Tumgik
#preciado: un apartamento en urano
placapetri · 9 months
Text
"Digámoslo cuanto antes. Como nos enseñan los críticos anticoloniales Aníbal Quijano, Silvia Rivera Cusicanqui o Walter Mignolo, el sur no existe. El sur es una ficción política construida por la razón colonial. El sur es una invención de la cartografía colonial moderna: el efecto al mismo tiempo de la traite négrière transatlantique y del despliegue del capitalismo industrial en búsqueda de nuevos espacios en los que llevar a cabo la extracción de recursos. El revés de la invención del sur fue la construcción de una ficción occidental moderna del norte. El norte, por tanto, tampoco existe. Grecia ocupa una posición singular en este juego de ficciones políticas.
A partir del Renacimiento, Grecia, como significante, fue "cortado" de su contexto geográfico e histórico para ser transformado en la fundación mítica del norte occidental. Esta operación requirió el borrado de las conexiones con el Imperio otomano, pero también de las relaciones históricas culturales de la cultura helénica con el mediterráneo y África. El "blanqueamiento" de la historia griega para que esta pudiera ser el origen de la civilización cristiana aria ocupó un papel crucial en la formación de la identidad moderna alemana en los proyectos de Winckelmann, Schiller, Friedrich August Wolf, Wilhelm von Humboldt o Friedrich Schleiermacher.
A partir del siglo XVIII, las economías imperiales y las narrativas cristianas de supremacía blanca desplazaron los centros de producción de conocimiento y valor desde Asia, Oriente Medio y el mar Mediterráneo hacia el norte de Europa (Países Bajos, Francia, Alemania e Inglaterra), inventando no solo el sur sino también el este. Durante la Guerra Fría, el oeste será dotado de nuevos significados políticos: el mapa será de nuevo fragmentado. Paradójicamente, tras la segunda oleada de descolonizaciones (India, Argelia, Nigeria...), la caída del Muro de Berlín y la extensión global del capitalismo financiero, las distinciones entre norte y sur se han multiplicado en lugar de haber desaparecido. La crisis financiera de 2007 intensificó estas distinciones y construyó un nuevo sur de Europa para los llamados PIGS (Portugal, Italia, Grecia y España).
El sur no es un lugar, sino el efecto de relaciones entre poder, conocimiento y espacio. La modernidad colonial inventa una geografía y una cronología: el sur es primitivo y pasado. El norte es progreso y futuro. El sur es el resultado de un sistema racial y sexual de clasificación social, una epistemología binaria que opone arriba y abajo, la mente y el cuerpo, la cabeza y los pies, la racionalidad y la emoción, la teoría y la práctica. El sur es un mito sexualizado y racializado. En la epistemología occidental, el sur es animal, femenino, infantil, marica, negro. El sur es potencialmente enfermo, débil, estúpido, discapacitado, vago, pobre. El sur se representa siempre como carente de soberanía, carente de conocimientos, de riqueza y, por lo tanto, como intrínsecamente endeudado con respecto al norte. Al mismo tiempo, el sur es el lugar en el que se lleva a cabo la extracción capitalista: el lugar en el que el norte captura energía, significado, jouisance y valor añadido.
En el otro extremo de esta epistemología binaria (...) el norte se presenta como cada vez más sano, más fuerte, más inteligente, más productivo, más rico (...) El norte es el museo, el archivo, el banco."
7 notes · View notes
valen-myimmortal · 4 months
Text
«Es como si tuviéramos petróleo y como si todos los regímenes poderosos quisieran acceder a él y para ello nos privaran de la gestión de nuestras tierras. Es como si fuéramos ricos en una materia prima indefinible. Si le interesamos a tanta gente, debe ser porque tenemos una rara y poderosa esencia. De lo contrario, ¿cómo explicar que todos los movimientos liberticidas estén tan interesados en nuestras identidades, en nuestras vidas, en nuestros cuerpos y en lo que hacemos en nuestras camas?» –Prólogo de Virgine Despentes en Un Apartamento en Urano (Paul B. Preciado, 2019, Anagrama).
0 notes
feminismisfor · 5 years
Link
1 note · View note
minhacriancatrans · 4 years
Link
Desde muito cedo sentiu que o sexo e o nome que lhe foram atribuídos no nascimento não correspondiam à sua identidade. Disse e repetiu isso diversas vezes para a sua família, até que um dia entenderam e começaram o delicado processo de romper na infância com o mais primário dos esquemas sociais. Essa foi a revolução de Cora em sua casa, em sua escola e aos olhos dos demais.
Na noite de 2014, em sua cama, antes de dormir, disse à mãe: "Quando eu crescer, quero ser uma menina". Tinha três anos. Gostava de usar vestidos e brincar com bonecas. Mas Cora ainda não era Cora. Dois anos depois, a situação se tornou insustentável. Quando as primeiras folhas de outono caíam, olhou para a mãe no parque e disse: “Minhas amigas têm sorte porque querem ser meninas e são meninas. Comigo é diferente, ninguém me vê”. Cora ainda não era Cora, mas faltava pouco. Apenas alguns dias.
Ana Valenzuela sempre carregará guardadas as palavras da filha: "Ninguém me vê". Desde muito cedo ela tinha sentido intensamente o que a menina sentia, pelos sinais que lhe enviava e por aquela "tristeza de fundo" que emanava. A família e os amigos diziam a Ana que isso acontecia porque ela a adorava, queria ser como ela ou que, talvez, lhe ocorriam "aquelas ideias" porque era homossexual. Mas naquela tarde Ana disse para si mesma: "Chega". Ela se agachou, ficou na altura da filha de cinco anos, abraçou-a e disse em seu ouvido: "Você tem que falar com o papai, sim?" Lembra-se disso e como naquele parque, abraçada a ela, se sentiu congelada de medo. Três dias depois daquela frase que mudaria tudo, o telefone de Ana tocou: “Ela me disse hoje. Indo até a escola." A voz era de Ramon, seu marido.
Ramon Navarro, 45 anos, administra um centro esportivo. Ana Valenzuela, 48, era professora de ginástica, está desempregada e faz uma pós-graduação sobre gênero. Teve dois filhos antes de Cora: aos 15 e aos 28 anos. Juntos, Ana e Ramon foram pedir informações à Trànsit, o escritório do Instituto Catalão de Saúde dedicado à transexualidade. Ao sair, ele começou a chorar. "Eu tinha medo de não poder dar a ela o que precisava", diz Ramon. Quando chegaram em casa, sentaram-se com a filha e o irmão do meio, Marc. E lhe disseram: "Eles nos explicaram tudo e nos disseram que você pode ser uma menina". A primeira coisa que fez foi agarrar Chloe, sua cachorra, e dar-lhe um apertão: "Finalmente somos duas garotas!" Explicaram à filha que agora precisavam de alguns dias para informar a escola, contar à família e escolher um novo nome. Mas isso já estava resolvido.
—Eu sou Cora, disse ela.
E então seu irmão respondeu: "Você é minha querida irmã".
Cora já era Cora.
Para a mãe, o mais difícil foi esvaziar o guarda-roupa. “Fiz isso sozinha. Não sabia se chorava, ria, corria. Pensava: “Esvazio este guarda-roupa para enchê-lo com o quê? O que virá?”. O marido e ela foram comprar roupas novas. Ao voltar para casa, Cora experimentou "absolutamente tudo" e fez a Ramon um "desfile de modelos". Diante do espelho, viu eufórica a imagem que esperava havia tanto tempo.
Fazer a transição de gênero tão cedo não era comum até hoje, mas os especialistas que trabalham nesse campo não a consideram inconveniente. “Se uma menina ou um menino mostram muito claramente que a identidade de gênero que sentem é outra, por que não se começa a transição?”, questiona Nuria Asenjo, da unidade de identidade de gênero do hospital Ramón y Cajal, em Madri (Espanha). Sore Vega, da Trànsit, argumenta: "Toda pessoa, independentemente de como constrói sua identidade, faz isso desde tenra idade, e esse processo só é questionado se for em um sentido contrário ao gênero designado". Sua proposta é, acima de tudo, escutar e acompanhar as meninas e os meninos para que tomem decisões “a partir de uma situação de autonomia” e evitar “os danos a negação da identidade de uma criança podem causar a ela”. A pediatra Cristina Catsicaris, especialista no assunto, argumenta que a identidade de gênero "não é determinada pelo conjunto de informações cromossômicas, órgãos genitais, habilidades reprodutivas ou características secundárias", mas responde à mais humana e universal das perguntas: "Quem sou eu?".
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde retirou a transsexualidade de sua lista de doenças mentais. Segundo especialistas, deixar de catalogá-la como uma patologia, concebendo-a como uma maneira de ser e não como uma anomalia, é essencial para que as pessoas trans possam dar um bom lugar à sua identidade sem se sentirem marginalizadas ou excluídas do sistema. Os problemas que sempre sobrecarregam esse grupo, diz Vega, não são causados por sua identidade, mas pela rejeição a que são submetidos pela família, pelo sistema escolar e o ambiente social. "Temos que educar a sociedade para que possa acolher a diversidade."
Em 16 de novembro de 2016, Ana Valenzuela acordou a filha com novas palavras: "Bom dia, princesa". Naquela manhã, iria à escola pela primeira vez como Cora. Uma presilha coroava seu cabelo curto. Calçava um par de sapatos que acendiam luzes coloridas quando ela pisava, como se estivesse comemorando seus passos. "Saímos à rua com um medo horrível", lembra Ramon Navarro. Agarravam a mão da filha: "Não queríamos soltá-la". Sentiam todos os olhares neles. E Cora, tão feliz, se aproximando da porta de escola. Sua amiga Shannon, a quem ela já havia contado tudo alguns dias antes, a viu chegar e gritou:
—Oi, Cora!
E os outros começaram a chamá-la de Cora. Sua mãe explica que foi como se ouvir seu nome lhe desse asas. “Ela se soltou de nós e entrou feliz na escola. Nossa filha tinha que voar. Imploraram à professora: "Cuidem dela, por favor". Às nove da manhã, estavam de volta em casa e só precisariam buscá-la à uma da tarde. Passaram quatro horas em silêncio.
Dois anos depois, em novembro de 2018, visitei Cora pela primeira vez. Mora em um prédio comum em Nou Barris, uma área de classe média de Barcelona. Assim que a campainha toca, Ana e Ramon me recebem. Ao entrar, alguém me assusta por trás:
—Bu!
Quando me viro, eu a vejo. Os olhos emoldurados em cílios muito longos. Seus grossos cabelos escuros penteados para o lado. Usa um vestido preto e as unhas combinando.
—Eu sou Cora!
Pouco depois, mostra seu quarto. Ali estão seus brinquedos: unicórnios coloridos, ursinhos de pelúcia e duas bonecas que trata com muito capricho. Então, transforma a mão em um microfone e protagoniza um minishow. Pega um vestido branco, que quase não serve nela. Luta com ele. No final, acaba tirando-o.
—Você quer ver meu novo videogame?, diz essa fã dos consoles.
Quando lhe pergunto sobre aquele dia decisivo em que se apresentou como uma menina na escola, ela responde:
—Foi legal, porque eles me chamaram pelo meu nome verdadeiro!
—E por que você escolheu Cora?
—Bem, porque eu gostava!
Ninguém na família realmente sabe de onde veio o nome dela. Em seu livro Un Apartamento en Urano, o filósofo trans Paul B. Preciado escreve: "Sonhei com meu novo nome uma noite em uma cama no Bairro Gótico de Barcelona". Talvez Cora também tenha sonhado, alguma noite, em seu quarto em Nou Barris.
Naquele primeiro dia de aula como Cora, quando foram buscar a filha, Ramon e Ana a acharam tão feliz como quando a deixaram. No entanto, ainda haveria uma fase de adaptação. Ana diz que nos dias seguintes notava como apontavam para eles: "Olha, aquela é a mãe", ela ouviu. "Foram dias eternos", lamenta. Uma tarde, conta, foram ao parque para brincar e alguns meninos que a conheciam riram dela "porque estava vestida como uma menina". Ana se aproximou deles e explicou que a filha sempre tinha sido menina e que agora tinham que tratá-la assim. As mães dos meninos, conta, a interromperam para lhe pedir que não dissesse "essas coisas" para seus filhos e censurá-la pelo que estava fazendo com "o seu".
Na escola tudo foi melhor. Em janeiro de 2018, acompanhei Cora às aulas. Assim que abrem as portas, a menina se perde no desfile de mochilas. O dia começa, os corredores permanecem em silêncio e Pedro Vidal, o tutor de Cora, conta como procuraram facilitar sua transição. Não tinham experiência, mas se organizaram e convocaram uma reunião para discutir a identidade de gênero. "Apenas uma mãe se opôs", diz ele. A professora da época, Elisenda Dunyó, contou uma história sobre uma garota que havia sido confundida com um garoto ao nascer. Na classe, aceitaram a mudança com naturalidade: “As crianças são intuitivas e, de alguma maneira, já notavam. Não pareceu que deram muita importância. Naqueles dias, "Cora saía para o pátio e só corria, corria".
Agora está na sala de aula e eu a observo da porta. Em cinco minutos, levanta a mão três vezes. É chamada ao quadro e dá a resposta correta para um problema. No recreio, brincam de pega-pega. Contam contra a parede até 30 e saem para tentar tocar uns nos outros. Cora perde. Ri. Depois, começa a plantar bananeira. Uma amiga, Salma, a agarra pelos pés para mantê-la segura. No pátio, há banheiros mistos. Cora volta a ficar de pé e entra no banheiro. Shannon segura a porta.
Sua família a cercou de afeto desde o começo. Alguns tiveram mais dificuldade para entender a mudança. Outros não demoraram nada, como a avó Ana. Ela foi fundamental na transição, quando a filha apareceu em casa em uma tarde de novembro para lhe dizer que seu "neto" a partir de agora seria Cora. Não mudou nada. "Uma menina?", respondeu a avó. Cora? Então, está bem. Que diferença faz?". A dona de casa, viúva fazia muitos anos, me recebeu uma tarde meses atrás. Sob uma manga do suéter, aparecia num pulso uma fita de cores azul, branca e rosa, as da bandeira trans. "Nos primeiros dias, me custou um pouco não me enganar com o nome antigo, mas isso é porque sou mais velha e já confundo todos os nomes", diz. Cora está a seu lado comendo biscoitos de chocolate. A avó tosse e a neta lhe dá uma palmada nas costas. Então, sai para o terraço, onde está sua amiga Shannon. "O amor de uma avó é o mesmo", acrescenta Ana.
—Que conselho lhe daria para quando for maior?
—Que seja feliz e não se deixe subjugar, ela responde, e uma lágrima cai.
Do lado de fora, as meninas leem um livro. Algo que veem provoca uma pergunta que Cora faz a Shannon:
—O que é religião?
Parece que Cora tem um dom para fazer perguntas insondáveis. Como daquela vez, aos quatro anos, quando desconcertou a mãe, ao soltar esta:
—Mamãe, a gente pode ser menina tendo pênis?
Uma pergunta inovadora que requer uma resposta construtiva. "É um erro acreditar que as pessoas trans nasceram em um corpo errado", diz David Tello, membro da associação Chrysallis, que reúne mais de mil famílias de crianças trans. Esse foi um dos grupos que lutaram para que a Espanha incluísse os menores de idade na lei que regulamenta a mudança de nome e sexo no registro. Em 18 de julho, o Tribunal Constitucional anulou o artigo que a impedia e estendeu esta possibilidade a menores com "maturidade suficiente e em situação estável de transexualidade". Para Chrysallis, esses requisitos extras continuam a manter os menores como Cora em uma situação de discriminação jurídica.
“O corpo de qualquer menina ou menino transexual está tão bem como o resto”, diz Tello, acrescentando que há cada vez menos pessoas trans adultas que desejam operar “porque são aceitas como são e sentem menos a pressão social do bisturi". Iván Mañero, médico especialista em cirurgia de gênero, acredita que o crucial é "apoiá-las e ensiná-las a entender seu corpo, e que decidam quando forem adultas".
Quando Cora ainda não se chamava Cora, ela se aborrecia especialmente no Dia de Reis, porque os Magos do Oriente não sabiam que ela se sentia menina nem sempre lhe traziam os presentes que queria. Agora, a data a deixa animada. Em janeiro passado, ela me mostrou com orgulho a maquiagem que ganhou no dia 6. Com cuidado para não sujar a cama, começou a pintar o rosto e a aplicar rímel nos cílios. Em seguida, pintou os lábios de rosa. E nesse quarto onde teceu e tece seus sonhos, onde teceu e tece sua identidade, onde certa vez disse à mãe que, quando crescesse, queria ser menina, eu lhe perguntei:
—O que você quer ser quando crescer?
—Quero trabalhar com informática —respondeu Cora Navarro Valenzuela—. Ou fabricar unicórnios. 
1 note · View note
las-microfisuras · 5 years
Text
Con los años, he aprendido a considerar los sueños, váyase a saber si por consuelo o por sabiduría, como parte integrante de la vida. Hay sueños que, por su intensidad sensorial, unas veces por su realismo y otras, precisamente, por su falta de realismo, merecen pertenecer a una biografía con el mismo derecho que el más notorio de los hechos acaecidos durante eso a lo que comúnmente se reduce lo que se entiende por experiencias realmente vividas, es decir, las que acontecen durante la vigilia. Al fin y al cabo, la vida empieza y termina en la inconsciencia, de modo que las acciones que llevamos a cabo en plena consciencia no son sino islotes en un archipiélago de sueños. Sería tan absurdo reducir la vida a la vigilia como considerar que la realidad está hecha de bloques lisos perceptibles en lugar de ser un enjambre cambiante de partículas de energía y materia vibrátil, por el mero hecho de que no somos capaces de observarlas a simple vista. Por ello, ninguna vida puede ser narrada o evaluada por completo en su felicidad o en su insensatez sin tener en cuenta las experiencias oníricas. Lo que aquí funciona es la máxima de Calderón de la Barca, pero invertida: no se trata de que la vida sea sueño, sino de que los sueños también son vida. Tan extraño resulta pensar, como los egipcios, que los sueños son canales cósmicos por los que pasan las almas de los antepasados para comunicarse con nosotros como decir, como pretende la neurociencia, que los sueños están hechos de un corta y pega de elementos vividos por el cerebro durante la vigilia que vuelven en la fase REM del sueño, mientras nuestros ojos se mueven bajo los párpados como si mirasen. Cerrados y dormidos, los ojos ven. De ahí que sea más adecuado decir que el psiquismo humano no cesa de crear y procesar la realidad, a veces en sueños y a veces despierto.
• Paul B. Preciado, "Un apartamento en Urano"
Anagrama
41 notes · View notes
somnidediaris · 4 years
Text
Sueño de diarios
Como los sueños se me abarrotaban en las conversaciones de whatsapp, decidí abrirles un espacio especial. Por otra parte, como las anécdotas (en un cotidiano atravesado por la cuarentena y por mis obligaciones) eran tan escasas, decidí guardarlas aquí también. Sueño de diarios es un espacio, entonces, donde conviven las historias de la vigilia y de los sueños. En ese sentido, sigue cierto espíritu en Preciado (no santo de mi devoción, pero con quien no puedo dejar de estar agradecido):
Hay sueños que, por su intensidad sensorial, unas veces por su realismo y otras, precisamente, por su falta de realismo, merecen pertenecer a una biografía con el mismo derecho que el más notorio de los hechos acaecidos durante eso a lo que comúnmente se reduce lo que se entiende por experiencias realmente vividas, es decir, las que acontecen durante la vigilia. Al fin y al cabo, la vida empieza y termina en la inconsciencia, de modo que las acciones que llevamos a cabo en plena consciencia no son sino islotes en un archipiélago de sueños. [...] ninguna vida puede ser narrada o evaluada por completo en su felicidad o en su insensatez sin tener en cuenta las experiencias oníricas. Lo que aquí funciona es la máxima de Calderón de la Barca, pero invertida: no se trata de que la vida sea sueño, sino de que los sueños también son vida.
--Paul B. Preciado, Un apartamento en Urano, p. 17
Cuando pensé en hacer esto, tuve la ocurrencia de distinguir los sueños de las anécdotas desde el título de cada post. He renunciado a eso, advertido de que la distinción seguirá siendo visible y, en muchos casos, será sencilla. Escribo en una lengua en que tenemos una forma verbal para narrar los sueños: el copretérito. Además, sin duda ciertos elementos de los relatos brincarán lo suficiente para salir de lo esperable del día a día. Espero, sin embargo, que haya alguno que otro elemento así también en los relatos de la vigilia. Mostrar que el cotidiano también puede estar hecho de una que otra sorpresa.
A los pocos sueños que empecé a contar a otros, descubrí que estaba soñando mayoritariamente con mujeres. A Aleja le conté, hace años, que en un sueño yo despertaba con ella a un lado, mirándome muy seria. Me tenía que dar una mala noticia. Desde entonces la guardo como alguien que alguna vez me dará una noticia dura. Y, similarmente, interpreto las apariciones de las mujeres en mis sueños: son quienes se encargan de decirme algo, de darme insights, de notificarme. Son ellas quienes portan ciertas voces especiales de los sueños, que me dicen algo. Lo cual, por otra parte, no implica que eso que me dicen tenga sentido.
Confío en que a algún lector le suceda lo mismo: que todo esto le diga algo, aun o gracias a que no tenga sentido.
1 note · View note
marcopolorules · 5 years
Video
instagram
Con los años, he aprendido a considerar los sueños, váyase a saber si por consuelo o por sabiduría, como parte integrante de la vida. Hay sueños que, por su intensidad sensorial, unas veces por su realismo y otras, precisamente, por su falta de realismo, merecen pertenecer a una biografía con el mismo derecho que el más notorio de los hechos acaecidos durante eso a lo que comúnmente se reduce lo que se entiende por experiencias realmente vividas, es decir, las que acontecen durante la vigilia. Al fin y al cabo, la vida empieza y termina en la inconsciencia, de modo que las acciones que llevamos a cabo en plena consciencia no son sino islotes en un archipiélago de sueños. Sería tan absurdo reducir la vida a la vigilia como considerar que la realidad está hecha de bloques lisos perceptibles en lugar de ser un enjambre cambiante de partículas de energía y materia vibrátil, por el mero hecho de que no somos capaces de observarlas a simple vista. Por ello, ninguna vida puede ser narrada o evaluada por completo en su felicidad o en su insensatez sin tener en cuenta las experiencias oníricas. Lo que aquí funciona es la máxima de Calderón de la Barca, pero invertida: no se trata⠀ de que la vida sea sueño, sino de que los sueños también son vida. Tan extraño resulta pensar, como los egipcios, que los sueños son canales cósmicos por los que pasan las almas de los antepasados para comunicarse con nosotros como decir, como pretende la neurociencia, que los sueños están hechos de un corta y pega de elementos vividos por el cerebro durante la vigilia que vuelven en la fase REM del sueño, mientras nuestros ojos se mueven bajo los párpados como si mirasen. Cerrados y dormidos, los ojos ven. De ahí que sea más adecuado decir que el psiquismo humano no cesa de crear y procesar la realidad, a veces en sueños y a veces despierto.⠀ ⠀ Paul B. Preciado⠀ Un apartamento en Urano⠀ & Bill Noir @billnoir.chaosmos (artist) https://www.instagram.com/p/B4dNsY1IePl/?igshid=1cgb5oiftitmp
1 note · View note
alfonsojvenegas · 5 years
Text
Los cuerpos, según Paul B. Preciado.
”Algunas personas usan su cuerpo como si fuera una bolsa de plástico desechable. Otros llevan su cuerpo como si se tratara de un jarrón chino de la dinastía Ming. Algunas personas no son consideradas ciudadanas porque sus piernas no pueden caminar. Algunas personas viven para transformar su cuerpo en el de Pamela Anderson. 
Tumblr media
Otras viven para conseguir el cuerpo de Jean-Claude Van Damme. Y otras tienen dos chihuahas a los que llaman Pamela y Jean- Claude. Algunas personas llevan su cuerpo como si fuera un grueso abrigo de piel. Otras lo llevan como si fuera una combinación transparente. Algunas personas se visten para estar desnudas y otras se desnudan para permanecer vestidas. Algunas personas mueven sus caderas para vivir. Otras ni siquiera saben que tienen caderas. Algunas personas usan su cuerpo como una plaza pública. Otras se relacionan con él como si fuese el santo grial. Algunas personas entienden su cuerpo como una cuenta de ahorro. Otros como un río que corre. Algunas personas están encerradas dentro de su cuerpo como si se tratara de Alcatraz. Otras solo entienden la libertad como algo que el cuerpo puede llevar a cabo. Algunas personas sacuden las cabelleras al ritmo de una guitarra eléctrica. Otras experimentan sacudidas que surgen directamente de su sistema nervioso central. Algunas personas nunca se atreven a salir del repertorio gestual que aprendieron. A otras se les paga para experimentar con ese repertorio, pero solo dentro del ámbito del arte. Algunos cuerpos son socialmente utilizados como fuentes de placer, valor o conocimiento para otros. Otros absorben placer, valor y conocimiento. Algunas personas no son consideradas ciudadanos a causa del color de su piel. Algunas personas caminan sobre una cinta mecánica para mantenerse en forma. Otras caminan seiscientos kilómetros a pie para escapar de la guerra. Algunas personas no poseen su propio cuerpo. Otras creen que el cuerpo de los animales les pertenece. Que el cuerpo de los niños les pertenece. Que el cuerpo de las mujeres les pertenece. Que el cuerpo del proletariado les pertenece. Que los cuerpos no blancos les pertenecen. Algunas personas creen que poseen sus cuerpos como se posee un apartamento. Entre ellos, algunos se pasan el día haciendo obras y decorando. Otros cuidan de sus apartamentos como si se tratara de una reserva natural. Algunas personas creen que poseen su cuerpo como los vaqueros poseían un caballo. Lo montan, cabalgan, lo acarician o le pegan, le dan de beber y de comer, lo dejan descansar para dormir y lo vuelven a montar al día siguiente. No hablan con su cuerpo, del mismo modo que no hablarían con su caballo. Solo se sorprenden cuando se dan cuenta de que si muere su caballo ellos tampoco pueden seguir viviendo. Algunos servicios corporales pueden comprarse con dinero. Otros son considerados inalienables. Algunas personas sienten que su cuerpo está totalmente vacío. Otros experimentan su cuerpo como un armario repleto de órganos. Algunas personas usan su cuerpo como alta tecnología. Otras, como si se tratara de una herramienta prehistórica. Para algunas personas los órganos sexuales son orgánicos e inseparables de su propio cuerpo. Para otras, son múltiples e inorgánicos, y pueden cambiar de forma y de tamaño. Algunas personas hacen funcionar su cuerpo a base únicamente de glucosa, ya sea en forma de alcohol o de azúcar. Algunas personas aspiran tabaco mezclado con veneno directamente en sus pulmones. Otras hacen funcionar sus cuerpos sin azúcar, sin sal, sin alcohol, sin tabaco, sin gluten, sin lactosa, sin OGM, sin colesterol… Algunas personas se relacionan con su cuerpo como si fuera su esclavo. Otras, como si su cuerpo fuera su amo. Algunas personas no son considerados ciudadanos porque prefieren vivir con las convenciones sociales de la feminidad aunque su anatomía corporal haya sido identificada como masculina. Algunas personas lo hacen todo deprisa, pero nunca tienen tiempo para nada. Otras lo hacen todo lentamente, incluso pasan tiempo sin hacer nada de nada. Algunas personas no son consideradas ciudadanos porque sus ojos no pueden ver. Algunas personas toman los penes de otras en sus manos hasta hacerlos eyacular. Algunas personas meten los dedos en las bocas de otras y ponen pastas blancas en los agujeros de sus dientes. Las primeras son consideradas trabajadoras ilegales. Las segundas profesionales cualificados. Algunas personas no son consideradas ciudadanos porque prefieren obtener placer sexual con cuerpos cuyos órganos sexuales tienen formas similares a las suyas. Algunas personas manejan su sistema nervioso tomando ansiolíticos. Otras meditan. Algunas personas arrastran su cuerpo vivo como si se tratara de un cadáver. Algunos cuerpos son héteros pero se masturban solo con porno gay. Algunos cuerpos no son considerados ciudadanos porque tienen un cromosoma más o un cromosoma menos. Algunas personas aman sus cuerpos por encima de todas las cosas. Otras se avergüenzan de ellos. Algunas personas experimentan su cuerpo como una bomba de tiempo que no son capaces de parar. Otros lo disfrutan mientras lo consumen como si fuera un helado que se derrite poco a poco. Algunas personas llevan incorporados mecanismos que hacen que sus corazones latan solos. Otros llevan en su pecho un corazón que perteneció a otra persona. Otros llevan dentro, por un tiempo, otro cuerpo en proceso de crecimiento. ¿Es posible acaso seguir hablando de un único cuerpo humano?”
Este texto de Paul B. Preciado pertenece al libro Un apartamento en Urano: Crónicas del cruce
1 note · View note
placapetri · 9 months
Text
"El régimen sexo-género binario es al cuerpo humano lo que el mapa es al territorio: un entramado político que define órganos, funciones y usos. Un marco cognitivo que establece las fronteras entre lo normal y lo patológico. Del mismo modo que los países africanos fueron inventados por los acuerdos coloniales de los imperios decimonónicos, la forma y la función de nuestros órganos así llamados sexuales fueron el resultado de los acuerdos de la comunidad científica estadounidense del periodo de la Guerra Fría y de sus intentos por mantener los privilegios patriarcales y la organización social de la reproducción sexual."
1 note · View note
melifluos · 6 years
Text
Un appartement à Uranus
(Paul Beatriz Preciado)
Alors qu’au cours de ces derniers mois, ma vie de veille a été, pour reprendre l’euphémisante expression catalane, «bonne, si nous n’entrons pas dans les détails», ma vie onirique a eu la puissance d’un roman d’Ursula K. Le Guin. Au cours de l’un de mes derniers rêves, je discutais avec l’artiste Dominique Gonzalez-Foerster de mon problème : après des années de vie nomade, il m’est difficile de décider d’un lieu où vivre dans le monde. Pendant que nous avions cette conversation, nous observions les planètes tourner doucement sur leur orbite, comme si nous étions deux enfants géants et que le système solaire était un mobile Calder. Je lui expliquais que, pour l’instant, afin d’éviter le conflit que la décision entraînait, j’avais loué un appartement sur chaque planète, mais que je ne passais pas plus d’un mois sur chacune d’entre elles, et que cette situation était économiquement et vitalement insoutenable. Probablement parce qu’elle est l’auteure du projet «Exotourisme», Dominique était dans ce rêve une experte de la gestion immobilière au sein de l’univers extraterrestre. «A ta place, j’aurais un appartement sur Mars et je garderais un pied-à-terre sur Saturne, me disait-elle, faisant preuve d’un grand pragmatisme. Mais je laisserais l’appartement d’Uranus. C’est trop loin.» Eveillé, je n’ai pas de connaissance particulière en astronomie ni aucune idée de la position et distance des différentes planètes du système solaire. Mais j’ai vérifié, en consultant la page Wikipédia consacrée à Uranus : c’est effectivement l’une des planètes les plus éloignées de la Terre. Seuls Neptune, Pluton et les planètes naines Hauméa, Makémaké et Eris sont plus lointaines. Uranus est ce que les physiciens appellent une «géante gazeuse». Composée de glace, de méthane et d’ammoniac, elle est la planète la plus froide du système solaire, avec des vents pouvant dépasser les 900 km/h. Bref, on ne peut pas dire que les conditions d’habitabilité conviennent. Dominique avait donc raison : je devrais quitter l’appartement d’Uranus. Le rêve fonctionne comme un virus. A partir de cette nuit, alors que je suis éveillé, la sensation d’avoir un appartement à Uranus augmente, et je suis de plus en plus convaincu que c’est là-bas que je veux vivre. Pour les Grecs, comme pour moi dans le rêve, Uranus était le toit solide du monde, la limite de la voûte céleste. Uranus est considéré comme la maison des dieux dans de nombreuses invocations rituelles grecques. Dans la mythologie, Uranus est le fils que Gea, la Terre, a conçu seule, sans insémination ni accouplement. La mythologie grecque est à la fois une sorte de conte de science-fiction rétro-anticipant, dans une modalité do it yourself, les technologies de reproduction et de transformation du corps qui apparaîtront tout au long des XXe et XXIe siècles ; et en même temps une série télé kitsch dans laquelle les personnages s’adonnent à une quantité inimaginable de relations qui sont hors la loi. Ainsi Gea a épousé son fils Uranus, un titan souvent représenté au milieu d’un nuage d’étoiles, tel une sorte de Tom of Finland dansant avec d’autres types musclés dans un club techno sur le mont Olympe. Des relations incestueuses et peu hétérosexuelles du Ciel et de la Terre naquirent la première génération de titans, parmi lesquels Océan, l’eau ; Chronos, le temps ; ou Mnémosyne, la mémoire… Uranus est à la fois le fils de la Terre et le père de tout le reste. On ne sait pas clairement quel était le problème d’Uranus, mais la vérité est qu’il n’était pas un bon père : soit il forçait ses enfants à rester dans le ventre de Gea, soit il les jetait dans le Tartare dès la naissance. Gea a donc convaincu l’un de ses enfants d’effectuer une opération contraceptive. On peut voir au palais Vecchio de Florence la représentation que Giorgio Vasari a faite au XVIe siècle de Chronos castrant son père Uranus avec une faux. Aphrodite, la déesse de l’amour, a émergé des organes génitaux amputés d’Uranus… ce qui pourrait suggérer que l’amour vient de la déconnexion des organes génitaux du corps, du déplacement et de l’extériorisation de la force génitale. Cette forme de conception non hétérosexuelle, citée dans le Banquet de Platon, a inspiré à Karl Heinrich Ulrichs le terme «uraniste» en 1864 pour désigner ce qu’il appelle les amours du «troisième sexe». Afin d’expliquer l’attirance d’homme pour d’autres hommes, Ulrichs, après Platon, coupe la subjectivité en deux, sépare l’âme et le corps, et imagine une combinatoire d’âmes et de corps qui l’autorise à revendiquer la dignité de ceux qui s’aiment contre la loi. La segmentation de l’âme et du corps reproduit dans l’ordre de l’expérience l’épistémologie binaire de la différence sexuelle : il n’y a que deux options. Les uranistes ne sont pas, dit Ulrichs, malades ou criminels, mais des âmes féminines enfermées dans des corps masculins attirés par les âmes masculines. Ulrichs ne fait pas cette déclaration en tant que scientifique, mais à la première personne. Il ne dit pas «il y a des uranistes», mais «moi, je suis uraniste», et il l’affirme encore, après avoir été condamné à la prison et vu ses livres interdits, devant un congrès de juristes à Munich. Ainsi Ulrichs était sans aucun doute le premier citoyen européen à déclarer publiquement qu’il voulait un appartement sur Uranus. Je réalise alors que ma condition trans est une nouvelle forme d’uranisme. Je n’ai plus besoin, comme Ulrichs, d’affirmer que je suis une âme masculine enfermée dans un corps de femme. Je n’ai pas d’âme et je n’ai pas de corps. J’ai un appartement sur Uranus, ce qui me situe assez loin de la plupart des Terriens, mais pas si loin que vous ne puissiez pas venir me voir. Même dans les rêves.
Um apartamento em Urano
(tradução de Luiz Morando)
Enquanto, ao longo desses últimos meses, minha vida acordada foi, para retomar a eufemística expressão catalã, “boa, se não entrarmos em detalhes”, minha vida onírica foi estimulada pela potência de um romance de Ursula K. Le Guin. Em um de meus últimos sonhos, eu discutia com a artista Dominique Gonzalez-Foerster sobre o meu problema: após anos de vida nômade, é difícil para mim decidir sobre um lugar onde viver no mundo. Enquanto conversávamos, observávamos os planetas girar suavemente em suas órbitas, como se fôssemos dois garotos gigantes e o sistema solar fosse um móbile de [Alexander] Calder. Eu lhe explicava que, no momento, a fim de evitar o conflito que a decisão me acarretava, eu alugara um apartamento em cada planeta, mas passara menos de um mês em cada um deles, e que essa situação era econômica e vitalmente insustentável. Provavelmente porque ela é a autora do projeto Exoturismo, Dominique era nesse sonho uma especialista em gestão imobiliária no cerne do universo extraterrestre. “Em seu lugar, eu teria um apartamento em Marte e ficaria em uma pousada em Saturno, me dizia ela, demonstrando um grande pragmatismo. Mas eu deixaria o apartamento de Urano. É muito longe.” Acordado, não tenho nenhum conhecimento particular em astronomia nem nenhuma ideia da posição e distância dos diferentes planetas do sistema solar. Mas verifiquei, ao consultar a página da Wikipédia destinada a Urano: é efetivamente um dos planetas mais distantes da Terra. Apenas Netuno, Plutão e os planetas-anões Haumea, Makemake e Éris estão mais distantes. Urano é o que os físicos chamam de “gigante gasoso”. Composto de gelo, metano e amoníaco, ele é o planeta mais frio do sistema solar, com ventos que podem ultrapassar 900 km/h. Em suma, não podemos dizer que as condições de habitabilidade sejam adequadas. Portanto, Dominique tinha razão: eu deveria deixar o apartamento de Urano. O sonho funciona como um vírus. Desde essa noite, enquanto estou acordado, a sensação de ter um apartamento em Urano aumenta, e fico cada vez mais convencido que é lá onde quero viver. Para os gregos, como para mim no sonho, Urano era o teto sólido do mundo, o limite da abóboda celeste. Urano é considerado a casa dos deuses em numerosas invocações rituais gregas. Na mitologia, Urano é o filho que Gaia, a Terra, concebeu sozinha, sem inseminação nem acasalamento. A mitologia grega é, ao mesmo tempo, uma espécie de conto de ficção científica retro-antecipatório, numa modalidade do “faça você mesmo”, das tecnologias de reprodução e de transformação do corpo que aparecerão ao longo dos séculos XX e XXI, e uma série de TV kitsch na qual as personagens se entregam a uma quantidade inimaginável de relações fora da lei. Assim, Gaia desposou seu filho Urano, um titã frequentemente representado em meio a uma nuvem de estrelas, como uma espécie de Tom of Finland dançando com outros tipos musculosos em um clube techno no monte Olimpo. De relações incestuosas e pouco heterossexuais do Céu e da Terra nasceram a primeira geração de titãs, dentre os quais Oceano, a água; Cronos, o tempo; ou Mnemosine, a memória… Urano é tanto filho da Terra quanto pai de todo o resto. Não está claro qual era o problema com Urano, mas a verdade é que ele não era um bom pai: ou forçava seus filhos a ficarem no ventre de Gaia, ou os atirava no Tártaro após seu nascimento. Gaia então convenceu um de seus filhos a realizar uma operação contraceptiva. Pode-se ver no Palácio Vecchio, em Florença, a representação que Giorgio Vasari fez no século XVI de Cronos castrando seu pai Urano com uma foice. Afrodite, a deusa do amor, emergiu dos genitais amputados de Urano… o que poderia sugerir que o amor vem da desconexão dos órgãos genitais do corpo, do deslocamento e da externalização da força genital. Essa forma de concepção não heterossexual, citada em O banquete, de Platão, inspirou a Karl Heinrich Ulrichs o termo “uranista”, em 1864, para designar o que ele chama de amores do “terceiro sexo”. Para explicar a atração de um homem por outros homens, Ulrichs, depois de Platão, corta a subjetividade em duas, separa a alma e o corpo, e imagina uma combinação de almas e corpos que o autoriza a reivindicar a dignidade daqueles que se ama contra a lei. A segmentação da alma e do corpo reproduz na ordem da experiência a epistemologia binária da diferença sexual: há apenas duas opções. Os uranistas não são, diz Ulrichs, doentes ou criminosos, mas almas femininas encerradas em corpos masculinos atraídos por almas masculinas. Ulrichs não faz essa declaração enquanto cientista, mas em primeira pessoa. Ele não diz “há uranistas”, mas “eu sou uranista”, e afirma isso, após ter sido condenado à prisão e visto seus livros serem proibidos, diante de um congresso de juristas em Munique. Assim, Ulrichs foi, sem dúvida alguma, o primeiro cidadão europeu a declarar publicamente que queria um apartamento em Urano. Percebo então que minha condição trans é uma nova forma de uranismo. Não tenho mais necessidade, como Ulrichs, de afirmar que sou uma alma masculina encerrada em um corpo de mulher. Não tenho alma e não tenho corpo. Eu tenho um apartamento em Urano, que é longe o suficiente da maioria dos terráqueos, mas não tão longe que você não possa vir me ver. Até nos sonhos.
2 notes · View notes
grantlibreria · 3 years
Photo
Tumblr media
🥰🏳️‍🌈 🏳️‍⚧️Continuamos la semana del orgullo en Grant con una selección de Libros LGTBIQ+ de entre todos los que puedes encontrar en nuestras estanterías. Aquí van: 🌈 “Queer. Una historia gráfica” deMeg-john Barker y Julia Scheele, editado por #melusina . 🪐 “Un apartamento en Urano” de Paul B. Preciado, editado por @anagramaeditor . 👠“DRAG COLOR” de Donación Cejas, de @ed_hidroavion . 🥊 “Un Hombre de Verdad” de Thomas Page McBee, editado por @temasdehoy . 👨🏻‍🎤”We can be heroes” de @roberta__marrero , editado por @lunwerg . 🥳”The Hips on the Drag Queen Go Swish, Swish, Swish” de @olgadedios_ y Lil Miss Hot Mess editado por Running Press Kids. 💪 “Maric0nes de antaño” de Ramón Martínez editado por @editorial_egales . 🌇 “Como luchamos por nuestras vidas” de Saeed Jones, editado por @dosbigotes 👌👆 “Mayo del cuarenta y cinco” de Boti García @boticlopedia editado por @editorial_egales . 🏳️‍🌈 “Heartstopper” de Alice Oseman, editado por @crossbooks . #🏳️‍🌈 #🏳️‍⚧️ #grantlibrería #orgullo #lgtbiq+ #lislibrosquequieresleer #grantrecomienda (en Grant Librería) https://www.instagram.com/p/CQti1KeDtCz/?utm_medium=tumblr
0 notes
feminismisfor · 5 years
Quote
Necesitamos inventar nuevas metodologías de producción del conocimiento y una nueva imaginación política capaz de confrontar la lógica de la guerra, la razón hetero-colonial y la hegemonía del mercado como lugar de producción del valor y de la verdad.
Beatriz Preciado
4 notes · View notes
Link
Tiene Juan Bonilla un bellísimo poema en su libro Cháchara de 2010 titulado «Yo es otro» que dice:
"La Y es un tirachinas, / la O una piedra./ El Yo un arma cargada. / (…) / La Y es un tirachinas, / la O una piedra/ Arrójala contra tu propio tejado / y deshazte del arma"
Un apartamento en Urano. Crónicas del cruce es un tratado contra la identidad, siendo la identidad no otra cosa que el cómodo lugar de reafirmación del yo.
Un apartamento en Urano es, pues, asimismo, un tratado contra el yo.
Y esto lo dice una que no tiene la más mínima formación ni interés (si acaso, una curiosidad antropológica) en la psiquiatría, ni falta que le hace, como no le hace falta a ninguno de ustedes a la hora de acercarse a este libro. La labor de Paul B. Preciado es hacernos entender a todos, precisamente, que las categorías del «yo» y de la «identidad», tan poderosísimas, tan imprescindibles para comprender el mundo en el que vivimos, desde la alcoba al aeropuerto, desde el primer vistazo al espejo recién levantadas hasta el visionado del reality mientras cenamos; hacernos entender, digo, que esas categorías vertebradoras con las que damos besos, escribimos libros y vamos a manifestaciones son nuestros grilletes. Con ocasión de la publicación de mi anterior novela, Terroristas modernos, yo afirmé que el único terrorista era, histórica, etimológica y evidentemente, el Estado. Un periodista me preguntó entonces qué consideraba yo un artefacto terrorista. A lo que respondí que el artefacto terrorista por antonomasia es el DNI.
Preciado, cual policía de paisano de esa armada de amantes que marcha por las páginas del manifiesto «Decimos revolución» que abre el libro, nos para –como si estuviéramos vendiendo o consumiendo latas en la plaza del MACBA o en la plaza del Sol– y nos pide el DNI o el NIE o el pasaporte o el certificado de solicitantes de asilo, pero no para identificarnos. A la manera en que, según relataba Federica Montseny, los anarquistas del 19 de julio de 1936 en Barcelona robaban bancos pero no para quedarse el dinero ni para redistribuirlo, sino para quemarlo en plena calle, el agente Preciado se saca un microscopio de la chupa y examina nuestra papela, la somete a pruebas de resistencia y flexibilidad, le hace al plástico (de modo que parece que está loco) una serie de preguntas que están más cerca del flirteo que del interrogatorio y, finalmente, se lo pasa por la cara, por el pecho y por el culo, coge la lata de Estrella que hemos dejado en el suelo como si no fuera nuestra, le da un trago y nos dice:
--
Juan Bonilla has a beautiful poem in his 2010 book Cháchara entitled "Yo es otro" that says:
"The Y is a slingshot, / the O a stone./ The Yo a loaded weapon. / (…) / The Y is a slingshot, / the O a stone / Throw it against your own roof / and get rid of the weapon"
An apartment on Uranus. Chronicles of the crossing is a treatise against identity, identity being nothing other than the comfortable place of reaffirmation of the self.
An apartment on Uranus is thus also a treatise against the self. And this is said by one who does not have the slightest training or interest (if anything, an anthropological curiosity) in psychiatry, nor does she need to, as none of you need when approaching this book. The work of Paul B. Preciado is to make us all understand, precisely, that the categories of "I" and "identity", so powerful, so essential to understand the world in which we live, from the bedroom to the airport, from the first look in the mirror just woken up until the reality show while we have dinner; make us understand, I say, that those backbone categories with which we kiss, write books and go to demonstrations are our shackles. On the occasion of the publication of my previous novel, Modern Terrorists, I affirmed that the only terrorist was, historically, etymologically and evidently, the State. A journalist then asked me what I consider a terrorist device. To which I replied that the quintessential terrorist device is the DNI.
Preciado, like a plainclothes policeman of that army of lovers who marches through the pages of the manifesto "We say revolution" that opens the book, stops us - as if we were selling or consuming cans in the MACBA square or in the Plaza del Sol - and It asks us for the DNI or the NIE or the passport or the certificate of asylum seekers, but not to identify ourselves. In the way that, according to Federica Montseny, the anarchists of July 19, 1936 in Barcelona robbed banks, but not to keep the money or to redistribute it, but to burn it in the middle of the street, Agent Preciado takes a microscope out of his head and examines our paper, tests it for resistance and flexibility, asks the plastic (so that it seems that it is crazy) a series of questions that are closer to flirting than to interrogation and, finally, it passes it over his face , by the chest and by the ass, he takes the can of Estrella that we have left on the floor as if it were not ours, he takes a drink and says to us: 
0 notes
alonsalm · 4 years
Text
Un apartamento en Urano.
Un apartamento en Urano. Crónicas del cruce. 
Paul B. Preciado. 2019.
Notas del capitulo: CANDY CRUSH O LA ADICCIÓN EN LA ERA DE LA TELECOMUNICACIÓN.
(...) no es enseñarle nada al jugador, sino capturar la totalidad de sus capacidades cognitivas durante un tiempo dado y apropiarse de sus recuerdo liberales, haciendo de la pantalla del ordenador una superficie masturbatoria subrogada. - Pag 77
(...) El usuario de candy crush gestiona al mismo tiempo una multiplicidad de pantallas: a menudo se encuentra fisicamente situado frente a la pantalla de ordenador o de un televisor que no funciona como marco visual primero, sino como fondo y periferia, mientras se mantiene en ida y vuelta con la incesante variación de Facebook, chequea su email... El casto tele-tecno.trabajador-masturbador contemporáneo(..) Pag 78
(...)Si René Schérer nos enseño que las disciplinas pedagógicas desarrolladas durante la modernidad habían servido para poner la mano masturbadora a escribir y trabajar, ahora entendemos que las nuevas disciplinas digitales ponen la mano escritora y trabajadora del fordismo a masturbar la pantalla del capitalismo cognitivo. - Pag 78
(...)Cada generación necesita inventar su propia ética con respecto a sus tecnologías de producción de subjetividad, y sino se hace, nos advertía Hannah Arendt, corre el riesgo del totalitarismo; no por malicia, sino por simple estupidez. Pag 78-79
(...) Las aplicaciones descargadles en Google Play o en Apple Store son los nuevos operadores de subjetividad Pag 79.
0 notes
argeliax · 5 years
Link
0 notes
eratropposopportare · 5 years
Text
letti in un anno #6
PASSATO: [giugno 2018 - dicembre 2019]
El espíritu de la ciencia-ficción - Roberto Bolaño Déjame entrar - John Ajvide Lindqvist Quédate este día y esta noche conmigo - Belén Gopegui The quiet american - Graham Greene Lo que vio la criada: ocho cuentos psíquicos - Yasutaka Tsutsui The third man / Loser takes all - Graham Greene Gli inconvenienti della vita - Peter Cameron Un filo di fumo / La strage dimenticata / La stagione della caccia / La bolla di componenda / Il birraio di Preston / La mossa del cavallo / La presa di Macallè - Andrea Camilleri A for Andromeda - John Elliot, Fred Hoyle María - Jorge Isaacs Música para camaleones - Truman Capote Serotonina - Michel Houellebecq La saga di Gösta Berling - Selma Lagerlöf La donna in grigio - Anna Maria Villalonga Que se mueran los feos - Boris Vian La mirada inocente - Georges Simenon La rueda celeste - Ursula K. Le Guin Gloria - Vladimir Nabokov Una luz extraña - Nancy Kress Un antropólogo en Marte - Oliver Sacks Mendigos en España - Nancy Kress Mendigos y opulentos - Nancy Kress El verano sin hombres - Siri Hustvedt Pura vida: vida & muerte dei William Walker - Patrick Deville El último día de un condenado - Victor Hugo El submayordomo Minor - Patrick deWitt Nessun domani -  Nancy Kress Riña de gatos: Madrid 1936 - Eduardo Mendoza Cromosoma 6 - Robin Cook El graduado - Charles Webb El denario del sueño - Marguerite Yourcenar  Cell - Stephen King Un zoo en invierno - Jiro Taniguchi (fum.) Un viejo que leía novelas de amor - Luis Sepúlveda El club del divorcio - Kazuo Kamimura (fum.) Un pequeño inconveniente - Mark Haddon El crack-up - F. S. Fitzgerald (racc.) A beneficio de inventario - Marguerite Yourcenar  Relámpagos - Jean Echenoz La mujer zurda - Peter Handke 14 - Jean Echenoz Correr - Jean Echenoz Un apartamento en Urano: crónicas del cruce - Paul B. Preciado L’amante senza fissa dimora - Carlo Fruttero, Franco Lucentini Ravel - Jean Echenoz Le avventure di un uomo vivo - G. K. Chesterton Maus - Art Spiegelman (fum.) Testo yonqui - Paul B. Preciado Dioses menores: una novela de Mundodisco - Terry Pratchett Ignición - K. Anderson, D. Beason Manifiesto contrasexual - Paul B. Preciado El miedo del portero al penalty - Peter Handke
PRESENTE:  3001: Odisea final - Arthur C. Clarke
FUTURO: todo lo que ha escrito/dicho/pensado Paul B. Preciado
0 notes