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"Sbarbaro, inspirado rapaz, dobra multicores
papéis e deles faz sair barquinhos que confia ao lodaçal
móvel de um regato; vê-os deslizar para os arredores.
Sê previdente por ele, cavalheiro que caminhas:
com a bengala alcança a frágil brincadeira naval,
para que não se perca; guia-a até um pequeno porto de pedrinhas."
Eugenio Montale
Imagem: Luis Gutierrez
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"Eis-me Tendo-me despido de todos os meus mantos Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses Para ficar sozinha ante o silêncio Ante o silêncio e o esplendor da tua face Mas tu és de todos os ausentes o ausente Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca O meu coração desce as escadas do tempo [em que não moras E o teu encontro São planícies e planícies de silêncio Escura é a noite Escura e transparente Mas o teu rosto está para além do tempo opaco E eu não habito os jardins do teu silêncio Porque tu és de todos os ausentes o ausente" Sophia de Mello Breyner Andresen Imagem: John William Godward
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"Nada é completamente o que A razão crê A vida é uma casa Sombria e calma Se no quarto do lado Eu te pressinto É com o peito retirado De minha alma Cada ruído é um baque Vindo de ti Não há pior lei do que Viver duplicado Morro a cada instante Do que eu amo Porém vivo mesmo assim Deus sabe como O que sonhamos do amor O amor nega O coração não pára De ir para onde ele corre." Louis Aragon Imagem: Ferdinand Hodler
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"Antiga cantiga da amiga deixada. Musgo da piscina, de uma água tão fina, sobre a qual se inclina a lua exilada. Antiga cantiga da amiga chamada. Chegara tão perto! Mas tinha, decerto, seu rosto encoberto... Cantava — mais nada. Antiga cantiga da amiga chegada. Pérola caída na praia da vida: primeiro, perdida e depois — quebrada. Antiga cantiga da amiga calada. Partiu como vinha, leve, alta, sozinha, — giro de andorinha na mão da alvorada. Antiga cantiga da amiga deixada." Cecília Meireles Imagem: Edvard Munch
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"Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo em dicionários antigos e poeirentos e noutros livros onde não achei o sentido desta doce palavra de perfis ambíguos. Dizem que azuis são as montanhas como ela, que nela se obscurecem os amores longínquos, e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas) a nomeia num tremor de cabelos e mãos. Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro, seu segredo se evade, sua doçura me obceca como uma mariposa de estranho e fino corpo sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas. Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado desta palavra branca que se evade como um peixe? Não... e me treme na boca seu tremor delicado... Saudade..." Pablo Neruda Imagem: Pablo Picasso
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"Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão." Carlos Drummond de Andrade Imagem: Rene Magritte
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"Amigo, toma para ti o que quiseres, passeia o teu olhar pelos meus recantos, e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, com suas brancas avenidas e canções. Amigo - faz com que na tarde se desvaneça este inútil e velho desejo de vencer. Bebe do meu cântaro se tens sede. Amigo - faz com que na tarde se desvaneça este desejo de que todas as roseiras me pertençam. Amigo, se tens fome come do meu pão. Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto que sem olhares verás na minha casa vazia: tudo isto que sobe pelo muros direitos - como o meu coração - sempre buscando altura. Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe entregar nas mãos o que se esconde dentro, mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares, e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança... ... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido é uma rosa branca que se abre em silêncio..." Pablo Neruda Imagem: Gerard Sekoto
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"Coroae-me de rosas Coroae-me em verdade De rosas. Quero ter a honra Nas mãos pagãmente E leve, Mal sentir a vida, Mal sentir o sol Sob ramos. Coroae-me de rosas E de folhas de hera E basta." Ricardo Reis Imagem: Jacques-Louis David
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“— o sol incide na pedra que se fende — Aqui me tens. Disseste. a luz que te dou por companhia está envenenada… depois adormecemos…”
Al Berto
Imagem: Almada Negreiros
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"A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo. Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela." Fernando Pessoa Imagem: Andrew Wyeth
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“Por que me descobriste no abandono Com que tortura me arrancaste um beijo Por que me incendiaste de desejo Quando eu estava bem, morta de sono
Com que mentira abriste meu segredo De que romance antigo me roubaste Com que raio de luz me iluminaste Quando eu estava bem, morta de medo
Por que não me deixaste adormecida E me indicaste o mar com que navio E me deixaste só, com que saída
Por que desceste ao meu porão sombrio Com que direito me ensinaste a vida Quando eu estava bem, morta de frio”
Chico Buarque
Imagem: Tracey Emin
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Demasiado visto. A visão percorreu todos os ares. Por demais sofrido. Rumor das cidades, à noite, ao sol, e sempre. Por demais sabido. As estocadas da vida — Ó Rumores e Visões! Partida no afecto e no ruído novos!" Arthur Rimbaud Imagem: Eastman Johnson
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"Podes dizer ao mundo inteiro que estas letras são tuas. Assim como os desenhos que fiz, os espaços que deixei. Podes dizer a toda a gente que um dia te amei e que foste tu quem me fez poeta. Podes nadar em orgulho ao saber que todos os copos que bebi foram por ti. Que os cigarros que fumei ansiosa e apressadamente foram pela saudade do teu corpo. Quando falarem de raios e relâmpagos, de trovões e de tufões, vais poder dizer que fui eu quem fez a China, quem ergueu muralhas e deitou as lágrimas de sangue. Quando te perguntarem se um dia me conheceste, diz que sim. Responde um afirmativo de poder e de vontade. Podes deixar o medo do conhecimento alheio, agora que te sou realmente alheia. Quando um dia o mundo se desfizer verdadeiramente em estações trocadas - o Verão pelo Outono ou o Inverno pela Primavera - aí podes descansar. Podes contar à galáxia e aos seus sobreviventes que, meu eterno desconhecido, um dia me fizeste rainha." José Eduardo Agualusa Imagem: Jack Vettriano
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“Hoje vou levantar-me e vou estar contente com todos os meus actos. Vou andar, vou correr, vou gritar vou beber água, comer terra, vou comer o ar e vou respirar, respirar. Vou ter consciência do meu sangue consciência de que o meu sangue desce sobe, entra, sai do meu coração pontual e no momento em que me cruza o cérebro enche meus olhos de terra. Vou andar por dentro de mim em visita.”
Ana Hatherly
Imagem: Tom Wesselmann
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"Se é sem dúvida Amor esta explosão de tantas sensações contraditórias; a sórdida mistura das memórias, tão longe da verdade e da invenção; o espelho deformante; a profusão de frases insensatas, incensórias; a cúmplice partilha nas histórias do que os outros dirão ou não dirão; se é sem dúvida Amor a cobardia de buscar nos lençóis a mais sombria razão de encantamento e de desprezo; não há dúvida, Amor, que te não fujo e que, por ti, tão cego, surdo e sujo, tenho vivido eternamente preso!" David Mourão-Ferreira Imagem: Egon Schiele
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"Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo. Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas, Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
Grandes são os desertos, minha alma! Grandes são os desertos.
Não tirei bilhete para a vida, Errei a porta do sentimento, Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse. Hoje não me resta, em vésperas de viagem, Com a mala aberta esperando a arrumação adiada, Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem, Hoje não me resta (à parte o incómodo de estar assim sentado) Senão saber isto: Grandes são os desertos, e tudo é deserto. Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem) Acendo o cigarro para adiar a viagem, Para adiar todas as viagens. Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade! Basta por hoje, gentes! Adia-te, presente absoluto! Mais vale não ser que ser assim.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro, E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
Mas tenho que arrumar mala, Tenho por força que arrumar a mala, A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão. Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala. Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas, A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.
Tenho que arrumar a mala de ser. Tenho que existir a arrumar malas. A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte. Olho para o lado, verifico que estou a dormir. Sei só que tenho que arrumar a mala, E que os desertos são grandes e tudo é deserto, E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares. Vou definitivamente arrumar a mala. Arre, hei de arrumá-la e fechá-la; Hei-de vê-la levar de aqui, Hei de existir independentemente dela.
Grandes são os desertos e tudo é deserto, Salvo erro, naturalmente. Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala. Fim.“
Álvaro de Campos
Imagem: Rene Magritte (The catapult of desert)
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Começo a conhecer-me. Não existo. Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, Ou metade desse intervalo, porque também há vida… Sou isso, enfim… Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulho de chinelas no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo. É um universo barato.
Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Imagem: Rembrandt
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