#razões para acreditar num mundo melhor
Explore tagged Tumblr posts
Text
Capítulo 2. Crueldade
O mundo está ao contrário e ninguém reparou,
Ainda dói pensar que irão me culpar por me abrir,
Eles buscam pela verdade mas não querem encontrar,
Eu tentei me conformar, eu nunca concordei com nada disso, meu silêncio foi pra sobreviver,
Para uma criança solitária, o que pode significar amar?
Tentaram exorcizar meu jeito feminino,
Encontrei desde cedo um refúgio nos livros, desabafos e desejo de criar,
Mas pode uma mentira ser tão bela e colorida a ponto de se acreditar?
Eu era novo demais,
coração ingênuo por sonhar,
Nunca diga nunca, tentaram me avisar,
Mas eu neguei e tentei fugir,
Minha vida se tornou um filme de horror,
Sozinho e com dezesseis anos,
Eu nunca tive um lugar pra voltar,
Em casa tinham vergonha de quem eu era,
Quando viram que não poderiam me consertar, me jogaram pro fim,
Meus livros, meus textos, minha alma,
Fecho os olhos, mas ao abrir estou preso na mesma memória de dor,
Ainda ouço ecos da sua voz no corredor da minha mente tentando me calar.
Eu fui o herói enquanto tentavam me matar.
Os seus olhos podem me ler desde os treze anos, um eterno conflito,
viver da arte ou morrer pelo holofote,
As paredes dessa cidade foram construídas com lágrimas de sangue e crueldade.
Vivendo num limiar, sem saber onde vai dar, tentando me manter sozinho,
Ao virar a rua existe um anjo caído, oferecendo seu pacto de mentiras.
Desde que eu nasci eles dizem que eu sou um pecado,
Como pode o amor ser algo errado?
A primeira vez que eu vi aquele garoto,
Algo tão belo se fez queimar no peito,
Mas agora todos estão decepcionados comigo.
Eles transformaram meu amor em um experimento,
Meus sentimentos suas piadas internas,
Eu nunca tive alguém em que eu pudesse confiar,
Ela era minha melhor amiga, e no final, eu fui o sacrifício,
A vida pode violentar, mas não mais que um amigo,
Você disse que eu deveria superar,
Que sou fraco demais, que eu não tenho maturidade,
Dormindo com o inimigo e lendo mensagens que pedem para que eu morra,
O que eles não sabem é que ando procurando por razões e motivos.
Expor sua depressão para o mundo é atestar insanidade,
Ultimamente venho sendo tão insano comigo,
Esconder toda essa dor me tornou o vilão de mim mesmo,
No fundo do peito, no silêncio do meu quarto à noite,
Num reino perdido do medo,
Essas palavras expelem como veneno,
Eu preciso expor toda essa crueldade,
Preciso dizer a verdade,
Algumas cicatrizes carrego desde cedo,
Que esse sangue escorra em arte,
Decisões profundas para pouca idade,
Toda crueldade que existe nessa cidade,
Que eu consiga curar esses sentimentos,
Não serei o culpado dos teus erros,
ou então serei assassino de mim mesmo.
Chega de crueldade. Esse é apenas o começo.
Esse é um trecho de meu próximo livro ‘’A Queda do Anjo’’, ao longo dos meses irei soltando trechos de capítulos para vocês se sentirem mais próximos de mim neste momento mais vulnerável de processo criativo, obrigado por independente do momento e da fase, estarem sempre comigo.
38 notes
·
View notes
Photo
Maria Paulina de 69 anos, serve pães para famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social na Brasilândia, bairro periférico localizado na zona norte de São Paulo.
Ela faz a distribuição em uma barraquinha armada na porta da sua casa. Todos os dias, são distribuídos 1,7 mil pães e 300 litros de chá, ajudando cerca de 130 famílias. Parte do dinheiro e das matérias-primas para que isso seja possível vem de doações.
Há alguns meses, seu neto Thalys, de 8 anos, resolveu filmar a avó batendo a massa de pão, enquanto seu irmão mais velho Mayan, de 12, fez a edição do vídeo. O conteúdo viralizou e Maria logo ficou conhecida carinhosamente como “Vovó Tutu” na internet.
“Comecei a receber doações de tudo quanto era lugar. As pessoas passavam na frente de casa e me deixavam muitas coisas. Logo, e com ajuda da família, passamos a produzir mais e a atender muito mais gente”, conta D. Paulina.
E o trabalho comunitário sempre fez parte da vida de Maria. Ela trabalhou no departamento de limpeza do Hospital das Clínicas ao longo de 12 anos e sempre pegava lanches no refeitório do hospital para doar para mães e bebês que passavam fome.
A partir de 1996, resolveu se dedicar à venda de marmitas, lanches e geladinhos. Tinha dia em que vendia até 100 marmitas. Nessa época, adotou a primeira filha, Lurdes, que dormia nos bancos do Instituto da Criança (HC) quando foi acolhida.
Depois dela, adotou outras 3 crianças e teve mais 6 filhos biológicos. Hoje, ela possui 26 netos e 9 bisnetos.
#mulheresdobrasil#solidariedade#razões para acreditar num mundo melhor#fraternidade#pessoas que inspiram amor#brasil#brazil
47 notes
·
View notes
Text
📝 › ACT 3: SUMMON ALL THE COURAGE YOU REQUIRE
Heidi recebeu a notícia à olhos tortos.
Diga-se de passagem que sua vida já não estava sendo fácil.
Se sua vida fosse um livro de aventura, não haveria leitor esperançoso o suficiente para o final. Todos já estariam confortáveis com o seu final triste ou já teriam largado a leitura e deixado-a na beira do precipício. Quem sabe deixá-la pender no além entre o ruim e o péssimo fosse melhor do que a confirmação da tragédia. Contudo, os possíveis leitores de sua aventura miserável como herói já estariam cientes de algo que ela havia demorado a perceber: Heidi nem mesmo era a protagonista de sua própria história.
@olympusfall-demigods
Desde a queda do Acampamento Meio-Sangue, crescente era o sentimento de não pertencimento, algo existente mesmo antes, enquanto vivia naquele lugar que deveria considerar casa: a casa de dois andares e três quartos. Ir para o Acampamento Jupiter parecia o inferno. Fingir-se colega de um grupo de semideuses romanos que ela sabia não serem capazes de mexerem os dedos para ajudar qualquer situação que envolvesse gregos era como sua punição por qualquer pecado que viesse a cometer.
Não culpava Quíron, por exemplo. Ele havia dado o seu melhor para aliviar a tensão, ela reconhecia, mas odiava o olhar de decepção que ele tinha em seus olhos cada vez que se tratava da filha de Éris. Por algum motivo, todos ao seu redor tinham o péssimo hábito de colocar uma extrema confiança nas coisas que fazia, como se estivesse realmente destinada a grandes atos. Spoiler: não estava, mas Heidi não achava em si coragem o suficiente para dizê-los.
Heidi sempre foi mesquinha. Guardava para si seus fatos, suas verdades. Entretanto, nesse caso, ainda que tentasse manter em segredo a realidade do que era, difícil se tornava esconder o fato claro como o dia sob a luz do sol: não era nada não fosse uma causadora de problemas.
Ela reconhecia a discórdia quando a via, ela sentia de longe o sabor da briga, o cheiro do conflito, e a forma como a desconcórdia se espreitava entre paredes finas causava na loira arrepios que lhe corriam o corpo inteiro. Heidi tratava do desajuste como um velho conhecido, talvez por isso achasse melhor lidar com as situações de seu dia-a-dia com raiva e pouca vontade, tremendo-se por completo a cada oposição que lhe surgisse. Havia sido sempre assim, ainda que hoje, longe e por sorte (leia-se de maneira irônica) abençoada pelo amor familiar, receba diariamente fotos de Hugh, Victor e Marianne, tal qual uma família perfeita.
Ainda não havia contado a novidade a eles, não achava em si a maneira de conectar-se com palavras que diziam ei, então, eu sei que vocês são bem ocupados e que adoram fingir que gostam de mim, mas logo logo estarei morta. Não havia visto na sua realidade chance alguma de sobreviver ao que viria a seguir, o ataque ao acampamento durante o jogo das bandeiras era razão suficiente para que desacreditasse em sua capacidade.
De que servia, se não para causar discórdia?
A cicatriz em seu rosto que Heidi recusava-se a fitar no espelho era sinal óbvio de que nunca seria mais do que apenas aquilo.
Talvez nem mesmo junto dos outros semideuses devesse estar. Se fugisse, talvez encontrasse paz. Por isso, cogitou, cogita, juntar-se às Caçadoras, buscar entre elas algum tipo de conforto. Em seu mundo utópico, faria o juramento ao que sorria para Ártemis e imediatamente sentiria-se em casa. Contudo, nem mesmo isso era capaz de fazer, com Ártemis sumida, em cativeiro, e as caçadoras sem uma liderança adequada.
O destino parecia tratar de si como uma piada.
E, assim talvez, por conhecer bem a discórdia e o conflito, é que ela não conseguia acreditar em Hécate. Não via verdade em suas ações, não conseguia acreditar em alguém traidor assim como não conseguia nem mesmo acreditar no suposto amor, carinho, afeição que sua mãe tinha por si. Não encontrava razões o suficiente em si e na realidade que lhes envoltava para acreditar em Hécate, ainda que tivesse trazido junto de si Circe, uma figura importante no plano maior das coisas, e Bianca Di Angelo.
Uma traidora para sempre seria uma traidora. Ela franziu o cenho.
Não conseguia enxergar como ambos Lupa e Quíron de nada fariam para negar a aproximação da deusa, mesmo após terem assistido de camarote a forma como ela havia se voltado contra eles no momento em que mais precisavam. De certa forma, ainda que quisesse acreditar que tinham o apoio da deusa, mesmo que maneira confusa e entre linhas tortas, Heidi não conseguia se deixar aceitar.
Semideuses não podia contar com a ajuda de deuses, isso era aprendido logo cedo. Nem mesmo de seus parentes. Ajuda divina dificilmente vinha se não havia algo que quisessem em retorno. Por isso também sentia pelas crias da deusa da magia. Ter que lidar com a causadora da discórdia já era o suficiente. Ter como mãe uma traidora deveria ser como uma sentença única e marcada em sua pele para sempre. Não compartilharia, contudo, suas opiniões nem com Belen, tampouco com Rebecca. Temia a reação que pudessem vir a ter, não sabia o quão fundo haviam caído no papinho ensaiado da deusa da magia e da encruzilhada. Sua especialidade era trapacear e encarcerar semideuses em dúvida. Não era confiável por natureza, tais quais os filhos da Discórdia.
Heidi suspirou e girou a adaga que tinha em mãos, percebendo, então, que há longos minutos encarava o alvo à sua frente. Ela tornou a franzir o cenho, encontrando o centro do alvo. Se haviam escolhido aceitar as desculpas esfarrapadas de uma deusa, não iria morrer sem tentar. Recusava-se a padecer como covarde, recusava-se a fazer disso o final de seu livro. ��Pronta?”, o semideus que lhe treinava perguntou, apreensivo e ela assentiu, então lançou a adaga vendo-a cravar num movimento sutil sua lâmina afiada na madeira utilizada e reutilizada do alvo e suspirou. Não, não simplesmente desapareceria. “Pronta.”
Dessa vez, Heidi tinha feito sua decisão. Lutaria por seu lugar, lutaria para achar pertencimento no mundo. Ainda que não fosse a protagonista desde o início, sendo essa a Discórdia, tomaria o que era seu por direito.
#you beat me at my own damn game / ( development )#surrender my everything / ( povs )#plot drop: 03.
11 notes
·
View notes
Quote
Pra mim, existiam claramente umas 3 versões de ti: A que era comigo quando tudo estava bem entre nós, cheia de afeto, paixão e sempre prestativa e disposta a me ajudar no que precisasse. Essa era a versão que acordava de madrugada pra me dar remédio quando eu estava doente, que cuidava de mim, me mimava e que me deixava chorar nos seus ombros nos dias mais difíceis. Era a versão romântica que me jogava as cantadas mais idiotas pra me ver rindo, que me beijava com ardor e que segurava sempre a minha mão. A outra versão era o lado que mostrava pra todos, de uma pessoa divertida pra sair junto, pra dar boas risadas e se ter por perto. Sociável, sorridente e com muita disposição, além de uma ótima amiga. Essa era a versão que dirigia pra longe só pra me levar num lugar bonito, que fez uma tour de cantinhos e paisagens que fomos colecionando por aí. Que dividiu comigo bares e carnavais, parques e cachoeiras, salas de cinema e tantos cantinhos dessa cidade… Esse mesmo lado que você se orgulhava de dizer que todos amavam, que todos veem e conhecem. Esse com certeza é o que mais vou sentir falta, e é o que eu guardava e visitava com carinho nas lembranças sempre que ficar doía demais e eu precisava me lembrar dos motivos. Essas duas versões foram o motivo de eu chegar até aqui, de conseguir até tentar de novo depois de jurar que eu tinha enterrado todos os meus sentimentos por ti e lidado com todos os processos de um término, de um luto. Por elas, eu fiquei e através delas te amei, não da melhor forma do mundo mas da forma mais pura que pude. A terceira versão, essa era o problema. Todo mundo tem defeitos, tem suas sombras e seus monstros. Nunca esperei nada de diferente de um ser humano falho como eu mesma sou. Mas sua terceira versão me assusta. Ela é aquilo que quase ninguém mais vê, mas que eu conheci e convivi de perto. A que se sente confortável em gritar e apontar tudo que acha que devo mudar em mim pra ficar mais agradável pra ela. Aquela que já foi capaz de olhar nos meus olhos e mentir enquanto me traía da maneira mais suja e baixa que podia ter sido. Aquela que escolhia o que me contar e quando me contar, me privando de saber de muita coisa que era meu direito pra ver exatamente onde eu estava me metendo. Aquela que me fazia sentir que se eu soubesse o que era falado por trás de uma tela de celular ou na minha ausência, nunca ficaria. Aquela que olhava pra mim e vomitava palavras que nem mesmo o pior dos meus relacionamentos ousou proferir sobre mim, sobre minhas dores, sobre o passado, sobre a opinião dos outros a meu respeito... Sobre segredos que compartilhei com quem deveria ser meu amor, mas que usava minhas fraquezas contra mim com ar de superioridade sempre que era conveniente. Que trazia outras pessoas pra discussões com tanta frequência que a relação praticamente passou a ser a 3, 4... Que tanto me julgava por cada coisa que já fiz ou falei nessa vida, mas que não aceitava ser confrontada e julgada de volta -e era ainda a primeira a falar de perdão e esquecer o passado. Que parecia sentir prazer em insistir em assuntos e pessoas que pra mim já tinham ficado pra trás, mas que a faziam gargalhar pelo meu constrangimento. Que ocultava as coisas pequenas, médias e grandes, mesmo depois de saber que todos os dias eu tentava reconstruir minha confiança tão quebrada por mentiras. Que ignorava que esse era exatamente o motivo dos meus ciúmes, depois de tanto me sentir enganada, trocada, manipulada e paranoica. Que me humilhava ameaçando ir, me mandando ir ou me deixando presa em lugares dos quais eu não tinha como sair sozinha, fazendo eu implorar pra conseguir voltar pra casa. Que me dizia que a relação era um espelho, mas não via o reflexo dos próprios defeitos e falhas, nunca apresentando nenhuma mudança nos padrões de comportamento mais nocivos. Que usava sempre os mesmos rótulos pra se referir a mim, por mais que entre uma briga e outra se desculpasse e admitisse que aquela não era a verdade, mas só pra na próxima oportunidade repetir tudo outra vez. Era engraçado porque eu poderia usar exatamente os mesmos rótulos para descrever esse lado, especialmente o de manipular qualquer situação pra sair como vítima. Nas poucas vezes que eu ouvia desculpa sobre algo pesado que ouvi, as desculpas eram seguidas da repetição das mesmas falas na primeira oportunidade. E eu ainda era cobrada por não acreditar mais em palavras bonitas, calmarias temporárias e por querer sair de tudo isso. E sobre a culpa? Esse lado me dizia que a culpa sempre pesava pra lá, que eu sempre usava ela como arma. Mas em cada atitude destrutiva e cada ferida que causou, nunca a vi assumir completamente a culpa, nem mesmo diante de uma traição, das mentiras ou de algo que tinha acabado de fazer. Sempre era por causa de terceiros, por terem ou oferecerem algo que eu não oferecia. Ou por qualquer falta minha, porque eu não transmiti amor o suficiente, porque eu não firmei uma relação, porque eu falei que queria isso ou aquilo... A culpa sempre era de qualquer outra coisa. Eu ouvia constantemente sobre direitos, espaços e aquilo que podia fazer, por isso fez. Mas se eu usasse a mesma lógica pra aproveitar meu espaço e meus direitos, eu era julgada e rotulada de mais alguma coisa, pra variar. Até se eu apenas quisesse ficar sozinha, no meu espaço direito etc, isso virava uma grande crueldade ou falta ou frieza da minha parte. Aliás, nunca tive tantos bloqueios com alguém, mas cada muro que foi construído dentro de mim era exatamente por conta de todo esse ciclo nocivo. Um carinho nunca me sufocou tanto, um favor nunca me era tão cobrado e nunca tive tanta dificuldade de demonstrar e falar sobre amor. Mas graças a esse lado, qualquer coisa natural, espontânea e carinhosa foi sendo podada até se tornar uma obrigação e perder qualquer razão de ser. Eu acordava já me sentindo na obrigação de ser uma pessoa que precisava agradar e moldar todo o meu dia pra dar atenção, afeto e tempo o suficiente pra alimentar carências que não eram minhas, toda e qualquer naturalidade já eram podadas até nas coisas mais simples. E não importa quanto eu me dedicasse, mudasse, me esforçasse e me desdobrasse pra agradar, nunca era o suficiente. Sempre tinha mais alguma falta e agora vejo que nunca seria o suficiente. Esse lado nunca ia ficar satisfeito com quem sou e o que tenho a oferecer, e quanto mais eu tentava oferecer, menos eu tinha dentro de mim. E é por tudo isso que essa versão cresceu como um câncer entre nós. Virou uma sombra tão densa e pesada que engoliu todas as coisas boas que as outras versões despertavam em mim. Era essa versão que me dava todas as razões pra desistir, só pra quando eu finalmente desistir vir atrás com discursos bonitos e promessas de um relacionamento que nunca saiu da utopia. E aí então jogava na minha cara que tinha vindo atrás, como um mérito que eu constantemente falhava em reconhecer; Aliás, eu sempre falhava, em tudo. Esse ciclo terrível se repetia tanto que os momentos bons pareciam ser sempre uma pausa em meio a uma briga infinita, com as mesmas alfinetadas e argumentos e gritos e portas batendo. Mas como toda pausa, eles tinham validade curta e eu já esperava que a qualquer descuido, tonalidade ou palavra errada, essa pausa fosse acabar. Ultimamente eu me sentia tão sugada e sem energia que até mesmo uma nova fase da minha vida, que ia ser mais colorida, ficou em preto e branco. Foi assim que até mesmo uma viagem (literalmente minha coisa favorita do mundo) se tornou um peso e acabou pra mim no segundo que eu olhei pra minha mala e desejei estar num pesadelo. Tudo que eu queria era acordar e estar de novo na minha cama e no meu espaço. E foi assim que a apatia tomou conta e eu nem conseguia mais sentir saudades, me comover ou ficar feliz com gestos de carinho e cuidado. Essa terceira versão tomou conta de ti, de mim e de nós. Essa sombra engoliu qualquer possibilidade de existir luz no fim do túnel. Depois de tantos términos, as lágrimas que descem são de frustração e arrependimento… E mesmo lembrando do som das risadas, das piadas, dos lugares, das noites na beira do lago comendo besteira e falando da vida, dos dias ensolarados numa paisagem bonita, da aliança, da companhia pra assistir qualquer coisa na tv ou sentar num bar qualquer... Tudo já parece. Tão. Distante. E o pior é que nem deu tempo de ser. As mais recentes memórias tomaram conta do primeiro pensamento que acesso ao lembrar de ti: Caos.
10 notes
·
View notes
Text
Jobim: uma gaveta só é útil se vazia
Eu digo por razões dialéticas: a proximidade do mar, o fato do João [Gilberto] ser baiano, o fato do Vinicius [de Moraes] ser um homem culto. Eu acho que houve uma série de circunstâncias para que isso [bossa nova] acontecesse. No Rio de Janeiro ainda existe uma influência climática, uma vagabundagem, certa folga que favorece a criação. Aqui é o pindorama. Você não pode compor "No rancho fundo" em Nova Iorque, não pode. Você pode compor como memória: Guimarães Rosa, por exemplo, escreveu grande parte de sua obra na Alemanha, João Cabral de Mello Neto em Barcelona. Mas o que eles traziam dentro? Quer dizer, o sujeito escreve como memória. É possível que eu vá pra Moscou, fique num quarto de hotel e faça um choro autenticamente carioca. Mas isso é pelo que eu tenho dentro da cabeça. Você não pode se descartar do seu meio. Eu nunca fiz outra música que não música brasileira, porque é o melhor que a gente sabe fazer. (...)
O Villa-Lobos, por exemplo, dizia que era o último dos grandes músicos. Tive a felicidade de conhecê-lo e creio que ele queria dizer com isso, que um músico no sentido que ele foi cada vez se torna mais difícil no mundo de hoje, entende? A música passa a se tornar uma arte visual, ligada a gestos, roupas, imagens, atitudes, política e tudo o mais. A gente pergunta: mas qual é o meio de se ouvir uma sinfonia? Radinho de pilha ou televisão? Esses dois meios são inadequados. Como você vai ouvir a Sagração da primavera no radinho do carro? Você pode, mas está perdendo 90% do conteúdo sonoro.
A música exige uma atenção por parte do ouvinte que hoje em dia não tem mais tempo. Ainda outro dia li no jornal que tudo que tem mais de cinco minutos de existência deve ser destruído. Quer dizer, toda obra que exige muito tempo, como um romance por exemplo. Você vê, nós pensamos hoje em dia em termos de leitura dinâmica, de informação, de passar a vista em quatro ou cinco jornais, três revistas e se libertar daquilo o mais rapidamente possível e, ao mesmo tempo, estar informado para estar por dentro, não é? Eu não creio que essas coisas levem à criatividade. O indivíduo que sofre de superinformação, de superalimentação, de supertrabalho, de superócio, ele está sempre dirigido, entende? E as pessoas são dirigidas muito facilmente, o que é lamentável descobrir, não é fato? (...)
Sinto uma padronização e diversificação de quase tudo. Muitas vezes, os jovens que se dizem livres e que almejam a liberdade estão todos se vestindo igual, tendo as mesmas atitudes, o que nos faz supor que eles não sejam tão livres assim. (...) O sujeito acreditar em ideias é um problema, o raciocínio comparativo é falso. O dar nome às coisas prejudica a compreensão: quer dizer eu chamo Maria de Maria, e penso que conheço Maria, quando Maria não é nada disso.
Antonio Carlos Jobim, 1968 (!). Encontros: Tom Jobim. Frederico Coelho e Daniel Caetano (org.). Azougue Editorial, 2011
3 notes
·
View notes
Text
Episódio 5: Vulto no Grove Park
Feche seus olhos. Deixe minhas palavras lhe lavarem. Você está seguro agora.
Bem-vindo a Night Vale.
Historiadores locais estão protestando a remoção do Vulto no Grove Park que Ninguém Reconhece ou Fala Sobre. Enquanto o protesto foi dificultado pelo fato de que ninguém irá reconhecer ou falar sobre isso, eles conseguiram - por um sistema de gestos e caretas - transmitir a mensagem de que, seja lá o que o Vulto for, e quaisquer sejam seus efeitos nos arredores, ele é um patrimônio de Night Vale e deve ser protegido.
O Vulto em si não comentou nada - apenas um baixo gemido e tremor gelatinoso. A Câmara Municipal não deu razões para a remoção, mas disse que todo trabalho no Grove Park era para novos conjuntos de balanços, áreas para piqueniques e Círculos de Pedras Sanguíneas, o que podemos concordar serem boas contribuições para a comunidade.
A Cooperativa de Horti-Fruti de Night Vale anunciou hoje que, depois de 15 anos, eles começarão a vender frutas e vegetais. A Presidente do Conselho de Horti-Fruti Tristan Cortez disse que pesquisas de satisfação indicaram que os consumidores têm se cansado de tendas e picapes vazias pelo estacionamento da prefeitura toda manhã de domingo no verão e no outono.
Cortez disse que pesquisas indicam que consumidores tendem a comprar produtos se eles estão disponíveis e à venda, e clientes de mercearia e horti-fruti tendem a comprar comida. Cortez falou que a decisão de vender comida no Horti-Fruti foi controversa, já que vários membros do conselho e acionistas da cooperativa sentem que vendas de frutas e vegetais interferirão nas operações secretas de espionagem doméstica em andamento.
Quando abordada, nossa fonte dentro da Polícia Secreta apenas respirou pesadamente no telefone enquanto digitava um código ainda não decifrado para o receptor.
Michael Sandero, quarterback iniciante dos Scorpions de Night Vale, tem supostamente uma segunda cabeça crescendo. Ainda não se sabe se isso é resultado do relâmpago já noticiado ou apenas uma estranha coincidência na estranha vida desse garoto.
Conhecidos dizem que a nova cabeça é mais bonita e inteligente que a primeira, e até a mãe de Michael lançou uma nota indicando que ela gosta muito mais dessa do que de seu filho e que ela estará mudando o ranking da tabela pública "De Qual dos Meus Filhos Eu Gosto Mais" do lado de fora da casa dela.
Não conseguimos contatar Sandero para opiniões.
Provavelmente.
Não tentamos.
Amigos, ouvintes: há um sério problema de tarântulas aqui em Night Vale. Vários moradores já ligaram para denunciar que analfabetismo, gravidez indesejada e crimes violentos estão em alta nas comunidades de tarântulas. O controle animal está tratando desses problemas atráves de programas pós-aula chamados "Ensine uma Aranha a Ler - Pare a Loucura".
Aqueles interessados em voluntariar devem ficar de pé em suas banheiras e chorar até tudo passar.
Não resta nada.
Você pode botar isso pra fora agora.
Bote para fora.
Shhhhh.
Bote para fora.
E agora uma mensagem de nossos patrocinadores
Cansado de sua casa? De saco cheio do conforto? Venha para o Buraco no Terreno Baldio atrás do Ralph's e se encontre com A Gente.
Quem A Gente é? Boa pergunta.
Venha para o Buraco no Terreno Baldio atrás do Ralph's e se encontre com A Gente.
Por que A Gente quer que você venha? Por que A Gente gastou dinheiro nesse comercial? A Gente entende sua confusão.
Mas: Terreno Baldio, Ralph's, encontrar. A Gente.
Pelo preço baixíssimo. Venha hoje. Ou amanhã. Quarta-feira não. Quarta-feira não é bom pra Gente.
Enfim, nosso comercial está acabando, então só venha para o Buraco no Terreno Baldio atrás do Ralph's e se encontre com A Gente.
Senão...
De volta para nossa programação normal.
Senhoras e senhores, a fofoca corre solta. Tivemos uma celebridade na nossa pequena cidade!
A Velha Josie e um de seus amigos anjos supostamente viu Rita Hayworth abastecendo no posto Fuel 'n Go perto do boliche. Rita Hayworth, senhoras e senhores! Bem aqui em Night Vale. Dá pra acreditar? A Velha Josie disse que Rita parecia um pouco mais velha, moderadamente obesa, e consideravelmente mais hispânica, mas o anjo garantiu que era a Rita, sim. Ele é um anjo, no fim das contas... ele saberia, né? Uau! Rita Hayworth! Bem aqui em Night Vale! Imagina só!
Novidades sobre o Vulto antes no Grove Park que Ninguém Reconhece ou Falava Sobre: parece que a Câmara Municipal, na sua misericórdia sobrehumana e glória onisciente escolheram trazer o Vulto para diretamente em frente da nossa estação de rádio, onde ele continua sendo o que só pode ser descrito como... indescritível.
O Vulto não foi contatado para comentários já que eu não consegui ninguém se dispondo a falar com ele... ou a fazer contato visual comigo quando eu propus isso. Já me ocorreu que talvez eu seja o único que consiga vê-lo.
Agora que penso sobre, eu também não parei para realmente olhar se esse microfone está conectado a qualquer tipo de gravador ou transmissor.
E é possível que eu esteja sozinho em um universo vazio, falando para ninguém, sem saber que o mundo consiste meramente de minhas ilusões e doce, sonora voz.
Mais nessa história conforme ela evolui, quem sabe, talvez só para mim.
O Teatro Comunitário de Night Vale está fazendo audições para o espetáculo de outono "Uma Vez Nessa Ilha". Atores interessados devem trazer uma foto e currículo para o Centro Recreativo na quinta à noite.
Todos os candidatos devem performar um monólogo de 1 minuto e cantar uma música. Traga partituras se você quiser um acompanhamento no piano. Candidatos também serão requisitados para fazer uma leitura fria, exames de sangue e fezes junto de testes de radiação obrigatórios após as audições.
Não cante nada do South Pacific. Pessoas de cor são encorajadas a se candidatar, pois o Teatro Comunitário de Night Vale acredita na inclusão. Além disso, treinamento de tiro de longo alcance, programação FORTRAN e habilidades de alto nível de sobrevivência na selva são um "a mais".
Os resultados serão anunciados em segredo num dirigível.
Ninguém pode saber.
Novidades na situação do horti-fruti de mais cedo na transmissão. Tudo está da mesma maneira de quando falamos da última vez. Não há novas informações.
Ouvintes, vocês já pensaram sobre a lua? Eu estava sentado lá fora ontem de noite olhando para a lua e pensei, alguém realmente sabe o que essa coisa é? Já houve algum estudo sobre isso? Eu fui perguntar ao Carlos, mas ele não tem aparecido muito desde aquele corte vilânico do traidor do Terry.
Mas a lua é esquisita, né? Está ali, e ali, e então não está mas. E ela parece estar bem distante. Ela está nos observando? E se não, está observando o que? Há algo mais interessante que a gente? Ei, olhe pra gente, lua! Nós nem sempre somos a melhor atração do universo, mas tentamos.
Essas foram as Curiosidades Científicas para Crianças de hoje.
Em falar nisso, a Secretaria da Educação de Night Vale anunciou algumas mudanças para o currículo da Escola Primária. São as seguintes:
Em resposta ao feedback dos pais, as aulas de história focarão mais em leituras do livro-texto e testes tradicionais, ao invés de aulas de armamento.
Geologia está acrescentando um novo tipo de rocha no solo, pois já tem um certo tempo que ninguém faz isso. O novo tipo de rocha é "vimbee", e é categorizado por seu pálido azul e o fato de ser completamente comestível. Pontos extra serão dados ao primeiro aluno que achar um exemplar real dela.
Matemática e Inglês estão trocando de nomes O currículo será exatamente o mesmo.
Astronomia estará conduzindo sessões no observatório apenas com vendas em cada participante, a fim de protegê-los do terror existencial do vácuo.
Além disso, Plutão foi considerado imaginário.
Todas as salas de aula serão equipadas com pelo menos um professor fisicamente presente por todo o período letivo. Projeção astral não será mais usada em sala de aula.
Por fim, em adição às atuais escolhas de língua estrangeira de Espanhol, Francês e Sumério Modificado, as escolas estarão oferecendo Espanhol Duplo, Espanhol Estranho, Espanhol Cóptico, Russo e Sumério Não-Modificado.
E agora, uma continuação de nossa prévia investigação sobre eu ser ou não literalmente a única pessoa no mundo, falando para mim mesmo em uma loucura causada pela minha inabilidade em admitir a tragédia da minha existência.
Leland, nosso novo estagiário, recentemente me trouxe um café. Ele não está mais no meu campo de visão, mas eu ainda estou com o café, que foi bem-feito e me deu a energia necessária para continuar considerando essa assustadora possibilidade.
Será que eu apenas imaginei Leland, e me esqueci que fiz essa xícara de café? Mas aí, quem teria plantado o café? De onde essa xícara foi comprada?
Oh, Leland está de volta. Ele está me acenando - oi, Leland! - e está dizendo... pera, o que foi isso, Leland?
Ah sim.
Ele está dizendo que o Vulto está vermelho metálico e está causando pequenos redemoinhos da entrada da nossa estação. Há aparentemente um som de várias vozes cantando como se fossem um exército dando um grito de guerra antes de semear a destruição em nosso pequeno povoado árido.
Ah?
Ele parou de gritar, e agora está furiosamente escrevendo em um bilhete.
Devo dizer que a existência de Leland, assim como ele finalmente falando sobre o Vulto que Ninguém Mais Falava Sobre, me tranquilizou bastante sobre minha vigília solitária e solipsística aqui nesse microfone.
Ele está me estendendo o bilhete - obrigado, Leland - deixe-me ver... ahh.
Aqui diz que a Câmara Municipal acredita que a razão para a reação violenta do Vulto antes no Grove Park que Ninguém Reconhece ou Fala Sobre é porque eu tenho reconhecido e falado sobre ele, o que o deixou violento. Eles me incentivam a parar de falar dele, e nunca mais fazer isso, e em troca eles o moverão para algum outro lugar para que possamos ter nossa zona de carga e descarga de novo.
Após breves considerações... eu decidi aceitar a oferta da Câmara, já que eles são líderes dignos de confiança prezando pelo nosso melhor, e também porque Leland acabou de ser vaporizado por uma estranha luz vermelha emanando da entrada da estação.
Para a família de Leland, nós agradecemos pelo serviço dele à causa da rádio comunitária, e também lamentamos sua perda.
E sem mais delongas e nem mencionar nada que não deva ser mencionado, vamos para a previsão do tempo.
Jerusalém, por Dan Bern
Olá, ouvintes.
De última mão, o céu. A terra. Vida.
A existência como um plano imutável com horizontes do nascimento e morte, tão distantes.
Não temos nada para falar. Nunca tivemos. Palavras são problemas desnecessários. Expressões são tempo perdido. Qualquer comunicação é só um uivo no escuro.
Senhoras, senhores, ouvintes, você.
Eu estou falando agora, mas não estou dizendo nada. Eu estou só fazendo barulhos e acontece deles se organizarem em palavras e você não deveria procurar sentido nisso.
O funeral de Leland será amável. Nós jogaremos flores e choraremos. Ele será enterrado na sala de descanso como de costume. A família dele virá e divagará sobre o café como se tivéssemos respostas.
Não temos respostas. Não sou certo nem sobre termos perguntas. Eu escolhi não ser certo sobre absolutamente nada.
Esse é o Cecil, basicamente, falando para você, metaforicamente, para a Rádio Comunitária de Night Vale.
E eu gostaria de dizer nos termos mais nebulosos possíveis, e sem implicações ou insinuações objetivas no mundo real:
Boa noite, ouvintes. Boa noite.
Provérbio do dia: Um milhão de dólares não é legal. Sabe o que é legal? Um basilisco.
***
Nota da tradutora: Olá, ouvintes! Espero que tenham gostado da tradução. Erros? Por favor, coloquem nos comentários. Nosso ask está aberto para críticas e sugestões.
#wtnv#wtnv shape in the grove park#wtnv brasil#wtnv em português#Welcome to Night Vale#welcome to night vale português#welcome to night vale brasil#night vale em portugues#welcome to night vale 5#wtnv 5#wtnv tradução#welcome to night vale tradução#shape in the grove park#vulto no grove park#welcome to night vale transcrição#wtnv transcrição#wtnv legendado#welcome to night vale legendado#wtnv br#welcome to night vale br#welcome to night vale pt br#wtnv pt br
4 notes
·
View notes
Text
Que legado deixaste? Ensaio de um Currículo Biográfico
Em homenagem dupla aos acontecimentos que assombram e abençoam este dia, escrevo-te uma vez mais para te dar conta do que sou e do que sinto que sou.
Nasci numa segunda-feira de Verão no ano de 1996 às 16h55m; na noite do dia do meu nascimento a Lua caminhava para Nova e o céu iluminava-se pelas Perseidas que tinham atingido o seu pico às nove da manhã daquele dia 12 de Agosto. Passei os primeiros anos da minha vida a presenciar inconscientemente o divórcio pacífico dos meu progenitores, ambos tão jovens como infortunados, e a ser repartido em mimos e lições pelos meus avós, sou filho único e fui o primeiro neto de ambos os ramos da minha árvore familiar. Essa árvore, um baobá generoso em artes e ofícios composto por, entre outros seres de qualidades e defeitos, um avô paterno ligado ao mar, mas também ao ar e que saltou de pára-quedas por todas as antigas dependências coloniais em África, uma avó paterna cuja religiosidade fervorosa não deixa adivinhar que as suas raízes a levam a pescadores muçulmanos da Fuseta, oprimidos mas unidos no amor ao próximo, um avô materno eletricista que teve de renascer num mundo que nunca o compreendeu e uma avó materna que da rejeição construiu a própria vida e se guiou consideravelmente pelo coração. Cada um deles deu-me um pouco deles mesmos e, mesmo que tenha medo de alturas e da rejeição, foram eles que me moldaram nos primeiros anos que tenho memória.
A minha primeira "carta de recomendação", data de c. 2002 e diz:
Jardim de Infância da Azeda
Ano Lectivo 2001/2002
O nosso Miguel revelou-se uma criança com uma grande sensibilidade e um gosto especial pelo belo, chegando a expressar-se de forma poética em muitas situações.
As flores, os passarinhos e os bichinhos eram do seu grande interesse e mereciam da sua parte grande respeito e admiração. Continua assim! Felicidades e sucesso na tua vida escolar são os votos das tuas:
Auxiliar Forutunata
Educadora Isabel
De facto, a minha sensibilidade foi sempre a minha maior virtude, mas também o meu maior defeito. A minha vida em comunidade extra-familiar não começou da melhor maneira, as outras crianças não me davam atenção pelas coisas que eu conseguia fazer, tão pouco queriam saber das minhas sensibilidades poéticas, e eu não sabia lidar, entenda-se brincar, com elas, pois já me tinha habituado a brincar sozinho e a adaptar a minha postura a cada um dos ambientes adultos onde tinha de crescer minimamente confortável.
Na primária fui viver com o meu pai (apenas esporadicamente via a minha mãe), a sua nova esposa e a filha desta - dois anos mais velha do que eu e que se ao início poderia ter-se tornado a minha melhor companheira e quebrado a minha desconfiança com todos os que me eram estranhos, na realidade fez-me aumentar a timidez e a falta de frontalidade que ainda hoje me enjoam a alma e remexe a minha ansiedade. Ainda assim, na primária tive duas amigas que achei que nunca iria perder e no 4.º ano tive inclusive um amigo chamado João, foi o meu primeiro amigo, até porque quando não se é apto a jogar futebol, a vida pode ser complicada para um rapaz na primária.
Por essa altura adorava fazer desenhos de vestidos. Não compreendia porque é que as mulheres podiam fazer tantas coisas para ficar bonitas e os homens não, não percebia porque é que os homens ficavam com as roupas de cores murchas, os cabelos inexpressivos e a cara exposta à realidade, sem nenhum brilho, nenhum pó, nenhum enfeite. Decidi que queria ser estilista, mas ninguém da minha família achou que isso seria uma vocação apropriada, então colocaram-me, entenda-se alistaram-me, nos escoteiros. Desisti passado três meses com o compromisso de terminar a catequese e assim o fiz.
Depois disso, ainda influenciado pelo leque cromático do vestuário masculino e por mero acaso, inscreveram-me na patinagem artística. Foi um desastre, para além de nunca ter tido realmente gosto em fazer aquela atividade, acreditei depois dessas atividades extra-curriculares que não tinha aptidão para nada e o reflexo disso eram as minhas classificações medianas, sem nunca ter registado uma negativa, estas fixavam-se no Suficiente e para mim não havia necessidade de me esforçar mais, dado que as circunstâncias da vida me deram uma irmã emprestada temporariamente com um aproveitamento escolar que a levou a chumbar o 6.º ano e por muito que as minhas notas fossem medianas, atingiam sempre um prestígio ecoado de modo descomedido que me relaxava.
Aos 12 anos vim viver pela primeira vez em permanência com a minha mãe, o meu pai foi para fora do país depois do segundo divórcio e ali as minhas classificações atingiram um prestígio digno que me davam um gozo que só eu compreendia e que a minha família achava habitual. Um ano depois o meu pai estava de volta e pouco após já estava casado outra vez, era Setembro de 2009. A minha nova madrasta, que me proporcionou dois irmãos emprestados temporários, mulher de supérflua perspicácia e poder de manipulação, incutiu em mim pela primeira vez a realidade do mundo, expos muitas das minhas capas de adolescente incompreendido e denunciou alguns dos meus comportamentos perigosos.
Não quer dizer com isto que as minhas classificações tivessem diminuído ou que me portasse realmente mal. Contudo, o 9.º ano foi o auge de, por um lado, o meu sofrimento físico e psicológico por parte de colegas que rogo a Deus que não lhes peça contas, e por outro da minha descoberta vocacional.
É o seguinte: tanto sofrimento levou-me a isolar-me ao máximo e isso levou-me a conhecer pessoas (eletronicamente) que despertaram em mim, não só o óbvio que no fundo sempre soube, mas o meu gosto pelas Humanidades e o passado e o meu afastamento às ciências ditas de exatas que até então tinham sido a minha predileção perdeu-se.
O subjetivo e o sujeito começaram a despertar em mim um fascínio e, ainda que sem amor próprio, queria muito saber mais. Não deve ser comum aos 14 anos, mas a natureza da minha vida naquele período, áspera e fria, arrebatou-me para o mais recôndito de mim mesmo. Foi como um crepúsculo da vida em que o momento em que a ação cessa exteriormente, não cessando porém interiormente.
E assim segui para o Secundário, sem no fundo nunca ter terminado o crepúsculo da minha vida, mas decidido a não me voltar a cruzar com ninguém que pertencesse àquele passado, da escola e do computador, da vergonha alheia e do medo que de tanto cansar às vezes faz cair. Fui para a escola secundária com a pior classificação em termos de ranking do concelho de Setúbal, mas não podia ter sido mais feliz. Lá fiz amigos verdadeiros e estava inserido em tudo o que podia, fiz parte de listas, fui representante dos alunos no Conselho Geral, honrei a escola na sessão nacional do Parlamento dos Jovens, ganhei prémios de honra e mérito, fui delegado de turma, rei do baile e não conhecia ninguém que realmente não gostasse de mim, excepto um certo professor de educação física que peço a Deus que também o poupe.
Porém, sabes bem o que o Secundário me tirou naquela quinta feira, 7 de Março de 2013, sim falo contigo Pai, três dias depois de te ter mostrado o meu teste de Filosofia e de me ter recusado a acreditar no teu plano de divórcio. Dir-se-ia que só nasceste para amar e que de amar viveras. Contam-se os dias para ti venturosos quando te vias junto da avó, a quem querias e de quem eras querido, nos teus braços idolatrava-te e rodeava-te dos meus mais belos poemas em busca de aprovação, os teus amigos eram os mais fieis e honestos, Todos eram para ti o enlevo da vida e parte integrante da tua felicidade.
Mas vieram os dias ruins e tristes e a morte quase sucessiva não se ficava pela tua. Desde então, curvado ao peso de dores pungentes e de mágoas acerbas, a alegria fugira-me do coração dilacerado. Só a consolação de um possível futuro próspero, apoio no melhor período da minha vida que acabara de começar me podiam tirar daquele sofrimento cíclico.
Matriculei-me na licenciatura em Arqueologia em 2014, com dezoito anos e um mês. As minhas razões eram simples, gostava de Turismo e de História, mas mais da última, no entanto queria algo que me levasse mais longe, não necessariamente mais para baixo. Vivi até há pouco tempo numa Meritocracia que acreditava como fazendo parte da Lei Universal, muito ligada à educação que obtive. Achava legitimamente que se me destacasse a vida acabaria por me compensar e por isso não existiria problema se optasse por algo com o objetivo de ser feliz.
Pode dizer-se que o Ensino Superior foi um prolongamento do auge social que vivi no Secundário, cada vez mais independente de lembranças melancólicas, ainda que mais intenso. A realidade é que não era difícil num curso tão pequeno e quando se tinha já uma bagagem de vivências interessantes, para partilhar com pessoas novas, de fazer amigos. Dos cinco anos, passados em vários espaços, entre descobrir a saudade dos vivos no Médio Oriente e apaixonar-me no Norte de África, naquele fascinante mundo, culminou o meu primeiro estudo, objeto da minha predileção, esforcei-me pois sabia que se não o fizesse, mais ninguém o faria e a eternidade, com as suas duas mãos, taparia os ouvidos na capoeira dos surdos.
Não foi a vaidade que me arrastou a esse trabalho, entregue após revisão e correção a 7 de Março de 2020, ímprobo para muitos, mas para mim de suave conforto. Foi a vocação que me impeliu e o interesse de saber que me atriu, sempre foi, mesmo neste período conturbado que passo, comparando-me aos derradeiros dias do ano, que passam entre os místicos nevoeiros e as tristezas dos ventos.
Assim, foi necessário empregar em alguma coisa o supérfluo da força, que em caso contrário se concentraria numa devoradora melancolia. Triste vaidade seria, na verdade, se vaidade tivéssemos.
Confesso que nas minhas pesquisas literárias mostrei, excepcionalmente, muita ambição, porque tudo me parecia pouco. O que escrevi por espaço de dois anos, a par de investigações trabalhosas nos arquivos, bibliotecas e em milhares de livros, papéis e manuscritos, fi-lo mais por um secreto amor à minha espécie, como uma diversão agradável de que necessitava o meu espírito, mais propenso ao isolamento e à melancolia, do que à vaidade.
Depois dessa última vitória recebi um beijo envenenado da Realidade, sem aviso prévio. Depois de me formar com mérito para ser um Arqueólogo o que mais queria era por em ação aquilo que aprendi, mas descobri que ainda não é na terceira década do século XXI que as coisas serão tão lineares e justas.
Pouco ou nada sei, confesso o pouco que sou e valho, com tão pouco de experiência e aptidão para determinadas tarefas no momento pertinente, enquanto que para outras a conversa muda, claro. O meu passado biográfico não me preparou para o que senti nos últimos oito anos, nem tão pouco pelo que aconteceu a partir de há um. Não estava pronto para te perder, como nunca estive pronto para perder o meu conforto, era feliz e útil, mas o meu lugar era tão impreterível que a minha ausência nem parece que tenha sido sentida.
Assim me votaram ao ostracismo. A origem deste facto não a sei eu, e confesso ingenuamente nisso consistir a minha maior ignorância. Garrett escreve que os desgraçados passam a vida a invejar e a odiar. Mas não havendo em mim dote ou qualidade invejável, é consequência lógica que só acabrunhadamente o ódio, fugindo de esbracejar a luz do dia, procurava nas trevas infiltrar nos incautos o seu traiçoeiro e maldito veneno. Ou serei eu o desgraçado?
Não podia, pois, nem devia, mentir à consciência que me é tão querida. Faltar à minha dignidade e trair a minha classe, deixar de protestar sempre que ela se tornasse feudo de quem se não achasse à altura de a representar contiguamente de lhe defender os interesses, embora reconhecesse nesse alguém outras qualidades aplicáveis.
Deste modo de pensar e agir, deste grande pecado sem perdão, resultou-me a guerra mais acintosa e malévola que até agora detive na vida com repercussões até este momento. Guerra sem tréguas, sistemática, ora a ocultas, ora às claras, abjetas agressões, umas vezes brutais e infames, outras vezes sorrateiras e hipócritas, mas não menos vis.
A vida assim me mostrou que a maldade facilmente arregimenta prosélitos. É fácil encontrá-los, ligando-os pelo seu interesse individual, falta de vocação e amor próprio. É uma atitude menos digna destes seres que provoca a extinção da nobreza dos sentimentos, substituindo-a pelo cinismo pernicioso, sémen da desmoralização, decadência e desprestígio total da Humanidade. Ainda que muitas vezes tenha lutado sozinho, apenas com os pensamento que entoavam na minha cabeça e me arreliavam o espírito e ausente de realidades concretas, pois a realidade é que já esperava tudo.
Nunca, porém me queixei diretamente aos culpados reais nem tirei desforço, antes inundei infundadamente os que amo, no sonho de os ter para sempre. Aos culpados, larguei-lhes sempre o campo todo, porque de vasto campo precisam estas criaturas medonhas para seu teatro, ou antes circo, iluminado à luz do seu talento, do seu profundo saber, do seu elevado merecimento!
E, juro por meu Pai, a ambição não me corrói a alma, nem a inveja me envenena o coração.
Mas, louvores a Deus, nunca ninguém conseguiu ainda roubar-me a estima com que tantos outros que me são queridos e empáticos me têm dado um espaço nos seus corações e pensamentos e é por eles, por Ti também, e por mim próprio que não desisto.
7/03/2021
MMdS
1 note
·
View note
Text
Conheça meus 14 personagens de Stardew Valley! (português)
Eu não tava brincando quando disse que eram vários
Vamos lá!
Os fazendeiros
Haylen -Garota extremamente introvertida que está tentando sair da sua concha e ser feliz. Ama cuidar dos animais da fazenda.
Sarah -Nadadora que vivia numa bolha social quando morava na cidade, e agora que chegou à Vila Pelicanos quer ver o mundo como ele verdadeiramente é. Ama nadar, o mar e pescar.
Timothy -Sério dono da fazenda que está tentando deixar seu falecido avô orgulhoso enquanto lida com sua inseguranças e solidão. Ama a fazenda.
Os que vêm de longe, parte 1
Simon -Garoto sarcástico que veio à Vila Pelicanos porquê foi expulso da casa dos pais por razões desconhecidas. Esconde sua raiva e tristeza pela vida atrás de um sorriso de canto. Ama ficar sozinho.
Dylan -Gosta de flores e é mal-humorado. Ele está procurando por alguém relacionado à ele que tem alguma conexão com a Vila Pelicanos. Ama tulipas e talvez o Alex.
Os que vêm de longe, parte 2
Sabrina -Auto proclamada bruxa que é muito orgulhosa disso. Mora no Deserto de Calico e tem um crush "secreto" na Sandy. Nome verdadeiro é Carla. Ama bruxaria e o mundo místico.
Carlos -Mimado e facilmente irritado irmão mais novo de Timothy que quer provar para si mesmo que ele pode fazer coisas por conta própria. Está constantemente com inveja do seu irmão e seu sucesso com a fazenda. Ama videogames.
Aquele que não se encaixa
Aaron -Rapaz misterioso que ninguém sabe de onde veio ou quem ele realmente é. Era quem estava cuidando da fazenda até a chegada de Timothy; segundo ele, à pedido do próprio avô de Timothy. Ama a natureza e trabalhar na fazenda.
Os viajantes
Clarice -Gosta de flores e é bem-humorada. Ela não quer desperdiçar sua vida e decide viajar pela estrada num trailer com a sua prima Rosalía. Acaba na Vila Pelicanos por conta de um acidente envolvendo seu trailer uma galinha (que passa bem, não se preocupe). Ama arte.
Hamilton -Nome verdadeiro é Laurence, é o vocalista numa banda chamada Juventude Preto e Branco. Na manhã seguinte de um show, ele é encontrado na Clínica da Vila Pelicanos sem nenhuma memória da noite anterior e um braço quebrado. Ama cantar e ama músicas de rock dos anos 80.
Rosalía -Professora de Literatura que se cansou de sua vida pacata e decidiu ir com Clarice em uma aventura viajando pela estrada num trailer. Ama livros de todos os gêneros.
Os que estão do outro lado
Cecília -Fotógrafa oficial da Joja cuja diversão é zoar com as pessoas. Cuida do seu irmão gêmeo mesmo que ele tenha 22 anos. Ama fofocar e espalhar boatos.
Matheus -Estoquista do JojaMart que está tentando seu melhor para não ser um desastre na vida. Atrapalhado, inocente e azarado até demais pra acreditar. Ama ajudar os outros.
Arianne -Ari é uma operadora de caixa no JojaMart que mora na Cidade de Zuzu e está tentando uma carreira como escritora. Ela lê sobre a fazenda e a reforma do Centro Comunitário no jornal e decide onde ela quer ir pra escrever seu primeiro livro. Ama ouvir histórias que as pessoas contam e andar de moto.
Se você tem alguma pergunta sobre algum deles ou alguma ideia de desenho, mande aqui!
4 notes
·
View notes
Photo
Texto escrito em 2009. Achei muito pertinente as ideias colocadas por mim sobre o mundo e a atual questão por isso resolvi colocar aqui.
Desenho: Riviera (2020), aquarela.
“A flor”
Numa vila distante de tudo, vivia uma bela mulher nascida de um parto soturno e desavisado. Algo diferente permeava a alma daquela pequena e misteriosa fêmea. Num dia primaveril, o avanço das tropas francesas sobre território inimigo descobriu algo que antes era inimaginável na mente daqueles pobres soldados: a pura existência de uma raça supérieur. Algo inconcebível ao caráter humano é achar que existe algo realmente superior a tudo. Principalmente ao humano. Entre outras razões, só se aceita Deus como superior pela sua complexa não-existência. O avanço da tropa foi forçado a uma brusca parada para dominação daquela unidade. Uma mobilização tátil ia ser necessária para o controle daquele bando. Eram em torno de seis pessoas que viviam naquela aldeia. Ogla era a mais surpreendente e bela dentre todos. Único exemplar feminino. Viviam em harmonia, cultivavam os próprios alimentos, sobreviviam das redondezas e nunca faziam contato com os outros animais falantes. Uma única casa servia de moradia-do-sono para aquelas seis pessoas. Era durante a noite que se discutiam os assuntos da aldeia. As decisões eram tomadas em conjunto, escritas e depois colocadas em análise por um período de 6 meses. Mas fazia um certo tempo que aquelas pessoas não viam uma nova alma. A futura decisão era de quem seria o pai. Jagler, Yuri, Naskoievtch, Aldori, Malorvitch. Cinco homens com características distintas e ideologias próximas. A decisão caberia a Ogla que escolheria pelo mais astuto. A emboscada estava sendo armada pelo melhor general convocado diretamente da França. Jornais publicavam a ameaça de uma nova e avassaladora invasão de uma raça supérieur. A sociedade se colocou em alvoroço, todos queriam informações sobre aquela nova união. O estranhamento causado nos soldados pela intensa interação entre seis seres que agiam de forma a formar uma unidade era até compreensível. Aquelas seis pessoas não deveriam conversar, discutir e muito menos analisar as propostas dos outros; apenas um deveria liderar os outros cinco. A humanidade não estava preparada para a solidariedade. Ao longo de duas semanas os soldados ficaram particularizando os movimentos daqueles seres. Não havia, sequer, uma contradição entre os indivíduos. Logo o presidente resolveu reunir o melhor grupo de antropólogos, psicólogos e geógrafos para analisar todo o território e toda alma que ali poderia haver. No cabo de duas semanas Ogla, juntamente com sua irmandade, resolveram dar continuidade à linhagem dos Cívi. O ritual seria consagrado por um ato familiar entre os senhores daquela família. A união seria autorizada pelo ancião e a cópula seria programada para a primeira noite de chuva do período. Quando a água caísse do céu o predecessor estaria autorizado a começar o processo de criação. Ogla era a única fêmea quando sua mãe lhe deu continuidade no parto. A alma daquela mãe foi extendida naquela criança. Na cultura dos Cívi apenas sete pessoas deveriam ser permitidas entre eles, era o número analisado como a melhor forma de se conviver sem o sacrifício da harmonia. No período de um mês os analistas classificaram aqueles indivíduos como uma "ameaça à contenção da ordem". O general resolveu analisar as proposta para a aniquilação daqueles marginais, contudo sem que esses pudessem revidar. Como não havia entendimento de língua, o processo teria que ser rápido e mortal para que não houvessem feridos no lado francês. O mundo já tomara conhecimento daqueles selvagens. Os jornais publicavam "SERES AMEÇAM INVASÃO" com notas sobre o perigo mundial que aquela idéia partilhava. O mundo vivia uma crise de departamentos; setores estratégicos buscavam salvação em meio a uma crise financeira; os índices de suicídios aumentavam; empresas iam fatalmente a uma falência sem explicações e sem controle; a classe média se extinguia. Certo grupo de pessoas analisou aqueles novos seres como um ideal futuro. Vislumbraram uma saída para a crise resumindo-a em uma única palavra, até então extinta do vocabulário. União. A gestação ia ocorrendo bem. Seis meses e o ventre já mostrava sinal de saúde. Os homens desejavam um exemplar feminino. A necessidade de uma outra fêmea entre eles se fazia presente. Mas logo o ancião veio com uma notícia que deixou aquelas cinco pessoas à reflexão: "Serão dois.”. Ogla não podia acreditar que fazia parte de algo tão importante. A gestação de duas crianças no corpo de uma única mulher era algo de extremo orgulho entre os Civis. Entretanto aquela questão suscitava uma dúvida: a ordem dos Civis seria quebrada com a geração de oito indivíduos. Alguém teria que partir. Na primeira oportunidade a questão foi discutida. Não havia o que fazer, teriam que decidir após os nascimentos. Se fossem duas fêmeas sobreviveriam ambas e um dos senhores se retiraria; se entre as duas crianças nascesse um macho esse seria condenado; se fossem dois machos apenas um sobreviveria. O respeito ao conhecimento naquela cultura era muito maior que o amor às pequenas criaturas. As nações acompanharam a história daquela vila por 10 meses. Aquilo era o novo fenômeno publicitário do mundo. Câmeras flagravam aquelas vidas de todos os ângulos sem que eles percebessem. Quando do nascimento de duas pequenas meninas uma especulação sobre o pai surgia. Essa questão foi supostamente respondida quando um dos homens simplesmente desapareceu. Adotaram a autoria daquelas meninas àquele homem que não podia mais ser visto entre os outros. Os antropólogos analisaram a questão dizendo ser um possível ritual do pai se retirar durante o crescimento e amadurecimento das meninas. Entretanto, apesar de toda a distração que aqueles indivíduos causavam no mundo, os presidentes não estavam contentes com a imagem que aqueles seres estavam criando. Havia, agora, uma afeição por eles e não todo o ódio criado anteriormente. Isso teria que mudar ou o mundo correria um novo perigo. Uma ameaça ideológica que destruiria, ainda mais, as bases do sistema mundial. As duas meninas iam crescendo como belas meninas. A honra devotada a elas era enorme. Os ensinamentos eram dados cedo, logo elas aprenderiam o valor de dividir e de socializar. Entretanto algo aconteceu. Os animais falantes começaram a aparecer furtivamente entre eles. Gritavam coisas incompreensíveis. Apontavam galhos de metal e continuavam a gritar. Os senhores correram para um encontro. Um cordão de corpos uniu aquelas sete pessoas. A força das picadas ia desestabilizando aquela união. O líquido vermelho e quente começava a correr por entre a massa de corpos. Logo a força ia diminuindo. Enquanto não passou apenas de uma simples montanha de corpos cobertos de sangue as picadas não paravam. Nem as pequenas meninas foram poupadas. Duas semanas após o caso "Flor" - nome dado pelos opositores da intervenção àquela vila - houveram apenas mais duas passeatas contra a atitude tomada pelo governo francês, cada uma angariando um contingente menor de pessoas. Num prazo de um mês o nome "flor" logo seria lembrado na memória dos humanos como uma simples rosa e não mais um massacre. E onde estaria caminhando o oitavo senhor?
2 notes
·
View notes
Text
WHO KILLED SAMGREYBACK
Isso aqui é uma atualização de status/pedido de desculpas/satisfação que eu acho que devo pra uns e outros. E enquanto escrevo isso aqui eu estou bem mentalmente estável, muito obrigada. Então, eu tenho pensado muito sobre como a minha saúde mental afeta as pessoas do meu círculo de convivência, e achei que seria justo deixar essa declaração fixada aqui por eles, porque eu não tenho mais boa vontade pra ter esse tipo de conversa em particular.
Eu tenho 25 anos, e eu convivo com essa coisa que eu vou chamar de “cachorro preto” há mais anos do que eu consigo me lembrar (e memória não é mesmo meu forte). Eu não vou chamar de depressão, e não vou chamar de ansiedade, porque por mais que “psicólogos e remédios” não sejam uma coisa inédita na minha vida, eu nunca diagnostiquei isso direito. Mas vamos frisar isso aqui: eu já tentei as duas coisas, e por razões externas não funcionou pra mim. Então é só não me sugerir isso, que eu não vou me estressar com você e te achar um boçal. Isso aqui hoje não é sobre o papel da minha família dentro do meu quadro, não é sobre ninguém. Sou só eu tentando humildemente me explicar e me desculpar com algumas pessoas que são queridas pra mim, porque eu sei o quão insensível e desinteressada eu pareço, e eu suponho que isso machuque ou, no mínimo, ofenda.
Eu já fui uma dessas pessoas que tende a invalidar a questão da saúde mental de outros, especialmente se a pessoa é muito nova, tem uma “vida boa”, ou não foi devidamente diagnosticada ainda. E o conselho que eu tenho pra hoje é: não seja esse tipo de cuzão. Sim, talvez aquela pessoa não tenha depressão mesmo, talvez seja só uma fase ruim, mas nunca é nada. Eu percebi na prática que não existe essa história de “as pessoas romantizam o sofrimento”. Todo sofrimento é sofrimento. Umas pessoas lidam melhor com certas situações do que outras, mas e daí? A gente sabe quando tem alguma coisa errada acontecendo com a gente. A gente sente isso, porque doença mental tem sintomas como qualquer outra doença, e porque a gente se conhece e percebe a mudança gradativa. E a versão de mim que ficou pra trás, a que tinha um trabalho, e objetivos, e namorava, e saía nos fins de semana; ela sentiu o “cachorro preto” por perto quando ele ainda era um filhotinho de nada. Não paralisava a vida dela, mas incomodava, porque não era pra ele estar ali. E sabe, eu passei bons anos da minha vida falando pras pessoas próximas de mim que tinha alguma coisa acontecendo comigo, que eu não conseguia evitar, e não sabia direito o que fazer. E eu ouvia coisas do tipo “você não tem nada”, “ah, mas o fulano tá pior”, “sua vida é muito boa”, e eu fui percebendo que falar disso incomodava as pessoas e fazia eu parecer uma preguiçosa, ingrata, afastada de deus e cheia de autopiedade. Parei de falar e aprendi a ignorar. E isso fez a droga do “cachorro preto” crescer e me consumir, e agora ele é grande e pesado demais pra eu me livrar dele. E às vezes eu penso em como teria sido se alguém tivesse me levado a sério lá atrás, e me feito procurar ajuda quando eu tinha condições. Mas não era responsabilidade de ninguém fazer isso, e ninguém fez, e eu entendo. O fato é que eu pisquei e percebi que tô há anos presa nesse estado mental que todo mundo jurou pra mim que era só uma fase e que ia passar.
Tudo é exaustivo, aterrorizante e sem sentido agora. Eu não como direito, eu não durmo direito, e eu não consigo fazer a minha mente funcionar direito e se concentrar nas coisas porque eu tô sempre exausta e fraca. E os dias são todos iguais, não porque é uma rotina, mas porque eu tô paralisada, trancada no quarto onde eu posso evitar qualquer tipo de interação com o mundo (e isso inclui as virtuais) e onde nada acontece. E eu fico aqui com todos esses livros que eu não consigo ler, e essas coisas que eu não consigo assistir, e essas mensagens que não param de chegar e que eu não consigo criar forças pra responder. Eu fico aqui sendo a escritora que não escreve, a desenhista que não desenha, dependendo de umas boas horas de preparação mental e “convencimento” pra ir pra casa dos amigos uma vez a cada 15 ou 20 dias, porque isso é o mais próximo que eu consigo ter de uma interação social, já que o meu cérebro não para de criar todo tipo de situações onde as coisas podem dar errado. E é surpreendente como o próprio “cachorro preto” faz de você um exímio mentiroso, muito bom em operar no modo [sorrisão genuíno] “tudo vai bem, obrigada” [/sorrisão genuíno]. Porque é mais fácil quando ninguém faz perguntas ou aparece com soluções mágicas. Porque não, não dá pra pensar em arrumar emprego, sair pra fazer exercícios, estudar pro concurso tal, e mudar de cidade, quando você não consegue cogitar sair da sua casa pra ir no supermercado ou fazer uma recarga no seu celular inutilizado antes que a operadora cancele seu número pela quarta vez. Não da pra rezar e fazer simpatia pra nenhum deus ou entidade depois que você descobre que não existe nenhuma além de você mesmo, e que no momento não dá pra contar com a ajuda da sua deusa interior. Não da pra pensar em entrar num relacionamento quando você não consegue amar as coisas, nem sentir saudade, nem se importar, e nada te faz feliz de qualquer jeito; porque a) quando a sua mente não tá saudável, você tende a atrair pessoas ruins e b) se acontecer de atrair uma pessoa boa, você não conseguir manter ela ou pior: vai acabar sugando até a última gota de energia que ela tiver. Não da pra assumir compromissos, não da pra cantar, escrever e desenhar pra vocês, porque eu não consigo nenhum tipo de satisfação fazendo essas coisas, e elas já não vem naturalmente pra mim. Exige muita energia pra alcançar um resultado medíocre. Exige muita energia me meter numa situação nova e fazer parecer que eu tô confortável com ela, quando na verdade eu tô afogada até a cabeça nesse mar de vergonha e vazio, com uma voz irritante apontando exaustivamente todas as razões pelas quais eu sou descartável. É triste, mas as palavras gentis que alguns de vocês me dedicam no inbox tem um efeito anestésico muito curto, quando tem algum efeito. Mas eu reconheço o valor delas, e o quanto vocês se importam e se preocupam e muitas vezes sofrem junto comigo. E por isso eu agradeço de todo coração. Por não desistirem de mim, mesmo que eu já tenha abraçado de vez o “cachorro preto”. Por continuarem mandando mensagens sem uma probabilidade de que eu vou ao menos chegar a ler nos próximos meses, e essas pequenas grandes coisas que vocês fazem por mim o tempo todo. Eu odeio fazer vocês se sentirem negligenciados, e eu não mereço vocês, mas eu amo vocês tanto quanto alguém na minha posição consegue amar. E a outra parcela de amigos, os que nunca falam sobre isso, vocês fazem meu dia cada vez que não falam sobre isso. Eu amo e sou grata por esses momentos onde eu vivo como se o “cachorro preto” não tivesse minha garganta trancada na mandíbula dele. Podem acreditar, eu sei que não tá fácil pra vocês, e que é muito fácil cair na tentação de pensar que isso seria resolvido se eu quisesse, se eu tivesse força de vontade, e que é ridículo que eu não veja a praticidade das soluções simples que vocês me apontam. Eu sei que vocês só querem me ver bem logo. Eu suponho que seja o que a minha família quer também, por mais diferente que seja a visão que eles tem sobre como eu poderia alcançar isso.
Eu tenho tentado muito sobreviver um dia após o outro, me obrigando a sair da cama, e sei que isso é quase nada, mas é o melhor que eu posso fazer agora. Eu tenho tentado manter minha cabeça ocupada pra não pensar nas coisas que eu fiz ou deixei de fazer, e em como seria bom pra todo mundo se isso encerrasse logo. Mas é uma tarefa muito ingrata, quando você não consegue ver mérito nenhum em nada do que você faz ou do que você é. Reforça a ideia de que não vale o esforço. Eu sou uma casa assombrada, e, no fim do dia, o meu velho inimigo “cachorro preto” é a minha única companhia. Então desculpem por eu não fazer nenhum esforço pra mandar ele embora, mas eu não sei o que iria sobrar de mim caso ele resolvesse desaparecer. Eu aprendi uma ou duas coisas com ele e, nos dias em que a falta de empatia das pessoas que eu amo fica mais evidente, é bom que ele esteja por perto pra devorar minha capacidade de sentir as coisas.
5 notes
·
View notes
Text
4/5/19
Oi, oi? Oi parece a melhor maneira de começar, é uma saudação, não é tão formal quanto “Olá” e é como eu quero que comece. Oi, tudo bem? Comigo tá bem, mas é comigo mesmo? Eu me chamo Bruno ou pelo menos por enquanto. Tudo começou quando eu comecei a prestar atenção nos meus amigos, eles falavam “Nossa você vira outra pessoa”. Por um longo período eu acreditei que sofria de amnésia alcoólica e ficar chato durante o porre, mas uma peça na minha cabeça não encaixava “Por que durante esses períodos eu me apresento como outro pessoa? Eu mudo meu jeito, meus trejeitos, minha voz, minha vida....será que meu cérebro chegou num nível de tirar onda com a cara dos outros tão grande que eu nem lembro que tirei ou o que eu fiz?”. Eu escrevi inúmeros e-mails de desculpa, eu pedi desculpas cara a cara, eu antes mesmo de encontrar alguém já pedia desculpas por algo que poderia acontecer, precavido, ansioso e todos os mimimis. Eu lembro exatamente quando eu resolvi procurar ajuda, eu estava no telefone com uma amiga e ela me falou algo como “Eu queria te contar ontem, mas você não tava ouvindo, você tava com uma voz de criança e se recusava conversar comigo” e eu falei “O QUEEEEE?””” Eu simplesmente não lembrava, pra mim eu estava sentado na mesa com ela e depois dentro de um taxi indo embora. Assim como uma vez eu “acordei” e um paquera meu estava transando comigo sem eu estar em plena “consciência, mente, alma, cérebro e afins” do meu corpo, mas ele jura que eu estava e eu juro que eu não lembro. As minhas primeiras visitas aos médicos psiquiatras e psicólogos foram todas muito levianas (? levianas?), era humor oscilante ou depressão aguda ou bipolar/borderline. Levando em consideração o meu foco que sempre foi um dos meus maiores problemas, eu brinco que na escola meu maior inimigo era o ventilador, eu estava prestando atenção na aula e quando ligava o ventilador minha mente desligava e prestava atenção só no barulho dele e juntando ao meu terror noturno por acreditar que durante anos um homem parecido com o Rasputin da história da Anastasia (Que não é ficção, é real) me visitava toda noite no meu quarto, começaram o meu tratamento com estimulantes para foco, alguma coisa para humor e calmantes para a noite. Foram 4 anos passando de médico em médico, sendo analisado e até alguns que eu nem lembro mas saí com várias receitas...aparentemente eu tinha todos os problemas do mundo nas costas. Eu fui levando, relatando os problemas, falando dos meus lapsos de memória, falando que outros falavam que “de repente você não era mais o Bruno” e preparados ou não, eu resolvi me preparar. Eu pesquisei sobre esquecer a minha identidade e me apresentar como outra e encontrei casos parecidos, uma série tremendamente ótima com a Toni Collette que me fez chorar muito no episódio onde outra identidade dela aborta um filho que nunca existiu, mas pra identidade dela no momento existia. Esse episódio me faz chorar até hoje, a série chama “United States of Tara” e retrata uma família americana comum, tirando o fato da mãe sofrer de um transtorno que no inglês DID - dissociative identity disorder e no português TDI - transtorno dissociativo de identidade. Mas que raios é isso? É não ter personalidade própria? É como infelizmente o Shyamalan (um dos meus diretores favoritos) mostra no filme “Fragmentado” e “Vidro”, eu vou virar um monstro? Eu vou sequestrar pessoas? Não, não é isso, eu não sei o que é, mas entendo como um mecanismo de defesa do meu cérebro pra lidar com situações que eu Bruno não quero/não consigo/não tenho ou tenho medo de lidar por várias razões: ser bundão, ter sofrido abusos sexuais, violência doméstica, falta de proteção, omissão e todo tipo de coisa que meu cérebro ou mente ou consciência ou sei lá o que foi fragmentando mesmo (por que não?) e criando outras identidades pra lidar com todas essas situações que eu Bruno não consigo e/ou não conseguia. Uma vez explicado vamos lá, os médicos começaram a perceber isso e principalmente quando minha mãe entrava junto nas sessões “Muitas vezes ele muda, ele não me chama de mãe, ele me chama de Gloriete que é o meu nome”. Boom, foi o suficiente pra me diagnosticarem com transtorno dissociativo de identidade que eu já sabia que tinha porque já tinha estudado o assunto. Comecei um tratamento diferente então com dois especialistas na área ou que estão se especializando ou como eu tentando entender o que acontece e o porquê acontece. Até agora 6 personalidades foram confirmadas: - Renan, seria o manda chuva, o que fala verdades na cara, dono de comentários ácidos e o que as pessoas geralmente acham “um pouco muito rude na sua colocação”. O que não tem medo de falar o quanto os outros me abusam ou exploram por eu não ter capacidade de fazer isso com minha própria identidade. - Giulinho, o pintorzinho de pinhas, uma criança de 3 anos que fala “Não” pra tudo que não quer fazer e carente. - Jen, que se irrita quando é chamada de Jane, Jen é Jen , só Jen, não Jane...não tem Jane, é Jen ok? E amo o senso estético do Bruno, mas odeio o fato que ele entrou na piada da coca-cola, eu cabia em todas as roupas, eu nunca liguei pro corpo ou pro rosto ou pro gênero, mas ficar deslumbrante, vestir algo e me olhar no espelho e pensar “””EU SOU EU POSSO””” hahahahahahaha, tudo essa conversalhada porque hoje a gente foi comprar os remédios e ai eu queria um esmalte porque amanhã tenho uma festa e na hora de assinar o Bruno voltou porque eu não ia falsificar assinatura dele, apesar de ser canhota e ai a mulher que tava ajudando foi mostrar os esmaltes e o Bruno não entendeu nada, chegou em casa e eu fui pintar minhas unhas e a Gloriete ficou brava porque ela tá controlando os remédios dele e eu só quero pintar minhas unhas em paz !!!! Peace out, agora eu que to aqui e eu que vou pintar minhas unhas, depois ele conta o restinho da histórinha pra vocês tá fofuxinhos!!!! Peace out!!
3 notes
·
View notes
Text
UM PROBLEMA DE PALAVRAS CRUZADAS
levou Francisco Corvo a consultar a Enzyklopadie Brockhaus edição de 1966 e repensar. Vejam só – repensar – sua condição de barata-tcheco-fleumática. Contou nove letras e preencheu a coluna horizontal: D-Y-N-A-S-T-I-N-A-E. Francisco Corvo, o que não é de surpreender, podia ser encontrado à escrivaninha resolvendo palavras-cruzadas e reescrevendo pilhas de cartas para pessoas que ele desejava reencontrar. Ao terminá-las, as cartas, antes da próxima reescrita, recostava na cadeira, e suspirava seu usual suspiro de baratona cansada. O tal problema de palavras-cruzadas àquela manhã fê-lo descobrir na breve leitura amparando a grande cabeça blattodea sobre a estante atrás de si, que o primo de classe insecta era capaz de erguer oitocentos e cinquenta vezes seu próprio peso. Ainda assim, o que intrigava o homem-inseto não era o fato de não poder ser como um besouro-rinoceronte, e sim, a leitura da noite passada. Uma paixão. Uma leitura sobre a paixão – Do que estamos falamos quando falamos de paixão. Embora o título não fosse este ou abre parênteses o Monstro Sagrado que comeu a barata esmagada pela porta do guarda-roupa no quarto da empregada fecha parênteses. Kafka ou Kauka como o jovem repórter que o entrevistaria ainda àquela tarde escreveria na margem da caderneta de notas, ao receber de bom grado o nome pelo qual o tipo-inseto-de-chapéu-e-casaca recusava-se a responder quando assim dirigiam-se a ele. E neste caso tanto por não compreender o que dissera o homem-inseto ao se apresentar, quanto por acreditar no fato de aquele ser um nome apropriado para uma coisa tão estranha. Desejava o destino da barata daquela história, sabia que nada seria mais justo e consagrador que ser devorado pela paixão de uma mulher que estava num corpo de mulher e que crescia para dentro de si mesma a partir do horizonte. Sonhava com ela metendo os lábios por entre as extremidades de uma janela. Os lábios pintados por camadas grossas de batom e ao retraí-los, enormes peixes vermelhos caíam batendo molhados contra o soalho de madeira. Era este o sonho de todas as noites. A anotação feita a lápis no alto da página da caderneta de notas, por sua vez, assim como parte dos acontecimentos desta história, seria esquecida numa primeira gaveta.
Francisco Corvo, na verdade não sabia como suportar o peso da incerteza de despertar transformado no inimaginável. Muito embora suportasse e preferisse não falar a respeito. Entre as cascas de laranja, canetas tinteiro e migalhas das mais variadas, que coalhavam a escrivaninha, havia uma verdade que ele reconhecia. E era essa verdade reconhecida e desafiada de frente, a responsável, por fazê-lo levantar-se e ir até o telhado, pesada e zelosamente, subindo as escadas, para contemplar a cidade do alto. E fazia isso por horas a fio.
A grande barata na qual havia se transformado, e cujo destino lhe incumbira de encarar todos os dias de sua vida, ali de pé, nu para o espelho de uma cidade ainda mais velha, mesmo que estar nu fosse diferente para um inseto (assim ele passava as manhãs, recordando à tarde de seu enterro. Ou suposto enterro, ou enterro simbólico. Porque ali morrera o jovem e taciturno – Frantisek Kafka –, era o que queria que as pessoas acreditassem. Numa quarta-feira ((11 de junho de 1924)) e como se uma força incompreensível lhe arrastasse para um sono inquieto, parecia insensato, depois de tanto esforço não aceitar que a realidade. Sua realidade – a realidade – de um sujeito que havia acordado sob o destino de uma criatura que a cada manhã deixava coisas para trás. Para o destino que havia recebido... Para o cosmos. Lembrava-se da Cidade Velha, de toda a multidão voltando-se para o relógio da prefeitura que parara às quatro horas, hora de sua morte.) concentrava atenção a cada uma das lembranças que ainda mantinha viva na memória.
Por alguma razão havia instantes de remorso nos quais o velho Francisco Corvo desejava uma vez mais estar na presença dos amores e acima de tudo do amor, embora impossível, de Milena Jasenká. Em larga medida porque a desejava, e esse desejo fazendo-o sentir-se dentro de um vazio enganoso, dava-lhe a impressão, de em cada lembrança, ter o corpo em queda livre. As muitas noites nas quais se imaginava na companhia de Milena Jasenká, cuja única certeza era a de que dali a pouco ela sorriria e o faria sorrir, e com um riso quente se sentaria em frente a ele, do outro lado da mesa e olharia dentro de seus olhos. Que era como celebravam os bons momentos. Contudo, “Bom dia, tristeza” era o que a grande-barata-tcheco-fleumática dizia a si mesma. Milena Jasenká agora uma lembrança, perdia a nitidez. Tanto tempo havia se passado... E o velho homem-inseto estava ali. Vivo, ou vivendo, “ando vivendo, assim, como se vive”, deste modo respondia as últimas cartas do amigo e cúmplice Johannes Urzidil; tão fraco e tão distante do jovem que o ajudara há tanto tempo e que hoje era um fantasma em Praga. Johannes peça importante para tramar sua morte e desaparecimento após o fatídico despertar, e embora tenha concordado sem tampouco hesitar. Ele Franz Kafka. Não saberia ao certo explicar as razões para as coisas que fez após deixar a casa do pai, isto é claro, se lhe fosse diretamente perguntado.
Desejava acima de tudo, mesmo este tudo não incluindo o fato de servir, em seus sonhos, como efeito catártico para um Monstro Sagrado. Desejava ainda despertar na longínqua manhã de sonhos intranquilos. Despertar uma segunda,
terceira ou quarta vez. Desejava ter a forma de qualquer outra coisa, e dizia isso imaginando que qualquer outra coisa seria melhor que aquilo no que tinha se habituado a ser. Na ocasião, passara aproximadamente doze horas observando a cidade, erigindo uma lista mental, do alto do telhado de sua antiga residência. O vento puxando as fraldas de sua casaca, havia sido a primeira vez que voara com suas translúcidas asas de baratona destemida. Era ainda mais destemido agora... “Baratas vivem algum tempo sem a cabeça��, disse ele numa conversa com Johannes Urzidil. E o amigo receoso inquiriu se ele estava pensando em comprovar aquilo na prática. Kafka desconversou e expôs suas listas. Listas mentais. A situação é a seguinte, pensou ele – lembrava-se do primeiro item da lista, o primeiro item da primeira lista, não fora difícil. Era inegável que tudo, absolutamente tudo seria diferente. O primeiro da primeira lista era seu pai. Hermann Kafka.
Se houvesse uma segunda chance, e aquele pesadelo o fizesse naquela mesma manhã acordar reconhecendo ao olhar-se no espelho, a cara redonda e os olhinhos miúdos de seu pai. O ainda jovem Kafka imaginou contente que seria bem mais proveitoso do que acordar como uma barata gigante e ter de se acostumar à escuridão de sótãos, barris e vagões, estes últimos constantemente frios e úmidos. Como seria acordar à imagem e semelhança de uma grande ave oceânica? Voaria sobre as zonas meridionais dos oceanos Pacífico e Atlântico, e nunca mais seria visto se assim fosse. Ou então... Se voltasse a adormecer, e despertasse com as dimensões de um país, 8.516.000 km² e sob si, seu corpo-terra... pau-de-tinta crescesse livre e de seu interior, o vermelho, como premonição, contasse uma história de osso, carne, sangue e colonização. Ou ainda... Uma onipotente locomotiva a atravessar vales e montanhas. Partiria para todo o sempre, e seria ainda mais nobre se fosse uma daqueles tenebrosos trens de Treblinka, e sem pensar duas vezes, desapareceria a todo velocidade. Até não ouvir rumor a respeito do que aconteciam às pessoas naqueles campos de trabalho (que mais tarde descobriríamos ser o inferno na Terra, escolha nobre, sem dúvida). Quem sabe se tivesse acordado na forma do destino... Do destino de um homem. A história se anteciparia, e seria contada assim. Observe:
É quase o fim do mundo, ou o começo, os metais vibram com uma intensidade extraordinária. A agulha arranha a superfície espelhada do disco, a música inunda a sala, é O Holandês Voador, de Wilhelm Richard Wagner. São mais ou menos de uma tarde no qual o céu parece queimar nas bordas; 15 horas 23 minutos e 12 segundos do dia 30 de abril de 1945; passado. Há uma pressão terrível no ar, e os restos do que um dia fora um homem permanece do outro lado da porta. Ele fecha os olhos com força quando os metais tornam a vibrar com a mesma intensidade apocalíptica da lembrança que evoca naquele instante, em um invariável gesto de queda sente o fio vergonhoso da derrota... Enrolar-se dentro de si. Plenitude e dilaceramento ensaiam o ato de puxar o gatilho, sabe que no instante em que pressioná-lo, o cano e o cursor recuarão e a explosão se expandirá para dentro de seu crânio e o projétil avançará a uma velocidade de 255 metros por segundo no que seus inimigos, algum dia chamarão de spiral victorieuse.
E então, se ouvirá falar confusamente por trás da porta, mas ele não saberá nada a respeito do que dirão ou farão, pois o cursor já terá sido impulsionado por sobre o martelo, engatilhando-o e arremessando-o contra a culatra e a mancha na parede oposta seria vermelha... Vermelha, pois o sangue do Füher é vermelho, tão vermelho quanto a bandeira dos ideologicamente degenerados, tão vermelho quanto o sangue das crianças envenenadas durante o sono, pela própria mãe, tão vermelho quanto o interior dos corpos, que se abertos num único golpe, de cima a baixo, por uma hélice que se solta acidentalmente do bico do avião do comandante Tifão, filho disforme da Terra e do Tártaro, alguém se preocupará em dizer, o interior daqueles corpos agasalhados e separados do frio da tarde por metros de concreto, exalariam vapores exibindo as entranhas e o tom que se encerra e que só vemos livremente durante bocejos e gargalhadas, todo o resto são sugestões, memória e imaginação. Imagine que todos aqueles que reunidos no corredor, do outro lado da porta, acendem cigarros, após ouvirem o disparo da Walter PPK. E depois, muito tempo depois, alguém, talvez a datilografa escolhida na noite passada por ele, pessoalmente, ou um dos jovens oficiais sem expressão, também de nome Adolf, abrirá a porta da antessala e em seguida ainda hesitante, pois a música que toca é aterradora. Ela, ou ele, ela... Digamos que ela, com o ouvido contra a madeira escura da porta que dá acesso ao aposento no qual o Füher e a esposa decidiram por fim às próprias vidas, compreenderá que tudo está acabado. Ele fizera aquilo, o Füher fizera aquilo... E segundo o que ela ouvira dos oficiais que discutiam, tomando decisões importantes, não mais em voz baixa, que fora escolha dele, do Füher, tirar a própria vida, e depois ser levado para fora e ter o corpo queimado em uma cova entre as árvores. Sob o som dos motores dos aviões inimigos. E o que resta, por via de toda dúvida, é consequência e futuro.
1 note
·
View note
Text
Não pare agora, apenas siga
youtube
Hoje senti que precisava escrever sobre como tem sido o meu semestre. Tem sido desafiador e, por vezes, eu fiquei pistola. Ao mesmo tempo que sinto que posso desenvolver pautas incríveis, com temas mais que necessários a serem abordados, eu também penso em desistir. Sinto, muitas vezes, como se eu tivesse remando sozinha em uma direção oposta ao grupo do barco. Tem horas que realmente pensei em parar de remar e apenas seguir a onda, mas foi nesse momento que minha amiga disse: “essa não é garota que eu conheço. Você não quer desistir, está apenas triste porque sabe que pode ir mais longe com o barco, que pode melhorar seu modo de remar e vencer os obstáculos. Você sempre sonhou e acima de tudo, sempre acreditou. Você não quer e não pode parar, porque você quer ir mais longe, você quer alcançar o mar. Não pare agora, apenas siga, eu vou estar aqui”. Ela não disse exatamente essas palavras, mas a essência foi a mesma. Ela me lembrou quem eu realmente sou.
As palavras delas foram o que eu precisava para continuar, pois naquele momento eu vi a garotinha que existe em mim. A garotinha que sonha com o mundo, apesar de saber que talvez não o conheça, que desde sempre lutou através dos estudos para realizar os seus desejos. Sim, eu quero viajar o mundo, escrever um livro, tirar e gravar os lugares que eu conhecer, quero desenvolver projetos incríveis. Se vou realizar tudo isso, não sei, mas não posso nunca desistir dos meus sonhos, pois são eles uma das razões do meu viver. Talvez eu sonhe alto demais, é verdade, mas lembro de um dia ter lido em jornal, quando era criança, ‘se for sonhar, sonhe alto’. Desde aquele dia, só tive certeza que não existem limites para sonhar, basta acreditar e confiar.
Hoje eu estou cursando uma faculdade federal, o que parecia ser impossível para mim. Por vezes, eu não acredito que estou realizando e vivendo um sonho, que por muitos anos eu sonhei. Estou no quarto semestre, o curso escolhido cada dia demonstra que eu não poderia ter feito uma escolha melhor. O jornalismo me realiza, permite-me pesquisar e conhecer tantas histórias. Descobri o quanto eu amo escrever, o quanto consigo expressar em cada linha a minha essência. Que eu amo retratar o que está acontecendo à minha volta, através de fotos. E tenho certeza que eu não posso parar, depois de ter escrito roteiros e ter percebido o quanto o isso pode ser interessante. Se eu tivesse desistido, não saberia esse lado e nem o quanto que posso conseguir se eu apenas seguir me dedicando.
A vida sempre guarda boas surpresas depois das grandes ondas. Eu já passei por algumas, agora eu percebo o quanto de caminho eu já trilhei. Foram muitas alegrias, risadas, lágrimas, medo, insegurança, incerteza, mas por mais que eu excitasse jamais parei de caminhar, porque o maior medo é parar e não voltar mais a seguir o horizonte que eu deslumbro. A garotinha também sente medo, mas ela continua com medo pelo caminho, porque num momento ela percebe o quanto é forte. A coragem sempre nos acompanha pelo caminho, mas às vezes, não a percebemos. Eu não vou parar, porque eu não deixei ainda de sonhar. Os meus sonhos continuam aqui, cada vez mais fortes e vivos. Espero um dia escrever meus pensamentos dentro de um avião, num café de Paris, no Central Park ou mesmo em algum café da Coreia ou apreciando as belezas das paisagens italianas. Se eu não conseguir, tudo bem, desde que eu tenha certeza que sempre remei contra a onda que insiste em me fazer desistir e simplesmente quer que a acompanhe.
Se um dia eu estiver em algum desses lugares, provavelmente devo estar escrevendo em meu projeto de livro. Para quem não sabe, um sonho e desejo que eu tenho é desenvolver um projeto de livro sobre cultura ao redor do mundo. No qual pretendo escrever sobre as diferentes culturas, com direitos a fotos e relatos de vivências de cidadãos. Espero que esse projeto se torne realidade, pois será uma experiência maravilhosa em minha vida, além de contribuir para meu crescimento pessoal.
E claro que enquanto escrevo, estou ouvindo o Coldplay, simplesmente ouvir eles e escrever me acalmam. Mais um dos meus hábitos estranhos. Será que Chris Martin me concederia uma entrevista? Hahahah. O vídeo da Champion of the world, que eu olhei essa semana, é lindo, até caiu um cisco no olho. Então não esqueça, ouça Coldplay:)
P.S. escrevi isso no semestre passado, algumas coisas mudaram e outras não, mas não esqueça: escute Coldplay ;)
0 notes
Text
Dia do Livro: 5 livros inspirados em contos famosos
Nesta sexta-feira (23/4), é celebrado o Dia do Livro e quem não ama aquelas histórias antigas que continuam sendo adaptadas e recontadas de diferentes formas? Por isso, a CAPRICHO resolveu separar livros que foram inspirados em contos famosos e que já conquistaram nossos corações. Confira:
Relacionadas
EntretenimentoClube do Livro: o Guia da Garota Confiante vai inspirar coragem em você!17 abr 2021 – 10h04
Comportamento7 razões para você começar já a ler antes de dormir11 abr 2021 – 10h04
EntretenimentoTeste: Monte sua playlist e te indicaremos um livro11 abr 2021 – 10h04
Sombria e solitária maldição, Brigid Kemmerer
O livro é um reconto da famosa história de A Bela e a Fera. Envolvendo um príncipe e uma maldição, você vai se apaixonar pela narrativa de Brigid Kemmerer. Compre aqui.
Sinopse: O reino de Emberfall está sob ameaça. Amaldiçoado por uma poderosa feiticeira, o príncipe Rhen foi condenado a repetir seu aniversário de dezoito anos por sucessivos outonos. E, com a chegada desta estação, ele se transforma num monstro que destrói tudo e todos que cruzam seu caminho. A maldição só será quebrada se uma garota se apaixonar por ele. A vida de Harper nunca foi fácil. A garota nasceu com uma restrição de movimento causada por uma paralisia cerebral. O pai da jovem abandonou a família há muito tempo, e sua mãe está morrendo. Além disso, seu irmão assumiu as dívidas do pai e está envolvido com gente barra-pesada. Porém, um dia, ela tenta salvar uma desconhecida nas ruas de Washington DC e é atraída para um reino encantado. Harper não sabe onde está ou em que acreditar. Um príncipe? Uma maldição? Um monstro? Mas, quanto mais ela convive com Rhen nessa terra amaldiçoada, mais ela compreende o que está em jogo. Ao mesmo tempo, o príncipe percebe que Harper não é só mais uma garota – ela é sua única esperança. Entretanto, forças poderosas se erguem contra Emberfall e será necessário mais do que uma maldição quebrada para salvar Harper, Rhen e seu povo da ruína total.
Cinder, Marissa Meyer
Outro livro de Marissa Meyer que é relacionado com um famoso conto, desta vez envolvendo Cinderela! As Crônicas Lunares são a famosa série da autora que criam um novo universo incrível! Compre aqui.
Sinopse: Num mundo dividido entre humanos e ciborgues, “Cinder” é uma cidadã de segunda classe. Com um passado misterioso, esta princesa criada como gata borralheira vive humilhada pela sua madrasta e é considerada culpada pela doença de sua meia-irmã. Mas quando seu caminho se cruza com o do charmoso príncipe Kai, ela acaba se vendo no meio de uma batalha intergaláctica, e de um romance proibido, neste misto de conto de fadas com ficção distópica. Primeiro volume da série As Crônicas Lunares, Cinder une elementos clássicos e ação eletrizante, num universo futurístico primorosamente construído.
Capa de Sombria e Solitária Maldição e CinderAmazon/Reprodução
Sem Coração, Marissa Meyer
Se você curte Alice no País das Maravilhas e quer uma outra perspectiva da vilã da história, prepare-se para descobrir mais sobre o passado da Rainha de Copas em Sem Coração! Compre aqui.
Continua após a publicidade
Sinopse: Um dos principais nomes no concorrido segmento de literatura jovem atual, Marissa Meyer recria o passado da famosa Rainha de Copas, personagem do clássico Alice no País das Maravilhas, no aguardado lançamento Sem coração. Conhecida pela série Crônicas Lunares, na qual reconta tradicionais contos de fadas como Cinderela e Branca de Neve com uma abordagem futurista e inusitada, Marissa Meyer alcançou o topo da lista dos mais vendidos do The New York Times com Sem coração, e a preferência dos leitores com suas tramas de ritmo ágil e final surpreendente. Com uma narrativa cinematográfica, Meyer oferece uma visão do País das Maravilhas diferente de qualquer outra já imaginada até aqui ao contar a história de Catherine, garota cheia de personalidade que sonhava ser uma confeiteira famosa e só queria viver seu primeiro amor, mas que diante dos golpes do destino acabou se tornando a temida Rainha de Copas.
Garotas de Neve e Vidro, Melissa Bashardoust
Um reconto da famosa história da Branca de Neve. Conheça e se apaixone pelos personagens de Garotas de Neve e Vidro, de Melissa Bashardoust! Compre aqui.
Sinopse: Mina é filha de um mago cruel e sua mãe está morta. Aos dezesseis anos, seu coração nunca bateu por ninguém – na verdade, ele jamais pulsou de forma alguma, e Mina sempre achou esse silêncio normal. Ela nunca suspeitou que o pai arrancara seu coração e, no lugar, colocara outro de vidro. Então, quando Mina chega ao castelo de Primavera Branca e vê o rei pela primeira vez, ela cria um plano: conquistá-lo, tornar-se rainha e finalmente conhecer o amor. A única desvantagem desse plano, ao que tudo indica, é que ela se tornará madrasta. Lynet tem quinze anos e é a imagem de sua falecida mãe. Um dia, descobre que um mago a criou à semelhança da rainha morta, a partir da neve. No entanto, Lynet preferiria ser forte e majestosa como sua madrasta, Mina. E realiza seu desejo quando o pai a torna rainha dos territórios do sul, tomando assim o lugar de Mina. A madrasta, então, começa a olhar para a enteada com algo que se assemelha ao ódio, e Lynet precisa decidir o que fazer – e quem quer ser – para ter de volta a única mãe que de fato conheceu… ou simplesmente derrotar Mina. Garotas de neve e vidro traça a relação de duas mulheres fadadas a serem rivais desde o princípio – a não ser que redescubram a si mesmas e deem novo significado à história que lhes foi imposta. Este aclamado reconto feminista de Branca de Neve nos leva a um mundo singelo e, ao mesmo tempo, maravilhoso. Uma poderosa releitura para mantê-lo sempre atual e presente.
Capas de Sem Coração, Garotas de Neve e Vidro e JulietaAmazon/Reprodução
Julieta, Anne Fortier
O livro de Anne Fortier conta com elementos da história de Romeo e Julieta, porém com novas abordagens e dois finais completamente diferentes daquele que já é conhecido pelo público! Compre aqui.
Sinopse: Julie Jacobs e sua irmã gêmea, Janice, nasceram em Siena, mas, desde que seus pais morreram, foram criadas nos Estados Unidos por sua tia-avó Rose. Quando Rose morre, deixa a casa para Janice. Para Julie restam apenas uma carta e uma revelação surpreendente: seu verdadeiro nome é Giulietta Tolomei. A carta diz que sua mãe havia descoberto um tesouro familiar muito antigo e misterioso. Intrigada, Julie parte para Siena. Mas tudo o que a mãe deixou foram papéis velhos – um caderno com diversos esboços de uma única escultura, uma antiga edição de Romeu e Julieta e o velho diário de um famoso pintor italiano, Maestro Ambrogio. O diário conta uma história trágica: há mais de 600 anos, dois jovens amantes, Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti, morreram vítimas do ódio irreconciliável entre os Tolomei e os Salimbeni. Desde então, uma terrível maldição persegue as duas famílias. E, levando-se em conta sua linhagem e seu nome de batismo, Julie provavelmente é a próxima vítima. Tentando quebrar a maldição, ela começa a explorar a cidade. À medida que se aproxima da verdade, sua vida corre cada vez mais perigo.
Já atualizou a TBR?
Mais lidas
ComportamentoComportamentoHoróscopo do dia: a previsão para os signos hoje, sexta-feira (23/4)
ModaModa8 looks estilosos da Mel Maia com short para se inspirar
EntretenimentoEntretenimentoTatá Werneck se irrita com meme usando foto da filha: “Isso é escroto”
ComportamentoComportamentoHoróscopo do dia: a previsão para os signos hoje, quinta-feira (22/4)
Leia mais
EntretenimentoEntretenimentoReelers CH: Andressa Fontinele ensina como gravar vídeos com patins!
EntretenimentoEntretenimentoAriana Grande dá toque especial em remix de Save Your Tears, de The Weeknd
EntretenimentoEntretenimentoCardi B dá o melhor conselho para Olivia Rodrigo
EntretenimentoEntretenimentoBTS é escolhido como novo embaixador global da Louis Vuitton
Continua após a publicidade
The post Dia do Livro: 5 livros inspirados em contos famosos first appeared on Portal O.S News. from WordPress https://ift.tt/3sNp7r2 via IFTTT
0 notes
Text
160121, goyang academy.
Ficaria feliz em compartilhar que era sua primeira vez passando por aquele tipo de situação. Que não era familiar com a polícia revirando suas propriedades, levando uma dezena de coisas que só eram suspeitas no mundinho deles; lançando aqueles olhares 'simpáticos' a beça por absolutamente qualquer resposta torta, ainda que saísse assim apenas pelo nervosismo; queria dizer que não conhecia nenhuma dessas sensações, mas conhecia, sim. Por isso, as mãos não paravam de tremer no colo enquanto esperava sua vez chegar. Tentou colocar algo em cima, entrelaçar os dedos; nada. Se tentava melhorar o aspecto delas, o corpo inteiro passava a tremer junto. Isso porque tinha conseguido salvar os remédios e estava só uns 20% acordado, hein? O pirulito de uva, que sobrara da noite problemática, continuava parado no canto da boca.
Quando foi chamado pelo nome — Edward e não Louis, exatamente como da outra vez —, engoliu em seco de tal forma que quase leva os dentes todos juntos. Levantou mecanicamente e com praticamente só os olhos de fora por conta da carregação de casacos e cachecóis.
“Bom dia, é Louis”, saiu num fiapinho de voz. Mal entrou, e a atmosfera já fez com que piscasse uma dezena de vezes pra não acumular lágrima. O nariz vermelho o denunciava, mesmo assim, e a tentativa de sorriso resultou num soluço involuntário. O policial, óbvio: já não ficou contente. “Tudo bem se eu continuar com isso?”, apontou pro doce. “É que acabei de abrir.”
Parecendo contrariado, concordou. Não era conveniente alongar o processo por esse tipo de banalidade.
“Poderia nos relatar os eventos ocorridos durante a quinta-feira no campus da universidade?”
“Os eventos... Todos? De manhã... Não sei, dormi. De tarde teve muita coisa, mas não deu pra participar de tudo. Quase nada, aliás. Teve as flores, né? O pessoal do hipismo, o jogo de debate... E sabre de luz na esgrima. Não foi um negócio assim?”
“Que atividades você participou durante o período do dia e tarde da quinta-feira?”
“Depois que acordei, teve coisa do clube de desenho, e eu fiquei lá até acabar, às quatro...? Vendi um monte de coisa. Também recebi flor lá, tirei foto... Quando acabou...”, se forçou a pensar. A mente em branco, mas com a consciência gritando lá no fundo: não lembra, Louis, ou não quer adicionar no interrogatório as duas horas de choro no telhado? “Tentei passar pelo clube de hipismo na hora da corrida, mas bateu com o coral, então fui assistir o coral. Umas... Seis da noite, acho. A Hana-ssi me viu na plateia. Prometi que ia cantar com ela lá de baixo pra ela não ficar nervosa, então fui.”
“Você estava presente no auditório no momento do leilão?”
“Tava, sim. Acho que a maioria tava, né? Eu fiquei sentadinho, assim, meio longe do pessoal...” Sim, Louis, encolhido o mais distante possível da porta... Embaixo das coisas. “Não gosto de tumulto, meu sensorial fica... Uma bagunça. Tava usando esses fones aqui”, indicou, tirando as pecinhas do bolso do casaco. “Eles bloqueiam uma parte do ruído.”
“Poderia nos relatar sobre seu exato paradeiro entre o horário das nove e meia e dez e quinze da noite de quinta-feira?”
“Não saí do lugar. Troquei mensagem com alguns... Colegas. Pedi pra passarem por mim, porque eu tava com um pacote de pirulitos, mas não consegui encontrar muitos. Logo tudo ficou bagunçado, então eu perdi o contato com eles. Fiquei esperando a correria diminuir porque não queria me machucar.”
“Há alguém que possa confirmar essas informações? Quem?”
“O Dexter! O Dexter me levou pro jantar. Viu onde eu fiquei e depois me buscou no lugar. Também teve... O Tomm-... Thomas. A gente se encontrou no jantar, e depois no auditório também. Ele tava filmando as coisas, acho. Posso ter saído no fundo, falando? Não sei...”, claro. Provavelmente falando sobre como o vestido de uma mãe parecia a roupa de ganso da Bjork, mas numa versão ruim. Tipo... White Chicks. Não tinha tensão que o impedisse de criticar um crime fashion, aparentemente; mas lembrando agora, nem assim conseguia tirar o bico da cara. “E o Junkyu. Na hora que tudo aconteceu ele tava me procurando, até mandou mensagem dizendo que achou, mas não deu pra ver. Foi bem, bem na hora.”
“Descreva sua relação com Bang Yongseok. Você conhecia o estudante?”
“Eu conheço muita gente, mas não falo com a maioria. Não tenho muito tempo livre durante o dia, e um menino que nem ele não deve-... Errr... Devia ficar acordado de madrugada, né? Acho que não tínhamos, sabe... Muito em comum.”
“Descreva sua relação com Kim Beomsu.”
“Não existia e não existe uma relação. Só quando ele me manda recado mandando parar de dormir na grama. Mas se a grama não é pra dormir, pra quê serve, então?”
“Você acredita que alguém teria razões pessoais para motivar este ataque?”
“Foi... Um ataque, então?”, questionou, com os olhões fixos nas próprias mãos. Era bem pior. “Não sei. Podia... Pode ser um acidente...”, é, realmente. A mordida que deu no próprio lábio e arrancou sangue - mas que foi rápido em esconder, achava - não foi a coisa mais discreta que fez, mas não parava de pensar; de reviver momentos que não gostaria. ”Coincidência. Quem sabe se não foi descuido dele, mesmo? Não conheço, não sei se tem um problema. Pode ter sido, até... Proposital. Não sei, não sei...”
“Você possui algum tipo de informação relacionada ao evento ou que possa contribuir para a investigação?”
“None. Eu vi... O mesmo que todo mundo. Acho que até menos, porque não quis olhar. Só fiquei esperando o Dexter, e saí sem prestar atenção em muita coisa.”
“Para encerrar, poderia nos relatar sobre seu paradeiro após a interrupção do discurso?“
“Eu... Saí. Direto pra casa... Erhm... Dormitório. Foi só isso, só. Nada de especial...”, a não ser que o ciclo de banho-choro-vômito-choro-banho que durou uma década até o remédio fazer efeito fosse do interesse da polícia. Preferia acreditar que não; da última vez, não recebeu as melhores reações ao vomitar no pé do responsável pelas perguntas. “Não saí da cama até ontem. Mandei mensagem porque tenho gatos fora daqui, perdi meu pacote de Shimeji-... Vocês não vão devolver, né? Ok. Ok. Desculpa. Foi isso? Tá bom. Pode ir?”, apontou pra porta atrás de si. Cumprimentou quem pôde com uma pose confiante demais pra quem tinha olheiras chegando na ponta do nariz, mas... Saiu de olhos pesados e com os maiores passos que as perninhas curtas podiam dar em busca de um banheiro. Ora, ora. Quem podia esperar que lá ia ele de novo?
0 notes
Text
#8 Somethin Kinda Crazy
Título: Somethin Kinda Crazy Número do plot: #33 Sinopse: "Minseok cometeu a maior e melhor loucura da sua vida: aceitou ser o namorado de mentira de Baekhyun. Mas o problema de fazer parte daquele plano era controlar os seus sentimentos e não desejar que tudo fosse real."
Para Minseok ter um namorado sempre foi algo um pouco complicado. Talvez porque Minseok não conseguisse mais se enxergar num relacionamento sério com outra pessoa ou porque ele simplesmente gostasse de toda a liberdade em ser solteiro.
Sem um namorado, Minseok podia focar totalmente sua atenção na faculdade e nos exames finais. Ele também podia treinar futebol nas suas horas vagas e podia ficar livre de preocupações, como dar satisfação para alguém, sofrer por ciúme e passar por brigas bobas.
Não que Minseok enxergasse apenas o lado ruim de um namoro, mas ele não estava tão disposto assim a ter todos os lados de um.
Minseok estava bem do jeito que estava. Ainda mais depois dos seus últimos relacionamentos que, sinceramente, terminaram todos em um tremendo fracasso.
E se um namorado verdadeiro já era uma dor de cabeça, um aparentemente falso parecia pior ainda. Imagina então um namorado falso que nem ao menos sabia que Minseok gostava dele?
Era uma hipótese estupidamente maluca, mas que de alguma forma estava acontecendo na vida de Minseok.
E não era como se estivesse achando realmente ruim, porque por Baekhyun – e somente por ele – Minseok abriria mão de sua zona de conforto e sua atual aversão por relacionamentos para tentar algo novo. Mesmo que fosse por algo inventado e totalmente planejado.
Fosse como fosse, Minseok foi um masoquista insano ao aceitar a proposta absurda de Baekhyun.
Uma hora Minseok estava ouvindo o pedido de Baekhyun e na seguinte, antes mesmo que pudesse perceber o que estava fazendo, Minseok murmurava uma reposta afirmativa, aceitando sem muita hesitação em ser o namorado de mentira dele.
Baekhyun explicou seus motivos sem entrar em muitos detalhes, aos quais Minseok também não viu necessidade em pedir por eles. Já era suficiente o que ele sabia.
E de uma forma ou de outra, as razões de Baekhyun eram totalmente aceitáveis para Minseok.
Baekhyun apenas queria mostrar aos pais que poderia ser muito feliz, assumindo a sua homossexualidade para o mundo sem ter medo. Ele queria mais do que tudo provar que poderia encontrar alguém que fosse capaz de o aceitar do jeito que era.
A única parte de toda aquela explicação que Minseok sentiu uma certa hesitação foi quando Baekhyun afirmou que também queria mostrar ao antigo namorado que, sim, ele estava ótimo depois de terem terminado.
Baekhyun desejava esfregar na cara de Yamazaki Kento que ele poderia muito bem manter um relacionamento com outra pessoa sem pular fora quando as coisas ficassem realmente sérias.
Eram razões que Minseok poderia aceitar sem pedir por mais explicações, mas eram motivos que ele não queria entender o significado. Não quando envolvia o antigo namorado de Baekhyun.
Minseok não entendia o interesse de Baekhyun em tentar se reafirmar diante do ex-namorado, ao ponto de arrumar um outro de mentira. A única explicação que Minseok encontrava, a que mais parecia razoavelmente lógica e a que Minseok mais detestava em pensar, era que Baekhyun ainda gostava muito daquele estudante de intercâmbio.
- É só alguns meses – Baekhyun murmurou ao coçar a nuca constrangido – O suficiente para os meus pais acharem que eu estou bem.
- E o seu ex-namorado entender que você não gosta mais dele.
Baekhyun o olhou com interesse e algo mais que Minseok não conseguiu entender, mas que o deixou inquieto.
- É, talvez – Baekhyun deu de ombros – Vou tentar não mudar nada da sua rotina nesses meses que vamos ficar juntos.
Era um pouco estranho Baekhyun dizer aquilo, porque ele definitivamente mudaria muita coisa em sua rotina.
- Eu já aceitei, Baekhyun – Minseok umedeceu os lábios antes de sorver um grande gole do café quente. – Você não precisa mais me convencer de nada.
- Nem mesmo da viagem pra casa dos meus pais?
- Sua cidade natal? – Baekhyun confirmou com a cabeça. – Sinceramente não vejo problema algum em relação a isso. Eu já aceitei todo o resto, não faria sentido recusar isso.
Minseok suspirou, tentando ignorar o barulho da cafeteria lotada e fitou Baekhyun que o olhava com intensidade.
– A gente só precisa de um tempo pra se acostumar com tudo e se tornar mais íntimo. Se a gente conseguir fazer isso, acho que ninguém vai ter problema em acreditar no nosso namoro.
Nosso namoro. Minseok sentiu a ponta de suas orelhas queimarem e um sorriso constrangido curvar o canto de seus lábios ao coçar a nuca, tentando disfarçar o quanto ele queria gritar.
Afinal, Baekhyun estava bem a sua frente.
O garoto que Minseok gostava pra caramba - mas que não tinha coragem o suficiente para confessar - estava bem a sua frente com um sorriso bonito nos lábios perfeitamente delineados e os dedos longos e elegantes tamborilando sobre o cardápio.
Baekhyun era lindo, injustamente lindo e Minseok sentia que não conseguiria mais conter as batidas irregulares do seu coração e a forma como um sorriso eufórico moldava sua boca.
- Junmyeon não vai contar para ninguém, certo? – Baekhyun perguntou baixinho e Minseok arqueou a sobrancelha, encarando-o com uma risada presa na garganta.
Junmyeon era o culpado de tudo. Ele tinha feito Minseok aceitar a proposta e aproveitar daquela chance para conquistar Baekhyun.
O seu amigo e colega de quarto tinha enfiado aquela ideia em sua cabeça e mandado Minseok se encontrar com Baekhyun e dar uma chance aos dois.
O que era um pouco hilário porque Junmyeon definitivamente conhecia os dois, mas nunca – nem por um segundo sequer - pensou na possibilidade mais simples de todas: apresentar Baekhyun e Minseok antes de qualquer outra coisa.
Junmyeon não foi capaz de sugerir o mais fácil, mas teve a capacidade de pensar na solução mais complicada para eles. E Baekhyun foi tão ou mais louco que Minseok em aceitar tudo aquilo.
Fosse como fosse, Minseok suspeitava que tinha sido a primeira opção de Junmyeon e que Baekhyun não tinha visto muitos obstáculos em aceitá-lo.
Se Baekhyun soubesse que Minseok gostava dele, talvez não teria aceitado com tanta facilidade assim.
- Junmyeon não faria isso – Minseok repousou a xícara sobre a mesa ao olhar Baekhyun nos olhos, um frio percorrendo sua espinha quando notou os olhos escuros de Baekhyun o fitando de volta. – Ele seria a última pessoa a contar tudo pra alguém.
Baekhyun sorriu um pouco mais aliviado, os fios pretos do cabelo sedoso caindo sobre os olhos e o rosto se iluminando todo ao pegar as mãos pequenas de Minseok entre as suas.
- Obrigado – Baekhyun murmurou e Minseok engoliu em seco, sentindo as pontas de suas orelhas queimarem com o toque suave das palmas da mão de Baekhyun – Nós vamos ser um ótimo casal.
Baekhyun acariciou com o polegar a pele de Minseok e sorriu para reafirmar suas palavras. E Minseok queria acreditar que aquilo poderia dar certo, mas a probabilidade de tudo dar errado e ele sair com o coração machucado era muito maior.
Estupidamente maior.
*
O começo não foi muito complicado entre eles.
Os dois seguiram lentamente cada um dos passos que fariam aquele namoro de mentira se tornar verdadeiro aos olhos dos outros.
O entrosamento iniciou de mansinho e em pequenos detalhes. Desde o dia em que Baekhyun começou a almoçar com Minseok e Junmyeon na faculdade, até mesmo quando Minseok estabeleceu uma rotina ao esperar por Baekhyun nos finais das aulas.
Eles caminhavam juntos para os dormitórios e se encontravam nos corredores da faculdade com frequência. E em pouco tempo os dois eram sempre vistos um na companhia do outro.
Os comentários diziam que Baekhyun e Minseok eram praticamente inseparáveis e logo os dois já eram considerados um casal de namorados. Mas Minseok queria apenas que aquilo deixasse de ser uma mera mentira para ser a sua realidade.
Ele gostava de Baekhyun e isso estava se tornando cada vez mais difícil de esconder.
*
- Você está com a cabeça nas nuvens.
Minseok virou a cabeça para o lado e viu Kyungsoo despencar no banco ao seu lado. Os dois estavam soados e exaustos depois da rotina pesada de treinamento do time de futebol.
- Desculpa – Minseok murmurou para o zagueiro do time. – Eu estou um pouco distraído – movimentou as mãos aleatoriamente no ar – Pensamentos demais – finalizou ao dar de ombros.
- É o novo namorado?
Minseok se remexeu no banco e umedeceu os lábios.
- Talvez.
Ele observou Kyungsoo arquear uma sobrancelha inquisitivo em sua direção e uma expressão sugestiva contornando suas feições.
Minseok apoiou os cotovelos nas pernas ao desviar os olhos para o campo, onde seus amigos jogavam despretensiosamente e Kyungsoo se remexeu ao seu lado, espreguiçando o corpo.
- Sabe, eu te conheço faz tempo – Kyungsoo começou em voz baixa e continuou antes que Minseok pudesse argumentar em resposta. – E não é só porque ficamos um tempo juntos. Você é meu amigo, Minseok. Tem alguma coisa te incomodando.
- Não é nada – assegurou para ele, tentando sorrir. Os lábios curvados para cima e os olhos vincados com o gesto. – Prometo que vou me focar mais no próximo treino.
Como capitão era o mínimo que ele poderia fazer pelo time.
- Relaxa - Kyungsoo disse e Minseok o olhou e viu um sorriso delinear nos lábios dele. – A gente se virou muito bem hoje.
Com as pontas dos dedos, Kyungsoo tirou delicadamente os fios úmidos de suor que insistiam em cair nos olhos de Minseok. E ele recebeu aquele gesto espontâneo com muito agrado.
Kyungsoo não era do tipo que gostava de contatos físicos e ele somente se atrevia a se aventurar nisso com poucas pessoas. Minseok era uma delas. Era uma das suas raras exceções. Muito provavelmente porque o zagueiro do time era um de seus amigos de longa data e aquele que o compreendia em todos os sentidos. Minseok não precisava dizer nada para Kyungsoo entendê-lo. Bastava apenas um olhar e o seu amigo sabia exatamente o que ele queria.
Provavelmente por isso uma grande atração surgiu entre os dois. Uma atração boa e fugaz, mas que não era o suficiente para manter um relacionamento sério entre eles.
Minseok preferia muito mais ter o amigo ao seu lado e Kyungsoo concordava com ele.
Fosse como fosse, foi algo muito bom enquanto durou, mas foi apenas passageiro.
- Está tudo bem entre vocês?
Kyungsoo pescou uma das garrafas do container e sorveu um grande gole da água gelada direto do gargalo. Mas sua atenção voltou toda para Minseok e seus olhos expressivos o fitaram com interesse.
- Sim – Minseok sabia no fundo que estar com Baekhyun era melhor do que ele esperava. Muito melhor. – Baekhyun é... – ele pausou, tragando o ar com força ao deixar um sorriso inconsciente transparecer em seus lábios. – Ele é perfeito.
Kyungsoo fez uma careta de desgosto e Minseok riu baixinho.
- Deveria ter visto sua cara agora – Kyungsoo zombou ao revirar os olhos em frustração – Sinto tanto por você.
- O que você quer dizer com isso? – Minseok franziu o cenho ao perguntar confuso.
- Você está muito apaixonado, Minseok.
- E isso é ruim?
- Depende do ponto de vista – Kyungsoo disse e Minseok o fitou de volta ao pegar a garrafa de água que ele estendia em sua direção, bebendo pequenos goles. – Pra mim isso seria terrível.
- Ainda bem que não é com você, então.
Minseok riu quando ele o respondeu com um baixo ‘ainda bem’, ao apertar sua coxa em conforto. O toque quente e suave sendo breve em sua pele.
- Eu fico feliz que você esteja com alguém que goste.
Kyungsoo o olhou antes de se levantar do banco e caminhar até Jongin e Yixing com um sermão na ponta da língua sobre a forma como os dois estavam fazendo o repasse da bola errado.
Minseok suspirou ao se jogar contra o encosto do banco.
Talvez tudo seria ainda melhor se aquele namoro fosse real e não apenas um plano. Uma farsa.
Com um grunhido no fundo da garganta, Minseok bagunçou os fios do cabelo frustrado e repousou a cabeça contra a parede, pensando no quanto ele queria ver Baekhyun. Nem que fosse apenas para ouvir a voz macia e escutar a risada gostosa e contagiante dele.
E com um sorriso incrédulo, Minseok percebeu que aquele era um dos primeiros de muitos sinais de que estava perdido.
*
- O que você está fazendo?
- Terminando alguns projetos – Minseok se ajeitou no sofá, socando um punhado de pipoca dentro da boca antes de voltar sua atenção à tela do notebook e digitar mais um trecho de sua pesquisa.
Era um trabalho superimportante da faculdade e ele precisava adiantar o máximo que conseguisse. Era isso ou deixar tudo se acumular e Minseok detestava deixar as coisas da faculdade para a última hora.
- Não – Junmyeon disse enfático e sério. – Você está levantando a sua bunda grande desse sofá agora e indo para o seu quarto se arrumar porque vamos sair hoje.
- Nós vamos?
- Claro – Junmyeon repousou as mãos sobre o quadril – Tem uma festa na casa do Sehun e você vai comigo – disse enfático. - Ou você realmente pretende praticar suas habilidades como namorado do Baekhyun em casa sem se encontrar com ele?
- Ele não me convidou – Minseok deu de ombros.
- Mas ele me pediu pra te chamar.
- Ele tem meu telefone.
- Para de ser chato e levanta logo, Minseok. Eu dou vinte minutos pra você ficar pronto. – Junmyeon ditou sério, olhando para o relógio preso ao seu pulso. – Já estou cronometrando.
- Você sabe muito bem que não sou muito de festas – Minseok resmungou baixinho, espreguiçando o corpo todo.
- Baekhyun também sabe e, por isso, ele me pediu pra te convencer a aparecer pelo menos um pouco. – Junmyeon tinha um sorriso sugestivo na boca. - E como um bom namorado você vai.
- Ele sabe? – Minseok arqueou a sobrancelha.
- O quê? – Junmyeon parecia confuso.
- Como ele sabe que não gosto de festas? – Minseok deixou uma risada escapar por entre as palavras – Eu o encontrei em algumas de suas festas de aniversário e outras vezes nas da faculdade, mas fora isso não saio de casa e quase não me encontro com o Baekhyun pra ele saber coisas desse tipo.
- Não é algo que você esconde de todo mundo – Junmyeon disse como se fosse óbvio, um pouco impaciente com a demora de Minseok. – E como ele reparou isso ou não, a gente não vai discutir agora. Anda logo e vai se arrumar.
- Estranho. Muito estranho. – Minseok reclamou ao se levantar do sofá lentamente. – Não pensei que eu também teria que fingir na frente da faculdade toda – Minseok disse ao ser empurrado por Junmyeon na direção do corredor que levava aos quartos e banheiro.
- Você prometeu ajudar o garoto, agora aguenta – no tom de voz de Junmyeon havia um ar divertido que ele não conseguia disfarçar.
- E você me convenceu que seria uma boa ideia. – Minseok olhou por cima dos ombros e Junmyeon riu. – Não sei ainda porque eu escuto os seus conselhos. Eles nunca dão certo mesmo.
- Mas você escutou dessa vez e agora tem responsabilidades para cumprir, hyung – Junmyeon o empurrou gentilmente, ficando para trás conforme Minseok andava no corredor do dormitório deles. - E, por favor, não demora porque eu prometi ajudar o Sehun.
Junmyeon gritou quando Minseok se afastou para o banheiro e riu quando escutou as suas reclamações baixinhas.
- Não adianta querer me enganar, hyung – Junmyeon jogou o corpo contra o sofá, tirando o celular do bolso ao checar suas mensagens - Eu sei muito bem que você está gostando da ideia de ficar perto do Baekhyun.
Minseok suspirou ao fechar a porta do banheiro.
Ele tinha que dar o braço a torcer e dar razão a Junmyeon.
Minseok definitivamente não odiava aquela proposta. Muito pelo contrário, ele adorava saber que poderia ficar perto de Baekhyun, pegar em sua mão e dizer coisas bonitas. Mesmo que fosse com o pretexto de ser o namorado de mentira dele.
Fosse como fosse, Minseok admitia que ele tinha medo. Ele era o único que poderia ser envolver mais do que deveria.
Por Deus, ele já estava envolvido antes mesmo daquilo tudo começar. O pior de tudo era que Minseok queria muito ser o namorado de mentira de Baekhyun, mesmo sabendo que nunca conseguiria ocupar um lugar no coração dele.
Era insanidade, mas mesmo assim Minseok estava feliz.
E quem sabe Junmyeon estivesse certo e Minseok poderia transformar aquela farsa numa realidade. Em todo caso, Minseok não poderia desperdiçar aquela chance que estava tendo.
Ele definitivamente não desperdiçaria.
*
A festa estava lotada. Havia pessoas por todos os lados da casa de Sehun e muitos corpos balançando no ritmo da música que saía extremamente alta das caixas de som.
Minseok ajeitou a gola da camisa preta e desabotoou as três primeiras casas dos botões, revelando um pedaço de sua pele ao buscar por um pouco de ar naquele ambiente quente e fechado.
Junmyeon não disse muita coisa antes de desaparecer no meio da multidão e Minseok se enfiou no meio daquela gente um tanto perdido. Ele olhou para todos os lados, buscando rostos conhecidos e encontrou Jongin e Seulgi abraçados num canto.
Mais ao fundo Minseok conseguiu enxergar Suran que sorriu ao acenar com a mão para ele. Mas antes que pudesse retribuir e caminhar em sua direção para conversar, um copo plástico surgiu em seu campo de visão junto de dedos elegantes e um sorriso bonito.
- Finalmente meu namorado chegou – Baekhyun disse e estendeu o corpo na direção de Minseok. – Pensei que Junmyeon teria que te trazer arrastado pra festa.
- Não sou de festas, mas também não precisaria de tanto pra me fazer aparecer em uma.
Baekhyun riu e se inclinou mais perto, o rosto bem perto do seu e a boca bonita encostada em sua orelha.
- Me abraça.
Minseok sentiu o corpo todo arrepiar ao sentir a respiração quente contra seu ouvido, o cheiro de sabonete com o perfume amadeirado entorpecendo seus sentidos.
- Como?
- Me abraça, hyung – Baekhyun murmurou mais uma vez.
E finalmente Minseok se deu conta da encenação. Eles eram namorados de mentira e deveriam fazer todos acreditarem naquela farsa.
Minseok olhou ao redor e no meio das pessoas encontrou Yamazaki Kento e entendeu a motivação de Baekhyun.
Sem pensar muito e com as orelhas queimando, Minseok repousou as mãos sobre o quadril de Baekhyun, deslizando-as com suavidade pelas costas até trazer o corpo quente contra o seu.
Baekhyun soltou uma lufada de ar quando Minseok o pressionou com gentileza e seus lábios se curvaram num sorriso satisfatório.
- Satisfeito?
- Muito – Baekhyun enlaçou seus braços envolta do pescoço de Minseok e o fitou nos olhos. – Começamos bem.
Minseok só queria que tudo aquilo não fosse apenas uma mentira. Ele desejava tanto que fosse de verdade que chegava a doer fisicamente.
Inconscientemente Minseok sentiu seu corpo seguir o ritmo da música quando Baekhyun o guiou e os dois ficaram num silêncio confortável.
- Nunca pensei que você fosse bom em dançar.
Minseok separou os corpos e coçou a nuca sem jeito.
- Você ainda não sabe muitas coisas sobre mim, Baekhyun.
- Realmente – Baekhyun mordeu o lábio inferior, voltando a oferecer o copo com uma bebida de coloração estranha para ele. – Mas a gente precisa mudar isso.
- Claro, agora sou seu namorado.
- Sim, meu namorado.
Minseok percebeu quando Baekhyun o olhou com interesse e tentou dizer algo, mas um garoto alto pulou em suas costas o assustando, enquanto outro mais baixo e de olhos expressivos balançou a cabeça negativamente em total reprovação.
- Você quase me matou do coração, Chanyeol! – Baekhyun berrou sobre a música e deu um soco no braço do garoto alto. – Yoonoh quanto de bebida você deu pra ele?
- Nada – o mais baixo disse ao dar de ombros – ele é idiota assim naturalmente.
- Quem é esse, Baekhyun? – Chanyeol questionou ao apontar com a cabeça na direção de Minseok.
- Meu namorado – Baekhyun respondeu, o sorriso bonito de volta aos lábios e a mão quente envolvendo o pulso de Minseok ao trazê-lo para mais perto. – Ele é do curso de direito.
Yoonoh arqueou a sobrancelha, parecendo não comprar muito a resposta de Baekhyun e Minseok instintivamente buscou pela mão de Baekhyun, escorregando a palma contra a dele e entrelaçando os dedos.
- Eu já vi você nos treinos de futebol – Minseok falou mais alto para ser escutado em meio a música e Yoonoh estudou suas feições, tentando lembrar dele.
- Você é o capitão do time de Jongin.
Minseok sorriu quando Yoonoh, um dos amigos do atacante de seu time, lembrou dele e sentiu Baekhyun apertar com delicadeza sua mão em agradecimento por mudar o tópico da conversa.
- Baixinho desse jeito? – Chanyeol questionou incrédulo e Minseok o fulminou com os olhos. – Nada contra, é porque você não parece que faz o tipo que pratica esporte – deu de ombros - e ainda por cima é capitão.
- Se você pelo menos soubesse o abdômen que fica escondido aqui – Baekhyun disse com o tom de voz mais rouco e riu ao umedecer os lábios, tocando com as pontas dos dedos a barriga de Minseok.
Os músculos do abdômen de Minseok tencionaram instantaneamente sob o contato repentino, sua respiração tornando-se errática e uma sensação quente dominando seu ventre.
Minseok percebeu sua boca ficar repentinamente seca, mas lutou para não demonstrar nada. Ele apenas arqueou uma sobrancelha para Baekhyun em desconfiança.
Como diabos Baekhyun sabia disso? Não tinha a mínima possibilidade.
Minseok viu quando as orelhas de Baekhyun ficaram vermelhas ao perceber seu olhar sobre ele.
- Uau – Chanyeol levantou as mãos no ar e Yoonoh franziu o cenho em desgosto – A gente não precisa de detalhes.
- Baekhyun e sua boca grande – Yoonoh revirou os olhos – mas fico feliz que você arrumou alguém. Pelo menos assim você sai um pouco do meu pé e para de falar do cara que gostava.
Minseok engoliu em seco, desviando o olhar para a pista improvisada de dança no meio da sala. Definitivamente Yoonoh estava falando de Kento. Não podia ser outra pessoa a não ser ele.
- Eu vou pegar mais bebida – Minseok murmurou ao se inclinar para perto de Baekhyun na intenção que só ele escutasse apesar da música alta.
- Mas você tem ainda no seu copo – Baekhyun indicou com o dedo e olhou com a sobrancelha arqueada.
- Não mais – Minseok engoliu a pequena dose de uma bebida estranha e amarga do seu copo e sorriu para ele. – Você quer também?
- Eu vou com você – Baekhyun segurou sua mão e Minseok gostou como a palma dele era quente e macia contra a sua.
A sensação de andar de mãos dadas com Baekhyun era ainda melhor que Minseok imaginava. Ele conseguia sentir o calor do corpo de Baekhyun transbordando para o seu e como uma felicidade sem tamanho parecia queimar em seu peito.
Minseok percebeu como algumas pessoas olharam para eles. Era mais um olhar especulativo e surpreso do que qualquer outra coisa. Afinal, era a primeira vez que os dois saíam juntos e qualquer novo relacionamento que surgia na faculdade virava assunto entre as conversas de todos.
E sinceramente, o que mais lhe agradou foi quando Kento reparou neles e franziu o cenho, sério. Minseok se sentiu vitorioso, mesmo que tudo aquilo não passasse de mentira.
- Até agora estamos indo bem, certo? – Baekhyun perguntou ao encostar suas costas no balcão ao lado de Minseok. – Pra mim, nós formamos um ótimo casal.
Minseok piscou algumas vezes e agradeceu pela falta de iluminação do lugar onde estavam porque assim Baekhyun não perceberia o tanto que ele estava tremendamente envergonhado.
Era incrível como Baekhyun exercia um poder sobre ele, capaz de deixá-lo desconcertado e muito, mas muito contente.
E depois de tanto tempo gostando de Baekhyun em silêncio, era perturbador e instigante descobrir todas essas novas sensações. Minseok se sentia atraído por tudo aquilo, fazendo-o se esquecer do medo de que poderia dar errado pra ele.
- Chanyeol pareceu acreditar no nosso namoro, mas acho que Yoonoh vai precisar de mais tempo.
Minseok encheu seu copo e o de Baekhyun com uma bebida mais fraca dessa vez. Ele não pretendia ficar bêbado, muito menos cuidar de um.
- É questão de tempo, hyung – Baekhyun deixou um sorriso de canto moldar seus lábios e avançou alguns passos até seu torso encostar no braço de Minseok. E num toque quente e suave, repousou a mão e o queixo no ombro de Minseok, observando-o mais de perto. – Vamos ter que fazer mais coisas de namorado.
Minseok se arrepiou. Ele percebeu na curva da boca avermelhada de Baekhyun algo sugestivo e tentador e ficou atordoado ao notar o brilho intenso dos olhos escuros dele uma promessa velada.
- Baekhyun?
- Hm?
- Não precisa me tratar tão formalmente – Minseok umedeceu os lábios com a ponta da língua e notou quando o outro seguiu seus movimentos com os olhos. – Pode me chamar pelo nome ou ninguém vai acreditar se você continuar me chamando de hyung.
- Tudo bem – deu de ombros – Mas eu gosto como você fica quando eu te chamo de hyung.
A respiração quente de Baekhyun batia contra sua bochecha numa carícia e Minseok jurava que sua sanidade não aguentaria por muito mais tempo.
- Como você sabia?
- O quê?
- Sobre... – Minseok gesticulou em direção a sua barriga, totalmente sem graça.
- Eu já te vi sem camisa, Minseok – Baekhyun murmurou, seus olhos tão próximos, sua boca tão perto e seu corpo tão quente. Minseok estremeceu. – Eu fui em algumas partidas do seu time, estive no vestiário e – curvou os lábios em malícia – Eu vi muitas coisas, Minseok.
Baekhyun ainda seria o seu fim.
Minseok não sabia como sobreviveria a esse namoro de mentira. Seu corpo todo aqueceu e seu rosto estava em chamas. E ele engoliu em seco, afastando-se alguns passos seguros de Baekhyun antes que sua vontade de provar dos lábios macios domasse sua razão.
- Kento já sabe que estamos juntos – Minseok comentou sério.
- Sério? – Baekhyun murmurou, desinteressado. Minseok acreditava que era apenas para disfarçar o quanto ele se importava.
- Ele nos viu abraçados.
- Que bom – Baekhyun sorveu um gole de sua bebida e seus olhos se fecharam de uma forma que Minseok considerou fofa ao ser atingido pela amargura do álcool. – Você conhece aquela moça?
Minseok virou o corpo e ficou de frente para Baekhyun, o copo plástico em sua mão e a batida da música ocupando sua mente.
- Uma bonita que sorriu pra você – Baekhyun desviou os olhos e os focou nas pessoas a sua frente. – Uma loira de blusa verde.
Minseok demorou um pouco, mas finalmente se lembrou a quem Baekhyun se referia.
- Suran está na minha sala.
- Suran – Baekhyun testou o nome em sua boca – Ela parece que gosta de você.
- Você está maluco – Minseok descartou a ideia ao balançar a mão no ar e sorver um gole da sua bebida.
- O jeito que ela sorriu pra você não me engana.
- Isso não vai ser um problema no seu plano, Baekhyun – Minseok afirmou sério. – Não se preocupe.
- Não foi isso que eu quis dizer – Baekhyun retrucou, suavizando sua expressão. Mas quando ele tentou voltar a falar um barulho cristalino de vidro espatifando no chão bem perto deles atraiu a atenção de Minseok que se assustou.
Minseok sentiu quando a mão de Baekhyun o puxou pelo cotovelo e o tirou de perto dos cacos. Então relanceou o olhar na direção do desastre de vidros e encontrou Jongdae atordoado e totalmente sem jeito.
- Eu juro que não estou bêbado – Jongdae se defendeu e Minseok balançou a cabeça negativamente, rindo do amigo.
- Tinha que ser você.
- Eu disse que não era pra você deixar ele sozinho – Junmyeon reclamou para Sehun que revirou os olhos.
- Eu disse que dava conta – Jongdae resmungou.
- Dava – Junmyeon frisou – Você disse certo, você achou que dava conta, mas não deu. Não depois de beber tanto.
- Você está bem? – Baekhyun perguntou preocupado e Minseok virou o rosto para ele. – Nenhum pedaço de vidro te acertou?
- Eu estou bem, Baekhyun.
- Certo – ele murmurou baixinho antes de observar o grupo mais à frente deles. – Ficou de babá por hoje, Junmyeon?
- Infelizmente – Junmyeon respondeu e cutucou Sehun na barriga – Se ele vomitar você vai ser o responsável por limpar.
- De jeito nenhum – Sehun bufou irritado. – A casa pode ser minha, mas o amigo é seu.
- Yah – Jongdae exclamou indignado. – Eu estou aqui e estou escutando tudo, okay?
Jongdae tirou os cacos de vidro no chão com um guardanapo e os enrolou em outros antes de jogar no saco de lixo. Minseok percebeu como ele saiu enfezado depois disso e Sehun deu de ombros quando Junmyeon o reprovou com o olhar.
- Eu vou indo antes que ele quebre mais coisas – Junmyeon disse a Baekhyun e Minseok – Aproveitem a festa.
Minseok revirou os olhos ao ver Junmyeon piscando em sua direção, antes de os deixarem sozinhos de novo com Sehun em seu encalço.
- Seus amigos sabem como marcar presença.
- Junmyeon também é seu amigo – Minseok deu de ombros.
- E eu ainda me pergunto como ele nunca nos apresentou antes.
- Loucuras de Junmyeon.
- Vem – Baekhyun disse com entusiasmo na voz ao segurar sua mão mais uma vez naquela noite, entrelaçando os dedos com os seus num encaixe perfeito. – Eu quero te apresentar pra alguns amigos meus.
E foi assim a noite toda. Minseok seguiu Baekhyun por todos os cantos, conversou com vários amigos dele e o apresentou aos seus.
Eles não se abraçaram mais, mas as mãos não se desgrudaram nem por um segundo sequer. E Minseok tinha que admitir que ele estava amando ser o namorado falso de Baekhyun.
Minseok aproveitaria cada minuto dos momentos juntos de Baekhyun, mesmo que perdesse a sanidade no meio do caminho.
*
Minseok massageou as têmporas, tentando afastar a dor que começava a latejar em sua cabeça.
A biblioteca da faculdade estava em absoluto silêncio e Minseok tentava ao máximo tirar proveito disso, mas mesmo assim ele não conseguiu se concentrar no livro de Direito Penal aberto à sua frente, muito menos em suas anotações.
Suspirou frustrado, sua mente teimosa insistindo em lembrar da noite da festa com Baekhyun.
Seus pensamentos continuavam lembrando dos momentos em que Minseok ficou ao lado, tocou e abraçou Baekhyun. Tinha acontecido algumas noites atrás, mas a respiração quente e os olhos intensos de Baekhyun ainda o atormentava tremendamente.
- O que você está fazendo?
Minseok escutou quando uma voz grave e doce murmurou bem perto de seu ouvido, um corpo quente inclinado contra suas costas e mãos suaves repousadas em seus ombros.
E ele sentiu um beijo macio e delicado em sua bochecha. Foi um toque breve dos lábios macios, mas morno e muito bom. Minseok ficou estupidamente sem reação e sentiu as pontas das suas orelhas pegarem fogo.
Então olhou levemente para o lado e encontrou Baekhyun com o rosto apenas alguns poucos centímetros perto do seu.
- Estudando – Minseok respondeu baixinho para não perturbar os outros alunos que estavam estudando e sentiu a leve pressão que Baekhyun fez com as mãos no seu ombro em conforto – Ou pelo menos, estou tentando.
- Cansado? – Baekhyun se afastou, jogando o corpo contra a cadeira ao lado de Minseok. – Você está com a cara de quem não tem dormido muito.
- Tem esse projeto que eu preciso terminar, tem os exames finais e ainda tem o campeonato de futebol da faculdade que está bem próximo – Minseok respirou fundo ao soltar uma risada nasalada. – Sinceramente não sei se vou conseguir sobreviver a tudo isso.
- Pensa no lado bom.
- Qual? – Minseok questionou, mas o sorriso sugestivo nos lábios de Baekhyun denunciavam tudo.
- Seu namorado está aqui pra alegrar a sua manhã – ele respondeu ao pegar sua mão e apertar a palma contra a sua, fazendo movimentos circulares em sua pele com o polegar. – Quer presente melhor que esse?
Minseok olhou pela biblioteca e não encontrou ninguém que Baekhyun desejasse impressionar, mas Minseok não perguntaria o motivo daquilo e apenas aproveitaria da companhia dele.
- Talvez se você tivesse vindo com um copo de café pra me manter acordado...
- Vou tentar me lembrar disso da próxima vez – Baekhyun sorriu e o observou se inclinar levemente contra o livro.
Minseok sentiu os olhos dele pesando sobre si, estudando seus movimentos silenciosamente. Ele não parecia incomodado e muito menos entediado. Na verdade, Baekhyun parecia aproveitar daquele momento.
- Minseok?
Minseok sorriu inconscientemente, adorando como a voz bonita moldava seu nome e como seus lábios delineados o pronunciavam.
- Hm? - levantou o rosto para ele e deixou a caneta de lado.
- Eu quero ir assistir um de seus treinos de futebol.
- Mas você disse que sempre vai.
- Como seu namorado, hyung. – Baekhyun confessou baixinho e o fitou em expectativa.
Por uma fração de segundo Minseok ficou feliz, pensando que Baekhyun estava interessado em vê-lo jogar. Mas no segundo seguinte seu estômago se afundou e seu sorriso sumiu do rosto.
Yamazaki Kento era um dos atacantes de seu time. Baekhyun provavelmente queria fazer uma encenação na frente dele e precisaria de seu namorado de mentira para isso.
Minseok suspirou cansado.
- Se quiser, o treino da semana que vem vai ser algo mais simples e vai ser mais fácil pra gente conversar sem o treinador ficar bravo com interrupções.
Baekhyun mordeu o lábio inferior sorrindo e sua face se iluminou com algo que Minseok não soube identificar.
- Eu vou estar lá e vou torcer por você.
- Eu sei, eu sei – Minseok abanou a mão no ar, camuflando sua decepção e tentando apagar da sua mente o ex-namorado dele.
- Eu preciso ir agora – Baekhyun olhou para o relógio na parede do lado oposto ao da bancada da bibliotecária, levantando-se relutantemente da cadeira. – Tenho uma aula meio complicada.
- Quem disse que estudar música era moleza? – Minseok disse e Baekhyun riu.
- Eu te vejo depois, hyung – Minseok o olhou sério. – Okay – ele levantou as mãos no ar em forma de rendição – Eu te vejo mais tarde, Minseok.
E antes que Minseok pudesse reagir, Baekhyun tocou seu rosto com a palma da mão e inclinou seu rosto levemente para cima antes de beijar sua testa com carinho.
Baekhyun saiu apressadamente da biblioteca sem dar oportunidade para ele responder. E Minseok tocou com as pontas dos dedos o lugar em que os lábios do mais novo tocaram, sentindo a pele formigar e seu coração disparar dentro do peito.
Ele sorriu inconscientemente, uma sensação ainda mais forte domando seu peito.
Minseok tinha certeza de que era impossível se apaixonar ainda mais por uma pessoa, mas com Baekhyun ele começava a duvidar dessa teoria.
*
Uma bola de papel amassado voou na direção de Minseok e aterrissou em seu colo, atraindo sua atenção para o lado. Era Seulgi o chamando e ele se inclinou um pouco para escutar o que ela queria dizer.
- Quando é que o senhor pretendia me contar que estava namorando?
Ah.
- Era algo muito recente – Minseok deu de ombros ao se ajeitar na cadeira, uma reposta aparentemente decente vindo em sua mente mais rápido do que ele esperava. - E eu tinha medo de que não fosse ficar sério, por isso preferi guardar segredo.
- Ele é muito bonito, Minseok – Seulgi sorriu, seus olhos se fechando em uma meia lua com o ato.
- Sim, ele é muito bonito. Baekhyun é incrivelmente bonito por dentro e por fora – Minseok confessou com algo sonhador no tom de voz – Sabia que ele é do prédio de música?
- Baekhyun – Seulgi testou o nome. – Ele parece gostar muito de você.
Minseok sabia que se Seulgi conhecesse a verdade sobre aquele namoro, provavelmente, não falaria algo assim.
- O jeito que ele te olhava... – Seulgi suspirou exageradamente em provocação, pegando a bolinha de papel no ar quando Minseok mirou em sua direção. – Hey, eu estou falando sério.
- Melhor a gente prestar atenção na aula ou o professor vai acabar chamando a nossa atenção.
- Minseok? – Seulgi o chamou e ele olhou para ela. A expressão em seu rosto estava séria dessa vez. – Espero que você seja feliz com o Baekhyun.
Minseok também esperava.
*
Os jogadores estavam no campo se aquecendo e todos pareciam aliviados com o tempo menos quente daquela tarde e muito mais fresco e gostoso para treinar.
Jongin segurava os braços esticados de Minseok, ajudando-o a alongar os músculos tensos. Mas sua principal motivação naquele momento era bancar o curioso e tirar sarro de Minseok, perguntando tudo sobre Baekhyun e como eles se conheceram.
Conforme o combinado com Baekhyun, Minseok contou que os dois tinham se conhecido através de Junmyeon. A atração aconteceu naturalmente, até que eles perceberam que queriam muito mais que uma amizade ou algo sem compromisso.
Na cabeça de Minseok aquilo poderia ter mesmo acontecido, caso Junmyeon tivesse cumprido o seu papel de amigo, apresentando os dois como deveria. E talvez aquela farsa toda não tivesse que existir e sua mentira seria algo da sua realidade.
- Kim Jongin – Minseok começou sério e com um tom de advertência na voz – Se continuar torrando a minha paciência, eu vou fazer questão que você passe o treino todo no banco.
Jongin riu, soltando seus braços e oferecendo os dele para Minseok ajudá-lo com o alongamento.
- Fico feliz que você esteja com ele – Jongin murmurou, olhando para frente. – Você gostou do Baekhyun em silêncio por tanto tempo que eu achei que nunca criaria coragem pra se confessar.
Minseok tragou o ar com força, sentindo seu peito apertar com uma sensação estranha.
Talvez mentir não estava o ajudando em nada, exceto para lembrá-lo das coisas que ele poderia ter feito para estar com Baekhyun, mas que nunca teve coragem o suficiente para tentar.
- Falando nele... – Jongin disse com um sorriso e apontou com a cabeça para o lado oposto do campo em que eles estavam.
Minseok soltou os braços de Jongin e olhou na direção que ele tinha indicado, encontrando Baekhyun que descia apressado os degraus da arquibancada, ao correr pelo campo em sua direção.
- Espero não ter me atrasado pra ver a partida – Baekhyun murmurou ofegante, as bochechas coradas pelo esforço e um sorriso lindo nos lábios.
- Você chegou bem a tempo de ver seu namorado jogar – Jongin disse com a expressão de quem achava tudo aquilo divertido e interessante.
- Ótimo – Baekhyun suspirou aliviado e olhou para Minseok com um sorriso mais suave e caloroso – Adoro ver o capitão do time entrando em ação – ele piscou para Minseok que mordeu o lábio inferior sem jeito.
- Eu vou deixar os dois pombinhos ficarem um tempo sozinhos – Jongin murmurou ao dar uns tapinhas camarada nas costas de Minseok. – Aproveita que o técnico não vai nos chamar nos próximos quinze minutos.
Minseok relutou em olhar para Baekhyun, mas quando o fez sentiu a sensação morna de seu sorriso o envolver. Baekhyun o fitava intensamente e não parecia incomodado em perder alguns minutos assim.
- Você fica bonito usando esses shorts curtos – os cantos dos lábios de Baekhyun se curvaram em algo significativo e matreiro. – Tenho sorte em ter um namorado com pernas tão bonitas.
- Baekhyun! – Minseok exclamou sem conseguir segurar a gargalhada que escapou de sua boca, muito menos suas orelhas que queimavam em vergonha.
- Você tem pernas bonitas, olhos encantadores e – Baekhyun disse e Minseok sentiu quando ele tocou delicadamente com a ponta dos dedos os seus lábios – eu acho linda a sua boca.
Baekhyun acariciou a pele macia, os olhos focados nos lábios do capitão e algo em suas irises que queria dizer muita coisa. Minseok repentinamente prendeu a respiração e seu coração bateu violentamente contra o seu peito.
E Minseok só foi capaz de soltar o ar e respirar novamente quando Baekhyun quebrou o toque e o olhou nos olhos.
- O que você gosta em mim, Minseok? - Baekhyun perguntou baixinho, as feições demonstrando uma expectativa e a mão buscando pela sua silenciosamente.
Os dedos de Baekhyun entrelaçaram os de Minseok que umedeceu os lábios estranhamente nervoso, sentindo um certo ar de intimidade que nunca antes tinha pesado entre eles.
- Tudo.
Minseok foi sincero e viu quando as irises de Baekhyun brilharam em resposta, sua boca entreabrindo em surpresa.
– Não deveria confessar isso, mas eu gosto da sua personalidade barulhenta – os dois riram e Baekhyun mordeu o lábio inferior, tentando esconder a vergonha – Eu adoro como você não tem medo de nada e acho muito atraente as suas mãos. Você não tem noção do quanto elas são lindas – Minseok apertou sua palma contra a dele, como se para comprovar o que estava dizendo. - Mas seu sorriso... Ele ganha disparado de tudo.
- Uau – Baekhyun sussurrou – Primeira vez que alguém me deixa sem palavras.
Um grupo de pessoas, não muito longe deles, gritaram algo que Minseok não conseguiu ouvir o que era, mas as risadas altas atraíram a atenção de Baekhyun que olhou na direção deles.
Minseok o copiou e encontrou parte de seu time reunido numa roda desorganizada. Kento estava entre eles, seu uniforme amassado e o cabelo desgrenhado pelo vento. Ele parecia falar algo entusiasmado e todos riram novamente.
Minseok sentiu seu estômago despencar e uma sensação amarga explodiu em sua boca. E inconscientemente ele apertou com delicadeza a mão de Baekhyun, implorando por sua atenção.
Saber que Kento era alvo da atenção de Baekhyun o corroía de ciúme.
- Seu time é bem... – Baekhyun deixou a voz morrer quando encontrou algo na expressão de Minseok. – Aconteceu alguma coisa?
- Nada – Minseok fingiu um sorriso, mas que não chegou a curvar seus lábios e, se Baekhyun notou algo, não disse nada. – Promete que vai me esperar?
- Prometo.
Baekhyun soltou sua mão e, antes que Minseok pudesse reclamar da ausência do toque, percebeu a mão dele tocando seu cabelo, tirando os fios da frente de seus olhos e acariciando levemente antes de se afastar.
– Eu prometo tudo o que você quiser, hyung. E quero que você me prometa algo também. – Minseok murmurou em resposta, incentivando-o a continuar – Quero que você me leve para sair depois daqui. Só nós dois.
E não tinha como Minseok negar nada a ele. Nem mesmo se quisesse.
*
O treino demorou mais do que o esperado, mas Baekhyun ainda estava na arquibancada com um sorriso enorme no rosto e gritos de incentivo que chegavam até Minseok como um gatilho para se empenhar mais.
Quando saiu do vestiário de banho tomado, mochila nas costas e cabelo úmido, Minseok sentiu a brisa fresca do começo da noite.
Baekhyun o esperava do lado de fora, o corpo encostado na parede e as mãos dentro do bolso da calça jeans. E ele o olhou longamente, um brilho caloroso em suas irises e algo instigante em sua expressão.
- Pronto pra me levar pra um encontro? – Baekhyun murmurou ao abraçá-lo pela cintura.
Jongin e Yoongi ao passarem pelos dois desejaram boa sorte no encontro, sem esconder os sorrisos cúmplices. Minseok riu e tentou se lembrar que aquilo era um namoro de mentira. Um que ele deveria se empenhar pra se tornar real.
- Onde você gostaria de ir?
- Algum lugar que tivesse bebida quente e comida gostosa – Baekhyun inclinou a cabeça levemente para cima, fitando-o com a respiração quente atingindo seu pescoço. – Eu estou com muita fome, hyung.
- Quando é que você vai parar de me chamar de hyung? – Minseok o abraçou de volta, apertando gentilmente o corpo de Baekhyun contra o seu.
- Nunca.
O barulho que escapou da boca de Baekhyun ao rir fez Minseok o achar ainda mais fofo. E impulsivamente segurou o rosto de Baekhyun com sua mão, tocando a pele quentinha e seu polegar acariciando a bochecha com delicadeza.
– Eu adoro a cara que você faz quando te chamo assim – Baekhyun murmurou ao fechar as pálpebras, aproveitando do carinho. - Você enruga o nariz de um jeito todo bonitinho. Parece aqueles filhotes de gatinho.
O tom de voz de Baekhyun não passava de um mero sussurro rouco que apenas Minseok poderia escutar. E Baekhyun tocou o nariz de Minseok com delicadeza, fazendo-o enrugar inconscientemente e Baekhyun rir ao provar seu ponto.
- É ainda mais fofo do que quando você fica todo sério e concentrado.
Minseok sentiu uma onda de calor esquentar seu peito e subir para seu pescoço, provavelmente se alojando nas pontas de suas orelhas vermelhas e em suas bochechas.
- Você quer mesmo me deixar envergonhado – Minseok balançou a cabeça negativamente e respirou fundo o perfume que o corpo de Baekhyun exalava, sentindo os seus sentidos entorpecerem. – Eu conheço um lugar que você vai adorar e que tem um monte de bolo gostoso.
A face de Baekhyun se iluminou e ele deu um pulo extasiado para trás, pegando na mão de Minseok e o puxando para a saída da faculdade.
- Falou em comida é comigo mesmo! – Baekhyun exclamou.
Definitivamente Minseok poderia se acostumar com coisas boas assim. E poderia ser egoísmo de sua parte, mas ele desejava que todos aqueles momentos bons fizessem parte de sua rotina.
Minseok queria tanto Baekhyun que chegava a doer.
-
- Eu não sei qual bolo escolher – Baekhyun disse pensativo, o dedo indicador sobre seu queixo e os olhos estudando a vitrine a sua frente.
- Esse parece ser gostoso – Minseok apontou um de chocolate e menta e depois para outro que o atendente nomeou como delírio belga. – Esse também.
- Achei que você ia querer provar o de café.
- Eu não recusaria um pedaço – Minseok deu de ombros e Baekhyun riu.
- Vou querer um pedaço pequeno desses três – Baekhyun falou com o atendente, indicando os bolos que Minseok sugeriu. – E dois chocolates quentes. O meu com marshmallow e o dele sem, por favor.
Os dois sentaram numa mesa mais afastada de todos, uma mais perto da janela e com mais privacidade. Baekhyun sentou animadamente e Minseok observou seus trejeitos com admiração.
- Você não precisava ter pedido os três só porque eu falei.
- Precisava sim, eu também quero experimentar – Baekhyun falou com um sorriso bonito e iluminado.
E Baekhyun falou o tempo todo, gesticulando espalhafatosamente e com a voz num tom consideravelmente mais alto que um murmúrio.
Minseok não se importou em apenas escutar todas as estórias dele e observar a forma como os lábios bonitos se moviam, os dedos longos e elegantes tamborilando sobre a mesa e as pernas agitadas se remexendo debaixo dela o tempo todo.
Minseok amava admirar Baekhyun. Tinha sido sempre assim, a única diferença agora era que ele podia fazer isso mais de perto.
O melhor de tudo era que Minseok também podia tocar a pele macia, abraçar o corpo quentinho e sentir o perfume gostoso que exalava dele. Mesmo que fosse com o pretexto de ser o namorado de mentira, Minseok estava amando tudo aquilo.
O pedido deles não demorou muito a chegar e Baekhyun não perdeu tempo em provar o primeiro pedaço do bolo de chocolate e menta, lambendo a cobertura de seus lábios e provando com um suspiro de satisfação.
- Esse é muito gostoso – Baekhyun disse contente e um tanto barulhento - Você precisa provar.
Ele ofereceu seu garfo com um pedaço generoso do bolo e Minseok, um pouco hesitante, inclinou-se para frente ao colocar o doce na boca, saboreando com o olhar especulativo de Baekhyun sobre ele.
- E então?
- É muito bom! – Minseok sorriu.
- Hyung – ele chamou e Minseok o olhou, surpreendendo-se ao ver Baekhyun se aproximar lentamente.
Minseok não se moveu, o coração disparado dentro do peito ao sentir o toque suave da ponta dos dedos de Baekhyun no canto de seus lábios. E Minseok respirou profundamente quando Baekhyun acariciou sua pele com extrema delicadeza e dedicação.
- Qual você quer experimentar agora? – Baekhyun perguntou ao voltar para o seu lugar, um sorriso de canto enfeitando seus lábios e algo sugestivo em suas feições. – Acho que você vai gostar do bolo de café.
Minseok se forçou a ter uma reação – qualquer tipo de reação -, mas o seu coração batia disparado dentro do peito e um frio se alojava em sua barriga, como se mil borboletas voassem dentro dela.
Era impossível pensar com clareza depois de tudo, mas Minseok fez o que Baekhyun disse e provou do bolo de café ao sorver um gole do seu chocolate quente depois.
- Eu gostei mais desse – Minseok comentou, mastigando mais um pedaço. – Talvez porque sou um pouco viciado em café.
- Principalmente quando está perto dos exames finais – Baekhyun o acusou com o garfo apontado em sua direção, os fios do cabelo preto bagunçados e a boca cheia de bolo.
Minseok o achou adorável.
- Parece que você sabe mais de mim do que eu de você. – Minseok murmurou, sentindo-se extasiado ao saber que Baekhyun tinha reparado nele o suficiente para saber algo assim.
- Eu sou um bom observador – ele deu de ombros, bebendo um gole do seu chocolate quente. - Você tem muitas manias e eu sei quase todas.
Minseok engasgou, sentindo o ar escapar de seus pulmões com a sinceridade de Baekhyun.
- Junmyeon me contou muitas coisas sobre você.
Ah, agora sim Minseok conseguia entender como ele sabia coisas que seriam impossíveis perceber com tão poucos encontros.
- Espero que tenha sido coisas boas.
- Quase sempre – Baekhyun riu baixinho – Mas eu sei quando ele está falando a verdade.
- Como você sabe?
- Você nunca foi invisível pra mim, Minseok – Baekhyun murmurou, umedecendo os lábios depois de sorver o último gole de seu chocolate quente. – Eu sempre reparei muitas coisas e sei muitas outras, mas eu ainda quero saber mais sobre você.
Minseok ficou sem palavras e sentiu algo borbulhar em seu peito.
- Pode me perguntar o que quiser que eu vou responder –disse, fitando-o nos olhos.
- Eu quero tudo.
- Ganancioso, hein?
Minseok embrenhou as mãos entre os fios de seu cabelo, tirando a franja da frente dos olhos. Baekhyun o observava silenciosamente com o pomo de adão subindo e descendo num sinal de inquietação e nervosismo.
– Eu fui uma criança muito quieta e gostava de ler quadrinhos – Minseok revelou, remexendo os farelos de bolo em seu prato com a ponta do garfo. - Não fui muito de assistir animes, como os outros da minha escola, mas eu era ótimo no futebol.
- Você ainda é ótimo.
Baekhyun sorriu e esticou a mão para pegar a sua entre elas, o calor de sua palma esquentando sua pele fria e os dedos fazendo círculos aleatórios numa carícia gostosa.
- Fui um adolescente que não deu muitos problemas e minha mãe vivia reclamando que eu deveria sair mais de casa para as festas.
- Parece que quanto a isso nada mudou – o canto dos olhos de Baekhyun se enrugaram quando uma risada escapou de seus lábios e Minseok se sentiu contagiado.
- Velhos hábitos nunca mudam – ele deu de ombros – Eu não gosto de mudanças e tenho medo de escuro. Nunca fui fã de temperos fortes, mas adoro comidas apimentadas.
- Eu detesto pepino – Baekhyun enrugou o nariz em desgosto.
- Eu percebi isso. Você sempre tira o pepino do sanduíche da lanchonete.
Minseok não notou o que tinha feito até que percebeu a forma como Baekhyun o encarava. Os olhos escuros estavam totalmente focados nos seus e os lábios bonitos entreabertos em surpresa.
- Bom – tragou o ar com força, sentindo-se constrangido – esse sou eu. Uma pessoa calma, pacata e sem graça.
- Você nunca foi sem graça, Minseok – Baekhyun deslizou o seu dedo entre os dele e os entrelaçou ao pressionar a palma contra a sua. – Isso eu posso te garantir.
Minseok sorriu inconscientemente. Um sorriso que curvava o canto de seus lábios e mostrava o quanto estava contente e extasiado.
- Aposto que sua infância foi bem mais agitada que a minha.
- Talvez um pouquinho – Baekhyun confessou com uma alegria presa entre as palavras. – Sabe, eu tenho medo de altura. Muito medo mesmo.
- Do tipo que você não pode ficar em lugares muito altos?
- Infelizmente, sim.
- Montanha russa nem pensar pra você?
- Eu tenho pavor desse brinquedo.
- Então nada de encontros pra nós dois num parque de diversões.
- Eu ainda posso muito bem andar no carrossel, Minseok.
Baekhyun fingiu indignação e Minseok gargalhou alto ao atrair a atenção das pessoas mais próximas na cafeteria.
– Bom, ao contrário de você, eu dei muito trabalho para os meus pais. – Baekhyun continuou ao inclinar a cabeça e sussurrar como se fosse um segredo. – Medo nenhum me impediu de aprontar coisas que deixavam minha mãe de cabelo branco. Eu sempre chegava em casa com o joelho ralado, a roupa suja de lama e várias advertências no caderno.
- E sempre foi barulhento.
- E sempre fui barulhento – Baekhyun confirmou – É algo que piora com o tempo.
- Tenho pena de quem for viver com você.
- Se o nosso namoro der certo, você vai ser a minha vítima. - Baekhyun piscou o olho, gracejando.
Sem saber se ele estava falando sério ou não, Minseok apenas desviou o olhar e fitou a rua do lado de fora da janela para disfarçar que estava totalmente desconcertado.
- Acho melhor a gente ir, antes que fique tarde – disse num tom estranho até para si mesmo. – Preciso terminar aquele projeto.
- Se quiser ajuda, pode me chamar. Não sou muito bom com leis e prazos, mas sou um ótimo incentivador. – Baekhyun gargalhou e Minseok fechou os olhos, saboreando o som gostoso.
Ele queria mais disso.
Minseok estava viciado em Baekhyun e não sabia mais como se curar, muito menos se havia cura para isso.
E foi então que ele percebeu que estava perdido. Totalmente e pateticamente perdido. O pior de tudo era que Minseok não se importava. Não enquanto ainda pudesse ficar ao lado de Baekhyun.
*
A noite tinha esfriado um pouco, tornando a caminhada até os dormitórios da faculdade muito mais agradável.
Baekhyun e Minseok aproveitaram o tempo juntos para contarem tudo aquilo que não tinha sido dito antes entre eles.
Baekhyun contou muitas coisas e Minseok tantas outras. Eles descobriram o que gostavam de fazer nos tempos livres e o que planejavam da vida depois que se formassem.
Os dois compartilharam tudo sobre o passado, o presente e até mesmo o futuro.
Minseok sentiu que poderia conversar com Baekhyun pelo resto da noite que não se cansaria, mas quando percebeu já estavam parados diante da faculdade e a poucos centímetros de se separarem.
- Eu nunca poderia imaginar que você tinha feito parte do time de natação – Minseok se explicou para Baekhyun que o encarava. – Talvez do canto eu conseguiria, mas nunca da natação.
- Por que eu sou baixinho? – Baekhyun questionou com as mãos no quadril e o cenho franzido. O seu tom de voz era exageradamente indignado e seu sorriso denunciava que ele não estava realmente ofendido.
- Porque você não tem cara – Minseok deu de ombros. – Mas você tem os ombros largos iguais a de um nadador.
- Pode falar – Baekhyun mexeu o corpo de um lado para o outro, gracejando de forma fofa. – Eu sou a pessoa mais bonita que você já viu na vida.
- Pode acreditar que sim.
- E sou um ótimo nadador.
- Isso eu já não posso afirmar porque nunca te vi nadando – Minseok retrucou ao colocar as mãos nos ombros de Baekhyun, impedindo-o de se mexer novamente. – Você está me deixando zonzo.
Minseok achou extremamente encantador o jeito como os lábios de Baekhyun formaram um bico e os olhos escuros dele o desafiaram.
- Pra sua informação eu era um dos melhores.
- Eu acredito nisso – Minseok afirmou, ajeitando o casaco no corpo de Baekhyun ao ver que ele tremia – Eu realmente acredito que você é capaz de se empenhar muito pra fazer tudo o que gosta.
- Eu nunca desisto de nada – Baekhyun disse sério, deixando algo atraente e sugestivo escapar de sua expressão. – Eu luto pra ter tudo o que eu gosto perto de mim.
Não era como se Minseok não soubesse disso. Ele só estava junto de Baekhyun exatamente por causa desse motivo. Os dois eram namorados de mentira porque Baekhyun queria fazer ciúme para Yamazaki Kento.
- O que você está pensando? – Baekhyun deu um passo para frente, ficando perigosamente perto.
- Nada de importante – Minseok sorriu. Era um sorriso um pouco forçado e que não chegava aos cantos de seus lábios. – Estou preocupado com o projeto e o prazo limitado que tenho pra terminar tudo.
Baekhyun o observou atentamente e Minseok sentiu como se ele pudesse enxergar através de seus olhos.
- Eu não queria me despedir agora – Baekhyun lamentou num sussurro e suspirou baixinho. – Mas acho que está ficando tarde e muito frio.
- Um pouco – Minseok disse em reflexo. Sua atenção estava totalmente focada na ponta da língua de Baekhyun que umedecia a boca avermelhada e nos olhos escuros que brilhavam em sua direção.
- Hyung?
- Sim?
- Eu quero meu beijo de despedida.
Minseok sentiu seu coração martelar dentro do peito, as batidas tão altas e fortes em seu ouvido que ele sentiu medo de que Baekhyun pudesse escutá-las.
Engolindo em seco e as mãos tremendo, Minseok agiu impulsivamente. Ele se inclinou para frente, segurou gentilmente o rosto de Baekhyun entre as palmas das suas mãos e beijou a testa dele com extremo carinho e respeito.
- Hyung... – Baekhyun murmurou baixinho e fraco.
Minseok se afastou delicadamente e encontrou Baekhyun com a respiração pesada, os olhos fechados com força e as mãos segurando a sua camisa ao amassar o tecido entre os dedos.
- É melhor você entrar antes que esfrie mais – Minseok disse com as pontas das orelhas queimando e o pescoço em chamas.
- Obrigado por essa noite. Eu me diverti muito. – Baekhyun sussurrou rouco ao deixar as pálpebras abrirem lentamente até focarem Minseok, seus olhos fitando intensamente os dele. – Eu te vejo amanhã, certo?
Havia uma expectativa palpável no tom de voz de Baekhyun que Minseok não queria e não poderia decepcionar nunca.
– Claro que sim.
Porque não teria um dia - sequer um único dia - que Minseok se recusaria a ver Baekhyun. E dessa vez com um sorriso mais sincero e vibrante, despediu-se.
Um até mais que deixou um gostinho de promessa em sua boca.
-
- Você está parecendo um zumbi – Junmyeon disse, roubando uma batata frita do prato de Minseok.
- Yah! Você tem um monte no seu prato – Minseok acusou indignado, batendo na palma da mão dele. – Guloso.
Os dois estavam almoçando juntos num restaurante perto do dormitório. Era um domingo fresco e entediante o suficiente para fazer Minseok e Junmyeon saírem de casa para espairecer.
Eles queriam esquecer do estresse dos exames finais e Minseok do formigamento em sua boca. Era como se ele ainda conseguisse sentir vividamente a pele quente de Baekhyun contra seus lábios.
E o beijo de despedida tinha acontecido dias atrás, mas Minseok não conseguia mais parar de pensar naquela noite. Seus pensamentos dispersos sempre o levavam para a mesma lembrança e sempre para a mesma pessoa, deixando-o intensamente atordoado.
Junmyeon tinha percebido o estado de Minseok e aproveitava para tirar uma com a cara dele, provocando com gracinhas e sugestões malucas. E Minseok já estava acostumado com tudo isso, principalmente Junmyeon roubando comida de seu prato, mas isso não significava que Minseok não se sentisse no direito de reclamar um bocado.
– E, para o seu governo, eu estou me sentindo um zumbi – Minseok se lamentou, frisando as palavras ao sorver mais um grande gole do refrigerante gelado. – Fiquei acordado até tarde ontem.
- Fazendo exatamente o quê? – Junmyeon arqueou a sobrancelha em questionamento.
O restaurante estava cheio e barulhento, mas não o suficiente para o murmúrio baixo de Minseok ser abafado.
- Conversando com o Baekhyun por mensagens – Minseok deu de ombros, querendo imprimir um ar desinteressado quando na verdade a empolgação de passar horas jogando conversa fora com ele ainda o deixasse elétrico.
- Esse namoro está rendendo bastante, hein?
Minseok sentiu as cutucadas do dedo de Junmyeon em seu braço e o ar sugestivo nas palavras dele ao tentar segurar a risada nervosa que ameaçava escapar de seus lábios.
- Para com isso – ele afastou a mão de Junmyeon e tossiu com a outra na frente da sua boca antes de continuar. – Baekhyun estava combinando comigo o dia que vamos visitar os pais dele.
- E quando vai ser isso?
- Muito provavelmente nas férias.
- Daqui duas semanas? – Minseok afirmou com a cabeça. – Você acha que consegue fingir na frente dos pais dele?
- Apaixonado pelo Baekhyun eu já estou – ele deu de ombros, coçando a nuca constrangido ao confessar aquilo em voz alta. - Eu gosto dele pra caramba, Junmyeon. E acho que tirando isso não tem muita coisa que eu preciso fingir.
- Tem sim.
- O que por exemplo?
- Tudo bem que vocês conseguiram uma intimidade bacana nesses dias que saíram e ficaram juntos, mas... – Junmyeon deu uma pausa dramática e exagerada. - E o beijo, Minseok?
- Nós não vamos ficar beijando na frente dos pais dele, seu idiota – Minseok jogou uma batata frita na direção dele e Junmyeon pegou ao atingir o tampo da mesa, enfiando-a na boca. – Nojento.
- Eu aposto que não vai demorar muito pra isso acontecer, Minseok – Junmyeon deu de ombros. – É questão de tempo.
Balançando a cabeça negativamente, Minseok não deu mais atenção a Junmyeon e suas ideias malucas.
Ele estava se iludindo muito bem sem o amigo e não precisava dos conselhos insanos dele para alimentar nada disso.
*
Minseok suspirou cansado, jogando o corpo contra o encosto da cadeira ao fitar o teto sem muito interesse. Ele sentia sua cabeça doer bastante, seus músculos tensos reclamarem e seus olhos ficarem cansados demais depois de tanto tempo lendo palavras pequenas e textos grandes.
- Você precisa descansar um pouco.
Virando o rosto na direção da voz suave, Minseok encontrou Baekhyun na mesma posição de horas atrás, quando o deixou entrar em seu quarto.
Minseok observou como Baekhyun parecia familiarizado com o seu espaço, esticando-se todo em sua cama com um livro no colo sem parecer incomodado com nada.
- Faz horas que a gente começou a estudar e não tivemos sequer uma pausa – Baekhyun murmurou, colocando o livro na mesa de cabeceira ao fitar Minseok atentamente.
- Eu estou me sentindo frustrado – Minseok gesticulou em direção as suas anotações, cadernos e livros espalhados pela escrivaninha. – Não sei se vou conseguir me lembrar de tudo isso no dia do exame.
Quando Baekhyun deu a ideia de estudarem juntos Minseok pensou que seria perfeito. E realmente foi, porque a única coisa que o manteve longe de ter uma crise era a companhia dele.
Baekhyun sempre tinha uma palavra incentivadora quando estava desistindo, uma estória engraçada pra quando estava se sentindo para baixo e uma reação inesperada pra quando seu coração batia calmo.
Ele não era hesitante em suas ações e muito menos se arrependia das coisas que fazia.
Baekhyun sempre passava por Minseok para ir até a cozinha e sempre depositava um beijo em suas bochechas e massageava seus ombros. Mas seu coração disparou mesmo quando sentiu o toque suave dos lábios de Baekhyun em sua nuca, causando um calafrio em sua espinha e queimando suas orelhas em embaraço.
Seu namorado de mentira tinha o dom de deixá-lo desconcertado.
- Vem aqui – Baekhyun gesticulou com as mãos, chamando-o antes de dar um toque suave no colchão. – Você precisa de um tempo longe dos livros, hyung.
Minseok hesitou. Por alguns segundos hesitou e sentiu sua garganta secar com um sentimento forte. Mas antes que pudesse pensar demais e acabar desistindo, ele largou suas coisas e levantou-se da cadeira.
E um pouco hesitante Minseok sentou na beirada da cama, mas isso não pareceu agradar muito Baekhyun que franziu o cenho e comprimiu os lábios numa linha firme e fina.
- Você está muito longe.
Escutou-o reclamar baixinho e notou quando Baekhyun se afastou para o canto da cama, dando espaço para ele deitar ao seu lado.
Ele fitou Baekhyun por alguns segundos antes de deitar sobre os lençóis macios e ficar próximo – muito próximo - do corpo quente e acolhedor. E foi quase instantâneo quando o estresse deu trégua e a tensão diminuiu, seus ombros automaticamente relaxando.
Minseok se aconchegou mais na cama e fitou Baekhyun, os dois com as cabeças encostadas no travesseiro e as respirações se mesclando.
Foi então que Minseok se deu conta de que eles estavam perigosamente próximos. Mais um pouco e poderia tocar os lábios de Baekhyun e provar da maciez deles.
- Assim é bem melhor – Baekhyun sussurrou rouco ao se encolher contra Minseok, abraçando-o gentilmente.
Ele notou a forma como Baekhyun escondeu o rosto contra seu peito, os lábios roçando o tecido fino e os dedos desenhando círculos aleatórios em seu torso numa carícia gostosa.
Minseok respirou profundamente ao tentar controlar as batidas fortes de seu coração, temendo que Baekhyun pudesse escutá-las.
- Se eu não estivesse aqui, você estaria enlouquecendo sozinho?
- Muito provavelmente.
- Ainda bem que eu estou aqui, então – Baekhyun disse num tom calmo, baixo e rouco.
E Minseok deixou um barulho afirmativo e desconexo escapar de seus lábios num tom grave.
Aquilo era muito mais íntimo do que passear juntos de mãos dadas, do que o beijo na testa e o abraço na festa. E aquele momento juntos, apenas os dois, aquecia o peito de Minseok com uma sensação perturbadoramente intensa. Ele sentia que a qualquer momento poderia entrar em combustão e se queimar com uma felicidade sufocante.
- Você é o melhor namorado que eu poderia ter – Minseok murmurou ao quebrar o silêncio do quarto.
Baekhyun levantou o rosto levemente e o fitou nos olhos com uma expressão indecifrável. E com o queixo apoiado em seu peito, os cílios fazendo sombra nas bochechas e os dentes capturando os lábios avermelhados, Minseok teve certeza que nunca encontraria alguém mais bonito do que Byun Baekhyun.
- Eu deveria receber uma recompensa por isso – Baekhyun sugeriu com um sorriso esperto moldando o canto de sua boca.
- Eu não posso te oferecer muita coisa no momento, Baekhyun – Minseok argumentou, sentindo-o entrelaçar suas pernas às dele num gesto inesperado e inconsciente.
Suspirando fraco quando seu pé gelado entrou em contato com o quentinho de Baekhyun, Minseok tragou o ar com força ao aproveitar o calor que ele transcendia.
- Você tem muita coisa pra me oferecer, Minseok – Baekhyun sussurrou sério, sua respiração escapando num sopro e seus olhos encarando-o intensamente ao buscar por algo em suas irises escuras. – Mas, por agora, eu vou aceitar um jantar pra nós dois.
Minseok sorriu e conseguiu respirar normalmente quando Baekhyun quebrou o momento com mais uma de suas gracinhas. E ele fez menção de se levantar da cama para preparar um lanche quando Baekhyun o deteve no lugar, enroscando-se ainda mais contra seu corpo.
- Ainda não – Baekhyun murmurou, sua voz saindo um pouco abafada ao ter o rosto escondido novamente no peito de Minseok – Eu quero ficar assim só mais um pouquinho.
Baekhyun suspirou e fechou os olhos quando Minseok cedeu. E com um bolo preso na garganta e uma sensação domando dentro de si, Minseok aproveitou o momento e se entregou a ele em cada segundo.
- Quanto tempo você quiser –sussurrou em resposta, beijando a testa de Baekhyun com delicadeza.
E Minseok se sentiu realmente perdido e apaixonado. Nada seria mais justo do que abraçar o perigo e desejar que o bendito tempo parasse naquele instante em que ele tinha Baekhyun em seus braços.
Ele queria que aquele momento fosse eterno.
*
- Você sabe que eu não ligaria tão tarde assim se realmente não precisasse, certo? - Minseok escutou a voz meio abafada de Kyungsoo do outro lado da linha do telefone e, coçando os olhos pesados de sono, ficou alerta ao que quer que estivesse acontecendo com o amigo.
Ele avistou o relógio na escrivaninha e notou que passava muito das três da manhã. Minseok deixou um suspiro pesado escapar de sua boca seca e percebeu que tinha dormido sem querer, ao assistir um filme aleatório na televisão com Baekhyun enroscado em seus braços.
Minseok olhou para o lado e viu que Baekhyun continuava agarrado ao seu corpo, os lábios entreabertos roçando em seu pescoço e a respiração quente o arrepiando.
- Quem é? – Baekhyun murmurou sonolento ao seu lado, abrindo as pálpebras lentamente e remexendo-se na cama ao bagunçar ainda mais os lençóis sob os dois.
- Aconteceu algo grave? – Minseok questionou preocupado para Kyungsoo e Baekhyun o olhou atentamente.
- Jongdae está muito bêbado – Kyungsoo disse com um tom sério - e não sabe onde enfiou as chaves do dormitório dele. – ele bufou contrariado em meio a música alta e reclamou algo com Jongdae que parecia murmurar descontente ao seu lado. – E você sabe que o meu colega de quarto é meio chato pra essas coisas.
- E você pensou que eu poderia trazer ele pra cá – Minseok completou pelo amigo que suspirou frustrado do outro lado.
- Sim.
- Me fala onde vocês estão que eu vou aí – murmurou ao se levantar da cama apressado, procurando por sua camiseta e o casaco.
Ele praguejou baixo quando não encontrou suas chaves, mas respirou aliviado ao ouvir o tilintar delas e sorriu em agradecimento para Baekhyun que as rodava no dedo.
- Prometo não demorar, Soo – Minseok o tranquilizou com uma voz suave e baixa.
- O que aconteceu? – Baekhyun questionou assim que Minseok finalizou a ligação. Ele tinha o semblante sério e preocupado.
- Nada demais –aproximou-se dele na cama e pegou o molho de chaves que era estendida em sua direção e a carteira na mesinha de cabeceira. – Jongdae bebeu demais e eu vou precisar buscar ele pra passar a noite aqui.
E Minseok estava prestes a se virar e deixar Baekhyun dormindo sossegado quando sentiu os dedos elegantes capturando seu pulso.
- Eu vou com você.
- Não precisa – Minseok sorriu e ajeitou os fios rebeldes que caiam no rosto de Baekhyun. – Pode ficar dormindo aqui.
- Minseok – ele chamou firme. – Eu vou com você.
Minseok umedeceu os lábios e murmurou um ‘tudo bem’ baixo e esperou Baekhyun vestir seus tênis e casaco para saírem.
E a viagem do seu dormitório até a festa não era muito longe, mas muito fria e escura. Os dois andaram o percurso todo um pouco apressados, tentando evitar ao máximo o vento forte e gelado que os atingia.
Baekhyun manteve o tempo todo os olhos atentos à sua frente com as mãos enfiadas dentro do bolso da frente da calça, os orbes perdidos no tempo e a expressão pensativa.
- Eu não sei mais o que eu faço com o Jongdae – Kyungsoo resmungou quando avistou os dois entrarem na casa de um dos alunos da faculdade. – Terminar com a Yoora definitivamente não fez bem pra ele.
- É só uma fase, Soo – Minseok disse e riu da posição destrambelhada que Jongdae se aconchegava no sofá, a boca entreaberta e o nariz torto por ficar contra o encosto do estofado.
- Eu espero que sim.
Kyungsoo os ajudou a levar Jongdae de volta e se jogou no sofá da casa de Minseok exausto. Baekhyun o observou em silêncio. Na verdade, o caminho de volta ele não trocou nenhuma palavra com ninguém e ajudou Minseok a carregar o bêbado pelas escadas do dormitório.
Ele até mesmo o auxiliou a colocar Jongdae na cama de Junmyeon - que avisou que iria passar a noite no dormitório de Sehun – sem dizer absolutamente nada.
- Se quiser, pode dormir aqui – Minseok comentou com Kyungsoo. – Acho que está tarde pra você atravessar o campos agora.
- Não é uma má ideia, viu. – Kyungsoo sorriu pra ele e mordeu o lábio inferior, contendo um bocejo de escapar. – Relembrar os tempos em que eu dormia no meu velho e bom amigo sofá.
- Ele conhece muito bem os seus roncos.
Minseok contornou a mesinha de centro, ajeitando a bagunça de cadernos que Baekhyun tinha deixado espalhada na sala e percebeu quando Baekhyun se encostou no batente da porta.
- Eu não ronco, seu idiota – Kyungsoo tentou chutar a bunda de Minseok que afastou sua perna com um safanão. – Você dormiu comigo várias vezes e sabe bem disso.
Minseok não soube bem o motivo, mas ele olhou na direção de Baekhyun e o encontrou de semblante sério e a sobrancelha arqueada pelo comentário do outro.
- Mas acho que vou recusar e ir pra minha cama mesmo. Não quero acordar com dores nas costas amanhã.
- Você quem sabe – Minseok murmurou, sentindo os olhos de Baekhyun pesando sobre si.
- Jongdae já está atrapalhando vocês o suficiente – Kyungsoo sorriu para ele, depois para Baekhyun em desculpa e Minseok o viu recolher suas coisas e caminhar para a porta. – Desculpa mesmo.
Kyungsoo o abraçou como costume e o apertou entre os braços, antes de bagunçar os fios de seu cabelo e sair do seu dormitório ao acenar em despedida com um ‘boa noite’ baixo e cansado.
- Vocês são bem íntimos – Baekhyun constatou. Ele ainda estava encostado contra o batente da porta, os braços cruzados e a expressão séria.
- Amigo de longa data.
- Ele gosta de você?
- Não – Minseok soube que tinha respondido rápido demais e Baekhyun percebeu isso.
Ele se aproximou de Minseok enviesando os lábios de canto e os olhos o fitando com interesse e intensidade. Suas mãos seguraram o casaco de Minseok, trazendo-o para perto. Não havia muito espaço entre eles e seu rosto ficou a centímetros do de Baekhyun.
- Eu estou com ciúmes.
Minseok soltou uma lufada de ar e ficou sem reação. O coração em batidas erráticas no peito.
- Ele é só um amigo.
- Hm - Baekhyun murmurou arrastado e o encarou com algo cruzando os olhos escuros. – Interessante.
- O quê?
Baekhyun mantinha os lábios enviesados num sorriso instigante e sua mão livre subiu do peito para o pescoço até alcançar a nuca de Minseok, acariciando os fios de cabelo ao alcance dos seus dedos.
Minseok suspirou pesado, sentindo todo seu corpo estremecer sob o toque delicado e gostoso.
- Ver você com esse tal de Kyungsoo... – ele sussurrou com a respiração batendo contra sua bochecha e o nariz tocando sua pele suavemente num carinho inesperado. – Eu fiquei com ciúme. Muito ciúme.
- Por quê?
Minseok fechou os olhos com força, os pensamentos nublados e os sentidos entorpecidos. E ele esperou por uma resposta com o coração martelando contra o peito.
Uma resposta que não veio.
Baekhyun não teve chance de dizer nada quando Jongdae invadiu a sala meio trôpego em direção à cozinha.
- Ops – ele murmurou culpado – Acho que eu atrapalhei alguma coisa.
- Você acha, é? – Minseok retrucou sarcástico e Baekhyun riu.
- Não precisa se preocupar – Baekhyun sussurrou em seu ouvido e Minseok sentiu uma sensação quente fisgar em seu baixo ventre e um arrepio subir por sua espinha. – Eu ainda vou voltar nesse assunto. E pode ter certeza que eu vou querer saber essa estória que você dormiu com o Kyungsoo.
Um sorriso esperto delineava os lábios bonitos de Baekhyun que tocaram gentilmente sua bochecha num beijo breve. E ele saiu da sala e caminhou para o quarto de Minseok, sumindo no corredor e deixando-o sozinho com Jongdae.
- Você está perdido, cara. – Jongdae afirmou com um sorriso bobo no rosto e o corpo pendendo para o lado, como se estivesse perdendo o equilíbrio e o controle sobre si mesmo.
Minseok não conseguia acreditar e compreender nada do que tinha acontecido. Baekhyun estava mesmo com ciúme dele? Do namorado falso? O cara que estava somente o ajudando num plano maluco?
Era surreal demais e o fazia cogitar inúmeras possibilidades, as quais ele não queria que o tornasse esperançoso. Mas já era tarde demais.
Seu coração estava meio descontrolado e seu semblante se iluminou com algo bobo e contente ao curvar seus lábios para cima num sorriso.
- Acho que estou mesmo.
E era o melhor jeito pra se estar perdido.
*
Ele respirou profundamente aliviado na manhã em que acordou e percebeu que não tinha mais matérias, livros, leis e artigos para ficar estudando por horas a fio.
Minseok se sentia imensamente grato que os exames finais tinham finalmente terminado, levando um pouco de sua sanidade no meio do caminho, mas mesmo assim acabado.
E se não fosse por Baekhyun, ele tinha certeza de que acabaria pirando de uma vez por todas. Quando acabava excedendo demais em suas sessões de estudos, Baekhyun dava um jeito de tirá-lo da biblioteca ou da frente da sua escrivaninha para dar uma pausa.
Ele sempre levava Minseok para respirar o ar fresco do lado de fora do prédio do dormitório ou simplesmente para se afastar um pouco da faculdade, mas na maioria das vezes os dois se enroscavam nos lençóis da sua cama, jogando conversa fora e gastando horas num momento apenas deles.
Era quase uma rotina estabelecida entre os dois.
Minseok gostava de sentir o perfume de Baekhyun, o calor de seu corpo e o toque da pele macia contra a sua. Ele amava a forma que sempre se abraçavam num ato naturalmente inconsciente.
E ficar perto de Baekhyun o tornava ainda mais viciado por sua companhia, fazendo-o ficar ávido por muito mais. Ele era ambicioso quando se tratava de Byun Baekhyun.
Minseok se sentia egoísta, mas ele não queria que aquele namoro de mentira terminasse.
Era muito bom e muito perfeito para acabar.
- Aonde você vai?
Junmyeon o questionou com a sobrancelha arqueada, o corpo estirado no sofá velho e um cobertor cobrindo-o dos pés até quase a cabeça. A televisão a sua frente estava ligada em alguma animação da Disney e ele parecia devorar um balde de pipocas sozinho.
- Preciso entregar uma documentação na faculdade, mas não demoro muito pra voltar – Minseok murmurou, buscando por suas chaves e carteira.
- Em cima do balcão – Junmyeon indicou com o dedo sem olhar e Minseok grunhiu ao pegar seus objetos. – Você já arrumou suas malas? É amanhã mesmo que você vai viajar com Baekhyun?
- Sim e sim – ele respondeu colocando a carteira no bolso traseiro da calça jeans e pegando um envelope pardo com seus documentos de cima da mesa. – Já está tudo pronto pra viagem e eu vou sair daqui por volta das seis da manhã. Então, não precisa acordar pra se despedir.
- E quem disse que eu quero me despedir?
- Você vai ficar dias sem me ver, Junmyeon.
- E eu estou muito feliz por causa disso.
- Mentiroso!
- Como eu posso não ficar se eu vou ter a casa toda pra mim?
Junmyeon estava sendo irônico e Minseok sabia disso.
- Eu quero minha casa inteira quando voltar e nada de festas, muito menos Sehun ocupando algum canto dessa casa – Minseok o advertiu ao tirar o cabelo da frente dos olhos. – Da última vez ele fez muita bagunça e ainda teve a audácia de pegar minhas meias emprestadas.
- Ele estava sentindo frio – Junmyeon deu de ombros, enfiando um bocado de pipoca na boca. – Vê se não demora na faculdade e vai aproveitar logo as suas férias.
- Nesse frio? – Minseok apontou para a janela onde o céu nublado não iluminava muito a sala e o vento forte e frio balançavam as cortinas.
- Claro – Junmyeon o olhou por cima do braço do sofá – Você tem que aproveitar o tempo com seu namorado.
- Um de mentira.
- E isso faz diferença? – Junmyeon perguntou retoricamente. – Vocês dois fazem tudo igual a um casal de verdade. Agora só falta o beijo – murmurou como se estivesse desapontado com a falta de reação do amigo. - Eu ainda estou esperando você mexer essa sua bunda grande e tomar logo uma atitude.
- Junmyeon, por favor, volta a assistir seus desenhos que você ganha mais – Minseok resmungou com o cenho franzido.
- Realmente ganho mesmo – ele deu de ombros e voltou a sua atenção para a tela da televisão.
Minseok não sabia como Junmyeon podia acreditar tanto naquele namoro entre ele e Baekhyun.
Fosse como fosse, Minseok também acreditava como um tolo, esperando muito mais daquele relacionamento do que seria justo.
Baekhyun e Minseok tinham uma intimidade e um envolvimento que muitos casais verdadeiros não tinham. Os dois possuíam uma sintonia somente deles e nada podia ser melhor do que um ter a companhia do outro.
Ele sabia que Baekhyun podia ser inalcançável, mas tinha momentos em que Minseok o sentia ao alcance de suas mãos e isso o tornava ainda mais sonhador e esperançoso.
*
Minseok estava tão distraído em meio aos seus pensamentos e ilusões sobre aquele namoro de mentira que não percebeu uma leve movimentação ao virar um dos corredores do prédio do lado de fora do dormitório em direção a saída. Mas, por algum motivo, seus olhos capturaram e compreenderam o que estava acontecendo em meio ao jardim antes mesmo que sua mente pudesse.
E Minseok sabia que não deveria estar presenciando aquela cena. Ele sabia que era errado ficar onde estava, vendo algo ao qual não fazia parte, mas seu corpo estava completamente paralisado.
Com um nó na garganta, Minseok reparou como Baekhyun estava próximo de Yamazaki Kento. As feições dele indicavam quanto Baekhyun estava chateado e frustrado, seus lábios comprimidos numa linha reta e firme e o cenho franzido em descontentamento. Mas ainda assim os dois estavam próximos demais.
Kento parecia tentar amenizar a situação, mas o resultado não era como ele aparentemente esperava. Ele parecia desapontado quando a boca de Baekhyun curvou para baixo e expeliu palavras duras e ásperas que Minseok não conseguia escutar de onde estava.
Minseok se sentiu deslocado e nauseado, mas ele presenciou quando Kento tocou o braço de Baekhyun, como para provar um ponto. E para seu pesar Baekhyun não o afastou, deixando que a mão descansasse em sua pele ao abandonar as linhas duras de sua expressão e permitisse que cada traço de suas feições se suavizasse com o que quer que Kento tenha dito baixinho somente para ele.
Baekhyun suspirou pesarosamente e Minseok notou os olhos dele fechando com um bocado de um sentimento que não soube reconhecer, mas que fez seu estômago pesar e seu coração sufocar dentro do peito.
Ele não conseguia mais assistir aquilo, um gosto amargo preenchendo sua boca e uma dor paralisante domando seu corpo e sua mente.
Se aquilo fosse o que ele imaginava, logo não haveria mais Minseok e Baekhyun e o resultado daquele namoro de mentira se tornaria exatamente o que ele imaginava. Mas Minseok não estava disposto a dar adeus a algo tão bom e que o fazia tão bem.
Minseok não queria perder Baekhyun.
Ele se virou, sendo incapaz de ver mais daquele encontro. Não queria mais presenciar o antigo casal se reconciliando porque ele tinha quase certeza de que era exatamente isso que estava acontecendo entre os dois.
Minseok foi embora com os pensamentos nublados, o coração pesado e o corpo entorpecido.
*
Era um sábado frio e nublado quando Minseok pegou o trem com Baekhyun para a visitar os pais dele.
A viagem foi sossegada e muito tranquila. Baekhyun contou para Minseok sobre seus exames finais, os professores que ele acreditava que daria uma nota alta para os seus projetos e sobre o último fora que seu colega de quarto levou de uma garota.
Baekhyun estava mais barulhento do que o normal e tudo o que ele dizia tinha um tom de animação extremo. Minseok sorria sinceramente para o rapaz, sentindo-se contagiado pelo seu entusiasmo.
E ele tentava se esquecer de todas as formas possíveis a cena do dia anterior, apagando da sua mente qualquer insegurança e do seu coração qualquer sentimento pesado que ameaçasse deixá-lo angustiado.
Faltando pouco para a viagem terminar, Baekhyun reclamou de cansaço e automaticamente se aproximou do corpo de Minseok, encostando a cabeça no ombro dele ao suspirar profundamente.
Minseok estremeceu ao sentir a respiração quente de Baekhyun contra seu pescoço e não se conteve ao deixar que seus dedos embrenhassem nos fios escuros e sedosos, tirando-os da frente do rosto dele e acariciando-o levemente.
- Eu gosto quando a gente fica assim – Baekhyun murmurou de olhos fechados e Minseok sentiu seu coração bater mais rápido.
- Eu também – ele sussurrou em resposta com algo escorregando entre suas palavras e sua voz falhando ao final.
- Meus pais vão te adorar – levantando o rosto ligeiramente para cima, Baekhyun o fitou nos olhos com uma expectativa palpável e um brilho incandescente nos olhos. – Eu vou fazer questão de fazer você se divertir muito e querer voltar uma próxima vez comigo.
Minseok também queria que tivesse uma próxima vez, mas se Kento voltasse à vida de Baekhyun seria algo difícil de acontecer novamente. Mas ele preferiu ficar quieto e rir com a animação quase infantil de Baekhyun.
Minseok deslizou suavemente os dedos do cabelo macio para a bochecha corada de frio, depositando um carinho suave nela. Seu coração retumbava furiosamente dentro do peito e ele tentava pensar que aqueles momentos junto com Baekhyun duraria bem mais do que estava fadado a terminar.
Baekhyun voltou a relaxar em seus braços e a fechar os olhos, suspirando baixinho com a carícia. E ele ficou assim pelo resto da viagem, despertando apenas quando o trem parou e Minseok o acordou gentilmente.
- Está preparado pra conhecer meus pais, hyung?
Foi o que Minseok escutou Baekhyun exclamar alto ao pular do trem para o lado de fora.
Era inverno e Minseok foi atingido pelo vento frio da estação pouco movimentada sem piedade. Ele olhou ao seu redor, percebendo a grande diferença entre uma cidade grande e movimentada para uma pequena e muito pacata.
Minseok gostava disso. Ele gostava da paz da cidade de Baekhyun, mas não gostava da sensação que tinha no peito.
De uma forma ou de outra, Minseok tinha ido para aquela cidade conhecer os pais de Baekhyun e fingir uma relação. Claro que ele não fingiria seus sentimentos e muito menos o apreço que tinha pelo filho deles, mas a relação entre os dois, por mais que quisesse que fosse, não era em nada real.
Baekhyun não era seu namorado de verdade e Minseok teria que mentir sobre isso.
Então não, ele não estava nada preparado para conhecer os pais de Baekhyun.
*
Os pais de Baekhyun foram muito receptivos e tão ou mais animados que o próprio filho.
Minseok reparou no sorriso retangular de Baekhyun refletido nos lábios da mãe e o nariz pequeno no rosto do pai. Baekhyun tinha uma mistura dos pais que os tornavam parecidos, mas também ele era singularmente bonito a sua maneira.
E Minseok foi gentilmente recebido pela família que o ajudou com as malas e fez questão de que ele descansasse da viagem longa.
Uma reação bem diferente da que ele realmente esperava. Se fosse tomar em consideração o discurso de Baekhyun sobre provar que era feliz do jeito que era para eles... Era estranho toda aquela saudação calorosa e nada hesitante. Afinal, o plano não era conquistar a confiança dos pais de Baekhyun? Mas parecia que os dois o aceitavam muito bem e não tinham nenhum problema com isso.
Fosse como fosse, os mais velhos cederam gentilmente o quarto de hóspedes para Minseok que se viu num cômodo pequeno, bem iluminado e muito aconchegante com Baekhyun divagando sem parar sobre coisas do seu passado e o quanto estava empolgado para mostrar tudo a ele.
- Baekhyun – Minseok se virou na direção da voz feminina e encontrou a mãe do garoto escorada no batente da porta do quarto. – Deixa o menino respirar um pouco e vem me ajudar na cozinha.
- Você sabe que eu não sei cozinhar e nem picar nada direito.
- Eu gosto de como suas batatas ficam artisticamente cortadas e seu arroz deliciosamente empapado – ela riu baixinho quando notou a expressão de frustrado do filho. – Eu estava com saudades da sua comida.
- Se quiserem eu posso...
Minseok começou, mas foi cortado sutilmente pela mãe de Baekhyun.
- Nem pensar – ela o deteve com um gesto gentil – Você fica aqui pra descansar e, se quiser tomar um banho, pode usar o banheiro que tem no final do corredor e usar as toalhas limpas que estão armário. Aproveita a oportunidade porque logo Baekhyun volta pra te atormentar mais um pouco.
- Mãe! – Baekhyun exclamou indignado.
- Vem e deixa seu namorado descansar.
Ela puxou Baekhyun para fora do quarto que resmungou algo que Minseok não compreendeu, fazendo-a rir alto em resposta.
Namorado. Aquela palavra ainda soava familiarmente boa aos seus ouvidos e Baekhyun parecia acostumado em escutá-la. Mas Minseok sabia que o namoro de mentira tinha um prazo de validade e algo o deixava a impressão de que seria enquanto a viagem durasse.
*
- Você demorou no banho.
Minseok levantou o rosto e avistou Baekhyun deitado sobre sua cama com um sorriso travesso brincando nos lábios. O tom de voz dele era brando e um pouco manhoso, mas o olhar em seu rosto tinha algo muito intenso e instigante que fez Minseok deter seus movimentos - uma toalha branca na mão, secando os fios úmidos do seu cabelo -, com a expressão confusa.
- Esperava encontrar você com uma toalha enrolada no corpo e muita pele aparecendo.
Baekhyun riu quando Minseok revirou os olhos ao estalar a língua frustrado e as orelhas queimando de vergonha.
Ele jogou a toalha em cima da poltrona no canto do cômodo, desviando o olhar antes que seu coração ameaçasse saltar para fora da sua boca.
- Baekhyun... – começou em tom de advertência.
– Você não pode me julgar por querer que as famosas cenas de filmes e livros românticos aconteçam comigo também, hyung – Baekhyun o olhou de volta com o semblante sério, mas o sorriso de canto ainda brincando em seus lábios. - Mas o que eu estou vendo não me decepciona em nada.
- Para de falar besteira, Baekhyun – Minseok resmungou e sentou na ponta da cama. – Você não deveria estar ajudando a sua mãe?
- Dentro das minhas habilidades culinárias eu já fiz tudo o que poderia pra ajudar. – Baekhyun o observou por breves segundos ao buscar sua mão com a dele, entrelaçando os dedos num ato delicado. – Por que você insiste em ficar longe de mim?
Porque machucaria demais ter que me separar depois, foi o que Minseok pensou com um peso no coração. Mas, ao invés de obedecer a sua razão que gritava para se afastar, ele cedeu e deitou ao lado de Baekhyun que se enroscou em seu corpo e o abraçou apertado, como se tivesse medo de que Minseok pudesse escapar a qualquer momento.
O que Baekhyun não sabia era que se dependesse de Minseok nada o faria se afastar dele. Ou quase isso, porque se algum dia Baekhyun pedisse para acabar com toda aquela mentira e terminar o acordo que havia entre eles, Minseok o obedeceria.
E, por mais que doesse ficar longe de Baekhyun, ele ficaria.
- Eu queria saber o que você tanto pensa – Baekhyun murmurou com as pontas dos dedos tocando o vinco entre as sobrancelhas de Minseok, ao tentar suavizar a expressão séria e tensa que ele carregava.
- Não é tão importante assim – deu de ombros e ajeitou-se sobre o colchão antes de desviar os olhos, fitando o teto sem muito interesse. – São coisas que eu não consigo parar de pensar.
- E eu gostaria que você compartilhasse comigo.
- São bobagens da minha cabeça.
- Nada é bobagem quando é sobre você, Minseok.
Minseok virou o rosto e o olhou nos olhos, encontrando um interesse sincero nas irises escuras e brilhantes. Baekhyun estava realmente querendo saber sobre ele.
- Você já pensou como vai ser quando esse namoro de mentira acabar?
- Eu não gosto de pensar sobre isso – Baekhyun respondeu sério e algo parecia o incomodar bastante.
- Por quê?
Baekhyun suspirou profundamente e fitou as mãos unidas dos dois antes de voltar a encarar Minseok com ainda mais intensidade.
- Você não sabe, Minseok? – Baekhyun disse baixinho, a voz fragmentada e rouca.
Ele o fitou com a expressão denunciando algo que Minseok não conseguia captar, mas sentia no fundo do seu coração.
Minseok sabia que havia um certo tom de ansiedade no timbre de voz de Baekhyun, mas ainda era complicado descobrir todas as outras emoções que estavam escondidas nas entrelinhas. Na verdade, era realmente difícil decifrar Baekhyun e descobrir o que ele desejava.
– Você realmente não sabe?
Minseok entreabriu os lábios para responder, mas as palavras se recusaram a sair e ficaram estagnadas em sua garganta como um nó.
Ele estava confuso e não entendia o que Baekhyun queria dizer com tudo aquilo.
- Achei que fosse óbvio.
Minseok escutou Baekhyun murmurar e ele focou sua atenção na expressão séria dele, esperando encontrar algo – qualquer coisa – que indicasse o caminho certo.
E algo cruzou as feições bonitas, mas antes que Minseok pudesse descobrir o que era e saber o que tudo aquilo significava, a mãe de Baekhyun bateu sutilmente na porta, chamando-os para descer.
Minseok sentiu seu coração martelar com força quando Baekhyun o fitou por mais alguns segundos, esperando algo dele. E Minseok quis saber o que era para suprir todas as expectativas de Baekhyun, mas ele estava estupidamente perdido.
Uma sensação pesada o dominou e um gosto amargo preencheu sua boca ao ver Baekhyun levantar da cama e soltar as mãos entrelaçadas, seu calor se dissipando de Minseok.
E Baekhyun sorriu e o puxou do colchão, fazendo-o se levantar e ficar de frente para ele. Olhos nos olhos e seu peito encostado ao dele, as respirações quentes se encontrando pela falta de distância e os lábios muito próximos um do outro.
- Não se preocupe – o sorriso curvou ainda mais na boca bem desenhada. – Você vai saber do que eu estou falando.
Era uma promessa. Minseok sentia que era uma promessa que ele iria descobrir em breve.
-
Minseok notou que o tempo que passava junto com Baekhyun e seus pais era sempre muito animado.
As refeições eram agitadas com conversas paralelas e histórias antigas e novas que rodavam pela pequena cidade. As noites com sessões de filmes eram repletas de reações exageradas, risadas altas e muita pipoca. E as tarefas rotineiras e domésticas eram compartilhadas igualmente entre todos, enquanto uma música vibrante tocava no som da sala para os motivar.
Baekhyun costumava dançar no meio da cozinha e sua mãe a assobiar no ritmo da batida. Eles eram livres, cheios de energia e conviviam em harmonia. Uma família unida e feliz.
Era contagiante.
E, no tempo em que passaram juntos, Minseok observou como Baekhyun era muito parecido com sua mãe. Tanto no sorriso bonito quanto na personalidade barulhenta. Os dois tinham o dom de preencher o ambiente com sons e cores vibrantes.
Por outro lado, o pai de Baekhyun era muito mais observador e quieto, mas tinha a mania de provocar e ser irônico como o filho. E inconscientemente Minseok passou a captar as pequenas semelhanças entre os três, mas também as grandes diferenças que os distinguiam.
Ele também não deixou de reparar em algo. Baekhyun era aceito pelos pais e, bem diferente do que esperava, Minseok não se sentiu rejeitado ou até mesmo condenado por nenhum dos dois. Ele foi acolhido pelos mais velhos como o namorado do filho, sem nenhum tipo de resistência ou julgamentos.
Não houve questionamentos, nem mesmo o penalizaram por qualquer uma de suas escolhas.
Era até mesmo estranho pensar que o plano de Baekhyun envolvia conquistar a aceitação dos pais quando, na verdade, ele já tinha desde o começo.
Talvez por isso Minseok começou a sentir que o objetivo do namoro de mentira não se encaixava em nada no cenário em que ele presenciava na casa de Baekhyun.
E Minseok conseguia pensar em apenas uma possibilidade para explicar tudo aquilo. Mas era impossível, certo? Minseok não conseguia imaginar Baekhyun cometendo uma loucura dessas.
Ou, talvez, nem era tão difícil assim.
- Você é novo na cidade? – uma voz baixa, suave e feminina o despertou de seus pensamentos.
Minseok olhou para o lado e encontrou com uma garota um pouco mais baixa que ele, cabelos longos e castanhos e olhos bem escuros, fitando-o com um interesse nítido nas irises e um sorriso gentil nos lábios.
Minseok estava no pequeno supermercado da cidade e, enquanto escolhia alguns legumes para o jantar, Baekhyun parecia entretido com as prateleiras de doces e salgadinhos no canto oposto da loja.
- Na verdade, vim visitar a família de um... amigo – ele coçou a nuca incerto, hesitando na última palavra e sentindo-se culpado quando finalmente a verbalizou.
Parecia errado não reconhecer Baekhyun como seu namorado, mesmo que fosse um de mentira.
- Será que eu o conheço? – ela questionou ao se aproximar alguns passos, sem invadir o seu espaço pessoal ou fazê-lo se sentir desconfortável.
- Byun Baekhyun.
Ela pareceu pensar por alguns segundos, puxando na memória um rosto para o nome dito.
- Me soa familiar – ela fez uma expressão adorável e Minseok inconscientemente sorriu de canto. – Eu nunca fui muito boa para recordar os nomes das pessoas – deu de ombros, como se pedisse desculpas por isso. – Mas o que está achando da cidade?
Minseok reparou nos gestos ansiosos e um pouco instáveis da garota ao analisar uma batata sem muito interesse, antes de jogar na sacola de plástico que estava no carrinho à sua frente.
Os cantos de seus lábios curvavam inocentemente para cima num sorriso bonito e as mãos pequenas, quando estavam livres, insistiam em tirar os fios de cabelo da frente do rosto e os prender atrás da orelha.
E foi nesses pequenos detalhes que Minseok soube que a garota estava flertando com ele.
- É um lugar bem calmo.
- Isso é bom?
- Claro – Minseok respondeu ao colocar a sacola com as cenouras escolhidas dentro da cesta que estava repousada no chão ao lado de seus pés. – Eu estava precisando um pouco de folga da cidade grande e das coisas que estavam me estressando – deu de ombros ao endireitar o corpo. - E aqui é muito bonito também, então...
Minseok deixou sua frase no ar e arriscou um olhar na direção de Baekhyun, esperando encontrá-lo distraído com as compras. Mas Baekhyun o encarava com a sobrancelha arqueada em questionamento, os olhos brilhando escuros e o semblante sério denunciando que ele observava a conversa há algum tempo.
Minseok sentiu seu coração parar uma batida para acelerar na seguinte quando percebeu um sorriso esperto e bem atrevido contornando os lábios bonitos de Baekhyun.
- Se você quiser, eu posso te mostrar alguns lugares legais daqui – ela ofereceu timidamente e Minseok desviou a atenção para o rosto delicado à sua frente. – A cidade é bem pequena, mas tem coisas bem legais para fazer e conhecer.
Minseok a olhou com atenção e partiu os lábios para recusar educadamente o convite, mas se deteve ao ser interrompido.
- Ele agradece o convite – uma voz grave e firme murmurou rouca e Minseok sentiu braços deslizarem por seu quadril, envolvendo-o num abraço por trás -, mas o guia turístico dele vai ficar muito magoado se for dispensado por outra pessoa.
Minseok não precisou olhar para saber quem era. E ele ofegou quando Baekhyun pressionou o torso contra suas costas ao depositar um beijo suave em seu pescoço, fazendo suas orelhas queimarem de vergonha e uma sensação morna fisgar em seu baixo ventre.
- Ah – ela suspirou e seu semblante se iluminou ao entender a situação. – E-eu achei que...
- Pois é – Baekhyun murmurou calmo. Um sorriso gentil delineava seus lábios, mas em seus olhos havia algo felino e perturbadoramente intenso. – Mas foi um prazer conhecer você. Não é, hyung?
- Claro – Minseok murmurou com um riso preso na garganta.
A menina não parecia ofendida, muito menos desconcertada. Esse era o efeito de Baekhyun. Ele estava sendo compreensivo e nada intimidador. E a garota pareceu entender de forma respeitosa.
Quando ela se afastou com uma despedida tímida, Minseok virou o corpo nos braços de Baekhyun e notou algo cruzar as irises escuras dele.
- Primeiro Kyungsoo e agora ela – Baekhyun mordeu o lábio inferior ao aproximar o rosto do seu. – Eu fico com ciúmes de você – sussurrou em seu ouvido, os lábios tocando seu lóbulo com delicadeza – e tento me controlar pra não agir impulsivamente.
- Ciúme? – Minseok não conseguia mais raciocinar direito. Não quando Baekhyun estava tão perigosamente próximo.
- Uhum – murmurou num tom profundo, fazendo todos os pelos do corpo de Minseok se arrepiarem. – E sabe – Baekhyun pausou e sua respiração pesada e quente tocou a pele de Minseok, numa sensação perturbadoramente enlouquecedora e desconcertante - eu ainda quero saber sobre aquela conversa que você e Kyungsoo dormiam juntos.
Quando Baekhyun se afastou, Minseok notou um sorriso enviesado nos lábios avermelhados. Era um sorriso astuto e algo mais que ele não soube decifrar, mas que o deixava completamente desnorteado.
Baekhyun era uma caixinha de surpresas. Mas mais do que isso, ele também era inesperadamente sua fonte de admiração. Minseok nunca sabia o que esperar dele e suas reações e ações sempre o deixavam fora de rumo, mas nunca desconfortável.
- Não tem muito o que saber – Minseok disse baixinho. - Nós ficamos juntos por um tempo, mas não deu certo – deu de ombros ao deixar que as pontas de seus dedos tocassem inconscientemente o rosto de Baekhyun, trilhando até a mecha de cabelo que caia em seus olhos.
- Por quê?
- Era melhor ser apenas amigo – ele acariciou com o polegar a bochecha de Baekhyun que suspirou em resposta.
- Você ainda gosta dele?
Minseok percebeu o tom suave no sussurro de Baekhyun e umedeceu os lábios, um frio percorrendo sua espinha em antecipação.
- Eu me importo com ele como eu me importo com qualquer outro amigo meu – Minseok umedeceu os lábios, observando a feição séria de Baekhyun. – Não faria nada pra acabar com a minha amizade com Kyungsoo.
- Ótimo saber disso – Baekhyun sorriu com certo alívio e segurou suas mãos, puxando-o para o fundo da loja. – Agora me ajuda a escolher os chocolates.
Minseok não questionou a mudança repentina de assunto. Talvez ele nem mesmo precisasse de uma resposta para saber o que aquilo significava.
- Mais chocolate? Você tem bastante na sua casa.
- Chocolate nunca é demais, hyung.
Minseok se deixou ser puxado por Baekhyun, entrelaçando os dedos quando as mãos se uniram delicadamente.
Minseok tentou não raciocinar demais, não tentou encaixar as peças e muito menos tentou entender o que estava acontecendo. Talvez fosse óbvio demais, mas ele não queria pensar naquilo.
Era estranho demais as possibilidades que passavam por sua cabeça, porque elas não faziam o mínimo sentido. Não quando Baekhyun tinha pedido a sua ajuda e inventado um namoro com razões concretas.
Mas nenhuma daquelas razões faziam parte da pintura toda. Os pais de Baekhyun não precisavam ser convencidos de nada. Muito pelo contrário, os dois pareciam satisfeitos com o que Baekhyun tinha se tornado. Eles eram pais orgulhosos do filho.
Talvez Kento fosse o objetivo de tudo aquilo. Mas, então, porque Baekhyun o levaria para a cidade em que nasceu para conhecer seus pais?
Minseok não queria pensar nas hipóteses, porque a possibilidade de estar imaginando as coisas e interpretando os sinais de forma errada era maior do que gostaria. E o que ele mais queria evitar naquele momento era se alimentar de ilusões.
Minseok não queria terminar de coração partido e se envolver mais do que já estava envolvido naquela mentira.
-
Estava muito frio naquela noite de inverno e Minseok conseguia sentir a temperatura baixa penetrar em suas roupas e chegar em sua pele sem um pingo de piedade.
Nem mesmo as várias camadas de roupa de frio eram capazes de protegê-lo do sopro impaciente e cortante do vento gelado. Muito menos o chocolate quente que Minseok bebeu mais cedo, preparado pela mãe de Baekhyun, tinha surtido efeito. Mas nada disso impediu Baekhyun de arrastá-lo com um entusiasmo transparente para conhecer a cidade.
- Acho que vou congelar vivo – Minseok reclamou baixinho, sentindo seu corpo tremer em resposta.
- Não vejo motivos pra isso acontecer – Baekhyun disse ao umedecer os lábios. Suas bochechas estavam coradas de frio e os olhos brilhavam em antecipação. Ele parecia motivado e com algo diferente em sua expressão. – Não quando você tem alguém pra te aquecer bem do seu lado.
Minseok sentiu os braços de Baekhyun o envolverem num aperto gostoso e aconchegante, deixando que seu corpo ficasse grudado ao dele. E Minseok sentiu uma sensação boa e familiarmente viciante naquele contato.
Era quente e prazeroso estar nos braços de Baekhyun.
E naquela noite Minseok percebeu que as ruas da cidade estavam precariamente iluminadas pela lua e as estrelas e poucas pessoas andavam por elas. Talvez por isso Baekhyun caminhou despreocupadamente, mostrando cada pedacinho da cidade em que nasceu, cresceu e viveu por muitos anos.
Os braços de Baekhyun nem por um segundo o deixaram e ele estava todo aconchegado contra Minseok, comentando empolgado cada coisinha que tinha vivenciado.
- Meus pais gostaram de você – Baekhyun disse quando passaram por uma pracinha cheia de crianças, brincando sob a observação dos parentes. – Na verdade, eles te amaram.
- Eu fiz de tudo pra eles gostarem de mim – Minseok deslizou sua mão pelas costas de Baekhyun e o sentiu estremecer sob seu toque. – Queria que me aprovassem como seu namorado.
- Você nem precisava se esforçar tanto pra isso acontecer – Baekhyun o olhou, acompanhando seus passos calmos.
- Seus pais precisavam ver que você é feliz com suas escolhas, Baekhyun – sorriu fraco e beijou a testa dele num breve selar. – E se eles não gostassem de mim e proibissem você de seguir o que quer?
- Minseok – Baekhyun disse com a expressão séria e a voz firme. - É impossível não gostar de você.
Minseok mordeu o lábio inferior totalmente desconcertado ao sentir uma faísca de felicidade engolir qualquer resposta que ele pudesse dizer.
E a caminhada continuou silenciosamente, os dois aproveitando a noite e o vento forte. Minseok apreciava cada segundo ao lado de Baekhyun.
- Você precisa conhecer a padaria que tem no final daquele quarteirão – Baekhyun murmurou ao apontar na direção do prédio. – Aposto como você vai amar os pães doces de lá. Tem os mesmos que você costuma comprar na faculdade.
- Até isso o Junmyeon te contou? – Minseok indagou com uma risada curta ao deter as passadas e encostar suas costas na grade da ponte, trazendo Baekhyun consigo.
Baekhyun ficou entre suas pernas, levemente afastadas uma da outra, enroscando-se ainda mais contra Minseok, todas as partes do seu corpo praticamente tocando o dele.
- Não, Junmyeon não me contou nada. – Baekhyun encostou o queixo em seu peito, inclinando a cabeça para cima e fitando-o com um fulgor entorpecente. – Eu reparei nisso, Minseok. Como eu te disse uma vez, você nunca foi invisível pra mim.
Minseok sentiu seu coração querer explodir dentro do peito quando uma sensação quente, em meio a todo aquele frio da cidade, subiu do seu pescoço para o rosto até chegar em suas orelhas, queimando-as em embaraço.
Minseok não conseguia controlar o frio em sua barriga e o sorriso que ameaçava abrir inconscientemente em seus lábios.
- Cada vez que você fala algo assim, eu... Não sei, eu sinto que sou seu namorado de verdade. – Minseok soltou uma risada nasalada e descrente. – Isso faz sentido?
Baekhyun sorriu pra ele e o apertou gentilmente no abraço.
- Claro que faz – exclamou com o tom de voz alto. – Você é um ótimo namorado, hyung.
Mas não de verdade. Minseok engoliu aquelas palavras com dificuldade e tocou o rosto corado pelo frio de Baekhyun com as pontas dos dedos, acariciando com delicadeza ao perceber que ele fechava os olhos com um suspiro.
E Minseok observou Baekhyun e decorou cada linha das feições suaves e bem desenhadas. O rosto pálido, as bochechas coradas pelo frio e os lábios avermelhados sutilmente entreabertos. Tudo nele parecia perfeitamente esculpido.
Baekhyun era bonito, injustamente bonito. Ele era bonito demais para ser ignorado.
- Minseok? – Baekhyun o chamou baixinho, num sussurro que apenas ele poderia escutar e sentir em sua pele com um arrepio.
- Hm?
Minseok inclinou a cabeça para baixo, seu rosto a meros milímetros do dele e os olhos escuros fitando os seus com uma intensidade perturbadora.
- Eu quero fazer algo.
- O quê? – Minseok perguntou num sopro baixo.
- Eu quero te beijar – a voz de Baekhyun era grave e rouca e a respiração quente batia de encontro ao seu pescoço.
Minseok engoliu em seco e atordoado fitou a boca avermelhada de Baekhyun ao sentir seu corpo todo tremer. Mas dessa vez, definitivamente, não era culpa do frio.
- Você não precisa pedir, Baekhyun. - Minseok se surpreendeu ao ouvir sua voz murmurar com expectativa e muita ansiedade.
Baekhyun sorriu e o olhou nos olhos com um brilho intenso, aproximando-se mais de seu rosto e fazendo o coração de Minseok bater desenfreadamente ainda mais forte contra seu peito.
Uma onda de frio percorreu sua espinha e Minseok deixou um som de aprovação escapar de sua boca quando Baekhyun tocou seus lábios com delicadeza, selando-os num beijo puro e sincero.
Foi apenas um toque inocente de lábios e foi muito breve, mas foi o suficiente para tirar Minseok de órbita.
Ele abriu as pálpebras lentamente e fitou Baekhyun que o encarava de volta com o mesmo sorriso de antes, mas algo ainda mais incandescente em suas feições.
- Bem melhor do que eu imaginava - Baekhyun sussurrou contra sua boca, a respiração quente misturando-se com a sua e as bochechas coradas de frio espelhando a sua. E Baekhyun capturou seu lábio com os dentes antes de completar ainda mais baixo e ainda mais rouco: - Mas aposto como o próximo vai ser melhor ainda.
E Baekhyun capturou seus lábios novamente e Minseok suspirou contente ao sentir o toque dos dedos dele em sua nuca.
Ele se sentia em combustão e seu peito estava em chamas, mas Minseok queria mais. Queria muito mais. E quando Baekhyun tocou com a ponta da língua em seus lábios, pedindo passagem, Minseok os entreabriu com um gemido baixo ao aprofundar o beijo.
Os dedos de Baekhyun embrenharam em seu cabelo e Minseok o puxou para mais perto, colando os corpos ainda mais.
Seus lábios estavam presos aos de Baekhyun, a boca era macia contra a sua e o beijo calmo o deixava desnorteado. Minseok sabia que aquilo era o que tinha de mais certo no mundo e que tudo finalmente se encaixava.
Minseok estava sem ar e perturbadoramente sem rumo.
O beijo tinha uma devoção inexplicável, um sabor excitante e prazeroso e os dois se sentiam impelidos a descobrirem um ao outro sob os toques delicados e carinhosos.
Suas mãos trilharam um caminho tortuoso pelas costas de Baekhyun que arfou em sua boca, o som reverberando e o deixando desconcertado, febril e inflamado de desejo. Mas, com certa relutância, Minseok quebrou o beijo em busca de fôlego, sentindo uma sensação inquietante o dominar.
Baekhyun selou os lábios aos seus mais uma vez antes de se afastar levemente com um sorriso caloroso enfeitando seu rosto.
- Minseok – murmurou e se inclinou para frente, as mãos repousadas em seu peito e o rosto ainda perigosamente perto do seu. Os lábios estavam inchados e numa cor vibrante de vermelho e as írises muito incandescentes - Eu acho que preciso muito de um chocolate quente.
Minseok sorriu e Baekhyun tocou sua boca com as pontas dos dedos num toque suave.
- Pensei que você não gostasse.
- Eu gosto – respondeu baixinho. – Não tanto quanto você, mas gosto – um sorriso esperto curvou os cantos da boca dele. – Mas eu adorei o gosto que ele fica na sua boca.
E Baekhyun deixou Minseok sem reação.
Ele apenas se deixou levar por Baekhyun, seguindo-o cegamente entre as ruas até a padaria com um sentimento diferente e ainda mais intenso apertando seu peito.
E mais do que nunca Minseok soube.
Naquele momento ele finalmente se deu conta de que não conseguiria mais ficar longe de Baekhyun, nem mesmo se tentasse. Porque Minseok o amava mais do que seria justo, o amava de um jeito calmo e caótico e o amava exatamente como ele era.
Minseok amava Baekhyun.
-
Minseok entrou no quarto de Baekhyun e, antes que pudesse observar atentamente o cômodo ao seu redor, sentiu braços envolvendo-o com muita sutileza e carinho.
Uma fragrância familiarmente gostosa e entorpecente invadiu seus sentidos e ele se inclinou contra Baekhyun que o abraçava por trás. Minseok estremeceu quando suas costas grudaram no peito firme de Baekhyun, sentindo o calor do corpo dele irradiar para o seu.
Minseok também notou quando Baekhyun encostou a cabeça em suas costas com um suspiro baixo, as mãos espalmadas em seu peito e a respiração quente atravessando sua roupa.
Os dois estavam num momento íntimo e somente deles. E Minseok aproveitou o silêncio que reverberava no cômodo para olhar o quarto com mais atenção, observando coisas que em suas breves passagens tinha passado despercebido.
O pequeno e aconchegante espaço que, antigamente costumava ser o abrigo de Baekhyun, ficava no final do corredor e era o típico quarto de adolescente. Todas as paredes estavam pintadas num tom glacial de branco, enquanto pôsteres de jogos de videogame e baseball enfeitavam perto da cabeceira da cama.
Tudo estava perfeitamente arrumado e todos os livros de escola estavam empilhados na estante por ordem alfabética.
Era uma organização extremamente impecável e Minseok suspeitava que era culpa da mãe de Baekhyun.
- Você era muito fofo – Minseok comentou ao avistar um quadro ao alcance de suas mãos, na mesinha de cabeceira.
Ele pegou a foto com cuidado, avistando o sorriso familiarmente retangular no rosto rechonchudo de uma criança adorável.
- Do que você está falando? – Baekhyun indagou falsamente indignado, uma risada nasalada escapando sem querer dele. – Eu ainda sou muito fofo!
- Aposto que todas as pessoas que te encontravam queriam apertar suas bochechas.
- Tenho trauma disso até hoje.
Uma risada chiou em seu peito e Minseok umedeceu os lábios em ansiedade. Ele não sabia o que fazer e o que podia esperar daquele momento sem alimentar esperanças bobas.
- Baekhyun? - um barulho soou dos lábios de Baekhyun, incentivando-o a continuar. E Minseok devolveu o quadro no lugar e virou-se de frente para ele. Olhos nos olhos, peito no peito e um monte de sentimentos não dito entre os dois. - Você não está arrependido, está?
Baekhyun piscou algumas vezes com o cenho franzido, mas no instante seguinte algo como compreensão cruzou suas feições.
Minseok estava se referindo sobre o beijo. O primeiro beijo deles.
- Nunca – Baekhyun murmurou sério e firme, sua voz soando grave e instigante. – Nem por um segundo sequer.
Minseok tragou o ar com força e algo diferente borbulhou em seu peito. Era como se um peso saísse de seus ombros e um alívio espalhasse por seu corpo.
- E eu quero te beijar de novo – Baekhyun disse num rompante e Minseok prendeu a respiração.
Ele já deveria ter se acostumado com o jeito impulsivo de Baekhyun, mas Minseok sempre ficava impressionado. Baekhyun era uma caixinha de surpresas e tinha coragem o suficiente para botar em palavras tudo o que realmente queria.
E Minseok não respondeu. Ele apenas se inclinou para a frente, as mãos segurando o rosto de Baekhyun ao tocar os lábios macios com o seu.
- Isso é tão bom – Baekhyun sussurrou rouco contra sua boca. – Ficar assim com você é muito bom, Minseok.
Minseok sorriu antes que Baekhyun capturasse o seu lábio inferior entre os deles, engolindo o que quer que fosse dizer. O toque deixando-o quente por dentro e tremendo por fora.
Baekhyun tinha o controle do beijo e Minseok se deixava levar pelo momento, esquecendo-se completamente que os pais dele estavam no andar de baixo, assistindo televisão.
Os dois estavam agindo de forma imprudente, mas nada parecia tão certo quanto aquilo.
Mesmo que uma hora ou outra toda a farsa do namoro tivesse que terminar, nada parecia mais real do que ter Baekhyun em seus braços.
E Minseok inesperadamente deixou um gemido baixo e rouco escapar de sua boca quando a língua ávida de Baekhyun escorregou por entre seus lábios com uma súbita urgência.
Uma das mãos dele o segurou pela nuca ao embrenhar os dedos nos fios de cabelo sob seu alcance, enquanto a outra estava firmemente repousada em suas costas, grudando os corpos de uma forma perturbadoramente quente.
E Minseok engasgou quando o quadril de Baekhyun encostou ao seu, sentindo um calor descer perigosamente de seu peito para seu baixo ventre.
- Baekhyun... – Minseok murmurou, grunhindo em advertência.
Seu tom indicava tantas coisas. Ele queria mais, mas também queria parar antes que fosse tarde demais.
- Eu sei – foi a única coisa que Baekhyun murmurou depois de partir o beijo com certa relutância.
Ele suspirou profundamente com os olhos baixos e as pontas das orelhas vermelhas ao encostar sua testa contra a de Minseok. Suas respirações estavam ofegantes e Minseok sentia seu coração totalmente fora de controle.
Baekhyun envolveu sua mão no pulso de Minseok, o polegar seguindo a trilha de sua veia e mandando ondas de arrepio para o seu corpo. Mas nada o deixou tão inquieto quanto os olhos de Baekhyun quando ele o fitou.
Baekhyun estava mais atraente do que nunca e Minseok ficou tentado a tomar a boca dele novamente contra a sua, mas as irises escuras e dilatadas tinham algo envolvente que o atraiam ainda mais. Era um tipo de emoção inalcançável e que parecia clamar alguma coisa em troca.
- Nada de quarto de hóspedes para você – Baekhyun murmurou com confiança ao deixar que, por entre suas palavras firmes, um sorriso de canto enfeitasse seu rosto. – Você vai dormir aqui.
- Seus pais...
- Eles não vão se importar, Minseok.
- Mas...
- Se você não quiser eu posso entender – Baekhyun o cortou com a voz suave e a expressão leve. Ele se afastou um pouco e deixou espaço livre o suficiente para uma recusa.
Baekhyun iria compreender qualquer decisão que ele tomasse. E não era como se fosse algo muito diferente do que os dois já tinham feito. Afinal, quantas vezes Baekhyun passou tardes e noites de estudos, enroscado em seus braços, na cama de seu dormitório?
Mas dessa vez era diferente. Antes eles não tinham se beijado e agora Minseok sentia o gosto de Baekhyun em sua boca e o perfume gostoso dele impregnado em seus sentidos.
- Eu – Minseok umedeceu os lábios inchados, um pouco nervoso ao sentir a ansiedade subir por sua espinha. – Eu quero.
Minseok queria passar aquela noite abraçado a Baekhyun, sentindo seu calor e seu perfume gostoso. Ele não queria que tudo acabasse tão cedo, fazendo-o se tornar ganancioso e sempre esperar por mais.
Baekhyun sorriu radiante com sua resposta e selou seus lábios brevemente antes de murmurar contra eles com o timbre vibrando:
- Eu queria que as coisas fossem assim pra sempre.
Minseok também queria.
Ele queria mais do que poderia ser saudável.
-
Minseok acordou ao lado de Baekhyun na manhã seguinte.
Os braços dele estavam ao redor de seu corpo, segurando-o firmemente num abraço apertado e a respiração compassada batendo contra seu pescoço numa carícia quente que o deixava arrepiado.
Suas pernas estavam enroscadas às de Baekhyun debaixo dos cobertores e os corpos estavam grudados. E tudo naquele momento entre os dois parecia perfeitamente aconchegante e reconfortante.
Era algo íntimo e familiarmente bom.
E Minseok observou atenciosamente a quietude de Baekhyun, o cabelo bagunçado sob o travesseiro, as roupas amassadas revelando um pedaço da clavícula e as feições tranquilas ao dormir um sono pacífico.
Com uma sensação morna no peito, Minseok não resistiu a vontade de acariciar o rosto com uma expressão suave e calma. Ele tocou as bochechas com delicadeza, deslizando sem pressa para o maxilar e subindo para os lábios levemente entreabertos.
Baekhyun suspirou baixinho sob seu toque sutil e um sorriso instantaneamente abriu nos lábios bonitos. Um barulho de aprovação escapou da boca avermelhada e o corpo menor se espreguiçou sem se afastar do seu.
- Eu quero ser sempre acordado assim – Baekhyun murmurou rouco e ainda meio grogue de sono, abrindo lentamente as pálpebras e o fitando calorosamente.
Minseok sorriu perturbadoramente perdido entre as írises incandescentes e Baekhyun umedeceu os lábios, sorrindo com uma espontaneidade linda.
- Eu estou te acostumando muito mal – Minseok sussurrou baixinho, os dedos segurando gentilmente o queixo e levantando o rosto dele.
- Quem não gosta de ser mimado? – Baekhyun riu antes de selar brevemente os lábios aos de Minseok.
E ele não deveria mais ficar surpreso a esse ponto, mas tudo o que Baekhyun fazia o pegava desprevenido. Mas Minseok não poderia negar o quanto amava tudo aquilo.
Baekhyun levantou o torso e o fitou nos olhos.
- Preparado pra me ver nadar hoje e comprovar que sou um ótimo profissional? – seu olhar era desafiador e empolgado.
- Mas está frio demais, Baekhyun – Minseok reclamou com um suspiro.
- A piscina é aquecida e a gente pode tomar café da manhã na padaria.
- Ou a gente pode simplesmente ficar o dia todo na cama, debaixo desse cobertor maravilhoso, assistindo a algum filme que estiver passando na televisão com um balde grande de pipoca.
Baekhyun soltou um chiado de desaprovação, estalando a língua num barulho frustrado. E, mordendo o lábio inferior, passou a perna por cima do corpo de Minseok ao sentar em seu quadril.
Os joelhos estavam fincados de cada lado do seu corpo e as palmas das mãos repousavam no colchão, encurralando Minseok entre elas.
O rosto de Baekhyun estava a milímetros do seu e Minseok sentiu seu coração disparar dentro do peito.
- Eu adoraria passar o dia todo na cama com você, Minseok – por algum motivo a voz de Baekhyun estava ainda mais rouca e vibrante e aquilo fez uma sensação quente domar seu baixo ventre. – Mas nós podemos fazer isso depois.
Baekhyun sorriu de canto mais uma vez e seus lábios tocaram sutilmente as bochechas, os olhos, o nariz e a testa de Minseok, antes de selar a boca contra a dele num beijo suave.
- Agora se anima porque eu vou te mostrar como fico lindo de sunga.
- Tenho certeza que você fica – Minseok murmurou, sentindo sua boca formigar pelo contato com a de Baekhyun e algo intenso domando todo o seu ser numa felicidade constante.
- E então, o que vai ser? Eu de sunga ou essa cama solitária sem a minha presença?
- Hmm, difícil escolher... – Minseok fingiu uma expressão exageradamente pensativa e levou um tapa fraco de Baekhyun no peito em resposta.
- Ridículo.
Baekhyun riu e Minseok sorriu para ele.
- Eu não perderia por nada ver você nadando. – Minseok segurou a frente da camisa de Baekhyun e o puxou para perto. - Que tipo de namorado eu seria se não soubesse todos os seus talentos e ficasse orgulhoso deles?
- Você já é um namorado incrível, Minseok. O melhor que eu poderia ter encontrado.
E Minseok extinguiu o pouco espaço que os separava e beijou Baekhyun. Ele o beijou com intensidade e avidez, expulsando qualquer pensamento de sua cabeça e as palavras de sua boca ao substituir tudo pela maciez dos lábios de Baekhyun.
-
Baekhyun não estava mentindo quando disse que ficava lindo de sunga e Minseok comprovou isso ao ver o garoto saindo do vestiário alguns minutos depois de chegarem à antiga escola dele. Mas, na verdade, as únicas peças que cobriam seu corpo era uma bermuda apertada de nadador e uma toalha envolta de seu pescoço, a qual as mãos elegantes de Baekhyun seguravam as pontas com certa firmeza.
O torso de Baekhyun estava totalmente exposto e Minseok ficou surpreso ao reparar em uma camada firme de músculos discretos no peito e abdômen dele.
Baekhyun era magro e pequeno, mas cheio de personalidade até mesmo no jeito como caminhava com confiança em sua direção. Sua pele pálida contrastava com o cabelo escuro e o sorriso de canto, nos lábios avermelhados, deixava evidente o quanto ele tinha consciência de que Minseok estava perturbadoramente mexido com a visão que tinha dele.
E quando Baekhyun estava a um passo de distância, Minseok sentiu um frio percorrer em sua espinha.
- Preparado pra ficar impressionado, hyung? – Baekhyun disse petulante, suas írises brilhando em desafio e um atrevimento moldando os contornos de sua boca bonita.
Baekhyun se livrou da toalha, jogando-a na cadeira mais próxima sem ao menos desviar os olhos dos seus.
- Sempre – Minseok gesticulou em direção à piscina. – Me impressione, Baekhyun.
- Esse é o meu papel principal nesse namoro – Baekhyun sussurrou baixo e venceu o pequeno espaço que ainda os separava, capturando seu lábio superior entre os dele.
Minseok sentiu um calor queimar em seu baixo ventre e subir em seu peito, numa combustão quente e estupidamente boa.
Baekhyun o beijou mais uma vez, a boca macia contra a sua apenas selando brevemente num toque gostoso e calmo. E ao se afastar, Minseok foi apenas capaz de sorrir com os lábios formigando, o coração disparado dentro do peito e o corpo todo arrepiado.
O toque suave das mãos de Baekhyun em seu ombro deixaram a pele quente, mesmo depois que elas o soltaram. Era como se cada toque dele fosse como fogo, ficando impresso em sua tez de uma forma irremediavelmente perfeita.
Baekhyun sorriu mais uma vez para ele antes de pular na piscina com uma graciosidade toda elegante e bonita.
Minseok ficou admirado com a facilidade a qual ele deslizava na água, as braçadas vencendo cada centímetro da piscina com habilidade e o corpo acompanhando um ritmo acelerado. Baekhyun tinha sido feito para aquilo e era um dom maravilhoso de presenciar.
- Você não deveria estar usando isso aqui? – Minseok questionou zombeteiro ao rodar a touca em sua mão quando Baekhyun emergiu com os cabelos pingando água sobre seus olhos.
- Deveria, mas não quero – Baekhyun deu de ombros. – O que eu gostaria mesmo era que você entrasse aqui comigo.
- Nem pensar – respondeu ao balançar a cabeça negativamente com o nariz franzido. – Eu estou muito bem aqui.
- Você não sabe o que está perdendo.
- Aposto que não muita coisa.
- Se você acha que beijar de baixo d’água não é muita coisa... – Baekhyun deu de ombros com um timbre de voz falsamente inocente. – Te garanto que é uma ótima experiência.
- Isso quer dizer que você tentou várias vezes? – Minseok arqueou a sobrancelha em questionamento.
- Nunca – Baekhyun inclinou a cabeça para o lado. – Eu imagino que seja e eu estou doido pra experimentar com você.
Minseok sentiu um calor subir do seu pescoço para suas orelhas e um sentimento de vergonha o fez desviar os olhos.
- Você vai acabar me deixando louco, Baekhyun – Minseok sussurrou e riu em nervoso.
A escola estava vazia e, tirando o porteiro, não havia mais ninguém que pudesse aparecer no ginásio. Os dois estavam sozinhos e o olhar nos orbes de Baekhyun prometiam muito mais do que Minseok esperava.
Com a respiração presa na garganta e o coração disparado a mil por hora, Minseok largou a touca no chão e tirou seu tênis sem pressa, ao tacar em qualquer canto da parede.
Ele olhou para Baekhyun que umedeceu os lábios, o pomo de adão subindo e descendo em expectativa ao observar Minseok tirando a camisa pela cabeça e tacando-a na cadeira mais próxima.
Com certa hesitação, Minseok desabotoou sua calça jeans e a retirou do corpo em questão de segundos, jogando-a para o mesmo canto de todo o resto antes de suspirar profundamente e caminhar para a piscina.
Ele sentou na borda com os pés enfiados na água quente e observou atentamente Baekhyun que se aproximava com a expressão séria e um brilho incandescente nas irises.
Baekhyun ficou entre suas pernas e repousou as mãos sobre suas coxas, olhando para cima e encontrando seus olhos com intensidade.
Minseok estava em combustão e os toques e carícias de Baekhyun em suas coxas eram quentes e tentadores. Ele estava perdendo a cabeça e a razão e, sem pensar muito nas consequências, escorregou para dentro da água, ficando muito próximo de Baekhyun.
- Minseok... – Baekhyun suspirou rouco e Minseok sentiu uma fisgada em seu baixo ventre.
Os olhos estavam conectados, os corpos colados e as respirações se misturando. E Baekhyun extinguiu a pouca distância que os separava, segurando firmemente a nuca de Minseok e o puxando para um beijo voraz e quente.
Minseok arfou contra a boca de Baekhyun que suspirou em satisfação e o prensou contra a borda da piscina, o quadril o prendendo e os lábios macios buscando pelos seus sofregamente.
Um som úmido e um estalo do beijo reverberou pelo ambiente de uma forma perturbadoramente convidativa. Mas foi o gemido de Minseok que soou ainda mais profundamente rouco e preencheu o local quando Baekhyun pediu passagem para sua língua, explorando sua boca de forma cálida.
Os lábios de Baekhyun escorregaram dos dele e desceram para o maxilar até alcançarem o pescoço com beijos suaves e sedentos. E Minseok inclinou a cabeça para o lado com os olhos fortemente fechados, deixando livre para ele explorar como quisesse.
A respiração quente e os dentes raspando contra sua pele era alucinantemente bom, mas as mordidas fracas e os chupões eram de tirar qualquer tipo de pensamento da cabeça de Minseok.
Ele estava perdendo a sanidade e se entregando totalmente aquele momento sem pensar duas vezes.
Os resquícios de resistência que poderiam ainda sobrar em Minseok foram para o ralo quando Baekhyun deslizou as pontas dos dedos por sua barriga, alcançando a barra de sua cueca ao brincar com o elástico enquanto a boca ávida subia novamente em busca da sua.
O beijo era faminto e ainda mais intenso e Minseok apenas o partiu em busca de fôlego, sua respiração saindo entrecortada por seus lábios entreabertos e inchados e seu corpo todo pegando fogo.
Minseok sentia que todo o seu mundo rodava.
- Baekhyun – Minseok gemeu baixinho, os sentidos totalmente embaralhados.
Baekhyun sorriu de canto e Minseok não resistiu ao buscar pelos lábios macios novamente num desejo insaciável.
Com um frio na barriga, Minseok sentiu quando as mãos de Baekhyun deslizaram lentamente do cós da cueca para a sua bunda, alcançando suas coxas com um aperto firme ao alavancar seu corpo para cima.
Minseok suspirou entre o beijo e enlaçou suas pernas ao redor do corpo dele. Um som de surpresa escapou de sua boca ao perceber que Baekhyun o puxava para baixo, os dois mergulhando na água quente, sem desgrudarem os lábios e o beijo faminto. Mas Minseok sorriu incrédulo ao perceber o que Baekhyun estava fazendo.
O beijo debaixo d’água.
E foi a melhor experiência que Minseok experimentou, embrenhando seus dedos no cabelo de Baekhyun e mordendo o lábio inferior dele, antes de ser puxado mais uma vez contra eles. A boca macia buscando sofregamente pela sua e todo o resto desaparecendo, exceto os dois no silêncio ensurdecedor da água e a sensação morna em seu peito.
Os dois subiram para a superfície quando o fôlego faltou. Minseok abriu os olhos e encontrou Baekhyun o fitando com um sorriso esperto enfeitado na boca bonita.
Minseok riu ao sentir uma felicidade expandindo em seu peito e se alastrando em seu corpo, até que tudo estivesse finalmente em uma completa combustão.
- Você é louco! – Minseok exclamou, tirando a água dos olhos com a palma da mão. – Não acredito que você realmente fez isso.
- Foi incrível, não foi?
Baekhyun tirou o cabelo da frente de seu rosto e Minseok confirmou com a cabeça, recebendo em troca um beijo no canto da boca.
Ele acariciou suas bochechas e deslizou a ponta do nariz pelo seu, escorregando por sua pele úmida e arrepiada, até encontrar seu pescoço e beijar a volta de seu maxilar com a respiração quente deixando-o arrepiado.
- Você é tão lindo, Minseok.
Na voz de Baekhyun havia sinceridade e algo muito mais profundo escondido por trás das palavras. E Minseok sorriu como se uma sensação sufocante tomasse conta de suas ações.
- Baekhyun...
- Eu sei, Minseok – sua voz era baixa e suave, quente e cheia de promessas. - Eu sei.
Minseok mordeu o lábio inferior ansioso e inquieto e o abraçou com um monte de sentimento o esmagando. Ele não conseguia raciocinar direito, mas tudo aquilo com certeza tinha um significado muito maior. Não havia mentiras naqueles beijos, toques e palavras.
Aquilo não era mais um namoro falso.
Talvez nunca tenha sido.
♒
- Acho melhor a gente sair – Minseok murmurou relanceando o olhar para a janela do ginásio e constatando que não faltava muito para o céu escurecer. – Ou vai ficar muito tarde e frio pra voltar pra casa.
- Se quiser – Baekhyun respondeu com um sorriso esperto – a gente pode tomar um banho antes e eu posso te ajudar a ensaboar as costas.
Minseok jogou a cabeça para trás ao rir, o som reverberando pelo ambiente e retumbando em seus ouvidos.
- Você é muito atrevido, Baekhyun.
- E muito adorável.
- A humildade em pessoa.
- Eu sei – ele murmurou sorrindo. Minseok o fitou em curiosidade quando os dedos de Baekhyun seguraram sutilmente seu queixo, trazendo seu rosto para perto do dele até que os lábios estivessem se encostando um no outro novamente. Havia muita seriedade em sua expressão e uma intensidade esmagadora em suas irises. – Espero que eu seja bom o bastante para te conquistar.
- Você sempre foi, Baekhyun – Minseok disse baixinho, apenas para ele escutar. – Sempre.
A resposta pareceu iluminar toda a face de Baekhyun, um brilho incandescente nos olhos e a curva nos lábios bem delineados, denunciando uma satisfação e uma euforia contagiante.
Baekhyun estava tão envolvido quanto Minseok.
Os dois saíram da piscina pingando por todo o chão ao pegarem seus pertences num bolo de tecidos amassados e mochilas quase caindo pelas alças ao andarem apressados para o vestiário.
E jogando tudo no banco mais próximo, sem muita preocupação, eles se enfiaram debaixo de um dos chuveiros, o jato de água quente envolvendo os dois corpos completamente nus e abraçados.
Minseok envolvia o corpo menor de Baekhyun por trás e todo seu ser fremia ao sentir as peles sensíveis se encostando e todas as partes dos corpos se tocando numa sensação lasciva.
Baekhyun virou em seu aperto fraco e o beijou com ternura e mais um monte de coisa que deixou Minseok fora de órbita. Havia tanta coisa não dita, mas que no fundo do coração os dois sabiam.
Eles estavam descobrindo juntos.
O banho não foi demorado, mas Baekhyun fez questão de dar beijos furtivos e carinhosos, descobrindo cada novo suspiro da boca de Minseok. Era como se tudo fosse feito para chegar naquele ponto.
Minseok estava feliz. Ele estava imensamente contente.
E na noite fria do lado de fora, algumas camadas de roupas cobrindo os dois e as mãos entrelaçadas num aperto firme, Minseok percebeu que não havia momento mais perfeito do que aquele.
-
Naquela noite Minseok sentiu que tudo era estupidamente perfeito demais para ser verdade.
Ele não acreditava que a sua realidade poderia ser aquela, com Baekhyun em seus braços e os dois enroscados nos lençóis da cama dele.
Era bom demais. Surreal demais.
Mas algo ainda martelava a mente de Minseok. Seus olhos fitavam o teto distraído e sua mente estava longe com o coração retumbando em seu peito numa sensação intensa.
Ouvindo a respiração compassada de Baekhyun e sentindo os carinhos dos dedos em seu peito ao deslizar sua mão pelas costas dele, Minseok percebeu como todas as peças daquele namoro falso estavam finalmente se encaixando bem diante de seus olhos.
- Seus pais nunca foram contra as suas escolhas, foram? – Minseok perguntou quase que silenciosamente, sua voz baixa quebrando a quietude do quarto.
Baekhyun levantou o rosto ao inclinar a cabeça, apoiando o queixo contra o torso de Minseok. Ele o olhou ao umedecer os lábios com o semblante nublado e Minseok percebeu a hesitação em suas ações.
Não houve resposta por um tempo, mas Minseok esperou pacientemente, respeitando o tempo de Baekhyun.
- Eles me aceitaram desde o começo – o tom de voz era baixo, mas firme em sua confissão. – Foi difícil logo quando eu contei, mas eles nunca me julgaram ou me condenaram por isso.
Minseok não sabia o que esperava como resposta, mas definitivamente não era surpresa escutar aquilo. No fundo ele tinha impressão de que essa era a verdade sobre tudo antes mesmo de Baekhyun dizer.
- Fico feliz que eles aceitaram bem – Minseok suspirou sério, tentando assimilar tudo. Desde o pedido do namoro falso até aquele momento.
- Minseok...
- Fazer ciúem parao Kento também foi uma mentira?
Não havia acusação ou raiva em suas palavras, apenas uma constatação que precisava ser confirmada. Mas Baekhyun entreabriu os lábios surpreso e apertou a palma da mão contra o tecido de sua camiseta com força, como se estivesse com medo.
E no escuro da noite silenciosa e do quarto sem iluminação, Minseok percebeu como a respiração de Baekhyun falhou e todo o seu corpo fremiu em inquietação.
- Foi o melhor jeito que encontrei pra me aproximar de você – Baekhyun disse bravamente, encarando-o com uma coragem em suas feições e um desafio em seu olhar felino. – Eu sempre quis ficar perto de você, Minseok.
- Por que não do jeito mais fácil e normal?
- Não sei – uma risada fraca escapou de sua boca ao baixar os olhos e se jogar contra o colchão, ao lado de Minseok. - Acho que me deixei influenciar pelas ideias malucas do Junmyeon e Sehun me incentivou. Foi tentador demais e... – ele deu de ombros, as palavras escapando de seu alcance. – Eu não esperava que realmente fosse dar certo.
- Mas deu.
- Como? – perguntou surpreso, virando a cabeça em sua direção com os olhos buscando pelos seus.
- Nunca passou pela sua cabeça o motivo pelo qual eu aceitei participar de um plano tão maluco como esse?
- Porque você é a melhor pessoa do mundo? – questionou em dúvida. – Tem muita bondade no seu coração?
- Eu sou egoísta, Baekhyun.
Minseok sorriu e isso fez os ombros tensos de Baekhyun relaxarem e suas feições suavizarem. Ele estava apreensivo, mas suas palavras o acalmaram e acenderam algo em sua expressão.
– Eu sempre gostei de você e essa foi a oportunidade perfeita pra ficar mais perto – Minseok murmurou ao tragar o ar com força. - Nunca passou pela minha cabeça recusar o seu plano, mesmo que não fizesse o mínimo sentido. Não quando eu poderia ficar ao seu lado, Baekhyun.
Um vento mais forte entrou pela janela aberta e, no silêncio confortável que tomou conta do quarto, Minseok notou um brilho intenso aparecer nas írises escuras de Baekhyun.
- Eu não me arrependo de nada – Baekhyun disse com um sorriso delineando sua boca bonita.
Minseok notou como ele levantou da cama e se inclinou para frente, passando a perna por cima do seu corpo ao sentar em seu colo. Os joelhos fincaram firmemente contra o colchão e os braços repousaram, num único ato, de cada lado do seu rosto, prendendo-o com uma promessa velada.
Minseok sorriu para Baekhyun ao tocar as costas dele numa carícia delicada, deslizando lentamente até uma delas encontrarem a nuca descoberta. O toque firme dos dedos na pele macia fez Baekhyun arrepiar e Minseok os enroscou no cabelo escuro, puxando-o gentilmente para perto.
Pouca distância os separavam e as respirações quentes se misturavam. E Baekhyun enviesou os lábios num sorriso que significava e prometia muitas coisas, fazendo uma sensação quente domar Minseok.
Os dois se olharam por breves segundos e o silêncio do quarto e de todo o resto da casa foi o bastante para fazer Minseok escutar seu coração retumbando acelerado dentro do peito.
Era alto demais e ele tinha medo que Baekhyun escutasse as batidas desenfreadas, mas tudo simplesmente desapareceu de sua mente quando os lábios incrivelmente macios buscaram pelos seus suavemente, num beijo calmo e cheio de paixão.
- Eu também não me arrependo de nada – Minseok murmurou contra a boca dele, a voz saindo abafada e seu ser todo tremendo em expectativa.
Baekhyun sorriu com a face iluminada por algo perturbadoramente instigante quando sua mão, sorrateiramente, adentrou por debaixo de sua camisa, tocando com as pontas dos dedos seu abdômen, numa carícia gostosa, lenta e perturbadoramente excitante.
- Espero que também não se arrependa de responder sim para o meu pedido.
- Que pedido?
Minseok sentiu seu abdômen retrair sob o contato gostoso da mão quente, sua respiração escapando pesada de seus lábios e seus olhos o fitando com interesse genuíno.
- Terminar esse namoro falso e começar algo novo. Algo nosso e verdadeiro. – Baekhyun o olhou em expectativa e Minseok prendeu o lábio inferior entre os dentes. – Eu quero ter você por perto e saber que o que eu sinto é algo correspondido.
Minseok sentiu a respiração ficar presa na garganta e notou o modo ansioso ao qual Baekhyun umedeceu a boca.
– Eu gosto de você, Minseok. Eu sou um bobo apaixonado que fez coisas que nenhum outro faria pra ficar perto de você.
- Um louco – Minseok disse com uma risada baixa contornando suas palavras. – Um louco atrevido que eu também sou muito apaixonado.
Sua voz não passava de um mero sussurro rouco e Minseok sentiu todo seu mundo girar.
Mais do que nunca Baekhyun estava ao seu alcance. Não era mais um sonho ou um desejo. Era a sua realidade.
– É o que eu mais quero – Minseok respondeu, seus lábios tocando levemente os de Baekhyun. Perto demais, mas não o suficiente. - Ter quem eu mais gosto perto de mim é o que eu mais quero, Baekhyun.
Minseok deixou escapar um gemido baixo quando os dedos de Baekhyun trilharam um caminho perigoso, brincando com o cós da sua calça e sorrindo enviesado como se soubesse o que provocava nele.
- Esse é o nosso começo – Baekhyun sussurrou e selou a boca contra a sua, provocando uma faísca de algo que inflamou todo seu corpo.
O suspiro de Baekhyun reverberou no beijo e Minseok murmurou desconexo quando sentiu o corpo dele se encaixar entre suas pernas flexionadas, o contato sendo demais para sua sanidade continuar intacta.
Havia tanto desejo e paixão que os dois se perderam naquele momento, deixando o lapso de tempo evaporar na noite fria, nos corpos quentes e no beijo intenso.
Um recomeço. Algo somente deles e pra eles.
O encaixe perfeito e a conexão muito mais forte.
E de um namoro falso com intenções sinceras, algo ainda mais sincero e bonito nasceu.
-
– Baekhyun! – Minseok reclamou em voz quebradiça e rouca.
- O que foi?
Baekhyun o olhou confuso e Minseok estalou a língua em frustração, mas um sorriso caloroso contornou seus lábios ao ver a expressão genuinamente perdida no rosto dele.
- O que você pensa que está fazendo?
- Procurando uma roupa pra vestir – seu tom beirava a um tom óbvio misturado a um questionamento hesitante. Ele estava em frente ao armário do seu quarto no dormitório, bagunçando a pilha de roupas em busca de algo bem confortável.
- Desse jeito? – Minseok murmurou fraco e olhou para o corpo nu de Baekhyun ao engolir em seco, seu pomo de adão subindo e descendo em sinal de ansiedade.
E ele não conseguiu desviar os olhos da visão a sua frente. Por mais que já tivesse visto Baekhyun daquele jeito, Minseok ainda se sentia hipnotizado pela beleza dele.
Era algo instigante e desconcertantemente atraente.
E Minseok o observou atenciosamente, sentindo uma onda quente o invadir de forma intensa.
Os fios do cabelo escuro de Baekhyun estavam úmidos pelo banho recém tomado e caíam sobre seus olhos incandescentes. Sua pele branquinha estava perturbadoramente corada pelo jato de água quente e estava totalmente exposta.
E contra a luz do sol que invadia o quarto pelas frestas da cortina, Baekhyun parecia ainda mais injustamente lindo.
- Não age como se nunca tivesse me visto assim – Baekhyun o acusou com um olhar incisivo e um sorriso petulante nos lábios avermelhados. – Alguns minutos atrás eu estava assim e não vi você reclamando nada sobre isso – ele mordeu o lábio inferior e arqueou a sobrancelha em desafio -, muito menos do jeito que eu fiz você ge...
- Caramba, Baekhyun! Você é um terror – Minseok protestou ao cortar a frase que ele já sabia como iria terminar, encolhendo-se contra os lençóis que cobriam seu corpo completamente nu.
Com um suspiro fraco, Minseok afundou o rosto contra o travesseiro, escondendo sua expressão retorcida pela vergonha e abafando um gemido baixo. Ele sempre se surpreendia com a facilidade a qual Baekhyun dizia aqueles tipos de coisas sem se sentir constrangido.
Não havia filtros em suas palavras, muito menos pudor em suas ações. E Minseok gostava como ele era livre em todos os sentidos.
– Acho melhor você se vestir logo.
Minseok deixou um grunhido estrangulado escapar de sua boca e olhou surpreso ao sentir o colchão se afundar ao seu lado, um corpo quente e pequeno o envolvendo firmemente entre seus braços.
Ele virou entre os lençóis e ficou de frente com Baekhyun, encontrando com as írises dilatadas e os cantos da boca curvados em atrevimento.
- Acho que eu prefiro ficar assim.
Minseok sabia que os lábios bonitos de Baekhyun estavam enfeitados por um sorriso descarado e malicioso e ele sorriu em resposta, aproximando-se lentamente até que seus lábios estivessem tocando os dele.
- Eu também prefiro – murmurou baixinho.
Os corpos se tocavam e, mesmo com o tecido fino do lençol os impedindo de um contato maior, Minseok conseguia sentir o calor de Baekhyun transbordando para sua pele.
Baekhyun murmurou desconexo e em aprovação quando Minseok finalmente selou seus lábios aos dele, suspirando baixo ao permitir que a língua ávida invadisse sua boca e aprofundasse o beijo.
Todo o corpo de Minseok se aqueceu e fremiu sob as pontas dos dedos elegantes de Baekhyun que trilhavam um caminho pecaminoso e estimulante por toda a sua pele.
- Eu não quero sair da cama tão cedo – Baekhyun suspirou entre o beijo e partiu os lábios ao capturar os de Minseok antes de se afastar um pouco para o olhar nos olhos.
- Mas eu não posso faltar na aula hoje.
- Tem certeza? – Baekhyun questionou rouco e sua boca deslizou suavemente por seu maxilar, escorregando para o seu pescoço onde trilhou beijos quentes e mordidas que arrancaram ofegos pesados e gemidos estrangulados de Minseok.
- Não mais.
Minseok não precisava olhar para saber que Baekhyun tinha um sorriso satisfeito e petulante adornando seu rosto, porque ele conseguia sentir os contornos dos lábios macios em sua pele e a respiração irregular e calorosa o arrepiando.
E foi naquele momento que ele se perdeu.
Desde o dia que Minseok conheceu Baekhyun, ele se perdeu pra se encontrar novamente.
-
- Eu sabia que iria te encontrar aqui.
Minseok sentiu o toque de lábios quentes em seu pescoço e sorriu ao encontrar com Baekhyun, sentando-se na cadeira ao seu lado de forma relaxada e descontraída.
Minseok estava na biblioteca da faculdade com Seulgi e o ambiente estava num completo silêncio, enquanto alguns alunos pareciam concentrados em seus livros e anotações.
Grande parte das pessoas na biblioteca discutiam baixinho em grupos, mas ainda tinha outros que preferiam estudar tranquilamente sozinhos.
- Seulgi está me ajudando com meu projeto – explicou e Baekhyun desviou o olhar para a garota, curvando os lábios num sorriso caloroso ao cumprimentá-la. – Acho que vamos passar a tarde toda aqui.
- Eu acho que o seu namorado vai sentir sua falta – Baekhyun comentou com Seulgi, apoiando os braços sobre o tampo da mesa e repousando o queixo sobre eles.
- Jongin consegue aguentar – ela respondeu, a voz macia e baixa.
- Mas o dele não aguentaria não – Baekhyun apontou para Minseok que revirou os olhos.
- A gente percebeu isso – Seulgi riu, balançando a cabeça ao fechar os olhos em meia lua.
- Não é à toa que ele está bem aqui, atrapalhando nossa tentativa de fazer esse projeto dar certo – Minseok murmurou com um suspiro.
- Você acha mesmo que estou te atrapalhando? – Baekhyun questionou sugestivo e uma de suas mãos escorregou para debaixo da mesa ao endireitar o corpo na cadeira.
Minseok sentiu as pontas dos dedos de Baekhyun deslizando em sua coxa e, mesmo com o tecido da calça jeans, o toque era quente e eletrizante.
- Você não... – Minseok começou a falar, mas engoliu as palavras quando Baekhyun apertou sua coxa suavemente.
Um sorriso audacioso contornava os lábios avermelhados de Baekhyun e um brilho desafiador delineava suas irises escuras. Minseok prendeu a respiração e o xingou mentalmente, mas ele tinha que admitir que adorava os rompantes de Baekhyun.
- Se você continuar, eu não vou conseguir concentrar no que estou fazendo. – Minseok sussurrou para Baekhyun e arriscou um olhar na direção de Seulgi que estava distraída com um dos livros a sua frente, grifando frases e anotando-as em seu caderno.
- Ótimo – Baekhyun enviesou o lábio em algo petulante e satisfeito.
- Baekhyun – reclamou em tom de lamúria.
- Então que tal a gente sair um pouquinho daqui?
- Uma pausa? – Minseok perguntou e Baekhyun balançou a cabeça afirmativamente com algo significativo no semblante.
- Uma pausa.
Minseok olhou para Seulgi e os livros espalhados na mesa.
- Pode ir – Seulgi respondeu, murmurando baixinho para não incomodar as pessoas mais próximas – Jongin está vindo pra cá e aposto que esse projeto não vai sair tão cedo com ele por perto.
- Prometo não demorar.
- Não se preocupa com isso, a gente ainda tem muito tempo pra terminar com tudo.
Minseok agradeceu a amiga antes de levantar da cadeira, seguindo Baekhyun silenciosamente para fora da biblioteca.
- Pra onde estamos indo?
- O jardim – Baekhyun respondeu ao virar o rosto em sua direção com um sorriso, buscando por sua mão e enlaçando os dedos aos seus.
O jardim ficava atrás do prédio e Baekhyun adorava aquela parte pouco frequentada da faculdade. Desde que os dois voltaram da casa dos pais de Baekhyun, ele levava Minseok àquele lugar com certa frequência para passarem um tempo tranquilo juntos.
- Você sentiu tanto minha falta assim? – Minseok quebrou o silêncio ao questionar em tom de provocação. Uma sobrancelha arqueada em desafio e os cantos da boca denunciando sua artimanha.
Minseok olhou para ele com um brilho nas irises e sentiu seu coração disparar no peito quando, inesperadamente, Baekhyun o deteve em uma das árvores mais frondosas do jardim.
Ele mais sentiu do que percebeu quando Baekhyun encostou seu corpo gentilmente contra o tronco da árvore, aproximando-se lentamente e tocando sua pele com delicadeza.
Baekhyun tinha o semblante sério e os olhos escuros. Sua respiração quente batia contra o rosto de Minseok e sua boca avermelhada estava a poucos centímetros de distância.
E o coração de Minseok batia desenfreado no peito. Era alucinante o poder que Baekhyun tinha sobre ele. E tudo o que Minseok conseguia pensar era na onda de calor que invadia as extremidades do seu corpo, aquecendo-o numa combustão descontrolada.
Mas mais do que isso, Minseok só conseguia pensar no quanto ele queria beijar Baekhyun e o abraçar bem forte.
- Você nem faz ideia do quanto eu senti sua falta - Baekhyun tinha uma voz suave e rouca.
Era tão atraente e Minseok se sentia instigado a não sair dos braços dele, principalmente quando o aperto ao redor do seu corpo se firmou e o colou contra o quente de Baekhyun.
Minseok engoliu em seco e sentiu uma onda de arrepio percorrer sua espinha.
- Você quer passar essa noite no meu dormitório? – Baekhyun perguntou e Minseok mordeu o lábio inferior – Vou estar sozinho e meu colega de quarto não volta nos próximos dois dias.
Minseok queria muito aceitar o convite, mas...
- Eu prometi para Kyungsoo que iríamos treinar para o campeonato.
Baekhyun soltou um suspiro fraco e o fitou com as irises incandescente.
- Eu acho que o Kyungsoo não se importaria se você remarcasse esse treino pra um outro dia. – Baekhyun inclinou o rosto para frente e selou os lábios em seu maxilar num beijo doce e breve, trilhando até seu pescoço onde murmurou com a boca contra sua pele sensível: - Eu sinto tanto a sua falta...
Minseok gemeu quando ele mordiscou seu pescoço.
- Você sabe que eu também sinto a sua.
- Se ainda quiser ir para o treino, você sabe que eu vou entender – Baekhyun murmurou fraco. – Mas você também sabe que não é sempre que a gente tem o dormitório livre pra nós dois.
Pra ser sincero, Minseok já não pensava mais no treino, muito menos em Kyungsoo. Ele só queria que a boca em seu pescoço voltasse a tocá-lo.
Minseok estava faminto dos toques de Baekhyun.
– O que você quer, Minseok? – Baekhyun perguntou suave e se afastou, deixando livre para ele decidir. – O treino ou só nos dois?
Minseok sorriu. Ele nem precisava pensar muito sobre o assunto.
- Só nós dois – Minseok sussurrou e Baekhyun sorriu ao selar os lábios gentilmente aos seus. – Mas vai ter que me prometer que você vai treinar comigo e Kyungsoo depois.
- E provar que posso ser um bom jogador de futebol e deixar os dois no chinelo? – Baekhyun arqueou a sobrancelha com um sorriso travesso. – Mas é claro que sim, pode contar com a minha presença.
Minseok balançou a cabeça desacreditado e riu ao bater fraco no ombro de Baekhyun que o puxou mais contra seu corpo.
Com a ponta dos dedos, Baekhyun tocou suas bochechas e afastou o cabelo do seu rosto antes de beijá-lo novamente, a boca macia cobrindo delicadamente a sua.
Minseok suspirou quando ele se afastou e avistou os olhos de Baekhyun fitando-o com um brilho intenso no olhar antes de se inclinar novamente com os lábios quase tocando o lóbulo de sua orelha.
- Eu amo tanto você.
Minseok sorriu. Um sorriso que curvou o canto de seus lábios e borbulhou algo quente em seu peito.
- Eu também amo você.
3 notes
·
View notes