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wearenotwiththeband · 7 years ago
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O GRITA FESTIVAL (Santa Maria/RS) é mais uma ação dentre várias outras que foram criadas a partir da união das mulheres em busca de afirmar seu protagonismo na música. A partir dessas bases, Luiza Roos, Laura Garcia e Carol Barin criam o GRITA que conta um line-up bem diverso e aposta em oficinas para troca de saberes. 
W.: Falem um pouco do que é o Grita e de como surgiu a ideia?
G.: O GRITA é um festival independente de música e arte com foco no protagonismo feminino. Nós três já tínhamos produzido algumas coisas na cidade e ali pelo meio do ano começamos a conversar sobre trazer algumas bandas feministas pra Santa Maria, o que acabou contornando a ideia de um festival de mulheres. A gente percebe ainda mais a escassez de representatividade feminina na música aqui no interior - tanto que só temos uma banda local entre as atrações do GRITA - então quisemos criar esse espaço pra além dos shows, incluindo aí as oficinas, rodas de conversa e algumas festas. Além de aproximar o público, essa programação pré festival também foi uma forma de arrecadar dinheiro, já que a organização é independente e os shows vão rolar num espaço público da cidade.
W.: Como foi feita a curadoria dos palcos e os critérios de organização das atividades? 
G.: A ideia sempre foi ter o palco ocupado só por mulheres, ou o mais próximo possível disso. A gente tinha contato com algumas bandas que já tínhamos sondado pra outros eventos que acabaram não rolando, e a Luiza tinha conhecido toda a mulherada do Girls Rock Camp POA em janeiro, então meio que já tínhamos essa “rede”. Várias bandas ainda entraram em contato conosco depois da divulgação no Facebook, mas por questões financeiras vimos que não rolaria tudo que a gente queria, então montamos um line-up lindíssimo com bandas aqui do Rio Grande do Sul: 3D, Sterea e Saskia, de Porto Alegre, She Hoos Go e Musa Híbrida de Pelotas, e a novíssima Glass, das nossas amigas aqui de Santa Maria. Entre os shows haverá algumas intervenções artísticas e também vai estar rolando exposição de trabalhos de outras mulheres no local (ainda vamos fazer essa seleção através de um edital).
 W.: Em um período de recessão econômica tão entranhada quais os desafios de viabilizar a realização de um festival localizado no interior do Rio Grande do Sul? 
G.: O maior desafio é a grana, sem dúvida. A gente sempre teve em mente que o GRITA seria muito mais bacana realizado em lugar público que num bar, mas não cobrar ingressos tem a implicação óbvia na viabilidade financeira do festival. Mas nós nem tivemos essa opção. Santa Maria tem pouquíssimas casas abertas a esse tipo de evento e realmente não achamos uma que pudesse sediar o festival sendo coerente com o que ele propõe (no caso, nos recusamos a fazer o GRITA em um lugar relacionado ou cujos proprietários tivessem histórico de abuso, por exemplo). Sempre tivemos um orçamento baixo em mente, mas como a repercussão na internet foi maior do que esperávamos (a página no Facebook teve 500 curtidas em um dia) e conseguimos contato com mais bandas que tínhamos escalado inicialmente, fomos desdobrando formas de arrecadar fundos para custear o festival. A princípio íamos fazer camisetas do GRITA e vender cerveja durante o festival pra pagar tudo, aí conversando com a Carol, produtora da Musa Híbrida, ela nos deu a ideia de abrir a Vakinha online. Estipulamos a meta de R$4 mil e nos surpreendeu muito que, mesmo sem anunciarmos as atrações do festival, já estamos próximas da metade desse valor. É foda demais ver a galera botar fé no que a gente tá fazendo!
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                    (da esquerda para direita): Luiza, Laura e Carol
W.: No WE ARE NOT percebemos um caminho gratificante através da inspiração, quais foram os espelhos de vocês pra fazer o GRITA acontecer?
G.: A gente acompanha artistas e bandas de mulheres, e tem acompanhado cada vez mais iniciativas focadas em incluir e (termo problemático, mas acho que aqui cabe) empoderar mulheres na música, como o Girls Rock Camp, do qual a Luiza participou em Porto Alegre, e nós mesmo não tendo participado também nos sentimos inspiradas por isso; outros festivais de bandas femininas, a PWR Records a gente também acompanha e acha foda demais; vocês do WE ARE NOT, claro, inclusive emocionadas por o GRITA estar aparecendo aqui, hihi; e claro, as minas que a gente conhece e que sempre fortalecem nossos rolês. Quando abrimos o edital de oficinas do GRITA, ficamos muito tocadas com a quantidade de mulheres dispostas a compartilhar seu tempo e suas habilidades ou conhecimento com outras, sem nenhum interesse além disso. A apoia mútua é real e é incrível!
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                             registro da oficina de musicalização
W.: Essa última é um espaço para que vcs utilizem para alguma coisa que vocês queiram contribuir e adicionar e que não coube nessa breve entrevista.
G.: A gente tá num momento incrível das mulheres na música, tanto de bandas quanto produtoras crescendo e se impondo nesse meio. É muito lindo acompanhar esse movimento e com o GRITA tentamos trazer um pouco disso aqui pra Santa Maria, que apesar de não ser uma cidade tão pequena ainda tá atrasada nisso (o GRITA é a primeira iniciativa de um festival de mulheres em uns dez anos por aqui). Tem muitas mulheres fazendo coisas bacanas aqui e esperamos com esse festival instigar muitas outras.
Entrevista: Daniele Rodrigues
Fotos: Divulgação 
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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Vocês acharam que a gente não ia mais falar de Bananada?
Finalizando nossa série de entrevistas realizadas durante o Festival que rolou em maio e que proporcionou encontros com artistas de todo o lado do país, apresentamos hoje a goianiense Bruna Mendez que em 2016 lançou o álbum "O Mesmo Mar Que Nega a Terra Cede à Sua Calma" que contou com a produção do Adriano Cintra (ex-CSS). 
W: A gente começa pedindo pra ti te apresentar com teu nome,idade e o instrumento que tu toca.
BM: Meu nome é Bruna Mendez, eu tenho 26 anos e assim, tocar real, eu toco nada né? Mas aí eu toco um pouquinho de cada coisa e quando você toca um pouquinho de cada coisa, cê não toca nada direito, mas o que eu sei tocar mais um pouquinho é a guitarra.
W: E há quanto tempo tu tá na trajetória da música?
BM: Assim, se for comparar com a história das outras pessoas que estão aqui e que tem banda e tal, é até pouco. Tem cinco anos mesmo que eu tô no rolê assim.
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W: Mas que tu começou a tocar?
BM: Tem uns sete anos.
W: Tu te lembra quando te deu o start assim pra tocar, tipo "ó, quero isso, quero tocar".
BM: Como em Goiânia é comum, você tem três festivais muito importantes do Brasil, então a gente cresceu vendo festival, da época que você podia ser menor de idade e entrar em festival. Então, eu comecei a ir em festival com 13 anos no Martim Cererê que é um lugar aqui de Goiânia que antigamente rolava, as coisas ainda cabiam lá. São dois teatros feito de caixa d'água antiga e é muito foda, a gente ia lá, via os shows e pensava "nossa, que massa seria tá no palco tocando". Só que isso pra mim, nunca foi (...) - eu achava legal as pessoas lá tocando - mas não era possível, até que as coisas começaram a caminhar pra isso. Porque Goiânia é isso: se você toca, tem uma banda legal, em algum momento você vai tocar num rolê desses assim, vai tocar no Bananada, no Vaca Amarela, no Noise.
W: Sobre esse distanciamento, quando tu acha que rolou? Quando se tornou possível?
BM: Foi quando eu comecei com uma banda, eu tinha uma banda antes de ser Bruna Mendez e a gente já ia ensaiar coisas certinhas assim pra tocar em algum lugar legal. Até que rolou um Bananada, assim, então foi com essa banda, que a gente ensaiou uns seis meses, não fez show, nem nada, só ensaiou, ensaiou (...)
W: Qual o nome da banda?
BM: Chamava Coletivo Musical e a gente fez assim, alguns shows poucos na cidade e nessa no próximo Bananada que rolou a galera já chamou a gente e foi muito foda. Tinha uma galera, foi num lugar legal sabe? Foi ai que eu pensei "nossa, é possível".
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W: E enquanto Bruna Mendez, teu projeto "solo" há quanto tempo ele existe?
BM: Ele existe desde que eu lancei o meu EP em 2014. Então foi desde esse EP que eu existo, foi quando eu larguei a banda e era eu que fazia os arranjos, as músicas, tudo e eu pensei assim: "vou fazer o meu negócio porque ninguém vai fazer o meu role melhor que eu sabe".
W: E em que momento rolou essa necessidade de criar um projeto teu? 
BM: É porque é foda quando você vê assim um monte de cara levar o seu negócio, ser a maioria na banda e levar seu nome, os seus méritos. Tipo "ai que legal essa bateria que você fez". Não, não foi você que fez, você só tá reproduzindo.
W: Era mais ou menos como se tu fosse o crédito por detrás da banda porém sem os créditos?
BM: Sim, sim, era como se eu só fosse a cantora e na real eu só era a cantora porque eu fazia as músicas e tal, saca? Então foi nisso que eu pensei, "não sei se tá legal sabe?". Porque as pessoas não contribuem como deveriam numa banda, e a gente sabe que banda é complicado, que é muito raro uma banda ter cinco pessoas e as cinco estarem na mesma vibe. Então foi nesse momento que eu percebi ó "só eu vou fazer o melhor pra mim, então, eu vou fazer o meu negócio".
W: E nesse percurso de sair da banda, criar teu projeto foi difícil encontrar outras mulheres nesse caminho pra pegar junto contigo ou não era uma questão que importava ou que tu nem pensava "ah quero tocar com um mina" ou não apenas" quero alguém pra tocar comigo". A dúvida é onde se acha mulher no meio do caminho?
BM: É difícil até hoje, então a gente meio que... a prioridade é alguém que tenha a mesma vibe.
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W: Independente de...
BM: É. Porque o caminho é muito foda o caminho pra gente. Me perguntaram se tem muitas mulheres na música atualmente, mais em Goiânia especificamente. Tipo, não tem velho, não tem, saca?. Vamo pensar assim, qual é a banda daqui de Goiânia que tem uma maior projeção que tem uma mulher? Carne Doce. Só! E se você for pensar todas as bandas dos caras de Goiânia, têm infinitas assim.
W: De Goiânia, o que a gente mais ouve falar é tu, Carne Doce e BRVNKS.
BM: É.
W: E em relação ao teu trabalho, qual tua pretensão a curto, médio e longo prazo?
BM: Então, com o EP, pelo que ele era a gente fez muito aqui em Goiânia, e com o disco, era muito mais um lance de eu me afirmar mesmo, sou eu, esse é meu trabalho e vocês vão ter que me aceitar daqui pra frente assim. Então com o disco meio que foi um rolê pra eu me afirmar, um esquema todo pra aparecer um pouco mais, ele tem a produção do Adriano Cintra (ex-CSS), até isso foi pensado pra ter uma projeção maior, sabe? Então eu tô pensando em lançar um outro disco no ano que vem e sim vai ser o disco que eu vou conseguir consolidar mais no meu espaço e conseguir fazer mais shows e circular mais porque pra mim ainda é meio inviável circular fazendo show.
W: E como foi esse processo de produção com o Adriano?
BM: Foi surreal. Eu só cheguei pra ele assim e falei: "Adriano, eu tô com a grana aqui que eu acho que dá pra gravar. Cê topa?" E ele falou "topo demais". E em janeiro a gente pré-produziu o disco em uma semana aqui em Goiânia, a gente foi pra Pirinópolis que é uma cidadezinha aqui perto (histórica) e lá a gente gravou o disco em mais duas semanas e o processo foi muito corrido, mas acabou que a gente ficou junto um mês, assim. Foi muito massa pra sacar o jeito que ele produz, pra sacar ele, pra entender também como as coisas se movimentam, meu universo se expandiu, porque era minúsculo aqui dentro, e foi muito foda poder produzir com ele, porque depois dele ter produzido o disco eu consegui ter mais segura pra me afirmar. É até escroto isso.
W: Mas também até pela escolha de ser uma pessoa que tem uma visibilidade mais nacional, rola uma segurança.
BM: É. Ter muito mais orgulho do disco assim, Se fosse que nem o EP que eu gravei em casa, não teria orgulho, o EP não é paia tá? Tem uma sonoridade bem legal, é diferente do disco, mas funciona direitinho, a mensagem é legal, mas se eu tivesse feito desse mesmo jeito o disco, eu teria aquela vergonhazinha: "ô, toma ai meu cd".
W: Sim, não ter um nome ali pra validar o quão bom ele é né? 
BM: É (!!) Mas a gente precisa desse nome, se alguém chegar no rolê e falar assim: "ô escuta ela aqui porque ela é boa", ninguém vai te escutar, então, isso é importante também.
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W: Eu queria te perguntar sobre o teu processo artístico ou teu processo de criação, como que ele funciona normalmente? Pra criar uma música, pensar num ep?
BM: Antigamente eu tinha uma coisa muito com violão, pensava na música, ja gravava a guia pra fazer um arranjo, e hoje eu tenho experimentado muitas coisas que eu acho que vai ser mais caminhar o próximo eu cd, eu tenho feito coisas com synth, eu pego a guitarra, tento fazer camada de voz com synth, as letras do disco são um pouco mais difíceis uma letra ou outra, entender o que eu quis dizer, ou se eu tô falando nada, ou se é só viagem pra fritar a cabeça dos outros, mas eu tenho feito umas coisas mais fáceis, mais o instrumental primeiro e depois letra e voz, porque eu tenho um pouco de preguiça desse rolê: "ai, você é cantora né?" é, eu canto porque eu faço as músicas né, mas se for pra falar "ah, você é cantora né, canta essa música aqui então" não vai rolar, sabe?
W: Hoje em dia ainda acontece aquele processo de tu criar e repassar pra banda reproduzir?
BM: Sim, eu sou meio complicada nos processos, sabe? Ás vezes eu faço uma bateria e na hora de reproduzir, eu preciso ficar pelo menos perto e fico assim: "dá pra afinar essa caixa de outro jeito, porque não era assim que eu tinha feito" eu prefiro ter o controle por causa disso, se eu fiz e achei legal é o legal que eu quero pra reproduzir.
W: Basicamente é tua banda de apoio.
BM: É, minha banda de apoio, mas assim, os meninos que tocam hoje comigo não são os mesmos que gravaram o disco, só que a gente tá chegando num ponto que assim "beleza, eu gravei o disco lá, mas não significa que ele funcione 100% ao vivo do jeito que eu gravei, se vocês puderem fazer uma contribuição pra rolar de um jeito que vocês acham que funciona melhor, massa" e eles estão fazendo e eu tô achando que tá rolando legal. 
W: Tu tem alguma música preferida do último álbum que tu tem maior apego? Ou é tipo filho assim: "gosto de todas".
BM: Não gosto de todas, é mais fácil falar das que eu não gosto, mas também não vou falar porque as pessoas vão ouvir pensando nisso. Eu gosto muito de "Calor sol e sal" que têm um monte de gente que acha que é uma musiquinha de amorzinho, mas é uma música que eu tava muito grilada com Goiânia, larguei tudo, vendi tudo, fui morar fora e aí essa música surgiu, sabe, essa música é minha relação com Goiânia e não com outra pessoa. Daí eu fui morar fora, levei uns tapas na cara, voltei e aprendi aceitar Goiânia e a música, assim, sabe. A galera sempre pira porque eu digo "Goiânia é o melhor lugar do mundo". Se você nasceu em Goiânia, é o melhor lugar do mundo. A gente sabe os limites da cidade, sabe onde pode circular, sabe onde acontece as coisas sabe. Acho que funciona pra quem é de outra cidade também, a não ser que a pessoa tenha uma relação muito fudida com a cidade em que nasceu. Mas é isso, eu fico duas semanas fora e já fico : "ai Goiânia". 
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W: Falando um pouco das tuas influências. Quais as principais e o que tu tem ouvido.
BM: Depende do momento, a música tradicional brasileira já não me toca, só porque é bonita e tem uma letra sabe. Eu tenho escutado muita coisa instrumental, muito soul, tem uma banda que eu acho que é de Berlim que eu tenho escutado demais que é Vulpeck. Tenho escutado mais coisas assim, eu nem consigo sacar nomes, tenho ido mais pelo que a música consegue me instigar a pensar em fazer timbres, arranjos, quanto mais bagaceira e legal eu tenho achado que é o que influencia.
W: Retrospecto sobre o Bananada.
BM: Acho muito foda, se você for pensar em quatro anos atrás, não era o que é isso hoje, acho que tava pensando em ser. Eu fui tendo lugares melhores no festival e conquistando espaço a medida que ele foi crescendo e esse ano eu toquei segunda num show e hoje, e eu nunca tinha tocado num final de semana, acho que há uns quatro anos eu abro o festival numa terça, ou segunda, o que é legal também, mas não tinha uma projeção, os jornalistas ainda não tinham chegado e ano passado eu lancei um trabalho e as pessoas já viram que tem mais alguém em Goiânia que tem algo em potencial. E como eu lancei o disco no ano passado, eu acho que pra esse ano melhorou muito, conheci várias bandas legais pra gente trocar umas mensagens assim, tipo os meninos da El Toro (BH) foi muito massa pras relações assim, né, agora eu tenho que mostrar e interagir, nos outros anos parece que eu não existia no Bananada, agora eu passei a existir.
W: Pra finalizar, como o projeto tem um foco mais no feminino, eu queria saber de ti se tu tivesse que dar um conselho pra uma menina que tá começando, o que tu diria?
BM: É o que eu sempre digo pros meus amigos homens, velho, não mete a mão no rolê que não é seu, principalmente se tem uma menina, e pras meninas, tenham o controle do seu processo, não deixar o processo na mão de um cara, porque inevitavelmente ele vai te anular, então é isso, ter o controle dos seus processos e bater o pé, porque ninguém vai fazer melhor que você, fazer o seu acreditar em você.
Facebook - https://www.facebook.com/brunamendezgo/
Spotify - https://open.spotify.com/artist/2MRNPdxSIFA9NJXNB0TTtc
Bandcamp - https://brunamendez.bandcamp.com/
Fotos: Filipa Aurélio // Texto: Daniele Rodrigues
WANWTB // 2017
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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No inicio de maio, fomos até Goiânia para o Festival Bananada acompanhar uma penca de shows e conversar com diversas bandas que estavam no nosso radar, uma delas é a Miêta, banda de Belo Horizonte, formada por Marcela Lopes (baixo e vocal), Célia Regina (guitarra e backing vocal), Bruna Vilela (guitarra e backing vocal) e Luiz Ramos (bateria). As referências das gurias vão do shoegaze dos anos 90 e se misturam com o indie e a psicodelia atuais. Primeiro álbum das mineiras está sendo finalizado. 
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Por Daniele Rodrigues // Fotos: Filipa Andreia
Entre os trabalhos da banda estão os singles Room e Pet, a previsão de lançamento do álbum DIVE é no máximo até o segundo semestre desse ano. (veja o clipe de Pet)
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Trocamos uma ideia com a Celia e a Marcela minutos antes da apresentação da banda no showcase da PWR Records no Shiva Alt- Bar. O resultado desse encontro bacaníssimo dá pra ler aqui.
W: Célia, fala um pouco da tua trajetória na música C: Então, meu irmão é musicista e desde nova eu olhava aquilo e já curtia, ele já fazia uns violões pras festinhas de família, eu já fui me interessando e roubando os instrumentos assim, daí comecei a fazer um som por volta de uns 12 anos, comecei a montar banda e ensinava as meninas a tocar lá em Valadares (interior de Minas) pra ter uma banda só de mina, sem nem mesmo saber o que isso significava, eu já dava muita relevância a isso, daí eu sempre tive banda, desde a adolescência até hoje, eu nunca parei, nunca dei uma pausa muito longa. Foi super natural porque eu sempre me realizei nisso, sempre achei muito foda, mas eu só não tinha o impulso que eu poderia conquistar o mesmo espaço que os homens conquistam naturalmente e facilmente.
W: E a tua trajetória, pode falar um pouquinho pra gente? M: Então. Meu irmão... (risos) Mas sério, meu irmão sempre teve banda desde a adolescência e participou de muitos festivais de canção da minha cidade que  é Sabará (interior de Minas) e eu sempre acompanhei muito, sempre tive muito gosto por música, sempre gostei de cantar e tals e estudei os instrumentos, estudei violino, estudei teclado e sempre fui largando. Tive bandas na minha cidade, na minha adolescência, tive um tempo longo sem tocar, ai entrei como baixo na EL TORO FUERTE e isso foi em 2015, talvez 2014. Aí apareceu a Miêta na minha vida e aí sim eu comecei a realmente estudar voz, me dedicar ao rolê e estudar baixo e é isso.
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W: Como que rolou essa reunião do Miêta? M: A gente se conheceu no tinder (risos) W: Seria ótimo. C: Então, eu tava tocando numa banda de cover junto com a Bruna, eu conheci através de um professor dela que também é de  Valadares e ele falou: "ah tem uma menina que é massa pro rolê de vocês" e falou pra Bruna e foi e fez essa ponte, comecei a tocar com Bruna e ao mesmo tempo eu postei, tava sentindo falta do rolê autoral, postei numa página, num grupo de Facebook que chama "Procuro banda BH" e daí a Marcela me respondeu. Eu queria tocar umas coisas anos 90 de início, tipo uns  "Superchunks" da vida que eu tava muito pilhada na época, daí eu amava e eu sempre gostei muito, sempre quis tocar, daí eu falei: "chega aqui em casa, vamo fazer um som". E ela foi lá e a gente se deu bem, a gente começou a tocar e eu gostei muito das linhas de vocais que ela inventava, da voz e são coisas inimagináveis pra eu criar, eu queria uma coisa que não fosse só minha cara, queria achar as pessoas e daí achei Marcela. Aí eu falei assim, tem a outra menina na banda de cover que é a Bruna, e eu cheguei pra ela e falei assim: "Bruna, ce quer  fazer um som comigo e com a Marcela, a menina que eu conheci e tal?" Daí a Bruna animou, começou a fluir e agora tamo aí.
W: Isso tem quanto tempo? C: Um ano e meio? M: Foi no segundo semestre de 2015.
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W: Vocês sentiram alguma dificuldade nesse trampo de se reunir, ensaiar e aquela coisa toda? M: É que assim, antes de ter essa formação, a gente teve duas outras guitarrista e duas outras baterista, antes mesmo de estrear, a gente nunca tocou com essas duas formações e o começo tinha algum problema, porque as meninas não estavam tão no gás quanto a gente, mas a partir do momento que eu peguei o baixo e a gente colocou o Luiz na bateria, acho que foi muito natural e muito suave. C: Porque o querer de todo mundo tava igual, a gente tava sincronizado. M: Então não teve peso e o dever de uma obrigação, era uma coisa que a gente queria fazer e coincidiu de ser tudo muito rápido, o Luis entrou na banda na bateria e eu peguei o baixo e sei lá, duas semanas depois a gente estreou e desde então a parada deslanchou com muito gosto, com muito tesão e é legal você ter uma casinha mesmo, um lugar que você se sente  confortável e estimulada, sabe? É muito gosto porque não tem peso nenhum sabe, você tá fazendo uma coisa que você precisa fazer, não precisar por obrigação, porque é gostoso e você se deve uma coisa prazerosa na sua vida.
W: E essa vontade toda vem de vocês acharem que tem um papel importante na música? Qual papel que vocês acham que têm na música atualmente?  C: Olha, eu acho que não só da gente ter um papel importante, porque é importante as mulheres se verem em cima do palco, tomando essas posições como a gente já ouviu várias vezes de diversas meninas, mais do que isso é importante pra gente, é o sonho da gente, de viver de música, todo mundo tá sincronizado nesse pensamento, mas o que dá mais garra e mais gás pras mulheres acho que é isso de as pessoas se encontrarem e de ver que a gente pode fazer esse tipo de coisa, que a gente não é menor do que ninguém e das outras meninas perceberem isso também e tomarem gosto pra fazer isso, pra saírem do armário,muita gente que tem muita vontade, que tem muito talento, mas tá aí achando que não pode. A primeira coisa que toda mulher fala pra gente é: "ai eu não consigo", "ai sou muito ruim","ai não sei", sempre tem esse tipo de comentário, ao invés de ter aquela força natural que o homem já tem e o homem já chega pronto pro palco, vergonha zero. E mulher é questionada o tempo todo. "Você sabe solar?", "quizz musical!", "você sabe tal e tal banda?", "qual que é o nome do disco, qual que é o nome da música?", "quais são os integrantes e tudo mais?", "qual é a influência?", "o que você ouve?". O tempo todo eles estão em posição de sei lá, contradizer a gente e dizer: "vocês não são boas o suficiente pra fazer isso", "vocês não tem carga tão pesada quanto a nossa pra fazer isso." M: E as meninas vão acreditando nisso. Então é legal a gente ver nos nossos shows e nos nossos rolês, as minas se identificarem de alguma forma, se sentirem estimuladas, por nós, de alguma forma, ali no palco, fazendo nosso som e falando as coisas que a gente fala, saber que a gente tem esse papel, sabe? De alguma forma como um gás pra uma mina que tem um som ali e de repente se acha (...), ouviu sempre que não é muito boa, saca? C: Nossa, eu sei muito como que é isso, quando eu fui testar guitarras pra comprar a primeira vez, eu fiquei muito insegura de fazer qualquer coisa e pedia pra um homem que estivesse do meu lado pra testar a guitarra, mesmo que ele tocasse menos do que eu. Porque eu não tinha segurança de aguentar aqueles olhares pesados de homem em cima da gente, hoje em dia eu taco o foda-se e entendi que eu to fazendo muitas vezes as mesmas coisas que um homem, as vezes até melhor, outras pior. Independente, eu tô ali e isso que eu coloquei na minha cabeça, eu não preciso me apavorar e me intimidar com esses olhares. É só deixar fluir porque o que eu sei fazer tá de bom tamanho pra mim, vai tá de bom tamanho pra outras pessoas também.
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W:  Vocês estavam falando sobre o sonho de viver de música. Vocês têm alguma ocupação atual ou é 100% dedicado à banda?  C: Meu emprego agora é procurar job. Se tiver freela, tô aceitando. Eu e Marcela tamo no corre pra pegar um freela de dia porque sustentar de música não é fácil, muita gente ainda entende que música não faz parte da educação desde o berço, faz parte de um prêmio: "se você foi bem em matemática, vou te pagar essa aula de guitarra". E daí começa o entendimento do que a música é, do que a cultura influencia e tal e muita gente não valoriza isso, tem gente que acha que chamar alguém pra dar uma palhinha e dar uma breja e uns biscoitos pra comer no rolê ai é suficiente. Não é reconhecido, então a gente é obrigada a se afundar no capitalismo e fazer um outro tipo de corre pra pagar as continhas. M: Eu estudo psicologia e to aí a procura de qualquer estagiozinho, qualquer trampo. W: E a Bruna? M: Ela faz jornalismo e estágio na rede Minas. W: Sempre tem que ter o jornalista né. E o Luiz? (vocês tem que falar pelo Luis, por mais que ele esteja aqui) M: Ele tem um estúdio lá em Minas chamado TUBO CULTURAL. C: Rua Turquesa, número 349 M: E ele trampa também na OBRA. É uma casa de show de Belo Horizonte, tem mais de 20 anos de tradição, é um inferninho lá.
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W: Vamo falar de feminismo? Vocês estão ligadas a algum movimento feminista, se identificam, ou (...) C: Com certeza, pra gente viver é feminismo, todas as coisas que a gente se bate por aí, a gente tem que incrementar o feminismo, a gente tem que pensar de forma feminista. M: Media todas as nossas experiências diárias de vida. C: Todas nossas relações, tudo! A gente vivência isso. Sei lá, é tudo do patriarcado né, então a gente precisa desconstruir, o tempo todo tem que estar em alerta. Mas a gente faz trabalhos voluntários, por exemplo,esse fim de semana a gente começou a fazer o "GAROTAS AMPLIFICADAS" que aconteceu em BH, é uma espécie de Girls Rock Camp, só que de um dia só, a gente pegou o formato "CHICAS AMPLIFICADAS" da Argentina, que são umas migas também do Girls Rock Camp e de um dia só a gente ensina umas minas a tocar uma música e outras oficinas(...) defesa pessoal, mulher na música. M: E de uma outra realidade, de escola pública, diferente do Girls, do Ladies, que geralmente a Célia é instrutora. A Miêta participou no Girls e Ladies do ano passado como banda convidada, a gente tocou lá, mas nunca participei desse rolê, minha primeira experiência nesse sentido foi com o Garotas Amplificadas e é absurdo de gratificante, muito bom. C: As meninas chegam bem amuadas, assim, com aquele medo de tentar, de encostar, de fazer algum barulho e de estar errado, sabe? Ter um olhar julgador em cima disso. E a gente fez questão de desconstruir. Todo mundo têm seu tempo de aprender e construir alguma coisa, isso é comum, não precisa ter medo de mostrar esse tipo de coisa. Porque com esses obstáculos de conhecimento, você pode fazer o que você quiser.
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W: Marcela - Pra ti especificamente eu queria falar sobre a questão da mulher negra na música (...) Disserte sobre isso. Tua percepção sobre, tua opinião. A gente sabe que olha na volta e dá pra contar nos dedos quantos negros têm aqui, não são nem dez, se cabe numa mão inteira é muito e é um dos rolês que tem mais visibilidade no país inteiro que é uma semana inteira que acontece, mas se todos os dias que a gente for e contar, não conseguir encher uma mão. M: Então, inclusive eu queria muito estar com a minha ~brusinha~ que a Bah, que é uma mina da Bertha Lutz, uma banda feminista de Belo Horizonte e a gente ia fazer umas camisetas que era com essa provocação: "CADÊ AS MINA PRETA DO ROLÊ?" Porque eu acredito, eu sei que eu não sou exceção, mas como várias pessoas que eu conheço, tive esse clique: "uou, opa, peraí, eu sou uma mulher e eu sou uma mulher negra, mais do que uma mulher, eu sou uma mulher negra", tardiamente, entre aspas porque não tem como ser cedo nessa sociedade que a gente vive, sabe? Eu principalmente que venho de uma família que é miscigenada, minha mãe é branca, por exemplo, a gente não tem nenhum tipo de contato com as nossas raízes e a gente é ensinado que quanto mais clara for a nossa pele, mais livre de (...) saca? Você cresce ouvindo, "você não é negra", "você é moreninha", "sua pele é bonita", esse tipo de coisa. Então a gente vai ouvindo esse tipo de coisa pra amenizar o racismo que a gente sofre de uma maneira diferente de uma mulher preta retinta, e a gente vai meio que se perdendo na própria identidade e dentro da música e em todos  os cenários que eu frequento é normal você parar, sei lá, na universidade, no festival de cinema, festival de música, parar e olhar pro lado e pera, cadê? Não tem. Não tem! Então é muito importante a gente bater nessa tecla sempre que possível pras pessoas comecem a ter essa percepção, sabe? As pessoas não notam isso. Claro que elas não notam, elas não são vitimas dessa segregação que acontece.
W: E tu acredita que com o Miêta tu tem um papel importante nessa questão da naturalização do espaço da mulher negra na música?  M: Sim, sim, eu não acho que eu sou voz, uma pessoa a frente de um rolê,que tá levantando bandeira, não, acho que eu sou a pessoa que eu sou, que calha de ser uma mulher negra e eu tô ali ocupando um espaço fazendo uma coisa que é natural pra mim que são as minhas músicas, com a minha banda e isso pra mim é naturalização, sabe? É não fechar o olho pra segregação e genocídio da juventude negra que acontece sempre, sim. É se politizar sempre, mas ao mesmo tempo é naturalizar, eu tô aqui e eu não sou uma exceção, não quero mais ser exceção, sabe? É isso.
C: Posso abrir parêntesis sobre isso? 
W: Abra.
C: O que eu acho massa, inclusive dessas duas bandas Berta Lutz e Miêta que as duas vocalistas são negras, isso é muito simbólico, a voz ser dada a mulheres negras e tal.
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W: Vocês ainda têm tempo? Não, o show já vai começar.
W: Ah, então um conselho pra uma mina que tá começando? M: Mete a cara. C: Não se intimide com esses olhares julgadores e pesados em cima da gente que sempre vai ter, é só olhar por cima. "Vou fazer, foda-se." Não tem jeito certo, nem errado de tocar e isso é muito importante de falar. Não tem maneira certa, faz do jeito que ce sabe e é isso aí.
OUÇA MIÊTA: Soundcloud // Bandcamp // Spotify
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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Dando continuidade a série de entrevistas realizadas no Bananada, liberamos hoje o nosso papo com a Ana Zumpano, baterista da banda mineira Lava Divers. Com 4 anos de estrada, um EP lançado e um álbum ainda em produção, dá pra sacar o mood da banda com esse clipe de "On a Flag Hill":
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Entrevista - Daniele Rodrigues // Fotos - Filipa Aurélio
W: Eu vou começar pedindo pra ti te apresentar com nome e idade.
A: Eu sou a Ana Zumpano e eu tenho 28 anos.
W: E o que tu toca de instrumento?
A: Toco bateria
 W: Só bateria ou mais alguma coisa?
A: Toco bateria e canto né.
 W: Há quanto tempo tu tá inserida no contexto musical?
A: Eu comecei a tocar com uns 14 anos, aí tive uma banda com duas minas, uma banda de punk rock, e foi bem legal, eu durou minha adolescência até os 17, 18 anos, depois eu me envolvi mais com o teatro, que eu era da música e do teatro, daí eu tive um grupo de teatro e dança, enfim continuei a mexer com música só que de outra forma, depois voltei a ter banda ali nos 23 anos e aí surgiu o Lava Divers.
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  W: Teve algum hiato? Que tu ficou mais pro teatro?
A: Que eu fiquei sem tocar? Teve uns cinco anos que eu fiquei entre o teatro e a música, sem banda, ia me dedicando mais pro teatro só que era dança e teatro, a gente trabalhava muito ritmo, então não me sentia tão afastada assim.
 W: E como é que aconteceu essa volta?
A: Aconteceu que a gente já era amigo há muito tempo, a banda assim, a Lava Divers, a gente já se conhecia e o João Paulo e o Glauco se encontraram no show do Suede e ficaram super felizes, amaram o show e falaram: 'ah, vamo fazer uma banda' e a questão é que quando eles pensaram: "mas quem pra tocar as referências que a gente gosta?" Jesus and the Mary Chain, Teenage Fanclub, daí eles começaram a pensar e falaram: "Cara, a Ana." Aí me chamaram e eu topei na hora.
 W: E quais são os projetos da Lava Divers a curto, médio e longo prazo?
A: A gente tá com o disco gravado, a gente gravou aqui em Goiânia, a gente tá com 13 faixas e a gente vai lançar 11, uma vai entrar pra uma coletânea e a outra a gente vai fazer uma surpresinha com a galera. E a gente vai lançar agora, a gente teve uns atrasos de mix e tal, a gente nunca quer parar de tocar, somos uma banda que desde que começou quer estar na estrada, então fazemos um esforço grande e a tem outras coisas também e isso dá uma demorada no processo, mas agora e acredito que até meio de junho já vai tá o álbum lançado. (PARECE QUE ALGO NÃO SAIU BEM COMO O PLANEJADO, NÃO É MESMO?)
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W: Na música tua atuação é só com a Lava Divers, ou tu também te dedica a outros projetos?
A: Então, a minha banda no momento é a Lava Divers que é a que eu me dedico mais e faço toda parte de mídia, tudo é eu que faço, então é bastante trampo, mas eu também tô fazendo um grupo lá em Uberlândia que acabou virando meio que uma produtora que é o Rock das Aranha e essas bandas que a gente conhecia na estrada, a gente começou a levar lá na cidade e já se juntou com Uberaba que tem as meninas do Laboratório, que tá num momento incrível porque tá só mulheres fazendo o rolê e levando muita banda de mina, então tá uma movimentação, é inacreditável. 
W: E que bandas que vocês já levaram?
A: A gente já levou o WRY, já levou Miêta, já levou Young Lights, já levou Bloody Mary Una Chica Band, ai meu deus, não posso esquecer de ninguém. Já lembrei que agora, a gente conseguiu fazer um negócio incrível que é o Bananinha que a gente vai agregar o festival lá e vou levar o My Magical Glowing Lens (a gente também entrevistou a Gabi e o resultado sai em breve o/). Ah! Já levei eles o Ventre também, só que foi em Araguari. E agora dessa vez, a gente vai levar o Ventre, o My Magical Glowing Lens, o Justine Never Knew The Rules e o Hierofante Púrpura.
Vejam o vídeo do Festival Bananinha desse ano:
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W: Nossa, muita gente! E a quanto tempo existe esse projeto?
A: Olha desde que eu voltei, faz uns dois anos que eu fui pro Girls Rock Camp e lá já me deu um gás total e eu voltei e vi que lá tinha uma demanda grande de garotas que ficavam isoladas e não entravam nesse cenário da música, era um cenário completamente machista e não tinha esse espaço, era como se o lugar da mulher era de espectadora, de namorada do músico, toda vez que eu tava num estúdio, envolvida em algum lugar, era uma mina que eu trocava uma ideia e "ah eu só toco errado", "eu não toco", ''eu só toco violão, mas não tenho coragem" e eu voltei com esse gás e pensei "eu preciso mudar isso, não tem condição, né" e aí a gente fez esse grupo que começou pequeno só para algumas minas irem tendo mais confiança e criando uma relação entre elas, porque a gente ficava isolada.
 W: Algo como se os pontos não se conectassem?
A: É, exatamente. E daí a gente viu que já tinham 1500 pessoas no grupo, 800 da nossa cidade, não é pouco, é uma pá de mina. Aí surgiram várias ideias e a gente conseguiu juntar com as meninas da Casa Verde que fazem o Casa Verde Sessions e é a coisa mais incrível que a gente conseguiu que todas essas bandas que estivessem aqui por perto fossem lá gravar a session, então assim, eu considero que esse mês vai ser bem marcante pra cidade, ele vai dar uma movimentada, a galera não tá habituada.
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  W: E nessa questão dessas produções que vocês têm feito com o Rock das Aranha, o Bananinha e até o Girls Rock Camp que tu mencionou, existe um processo de aprendizado coletivo entre vocês?
A: Sim, lá tem o Nosso Trampo que é um coworking que envolve várias pessoas que trabalham com arte de alguma forma e eles fizeram o Mexe o Doce que é tipo um cooperativa mesmo da galera que quiser se agregar pra trabalhar nessas produções e envolver muito mais que a música, envolver a palestra, rodas de discussão, a gente juntou essa turma e agora o festival (não tô fazendo sozinha, claro, nunca conseguiria) juntaram pessoas que assim, tá tendo uma movimentação incrível. Então tem a Ana que é psicóloga, tem o Ronaldo que é de design, então essa galera que se juntou e tá conseguindo fazer um negócio que é mexer o doce (rs) mesmo.
 W: Tu acha que existe a possibilidade de vocês fazerem uma edição do Girls Rock na tua cidade ou tu acredita que poderia ser muito burocrática e que tu deveria tentar fazer essa aprendizagem de uma forma mais livre?
A: Com isso tudo a gente identificou que a gente precisa do Ladies Rock Camp antes porque é mais do que falar pra elas, quero que elas vivenciem, porque você sabe, não tem uma vertente, você vai lá com um objetivo e você acaba (...)
 W: Seria uma ideia de acreditar no teu potencial antes de repassar isso?
A: (...) ficaria um pouco perdido, elas mesmas têm dificuldade de ser uma garota da banda, de subir no palco, sabe? Então acho que elas têm que saber o potencial que elas têm, reforçar isso, porque daí a gente pega as crianças e passa aquela toda coisa pra elas. 
 W: De forma natural né?
A: De forma natural, que foi o que aconteceu comigo. Aí eu fui dois anos no Girls Rock Camp em Sorocaba, aí eu fui lá no Sul e eu me senti assim, super acolhida, porque é diferente quando você vive, eu tava tão com aquilo dentro de mim (eu tava vindo de Sorocaba direto pro Sul), que eu senti assim preparada e pronta pra lidar com tudo ali, que é uma criança e toda uma construção,  ali a gente é uma referência pra elas, então não quero passar insegurança, sabe, e é totalmente desconstruir isso que a gente quer. 
 W: E essa preparação faria toda a diferença né?
A: Toda a diferença, até pra elas verem o potencial que elas têm, porque a maioria das coisas que eu ouvi eram assim: "ai eu toco violão, mas eu não toco mais ", mas cara se você toca, vamo pra um estúdio, vamo pegar o instrumento, vamo ligar, eu fico lá, toco bateria. "ah, mas não, não sei, faz um tempão que eu não toco"; e eu ficava assim, "mas galera, então vamo!" Sabe? Só que essa coisa, são travas que a pessoa vai adquirindo assim na vida, acho que a pessoa precisa de uma corrente mesmo de várias mulheres ali se empoderando.
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  W: Pra se fortalecer e se sentir mais a vontade. 
A: Uhum.
 W: Atualmente tu toca numa banda que ela é majoritariamente composta por homens e tu falou da tua experiência na adolescência de tocar numa banda mais riot e tal, tu sente algum tipo de diferença ou tu faz alguma consideração sobre isso?
A: Cara, eu morro de vontade de tocar com as minhas amigas, sempre. O projeto Lava Divers é incrível, se eu tenho uma banda com esse caras é porque eles são pessoas que respeitam e eu tenho um respeito e um orgulho de tocar com eles, eu não estaria à frente de uma banda com pessoas que eu não tenho confiança plena, então eles estão dentro da causa comigo e tal, só que eu sinto diferença porque eu quero tocar com as mina, eu quero estar em sintonia com elas, falar coisas que a gente quer falar, sabe? E eu tô muito feliz com isso, porque antes a gente ficava tentando achar mina e não tinha mina e agora a gente fez o primeiro festival do Rock das Aranha e a gente fez uma jam de mina e foi lindo, vi mina cantando que eu peguei e falei: "caralho, como é que ce cantava assim e eu nunca vi. Pô. Eu nasci aqui, sabe? Porque?" E aí que deu essa quebrada e pra gente conseguir a gente foi pro estúdio e tinha umas 15 mina dentro do estúdio e pouco se fudendo se cantava, se não cantava, tava ali. Tinha mina falando "eu nunca entrei dentro do estúdio, eu vinha com meu namorado e fica de fora, eu sempre quis entrar".
 W: Acredito que tu já deve ter pensando sobre isso, mas tu tem alguma teoria sobre o porque da dificuldade das mulheres se conectarem pra fazer música?
A: Sim, eu acho que o rock sempre foi uma coisa muito machista e muito homem, apesar de que né, as mulheres mais incríveis são do rock. Eu acho que é uma dificuldade pessoal de história de vida, é como se a mulher não tivesse tempo pra música, sabe? Tipo assim: várias meninas sempre dizem: "eu sempre quis fazer bateria, mas a minha mãe me pôs no teclado". Porra, porque colocou no teclado? Não, "mas bateria não é instrumento de mulher" e coisa e tal, então tipo assim é essa coisa assim do patriarcado, que  mina tem que tocar baixo, ela vai cantar, tocar violão, fazer música clássica, não vai tocar rock and roll, é todo um contexto, a vida massacra e a gente enquanto mulher, não tem tempo pra fazer o que a gente quer e quando a gente vai descobrindo esse tempo, é incrível porque, COMO NÃO? E assim, toda mulher é muito foda, assim, pra mim, toda mulher que eu conheço é muito foda, acho que tá num boom muito foda da mulher na cena independente pegando um espaço que é dela, sabe? E os homens, a gente tá fazendo eles entenderem isso de alguma forma.
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  W: E tu acredita que tu tem um papel específico na música, que tu cumpre algum papel?
A: Eu acredito que sim, porque eu não faria isso em vão, porque eu acho que você tem o privilégio de fazer um som e as pessoas irem e elas ouvirem, eu levo isso muito a sério porque eu acho que é uma coisa muito poderosa, assim, a música. E esse lance de você tocar, o que você transmite pra pessoa de força, de vontade. Eu entendo que lá minha cidade eu venho tendo esse papel e isso é uma coisa que me deixa muito feliz porque igual eu falei no começo do show, eu tô muito feliz porque eu tô tocando com as bandas que eu sou fã, não é aquela coisa da adolescência que você gosta de Greenday, sei lá, qualquer exemplo que for, uma coisa distante, mas não, eu sou fã dos meus amigos, eu gosto do trabalho que os amigos fazem, eu gosto daquilo, e isso é a melhor coisa do mundo, você poder tocar suas músicas junto com os seus amigos e isso tá comunicando e fazendo as pessoas se movimentarem, bandas acontecendo, eu acho que o papel é esse. Muito foda.
 W: Tu pode dizer que tu vive de música?
A: Não vivo de música, mas vivo pra música e vivo assim, bem na corda bamba, pra fazer esse corre, a gente disponibiliza muita parte da vida e a grana eu ainda não consigo lidar com esse lance de fazer isso que eu quero e a grana.
 W: Tu tem alguma outra ocupação?
A: Eu faço milhões de coisas, dou aula, tem a Incêndio que é a marca de um pequeno produtor de lá, daí a gente se juntou, faz umas roupas lá, eu estou sempre envolvida nesse lance que é de produção cultural de certa forma e trabalhando em várias coisas assim, usando o teatro, tudo que dá. 
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 W: Tu sabe dizer de algum momento na tua vida que tu pensado: "é isso que eu quero pra mim"?
A: (...) a gente foi tocar em Brasília uma vez e tinha um menino de 16, 17 anos com a família e ele tinha feito uma blusa da Lava Divers, que ele não tinha como comprar, ele tinha feito, ele tinha pintado, ele falou várias coisas pra gente, que ele tinha um sonho, que ele ia ter uma banda, que a gente era referência pra ele de banda e aquilo tudo que eu falei, porra, olha o que a mensagem da música tá transmitindo e tá fazendo com as pessoas e o que mais me deixa feliz é as mulheres que chegam que vibram e que se sentem representadas, que ganham força naquele momento que seja, sabe? Esse gás que dá nas pessoas.
 W: Falando de algo mais atual e não tão inspirador, o que tu tem ouvido de música ultimamente que recomendaria?
A: Eu tô numa fase muito feliz como eu te falei, eu tô ouvindo os meus amigos. Eu tô ouvindo Miêta, eu tô ouvindo Ventre, eu tô ouvindo Justine, cada dia é um álbum incrível de uma pessoa que eu já tive a oportunidade de tocar, então que eu admiro, que eu quero ver o show e que é possível de eu ver o show, sabe? E que eu apoio ativamente, que eu compro merch, que eu compro disco, então pra mim é um boom incrível que a gente tá vivendo disso, de ter selos legais, das pessoas estarem se respeitando e olhando pro trampo do outro e entendo, acho que tá tudo se respeitando e fluindo no lance de vários estilos de som, várias formas de trabalhar, isso aí é maravilhoso, todo mundo se apoia (...) e é assim que tem acontecido porque a gente se apoia, "vou te levar na minha cidade, e faz o rolê e leva" e muitas vezes toca e deixa o seu cachê pra banda que veio e você já consegue fazer um público ali e da próxima vez consegue trazer de uma outra forma. Então só tem acontecido porque as bandas, os artistas estão se organizando entre si e se ajudando, eu sinto muito isso. Que tá num momento que todo mundo consegue olhar com respeito pro trabalho do outro e desejar que role.
 W: Pra finalizar, um conselho pra uma menina que tá começando?
A: Eu indicaria, segue o coração e vai com raça, e trampa e vai e fala e se expõe e dá a cara e toca. Tudo vai se desenrolando no seu próprio tempo, eu acho que se a pessoa for espontânea e realmente engajar naquilo que ela quer. Acho que é uma construção e o conselho que é dou é esse, faça o que você quiser mesmo. Vai buscar sua amiga e engaja com ela no que der. Cara, as mulheres são incríveis, todas as mulheres.
OUÇA LAVA DIVERS:
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Parte fundamental do cenário riot grrrl brasileiro, Iéri Luna cofundou o Bulimia, banda punk brasiliense composta apenas por mulheres e que explorava questões relacionadas a violência e machismo, na década de 90. O vocal rasgado e estridente, eternizado em músicas como "Punk rock não é só pro seu namorado" ou "Nosso corpo não nos pertence", era o grito de uma garota buscando não apenas visibilidade, mas espaço em um cenário completamente dominado por homens.
O único álbum da banda, “Se julgar incapaz foi o maior erro que cometeu” (2001), marcou também o fim do projeto e é precedido apenas por algumas gravações caseiras. Dias antes do lançamento do disco, a morte da baterista Berila Conceição, afogada em uma cachoeira na Chapada dos Veadeiros, cortou o clima para o prosseguimento da banda, que já andava abalada por divergências internas.
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Iéri, 39 anos - Brasília, DF
Hoje, aos 39 anos, Iéri se define como feminista e anarquista. Graduada em Jornalismo, enveredou-se pelo caminho da saúde e da medicina chinesa. Atualmente, trabalha como acupunturista e começou a estudar fisioterapia. Iéri morou na Espanha por 12 anos, onde se envolveu com projetos políticos relacionados com o movimento okupa e com o anarquismo em geral. Tudo isso sem deixar a música de lado: durante boa parte do tempo em que esteve em Barcelona, foi integrante da banda punk, feminista e anarquista Las Otras e, durante alguns períodos, tocou baixo nas bandas Peste, Fossa Comum e Fome. Enquanto o Bulimia foi o pontapé inicial de Ieri na música e no feminismo, o Las Otras foi onde, finalmente, teve a oportunidade de se realizar política e sonoramente. Aproveitando o seu recente retorno para o Brasil, conversamos com ela sobre todas essas coisas:
M.: Como o Bulimia começou? I.: Eu já conhecia o movimento riot grrrl porque tinha vindo de um intercâmbio nos Estados Unidos. Na época, eu já escutava punk rock e hardcore, e a banda que me introduziu mesmo no feminismo foi o Bikini Kill. E o maior impacto que Bikini Kill teve na minha vida foi me fazer pensar “cara, quero ter uma banda pra poder falar dessas coisas”. 
Cheguei aqui determinada, com a vontade de montar uma banda de meninas, e eu não sabia tocar nada. Eu tinha, sei lá, 16 anos. Então conheci a Bianca [Martim] e ela já tocava guitarra há alguns anos e sempre foi empolgada para montar uma banda. O feminismo era uma questão que a gente discutia na banda e, por isso, Bulimia era "banda feminina" e não "banda feminista" em todos os panfletos que a Bianca fazia. Ela fez todo o trabalho de divulgação, mandou nossa fita demo para todo o Brasil e foi isso que com certeza ajudou naquela época. A internet era meio incipiente, não era uma coisa comum ir lá e baixar um disco, você tinha que pedir a fita pelo correio, recebia a demo, era todo um esquema assim.
A grande dificuldade foi encontrar uma menina que tocasse bateria. Aí a Bianca conheceu a Berila e ela falou desse projeto e, por sorte, ela entrou. Ela era de longe a que mais tocava, foi uma pessoa fundamental. Mas a questão ideológica era sempre um pouco complicada. A Silvia [primeira baixista] tocou dois shows, mas ela não se sentia muito confortável em tocar e tal, então a gente chamou a Naiana e a banda rolou.
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M.: Qual foi a repercussão que a banda teve na época? I.: O Bulimia foi muito traumático, vocês não têm ideia. É até curioso ver hoje todo esse alcance que teve, porque o que eu vivi na época não era isso. Acho super interessante como as gerações seguintes foram conhecendo o Bulimia como, sei lá, uma referência de punk feminino, né. Sofri muito, porque eu era a feminista da banda e levei toda uma luta política em relação a isso, mais respaldada pelo Nada Frágil mesmo, coletivo feminista que atuava na cena.
O Bulimia foi uma banda que começou com aquele vocal estridente, que não foi bem aceito. Ou você odiava ou você amava, e quando você amava era justamente pelo que trazia nessa diferença, do que significou aquilo, todas as letras. Tem a história da galera jogando a fita demo no chão e pisando, e eu conto porque é tipo, uou, como as pessoas realmente se dão ao trabalho, né? Foi uma banda que chocou porque, realmente, a gente estava falando de coisas que ninguém estava falando aqui em Brasília. Dominatrix já existia em São Paulo, mas a gente só foi conhecer depois.
Quando fiz e distribuí um panfleto que chamava ao boicote de umas bandas [machistas], a gente ainda não tinha tocado com o Bulimia. Mas a gente já estava ensaiando. Pra mim, uma banda era uma forma de expressar as coisas que eu queria falar, eu precisava chacoalhar aquela cena. Eu era muito chata, e fui muito insistente nesse tema. Eu tinha umas referências muito importantes, Crass, Cólera… Pra mim o hardcore era política, e eu não entendia como que de repente era só música.
Depois disso, porque também existia a movimentação do Nada Frágil, a gente conseguiu criar uma cena paralela. Tipo, a cena dos caras machistas continuava existindo. Mas a gente tinha uma cena que era nossa aliada. Com caras também, poucos, mas estavam ali. Nesse período, a gente produziu poucos shows, a maioria dos que a gente tocava era nos que a gente pedia para tocar ou que as pessoas chamavam e tudo partia de uma afinidade mais política. Lembro que a gente tocava muito em Goiânia, tinha uma galerinha lá super apoiadora do Bulimia pelo que a gente falava, pelas letras. A gente começou a fazer parte de uma rede de bandas que também eram mais políticas e que não era aquele "roqueiro" de Brasília, sabe? Essa diferença é importante. Quando falo roqueiro, é aquela coisa da galera que está tocando rock e, porque faz rock, já acha que é o bam-bam-bam.
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M.: E quais foram as ações do Nada Frágil e a importância do coletivo naquele momento? Considerando que a internet não era como é hoje, como eram as ações? I.: A gente se reunia pessoalmente, né, naquela época (risos). E era um grupo de ações e discussões feministas de meninas que eram da cena hardcore. Nos juntamos na maior curiosidade de ler textos e discutir. E a gente fez de tudo, desde espéculo, para ver as nossas vulvas, a fanzines de autoconhecimento. A gente fazia panfletos nos shows, tomava o microfone, praticamente, e lia todo um manifesto em um show machista. A gente montava rodas de discussão fora dos shows. Era muito político, no sentido de pensar, questionar e construir. Pra gente era muito importante a visibilidade. A gente fazia camisetas, levava a tela de serigrafia e pedia para o povo levar as camisetas.
Ah, era muito legal… Porque a gente fazia também convivências, ia para alguma casa de alguém e combinava dias em que a gente montava oficinas e cozinhava juntas e estava discutindo o tempo inteiro e criando. E surgiam também várias ideias que não se concretizavam (risos). A gente também cuidava da saúde, fazia alongamento… Tinham algumas meninas de banda, como minha irmã Ianni, que teve o Xixi de Aranha, uma banda vanguardíssima, incrível, mas eram mais meninas que faziam fanzines e estavam no rolê, mas não eram de bandas. O coletivo começou voltado para o hardcore. Depois, ficou mais universitário, estudos de gênero, aí as meninas do hardcore não queriam mais…
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M.: Você sente que há uma expectativa de que mulheres cantem "bonito", e por isso uma resistência a vocais femininos que sejam mais experimentais ou amadores? I.: Tem um spoken word da Kathleen Hanna, do Bikini Kill, que ela fala disso, que as pessoas sempre esperam que as mulheres cantem como anjos ou gritem como os caras. Ou você faz o vocalzão gutural como o deles [imita um gutural], ou você canta afinadinho. Gritar como uma menina não tem cabimento. Isso, pra mim, é uma grande marca do riot grrrl. A voz feminina irrita.
Eu não fui escolhida para cantar no Bulimia porque eu cantava bem, e essa era a grande mensagem. Eu não fui escolhida, a gente já montou a banda porque eu queria cantar. Lembro quando a gente tocou em São Paulo, em um show muito legal com o Libertinagem, uma das bandas que eu amei daquela época, a gente tocou com o Dominatrix também nesse show... E aí umas meninas chegaram para a gente falando que, caramba, queriam muito aprender a tocar para tocar como a gente… E eu tipo "gente, mas não sabemos tocar". É só tocar, entendeu? Essa é a mensagem desde o riot grrrl, e desde o punk. Não é sobre saber tocar, é sobre tocar com o coração, com a paixão de transmitir o que você tem a dizer, o que você tem para expressar. O punk é não-música, vamos lembrar. Gente, o punk não é música! Quantas vezes a gente tem que repetir isso, cara? Deixa a música para os músicos.
Mas, sendo sincera, Bulimia é a banda que eu menos gosto musicalmente, de todas que eu tive.
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M.: Agora vamos falar sobre o Las Otras. Como surgiu a banda? I.: Tive uma experiência muito diferente lá fora. Saí daqui tão queimada, que quando cheguei em Barcelona, eu não queria nem saber de show. Fui justamente para a política, militar em grupos de apoio a presos anarquistas e tal. Quando fui num show de uma banda chamada Karkaba, muito das antigas, de uma galera assim da minha idade, numa casa ocupada, essa galera me transmitiu... Era o que eu sempre imaginei do punk.
A minha sensação aqui em Brasília era que muito dos grupos não tinham alma. Era muito "eu vou tocar, tocar é assim, vou fazer uma aula de guitarra e monto uma banda". E aí, quando você vai ver a banda, a pessoa está preocupada só se sabem ou não sabem tocar. Pra mim isso é o de menos, saber tocar. Pra mim é tipo, o que essa pessoa transmite? É real ou não? Ela realmente quer tocar ou ser uma estrela do rock?
Roqueiro pra mim é sempre pejorativo, é aquela pessoa que quer ser rock star. Punk é ser sincero, gostar de tocar sozinho e gostar de tocar no seu ensaio. É gostar de compartilhar a música que você faz com seus amigos e não sair na televisão ou tocar no Porão do Rock, que sempre foi super misógino, pelo menos na minha época. Apoiava as bandas mais detestáveis.
Quando a gente começou o Las Otras, a história foi completamente diferente. Éramos meninas que sempre nos víamos nos shows, e a gente não se conhecia muito bem. Um dia, em uma festa do bairro, rolou uma situação de um cara baboso, como a gente chama lá, assediando uma menina e uma de nós reagiu e a gente colocou o cara pra fora da festa… E aí a gente começou a conversar e entrou no "vamos montar uma banda, sempre te vejo nos shows" e lembro que as meninas estavam todas falando isso, e eu tava lá no meio e pensei "ai, gente, de novo..." (risos). Eu achei que já tinha passado dessa fase.
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M.: Quais foram as diferenças entre o Bulimia e o Las Otras? I.: A diferença é que o Las Otras começou com a política. Não só com essa situação que a gente viveu, mas porque antes de fazer uma música, a gente discutia cada letra por horas, para colocar as coisas em comum. E todas nós nos identificávamos como anarquistas e feministas, então o Las Otras já surgiu como uma banda anarquista e feminista.
Além do Nada Frágil, eu trabalhei no Cfêmea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) e tive toda uma militância feminista em vários âmbitos, mas eu precisava de questões mais políticas no meu feminismo. Eu não me sentia confortável em lutar por mais mulheres na política, ou mais policiais mulheres. Não, não quero Congresso Nacional, não quero polícia. Um feminismo assim, muito amplo, não me interessava mais. Talvez porque eu já tivesse aprendido o que tinha que aprender com ele. Como que eu conseguiria coordenar essas coisas? Por isso que fui pro anarquismo em Barcelona.
Então com o Las Otras foi tipo, "uau, caramba, sério, encontrei meninas como eu, vamos construir juntas". Então a gente só teve que colocar em comum a música, foi o mais difícil, talvez. Todas gostavam de hardcore, mas dentro disso tem vários estilos diferentes. A partir daí surgiu uma amizade linda e maravilhosa, amo essas mulheres de paixão.
A recepção foi diferente porque lá... Dói no coração falar isso, porque parece aquele papo colonizado, mas no meio que frequentei em Barcelona, encontrei uma cena bem menos machista do que aqui. Não quero dizer que não existia machismo nem nada, mas o meio de punk que comecei a frequentar era muito ligado ao anarquismo ativista e eram caras legais, receptivos. Me surpreendeu porque teve esse bom acolhimento por todos os lados. Por parte dos caras, ok, normal, ninguém achava que a gente queria matar todos os homens, odiava todos os homens, eles achavam [a banda] válida e apoiavam, e as meninas achavam necessária. Foi muito diferente, apoio total. Era outro momento, outra cultura. Bulimia foi em 98 e Las Otras dez anos depois...
M.: Você já declarou que, no Bulimia, você estava mais interessada nas letras do que na música. Sua relação com a música mudou desde então? I.: Na minha época adolescente, a questão da letra era mais importante. Eu acreditava que ter uma banda era fazer uma revolução. E isso mudou com o tempo. A minha visão hoje é de que uma banda, por mais política que seja, é uma banda. A revolução está nas ruas. Então a música é importante também. Hoje, para mim só faz sentido [estar numa banda] se eu gostar da música.
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M.: Você acompanhou tanto a época em que a internet era incipiente quanto agora, em que ela se tornou extremamente importante para divulgação tanto do feminismo como de bandas. Como você avalia essa transformação? I.: Acho que a internet melhorou muito as coisas, é inegável o poder de acesso à informação. Então no caso do feminismo, por exemplo, eu tinha sempre que remeter as pessoas a livros, e o acesso a livros é algo mais limitado. Hoje você tem acesso mais facilmente, coloca ali no Google: "feminismo". Mas o ruim é que você perde qualidade. Qualquer pessoa fala o que é feminismo e aí você escuta quem quer, né, e pronto. Então, assim, é estranho, porque realmente você pode ter informações que vem desde o Bolsonaro até o Feliciano… É muito diverso e, para alguns, fica difícil selecionar a fonte. Os meios de comunicação já não são detentores da verdade, ou os livros… Os blogs também falam.
No caso das bandas, acho que é bom que você possa gravar sozinho na sua casa, com um computador, não precisa mais ter tanta coisa… Eu gosto disso. É algo muito próximo da ideia do punk, de não precisar de uma super estrutura. Pra fazer música, pra fazer arte, não dá pra ficar sempre esperando por uma super estrutura. Com essas facilidades, o desafio que vejo em Brasília é buscar autonomia. A gente parece muito acostumado a esperar que as pessoas facilitem as coisas, que o governo dê dinheiro.
A internet é boa pra divulgar? É. Você não gasta mais com correio, coloca a música em plataformas. Mas o ambiente do show tem que continuar existindo. O punk e o hardcore especialmente, pra mim, são tipos de músicas para serem compartilhadas. E esse compartilhar precisa de um espaço para compartilhar, onde você esteja com amigos e amigas. É nesse compartilhar que o punk e o hardcore se faz, porque a gente compartilha música, ideias, discussões, debates… Particularmente, eu continuo amando disco e fita k7, acho que envolve um trabalho totalmente diferente. Eu baixo um monte de música e nem escuto, ás vezes. Disco eu sempre escuto.
M.: Atualmente se discute muito a questão da visibilidade do feminismo na mídia e na internet. Você imaginava que o movimento teria o alcance que tem hoje? I.: É surpreendente ver o feminismo hoje, nunca pensei que fosse ver ele na moda. Todo mundo feminista na televisão. Eu acho que é bom que as pessoas estejam falando disso, mas o nosso papel é continuar radicalizando. Nunca devemos pensar "ah, já está na moda, então conquistamos". Não. Agora que as pessoas entendem que as mulheres também são seres humanos, e que elas também podem ser o que quiserem, aí a gente vai radicalizar, pra talvez transgredir a própria noção de ser mulher. Isso num plano mais intelectual, né, a gente nunca pode esquecer a vida diária, com mulheres sendo mortas e estupradas. Então, assim, está na moda, mas não tanto, né? Qual é o impacto na sociedade realmente? A gente quer mais, a gente sempre quis.
M.: Quais suas bandas preferidas? I.: Então… Vou falar as mais representativas, porque eu gosto de muita, muita coisa, tá? Sempre tive dificuldade nesse negócio de fazer lista com o que gosto. Acho que Cólera foi muito importante pra mim, me marcou pelas letras. Crass. Aliás, tudo o que envolve o Crass Records. Rudimentary Peni. Sou muito fã de anarcopunk inglês, foi muito importante pra minha vida. Discharge gosto muito também, Los Crudos, Au Pairs... Muita coisa, música é a minha vida há tanto tempo.
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M.: Você acha que as mulheres possuem dificuldades específicas no meio da música? I.: Acho que, até hoje, existe a questão de a gente sempre ter que ficar provando que a gente também é capaz de fazer. Se um cara simplesmente assume que sabe o que está fazendo, a gente tem que provar que saber o que está fazendo, especialmente se estamos em algum lugar que não deveríamos estar, que não é culturalmente atribuído às mulheres, como em cima do palco tocando punk, hardcore ou qualquer outra coisa. E querendo ou não, a gente continua tendo que ser atraente. A nossa aparência continua tendo um peso muito mais importante do que para os caras, sempre. É surreal que em 2017 a gente ainda tem que falar disso. O Bulimia tinha esse nome para questionar isso, e é isso até hoje. A nossa aparência sempre é objeto de comentário, para o bem ou para o mal. A gente não pode simplesmente ser, e foda-se.
M.: Embora o meio alternativo se proponha a ter uma visão diferente, isso nem sempre acontece. Histórias de homens abusadores, por exemplo, são comuns na cena da música. Como você acredita que mulheres deveriam lidar com isso? I.: Acho que justamente pela dificuldade de serem reconhecidas, elas [artistas mulheres] têm que fazer todo um trabalho para chegar lá do qual elas não estão dispostas a abrir mão. Demorou tanto para chegarem até lá, que elas não vão comprar qualquer briga. Acho que rola esse medo de perder esse lugar que demorou tanto para ser conquistado, e isso é um problema sério, realmente. Se são os caras que continuam fazendo a maioria dos shows, tendo os equipamentos e todos esses privilégios, é quase um suicídio se posicionar como feminista. Você vai ser defenestrada pelos caras. Isso é muito grave. Em primeiro lugar, as pessoas têm que continuar falando sobre isso. Não podemos acobertar o silêncio. É surreal falar isso em 2017 quando eu falava o mesmo em 1998, mas é isso.
A gente tem que ser capaz de construir mais da nossa cena. A gente não pode aceitar só porque quer estar no rock. Porque também não quero aceitar isso no meu trabalho. Nem na rua. A gente tem que buscar apoio de mulheres e homens solidários. Temos que começar a produzir mais, e já existem mais meninas produzindo. Isso mudou um pouco.
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M.: Que conselho você daria para uma menina que está começando na música agora? I.: Vai lá e faz. Vá e faça, cara. Não tenha medo de ser você mesma. A maior felicidade é conseguir fazer o que a gente quer, não se submeter mesmo. Você vai achar apoio, somos muitas, você não está sozinha. O que eu acho que está errado é achar que precisa aprender para fazer. Não espere aprender para fazer. É um pensamento muito burocrático. "Eu quero aprender guitarra, então vou ter que esperar aprender guitarra". Não. Arruma uma guitarra, pega emprestado, olha uns canais no Youtube. Toca, depois você aprende. Essa é uma lógica totalmente contrária. Essa é a liberdade do punk e do hardcore. Vão rir de você, mas tem gente que vai gostar. A gente não pode deixar de fazer as coisas por medo de que riam da gente, porque sempre vão rir da gente.
Bandcamp: https://lasotras.bandcamp.com/
Entrevista: Amanda Venicio e Maíra Valério Fotos: Mariana Costa
WANWTB // 2017
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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A Larissa é baterista da Ventre, Xóõ, dá aulas de bateria pra garotas e mulheres, tem um pico massa no RJ chamado Polo Norte, roda o país inteiro fazendo shows e é uma das musicistas mais respeitadas da cena independente atual. Além de ser isso tudo, é uma pessoa de coração aberto, generosa e verdadeiramente inspiradora. Acompanhamos de perto vários shows, sua primeira experiência no Girls Rock Camp em Sorocaba SP e trocamos várias ideias sobre a vida: o que é ser mulher no contexto artístico e sua visão sobre o mercado musical. 
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por Filipa Andreia
Larissa Conforto - 27 anos, Rio de Janeiro, Baterista
L: Ventre, Xóõ, faço parte da banda da Bel Baroni e to aí montando o trampo com outras minas e to aí gravando a galera.
W: Conta pra gente tua primeira lembrança, o primeiro contato com a música e quando surgiu essa vontade de tocar.
L: Eu acho que o contato com a música, de eu querer tocar, foi Spice Girls. O primeiro CD que eu comprei foi Spice Girls, muito louco isso. Lá em Friburgo, no interior do Rio. Mas quando eu decidi que queria tocar bateria foi um tempo depois, na verdade eu sempre gostei de bateria e parece que ela que me escolheu. Quando eu vi, eu queria muito tocar bateria. Eu deveria ter uns 12 anos nessa época. Quando chegou esse lance de DVD eu ia nessas locadoras e não tinha filme, tinha DVD de música. Aí eu lembro que achei um DVD de bateristas e eu fiquei vendo, muito tempo. Eram tipo esses encontros de bateristas standards patrocinados por alguma marca e eu fiquei assistindo aquilo. Um tempo depois eu pensei “po, eu queria tocar esse negócio”. Porque uma coisa era eu gostar de ver e outra coisa é eu querer tocar. Quando eu quis tocar, acho que foi quando eu comecei a ir em shows. Comecei a ir no Casarão, lá no Rio. Aí eu vi galera tocando, gente da minha idade que tocava, eu falei “eu quero tocar também, foda-se”. Meus pais achavam que era coisa de momento, porque eu entrava em várias aulas e depois desistia, aí eles não quiseram pagar pra mim as aulas de bateria, nem bateria, nem porra nenhuma. Pesquisei várias aulas, fui lá falar com os professores e aí quando eu achei um professor que eu gostei, falei com a minha avó “vó, quero fazer aulas de bateria!” e aí minha avó escondida pagou uma aula. Eu fiz uma aula experimental pra saber se eu queria mesmo. Fui lá e fiz a primeira aula e aí pirei, era isso mesmo que queria. Só depois de, sei lá, um ano de eu começar a tocar que meus pais ficaram sabendo.
 W: E você sentiu que só aí que eles mudaram de opinião?
L: Só hoje em dia... E olha que meus pais são sociólogos. Assim, era um hobby né? “ah legal, você tá gostando, Larissa? Ah que bom!”. Eu nunca tive muita repressão em casa, na verdade. A minha mãe é socióloga, meu pai é antropólogo... Minha mãe dá aula de história, filosofia e sociologia pra surdos, então “ai que legal, minha filhinha tocando bateria!” mas aí “que você vai fazer de faculdade, minha filha?? Ciências sociais né?? Filosofia? Vai ser académica como a mãe??” Não, mãe. E eu tentei, prestei pra filosofia e não passei e ainda bem que não passei. Então dentro do núcleo familiar não foi incentivado mas foi aceitável. Não tinha músico na minha família. Depois eu descobri um tio longínquo que é baterista, que é o André Jung, baterista do Ira!, ele é tio do meu pai e foi muito massa. Eu já tocava há um tempo, deveria ter uns 17 pra 18 anos e aí meu pai me apresentou pra ele, ele mora aqui em São Paulo e eu fui na casa dele, conheci a bateria dele... Ele me deu caixa, me deu pratos, me deu baquetas, ele me explicou tudo sobre as coisas e foi super paciente comigo, foi muito massa. Mas já foi depois de eu ter tomado essa decisão de tocar bateria.
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  W: Para além dessa ausência de apoio por parte de pai e mãe, que apenas se revelou mais recente, que outro tipo de barreiras se ergueram nesse percurso?
L: Então, aí eu fazia aula nessa escolinha que era aula compartilhada, não era aula particular. Só minha avó que apoiava e não tinha muita grana... Tiveram dois meninos nessa turma, os dois eram destros e eu era canhota e o professor não ia inverter a bateria porque senão ia perder um tempão de aula só pra mim e eu comecei a tocar de destro e era muito desengonçada, meio zoada e foi muito ruim pra mim, no início. Eu tinha muita dificuldade porque eu tava como destra, tinha muita vergonha, não conseguia tocar direito... Era a única menina na turma e saía da aula chorando, sempre. E um dia eu fui numa igreja Evangélica, porque eu saí da aula chorando. O caminho da minha escolinha de música até minha casa tinha uma igreja Evangélica e onde ficavam aquelas pessoas na rua pregando, dando jornalzinho... E eu lembro de ser uma quinta feira, minha aula era sempre nas quintas, e eu sempre saía nervosa, chorando “eu sou muito ruim, eu nunca vou ser boa, ai sou uma merda, sou ridícula, eles me zoam, me acham ridícula...” e era sempre assim “nunca vou ter conhecimento, numa vou ser igual a eles, porque eu continuo insistindo nisso? Eu sou muito idiota...” me depreciando sempre. Aí, um cara desses me parou e falou “não! Toda essa tristeza vai passar, vem aqui na igreja Evangélica!”. Eu entrei na igreja, tava muito fragilizada e vi um culto, uma sessão de descarrego e aí, de repente, eu percebi, tipo assim... Deu um estalo e eu falei “essas pessoas estão me manipulando. Porque é que eu to aqui?! Porque eu to triste e elas viram que eu to triste e elas estão me manipulando”. Eu levantei muito puta e falei “olha só, vocês estão enganando todo mundo aqui! Vocês são muito maus, vocês estão enganando todo mundo!” levantei e fui embora e todo mundo muito puto comigo por eu ter estrago o culto. E eu acho que a partir desse dia eu fiquei tipo “foda-se! Eu vou tocar essa porra! Pode achar o que quiser de mim” deu um estalo assim. As pessoas querem que eu me sinta mal “eu não vou me sentir mal, foda-se!”. A gente sempre fica né, a gente é muito insegura, é muito difícil de trabalhar isso dentro da mulher, mas a vida torna a gente assim. Mas acho que esse dia foi um dia importante e foi aí que comecei a inverter a bateria...
 W: Foi aí então que você começou a perder um tempinho da aula pra poder inverter sua bateria...
L: Prefiro perder minutos da aula e tocar canhoto do que ficar sem, sabe? Foi muito melhor. Mas você sente medo de se colocar né? E quando você toma coragem pra se colocar e ver que você consegue também se colocou e conseguiu o que você queria “perae, vou me colocar mais!”.
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W: Mas vamos passar um pouco mais a frente, de quando você participou de um reality show... Porque o propósito era achar a próxima banda de rock brasileira e tal... Que idade você tinha? Como surgiu essa oportunidade? O que você levou pra vida dessa experiência?
L: Eu tinha 19 anos, eu tava começando a faculdade, eu tava muito perdida, gostava muito de música... Eu sempre gostei muito de música e a bateria me escolheu, sempre quis muito tocar bateria e quando eu tocava eu me sentia bem e a bateria foi uma coisa que me tirou de muitos traumas de infância muito sérios, como mulher e tal, vivi violência sexual... Então acho que a bateria foi um momento que eu consegui me expor, me colocar, e trabalhar minha força no poder, na minha expressão. Quando eu tive que escolher minha carreira, você termina a escola e escolhe a sua carreira, é claro que eu queria música. Mas ao mesmo tempo, não queria fazer faculdade de música, porque eu não me achava boa o suficiente, não me achava digna o suficiente, não achava que eu tinha essa capacidade, essa ideia maluca do talento... Isso é o que eu tento desconstruir pra caramba hoje em dia... “Eu não tenho talento, eu não tenho talento,...” eu fiz uma curta sobre isso. Eu tinha 9 anos, não assistia TV, minha mãe não deixava, ela sempre foi muito comunista, não via desenho, nada. Eu ia pra museus e lia livros. E um dia, a Nickelodeon foi na minha escola, eu estudava numa escola meio alternativa porque minha mãe é professora e tal, e eu nem sabia o que era a Nickelodeon. Eles falaram “ó, tá rolando um festival no mundo inteiro chamado “Grandes Curtas Por Gente Pequena”, é um concurso sobre o tema “Família” e a gente quer que vocês façam um roteiro de uma curta, um filme, um desenho animado, com esse tema e o melhor roteiro vai rodar o mundo, a gente vai fazer o desenho e ele vai circular pelo mundo inteiro”. E eu fiz o roteiro e eu ganhei. A história era sobre uma irmã do meio (eu sou irmã do meio), era uma bruxinha que não tinha talento. Ela era da família mais talentosa dos bruxos, que é a família Bruxau, mas ela não tinha talento. O pai era pintor, a mãe cantava, etc e a história começa quando tem um concurso de talentos na cidade e ela fica muito triste porque todo ano é a mesma coisa, todo mundo participa e ela não. E ela falou “poxa, queria participar!” aí ela sai andando na rua, triste, e esbarra num cartaz que dizia “Descubra seu talento!”, acaba caindo numa toca de um bruxo e ele falou “vou te ensinar! Vou te enviar pro mundo do instrumento!” pega no pó de perlimpimpim, manda ela pro mundo do instrumento pra ela aprender a tocar, só que ele erra no saquinho e bota na idade média e ela é perseguida. Só que no meio desse caminho tem várias borboletas (porque no mundo das bruxas as borboletas são tipo baratas, elas atrapalham tudo, elas odeiam borboletas) aí ela chega, tem uns músicos tocando e ela fala “ai o mundo dos instrumentos!” aí os músicos deixam os instrumentos e saem correndo da bruxa, ela pega uma flauta e começa a tocá-la enquanto foge dos guardas e acaba encantando as borboletas em volta dela, que acabam espantando os guardas. Logo depois, o bruxo busca ela “putz, errei o saquinho! Vou buscar ela!” e na volta ela entra no meio do concurso de talentos, onde ela vai tocar sua flauta. Esse concurso tá sendo destruído pelas borboletas, tá sendo um grande fiasco, elas estão acabando com o concurso. Eis que chega a bruxinha com sua flauta, toca mal pra cacete, super desafinada, e ela encanta as borboletas e ganha o concurso de talentos como melhor flautista dedetizadora. É tipo a história da menina complexada, que não tem talento, que acha que é ruim em tudo, mas deu o jeito dela de fazer algo que preste “eu vou ser boa em alguma coisa! Mesmo que essa coisa seja fora do comum” é muito eu isso. Essa era a Larissa de 9 anos. A Larissa de 19 anos é a Larissa que resolve fazer Produção Fonográfica, então eu entrei na faculdade de áudio, só tinha eu de mulher, mas ao mesmo tempo eu me via mais como produtora e menos como musicista. E essa foi uma oportunidade, minha irmã mais velha trabalhava com cinema e estavam precisando de alguém para a versão piloto do reality show e só tinham filhos de músicos, com os melhores instrumentos, gente que cresceu tocando, só gente foda. E eu fui parar lá porque precisavam de uma menina baterista e não tinha e minha irmã falou “ó, minha irmã toca bateria”. Eu fui lá, fiz um teste, passei, entrei. Nessa época eu tatuei ROCK STAR nos dedos, eu cubri esse ano. Acho que o que eu pensava que era uma rock star era muito diferente, estou tentando desconstruir isso. Mas o rock star é tipo “quero um dia viver de música. Quero viver do que eu acredito.” Mas bom, cheguei lá com um sonho, uma esperança do tipo “fama”, sabe? Era um lugar onde as pessoas iam e aprendiam, eram instruídas, tinham aulas e melhoravam “putz, tenho uma oportunidade!”. 
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Eu cheguei lá, eramos músicos soltos, não era uma banda formada. A gente acordava 7 da manhã, tomava café, ia pra um lugar onde eles passavam a prova, onde era sempre compor uma música inédita ou fazer alguma versão de algum artista que vai vir. Aí juntava as bandas e a gente tinha 40 minutos pra sentar com a banda e fazer uma música inédita. Depois mais 40 minutos no estúdio, uma garagenzinha onde eles montavam os instrumentos... Você entra e perde 20 minutos só montando e quando você vai começar a passar música, acabou! “Agora você sobe, você vai gravar valendo! Você tem três chances de gravar” uma música inédita, com pessoas que você não conhece... Eles botaram personagens diferentes nas bandas pra causar problemas. Era muita pressão pra gente nova e todo dia alguém saía. Dava um peso, todo mundo ficava mal quando esse alguém saía. E esse alguém saía mas continuava na casa, só ia embora no fim de semana, porque tinha uma van que levava todo mundo, só que não podia ser filmado, mas a pessoa dormia com a gente. O pessoal ia pras atividades, mas elx não ia com a gente. É muito horrível. A gente foi começando a perceber as situações que eles criavam e aí aconteceu uma coisa comigo: eu tinha um avô ainda vivo na época e ele sofria de uma doença degenerativa e tava na época da gripe suína e alguém me falou assim (minha irmã fazia parte da produtora que tava produzindo, mas ela não tava produzindo esse reality. Ela trabalhava numa outra parte) “ah, sua irmã me falou que seu avô tá mal, tá com pneumonia né?” e os casos de pneumonia vinham de casos de gripe suína. Eu fiquei desesperada, eu tava ensaiando e na hora eu levantei “gente, eu não quero mais tocar! Quero ir embora! Quero falar com meus pais! Me deixa falar com eles!” Surtei. Fiquei completamente desestruturada. Eles me filmaram chorando, eu falei “não quero que me filmem!”, eu fechei a porta da parada, falei “quero ir embora, quero ir embora, quero ir embora!”, eles abriram a porta, filmaram na entrelinha e aí editaram as partes como se eu estivesse triste por causa banda “não to aguentando, tá muita pressão” e aí eles pegaram essa cena de eu chorando e eles colocaram em todas as chamadas dos próximos episódios. Tipo, já tinha passado vários episódios e rolava tipo “O CLIMA ESQUENTA NA CASA!” e eu chorando. Muito escroto. Me botavam chorando em todos os episódios. E no meio disso teve uma pausa, um gap, a gente ficou duas semanas em casa e depois voltou pra gravar de novo, e que aconteceu durante essas duas semanas? Eu quebrei o braço, eu fui andar de skate e quebrei meu braço, e aí ao mesmo tempo começou a passar os primeiros episódios e a gente começou a ver as pessoas a falar mal umas das outras. Porque tinha esse momento depois das provas onde todo mundo ia dar seu depoimento sobre o que aconteceu no dia e as pessoas fazem perguntas do tipo “você gosta dessa pessoa? Que você acha dessa situação?” e eu comecei a ver todo mundo falando muito mal de mim, galera que me tratava bem “ah, a Larissa é ridícula, chorona...”. Eu tirei o gesso antes de voltar pra parada, fiquei fazendo acupuntura e voltei magoada, não tava conseguindo tocar bateria, tava com muita dor. Me botaram pra cantar e tocar teclado e eu nunca tinha tocado teclado na minha vida “mas você é menina, você sabe cantar!”. Me botaram numa banda que já tinha baterista... Ou seja, ou eu ia tocar bateria ou ia cantar ou tocar outra coisa. Eu não sabia cantar, eu nunca tinha cantado na minha vida, não sabia afinar, não sabia ouvir uma nota e cantar, isso é uma coisa difícil de fazer e era uma muita pressão. Ninguém me queria na banda e fizeram um episódio “Larissa fica, Larissa vai ou trocar a Larissa por outra pessoa” e eu numa sala, com todos meus amigos, as pessoas que estavam convivendo comigo... Tanto que eu vi eles falando de mim, na minha frente “eu não quero que ela fique. Quero trocar ela por outra pessoa...” e justamente as pessoas com quem queria tocar estavam dizendo essas coisas. Eu fiquei muito mal. Eu sofri bullying em rede nacional. Claramente eu era a pior baterista, e era mesmo, era a menos experiente, os outros dois são filhos de músicos, cresceram tocando e eu tocava há poucos anos e enfim... Foi muito ruim pra mim, muito pesado. Eu fui até ao final, a minha banda foi pro final, eu fiz o show cantando, eu cantei com a Pitty, eu vivi várias coisas muito massa, mas eu fui muito, muito violentada, no sentido psicologicamente. O tempo inteiro eu era motivo de chacota, depois que terminou eu fiquei com muitos problemas psicológicos e sociais, muitos. Eu não queria ter feito, se eu pudesse, não teria feito. Eu aprendi coisas, principalmente sobre tocar junto, com outras pessoas diferentes de você. Porque instrumentista de quarto não é músico.  Ele pode ter toda a técnica do mundo, mas se você não sabe sentir o outro, não sabe tocar. A música tem isso, é você dividir a experiência de sentir o outro, de tocar no tempo do outro... Isso eu aprendi, mas eu fui exposta a muita situação bizarra. Mas ao mesmo tempo eu vivi coisas muito foda.
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W: Bom, apesar de tudo o que rolou, hoje você tá num outro plano de vida, com dois projetos que rapidamente ganharam destaque como revelações na música independente (Ventre e Xóõ). Como funciona hoje em dia essa dinâmica entre os dois projetos? E como você se enxerga neles? Sobretudo depois da experiência do reality show que você relatou.
L: Antes de tudo, eu fiz o reality show, depois dele eu ainda continuei um tempo com a banda e aí eu tomei coragem pra sair da banda porque eu não me sentia representada. E desde que eu saí da banda, eu fui trabalhar com gravadora. Eu trabalhei em duas gravadoras e tocava meio que para não parar de tocar, eu não pensava em ser profissional da música. Eu entrei na Deck justamente falando inclusive pro Rafa que não queria mais tocar. Eu desisti de tocar, de ser instrumentista... E aí quando veio o convite do Gabriel Ventura e tocar as músicas dele, que eu já queria há muito tempo e tal, eu larguei tudo. Eu tava indo pra Valença, na Espanha, pra fazer um mestrado em música e negócios e eu sentei com eles e falei “então, vocês querem isso memo? Vamos viver de música?” e foi nesse dia que eu decidi mesmo e foi a única vez resolvi “ó, eu quero viver de música. Agora eu vou me dedicar a viver de música” isso foi lá em 2012, inicio de 2013, que foi quando eu tomei coragem de sair da Deck pra ir fazer isso. Desde que eu tomei essa decisão, até agora, acho que só no último ano que a gente colheu tudo... Foi o ano em que fiz a produção toda, fiz booking e tal, a gente circulou muito, e pela primeira vez eu fui muito chamada pra tocar. Eu via meus amigos serem chamados, o Gabriel toca muito bem guitarra, o Hugo toca muito bem o baixo, e eles eram sempre muito chamados e sempre gravavam coisas de outros músicos, como músicos sabe? E eu nunca fui essa pessoa. Nunca ninguém me chamava e esse ano, pela primeira vez, eu fui vista como instrumentista, como profissional. Pessoas me pagaram pra gravar músicas nos discos delas. As pessoas fizeram questão de me terem no disco delas e isso é uma coisa que eu nunca imaginei que eu teria, nunca se passou pela minha cabeça. Então, hoje em dia, é uma conquista muito grande. É a parada mais importante que já aconteceu na minha vida... Gravar em outros lugares, conhecer outros trabalhos, ser chamada e perceber que eu cumpro um papel importante, não só como instrumentista, mas como mulher. A Larissa que largou tudo pra ser instrumentista escolheu seguir um caminho que, como instrumentista, tinha pouco a ver com a técnica ou com o caminho que o baterista costuma percorrer, sabe? Eu acredito na expressão rítmica, eu tento colocar todas as coisas que eu sou quando eu faço uma bateria, fazer uma coisa diferente... Tento fugir do comum de uma forma muito minha, tento criar coisas que são marcas minhas e isso fez com que eu fosse notada não pela minha técnica, não pela minha agilidade como os outros caras, natural dos bateristas, não. Eu fui pela criatividade. Eu fiz do meu jeito, do jeito que todo mundo falava que tava errado e eu fiz todos eles me engolirem e dessa forma eu ganhei um papel para as outras mulheres e isso é mais do que tudo, porque eu sofri muito nesse caminho com os homens, até nesse caminho com a Ventre até aqui... Esse último ano ao mesmo tempo que foi maravilhoso, foi muito difícil, era muito embate o tempo todo, mas eu sei que de alguma maneira tem outras mulheres que tão começando a fazer isso porque eu fiz isso, saca? E isso é a coisa mais, historicamente importante. Porque do mesmo jeito que a música me salvou, a música vai salvar elas. A música tem um poder transformador bizarro, a música preenche nossos buracos, sombras, medos, ela dá voz à gente mesmo que a gente esteja calada. Ser baterista virou outra coisa, hoje em dia pra mim óbvio que me preenche, mas o fato de eu poder dar aula hoje, de entrar em contato com outras meninas, participar de projetos com o Girls Rock Camp, de poder conversar com outras meninas que vivem isso também, entender elas e fazer parte desse florescer feminino (que ainda é pouco) é a parada mais importante, é assim que eu me sinto. Com as bandas, a Ventre é a minha banda principal e como já falei antes, eu me aprofundei e me joguei na Ventre porque o Gabriel me chamou e ele fez questão de que fosse uma banda e que todo pudesse se colocar e expressar e todo mundo vai se sentir representado dentro da banda, naquela arte e é dos três. Hoje eu me sinto tão inserida nisso que isso me dá força e me deixa plena pra fazer muito mais coisas, chamar as meninas e pegar todo meu tempo e dinheiro que eu não tenho e investir em trazer mais meninas e me expressar. Nesse álbum novo da Ventre, por exemplo, eu to colocando as minhas letras, músicas, tentando me expressar mais, porque as meninas me davam força pra fazer isso numa banda que me dá espaço... Como eu sou sortuda, como eu tenho esse privilégio de ter esse espaço nesse momento, esse apoio, de gente que nem sabe que tá me apoiando. E o Xóõ é um projeto que veio porque era o projeto a solo do Vitor e a gente ia produzir o disco dele e antes disso, estavam procurando uma baterista pra tocar e aí eu fui lá tocar e acabei envolvida no projeto e colocando um monte de coisa de mim e ficando muito amiga do Vitor, acabou virando uma banda porque todo mundo acabou colocando muito de si. A gente gravou um disco em uma semana e a gente nunca tinha ensaiado, as músicas nunca tinham sido compostas antes, elas foram compostas na hora e feitas a partir da bateria, então o Xóõ começou no estúdio e terminou no estúdio. Começou na gravação e acabou na masterização e a gente lançou. A resposta foi muito massa, a gente se reuniu e fez dois shows até agora só... Somos todos muito amigos, a gente se diverte muito... A gente ficou uma semana em estúdio tentando tirar as músicas que a gente tinha feito e é muito divertido, é um projeto de libertação, é como se fosse um espaço pra você criar mais e desenvolver a sua criatividade pra algo que não é direcionado, acho que é muito importante isso na música. Que você não crie só a mesma coisa, quanto mais coisas diversas você criar, quanto mais mundos você poder passear, mais rico você vai ser, mais fluência você vai ter no instrumento, mais ouvido você vai ter... O Xóõ veio com isso e agora a gente gravou o segundo disco, no meio do ano passado, e aí o segundo disco foi massa porque eu participei inteiro da composição... Tem letra minha, tem muita coisa minha... Não era mais o Vitor, a gente sabia que era uma banda que tava metendo o dedo na letra dele... Eu meti o bedelho em tudo, participei mais ativamente e percebi que era um lugar também confortável de amigos, que todo mundo se admira e que eu tenho esse espaço de me impor e mais do que nunca, nesse último disco, eu fui incentiva. Isso é muito bonito. Justamente por ter tido essa onda, de os meninos estarem se aproximando e observando, querendo dialogar, eles falaram “Lari, faz aí cara. Faz o teu, deixa a gente na tua, deixa a gente aprender contigo.” O Vitor me apoia muito do tipo “Lari, faz tua letra!”. 
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  W: Então você nem tava acostumada a ter essa liberdade de criar desse jeito, né?
L: É! Muito foda! Pela primeira vez tavam me tratando como uma pessoa. Na minha história na musica eu sempre fui tratada como incapaz, então é muito foda que eu tenho amigos que me olham e valorizam como igual, não como melhor ou como coitadinha “vamos dar espaço pra ela”... Pra gente ser aprovada, a gente se masculiniza “eu quero ser que nem eles, eu quero tocar com eles” eu tenho que inibir minha fragilidade, a minha TPM, a minha menstruação... A gente não quer percebida como diferente. Quer ser igual, é muito difícil.
W: E para além disso, rolam todas as pressões de nós mesmas e as exteriores no que toca à nossa aparência física e esse meio parece ser particularmente duro para a mulher, pela exposição no palco e tudo mais...
L: Falando em aparência... Eu uso sempre batom no palco, uma vez toquei sem batom no palco e me confundiram com um cara “porra, esse maluco toca pra caralho hein”. Agora de toda vez que eu entro num palco, eu toco com batom pra reforçar que eu sou mulher, eu não quero ninguém achando que eu sou um cara. O cara nem quer olhar direito pra mim, é mais fácil assumir que é um cara com cabelo grande.
W: Voltando um pouco atrás na conversa e focando na tua experiência com dois selos bem distintos (Deck e Balaclava) e também com o role feito com a Ventre mais “do it yourself but together”, gostaria que você me falasse um pouco mais sobre tudo isso e qual o balanço de cada uma dessas experiências.
L: Eu fiz Produção Sonográfica e aprendi várias coisas sobre gravadoras que estão erradas. Primeiro, eu acho que nada da vida prática de um músico se aprende estudando, se aprende na estrada. Não existe uma formula pra fazer sucesso, pra gravar, você escolhe, você molda, você cria, o seu método... Isso é o mais bonito na música. E foda-se se eu fiz faculdade disso, tem gente que nem vai pra faculdade e aprende muito mais que isso. Meus professores da faculdade viveram os anos dourados das gravadoras e eles lembravam aquilo pra gente. Então quando eu fui trabalhar pra primeira gravadora, a Biscoito Fino de MPB, eu fazia todos os lançamentos e produção artística. Eu já fui desde assistente de estúdio, fazer cafezinho até levar o contrato a casa do músico porque ele não tinha assinado o contrato. Eu fazia todo processo do disco, do início até ao fim. Eu aprendi muito. Fiz Gilberto Gil, Maria Bethânia, Chico Buarque, Morais Moreira... Aprendi tanto, conheci pessoas, conheci aqueles grandes ídolos do Brasil. A experiência que eu tive lá foi muito linda, muito foda. Depois surgiu a oportunidade na Deck pra ser assistente do Rafa Ramos, eu era o departamento artístico inteiro, o Rafa e o pai dele, o João, eram diretores artísticos. Nessa época eu também trabalhava com a Polysom, fazendo também a parte artística da fábrica de vinil. Foi também muito incrível trabalhar na fábrica, muito lindo tudo que vivi. Eu pude ver todo o processo de mapeamento, de como a gente pode expandir um artista, também fui vendo quando uma gravadora fala demais pro artista que ele é foda e ele acredita e vi o estrago que rola. Então eu percebi a relação da gravadora com o artista... Quando ele era nada, era nada – não tinha valor agregado nele, ninguém queria investir nele – e quando ele era tudo, era muito mimado “tá bom, você pediu, a gente faz. Faz do jeito dele, não contraria não!”. Então quando eu cheguei na Deck eu falei “ó, eu não quero bajular artista! Se alguém tiver que fazer essa função, não vou ser eu! É a única coisa que eu peço, porque isso faz mal pra ele e pra mim.” Percebi que não existe nada que uma gravadora possa fazer pelo artista que o próprio artista não possa fazer por si mesmo. Todo o artista pode achar uma distribuidora... Hoje em dia, todos os canais de TV, rádio, eles querem ser os lançadores das coisas. Por mais que tenham as gravadoras que vão e enviam, as assessorias de imprensa, eles querem te cobrir, eles contratam curadores pra descobrir onde estão esses artistas. Então, na real o que você tem que fazer é mandar o seu produto pra todos os blogs do mundo, você tem que fazer com que falem de você pra esses curadores descobrirem o seu trabalho. É só estar todos os lugares e rodar e conhecer o máximo de pessoas possível. E olhar qual é a sua verdade, eu não posso querer seguir o mesmo caminho de outro artista. Em algum lugar você se encaixa e não necessariamente o selo vai fazer e oferecer algo que a banda precise. Eu vejo muitos selos novos se formando e o papel deles é muito importante, porque é o mesmo papel da associação – de unir os artistas do mesmo nicho e o selo promove esse encontro. Hoje em dia todo selo tem Bandcamp, é muito mais fácil mandar uma pauta por e-mail e as pessoas respondem, os contatos não estão ocultos, estão todos na internet. É muito fácil você mandar material. Hoje em dia talvez valha mais a pena uma banda contratar uma assessoria que conhece pessoalmente o cara, do que o selo. Então o selo, na verdade, ele serve pra fazer mais contatos por você. Vender você pra outras pessoas, de forma a que você não tenha que se vender, mas você não precisa disso. Ás vezes mais vale você fazer as coisas do seu jeito, procurar outra banda que você goste e fazer junto do que você ficar numa parada que nem é a tua. 
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Se acontecer de você entrar pra uma grande gravadora, também tá correndo o risco de competir com casting. Se eles têm outra banda de rock, do mesmo estilo que você que é um pouquinho maior, eles vão botar a outra, você vai perder. Então porque você não cria suas oportunidades? Eu acho que existem vários caminhos e tamanhos de banda. Se você tem uma banda que acabou de começar, você tem que fazer seus corres, agendar seus shows, entrar em contato com as outras bandas, com as casas, entender como que as as casas negociam, quem é legal, quem não é, quais são as bandas que são parecidas e pilham em faz coisas junto, etc. Com a Ventre, o volume de trabalho cresceu tanto que a gente não tava dando conta... Marcar show, gente mandando e-mail, etc. Outra coisa, nunca deixe as pessoas fazer por você o que você tem que fazer. Você tem que fazer sua música, o seu mapa de palco e saber como vai ser o show e o seu set, e você tem que fazer sua comunicação com os fãs. É você que vai falar com as pessoas, se conecte com essas pessoas e entenda de onde elas são, o que elas fazem, se interesse pela vida delas, porque elas se interessam pela sua e o mínimo que você faz em retribuição a elas é “e aí, o que é que você faz da vida? O que você gosta de comer?” é se interessar por elas, então se comunica. Não se comporte como um artista que se acha superior a todo mundo. É o publico é quem faz você, as redes sociais tão aí pra juntar você com essa galera e não fuja disso nunca. Então o selo não é pra fazer sua rede social, não é pra marcar show, ele é pra distribuir seu conteúdo, mas você também pode fazer isso. Bom, com tudo isso de coisa acontecendo acabou surgindo uma proposta da Balaclava e justamente a gente fechou com eles porque era pra ser uma relação bilateral, uma parceria. Eles trabalham com a gente, eles vão distribuir, fazer ações, vai buscar shows porque esse é o perfil da Balaclava e não de todos os selos. Eles têm essa relação também com outros selos gringos, artistas, eles apresentam o artista pro outro, agora eles têm uma casa de shows, então eles tão abertos a propostas... eles falam “ó, não vamos ser bábá de artista” e isso é o principal. O selo não vai fazer sua vida, ele não vai cuidar da sua vida. Ele não vai fechar show pra você e você vai ficar em casa de pernas pro ar. Você vai fazer, você vai correr atrás, quando tiver uma proposta você vai perguntar “po, velho. Você acha que vale a pena?” porque é importante saber isso, saber se você vai estar tocando pra tocar ou não, quanto que os outros tão cobrando, etc. Muitas vezes querem fazer evento no Rio, a gente passa os contatos, eu ajudo, ou então se a gente tem o contato do tal artista gringo que eles querem trazer, eu passo o contato, faço o intermédio... Somos todos pessoas que trabalham com a música, onde um tem parceria com o outro, isso é muito importante esclarecer. Ninguém tá aqui pra salvar a vida do outro, ninguém tá aqui investir em ninguém. Aí as grandes gravadoras têm um outro jeito de pensar, eles não se metem com show, mas eles se metem com TV, com rádio. Mas se você tem uma banda que acabou de começar, você quer tocar na rádio, mas só que não funciona de você tocar na rádio agora, porque você precisar ter um mínimo de público. Você tem que fazer um público base, não adianta você querer dar um passo maior que as pernas. Então, é muito relativo o papel do selo, cada um é uma coisa e você precisa saber quem é você, ponto.
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W: Mudando um pouco de assunto, gostaria de saber como foi tua experiência a nível pessoal e profissional com tua primeira vez no Girls Rock Camp, esse ano?
L: Foi a experiência mais viva e mais pulsante da minha vida, foi quando eu senti que fazia sentido estar viva. Primeiro porque eu andei, nesses últimos tempos, lendo muitos livros de mulheres que eu ganhei de meninas que foram no meu show e se sentiram inspiradas por mim e me deram livros pra eu me inspirar, de volta. Já é o terceiro livro que eu ganho de pessoas que foram em shows da Ventre e que viraram amigas, mulheres que eu admiro, que eu troco ideia... Lembra do livro da Kim Gordon que eu ganhei? Então, eu percebi que não queria ter filhos. Eu não quero ter filhos... Eu, nessa fase de 27 anos, indo pros 30, que é um momento que a gente olha pras crianças e quer chorar porque elas são lindas e maravilhosas e fofas e você quer ter o seu, eu tava casada, tava pensando em ter filho e tal... Mas agora eu percebi que não quero porque a minha profissão vai fazer uma criança sofrer, eu fico fora de casa, fico viajando, é isso que eu quero fazer e escolhi isso muito antes de tudo e essa é minha prioridade. Então entendi que a gente quer ter um filho porque a gente quer deixar um legado nesse mundo, uma coisa meio egoísta “ai, quero deixar minha marca”, mas eu posso fazer isso. Posso fazer isso nas crianças que já estão aqui, eu não preciso de ter uma criança só minha, com as minhas características, com a minha genética. Então essa vontade de ir pro Camp surgiu daí “eu vou mudar a vida das crianças agora! Primeiro eu vou dar aulas de bateria pras mulheres que já estão aqui e preciso mostrar pra elas que qualquer mulher pode tocar bateria” meu curso tem a ver com expressão rítmica, composição e bateria intuitiva. Não é técnica, é sinta-se a vontade pra se expressar, aqui é o seu lugar de fazer isso. A minha pilha era de entrar nesse espaço pra crianças e construir isso dentro delas, desde sempre “olha, música – ela não é técnica. Ela é um lugar de se divertir, de se expressar.” Aí eu conheci esse projeto e falei “fodeu, preciso de ir!”, me inscrevi e tive a sorte da Flavia Biggs ser uma pessoa muito aberta e ela identificou que é uma dificuldade das crianças, como elas iam tocar juntas, de seguir o mesmo ritmo. Então ela me pediu pra fazer uma oficina de Ritmo e Compasso, que seria uma base para as crianças poderem tocar juntas. Eu fiquei três meses pesquisando, pra dar essa oficina e enviar uma proposta. Aí eu testei, fiz uma oficina lá em Recife com a PWR Records, consegui mandar minha proposta, rolou e fui lá como Produtora Musical e com o Workshop. Aí eu cheguei lá e vi um monte de meninas numa quadra, que não se conheciam, que estavam se dividindo por bandas e mais de acordo com as meninas com quem se identificavam do que com os cartazes. Cara, eu vi as meninas falando “essa menina é chata, aquela é louca, eu não quero essa menina...” e no penúltimo dia, veio um site entrevistar e aí eu vi elas falando “ah porque eu aprendi aqui que não adianta julgar minha amiga antes de conhecer ela, não adianta eu olhar pra ela e falar que ela é feia, eu não conheço ela.” As mesmas pessoas que estavam julgando, percebendo que isso estava errado. Além de tudo, eu como mulher assim, eu saí de um projeto com doze mulheres, o Xanaxou, um projeto que me dediquei muito, coloquei minha alma na parada, e acabei saindo porque é muito difícil trabalhar em grupo quando você é mulher, muito difícil. A gente tem um problema na forma de realizar, não é a capacidade de realizar, é a forma como uma lida com a outra... A gente ainda é muito competitiva. E quando eu cheguei nesse projeto, vendo todas as mulheres cooperando e todas as meninas cooperando, e as meninas aprendendo a serem amigas e a não competirem e a gente também... Eu tinha três turmas de 30 crianças e eu vi todas as voluntárias a me ajudarem a dar as aulas, eu vi todas elas empenhadas nas minhas aulas como se fosse a delas. E quando eu saí dessas aulas, eu entrei nas aulas de bateria e falei “vou ajudar!” e acabei virando instrutora, assim como eu virei faxineira, assistente de câmera, sei lá. A gente vira tudo, a gente ali é só uma base, um vetor, uma energia, praquilo acontecer que é o mais importante de tudo, que é uma nova geração de meninas que se amam e não querem ser meninos, amam ser meninas! Elas entendem que ser mulher é exatamente a mesma coisa que ser homem, ela pode fazer tudo! Isso é a coisa mais importante do mundo! E eu entrei ali pensando “po, eu queria ter tido isso!” e nos primeiros dias eu chorava e pensava isso e, no final, pensava “elas têm isso! Que lindo que elas têm isso! E que maravilhoso que eu to podendo participar disso!” quero que todas as mulheres participem disso. Então, o projeto é que já em 2018 aconteça lá no Rio. Já to juntando meninas e a gente já tá começando a fazer eventos lá pra criar essa energia, pra descobrir quem são as voluntárias, pra abrigar o Girls Rock Camp em 2018 e eu acho que é um projeto que tem que conquistar o mundo mesmo.
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W: E pra finalizar, você lembra de algum conselho que tenha dado pra alguma das meninas no Camp? Ou se não, que conselho você daria pra uma dessas meninas?
L: A primeira coisa que eu falei quando cheguei lá foi que quando você tem uma banda é você olhar pra sua amiga e confiar nela. E quando ela errar, você não pode ficar chateada, você tem que ir junto com ela. Vocês têm que ir todas juntas. E se você não for junto com elas, você que vai errar. Então é confiar e apoiar, sempre. Antes de qualquer coisa num show, olha no olho “vocês tão prontas?” olha no olho, todo mundo falou que sim? Então vai. Essa olhada no olho é a coisa mais importante que tem numa banda. A música é conexão, é transmissão. Ver o outro, ver o outro tocando, prever quando ele vai fazer o próximo movimento e prever. Muito engraçado que muitas escreveram no meu caderninho tipo “obrigada tia, você me ajudou no momento que eu mais precisava”. Agora meu conselho é: leiam o livro da Kim Gordon, o livro da Amanda Palmer, se masturbem gente. A música é um gozo, se você não souber como é que você se sente plena nela e se você tem um coração e dois ouvidos, você é capaz de fazer música. Se você consegue andar e escrever mensagem de texto, você consegue sentir. Se conheçam, antes de qualquer coisa.
Ventre
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Fotos: Filipa Aurélio
WANWTB // 2017
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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A Anna foi daquelas surpresas que esperamos que se repitam muitas vezes nessa vida. Conhecemos ela no primeiro dia da primeira edição do Festival SÊLA (e olha só que dia mais especial pra se conhecer alguém tão especial, também) e não só tivemos a oportunidade de entrevistá-la, conhecê-la, mas como presenciar seu show da turné #MeClareia. Um show emotivo, diversificado musicalmente e artisticamente. Leiam um pouco mais sobre seu histórico, trabalho e influências <3
“Anna Tréa é música multiinstrumentista, cantora, compositora e arranjadora paulistana que tem como marca registrada a maneira peculiar de apresentar o formato voz e violão. (...) O estilo que Anna arrisca chamar de Música Experimental Pop Brasileira, é fruto do flerte com os mais diversos estilos. Ritmos brasileiros como baião, samba, maracatu, maculelê cordão de ouro (mais conhecido como ritmo básico do funk carioca) , boi maranhense e o samba-reggae são entrelaçados com ritmos do mundo como o blues, folk, groove americano e mantras indianos.”
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W: Fala um pouco pra nós sobre você e sobre seu trabalho mais recente, que acabamos de escutar e presenciar no primeiro dia do Festival SÊLA.
AT: Eu sou de São Paulo, lancei um disco chamado “Clareia” e é meu primeiro disco e eu estou excursionando com ele com a turné #meclareia e foi todo gravado por mim. Todas as composições são minhas e acaba sendo um processo bastante muito individual, embora envolva outras pessoas, mas o processo de criação e execução é bastante individual, porque eu queria manter a raíz das ideias e como eu toco vários instrumentos, mas todos muito do meu jeito e penso muito nas coisas do meu jeito, eu queria imprimir isso. O interessante é que ele tem uma caraterística flutuante, ele não é um ser bateristico, ele era pra ser um cd de violão e voz apenas, porque é uma caraterística forte, não é um violão apenas de acompanhamento, ele fala muito. Tem também essa coisa de vivência da música instrumental, então a voz acaba embarcando muito com o violão e tem muito dessa brincadeira e aí quando eu estava conversando com o Junior (produtor) chegamos na conclusão de que seria legal imprimir isso, eu falei “po, mas não vai ter nem uma percussãozinha? Uma guitarra?”. Eu penso muito percussivamente e eu acho que isso se imprime no violão, mas acho que tem limites né? Eu queria tocar uns tambores, brincar bastante com os efeitos de voz, que é uma coisa que eu gosto... Acaba versatilizando a parte ao vivo, esses efeitos de voz. E assim acabou saindo esse disco, que fui colocando coisas, mas sem nenhuma pretensão de parecer uma instrumentista e sem ser virtuosa, queria muito que o que tivesse que estar lá, estivesse lá e só. Então tem uma música que tem um copinho de vidro, tem uma música que já tem um monte de efeito de voz, tem outra que é um trio de tambores... Queria que ele ficasse sem muita coisa. E o interessante é a turné desse disco, porque ela é o inverso disso. Agora eu quero experimentar essas interferências de pessoas. E eu acho que vai além do meu estilo musical, que é muito diverso, tenho vivência em quase todos os estilos que eu conheço. Recentemente eu estive em Barcelona e aí eu fiz uma jam lá com um tablista, então você imagina esse som totalmente afro com um tablista... Eu experimentei fazer com uma bailarina também, uma vivência onde eu me conseguisse misturar com ela e não só fizesse a trilha pra ela. Então acho que é essa busca, como é que a gente consegue realmente se unir e fazer isso junto? Como é que as pessoas vão interagir de uma maneira realmente homogénea com esse trabalho? Tá sendo bem interessante, desde um apego das coisas que eu não abro mão até ao desapego, onde tudo bem a gente ir pra outros lugares... Tenho recebido fotos, quero trabalhar com a galera do cinema... 
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W: Então você já tem essa ideia, pretensão de envolver nos shows vários elementos audiovisuais, das artes...
AT: É, mas de uma maneira drops... Cada show com uma coisa, um conceito, não tudo num show só. Senão acaba sendo essa formação, um duo, eu no violão e o Kabé nas percussões. E a gente recebe outras pessoas, mas estende esse tapete para que as pessoas possam realmente interferir na música.
W: Em cada show que vocês fazem estão conseguindo reparar nas reações diferentes das pessoas? Como está sendo essa interação com o público e com você mesma?
AT: Para o publico, acaba que eu estou num momento de construção, já não sou tão nova, já to aí faz um tempo e tal... Mas o disco é novo, então cada dia é um dia de você conquistar e ser conquistada e eu acho que a melhor maneira de conquistar uma pessoa é baixar todas as suas armas e falar “ó, o que eu tenho de melhor é isso aqui.” Eu até falei no show que em tempos atuais a gente tá falando muito sobre o que nos separa, mas eu acho que a gente tá indo justamente no inverso disso, que é o que nos une. Então acho que essa vulnerabilidade e a fragilidade, a necessidade de coragem, tudo isso nos une. E como eu falo muito sobre isso eu percebo uma reação muito inesperada, não só porque é uma mulher cantando e tocando todos os instrumentos no palco e brincando muito, fazendo umas piadas, pulando no meio da galera, mas porque ela tá falando de coisas que de repente não é tão simples, mas é simples. Porque eu acho que se tem um lugar onde a gente se une, é esse lugar de ter que ter coragem. No fundo a gente se sente muito só. Isso criou uma empatia, um lugar de conforto, que cria sempre um ambiente nos shows... Das pessoas chorarem muito até elas toparem dançar, se soltarem, só sorrirem e ficarem numa boa... E acho que cabe a mim também ficar numa boa com isso. Eu sinto muito amor sempre, vindo das pessoas. Sinto muito que essa parede se quebra e a gente faz juntos esses shows. Esse lance do show ser interativo é também com as pessoas. Recentemente eu fiz um show que o show era linóleo, aquele piso de borracha de dança, tinha um palco e onde as pessoas ficavam era de linóleo, então o show quase que aconteceu completamente ali no meio com as pessoas. Então acaba que cada show é um show. Mas eu percebo que o grande objetivo acaba sendo alcançado, que é isso de quebrar essa parede e falar “Vamo aí! A gente precisa se juntar!”. 
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W: Falando nesse derrubar barreiras, que barreiras você já derrubou na música pra chegar no ponto em que você se encontra hoje?
AT: Eu acho que enquanto você não conhece o feminismo, não conversa com outras mulheres dessa maneira desnudada, fica um lance e a partir do momento que eu comecei a me juntar com outras mulheres e a entender esse universo, entender de sororidade e entender realmente o que é isso, desmitificar a mulher, porque ela é muito mistificada até para a própria mulher dentro desse sistema... Aí eu percebi as dificuldades, porque pra mim eram dificuldades. Na verdade, eu sempre fui furando todas elas sem saber. Então tem coisas que eu não consegui fazer por ser mulher, de não conseguir trabalhar numa loja de música por exemplo, porque o cara cismou de eu ser mulher... Eu queria ter proximidade, porque não tinha condições financeiras, com coisas tecnológicas e pensei “putz, vou trabalhar numa loja e vou entender dos equipamentos” e logo na primeira loja onde eu fui o cara falou que eu não podia trabalhar ali porque eu era mulher e eu falei “e eu acho que você precisa ser processado”. Mas aí já foi um banho de água fria e pensei ir por outro lado... Mas eu quero isso, minha vida é isso, não existe Anna sem música, sem arte... Então eu fui indo. Fui entrando nos espaços, mas existe uma resistência, uma cobrança maior, uma coisa é um cara errar, outra coisa é uma menina errar... Uma coisa é uma menina se propor a dar uma ideia, outra coisa é um cara se propor a falar e dar uma ideia... Eu acho que tem também uma parte do meu perfil de ser, não é combativa, mas se eu quero falar, eu vou falar. Eu já bati muito de frente, em alguns lugares você consegue realmente respeito e outros não, você só fecha a porta e fica uma bagunça, mas eu acho que agora to num movimento de ter um jogo de cintura e também já conhecem melhor meu trabalho, então acaba que ou eu sou convidada pra fazer um trabalho ou quando eu chego já tem alguma indicação e tal. Você vai se neutralizando. Eu acho que quando você tá falando de um sistema que é muito estabelecido e endurecido, ou você aprende a chegar nesses lugares ou você tem que estar com uma galera muito grande. O mundo tem bilhões de pessoas, você vai mudar sozinha esse sistema? Mas a presença feminina deixa os homens muito inseguros, em todos os sentidos. Eles têm total incompetência em lidar com as mulheres, porque existe esse pensamento coletivo de que a presença da mulher é sexual e existem outros homens que acham que nossa presença os distraem...
W: Ao longo das nossas entrevistas a gente vem reparando num padrão de acontecimentos, sobretudo nas mulheres acima dos 30 anos e nos entraves colocados quando tentaram aprender a tocar algum instrumento e eu queria te perguntar se você, também, passou por essa mesma experiência? E se ainda hoje em dia existem esses entraves?
AT: Esse lance que eu narrei sobre a loja, por exemplo, foi um grande entrave. Porque de alguma maneira isso fica no seu subconsciente e “ah, não é possível!” e desde você ir procurar um instrumento e o cara te falar coisas que ele não falaria pra um cara que chegasse e não soubesse nada, mas é um cara “ah então vamos ver se você sabe quantas cordas tem um violão” sabe? Umas perguntas bizarras assim. Eu acho que essa cobrança também de cada vez que você sobe num palco, porque quando você tá descobrindo esse amor pelo palco, é tudo muito frágil. É você ali pra muita gente ver, parece só alegria, mas não é... É muito assustador também. Então a maneira como as pessoas te recebem nesse momento quando você tá começando, é muito marcante. E no meu caso os entraves eram: ou eu tinha que lidar com essa sexualidade toda, enfrentar isso... Até porque eu sempre toquei e cantei junto e sempre fiz isso independente das pessoas ou não, então já fui pra lugares sozinha nessa situação, enfim... Ter que lidar com isso e com a maneira como os caras ali por detrás do som mesmo e como eles se comportam. Então acaba te deixando numa situação de insegurança, de desconforto e cria uma necessidade de você saber o dobro, o triplo, de você ter que se desdobrar muito pra estar muito preparada porque a qualquer momento os caras vão fazer uma pergunta só pra saber se você sabe. Essa hostilidade é muito viva. Então é isso, os caras não tão sabendo lidar com a nossa presença, porque parece que se eles não fizerem essa pergunta e desmoronarem a gente e colocarem a gente no “nosso lugar”, a gente vai fazer isso com eles. Tá na cabeça deles, porque eu não vou fazer isso. A gente tá ali pra construir algo juntos e isso não fica claro. É sempre contra, é uma bagunça. Até nessa de chegar e conversar com todo mundo, conhecer todo mundo, porque a gente vai trabalhar junto. Para o mesmo ponto, no mesmo lugar. E ainda que existam todas essas relações humanas e tal, a gente tem um ponto ali, uma coisa que nos une. A gente precisa ter o foque nisso. Fazer um show foda. Então vamos fazer um show foda, é isso.
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W: Esse trabalhar em conjunto, o homem e a mulher, de igual pra igual é realmente algo importante e para que o resultado seja melhor pra todo mundo, né?
AT: É isso, o objetivo seja que no isso não faça nenhuma diferença (ser homem ou mulher). Tipo assim, se alguém me ligar pra gravar, será porque eles querem uma guitarrista com meu estilo... Essa presença conceitual precisa acabar. Mas primeiro, nós precisamos estar presentes. Depois a gente vai para o segundo passo.
W: E como surgiu esse convite para participar no festival da SÊLA?
AT: O convite partiu da Cris, admiro muito o trabalho dela e ela admira o meu trabalho também e ela falou “Cara, você precisa muito conhecer as meninas!” e acabou que eu participei de um festival que a Camila Garófalo produziu junto com a Larissa Baq, que era o Festival Sonora e lá eu acabei conhecendo as meninas e a gente começou a se “paquerar” no sentido “putz, tá rolando um movimento”... Eu também tenho um projeto chamado “Todas as Aspirações do Mundo” que homenageia mulheres compositoras de todos os tempos e eu me senti abraçada por esse projeto, porque eu também faço isso lá, nesse outro projeto... De trazer banda de mulheres, homenageando outras mulheres, criando links com poetisas e mulheres de outras áreas... Tentando trabalhar com mulheres, oferecendo oportunidades para que nós todas possamos estar juntas e trabalhando, exercitando. Então a gente acabou ficando próximas e daí surgiu esse convite por conta desse festival, a Camila falou que queria pessoas que fossem pontas de lança em algumas coisas, que pudessem falar com propriedade de algumas coisas e ela me convidou por ser também multi-instrumentista e poder falar sobre isso. Fiquei bastante feliz com o convite.
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W: E para finalizar nossa entrevista e tendo em conta essas barreiras/dificuldades e aspirações na vida, que conselho você daria pra alguma menina ou mulher que tá apenas começando na música?
AT: Eu acho que toco numa questão muito humana da coisa independente. A gente vive num mundo onde as pessoas têm esse lance de uma entristecer a outra. Então acho que isso é uma coisa pra gente sacar assim, a gente vive num mundo onde as pessoas são majoritariamente tristes e a gente precisa se armar com nosso próprio Sol, pra tudo que a gente for fazer. Acho que é fundamental a gente seguir o caminho do nosso coração e ter certeza de que a gente precisa fazer aquilo, por exemplo: você vai numa aula de música pela primeira vez e o cara ou a mina tem um caminho ali pra você seguir, mas esse não é o único caminho, e eu acho que isso serve pra absolutamente tudo. Não há um só caminho pra se fazer as coisas. Então se você quer compor, componha. É um ato de coragem. Eu tava falando sobre isso essa semana, é um ato de coragem e de libertação, você compor. Porque você precisa saber o que você tem pra dizer, independente do que as pessoas querem ouvir. Você tem que fazer pra você, por você, pra que você vibre com essa música, que você se divirta muito, nem que seja dentro da sua casa. A música é uma salvação, entre tantas outras. E aí você precisa se desfazer de todos esses barulhos que são colocados pra compor, pra tocar... E ter certeza de que você, assim como qualquer outra pessoa, precisa ser maleável nesse sentido, porque vai ter gente endurecida que vai falar “ai tá uma droga, não sei que lá...” mas existem muitos caminhos, muitas pessoas, muitos nichos... E você pode ir pra muitos lugares. “Ah não gostaram da minha música aqui, vou pra outro lugar.” É uma auto investigação o tempo todo, você precisa saber o que você quer e ter coragem de querer aquilo, porque também tem isso. Coragem de querer. “Ah não, não é possível... Eu preferia querer outra coisa e agora?” Diz que a dúvida é quando você sabe o que você quer, mas você preferia querer outra coisa. Então é olhar, ver o que você quer fazer e se vai te fazer bem, e nunca desistir na primeira, de qualquer coisa. Foi fazer uma aula e o cara não foi legal, tenta outro, tenta outra pessoa. Fui tocar e não foi legal, tenta outra vez.
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WANWTB // 2017
Fotos: Filipa Aurélio
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Foto: Anna Maria Lopez
Samira Winter é a criadora da banda Winter e recentemente esteve no Brasil divulgando o último trabalho "Supreme Blue Dream" (2015) e dando uma amostra do próximo álbum (o primeiro álbum gravado em estúdio) previsto para ser lançado em 2017. Jornalista por formação e barista nas "horas vagas", Samira que é Curitibana e mora em Los Angeles falou com a gente sobre suas inspirações e sobre suas percepções acerca do mercado fonográfico californiano e brasileiro. Vem ver:
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Foto: Shabnam Ferdowsi
W: A gente pede pra ti te apresentar, falar teu nome, tua idade e os projetos que tu trabalha. S: Meu nome é Samira, eu tenho 25 anos, eu sou compositora, vocalista e guitarrista da Winter e eu sou barista num café.
W: Pode falar um pouco da tua trajetória na música, desde quando que tu toca? S: Eu sou de uma família que sempre gostou muito de música de festa, performance, sabe? Todo mundo é bem figura. Meu pai é americano e ele sempre me mostrou bastante punk, tipo The Cramps, Dead Kennedys e minha mãe é brasileira de Curitiba e ela sempre gostou bastante de Djavan, Milton Nascimento, Carly Simon e quando eu fiz 12 anos eu comecei a tocar violão, comecei a fazer aulas de piano e comecei a compor. E eu tinha umas bandinhas tipo cover, mas nada muito sério e eu comecei a compor mas como se fosse um diário e quando eu tava na faculdade que eu pensei em fazer uma banda, porque eu queria muito ter uma banda. Acabou rolando de eu gravar uma coisa com um amigo meu que foi um dos primeiros da Winter e alguém falou; "faz um show”. Daí eu tive que ir atrás de uma banda e desde então rolou, nesses dois últimos anos tem sido uma banda que é bem colaborativa e uma galera que eu curto muito.
W: E tu fez faculdade de quê? S: Eu fiz jornalismo.
W: E tu seguiu? S: Não.
W: Rolou algum momento de tensão pra decidir entre a carreira no jornalista e a música? S: É que assim, carreira no jornalismo não ia dar. No final da minha facul eu já tava tipo: ''ai não sei se eu vou querer fazer isso".
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Foto: Caca Cornelsen
W: Tu vê alguma diferença no cenário independente do Brasil e em Los Angeles que é onde tu mora? S: Eu achei que aqui como não tem tanta banda a comunidade musical é bem pequena, mas é bem unida, têm uma galera que é mais fiel e como não acontece muito quando acontece eles se importam, querem representar, dar um apoio. E lá têm uma cena muito legal, mas como é maior as pessoas não se importam muito com você é mais competitivo e aqui é mais família, não sei se é mais impressão minha mas jornalista e a galera da arte é todo mundo bem unido.
W: Todo mundo querendo falar sobre ... E em Los Angeles tu também trabalha com a Lolipop como funciona o apoio, essa troca entre vocês? S: O apoio  começou quando a gente se mudou pra lá, Los Angeles, porque a gente não conhecia ninguém, a Lolipop lançou nosso EP, nosso disco e nos ajudaram a fazer parte de uma comunidade de bandas a conhecer mais gente até assim com sociais, eles postam bastante, ajuda a ter mais seguidores, só que recentemente a gente meio que cresceu e conseguiu fazer a nossa própria coisa, a gente não é super independente é uma relação mais de que eles ajudam quando a gente precisar.
W.: Sim, é um apoio mais online do que offline. S.: É.
W.: Tu sente essa diferença com a Honey Bomb aqui? S.: Nossa, muita coisa, é a razão da gente estar aqui agora, eles ajudaram demais com essa turnê, não ia ter rolado tudo isso, nos ajudaram muito, nossa eles são demais.
W.: E pensando mais nessa questão da representatividade feminina, tu acha que tá mais favorável. S.: Muito favorável, se você for uma menina e estiver lendo isso agora, pega um instrumento e começar uma banda, acho que muita gente acha legal (eu sei que é estranho isso e na verdade meio machista) mas todo mundo adora ver mulher fazer música, tocar, cantar, qualquer instrumento e hoje em dia as pessoas são mais mente aberta, estão animados e vão apoiar mais.
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Foto: Chelsea Brown
W.: Tu sente alguma diferença de tratamento por tu ser mulher na música ou nada a ver? S.: As vezes é pro melhor, que daí a galera é mais boazinha com você, ás vezes é pro pior porque dai eles assumem que você não sabe tanto. Coisinhas assim, o cara do som, você sente que ele acha que você não sabe a mesma quantidade da outra galera.
W.: E já teve alguma vez que tu foi desencorajada a seguir na música ou pensou em desistir? S.: Música é muito difícil, pensei em desistir bastante mas, na verdade as pessoas me encorajam muito. A razão que eu tô tocando é por causa das pessoas. Tocar em Brasilia foi pra mim um: "não desista da música".
W.: Mas porque esse pensamento de desistência? S.: É mais o financeiro, eu tô com 25, seria massa ter dinheiro. Mas essa desistência acho que passa por todo mundo, que qualquer coisa que você vai fazer e que te dá um pouco de insegurança, mas no geral eu ia ficar muito chateada comigo mesma se eu desistisse.
W.: Hoje em dia fazendo turnê, tocando normalmente na banda tu/vocês conseguem se manter? S.: Não, é muito difícil, na verdade a gente nem reparte o dinheiro que a gente ganha com a banda, a gente bota num banquinho pra quando a gente precisa gravar ou fazer um clipe, coisa mais cara, a gente tem. Pra turnê também, coisa pra comida, gás (...)
W.: E falando sobre o processo de gravação desse teu último álbum, tu pode falar um pouco das referências, como surgiu como foi gravado ? S.: Esse último álbum a gente passou o ano inteiro passado tocando essas músicas no ensaio, entendendo elas melhor. E no comecinho desse ano (2016) a gente entrou no estúdio, foi bem tipo banda, todo mundo dando uma opinião, foi bem colaborativo. Foi o primeiro álbum que realmente foi gravado com as pessoas que tocam, primeiro álbum que não foi feito no quarto. Acho que a galera vai curtir. O nome do álbum é "Ethereality” que é uma palavra que é real e etérea.
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W.: E da onde surgiu o conceito? S.: Surgiu numa entrevista, um menino perguntou: "se vocês estivessem num festival como se chamaria?" Daí o Matt nosso guitarrista falou "Ethereality" e a gente ficou tipo: “esse nome é muito bom, vamos botar no nosso álbum", mas acho que de influência Cocteau Twins, Apanhador Só, acho que vai de cada pessoa que tem uma influência que inspira. 
W.: E o que tu anda ouvindo ultimamente? S.: Uma banda da California chamada Golden Daze, uma guria BRVNKS e também Felipe Alvim, eu adoro ele, conheci os dois em Goiânia.
W.: Então tu tem acompanhado bastante a cena aqui; S.: Aham, muito.
W.: Queria saber se tu durante a tua trajetória na música teve alguma mulher que te inspirou. S.: Sim, com certeza a Bilinda Butcher do My Blood Valentine ela é uma guitarrista muito boa e até o jeito como ela se veste, eu sempre me inspiro. A guria do The Cranberries, um vozão. A guria do The Cardigans, a Jenny Lewis do Rilo Kiley,  Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, muitas mulheres.
W.: Tu pilharia fazer uma playlist com as tuas referências pra gente divulgar? S.: UHUM. Vamo!
W.: Pra finalizar, quero saber se tu tem uma dica ou um conselho pra uma menina que tá a fim de começar, além de começar que é o que tu já falou né? S.: Acho que tem uma coisa que os homens músicos sempre vão parecer mais confiantes de que podem fazem qualquer coisa e você tem que fazer o mesmo, que com o instrumento e tal e as vezes você tem que sentir confiante e ir lá tocar e outra coisa meio importante pras gurias não se limitarem a :"ah menina canta" ou que menina é guitarra ou violão e piano que são os instrumentos mais comuns pra mulher. Eu acho que tem que ter mais mulher baixista, mais mulher baterista, tem que ter mais mulher solando. Porque tudo é possível, a gente só não é encorajada as vezes. Ou só é encorajada, mas pra cantar porque mulher tem mais senso de pitch, mas tem que fazer isso e fazer os instrumentos que você quiser e o melhor jeito é se você conseguir incentivar outras amigas porque é bem importante as mulheres se apoiarem e não ir contra.
Dá uma conferida na Playlist do Spotify com o que inspirou Samira:
https://open.spotify.com/user/1226551559/playlist/0SbTswOPCQ7348t2G2k4nO
Facebook: https://www.facebook.com/daydreamingwinter/
Spotify: https://open.spotify.com/artist/4Eun8YBC7P0psGdIf0GRtl
Bandcamp: https://samirawinter.bandcamp.com/
WANWTB // 2017
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Rita Oliva já tem um trajetória e tanto empunhando instrumentos desde muito nova e é um dos nomes responsáveis pelas bandas Parati e Cabana Café. Recentemente a artista representou as baterias da banda psicodélica BIKE durante uma gig pelo Nordeste. Além disso, com o lançamento do seu projeto solo Papisa ainda fresquinho saiu em turnê divulgando o novo trabalho. 
Depois de um show inebriante na Casa do Mancha, trocou uma ideia conosco onde fala da ritualização utilizada para a criação do projeto, da ressignificação feminina e das delícias e agruras que é a liberdade em tocar sozinha e ter  todo o poder de decisão em suas mãos.
Acompanha nosso papo:
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W.: Pode se apresentar pra gente, por favor?
R.: Rita Oliva, 29 anos, eu sou de Jundiaí, mas eu moro em São Paulo faz dez anos.  Eu tenho os projetos Cabana Café e Parati que estão em pausa agora e acabei de lançar o Papisa, que é meu projeto atual e solo.
W.: Conta um pouco da tua trajetória, onde tudo começou e como tu chegou até aqui.
R.: Sempre estive muito na música, comecei a tocar piano pequenininha, depois fui estudar canto, fui estudar bateria, arranhava meu violãozinho, então eu sempre fui muito ligada em descobrir banda nova, as bandas de hardcore chegavam na minha cidade e eu sempre ia nos shows, então eu tinha essa conexão forte. Tive banda no colegial com amigos, nada muito sério. Na faculdade comecei a ter banda autoral, me juntei com uns amigos que tinham banda, comecei a tocar, comecei a compor e a sentir que essa coisa era pra mim. Entrei no Cabana, a gente ficou sete anos trabalhando bem ativamente, também foi uma escola muito grande pra mim. A gente lançou um EP, vários singles, dois discos (um foi esse ano inclusive) e cresci muito, tanto em convivência, como banda na estrada, como instrumentista, porque antes eu só cantava, depois eu comecei a tocar synth. Depois fiz o Parati que é um duo, eu e o Zé e também foi outra coisa que trouxe muito crescimento. A gente gravou todos os instrumentos, produziu junto com o Alexandre Fontanetti e daí foi outra experiência porque a gente sempre compôs junto pro Cabana, mas dessas composições a gente nunca tinha conseguido produzir nós dois, foi um processo diferente que é batida eletrônica. E depois do Parati, enfim, fiz um show sozinha, calhou uma data lá que a gente calculou errado, tive que fazer e falei "caramba, curti essa vibe" de chegar e enfim, fazer meu lance e trouxe a Papisa com essa ideia na verdade, de ter autonomia. Com a Papisa foi uma de "se der a louca e eu quiser fazer uma coisa, eu vou fazer". E foi meio que esse o processo, foram mais ou menos 3 meses que eu trabalhei intensamente e fiz do jeitinho que eu queria, no meu ritmo. Queria sair em turnê, saí em turnê. Eu considero isso tudo um processo na verdade, sempre aprendendo com tudo o que eu faço, com todo mundo que tá a minha volta. E no meio desse caminho eu me percebi, pô sempre tive banda, sempre contei com apoio e de repente me vi sozinha e encarei as dificuldades disso também. Tomar decisão sozinha. Às vezes você precisa de um apoio, ou mesmo mão-de-obra pra fazer as coisas. E agora tô nesse processo e vendo que preciso me  juntar com umas pessoas. Pra fazer turnê por exemplo eu tava naquelas de "vou pegar o meu carro e sair por ai correndo". E fazendo essa turnê que eu acabei de fazer lá no nordeste.
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W.: Com as meninas da PWR...
R.: É, elas receberam a gente em Recife, mas eu fiz junto com os meninos do BIKE também e foi um aprendizado, porque você está na estrada e às vezes você chega de madrugada, às vezes numa cidade x, não tem onde ficar e eu sou muito atirada, às vezes saio do carro sozinha e vou, mas é muito bom ter um apoio. Então é esse processo de ir balanceado: estar sozinha x estar acompanhada.
W.: E de resto tu saberia dizer qual principal fator que contribuiu para que tu rumasse nessa escolha musical?
R.: Eu acho que é um processo muito interno, pra mim esse projeto novo significa uma liberação, eu meio que proclamei uma autonomia e como artista eu sempre tive banda, as decisões foram sempre muito divididas, eu gosto muito desse processo, mas eu quis experimentar uma coisa nova. Ter feito esse show sozinha em maio desse ano (2016) me trouxe uma coisa dessa autonomia mesmo. Pensei: "vou me jogar". Porque você tá sozinha, você tem a decisão, tem a parte legal que é mais rápido pra decidir o que você quiser, mas tem a parte do risco, que é só seu, você tá lá se expondo, dando a cara a tapa, então tem os dois lados, mas eu curto essa ideia, me trouxe esse gostinho de "vou me jogar no mundão e me atirar do precipício". A escolha musical pra mim é um processo menos racional, eu tinha uma banda que era mais de rock e meu projeto eletrônico que era mais calminho, mais suave e eu ritualizei a coisa mesmo na hora de compor e produzir. Eu montei um ambiente na minha casa, eu acendo incenso, acendo erva pra me conectar, tenho meu ritual com meditação que é pra me interiorizar e ser uma coisa mais fluida então acabou rolando, tanto que eu nem coloquei minhas ideias iniciais que eu queria misturar um pouco de eletrônico com uma pegada mais orgânica, mas, acabou ficando quase tudo orgânico, tenho ideia de beats, mas acabei fazendo pela fluidez da coisa, eu fui muito me guiando pelo que eu tava sentindo, tinha mais musicas, mas acabei escolhendo o que a música me falou. Fui tentando me guiar pela intuição mesmo, foi um processo diferente, tentando ser menos racional.
W.: E nesse processo de busca inspiração, quem te inspirou musicalmente e na vida?
R.: Na vida, as mulheres da minha família: minha irmã, minha mãe, minha vó, são mulheres que eu admiro e sempre tive uma inspiração grande, meu avô que morreu faz dois anos e também acabou me jogando nesse processo. Eu sei que ele seguiu muito o que ele veio fazer aqui e eu tenho um caminho bem diferente do dele, mas eu achei uma singularidade nesse processo de "putz, te admiro pelo que você fez e eu vou seguir o seu exemplo fazendo exatamente o que eu sinto que eu devo fazer ". Musicalmente eu tenho algumas referências: eu gosto muito da Juana Molina da Argentina, ela é uma mulher muito foda e ela era comediante, quebrou também uma coisa que esperavam dela, ela já era famosa na tv e tal e de repente ela quis fazer um projeto de música dela que era mais experimental. Não fez o que o público esperava, inicialmente o pessoal estranhou, mas musicalmente é algo que me chama a atenção e o conceito dela de visual que nega o padrão de beleza. É uma pessoa que abraça a velhice, por exemplo e isso me inspira muito a arte de forma geral, de questionar um pouco. Eu gosto muito de quem tem essa força de vir e questionar realmente e não agir de acordo com o que as pessoas esperam.
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W.: Teve algum momento do percurso até agora que você sentiu que ia desistir da música ou se sentiu desencorajada por alguém?
R.: Acho que ano passado eu tive uma fase, que eu fiquei uns dois meses desprovida que banda, que eu ia relançar um disco do Cabana, tinha uma galera da minha banda com outras bandas, outra galera foi viajar e eu me via sozinha, com proposta de show e eu me via sem banda, não tinha ninguém pra fazer show comigo, eu tinha uma banda de seis pessoas e não tinha ninguém pra tocar. Eu não acho que fiquei desencorajada, mas isso foi o que me motivou a fazer e não depender de ninguém, então foi mais uma motivação, mas eu fiquei uns dois meses sem tocar.
 Eu fui escrever, fui trabalhar com uma amiga minha num site que inclusive falava de equilíbrio e é um tema que me interessa e fiquei um tempo sem tocar, mas eu sabia que era uma coisa temporária, eu nunca me vi longe da música na minha vida. Foi uma fase, mas a música é um bichinho que já me tocou.
W.: Fala um pouquinho da concepção da Papisa, você já falou o que te levou a criar, mas o e processo criativo?
R.: Eu já tinha músicas e queria levar minhas composições pra frente, mas a Papisa tomou outro rumo, eu compus pra ela mesmo, foi realmente o processo de ritualizar, pegar o ambiente que eu me sinto bem, tudo baseado no que eu sinto e fazer as coisas em relação a isso. Também tive amigas próximas e isso foi novidade pra mim porque meu processo criativo sempre foi com homem, eu sempre tive bandas com homens ou enfim com o Zé que sempre foi um parceiro bem presente e de repente eu comecei a fazer as minhas coisas sozinha e eu me aproximei mesmo e tava numa fase querendo mais mulher em volta. Comecei a mostrar pra elas algumas demos e veio uma resposta bem diferente do que eu estava acostumada, acho que principalmente por ser fora da música, o feminino fora da música é uma coisa mais encorajadora mesmo, mais iniciativa. Os homens normalmente são mais críticos. Claro, sempre tive muito apoio dos meus amigos homens, não posso negar. Mas, eu me senti muito aliada das mulheres nesse processo. Isso me deu muita força e comecei a sentir. 
Uma amiga também foi pintar uma mandala na parede da minha casa e a gente foi tirando carta, fazendo todos os processos intuitivos e falei: "não, acho que eu quero uma sacerdotisa", essa figura da sacerdotisa também tinha me chamado muito a atenção por ser uma mulher, uma líder que depende dela mesma só e não tá associada a nada, não é mãe, não é filha, não é amante, é ela. Essa figura forte e feminina que eu falei: "putz, quero trazer pra minha vida". E daí veio o nome Papisa e tem muito a ver com essa busca minha, de uma figura feminina que eu consigo me inspirar nela. Não digo que me represente porque a gente tem muitas facetas internamente, mas é uma coisa que me inspira, essa figura me inspira, é raro uma líder espiritual por exemplo, é tudo homem, tudo dominado. Claro, nas civilizações mais nativas, indígenas têm mulheres sábias, uma figura matriarcal e é isso que eu sinto falta, nunca me identifiquei com religião patriarcal, de ser sempre o homem, uma visão sempre masculina, então eu tô nessa busca de aceitar o meu feminino interior e acho que o mundo precisa dessa energia, então a Papisa veio como fruto desse processo.
W.: Você diria então que a Papisa é uma persona?
R.: Sim, esse projeto representa essa persona, tanto de experimentação, porque pra mim musicalmente também representa experimentação, eu tenho feito show sozinha e com banda e minha banda eu formei pra fazer turnê, tenho muita vontade de tocar com outras mulheres, então tenho feito essa busca, então não tem nada muito fixo é bem mutável e sim é uma persona, porque eu tô montando essa persona em cima do processo de experimentar, então é bom se deslocar um pouco e se enxergar de fora.
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W.: Ainda na questão da Papisa e de você Rita, em que momento vocês se encontram e se fundem numa só?
R.: Difícil, porque é uma persona, mas as músicas são muito pessoais por outro lado. Apesar de eu usar alguns arquétipos na música, uma coisa simbólica, eu gosto muito dessa abordagem, pensando em arte de ter uma coisa um pouco mais camuflada, mas acho que no cerne da questão, no íntimo de cada música é onde a gente se encontra. Porque eu não consigo me tirar de cada música, eu acabo sempre entrando numa questão que é muito intima pra mim, então nessa criação a gente tá muito conectada. Inevitável.
W.: A gente percebe que como você já referiu em outra pergunta, você está se envolvendo mais com mulheres, não só artisticamente mas no geral pra se inspirar, você tem tanto no selo que é a PWR, tanto na produção e na assessoria, você está rodeada de mulheres no momento. Isso foi uma escolha consciente ou simplesmente foi algo que acabou acontecendo?
R.: Um pouco dos dois, porque a Papisa já veio com a ideia de ser mulher, eu estava me assumindo como mulher, assumindo esse lado e reforçando pra mim mesma, é um processo muito interno e eu sempre estive do lado do Balaclava Records que lancei todos os meus projetos (a maioria) e a gente teve uma briga de agendas com a Papisa, então foi consciente porque uma banda na verdade que veio de Recife e ficou em casa, me viu gravando, o pessoal do Kalouv, eles fizeram a ponte e falaram "Rita, têm essas duas meninas: a Hannah e a Letícia vão lançar um selo, tem tudo a ver com o seu projeto". Eles pegaram todo o meu processo, a gente conversou muito sobre ele, são uns meninos muito sensíveis, muito massa. E eu conversei com elas e dai eu falei: "quero lançar com vocês, tem tudo a ver com o que eu tô fazendo". Por mais que estivesse começando o selo, com a Balaclava também foi assim, a gente lançou o Cabana super no comecinho do selo, então foi o destino trazendo uma coisa, não sei se o destino, mas a sincronicidade de fazer as mesmas coisas ao mesmo tempo com as mesmas datas próximas, calhou de ser e foi muito rápido.  A gente conversou uma vez, fez dois skypes e ''vamos fazer, fechar essa parceria então" e foi muito divertido pra mim. Agora você acabou de falar: "você tá rodeada de mulheres" e isso pra mim ainda é surreal pensar, porque eu sempre estive muito rodeada de homem, então tá sendo novo e é uma escolha consciente, porque a minha ideia era fazer uma banda só de menina desde o começo, ainda não consegui, mas tô buscando. Foi por uma questão prática que eu não fiz ainda, questão de turnê, essas coisas e de proximidade, tenho muito amigo homem, muito homem que toca.
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W.: Em relação ao que você acabou de falar dos meninos e toda experiência anterior que você tinha com homens e você continua tocando com homens, você chegou a tocar bateria com o BIKE.
R.: Sim, ainda tô fazendo alguns shows com eles.
W.: Mas como acontece essa contribuição artística com esses projetos que estão integrados na tua vida.
R.: Bom, o meu lance é a música, tô falando um monte de coisa de conceito e de ideal, mas o meu lance é a música, eu tenho uma grande paixão pela música, e esses projetos vem a partir disso, adoro tocar instrumento, porque eu adoro cantar, adoro compor, mas eu gosto também de fazer banda pras outras pessoas, então isso é uma coisa que acabou aparecendo pra mim, uma oportunidade com o BIKE, eles estavam sem batera e tinha uma turnê pra fazer e eu tinha gravado as minhas baterias e eles sabiam e enfim eles perguntaram: "cê topa tocar batera com a gente?" eu disse: "topo". Sentei, tirei as músicas e foi uma experiência diferente que não era uma criação minha, tirei as baterias do Gustavo que é o baterista e que criou e eu tenho essa coisa com a música, eu não sou muito fechada de "só vou tocar as minha músicas". Valorizo muito a música de uma forma geral e dentro do que eu gosto de fazer que é a música criada de uma  certa forma. Não sei se de uma certa forma, mas eu tenho amigos que fazem música e eu acho uma delícia tocar e perguntar pra eles: ''você precisa de banda? vou ser sua banda".
W.: Sem nenhum tipo de limitação nem nada, você abraça (...)
R.: Abraço, mas claro, tem que ser uma música que eu goste pelo menos, eu tenho que me identificar de alguma forma com aquilo e de instrumento, tem estar dentro da minha capacidade de fazer. Normalmente eu falo sim,e daí eu vou ver se eu dou conta, mas se me perguntarem eu digo que vou dar conta e vou experimentando mesmo.
W.: Em relação a projetos femininos, (não sei se você tem essa noção, talvez agora com o teu projeto em específico), normalmente são lançados por selos independentes, por galera independente, tu acredita que de repente isso faz algum tipo de diferença no resultado final? Na dinâmica de trabalho?
R.: Comparado com mainstream ou comparado a trabalhar com homens?
W.: Acredito que comparado até mesmo com a Balaclava que é independente, mas ainda tão mais conhecido do que outros selos. Como a PWR e outros selos menores, porque a Balaclava tá com outro alcance nesse momento. Se tu sente como artista feminina tendo outros projetos que tem uma dinâmica diferente hoje em dia. Por ser um projeto essencialmente feminino.
R.: Olha tô falando bem pelo que eu tô sentindo agora. Apesar da PWR ser um selo que tá começando junto comigo, eu senti uma abertura e uma receptividade muito grande pela temática, pela questão feminina que eu acho que é uma coisa que tá muito em alta, então por mais que  já lancei muitas coisas pela Balaclava e tenho consciência que eles estão super crescendo, fazendo um trabalho super legal de relevância acho que isso impulsiona muito, muita gente conheceu meu trabalho por causa da Balaclava, mas acho que essa questão feminina é muito forte e acho que as vezes até dá uma abertura grande, talvez se fosse um selo masculino, homens lançando por um selo do tamanho do PWR por exemplo, não teria tanta relevância, mas por trazer essa questão feminina, muita gente querendo ouvir e falar sobre isso, eu senti uma abertura muito grande do mercado e da mídia, acho que é uma questão que tem uma força.
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W.: Então acaba tendo algum tipo de influência na dinâmica do teu trabalho e na forma como é projetada pro público em geral?
R.: Eu tenho a impressão que sim, eu gosto de ver banda que têm mulher, por exemplo. Agora quando eu tava no Nordeste eu conheci a Gabi do My Magical Glowing Lens, conheci a Larissa do Ventre e eu tô nessa busca de valorizar quem tá tocando e eu sinto que não é só minha essa valorização, eu sinto que as pessoas estão querendo mesmo. Quando eu lancei meu primeiro single e eu gravei tudo. As pessoas tinham essa curiosidade. "Uma menina gravou tudo?" Ainda é um padrão de pensamento que eu não sei o que as pessoas pensam, mas que não espera que uma mulher vá fazer isso. Então eu acho que ainda tem esse impacto e tomara que tenha cada vez menos impacto isso, que seja mais natural e seja: "Vamos avaliar o trabalho pelo que ele é e não porque é uma mulher fazendo". O Girls Rock Camp por exemplo, acho que é uma iniciativa incrível e que familiariza e naturaliza essa questão pras pessoas mais novas. É normal ter uma mulher na bateria, é normal ter uma menina no baixo, não é uma coisa a ser valorizada e estimulada, mas que seja pra gente conseguir olhar direto pro trabalho e não ficar assim tipo "há mas é mulher né..." e não focar no gênero. Vamo tirar o foco no gênero e colocar no trabalho.
W.: Tu participa de algum coletivo ou movimento de mulheres hoje em dia?
R.: Não participo. É uma busca bem individual, faço trabalhos e outras coisas não relacionadas ao feminismo diretamente, mas outras coisas que têm o tema que rodeia, mas não, nenhum movimento que eu tenha aderido.
W.: Então a tua experiência com várias bandas e vários projetos, o que tu consegue observar, que a recepção e a forma como a mulher é encarada no mundo mudou nos últimos anos?
R.: Eu sinto uma abordagem diferente das pessoas que eu sou mais próxima, hoje em dia eu sinto uma reformulação no pensamento, eu sinto que as pessoas estão reformulando ainda, não acho que é uma mudança de: "era assim e ficou assim" mas acho que existe um senso comum e de repente com esse monte de questionamento, os homens começaram a se questionar também. Eu sinto meio que uma geleia. O pessoal saindo de uma estrutura que tava super acostumada e começando a olhar pras outros ângulos e tentando se adaptar . Eu vejo isso na questão dos homens e das mulheres também, porque as vezes eu me questiono, será que eu tô na defensiva? Por exemplo, fazendo essa turnê eu percebi que as vezes não sou eu que tô na defensiva, as vezes eu chego conversando inclusive com o Diego que tá tocando baixo comigo e por exemplo agora quando a gente voltou e tava conversando eu comentei: "lembra daquele show que o cara chegou metendo a mão no meu amplificador e opinando" e ele falou: "ah, você tem que dar uns tabefe nele". Tipo: "Não, é assim mesmo!" Então você tem que ficar muito assertiva, muito dura e objetiva, dar uns tapas mesmo pra ele entender que você sabe o que você quer. E o Diego me falando: "eu achei interessante que ele mexeu no seu amplificador e no seu som e ele não fez no meu". Ele aceitou do que jeito que é. É assim. É assim. E eu já tive que falar: "cara, você tá achando isso da minha voz, mas ela é assim mesmo. Esse efeito é assim mesmo que eu quero". A partir dessa postura, eu senti um respeito de volta, mas, ainda exige isso. Ou tocando dois instrumentos. Chego tocando guitarra, o cara já não dá muita bola, sinto uma coisa meio que deixando você de escanteio, você vai arrumando as outras coisas, arruma a bateria e: "ah, você toca vários instrumentos". Senti uma coisa meio que falando no mesmo nível, mas parece que eu preciso provar alguma coisa.
W.: Essa constante aprovação né, acho que mulher em qualquer área tem esse feeling de ter que se provar toda hora e essa é a principal reclamação das meninas que a gente tem entrevistado. Quase sempre tem alguém mexendo no equipamento, ou questionando ou duvidando... É muito recorrente.
R.: É uma falta de consideração pelo que você tá fazendo. Ou assim, por exemplo, tava lá nessa produtores, pessoas que trabalham com as bandas. Eu passei por isso como baterista do BIKE, fazendo essa turnê eu já me senti medida de cima embaixo. "Ah, você é a nova batera?" E na hora você sente que tá sendo validada pelo seu visual, não pelo que você tá fazendo. A gente tem isso desde pequena que você tem que ser linda e a gente ouve isso e consciente ou inconscientemente e vai pra dentro e isso quando eu falo da Juana Molina por exemplo, ela tem essa quebra. "ó, meu trabalho é esse, eu não vou pintar o cabelo, vou usar uma saia meio de bruxona e o meu visual é esse e fodasse, eu não vou ficar tentando ser bonita". Então isso eu tô falando é uma inspiração, ��bvio, eu acho também vaidade muito válido, eu gosto de me arrumar, eu gosto de me maquiar, mas é a questão do peso que isso tem dentro de um ambiente profissional por exemplo, eu quero ser valorizada pelo que eu tô fazendo, eu gastei muito mais tempo ensaiando nesses instrumentos do que eu gastei me maquiando. Então, porra, cê vai medir o meu trabalho se a minha perna tá assim ou assada. Não né, isso é um complemento, uma outra coisa, é outro lugar que tem que ser colocado.
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W.: Levando em conta tudo isso. Qual tu acha que é o papel da mulher na cena independente hoje em dia?
R.: Acho que o papel da mulher, eu não consigo atribuir, eu me espelho por mim, eu tento fazer o meu melhor e agir de acordo com o que eu sinto e ser verdadeira comigo mesma, acho que a mulher pode buscar aquilo que ela acredita e musicalmente a mesma coisa, dentro da habilidade dela ela buscar o que representa ela e a forma como ela vai criar a partir disso, independente de ser mulher ou homem, acho que é mais individual, acho que o papel da mulher é ir além das barreiras internas e externas que dão pra ela e focar no que ela acredita, no trabalho, fazer um trabalho direito, sendo ela mesma e acho que essa questão do gênero, acho que o femininismo traz muito isso, acho que o feminismo é uma quebra de gênero, a gente não dá tanto valor ao gênero e a gente dá valor as pessoas como indivíduo. Então, acho que é essa busca individual mesmo da mulher de que ela quer como pessoa, o que ela quer criar, como ela quer criar , ter uma coisa livre dos limites impostos por ela mesma e não pelos outros.
W.: Mas ainda assim, tu acha que a colaboração com homens nesse meio musical é essencial, é vital para que a gente caminhe nessa direção de a gente alcançar como mulher o lugar próprio, o devido respeito. Você acha que tem que existir essa colaboração dos homens apesar de tudo?
R.: Eu não acho que é uma regra, eu vejo mulheres trabalhando com mulheres e acho ok e tem mulher que grava em estúdio, tem mulher que faz vídeo. Eu acho que não tem que ser uma barreira do tipo "eu só posso trabalhar com mulher então". Eu acho que isso é mais maleável, acho que se você tem pessoas em volta que podem te ajudar, abraça. Se você se sente bem trabalhando com outras pessoas, vai fundo. Porque poxa, já tem tanta barreira e você vai colocar mais uma? Isso eu senti no meu processo, eu queria muito uma banda só de mulher, mas de repente eu me vi numa turnê ou de fazer outros shows ou no estúdio de amigos que eu já conheço e eu vou aproveitar isso. Claro, valorizar o trabalho das mulheres que estão à sua volta, esse cuidado, a gente direcionar esse foco pra trazer outras mulheres pra perto, acho muito importante. Saindo um pouco daquela coisa da disputa que sempre foi passado pra gente de que "mulher, uma quer comer a outra"  e não é bem assim e precisamos desconstruir, valorizar e trazer pra perto, acho importantíssimo, desde que seja uma somatória e não uma barreira. Se não, a gente vai fazer a mesma coisa, a gente vai excluir e acho que o princípio feminino é acolher  e integrar.
W.: E voltando a referências que a gente falou lá no início, o que tu tem escutado ou tem curtido ouvir?
R.: Vai ficar passando playlists na minha cabeça. Eu tô numa época que eu tô muito receptiva, pra criar a Papisa eu fiz uma playlist exclusiva mas que não é exatamente o que eu tô ouvindo agora. Coisas que me inspiram que eu coloquei ali. Agora tô num momento que o que o Spotify me  indica pra ouvir, eu ouço e daí vou atras das bandas e procuro e também gosto muito dos amigos me trazendo referências. Então eu realmente tô muito aberta a muita coisa.
W.: Então de repente é mais fácil perguntar um ou mais artistas que tenham sido cruciais nesse teu projeto.
R.: A Juana Molina, a St. Vincent tem uma expressão muito grande, a PJ Harvey, eu tô focando muito em mulheres com certeza. A Feist é uma pessoa que já ouvi muito e me inspira muito. É tem essas referências ai. E tenho ouvido muita coisa nova e fica meio difícil separar.
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W.: Você já pensou nos passos pro futuro com esse teu projeto. Tem alguma coisa definida?
R.: A minha ideia é tocar e fazer show. Tanto que eu não parei agora pra fazer disco e lancei EP porque eu queria tocar. Por isso que casou tudo: turnê e selo. Porque pensei em aproveitar esse tempo que eu tenho e sair tocando. E a minha ideia é exatamente desenvolver as minhas músicas no palco, observando a resposta das pessoas e tô muito com essa ideia de sair tocando sozinha, guitarra, voz, programação, looping ou com banda, me juntar com outra banda que esteja em turnê, mesmo que o BIKE, como foi nesse esquema que foi muito interessante. A  minha ideia é de movimento mesmo, não quero ficar parada. Eu tenho um projeto de disco pro ano que vem e quero desenvolver em algum momento que eu quero parar pra fazer o disco, mas ainda quero tocar, quero ouvir o público e desenvolver essas músicas no palco.
W.: O que você diria pra alguém (sobretudo mulher) que está iniciando e dando seus primeiros passos?
R.: Sentiu vontade faz, acho que é o principal.Se a gente pensa muito vem a censura, Então é massa seguir aquela faísca inicial sabe? Eu digo isso porque é o que eu faço. Me deu vontade de fazer e mil pessoas falam: "você tá louca". É tirar um pouco o racional e deixar um pouco da vontade própria. É fácil falar, mas é difícil aceitar, mas acho que é isso. E se livrar um pouco das mil  censuras que a gente mesmo se impõe. Encontrei nessa turnê meninas e fiquei muito feliz, vieram falar: "pô vi o seu projeto que legal, também tenho o meu. E faz anos que tô com as minhas músicas,ainda quero lançar, mas acho que elas estão velhas". E tudo isso são barreiras que a gente mesmo se coloca, a partir do momento que você vai lá, faz e coloca pra fora, se cobra menos.Eu sou muito da opinião de fazer, coloca na prática, sai da teoria, faz e espera o retorno disso. O máximo que vai acontecer é você aprender aquilo e não acho que existe dar certo ou errado, sempre dá certo se você tirar um aprendizado daquilo. Minha opinião é isso. Faz sem depender muito de aprovação. Arrisca.
Confira aqui a playlist inspiradora da Rita para compor o EP "Papisa":
https://open.spotify.com/user/12143990120/playlist/6DncmzUXxBdwMMwjUl0bdI
PAPISA
Spotify: https://open.spotify.com/artist/0DvW5foWWFUfe8xHEtPtNE
Facebook: https://www.facebook.com/pg/papisabrisa
Soundcloud: https://www.youtube.com/watch?v=ECMdTnKEOvI
WANWTB // 2017
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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ENTREVISTA #21 - JULIANA STRASSACAPA (FRANCISCO EL HOMBRE)
Em julho passado fizemos a cobertura dos projetos musicais liderados por mulheres nos palcos do Festival Circadélica, em Sorocaba - SP. 
Nesse final de semana tivemos a oportunidade de entrevistar a Juliana Strassacapa, um dos membros da banda Francisco El Hombre. 
Falamos um pouco das origens, a ida da banda pra Cuba, produção do clipe e música "Triste, Louca ou Má" (que muito recentemente foi nomeada para um Grammy Latino). 
youtube
Facebook - https://www.facebook.com/franciscoelhombreOFICIAL
Spotify - https://open.spotify.com/artist/317yGDHMNsNQMfjsNNPYUg
Produção em parceria com: Diva Maria Filmes
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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ENTREVISTA #19 - EMILLY BARRETO E CRIS BOTARELLI (FAR FROM ALASKA)
Nossa segunda entrevista em vídeo ficou a cargo das meninas da banda Far From Alaska, durante o Festival Circadélica em Sorocaba, no passado mês de julho.
Depois de um show lotado no festival e no auge da energia e adrenalina, tivemos a oportunidade de conversar sobre a identidade da banda, as mudanças visíveis de um trabalho para o outro e a conquista de palcos gringos!
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Produção em parceria com: Diva Maria Filmes
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wearenotwiththeband · 7 years ago
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BERTHA LUZ, é uma banda mineira que está completando dez anos de estrada e para comemorar e ampliar o alcance de público, as gurias lançaram um financiamento coletivo para gravação de um  novo álbum. Trocamos uma ideia com a Bah que é a vocalista da banda. VEM VER.
Bah Lutz, 28 anos, Belo Horizonte/MG
W: A gente sabe que o pico do  Riot Girrrl foi nos anos 90.  Depois disso, a gente percebe um certo apagamento em relação ao feminismo que só é retomado agora em meados de 2015, no entanto, a Bertha Lutz está completando dez anos de existência. Seria  correto dizer que a banda teve e tem um papel de resistência e que estamos tendo um ressurgimento das pautas feministas (principalmente na música) mais "sangue no olho"?
B: Eu vejo a movimentação do riot grrrl de uma maneira geral com momentos de muita agitação e outros de absoluta calmaria, mas nunca parado. Eu não acompanhei o surgimento da cena nos anos 90, mas comecei a acompanhar no boom de 2002/2003/2004. Foi uma época do surgimento de muitas bandas, muitos festivais, muitos rolês em SP e aqui em BH a cena estava fervendo também. Todo final de semana tinha um festival de bandas femininas e sempre rolava shows com bandas de SP por aqui. Então tive a sorte de descobrir e me envolver com o riot grrrl em um dos momentos mais movimentados. Em 2005 rolou uma desacelerada no cenário de SP e nas outras cidades na sequência. Aqui em BH as bandas que estavam ainda na ativa se separaram, seguiram outros rumos e a cena musical do riot e das bandas femininas praticamente acabou durante esse período. Aí logo na sequência em 2006 conheci a Gabi e a Rafa e montamos a BerthaLutz, pensando em reativar e movimentar os rolês de bandas femininas na cidade. Aí começou um novo desafio pra gente, que foi iniciar a banda, estar ativamente envolvidas na organização dos eventos e produzindo os shows e festivais. Como não tínhamos mais aqueles espaços de bandas femininas para tocar começamos a agitar na cidade os nossos próprios rolês. Pensando nesse histórico vejo nosso papel de resistência em manter vivo e ativo o cenário riot grrrl em BH e principalmente repolitizar os espaços trazendo o discurso feminista de uma maneira mais enfática e direta. Particularmente não vejo o ressurgimento do rolê em 2015, acho que foi uma movimentação que iniciou lá em 2011/2012 com o Festival Vulva La Vida, na sequência o Girls Rock Camp em 20013/2014, aí a chapa foi esquentando de novo né rs e a parte boa dessa chapa quente é que as novas bandas vão se assumindo feministas novamente, os shows estão voltando a ser cada vez mais espaços de militância e ação direta, os festivais vão sendo construídos por/para minas, geral tá com sangue nos ói. 
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W: Recentemente a gente falou com a Marcela da Miêta durante o Bananada e ela mencionou que vocês teriam uma camiseta com a frase: "CADÊ AS MANAS PRETAS DO ROLÊ"? O que é genial, mas também é um grito por igualdade/representatividade. Tu como mulher negra que é a voz de uma banda que tem dez anos de estrada percebe alguma mudança nesse movimento?
B: Eu to devendo a arte da camiseta até hoje (FOI MAL MARCELA ♥) tenho que agilizar isso urgente rs. Vou ser bem sincera aqui, não vejo muitas mudanças e nem grandes avanços em relação ao racismo nos espaços de música independentes, não vejo maior participação de pessoas negras enquanto figuras centrais nesses espaços e nem vejo grande preocupação das pessoas brancas em reverter essa situação. Infelizmente o panorama é esse. O que eu tenho visto e que me dá esperanças de reverter esse merda toda é que as poucas e raras pessoas negras que estão nesse espaços (participantes das bandas ou do público) não aceitam mais o local de silêncio, invisibilidade e apagamento que nos é imposto. Posso contar nos dedos as minas negras de bandas femininas que eu conheço (eu, Marcela da Mieta/BH, Sosó e Bonnie da Belicosa/RJ, Thaís da Kinderwhores/RJ, Mara da Bochechas Margarinas/RJ)  e me aquece o coração ver que estamos na linha de frente mandando a real. Por mais libertário que alguns espaços underground se propõem a ser, branquitude e privilégios não são temas que são pensados e discutidos com respeito e seriedade, e na real sempre gera desconforto na galera branca. Ver uma mina preta sendo a front woman de uma banda e falando de racismo na tora incomoda muito. Mas estamos aí pra botar o dedo na ferida e retomar nossos espaços porque afinal de contas o rock e o punk tem sua gênese na cultura negra e não podemos nos esquecer disso.   
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W: Mais especificamente sobre a Bertha Lutz, vou pedir pra ti  falar sobre a trajetória da bandas nesses dez anos. Os locais que vocês já rodaram, festivais que participaram e tudo mais.
B: Em Fevereiro de 2006 conheci a Rafa e Gabi, desse encontro surgiu uma grande amizade, uma conexão musical muito profunda e uma vontade em comum de montar uma banda feminista de riot/hc. Desde que começamos até hoje tivemos uma formação diferentes na bateria (Paulinha) e duas na segunda guitarra (Bruna e Debris). Hoje a BerthaLutz é formada por Gabi (guitarra), Rafa (baixo), Carol (bateria) e eu nos vocais. Nos primeiros 4 anos da banda passamos basicamente articulando espaços e eventos de bandas femininas e riot aqui em BH, montamos um coletivo em 2010 chamado NadaFrágil que tinha como objetivo organizar eventos culturais feministas, um dos festivais que organizamos em 3 edições foi o Riot Grrrl's not dead Fest. Nessa época conhecemos a Debris e ela assumiu a segunda guitarra e trouxe um peso extra pra nossa sonoridade. Em 2012 fomos tocar no Vulva la Vida em Salvador(BA) que nossa primeira apresentação fora de BH e acredito que foi um divisor de águas na nossa história pessoal e como banda, porque o Vulva era um festival feminista autônomo, tivemos contato com outras minas de vários lugares do Brasil, diferentes referenciais e vivências. Foi muito rico e um dos shows mais incríveis que já fizemos até hoje. Depois dessa experiência reformulamos nosso som, entramos numa fase de composição e focamos nos projetos feministas que estávamos envolvidas com o NadaFrágil. Aí em 2014 veio outro momento transformador pra gente que foi o Girls Rock Camp. Participamos como voluntárias e foi um experiência absolutamente incrível, fizemos grandes amizades e nos apaixonamos pelo projeto e seguimos envolvidas até hoje no voluntariado do GRC e do Ladies Camp. Nesse mesmo ano estivemos na construção da primeira edição do Suspirin Feminista Anti Fest. Já em 2015 participamos junto com outras amigas da organização do show da tour do RVIVR em BH. E 2016 trouxe viagens incríveis, tocamos na Disturbio Feminino Fest em Sp e logo na sequência na Efusiva Fest com as queridíssimas do MOTIM no Rio de Janeiro. Outras experiências que foram sensacionais foi tocar com bandas que gostamos muito como Dominatrix, AntiCorpos, RVIVR, Post, Bloody Mary Una Chica Band, Trash No Star, Belicosa e outras..... 10 anos bem vividos heheheheh bem rolezeiras.      
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W: E as produções locais que vocês articulam e organizam como o Suspirin?
B: O Suspirin foi um encontro feminista autônomo que participamos da organização, em 2014 rolou a primeira edição e em 2016 a segunda. Foi um trampo fodido mas foi sensacional, muito aprendizado, muita troca... conhecemos pessoas de toda a parte do país. Foram 4 dias de oficinas, rodas de conversa, shows e atividades culturais diversas. Para mim é muito importante estar envolvida com a construção de espaços de militância, debate e reflexões, falar de feminismos, gênero e suas dissidências e desvios, nas duas edições do festival eu estive num processo de total imersão com ao festival. W: Sobre o financiamento coletivo, vocês falam sobre a dificuldade de ter   um registro da banda e tudo mais. Fala um pouco do que vocês já tem criado e como vai ser a concepção desse trabalho. Vai ser baseado no que vocês já apresentam ou em canções novas?
B: Estamos sem gravar música nova desde 2009 e nosso som mudou tanto nesse período. Então queremos registrar essa evolução, nossos sons dos últimos anos e músicas novas que acabaram de sair do forno (eheheh semana passada já começamos a trabalhar em uma). Esse EP vai ser uma celebração da nossa trajetória e do nosso amadurecimento musical e político. Aaaaah e vai ter um bônus track arrasador, quem já viu nossos shows e conhece o tradicional pancadão funkcore vai curtir.
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W: E sobre as recompensas? Como vocês pensaram nelas? Vai ser tudo feito por vocês mesmas? 
B: As recompensas foram pensadas com muito carinho para agradar todos os apoiadores. Tudo está sendo feito de maneira d.i.y. (faça você mesma) contando com a ajuda de amigas que estão nos dando uma força, como é o caso da Teenage Micha (RJ) que doou uma ilustração exclusiva para o poster da recompensa. Está tudo imperdível.
W: Ainda sobre o financiamento vocês também falam sobre a dificuldade de divulgar o trampo de vocês para um público mais amplo. Quais são os planos de vocês a curto,médio e longo prazo?
B: Esse ano ainda queremos finalizar o EP e fazer um super festival para o comemorar o lançamento aqui em BH e chamar várias bandas pra mandar um som. No início de 2018 participar do Girls Rock Camp e a sequência seguir em tour divulgando o ep, roletando com azamigas pelo Brasil e se rolar pelas 'zoropa' também rs
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W: Quer deixar uma mensagem final? Espaço destinado pra abrir o coração.
B: Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço e o carinho de vocês <3 e deixar o recadinho pra galera que está acompanhando a WANWTB para conhecerem nossa campanha de gravação do EP no link https://www.kickante.com.br/campanhas/gravacao-ep-berthalutz-10-anos e contribuam como puderem, com uma graninha ou divulgando o link pras amizades hehehehe. Bora fortalecer o rolê alternativo, independente e feminista!!! 
OUÇA BERTHA LUTZ:
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Fotos: Filipa Aurélio //Texto: Daniele Rodrigues// WANWTB 2017
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Por vezes fica difícil arranjar palavras pra definir alguém. E a Salma, nossa entrevistada de hoje é um desses casos. Na frente de um dos projetos mais promissores da música alternativa brasileira e dona de uma voz poderosa e singular, ela é capaz de encantar um público inteiro com sua presença e graciosidade no palco. Escutar as letras compostas pela Salma é sentir um pedacinho seu em cada música, é sair de um show e se sentir de alma lavada. A gente dança, a gente embala, chora, sorri, grita. E muito. 
“Delicadeza e selvageria. No universo da Carne Doce os contrastes vão além do nome da banda. Fruto da interação do casal Salma e Macloys, o grupo goiano formado também por João Victor Santana, Ricardo Machado e Aderson Maia teve seu primeiro álbum eleito um dos melhores nacionais 2014. Em 2015, a Carne Doce se apresentou nos mais importantes festivais e casas de shows brasileiros e agora divulga seu segundo disco, gravado no Red Bull Studios em São Paulo, Princesa.”
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Salma, 29 anos, Goiânia - GO
Banda/projeto musical: Carne Doce
Conta um pouco sobre a tua trajetória na música? Eu comecei tarde, já com vinte e poucos, antes só cantava no banheiro igual todo mundo. O Mac tinha uma banda e o fato dele tocar me influenciou nesse interesse. Um dia vi um anúncio da banda setenta Galo Power no orkut procurando vocalista. Comecei aí. Três anos depois comecei a fazer letras sozinha e comecei a Carne Doce com o Mac. Minha trajetória na música tá ligada ao nosso casamento.
Qual instrumento musical você toca? Ou faz vocal/compõe?
Só canto, não toco nada, componho melodias de voz com letra no escuro, sem base instrumental, e passo pro Mac, ou pego uma base com ele e boto a melodia e a letra em cima. Assim nasceu a maioria das nossas canções. 
Qual o principal fator que contribuiu para essa tua escolha musical? Acho que o que mais me interessa é escrever letras e fazer os shows. Não sou uma boa cantora. Não é modéstia, eu não tenho disciplina, não tenho vontade de cantar todo dia, de treinar todo dia. Não me acho afinal muito musical, gosto e sou melhor nas ideias, na expressão, no teatro, na performance.  
Teve alguma figura feminina que te inspirou/inspira? Elis e minha mãe principalmente. Mas todas as figuras femininas me inspiram, também as que me irritam ou que eu desprezo.
Em algum momento tu já pensou desistir da música ou foi desencorajada de alguma forma? Se sim, por que ou quem? Fui desencorajada por mim mesmo somente. Já pensei em desistir porque é um mercado que não existe, que se descobre na prática, não temos ainda perspectiva se a banda deu ou dará certo, se vamos nos sustentar nesse mercado de música. 
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Falando sobre o Carne Doce mais especificamente, quais são as principais diferenças entre o primeiro e o segundo álbum? O que mudou na Salma que lançou o "Carne Doce" em 2014 para a Salma do "Princesa" em 2016? No primeiro disco as letras partiram de ideias que eu guardava já a um tempo, a alguns anos, e o meu canto era mais amador, mais gritado, com menos dinâmica, mais ansioso. Acho que tinha mais angústia naquele disco, porque o medo e a vergonha de se apresentar como artista eram naturalmente maiores. Neste eu estou mais tranquila, mais segura das abordagens em que sou mais feliz, absorvi algumas críticas, praticamos muito nos shows e isso me deu mais dinâmica na voz.  
E como foi que rolou a oportunidade de gravar o novo álbum no Red Bull Station? Se sentiram pressionados por estar se articulando com uma marca ou inseguros quanto ao reflexo dessa marca no trampo de vocês? Não teve nenhuma influência conceitual da parte deles. Eles simplesmente nos emprestaram o estúdio por um mês, de graça. Foi um super apoio, mas não nos tornamos artistas da Red Bull. Eles nos fizeram esse convite depois de alguns dos curadores nos assistirem ao vivo algumas vezes. 
Não ficamos inseguros com o reflexo da marca mas com a responsabilidade de aproveitar essa oportunidade. O estúdio e os técnicos que trabalham lá são ótimos. Nos sentimos realmente honrados e privilegiados.    
Falando em marcas, a um tempo atrás vocês declinaram um convite para participar do Superstars da Globo. Vocês tiveram os motivos de vocês que tu pode expôr ou não, mas gostaria de saber a tua opinião em relação a esses reality shows musicais. Ainda não sei bem o que pensar sobre esses programas. Acho que o que incomoda é porque queremos acreditar naquela vibe de fantasia de que dali vai surgir um sucesso garantido. Não acho que é culpa do programa essa propaganda, todos os realities de concurso fazem isso, é um formato que valoriza o concurso e não os artistas, normal. Acho que é uma estratégia possível para a banda que não se incomodar com esse jogo que a tv faz com a sua imagem, e que entender que dentre os milhões atingidos alguns novos fãs podem ser conquistados.
No primeiro semestre de 2015, vocês tinham uma média de 4 mil fãs no Facebook e hoje passa dos 12 mil. Como é lidar com uma fama de internet que a meu ver é um pouco diferente da fama da tv, porque tem maior sensação de proximidade, ainda que teu alcance seja cada vez mais levado para os mesmos círculos (aquele papo da bolha, saca)? Pois é, quando tínhamos 4 mil seguidores a gente imagina que seríamos grandes com 12 mil, e hoje continuamos nos sentindo pequenos. Eu sinto mais isso de fama quando sou reconhecida na rua. Mas por essa proximidade e amplitude da internet eu estou começando a sentir uma necessidade de me expressar menos para incomodar menos. Ter um twitter antipático por exemplo não é uma boa estratégia, rs, as pessoas se decepcionam, transferem isso pra relação delas com a banda e param de gostar da música.
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Vocês ainda continuam independentes em relação a booking e assessoria ou já contam com a participação de outros profissionais nesse processo de crescimento? Hoje temos parceria da GIG (Ricardo Rodrigues e Eduardo Porto) e da Construtora (Fabrício Nobre) para nos ajudarem com a agenda, mas continuamos fazendo a produção.
E esse salto de público aconteceu em um (relativamente) pequeno período. Como foi a administração desse crescimento? Foi regular. Deixamos escapar algumas coisas da produção por que o trabalho sobra. Falta cuidarmos melhor do nosso merchan, por exemplo.
Nós sempre perguntamos pras nossas entrevistadas se elas já sofreram algum tipo de assédio no meio musical e pedimos para que as mesmas compartilhem a situação conosco se sentirem à vontade. Porém, no teu caso, vi em outra entrevista que na tua percepção são mais coisas pequenas que te irritam e que são difíceis de serem denunciadas do que uma coisa preocupante de fato e nessa mesma entrevista tu fala sobre as cantadas que recebe e que acharia estranho não receber nenhuma. Fala um pouco mais pra gente sobre isso? Porque eu acho que é uma linha tênue entre assédio x elogio x sedução. Ou nada a ver isso que eu tô falando? Eu não recebo quase nenhuma cantada, vejo mais olhares apaixonados, mas as cantadas são poucas, no geral os caras ficam intimidados. Umas duas vezes nesses 8 anos que estou em bandas que teve um ou outro caso mais chato, nada violento. As coisinhas que acontecem é ter a sensação de ser ignorada, de ser considerada menor, ser considerada acompanhante, menos importante, menos inteligente, ter a sensação de ser desvalorizada por não ter o look correto, não ter sido sedutora do jeito correto, ter a sensação de suas letras seriam mais consideradas e respeitadas se escritas por homem... mas isso é difícil de apontar por que se confunde com valores e julgamentos subjetivos. Eu estou o tempo todo me analisando: será que eu estou usando isso como desculpa ou minha crítica está realmente correta? será que não estou tolhendo o gosto do outro? será que não foi simplesmente uma questão de gosto?

Pra ti qual é o papel da mulher nesse rolê musical e independente no cenário atual? É trabalhar bem, fazer música boa. Não existe um papel. O caminho é mais difícil para as mulheres que querem ser produtoras e técnicas do que para as que querem ser artistas, acho. Nós até gozamos de certos privilégio de estarmos nesse papel de artista.
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Tu acredita que que as condições/receptividade em relação às mulheres, no mundo musical, mudaram nos últimos anos? Ou isso é conversa pra inglês ver? Suspeito que esteja melhor para as compositoras e letristas.
 Esse meio é como o restante da sociedade, seguimos com um machismo básico, normal, mas estamos melhorando, nos descobrindo, etc.
Faz parte de algum movimento feminista? Se sim, qual? Se não, estaria interessada? Não. Estaria interessada em ler mais material sobre, li quase nada de livro a respeito, só artigos e reportagens, mas não tenho vontade de participar de grupo nenhum e não me identifiquei com nenhum que tenha visto. Quando observo os meus contatos de feministas mais engajadas e mais expressivas a respeito sempre há alguma questão essencial em que discordamos e em que me vejo isolada e isso me afasta da ideia de entrar em um coletivo. Sou muito anti-social, sou uma péssima pessoa. Qualquer ideia de encontro em grupo, sarau, dinâmica... me apavora. Imagino que tem muita gente na minha situação, mas em silêncio...
Tu chegou a exercer tua profissão de formação? Teve uma angústia entre seguir uma carreira e outra? Formei em Direito, não exerci, fiz estágios. acho lindo o direito penal e a filosofia do direito, é um dos temas que me mais me comovem, mas fui uma péssima aluna, demorei anos pra me formar. Me dava angustia pensar em trabalhar na área. Mas eu continuo angustiada.
Nos últimos tempos o Carne Doce têm feito vários shows por Rio e São Paulo, como isso interfere na tua rotina? É tranquilo. estar na sequencia de shows é cansativa mas quando voltamos pra Goiânia, pra rotina, fica faltando alguma coisa.
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Tu acha que ainda existe a necessidade de se mudar pra São Paulo para fazer as coisas acontecerem? Facilita a logística. Mas creio que pro artista que está bem, que está sempre na estrada e ganhando bem, isso nem faz tanta diferença assim. Caso esse se torne o nosso caso eu gostaria de poder sempre dar um pulo em Goiânia pra desanuviar as idéia.
Quais tem sido tuas referências musicais nos últimos tempos? Não falo referência, mas as as ultima coisa que mais ouvi foi Angel Olsen.
Pra finalizar, imagine que precisa dar um conselho valioso para uma menina, mais nova que vc, que está pensando em entrar no meio musical. Que diria para ela? Não consigo imaginar um conselho valioso especifico para meninas. Pra bandas e artistas em geral eu diria pra não ficar esperando as pessoas te publicarem. Seja o seu próprio assessor de imprensa, o primeiro material que vc divulgar da sua banda deve ter tudo mastigadinho, seu press kit deve ser um convite ao jornalista mais preguiçoso. Não espere por selo, por olheiro, por curadores, apoiadores. Faça com o que você tem, invista no que seja característico seu, observe quais qualidades suas agradam, absorva as críticas, aproveite as críticas.
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Bandcamp - https://carnedoce.bandcamp.com/
Soundcloud - https://soundcloud.com/carne-doce
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Fotos: Filipa Aurélio
WANWTB // 2016
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Mais uma semana, mais uma dupla incrível de meninas fazendo um roqueinroul <3 Dessa vez, fomos saber o que essas duas paulistanas, do Readymades, têm pra falar sobre a música e sobre a recente e desafiante experiência de tocar com banda. Shows e música naturalmente dançantes, é impossível ficar indiferente a essas duas minas foda, que estão abrindo caminhos de um jeito único. 
“Nós não somos uma banda experimental, somos uma banda-experimento. No início nenhum de nós sabia tocar de fato; a Pri tinha algum treino vocal e arranhava no violão por causa dos tempos de igreja, a Alinne tocava um pouco de violão e eu tocava guitarra e já havia produzido as coisas do Kid Foguete. Nos propusemos a fazer música dentro desse desconhecimento e ver onde dava. Cada um em um instrumento que não tinha domínio. Se um ia ficar desconfortável, todos ficariam.Nós acabamos caindo nessa intersecção do punkrock com o post-punk e o indie puxado pro pixies naturalmente. A Linne veio super do punk, eu sempre estive no rolê DIY e a Pri tem essa abertura e inocência musical doida de que viveu a adolescência completamente fora do underground. Hoje faz quase dois anos que existimos como banda, e dentro desse pouco tempo ainda houve um hiato de 6 meses em que a Pri morou na Coréia. Acho que o fato de que não sabíamos tocar nada no início da banda nos fez precisar nos entender e confiar muito um no outro musicalmente, e isso acabou transbordando na nossa relação um com o outro e na nossa relação com o mundo ao nosso redor.” - Rafael Carozzi
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Alinne Anno e Priscila Jung, 24 e 22 anos, São Paulo - SP 
Banda/Projeto musical: Readymades (Alinne e Priscila) e Kid Foguete (Alinne)
Qual instrumento musical você toca? Ou faz vocal/compõe? Alinne: Toco baixo no Readymades e sintetizador no Kid Foguete. Priscila: Eu toco guitarra e canto.
Já pensou desistir da música? Alinne: Já. Já porque eu comecei meio em bandinha de escola, para participar daquelas competições de escola. Daquele ponto sempre me falaram que menina baterista não era legal, que baixo era muito grande pra mim e que só o que conseguia fazer era cantar e mesmo assim, eu cantava mais ou menos... Então, eu comecei a dar uma segurada, sabe? Depois daquele primeiro ano, de colégio, eu parei. Tive namorados que tinham bandas, eu acompanhava e tava lá com eles e, às vezes, não gostava da banda, nem ia no show mas fazia parte daquilo tudo. Conhecia as pessoas, mas não tocava. Aí foi quando o Rafa me chamou pra tocar. E, desde então, acho que pensei só uma vez que pensei em desistir e depois não mais. Porque o Rafa e a Pri me dão um suporte muito absurdo, os “Kids” todos... Então não dá. Já pensei, mas por outros motivos. Por causa da minha cabeça meio quebrada, mas não por influências de fora. Priscila: Olha, eu sinceramente ainda não entendi que eu faço parte da música, então acho que não. Nunca pensei. Mas a música sempre teve aí na vida, eu era de banda de igreja, quando eu era mais nova e sempre toquei, mas banda essa foi a primeira mesmo e faz um ano só, então é tudo muito recente.
Foi alguma vez desencorajada quando decidiu aprender a tocar um instrumento? Se sim, por quem? Alinne: Sim, como mencionei na resposta anterior. Mas minha família mesmo, me encorajou até o ponto que era algo que eu fazia nos tempos livres. Quando virou uma coisa maior, aconteceu o contrário. Eu ganhei uma guitarra no meu aniversário de 16 anos... Hoje eles preferem não me presentear com coisas relacionadas com música. Acho que enquanto eles ainda te consideram criança, a coisa flui como se não fosse interferir nas suas “escolhas de vida”. Minha família é tradicional, de direita, “meritocrata” e tudo mais. Então não entendem bem como é importante e considera um trabalho mesmo.   Priscila: Minha família é coreana e eles nunca desencorajaram a aprender instrumento, sei lá... Pais asiáticos são sempre a favor de filhos que têm dotes e tal, mas eles só me pediram pra aprender piano. E lá fui eu, aprender piano, durante um ano, e aí depois eu fiz aulas de violão e bateria, então foi suave.
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Alguma vez sofreu de assédio no meio musical? Alinne: Cara, acho que não depende só do meio musical. Lógico que tiveram muitas pessoas que já passaram por isso e tudo mais, até porque a gente tá mais exposta, em cima do palco ou quer se expor e não consegue, mas eu nunca sofri. Assim, eu posso falar que isso nunca aconteceu comigo, porque eu já sofri, lógico, assédio de outras formas, mas em outros ambientes e em outros meios que não o musical. Quanto ao musical, eu sou bem feliz, na verdade. As pessoas têm me tratado com muito respeito e muito de igual pra igual, sabe? Sem muita diferença, e, eu não sei... É que em Readymades a gente toca meio pelada, eu toco calcinha/soutien ou um maiô, então poderia ser pior, sabe? Mas comigo nunca aconteceu, não que eu me lembre agora. Se me lembrar, caso tenha acontecido, foi uma coisa bem babaca e bem pequena que não me afetou, sabe? Então acho que é por isso que eu nem lembro. Priscila: Eu acho que nunca sofri assédio no meio musical, não. Mas já teve, pós-show, uns caras que vieram me agarrar pelo braço... Achei bem idiota assim. Mas só isso.
Você sente/já sentiu alguma diferença no tratamento, enquanto mulher fazendo música? Alinne: Eu senti uma vez, uma diferença de tratamento mas até porque tipo o Kid Foguete é uma banda de homens e era conhecida como uma banda de homens e aí o Fe, que é o batera da banda, me convidou pra entrar pra tocar sintetizador e teve uma vez que a gente tava indo pra um show e passamos na porta, pra fazer comanda e tal – e depois de ter montado tudo – vierem e falaram pra mim: “Ah, então, você tá na lista de quem?” Eu falei: “Não, eu não sou VIP não. Eu to na banda. Eu to tocando.”, “Ah, você tá tocando?”, “É, eu to tocando...” E ficou aquele silêncio meio constrangedor, mais da parte dele ahaha e depois ficou tudo bem, passou. Mas foi bem engraçado na hora, eu pensei assim “Nossa, cara... Porque é que as pessoas não conseguem admitir que tem uma mulher na banda?”. E que eu não sou namorada de ninguém ou amiga, sei lá! É meio complicado... Priscila: Eu acho que, diferença no tratamento por ser mulher na música... Olha, eu acho que na nossa banda, ela acaba sendo chamada pra tocar por ser uma banda de mina, então acho que tá implícito ser tratada diferente e não necessariamente de uma maneira pejorativa. Mas eu também não entendo muito de instrumento, de som, eu só sei tocar e cantar. Então eu acho que isso, às vezes, isso faça ganhar um tratamento diferente, por eu ser meio perdida mesmo, mas eu acho tudo bem. Faz parte.
Como tem sido tocar com outra mulher, no mesmo projeto? A dinâmica é diferente em relação a tocar com homens? Alinne: Não vou mentir, no começo não foi muito fácil. Rolava uma “competição” e tal. Que não acontece no Kid Foguete. Mas com o tempo, a gente virou irmãs. Se ajuda, compartilha tudo, tem momentos de se cuidar e tal... A gente se entende. Tem muita coisa parecida, sabe? Duas orientais, mesmo tipo de educação, estudamos na mesma escola... É bom pra escrever, é bom pra chorar e principalmente pra rir. Priscila: Eu não sei muito bem como é tocar com homens, porque eu só tive essa banda... Mas tem o Rafa que é homem, na nossa banda. Mas eu acho o Rafa um homem, cara, à parte, também. Eu acho super massa tocar com a Alinne, a gente é doidinha parecida, com o Rafa também... Rola uma crise todo mês, que a gente menstrua meio perto, então TPM, a gente fica meio odiando o mundo, meio triste né... Mas rola tudo muito bem e adoro o momento que a gente fica se maquiado no banheiro antes do show, acho massa!
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Faz parte de algum movimento feminista? Se sim, qual? Se não, estaria interessada? Alinne: Eu não faço parte de nenhum movimento feminista, apesar de me sentir contemplada e endossar alguns movimentos. Eu já tive alguns problemas, eu ainda tenho alguns preconceitos internos... Querendo ou não, a gente foi criada numa sociedade machista e lógico que hoje sou muito mais que fui no colégio, por exemplo, onde eu não era muito bem tratada por meninas e eu acabei criando uma “birra”, em certa época. Tem que entender que era o jeito que elas me tratavam e não o jeito que as mulheres são realmente. Aí eu conheci mulheres maravilhosas e comecei a entender porque aquelas meninas eram super machistas e me faziam muito mal e porque elas me criaram esse trauma, sabe? Hoje eu sou ainda um pouco impaciente, mas to em tratamento e por isso que não me envolvo em movimentos, em estar junto... O máximo que eu consigo fazer é criar com a Pri... Não o máximo, vai. Eu participei em grupos feministas na faculdade, mas hoje eu prefiro me abster dessa parte mais envolvente, política... Não que eu não goste do tema, eu li bastante sobre, mas não faço parte de nenhum. E se estaria interessada? Sim, cara! Eu acho que tipo o Girls Rock Camp, da Flavinha, a Flavia Biggs, é maravilhoso! Queria muito fazer parte e são meninas e mulheres maravilhosas! Ou ajudar as meninas da Efusiva, sei lá, estar com as meninas da Efusiva lá do Rio porque elas são muito foda! E eu acho que aí tá a diferença de grupos feministas bem bacanas relacionados à música e grupos feministas que eu me relacionei na política e muito ego, por isso que acho que não deu muito certo. E que não entendiam muito bem o caminho que deviam seguir e ainda, muito pontualmente, muito machistas por vezes. Efusiva e Girls Rock Camp, com certeza! Priscila: Eu não faço parte de nenhum movimento feminista, não. Mas eu não sei... Eu acho que não é uma coisa que eu pense ativamente, eu diria, mas é uma coisa mais implícita no dia a dia. Eu trabalho só com mulheres e, sei lá... Pode-se dizer que nossas letras são feministas? Eu não sei! Só foi assim... Mas eu acho que tenho uma coisa muito mais ligada com libertação sexual e igualdade, nesse aspeto.
Sente que as condições/receptividade em relação às mulheres, no mundo musical, mudaram nos últimos anos? Alinne: Eu sinto que as condições de receptividade são melhores mesmo. A gente tem mais espaço, as pessoas nos levam mais a sério. Eu e a Pri tratamos das coisas de igual pra igual, com as casas, os convites... Eu não sinto tanto. Era o que eu tava falando na primeira pergunta, eu não sinto tanto. Nunca fui assediada, tive um ou dois casos de acharem que eu era namorada de alguém da banda, mas de uma forma geral, a receptividade tem sido bem melhor, ainda mais com tanta banda de mina hoje, acho que as pessoas estão olhando mais. O que eu fico um pouco triste ainda é que, dependendo do estilo musical, mulher não tem espaço. Falando no alternativo e tal, a mulher tem mais espaço do que, se você for pensar, no metal, por exemplo, que falam por aí que mulher não serve pra cantar ou não toca bem bateria pra metal, sabe? Aí eu fico meio puta porque a gente pode fazer o que a gente quiser! Mas de uma forma geral, acho que tem sim. Eu não sei se to fechada muito na bolha do meu mundinho e acho que tá tudo perfeito do que jeito que tá sendo agora com a gente, mas eu tenho entendido dessa forma. Priscila: Não sei responder a essa pergunta, em relação à receptividade às mulheres, não sei mesmo. Mas tem as mulheres que eu piro, da música e sempre me inspiram.
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Que conselho você daria a uma menina que está apenas começando? Alinne: Eu acho que não daria um conselho só pra menina, acho que pra todo mundo que tá começando, independente do gênero: é não desistir, sabe? Eu quase desisti no começo, porque não sabia tocar e porque eu achava que não tinha espaço e a gente não conseguia fazer show, mas tem! Tudo vale o esforço, sempre. É o esforço que faz a gente chegar e acreditas nas nossas ideias e tudo mais. Grava um EP e sai tocando. Não precisa ser o melhor EP do universo, bem mixado e masterizado, mas ter um registro já vale muita coisa. Tipo a Paola Perdida, ela gravou e começou a fazer shows. A gente deu um suporte aqui em São Paulo e fez o segundo show dela aqui, foi pra Sorocaba, foi pro Rio, pra BH... Eu acho que tem muito disso também. Viaja, cara. Mostra! Se você quer que dê certo, que as pessoas gostem e curtam, que você fique feliz com seu trabalho, que as pessoas vejam como modificador, tem que sair da bolha também e ir pra novos espaços, porque com o tempo, aquela galera que tá aqui, se esgota, sabe? E você tem que criar novas relações, novos lugares e levar a sua mensagem.   Priscila: Vai que vai! Acha uns brother que é parecido e toma uns góró que vai ser daora, e faz umas músicas! É muito bom tocar o que você quer e fazer suas próprias músicas, você acaba tratando de várias coisas que tão dentro de você e... A parte de tocar se tornou numa das melhores partes da minha semana. Eu posso estar cansada, seja o que for, seja ensaio, seja show... É sempre muito maravilhoso.
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Fotos: Filipa Aurélio
WANWTB // 2016
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wearenotwiththeband · 8 years ago
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Para nossa entrevista número 5, trouxemos uma DUPLA de peso. Temos uma baixista e uma guitarrista que são gêmeas e tocam na mesma banda riot grrrl:  Bertha Lutz, de Belo Horizonte. Tivemos o enorme prazer de conhecer as manas do riot em pleno Ladies Rock Camp, onde elas já participam há algumas edições como instrutoras musicais. Venham saber qual suas perspetivas sobre a cena é ser mulher no rolê da música.
“Bertha Lutz - Banda de hardcore feminista mandando um som simples, direto e com muita atitude. Com letras sobre feminismo e sua prática, e também, sobre sentimentos do dia-a-dia. Mas de modo geral incentivando e chamando as garotas para a luta.”
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Rafaela e Gabriela Araújo, 26 anos, Belo Horizonte - MG
Banda/projeto musical: Bertha Lutz
Qual instrumento musical você toca? Ou faz vocal/compõe?
Rafa:
Na banda toco baixo, mas já toquei violão e guitarra em um projeto musical com um amigo um tempo atrás.
Gabriela:
Guitarra.
Já pensou desistir da música? Rafa: Já tive momentos mais distantes, mas desistir jamais. É uma das coisas que mais amo em fazer. Gabriela: Eu amo muito música, acho que não consigo desistir. Não tem dinheiro que compre o sentimento de poder tocar e se divertir com o som que você gosta.
Você sente/já sentiu alguma diferença no tratamento, enquanto mulher fazendo música? Rafa: Sim, é comum acontecer. Depois do show vem caras falando “você até que toca bem” (como se mulher não tivesse o mesmo potencial de um homem tocando), de querer ajustar o som, já chegou até querer afinar meu próprio baixo, como se eu não fosse saber fazer isso. Por isso nem sempre vale a pena tocar em certos lugares. Aqui em BH gostamos de organizar nossos próprios eventos ou participar de eventos de amigas, pois sabemos mais ou menos quem será o público e as pessoas que irão ajudar. Gabriela: Com certeza. Mulher nunca sabe o “bastante” para estar ali tocando. Ela nunca vai tocar tão bem quanto um homem ou não entende nada em como plugar seus instrumentos. Sempre tem um macho querendo fazer isso por você mesmo você falando que sabe fazer essas coisas. Me refiro da forma que homem trata as mulheres que estão fazendo música, porque diferentemente dos roles que participo organizado por mulheres é só amor.
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Foi alguma vez desencorajada quando decidiu aprender a tocar um instrumento? Se sim, por quem? Rafa: Até que nesse ponto sempre tive um incentivo positivo, mesmo demorando um tempo para ter meu próprio instrumento. Gabriela: Pelas pessoas próximas e que eu gosto, não. Pelo contrário sempre incentivaram. Pessoas fora desse círculo nunca me importaram.
Faz parte de algum movimento feminista? Se sim, qual? Se não, estaria interessada? Rafa: Sim, aqui em BH já fizemos várias atividades com as miga no coletivo feminista Nada Frágil. Está um pouco parado, mas quem sabe em breve não volta com mais força. Articulamos também junto com outras amigas na organização de um fest chamado Suspirin Feminista, que terá uma nova edição em novembro. Gabriela: Sim, nesse coletivo feminista organizávamos shows, cines, roda de conversa. Está um pouco parado mais com vontade de voltar a ativa. O Suspirin Feminista rede de compartilhamento e apoio-mútuo. Surgiu em 2014 com a proposta de um festival (que aconteceu e foi lindo). Que venham mais!
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Sente que as condições/receptividade em relação às mulheres, no mundo musical, mudaram nos últimos anos? Rafa: Sim, vejo uma maior abertura em mulheres procurando tocar, aprender um instrumento nos dias de hoje, bandas novas surgindo, mesmo que a cena e eventos de bandas femininas seja com menor frequência. Os projetos Girls Rock Camp Brasil e Ladies Rock Camp Brasil são um grande exemplo de empoderamento de meninas e mulheres através da música. E que nos dá uma esperança maior para os próximos anos. Gabriela: Tenho certeza que sim. As mulheres estão cada dia mais empoderadas e "pra frente". Estão se expressando de várias formas, compondo suas canções sem medo e fazendo acontecer. Não só no mundo musical, mas em suas vidas em geral. E é isso a raíz dessa mudança.
Imagine que precisa dar um conselho valioso para uma menina, mais nova que vc, que está pensando em entrar no meio musical. Que diria para ela? Rafa: Seja você mesma, faça o que gosta e toque com o coração. Ás vezes alguns irão querer te desanimar, te desencorajar. Mas o que você faz é o que faz toda a diferença. Seja livre, produza amor. Estamos juntas. Gabriela: Poder para as mulheres. Menina tenha coragem e seja livre para realizar seus sonhos. Nunca desista pois você não está sozinha. Somos muitas <3
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Fotos: Filipa Aurélio
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