#a cegonha que trouxe ele
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seamusteach · 1 year ago
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╰ 🏴 : TEACH'S FAMILY: meet them!
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BARBA NEGRA. o pirata tão ganancioso que ele faria um leilão de dentes de ouro se pudesse. ele valoriza mais sua moral adquirida nas águas do que um baú cheio de tesouros, e seu filho provavelmente já começou a suspeitar que o papagaio de estimação é o herdeiro preferido. fc: oscar isaac
SEAMUS. empenhado em acumular tantas riquezas que, um dia, espera poder enfrentar seu pai e dizer: "pai, olha, agora eu sou tão rico que você vai precisar pedir um empréstimo com juros baixos para mim." fc: sean teale
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mzlord · 2 years ago
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‎⠀⠀ ⠀⠀⠀‎⠀ ⠀⠀⠀ ♥︎ 🕊 ، 𝒘ords 𝒇or 𝒚ou :
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“Existem mais estrelas no céu, ‎ ‎ do que grãos de areia na terra. ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎E nenhuma delas brilha tanto quanto, você.”
Meu Miguel,
Será que você conseguiu chegar até aqui sem chorar? Não sei se é o que eu espero depois de taaaaaanto caminho até aqui, mas lá vamos nós.
Como eu posso começar a falar sobre o amor da minha vida? Aquele que me trás paz, conforto, carinho, cuidado. Aquele pelo qual eu sempre sonhei. O meu príncipe encantado. O teu amor é capaz de me fazer sentir coisas que eu nem sabia que podia, teu amor consegue me fazer dar nome aos sentimentos, nomear um por um e com eles fazer uma imensa lista.
Em textos de aniversário a gente normalmente agradece né, agradece a pessoa por ser quem ela e e deseja coisas boas. Mas acho que é impossível eu te agradecer por tudo em um texto…
Tô aqui pra ser grata. Ser grata a ti e a tua alma. Aquela por quem eu me apaixonei loucamente desde o início. Aquela que nasceu pra me pertencer. Meu Miguel, a maneira pela qual eu sou grata a absolutamente todas as coisas que envolvem você é genuinamente verdadeira. Todas as palavras que tenho o prazer de proferir pra vocês todos os dias, em todos os momentos e horários, são as mais verdadeiras. Eu digo elas do fundo do meu coração, coração que por sinal, é e sempre vai pertencer a você.
O jeito pelo qual eu me doei completamente pra você, me trás nada menos do que orgulho. Você sabe como eu sou, não sou a pessoa que normalmente diz isso, quem diz é você, todo o santo dia. Até por coisas mínimas você se orgulha de mim, você me ama de um jeito que eu nunca vou conseguir me amar um dia. É um amor tão puro e tão genuíno que nem precisa de mim. Você me ama por você e por mim.
Eu sonho um dia poder viver esse pra sempre que tanto falamos, esse sonho que parece tanto mas tanto com um sonho, que de vez em quando preciso que você me belisque pra ver se consigo acreditar. Você me completa de uma maneira tão genuína, e suas palavras fazem meu coração saltitar. E quando você vem, eu me sinto de novo uma adolescente de quinze anos, apaixonada.
Apaixonada por cada mínimo detalhe seu, até das pequenas gírias que na maioria eu não entendo, até os grandes problemões que de agora em diante vamos precisar de um tempo pra “estarmos bem”. Estamos bem, vamos ficar bem. Nós sempre ficamos bem né? Acho que o motivo disso é porque temos um ao outro, e não importam quantos remédios eu precise tomar pra passar a dor de cabeça, seja o Paracetamol, o Dipirona ou o Dorflex. O único capaz de curar absolutamente tudo em mim, é você.
Você me cura. Você é a minha cura. Você é o que a minha alma mais deseja, e mais desejou. E não importam quantos amores eu tive, eu nunca tive a capacidade de me sentir transbordar como eu me sinto por você. Por você e pelas suas palavras, que curam. Nunca tive a capacidade de sentir os verminhos se mexendo na minha barriga e o meu coração gritando e implorando pelo seu nome, pelo seu toque, pela sua voz.
Quero ser capaz de viver todas as belas coisas do mundo com você, conhecer todos os restaurantes de São Paulo e dividir todos os pratos juntos, pra no final do dia deitar na cama e dormir juntos, ouvir o teu boa noite. Isso que me cura. Tu. Tu me cura de um jeito singelo, sem querer nada em troca, sem esperar ser curado de volta. Tu me cura porque tu pode, me cura porque sabe como.
Quero ser capaz de conseguir te curar também, exatamente do jeito que você me cura. Te fazer sentir as coisas que eu sinto. Somos completos quando juntos. Você é a minha luz. Opa cadê a escuridão? Sumiu, você mandou embora.
E é por isso que eu sou grata, por você. Sou grata a Lily por ter te posto no mundo, grata a cegonha se foi ela que te trouxe, mas sou grata ao papai do céu, que apesar de não sermos católicos, trouxe você pra mim. Trouxe você só pra mim, perfeito pra mim, feitinho pra mim. A minha luz.
Quero um dia ser capaz de viver a nossa tão sonhada vidinha de casados. Sendo gays, acordando junto, dividindo as tarefas domésticas. Eu dobro roupa e você lava a louça ok? Dividindo os afazeres dos pets e treinando o Toby e o Engles, com petiscos e cliques, enquanto a Nala e o Marx ficam olhando de cantinho julgando tudo.
Quero poder te desejar todas as coisas que te fazem feliz, todas as coisas que podem ser capazes de te tirar um sorriso do rosto, e do coração. Ver você sorrir me cura. E você sabe disso não sabe? Depois de muitos :(( o que mais me alegra é o seu sorrisão radiante, que faz você fechar os olhinhos e fazer com que eles fiquem beeeeeeem pequenininhos sabe? Meu coração fotografou teu sorriso.
Eu te amo, meu Miguel. Te amo com todo o meu coração, com todas as partículas do meu corpo, com a minha alma. E apesar de um longo texto agradecendo e desejando, nunca vai ser posto em palavras o tamanho dessa gratidão.
E aqui tô eu, pra fazer um pedido bom. Um pedido certo dessa vez. Daqui a 5 dias, completamos um mês de namoro. Mas na verdade, daqui a 5 dias, vai completar 4 meses em que é um prazer estar viva. Viva e ao seu lado.
Era uma vez, uma condessa que se apaixonou profundamente por um lorde, e ela jurou pra si mesma fazer absolutamente tudo que pudesse pra fazer com que ele sorreiasse e que aquele sorriso iluminasse tudo e todos em sua volta. Acontece que, isso não é ficção, isso não é um livro. Somos nós. Sou eu e você. É você e eu. Fora da bolha e felizes.
E bom, por isso eu te pergunto mais uma vez, com cada átomo do meu coração, minha alma e meu amor. João Miguel Beaumont Pellegrini, você aceita ser oficialmente meu?
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‎ ‎ ‎ ‎ ‎ “E se eu te olhar cem vezes, ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ acredite, em cada uma delas estarei ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ me apaixonando um pouco mais.”‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ - Caio Fernando Abreu.
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btsnoticia-blog · 6 years ago
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Lista de álbuns e músicas do BTS: Um guia completo de cada música
Se você é novo no ARMY e procura mais informações sobre todas as músicas e álbuns do BTS, estamos aqui para ajudar! Aqui está uma lista completa da discografia do BTS, bem como o significado e inspiração por trás dos singles do Bangtan Boys!
BTS debutou em 13 de junho de 2013 e vem lançando músicas e álbuns sem parar desde então. É bem impressionante quando você vê o envolvimento de todos os membros do BTS no processo de criação de música, desde ajudar a escrever as letras e até produzir algumas faixas também.
Durante os anos, desde o primeiro álbum do BTS, eles conseguiram uma impressionante discografia que inclui álbuns coreanos e japoneses. Todas as músicas e álbuns do BTS têm significados pessoais e histórias por trás. Por meio dos álbuns do BTS, você pode acompanhar a vida dos membros, à medida que eles crescem e aprendem a lidar com a sua fama sempre crescente.
Você também pode ouvir sobre a vida deles em conjunto, conduzindo todo desafios desta em suas músicas.
Desde discutir tópicos sobre crescimento, pressões, dificuldades de saúde mental, amor e perda, lidar com os outros que tentam os derrubar, e aprender a amar a si mesmos, apesar de tudo, os membros realmente se tornaram livros abertos por meio de sua música. Os principais membros do BTS que trabalharam como produtores e compositores incluem RM (Kim Namjoon), Suga (Min Yoongi) e J-Hope (Jung Hoseok), embora outros membros também tenham trabalhado nas músicas. Assim como, eles trabalharam como produtores de outros artistas. Além disso, o BTS trabalha com os produtores internos da Big Hit, que os ajudam a fazer um conteúdo de qualidade, incluindo o CEO da Big Hit, Bang PD, que provou ser um gênio criativo.
Seus outros produtores são Pdogg, Slow Rabbit, Supreme Boi e Adora. Adora também é a produtora da Big Hit que atuou como vocalista de fundo em algumas das faixas do BTS e é amada pelo fandom.
Para saber mais sobre o Bangtan Boys, aqui está a nossa lista de músicas do BTS, além de algumas informações dos bastidores sobre cada álbum. Incluímos também a capa dos álbuns para sua conveniência:
Álbum: "2 Cool 4 Skool"
Data de lançamento: 13 de junho de 2013
"No More Dream" foi o primeiro single do BTS, e as letras foram escritas pelos membros do grupo RM, Suga e J-Hope junto com seus produtores. As letras do single revelam um tema que o grupo rememorava frequentemente em seus primeiros dias, os jovens sendo empurrados para ir à escola realizar os sonhos dos outros e não necessariamente os seus. J-Hope uma vez explicou que as letras tocam na “ansiedade que vem das realidades vagas que enfrentamos e que devemos tentar superar tais ansiedades”. "We Are Bulletproof Pt.2" foi seu segundo single do álbum. As letras discutem as dificuldades que o grupo já havia enfrentado, sendo menosprezados por outros, mas superando todos os ataques com seu trabalho duro e dedicação. Suga analisou o álbum em um vídeo e revelou que eles queriam mostrar o quanto trabalharam em seus anos de trainees e que estavam confiantes com seu debut.
Álbum: "O!RUL8,2?"
Data de lançamento: 12 de setembro de 2013
"N.O" foi a faixa título de “O!RUL8,2?”, e similarmente ao primeiro single "No More Dream", "N.O" é sobre a pressão nos alunos para se tornarem "máquinas de estudo" mesmo quando sacrificado seus próprios sonhos e felicidade. Esse tema também é exibido no MV da música "N.O", no qual os alunos são alimentados com pílulas em uma sala de aula, para torná-los complacentes com seus estudos. "Attack on Bangtan" (também conhecido como "The Rise of Bangtan") não conseguiu seu próprio videoclipe, mas se tornou uma faixa popular do álbum e foi usada durante as promoções do álbum. A música apresenta uma batida mais enérgica e divertida do que seus singles anteriores. Enquanto a letra avisa outros ídolos sobre a iminente ascensão do grupo, eles usam o fogo para cativar os fãs.
Álbum: "Skool Luv Affair"
Data de lançamento: 13 de fevereiro de 2014
"Boy In Luv" foi o single principal do álbum e a letra da música é sobre uma paixão típica do ensino médio. Bem como, uma confusão dos meninos sobre ter sentimentos pela menina. Mesmo com o tema fofo da música, o BTS ainda coloca um toque de hip-hop no som que o destaca. "Just One Day" foi o segundo single do “Skool Luv Affair”. Embora essa música tenha um tema parecido com "Boy In Luv", é uma música muito mais suave e lenta. Isso permitiu que o BTS mostrasse outro lado de suas músicas pela primeira vez em um single.
Álbum: "Skool Luv Affair: Special Addition"
Data de lançamento: 14 de maio de 2014
Álbum: "No More Dream" (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 4 de junho de 2014
Versões: Regular, A, B
“No More Dream” (versão japonesa) virou a primeira música que o BTS fez um videoclipe inteiramente novo para uma de suas canções japonesas.
Álbum: “Boy In Luv” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 16 de julho de 2014
Versões: Regular, A, B
BTS lançou um videoclipe para a versão japonesa de “Boy In Luv”, que era apenas um pouco diferente da versão coreana.
Álbum: “Dark & Wild”
Data de lançamento: 19 de agosto de 2014
Álbum: “Danger” (Álbum Japonês)
Versões: Regular, A, B
"Danger" trouxe de volta o tema dos relacionamentos jovens. Desta vez, a música expressa a angústia de sentir que seus sentimentos são mais fortes do que as outras pessoas. Ele também possui um som que é influenciado tanto pelo hip-hop quanto pelo rock. "War Of Hormone" foi lançado como o segundo single do álbum e foi recebido com algumas críticas sobre as letras que objetificam as mulheres. Isso até fez com que eles divulgassem uma declaração admitindo que revisaram as letras e perceberam que podiam ser vistos como misóginos, mas que não era a intenção deles durante o processo de escrita. Desde então, toda a equipe da Big Hit e os membros do BTS assumiram o compromisso de se encontrar com especialistas e ler mais livros quando abordam assuntos delicados. Pessoalmente, eu não acho a letra das músicas tão ruim assim. Embora seja reconfortante saber que o BTS está sempre disposto a receber críticas construtivas para melhorar.
Álbum: “Danger” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 19 de novembro de 2014
Versões: Regular, A, B
"Danger" também recebeu um videoclipe para sua versão em japonês e tem algumas diferenças em relação à versão coreana, embora muitas das cenas sejam familiares.
Álbum: “Wake Up” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 24 de dezembro de 2014
Versões: Regular, A, B
"Wake Up" foi o primeiro álbum japonês do BTS a apresentar músicas que não estavam em álbuns anteriores em coreano. No entanto, nenhuma das músicas teve seus próprios videoclipes. A faixa-título “Wake Up” tem temas parecidos com “No More Dream” e “N.O.”, já que as letras detalham o esgotamento dos jovens de serem sobrecarregados e pressionados por seus pais.
Álbum: “화양연화 Pt. 1” | “The Most Beautiful Moment In Life Pt.1”
Data de lançamento: 29 de abril de 2015
Versões: Rosa e Branco
"I Need U" foi o single principal do “The Most Beautiful Moment In Life Pt.1” e também trouxe um som mais pop para o BTS. Os membros explicaram que é sobre tentar segurar o amor que está prestes a terminar e a ansiedade que vem junto com isso. "Dope" foi o primeiro videoclipe do grupo a ultrapassar 100 milhões de visualizações no YouTube e também recebeu muita atenção internacional. A música também fala em como os jovens lutam para ter sucesso com as expectativas colocadas sobre eles. Suga também explicou em um de seus vídeos que ele era capaz de escrever suas letras muito rapidamente porque se diverte trabalhando com a batida da música.
Álbum: “For You” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 17 de junho de 2015
Versões: Regular, A, B
"For You" foi a primeira música do BTS em um álbum japonês que não estava em um álbum coreano a receber seu próprio videoclipe! É uma música suave e romântica sobre querer estar com o parceiro, pois a distância os separa.
Álbum: “화양연화 Pt 2.” | “The Most Beautiful Moment In Life Pt.2”
Data de lançamento: 30 de novembro de 2015
Versões: Azul e Pêssego
"Run" teve letras escritas por muitos dos membros, incluindo RM (Kim Namjoon), Suga (Min Yoongi), V (Kim Taehyung), Jungkook (Jeon JungKook) e J-Hope (Jung Hoseok). O BTS explicou que a faixa assume as dificuldades da juventude com letras ousadas: “Nós não queríamos apenas dizer 'anime-se' ou 'seja forte'. Queríamos realmente consolar as pessoas do nosso jeito, produzindo a música e escrevendo as letras nós mesmos. Nós derramamos nosso coração e alma nesta música incrível”. “Baepsae” também conhecido como “Silver Spoon” é inspirado no provérbio coreano “Se um pássaro (crow-tit) anda como uma cegonha, ele vai rasgar suas pernas” A música explica como os jovens são o corvo tentando acompanhar as pessoas no poder, as cegonhas, mas acabam se arruinando no processo. Alimentada por sua poderosa batida e coreografia, a música é uma das favoritas dos fãs há muitos anos. DKDKTV tem uma ótima explicação desta música em mais detalhes a partir de uma perspectiva coreana.
Álbum: “I Need U” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 8 de dezembro de 2015
Versões: Regular, Edição Limitada, Especial de Natal, HMV
O vídeo de “I Need U” (versão japonesa) é interessante porque foi filmado com um tema muito diferente da versão coreana. Ao contrário de algumas das músicas anteriores da versão japonesa, que acabaram com vídeos musicais muito semelhantes às versões coreanas.
Álbum: “Run” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 15 de março de 2016
Versões: Regular, Pony Canyon Ed Limited, HMV Limited Ed.
O videoclipe de "Run" (versão japonesa) tem temas semelhantes à versão coreana, mas ainda é bem original com cenas e locais diferentes.
Data de lançamento: 2 de maio de 2016
Álbum: “화양연화 The Most Beautiful Moment In Life: Young Forever”
Versões: Noite e Dia
"Fire" tem um tema semelhante ao "Run" sobre como todos cometem erros, com um som muito diferente. Com as letras impressionantes do rap, o grupo grita, e o som eletrônico diz algo sobre a música, que faz você querer dar uma festa em casa. Embora lançado em primeiro lugar, "Save Me" agora é tocado ao vivo com outra faixa de “Love Yourself: 結 Answer”, "I'm Fine". As duas músicas são influenciadas por ambigramas. Quando virada de cabeça para baixo, as palavras pode ser lidas como uma ou outra, e da mesma forma as músicas refletem isso. Em “Save Me”, as letras refletem alguém lutando contra a depressão e pedindo ajuda. Enquanto em "I'm Fine" as letras mostram a pessoa começando a se recuperar da depressão e em parte agradecendo a outra pessoa por ajudá-la.
Álbum: “Youth” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 7 de setembro de 2016
Versões: Regular, Limited Edition
Infelizmente, o “Youth” não teve nenhum videoclipe feito para as novas versões japonesas das músicas incluídas no álbum.
Álbum: “Wings”
Data de lançamento: 10 de outubro de 2016
Versões: W, I, N, G
As letras de "Blood Sweat & Tears" foram inspiradas no livro “Demian” do autor Hermann Hesse. RM explicou o significado por trás da música dizendo: “Quanto mais difícil é a tentação de resistir, mais você pensa sobre isso e vacila. Essa incerteza faz parte do processo de crescimento. [Blood Sweat & Tears] é uma música que mostra como uma pessoa pensa, escolhe e cresce". Suga também explicou que: “A música transmite uma determinação otimista em usar nossas asas para ir longe, mesmo que nos encontremos com tentações na vida”. Com letras que começam dizendo: “Você vale a pena, você é perfeita, merece, trabalhe”, a música “21st Century Girl” tem como objetivo encorajar as mulheres. É praticamente um hino feminista para inspirar as mulheres a se sentirem mais confortáveis em sua própria pele e ignorarem a pressão da sociedade para ser perfeita.
Álbum: “You Never Walk Alone”
Data de lançamento: 13 de fevereiro de 2017
Versões: Direita e Esquerda
"Spring Day" foi escrito por RM e Suga sobre suas experiências de sentir falta de alguém próximo a eles. Usam a metáfora das estações do ano para discutir como as coisas sempre melhoram, muito parecido com a primavera depois de um longo inverno. A música também se inspira no romance “The Ones Who Walk Away From Omelas” e também é referenciado no vídeo da música. Muitos fãs também acreditam que as letras da música foram inspiradas na tragédia do naufrágio do MV Sewol. BTS e a Big Hit Entertainment doaram 100 milhões de won (aproximadamente US$85.000) para o ‘Sewol Ferry Disaster 416 Family Council’, embora não tenha havido confirmação oficial da banda de que a música esteja relacionada à tragédia. "Not Today" revisitou o tema antissistema da banda de canções anteriores, e estimula as pessoas a continuarem lutando. RM ajudou a escrever a letra dessa música, e o videoclipe mostra o grupo lidando com homens mascarados.
Álbum: “血、汗、涙 Blood Sweat & Tears” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 10 de maio de 2017
Versões: Regular, A, B, C
O videoclipe da versão japonesa “Blood Sweat & Tears” apresenta principalmente novas cenas, com algumas da versão coreana misturadas. Mas o clipe ainda mantém o mesmo tema dos membros enfrentando diferentes tentações e lutando para ficar longe delas.
Álbum "Love Yourself : Her"
Data de lançamento: 18 de setembro de 2017
Versões: L, O, V, E
"Serendipity" foi originalmente lançado como uma faixa de introdução em “Love Yourself: 承 Her” e depois lançada como uma faixa completa em “Love Yourself: 結 Answer”. Em uma entrevista, RM descreveu o significado por trás das letras dizendo: “Quando eu escrevi as letras, melodias e os primeiros temas de 'Serendipity', eu tentei encontrar algumas coisas raras que você encontra na vida, algo muito especial, como o calico, gato de três listras; coisas que têm significados extraordinários na vida das pessoas. Eu queria compartilhar esse momento”. "DNA" se tornou uma música histórica para o BTS, ajudando-os a começar a dominar os principais corações da América. O grupo fez sua estreia na TV americana no American Music Awards 2017 com uma performance de "DNA". RM também falou sobre o significado da música: "Quando estamos falando sobre nossas faixas-título, “DNA" é sobre a expressão de um amor jovem e apaixonado.As letras são como: "Nós dois estamos conectados desde o começo, nosso DNA era a única coisa". Ao mesmo tempo, "DNA" está levando o BTS a um novo patamar. Tentamos aplicar nova gramática e perspectivas. ”
Álbum: “Mic Drop / DNA / Crystal Snow” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 6 de dezembro de 2017
Versões: Regular, A, B, C
Um videoclipe para a versão japonesa de “Mic Drop” foi lançado, e também é muito semelhante à versão coreana.
Álbum: “Face Yourself” (Álbum Japonês)
Data de lançamento: 4 de abril de 2018
Versões: Regular, A, B, C
"Don't Leave Me" não ganhou seu próprio videoclipe, mas ainda se tornou muito popular e até mesmo o tema de abertura da série de TV japonesa Signal (シ グ ナ
ル).
Álbum “Love Yourself : Tear”
Data de lançamento: 18 de maio de 2018
Versões: T, E, A, R
"Singularity" também foi originalmente lançado como uma música de introdução em “Love Yourself: 轉 Tear” e lançada completa mais tarde no “Love Yourself: 結 Answer”. A música tem uma vibe distinta de R & B, impulsionada pela voz emotiva do cantor V (Kim Taehyung). As letras são poéticas por natureza, pois a música detalha uma pessoa que se sente como se tivesse se perdido por outra pessoa. “Fake Love" foi descrita em uma preview no V Live como uma música muito difícil para o grupo trabalhar em seu álbum. Os membros revelaram que trabalharam na melodia repetidas vezes tentando acertar. Em uma entrevista, RM também revelou mais do significado por trás da música: "Estamos dizendo que, se você não for verdadeiro consigo mesmo, seu amor não durará para sempre. O amor pode ser de pessoa para pessoa, pode ser entre mim e eu mesmo. ”
Álbum “Love Yourself: Answer”
Data de lançamento: 24 de agosto de 2018
“Idol” reuniu muitos elementos da cultura coreana moderna e tradicional, que pode ser ouvida na música e vista no videoclipe também. RM também falou mais sobre o significado por trás da música no V Live, dizendo: “Você pode não se concentrar nas letras, mas elas são significativas. É isso que queremos dizer: você pode me chamar de artista. Você pode me chamar de ídolo. Não importa o que você me chama, eu não me importo. Sou eu." Ele também acrescentou: "Você não precisa de uma explicação para dizer quem sou eu. Seria triste se precisássemos. Eu canto essa música para me amar. Não importa como eu pareça, eu sou eu”. "MIC Drop" foi na verdade inspirada no ex-presidente dos EUA, Barack Obama. RM explicou: "A faixa depois disso é 'Mic Drop', e foi inspirada no discurso do ex-presidente Obama. A queda do microfone era algo que expressava: "Não foi uma droga de discurso?”. Dessa forma, nossa música "Mic Drop" é uma faixa que expressa nossos ganhos, esperanças e confiança". RM também explicou em um V Live que originalmente a letra que ele fez para a música era realmente raivosa, mas eles foram mais tarde retrabalhados por J-Hope de uma forma que o grupo se sentiu muito melhor.
🔗https://www.hypable.com/bts-song-album-list-complete-guide/
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gilsantanna · 3 years ago
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Há 2 anos nós estavamos descendo a serra e se encantando um com o outro. As conversas se entrelaçavam e tudo fazia sentido. Eu quis levá-la na praia mais bonita de São Sebastião, depois de ter feito uma jantinha especial na noite anterior. O dia prometia! Sol escaldante! Protetor, canga e barraca, era o nosso rolê perfeito. E claro, comida! Ela não vive sem. Tudo estava perfeito demais pra ser verdade, e o melhor de tudo é que era tudo de verdade. Hoje, dá pra perceber que tudo tinha um motivo além de nós 2. E o motivo tá aí no colo dela. Duas verdades geram mais uma. Lembrar quando nossa história começou é ver o quanto sou grato por tê-la ao meu lado, nos dias fáceis e nos dias difíceis também. E é inclusive neles que percebemos o quanto amamos um ao outro! Dia 30 de novembro, o dia do nosso primeiro encontro! Que ele se repita por muitos e muitos anos e que sejamos espelhos pra esse neném gostoso que a cegonha nos trouxe. Viva o amor! #causeamor #amor #ela #nós #vida #celebrandoavida #familia #ciclos https://www.instagram.com/p/CW5wBsBgOWH/?utm_medium=tumblr
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Crítica - 60 anos depois, Dumbo ainda consegue ser muito fofo
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Iti malia. Ontem assisti a adaptação de Dumbo para live action e posso começar afirmando duas coisas a respeito: primeiramente foi uma experiência um tanto quanto nostalgica, não só por ter sido baseada numa animação que assistia muito quando pequeno, lembro até como um dos primeiros filmes que assisti.. Em segundo lugar, o filhote de efefante é uma coisa MUITO GOSTOSA DE FOFA. Dumbo é mais um longa derivado dessa ambição da Disney em trazer todos os seus grandes clássicos animados para as novas gerações por meio de live actions, como já fez com Cinderela, Mogli, A Bela e a fera, e pretende fazer com Aladin e Rei Leão ainda esse ano. Apesar de todo produto Disney já ser, para muitos, sinônimo de qualidade e do bom lugar que estas histórias ocupam em nossas memórias e corações, a recepção desses live actions varia bastante. Há filmes como a adaptação de Mogli, “O Livro da Selva“, que foram espetaculares, e outros como a Bela e a Fera, que foram meio meh.
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Em relação a Dumbo, apesar não atingir o nível de "O Livro da Selva", fiquei bem feliz com a adaptação. Sinto que conseguiu captar o espirito e charme do original, ao mesmo tempo que trouxe algo novo para a mesa. Animais antropomórficos, como a cegonha e aquele ratinho, surgem apenas como referências, easter eggs, a animação original. Foram deixados de lado visando dar maior realismo a história, o que tem seus prós e contras. Favorável por esse realismo trazer algo novo para um conto que todo mundo já conhece, mas prejudicial no sentido de que os animais antropomórficos estão muito associados a “magia Disney”, aquele tom espetacular que o estúdio introduz em suas histórias (e que carece um pouco no filme).
Outra alteração que o filme faz e que também é prejudicial e favorável por esse mesmos motivos que falei é a introdução de muitos personagens humanos e foco nos próprios. O protagonismo do filme é dividido entre o elefantinho e uma familia que vive no circo para onde ele vai, que é responsável pelo cuidado dos elefantes. Esse acréscimo serviu bem a “recriação da história”, ou seja, em trazer algo novo para um conto muito conhecido, mas sinto que muitas vezes tirava um pouco do foco do prório filhote de elefante. Outros personagens, como as “bizarrices” e dono do circo também ganham maior destaque. Isso tudo contribuindo para a extensão e realismo da história. Michael Keaton interpreta o vilão do longa, uma espécie de versão corrompida de Walt Disney. Apesar da ideia ser legal e de eu amar o ator, fiquei bem desapontado com a performance dele. Ele tenta fazer algo cartunesco mas que não rolou.
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Além dos elementos novos, o live action recria muitos momentos icônicos da animação. Um desses momentos, que me arrepiou ao entrar em contato com os olhos e ouvidos da minha criança interior, foi quando Dumbo começou a enxergar elefantes em bolas de sabão dançando, fazendo uma alusão ao momentos em que ele se embebeda acidentalmente junto com seu amigo rato. Claro que não chega a altura do original, em que se tem aquelas animações bem criativas e até um pouco sinistras (sério, joga “Dumbo Pink Elephants on parade” no youtube que você vai ver o que eu to falando) e um elefante bêbado (é uma desculpa bem mais maneira para tê-lo enxergando elefantes de bolha dançantes), mas mesmo assim, o fato de terem feito uma referência a essa parte, assim como outras presentes no filme animado, ajuda a manter o espirito do original vivo. Faz com que, mesmo com as mudanças, a alma do original ainda fique intacta dentro dessa reinvenção. E mano, eles usam até a mesma música. Muito legal.
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Dumbo é visualmente lindo, algo que não surprende num filme de Tim Burton. Até o pior dos filmes do cara consegue ser bonito. Seu uso de características visuais de Walt Disney e de seus parques para a criação de uma aura de espetáculo para o personagem de Michael Keaton foi uma boa sacada. O elefantinho é simplesmente muito fofo, adorável, vontade de morder, iti malia e outros adjetivos fofos. A interação entre o filhote com os humanos é muito bem feita e os momentos em que ele voa são de arrepiar, ainda mais pela contribuição de um dos meus compositores favoritos, Danny Elfman, que elabora uma música de fundo bem emocionante. 
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Ainda que tenha durado um pouco demais e sofra de um problema de rítmo em certas horas, Dumbo consegue entregar uma adaptação respeitosa e com elementos novos para fãs do original, ao mesmo tempo em que é um bom passatempo para aqueles que só buscam um filme legal e fofão para distrair a cabeça.
- Marcelo Velloso 
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primeirafonte · 8 years ago
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Dona Maria
Nina Furukawa [SP, Marginal, 90km/h] * A gente sempre vem na mesma faixa de areia. Felipe disse que é o melhor lugar da praia. Não pela infra, pelo sossego ou agito. O que vale são as pessoas, as que mantém o sustento na areia fofa. Trabalham duramente, sorrisos e acenos recepcionam seja quem for, acolhem todos em suas projeções sombreadas, dividem a água mineral. Aqui tem família que te faz sentir em casa. Vera, Sergio, Igor, Roberto e toda equipe. Gente que te mima e não mede esforços para te atender bem. Tem a dona Creuza e o Eric, mãe e filho, que escolhem o melhor de seus produtos e capricham um pouco mais. E tem a dona Maria. * [Anda, meu! Por que essa lerdeza?] * Senhorinha com mãos de pele fina, faz salgados com tanto carinho que os traz em cesto de vime, tal cegonha de boas vindas. O avental denuncia que vem direto de sua cozinha para aquele restrito trecho moldado de mar. Coloca o chapéu de palha, ajeita os óculos de grau e com uma simpatia de alma leve, é cercada tão logo pisa na areia. A fama de seus preparos corre ouvidos. Se quiser provar, sim você deve se apressar. Dona Maria só fica enquanto tiver estoque. Isso leva uns 15 minutos, se a praia não estiver cheia. * [Afff, tem pedestre atravessando nessa faixa que nunca tem ninguém.] * A idade já não permite agilidade em chão fofo e Eric enlaça a preciosa cesta para ajudar nas vendas. Pousa em alguma mesa sob guarda-sóis, abre o pregão e o enxame está feito. Se pensar duas vezes, o banhista incauto fica a ver navios. Enquanto isso, dona Maria se reclina ao lado de quem já se garantiu e pergunta: "acertei no sal, não foi?" * [Que saco, cara! Buzinei mesmo, só pra ver se você se toca. Porra.] * Hoje ela me disse que o camarão não estava bom, por isso a empada era de palmito. "Olha, de noitinha eu vou dar um pulo lá na ponta da praia. Se tiver camarão bom, compro um punhado, faço unzinho e te trago amanhã." Foi o tempo da nossa conversa. Em minutos Eric trouxe a cesta vazia, o dinheiro conferido e deu um beijo na testa daquela senhora. * [Não tá vendo que eu quero passar? Sai da frente, seu bosta.] * O côco está carnudo, vou pedir pro Eric abrir. Aquele é o netinho da dona Creuza? "Bisneto, Nina, bisneto. Não é lindo? Conheci o seu filho nessa idade, lembra? Ele corria pra água, como se o mar fosse fugir. Ele foge não, Felipe. Olha só como você cresceu. E o mar tá aí ó. No mesmo lugar e do mesmo jeito de quando você era pequeno." Dona Maria está a acenar anunciando a volta para casa. Com os pés no mar, na mesma faixa de areia que venho há mais de 10 anos, acredito que o que vale são as pessoas. Aqui e em qualquer lugar. [A gente tem pressa de que mesmo?] O que vale é o mar e o filho crescendo. Aqui e em qualquer lugar.
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traduzindoempalavras · 8 years ago
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Victory Um cegonho com um boné azul voa com ovos em um lenço. O narrador narra e fala que ele é o cegonho e se chama Rafael. Ele narra que trabalha num orfanato e iria dar os três ovos para uma galinha chamada Vasti. Rafael pousa numa casa na árvore e ler o endereço da casa onde ele ia entregar os bebês. Ele percebe que o endereço está errado e a casa na árvore não é a casa que ele ia entregar os ovos. Ele vai embora, mas ouve os esquilos que moram na casa da árvore. Três esquilos irmãos machos falam o quanto eles queriam ter filhos. Rafael narra e fala que ficou com pena dos esquilos. Ele logo tem uma idéia e deixa os ovos na porta dos esquilos. Ele bate na porta e vai embora voando. Ele narra que sabia que teria que enfrentar Vasti por ter entregado os ovos para os esquilos, mas valia a pena dá pros esquilos os ovos por causa do desejo deles de ter filhos. Ralf, irmão do meio dos esquilos, atende a porta e ver o lenço enrolado nos ovos, os cobrindo e escondendo. Ralf pensa que a cegonha dos mitos sobre bebês passou por aqui e deixou filhotes de esquilos. Ele leva o lenço enrolado nos ovos e pensa que os esquilinhos que ele pensa que tem lá dentro pesados. Ele leva os ovos enrolados no lenço, com dificuldade, pois eles são pesados. Ele avisa aos irmãos Richard (um esquilo-voador) e André (uma tâmia) que a cegonha passou e trouxe esquilos bebês pra eles. Richard e André se empolgam. Ralf tira o lenço e se depara com os ovos. De olhos fechados, André abraça um ovo e não percebe que é um ovo. Ele fica beijando o ovo de olhos fechados. Ralf o avisa que é um ovo. André ver e fica incorfomado. Richard acha que a cegonha se enganou de animal e deu ovos pra esquilo, esquilo não bota ovo. Olhando para os ovos, Ralf aconselha seus irmãos a adotar os ovos, mesmo que eles não sejam da mesma classe ou da mesma espécie. Richard e André decidem aplicar o conselho de Ralf. Um tempo depois, os três esquilos irmãos estão em cima dos ovos, os chocando, esperando os filhotes dentro deles nascer. Os ovos se mexem e Ralf, Richard e André caem. Dos ovos, nascem três pintinhos. Ralf, Richard e André ficam encantados com os pintinhos. André admira dois e diz que vai adotá-los, mas Richard aparece e fala que ele que vai ficar com os pintinhos. Os dois disputam os pintinhos. Ralf se põe no meio deles e aparta a briga. Ele fala que se tem três esquilos e três pintinhos, cada um fica com um, ou seja, um esquilo fica com um pintinho. Aplicando o conselho de Ralf, André dá um dos dois pintinhos pra Richard, que o paparica. Ralf adota um dos pintinhos e vendo que é uma menina, a nomeia Vitória. Richard chama seu filho adotivo de Ricardino e André chama seu próprio filho de João. Tendo três filhos pintinhos, os esquilos cuidam deles : André brinca de cavalinho com seu filho pintinho João, Richard dá comida pra seu filho Ricardino e Ralf ensina sua filha Vitória a falar. Enquanto isso, Rafael chega finalmente na casa de Vasti, a galinha que era para ele entregar os ovos. Ele chega exausto e fala que a casa de Vasti era tão longe pra chegar. Ele vai cair de frente para descansar, mas bate de cara num papo, que é de uma galinha. Ele olha para cima e ver que é Vasti, que pergunta se ele é o cegonho Rafael que vinha lhe entregar os ovos. Apavorado, Rafael se apresenta e pergunta pela galinha Vasti, que se apresenta. Vasti pergunta pelos ovos. Rafael pergunta os ovos e Vasti começa a ficar nervosa. Rafael revela o que ele fez e Vasti fica furiosa. Rafael tenta explicar que os esquilos precisavam muito de filhos, mas Vasti exige que ele traga os ovos de volta pra ela. Rafael fala que ele não pode, pois os pintinhos já devem ter saído do ovo e se apegado aos esquilos, também se apegaram, devido sua vontade de ter filhos. Vasti não se importa e manda Rafael ir busca os ovos, virados pintinhos ou não. Rafael, não gostando do egoísmo cruel de Vasti, se recusa. Irritada, Vasti fala que então ela vai chamar o marido dela e grita “Oh, Ramon!”. Rafael debocha sarcasticamente que ela pode chamar pois ele não tem medo, mas ao olhar, fica assustado. Ramon aparece e é um galo robusto e forte. Rafael fica com medo dele. Vasti fala pra Ramon o que Rafael fez e acusa que Rafael está a faltando com respeito. Ramon logo pega Rafael pelo pescoço e pergunta o motivo de Rafael não obedecer sua esposa. Apavorado, Rafael pede calma e pergunta como pode três esquilos não tiverem filhos quando têm necessidade. Ramon grita “Vai já!”. Rafael, com medo, engole seco e fala “Tá bom.” Com maldade e impiedade, Ramon solta Rafael, que cai no chão. Rafael sai voando e vai embora. Ramon e Vasti logo têm uma relação amorosa de marido e mulher. Enquanto isso, Ralf, Richard e André ensinam muitas coisas a seus filhos adotivos Vitória, Ricardino e João, como falar. Os pintinhos bebês aprendem a falar e sentem sono. Ralf os põe pra dormir e os cobre. Ele acha bonitinho os pintinhos dormindo. Rafael aparece na porta da casa da árvore, vestido de leiteiro gordo e com uma caixa de leites. Ele se pergunta o que está fazendo, mas diz a si mesmo que se ele não fazer isso, sai morto. Ele lamenta a ação que vai fazer, mas bate na porta. Ralf atende e Rafael fala que ele é leiteiro e vive dando leite por toda a vizinhança. Ele pergunta se Ralf não quer uns leites. Ralf pensa sem duas vezes e fala que o leite dos pintinhos está acabando e aceita a caixa inteira de leite. Ele vai pegar os leites, mas Rafael não deixa e fala que ele costuma levar os leites pra dentro das casas. Ralf fica estranhando, mas deixa. Rafael passa pelos pintinhos e ao vê-los, tira todas as garrafas de leite e as almofadas da blusa que o deixava gordo e põe todos os pintinhos dentro da camisa, os escondendo. Rafael chega perto da porta, com Ralf encostado, todo convulsivo, pois os pintinhos dentro dele acordaram e estão se mexendo. Ralf estranha Rafael convulsivo, mas Rafael fala que ele tem uma doença que o deixa convulsivo às vezes, mas que não é contagiosa. Os pintinhos piam dentro da roupa de Rafael e Ralf ouve. Ele questiona o pio e Rafael fala que foi ele e que ele gosta de imitar outros animais. Ralf estranha, mas deixa o suposto leiteiro sair. Rafael sai tremendo e convulsivo. Um bico dos pintinhos sai da roupa de Rafael nas costas. Ralf fica surpreendido, mas acredita que deve estar vendo coisas. Fora da árvore dos esquilos, Rafael sente cócegas e muitas convulsões. Ele levanta a roupa de leiteiro e os pintinhos caem da roupa. Rafael lamenta os pintinhos do sequestro, põe eles no mesmo lenço em que os colocou quando eram dentro dos ovos. Enquanto isso, Ralf percebe que os pintinhos sumiram e avisa seus irmãos que procuram. Não achando Vitória, Ricardino e João, Richard, Ralf e André tenta pensar o que teria acontecido com os pintinhos. Ralf lembra do leiteiro gordo (Rafael) que chegou na porta e se ofereceu pra dá leite de graça pra eles e até quis entrar na casa pra deixar os leites. Ralf também se lembra que Rafael ficou de repente convulsivo, tremendo e se mexendo muito quando ia embora, e quando cruzou a porta, saiu um bico de pintinho piando. Ralf chega a conclusão de que Rafael sequestrou Vitória, Ricardino e João e os levou escondidos dentro da roupa. Richard e André ficam chocados e inconformados. Ralf lidera os irmãos a irem atrás do cegonho a fim de terem os filhos adotivos de volta. Vasti estranha a demora de Rafael e fala que já três horas da tarde e Rafael não chegou. Rafael chega exausto com o lenço com os pintinhos. Ele mostra à Vasti e fala que aqui já está os pintinhos e fica ofegante pela viagem que teve pra chegar e entregar os pintinhos. Vasti fica encantada com os pintinhos e os paparica exageradamente. Ela diz a Rafael que ele já pode ir embora. Rafael pergunta à Vasti se ele não foi longe demais e fala que os esquilos vão sentir falta dos esquilos. Vasti fala furiosa que a não importa e manda Rafael ir embora. Apavorado, Rafael vai embora. Vasti volta a paparica os pintinhos, mas eles se mostram não incomodados e não gostam dela. Vasti tolera a reação deles e pede pra eles esquecerem os esquilos e fala que agora ela é a mãe deles. Incomodados e inconformados, os pintinhos tentam se afastar de Vasti, não a considerando mãe. Vasti fala que eles devem estar com fome e os oferece minhocas e vermes. Por serem criados por esquilos, animais que não comem insetos, os pintinhos ficam com nojo e se recusam a comer. Mesmo assim, Vasti quase perde a paciência e dá minhoca a força para João. Vitória e Ricardino fazem cara de nojo. Vasti mostra Ramon aos pintinhos e Ramon se encanta pelos pintinhos, que não vão com a cara dele. Enquanto isso, Ralf, Richard e André caminham pela floresta bravos e encontram Rafael exausto e remorso. Eles o interrogam e pressionam Rafael a dizer onde está Vitória, João e Ricardino. Pressionado, remorso e arrependido, Rafael chora e pede pra eles não baterem nele e diz que ele pode explicar tudo e revela tudo e o porquê dele ter sequestrado Vitória, Ricardino e João. Rafael chora muito emocionalmente. Ralf, Richard e André que estavam bravos agora param de ficar depois que Rafael conta a história e trocam olhares. Ralf acalma Rafael, que enxuga as lágrimas. Ralf diz que ele e seus irmãos perdoam Rafael, que fica feliz. Richard, feliz, pede para que antes Rafael conte onde fica a casa de Vasti. Rafael fala que já viu que ele vai ter de novo uma viagem longa. Ele voa e pede para que Ralf, Richard e André o sigam. Richard voa, seguindo Rafael, enquanto Ralf e André andam seguindo Rafael. Enquanto isso, Vasti obriga Vitória, Ricardino e João a dormir debaixo dela. Vitória, Ricardino e João não querem e fazem birra. Mesmo assim, Vasti os cobre, como as galinhas fazem com seus pintinhos, e adormece. Rafael, Ralf, Richard e Ricardino aparecem na janela da casa galinheiro de Vasti e vêem ela dormindo e sabem que Vitória, João e Ricardino estão debaixo dela, cobertos. Os quatro entram na casa e andam na ponta dos pés com cuidado pra não fazer nenhum barulho. Eles chegam à Vasti e debaixo dela, encontram Vitória, João e Ricardino. Os pintinhos ficam felizes ao ver os pais. Quando Ralf, Richard e André vão pegar os filhos adotivos pra caírem fora, Vasti acorda e Rafael fala “Sujou!” Ela corre atrás dos esquilos e de Rafael, que saem correndo. Vasti logo pára e chama Ramon, que chega. Rafael fica ainda mais apavorado e segue na fuga. Ele consegue fugir, mas os esquilos são pegos por Ramon, que os entrega à Vasti. Os esquilos são amarrados juntos e amordaçados. Vasti, antes de sentar em cima dos pintinhos para cobri-los, diz pra Ralf, Richard e André ouvirem-a e nunca esquecer : Vitória, João e Ricardino são seus filhos e ninguém vai tirá-los dela. Enquanto ela fala, João, Vitória e Ricardino saem do ninho onde estavam. Vasti percebe. Os pintinhos continuam correndo, mas param ao se darem de cara com Ramon. Eles fogem do marido de Vasti, mas se dão de cara com ela. Ela os pega à força. Eles se mexem muito, tentando se soltarem e fazem birra. Irritada, Vasti fala que ela é a mãe deles e que Ralf, Richard e André não são nem um pouco pais deles. Rafael discorda. A cena mostra ele na janela. Ele revela tudo o que realmente aconteceu pros pintinhos, que era pra ele dá João, Vitória e Ricardino pra Vasti, mas deu pra Ralf, Richard e André pela necessidade deles de terem filhos. Os pintinhos entendem, mas continuam fazendo birra pra voltarem pra seus verdadeiros pais adotivos, mas Vasti também está irredutível em devolvê-los pra Ralf, Richard e André e culpa Rafael pela birra deles. Rafael voa e arranca Vitória, pelo pé, de Vasti. Vasti pede pra Ramon segura João e Ricardino pra ela e corre atrás de Rafael, que está com Vitória. Ela o pega pela perna. Rafael solta Vitória, que sai correndo. Ela solta Ralf, Richard e André e tira a mordaça deles. Ela bica a perna de Ramon como se estivesse a mastigando. Ramon fica com dor, anda de uma perna só, segurando a outra que foi bicada e solta Ricardino e João. Os esquilos se reúnem com os pintinhos e tentam levá-los pra fora pra eles mesmos cuidarem de Rafael, mas Vasti pega Ralf e bate Rafael como um bastão nele. Ralf fica inconsciente e com olho roxo. Vitória ver tudo. Ela e seus primos, João e Ricardino, bicam a perna de Vasti, que solta Rafael, ao sentir a dor. Com muita dor, Vasti fica andando de costas e de uma perna só, segurando a perna que foi bicada. Ramon continua pulando de uma perna só, segurando a outra, ainda sentindo a dor. Ele e Vasti se trombam de costas. Rafael pega uma enorme linha e amarra Vasti e Ramon juntos. Vitória ver Ralf ainda inconsciente e pensa que seu pai adotivo morreu. Ela chora muito. Ralf logo acorda para a alegria dela. André e Richard, que estavam vendo tudo da janela, também ficam felizes. Os esquilos, os pintinhos e Rafael vão embora, deixando Vasti e Ramon amarrados no chão deitados. Eles ficam irritados e desperados em se soltar. A cena logo mostra a casa na árvore dos esquilos. Rafael narra que foi assim, os esquilos e os pintinhos voltaram a serem uma grande família. Na casa da árvore dos esquilos, enquanto Rafael narra, ele mesmo é visto se despedindo de Ralf. Os esquilos e os pintinhos se juntam e tiram sua primeira foto de família. The End
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calefacaotropicaos · 8 years ago
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manifesto [antropófago]
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará. Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande. Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma consciência participante, uma rítmica religiosa. Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls. Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre.Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.. Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores. Só podemos atender ao mundo orecular. Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem. Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. O instinto Caraíba. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. Catiti Catiti Imara Notiá Notiá Imara Ipeju* A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o. Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso? Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César. A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue. Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida. Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti. Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo. De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia. O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa. É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci. O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso? Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade. Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. A alegria é a prova dos nove. No matriarcado de Pindorama. Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada. Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI. A alegria é a prova dos nove. A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos. Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo. A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
OSWALD DE ANDRADEEm Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha (Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.) nosso agradecimento ao site Cotidiano Carnaval
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siamcity-rp · 5 years ago
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Personagem
Nome do personagem: Ellie Rotthawinithi Data de nascimento: 30 de agosto do 1995 Nacionalidade: Tailandesa-Britânica Moradia: Dormitório Profissão: Estudante Orientação sexual: Em processo de descoberta Família: Mãe e pai desconhecidos User: @siam_ellie Faceclaim: Sammy Samantha Melanie Coates Carrd: Em breve Personalidade: Ela é dedicada, controladora, organizada, e quando se joga em algo vai de alma. É fiel e atenciosa com as coisas que gosta, mas extremamente crítica a tudo e todos. Por isso tem dificuldade em criar vínculos mais profundos. Costuma agir com a razão em vez das emoções, raras as vezes que se deixa levar pelo sentimento. Faz piadas que só ela acha graça, tendo um humor um pouco duvidoso, o que pode ser engraçado por si só.
Universidade
Curso: Jornalismo Período: 7º Bolsista: Sim Clube: Teatro Ocupação: Estagiária
História
Triggers: Crise de pânico/ansiedade
Apesar de toda história de qualquer ser humano começar com seus pais lhe dando a vida, eu costumo ignorar essa parte da minha. Gosto de imaginar que a cegonha me trouxe para meu avô e, desde então sou criada por ele. Não tive uma família convencional, mas cresci da melhor maneira possível com um pai dos sonhos para qualquer criança. Somchai fez tudo o que podia e até o que não podia para me criar, sou eternamente grata a ele.
Nasci no dia trinta de agosto de mil novecentos e noventa e cinco, no Reino Unido. Mas cresci na Tailândia com meu avô. Ele queria que eu tivesse todas as oportunidades possíveis, mas creio que foi para fugir dos meus pais.
Sei que todos em certa idade começam a se questionar do motivo de não ter um pai e uma mãe, mas fiz isso apenas uma vez. Ao ver a dor na voz e no olhar de vovô, desisti na mesma hora de tentar entender o que tinha com eles. Abracei o homem com os braços curtinhos e falei: "Tá tudo bem, vovô. Você é a única família que eu preciso". E esse foi meu lema desde então.
A minha paixão pela rádio começou quando, toda tarde após as aulas, ouvia a rádio favorita do meu avô com ele. Quando a mesma acabava, simulava uma entrevista divertida com Somchai, o herói sem capa. Meu avô, quando notou minha paixão, me deu um gravador. Foi aí que minha saga começou.
Gravava meu dia-a-dia, contando coisas que aconteciam, histórias e até mesmo entrevistando pessoas. Meus vizinhos e meu avô eram meus alvos favoritos. Amava ter uma forma prática de registrar tudo, principalmente quando chegava o final de semana e eu parava pra ouvir cada fita.
Quando cheguei na adolescência, foquei mais em meus estudos, gravando poucas coisas por semana, apenas resumos. Com a ajuda de meu avô, consegui decidir que jornalismo era mesmo o que queria e iria me esforçar para o tal. Meu avô já se dedicava muito para pagar as melhores escolas, não queria que também fizesse isso na faculdade.
Com muito esforço, consegui uma bolsa para a SIAM University. No meu segundo semestre, uma colega de turma me apresentou o podcast. Fiquei obcecada, da mesma forma que era em gravar minha vida. Ouvia sem parar, sobre diversos assuntos. Até que resolvi criar o meu próprio podcast em uma plataforma gratuita, o Podfalar.
Aos poucos fui ganhando visibilidade, principalmente quando tratava sobre assuntos sérios, vez ou outra levando convidados para debater.
Um tempo depois, criei um blog. Escrevia basicamente sobre os mesmos assuntos gerais que falava no podcast, mas com imagens (principalmente quando o assunto era lugares da Tailândia).
Quando estava no sexto período, aos vinte e dois anos, arrumei um estágio em uma rádio local. Tudo por conta da visibilidade que tinha no Podfalar. Não era nada demais e eles não me deixavam criar, que era o que mais gostava de fazer. Não tinha a liberdade que queria, tendo também que deixar o Podfalar de lado por falta de tempo. Dois anos depois, infeliz e cheia de problemas de ansiedade, larguei meu emprego - ideia do meu avô - e voltei a focar no podcast.
Tudo nos conformes. Meu público alvo aumentou após expandir o Podfalar para outras plataformas, além da que comecei. Cheguei a upar meus episódios até no YouTube! Só começou a dar errado quando meu avô passou mal e eu tive que ir correndo com ele para o hospital. Não tinha ideia de que há meses ele lutava contra o câncer de pulmão e sequer me falou, de acordo com ele, para não me atrapalhar.
E então a ligação chegou, não me lembro muito das primeiras horas após descobrir que meu avô faleceu. Mas me lembro da dor. A dor crua, horrível e enjoada que descrevi diversas vezes para a minha terapeuta, após diversas crises de ansiedade.
Nunca fui de desobedecer meu avô, ainda mais o último pedido dele antes de falecer, três dias após me contar tudo. Parece que estava apenas esperando tirar esse peso dos ombros para que pudesse ir embora.
Cheia de medos, inseguranças e mais contras do que prós, vendi tudo que tinha na casa e me mudei para o dormitório, levando apenas o essencial. Só tinha os apelidos citados pelo meu avô, que eram bem comuns. Seria como achar uma agulha no palheiro, só precisaria de coragem, coisa que não tive até então.
Voltei a estudar depois de um tempo (considerável) parada e estou no sétimo período, quase me formando. Moro no dormitório feminino e estou estagiando, mas continuo com meu blog e o podcast quinzenalmente. Poderia muito bem usar o alcance que tenho nesses portais para procurar meus pais, mas o meu medo de expor o que sinto é maior do que minha vontade de encontrá-los.
A frustração de não ter coragem de procurar minha família me assombra todos os dias, frustração essa que acabo descontando em coisas que não devia. A única coisa que era como antigamente era minha paixão por falar.
Dizem que precisamos reinventar o passado para ver a beleza do futuro, por isso espero que esse medo em descobrir mais sobre o motivo de ter sido abandonada com meu avô vá embora junto com minhas crises existenciais que acompanham esse assunto. Sinto que só vou conseguir viver em paz após fazer o que meu avô me pediu, o perdão. Mesmo que eu não tenha raiva alguma, apenas medo.
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noticiasdecabofrio · 5 years ago
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No mês da mulher, lembro de uma importante ação que tomamos ano passado na Alerj: a implantação e realização da CPI do Hospital da Mulher de Cabo Frio, que investigou mortes de bebês. O documento final aprovado trouxe 138 recomendações aos órgãos municipais, estaduais e federais e propôs 11 projetos de lei, entre eles, a criação de uma política de combate à violência obstétrica, e duas propostas de emenda constitucional. Na oportunidade, anunciamos a destinação de R$ 350 mil do orçamento para a Rede Cegonha da cidade. Não só as mulheres como toda a população pode sempre contar com minha defesa! #CPIdoHospitaldaMulher
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betopandiani-mar · 5 years ago
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Minhas Irmãs
 Diário de bordo da Travessia do Pacífico. 
18 de novembro 2008.
Saudades da mãe
Hoje faz muito calor aqui. Passamos a manhã jogando baldes de água na cabeça para resfriar. Sombra no barco é coisa rara; agora mesmo estou escrevendo com a cabeça dentro da barraca, que está me derretendo.
Hoje vou falar da longa história que há por baixo deste barco.
No mar, nós, velejadores, nos orientamos por estrelas, sol, vento, ondas e faróis, se bem que hoje algumas coisas mudaram e outras apareceram, como o GPS: como ele qualquer um consegue achar uma praia por mais longe que esteja. Se nos mares navegamos sobre o casco das embarcações, na vida, na minha vida, o casco que me sustenta e o farol que me guia é a minha família e tia Nilda. Os exemplos de moral e de conduta e a perseverança transmitidos por elas na minha infância é que me trouxeram até aqui. Minha mãe diz que sou corajoso, mas nada se compara à coragem dela de enfrentar as vicissitudes vida, de cabeça erguida. Hoje, aos 87 anos, ainda mantém nos olhos o brilho do olhar de uma criança que vê prazer em tudo, sempre disposta a uma viagem, um jogo ou uma caipirinha.
Os dias estão lindos e a chuva passou. Ontem de manhã acordei e vi o sol se levantar atrás de nuvens de chuva, deixando uma cortina alaranjada contrastando com um cinza-chumbo de outras nuvens. Um espetáculo tão lindo e intenso que me deixou paralisado. Liguei o iPod e ouvi Just time to see the sun, do Carlos Santana. Pouco depois uma baleia emergiu bem ao nosso lado, mas desapareceu, deixando Igor  e eu com as câmeras nas mãos, desolados. Não pegamos nenhum peixe, nos viramos com as latas de atum.
Vou dormir. Pensando na minha mãe e na minha família, fico muito emocionado, lembrando tudo o que passamos juntos. Aqui, dentro da pequena barraca-cama, me transporto para uma história que tem muito significado para mim.
Quando era menino minha mãe sempre me falava: “Menino, come, você está muito magro! Se você não comer direito um dia o vento te leva!” Como ela tinha razão! Além de muito magro, eu era bastante tímido, meio introspectivo, e a minha brincadeira favorita eram os foguetes e meu sonho, ser astronauta. Eu os construía em cartolina e me enfiava dentro deles. Lá eu sonhava viajar pelo universo explorando as estrelas. Vivia literalmente no mundo da lua, tanto é que meu professor de Matemática, o Carlos, me apelidou de “Astronauta”.
Passei a infância em Santos, cidade litorânea paulista, muito tranquila. Vivia na rua jogando bola com os vizinhos, e sempre que podia ia para o canal ao lado da praia, pescar com latas presas em barbantes. Quando tinha nove anos meus pais mudaram-se para São Paulo e fomos morar num apartamento no bairro das Perdizes, ao lado da PUC. O condomínio era enorme, lá viviam centenas de garotos. Como era acanhado e assustado, típico de filho único, no primeiro dia que desci ao playground para brincar, o fiz com um arco e flecha na mão. Hoje é fácil entender a minha atitude: eu estava com medo do desconhecido e queria me proteger. Logo fiz novos amigos e em pouco tempo consegui meu espaço.
Eu estudava no Colégio São Luis, e era um aluno sofrível, pois tinha preguiça de estudar. Queria mesmo era jogar futebol e andar de bicicleta. Adriana, meu primeiro amor, morava no andar de cima e seu quarto ficava bem em cima do meu. Minha paixão nunca declarada vivia sufocada e todos os dias eu subia para o apartamento dela para ver novela no sofá da sala, junto com os pais e os irmãos dela, que eram também meus amigos. Ficava ali calado, vendo Beto Rockfeller, coladinho com ela, mas sem coragem de falar nada. Até hoje me lembro da personagem Titina, que era uma cega que vivia um amor impossível. Acho que me identificava com ela.
Um dia mandei-lhe um bilhete dizendo-lhe que exatamente às 19 horas ela deveria estar no quarto dela. Eu ia bater com uma vassoura no teto três vezes e, se ela respondesse com três batidas, era o sinal de que aceitava namorar comigo. Pontualmente lá estava eu, apreensivo, para enviar meu “código Morse”. Bati com a vassoura bem no meio do teto e, para minha surpresa, ela respondeu com três batidas. Moral da história: fiquei um mês sem subir para o apartamento dela para ver a novela tamanha era a minha timidez.
Um dia meu pai veio ao meu quarto à noite e sentou-se na cama para falar comigo. Tinha doze anos. Contou-me que eu tinha duas irmãs que moravam na Itália e um dia eu iria conhecê-las. Elas se chamavam Barbara e Liliana.
Não sei por que aquele segredo demorou tanto a ser revelado, pois sempre quis ter irmãos e aquelas palavras entraram no meu coração de astronauta como um bálsamo. No dia seguinte escrevi a elas uma pequena carta em português e dei ao meu pai.
Certa vez minha babá, a Dinorá, me ajudou a escrever uma carta em que eu pediu à cegonha que me trouxesse um irmão. Antes de dormir deixamos a carta em cima de um móvel da sala de jantar. Era uma espécie de cristaleira dos anos 1950, com pés palito e dois tons de madeira. Fui para a cama com muita esperança de que a cegonha passasse por lá à noite e levasse o pedido. Assim que acordei saí voando da cama para ver se a carta ainda estava lá. Não estava.
Não sei que efeito teve na minha vida alimentar a esperança de ter um irmão, ou uma irmã, mas a revelação que meu pai fez naquela noite trouxe de volta todas as minhas fantasias de criança, e passei a viver com uma ânsia de conhecê-las, de abraçá-las, de ter alguém para dividir minhas dúvidas e aliviar um pouco a minha tendência de ficar mergulhado nos pensamentos, que muitas vezes me engoliam.
Algumas perguntas flutuaram à minha volta por muitos anos: quem foi meu pai? Onde estão as minhas irmãs? O que fazem? Estão felizes? Onde moram? E clamava para a vida: por favor, me dê pistas! Tudo isso porque meu pai partiu desta vida quando eu tinha dezoito anos e levou todas as conexões com a família na Europa. Da sua história pessoal nada conhecia, e não sabia a quem pedir ajuda para buscar o sentido de tudo aquilo. Carregar aquele mistério e a ausência dele foi muito dolorido, pois justamente quando ele se foi eu estava começando a descobri-lo, a olhar para o mundo, tentando sair do meu foguete.
Meu pai era um homem carismático, inteligente, exigente, aventureiro, poliglota, que sabia viver como ninguém. Tinha hábitos finos, gostava de comer e beber bem, viajava todos os meses para o exterior e sempre trazia novidades. Corrado Pandiani era seu nome, um italiano nascido em Savona, mas criado em Milão. Nessa época, 1976, eu estava no segundo colegial do Colégio Objetivo. Com a morte dele a redoma de vidro se partiu e meu chão ruiu. Aliás, o meu e o da minha mãe. Morávamos numa casa no bairro de Cidade Jardim. Somente depois de sua morte é que soubemos que a casa não era nossa e que a nossa herança era um monte de dívidas. Perdemos tudo o que pensávamos ter. Fomos obrigados a sair da casa apenas com os pertences pessoais. Tudo foi penhorado. Assim fui apresentado ao mundo. Era melhor não ter saído do foguete!
Passados dois meses, minha mãe e eu estávamos morando na casa dos meus tios Ciro e Nilda. Algum tempo depois tio Ciro comprou um apartamento na rua da Consolação e para lá nos mudamos, a fim de começar vida nova. Tio Ciro havia sido administrador do Santos Futebol Clube da era Pelé, e nessa época eu passava os fins de semana na praia, nas barracas montadas na areia, jogando tamboréu, almoçando no Parque Balneário e freqüentando a Vila Belmiro, o estádio do Santos. Sempre tive muito afeto por ele, e esse gesto de carinho era uma pequena amostra do seu lindo coração.
Meu primo Hamilton passou a custear meus estudos após a morte do meu pai. Um dia, ele me convidou para ir à casa dele para uma conversa. Hamilton é um advogado tributarista muito competente. Disse então com muita seriedade que a partir daquele momento eu seria o homem da família, e ele não sabia o que eu queria ser na vida. Para ser sincero, eu também não tinha a menor ideia disso. Continuando, ele me disse: “Roberto, não me interessa o que você vai fazer. Se quiser ser varredor de rua, tudo bem, mas seja o melhor varredor de rua do mundo”. Aquilo teve um impacto enorme dentro de mim, levei daquela conversa um fundamento importante para a minha vida.
Minha mãe foi muito forte, pois aos 55 anos de idade arregaçou as mangas e voltou a trabalhar. Era professora e a aposentadoria mal dava para pagar as contas. Ela perdeu tudo, mas não a esperança, nem a dignidade. Mesmo com tantas dificuldades, sofreu em silêncio e tentou me preservar. Somente hoje tenho consciência de que foi ela quem carregou o piano.
Sem o apoio da família a vida teria sido muito mais difícil e reconheço que os valores morais da minha mãe, assim como os das minhas tias Ivone, Nilda e Eunice é que nortearam a minha vida e dos meus primos. Meu tio José, pai do Hamilton, me sugeriu que eu fosse conversar com um amigo dele, o sr. Veríssimo, dono do supermercado Eldorado. Precisava arranjar um emprego e fui para a minha primeira entrevista bastante inseguro. No escritório do supermercado, fui recebido por um senhor bastante objetivo, que me perguntou o que eu sabia fazer. Respondi-lhe que nunca havia trabalhado, portanto não sabia fazer nada. Só quando dei essa resposta é que eu percebi o quanto é difícil você cair na real. Me senti muito mal. Continuando, ele me perguntou se havia alguma área de especial interesse no supermercado. Eu lhe disse que eu havia ouvido falar que a área de computação seria uma boa opção, pois esse setor tendia a crescer.
Ele permaneceu calado, anotou o nome dele num cartão e pediu-me que procurasse o departamento de RH. Não entendi nada, senti que a conversa tinha sido cortada. Mas eu não estava em condições de falar, me senti até um pouco humilhado, não pela atitude dele, mas pela minha própria condição.
Durante minha vida empresarial, quando as circunstâncias me colocaram na posição de empregador – muitos anos depois –sempre atendi com muito carinho e respeito qualquer pessoa, pois é muito difícil estar sem emprego. No departamento de RH me pediram vários documentos, e depois de uma semana estava empregado. Na minha carteira estava anotado: auxiliar de estoque.
Quando voltei para casa minha mãe quis saber de tudo. Ingenuamente respondi a ela que eu ia controlar o estoque no computador, dando entrada e saída das mercadorias. Meu chefe era um português de Angola, mal-humorado e mal-educado, que, ao me receber, mal me olhou na cara. O estoque ocupava o andar superior do prédio, sem janelas, iluminado por aquela luz fria, horrível. O pó e aquelas músicas infernais se espalhavam pelo ambiente o dia todo. Eu voltava para casa com elas espremidas na cabeça.
No primeiro dia o português me mostrou um corredor cheio de caixas com milhões de pratos de plástico. Minha função era abrir as caixas, etiquetar o preço em cada uma das peças e empilhá-las na prateleira. Calculei que se eu fizesse o trabalho rápido, trabalhando as minhas oito horas por dia, demoraria uns quatro dias para terminar.
Todos os dias eu saía do Objetivo, almoçava na minha tia Nilda e depois descia a Rua Pamplona até o Eldorado. Entrava duas da tarde e saía onze e meia da noite. Voltava a pé, para casa, na rua da Consolação. Minha relação com o chefe não era das mais cordiais. E ele, de alguma maneira, se sentia ameaçado por mim, pois não desgrudava do meu pé.
Certo dia terminei meu trabalho antes das dez e não havia mais nada que fazer. Estava sozinho na seção. Ele apareceu, viu que eu havia terminado o trabalho, me mandou varrer o estoque, que não era minha função. Mas, como não queria criar problemas e, de certa forma, me sentia mal porque o emprego foi conseguido graças à intervenção do meu tio, empunhei a vassoura e me esforcei para ser o melhor varredor do mercado, conforme preceituava meu primo Hamilton. O português voltou, postou-se num canto e ficou me encarando. De repente começou a praguejar comigo, desdenhando da minha capacidade e depreciando o meu trabalho e por fim deu um chute na caixa de madeira onde depositava o pó recolhido com tanta diligência. Meus colegas de trabalho ficaram assustados com a minha reação, pois eu era calado e tranquilo: avancei na direção do português, gritei com ele, xinguei-o, quebrei a vassoura, dei um chute nas mercadorias empilhadas ao lado da prateleira e fui embora.
No dia seguinte, claro, fui chamado pelo superintendente da empresa, que me pediu explicações, que, parece, ele não aceitou. Pedi demissão. Não me adaptei no Eldorado. Então, com meus amigos inseparáveis Maurício Medeiros e Luiz Carlos Marinho, começamos a fazer som para festinhas de aniversário, e essa atividade fazia pingar um dinheiro para levar a vida. Assim, durante cinco anos vivi como DJ e fizemos cerca de cento e vinte festas.
No final da década de 1970 entrei em Administração de Empresas na PUC, um curso bem genérico, pois ainda não sabia o que queria da vida. Minha mãe tornou-se a mulher mais feliz do mundo. Não posso dizer que foram anos infelizes. Fiquei um pouco mais introspectivo, mais questionador e, no fundo, ainda carregava as mágoas do mundo, e o meu olhar para a vida não era otimista. Tornei-me bastante incrédulo em relação ao ser humano e me distanciei do meu lado espiritual. O ambiente da universidade ajudou-me a criar uma casca ao meu redor. A PUC havia sido invadida pela polícia um ano antes, a mando do então secretário de Segurança Erasmo Dias. O clima era pesado. Havia greves, confrontos e muita tensão no ar. O Brasil estava sob o regime da ditadura, e tudo o que se falava no campus universitário era contra o sistema. Como se politizar sem radicalizar? Esse foi o meu desafio nos anos que estudei na faculdade.
O dinheiro estava curto e eu andava de ônibus, como a maioria, mas pus na cabeça que queria comprar uma motocicleta, um sonho que acalentava desde a adolescência. Tinha planos de ir para a Patagônia de moto, sonho alimentado pelos relatos do Amyr Klink, que havia recentemente voltado de lá. Conheci o Amyr por meio da Carla, irmã do Luiz Carlos. Naquela época ele não falava em atravessar o oceano Atlântico a remo para ninguém, nem para Alcebíades, seu morcego de estimação que morava no sótão do velho casarão de Paraty. Eu tampouco imaginava o que ia suceder na minha vida.
No dia da morte do meu pai, retirei do seu pulso um Rolex antigo de ouro, um lindo relógio de coleção. Para comprar a minha primeira moto pensei em vender o relógio. Estava apegado e não queria me desfazer dele, mas encontrei um amigo, o Tony Lunardelli, que se interessou pela peça, e acabamos fazendo negócio. Pelo menos sabia que o relógio estaria em boas mãos. Comprei minha primeira moto. No final de 1978 viajei de carro, uma velha Belina marrom do Lucas, com o Maurício e o Luiz Carlos para o nordeste. Passamos dois meses acampando pelo litoral do Brasil, até chegar a Ubatuba. No ano seguinte, repetimos a viagem, mas dessa vez em dois carros: o Maurício, o Zé Renato Vessoni, o Cláudio Nunes e eu. Como estávamos duros, “assaltamos” a despensa das nossas casas e levamos uma lataria infindável, além de uma barraca Bangalô para quatro com cozinha e tudo.
Fomos num tiro até Fortaleza, depois viemos descendo devagar. A trilha sonora do nosso carro era o disco do Gil Refavela, e cantávamos “Samba do avião” o dia todo. Chegamos a Salvador, onde ficamos para pular o carnaval na Praça Castro Alves. Os trios elétricos eram muito diferentes dos de hoje. Dancei e pulei muito ao som do trio de Dodô e Osmar: “Balança o chão da praça ohohoho...” E balançava mesmo.
Depois de dias de carnaval, estávamos os quatro andando de tarde pelas barracas que vendiam bebida e comida, quando demos de cara com a Maria Bethânia. O Cláudio era completamente apaixonado por ela, e ficou hipnotizado ao vê-la. Caminhou em direção a ela, que estava conversando tranquilamente numa roda de amigos. Ele entrou no meio da roda, abriu os braços e disse: “Maria Bethânia”. Se não estivesse lá eu nunca teria acreditado. Os dois se abraçaram sem trocar nenhuma palavra e deram-se um beijo na boca de cinema, mas um beijo longo, muito longo. Todo mundo ficou paralisado. Depois daquela cena de amor, ele disse a ela: “Valeu, Bethânia”, e virou-se para nós: “Vamos embora”. Foi uma das cenas mais loucas que vi na vida, e acho que só poderia acontecer na Bahia dos anos 1970.
Como aluno da PUC tinha o privilégio de ter ao lado o teatro da universidade recheado de atrações culturais. Realizavam-se shows no Tuca, no Tuquinha e nas alamedas internas da faculdade. Foram anos de descoberta, assistindo a shows, como o de Jorge Mautner, com direito a palestra e regado a pinga com guaraná. Depois das aulas de filosofia, reuníamo-nos nas escadarias e sempre tinha alguém tocando violão. Tempo para cantar e ver shows não faltava – havia mais greve do que aula.
Um dia, ao sair da aula, à noite, subo a rampa da escola e quase já na saída vejo um burburinho na porta do Tuca. Curioso, fui ver o que estava acontecendo e descubro que ia ter um show dos Novos Baianos. Na hora bateu uma nostalgia da viagem de carro para o nordeste e as boas lembranças da Bahia. Decidi ver o show, mas já não havia ingressos.  Tentei em vão descolar um convite. Já estava quase desistindo quando percebi estacionado na rua um caminhão gerador, de onde saíam vários cabos que entravam pelo Tuquinha, o teatro menor. Como já havia trabalhado com som concluí que os cabos iam dar no teatro, provavelmente atrás do palco. Onde passa um cabo passa alguém.
Entrei no auditório do teatro onde se realizava uma palestra e me sentei bem no fundo. Procurei os cabos e, para o meu azar, eles passavam por trás da mesa do professor que proferia a palestra e entravam numa sala escura. A sala estava cheia, prestando atenção na palestra, mas eu precisava entrar nela. Tomei coragem: levantei-me, caminhei em direção ao professor, subi no pequeno palco onde estava disposta a mesa, passei por trás dele e entrei na sala. E o homem continuou a falar, enquanto me encarava sem entender nada.
Dentro da sala vi que os cabos entravam por um duto de ar instalado quase no teto. Subi numa cadeira e me enfiei na tubulação. Rastejei por um lugar imundo e escuro até chegar a uma antecâmara de cimento. De lá os cabos continuavam para outro duto, pelo qual não conseguia passar. Arrisquei a outra passagem que havia ao lado. Não tinha a menor ideia do seu destino.
À medida que eu avançava o som das vozes do público aumentava. Por fim, cheguei debaixo do auditório e pelos respiros pude ver os pés das pessoas sentadas no teatro. O lugar estava imundo. Àquela altura eu devia estar preto de sujeira, mas estava pouco me importando com aquilo – queria mesmo era ver o show.
Continuei me arrastando em direção ao palco, até chegar debaixo do tablado. De repente, pelo alvoroço da platéia, imaginei a banda entrando no palco.  Pelas frestas do piso conseguia ver que os músicos estavam em cima de mim. Jamais pensei que iria ficar tão perto da Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira. Estava tão próximo, mas também muito longe. Bateu um desespero, pois queria ver o show, mas só sentia o pessoal da banda correndo de um lado para outro, pisando forte nas tábuas do palco e despejando quilos de pó na minha cabeça.
Continuei me enfiando por aquela catacumba até chegar ao final do palco, onde vislumbrei uma espécie de alçapão. Abri a tampa e saí atrás do palco e das pessoas da equipe de produção que assistiam à apresentação. Saí correndo dali, passei pela lateral do palco já no embalo da música e pulei para a platéia, na turma do gargarejo.
Que emoção inesquecível! Era como se tivesse voltado para a praça Castro Alves. Cantando e pulando, me sentia recompensado pelos apuros por que tinha passado. A partir daquele dia não haveria a expressão “pagar ingresso para ver shows do Tuca”.
No mês seguinte vejo no cartaz do teatro a próxima atração: ela, a minha deusa, vinha cantar para mim no Tuca. A musa de todas as musas, Gal Costa, no show Gal Tropical, que eu já havia visto no Teatro Ipanema, no Rio, uns meses antes. Depois dessa apresentação me apaixonei pela Gal e nunca mais me esqueci dela vestida de vermelho, com uma rosa no cabelo, cantando “Índia”.
Com o know-how adquirido na primeira incursão ao Tuca, fui para a segunda mais bem preparado: munido de uma lanterna, vestido de roupa escura para ninguém pensar que eu havia chegado de alguma guerra. Cheguei todo animado à rua Monte Alegre e lá tomei o segundo banho do dia, dessa vez de água fria: o auditório do Tuquinha estava fechado. Pensei na hora: acabou tudo, acabou meu caminho secreto. Até então eu não havia contado para ninguém o “caminho do Tuca”, pois sabia que a história se espalharia como fogo, e eu não queria perder a minha rota. Mas o que fazer agora?
Refeito do susto, fiz outra inspeção do prédio e encontrei do lado oposto uma janela bem alta, pequena, escura e sem vidro. A entrada ficava do lado da rampa de acesso, um local bem visível. Esperei o segurança da universidade passar, corri e, dando um salto, agarrei-me na janela, me suspendi e pulei para dentro... de um banheiro trancado! Que merda! Ao pé da letra!
Novamente refeito da desagradável surpresa, olho para cima e vejo um alçapão. Penso: é por aí mesmo. Entro num duto e começa a segunda exploração pelo submundo do Tuca. Passei por vários dutos e câmaras de cimento até chegar a uma espécie de chaminé bem alta com degraus de ferro chumbados na parede. Escalei a chaminé e saí na seção de iluminação do teatro. Inacreditável! Lá de cima podiam-se ver o camarim dos músicos, que estavam aquecendo os instrumentos, e o da Gal.
Era um lugar privilegiado, mas não o ideal para ver o show. Dali se estendia uma passarela estreita em direção ao forro do teatro e desaparecia nas trevas. Comecei a caminhar em direção ao forro e confesso que gelei, pois estava me agarrando nas vigas suspensas a uma altura de 12 metros. Cruzei o teto do teatro por cima do forro e cheguei à sala de projeção. Daí entrei no saguão do segundo andar e fui direto para o banheiro me lavar. O coração estava a mil, era pura adrenalina: um misto de transgressão e orgulho do sucesso da empreitada. Essa rota era bem mais complexa e exigia cerca de 20 minutos para conclui-la. Assisti à estréia sentado no chão, bem na frente, e nos três meses que o espetáculo ficou em São Paulo voltei pelo menos umas quinze vezes, e levei uns vinte amigos comigo, um de cada vez, sob a condição de guardar o segredo a sete chaves.
Algumas vezes fui ao teatro sozinho e dependurado na iluminação via a Gal aquecer a voz, sonhando conhecê-la pessoalmente um dia. Ela, sim, nem sonhava que tinha um admirador secreto, quase um fantasma da ópera.
No segundo ano da faculdade fiz um estágio na Pirelli. Meu primo Hamilton havia novamente entrado em cena e agora tinha que ser para valer, pois não podia ficar parado. Como diz meu amigo Sidão: “Pato que não se mexe leva chumbo” .
Passados seis meses do estágio, fiquei imaginando como seria trabalhar trancado em um escritório nos próximos trinta e cinco anos, sentado à mesa todas as tardes, olhando pela janela as pessoas caminharem livremente na rua. Procurei meu chefe para sondar meu futuro na empresa. Ele me disse exatamente o que eu temia: “Olha Roberto, aqui no departamento o funcionário que entrou por último aqui é o Carlos. Ele trabalha aqui há oito anos”. Aquelas palavras me fizeram mergulhar na crise novamente.
Uma lembrança muito forte do meu pai vinha à minha cabeça; alguém livre, que viajava o mundo à procura de tecnologias novas para trazer ao Brasil. Ele era engenheiro químico e logo que chegou ao Brasil foi trabalhar na refinaria de petróleo de Cubatão. Isso na década de 1950. Em Santos ele conheceu minha mãe, Ivonette Dias, natural de Passos, cidade localizada no sul de Minas Gerais, que havia se mudado para Santos para trabalhar como professora e alcançar uma autonomia financeira para poder viajar e curtir a vida. Ela não sonhava casar, como a maioria das mulheres daquela época. Queria mesmo era ser independente para viajar.
Mas a vida é sempre mais forte, e o nosso destino sempre nos reserva surpresas. Assim, eles se conheceram, se apaixonaram e em 1956 casaram-se. Nasci em Santos em 1957, de frente para o mar.
Nesta vida somos pródigos em construir crenças, e a minha mãe dizia que meu pai era o ser mais livre deste planeta, que tudo podia e vivia numa outra esfera. Assim, cresci com essa fantasia. E para mim, achava eu, estava reservado algo muito melhor, ou seja, não era a Pirelli.
Um dos meus melhores amigos, o Cláudio, aquele que beijou na boca a Bethânia, me procurou para contar que havia arranjado um emprego maravilhoso, que pagava muito bem, mais ou menos umas seis vezes o que eu ganhava na Pirelli. Ele era hostess de um bar recém-aberto em São Paulo que estava arrebentando, o Clyde´s, um American bar em que o atendimento era feito apenas por estudantes, e a  clientela, bonita e descolada. Marquei uma entrevista com o dono, Jimmy Lee. Ele me perguntou se eu estava disposto a largar o estágio. Respondi que sim, sem pestanejar. No dia seguinte recebi um telefonema da gerente comunicando-me que eu fora aceito e deveria começar imediatamente. Como não sabia fazer nada, restou-me ser ajudante de garçom, ou seja, não atendia o público, só limpava as mesas.
Uma semana depois Jimmy me disse que eu iria ser transferido para o bar, pois minha altura não era compatível com o salão. Achei ótimo, mas não sabia sequer fazer uma caipirinha. Não era chegado a bebidas, então não tinha muita intimidade com elas. Para não correr riscos ele me colocou para tirar chope. Agora eu era chopeiro, e não estagiário da área de exportação da Pirelli.
Minha mãe caiu de cama quando lhe disse que havia me demitido da Pirelli, mas não tive coragem de dar essa notícia ao meu primo. Logo na segunda semana como chopeiro, aquele atributo que me havia retirado do salão me denunciou implacavelmente: Hamilton entrou no restaurante acompanhado de várias pessoas para almoçar e imediatamente me achou atrás do balcão, de avental e todo engravatado. Ele então apertou o passo, distanciou-se um pouco do grupo e me perguntou, com um olhar inquisidor: “Roberto, o que você está fazendo aí dentro?” Expliquei-lhe rapidamente a minha metamorfose profissional. Com um olhar reprovador ele me intimou: “Depois nós conversamos”.
Iniciava-se a década de 1980 e São Paulo estava destinado a ser um dos maiores centros de entretenimento noturno do mundo. Fiquei no Clyde´s quase um ano. Depois de trabalhar como barman, passei por treinamentos e cheguei à vice-gerência do restaurante, que vivia lotado. Até chamei alguns amigos para trabalhar no restaurante, e um deles, o José Renato Vessoni, viria ser meu sócio alguns anos mais tarde.
No balcão do bar conheci o diretor do Maksoud Plaza, Michel Asmussen. Sujeito sério, sempre tomava um uísque no bar antes de se dirigir ao restaurante para jantar sozinho. Eu o achava meio estranho. Notei que durante sua estada na casa ele ficava me observando. Certo dia me fez perguntas a respeito da minha vida profissional e no final me deu seu cartão de visitas convidando-me para conversar.
Fui ao hotel conversar com ele e recebi um convite para fazer um estágio no hotel para trabalhar na área de alimentos e bebidas. Na época o Maksoud era o hotel mais famoso e chique de São Paulo. Aceitei, e na primeira semana, me escalaram para cuidar do bar que dava suporte ao jantar do show do Frank Sinatra. Trabalhei tanto que nem cheguei a ver a cara do Frank: só ouvia o som do show que se misturava à barulheira da cozinha.
Depois, ainda dentro do hotel, passei para o Trianon Piano Bar, um reduto dos executivos. Era auxiliar do famoso Pinheiro, na época um dos melhores barmen do país. O sujeito era um foguete, e me ensinou tudo o que aprendi nessa carreira que começou como uma brincadeira e se tornava séria. Aonde ia chegar, não podia imaginar. A princípio, achei que ia fazer carreira na área hoteleira.
Quando chegava um figurão, Pinheiro me dizia baixinho: ”Chegou um príncipe, Beto, fica olhando”. Os príncipes eram os clientes habitués que gastavam bem e davam boas gorjetas. Pinheiro sabia agradar como ninguém. Dispensava aos grã-finos um tratamento especial, que depois de alguns copos revertia em gorda gorjeta.
Do piano bar me transferiram para o 150 Night Club, um bar com música ao vivo e decoração meio anos 1950. Não gostei muito do novo ambiente, mas era estágio! Trabalhando com o Pinheiro eu ganhava um dinheiro extra, proveniente das gorjetas, que incrementavam o salário no final do mês. Mas o que mais me atazanava era o uniforme do 150: blazer amarelo-canário, que me fazia parecer um autêntico periquito gigante. Alguns amigos meus foram lá só para me ver e gozar com a minha cara.
Rodei o hotel todo: trabalhei no room service, no bar da piscina e nos bares que serviam aos restaurantes. Depois de seis meses, o Michel que havia me contratado, saiu da empresa e eu sobrei. O novo diretor não tinha planos para mim, e eu também já não estava achando a menor graça em trabalhar de barman, ainda mais fantasiado de periquito. No Clyde´s eu me divertia; no Maksoud fiquei esquecido. Nunca me adaptei a empresas muito grandes; nelas as relações são mais burocráticas, frias e muitas vezes a gente nem conhece o dono delas. Além disso, via muita coisa errada e havia uma máfia de maitres e garçons que me fazia me sentir um peixe fora da água.
Um dia, Mark James, grande amigo da faculdade, me ligou e contou: “Beto, descobri um boteco na Oscar Freire muito maluco, você tem que conhecer”. Fomos no mesmo dia, fim de tarde de uma segunda-feira, conhecer o tal lugar. Sentamo-nos ao balcão de um boteco pequeno e simples, mas senti algo ao mesmo tempo especial naquele lugar, cuja cara não combinava com os donos e muito menos com os clientes.
O Sanduíche, nome do bar, era um lugar ímpar e inigualável. Para mim, foi o lugar mais genial que São Paulo já teve. Lá se comia um sanduíche de pastrame com gorgonzola e se tomava um uísque doze anos ou um de presunto cru com chutney, acompanhado de champanhe.
Foi freqüentando o Sanduíche assim que em outubro de 1981 conheci o Arthur e Maria Helena, pessoas maravilhosas que mudaram o curso da minha vida. Tivemos uma empatia imediata, e me encantei com o jeito único e poético de olhar o mundo. Muito sensíveis, formavam uma dupla especial. Arthur era intuitivo e tinha um faro para negócios como poucas vezes vi. Maria Helena tinha era uma cozinheira de mão-cheia, pois vivera muitos anos em Londres, onde aprendera segredos da gastronomia. Na época estavam totalmente envolvidos na reforma do Ritz da Alameda Franca, que acabou virando um ícone da cidade. Fui contratado para ajudá-los no Sanduíche.
Difícil imaginar que um lugar tão despretensioso e simples fosse fazer tanto sucesso. Uma coisa sempre me intrigou: todos os dias, às seis da tarde pontualmente, saíam sessenta empadinhas de frango, que acabavam em cinco minutos. Eu me perguntava: por que não faziam mais? O Arthur respondeu: “É estratégia. Tem que deixar o pessoal com um gosto de “quero mais”. Assim, antes de sair, as empadinhas já estavam vendidas, e eu anotando reserva de empadinhas.
O Sanduíche tinha clientes célebres, habitués das mesinhas da calçada: publicitários, jornalistas, fotógrafos, músicos, modelos, artistas e executivos, espremidos entre os copos de drinques e petiscos. A televisão ficava ligada, mas só era alvo de atenção na hora do Jornal Nacional, quando o burburinho cessava e as antenas se ligavam nas últimas notícias sobre a guerra das Malvinas.
Depois que o Ritz foi inaugurado passei a trabalhar nas duas casas. Da hora do almoço até as dez da noite ficava no Sanduíche; depois ia para o Ritz, onde ficava até fechar.
Tempo bom aquele! Às dez da noite eu subia a Augusta a pé, tranquilamente, com o dinheiro do faturamento dentro de um saco de pão. Entregava-o ao Arthur, que nem conferia. Aliás, nem caixa registradora ele tinha, só uma gaveta. A confiança em mim era total. Eram tempos mais românticos.
Devo ao Arthur e ao Ritz quase tudo o que aprendi da noite, pois sabíamos administrar o excesso, que é tão difícil quanto o oposto. Aquele paraíso de hambúrgueres vivia lotado até a tampa todos os dias.
Foi lá que expandi meus relacionamentos, porque o barman fica ao mesmo tempo no bar e no palco, e nesse espaço a timidez teve que dar lugar a algo que ficou abafado desde a morte do meu pai dentro de mim e estava para explodir. A vida voltava a ter cores, os dias cinzentos estavam chegando ao fim e a alegria das noites do Ritz me mostrava que mesmo trabalhando muito eu podia ser feliz, namorar, me relacionar não só com as pessoas, mas comigo também. A porta do quarto escuro se abriu, as trevas começavam a se dissipar. Era hora de sair do foguete de vez.
Minha vida estava mais estabilizada. Estudava, ganhava meu dinheirinho e já podia pensar em começar a realizar um velho sonho: comprar um pequeno veleiro. Em novembro de 1982, junto com Mauricio, meu companheiro de escola e sócio na locação de som para festas, comprei o primeiro barco, o Krakatoa, um catamarã de 16 pés. Estava dando o primeiro passo para uma grande mudança que iria ocorrer na minha vida alguns anos mais tarde.
Eu não sabia velejar, mas a vontade era tanta que fui sozinho para Ilhabela rebocando o nosso catamarã para colocá-lo na água. Montei o barco na praia do Sino e numa manhã de dezembro de 1982 me lancei para a minha primeira aventura: sair da praia do Sino, dar uma pequena velejada no canal de São Sebastião e voltar. Consegui! A felicidade foi tanta que me pareceu que um vácuo que havia dentro de mim foi preenchido. João foi meu primeiro professor de vela, mas quem me colocou em cima de um  pela primeira vez foi o Luiz Carlos, que tinha um Hobiecat 14 em Ubatuba. Nas férias eu andava com ele. Observá-lo manejar as velas ajudou-me muito.
No final do ano fomos velejar no farol de Santa Marta, na cidade de Laguna, em Santa Catarina, um dos locais mais perigosos para navegação. Foi muito atrevimento, pois minha experiência no mar consistia apenas em uma semana de Ilhabela. Logo no primeiro dia saímos para o mar aberto, mas o tempo mudou e nos impediu de voltar para a mesma praia. Entramos então pela praia da vila, muito procurada por surfistas, ou seja, ondas enormes arrebentando na praia era o que não faltava. Entramos assim mesmo e quando passamos da linha de arrebentação fomos pegos por uma onda imensa que nos jogou para cima e virou o barco. Acabamos na areia com o barco todo avariado. Depois de vinte dias no farol voltamos para Ubatuba.
No dia seguinte saí com o Maurício para dar uma velejada e fomos parar em Ilhabela. Não havíamos levado dinheiro, água, nem camisetas. Já era tarde para voltar a Ubatuba. O problema das camisetas foi resolvido, pois achamos duas na praia onde deixamos o barco. A comida foi providenciada em frente ao Hotel Itapemar ao encontrar uma amiga, que nos convidou para um churrasco na casa dela no final do dia. E quando nos preparávamos para dormir enrolados na vela em cima do barco, encontrei o Maurício Toldi que nos ofereceu um teto para passar a noite. No dia seguinte partimos às sete da manhã, remando até a saída do canal, pois não havia vento. Só chegamos a Ubatuba ao anoitecer, pois o vento não colaborou e ficamos boiando e torrando ao sol o dia todo. Uma grande roubada.
Já na primeira semana como barman do Ritz estava eu afogado no meio de mil pedidos, fazendo caipirinhas, coquetéis e atendendo aqueles clientes que sentam na frente do balcão e querem mais atenção. De repente vi entrar o Otávio Horta, sobrinho do Arthur, que veio direto na minha direção. Ele me chamou e disse baixinho: “Tenho um lança-perfume maravilhoso aqui comigo, você não ta a fim de experimentar?”
“Respondi: ”Você esta louco, não cheiro nada e se beber uma dose de qualquer coisa, fico muito louco”. Só faltava essa: o restaurante lotado, cheio de gente na minha frente, e eu cheirando um lança. Eu, que mal conseguia me manter em pé depois de uma simples caipirinha. Mas o Otávio foi insistente, e eu, fraco: sucumbi à curiosidade. Agachei-me atrás do balcão e disparei o lança num pano de prato, levei-o à boca e o aspirei profundamente.
Quando me levantei minha vista escureceu e tudo começou a girar. Veio aquele zumbido e fui me sentindo longe, cada vez mais longe e longe. Fiquei encostado na parede, de olhos fechados. Quando comecei a enxergar novamente, olhei para a boqueta da cozinha e pensei: “Vou passar por ali”. Saí do balcão e fui até a porta de entrada. Tomei distância e fiquei como um touro nas arenas, com os olhos fixos no alvo – nesse caso, a boqueta. De repente saí numa disparada louca pelo meio do salão, subi os seis degraus que davam para o piso superior do restaurante e no embalo dei um peixinho em direção à boqueta, passei voando por ela e aterrissei na copa, com os meus 2 metros de altura, em cima de um armário de copos. Fiquei lá esborrachado, com um som de destruição na cabeça e cercado por cacos de vidro por todos os lados.
Tamanho estrondo deve ter assustado o Arthur, que entrou esbaforido na copa para saber a razão daquela hecatombe. Contei-lhe toda a história e pensei: estou no olho da rua. Mas a reação do Artur foi a mais engraçada que vi na vida – ele simplesmente disse: “Que loucura, Betão! Já pro bar!”. Desci correndo para o salão, passando entre as mesas cheias de gente, que me olhava em silêncio, sem entender nada.
Já no bar, o Otávio com um sorriso discreto, me disse: “Betão, você é muito louco!”. Eu retruquei: ”Não te disse que sou fraco? Não posso tomar nada!”
No Ritz, além de barman. passei a ser gerente e depois de algum tempo também acumulei a tarefa de programar a música do restaurante. Naquela época eu gravava as fitas cassete em casa com uma seleção eclética, que ia do jazz à MPB. Quando eu estava animado o som era pra cima, feliz e dançante, mas se estivesse mais introspectivo a música me acompanhava.
Um dia chegaram quatro amigos. Eles sentaram no balcão do bar e pediram cinco porradinhas, um drinque que derruba qualquer um. É uma mistura de qualquer bebida, por exemplo, vodca, soda limonada em um copo, sem gelo. Dá uma porradinha debaixo do copo e a soda faz um efeito sonrisal. Pronto! Vira de uma vez e espera o resultado, que vem bem rápido.
Eu perguntei a eles: “Quem é o quinto cliente?”.
Eles me responderam: “Você!  Viemos aqui para te dar um porre”.
Caí na gargalhada e, mesmo sabendo que a coisa ia acabar mal, aceitei o desafio. Tomamos em quarenta minutos cinco porradinhas diferentes, misturando vodca, uísque, rum, tequila e gim. Não preciso nem contar o que aconteceu. Não passei voando por boqueta nenhuma, mas me deu uma vontade de fazer o Ritz virar um inferninho. Duas amigas minhas que estavam no balcão assistindo ao desafio entraram para ajudar a fazer as bebidas, pois eu já não estava em plenas condições físicas.
Decidi fazer uma farta distribuição de doses de tequila pura para os clientes, uma oferta da casa para ver todo mundo feliz. Saíram várias bandejas de tequilas, e os clientes foram entrando no clima de festa. Apaguei as luzes, só deixando acesos os lustres para dar um clima de bordel. Aumentei o som e a galera começou a dançar em cima das cadeiras e dos sofás.
Um dos meus amigos veio e me cochichou: “Duvido você subir no balcão e dublar a Gal”. Ele sabia da minha paixão pela Gal, aquilo foi um golpe baixo. Não tive o menor constrangimento: desliguei o som, subi no balcão e anunciei o show. Coloquei a fita da Gal e dei o play. Comecei a cantar “Meu nome é Gal”. A galera veio abaixo. No meio da minha performance em cima do balcão quem eu vejo entrar no Ritz? O Arthur. Pensei de novo: agora não escapo, estou na rua. Ele entrou pela porta giratória vermelha, olhou, continuou a rodar a porta e saiu sem dizer uma palavra. Escapei de novo. Só foi difícil de levantar no dia seguinte.
Todas as noites, ao sair do Ritz, eu fazia um ritual: colocava o fone de ouvido, ligava o walkman e dirigia minha moto bem devagar pela avenida Paulista. Era a maneira de me desligar, sonhar e curtir a cidade que dormia. Hoje São Paulo não dorme mais.
Passados três anos de muitas noites de trabalho, algumas difíceis, outras divertidas, o Ritz sofreu um assalto e sobrou para mim abrir o caixa sob a mira de um revólver. Dois meses depois os mesmos bandidos voltaram e, quando os vi empurrando para dentro alguns clientes, reconheci o chefe da gangue. No momento em que ele me olhou e notou que eu o havia reconhecido temi pelo pior. Abaixei-me atrás do balcão e saí correndo pela escada lateral que dava para a cozinha. Ao me ver fugindo, ele deu um tiro. Assustado, eu só pensava: sebo nas canelas e não olhe para trás. Passei voando, dessa vez pela cozinha e colidi com o Benê, o chefe da cozinha, que caiu de bunda no chão com várias panelas na mão. Assustado, ele passou a me seguir. Subi para o terraço e dali para o telhado. Nem sequer olhava para trás, mas ouvia alguém me seguindo. Eu estava tão assustado que achei que fosse o bandido, mas era o Benê.
Pelos telhados dos sobrados alcancei a rua Augusta, onde desci por uma sacada e cheguei à calçada. E continuei a correr. Só parei na alameda Santos, três quadras acima. Avisei um carro da policia, que rapidamente voltou ao Ritz. Prenderam os cinco bandidos menos aquele meliante que atirou em mim, justamente o que havia me reconhecido.
Já não me sentia seguro trabalhando num bar que tinha uma vitrine lateral que dava para a rua. Eu adorava o que fazia e não queria sair de lá, mas fiquei muito assustado e decidi aceitar um convite do Alexandre Negrão para abrir um bar nos Jardins. Sempre que ia ao Ritz ele me convidava para fazer algo juntos.
Começamos a procurar um local nos Jardins, que na época era muito caro, pois havia as luvas do ponto. Um dia, andando na alameda Tietê, que fica duas quadras acima da Oscar Freire, vi uma casa em reforma e na porta uma senhora que me pareceu ser a proprietária. E era, dona Filomena, uma mulher de personalidade forte e uma pedreira nas negociações. Ela me mostrou a casa, que era sua antiga residência. Quando desci ao porão tive uma sensação muito forte. Enxerguei o bar cheio de gente. Não tinha nenhuma dúvida: era ali que iríamos levantar o Singapore Sling.
Depois de uma longa batalha com a dona Filomena, fechamos o negócio e começamos a reforma, financiada por algumas economias e dinheiro emprestado da tia do Alex. Dois meses de reforma e acabaram-se os recursos. Convidei então o Zé Renato, que era o arquiteto e conduzia a reforma, a entrar na empreitada.  
Inauguramos o Singapore Sling em março de 1985, um bar muito charmoso no porão de uma casa que nem sequer tinha placa na rua. Com boa comida, música ao vivo e gente bonita, o bar estourou e depois de quatro meses não tínhamos mais dívidas. Era o lugar mais badalado da cidade, juntamente com o Rose Bom Bom, do amigo Angelo Leuzzi.  
Minha dedicação ao novo negócio era total, e eu só pensava em duas coisas nessa época: trabalhar e velejar. Organizava-me para trabalhar todos os fins de semana em que não havia competições e nos outros dias trabalhava sem folga. No Singapore conheci a Renata Jubran, uma namorada que teve um papel muito importante na minha vida. Ela foi como um anjo que me trouxe a primeira brisa de uma mudança importante. Depois de dois anos nosso namoro não andava bem e eu ia completar trinta e um anos. Ganhei de presente dela um mapa astral de um astrólogo carioca muito conhecido, que de vez enquando atendia em São Paulo. Fui fazer meu mapa com o Bola, mas não tinha ideia do que ia encontrar, pois andei muitos anos com o coração fechado para qualquer assunto que dissesse respeito aos sentimentos.
Saí de lá como se estivesse de ressaca. O homem me contou coisas que só alguém que me conhecesse muito bem poderia dizer. No primeiro momento achei que a Renata havia conversado com ele, mas logo percebi que existia um outro mundo ao qual eu havia dado as costas e que algo me chamava. O próprio Bola me disse que eu ia mergulhar numa busca espiritual muito profunda e não haveria volta.
Pouco depois Renata e eu fizemos um curso de astrologia com a psicóloga Ruth Calil. Eu queria entender um pouco de tudo aquilo que haviam me dito.  No final da segunda aula entrou na sala o filho da Ruth, Moreno, que era treinador de cavalos na Hípica Paulista. Sem nenhuma cerimônia e sem me conhecer, ele me disse que eu estava com a energia baixa e muito triste. Como ele poderia afirmar isso se não havíamos trocado mais que duas palavras? Mas ele estava certo: a Renata e eu havíamos rompido e estávamos os dois tristes. Moreno não parou por aí; continuou a falar uma porção de coisas a meu respeito.
Sua mãe intercedeu e se desculpou, explicando que desde que nasceu ele via o mundo invisível. Não era uma escolha. Para ele isso era um encargo. Fiquei meio incrédulo, mas com um tom de brincadeira perguntei-lhe se estava vendo algum fantasma na sala.
Ele me rebateu de cara: “Fantasma? Não sei, mas espíritos eu vejo muitos e atrás de você tem sete”. Fiquei gelado e meio sem graça com a brincadeira. Ele continuou: “As sete entidades que estão com você te acompanham e algumas estão com você para te proteger; outras para aprender”. Ruth se desculpou novamente comigo. Eu lhe disse que não se preocupasse e que ele podia falar. Mas Moreno ficou em silêncio por um instante, olhando para mim e por fim disse: ”Tem alguém com muita luz atrás de você e não sei se tenho permissão para falar dele para você. Espera. Beto, você perdeu seu pai, mas ele está aqui agora, bem atrás de você”.
Moreno descreveu meu pai, e disse que nossa vida se cruzou em várias encarnações e por algumas vezes vivemos no mar, em algum navio. Ele me perguntou se eu gostava de mar. Respondi-lhe que era velejador. Foi muito difícil, tentei resistir, mas não me contive – chorei copiosamente. Meu coração estava provando de algo de que já não me lembrava, uma sensação de conforto, ao ouvir palavras tão reveladoras. Ele contou muitas coisas a respeito da morte do meu pai e do desconforto que ele sentia ao nos deixar numa situação tão difícil, mas que ele estava presente em muitos momentos da minha vida e que ainda tinha uma missão.
Esse foi um dia importante na minha vida, as palavras do Bola se encaixavam em tudo aquilo que estava acontecendo.
Fazia um ano que o Radar Tan Tan, uma casa de show encravada num armazém da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, aberta pelo Arthur e um grupo de sócios, havia fechado. Nessa época eclodia no Brasil uma efervescência musical. Muitas bandas de garagem pipocavam por todos os lados e não havia lugar para elas mostrarem seus sons em São Paulo. Tivemos a ideia então de abrir uma casa menor mais central.
Em novembro de 1987 inauguramos o bombástico Aeroanta, um galpão no largo da Batata, em Pinheiros, também na zona oeste da cidade. Uma casa de shows com pista de dança e restaurante que funcionava seis vezes por semana, com gente saindo pelo ladrão. Nesse empreendimento juntaram-se a nós, Sérgio Zerbini, que achou o ponto, e o Alfredo Pimenta, que fez o projeto de arquitetura com o Zé Renato. Mais de mil shows, entre 1987 e 1993 , deram oportunidade a muitas bandas novas se apresentarem no largo da Batata.
Marisa Monte, Ed Motta, Cazuza, Barão Vermelho, Lobão, Biquini Cavadão, Daniela Mercury, Ratos do Porão, Léo Jaime, Inocentes, Ultraje a Rigor, Ira!, Plebe Rude, RPM, Kid Vinil, Mulheres Negras, Luni, Titãs, Engenheiros do Hawaii, Cássia Eller, Cidade Negra, Manu Chao e Capital Inicial foram alguns dos nomes que fizeram história no Aero.
Muitos artistas consagrados também tocaram no Aeroanta. Em 1990 Rita Lee queria alugar o galpão por dois dias, na parte da tarde, para ensaiar, pois ela havia sido convidada para tocar no Festival de Montreux. Como ela não tocava em público fazia cerca de dez anos, pensamos em convidá-la. Seria uma injustiça a Rita tocar no Aero para ninguém. Fizemos uma oferta irrecusável: 100% da bilheteria para ela e o movimento do bar para nós. Ela aceitou. E isso caiu na boca da imprensa e daí pra a boca do povo. Era a semana inteira de gente telefonando para pedir ingressos. Até aquela lindinha da escola que nunca olhou para sua cara e você não vê há mais de vinte anos.
Colocamos à venda quinhentos ingressos e deixamos outros quinhentos para vender no dia. O largo da Batata estava tomado, a fila dava volta ao quarteirão, e quem já tinha ingresso chegou cedo, ou seja, às dez e meia já tinham entrado na casa mais de quinhentas pessoas.
Estávamos tensos e ansiosos. De repente, pluft,, acaba a luz. Achei que fosse um problema do Aero, mas ao sair para a rua vejo Pinheiros às escuras. Meu Deus, isso nunca aconteceu e vai acabar a luz logo hoje, no dia da estreia Rita Lee!  As pessoas perguntavam: “Vocês não têm gerador?” “O show vai ser cancelado?”. O pior: parou o ar, os caixas, a máquina de chope... tudo, e lá dentro só as luzes de emergência davam aquele ar de fim de festa.
Fiquei olhando aquela imensa fila atônito, pensando no que fazer. Fui despertado pela pergunta de uma moça: “Você não é um dos sócios da casa?” “Sim”, respondi. Ela continuou: “Sabe eu trabalho na Eletropaulo e quem sabe se eu ligar pra lá não posso descobrir o que aconteceu”.
Não botei muita fé nela, mas aceitei a sugestão e a levei para o escritório. Ela ligou e falou com alguém de plantão: “Olha estou em uma casa de shows aqui em Pinheiros e acabou a luz aqui no bairro. Vocês já sabem o que aconteceu?”
Do outro lado da linha responderam que um caminhão bateu em um poste na avenida Eusébio Matoso e derrubou um transformador, e que a previsão da energia voltar era por volta das seis  da manhã do dia seguinte. Quando ela me repetiu isso, gelei, mas ela continuou: ,”Por favor, transfere a ligação para quem está de plantão aí na chefia”.
Ouvi, estupefato: “Sabe, fulano, eu sou a fulana de tal, estou aqui no Aeroanta para ver um show da Rita Lee e acabou a luz por causa de um acidente na avenida Eusébio Matoso, e quero te pedir um favor. Vamos fazer a energia chegar aqui por um outro caminho: apaga Alto de Pinheiros e acende Pinheiros para mim, por favor”. Dez minutos depois pluft de novo: acendeu o bairro.
Eu sei que o show não pode parar, mas como pude ter tanta sorte de encontrar aquela moça na porta justamente naquele dia! Claro que ela nunca mais pagou ingresso no Aero, virou nossa convidada permanente. Assim como eu, alguns dos meus sócios moravam na Vila Madalena, e em 1989 não havia nenhum bar descolado, nada. Para não dizer que não havia nada, tinha lá o Bartolo, um lugar discreto, reduto da antiga boemia da vila.
Dois amigos nos ofereceram uma esquina simpática, ocupada por uma antiga padaria. Alex sempre foi um visionário e ele dizia para nós: “A vila vai estourar, vai ser o próximo Jardins” Assim nasceu o Olívia, o primeiro bar diferenciado da vila. Depois dele veio uma leva de bares que se multiplicaram como vírus de computador, e a vila é hoje um dos pólos da vida noturna de São Paulo.
Nessa época meus namoros não duravam mais de três meses, não estava preparado para ter nada sério, mas me apaixonei por uma mulher encantadora, de quem havia tempos eu tentava me aproximar. Comecei a namorar a Vânia e depois de dois meses fui participar de um campeonato de vela nos Estados Unidos. Quando voltei ela disse que não estava a fim de ficar comigo e pediu um tempo. Fiquei triste, claro, e no dia seguinte, ao entrar num restaurante, a vi com outro namorado. Isso certamente já ocorreu a muitas pessoas. Quem não viveu uma desilusão amorosa, uma frustração? Quem não se sentiu rejeitado? Mas meu coração ficou destroçado, algo mais profundo foi tocado. Acho que tinha que ver com abandono, e eu perdi o pé do mundo. Foram muitas noites de insônia, dor de estômago e uma angústia aguda.
Já fazia um ano que eu frequentava a um grupo de vivências que se reunia às quartas-feiras à noite. O grupo era coordenado pelo Seiji, que com muita precisão e clareza nos dava ferramentas para lidar com as emoções e buscar algo bem simples: ser. Pedi ajuda a ele e marquei uma sessão individual. Precisava falar e saber o porquê daquele impacto tão profundo e o que me prendia num rodamoinho emocional. Com um olhar compreensivo e amoroso, Seiji pegou a minha mão e me perguntou o que estava acontecendo comigo. Deitado no tatame, contei-lhe a minha mágoa e a angústia que me afligia, pois havia quatro meses não conseguia fazer nada. Seiji, com um sorriso transbordante de amor, me disse: “Beto, eu sei que você, quando olha para as estrelas, sente saudades. Sente saudades de onde você veio, não é? Mas não esqueça que todos nós temos um propósito nesta vida, e você não é diferente. Não queira voltar, pois você veio para cá para trazer um pouco daquela luz”.
Enquanto ele falava eu me afogava num mar de lágrimas e voltava para o meu foguete, para a minha infância, meus medos, inseguranças, e vi quão forte era o sentimento de abandono que eu trazia no coração. Mas num passe de mágica ele ficou mais leve e percebi que não deveria carregar mágoas das pessoas. Não era o que a Vânia tinha me feito que me deixara daquele jeito, mas o que despertava dentro de mim passar por uma experiência como aquela de me sentir rejeitado. Não era a Vânia, e sim o que ela representava. Ela, na verdade, tinha me ajudado, mas é difícil olhar as coisas por essa perspectiva.
Já fazia algum tempo que eu notava que havia algo em mim que não estava legal. A vida na noite me levou para uma rotina e uma qualidade de vida que não compatibilizavam com o que eu queria para mim. Mas o que fazer?, eu me perguntava. Um dia, andando no Shopping Iguatemi, encontrei Marcus Sulzbacher, um antigo amigo da vela. Falamos de barcos, viagens, projetos, e ele comentou que um outro amigo, que estava morando em Miami, o Fernando Almeida, pensava em fazer uma viagem de Hobiecat 21 pés pelo Caribe, até Belize, na América Central, local repleto de ilhas paradisíacas pouco exploradas, turisticamente falando. Imediatamente me convidei e disse ao Marcus que faria a viagem também, mas com uma condição: vir até a Ilhabela. Acho que ele me achou maluco, pois ninguém costuma tomar uma decisão daquelas depois de uma conversa casual.
A partir desse dia só respirei vela, e a vida começou a fazer sentido para mim, pois tudo por que eu havia passado parecia ter-me levado àquela condição e todos os acontecimentos desfavoráveis, no primeiro momento, pareciam já não ter aquele peso. Havia um ano eu não competia, faltava algo forte que me levasse de volta ao mar. Foram dez anos velejando em competições, mais de quinhentas regatas e outras centenas de dias treinando. Tive vontade de mudar novamente. Agora o desafio não era chegar na frente, mas simplesmente chegar.
No ano seguinte, 1994, velejamos as 7.500 milhas que separam Miami e Ilhabela, aonde chegamos no dia 10 de dezembro. A viagem foi um sucesso, apesar dos acidentes e percalços, mas, em termos comerciais, um fiasco: cheguei a São Paulo sem um tostão no bolso.
Não me arrependi; ao contrário, estava nas nuvens, feliz. Era isso que eu queria fazer da vida, viajar pelo mundo no meu pequeno catamarã sem cabine. De volta a São Paulo, não sabia por onde recomeçar a vida na cidade. Tentamos publicar um livro de fotografias e editar um vídeo da viagem, mas não tivemos êxito. 1995 foi um ano difícil para a economia brasileira. Pensei na próxima viagem, mas faltou fôlego.
Mas nem tudo estava tão negro assim. A Richards, uma marca de roupas, ofereceu-se para organizar uma exposição de fotos no Shopping Iguatemi. Não foi a salvação da lavoura, mas deu um pequeno fôlego financeiro.
Na noite de abertura da exposição estávamos eu, Marcus e todos os amigos que participaram da viagem. Um homem com sotaque italiano me chama e se apresenta: “Meu nome é Andrea Ruggero e trabalho no consulado da Itália aqui em São Paulo. Como vi que seu sobrenome é italiano, gostaria de saber se você é cidadão italiano”
Respondi-lhe que não, meu pai, sim, era italiano, ao que ele me fez outra pergunta: “E por que você nunca pediu sua cidadania?” Disse-lhe que achava o procedimento complicado, pois o consulado tinha fama de ser muito burocrático e só uma coisa me motivaria a dar entrada no processo de cidadania: encontrar minhas irmãs.
Para minha surpresa ele se prontificou a me ajudar e disse que um velejador como eu tinha que ser italiano também. Trocamos telefones e alguns dias depois nos encontramos. Dei-lhe todos os documentos e informações que eu tinha do meu pai. Novamente acendeu uma luz no meu coração e tive esperanças que dessa vez iria encontrar minhas irmãs ou, pelo menos, um outro Pandiani na vida, pois até aquele momento só tinha conhecido um Pandiani – meu pai.
Passado um ano e meio, recebo um telefonema do Andrea, que disse ter nas mãos a minha cidadania italiana e queria me encontrar para me contar as novidades. Marcamos um almoço no Mr. Fish, um restaurante de frutos do mar dos Jardins em que eu tinha entrado como sócio-gerente alguns meses antes.
Levei minha mãe para almoçar com o Andrea e ele gentilmente nos levou um champanhe, a minha nova nacionalidade e notícias sobre meu pai. Ele contou que na Itália os registros são muito precisos, mas nada fora encontrado sobre a Barbara e a Liliana.
Provavelmente elas devem ter-se casado e mudado de sobrenome ou podem ter nascido em outro país. Prometeu-me continuar a busca, mas o simples fato de ter a nacionalidade italiana me deu novo alento e me senti um pouco mais próximo do meu pai.
Outra coisa maravilhosa que se deu no Mr. Fish foi o encontro com a Bebel Tagliaro, que viria a ser minha mulher algum tempo depois. A vida louca em São Paulo continuou, e eu continuei na noite. Um ano depois inauguramos o Clube B.A.S E, uma casa noturna que São Paulo jamais havia visto, o primeiro clube a tocar música eletrônica nos mesmos padrões europeus.
Nesse mesmo ano mudei para um pequeno dúplex no bairro do Itaim e na primeira semana na casa nova tive um sonho tão claro, tão cristalino e cheio de detalhes, que acordei impressionado. Sonhei que partia de Puerto Montt, no Chile, velejando no meu catamarã pelos canais chilenos. Passava pelo cabo Horn e chegava finalmente a Ilhabela, depois de muito tempo. O sonho veio numa hora que a minha energia estava toda voltada ao trabalho da noite, mas foi maravilhosa a sensação de me ver velejando novamente, mesmo em sonho. Acendeu-se a vontade de me reencontrar com o mar.
No dia seguinte, ao voltar para casa, à noite, vejo o nome do prédio da minha nova casa: Edifício Puerto Montt. Coincidência impressionante. Certamente guardei o nome do edifício sem nem mesmo perceber. Mesmo assim, considerei aquele um sinal positivo para a realização da viagem. Não bastasse isso, na semana seguinte recebo um telefonema do Pedrão, um amigo da vela e comandante de um catamarã de 55 pés que pertencia ao Décio Clemente. Ele me diz: “Betão, estamos em Puerto Montt com o barco e vamos descer os canais chilenos até Punta Arenas. Tem um lugar e você é nosso convidado”. Fiquei mudo, arrepiado. Já não era questão de eu querer ou não fazer a viagem – eu tinha de fazê-la.
Contei a ele tudo o que havia acontecido, agradeci o convite, e expliquei que era impossível naquele momento. Pedi-lhe então que levantasse todas as informações e me trouxesse as cartas náuticas e os guias. O roteiro e o novo projeto tornaram-se meu maior objetivo na vida, mas tinha que esperar pelo melhor momento para tomar a decisão de partir.
No final de 1998 inauguramos o Lounge, um bar sofisticado no Itaim que tinha como sócios quase a mesma turma. Um dia acordo com um telefonema da Renata Jubran, agora fotógrafa do jornal O Estado de S. Paulo. Ela disse que num evento realizado no restaurante Gero conheceu uma pessoa chamada Fellipo Pandiani, italiano e namorado de uma brasileira chamada Paula. Novamente a Renata me trouxe uma brisa de renovação.
Ela conversou com Fellipo e disse-lhe que conhecia um Pandiani aqui no Brasil que estava à procura da família dele na Itália. Ele desconhecia a existência de alguém da sua família aqui. De qualquer maneira, ele pediu a Renata que desse o telefone dele para mim. Assim que a Renata desligou liguei para Paula. Ela me disse que Fellipo estava muito curioso e passou-lhe o telefone rapidamente. Fiquei surpreso ao notar que ele falava bem o português. Ele era de Milão, mas viveu na Espanha e agora morava em Londres. Disse-me que a família estava espalhada entre Milão e Turim.
Eu lhe disse que a minha família também era das mesmas cidades e citei o nome do meu pai, Corrado Pandiani. Ele não conhecia ninguém com esse nome. Bom, pensei: ele tem 31 anos, então não poderia ter conhecido meu pai. Perguntei das minhas irmãs, citando o nome delas, mas, infelizmente, também não as conhecia. Na verdade, eu não tinha muita coisa para falar da minha família, a não ser que meu pai fora velejador. Fellipo também velejava, assim como seu pai, que já havia falecido.
Ao falar com ele ao telefone minha vontade de encontrar alguma pista do passado era tão grande que deixei vir à tona todas as emoções que ficaram guardadas e na minha memória algo de que já nem lembrava: “Fellipo, meu pai me disse uma vez, quando eu era bem pequeno, que tinha um primo, ou tio, sei lá, que tinha uma fábrica de sapatos na Itália”.
Fellipo me responde imediatamente: “Meu pai era dono de uma fábrica de sapatos”. Gelei! Mas a dúvida permaneceu e ele disse que só havia um jeito de saber: “Vou ligar para Luciano Pandiani, meu tio de setenta anos que mora em Turim. Ele conhece bem a história da família. Depois te ligo”. Foram minutos longos de espera. Quando o telefone tocou Fellipo gritou: “Primooooo” e com muito humor me contou a conversa com Luciano. De fato, era a mesma fábrica de sapatos, e essa lembrança mágica, quase esquecida, que veio para nos aproximar, disparou uma série de acontecimentos que pareciam impossíveis de suceder.
Essas coisas são mesmo incríveis. Essa informação já estava na minha memória, fui buscá-la no fundo de alguma gavetinha perdida no passado. O Luciano de que Fellipo acabara de falar é meu primo-irmão. O pai dele era irmão do meu pai e chamava-se Enrico, e o pai do Fellipo era meu primo também. Senti uma alegria indescritível ao saber que pela primeira vez na vida encontrava alguém da família e que essa aproximação poderia trazer para mim a história do meu pai e as minhas irmãs. Difícil viver sem referências!
A afinidade com Fellipo foi instantânea e marcamos para o mesmo dia um jantar no Lounge, juntamente com a Bebel e a Paula. Além do mais, estava curioso de ver a fisionomia dele, ávido por histórias da família. Mandei um e-mail para o Luciano perguntando se sabia onde eu poderia encontrar a Barbara e a Liliana. Ele ficou de me escrever uma carta com notícias, fotos e uma árvore genealógica da família Pandiani. Reservei uma mesa no Lounge. Ficamos, eu e Bebel olhos pregados na porta e vimos entrar uma figura familiar, parecida com o meu pai, os mesmos olhos verdes. Fiquei arrepiado com tanta semelhança. Abraçamo-nos como irmãos que não se viam fazia muito tempo. Meus olhos se encheram de lágrimas, eu não sabia o que falar.
Mais relaxado e depois de uma hora de conversa, vi o quanto tínhamos em comum, além da vela. Fellipo tem um ótimo humor, é bom contador de histórias, gosta de viver com intensidade e sempre está disposto a mudar de vida se acredita em um sonho. Ele me adiantou que Luciano pouco sabia das minhas irmãs, mas ia buscar alguma informação sobre elas.
Passamos horas conversando e bebendo vinho, e tudo o que Fellipo me contava sobre seus irmãos, seu pai e sua vida caía como um alimento para mim. Como a vela sempre teve um lugar especial dentro de nós, combinamos velejar no fim de semana para celebrar aquele encontro maravilhoso com que a vida nos presenteou. Numa mesa vizinha estavam João Lara Mesquita e Fernão Mesquita, amigos e jornalistas. Como todo bom jornalista, eles ficaram sabendo do meu encontro e da minha busca. Fernão me propôs uma entrevista para o Jornal da Tarde. Achei divertido e topei. Só não imaginava que a matéria seria de página inteira no caderno de domingo com este título: “Beto Pandiani, um homem à procura de suas origens”. Sem desconfiar de nada, a vida me deu a oportunidade de lançar uma isca ao vento, e esses acontecimentos também só foram compreendidos anos mais tarde.
O Fellipo ficou no Brasil mais duas semanas e ao embarcar de volta para Londres, no começo de fevereiro, prometeu-me tentar encontrar informações sobre as “meninas”.
Num domingo ensolarado de março de 1999, Bebel e eu estávamos saindo de casa para caminhar no parque. À porta ouvimos o telefone tocar. Bebel voltou e atendeu: “Beto, tem uma Isabela no telefone, tem um sotaque italiano, quer falar com você”. Atendi o telefone tentando imaginar quem poderia ser aquela pessoa e procurei lembrar os nomes que o meu primo havia citado. Só poderia ser alguém encontrado por Fellipo ou Luciano.
Ouvi uma voz em inglês com um sotaque italiano: “Roberto, sou sua sobrinha, Isabela”.
“Isabela! Filha da Barbara ou da Liliana?”.
Para minha completa surpresa ela disse: “Não, sou filha da Graziella, sua outra irmã”. “Como? Quem é Graziella?”
Como sempre na minha vida, as coisas se sucederam de forma misteriosa e ao mesmo tempo perfeitamente em sincronia com o tempo, dando-me a oportunidade de enxergar muito além dos fatos, aprendendo a aceitar e ter paciência, pois os acontecimentos me mostraram que é preciso ser observador e não resistir a eles.
Uns dias antes desse telefonema fiquei cismado com a certidão de casamento do meu pai. Ao reler os documentos que foram levantados pelo consulado italiano, vi que meu pai havia sido casado com uma italiana na Itália. Ela se chamava Elsa Pierina Katerina Victoria Severina, mas a história de que eu me recordava, contada por ele mesmo quando eu era pequeno, dizia que sua ex-mulher se chamava Etti, e era turca, e o casamento havia sido na Turquia. Mas muito tempo havia se passado e minha memória poderia estar me traindo.
Rapidamente fiz todas as conexões possíveis e achei ser possível meu pai ter-se casado com outra mulher antes de se unir a Etti. Nesse caso eu seria filho do seu terceiro casamento.
Minha sobrinha Isabela continuou: “Roberto, estou ao lado da sua irmã, ela está muito emocionada em te encontrar. Nós procuramos por você há muitos anos”.
Eu não conseguia entender como aquelas conexões estavam se fechando. Assim, antes de deixar as emoções falar e dando atenção à minha curiosidade: “Isabella, como vocês me encontraram? Foi o Fellipo Pandiani quem te deu meu telefone?”
Ela respondeu:” Quem é Fellipo?”
Desconcertado, respondi: “Um primo que conheci há dois meses. Então, foi Luciano Pandiani?”, insisti.
E passou a falar com a minha irmã, traduzindo a nossa conversa para o italiano. Essas pausas me deixavam cada vez mais impaciente, curioso e ao mesmo tempo anestesiado. Bebel, ao meu lado, não entendia nada, me olhava com aqueles olhos interrogativos.
Isabela me disse então que a Graziella não via Luciano fazia muito tempo e não recebiam notícias do Corrado havia mais de trinta anos. Imaginavam que ele já não deveria estar mais vivo. Disse-lhes que ele morreu em 1976 e que eu nada sabia da existência delas.
Enfim, quando as comoções se recompuseram, perguntei: “Isabela, por favor, me explica como vocês me encontraram, pois fiquei toda a vida sem saber nada sobre a família e de repente aparece Fellipo em São Paulo e agora você me telefona...”
Alguns dias atrás ela colocou meu nome no Yahoo Brasil e apareceu uma matéria num jornal com o título “Beto Pandiani, um homem à procura de suas origens”.
Meus olhos encheram-se de lágrimas, a garganta secou, e eu não conseguia falar: um mundo de sentimentos inundou meu coração, e, mesmo sem saber que tinha ainda outra irmã, aquele encontro me pegou em cheio. Por algum tempo foi difícil dizer coisa com coisa. Eram tantos fatos que vinham à cabeça que não conseguia exprimir o que queria dizer. Na verdade, queria abraçá-las e chorar o tempo necessário para que toda a tristeza e angústia guardada fosse embora.
Ficamos conversando mais de quarenta minutos. Contei a Isabella sobre o encontro com Fellipo, a conversa com Luciano e algumas coisas da vida de Corrado. Que sensação diferente conversar com uma moça de trinta e oito anos que era minha sobrinha! E naquele ano minha irmã Graziella estava completando sessenta e três anos. Depois Isabella me disse que tinha uma irmã que vivia em Nova York, a Raffaela, minha outra sobrinha. Assim como eu, elas também sabiam da Barbara e da Liliana, mas também não tinham notícias e provavelmente não sabiam nada a respeito delas.
Anotei os telefones e e-mails e prometi ligar. Eu precisava deixar toda aquela informação entrar em mim e permitir que todos os sentimentos guardados jorrassem. Necessitava ficar em silêncio. Despedimo-nos. Minha irmã ressaltou em italiano quão importante era para ela aquele encontro. Passadas duas horas, toca o telefone de novo: era Raffaela.
Bastante emocionada, também falou sobre o buraco na vida delas causada pela ausência do Corrado, sobre a esperança que minha irmã alimentou de poder conhecer o pai que partiu quando ela tinha cinco anos e nunca mais o viu, e a partir daí só se comunicava com ele por meio de cartas, que um dia também pararam de chegar. Não podia imaginar Graziella esperando encontrar o pai um dia, um dia que nunca chegava. Que será que se passava na mente daquela criança? Quanta dor ela sentiu!
Essa história me partiu o coração. Senti que ir à Itália para conhecê-la era muito importante, pois o coração dela estava muito ferido. Disse a Raffa que gostaria de ir a Nova York e encontrá-la também.
Ouvindo aquelas vozes pelo telefone, eu tentava imaginar as minhas sobrinhas, a minha irmã. Será que éramos parecidos? Iríamos nos dar bem? Teríamos os mesmos valores? E muitas perguntas me assolaram depois que passou aquela emoção arrebatadora. Agora, raciocinando com mais clareza, decidi que tinha que me organizar para ir vê-las o mais breve possível.
Alguns dias depois chegou a carta de Luciano Pandiani, acompanhada de algumas fotos. Luciano conta resumidamente a história da família: nosso avô, Giovanni Pandiani, nasceu em Manchester, na Inglaterra, em 1865, filho de um italiano com uma inglesa de Manchester também. Tiveram quatro filhos: Enrico, Franco, Irma e Corrado, meu pai, o caçula, que nasceu em 1913. Ele foi o único que nasceu na Itália, em Savona, uma pequena cidade portuária na Riviera di Ponente. Os outros irmãos nasceram em Dublin, na Irlanda.
A respeito das minhas irmãs, disse apenas que um parente da mulher dele encontrou em Cannes, na França, a Barbara e a Lilliana. Elas viviam com a mãe em um hotel caríssimo, juntamente com o padrasto, um americano muito rico e poderoso. Infelizmente, essas pessoas que haviam tido algum contato com elas já haviam falecido.
A sensação após ler a carta era a de que alguém não queria que eu encontrasse a Barbara e a Liliana, pois, mesmo depois de todos esses acontecimentos mágicos, não havia notícias delas. Elas continuavam distantes, mas sabia que estavam vivas até ao menos dez anos antes. E Luciano não menciona Graziella, mesmo sabendo da existência dela. Muito estranho!
Na mesma semana chegou a carta da Graziella, com fotos dela, da Raffa e da Isabella, e também do meu pai bem jovem em uma estação de esqui, no seu laboratório e velejando. Eu nunca tinha visto meu pai jovem, e tampouco o imaginei velejando. Mesmo antes de começar a ler meus olhos viraram um mar e desabei a chorar de felicidade e de saudades dele!
Nunca meu pai me estimulou a ser velejador. Não sei por quê. Mas por conta própria me tornei um e olhando para trás, acho que fui para o mar em busca dele. Demorou, mas comecei a encontrá-lo. Outro fato curioso é que ele sempre sonhou ter um restaurante: tive vários. Essa sobreposição de sonhos e desejos me fez sentir muito próximo dele.
As cartas de Luciano e de Graziella denotam uma estranha coincidência: ambas foram escritas no mesmo dia - 4 de abril de 1999, uma em Milão e a outra em Moncalieri, distantes cerca de 140 quilômetros uma de outra, e como mencionei, eles não se falavam havia muitos anos.
O universo conspira a nosso favor quando estamos alinhados com um objetivo. No mês seguinte um amigo velejador, Dan van der Klugt, me convidou para velejar no campeonato mundial de Hobiecat Tiger 18 no lago di Garda, no norte da Itália. Aceitei e para essa empreitada convidei meu amigo João Simonsen, enquanto o Dan chamou o Gui von Schmidt. Bebel e eu estudamos italiano durante um mês para não chegar lá tão crus.
Começo de junho, bye,bye, Brasil. Pegamos um avião da Alitalia uma semana antes dos nossos amigos velejadores e voamos rumo a Milão. Na mala levava meus trajes náuticos, mas no coração eu estava levando muitos anos de espera, muitas perguntas. Levava também muito carinho para minha irmã. O avião chegou pontualmente a Milão às seis horas da manhã. Era a minha primeira viagem para a Itália, e justo para resgatar muita coisa do meu passado naquelas terras. Saímos pelo portão de desembarque e logo vi a Graziella e a Isabela paralisadas. Não hesitei: larguei o carrinho e fui correndo abraçá-las. Ficamos abraçados, muito emocionados. Eu não sabia se falava ou simplesmente ficava ali calado, sentindo a presença delas, sentindo o que se passava comigo. Aquele foi um dia de lembrar muitas coisas. Não era um dia qualquer – era o dia que eu sempre havia sonhado.
Quem estava ali? O menino carente, inseguro e medroso ou o homem que enfrentou seus medos, acreditou na sua intuição e fez um voo cego pela vida, lançando-se de cabeça nos seus sonhos? Não sei. Acho que carrego ainda a minha infância bem lá no fundo.
Apresentei Bebel, que toda sorridente e bem-humorada arriscou o italiano que começava a aprender com a avó dela. A Bebel sempre foi mestra em arranjar o que falar nos momentos em que eu fico sem saber o que dizer. Minha irmã sugeriu tomarmos café num lugar perto da casa dela, onde a Raffa iria nos encontrar.
Enfrentamos o congestionamento matutino de Milão, que veio em boa hora, pois tivemos um tempo para nos adaptarmos e conversarmos sobre a rotina da vida delas na Itália, sobre o trabalho, filhos, as coisas do dia-a-dia. Ao chegar ao café reconheço imediatamente a Raffa, uma loira bem exótica e bonita de 1,80 metro de altura. Assim como a Isabella, minha irmã tem 1,70 metro de altura, os mesmos olhos verdes do papai, mas é a Raffa a mais parecida comigo.
Ao entrarmos no café somos apresentados a uma amiga da minha irmã, que toma o café da manhã conosco. Logo em seguida fomos para a casa da Graziella, um simpático apartamento. Na entrada vejo o nome dela gravado na campainha, aquele nome que tanto significado trazia para mim sempre esteve ali, à minha espera. Ao entrar naquela casa, do outro lado do mundo, vejo fotos do meu pai velejando, com sua esposa, viajando. Encontro um pouco do meu mundo, do mundo do meu pai e do pai dela. Estava entrando na vida dela também.
Difícil descrever meus sentimentos daquela hora, mas eram sensações boas. Um ar familiar pairava no ar, e aquela mulher que eu nunca havia visto estava misteriosamente muito próxima. Os dias em Milão foram de muito passeio, almoços e jantares recheados de conversa e revelações, pois Graziella sabia a primeira parte da história e eu, a última. Os anos em que ele viveu fugido da guerra e com a Etti, sua segunda mulher, não nos pertenciam ainda. Quiçá um dia!
Meu pai sempre foi um homem de bom gosto, e ao ouvir as histórias dele contadas pela Grazi concluía-se que as pessoas o admiravam e ficavam fascinadas por ele. Ele foi amigo do rei Humberto, que foi deposto por Mussolini, e no começo da Segunda Guerra Mundial, quando começou a escassear comida na Itália, ele recorria às boas relações que tinha com o Vaticano para manter o estilo de vida que fazia questão de aparentar.
Uma noite fomos jantar na casa da Isabella e do Cesare, seu marido. Ao entrar no apartamento Cesare me pega pelo braço e me puxa para a outra sala a fim de me mostrar uma sequência de fotos feitas em 1928 do meu pai velejando no lago de Como em um Star de madeira, um barco muito clássico. Não chorei. Senti um aperto no coração, mas me segurei. Aquelas fotos tinham muito significado para mim e me transportaram para Chicago de 1989.
Nesse ano, junto com a Uli, ganhei o Campeonato Norte-Americano de Hobiecat 16. Fomos os primeiros brasileiros a ganhar um título internacional dessa classe e também os primeiros estrangeiros a ganhar um torneio nacional nos Estados Unidos. Quando terminaram as regatas do último dia todos os barcos voltaram para a praia, e como os cinco primeiros barcos estavam embolados na pontuação ninguém sabia quem tinha sido campeão. Começaram a fazer as contas, e tanto eu como a Uli não imaginávamos que estaríamos entre os dois primeiros. Alguns minutos depois Jeff Alter me perguntou os resultados do dia. Passei-os a ele. Ele olhou para um lado, olhou para o outro e perguntou: “Tem certeza, Roberto?” “Claro”, respondi, e ele estendeu a mão e disse: “Parabéns, vocês são os novos campeões norte-americanos”.
Na hora que ele me deu a notícia eu estava desmontando o barco na areia, como todos os velejadores. Meus joelhos dobraram, me abaixei, e chorei muito. Foi uma reação incontrolável, e como nunca havia sentido a presença do meu pai ao meu lado, tinha certeza naquele momento que aquele prêmio era a ponte entre nós. Como num filme, me recordei rapidamente das regatas e percebi que velejei aquele campeonato com muita segurança, intuição e inspiração.
A segunda maior surpresa do campeonato chegou à noite, quando o organizador do evento, Paul Ulibari, nos chamou para receber o prêmio das mãos de Hobie Alter, o criador do hobie cat. Cat é abreviação de catamarã, daí o nome. Paul, que já me conhecia de outros campeonatos, disse em seu discurso que o que mais o impressionou não foi a conquista do campeonato, e sim como conquistamos o coração dos americanos.
Na semana seguinte chegou a turma que iria velejar o mundial no lago di Garda. Minha irmã e minhas sobrinhas também foram para Garda para passarmos aquela semana juntos – o tempo era precioso. Como nunca havia velejado o Hobiecat Tiger, João e eu fomos treinar e testar o barco no único dia que não era muito apropriado, pois o vento estava em torno de 35 nós, aproximadamente 65 quilômetros. Resumo da ópera: capotamos e, ao virar, abri um rasgo na perna ao bater na bolina. Desviramos o barco naquela água gelada e com a perna sangrando muito chegamos ao clube depois de uma hora. Finito: o campeonato acabou para mim antes de começar. Levei cinco pontos na canela e em vez de velejar fui fazer turismo.
Em Garda recebi a visita do meu primo Luciano, um homem muito importante e ocupado. Ele dirigiu quatro horas, almoçou comigo e voltou para Turim. Muito carinhoso, convidou-me para ir à Grécia na semana seguinte para velejar durante uns dez dias num veleiro oceânico. Não pude aceitar, porque precisava voltar ao Brasil.
No dia da partida, a caminho do aeroporto, minha irmã me diz. “Roberto, vou te entregar uma carta, mas eu quero que só a abra no avião”. Concordei, mas achei estranho, e muito curioso. Como toda despedida, aquela também foi triste, mas, na verdade, foi um até breve, e não um adeus.
No avião, Bebel e eu, mortos de curiosidade, abrimos a carta que estava escrita em italiano. Graças a ela, entendi o surpreendente conteúdo. Na verdade, havia uma carta maior e uma menor. Na maior a minha irmã dizia do contentamento de nos encontrarmos, que a nossa comunhão havia sido instantânea e que nunca mais iríamos ficar longe um do outro. Disse-me também que aquela amiga apresentada no café, no primeiro dia em Milão, era sensitiva. Ela havia psicografado uma mensagem de uma entidade espiritual chamada Matteo, que aparecia para ela na forma de criança. Fiquei arrepiado. Custava-nos acreditar no que líamos.
A carta do Matteo para mim:
“Deves dizer a ele que os anjos no céu o têm protegido muitas vezes. Pergunte a ele e ele te dirá por quê. Invisível são as mãos dos anjos, mas é sempre protegido.
Ele passou por momentos muito difíceis pela depressão, mas chegou a hora finalmente, e esta novidade tão bela o encontrará com um sorriso.”
Nesta primeira parte Matteo fala com a mulher, cujo nome não recordo, amiga da minha irmã.
Continuando, Matteo fala diretamente para mim.
“Matteo te diz que no céu sempre te preparam surpresas, preparando-as também para o momento correto, e o tempo certo para gozá-lo até o fim.  Deves festejar esse encontro. Nós estaremos entre vocês, como em um círculo, e verás que não foi tanto esperar todos esses anos para encontrar a imagem do teu pai.
No momento que seus olhos se cruzarem e quando vocês se abraçarem, uma campainha no céu soará e uma luz branca cobrirá essa entidade (papai), que finalmente terá terminado a sua jornada no reino terreno.”
Fechei os olhos e um filme passou pela minha mente. Tive uma sensação de que tudo o que aconteceu na minha vida ocorreu exatamente como deveria ocorrer, e que as decisões que tomei para mudar o rumo do barco nos momentos decisivos foram decisões iluminadas, a quatro mãos, se é que posso usar esse termo.
Acredito que a mágica na minha vida só sucedeu porque só pode experimentá-la quem acredita na magia. Essa foi a comunhão que senti com a Graziella, que, assim como eu, procurou entender o papai, e juntos o perdoamos, bem assim as mágoas de nos sentirmos abandonados, e a dor da separação foi curada pelo maravilhoso encontro, e pelo esclarecimento de que nunca estivemos separados.  
Senti-me leve e concluí que somente quem viaja leve pode ir longe. Viaje leve e viaje longe: esse conceito é valido para tudo – corpo, mente e espírito.
O encontro com Grazi foi intenso, mas tanto para ela como para mim ainda faltavam algumas peças do quebra-cabeça da nossa vida. Agora, com uma aliada na Itália, era questão de tempo descobrir aquelas peças, mas ela me alertou que esse encontro tinha também um tempo certo para ocorrer, e isso não estava em nossas mãos.  
Voltei para São Paulo feliz e muito motivado para levantar os recursos para fazer a segunda expedição, a Rota Austral.
Juntamente com o Gui von Schmidt, meu companheiro de viagem, tentamos, sem sucesso, fechar nossos patrocínios até setembro de 1999. Adiamos então a viagem por um ano. Como não podíamos ficar parados, decidimos participar da Regata dos 500 anos, que partia de Lisboa e refazia a viagem de Pedro Álvares Cabral em 1500, passando pela ilha da Madeira, Cabo Verde e finalmente Salvador. Depois, na etapa brasileira, velejaríamos de Hobiecat 18 as 800 milhas que separam Salvador do Rio de Janeiro.
Na travessia do Atlântico propriamente dita, velejamos no Hozhone, um barco de 50 pés dos nossos amigos Ari e Marcelo. O comandante da viagem foi Tierry Stump. Para mim a viagem foi muito cansativa e monótona, não passei bem depois de Cabo Verde e quando cheguei a Salvador prometi a mim mesmo nunca mais velejar em um barco cabinado.
No dia 3 de novembro de 2000 partimos de Puerto Montt, no Chile, e por 170 dias velejamos em dois catamarãs de 21 pés por toda a Patagônia chilena, entre canais. Dobramos o cabo Horn e subimos a costa argentina, enfrentando os fortíssimos ventos do deserto da Patagônia. Num sábado ensolarado, 21 de abril de 2001, chegamos ao Rio de Janeiro , dia da abertura do Boat Show .
Foi uma viagem dura, sob frio e vento inclementes. O sucesso dela deve-se a dois companheiros muito especiais: Santiago Isa e Felipe Tommazzi, argentinos da Patagônia.
No terceiro dia do Boat Show encontro Amyr Klink, amigo de longa data. Em tom jocoso ele me diz: “Betão, parabéns, confesso que não acreditava que vocês seriam capazes de chegar. Vocês escalaram o Everest de sandálias havaianas. Acho que era mais fácil ir para a Antártica”. Eu, também num tom irônico respondi: ”Olha, não é má ideia”. Rimos, mas ficou a sensação de que aquela era mesmo uma boa ideia.
Voltei novamente a São Paulo e, como não posso viver sem uma viagem pela frente, comecei a pensar na possibilidade de cometer tamanha loucura, porque essa viagem seria completamente diferente das outras. O estreito de Drake não é só um mar gelado; é constantemente açoitado por tempestades vindas da Antártida, que trazem um mar muito grande e desencontrado. E a travessia é de 500 milhas longe de qualquer lugar abrigado e de um eventual resgate. Parece até que esse lugar é longe do mundo.
Tomei a decisão de fazê-la somente numa embarcação, em vez de dois catamarãs, como foram as viagens anteriores, pois naquelas águas precisaríamos de um barco de apoio, precisássemos de assistência.
Logo na primeira semana de 2002 volto à minha rotina. Estava cheio de energia para a viagem programada para o começo do ano seguinte. Tinha doze meses para preparar tudo e novamente sentia a pressão de providenciar os parceiros em tão pouco tempo. A sensação que se tem é que há uma onda enorme vindo atrás da gente e é preciso remar desesperadamente para não ser engolido por ela.
Dia 8 de janeiro de manhã sentei-me na minha mesa, olhei para o meu notebook, o telefone, os papéis e pensei: por onde começo?, quando toca o telefone e uma voz de mulher com sotaque italiano pergunta: “Roberto?”.
Respondi: “Sim”.
Ela retrucou: “Quem fala é Barbara, sua irmã”.
“Barbara”, gritei, “minha imã!”
Não podia acreditar. Como era possível ela me ligar em casa? Rapidamente pergunto a ela como havia conseguido o meu telefone: “Pela Graziella?”.
Ela me responde: “Quem é Graziella?”.
Tudo de novo! Não era possível!
Tentei novamente: “Então foi Fellipo?”
Ela disse que não e me explicou que estava no escritório dela e teve a ideia de colocar meu nome no Yahoo Brasil e apareceu aquela mesma reportagem...
Fiquei mudo. Não podia crer que a história improvável tivesse se repetido. Parecia uma história combinada para brincar comigo. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas esse caiu. Emocionadíssimo, disse a Barbara que falar com ela era um sonho muito antigo e havia anos eu a procurava, assim como a Lilli. Ela me disse que desde que deixou de receber notícias do pai passou a imaginar que ele havia falecido. Confirmei a morte do papai e em seguida contei a história da Graziella. Ela não sabia da existência da Graziella, mas me confessou que desconfiava dela, e ficou imensamente feliz pela possibilidade de conhecê-la.
Passei-lhe o telefone da Grazi, que mora a duas horas da casa dela. Tão próximas e tão distantes durante tanto tempo! Quando a vida decide manter duas pessoas afastadas, fica impossível lutar contra isso. Durante os mais de trinta minutos de conversa, expliquei toda a história a ela, do meu encontro com Fellipo e com a outra irmã. Barbara, por seu lado, disse que havia conseguido o meu telefone fazia dois dias e estava tomando coragem para ligar, e Liliana, muito sensível, não dormia desde então.
Contou também que trabalha em San Remo, onde tem uma distribuidora de flores para toda a Europa. Liliana é médica de um laboratório de análises clínicas numa pequena cidade chamada Beaulieu-sur-Mer, distante 5 quilômetros de Nice. Barbara é casada com Mariano e tem uma filha, Claudia, que é casada com Fábio, e tem dois filhos. Nossa. Mais uma sobrinha! E sou tio-avô pela quarta vez! Tantas coisas tínhamos para falar! Tantas dúvidas! Mas o quebra-cabeça estava começando a tomar forma. Elas tinham as peças centrais.  Finalmente, a curiosidade falou mais alto e perguntei a ela onde ela tinha nascido, pois não havia encontrado nenhum registro delas na Itália.
Ela me disse: “Rio de Janeiro”.
“O que???????????”
Que história, pensei. Isso pode dar uma boa novela.
Continuei: “E a Liliana?”
“Em uma cidade do interior do Estado do Rio, Pati dos Alferes”.
As surpresas não paravam de jorrar, e eu precisava de tempo para encaixar todos os acontecimentos. A emoção me invadia mais uma vez e vinha para me dar provas de que o céu estava conspirando a favor, nos dando a oportunidade de nos encontrar finalmente.
O dia chegou, e a teia da vida se encarregou de tecer todos os mais surpreendentes encontros, acontecimentos improváveis, e o que nós chamamos de “coincidência” passou a ter outro significado para mim. Combinamos nos escrever por e-mail, anotei todos os telefones e pedi-lhe que dissesse a Liliana que me ligasse: eu precisava ouvir a voz dela também. Barbara é bem-humorada e uma mulher de caráter forte, uma pessoa marcante.
Três dias depois recebo o telefonema da Liliana, que falava inglês com um forte acento francês; uma voz quase embriagada pela emoção mesclava um tom melancólico e feliz ao mesmo tempo. Ela me disse que tinha nas mãos a carta que eu havia escrito quando era pequeno e sonhou com esse dia por anos e anos.
Conversamos por mais de uma hora, eu falando da vida aqui no Brasil com o papai, meu trabalho, a vela, e ela a respeito da sua profissão, namoros, passado e o sonho do nosso encontro. Ela me contou também que a Barbara, a Grazi e ela haviam se encontrado um dia antes em San Remo e comemoraram festivamente a ocasião e a Grazi lhe contou bastante coisa sobre mim. Muito decidida, me disse que pensava vir ao Brasil dali a duas semanas. Não aguentava mais. Achei ótimo e planejei passear uns dias em Angra dos Reis e Rio de Janeiro com ela e a Bebel.
Minha caixa de e-mail vivia cheia de mensagens das minhas irmãs, sobrinhas, primo, com fotos, cartas. Por fim, combinamos nos encontrar em San Remo, em junho, na casa da Barbara. Pela primeira vez iríamos reunir a família toda: os quatro irmãos, os sobrinhos e os esposos e esposas.
Duas semanas depois fui esperar minha irmã no aeroporto de Guarulhos, palco repleto de alegria, tristeza, lágrimas. Abracei-a como toda força de um amor fraterno, vi os traços meus e de papai no rosto dela.Era mesmo a filha do Corrado. Novamente tinha muitas coisas para falar e nenhuma palavra para exprimi-las.
Fomos para minha casa, onde deixamos as malas, e seguimos para almoçar com minha mãe. Depois de um curto período parecíamos uma família que se reencontrava depois de uma longa viagem. No dia seguinte visitamos o túmulo do nosso pai e viajamos para Angra dos Reis. Ficamos cinco dias na ilha do Tamanduá, de Charles Bosworth, um amigo que trocou São Paulo pela ilha, onde administra uma pequena pousada.
Num lindo dia de sol de verão nos sentamos na beira do mar e conversamos longamente para unir as três histórias. Só faltava ela contar a parte que eu não conhecia.
O período que o papai esteve na Romênia é desconhecido, ninguém sabe, e acho que não haverá mais surpresas. Ele chegou à Turquia, mais precisamente em Istambul, em 1944, e durante uma festa da embaixada da Itália conheceu Etti, uma linda jovem de dezenove anos, filha de um advogado rico e influente. O pai da Etti não aprovou o casamento, pois ela havia sido criada num ambiente muito protegido, não conhecia a vida, era muito inexperiente. Mesmo assim casaram-se e passaram a viver de embaixada em embaixada, até o final da guerra.
Em 1945 chegaram ao Brasil e foram morar no Rio de Janeiro, onde pouco depois nasceu a Barbara. Etti abriu uma agência de turismo bem-sucedida, mas com uma filha pequena e um marido pouco presente ela passou a ter uma vida infeliz. Segundo Liliana, Corrado tinha um elevado cargo na Itália como engenheiro; então, aqui no Brasil, ele não se sujeitava a fazer coisas que não estivessem à sua altura, e por isso passou muito tempo às custas do dinheiro do sogro.
Como as coisas não andavam bem no Rio e o Corrado fazia muito sucesso com as mulheres, eles se mudaram para Pati dos Alferes, distante 120 quilômetros da capital, onde compraram uma pequena fazenda e passaram a criar galinhas. Não conseguia imaginar meu pai criando galinhas, mas foi lá que Liliana nasceu de um parto prematuro de sete meses. A vida com Corrado não era nada daquilo que Etti teria sonhado; assim, desajustados à vida no campo, mudaram-se para São Paulo e depararam com uma enorme colônia de italianos fugidos da guerra. A vida continuou penosa em São Paulo. O pai da Etti, vendo a filha tão infeliz, engendrou um plano para que ela fugisse do Brasil com as duas meninas. Enviou-lhe três passaportes americanos falsos e um dia elas embarcaram num navio cargueiro para a Europa, uma viagem horrível que duraria 45 dias. As meninas ficaram marcadas para sempre por essa brusca mudança. Para elas a vida iria recomeçar em San Remo, e meu pai, sem saber o que aconteceu, ficou sem a família pela segunda vez.
Alguns anos depois Etti conheceu um homem muito rico e casou-se.  Segundo minha irmã, sua infância havia sido muito difícil e solitária. Quando completou dezenove anos, Barbara decidiu se casar, e o padrasto dela tentou encontrar Corrado para avisá-lo de que a filha se casaria.  
Corrado recebeu a notícia, mas não podia retornar à Itália, pois era considerado desertor. Escreveu-lhes uma carta para marcar um encontro na Suíça. Ao voltar para casa, depois da aula, Liliana encontra a carta de Corrado às filhas e à ex-mulher enviada do Brasil. Elas se encontraram separadamente com o pai.  Liliana conviveu com ele durante quatro dias num pequeno vilarejo da Suíça (?) falando sobre a vida, as atividades do dia-a-dia, mas não tocaram no passado. Segundo Liliana, Corrado falava muito de mim: que eu não era muito bom aluno, que gostava de esportes, e que seu maior sonho era ter todos os filhos morando com ele no Brasil. Foi a última vez que se viram, não por alguma desavença, mas a vida os separou, embora tenham continuado a se corresponder por cartas. Um dia Liliana escreveu-lhe e não recebeu resposta; escreveu outra e nada. Imaginou que o destinatário poderia ter-se mudado, mas, passados anos, pensou o pior. A única certeza que restava era de que ela tinha um irmão em algum lugar de São Paulo.
Então a intuição lhe recomendou escrever uma carta para o cartório de Savona para verificar se eles tinham uma certidão de óbito de Corrado, meu pai. Não encontrou a certidão de óbito, mas a de casamento, ocorrido muitos anos antes, em que se dizia que ele fora casado com uma tal Elza em Turim. Ela perguntou a sua mãe se ela sabia desse casamento. A mãe lhe disse que não tinha a mínima idéia sobre isso. Anos depois Barbara telefonou a Liliana: “Você não tem ideia do que vou te falar. Adivinha: encontrei o Roberto!”.
Barbara contou-lhe que me encontrou pela internet num artigo de jornal de página inteira, que eu era velejador e deveria ser muito conhecido no Brasil. Liliana abriu seu computador imediatamente e viu a matéria do jornal com a foto do pai dela, nosso avô e eu. Tantos anos de busca e eu ali, na tela do computador dela.
No dia seguinte Barbara ligou de novo para Liliana e contou que acabara de falar comigo.
Liliana me disse que inicialmente não teve coragem de me ligar, mas, quando se encontrou com Graziella na casa da Barbara, sentaram-se no jardim e juntas começaram a ver as fotos do papai. Naquele instante um sentimento de solitude tomou conta delas, o que fez sentir que eram parte da mesma família desde sempre.
Liliana decidiu vir ao Brasil imediatamente. Depois de esperar mais de trinta anos para me encontrar, não estava disposta a esperar mais quatro meses – quem sabe o que podia acontecer nesse tempo. Estava feliz e serena agora, pois havia encontrado um irmão sensível, humano e afetuoso, do jeito que ela sempre sonhou.
À tarde, depois de horas de conversas e olhares, ela me disse: “Roberto, agora está começando a segunda parte da nossa história. O que o futuro nos reserva não sabemos, mas a partir de agora nunca mais vamos nos separar.” E ficamos sentados em silêncio, vendo o sol ir embora.
Dias depois, ao levá-la ao aeroporto, Liliana me disse que avisou que deixara uma carta no meu quarto. Despedimo-nos e combinamos nos encontrar em junho na casa da Barbara. Voltei correndo para casa, curioso para ler a carta.
Foi a carta mais linda, mais profunda e mais tocante que li na vida. Li-a e reli-a muitas vezes.  Minhas emoções, remexidas nos últimos tempos, foram me levando a águas muito profundas, forçando-me a refletir a respeito de tudo que senti e não deixei aflorar, coisas que ficaram guardadas, ressentimentos, inseguranças criadas pelo medo de perder mais do que eu havia perdido. Agora eu tinha a chance de olhar para tudo isso de frente. Adentrei um caminho de esclarecimento; pude ver que não havia perdido nada, mas, ao contrário, a vida me oferecia uma oportunidade única de crescimento.
Alguns anos antes me vi numa encruzilhada e tive que fazer uma opção. Não escolhi propriamente um caminho já aberto, não conseguia me ver seguindo veredas sugeridas por outras pessoas. Escolhi o meu caminho.
Não sei de onde veio a coragem, mas senti que se não seguisse meu coração me perderia. Assim a vida estava me testando e, sem olhar para trás, fui em busca das experiências que me aguardavam. Quatro meses depois embarquei para Nice para finalmente encontrar as minhas três irmãs. Pela primeira vez os quatro sentariam à mesma mesa. Aquele encontro tinha um significado muito especial para cada um de nós, um encontro esculpido pelo tempo, desejado por todos, que demorou quase uma vida para se apresentar.
Do aeroporto em Nice Liliana me levou para seu apartamento, em Beaulieu, e dali fomos para a casa de Barbara e Mariano, em San Remo. No segundo encontro com Lili já nos sentíamos muito próximos e desfrutávamos de alguma intimidade. Chegamos à casa da Barbara à tarde. San Remo é uma linda cidadezinha à beira do Mediterrâneo, incrustada numa montanha, com centenas de ruas estreitas e sinuosas e um belo e charmoso cais de pequenos pesqueiros.
Lili ia me indicando o caminho, enquanto a todo momento Barbara, ansiosa, nos ligava para saber onde estávamos. Paramos à porta de uma bela casa arborizada e florida. Nem precisei buzinar – lá estava ela abrindo o portão. Entramos na garagem, desci do carro e fui direto abraçar a minha querida irmã – finalmente estávamos todos juntos.
Logo em seguida chegou meu cunhado Mariano, junto com a minha sobrinha Claudia e seu marido Fabio. Todos muito alegres e extremamente simpáticos. Rostos diferentes, tons de peles distintos, alturas e tipos que pareciam não pertencer à mesma família. As diferenças mostravam o caminho percorrido por Corrado, deixando algo em comum, não nos nossos traços, mas no nosso coração, na nossa alma.
Pouco mais tarde chegaram de Milão Graziella, Isabella, Rafaella e Finius, seu marido, um advogado nascido em Nova York. Estávamos então reunidos para o fim de semana prolongado que planejamos passar juntos na casa de Barbara.
No dia seguinte logo cedo as mulheres se enfiaram na cozinha para preparar o almoço. Cada uma delas trouxe ou fez um prato e prepararam uma mesa repleta de iguarias deliciosas e coloridas. Aquele não era um dia comum – era o dia aguardado por todos há anos. A alegria não só estava no nosso rosto como também no ar, e aquela casa na montanha de San Remo estava iluminada.
Pensei em tudo o que aconteceu conosco durante esses anos, por onde cada um de nós andou o que cada um viveu e sentiu. Para aquele almoço se realizar muitas coisas ocorreram com uma precisão que eu chamaria de angelical, pois quem poderia arquitetar um plano tão mirabolante como aquele, em que fomos personagens de um filme que não sabíamos o final, aliás, nunca saberemos, por mais que queiramos controlar a vida?
Cada um de nós contou um pouco da sua existência, um pedaço da história, a vida com Corrado em lugar e época diferentes. Cada um de nós criou uma imagem dele, sentiu a ausência do pai, mas todos nós concordávamos que, apesar de todas as suas dificuldades e omissões, foi uma pessoa muito especial. O tempo das mágoas se dissipou. Minhas irmãs o perdoaram, o que me deixou aliviado e trouxe a certeza de que elas traziam a indulgência dentro do coração. Senti-me ainda mais próximo delas – senti que tínhamos a mesma essência.
Às vezes é difícil para mim falar ou escrever sobre tudo o que sucedeu conosco, mas, depois de reunir todos os caquinhos, concluo que essa história tinha mesmo de ocorrer, sem vítimas ou algozes. Impregnei-me do sentimento de pureza para combater as crenças que poluíam minha mente e deixar a vida me mostrar o que era mais importante.
Quando a redoma de vidro se quebrou na juventude a vida se mostrou muito dura, tive muitas escolhas por fazer e não imaginava que tantas coisas lindas estavam à minha espera. O caminho nem sempre foi suave, mas valeu a pena, sempre vale. O importante sempre foi seguir o coração, não importava aonde ele me levasse, pois esse controle está fora de nosso alcance. Agora tenho certeza de que vivemos um voo quase cego, movidos pelos nossos sonhos e guiados pela intuição.
 Os anos se passaram e, em 2003, depois da viagem à Antártica, organizei no Shopping Iguatemi a exposição de fotos feitas pelo Júlio Fiadi. Na noite de abertura, como sempre, estavam lá muitos amigos, entre os quais o Tony Lunardelli, ao qual havia vendido o relógio do meu pai. Fazia muito tempo que eu não o via. Abraçamo-nos e Tony colocou algo no meu bolso, um pequeno saco de feltro. Dentro estava o relógio do meu pai, mais brilhante e reluzente. Enquanto eu o acariciava e admirava, enternecido Tony me disse: “Esse relógio nunca me pertenceu, ele é seu. Por favor, fique com ele”.
Senti algo tão mágico naquele momento que só consegui dar um abraço no meu amigo. Aquela generosidade me deixou atônito, rendeu muitos choros e até hoje, quando me relembro, fico com os olhos cheios de água.
A história da busca e do encontro com meu pai tem certamente um significado especial para mim, mas acredito que o tenha para muitos. Os caminhos da vida são tortuosos, nos fazem perdidos à espera de respostas que demoram a chegar. Somente o tempo pode revelar-nos alguns mistérios, e o que precisamos é não nos perder no caminho.
O fato de o relógio voltar às minhas mãos significou o fim de um ciclo, pois tudo o que eu estava buscando, encontrei de alguma forma. O relógio, que é um instrumento de aferição do tempo, marcou o fim de um e o começo de outro.
Como dizia minha mãe, o vento me levou mesmo, e para lugares tão longínquos a que jamais imaginava chegar. Mas o vento me trouxe muitas coisas também: compreensão da vida, amores, mas da mesma forma os levou. Trouxe paixão, mas também a dor da perda. Trouxe o medo, mas igualmente a coragem.
Olhando para trás tenho a sensação que tudo se passou em um segundo, e talvez esse venha a ser o registro que fique na minha alma. Só quero viver o que me cabe e agora posso continuar a minha caminhada. Finalmente tenho meu pai dentro do coração.
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lovescausefriction · 8 years ago
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Manifesto [antropófago]
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará. Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande. Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma consciência participante, uma rítmica religiosa. Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls. Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre.Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.. Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores. Só podemos atender ao mundo orecular. Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem. Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. O instinto Caraíba. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. Catiti Catiti Imara Notiá Notiá Imara Ipeju* A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o. Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso? Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César. A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue. Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida. Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti. Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo. De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia. O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa. É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci. O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso? Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade. Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. A alegria é a prova dos nove. No matriarcado de Pindorama. Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada. Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI. A alegria é a prova dos nove. A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos. Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo. A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama. OSWALD DE ANDRADEEm Piratininga Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha (Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)
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