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A Larissa é baterista da Ventre, Xóõ, dá aulas de bateria pra garotas e mulheres, tem um pico massa no RJ chamado Polo Norte, roda o país inteiro fazendo shows e é uma das musicistas mais respeitadas da cena independente atual. Além de ser isso tudo, é uma pessoa de coração aberto, generosa e verdadeiramente inspiradora. Acompanhamos de perto vários shows, sua primeira experiência no Girls Rock Camp em Sorocaba SP e trocamos várias ideias sobre a vida: o que é ser mulher no contexto artístico e sua visão sobre o mercado musical.
por Filipa Andreia
Larissa Conforto - 27 anos, Rio de Janeiro, Baterista
L: Ventre, Xóõ, faço parte da banda da Bel Baroni e to aí montando o trampo com outras minas e to aí gravando a galera.
W: Conta pra gente tua primeira lembrança, o primeiro contato com a música e quando surgiu essa vontade de tocar.
L: Eu acho que o contato com a música, de eu querer tocar, foi Spice Girls. O primeiro CD que eu comprei foi Spice Girls, muito louco isso. Lá em Friburgo, no interior do Rio. Mas quando eu decidi que queria tocar bateria foi um tempo depois, na verdade eu sempre gostei de bateria e parece que ela que me escolheu. Quando eu vi, eu queria muito tocar bateria. Eu deveria ter uns 12 anos nessa época. Quando chegou esse lance de DVD eu ia nessas locadoras e não tinha filme, tinha DVD de música. Aí eu lembro que achei um DVD de bateristas e eu fiquei vendo, muito tempo. Eram tipo esses encontros de bateristas standards patrocinados por alguma marca e eu fiquei assistindo aquilo. Um tempo depois eu pensei “po, eu queria tocar esse negócio”. Porque uma coisa era eu gostar de ver e outra coisa é eu querer tocar. Quando eu quis tocar, acho que foi quando eu comecei a ir em shows. Comecei a ir no Casarão, lá no Rio. Aí eu vi galera tocando, gente da minha idade que tocava, eu falei “eu quero tocar também, foda-se”. Meus pais achavam que era coisa de momento, porque eu entrava em várias aulas e depois desistia, aí eles não quiseram pagar pra mim as aulas de bateria, nem bateria, nem porra nenhuma. Pesquisei várias aulas, fui lá falar com os professores e aí quando eu achei um professor que eu gostei, falei com a minha avó “vó, quero fazer aulas de bateria!” e aí minha avó escondida pagou uma aula. Eu fiz uma aula experimental pra saber se eu queria mesmo. Fui lá e fiz a primeira aula e aí pirei, era isso mesmo que queria. Só depois de, sei lá, um ano de eu começar a tocar que meus pais ficaram sabendo.
W: E você sentiu que só aí que eles mudaram de opinião?
L: Só hoje em dia... E olha que meus pais são sociólogos. Assim, era um hobby né? “ah legal, você tá gostando, Larissa? Ah que bom!”. Eu nunca tive muita repressão em casa, na verdade. A minha mãe é socióloga, meu pai é antropólogo... Minha mãe dá aula de história, filosofia e sociologia pra surdos, então “ai que legal, minha filhinha tocando bateria!” mas aí “que você vai fazer de faculdade, minha filha?? Ciências sociais né?? Filosofia? Vai ser académica como a mãe??” Não, mãe. E eu tentei, prestei pra filosofia e não passei e ainda bem que não passei. Então dentro do núcleo familiar não foi incentivado mas foi aceitável. Não tinha músico na minha família. Depois eu descobri um tio longínquo que é baterista, que é o André Jung, baterista do Ira!, ele é tio do meu pai e foi muito massa. Eu já tocava há um tempo, deveria ter uns 17 pra 18 anos e aí meu pai me apresentou pra ele, ele mora aqui em São Paulo e eu fui na casa dele, conheci a bateria dele... Ele me deu caixa, me deu pratos, me deu baquetas, ele me explicou tudo sobre as coisas e foi super paciente comigo, foi muito massa. Mas já foi depois de eu ter tomado essa decisão de tocar bateria.
W: Para além dessa ausência de apoio por parte de pai e mãe, que apenas se revelou mais recente, que outro tipo de barreiras se ergueram nesse percurso?
L: Então, aí eu fazia aula nessa escolinha que era aula compartilhada, não era aula particular. Só minha avó que apoiava e não tinha muita grana... Tiveram dois meninos nessa turma, os dois eram destros e eu era canhota e o professor não ia inverter a bateria porque senão ia perder um tempão de aula só pra mim e eu comecei a tocar de destro e era muito desengonçada, meio zoada e foi muito ruim pra mim, no início. Eu tinha muita dificuldade porque eu tava como destra, tinha muita vergonha, não conseguia tocar direito... Era a única menina na turma e saía da aula chorando, sempre. E um dia eu fui numa igreja Evangélica, porque eu saí da aula chorando. O caminho da minha escolinha de música até minha casa tinha uma igreja Evangélica e onde ficavam aquelas pessoas na rua pregando, dando jornalzinho... E eu lembro de ser uma quinta feira, minha aula era sempre nas quintas, e eu sempre saía nervosa, chorando “eu sou muito ruim, eu nunca vou ser boa, ai sou uma merda, sou ridícula, eles me zoam, me acham ridícula...” e era sempre assim “nunca vou ter conhecimento, numa vou ser igual a eles, porque eu continuo insistindo nisso? Eu sou muito idiota...” me depreciando sempre. Aí, um cara desses me parou e falou “não! Toda essa tristeza vai passar, vem aqui na igreja Evangélica!”. Eu entrei na igreja, tava muito fragilizada e vi um culto, uma sessão de descarrego e aí, de repente, eu percebi, tipo assim... Deu um estalo e eu falei “essas pessoas estão me manipulando. Porque é que eu to aqui?! Porque eu to triste e elas viram que eu to triste e elas estão me manipulando”. Eu levantei muito puta e falei “olha só, vocês estão enganando todo mundo aqui! Vocês são muito maus, vocês estão enganando todo mundo!” levantei e fui embora e todo mundo muito puto comigo por eu ter estrago o culto. E eu acho que a partir desse dia eu fiquei tipo “foda-se! Eu vou tocar essa porra! Pode achar o que quiser de mim” deu um estalo assim. As pessoas querem que eu me sinta mal “eu não vou me sentir mal, foda-se!”. A gente sempre fica né, a gente é muito insegura, é muito difícil de trabalhar isso dentro da mulher, mas a vida torna a gente assim. Mas acho que esse dia foi um dia importante e foi aí que comecei a inverter a bateria...
W: Foi aí então que você começou a perder um tempinho da aula pra poder inverter sua bateria...
L: Prefiro perder minutos da aula e tocar canhoto do que ficar sem, sabe? Foi muito melhor. Mas você sente medo de se colocar né? E quando você toma coragem pra se colocar e ver que você consegue também se colocou e conseguiu o que você queria “perae, vou me colocar mais!”.
W: Mas vamos passar um pouco mais a frente, de quando você participou de um reality show... Porque o propósito era achar a próxima banda de rock brasileira e tal... Que idade você tinha? Como surgiu essa oportunidade? O que você levou pra vida dessa experiência?
L: Eu tinha 19 anos, eu tava começando a faculdade, eu tava muito perdida, gostava muito de música... Eu sempre gostei muito de música e a bateria me escolheu, sempre quis muito tocar bateria e quando eu tocava eu me sentia bem e a bateria foi uma coisa que me tirou de muitos traumas de infância muito sérios, como mulher e tal, vivi violência sexual... Então acho que a bateria foi um momento que eu consegui me expor, me colocar, e trabalhar minha força no poder, na minha expressão. Quando eu tive que escolher minha carreira, você termina a escola e escolhe a sua carreira, é claro que eu queria música. Mas ao mesmo tempo, não queria fazer faculdade de música, porque eu não me achava boa o suficiente, não me achava digna o suficiente, não achava que eu tinha essa capacidade, essa ideia maluca do talento... Isso é o que eu tento desconstruir pra caramba hoje em dia... “Eu não tenho talento, eu não tenho talento,...” eu fiz uma curta sobre isso. Eu tinha 9 anos, não assistia TV, minha mãe não deixava, ela sempre foi muito comunista, não via desenho, nada. Eu ia pra museus e lia livros. E um dia, a Nickelodeon foi na minha escola, eu estudava numa escola meio alternativa porque minha mãe é professora e tal, e eu nem sabia o que era a Nickelodeon. Eles falaram “ó, tá rolando um festival no mundo inteiro chamado “Grandes Curtas Por Gente Pequena”, é um concurso sobre o tema “Família” e a gente quer que vocês façam um roteiro de uma curta, um filme, um desenho animado, com esse tema e o melhor roteiro vai rodar o mundo, a gente vai fazer o desenho e ele vai circular pelo mundo inteiro”. E eu fiz o roteiro e eu ganhei. A história era sobre uma irmã do meio (eu sou irmã do meio), era uma bruxinha que não tinha talento. Ela era da família mais talentosa dos bruxos, que é a família Bruxau, mas ela não tinha talento. O pai era pintor, a mãe cantava, etc e a história começa quando tem um concurso de talentos na cidade e ela fica muito triste porque todo ano é a mesma coisa, todo mundo participa e ela não. E ela falou “poxa, queria participar!” aí ela sai andando na rua, triste, e esbarra num cartaz que dizia “Descubra seu talento!”, acaba caindo numa toca de um bruxo e ele falou “vou te ensinar! Vou te enviar pro mundo do instrumento!” pega no pó de perlimpimpim, manda ela pro mundo do instrumento pra ela aprender a tocar, só que ele erra no saquinho e bota na idade média e ela é perseguida. Só que no meio desse caminho tem várias borboletas (porque no mundo das bruxas as borboletas são tipo baratas, elas atrapalham tudo, elas odeiam borboletas) aí ela chega, tem uns músicos tocando e ela fala “ai o mundo dos instrumentos!” aí os músicos deixam os instrumentos e saem correndo da bruxa, ela pega uma flauta e começa a tocá-la enquanto foge dos guardas e acaba encantando as borboletas em volta dela, que acabam espantando os guardas. Logo depois, o bruxo busca ela “putz, errei o saquinho! Vou buscar ela!” e na volta ela entra no meio do concurso de talentos, onde ela vai tocar sua flauta. Esse concurso tá sendo destruído pelas borboletas, tá sendo um grande fiasco, elas estão acabando com o concurso. Eis que chega a bruxinha com sua flauta, toca mal pra cacete, super desafinada, e ela encanta as borboletas e ganha o concurso de talentos como melhor flautista dedetizadora. É tipo a história da menina complexada, que não tem talento, que acha que é ruim em tudo, mas deu o jeito dela de fazer algo que preste “eu vou ser boa em alguma coisa! Mesmo que essa coisa seja fora do comum” é muito eu isso. Essa era a Larissa de 9 anos. A Larissa de 19 anos é a Larissa que resolve fazer Produção Fonográfica, então eu entrei na faculdade de áudio, só tinha eu de mulher, mas ao mesmo tempo eu me via mais como produtora e menos como musicista. E essa foi uma oportunidade, minha irmã mais velha trabalhava com cinema e estavam precisando de alguém para a versão piloto do reality show e só tinham filhos de músicos, com os melhores instrumentos, gente que cresceu tocando, só gente foda. E eu fui parar lá porque precisavam de uma menina baterista e não tinha e minha irmã falou “ó, minha irmã toca bateria”. Eu fui lá, fiz um teste, passei, entrei. Nessa época eu tatuei ROCK STAR nos dedos, eu cubri esse ano. Acho que o que eu pensava que era uma rock star era muito diferente, estou tentando desconstruir isso. Mas o rock star é tipo “quero um dia viver de música. Quero viver do que eu acredito.” Mas bom, cheguei lá com um sonho, uma esperança do tipo “fama”, sabe? Era um lugar onde as pessoas iam e aprendiam, eram instruídas, tinham aulas e melhoravam “putz, tenho uma oportunidade!”.
Eu cheguei lá, eramos músicos soltos, não era uma banda formada. A gente acordava 7 da manhã, tomava café, ia pra um lugar onde eles passavam a prova, onde era sempre compor uma música inédita ou fazer alguma versão de algum artista que vai vir. Aí juntava as bandas e a gente tinha 40 minutos pra sentar com a banda e fazer uma música inédita. Depois mais 40 minutos no estúdio, uma garagenzinha onde eles montavam os instrumentos... Você entra e perde 20 minutos só montando e quando você vai começar a passar música, acabou! “Agora você sobe, você vai gravar valendo! Você tem três chances de gravar” uma música inédita, com pessoas que você não conhece... Eles botaram personagens diferentes nas bandas pra causar problemas. Era muita pressão pra gente nova e todo dia alguém saía. Dava um peso, todo mundo ficava mal quando esse alguém saía. E esse alguém saía mas continuava na casa, só ia embora no fim de semana, porque tinha uma van que levava todo mundo, só que não podia ser filmado, mas a pessoa dormia com a gente. O pessoal ia pras atividades, mas elx não ia com a gente. É muito horrível. A gente foi começando a perceber as situações que eles criavam e aí aconteceu uma coisa comigo: eu tinha um avô ainda vivo na época e ele sofria de uma doença degenerativa e tava na época da gripe suína e alguém me falou assim (minha irmã fazia parte da produtora que tava produzindo, mas ela não tava produzindo esse reality. Ela trabalhava numa outra parte) “ah, sua irmã me falou que seu avô tá mal, tá com pneumonia né?” e os casos de pneumonia vinham de casos de gripe suína. Eu fiquei desesperada, eu tava ensaiando e na hora eu levantei “gente, eu não quero mais tocar! Quero ir embora! Quero falar com meus pais! Me deixa falar com eles!” Surtei. Fiquei completamente desestruturada. Eles me filmaram chorando, eu falei “não quero que me filmem!”, eu fechei a porta da parada, falei “quero ir embora, quero ir embora, quero ir embora!”, eles abriram a porta, filmaram na entrelinha e aí editaram as partes como se eu estivesse triste por causa banda “não to aguentando, tá muita pressão” e aí eles pegaram essa cena de eu chorando e eles colocaram em todas as chamadas dos próximos episódios. Tipo, já tinha passado vários episódios e rolava tipo “O CLIMA ESQUENTA NA CASA!” e eu chorando. Muito escroto. Me botavam chorando em todos os episódios. E no meio disso teve uma pausa, um gap, a gente ficou duas semanas em casa e depois voltou pra gravar de novo, e que aconteceu durante essas duas semanas? Eu quebrei o braço, eu fui andar de skate e quebrei meu braço, e aí ao mesmo tempo começou a passar os primeiros episódios e a gente começou a ver as pessoas a falar mal umas das outras. Porque tinha esse momento depois das provas onde todo mundo ia dar seu depoimento sobre o que aconteceu no dia e as pessoas fazem perguntas do tipo “você gosta dessa pessoa? Que você acha dessa situação?” e eu comecei a ver todo mundo falando muito mal de mim, galera que me tratava bem “ah, a Larissa é ridícula, chorona...”. Eu tirei o gesso antes de voltar pra parada, fiquei fazendo acupuntura e voltei magoada, não tava conseguindo tocar bateria, tava com muita dor. Me botaram pra cantar e tocar teclado e eu nunca tinha tocado teclado na minha vida “mas você é menina, você sabe cantar!”. Me botaram numa banda que já tinha baterista... Ou seja, ou eu ia tocar bateria ou ia cantar ou tocar outra coisa. Eu não sabia cantar, eu nunca tinha cantado na minha vida, não sabia afinar, não sabia ouvir uma nota e cantar, isso é uma coisa difícil de fazer e era uma muita pressão. Ninguém me queria na banda e fizeram um episódio “Larissa fica, Larissa vai ou trocar a Larissa por outra pessoa” e eu numa sala, com todos meus amigos, as pessoas que estavam convivendo comigo... Tanto que eu vi eles falando de mim, na minha frente “eu não quero que ela fique. Quero trocar ela por outra pessoa...” e justamente as pessoas com quem queria tocar estavam dizendo essas coisas. Eu fiquei muito mal. Eu sofri bullying em rede nacional. Claramente eu era a pior baterista, e era mesmo, era a menos experiente, os outros dois são filhos de músicos, cresceram tocando e eu tocava há poucos anos e enfim... Foi muito ruim pra mim, muito pesado. Eu fui até ao final, a minha banda foi pro final, eu fiz o show cantando, eu cantei com a Pitty, eu vivi várias coisas muito massa, mas eu fui muito, muito violentada, no sentido psicologicamente. O tempo inteiro eu era motivo de chacota, depois que terminou eu fiquei com muitos problemas psicológicos e sociais, muitos. Eu não queria ter feito, se eu pudesse, não teria feito. Eu aprendi coisas, principalmente sobre tocar junto, com outras pessoas diferentes de você. Porque instrumentista de quarto não é músico. Ele pode ter toda a técnica do mundo, mas se você não sabe sentir o outro, não sabe tocar. A música tem isso, é você dividir a experiência de sentir o outro, de tocar no tempo do outro... Isso eu aprendi, mas eu fui exposta a muita situação bizarra. Mas ao mesmo tempo eu vivi coisas muito foda.
W: Bom, apesar de tudo o que rolou, hoje você tá num outro plano de vida, com dois projetos que rapidamente ganharam destaque como revelações na música independente (Ventre e Xóõ). Como funciona hoje em dia essa dinâmica entre os dois projetos? E como você se enxerga neles? Sobretudo depois da experiência do reality show que você relatou.
L: Antes de tudo, eu fiz o reality show, depois dele eu ainda continuei um tempo com a banda e aí eu tomei coragem pra sair da banda porque eu não me sentia representada. E desde que eu saí da banda, eu fui trabalhar com gravadora. Eu trabalhei em duas gravadoras e tocava meio que para não parar de tocar, eu não pensava em ser profissional da música. Eu entrei na Deck justamente falando inclusive pro Rafa que não queria mais tocar. Eu desisti de tocar, de ser instrumentista... E aí quando veio o convite do Gabriel Ventura e tocar as músicas dele, que eu já queria há muito tempo e tal, eu larguei tudo. Eu tava indo pra Valença, na Espanha, pra fazer um mestrado em música e negócios e eu sentei com eles e falei “então, vocês querem isso memo? Vamos viver de música?” e foi nesse dia que eu decidi mesmo e foi a única vez resolvi “ó, eu quero viver de música. Agora eu vou me dedicar a viver de música” isso foi lá em 2012, inicio de 2013, que foi quando eu tomei coragem de sair da Deck pra ir fazer isso. Desde que eu tomei essa decisão, até agora, acho que só no último ano que a gente colheu tudo... Foi o ano em que fiz a produção toda, fiz booking e tal, a gente circulou muito, e pela primeira vez eu fui muito chamada pra tocar. Eu via meus amigos serem chamados, o Gabriel toca muito bem guitarra, o Hugo toca muito bem o baixo, e eles eram sempre muito chamados e sempre gravavam coisas de outros músicos, como músicos sabe? E eu nunca fui essa pessoa. Nunca ninguém me chamava e esse ano, pela primeira vez, eu fui vista como instrumentista, como profissional. Pessoas me pagaram pra gravar músicas nos discos delas. As pessoas fizeram questão de me terem no disco delas e isso é uma coisa que eu nunca imaginei que eu teria, nunca se passou pela minha cabeça. Então, hoje em dia, é uma conquista muito grande. É a parada mais importante que já aconteceu na minha vida... Gravar em outros lugares, conhecer outros trabalhos, ser chamada e perceber que eu cumpro um papel importante, não só como instrumentista, mas como mulher. A Larissa que largou tudo pra ser instrumentista escolheu seguir um caminho que, como instrumentista, tinha pouco a ver com a técnica ou com o caminho que o baterista costuma percorrer, sabe? Eu acredito na expressão rítmica, eu tento colocar todas as coisas que eu sou quando eu faço uma bateria, fazer uma coisa diferente... Tento fugir do comum de uma forma muito minha, tento criar coisas que são marcas minhas e isso fez com que eu fosse notada não pela minha técnica, não pela minha agilidade como os outros caras, natural dos bateristas, não. Eu fui pela criatividade. Eu fiz do meu jeito, do jeito que todo mundo falava que tava errado e eu fiz todos eles me engolirem e dessa forma eu ganhei um papel para as outras mulheres e isso é mais do que tudo, porque eu sofri muito nesse caminho com os homens, até nesse caminho com a Ventre até aqui... Esse último ano ao mesmo tempo que foi maravilhoso, foi muito difícil, era muito embate o tempo todo, mas eu sei que de alguma maneira tem outras mulheres que tão começando a fazer isso porque eu fiz isso, saca? E isso é a coisa mais, historicamente importante. Porque do mesmo jeito que a música me salvou, a música vai salvar elas. A música tem um poder transformador bizarro, a música preenche nossos buracos, sombras, medos, ela dá voz à gente mesmo que a gente esteja calada. Ser baterista virou outra coisa, hoje em dia pra mim óbvio que me preenche, mas o fato de eu poder dar aula hoje, de entrar em contato com outras meninas, participar de projetos com o Girls Rock Camp, de poder conversar com outras meninas que vivem isso também, entender elas e fazer parte desse florescer feminino (que ainda é pouco) é a parada mais importante, é assim que eu me sinto. Com as bandas, a Ventre é a minha banda principal e como já falei antes, eu me aprofundei e me joguei na Ventre porque o Gabriel me chamou e ele fez questão de que fosse uma banda e que todo pudesse se colocar e expressar e todo mundo vai se sentir representado dentro da banda, naquela arte e é dos três. Hoje eu me sinto tão inserida nisso que isso me dá força e me deixa plena pra fazer muito mais coisas, chamar as meninas e pegar todo meu tempo e dinheiro que eu não tenho e investir em trazer mais meninas e me expressar. Nesse álbum novo da Ventre, por exemplo, eu to colocando as minhas letras, músicas, tentando me expressar mais, porque as meninas me davam força pra fazer isso numa banda que me dá espaço... Como eu sou sortuda, como eu tenho esse privilégio de ter esse espaço nesse momento, esse apoio, de gente que nem sabe que tá me apoiando. E o Xóõ é um projeto que veio porque era o projeto a solo do Vitor e a gente ia produzir o disco dele e antes disso, estavam procurando uma baterista pra tocar e aí eu fui lá tocar e acabei envolvida no projeto e colocando um monte de coisa de mim e ficando muito amiga do Vitor, acabou virando uma banda porque todo mundo acabou colocando muito de si. A gente gravou um disco em uma semana e a gente nunca tinha ensaiado, as músicas nunca tinham sido compostas antes, elas foram compostas na hora e feitas a partir da bateria, então o Xóõ começou no estúdio e terminou no estúdio. Começou na gravação e acabou na masterização e a gente lançou. A resposta foi muito massa, a gente se reuniu e fez dois shows até agora só... Somos todos muito amigos, a gente se diverte muito... A gente ficou uma semana em estúdio tentando tirar as músicas que a gente tinha feito e é muito divertido, é um projeto de libertação, é como se fosse um espaço pra você criar mais e desenvolver a sua criatividade pra algo que não é direcionado, acho que é muito importante isso na música. Que você não crie só a mesma coisa, quanto mais coisas diversas você criar, quanto mais mundos você poder passear, mais rico você vai ser, mais fluência você vai ter no instrumento, mais ouvido você vai ter... O Xóõ veio com isso e agora a gente gravou o segundo disco, no meio do ano passado, e aí o segundo disco foi massa porque eu participei inteiro da composição... Tem letra minha, tem muita coisa minha... Não era mais o Vitor, a gente sabia que era uma banda que tava metendo o dedo na letra dele... Eu meti o bedelho em tudo, participei mais ativamente e percebi que era um lugar também confortável de amigos, que todo mundo se admira e que eu tenho esse espaço de me impor e mais do que nunca, nesse último disco, eu fui incentiva. Isso é muito bonito. Justamente por ter tido essa onda, de os meninos estarem se aproximando e observando, querendo dialogar, eles falaram “Lari, faz aí cara. Faz o teu, deixa a gente na tua, deixa a gente aprender contigo.” O Vitor me apoia muito do tipo “Lari, faz tua letra!”.
W: Então você nem tava acostumada a ter essa liberdade de criar desse jeito, né?
L: É! Muito foda! Pela primeira vez tavam me tratando como uma pessoa. Na minha história na musica eu sempre fui tratada como incapaz, então é muito foda que eu tenho amigos que me olham e valorizam como igual, não como melhor ou como coitadinha “vamos dar espaço pra ela”... Pra gente ser aprovada, a gente se masculiniza “eu quero ser que nem eles, eu quero tocar com eles” eu tenho que inibir minha fragilidade, a minha TPM, a minha menstruação... A gente não quer percebida como diferente. Quer ser igual, é muito difícil.
W: E para além disso, rolam todas as pressões de nós mesmas e as exteriores no que toca à nossa aparência física e esse meio parece ser particularmente duro para a mulher, pela exposição no palco e tudo mais...
L: Falando em aparência... Eu uso sempre batom no palco, uma vez toquei sem batom no palco e me confundiram com um cara “porra, esse maluco toca pra caralho hein”. Agora de toda vez que eu entro num palco, eu toco com batom pra reforçar que eu sou mulher, eu não quero ninguém achando que eu sou um cara. O cara nem quer olhar direito pra mim, é mais fácil assumir que é um cara com cabelo grande.
W: Voltando um pouco atrás na conversa e focando na tua experiência com dois selos bem distintos (Deck e Balaclava) e também com o role feito com a Ventre mais “do it yourself but together”, gostaria que você me falasse um pouco mais sobre tudo isso e qual o balanço de cada uma dessas experiências.
L: Eu fiz Produção Sonográfica e aprendi várias coisas sobre gravadoras que estão erradas. Primeiro, eu acho que nada da vida prática de um músico se aprende estudando, se aprende na estrada. Não existe uma formula pra fazer sucesso, pra gravar, você escolhe, você molda, você cria, o seu método... Isso é o mais bonito na música. E foda-se se eu fiz faculdade disso, tem gente que nem vai pra faculdade e aprende muito mais que isso. Meus professores da faculdade viveram os anos dourados das gravadoras e eles lembravam aquilo pra gente. Então quando eu fui trabalhar pra primeira gravadora, a Biscoito Fino de MPB, eu fazia todos os lançamentos e produção artística. Eu já fui desde assistente de estúdio, fazer cafezinho até levar o contrato a casa do músico porque ele não tinha assinado o contrato. Eu fazia todo processo do disco, do início até ao fim. Eu aprendi muito. Fiz Gilberto Gil, Maria Bethânia, Chico Buarque, Morais Moreira... Aprendi tanto, conheci pessoas, conheci aqueles grandes ídolos do Brasil. A experiência que eu tive lá foi muito linda, muito foda. Depois surgiu a oportunidade na Deck pra ser assistente do Rafa Ramos, eu era o departamento artístico inteiro, o Rafa e o pai dele, o João, eram diretores artísticos. Nessa época eu também trabalhava com a Polysom, fazendo também a parte artística da fábrica de vinil. Foi também muito incrível trabalhar na fábrica, muito lindo tudo que vivi. Eu pude ver todo o processo de mapeamento, de como a gente pode expandir um artista, também fui vendo quando uma gravadora fala demais pro artista que ele é foda e ele acredita e vi o estrago que rola. Então eu percebi a relação da gravadora com o artista... Quando ele era nada, era nada – não tinha valor agregado nele, ninguém queria investir nele – e quando ele era tudo, era muito mimado “tá bom, você pediu, a gente faz. Faz do jeito dele, não contraria não!”. Então quando eu cheguei na Deck eu falei “ó, eu não quero bajular artista! Se alguém tiver que fazer essa função, não vou ser eu! É a única coisa que eu peço, porque isso faz mal pra ele e pra mim.” Percebi que não existe nada que uma gravadora possa fazer pelo artista que o próprio artista não possa fazer por si mesmo. Todo o artista pode achar uma distribuidora... Hoje em dia, todos os canais de TV, rádio, eles querem ser os lançadores das coisas. Por mais que tenham as gravadoras que vão e enviam, as assessorias de imprensa, eles querem te cobrir, eles contratam curadores pra descobrir onde estão esses artistas. Então, na real o que você tem que fazer é mandar o seu produto pra todos os blogs do mundo, você tem que fazer com que falem de você pra esses curadores descobrirem o seu trabalho. É só estar todos os lugares e rodar e conhecer o máximo de pessoas possível. E olhar qual é a sua verdade, eu não posso querer seguir o mesmo caminho de outro artista. Em algum lugar você se encaixa e não necessariamente o selo vai fazer e oferecer algo que a banda precise. Eu vejo muitos selos novos se formando e o papel deles é muito importante, porque é o mesmo papel da associação – de unir os artistas do mesmo nicho e o selo promove esse encontro. Hoje em dia todo selo tem Bandcamp, é muito mais fácil mandar uma pauta por e-mail e as pessoas respondem, os contatos não estão ocultos, estão todos na internet. É muito fácil você mandar material. Hoje em dia talvez valha mais a pena uma banda contratar uma assessoria que conhece pessoalmente o cara, do que o selo. Então o selo, na verdade, ele serve pra fazer mais contatos por você. Vender você pra outras pessoas, de forma a que você não tenha que se vender, mas você não precisa disso. Ás vezes mais vale você fazer as coisas do seu jeito, procurar outra banda que você goste e fazer junto do que você ficar numa parada que nem é a tua.
Se acontecer de você entrar pra uma grande gravadora, também tá correndo o risco de competir com casting. Se eles têm outra banda de rock, do mesmo estilo que você que é um pouquinho maior, eles vão botar a outra, você vai perder. Então porque você não cria suas oportunidades? Eu acho que existem vários caminhos e tamanhos de banda. Se você tem uma banda que acabou de começar, você tem que fazer seus corres, agendar seus shows, entrar em contato com as outras bandas, com as casas, entender como que as as casas negociam, quem é legal, quem não é, quais são as bandas que são parecidas e pilham em faz coisas junto, etc. Com a Ventre, o volume de trabalho cresceu tanto que a gente não tava dando conta... Marcar show, gente mandando e-mail, etc. Outra coisa, nunca deixe as pessoas fazer por você o que você tem que fazer. Você tem que fazer sua música, o seu mapa de palco e saber como vai ser o show e o seu set, e você tem que fazer sua comunicação com os fãs. É você que vai falar com as pessoas, se conecte com essas pessoas e entenda de onde elas são, o que elas fazem, se interesse pela vida delas, porque elas se interessam pela sua e o mínimo que você faz em retribuição a elas é “e aí, o que é que você faz da vida? O que você gosta de comer?” é se interessar por elas, então se comunica. Não se comporte como um artista que se acha superior a todo mundo. É o publico é quem faz você, as redes sociais tão aí pra juntar você com essa galera e não fuja disso nunca. Então o selo não é pra fazer sua rede social, não é pra marcar show, ele é pra distribuir seu conteúdo, mas você também pode fazer isso. Bom, com tudo isso de coisa acontecendo acabou surgindo uma proposta da Balaclava e justamente a gente fechou com eles porque era pra ser uma relação bilateral, uma parceria. Eles trabalham com a gente, eles vão distribuir, fazer ações, vai buscar shows porque esse é o perfil da Balaclava e não de todos os selos. Eles têm essa relação também com outros selos gringos, artistas, eles apresentam o artista pro outro, agora eles têm uma casa de shows, então eles tão abertos a propostas... eles falam “ó, não vamos ser bábá de artista” e isso é o principal. O selo não vai fazer sua vida, ele não vai cuidar da sua vida. Ele não vai fechar show pra você e você vai ficar em casa de pernas pro ar. Você vai fazer, você vai correr atrás, quando tiver uma proposta você vai perguntar “po, velho. Você acha que vale a pena?” porque é importante saber isso, saber se você vai estar tocando pra tocar ou não, quanto que os outros tão cobrando, etc. Muitas vezes querem fazer evento no Rio, a gente passa os contatos, eu ajudo, ou então se a gente tem o contato do tal artista gringo que eles querem trazer, eu passo o contato, faço o intermédio... Somos todos pessoas que trabalham com a música, onde um tem parceria com o outro, isso é muito importante esclarecer. Ninguém tá aqui pra salvar a vida do outro, ninguém tá aqui investir em ninguém. Aí as grandes gravadoras têm um outro jeito de pensar, eles não se metem com show, mas eles se metem com TV, com rádio. Mas se você tem uma banda que acabou de começar, você quer tocar na rádio, mas só que não funciona de você tocar na rádio agora, porque você precisar ter um mínimo de público. Você tem que fazer um público base, não adianta você querer dar um passo maior que as pernas. Então, é muito relativo o papel do selo, cada um é uma coisa e você precisa saber quem é você, ponto.
W: Mudando um pouco de assunto, gostaria de saber como foi tua experiência a nível pessoal e profissional com tua primeira vez no Girls Rock Camp, esse ano?
L: Foi a experiência mais viva e mais pulsante da minha vida, foi quando eu senti que fazia sentido estar viva. Primeiro porque eu andei, nesses últimos tempos, lendo muitos livros de mulheres que eu ganhei de meninas que foram no meu show e se sentiram inspiradas por mim e me deram livros pra eu me inspirar, de volta. Já é o terceiro livro que eu ganho de pessoas que foram em shows da Ventre e que viraram amigas, mulheres que eu admiro, que eu troco ideia... Lembra do livro da Kim Gordon que eu ganhei? Então, eu percebi que não queria ter filhos. Eu não quero ter filhos... Eu, nessa fase de 27 anos, indo pros 30, que é um momento que a gente olha pras crianças e quer chorar porque elas são lindas e maravilhosas e fofas e você quer ter o seu, eu tava casada, tava pensando em ter filho e tal... Mas agora eu percebi que não quero porque a minha profissão vai fazer uma criança sofrer, eu fico fora de casa, fico viajando, é isso que eu quero fazer e escolhi isso muito antes de tudo e essa é minha prioridade. Então entendi que a gente quer ter um filho porque a gente quer deixar um legado nesse mundo, uma coisa meio egoísta “ai, quero deixar minha marca”, mas eu posso fazer isso. Posso fazer isso nas crianças que já estão aqui, eu não preciso de ter uma criança só minha, com as minhas características, com a minha genética. Então essa vontade de ir pro Camp surgiu daí “eu vou mudar a vida das crianças agora! Primeiro eu vou dar aulas de bateria pras mulheres que já estão aqui e preciso mostrar pra elas que qualquer mulher pode tocar bateria” meu curso tem a ver com expressão rítmica, composição e bateria intuitiva. Não é técnica, é sinta-se a vontade pra se expressar, aqui é o seu lugar de fazer isso. A minha pilha era de entrar nesse espaço pra crianças e construir isso dentro delas, desde sempre “olha, música – ela não é técnica. Ela é um lugar de se divertir, de se expressar.” Aí eu conheci esse projeto e falei “fodeu, preciso de ir!”, me inscrevi e tive a sorte da Flavia Biggs ser uma pessoa muito aberta e ela identificou que é uma dificuldade das crianças, como elas iam tocar juntas, de seguir o mesmo ritmo. Então ela me pediu pra fazer uma oficina de Ritmo e Compasso, que seria uma base para as crianças poderem tocar juntas. Eu fiquei três meses pesquisando, pra dar essa oficina e enviar uma proposta. Aí eu testei, fiz uma oficina lá em Recife com a PWR Records, consegui mandar minha proposta, rolou e fui lá como Produtora Musical e com o Workshop. Aí eu cheguei lá e vi um monte de meninas numa quadra, que não se conheciam, que estavam se dividindo por bandas e mais de acordo com as meninas com quem se identificavam do que com os cartazes. Cara, eu vi as meninas falando “essa menina é chata, aquela é louca, eu não quero essa menina...” e no penúltimo dia, veio um site entrevistar e aí eu vi elas falando “ah porque eu aprendi aqui que não adianta julgar minha amiga antes de conhecer ela, não adianta eu olhar pra ela e falar que ela é feia, eu não conheço ela.” As mesmas pessoas que estavam julgando, percebendo que isso estava errado. Além de tudo, eu como mulher assim, eu saí de um projeto com doze mulheres, o Xanaxou, um projeto que me dediquei muito, coloquei minha alma na parada, e acabei saindo porque é muito difícil trabalhar em grupo quando você é mulher, muito difícil. A gente tem um problema na forma de realizar, não é a capacidade de realizar, é a forma como uma lida com a outra... A gente ainda é muito competitiva. E quando eu cheguei nesse projeto, vendo todas as mulheres cooperando e todas as meninas cooperando, e as meninas aprendendo a serem amigas e a não competirem e a gente também... Eu tinha três turmas de 30 crianças e eu vi todas as voluntárias a me ajudarem a dar as aulas, eu vi todas elas empenhadas nas minhas aulas como se fosse a delas. E quando eu saí dessas aulas, eu entrei nas aulas de bateria e falei “vou ajudar!” e acabei virando instrutora, assim como eu virei faxineira, assistente de câmera, sei lá. A gente vira tudo, a gente ali é só uma base, um vetor, uma energia, praquilo acontecer que é o mais importante de tudo, que é uma nova geração de meninas que se amam e não querem ser meninos, amam ser meninas! Elas entendem que ser mulher é exatamente a mesma coisa que ser homem, ela pode fazer tudo! Isso é a coisa mais importante do mundo! E eu entrei ali pensando “po, eu queria ter tido isso!” e nos primeiros dias eu chorava e pensava isso e, no final, pensava “elas têm isso! Que lindo que elas têm isso! E que maravilhoso que eu to podendo participar disso!” quero que todas as mulheres participem disso. Então, o projeto é que já em 2018 aconteça lá no Rio. Já to juntando meninas e a gente já tá começando a fazer eventos lá pra criar essa energia, pra descobrir quem são as voluntárias, pra abrigar o Girls Rock Camp em 2018 e eu acho que é um projeto que tem que conquistar o mundo mesmo.
W: E pra finalizar, você lembra de algum conselho que tenha dado pra alguma das meninas no Camp? Ou se não, que conselho você daria pra uma dessas meninas?
L: A primeira coisa que eu falei quando cheguei lá foi que quando você tem uma banda é você olhar pra sua amiga e confiar nela. E quando ela errar, você não pode ficar chateada, você tem que ir junto com ela. Vocês têm que ir todas juntas. E se você não for junto com elas, você que vai errar. Então é confiar e apoiar, sempre. Antes de qualquer coisa num show, olha no olho “vocês tão prontas?” olha no olho, todo mundo falou que sim? Então vai. Essa olhada no olho é a coisa mais importante que tem numa banda. A música é conexão, é transmissão. Ver o outro, ver o outro tocando, prever quando ele vai fazer o próximo movimento e prever. Muito engraçado que muitas escreveram no meu caderninho tipo “obrigada tia, você me ajudou no momento que eu mais precisava”. Agora meu conselho é: leiam o livro da Kim Gordon, o livro da Amanda Palmer, se masturbem gente. A música é um gozo, se você não souber como é que você se sente plena nela e se você tem um coração e dois ouvidos, você é capaz de fazer música. Se você consegue andar e escrever mensagem de texto, você consegue sentir. Se conheçam, antes de qualquer coisa.
Ventre
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Xóõ
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Fotos: Filipa Aurélio
WANWTB // 2017
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Ventre lança vídeo ao vivo para “Mulher” #CulturaPop #LarissaConforto #Single #Ventre O power trio carioca Ventre sempre se manifestou politicamente nos palcos, tendo na baterista Larissa Conforto uma das referências no debate sobre o lugar da mulher no mercado da música.
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