#centralização da igreja
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adriano-ferreira · 2 years ago
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Direito Canônico
1. Centralização da Igreja A história da Igreja Católica na Idade Média é marcada por diversas tentativas de reforma e centralização, com destaque para a figura de Gregório VII, que assumiu o papado entre 1073 e 1085. Uma das principais metas de seu pontificado foi a consolidação da autoridade do Papa e a centralização da Igreja em Roma, o que marcou uma ruptura significativa com a tradição…
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cyprianscafe · 1 month ago
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Igreja e Estado na Formação da Europa Moderna
O século XIII foi um momento decisivo de transição no surgimento de um cristianismo autoconscientemente latino – a cristandade. Esse século testemunhou o início das atividades da Ordem Dominicana em 1216, da qual Tomás de Aquino era membro, bem como da Ordem Franciscana. Os dominicanos se especializaram em formação doutrinária, combatendo a heresia e realizando atividades inquisitoriais, começando no ano de 1233, enquanto os franciscanos se concentraram na evangelização no campo. Os ritmos da sociedade feudal eram, no entanto, lentos, com dificuldades de comunicação e centralização. Era legalmente fragmentada e repousava sobre fundações feudais nas quais a Igreja e a monarquia compartilhavam o poder legal com os príncipes sem que isso significasse necessariamente uma diminuição nas prerrogativas, reivindicadas de várias maneiras, de centralização política. Nessa separação entre centralismo político e legal reside uma das condições da separação de poderes à qual a democracia mais tarde deu uma estrutura legal. A prática litúrgica não tinha a densidade de organização que mais tarde possuiria. Parece, por exemplo, que do século XI ao século XVI, religiosos e leigos piedosos, homens e mulheres, comungavam apenas três ou quatro vezes por ano. As áreas rurais europeias mantiveram uma coleção de crenças em uma variedade de seres sobrenaturais, elfos e rios sagrados e muito mais. Estes competiam pela lealdade dos camponeses com uma crença em um Deus e na unicidade do poder sobrenatural. Em suma, este período foi de preparação doutrinária e institucional das estruturas intelectuais e organizacionais que surgiriam e produziriam homogeneidade real e geral nas sociedades europeias quando mais tarde ligadas ao surgimento de estados europeus centralizados com as reformas protestantes e católicas e seu desenvolvimento posterior.
Veremos que as alegações feitas sobre o conflito entre Estado e Igreja são muito exageradas. A Igreja só desfrutava de independência na sociedade feudal na qual a Igreja era um poder feudal, monárquico ou quase monárquico como outros poderes. No século XVI, as igrejas foram integradas – de forma conflituosa e incompleta – às políticas europeias e suas estruturas, funcionando dentro delas como entidades religiosas relacionadas ao Estado e frequentemente reguladas por ele, e apoiando a ideologia do Estado, após a Paz de Augsburgo em 1555. Como resultado disso, a disseminação do efeito da autoridade religiosa na vida pública tornou-se uma das bases do governo real e um importante instrumento na imposição de homogeneidade legal e ideológica na ausência de estruturas educacionais e instrumentos de comunicação e administração que mais tarde caracterizariam o Estado moderno. Assim, a excomunhão da Igreja tornou-se no século XVI uma penalidade por inadimplência de dívidas. A França abundava em celebrações litúrgicas com caráter religioso; havia sessenta dias de festivais de acordo com o calendário da Igreja, além dos domingos.
O ataque de Martinho Lutero à venda de indulgências pela Igreja em 1516 e suas noventa e cinco teses são eventos celebrados e precisam de pouca explicação. Lutero, um ex-monge agostiniano, logo se casou com uma ex-freira e desencadeou a Reforma Protestante em aliança com alguns príncipes alemães. A Reforma, um fenômeno histórico extremamente complexo que pode ser abordado apenas de forma muito aproximada aqui, abriu uma era de guerras europeias que subverteram o sistema de equilíbrio de poder europeu e levaram ao surgimento de um sistema estatal baseado em dois elementos, a saber, absolutismo real ou principesco, e igrejas subordinadas a esses sistemas absolutistas, especialmente na Espanha, França e Grã-Bretanha. Na Alemanha, no entanto, a reforma religiosa foi uma oportunidade para a independência de alguns principados alemães do sistema imperial, com principados apoiados por economias locais dinâmicas, com igrejas locais operando em alemão para as quais Lutero traduziu a Bíblia. Esta tradução teve um impacto decisivo na moderna língua literária alemã. O protestantismo em certas regiões – o protestantismo calvinista huguenote francês no sul e o presbiterianismo escocês – foi uma expressão de tendências autonomistas entre aristocracias locais que resistiam às tentativas de centralização. O mesmo é verdade para o protestantismo holandês que foi liderado pela burguesia das cidades comerciais holandesas contra a dominação imperial Habsburgo-Espanhola. O protestantismo estava ligado a um elemento importante que caracterizaria por muito tempo as relações Igreja-Estado, a saber, um alto grau de secularização estatal da propriedade da Igreja. Isso foi especialmente verdadeiro no caso dos principados alemães e no caso da Grã-Bretanha sob Henrique VIII.
O protestantismo combateu a heresia implacavelmente e trabalhou na imposição de uniformidade ideológica, espiritual e devocional, com ênfase na conduta pessoal e na consciência pessoal, ou seja, centralização cultural em face de formas de protestantismo radical não conformista que apoiavam movimentos revolucionários dos quais o mais conhecido foi a revolta camponesa liderada por Thomas Müntzer, inicialmente um discípulo de Lutero, que foi executado em 1525. O catolicismo não ficou à margem, mas começou a trabalhar com grande entusiasmo e energia na legislação e canalização das tremendas energias religiosas e espirituais liberadas pelo protestantismo no campo de batalha, na vida intelectual e nas sensibilidades em todo o continente europeu. A Reforma Católica – alguns a chamam de Contrarreforma – por sua vez foi um elemento na criação de estados que eram religiosa e confessionalmente homogêneos, com não católicos privados de direitos, perseguidos ou removidos do território católico, talvez mais notoriamente na França com a revogação do Édito de Nantes em 1685. A Igreja Católica não carecia de experiência nessas questões. A monarquia espanhola tinha sido zelosa em garantir a uniformidade religiosa em suas terras. Em 1479, criou uma inspetoria para examinar famílias de origem judaica e muçulmana às quais o batismo era imposto para garantir que seu cristianismo não fosse um mero subterfúgio, antes de expulsá-las do país. O Papa fundou um escritório inquisitorial ligado ao Vaticano em 1542 para perseguir protestantes, e o Concílio de Trento se reuniu em três etapas de 1523 a 1545 para decidir sobre doutrina e lei e a organização da Igreja, e para colocar em prática as bases da campanha contra religiões populares locais – isto é, o que as religiões chamam de heresia – e criar uniformidade cultural nas cidades e no campo. Um dos meios de impor essa uniformidade era a nova ênfase na moralidade pessoal e a pressão sobre a conduta individual. A organização da vida diária na Baviera católica na época de Albrecht V (1550–1579) era quase uma imagem espelhada da Genebra calvinista. A pressão foi exercida sobre as regiões rurais de várias maneiras, das quais a histeria da perseguição às bruxas e das queimadas na fogueira foi uma das mais importantes. Essa operação se estendeu por dois séculos em terras protestantes e católicas em igual extensão. Parece que foi um dos meios de eliminar concentrações de religiões locais e organizações sociais que se rebelaram contra a uniformidade e a centralização. A violência assumiu formas aterrorizantes, das quais o massacre de protestantes no Dia de São Bartolomeu na França, em 24 de agosto de 1572, estava entre as mais importantes. As guerras religiosas e os massacres que visavam produzir homogeneidade confessional só cessaram com o Tratado de Vestfália em 1648, que introduziu a Europa em um novo sistema internacional por meio do reconhecimento da independência dos estados alemães, Holanda e Itália. Também pôs um fim efetivo à existência quase nominal do Sacro Império Romano e colocou a França em uma posição central no sistema europeu às custas da Espanha. Além disso, o Tratado de Vestfália consagrou ainda mais o princípio de Cujius regio ejus religio, segundo o qual os súditos deveriam se conformar à denominação de seus príncipes.
Os reformadores protestantes e católicos, portanto, consagraram o princípio da uniformidade confessional e deram força adicional à submissão da Igreja ao Estado. Embora a Igreja Católica mantivesse margens de independência por causa da existência do papado romano e da possibilidade de jogar nações umas contra as outras dentro da Europa por papas que eram, na verdade, reis de grandes partes da Itália. Esse ultramontanismo estava ligado a um acordo entre os reis franceses e a Igreja Católica que dava aos reis o direito de nomear os detentores de altos cargos na Igreja galicanista (francesa), enquanto os reis dispensavam a Igreja do pagamento de impostos, ao contrário da situação na Espanha, onde a propriedade da Igreja estava sujeita a altas taxas de tributação. Na Itália, no entanto, o ofício papal agia como um reino italiano central e seu poder fazia parte da rede de relações entre os diferentes estados italianos e fazia parte dos elos entre famílias aristocráticas. Na Grã-Bretanha, a esfera religiosa foi reformulada quando Henrique VIII se autoproclamou chefe da Igreja em 1534, dissolveu as ordens monásticas e confiscou suas propriedades, e pela Guerra Civil, que levou um século depois à formação de uma Igreja nacional e à domesticação de denominações protestantes radicais, após a absorção de alguns elementos do protestantismo pela Igreja Anglicana.
Secularism in the Arab World: Contexts, Ideas and Consequences - Aziz Al-Azmeh
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irunevenus · 5 months ago
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A Divisão da Igreja Medieval e o Surgimento do Protestantismo
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O surgimento do protestantismo no início do século XVI foi um dos eventos mais transformadores da história europeia, marcando uma divisão profunda dentro da Igreja Cristã que reverbera até os dias de hoje. Para entender por que a Igreja Medieval se dividiu, é necessário examinar um conjunto complexo de fatores religiosos, políticos, econômicos e sociais que, durante séculos, corroeram a autoridade da Igreja Católica Romana, culminando no movimento da Reforma Protestante liderado por figuras como Martinho Lutero, João Calvino e outros.
O Contexto da Igreja Medieval
Durante grande parte da Idade Média, a Igreja Católica dominava a vida espiritual e política na Europa. Os papas eram autoridades poderosas, e a Igreja controlava vastas propriedades, arrecadava impostos e influenciava diretamente os reis e governantes. No entanto, a instituição também enfrentava uma série de crises internas e externas que, com o tempo, provocariam um descontentamento generalizado.
Corrupção e Abusos: A Igreja Medieval estava marcada por uma série de abusos que minaram sua credibilidade. Entre os problemas mais críticos estavam o nepotismo, a venda de indulgências (pagamentos feitos pelos fiéis em troca do perdão de pecados) e a simonia, que envolvia a venda de cargos eclesiásticos. A vida moral do clero também estava em declínio, com padres e bispos levando vidas luxuosas e muitas vezes distantes dos preceitos cristãos.
Centralização e Riqueza da Igreja: A Igreja Católica acumulou um poder extraordinário e riquezas imensas, o que começou a gerar resistência em várias partes da Europa. Governantes locais e emergentes classes mercantis viam com desconfiança a influência e o controle da Igreja sobre questões temporais, como terras e impostos.
Crise Papal: Durante o período conhecido como o Cativeiro Babilônico da Igreja (1309-1377), quando os papas residiram em Avignon, em vez de Roma, e a Grande Cisma do Ocidente (1378-1417), durante a qual dois (e por um período, três) papas reivindicaram legitimidade, a autoridade papal foi gravemente abalada. Essas disputas internas lançaram dúvidas sobre a legitimidade e a unidade da Igreja.
O Crescimento do Descontentamento Intelectual
À medida que o Renascimento se espalhava pela Europa, um número crescente de acadêmicos e teólogos começou a questionar abertamente as doutrinas e práticas da Igreja Católica. A invenção da imprensa por Gutenberg, em meados do século XV, também foi um catalisador importante, permitindo a disseminação rápida de ideias reformistas.
Figuras como John Wycliffe, na Inglaterra, e Jan Hus, na Boêmia, foram precursores importantes da Reforma. Ambos criticaram a corrupção da Igreja e defenderam a primazia das Escrituras sobre a autoridade papal. Hus foi executado por heresia em 1415, mas suas ideias continuaram a influenciar movimentos reformistas na Europa Central.
Martinho Lutero e a Centelha da Reforma
O ponto de ruptura veio em 1517, quando Martinho Lutero, um monge alemão e professor de teologia, publicou suas 95 Teses. Esse documento denunciava especificamente a venda de indulgências e questionava a autoridade papal para perdoar pecados. Lutero defendia que a salvação não poderia ser comprada, mas era concedida exclusivamente pela fé em Jesus Cristo, conforme as Escrituras.
A postura de Lutero foi rapidamente condenada pela Igreja, mas o apoio a suas ideias cresceu, especialmente entre príncipes e governantes da Alemanha, que viam no protestantismo uma maneira de se libertar da autoridade papal e, ao mesmo tempo, consolidar seu próprio poder. Lutero recusou-se a retratar suas teses na Dieta de Worms em 1521, sendo excomungado e condenado. No entanto, sob a proteção de príncipes alemães, continuou seu trabalho de tradução da Bíblia para o alemão e desenvolveu uma teologia que se afastava radicalmente dos ensinamentos católicos.
As Diferenças Teológicas Fundamentais
A Reforma Protestante trouxe uma série de mudanças fundamentais na forma como a fé cristã era compreendida e praticada. Entre as principais diferenças teológicas entre os reformadores protestantes e a Igreja Católica estão:
Sola Scriptura: Os protestantes acreditam que somente as Escrituras têm autoridade divina para guiar a fé e a prática cristã. A Igreja Católica, por outro lado, considera a tradição e a autoridade papal como igualmente importantes.
Sola Fide: Os reformadores, especialmente Lutero, defendiam que a salvação era obtida apenas pela fé, não por boas obras ou sacrifícios. A doutrina católica tradicional afirmava que a fé e as obras eram necessárias para a salvação.
Sacramentos: A Igreja Católica reconhece sete sacramentos, enquanto Lutero e outros reformadores protestantes limitaram o número a dois: o batismo e a eucaristia (Ceia do Senhor). Os reformadores rejeitavam muitos dos rituais católicos e a doutrina da transubstanciação, que afirma que o pão e o vinho da eucaristia se transformam literalmente no corpo e sangue de Cristo.
Rejeição do Clero Celibatário: A Reforma rejeitou a obrigatoriedade do celibato para o clero. Lutero, ele mesmo, se casou com uma ex-freira, defendendo que padres e pastores poderiam se casar.
A Expansão do Protestantismo e o Impacto Político
O sucesso do movimento protestante na Alemanha rapidamente se espalhou para outras partes da Europa. João Calvino, em Genebra, tornou-se uma das figuras mais influentes do movimento reformado, defendendo doutrinas como a predestinação, que ensinava que Deus já havia escolhido quem seria salvo e quem seria condenado.
A Inglaterra também experimentou sua própria forma de reforma sob o rei Henrique VIII, que rompeu com Roma em 1534 após a negativa do papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão. O resultado foi o estabelecimento da Igreja Anglicana, uma terceira via entre o catolicismo e o protestantismo.
Em várias partes da Europa, o protestantismo também se entrelaçou com movimentos políticos. Governantes locais viam a adoção da fé protestante como uma maneira de afirmar sua independência do controle papal e até mesmo de confiscar terras da Igreja, ampliando seu próprio poder.
A Contrarreforma e o Legado da Divisão
Em resposta à disseminação do protestantismo, a Igreja Católica lançou a Contrarreforma, um movimento de revitalização interna e reafirmação das doutrinas católicas. O Concílio de Trento (1545-1563) foi o principal evento desse movimento, estabelecendo reformas disciplinares para lidar com a corrupção dentro do clero e reafirmando os principais ensinamentos católicos que os reformadores protestantes haviam desafiado.
A divisão religiosa que começou com Lutero culminou em conflitos armados, como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que devastou grande parte da Europa. No entanto, também resultou em um equilíbrio de poder entre católicos e protestantes em vários países, com cada lado mantendo sua presença e influência.
Hoje, a divisão entre católicos e protestantes persiste, embora muitas tensões tenham sido atenuadas. O diálogo ecumênico entre as denominações cristãs tenta promover a compreensão mútua e a cooperação. No entanto, o surgimento do protestantismo continua sendo uma das mudanças mais significativas e permanentes na história do cristianismo, moldando não apenas as crenças religiosas, mas também o desenvolvimento político e social da Europa e do mundo ocidental.
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rodadecuia · 1 year ago
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bunkerblogwebradio · 2 years ago
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O legado cultural e espiritual da inflação monetária
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A noção de que a inflação é um fenômeno nocivo é bastante comum na ciência econômica.  Porém, a maioria dos livros-texto subestima a extensão desse mal, pois todos eles definem inflação muito limitadamente como sendo uma duradoura redução no poder de compra do dinheiro.  Ademais, eles prestam escassa atenção às formas concretas de inflação.  Para compreendermos a natureza destruidora da inflação em sua totalidade, é necessário termos em mente que ela se origina de uma violação das regras fundamentais da sociedade.
Inflação é o que ocorre quando as pessoas aumentam a oferta monetária por meio de fraude, imposição ou quebra de contrato.  Invariavelmente, ela gera três conseqüências características: (1) ela beneficia os perpetradores à custa de todos os outros usuários do dinheiro; (2) ela permite a acumulação de dívidas além do nível que as dívidas poderiam atingir no livre mercado; e (3) ela reduz o poder de compra do dinheiro para um nível menor do que aquele que prevaleceria no livre mercado.
Embora essas três consequências sejam ruins o bastante, as coisas ficam muito piores quando a inflação é estimulada e promovida pelo estado (inflação por decreto).  A inflação criada pelo governo é contínua, e, como resultado, podemos observar a formação de instituições e hábitos especificamente criados pela inflação.  Assim, a inflação monetária criada monopolisticamente pelo governo gera uma mácula cultural e espiritual na sociedade humana.  A seguir, vamos analisar mais detidamente alguns aspectos desse legado.
I. Governo hipercentralizado
A inflação beneficia o governo que a controla, não apenas em detrimento da população como um todo, mas também em detrimento de todos os governos secundários e terciários.  É um fato bem conhecido que os reis europeus, durante a ascensão dos estados-nação nos séculos XVII e XVIII, esmagaram os principais vestígios de poder intermediário.  As nações democráticas dos séculos XIX e XX completaram a centralização de poder que havia começado sob os reis.  A força motriz econômica desse processo foi a inflação, a qual, naquele momento, já estava inteiramente nas mãos do aparato do poder central.  Mais do que qualquer outra razão econômica, a inflação tornou o estado-nação irresistível.  E, assim, ela contribuiu, indiretamente ao menos, para a popularidade das ideologias nacionalistas, as quais no século XX levaram a uma frenética veneração do estado-nação.
A inflação estimula o crescimento dos governos centrais.  Ela permite que esses governos cresçam para muito além do que poderiam crescer em uma sociedade livre.  E ela permite que eles monopolizem determinadas funções em uma escala que não ocorreria em um ambiente em que o dinheiro fosse produzido pelo livre mercado.  Isso ocorre à custa de todas as formas de governo intermediário, e, é claro, à custa da sociedade civil como um todo.  A centralização do poder estimulada pela inflação transforma o cidadão médio cada vez mais em um átomo socialmente isolado.  Todas as suas relações sociais tornam-se controladas pelo estado central, o qual também passa a fornecer a maioria dos serviços que antes eram ofertados por outras entidades sociais, como a família, as igrejas e o governo local.  Ao mesmo tempo, a direção central do aparato estatal torna-se cada vez mais distante da vida diária de seus protegidos.
II. O efeito da inflação monetária sobre as empresas
A inflação produzida pelo governo gera um impacto profundo sobre as finanças corporativas.  Ela torna os passivos (dívidas) mais baratos do que seriam em um livre mercado.  Isso estimula empreendedores a financiar suas empreitadas por meio da obtenção de empréstimos, e não por meio do patrimônio próprio (o capital trazido à empresa pelos seus proprietários).
Em um sistema de livre mercado de produção monetária, os bancos concederiam empréstimos apenas como intermediários financeiros.  Isto é, eles poderiam emprestar somente aquela quantia de dinheiro que eles próprios houvessem poupado ou que outras pessoas houvessem poupado e emprestado aos bancos.  Os bancos obviamente seriam livres para conceder empréstimos sob os termos (juros, valores, duração) que quisessem; porém, seria suicídio oferecer termos melhores do que aqueles que seus próprios depositantes (credores) lhe oferecessem.  Por exemplo, se um banco recebe de um poupador um depósito que rende juros de 5%, seria irracional emprestar esse dinheiro a 4%.  Donde se conclui que, em um livre mercado, um serviço bancário lucrativo está restrito a limites bastante estreitos, os quais por sua vez são determinados pelos poupadores.  Não seria possível um banco permanecer no mercado e ao mesmo tempo oferecer termos melhores do que os dos poupadores.
Porém, o sistema bancário de reservas fracionárias é capaz de fazer justamente isso.  Dado que estes bancos podem criar dinheiro a um custo virtualmente zero, eles podem conceder empréstimos a taxas que são menores do que aquelas que prevaleceriam de outro modo.  E, desse modo, os beneficiários irão financiar por meio do endividamento alguns empreendimentos que eles de outra forma teriam financiado com seu próprio dinheiro, ou que eles sequer teriam empreendido.
É óbvio que serão poucas as empresas capazes de resistir a tais ofertas.  A concorrência é feroz na maioria dos setores econômicos, e as empresas têm de aproveitar as melhores ofertas disponíveis, caso contrário elas perderão aquela "vantagem competitiva" que pode ser decisiva para os lucros e também para sua mera sobrevivência.  A inflação monetária torna as empresas mais dependentes dos bancos do que elas seriam caso contrário.  Ela cria um maior poder de decisão central e uma maior hierarquia do que existiria no livre mercado.  O empreendedor que opera com 10% de capital próprio e 90% de dívida já deixou de ser um empreendedor genuíno.  Seus credores (normalmente bancos) são os verdadeiros empreendedores que tomam todas as decisões essenciais.  Ele foi transformado em um relativamente bem pago executivo -- um gerente.
Desta forma, a inflação monetária reduz o número de empreendedores genuínos -- homens independentes que operam com seu próprio dinheiro.  Tais homens ainda existem em uma quantidade incrivelmente alta, mas eles somente conseguem sobreviver porque seu talento superior é comparável à situação financeira inferior com a qual eles têm de lidar.  Eles precisam ser mais inovadores e trabalhar mais que seus concorrentes.  Eles sabem o preço da independência e estão dispostos a pagá-lo.  Normalmente eles são mais apegados aos negócios da família e se importam mais com seus empregados do que os outros fantoches dos banqueiros.
Dado que o crédito fácil decorrente da inflação monetária possibilita uma grande vantagem financeira, ele acaba por estimular comportamentos imprudentes da parte dos executivos das empresas.  Isso é principalmente válido para os gerentes de grandes empresas que possuem acesso fácil ao mercado de capitais.  Sua imprudência é frequentemente confundida com criatividade e inovação.
O economista Joseph Schumpeter memoravelmente caracterizou o sistema bancário de reservas fracionárias como sendo um tipo de força impulsora do desenvolvimento econômico inovador, uma vez que ele fornece dinheiro adicional para empreendedores com grandes ideias.
É concebível imaginar que em alguns casos esse sistema tenha tido esse papel, porém as chances estão majoritariamente do outro lado.  Como regra geral, qualquer produto novo e qualquer profunda inovação nas organizações empreendedoriais representam uma ameaça aos bancos, pois estes já estão expressivamente investidos em empresas já estabelecidas, as quais produzem os produtos de sempre e utilizam as velhas formas de organização.  Eles têm, portanto, todos os incentivos para impedir qualquer inovação -- recusando-se a financiá-la -- ou para espalhar essas novas ideias aos seus parceiros no mundo corporativo.
Assim, o sistema bancário de reservas fracionárias torna os negócios mais conservadores do que seriam caso contrário.  Ele beneficia as empresas já estabelecidas à custa de inovadores recém-chegados.  É muito mais provável que um projeto inovador venha de empreendedores independentes, principalmente se a tributação da renda for baixa.
III. O jugo da dívida
Algumas das considerações acima também são válidas fora do mundo empreendedorial.  A inflação monetária possibilita crédito fácil não apenas para governos e empresas, mas também para indivíduos.  O simples fato de que tais créditos são oferecidos já é o suficiente para incitar algumas pessoas a se endividarem, algo que não fariam normalmente.  Porém, o crédito fácil torna-se praticamente irresistível quando vem acoplado a outra típica consequência da inflação monetária: o aumento constante dos preços.  Ao passo em que nos tempos passados um aumento dos preços era algo dificilmente perceptível, nos dias atuais todos os cidadãos do mundo ocidental já se acostumaram a esse fenômeno.  Em países como Turquia e Brasil, onde o aumento de preços já chegou a taxas anuais de 80 a 100%, mesmo as pessoas mais jovens já chegaram a vivenciá-lo pessoalmente.
Tais condições impõem uma penalidade severa sobre a poupança mantida em espécie.  Antigamente, a poupança era tipicamente feita na forma do entesouramento de moedas de ouro e prata.  É verdade que tal ato de entesouramento não propiciava nenhuma receita -- o metal era "estéril" -- e que quem praticava tal ato não podia ser considerado um rentista.  Porém, em todos os outros aspectos, o entesouramento do dinheiro era uma forma confiável e efetiva de poupança.  O poder de compra da moeda não se evaporava em poucas décadas, e em épocas de crescimento econômico ela até mesmo ganhava poder de compra.
Mais importante ainda, elas eram extremamente adequadas para as pessoas comuns.  Carpinteiros, pedreiros, alfaiates e agricultores normalmente não são observadores muito astutos do mercado internacional de capitais.  Colocar algumas moedas de ouro debaixo do travesseiro ou dentro de um cofre foi um ato que lhes poupou várias noites de insônia, e os deixaram independentes de intermediários financeiros.
Agora compare esse cenário antigo com nossa atual situação.  O contraste não poderia ser mais absoluto.  Seria algo completamente inútil guardar cédulas de dinheiro em casa, visando à aposentadoria.  Um homem com seus 30 anos de idade, que esteja planejando se aposentar daqui a 30 anos, precisa levar em conta uma depreciação monetária na ordem de 3 a 5% ao ano.  Isto é, ele precisa poupar de 3 a 5 unidades monetárias hoje para poder ter o poder de compra de uma unidade atual quando ele se aposentar.  E isso sendo bastante otimista.
Disso se conclui que a estratégia racional de poupança para ele seria se endividar com o intuito de comprar ativos cujos preços aumentariam com a inflação.  Isso é exatamente o que ocorre hoje na maioria dos países ocidentais.  Tão logo as pessoas arrumam um emprego e, com isso, uma fonte de renda parcialmente estável, eles se endividam para comprar uma casa -- ao passo que seus avôs ainda seguiam a rotina de primeiro acumular poupança durante trinta anos para só então comprar seu primeiro imóvel com dinheiro próprio.  Desnecessário dizer que este último sempre foi o procedimento cristão.  Não carta de São Paulo aos Romanos (13:8), lemos: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei."
As coisas não são muito melhores para aqueles que já acumularam alguma riqueza.  É verdade que a inflação não os obriga a se endividar; porém, em todo caso, ela os priva da possibilidade de manter suas poupanças em dinheiro.  Os idosos que vivem de pensões, as viúvas e os tutores de órfãos precisam investir seu dinheiro no mercado financeiro, pois, caso contrário, seu poder de compra irá se perder diariamente.  Assim, eles se tornam dependentes dos intermediadores financeiros e, consequentemente, do comportamento dos preços das ações e dos títulos.
Com tudo isso, torna-se claro que tal situação é amplamente favorável para aqueles que ganham a vida no mercado financeiro.  Corretores, analistas, bancos, empresas hipotecárias e outros "players" têm motivos para ser gratos a esse constante declínio do poder de compra do dinheiro sob um ambiente de inflação monetária.  Porém, seria tal arranjo também benéfico para o cidadão comum?  De certa forma, suas dívidas e seu maior investimento no mercado financeiro são benéficos para ele, dado nosso atual regime inflacionário.
Quando o aumento no nível de preços é perene, a dívida privada é para ele a melhor estratégia disponível.  Porém, é claro, isso significa que, não fosse o intervencionismo governamental no sistema monetário, outras estratégias seriam superiores.  A existência de bancos centrais e de dinheiro de papel faz com que as estratégias financeiras baseadas no endividamento sejam mais atrativas do que estratégias baseadas no acúmulo de poupança própria.
Não é exagero dizer que, por meio de sua política monetária, os governos ocidentais empurraram seus cidadãos para uma situação de dependência financeira completamente desconhecida para as gerações anteriores.  Já em 1931, o papa Pio XI declarou:
É de se imaginar que vocabulário Pio XI teria utilizado para descrever nossa atual situação.  A justificativa corrente para o atual arranjo monetário é que ele supostamente estimula o desenvolvimento industrial.  O dinheiro que antigamente era entesourado não era apenas estéril, segundo tal teoria; era na realidade algo prejudicial do ponto de vista econômico, pois tal atitude privava as empresas dos meios de pagamento necessários para os investimentos.  Sendo assim, a função da inflação monetária seria a de fornecer tais meios.
Entretanto, o entesouramento do dinheiro não possui nenhuma implicação macroeconômica negativa.  Tal atitude definitivamente não reprime os investimentos industriais.  O entesouramento aumenta o poder de compra do dinheiro e, consequentemente, dá um maior "peso" às unidades monetárias que permanecem em circulação.  Todos os bens e serviços continuam podendo ser comprados, e todos os investimentos viáveis podem ser feitos com as unidades monetárias remanescentes.  O fato fundamental e inegável é que a inflação monetária não faz surgir nenhum recurso adicional.  O fato de você imprimir dinheiro não faz com que novos bens apareçam.  A inflação meramente provoca uma alteração na alocação dos recursos já existentes.  Estes deixam de ir para empresas geridas por empreendedores que operam com seu próprio dinheiro, sendo desviados para aquelas empresas financiadas com fartos créditos bancários.
O efeito líquido do recente surto de endividamento pessoal é, portanto, o de jogar populações inteiras na dependência financeira.  As implicações morais são claras.  O acúmulo de dívidas é incompatível com a independência financeira, e isso tende a enfraquecer a autossuficiência em todas as outras esferas.  O indivíduo oprimido por dívidas acaba, no final, adotando o hábito de recorrer a terceiros em busca de ajuda, ao invés de se tornar uma âncora econômica e moral para sua família e para todas as pessoas que o cercam.  A sobriedade e a independência de julgamento são substituídas pela submissão e pela auto-ilusão. 
E quando, como ocorre em muitos casos, as famílias não mais conseguem arcar com todo seu endividamento?  O resultado é o desespero -- ou, ao contrário, o desprezo por todos os padrões de sanidade financeira.
IV. Alguns ferimentos espirituais provocados pela inflação monetária
A inflação monetária reduz constantemente o poder de compra do dinheiro.  Em algum grau, é possível para as pessoas protegerem sua poupança contra esse fenômeno, mas isso requer um completo conhecimento de estratégias financeiras, tempo disponível para supervisionar constantemente seus investimentos e uma boa dose de sorte.  As pessoas que não possuem um desses ingredientes irão provavelmente perder uma parte substancial de seus ativos.  A poupança de toda uma vida normalmente desaparece por completo durante os primeiros anos da aposentadoria.  A consequência é o desespero e a erradicação dos padrões morais e sociais.  Porém, seria errado inferir que a inflação produz esse efeito principalmente nos mais idosos.  Como observou Thomas Woods:
Mesmo aqueles cidadãos abençoados com o conhecimento, o tempo e a sorte para proteger o capital de sua poupança não são capazes de se esquivar dos impactos perniciosos da inflação, pois eles têm de adotar hábitos que estão em desacordo com a saúde moral e espiritual.  A inflação os obriga a gastar muito mais tempo pensando no seu dinheiro do que seria necessário na ausência dela.  Como já dito, a maneira antiga de os cidadãos comuns pouparam era acumulando dinheiro dentro de casa.  Sob um ambiente de inflação monetária como o atual, essa estratégia é suicida.  Eles precisam investir em ativos cujos valores crescem com a inflação; e a maneira mais prática de se fazer isso é comprando ações e títulos.  Porém, isso demanda várias horas dedicadas ao estudo, à comparação e à seleção dos papeis adequados.  E isso os obriga a estarem sempre vigilantes e preocupados com seu dinheiro, para o resto de suas vidas.  Eles precisam estar sempre seguindo o noticiário financeiro e monitorando os preços das ações no mercado financeiro.
Similarmente, as pessoas tenderão a prolongar a fase de suas vidas na qual elas se esforçam para ganhar dinheiro.  E, ao escolher suas profissões, elas darão uma ênfase relativamente maior nos retornos monetários do que em qualquer outro critério.  Por exemplo, alguns daqueles que teriam maior propensão à jardinagem irão abandonar essa vocação e procurar um emprego industrial, pois este oferece maiores retornos financeiros no longo prazo.  E mais pessoas irão aceitar empregos distantes de suas casas apenas pelo fato de estes permitirem a elas ganharem um dinheiro extra -- algo que não ocorreria com tanta frequência em um sistema monetário natural.
A dimensão espiritual desses hábitos induzidos pela inflação parece ser óbvia.  Questões monetárias e financeiras passam a ter um papel exagerado na vida de um homem.  A inflação torna a sociedade materialista.  As pessoas cada vez mais se esforçam para obter dinheiro à custa da felicidade pessoal.  A mobilidade geográfica induzida pela inflação enfraquece artificialmente os laços familiares.  Muitos daqueles que tendem a ser gananciosos, invejosos e mesquinhos tornam-se vítimas do pecado.  Mesmo aqueles que não possuem tal propensão serão expostos a tentações que não sentiriam caso contrário.  E como os caprichos do mercado financeiro também fornecem uma desculpa perfeita para o uso excessivamente sovina do dinheiro, doações para instituições de caridade tendem a declinar.
E há o fato de que a inflação perene tende a deteriorar a qualidade dos produtos.  Todo vendedor sabe que é difícil vender o mesmo produto físico a um preço maior do que aquele vigente nos anos anteriores.  Porém, aumentos nos preços são inevitáveis quando a oferta monetária está em crescimento contínuo.  Sendo assim, o que os vendedores fazem?  Em muitos casos, a salvação vem por meio da inovação tecnológica, a qual permite um modo de produção mais barato do produto, desta forma neutralizando ou até mesmo compensando em demasia a influência da inflação.  Isso ocorre, por exemplo, na indústria de computadores e de equipamentos construídos com uma grande quantidade de insumos de tecnologia da informação.
Porém, em outras indústrias, o progresso tecnológico possui um papel muito menor.  Aqui, os vendedores lidam com o problema acima mencionado.  Consequentemente, eles fabricam um produto de qualidade inferior e o vendem com o mesmo nome, junto com os eufemismos que se tornaram costumeiros no marketing comercial.  Por exemplo, eles podem ofertar aos seus consumidores café "light" e vegetais "não condimentados" -- o que pode ser traduzido como café ralo e vegetais que já perderam todos os resquícios de sabor.  Podem também oferecer os mesmos produtos em menores quantidade e tamanho. 
Deteriorações similares podem ser observadas na indústria de construção civil.  Países flagelados pela inflação parecem ter sempre uma maior proporção de casas e ruas em constante necessidade de reparos.
Em ambientes assim, as pessoas desenvolvem uma atitude mais desleixada em relação às palavras que utilizam.  Se tudo realmente for aquilo de que passou a ser chamado, então é difícil explicar a diferença entre verdade e mentira.  A inflação incita as pessoas a mentirem sobre seus produtos, e a inflação perene estimula o hábito de mentir rotineiramente.  Este autor já argumentou em outros trabalhos que as mentiras rotineiras possuem um papel importante no sistema bancário de reservas fracionárias, a instituição fundamental do sistema monetário inflacionário.  A inflação monetária parece difundir esse hábito como um câncer para todo o resto da economia.
V. Sufocando a chama
Na maioria dos países, o crescimento do estado assistencialista tem sido financiado por meio do acúmulo da dívida pública em uma escala que seria impensável sem o advento do dinheiro de papel.  Uma rápida olhada no histórico mostra que o crescimento exponencial do estado assistencialista, que na Europa começou no início da década de 1970, progrediu pari passu com a explosão da dívida pública.  É amplamente sabido que tal acontecimento tem sido um grande fator no declínio da família.  Porém, é normalmente negligenciado o fato de que a principal causa desse declínio é a inflação monetária.  De maneira lenta, porém resoluta, a inflação perene destroi a família, sufocando a chama da moral cristã.
A família cristã é a mais importante "produtora" de um determinado tipo de moral.  A vida familiar só é possível se todos os membros forem seguidores de determinadas normas, tais como a legitimidade da autoridade, a união heterossexual entre homem e mulher, e a proibição do incesto. 
E as famílias cristãs se baseiam em normas adicionais, como o amor entre o homem e a mulher e o amor do casal pelos seus filhos, o respeito dos filhos pelos pais, a realidade do Deus Triuno e Uno, a verdade da fé cristã etc.  Os pais constantemente repetem, enfatizam e vivem essas normas.  Essa experiência diária faz com todos os membros da família aceitem essas normas como sendo o estado normal das coisas.  Consequentemente, na esfera social mais ampla, tais pessoas também agirão de acordo com essas normas, seja em relações comerciais, seja em clubes, seja na política.
Amigos e inimigos da família cristã tradicional concordam com esses fatos.  Dentre outras coisas, é exatamente porque os cristãos reconhecem a efetividade da família no estabelecimento de normas sociais, que eles se esforçam para protegê-la.  E é exatamente por essa mesma razão que os defensores da licenciosidade moral tentam destruí-la.  O estado assistencialista tem sido sua ferramenta preferida nos últimos 30 anos.
Atualmente, o estado assistencialista fornece um grande número de serviços que, em outras épocas, eram todos eles ofertados pelas próprias famílias (e os quais, podemos supor, ainda seriam fornecidos em grande escala pelas famílias caso o estado assistencialista deixasse de existir).  Educação dos mais novos, cuidado pelos mais velhos e doentes, ajuda em momentos de emergência -- todos estes serviços foram hoje efetivamente "terceirizados" para o estado.  As famílias foram degradadas e rebaixadas a pequenas unidades de produção que compartilham entre si as contas da casa, os carros, a geladeira e, obviamente, os impostos.  O estado assistencialista, financiado por impostos, fornecerá a educação e os serviços médicos.
Em vários países, as famílias podem hoje deduzir do imposto de renda gastos com saúde privada educação privada.  Porém, e ironicamente (ou talvez não tão ironicamente assim), essa medida reforçou a erosão da família.  Por exemplo, recentes cláusulas do código tributário dos EUA permitem que o orçamento familiar aumente por meio destas deduções -- mas somente se os serviços dedutíveis não forem ofertados autonomamente em casa, mas sim comprados de terceiros.
De um ponto de vista econômico, esse arranjo é um total desperdício de dinheiro.  O fato é que o estado assistencialista é ineficiente; ele fornece serviços comparativamente ruins a custos comparativamente maiores.  Não precisamos nos estender muito fazendo comentários sobre a incapacidade das agências estatais em oferecer o tipo de assistência emocional e espiritual que emerge apenas da caridade.  A compaixão não pode ser comprada.  Porém, o estado assistencialista também é ineficiente em termos puramente econômicos.  Ele opera por meio de grandes burocracias e é, desta forma, responsável pela falta de incentivos e critérios econômicos que impedem o desperdício de dinheiro.  Nas palavras do papa João Paulo II:
Todos sabem disso por experiência prática, e vários estudos científicos chegam à mesma conclusão.  É exatamente pelo fato de o estado assistencialista ser um arranjo econômico ineficiente, que ele depende exclusivamente de impostos.  Se o estado assistencialista tivesse de concorrer com as famílias em termos iguais, ele jamais duraria muito tempo.  Ele só expulsou do "mercado assistencial" a família e as caridades privadas porque as pessoas são obrigadas a pagar por ele de um jeito ou de outro.  Elas são obrigadas a pagar impostos, e elas não podem impedir o governo de se endividar cada vez mais -- medida essa que absorve o capital que de outra forma seria utilizado para a produção de bens e serviços distintos.
O excessivo tamanho do estado assistencialista dos dias atuais representa um ataque total e direto à moral cristã.  Mas ele também enfraquece essa moral por vias indiretas, a mais notável dela sendo o subsídio de maus exemplos morais.  O fato é que alguns "estilos de vida" alternativos carregam consigo grandes riscos econômicos, tendendo portanto a serem mais custosos que os tradicionais arranjos familiares.  O estado assistencialista socializa os custos de tais comportamentos, dando-lhes uma proeminência muito maior do que teriam em uma sociedade livre. 
Em vez de gerar uma penalidade econômica, o assistencialismo pode na verdade prover vantagens econômicas aos seus recebedores, pois ele os dispensa dos custos da vida familiar (por exemplo, os custos associados à criação de filhos).  Com o sustento do estado assistencialista, os assistidos podem então fazer escárnio da moral conservadora, rotulando-a como sendo algum tipo de superstição que não tem nenhum impacto na vida real.  A dimensão espiritual parece clara: o estado assistencialista sistematicamente expõe as pessoas à tentação de acreditarem que não existe absolutamente nenhum preceito moral que já foi testado e aprovado pelo tempo.
Permita-me enfatizar aqui que o objetivo das observações anteriores não foi atacar os serviços assistencialistas, os quais são na verdade um componente essencial das sociedades cristãs.  Antes, o ponto é que a inflação monetária destrói o controle democrático sobre a oferta desses serviços; que isso invariavelmente leva a um crescimento excessivo do estado assistencialista e a várias formas de assistencialismo; e que isso, por sua vez, não é algo inócuo ao caráter moral e espiritual da população.
As considerações acima não são de maneira alguma um relato completo e profundo do legado cultural e espiritual da inflação monetária.  Porém, elas devem ser suficientes para comprovar o ponto principal: a inflação monetária é uma usina geradora de destruição social, econômica, cultural e espiritual.
Jörg Guido Hülsmann
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trabalhomodernaii · 3 years ago
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A Sociedade de Corte no Cinema
Luís XIV é, provavelmente, uma das figuras mais comentadas da História francesa. Em seu reinado, que foi de 1643 e 1715, ele propôs várias mudanças à monarquia, o que gerou um governo mais centralizado. Um aspecto importante dessa centralização é a construção de uma nova ideologia, muito focada na figura do rei. Como não podia deixar de ser, essas mudanças tiveram impacto na sociedade, reverberando até em atos cotidianos, como a forma de se portar. Para exemplificar esse processo, analisaremos duas obras cinematográficas.
 O filme A morte de Luís XIV reimagina os últimos dias do monarca. Mesmo retratando um momento excepcional na vida do personagem, o filme consegue mostrar dinâmicas bastante características daquela sociedade. Se as produções culturais sobre esse rei geralmente o veem rodeado de cortesãos, o filme do diretor francês Serra lida com um círculo muito mais íntimo. O contexto dessa intimidade demonstra, entretanto, o quanto as regras sociais se internalizaram nos indivíduos da época. Trata-se, portanto, não somente de um estudo sobre a morte, mas também sobre a sociedade de corte. 
“Sociedade de corte” é um conceito criado pelo sociólogo Norbert Elias. Ele descreve essa sociedade  como uma relação de interdependências, na qual a etiqueta é uma manifestação do poder relativo (ELIAS, 2001, p 104). Assim, todos os atos de indivíduos dessa sociedade têm um peso extra como exercícios de demonstração do poder para os outros. Nessa sociedade o poder está diretamente ligado à proximidade de uma determinada pessoa ao rei. O rei é, por conseguinte, centro da sociedade de corte.
Uma cena emblemática que exemplifica a centralidade do Rei, e as dinâmicas na Sociedade de Cortes, ocorre no começo do filme. Luís XIV está deitado em uma espécie de divã - claramente cansado e indisposto por conta de sua saúde- em uma alguma espécie de festa/ evento social da corte, em seguida um grupo de jovens moças se aproximam do Rei e pedem para ele as saudar, o monarca diz que está muito cansado e seu chapéu não está em seu alcance, as jovens então claramente muito abaladas insistem, dizendo que seria uma grande honra para eles e alegraria a noite delas. O Rei então em toda a sua benevolência, pede ao valet o seu “chapéu real”, coloca em sua cabeça, e tira fazendo um aceno para as damas. As mesmas então saem da sala extremamente alegres e louvando o Rei pela sua boa vontade para com elas.
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Como ele é o centro da sociedade, todos os atos do rei possuem significado maior. Desta forma, a decisão de recusar a água servida em um copo de ouro e exigir um copo de cristal é uma demonstração de seu poder, mesmo que esse ato seja presenciado apenas pelo valet. A etiqueta não se torna menos rígida nem no contexto de uma doença do rei, pois a renúncia a ela é, por si só, uma humilhação. Assim, o rei está ele mesmo submetido à sociedade de corte, ao mesmo tempo que ela funciona como uma representação do poder do mesmo. 
Mesmo durante sua doença, o rei não fica sozinho, uma vez que seu poder é obtido justamente pela presença de um súdito. De maneira semelhante, um chefe só é um chefe na presença de seu subordinado. Dessarte, a sociedade de corte depende da presença contínua de terceiros.
Se, na sociedade de corte, qualquer gesto possui um significado duplo como forma de demonstração do poder relativo, o gesto do rei, centro dessa sociedade, está imbuído de muito mais importância. Isso significa que, no filme, os atos do rei não são minuciosamente analisados pelos outros, não só pelo fato de esse ato poder ser indicativo de melhora ou piora do quadro de saúde, mas também porque são demonstrações da centralidade do monarca. Além disso, como já dito, um gesto só tem significado se presenciado por outros. Por conseguinte, os gestos do rei precisam ser comunicados à corte e ao país. Assim, esses atos adquirem mais uma camada de importância na medida em que devem ser comunicados e, no caso de Luís XIV, são de fato pensados para serem comunicados.
Destarte, a vigília da morte, o que, em outra narrativa, seria um momento solitário, em A morte de Luís XIV é uma experiência coletiva. Não porque a morte de um rei possui implicações políticas que são experienciadas de forma coletiva por todo o país, mas porque os atos do rei precisam ser observados pela corte para que tenham significado. 
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Logo, para Luís XIV, todas as suas ações devem ser minuciosamente planejadas, mesmo no que tange os mínimos atos de um homem doente, porque são importantes para a manutenção de sua imagem, e por conseguinte, de seu poder relativo na sociedade de corte. O mesmo é verdade em relação a seus médicos. Dessa forma, a decisão de amputar ou não a perna ganha importância primariamente por causa de suas implicações para a imagem do rei, sendo a saúde considerada apenas em segundo plano. 
Como fica claro em diversos momentos do filme, a manutenção desta etiqueta é exaustiva. Nesse sentido, a direção sabe sublinhar as pausas e as esperas necessárias à realização de cada ação. O contexto da doença, somado ao enquadramento e a paleta de cores, transmite uma ideia de decadência e frivolidade no que tange a rígida etiqueta. Todavia, de acordo com Elias, Luís XIV foi o monarca que melhor soube desenhar a sociedade de corte a fim de que ela servisse a seus objetivos.
Nesse ínterim, é possível perceber que o personagem vivido por Jean-Pierre Léaud é bastante apegado a seus deveres políticos, e, como tal, entende bem as implicações de seus movimentos. A partir dessa lógica, é possível entender a cena na qual o monarca doente exige o copo de cristal ao valet durante a madrugada. Ele tem uma noção clara de que a mínima renúncia a sua postura magnânima é uma renúncia ao poder advindo de sua imagem de soberano magnífico.
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Com a conclusão do filme, o que resta no espectador é um sentimento de melancolia. Percebe-se durante o filme que o Palácio de Versalhes, símbolo da grandeza e da pujança de Luís XIV e sua nobreza, torna-se sua jaula, onde ele morre em um “pequeno” quarto, passando ao espectador a sensação de enclausuramento que ele se encontrava. O estatuto de divindade e a ciência iluminista, a Medicina, de nada importam frente ao inevitável, a morte, da qual o rei definha de forma lenta e agonizante. E talvez a característica mais notável e lúdica do filme seja a escuridão presente no “cárcere” do rei. O sol aparece apenas em uma cena no filme inteiro, logo em em seu início, e depois nunca mais é visto. O Rei Sol morre, como que para marcar o fim de sua era, justamente na sombra.
Já em O rei dança o foco é desviado do rei o centro desse universo, para um cortesão ligado a ele, apresentando dessa forma algo como um estudo de caso. A película traduz a vida do compositor Lully que, apesar de italiano, adentrou a corte francesa, tornando-se próximo de Luís XIV. 
Na primeira parte do filme, é evidente o modo pelo qual Luís XIV utilizou as composições de Lully como forma de se diferenciar daquele setor da corte representado por sua mãe. Destarte, por meio das performances, ele esperava traduzir suas aspirações absolutistas, apresentando-se não somente como o centro ao redor do qual deveria gravitar a aristocracia, mas também como uma figura quase sobre-humana, brilhante e sagrada.
Neste momento, o rei transfere para a autoria de Lully e Moliére suas críticas às interferências político-sociais da Igreja católica na aristocracia francesa. Desse modo, ele cria uma imagem cultural na qual baseará as diretrizes de seu governo. As composições do italiano funcionam, portanto, como uma forma de tornar mais palatável para a sociedade a política luisiana. De modo semelhante, ela tem também papel central na construção da imagem do monarca. 
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Todavia, no filme, a situação é vista por outro ângulo. O protagonista é Lully e não o rei, e, como tal, a narrativa foca-se nas consequências da relação entre ele e o compositor. Nesse sentido, como supracitado, a sociedade de corte é formada por relações de interdependência. Assim, da mesma maneira que o rei num primeiro momento necessita de Lully para se firmar, Lully necessita do afeto público do monarca para manter seu lugar na estrutura aristocrática da França barroca. Ilustrativo do aspecto mútuo dessa relação é o fato de que, até determinado momento, os escândalos sexuais do compositor foram aturados pela sociedade devido a sua relação com o Rei Sol.
A posição do monarca, entretanto, é, obviamente, muito mais estável do que a de qualquer outro membro da Corte. Sendo assim, a partir do momento em que a nova política real se encontra assegurada devido à consolidação da imagem de Luís XIV como Rei Sol, torna-se desnecessário para o governante acobertar os escândalos morais do compositor. Por conseguinte, Lully é abandonado pelo favor real, o que, como é regra na sociedade de corte, o leva ao fracasso. 
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A biografia do italiano é, desse modo, uma ilustração bastante clara da rotatividade das famílias aristocráticas na sociedade de Corte. Seu lugar logo será ocupado por outro, indicando que se deve lutar pela manutenção das posições nessa sociedade. É, desse modo, esse fator de rotatividade que torna a Corte um lugar extremamente competitivo, afinal, quando “mais próximo ao Rei” é a sua posição, mais favorecido você está. Todavia, essa situação também demonstra que ela funciona a favor do rei. Ele pode, dessa maneira, fazer uso de alguém em um momento e descartar essa pessoa quando necessário. Isso funciona não só como uma forma de demonstrar seu poder, mas também como modo de enfraquecer os outros atores políticos, assegurando sua posição centralizadora.
Outro fator importante que mostra a dominação política do rei e sua posição central, é a forma como se desenvolvem as tensões e ciúmes entre os diversos cortesãos, quaisquer que sejam suas posições ou funções. A competição por status e prestígio acirra-se de tal maneira que as ações dos envolvidos extrapolam os valores morais de sua época, sendo utilizado métodos como assassinatos (Cambert vs Lully) ou depreciação política (Lully vs Moliére).
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Por fim, fica a recomendação dos dois excelentes filmes “A Morte de Luís XIV” e “O Rei Dança”. Fica a recomendação também do clássico livro do sociólogo Norbert Elias “A Sociedade de Corte: Investigação Sobre a Sociologia da Realeza e da Aristocracia de Corte”, uma obra indispensável para compreender as dinâmicas da sociedade de corte.
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Autores:
Ana Clara Reis de Guimarães, N° USP 11247778
Túlio Pavan, N° USP 11252131
Cezar Hideak Ishie, N° USP 11251508
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oaarchitects · 5 years ago
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Kearney eFree Church - Kearney, NE
by: @wilkins_adp @kearneyefree
Tamanho: Novo: 32.300 pés quadrados / Renovação: 5.800 pés quadrados
Solução:  Essa foi a terceira fase do projeto, planejada pelo WilkinsADP. Incluía um centro de culto com 900 lugares, café, produção de som e vídeo, centralização do ministério infantil e salas de aula. O projeto oferece uma nova abertura para o edifício, que reflete a abordagem da igreja ao ministério.
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imhistoriando-blog · 6 years ago
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Brasil colonial - política e sociedade
Primeiramente, a colônia estava inserida na grande propriedade monocultora (ou, em inglês, no sistema de plantation), isso significa que era uma grande propriedade que visava a produção de um, ou dois, tipos de produtos, sempre voltada para a exportação. Entretanto, é interessante denotar que o Brasil Colonial não possuía apenas uma forma de produção, as regiões mais periféricas (Sorocaba, por exemplo) eram voltadas para uma economia de abastecimento interno. Isso implica que a sociedade colonial, principalmente naquela época, não era homogênea. O Objetivo dessa crítica, que está sendo discutida recentemente por historiadores como Ciro Flamarion Cardoso, tem como objetivo mostrar que a sociedade colonial não era apenas uma história da “elite”, mas mostrar outros polos econômicos que, mesmo tendo uma menor influência na economia internacional, contribuíram para a formação e estruturação das terras no Novo Mundo.
Sem perder o foco, mas não desmerecendo a crítica feita acima, vamos retomar o assunto principal: as grandes propriedades. Ligadas ao comércio exportador, a Coroa e a Plantation estavam interessadas em algo comum: a uso da terra e o lucro, enquanto a Coroa visava apenas a sustentação da colônia e o aumento do tesouro nacional, os proprietários esperavam um rendimento maior. Isso, contudo, teve a influência de mais um polo econômico, a mão de obra escravizada, essa, que por sua vez, era altamente lucrativa para ambas as partes.
Outro mercado, que também abastecia a economia colonial e a lusitana, era o tráfico de escravizados vindo de regiões africanas. Quando o Rio de Janeiro se tornou a capital da colônia, ocorreu um grande favorecimento aos negócios de tráficos e, posteriormente com a vinda da corte ao Brasil, foram mais beneficiado[1] ainda. Todo esse dinheiro era usado não só para a manutenção do comércio, mas também para a compra de negócios de construções e compras de prédios urbanos, como igualmente para empréstimos (alto juros) e exportação/importação diversificada.
Mas quem organizada toda essa sociedade? Bom, a resposta é a esperada: a Igreja e o Estado. Com bases diferentes, mas em busca do mesmo objetivo, ambas acabaram por caminharem juntas, mesmo que nas suas essências eram diferentes entre si. A igreja detinha o “controle das almas”, a educação e eram essenciais para difundirem  ideais que beneficiassem o papa e a Coroa. Essa instituição estava presente nas etapas mais sensíveis a vida colonial: o nascimento, batismo, casamentos, mortes e principalmente nas confissões. Ou seja, era um excelente veículo propagador de ideias e do poder estatal. Mas, essa relação de Igreja e a Coroa vinha de longas datas e, por favorecimento mútuo[2], uma estava presente para manter o poder da outra, e assim, por consequência, manter a ordem colonial. Entretanto, pelo território ser extenso e a Igreja ser um órgão independente (mesmo que indiretamente ligada ao Estado), vários padres tinham uma certa autonomia em suas ações. As vezes seguiam seus próprios ideais, estando presente em diversas revoltas desde 1789 até a independência.
E a Coroa, como era sua atuação? Era absolutista porque todos os poderes estavam concentrados nas mãos do rei, confirmado por benção divina. Tudo o pertencia: terras, bens, gentes e estava completamente fora dos limites da lei, contudo, o rei não deveria esquecer os mais chegados: nobres, comerciantes, clero e até algumas pessoas da plebe. Ou seja, governava sozinho, mas precisava da aprovação das camadas sociais para se manter, isso reflete no termo “Coroa”, já que era um compilado de camadas sociais interligadas, não apenas só o rei. A Coroa, por sua vez, possuía o poder de decisões centrais, mas na colônia a situação era mais complicada… A distância da metrópole fez com que várias tentativas, algumas falhas, fossem aplicadas para a administração colonial.
Alguns historiadores têm divergências em suas teorias em como a sociedade colonial era administrada, vejamos algumas 
Teoria de Raimundo Faoro: o Estado possuía total poder nas colônias - sendo centralizado, e a sociedade era essencialmente dependente, obedecendo todas as leis implantadas pela Coroa; Teoria de Oliveira Viana e Nestor Duarte: um Estado frouxo e sem expressão - não possuía centralização política e nem influência na colônia, sendo substituídos pelos grandes senhores (que administravam a colônia da maneira que favorecia seus interesses pessoais); Teoria de Boris Fausto: uma mescla – com a grande extensão territorial, dependendo do local e do período, havia influência tanto do Estado quantos dos senhores que aqui estavam, tendo regiões com influências distintas.
No período que estamos trabalhando, ou seja, o Governo-Geral, não era muito nítida a diferença entre os órgãos montados (o executivo e o judiciário não tinham definições), mas a construção desse regime era baseada na seguinte ordem: no topo havia o governador geral e, depois, os governadores das capitanias. Com a mudança da sede do governo (da Bahia para o Rio de Janeiro) em 1763, o rei passou o título de vice-reis ou capitães gerais. Os mesmos eram respeitados e tratados como o próprio rei e tinham o controle das forças armadas, mesmo que naquela época a comunicação ainda fosse difícil.
A maioria da população colonial vivia no campo. Com o aumento das cidades, essa dependência da área rural fora se extinguindo e, por consequência, ocorreu o aumento do comércio. Isso necessitava de um auxílio administrativo maior, aumentando a importância dos centros urbanos. Esses órgãos eram o  Militar, a Justiça e a Fazenda. A área militar era composta pelas seguintes divisões:
Tropas de Linhas: perfeitamente armadas e com contingentes pré-estabelecidos, quase sempre composta por portugueses; Milícias: gente engajada à força e funcionavam como tropas auxiliares; Corpo de Ordenança: formado pelos demais homens entre dezoito e sessenta anos (exceto padres), era a força militar local.
Na área da Justiça encontrava-se os assuntos administrativos, feitos pelo Corpo de Juízes, no qual se destacava o Ouvidor da Comarca (nomeado pelo rei por três anos). Os julgamentos e as sentenças eram dados pelos Tribunais da Relação, que, por sua vez, era presidiado pelo Vice-Rei. A Fazenda, outro órgão administrativo, arrecadava os tributos e calculava as despesas, era presidida pelo governador da Capitania.
As famosas c��maras municipais tinham uma importância fundamental. Eram órgãos de poder constituídos por membros da sociedade, tinham sedes nas vilas e cidades. Mas, quem eram esses homens que faziam parte? Alguns eram eleitos outros não, porém todos participavam da categoria dos “homens bons”. Quem votava era o mesmo grupo, ou seja, grandes proprietários residentes, contudo, os considerados “impuros” (artesãos, pretos, mulatos e novos-cristãos). As câmaras tinham a finanças e patrimônios próprios, arrecadavam tributos, nomeavam juízes, decidiam questões, julgavam crimes simples (roubos pequenos e injúrias verbais) e, além de tudo isso, cuidavam das vias públicas, chafarizes e tudo aquilo que estava incluído em seu patrimônio. Ademais, elas ficaram tão enraizadas que continuaram por todo o período colonial, ficando reforçadas até a independência. É importante frisar que, por serem formadas pela elite rural, as Câmaras não eram nada além do que a expressão dos interesses de seus dominantes.
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A organização da colônia era algo bem padronizado, ou seja, o topo comportava as pessoas com grandes propriedades rurais, os comerciantes voltados ao comércio exterior e, posteriormente, os grupos concentrados no Rio de Janeiro e que lideravam o comércio de escravizados: homens do setor imobiliário e da usura. Nesse sentido, é importante ressaltar que havia uma hierarquia entre esses grupos dominantes. Por exemplo, os senhores de engenho eram mais prestigiados que os comerciantes (que tinham ascendência judaica, aumentando mais ainda a discriminação) que, por sua vez, eram de maior valor que um artesão (trabalho manual).
Não bastando essa divisão, havia outra ainda mais profunda: a dos escravizados e dos libertos. Para início, é importante ressaltar que os escravizados eram considerados apenas uma mercadoria, não possuíam direitos (apenas deveres). Além dessa “característica”, havia nomenclaturas para designar uma pessoa mestiça (mulatos, cafuzos, curibocas e caboclos). Essas divisões até influenciavam o futuro local de trabalho dos cativos, portanto, os mulatos claros (cor de pele mais clara) eram preferencialmente escolhidos para trabalhos dentro da Casa Grande, como artesão e como supervisor. Já os retintos (cor de pele mais escuta) eram designados aos trabalhos pesados (plantações principalmente).
Havia, além de todas os grupos já citados, os cativos libertos. Esses seres não retornavam à “condição” humana como os brancos, com a libertação não foram implantadas campanhas sociais para ajudarem essa comunidade na reconstrução de sua vida, ou seja, foi dado a liberdade, mas não o apoio na sua sobrevivência. Isso resultou na escravização arbitrária ou na escolha de permanecer no engenho, pois não havia outra possibilidade de sobrevivência. Todos esses fatores foram determinantes na perpetuação do preconceito com a pele, ultrapassando a Lei Áurea e sendo enraizado na sociedade brasileira.
Além de toda a discriminação com a cor da pele, havia ainda outros modos dessa ignorância adentrar na sociedade colonial. Esses modos eram em forma de discriminação religiosa e a de gênero.
A religiosa se propagava quando um judeu, convertido obrigatoriamente para o cristianismo de acordo com a lei de 1497, era denominado “cristão novo”, ou seja, não possuía os mesmos direitos (como mencionado acima) e eram extremamente repreendidos caso fossem pegos praticando sua religião primordial. Essa repressão, de maneira mais violenta, foi evidenciada com a inquisição no Grão-Pará, onde ocorreram denúncias, prisões e mortes pela fogueira na Bahia (1591 e 1618) e Pernambuco (1595).
A discriminação por gênero acontecia de maneira menos violenta, mas com uma repressão também considerável: uma sociedade patriarcal, quem mandava era o marido, pai, ou irmão mais velho, ou seja, sempre o homem. Mas, como as mulheres se comportavam na ausência deles? Não tratando a comunidade feminina como hemogenia, pois obviamente havia exceções, as mulheres de camadas sociais inferiores eram mais independentes (cuidavam dos filhos e trabalhavam na ausência do marido, seja por morte ou por abandono). Já as mulheres de camadas sociais elevadas, mesmo que a maioria dos casos eram as mais repreendidas, podiam, na ausência dos maridos, cuidar das plantações e negócios familiares.
Em suma, podemos ver como a sociedade era organizada, a influência da Coroa e da Igreja (e como as duas estavam alinhadas) e como foram implantados os órgãos administrativos (e quais suas finalidades). Também podemos ver as classes sociais, como eram organizadas e quem tinha mais prestígio, a situação dos escravizados e suas diversificações e, além de tudo isso já citado, como a discriminação (tanto de pele quanto a de gênero)  era algo praticado por todos que, por conta de seu enraizamento, chegou como herança para nós, mesmo depois de 500 anos.
Notas
[1] Um exemplo dessa troca de favores é a doação das terras, hoje onde é a Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, feita por Elias António Lopes (comerciante de escravizados) para D. João;
[2] Um exemplo disso é a ação da Coroa para recolher dízimos, construir e zelar edifícios públicos enquanto a Igreja propagava ideias que afirmavam o Rei como figura escolhida por Deus;
Referências
CARDOSO, Ciro Flamarion Santana.  O trabalho na colônia. In: LINHARES, Maria Yedda Leite (org.) História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.
LIMA, Lana Lage da Gama. O tribunal do santo ofício da inquisição: o suspeito é o culpado. In: Revista de Sociologia de Política, Nº 13, 1999.
PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira: colônia. Rio de Janeiro: LeYa, 2016.
SOUZA, Laura de Mello. O diabo e terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial. São Paulo: Companhia da Letras, 1986.
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ivonetedeabreu-blog · 6 years ago
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História da Administração Pública Angolana
A Evolução do direito administativo,  de modo geral atravessou várias fases. Diogo Cão atingiu a bacia do rio Zaire, depois chamado Congo em 1483, onde estabeleceu boas relações com o rei do Congo. Bartolomeu Dias percorreu toda a Costa Atlântica do atual território Angolano até a Namíbia , porém, a ocupação e colonização de Angola, do mar para o interior só começou 1 século depois, em 1571, quando o rei D. Sebastião decidiu conceder o território Angolano, em regime tipo feudal a Paulo Dias de Novais, que se estabeleceu em 1575, com 700 pessoas levadas de Portugal, e fundou a capital em Luanda  (1576). Desta forma começou a história da administração colonial de Angola, que durou 4 séculos e dividiu -se em 7 períodos:
1° Concessão régia com encargos
2�� Centralização de poderes em Lisboa e especialização dos órgãos administrativos coloniais (1736-1820)
3° Descentralização e libertação empreendidas pela Monarquia constitucional  (1820-1885)
4° Os esforços de ocupação efetiva do interior, após a conferência de Berlim  (1885-1910)
5° Maior importância e autonomia conferidas às colônias pela 1° República (1910-1926)
6° Nova centralização de poderes em Lisboa e extensão do regime político autoritário às colônias  (1926-1961)
7° Aumento da autonomia "progressiva" das colônias, alusão à criação de "novos Brasis", e atribuição a Angola e a Moçambique designação "honorífica" de Estado (1968-74)
●  Concessão régia com encargos  (1571-1736): O primeiro poder de concessão foi dado a Paulo Dias de Novais em 1575, incluía: poderes de jurisdição civil criminal, poder de nomeação para cargos públicos, direito a um terço de todos os tributos e rendas, o exclusivo do pescado na costa e das marinhas de sal, e o direito Dedé arrendar e ator ar parcelas da terra doada. E os encargos: levar 400 homens válidos  (pedreiros, um médico, um barbeiro,etc.) E, em 6 anos, ter lá pelo menos 100 famílias estabelecidas  (maridos, mulheres e filhos), para trabalhar na agricultura, construir três castelos de pedra e cal, entre os rios Dande e Cuanza, e erguer uma igreja a S. Sebastião, dotando-a com três clérigos. Tal concessão foi renovada por Filipe I em 1583, e por morte, em 1589, por Luís Serrão.
Em 1592 o regime doação foi substituído por um regime de governo -geral, como acontecia na Índia e Brasil. Em 1615, Filipe I, mantendo o governo - geral de Angola com sede em Luanda, criou a capitania de Benguela, nomeando para seu governador Manuel Cerveira Pereira.
Angola sofreu, no período Filipino, vários ataques dos Holandeses.
●  Centralização de poderes em Lisboa e especialização dos órgãos administrativos coloniais (1736-1820): durante a monarquia absoluta foi criada pela primeira vez, a Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar, em quema  coroa delegacia os seus poderes de política colonial, fortemente centralizados em Lisboa.
Foi nomeado o governador Sousa Coutinho (1764), pelo Marquês de Pombal e que promoveu um desenvolvimento em Angola, foi também criado em 1769 a junta da Fazenda de Angola,  pelo primeiro ministro de D. José,  separando a administração financeira da Administração geral. 
Pombal, aboliu a escravatura na metrópole, todos os escravos, idos das colônias, ao entrarem em Portugal, ficavam homens livres, manteve-se, porém,  até o século XIX, a escravatura dentro de cada colônia.
● Descentralização e libertação empreendidas pela Monarquia constitucional  (1820-1885: as idéias liberais fizeram com que fosse abolido a inquisição,  censura à imprensa, constituições escritas, separação de poderes, etc.
Com a Revolução de Setembro (1836), o ministro Vieira de Castro, publicou a primeira carta orgânica das colônias  (7-12-36), que elevou o principal órgão de governo e administração de Angola à categoria de governo -geral, com amplos poderes administrativos, militares, judiciais e fiscais, a junta da Fazenda passou a ter certa autonomia. Também foi proibido pelo ministro Sá da Bandeira a exportação e importação de escravos nas ou das colônias portuguesas mas só em 1876 foi decretado a extinção da escravatura dentro das colônias portuguesas, medida de Largo alcance mas que levou tempo a ser integralmente cumprir a cumprida e acatada. Com a independência do Brasil houve movimentos separatistas em Angola,  sobretudo em Benguela, Angola e Índia conheceram os seus primeiros parlamentos "Junta Geral da Província", compostos por altos funcionários, professores, vogais eleitos pelas câmaras municipais e, ainda, no caso de Angola, 3 vogais eleitos pelos comerciantes de Luanda e Benguela. 
Era a burguesia a contrabalançar o peso da aristocracia e do funcionário público.
●  Os esforços de ocupação efetiva do interior, após a conferência de Berlim  (1885-1910): Com a conferência de Berlim, presidida por Bismarck vingou a tese inglesa da ocupação efetiva: os territórios africanos em disputa não pertenciam necessariamente a quem primeiro os tivesse descoberto e colonizado, mas aos países europeus que se revelassem capazes de "assegurar a existência, nos territórios por eles ocupados, de uma autoridade suficiente para fazer respeitar os direitos adquiridos e, se necessário, as liberdades de comércio e de trânsito de pessoas e bens". Portugal tentou de varias formas driblar isso mas em 1890, o governo inglês fez um ultimato, enviando navios de guerra para o Tejo, tendo que ceder e fazendo o governo cair. Mais tarde, outro governo conseguiu negociar com a Inglaterra a integridade das colônias existentes  (1899), ficando Angola com o atual território. 
Foram criados Comissários Régios que eram nomeados e exonerados pelo rei, o que reforçava sua autoridade política e capacidade administrativa.
● Maior importância e autonomia conferidas às colônias pela 1° República (1910-1926): a 1° República deu uma grande importância às colônias, em 1911 substituiu-se a Junta Consultiva do Ultramar pelo "Conselho Colonial", integrou -se a Fazenda de cada colônia na respectiva administração Central, na dependência directa do Governador - Geral e criou-se em Lisboa o Ministério das Colônias, finalmente automatizado do da Marinha.
Em 1914, saiu a 3° lei orgânica da administração colonial, os comissários régios foram substituídos por altos-comissários, e estes foram dotados de ainda mais amplos poderes.
● Nova centralização de poderes em Lisboa e extensão do regime político autoritário às colônias  (1926-1961):  Com o golpe Militar a 28 de Maio de 1926, o Estado Novo criou um regime politicamente autoritário e administrativamente centralizador, os governadores Gerais, passaram a ser pequenos governadores provinciais, proclamou-se a vocação colonizadora e exploradora da potência imperial sobre as suas colônias, que depois passou para a constituição portuguesa de 1933.
O sistema de Salazar aguentou até 1962, porém com o início das guerras coloniais, todo edifício começou a desmoronar, proclamando: temos de " aguentar,  aguentar, até que acalme a tempestade e se nós faça justiça " mas a tempestade não acalmou e os movimentos populares em Angola e Guiné começaram a receber crescentes apoios internacionais, ao mesmo tempo que Portugal perdia o seu couve ao professor Marcello Caetano, ao suceder Salazar, ensaiar uma nova e derradeira fase. 
● Aumento da autonomia "progressiva" das colônias, alusão à criação de "novos Brasis", e atribuição a Angola e a Moçambique designação "honorífica" de Estado (1968-74): a política ultramarina de Marcello Caetano teve reflexo na administração colonial Angolana como: revisão constitucional de 1971 e nova lei orgânica do ultramar, de 1972. Aquela qualificou as províncias ultramarinas como " regiões autônomas" , concedeu a designação honorífica de "Estado" a Angola, Moçambique e abriu caminho a que se lhes conferissem poderes legislativos e executivos, mediante órgãos de governo privativos. Tratava-se de fazer entrar nas assembleias legislativas, uma parcela maior de angolanos nativos, um ano e meio depois, a Revolução portuguesa de 25 de abril de 1974, anunciou para breve a descolonização.
ADMINISTRAÇÃO ANGOLANA NO PERÍODO REVOLUCIONÁRIO  (1974-1989)
Angola proclamou a independência em 11 de Novembro de 1975, o MPLA nomeou um presidente e um governo da sua confiança, o qual obteve reconhecimento Internacional. O MPLA foi o único partido político reapresentado na Assembléia do povo e no governo, este período durou 15 anos em foi marcado por uma guerra Civil.
As principais características da Administração Pública Angolana foram:
● Unidade política do Estado
● Centralização dos poderes públicos no Estado, sem autarquias locais de base electiva
● Subordinação estrita dos órgãos administrativos ao poder político
● Nacionalização da terra, da banca e seguros, da grande indústria dos transportes coletivos e do comércio externo
Em 1989, os países evoluíram para "Estados democráticos de Direito", em Angola atualmente vigora a constituição de 2010.
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tita-ferreira · 8 years ago
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O duplo sentido ataca novamente! 😁 Você pode aproveitar o feriado cristão para ler "A Revolução dos Bichos" e entender que, seja nas mãos dos governos, da igreja, do patrão, dos militares, ou dos porcos de George Orwell, a centralização de poder sempre corromperá, fazendo a maioria pagar pelo banquete dos ricos. Se Jesus morreu pobre, porque a igreja ostenta tanta riqueza, num mundo que padece na miséria? Desde a crucificação, que a igreja vem comendo a carne e bebendo o sangue de Cristo, como porcos famintos, sedentos de poder, num canibalismo macabro que arrasta multidões para a adoração de um Deus que permitiu a morte do próprio filho, para a remissão dos nossos pecados. Tremo de medo, só de pensar no que ele seria capaz de fazer comigo, que sou só mais um na multidão (caso ele exista, é claro). Não acredito num Deus que tem sede de poder. Minha vida não precisa disso. Obrigado, de nada.
Paulo Sousa
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cidadeamericana · 6 years ago
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Em carta aberta, fiéis demonstram insatisfação com Bispo de Limeira
Pelo menos uma dezena de fiéis leigos da Diocese de Limeira, protocolaram na cúria diocesana na última quarta-feira(16), uma carta aberta em que demonstram insatisfação com a atuação de Bispo Dom Vilson Dias de Oliveira.
No documento, os fiéis relatam que tentaram conversar pessoalmente com o bispo no dia 18 de dezembro de 2018, mas foram informados que ele já estava de férias e que retornaria as atividades somente em fevereiro. Diante disso, resolveram escrever uma carta aberta com os problems enfrentados na diocese.
O distanciamento do bispo das pessoas que frequentam a igreja e a ‘construção de bens materiais’ são destacados na carta. “Sentimos que nossas comunidades estão sendo lesadas, porque suas necessidades próprias estão sendo colocadas em segundo plano para cobrir os gastos referentes à cúria diocesana”, diz um trecho.
De acordo com o texto, Dom Vilson se ausenta de compromissos da igreja. “Notícias correntes em toda a diocese dão conta que o senhor se ausenta de compromissos da diocese enquanto se encontra em sua residência na praia. Inclusive, no mês de dezembro, o senhor deixou de participar da celebração dos 50 anos de sacerdócio de um dos padres da sua Diocese porque se encontrava em sua casa na praia, sendo que na celebração estavam presentes Bispos de outras Dioceses e padres”.
Procurado, o bispo não respondey nosso contato para comentar o documento.
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Confira a carta na íntegra:
“Carta Aberta dos leigos (as) da Diocese de Limeira a Vossa Excelência Reverendíssima Dom Vilson Dias de Oliveira, Bispo Diocesano. CARTA PROTOCOLADA NA CÚRIA DIOCESANA DE LIMEIRA NO DIA 17/01/2019
Dom Vilson,
Este grupo de leigos e leigas que aqui estão, representam uma grande maioria dos fiéis desta Diocese que já se reuniram e se organizaram, com a finalidade de manifestar e demonstrar a insatisfação com o vosso episcopado exercido em nossa Diocese.
Nossa primeira providencia foi tentar um agendamento para conversar com Vossa Excelência no dia 18 de dezembro e fomos informados que já estava de férias e que só retornaria em fevereiro de 2019.
Diante disso, optamos por esta carta aberta.
Destas reuniões e organização citamos algumas preocupações e enorme indignação dos fiéis, a saber:
– Sobre o seu distanciamento do rebanho que lhe foi confiado, indo contra o que prega o nosso Papa Francisco em sua exortação apostólica Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho) quando clama por uma Igreja em saída: “O pastor com cheiro de ovelhas”.
Nós, povo fiel desta Diocese, temos necessidade daquela abordagem pastoral de “acolhimento”, de “proximidade”, e de “diálogo” da qual o Papa, com o seu exemplo, é um grande incentivador.
– Sobre a sua falta de diálogo com os leigos mostrando-se autoritário em suas decisões, desrespeitando Conselhos Paroquiais e Diocesanos.
O Ano Nacional do Laicato nos trouxe o Documento 105 da CNBB, onde os Bispos do Brasil afirmam que “o cristão leigo é verdadeiro sujeito eclesial mediante sua dignidade de batizado, vivendo fielmente sua condição de filho de Deus na fé, aberto ao diálogo, à colaboração e à corresponsabilidade com os pastores. Como sujeito eclesial, assume seus direitos e deveres na Igreja, sem cair no fechamento ou na indiferença, sem submissão servil nem contestação ideológica” (Doc. 105 -n. 119).
Os Conselhos Pastorais decorrem da eclesiologia de comunhão, fundamentada na Santíssima Trindade. São organismos de participação e corresponsabilidade (CNBB, Doc. 100, n. 290). A ausência de Conselhos Pastorais é reflexo da centralização e do clericalismo (Doc. 105-CNBB).
– Percebemos a sua imensa dedicação na construção de bens materiais como a Cúria Diocesana em detrimento da construção amorosa das relações fraternas com o seu povo, com os padres da sua Diocese, em detrimento mesmo da sua preocupação com o ser humano em sua integralidade física, psíquica, espiritual.
O Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica “Evangelli Gaudium”, nos fala de uma evangelização com espírito, ou seja, uma evangelização com o Espírito Santo já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora, e isso é muito diferente de um conjunto de tarefas vividas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou suporta (EG 261).
O Papa fala ainda do prazer espiritual de ser povo. Ele diz que “para ser evangelizador com espírito é preciso desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas. A missão é uma paixão por Jesus, e simultaneamente uma paixão pelo seu povo. Jesus toma-nos do meio do povo e envia-nos ao povo, de tal modo que a nossa identidade não se compreende sem esta pertença” (EG 268).
– Sentimos que nossas comunidades estão sendo lesadas, porque suas necessidades próprias estão sendo colocadas em segundo plano para cobrir os gastos referentes à cúria diocesana.
– No quesito formação dos novos presbíteros, não percebemos uma seleção dos candidatos ingressos, inclusive temos conhecimento de que a vossa senhoria permitiu a entrada de candidatos que já foram dispensados de seminários de outras dioceses por problemas de comportamento moral.
– Ainda referente à formação dos novos padres em quase 11(onze) anos de seu episcopado tivemos 7(sete) reitores no seminário maior, por isso a grande pergunta é: qual é o projeto de formação diocesana dos novos padres?
– Nos chama muito a atenção a sua preferência por determinadas paróquias onde o senhor sempre se faz presente, em detrimento da sua ausência nas demais indo apenas para crisma e não se confraternizando com o povo. Referimos ainda sua pouca vontade, sua frieza nas suas reflexões sobre o evangelho, sempre lidas, mostrando desinteresse e desconhecimento da realidade do seu povo diocesano.
O Papa Francisco fala: “O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo (EG 143). Um pregador que não se prepara não é “espiritual”: é desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu.” (EG 145)
– Manifestamos também aqui nesta carta aberta sua falta de atenção, apoio, escuta para com os padres de sua diocese. Percebemos em sua grande maioria um descontentamento com o seu episcopado, com a sua falta de proximidade paternal. Notamos inclusive sua seletividade ou acepção na proximidade e atenção com alguns padres.
O Papa diz: “O próprio Senhor Jesus é o modelo da opção evangelizadora com espírito, que nos introduz no coração do povo. Jesus é o modelo de quem partilha a vida com todos, sem distinção, de quem ouve suas preocupações, colabora material e espiritualmente nas suas necessidades, se alegrando com quem está alegre e chorando com quem chora.” (EG 269)
– Notícias correntes em toda a diocese dão conta que o senhor se ausenta de compromissos da diocese enquanto se encontra em sua residência na praia. Inclusive, no mês de dezembro, o senhor deixou de participar da celebração dos 50 anos de sacerdócio de um dos padres da sua Diocese porque se encontrava em sua casa na praia, sendo que na celebração estavam presentes Bispos de outras Dioceses e padres.
O Papa diz: “Jesus espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros” (EG 270)
– Quanto às transferências de Padres, nos causa grande espanto e descontentamento a sua falta de sensibilidade para com os sentimentos e necessidades do povo de Deus e dos próprios padres, uma vez que essas transferências são feitas de forma arbitrária, sem diálogo, sem respeitar os projetos pastorais das paróquias e sem ouvir os Conselhos de Pastoral das Comunidades. Além disso, elas ocorrem sempre na época do Natal, causando insatisfação e tristeza quando deveríamos celebrar com alegria.
– Sentimos que em toda a Diocese de Limeira há uma enorme preocupação dos leigos com relação à criação de tantas novas paróquias, quase que sem estruturas mínimas para se sustentar, quando já está quase insustentável a manutenção das existentes. A nós leigos, isso sugere mais uma forma de arrecadação financeira.
– Diante de tantos escândalos na área política do país, pelo uso indevido dos bens públicos, esta obscuridade nas contas diocesanas nos levam a um questionamento do uso do dinheiro dos fiéis, que mesmo em tempos de crise no país, não deixam de contribuir fielmente com suas paróquias.
Reiteramos nosso respeito ao Bispo Diocesano e nosso amor à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Leigos e leigas da Diocese de Limeira.
“Meu filho, não despreze a correção do Senhor e não perca o ânimo quando for repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho.” (Hebreus 12, 5-6).”
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bunkerblogwebradio · 3 years ago
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Liberdade e guerra
Em seu livro A Anatomia do Estado, Murray Rothbard escreveu:
Assim como as duas interrelações humanas básicas e mutuamente exclusivas são a cooperação pacífica ou a exploração coerciva — produção ou depredação —, a história da humanidade, em particular a sua história econômica, também pode ser considerada uma disputa entre estes dois princípios.
Essa disputa tem sido unilateral. No mundo antigo, impérios dominavam a vida política. Sistemas impiedosos baseados na escravidão, no roubo e na guerra eram a regra ao redor do mundo.
Uma exceção, em um território rodeado por impérios desse tipo, eram as tribos de Israel. Mesmo alertados pelo próprio Deus sobre a miséria que enfrentariam caso renunciassem voluntariamente à liberdade que gozavam sob o regime descentralizado dos juízes em favor de um rei terreno que os governasse, eles clamaram pela própria escravização.
É instrutivo que a recompensa que os israelitas julgavam justa, não obstante seu alto preço, fosse a de ter um rei que os liderasse em batalha. Tendo Saul como rei, Israel não mais desfrutou de períodos de paz como quando sob a liderança dos juízes; esteve constantemente em guerra.
Como Samuel havia alertado, Saul tomou seus filhos como soldados, suas filhas e seus empregados como escravos, suas melhores terras, suas colheitas e seus rebanhos, assim reduzindo os israelitas à servidão.[1]
Os israelitas não seriam o último povo a sucumbir ao canto de sereia da guerra. A respeito da importância da guerra como um instrumento para o engrandecimento do poder do estado em sua disputa contra a liberdade, Rothbard escreveu:
Em uma guerra, o poder do estado é levado ao extremo, e sob os slogans da "defesa" e da "emergência", ele pode impor uma tirania ao público que, em tempos de paz, enfrentaria franca e aberta resistência. Desta forma, a guerra provê muitos benefícios a um estado e, de fato, todas as guerras modernas trouxeram aos povos envolvidos um permanente legado de maiores encargos estatais sobre a sociedade.
A guerra não apenas amplia enormemente as transferências de riqueza da sociedade para o estado para que este fortaleça seu regime, como também promove a ideologia pró-estado.
Como o estado vive parasiticamente da produção de seus hospedeiros, aqueles que se beneficiam destas transferências de riqueza devem ser sempre uma minoria da população. As vítimas do estado têm de ser a maioria e, portanto, sua aceitação da depredação promovida pelo estado deve ser cuidadosamente engendrada, caso contrário será o fim desse mesmo estado.
A legitimidade do estado deve ser fabricada e mantida por meio da ideologia. Do despotismo oriental à hegemonia americana, o estado nunca falhou em atrair, com seu poder e riqueza, aqueles que se esforçassem para criar sua apologia.
Mas mesmo toda a litania de alegações — que nossos governantes são sábios e seus governos são beneficentes, que nossos governantes nos protegem de perigos terríveis, que nossos governantes mantêm a coesão social, que nossos governantes preservam a tradição gloriosa de nossos ancestrais, que nossos governantes incorporam os interesses da sociedade, que nossos governantes são designados por Deus, que nossos governantes trazem ciência e razão à sociedade, que nossos governantes são capazes de controlar a economia e assim por diante — nunca conseguiu explicar como é possível transformar hegemonia em associação voluntária, tributação em oferenda espontânea, coerção em liberdade de escolha, homicídio em massa em defesa, regulação econômica em prosperidade e enriquecimento de todos.
Se o estado é a fonte de onde jorram todas as benesses sociais, então por que seus apologistas estão sempre tentando fortalecer seu poder instigando um sentimento de culpa nos bem-sucedidos e de inveja nos mal-sucedidos?
Nós libertários conseguimos ver através das mentiras e dos sofismas da ideologia pró-estado porque soubemos aceitar a verdade promovida por aqueles que sempre defenderam a liberdade. Extrapolando da nossa experiência, podemos ver que a ideologia anti-estado é condição necessária para se estabelecer e manter a liberdade. As vantagens que ela tem sobre a ideologia pró-estado são que, primeiro, ela recorre aos interesses da maioria, e segundo, ela se apóia na verdade a respeito da natureza da ação humana.
Ao passo que a liberdade é consistente com a ação humana, o estado está fundamentado em uma flagrante contradição, a saber: a ideia de que a única maneira de haver uma instituição que proteja nossos direitos é criando uma instituição que se baseie totalmente na própria violação dos nossos direitos.
Os antigos israelitas seguiam uma ideologia que possuía muitas das qualidades necessárias para manter o poder estatal restringido, como, por exemplo, uma lei superior à qual todo homem estava sujeito, e um sistema de governo descentralizado. Por algumas gerações, os reis de Israel foram um tanto quanto contidos pela lei superior. Mas à medida que a perversidade dos reis posteriores foi aumentando, a lei superior foi sendo finalmente abandonada, até que as liberdades dos israelitas foram extintas.[2]
Levaria muitos séculos para que o mundo testemunhasse outra faísca de liberdade. Ela foi acesa sob Sólon, em Atenas, e sua brasa brilhou mais vivamente durante o reinado de Péricles. Mas a liberdade durou somente enquanto Péricles e sua geração estiveram vivos.
De acordo com Lord Acton, o sistema ateniense não foi capaz de proteger as minorias e de colocar o estado sob o domínio da lei. A democracia de Atenas, no final, levou ao conflito de classes, o que destruiu o sistema. A Guerra do Peloponeso extinguiu tanto Péricles quanto a chama da liberdade ateniense.[3]
Em Roma, os estóicos redescobriram o conceito de lei superior à qual todos os homens estão sujeitos. Em sua maior formulação, nas mãos de Cícero, Sêneca e Fílon, os estóicos afirmaram que há uma comunidade universal dos filhos de Deus e que Sua voz deveria ser obedecida. A liberdade seria alcançada por meio da obediência das leis naturais de Deus. Com uma ideologia melhor que a dos gregos, a nova batalha pela liberdade durou bem mais em Roma do que em Atenas. Mas ela nunca atingiu na prática as elevadas expressões alcançadas na teoria.[4]
Como Acton escreveu,
Indivíduos e famílias, associações e dependências eram material mais do que suficiente para o poder soberano consumir para seus próprios objetivos. O que o escravo era nas mãos de seu mestre, o cidadão era nas mãos da comunidade. As mais sagradas obrigações desapareceram ante as vantagens públicas. Os passageiros existiam para sustentar o navio.[5]
No auge de seu poder, antes que as guerras do império abortassem sua liberdade e prosperidade embrionárias, Roma encontrou uma esperança de liberdade nos homens livres das comunidades teutônicas. Quando seus líderes foram convertidos ao cristianismo, eles converteram seu povo. Após a queda de Roma, seus governos descentralizados persistiram uma vez que a Igreja resistia à centralização do poder estatal, permitindo um longo período de incubação para o nascimento da liberdade.[6]
A vez da liberdade chegou durante o século X, quando os escandinavos interromperam suas invasões agressivas à Europa e passaram a praticar o livre comércio de forma pacífica.
No século seguinte, o Mediterrâneo estava seguro para a navegação europeia. Veneza e as cidades do norte da Itália prosperaram expandindo suas rotas comerciais e levando a divisão do trabalho às cidades do interior. As cidades hanseáticas fizeram o mesmo no norte da Europa. Como escreveu Henri Pirenne, a Europa tornou-se uma região de cidades construídas pelo capital.[7]
O florescimento do comércio na Europa foi fortalecido pelo desenvolvimento de uma ideologia pró-liberdade, elevada a um apogeu inédito pela doutrina cristã do indivíduo. O próprio Deus havia encarnado e vivido como um homem. Jesus Cristo sofreu e morreu para assegurar a salvação de cada indivíduo. No Céu, Deus glorificará cada pessoa com um corpo espiritual para viver em comunhão com Ele e com o próximo. Nações prosperam e entram em decadência, mas o indivíduo viverá pela eternidade.
Como mostrou Harold Berman, no século XI, a Igreja reformulou o direito canônico em linhas mais favoráveis à propriedade privada e ao contrato. A lei canônica funcionou como um fermento para os diferentes sistemas legais, tanto o civil quanto o comercial.[8]
Berman escreveu:
Talvez a característica mais distintiva da tradição legal ocidental seja a coexistência e a competição dentro da mesma comunidade de jurisdições diferentes e de sistemas legais diferentes. É essa pluralidade de jurisdições e sistemas legais que torna a supremacia da lei necessária e possível.
O pluralismo legal originou-se na diferenciação entre o governo eclesiástico e os governos seculares. A Igreja declarou sua independência do controle secular, sua jurisdição exclusiva em determinados assuntos, e sua jurisdição concorrente em outros assuntos ... A lei secular, por sua vez, estava dividida em vários tipos concorrentes, incluindo a lei real, a lei feudal, a lei senhorial, a lei urbana, e a lei comercial.[9]
Na medida em que a proteção legal da propriedade privada ia sendo lenta mas decisivamente ampliada da Igreja e dos mercadores para qualquer indivíduo, o progresso econômico foi levado às massas. A pequena revolução industrial, engendrada pela proteção da propriedade privada e dos contratos, atraiu a atenção de estudiosos que queriam explicar o funcionamento da economia florescente.
Jean Buridan e Nicolas de Oresme escreveram trabalhos no século XIV explicando a atividade econômica tendo como moldura a sociedade como uma ordem natural surgida do funcionamento das leis que Deus imprimiu à natureza das coisas. A lei natural também formou a base para leis feitas pelo homem na alta Idade Média. Como Berman escreveu:
Na era formativa da tradição jurídica ocidental, a teoria da lei natural predominou. Era consenso geral que o direito humano, em última análise, derivava, e deveria ser aprovado, pela razão e pela consciência. De acordo não apenas com a filosofia do direito da época, mas também com o próprio direito positivo, qualquer lei positiva, fosse ela editada ou baseada em costumes, deveria estar em conformidade com a lei natural, caso contrário ela careceria de validade como lei e poderia ser ignorada.
Esta teoria era baseada tanto na teologia cristã quanto na filosofia aristotélica. Mas ela também estava baseada na história da luta entre autoridades eclesiásticas e seculares, e na política do pluralismo.[10]
Quando irrompiam guerras no contexto desta ideologia cristã pró-liberdade, elas meramente desaceleravam, em vez de interromperem por completo, o ímpeto da liberdade. A Guerra dos Cem Anos veio para consolidar o poder estatal e fomentar a ideologia pró-estado. As forças reacionárias eram fortes o bastante para inaugurar a era do absolutismo monárquico. A ascensão do estado-nação começou a ameaçar a liberdade no Ocidente como até então nada havia ameaçado antes, desde o poder estatal de Roma.
Assim como autores mercantilistas vocalizavam a ideologia pró-estado nos séculos XVI e XVII, os pós-escolásticos revidavam com suas visões pró-liberdade.
A Escola de Salamanca desenvolveu uma visão sobre política e economia fundada na lei natural. O fundador da escola, Francisco de Vitória, argumentou que todos os indivíduos merecem a mesma proteção legal para suas pessoas e para suas propriedades. Como Tom Woods escreveu:
Vitória afirmou que o homem não podia ser privado da sua capacidade civil por estar em pecado mortal, e que o direito de possuir coisas para uso próprio (isto é, o direito à propriedade privada) pertencia a todos os homens, mesmo que fossem pagãos ou tivessem costumes considerados bárbaros. Os índios do Novo Mundo eram, portanto, iguais aos espanhóis em matéria de direitos naturais. Possuíam as suas terras de acordo com os mesmos princípios pelos quais os espanhóis possuíam as deles.[11]
A visão da lei natural dos escolásticos foi elevada por Hugo Grócio em sua obra sobre o direito internacional no século XVII, e a ideologia pró-liberdade foi posteriormente refinada nas obras sobre direitos naturais de Locke e Jefferson nos séculos XVII e XVIII.
A América provou ser terreno fértil para a ressurreição da liberdade. O poder estatal não foi capaz de reprimir as tendências de pessoas possuidoras de uma ideologia pró-liberdade de viverem respeitando a propriedade privada e os contratos, no território aberto e nos governos descentralizados da América do Norte colonial. Estados-nações tiveram de se contentar com limitações ao seu poder diante das possibilidades que suas vítimas tinham de escapar de suas depredações.
Durante o seu apogeu no século XIX, o liberalismo clássico espalhou os frutos da liberdade, da paz, da prosperidade e da prosperidade humana. Mas a ideologia pró-liberdade refinada pelos liberais clássicos não estava livre de impurezas.  Seu defeito fatal estava patente na centralização do poder estatal através da constituição americana, que impunha um formato de estado-nação sobre o sistema de governos descentralizados dos 13 estados. Como Hans-Hermann Hoppe escreveu,
A filosofia política liberal clássica — como personificada por Locke e mais proeminentemente demonstrada na Declaração de Independência de Jefferson — era antes e acima de tudo uma doutrina moral.
Inspirada na filosofia dos estóicos e dos pós-escolásticos, ela estava centrada ao redor das noções de soberania do indivíduo, apropriação original de recursos naturais (sem dono), na propriedade e no contrato como sendo um direito humano universal implícito na natureza do homem enquanto animal racional. No ambiente de governantes monárquicos (reis e príncipes), esta ênfase na universalidade dos direitos humanos colocou a filosofia liberal em radical oposição a todo e qualquer governo estabelecido.
Para um liberal, todo homem, rei ou aldeão estava sujeito aos mesmos princípios universais e eternos de justiça. E um governo, ou ele conseguia justificar sua existência como sendo um contrato entre proprietários privados, ou ele não poderia ser justificado de forma alguma.[12]
Tragicamente, da genuína proposição de que uma ordem social liberal requer que seus membros utilizem violência defensiva para suprimir a agressão contra a pessoa e a propriedade, liberais clássicos incorretamente concluíram que deveria haver um provedor monopolístico dessa violência defensiva.
De acordo com a visão de que o estado é essencial para uma ordem social liberal, os liberais clássicos permitiram que o poder estatal mantivesse um ponto de apoio que ele mais uma vez utilizaria para atacar a liberdade.
Esse momento veio em 1914. Como Rothbard escreveu,
Mais do que qualquer outro período, a Primeira Guerra Mundial foi o crítico divisor de águas para o sistema empresarial americano. A economia transformou-se em um "coletivismo de guerra", uma economia totalmente planejada e conduzida amplamente pelos interesses dos grandes negócios e por meio da intervenção do governo central, o qual serviu como o modelo, o precedente e a inspiração para o capitalismo corporativo de estado pelo restante do século XX.[13]
Como um prelúdio para a sua destruição na Grande Guerra, a ideologia pró-estado havia desferido um ataque frontal à liberdade no século XIX. Hunt Tooley registrou a função das ideologias no ímpeto à guerra em seu livro The Western Front.[14] Como Ralph Raico observou[15] em sua crítica ao livro de Tooley:
Tooley lida habilmente com as correntes intelectuais e culturais da Europa pré-guerra. Contribuindo para a propensão à violência havia o anarco-sindicalismo de Georges Sorel e uma forma degenerada de nietzscheanismo; porém, acima de tudo, havia o darwinismo social — na realidade, somente Darwinismo —, que ensinava o conflito eterno entre raças e tribos de humanos e de outras espécies.
Mesmo na América, a ideologia pró-estado havia conseguido degenerar o pensamento cristão durante a Era Progressista, despindo-o de sua forma pró-liberdade.
Richard Gamble documenta esta degeneração em seu livro The War for Righteousness.[16]  Como Raico escreveu em sua crítica ao livro de Gamble,
Ao final do século XIX, protestantes progressistas, frequentemente influenciados pela Teoria da Evolução, estavam pregando pela transformação sucessiva da igreja, depois da sociedade americana, e finalmente do mundo todo. Ao rejeitarem o calvinismo tradicional, eles rejeitaram também a distinção agostiniana entre a Cidade de Deus e a Cidade do Homem.
A Cidade do Homem deveria ser transformada na Cidade de Deus, aqui na Terra, por meio de uma alteração do cristianismo, o qual deveria ser redefinido como uma doutrina socialmente ativista.[17]
A Grande Guerra liberou as forças coletivistas do socialismo e do fascismo ao longo de todo o mundo ocidental. Como Raico escreveu,
A Primeira Guerra Mundial foi o ponto de inflexão do século XX. Se ela não houvesse ocorrido, os Hohenzollern da Prússia muito provavelmente permaneceriam como chefes da Alemanha, com seu arsenal de reis e nobres subordinados encarregados dos estados germânicos menores.
Com qualquer vitória que Hitler pudesse ter obtido nas eleições do Reichstag, poderia ele ter erigido sua ditadura totalitária e homicida em meio a esta poderosa superestrutura aristocrática? Altamente improvável.
Na Rússia, os poucos milhares de comunistas de Lênin confrontaram o imenso exército imperial russo, o maior do mundo. Para que Lênin tivesse qualquer chance de sucesso, aquele exército deveria ser antes pulverizado, que foi exatamente o que os alemães fizeram. Portanto, um século XX sem nazistas ou comunistas. Imagine isso.
Foi o ponto de inflexão na história da nação americana, que sob a liderança de Woodrow Wilson transformou-se em algo radicalmente diferente do que havia sido antes.[18]
Em nenhum outro lugar a transformação radical foi mais evidente do que no direito. A tapeçaria legal do Ocidente, tecida por mais de um milênio, foi esgarçada e fendida na Primeira Grande Guerra. Harold Berman escreveu,
Quando os diferentes regimes legais de todas essas comunidades — locais, regionais, nacionais, étnicas, profissionais, políticas, intelectuais, espirituais, e outras — são engolidos pela legislação do estado-nação ... [isso] é, de fato, o maior perigo representado pelo nacionalismo contemporâneo.
As nações da Europa, que se originaram de sua interação umas com as outras no contexto da cristandade ocidental, tornaram-se cada vez mais separadas entre si no século XIX. Com a Primeira Guerra Mundial, elas se separaram violentamente e destruíram os laços comuns que as haviam mantido previamente ligadas, ainda que frouxamente.
E, no final do século XX, ainda sofremos com a historiografia nacionalista originada no século XIX, que apoiou a desintegração do patrimônio legal comum ao Ocidente.[19]
Mesmo na terra onde a liberdade ardia com maior brilho, a guerra provou ser uma força potente para o retrocesso. Como Rothbard escreveu:
Historiadores têm geralmente tratado o planejamento econômico da Primeira Guerra Mundial como um episódio isolado, ditado pelas necessidades da época, e tendo pequena significância posterior. Mas, ao contrário, o coletivismo de guerra serviu como uma inspiração e um modelo para um temível conjunto de forças destinadas a moldar a história da América no século XX.[20]
A Primeira Guerra Mundial destruiu a economia mundial que havia sido construída durante o século XIX sob o liberalismo clássico. Como Maurice Obstfeld e Alan Taylor demonstraram em seu livro Global Capital Markets: Integration, Crisis, and Growth, o nível de integração da economia mundial subiu de moderadamente baixo em 1860 para moderadamente alto em 1914.
A Grande Guerra desintegrou a economia mundial, retornando-a a um nível substantivamente abaixo daquele vigente em 1860. E, ao final da Segunda Guerra Mundial (que foi uma continuação da Primeira Guerra Mundial), o nível de integração era metade do nível de 1860. O nível de integração da economia mundial só foi superar aquele de 1914 no século XXI.[21]
Os governos levaram 70 anos para realizar aquilo que a liberdade fez em questão de dias.
A Grande Guerra destruiu o padrão-ouro clássico e introduziu uma era de moedas fiduciárias de papel. Hiperinflações e depressões foram o resultado. Como Steve Hanke e Nicholas Krus documentaram, dos 56 episódios de hiperinflação da história apenas um ocorreu antes de 1920.[22]
E como George Selgin, William Lapstras e Lawrence White demonstraram, os cem anos de política monetária do Federal Reserve resultaram em mais instabilidade econômica e financeira do que o menos insolvente sistema bancário americano existente antes de o Fed ser criado.[23]
A Grande Guerra aniquilou o mundo liberal clássico e iniciou um século de ascensão do estado coletivista. A civilização ocidental, tendo dado à luz a liberdade e a alimentado, sacrificou sua cria antes que ela tivesse tido a oportunidade de atingir a maturidade ao redor do mundo.
Em vez de liberdade, a hegemonia americana espalhou o corporativismo pelos quatro cantos da Terra.
Como nós, nossos predecessores trabalharam para divulgar a ideologia pró-liberdade durante dias negros, quando a liberdade havia sido eclipsada pelo poder estatal. Sua estratégia envolvia a criação de instituições independentes.
Christopher Dawson, em seu livro The Crisis of Western Education, demonstrou que os movimentos intelectuais da Renascença e do Iluminismo se desenvolveram ao largo do estado. Dawson escreveu:
Na Inglaterra e nos Estados Unidos, a tradicional relação entre a igreja, a escola e o sistema medieval de independência corporativa conseguiu sobreviver, não obstante os ataques de reformadores políticos e educacionais.
Os abusos do antigo sistema e a negligência da educação primária certamente não eram menos flagrantes na Inglaterra do que no continente europeu.
Mas a força do princípio do livre-arbítrio e a ausência de um estado autoritário fizeram com que o movimento reformista na Inglaterra seguisse um caminho independente e criasse suas próprias organizações e instituições.[24]
Para restaurar a liberdade em nossa era, devemos erigir empreendimentos genuinamente privados e instituições educacionais independentes. Por meio de organizações como o Instituto Mises, podemos fazer a nossa parte no século XXI para reverter essa maré do estatismo coletivista que se ergueu no século XX, exatamente como nossos predecessores fizeram ao reverter o absolutismo no século XVIII. Não devemos repetir seus erros.
Desta vez, nossa ideologia pró-liberdade deve abraçar suas implicações lógicas e rejeitar completamente a ideia de estado. Somente assim pode todo o potencial da vida, da liberdade e da propriedade ser concretizado na prosperidade de toda a raça humana.
[1] I Samuel 8.
[2] I Reis e II Reis.
[3] Lord Acton, Essays in the History of Liberty, Vol. 1, (Indianapolis: Liberty Classics, 1985), pp. 12-13.
[4] Acton, Essays in the History of Liberty, pp. 24-25.
[5] Acton, Essays in the History of Liberty, p. 18.
[6] Acton, Essays in the History of Liberty, pp. 30-33.
[7] Henri Pirenne, Medieval Cities (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1925); idem, Economic and Social History of Medieval Europe (London: Routledge, 1936); and Acton, Essays in the History of Liberty, pp. 35-36.
[8] Harold Berman, Law and Revolution (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1983).
[9] Berman, Law and Revolution, p. 10.
[10] Berman, Law and Revolution, p. 12.
[11] Tom Woods, Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (São Paulo: Quadrante, 2010),
[12] Hans Hoppe, Democracy, the God that Failed (New Brunswick, N.J.: Transaction Publishers, 2001), p. 225.
[13] Murray Rothbar, War Collectivism: Power, Business, and the Intellectual Class in World War I (Auburn, Ala.: Mises Institute, 2012), p. 7.
[14] Hunt Tooley, The Western Front: Battle Ground and Home Front in the First World War (New York: Palgrave McMillan, 2003).
[15] Ralph Raico, Great Wars and Great Leaders: A Libertarian Rebuttal (Auburn, Ala.: Mises Institute, 2010), p. 230.
[16] Richard Gamble, The War for Righteousness: Progressive Christianity, the Great War, and the Rise of the Messianic Nation (Wilmington, Del.: ISI Press, 2003).
[17] Raico, Great Wars and Great Leaders, p. 193. Itálicos no original.
[18] Raico, Great Wars and Great Leaders, pp. 1-2.
[19] Berman, Law and Revolution, p. 17.
[20] Rothbard, War Collectivism, pp. 34.
[21] Maurice Obstfeld and Alan Taylor, Global Capital Markets: Integration, Crisis, and Growth (Cambridge: Cambridge University Press, 2004).
[22] Steve Hanke and Nicholas Krus, "World Hyperinflations," Cato Working Paper (Washington: Cato Institute, 2012). A exceção foi na França, durante a Revolução, em 1795.
[23] George Selgin, William Lastrapes, and Lawrence White, "Has the Fed Been a Failure?" Cato Working Papers (Washington: Cato Institute, 2010).
[24] Christopher Dawson, The Crisis of Western Education (Steubenville, Oh.: Franciscan Press, 1989), p. 67.
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blogdajo · 4 years ago
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Estilo adoração "parte 2"
ADORAÇÃO: UM ESTILO DE VIDA
Adoração: Um estilo de vida
 
“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e verdade”. João 4.23,24.
Por muitos anos tenho aprendido e ensinado sobre adoração e, cada vez mais, reconheço que esse é um assunto sobre o qual o Espírito de Deus precisa nos ensinar muito mais. Desde o início de meu ministério me deparei com essas palavras de Jesus. O Espírito Santo abriu meu coração para buscar um entendimento mais amplo dessa verdade. Tenho um profundo desejo de vivê-la, pois, Jesus afirmou que é exatamente isso que o coração do Pai procura.
Entendo que Deus não busca adoração, pois, dela o céu está repleto. Compreendo, pela Palavra, que Deus procura adoradores mais que adoração e que eles o façam em espírito e verdade.
Este artigo não pretende ser um tratado completo sobre esse assunto. Mas, sim, uma reflexão de um coração que a cada dia diz ao Pai: “Eis-me aqui Senhor, quero ser um entre os adoradores que procuras. Quero ser encontrado por Ti, ó Pai, no meu viver, no meu lar, no meu ministério, dia após dia, onde eu estiver; e que tu possa contar comigo como teu adorador”.
Quero, com todo o amor, projetar aos que trabalham nessa área da vida da igreja a minha experiência como adorador, músico, compositor e produtor. Será a palavra de quem, por muitos anos, tem participado nesse setor da vida da igreja local como na extra local. Palavra dirigida a todos aqueles que servem a Deus nesse campo, buscando ajudar aos que procuram, como eu, serem verdadeiros adoradores.
A Semente
Desde pequeno cresci em uma congregação evangélica, onde aprendi que a adoração a Deus era uma forma diferente de se cantar. Quando nos reunimos nos cultos havia um tempo inicial dedicado ao cântico de “corinhos de adoração”, visando preencher o espaço em que as pessoas chegavam e se preparavam para participar do encontro. Durante o culto os hinos eram cantados pelo hinário, os testemunhos eram apresentados e a Palavra era ministrada. Assim, por muito tempo, o conceito que eu possuía de adoração limitava-se ao que fazíamos nos momentos  que antecediam ao culto.
Assim como eu, muitas pessoas devem ter recebido esse ou outros conceitos não corretos de adoração, levando-as a um enfoca a adoração como uma forma, um estilo, ou um espaço de tempo a ser preenchido.
Para muitas pessoas adorar é um ato contemplativo que busca uma aproximação maior a Deus. Era, assim, que os monges medievais compreendiam. Uma contemplação de Deus, feita na vida reclusa que levavam, em total separação do mundo exterior. Assim, passavam grande parte de suas vidas em celas solitárias, confinados em clausuras, contemplando e adorando a Deus. Não digo que tais conceitos estejam de todo errados, porém afirmo que adoração é algo que vai muito além de formas ou expressões estereotipadas, pré-determinadas pelo tempo, espaço e estilo.
Tudo isso, entretanto, expressa uma grande verdade, a adoração começa com a busca que um ser humano faz para estar diante do Deus Criador. Adoração é fruto de uma “semente” que Deus plantou no coração do homem ao criá-lo (Gênesis 1.26,27). Antes que o diabo plantasse a semente do joio da rebelião e da desobediência, Deus já semeara a sua preciosa semente – sua imagem e semelhança – ao soprar-lhe o fôlego de vida (Gênesis 2.7). É a presença dessa semente divina que leva o homem a buscá-lo. Em cada pessoa que nasce a semente se faz presente e a acompanhará por toda a sua vida. Desde as mais longínquas civilizações que temos conhecimento, o homem, de diferentes formas, buscou a Deus, até mesmo não tendo noção das dimensões do que fazia. Ao estudarmos qualquer uma das culturas da humanidade veremos que existiu, em todas, uma centralização na busca do divino, do desconhecido, do sobrenatural, da razão de existir, do santo e do ser. Quando um nativo se prostra diante do sol, em seu interior há uma procura de Deus. Quando os pagãos fazem seus sacrifícios a diferentes divindades e entidades, revela-se uma busca incessante daquele que o criou.
O diabo sabendo da existência dessa semente procurou fazer com que o homem se satisfizesse com mentiras e ilusões. Assim ele quer, nas mais diferentes seitas e religiões, transferir o poder de Deus para distintos espíritos enganadores. Ele tenta anular o poder do sangue de Cristo usando o sangue de animais e de aves. Entretanto, nada disso, nem mesmo outros sofismas demoníacos podem anular, substituir ou satisfazer a “semente” que está na pessoa humana. Nem mesmo qualquer ídolo moderno como o dinheiro, conforto, lazer e prazeres poderão fazê-lo.
Em Efésios 1.5,12,14 há a afirmação de que o homem foi criado para glória de Deus. Deduzimos, assim, que o homem foi formado para ser um adorador do Deus vivo, único e verdadeiro, que o criou. O homem vive para ter comunhão com o Deus, eterno e único. A “semente” pode estar nele adormecida, mas não lhe poderá ser tirada.
A adoração se expressa através de nós quando nos voltamos para Deus, reconhecendo o que ele é, o que ele representa para nós e, conseqüentemente, quando entregamos-lhe o que somos e o que temos, para que tudo redunde em glória ao seu nome.
 
O porquê da Adoração
O relato de Mateus 4.10 sobre a tentação de Jesus, apresenta a resposta de Jesus ao diabo: “ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto”. Jesus usou as palavras de Êxodo 20.4,5 onde se encontra a ordem de Deus ao povo de Israel de que, só a ele, deveriam adorar e prestar culto. A constante vontade de Satanás é roubar o que só a Deus é devido – a adoração e o louvor. Mesmo sabendo que fomos criados para o louvor e glória do Deus vivo [“a fim de sermos para louvor de sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo” – Efésios 1.12], o inimigo busca de todas as formas, deturpar o culto a Deus, limitando-o à formas e costumes, amoldando-o à cultura e aos padrões humanos, impedindo que se expresse o desejo do coração de Deus.
A adoração que Deus esperou do povo de Israel ele, agora, procura encontrar na vida da Igreja. Sutilmente, a idolatria com seus ídolos, em diferentes formas, infiltraram-se no culto da cristandade, corrompendo o entendimento dos líderes e do povo que lhe pertence.
Ao longo dos anos, tanto a forma de culto, tanto a pagã como a judaica, centralizou-se nos templos. A fé cristã lançou a noção de que os discípulos de Jesus são templos vivos, onde Deus habita. A Palavra declara: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Coríntios 3.16). Muitas vezes essa noção foi perdida, e o povo de Deus tornou-se dependente do sacerdócio daqueles que, comumente, são denominados: “ministros de louvor”. Com isso, perdeu-se a espontaneidade de cada pessoa adorar e louvar individualmente. Parece-nos que voltamos ao tempo em que, para haver adoração, era preciso ter locais próprios para isso, um sacerdócio especial, imagens e ídolos, intermediando o louvor a Deus. Perdeu-se a noção dada os remidos da “intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo o grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hebreus 10.19-22).
Hoje, o Pai está restaurando toda a verdade e, em especial uma viva vida de relacionamento dos seus filhos com ele. Assim, toda a intermediação está encerrada, pois, Jesus Cristo é o único intermediário entre os salvos e o Pai Salvador. Por todo o mundo está surgindo um novo culto de verdadeira adoração àquele que disse: “ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). Quando Jesus focaliza ao Pai, ele focaliza a si mesmo, pois ele disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9) e, também, focaliza o Espírito Santo – “o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome” (João 14.26). A Trindade Santa deve ser o único foco da verdadeira adoração.
Por diversas vezes já fiz a pergunta: porque devemos adorar a Deus? Essa pergunta invade o meu coração, pelo fato de entender que Deus é suficiente em si mesmo. Sua grandeza e majestade possuem o mais alto grau de expressão. Para Deus ser completo ele não necessita do que lhe possamos ofertar; ele não precisa de nossos sacrifícios de louvor e adoração para se rejubilar e se sentir feliz; ele não requer nosso amor para sentir-se amado, pois nele está a fonte do verdadeiro amor. “Deus é amor” define João (I João 4.16). Antes de nos criar, ele já existia em sua plenitude e era completo com o Filho e o Espírito Santo. Juntos participavam da plenitude eterna. Eis a razão de dizermos que o Pai não se preocupa com a adoração, mas, sim com os adoradores.
Para Deus ser completo não necessita do que lhe possamos ofertar; nem de nossos sacrifícios de louvor e adoração para ter alegria e sentir-se feliz; ele não precisa de expressões de amor para sentir-se amado, pois, ele é o próprio amor (I João 4.8). Antes de nos criar, ele já existia em sua plenitude e era completo com o Filho e com o Espírito Santo. Perfeitos em unidade eles participam de uma eterna plenitude. Juntos, são a plenitude em todas as coisas, inclusive de toda adoração, alegria e júbilo. Eis a razão de pensar de que o Pai não procura adoração, pois a adoração preenche todo o céu. O profeta Isaias diz: “eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia de sua glória” (Isaias 6.1-3).  Os céus estão repletos de adoração, Deus procura por filhos que o adorem.
Quando medito sobre isso, vem ao meu coração que, acima de tudo, existe algo na adoração que é de importância vital, não para Deus, mas, para os adoradores. E, se ele procura adoradores é porque o seu amor quer que as suas criaturas, na terra, participem de uma preciosa comunhão com o seu Criador. É a atitude da criatura, em seu livre arbítrio que determinará ser ou não um adorador. Deus nos deixou com essa opção. Ele que governa todas as coisas poderia ter feito o homem como um adorador nato, tal como os anjos são. Mas, assim não fez, porque quer uma adoração que parta, livre e espontaneamente, do coração humano.
Deus nos deixou a opção de adorar ou não adorá-lo. Ele que tem em suas mãos todo o governo poderia fazer com que toda a criação fosse de adoradores, tal como são os anjos no céu. Mas, ele não fez assim, deixou-a livre para fazer uma ou outra coisa. O adorador é aquele que faz uma opção por Deus, opta por Jesus como seu salvador e pelo seu reino; opta em ter uma livre comunhão com Deus, que não é imposta pela vontade divina, mas é uma livre opção de amor!  A parte de Deus sempre é perfeita e completa, seu amor é inquestionável, mas, ele espera uma atitude recíproca de nossa parte. A verdadeira adoração é uma opção do nosso amor abrindo-se ao amor de Deus!
Qual é nossa opção? Deus governa sobre todas as coisas, mas deixa-nos adorá-lo ou não. A atitude correta é amá-lo e adorá-lo! A adoração é algo que satisfaz e alegra o coração de Deus, mas beneficia também o adorador, pois esse, ao optar em agradar a Deus, cumpre a sua parte nesse enlace de amor. A adoração sempre emana do amor. É o amor que lhe dá conteúdo. E, como Deus quer ser amado por nós! O que dá eficácia à adoração é o amor. Ele dá conteúdo a nossa adoração e expressa, de forma bem clara, a aliança e o compromisso que temos para com Deus e o seu reino eterno.
Amar a Deus acima de tudo
“Eu amo o Senhor, força minha” (Salmo 18.1).
 
         O que deve caracterizar o adorador não é a sua maneira de cantar e louvar, mas, sim, o profundo amor para com Deus. O que mais me chama a atenção nas vidas de homens como Abraão, Davi, os profetas e os discípulos de Jesus, é o profundo amor que deles fluía para com Deus. No Salmo 18.1
 
Davi expressa: “Eu te amo, ó Senhor”. Jesus externou o seu incondicional amor ao Pai, através de um viver inteiramente voltado à obediência. O amor ao Pai enriqueceu sua vida de devoção, adoração, submissão e, principalmente, na obediência e sacrifício – “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4.34).
 
Quando falo sobre o amor, falo do amor “de Deus derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5.5), amor que nos leva a uma comunhão que nada deste mundo pode quebrar.
 
Paulo, em Romanos 8.35, faz uma pergunta:: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou a perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?”, e concluí nos versículo 38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem as alturas, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
 
Se esse amor está em nós, nosso coração transbordará em louvores.
 
Entendo que esse amor do qual Paulo fala é um amor sobrenatural, que é a expressão da presença do Pai que vive em nós. É esse amor que nos compele a amá-lo acima de todas as coisas. A prescrição de Moisés ao povo sob sua liderança foi: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus” (Deuteronômio 11.1).
 
É pela graça que, agora, nós podemos amar a Deus através do Espírito Santo. A minha constante pergunta é: O que é amar a Deus e, quanto eu o amo?” O nosso amor é provado quando passarmos por provações. Por exemplo: Quando não estamos bem financeiramente, isto interfere no nosso amor? Interferindo, então, precisamos rever os fundamentos nos quais edificamos o amor que dedicamos a nosso Pai Celestial.
 
Adoração é uma resposta dada ao constante amor de Deus por nós. Esse amor deve ser incondicional, tal como foi o amor de Abraão para com Deus, dispondo-se entregar, em um sacrifício, o seu próprio filho. Foi, assim, da mesma forma e com a mesma intensidade de amor para conosco, que Deus deu ao seu próprio Filho para nos substituir no holocausto da cruz
Texto; Asaph Borba
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musicoviniciusrodrigues · 5 years ago
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Idade Média: principais características
A Idade Média é conhecida como o período da história da Europa que vai de meados do século V até meados do século XV. Normalmente, são utilizados os marcadores temporais dos anos de 476 (Queda do Império Romano) e 1453 (Tomada de Constantinopla e Fim do Império Bizantino) para delimitar o período.
Mas não houve um acontecimento único que causou uma ruptura tão intensa que determinasse o início e o fim da Idade Média.
O que caracteriza a passagem do mundo antigo para o medieval e do mundo medieval para o mundo moderno são diversos fatores combinados ao longo do tempo, que modificam a lógica de organização política, o trabalho e as formas de organização social e cultural.
A Idade Média separa a Antiguidade e Renascimento (Foto: depositphotos)
Do mesmo modo, a divisão em Alta Idade Média compreendida entre os séculos V e X, e Baixa Idade Média, situada entre os séculos XI e XV, não é consenso entre historiadores, mas segue sendo utilizada por convenção e para fins didáticos.
Por que a Idade Média é conhecida como a Idade das Trevas?
O termo Idade Média foi criado por humanistas italianos entre os séculos XV e XVIII que presumiram viver em uma época nova, que nada tinha a ver com a sua antecessora. O período recebeu este nome por indicar a “idade do meio”, o tempo intermediário entre a Antiguidade e o Renascimento.
A conotação negativa que associa a Idade Média a uma Idade das Trevas também foi definida por pensadores da Idade Moderna, que pressupunham ter sido uma época de ascensão do sobrenatural, do misticismo e domínio da Igreja em oposição à racionalidade.
Os acontecimentos desses dez longos séculos parecem ter sido ilustrados com figuras mitológicas, fantasias, castelos, invasões bárbaras e perseguição religiosa. Ou seja, de acordo com esses pensadores, houve retrocessos científicos, culturais, artísticos, políticos e econômicos em relação à Antiguidade.
Historiadores e intelectuais do século XIX contestaram a imagem negativa do período, enfatizando o surgimento das primeiras universidades, renascimento comercial e urbano, a ascensão da arte gótica, a difusão do conhecimento por meio de monges copistas, a construção de meios para as navegações, entre muitos outros acontecimentos.
Alta Idade Média
Neste período, evidenciam-se os seguintes processos históricos: Reinos Bárbaros (destaque para os Germanos, Anglo-Saxões e Francos) , Expansão do Mundo Árabe, Mundo Bizantino e Feudalismo.
Baixa Idade Média
Neste período, destacam-se como principais processos históricos: Renascimento comercial e urbano, surgimento das primeiras universidades, Cruzadas, Inquisição, Peste Negra, Guerra dos Cem Anos, Crise do sistema feudal e Tomada de Constantinopla.
As principais características da Idade Média
A passagem do mundo antigo para o mundo medieval é marcada pela fragmentação do poder político, bem como pelo feudalismo, servidão e cristianização na esfera social e cultural.
A crise do escravismo do Império Romano estabeleceu transformações gradativas na sociedade, que traçam as principais características da Alta Idade Média: ruralização, que originou o feudalismo medieval, a rigidez social e a fragmentação do poder político, que intensificam as relações de dependência sociais, exercidas posteriormente pelas relações feudo-vassálicas.
Por fim, a cristianização e a consequente exacerbação religiosa que determinam toda a história da Idade Média. A Alta Idade Média se sintetiza nesta relação romano-bárbaro-cristianismo por quase toda sua extensão.
Trabalho e formas de organização social e cultural
Com a ascensão do feudalismo, surgiu uma forma de trabalho distinta durante a Idade Média, que alterou completamente a forma de organização social e cultural: a servidão. A sociedade feudal foi a resposta à uma necessidade de manter a estabilidade após uma forte fragmentação de reinos, no qual se concediam benefícios em forma de feudos.
O resultado foram inúmeros reinos, com seus suseranos, como forma de pacto de fidelidade, para se manter uma força guerreira estável no período. Os vassalos se apresentavam como camponeses que mantinham uma condição servil, trabalhando nas terras do feudo. Obviamente, esta não foi a única forma de trabalho da Idade Média, mas sim a que se distinguia à escravidão antiga.
O fim da Idade Média
Vitral com representação das Cruzadas católicas (Foto: depositphotos)
Inúmeras transformações na Europa durante toda a Baixa Idade Média contribuíram para que o sistema feudal entrasse em crise. O crescimento demográfico, o surgimento de cidades, o florescimento de comércio e rotas comerciais, inclusive a circulação de moedas, que foi impulsionado pelas Cruzadas, entre outros fatores, tornaram o modelo de feudos insuficiente para as demandas populacionais.
Resumo do conteúdo
Nesse texto você aprendeu que:
Não existe um fato histórico isolado que determina o início e o fim da Idade Média;
A periodização de Alta e Baixa Idade Média são utilizadas por convenção e para fins didáticos, e não por uma grande ruptura entre um período e outro;
O início da Idade Média foi um processo marcado pela crise do escravismo no Império Romano
A relação romano-bárbaro-cristianismo caracterizou as dinâmicas socioculturais durante toda a Alta Idade Média;
O aumento populacional e o renascimento comercial e urbano impulsionaram a crise do sistema feudal, determinando o fim da Idade Média;
A servidão é uma das formas de trabalho mais marcantes da Idade Média e se diferencia da escravidão antiga.
Exercícios resolvidos
01 – (FEI SP/2000) Sobre os conceitos de escravidão e de servidão, podemos afirmar:
I) São sinônimos e significam a submissão total de um indivíduo a outro. II) A escravidão implica na transformação da pessoa em bem, o que significa que ela pode ser vendida, comprada, alugada etc. Isso já não ocorre com o servo. III) A servidão existiu em toda a Europa durante o período medieval e, na Europa Oriental e na Rússia, sobreviveu até meados do século XIX.
a) apenas I está correta.
b) apenas I e II estão corretas.
c) apenas II e III estão corretas.
d) apenas III está correta.
e) apenas II está correta
02 – (ESPM/2014) O próprio Deus quis que entre os homens alguns fossem senhores e outros servos, de modo que os senhores veneram e amam a Deus, e que os servos amam e veneram o seu senhor, seguindo a palavra do apóstolo; servos, obedecei vossos senhores temporais com temor e apreensão; senhores, tratai vossos servos de acordo com a justiça e a equidade. (Marvin Perry. Civilização Ocidental: Uma História Concisa)
A partir da leitura do texto é possível assinalar que a respeito da ordem social feudal, o clero:
a) propugnava por uma sociedade dinâmica e de camponeses questionadores;
b) afirmava que os direitos e deveres das pessoas não dependiam de sua posição na ordem social;
c) rebatia a avaliação de que a vontade de Deus tivesse qualquer relação com a ordem social;
d) considerava que a sociedade funcionava bem quando todos aceitavam sua condição e desempenhavam o papel que lhes era atribuído;
e) era o maior interessado em questionar a ordem social injusta do feudalismo.
03 – (FUVEST SP/2001) A economia da Europa ocidental, durante o longo intervalo entre a crise do escravismo, no século III, e a cristalização do feudalismo, no século IX, foi marcada pela:
a) depressão, que atingiu todos os setores, provocando escassez permanente e fomes intermitentes.
b) expansão, que ficou restrita à agricultura, por causa do desaparecimento das cidades e do comércio.
c) estagnação, que só poupou a agricultura graças à existência de um numeroso campesinato livre.
d) prosperidade, que ficou restrita ao comércio e ao artesanato, insuficientes para resolver a crise agrária.
e) continuidade, que preservou os antigos sistemas de produção, impedindo as inovações tecnológicas.
04 – (UEPA/2001) “A desagregação do Império no Ocidente e o caos trazido pelas invasões permitiram à Igreja não só definir com maior clareza a sua doutrina, como especialmente ampliar e fortalecer as instituições já criadas”. ESPINOSA, Fernanda. Antologia de Textos Históricos Medievais. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1972. De acordo com o trecho acima, os fatores que contribuíram para o fortalecimento da Igreja foram o caos trazido pelas invasões e a desagregação do Império do Ocidente, isto porque:
a) se estabeleceu na Europa uma crise política, que levou a Igreja a ter o controle sobre o Estado e toda a sociedade.
b) a cada invasão o poder do imperador se fortalecia e dava segurança ao povo, que buscava na Igreja apenas o apoio espiritual.
c) com a queda do império do Ocidente, a sociedade romana se urbanizou, facilitando o processo de evangelização desenvolvido pela Igreja.
d) a situação política e social gerado pelo fim do império e as invasões criaram condições psicológicas para o fortalecimento do poder da Igreja.
e) o caos que se instalou no império do Ocidente estimulou a criação de comunidades cristãs que praticavam o comunismo primitivo, atraindo centenas de camponeses.
05 – (UNESP SP/2015) Observemos apenas que o sistema dos feudos, a feudalidade, não é, como se tem dito frequentemente, um fermento de destruição do poder. A feudalidade surge, ao contrário, para responder aos poderes vacantes. Forma a unidade de base de uma profunda reorganização dos sistemas de autoridade […]. (Jacques Le Goff. Em busca da Idade Média, 2008.)
Segundo o texto, o sistema de feudos:
a) representa a unificação nacional e assegura a imediata centralização do poder político.
b) deriva da falência dos grandes impérios da Antiguidade e oferece uma alternativa viável para a destruição dos poderes políticos.
c) impede a manifestação do poder real e elimina os resquícios autoritários herdados das monarquias antigas.
d) constitui um novo quadro de alianças e jogos políticos e assegura a formação de Estados unificados.
e) ocupa o espaço aberto pela ausência de poderes centralizados e permite a construção de uma nova ordem política.
Gabarito: 1C, 2D, 3A, 4D, 5E.
Referências
BLOCH, Marc. Introdução a História. Tradução de Maria Manuel Miguel e Rui Grácio.  2a. ed. Lisboa: Europa-América, 1974.
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Tradução José Rivair de Macedo. Bauru: Edusc, 2005.
Reflexões sobre a história. Lisboa: 70, 1986.
GOFF, Jacques le. Os intelectuais na Idade Média. Tradução Marcos de Castro. 2ª Edição. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2006.
LE GOFF, Jaques et all. A história nova. Trad. São Paulo; Martins Fontes, 1993.
OLIVEIRA, Terezinha. Considerações sobre o caráter histórico da Escolástica. In: Luzes sobre a Idade Média. Org. Terezinha Oliveira. Maringá: Eduem, 2002.
HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média: estudo sobre as formas de vida e de pensamento dos séculos XIV e XV na França e nos Países Baixos. Tradução de Francis Petra Janssen. São Paulo: CosacNaify 2010.
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naocontepramamae · 5 years ago
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O que é Liberalismo?
Por Pedro Doria, MEIO Edição de Sábado: Afinal, o que é Liberalismo? Três grandes ideologias disputaram o século 20. Três formas de entender Estado e sua relação com a sociedade e o país. As duas mais jovens chegaram ao século 21 feridas de morte. O marxismo é cria de um homem brilhante — um único homem. O fascismo é produto de uma época — um período curto ali entre os anos 1920 e 40 no qual um grupo pequeno de pessoas tentou criar um regime autocrático modernista. O terceiro é o liberalismo. Não é apenas um sobrevivente. Sua idade se conta em séculos a mais do que os outros. Em compensação, não pertence a um único pensador, tampouco a uma só época. Foi reinterpretado inúmeras vezes. É mal compreendido. Dependendo de em que sociedade, é visto como sendo de esquerda, de centro, ou de direita. O liberalismo é menos uma ideologia perfeitamente sistematizada e mais um repertório de ideias que parte de dois ou três princípios essenciais. Por isso mesmo, o próprio sentido da palavra é disputado. E, assim, dependendo de a quem se pergunte, liberalismo vai querer dizer coisas distintas. Porque é preciso fazer escolhas, esta edição do Meio segue o caminho traçado por Michael Freeden, professor emérito do Masfield College de Oxford, talvez o maior especialista britânico em ideologias. Mas, antes disto, não custa uma ilustração. Muitos liberais brasileiros tomariam um susto se lessem o obituário do economista John Maynard Keynes, publicado pela revista The Economist, em 1946. “A repentina morte de Lord Keynes na manhã da última Páscoa nos tirou um grande homem”, começava o texto. “Ele seguiu uma linha direta dos grandes economistas britânicos de Adam Smith a John Stuart Mill”, seguia. “Porque era um liberal, acreditava que os objetivos que propunha poderiam ser alcançados com baixo dano à liberdade individual. Ele não acreditava em microcontrole e centralização restritiva da economia.” Tomariam um susto porque Keynes, afinal, é o economista posto em oposição a Milton Friedman, que da Universidade de Chicago definiu o tipo de política econômica que habitualmente é batizada liberal por aqui. Estes muitos liberais brasileiros tomariam um susto. Martin Wolf, o consagrado colunista do Financial Times, não se surpreenderia em nada. “Friedman gastou muito de sua energia intelectual atacando o legado de Keynes”, ele escreveu quando o grande economista de Chicago morreu, em 2006. “Suas diferenças eram de fato profundas. Mas havia também muito o que compartilhavam. Ambos estavam do lado da liberdade na grande disputa ideológica do século 20.” A Economist, fundada em 1843 por um grupo de empresários que combatia a influência do Estado na economia é ainda hoje um dos bastiões do liberalismo inglês. Wolf, certamente um dos mais influentes jornalistas do mundo, em qualquer roda à direita e à esquerda será caracterizado como um liberal clássico. Nos 60 anos que separam a morte dos dois economistas, a percepção de que ambos representavam visões distintas dentro de um mesmo pacote chamado liberalismo não mudou nas bíblias britânicas deste mesmo liberalismo. Por que, então, no Brasil — e na América Latina — ‘liberalismo econômico’, tão frequentemente encaixado na frase ‘liberal na economia, conservador nos costumes’, é visto como sinônimo das ideias econômicas de Milton Friedman ou, de forma mais radical, de um Estado mínimo, quase ausente? A resposta começa, pois, com uma observação do professor Freeden. Existem no mundo, hoje, três liberalismos distintos. O liberalismo clássico, o social-liberalismo, e o neoliberalismo. E um dos três, em sua classificação, não pode ser considerado de fato descendente das ideias liberais. A história de um conjunto de ideias O termo liberal nasceu, provavelmente, na Espanha durante os primeiros anos do século 19. Os liberales não formavam propriamente um partido, dividiam-se em facções, mas em comum tinham o fato de se sentirem representados por ideias que vinham do Iluminismo e da Revolução Francesa, que não havia completado ainda 15 anos. Estas ideias, no entanto, vêm de bem antes — antes até do Iluminismo. Inúmeros pensadores, aqui e ali, arriscaram conceitos que sugeriam novas formas de enxergar o mundo. Um deles, o florentino Nicolau Maquiavel, sugeria que sistemas de valores distintos poderiam conviver. Seu livro O Príncipe não é representante de um protoliberalismo. Mas só a sugestão de que ideias diferentes poderiam ser toleradas numa sociedade já sugeria que algo novo estava para surgir. O inglês John Locke, nascido quase exatos cem anos após a morte de Maquiavel, é talvez o primeiro liberal. Suas ideias foram pouco discutidas durante sua vida — ele morreu aos 72, em 1704. Um século antes de a palavra ‘liberal’ ser usada para sugerir ideias como as dele. Mas Locke falou em tolerância religiosa quando raros falavam. Foi quem sugeriu que propriedade é um direito natural que deriva do trabalho. Ou seja: um direito inerente ao homem, não é concedido pelo governante, e, portanto, não pode ser tirado. Direitos naturais, para o filósofo, eram também a vida e a liberdade. Ele compreendia que cada pessoa agirá de acordo com seus interesses e, por isso, o conjunto de pessoas forma uma sociedade civil com governo para que os conflitos sejam resolvidos com civilidade. Chamava este acordo de contrato social. Para Locke, se revoltar contra um governo que agrida os direitos naturais de cada um é direito do homem. Acreditava que a educação fazia a pessoa, formava seu caráter, e quão mais bem educado, mais apto como cidadão. Locke, que por formação era médico, foi fruto de seu tempo. A Europa começava uma lenta urbanização e, com ela, nasceu uma classe média formada, em geral, por comerciantes. Não eram nobres, tampouco eram servos. Por isso, estavam submetidos às mesmas violências por parte de governos autocráticos típicos do absolutismo, mas por terem dinheiro conseguiam garantir a si mesmos ao menos espaço para se manifestar. Diferentemente dos nobres, suas posses não vieram por herança, haviam sido construídas com trabalho. Tributos aleatórios, invasões de propriedade, ameaças constantes à liberdade faziam parte da rotina. O que Locke pôs no papel era um sentimento já compartilhado por uma parte crescente da sociedade. Liberdade econômica, que em essência quer dizer a liberdade de poder dispor ao máximo do fruto de seu próprio trabalho, surge assim como ideia ao mesmo tempo em que se concebe também as liberdades de ir e vir, de se manifestar, de viver sem opressão. Mas não era só. Além de estar se urbanizando, surgiam também na Europa cada vez mais universidades. E, com a distribuição de universidades, portanto o aumento do número de pessoas engajadas no debate intelectual, a lida com o conhecimento mudou. Atrelou-se ao método científico, por um lado. E porque o método científico exige o debate e o questionamento de ideias, firmou-se a convicção de que a liberdade para pensar era fundamental para o avanço do conhecimento. Luzes Foi neste cenário que, nas décadas seguintes após sua morte, explodiu um dos períodos mais intelectualmente ricos da história, a Idade das Luzes. O Iluminismo. E do suíço Jean-Jacques Rousseau ao francês Voltaire, do escocês Adam Smith ao alemão Immanuel Kant, e além deles muitos outros, todos se debruçaram sobre o que Locke escreveu. Concordaram e discordaram, discutiram, mas em comum todos abraçavam aquele pacote de princípios novos. Liberdade cresceu como valor. A ideia de um Estado autocrático passou a ser vista como repulsiva. E aqueles debates não ficaram isolados entre pensadores. Desembocaram nas revoluções Americana e Francesa. Muitos destes filósofos estavam entre as leituras dos Inconfidentes de Minas. Suas ideias eram tão potentes, tão inspiradoras, que promoveram levantes reais. Pensadores e políticos se encontraram de vez na Inglaterra, em princípios do século 19, com um movimento chamado Radicais Filosóficos, que com o tempo passaram a ser lembrados como Utilitaristas. Eram radicais porque propunham uma completa reforma do Estado. O principal deles, Jeremy Bentham, na virada do século 18 para o 19, não só falou de valores já postos como separação de Igreja e Estado, liberdades econômica e de expressão, como propôs o sufrágio universal, o divórcio, a abolição da escravatura, o fim da pena de morte, da punição corporal, direitos de animais e até a descriminalização da homossexualidade. Radical mesmo para um homem que, nascido no século 18, morreu em 1832. Sua maior contribuição se deu ao questionar a ideia de direitos naturais. Para ele era, na melhor das hipóteses um truque de palavras com pouco significado e, na pior, uma referência a algo concedido por Deus. Ele defendia uma linha pragmática. Direitos não são naturais. Se existem é porque antes há um governo que os garante. Então é necessário um sistema moral no qual um bom governo se baseie para estabelecer tais direitos. Seu critério era o da felicidade e o da dor. A missão de um governo é criar um sistema que garanta o máximo possível de felicidade para o maior número de pessoas, enquanto evita ao máximo a dor. Por isso, utilitarista. As ações de governo têm por propósito ser úteis à população. À inglesa Não é à toa que, quando se fala de liberalismo clássico, com frequência se fale também de liberalismo inglês. No Iluminismo, ideias que compõem o liberalismo surgiram de toda a Europa. Mas, na sequência, seu avanço foi na Inglaterra. Porque embora não indo tão longe nas leis, a Inglaterra abraçou os princípios desta segunda geração de pensadores liberais pós-iluminismo. Em 1832, um Ato do Parlamento redesenhou todo o processo eleitoral, distribuindo por critérios demográficos os assentos na Câmara dos Comuns e ampliando para todos os homens proprietários de terras e também para aqueles que pagassem aluguel acima de um determinado valor o direito ao voto. Um segundo Ato, em 1867, levou a todos os homens ingleses chefes de família o direito ao voto. Eram políticas defendidas pelo que já era chamado Partido Liberal. Em meados do século 19 duas questões pressionaram os liberais, obrigando-os a se debruçar novamente sobre seus princípios. Uma foi o estado de penúria e pobreza imposto a uma vasta quantidade de pessoas nos centros urbanos e industriais. A outra o forte surgimento de um forte nacionalismo na Europa e Américas. Na essência, a ideia de nacionalismo bate de frente com princípios liberais. Privilegia os interesses da nação em detrimento dos de cada indivíduo da sociedade. Nacionalistas tendem a cultuar líderes. Nacionalistas enxergam no governo a representação de algo maior que a soma dos indivíduos enquanto liberais submetem o governo ao serviço do bem-estar de cada cidadão. Porém movimentos nacionalistas, principalmente nas colônias europeias, representaram os anseios de liberdade de povos em relação a governos autocráticos. A questão social foi mais séria. Porque no debate a respeito de nacionalismo era possível encontrar um ponto de equilíbrio entre formas leves — úteis — de nacionalismo que levavam a liberdade, e as formas que davam em governos fortes e, portanto, com tendências autoritárias. Mas no debate sobre a pobreza não era tão simples. Até ali, já há bem mais de um século, liberais quase sempre defendiam o laissez-faire. A liberdade econômica sem intervenção do Estado. Se liberais não se recusam a enxergar a realidade e refletir baseando-se nela, parecia óbvio que a distribuição ampla de felicidade não estava ocorrendo. E, àquela altura, as ideias de Karl Marx já pautavam debates. O que é liberdade? É a ausência de restrições à autodeterminação de cada indivíduo. É também o cultivo do potencial de cada indivíduo para que ele seja o melhor que conseguir. Os dois conceitos estão em tensão um com o outro. Num ambiente em que ninguém sofre restrições, os mais poderosos tendem a submeter os menos. John Stuart Mill, o filho de um dos alunos de Bentham, encarou a questão de frente e, assim, apresentou dois novos conceitos. Um é o de igualdade de oportunidades. Pessoas serão diferentes, terão capacidades distintas, e, portanto, se desenvolverão de forma desigual. Mas um Estado precisa garantir igualdade de oportunidades para todos. Outro conceito foi o da ditadura da maioria. Conforme se expandia o direito ao voto que ia terminar no sufrágio universal, que Mill defendia ardorosamente, ele também chamava atenção para um risco. Democracias não deviam se tornar uma nova forma de autocracia no qual os eleitos pela maioria sufocassem os minoritários. Defendeu como pôde a ideia de um governo representativo, no qual mesmo as minorias teriam espaço. Stuart Mill temia que quando a massa votasse, deseducada, escolhesse governos medíocres. Por isso, defendia educação universal. Assim como acreditava que, no momento em que as massas começassem a participar do governo, se sofisticariam politicamente. Se o liberalismo não tem um só pensador, alguns representam pontes entre eras. Locke leva aos iluministas. Bentham avança do iluminismo para o século 19. E Mill faz a transição para o século 20 e a geração seguinte de liberais. Quando chega a sociedade Nos últimos anos dos 1800 e primeiros dos 1900, uma série de pensadores encarou a questão da desigualdade. Não era simples o problema que tinham de resolver. A base do pensamento liberal era o indivíduo. A base do pensamento liberal está também no combate a toda tirania. No momento em que se enxerga a pobreza como uma forma de tirania, algo que tira do indivíduo sua liberdade, como argumentar por uma intervenção do Estado sem promover o fim da liberdade de outros? John Atkinson Hobson, um economista, rearranjou o argumento. Se a sociedade é o conjunto de indivíduos, o bem da sociedade é do interesse de cada indivíduo. Por isto, com este objetivo, faz sentido que o Estado faça determinadas intervenções na economia. O terreno para este argumento havia sido aberto por Stuart Mill ao falar de igualdade de oportunidades. Hobson estava participando, ali, da fundação de uma nova corrente que, na Inglaterra, seria batizada New Liberalism e que atende hoje por Social-Liberalismo. Estas ideias, no governo do premiê David Lloyd George, deram origem ao Estado de Bem-Estar Social britânico, que teve por principal teórico o jovem economista John Maynard Keynes. As ideias de Keynes, por sua vez, quando aplicadas aos EUA da Grande Depressão formaram a base para o país que chegou ao pós-Guerra como a maior democracia do planeta. A fronteira entre Liberalismo Clássico e Social-Liberalismo não é rigidamente desenhada, se parece mais com um dégradé. Em comum, ambos têm um profundo respeito por liberdade. Ambos abraçam a lição dos utilitaristas: compreendem que o Estado é necessário como garantidor desta igualdade, tem o papel de resolver conflitos, e a atribuição de levar educação a todos. Ambos concordam que indivíduos com liberdade para criar e produzir levam à frente o desenvolvimento humano e que o Estado deve se meter o mínimo possível neste processo. Como a tensão não vai embora, e os problemas que o avanço tecnológico traz são sempre novos, o momento em que o Estado interfere ou não, no equilíbrio entre liberdade do indivíduo e bem-estar da sociedade, é o debate sem fim que move liberais. O aceitar deste dilema não é visto pelos liberais como sua fraqueza, e sim como sua força. O que os ingleses chamam de ‘liberal’, hoje, é o Liberalismo Clássico. O que os americanos chamam de ‘liberal’, hoje, é o Social-Liberalismo. Ofensiva neoliberal Na visão de Freeden, no século 21 liberais enfrentam dois desafios. O primeiro é o que ele batiza de ‘ofensiva neoliberal’. Em um determinado momento, uma vertente do conservadorismo se apropriou do nome ‘liberal’ para se legitimar. Formou, assim, uma caricatura do liberalismo que ignora o conjunto da sociedade, minimiza as liberdades sociais do indivíduo, enquanto prioriza a ideia de um Estado que não se mete no mercado e não se preocupa com o bem-estar humano. O governo ideal desta vertente se limita a um facilitador de comércio e, se regula o setor financeiro, é só minimamente. Enquanto isso, todo o resto do comportamento será regulado. A ideia do neoliberalismo, porém, se tornou particularmente atraente para dois grupos. Por um lado, dá uma aura nova a uma vertente do conservadorismo, lhe permitindo alcançar novos grupos de eleitores. Por outro, oferece a críticos vindos da esquerda uma caricatura do liberalismo mais fácil de atacar. O segundo desafio não é externo, é inerente ao liberalismo. Há cinco fases na história deste conjunto de ideias. Ele nasce, após a Renascença, como uma resistência à tirania. É onde está Locke, que propõe a ideia de que o Estado não deve perturbar a autonomia de cada indivíduo. Na segunda fase surge o conceito de mercado — este espaço onde indivíduos se relacionam uns com os outros. Agora, o Estado não deve perturbar as inter-relações entre indivíduos. Mill apresenta a terceira fase, tirando o foco do mercado — sem ignorá-lo — e o trazendo para uma sociedade capaz de despertar o potencial máximo de cada indivíduo. A quarta fase é aquela que percebe, na pobreza, uma forma de tirania que deve ser combatida. E a quinta fase, já na segunda metade do século 20, observa de forma mais complexa a sociedade. Pois, entre o indivíduo e o todo desta sociedade há, no intermediário, grupos que reúnem pessoas com interesses comuns. O movimento de mulheres, de negros, o movimento LGBTI+, que buscam a expansão de direitos individuais para os seus. Mas em que momento, nesta fragmentação da sociedade em grupos, não começam a se perder os indivíduos? Para o liberalismo, não há nada de novo sob o Sol. Avanço de nacionalismos populistas pela direita, pressão via esquerda de um discurso que enxerga a sociedade, mas não as pessoas, e o debate interno continuado sobre as tensões inerentes às contradições sempre presentes no conjunto de suas ideias. Às vezes acuado, às vezes à frente das transformações da sociedade, o liberalismo é um sobrevivente. Em tempo: Michael Freeden escreveu inúmeros livros sobre o liberalismo. Um bom ponto para começar é Liberalism: A Very Short Introduction (Amazon) Da mesmo forma que a revolução digital desmonta indústrias tradicionais, levando junto empregos, ela também abre novas oportunidades de negócios. O Verge mergulhou em uma dessas histórias em um longo artigo para ser lido com calma. “Roundup, em Montana, foi fundada por rancheiros no final do século 19. A cidade viveu um pequeno boom com minas de carvão e como parada de uma ferrovia, mas o carvão se exauriu, o trem parou de passar e a população da cidade caiu para menos de 2 mil habitantes. Sua principal rua é cheia de homenagens aos tempos do velho oeste. Silhuetas de cowboys pintadas em janelas fechadas com tábuas, rodas de carroças empoeiradas em frente a lojas desertas e até mesmo uma forca, pendurada em uma árvore com uma placa explicando que foi usada para executar três ladrões de gado e dois infelizes que passavam. A cidade possui um único sinal de trânsito. O último local que poderia se tornar um centro do comércio eletrônico internacional.” O texto continua... “Não existe um centro de distribuição nem uma presença oficial da Amazon na cidade. Ao invés disso, Roundup se tornou sede de uma nova e crescente indústria de centros de preparação. Negócios que se especializam em empacotar mercadorias para atender os requisitos dos grandes armazéns automatizados da Amazon. Tudo começou em 2015. Kristal Graham resolveu vender livros de seu recém falecido irmão no marketplace da Amazon e descobriu que poderia comprar outros ítens e revender com lucro. Mas a Amazon só aceita produtos empacotados de forma muito específica. Preços e códigos de barra antigos devem ser tapados. Vidro deve sempre estar envolto em plástico bolha, e itens não podem estar soltos. Conforme seu negócio crescia, Kristal começou a precisar de ajuda para empacotar e descobriu que existiam centros de preparação que ofereciam esse serviço. Na época eram apenas 15, todos em New Hampshire, Oregon e Delaware. Estados que não cobram imposto de vendas. Montana também não cobra, mas não existia um único centro de preparação ali. Ele percebeu a oportunidade e resolveu tentar a sorte.” “Logo estava recebendo produtos comprados de lojas de todos os cantos do país, compradas por vendedores de lugares distantes como as Filipinas. Kristal expandiu para sua garagem e então para o prédio de uma concessionária Ford há muito fechada, e então para um armazém abandonado por uma empresa especializada em concretar poços de petróleo. Contratou dez e depois vinte pessoas. O fluxo de mercadorias havia se tornado uma enchente. Como toda cidade pequena em que todos se conhecem, Kristal começou contratando amigos e familiares para ajudar a lidar com o volume de pacotes que chegavam. Uma das contratadas foi Linda McAffee, uma amiga cujo neto namorava a filha dele. O namoro terminou em briga feia e as amigas se estranharam. Linda diz que pediu demissão, Kristal conta que demitiu Linda.” “Foi esse cisma que fez com que os centros de preparação se proliferassem por Roundup. Pouco depois, Linda montou seu próprio negócio. Jill Johnson procurou Linda querendo um estágio, pois queria aprender como funcionava um centro de preparação. Linda resistiu a princípio, mas cedeu. Jill montou seu próprio centro logo depois. A história rapidamente foi se espalhando como fofoca e hoje já são nove mulheres que operam seus próprios centros de preparação e que trocam informações e dicas em um grupo de chat.” Roundup recebe entre três e quatro mil pacotes por dia, o dobro da população que ainda vive lá.
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professoraevelyn · 6 years ago
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Revolução Pernambucana de 1817
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A revolução pernambucana foi uma revolta social que ocorreu no período colonial brasileiro em 6 de Março de 1817. Esse movimento teve caráter separatista e também ficou conhecido como a Revolução dos Padres devido à participação ativa dos Padres e da Igreja Católica.
A Capitania de Pernambuco era uma das mais ricas do período e campeã na produção e exportação de cana-de-açúcar, logo, era a que mais rendia lucros aos portugueses. Impulsionados pelos ideais iluministas da Revolução Francesa e no lema “liberdade, igualdade e fraternidade” os pernambucanos sentiam-se injustiçados pela quantidade de tributos que tinham que pagar para sustentar os luxos da monarquia portuguesa que estava instalada no Rio de Janeiro desde 1808.
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Os pernambucanos também estavam muito incomodados com a intervenção da corte de Portugal na administração da capitania. Após um período de seca que afetou as lavouras de cana-de-açúcar e algodão, bem como a burocracia para a importação de mão de obra escrava da África, os lucros foram diminuindo mas os impostos eram os mesmos. Esses fatores agravavam cada vez mais a diplomacia entre os pernambucanos que desejavam a independência e a instalação de um regime republicano, e da corte que desejava manter seu status.
Sob o comando de “Leão Coroado” os pernambucanos construíram uma trincheira com a intenção de impedir que as tropas oficiais invadissem a capitania matando a golpe de espadas o comandante Barbosa de Castro. Após causar intimidação militar sobre as tropas absolutistas, instalaram um governo provisório republicano e convocaram uma assembleia constituinte, separando os poderes executivo, legislativo e judiciário para evitar a centralização de poder.
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Os cidadãos de Pernambuco arriscaram obter apoio de outras capitanias da região. No Ceará a pernambucana Bárbara de Alencar e seu filho Tristão tentaram implantar as ideias da revolução no estado e foram violentamente mortos. Sabendo as intenções dos independentistas, as forças armadas do exército português ficaram mais agressivas e elaboraram uma estratégia para invadir Pernambuco a partir da Bahia, enquanto a Marinha bloqueava o Porto de Recife.
Os monarquistas ao entrarem na capitania de Pernambuco, conseguiram derrotar os revolucionários republicanos que não tiveram alternativas a não ser ir em direção a Recife, tendo acabado por ficar encurralados. No dia 19 de Maio foi decretado o fim do governo republicano na região.
Quando o Padre João Ribeiro soube do ocorrido, como forma de defesa suicidou-se, mas os monarcas o desenterraram, o decapitaram e exibiram sua cabeça em praça pública. Vários revolucionários foram esquartejados, tiveram seus corpos arrastados e expostos em meio à multidão. Quando eram presos, acabavam morrendo na prisão por abandono.
O exército da monarquia portuguesa fez de tudo para demonstrar o poder imperial através da força física. Dominou o território para manter a unidade do país. Entretanto D. João VI não conseguia mais confiar nos governantes das capitanias, muito menos no governo internacional, uma vez que os Estados Unidos da América haviam instalado um consulado em Recife e pretendiam manter relações comerciais diretas com Pernambuco.
Os militares franceses remanescentes além de desejar acordos comerciais, tencionavam resgatar Napoleão Bonaparte de seu exílio em Santa Helena e o trazer para se hospedar em Pernambuco, para depois seguir com ele até Nova Orleans nos EUA.
Atualmente, em virtude aos que lutaram na guerra e em memória à história do estado, no dia 6 de Março é celebrada a Revolução Pernambucana.
Referências:
https://www.historiadobrasil.net/resumos/revolucao_pernambucana.htm
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Pernambucana
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