como também foi ressaltado por Ludmila Singa, figura como parte de um movimento que é revolucionário porque existe e permanece, se propondo a marcar o tempo.
Acredito que só uma coisa me fez falta durante a noite, e é essa falta que coloco aqui como reflexão e desejo concreto para o futuro do Slam das Minas. Ouvi sobre saúde, segurança, educação mas não ouvi falas que indicassem o autoreconhecimento dessa iniciativa como uma ação cultural em seu sentido fundamental de cultivo e movimento que pode ter um grande poder de decisão dentro das políticas culturais brasileiras que, desde o retorno do Ministério da Cultura, tem passado por um processo de estruturação inédito na história do país. Um dos aprendizados que estamos vivendo em Serra Grande, no município de Uruçuca, através da organização da sociedade civil pela implementação das políticas públicas culturais é justamente este. Quem movimenta a comunidade, ou as comunidades, em torno da cultura precisa se reconhecer como agente cultural para a partir daí exercer tal papel no território e vejo esta grande potência mobilizadora pelos direitos culturais nos slams. E se assim puder deixar como sugestão nesta reportagem, desejo ver o Slam das Minas BA circular por todos os municípios da Bahia, buscando mulheres poetas e amplificando vozes de diferentes realidades deste estado tão vasto geográfica e culturalmente. Vida longa ao Slam das Minas Bahia!
4 notes
·
View notes
Text
As faces de Rosa
Preciso começar dizendo que Rosa Rasuck é a artista visual de maior caminhada no tempo que já ouvi falar assim, tão de perto. O tempo importa pois é premissa na Guilda Anansi: quanto mais tempo de estrada, mais histórias para contar, e assim mais aprendizados são entregues aos olhos atentos. Foi assim com Rosa, e aquelas duas horas (que já saíram do tempo marcado), foram pequenas se comparadas à imensidão de sua experiência. Logo reconheço as manias de artista visual: o amor pelas linhas, fios, aglomerações, espaçamentos, cores, pelo peso das cores, dos traços, movimento, das milhões de matemáticas até o sentimento. Reconheço a rebeldia, o rompimento, quando conta que foi educada tradicionalmente em desenho mas em ação, fugia às expectativas limitantes criadoras de reprodutores em série. Rosa não exerceu as artes visuais como principal ponto de sua vida em tempo integral desde que a desabrochou em si. Foi tantas coisas, fez tantas coisas. Foi professora de inglês, escritora, articuladora cultural, produtora também, trabalhou com arquitetura, passou por muitos institutos fundantes em sua formação, parecerista em projetos artísticos e culturais, experimentou por todas as partes das artes, em tantas épocas, conhece com as mãos cada tempo, e não deixou de ser nada disso, assim entendi. Ensinou nesse dia que tudo, de uma oficina de dança à feitura de papel, é alimento a um artista visual. O que importa mesmo é não se limitar. Falando em papel, meu coração brilhou ao saber que tem intimidade profunda com esse processo de feitura e seus aparatos. Disse que a fibra do quiabo dá o papel mais lindo. Que papel é sobre o poder de transformação. Pelo que conta, imagino que sua casa não seja diferente do que meu quarto é. Tudo é reminiscência, rastro, processos, tentativas, resultados, todo papel é potente, tudo pode ser. A inevitável e constantíssima matéria que acompanha um artista plástico. São ‘Habitantes do Sono’ porque não me deixam dormir, ela disse quando perguntei sobre a motivação das obras expostas ali. Rosa é filha primogênita, irmã, escorpiana certeira, mãe e avó, para se dizer o mínimo, num mundo em que a dissidência se inicia em ser mulher. Está tudo ali nas figuras transgressoras de rostos alongados, indistintas em gênero, muito ambíguas, humanas e não humanas ao mesmo tempo. De qualquer forma, cheias de vida. Muito grata eu sou pela abertura inspiradora de sua parte, principalmente nessa semana de curso profundo até o Sarau Boca Acesa 0.22, onde exporei uma obra deveras importante em meu caminho. Pra lembrar de não deixar passar. A série “Habitantes do Sono” está no mural-galeria posicionado no salão de um agradável restaurante no centro de Serra Grande em exposição junto a outros artistas. Nossa conversa aconteceu no dia 29 de Junho, de 11h às 13h, e contou também com a presença de Izabella Valverde e Victor Diomondes, além de Eric Ra, fotógrafo e coordenador da galeria. imagem de izabella valverde, desenhos de rosa rasuck
5 notes
·
View notes
Text
andar em bando é bom, realizar faz diferença
01.07.2024 • comunicação da guilda anansi • escrita por amanda maia
Se nos perguntassem, talvez nos derramássemos em vontade de mútuo entendimento. Abrir a boca e expressar o coração é muito raro. Não há o que esperar. Sabemos que o estranhamento gera medo, há muita necessidade de proteção em um mundo que esfacela a autenticidade pra tornar mais audível a cantilena da docilização. Ninguém ganha nada por seriedade na Dissidência, principalmente quando a repetição mecanicista tornou tudo uma grande banalidade. O mal é matar o que é estranho antes que qualquer convergência possa florescer. E se acontecer? O que se mantém vicejando é a vontade de trabalhar. Sem enganos, ilusões ou deslumbramentos. Mantemos o compromisso com o aprendizado pois assim é a natureza das guildas espalhadas pelo Tempo. Bebemos do cálice do dissenso. Abraçamos o discernimento como princípio. Enxergamos beleza no Movimento. Precisamos da solidariedade silenciosa de cada dia. Carne, osso, sobrevivência, supravivência. Somos como somos porque assim resultamos de todas as aventuras, feitos, trocas, encontros que vivemos. Ouvimos a Terra, as Antigas, o Mundo. Escolhas fundam olhares. Olhares fundam experiências. Assim sendo, não somos mais as mesmas pessoas que aportaram no sul da bahia dos mistérios desde que a Travessia começou. A Encruza é sempre passagem. Essa á graça do caminho. Andar em bando é bom. Realizar faz diferença. É possível fazer pra aprender, não pra mostrar. Tem que ter coragem pra firmar. Nossas ações são incansáveis. Olhos, efeitos, legados, mudanças, crescimentos. Tudo é verificável, visível, perceptível. Você saberia compreender o que nos move? Se e quando houver o fim do medo de perguntar, haverá também a possibilidade do fim de preconceitos colonizadores que geram horrorosos pressupostos e apenas dividem, segregam, apartam quem deveria se saber irmanado tanto pela violência quanto pela urgência da Revolução. E se celebrássemos juntos tanto as batalhas quanto as mandingas?
Quem se gradua nesse país, em qualquer bom mocismo que seja, precisa saber sobre os riscos de endossar fontes imundas de conhecimento contaminado pela agenda adoecedora do sistema vigente. O quão neon é o seu racismo? Se tudo o que se arrota é citação desencantada ou apelo midiático pautado por agendas obscurantistas, eurocentradas, mercadológicas, patricapitalistas, é preciso lavar a boca, o mais breve que se der conta. Esse romantismo pode nos matar. Olhos despertos ousam tentar. É como nos diz o Fio. } 01.07.2024 • comunicação da guilda anansi • artistas multilinguagem incandescendo o mundo • agência antipatricapitalista de resistência cultural comunitária • escrita por amanda maia • lunação de câncer • inverno cardeal • ano da vassoura • serra grande • uruçuca • bahia dos mistérios • exu sabe mais • só a ação salva
9 notes
·
View notes
Text
algo sobre guilda:
existe o tempo de aprender e o tempo de ensinar. esse tempo dança, não é linear, muda de lugar, tem cruzamentos mil, mas sempre existe o tempo de aprender e o tempo de ensinar - taí um par de quadrilha junina massa, @djinfurtacor :D
7 notes
·
View notes
Text
Brisa Impressão
Relato e reverbero de Victor Diomondes sobre roda de conversa com a artista visual mineira Rosa Rasuck
Estive junto de Larissa Soledade e Izabella Valverde, integrantes da Guilda Anansi, em roda de conversa com apresentação de trabalhos e processos da artista visual Rosa Rasuck, realizada no Restaurante Serra Gourmet na manhã desse sábado, dia 29 de Junho de 2024.
A artista mineira trouxe uma profusão de obras, completas e esboços, junto a falas maravilhosas de sua história e sensibilidade. Mostraram a mim uma existência poética cuja tragetória foi permeada por questões da cultura e sua diversidade, pela educação com arte, pelas alteridades, enquanto busca entre diversos desafios se manter criando através da materialidade de pápeis, linhas, cores e sonhos.
Acho que pelos diversos lugares onde caminhou e caminha, seja como produtora teatral, parecerista de projetos artísticos, agente cultural, orientadora, Rosa Rasuck nunca deixou de mexer com a plasticidade da realidade que a cerca. As linhas ágeis, suaves e cheias de movimento não fecham os rostos e cabeças que desenha e pinta. As deixa abertas como uma brisa, impressão deixada em mim também pela forma como se comunica e age.
Foi uma manhã muito prazerosa pra gente. As rodas de conversa vão repousar sobre os trabalhos e diálogos com outros artistas visuais pelos próximos sábados até 20 de Junho, tendo como propósito promover o encontro de realizadores do setor presentes em Serra Grande. Que os caminhos se abram nessas brisas e os diálogos sejam fecundos.
•
Registro audiovisual de Izabella Valverde
Desenhos e pinturas nas imagens por Rosa Rasuck
2 notes
·
View notes
Text
Relatório: Caso de fraude na execução da LPG em Ilhéus
relatório de Arthur Marcus sobre caso fraudulento na cultura de Ilhéus
Entre o final de Maio e Início de Junho, a página do Instagram chamada Atracult, que se propõe a divulgar e fomentar notícias e informações sobre as realidades da cultura e dos esportes em Ilhéus fez uma cobertura sobre o caso do atraso de verbas e prazos e omissão de informações durante o período em que deveria estar acontecendo a execução da Lei Paulo Gustavo, lei emergencial de fomento à cultura, em Ilhéus.
Os editais da LPG foram abertos em Novembro de 2023 e desde Fevereiro de 2024 que artistas de Ilhéus vem indagando e questionando a Secult de Ilhéus à respeito de adiamentos de prazos de seleção e liberação de recursos de alguns dos editais previstos na Lei. Após um tempo de indagação sem respostas, surge o anúncio de cancelamento de 16 projetos.
Acontece que houve uma tentativa organizada de golpe e apropriação do recurso por parte de um família e agregados, que utilizaram projetos laranja que foram aprovados internamente pela Secult Ilhéus, utilizando projetos exatamente iguais e fraude nos critérios heteroidentificação racial para apropriação de cotas, além dos avaliadores desqualificados e desconhecidos que aprovaram os projetos.
Se formou então uma comissão avaliadora com integrantes do poder público e sociedade civil para desqualificar os 16 projetos fraudulentos.
Segue abaixo uma clipagem das notícias cobertas pela Atracult, me atendo aos dados objetivos sobre o caso, descartando repetições e redundâncias.
INSTAGRAM ATRACULT • 29.05.2024
Prefeitura de Ilhéus descumpre novamente o cronograma da LPG.
(...)
Artistas e produtores culturais contemplados na Lei Paulo Gustavo ainda aguardam o repasse dos valores por parte da Prefeitura de Ilhéus. Mesmo mexendo no cronograma para alterar a data dos pagamentos, o governo municipal não conseguiu cumpri-lo e os projetos estão parados. A classe artística de Ilhéus cobra por informações a respeito da seleção e pelo fim de atrasos de prazos. Muitos artistas que propuseram projetos relacionados aos festejos juninos, acompanham assustados a falta de informação, e com isso a comunidade em geral é privada do acesso à cultura e entretenimento de qualidade, que são essenciais para o bem-estar e a identidade cultural de nossa sociedade.
(...)
O último episódio foi a eliminação de alguns projetos que estavam habilitados, demonstrando mais uma vez que a cultura na cidade não é levada a sério, e posso provar com fatos: primeiro divulgam nomes de avaliadores que nem sequer foram convidados e consultados, segundo divulgam uma lista de habilitados sem que tais projetos passem por uma banca examinadora que detenha notório saber e competência para avaliar, e por fim com a alteração da data da prestação de contas do MinC @minc esse edital se tornou moeda de troca politica, e há boatos que andam pesquisando inclusive o direcionamento politico dos proponentes.
(...)
INSTAGRAM ATRACULT • 31.05.2024
SECULT e Comissão da Lei Paulo Gustavo em Ilhéus omitem informações do processo seletivo e ameaçam cancelar edital com verba carimbada
(...)
O edital foi aberto em 10 de novembro de 2023, em 26 de janeiro de 2024, foi divulgado cronograma de execução, no Diário Oficial Eletrônico do Poder Executivo do Município de nº 005, mas até o momento os proponentes seguem sem resposta definitiva, mesmo após alguns habilitados apresentarem documentos comprobatórios e assinarem recibo de pagamento, no caso das premiações.
Desde o inicio do processo seletivo nenhum prazo foi cumprido, os resultados preliminares do Edital 03/2023, que concentra a maior fatia do recurso e se refere a projetos de audiovisual, foram divulgados em 28 de fevereiro, em total discordância com as diretrizes estaduais e federais que regem as normativas do processo por meio da Lei Complementar nº 195/2022, ou seja, na publicação não constava nome do projeto e nem a nota final por proponente. Levando em consideração que o barema é bastante claro quanto aos critérios de seleção, seria o natural a divulgação dessas informações.
A omissão impossibilitou, inclusive, a possibilidade de candidatos que se sentiram prejudicados com os resultados de elaborar um recurso justo. “Como reclamar se não existe classificação e transparência?”, indaga proponente que prefere não ter o nome divulgado por receio de retaliação. Vale lembrar, que todas as normativas de transparência foram acordadas e criadas por meio do engajamento da sociedade, assegurando as medidas de democratização, inclusive sobre acesso as informações.
Outra denúncia bastante relevante apontada pelo coletivo de fazedores de cultura do município, ouvido para esta matéria, se refere também ao resultado do Edital 03/2023, e diz respeito aos habilitados. Desde a publicação é questionado que os proponentes selecionados não fazem parte da cadeira produtiva do audiovisual do município de Ilhéus e são totais desconhecidos. O coletivo ainda aponta indícios graves em 15 projetos habilitados, seja por relação familiar e ou com vínculos empregatícios. Esses projetos juntos somam um montante de mais de R$ 585 mil, o que representa uma fatia de mais de 40% de todos os recursos destinados para Ilhéus. Após as insistentes investidas, foi publicado ofício que afasta a suposta tentativa de conluio para fraude de dinheiro público, mas para surpresa de muitos logo após todo o processo é cancelado.
(...)
INSTAGRAM ATRACULT • 01.06.2024
Fazedores de cultura de Ilhéus denunciam tentativa de fraude na seleção do edital da Lei Paulo Gustavo.
(...)
Segundo, que houveram algumas inconsistências que sugerem fraude na seleção de habilitados da Lei Paulo Gustavo. A questão é que Bárbara Barreto(de rosa na foto), aprovada em primeiro lugar no média metragem através das cotas para negros, não cumpre os critérios de heteroidentificação da cartilha da UFSB e também é esposa de Sérgio Rogério, de camisa preta na foto, que está vinculado há alguns projetos de sua família que foram coincidentemente habilitados na seleção; ambos são também pais de Sol Luan (habilitado em sexto lugar em curta metragem) e Kauê (habilitado em terceiro lugar em web série). Ah, Sérgio Rogério, ex candidato a vereador, apoiador de Bolsonaro, também é tio de Bruna Santana Campos (habilitada em primeiro lugar em curta metragem), que é filha de Ana Cristina Santana (habilitada em primeiro lugar em cineclubes). Ops, ainda tem Gildete Souza que também irmã de Sérgio Rogério e está habilitada em primeiro lugar na categoria cinema intinerante.
O de camisa rosa é Cesar Dias, amigo de Sérgio Rogério. Aliás, César que está habilitado em primeiro lugar no média metragem apresentou projeto de mesmo nome de Sérgio Rogério na LPG Bahia.
E não para por aí. Na lista de habilitados ainda tem mais parentes, amigos e agregados!
(...)
Algo que é estranho também é que a maioria dos números de protocolos da família e agregados está entre os primeiros, como se a seleção tivesse sido aberta primeiro para eles. Assim, relataram os fazedores de cultura indignados com a situação. Estes também estão denunciando e esperam uma investigação sobre o caso. Afinal, Ilhéus precisa se libertar das teias do modo coronelista de se fazer política na cidade.
(...)
INSTAGRAM ATRACULT • 02.06.2024
Atenção! Baseado em denúncias dos fazedores de cultura e em investigações baseadas em documentos oficiais do município, apontaremos os nomes das pessoas responsáveis por possível fraudamento da seleção do edital da Lei Paulo Gustavo quando habilitaram pessoas de uma mesma família e agregados que não cumpriam os pré-requisitos para estarem classificados na seleção.
Acima temos a página do Diário oficial que apontam os senhores Marcos Antônio Lessa dos Santos, Rogério Levy Pereira Silva, Gerson Dias Alves, Reinaldo Soares dos Santos e Davison Leandro Souza Santos como as pessoas da parte do governo responsáveis por selecionar os candidatos que não tinham condições de estarem habilitados.
Enquanto isso, os representantes da sociedade civil que saíram no Diário oficial como o senhor Fernando José Reis de Oliveira e Antônio Norberto de Oliveira Xavier, alegam que apesar de citados em documento oficial não participaram do processo de seleção. Não receberam nenhum documento oficial da prefeitura nesse sentido. Não lhe entregaram também informações sobre o barema de avaliação. Não houve nenhuma reunião. Colocaram os nomes na lista, mas eles não foram convidados.
Antônio Xavier, disse ainda, que se estão utilizando o seu nome e o de Fernando em documento oficial, isso não é verdade.
(...)
INSTAGRAM ATRACULT • 03.06.2024
Nota de Esclarecimento da Comissão de Revisão da Lei Paulo Gustavo em Ilhéus.
A comissão de revisão da Lei Paulo Gustavo 2023 da cidade de Ilhéus, composta pelos seguintes membros: governo - Geraldo Magela Ribeiro; e Carlos José da Silva Morais; sociedade civil - Marcelle Paula Almeida Santos; Marta de Melo Lisboa; e Sérgio Setúbal Peixoto.
(...)
O maior desafio da comissão de revisão da Lei Paulo Gustavo no município de Ilhéus foi justamente avaliar o grande volume de recursos os quais indicavam uma avaliação precária realizada pela comissão de avaliação, em que constatamos, inicialmente, a falta do barema com as notas de cada projeto cultural; o descumprimento dos proponentes habilitados de pré requisitos fundamentais para a classificação, tais como: a não compatibilidade da ficha técnica com as atividades desenvolvidas pelo corpo técnico e artístico, apontadas nos currículos dos profissionais relacionados aos projetos aprovados; a não comprovação da trajetória artística e cultural dos proponentes e da equipe técnica apresentados conforme solicitava o edital; os proponentes que concorreram às vagas reservadas às pessoas negras não se encaixam nos critérios da heteroidentificação, conforme a cartilha da UFSB; diversos projetos com estrutura que se configura plágio; a falta de expertise dos proponentes para a execução dos projetos habilitados; vários proponentes de mesmo grupo familiar a falta de apresentação e comprovação de currículos enviados com os respectivos projetos
Diante desses fatos, a comissão revisora avaliou, de maneira criteriosa e ética, os recursos individuais, e um coletivo que solicitou, especificamente, a reanálise dos projetos habilitados para o edital 03, após a avaliação da comissão avaliadora, conforme publicado no diário oficial, essa comissão desclassificou 16 projetos habilitados pela comissão de avaliação, demonstrando total comprometimento com os fazedores de cultura e a sociedade civil.
(...)
fontes: @atracult; @shayraluizaoficial; @secult.ilheus; @professor_marcelo_da_atraduc
5 notes
·
View notes
Text
Levantar, sorrir, acreditar na mística que se desprende dos atos de micropolítica que escolhemos movimentar.
É preciso ocupar-se de ser quem se é. Traçar a lida nos fios da Coragem. Cultivar o prazer no equilíbrio de todo dia.
Rumar. Rumar nos interessa mais.
• Mariane Lobo, no empenho da Guilda Anansi em montagem de mais uma edição da Feira Comunitária Saberes & Sabores, na rua do Bairro Novo, em Serra Grande, Uruçuca, sul da Bahia dos Mistérios • 22.04.2024 gibosa em libra ano da vassoura • escrito por Amanda Maia fotografia de Izabella Valverde
#Feira#Feira Comunitária#Comunidade é tudo de bom#Feira Saberes & Sabores#Serra Grande#Uruçuca#Bahia#Economia Solidária#Bem Viver#Comunidade#Associativismo
3 notes
·
View notes
Text
Mal podemos esperar por esse feito. Há muito o que derramar nessas paginas de maré, seja em tempestade, seja em céu pra singrar.
a Penseira (até agora)
8 notes
·
View notes
Text
Por que uma guilda de artistas resolve dançar com a dimensão partidária?
06.05.2024 • carta-manifesto da guilda anansi
Se a Revolução nasce dos pequenos gestos, é preciso assumir-se a tal flor que brota do asfalto. Encher o peito entre os tempos, depois das calmarias, para além dos cinismos e das covardias, inventando o próprio presente com o coração batendo asas rumo ao futuro que irrompe da esperança vertida em ação.
Pouco a pouco, e sempre mais, reconhecemos o intrinsecamente mutável tabuleiro das tensões entre os acordos comuns de realidade. Despertamos para assim jogar no solo da disputa de imaginários e cultivar o Bem Viver.
Dia a dia, aprendemos a navegar pelas perigosas águas das pulsões de um lugar em que o permanente é a disputa de narrativas. Rua é mar. Mar é mundo. Mundo é rua.
Se o palco dessa guerra é a Linguagem, enxergamos as fendas sagradas em meio a um sistema embrutecedor, buscando as rasuras e frestas pra mirar e acertar no horizonte das primaveras. Tilintamos nossos cálices em festa de sorriso largo a cada frente da mais árdua luta. Somos da sabedoria dos botecos, das sarjetas, das dissidências, dos cruzos, dos silêncios que gritam em cada esquina esquecida pelos poderes dinheiristas.
Sabemo-nos território-encruzilhada, filhotes da caboclagem, corpos preenchidos da mandinga antiga que corre no mapa de nossas veias. Despertamos da memória de nossas Antigas. Reencantamos as porções perdidas que nos negaram em nome da fétida escravidão maquinicista. Somos a antinomia da dependência tecnológica. Somos a magia que exala no Agora.
O que o Desejo é capaz de fazer brotar além dos muros de asfalto que se estendem devastando a Vida sob nossos pés? No vai e vem do Movimento, a pergunta arde e provoca, inflama e instila, combustível e alimento, tinta indelével pra marcar o Sim e riscar o Não. Somos multiplicidades variantes de imprevisíveis possibilidades. Somos jorro de caos nas tempestades. Compreendemo-nos assim nas sutis forças da coletividade.
Exu nos sabe. Das mais improváveis flores nascem os mais deliciosamente perigosos frutos. É preciso revirar o complexo da diversão até reunir as forças sinceras pra mover a Vontade. Daí, agir. Agir com coragem, audácia, determinação, resiliência, solidariedade, destemor. Só a ação salva. O poder é exatamente esse. Dançar.
} 06.05.2024 �� carta-manifesto da guilda anansi • artistas multilinguagem incandescendo o mundo • agência antipatricapitalista de resistência cultural comunitária • escrita por amanda maia • lunação de gêmeos • outono cardeal • ano da vassoura • serra grande • uruçuca • bahia dos mistérios • exu sabe mais • só a ação salva
3 notes
·
View notes