#acompanhante de alguel
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schoje · 4 months ago
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A Prefeitura de Florianópolis, por meio da Superintendência de Serviços Públicos, informa aos homologados nas modalidades Tenda de Alimentos e Bebidas e Alguel de Cadeiras e Guarda-sóis sobre a definição dos pontos das praias e entrega dos guarda-sóis para aluguel: Data: 30 de novembro e 01 de dezembro de 2021. Local: LIFE CLUB FLORIPA – Endereço: SC-401, 14525 - Vargem Pequena, Florianópolis - SC, 88050-000 Horário de Atendimento (senha por ordem de chegada) Das 10h às 17h WhatsApp para contato: 048 9 9606-3891 (somente mensagens) Somente o titular ou seu procurador legal (mediante apresentação de instrumento de procuração outorgando poderes específicos de representação no respectivo edital de credenciamento) poderão retirar os materiais.   Documentação OBRIGATÓRIA DO TITULAR DE PONTO necessária (originais ou cópias autenticadas):   Documento de identidade - RG com foto; NÃO SERÃO ACEITOS COMO DOCUMENTOS DE IDENTIDADE: Certidões de Nascimento, CPF, Título Eleitoral, Carteira de Motorista (modelo sem foto), Carteira de Estudante, Carteiras Funcionais sem valor de identidade, nem documentos ilegíveis, não identificáveis e/ou danificados. Instrumento de procuração pública ou particular outorgando poderes específicos de representação no respectivo edital de credenciamento Comprovante de inscrição no Edital e de ter sido sorteado Comprovante de residência em nome do Titular – Ver lista de comprovantes aceitos: (NÃO SERÃO ACEITAS declarações de residência).   Conta de água, luz ou telefone (fixo ou móvel) com no máximo 3 meses da data de emissão Contrato de aluguel em vigor, acompanhado de conta de consumo (água, luz, telefone), desde que tenha firma reconhecida do proprietário do imóvel Declaração anual do Imposto de Renda Pessoa Física Demonstrativos ou comunicados do INSS ou da SRF Boleto bancário de mensalidade escolar ou plano de saúde, condomínio ou financiamento habitacional Fatura de cartão de crédito Extrato/demonstrativo bancário de outras contas, corrente ou poupança, empréstimo ou aplicação financeira Guia/carnê do IPTU ou IPVA Infração de trânsito Laudo de avaliação de imóvel pela Caixa Escritura ou certidão de ônus do imóvel.   Orientações Gerais: Não será permitida a entrada de acompanhantes (Necessidades específicas serão avaliadas caso a caso). Uso obrigatório de máscara O Permissionário assinará o Termo de Comodato no ato de recebimento dos materiais, que regulamentará a sua responsabilidade pelos itens recebidos. Orientações para permissionários TENDA DE ALIMENTOS E BEBIDAS EM PONTO FIXO NAS PRAIAS: Ocupação e benfeitorias:  Somente após assinatura do Termo de Comodato , da retirada dos materiais e da realização da ação de posse que será agendada no dia da entrega de materiais. IMPORTANTE: Qualquer desacordo com a documentação apresentada ou com os itens dispostos nesse informativo, impossibilitam a retirada dos materiais bem como, a ocupação dos devidos pontos. Casos omissos serão avaliados individualmente pela Superintendência de Serviços Públicos do Município de Florianópolis. Fonte: Prefeitura de Florianópolis
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jkappameme · 5 years ago
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Acompanhante de Aluguel (Longfic 16/16)
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Jeon Jungkook Autora: Agness Saints Gênero: Comédia, Romance Sinopse: Parecia piada, quatro anos de um relacionamento frustrante havia chegado ao fim, mas Haneul ainda te atrapalhava a vida. Se ele não tivesse arranjado um namoro relâmpago, você não precisaria demonstrar que está bem também, que não ficou para trás. Você não precisaria, principalmente, contratar aquele maldito acompanhante de aluguel.
Moreno. 1,80 de altura. Porte atlético. Bonito. Inteligente. Educado. Agradável. Sabe estabelecer uma conversa. Sem compromisso emocional, apenas financeiro. Valor sob consulta. Interessados: [51] 5782-4158
Esquece o “parecia”, a vida é mesmo uma piada pronta. Contagem de palavras: 11.576 Avisos: +16.  A história faz parte da série puerlistae au. Parte: 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 Playlist. | Playlist 2. | Playlist 3.  
Há um amontoado de pessoas perto da porta automática de vidro; o sensor de movimento não para de apitar, mas ninguém se atreve a sair de cima do tapete largo e sintético. É um pequeno caos instalado na loja de conveniência e o atendente tem certa dificuldade em lidar com tanta gente em frente ao caixa. Daqui dos fundos, sentada sozinha em uma das mesas vazias do estabelecimento, consigo enxergar a cena num todo. 
A tempestade de verão nos pegou de surpresa no meio da tarde desta quinta-feira, ela veio de repente chacoalhando plantas, árvores, placas e até pessoas. Causou um rebuliço pelo campus inteiro e fez todo mundo correr para se abrigar debaixo de marquises, de toldos sobre os bancos, nas bibliotecas e então em lojas de conveniência. 
Sinto meus pés encharcados pela corrida que fiz há pouco tempo, meus tênis estão mais pesados que o de costume e minhas meias começam a esfriar perto dos calcanhares. Sinto também o tecido de minha camiseta colado ao meu tronco e alguns pingos escorrerem pelas minhas costas. O calor lá fora continua o mesmo, mas dessa vez abafado e grudento.
Olho ao meu redor, pensando se adianto o jantar ou se invisto em algum café gelado. Tento calcular o tempo que tenho até a reunião do meu curso — que descobri ter ontem —  e o que gastaria em cada uma das opções. Mas antes mesmo que qualquer decisão pareça crescer, um trovão estoura lá fora, fazendo meu corpo e o pequeno tumulto na porta se contraírem de susto. 
Suspiro alto, o ar saindo por minha boca quando remexo-me sobre o banco redondo. Sucumbo. Enfio minhas mãos nos bolsos da calça jeans e os esvazio sobre a mesa. Algumas moedas dançam, meus fones quicam e as notas de dinheiro amassadas ameaçam voar pelo vento do ar condicionado. A superfície vermelha é tomada pelos meus pertences, alguns deles levando pingos aleatórios de chuva, outros secos iguais ao meu celular.
O aparelho agora está em minha frente, em meio à moedas e aos fios do meu fone. Olho-o por algum tempo, é como um peso que preciso me livrar; e gostaria de estar falando do físico. O avião no topo da tela me lembra que bloqueei qualquer sinal telefônico há dois dias quando minha mãe ligou três vezes em uma mesma tarde e enviou mais de quatro pretendentes para encontros às cegas por sms. Não que isso me cause algum tipo de pressão matrimonial como causava antigamente, como também não é como se isso me deixasse ansiosa ou angustiada, só é chato e cansativo. Mesmo eu lhe dizendo que não tenho interesse em nada disso, ela continua insistindo incansavelmente. Pelo menos, tentando olhar por um lado positivo, ela não envia mais suas antigas e rotineiras mensagens listando todas as qualidades de Haneul...
Haneul. 
É um tanto engraçado pensar sobre ele agora. Parece ter existido em uma vida distante, passada, mesmo que tenha sido a razão por tantas coisas que fiz e me enfiei. Ele não me afeta mais como me afetava há um tempo, é como se a cotovelada em seu nariz tivesse me libertado de vez.
Algumas coisas mudaram, outras continuaram as mesmas; mas ele parece se encaixar nas duas opções.
Haneul continua sendo Haneul. Os mesmos pensamentos, as mesmas atitudes e seu temperamento difícil de lidar. Mas não mais me procura, não mais me manda mensagens. E isso ainda me parece um mistério. Até porque não acho que as palavras que falei ou as mensagens que não respondi tenham tido tanto poder a ponto de fazê-lo se afastar. Por um instante, entre minhas pelúcias antigas em meu quarto em Naju, acabei pensando que talvez minha mãe tenha tomado a frente da situação. Num pensamento utópico e contraditório, ela teria me defendido, teria o feito se afastar de mim. Mas a ideia parece fantasiosa demais e não me permiti pensar muito sobre, nem sequer alimentá-la mais do que já alimentei. Gosto de pensar então que talvez a vida tenha agido finalmente ao meu favor e o feito se afastar assim, como mágica.
O amontoado de pessoas continua intacto perto da porta, igual à tempestade lá fora. Ela parece varrer cada parte da cidade como uma limpeza física e emocional. E gostaria que ela varresse meu celular também. A chuva é tão forte que a música que costuma preencher o ambiente é só um ruído sonso. 
O aparelho agora parece me encarar de volta, parece me cobrar um retorno à vida social. Ainda com ele repousado sobre a mesa, penso que de fato eu precisava me organizar, como também precisava respirar em paz. Mas agora que todos os meus pertences estão no lugar, meu bullet journal está atualizado e consigo ver uma vida universitária mais organizada, sei que não existe mais desculpa alguma para continuar com ele em modo avião. Como também sei que não faz muito sentido continuar dessa forma, até porque não posso mais me privar de coisas por causa dos meus pais, muito menos por causa da minha mãe. 
Respiro fundo, finalmente habilitando meu celular a receber todos os sinais telefônicos antes bloqueados. Tento me concentrar no céu cinza do lado de fora, tento não me prender às inúmeras vibrações vindas dele. Por fim, giro meus ombros para trás como um aquecimento. Não consigo desviar a atenção auditiva, eu acompanho cada vibração que chega. Respiro fundo mais uma vez quando percebo que elas se encerraram. Antes de encará-lo tento então focar no que realmente importa. É como um mantra: qualquer coisa que aparecer ali não pode me afetar.
Assim que o encaro, as cores parecem criar vida em frente aos meus olhos, elas moldam toneladas de notificações de uma antiga conta do Twitter que nunca nem sequer usei, outras tantas do Instagram e o restante notificações de mensagens da operadora, de Sorn, do grupo do curso, de minha mãe e de… Espera.
O quê? 
Jungkook?
Sinto minha garganta falhar e meu corpo todo se transformar em geleia. Olho para seu nome em minha tela; tão diferente e ao mesmo tempo tão habitual. As cores aparecem agora em um tom mais intenso e vivo, exclusivamente para ele; elas dançam como um sonho distante e nada real. 
J-u-n-g-k-o-o-k.
É realmente seu nome; com todas as letras, cores e sentimentos. Está ali, exatamente ali, não está? Seu nome identificando o número novo que recebi de Sorn no início da semana; que salvei com tanto apreço e ansiedade. Está ali; em uma explosão de cores, brilhando muito mais do que qualquer outra notificação. 
Pisco algumas vezes. Uma, duas, três… Talvez dez. 
 [13:17] jungkook: os encontros com a minju acabaram
 [13:31] jungkook: é o jungkook
 As mensagens continuam ali; a data de ontem encabeçando-as como um lembrete.
Meus dedos apertam meu celular com certo receio de que o momento me escape, quase achando graça de Jungkook sentir a necessidade de se identificar. Quase. Porque não tenho espaço para um riso frouxo ou leveza por agora. Meu corpo parece perder completamente a noção de tempo e espaço, é um trem desgovernado que acaba de passar por cima de toda a minha calmaria.
Todas as outras notificações continuam ali, mas pouco me importo. Meu mantra parece nem sequer existir mais, porque de fato estou afetada. Estou muito afetada.
Por todo o período de férias e por todos os dias em que sucederam minha chegada até aqui, eu planejei tudo o que gostaria de dizer à Jungkook. Com sinceridade e genuinamente. Precisei me policiar para não entrar em contato antes do tempo ­­— do meu tempo —, antes de eu entender o que acontecia na minha vida, dentro de mim. Porque, caso eu fizesse, as atitudes seriam impensadas e os sentimentos verdadeiros sufocados por frases ansiosas e confusas.
Desde que Sorn me entregou o anúncio de designer gráfico, eu pensei em dezenas de formas de aparecer nas notificações de Jungkook. Não vou mentir, pensei mais do que me lembro. Pensei em dezenas de desculpas para conversar com ele, abri e fechei nossa conversa, digitei e apaguei mensagens. Mesmo com o celular em modo avião, não houve um dia desde que botei meus pés aqui que não ensaiei uma aproximação. 
Pensando agora, chega até ser um tanto patético perceber que, nas últimas 24 horas, enquanto eu listava modos de chegar em Jungkook e me remoía com poucas ideias, a mensagem dele já estava ali: pronta para ser respondida.
Olhando para suas mensagens agora, penso que parece que todos os assuntos que eu gostaria de dizer simplesmente desapareceram no ar. Meus dedos dançam ansiosos sobre a tela, mas só dançam e não digitam nada por um longo tempo.
Por fim, envio a única coisa que consigo pensar por agora.
 [15:40] eu: e eu quebrei o nariz do haneul
 Não faço ideia do que eu quis dizer com isso, muito menos o que ele quis dizer com suas mensagens. Os encontros com Minju acabaram. É uma informação nova ou é uma antiga? Ou Jungkook só não sabia o que me mandar também? 
Fecho os olhos e respiro fundo, dessa vez não como um mantra, mas como um momento para eu tentar me organizar. A informação que Sorn me trouxe de que Jungkook perguntou sobre mim nem sequer pareceu existir. Ela retoma meu cérebro agora como um tornado, uma tarefa de casa do ensino fundamental que esqueci por completo. Penso então que me afundei tanto no nervosismo de me aproximar dele que nem sequer lembrei que, talvez, ele quisesse falar comigo também.
A cada minuto que passa, sinto-me apreensiva. Meus olhos não deixam um instante sequer a conversa com Jungkook. Eu poderia ter falado sobre várias coisas. Poderia ter resgatado o dia das catracas, poderia lhe dizer que estou melhorando e mudando comigo. Poderia lhe contar que não o procurei, porque precisei me encontrar antes; que não achei justo tentar resolver algo no meio de todo meu conflito interno. Não achei justo comigo e nem com ele. Eu poderia lhe dizer que estou pronta agora, que estou pronta para qualquer coisa, porque estou sendo verdadeira comigo mesma e que eu estou finalmente livre.
Mas não, dentre todas as coisas que poderia lhe dizer, eu escolhi a que citava meu ex-namorado.
Inacreditável.
— Dumb dumb dumb dumb dumb...
Meu corpo sofre um solavanco surpreso ao som de Red Velvet, meus olhos crescendo em pavor quando eu finalmente entendo o que está acontecendo. 
É uma ligação.
Uma ligação de Jungkook. 
Sinto vontade de gritar, sair correndo em direção ao amontoado de pessoas e os chacoalhar enquanto solto frases sem cabimento algum. Sinto-me eufórica, a flor da pele. O nome estampado na tela grande e brilhosa em minha frente parece um alerta. 
Quase caio na tentação de pensar em algo para lhe dizer ao atender, de tentar consertar a frase sem cabimento que lhe enviei, mas acabo pensando que a dele também não foi lá a mais incrível do mundo. Foi? Estamos quites nessa, afinal.
— Oi! Oi!
Minha voz sai alta e urgente, a loja de conveniência parecendo ter sido preenchida por ela como um alto falante. Ela não se parece em nada com as formas que planejei falar. Séria, madura e determinada.
— Oi, é o Jungkook.
— É, eu sei.
E, por um instante, ficamos assim; dividindo uma expectativa sem cabimento, porque eu espero com que ele fale e ele espera com que eu fale. Nossas respirações batendo no bocal e a certeza de que somos péssimos em lidar com esse tipo de situação pairando no ar.
— É... Hm. — Ouço seu pigarrear desconcertado do outro lado da linha. Aonde quer que ele esteja, parece silencioso e calmo. — Você quebrou o nariz do Haneul?
— É. — Respondo, nervosa. É pela lembrança e por ele. — Foi uma confusão tremenda.
— Como assim? O que aconteceu? 
A voz de Jungkook é como eu sempre me lembrei e fico feliz por não tê-la esquecido.
Chacoalho-me sobre o banco, pensando em lhe narrar todo o episódio com Haneul em um dos portões do campus. Penso em lhe dizer com precisão, ato por ato, mas percebo que não vale a pena. Não agora. Não quando meu coração bate tão forte no peito que o sinto em meus ouvidos.
— Foi só uma vingança genuína, — falo sem pensar muito — quebrei sem querer.
Ouço um riso descrente e abafado vindo dele e imagino seu nariz se enrugando com o ato. Por alguma razão, meu peito se espreme pela lembrança de seu rosto e todos os seus detalhes.
— Sem querer?
— É, — chio, porque sei que parece suspeito. — Sem querer. 
Seu riso se estende por mais um tempo, ele é baixo e leve. E me pergunto se toda essa angústia nostálgica que sinto, Jungkook também consegue sentir.
— Você tá na universidade? 
Sua voz me faz sair do transe e, por um instante, não entendo sua pergunta.
— É, sim... — Venho aérea de início, mas tentando me recompor ao repetir: — Sim, eu to. E você? 
— Também. — Solta ligeiro, como se já esperasse pela pergunta. — Voltei mais cedo pra fazer a mudança.
Lembro então de seus planos de sair dos dormitórios e se instalar em uma república. Balanço a cabeça em uma afirmação fervorosa, esquecendo que Jungkook não pode ver. 
— Deu tudo certo? — Pergunto, meus dedos apertando o celular com tanta força contra meu ouvido que machuca.
— Deu. 
O silêncio que vem a seguir parece errado, porque sinto que as coisas estão bagunçadas, fora de ordem. É um silêncio e vários pensamentos brigando entre si em meu cérebro. Giro os ombros para trás mais uma vez, apesar do ar condicionado, me sinto quente.
— E deu tudo certo na sua vinda pra cá?
Dessa vez é ele quem pergunta. 
— Deu. 
E mais silêncio. 
É um jogo de perguntas e respostas. Um programa de auditório no fim da tarde de domingo.
Começo a me sentir aflita, agitada. Não entendo a ligação de Jungkook, não entendo o porquê de eu precisar encontrar uma razão para ela e não entendo o porquê de eu ficar nessa luta interna entre justificador e não justificar.
Remexo-me na cadeira, a chuva parece ter diminuído e, com isso, o pequeno tumulto na porta começa a se dispersar. Olho para as prateleiras de produtos ao meu lado, mas não presto atenção nelas. 
— Vai ter uma festa amanhã à noite. — Jungkook anuncia de repente, por trás de sua voz eu ouço uma porta bater. — Não sei… É… Você quer vir? É a despedida do Taehyung.
Meu peito parece trepidar. Flutuo sobre as palavras por pouco tempo, tentando encontrar coesão a todo o meu caos repentino, até sua voz tomar a ligação outra vez:
— É porque eu preciso te entregar uma coisa! — Seu tom é urgente, como se precisasse se justificar pelo seu convite inusitado. — Eu vendi o notebook que você me deu. 
Franzo o cenho, perdida em toda a mudança brusca de cenário. Tento ir e vir, tento entender aonde meus pensamentos estavam me levando e aonde de fato eles me trouxeram. Talvez essa não tenha sido a justificativa que eu esperava pelo convite.
— Quer dizer, — ele volta a falar — o notebook que o Haneul pagou.
— Erm... Vendeu? — Minha voz é incerta, surpresa. Ainda me sinto perdida, mas não me deixo chatear pela notícia. Pelo menos, não da forma que me faz acreditar que Jungkook se desfez de um presente meu. Porque, de fato, não era meu; era de Haneul. — O que aconteceu? 
Do outro lado da linha, Jungkook parece ponderar por um instante. Ouço sua voz soltar murmúrios sem sentido e sua respiração se intensificar. Enquanto o espero, penso em como as coisas parecem de fato fora dos eixos. Essa não é a conversa que gostaria de estar tendo com ele, esse não é o clima que eu esperava achar.
— Eu contei para os meus pais sobre eu ter sido acompanhante de aluguel. — Solta depois de um tempo e sinto meus olhos se arregalarem pela nova informação. — Meu castigo foi trabalhar com eles na panificadora o verão inteiro, mas não foi bem um castigo, porque eu acabei recebendo por isso.
— Você contou aos seus pais? 
Minha voz vem sem eu ao menos perceber, ainda estou absorta por toda a sua coragem. Um tanto surpresa e, completamente, embasbacada. Como também ainda me sinto perdida com o ritmo da conversa em si. Jungkook parece frenético, à mil por hora, enquanto eu sou uma formiga minúscula dando passos pequeninos.
— É! Foi meio doido, a reação deles não foi muito boa, mas foi bem melhor do que eu pensava. — Ri, como se a situação em si tivesse alguma graça. — Pelo menos minha mãe não quis me tirar da universidade.
Minha respiração parece trancar na garganta. É esquisito perceber que nos últimos meses eu e Jungkook passávamos quase pela mesma coisa. Libertação de mentiras e um novo relacionamento com os pais. A única diferença aqui é que ele parece ter tirado proveito financeiro disso, enquanto eu estou tendo que me virar com o que restou da última mesada de dois meses atrás.
— Depois de todo esse tempo, eu decidi vender o notebook, juntar com o que eu ganhei na panificadora e devolver o dinheiro de todo mundo. — Jungkook conclui, mas então retoma: — Quer dizer, não de todo mundo. Eu não quis devolver o dinheiro do Taehyung, porque ele me contratou pra jogar vídeo game com ele e ele é muito ruim mesmo... Isso me irritava um pouco, fiquei com o dinheiro pela paciência que gastei.
Solto um riso nervoso, me lembrando de como eu fui introduzida na vida de Jungkook pela primeira vez. É bom perceber que agora ele mesmo a apresenta, mas é ruim perceber agora também que não soube sobre ela por quase dois meses inteiros. 
— E é isso... — Diz, parecendo ficar sem graça quando meu riso desaparece. — Eu comprei um notebook mais em conta. Não é tão bom quanto aquele, mas tem tudo o que eu preciso. Eu comprei um celular também...
— Eu vi. — Apresso em dizer, ainda sou agito, não tenho controle algum sobre o que o nervosismo causa em meu corpo. — Mudou de número, não é?
— Mudei. — Algo do seu lado da ligação cai no chão e o ouço xingar baixo. — Eu perdi o meu a caminho de Busan, no início das férias.
Início das férias. 
Foi o último dia em que nos vimos, não foi? Era início das férias...
Sinto uma necessidade esquisita de querer falar sobre nós, de tentar entender o que aconteceu e o que pode acontecer. De tentar entender o que está acontecendo. Esse seria o momento certo, não seria? O momento certo para tirar esse sufoco repentino da garganta, esse incômodo ruim do peito.
— Eu te liguei por isso! — Revela de repente e não o entendo. Tenho dificuldade em lhe acompanhar. — Eu queria te entregar a sua parte amanhã, na festa do Taehyung.
Sinto minha testa vincar e meus neurônios trabalharem em dobro. Uma dúvida antiga e secreta surgindo dentre tanto nervosismo. Será que nós podemos ser alguma coisa ainda? Será que Jungkook quer que sejamos? 
— Claro! Claro. — Quase gaguejo. — Certo… Eu vou, então. 
Eu fiquei tanto tempo tentando arranjar um jeito de conversar com ele, fiquei tanto tempo tentando organizar meus sentimentos e pensamentos, que acabei esquecendo que existia uma chance grande de nosso tempo ter passado. Apesar de cogitar isso, apesar de saber que essa era uma possibilidade, eu ainda nutria uma certa esperança de que nós ainda pudéssemos existir e que existiríamos então de forma real e sincera. 
— Eu não vou negar, to precisando da grana. — Digo, tentando fugir do que posso sentir com o rumo que nós dois pegamos. — Vai ser de grande ajuda.
Mas em meio ao meu riso falso, há o silêncio de Jungkook.
Eu só quero desligar a ligação.
— Ajuda? — Sua voz vem depois de um tempo, mais baixa que o normal, como se soubesse que o terreno a se pisar é delicado demais.  — Por quê?
— É, bem... — Começo, meus planos não eram trazer a conversa até aqui, na verdade, a conversa em si seria completamente diferente do que estamos tendo agora. Mas a vontade é válida e real, ela veio de súbito e não quero me frear. Até porque eu ainda sinto uma necessidade bizarra de querer contar as coisas para Jungkook. — Meus pais ficaram sabendo das mentiras por Haneul, foi um completo caos e, no fim, um dos meus castigos foi o corte da mesada.
— Isso… Porra. Espera. — Jungkook não sabe o que dizer e não o culpo por isso. Nas últimas semanas, nem eu sequer consegui entender a situação como um todo. — Um dos?
— Eu fiquei sem celular por um tempo, mas em dois dias eles me devolveram. — Ajeito-me na cadeira, meus olhos fixos sobre o tampo vermelho da mesa. — Acho que o castigo maior foi o clima que ficou na casa dos meus avós.
Suspiro.
Eu sinto saudade do cheiro de verão dele.
— Seus avós não falaram nada?
— Nada. — Dou de ombros, desanimada. — Minha família é muito boa em fingir que nada aconteceu, é tipo como um dom que vem com o gene.
Não é engraçado e por isso nenhum riso vem. Mas mesmo assim sinto vontade de rir, uma risada exagerada e sem cabimento algum, porque ainda estou pensando em como a vida pode ser cretina com a gente.
O nosso tempo realmente passou?
— Pelo menos, você não vai mais precisar gastar grana com um acompanhante de aluguel.
Sua voz vem séria, ainda baixa. É como um pensamento intenso, mas engraçado. Ele não se atreve a rir, mas eu me atrevo a achar graça. Ainda. Acho graça até certo ponto, porque essa é mais uma oportunidade de falar sobre nós dois, não é? Mas a cada minuto que passa, o assunto parece cada vez mais ultrapassado.
— Eu vi seu novo anúncio! — Exclamo, uma animação falsa na voz. — Designer gráfico, gostei. Os anúncios estão cada vez melhores, de post-it verde pra papel couchê com laminação fosca? Wow, uma evolução!
O tempo que Jungkook leva para responder me faz pensar. Talvez ele esteja questionando minha tagarelice incomum ou só esteja tentando entender aonde o assunto nos levou. Ele sente que todo esse papo abrupto também parece esquisito demais? Ao fim, sua voz surge com certo humor:
— Acho que meu anúncio de designer não teria lá muita credibilidade se fosse feito em um post-it com uma letra feia...
— Agora você admite que era ruim?
Essa é mais uma oportunidade de falar sobre nós dois. E sinto fundo no peito.
Ouço a risada controlada de Jungkook ecoar junto a alguns objetos caindo no chão de madeira. Tento acompanhar seu ritmo, mas acabo me prendendo em toda uma amargura nova que se instala em mim.
Isso não parece certo.
Uma aflição estranha, um vazio imenso. Talvez as coisas com Jungkook não façam mais sentido... Sinto angústia e preocupação. Uma angústia por não ter falado tudo o que queria ter falado e uma preocupação por perceber que talvez não haja mais espaço para isso.
Eu e Jungkook acontecemos, mas agora não mais. Tudo o que nós tínhamos pra ser vivido, foi e pronto.
— Eu preciso desligar. — Ele reaparece, a voz calma e regulada. É um tom sincero. — Tenho que terminar de arrumar meu quarto.
— Tudo bem. — Digo, automaticamente olhando para meu relógio de pulso. — Eu também preciso, logo eu tenho um reunião do curso e...
Não termino, porque não vejo necessidade alguma. Empoleiro minhas pernas no banco da loja de conveniência e pressiono meu corpo contra a mesa. O clima é esquisito, tanto lá fora quanto aqui.
— Você vai amanhã, certo?
Pondero por um instante. 
Sim… 
Não...
— Sim, vou.
— Até amanhã, então. — Fala apressado e logo ouço vozes do seu lado da linha. — Preciso ir agora. Tchau.  
Minha despedida é um muxoxo esquisito e sem nexo; o som da ligação muda é um tormento extravagante no meio de toda a minha aflição.
Nesse meio tempo em que levo para bloquear a tela do celular, eu me perco na nuvem fantasiosa que toda essa conversa emergiu. Como também me perco nos fantasmas de todas as palavras que morreram em minha garganta. Todas as palavras que ensaiei e organizei para lhe dizer, todas as palavras não ditas.
A recente conversa parece vaga, esquisita. Não parece verdadeira, não parece se encaixar em todas as outras que já tivemos. É como se existisse algo que sufoca, que me sufoca. Não sei explicar se a pendência que sinto é de todos os assuntos não resolvidos ou do recente questionamento sobre nós dois.
Deito minha cabeça sobre a mesa, pressionando minha testa contra a madeira enquanto tento buscar respostas, explicações. Talvez não haja nenhuma, ao fim de tudo. Talvez as coisas sejam só isso, sem teorias ou roteiros mirabolantes. Luto também com a ideia de que talvez essa não seja a hora, que talvez eu precise de mais um tempo para entender; a situação, eu. Talvez eu precise de mais tempo para me decidir, de mais tempo para que eu entenda o que eu realmente quero.
Há uma infinidade de possibilidades ou até mesmo de incertezas. 
Talvez. Talvez. Talvez.
Talvez essa seja a nossa história.
Talvez esse seja nosso fim, sem términos ou inícios.
[...]
Estou absorta em um mundo paralelo, enquanto a voz de Sorn é como uma trilha sonora abafada igual a um filme de suspense. Não consigo prestar atenção no que fala, mas acredito que o assunto tratado seja o novo menu do refeitório. Não sei bem. Ela comenta sobre lasanhas, mas também sobre cadeiras e persianas.
A grande verdade é que não prestei atenção em nada do que fiz até aqui e agora. Desde o fim da ligação com Jungkook, me sinto assim: aérea, esquisita, ultrapassada. Para ser sincera, não me concentrei na reunião do meu curso de verão de ontem à tarde. Como também não prestei atenção quando organizei minha primeira semana de aulas no bullet journal, nem quando caminhava pelo campus com Sorn para visitarmos os animais resgatados hoje pela manhã. E muito menos quando derrubava boa parte do lámen sobre a mesa do refeitório e minha mochila.
Franzo o cenho, incomodada com toda a situação. Minha colega de quarto está estirada sobre a cama, enquanto eu estou apoiada no parapeito da janela, olhando como a luz do fim do dia toca as árvores do bosque e percebendo como ainda não consegui encontrar um meio de lidar com o que sinto dentro de mim. 
Desde ontem, tentei ocupar minha mente com jogos no computador, filmes adolescentes, Bukowski e Sherlock Holmes. Também tentei a ocupar com uma nova organização para minha estante de livros, mas nada. A única coisa que tenho em mente é o rumo da conversa com Jungkook e do que um dia pareceu ter existido entre nós dois.
Tentei arranjar uma explicação, um sentido, um motivo. Não sei exatamente pelo quê; se pela situação em si ou se para o que sinto. Não achei nada, mesmo que eu tenha desistido assim que pensei em procurar. Estou parada no meio do caminho e sinto que essa sensação não é nova. As palavras não ditas ainda estão presas na garganta, a sensação de assuntos pendentes ainda me agarra os braços. Sinto-me aflita, chateada.
Demorei a dormir na noite passada e, quando consegui, acordei por vários momentos do meu sono leve e superficial. Acabei me colocando em dúvida sobre dezenas de coisas que antes eu parecia ter certeza. Resgatei o questionamento sobre o meu tempo. Será que esse seria o momento certo para nós dois acontecermos? Talvez seja um aviso do universo, não é? Talvez seja ele dizendo que as coisas devam se encerrar dessa forma antes mesmo que elas sequer comecem. 
— Que horas você vai?
A voz de Sorn parece receber uma injeção de energia, minha atenção sendo pega de prontidão quando o assunto envolve ele. E é um tanto vergonhoso perceber que ela não precisa explicar sobre o que se refere, porque eu simplesmente sei. Abandono a paisagem, cambaleando pelo quarto e sentando na beirada de minha cama.
— Acho que lá pelas oito. Não sei. — Dou de ombros, indecisa. — Ele não falou o horário. 
— Você vai mesmo só buscar o dinheiro? 
Ela gira sobre a cama, o livro que lia antes de iniciar seu quase monólogo sobre o refeitório está fechado sobre a barriga. Olho para o relógio por um instante, assim como venho fazendo nas últimas duas horas. É 19h17. Quando percebo faltar pouco para o horário estipulado, remexo-me no lugar, agitada. 
— Não sei bem, talvez eu fique mais um pouco… Beba algo. 
Mas sei que é mentira, falo apenas por dizer — minha ansiedade parecendo aflorar brutalmente em mim —, porque não pretendo ficar mais do que o necessário, não pretendo passar da porta de entrada. Quero pegar o que Jungkook tem a me dar, gravar todos os seus detalhes como reza e desaparecer, enfiar-me em algum restaurante barato no caminho e gastar o pouco do dinheiro que ainda me resta. Talvez dessa forma eu consiga entender toda a bagunça que ele causou dentro de mim. 
Ainda parece complicado me entender, mesmo depois de dois meses lutando e aprendendo. Sei que as coisas mudam gradativamente, aos poucos, mas eu gostaria que fosse mais fácil. Pelo menos, dentro da minha cabeça. Eu sou caos de sentimentos, incertezas e memórias vívidas de um passado que não quero relembrar. Mas parece que sempre retorno, parece que sempre estou lutando para não cometer os mesmos erros outra vez. É um conflito longo e duradouro. Um passo errado e estou confundindo meus sentimentos e os de outrem. Certas vezes não consigo distinguir, certas vezes sou só um emaranhado de soluções inacabadas, conclusões pela metade. Certas vezes não chego a lugar algum. Como agora.
E, pensando bem, talvez o meu karma seja me enfiar nessa luta incessante, porque só desse jeito eu consigo me achar em meio a tantas segundas intenções, pensamentos paralelos e desejos que não são meus.
— É só que... — Começo, meu peito inflando pelo ar sugado com violência. É como se estivesse segurando o fôlego para mergulhar em um oceano imenso e sem terras ao redor. — É tão confuso, tão confuso. Você entende? Não sei se Jungkook tá na mesma página que eu, não sei se devo insistir, não sei se essa é a coisa certa a se fazer. É tudo tão... Urgh.
Sinto-me sugada emocionalmente. Ainda é esquisito falar sobre meus sentimentos por ele em voz alta depois de tanto tempo os guardando para mim. Mas caso eu não fale para Sorn, sinto que a qualquer instante posso explodi-los para todos os lados sem escrúpulo algum e para qualquer um.
— Você já... Sabe? — Seus olhos atentos estão sobre mim, seus ombros erguendo-se antes de completar: — Perguntou pra ele?
Fico em silêncio. Meus sentimentos são tão caóticos que sinceramente não consigo entender aonde ela quer chegar. Parece simples e prático, mas em minha cabeça é um código binário longo e complexo.
— Perguntou se ele quer tentar. — Sorn se ajeita na cama, explicando como se eu fosse uma criança. Ela agora tem o livro sobre a manta bagunçada e seu corpo sentado sobre a beirada do colchão, como eu. — Você disse que não sabe se ele tá na mesma página que você. Bem, você já perguntou isso pra ele?
Abro minha boca para responder, mas a fecho logo em seguida. Porque parece fácil, objetivo. E talvez realmente seja, não é? Então porque eu continuo achando que o assunto nós dois parece ultrapassado demais para ser relembrado? Foram quase dois meses, afinal.
Muita coisa muda em dois meses.
— Não, não perguntei, mas é que... Argh. — Caio de costas na cama, tampando o rosto com os braços. — Não sei se to pronta. Quer dizer, eu nem sequer consigo definir as coisas dentro de mim. Acho que pode ser medo? Ou só ansiedade? Não sei, não consigo definir.
Por algum tempo, não ouço nenhum barulho vindo da outra cama. Só consigo ouvir ao fundo vozes nos corredores e portas batendo. Pareço incompleta, é como se nada do que eu diga faz jus ao que eu realmente sinto.
— Quando eu me sinto irritada com a faculdade e me pergunto se o curso foi a decisão certa... — A voz de Sorn vem de repente, como se ela estivesse pensando no que dizer por todo esse tempo. — Eu fecho os olhos e me faço a pergunta: aonde você gostaria de estar exatamente agora, Sorn?
Tiro meus braços de cima do meu rosto e a olho, um pedido silencioso para que continue.
— A maioria das vezes eu me vejo em alguma praia paradisíaca. — Ri e a acompanho, mesmo não entendendo exatamente seu raciocínio. Sorn me olha, o riso sumindo quando continua: — Mas então eu me concentro na parte profissional... Logo eu desejo estar nos bastidores de um filme ou em um café escrevendo roteiros. São nesses instantes que eu percebo que o curso foi a decisão certa. — Dá de ombros, um tanto tímida por revelar algo tão pessoal. — Você deveria tentar. 
Viro-me sobre a cama, apoiando meu corpo nos cotovelos. Penso seriamente no que me disse e, então, penso mais uma vez. Existe um pensamento rondando minha cabeça há um bom tempo, um pensamento que tento sufocar, porque me angustia de certa forma.
Se estou com tanta dúvida assim, então quer dizer que ir até Jungkook não é a coisa certa a se fazer.
Esse pensamento me amedronta, porque não quero que seja verdade. Ele é linkado aos tantos filmes que já assisti na vida, sobre amor próprio e relacionamentos abusivos. Acabo sempre me lembrando dos finais sem casais e pessoas solteiras felizes. É isso que se espera, não é? É dessa forma que deveria ser?
Mas ele também se linka a todo um universo novo, aonde eu tomo minhas decisões. Ele passa a não fazer sentido quando penso sobre tudo o que já vivi até agora. Talvez seja mais um conflito interno, não é? Talvez ele seja o limite que separa o ponto aonde me permito viver e o ponto que me impeço de seguir em frente por vontades e crenças que não são minhas.
— Foi esquisito conversar com ele depois de tanto tempo. — Digo, sabendo da mudança brusca de assunto. Fico na esperança de Sorn acompanhar minha lógica quebrada, mas caso não acompanhe, não vai ser tão ruim assim. — Eu queria dizer tanta coisa e queria ouvir tanta coisa... Mas nada aconteceu. Eu tenho a impressão de que a gente tá em cima de um muro que separa nós dois de sermos conhecidos ou íntimos.
Minha voz sai alta e clara, mas não busco explicar nada para minha colega de quarto, eu busco me entender. Eu preciso falar sobre a situação em si, preciso falar sobre Jungkook também.
Preciso falar.
Porque eu parecia estar indo tão bem, não parecia? Por todo esse tempo me encontrando e me organizando sentimentalmente... Foi só uma conversa esquisita de telefone acontecer que me baguncei por inteira.
Preciso falar, porque parece que somente dessa forma eu vou conseguir organizar meus medos dentro de mim de novo. Minhas inseguranças. E, então assim, resolvê-las.
— A minha vontade é de sentar com ele, frente a frente, entende? E dizer tudo, contar tudo, falar tudo o que tenho pra dizer. Quero tirar esse incômodo de mim! — Acabo soando irritada. — Mesmo que eu seja muito ruim nisso e que fale mil coisas antes de chegar ao ponto.
Meus olhos correm até o rosto de Sorn, ela me olha atentamente, mas não parece que dirá algo tão cedo. Talvez ela realmente não tenha acompanhado minha lógica falha, meu raciocínio de linkar seu conselho com meus medos profundos.
Quer dizer, existe lógica no que falo?
— Eu acho que a gente merece mais uma chance, — volto a falar, sem nem sequer pensar direito. É como se eu tentasse justificar a próxima ação que pretendo tomar. — Porque nós dois somos ruins demais nisso. Somos ruins demais!
É uma luta incessante de fato. Uma luta agora entre meu passado cheio de inseguranças, futuros que não sonhei e argumentos para me impedir de viver da forma que quero viver contra meu presente comandado por mim, ainda com inseguranças, mas com a certeza de que são somente minhas e de mais ninguém.
A linha tênue entre o medo e a ânsia pela liberdade.
Vou viver me enfiando nela, nessa guerra de erros do passado e acertos do presente, mas é importante que eu a lute.
— E, sabe? — Aumento a voz. — Sendo duas pessoas ruins demais em lidar com esse tipo de situação, o que eu esperava que a nossa conversa no telefone fosse ser? Por Deus! Eu não posso me dar por vencida.
Aonde eu gostaria de estar exatamente agora? 
Com Jungkook.
Eu gostaria de estar com Jungkook lhe dizendo tudo o que planejei dizer por todo esse tempo. Perguntando se sua página é a mesma que a minha, me arriscando e vendo aonde tudo isso pode me levar.
Porque, inferno, é o tempo certo. É o tempo certo porque eu quero que seja.
Sei disso, sei disso há boas semanas agora. Sei disso porque finalmente sinto que posso construir algo verdadeiro, algo sincero. Profissionalmente, pessoalmente e romanticamente. Posso construir algo com sentimentos, com vontades reais. Porque eu finalmente me encontrei e estou me libertando.
Ergo-me da cama sorrateiramente. Tenho ciência dos olhos de Sorn sobre cada movimento meu, mas não me importo muito com isso. Como também tenho completo conhecimento agora de que terei que lidar melhor com esses momentos em que o medo toma a minha frente.
É um processo gradual, não é?
Mas não posso me deixar vencer.
Enfio no bolso de minha calça a carteira e o novo anúncio de Jungkook por motivo algum, colocando os sapatos antes de seguir pelo corredor vazio. O prédio dos dormitórios femininos não está deserto, mas não prendo a atenção em ninguém. Existe um nervosismo instalado na boca de meu estômago, exatamente como da primeira vez que fui atrás dele. Ainda me lembro do barulho dos sapatos no piso frio, como ainda me lembro da sua figura abrindo a porta de repente.
Será que gostar de alguém de forma sincera é assim mesmo? Esse caos de sentimentos à flor da pele, essa ânsia, esse desejo? Penso quando entro no elevador e espero pacientemente até que ele chegue ao primeiro andar. Os números no painel eletrônico parecem se arrastar, mas eu não me encolho no canto da caixa de metal. Todos os contras e prós que levantei durante o dia ainda existem, mas me permito ouvir a minha única certeza.
Mesmo que Jungkook não esteja na mesma página que eu, quero que ele saiba tudo o que guardo dentro de mim.
Desço do elevador sentindo as pernas andarem depressa, urgente, meu corpo todo parece reagir para que eu siga em frente. E, assim que passo pelas catracas do dormitório feminino, eu sinto toda a minha adrenalina balançar cada canto meu. É uma sensação nova, libertina e avassaladora. Porque enquanto caminho em direção à saída do prédio entendo que por mais que tenha vindo no horário estipulado desde o início, vim agora com um objetivo traçado, vim com uma intenção explícita e clara.
Sinto-me diferente.
O vento atinge minha face com astúcia, quando passo pelas portas de vidro. Meus passos ainda são rápidos e longos, apressados. O crepúsculo que pinta o céu cobre agora o campus inteiro em um laranja-rosado nostálgico. Mas antes mesmo que eu consiga alcançar as escadas, vejo-me parada sobre o caminho de cimento e plantas novas; não porque eu simplesmente desisti do plano, mas sim pelo simples fato de encontrar Jungkook logo ali também.
Sua imagem como uma miragem oblíqua, extravagante.
E ele ainda é caos; um caos de cheiros, gostos, sensações e sentimentos.
Me desperta e me chacoalha.
Sou sensível em cada centímetro de pele, sou incandescente.
Quando nossos olhares se encontram por debaixo das luzes naturais do céu e das artificiais vindas dos postes, é como dois planetas se colidindo no espaço. É gigantesco, mas silencioso. Meu corpo todo é torpor e no meu peito tenho somente uma batida dissimulada. Parece irreal vê-lo ali depois de tanto tempo, como um sonho confuso, como um devaneio esperançoso.
Sua presença logo ali me faz pensar em milhões de hipóteses, em milhões de incertezas. Todas elas se mesclando em fios de cores similares e não me deixando chegar à conclusão alguma.
E eu logo entendo que, muito provavelmente, gostar de alguém com sinceridade seja realmente isso. Coração a mil, sentimentos vasculhados no peito e reações patéticas.
Jungkook está parado no último degrau da escada de concreto, seu cabelo ganhou um novo corte e em suas orelhas há argolas mais grossas. Sua boca está entreaberta para recuperar o fôlego, enquanto o topo de suas bochechas recebe um tom leve de rosa. A imensidão escura de seus olhos caem sobre mim em surpresa e confusão. E logo sou rendida pela óbvia constatação repentina de que senti sua falta.
— Jungkook. — Sou eu quem chamo, a voz falha pelo tanto que sinto, pelo tanto de sentimentos que saltam dentro de mim. — Oi.
Não ouso sair do lugar, não ouso sequer me mover. Tenho medo que o momento me escape, que o sentimento voe para longe e eu volte a me enfiar em um buraco de angústia e incertezas, que eu volte a ter que lutar contra meu passado. Mesmo que eu ainda me sinta angustiada, mesmo que eu ainda seja dúvida.
Jungkook nem sequer me responde, e me faz pensar por um instante se não estou o imaginando ali de fato. Ao contrário do que espero, sua reação é franzir o cenho consideravelmente enquanto ainda me olha. Ele parece lutar contra seus pensamentos, da mesma forma que luto contra os meus. Tento entender o que acontece ou o que pode acontecer, mas quando ele decide por diminuir a distância entre nós dois, percebo que não faço ideia do que ele pode estar pensando.
Ainda estou desnorteada pela sua presença quando ele para em minha frente.
Somos agora separados por poucos passos de distância. Meus olhos fincados em seu rosto, decorando cada detalhe como prometi que faria. A boca, os olhos, as sobrancelhas, as pintinhas como estrelas no céu. A brisa do fim de tarde se aninhando ao meu capricho e me entregando seu perfume tropical em cócegas na ponta de meu nariz.
Eu precisei ficar pensando em ti, Jungkook, te lembrando e te traçando a todo instante. E não pude me descuidar um segundo sequer. Porque tive medo de esquecer teu rosto, teu gosto, teu cheiro. Tive medo de perder tudo o que ainda tinha e tudo o que ainda restava de ti.
— Erm... Eu... — Sua voz vem depois de certo tempo. Ela é como um megafone em meio ao silêncio que nos cerca. Seu corpo se remexe de um lado a outro e, num instante, Jungkook me estica um envelope que nem sequer reparei que segurava. — Eu quero te entregar isso. É o dinheiro que te devo.
Meus olhos passam de sua mão esticada até seu rosto consternado, ainda me tenho perdida em vê-lo depois de tanto tempo. Ainda me tenho perdida pelo encontro antecipado, pelo tanto que preciso dizer.
Ajeito a mecha que teima em voar com o vento, prendendo-a atrás da orelha antes de pegar o que Jungkook me estende.
— Obrigada, — ergo os ombros, um riso sem graça escapando pelo canto da boca — mas você não me deve nada.
Seus olhos desviam dos meus com rapidez, o cenho sempre franzido em aflição. Parece ainda lutar com o que pensa, parece ainda lutar com o que quer dizer. E acabo pensando se Jungkook precisa também lutar guerras internas com o seu passado e com o seu presente, como eu.
— Eu to indo pros dormitórios, — ele se afasta um passo, as mãos agora se afundando nos bolsos dianteiros da calça jeans escura. A camiseta amarela balança com o vento, uma dança em conjunto com a minha blusa. — Decidi te entregar isso logo... Já q-que eu to indo pros dormitórios.
Seus olhos acabam procurando meu rosto abruptamente quando percebe que tudo o que sente transparece em falas repetidas e nem nexo. Eles ficam por pouco tempo em mim, no entanto, logo procurando outro lugar para prestarem atenção.
— Eu tentei te ligar! — Ele fala de repente. — Várias vezes. Tentei te ligar.
Hesito em responder, buscando na memória alguma notificação de chamada não atendida, mas nada.
— Desculpa, — peço duvidosa. — Meu celular ficou em modo avião nesses dois últimos dias, talve-
— Não. — Ele me interrompe abruptamente, percebendo em seguida sua explosão repentina. Jungkook completa então em um quase sussurro: — Foi antes, nas... Nas férias, mas eu não tinha seu número e só fiquei digitando números aleatórios pensando que poderia me lembrar.
Há um silêncio por aqui, enquanto Jungkook se remexe de um lado a outro, desconcertado pelo assunto recente. Penso em lhe dizer algo, mas não sei o que dizer. Ele joga os cabelos para trás, mira os coturnos escuros e depois as plantas ao lado do caminho de cimento.  
— Onde você estava indo?
Ele vem outra vez, parecendo tentar trazer coesão a tudo o que sente, a tudo o que acontece aqui. Sua mão sobe até sua nuca, os dedos bagunçando os cabelos da região em um sinal claro de desconforto.
Abro a boca algumas vezes para lhe responder, mas sou confusão intensa e nova. Quero tentar entender o que acontece com Jungkook, mas nem sequer sei por onde começar. Nem sequer sei me entender.
Somos dois caos ambulantes em colisão.
— Eu... Eu tava indo para... — Começo, pensando em arranjar alguma desculpa, pensando em dizer qualquer coisa que não a verdade. Mas isso não faria o menor sentido; com o que sinto, com o que vim fazer e com o que quero. — Eu estava indo atrás de você... Na festa do seu amigo.
A expressão de Jungkook parece noticiar sua completa negligência à festa de despedida de Taehyung e, por um instante, me pergunto se existe alguma festa para ir. Ele assente, entendido, apesar de seu rosto não demonstrar nenhum entendimento.
— Você tava indo pegar o dinheiro?
Encolho-me entre os ombros, respondendo:
— E talvez beber alguma coisa...
Ele assente de novo, embora não exista nada a se concordar por aqui. Jungkook se afasta mais uma vez, girando os ombros para trás e respirando fundo. Enquanto permaneço parada, o envelope em uma das mãos e seu novo anúncio no bolso dianteiro da calça, penso que somos mesmo ruins em lidar com isso.
Jungkook vai agora de um lado para outro, lentamente, conflituoso. Faz com que eu me pergunte se devo esperar ele decidir o que fazer ou falar. Ou se devo segurar-lhe pelos ombros e tentar entender o que se passa. Sua figura não é agitada, mas eu sou. Ao fim, seus olhos tão escuros e bonitos se voltam para mim com mais atenção. Ele mira cada canto da minha face com cuidado, como se procurasse alguma resposta, algum sinal.
— Junkook, — começo, subitamente lembrando-me de algo — por que você tava indo para os dormitórios se você agora mora na república?
E dessa forma todo o seu rosto se transforma em incredulidade. Seus olhos miram os meus por poucos segundos antes da sua postura se ajeitar e mais uma vez seu perfume dançar por entre nós. Ele aparenta estar desconcertado de certa forma, mas não vira as costas ou se afasta, parece apenas ter dificuldades em explicar.
— É porque eu... Eu... Porra. — Jungkook ergue os braços para cima, contrariado. E enquanto suas mãos cobrem seu rosto em frustração, ele completa com a voz abafada no que parece um lampejo repentino de coragem: — Eu menti, eu tava vindo atrás de você.
Franzo o cenho, sem entender.
— Mas por quê?
Vejo-o afastar seus dedos até que eu consiga enxergar seus olhos, parece agora analisar minha pergunta através da minha expressão facial. O que eu não entendo até ele surgir com um questionamento esquisito:
— Por que eu menti ou por que eu tava indo atrás de você?
Minha cabeça titubeia e dou de ombros.
— Faz diferença?
Jungkook infla o peito, ofendido com o que acabei de dizer. As mãos já não cobrem mais seu rosto e ele agora me olha de forma crua, sem desvios ou cenhos franzidos.
— Bem... Não sei.  
Meus ombros caem por não entender sua resposta ambígua.
— Não sabe o porquê mentiu ou não sabe o porquê de ter ido atrás de mim?
Sua cabeça também titubeia e sei que esse assunto já não faz mais sentido algum. Ele ergue os ombros também, mas logo sucumbe. Endireita a postura e suspira, rendido.
— Eu menti porque não quis soar patético, mas agora me sinto por ter dito isso em voz alta. — Gira os olhos, impaciente. — E eu vim atrás de você porque... Porque...
Será que agora mesmo Jungkook esteja se questionando da mesma forma que me questionei mais cedo? Talvez ele esteja pensando se vale a pena contar a verdade ou insistir em mais uma mentira. E aqui, olhando-o ir e vir emocionalmente, só peço para que ele escolha a resposta com o maior nível de sinceridade, a resposta que condiz com o que sente.
Porque talvez Jungkook funcione como uma sequência de drinks alcoólicos na minha corrente sanguínea. Sou entorpecida pela sua presença, pelo seu cheiro e pelas lembranças. Mas não quero ser entorpecida por palavras que não gostaria de me dizer.
— Era pra eu ter dito tudo isso na ligação de ontem, mas eu simplesmente não consegui. Ela foi tão esquisita. Você não achou? — Revela em uma pergunta retórica, a voz mais séria e baixa. A menção sobre a ligação me faz alerta. Então ele sentiu o que eu senti também. — Sinto que posso ficar maluco. Eu sou muito ruim com sentimentos e em falar deles em voz alta e eu… Eu fiz uma lista.
Demoro um tempo para associar a nova informação passada, porque ainda estou perdida em Jungkook e nos sentimentos compartilhados, nas palavras não ditas e na urgência em livrar a garganta de frases mortas. Fico entretida por certo tempo na sensação de não estar sozinha, fico entretida em seu semblante ao me olhar, fico entretida então com a novidade recém dita.
— Uma lista? 
Ele balança a cabeça positivamente, como se não tivesse mais o que esconder.
— É, meu amigo cursa psicologia e ele disse que pra gente não esquecer o que quer falar, podemos fazer listas. — Explica, um tanto envergonhado pela confissão. — E então eu fiz uma. Eu sempre pensei que tivesse sendo claro, mas eu sou tão reservado que qualquer demonstração mínima já me parece extravagância demais. Eu esqueço que pras outras pessoas um gesto grande pra mim pode ser só um gesto simples e nada mais.
Vejo-o observar com cautela a palma da mão esquerda, sua lista contendo três itens com números ao lado e palavras chaves. De repente, toda a sua agitação incomum, sua tagarelice pelo telefone e sua pressa fazem todo o sentido.
Jungkook está nervoso, tanto quanto eu.
Deixo que tome seu tempo, então, sem perguntas ou movimentos bruscos. Porque sei o quanto isso é importante, sei o quanto quero ouvir tudo o que ele tem para me dizer. Enquanto ainda tento processar a nova descoberta e lidar com tudo o que acontece dentro de mim, deixo que gire os ombros mais uma vez para trás para então assim dizer:
— To feliz que voltou. — Ele ergue a mão para cima, indicando o número um. Dessa vez ele parece agitado. — Esse é o primeiro tópico da lista.
Assinto como se quisesse lhe dizer que a mensagem foi recebida, que a entendi por completo, mas meus pensamentos ainda estão sobre a notícia de como suas demonstrações de afeto são cautelosas e quase secretas. De como está nervoso por precisar me contar coisas. De como está nervoso por minha causa.
Seu cenho se franze ainda mais do que antes e ele não parece contente com a resposta que dou.
— Eu to feliz de verdade, entende? — Repete e me concentro em prestar atenção no que me diz agora, porque começo a perceber que a mensagem também é mais uma demonstração de afeto. Uma confissão pequena para mim, mas grande para Jungkook. — Eu fiquei essas últimas semanas tentando entender se eu queria que você voltasse porque eu me senti culpado por te deixar pra trás ou se… — Pausa por um momento, a língua passeando pelo lábio em apreensão. — Ou se eu só não queria que você… Não queria que você desaparecesse da minha vida. 
Sinto meu coração vacilar traiçoeiramente, sem aviso ou preparo. Penso em pedir para que ele repita da mesma forma que me disse, com as pausas, com os medos, com os gestos. Porque é desse jeito que percebo que das duas opções listadas por ele, a última era a certa.
Agora percebo que não me movo não porque não quero, mas porque não consigo. Jungkook está aqui em minha frente agora com uma lista de coisas para me dizer, dizendo que não quer que eu desapareça de sua vida.
E, pela primeira vez, eu finalmente reparo em novos detalhes de Jungkook. Eles são detalhes minuciosos e sutis, mas que carregam uma importância maior do que qualquer outro. A sutileza de demonstrar se importar, de demonstrar sentimento. Em cada ato e palavra. Na forma como fala, na forma como se porta. Na forma como tentou se organizar para me dizer o que gostaria de me dizer, na forma como digitou números aleatórios atrás do meu e na forma como me abraçou no banheiro daquela última festa.
Detalhes pegos no ar, detalhes preciosos que merecem tanto destaque quanto o nariz enrugado quando sorri, quanto a pintinha debaixo da boca.
E tudo parece fazer sentido agora.
Jungkook me olha e entende que eu entendo.
Quando seus olhos baixam para que ele leia o segundo tópico, sinto meus dedos formigarem de vontade de lhe puxar a camiseta e buscar conforto no seu abraço mais uma vez.
— A segunda coisa que quero falar é sobre o que aconteceu na última vez que a gente se viu. Eu queria me desculpar. — Ele não tira os olhos da palma da mão. Todas as informações que recebo agora ganham uma nova tonalidade de detalhes. Agora mesmo percebo que o assunto atual é crítico tanto para mim, quanto para ele. Jungkook se demora ali, como se demora a encontrar palavras para continuar. — Eu não deveria ter ido embora, eu deveria ter ficado e te ajudado. Na época eu fiquei com raiva, mas depois eu entendi que acabei sendo egoísta. Eu poderia ter te dado ideias, poderia ter te dado mais opções.
Seus olhos ainda se concentram na única palavra escrita no tópico dois, e penso se eu deveria lhe responder agora, mesmo que a ideia seja com que eu o responda ao fim de todos os assuntos listados.
Quero lhe dizer coisas e preciso lhe dizer coisas.
Mas respeito seu tempo, seu momento.
Os seus cabelos escuros agora chacoalham com a leve brisa da noite recém-chegada, o crepúsculo é como uma memória antiga e quase inexistente. Por um instante, Jungkook é uma galáxia inteira. As pintinhas e seus olhos. Todos os seus detalhes logo ali, a poucos passos de mim. Seus detalhes antigos e novos. O conjunto lhe transformando em uma canção, um filme completo. Por debaixo da luz dos postes, Jungkook é a minha lembrança favorita de uma noite de verão.
Seus dedos se fecham contra a palma da mão depois de um tempo, os instantes em silêncio, enquanto mirava o que havia escrito, parecendo terem sido usados para repassar tudo o que precisava dizer.
Não preciso me forçar a prestar atenção nele, porque não a desviei a partir do momento que o encontrei no topo da escadaria.
— Na verdade, eu... Para o tópico três, eu... — Ele então suspira, as mãos em punhos ao lado do corpo. — Eu vendi o notebook porque não acho certo você ter perdido tanto. Você gastou dinheiro demais com ele. Você me contratou, mas você sabe que foi por causa dele e... — Nega avidamente. — Não quero mais que você conviva com isso, também não quero mais ser conectado a isso.
Meu cérebro tenta trabalhar da forma mais rápida que consegue, coletando informações e tentando as organizar em meio ao caos que acontece bem em meu peito. Tento associar cada palavra dita, cada frase lançada ao ar, cada sentimento exposto. É demais. Penso em lhe responder dessa vez, começar em ordem crescente ou decrescente. Mas Jungkook ainda tem coisas a dizer, porque talvez o que tenha dito não tenha feito jus ao que realmente sente.
— Não quero correr o risco de a lembrança que deixei em você se mesclar com a dele de alguma forma. — Ele umedece os lábios com a ponta da língua, seu olhar é determinado. É quase como se eu pudesse ver sua garganta se livrar de todos os fantasmas de palavras não ditas. — Não quero te trazer angústia, não quero remeter a isso nem mesmo por lembrança. Você perdeu muita coisa até aqui, espero que você perceba que não precisa mais perder nada por causa dele ou de ninguém. 
Fico em silêncio por um tempo. Sentindo meu coração bater contra o peito de forma desgovernada. Penso por um instante que todos os sentimentos por Jungkook estão sendo maximizados. Estão sendo intensos demais e não existe outra causa que não ele.
E eu finalmente posso sentir tudo. De forma verdadeira, genuína, sincera. Posso me doar sem medo, sem mentiras, sem namoros falsos. Posso escolher ir, posso escolher ficar. Posso escolher entre viver e não viver. É a minha escolha. O sentimento que tenho dentro de mim agora é grande, intenso e interminável. Ele toma conta de cada canto meu, cada pensamento solto, cada lembrança vivida; ele é a própria liberdade de poder sentir o que quero sentir sem culpa, sem ressentimento, sem cobrança.
Acabo umedecendo os lábios também, enquanto Jungkook tem sua expectativa em cima de mim. Seus ombros não estão tão tensos como antes, mas seus olhos agora parecem cansados de toda a descarga emocional.
Sinto-me entorpecida, de fato. Tento selecionar palavras, tendo buscá-las na organização mental de todas as coisas que gostaria de lhe dizer quando tivesse a chance de lhe dizer.
— Eu deveria ter feito uma lista também. — Rio, sem graça, encolhida entre os ombros. — Eu tentei organizar o que te dizer durante as férias inteiras, teria sido mais fácil se eu tivesse separado em tópicos.
O silêncio que nos ronda é de expectativa também. Em meio as árvores do caminho de concreto, estamos eu e Jungkook, frente a frente. Caos ambulante. Entre nós dois há uma infinidade de sentimentos expostos e momentos que quero lembrar. Momentos futuros que quero ter nas memórias.
— Você pode responder em tópicos também. — Jungkook sugere, apreensivo, a voz mansa e cuidadosa. — Só, por favor, não me deixa sem resposta.
Seu pedido faz com que eu perceba. Eu também achava que fosse explícita com tudo o que sentia por ele. Sempre pensando ser extravagante nas demonstrações, nos olhares, nos sorrisos. Pelo visto, somos ruins nisso juntos também.
Involuntariamente, dou um passo em sua direção. Seu cheiro ficando ainda mais acentuado pela aproximação e tudo ao meu redor sendo coberto pela bolha tropical que emana de Jungkook.
— No dia das catracas, eu te responsabilizei por algo que não era a sua responsabilidade. ­— Digo sinceramente, meus olhos fixados no logo de sua camiseta. Concentrados no ponto como se ele pudesse me trazer respostas que não entendo o porquê procuro. — Desculpa por fazer você acreditar que aquele problema era seu, quando ele sempre foi só meu.
Mordo as laterais de minhas bochechas, pensativa. Dando mais um passo à frente, a ponta dos meus tênis encontrando a de suas botas. É um momento reservado para que Jungkook entenda o que disse e para que eu entenda o que acabei de dizer.
­­— Acho que estamos quites nessa. — Dou de ombros, olhando para seu rosto por um instante, somente para que o veja com os olhos cravados em mim. Quando volto a atenção para o logo de sua camiseta, continuo: — Eu precisei que as coisas acontecessem daquele jeito pra conseguir me livrar do que tanto me prendia. Não tenho mais nada que me prenda ou me impeça de viver da forma como quero viver. Eu posso fazer as coisas do meu jeito agora, no meu tempo, independente dos meus pais, de namoros falsos e Haneul. Se foi ruim ter que passar por tudo aquilo? Foi, mas eu não mudaria nada.
E, embora eu já soubesse sobre toda essa realização de atos e sentimentos, sinto que ouvir minha voz dizer em alto e bom tom me faz feliz.
Suspiro alto, atrevendo-me a erguer a mão e tocar o logo da camisa em seu peito. Sinto seu corpo tencionar com meu toque, mas não me afasto. Contorno o desenho com paciência, buscando tempo para organizar o que pretendo dizer a seguir. Mas, principalmente, tomando tempo para saciar um pouco da vontade que tenho de tocar em Jungkook.
— Eu não me arrependo de ter contratado você e eu não... — Minha voz é como um sussurro, porque não é preciso que eu fale mais alto do que já falo. Somos separados por centímetros de distância e um fiapo de vento que transborda seu perfume tropical. — Você não me remete a nada de ruim, Jungkook. A verdade é que você foi a única coisa boa de toda essa bagunça.
Meus dedos agora tilintam sobre o tecido de algodão de sua camiseta, minhas duas mãos agarrando-lhe a gola para que eu me aproxime mais dele. Meu corpo erguendo-se gradativamente a medida que meus calcanhares deixam o chão. Passo meu nariz por sua bochecha, sentindo seus braços agora me tomarem a cintura. Não sei de onde arranjo coragem, como também não sei para onde foi toda a minha insegurança. Mas penso que talvez seja pela recente descoberta de que somos confusão juntos.
Demoro-me um tempo, sentindo seu cheiro e seu peito contra o meu. É talvez o toque mais íntimo que já tivemos, mesmo que nossas mãos já tenham explorado cada parte do corpo um do outro. Inspiro com vontade seu perfume como se pudesse gravá-lo em mim, como se a qualquer instante, longe dele, eu pudesse senti-lo pela memória.
Deixo um beijo demorado em sua têmpora, soltando um suspiro suave antes de dizer o que esperei todo esse tempo para falar:  
— Eu gosto de você e eu finalmente consigo dizer isso de forma verdadeira e sincera, sem mentiras ou namoros falsos. — Minha voz é baixa, um segredo contato no pé de seu ouvido. A reação imediata que recebo é seus braços me apertando contra seu corpo, seu rosto aproximando-se mais do meu. — Eu gosto de você e, se você quiser, a gente pode tentar tudo de novo.
Tudo o que sinto dentro de mim é uma sensação que não consigo muito bem explicar. Sempre pensei que ela fosse ser como a de se livrar das mentiras contadas aos meus pais, sempre acreditei que me sentiria leve, porque, em um pensamento prematuro, as palavras que tenho para dizer a ele me pesavam. Mas agora percebo que não sinto que fui abandonada por elas, sinto que elas ainda divagam dentro de mim. Porque meus sentimentos por ele nunca foram peso sobre meus ombros, nunca foram culpa ou arrependimento. Eles sempre me transbordaram para todos os lados.
Meus lábios tocam mais uma vez sua pele em um beijo, a brisa no início da noite nos acolhendo com zelo.
— Dessa vez no nosso tempo, do nosso jeito. Sem almoço em famílias, notebooks quebrados, ex-namorados histéricos ou cobranças matrimoniais. — Continuo suave, sentindo que de fato transbordo pelo que sinto, pelo seu toque, pelo seu coração batendo acelerado junto ao meu. — Só nós dois. A gente pode ir devagar, entende?
Consigo sentir sua respiração densa, enquanto seu peito sobe e desce lentamente.
É um mundo só nosso.
Seus dedos agora dançam pelo final de minha coluna, moldados em um carinho terno e delicado na pele exposta de minhas costas.
— Eu sou bom em ir devagar. — Ele finalmente vem, o tom de voz baixo assim como o meu. E eu percebo que não senti medo algum à espera de sua resposta. Somos segredos compartilhados, sentimentos que transbordam. — E eu também gosto de você, se isso ainda não ficou claro o suficiente.
Seu nariz acaricia meu rosto, um toque sutil que logo faz com que eu me afaste de forma lenta para finalmente olhar em seus olhos. Daqui, com poucos milímetros nos separando, consigo enxergar tudo o que preciso enxergar. A cicatriz na bochecha, a pintinha debaixo do lábio e os olhos tão negros como o céu sem estrelas. Também enxergo sua sinceridade e todos os sentimentos bons que nos cercam.
Todos os seus detalhes.
E quando nossos lábios se encontram em um beijo só saudade e sentimentos recíprocos, percebo que agora é no nosso tempo; temos a chance de vivermos tudo isso da forma como deve ser. Da nossa forma. Não precisamos nos forçar a ideais que não são nossos. Não precisamos mais de contratos e mentiras, podemos ser nós mesmos, no nosso tempo com os nossos sentimentos.
A vida não é perfeita e, provavelmente, nunca vai ser. Não entendo qual é o seu real sentido ou se existe um. Também sei que descobrir sobre isso é mais uma coisa que não vai acontecer. Mas o que me resta, ao fim de tudo, é compreender que apesar das coisas não estarem nos lugares que deveriam estar, eu ainda posso me sentir bem. Ainda posso acreditar que ela vale a pena, porque vale.
O mundo é muito vasto, cheio de possibilidades e vidas distintas.
Sei que ainda vou enfrentar batalhas internas, dúvidas severas e retornos cruéis ao passado. Mas tenho liberdade agora. Para tudo. Tenho liberdade para acelerar e para frear; tenho meu próprio tempo. Minha vida não precisa caminhar na mesma intensidade que a de outro alguém, porque ela não é de outra pessoa, ela é minha.
Não busco felicidade duradoura, não busco felicidade que viva em mim a todo instante. O que eu busco é só aquele sentimento de querer estar na minha própria pele, de querer estar onde eu estou, aqui e agora. Busco não me sentir mais ansiando por outras vidas que não a minha. Busco tomar minhas próprias decisões, assumir as rédeas de toda a minha existência.
Não sei se vou querer continuar no mesmo lugar que estou agora, como também não sei o que vai acontecer no futuro. Não tenho planos concretos, reais. Não tenho planos para casamentos, vida a dois ou qualquer coisa antes programada pelos meus pais.
Só sei que aqui, beijando alguém que gosto e que escolhi por inteiro, é exatamente aonde eu gostaria de estar.
E, por agora, isso é o suficiente para mim.
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