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Trinity Blood - Arquivo BR
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Projeto dedicado a tradução da Novel de Trinity Blood 🇧🇷 Soberania é inegociável!
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trinitybloodbr · 2 days ago
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R.A.M. II
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Trinity Blood - Rage Against the Moons Volume II - Silent Noise ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Os Personagens em Trinity Blood R.A.M. II
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Capítulos de R.A.M. Volume II:
Capítulo um: NEVER LAND (A Terra do Nunca)
Capítulo dois: SILENT NOISE (Ruído Silencioso)
Capítulo três: OVERCOUNT (Contagem Excedente)
Capítulo quatro: Trinity Blood Gaiden ー SLING BLADE
Posfácio
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Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
NOTAS DA TRADUÇÂO:
Olá, pessoal! Lutie, aqui!!
Em um surto consegui editar as imagens, tanto de R.O.M. II, que fiquei devendo, quantos a do volume atual. Então, em vez de férias, vou postar o volume normalmente.
Sempre penso em colocar algumas coisas a mais aqui, mas sempre acabo me esquecendo... minha memória nunca foi lá essas coisas, mas agora está um pouco pior >.<
Conto com vocês para me acompanharem!!
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trinitybloodbr · 23 days ago
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POSFÁCIO R.O.M. II
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Essas são as notas finais do Volume II de R.O.M. escritas pelo autor Sunao Yoshida na época da publicação da novel.
POSFÁCIO
Após três meses, permitam-me cumprimentá-los novamente. Yoshida aqui.
O ‘projeto sudden death da vida’, Trinity Blood, chegou aqui à publicação segura de R.O.M. II.
‘Se a enquete da série não ficar entre os três primeiros, será cancelada’;
‘Se R.O.M. I não vender, será cancelado’;
‘Se R.A.M. não vender, será cancelado também~’ — apesar dessas notificações do editor responsável, que parecem quase um hobby, desta vez também conseguimos sobreviver de alguma forma.
Isso é unicamente graças ao apoio de todos vocês. Muito obrigado.
Originalmente, aqui eu queria escrever interminavelmente, por cerca de dez páginas, palavras ardentes de gratidão, mas, por causa da limitação de páginas, é um pouco impossível.
Quanto às nove páginas omitidas, ficarei feliz se puderem suprir com a imaginação de vocês (risos).
Além disso, desta vez também ultrapassei o prazo em dez dias, e como resultado, dentro de um cronograma que se tornou bastante rigoroso, para manter a qualidade, que se esforçaram ao máximo: meu parceiro, Sr. Shibamoto, o editor responsável, e todos da equipe de impressão e design — minha profunda gratidão a vocês também. Sempre me desculpem.
Então, na próxima vez, nos encontramos em R.A.M. II... se possível, ficarei feliz (risos).
Com respeito,
Yoshida Sunao
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Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Olá, pessoal! Lutie, novamente aqui.
E chegamos ao fim de mais um volume. Quem diria, não?
O próximo volume será R.A.M. II e estou pensando seriamente em fazer uma pequena pausa nesse mês de agosto, mas qualquer coisa aviso com antencedência.
Gostaria de trazer mais algumas coisas sobre TB aqui, mas estou com dificuldades (como sempre) de manter a programação em dia.
Obrigado quem acompanhou até aqui e até a próxima!
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trinitybloodbr · 24 days ago
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Epílogo: A Emissária ao Império
──Ó portas, gritai em agonia.
Ó cidade, clama por socorro.
Que o povo inteiro trema.
Pois há alguém vindo do norte, levantando nuvens de poeira.
(Isaías, capítulo 14, versículo 31 – Versão Japonesa)
Quando terminaram de acertar os detalhes da rota de entrada do emissário na capital imperial Bizâncio, o sol já havia se posto além do deserto.
Caterina deu uma leve tosse e, então, abriu a janela para o garoto deitado na cama. O ar do lado de fora ainda trazia consigo um pouco da poeira do deserto, mas mesmo assim, a brisa carregava o cheiro refrescante do Mediterrâneo.
— Mas, de acordo com o relatório dos meus subordinados, fico aliviada em ver que o estado de saúde do Conde está melhor do que eu imaginava.
— Graças aos primeiros socorros do Padre Tres.
Com a mão enfaixada, Ion apontou para o homem de óculos espelhados que permanecia de pé num canto do quarto, e sorriu.
— A luz solar direta é fatal para nós. Sem a intervenção dele, essas queimaduras não teriam sido tão leves... A propósito, Cardeal Sforza...
Sob as bandagens que lhe cobriam o rosto, percebeu-se uma mudança de expressão.
— E depois disso... Radu? Encontraram o corpo dele?
— Continuamos a busca, mas até agora... talvez tenha sido levado pela corrente.
Franzindo as finas sobrancelhas, Caterina balançou a cabeça.
Não, não era por compaixão a Ion. O Barão de Luxor, Radu Barvon, era considerado o responsável direto pelo descontrole da arma de Lost Technology em Cartago — a ativação de “Iblis”. E não somente isso. Apesar de ser um nobre do Império, havia suspeitas de que ele fosse membro de um grupo terrorista. Um grupo internacional que, há anos, vinha sendo perseguido por Caterina e a Seção Especial de Operações — embora, até hoje, nunca tivessem sido detectados atuando dentro do Império. E se, além da sociedade humana, eles também tivessem fincado raízes na dos vampiros──
— Continuaremos com a busca pelo corpo através das autoridades de Cartago. Pode ficar tranquilo.
— Agradeço a cooperação... Assim que voltar ao meu país, também pretendo investigar essa tal 'Ordem dos Cavaleiros' de que você falou.
— Quanto aos preparativos para o retorno do Conde ao seu país devem estar concluídos dentro de uma semana. Quanto à viagem até o território principal do imperial, com certeza, nós mesmos iremos escoltá-lo com segurança, portanto, não se preocupe.
Enquanto apertava de volta a pequena mão estendida a ela, Caterina compôs um sorriso tranquilizador. Mas, ao soltá-la, seu rosto assumiu por um instante uma expressão de quem acabara de se lembrar de algo.
— A propósito, quanto à emissária que enviaremos ao Império... tem certeza de que está tudo bem? Que seja ela?
— .........
Ion respondeu à pergunta com um sorriso satisfeito. Seus olhos estavam voltados para o pátio interno, já tomado pela escuridão.
O pátio estava repleto de gente. Aos cidadãos que haviam perdido suas casas na tempestade de areia, Caterina havia aberto a embaixada como abrigo. Em meio as pessoas que se movimentavam entre as tendas, Ion lançou um olhar caloroso à freira ruiva que carregava cobertores de distribuição ao lado de um padre alto.
— Se não for ela, não terá serventia.
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— Essas pessoas vão ficar bem... daqui pra frente?
Ao ver os refugiados que lotavam o pátio interno, o padre de óculos redondos soltou um suspiro. Seu olhar, voltado para uma idosa encolhida sem forças sobre o chão de pedra, refletia uma preocupação profunda, como se fosse algo a respeito dele mesmo.
— Imagino que seja difícil. Mas eu acredito que vai ficar tudo bem.
Quem respondeu com firmeza foi a freira ruiva que caminhava ao lado dele. Mesmo carregando uma manta nos braços, seus passos mantinham um ritmo firme, e seus olhos azul-dourados lançavam às pessoas um olhar gentil, mas com um intenso brilho.
— Acredito que perder a casa e os bens deve ter sido muito doloroso. Mas essas pessoas conseguiram não perder o que há de mais importante. Enquanto tiverem isso, poderão recomeçar quantas vezes forem necessárias.
À frente do olhar de Esther, a senhora idosa, encolhida no chão, acabava de receber uma tigela de mingau ralo trazida com passos cautelosos por um menino e uma menina ainda muito novos. Provavelmente seriam seus netos. A velhinha, ao receber a tigela, agradeceu com alegria e começou a sorver o mingau com sua boca desdentada.
— Família, amigos, companheiros... Se alguém estiver ao seu lado, de alguma maneira, conseguimos suportar até os momentos mais difíceis. E ainda mais, se essa pessoa se preocupa verdadeiramente conosco.
Esther observava com um brilho nos olhos a senhora idosa que levava à boca com gosto sua refeição simples junto de seus netos.
— Quando há alguém ao seu lado que se preocupa com você, as pessoas conseguem se tornar surpreendentemente fortes... De fato, foi assim comigo.
— ...Me sinto envergonhado.
Com um ar fingido, o padre passou os dedos pela franja enquanto fungava com o nariz. Esther o fitou de baixo para cima, com uma expressão curiosa.
— Por que o senhor Padre está envergonhado?
— Bem, você também tem alguém assim por perto, não é, Esther-san? Alguém que se preocupa com você.
Diante de tamanha tolice presunçosa, Esther escolheu não retrucar.
— De fato, tem alguém assim perto de mim também... Sim, como Sua Eminência Sforza, por exemplo.
— Quero dizer, não tem mais alguém? Veja bem, alguém ainda mais próximo.
Diante dos olhos do padre, que pareciam querer dizer algo, a freira apenas respondeu com uma expressão confusa.
— Irmã Kate? Ah, sim, estou sempre recebendo a ajuda dela, de verdade.
— Não, pense bem, por favor? Alguém mais próximo, mais confiável... olha, não está esquecendo?
Enquanto Abel contraia os lábios, inquieto, a freira juntou as mãos com uma seriedade fingida.
— Ah! O Padre Tres é realmente uma pessoa maravilhosa, não é...? O que está fazendo, Padre?
O padre, encolhido sobre o chão de pedra, começou a desenhar círculos (em forma de の(no)) enquanto murmurava com uma voz sombria:
— Ó Senhor, minha vida não teve nada de bom. Minha superior me explora, minha carteira está sempre vazia, e meus colegas vivem me maltratando...
Esther lançou um suspiro exageradamente dramático enquanto observava de cima para baixo aquelas costas, envolta em melancolia. Contudo, seus lábios tremiam levemente, enquanto lutava com todas as forças para não explodir em risos.
Sim, por mais abatido que esteja, por mais que desespere diante de seus pecados, o ser humano ainda pode recomeçar a caminhar. Enquanto houver alguém que o observe, com certeza ele poderá seguir em frente ──
 — Vamos lá, vamos lá, não fique aí emburrado como uma criança. Se o senhor Padre me mostrar que está mesmo trabalhando direitinho, talvez... só talvez, eu até mude de ideia.
Esther colocou um cobertor sobre a cabeça do padre, que murmurava enquanto ainda rabiscava círculos no chão, e deu uma risada travessa.
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Assim que o manto da noite caiu, luzes cálidas começaram a surgir pela antiga cidade (Medina).
As marcas do pânico de três dias atrás ainda permaneciam — tanto nas construções quanto nas pessoas. Mas os seres humanos são criaturas surpreendentemente resilientes. Mesmo esse desastre terrível, ainda tão vívido, não levará muitos meses para afundar no fundo das memórias e histórias antigas.
— Capitão, o carregamento especial já foi embarcado?
Como uma criança que se cansou de um brinquedo e o abandonou, o jovem afastou os olhos dos binóculos, que mantinha voltados para as luzes cintilantes da cidade ao longe, do outro lado do cais. Seu rosto pálido e belo, que fazia lembrar um anjo, voltou-se para o homem de meia-idade ao seu lado.
— O cronograma está apertado. Se pudermos zarpar antes do previsto, melhor ainda, não acha?
— Terminamos há exatos cento e trinta segundos, Comandante.
Batendo os calcanhares das botas militares com uma precisão tipicamente marcial, o homem de meia-idade prestou uma reverência cerimoniosa.
— Assim que recebermos a ordem, esta embarcação poderá zarpar a qualquer momento.
— Muito bem. Então, acho que já está na hora de nos retirarmos.
— Jawohl! (Às ordens!)
O homem de meia-idade, que voltou a prestar continência, pegou o microfone à sua frente e, com um gesto habitual, acionou o interruptor.
— Aqui é o Capitão. A partir deste momento, esta nave partirá. Todos aos seus postos!
De repente, o ambiente ao redor se tornou agitado.
O casco estreito da embarcação, que fazia lembrar um tubarão devorador de homens afundado no mar noturno ── de sua torre de comando, que se erguia como uma barbatana dorsal, partiu o som agudo e incômodo de um sino. Os canhões antiaéreos foram recolhidos sob o convés, enquanto as válvulas de exaustão e as entradas de ar se fechavam com um estalido. Assim que o som grave do motor a diesel cessou, o motor elétrico de duplo fluxo começou a zumbir, como o bater de asas de um inseto.
Enquanto inúmeros comandos e relatórios se cruzavam, o segundo oficial gritou do centro de comando da nave, olhando para a torre de comando.
— Todos os instrumentos operando normalmente. Despressurização finalizada — Capitão, Sea-Wolf, pronto para zarpar!
— Entendido... Tenente-coronel, Comandante Lohengrin, por favor, embarque. Esta embarcação mergulhará agora até a profundidade trinta. Em seguida, deixaremos as águas territoriais de Cartago em segunda velocidade de combate.
— Entendi... Ah, é verdade. A propósito, Capitão — trate aquela carga especial com todo o cuidado, sim?
Enquanto o jovem atravessava a escotilha do posto de comando, um brilho travesso reluziu em seus olhos marrom avermelhados cor de cobre.
— Precisamos que ele tenha uma atuação de destaque na próxima operação também, não é?
Como que a fim de abafar a voz que soltava uma risada contida, o som das ondas batendo contra o casco do navio aumentou repentinamente. O casco de aço havia começado a expelir o ar comprimido que servia como sua força de flutuação.
O " Sea-Wolf " (Lobo do Mar) — o veloz submarino (U-Boot), orgulho da Marinha do Reino Germânico — fez ecoar o agudo som de sua turbina e, com ele, começou a traçar sua trilha sinistra rumo às profundezas sombrias do oceano.
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Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
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trinitybloodbr · 26 days ago
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
O objeto em forma de cone lançado pelo invasor atingiu em cheio o peito do autômato de caça que se agarrava ao flanco de Abel. Sem diminuir a velocidade, seguiu em linha reta como se o estivesse erguendo, e colidiu contra a parede. No instante seguinte, explodiu com um estrondo ensurdecedor.
Mesmo sendo vampiros, ainda possuem pontos fracos. O tronco encefálico, as vértebras cervicais, o coração — todos igualmente. E se todos fossem destruídos de uma só vez, não haveria chance alguma de ressurreição.
As duas criaturas restantes também já haviam saltado para longe do padre naquele instante. Mesmo não possuindo inteligência, pareciam entender que o companheiro havia sido abatido num instante. Mantendo a distância, avaliavam o alcance, em alerta.
No entanto, Abel não estava em condições de prestar atenção àquelas sujeitos.
— Esther... san?
Sem sequer limpar o sangue que escorria de sua batina, o padre moveu os lábios, atônito.
Diante dele estava uma pequena freira que ele conhecia muito bem. As vestes branca e azul pareciam estranhamente belas em uma escuridão como aquela. Contudo, o que ela segurava nas mãos era um Panzerfaust — um tubo lançador de foguetes antitanque descartável — que ainda soltava fumaça.
— O senhor está bem, Padre?
Ao jogar fora o Panzerfaust usado, Esther correu até o padre que ainda estava caído. Em seu rosto, ao se inclinar sobre Abel, havia uma expressão de preocupação.
— Está ferido? Consegue se levantar?
— A-ah, sim, acho que sim...
— Que bom...
Ao ver Abel se levantar cambaleando, Esther relaxou a expressão, como se aliviada. Mas foi apenas por um instante. Forçando os lábios que haviam começado a relaxar a se fecharem com firmeza, a garota encarou o rosto dele, que estava quase duas cabeças acima do seu.
— Mais importante, Padre, o que exatamente está fazendo?!
— Si... Sim?!
— Não me venha com “Sim?!”!
Esther, com as mãos na cintura, olhava para Abel, que, por reflexo, assumira uma postura rígida e imóvel.
— Já terminou o seu trabalho? Pelo que percebi parece que tem bastante tempo livre, já que estava se divertindo com aqueles caras.
— N-não, na verdade... ainda não...
— Sabia... Francamente. Se tirar os olhos por um instante, imediatamente olha só no que dá.
— M-me desculpe.
— Dispenso. Não precisa se desculpar toda hora.
Esther ergueu o dedo diante dos olhos de Abel e, com uma expressão como se estivesse irritada, ordenou:
— Antes de mais nada, vamos acabar logo com o trabalho. Eu também vou ajudar, então.
— S-sim. Ah, mas...
— “Mas...”? O que é esse “mas”?
Será que isso estava certo?
Alguém como ele poderia mesmo aceitar a ajuda dessa garota?
Ele próprio era um monstro. Um pecador. Um amaldiçoado. Ainda antes, bem diante dos olhos dela...
— Ah, sim, tem algo que esqueci de dizer.
Desviando o olhar de Abel, que permanecia calado com uma expressão sombria, Esther abriu a boca como se, de repente, tivesse se lembrado de algo.
— Eu vim correndo atrás do senhor porque há algo que preciso muito dizer, Padre.
— ...Hã?
Algo que precisa dizer?
O que será?
Sem dar atenção nem mesmo a existência do contador no monitor que marcava o tempo, nem aos caçadores que espreitavam ao redor, Esther declarou em voz alta, com as costas ainda voltadas para o padre, que permanecia ali parado sem reação, boquiaberto.
— Falando claramente: eu não tenho medo, nem um pouco que seja, de uma pessoa lamentável como você!
— ...Hã?
Com as palavras inesperadas, Abel fez uma cara parecendo estar surpreso. Virando-se para ele com um expressão emburrada, Esther afirmou com firmeza, como se fosse até mesmo uma declaração de guerra.
— Isso mesmo. Eu não tenho nem um pouquinho, absolutamente nenhum medo de alguém como você... Foi só pra dizer isso que eu vim. Haa... que alívio!
— ...........
Enquanto observava a garota, que suspirava parecendo aliviada após dizer tudo o que queria, no rosto do padre se formou uma expressão que misturava riso e choro.
— Hum... Esther-san...
— Sim?
A jovem retribuiu o olhar com estranheza ao padre que lhe dirigia a palavra com tanta seriedade. Em resposta, Abel inclinou profundamente a cabeça em direção a ela.
— Obrigado... de verdade.
— Se tem tempo pra ficar dizendo esse tipo de coisa...!
A menina fez um beicinho como se estivesse zangada. Apontando para as sombras de casacos que se aproximavam lentamente ao redor, ela disse:
— Por favor, acabe logo com esses sujeitos e termine seu trabalho... Eu também irei ajudá-lo.
— Si-sim! Entendido...
O padre assentiu vigorosamente, e com agilidade girou a mão.
— Feito!
No instante seguinte, o autômato de caça, que estava prestes a saltar sobre Esther, foi atingido no abdômen e lançado para longe.
— ...Esther-san, deixe esses caras comigo!
Abel gritou, lançando um olhar fulminante à silhueta de sobretudo negro que mesmo tendo sido arremessado contra a parede, se levantava novamente como se nada tivesse acontecido.
— Em troca, vou pedir que você desligue essa inteligência artificial elétrica!
— Isso aqui? Mas, uma amadora como eu pode fazer algo a respeito disso?
— Se não for você, não poderá ser feito! Não temos tempo para explicações detalhadas! De qualquer forma, sente-se aí!
Embora estivessem atentos ao cano da arma, os autômatos de caça tentavam encurtar a distância lentamente, porém firmes. Sentindo pelas costas que a garota havia se sentado diante do console de controle, Abel continuou a dar instruções.
— Primeiro, por favor, coloque a mão naquele ponto levemente brilhante à direita!
— Hum... seria esse aqui?
No momento em que Esther tocou o local indicado, nos monitores, que até então pareciam congelados, começaram a dançar novos caracteres.
— Padre! Meio que, apareceram um monte de números esquisitos, era isso mesmo?
— É isso mesmo! Digite eles no teclado agora!
Abel lançou um olhar rápido por cima do ombro e confirmou o amontoado de números. Aquilo era mesmo o código de desligamento.
— Tudo! Sem deixar escapar nem um único caractere! Mantenha a calma para não errar! Mas seja rápida!
— En-entendido!
Já eram quatro e cinquenta e oito. E os números apresentados como códigos de parada pareciam ser em demasia... Será que conseguiriam a tempo?
— Eu vou conseguir a tempo!
— Por favor, faça isso!
Virando as costas para a garota que havia começado a lutar ferozmente com o teclado, Abel voltou seu olhar para os inimigos. A essa altura, tudo o que podia fazer era deixar o resto com ela. Sua missão era garantir a segurança dela.
Os olhos das figuras de casaco preto que se aproximavam lentamente não estavam voltados para o padre, mas sim para Esther, atrás dele. Eles também haviam percebido o que estava acontecendo ali — que esperança e desespero estavam se enfrentando, bem diante de seus olhos. E que a chave capaz de inclinar a balança para um dos lados não estava nas mãos do padre, mas sim nas da jovem.
— Não permitirei que toquem nela ── seu oponente sou eu!
Com essa declaração firme, Abel largou a arma.
No instante seguinte, seus olhos se tingiram de um vermelho vívido.
— Nanomachine “Crusnik 02” – ativação limitada a 40%: aprovada!
No instante seguinte, o ar escuro ao redor ferveu.
Um raio negro soltou um rugido enquanto disparava para o alto — O braço direito do autômato de caça saltou em direção ao teto, traçando um fio vermelho consigo, ao ser lançado contra ele com força.
〈..........!?〉
Nos olhos cobertos por uma membrana como os de um peixe morto, surgiu, ainda que levemente, uma matiz semelhante a confusão — se falássemos em termos humanos. E ao recuar mantendo a distância, com certeza foi por estar em alerta com a súbita elevação no poder de combate do oponente.
— Me compadeço de vocês, que mesmo após a morte, ainda assim não foi lhes concedido o descanso. Mas ainda assim...
Na mão do padre, que declarou friamente, surgiu sabe-se lá de onde uma grande foice de duas lâminas. Sem sequer olhar para trás, Abel a fez girar no ar.
— Não posso me permitir pegar leve!
Naquele instante, um dos autômatos de caça que havia saltado pelas costas, teve o tronco cortado ao meio e foi lançado contra o chão. Com o coração completamente destruído, mesmo esse soldado morto-vivo, cessou suas atividades para sempre. Nesse mesmo instante, a lâmina oposta à que o havia cortado, golpeava de lado outra sombra que caía do teto. Contudo, desta vez, com um som metálico agudo — foi repelido pela adaga na mão dele.
Como polos iguais de dois ímãs, os dois vultos repeliram violentamente um ao outro, afastando-se. No instante seguinte, como se um dos polos tivesse se invertido — ou como se um elástico esticado entre eles tivesse encolhido de repente — em direção um ao outro, colidiram de frente com violência.
〈......................!!〉
Foi o vampiro morto que abriu a cavidade bucal tingida de sangue e soltou um rugido selvagem. Em sua direção, um vento cor de trevas sussurrou suavemente.
— Senhor, perdoa os meus pecados (Deus, concede mihi culpam in nomine).... Concede-me a oportunidade da redenção (Dona mihi permissum satisfacere)...
Este poder, amaldiçoado por toda a eternidade. A existência abominável e repugnante que se alojou em seu corpo ── e ainda assim, essa "maldição" lançada sobre ele era a única força que, agora, o tornava capaz de proteger o que lhe era precioso e expiar seus pecados.
— Pó ao pó, cinzas às cinzas, terra à terra (Pulvis pulverim fieri, cinis cinem fieri, terra terram fieri.) — Amém!
No instante do choque, o sangue em jato tingiu o teto de vermelho vivo. A carcaça do autômato de caça, partido ao meio desde o alto da cabeça, foi lançada ao chão com um baque úmido.
Bem nesse momento, atrás dele, Esther — que travava um combate contra o teclado — soltou um grito.
— Padre, terminei de digitar! O horário é... quatro e cinquenta e nove!
— Deixe-me ver.
Ainda empunhando a enorme foice, Abel correu até o console. Espreitou o monitor por cima do ombro da garota. Ali, uma quantidade imensa de números brilhava como luz.
— Certo... agora, só falta inserir isto...
Abel estendeu a mão em direção à tecla ‘Enter’ do teclado. Bastava inserir aquele código de parada, e o sistema seria imediatamente desativado. O fornecimento de energia para Iblis também seria cortado, e aquela tempestade de areia deveria desaparecer no mesmo instante.
Mas foi então que Abel percebeu algo: alguém o observava fixamente. Esther estava ali, olhando para ele em silêncio.
— Ah...
Os lábios do padre estremeceram ligeiramente. Ele se deu conta de que ainda não havia desativado a atividade do Crusnik. Com os olhos vermelhos, as presas longas — e o corpo inteiro banhado pelo sangue do inimigo, aquela forma monstruosa estava sendo mostrada a ela...
— Está tudo bem, Padre.
Mas Esther abriu a boca com serenidade. Seus olhos estavam fixos em Abel, que abaixava o rosto como se envergonhado de si mesmo. Sobre a mão do padre, que permanecia imóvel como se congelada sobre a tecla Enter, repousou suavemente uma palma delicada.
— Eu disse, não foi? Que eu não tenho medo de alguém como você. Nem um pouco.
Ao declarar com orgulho, a garota pressionou suavemente suas mãos sobrepostas sobre a tecla.
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trinitybloodbr · 29 days ago
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Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
— O que diabos são essas criaturas?!
Mesmo gritando, ele flexionou o pulso com agilidade contra ao ataque do inimigo que avançava. O fato de ter contra-atacado era como esperado. O título de 'Cavaleiro da Ruína — Il Ruinante’ — não era apenas mera ostentação.
Porém, nesse caso, o adversário era formidável. O homem de sobretudo desviou o corpo com um mínimo de movimento, esquivando-se com uma margem de erro de apenas alguns milímetros do golpe da maça de guerra que rugia. A arma, que seria mortal caso acertasse o alvo, mesmo assim, mal arranhou a máscara de gás. E então, a maça de guerra que foi desferida para baixo, acertou o piso em vão. Se fosse no solo, teria absorvido o impacto com firmeza. No entanto, mesmo com dureza equivalente à do metal, o balão de gás do dirigível — feito de fibra à prova de balas — rebateu a maça de guerra que foi lançada com uma resistência estranha. O corpo do "Cavaleiro da Ruína — Il Ruinante" cambaleou à frente por um instante.
— Às quatro horas, Irmão Petros.
Em resposta à voz monótona, Petros desferiu sua arma diagonalmente para trás à direita. Sua maça de guerra se entrelaçou com o machado que o autômato de caça havia brandido por trás, soltando um ruído estridente.
— Sou grato, Padre Tres! Agradeço por isso!
— Negative ── consegue me ouvir, Iron Maiden?
O padre cego recuou um passo, levemente. A lâmina de um machado de batalha passou de raspão por sua batina. Sem nem olhar naquela direção, Tres apertou o gatilho naturalmente. O homem de sobretudo, com a cabeça estourada, traçou um rastro vermelho ao despencar rumo à cidade muito abaixo.
— Responda, Iron Maiden. Ainda não terminou o “hacking” no Raguel?
〈Só mais um pouco... Só mais um pouco, Gunslinger.〉
A interferência de sinal era extremamente forte. O corpo da Iron Maiden II pairava a apenas cinco metros sobre o balão de gás do Raguel, onde esse confronto estava sendo travado. Uma distância em que parecia ser possível alcançar com as mãos, e ainda assim, a voz de Kate que saía pelos auriculares vinha misturada a um ruído intenso.
〈Não sei quem foi que projetou o vírus, mas parece ser alguém muito habilidoso... Só mais um momentinho, por favor.〉
— Apresse-se. Deixe a mim e o Irmão Petros de lado, entretanto...
O cavaleiro, soltando um grito de guerra, acabara de esmagar o terceiro dos autômatos de caça — restavam agora cinco. Enquanto cravava uma bala bem no centro da testa do quarto, que havia saltado sobre sua cabeça, Tres voltou seu olhar invisível na direção da proa da nave.
— O combate daquele lado, dadas as circunstâncias, está em uma situação desfavorável.
Na ponta do balão, uma pequena silhueta brandia um florete, enquanto rugia.
— ...Radu!
No instante em que os pés esguios chutaram o balão de ar, a sombra já havia se aproximava perigosamente do inimigo à sua frente como em um salto de quadro em câmera truncada. Um único golpe relampejante cortou de lado, e fios de cabelos azuis dançaram ao vento da noite.
Mas, naquele mesmo momento, o jovem com olheiras e um sorriso irônico já havia contornado para o ponto cego de Ion. Em ambas as mãos dele, acendia-se o brilho pálido-azulado do napalm.
— Tsc!
Guiando-se apenas pelo instinto, a espada de Ion foi brandida e derrubou as bolas de fogo uma após outra. Mas aquilo não passava de uma distração. A figura do Ifrit, o demônio flamejante, que havia desaparecido como uma ilusão, ressurgiu atrás do garoto. Instintivamente, Ion tentou se lançar para o lado, mas...
— Parece que ainda não está em plena forma.
Uma mão se estendeu com um sorriso de escárnio e agarrou o ombros delicado. O cheiro de carne queimada se espalhou pela escuridão. Dos lábios do orgulhoso nobre imperial (Boyere), escapou um grito de dor tão alto que fazia qualquer um querer tapar os ouvidos.
— Hum...! Isso não é bom!
O grito de dor de Ion fez com que o Irmão Petros se virasse — e, por um instante, sua concentração foi rompida.
— Negative — concentre-se, Irmão Petros! Às seis horas!
No momento em que Tres emitiu seu alerta após destroçar o sétimo coração com um golpe de mão perfurante, a lâmina de um machado de batalha foi projetada por trás, acertando as costas de Petros. Até mesmo o “Cavaleiro da Ruína — o Il Ruinante —”, soltando um breve grunhido de dor, tropeçou desajeitadamente. Desequilibrado, seu corpo caiu, rolando pela borda inclinada do balão de ar.
Seguindo Petros, Tres também escorregou. Enquanto deslizava em perseguição sobre a superfície do balão, atirou no autômato de combate que havia atacado as costas de Petros — e aquele era o último deles. No momento em que o corpo decapitado despencava sobre a cidade, Tres agarrou por pouco o pescoço de Petros, que quase caía junto. A outra mão, que havia largado a pistola, segurava com dificuldade a borda do balão.
No entanto...
— Parece que seus companheiros não têm como te ajudar.
Enquanto aumentava a força da mão que agarrava o ombro de Ion, Radu riu sombriamente. O garoto se debatia com desespero, lutando contra a morte, mas os dedos como um torno de ferro, afundavam até os ossos e não se soltavam.
— P-Por quê, Radu...?
Uma voz fraca escapou por entre os dentes cerrados.
— Por que... tu me traíste...?
— Eu te disse, não disse? Você me incomodava, Ion Fortuna.
Por alguma razão, o sorriso do homem que respondia parecia que estava chorando.
— Favorito de Sua Majestade, um grande nobre de linhagem ilustre... Sua existência era ofuscante demais para mim. Por isso, em meio ao desespero, eu quis te matar da forma mais miserável possível. Só isso.
— Isso não é verdade... Radu, não minta para mim.
Mesmo com a carne sendo queimada, Ion não se calava.
— Há quantas décadas você acha que estamos juntos? Acha mesmo que eu cairia numa mentira tão tola? Você está mentindo. Quanto aos outros, tudo bem... mas não ache que pode enganar a mim.
— Mentira...? Eu não estou mentindo.
Que emoção foi aquela que oscilou por trás do sorriso que mais parecia uma máscara? Com arrogância, Radu intencionalmente disse com desdém:
— Eu não gosto de você. Por isso quis humilhá-lo. Apenas isso.
— Não, isso não é verdade! Se queria me humilhar, então por que tentou fazer com que aquela terran me matasse naquela mansão?! Por que não tentou me matar com suas próprias mãos?! Se ao menos não tivesse armado uma encenação tão elaborada, você poderia ter me matado com facilidade!
— .........
Pela primeira vez, o sorriso desapareceu do rosto do demônio flamejante Ifrit. Os lábios, que antes exibiam um sorriso cínico, se fecharam firmemente, enquanto a tensão percorria suas bochechas encovadas — mesmo com o rosto distorcido pela dor lancinante, Ion ainda assim implorou.
— Reconsidere, Radu! Ainda dá tempo — por ora, eu posso guardar todo este incidente apenas dentro do meu peito! Reconsidere e interrompa o 'Iblis'! Por favor, meu amigo, Tovarăș! Eu não quero mais lutar contra você!
No instante em que a palavra ‘meu amigo’ escapou dos lábios de Ion, um suspiro áspero escapou da boca de Radu.
— ...Isso eu não posso fazer, Ion.
No momento em que seu rosto se contorceu como se fosse o de outra pessoa, o que surgiu ali foi uma fúria intensa — e, ao mesmo tempo, uma profunda tristeza insondável.
— Como se fosse possível voltar agora... Não tem como! Ion, você vai morrer aqui. E a cidade desses desprezíveis terrans também logo vai afundar sob a areia! É isso mesmo — eu já passei do ponto de retorno!
— Radu! Seu cabeça-dura!
No instante seguinte, uma nuvem de sangue se ergueu entre os dois Methuselahs.
Na mão de Radu, havia um pedaço de carne ensanguentado. Contudo, ele permaneceu parado, com os olhos escancarados de espanto. Em um golpe perfurante, a mão de Ion — que arrancara a própria carne do ombro ao girar o corpo — havia transpassado o peito de Radu.
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— Kuh... hah!
— Teu coração está em minhas mãos...!
Ao se contorcer, parece que acabou ferindo parte da artéria carótida. Lutando desesperadamente para não perder a consciência que estava começando a se esvair por causa da hemorragia intensa, Ion sussurrou. Pelo fato da carne ter sido queimada, o sangramento estava sendo contido mais do que o esperado, e também, era um alívio em meio ao infortúnio, a dor lancinante está, pelo contrário, ajudando a manter sua consciência.
— Radu, detenha o Iblis!
Ion gritou, com voz fraca.
— Faça-o parar — ainda dá tempo!
— Infelizmente...
Com sangue escorrendo pelo canto dos lábios, o Ifrit ferido soltou uma risada.
— Aquilo não é da minha alçada, Ion.
— O quê?!
— Aquele que pôs aquilo em movimento é outro. E eu... não posso detê-lo. Apesar de mesmo ter se esforçado e arriscado a vida... me desculpe por não corresponder às suas expectativas. Ao menos... vamos cair no inferno juntos, meu amigo?
O demônio das chamas, o Ifrit, estendeu a mão mais uma vez em direção ao garoto. Suas mãos queimando intensamente se abriram, como se fosse abraçar o pequeno corpo...
Foi naquele momento...
O encouraçado aéreo cinzento Raguel, que até então permanecia imóvel como se estivesse morto, soltou um rugido feroz que fez estremecer todo o seu corpo.
— Humph! Reconfiguraram a inteligência elétrica... Mas já é tarde demais. Agora não importa mais o que façam, é inútil.
Radu sorriu sarcástico do alto da bolsa de gás do encouraçado aéreo, que começara a avançar em disparada.
Sim — não importava mais o que fizessem agora, tudo já está perdido. Lançando o olhar para baixo novamente, com um sorriso sombrio nos lábios, fitou o garoto que arfava com dificuldade dentro de sua própria sombra.
...Uma sombra!?
Somente então, que Radu finalmente percebeu que sua própria sombra estava nitidamente cravada em negro sobre o balão de ar.
— Maldição... esta nave está...
Radu virou o pescoço rapidamente, como se tivesse levado um choque. Olhou por sobre o ombro, na direção para onde Raguel avançava.
O que se estendia imerso naquela penumbra azulada, estava o mar do leste.
E então, surgindo além da linha do horizonte...
— Está amanhecendo......!
No instante seguinte, a radiação direta de luz ultravioleta, sem nada que o bloqueasse, caiu sobre o Methuselah ferido. A primeira luz solar do dia, que chegou um pouco antes à superfície, fez com que todos os seus bacilos entrassem em ebulição, soltando um grito silencioso de dor.
— ........!!
Com um grito que não chegou a se tornar voz, Radu arranhou o próprio pescoço com força. Suas mãos já estavam cobertas por bolhas horrendas. Os bacilos, cuja atividade fora anormalmente acelerada, pelo efeito dos raios ultravioleta, começaram a devorar, indiscriminadamente, as células do corpo do hospedeiro. As bolhas, surgindo primeiro nas partes expostas da pele, começaram a se espalhar por todo o corpo do demônio flamejante — o Ifrit.
— Ion...!
No meio da visão avermelhada e turva, Radu avistou outro Methuselah. O garoto também estava caído sobre o balão de ar, tendo seu corpo queimado vivo.
— Kuh...!
Cambaleando, o Methuselah de cabelos azuis estendeu a mão em direção ao garoto.
Com os braços cobertos por queloides, tomou uma postura como se fosse envolver o corpo de Ion em um abraço protetor.
Naquele exato instante, o corpo do Ifrit foi lançado para trás, como se tivesse sido atingido por um punho invisível.
No instante em que percebeu que havia sido atingido em cheio por uma maça com o tamanho de proporções humanas, Radu já estava cambaleando para trás em grandes passos. Logo em seguida, o que chegou voando até ele, foi uma chuva de balas, que foi descarregada sem piedade por todo o corpo ferido de Radu.
— ...........
Ao som de um tiro ecoando ao longe, Radu começou a cair lentamente em direção à superfície do mar. A última imagem que se refletiu em suas retinas que começavam a se dissolver foi a do inquisidor de heresias ainda na postura de quem acabara de lançar sua maça, gritando algo — e, ao lado dele, a figura de um pequeno padre correndo até seu Tovarăș, com a arma ainda erguida, soltando fumaça.
Quando viu a figura de cabelos azuis despencar no mar que começava a brilhar com uma luz branca, o soldado mecanizado já havia iniciado sua corrida feroz. O corpo do garoto ainda era sacudido por espasmos violentos.
— Iron Maiden, abaixe os cabos de aço!
Correndo, o padre pressionou o fone auricular. Ele deu uma ordem clara ao Iron Maiden II, que voava em paralelo no céu acima do Raguel.
— O dano sofrido pelo Conde de Memphis já está se aproximando de um nível letal. Iremos resgatá-lo agora. Preparem-se imediatamente para o tratamento!
Naquele instante, algo passou correndo ao lado de Tres. Quando os sensores auditivos do soldado mecanizado captaram o som, Irmão Petros, em estado de "Aceleração Haste", já havia surgido ao lado do vampiro ferido.
— Abra a escotilha, Irmã Kate!
Segurando nos braços o corpo já inconsciente de Ion, o inquisidor gritou. Com o sol às costas, protegeu o garoto da luz direta e gritou novamente:
— Se não nos apressarmos, o fedelho não vai resistir! Por que está aí parada?!
〈S-sim!〉
Uma voz feminina, como se estivesse sob pressão, soou no momento em que a escotilha de embarque começou a se abrir. Antes que ela pudesse se abrir completamente, os pés vigorosos de Petros já haviam se impulsionado contra o balão de ar. Em um piscar de olhos, seu corpo alto percorreu os cinco metros de distância, arremessando-se para dentro da escotilha.
〈E o Conde de Memphis!?〉
— Ele ainda está vivo. Se receber cuidados imediatamente, provavelmente sua vida poderá ser salva.
Em resposta à voz que ressoou pelos alto-falantes do compartimento de carga, Petros deitou suavemente o corpo do garoto no chão. Seu rosto estava pálido por causa do uso excessivo de estimulantes (boosters), mas sua voz não demonstrava o menor traço de cansaço.
Levantando-se mais uma vez, Petros murmurou como se falasse consigo mesmo:
— ...Muito bem. O inimigo dos meus subordinados, aquele demônio flamejante — Ifrit — foi finalmente derrotado. Em outras palavras, já não há mais razão para que eu continue cooperando com vocês... Estou certo?
— .... Positive.
Quem respondeu ao inquisidor, que havia se virado lentamente, foi uma pequena silhueta que acabava de passar pela escotilha. Sua mão estava pousada no coldre na altura da cintura. Com os ombros ligeiramente abaixados, pronto para sacar a M13 a qualquer momento, Tres declarou com uma voz monótona.
— Agradeço por sua cooperação, Irmão Petros.
— Então, a trégua termina aqui.
Com o rosto manchado de sangue e a expressão endurecida, Petros apontou a ponta do Screamer para o garoto caído no chão. Em sua expressão, não havia sequer um traço de compaixão ou piedade O inquisidor, com semblante severo, proclamou diante de Deus e dos pecadores:
— Eu, agora, exterminarei este vampiro. E logo depois, acusarei você e os demais hereges, incluindo Caterina Sforza, submetendo-os à Inquisição... Estão preparados para isso?
— ...........
Tres não respondeu nada em voz alta. Em vez disso, apenas apertou levemente a mão que segurava a empunhadura da arma.
No espaço de carga, que nem era assim tão amplo, uma eletrizante aura assassina começou a se espalhar...
— ...Pelo visto, o Padre Nightroad não chegou a tempo.
Quem quebrou o silêncio primeiro foi o inquisidor. Como se tivesse esquecido completamente tanto da presença do vampiro quanto do padre armado, virou-se para trás e estreitou os olhos com irritação na direção da escotilha, que permanecia aberta.
Além do mar, que estava na fronteira da noite e manhã, o que se via bem ao longe era o traçado urbano de Cartago, ainda envolto na penumbra que precede o amanhecer. E além disso, a tempestade amarela que se aproximava não dava sinais de enfraquecimento. Diante da tempestade de areia que ainda soprava com fúria, uma névoa amarelada já começava a se espalhar sobre a área da cidade.
— Esse tal de 'Iblis', ainda se aproxima... É uma pena, mas agora não é hora de lidar com hereges.
Quando disse isso, o Cavaleiro da Ruína — o ‘Il Ruinante’ — bufou com desagrado e se virou de costas. Ignorando tanto Ion quanto Tres, aproximou-se da escotilha.
— Irmão Petros?
O garoto que jazia no chão soltou um gemido fraco. Com os olhos enevoados, levantou o olhar, frágil, para a sombra do inquisidor. Observando-o de cima, Petros resfolegou com amargura.
— Em circunstâncias normais, eu deveria prender você e denunciar a Cardeal Sforza... Mas agora, o dever mais urgente de um apóstolos de Deus é o resgate dos cidadãos — O julgamento de vocês, malditos hereges, fica adiado para outra ocasião. Mais cedo ou mais tarde, eu mesmo, com minhas próprias mãos, lançarei todos vocês à fogueira.
Depois de cuspir tudo aquilo de uma vez, o Cavaleiro da Ruína — o (Il Ruinante — saltou pela escotilha rumo ao Raguel, que se estendia abaixo de seus pés.
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Créditos da tradução:
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
Bem no momento em que terminou de usar o décimo carregador, ele conseguiu destruir o último módulo de ataque antipessoal.
Ofegante, Abel olhou para o caminho por onde havia passado. À luz do reagente químico fluorescente que cobria as paredes, módulos de ferro semelhantes a cogumelos liberavam incontáveis colunas de fumaça. Espalhadas aqui e ali, centopeias mecânicas movidas por engrenagens eram, na verdade, droides de manutenção. Pelo visto, essa ruína estava funcional até bem pouco tempo atrás.
— Não... ou talvez alguém a tenha ressuscitado.
A etiqueta da garrafa de vinho vazia, jogada em um canto da parede, era As Lágrimas da Rainha (Damear el-Elyssa) — o mais refinado vinho de Cartago (Sadesa'ad).
Empurrando com um leve chute os destroços do módulo assassino, que ainda estendia na sua direção garras afiadas (manipuladores), Abel apoiou o pé no altar (zigurate) à sua frente. De sua lateral, dilacerada momentos antes, algo vermelho continuava a escorrer lentamente. Era como se, junto com o sangue, sua força também estivesse se esvaindo. Suas pernas, ao subir os degraus, pareciam excessivamente pesadas.
— Francamente... Por um ferimento tão pequeno, que lastimável... Mesmo eu sendo um monstro...
Se alguém ali o conhecesse, dificilmente acreditaria que aquele jovem de sorriso torto e expressão autodepreciativa fosse a mesma pessoa. Com passos cambaleantes como de um bêbado, quando terminou de subir até o topo da pirâmide escalonada — zigurate —, o rosto de Abel já estava completamente pálido.
— Consegue me ouvir, Sistema?
Ao alcançar o topo do altar (Zigurate), Abel sussurrou baixinho. Abriu a tampa do relógio de bolso e o colocou ao lado do console — 4h40. Ainda havia uma folga de vinte minutos. Talvez tenha se apressado demais.
— Sistema, qual é o modo de entrada atual? Solicito mudança para o modo de voz.
《Sistema de controle compreendido》
Uma voz suave, porém fria e inorgânica, respondeu à chamada.
《Usuário do sistema, por favor insira o comando. Adicionalmente, as tarefas em andamento continuarão sendo executadas em paralelo.》
A partir daqui, era apenas uma repetição do que ele já havia feito inúmeras vezes no passado. Abel recitou um encantamento.
— Solicito a transferência para o modo administrador do sistema. Meu código é...
《Nenhuma entrada de código necessária. Será realizada uma verificação de impressão palmar. Solicitamos ao administrador do sistema que coloque a mão direita sobre o console à sua frente.》
No canto do console, acendeu-se uma luz do tamanho de um caderno de anotações. Abel retirou as luvas e deslizou suavemente a mão direita até ela.
《Iniciando verificação... Concluída. Administrador identificado como: Tenente-Coronel, Comandante Abel Nightroad, Seção de Segurança do Departamento de Administração da Missão Red Mars, Força Aeroespacial das Nações Unidas. Registro confirmado: UNASF-94-8-RMOC-666-02ak》
Uma luz tênue começou a decorar o altar como se fosse uma árvore de natal. Ao afastar a mão do console, Abel retomou sua conversa com alguém invisível.
— Então, sistema, solicito a transição para o modo de administrador. Suspenda à força as tarefas atualmente em andamento. Após isso, o sistema deve se autodestruir.
《Aqui é o sistema. A transição para o modo administrador foi recusada. As credenciais inseridas não atendem os requisitos de autorização de administrador.》
— ...O quê?
Pela primeira vez, algo diferente do cansaço passou pelo rosto do padre de cabelos prateados. Até então recostado, como se estivesse exausto, ele se endireitou e encarou o console.
— Sistema, reconfirme a senha. Este deveria ser um passe de mais alto nível.
《Sistema, iniciando reconfirmação ── concluída. Aqui é o sistema: a transição para o modo administrador foi recusada. A senha inserida não atende os requisitos de administrador.》
— Impossível!
Uma expressão de inquietação surgiu no rosto de Abel. Seus dedos se moviam agilmente para cima e para baixo sobre o teclado. No entanto, o monitor à sua frente não exibia qualquer reação.
— Sistema, minha senha deveria ter acesso livre em todos os portais do RMP-net! Isso é impossível! Verifique novamente! E me informe cada passo da sequência de verificação!
《Sistema entendido. Iniciando sequência de verificação...》
— ...?
Por trás dos óculos redondos, os olhos azuis se estreitaram com desconfiança. De repente, a voz sintética havia silenciado.
— O que houve, sistema?
Será que travou?
No entanto, as demais funções continuavam operando normalmente. A contagem regressiva do sistema Iblis também seguia em andamento.
— Sistema, responda! Cancele a transição para o modo administrador...
《...existe.》
Era como se um rádio com mau contato de fiação tivesse sido, de repente, esbofeteado por uma mão invisível. A voz sintética, que voltou a falar com um tom monótono, teceu suas palavras com uma fluidez que fazia parecer mentira o problema anterior.
《Executando reprodução forçada do arquivo de vídeo》
— Reprodução forçada? Um vírus?
Abel soltou um estalo com a língua e estendeu a mão para o teclado...
< ...Bom dia, Abel.>
Uma voz gentil soou bem ao lado de seu ouvido.
Uma voz clara — que fazia lembrar a luz do sol refletida em branco na superfície de um riacho qualquer — Num claro dia de primavera, quando o céu parecia ao alto.
〈...Quatro e quarenta e oito. Para um dorminhoco como você, isso é bem cedo.〉
— .........
Como poderia se descrever a expressão que surgiu no rosto do jovem naquele momento? Como se estivesse prestes a chorar, e ao mesmo tempo como se estivesse prestes a gritar de raiva a qualquer momento. Não, talvez como uma criança esperando para ser repreendida. Um rosto enigmático, sendo todos esses ao mesmo tempo — e ainda assim, nenhum deles. Ele começou a estender a mão, mas de repente, como se tivesse desistido, a abaixou. Então, quando ergueu o rosto lentamente, havia ali uma mulher em pé.
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Em termos de idade, ela era talvez da mesma idade de Abel, ou um pouco mais velha. Seus cabelos presos lembravam o tom refinado de um chá preto avermelhado, e no rosto moreno, marcado por um ponto vermelho na testa — um bindi —, os olhos de uma cor misteriosa, brilhando em dourado sorriam timidamente com nostalgia. Por cima da camisa colada ao corpo, ela vestia uma peça de pano solto e fluido — um traje tradicional chamado sári, que há muito se perdera no tempo.
〈Ou será possível que você vai me dizer que passou a noite em claro? Agora que voltou para este planeta, é melhor ajustar de novo seu ritmo de vida para um ciclo de vinte e quatro horas.〉
— ...Estou cuidando disso direitinho. Não sou mais uma criança, sabe.
Com um leve constrangimento no rosto, Abel coçou o queixo. No entanto, seus olhos estavam pousados sobre o rosto dela, com uma certa nostalgia.
— Quantos anos você acha que já se passaram desde então, Lilith?
A mulher chamada Lilith — ou, mais precisamente, o holograma em forma de mulher — não respondeu nada.
Exceto por um programa primitivo de inteligência artificial que apenas mudava a saudação conforme o horário de ativação, aparentemente não havia nenhuma interface de interação humana instalada, como os simuladores de personalidade. O olhar da mulher, que sorria suavemente, nem mesmo se fixava no rosto de Abel.
〈Mas que pena. Se você está vendo este arquivo, então Túnis caiu, não é? Será que a tenente Elissa Dal Schreit conseguiu se retirar em segurança? Ela, apesar de tudo, é meio teimosa, então fico preocupada. Além disso, ela odiava vocês profundamente... Por isso mesmo preparamos aquela coisa chamada ‘Demônio do Deserto Iblis’.〉
A bela mulher soltou um suspiro profundo. A projeção tão minuciosamente detalhada que era como se até mesmo sua temperatura corporal pudesse ser sentida, balançou a cabeça com tristeza.
〈Na verdade, eu não queria ter que instalar algo assim. Mas se Túnis e os campos petrolíferos caírem nas mãos de vocês, então a Europa Ocidental estará logo ali, ao alcance dos olhos. Essa cidade, que a tenente Schreit e eu reconstruímos com sangrentos esforços... se é para ela se tornar de vocês, então eu escolhi enterrá-la com minhas próprias mãos. Naturalmente, a tenente também concordou. Mas, Abel...〉
Ouviu-se um som leve de respiração. Os olhos dela não estavam voltados para Abel. O que estava à frente daquele olhar era apenas a escuridão. Ainda assim, era inegável que ela estava falando com o jovem de cabelos prateados.
〈Eu e Elissa fizemos uma aposta. Que talvez, mesmo entre vocês, ainda houvesse esperança no que diz respeito a você — que só você ainda tivesse preservado um coração humano. Por isso, apenas no caso de ser você quem viesse liderar o ataque a Túnis, deixamos o código de desativação do 'Iblis' sob condições.〉
— Condições?
Esquecendo-se por um momento de que a outra pessoa era apenas uma projeção tridimensional, Abel se inclinou para a frente. Por trás das lentes redondas dos óculos, em seus olhos havia um cansaço tão profundo que chegava a ser doloroso. Aquilo surpreendentemente se parecia muito com a expressão facial estampada no rosto da mulher à sua frente.
〈Sim, condições. Isso é, que você tenha ajudado ao menos um dos remanescentes daquela cidade — vocês os chamam de terrans, não é? Se caso, você já tiver exterminado todos os remanescentes até o último deles, então a aposta é da Elissa. Você, e os “retornados” — os Methuselahs — que atacaram aquela cidade com você, serão enterrados sob as areias. Mas se ao menos uma única pessoa. Se você tiver poupado um remanescente — um terran, que você tanto odeia — senão tiver o matado, então a vitória é minha.〉
A bela mulher sorriu como se estivesse envergonhada.
〈Nessa hora, tragam esse terran remanescente até aqui. Ele — ou ela — permita que faça a verificação de impressões palmares. Depois de confirmar as informações genéticas, o comando de desligamento para o 'Iblis' será exibido. Deixei configurado para que isso aconteça. Mas, por outro lado, para vocês, Crusniks ou Methuselahs, o código de desativação jamais será ativado. Somente os remanescentes, os terrans — somente aqueles que você tanto odeia — poderão deter Iblis e salvar você... Abel.〉
Por quê..? Como é possível lançar um olhar dessa maneira, que tudo vê a alguém que se encontra muito distante, além do tempo e espaço? ── O holograma estendeu os braços suavemente, como se fosse acolher alguém em um abraço.
〈Eu sei que você ama o mundo. Você fez do mundo seu inimigo mas, isso é o reverso do fato de amá-lo. Foi porque você amou, confiou e esperou, que, ao se sentir traído, não conseguiu suportar. Por isso você se tornou um inimigo do mundo — mas ainda assim, você ainda continua amando este mundo. Em algum lugar dentro de você, ainda não consegue odiá-lo por completo.〉
A imagem tremeu violentamente. A projeção tridimensional perfeita, agora era misturada com um ruído de luz branca. As partículas de luz que compunham a imagem começaram a se desintegrar gradualmente a partir das bordas.
Retornando à luz, no último instante, os olhos da bela mulher pareceram, mais uma vez, capturar o rosto de Abel.
〈Abel, este mundo não é seu inimigo... Você sempre pode recomeçar. Nunca se esqueça disso〉
— ..Já é tarde demais, Lilith.
Abel murmurou com uma voz vazia, voltado para a escuridão onde já não havia mais ninguém.
Quando a luz explodiu e a escuridão e o silêncio voltaram mais uma vez, o contador já marcava quatro e cinquenta — faltavam apenas dez minutos para a chegada da tempestade de areia.
— Tudo... já é tarde demais. Você também... e eu, igualmente!
No momento seguinte, como por mágica, a mão de Abel já havia sacado o revólver preso à cintura. Sem sequer olhar para trás, ele puxou o gatilho por cima do ombro — um estrondo. Mais um disparo — estrondo. E outro — estrondo. Mais três tiros consecutivos — estrondo.
Antes que percebessem, as sombras que haviam se esgueirado por trás deles já estavam caídas sob o altar — os três corpos haviam sido atingidos nos ombros, cotovelos e bochechas.
— Infelizmente... não há terrans remanescentes aqui. Os que estão aqui são apenas, eu... e eles.
Com uma expressão que parecia rir e chorar ao mesmo tempo, Abel olhou para baixo. Em meio ao ressoar do eco ruidoso dos tiros, três sombras se levantavam como se nada tivesse acontecido. Vestiam casacos militares, máscaras de gás e capacetes — mas por baixo das máscaras estilhaçadas, o que se via eram presas longas e afiadas.
— Que coisa horrível... Vocês profanaram os cadáveres de Methuselahs.
Enquanto murmurava essas palavras, Abel acenou levemente com a mão. O cilindro vazio e cheio de fuligem caiu ao chão com um estalo e uma leve fumaça, e no mesmo instante, um novo carregador já havia sido encaixado.
No entanto, ao mesmo tempo, os Auto Jägers também já estavam em movimento.
Saltaram, faiscando suas longas e curvas garras — tão longas quantos adagas —e no instante seguinte, como se tivessem sido apagadas, essas sombras desapareceram.
— Aceleração Haste...!
A voz murmurada em tom baixo foi abafada por estrondos de tiros. As seis balas disparadas em rápida sucessão (fanning) afundaram-se todas com um som úmido no lado esquerdo do casaco. O sangue espirrado maculou o altar da santa.
— Guh!
Com um gemido baixo, o antigo revólver de percussão escapou da mão de seu dono e caiu no chão manchado de sangue, fazendo ecoar um forte ruído metálico. Apenas a fumaça que ainda subia do cano, branca e inútil como presas que não conseguiram cravar-se.
Sobre o padre derrubado no altar, três sombras se agrupavam. Cada uma cravava firmemente os dentes no pescoço, no ombro e na lateral do corpo, enquanto braços bestiais imobilizavam os membros da presa, sem deixá-la escapar...
— Urgh!
Naquele instante, os olhos de Abel se tingiram de um vermelho vívido.
— Nanomachine 'Crusnik 02’ - Ativação limitada a 40%...
Seus lábios pararam de se mover de repente.
Em vez disso, o que escapou dali foi um suspiro exausto, como o de um ancião que já viveu mil anos. Seus olhos, em algum momento, haviam recuperado o tom azulado. No rosto que fitava os restos decadentes dos vampiros que bebiam seu sangue, surgiu um sorriso estranhamente vazio.
— Bem... talvez, de vez em quando, algo assim também seja bom...
Um suspiro como de um ancião escapou dos lábios pálidos.
Já não adiantava fazer mais nada.
Se o que ela disse estiver correto, então Iblis não poderia ser detido, a menos que fosse por um terran. Mas como trazer um terran até aqui com menos de dez minutos restantes? A não ser que fosse um deus, isso seria impossível.
Sim... a catástrofe já não podia mais ser evitada.
A começar por Caterina, duzentas mil vidas serão perdidas, e a cidade afundará no fundo do mar de areia. Ion, provavelmente, já deverá ter sido morto também. E em breve, a guerra entre a sociedade humana e o "Império" começará... No fim das contas, o que ele havia feito até agora, foi tudo em vão?
Estava cansado. Extremamente cansado.
Sem perceber, teve a impressão de ter caminhado por muito tempo. Estava esgotado.
“Talvez... terminar tudo por aqui não seja algo tão ruim assim...”
Já não precisaria se preocupar com mais nada. Tão pouco temer as pessoas, nem ser temido por elas — além disso, mais do que tudo, também não precisaria temer a si mesmo.
Na verdade, o fato de estar escurecendo lentamente diante de seus olhos assim... de algum modo, acalmava em muito o seu coração.
— O que está fazendo aí, enrolando de novo, Padre?!
Foi naquele instante que uma repreensão cheia de energia e um clarão feroz cortaram as trevas da morte, que estavam prestes a envolver gentilmente o padre.
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
Desde que a muralha amarelada surgiu além do deserto, a cidade tinha se tornado um alvoroço — como se tivessem cutucado um ninho de vespas — apesar de já ser alta madrugada.
Pelo relato dos beduínos, que haviam escapado do deserto por um triz, ao saberem que aquilo era uma tempestade de areia —, os habitantes da cidade, a princípio, pensaram em evacuar. No entanto, pela terra, seria necessário atravessar o coração da tempestade. O porto marítimo estava inutilizado por conta do combate entre encouraçados aéreos ocorrido poucas horas antes. A pequena rota aérea que restava só estava disponível para os poucos ricos que conseguiram garantir dirigíveis ou aviões — mas, com as vias de acesso ao aeroporto bloqueadas por uma multidão em pânico, tudo o que lhes restava era ficarem presos, impotentes.
Entre os locais, a área ao redor da Embaixada do Vaticano estava apinhada de moradores da Cidade Antiga (Medina). Isso porque, ao avistarem o encouraçado aéreo flutuando sobre a embaixada, muitos correram para lá na esperança de conseguir participar da fuga.
A multidão que se aglomerava ali estava em pânico. Provavelmente, quando descobrissem que o porto estava inutilizado, aqueles que haviam fugido em direção ao mar voltariam para lá. Com o passar do tempo, era de se esperar que o tumulto só piorasse.
 — Mas, por favor, tranquilize-se, Vossa Santidade.
Disse o Bispo Mario Cortona, núncio papal, enquanto torcia seu bigode curvado para baixo em ambos os lados, relatando com um tom orgulhoso.
— Em preparação para qualquer emergência, providenciamos uma rota de fuga deste consulado até os arredores da cidade. Eu também irei acompanhá-los, então, por favor, depressa, evacuem para o aeroporto...
— Servir de zombaria dessa forma é, no mínimo, inaceitável, Embaixador.
Caterina lançou um brilho cortante que lembrava o de navalhas por trás de seu monóculo, enfiou um marcador no livro de poesias que lia e fechou-o com elegância. Tossiu levemente e lançou um olhar fulminante para o rosto do bispo.
— Se nós, servos de Deus, abandonássemos o povo que clama por salvação e fugíssemos, quem acreditaria no Vaticano daqui em diante? Quem quer que mesmo tente fugir daqui, ao menos eu e você devemos permanecer até o fim.
— V-Vossa Eminência, eu, bem...  a-ainda não quero morrer!
— Oh, que coincidência. Aposto que todas aquelas pessoas espremidas ali também estão pensando o mesmo — alguém, acompanhe o bispo de volta para o quarto. E certifiquem-se de trancar bem a porta pelo lado de fora, para que não haja interrupções durante suas orações.
Enquanto os gritos do embaixador, sendo arrastado para longe, se perdiam a distância, Caterina os ignorava com uma expressão amarga — e ainda, com a mesma expressão, ergueu os olhos e lançou um olhar fulminante para o alto.
Nos céus, o encouraçado aéreo "Raguel" — que recebeu o nome do anjo incumbido de investigar e julgar os desvios dos próprios anjos — pairava em silêncio, imóvel. Na parte inferior de seu casco acinzentado, uma luz vermelha piscava suavemente, indicando o destravamento do compartimento de bombas.
— Esse tal Radu ou seja lá quem, que nos contactou há pouco...
Fitando severamente a torre lateral que estava apontada diretamente para eles, Caterina murmurou amargamente.
— Disse que, enquanto não tentássemos fugir, não nos causariam danos... Mas, do jeito que está, mais cedo ou mais tarde seremos engolidos pela tempestade de areia e será o nosso fim.
Se ao menos conseguissem fazer contato com a Iron Maiden II, talvez ainda houvesse uma chance...
Porém, Raguel parecia estar emitindo um forte bloqueio de sinal (Jamming), e todas as comunicações por rádio foram neutralizadas. Por outro lado, com a Inquisição e a polícia especial — os Carabinieris — dizimados no porto, as forças militares restante na embaixada não eram capazes de oferecer resistência.
— ...Irmã Loretta.
— Sim, Vossa Eminência.
Caterina indicou a multidão do lado de fora do portão à jovem freira que havia dado um passo à frente.
— Deixe-os entrar na embaixada. Do jeito que está, haverá feridos... Vamos ver, primeiro mulheres, crianças e idosos, em ordem de prioridade.
— Tem certeza? Vai mesmo permitir a entrada de pessoas como aquelas no prédio?
— Não me importo. Justamente em momentos como este é que se apresenta uma oportunidade perfeita para vender a fé, não acha?
Lançando mais um olhar em direção ao portão, Caterina soltou uma leve tosse.
— Se é o fim de qualquer forma, então ao menos devolver um pouco de paz de espírito a eles também é parte do nosso dever... Aconteceu alguma coisa?
Caterina olhou de volta para o rosto de Loretta. Foi então que percebeu que a jovem freira, alheia até mesmo à voz da cardeal, olhava o céu noturno visível por entre os corredores, logo atrás dela.
Não, não era apenas Loretta. As outras freiras, e até mesmo a multidão que se aglomerava diante dos portões, haviam parado de gritar sem que se percebesse — todos agora fitavam o céu do sul.
— Mas o que vocês estão... aquilo é...?!
Caterina também se virou na direção para onde todos olhavam, deixando cair o livro de poesias enquanto se levantava.
Além do mais escuro céu noturno antes do amanhecer, uma luz de branco puro se movia. Aquele brilho, que se aproximava em alta velocidade, aumentava diante dos olhos de todos que o observavam, até formar, por fim, a silhueta graciosa de um branco alabastro.
— Aquilo é... Iron Maiden II!?
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Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
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trinitybloodbr · 1 month ago
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 4: Anjo das Areias Escaldantes
— Por que o Senhor fez tal coisa com esta nação?
Por que acendeu Sua ira com tamanha fúria?
(Deuteronômio, capítulo 29, versículo 23 – Versão Japonesa)
Era uma terra viva, que se contorcia.
Era um amontoado de ar com vontade própria.
Era uma vontade de destruição... que respirava.
Era...
Ainda com o maça de guerra erguido sobre a cabeça, Petros perguntou com uma expressão atônita:
— Ei, alguém me explique — afinal, o que diabos é aquilo?
— Uma tempestade de areia...? Mas... daquele tamanho!?
Como Ion deixou escapar, atônito, aquilo parecia uma imensa tempestade de areia. Ou então, como se o próprio deserto tivesse se erguido.
Mas... seria mesmo possível a existência de uma tempestade de areia tão colossal?
No centro, como se fosse um olho negro, abria-se um buraco. Em torno dele, por um raio de mais de cinquenta quilômetros, redemoinhos de areia se espalhavam como incontáveis tentáculos. Aqui e ali, relâmpagos azulados cortavam os redemoinhos — provavelmente causados pela eletricidade gerada no atrito entre os grãos de areia. Os próprios redemoinhos pulsavam como se fossem organismos vivos, e as absurdas correntes de ar ascendente que deles emanavam chegavam a perturbar até o mais moderno encouraçado aéreo, pairando muito acima, como se fosse mera folha ao vento.
〈Impossível... Fisicamente, algo assim não poderia existir! De onde, afinal, está sendo fornecida tanta energia?!〉
Normalmente, as tempestades que se formam no deserto são redemoinhos causados pela diferença de pressão entre o ar frio nas camadas superiores e o solo aquecido, e sua escala não é muito grande. Elas são fundamentalmente diferentes dos ciclones tropicais (tufões), que acumulam quantidades imensas de energia sobre o mar.
Mas aquilo que cobria o deserto abaixo dos seus olhos era, claramente, de um tamanho comparável ao de um tufão.
— Isso é... Iblis?! Ainda está vivo, Anjo do Deserto!?
O padre de óculos, olhando para aquilo do alto, deixou escapar um gemido baixo. Sua voz, trêmula de forma quase violenta, não alcançou os ouvidos de ninguém, mas seus olhos estavam escancarados, como se houvesse testemunhado um fantasma erguendo-se do túmulo. A tempestade de areia avançava lenta, porém inexoravelmente, rumo ao nordeste. E naquela direção, estava...
— Calcule a hora de chegada! O tempo até aquela tempestade de areia atingir Cartago!
Abel se virou como se tivesse sido repelido por um choque e gritou bruscamente para o holograma da freira.
〈Já estou fazendo isso! Daqui a duzentos e quatorze minutos, às cinco em ponto — exatamente ao amanhecer!〉
Enquanto manobrava suavemente o rumo da aeronave, Kate respondeu apressadamente. Se voassem a toda velocidade, levariam menos de cinquenta minutos até o centro de Cartago — mas o que fariam depois disso? A Iron Maiden II era uma nave de guerra aérea de última geração, mas sua capacidade habitacional mal passava de trinta pessoas. Não era possível salvar nem mesmo os funcionários da embaixada ou os clérigos, muito menos os cidadãos de Cartago.
— ...O resgate da Duquesa de Milão é a prioridade máxima.
Como se estivesse lendo os pensamentos de Kate, uma voz monótona apontou o curso de ação dali em diante — era Tres.
— No momento atual, a destruição de Cartago já está confirmada. Iron Maiden, não há necessidade de alertar a cidade de Cartago. Se os cidadãos entrarem em pânico e começarem a evacuar, existe o risco do resgate da Duquesa de Milão se tornar difícil.
— Espere, Padre! Acaso ainda és um terran?!
Foi Ion quem reagiu de forma aguda àquelas palavras impiedosas — até então, ele parecia hipnotizado, encarando a tempestade. Demonstrando raiva, ele confrontou o padre de expressão impassível.
— Teus compatriotas estão morrendo e ainda pretende abandoná-los e assistir em silêncio!? Envergonhe-se!
— Isso mesmo! Padre Tres, e você ainda é um sacerdote!? Onde foi parar o orgulho de alguém que serve a Deus?
O apoio efusivo veio de uma fonte inesperada. Petros, que até então permanecia em silêncio com ar mal-humorado, assentiu com força, expressando seu acordo com Ion. Embora, logo após falar, pareceu se dar conta de que, por mais incrível que parecesse, havia acabado de apoiar a opinião de um vampiro.
— Ah, não, claro, isso foi apenas uma opinião pessoal minha...
Mesmo sem ter sido questionado, começou a se justificar às pressas — uma desculpa que nem chegava a ser uma desculpa. Ignorando-o completamente, Tres apontou de forma fria:
— Mesmo que comecemos a evacuação agora, a probabilidade de sobrevivência deles é zero. Ninguém será salvo de qualquer forma. E deixe-me acrescentar mais um ponto, Conde de Memphis.
A voz do Gunslinger era fria e implacável.
— Eu não sou humano ── sou uma máquina. Vergonha ou orgulho não dizem respeito a mim.
— M-Mas, tu...!
〈Por favor, vocês três, parem com isso! Se quiserem brigar, que seja lá fora ── oh?〉
Provavelmente foi porque, há pouco, a ponte de comando quase foi transformada em um ninho de abelhas. Enquanto tentava se interpor entre os homens, que ainda estavam à beira de um confronto explosivo, a Irmã Kate de repente ergueu o rosto, como se tivesse notado algo.
〈Uma transmissão de vídeo endereçada ao Conde de Memphis está entrando. Huum... a origem é... do-do encouraçado aéreo Raguel, do Departamento de Inquisição do Ministério da Doutrina da Fé!?〉
— Transfira para o monitor principal.
Em resposta à voz de Tres, uma luz surgiu no monitor à frente. Talvez por causa das condições atmosféricas ruins, havia bastante ruído misturado. Ainda assim, não havia como confundir aquele belo rosto sob os cabelos azuis.
— Radu! Então você estava vivo, afinal!
〈...Ah, essa voz é você, Ion?〉
O vampiro de cabelos azuis que apareceu no monitor estava profundamente definhado e abatido que custava se acreditar que aquele fosse o mesmo jovem de antes. Os lábios, curvados num sorriso de vazio existencial, estavam de uma palidez quase doentia.
〈Desculpe, mas esta nave aqui não consegue receber imagens. É uma pena não poder ver seu rosto, mas estou aliviado em saber que está bem.〉
— Como ousa ser tão descarado!
Com a boca escancarada de raiva, o garoto berrou em fúria.
— Com que cara ousa aparecer diante de mim!?
〈Pelo visto, sou mesmo odiado, hein〉
Radu soltou um sorriso amargo, mas não tentou se justificar. Pelo contrário, mantinha o peito erguido.
〈Indo direto ao ponto. Vamos ao assunto principal. Já não temos mais tempo para mutuamente reaquecer nossa amizade... Imagino que você também já tenha visto meu trunfo, certo?〉
— Aquela tempestade de areia... O que é aquilo?
〈Iblis ── uma antiga arma climática de batalha final, criada pelos terrans numa era antiga, quando ainda travavam feroz guerra contra nossos ancestrais, os methuselahs. Ou melhor, talvez devêssemos chamá-la de arma de autodestruição? 〉
Nos olhos de Radu, brilhava uma luz que mesclava sutilmente o desprezo e o temor.
〈Naquela época, os terrans que viviam em Cartago prepararam uma armadilha para destruir toda a cidade — junto com seus invasores — caso fossem derrotados e a cidade tomada. E isso é aquela tempestade de areia. E fui eu quem ativou a unidade-mestra. Em breve, aquela tempestade será atraída até esta cidade pelo sinal dessa unidade-mestra. Quando isso vai acontecer... você já sabe, não é?〉
Ao contrair a bochecha encovada, Radu alterou a expressão com firmeza. O cansaço pareceu desaparecer de seus olhos cor de bronze, como se fosse apagado. No lugar dele, surgiu uma penetrante intenção assassina.
〈Ion, entregue seu pescoço docilmente. Se o fizer, pouparei a cidade de Cartago e a vida da Duquesa de Milão.〉
— Foi até esse ponto? Tu... Só para matar a um só, a mim... usaste de truques tão vis, Radu?!
〈Ora, mas é claro. Eu sou um traidor desprezível, não é? Apesar de ter sido traído tão duramente, ainda assim confiavas em mim, meu caro amigo, não...? Ah, sim, é verdade...〉
Na verdade, aquele vídeo não poderia ser transmitido para o outro lado, mas, diante dos olhos do garoto que o fitavam diretamente, Radu desviou o olhar. Enquanto desviava, estalou os dedos de forma teatral.
De repente, o monitor escureceu e seu rosto desapareceu. Em seu lugar, o que apareceu na tela foi...
〈Deixe-me deixar uma coisa bem clara. Por mais que me odeiem, não recomendo ações extremas como abater esta nave... Esta é a imagem logo abaixo dela.〉
〈A-aquele prédio...!〉
Kate ergueu os olhos para a imagem que acabara de mudar no monitor — e prendeu a respiração. Era uma transmissão da Cidade Antiga de Cartago. E bem no centro da tela, surgia uma construção imponente e complexa, composta por diversos edifícios interligados por inúmeros corredores.
〈A Embaixada do Vaticano — Ca-Caterina-sama!〉
〈É isso mesmo... Agora que entendeu, Ion, venha aqui calmamente. Já não temos muito tempo〉
A figura do methuselah, que sorria com malícia, foi subitamente envolta pela escuridão. Por fim, um ruído intenso ecoou, seguido por um som que lembrava algo sendo abruptamente cortado — e a tela escureceu.
—  .........
Diante do monitor agora em silêncio, ninguém se moveu por um tempo.
Durante todo esse tempo, a tempestade de areia não dava sinais de cessar. Na verdade, parecia crescer a cada instante.
〈”Iblis” — Anjo do Deserto...〉
Por fim, a imagem tridimensional holográfica da freira murmurou.
〈O Barão de Luxor falou algo sobre ser uma arma de autodestruição, mas o que isso quer dizer? Que significado isso pode ter, afinal?〉
— É no sentido mais literal possível, Kate-san.
Quem respondeu à dúvida de Kate, que mais parecia um monólogo, foi o padre de cabelos prateados, que observava a janela com uma expressão amarga.
— Você conhece a lenda de Santa Elissa, reconhecida oficialmente pelo Vaticano, não conhece?
〈A rainha que protegeu a cidade de Cartago dos vampiros? Sim, estou ciente.〉
Após a catástrofe conhecida como o 'Grande Cataclismo' (Armagedom), a humanidade, agarrando-se desesperadamente às poucas zonas habitáveis que restaram neste planeta, acabou por encontrar um novo inimigo — o surgimento dos vampiros.
Esses seres de inteligência distinta, dotados literalmente de força monstruosa e hábitos vampíricos, também possuíam, ao mesmo tempo, tecnologias científicas altamente avançadas — consideradas perdidas (Lost Technology) — e uma organização sólida. Diante de seu avanço, a derrota da humanidade, isolada em pequenas comunidades e munida apenas de tecnologia limitada, parecia inevitável... ou, ao menos, assim deveria ter sido.
Contudo, foi nesse momento que uma mudança subitamente ocorreu.
Mesmo entre a humanidade — dentro do Vaticano — que ainda detinha uma força organizacional relativamente grande —, milagres começaram a acontecer em sucessão a partir de certo ponto no tempo.
À beira da derrota, as forças da Igreja viram-se, de súbito, diante de um grupo de anjos que afugentava os vampiros.
Diante dos cavaleiros que partiam para a batalha, armas de tecnologia perdida altamente avançada — como que ilusões — surgiam do nada.
Entre os milagres mais conhecidos, estão os relatos de indivíduos dotados de poderes misteriosos que surgiram em diversas regiões ── como a “Santa Negra” (Naia Sancta), que teria concedido ao então Papa Gregório XX uma série de revelações e profecias; São István, que restaurou uma imensa rede de energia elétrica em aldeias remotas do Oriente; e São Nevşehir, que, segundo dizem, exterminou em uma única noite as hostes vampíricas que assolavam o Reino Franco. Esses portadores de poderes extraordinários foram reconhecidos pela Igreja como “Santos” e, até hoje, são reverenciados com fé profunda, tidos como enviados de Deus ou encarnações de anjos.
Santa Elissa também foi uma das santas daquela era.
Durante o período médio da Era das Trevas, a cidade de Cartago foi atacada por um exército de vampiros. Naquela ocasião, quem liderou a resistência em nome da cidade foi Elissa, a rainha de Cartago. A batalha feroz durou três dias e três noites, e a humanidade, sob o comando da rainha, lutou corajosamente contra os vampiros. Na última noite, Elissa sacrificou a própria vida para destruir os vampiros — e assim, Cartago foi salva por um triz.
— ...Contudo, há uma parte dessa história que não consta nos registros oficiais. Segundo as tradições dos beduínos...
Ajustando os óculos, Abel ergueu os olhos para as luas, como se estivesse lembrando de algo.
— Na verdade, Elissa não acreditava que venceria. Por isso, antes da batalha, prevendo o momento que fosse derrotada, preparou um mecanismo para destruir toda a cidade junto com os vampiros — ou pelo menos é o que dizem. Provavelmente, aquele tal de 'Iblis' de que o Barão de Luxor falou se referia a isso.
— Mas que estranho...
Foi Ion quem inclinou levemente a cabeça, enquanto ouvia atentamente a fala do padre.
— Nunca ouvi falar de tal história. Em nossa história, nem a cidade de Cartago nem essa tal de Elissa aparecem. Padre Nightroad, essa lenda é realmente confiável?
— Isso é...
Abel tentou responder algo, mas uma voz monótona o interrompeu.
— Neste momento, a avaliação de dados passados é inútil — recomendo adiar qualquer investigação para depois do término da missão.
Foi então que Tres, que até então observava minuciosamente o mapa topográfico projetado na tela, se virou.
— Não temos tempo. O que se exige agora é conter o avanço da tempestade de areia e, ao mesmo tempo, salvar a Duquesa de Milão e a embaixada — precisamos elaborar esse plano o quanto antes.
〈Isso é verdade, mas... como, exatamente, vamos fazer isso?〉
— Primeiro, desativamos a unidade-mestra.
Radu havia dito: “Aquela tempestade de areia vem até esta cidade atraída pelo sinal do unidade-mestra.” Ou seja, se encontrassem e destruíssem esse tal de unidade-mestra...
〈Mas como? Como encontraremos algo como essa tal unidade-mestra?〉
— O que há na direção de avanço da tempestade de areia?
〈A cidade de Cartago... Ah! Então isso está dentro da cidade?〉
— Positive. Além disso, entre toda a área urbana, há apenas um local onde ruínas da Idade das Trevas permanecem preservadas em sua forma original.
Tres apontou o laser de sua arma para a vista aérea de Cartago exibido na tela. Um ponto de luz vermelha brilhou solitário sobre a catedral, logo ao lado da embaixada do Vaticano, na cidade antiga.
〈É a Cripta da Rainha — Qabr El-Elyssa—, sob a catedral, não é?! Oh? Mas... aquele lugar não deveria estar completamente selado...〉
— É possível entrar pelos karez, os canais subterrâneos.
Abel retirou de dentro de seu casaco um pedaço de papel todo surrado.
— Este é o mapa que o Dr. Borromini possuía. Quando o encontramos, pensei que fosse algo ligado a escavações ilegais ou algo assim... Mas acredito que ele tenha sido contratado por Radu-san para restaurar as ruínas. E foi por isso que, quando nós o prendemos, temendo a possibilidade de vazamento de informações, Radu-san acabou matando-o.
〈Então, com isso poderemos neutralizar o Iblis, não é?!〉
— No entanto, nesse caso, agora quem estará em risco será a Duquesa de Milão.
Como Tres apontou com expressão inalterada, caso o Iblis fosse desativado, Radu certamente não ficaria calado. Bastaria um dos explosivos instalados no Raguel para transformar a embaixada do Vaticano em um monte de escombros.
— Vamos nos dividir em dois grupos.
Disse o padre de cabelos prateados, enquanto conferia o mapa.
— Eu vou deter o ‘Iblis’. Enquanto isso, Ion-san, Kate-san, por favor, tentem conter o Barão de Luxor e ganhar tempo.
〈Mesmo que diga para tentarmos ganhar tempo...〉
Kate franziu as sobrancelhas, com uma expressão preocupada.
〈O Barão de Luxor está tentando matar o Conde de Memphis, certo? Mas eu, por minha vez, preciso dar um jeito no Raguel. Além disso, o Conde de Memphis e o Padre Tres estão, como pode ver, feridos... Nossa força de combate é insuficiente para enfrentar o Ifrit, não é?〉
— ...Não, temos poder de combate suficiente.
Ion balançou a cabeça e, em seguida, virou-se para olhar para trás.
Ele ergueu o rosto como se estivesse se esticando para olhar o homem, que desde algum tempo permanecia em um silêncio inquietante, de braços cruzados e expressão impenetrável.
— Irmão Petros...
O jovem vampiro dirigiu-se ao inquisidor.
— Desejo que me emprestes a tua força.
〈...O quê!?〉
Todos ali voltaram os olhos para o rosto de Ion.
Será que esse garoto tinha enlouquecido?
No entanto, o rosto erguido de Ion, que olhava para Petros, embora pálido, mostrava um semblante calmo, e até mesmo, seus olhos refletiam um brilho límpido e sereno.
— A força com a qual lutaste de igual para igual contra Radu... Eu a estimo muito. Não a emprestarias a mim?
— ...Estás em teu juízo perfeito, criatura?
A voz do inquisidor soou como o rosnado de um urso-pardo despertado à força de sua hibernação.
— Sou um inquisidor — o inimigo natural de vocês, sabia? E ainda assim... quer que eu, logo eu, empreste meu poder a um vampiro?
— Isso mesmo. Obviamente, não estou dizendo que será de graça.
O garoto assentiu. Em seu rosto, não havia qualquer exaltação, muito menos, hesitação. Colocando a mão sobre o próprio peito, disse:
— Quando esse assunto estiver acabado, oferecerei minha cabeça a ti. Que tal isso?
〈E-Excelência! Não deve! Uma promessa dessas...〉
Foi Kate que tentou intervir às pressas, mas antes que pudesse, Abel estendeu o braço à sua frente. Com o olhar, conteve os olhos da freira e, em silêncio, balançou a cabeça.
Enquanto isso acontecia, Ion continuava, como se não notasse a interação que se passava atrás dele.
— Peço-te. Só desta vez, não poderias emprestar tua força a mim? Para que eu possa resolver as contas com Radu, esse poder é necessário.
—  Posso perguntar uma coisa, Ion, ou seja lá como se chama?
Com a mesma expressão mal-humorada de sempre, Petros disse:.
— Qual é o motivo pelo qual tu queres enfrentar aquele vampiro, a ponto de usar a minha força? É por rancor?
— Não creio que seja rancor...
Inclinando levemente a cabeça, Ion respondeu. Falava pausadamente, como se conversasse com alguém dentro de si e transmitisse de boca a boca aquilo que esse alguém dizia.
— Aquele homem foi meu melhor amigo. Não... Ainda o considero assim. Eu... não quero deixar que ele continue a cometer erros além disso.
— ............
Com uma expressão carrancuda no rosto, o Cavaleiro da Ruína, o Il Ruinante cruzou os braços. Seu semblante, a perfeita personificação da seriedade, encarava Ion com a expressão de quem acabara de mastigar um inseto amargo.
A qualquer momento, a maça ainda segura em suas mãos poderia cortar o ar e descer com força sobre a cabeça do garoto.
Mesmo que ninguém dissesse em voz alta, uma atmosfera como se estivesse eletricamente carregada pairava na ponte de comando...
— ...Ei, você, a tal Irmã Kate.
〈S-sim?! O que deseja?〉
A freira endireitou apressadamente a postura pela súbita convocação, e o inquisidor lançou-lhe um olhar irritado com um ar mal-humorado.
— Esta nave tem um arsenal?
〈Hã? S-sim, temos, tecnicamente... mas, hum, por quê? Não vai me dizer que é um sequestro?!〉
— Pare de falar besteira e trate de me levar até lá imediatamente!
Com um golpe pesado da maça de guerra no chão, Petros resmungou, irritado.
— Para enfrentar aquele demônio de fogo Ifrit, também teremos que nos equipar adequadamente.
〈Hã?〉
Os olhos de Kate se arregalaram. Naquele instante, o rosto de Ion, que se mantinha em uma postura respeitosa ao lado dela, se iluminou.
— E-Então!
— Não se engane, vampiro!
Em contraste com o garoto que sorria levemente, erguendo os lábios num esgar de ódio, Petros ergueu a voz em um brado furioso. Com um simples movimento de pulso, apontou com precisão sua maça de guerra bem diante do rosto de Ion.
— Saibas que não estou te ajudando! Estou lutando única e exclusivamente pela Igreja, pelos duzentos mil cidadãos de Cartago, e pelos meus subordinados que foram assassinados! Assim que me livrar desse tal Radu, serás o próximo, junto com esses traidores! Lidarei com todos vocês! Lembra-te bem disso!
O inquisidor, lançando as palavras como uma ameaça, virou o rosto fazendo um beiço ── Ainda assim, não se sabia por que estava envergonhado, seu rosto estava estranhamente corado. Com essa mesma expressão, Petros murmurou de modo emburrado, quase inaudível.
— Bom... até lá, vou deixar isso como uma trégua.
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O que será que foi aquele tremor de agora há pouco? Ao que parece, havia acabado adormecendo de novo.
Vindo das profundezas da sonolência, Esther emergiu lentamente para a margem da realidade, erguendo suavemente suas pálpebras delicadas.
Talvez por ter dormido profundamente depois de tanto tempo, sua mente estava mais clara do que nunca. Mas ainda não tinha dormido o suficiente. Queria continuar dormindo. Se possível, para sempre — porque, se ficasse aqui, poderia esquecer de tudo.
“De tudo?”
Enquanto tentava afastar a consciência do cheiro de sangue e fogo que ameaçava ressurgir no fundo de suas narinas, Esther se questionava. Com esforço, fazia sua mente flutuar, tentando evitar encostar no círculo de pensamentos ligados àquilo.
Ela não queria lembrar. Aquilo... aquelas asas imensas...
“Não pense nisso!”
No limiar entre o sono e o despertar, Esther tentou afundar sua consciência no fundo do mar dos sonhos. Não queria pensar. Não devia pensar. Só queria dormir. Se conseguisse dormir...
— ...Esther-san?
A voz hesitante que veio junto com a batida na porta a trouxe de volta à realidade.
— Ah... Esther-san. Está acordada?
— !?
A consciência, despertando rapidamente, trouxe de volta — junto a um grito — lembranças de sangue e chamas, relâmpagos e escuridão... e daquilo.
“Não venha!”
Agora, ela já havia despertado completamente. Ainda assim, Esther não se mexeu, permanecendo com o cobertor por cima da cabeça — não, na verdade, ela não podia se mover. Do outro lado da porta... estava aquilo.
— Vejo que ainda está dormindo, não é?
Do outro lado da porta, aquilo pareceu suspirar. A silhueta alta refletida no vidro fosco inclinou levemente a cabeça — parecia extremamente solitária.
Mas Esther não se deixou enganar. Com os olhos firmemente fechados, ela conteve a respiração.
” Rápido, vá embora... rápido...”
— Então... seria indelicado atrapalhar ── não vou mais te acordar, está bem?
“Isso, assim mesmo, vá embora. Vá embora...”
— Mas, como não sei se vamos nos ver de novo, vou falar tudo o que tenho para dizer agora. Caso contrário, posso acabar me arrependendo... Então, por favor, escute mesmo que esteja dormindo.
Mesmo o grito do coração de Esther foi em vão — o padre postado do outro lado da porta não demonstrava a menor intenção de ir embora. Mais ainda, ele começou a murmurar algo como para si mesmo. Esther só podia fazer uma coisa: cobrir-se com o cobertor e apertar os olhos com força.
— Antes de mais nada, me desculpe por ter feito você passar por algo tão terrível hoje... Estou realmente arrependido. Deve ter sido assustador, não é?
Com uma voz calma, o padre se desculpou. Sua voz não era de forma alguma alta, mas ressoava com clareza.
— Você deve ter sentido medo, não é mesmo...? Afinal, até eu tenho medo de mim mesmo. Imagino que você tenha ficado ainda mais assustada.
“Hã?”
O que será que ele quis dizer com “Tenho medo de mim mesmo”?
Naquele momento, ele parecia a própria encarnação da destruição — como se estivesse embriagado pela própria destruição. Era isso o... “Tenho medo de mim mesmo”?
Esther nem percebeu que, em algum ponto, seu corpo inteiro havia se tornado como ouvidos, que estava completamente absorta no monólogo do padre.
— Sim... Você me disse, outro dia, não foi? ‘Por que está sempre brincando? Por que nunca leva nada a sério comigo?!’ — Então... Aquilo foi a resposta. Sim... Aquilo foi...
Na voz de Abel — como se estivesse desesperadamente tentando engolir algo amargo — não havia mais nenhum vestígio da presença daquele anjo caído de antes. Era a mesma voz do padre de sempre: aquela insegura, mas que adorava os humanos. Ainda assim, algo incontrolável rodopiava dentro dela.
Tristeza? Desespero? A sensação de perda? Não... era uma ressonância que parecia misturar tudo isso...
Era uma voz como se estivesse cuspindo sangue.
— Aquilo... não é algo como você está pensando. Aquilo definitivamente não é o tipo de poder que você imagina. Não posso explicar em detalhes, mas... é algo diferente. Sim, se fosse para colocar em palavras — é como se fosse o estigma do meu pecado...
Não exatamente para Esther, mas como se estivesse se confessando a alguém dentro de si, Abel silenciou por um momento.
— ...Quando eu me transformo naquilo... não consigo me conter... não consigo conter a eles.
Ao abrir a boca novamente, sua voz carregava um profundo arrependimento.
— Por isso... se possível, eu não queria ter usado isso na sua frente. Porque, se o fizesse, acabaria te assustando... É, se possível, realmente não queria ter usado.
Dessa vez, de fato, continuando em silêncio — a presença do lado de fora da porta não voltou a se mover.
Esther também permaneceu imóvel.
Com apenas uma fina porta entre eles, o padre e a freira mantinham-se em silêncio. O som do motor da aeronave reverberava baixo, enquanto aquela desajeitada quietude já se prolongava por bastante tempo...
— ...Ah, é verdade. Estamos sem tempo.
Quem quebrou o silêncio primeiro foi o padre do outro lado da porta.
Havia naquela voz um eco de quem desperta de algum sonho. A silhueta alta ainda espiava com certa relutância em partir através do vidro fosco.
— Mas, por favor, peço que acredite ao menos nisto... Eu queria estar do seu lado. Eu queria proteger você... e o Ion-san, a qualquer custo. Isso, pelo menos, é verdade. Pode ser que você não consiga acreditar, mas...
A presença do lado de fora da porta permaneceu imóvel, como se tivesse algo a dizer, mas no fim, aparentemente temeu perturbar ainda mais a paz da paciente. Ouviu-se um leve suspiro, e então, suavemente, afastou-se da porta, voltando-se em silêncio. Os passos arrastados se distanciaram pelo corredor, pouco a pouco.
— ........
Esther continuava imóvel, ainda coberta pelo cobertor.
"Você está sempre poupando forças!"
Naquela estalagem, quando ela o insultou, ele apenas abaixou a cabeça com um ar solitário — exatamente como agora.
Ficando furiosamente irritada por ele não responder nada, Esther o insultou.
E no fim, — sobre Abel — a pessoa que tentou salvá-la...
“Monstro!”
A expressão que surgiu no rosto dele naquele momento... Esther provavelmente jamais conseguiria esquecer.
Sim... foi ela quem o chamou de monstro. “Eu estou do seu lado” — foi isso o que ele a disse gentilmente. E mesmo assim... foi ela quem o chamou de monstro.
“Eu tenho medo de mim mesmo” — é o que ele pensa sobre si mesmo.
— ...Padre!
Naquele instante, o corpo de Esther se ergueu da cama com uma naturalidade exageradamente natural.
— Espere! Padre, não vá!
Será que ele já teria ido tão longe que sua voz não o alcançava mais? Não houve resposta de Abel. Quando estendeu a mão apressada até a maçaneta, Esther se deu conta de que estava vestida apenas com sua roupa de baixo nada atraente.
— A-algo para vestir!
Ela encontrou seu hábito de freira, perfeitamente limpo, ao lado do travesseiro, e rapidamente o vestiu.
Sem nem mesmo terminar de abotoar, lançou-se apressadamente para o corredor...
— Ai!?
No exato momento em que passava por ali, Esther esbarrou em um homem de batina e caiu sentada no chão. A ponta de seu nariz gradualmente começou a latejar de dor.
— Ai, ai, ai... v-você está bem, Padre Abel?
— Negative. Não sou o padre Nightroad.
Aquele que olhava de cima a irmã, que esfregava os olhos marejados, exibia um rosto inexpressivo, como uma máscara.
— Relatório de avaliação de danos (Damage Report), Irmã Esther Blanchett.
— Pa-Padre Tres... é você...
O padre, de cabelos castanhos cortados bem curtos, levantou a garota nos braços sem dizer uma palavra. Só então Esther percebeu que a aparência dele estava longe do comum.
— V-vai... vai para a guerra ou algo assim, Padre Ix?
— Positive.
Respondendo brevemente, Tres tinha pendurados em ambos os ombros dois objetos que pareciam blocos de ferro em forma de cones enroscados na ponta de tubos de ferro mal-acabados. Eram lança-foguetes descartáveis — Panzerfausts — capazes de destruir completamente um tanque a trinta metros de distância.. Além disso, nas costas, carregava uma metralhadora pesada equipada com tripé. Em volta da cintura, um cinturão de munição estava enrolado em espiral. Pendurados também na cintura, havia minas magnéticas adesivas, específicas para combates contra tanques. E, preso ao cinto do tornozelo, uma faca robusta que parecia capaz decapitar até mesmo um búfalo.
— Vamos agora nos deslocar para a cidade de Cartago, onde travaremos combate com o encouraçado aéreo Raguel, que paira sobre a cidade, bem como com o vampiro, o Barão de Luxor, Radu Barvon. Após isso, libertaremos a embaixada.
— E-Embaixada!?
Nesse caso, será que Abel veio se despedir agora há pouco porque ele também vai participar dessa batalha?
— O-o Padre... O Padre Nightroad, onde está? Ele também está com você, Padre IX?
— Negative — ele está ali.
O local indicado por Tres era uma pequena janela aberta no corredor.
O que se via abaixo era um mar de areia. Provavelmente, algum tipo de ponto de descanso dos beduínos, ou algo assim. Podiam-se ver cabanas improvisadas rudimentares e um pequeno poço. E ali, ao lado do poço, estava de pé, sozinho, uma figura alta de cabelos prateados.
— Há vinte e cinco segundos, o padre Nightroad desembarcou. A partir de então, ele passou a agir separadamente de nós.
Bem naquele momento, Abel soltou o fio de aço que segurava. O fio foi imediatamente recolhido de volta pela Iron Maiden II, deslizando suavemente. Mas apenas Abel permaneceu ali, parado, encarando fixamente na direção deles.
— P-por que... o Padre Abel está ali?!
Enquanto isso, a nave de combate aérea retomava seu curso. A sombra do padre, que os observava lá de baixo, afastava-se rapidamente até se tornar do tamanho de um grão de feijão.
— P-por quê?! Por que só o Padre Abel ficou lá?!
〈O Padre Abel está numa unidade separada〉
Uma voz suave de mulher respondeu à dúvida da garota. A câmera de vigilância no teto se moveu levemente, voltando-se para o rosto de Esther.
〈A partir deste momento, esta nave fará contato com o encouraçado aéreo Raguel e o Barão de  Luxor sobre a cidade de Cartago. Durante esse tempo, o Padre Abel estará encarregado de uma missão separada no subsolo da cidade.〉
— No entanto, se pousarmos muito próximo da área urbana, corremos o risco de sermos descobertos pelo inimigo.
Lá fora, pela janela, já estava completamente escuro, e a silhueta de Abel já havia desaparecido há muito tempo. Mantendo os óculos espelhados voltados naquela direção, o padre cego complementou a explicação de Kate.
— O padre Nightroad pretende entrar pelo canal subterrâneo através daquele poço e seguir a pé pelo subsolo até o centro da cidade.
〈...Ah, irmã Esther, onde pensa que está indo?!〉
No meio da explicação de Tres, Esther tentou sair correndo para algum lugar, e foi então que Kate a deteve.
〈Na verdade, eu gostaria de deixá-la em um lugar seguro, mas não temos tempo para isso. Por favor, permaneça na cabine enquanto durar o combate.〉
— Eu vou acompanhar o Padre Nightroad!
Enquanto batia os pés no mesmo lugar, Esther balançava a cabeça.
— Por favor, volte até o Padre Nightroad, Irmã Kate! E-eu também vou junto!
— Não posso permitir isso, Irmã Esther Blanchett.
A voz de Tres ecoou friamente.
— O lugar para onde o Padre Nightroad seguiu foi o centro de controle do ‘Iblis’ — os canais subterrâneos que levam ao Túmulo de Santa Elissa  — Qabr El-Elyssa—, sob o subterrâneo de Cartago. Mesmo que o acompanhe você apenas se tornaria um peso.
Aqui também... de novo, um “peso”!
Sim, de fato, talvez fosse mesmo um peso. Mas...!
— Por favor, Padre Tres! Eu...  para aquela pessoa...
Agarrando a batina do padre, que parecia como uma coluna de gelo, Esther gritou:
— Tenho algo que preciso dizer àquela pessoa! Por favor!
— ......
Tres fitava os olhos marejados da freira com suas lentes espelhadas, desprovido de qualquer emoção. Seus lábios, firmemente cerrados, eram instrumentos que só teciam pensamentos compostos de zero (negative) e um (positive).
Sim, ele não era humano — era uma máquina.
— Não é permitida a sua escolta ao Padre Nightroad, Irmã Esther Blanchett. Sua presença não representa poder de combate. Além disso, não há mais tempo para retornar.
A máquina de combate, desprovida de emoções, rejeitou friamente o apelo da garota.
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— Irmã Kate, pare a nave e deixe-a em algum lugar apropriado. Mesmo que a levemos junto com o ‘Raguel’, não seria nada mais que um peso.
As palavras cruéis esmagaram ainda mais a garota.
〈P-Padre Tres! Isso já não seria demais...?〉
Em meio à aproximação de uma tempestade de areia, será que esse autômato está mesmo sugerindo lançar uma garota sozinha no deserto?
〈Tudo bem que ela não sirva como força de combate, mas isso...〉
— Deixá-la aqui é, na verdade, mais perigoso. Deve haver uma cópia do mapa que o padre Nightroad tinha. Dê a ela, junto com uma arma para defesa pessoal, e mande-a para a superfície — se se esconder nos canais subterrâneos, provavelmente conseguirá resistir a tempestade de areia.
— ....Hã?
Se se esconder nos canais subterrâneos!?
O rosto de Esther se iluminou de repente.
— En-então, Padre Tres...!
— Naturalmente, depois de adentrar os canais subterrâneos, não importa para onde vá — isso está além da nossa jurisdição. Cuide da sua própria segurança.
A máquina de matar, desprovida de sangue e lágrimas, disse apenas isso, e se virou friamente.
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Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿) Desafio: encontre o 'furo' de roteiro desse capítulo hehe!
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trinitybloodbr · 1 month ago
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[ ᴀɴɪᴍᴇ ɪᴄᴏɴᴏ ]
𝑪𝒂𝒕𝒆𝒓𝒊𝒏𝒂 𝑺𝒇𝒐𝒓𝒛𝒂 | 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒊𝒕𝒚 𝑩𝒍𝒐𝒐𝒅 ♡︎
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trinitybloodbr · 2 months ago
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Trinity Blood
Abel Nightroad
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trinitybloodbr · 2 months ago
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
Não sabe por onde começar? Confira o Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!!!
Capítulo 3: O Estigma do Pecador
Quando a Iron Maiden II finalmente deixou o porto, após concluir o resgate dos feridos, já havia passado da meia noite.
〈Todos os agentes especiais presentes na cena foram mortos — com isso, o poder militar da Inquisição dentro da cidade de Cartago está praticamente aniquilado, não é?〉
A voz da irmã Kate soava amarga. O holograma da freira flutuando na ponte oscilava levemente enquanto inclinava a cabeça de lado.
〈...Então, Abel-san, e quanto aquele que os atacou — o Barão de Luxor?〉
— Sobre isso... não sei ao certo.
Estaria ferido em algum lugar? Com uma expressão incomumente sombria — para ele — Abel balançou a cabeça. Embora o seu rosto estivesse pálido, não se via sequer um arranhão em seu corpo.
— Acho que provavelmente, ele foi pego no meio do bombardeio... Mas, Ion-san, você viu alguma coisa?
— Não... Eu estava desmaiado! Que vergonha...!
Quem soltou um gemido de frustração foi o garoto sentado ao lado de Abel. Talvez a prata estivesse sendo eliminada, ou talvez fosse o efeito da transfusão sanguínea — mas, sua recuperação estava sendo consideravelmente mais rápida que a de um humano comum.
Após virar o copo de um hemoderivado, Ion estalou o pescoço como se estivesse descontando sua raiva.
— Não encontraram o corpo dele?
— Positive. Não foi possível localizar o indivíduo presumivelmente identificado como o Barão de Luxor, Radu Barvon. Supõe-se que tenha fugido.
Quem fez o relato de forma neutra foi Tres, que estava em um dos cantos da ponte de comando. Na base de seu pescoço ainda estava conectado o terminal de cabo que o ligava ao sistema de controle de armamentos da Iron Maiden II. Aquela rajada de tiros de artilharia quase divina disparada momentos atrás, que atingiram apenas as naves inimigas com precisão certeira — Rufaël e Acrasiel — sem causar qualquer dano à área urbana, foi obra deste ciborgue de infantaria mecanizada.
Com os braços cruzados e em silêncio, o Gunslinger complementou com mais detalhes ao seu relatório.
— Acrescentando mais um ponto: a outra nave de guerra aérea do Departamento de Inquisição — Raguel — continua desaparecida. Aparentemente, ela deveria ter deixado o aeroporto junto com a Acrasiel e a Rufaël, mas sua rota subsequente não foi possível rastrear.
— Entendo... E então, o que pretende fazer agora, Irmã Kate?
Com aquela voz sombria de sempre — e ainda assim estranhamente calma — Abel perguntou à projeção holográfica da freira. Restavam quatro horas até o amanhecer. Se fossem agir, o melhor era fazer logo.
〈Esta embarcação está atualmente navegando em direção ao Oásis de Douz, ao sul da cidade de Cartago. Na verdade, há ruínas de uma antiga igreja naquele oásis, e elas estão incluídas na agenda de inspeção de Caterina-sama.〉
— Entendi. Ion-san poderá se esconder nesse oásis, e durante a inspeção oficial, teríamos a audiência com ela... uma boa estratégia.
〈Após a audiência, levaremos novamente o Conde de Memphis a bordo e partiremos. Se conseguirmos sair até a zona segura, poderemos alugar um navio e solicitaremos o retorno ao seu país.〉
Com a força da Polícia Especial (Carabinieri) completamente aniquilada, não existiam mais fatores que poderiam impedir os movimentos de Caterina. Fariam uma coletiva durante o dia e, assim esperariam que a noite caísse, e então, eles deixariam o país em segurança.
〈Bem, até lá, Conde de Memphis, por favor, aproveite para descansar. Ah, e que tal um chá até chegarmos ao esconderijo? Desenvolvi uma nova receita recentemente〉
A freira sorriu alegremente e, ao levantar levemente o dedo, a mesa diante de Ion se abriu, e de lá subiu uma xícara de chá que exalava um vapor aromático.
〈Rosa-pink com malva e capim-limão... O segredo é usar mel, e não açúcar... Ah, Abel-san, também não gostaria de experimentar?〉
— Não... eu...
O padre, que observava o deserto noturno com um olhar silencioso e ao mesmo tempo melancólico, balançou a cabeça. Seu rosto estava mais pálido que a luz das duas luas.
Com um olhar um tanto vago voltado para o holograma de sua colega, Abel perguntou com uma voz rouca:
— Ah, Kate-san... antes de mais nada, sobre a Esther-san... como está o estado dela?
〈Sim, então... sobre isso...〉
Com um ar um tanto quanto de preocupação, a freira inclinou a cabeça. Levou os dedos ao canto dos olhos, onde havia uma pinta de lágrima.
〈Ainda não saiu da cama. Pelos meus exames, não encontrei nenhuma anormalidade física, porém...〉
— Entendo...
Mais uma vez, Abel lançou o olhar pela janela.
Talvez por estar em terras do sul, a luz distorcida da “segunda lua”, que continuava a brilhar no céu meridional, parecia incrivelmente próxima. Chegava a parecer que, se estendesse a mão, poderia tocá-la.
Durante aquele breve silêncio, que pensamentos teriam passado pela mente do padre?
Quando finalmente assentiu, como se tivesse tomado uma decisão diante daquele brilho, Abel já havia se levantado.
— Esther-san está na enfermaria, certo?
〈Sim. Preparamos uma cama no quarto ao lado do outro ferido... Oh, vai fazer uma visita a ela?〉
— Se for visitá-la, então eu vou junto.
Esvaziando rapidamente o que restava na xícara ainda pela metade, Ion também se levantou.
— Não sei o que aconteceu, mas estou preocupado. Quero ao menos ver seu rosto.
— Se é para se preocuparem com alguma coisa, preocupem-se com si mesmos, seus hereges!
Naquele momento, um rugido feroz, como o de um javali ferido, se sobrepôs à voz do garoto, ressoando no ar.
Todos os quatro presentes, sem exceção, se viraram ao mesmo tempo, como se tivessem sido repelidos por um impulso repentino. Uma figura alta estava de pé, bloqueando a entrada da ponte de comando. Em sua mão envolta por bandagens e compressas, segurava uma enorme maça de guerra. No rosto magro, desproporcional ao corpo robusto, os lábios estavam firmemente cerrados em uma linha tensa.
— I-irmão Petros!
— Finalmente conseguimos as evidências, seus hereges malditos!
Irmão Petros — o Inquisidor — lançou um olhar carregado de ódio para o grupo que se virara para ele.
Este homem havia sido atingido diretamente por um disparo de canhão de guerra e estava tão ferido que era um mistério ainda estar vivo.
Mesmo levando em conta a força defensiva da Armadura Sagrada do Sagrado Cavaleiro (Garb of Lord) e a resistência sobre-humana de um corpo modificado, ele não deveria conseguir sequer ficar de pé por vários meses — que tipo de nervos essa pessoa tem, afinal?
Diante dos olhares atônitos de todos, o inquisidor herege soltou uma gargalhada estrondosa, enquanto exalava de todo o corpo uma energia vital tão intensa que beirava o sufocante.
— Humf, como Francesco-sama disse, afinal aquela Sforza estava mesmo de conluio com esses vampiros! Que mulher ímpia! Mesmo sendo alguém encarregada de governar a Santa Igreja! Mas com isso, chegou a hora dessa raposa pagar pelos seus tributos. Agora, rendam-se e aceitem suas amarras com humildade!
— T-Tres-kun, pare com isso, por favor!
Se Abel não tivesse contido seu colega instintivamente naquele instante, a cabeça de Petros talvez tivesse se transformado em uma massa de carne moída, enquanto ele ainda gargalhava.
— Solte-me, Padre Nightroad.
Enquanto tentava se desvencilhar de Abel, que se agarrava aos seus braços, as mãos do Gunslinger já empunhavam duas M13 que cintilavam com um brilho metálico opaco. Com os dedos ainda sobre os gatilhos, Tres o mirou friamente.
— Agora que viu o Conde de Memphis, não podemos permitir que esse homem volte vivo... Iremos deletá-lo aqui mesmo.
— Ha! Me deletar? Interessante! Se bem me lembro, chamam-te Padre Tres Iqus, não? Muito bem — se achas que podes, tente fazer isso!
Como se tivesse reagido ao espírito de combate de seu dono, a maça soltou um grito estridente. O “Cavaleiro da Ruína” — Il Ruinante — girava com facilidade a arma, tão grande quanto seu próprio corpo, bem à sua frente — e em seu rosto, não havia qualquer sinal de medo.
— Este Petros, se for pela guerra sagrada, não fugirá nem se esconderá! Venha! Lutemos de forma honrada...
No meio de sua pose dramática, direcionado ao inquisidor de heresias, um disparo subitamente reluziu.
A bala disparada passou de raspão pelo rosto fino, desproporcional ao seu porte, e abriu um buraco enorme na parede atrás dele. Por um instante, o cavaleiro ficou boquiaberto, em choque, mas logo pareceu compreender o que havia acontecido. Segurando a bochecha, agora inchada como uma vergôntea, gritou:
— Co... covarde! Você ainda assim é um humano?! Enquanto um cavaleiro honrado está anunciando seu nome...
— Correção de ângulo de tiro: 0,02. Segundo disparo.
Palavras curtas foram abafadas pelos tiros e não puderam ser ouvidas claramente. Mesmo com Abel agarrado desesperadamente nele como um acessório desengonçado, Tres puxou o gatilho. Alguns fios do cabelo do “Cavaleiro da Ruína” (Il Ruinante) flutuaram ao vento.
— U-uooh! Atirou outra vez! Miserável, maldito, como se atreve a atirar sem nem ouvir o que os outros tem a dizer? Que blasfêmia!
— Tr-Tres-kun, por favor, pare! Primeiro, vamos falar com ele...
— Negative. Mais importante, Padre Nightroad, se continuar a interferir, você também será eliminado. Solte essas mãos.
Enquanto Petros gritava furioso, Abel permanecia agarrado e Tres puxava o gatilho — o diálogo entre os três seguia completamente desencontrado. Nesse meio-tempo, as balas de revólver eram espalhadas impiedosamente, e a maça de guerra brandida com tal violência, como se escavassem argila, iam abrindo buracos pela parede sem parar.
〈V-vocês dois, parem, por favor! Não briguem na ponte de comando! Se forem brigar, que seja fora da nave!〉
A projeção tridimensional da freira, completamente pálida, gritava com uma voz desesperada — mas ninguém a escutava.
E então, finalmente, o cano da arma de Tres, que havia lançado Abel para longe, se voltou para o inquisidor de heresias, enquanto a maça de guerra de Petros — aparentemente decidido a pular as apresentações — mirava a máquina assassina — o Killing Doll.
— Castigo divino!
— 0,04 segundos atrasado.
No exato instante em que as duas armas estavam prestes a demonstrar sua razão de existir, uma vibração violenta sacudiu a ponte de comando.
— O-o que foi isso!?
— U-um terremoto!?
Com a vibração violenta, a mesa foi virada. O vidro à prova de balas tremeu com um som desagradável, e todas as luzes do painel de controle ficaram vermelhas ao mesmo tempo. Abel, ainda jogado no chão, murmurou alguma coisa tola — mas, dadas as circunstâncias, não seria estranho se realmente fosse assim que parecesse.
Sobre o chão que se curvava como um trampolim, o padre de óculos espelhados que permanecia sozinho imóvel, perguntou:
— O que está acontecendo, Irmã Kate? Que tremor é esse?
〈U-uma turbulência!〉
A imagem holográfica, oscilando com piscadas intensas, parecia prestes a desaparecer a qualquer momento. Cerrando ainda mais os olhos estreitos, Kate relatou em tom de desespero:
〈U-uma turbulência surgiu de repente... Isso é impossível. O que é isso, afinal?! 〉
— E-ei...o que é aquilo?!
Enquanto ainda estava com a maça de guerra erguida, o Irmão Petros levantou a voz em aparente desespero. O grupo inteiro ao se virar, viu aquilo pela primeira vez.
No fundo da noite, o deserto estava se erguendo.
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Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
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trinitybloodbr · 2 months ago
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Capítulo 3: O Estigma do Pecador
Uma luz branca em ebulição rasgou o ar noturno como se fossem as garras de um deus, explodindo-se. Logo em seguida, aquilo que escorreu pelas costas do hábito rasgado... foram enormes asas de um negro profundo.
— O-o que... o que é aquilo...!?
Como uma borboleta sinistra emergindo lentamente de seu casulo, aquilo se ergueu — e a garganta do demônio de fogo — Ifrit — se moveu num engolir seco.
Os cabelos prateados, como uma coroa, brilhavam de maneira estranhamente bela sob o reflexo das chamas. Na sua mão direita, empunhava uma imensa foice de lâmina dupla, mais escura que a própria escuridão. Mas, mais do que qualquer coisa, o mais perturbador de tudo eram seus olhos, que reluziam da cor do sangue — e as enormes asas duplas que se estendiam nas costas de sua batina sacerdotal.
— U-um anjo... não, um demônio?
Aquilo lançou um breve olhar indiferente para as chamas, mas logo o desviou, com aparente desinteresse, sobre o calçamento de pedra. Ali, o sangue de Ion, que se contorcia como uma ameba, formava um redemoinho ao redor dele.
Aquilo sorriu.
O que aconteceu a seguir foi uma cena extremamente horrenda. As asas de um negror profundo caíram, como se estivessem murchas, sobre o chão de pedra. Ou melhor, para ser exato, suas penas mergulharam na poça de sangue ali formada. E então, no momento seguinte, o sangue de Ion foi sugado pelas asas negras, como tinta sendo absorvida por um papel mata-borrão.
O sangue sugado ramificou-se como capilares espalhados pelas asas negras, sendo então absorvido pelas costas daquilo.
— Você está... sugando o nosso sangue — dos Methuselahs?! Ma-maldito, quem é você?!
Desespero e temor — não, uma emoção ainda mais primordial — o medo — era o que impelia o corpo de Radu. Após jogar de lado a jovem terran, que arfava sem conseguir respirar, ele abriu por completo as glândulas secretoras em suas mãos. Ao mesmo tempo, excitou anormalmente todo o sistema nervoso — entrando no estado de “Aceleração Haste” — e começou a gerar o máximo de bolas de fogo que conseguia em suas mãos.
No instante seguinte, inúmeras chamas que saíram das mãos de Radu, investiram contra aquilo, enquanto se dividiam repetidamente em incontáveis chamas. Devido ao estado de "Aceleração Haste", era fisicamente impossível desviar da tempestade de chamas lançada de todas as direções. Não importa qual monstro fosse, com isso ele deveria ficar completamente carbonizado.
— ......
Talvez tenha percebido que não havia como evitar, aquilo não se moveu. Apenas suas asas bateram violentamente em direção ao céu.
Num instante, os relâmpagos que surgiram pareciam uma horda de cobras venenosas avançando sobre um bando indefeso de ratos. As esferas de fogo que chegavam a mais de cem, foram todas atingidas por relâmpagos, espalhando-se em todas as direções.
— !
Nem mesmo o tempo para se surpreender foi concedido a Radu.
Ao se dar conta de repente, a criatura disforme que estava diante de seus olhos havia subitamente desaparecido.
Mas como isso seria possível? Ele estava sob o efeito de Aceleração Haste. E mesmo assim, ele não conseguia perceber os movimentos do inimigo?!
No instante em que os pelos finos de sua nuca se eriçaram, o instinto de sobrevivência de Radu já o havia feito torcer o corpo para o lado. No mesmo momento, dezenas de fios de cabelo azul dançaram no ar noturno.
— O quê... o que está acontecendo!?
Ainda caído no chão, Radu recuou. Uma sombra escura ondulava entre as sombras do luar e das chamas.
E então aquilo o fitava de cima abaixo, em silêncio.
No meio daquela escuridão mais negra que a noite, apenas os olhos vermelhos brilhavam sinistramente.
Permanecendo em completo silêncio. Ainda assim, o que queria dizer foi transmitido a Radu com mais clareza do que com palavras.
VOCÊ / NOSSO / ALIMENTO...
No instante em que a enorme foice — que por pouco não decepara o pescoço de Radu — foi erguida novamente no meio do silêncio, por algum motivo, o pronome pessoal daquilo que soou na mente do jovem nobre imperial (boier) veio conjugado no plural.
NÓS / A PARTIR DE AGORA / VAMOS DEVORAR VOCÊ.
Após declarar isso de forma clara para o Methuselah — o ser mais poderoso da Terra —, a criatura brandiu sua arma grotesca.
Um estrondo capaz de despedaçar a própria noite ecoou pelo ar. Num piscar de olhos, um objeto de massa e velocidade absurdas passou raspando por cima da cabeça de Radu.
— P-padre!
Pareceu ouvir, ao longe, um grito de desespero, mas Radu não tinha o menor espaço de pensamento para se virar e olhar. Nem percebeu o tanque não tripulado Goliath, que, após disparar seu canhão, vinha em disparada na sua direção, com as esteiras rugindo. Tudo o que seus olhos enxergavam era...
— .......
A parte superior esquerda do corpo daquela coisa havia sido completamente obliterada. Mais precisamente, desde o peito esquerdo até o ombro, tudo havia desaparecido sem deixar vestígios. Um disparo direto de um canhão de tanque arrancara aquilo por completo.
— ........
Os olhos vermelhos se voltaram lentamente para o próprio ferimento. A parte superior esquerda de seu corpo, atingida diretamente pelo disparo de canhão de tanque, havia se transformando-se em pedaços de carne encharcados de sangue, espalhados por todos os lados.
Por mais monstruoso que seja, com isso ao menos...
No entanto, a esperança de Radu desmoronou com um estalo — no tempo de um único batimento cardíaco.
O sangue que se espalhara pelo chão começou a espumar com um som inquietante.
Não, aquilo não era espuma. Eram bocas. Inúmeras pequenas bocas, do tamanho de garras, brotando do sangue — cada uma delas com presas minúsculas como grãos de areia. Essas bocas cravaram os dentes aos pedaços de carne espalhados, devorando-os vorazmente como se fossem um manjar celestial. Depois de saciadas, as bocas dissolviam-se de volta no poço de sangue, como se nada tivesse acontecido. E o sangue, por sua vez, fluía de novo pelas asas ensanguentadas, retornando ao seu mestre.
Era uma visão horrenda. Em menos de alguns segundos, os pedaços de carne espalhados pelo chão foram completamente devorados. E o mais horrendo de tudo era que, naquele momento, aquilo estava de pé no mesmo lugar de antes — com a aparência absolutamente idêntica à original... exceto pelo hábito, que permanecia rasgado.
— Mas que tipo de piada é essa...?
Com os dentes rangendo, alguém gritava ao longe — mas Radu não percebeu que era a sua própria voz.
— Que tipo de piada é essa coisa?! Quem diabos é você...?!
Um som mais escuro que a própria noite ecoou. As asas de um negrume profundo bateram com força em direção ao céu. Relâmpagos azulados correram entre cada uma das penas negras, convergindo para a gigantesca foice erguida pela criatura.
No instante seguinte, o mundo inteiro se desbotou em azul.
A descarga elétrica lançada pela enorme foice brandida pelo monstro atravessou de frente o Goliath que avançava. A massa de aço, com mais de cinquenta toneladas, foi rasgada como se fosse de papel e espalhou-se em pedaços — Radu apenas observava, como se seus nervos tivessem sido entorpecidos.
“A seguir... será a minha vez de ser morto.”
O porto, iluminado intensamente pelas chamas que irromperam em uma explosão, era um inferno coberto de sangue, carne e aço. Não havia nenhum ser vivo de pé ou em movimento. Em meio àquela paisagem de morte e destruição, olhando para cima, para a única coisa que se erguia como o senhor dos pesadelos — Radu teve a certeza.
“Essa coisa vai me matar...”
Diante daqueles olhos vermelhos que fixamente o fitavam de cima, quando ele estava prestes a aceitar esse destino com uma serenidade quase insana...
— Mo-monstro...
Era uma voz pequena, mas ressoou naquele cenário como um trovão.
A voz vinha de uma garota pequena que segurava nos braços um menino desacordado. A freira, que fitava o anjo caído como se até mesmo tivesse esquecido de piscar, murmurou com a voz trêmula.
— Quem é você, afinal?
E então, isso provocou uma mudança que, deveria ser possível apenas para Deus, neste mundo dominado pela escuridão e pelo sangue.
— Ah...
Pela primeira vez, aquilo abriu a boca.
Pela primeira vez, algo que não era fome surgiu em seus olhos vermelhos.
Lentamente, aquilo virou-se para trás e, mais uma vez, proferiu palavras como se implorasse por algo.
— N-não... não... eu sou....
— Hi...!
No entanto, ao ver que aquilo deu um passo à frente, afastando-se do Ifrit, a freira recuou, aterrorizada. Segurando o corpo do menino nos braços, ela balançava a cabeça em negação, tremendo violentamente.
— Pa-pare... Não venha! Não venha, por favor!
— A... o...
Mesmo assim, aquilo estendeu a mão como se suplicasse. Em seus olhos, algo oscilava, como se lutasse ferozmente contra alguma coisa, e as asas em suas costas murchavam rapidamente, como pétalas secas de uma rosa negra.
— E... Esther-san, eu... eu... eu...
— Hii!
Esther soltou um grito como se o coração tivesse sido esmagado e encolheu-se. As mãos com garras daquela coisa, estendiam-se em sua direção. Diante de seus olhos, escancarados como se fossem explodir, algo tocou levemente sua bochecha manchada de lágrimas — um toque afiado mais duro que ferro.
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— .......
No momento seguinte, as forças abandonaram completamente o corpo da freira. Como um tronco podre que desaba, seu corpo se dobrou sem resistência — devido ao terror extremo, parece que seu coração não conseguiu suportar. Quando caiu no chão ainda abraçada ao garoto, sua consciência já havia escapado para algum lugar longe dali.
— Ah... Esther...
Aquilo se ajoelhou ao lado da jovem e do garoto desmaiados. Como se estivesse tentando pedir por perdão, balançou suavemente o ombro inconsciente de Esther.
— E-Esther-san... Esther-san... E-eu...
Como uma criança que se agarra à mãe, aquilo ainda assim sacudia a garota quando...
O ar foi rasgado.
Seria aquele o punho divino, que desceu voando do alto dos céus, para abater o anjo caído? O som do disparo veio alguns segundos depois do impacto.
— ...!
Esther e Ion — enquanto ainda protegia os dois, aquilo deixou escapar um gemido de dor. Mas se não tivesse estendido novamente suas asas para protegê-los, certamente o garoto e a garota teriam sido reduzidos a uma massa sangrenta de carne. Afinal, o projétil de trinta milímetros do Vulcan, que rasgou o chão bem diante deles, tinha poder mais do que suficiente para transformar até mesmo um veículo blindado em sucata.
— ‘A-Acrasiel’! ‘Rufaël’!
Um dos policiais especiais, milagrosamente ainda vivo, ergueu os olhos para o céu e soltou um grito de desespero.
Sob o céu noturno onde duas luas flutuavam, o ruído sinistro de motor era emitido por gigantescas sombras cinzentas, com mais de duzentos metros de comprimento. Acrasiel e Rufaël — encouraçados aéreos de última geração, controlados por inteligência elétrica (computadorizada), que carregavam o nome de “anjos que julgam os anjos”.
—N-não pode ser... até esses caras também?!
A voz trêmula de medo logo se transformou em um grito de horror. As metralhadoras automáticas dos dois encouraçados de combate giraram com uma fluidez quase intencional. No instante seguinte, assim como o Goliath as duas aeronaves — agora com suas inteligências eletrônicas tomadas — abriram fogo sem o menor vestígio de hesitação.
— ..........!
Era como se uma coluna de fogo tivesse despencado dos céus. A saraivada de projéteis de 30mm, disparados à razão de cinquenta por segundo, despedaçava impiedosamente tudo o que tocava no solo. O ar gritava como se o fim do mundo tivesse chegado, e o chumbo incandescente dilacerava a terra. A doca de concreto foi rasgada como papel, e as embarcações ancoradas explodiram em cadeia antes de desaparecerem entre as ondas. Gritos desesperados dos membros sobreviventes da força especial ecoaram por todos os lados — mas logo se calavam.
— Isso é ruim...
Naquela situação, aquilo que segurava Esther e Ion apertava os lábios e lançava um olhar ao céu. Ao lado do Rufaël, que continuava disparando rajadas com sua metralhadora, o canhão lateral do outro dirigível, o Acrasiel, estava girando lentamente. E sua mira — estava se ajustando diretamente para ele. Mesmo que conseguisse resistir aos tiros de metralhadora, se fosse atingido por um canhão de calibre tão grande...
Houve um estrondo ensurdecedor...
As chamas da explosão transformaram a noite em dia. A atmosfera em convulsão reverberava em ondas, golpeando o solo.
Porém, mesmo em meio à tempestade de luz e som que explodia ao redor, os projéteis que deveriam atingir o solo jamais chegaram.
— Aquilo é...
Mesmo apertando os olhos, aquela coisa ergueu o rosto — não, o que apareceu no campo de visão de Abel foi um redemoinho de luz em ebulição.
Enquanto lançava chamas rubro-negras e fumaça negra como breu a partir de seus balões de sustentação, a silhueta angular do Acrasiel, que até o momento estava assumindo a postura de bombardeio, caía em direção ao mar. Ao seu lado, o Rufaël rugia agudamente com seus motores a gás-turbina, tentando estabilizar o casco, que fora atingido pelo impacto da explosão. A silhueta colossal semelhante a uma criatura monstruosa era suficientemente imponente para inspirar verdadeiro temor em qualquer um que a contemplasse de baixo.
Porém, acima disso tudo, havia uma sombra colossal, que superava ainda mais as duas naves. Um encouraçado aéreo de branco puro dominava os céus noturnos, sob as duas luas, como se fosse seu legítimo soberano
— Iron Maiden II — Kate-san!
No exato instante em que Abel gritou, um raio disparado do dirigível branco empalou sem piedade Rufaël, que girava sua torre de artilharia lateral.
A colossal nave cinzenta caiu no mar logo após sua nave-irmã, emitindo um rugido ensurdecedor. Um segundo depois, o mar se ergueu como uma pequena colina. E o som da explosão ecoou mais um batimento de tempo depois.
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Capítulo 3: O Estigma do Pecador
— Bem... posso te fazer uma pergunta, Esther?!
Depois de muito hesitar entre perguntar ou não, Ion pareceu finalmente ter tomado a decisão de perguntar. Para não ser vencido pelo rugido do vento que soprava contra ele, ergueu a voz do banco do passageiro.
— Definitivamente, há algo que preciso confirmar com você!
— É algo importante, Excelência?!
A paisagem do lado de fora da janela passava para trás em uma velocidade assustadora. Diante da pergunta do garoto, Esther respondeu com outra pergunta, sem soltar o volante.
— Ah, aah! Isso é provavelmente algo muito importante!
— Então, por favor, diga de forma breve!
Diante da pergunta feita com a máxima discrição, a freira gritou em resposta sem sequer olhar para ele. Enquanto isso, suas mãos giravam energicamente o volante do “Merkava” — um veículo de reconhecimento desprotegido de uso exclusivo do exército da Igreja —, e seus pés dançavam com paixão entre o acelerador e a embreagem. A cena parecia tão atribulada que, por um momento, Ion hesitou em abrir a boca — mas logo recuperou a compostura e continuou a perguntar.
— Então, permita-me perguntar... hum, para onde exatamente estamos indo?
— Isso, seria melhor perguntar para o pessoal lá atrás do que para mim!
A resposta de Esther foi abafada imediatamente por uma buzina feroz que rugiu bem atrás deles.
Os faróis tipo 'olho de caranguejo' brilhavam intensamente como os olhos de um monstro gigante — o corpo colossal do veículo blindado de seis rodas, do tamanho de um caminhão pesado, avançava como se fosse esmagar o carro menor.
〈Veículo da frente, pare!〉
Do alto-falante externo montado na frente do blindado, bem sobre o emblema do Martelo de Deus (Vinea Domini), ressoou uma voz áspera.
〈Nós somos a Polícia Especial do Vaticano! Vocês estão presos em flagrante por roubo de veículo policial e violação do toque de recolher! Encostem o carro no acostamento e parem imediatamente!〉
— Que gente sem educação! Tratam as pessoas como criminosos do nada... E ainda por cima, de ladrões de carros e de violadores do toque de recolher? Uns marginais, não é isso?!
Fitando o blindado do tamanho de um barracão pelo retrovisor, Esther estalou a língua com irritação. Até o momento em que roubaram esse “Merkava” logo após fugirem da hospedaria, tudo parecia estar indo bem. Mas depois... as coisas começaram a dar errado — daquele jeito, nem mesmo abandonar o carro e se esconder em algum lugar era mais possível.
〈Parem! Ou abriremos fogo!〉
— Esther, o que esses caras estão dizendo?
Ion sussurrou num tom como se quisesse acalmá-la. Desde que ela assumiu o volante, ele vinha se mostrando estranhamente inseguro. Abel, no banco de trás, por exemplo, mantinha o rosto pálido voltado para baixo e não havia tentado dizer nem uma única palavra até o momento. Agora que pensava nisto, Esther então se lembrou: o instrutor do curso de direção de veículos no centro de treinamento também tinha exatamente essa mesma expressão. Após a conclusão do curso, ele, ainda com uma expressão pálida, disse a ela: "Irmã Esther, vou te dar um conselho. É melhor que você evite ao máximo pegar no volante. Isso mesmo — a menos que seja um caso extremo, deixe a direção para outra pessoa." O que será que ele quis dizer com isso?
— Ah... Esther...
Enquanto olhava por cima dos ombros para o carro blindado que continuava a gritar alguma coisa, Ion mais uma vez voltou a adverti-la.
— Você não acha que devia dizer alguma coisa para os que estão lá trás?
— Está tudo bem! Ignore-os, por favor!
Enquanto trocava as marchas com pressa, Esther respondeu aos gritos. Cartago já havia avançado bastante para o norte, aproximando-se da orla. Estavam agora em uma área próxima ao porto, uma zona de armazéns abandonada, sem residências por perto. Não havia civis nas ruas. Nada impediria que eles começassem a atirar a qualquer momento.
— Esther-san, preste atenção com o lado direito da estrada.
Uma voz fraca veio do banco de trás. Abel, ainda pálido, estava com um mapa aberto.
— Logo você deve ver uma ruela estreita. Se entrarmos por ela, aquele coisa grande não poderá nos seguir.
— À direita, certo, Padre?!
— Esther, tem alguma coisa começando a acontecer lá atrás!
Ion, que havia se virado, gritou. A torre do carro blindado começava a se mover. Ao que parecia, finalmente eles também estavam levando aquilo à sério.
— Se não se segurarem direito, vocês dois vão acabar caindo!
No instante em que um beco estreito surgiu no canto de sua visão, Esther girou o volante bruscamente, aplicando um contravolante. Ao mesmo tempo, pisou no freio com força esmagadora. Ion pareceu gritar, mas seu grito foi abafado pelo urro dos amortecedores hidráulicos.
Assim que travou as rodas dianteiras, o Merkava girou no asfalto como num flamenco e fez uma curva quase em ângulo reto para a direita. O veículo, obedecendo à lei da inércia, quase capotou
— ‘O céu ajuda aqueles que se ajudam’ — Amém!
A freira gritou e girou o volante com tudo — e milagrosamente, o carro se manteve sob controle. Ao que tudo indicava, o Senhor estava particularmente generoso naquela noite. Quando já cruzavam o beco lateralmente apoiados em apenas duas rodas, o pequeno carro com tração nas quatro rodas já havia retomado o equilíbrio.
— Que tal? Agora eles não conseguem mais nos seguir!
Sentindo o cheiro de borracha queimada, Esther sorriu para o espelho retrovisor escurecido. Com aquele monstrengo blindado, seria impossível atravessar um beco tão estreito quanto aquele. Por ora, haviam conseguido despistá-los. Talvez tivesse esbarrado em algo no caminho, pois a porta traseira esquerda havia sumido em algum lugar — mas se bastou aquela peça para despistar os perseguidores, então foi um preço barato a pagar. O garoto no banco do carona estava branco como papel, mas ela decidiu fingir que não notou, ao menos por enquanto.
Depois, largariam o carro em algum lugar apropriado e escapariam a pé. Se ao menos conseguissem chegar até a costa e se esconderem em alguma caverna...
Estava nesse ponto da linha de raciocínio quando Esther notou, de repente, que o padre no banco de trás estava completamente pálido. Ele pressionava a região do estômago, o rosto contorcido como se estivesse sentindo dores.
— O que aconteceu, Padre? Seu rosto está horrível.
— Não... estou bem. Eu estou bem.
Abel respondeu com uma voz que não parecia nada bem. Seu rosto contraído estava coberto de suor frio, que escorria em gotas do queixo.
Será que ficou enjoado pelo movimento? ── Realmente, que homem lamentável.
— Espere só um pouco, vou parar o carro já. Hum, acho que por aqui...
No momento em que Esther suspirou e tentou pisar no freio...
A escuridão rugiu.
— ...O quê!?
Antes mesmo que Esther pudesse perceber o que vinha da escuridão à frente — algo que voava soltando um grito agudo —, seu instinto de sobrevivência já havia feito com que ela girasse o volante por reflexo. Passando rente à carroceria do Merkava, que havia feito uma curva quase a noventa graus, uma roda de alta frequência girando em velocidade absurda disparou além. Era uma lâmina vibratória capaz de perfurar até mesmo a blindagem de um tanque. Se tivesse sido um golpe direto, aquele carro teria sido triturado como um coelho nas presas de uma hiena.
— I-Isso é ruim..!
No entanto, em troca de escapar das presas da morte, o preço exigido pela deusa da sorte foi alto demais.
Devido ao uso extremo finalmente os pneus não aguentaram mais. Por fim, com um último grito estridente, como um clamor de morte, eles estouraram. O centro de gravidade, que já estava prestes a ceder devido às manobras forçadas, colapsou por completo com aquele último empurrão. Impulsionado pela força centrífuga e pela inércia, o veículo leve de tração nas quatro rodas, cor de areia, virou de lado e capotou. Produzindo faíscas, deslizou sobre o calçamento de pedra até colidir com a parede de um armazém — e só então, parou.
— Guh...
Piscando os olhos por causa das estrelas que voavam diante de sua visão, Esther sacudiu a cabeça. Mesmo para ela, era estranho ainda estar viva. Em circunstâncias normais, ela deveria ter feito o sinal da cruz e agradecido pela graça divina, mas, dentro do veículo virado de cabeça para baixo, curiosamente não sentia vontade alguma. Em vez disso, estendeu a mão na direção do garoto ao lado, que não se movia nem um pouco
— Excelência... Excelência, está bem?!
— U... hum...
Uma voz fraca escapou de seus adoráveis lábios. Algo vermelho escorria pelas bandagens em seu ombro — provavelmente o ferimento havia se aberto novamente. O sangramento era considerável. Do lado de fora do carro, Abel, aparentemente lançado do banco de trás, estava desacordado. Ele não apresentava ferimentos visíveis, mas não abria os olhos.
Depois de apenas confirmar isso, Esther deu um chute no para-brisa, agora parecendo uma teia de aranha. Tentava de algum modo rastejar para fora — mas não houve necessidade.
— Nos encontramos de novo, seus malditos vampiros!
Assim que o som estridente começou a ecoar, a porta retorcida desapareceu. Quando Esther percebeu que aquilo havia sido arrancado por uma força monstruosa, seu corpo já estava sendo arrastado para fora do veículo, agarrada pela gola.
— Hum? Não é aquela garota daquela vez? Então, a freira mencionada no relatório é você, não é?
A figura que segurava a freira pelo colarinho, como se apanhasse um gato pela nuca, era um homem vestido com um hábito cinzento. Seu rosto estava oculto por um elmo, impossibilitando qualquer reconhecimento. Ainda assim, o sorriso que brotava em seus lábios partidos em forma de meia-lua estava longe de ser amigável.
— I-inquisidor?!
— Ho... Vejo que é bem informada, garota.
Irmão Petros esboçou um leve sorriso, como se estivesse impressionado. Ainda assim, ao ver atrás dele o veículo blindado de antes e quase cinquenta policiais especiais em formação, qualquer um — ao menos que fosse um completo idiota — teria chegado à mesma conclusão que Esther.
— De fato, eu sou Irmão Petros, diretor do Departamento da Inquisição. Com isso em mente, responda com sinceridade. Primeiro, quem é você? E por que, sendo humana, ajuda uma criatura como um vampiro?
Enquanto isso, os policiais especiais que se aglomeravam arrombavam a outra porta do Merkava amassado. Seguravam em suas mãos correntes de prata — provavelmente pretendiam restringir Ion.
Já estava tudo acabado...
— Você poderia, por gentileza, tirar sua mão dela, Irmão Petros?
Uma voz fraca tocou os tímpanos da garota mergulhada em desespero.
Como se tivessem sido atraídos, todos os olhares se voltaram para o ponto onde o padre, que deveria estar caído na estrada, agora se levantava cambaleando. Seu rosto estava pálido como o de um morto, mas em sua mão direita, firmemente empunhada, estava seu costumeiro e antigo revólver de percussão.
— Hunf, Padre Nightroad, é?
No entanto, sem demonstrar o menor sinal de ameaça, Petros apenas bufou pelo nariz, mantendo um sorriso torto de escárnio nos lábios.
— Deve ter sido trabalhoso, vir até aqui ferido desse jeito. Teria sido melhor descansar no hospital com calma.
— Ferido?
Quem repetiu, com um tom de desconfiança, as palavras do inquisidor foi Esther, ainda sendo agarrada pelo colarinho. Em seus olhos — que fitavam o rosto pálido de Abel — começou a surgir, pouco a pouco, um brilho como se tivesse compreendido algo.
Então, aquela tosse estranha que vinha se repetindo nos últimos dias... não, o fato de ter estado tão sem vitalidade durante a luta contra Radu no porto subterrâneo...
— Ferido...? Não pode ser!
— O quê? Não sabia disso, garota?
Olhando para a garota que tremia os lábios em choque, Petros deu de ombros.
— O corpo daquele homem, já deve estar em frangalhos. Na última vez que nos enfrentamos, esmaguei das costelas aos órgãos internos... É um milagre ainda conseguir ficar de pé com as próprias pernas.
— !
Com uma expressão como se tivesse sido golpeada, Esther arregalou os olhos.
Então, Abel estava...
— Já chega de comentários desnecessários... Em vez disso, por favor, solte a garota, Irmão Petros.
— Para alguém à beira da morte, você ainda tem energia — muito bem!
Petros moveu o braço com um sorriso malicioso. No mesmo instante, a pressão sobre a nuca de Esther desapareceu por completo. Quando a garota, girando no ar, caiu no chão com um grito escapando de seus lábios. O Inquisidor, com o corpo agora mais leve se lançou como o vento, impulsionando-se contra o solo.
— Há muitas coisas que preciso perguntar a você!
— !
Chamas de disparos brilharam das mãos de Abel, em resposta ao avanço do turbilhão prateado. No entanto, todas as balas foram repelidas ou desviadas. Do outro lado de quatro escudos que se abriram como botões de uma flor estranha, soou o riso de escárnio do inquisidor.
— Inútil, não é mesmo, Executor?
Um estranho ruído metálico rasgou o ar da noite. A roda de alta frequência da maça-lança rugiu ao atacar Abel por cima de sua cabeça. Mas só conseguiu perfurar o chão aos pés do padre, que havia saltado para trás por reflexo. A mão de Abel girou rapidamente, tentando capturar o inimigo através da abertura entre os escudos — mas foi até aí. O movimento do padre, que tentou erguer o braço, cessou abruptamente. Como se tivesse sido agarrado por uma garra invisível, curvou-se em um ângulo agudo e começou a tossir violentamente. Um líquido vermelho-escuro jorrou de sua boca. E então...
— Castigo divino!
O escudo de Petros, que rugia, acertou o abdômen de Abel. O padre recuou, e então, um ataque de um segundo escudo explodiu contra o lado de seu rosto. Vomitando sangue, seu corpo alto foi arremessado para longe.
— P-Padre!
Com um golpe tão violento que parecia ter-lhe quebrado o pescoço, o corpo do padre foi lançado ao chão, quicando e rolando repetidamente. A silhueta estirada sobre o calçamento de pedra estremeceu em espasmos, enquanto uma poça de sangue se espalhava lentamente sob seu corpo.
— Padre... Padre Abel!
— Capturem esses sujeitos.
Fitando com desprezo o padre caído em vão no chão, Petros ergueu o queixo com uma altivez calma.
— Tenho uma montanha de perguntas para fazer. Injetem solução de nitrato de prata nesse vampiro aí. Levem-no com cuidado. Não devem deixá-lo morrer antes de terminar o interrogatório.
—Não, Ion deve morrer aqui.
Uma voz fria como a névoa noturna ecoou no ar.
No instante seguinte, o veículo blindado de seis rodas que estava parado se ergueu aos céus com um estrondo abafado. A carroceria, com mais de dez toneladas, girou no ar enquanto deixava um rastro de chamas, antes de ser violentamente arremessada contra o chão, onde explodiu mais uma vez com um rugido ensurdecedor, despedaçando-se completamente.
— O.. o quê...!?
Diante da mais avançada arma militar em chamas, os olhos de Petros se arregalaram sob o elmo.
— O que foi isso!? O que aconteceu?!
— D-Diretor, aquilo...!
Na direção apontada pelo policial especial, além da coluna de fumaça negra que subia com força aos céus, uma sombra gigantesca, como uma pequena colina em movimento, soltava um urro. Era uma massa de aço, com esteiras grossas que trituravam o calçamento de pedra, enquanto um ruído de motor estridente reverberava no ar.
— Go-Goliath...!?
No silêncio congelante que se seguiu, o som forte de alguém engolindo em seco pôde ser ouvido.
O mais novo modelo de tanque, que deveria estar posicionado no aeroporto, por que estava ali?!
— Isso é um problema, Inquisidor... Vocês precisam exterminar os vampiros corretamente.
Quem sorriu com ironia foi uma silhueta esguia, de pé ao lado do canhão principal que ainda soltava fumaça. Com um cigarro apagado preso aos lábios, aquele rosto era um que Esther conhecia muito bem.
— Ba... Barão de Luxor...
— Olá, Irmã. Boa noite. Me desculpe pela indelicadeza no outro dia.
O cigarro se incendiou de repente. Com ele ainda entre os lábios, soltando fumaça, Radu esboçou um sorriso sutil.
— Durante esses três dias, devo admitir que vocês escaparam bem — deve estar exausta por arrastar esse estorvo de moleque com você, não?
— ‘Estorvo de moleque’? Barão, alguém como você ...!
— Maldito, você é aquele demônio flamejante Ifrit daquele dia!
A voz de Esther, que tentava defender Ion, foi interrompida por um grito furioso e áspero.
Como se respondessem à ira de seu mestre, os quatro braços secundários (manipuladores) se abriram para os lados. Refletindo em seus olhos o brilho das chamas que envolviam o blindado, o mais poderoso cavaleiro do Vaticano estava com o corpo inteiro pulsando de fúria.
— Não apenas uma vez, mas duas vezes ainda por cima...! A mim e meus subordinados, como ousa?!
— Oopa! Não serei eu que será seu oponente.
Mesmo diante do grito furioso de Petros, Radu apenas lhe lançou um olhar frio. Quem respondeu em seu lugar, rangendo suas esteiras ao mudar de direção, foi o tanque a seus pés: o Goliath.
— O brinquedo adequado para você é este aqui. Divirta-se bastante.
Como se respondesse à voz do vampiro, o som do motor se intensificou. A torre do canhão começou a girar com um rangido hidráulico, apontando para Petros e a força especial da polícia Carabinieri.
— Maldito... você tomou o controle do computador da inteligência elétrica do Goliath?!
— Di-diretor, cuidado!
Um som áspero, como pano grosso sendo rasgado, ecoou com violência das metralhadoras gêmeas giratórias, que ergueram suas cabeças como serpentes.
Uma chuva repentina de munição de urânio empobrecido — capaz de transformar até mesmo a blindagem de um tanque em um ninho de abelhas — desabou sobre o inquisidor e os policiais especiais atrás dele. Petros, protegido pelo "escudo", ainda resistia. Já os agentes de uniforme de combate não tiveram chance alguma. Os projéteis das metralhadoras pesadas arrancavam suas cabeças mesmo que passassem de raspão, e a pressão do vento cortava seus troncos ao meio. Aqueles que, por azar, foram atingidos diretamente simplesmente desapareceram, como balões d’água estourando.
— E-essa não! Recuem! Recuem, malditos... Maldição! Seu desgraçaaaaado!
No meio da névoa formada pelo sangue jorrado e pelos gritos desesperados, tomado pela fúria, Petros ergueu sua maça de guerra. Embora tivesse perdido dois "escudos" devido aos tiros de metralhadora, ele mesmo estava completamente ileso, protegido por sua Armadura Sagrada do Santo Cavaleiro (Garb of Lord).
— Como ousa! Com meus subordinados!
Como um gigante tomado pela fúria, Petros brandiu sua maça de guerra com força. A roda de alta frequência girando em altíssima rotação soltou-se do cabo e, seguindo a orientação dos fios, esmagou a torre de artilharia direita do Goliath.
— Eu jamais perdoarei você, vampiro!
O cavaleiro torceu ainda mais o pulso. A roda que destruíra a torre direita usou a lâmina de retorno para dilacerar o canhão automático esquerdo, e ainda por cima varreu a sombra de Radu, que estava ao lado.
— Consegui!
Naquele instante, o belo vampiro pareceu ser obliterada no ar. Quando os poucos policiais sobreviventes ergueram gritos de alegria, a roda de alta frequência, que havia cumprido sua missão magnificamente ao seguir a trajetória guiada pelo fio, já havia retornado à mão de seu mestre.
Erguendo sua maça de guerra, Petros rugiu triunfante:
— Ha! Você não vale o quanto fala, seu vampiro maldito!
— Hum, impressionante. No entanto...
O estalo de dedos ecoou, vindo de um ponto lateral bem distante do Goliath.
— Não sei como são as coisas por aqui, mas no nosso Império, chamamos de vencedor aquele que permanece de pé até o final com as próprias pernas!
Petros arregalou os olhos ao avistar uma sombra esguia sobre o topo de um lampião a gás que lançava uma luz suave.
— Mas que droga, esse sujeito usou Aceleração Haste ── U-uoooOOOH!?
O estrondo ensurdecedor ecoou, abafando o grito furioso do "Cavaleiro da Ruína" — o Il Ruinante.
No instante seguinte, seu corpo — com os olhos arregalados em choque — foi lançado para trás como se tivesse sido atingido por um punho invisível.
O canhão principal frontal do Goliath disparou. Nem mesmo a armadura blindada foi capaz de proteger seu dono de um impacto direto do canhão de guerra. O corpo de Petros foi lançado como se fosse uma brincadeira, arremessado contra a parede do armazém atrás dele — e ali permaneceu, imóvel.
— Hunf, ao que parece, nem a sua tão orgulhosa armadura conseguiu resistir a um disparo direto de um canhão de guerra.
Radu soltou um riso abafado enquanto observava com um certo afeto o tanque ainda soltando fumaça do disparo. Então, como se de repente se lembrasse de algo, baixou os olhos para o chão. O que seus olhos cor de bronze captaram foi uma pequena silhueta caída ao lado do Merkava amassado.
— Ion...
Por um instante, pareceu que uma luz dolorosa surgiu em seus olhos — teria sido apenas o reflexo das chamas? Mas no momento seguinte, uma luz azul-pálida brilhou na mão do Ifrit, o demônio de fogo. Radu, com o rosto inexpressivo, curvou o braço com um movimento quase gracioso, lançando as chamas em direção ao antigo amigo.
— Adeus, meu Tovarăș.
No instante em que Radu murmurou essas palavras, seu rosto foi iluminado por um clarão ofuscante. No entanto, não era o brilho das chamas que queimavam o garoto. Eram estilhaços de projéteis, disparados com um estrondo ensurdecedor, atingindo em cheio a bola de fogo e destruindo-a em uma explosão de luz.
— ...Terran!
Mantendo o cano da arma erguido, a freira arfava pesadamente. Radu lançou um olhar penetrante enquanto a fitava de cima.
— Garota! Mesmo sendo apenas um inseto ousa atrapalhar meus planos?!
— Gh!
Quando Esther puxou o gatilho, a sombra sobre o poste de luz já havia desaparecido como uma ilusão. E então, por trás da garota, que virou a cabeça por puro reflexo...
— Uma mísera terran!
Um poder aterrador rebateu violentamente a espingarda. E junto com ela, Esther também foi arremessada ao chão, caindo de costas. Agarrando-a pela garganta, Radu a ergueu com um único braço até a altura dos olhos. Na palma de sua mão esquerda, uma luz azulada começou a brilhar.
— Morra!
— !
O brilho das chamas tingiu de branco o rosto de Esther, que fechou os olhos por instinto. Mas, naquele momento, a bola de fogo que explodira na palma do Ifrit já havia se fragmentado em dezenas de pedaços, espalhando-se pelo chão de pedra.
— O quê?!
Radu arregalou os olhos. O que havia derrubado sua bola de fogo foi uma luz azulada e pálida. Um relâmpago? Ridículo — não existem relâmpagos que corram na horizontal!
— O que... é isso...?
— Seguindo o rastro luminoso com a cabeça, Radu acabou soltando um leve arquejo.
Caído ali, estava o padre de cabelos prateados, como um trapo velho. Seu hábito sacerdotal estava rasgado em vários pontos de forma cruel, e ele permanecia imóvel, jogado como um cadáver e não se movia nem um pouco. Mas então, o que era aquele brilho tênue que emanava de todo o seu corpo? E além disso, havia algo mais...
— S-sangue...!?
Sobre o calçamento de pedra, algo vermelho se arrastava. Como uma ameba ou algo do tipo, se reunindo de todos os lados, se transformando gradualmente em um grande rio que fluía na direção do padre — aquilo era sangue. Mas não era um sangue qualquer. Assim como o padre, caído ao chão, estava Ion. O sangue que escorria de seu ombro, por si só, parecia uma entidade viva e estava sendo atraído até o padre.
— O que... o que está acontecendo?
Movido por um sentimento ao qual os Methuselahs eram os mais distantes — o medo — Radu engoliu em seco.
— Nanomachine 'Crusnik 02' - Ativação limitada a 80%... Aprovada.
Num instante, uma gigantesca coluna de relâmpago se lançou em direção ao céu noturno.
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Capítulo 3: O Estigma do Pecador
— Peço sinceras desculpas por aparecer a esta hora tão inadequada.
Diante da anfitriã, que vestia apenas um fino roupão por cima da camisola de dormir, o Cavaleiro da Ruína — o Il Ruinante — inclinou-se profundamente, com uma formalidade quase cerimoniosa.
O rosto por trás do elmo era surpreendentemente jovem e refinado. Apenas pela aparência, poderia ser confundido com um alto sacerdote de uma família nobre ou um jovem burocrata de elite em ascensão. Se alguém não conhecesse os fatos, jamais acreditaria que esse jovem — a própria imagem da seriedade, como se tivesse saído de um retrato emoldurado — fosse o inimigo número um do povo de Cartago atualmente, odiado como uma praga de cobras e escorpiões.
— Peço perdão por incomodá-los em um momento de descanso. Este humilde servo sente-se profundamente temeroso por tamanha ousadia. Contudo, dado que é meu dever...
— Saudações desnecessárias são dispensáveis. Posso ouvir o que tem a dizer, Irmão Petros?
Com as mãos apoiadas sobre os joelhos cruzados, Caterina Sforza ergueu o queixo num gesto seco. O fato de não ter sequer oferecido o sofá ao visitante indesejado era, à sua maneira, uma forma clara de expressar seu desagrado.
— Onze da noite... para um vampiro tudo bem, mas visitar um humano a essa hora me parece um pouco tarde, não? Se se deu ao trabalho de vir até aqui a essa hora absurda, será que veio se desculpar por me manter, sendo eu uma Cardeal, confinada na embaixada por três dias?
— Hum? Um pedido de desculpas? Confinamento? Com todo o respeito, este humilde servo não tem a menor intenção de tais coisas.
A voz do inquisidor de heresias, ainda imóvel, mantinha aquele tom exageradamente polido, mas nem por um instante demonstrava indícios de ceder um único passo diante a cardeal.
— A razão pela qual posicionamos tropas ao redor da embaixada é puramente para fins de segurança. E o pedido para que Vossa Santidade evitasse sair foi uma medida natural, para não dar aos vampiros escondidos a oportunidade de um novo ataque. É verdade que temos causado certo incômodo, mas de forma alguma isso deve ser interpretado como um tipo de confinamento...
— Quanto a essa situação, trataremos com calma diretamente com o Cardeal Médici quando voltarmos a Roma. Não há sentido em discutir isso com alguém do seu nível aqui.
Enquanto pronunciava cada palavra como se arrancasse os pulmões do outro com um cinzel de gelo, Caterina cruzou as pernas novamente. O monóculo cintilava friamente, enquanto apenas a sua fala permanecia com uma cortesia exagerada.
— Se não veio oferecer desculpas... então, posso perguntar qual o motivo de sua visita esta noite?
— Sim, na verdade, vim relatar que conseguimos localizar aquele vampiro fugitivo — o mesmo monstro que ousou atacar Sua Santidade recentemente.
As mãos delicadas que estavam cerradas sobre o colo empalideceram por um instante, tornando-se brancas como papel, mas logo voltaram ao normal.
— Entendo... deve ter sido trabalhoso. E então, mataram o vampiro? Ou o prenderam?
— Não, ainda não conseguimos efetuar a prisão. Infelizmente, quando invadimos a estalagem onde o sujeito estava escondido, ele conseguiu escapar.
O Oficial de Inquisição balançou a cabeça com seriedade. No entanto, seus olhos alongados lançavam um olhar penetrante sobre o belo rosto da cardeal. Caterina precisou reunir toda a sua força de vontade para conter o suspiro de alívio que ameaçava escapar.
— Mas que deslize admirável, devo dizer. Um Inquisidor, e ainda por cima o próprio Diretor, permitindo a fuga de um vampiro... Será que o Departamento de Inquisição é, surpreendentemente, apenas um ajuntamento de incompetentes?
— Vossa repreensão me envergonha profundamente. No entanto, havia aliados inesperados do outro lado. Os policiais especiais que invadiram o local também foram surpreendidos e acabaram cometendo um erro por causa deles.
— Aliados?
A cardeal devolveu o olhar ao visitante com uma expressão de confusão — se houvesse um diretor teatral ali, conhecedor da situação, ele certamente teria tentado recrutá-la imediatamente como atriz de palco. Ela repetiu a pergunta com uma naturalidade além da natural.
— Eram também vampiros?
— Não. Humanos. Segundo consta, especificamente uma garota de uns dezesseis ou dezessete anos, junto de um jovem homem na casa dos vinte, que ajudaram aquele vampiro a escapar.
O rosto de Petros ao responder continuava rígido, sem demonstrar ter notado a atuação da anfitriã. Com uma seriedade quase rude, ele se limitava a relatar os fatos.
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— Além disso, embora ainda não confirmado, recebemos relatos de que essas pessoas, surpreendentemente, estavam usando uma batina de padre e hábitos de freira... Vossa Eminência teria alguma ideia disso?
Os olhos de Petros, cheios de um brilho cortante, cruzaram diretamente com o olhar de Caterina.
— ...Absolutamente nenhuma.
Talvez tenha demorado demais para que se pudesse dizer “que não tenha dado tempo nem para um fio de cabelo passar” (expressão que significa que a algo não foi “de imediato” ou “rápido o suficiente”). Ainda assim, sem perder em nada a nobre arrogância estampada no rosto, Caterina balançou a cabeça.
— Como se eu poderia saber algo sobre como hereges que colaboram com vampiros? Por que faz uma pergunta tão sem significância? Isso me causa um certo desconforto.
— Se, por ventura, ofendi Vossa Senhoria, peço sinceras desculpas. Sou apenas meramente um guerreiro rústico e, por isso, não domino as sutilezas da etiqueta.
Diante da bela mulher que arqueava as sobrancelhas em um ângulo perigoso, Petros inclinou a cabeça respeitosamente. Sua postura, mais próxima da de um militar nato do que de um sacerdote, era cortês, mas não deixava brechas. Para Caterina, era o tipo de pessoa mais difícil de lidar.
— Pois bem, muito bem então.
Contendo a vontade de estalar a língua, Caterina fez um gesto com o queixo, de forma ríspida.
— Nunca esperei um mínimo de cortesia da parte de vocês desde o início... Então, o vampiro que deixaram escapar? Suponho que se escondeu de novo em algum lugar?
— Não. Meus subordinados ainda estão no encalço dele. A partir de agora, irei pessoalmente, e acredito que até o final desta noite tudo estará resolvido. Santidade, sabemos que lhe causamos um grande incômodo por muito tempo, mas creio que, a partir de amanhã, poderá desfrutar de um pouco mais de tranquilidade.
— Oh, que notícia agradável de se ouvir. Por favor, vá com cuidado... Se preferir, pode até não voltar — não me importarei nem um pouco.
Limitou-se a murmurar a segunda metade da fala. A Cardeal então compôs um sorriso impecável, irrepreensível para um clérigo da Igreja, e fez o sinal da cruz sobre o cavaleiro que ainda permanecia rígido.
— Rezo pelo seu sucesso, Irmão Petros. Dominus vobiscum. (Que a graça do Senhor esteja contigo).
— Às ordens!
O inquisidor fez uma profunda reverência e se virou. Suas largas costas, típicas de um guerreiro, desapareceram a passos largos pela porta do salão de recepção. Pouco depois, um estrondo ensurdecedor ecoou vindo do lado de fora.
— ...Até carros blindados trouxeram. Realmente, gostam de fazer as coisas de forma exagerada.
〈Caterina-sama, o que devemos fazer?!〉
As lanternas traseiras do veículo blindado de seis rodas desapareceram ao longe, rugindo como um trovão. Observando-o com uma expressão fria, Caterina ouviu uma voz sussurrada vindo de seu brinco.
〈Se as coisas continuarem assim, e o emissário do Império acabar sendo capturado pela Inquisição...〉
— Acalme-se, Irmã Kate. O emissário ainda não foi capturado.
Do outro lado da transmissão, Caterina repreendeu sua subordinada com uma voz calma, porém severa.
— Só de descobrirmos que Abel e aquela irmã novata ainda estão acompanhando o emissário já foi um ganho. Você, diretamente do céu, deve localizar onde os três estão. Precisamos resgatá-los antes que a Inquisição os alcance.
— Negative.
Uma voz gélida atingiu a cardeal. Ao desviar o olhar, viu que, no canto da sala de recepção, um jovem padre — que até então permanecera de pé em silêncio — erguia, com uma expressão impassível, seus óculos espelhados.
— O que foi que você disse agora, Padre Tres?
— Negative.
O jovem padre — Padre Tres Iqus — respondeu friamente à pergunta de sua superior.
— Nas condições atuais, a probabilidade de sucesso da missão de resgate é de zero por cento. Devemos desistir do Padre Nightroad e dos outros dois, Duquesa de Milão.
〈Padre Tres, você... o que foi que disse?!〉
A Irmã Kate elevou a voz.
〈Desistir? Está dizendo para abandonarmos Abel-san e os outros?!〉
— Positive — isto é uma armadilha do Departamento de Inquisição. A intenção final da Inquisição, não, do Cardeal Medici, é provavelmente derrubar a Duquesa de Milão sob a acusação de conluio com o Império.
Por causa dos óculos espelhados, o rosto de Tres parecia ainda mais artificial. Mantendo seus olhos ocultos fixos em sua mestre, que permanecia em silêncio absoluto, seu cão de caça acrescentou:
— É provável que eles já saibam que os que acompanham o emissário imperial foragido são membros da Secretaria de Estado do Vaticano. No entanto, se simplesmente os prenderem, a Duquesa de Milão pode alegar que não tem relação com o caso. Para evitar isso, o ideal é capturá-los no exato momento em que tentarmos resgatá-los.
〈Entendo. Então foi por isso que o Irmão Petros se deu ao trabalho de vir pessoalmente...〉
Ele veio para alarmar Caterina e anunciar o envio das tropas e assim forçá-la a agir. Para que ela salvasse seus subordinados... e, ao fazê-lo, perdesse sua posição.
— ...Irmã Kate.
〈Sim... Caterina-sama〉
A voz que vinha do outro lado do brinco soava pesarosa, ao considerar o coração da superiora que teria de abandonar seus subordinados.
〈O que deseja?〉
— O que está fazendo? Não houve mudanças nas ordens.
〈Hã!?〉
A voz suave, porém firme, de Caterina fez a de Kate desafinar por um instante.
〈Agora, o quê!?〉
— Ordeno que resgate os três que estão em fuga na cidade — apresse-se.
Diante da ordem fria da superior, o subordinado fiel ainda insistiu na advertência:
— Duquesa de Milão, recomendo que reconsidere a missão. A operação de resgate apresenta riscos excessivos.
— Padre Tres, mesmo que haja quaisquer grandes riscos...
Sua voz, que lembrava um instrumento perfeitamente afinado, era bela, mas carregava a dureza do aço.
— Neste momento, não podemos permitir que o emissário do Império seja morto pela Inquisição. No pior dos casos, isso poderia levar a uma guerra final entre o Império e o Vaticano — ou melhor, entre os vampiros e a humanidade. Portanto, mesmo que eu seja submetida à Inquisição, salvarei o emissário. — Depressa, Irmã Kate!
— ...Não há outra escolha.
A resposta fria não veio da voz do outro lado do brinco.
— Então também solicito permissão para entrar em combate, Duquesa de Milão. Participarei da missão de resgate.
— Você? Mas, Padre Tres, os seus olhos...
Ao ouvir o pedido ríspido de seu subordinado, a voz de Caterina se embaçou. Os sensores ópticos de Tres haviam sido completamente destruídos durante a batalha contra o demônio flamejante Ifrit. Embora os demais sensores ainda permitissem que ele executasse tarefas cotidianas sem problemas, sua condição estava longe de suportar um combate.
— Você não está em condições de lutar agora. Não estaria apenas se colocando em perigo?
— Negative. Preparei um plano tático de contingência caso a missão de resgate fosse forçada.
A expressão sob os óculos espelhados era totalmente ilegível. Pressionando o fone de ouvido em sua orelha, o soldado mecanizado informou algo a colega do outro lado.
— Solicito também a sua cooperação, Iron Maiden ── Primeiramente, reúna-se comigo antes da operação. Depois disso, há algo que quero tomar emprestado de você.
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Créditos da tradução:
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Trinity Blood - Reborn on the Mars Volume II - Anjo das Areias Escaldantes ----------------- ⚠️ ESSA OBRA EM HIPÓTESE ALGUMA É DE MINHA AUTORIA. TRADUÇÃO REALIZADA DE FÃ PARA FÃS. NÃO REPUBLIQUE OU POSTE EM OUTRAS PLATAFORMAS SEM AUTORIZAÇÃO. SE CASO POSSÍVEL, DÊ SUPORTE AOS AUTORES E ARTISTAS COMPRANDO AS OBRAS ORIGINAIS. ⚠️ -----------------
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Capítulo 3: O Estigma do Pecador
Enquanto as bolhas subiam e a solução sanguínea (hemoderivado) se dissolvia, o Methuselah observava em silêncio, com olhos vazios. O pó branco dentro do pequeno frasco de cobre-avermelhado permanecia intocado, deixado de lado.
— Há ópio demais no que você faz... será?
Sentado de forma desleixada na cadeira, ele estendeu a mão para uma pequena garrafa. Já fazia três dias que não tomava banho. A camisa manchada de sangue estava encardida, e os cabelos da cor da noite, desgrenhados, sem nem ao menos terem sidos penteados.
De qualquer forma, nem havia necessidade de manter as aparências. Este lugar era, muito provavelmente, um abismo de trevas onde a luz do sol jamais penetrou desde o início da história registrada. Não havia olhos humanos aqui. Alguém com ouvidos aguçados talvez captasse um som tênue, semelhante a um sussurro — mas esse som seria o da célula de combustível que fornece energia quase eterna a este "Túmulo da Rainha" (Kabral Elytza), e o ruído do funcionamento da inteligência elétrica (computador) que, também, deverá continuar operando até o fim dos tempos.
— Seu gosto é simplesmente horrível... colocar açúcar na ‘Água da Vida’.
Radu inclinou o pequeno frasco sobre o copo com indiferença. O ópio de alta pureza foi despejado com força na Água da Vida (Aqua Vitae) e saturou-se num instante. O que não conseguiu se dissolver afundou em uma espessa camada no fundo. Ainda assim, ele virou o copo com voracidade. Depois de engolir até a última gota, começou a tossir repentinamente.
— É verdade.
Radu ronronou como um gato, como se achasse tudo aquilo divertido. Lágrimas chegaram a se formar em seus olhos enquanto ele erguia os cantos dos lábios, como se estivesse debochando de alguém
— De fato... isso foi ópio demais. Você estava certo, meu amigo.
A risada zombeteira do Methuselah não cessou facilmente. Para um terran, a quantidade excessiva de ópio já teria ultrapassado a dose letal há muito tempo, mas para ele, não passava de uma leve embriaguez. Ainda assim, ele encheu o copo com água mineral e jogou dentro o composto sanguíneo. Estava prestes a adicionar mais ópio quando...
— Mas que maravilha. Assim a essa hora.... que vida boa essa, hein?
Uma voz sarcástica interrompeu as mãos de Radu.
— Ainda é só o começo da noite, sabia? Não é um pouco cedo demais para ficar bêbado?
— Quem é?!
A duzentos metros abaixo de Cartago — nesse setor instalado abaixo até mesmo do abrigo nuclear, não deveria haver ninguém além dele. Além do mais, quem conseguiria se aproximar sem ser notado por seus sentidos sobre-humanos — os de um Methuselah...?
— Não venha com esse 'quem é?', Flamberge. O que diabos você está fazendo aqui?
— ...Ah, é você, Marionettenspieler — Titereiro.
Voltando-se para a silhueta que mais parecia ter sido gerada pela própria escuridão, Radu deixou escapar um suspiro — difícil de distinguir entre um alívio contido e ou um gemido de puro terror.
A silhueta — o jovem nascido das trevas — era belo. Cabelos castanhos-avermelhados, olhos da mesma cor. Seu rosto belo, marcado por uma melancolia suave, transmitia uma fragilidade e delicadeza tamanhas que parecia prestes a se despedaçar ao menor toque descuidado. Vestia apenas uma jaqueta simples, daquelas que se compram em qualquer lugar, e ainda assim, aquele traje singelo parecia superar até mesmo os trajes cerimoniais da mais alta nobreza. Embora Radu também fosse considerado bonito, se os dois fossem colocados lado a lado, nem chegaria aos pés deste jovem. Se anjos existissem, então certamente Deus teria dado a eles essa forma.
Mas sempre que Radu precisava encontrar esse jovem, lembrava-se de um trecho do tal 'livro sagrado' — a Bíblia — dos terrans: “E não é algo incomum que o próprio Satanás se transfigure em anjo de luz.”
— O que veio fazer aqui, Titereiro?
— Vim ver como você está, Flamberge. Ou melhor dizendo, ver como você e Iblis estão.
O Titereiro deu de ombros, assumindo uma expressão de leve embaraço. Mesmo fazendo esse tipo de expressão, esse jovem era tão belo ao ponto de arrancar suspiros.
— O emissário do Império e a Cardeal da Santa Sé já haviam entrado em Cartago há muito tempo. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para aproximar o assassino dos dois. Além disso, caso o assassinato falhasse, reativamos ruínas antigas seladas como plano de contingência — chegamos até a recrutar um programador do Vaticano... E no fim, quando finalmente decidimos verificar o que aconteceu, não houve sinal de progresso depois disso. Preocupado, vim verificar e encontro o responsável pela operação bêbado e resmungando... Pois bem, me diga: como devo relatar isso quando voltar?
— ..........
Ignorando o silêncio mal-humorado do vampiro, o jovem estalou os dedos. Uma luz branca se acendeu no alto do teto. Em meio àquela vastidão de trevas, era uma luz fraca a ponto de ser triste, mas ainda assim, suficiente para revelar aquilo que até então permanecia mergulhado na escuridão.
Aquilo parecia um altar colossal.
Uma pirâmide de base quadrangular, que lembra as de degraus escalonadas — zigurates — da antiguidade. Um monumento selado pelos supersticiosos cidadãos de Cartago das eras posteriores, erguido como mausoléu para uma rainha morta.
No entanto, ambos os presentes sabiam que aquilo era uma inteligência eletrônica — um computador — construída com o máximo da tecnologia perdida. E também sabiam que ela fora criada por alguém conhecido como “Rainha Elissa” para um certo propósito, e que, mesmo após a morte de sua criadora, continuava operando para cumprir tal missão.
— Falhar no assassinato dos dois é até compreensível. Mas por que não ativou ‘Iblis’ logo em seguida? Com isso, conseguiríamos resolver tudo de uma vez. Enterrar o Conde de Memphis e a Cardeal Sforza ao mesmo tempo.
— Se usarmos o Iblis, as mortes dos dois seriam consideradas um acidente.
Enquanto virava em um gole a Aqua Vitae sem ópio, Radu respondeu com mau humor.
— O emissário e a cardeal precisam ser mortos, um por terrans, o outro por vampiros, respectivamente... Caso contrário, não poderíamos cumprir o propósito da nossa Ordem de lançar o Império e o Vaticano à guerra, não é?
— Se pudermos ser exigentes, né? Mas fazer o emissário e a cardeal se encontrarem é completamente problemático. Caso o assassinato falhasse, a segunda opção era exterminar os dois junto com Cartago usando o 'Iblis'. Isso foi o que a Ordem decidiu, não foi? Então por que você ignorou isso?
— Eu ainda não falhei.
Lançando um olhar penetrante de canto para aquela beleza como a porcelana branca, Radu rosnou:
— Eu ainda não falhei. Io... o enviado da Imperatriz que escapou para dentro da cidade — está sendo procurada pelo tal Tribunal de Inquisição dos terrans. Assim que eles o encontrarem, me aproveitarei da confusão para eliminá-lo. E o mesmo vale para a cardeal.
— ‘Vou eliminá-lo, é?’ Bem... Será mesmo tão fácil assim?
— ...O que está querendo dizer, Titereiro?
O Methuselah lançou um olhar afiado como uma lâmina ao jovem que deu de ombros.
— Se tem algo a dizer, diga logo de uma vez.
— Se você será capaz de matar o enviado... é isso que me preocupa.
O Titereiro, com um dedo sob o queixo, franziu as sobrancelhas como se estivesse preocupado. No entanto, seus olhos brilhavam com um certo divertimento enquanto olhava para Radu de cima.
— No início, quando a imperatriz decidiu enviar um emissário a Cardeal Sforza, foi você quem entrou em contato conosco — a Ordem — para impedir isso, não foi, 'Flamberge'?
— Sim. Não podemos negociar com seres tão inferiores quanto os terrans. Por isso, o envio do emissário precisava ser impedido a qualquer custo.
Com um olhar que parecia dizer “se tem alguma objeção, vá e fale agora”, o Methuselah encarava o jovem. Se quisesse, ele seria capaz de reduzir um ou dois terrans a cinzas num piscar de olhos. Ainda assim, aquela beleza não parecia nem um pouco abalada — como se uma leve brisa soprasse.
— Impedir o contato entre a Imperatriz e a Cardeal, e ainda por cima usar isso para incitar o conflito entre os dois — sim, isso era bom, não? Era ótimo, na verdade. A Ordem e eu não estávamos preocupados com isso. Mas o problema veio depois. A pessoa que a Imperatriz escolheu como emissário... foi ninguém menos que o Conde Ion de Memphis — seu melhor amigo.
Com um olhar carregado de profunda compaixão, o Titereiro balançou a cabeça.
— O destino, às vezes, é algo que sabe ser cruel. Logo aquele, em mais confiava e o amigo que mais confiava em você... teve de levantar sua espada contra ele. E agora, você...
— Meus assuntos pessoais não importam agora.
“Chega de encenação!” — era o que gritavam aqueles olhos cor de bronze polido.
Radu desviou o olhar do belo rosto que exibia uma falsa compaixão e cuspiu as palavras como se quisesse convencer a si mesmo.
— Vamos parar com essas suposições maldosas. Sim, o futuro da nossa espécie — os Methuselahs — depende deste plano — eu não posso me dar ao luxo de me apegar a mesquinharias pessoais!
— Ora, ora, ora...
Interrompendo as palavras do homem que se preocupava com o futuro da espécie, o jovem riu.
— Pare de brandir essa causa nobre tão rasa, Flamberge — no fim das contas, você só está hesitando em matar seu amigo, não é? Fala em nome de um grande ideal, mas na prática não consegue agir contra o Conde de Memphis. Primeiro tentou fazer com que o Vaticano matasse seu amiguinho por você, depois nem conseguiu ativar o 'Iblis'... francamente, que história mais covarde.
— ...Você está ultrapassando os limites, Titereiro.
A palma do jovem nobre, cujo rosto estava pálido como o papel tomado pela raiva, acendeu-se de repente com uma chama azulada.
— Um mero terran pretende me ridicularizar?
— E um mero vampiro acha que pode ignorar meu aviso?
O braço de Radu provocou uma corrente de vento.
No instante seguinte, incontáveis bolas de fogo do tamanho de punhos fechados se dividiram e avançaram contra o titereiro.
Mas o jovem apenas deu de ombros mais uma vez e soltou um suspiro resignado.
— Ai, ai... Você é realmente uma pessoa que não entende uma piada, hein?
E então, como se essas palavras tivessem sido um sinal, a escuridão se ergueu.
Ao redor do jovem, ergueram-se sombras como uma muralha. Eram homens trajando longos casacos que iam até os tornozelos. Seus rostos estavam ocultos por capacetes abaixados e máscaras de gás, tornando impossível reconhecê-los. Até então, onde haviam se escondido a ponto de enganarem os olhos de Radu, um vampiro? Quando Radu se deu conta, chocado, suas metralhadoras pesadas já estavam posicionadas, e começaram a cuspir fogo com um estrondo grave.
— Q-quem são esses caras?!
Radu, que tivera todas as bolas de fogo interceptadas, murmurou em estado de choque.
— São uns sujeitos divertidos, não acha? Caçadores automatizados — Auto Jägers — marionetes assassinas recém-desenvolvidos.
— São aqueles infantes mecanizados que os terrans vivem fabricando?
— Quase certo... mas não é bem isso.
Sorrindo com leveza, o titereiro retirou a máscara de gás e o capacete de um dos corpos ao lado.
— I-isso é...?!
O vampiro empalideceu, soltando um gemido sufocado.
Sob a máscara de gás, revelou-se o rosto de um homem absolutamente comum. No entanto, os olhos estavam costurados com fios, e uma mordaça foi encaixada em sua boca. Componentes mecânicos estariam incrustados em seu crânio calvo? Contudo, o que realmente fez Radu empalidecer foi...
— Eles, sabe? Assim como você, são vampiros — ops, desculpe — o que restou desses Methuselahs.
Passando os dedos pelas presas que escapavam da mordaça, o Titereiro sorriu.
— Extraí o lobo frontal e substituí a parte removida por uma inteligência artificial. Afinal, drogas ou lavagem cerebral não funcionam com vocês... Como resultado, toda a inteligência foi perdida, mas em troca, não sentem dor nem cansaço. São verdadeiras máquinas de combate, as mais fortes e absolutamente leais.
— Ma-Maldito...!
Diante do estado lamentável de seu companheiro silencioso, os olhos do demônio flamejante brilharam com uma luz vermelha sinistra.
— Isso é imperdoável, Titereiro!
— ‘Imperdoável’? Eu sei muito bem que você é um nobre orgulhoso, mas...
A mão do jovem que ria com desdém se estendeu suavemente. Naquele instante, o corpo inteiro de Radu ficou completamente imobilizado, como se tivesse sido atingido por uma paralisia em meio ao sono.
— Na hierarquia da Ordem, meu posto é superior — sou o Marionettenspieler — o Titereiro —, Classe 8=3. Já você, Radu Barvon, a Espada Flamejante — Flamberge —, Classe 6=5. Levando isso em conta... não acha que deveria escolher uma maneira de falar mais apropriada?
O jovem sussurrou de forma maliciosa ao ouvido do Methuselah, que não conseguia se mover. Com o poder de Radu, um simples terran como aquele poderia ser despedaçado com apenas um dedo. Mas na realidade, o Methuselah, paralisado e coberto de suor frio, conseguia apenas ofegar de medo. Sem entender o que lhe havia sido feito, uma dor lancinante percorria seus nervos como se chumbo derretido tivesse sido injetado por todo o corpo. Da cabeça para baixo, não conseguia mover um único dedo...
— ...F-fui rude.
Após um longo momento de silêncio, o que escapou de sua língua rígida foi um pedido de desculpas entrecortado.
— Por favor, perdoe minha falta de modos...
— Ah, não precisa ficar tão formal assim, de repente. Qualquer ser humano — opa, perdão — até mesmo vampiros cometem erros. E é justamente o espírito de tolerância que serve de lubrificante para a engrenagem da sociedade, não é?
O dedo do "Titereiro", que ria com um risinho baixinho, estalou suavemente. No instante seguinte, como se fios tivessem sido cortados, o corpo esguio de Radu recuou. E então, desabou, caindo de bruços no chão.
Naquela postura canina, ofegando violentamente, o Methuselah foi observado de cima, como se fosse um animal de estimação favorito. Com um sorriso casual, o jovem o fitou com leveza.
— Não, me desculpe. Eu também exagerei. Consigo até entender, de certo modo, seus sentimentos de não querer matar seu ‘amiguinho’... Mas, veja bem, há muita gente dentro da Ordem que duvida das suas intenções. Talvez seja hora de mostrar um pouco de boa vontade para eles, não acha?
Se alguém não soubesse sua verdadeira natureza, poderia achar que era apenas um jovem atencioso encorajando um amigo. No entanto, nos olhos do Titereiro, brilhava uma luz de genuíno deleite.
— Vou te dar mais uma chance de matar o Conde de Memphis por conta própria. Dê o seu melhor e tente. E se mesmo assim não conseguir matar seu amiguinho, então não vai ter jeito. Vou ativar o Iblis imediatamente e apagar todos eles junto com Cartago — que tal assim?
— Entendido...
O que mais poderia ter respondido?
Quando seus olhos, por algum motivo turvos, se voltaram para o líquido vermelho espalhado pelo chão, a boca de Radu já havia formulado a resposta por conta própria.
— Entendido...
— Sim, bom trabalho.
Assentindo com satisfação, o jovem enfiou a mão no bolso interno. Ao abrir delicadamente a tampa de um relógio de bolso prateado, murmurou como se estivesse cantando.
— Se está decidido, então é melhor partir imediatamente... Ah, espere um pouco. Quero te dar isto.
— O que é isso?
Radu olhou com desconfiança para o disco dourado que lhe fora entregue. Quando leu o aviso em língua imperial gravado nele, seu rosto imediatamente se contraiu. Vendo isso, o "Titereiro" sorriu mais uma vez.
— Um singelo presente de despedida. Uma prova da nossa amizade... Se eu dissesse isso, será que acabaria morto por você, tal como aquele garotinho?
‘Pois não é de se estranhar que até Satanás se disfarce em anjo de luz.’ — Com um sorriso gentil como o de um anjo, o jovem recuou lentamente.
— Com certeza vai ser útil. Pode levar, mesmo que ache que está sendo enganado. O item em si está agora no aeroporto — então vá em frente. Estou torcendo por você, Barão.
Naquele momento, quando sua voz límpida se espalhou pela penumbra, seu belo corpo; já havia sumido, como se tivesse se dissolvido na escuridão. O mesmo valeu para aqueles terríveis Jägers.
— .......
── O homem, que foi deixado para trás sozinho nas profundezas da terra, desabou sem forças sobre o chão.
Aquelas correntes invisíveis há muito haviam desfeito suas amarras. No entanto, algo diferente — invisível — ainda o mantinha aprisionado. O Methuselah, imóvel como uma marionete, fitava com olhos opacos o disco dourado que ainda segurava nas mãos.
— Ku... Kukuku...
De repente, um riso leve escapou-lhe dos lábios.
Até então, com os lábios tremendo levemente, Radu os cerrou com tanta força que chegaram a sangrar, e então riu baixinho — era a risada de alguém que percebeu ter feito um pacto com o demônio. A voz de um homem que, em troca de um ouro ilusório, sacrificou algo precioso que jamais deveria ter perdido.
Com os olhos arregalados como se estivesse suportando algo e os lábios curvados num sorriso forçado, Radu se pôs de pé. Mesmo enquanto se erguia, uma risada sombria escorria de seus lábios como se fosse de outro ser.
— O que importa agora...? Por que hesitar agora? Logo um traidor imundo, como eu?
E foi essa a voz de um homem que, pela primeira vez, aprendeu a rir de si mesmo com escárnio.
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Capítulo 3: O Estigma do Pecador
— Fui ferido pela vara da ira do Senhor e conheci o sofrimento.
Fui expulso para vagar nas trevas, caminho sem forças.
(Lamentações, capítulo 3, versículo 23 – Versão Japonesa)
Mesmo antes do pôr do sol, as pessoas começavam a desaparecer das ruas.
No mercado (souk), que normalmente permanecia barulhento até altas horas da noite, os compradores, com sacolas nos braços, apressavam-se de volta para casa. Nas portas das tavernas e cassinos — que deveriam estar entrando na hora de maior movimento — balançavam, indiferentes, placas de 'Fechado'. Na Cidade Antiga (Medina), envolta pelo manto azul do anoitecer, quem agora caminhava imponentemente, no lugar dos bêbados habituais, era um grupo vestido de preto em uniformes de combate, com submetralhadoras penduradas nos ombros.
20h50.
Faltavam apenas dez minutos para o toque de recolher, decretado três dias antes, entrar em vigor. A cidade de Cartago ia, perdendo a olhos vistos sua vitalidade.
— Isso é surpreendente... Parece até uma lei marcial, não?
Não... talvez fosse ainda pior que uma lei marcial.
Pelo menos, sob uma lei marcial, os responsáveis pela repressão seriam as forças armadas da própria nação. Mas agora, os que rondavam pelas ruas de Cartago... não eram do exército cartaginês. Na verdade, nem sequer eram militares. No pedestal da estátua de Santa Elissa — uma cavaleira imponente, trajando uma armadura reluzente, erguida diante da Grande Catedral —, quem fitava a rua com olhos vigilantes era um soldado vestido de preto, com uniforme de combate. No colarinho de sua farda, reluzia um emblema em forma de 'Vineam Domini', o Martelo de Deus — o brasão da infame unidade especial antiterrorista do Vaticano, os Carabinieri, a polícia secreta especial.
— Poxa... isso complicou as coisas. Assim, não tem como eu chegar até a embaixada. Que situação, que situação.
Enquanto isso, um dos pedestres que caminhava cabisbaixo — um beduíno alto puxando um camelo — soltou um leve estalo de língua sob o turbante, bem aos pés de um jovem policial especial que havia desativado a trava de segurança da submetralhadora, pronto para atirar a qualquer momento.
Carregando um grande saco de papel, talvez ele tivesse vindo da vila no deserto para uma compra depois de muito tempo. Porém, se o policial especial de vigilância tivesse sido um pouco mais cauteloso, poderia ter notado que, entre o haik (manto tradicional) levantado até o rosto e o turbante abaixado até quase cobrir os olhos, o que se via não eram os olhos negros típicos dos cartagineses, mas sim olhos azuis como um lago no inverno. Poderia também ter percebido que os passos do homem com o saco de papel eram estranhamente desajeitados, como se estivesse ferido. Mas o carabinieri, distraído por um grupo de cidadãos lançando olhares cheios de hostilidade do outro lado da rua, não reparou na figura perigosa que passava bem ao seu lado.
— Bem, não tem jeito... Por hoje, só nos resta desistir de tentar entrar em contato com a Caterina-san.
Diante de um inimigo esmagadoramente poderoso, mesmo que quisesse se apressar, não havia o que fazer. Além disso, antes de mais nada, o próprio corpo dele, agora...
Passando calmamente bem na frente dos olhos dos carabineiros — os policiais especiais que o procuravam — Abel seguiu seu caminho.
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O ferimento de bala aberto no ombro branco era horrível, mas ao redor dele já começava a se formar um tecido de granulação rosada. Assim, a menos que forçasse muito além do limite, provavelmente estaria completamente curado dentro de uma semana. Curar-se tanto em apenas três dias, mesmo depois de um dano tão grande... De fato, sob os padrões humanos, essa capacidade de recuperação era simplesmente impensável.
— Mas, até que esteja completamente curado, por favor, não mova o ombro direito, ok? Acho que o sangramento já parou, mas pode ser que o músculo acabe se rompendo de novo.
Com uma expressão séria, Esther transmitiu o aviso a seu paciente, que havia se sentado na cama. Tratar ferimentos era uma das habilidades que ela dominava desde seus tempos de partisana. Mesmo os movimentos com que aplicava o desinfetante e tornava a enfaixar a ferida eram firmes e sem hesitação.
— Mas, você teve sorte também. Se tivesse desviado só um pouco mais, teria atingido o coração.
— Teve sorte, hein... Radu também disse a mesma coisa.
O garoto, que estava meio sentado na cama encostada em um canto do quarto — para que nem por acaso a luz do sol pudesse entrar —, soltou um suspiro cansado. Mesmo deitado nessa cama encardida de uma hospedaria barata, sua pele translúcida e branca, e aquela beleza andrógina típica de quem ainda não completou o processo de diferenciação sexual, faziam-no parecer uma princesa saída de um conto de fadas. Para quem não soubesse a verdade, seria difícil perceber que ele era um garoto — ou até mesmo... que não era humano.
O garoto — Ion — mexia no lençol com seus dedos finos e, mais uma vez, soltou um suspiro profundo.
— Mas se ao menos eu tivesse morrido naquela hora, talvez nunca tivesse visto a traição de meu amigo. Se eu tivesse morrido lá, Radu jamais teria me traído.
— Que bobagem o senhor está dizendo?! De todo modo...
Diante das palavras sombrias do garoto, Esther ergueu a voz, alarmada. Quase em seguida, tentou abrir a boca para dizer algo que pudesse animá-lo, mas no fim, não conseguiu dizer nada; apenas abriu e fechou os lábios em vão, sem som algum.
Esther conhecia melhor do que ninguém aquela sensação de ter o coração agarrado com garras afiadas, a dor de ser traído por quem se acreditava. Ela mesma havia provado disso até não aguentar mais, lá nos túneis congelantes de sua terra natal. Justamente por compreender, como se fosse nela mesma, os sentimentos que agora inundavam o peito do garoto, qualquer palavra de consolo soaria vazia, e ela não conseguia pensar em nada apropriado para dizer. No fim, apenas abriu a boca inutilmente e suspirou baixo.
— Radu... era meu irmão de leite...
Sem buscar encontrar o olhar da freira, que havia silenciado, Ion continuou:
— Desde o nascimento, ele e eu sempre estivemos juntos. E ele era... meu único amigo e tovarăș.
“Então, eram amigos de infância? Mas, para isso, eles parecem ter uma diferença de idade bem grande... Ah, entendi.”
Enquanto ouvia o relato do garoto, Esther se pegou lembrando, de repente, das aulas que tinha recebido no centro de treinamento sobre a fisiologia dos Methuselahs.
Eles não nascem imortais. Os Methuselahs recém-nascidos possuem uma vitalidade não muito diferente da dos humanos e envelhecem normalmente. Por outro lado, não são feridos nem pelo sol nem pela prata. Eles só se tornam vampiros ao passarem por um processo que eles mesmos chamam de 'despertar'. Acredita-se que a época desse 'despertar' varie de indivíduo para indivíduo, e que a idade aparente seja determinada pelo momento em que ocorre. Provavelmente, Ion passou por esse 'despertar' mais cedo do que seu amigo...
— Eu sou um tolo... um tolo irremediável!
— E—Excelência!
A voz áspera trouxe Esther de volta à realidade, e ela agarrou apressada a mão de Ion. Algo vermelho escorria por entre os dedos cerrados em um punho firme.
Mas, como se nem isso percebesse, o Methuselah ferido golpeou o lençol com o punho ensanguentado.
— Pelo bem dele, eu pensava que nem mesmo a vida me era preciosa! Se ele me pedisse para morrer, eu teria entregado essa vida de bom grado! E, ainda assim... nem percebi o quanto meu amigo estava atormentado até aquele ponto!
— Excelência...
Olhando para os pequenos ombros trêmulos, Esther mordeu os lábios como se fosse ela a ser acusada.
Ela amaldiçoava sua própria inexperiência. Em momentos assim, que tipo de palavras uma pessoa realmente precisa?
A vida que cada um carrega é única. Esther não era arrogante a ponto de acreditar que poderia consolar o sofrimento alheio. Mas, ao menos, queria encontrar palavras capazes de suavizar aquela dor. Das palavras que já ouvira ao longo da vida, as que mais a alegraram quando estava desanimada foram...
— De-de qualquer forma, Excelência...
Esther proferiu essas palavras enquanto ainda segurava a mão do garoto.
— Eu estou do lado de Vossa Excelência!
— ...O que...?
Surpreso com aquelas palavras inesperadas, Ion levantou o rosto, franzindo as sobrancelhas como se até mesmo sua angústia tivesse sido esquecida.
— O que você está dizendo?
“Es... estraguei tudo...!”
Com a sensação de que seu rosto irradiava fogo, Esther mordeu os lábios. De repente, o que ela estava dizendo?
— E-então, veja bem...
Apavorada, a jovem freira soltou as mãos que segurava e tentou se explicar, toda atrapalhada.
— Mesmo que Vossa Excelência se culpe o quanto for... mesmo que acabe se tornando seu próprio inimigo... eu... eu vou ficar do seu lado, sabe... quer dizer, mais ou menos isso... ou algo assim...
Ion soltou um leve suspiro. Baixando um pouco a cabeça, balançou-a de lado e disse friamente:
— Não entendi nada do que disseste.
— É-é claro... desculpe...
— Mas... agradeço-te.
— Hã?
No instante em que ergueu o rosto sem pensar, Diante dos olhos de Esther, o garoto sorria timidamente. Era o primeiro sorriso dele que Esther via.
— Você é diferente, Esther... como posso dizer... para uma terran, você é interessante.
O que exatamente ele queria dizer com ‘interessante’ era um pouco ambíguo, mas Ion baixou suavemente seus cílios dourados e, com dedos levemente aquecidos, entrelaçou-os gentilmente com os da freira.
— Sou grato... obrigado.
— D-De nada!
Esther, sentindo o rosto completamente vermelho, tentava desesperadamente raciocinar. Era o momento logo após o cair da noite. Um belo rapaz, com o torso nu. Apenas os dois, sozinhos, num quarto com uma cama, as cortinas totalmente fechadas... pensando bem, era uma situação perigosa.
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— C-certo, Excelência! Que tal se eu abrisse as cortinas?
Com isso, ela poderia soltar as mãos e ainda abrir as cortinas — pensando nesse plano dois-em-um, Esther se levantou.
— Sua Excelência me disse que gosta da vista noturna daqui, não é?
— Hum...
Enquanto soltava os dedos entrelaçados, relutante, Ion assentiu com um leve gesto de cabeça. O aposento ficava no terceiro andar de uma hospedaria de três andares, situada em um dos pontos mais elevados de Cartago. Da janela, era possível contemplar toda a cidade iluminada pela noite.
— A paisagem que se vê daqui... se parece um pouco com a da Capital Imperial... Claro, está muito longe de igualar-se em termos de beleza.
Da janela que Esther abrira, uma brisa noturna misturada com o cheiro do mar entrou soprando. Sob a tênue luz da lamparina, o vampiro brincava com os fios dourados de seu cabelo, enquanto lançava o olhar para fora da janela. O brilho em seus olhos era belo, mas havia algo de melancólico ali, e por vezes parecia até um pouco vazio.
— ...Será que ainda a verei mais uma vez?
— C-c-claro que sim!
Ao ouvir a tristeza naquela voz, Esther, que estava guardando as ataduras, levantou o rosto às pressas. Forçou um sorriso radiante, como se quisesse encorajar a si mesma e à outra pessoa. Esther nunca tivera irmãos, mas se os tivesse... talvez fosse exatamente assim que se sentiria.
— Mas é claro! Eu e o Padre Nightroad protegeremos Vossa Excelência a todo custo! Até que Vossa Excelência se encontre com a Cardeal Sforza e retorne em segurança ao seu país, o protegeremos, mesmo que isso custe nossas vidas!
Porém, o coração de Esther não era tão simples quanto seu sorriso animado deixava transparecer. Já haviam se passado três dias — e a cidade ainda permanecia sob o controle da Inquisição, não era uma situação que se permitia qualquer movimentação. Levar Ion até a embaixada estava fora de questão; na verdade, até mesmo sair daquela hospedaria era uma tarefa difícil. Além disso... até quando poderiam permanecer seguros...?
A pessoa que mais desejava ter alguém para bater encorajadoramente em seu peito era ninguém mais do que ela mesma.
— É isso mesmo. Assim como tu dizes.
Mas, como se tivesse sido contagiado pelo sorriso da freira, Ion também deixou escapar um leve sorriso. Ele também, devia ao menos estar ciente do perigo da situação. Ainda assim, como que para não desperdiçar o cuidado da jovem que tentava animá-lo, ele forçou um sorriso.
— Com certeza... no fim, tudo vai dar certo. Eu cumprirei a ordem imperial de Sua Majestade, retornarei são e salvo à capital, e poderei aproveitar plenamente daquela linda vista noturna... Posso acreditar nisso, Esther?
— Claro. Esse é o meu trabalho, afinal.
— Que confiável.
No momento em que o garoto e a garota reconheceram um sorriso envergonhado no rosto um do outro — Ouviu-se o som pequeno de uma batida na porta.
— Ah... com licença, sou o Nightroad. Acabo de voltar.
— Ah, Padre, você demorou, hein.
Ao ver o homem que entrou no quarto acompanhado por um leve som de tosse, Ion suspirou, aliviado. Em contraste, sem perceber que o rosto de Esther se tornara tenso e rígido, dirigiu palavras de apreço ao homem, que tirava o turbante e se sentava.
— Bom trabalho no reconhecimento. Você demorou para voltar, então estava um pouco preocupado. O caminho de volta foi seguro?
— Olá. Estava cheio de policiais especiais por toda parte, até andar pela rua foi um sufoco... Ah, Esther-san, aconteceu alguma coisa estranha enquanto eu estive fora?
— ...Nada.
Esther respondeu sem sequer olhar para o padre, que a abordava com naturalidade. Diante daquela expressão fria, tão diferente da de pouco antes, Ion fez uma cara de estranhamento.
— O que houve, Esther?
— Eh? Não, não é nada, não.
Enquanto tentava forçar um sorriso apressado, não importava o quanto fizesse, não conseguia evitar que sua expressão ficasse rígida e tensa.
Abel olhou furtivamente para o perfil da jovem com um leve ar de tristeza, mas não disse nada em voz alta. Em vez disso, limpou a garganta levemente e, com uma alegria, de alguma maneira, igualmente forçada, se dirigiu a Ion.
— E então, Excelência, como está a situação dos seus ferimentos? Já consegue se mover um pouco?
— Hum, está indo muito bem. Parece que a prata também já foi expelida em boa parte, e, nesse ritmo, acho que em uma semana estarei completamente curado. Se for assim, pelo menos eu conseguirei me infiltrar na embaixada.
Ion assentiu, mostrando uma determinação firme. Talvez por ter sido encorajado por Esther mais cedo, ainda estivesse tendo seus efeitos, sua voz soava leve. Contudo, em contraste, o rosto do padre permanecia sombrio.
— Uma semana? Entendo... Ainda vai demorar tanto assim?
— Tanto assim?
Ion não deixou escapar o murmúrio baixo.
— Algum problema, Padre?
— Sim, na verdade... com licença.
Tossindo levemente, Abel levou um lenço à boca. Estaria com um resfriado? Nos últimos dias, ele vinha tossindo de maneira estranha de vez em quando.
— Está tudo bem, Padre? Você não parece muito bem, sabia?
— Perdão. Estou bem. Acho que só peguei um pouco de friagem enquanto dormia...
Com um lenço ainda pressionado contra a boca, o padre balançou a cabeça. Seu rosto não estava com uma boa aparência, mas sua voz já havia voltado ao normal.
— Perdão... Bem, continuando a conversa, parece que os agentes da Inquisição estão se movendo de forma mais ativa do que esperávamos. Nesse ritmo, talvez não consigamos resistir por mais de dois ou três dias.
— Tão pouco assim?
Esther franziu as sobrancelhas, e o padre assentiu com o rosto um tanto pálido.
Nestes três dias, a cidade de Cartago esteve completamente à mercê da Inquisição. Com o pretexto do ataque de um vampiro à embaixada do Vaticano e usando o direito canônico como escudo, eles estavam agindo com total arrogância, como se fossem os donos do lugar. Provavelmente, pretendiam aproveitar a oportunidade para demonstrar a superioridade da Igreja perante os príncipes seculares. A soberania do governo municipal, era na prática, inexistente. Qualquer sinal de resistência, e mesmo cidadãos comuns sem ligação com o incidente ou funcionários do governo, eram detidos sem piedade.
— Então, o encontro com a Cardeal Sforza...
— É uma situação bastante difícil.
Enquanto enxugava a boca com um lenço, Abel deu de ombros.
— A embaixada está completamente bloqueada. Claro, oficialmente dizem que é por 'segurança', mas provavelmente Caterina-san — a Cardeal Sforza — está sob prisão domiciliar. Talvez seja melhor desistir da audiência... Ah, não, eu entendo perfeitamente como se sente.
Com o rosto sombrio, o garoto abaixou a cabeça. Para consolá-lo, Abel balançou a cabeça de leve.
— Mas, do jeito que as coisas estão, teremos que estar preparados para assumir um risco considerável. Além disso, até mesmo fugir desta cidade já se tornou algo extremamente difícil.
— Sou um nobre boyère do Império.
Com o rosto pálido, mas carregado de uma decisão firme, Ion balançou a cabeça.
— Além disso, para um nobre, o decreto imperial de Sua Majestade é absoluto. Eu preferiria perder a vida a desobedecer um édito.
— Entendo seus sentimentos. Mas forçar essa audiência e se expor ao perigo não é um risco só seu. Caso a Inquisição invada o local, a posição da Cardeal Sforza se tornará a pior possível. Por favor, desista desta audiência e espere por uma próxima oportunidade...
— Já sei. Devo fazer um chá?
De forma um tanto abrupta, Esther se levantou. Não conseguia mais suportar ver por mais tempo a decepção de Ion.
— Vai ser uma conversa demorada, então... que tal continuarmos enquanto tomamos um chá? Padre, pode me ajudar um pouco?
— Ah... eu...
Abel tentou balançar a cabeça, mas se calou diante do olhar cortante de Esther. Com um ar de relutância, levantou-se e, deixando Ion absorto em seus pensamentos, seguiu em direção à cozinha.
— ...O que foi, Esther-san?
— Você estava falando sério agora há pouco?
Assim que entrou na apertada cozinha, Esther sussurrou com uma expressão severa. Embora falasse em voz baixa para não ser ouvida pelo garoto no quarto, seu olhar era afiado.
— Você pretende mandar aquele menino de volta assim, de mãos vazias? Sem sequer permitir que ele se encontre com Sua Eminência?
— Sim, bem...
Como se tivesse percebido um tom perigoso na voz da garota, Abel desviou o olhar. Empurrando para cima a ponte de seus óculos trincados, começou a se justificar, mesmo sem estar sendo questionado.
— Na verdade, a situação já chegou a um ponto bem crítico. E as chances de piorar ainda mais são extremamente altas, enquanto as de melhorar são praticamente nulas. Dado isso... ao menos quanto à segurança dele, deveríamos tirá-lo desta cidade, ainda que temporariamente...
— Mas... a ordem da Cardeal Sforza não era proteger ele e levá-lo até Vossa Eminência? Nesse caso...
— A situação agora é completamente diferente de antes. Naquela vez, os inquisidores ainda não tinham chegado, e o Barão de Luxor ainda não havia nos traído. Para começo de conversa, não imaginávamos que o próprio Conde de Memphis estivesse ferido daquele jeito, incapaz de se mover. Aah... Seria bom que ao menos este transmissor estivesse funcionando...
Enquanto murmurava uma desculpa, Abel levou a mão à orelha com uma expressão triste. Com movimentos desajeitados, ele removeu o transmissor auricular quebrado quando fora atingido pelo inquisidor.
— De qualquer forma, não temos mais outras opções. Tenho certeza de que Caterina-san também compreenderá isso.
— Não estou falando de”Caterina-san”!
Mesmo naquele momento, a sensação nauseante sentida durante o banquete voltou a aflorar. Com um tom feroz, Esther disparou:
— Estou falando é sobre o Conde de Memphis. Aquele garoto veio a esta cidade arriscando a própria vida, sabia?! E agora está dizendo para mandá-lo embora de mãos vazias?!
Aqueles sujeitos da Inquisição podem até ser inimigos formidáveis. Especialmente o Irmão Petros — aquele inquisidor — é, de fato, uma ameaça.
No entanto, ainda tinham uma carta na manga.
Se ao menos o padre à sua frente usasse o “Crusnik” — aquele poder absurdo e quase profano de tão forte — os inquisidores não seriam páreo para ele. Não, pensando bem, se ele ao menos tivesse usado aquilo lá no porto subterrâneo, Ion não teria passado por tanto perigo. Se ele tivesse capturado Radu ali mesmo, ou ferido o irmão Petros, talvez nem estivessem agora encurralados numa situação tão desesperadora. Mesmo assim...!
— Não havia outra opção, Esther-san.
No entanto, como se não percebesse os sentimentos da jovem, Abel apenas deu de ombros.
— Fizemos tudo o que podíamos. Lamentar pelo que não conseguimos realizar não adianta nada.
— Tudo o que podíamos?
As palavras do padre, ditas como se nada tivesse a ver com ele, feriram profundamente o coração de Esther. Ela pôde sentir claramente algo que havia selado com cuidado se agitar dentro de si, despertado por aquela dor.
— Padre... o senhor realmente pretende dizer isso? Pode mesmo afirmar, de cabeça erguida, que fez tudo o que podia?
Sim, não era só por causa desse incidente. Era uma frustração que vinha se acumulando desde István — quando se deu conta, Esther já estava agarrando Abel pela gola e gritando com ele:
— Você não fez tudo que podia! Porque você sempre está poupando forças!
— Esther-san, eu... eu não estou fazendo corpo mole, sabe?
— Mentira! Então por que você não faz aquilo... aquilo de István?!
Esther sacudiu a mão com que agarrava o peito de Abel. Se tivesse permanecido um pouco mais calma, talvez tivesse notado o quão anormalmente pálido estava o semblante do padre. No entanto, para a garota que naquele momento explodia a frustração acumulada ao longo de meses, era impossível prestar atenção nesse ponto.
— Se você tivesse levado as coisas a sério, tudo teria dado muito mais certo! Aquele garoto também não teria passado por uma situação tão perigosa! Mesmo assim...
— .........
Deixando-se ser sacudido, Abel não tentou se justificar além disso, permaneceu em silêncio, apenas apertando os lábios com o semblante sombrio. Aquela expressão inexplicável — como se suportasse algo escondido dentro de si — irritou ainda mais Esther. E quando ela intensificou o olhar, se preparou para atirar contra ele palavras afiadas o suficiente para perfurar suas entranhas.
— Eh.. Esther?
A voz hesitante que veio de suas costas soou exatamente no momento em que Esther estava prestes a falar.
— O-o que foi, Excelência?
— É que... no meio da conversa, me desculpe um pouco, mas...
Olhando alternadamente a garota de expressão mal-humorada e o padre, que piscava os olhos como se estivesse perdido, Ion também fez uma cara de quem não sabia o que fazer. Mas, após pigarrear uma vez, apontou para fora da janela.
— Tem umas pessoas estranhas lá fora... Parece que algo está errado.
— Como?
Esquecendo completamente sobre a briga até então, Esther e Abel trocaram olhares. Em seguida, como se tivessem sido impulsionados, espiaram por debaixo da janela.
— A Polícia Especial!
— A Polícia Especial!
As duas vozes se sobrepuseram perfeitamente.
Na frente da estalagem, havia cerca de trinta homens vestindo uniformes de combate negros. Ao lado deles, apontando em direção a eles, estava o dono desta estalagem.
— Excelência, vista-se por favor!
Com uma voz firme, Esther deu ordens a Ion. Enquanto ajudava o garoto a trocar de roupa com uma das mãos, com a outra, organizava rapidamente remédios, comida e outros suprimentos em uma bolsa. Nesse meio tempo, Abel saiu para o corredor e parecia estar sondando por presenças no andar de baixo. Lançando um olhar breve às costas dele...
“Talvez eu tenha exagerado um pouco...”
Por fim, quando Esther recuperou a calma, um pequeno fragmento de arrependimento atravessou o canto de sua mente.
Ao se lembrar daquela expressão triste que vira há pouco, começou a sentir que talvez tivesse acabado por dizer coisas cruéis demais.
Mas logo em seguida, a garota balançou a cabeça, afastando aquela hesitação. Ela não estava errada. O culpado era ele. Sim, se ao menos ele tivesse mais...
Graças aos preparos feitos com antecedência, em menos de um minuto os preparativos já estavam prontos para a fuga. No entanto, mesmo nesse curtíssimo intervalo, sinais de agitação repentina vindo do andar de baixo começaram a se fazer sentir através do assoalho. Esther puxou a mão de Ion e saiu para o corredor. Abel, que já havia seguido na frente, entrou no quarto vazio do outro lado do corredor usando uma chave-mestra previamente preparada. Haviam planejado com antecedência tanto os métodos quanto a rota de fuga, justamente para uma situação como essa.
Nesse caso, fugir pela porta dos fundos seria ainda mais perigoso. O fato de eles terem invadido de forma tão barulhenta só podia significar que pretendiam surpreendê-los por trás. A essa altura, a saída dos fundos já devia estar cercada. Precisariam, portanto, antecipar ainda mais o movimento deles. Além disso: até o amanhecer, teriam que encontrar um novo esconderijo. Não havia tempo a perder.
Sob a janela do quarto em frente, o telhado da casa ao lado estava bem próximo. No beco além dele, era possível ver relances das fardas da polícia especial, mas se dessem a volta pelos telhados, talvez conseguissem evitar serem vistos.
— Vocês dois, rápido!
— Então, eu vou primeiro!
Os passos apressados de botas militares já podiam ser ouvidos subindo a escada.
Esther passou com cuidado pela janela que Abel havia removido. Por um instante, seus olhos se encontraram com os do padre — e ela pensou em pedir desculpas, mas...
— Por favor, depressa, Esther-san! Eles já estão quase aqui!
— Eu sei!
Pressionada, no fim das contas, ela não conseguiu dizer nada.
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Roteiro de Leitura (。•̀ᴗ-)✧!
Créditos da tradução:
Lutie (◕‿◕✿)
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trinitybloodbr · 3 months ago
Text
[ ᴀɴɪᴍᴇ ɪᴄᴏɴᴏ ]
𝑮𝒚𝒖𝒍𝒂 𝒌𝒂𝒅𝒂𝒓 | 𝑻𝒓𝒊𝒏𝒊𝒕𝒚 𝑩𝒍𝒐𝒐𝒅 ♡︎
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