_should I stay or should I go?
_should I stay or should I go?
das coisas que sinto falta é do negroni
que você passava num beijo tão rápido
como nosso pensamento em querer roubar uma moto
depois pixar frases sem sentido na rua da tua casa
subir na lixeira e fingir que você era a Rose
drink doce e ácido como nosso humor à meia noite
intenso como uma pedra de gelo no Titanic
hoje lembrei de você
senti falta da não chatice que éramos
- quero sentar em você aqui mesmo, mas tenho medo de ser presa por atentado ao pudor
mas também do negroni e da cuba libre
da cerveja ruim quando não nos importávamos mais
dos Três Pescadores e surubim do Butantã
só não quis lembrar do jeans e de
“se sair não volto mais”
não quis lembrar do barman servindo seu drink favorito enquanto você chorava
quis esquecer das notas de suicidio
mas quis ler de novo contigo: apontamentos de viagem, do j.a.leite.moraes
dividir um sorriso debochado
uma provocação ao curador enquanto você deitava no chão e falava:
- isso é cópia tal, isso é chato, me leva pra outro lugar onde não tenham câmeras de segurança
lembro que nunca conseguimos entrar na casa de vidro da Bo Bardi
mas eu te convenci a estudar na casa do Lasar Segall
e quando você faltava
eu mandava um meme da lolli dançando Raça Negra
com a legenda: “essa mulher não quer estudar, só me enrola”
às vezes peço negroni
mas não tenho coragem de beber
penso no teu pai
e se você está bem
penso no jeans, na camiseta com estampa do Cólera
e no Vans vermelho que eu te dei
penso em nós no ônibus com alguma promessa de
- espero você sair do trabalho
tô no Rio Negro e a cor da água me lembrou você
hoje tá calor pra caralho
lembrei de nós
que acabou e ficou só o gelo
como aquele negroni antes do salto pela janela
e aquela despedida doída
arrumando livros e rascunhos
devolvendo cintos de segurança
de quando eu escrevia seu nome a dez metros de altura
de quando USP e UNICAMP
era um cochilo, um micro sonho
numa chuva fina e fria
lendo frases de impacto nos muros da cidade
lembrando de frases obscenas
que grafamos nos postes do Butantã
bebendo negroni e cuba libre
lendo James Joyce e Olga Savary
procurando coração de bananeira
para fotografar na tua casa
usando o lençol como fundo infinito
depois te ver pintar aquarelas num papel amassado
em algum bar no meio do caminho
pra tua casa no segundo andar
num cortante frio de alguma noite paulistana
em que o edredom da MMartan
não é suficiente para aquecer nossos peitos
um negroni cairia bem
ou um cigarro de palha
ou um abraço teu
vendo flores de ipê rosa no chão
e dessas coisas que a vida traz
moro numa rua com o mesmo nome que a tua
hoje tá frio em São Paulo
e que bom que a gente se reencontrou
2 notes
·
View notes