#exercíciodeescrita
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jehloo-blog · 2 years ago
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Construção de personagem #01
Eu sempre quis escrever algum livro. O problema é que eu nunca tentei de fato, e sempre fiquei ensaiando para fazer isso. Na verdade, minha síndrome de impostor sempre me impediu, e eu desistia antes mesmo de começar. Quando escrevia algo, julgava horrível e descartava. Nem usei os rascunhos para aprender com meus erros, ou os mantive para progredir.
Mas, como estou perto dos 30 e decidi não me deixar mais levar pelas circunstâncias (apenas quando for realmente necessário), resolvi voltar a escrever, nem que seja aos poucos, por puro exercício.
Aqui, vou manter esses registros de construção de narrativa e de personagens. Como ainda não sei muito bem o que quero escrever, achei melhor começar com pequenos esforços, pensando em alguma personagem hipotética, que eu gostaria de ter em minhas histórias.
Personagem 1:
Inspirando-me em mim mesma, porque creio que seria mais fácil começar assim, pensei em escrever sobre uma mulher de 30 anos, que está em uma fase conturbada da vida por enfrentar incertezas e inseguranças, sobretudo sobre a própria carreira.
Essa mulher é casada, não tem filhos, é formada e sempre foi influenciada a seguir uma determinada carreira, ou estilo de vida. Mas, marcada por traumas e questões do passado, como uma mãe controladora e baixa autoestima, ela sente muita dificuldade em compreender quem ela realmente é e do que ela gosta. Muitos tem sonhos, mas ela ainda não consegue enxergar quais são os próprios desejos e aspirações, e trava essa luta em busca de autoconhecimento.
Acredito que isso é um começo.
Mas, e a trama?
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jehloo-blog · 5 years ago
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Dia cinza de domingo
Apesar do dia fresco de domingo, meu corpo sente o dia feio e não quer sair da cama. No banheiro, o espelho parece uma pintura cinzenta, uma janela que emoldurada um dia nublado, daqueles que sugam quer cor e beleza. Voltei para a cama, olhando para o teto já visível pela pouca claridade que invadia as brechas das cortinas.
Lá fiquei por um bom tempo. Não é tédio, nem sono. Mas a sensação é familiar, e isso me desagrada. É a vontade de fazer mil coisas, sem forças para fazê-las. É a angústia de não estar fazendo nada, de se sentir um fracasso, mas com a cabeça enevoada, impedindo qualquer concentração ou ideia inovadora. É estar na cama até tarde, num domingo, olhando para o teto vazio. Se eu criar coragem, mais tarde faço algo produtivo, entro em movimento e vida. Por agora, continuo entre as cobertas, no meu casulo da inércia.
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jehloo-blog · 6 years ago
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O que é um “relacionamento” - ou os modelos distorcidos da minha adolescência.
    Na segunda-feira 15, completei um ano de namoro. Obviamente, começamos nossas comemorações já no sábado passado, com coisas simples, desde um capuccino e uma tarde juntos a um rolezinho no domingo à noite, com direito à cerveja e porção. Mas para além das comemorações e das fotos felizes, peguei-me pensando sobre o significado desse relacionamento pra mim e sobre as ideias que eu tinha sobre o que era um relacionamento - desde minha adolescência, digamos assim.
    Lembro que quando eu estava no ensino fundamental, ainda na quinta série - o que seria hoje o sexto ano, estou ficando velha... - havia algumas poucas meninas na turma que já namoravam. Pois é, meninas de 11 anos que já “namoravam”. Além disso, muitos filmes adolescentes e afins davam uma ideia de relacionamento como algo meio que obrigatório. A garota que estava só, geralmente era representada por uma menina “esquisita”, que era muito tímida e tinha um amor platônico pelo cara mais popular da escola. Namorados eram retratados como acessórios de meninas populares, líderes de torcida - algo que está muito fora da realidade de escolas brasileiras, mas ok - magras, ricas e populares. Obviamente que esse era o modelo de adolescente que tínhamos naquela época, pelo menos falando mais estritamente do meu contexto. E esse também era um pouco o modelo que tínhamos do que era um relacionamento, ou do que era namorar e ser desejada pelos garotos - sem contar que nem tínhamos modelos claros de relacionamentos lésbicos, que eram retratadas de forma extremamente pejorativa, mas enfim.
    Então, eu tive, por muitos anos, uma ideia de que eu seria realizada se eu entrasse em algum relacionamento. Eu precisava ser desejada pelos meninos, eu tinha que receber cartinhas, tinha que ser alvo de elogios ou entrar para o “hall” de meninas populares e lindas da escola. Via aquelas garotas que eram admiradas, a maioria namorando - geralmente caras mais velhos - ou ficando com vários meninos, sendo alvo de cantadas, e morria de inveja. Nem preciso dizer como isso refletiu negativamente em toda a minha autoestima - ou minha autoestima refletiu nessa imagem que eu tinha do que era ser garota. Por fim, eu buscava “relacionamento” a qualquer custo, ficava me iludindo com qualquer migalha de atenção. Muitas das vezes, o que eu sentia era inventado pelo meu desejo de ter alguém, de parecer desejável. E essa ideia nociva me acompanhou por toda minha adolescência, mesmo por uma parte da minha vida adulta.
    Essa ideia de necessidade de ser cobiçada me deixava mal sempre que eu ia à alguma festa e não ficava com ninguém. Fazia-me sentir um lixo quando eu era rejeitada por alguém, quando me via no espelho e tentava pensar o que havia de errado comigo para ninguém me querer - muitas das vezes, esse questionamento era voltado para meu corpo. Mas na verdade, eu nunca estive preparada para um relacionamento de verdade. Eu vivia um falso conto de fadas, esperando num baile por um príncipe que só tinha olhos para as outras meninas da minha turma da escola. E isso seguiu, com pseudo-relacionamentos tóxicos, situações constrangedoras e mesmo tóxicas para mim, com sentimentos de culpa e outras questões.
    Demorei muito tempo para buscar estabelecer, primeiramente, um relacionamento mais sério e duradouro, que não dependia de aprovações de terceiros: comigo mesma. Claro, já falei sobre isso aqui, ainda estou em um árduo caminho de aprendizado, e como qualquer relacionamento saudável, o meu comigo mesma tem seus altos e baixos. Mas foi a partir daí, que passei a tratar com mais serenidade o tema “relacionamento” envolvendo outras pessoas, mais especificamente, com homens. Antes disso, eu viva atrás de pequenos vestígios de carinho e agarra-me a eles com toda a minha força, como se minha vida dependesse disso. Com o tempo, passei a tratar com mais leveza, buscando alguém não como um sinal de que eu sou desejável, mas alguém que eu realmente desejo ter ao meu lado. Com o tempo, passei a me atentar mais a esses sinais - principalmente após passar por casos extremos que, depois, percebi o quão foram prejudiciais para mim - e a buscar alguém que me ame, e que eu ame também, para além de uma idealização de um relacionamento perfeito estilo casal “rei e rainha do baile”. Foi, então, que conheci meu namorado. Não foi algo fantasioso, mas um relacionamento concreto, que construímos juntos ao longo desse nosso primeiro ano. E o que me deixa mais realizada hoje é perceber como é real, como é vivo, como temos mesmo os nossos momentos “ruins” com muito respeito e amor, conversando e superando juntos.
    Não pretendo fazer da minha história um conto de fadas, ou uma “fábula” para tirar uma moral da história, até porque cada caso é um caso, cada contexto, um contexto. Mas, o fundamental disso tudo, é aprendermos como tratamos o significado de relacionamento, a entender como é a representação do que é se relacionar com outros. Muitas vezes, temos esses modelos em filmes, séries, familiares próximos, e construímos nossas concepções a partir destes. Se crescemos vendo que um relacionamento se baseia em brigas, ciúmes, controle, desrespeito, entre outros elementos, levamos essas ideias para nossos próprios relacionamentos - não apenas afetivos, mas de forma geral, mesmo com nós mesmos. Quando aprendemos a questionar esses modelos, vendo outras possibilidades, somos mais capazes de detectar aquilo que nos faz mal, aquilo que parece errado mas que, costumeiramente, insistimos em replicar. Claro, não é algo tão simplista, ainda mais quando falamos de relacionamentos abusivos - que envolvem não só questões emocionais, como muitas vezes financeiras, familiares, etc. - mas é um dos caminhos para aprendermos algo essencial, que é o auto-respeito. 
    Por fim, só posso dizer que estou muito feliz, que estou num relacionamento saudável e que me faz muito bem, e que, posso dizer, não tem nada a ver com a ideia distorcida e rasa que eu tinha na minha adolescência. Se eu soubesse disso antes, se eu tivesse aprendido na época, talvez eu tivesse evitado muitas dores de cabeça. Ou, talvez, eu não estaria aqui, agora. De qualquer forma, cada um tem seu tempo, inclusive eu. Sigo meu tempo, agora, de forma mais bonita.
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