Meu vizinho tem palmeiras cheias de canindés morando no topo. Elas cantam em azul e amarelo, colorem meu café, perfumam meu jantar.
Meu almoço cheira ao antisséptico dos jalecos, à alho e feijão preto fresco. Tem trilha do ‘TUM!’ da garagem fechando e do chiado da panela de pressão.
À noite no céu, três marias e o cruzeiro do sul. De dia nas costas, o sol quente. A voz da minha mãe no sábado à tarde cantando ‘palma da mão!’ com samba no pé.
Minha terra tem primores que sangram clorofila e petrichor. Que não encontro nas últimas quatro ou cinco casas dos últimos três ou quatro anos em nenhum dos dois países ou três estados para onde eu me levei.
Não permita, seja quem for, que eu morra sem que eu volte para lá, onde as paredes tem manchas de fita e meu armário cheira a livros e tinta acrílica. Onde minha avó me leu Gonçalves Dias, onde as canindés continuam a cantar.
Para o meu filho Michał, na viagem
ao Paraguai, para pegar o visto brasileiro.
Este caminho dá pra Roma,
já estamos em Mato Grosso;
não jogue lixo pela janela
este caminho é nosso.
Este caminho dá pro mar,
seja qual for o destino;
não jogue lixo pela janela
este é o nosso caminho.
Este caminho dá pra noite,
tem sinais luminosos;
não jogue lixo pela janela
este caminho é nosso.
Este caminho dá pra casa,
não é caminho do exílio;
não jogue lixo pela janela,
este é o nosso caminho.
Song of Exile by Gonçalves Dias (subtitled)
🇵🇹 🇧🇷 Canção do Exílio de Gonçalves Dias (legendado)
▶️https://youtu.be/MPdtQv13MIM @ http://youtube.com/@RelaxArtWorld
Essas memórias são o cárcere dentro de um hotel
Adeptos ao rigor de visitas, adeptos ao sudário
Tudo é uma mercadoria de vossa estadia
Tuas palavras e fluídos também são peças ao comércio
O litoral inventado no umbigo da cidade
Habitat arrojado por máquinas
Toda a cordialidade servil
Misturando servidão, intuindo comícios
Artigos de luxo, edição limitada
Presas de marfim afrodisíacas
Prometem a cura a impotência
Promovem reversão a queda capilar
Acabaram de tecer uma nova canção do exílio
Tão palatável como palmeiras artificiais
Degustem-na ao pé dessse cemitério de elefantes
Especiaria similar a jabuticaba com gosto de borra de pólvora
Comendo da beleza, entre aspas
Um zoológico de personagens
Fingindo etiqueta nas interações
Restos mortais provém longevidade da prole
Isso é o mais perto do purgatório que teremos
Exponha seus dotes à mesa, neste Éden suspenso
Nem sempre caligrafias requintadas são ideais
Todos procuram uma chance para saciar seus prazeres
A imprensa é uma colmeia de vampiros
Os artistas são vampiros exibicionistas
A indústria farmacêutica é um vampiro
O agronegócio é o mais covarde dos vampiros
O mercado financeiro é um vampiro no escopo de um caça-níquel
Todos os solucionadores de problemas e interventores de costumes
São instruídos a serem vampiros pelo trânsito acessível aos intocáveis
Usam jargões, transitam entre os reis, mas são de segunda mão...
De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.
Hilda Hilst
Headcanon meu: apesar da maioria das nações achar a relação de pai filho do Lu e Afonso bizarra pq os dois aparentemente não se parecem em nada, que os conhece de perto, tipo o Martin e Tonho, sabem que culturalmente eles são muito próximos. O Afonso pode ser mais melancólico a primeira vista, mas o samba brasileiro é tão sofrido quanto o fado, fala de saudade e dor com um ritmo alegre. Até o poema mais conhecido brasileiro, a Canção do Exílio, é sobre a dor de não poder voltar para casa.
O Lu é meio que a concretização do ditado, sorrir para não chorar
Sim! Isto! Concordo plenamente, Anon.
O Lu consegue esconder muito bem a sua melancolia, mas é tal e qual o Afonso. Os dois são a personificação da saudade e gostam de música bem sofrida e de um bom choro.
Quem os conhece melhor consegue ver as semelhanças, tais como ambos adoram o mar e detestam ser confundidos com os seus vizinhos Hispânicos 😅
Concordo também com a hc da @brazilian-hot-mess que o Luciano herdou pequenas maneiras de falar e posições do corporais do Afonso inconscientemente, por exemplo a maneira como a cara dele fica quando sorri ou fica nervoso, ou como posiciona as mãos quando espera pela vez dele numa fila.
Essa musica, exile vilify, eu queria poder explicar em palavras esse sentimento desconhecido e entrelaçado de memórias que carrega a mesma. Não tem nada a ver com a origem dela, nem o que significa no contexto da trilha sonora do jogo em que ela existe. Mas ela apareceu num momento em que eu estava finalmente voltando a amar ler, amar ouvir música e é indiscritível a sensação de paz que eu tenho toda vez que eu ouço as notinhas do piano presentes nela. É aquela paz que tu não tem mais nada que se preocupar no mundo, nem com o amanhecer ou com o dia arrastado de amanhã, é como o abraçar frio da morte ou como o próprio título diz, a dor agridoce do exílio, para um longe de onde-se firma suas origens, mas ainda sim uma sensação de mundo a ser descoberto.
Eu culpo Gio maués e acotar, que não tem nada a ver, mas apenas estavam no lugar certo e no momento certo pra fazer essa canção ressoar tanto comigo.
As vezes so é bom demais estar vivo, essa música me faz feliz apenas por existir.
nothing in school beats me realising that my professor was going to read canção do exílio by gonçalves dias and then automatically clapping a little about it
DIA DO ROCK Rock é toda música em que vibra, inquieto, o espírito da juventude. É feito para sacudir, despertar, alimentar os devaneios de quem ainda não acordou para o mundo e de alguma forma quer retardar isso. É um exílio autoconsentido, uma viagem sem norte (ao som desvairado de Jimi Hendrix!), uma excursão aos descaminhos da fantasia; tanto que comumente se prolonga na opção extrema das drogas. É uma liturgia satânica na qual vida e morte se enlaçam para celebrar o aqui e o agora (mas é também percuciência e ternura, como numa canção de Bob Dylan). É sobretudo uma lembrança que não morre e nos conforta com a sensação de que, seja qual for a nossa idade, o sonho jamais acabará.
(Segunda, entregar também: mapa mental com as três gerações do romantismo brasileiro + paródia crítica do poema "Canção do Exílio", de Gonçalves Dias).
Bike, Fisioterapia, cervejinha e camarão em Camburi! E como disse Gonçalves Dias em seu poema Canção do Exílio: “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Feliz 2023🎆🎇 (at Vitória. Espirito Santo) https://www.instagram.com/p/CmuDRVkLAM3/?igshid=NGJjMDIxMWI=