#caderno de desenho de Deus
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lidia-vasconcelos · 6 months ago
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Sol de inverno na minha rua...
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svholand · 10 months ago
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𝙮𝙤𝙪 𝙘𝙝𝙤𝙨𝙚: 𝙘𝙤𝙣𝙛𝙞𝙙𝙚𝙣𝙩.
𝐖𝐀𝐑𝐍𝐈𝐍𝐆: smut, então menos de 18 anos: vaza! sexo vaginal, oral (f), dirty talk, fetiche em tirar fotos (?), degradation, se forçar dá pra ver um body worship, sexo no pelo (eh errado etc etc) e creampie.
𝐒𝐔𝐌𝐌𝐀𝐑𝐘: parte dois e última (da rota do enzo) dessa fic aqui.
𝐖𝐎𝐑𝐃 𝐂𝐎𝐔𝐍𝐓: 2.2 k.
𝐍𝐎𝐓𝐄: a primeira rota do amor doce da fic está completa e terminada! em breve (quando eu terminar de escreverkkkk) eu posto as outras! enfim espero que gostem 🖤
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enzo e sua confiança eram ótimos em chamar sua atenção, te deixar completamente ansiosa por mais. então, ao receber a mensagem, era praticamente impossível ignorar; a presença do uruguaio era forte mesmo quando ele estava longe.
não querendo perder muito tempo, respondeu a mensagem de enzo com apenas um estou indo e seguiu para a localização enviada por ele. felizmente, ao checar o endereço, era ali perto: dentro do campus da faculdade mesmo. como muitos alunos, assim como você, moravam nas dependências da faculdade, não era proibido sair e voltar a hora que bem entendessem. então, não era estranho que estivesse entrando no campus de madrugada.
contudo, era estranho estar seguindo na direção contrária dos dormitórios femininos. era ainda mais estranho ir em direção dos dormitórios masculinos. aquilo sim era estritamente proibido. mas, em uma noite como aquela, onde a concentração de pessoas estava mais na boate do que no campus, a segurança era relaxada e você conseguiu entrar calmamente no dormitório.
antes mesmo que pudesse mandar uma mensagem para vogrincic pedindo o número do quarto, ele mandou uma mensagem respondendo a sua pergunta mental. assim, bateu na porta três vezes, esperando ansiosamente no corredor. o sangue subia aos ouvidos, quase que tampando-os com a pura sensação de perigo, de que podia ser descoberta ali a qualquer momento. porém, antes mesmo que pudesse ter medo de estar ali, a porta foi aberta e a visão definitivamente não era ruim.
"você realmente veio." o uruguaio disse, com aquele sotaque acentuado. claro, aquilo era o que menos importava quando o homem estava sem camisa, apenas usando uma calça moletom. os cabelos longos - que pediam por um carinho, pessoalmente - estavam bagunçados, como se o rapaz estivesse na cama. você passou tempo demais o admirando, tempo que fora suficiente para que enzo abrisse um sorriso de canto, sem nenhuma dúvida na cabeça dele de que estava apreciando a visão. quando você conseguiu se recuperar, ele já tinha se afastado um pouco da entrada da porta, sinalizando para que entrasse.
tomou um breve tempo para olhar o quarto dele assim que entrou, observando as paredes cheias de desenhos e impressões de quadros famosos. era como uma galeria de arte, porém um pouco mais desorganizada. conseguia ver muito da personalidade de enzo ali; cada canto da parede decorado com artes autorais e outras coisas que o inspirava era típico dele.
"você recebe sem camisa todo mundo que vem no seu quarto?" conseguiu dizer quando se recuperou. ele deu uma risada nasalada enquanto fechava a porta do quarto e, para sua surpresa, trancava também.
"já quer saber de quem eu recebo no meu quarto, nena? apressadinha." a resposta zombeteira dele foi o suficiente para que um sorriso também aparecesse nos seus lábios. não importava quem ele tinha recebido naquele quarto antes, porque quem estava ali agora era você.
"não, eu quero saber de você." disse em um impulso, algo que talvez não teria saído tão facilmente dos seus lábios caso o álcool tomado anteriormente não estivesse em efeito. aquilo claramente surpreendeu o uruguaio, que deu um sorriso satisfeito, orgulhoso. sentia uma confiança emanar de você que o deixava doido por mais, mas ainda tinha algo para lhe mostrar.
enquanto você tomava liberdade para continuar observando as paredes lotadas de papéis, enzo pegou o caderno de desenhos que estava em cima da cama dele. apenas notou a presença do caderno quando lhe foi entregue pelo rapaz, que agora estava bem próximo de você. ele lhe entregava o caderno na página certa, aberto para que pudesse ver o que tinha desenhado. nada teria lhe preparado, no entanto, para o que viu.
"pera aí..." o sussurro saiu dos lábios de forma mecânica enquanto sua atenção era tomada pelo desenho. na folha de papel, você estava desenhada com as roupas de hoje, sorrindo e posando para uma foto tirada no espelho. lembrou-se que tinha tirado uma foto mais cedo e postado no close friends, mas que apagou quase que logo em seguida porque não tinha se sentido confiante; estava exibida demais, tentando demais parecer sexy. o peito estava curvado enquanto uma das mãos estava apoiada na pia, dando suporte para que, com a outra, você tirasse a foto.
somente com aquele desenho que você percebeu que enzo tinha visto a tal foto e que, aparentemente, tinha gostado tanto que achou interessante reproduzi-la em um desenho.
"gostou? achei melhor desenhar pra guardar esse momento pra mim." confessou o homem, com um sorriso no rosto. enquanto você mantinha o caderno próximo ao corpo, fixada no desenho, sentia o corpo masculino colando-se ao seu lado, mantendo os olhos fixos nas suas expressões. somente quando sentiu o corpo tão próximo assim que desviou o olhar para fitar o uruguaio.
"eu... eu..." as palavras sumiram da sua boca, como se a confiança tivesse ido embora em um simples momento. ele tinha te representado tão bem naquele desenho e, ao mesmo tempo, tinha te dado uma confiança que você não tinha, ainda mais ali, com o corpo dele tão próximo ao seu.
"eu te fiz uma pergunta." reforçou enzo. quando menos esperava, os lábios dele se colaram em seu pescoço, porém sem beijar ainda, apenas roçando-os levemente contra a pele, causando arrepios e anseios por todo o seu corpo. você engoliu em seco, respirando fundo para que conseguisse responder.
"gostei, mas não sou tão confiante assim quanto você me pintou." falou de uma só vez, quase tão rápido que tinha medo que ele não tivesse ouvido, porque não queria ter que repetir. sentiu o sorriso dele contra a sua pele, finalmente beijando-a com selares delicados.
"como não?" a voz dele estava com um tom falsamente surpreso. "tão linda assim..." agora, a voz tomava um tom mais meloso, propositalmente delicado enquanto o rumo dos beijos subiam em direção ao seu queixo. no entanto, enzo se afastou antes que pudesse chegar na boca, ostentando um sorriso maldoso nos próprios lábios.
quase em um impulso patético, você se aproximou do corpo alheio, tentando colar os lábios um no outro. em troca, o uruguaio se afastava levemente, sorrindo mais abertamente ao ver o quanto você queria se entregar naquele beijo; brincava com você sem dó.
a brincadeira parou apenas quando você, de saco cheio, jogou o caderno de desenhos em algum canto - que pouco importava naquele momento - e se aproximou do corpo alheio com pressa, juntando ambos lábios em um beijo quente. o homem sorria durante o beijo, um sorriso orgulhoso da sua coragem, orgulhoso de ter despertado sua confiança em tomar a atitude mais uma vez. você estava começando a entender que ele queria que você se sentisse confiante o suficiente para fazer tudo ali, que ele não te julgaria. a confirmação veio quando as mãos de enzo foram até a sua bunda, apertando-a com certa força para que os corpos se juntassem ainda mais, mantendo aquele beijo quente.
as mãos grandes percorreram o seu corpo, subindo até chegar no cropped que usava. em um movimento rápido, desejando que os lábios passassem menos tempo possível separados, enzo tirou o cropped do seu corpo. o sutiã foi embora logo em seguida, sendo tirado com maestria enquanto se beijavam e suas mãos tentavam não atrapalhar, mas, ao mesmo tempo, tentavam mapear cada pedaço do torso definido que tanto lhe excitava naquele momento.
suas mãos foram interrompidas quando o homem guiou o seu corpo até a cama, deitando-a ali. com enzo ainda em pé, observando-a se misturar entre os lençóis, sentia-se cada vez mais confiante; o olhar de desejo do uruguaio te fazia se sentir poderosa e no controle, apesar do controle estar claramente nas mãos dele.
em um movimento quase brusco, enzo puxou o seu short e a calcinha de uma vez só, com uma pressa repentina. vê-la deitada na cama dele quebrava qualquer resistência e autocontrole que ele tinha naquele momento. os olhos se direcionaram ao seu sexo, completamente molhado, mas claro que ele não era egoísta o suficiente - não naquele momento, ao menos - para não te dar um agrado. com um sorriso confiante nos lábios, ele subiu na cama de joelhos e se curvou entre suas pernas, apoiando-as em cima dos largos ombros dele. as mãos estavam nas suas coxas, segurando-as para que não fechasse as pernas enquanto ele fazia o que tanto queria: te admirar.
"o que eu vou fazer com você vai te deixar com vontade de gemer alto igual uma putinha..." o hálito quente contra sua buceta te fazia tremer de ansiedade. "mas se controla. tem gente nos outros quartos." ele te lembrou e você se deu conta de que existia outras pessoas no mundo além de vocês dois naquele momento. apenas assentiu com a cabeça, entregue demais para que pudesse formar uma frase consciente.
com aquele consentimento, enzo aproximou os lábios do seu íntimo com rapidez. os beijos eram distribuídos pelos lábios como forma de provocação, mas ele não demorou para usar a língua no clitóris, movendo-a de forma circular; um gemido baixo escapou dos lábios dele ao sentir seu gosto. você se contorcia, mordendo com força o lábio inferior para impedir que os gemidos fossem altos. as mãos masculinas te mantinha no lugar, sendo castigada pela língua treinada dele.
a sua mão destra desceu até os cabelos escuros de enzo, puxando-os com certa força e, ao mesmo tempo, puxando-o para mais perto da sua buceta, sedenta por mais. a mão canhota apertava o lençol da cama, tentando procurar algum autocontrole para resistir a tentação de gemer alto o nome do homem.
a língua dele oscilava entre castigar seu clitóris com lambidas frenéticas e provocar a sua entrada molhada com lambidas mais calmas, te fazendo provar do céu e do inferno ao mesmo tempo. era tão bom, mas você precisava de mais... e enzo sabia exatamente daquilo. quando ele soltou uma das suas coxas e introduziu dois dedos de uma só vez na sua entrada, você se debateu, tão satisfeita que chegava a ser demais agora.
o dedo estocava dentro de ti com rapidez enquanto a língua estava treinada no clitóris, obcecada por tirar mais e mais de você. e quando você não aguentou mais, se deixou levar; as costas arquearam com o orgasmo, os lábios se abriram em um gemido silencioso, preso na garganta. quando se recuperou do orgasmo, puxou enzo pelos cabelos para que ele pudesse ficar por cima do seu corpo, juntando ambos os lábios em um beijo molhado. ele sentia um tesão imensurável ao te ver ali, beijando-o e sentindo o seu próprio gosto na boca dele. somente aquele tesão o fez se separar de você, porque poderia ficar ali por horas.
"quero você sentando no meu pau pra me agradecer, vai." o tom era em forma de ordem e você, já desinibida, não demorou para atacar: esperou apenas que ele tirasse a própria calça e a cueca e se sentasse na cama para que você ficasse por cima, tomando o controle. levou uma das mãos até o pau duro dele e ficou levemente tentada a provocar, mas você já precisava dele dentro de si, não conseguia esperar. posicionou a cabecinha rosada em sua entrada e, aos poucos, foi descendo no pau dele.
você não teve muito tempo para se acostumar com aquele tamanho dentro de si, porque as mãos grandes de enzo já estavam na sua bunda, forçando-a para que se movimentasse para cima novamente só para que pudesse sentar com força em seguida. aquele movimento te fazia revirar os olhos e morder o ombro dele para que não acabasse soltando gemidos, mantendo-se confiante que ficaria quieta e se controlaria. quando se acostumou melhor com o tamanho, começou a se movimentar sozinha em um sobe e desce tortuoso, colocando seu próprio ritmo.
os gemidos dele em seu ouvido, roucos e desesperados, te deixava poderosa. queria mais e mais. aquela sede te fazia aumentar a velocidade dos movimentos e, por consequência, se aproximar cada vez mais de um segundo orgasmo. rebolava com gosto em um ritmo cada vez mais desregulado. ele aproveitava a posição para levar os lábios até um dos seus seios, lambendo e chupando o biquinho com vontade; quando sentiu que tinha dado bastante atenção para um, partiu para o outro seio, dando o mesmo tratamento para ele.
"mela meu pau ainda mais, vai... goza que eu te dou leitinho..." a voz ofegante e grossa de enzo foi o gatilho para que pudesse gozar pela segunda vez, contraindo as paredes da buceta contra ele. aquilo fora o suficiente para que ele também gozasse, se despejando dentro de você. ficaram ali, juntos e tentando recuperar o fôlego, presos em um abraço grudento pelo suor e pelos fluidos, mas extremamente aconchegante.
quando finalmente você conseguiu se recuperar, saiu do colo dele com delicadeza, porém já sentindo falta dele te preenchendo por completo. tomou a liberdade de deitar novamente na cama, respirando fundo. o olhar de enzo estava treinado em você, olhando-a dos pés a cabeça e, especialmente, para a sua buceta ainda melada, escorrendo com a porra dele.
"fica aí. você tá linda assim." ordenou o uruguaio enquanto se levantava, caminhando até a cômoda dele e pegando uma das câmeras que ele tinha. após ligar, voltou para a cama e escolheu um bom ângulo: focando no seu corpo por baixo, na direção das pernas. você, confiante depois de tudo que fizeram, abriu as pernas, mostrando mais para ele, dando a liberdade que ele precisava para que pudesse tirar algumas fotos até que estivesse satisfeito.
"tá toda exibida agora, né?" zombou, sorrindo orgulhoso. não estava criticando, porque era aquilo que ele queria: te ver poderosa, sem pudores. "então que tal posar mais para mim? de quatro, hm?" ofereceu a ideia. você sorriu, pronta para mais e sabendo que aquela noite seria bem longa.
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dollechan · 8 months ago
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❝ Não tô tentando manter você na minha vida ❞
𖥔 ₊ ֗angst, renjun cuzão e reader bobinha e com dependência emocional.
a/n: 🙏
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Renjun não era gente para se manter conversa. Estava sempre ocupado demais.
Trabalho, família, hobbies.
Ele não tinha tempo para ouvir seus dramas, fazer coisas com você, mas olha só, tu ainda era inocente o bastante para achar que ele te amava apesar de tudo. Não, era tudo ilusão. As noites com ele eram tão vazias quanto sem ele, mas você não não se importava, queria ele, queria ter ele. Não o culpava, culpava o seu chefe, a mãe dele, o caderno de desenhos que ele não largava; era por causa deles que ele não tinha tempo para você.
Mentira.
Ele nunca se importou de verdade, afinal. E você sabia disso, mas preferia fingir que não, se iludiu com o pouco que ele te deu. Essa era sua vida.
Parecia que toda a cidade precisava dele quando o garoto estava com você. Ele dizia:
– Espero um dia poder ficar invisível, assim eles me esquecem.
Mas no fundo mesmo, ele gostava de ficar longe de você e das suas mensagens melosas.
Ele dizia também:
– Tenho que fazer dinheiro para nós, amor, você sabe.
E depois saia pela porta que tinha entrado a 5 minutos, o chefe dele era mais importante agora.
Mas no final, não adianta mentir para si mesma, não adianta ficar imaginando coisas, culpando os outro. Você sabia, se ele quisesse mesmo estar com você, ele estaria.
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– Amor! Porra, você sabe como isso é importante para nós, para o nosso futuro! Não posso sair de um emprego assim. – Você continuava sentada no chão frio, como estava desde o começo da discussão com Renjun. Não se atrevia a olha para ele, preferia afogar nas próprias lágrimas.
Não deveria ter reclamado sobre a falta dele, não deveria ter falado do chefe abusivo, nem nada do que estava acontecendo. Aquilo era culpa sua. Não, não era não.
– Por favor, sai daqui Renjun. Eu não quero ver você agora. – A voz sai embargada, mais lágrimas desciam no seu rostinho lindo. Sentia o olhar dele, sabia que estava despreocupado e pronto para sair. E ele sai, sem dizer mais nada, sem reclamar, sem nem pensar em você ali. Esse foi o estopim do relacionamento fracassado de vocês dois.
Agora está aqui, três anos depois, noiva de outro e esperando um filho dele. Renjun te observa de longe, te vê feliz e pela primeira vez ele se arrepende. Pela primeira vez naqueles três anos, se permite chorar por sua causa naquela noite.
Aquela foi a sua pior noite.
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ladylushton · 3 months ago
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@brargweek
Silêncio, estou estudando
Dia 3-Roommates
Martín está ansioso, encarando a porta do dormitório.
Sim, ele demorou muito para conseguir o intercâmbio, dormiu em clima dos livros muitas vezes, fez e desfez as malas. Mas lá está ele, onde passará o tempo em que estudará em Glasgow.
Ele abre a porta pesada. Parece isolar sons.
Sim, ela isola sons. O barulho lá dentro é ensurdecedor.
Uma caixa de som reverba uma música que decididamente não está em inglês, nem em em francês, alemão ou qualquer língua falada na Europa. É português do Brasil.
Um rapaz está desfazendo as malas, e já jogou um travesseiro no beliche de cima, marcando deu lugar. Ele empilha as roupas dobradas em um pequeno armário. Uma parafusadeira está jogada no chão.
— Sorry — Ele fala alto, indo desligar a caixinha de som que cantava algo sobre amar alguém em segredo. Martín conviveu muito com brasileiros, a única coisa que não entende são as expressões populares.
— Eu te entendo.
O brasileiro (Martín tem quase certeza de ele não veio de Portugal) se vira rápido para Martín. Os olhos escuros dele brilham intensamente. Ele se aproxima, estendendo a mão.
— Luciano da Silva.
Martín aperta a mão dele.
— Martín Hernández.
Luciano sorri ao olhar para a mala e ver um adesivo com a bandeira da Argentina próximo ao zíper.
— Imagino que já tenha adivinhado de onde eu venho.
Martín ri, vendo que uma mochila com um broche da bandeira do Brasil está ao lado das roupas.
Luciano se afasta, deixando Martín entrar no quarto. À esquerda, o beliche e o armarinho antecedem uma porta escura, enquanto uma mesa e algumas prateleiras cobrem o lado direito.
— Como esse armário veio parar aqui?
— Comprei desmontado de uma senhorinha um pouco preconceituosa, e a parafusadeira veio na mala comigo.
Martín ficou imaginando a situação. Esse cara deveria estudar algo com comunicação.
Ele puxa uma bolsinha com zíper, um travesseiro e um cobertor de dentro da mala e empurra ela para baixo da cama. Martín sai e abre a porta escura, descobrindo que é um banheiro com piso verde. Ele se sente em "O Iluminado". Alguns produtos com rótulos em inglês já estão no banheiro, mas, decididamente, os frascos coloridos que dizem ser para cabelos cacheados não são dali.
Martín deixa sua escova um um suporte e a bolsinha no interior do armário sob a pia. Há uma bolsa de zíper nele também.
— Você vai estudar o quê?
Ele se assusta com Luciano parado na porta, o fazendo se sentir ainda mais como Danny Torrance.
— Engenharia Civil.
— Eu posso te emprestar minha parafusadeira, se quiser. Vou estudar arquitetura.
Martín gosta de arquitetura, mas não é muito bom com os projetos. Talvez eles possam se ajudar, só que Martín não quer usar a parafusadeira dele.
— Você conhece alguém daqui?
— Ninguém — Martín respondeu, se levantando.
— Eu também não — Ele desvia o olhar — Mas talvez eu te conheça mais tarde.
Luciano tira a cabeça da porta e vai colocar suas roupas no armário.
......
Martín está há quatro meses na Universidade e trabalhando como recepcionista. Luciano faz o mesmo, mas no outro lado da cidade.
Eles comem juntos no refeitório e conversam no dormitório. Também costumam discutir por besteiras e se ajudarem a estudar fazendo perguntas. Ambos acabaram aprendendo um sobre as aulas do outro com esse método que não dá muitos resultados positivos.
Agora mesmo, Martín está colocando seus livros no lugar e separando eles dos livros e cadernos de Luciano, que está no chuveiro. Ele gosta de anotar tudo em cadernos pautados e de desenhar em cadernos de páginas lisas e grossas.
Um desses cadernos está sob um livro grosso. Luciano costumar deixar seus desenhos dentro da bolsa ou no alto de seu roupeiro ao invés de largar sobre a mesa. Martín resolve abrir.
A primeira página mostra um desenho bizarramente realista do Cristo Redentor, com o nome completo de Luciano e o número de sua sala ao lado, como a primeira folha de um caderno de criança.
Outra ilustração é mais técnica, com o Empire State visto de cima e cheio de anotações em torno das páginas. Segundo a data no canto da folha, o desenho é recente. Um prédio do que Martín sabe ser de Brasília também está sombreado e envolto por anotações garranchosas.
A página seguinte também está repleta de anotações, mas elas não dizem nada além de "Tincho", um apelido que Luciano deu a ele. No centro da página, Martín está desenhado, numa posição onde ele parece se alongar sem camisa, como faz de manhã ao sair do beliche.
Apesar da caligrafia ruim, Luciano sabe como desenhar a ponto de fazer seus desenhos parecem fotos sem cor. Martín admira o desenho por um bom tempo, até cair a ficha de que seu colega de quarto desenhou ele, seminu, de memória, o que quer dizer que ele passou muito tempo pensando nessa cena para poder retratá-la.
Ele vira mais páginas. Prédios modernos, castelos chineses, casas do estilo colonial português, pontes cheias de anotações. Uma boca sorridente quebra o padrão das construções. Analisando bem, o canto de um dos dentes da frente está lascado, da mesma forma que o de Martín ficou depois de uma queda de bicicleta.
Luciano com certeza gasta boa parte do seu tempo observando seu colega. Martín fecha o caderno e volta a arrumar o quarto antes de Luciano sair do chuveiro.
Martín terminou de arrumar a mesa e aproveitou para guardar suas roupas estendidas em um varal improvisado para fora da janela. Puxou as de Luciano também, pois sabe que a chuva dessa cidade não demora muito para chegar.
— Pode ir, eu termino de dobrar as roupas — Luciano diz, saindo do banheiro em uma nuvem de vapor e com uma toalha nos quadris. Seja lá quem construiu esse prédio adivinhou que um banheiro para o lado de fora e usado por todos os estudantes viveria imundo.
Martín pega uma roupa leve para dormir e entra no banheiro, evitando olhar diretamente para Luciano, que está coberto apenas pela toalha enquanto procura as roupas de seu armário, e tranca a porta atrás de si. Ele mostra os dentes para o espelho, como se a parte lascada de seu dente pudesse ter sumido.
Ele reflete. O caderno tem datas recentes nos desenhos, e Luciano desenha em diversos cadernos desde que chegou e os empilha sobre seu armário, onde sabe que Martín não tem interesse em mexer. Se Martín quisesse saber há quanto tempo ele é observado e ilustrado, teria que olhar eles.
Martín tira a roupa e entra no chuveiro. Luciano usa a maior parte da água quente e tem a prateleira quase toda para seus produtos de cabelo, enquanto Martín tem que guardar suas coisas do lado de fora. Martín não se importa, ele gosta de ver o colega se exibindo em seus piques de autoestima.
Ambos já jantaram em um pequeno estabelecimento de uma família indiana. Martín escova os dentes ao sair do chuveiro, reparando outra vez em seu dente lascado.
— Vou buscar minha parafusadeira e já volto, Tincho! — Luciano grita do lado de fora, fazendo Martín colocar a cabeça para fora da porta com a escova na boca — Quer alguma coisa lá da rua?
Martín nega com a cabeça, fazendo Luciano rir antes de passar pela para buscar sua parafusadeira em uma oficina de ferramentas. Luciano adora pasafusar as coisas, usando muito bem o isolamento de som do dormitório.
Ele escova os dentes mais rápido ao ouvir a porta fechar. Uma espiadinha não faria mal, e a oficina é longe o bastante para Luciano demorar.
Martín sai devagar, como se estivesse sendo observado, e vai até o armário com as roupas de Luciano.
Martín pega o caderno do topo da pilha, abrindo na primeira e se deparando com um desenho de uma grande construção do estilo colonial, um teatro, aparentemente. Ele escreveu o próprio nome na folha, e anotou a data como do primeiro dia de aula dele.
Martín vira outras páginas. Muitos teatros foram desenhados nelas, mas em uma data de vinte dias após o primeiro desenho está o que ele identifica como um grande olho semicerrado, como se o dono do olho estivesse sorrindo. "Hernández" está escrito por toda a página.
Ele senta no chão com o caderno. Um pouco depois desse olho e de algumas pontes, está Martín olhando pela janela. Metade de seu corpo está oculta por trás da parede que Luciano desenhou, mas a metade visível de seu corpo está um pouco virada para a direita, como se ele tentasse olhar algo na estrada, e seu rosto está totalmente virado de lado. Luciano não tentou deixar seu nariz reto.
Outro desenho mostra Martín adormecido, com o cobertor até metade do corpo e as mãos sob o rosto. Seu cabelo está bagunçado e o desenho consegue capturar os pelinhos do cobertor.
Martín gostou muito desse desenho, passando um bom tempo olhando ele sem se concentrar em mais nada. Nem mesmo na chave girando em sua porta
— Esqueci a porra da minha carteira nesse cara- — Luciano, irritado, para no meio da frase enquanto passa pelo batente da porta, encarando Martín.
Martín congela, olhando para Luciano com o caderno na mão. Luciano deixou a carteira na mesa quando saiu, precisando voltar mais cedo.
Eles se olham por alguns segundos antes de Luciano fechar a porta atrás de si e Martín fechar o caderno.
— Belos desenhos — Martín murmura, sem levantar. Ele ainda aperta o caderno nas mãos.
Luciano se aproxima, parando na frente de Martín. Martín se sente minúsculo sob o olhar indecifrável de Luciano.
Martín olhou nos olhos negros do outro por apenas alguns segundos e sua cabeça começou a rugir, assim como seu coração. Em duas semanas, Luciano já o desenhava, e Martín estaria mentindo se dissesse que nunca se perdeu em seus pensamentos e acabou imaginando Luciano, que agora se sentiu na sua frente, passeando por sua mente. Martín, no fundo, gosta de saber que Luciano pensa nele, que talvez queira ele.
— Me desculpa se e- — Luciano é interrompido pelo polegar de Martín no meio de seus lábios. Ele não reage, então Martín aproveita para segurar seu queixo.
Martín aproxima seu rosto do de Luciano, que aceita rapidamente a proposta não dita, deixando que Martín o beijasse com a mão em seu rosto. Luciano retribui avidamente, encurtando a distância entre os dois a ponto de sentir o calor emanado do corpo de Martín.
Quando se separam, Luciano não diz nada, como se não soubesse o que fazer.
— Você não é sempre tão falante, Lucho? — Martín questiona, sorrindo. Foi ele quem inventou esse apelido.
Luciano grunhe algo antes de responder.
— Eu sou falante com pessoas que não importam para mim. Os homens das oficinas, os professores, a mulher que me emprestou o isqueiro, esse tipo de gente, porque eu não ligo para o que vão pensar de mim ou de algo que eu fale, então não meço as palavras com eles. Mas, de eu me importo com o que a pessoa pode achar de mim ou eu simplesmente me importe com ela a ponto de não querer parecer irritante, eu não sei como prosseguir. Por isso nunca falei contigo sobre... Bom... Essas coisas como um adulto racional faria.
Luciano olha no fundo dos olhos de Martín quando termina de falar. Martín pisca, raciocinando o que foi dito. Ele tem que conter a vontade de apertar Luciano contra seu corpo.
— Eu não queria que você achasse que eu só te desejasse pra te usar, ou que eu só me sentia solitário aqui e estivesse desesperado por companhia, ou qualquer coisa do tipo. Então fiquei com isso na cabeça, então comecei a passar para o papel. Desculpa se isso foi estranho, eu posso apagar os desenhos.
Martín sorri, doce, tentando acalmar Luciano.
— Se eu te dizer que você não passava pela minha cabeça toda vez que eu fechava nos olhos, seria mentira. Mas eu costumo quebrar a cara, então não quis mencionar nada disso com o cara que vai dividir esse dormitório comigo por não sei mais quanto tempo. Seus desenhos são incríveis, Luciano, eu gostei de ter encontrado eles, já que não tive que iniciar nenhuma conversa como um adulto racional faria — Martín sorri ao parafrasear Luciano, que revira os olhos antes de seu aproximar mais de Martín.
Luciano é quem inicia o beijo dessa vez, segurando a nuca de Martín. É perceptível que Luciano esperou isso por muito tempo.
Luciano se encosta na parede, surpreendendo-se ao sentir Martín se deitar sobre seu corpo e deixar os braços de Luciano envolverem-o. O chão não é muito confortável, mas Luciano não pretende sair.
Eles não pretendem ir para longe um do outro tão cedo.
...
Não sei se ficou bom, mas eu gostei muito de escrever.
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lesvampira · 18 days ago
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no último ano do ensino médio eu conheci um menino através de um amigo meu, ele era tímido introvertido e muuuito reservado, ele ficava nos cantos durante o intervalo longe das pessoas junto das outras crianças que não gostavam muito de contato humano
lembro que a primeira vez que a nós fomos apresentados ele chacoalhou minhas mãos e tava tremendo, eu me via muito nele me projetava demais pq eu costumava ser assim também, até na época também era BEM mais bicho do mato do que sou hoje
nossos outros amigos gostavam de ficar juntos com as outras pessoas nas multidões conversando alto falando com gente estranha, e nós só ficávamos nos mesmos cantinhos de sempre longe de tudo em um lugar mais silencioso, a gente conversava sobre tudo, música, filmes, relacionamentos, sentimentos, na época eu não falava de nada muito profundo ou de nada muito doido que se passava na minha cabeça com ninguém, eu só sentia essa liberdade com ele, eu falava de um filme que eu gostava muito e na semana seguinte ele vinha me contar que tinha assistido, e vice versa,
ele nunca me passou o contato dele, rede social nenhuma, ele dizia que não tinha, a gente era de salas diferentes então só nos víamos durante o intervalo e de vez em quando, quando a gente matava aula, então eu não conseguia falar com ele fora da escola, era como se quando desse um determinado horário ele deixasse de existir
sinceramente nós eramos dois esquisitões meio inaptos socialmente, uma vez a gente passou os 20 minutos inteiros do intervalo em silêncio, um do lado do outro, em silêncio, pq ninguém tava afim de conversar, e sinceramente eu rio pensando nisso pq penso "com quem MAIS isso aconteceria???" ninguém, até hoje só foi confortável ficar em silêncio com ele
no último dia de aula eu vi ele pela última vez, e perguntei se ele realmente não ia me passar o número dele pra manter contato, e ele disse não, e de certa forma eu senti que era pra ser assim, durante os meses que fomos amigos eu ficava pensando que aquilo era a magia da coisa, que aquela amizade era finita e ele fazia questão de deixar isso claro, que nós dois tinhamos que aproveitar o máximo de tempo que a gente tinha juntos antes que o intervalo acabasse, pq depois só no dia seguinte, ou talvez nem isso pq as vezes a gente ficava doente ou sla e faltava
mencionei ele uma vez pro nosso amigo em comum que eu ainda tenho contato e ele disse que ele não fala com ele também, mas que sabe que ele ainda mora na mesma casa pertinho da escola e cortou o cabelo dele que na época era longo
quando chega esse período de final e início de ano eu sempre penso nele, como ele ta, o que ta fazendo, se ele ja fez tudo que ele disse que queria fazer na época, se ta apaixonado, se ta triste, se ele ainda sabe das mesmas coisas que eu sei
eu nunca soube lidar muito bem com a ausência das pessoas, até hoje eu chamo nem que uma vez por ano amigos da época do fundamental, nunca consegui deixar eles irem embora de fato, ele é o único
tenho vontade de tentar ir atrás dele, eu sei onde ele mora tenho vontade de bater na porta só pra ver o rosto dele, tenho vontade de perguntar se ele ainda lembra de mim, as vezes só eu sinto saudade não sei, mas o mais especial da nossa amizade era essa coisa meio mística de não saber realmente a onde o outro ta quando não ta com a gente, e se a gente se reencontrar isso vai se perder, então acho que ele vai viver pra sempre só nos meus pensamentos e eu espero que eu esteja nos dele também.
eu sempre gostei de colar ""lixo"" nos meus cadernos de desenho, memórias físicas de momentos especiais, e esses são todos que ele me deu
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esse é o melhor, um dia aleatório alguém me deu esse cartãozinho e eu disse que ia jogar fora, então ele disse que ia pegar e me devolver no último dia de aula, eu disse então que o papel nessa altura estaria todo amassado e velho, e ele disse que não, que ia me devolver bonitinho inteirinho do jeito que pegou, no último dia de aula quando eu nem me lembrava mais disso ele me devolveu o cartão, inteiro, que menino esquisito....
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thunderbone · 10 months ago
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English
Hi guys, I came to share with you a very old character that I created. In 2016, I had drawn a random character. At that time, I was still starting to draw, that is, my very old drawings are very ugly, poorly drawn and have horrible painting lol
This character was supposed to be a white tiger, but everything went wrong XD He looked more like a cat than a tiger. Last year I discovered the Lackadaisy comic, in which I fell in love with the art style, characters, story, etc. So recently I was thinking about creating an OC for this comic, until I remembered that "tiger".
So I went looking for someone who could redesign my OC. I could have done the redesign, but at that moment I ran out of pages in my notebook, meaning I couldn't make new drawings since I used up all the paper making several drawings XD
Then I met @stargazer365, a super nice artist who makes incredible drawings. The redesign she did for my OC was amazing, I really loved it ❤️✨ It was thanks to this drawing that I was able to develop my OC and his story. In addition to this drawing, today I got a new drawing of my OC, made by the kind and super talented artist called @bungiri. Thank you very much for drawing him for me, he was so cute and the drawing is very beautiful 😍🥰
He has no name, but he is nicknamed Einstein by everyone due to his intelligence and the fact that he's an inventor. Despite having a foreign nickname, he's Brazilian. In addition to being an inventor, he is also a mechanic and even managed to invent the first and only time machine, which, oddly enough, is a wristwatch.
In fact, Einstein is Ari's cousin (@ladybugkisses OC), that beautiful woman who fell in love with an elegant and charming but very crazy guy called Rocky hahaha
When Einstein went to live with his aunt for a year in Portugal as a child because his parents died in a tragic car accident, he met Ari and they soon became very close friends. But this lasted a year, as Einstein had to return to Brazil as his grandparents became his legal guardians.
Since childhood he has loved science and little by little he became a great inventor, in which he made several inventions. However, he lives in a kind of underwater mansion, where he makes his inventions in secret, because for him it is safer because if any of those inventions end up in the wrong hands, something very bad will happen.
Furthermore, he decided to live on the ocean because he prefers to live in a more peaceful and quiet place with fresh air than to live in a city that has a lot of noise and polluted air. Despite being a genius inventor, he makes his inventions in his spare time, as he works as a science professor at a university. Einstein dreams of having a family, but unfortunately he is very unlucky in love, as he has not yet managed to find an ideal woman for him.
And as for his wristwatch/time machine, he has already traveled to the future, visiting various eras such as the 50s, 70s, 80s, 90s, 2000s and 2010s, seeing various good and bad things that the future awaits. Anyway, I hope you liked my OC and his story ^^ I will soon share with you some more drawings of my OC, so wait 👀
Português (Brasil)
Olá pessoal, vim compartilhar com vocês um personagem bem antigo que criei. Em 2016, desenhei um personagem aleatório. Naquela época eu ainda estava começando a desenhar, ou seja, meus desenhos muito antigos são muito feios, mal desenhados e tem uma pintura horrível rsrs
Esse personagem era pra ser um tigre branco, mas deu tudo errado XD Ele parecia mais um gato do que um tigre. Ano passado descobri a HQ Lackadaisy, na qual me apaixonei pelo estilo de arte, personagens, história, etc. Então recentemente estive pensando em criar uma OC para essa HQ, até que me lembrei daquele "tigre".
Então fui procurar por alguém que pudesse fazer um redesign do meu OC. Eu bem poderia fazer o redesign, mas naquele momento acabaram as folhas do meu caderno, ou seja, não dava pra eu fazer novos desenhos já que acabei com todo o papel fazendo vários desenhos XD
Daí conheci a @stargazer365, uma artista super simpática que faz desenhos incríveis. O redesign que ela fez para o meu OC ficou incrível, eu amei demais ❤️✨ Foi graças a esse desenho que eu pude desenvolver o meu OC e sua história. Além desse desenho, hoje eu ganhei um novo desenho do meu OC, feito pela artista gentil e super talentosa chamada @bungiri. Muito obrigado por desenhá-lo pra mim, ele ficou tão fofo e o desenho está muito lindo 😍🥰
Ele não tem nome, mas é apelidado de Einstein por todos devido à sua inteligência e do fato de ser um inventor. Apesar de ter um apelido gringo, ele é brasileiro. Além de inventor, ele também é mecânico e ainda conseguiu inventar a primeira e única máquina do tempo, que, curiosamente, é um relógio de pulso.
Inclusive Einstein é primo de Ari (OC da @ladybugkisses), aquela linda mulher que se apaixonou por um cara elegante e charmoso porém louco desvairado chamado Rocky ksksksksksks
Quando Einstein foi morar com a sua tia por um ano em Portugal na infância pois seus pais morreram em um trágico acidente de carro, ele conheceu Ari e logo se tornaram amigos muito próximos. Mas isso durou um ano, pois Einstein teve que voltar para o Brasil já que seus avós se tornaram seus guardiões legais.
Desde a infância ele adora ciência e aos poucos se tornou um grande inventor, no qual fez várias invenções. No entanto, ele vive em uma espécie de mansão submarina, onde é lá que ele faz suas invenções em segredo, pois pra ele é mais seguro pois se qualquer uma daquelas invenções pararem em mãos erradas, algo muito ruim irá acontecer.
Além disso, ele resolveu morar no oceano pois prefere viver em um lugar mais tranquilo e sossegado com ar puro do que viver na cidade que tem muito barulho e o ar poluído. Apesar de ser um gênio inventor, ele faz suas invenções nas horas vagas, pois ele trabalha como professor de ciências em uma universidade. Einstein sonha em ter família, mas infelizmente ele tem muito azar no amor, pois ele ainda não conseguiu achar uma mulher ideal pra ele.
E quanto ao seu relógio de pulso/máquina do tempo, ele já viajou para o futuro, visitando várias épocas como os anos 50, 70, 80, 90, 2000 e 2010, vendo várias coisas boas e ruins que o futuro aguarda. Enfim, espero que tenham gostado do meu OC e de sua história ^^ Em breve irei compartilhar com vocês mais alguns desenhos do meu OC, então aguardem 👀
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femmefctale · 10 months ago
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Coraline vuole il mare, ma ha paura dell'acqua
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"Coraline Parton; Talassofobia e Brontofobia causados por evento traumático de quase morte. Ainda em tratamento." — Anotações de Francesca Parton.
coraline — måneskin
Todas as terças-feiras a família Parton tinha uma pequena tradição: os três filhos iam até o consultório da Sra. Parton após as aulas da caçula e, um à um, em ordem de idade, conversavam com a mãe por uma hora. Francesca dizia que era para contarem sobre a semana dos filhos, mas Coraline havia descoberto aos doze anos que a mãe os usava como base para seus pacientes. Era uma terapia em família, mas não podiam dizer isso, ou não seria ético da parte da mãe dos Parton.
Às 17hrs, Adam entrou no consultório, ficou por uma hora, saiu batendo a porta com força e foi fumar.
Às 18hrs, Bruce entrou no consultório, ficou por uma hora, saiu com a mãe rindo de alguma piada dele.
Às 19hrs, Coraline entrou junto com a mãe, que sempre ia buscar a filha. O tratamento com a caçula sempre foi diferente, desde o acidente, de modo que Francesca e Alexander eram um tanto protetores com a garota, a mimando de todas as formas possíveis.
— Buounanotte, mi principessa. — A senhora Parton e Coraline eram parecidas, desde o tom dos olhos até às curvas acentuadas. Apenas os cabelos eram diferentes, já que Fran era ruiva, e Cora era loira.
— Buounanotte, mamma. — Coraline disse em um italiano perfeito, exatamente como a mãe e a avó haviam ensinado. Em reuniões com a família materna, eles só se comunicavam em italiano. Cora adorava, é claro, mas era uma parte de si que ninguém nunca havia visto, nem seus amigos mais próximos, já que era algo que ela dividia apenas com a mãe.
— Trouxe sua caixinha de lápis preferida e comprei um caderno novo. — O tom de voz de Francesca era doce, mas parecia que ela falava diretamente com uma criança.
— Obrigada, mamãe. — Um sorriso largo vindo da filha mais nova era tudo o que Francesca iria conseguir naquele momento.
As duas caminharam juntas até duas poltronas, Coraline escolheu a azul e Francesca se sentou na vermelha, como sempre faziam. A mãe deu o caderno e os lápis nas mãos da garota que, mecanicamente, abriu todos os instrumentos e começou a desenhar.
Coraline amava desenhos, era sua maior especialidade, mais do que seus planos malignos, seus arremessos e, principalmente, sua língua afiada. E Francesca apoiava a filha de olhos fechados, adorando cada desenho que a garota fazia, não importava qual fosse, e deixava isso em evidência, já que o consultório inteiro era rodeado com os rabiscos e quadros da caçula. As duas, inclusive, estavam sentadas embaixo de um desenho enorme que Coraline havia feito nas férias, há mais ou menos cinco anos, com o título "Casa dos Sonhos".
— Como foi sua semana, carina? — Francesca começou a sessão, já com o caderninho e a caneta em mãos, dizia que só estava anotando as coisas para não esquecer qualquer ponto que a filha contasse.
— Turbulenta. — Coraline respondeu com um suspiro, começando o esboço de seu desenho com um lápis vermelho. Sua mão era habilidosa enquanto traçava linhas e rabiscos aqui e ali. — Fiquei presa no dormitório da Gwen o final de semana inteiro. Muitos jovens gritando e contando mentiras foi muito para a minha cabeça.
— Entendo. — Murmurou a terapeuta, anotando rapidamente em seu caderno, enquanto ouvia atentamente sua paciente. — Eles te irritaram?
— Muito. Mas... — A garota deu de ombros, focada apenas em seu desenho. — Um colega disse que ele viu meu futuro, e que serei uma dona de casa com onze filhos e tetas caídas.
Na mesma hora, Francesca parou com as anotações, largando o caderno na poltrona e indo até a filha, se sentando no braço do móvel que ela estava.
— Você não acreditou nele, acreditou? — Perguntou em um tom preocupado.
Cora deu um sorriso largo para a mãe, erguendo os olhos de seu desenho para encarar a mais velha.
— Não. — Respondeu com simplicidade. — O futuro não está escrito em uma pedra, e pode mudar constantemente. — Completou com as palavras que Alexander havia usado diversas vezes para acalmar a filha em uma crise de pânico durante as tempestades.
— Isso... Isso mesmo, principessa. — A mãe concordou com um aceno, voltando até sua poltrona e suas anotações. — Estava falando com seu pai. Já faz um tempo que você não veleja conosco e...
— Não gosto de barcos, mamãe. Você sabe. — Cora respondeu com firmeza, voltando à desenhar.
— Sim, mas... É hora de se recuperar desse trauma, carina. Um rio não é o mar.
— Não quero.
– Você precisa...
— Eu não vou.
— CORALINE PARTON!
A garota ergueu os olhos no mesmo momento em que a mãe ergueu a voz, franzindo o cenho quando a viu vermelha. Francesca não era do tipo que perdia a paciência, pelo contrário, sempre apoiou a filha, exceto quando esta não queria superar seu trauma. A mulher respirou fundo, tentando recuperar o controle.
— Sei que foi traumático e tudo o mais, carina, mas você consegue superar isso. Você é uma garota linda, uma guerreira e tem um coração tão bom. — Coraline não conseguiu esconder a risada com o final da frase, negando com a cabeça.
— Meus colegas não concordam com isso, mamma. — Respondeu entre a risada, mas seus olhos não desviavam do desenho.
— Mi principessa... Já falamos sobre a vidente, você sabe, ela foi uma charlatã...
— Eu sei, mamma. Não acredito mais nela, mas não significa que irei superar o meu medo. Você lembra o que ela disse, e lembra o o que aconteceu.
Quando Coraline tinha apenas oito anos, uma vidente leu sua mão.
"Você não será feliz na sua vida, menina. Sua linha é curta demais. Ninguém vai te amar, nem aceitar quem você é de verdade. Sim, eles não vão te entender, nunca!, porque sua beleza não ajuda. É isso mesmo e... espere, menina! Espere! Vejo aqui que você morrerá, no meio do oceano, durante uma tempestade. Irá se afogar, perder o ar, ser parte do oceano, assim como o oceano é parte de você."
Dois dias após a visão da vidente, Coraline saiu para um passeio de barco com o pai e os irmãos e, num momento em que Alexander não olhava, já que estavam tendo problemas com uma tempestade, Coraline aproveitou para ver as ondas do lado de fora da cabine, e acabou escorregando e caindo direto para o mar. A garota não sabia nadar, e se afastou muito do barco. A encontraram dez minutos depois, com água em seus pulmões, completamente gelada. Foi um milagre terem conseguido reanimá-la. O acidente com um final feliz trouxe dois pontos para a família Parton: Jamais deixariam a caçula sozinha, e Coraline adquiriu uma fobia absurda em tempestades e do mar.
— Eu me lembro, principessa, mas sabemos que não é verdade, não é? — Sugeriu a terapeuta, voltando sua atenção para a filha.
— Ela só é uma charlatã. — Concordou com um aceno, trocando o lápis vermelho para um laranja.
A sessão continuou, como sempre, com Francesca perguntando para a filha tudo, desde a última pessoa que ela havia beijado até se ela perderá mais alguma joia naquela semana.
Às 19h57, Coraline estendeu o desenho final para a mãe, sorrindo largo para ela.
— Quem é? — A mãe perguntou, observando o retrato com atenção.
— Ninguém em especial. — Respondeu, observando a figura com as cores do pôr-do-sol.
— Bem, vou guardar ele perto dos outros desenhos.
— Tudo bem, mamãe.
— Precisa de ajuda para aplicar a sua Insulina?
— Não, mamma. Consigo fazer sozinha.
— Ótimo! Vamos para casa.
Às 20hrs Coraline saiu do consultório ao lado da mãe, pronta para a segunda etapa daquela terça-feira: O jantar dos Parton.
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me-conte · 2 years ago
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Provavelmente, você não se dará conta: não se dará conta de que a pia do banheiro já não parece mais tão alta; que você não cabe mais no carrinho do supermercado; que matemática não é mais 1+1; que se você não se acordar você perde o horário porque não tem mais quem te acorde; que não conseguirá se alimentar se não fizer sua própria comida; que seus desenhos já não passam mais aos domingos cedinho; que não há mais quem conte as gotas corretas do remédio amargo para baixar a sua febre; que não tem mais um avô para pedir dinheiro; que não corre mais sempre quando via a chuva se aproximar; que as figurinhas do seu caderno se perderam. Provavelmente você cresceu e não se deu conta disso.
// Ryan Lucas
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pegueinopulo · 9 months ago
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onde: algum lugar na avenida real. para: @theunwantcd
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Artes plásticas realmente nunca haviam sido o seu forte. E ela não era uma daquelas pessoas que viviam comentando "Ai, eu queria tanto ser bom em fazer arte!" e sequer paravam para tentar, ela realmente já havia insistido nisso inúmeras vezes ao longo da vida, especialmente depois que tinha começado a jogar RPG de mesa e queria mais que tudo ter uma imagem perfeita de seus personagens. No final, sempre chegava à conclusão de que aquilo não era para ela – não conseguir reproduzir exatamente o que havia na sua cabeça era muito frustrante, além da prática requerer tempo e paciência, coisas que ela nunca soube administrar muito bem. Além disso, os artistas que pagava pra desenhar seus personagens faziam um trabalho tão melhor que o dela, então por que não prestigiar uma comunidade tão desvalorizada no mercado com o que podia, sabe?
Era com a frustração de não poder simplesmente procurar alguém com comissions abertas no twitter que ela caminhava pela avenida real naquele dia. Atormentada pela imagem da sua alma-espelho em seus sonhos, Darcy queria mais que qualquer coisa poder torná-la real de alguma forma, como se viver separada dela fosse uma tormenta, apesar de tê-lo feito a vida toda. Tinha formulado a teoria de que se tivesse uma imagem clara da criatura que pudesse consultar visualmente, a "materialização" dela aconteceria mais rápido, mas ela não conseguia desenhar dragões nem se a vida dependesse daquilo. Como se aquele universo pudesse ler sua mente – coisa que ela já cogitou ser verdade algumas vezes, inclusive –, reparou numa moça desenhando num caderno sentada num banco próximo. Era uma das perdidas, Saskia, se não estava enganada. Curiosa e com receio de assustá-la, se aproximou cautelosamente, observando os desenhos que fazia por cima do seu ombro, mas jogou a cautela de lado assim que conseguiu visualizá-los melhor. “Meu deus, você fez todos esses?” perguntou, animada, sem sequer anunciar sua presença primeiro. “São incríveis! Você é, tipo, profissional?”
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cherrywritter · 11 months ago
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Irmãos
Mansão Wayne – Bristol, Gotham
2ª semana de julho, 00 horas e 31 minutos
Damian estava entre a fresta da porta do meu quarto há pelo menos quinze minutos. Sua energia demonstrava que estava mais calmo e essa foi a primeira vez em dias que ele veio até mim sem que eu o chamasse.
Nosso pai teve que viajar a negócios e Alfred o seguiu para auxiliá-lo. Ele acreditou que me enganou, mas eu sabia muito bem que quando Alfred ia com ele, com certeza estava em uma missão paralela para a Liga ou de cunho pessoal. A mansão ficou sobre minha responsabilidade junto com a obrigação de colocar Damian na linha até que ele retornasse para Gotham.
Estava tarde e se o deixasse mais um tempo plantado no corredor, ele não acordaria devidamente disposto para a aula na Academia de Gotham. Também teria que ter ao menos meio período de aula, então não poderia me demorar mais do que uma ou duas horar para terminar meus relatórios. Tim e Dick foram para as ruas realizarem a ronda. Era noite de folga do Dick e não iria atrapalhar.
- Você devia estar dormindo. – Comento.
- Devíamos estar nas ruas no lugar dos dois babacas. – Resmungou.
- Damian. – O repreendo e ele bufa.
- É verdade que você e o Superboy são amantes?
- Não dizemos amantes, Damian. Dizemos namorados e espero que não arrume confusão com ele como arrumou com todos os Robins. – Ele bufou novamente e deu de ombros.
- Você namora com o outro projeto de Cadmus? – Disse bem insinuativo. Virei-me para o lado da porta e mostrei estar desapontada. – Desculpa. – A palavrinha mágica que ensinei estava surtindo efeito. – Parei. Posso entrar? – Assenti. Ele caminha até minha cama e se senta nela. – Ele ainda está bravo pelo o que fiz com o Tim?
- O que você acha? – O encaro séria. – Você quase o matou. Já disse que não é assim que as coisas funcionam. Aqui é diferente. Tente entender isso e não crie uma competição sobre quem é o melhor Robin de todos os tempos, ninguém liga, só você. Não vivemos em competição, somos uma equipe. Entenda.
- E como você entendeu? – Sua pergunta foi um tanto curiosa.
Damian podia ser humano, mas já havia passado por muitas e até situações piores que as minhas. É perturbador como o ser humano é capaz de fazer de tudo para conquistar o poder. Certo dia, quando estava no meu laboratório, ele apareceu com cadernos e mais cadernos cheios de papéis soltos, fotos, desenhos. Não disse uma palavra. Apenas os deixou lá e foi embora. Minha curiosidade bateu, mas esperei alguns dias até que tivesse a certeza de que ele havia deixado seus arquivos lá para que eu investigasse. Meu questionamento foi de como ele havia conseguido todos esses arquivos estando em Gotham.
Seu crescimento foi acelerado assim como o meu e de Conner. Foi treinado para ser um assassino e, consequentemente, teve fraturas e lesões graves. Seus órgãos foram clonados e substituídos várias vezes assim como ele também fazia uso do Poço dos Lázaros, que seu avô utilizava para se curar e evitar a temida morte. Talia o jogou na Liga dos Assassinos e ali ele foi criado como um. Não conhecia outro mundo nem outro estilo de vida. Tinha muito de mim nele.
Eu o via como um brinquedo nas mãos de sua família materna. Quando quebrava, era levado para o conserto e colocado em jogo mais uma vez. Isso evitava falhas, mas ele continuava sendo uma criança humana. Uma criança de dez anos que passou por lavagem cerebral e que tinha dez anos há pelo menos cinco anos.
- O último ano em Cadmus foi crucial para que eu entendesse. Já havia me comprometido demais com as exigências deles. Já havia visto o mundo externo pela mente de alguns funcionários e depois consegui me conectar aos sistemas e adquirir informação externa com segurança e sem influência. Aprendi o que realmente era fazer o certo: salvar vidas. Naquele ano, um pouco antes de fugir, teria que realizar um atentado terrorista que mataria centenas de bilhares de pessoas. Disseram que isso seria o diferencial para um mundo melhor, mas era mentira.
- Você fugiu por que não queria matar? – Ele parecia um pouco confuso já que matar sempre foi natural diante da sua criação.
- Não era o certo a se fazer, mortes não resolvem problemas. Só incitam mais violência e iniciam ou pioram guerras. – Me sentei ao seu lado. – Matei muitos pelas minhas próprias mãos, a distância por armas e por meio de sistemas. – Puxo o ar e esvazio todo o peito. – Eu sei matar. Quando tinha sua idade cheguei a sentir prazer com isso porque, de certa forma, era um jogo e eu queria vencer. Aprendi história, sociologia, filosofia. Tudo foi se encaixando e mostrando o caminho do bem. Enfim, sei o seu lado melhor do que qualquer um aqui. Apenas tente separar nessa cabecinha que você não é obrigado a eliminar todos.
- Existem pessoas que não deveriam ter permissão para estarem vivas. – Disse baixinho, quase que em um sussurro.
- Sim. Existem pessoas que não deveriam estar respirando o mesmo ar que nós, mas temos que ser diplomáticos na guerra. Assassinar alguém tem que ser o último recurso. Vamos dizer que se você não matar o Bane, o mundo explode e todos morrem. É uma necessidade estampada na capa do jornal, não acha? – Ele assentiu. – Tente pensar assim.
- Não é tão simples. – Resmungou.
- Nunca vai ser, mas se há dificuldade é porque vale a pena. Se você se sente parte deste império, tente. De orgulho ao nosso velho e pare de ser um pirralho mimado e egoísta. Você tem muito o que aprender sobre o mundo real. A vida não é como te mostraram. Fiquei dois anos nas ruas e aprendi muito sobre a realidade. Demorei seis meses para me adaptar ao estilo Wayne. Para confiar nas pessoas. Me entregar a elas. Lá fora não é fácil...
- Me treinaria se eu pedisse? – Sua fala me surpreendeu e me fez sorrir.
- Apenas se me prometer que vai lutar para mudar.
- Eu prometo, Victoria.
- Ótimo. – Bagunço seu cabelo e o vejo levemente irritado, mas segurando um sorriso tímido. – Agora vá dormir, pode ser? Você tem aula de violino amanhã e depois tenho plantão em Arkham.
- Depois vai passar a noite no hospital? – Assenti.
- Te pego no meu intervalo e te deixo na Torre ou você pode ficar lá comigo. Meu turno vai acabar as duas da manhã no máximo. Combinado?
- Combinado. – Sorri. Tivemos uma boa conversa. Pensei que demoraria mais para que conseguíssemos. Isso me deixava feliz. De verdade, estava feliz.
- Boa noite, Damian.
- Boa noite, Victoria.
Meu irmão seguiu para seu quarto e caiu na cama, literalmente. Tinha um estranho costume de se jogar nela como se todo dia fosse o dia mais cansativo de sua vida. Talvez fosse cansativo ser o bom garoto.
Em relação aos relatórios, ainda não me conformava em ter uma única e gigantesca pasta dedicada ao caso e tratamento de Jonathan Crane. Estava conseguindo desenvolver longas e progressivas conversas com ele, além de perceber que estava tomando com mais frequência os remédios que eu havia prescrito. A frequência se resumia a três ou quatro vezes na semana. Era um progresso de qualquer forma. Meus outros pacientes não eram tão teimosos e suas pastas não chegavam a dez porcento da de Crane. Os via com menos frequência devido ao bom comportamento deles e a grande evolução. Tinha apenas três pacientes que eram casos perdidos.
Depois que terminei, enviei os últimos arquivos para meus tutores na esperança de que pudessem me aprovar para que eu conseguisse o diploma sem que eu completasse integralmente a carga horária exigida até a data estipulada. Queriam que eu desenvolvesse pelo menos mais três a cinco meses de estágio para contemplar a carga, mas todas as minhas avaliações eram de excelência. Chega a ser até um pouco tedioso essa situação, mas não queria me perdurar. Queria entrar em 2023 formada e apenas aguardar a tão estimada formatura.
Com tudo arrumado, separei o uniforme de Damian e o deixei pendurado no cabideiro do seu quarto. Ele dormia tão profundamente que nem me escutou entrar. Continuava com o velho costume de dormir com uma adaga perto do apoiador ao lado da cama. Também se remexia muito durante o sono e isso fazia com que eu pensasse que fossem reflexos do corpo transpassando os traumas enquanto dormia. Às vezes ele acordava gritando. Gritos de dor. Era assustador.
Já no andar de baixo da mansão, após limpar o superior inteiro, me direcionei para a cozinha para fazer a comida da semana, congelar as marmitas e deixar o café da manhã preparado. Quando Dick fazia sua estadia na mansão, o terror culinário acontecia. Não havia sequer uma comida que tivesse o cheiro e o gosto agradável. Ele acabava com a dispensa e deixava nada adequado para consumo. Era um furacão categoria cinco sem dúvidas. Certa vez Tim disse que podia ver a comida se mexendo sozinha como se fosse um mini alienígena gosmento. Todos riam.
O dia amanheceu.
Preparei o café da manhã caprichado para Damian e Tim com pequenas tortas de maçã, panquecas, waffles, suco, mel, geleia e frutas picadas. Dick nem tinha saído da batcaverna depois que chegou.
Desci com o auxilio do elevador até encontrar Dick, que ainda trajava o uniforme de guerra, mas sem a máscara. Tinha o mesmo péssimo costume do mentor de não tirar a maquiagem dos olhos ou tirar de maneira preguiçosa. Com um enorme copo de café bem forte com creme, um lanche reforçado e uma torta, caminho até ele, deixo a bandeja em cima da mesa auxiliar e o cutuco para que acorde.
- Dick, acorda. Você dormiu na cadeira de novo. – Nenhum sinal de consciência é detectado. Parecia um morto. – Dick, se não acordar, vou dar choque em você que nem da última vez.
Um resmungo audível foi solto, mas parecia que ainda era do sonho que estava tendo. Ele tinha quatro horas para ajeitar tudo e voltar para a delegacia e se eu o deixasse dormir mais tempo, seu cérebro não acordaria em tempo.
Um choque pequeno não vai lhe fazer mal.
- Mas que merda, Victoria! – Segurei a risada. – Toda vez você faz isso!
- É porque toda vez você não me escuta te chamar. Toma o seu café e sobe para trocar de roupa e tomar um banho. Teve algum ferimento?
- Nada demais.
- Dick, é sério. Teve algum ferimento?
- Talvez tiro de raspão nas costas. – Reviro os olhos, teimosia deve ser passada do tutor para os aprendizes e depois enraíza, só pode.
- Tá, termina o café e sobe que eu já resolvo isso.
- Que horas são? – Ele boceja e vai com a mão em direção a torta de maçã.
- Oito e meia. Você tem quatro horas até ter que se apresentar na delegacia. Tenho que levar o Damian para a aula de violino e Tim para o curso de T.I. avançado. Vou passar na Wayne, depois saio para ir ao Arkham e plantão.
- Está mandando eu ser rápido?
- Sua conta e risco. – Dou de ombros, sorrindo. – Talvez eu precise que você pegue o Damian. Não sei se vou ter tempo de pegá-lo no meu intervalo.
- Quer que eu o leve? – Se ofereceu.
- Não. – Rio. – Quero você bem acordado. Ele já acostumou a ir no meu horário quando necessário. Não é sempre que Alfred tem condições de levá-lo. Te espero lá em cima. Meia hora, Dick. Tenho que sair daqui as nove.
- Ele deve adorar ir de moto com você. – Comentou após dar um longo gole no café e expressar satisfação com o sabor.
- Ele gosta, mas não vai admitir.
Retornei para o elevador, subi as escadas e caminhei em direção ao quarto de Damian. Ele era péssimo para acordar cedo, saiu muito bem ao nosso pai. Ao abrir as cortinas e deixar a luminosidade clarear o quarto de morcego. Não demorou para que meu irmão resmungasse e fizesse com que eu risse da situação. Ele era muito como nosso pai e finalmente as coisas estavam caminhando de maneira fluida. Meses atrás ele estaria me xingando, para dizer o mínimo. Deixei-o sozinho para que acordasse no tempo dele e saí de seu quarto.
- Bom dia, princesa. – Não me surpreendo ao ver Tim no corredor.
- Bom dia, senhor Drake. Sempre no horário.
- Sou perfeito nisso, senhorita Wayne. – Disse convencido. – Já desço para tomarmos café. Ele já acordou? – Questionou-me apontando com a cabeça para a porta de Damian.
- Você sabe como ele demora.
- E o Dick?
- Na caverna. Deve subir logo. Você tem algum ferimento?
- Não. – Riu. – Só aquele meia idade, sabe? Escorregou e tomou um tiro de raspão.
Tim jamais me dava trabalho quando. Sempre se colocava a disposição e ajudava em tudo. Quando o senhor Wayne viajava, ele fazia questão de passar uns dias na mansão. Ainda não entendia bem como o pai dele via isso tudo, já que seu segredo estava bem guardado conosco. Descemos rumo à cozinha.
- Caprichando como sempre!
- É minha obrigação, não acha? – Sorri. – Como está o braço? Ainda me sinto um pouco ansiosa com você voltando a ronda.
- Já disse que está bom. Não se preocupe. Dick não seria tão negligente comigo. Você já sabe. – De fato ele era negligente apenas com ele mesmo.
- Essa noite eu faço a ronda. Vá descansar ou sair com certo alguém. – Sorrio o provocando.
- Quando soube?! – Tim ficou boquiaberto e surpreso.
- Sou sua irmã, esqueceu? Notei seus sorrisos frouxos há um tempo e você também tem vindo com um perfume diferente para casa. Óbvio que eu ia sentir.
- Você acha que Conner vai notar também? – Neguei. Ele era homem e homem não nota. – Você acha que se souberem...
- Shh... não faça isso com você. Apenas seja feliz, ok? O resto eu mesma cuido. Droga, cadê o Damian?! Ele está atrasado de novo.
- JÁ ESTOU DECENDO!!! – Berrou da escada e nós dois rimos.
Damian chegou à cozinha com sua típica cara amarrada e com a gravata do uniforme completamente errada. Ficava me perguntando quando ele ia aprender a dar o nó sem que eu ficasse na sua cola, mas nosso pai fazia o mesmo. O cabelo estava bagunçado, a camisa estava para fora da calça e a mochila aberta. Suspirei. Tinha que ter paciência. O puxei para mim e me agachei para ajeitar sua roupa. Ele odiava quando eu agachava. Vivia reclamando que odiava ser baixo, mas eu insistia em dizer que logo ele estaria maior do que Dick. Beijei seu rosto quando terminei e o vi ruborizar. Isso me deixava feliz. Finalmente estava abaixando sua guarda e derrubando seus muros.
Esperei que os dois terminassem o café e aproveitei para beliscar alguns waffles. Eles estavam com um cheiro tão delicioso que não resisti.
- Vai querer carona, Tim? – Ele sorriu e me olhou de cima a baixo. Me segurei para não rir. Seu celular vibrou e, com certeza, era o motivo dos sorrisos frouxos dele.
- Já te respondo.
Dick finalmente apareceu faltando dez minutos para o horário de sairmos. O olhei e depois olhei para o relógio. Bati palmas e ele riu. Pego o kit de primeiros socorros na ilha da cozinha e o chamo para se sentar à minha frente.
- Anestesia, por favor.
- O Dick chorão ataca novamente. – Damian não segura a língua.
- Você já sabe que gente velha é assim mesmo, Damian. – Tim só complementa. Me controlo para não rir.
- Eu luto desde os meus treze anos, vocês poderiam ter um pouco de consideração
- Eu fui treinado para matar desde que nasci. Não reclamo de dor nem peço uma anestesia para fazerem pontos. – Damian zombou. De fato, ele tinha um ponto.
- As crianças poderiam se acalmar? Damian, escovar os dentes para irmos. Rápido!
- Mas que...
- Damian! – Ele bufa e se cala.
Com a pomada anestésica em mãos, passou um pouco na região do ferimento e espero fazer efeito. Pego a agulha e a linha, costuro cada espaço, o que soma cinco pontos, e cubro com fita micro poro para que não infeccione.
- Liberado, senhor Grayson. Daqui dois dias dou uma nova olhada. É para trocar a fita toda vez que tomar banho, entendeu? Banho minimamente uma vez por dia, tá?
- Até você, Victoria? – Dou de ombros, rindo.
- Até amanhã. Já deu a minha hora. Damian!!!
- ESTOU DESCENDO!!!
Peguei a chave do carro e caminhei até a garagem. O escolhido do dia era EQC, um modelo elétrico da Mercedes Benz e produzido de maneira cem porcento sustentável. Completamente confortável. Adorava dirigi-lo. Não demorou muito para que meus irmãos chegassem e se acomodassem. Tim adorava provocar Damian ao sentar no banco da frente. Dizia que ele não tinha tamanho para se sentar como um adulto e isso o deixava furioso. Timothy, apesar de tudo que havia acontecido, não deixava seu bom coração e seu humor de lado. Era uma luz em casa. Um ser humano que todos deveriam tomar como exemplo de vida.
O rádio tocava nossa playlist favorita. Chamávamos de Dark Knight. Estava tocando Born For This, The Score. Uma das nossas músicas mais tocadas. A música dos guerreiros que aprenderam a amar a dor porque nasceram para isso. Era isso que éramos. Fomos de Bristol até o centro sem muita dificuldade. Acostumada com o trajeto, sabia de alguns atalhos infalíveis. Deixando Damian na escola de violino, segui caminho à escola de T.I. de Tim.
Indústrias Wayne – Old Gotham, Gotham
9 horas e 40 minutos
- Bom dia, senhor Fox. – Sorriu e adentro seu escritório. – Trouxe algumas papeladas que o senhor pediu para que eu revisasse.
- Senhorita Wayne! Bom dia! Que prazer vê-la aqui. O senhor Wayne ainda não retornou de viagem?
- Talvez retorne semana que vem. Ele não quis me dar muitos detalhes. – Suspiro e tento relaxar. – Eu fiz algumas correções nesse contrato e nessas duas propostas. Tenho certeza de que não foi o senhor que elaborou porque conheço bem o estilo de escrita do senhor. Recomendo que refaça o treinamento do Joshua. Também revisei alguns currículos e separei estes aqui. São cinco perfis muito bons para a empresa e para as áreas requisitadas.
- Apenas cinco? – Senhor Fox se surpreendeu. Fiquei um pouco sem jeito, mas deveria explicar meus motivos.
- É que os currículos têm energia também e eu acabei identificando os perfis ruins por isso. Depois queria uma reunião com a cúpula para acertar o orçamento deste mês. Acredito que o senhor tenha notado uma fuga relativamente pequena nos fundos de créditos. Pesquisei e notei que não houve nenhuma autorização vinda do senhor ou do meu pai para que isso acontecesse.
- Você realmente viu tudo isso em dois dias? – Assenti com um sorriso orgulhoso estampado no meu rosto.
- Quero participar das entrevistas também se meu pai não chegar a tempo. Ele me pediu um estagiário para o acompanhar. Foi um pedido bem inusitado.
- Seu pai faz pedidos bem inusitados. Lembra daquele tanque? – Ri.
- Como esquecer. Um tanque com propulsores para voar.
- Como está sua agenda hoje?
- Entro meio dia e meio em Arkham e depois plantão no H.G. Damian está pela minha conta também.
- Alicia. – Chamou senhor Fox pelo telefone. – Marque uma reunião para daqui uma hora. A senhorita Wayne exige que todos da cúpula estejam presentes.
- Claro, senhor Fox.
- Acredito que esteja com o dossiê em mãos com as informações de quem está realizando os saques.
- Com certeza. – Tiro a pasta kraft da mochila e o entrego. – Vamos avisar o RH que teremos algumas demissões hoje. Demissões por justa causa.
Asilo Arkham – Ilha Mercey, Gotham
13 horas e 25 minutos
- Ele continua te visitando?
Decidi visitar Crane nos meus primeiros horários em Arkham para que não chegasse a atrasar no final do turno e não ter tempo de chegar na hora no Hospital Geral. Crane estava tendo pequenos avanços desde que comecei a medicá-lo pessoalmente. Tornou-se um hábito perigoso. O doutor gostava do contato e eu era a única que ele autorizava ser medicado. Mais ninguém poderia se aproximar dele. Virava um louco, alguns enfermeiros diziam estar possuído. Transtornado.
- Ele parece muito interessado no seu tratamento. – Seu comentário me deixou intrigada. Ainda não tinha encaminhado meus documentos para um possível mestrado ou doutorado para a universidade por causa das provas finais. Precisava do resultado delas para poder realizar o envio.
- Acho que houve um mal-entendido. – Sorrio. – Não há tratamento que eu esteja desenvolvendo. Estou terminando a universidade ainda. Talvez ele esteja interessado no que posso oferecer. – Crane não gosta da minha fala. Sua cara fecha, ele se levanta rapidamente segura meu punho com força. Rodrigues se aproximou da porta. Olhei em sua direção rapidamente e movi minha cabeça em negativo para que ele não entrasse.
- Ninguém pode se interessar no que você pode oferecer. Não é uma presa fácil. É tão esperta quanto ele.
- Mas não tanto quanto você, não é? – Ele afirmou. – Jonathan. Não quer me machucar, certo?
- Nunca.
- Então me solte, por favor. – Ele arregalou os olhos e soltou meu pulso já verificando se havia o marcado. Uma pequena vermelhidão ficou no local e o vi se decepcionar consigo.
- Me desculpe, Victoria.
- Apenas não repita isso. Sente-se, vou te medicar.
- Não mereço.
- Sou eu quem dá as ordens aqui, esqueceu? – Seu olhar tinha sincera tristeza e desapontamento. Era intrigante. Realmente se importava comigo, sua energia dizia isso em bom som e cores. – Sente-se.
Crane não desobedeceu
Senti Rodrigues tenso do outro lado da porta, mas sorri ao olhar. Peguei o pequeno copinho de plástico da mesa com os comprimidos, peguei o de água e o entreguei. Como um homem obediente, ele prontamente os segurou e aguardou até que me colocasse atrás dele. Crane colocou os comprimidos na boca, aguardou minha mão tocar seu pescoço, o copo com água se aproximou de seus lábios e ele engoliu os comprimidos. Acompanhei com os dedos o movimento do seu pomo de adão. Claro que a visão além do alcance ajudava.
- Tenho que ir.
- Sentirei saudades. – Ele beijou meu pulso com pesar. – Até breve, Victoria. Logo vai estar melhor. Me desculpe.
Hospital Geral de Gotham City – Old Gotham, Gotham
19 horas e 00 minutos
Pronto-Socorro nunca é fácil.
Não sei como tive tempo de pegar Damian antes de chegar no hospital. Os casos de pacientes psicóticos e entorpecidos não era o pior que via ali. Talvez o costume de estar quase sempre em Arkham fez com que eu não me incomodasse com tais cenas perturbadoras. Alguns eram meus pacientes de longa data, pacientes que acordaram de coma, perdidos. Outros eram moradores de rua ou viciados. Poucos eram jovens que tentaram se divertir e quase foram de arrasta. Sempre tinha que atender tentativas de suicídio. Bem comum, infelizmente.
O que me preocupava era o estado de jovens entorpecidos. A cada semana os casos cresciam, mas as notícias abafavam a situação. A maioria dos médicos diziam que estavam apresentando sintomas clássicos, mas não conseguiam entender como não estavam entrando em overdose. Na minha opinião, algo estava bem diferente do que eles cogitavam por mais que apresentasse heroína, LSD e outros tipos de drogas que já conhecíamos. Havia uma nova droga circulando e provavelmente o Máscara Negra estava envolvido. Era o único que nos dava trabalho constante nos últimos meses.
- Você pode jantar aqui com o meu cartão. Aquela sala dezenove é a minha. Pode ficar lá o tempo que quiser. Tenho um computador, você pode jogar nele. É um horário cheio, então não vou conseguir ficar com você.
Agora começava a correria
A noite em Gotham sempre seria mais agitada que o dia dos justos. Trabalhadores saindo do serviço e vindo direto para o hospital, outros que arrumavam confusão em bares e chegavam machucados. O PS ficava lotado a cada hora. Meu irmão, após terminar de se entediar na minha sala, saiu para observar o corredor, olhando de um lado para o outro, sentado em uma cadeira de espera.
Passou duas, três, quatro horas e ele continuava ali.
Vez ou outra ele arregalava sutilmente os olhos com a correria das macas e com o sangue. Enfermeiros e médicos montados em pacientes com paradas cardíacas que seguiam até o centro cirúrgico. Outros tinham ferimentos bem bizarros que consideraríamos terem ganho após uma batalha árdua com algum vilão ou com herói de Gotham. Você nunca, em sã consciência, enfiaria um gancho na perna ou no braço.
Uma gritaria tomou conta dos corredores.
Corri para a entrada e vi três enfermeiros aflitos com uma maca em direção a ambulância. Meu coração disparou ao ver uma menina baleada. Não devia ter mais de onze ou doze anos. Auxiliei a empurrar o carrinho, gritando com que mais estivesse no caminho para que saísse. Pressa. Ela estava entrando em choque e teria que ir direto para a cirurgia. Cortei suas roupas e vi cortes pelo corpo. Cortes irregulares de tipos de facas diferentes. Uns mais profundos, outros superficiais.
A equipe de cirurgia a preparava procurando acessos intravenosos e colocando os aparelhos para o monitoramento da pressão e dos batimentos. Ela começou a estrebuchar na mesa, tivemos que a amarrar e dar mais sedativos, uma anestesia mais forte conseguiria ajudar. Era culpa da hemorragia. Meus olhos avançados vasculhavam seu corpo em busca das lesões e dos sangramentos. Escutei seus batimentos, seu pulmão. Nada bom. Estava com pneumotórax. Não tinha muito tempo.
Com o bisturi em mãos, higienizei a área e cortei entre as costelas. Meu colega pegou o tubo e o inseriu entre o espaço junto com a bolsa de água pronta. O ar foi saindo e fazendo com que bolhas de oxigênio surgissem na água. Passei para a extração das balas. Uma havia atravessado o peito e parado na clavícula, outra estava no abdômen e uma última na perna. Era uma cirurgia muito delicada. Estava muito perto da artéria e qualquer erro poderia acabar na morte dela.
A pressão caiu, os batimentos cessaram. Aquele som que eu odiava ouvir. O som continuo que anunciava que a vida se foi do corpo.  A energia vital sessava. O vazio consumia. Subi na maca e comecei a massagem cardíaca. Usávamos o desfibrilador, eu massageava, faziam a ventilação manual. Um, dois, três, quatro, cinco minutos.
- Victoria. Não podemos fazer mais nada. – Colocaram a mão no meu ombro e me olharam com pesar. – Hora da morte?
- Meia noite e quarenta e nove. – Engulo o choro e desço da mesa. – Eu dou a notícia a mãe. Fechem ela e peçam ao necrotério para deixá-la bonita.
Caminhei do centro cirúrgico até a área de espera na tentativa de me recompor. Deveria ser fácil diante de tudo que passei e fui treinada, mas viver no mundo era muito diferente do que estar isolada e não saber o que são sentimentos e a vida de verdade. Atravessei a porta, tirei as luvas rosadas e olhei para aquela mulher desesperada. Percebi que ela havia passado pelo PS também. Estava com hematomas escuros e também com cortes pelo corpo, muito provável ser vítima de violência doméstica. Quando seus olhos me encontraram, sua cabeça balançava em negação. Já sentia o que estava por vir.
- Sinto muito. Fizemos tudo o possível. – Digo com pesar.
- Não. Não. Não. Minha filha não! – A mãe gritava desesperada.
Eu a segurei e tentei acalmá-la. Ela se debatia em meus braços e sua dor era palpável. Me doía a ver daquela forma e ver a sua energia transmutar. Densa e escura. Triste. O azul mais escuro da noite mais escura. A aceitação seria difícil. O luto seria eterno. Senti algumas lágrimas escorrerem e vi Damian me encarar surpreso. Era como eu havia dito a ele. A vida aqui fora não é fácil. Ela então teve uma breve calmaria e me deu o tempo certo para conversarmos.
- O que eu puder fazer pela senhora é só me dizer. Sei que é uma situação difícil, mas posso ajudar com a papelada, com o enterro e algo a mais. – Fiquei ali a abraçando. Sua filha era minha última paciente e a quarta morte da noite. Uma morte de uma criança era muito mais dolorosa. Ela tinha uma vida inteira para aproveitar e se foi.
- Vamos embora, Damian. – Digo chamando sua atenção.
- Aquela garota... – Começou sugestivo.
- Não é sempre que conseguimos salvar a todos. – Pego nossas mochilas e caminho em direção ao estacionamento. – Você vai fazer a ronda comigo hoje.
- Tem certeza de que está bem para isso? – Sorri por dentro. Era bom vê-lo se importando comigo.
- E por que não estaria? Esqueceu de que fui treinada para perder vidas? Vamos assustar alguns bandidos. Nos divertir. – Bagunço seu cabelo para descontrair.
- Ela tinha minha idade, não é? – Mordi os lábios. Abro o carro e me sento no banco do motorista ainda me sentindo mal por ter perdido a criança.
- Quase da sua idade.
- E é assim que as pessoas ficam quando perdem alguém? Sentem... essa dor?
- Está sentindo empatia, irmão? – Sorrio. – Isso é bom.
- Não é empatia. – Resmungou. – Só fiquei curioso.
Fiquei em silêncio apreciando a pequena vitória. Eu tinha feito bem em o levar para o hospital para que ele saboreasse um pouco da vida dos meros mortais. O fazer verbalizar tais sentimentos era um avanço.
Fomos à mansão, nos trocamos e nos atiramos na noite. Dirigi pela Ponte Robert Kane e segui até Crime Alley. Era um bom lugar para começarmos a caçar bandidos.
Damian sabia ser silencioso, mas ainda era muito violento. Descompensado na luta corpo a corpo. Quanto mais eu o reprendia, mais irritado ele ficava. Seu automático fazia com que ele eliminasse em vez de apagar os criminosos. Foi quando lembrei das vezes que papai fazia seu interrogatório e depois amarrava o bandido em algum poste ou o deixava pendurado como um saco de pancadas.
- Preste atenção. – Sussurrei. – Vou pegar aqueles dois e você espera meu sinal. Depois os amarra e deixa a marca do Batman.
- Por que você fica com a parte divertida? – Resmungou mais uma vez.
- Porque você ainda não aprendeu a controlar os punhos. Lei da atração. – Ri com sua cara de desgosto. – Ao meu sinal.
Quando estávamos voltando para a mansão, senti uma energia diferente perto da Torre do Relógio. Eu podia jurar ter visto alguém pular dela, mas seria loucura. Bárbara já havia aposentado sua carreira como Batgirl e Spoiler havia sumido do radar. Muitos diziam que ela havia morrido. Talvez estivesse cansada e meu corpo começara a criar ilusões. Já fazia semanas que não dormia e basicamente estava testando minha capacidade de me manter acordada e sem me alimentar ao limite.
Chegamos na mansão por volta das quatro e meia da manhã. Se nosso pai estivesse em casa, com certeza estaríamos levando uma bronca por voltar tão tarde.
Tudo estava apagado.
Era estranho ver nossa casa assim, desligada. Era muita mansão para poucas pessoas, mas eu tinha que entender que ela estava na nossa família há gerações. Antigamente tudo era grande e volumoso.
Subimos as escadas nos arrastando. Estávamos cansados demais. Tomamos nossos banhos e fomos para o quarto do meu irmão. O observei por longos instantes até criar coragem para questioná-lo. Eu tinha certeza de que havia visto alguém saltar da Torre do Relógio em trajes tão negros quanto a noite.
- Damian. – O chamei.
- Hmm?
- Você viu alguém na Torre?
- Do relógio? – Afirmei. – Acho que não. Estou com muito sono, Victoria.
- Acho que também estou... – Resmungo sentindo minha cabeça doer.
- Acha que viu alguém? – Afirmo. – Você raramente erra...
- Isso que me aflige. Talvez se eu ligasse para a Barb, ela poderia me dizer.
- Amanhã, irmã... agora vamos só dormir.
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Para o meu grande amor:
Eu te amo! Tô aqui escutando minhas músicas para encerrar a noite desse domingo e tô aqui uma mala inteira de saudades sobre várias coisas. E agradecendo ao mesmo tempo a Deus e Esú pela vida que eu tenho hoje, no qual eu escrevia em meus cadernos, desenhava toda sem jeito e dom nenhum para desenho, mas jogava para o universo. E em meio às dificuldades, a vida que eu tenho hoje é a que eu pedia a Deus, Esú, Iyewa e Osun. Uma casa, dois filhos, um cachorro e um gato. Não tenho os dois filhos ainda, mas tenho uma já que é incrível e tão linda, uma cachorrinha que me tira a paz e me trás toda alegria que o nome dela traduz, e o gato a caminho. E eu agradeço tanto, hoje, ontem, amanhã e todos os dias que estarão por vir pela vida que desenhei em um post-it, uma energia meio derick e Meredith realmente.
Escrevo tanto, sobre tantas coisas, situações e pessoas e agora me veio a inspiração em gratidão por ter você, vocês na minha vida.
Eu realmente não posso desistir da minha vida, porque viver com vocês é muito bom.
Estava lembrando as felicitações que desejos as pessoas em datas especiais, e hoje, agora, quero agradecer a nós e almejar e emanar, que TUDO o que for nosso finalmente nos encontre. Tanto a mim, no meu individual. A você no seu individual. E ao nosso nós! Nós que ninguém desata. Lembra?
Eu amo você demais, minha Kethly, meu Felipe, minha pessoa! Obrigada por estar comigo e me ensinar novamente a me enxergar. Você é essencial na minha vida e na minha jornada. Que nunca haja desencontros em nossos caminhos, e se por ventura houver em algum momento, que a gente sempre se lembre do caminho para se encontrar.
Eu amo amar você, e amo nossa vida.
Hoje é dia 10 de dezembro, faltam 2 dias para completar mais um mês do dia 12 em que nos olhamos a primeira vez e pensei "é ela! Vai ser ela! Vou casar com essa mulher e construir uma vida com ela" e cá estamos nós.
No dia 12 de dezembro de 2024 estarei escrevendo mais um texto de amor para você, pois hoje eu peço e agradeço muito antes das conquistas que estão nos esperando ao nosso encontro, em nossos caminhos.
ti kọ (está escrito)
Laroyê.
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paintvrst · 2 years ago
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✶     —     𝐎𝐍𝐂𝐄 𝐔𝐏𝐎𝐍 𝐀 𝐓𝐈𝐌𝐄    …    parece que no futuro vamos ler o conto de DANNYL KINGSLEIGH, a PRIMEIRA membro de ALICE KINGSLEIGH. Quando recebeu sua profecia de nascimento, disseram que ele seria aliado com NINGUÉM, mas será verdade? Com VINTE E TRÊS anos, ele veio de PAÍS DAS MARAVILHAS, onde atua como PINTOR E PATINADOR ARTÍSTICO, tornando-se bastante explícito que serve a KINGSLEIGH. Os pássaros me disseram que ele NÃO VAI PARTICIPAR da Seleção com intuito de FICAR EM PAZ. Típico, considerando sua reputação de ser FRANZINO, ANSIOSO e DEBOCHADO, embora eu deva admitir que possa ser CRIATIVO, TALENTOSO e EMPÁTICO. Aposto que deve ter herdado tudo isso dos pais!
conexões
✶     —    𝐀𝐍𝐃 𝐒𝐎 𝐓𝐇𝐄𝐈𝐑 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐘 𝐁𝐄𝐆𝐈𝐍𝐒 …  
⮞ Ninguém nas Ilhas Quebradas conhecem a verdadeira identidade de Dannyl, na verdade nem ele próprio a conhece. O menino de seis anos foi encontrado desacordado em uma das praias do País das Maravilhas por alguns moradores locais e, ao acordar a criança revelou não se lembrar de nada, nem mesmo do próprio nome. Ninguém o adotou, mas de alguma forma aquelas pessoas estranhas e um pouco birutas o acolheram e cuidaram dele.
⮞ O dom artístico sempre esteve ali, mesmo que ele não se lembrasse de onde vinha ou onde tinha aprendido, algo que só se desenvolveu ao longo dos anos. Alice era famosa naquela terra e se tornou uma espécie de exemplo para o menino, sempre admirando sua forma de expressão artística.
⮞ Mesmo estando sempre cercado por pessoas, Dannyl se sentia sozinho e não criava laços facilmente, algo dentro de si o fazia acreditar que era facilmente descartável, foi assim que aos oito anos deu vida ao seu primeiro desenho e desde então passou a desenhar pessoas no ar sempre que se sentia sozinho.
⮞ Aprontava como qualquer criança e tentava demonstrar gratidão por aqueles que o acolhiam, mesmo sendo considerado franzino por alguns.
⮞ Os frequentes pesadelos fazem com que Dan desconfie de que foi contrabandeado por piratas e algo deu errado, seus pesadelos sempre envolvem sombras que lembram piratas, além de possuir um medo absurdo do mar e águas profundas.
⮞ Ás vezes suas pinturas ganham vida durante a noite enquanto ele dorme, sempre quando está tento um pesadelo, não é raro acordar no meio da noite e encontrar sombras reais em seu quarto, fruto de suas pinturas.
⮞ Frequentemente sente que há algo de obscuro dentro de si e por isso suas criações se tornam sombras, vestígios de seus pesadelos.
⮞ Aprendeu a patinar quando criança e de tanto que gostava das danças locais, não foi difícil começar a fazer algumas apresentações pelo território das Maravilhas.
⮞ Desenhos e pinturas sempre fizeram parte de si, no início chegou até mesmo a pintar algumas paredes personalizadas de moradores locais. A paixão pela pintura é tão grande que além de carregar um caderno de desenho consigo o tempo todo, também possui uma espécie de ateliê móvel.
⮞ A união da patinação com a pintura veio por acaso, Dannyl sempre gostou de entreter crianças e foi em uma brincadeira que começou a dançar sobre os patins e desenhar no ar com o pincel, dando vida a alguns animais para grande alegria das crianças. Foi naquele momento que o rapaz percebeu que poderia ganhar dinheiro com aquilo.
⮞ Foi o primeiro a entrar para a Trupe quando Alice divulgou sua ideia, tocada pela realidade do rapaz, acabou lhe dando seu sobrenome, algo pelo qual Dannyl é muito grato.
⮞ Pintura sobre patins, exposição viva e imersão fantásticas, são apenas algumas de suas apresentações.
⮞ Dannyl não cobra para fazer apresentações em orfanatos e costuma fazer algumas doações sempre que pode.
⮞ Está sempre comendo, ama doces, milkshake, e todo tipo de comida que possam ser consideradas mais infantis. 
✶     —    𝐔𝐍𝐋𝐎𝐂𝐊𝐈𝐍𝐆 𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐀𝐆𝐈𝐂 …  
Realidade Artística é o poder de dar vida a tudo aquilo que produz artisticamente, como Dannyl só pinta e desenha quadros, é exatamente isso que ele pode dar vida, ou seja, sua habilidade se limita a apenas obras de sua própria autoria. Com um pincel ou um lápis ele tem a capacidade de desenhar no ar e transformar aquilo em realidade, não se limitando apenas ao papel, no entanto, nenhuma de suas criações vivas duram para sempre, quinze minutos é o tempo máximo de duração até agora. Também não é possível retirar um objeto (ou qualquer outra coisa) de um quadro, no entanto, ele consegue se inserir num quadro e toda aquela ambientação de tinta se transforma em uma espécie de realidade paralela, Dan consegue até mesmo transportar alguém consigo para o quadro, porém, até o momento só é possível fazer isso com uma pessoa de cada vez e o tempo máximo para permanecer dentro daquele cenário é de dez minutos. Quando suas criações ganham vida algumas regras se fazem presentes, por exemplo, se for um alimento, aquilo não se torna comestível e ao dar uma mordida se desfaz em tinta nas mãos; já ao dar vida a uma pessoa ou ser vivo, a criatura consegue seguir ordens simples de Dannyl, porém, esses seres não falam. O efeito colateral é de que algumas dessas criaturas podem se transformar em sombras dependendo do estado mental do rapaz, como se fossem seus próprios pesadelos sombrios. 
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kabritto · 1 month ago
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O Pescador e a Marionete
Em uma noite de verão como qualquer outra, onde os ventos do norte cantavam doces melodias na companhia de trovões, um velho artesão foi surpreendido com a visita de um senhor aos pratos. Suas roupas tinham o cheiro doce dos rios, e em suas mãos trêmulas carregava um lampião de bronze que guardava uma tímida chama púrpura, que lutava para permanecer acesa. Em meio às lágrimas, o homem tinha dificuldade em encontrar as palavras corretas. "Eu havia avisado!", berrava. "Como ele pode?", ele continuava. Élio, o relojoeiro, deixou a raiva esfriar no coração do desconhecido para começar as perguntas, e foi surpreendido com um pedido peculiar. "Poderia fazer um corpo para o meu filho?".
O desconhecido finalmente se apresentou como Adônis, um simples pescador do vilarejo e pai de Higor, um jovem músico que havia despencado do barco enquanto ajudava seu pai, perdendo a vida nos domínios de Iara. Desesperado, Adônis implorou por misericórdia, que a senhora das águas trouxesse seu filho de volta. E após bradar em profunda agonia, se ergueu das águas uma doce chama, púrpura como os lírios do campo. Era a alma do jovem reluzente acima das águas, se desfazendo lentamente sobre a brisa que acompanhava as ondas. O pai recolheu a chama num pequeno lampião de bronze que havia levado no barco e partiu ao encontro de qualquer um que pudesse o auxiliar.
Compadecido, Élio concordou em ajudá-lo nessa tarefa impossível, mas deixou claro que precisaria de tempo para ser realizada. Adônis concordou, e perguntou o que seria necessário. O relojoeiro pediu retratos e objetos de grande valor sentimental que pertenciam ao rapaz. Tudo aquilo que em vida trouxera paixão a sua alma. Na manhã seguinte, o pai apareceu em sua porta com uma pequena caixa contendo fotos, roupas usadas, antigos cadernos de desenhos e um estojo contendo o violino do jovem rapaz. E assim começou, durante um ano, o artesão deu forma a um novo corpo esculpido em bronze e revestido com placas de cedro. Traçando delicadamente os detalhes.
A pedido do pai, a virilidade foi mantida, assim como a delicadeza dos olhos. Feitos a partir de cristais. Uma fina camada de silicone foi usada na região da cabeça e membros, amaciando o tato e conferindo a criação detalhes como nariz e orelhas. E, com as engrenagens perfeitamente montadas, o novo corpo foi finalizado pouco antes das festividades do ano novo. Faltando agora apenas a sua alma.
O lampião foi trazido ao artesão, que encaixou a luminária onde em carne bateria um coração. Um minuto de silêncio pairou no ar. A fé do pai, por um breve momento, se viu abalada. Mas antes de levantar sua voz, pode observar pequenas gotas caindo dos olhos da nova criatura, seguido por um impulso de fúria. O autômato se debatia violentamente. De seus lábios saía barulhos irregulares. Sua primeira memória seria marcada pela dor de um novo nascimento. Uma dor necessária para renascender o espírito daquilo contrário a tudo o que é natural. Mas, antes que um estrago maior fosse feito, o relojoeiro encaixou em sua nuca uma pequena chave de bronze, que desligou todos esses instintos primitivos até que o mesmo permanecesse estática, apenas os acomodando com o olhar.
Ele explicou que levaria tempo para o rapaz se acostumar com a nova forma. Seus sentidos e voz somente voltariam através de estímulos. Tanto fisicamente, como de sua memória. Num processo doloroso, que exigiria do pai um pouco mais de paciência e ao rapaz, um teste de resiliência.
Nas primeiras semanas, a criatura se adaptou aos sentidos, em especial o tato. Em seguida , passou a reconhecer a extensão de seus membros. Movendo um dedo de cada vez. Nos meses seguintes, foi a vez de dar seus primeiros passos e reconhecer a própria voz. Onde foi-lhes ensinado seu nome. "Higor", disse pela primeira vez. Seus olhos obtiveram uma tonalidade púrpura ao nascimento, e mesmo quando desativado, percorria os entornos. Como se tivesse medo de os fechar novamente.
Quando mais seguro de sua forma, lhes foi apresentado seus velhos pertencentes. Fotografias e antigos rabiscos foram usadas para reaver a memória, e roupas colocadas para trazer à tona seu senso de identidade. No período de seis meses, Higor se mostrou um ser completamente funcional. Com memórias base florescendo em sua mente. Antes mesmo da chegada do inverno, Higor finalmente retornou à companhia de seu pai.
Isolados em meio a vegetação, Adônis foi introduzindo o filho a sua velha rotina. Não havia pressa, e muito menos solitude. Higor passava suas manhãs colhendo frutas, limpando peixes e arrumando as redes de pesca. A noite era desligado e guardado sobre a cama. Que ao passar dos dias, foi acompanhado pela presença de seu pai, dormindo ao seu lado, sem qualquer vergonha de intimidade.
Higor voltou com poucas palavras. "Sim senhor!" e "Como o senhor preferir" se tornaram toda a extensão de seu vocabulário. Algo que não parecia incomodar o pescador, que prezava sempre em permanecer ao lado de seu filho quando voltava às águas. Contudo, Higor se mostrará atento, com os olhos investigando cada detalhe que o alcançava. E com a chegada da primavera, ele fez a sua primeira pergunta: "Posso praticar o violino?"
A pergunta pegou o pescador desprevenido, o instrumento ficava guardado nos fundos da casa. Onde em vida, Higor virava as madrugadas praticando. Sem saber como reagir ao pedido, o pai apenas levou o filho ao seu velho santuário. Um humilde casebre de bambú, com partituras e figuras coladas nas paredes interiores. Lá, Higor tocou as primeiras notas, ainda que garridas. Demorando dias para acertar o primeiro pentagrama.
Seu pai sempre o acompanhava de perto, não perdendo instante da sua evolução. Até que, com a chegada do verão, as necessidades da casa falaram mais alto, e as águas do rio concederam a Higor seu primeiro gosto de privacidade.
A sós, a marionete pode percorrer pela propriedade fora a perspectiva do pai. Sentindo o frescor nas paredes e o aroma do mar preenchendo o ambiente. Essa era a casa que tanto o pediam para recordar. Aonde crescerá e um dia chamará de lar. Mas algo parecia errado nessas lembranças. Faltavam lacunas que o pai se esquivava, e a cada nova manhã se tornavam mais profundas diante de seus olhos.
Desbravando o que diziam ser o seu quarto, a marionete pode finalmente observar a figura por inteiro. Fotos repleta de rostos que um dia significaram algo. Desenhos de animais e paisagens que um dia deva ter trilhado. Roupas onde o tecido possa ter trazido qualquer conforto a sua pele. Tudo muito bem guardado, como uma lembrança. Um retrato aproximado daquilo que um dia aqui viveu.
A única lembrança que não precisava fingir possuir era a de uma risada. Uma melodia doce, que alimentava a chama guardada em seu peito. E por algum motivo, sabia que tal memória deveria ser somente sua. Algo que a resposta deveria encontrar com o próprio toque sem vida. E assim o fez.
Num pequeno compartimento escondido no piso abaixo da cama, havia uma pequena caixa de jóias. Presente da mãe, supôs. Dentro da caixa havia um punhado de lírios já desbotados, velhas partituras, fotos sorridentes de Higor na companhia de um rapaz, sempre aos abraços, e uma carta nunca aberta.
Voltando ao casebre, a criatura decidiu tocar as músicas rabiscadas nas partituras. Cada melodia se mostrará escrita com muita ternura, narrando sentimentos de poderosos e confusos. Navegando da culpa ao prazer. Da raiva à cumplicidade. Até que aquela risada reverberou mais uma vez na memória. Houve encontros às escuras. Noites acordadas às margens do riacho, na companhia das estrelas e de um beijo. Um beijo diferente de qualquer outro.
Também havia medo. Uma culpa que se estendia da pele para as paredes da casa. Um toque que lhe trouxera raiva, e anseio pela liberdade dos pássaros. Houve mãos sobre seu pescoço, turvas pelo movimento das águas. Até que toda luz foi-se extinguida. Renascendo uma chama que se recusava a abandonar aquele sorriso.
Às primeiras lágrimas foram derramadas em seu nascimento. O relojoeiro acreditará ser um defeito de calibragem, um resultado de seu ligamento abrupto. E desde então, nunca mais ousaram escapar. Pelo menos, até hoje, quando fluíram com naturalidade. Escorrendo de seu rosto reluzente. E pela primeira vez, sentiu a dor da humanidade.
Recomposto, a marionete recolheu os pertences e foi terminar os preparativos para a chegada de seu pai. Preenchendo a entrada em sua nuca com mel silvestre. Após o jantar, ambos se dirigiram ao quarto, retirando suas vestes e aguardando um ao outro nas bordas da cama. Adônis retirou a pequena chave de bronze do pescoço e introduziu lentamente em Higor, que prontamente despencou por entre os travesseiros. Onde pode sentir o toque de seu pai explorando toda a sua forma, até adormecer profundamente. Ao se levantar, a criatura pegou a reserva de óleo guardado na cozinha e espalhou pelas paredes e portas da casa, retornando ao quarto somente para atar cuidadosamente os braços e pernas de Adônis. Observando aquele que se apresentava como pai uma última vez.
Fora da residência, a criatura abriu sua caixa torácica. E com o auxílio de um fósforo, recolheu um singelo fragmento de sua chama e atirou sobre a casa. Observando o fogo engolir a residência, ao som de gritos de puro desespero. Quando o sol se levantou, aquela casa e tudo que ali um dia houvera, não passava de uma memória distante. E assim, a criatura recolheu os seus pertences, abriu a carta nunca antes aberta e partiu ao encontro daquele sorriso que cintilava em sua mente. Sem mais o peso das velhas amarras.
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cmechathin · 6 months ago
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Wе don’t know where we’re going, we just keep getting higher (celric)
Celeste manteve as provocações maliciosas e Cedric lambeu os lábios inconscientemente ao ouvir suas insinuações. Na maior parte do tempo, a maga de fogo agia como se preferisse estar no controle. Ela parecia valorizar ter poder sobre os outros em sua vida pessoal e profissional e andava com uma postura dominante, além daquela de uma mulher segura de si. Na cama, porém, Cedric sabia que Celeste apreciava quando ele tomava o controle e entrava em uma posição de maior dominância, pois ela obedecia ao que ele dizia e orquestrava sem muita resistência. Havia uma verdade em sua fala que ia além do assunto que abordavam e de mera insinuação erótica, e Cedric faria questão de lembrá-la disso mais tarde, quando tivessem mais tempo… Sua próxima frase o fez perder a compostura, no entanto, surpresa transparecendo em seu rosto. Ela havia se reconhecido nos traços que vira naquela noite, então, quando dividiram o loft com Madeleine. Visivelmente encabulado, Cedric desviou os olhos para baixo e trouxe a mão para mais perto de si, sabendo que sua reação o impediria de criar uma desculpa qualquer, ou até mesmo negar o que ela perguntava. Não era tê-la desenhado que o embaraçava, mas sim ter sido pego, em um momento em que desenhá-la poderia significar um sentimento a mais — algo que era rejeitado pelos dois, principalmente por Celeste. Além disso, não ter comentado nada naquela noite mesmo após a maga ter visto o desenho ao seu lado apenas contribuía para seu atual embaraço. — Eu não esperava que você fosse ver… — Disse, sentindo-se como um adolescente cujos sentimentos haviam sido descobertos por sua quedinha secreta. Engoliu a saliva, então, usando a pausa para recuperar um pouco da sobriedade. Voltou a olhá-la e arriscou um sorrisinho. — Você fica bonita assim, só com lençóis te cobrindo. — Olhou para seus cabelos, um pouco mais desarrumados do que como estavam quando ela chegou. — E com os cabelos rebeldes. A imagem me vem à cabeça às vezes.
O embaraço de Cedric tomou seu rosto e corpo, fazendo com que retirasse a mão e desviasse os olhos do dela em um gesto cativante. Ela riu silenciosamente em resposta, admirando-se. Gostava de desconcertá-lo de mais de uma maneira, percebeu.
Celeste tinha folheado seu caderno sem pedir permissão para fazê-lo, sem perceber, fascinada pelo talento e intimidade do momento. Ao se deparar com o desenho, não conseguiu ter absoluta certeza de que era ela ali, ainda que ele fosse estranhamente familiar. Ambos ignoraram a possível descoberta, mas ali estava, pedindo praticamente uma confirmação, o que Cedric deu. Com isso, Celeste abriu um sorriso contente. Então era ela ali. Há quanto tempo o mago tinha sentimentos por ela?
Interessada, inclinou a cabeça para mais perto.
— Tem outros? — perguntou. Era uma pergunta arriscada, pois se fosse de fato o único desenho que ele tinha, seria a vez dela se envergonhar. Porém, algo lhe dizia que aquele não era o primeiro. — Eu gostaria de ver algum dia, se você deixar.
Quando começou a desenhá-la? E por quê? Não sabia as motivações que levavam Cedric a pintar alguma coisa, mas parecia que, ao desvendar aqueles desenhos, descobriria algo a mais sobre a relação que tinham.
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Extrato 27 de julho de 2016
“O desespero pressionando nossas costelas como grandes larvas brancas, agitadas, estufando nossos estômagos, deslizando umas sobre as outras, banhadas pela espuma ácida das dores acumuladas, borbulhando até a tampa de nossas cabeças, nos deixando ansiosos e cansados, loucos pelas migalhas de horas boas. Encarando reflexos desgastados, encarando estranhos. Esperando...” Eu tinha escrito isso no meu caderno, não lembro quando. Provavelmente em uma situação parecida com essa – umas 18h, terminal de ônibus, fila do Jardim Flamingo. Fingia que estava entretido, mas folheava o caderno sem muito interesse. Na falta de um fone de ouvido, era minha única opção para evitar as pessoas. “nunca se tratou de desprezo pelos outros...”, outra anotação. Ao lado da fila vinha um cara arrastando um carrinho de feira, vendendo pacotes de mandioca cortada e sem casca. A mulher da minha frente comprou três pacotes, comentando com a amiga sobre o quanto seu marido e seus filhos gostavam de mandioca. Voltei a olhar para o caderno, dessa vez sem ver nada além do papel branco e das linhas azuis. Comentaram sobre vários jeitos de preparar a mandioca. O ônibus encostou ao lado do ponto e demos alguns passos à frente, esperando cada um que chegou nele descer. As vozes da fila aumentaram. Em pé, perto dos bancos, dois moleques brincavam de dar tapas no saco do outro. Davam bastante risada. Virei mais algumas folhas, passei por alguns desenhos, frases de alguns livros – “Absurdo pretender que uma pessoa passe a vida com os olhos fechados e vá abri-los exatamente na hora em que aparecemos diante dela. Graciliano Ramos”, uns e-mails e números de telefone. Todos desceram do ônibus, então nós da fila subimos, esperando pelo horário da próxima viagem. Terminal sentido Flamingo, saída as 18h15. Consegui um lugar sentado, no lado da janela, e tentei usar isso como um sinal de que as coisas começariam a melhorar. Ainda faltavam alguns minutos pras 18h15. Guardei o caderno na mochila e apoiei a cabeça no vidro, olhando para as bancas de café, bolo e cigarro, as lanchonetes, alguns motoristas fumando, rindo e rodeando o celular de um deles, pessoas comendo, pessoas comendo e mexendo no celular, pessoas correndo para o final de cada fila, mais pessoas no celular, grupos de pessoas encontrando outros grupos de pessoas. Pela escada que dá acesso ao terminal, vi Leandra descendo. Ainda tinha o mesmo rosto de aflição, os olhos pelos cantos, escondidos atrás do longo cabelo tingido de loiro, o andar acelerado e confuso. Pulou pelos degraus, esbarrando em todo mundo, ignorando todo mundo, com a mochila ao lado do corpo - revirando um dos bolsos. Finalmente achou o maço, parou em frente às bancas de café, colocou o cigarro na boca, pegou o BIC na calça jeans, levantou a cabeça e então aqueles olhos de cor cinza me encontraram. Balancei meu cabeção em um cumprimento idiota. Seus olhos simplesmente miraram a ponta do cigarro, os dedos giraram a pedra do isqueiro, a brasa ascendeu e ela virou de costas. Pediu um café, pagou e foi para o outro lado do terminal. Tínhamos passado alguns meses juntos, mas agora era aquilo, nada mais que um desvio ou um caminho errado. O ônibus finalmente deu partida. Peguei meu caderno e tentei escrever alguma coisa. Nada que eu gostasse. Guardei de novo na mochila. Resolvi olhar pela janela, com a alma em silêncio, esperando chegar em casa para fumar um baseado e tentar escrever alguma coisa.
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pantherinaeee · 7 months ago
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notas de 2021, recortes de uma página do meu caderno durante meu sumiço da internet.
eu vivo falando e falando e eu odeio falar pois todas as minhas palavras são vazias e quando me calo esse vazio acaba por tomar conta de mim [sem vírgula, como meus pensamentos]. na verdade talvez - e muito provavelmente - ele já está em mim mas se torna mais feio [evidente] quando eu o expresso. gostaria de me calar mais, até que minhas palavras sejam dotadas de algo maior. de um sentido que vá além de mera necessidade de autoafirmação.
se somos homens, os astros nos inclinam mas não determinam.
as coisas se desvalorizam quando o homem não tem um sentido maior pra vida.
é falta de centro é falta de centro é falta de centro...
eu gosto de falar sobre o tempo e de conversas de elevador pois isso me conecta com as pessoas. a simplicidade tem essa habilidade de unir a todos pois é uma linguagem universal. mas eu gostaria mesmo era de ter a habilidade de impactar alguém com uma conversa de elevador e transformar o dia daquela pessoa com um simples comentário sobre o tempo, aí sim eu seria digna dos mesmos adjetivos qud dão aos sábios. enquanto isso não acontece, me contento com a insignificante conexão que um bom dia exerce e torcer para que esse seja impactante de alguma forma e assim torne o tempo maos belo para aquele a quem me refiro.
peço perdão a todos que nunca me deixaram na ofensiva mas que precisaram me aturar nesse estado sem sequer entender o motivo disso → há feridas que parecem nunca curar as vezes → e que precisam urgentemente de curativo → *desenho um símbolo* → acho que esse é meu símbolo.
a pedagogia humana é uma cópia da pedagogia da vida.
pq me chamas tanto, valquíria?
essa página me deu nó na garganta justamente pq comecei falando que não gosto de falar e terminei fazendo dela o mesmo muro de lamentações que tanto odeio falar.
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lindinho ver o processo de purificação ocorrendo das páginas iniciais às páginas finais dos meus cadernos.
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