Tumgik
#em minha defesa eu tenho desde os meus 7 anos então eu não tinha muita criatividade
pinkshgum · 2 years
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here, have a low quality photo of my pet turtle
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daily-anna · 4 months
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jornada de solidão
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o meu namorado pediu um tempo. isso foi para resolvermos problemas no relacionamento como o de eu querer mais atenção dele e ele não querer ficar comigo. ele costumava ser outra pessoa, mas ai eu terminei com ele 1x e tudo mudou. é horrível a sensação de olhar para o monstro que eu criei. ele costumava ser amoroso e querer ficar comigo nos tempos livres. hoje em dia ele mal quer ficar comigo e esquece datas comemorativas como meu aniversário e dia dos namorados. eu não sei o que uma pessoa espera pedindo um tempo, pra mim foi um prelúdio do término. eu nao gostaria de sofrer mais por isso mas também nao queria desistir.
eu ja tinha comentado com ele que nao me sentia prioridade e pouca coisa mudou desde então. ele muda por alguns dias mas depois volta a indiferença fria anterior. por que ele me quer? por que eu quero ele? ele nem gosta de conversar. é horrivel tentar dialogar com uma pessoa que nao esta disponível de falar sobre os seus pensamentos, emoções, opiniões... estamos conectados por uma memória antiga quase apagada de dias felizes que nao voltam mais.
eu me sinto apegada a ele porque ele foi meu primeiro namorado, meu primeiro beijo e perdi minha virgindade com ele. pra mim tínhamos algo especial. ele parecia um príncipe para mim mas essa fantasia foi substituída pela imagem de um jovem q so bebe, fuma e nao cuida da alimentação. eu pareço obcecada com as demandas absurdas que eu faço pra ele e nunca ta legal, eu fico insatisfeita e quero mais coisas absurdas. ele chamou minhas atitudes de tóxicas e eu concordo.
enfim 3 anos 7 meses e 2 dias de um relacionamento que eu achei que fosse a felicidade da minha vida, mas que agora me traz tanta tristeza. parece o fim do mundo. eu nao tenho nenhum outro rapaz em mente, mas so de pensar que ele vai viver a vida dele com outra eu fico com muita raiva. eu acho que estou doente. além de nunca parecer satisfeita, eu sinto que nada vai dar certo. todas as vezes que tentamos dar certo, eu fico voltando em um assunto que ainda me incomoda mas que pra ele ja passou e isso irrita ele profundamente. parece que eu não quero superar. mas em minha defesa ele afirmou uma vez que não iria mudar para terminar comigo. o que ele disse ficou tatuado no meu peito, eu nunca vou esquecer disso, pelo menos enquanto ele nao mudar. nem ele sente que mudou.
eu tentei ocupar minha cabeça com meus amigos, hobbies, sair mais... mas parece que tudo isso so me entristece mais e eu so fico pensando nele 24h e como queria estar com ele, e como seria legal se ele quisesse estar comigo tambem. mas é por isso que me machuco: as coisas são como são, nós sofremos porque imaginamos que poderia ser diferente. nessa minha jornada de solidão espero ficar bem e para isso eu tenho que gostar da minha própria companhia, o que é um desafio porque passei esses ultimos anos adorando a companhia dele e esqueci como era a minha.
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Alerta de TCC kkkk
Volta e meia, traçamos planos dentro do que consideramos evolução pessoal e não incluímos o exercício do perdão.
Sem perdoar e perdoar-se ninguém evolui. Não é instantâneo, eu sei muito bem. Por isso chamo aqui de exercício. Musculação de coração é perdoar. Esse é o verdadeiro seguir em frente.
Em alguns casos a mágoa parece mesmo intransponível, mas um novo tempo tem que chegar.
Se o tempo do perdão não chegar pra você, você não chega.
Hoje escrevo porque é oque me resta.
Hoje percebo que estou no fundo do poço me afogando em lamentações e palavras não ditas. Arrependimento.
Hoje escrevo pra aliviar minha crise., Sabe como é garganta seca, mãos suadas, corpo tremendo, mente fervendo., E o peito aperta que fica pequeno pra tanta dor.
A gente sempre tenta. Tenta até não ter mais forças e vai tentando, olhando ao redor e pensando em como seria mais fácil fugir ou sumir.
Mesmo cansado, machucado, exausto, a gente ainda insiste. Passa por cima do orgulho, e em um ato de bravura, diz que vai tentar até as chances se esgotarem e mesmo quando elas se esgotam, a gente continua lá, e as pessoas perguntam o porquê disso tudo mas só quem sente ao extremo vai entender.
Amar talvez seja isso, não só amor entre casal, todo tipo amor, não desistir mesmo desistindo porque sabemos que enquanto existir um coração batendo, nossas chances de tentar ainda serão válidas.
Escolhas são escolhas até que você faça algo em relação a elas. Aí sim elas passaram ser escolhas, e pois bem, haja como um homem e não no sentido machista da palavra mas sim como um homem, humano. Termo "humano" no contexto uma evolução do que você deve ser. E nunca em hipótese alguma mesmo sendo humano tente não descumprir sua palavra porque mesmo sendo humanos vulneráveis a falha, ela vai acabar com você e um homem sem palavra não é nada. É assim que eu me sinto. Antes os erros não eram meus então era mais "fácil" seguir se algo desse errado. Mas como fazer pra se olhar no espelho e seguir de novo quando o erro é você?
Única coisa boa em estar morto é que não a dor física, então ja não preciso torturar minha carne pelos erros, e mesmo que nesse mundo escuro pudéssemos sentir dor já não haveria mais carne humana em mim. Dilacerei-me em mim mil pedaços antes de morrer.
Cresci ouvindo que acreditar em contos de fadas ou no amor era coisa de menininha, que homem não chora, e em um monte de baboseira inventada por uma sociedade hipócrita.
Hoje eu sei, aprendi, que contos existem sim, e que não são só para menininhas, contos são para os fortes, para os que não tem medo de amar, para os que se entregam de olhos fechados mesmo sabendo que estão pulando no vazio. Contos são para os corajosos de dia, e para os fortes a noite, não para pessoas insuficientes como eu.
Deixo aqui então antes das explicações uma das minhas últimas poesias.
“Eu só desejo coisas boas à você. Que você se ame sempre e com isso acabe se encontrando. Que após isso você encontre alguém que te faça se sentir única todos os dias. Alguém que seja melhor que eu. Que encontre alguém que te mostre o amor que você nunca foi capaz de se permitir sentir. Que você perceba que a vida tem que ser vivida e não só observada. Desejo que no fim você perceba que nem tudo precisa ser ódio e rancor. Queria também que ela visse o que eu vejo. O quanto ela é maravilhosa quando se permite ser feliz, ou como seu sorriso é lindo e traz paz a quem vê. Gostaria que quando ela fosse frágil, que procurasse um ombro pra chorar quando nada fizesse sentido. Queria que ela percebesse que não é obrigada a ser forte o tempo inteiro, que tudo bem não conseguir resolver todos os problemas. Que ela entendesse que os seus sonhos não são impossíveis de se realizar, e nem que esperar demais é ruim. Gostaria que ela percebesse o quanto sua vida é importante, como o amor que ela transmite faz diferença na vida de muita gente. Só queria que ela visse o que eu vejo, como é única, e de que a sorte é de quem tem a chance de tê-la em sua vida.”
Então agora vamos as explicações:
Queria dizer pra você, e pra vocês, que quando eu digo que vou embora de fato eu nunca vou (por pelo menos até agora) e que minha verdadeira vontade é dizer que isso vai passar e que voltaremos a ficar bem, eu, você, e todos nós. Mas nada que foi pode voltar a ser o mesmo.
Queria escrever oque eu sinto mas um cara muito foda, mesmo no final, já disse oque eu queria, e oque muitos queriam também mas não dispuseram de tanta beleza nas palavras.
"Motivo? Porque eu achei necessário. Não só para falar de mim, mas para falar algumas coisas que as pessoas não estão se dando conta sobre suicídio."
"A certeza de que eu morreria pelas minhas próprias mãos nasceu comigo, as coisas que ocorreram entre meu nascimento e o dia de hoje só determinaram quando isso aconteceria."
-Acho que eu penso nisso desde os 6/7 anos de idade quando os primeiros acontecimentos infortúnios na minha família começaram pra valer.
"anos depois e nada mudou, sinto que o que fiz até agora foi apenas adiar o inevitável. Sempre deixei a ideia ali guardada, pra quando eu não aguentasse mais viver ter uma forma de escapismo eterna. E eu sabia que um dia eu não aguentaria mais, porque viver, pra pessoas como eu, é pesado e dilacerante. Não que pra alguém seja fácil, mas pra uns é mais suportável, não é meu caso. Eu sou uma dicotomia ambulante, dentro de mim há uma constante briga entre 2 opostos."
-Ao contrário da carta desse garoto eu não tenho um lado dentro de mim que se ama talvez porque foram raríssimas as vezes que ouvi alguma palavra motivadora quando era criança., É talvez as pessoas tenham razão eu não me amo o suficiente, e não posso ser alguém que seja suficiente, só uma pessoa negativa nada além disso.
"Mas tem um eu dentro de mim que me odeia. Me auto sabota todos os dias, me faz acreditar que eu não mereço ser feliz, me faz crer que sou problemático demais pra ser verdadeiramente amado. Às vezes me pergunto qual a sensação de viver sem ser assim? O quão leve deve ser deitar e conseguir parar de pensar. Eu penso demais, sobre tudo e o todo o tempo, meu cérebro não desliga pra nada, penso meticulosamente em coisas que eu nem queria pensar. E isso é horrível, porque aumenta a racionalidade exacerbada que eu tenho quando não estou em crise. Por outro lado, eu tenho uma sensibilidade gigante que quando estou em crise é elevada à enésima potência, e isso dói muito. É como se racionalmente eu tivesse a capacidade de compreender o mundo e cada uma das pessoas de uma maneira muito mais nítida e óbvia do que as pessoas normais, mas emocionalmente eu não tenho a base necessária pra aguentar a carga que essa compreensão toda me traz. E aí eu surto, e não é pouco. Cada surto é como uma morte lenta e dolorosa."
- Acho que eu adicionaria nesse pedaço da carta(falando da minha vida) que além do surto ser uma espécie de morte, que a esperança também mata. Porque a morte tá ali isso é fato uma hora mais cedo ou mais tarde todos vamos. Então criar esperança,pra mim, mata muito mais que as crises.
"Outro fato é que não consigo gostar de uma vida comum, preciso sempre de novas emoções, novas experiências, em 50% do meu tempo eu estou provocando sentimentos em mim mesmo e nos outros, e nos outros 50% do meu tempo eu estou tentando lidar com as consequências disso (que geralmente são péssimas)."
"Acredito que as únicas sensações eternas e latentes em mim sejam a de vazio e a de dor que esse vazio me causa. De resto, vou do céu ao inferno em 1 hora. Sou capaz de experimentar todo o espectro de sensações humanas em 1 só dia. E isso cansa. Pensar de mais cansa, sentir demais esgota. Ser demais uma hora da vontade de simplesmente não ser mais."
"Tudo o que fiz pra sobreviver até aqui foi utilizar mecanismos de defesas, válvulas de escape, formas de fuga da realidade. Então pra quem chegou a me conhecer, qualquer versão de mim que não seja a de um guri fodidamente depressivo e com transtorno de personalidade, com desenvolvimento emocional digno de uma criança de 10 anos e com pavor de ser abandonado/rejeitado, era escapismo puro. Provavelmente era alguma das 1001 versões irreais de mim que eu criei pra não ter que encarar a realidade. E acredite, mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira. Eu tinha vergonha de assumir minhas fraquezas, e não nego, se eu optasse por continuar vivo não as assumiria. As pessoas são desinformadas, cruéis ou as vezes as 2 coisas juntas. Aos 45' do 2º tempo eu assumi pra alguns "amigos" meus, e acredite: poucos sabem lidar. Uns correm, outros se retraem, outros usam o fato de você ser "transtornado" pra justificar os vacilos deles mesmos contigo. Se 1 escolher ficar é muito. Eu imaginei que seria assim, por isso tive receio de exteriorizar antes. Logo eu, que sempre fui um ótimo psicólogo pros meus amigos, logo eu que sempre escuto "nossa.. queria ter o Q.I que você tem, que inteligência!". Logo eu que sou autodidata em psiquiatria. Hoje afirmo que todo esse conhecimento de nada adianta se você não pedir ajuda quando não consegue mais seguir sozinho. Sabe o que esse conhecimento me traz hoje? Raiva, por saber de tudo que eu sei e ser incapaz de me controlar durante uma crise, ser incapaz de viver, ser incapaz de pedir ajuda. Pra quem é como eu e está lendo isso: não é vergonhoso gritar por socorro, não é vergonhoso ter depressão, ter TPB ou qualquer outro transtorno não faz de você menos inteligente ou um profissional ruim, muito pelo contrário, na reta final conheci pessoas como eu que são excepcionais e que merecem o mundo. Vergonhoso é se enfiar no rio de merda que eu me enfiei e não ter mais por onde sair."
"O que também acaba comigo, é que embora eu tenha reais motivos para estar triste, eu não precisaria deles. Minha essência é assim, é a tristeza pela tristeza, a dor pela dor; como diria Schopenhauer "a essência da existência é a dor".
"Aliás, carrego comigo milhares de sonhos e uma lição: definitivamente sonhos não são o suficiente pra manter viva uma pessoa como eu."
" Acredite, quando uma pessoa tenta se matar (independentemente das razões pelas quais não conseguiu) é frustrante demais. A ressaca moral que vem depois, a sensação de impotência, inutilidade e fracasso que vem depois é enorme. Então poupe quem passa por isso de julgamentos. A vida com essa pessoa já é dura o suficiente a ponto de ela não querer mais viver. Julgamentos não ajudam, uma palavra de conforto sim."
"Desde que decidi que o momento era esse, eu, que sempre fui um apreciador nato do comportamento humano, fiz do meu plano suicida uma espécie de experimento. A conclusão foi o óbvio: suicídio é um tabu, as pessoas não estão dispostas a aprender sobre ele, e o nível de ignorância é absurdo. Há 12 dias, eu ouvi a seguinte pérola de uma amiga que também tem depressão: "quem quer se matar se mata, não fala que vai fazer, isso não existe". Bom, fico feliz que agora ela sabe que existe kkk (ironia), porque isso é uma das maiores falácias sobre suicídio, e se uma pessoa depressiva, que tem amigos potencialmente suicidas pensa assim, imagina o que os outros não pensam??"
" É mais do que necessário passar a tratar o suicídio com zelo e atenção, além de elaborar políticas públicas pra que a prevenção se torne mais eficaz. Vai falar de prevenção pra alguém que chegou no nível de determinismo que eu cheguei, a pessoa vai rir. Eu só estou falando aqui sobre prevenção porque há pessoas que, diferente de mim, não querem se matar, querem ser notadas e ajudadas. Já passou da hora de entender que a prevenção ao suicídio começa muito antes da pessoa tentar contra a própria vida."
- O suicídio começa bem antes da corda no pescoço ou dos pulsos cortados. O suicídio começa quando o vazio se instala no seu peito. Quando você olha ao redor e sente que você é o que tem de errado no mundo. O suicídio começa bem antes da morte.
"O que vem depois disso é desespero. E desespero com alguém que já está desesperado nem sempre funciona. Prevenção ao suicídio começa na infância, quando você se preocupa em ouvir seu filho, quando você observa o comportamento dele e faz o necessário pra ajudar no primeiro sinal de que algo não está certo. Prevenção ao suicídio começa quando você ensina pra ele que todos somos diferentes e que há beleza dentro de nossas peculiaridades, quando você ensina a não praticar Bullying e a respeitar os colegas e professores."
"Prevenção ao suicídio começa quando ele chora porque levou um fora e você explica que tudo bem, que faz parte da vida, ao invés de ajudar a reforçar a ideia de que ele é um frouxo por não ter conseguido o que queria (e que não dependia só dele)."
"Começa quando sua filha chega falando que foi assediada e você corre atrás pra saber o que aconteceu e tomar as medidas cabíveis ao invés de culpa-la. Começa quando você acolhe seu filho com as diferenças dele, ao invés de colocá-lo pra fora de casa por ele ser diferente daquilo que você almejou um dia (lembre-se que muitas vezes você não é o pai/mãe que ele sonha ou que merecia)."
"Se eu não sou mais capaz de ver no meu interior motivos pra continuar vivo, melhor não estar. A prevenção começa quando entendemos que não falar sobre o problema não vai fazer ele desaparecer, é necessário falar, é necessário estudar, é necessário prevenir de uma maneira muito mais eficaz do que está sendo feito até hoje. Prevenção ao suicídio começa quando nos é ensinado a desenvolver resiliência, resiliência é a chave pra se evitar suicídios cometidos por impulso, porque sim, muitos suicídios não são planejados e poderiam mais ainda ser evitados. Não existe uma fórmula suicida, a única coisa comum em todos é a morte, todo o resto é variante, e geralmente um suicídio é multifatorial. Nem todo depressivo é suicida, e nem todo suicídio é cometido por um depressivo. As duas coisas são separadas, mas com certa frequência coexistem, por isso é necessário um tratamento diferencial aos depressivos que são potencialmente suicidas."
"Cabe ressaltar que o ato de suicídio é separado do pensamento de suicídio. Pensar em suicídio é algo que todo mundo faz, muito mais do que se admite. Namorar a ideia do suicídio é comum principalmente (mas não exclusivamente) entre os depressivos e com algum transtorno de personalidade. O ato que não é (ou não deveria ser) comum. Entre essas duas coisas - pensar e fazer - há toda uma base, uma teia que liga todos os motivos que fazem com que a pessoa escolha permanecer viva."
" O suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano que é a autopreservação, então pra chegar ao extremo de romper todos os limites que compõe nosso instinto básico de sobrevivência, e tirar a própria vida, é porque a pessoa perdeu todos os vínculos vitais que a faziam querer continuar."
"A amizade de algumas pessoas que fiz, levarei comigo. Vocês foram essenciais pra eu aguentar até aqui, foram essenciais nas minhas últimas crises."
- Onde não pude contar com as pessoas que eu mais queria ter podido, não citarei nomes mas quem é sabe. E desculpe dnv eu queria ter mudado e procurado ajuda antes.
E principalmente a minha namorada que foi a melhor coisa em vida. Perdão.
" Em ambos os casos. Não vou ser hipócrita, deixo consignado aqui que fui a exceção à regra e que recebi apoio de MUITAS pessoas, e outras, claro, não deram a devida importância ao assunto. Mas eu sempre estive certo do que faria, então essas atitudes menos zelosas, não influenciaram na minha morte."
" A questão é: e se eu não estivesse certo? (como a maioria das pessoas que gritam por ajuda não estão)"
- E se eu precisasse realmente das pessoas que eu amava e me faltaram? E se as coisas que eu li/ ouvi nas últimas semanas fossem lidas/ouvidas por alguém que estava só esperando um incentivo: ou pra morrer ou pra continuar vivo. De fato, ia dar ruim.
"Pessoas estão pedindo por ajuda o tempo todo e estão sendo negligenciadas com a mesma frequência."
-Errar todos erramos o tempo todo, eu nasci errado e vou morrer errando. E muito provavelmente nem mesmo em morte eu vá me perdoar pelo que eu perdi, eu tinha tudo, e eu mesmo perdi. Não tem como eu me olhar no espelho mais, porque me foram ditas tantas vezes do meu erro que eu já nem sei se sou uma pessoa boa mais. A gente nunca sabe qual o limite do outro. A gente nunca sabe quanto peso temos na vida do outro, a gente nunca sabe como uma palavra dita de maneira ríspida ou de maneira gentil pode influenciar nas decisões e na vida de uma pessoa.
"Sou grato a ambos os tipos, pois uns me fizeram ver o quanto a humanidade está egoísta e outros me fizeram ver que uma minoria ainda é capaz de ter empatia. Essa minoria, na minha concepção, não é capaz de salvar o mundo do caos que ele se tornou, não vou ser utópico, tudo só tende a piorar. Mas o que eu escrevi até aqui não se trata de salvar o mundo, e sim de cuidar daquela pessoa que está do seu lado no seu dia-a-dia, nada impossível, nada heróico, apenas humano."
- E essa é uma das minhas partes favoritas dessa carta e que deve ser ressaltada em letras maiúsculas "NÃO SE TRATA DE SALVAR O MUNDO, E SIM DE SALVAR A PESSOA QUE ESTA AO SEU LADO NO SEU DIA A DIA" salvar aquele ou aquela que tava ali desde o início.
"Como diria meu 2º escritor favorito (o 1º é Pessoa), Charles Bukowski: "a gente começa a salvar a humanidade salvando uma pessoa de cada vez; todo o resto é delírio romântico ou político".
"A quem se deu o trabalho de ler esse TCC até aqui (ufa kkkk), eu te desejo que sua humanidade seja renovada a cada dia. Eu espero que você não tenha que perder seu filho para entender que a sua religiosidade exacerbada e sua imposição disso á ele não funciona, projetar nele seu ideal de vida também não, espero que entenda que amá-lo somente enquanto ele está disposto a ser o que você quer, não é amor... porque amor com cláusulas de condição pode ser tudo, menos amor."
- Falar "eu estarei sempre aqui pra você" é fácil, difícil mesmo é estar. E eu cansei de ser, cansei de estar. Eu espero, de coração, que você não tenha que perder o amor da sua vida enquanto busca desenfreadamente se curar onde tuas cicatrizes tiveram origem, ou seu irmão/irmã, amigx, conhecido.. mas é que independente de culpas, quando o arrependimento bate ele corrói, e geralmente ele chega tarde demais, e vai por mim: nada é pior do que tarde demais.
Hoje eu morro engasgado (literalmente kkk) com todo amor que tentei dar aos outros e que não souberam (ou não quiseram) receber, porque eu fui daquele tipo de pessoa que tenta até o ultimo, eu tentava por mim e pelo outro, tentava até sangrar minha alma, então todas as pessoas que me perderam em vida, foi única e exclusivamente porque quiseram e não por falta de eu querer ficar.(neh mãe)
Meu pedido de perdão, em especial a todos aqueles que tentaram me fazer desistir. E isento todos da culpa, família, amigos, e principalmente minha namorada que é oque mais me dói magoar e deixar. Não foram vocês, fui eu, tudo e exclusivamente culpa minha, das coisas que eu fiz e que me aconteceram.
"A mim mesmo, desejo que eu encontre a paz como nunca tive. Meu maior desejo nos últimos meses (ou anos) é parar de sentir... e não é somente os sentimentos ruins, é uma total ausência do sentir. Quero crer que isso está prestes a acontecer, e embora haja opiniões controvérsias, ninguém nunca voltou pra contar. O meu adeus aos que ficam."
Meu último desejo é ter meu nome respeitado porque infelizmente não pude gozar da felicidade de ter retificado meu nome e gênero por N motivos.
Por fim, e por sim, por medo do que vira depois que eu apagar, me peguei lembrando do passado e imagino como seria se tivesse tomado atitudes diferentes e quase enlouqueço. Aí começo a voltar em mim e caio na real, oque foi feito e dito está feito e ja foi enterrado no passado. Todos sem exceção pagam pelas suas escolhas sejam elas boas ou ruins o mundo gira e o bumerangue que você jogou pode voltar e te acertar então cuidado na direção em que joga. Eu mesmo que tanto me perdi nao me esqueci de quem eu sou eo quanto devo a você. Obrigado por me refazer do caos e ter me ensinado a ser forte. E agora sem perceber o tempo passou e estou curado pronto pra recomeçar.
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jkappameme · 7 years
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Acompanhante de Aluguel (Longfic 10/16)
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Jeon Jungkook Autora: Agness Saints Gênero: Comédia, Romance Sinopse: Parecia piada, quatro anos de um relacionamento frustrante havia chegado ao fim, mas Haneul ainda te atrapalhava a vida. Se ele não tivesse arranjado um namoro relâmpago, você não precisaria demonstrar que está bem também, que não ficou para trás. Você não precisaria, principalmente, contratar aquele maldito acompanhante de aluguel.
Moreno. 1,80 de altura. Porte atlético. Bonito. Inteligente. Educado. Agradável. Sabe estabelecer uma conversa. Sem compromisso emocional, apenas financeiro. Valor sob consulta. Interessados: [51] 5782-4158
Esquece o “parecia”, a vida é mesmo uma piada pronta. Contagem de palavras: 5.596 Avisos: +16. A história faz parte da série puerlistae au. Parte: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 Playlist. | Playlist 2. | Playlist 3.
Da cama em minha frente, Sorn me encara com seus olhos fundos e grogues. Não é um olhar que diz muita coisa além de cansaço e arrependimento alcoólico. Seus cabelos estão uma bagunça completa e a maquiagem da noite passada está enfeitando sua face inteira. E eu acredito que não esteja muito diferente disso, levando em consideração o emaranhado de fios em minha nuca e uma mancha preta de delineador bem na ponta de meu nariz.
Nós acordamos há uns cinco minutos talvez e estamos nos olhando desde então. As roupas de lantejoulas e rendas da festa passada são um destaque grosseiro em meio aos raios solares entrando pelas frestas da cortina. E a julgar pelo barulho do lado de fora e o ronco cronometrado em meu estômago, já passou do meio dia.
— Eu vou comprar café. — A voz de Sorn é rouca e desregulada, invadindo o ambiente como um alarme de incêndio. — Você quer?
Assinto lentamente, sentindo minha cabeça doer com o ato. Faço uma nota mental de nunca mais tomar um porre de cerveja outra vez, mas sabendo que vou esquecer sobre ela assim que a ressaca passar.
Espero então Sorn se erguer. Espero e espero. Mais cinco minutos talvez. Mas ela não se ergue. Continua sentada, me encarando com os mesmos olhos turbulentos de antes. Talvez esteja pensando se suas idas ao banheiro para vomitar realmente existiram ou se só foi um sonho nojento.
Eu queria que tivesse sido um sonho nojento, a propósito.
— Acho que a gente precisa conversar sobre ontem. — Ela diz de repente, seu corpo tombando para trás e encontrando a parede. — Ou do que eu me lembro, pelo menos.
A mudança de planos me pega desprevenida. O assunto me pega desprevenida. E suspiro pesado sem quase nem perceber. Eu sabia que uma hora esse assunto chegaria para nós, não haveria como evitar isso. Mas pensei sobre enquanto ainda tinha uma quantidade alta de álcool rolando no meu sangue, e naquele momento a ideia não parecia ser tão dolorosa assim.
— Desculpa.
Ouço sua respiração funda assim que minha voz finaliza a palavra em um tom quase baixo demais para ser ouvido. Ela se remexe inquieta e me lança um olhar diferente agora. Mas eu me sinto lenta e debilitada demais para tentar concluir qualquer coisa. A figura de Sorn é ainda mais bagunçada quando ela puxa o cobertor para cima de uma das pernas.
— Não sei, — dá de ombros. — Acho que quem deve desculpas sou eu por fazer você achar que atrapalhava.
— Você não fez eu pensar nisso, eu só... Eu pensei que... — Respiro fundo, mesmo ela já sabendo de quase tudo, ainda é complicado para mim. — Você estava cheia de coisas pra fazer, não tem que me pedir desculpas.
— Então ninguém precisa pedir desculpas. — Diz e eu me sinto afundar no colchão. — A gente é amiga. Amigos são pra isso. Não tem sentido só eu derrubar meus problemas em cima de você.
— Você não derruba seus problemas em cima de mim!
— E por qual razão você acha que faz isso com os seus?
Há um silêncio. E me sinto envergonhada por deduzir algo que não é a verdade de novo. Por mais que eu tenha aprendido a lição há pouco...
— Olha, — recomeça. — É verdade que eu estava cheia de coisas da faculdade pra fazer e é verdade que eu não tinha tempo pra nada. Mas eu queria e quero fazer parte da sua vida. Você sabe dos meus problemas, eu quero saber dos seus. Não fale as coisas se você não se sentir a vontade com isso, não porque pensa que vai me atrapalhar.
— Descu-
— Não. — Interrompe. — Sem mais desculpas.
Encolho-me entre os ombros.
— Tudo bem.
— Ótimo. — Ela sorri e se espreguiça, chutando a coberta para o lado de maneira preguiçosa e deslizando pelo colchão, erguendo-se enfim. — Mais tarde você vai me contar toda essa história direito, não me lembro dos detalhes agora. Você chegou a me contar?
— Acho que sim. Também não me lembro bem.
— Então mais tarde.
— Mais tarde?
— É, é. Mais tarde, mais tarde. Agora eu vou comprar café, essa conversa fez minha cabeça doer.
— Foram as cervejas. — Mio, caindo deitada sobre minha cama, ainda envergonhada por falar sobre sentimentos. — Não posso com elas.
— Cervejas? — Ela para ao lado da minha cabeceira para me olhar de cima. — Você bebeu duas tequilas quando chegamos na festa e o problema foram as cervejas?
— Não bebi tequila.
— Não, você sugou elas.
Tento me erguer na cama, mas a dor de cabeça me faz desistir da ideia.
— Não me lembro disso.
Ela dá de ombros, se afastando e se livrando das roupas da festa. Enquanto penso sobre o que mais não devo lembrar, acompanho-a com meus olhos; o único movimento que consigo fazer sem sentir cada músculo do corpo protestar. Vejo-a então tirar a maquiagem com um lenço umedecido e logo o descartar no lixo de sua escrivaninha. Sorn desaparece por um tempo no banheiro e assim que sai se enfia no primeiro vestido que vê pela frente. Penteia os cabelos agora molhados e manda ver dois chicletes de hortelã de uma só vez.
Por mais que tenha se esforçado, ainda parece enfrentar a pior ressaca da sua vida.  
— Então você com certeza não deve lembrar que beijou o bonitão na frente de todo mundo, certo?
Dessa vez ignoro qualquer coisa que me impeça de pular da cama e, no segundo seguinte, estou em pé em meio ao quarto.
— Jungkook? — Quase grito. — Eu beijei Jungkook?
O pânico é tanto que não entendo quando a risada nasalada de Sorn vem em seguida.
— Não beijou. — Admite, buscando os sapatos no armário perto da porta. — Mas seria bom, não seria? Pelo menos Haneul se tocaria logo da situação.
Ainda me tenho alarmada quando vejo-a sair do dormitório. E logo percebo que minha preocupação era por ter esquecido, não por ter beijado Jungkook. Porque não me importaria caso tivesse.
Talvez eu quisesse...
Não.
Eu queria que tivesse acontecido.
Sem o talvez.
Minha cabeça é um redemoinho de lembranças, frases soltas e imagens aleatórias, mas uma memória é muito clara. Ela se destaca sobre as outras de maneira poderosa e inabalável. E não posso a ignorar.
Eu admiti, afinal.
Eu estou apaixonada por Jungkook.
E sei que não conseguiria admitir isso em um estado normal.
Não posso simplesmente evitar isso. Posso? Parece errado e talvez seja. Pode ser que a sensação de ressaca ou até mesmo a bebida esteja agindo por mim, mas não quero mais lutar contra.
Não agora.
[...]
Sinto a calça jeans agarrar minhas pernas de maneira incômoda, enquanto ouço minha mãe falar e falar e falar. Não sei sobre o que exatamente, foram tantos tópicos em uma só ligação que já desisti de tentar acompanhar. Tateio a mesa atrás da embalagem vazia do sanduíche recém-devorado, o celular encaixado entre meu ombro e ouvido, enquanto penso brevemente se o ar-condicionado da loja de conveniência está funcionando direito nesse dia mais quente que o normal.
A vida parece muito extensa agora. Pelo menos, de sábado até terça. A sensação é de que uma semana inteira se passou nesses poucos dias e isso é porque tudo veio de uma só vez. Fechamento do semestre, entrega do meu plano de defesa, abertura das inscrições para os cursos de verão, rematrícula geral e renovação das vagas dos dormitórios. Tudo de uma só vez. Tudo em apenas dois dias úteis.
— Uhm. — Murmuro, quando a voz de mamãe faz uma pequena pausa.
Em seguida, deixo-me perder outra vez nesse lance de tempo, percebendo só agora a lacuna nas aulas no próximo mês. Os últimos dias me pareceram tão longos, mas o semestre me pareceu tão curto... Ele costumava ser mais extenso em outros períodos da vida, tão extenso que é estranho ter as férias de verão logo ali agora, de maneira tão rápida.
A vida parece longa, mas ela também parece breve.
É compreensível?
Fico então entretida nessa brincadeira de extensão e lentidão, volta e meia me perdendo no que quero realmente pensar e concluir. Talvez sejam todas as atividades dos últimos dias que me deixam tão perdida, talvez seja a falta de café preto. Há muitas opções.
— O que você acha?
A voz de mamãe surge como um fiapinho de som em meio aos meus devaneios. E, nesse meio instante, me sinto meio mal por não estar gastando meu tempo resolvendo coisas da universidade.
— Uma boa ideia.
— Então converse com o Jungkook.
Levo um tempo para associar o que ela acabou de dizer, meus olhos desfocando da mesa e transformando tudo em borrão. De repente, meu corpo sofre um tremelique de realidade e escorrego para a beirada do banco de maneira involuntária.
— Conversar o quê?
— Você não estava ouvindo, não é? — Sua voz me acusa prontamente, como se soubesse disso desde que começamos a conversar. — Impressionante! Você sempre faz isso.
— Desculpa. — Mas não me sinto realmente culpada. — Sobre o que era?
Sua respiração é pesada do outro lado da linha, parece aborrecida.
— Eu estava perguntando o que você achava de nós irmos para Naju esse fim de semana visitar seus avós e depois irmos para Busan conhecer a família de Jungkook.
Sinto o sanduíche que comi há pouco rodopiar no meu estômago. Subitamente me sentindo acesa de pavor. O baque é tanto que me desequilibro, precisando me agarrar à mesa para continuar no lugar. Quando exatamente a conversa tomou esse rumo? Eu posso jurar que há menos de dois minutos ela dialogava sobre petúnias e hortênsias! Como? Como saiu de flores para o jardim e parou em Jungkook?
Conhecer a família de Jungkook.
Conhecer. A. Família. De. Jungkook.
Isso é... Isso é fora de cogitação!
Meus olhos estão esbugalhados e sinto meu coração bater nos ouvidos. A qualquer momento o sanduíche pode mesmo voltar pelo caminho de onde veio.
— _____?
Só então percebo que o celular está caído sobre a mesa, a voz de mamãe é como um grito enquanto me chama repetidas vezes. Recupero-o de maneira desesperada.
— Não dá! — Respondo nervosa, meus dedos apertando o aparelho em meu ouvido com mais força do que se é necessária. — Não vai dar!
— E por que não?
— Porque tem o curso de verão!
Não é uma mentira, minha intenção era me inscrever em um ainda hoje. Então não é mesmo uma mentira. E agradeço por isso. Não conseguiria pensar em nada muito elaborado agora que não fosse a verdade.
— Você disse que não ia fazer curso de verão esse ano.
E eu de fato disse. E de fato esqueci também. Mas minha preocupação no momento não é minha promessa não cumprida, é manter o mais longe possível minha família da de Jungkook.
Se eu pudesse colocar um mundo de distâncias entre eles, eu colocaria.
— É, mas... Mas eu preciso fazer.
Essa é uma mentira. Não uma mentira elaborada, mas mesmo assim uma mentira. Mentira porque não preciso fazer nada, estou livre depois de sexta-feira para fazer o que bem entender. Mas mamãe não sabe disso. Mesmo que eu, possivelmente, já tenha esclarecido isso para ela no passado.
— E nós precisamos conhecer a família dele! — Rebate. E eu logo me lembro de que essa não foi uma boa desculpa para dar.
Até porque eu sei que uma boa parte de sua irritação é comigo não prestando atenção em toda a nossa longa conversa telefônica e o restante é com essa minha relação responsável com a faculdade. Não faz sentido na cabeça de mamãe.
Nenhuma das duas coisas.
— Era pra ter sido mês passado, mas as coisas estavam tão corridas que não tive tempo de pensar sobre. Agora que vocês estão de férias e as coisas estão tranquilas, nós podemos fazer essa viagem.
— Mas vou fazer o curso de verão!
— Você mesma disse que queria visitar seus avós! — E de fato eu disse. E de fato esqueci também. De novo. Mas, de novo, isso não é sobre promessas não cumpridas. — Então peça pra família dele vir.
Quero rir de nervosa, arrancar meus cabelos e sumir da Terra. Sinto-me instável, meu corpo todo é tremor e ânsia. É como se eu fosse me desintegrar no ar a qualquer momento.
— Não dá.
Embora minha vontade seja de gritar, minha voz é um miado chocho. Não sei mais o que dizer. Pareço uma reprodução de frases desconexas.
— E por que não dá?
Abro a boca para rebater, mas não tenho nada.
Não a respondo, porque não tenho como a responder. A única resposta que tenho rondando meu cérebro e a ponta da minha língua é a verdade. Não dá porque não namoro Jungkook. E apesar da visita em si ser mesmo fora de cogitação, desvendar todo esse meu segredo consegue ser ainda mais.
— Você não quer que a gente conheça a família dele, é isso, _____? — Ela diz desgostosa depois de um tempo. E é quase engraçado, se não fosse desesperador, como ela acertou em cheio. — Olha, eu estou tentando. Veja bem, eu estou tentando fazer esse relacionamento de vocês dar certo, que dê em casamento, mas você só dificulta.
Sinto minhas têmporas sendo pressionadas e sei que isso é só o começo de uma enorme dor de cabeça. Eu sempre soube que algo assim poderia acontecer, talvez tivesse certeza desde o almoço com meus pais e Jungkook. Desde quando a ideia absurda surgiu no meio de uma conversa inocente. Mas acreditei de maneira ingênua que conseguiria dar um jeito na situação antes de chegar a esse ponto.
Eu queria mesmo ter dado um jeito.
Nesse relacionamento falso e em todas as outras questões da minha vida. Porque aqui e agora tudo parece torto, fora do lugar. E são tantas coisas que me pego confusa, turbulenta.
— Você nunca vem pra casa aos fins de semana, sempre está ocupada. Ele também! — Continua, explosiva. Encolho-me entre os ombros, invadida. — Nunca pode, nunca dá. Se ele não pode nos encontrar no meio da semana, como encontra com você? Como quer que esse casamento dê certo? Com Haneul não era desse jeito...
Haneul.
Haneul?
Sinto um ardor me pegar o peito, um incômodo dolorido me agarrar à consciência e apertar ainda mais minhas têmporas. Minhas lembranças embaralhadas muito mais organizadas do que no domingo. Elas se movem como em uma jukebox, como se eu estivesse prestes a escolher uma para me invadir por completo.
Movem-se, movem-se e movem-se.
Param.
E então desligo por completo.
Não porque quero, mas porque a lembrança de meu ex-namorado falando todas aquelas coisas me vem à cabeça. É a única que me vem à cabeça. Não existe mais jukebox ou outras memórias. É essa e somente essa.
O sorriso desdenhoso, as palavras ardilosas.
Ela não é lá muito bonita, nem muito interessante.
E me sinto mal como naquele instante. Porque acreditei mesmo que tivesse me livrado, que tivesse tirado todo o peso que carregava desse relacionamento com ele. Que tinha me livrado do sentimento de submissão. Mas ele continua aqui, me revirando e me deixando assim. Ele continua aqui e continua me trazendo lembranças ruins de um passado cretino.
E de todas as coisas fora do lugar, tortas, essa é a que mais me incomoda.
Houve nossa conversa um tempo atrás, na saída da loja aonde compramos o notebook. Lembro que me senti estranha, mas que consegui mudar isso, que consegui sair do buraco por um tempo. Mas então veio sábado e é como se nada tivesse mudado. Como se eu tivesse regredido, como se eu estivesse amarrada mais do que nunca à Haneul.
E isso é um pesadelo.
Queria ter revidado, queria ter enchido o peito e me livrado disso. Minha eu do passado me olhando da mesma forma como Jungkook me olhou. Esperou e esperou. Mas nada veio.
Não quero mais ser ligada a Haneul. Não quero mais que minha vida se interligue a dele. Mas tudo parece me levar de volta. Meus pais, ele, minha vida inteira. Estou nessa situação por causa dele, me envolvi em toda essa teia de mentiras por causa dele e continuo com isso por causa dele. Continuo presa em Haneul cada vez mais. Tudo ao meu redor é Haneul.
E me sinto mal. De novo.
Precisa existir algo a ser feito para me livrar disso, mas não consigo achar.
Não consigo sair.
— Eu vou conversar com Jungkook, tudo bem? — Ouço-me dizer. A frase corta a fala de mamãe, mas não me importo. Sinto-me perdida num misto de sensações abruptas. Eu quero sumir. — Vou ver quando a família dele vai estar disponível pra irmos lá.
— Ótimo! — Ela parece satisfeita por um instante. — Eu e seu pai vamos de qualquer forma, com você ou sem. Deixe Jungkook avisado de que nós vamos mesmo assim. Porque estou fazendo isso por você, porque sei que não consegue dizer o que realmente quer. Vou conversar sobre o casamento com os pais deles e vamos decidir isso por vocês.
— Eu vou dar um jeito.
Mas não sei mais o que digo. Porque agora me tenho enterrada nessa confusão de sentimentos. Desespero, frustração. Os sentimentos vindo e vindo. Tenho-me até mesmo perdida por um instante na indignação; minha mãe ainda aperta a mesma tecla de casório, tomando atitudes por mim e fazendo dos seus desejos os meus. E me pegaria ainda mais brava por todo o absurdo que é, senão fosse por todas as outras coisas.
Vejo-me então dividida outra vez. De um lado a frustração repentina que me pegou do nada, que me pegou ao que o nome de Haneul apareceu por aqui. Do outro, o desespero da possibilidade de um encontro fora de cogitação.
Minha família e a de Jungkook.
Isso é... Urgh.
Meus pensamentos são um furacão intenso, o maior da escala Saffir-Simpson.
Afundo minha cabeça nos braços cruzados sobre a mesa assim que encerro a ligação. O bip ainda perambulando pelo meu cérebro quando já me pego arrependida. Sei que não posso prometer algo assim, sei que é algo muito além do meu alcance.
Mas eu tinha escolha?
Tinha?
Aperto os olhos em um arrependimento passado e precoce. Tudo ao mesmo tempo. Precisa existir uma saída. Precisa existir outra maneira de acertar as coisas. Precisa ser diferente dessa vez.
Precisa.
É a família de Jungkook.
Puta que pariu.
É a família de Jungkook!
[...]
É isso.
Tentei de várias formas não parar por aqui. Tentei pensar em diversas soluções, diversos meios para me desviar do caminho. Pensei em desculpas para adiar, pensei em tarefas irrelevantes para fazer. Arrumar o quarto, organizar meus livros já organizados, hidratar os pés. Pensei em finalmente ir até Hongdae para procurar as meias que quero comprar tem mais de um ano.
Tentei também achar meios alternativos, possibilidades distintas, desculpas novas para dar aos meus pais. Tentei encontrar a certeza de que isso é mesmo um universo paralelo, um sonho ruim.
Mas acabei, no fim, parando por aqui.
Porque é a realidade e não posso ignorar, não consigo. Não tenho tempo.
E agora me tenho em uma situação muito mais delicada do que pensei que estaria. Parada na divisa de cômodos, sinto-me suja e injusta. Porque preciso pedir um favor a Jungkook. Um favor de acompanhante de aluguel. Depois de tudo o que foi dito, depois de tudo o que foi passado, eu faço nós dois voltarmos para a estaca zero.
Por todo o caminho que percorri até aqui, procurei maneiras de falar. Amenas, práticas, indolores. Rápidas e compactas. Como um puxão no band-aid. Mas não encontrei. Procurei e procurei. Mas nada. Não queria retroceder, não queria que Jungkook pensasse que só o vejo dessa forma, como um produto. De novo. Porque não é desse jeito, não é assim. Meus sentimentos são claros agora. Mas não existe nada que faça com que ele pense o contrário do errado, do torto. Nada do que eu faça depois, nada do que eu diga depois.
Atitudes valem mais do que qualquer coisa, não é? E eu sou um poço de atitudes ruins.
Porque continuo nisso, continuo insistindo e insistindo no erro, mesmo depois de tudo.
Aperto as alças da minha mochila e respiro fundo. Meu peito trepida de angústia. E, daqui da porta do terceiro andar da biblioteca, consigo ver Jungkook em uma das mesas ao fim da sala. Enfiado em livros, notebook e papéis amassados. Os cabelos bagunçados e o capuz do casaco branco cobrindo somente metade do que deveria cobrir.
Funciona como uma volta no tempo, porque é a mesma mesa, o mesmo sentimento e ele.
É Jungkook.
E mesmo que ele pareça um caos completo, assim como eu, sinto meu coração crescer no peito, inflar. Talvez seja pelo que vim fazer. Talvez seja por eu estar prestes a nos enfiar em desordem outra vez. Não sei. Só tenho certeza que o motivo mais forte e real é ele.
Puramente ele.
Movimento-me minimamente em sua direção, incerta, pensando então na última vez que nos vimos. E não demoro muito para concluir o quão ruim somos em dar passos quando sóbrios. Literal e não literal. Depois da nossa conversa no sábado, dos olhares, dos sorrisos e de todas as revelações, o máximo que conseguimos fazer no dia seguinte foi trocar mensagens com assuntos aleatórios que morreram em cinco minutos.
Ou um.
A vida já era lenta e breve naquele momento.
Ou talvez eu esteja sendo bondosa demais em relação a tudo. Até porque Jungkook enviou uma pergunta à tarde e continuou o assunto só três horas depois. Meu celular com a bateria fraca e minha resposta não sendo enviada. Paramos por aí. Nossa página de mensagens sendo enfeitada por uma nova só hoje com uma vinda de mim.
“Onde você está?”
“Terceiro andar da biblioteca”
Pensei em ficar preocupada, em pensar sobre arrependimentos da parte dele. Pensei em ficar hoje e no domingo também. Mas então eu logo lembrei que Jungkook é péssimo com mensagens de texto e que sua pergunta sobre meu bem-estar foi algo fora do comum. Tão fora do comum que até me lembro de ter engasgado com a bala de goma que tinha acabado de colocar na boca.
E pensando nisso, fiquei feliz.  
Mas agora eu só sou bagunça.
Respiro fundo, contornando mesas, cadeiras e alunos indo embora. Passos e mais passos até parar em frente ao Jungkook. Seus olhos estão vidrados na tela do computador, um pouco maiores do que o normal, debaixo deles olheiras levemente arroxeadas. Seus dedos passam rapidamente pelo teclado, a mão deslizando volta e meia para o mouse, dando cliques e mais cliques.
Aqui e agora, consigo ouvir as batidas pesadas do meu coração pelo aroma tropical que me pega o nariz em suavidade e familiaridade. E por um instante me sinto bem, como se nada na minha vida pudesse me preocupar, me deixar triste.
É como um porto seguro.
— Não vai sentar?
A voz de Jungkook me acorda dos pensamentos vergonhosamente românticos demais e me sinto corar minimamente por isso. Levo um tempo para assumir o controle de meu corpo outra vez e, quando faço, tiro a mochila dos ombros abruptamente e puxo a cadeira em sua frente para me sentar.
Ele nem sequer tira os olhos da tela do computador.
— Chegou rápido. — Fala meio aéreo. Não sei ao certo se ele sabe o que diz ou se são só frases automáticas. — Não chegou?
— Cheguei. — Espalmo as mãos pela mesa, aflita. — Estava por perto.
Fico então um tempo o olhando, aproveitando sua atenção no que quer que esteja fazendo para me perder de novo no que estou prestes a enfiar nós dois. Penso que posso falar agora, que posso pedir, perguntar. Que talvez seja uma boa hora, mesmo que não exista de verdade uma, porque estamos aqui e estamos sozinhos. Mas não tenho coragem. Não consigo.
— Aconteceu alguma coisa?
Jungkook fala outra vez por nós dois e a possibilidade dele ter percebido toda a minha inquietude me faz ficar ainda mais nervosa.
— Erm... Não.
— Veio estudar?
Pisco uma, duas, três vezes. Não sabendo ao certo se devo mentir ou não.
Penso em responder, em mudar de assunto. Mas limito-me a levantar e ir em direção as estantes para procurar sabe-se lá o que. Por sorte, a sessão de livros de direito fica nesse andar, o que me ajuda um bocado a fingir que sim, vim para estudar. Essa se tornando então minha intenção nesse exato instante. Pego três livros aleatórios, nem sequer olhando para o título direito e volto para a mesa. Volto para a mesa só para encontrar Jungkook do mesmo jeito de cinco minutos atrás.  
Atrapalho-me com a mochila no chão, meus pés enganchando nas alças e me fazendo cair grosseiramente sentada na cadeira. E nem mesmo isso faz com que os olhos de Jungkook saiam da tela do notebook. Respiro fundo, os três livros espessos e em pé em minha frente funcionando como uma barreira de proteção. Eles servem também como apoio para meu queixo, quando meus braços os acolhem em um abraço. Sinto-me minúscula atrás da tela do notebook. É pelo que sinto e por todas as outras coisas. E encolho-me ainda mais ao perceber que não sei ao certo o que esperar. Se coragem para falar o que preciso falar ou Jungkook engatar uma conversa para me levar para longe de todos os problemas que enfiei nós dois. E que enfiarei nós dois.
Penso então que eu poderia ter evitado e dane-se, que poderia ter voltado para o dormitório e feito a hidratação nos pés ou ido para Hongdae atrás daquelas meias. Porque tudo parece uma boa ideia agora, tudo é melhor do que arruinar qualquer coisa que temos aqui.
— O que foi?
Sua voz quase me faz pular da cadeira, seus olhos ainda estão concentrados e daqui suas olheiras parecendo mais intensas e frágeis. Reparo nisso para tentar respondê-lo em uma mentira.
— Nada.
Sou uma linha fina e insossa. Mas antes que Jungkook possa me fazer qualquer outra pergunta, ouço-me falar, meu quadril resvalando pelo assento:
— Você conseguiu entregar o projeto naquela semana?
— Projeto?
Por um instante tento me lembrar se eu deveria saber sobre isso ou se foi uma daquelas informações não autorizadas passadas por seus amigos. Mas não é como se eu estivesse preocupada com isso agora.
— Aquele que você estava fazendo. — Falo e percebo que ficou vago demais. — Do notebook emprestado, lembra? Era para aquela sexta-feira.
— Você diz sobre o desenvolvimento daquele site?
Ele desvia os olhos um segundo da tela do computador para me olhar e por um momento me envergonho. Porque nosso último encontro é recente e eu sei que ele também se sente assim.
— Não acha que demorou um pouquinho demais pra perguntar isso?
Jungkook diz ao perceber que não responderia e franzo o cenho por toda a mudança brusca. Ele sempre faz isso. É PhD em me cortar desse jeito. E falaria sobre todas as oportunidades que ele me dá para que eu o supere, mas desisto. Desisti de superar ele já faz um tempo.
— Mal agradecido! — Rebato. — Pelo menos eu to perguntando.
Jungkook não diz nada, voltando a olhar para o computador. E então me permito um tempo observá-lo. Os detalhes, as pintinhas e a boca entreaberta mostrando parte de seus dentes. Ele sempre me lembrou um coelho, só percebo agora. E é fofo.
— Entreguei. — Responde em atraso, os olhos correndo de um lado para o outro da tela. — Mas agora preciso criar as embalagens e os flyers.
Penso em dizer que agora entendo os últimos anúncios de acompanhante de aluguel terem ficado do jeito que ficaram. Profissionais e bonitos. Mas não me atrevo. Porque isso me remete ao que vim fazer e ao que estou evitando fazer desde que cheguei.
— Embalagens?
— O site era de vendas de produtos naturais de uma marca específica. — Explica e eu entendo pouca coisa, só para assim ouvir a mesma frase outra vez: — Agora preciso fazer as embalagens e os flyers.  
— É pra quando?
— Amanhã, é seletiva pro curso de verão. — Surpreendentemente ele responde, porque parecia que levaria mais cinco minutos para fazer isso. — O professor é o mesmo e ele disse que se a gente quisesse, podia pegar um dos projetos e dar continuidade.
Fico um tempo o olhando então. Os olhos ainda indo para lá e para cá, só eles sendo visíveis por cima da tela do notebook. Os dedos vão e voltam também e eu repasso as informações que me disse.
— Tem seletiva pros seus cursos de verão?
Ele não me responde de prontidão, prefere desenhar primeiro algo na mesa digitalizadora.
— Só nesse.
Assinto, mesmo que ele não possa ver.
— Vai fazer curso de verão?
E dessa vez ele responde rápido.
— De cinco dias.
Assinto de novo, inutilmente.
— Vai pra Busan?
— Esse fim de semana.
E a próxima frase morre na garganta. A realidade me pegando os ombros e me chacoalhando de maneira violenta. Não há mais assuntos irrelevantes ou desculpas para dar a mim mesma. Porque posso evitar falar sobre isso com Jungkook, posso engatar conversas e conversas, mas não posso evitar ser engolida nos pensamentos. Porque sei o que vim fazer, sei do porque estou aqui. E, por mais que eu tente escapar, eu sempre acabo voltando pro mesmo ponto.  
Jungkook vai estar lá esse fim de semana, vai estar lá como minha mãe queria que ele estivesse. Ele e toda a sua família. É perfeito, não é? Tudo vai se encaixando como nos planos dela, como deveria ser. Mas não consigo prosseguir, não consigo nem sequer pensar em fazer isso. Porque não existe uma maneira correta de iniciar nosso declive, nosso retrocesso.
Fecho os olhos com força e conto até não sei onde. Tento reunir coragem, começar de qualquer lugar e seguir. Ser inconsequente ou consequente, porque já não sei mais o que é o certo a se fazer nessa situação. Penso em soltar tudo de uma vez, mesmo que sejam frases desconexas e esperar que ele as interligue, que as entenda da sua própria maneira.
Mas não consigo. Porque assim que abro meus olhos outra vez e vejo Jungkook me olhar, os resquícios de bravura que juntei vão embora como pó. E, mais do que nunca, tenho certeza que não consigo.
Não consigo e não consigo.
— Tá tudo bem mesmo?
Eu sou bagunça, caos, cacos. E não tenho tempo para juntar meus sentimentos do chão. Ergo-me desengonçada, perturbada. Sua pergunta pairando no ar sobre nós. Quero ir embora, quero desaparecer. Eu sou covarde e estou fodida. Não tenho para onde correr, para o que recorrer. Todos os lados são caminhos tortuosos demais para se pegar.
( ) Revelar a verdade.
( ) Pedir ajuda a Jungkook.
— Esqueci de fazer uma coisa.
Minha voz é mentirosa e seus olhos já não voltam mais para a tela do notebook, ficam em mim, fincados e atentos. Curiosos. Levo mais tempo do que preciso para reunir minhas coisas. E acabo pensando que o fim de tudo isso não pode ser algo bom, não tem como ser algo bom. Só consigo ver tristeza e arrependimento, só consigo ver coisas ruins e pessoas magoadas.  
— Precisa de ajuda?
Meus olhos correm até os seus, os livros sendo pressionados contra meu peito com força, como um escudo. E já não sei mais quem ele realmente defende. Se eu ou Jungkook.
— Não preciso. — Minha voz é toda errada. — Eu só... Só preciso...
Não consigo terminar, porque não sei como terminar. E acabo virando-me, sem despedida ou frase completa. Viro-me e disparo em direção à saída, contornando alunos chegando, cadeiras e mesas. Mas antes que eu consiga passar pela porta, sou impedida por um puxão desengonçado, meu corpo girando sobre meus calcanhares e me levando de frente para Jungkook.
Seu capuz branco não mais cobre metade de sua cabeça, ele está caído para trás e deixa livre todos os fios negros de seu cabelo. Os olhos tão escuros como chocolate amargo parecem ainda mais curiosos do que antes, fitando-me e fitando-me. Ele abre a boca por alguns instantes, hesitante; e somos esse impasse estranho de incertezas e atitudes impensadas. Somos embaraço, até que sua voz finalmente vem em um sussurro.
— Vai ter uma festa amanhã. — Umedece os lábios com a ponta da língua. — É em uma república diferente dessa vez. Quer ir?
Fico o encarando, perdida em como seu cabelo cai sobre a testa e no que acabou de me perguntar. Isso significa que ele continua se comportando como meu acompanhante de aluguel? Esse convite é isso? Ou tem a ver com querer ficar a sós comigo?
Tento concluir algo, tento buscar pensamentos, mas não consigo.
Eu poderia falar agora o quê vim falar? Poderia perguntar agora, não poderia? Poderia?
— Quero. — Ouço-me dizer sem quase perceber.
— A gente se encontra nas catracas às 20h, tudo bem?
Assinto aérea e ficamos em silêncio por um instante. E penso outra vez em dizer, penso em perguntar, pedir ajuda. Porque se parece como uma boa oportunidade, não se parece? Por que então não consigo? Mas no meio de todo o meu raciocínio estranho, vejo o corpo de Jungkook se inclinar sobre o meu e, de repente, a única coisa que consigo pensar é nele e em sua boca rosada.
Seu rosto se aproxima e minha respiração se tranca, meu coração batendo nos ouvidos e o mundo inteiro ao redor sendo tomado pelo seu aroma tropical. Antes que eu perceba, no entanto, ele se afasta.
— Não sei fazer isso sóbrio. — Ri sem graça, a mão passando pelos cabelos da nuca quando se afasta mais um passo. — A gente se vê amanhã.
E fico ali, o encarando contornar cadeiras, mesas e alunos indo embora.
Eu também não consigo, Jungkook.
E queria estar falando sobre beijos à luz do dia, porque então não existiria a opção de magoar você.
(X) Beber e beber. Beber a ponto de criar coragem e dizer o que vim dizer.
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Fui iniciada no catolicismo aos 8 anos. Não suportava pisar na igreja quando mais nova, apesar do protestantismo estar presente na minha infância desde que me entendo por gente. Irmã evangélica fanática. Jovem e fanática. Dada aos preceitos religiosos com a fé e o afinco que me faltam até hoje. Obreira da igreja, responsável pela tesouraria da ala jovem, além de líder do grupo infantil e da mulher. Eu era arrastada para as missões que ela cumpria desde os 4 anos. Chorava copiosamente. Relutava, mas nunca vencia. Aos 7 anos a obrigação se findou. Minha irmã se afastou da igreja por vontade própria e se casou muito nova. O casamento não durou muito, mas isso é o de menos. A ruptura do nosso laço, aos 7 anos, me fez perder um bocado de esperanças em relação a muitos fatores negativos que eu, ainda criança, já carregava. Aos 8 anos, quando fui apresentada à Igreja Católica, me senti um tantinho mais em casa. Apesar de ainda não gostar, apesar de ainda não querer praticar, todos os domingos matinais me eram obrigados a passar na igreja e isso perdurou até os 10 anos. Tive problemas de saúde, promessas foram feitas, muitas delas em meu nome, sem que eu abrisse a boca pra oferecer nada. Eis que uma nova obrigação me fisgou aos 11 anos: o batismo. Eu não havia sido batizada ainda. Nunca foi um fator grandiosamente importante para o meu pai (apesar do discurso de um homem de fé, que só cabe nos preconceitos momentos que lhe convém). Minha mãe, apesar de ser forte, ter voz e adorar bater o pé, também nunca fez grande esforço durante a minha infância para que eu fosse batizada. Cresci pagã. Na igreja católica disseram: "Antes ela precisa se catequizar. Ao fim da catequese, ela recebe o batismo e a primeira comunhão". Uma nova luta iniciada. Minha mãe quis, tardiamente, ter papel ativo de mãe na minha vida e me enfiou na igreja com uma cobrança horrenda. Logo ela, que não me deu o exemplo quando eu era mais nova. Eu já parecia um menino nessa época. A fotos antigas não negam. Cabelo preso, boné, um óculos de grau, a eterna camisa do Ronaldo e uma chuteira que quando não estava no pé, estava debaixo do braço. Que tempo! Dos 11 aos 13 anos eu desisti da catequese 3 vezes. Aos 12, certa da minha homossexualidade, procurei um rapaz chamado Manoel na igreja, líder da catequese, e pedi ajuda. "Eu sou assim mas acho que é errado, como faço pra mudar?". Ele me disse que bastava rezar e pedir com fé. Disse também para me afastar de tudo que me fazia pecar, mas creio que nessa época ainda não pecava. Pelo menos não desse jeito. Os únicos beijos que tinha dado na vida haviam sido em Verdade ou Desafio da escola. Por idiotice da infância. Eu nem sabia beijar. Tinham sido em meninos também, apesar de eu ter me tocado muito rápido que essa não era a minha praia. Desde então a minha obrigação nessas brincadeiras se limitava a girar a garrafa pra ver de quem era a ver de cometer a besteira do beijo inventado. Uma amiga mais velha, mas ainda assim de papel fundamental no meu processo de reconhecimento, se aconchegou nessa minha fase. Nadine. Lésbica, em processo de se assumir pra família. Um choque de realidade na minha vida pseudo religiosa fodida. Aos 13 anos conheci a primeira garota que, de fato, me apaixonei. Pouca idade. Cabeça de vento. Fugi o máximo que pude. O batismo estava próximo na igreja, haviam me aconselhado a fugir do pecado. Falhei. Comecei a namorar beirando os 14. Faltavam 3 meses pra eu deixar de ser pagã, comer o corpo de Cristo e ser considerada católica de verdade. Menti na minha primeira confissão. Digo, eu não ia me desfazer do amor juvenil e muito menos buscar ser expulsa de casa ao chegar e falar: "Então, eu não vou comungar e muito menos me batizar, porque aquela minha amiga que não sai daqui de casa na verdade é minha namorada". Um processo de segredo novo. Ódio por mim. Mais um? Deus lá vai me amar sendo tão pecadora? Eu disse para o padre que estava tudo certo. Mas tinha aprendido que o padre se fazia na pessoa de Jesus quando escutava a minha confissão. "Menti para Jesus". Foi a verdade que carreguei pesando a minha alma até os 15. Até os 15 também carreguei um relacionamento abusivo, mas, vá lá, esse não é o fator mais importante. Eu apenas não queria ser só. Me apavorava a ideia de ser só. Até me ver sozinha, chegar à conclusão de que amor eterno é pura utopia e me ver obrigada a recomeçar aos 15 anos. "Mãe, sou lésbica". Uma sequência de desgraças. "Na minha família não existe isso, prefiro morta". Morri. De fato? Morri. Sem privacidade, sem identidade (porque as minhas roupas desapareceram e foram substituídas), sem vontade de viver. "Vai pra igreja". Fui. Não deixei que rezassem por mim durante um bom tempo. Me achava suja demais. Muitos fatores, muitos fatores. Namorei de novo uma espírita. Mente aberta, coração amplo. "Deus te ama do jeito que você é". Foi isso que ela repetiu, insistentemente, no nosso ano de relacionamento. Eu nunca tinha me sentido tão abraçada. Mas acabou. Eu nem tive chance de me despedir. Nesse meio tempo? Tentei mais uma vez. "Mãe, sou lésbica". Apanhei. A resposta foi mais física que psicológica. O não era muito grande. Ana: "nós fomos designadas a estarmos aqui, é uma pena o desencontro de idades, mas de quê importa?". Por muito tempo me questionei sobre isso. Duvidei da minha alma, do motivo que havia me trazido ao mundo. Amarras, amarras. Desgraças. Fui crismada. Aos trancos e barrancos, aos 18 anos, no meu terceiro relacionamento com uma evangélica. Na época, muito compreensiva. E lá estava eu, mentindo em confissão mais uma vez. Depois disso, me afastei da igreja. Todos os sacramentos recebidos de maneira muito errada por mim finalizavam a minha caminhada cristã torta. Criei amor por tudo, mesmo assim. Me achava menos suja, mais acolhida, gostava do ambiente. Participava. Me sentia mais cheia. Foi um bom momento. Mas acabou, quando pela terceira vez, o fator "lésbica" gritou mais alto. Fim. Depressão. Eu me debrucei de joelhos diante de Deus e pedi, com tudo que havia em mim, pra que isso fosse tirado da minha vida. Um terço na mão 24 horas rezando por misericórdia. Abandonei o Tumblr, deixei de seguir páginas "duvidosas", acompanhava missas e pregações o dia inteiro, deitada na cama, implorando para me livrar. Desfiz amizades, redes sociais, neguei pra mim mesma, expus discursos de ódio, joguei fora minhas próprias coisas. Mas não tive respostas. Pouco tempo depois, uma bomba. E depois, outra. E outra. E outra. Eu fui na igreja adventista, recebi descarrego, exorcismo e tudo que se imaginar. Paguei minhas próprias promessas, fiz vigília de 3 dias, retiro de uma semana, exclusão de mim mesma por meses. Eu não queria. Eu implorei. Eu me ofereci inteira. E não deu... Não foi falta de esforço. Cheguei a me questionar se isso se devia ao fato de que quando criança, eu não era tão dada a religiosidade. Ou se haviam sido as minhas mentiras nas confissões. Ou ainda, se era o deslize de amar sempre mulheres. Eu desisti de igreja de uma vez. Desisti de mim também. Foi quando comecei a gostar de plantas mais que o normal. Foi quando voltei a correr. Foi quando não me admiti ficar parada. Mas daí em diante a minha vida só caiu. Só desmoronou. E eu me pergunto se isso não é falta de Deus. Mas, e se for? "Quem não vai por amor, vai pela dor". Mas eu já fui das duas formas. E já voltei também. Seca. Sem esperança de absolutamente nada. Completamente desacreditada do motivo da minha existência. Num dia em que fui teimosa com a minha mãe, aos 9 anos, porque ela nunca estava em casa e havia me proibido de jogar bola na rua, eu disse que ela era muito chata. Como resposta, no meio do estresse, ela falou que eu herdei o espírito ruim do meu avô. Eu não cheguei a conhecê-lo, apesar de todo mundo contar que ele era o ser mais seco da face da terra. Às vezes penso, repenso, mas não sei. Eu nunca fui dada à fé. Apesar de ter nutrido uma maior do que a mim mesma por muito tempo. Já fui convidada pra diversas religiões, li inúmeras doutrinas religiosas. O meu primeiro livro "filosófico" se chama: Sobre a Potencialidade da Alma, de Santo Agostinho. O motivo? Eu sempre me achei problemática. Sempre me achei suja também. Sempre achei que não tinha defesa contra isso. E não tenho. Eu sempre quis ser melhor. Tirar boas notas pra ser parabenizada pela minha mãe. Ou quem sabe, pra fazê-la ir na minha reunião de pais e vê-la orgulhosa. Não deu em nada. Ela foi em uma só. Mesmo odiando vestido, sempre me arrumei nas festinhas juninas de um jeito que eu não gostava, mas pra tentar agradá-lá, também não funcionou. Meu primeiro torneio de futsal. Os seis exames de faixa. O único campeonato que tentei lutar. A banda que tentei levar pra frente. A música que escrevi pra ela, de presente de Dia das Mães. Nada. Sem resposta. Nunca. Eu fui um fantasma até os 12 anos. Chega a ser ridículo. A foto da família de Natal não me aparecia, ao menos que meu pai me puxasse, mas às vezes nem ele fazia questão de aparecer. É tudo tão ridículo. Eu penso no que fiz, se é tudo culpa minha por nunca ter sido tão entregue a religião. Mas eu tentei. Eu toquei na banda da igreja também. Mas ainda não agradava. Nunca deu muito certo. Agora? Agora eu não sei, mas também não há quem saiba. Eu tentei ser certa esse tempo todo. Eu tentei ser transparente e aberta também. Mas acho que não fui feita pra progredir, assim como meu avô. Assim como... Ah, dane-se.
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pra-te-brindar · 7 years
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 Eu sei que você nunca vai ler esse texto simplesmente porque você não olha meu tumblr a procura de algo pra você há mais de um ano, mas isso é justamente o que tá me fazendo escrever pra você. Eu te amo. Você mudou a minha vida.
Desde antes de nos conhecermos, quando eu estava caminhando pra casa dele e ele me disse que tinha um amig que não queria nunca que eu conhecesse porque esse amigo era tudo o que eu sempre quis e ele não era. Baixista, barba ruiva, super inteligente, divertido, uma ótima pessoa. Nunca perguntei quem era esse amigo até que te conheci e percebi que era você.
Lembra daquela mensagem de Boa Tarde que me mandou do nada porque vocês três decidiram zoar as namoradas uns dos outros.Nunca entendi como ele topou fazer isso sabendo que isso nos deixaria em contato e ele tinha medo de eu gostar de você mesmo antes de eu te conhecer. Enfim, nos demos tão bem. Você lembra? Você me pediu pra eu fazê-lo escutar Biffy Clyro. Eu disse que adorava, inclusive citei Black Chandelier. Você ficou encantado. Eu só queria impressionar os amigos dele, mostrar que eu era legal, mas com você foi diferente.
Você me mandava mensagem todos os dias e nós conversávamos muito. Tipo, muito mesmo. Ao ponto dos meninos começarem a zoa-lo dizendo que tínhamos um caso e eu nem sabia de nada. Você veio a SG pra fazer um trabalho na casa dele, mas qual era a necessidade? Ele podia ter ido a sua casa, por que veio a São Gonçalo? Ah, é, porque era quinta feira. Eu sempre ia pra casa dele as quintas feiras. Esse foi o dia que nos conhecemos pessoalmente. 
Eu não ia a casa dele esse dia. Nós tínhamos discutido mais cedo eu literalmente só fui por você e eu sei que você só foi por mim. Nesse dia você já tinha terminado o namoro. Já tinha me contado isso antes de contar a qualquer outra pessoa. Já tinha tempo que nós competíamos pra ver quem dormia mais tarde. Já fazia tempo que eu tinha começado a puxar assunto quando você não puxava porque eu sentia necessidade de falar com você. Eu já gostava de você, e depois descobri que você já gostava de mim.
No ano seguinte, passamos a estudar juntos. Bem, não juntos juntos, mas na mesma faculdade e isso nos tornou mais próximos ainda. Ou pelo menos virtualmente. Eu nunca fui capaz de te dar um abraço direito pessoalmente, você era a única pessoa de toda a faculdade com quem eu sempre evitei ao máximo qualquer tipo de contato físico. As brincadeirinhas e os flertes de zoeira sempre existiram, mas eu sempre evitei encostar em você. Eu gostava de pensar que era eu mostrando a ele que não precisava se preocupar conosco, mas na verdade, era meu mecanismo de defesa. Era eu querendo afastar qualquer pensamento sobre nós que eu pudesse ter. Da mesma forma que eu me afastava de você quando estávamos próximos demais. Eu não podia me deixar levar. Eu namorava. Você era não só meu melhor amigo, mas o melhor amigo do meu namorado.
Durante esse período, você “reencontrou” sua crush de adolescência. Nesse meio tempo você não só pintou seu cabelo de azul como também fez um sidecut. E foi a SG pela segunda vez, mas dessa vez, foi a minha casa mesmo. Foi assistir The Godfather comigo, com uma amiga minha e teoricamente, com ele, mas ele só chegou depois. Quando saiu da minha casa, você foi a casa dela e ele ficou lá em casa. Você a encontrou e eu discuti com ele sobre você e sobre os ciúmes que ele sentia que eu me forçava a dizer que era infundado mas que eu sabia que não era.
Você escreveu a primeira música pra mim nessa época. Você estava inspirado, me pediu um tema. Eu disse que queria uma música sobre uma cerejeira japonesa. Não quis falar Sakura, não que eu ache que você faria algo óbvio como utilizar animes na música, mas eu não queria que ninguém imediatamente pensasse em Naruto ou Sakura Card Captors quando ouvisse a minha música. Na música, eu era a cerejeira. Eu ainda tenho seu vídeo cantando essa música com sua barba meio ruiva, seu cabelo azul com um sidecut e seu sorriso.
“Ah, eu quero isso pra mim / Ela é uma cerejeira japonesa sem fim / Ah, eu quero isso pra mim / Ele é um guerreiro samurai de armadura carmim / Serenos e frenéticos eu vi / Mas o olhar / Não esqueci.”
Voltando a moça, eu vi você se apaixonar por ela e ela por você. Eu vi o sentimento dos dois crescendo aos poucos. E eu percebi que eu não tinha que sentir nada quanto a isso a não ser alegria por vocês. Eu tinha um namorado que me amava e a quem eu amava e você tinha encontrado alguém especial. Acho que dá pra sermos amigos, isso vai ser bom. Você a pediu em namoro em agosto. Eu não sei porque eu lembro disso, só sei que eu lembro. Eu fiquei meio mal quando soube, até. Mas depois disso, passou.
Voltamos ao ciclo: conversar muito > sentir algo > me afastar > voltar a conversar muito. Ok, nem sempre era eu quem me afastava, mas esse era nosso ciclo. Nós funcionávamos bem assim.
No ano seguinte você veio aqui em casa de novo, no meu aniversário, mas dessa vez com ela. Foi tudo tão tranquilo, estávamos todos aqui conversando, brincando, estava tudo bem. No dia seguinte, na faculdade, você me deu um chapéu de papel porque eu amo chapéus. Metade francês, metade japonês. O chapéu da dama Lari.
Meses se passaram, você veio aqui novamente. 21 de outubro de 2015. O dia em que Marty Mcfly chegou ao futuro. Dia de fazer maratona de uma das minhas trilogias preferidas. E você veio, apesar de tudo. Apesar de ser uma quarta feira, apesar de estar no meio do período e ter provas perto, apesar de ser em SG, você veio. Você se assustou comigo assistindo Harry Potter e falando todas as falas. Você me deu apoio quando me viu chorar porque meu pai, que deveria maratonar comigo, não esteve presente. Você assistiu aos filmes comigo até tarde da noite só porque eu estava extremamente animada com isso, você nem ligava pra Back To The Future. Mas você veio.
Em novembro teve show da sua banda. Foi a primeira vez que fui a Lapa. Fomos eu e ele assistir seu show. Chegamos lá e encontramos a todos. Nossos amigos em comum, sua namorada, você. Nós pedimos que tocasse a música da cerejeira, você fez suspense no palco e tocou uma outra música de brincadeira que não era da banda. Quando acabou o show, você desceu do palco e me abraçou. Forte, muito forte. Nunca tínhamos nos abraçado daquele jeito. Só então você abraçou sua namorada. Ninguém falou nada sobre isso. Na verdade, acho que ninguém nem reparou, só nós dois.
Ainda em novembro, eu terminei meu namoro. Eu já queria terminar há muito tempo, mas alguns problemas pessoais envolvendo uma menina me fizeram dizer chega. E eu disse. E acabou. E ele fez chantagem emocional. E eu me senti culpada. O namoro ainda existia, mas pra mim já estava morto e enterrado. Eu só estava presa no rótulo de namorada que já não significava mais nada pra mim.
Você foi a minha casa novamente duas vezes esse ano. Uma para irmos juntos assistir a estréia de The Force Awakens e outra só porque marcamos de jogar Just Dance. Depois da estréia, nós fomos a uma pizzaria e um amigo meu que foi conosco percebeu logo que havia algo errado ali. No dia do Just Dance ficou ainda mais óbvio ainda para ele, mas eu nunca soube disso até muitos meses depois. 
Bem, os flertes e as brincadeiras se acentuaram cada vez mais. Em Janeiro (maldita greve que nos fez ter aulas até fevereiro) nos encontramos na faculdade e as coisas ficaram cada vez mais pesadas. Pesada não é bem a palavra certa, mas são 01:38 e eu não tô com cabeça pra pensar em uma palavra melhor. Você disse que procuraria uma sala pra gente, e você falou a verdade, mesmo que eu não soubesse. Eu torcia pra que fosse verdade e achei que tivesse me iludindo. 
Um dia, você me chamou pra explorar a faculdade e ficamos cerca de duas horas a toa andando juntos procurando cantinhos escuros, mas fingindo que não estávamos procurando nada. Eu te falei que seria legal ir ao sétimo andar, você não me deu muita atenção. Isso foi numa terça feira. Na quarta você foi ao sétimo andar com sua namorada. Na quinta você foi comigo. Na quinta nos beijamos pela primeira vez.
Estávamos no sétimo andar, olhando a vista. Fomos pra um bequinho e ficamos conversando até que você me pôs contra a parede e quase me beijou. Mas então você hesitou. Os dois estavam tremendo. Eu tô nervoso, rs. Eu também estava. Você tem certeza disso? Tenho. E aconteceu. De repente, todos os anos de brincadeiras, flertes, insinuações, amizade, piadas, suporte, carinho, conforto, de repente tudo fez sentido. De repente eu era sua e você era meu. Não parecia que estávamos ambos nos jogando naquilo que viria a destruir nossa vida por um tempo. Tudo era tão certo naquele momento.
Isso se prolongou por um tempo, nós juntos no sétimo andar da faculdade. Nós conversando o tempo inteiro em casa. Nós assistimos Her falando pelo celular. Nós tivemos um date real e fomos ao cinema assistir The Boy. Eu fui a sua casa duas vezes. Nós ouvimos o Canções de Apartamento pelados e abraçados. Puro e simples assim. As pessoas falam muito sobre sexo sem amor, isso era amor sem sexo. E apesar de estar extremamente claro que nós não só estávamos apaixonados há muito tempo, como também nos amávamos de verdade, os dois negavam isso incessantemente.
Foi nesse momento que escreveu a segunda música pra mim. Atrito. A música que sua banda adorou e, até a última vez que perguntei, era a música favorita da banda. Você conseguiu fazê-los acreditar que a música era sobre o ócio apesar de isso não fazer nenhum sentido. 7 horas, no relógio do parque Sankaku. Na música você diz que não sabe ser real sem machucar ninguém. Olhando pra trás, eu acho que na verdade, quem não sabe ser real sem machucar ninguém sou eu.
Um dia, numa madrugada de sexta pra sábado, decidimos que talvez fosse melhor parar de nos falar um pouco. Já não nos víamos havia um tempo por causa das férias e tínhamos que dar mais atenção aos nossos respectivos namoros. Isso aconteceu às 03:22. Passaríamos uma semana sem nos falar. Foi extremamente difícil e eu passei o sábado e o domingo inteiro escrevendo pra você e apagando as mensagens. No meio da semana, você me mandou uma falando que talvez isso fosse bobagem, não devíamos parar de nos falar. Isso estava te remoendo tanto quanto estava me remoendo. Você criou a sua versão de Ensaio Sobre Ela, você criou um diário onde descrevia o que sentia e eu tenho tudo anotado aqui. Todas as suas palavras estão gravadas num caderno que, no momento, está no meu campo de visão, mas pode deixar, não vou escrever nada aqui. Suas palavras são hoje um segredo só meu, nem mesmo você ainda as tem e eu vou guarda-las pra sempre. Durante esse período, você escreveu a terceira música pra mim.
Nosso caso se estendeu até a noite do Oscar daquele ano. Você pediu pra terminarmos tudo enquanto assistíamos ao Oscar juntos, mas separados. Você falou tudo isso enquanto a Lady Gaga cantava ‘Till It Happens To You e eu chorei mais que em qualquer término de relacionamento da minha vida, até hoje.
Muitas coisas aconteceram que o levaram a contar a sua namorada sobre a gente. Ela me falou que sabia e me pediu pra contar pro meu namorado porque ela mesma contaria caso eu não o fizesse. Eu o fiz. Em partes. Eu não tive coragem de contar tudo. Eu sou uma covarde, eu sei. Ela contou o que eu não contei. E depois uma outra pessoa contou o que faltava. E foi nesse momento em que nossas vidas virou um inferno.
Estávamos proibidos de nos falarmos. Ambos seguiram seus relacionamentos mas estávamos sendo forçados a fingir que nem nos conhecíamos. Na verdade, eu estava. O que era ruim pra sua namorada era ainda pior pro meu. A namorada dele e seu melhor amigo, o cara a quem ele sempre admirou e a quem ele sempre temeu que roubasse sua moça. Ele surtou. Não o julgo. Foi muito pra ele assimilar. A vida dos quatro virou um inferno. O mínimo contato com ela me fazia chorar desesperadamente pelos corredores da faculdade. Estudar contigo (literalmente dessa vez) e não poder falar com você me corroía. Encarar meu namorado, a quem eu amava mas não da forma que devia, me fazia sentir nojo e vergonha de mim mesma.
Passamos meses assim, praticamente sem nos falar, só nos falávamos esporadicamente e quando acontecia, gerava uma confusão gigante. Meu namorado fez de tudo para que eu sofresse o máximo possível, não vou dizer que por querer, mas fez. E eu aguentei tudo porque eu acreditava que eu merecia. Eu era um lixo. Um ser desprezível que merecia sofrer por tê-lo feito sofrer. E eu tentei parar de gostar de você. E eu tentei me dizer que você não prestava. Mas isso só me fazia pensar quem era isso que fazia com que déssemos tão certo. E aí eu pensava que não, você era bom demais pra mim. E o efeito que isso surtia era uma fagulha de esperança que dizia que com você eu podia melhorar. Eu tentei te superar. De verdade. E falhei miseravelmente.
Quando você terminou com sua namorada, eu novamente fui a primeira a saber. Você não terminou com ela por mim. Você terminou com ela por você, porque era o certo, era a hora. Eu era outra história, uma história pausada e que merecia que fosse apertado o play. E você me disse que queria que eu terminasse. E você me disse que era meu. E eu sabia que eu era sua. E ainda assim eu apareci com o discurso de que pessoas não pertencem a outras pessoas. Escrevendo isso agora percebo que eu estava citando a Audrey Hepburn em Breakfast At Tiffany’s.
Eu só percebi tarde demais que eu não era responsável por cuidar do meu namorado. Eu só percebi tarde demais que deixar ele me fazer sofrer não ajudava ninguém. Era pra eu ter terminado antes. Tudo seria diferente se eu tivesse terminado antes. Ou não. Não sei. Não quero pensar nisso.
Tô escrevendo esse texto para pedir desculpas por ter te feito sofrer tanto, principalmente nesse final que eu praticamente não falei sobre. Dói muito falar sobre esse final. Eu não consigo falar dele realmente com ninguém. A dor que eu sinto ao lembrar dele é extrema. Tudo o que eu queria era voltar pro começo de agosto daquele ano e me deixar ser sequestrada por você. Teríamos nosso dia no apartamento da sua mãe. Você ia cozinhar pra mim. Você chegou a comprar um vinho pra gente. E não aconteceu. Queria voltar praquele dia que nos devíamos ter nos encontrado no plaza pra ir a um motel e não transar, só conversar sobre tudo e nos sentir em casa um no outro mais uma vez. Queria voltar pra quando você me disse que independente de eu não acreditar nisso, você era meu e você me amava apesar de tudo e por causa de tudo e queria nesse momento terminar meu namoro e correr pros seus braços. Queria voltar pra quando eu terminei meu namoro e cumpri minha promessa de sentar no seu colo caso acontecesse, mas te dar um beijo de verdade. Te abraçar e chorar nos seus braços do jeito que eu queria fazer e não fria do jeito que eu fui. Mas algo em mim dizia que você ficaria melhor sem mim, e hoje eu percebo que talvez estivesse certa. Eu te amo. Eu sempre vou te amar. Você sempre vai ser o amor da minha vida que eu nunca tive. E é por te amar tanto assim que eu quero que seu namoro de agora volte a dar certo. Essa menina te faz feliz da forma que eu deveria ter feito e não fiz. Ou quase. Suas palavras “o que eu sinto por ela é o mais próximo que cheguei do que eu senti por você”. Eu te entendo. Não sei se vou chegar a sentir por alguém o que senti por você. E tá tudo bem, vou sobreviver. Só não se esqueça nunca que eu sempre te amei, apesar de todas as minhas escolhas erradas, eu sempre te amei. 
Eu acho que ainda tenho o barbante aqui comigo, no fim das contas.
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elisre · 4 years
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Provável ultimo e-mail.(Só foi o provável mesmo)
Elis Regina Lima <[email protected]>
17 de nov. de 2017 12:22
para Leonardo
Bom dia Leonardo, espero que esteja tudo bem com você.
Bom, fiz o que vc me indicou, desliguei tudo, e coloquei o meu roteador aqui, então agora estou usando a minha senha.
Já conversei com o Juve, e ele irá rachar a conta comigo, o que fica mais fácil de manter.
Já as outras pessoas, eu espero que vc já tenha comunicado a elas, pois desde quarta, as mesmas estão sem internet.
Ainda nenhuma fez o devido pagamento, portanto, estou esperando o pagamento deles.
Estarei cancelando agora minha linha telefônica, e ficarei com essa linha para poder ter a internet, já que aqui não tem disponibilidade de speed.
Bom, acho que agora tudo está encerrado de vez....Agora a vida segue sem que tenhamos que ter contato...ou se caso houver necessidade, isso será feito por email, já que por Whatsapp fica inviável, uma vez em que eu sempre estou bloqueada...
Esse jogo de boqueio, desbloqueio, realmente me cansa...então, o melhor é ser feito por email.
Como provavelmente esse será nosso último contato eu quero te falar o que aconteceu comigo depois que tudo isso aconteceu.
Nesses 7 anos em que ficamos juntos, eu amei (e infelizmente ainda amo)vc da forma mais pura que uma pessoa pode amar.
Eu realmente somei na sua vida...eu dei a vc apoio, companheirismo, lealdade, verdade e fidelidade.
Nunca deixei de olhar suas qualidades e acreditar que vc podia conquistar tudo, que vc é um bom ser humano e um bom profissional.
O cara que eu me apaixonei, fez eu descobrir que companheirismo, vai muito mais além de amor, mas de amizade.
Porém infelizmente, esse cara desapareceu, no momento em que ele não tinha um sentimento, que é muito importante, indiferente do tipo de relacionamento que se tenha...O RESPEITO.
Esse sentimento abrange mais dois que posso dizer que são alicerces...Confiança e Lealdade.
Por mais problemas que tínhamos, eu nunca, em hora nenhuma, deixei alguém te ofender, ou ofender nosso relacionamento, pq pra mim, tinha muito valor...tinha muito sentimento...e isso é um ato de lealdade...a defesa do seu companheiro em todas as horas, é Lealdade.
Todas as vezes em que eu briguei com seus pais, com meus filhos por vc, demonstrou que eu era Leal a vc e ao nosso relacionamento.
Claro que eu tb tive erros, afinal de contas 50% de responsabilidade é minha e outros 50% era sua, então eu não me isento dos meus erros...mas no geral eu mais acertei (ou tentei) do que errei. Claro que isso é o meu ponto de vista....
Algumas vezes vc disse que nunca me desejou mal. Realmente, vc não desejou o mal, vc o fez!
O desejar muitas vezes é da boca pra fora, mas fazer, e de forma que se entenda...sim vc me causou um mal enorme.
Toda vez em que me traiu (conscientemente), toda vez que desrespeitou um pedido meu, como trazer mulheres para o meu apartamento, toda vez que me humilhou (sim, vc fez n vezes, mas vc nunca notou) e muitas outras coisas mais, que sinceramente nem vem mais ao caso.
Esse mal que vc fez em doses homeopáticas, anos após anos, e eu tentando relevar, só me fazia mal, e por isso tanto ciúmes, tantas brigas, tantas desconfianças...afinal de contas, vc me fez isso.
Então, quando vc diz que não me deseja o mal, realmente faz sentido, pq não tem desejo, vc já fez, e agora eu estou pagando pelos seus atos.
Quando vc diz que deseja a minha felicidade, eu, paro, penso...faz sentido?
Como alguém que diz que gosta da outra pessoa, pode causar tanto sofrimento...tanto desrespeito?
Enfim, isso só o tempo poderá me responder...hj não tenho uma resposta.
Eu tb te feri, eu tenho plena consciência disso.
Feri com palavras, com atitudes, mas olhando um todo, minha reação só era um reflexo do que vc me causava, e me causou.
Porém, nesses 7 anos nem tudo foi ruim, nem tudo foi uma merda...teve seus momentos formidáveis...
Nossas transas (pq fazer amor, eu acho que isso só foi no começo), nossos passeios...as vezes em comíamos um monte de besteiras (mesmo eu sabendo que ia deixar vc com baixa ou alta rs), os filmes e séries que assistíamos, dormir com nossas filhas (que hj só são minhas), por muitos momentos bons que tivemos.
Todas as vezes em que vc ficou doente, mesmo sendo uma situação ruim, era bom, pq estávamos juntos, um cuidando do outro.
Terei essas lembranças por um bom tempo ainda, mas não vou ser hipócrita, eu farei de tudo para apagar da minha memória, ou se caso eu não conseguir, deixarei elas guardadas em um lugar em que elas não faça eu sentir dor ou mesmo saudades.
Nesses últimos meses, eu senti mais sua falta do que em muito tempo atrás...quando minha filha ficou internada, eu precisava de vc, de apoio...mas eu estava sozinha.Isso já estava acontecendo a tanto tempo, que quando eu te convidava para fazer qualquer coisa que vc aceitava, eu ficava tão feliz, por que era tão incrível disso acontecer...vc não tem idéia do quanto esses pequenos momentos me fazia feliz...mas como sempre..eu queria mais...e vc não podia me dar mais, pq já havia acabado o amor, então eu não te condeno,mas sinto muito por vc ter deixado eu ainda ter esperanças.
Vc não me elogiava, poucas vezes me parabenizava por algo, e nessas poucas vezes eu realmente acreditava...
Por vezes eu me vi dependente de vc...já nem me reconhecia mais...pq eu era(ou queria ser) como vc...posso até afirmar que eu era viciada em vc..meu amor me viciou...e como todo dependente, tb tem seus momentos de abstinência...e eu vivia em abstinência.
Porém veio o furacão, o desastre total...vc estava namorando,....assumiu outra pessoa...fez coisas com essa pessoa que nunca fez por mim...
Mentiu e desmentiu sobre o amor para comigo...e eu novamente ,como uma viciada, teimava em acreditar...Mas depois de nossa conversa de ontem pelo telefone, ao qual eu pedi para vc me libertar...Vc confirmou que Infelizmente o amor acabou...que não sabia o pq fez tantas coisas ruins comigo...e por incrível que pareça,eu aceitei a contra gosto, que eu tinha que andar agora...ou reaprender a andar...sair do vicio ao qual eu estava.
Nesses últimos meses, corri duas vezes do hospital para não ser internada...demorei um tempo para descobrir que estava com suspeita de tuberculose....Mas acabei descobrindo que era um pouco pior...eu tinha tido um derrame na Pleural.
Tive que retirar o liquido que se acumulou, porém cada vez acumulava...
Não podia ficar no hospital, então eu ia toda semana fazer os exames e ver a quantidade de agua que tinha, e se caso não tinha, era pq o meu corpo estava respondendo bem ao tratamento.
Muitos remédios, muitas idas e vindas ao hospital...mas aqui estou...superando dia após dia.
Sei que o emocional me prejudicou muito nisso...perdi peso, não me alimentava...realmente, ainda estou trabalhando para retomar o apetite e outras coisas da minha vida.
Não sei como anda sua vida, sua família, mas quero que vc saiba, que mesmo com tudo isso que vc fez, e tudo que aconteceu,eu ainda estou aqui...talvez não agora serei sua amiga...mas quem sabe la no futuro eu possa ser.
Hoje, com as qualidades que muitas pessoas estão fazendo eu enxergar, muitas eu as vejo como defeito...talvez seja pelo processo de separação e tal...Mas uma coisa eu tenho certeza, eu ainda consigo enxergar o lado bom das pessoas.
Quero que saiba, que muitas coisas que eu disse, foi da boca pra fora...que muitas coisas eu me arrependo, mas muitas coisas eu fiz de coração...fiz por amor...com toda a intensidade que eu podia dar.
Dói muito, mas nada que o tempo não cure né...eu só preciso e quero que o tempo passe muito rápido...pq a dor é muitoooooooo foda!
Enfim, desejo que realmente vc realize tudo que planejou...vc sacrificou muitas coisas para estar aonde está...hj talvez vc não veja...mas no futuro vc verá...o tempo passará pra mim e passará pra vc tb.
Guarde nossa história como eu guardo, defenda pelo menos o que vivemos de bom, alguma coisa em 7 anos deve ter valido a pena.
Já falei demais rsrsrs, como sempre rsrsrrs...
Quem sabe no futuro possamos tomar um café e bater um papo...afinal de contas eu vivi com vc 7 anos...temos coisas em comum, então quem sabe no futuro sejamos amigos.
Então até o futuro, e seja feliz.
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Precisou Manu defender Babu pra entenderem que existe racismo no BBB
Manu Gavassi protagonizou uma cena que sensibilizou boa parte do grupo de fãs do Big Brother Brasil (BBB20), da Globo, na noite da última segunda-feira, 6, durante o Jogo da Discórdia.
A cantora tinha que completar a frase “eu não gostei quando…” com algum acontecimento negativo que outro participante tenha cometido contra ela ao longo dos mais de 70 dias de confinamento.
Porém, antes de fazer um discurso sobre o que a incomodou pessoalmente, a amiga de Bruna Marquezine não deixou passar batida uma cena de racismo escancarado envolvendo Babu Santana e Gizelly Bicalho. O programa estava ao vivo quando a advogada achou que seria adequado apontar como ofensiva para ela uma atitude que o ator teve com Daniel – já eliminado da atração. Segundo a capixaba, o artista teria ameaçado ‘dar uns cascudos’ no gaúcho, o que teria resgatado traumas que Gizelly enfrentou em sua casa ao longo da vida.
“Por mais que tenham outros momentos na casa com outras pessoas, essa é uma coisa que eu não aceito”, disse a sister.
Babu, por sua vez, se defendeu dizendo que não tinha como ele saber do passado de Gizelly e afirmou que Daniel fazia coisas muito piores com eles.
“O Dani vivia provocando a gente em um nível que a gente falava: ‘Meu Deus do céu… Graças a Deus que hoje eu sou um homem maduro e consigo ter o controle das minhas emoções’. Era um cara que não respeitava o coletivo. Eu falei que se eu tivesse 20 anos menos, eu ia tretar com ele feio. Eu sempre me coloquei na posição de que eu queria me libertar da minha masculinidade tóxica. Isso é realmente uma coisa feia”, admitiu ele um pouco contrariado, já que ele não tinha feito nada diretamente com Gizelly desde que a conheceu.
Foi então que Manu resolveu se manifestar, pois achou que o brother estava sendo injustiçado naquele momento. Chorando, a cantora disparou:
“Defendendo o Babu, ele é um cara, sim, que eu já tive conflitos, mas é extremamente aberto a diálogo. Nos primeiros dias, quando ainda estava todo mundo na casa, os meninos ficavam se chamando de ‘arrombado’, ‘viado’, e eu falei que achava um pouco ofensivo caras héteros querendo se ofender chamando os outros disso. Todo mundo cagou para o que eu falei, mas o Babu veio conversar comigo e disse: ‘Você tem razão no que você falou, eu nunca tinha pensado nisso’. E em outras vezes, quando falamos sobre feminismo, ele se mostrou aberto. A Gi me falou que isso tinha chateado ela, e acho válido se chateou ela, mas ninguém nunca conversou com ele ou apontou isso pra ele. Tenho certeza que se tivesse apontado, ele teria falado: ‘Jamais foi minha intenção usar essa expressão’. Eu sei disso, porque ele já falou várias vezes de como ele era, de como ele mudou e de como ele não quer que o filho dele tenha esse temperamento e seja agressivo. Então, eu acho que isso poderia ter sido resolvido lá atrás, quando foi dito”.
Assista ao momento abaixo:
ai Manu você defendendo o Babu foi a melhor coisa desse jogo da discórdia #jogodadiscórdia #BBB20
pic.twitter.com/b4M78TkdZC
— biel só fala de bbb (@altertrouxa) April 7, 2020
https://platform.twitter.com/widgets.js
Mais tarde, depois de acabar a atração ao vivo, Manu foi chorar com as amigas Thelma e Rafa no Quarto do Líder e esclareceu mais – para quem ainda tivesse dúvidas – de que aquilo que aconteceu com o ator foi racismo.
“Quando eu vi ele tentando se defender, eu falei caralh*, porque que um cara, que tem os erros dele de criação, mas é um doce com a gente, só fala dos filhos o tempo inteiro com o maior carinho do mundo. Quando ele fala dos filhos me lembra meu pai falando de mim e da minha irmã. Que coisa pesada!”. “Eu falei pra Gi antes: ‘Puxa ele de lado e fala o que você não gostou. Eu abomino sua postura’”, disse a cantora. “Você falar no ao vivo é fod*”, completou Rafa. “Nesse momento, vê-lo tentando se defender daquilo, desse comentário tão horrível, tipo, me doeu”, finalizou Manu.
A atitude e as palavras da sister comoveram os internautas, que também saíram em defesa de Babu e, ao que parece, entenderam que o brother pode, sim, ter sido alvo de racismo diversas vezes dentro do reality. E, mais uma vez, a gente faz uso de uma expressão que, apesar de velha, infelizmente parece bem atual: se o preto fala de racismo, ninguém liga. Mas se o branco fala, todo mundo ouve. Né?
Outro ponto que podemos analisar dentro do jogo é a forma como Ivy, Marcela e Gizelly têm se comportado com o adversário. Em conversa com a modelo, o ator tentou explicar que foi segregado por elas, após criar vínculos com Felipe Prior, e esclareceu um ponto de sua convivência com as três: “Nunca fiz nada para vocês. Nunca!”. E mesmo assim, Babu foi votado quase todas as semanas por pelo menos duas delas.
Ivy, inclusive, parece não ter entendido nada do discurso de Manu e após o Jogo da Discórdia, voltou a afirmar que não acha que Babu e Thelma sofrem racismo.
“Ser preto não é malefício nenhum. Quanto mais morena eu fico mais eu gosto. Eu gosto é muito. ‘Posso falar que quero ficar no sol pra ficar preta?’, perguntei pra Thelma. E ela disse que não, porque eu nunca vou ficar preta. Mas é muita coisinha que incomoda. Mas se incomoda, tudo bem. Mas ficar falando disso, pra quê? Todo mundo é igual, todo mundo merece o prêmio, se é branco, moreno, preto. São seres humanos. O que eles querem dizer é que sofrem mais pelo racismo. Pode ser, eu acredito, a Marcela disse que tem muito. Mas ninguém aqui vejo sendo racista com eles”. Embora Ivy tenha que aprender muito ainda sobre como não ser racista, segundo a declaração dela, a única vez que ela entendeu que o racismo existe, foi quando Marcela, branca e loira, disse que existe. Precisamos falar mais alguma coisa?
Como denunciar racismo
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Confira aqui a diferença e saiba quando se deve denunciar uma atitude racista.
Veja também: BBB20: Ivy nega que Babu ou Thelma sofra racismo dentro da casa
Precisou Manu defender Babu pra entenderem que existe racismo no BBBpublicado primeiro em como se vestir bem
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raulmottajunior · 7 years
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Foram 16 projetos de lei, um de lei complementar, quatro decretos legislativos e 14 requerimentos de informações assinados. Se Marielle Franco não tivesse sido assassinada a tiros há exatamente uma semana, a vereadora, caloura no parlamento, ainda teria pouco menos de três anos para engordar essa conta. A marca de Marielle, negra, lésbica e nascida na Maré, não eram, entretanto, os números de seu mandato, e sim a coleção de causas escondida entre os algarismos. Entre seus 17 projetos de lei protocolados, analisados pelo GLOBO, é clara a defesa dos direitos das mulheres, em textos como o que cria uma campanha permanente contra a violência sexual e o que estebelece um programa de atenção ao aborto legal, da valorização do orgulho gay, como a proposta que cria o "Dia da visibilidade lésbica", e das periferias, como os projetos que versam sobre o funk e a criação do Dia Municipal de Luta contra o Encarceramento da Juventude Negra. Representantes desses grupos temem que, sem Marielle, suas pautas percam espaço na Câmara - e, consequentemente, na cidade. — Marielle era múltipla. Ela tinha, além das pautas das mulheres, as pautas de direitos humanos, de sistema carcerário. Ela não era militante de uma causa só. Abraçava toda e qualquer causa com que ela se relacionasse. Quando ela assumiu na Câmara, representou um grande sopro de esperança para todos esses movimentos. Era conhecida por ser uma pessoa a abraçar inúmeras causas. E nós estamos extremamente carentes dessa representação — afirma a advogada Maíra Fernandes, do Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher. Elas por ela Campanhas e dossiê contra a violência sexual Representatividade LGBT A favela em pauta A cidade cabia em Marielle Elas por ela Áurea poderia ser beneficiada com um dos projetos de Marielle: o de criar horários noturnos em creches - Emily Almeida / O Globo As políticas públicas voltadas para as mulheres eram o grande foco dos projetos de Marielle: dos 17 protocolados, 6 falavam sobre o tema. O primeiro deles, datado de março de 2017, instituía o "Programa de Atenção Humanizada ao Aborto Legal e Juridicamente Autorizado" no Rio. Um nome complicado para um objetivo simples: humanizar o procedimento do aborto, em casos previstos na lei, para as mulheres que precisem recorrer a ele. A ideia era facilitar o acesso ao procedimento e acolher melhor quem necessitava dele. Um dos preceitos seria acreditar na mulher submetida ao aborto, sem reciminá-la ou zombar dela. Outro, um atendimento por uma equipe interdisciplinar, e não só por um médico responsável pela interrupção da gravidez em si. Em sua justificativa para o projeto, Marielle defendeu que "as mulheres que se encontram em situações permitidas por lei para a realização do aborto - por si só dolorosas, como risco de vida, feto com anencefalia e gravidez decorrente de estupro encontram inúmeras dificuldades para ter seu direito garantido". Segundo a vereadora, a cidade do Rio só tem uma maternidade que realiza o aborto permitido por lei. Usando números de pesquisas nacionais, ela estimou que muitas vítimas de violência sexual no Rio acabam engravidando e não conseguem recorrer ao aborto. "Um estudo realizado Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do SUS de 2011, apontou que 7% dos casos de violência sexual resultam em gravidez. Revelou, porém, que 67,4% das mulheres grávidas em decorrência de estupro em 2011 não tiveram acesso ao serviço de aborto legal. O que quer dizer que a ampla maioria destas mulheres não teve seu acesso ao direito do aborto legal garantido, podendo inclusive, terem se submetido à métodos clandestinos de aborto, colocando sua saúde e vida em risco", argumentou. Outros textos que tentavam melhorar as condições de vida das mulheres vieram com o tempo. Um deles versava sobre o estabelecimento de horários noturnos em creches da prefeitura, para que as mães pudessem trabalhar e estudar nesse horário, e bebês e crianças receberem cuidados, realizando atividades complementares às escolares, nesse horário. "Este programa tem por objetivo atender à demanda de famílias que tenham suas atividades profissionais ou acadêmicas concentradas no horário noturno", dizia o texto do projeto. "O mandato de uma mulher negra, favelada, periférica precisa estar precisa estar pautado junto aos movimentos sociais, junto à sociedade civil organizada, junto a quem está fazendo pra nos fortalecer naquele local em que a gente objetivamente não se reconhece" Durante o evento "Mulheres negras movendo estruturas", no último dia 14, na Casa das Pretas "Eu posso dizer que sou a primeira candidata da favela da Maré a chegar no parlamento" Em entrevista ao canal "5 minutinhos de alegria", do ator Fernando Barcelos, há 10 meses "Todas as urnas que o TRE apurou teve o 50.777. Não teve uma urna que o TRE apurou que não teve pelo menos um ou dois votos" Em entrevista ao canal "5 minutinhos de alegria", do ator Fernando Barcelos, há 10 meses "Mas homem fazendo homice, né" Ao ser interrompida pelo vereador Italo Ciba, que lhe entregou uma rosa, durante discurso na tribuna da Câmara dos Vereadores no dia 8 de março "As rosas da resistência nascem do asfalto. A gente recebe rosas, mas vai estar com o punho cerrado também falando do nosso lugar de vida e resistência contra os mandos e desmandos que afetam as nossas vidas" Durante discurso do Dia Internacional da Mulher na tribuna da Câmara dos Vereadores no dia 8 de março de 2018. "Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?" No dia 13 de março, no Twitter, ao questionar a morte de Matheus Melo, baleado no Jacarezinho ao sair de uma igreja   "Com esses números é sempre difícil acordar otimista. Mas precisamos transformar nossa dor em luta! Vamos em frente"   Ao comentar o número de feminicidios cometidos no Rio no twitter, no dia 7 de março   "Primeira semana de aula e já tem escola fechada por causa de operação da polícia na Maré. Já são quase 10h de tiro. Quando a gente pediu intervenção na Educação não era disso que estávamos falando" ��   No dia 22 de fevereiro, ao denunciar uma operação policial na Maré pelo Twitter     "Nós estamos no processo democrático! Vai ter que aturar mulher negra, trans, lésbica, ocupando a diversidade dos espaços"     Durante discurso do Dia Internacional da Mulher na tribuna da Câmara dos Vereadores no dia 8 de março de 2018.     Editoria de Arte Áurea Xavier, servidora pública de 35 anos, sabe o que é sacrificar a vida profissional para cuidar das crianças. Desde 2009 ela tenta se formar em jornalismo, e conta que já abandonou o curso muitas vezes por não ter com quem deixar seus três filhos de 2 a 12 anos, com quem mora em Vila Isabel. Atualmente, ela conta com a solidariedade de uma amiga para ficar com os pequenos: — Ela (a amiga) foi morar lá em casa para cuidar das crianças. Antes disso, minha mãe vinha de Campos dos Goytacazes quando podia. Muitas vezes abandonei o curso por não ter com quem deixar meus filhos. Por isso é muito importante ter um lugar para deixar com cuidado. Eu perdi muitas oportunidades porque não tinha com quem deixar. Estou atrasada nas disciplinas, ainda estou tentando me formar. A estudante conta que soube do projeto de Marielle sobre a ampliação do atendimento em creches ainda na campanha de 2016. E decidiu votar na então candidata do PSOL por causa dele: — Eu votei nela assim que eu soube do projeto. Eu já cheguei a procurar a Marielle para tentar resolver o problema na creche dos meus filhos. Eles são de uma creche pública. Tiveram problemas de adaptação. Os funcionários não deixavam usar fralda de pano. Ela me indicou contatos de pessoas de direitos humanos. Eu sou uma privilegiada porque sou branca, mas acompanho a Marielle muito pela luta por mulheres que estão em situação muito pior do que a minha - ressaltou Áurea, ainda abalada pela morta da candidata em quem votou. — É como se tivessem assassinando a gente. Ela era a representatividade e a vivência. Isso serve para nos acordar. Campanhas e dossiê contra a violência sexual O combate à violência sexual contra as mulheres era outro tema caro a Marielle. Um dos projetos, de setembro de 2017, criava a "Campanha Permanente de Conscientização e Enfrentamento ao Assédio e Violência Sexual" no município, incluindo frases educativas em paradas de VLT e BRT que desestimulariam os agressores e estimulariam as denúncias. Um mês depois, Marielle propôs, em outro texto, a fixação de cartazes "em lugares visíveis nos serviços públicos de atendimento às mulheres", com informações obre os direitos das mulheres vítimas de violência sexual. Preocupada na compilação de dados estatísticos sobre a violência contra as mulheres, a vereadora sugeriu, por meio de outro projeto, a criação de um dossiê, em âmbito municipal, para elaborar estatísticas periódicas sobre mulheres atendidas pelas políticas públicas sob ingerência da prefeitura. "Deverão ser tabulados e analisados todos os dados em que conste qualquer forma de de violência que vitime a mulher, devendo existir codificação própria e padronizada para todas as Secretarias do Município e demais órgãos", estabelecia o texto. Nesta terça-feira, dia em que o sétimo dia da morte da vereadora foi lembrado em manifestações pelo país, muitas mulheres que foram aos atos se diziam preocupadas com retrocessos e recorrentemente vítimas de assédio. - No dia a dia o assédio é diário, fico com medo. Tenho medo de sentar na janela do ônibus. Andar à noite na rua. Eu estudo em Niterói e moro no Rio. Quando chego em casa, está escuro. Durante muito tempo estudei no centro. Você ouve muita cantada. Medo define. O maior problema de ser mulher na sociedade é que você vive com medo - desabafou Moara Abbayomi, estudante de produção cultural de 18 anos. Moara afirma que o engajamento de Marielle era decorrente das próprias dificuldades que ela viveu como mulher negra. - A Marielle era uma mulher negra periférica, mãe jovem, que entendia muito desses problemas, porque ela estudou muito, mas também porque viveu na pele todas as minorias, tudo o que essas minorias vivenciam no dia a dia. Era conhecida e respeitada. Poucos são os políticos que se preocupam com o preto pobre da favela de fato. É você ter uma mulher negra que entende como eu me sinto - opina a estudante. As negras também estavam lá, entre os projetos protocolados por Marielle. Um deles, de abril de 2017, logo no início do mandato, propunha a criação do "Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra" no calendário oficial da cidade do Rio como forma simbólica de chamar atenção para esse grupo. "A importância em existir um dia para celebrarmos as mulheres negras está nos escritos históricos e nos atuais dados do IBGE. Segundo o instituto, 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos. O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a metade do salário da trabalhadora branca. Mesmo quando sua escolaridade é similar à escolaridade de uma mulher branca, a diferença salarial gira em trono de 40% a mais para esta", justificou, Marielle, quando protocolou o projeto. Representatividade LGBT O foco de parte das ações de Marielle era para os LGBTs. A vereadora, casada com Monica Tereza Benício, militava pela visibilidade das mulheres lésbicas. Em meio a uma gestão municipal que é acusada de preconceito ao abandonar o finamento às paradas LGBTs da cidade, Marielle propôs, em março do ano passado, a criação do "Dia da Visibilidade Lésbica" no Rio. "Dentre as expressões mais extremas de violência contra lésbicas existe uma enorme ocorrência do chamado estupro “corretivo”, prática cruel que é movida pela intolerância à orientação sexual das mulheres lésbicas. É importante ressaltar que as mulheres lésbicas negras e/ou periféricas estão ainda mais vulneráveis a essas diferentes formas de violência", argumentou Marielle, no texto de justificativa do projeto. Adaiane Silva, assistente de TI e Telecomunicações de 33 anos e integrante da Frente Lésbica do Rio de Janeiro, tem uma fala parecida: diz que a proposta conferia voz diante de índices altíssimos de agressões contra mulheres LGBT. — A palavra mais importante desse projeto é visibilidade.Você não poder realizar o (exame ginecológico) papa Nicolau porque é lésbica e também porque não tem relação com homens é um absurdo. — cita Adaiane. — Depois da Marielle, o mais interessante a se fazer é colocar a boca no trombone. Não vamos parar. A semente da Marielle que eles tentaram apagar brotou na gente. A gente estava falando, agora a gente tá gritando. Dói lembrar que na tribuna da Câmara ela citava os nomes das vítimas e gritava presente. Agora a gente fala o nome dela. Também em março de 2017, Marielle tentou que fosse criado, em 17 de maio, o "Dia Municipal da Luta contra Homofobia, Lesbofobia, Bifobia e Transfobia". A própria Marielle tinha uma assessora parlamentar trans - que usa nome social - trabalhando em seu gabinete. "Numa sociedade constituída por opressões, a população LGBT é vítima constante de violências e privações de direito, que se manifestam através da homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia. O Brasil, nesse cenário, desempenha um triste papel, sendo o país que mais mata pessoas LGBTs no mundo, segundo a ONG Transgender Europe", afirmou a vereadora ao protocolar a proposição. A favela em pauta Nascida e criada na Maré, a vereadora tinha uma atenção especial pelo respeito aos direitos humanos e pela cultura da favela. Quando a prefeitura demoliu as barracas de comerciantes da Vila Kennedy, Marielle perguntou ao prefeito, em requerimento de informações assinado junto com o companheiro de bancada Tarcísio Motta, se haveria reconstrução dos quiosques, quem pediu a operação da Secretaria de Ordem Pública, quais eram os funcionários responsáveis pela demolição e outras informações. Foi o último requerimento que a vereadora escreveu antes de morrer. Entre os projetos de lei, Marielle propôs a inclusão do "Dia Municipal de Luta Contra o Encarceramento da Juventude Negra" no calendário oficial carioca. Tentou regulamentar, em outra proposição, o "Programa de Efetivação das Medidas Socioeducativas em meio aberto, no Município do Rio de Janeiro", melhorando o acesso dos adolescentes infratores a vagas em instituições para que cumpram tais medidas, a produção de estatísticas sobre o atendimento prestado a eles e fortalecendo as atividades dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas). Antes de ser assassinada, Marielle foi designada para ser relatora de uma comissão na Câmara que acompanharia o desenrolar da intervenção federal na Segurança. No âmbito cultural, Marielle propôs o Programa de Desenvolvimento Cultural do Funk Tradicional Carioca, para incentivar a produção artística relativa ao ritmo e disponibilizar equipamentos culturais da prefeitura e espaços públicos para ações de divulgação e difusão do funk. "O funk carioca é um estilo musical oriundo das favelas do Rio de Janeiro", disse Marielle, na justificativa escrita para o texto. "Com este projeto, queremos resgatar essa forma cultural de expressão dentre tantas outras que nosso povo incorporou, resultando daí um processo de disseminação da cultura popular em nossa Cidade". A cientista social, pesquisadora e dançarina de funk Sabrina Ginga, integrante do grupo de funk Heavy Baile, acompanhou a tramitação do projeto e afirma que ele seria importante para estimular artistas que não encontram apoio e não têm dinheiro para ampliar sua produção. — Eu conhecia o projeto. Ela (Marielle) queria que o funk tocasse de tarde, de dia, não fosse a música de final da festa. Não só isso como estimular a produção dessa galera. Tem muita gente que faz funk e não consegue gerar renda. É disso que a galera precisa mesmo. Eu particularmente acho uma perda tamanha. Mas alguém vai continuar essa luta e esse projeto — aposta Sabrina, que fez uma homenagem para Marielle no último fim de semana, durante uma apresentação do Heavy Baile. O apoio ao funk, para ela, tem a ver também com o estímulo à visibilidade cultural de um grupo marginalizado. A própria Sabrina, nascida em Turiaçu e amante do ritmo desde criança, conta que já foi vítima de olhares tortos ao dançar e usar gírias oriundas do universo do funk. — O funk, como todas as manifestações culturais de origem negra, teve um embate muito grande quando começou. Ele tem 40 anos, é muito novo. E é agressivo. Ele vem da comunidade. De um lugar onde as pessoas vivem de uma maneira agressiva. O funk vem nessa potência de elevar a voz dos excluídos e falar do que não falam. Ele está ganhando um lugar de aceitação, porque a indústria fonográfica. E o caminho para ele é o reconhecimento, como o samba hoje é reconhecido. A cidade cabia em Marielle Jovens participam de ato no Rio após a morte da vereadora Marielle Franco - Ricardo Moraes / Reuters Nem toda a atividade legislativa de Marielle, entretanto, foi em cima das bandeiras de minorias. A vereadora também assinou proposições e requerimentos que cobravam ações sobre a cidade como um todo. Junto com outros colegas da Câmara, assinou projetos que versavam sobre assuntos do momento, como o combate ao jogo virtual "Baleia Azul", que levou crianças e jovens ao suicídio no ano passado. Também estava entre os autores de um texto que estabelecia prioridade para o pagamento de salários de servidores e pensionistas entre os gastos mensais da prefeitura. Temas como Transportes e Urbanismo também figuraram entre suas proposições. Com colegas de bancada do PSOL, Marielle assinou um projeto de lei que tenta aumentar o Imposto Sobre Serviços (ISS) cobrado das empresas de ônibus de 0,01% para 2%. Sozinha, propôs assistência técnica dos órgãos da prefeitura, de forma gratuita, para a elaboração, construção e reforma de habitações de interesse social em posse de famílias carentes. — Embora as pautas da mulher, das questões raciais, dos direitos humanos e dos LGBTs estivessem entre as prioridades do trabalho de Marielle, ela tinha conhecimento e preparo para trabalhar todas as pautas importantes para o Rio de Janeiro. Ela conhecia a cidade e o estado. Conhecia bem diversas questões relacionadas a Transportes, Infraestrutura, Saneamento, conhecia políticas públicas. Participei de debates com ela em que ela respondia às mais diversas perguntas sobre o Rio de Janeiro — lembra a advogada Maíra Fernandes. Fonte: O Globo Postado por: Raul Motta Junior Foto: Mauro Pimentel
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hiagosales · 7 years
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Não era pra ser, foi.
Começo de Fevereiro, focado em bater metas, concentrado bem na vida. Não esperava por ninguém para começar a se relacionar desde então. Meses atrás na escola em que estudava havia mudado de turno de manhã para a noite, por conta de alguns motivos. Já tinha visto aquela garota outras vezes, por fotos de redes sociais ou algumas pessoalmente. De primeira impressão se via uma moça quieta, gentil, meiga talvez. Logo bate aquela vontade de conhecer, só conhecer e ver se eu tinha acertado na primeira impressão. Fui poucos dias as aulas no turno da noite, a escola tinha entrado de greve no ano anterior, por conta disso as aulas se estenderam até depois de Fevereiro. Um dia como outro qualquer de aula, resolvo então dar aquela aproximada, tentar saber um pouco sobre aquela garota que me chamou atenção apenas por curiosidade minha. Na primeira oportunidade que vejo tento pelo menos saber algo, aproximo de um conhecido que se encontra próximo dela, ela que sai dali de perto pra falar com alguém, aproveito a brecha e pergunto sobre ela a esse conhecido, se ela era comprometida ou algo assim e uma pergunta boba; "Se ela era menina boa". Meio doido como esse meu conhecido é, respondeu do jeito dele, que ela era uma pessoa de respeito e respeitosa e bla bla, mas também falou que era comprometida, logo então até desanimei e deixei a ideia de conhecer-lá pra lá. Alguns dias depois no final do bimestre do ano letivo, aconteceu uma gincana para última nota do ano, uma das provas era ler uma espécie de poesia que foi criada por alguém sem muita criatividade deixando toda confusa. A leitura foi feita na frente de vários alunos no pátio de escola, onde tentaram umas 3 a 4 pessoas e ela estava entre essas, e aquele texto confuso que ficou até meio engraçado, ela tentou do seu jeito conseguir decifrar, e eu mais uma vez dei aquela velha reparada naquela moça. Um jeitinho diferente, envergonhada, tímida, com medo de errar, mas empenhada a ler direitinho a bagunça que a poesia tinha saído. De vestido escuro, microfone na mão e papel na outra, olhei com todo foco nela e pensei "Que fofa!". foi um dos pensamentos mais bobo que poderia ter tido aquele momento, mas foi o que saiu. (Não me lembro se conseguiram ler o poema). depois de alguns dias saíram os resultados dos aprovados no ano letivo, inesperadamente tal dia, eu resolvo chamar ela no chat do Facebook, logo então ela pergunta se eu era marido de uma conhecida dela, logo eu muito novo e achando nada a ver a pergunta feita, dou risada e logo escrevo que não, ela perguntou porque tinha uma mensagem enviada dessa conhecida dela pelo meu perfil. Então começamos conversas curtas, sem intuito nenhum, terminando da mesma maneira. Passam os dias e ela volta a chamar, dizendo que foi aprovada, começamos conversar já sobre outros assuntos, mas sempre aquelas conversas curtas, sem muito intuito. Não tenho ideia se causei boa impressão ou algo do tipo em primeira instância, mas logo ela pediu contato do whatsapp, eu dei como daria para qualquer pessoa boa e de respeito. Mas aí notei que não houve mensagem logo em seguida, cobrei então. Os dias passaram e já começavamos a ampliar os assuntos. falávamos sobre relacionamento, metas, objetivos, sonhos e etc. De início já consegui conhecer um pouquinho dela, e esse pouco tava me fazendo querer conhecer mais. De gostos e manias, a que mais me chamou atenção foi o fato dela gostar de cantar, era de igreja, quieta, caseira e com um jeito sereno difícil de se ver. Desde o início já enviava áudios cantando, e obviamente com aquela voz linda, me encantado. Eu logo de início coloquei na cabeça que talvez não deveria me envolver com ninguém na fase da vida em que eu me encontrava, com foco em crescer, em realizar várias coisas e bater metas. e estava ciente de onde estava pisando, sabia que ela já era uma mulher, uma pessoa já desiludida, com pensamentos maduros, afinal ela tinha 22, eu na época com 18. Ela mesma tinha dito que não queria também se envolver com ninguém, "Não queria saber desse negócio de paixão". Eu como chato, falei que não tinha nada a ver o que ela dizia, e ela ironicamente afirmou que iria me provar. Foram muitas mensagens trocadas, áudios, fotos, noites em claros se conhecendo, assuntos bonitos, maduros e as vezes até bobos, mas sem muito intuito ainda. Certo dia ela veio me falar que tinha acontecido algo inesperado a ela, com um amigo que ela considerava um "irmão", mas isso não vem ao caso, mas depois desse dia foi que ficamos mais próximos, não tinha um dia sequer em que nós não se falávamos, não tinha uma noite em que desejávamos boa noite um ao outro, era aquela fase em que você sabe que as coisas estão propensas a "acontecer". Mensagens bonitas, áudios com aquela voz linda, eu enviava até vídeo tocando e cantando no violão até desafinando, mas ali pouco importava. "Quando a intenção é boa, o pouco sendo o máximo que se pode dar, vira algo surpreendente." Foram dois meses de conversas até eu ler aquele "Tem alguém me conquistando", foi aí que senti, mesmo com medo, a vontade de prosseguir um pouco mais. Como dito, foram dois meses para darmos início. Já estávamos bem mais a vontade, então foi dado o convite de assistirmos algo juntos. Naquele momento qualquer coisa cairia bem, afinal foram dois meses pra surgir esse encontro. Marcamos, eu já sentia que ela ficaria ansiosa, envergonhada, tímida e nervosa. Chega o dia de nos vermos, marcamos horário, ela vem, pontualmente, às 7, bate no portão, já abro aquele sorriso automaticamente, o mais bobo que ja tinha dado depois de tempos. Ela entra e senta, a uma poltrona ao lado da minha, ali ficam 2 bobos sem muita reação, conversamos um pouco, ela comenta de um jeito lindo o quão tava nervosa, eu chato, dou risada e digo que não precisa, que era besteira, depois de um tempo de conversa, decidimos colocar o filme que não me lembro o nome, aliás, naquele momento nada mais importava, não sabíamos as horas, como estava o clima, quem tava por perto, naquele momento era apenas eu e ela. Mudamos sofá de canto, próximo a TV, demorei um pouco a acertar em pôr o filme, não por que quis, mas porque automaticamente queria olhar de vez em quando ela, aquele jeitinho que foram mais de dois meses pra eu voltar a sentir. Coloco o filme, sentamos no sofá, distantes, como quem não queria nada, eu que não sou bobo, peço educadamente para me aproximar, coloco o braço em volta de seus ombros, aquele momento me senti a pessoa mais leve do mundo, não conseguia pensar em nada ruim, ali estava um momento perfeito. Naturalmente, aos poucos minutos do filme, senti que deveria dar mais um passo, posteriormente, o primeiro beijo. Não tinha sido qualquer primeiro beijo, foi o primeiro beijo depois de mais de dois meses de aproximação, foi um dos melhores primeiro beijo que já dei em minha vida. Tudo naquele momento fluía de uma forma inesperada, tudo mesmo, em poucos momentos fomos além do beijo, não se tinha mais conversa, mais medo, mais nervosismo, se tinha vontade, de ambos, ali mesmo naquele sofá de frente a TV, com o filme que nem sabia o nome em execução, ela me pede pra desligar a TV, as luzes já estavam apagadas, então senti seu corpo pela primeira vez, momentos depois decidimos ir ao quarto, por medo de que alguém vinhesse a me chamar no portão, que fica um pouco perto da sala onde estávamos. O quarto estava escuro, incrivelmente mesmo assim, conseguia ver ela, com uma pele branquinha, quase nítida, até de olhos fechados a via. Era muito mais além do que um encontro de dois corpos, não era apenas sexo, porque eu sentia que não era qualquer pessoa. Algo acontece, ela se afasta um pouco de mim, senta no canto da cama, inesperadamente a vejo chorar, eu sendo chato mais uma vez, dou risada sem entender o que tinha acontecido, e logo fico ao lado dela, buscando alguma reação naquele momento, ela me pede desculpas, e eu digo que não precisa de desculpas, pelo fato de eu ter entendido, aliás aquilo por engraçado que pareça, achei até lindo de ver. Ela me contou que não era de se fazer isso, daquela forma como aconteceu. Muitos caras ficariam chateados com a situação, mas compreendi e me senti até feliz, por ter vivenciado esse momento confuso, mas lindo de se ver. Ali foi a primeira vez que a vi chorar. se vestimos e voltamos a sala, dois confusos e sem graça num momento só. Já perto dela ir embora noto alguma coisa, mais uma vez inesperada, havia uma marca roxa no pescoço dela, digo pra ela, já me olhando assustada, perguntando se era sério aquilo, afirmo que sim, e digo que não foi de propósito, e me desculpo. ficamos preocupados juntos com aquilo, eu fiquei muito, me senti culpado por dentro por que não queria que nada a vinhesse prejudicar. Se despedimos e ela vai pra casa. Aquela noite não tinha sido uma qualquer, pra mim foi a melhor do ano. Foi nosso primeiro encontro, primeiro filme, primeiro beijo, foi nossa primeira noite juntos. ela chegou em casa tarde, depois das meia noite, demorou pra me responder se tinha chegado bem, eu já tinha deixado uma mensagem de Desculpas pelo horário que tinha chegado e por qualquer outro vacilo, dormi sem seu "Boa noite", o que me deixou um pouco preocupado, mas aliviei quando acordei e já vi que tinha mensagem sua ali, falamos um pouco sobre a noite passada, ela me contou que tinha passado pó no roxo do pescoço para disfarçar. Foi uma noite de muitas emoções, que vai ficar na memória, no dia seguinte deixando duas pessoas completamente confusas, foi até meio que engraçado, foram dois meses pra aquela primeira noite, noites em claro, os dois não queria se envolver, eu mesmo no começo tinha dito até regras, que não deveria ter besteiras, e que não devia ter paixão, e passamos a tocar no assunto algumas vezes para que a gente lembrasse das regras ditas, que com o tempo até esquecemos delas. Dias se passam depois daquele dia em q nos encontramos, ficou tudo um pouco estranho, sentia uma defesa em ambos os lados, incerteza, dúvida e medo estavam ali presentes. Pensamentos iam a mil por conta dela, tentava saber oq ela pensava, e ela sempre meio confusa me criava mais dúvidas ainda. Eu já estava decidido que não era pra acontecer outra vez, e sentia q ela da mesma forma não queria ir adiante, mesmo assim conversávamos sempre que possível, me preocupava como ela estava sempre, mesmo não querendo nada ainda, não queriamos se distanciar naquele momento. Com o passar dos dias não sabendo muito o que tava rolando naquela cabecinha, não sabendo se ela precisava se reencontrar, sem entender muita coisa ainda, tentava impor a própria cabeça e pensamentos pra me decidir de vez em que não era pra continuarmos, ela tentou explicar um pouco do que acontecia, falava do momento em que se passava, um pouco do que queria, e eu só ia me decidindo cada vez mais que não era pra ser. Até que depois de dias, perto de fazer uma semana em q ficamos, ela solta aquele termo de "Saudade", eu não tinha como dizer ao contrário, afinal mesmo com tudo o que vinhesse, qualquer pensamento negativo, ou o que poderia acontecer, querendo ou não, eu já tinha iniciado, e sentia por um lado que não era ali que deveria parar, talvez por teimosia, ou simplesmente porque não era hora de acabar. Uma semana se passa e certo dia combinamos de se ver. Lembro que tinha tido uma semana cansativa, não tinha sido uma das melhores, mas só em saber aquele momento que teríamos um reencontro pra mim já tinha sido a melhor semana. Marcado Às 7, ela me pede para assistirmos um filme, coisa que seria difícil de acontecer, mas baixei mesmo assim, chega a noite, ela vem, já sentia que ela já estava mais bem a vontade com minha presença, que se houvesse medo ou qualquer tipo de emoção ali seria gostoso de se sentir. Conversamos um pouco sobre o que tinha acontecido, falamos sobre a noite passada juntos, sobre o roxo no pescoço e etc... Como dito o filme não era significante aquele momento. No dia nem aproximei o sofá próximo a TV, aquele dia senti seu beijo mais uma vez, a semana que estava sendo ruim, se tornou uma das melhores, cada toque, cada riso, a cada palavra dita, me prendia ali naquele momento, sabia que era ali que deveríamos está independente de qualquer obrigação até. E querendo ou não, mais uma vez me rendia, aconteceu novamente, senti ela de uma forma melhor que a primeira, ali mesmo, na sala de estar, com as luzes apagadas, movimento na rua, e TV já desligada, olhando ela fechar os olhos e tentando imaginar o que ela via, logo após fechava os meus, era tudo mágico, não por prazer, por extinto de homem ou qualquer coisa relacionada, mas sim por ela. Aquela noite, ela lembra que havia dito que dançaria pra mim, e isso aconteceu pra fechar com chave de ouro, ela não estava totalmente despida, estava um pouco escuro, eu mais sentia do que observava, mais ali o pouco que via, era simplesmente encantador, cada traço, cada movimento, um jeito que sabia que era uma dádiva que a vida talvez não me concederia outra vez, perguntava a mim mesmo se era um sonho, exagero comigo mesmo até. Ali tivemos mais uma noite maravilhosa, tão lindo quanto a noite, era seu sorriso, seu jeito, seu modo de falar. Jantamos, nos despedimos e ela vai pra casa, quando chega já me diz que estava envergonhada, eu disse a verdade, que não deveria, que ela estava simplesmente linda. O tempo passa, já estávamos entrando em uma fase em que aquilo tudo estava sendo muito significante em ambos os lados, começamos a nos ver mais, contávamos os dias de cada encontro, onde todos eram um melhor que o outro. em um deles, ela me deixa uma pulseira, simples, de elástico com pérolas pretas, me pede pra não perder, eu guardei bem, aquele simples gesto achava bonito. Nos conhecíamos bem mais a cada dia que passava, as incertezas, medo ou qualquer coisa negativas estavam indo embora, era uma fase que o que eu mais queria no momento era ficar, sem se importar com o que fosse preciso a se fazer, a se passar, mas só queria ficar, eramos ali duas pessoas maduras, com pensamentos evoluídos, cada com seus planos, metas e sonhos, mas naquele momento o que realmente queríamos era apenas está juntos, independente de qualquer coisa. Chegando o mês de férias dela na escola, já fariam três meses em que estávamos juntos, eram pra ser cinco, mas dois primeiros foram pra conquistar aquela difícil moça. Mas pra mim conto com os dois meses, afinal àqueles dois meses foram os responsáveis de tudo o que estava acontecendo. No mês das férias foi o que nos encontramos mais vezes, cada noite continuava a ser especial, eu estava conhecendo e vivenciando lindos momentos com uma mulher maravilhosa, não tinha ideia de quanto tempo iríamos ficar juntos, não me importava, eu só fazia minha parte, vivia ali o presente, cuidava como podia, a tratava com carinho e respeito em todos momentos, repreendia quando necessário e ao mesmo tempo aprendia muito com ela, adorava muito ver ela falar, me ensinar algo, uma das coisas em que fui grato a ela. Certa noite cometemos um erro, muito comum em relações até. Aquela velha relação sem proteção, onde se vai além do que era pra acontecer, nem posso entrar em detalhes, mas por respeito na hora até pedi a ela, e já disse aquela frase "Faça o que o quiser", eu fiz e no dia seguinte, lá estava eu na farmácia pedindo a famosa pílula do dia seguinte, engraçado até, porque a vez que passei por isso antes eu peguei com um amigo, aí essa eu submeti em comprar, até parece besteira, mas é um fato engraçado no começo. Ela toma as duas pílulas nos horários certo, ali pra mim já estava resolvido qualquer gravidez indesejada que poderia acontecer, mas eu como sempre me preocupei com ela, pesquisei mais sobre a pílula, e soube que acontece muitas coisas no corpo da mulher, depois disso, sempre perguntas como estava, gostava de está por dentro de qualquer coisa que estivesse acontecendo. Ela já não era aquela moça do início em que criava uma barreira contra qualquer relacionamento, já se sentia bem a vontade, tínhamos um lindo afeto um pelo outro, familiares próximos meus já destinguiam ela como namorada, eu dava risada e argumentava dizendo que ela era uma amiga, uma pessoa maravilhosa que tinha surgido na época em minha vida, pediam para que eu apresentasse a toda família, eu falava que ainda não era o momento, afinal a gente por mais que já estávamos uns meses juntos, já com um lindo afeto, e se conhecendo cada vez mais, não sabíamos se ali era o momento certo de darmos esse passo importante, de oficializar de uma vez um compromisso. Ela na época já tocava no assunto, a vontade aumentava cada vez mais, sabíamos o quão importante seria uma escolha dessas. Eu já tinha o desejo de ir falar com a família dela, pedir permissão, como a moda antiga. Mas foi algo que não aconteceu, não por mim, talvez até não por ela, e é algo que eu não saberia responder, talvez só não era pra ser, não naquele momento. Como dito, o mês das férias foi o melhor que passamos juntos, onde nos conectamos de uma forma que eu nunca tinha vivenciado com outra Mulher, sempre trocávamos mensagens carinhosas, não tinha noite em que a gente não se comunicava, receber um áudio dela cantando, por mais que seja um gesto simples, era como ver a vida sorrindo pra mim a cada vez em que eu ouvia, era sem dúvidas o tom de voz mais gostoso de se ouvir. Mês de férias acabando, entrando agosto, onde tudo radicalmente ia ficando estranho, ela ja me falava de dores constantes de cólica, enjôos e outras coisas, eu me preocupava, mas tentava ficar sempre tranquilo, só vinha na cabeça colaterais do remédio que que tinha tomado, pra mim de forma alguma seria gravidez, ela citava que tinha o organismo fraco, então acreditamos que tinha sido o remédio. Semanas passam e as coisas continuam, ela se queixava do que sentia, mestruação atrasada desde o uso da pílula, enjôos constantes e outras alterações, ali foi a fase em que vi ela esfriar aos poucos, cada vez mais, já não era só mais uma coisa pra se preocupar, foi a primeira grande e última crise em que tivemos, os dias iam se passando, ela falava que estava mal, a gente ainda se encontrava sempre que possível, mas aos poucos tudo foi mudando, cada vez mais esfriando, a constância não era mais a mesma, não sabia se era por conta do que ela estava passando, me desculpava sempre que possível, por qualquer coisa que tivesse ocorrido de ruim, logo com o passar dos dias, eu como gosto sempre da verdade, perguntei o que estaria havendo, se ela tinha esfriado de vez, ela conta que precisava de um tempo sozinha, ali eu já entendia de vez que não era pra ser mesmo. Dias depois depois nos encontramos, conversamos sobre várias coisas, como pessoas maduras, ela me conta sobre o medo que sentia, eu ali no mesmo momento sentia insegurança, foi uma noite onde estivemos juntos e distantes ao mesmo tempo, eram dados ali os últimos beijos, carinhos, abraços. Havia um vazio, ela ainda ali do meu lado, eu sentia uma falta enorme dela, algo que não sabia explicar, de luzes apagadas ouvíamos músicas juntos, ali onde pensamentos foram a mil, me senti feliz, triste, grato com tudo aquilo que já passamos juntos. Já não nos víamos mais como antes, enfim deixei ela ir. As mensagens não eram mais as mesmas, mesmo eu ainda sentindo aquele afeto enorme, não por orgulho, mas por não ter mais sentindo em ser o mesmo com ela, já não tínhamos mais nada em questão de está juntos, ainda por mais que sentisse, não ia fazer diferença. Sobre os problemas em que haviam acontecido por conta do remédio, mestruação ainda continuava atrasada, decidimos fazer o teste de farmácia de gravidez, foram dois testes, o primeiro fiquei na dúvida, fizemos outro e dando positivo também, veio aquele medo, naquela fase uma parte do mundo estava do avesso, era algo que eu nunca tinha passado antes, uma coisa que eu sei que pra ela na época foi mais difícil ainda. Mas soubemos que foi tudo por conta do remédio, em que fez muitas alterações no organismo dela, normal de acontecer em muitas mulheres. Durante o tempo em que estivemos juntos sempre falavámos sobre bebês, família e etc, eu sempre gostei, enviavámos fotos de bebês, vídeos, e era um dos assuntos preferidos, mas não foi daquela vez, pela vontade de Deus de não ser. Poucos dias depois eu procuro pra perguntar sobre, ela me fala que tudo ja tinha dado certo, mestruação tinha vindo, e que estava bem. Ali naquele momento foi em que vi em suas poucas palavras que já não fazia mais sentido qualquer vínculo nosso, que ela já estava seguindo de boa a vida, e que de mim não precisa. A pessoa com quem eu mais falava todos os dias, já não estava mais ali, as noites indo dormir até tarde conversando sobre qualquer assunto não iriam mais acontecer, nossos encontros, nossa conexão, beijos, abraços ou qualquer coisa juntos em que fazíamos, já não iam mais acontecer. Se for pôr em uma balança tudo o que passamos, creio eu que valeu muito a pena. As fotos, conteúdos em que trocávamos permanecem guardados, a pulseirinha de pérolas pretas guardei em algum canto que nem lembro onde, não tenho o porquê procurar. Aquele sorriso lindo, é sem explicação de alguma forma gravado em minha imaginação, o jeitinho dela, não vou ver em outra pessoa, e o que aprendi com isso tudo que vivemos, foi único, mágico, me surpreendeu a cada segundo, onde todos foram importantes ao seu lado. Talvez eu ainda venha a me lembrar muitas vezes, toda vez que ouvir seu nome, vou sentir algo bom, algo que a vida me trouxe como presente naquela fase. Ela não avisou que vinha, mas veio, não queríamos nos envolver com ninguém, mas aconteceu, desejei que ficasse, mas se foi. Nossos pequenos planos não vão se concretizar. Eu não vou ficar com vergonha conhecendo sua família, não vamos contar aos nossos filhos a longa e estranha história sobre como nos conhecemos, as pessoas não vão olhar pra nós e falarem sobre como nós somos bonitinhos juntos, não vamos discutir sobre qual filme assistir, não vamos aprender mais coisas juntos, não vamos dormir juntinhos, não vamos ter um futuro juntos. Tudo isso poderia ter acontecido, mas não vai. Porque nós dois fomos feitos pra nos conhecermos, nos gostarmos, mas não pra ficarmos juntos.
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gospepio · 7 years
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#PP37 – A condenação do Santo Ofício
O Padre Pio já «sabia» há algum tempo que um «ciclone infernal» se estava a desencadear sobre ele, e isso fazia-o sofrer terrivelmente. «Em Maio de 1919 - escreveu nas suas memórias Lucia Fio- rentino (que, naqueles anos, estava muito próxima do Padre Pio) - ele predisse tudo, como um profeta; confessou que tinha sede de almas e que viria a sofrer muito.» A D. Giuseppe Orlando que, durante esse mesmo período, lhe perguntou se, depois dos estigmas, tinha continuado a ter aparições e perseguições de demónios, o Padre Pio respondeu: «Não, mas agora começam as perse^irções terrenas.» Ao Padre Agostino, seu confessor, anunciou que quase todos os seus confidentes e aqueles que lhe queriam bem o abandonariam, mas não por culpa deles. O Padre Pio continuava empenhado na sua missão, que atraía ao convento cada vez mais gente. Os seus inimigos prosseguiam na sua obra de destruição. Ao Santo Ofício chegavam muitas cartas anónimas. Os juízes da Suprema Congregação decidiram que se devia tirar conclusões e emitir uma sentença definitiva sobre aquela situação. Reuniram-se em meados de Maio de 1923. As suas reuniões eram secretas. Ninguém conhecia os temas nelas debatidos. O Padre Pio, porém, em San Giovanni Rotondo, parecia estar informado de tudo. A 16 de Maio, escreveu à sua filha espiritual, Maria Gargani: «Por muito que me esforce, não consigo levantar-me deste cárcere infernal em que tenho jazido nestes últimos dias ... Diz a Jesus que já é tempo de vir em minha ajuda... De me conceder quanto lhe peço já há algum tempo, caso contrário, serei inevitavelmente aniqutiado pelos meus inimigos... Meu Deus, sinto-me morrer sob este peso ... Já não posso continuar... Tenho os olhos velados de lágrimas, e o meu coração rebenta sob este duro peso ... Diz a Jesus que, se Ele não quer escutar-me, me chame nestes dias para si, antes que se abata o diabólico cataclismo.» Escreveu ainda outra carta semelhante, cheia de angústia, à irmã de Maria Gargani, também sua filha espiritual. Vir-se-ia a saber mais tarde que, precisamente nesse dia, 16 de Maio, os Padres inquisidores gerais do Santo Ofício se tinham reunido para examinar os resultados dos novos inquéritos acerca dos factos de San Giovanni Rotondo e, no fim da reunião, tinham emitido a sentença de condenação, que no dia seguinte seria aprovada pelo Papa Pio XI. O texto daquela sentença não foi dado a conhecer imediatamente, mas começaram a circular boatos sinistros. Na crónica do convento de San Giovanni Rotondo lê-se que o Guardião estava, naqueles dias, «à espera de ordens do Provincial». Este escreveu-lhe, dizendo: «As ordens chegarão em breve.» A crónica conventual, por muito concisa e voluntariamente isenta que seja, é sempre uma preciosa fonte de informação e, naquele período, em San Giovanni Rotondo, deixa transparecer uma atmosfera dramática. A 15 de Junho, o Padre Pio recebe uma carta do Padre Provincial, em que está escrito: «Prepare-se para beber o cálice amargo, que eu também tive de beber». Na crónica do convento do mesmo dia, o Padre Superior anota: «O Padre Pio mantém-se perfeitamente calmo. Enquanto em mim surge urna certa preocupação, nele observo a mesma maneira de viver de sempre. Limita-se a dizer: "Não nos façam esperar muito e digam-nos depressa o que devemos fazer".» A 7 de Junho, o Padre Guardião de San Giovanni Rotondo recebe um pedido para fazer respeitar escrupulosamente as ordens já enviadas pelo Santo Ofício, a saber: «O Padre Pio não deve continuar a celebrar Missa para o público, nem a horas fixas; celebre a Santa Missa na capela interior do convento, não devendo permitir-se a ninguém que assista à mesma; que o mesmo Padre Pio não volte a responder, pessoalmente ou através de outrem, às cartas que lhe forem endereçadas por gente devota, em busca de conselhos ou graças, ou por outros motivos.» Entretanto, na região, espalha-se o boato de que o Padre Pio vai ser mandado embora. O Padre Guardião considera oportuno não proceder à execução das ordens, para não exasperar os ânimos. Escreve na crónica do convento: «Fazer actos de restrição neste momento poderia ser motivo de sérios distúrbios, e por isso as ordens serão executadas dentro de alguns dias. Ao final do dia apareceram alguns fascistas que queriam saber até que ponto era verdade o que corria de boca em boca. Desmenti tudo porque, de facto, não há nada que corresponda à verdade acerca da partida do Padre Pio. Parece que a situação pode acalmar, mas terno algum golpe dos fascistas contra determinadas pessoas.» No dia 22, o Padre Guardião dirige-se a Foggia, a fim de se aconselhar com o Padre Provincial, manifestando-lhe o temor de urna insurreição popular. O Provincial replica que não pode fazer nada. Na manhã do dia 25 de Junho, o Padre Pio celebra em privado, na capela interior do convento. A tarde desencadeia-se urna insurreição popular, e três pessoas, tendo à cabeça as autoridades civis e militares e a banda, descem à praça, ameaçando cometer represálias violentas. Para acalmar os ânimos, o Padre Guardião retira a ordem e garante que no dia seguinte o Padre Pio voltaria a celebrar na igreja. As pessoas têm medo: obstruem os caminhos que conduzem ao convento, constroem barricadas e determinam que guardas armados vigiem, por turnos, o acesso ao convento. É eleita uma comissão que se dirige a Roma, para negociar com as autoridades eclesiásticas. Chefiada pelo presidente da Câmara, o advogado Francesco Morcaldi, a comissão parte a 1 de Julho. Em Roma é recebida pelo cardeal Gasparri, secretário de Estado, pelo cardeal Lega, do Santo Ofício, e pelo cardeal Sbarretti, prefeito da Congregação do Concílio, mas não pelo cardeal Merry Del Val, secretário do Santo Ofício. A missão não obtém qualquer resultado concreto. De regresso a San Giovanni, o presidente da Câmara vem a saber que a transferência do Padre Pio estava para breve. Contaria mais tarde: «Dirigi-me à Prefeitura de Foggia, onde obtive a confirmação. Corri então ao convento, com o coração em grande alvoroço. Encontrei o Padre Pio na sacristia, apoiado a uma janela iluminada pela luz do pôr-do-sol. Estava pálido e apercebi-me que sofria mais do que eu. Disse-lhe: "Vais deixar para sempre o teu povo, Padre Pio?" Ele abriu os braços e, abraçados, chorámos juntos. "Recluso, atormentado e quem sabe onde: partirás de noite, com os carabineiros?" O Padre respondeu: "Se for essa a ordem, não poderei fazer outra coisa senão ajustar-me à vontade dos meus superiores. Sou filho da obediência.» A 5 de Julho, o «LOsservatore Romano», órgão oficial do Vaticano, publica o decreto do Santo Ofício relacionado com o Padre Pio. Trata-se da sentença emitida em Maio pelo Santo Ofício. Com efeito, tem a data de 31 de Maio, e é uma sentença de condenação. Eis o seu texto: «A Suprema Congregação do Santo Ofício, dedicada à fé e à defesa dos costumes, após inquérito levado a cabo sobre os factos atribuídos ao Padre Pio de Pietrelcina, dos Frades Menores Capuchinhos do Convento de San Giovanni Rotondo, diocese de Foggia, declara não constar de tal inquérito o carácter sobrenatural de tais factos, e exorta os fiéis a conformarem-se, no seu modo de agir, com esta declaração.» Texto sintético e lapidar. Não se negam os factos, mas declara-se que «não consta» que tenham origem sobrenatural. Alguns biógrafos do Padre Pio, referindo este juízo do Santo Ofício, o primeiro segundo a ordem temporal, mas matriz de todos os outros que, como veremos, se lhe referem sempre, afirmam que, afinal, não é muito negativo, e que é errado considerar que se trata de uma «condenação». Ninguém pretende levantar um processo às intenções dos juízes do Santo Ofício, mas é bom esclarecermos imediatamente o alcance objectivo daquele «decreto», para termos uma dimensão real das suas consequências. As palavras pelas quais é expresso o juízo do Santo Ofício são elementares. Não formulam uma condenação específica, mas fazem uma constatação, traduzida em termos categóricos. Assim, não apresentam dúvidas nem hipóteses. Diz-se que «após um inquérito», portanto, após um exame prolongado e uma ponderada avaliação do conjunto, «não consta o carácter sobrenatural» dos factos atribuídos ao Padre Pio. Como já dissemos, o Supremo Tribunal eclesiástico não nega os factos, mas declara, explicitamente, que tais factos não têm nada a ver com o sobrenatural. No entanto, estamos na presença de factos específicos, sobretudo das chagas que são indicadas como estigmas, ou seja, que fazem lembrar as chagas da Paixão de Cristo. Se o Santo Ofício afirma, de forma categórica, que tais chagas não têm qualquer origem sobrenatural, leva as pessoas a considerar necessariamente verdadeiras as outras possíveis explicações do fenómeno, que são apenas três: aquelas chagas são fruto de uma fraude, de doença psíquica ou de engano diabólico. Assim, o Padre Pio ou é um farsante vulgar, ou um pobre doente mental, ou um possesso do demónio. Não há outras hipóteses, e as três são desonrosas e rebaixantes, sobretudo para um sacerdote. Assim, o juízo do Santo Ofício era terrivelmente grave e, em qualquer dos casos, desacreditava o Padre Pio e a sua acti- vidade frente ao mundo inteiro. A gravidade das declarações deduz-se também das providências disciplinares tomadas na sequência do mesmo. Desde então, o Padre passa a ser considerado, pelas autoridades eclesiásticas, um indivíduo indigno de confiança, ao qual era necessário impor regras suplementares, restrições e interdições muitíssimo severas, até chegar, em 1931, a um verdadeiro encarceramento. Tendo tudo isto presente, compreende-se que aquele «decreto» não era uma inocente exposição de factos, mas uma verdadeira e pesada condenação. Naquele dia, portanto, 5 de Julho de 1923, o Padre Superior de San Giovanni Rotondo fez desaparecer o diário da Santa Sé, para impedir que a comunidade, e sobretudo o Padre Pio, tomasse conhecimento da tremenda notícia. Queria ganhar tempo e preparar o Padre Pio para aquele rude golpe. Alguns dias mais tarde chegou o fascículo «Analecta Ca- puccinorum», que reproduzia o texto do decreto em latim. O fascículo foi posto, como sempre, na mesa da sala onde os religiosos se reuniam para o recreio. Os frades tomaram conhecimento do que se passava depois do almoço. O Padre Pio estava ausente. Quando o Padre Guardião o viu chegar, empurrou o fascículo para um canto da mesa, mas o padre Pio, mal entrou, pegou nele, abriu-o na página do decreto e leu atentamente o que ali estava escrito. Nem um músculo sequer do seu rosto traiu a mínima emoção. Terminada a leitura, voltou a pousar o fascículo no mesmo lugar e começou a conversar com os seus confrades, corno se nada fosse. Emanuele Brunatto, um convertido, filho espiritual do Padre Pio, que por aquela altura trabalhava no convento, estava presente na sala. Deu o seguinte testemunho: «Terminado o recreio, acompanhei o Padre à sua cela. Dirigiu-se à janela para fechar as persianas, e ficou imóvel durante alguns instantes, a olhar para a planície. Depois voltou-se para mim e irrompeu em lágrimas. Lancei-me a seus pés, e também eu desatei a chorar.» O decreto do Santo Ofício tinha provocado um grande alvoroço. Grande parte do mundo católico, sobretudo italiano, que tinha seguido com assombro os factos de San Giovanni Rotondo, ficou indignada com aquele religioso impostor, e com os seus confrades. Com efeito, a sentença não atingia apenas o Padre Pio, mas também a Ordem dos Capuchinhos, responsável, segundo a opinião pública, por ter permitido tanta publicidade à volta de um facto tão importante, que afinal se revelara falso. Contrariamente ao que se poderia imaginar, entre as várias Ordens e Congregações religiosas nem sempre houve o melhor dos entendimentos. Verifica-se entre elas urna certa emulação, que poderia vir a ser exemplar e construtiva, mas que muitas vezes degenera em inveja e satisfação pelas desgraças alheias. Naquele momento, portanto, muitos dos que pertenciam ao variegado mundo religioso gozavam com a situação em que os Capuchinhos se encontravam. Estes, pelo seu lado, passavam horas bem amargas. O Padre Pio também se sentia culpado frente aos seus confrades. Como nunca ^rnguém o interrogara, e ninguém lhe explicara as causas que tinham provocado aquela condenação, tentou saber quais seriam as suas responsabilidades. Quis tomar conhecimento das acusações concretas que lhe faziam. Pediu ajuda ao seu queridíssimo amigo e conterrâneo, D. Giuseppe Orlando. Este foi a Roma e conseguiu falar com o Padre Lottini, comissário do Santo Ofício, tendo vindo a saber que o Supremo Tribunal detinha um relatório longo e detalhado do arcebispo de Manfredonia, monsenhor Pasquale Gagliardi, que reproduzia o jovem capuchinho de forma tenebrosa, atribuindo as suas chagas a mistificação e fanatismo. «Vi-o eu com os meus próprios olhos, enquanto se perfumava e punha pó-de-arroz. Juro, sobre a minha cruz pastoral.» O relatório terminava com a seguinte declaração: «Ou o Padre Pio abandona a minha diocese, ou o arcebispo vai-se embora.»
Para compreender melhor
Intitulei este capítulo «A crucifixão». De um modo geral, os biógrafos do Padre Pio utilizam este termo e conceito para referir a impressão dos estigmas, o que não me parece pertinente. A impressão de estigmas na vida de um santo é um prodigioso acto de amor: uma realidade que brota de um acto de livre predilecção de Deus, de uma sua intervenção específica para exaltar a pessoa através do dom da «Semelhança física» com o próprio Filho Unigénito, Jesus, Salvador da Humanidade na Cruz. Trata-se, portanto, de uma coisa de grandiosidade inimaginável, que glorífica e faz resplandecer essa pessoa frente ao universo visível e invisível. O dia da impressão dos estigmas foi, para o Padre Pio, o dia do seu friunfo máximo. Representou, por especial intervenção de Deus, o culminar de uma transformação espiritual, que alcançava assim uma rara plenitude. Tratava-se, portanto, de uma meta de alegria, embora estivesse, momentaneamente, enquanto durasse a condição humana espácio-temporal, impregnada de sangue e dor. Encerrava, porém, a certeza de uma especial e imensa união com o Filho de Deus, para a eternidade. Aquelas chagas, aquelas feridas que laceravam a carne, não eram sinais de castigo ou condenação, nem de ódio ou derrota. Eram o selo divino de uma predilecção. O próprio Deus, com o seu poder e o seu amor, tinha-se aproximado do corpo do Padre Pio e tinha-o «beijado». Não se tratava de crucifixão, mas de triunfo. O Padre Pio tinha uma visão clara e uma consciência segura deste seu estado. Por isso, embora com sofrimento, duro e lancinante, estava mergulhado numa felicidade interior quase inimaginável. A sua verdadeira crucifixão, aquela que tira a vida e sufoca a alma, ocorreu, pelo contrário, precisamente naquele dia 5 de Julho de 1923, dia em que «LOsservatore Romano» tornou pública a condenação do Santo Ofício. «LOsservatore Romano» é o órgão oficial de informação da Santa Sé, o jornal do Vaticano que difunde para todo o mundo as notícias relacionadas com a religião católica. O que se lia naquela edição de «L Osservatore Romano» era como se tivesse sido pronunciado pelo Papa. Aquela sentença, ou melhor, aquela condenação das experiências místicas do Padre Pio foi lida por todos. E todos os católicos «deviam» partilhá-la. Naquela época, cada tomada de posição oficial da Igreja «devia» ser aceite e recebida como verdade indiscutível. As consequências práticas para o Padre Pio eram terríveis. Do ponto de vista humano, ficava completamente desacreditado. Como pessoa, e muito mais ainda como religioso, era julgado pela Igreja como sendo suspeito, capaz de «aldrabar» as pessoas e, por isso, como alguém que «fazia mal» aos outros, enganando-os sobre valores espirituais elevadíssimos. O Padre Pio tinha um grande sentido da honra. Perder a cara, para ele, e para todas as pessoas simples de então, era como morrer. Frente àquele juízo da Igreja, sentia-se completamente destruído, esmagado e aniqutiado. Terá certamente pensado nos seus parentes, amigos, conhecidos e conterrâneos, em todos aqueles que lhe queriam bem e o estimavam. Se viessem a saber daquela condenação, todos se sentiriam «traídos» por ele. No plano humano, era um homem acabado. Mas o Padre Pio também era um religioso, uma pessoa que tinha deixado o mundo para escolher uma existência de perfeição, em determinada organização eclesiástica. A Igreja tinha-o acolhido entre as fileiras dos seus próprios representantes, confiando-lhe uma missão espiritual altíssima: ser sacerdote. E agora a Igreja, essa mesma Igreja, sentenciava que ele tinha praticado traição, tinha traído a confiança recebida e as pessoas que lhe tinham sido confiadas. Esta constatação inevitável, consequência lógica da condenação, representava para o Padre Pio uma segunda e incomensurável fonte de dor, ou antes, era a máxima fonte de dor. Ele, religioso, filho da Igreja, que vivia esse seu estado, nele participando da forma mais elevada, sentia-se repudiado pela própria Igreja, qual filho afeiçoadíssimo repudiado pela própria mãe. Dor extrema, portanto, mas também confusão espiritual, abatimento interior. A condenação provinha da Igreja, do Tribunal supremo da Igreja. Cada filho autêntico da Igreja devia, em consciência, aceitá-la e «acreditar nela». Não era admissível, então, pensar que bispos e cardeais, pertencentes a um di- castério eclesiástico, assistidos por isso pelo Espírito Santo, no desempenho do seu trabalho, pudessem estar enganados. Semelhante pensamento era «pecado». O Padre Pio sentia a consciência despedaçada. Sabia perfeitamente que aquelas feridas provinham de Jesus, com o qual tinha encontros e colóquios frequentes desde há vários anos. Aquelas feridas tinham-lhe sido concedidas no termo de um longo percurso místico, como sinais de uma missão extraordinária. Mas agora a Igreja, depois de ter julgado atentamente, sentenciava que nada disso era verdade. Afirmava que aquelas chagas não tinham nada a ver com o sobrenatural. E ele, como cristão, e ainda mais como religioso, devia obedecer e acreditar na Igreja. Por isso devia repudiar as próprias experiências espirituais e escolher: a Igreja ou Jesus, que lhe aparecia; o juízo do Papa, ou a própria consciência. Que fazer? Dizer que a Igreja estava enganada? Revoltar-se? Apostatar? Ou «acreditar» na Igreja e nos seus juízos e, por isso, admitir que estava iludido, convencer-se que as «visões» e os «estigmas» não passavam de um engano de Satanás? Continuar a acreditar nas próprias experiências místicas significava, depois daquela sentença, pôr-se contra a Igreja, julgar, nem que fosse dentro de si próprio, a obra da Igreja e dos seus representantes e dizer que estavam enganados. Conflito mortal para urna consciência delicada, para um espírito sensível, totalmente virado para a perfeição espiritual. Foi esta a situação «real e concreta» em que o Padre Pio viria a encontrar-se depois da condenação do Santo Ofício. Também é fácil intuir corno foi pesada, urna autêntica crucifixão. Crucifixão espiritual, mas também física, pois era, precisamente, urna situação de «desgosto», capaz de causar a morte através de irreparável colapso cardiovascular. Assim, com aquela condenação, o Padre Pio subiu concretamente ao patíbulo, com todas as consequências reais daí decorrentes. E a partir de então permaneceu no patíbulo por toda a vida, pois a sentença nunca mais foi revogada. Pelo contrário, foi reforçada em várias ocasiões, em períodos sucessivos, e de cada vez era corno se fossem novamente pregados os cravos nas chagas do Padre. A sua vida continuou a ser uma vida na cruz. Urna vida complicada, confusa, híbrida, pouco clara, sempre nos limites do juridicamente lícito, sempre na mira das autoridades, que continuavam a manifestar a sua desconfiança e a sua desaprovação, sentindo-se sempre suportado, desprezado, tolerado pelos superiores. Urna vida de sofrimento extremo, para urna consciência transparente corno a sua. Durante meio século, porém, não lhe foi concedida outra oportunidade, nenhuma trégua e, durante todo esse tempo, ele foi um autêntico crucificado.
O que ele disse
«Rezai e continuai a rezar, para não ficardes entorpecidos.» Um grupo de pietrelcinenses tinha ido visitá-lo. Um deles disse: «Padre, Maria insiste que quer mesmo aquela graça.» Ele respondeu: «Diz-lhe que essa graça, Jesus Cristo não lha quer dar, e eu também não o posso obrigar, puxando-o pelo pescoço.» Uma mãe de cinco filhos disse-lhe, certo dia: «Padre, eu quero dar-vos os meus cinco filhos em troca das vossas chagas.» Ele retorquiu: «Mas se tu não és capaz de levar os teus cinco cravos, queres tomar também os meus?!»
O que disseram acerca dele
Cardeal Giacomo Lercaro: «No Padre Pio talvez não houvesse nada de mais impressionante do que o seu silencioso, persistente, quase obstinado, embora muito humilde, amor à Igreja.» Piero Bargellini: «"Estás a vê-lo?", perguntou o amigo em voz baixa. "Creio que sim", respondi-lhe, num sussurro. Devia ter dito que não. O Padre Pio não tinha olhar extático nem barba flutuante. O Padre Pio era aquele que eu teria de^milo como o menos místico. Em vez de ficar desiludido, senti satisfação. Com efeito, tinha medo de encontrar uma cópia ama- neirada, mas descobri uma figura original. Temia encontrar não digo um simulador, mas, pelo menos, um imitador de santidade. Em vez disso, estava diante de uma manifestação da natureza, ou melhor, de uma revelação de sinceridade. » from Grupo de Oração São PADRE PIO http://ift.tt/2vkmgNL via IFTTT
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