#só o fazem ao domingo e sempre a tarde
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Estou a ver que a minha sina, pra onde quer que vá, é morar ao lado de gente que houve kizomba aos altos berros
#pra ser sincera estes vizinhos nao abusam#só o fazem ao domingo e sempre a tarde#e estao no seu pleno direito#eu acho é que já estou condicionada#é reacçao pavloviana entrar em fight mode sempre que oiço kizomba aos altos berros#e se vem com aquele eco de vizinho distante ainda pior#e nem sequer ta absurdamente alto#oiço muito no escritorio#menos na sala#quase nada no quarto
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backseat | Lee Heeseung
notinha da Sun | esse plot era pra ter sido do Jaemin, mas eu percebi que combinava MUITO com o Heeseung e eu já queria MUITO escrever com ele, então mudei a rota. É final de semana e tudo que eu queria era sair com alguém, queria ver meu bebê @dreamwithlost 😭 Mas tô presa num relatório de histologia (é bem legal de fazer, mas trabalhoso) e a minha glândula endócrina favorita é a tireoide 🙏 Porque amo pomos de Adão evidentes, dá vontade de beijar 😭
w.c | 0.9k
avisos | nenhum, tá fofinho!! 🥰
boa leitura docinhos!! 🍒
— Já chega por hoje, você tá dirigindo melhor do que eu — você parou o carro, estacionando de forma meio torta em uma vaga do estacionamento de um supermercado fechado, num domingo à tarde. Heeseung te levou até lá porque você nem tinha habilitação, mas queria começar a aprender antes das aulas, então pediu ajuda ao seu amigo. Um amigo que te olhava de um jeito carinhoso demais. É claro que vocês se gostavam romanticamente: viviam se abraçando quando saíam com o grupo de amigos, davam as mãos para caminhar e, distraidamente, procuravam os olhares um do outro. Mas nenhum dos dois ainda tinha tido a coragem de se declarar, ou simplesmente de encostar os lábios.
— O que você tá fazendo? — você perguntou, ainda com as mãos no volante do carro antigo, manual, que Heeseung ganhara do avô. Ele saiu do banco do passageiro e, com certa dificuldade, passou para o banco traseiro. Você sentiu o rosto esquentar, tanto pelo sol que atravessava o vidro, quanto pela proximidade entre vocês dois. Geralmente, estavam acompanhados de amigos ou até dos seus pais quando ele ia à sua casa para fazerem algum trabalho da faculdade, mas agora estavam só vocês dois em um estacionamento deserto. A calmaria da rua fazia parecer que eram as únicas pessoas no mundo.
— Vem pra cá — ele disse, meio deitado e encolhido no banco traseiro. Bebeu um gole de refrigerante e colocou a latinha no carpete enquanto você apoiava um joelho no banco, fazendo menção de se juntar a ele. Antes disso, aumentou um pouco a música que tocava no rádio, uma canção antiga, de muito antes de vocês sequer pensarem em nascer. Aquele momento todo tinha uma vibe retrô, como se fossem jovens inconsequentes dos anos 90, que pegavam o carro dos pais para se beijarem loucamente por aí.
— Aqui definitivamente não comporta nossos corpos juntos — você sorriu, e Heeseung te puxou para que você não ficasse presa no vão entre o banco traseiro e o encosto dos bancos da frente. Ele beijou o topo da sua cabeça, apreciando o cheiro doce do seu shampoo de frutas. Você levantou a cabeça devagar, com medo de machucá-lo, e contemplou seu rosto bonito, absorvendo cada detalhe. Ele parecia um presente celestial, como se cada traço tivesse sido planejado milimetricamente; era lindo de se ver.
— As pessoas realmente fazem sexo no banco de trás? — você perguntou de repente, e ele riu, fazendo o corpo vibrar. Você sentiu a risada, já que estava deitada sobre ele, e também sorriu. Adorava ser o motivo de suas risadas sinceras. Heeseung ajeitou uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha, tocando de leve seu lóbulo, sem saber que ali era uma de suas áreas mais erógenas.
— Pelo visto, sim. Não é maluco? — você assentiu, sorrindo quando ele, sem querer, levantou a cabeça um pouco demais e acabou batendo na alça de segurança. Você sempre teve um fraco por pomos de Adão e já havia imaginado que, quando tivesse um namorado, ele teria aquela região proeminente para que você pudesse beijá-la e sentir o movimento da deglutição. Perdida no desejo de ter Heeseung para si, aproveitou a situação e o beijou exatamente ali.
Aconteceu como você esperava: Heeseung engoliu em seco, e a área se moveu com o gesto. Ele poderia até ter a fama de ser o maioral, o que flerta com várias ao mesmo tempo, mas na verdade, só tinha olhos para você. Ele não sabia em que momento te beijar, mas quando seus olhares se encontraram e você desviou o olhar para a boca dele, Heeseung segurou seu rosto com as duas mãos. O corpo provavelmente ficaria dolorido depois, mas ele não perderia a chance de te beijar até cansá-la, mesmo que isso significasse machucar as costas.
Heeseung te beijou, e você retribuiu na mesma intensidade, com as mãos tímidas explorando seu corpo, por cima e por baixo da camiseta, sentindo a pele quente, quase febril.
— Você enrola demais — você disse depois que ele terminou o beijo com uma mordida suave no seu lábio inferior, gostando da sensação dos dentes, que deixaram seus lábios vermelhos, inchados e brilhantes como cerejas. — Tô querendo te beijar há séculos.
— Eu também. Mas você fala muito — você fingiu estar ofendida, e ele sorriu, continuando: — Não para de falar sobre células, mitose, difusão, hematopoiese… O que mais?
— Agora é você quem tá falando demais — Heeseung te olhou com os olhos semicerrados, segurando o fôlego quando você deslizou as mãos por dentro da camisa dele, acariciando seu abdômen e peito, usando as unhas de vez em quando, o que o fazia quase revirar os olhos.
— A pergunta foi proposital? — ele perguntou baixinho, sem tirar os olhos dos seus. Você o encarou, notando o desejo e atração em seu olhar, e sorriu com doçura, desviando o olhar envergonhada. Ele tocou seu rosto, acariciando sua bochecha direita, e te beijou devagar, tão devagar que o som do beijo ressoou suave quando vocês se separaram. Com os olhos brilhando sob a luz do sol que entrava pelas janelas do carro, ele sussurrou suavemente:
— A gente pode testar, se você quiser.
@sunshyni. Todos os direitos reservados.
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Em qual momento de nossas vidas deveríamos acreditar que “Depois da tempestade vem a calmaria” sendo que todos os dias estamos enfrentando uma tempestade?não é sobre estar na chuva e se molhar. não é sobre esperar um temporal passar e ver o sol aparecer logo em seguida. não é sobre ficar em meio a tempestade e esperar que tudo se acalme sozinho ao final do tempo cinzento. é sobre acreditar que mesmo em uma batalha interna existe o momento de cessar fogo e aproveitar a vitória em meio a paz. é sobre chorar rios e depois limpar as lágrimas, tomar uma taça de vinho e se agarrar ao sentimento de alívio que aparece por mais que seja algo momentâneo, mas é a única forma que nos dá esperança de que teremos dias melhores. é sobre passar um café da tarde e assistir aquela novela antiga que nos faz sentir uma nostalgia dos tempos bons e onde não tínhamos com o que se preocupar a não ser com o próximo capítulo. é sobre ser criança com os seus trinta e poucos anos e assistir aquele desenho animado como se estivesse acabado de voltar da escola. é sobre acreditar que mesmo depois de alguns amores que nos deixaram de coração partido, existem outros amores que fazem a gente acreditar que valeu a pena esperar chegar em forma de pessoa que vem nos abraçando em um momento frio e nublado, acho que vem chuva por aí.
É sobre estar em meio a dor e colocarmos um sorriso no rosto tendo a certeza que é apenas um dia ruim e não uma vida ruim. ésobre acreditar que vamos ficar bem após uma crise. é sobre ficar bem depois de ficar três dias sem querer sair da cama, tirar forças de onde não temos e levantar para ver o sol em um domingo de manhã. não é fácil manter a constância em fazer os dias melhores e ignorar os pensamentos intrusivos que dizem constantemente que somos inúteis e fracos perante os desafios que a vida nos impõe. não é fácil deitar com a cabeça no travesseiro esperando o sono vir e o que realmente vem são os erros que cometemos jogando na nossa cara o quanto somos falhos e fracos. não é fácil brigar com os nossos demônios internos tentando provar o nosso verdadeiro valor, quando na verdade deveríamos estar confiantes em nós mesmos porque sabemos o nosso real valor. essa constante mania de buscarmos aprovação é que nos quebra, sempre seremos poucos em alguns momentos, não iremos ser perfeito em tudo, iremos errar em alguns pontos, iremos cometer tantos erros que infelizmente seremos lembrados apenas por conta disso, dos ‘’erros’’.
A tempestade é certa assim como a calmaria. a mudança é certa, mas exige tempo pra abraçarmos o novo e desconhecido. a dor ela sempre estará à espreita e quando menos esperarmos BUM! ela te consome no seu momento de fragilidade. chorar e brigar com o mundo e consigo mesmo irá acontecer em forma de passar pelo processo de dor e pela raiva, então sim, sempre ‘’depois da tempestade vem a calmaria’’, podemos ser tudo o que quisermos ser, podemos ser o sol, lua, céu, estrelas, chuva, frio, calor, inverno ou versão na vida de alguém, podemos ser tudo o que quisermos ser no momento em que temos que ser e quando quisermos ser, entende? nós é quem decidimos quando iremos agir e como agir. nós é que escolhemos ficar se é no sol ou na tempestade. estamos prontos para recebermos a calmaria? estamos prontos para recebermos a mudança e o desconhecido? fique na tempestade o máximo que puder e só saia dela quando você tiver a certeza de que está pronto pra aceitar as novas mudanças, abraçar novos tempos, respirar novos ares e viver novos dias. saiba que uma vez ou outra a tempestade irá aparecer, mas até lá você estará pronto pra enfrenta-la e enquanto esse dia não chega aproveite a calmaria e desfrute do momento de abraçar o novo e o desconhecido. seja muito bem-vindo ao tempo de novas mudanças!
Elle Alber
#usem a tag espalhepoesias em suas autorias 🌈#espalhepoesias#lardepoetas#escritos#pequenosescritores#pequenosversos#pequenospoetas#pequenos textos#pequenosautores#autorias#lardospoetas#pequenasescritoras#versoefrente#lardepoesias
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Gosto do som das gotas de chuva que sorrateiramente invadem o quarto à noite.
Amo quando a luz do sol invade os espaços assaltando o quarto pela fresta da janela e levando consigo as sombras numa manhã de domingo.
-Quem não gosta de colo de mãe,
Mimo de vó e abraço de pai?
E daquela música com aquela pessoa naquela hora em que
você mais precisava ouvi-la?
Encanta-me o sorriso despudorado de uma criança num dia de céu chumbo e madrugada interior (noites nas quais você achou que nada mais valeria a pena).
-Tem coisa mais gostosa que perfume de bolo com manteiga
e leite derramado da leiteira?
A lágrima que alivia o peito repleto de choro contido;o vento acariciando o rosto;um céu de brigadeiro emoldurando uma tarde de outono, também são sempre bem-vindos.
Árvores de copa larga, um bom livro
e o silêncio com seus braços acolhedores sempre são ótimos refúgios para a realidade ácida do dia a dia.
São tantas coisas que a gente não se atenta e que fazem tanta diferença:
O primeiro beijo;
O beijo roubado;
O beijo inesperado;
O beijo com paixão;
O beijo com vontade...
A mão quando se está só.
O silêncio , quando a solidão é necessária.
Cheiro de café feito na hora.
Pipoca,filme e boa companhia. Raspar o fundo da panela de brigadeiro.
Um segredo compartilhado.
Uma declaração inesperada.
Aquela tarde perdida no tempo
em algum lugar distante em meio a um pôr-de-sol inesquecível.
O sorriso capaz de resgatar a aurora perdida;capaz de amanhecer todos os dias.
A extensão de um corpo em outro corpo.
O diálogo silente do toque.
Cheiro de grama molhada.
Dar e receber rosas.
Rir e chorar ao mesmo tempo.
Assistir os pardais banharem-se em areia; o vira-latas espichando-se ao sol,e,mais que isso, sentir,neste momento, a vida em sua expressão máxima.
O choro do parto- mãe e criança num uníssono -.
Cheiro de mar.
Ver um sorriso florescer no rosto de quem amamos e saber-se culpado disso.
Rir até os músculos faciais doerem.
Receber um “eu te amo” inesperado.
Paz de criança dormindo.
O sonho que se torna realidade
Quando a realidade parece um sonho...
Sei que o texto ficou grande, mas há dias em que tais memórias são vitais.
A.Christo.
#escrita#escrita criativa#novosescritores#carteldapoesia#meu texto#pequenosescritores#arquivopoetico#jovens poetas#poecitas#literatura brasileira#escrevologoexisto#escrevemos#escritos#escritores#poemas de amor#poetas#poema original#poesia#pequenosautores#pequenasescritoras#textos autorais
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Querida Maria Isabela,
Você está em todos os lugares. Na cor azul. Nos momentos de banho ou trânsito em que sempre estou com uma playlist nova procurando a música ideal para aquela noite que vai vir. Nas suas cantoras favoritas que sempre estão tocando em alguma rádio ou loja. Na macarronada de domingo. Nos gatinhos que aparecem na rua. Nas crianças brincando distraidamente na pracinha. Em cada linha escrita nos livros de romance. Em cada filme de romance extremamente clichê e, muitas vezes, chato. No casal de velhinhos sentados tomando sol e conversando na calçada em uma manhã qualquer. Na torcida dos meus jogos. Em algum detalhe interessante da matéria estudada no dia. Na narração do futebol. Nos inúmeros vídeos que aparecem da Jadezinha no tiktok. Nas fofocas dos famosos em qualquer canal de notícias duvidoso. No sorvete de flocos do final de semana. Nos antigos filmes de desenho e de princesas da Disney. No final de cada tarde e, com isso, o anseio pelos seus comentários de novelas de velho. Nos lírios dos jardins das velhinhas do bairro. Em cada comentário que fazem sobre Percy Jackson, How I Met Your Mother, The Oc e Cobra Kai. Em cada indicação de filme que seja meramente interessante para ver com você. Em cada teoria sobre a vida após a morte. Na famosa lenda do fio vermelho do destino. Na teoria do multiverso e das realidades paralelas. No meu pensamento quando algo minimamente engraçado acontece e meu primeiro instinto é contar para você. Na música popular brasileira. Em todos os meus sonhos. Nos horários iguais. Em cada show que eu vá. Em todo o meu coração e alma.
E o engraçado é que eu nem consigo dizer quando você começou a estar nos mínimos detalhes. Eu só lembro de você estar.
Durante toda a minha vida, ouvi tanto sobre o amor, a paixão, a sensação de estar apaixonado e completamente entregue à alguém e, tenho que te dizer Isabela, estar apaixonado por você é completamente diferente de tudo o que já me descreveram. De tudo o que algum dia imaginei. São inexplicáveis: A emoção de viver tudo isso ao seu lado; o sentimento de planejar uma família e todo o nosso futuro com você; a sensação de nunca parecer ser suficiente, não importa o quanto eu te diga ou te demonstre, parece que jamais vou conseguir colocar em palavras o quanto eu te amo para que você realmente possa entender; a certeza de que, podem se passar milhares de anos, e nosso tempo juntos não vai chegar perto de ser aceitável para mim.
Eu não acredito em Deus ou em quaisquer outras divindades que possam existir, mas acredito em destino e almas gêmeas. Acredito fielmente que você é o meu destino. Que independente de qualquer decisão que tomassemos, nós voltaríamos a nos reencontrar de novo e de novo apenas para viver esse lindo e intenso sentimento que compartilhamos. Eu acredito que você foi feita para mim, Maria Isabela. Se não, como podemos nos encaixar tanto? Como você consegue me ver e compreender tão bem? Não há outra explicação.
No último mês, pensei em diversas formas de fazer isso. Pensei em várias datas para esse momento, em vários horários. Pensei em todos os detalhes que você poderia gostaria e, por favor, espero que você tenha pegado até os mínimos deles. Escrevi e reescrevi todos os textos desse perfil um milhão de vezes, garantindo que tudo estivesse perfeito. Mas acho que, apesar de toda a preparação, nada vai conseguir tirar o meu nervosismo ao te perguntar isso.
Maria Isabela você aceita, finalmente e oficialmente, se transformar naquilo que nos consideramos desde o nosso primeiro mês juntos? Maria Isabela Blackwood você aceita dar mais um passo nessa linda e intensa história e namorar comigo?
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Arboreality: uma pequena ode ao mundo em declínio
Houve uma altura em que não ia passar o fim-de-semana ao Alentejo sem levar comigo o portátil, a pesar na mochila, nas horas de ida-e-volta do Intercidades (agora que conduzo e tenho carro, e que troquei as quatro horas de leitura da viagem para ganhar a capacidade de transportar aquilo que bem me apetecer de cima para baixo e de baixo para cima, deixo quase sempre o portátil na secretária em Lisboa. O que talvez diga qualquer coisa a meu respeito, não sei bem o quê). Desta vez teria dado jeito para escrever o rascunho deste texto, quiçá para publicá-lo logo no blogue algures durante o Domingo. Assim, como não só deixei o computador em casa como também me esqueci do caderno de bolso que anda quase sempre comigo, tive de recorrer a um dos meus cadernos antigos dos tempos do Secundário (já lá vão mais de 20 anos!) que ainda tenho na estante do quarto em casa dos meus pais. Enfim, é o que se arranja.
(Nestas alturas noto quão má se tornou a minha caligrafia. Eu sei que consigo fazer bem melhor - tenho de praticar isto.)
Mas a ideia hoje não é falar sobre a escrita à mão nos cadernos da adolescência, ou sobre as vantagens e desvantagens do comboio face ao transporte próprio, mas sobre o livro que li durante o fim-de-semana. E esse livro é Arboreality, da canadiana Rebecca Campbell.
Cheguei a este livro através da lista de finalistas do Prémio Ursula K. Le Guin de 2023. Tive a esperança de que o extraordinário The Spear Cuts Through Water, de Simon Jimenez, levasse a distinção - é um livro espantoso, um dia destes falarei dele aqui - mas quem acabou por ganhar o prémio foi este pequeno livrinho de pouco mais de cem páginas. Nele, Campbell recupera o conto An Important Failure, publicado originalmente em 2021 na revista online Clarkesworld e já então distinguido com o Prémio Theodore Sturgeon, expande-o para trás e para a frente através de contos interligados (quase como as árvores entrelaçadas que ganham relevância no texto), e cria uma narrativa multigeracional de sobrevivência durante o longo e inevitável desastre ecológico que talvez seja o nosso futuro colectivo. E fala de árvores. De imensas árvores.
Admito: as duas primeiras histórias, Special Collections e Controlled Burn, deixaram-me a pensar como diabo teria o livro chegado à nomeação, quanto mais à vitória. São bons contos, atenção - bem escritos, com uma voz melancólica cativante, ainda que isoladamente não me tenham parecido extraordinários. Mas a meio da leitura da terceira parte, a tal An Important Failure, tudo se encaixou na perfeição. Como se as sementes discretas que a autora foi semeando nas duas primeiras partes germinassem ali de forma quase explosiva.
E digo quase porque nada em Arboreality é apressado - algo que talvez só notemos mais tarde, e que é espantoso. Ao ler as palavras de Campbell vamos descobrindo um mundo em declínio acentuado, assustadoramente plausível - pode ser o nosso numa mão-cheia de anos -, seja através de uma biblioteca inundada ou pelo abandono progressivo de um subúrbio, entregue à flora e ao fogo. Vemos esse mundo a encolher em redor das personagens, até a pequena ilha e as paisagens que os seus olhos vêem se tornarem em quase tudo aquilo que conhecem. Arboreality não é um livro de acção - não há heróis e vilões no sentido convencional do termo, não há esforços hercúleos para impedir uma catástrofe iminente. A catástrofe já chegou - lenta, pesarosa inevitável. O que aquelas personagens fazem é sobreviver no desastre, tentando abrandar o declínio em seu redor por mais um pouco, criar algo local no meio da devastação global. A prosa de Campell, limpa e evocativa, encerra uma imensa melancolia, tanto pela nostalgia de um passado de abundância que se perdeu, mas que perdura na memória, como pela incerteza de um futuro que está longe de estar ganho. Personagens, e situações são descritas com uma economia assinalável, sem esforço aparente (mas bem sei quão difícil é escrever de forma tão simples). E assim, em 114 páginas, se conta uma história - várias histórias - belíssima, nostálgica, algo triste mas ainda assim cautelosamente optimista. É um prodígio de síntese, de eficácia narrativa, de beleza da palavra.
Não seria talvez minha escolha para vencer o prémio, mas uma vez lido não tenho dúvidas: Arboreality é um justíssimo vencedor. Mais do que isso: é um livro que Ursula K. Le Guin decerto apreciaria.
(A fotografia foi tirada no Domingo, com o livro nos braços de um sobreiro jovem que vai crescendo perto da casa dos meus pais, no Alentejo. Pareceu-me um lugar apropriado, dado o tema deste livro maravilhoso.)
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ESPECIAL: NA ROTA DO MOTOCAFÉ
Fotos: Ricardo Fonseca / Arquivo Motocafé.
SÃO LUÍS: Um grupo de jovens senhores amantes das duas rodas frequentavam outro grupo de motociclistas na capital maranhense, quando se reuniam uma vez por semana para tomar café em padarias ou conveniências, conversavam sobre todos os assuntos e depois davam um “rolê” pela cidade. Depois de um certo tempo, esse grupo cresceu tanto que se ramificou, dando origem ao Motocafé.
NASCE UMA CONFRARIA
“Há cerca de nove anos eu comecei a frequentar um clube de motociclismo: Pássaros da Noite! Estava muito feliz por ter realizado um grande sonho: Minha primeira Harley Davidson! Helder, amigo particular, criou o clube e me convidou para fazer parte. Reuníamos às quintas à noite para um rolé que se tornou uma agradável rotina onde amigos não só se encontravam para passear sobre duas rodas, mas tão importante quanto o rolé pela cidade era mesmo o papo entre amigos, alguns já conhecidos e sempre havia gente nova aderindo. Era com muita alegria que nos encontrávamos num posto de combustível ali na Avenida dos Holandeses, perto da AABB. Nada mais saudável que aliviar as tensões da semana na véspera do conhecido jargão “sextou!” , conta o Professor e Empresário Cidinho Marques - presdente do grupo - num trecho do novo livro que será lançado este ano. (O primeiro “MOTOCAFÉ - uma aventura Holosófica”, de Sebastião Saraiva, foi lançado em 2018).
“ Passaram-se dois anos e minha paixão pela Harley só aumentava. Era hora de trocar a Luci, (é de praxe colocar um nome feminino nas motos) uma Heritage Custom de cor cinza por uma nova versão [...] Para cumprir a tradição ludovicense de batizar nossos novos veículos na igreja de São José de Ribamar, a Luci II ( Uma Harley Street Glide vermelha) já aproveitaria o primeiro domingo para ser aspergida com a água benta e as orações do padre da paróquia ribamarense.
Para cumprir o ritual convidei alguns amigos dos Pássaros da Noite para me acompanharem. Marcamos o local de saída na cafeteria Fribal da avenida dos Holandeses e lá, a partir das 9 hs da manhã, rolou um papo tão amigo e agradável que virou rotina nos domingos”, completou Cidinho (de colete à esquerda).
Os primeiros participantes deste grupo, Eu, Ruy Palhano, Silas e Beto nos deleitávamos com as conversas que, embora, informais, adentravam cada vez mais a seara das Ciências Humanas, notadamente a filosofia. Nascia ali, as sementes do que mais tarde viriam nomear o nosso grupo de Café Filosófico, à exemplo de um programa da TV Cultura que ainda vai ao ar aos domingos à noite. Mesmo continuando a frequentar o agradável clube dos Pássaros da Noite, nosso Café Filosófico só crescia. E aos três primeiros fundadores, somaram-se o Luís Paulo, Ronan, Júlio Marcante, Waldeck, Walber, Ednarg, Alexandre, Brito, Marcão, Saraiva, e vários outros. Hoje o grupo conta com a participação de nada menos que 63 participantes que, mesmo sem presença assídua, fazem do grupo uma irmandade coesa, amiga e solidária. Finalizou o presidente do MotoCafé.
Pedro Vasconcelos, 70, ex-deputado.
“ Faço parte do grupo seleto Motocafé, de pessoas amigas, sinceras, que se reune todos os domingos para passear pela cidade. Antes, fazia parte de outro grupo (Pássaros da Noite) , mas comecei a frenquentar esse e me identifiquei. Fazendo parte com alegria, com emoção, um momento de grande prazer e felicidade pra todos nós”, disse Vasconcelos.
Alexandre Oliveira, 65, Engenheiro Mecânico.
“ Eu tive um câncer praticamente terminal e depois da cirurgia eu decidi viver a vida[...]a vibração, a adrenalina e o próprio medo, me ajudou a restituir o movimento do braço[...] Eu gostei da estrutura, do pensamento do grupo, da conexões [...] não existe quem manda, é bem aberto e bem tranquilo”, disse Oliveira.
O Grupo já visitou duas vezes a famosa ROUTE 66 (a Rota 66), que vai do estado de Chicago (Centro-Oeste ) à Las Vegas (Deserto do Mojave - Nevada ), nos Estados Unidos e, já planeja uma nova viagem em agosto desse ano, para Sturgis (Mississipi), para o maior evento de motocicletas do mundo - STUGIS MOTOCYCLE RALLY.
ROTA 66
Passa por Chicago, Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México, Arizona e Califórnia: esses são os estados ligados pela Rota 66. A estrada começando em Illinois até Santa Mônica, foi construída em 11 de novembro de 1926, em uma época de efervescência na indústria automobilística dos Estados Unidos.
“Fizemos duas vezes a Rota 66. A primeira do final, onde saímos em 08 casais de Los Angeles até Las Vegas e durou cerca de 10 dias, parando nos lugares. A segunda do inicio, de Chicago até Novas Orleans, passando por todas as famosas rotas musicais: A do Cowboy (Country Music) em Nashville, a rota do Rock And Roll (Memphis), na terra do Elvis Presley e a rota do Jazz em Nova Orleans”, disse empolgado o professor Cidinho Marques.
Enedina, 56, Fisoterapeuta.
Há 6 anos pilotando motos por incentivo do marido, que também é motociclista, ela é uma das muitas integrantes do grupo. “O meu marido tinha uma Haley Davidson que ficou um tempo parada, conhecemos o grupo e, se ele poderia pilotar, por que eu também não poderia? Então fiz curso de pilotagem junto com ele e daí pra frente não parei mais [...] a gente comprou a minha Haley Davidson 2017 (a dele é 2009) e pilotamos juntos.”, disse a Fisioterapeuta.
Ruy Palhano, 72, Psiquiatra.
Um dos fundadores do Motocafé, ele pratica o motociclismo há 17 anos e hoje incentiva o filho que também integra o grupo. “As pessoas que praticam o motociclismo, ficam mais calmas e mais serenas depois de um belo passeio, de uma bela viagem. Recentemento foi publicado um trabalho de Neurociência, mostrando que a nossa área de arte e presença cerebral (que é riquissima em dopamina), em duas rodas, é mais estimulada, então produz mais dopamina. A prática de pilotar é uma condição especial. A minha maior experiência foi fazer a Rota 66.″ , finalizou Dr. Palhano.
Luís Paulo, 70, Aposentado.
Começou a pilotar motos com 17 anos. “Eu vim do Rio pra cá há 16 anos, frequentei outro grupo. e conheci o Cidinho. Depois que fundaram o Motocafé eu resolvi integrar o grupo desde o inicio também. Eu gosto de vir até quando está chovendo, é uma fonte de lazer [...] Você precisa começar a pilotar por escala, vai com uma de 350 cilidradas, depois uma de 500 e, vai subindo, pegando a sua prática [...] Moto é um pouco perigoso, pouco! Todo cuidado é pouco, quem faz a moto ser perigosa é o piloto.
Nagib Félix, 53, Empresário.
“Depois da pandemia veio aquela angústia, depressão, medo das coisas... procurei um profissional e ele disse pra eu procurar um hobby. Então votei a andar de moto (comecei em 1986), tirei a minha carteira, comprei a primeira, a segunda, a terceira, a quarta e virou mesmo o meu hobby, para a minha integridade mental, de saúde e para relaxar.”, disse Nagib.
A Confraria MOTOCAFÉ é mais do que um grupo de motociclistas que se reúne aos domingos para um café literário, seguido de rolês pela cidade. É a união de profissionais de todas as idades, com interesses na prática saudável do motociclismo, fortalecer as amizades e também de promover atividades sociais, como nas entregas de cestas durante o Natal, as comunidades carentes da Grande Ilha.
“Para participar do MOTOCAFÉ , precisa ter uma moto, espírito de confraria e de reposnabilidade sobre duas rodas. Qualquer pessoa que queira fazer do motociclismo um momento de saúde mental, de oportunidade de espairecimento, de fortalecimento de amizades, é bem vinda.” pontuou o presidente Cidinho Marques.
Para maiores informações sigam o MOTOCAFÉ no instagram: @motocafe_slz
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Serenata para a princesa
Há tantas coisas que te escrever se pudesse. Bem, esse é um dos nossos sentimentos mais recíprocos, então, como não há como expressar todo o amor que eu sinto por você neste exato momento, vou remendar por aqui.
Afinal de contas, isso é o amor, pegar dois tecidos, e com uma agulha e uma finissima e delicada linha, remenda-los, formando um daqueles mais belos vestidos de moda que você tanto gosta, aqueles que eu não entendo muito (Tipo o da sua festa kkkkkkkkkk), mas que valem a pena serem admirados por você.
É engraçado como, por mais que a minha pele clame pelo seu carinho, pelo contato dos teus olhos brilhantes com os meus, por mais que meu interior seja impaciente de saudade, ainda te sinto comigo, por onde eu vou, nas coisas que eu vejo, tudo me remete a você, como se você já fizesse parte de mim, quase consigo ouvir sua voz opinando sobre as coisas que eu vejo, como um casal mesmo.
Gosto de imaginar que meus pensamentos são como um metrô lotado, atropelando-se com uma desorganização enorme, mas misteriosamente, você tem o poder de acalmar esse lugar, quando estou com você, falando sobre tudo que aconteceu comigo, minhas frustrações e tristezas, esse cenário magicamente se desfaz, dando lugar para um lugar amenuo e tranquilo, qualquer energia negativa se amedronta dentro de mim quando você me toca e diz calmamente que tudo vai ficar bem. Essa faz me faz querer imaginar a vida leve e tranquila que teríamos, eu e você e sua filha, no nosso mundinho, conversando, bebendo vinho numa sexta feira a noite após uma longa semana de correria no trabalho, os passeios pra qualquer lugar, num domingo de tarde ou ainda, uma corridinha repleta de risadas e musicas fofinhas.
Consigo facilmente me ver parando no mercado e pegando seu chocolate favorito. Imagino nós dois deitados em um sofá, indecisos sobre qual filme assistir, e quando finalmente chegarmos a um acordo, nem olharíamos para a TV.
E só para a sua informação, eu amaria cozinhar ao som das musicas que eu falo pra você que tocarão no nosso casamento, adoraria fazer os melhores docinhos da terra, Eu te beijaria na Alemanha, na Escócia, na Europa e em qualquer continente que estivéssemos juntos, quero te levar aos lugares mais bonitos do que foram pintados pelo universo, quero cantar o mais alto possível todas as musicas que me fazem lembrar de você, quero que você avalie até a roupa mais brega que eu queria comprar, quero ir ao mercado com você comprar todas as frutas e gordurices que você ama, quero escrever "Eu te amo" sempre que o vidro da civiqueira ficar embassado, quero ter a mais doce e bela vista ao seu lado, construir coisas para chamar de nossas, te embrulhar em um abraço quando o dia amanhecer e implorar para você não levantar da cama e ficar comigo, quero poder ser seu porto seguro quando você não enxergar nenhum, Há mil e uma vidas que eu quero viver com você, mas apenas com você, na nossa maneira, e com esse meu amor transbordante e apaixonante, eu já sou seu. Te amo.
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Mistérios da Vida
João acordou e olhou para o relógio. Eram nove horas e dez minutos. Demasiado cedo para um domingo. Virou-se para o outro lado da cama e dormiu mais um bocado.
Sonhou. Aventuras estranhas, com gente desconhecida, em terras ignotas, mas onde sempre espreitava um perigo, a cada esquina. Não era um pesadelo, nem sentiu sobressaltos, daqueles que fazem saltar da cama, num ápice, com o coração aos pulos e uma enorme sensação de alívio, por tudo aquilo se ter passado apenas num sonho e não na realidade.
Era antes um ambiente hostil, desagradável, que lhe causava um ligeiro, mas permanente, incómodo, como uma sensação de culpa. Uma angústia de quem estava ali, enfiado na cama, em vez de estar lá fora, na rua, a conviver com o mundo.
Passado algum tempo voltou a abrir os olhos. Mirou novamente o relógio, que já marcava onze e meia, e decidiu que era tempo de acordar.
Não necessariamente de levantar-se, mas de começar a habituar-se à ideia. Pegou no telemóvel e verificou as novidades, nas redes sociais. O que andariam os amigos a fazer? A verem posts ridículos seguramente. A colocarem memes ao desafio, como numa competição absurda, em que o vencedor seria quem mais likes recolhesse, dentro do grupo.
Não lhe agradava aquela sociabilidade à distância, feita de futilidades, na maioria das vezes partilhadas mecanicamente, quase inconscientemente. Alguém recebe uma mensagem e reencaminha para os outros, por vezes sem sequer perceber a piada. Alguém que me explique, mais tarde, por favor.
A intercomunicação passa por fazer like, isto é, carregar repetidamente no botãozinho em forma de coração, para dizer aos outros que se gosta um bocadinho deles, que se está a prestar atenção àquilo que fazem, que publicam, que se sabe, no fundo, que eles estão no mundo, sem que isso faça grande diferença, verdade seja dita, salvo no ego do autor.
Decidiu que era melhor dedicar-se a coisas mais interessantes, às artes, às fotografias, à literatura. Preferia partilhar obras e novidades artísticas com desconhecidos, do que conversas banais, com os amigos e colegas da escola. Não que procurasse retorno ou popularidade, apenas o prazer de colecionar belas pinturas, fotografias de um passado distante, muito anterior ao seu nascimento, de ouvir músicas novas e ler livros que enriquecessem o seu espírito e conhecimento. Pouco lhe importava se as suas publicações eram vistas por muitas ou poucas pessoas. Apenas queria ver e colecionar beleza, aquilo que mais falta sentia na vida e que não encontrava entre os seus amigos.
Após alguns minutos dedicados às pinturas, às fotos e à leitura de mais um capítulo de um livro eletrónico, resolveu, enfim, levantar-se e abrir o estore da janela do quarto. Estava um dia de sol esplendoroso. As pessoas circulavam pela rua, para cima e para baixo, atarefadas, bem dispostas, como se quisessem aproveitar, ao máximo, o sol daquele domingo de primavera, depois de tantos dias de chuva.
Pensou que também ele deveria fazer o mesmo. Depois de uma manhã inteira, perdida na cama, depois do almoço, teria que sair um pouco e sentir na pele o sol primaveril.
Ouviu a irmã a gritar, - acorda dorminhoco, está um dia maravilhoso, já estou farta de brincar, lá fora, com as minhas amigas, enquanto tu estás aí fechado, no quarto, agarrado ao telefone e a ler.
- Depois do almoço eu saio, respondeu-lhe o João. - Hoje é domingo, tenho o direito de me levantar mais tarde, ou não?
A pequena nem o ouviu. Só tinha vindo a casa buscar alguma coisa e daí a poucos minutos estava na rua outra vez. Já o João, apesar de levantado e de estore aberto, estava ainda com pouca vontade para se vestir. Deitou-se preguiçosamente no sofá, a ler um livro, enquanto aguardava pela hora do almoço. Que, aliás, já nem deveria tardar, pois, com tudo isto, já passava do meio-dia.
Leu mais alguns capítulos, na tranquilidade do seu quarto, enquanto esperava que a mãe e a irmã regressassem a casa, para o almoço.
Nem o banho tomou. Já era tão tarde que não valia a pena. Amanhã era dia de escola e por isso, tomaria o banho matinal habitual.
Almoçou em família, como de costume, e começou a pensar como poderia ocupar a tarde, aproveitando o belo sol de primavera que brilhava na rua.
Enquanto pensava nisso, a mãe informou-o que estava um dia magnífico e que, por isso, iria fazer uma visita, juntamente com amigos, a um palácio histórico, situado não muito longe de casa. Se eles quisessem ir também, seria uma boa oportunidade para fazerem uma visita cultural interessante, usufruir do belo sol domingueiro e, bem assim, da companhia sempre divertida, dos amigos da família. João gostou da ideia e aceitou a sugestão, ficando à espera da hora combinada.
Entretanto, como ia sair, lá se vestiu com as roupas da véspera, aguardando as instruções da mãe. Até lá, pegou no livro e leu mais um capítulo.
Na verdade, nem era o mesmo livro. João era um daqueles leitores compulsivos, que lê muitos livros ao mesmo tempo. Naquele momento tinha três livros começados, na mesa de cabeceira, e mais alguns espalhados pelos dispositivos eletrónicos de leitura. Nem sabia exatamente quantos. Por vezes, esquecia-se de algum livro, a meio, e quando o reencontrava, alguns meses mais tarde, retomava a leitura, como se a tivesse interrompido na véspera, pois lembrava-se perfeitamente onde tinha ficado a história.
Além da leitura também gostava de escrever. Tinha um caderno diário, onde todos os dias juntava alguns pensamentos, alguns ensaios, alguns poemas, até alguns pequenos contos, inspirado no que lia, vivia e partilhava nas redes sociais.
Já a irmã era precisamente o oposto. Nunca parava em casa. Tinha sempre coisas para fazer, pessoas para encontrar, conversas urgentes para trocar, com a enorme quantidade de gente que com ela se cruzava na vida. As amigas, as colegas, as vizinhas, até desconhecidos, porque todos os dias conhecia novas pessoas, através dos seus múltiplos contactos. Adorava conviver. Por isso, para ela, cada dia era uma surpresa, e um dia de sol, como o de hoje, um bem precioso que ela usufruía, de manhã à noite, sempre na rua, sempre acompanhada, sempre à descoberta de novas amizades e conhecimentos.
João era muito mais caseiro e solitário. Sair e conviver não lhe eram naturais. Preferia ficar em casa, a ler um livro, a ver um filme, a organizar as suas fotos e os seus pensamentos no telemóvel ou no computador, a trocar informações pelas redes sociais. Para sair de casa, precisava de um pretexto. Teria que ter algo combinado, uma marcação, uma visita agendada, uma reunião programada. Não saia à toa, em busca de aventuras ou de conversa fiada, com amigos ou vizinhos, muito menos com estranhos. Não frequentava cafés, nem a casa de ninguém. Ia por vezes ao cinema, a um concerto, a um almoço fora, com os colegas, geralmente numa pizzaria ou hamburgueria da cidade, onde as suas preferências gastronómicas coincidiam, na perfeição, com as parcas disponibilidades financeiras.
Eis então que a mãe lhes anuncia que a visita ao palácio teria que ficar para outro dia, porque os amigos dela hoje não estão disponíveis.
Se o João recebe a notícias com indiferença, recolhendo ao seu sofá e à sua leitura, por pouco tempo interrompida, já a irmã exulta com a novidade e parte, de novo, em busca das amigas, para pôr em dia as conversas, bruscamente suspensas, pela hora de almoço.
João coloca uns auscultadores na cabeça, para ouvir música, enquanto lê, e nem dá pelo tempo passar.
Às tantas o dia começa a escurecer, o sol despede-se do domingo e o João, finalmente, apercebe-se que o dia se esgotou e ele nem oportunidade teve de ver o sol, que brilhava lá fora.
Olhou pela janela, contemplando o fim do dia, e sentiu uma vaga nostalgia. Às vezes gostaria de ser um pouco mais como a irmã, de gozar a vida com alegria, na rua, no meio das outras pessoas.
Mas a verdade é que, de cada vez que se propunha imitá-la, ir para a rua conviver com os outros, acabava invariavelmente sozinho, no seu canto, a ler um livro, a ouvir música, a ver um filme. Ele gostaria de ser mais como ela, mas definitivamente não era. As outras pessoas cansavam-no. De cada vez que imaginava ir ter com os colegas, ouvir falar de futebol, de automóveis e de outras coisas que pouco ou nada lhe interessavam, fazia como quando acordava cedo, aos domingos, virava-se para o outro lado da cama e lia mais um capítulo do livro.
Mas ao domingo seguia-se a segunda feira, dia de escola, e o fim de semana passara, sem que ele pusesse os pés na rua.
Não saiu porque não quis. Mas essa falta de vontade, deixava-lhe um estranho sentimento de culpa no espírito.
A sua esperança era que, um dia mais tarde, quando fosse adulto, quando tivesse a sua própria família, quando a maturidade lhe permitisse ultrapassar estes medos e inseguranças da adolescência, as coisas seriam diferentes. Ele teria vontade de sair e conviver com a mulher e os filhos. Teriam, talvez, casais amigos, com crianças da mesma idade, com quem se reunissem periodicamente. A sua agenda social seria, provavelmente, muito mais preenchida. Pelo menos assim esperava.
Mas, quem sabe. Aqui fechado em casa, sem vontade nenhuma de conviver com ninguém, não será fácil arranjar uma companheira, nem constituir família. Mas não vale a pena preocupar-se, para já, com isso. O tempo tratará de lhe encontrar um rumo para a vida.
A maturidade resolverá o resto, até porque conhecimento e sabedoria não lhe faltarão, depois de tanta leitura e dos bons resultados escolares, que ele acumula, mesmo sem se esforçar muito para isso.
Só espera que, ao longo desse caminho, que a vida lhe traçar, e que se augura recheado de sucessos, consiga encontrar a alegria, escondida nalguma esquina do percurso.
Porque será que tudo está tão mal distribuído, nesta vida? O que abunda em alguns escasseia noutros. As alegrias de uns fazem as tristezas de outros. Os desejos também podem ser receios e os sucessos, esconder infelicidade.
Melhor será ler mais alguns livros, para tentar compreender o quão complexa e plena de mistérios é esta vida.
Parece que já tem programa definido, para depois do jantar.
18 de Março de 2024
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Carta aberta ao meu cachorro:
hoje fazem 10 meses e alguns dias que você se foi. lembro como se fosse ontem quando você chegou lá em casa e eu te coloquei para dormir no meu colo, igual um bebê. éramos duas crianças e aprontávamos horrores, desde fazer um book com a câmera digital a correr pela casa toda. pois é, você deixou um vazio imenso aqui dentro.
a um ano atrás descobrimos o seu câncer, e aquilo me desestruturou de uma forma que eu jamais imaginei que aconteceria comigo. desde então, eu tentei viver os melhores momentos com você, desde dormir uma sonequinha a tarde, registrar todos os momentos, dividir o quarto com você, sentar no nosso cantinho da varanda para tomar um sol todas as manhãs. a varanda nunca mais foi a mesma, ainda não consegui sentar pra tomar sol lá desde a sua partida.
quando falam que a perca não dói, o que dói são as lembranças é verídico. todos os dias eu ainda olho para o lado direito da cama e torço para que você esteja lá, e que tudo não passe de um sonho.
todos os dias que eu chego do trabalho eu torço para chegar perto de casa e ouvir o seu latido e ao me aproximar, você estar sentadinho no portão esperando para receber colo e carinho.
você me acompanhou desde o primário até a faculdade, você já estava na sua segunda graduação. sinto falta de sentar para estudar e esticar minha mão e você vir pedir colo e carinho.
nos seus últimos dias, eu sempre tentei estar com você ao máximo. te dar todas as medicações para você ficar confortável e tentar fazer as coisas que você mais gostava. no seu último banho, eu registrei ele. o seu olhar já não era mais o mesmo, você estava fraco e cansado. na sua última ida ao sol, você já não queria mais, só queria ficar deitado no conforto da sua cama e no cantinho escuro.
no domingo, foi o almoço de família aqui em casa, e todos mexeram com você, acho que sentiram que era a despedida. te trouxe para o quarto e você dormiu, mas também acordou querendo descer, você sempre foi de estar no meio do povo. a noite, você começou a ter episódios de espasmos, mas te coloquei pra dormir no meu colo e você melhorou.
na terça feira, eu cheguei do trabalho e você estava estranho, se tremendo todo. ao chegar no veterinário, você teve uma convulsão no meu colo, naquele momento meu coração parou. na minha concepção convulsão em pessoa vulnerável poderia matar. liguei imediatamente pra juliana, pois achei que aquela seria sua última noite. após a conversa com a veterinária, tivemos boas notícias, que você só iria precisar passar a noite em observação. ao chegar na quarta feira, vi você de fraldinha e com um adesivo azul em formato de osso na cabeça. você foi para o colo da veterinária e fez muito escândalo quando foi tirar o seu acesso, e em seguida, pediu meu colo imediatamente e depois disso, não desgrudou. confesso que sua fralda pesava mais que você. passei a semana trocando sua fralda, e você fez o seu último passeio na rua, com seu andar desengonçado que me encantava.
passei a semana cuidando de você, mas na terça você decaiu, não queria comer, passava a madrugada chorando, e eu peguei atestado para cuidar de você.
passei todos os dias seus últimos dias grudada em você, trocando fralda, dando medicação, atenção.
na noite de quinta feira, você já estava distante e vomitando muito, porém queria colo, e você acabou vomitando em mim. confesso que fiquei um pouco brava, mas me perdoa.
na madrugada de quinta para sexta, passei a noite em claro com você, achando uma forma de te manter confortável até a clínica veterinária abrir, mas eu já senti que você estava querendo ir, passei a noite com você no colo aos prantos. me doía muito te ver chorando e não poder sentir suas dores.
quando a juliana estava vindo para irmos ao veterinário, eu tentei me manter forte, pela lola, por você e por ela. a lola simplesmente te cheirou e sumiu para a casinha dela, acho que ela já sabia que aquele era o seu momento de partida.
quando conversamos com a veterinária e ela sugeriu a eutanásia, doeu. chorei. chorei. chorei. e disse que era a coisa certa a se fazer, você estava cansado.
ao ficarmos no jardim, você parou de chorar é só recebia carinho, estava bem em paz, iria descansar em paz. após todos nós nos despedimos, fomos para a salinha onde iríamos te sentir fisicamente pela última vez. a irmã ficou com você no colo, e eu como de costume sua patinha direita pra sentir seu coração. na primeira injeção, você começou a relaxar, na segunda o seu corpo ficou duro e você já tinha partido, na terceira você ficou mole e na quarta você ficou gelado. tocar a sua patinha e não sentir o seu coração bater, fez o meu parar por alguns instantes. te colocamos na mesa gelada e você ficou lá, frio e com os olhos abertos. logo você que sempre estava com os olhos fechados, morreu com eles abertos.
peço desculpas por não ter te falado o quanto eu te amava e o quanto queria você pra sempre comigo. sei que você vai estar pra sempre comigo, me guiando e me iluminando, mas não dá forma que eu queria.
eu espero que aí do outro lado, tenha cobertas quentinhas, muitos pedaços de carne e arroz com caldo de frango e batata pra você.
saiba que eu te amei desde o primeiro momento em que te vi, até o último. e hoje em dia, te amo em memória!
obrigada por ter sido a melhor parte de mim, por ter sido meu porto seguro e por ter me amparado quando eu mais precisei.
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Domingo eu senti algumas emoções ao longo do dia. Acordei pensativo perto do meio dia depois de ficar um bom tempo pensando o que eu estou fazendo da vida e com a vida. Meu pensamento ao acordar foi de vazio. Eu tinha companhia de pessoas que se preocupam, ainda assim, o vazio demorou a sair da minha mente.
Me pus a jogar um pouco, já que me distrai bem. Comecei a ficar com fome e mais uma vez me vi entre o ócio de pedir algo rápido por entrega ou fazer algo. Tive a sorte de ainda ter alguns podcasts a escutar. Eles me fazem companhia. Vozes que sinto próximo de alguma maneira ao meu lado.
Me coloquei a preparar o almoço, nada complicado. Almocei e acabei recebendo uma notícia de um memorial em homenagem a uma pessoa muito querida. Me transportei pra sua morte. Pro seu enterro. Meu cérebro de passados sempre prega essas peças comigo. Eu senti a tristeza vindo, mas me permiti chorar. É o melhor. Ainda sim, não menos fácil.
Chorei e chorei, sozinho, olhando e buscando consolo nas coisas que ainda tenho aqui. Meus cachorros me acompanham, mas não entendem, só apoiam incondicionalmente. O choro passou com tempo. A tristeza e melancolia ocupou o vazio de mais cedo. Resolvi dar uma volta com os cachorros no fim da tarde.
A noite a fome bateu novamente. Dessa vez não consegui invocar a energia necessária para cozinhar novamente. A tristeza presente e o prelúdio de mais uma semana de trabalho me deixaram ansiosos. Pedi comida para mim e um pouco mais para meus sentimentos. Fiz novamente.
A noite meu cachorro fez algo inocente que me deixou irritado e me fez explodir. Não com ele, ele não tem culpa, mas comigo, com meus sentimentos. Ele urinou no tapete da sala que havia tentado tanto preservar. Fiquei mais de uma hora higienizando ele furioso com aquela situação.
Me pus a deitar no sofa esgotado, triste, frustrado, irritado e só. Meus cachorros mais uma vez fizeram companhia de apoio, mas aquela incondicional e irracional singular deles.
Tudo isso seguiu. Segue.
Escrever desabafos ajudam.
Posta-los cauteriza.
A solidão é difícil. Sempre foi difícil.
Eu só queria não estar sozinho nesses dias mais difíceis.
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Saturday, July 13th, 9:12PM
Eu tô total e confortavelmente acostumada com a solidão, eu amo ficar sozinha e eu absolutamente não me importo por não ter amigos (minhas escassas amigas da faculdade voltam para a cidade delas nas férias) pra sair ou fazer alguma coisa no final de semana.
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Mas a parte ruim disso é que meus irmãos são os reis da saída no fim de semana, e eles sempre saem SUPER TARDE, o que faz a minha ansiedade atacar. Daí eu fico em casa sozinha em todas as noites de sábado, sem conseguir me divertir direito porque eu tô muito ocupada me preocupando IRRACIONALMENTE com eles, tal qual uma mulher na meia idade que tem filhos adolescentes, sendo que eu literalmente acabei de ficar adulta.
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E é um saco porque eu sempre vou pra igreja domingo cedo pela manhã (tal qual uma senhora, sim, obrigada) mas eu não consigo dormir cedo no sábado nunca porque eu não consigo relaxar direito e pegar no sono de verdade até que pelo menos um deles chegue em casa (porque aí eu sei que o primeiro que chegar vai se preocupar com o outro por mim, ou assim eu imagino). Então eu sempre acabo dormindo por umas míseras três horinhas todo o sábado, como se eu tivesse caído na gandaia quando na verdade eu só tava em casa sozinha e ansiosa.
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O que me leva a questionar se eu não deveria realmente cair na gandaia, só pra não ficar desperdiçando esse tempo da minha vida com sofrimento. Quer dizer, é claro que eu não vou cair na gandaia no sentido próprio da expressão, mas eu podia fazer alguma coisa que jovens fazem e eu poderia começar isso indo pro culto de sábado (é o culto DE JOVENS então conta), e a partir daí fazer alguns amigos na igreja, que me convidariam pra fazer coisas depois do culto, então eu passaria menos tempo me preocupando com meus irmãos, e de quebra ainda ia viver.
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Mas pra ir pra igreja três vezes na semana ao invés de duas eu preciso comprar mais roupas, porque se eu uso a mesma coisa por três dias seguidos quem vai querer ser meu amigo? Eu já não sou lá muito incrível, sou menos ainda com roupa repetida, ainda mais naquela igreja que cada dia mais parece um desfile de moda.
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Então meu objetivo de comprar mais roupas (que não sejam camiseta de personagem e jeans, que é o que eu sempre uso) segue firme mas não tão forte porque eu fui um desastre nas últimas roupas que comprei.
Meu Deus, eu me odeio por fazer o simples ato de comprar roupas uma coisa tão difícil e tão ansiogenica. Culpa dos meus traumas de infância. Mas isso é uma reflexão pra algum outro momento.
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Por enquanto, estou tentando trabalhar a questão da ansiedade aterradora dos meus sábados (que também é causada por eu saber que na manhã seguinte eu tenho que ir para a igreja onde eu não tenho amigos, mas que em grande parte se deve aos meus irmãos reis das saídas noturnas que adoram madrugar por aí e parar de responder o wpp), porque ninguém merece.
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Ainda tem muitas coisas sobre as quais quero vir aqui falar, sobre o término da minha irmã, o estágio e o final de semestre caótico, algumas coisas sobre minha vida espiritual também e sobre umas coisas que comprei, mas tô sem energia pra discorrer ainda mais sobre a minha vida.
Afinal, tô ocupada ficando ansiosa enquanto espero meus irmãos (que ainda nem saíram de casa) passarem suas madrugadas em Deus sabe onde e então voltarem pra casa, pra eu poder dormir em paz e acordar cedo amanhã.
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Domingo
Mas um episodio estranho em minha vida: Uma tarde de domingo, ao eu estava cuidado da minha vida e assistia outlast, meu pai simplesmente chegou e me questionou: quando vc vai namorar? Vai ser virgem pra sempre? Então a resposta veio: Necessariamente uma coisa não tem nada a ver com outra, eu posso não ser virgem e não ter namorado. Ficou um clima estranho e ele não sabia o que dizer para mim, só disse: como assim? A indignação dele foi com o pensamento: perai, garotas não podem fazer isso, ter relação sexual com outras pessoas e não namorar. Olha só, elas podem sim! Afinal, garotos fazem isso e ninguém questiona, chamam eles de pegadores, agora se for ao contrario, vc é taxada como vagabunda. Então minha mãe, nada sensata e persistente, disse: Tem fulano, não sei porque não fica com ele. Ele é um menino do bem e etc... Tem um motivo: EU NÃO GOSTO DE GAROTOS. bom, não desse jeito, não sou lesbica, mas também não sou hetero. Mas no fundo, ninguém não tem nada a ver com que eu me relaciono, minha sexualidade ou com que eu transo.
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Exaustão
Nunca vos aconteceu em crianças, viverem com alguém, irmãos ou primos (quem sabe os próprios pais) e chegarem ao ponto de já não os poderem ver mais a frente. Seja pelas atitudes, hábitos que levam, seja até pela forma como falam, gesticulam alguma frase ou palavra, como mastigam ou até como respiram. Quero que saibam que amo mais que tudo as minhas filhas, mas é completamente horrível, quando te separar dos pais, e elas afinal, herdaram as características que mais detestavas neles. Será que sou assim uma mãe mesmo má, horrível, por ter momentos em que me apetecia arrumar as coisinhas dela e mandar ela com o pai e ficar com os fins-de-semana (embora ele não fique com ela nem tenha responsabilidade nenhuma para com ela). Sinto-me exausta pela forma dela ser, a forma como ela me trata e como é que vou suportar tantos anos sendo que ela apenas com 8 anos e já me trata como se ela tivesse já 15 anos. Corrige-me a toda a hora, quer sempre mandar em mim, não aceita um não nem aceita que a chamem a atenção porque julga que está sempre fazendo o certo e que não precisa de que a chamem a atenção nem de ajuda.
Ela torna-se uma criança totalmente diferente quando não está comigo, até creio que ela deve sofrer de bipolaridade porque já não consigo prever quando ela está bem, o mal de humor e custa-me falar com ela porque não sei quando é que ela vai me responder com amor ou rispidamente, corrigindo tudo o que eu digo, tirando me a razão, tal como o pai fazia constantemente já que ele em todos os assuntos era o mestre de tudo, sabia tudo sobre tudo e ninguém nem mesmo alguém especializado sabia tanto como ele.
Na presença da minha mãe ainda é pior. Toda a liberdade que eu não tive ela tem da avó e eu já não sei lidar mais com isso. Mais uma coisa que tem horas que preferia que secalhar quando sai de casa, mais valia ela ter ficado econtinuado vivendo lá. Porque sinto que ela nunca quiz vir comig. sempre quiz ficar com os avós, sempre amou mais eles do que a mim que sou mãe porque sempre a minha mãe me tirava a palavra em tudo aquilo que eu fazia ou repreendia ela. ainda continua sendo assim hoje em dia e tem horas que necessito sair com ambas e começo a ficar nervosa porque sei que aquelas horas vão ser tarde tensão para mim porque sei que a Laura me vai tratar mal e só querer a avó e v��o me tirar a palavra. A questão é que a avó hoje em dia sabe que é assim... e já muitas vezes peço para eles ficarem com ela o fim de semana e arranjam mil e uma desculpas para não ficarem com ela.
Ela este fim de semana faz a primeira comunhão e sinto-me tão mal e nervosa, porque já começou com as exigências dela e acredito que no domingo em frente a igreja vou passar vergonhas e já me apetece nem sair de casa naquele dia. sei que vou ter de me medicar pela manhã para não me chatear e chorar.
Desejei tanto aquela filha, mas não consigo lidar com a personalidade dela que é igualzinha a do pai. Eu não era assim com os meus pais porque eu tinha medo. tinha medo de que me batessem e hoje ela de tanto me responder a mim e à minha sogra enquanto víamos a melhor forma para lhe arranjar o vestido que foi um balúrdio, que não dá valor ao vestido que lhe compraram ao esforço que fazem para ela ter as coisas que ela quer, acabei batendo e dando lhe um tapa na boca para ela se calar de tanto que nos respondia, de tanto que bufava contra nós. Apetece fazer lhe a malinha e mandar ela com a avó até começar a me tratar melhor, mas o mais certo é ela depois nunca mais querer saber de mim... enfim... sou a pior mãe do mundo por ter horas que preferia que ela ficasse com o pai. Mas até a mãe com o filho mais vagabundo, drogado e criminoso pede a Deus o Livramento de um castigo e eu também vejo-me em algo parecido. Como é que se suplica pelo amor de um filho ?
Como é que se pede a alguém que esteja connosco a amar alguém que não é do seu sangue incondicionalmente quando aturam apenas atitudes ridículas.
Sinto-me tão mal e tão em baixo e sinto as forças que eu tinha a uma semana ou duas atrás para vencer esta depressão a se desvanecerem e apenas apetece-me dormir até não acordar nunca mais. Novamente, este ciclo não se encerra.
Estou tentando perder peso mas estes stress todo apenas faz com que a minha compulsão alimentar piore. Falta me algo doce para adoçar a minha vida amarga.
Passados tantos anos todos os meus esqueletos começam a surgir como se me interessa-se rever os mesmos. De repente recebo pedidos de amizade, ou pessoas a seguir no Instagram que eu não esperava nunca. O Ricardo Velosa, o outro rapaz aqui do Estreito com quem ainda bebi café e estava a conhecer, e o Octávio. Só me pergunto, quem mais vai aparecer? Pode aparecer todos, mas por favor que não apareça o Sidónio porque se isso acontece, não vou aguentar e a Laura sofrerá mas ele vai assumir a responsabilidade de ficar com ela também. Estou exausta de ser mãe. Ainda agora desejava, por momentos que alguém me prepara-se uma comida para mim, e eu pudesse comer descansada sem me preocupar com detalhes se tem para todos e para mim também. Se ninguém fica com menos, se ainda tem para quem quiser repetir. Se já são horas de jantar, de almoçar.
Ser mãe dói, e não é na sala de partos. Dói toda a vida.
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Fazer arte pra quê?
Depois de ter feito dois episódios que conectavam ideias atuais com pensamentos de dois grandes artistas, o primeiro foi Beethoven e o segundo foi Van Gogh, fiquei me perguntando o que falar depois, como dar seguimento às grandes ideias? Difícil.
Daí veio uma pergunta que sempre está aqui comigo, que por motivos óbvios nunca sai da minha cabeça que é "Quais motivos fazem o artista fazer arte?" Essa pergunta possui respostas infinitas, afinal cada artista tem seus próprios motivos, e depende do dia, da época, por isso o que podemos fazer é tentar agrupar essas respostas em cinco ou dez ítens. Porque o artista pode fazer arte para ser reconhecido, para conquistar alguém, para preencher um vazio, e até para ganhar dinheiro — acho meio louco, mas pode. Além disso há também uma resistência por parte de alguns artistas, geralmente àqueles que se acham mais intelectuais, uma resistência em responder essa pergunta porque para eles sua resposta deve pertencer ao enigma.
Uma coisa que tenho há muitos anos são cadernos com citações de artistas falando sobre seus processos, seus trabalhos e claro, há muitas tentativas de explicar os motivos que os levam ou levaram a fazer determinadas obras.
São cadernos que estou sempre abrindo para ler uma coisa ou outra, que serve como pesquisa, ou para me inspirar, me fazer refletir, direcionar alguma ideia, etc.
E se passo os olhos nas anotações desses cadernos em busca de entender os motivos que levam os artistas a fazerem arte, o resumo que posso tirar é que um artista faz arte com tudo o que ele/ela é: suas alegrias e suas tristezas, suas vitórias e suas derrotas.
Muitas vezes o artista é colocado como que à parte da sociedade, como se seu modo de vida e de enxergar as coisas não fossem compatíveis com a rotina maçante, a mesmice do dia a dia.
O artista consegue ver o que a maioria das pessoas não vê, e assim expressar outras observações do que é ser humano e estar vivo (e estar morto também). Muitas artes que consumi ao longo do tempo me ajudou, ou diria até mais, criou quem eu sou.
Tiro essas conclusões de uma frase do Bob Dylan que tenho anotado em um desses cadernos: “Life is not about finding yourself. Nor finding anything. Life is about creating yourself.” A vida não é sobre se encontrar. A vida é sobre criar a si mesmo.
E o próprio Dylan se inventou e reinventou diversas vezes, e com suas obras ajudou muita gente a se inventar.
* * *
Neste caderno também tenho anotado a definição que o escritor James Baldwin deu certa vez sobre as tarefas de um artista. Ele afirma que a dupla tarefa do artista é provocar uma força desestabilizadora na sociedade ao mesmo tempo que cria a historiografia emocional desta sociedade. É claro que não dá para imaginar o nosso país sem a contribuição dos artistas. Você consegue imaginar o Brasil sem Caetano Veloso, Tom Jobim, Vinícius, Chico? E num futuro não muito longe vamos poder dizer que não será possível imaginar o país sem a contribuição dada por Anitta, Pabllo Vittar, Laerte.
"Apenas a arte penetra as aparentes realidades deste mundo", tenho anotado essa frase do Saul Bellow, dita em seu discurso no Prêmio Nobel. "Há outra realidade, a genuína, que perdemos de vista. Essa outra realidade está sempre nos enviando dicas, que sem arte não podemos receber."
Essa frase se junta com outra, da escritora Olivia Laing:
“Arte é sobre prestar atenção na realidade. Não me refiro ao realismo, ou que a arte tem que reproduzir a realidade. Quero dizer, arte é uma tecnologia que os humanos desenvolveram ao longo dos séculos para pensar sobre as condições de suas vidas, para lidar com materiais dolorosos e para gerar novas ideias e novas formas de ser.”
Uso essas citações para entender o que penso. Essas citações são arte, por si só. Elas produzem faíscas de ideias, um parágrafo como esse pode salvar uma tarde nublada de sábado.
* * *
Gosto muito de uma coisa que o Domingos Oliveira disse em uma entrevista. O jornalista lhe perguntou “Domingos, o que é arte?” E ele deu uma resposta gigante, tão completa quanto variada, aplicando a arte em diferentes situações. Pra começo de conversa ele responde que a arte é indispensável para a sobrevivência da espécie. Um mendigo canta uma música na calada da noite. Um bandido dança um tango. Multidões lotam (ou lotavam os cinemas), mas assistem episódios de séries um atrás do outro, como se não houvesse nada mais pra fazer. Toda semana novos livros são lançados, o que nos faz perguntar “Quem, afinal, lê tudo isso?”
Em determinado momento Domingos diz:
“Se um amigo seu quer morrer, morrer mesmo, toque para ele uma música de Mozart, ou mostre um quadro de Renoir, um bom filme ou até mesmo simplesmente conte a ele uma história de um livro. Se o seu amigo não ficar alegre, desista. Ele já está morto.”
Consumir arte é estar vivo.
* * *
Mas quais motivos fazem o artista fazer arte?
Vou deixar que Virginia Woolf responda, em tradução livre minha:
"Para mim um choque, por exemplo, é imediatamente seguido pelo desejo de explicá-lo. Sinto que é um acontecimento e esse acontecimento é ou se tornará a revelação de algo, um símbolo de alguma coisa, que eu torno real ao colocar em palavras. Apenas colocando-o em palavras eu torno o acontecimento, o choque, por exemplo, em algo em si. E isso significa que ele perdeu o poder de me machucar."
Esse trecho é de uma anotação encontrada em um de seus diários e publicado em inglês no livro Moments of Being.
Dessas palavras da Virginia Woolf concluo que escrever não é produzir um reflexo de si mesmo, mas sua transmutação. O ato requer externalizar o conteúdo da mente em uma nova forma que pode ser vista e compreendida por outra pessoa. E isso é um caminho para o autoconhecimento — de quem escreve e de quem lê.
Podemos aplicar isso para todas as formas artísticas, cinema, música, pintura, etc.
A pulsão criativa é uma pulsão de vida.
A arte cria um espaço, uma energia que não passa só por quem cria mas passa também pelo coletivo onde essa energia circula.
Criar arte é uma forma de dar sentido. Mesmo que seja efêmero, que não abarque tudo, mas neste momento de construção de sentido, pode tornar a vida mais interessante.
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Anna,
Tudo mudou desde aquele ano. Eu mudei...
Os dias tem se passado de forma apressada e corriqueira. Tenho algumas tatuagens a mais desde então, o cabelo está menor e a cabeça tão caótica quanto sempre.
Anna, é muito tarde para me dizer o que aconteceu? Sinceramente, as vezes penso que já nem é tão relevante assim saber.
Aprendi a gozar dos pequenos prazeres da vida, aprendi a importância de detalhes e me dei conta de que eles fazem toda a diferença. Tenho pensado no quanto me achei enquanto me perdi. Tenho pensado no quanto descobri coisas a meu respeito enquanto me evitava.
Fui a praia e não olhei para o céu porque o mar sempre me atraiu mais.
Anna, descobri um novo hobby. Estou viciada em discos de vinil e todo dia vou a loja de discos depois de sair da cafeteria e conversar bastante com a Bruna sobre coisas importantes, mas treviais. Todas as noites vou com o Carlos na floricultura que te mencionei.
Tenho conversado com minha mãe sobre a importância dos ciclos. Tenho me chateado com a minha avó. Tenho tido um pouco de pena de mim por coisas que não me cabem mudar. Tenho consumido muitos livros Anna, até daquela que já não pode ser mencionada. Tenho substituto café por chá. Tenho rido muito com meus colegas por não comer mais feijão por medo de explodir minha casa. Tenho rido muito pela leveza que a vida tem se apresentado a mim nessas últimas semanas. Tenho vivido de arte. Tenho vivido com o coração aquecido. Tenho vivido leve e feliz. Tenho vivido calma e intensamente
Mas ainda tenho sentido medo, as vezes acompanhado por frustração, e que, por falar nela, ainda não faço a menor ideia de como lidar com coisas que me deixam frustada, mas sinto que em algum ponto evolui e evolui bastante.
As vezes imagino como as coisas seriam se tivesse tomado decisões diferentes. As vezes sofro muito com esses pensamentos e tento focar no quão bem estou neste momento e tento enfiar na cabeça que é isso que importa.
Anna, no domingo chorei, estava frio e me senti melancólica, confesso que já nem lembrava mais a sensação, mas que em partes foi bom para me lembrar que em alguns dias vou sofrer e que tá tudo bem, afinal, eu sempre e sem nenhuma excessão tive que me cuidar sozinha.
Tenho aprendido a amar me cuidar, tenho aprendido a agradecer a Deus pelas coisas boas. Tenho sentido gratidão pela vida e tenho tentado praticar a lei da atração, que felizmente, vem se mostrando muito gratificante.
A vida tá boa e não tenho do que reclamar, só a sinto um tanto quanto vazia, e cada a mim ir me descobrindo e me completando aos pouquinhos...
Anna, talvez seja a hora de finalmente te dizer a deus. Não só a você, como a tudo que você significou e continuará significando para mim. Devo despedir-me de todo significado e sentimentalismo atribuído a você e a nós.
Ah Anna, como ficarei saudosa ... A verdade é que independente da situaç��o, me despedir de você sempre foi de extrema dificuldade para mim e engraçado, porque eu nunca quis te dizer adeus, mas meu futuro e meu presente já não te cabem mais. É hora de conhecer novos pseudônimos, novas inspirações e recordações. Então Anna, sou grata por nossa história, agora literalmente acabada, sou grata pela nossa catarse. Hoje posso me despedir de você como uma mulher que amadureceu muito ao seu lado.
Não sei muito o que te dizer, na verdade, queria poder te materializar em minha frente e te abraçar pela primeira e intima vez, mas isso não me cabe...
Sendo assim, adeus Anna, gratidão por esses anos compartilhados com amores, poesias, inspirações, frustrações, esperanças, sonhos, desejos, e tudo cuja o universo um dia foi nosso.
Dessa vez não deixo portas abertas para que voltes, mas peço que me guarde com carinho e evite rancor. Tudo teve os motivos. Nada foi em vão.
Voe alto, seja feliz e não se esqueça de mim.
Adeus meu bem, nenhum pseudônimo nunca será tão amado quanto você.
Te encontro nos meus sonhos!
- Até uma outra vida, saudosamente H
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