#Outrora eu era daqui
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Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Fernando Pessoa
• Revista Presença número 36, Coimbra, novembro de 1932.
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GIRL DINNER - DOJAEJUNG (TEASER)
leitor!f x doyoung x jaehyun x jungwoo.
CONTEÚDO: smut, poliamor!au, friends to lovers!au.
AVISOS: relacionamento poliamoroso, linguagem inapropriada, degradação, aftercare, hardsex, oral, sexo sem proteção, doyoung!bêbado (no teaser), jaehyun ciumento.
PRIMEIRO CAPÍTULO!!!!!!
Meia noite e quinze, o calor da madrugada impedia que o sono cumprisse seu dever de fazê-la descansar para encarar mais um dia de trabalho amanhã. Você olhou para seu telefone e logo pensou em Jungwoo, você desejava mandar uma mensagem para ele, uma mensagem pedindo para ele mandar um áudio para ti. Você desejava ouvir a doce voz do seu homem de sorriso meigo e de pegada bruta.
"Sei que você está dormindo, mas eu queria tanto ouvir sua voz agora. Sinto sua falta."
Bloqueando a tela do seu celular, você não esperava que Jungwoo respondesse sua mensagem. Não tão rápido.
"Você se contentaria apenas me ouvindo por mensagem de voz ou deseja ouvir pessoalmente? Eu não me incomodaria de te fazer uma visita nesse momento."
Duvidar de Jungwoo não era uma opção, ele sempre foi um homem de palavra e cumpria com seus compromissos e promessas.
*você recebeu uma nova mensagem*
"Ei amor, abra a porta para mim, daqui a pouco os seus vizinhos vão ligar para a polícia por pensar que sou um pervertido na sua janela no meio da madrugada."
Ao ler a mensagem, você soltou uma risadinha e logo caminhou em direção a porta, abrindo e revelando um lindo homem encostado no batente.
— Oi querido, senti sua falta... — Você não conseguiu completar a frase, Jungwoo te beijou assim que você começou a falar.
Ele segurava sua cintura e te beijava da forma mais quente possível, sua outra mão fechava a porta atrás de si enquanto ele caminhava com você até seu sofá. — Você é tão viciante, minha princesa gostosa, abrindo a porta para um homem no meio da madrugada enquanto veste um pijaminha que nem esconde sua bunda direito.
Jungwoo sentou no sofá e colocou você em seu colo, passando a mão por debaixo de sua blusa enquanto a língua dele outrora passeava pela sua boca ou pelo seu pescoço. — Woo, eu te amo tanto.
Você rebolava no colo dele.
As mãos geladas dele foram de encontro com sua pele quente e suada, entrando sem suas calças e colocando o tecido de sua calcinha para lado enquanto os dedos dele entravam em você.
*ding dong*
O barulho da campainha te assustou, empurrando jungwoo e interrompendo vocês, porém ele continuou beijando seu pescoço e com a mão dentro de sua calcinha.
— Fique aqui. Deve ser algum vizinho chato querendo reclamar do barulho, não vale a pena.
*ding dong ding dong ding dong*
O barulho persistiu. — Já volto, deve ser algo importante.
Você subiu as suas calças enquanto Jungwoo se endireita no sofá, sentando e observando você. Ao abrir a porta, a reação de surpresa em você é inevitável.
— Jaehyun, o que você está fazendo aqui?
Ele olhou para você e viu Jungwoo sentado em seu sofá, Doyoung estava ao seu lado e aparentemente bêbado e sendo carregado por Jaehyun.
— Desculpe, eu não queria atrapalhar a festa do amor, mas precisamos de você.
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G O L D E N A G E
NCT Fanfiction
Capítulo 1
{isso é ficção! atenção, esse capítulo apresenta: menção a bullying, sangue}
O sinal bate em uma tórrida tarde de aula. O sol, estalado como a gema de um ovo, cozinha o concreto do pátio.
Você recorda com fervor.
Tem onze anos e olha através da janela, como o faz agora. Mas ao invés de campos tingidos pela noite, observa as crianças que correm e pulam corda. O sinal é anúncio da aula de Arte no quarto período. Em uma viagem de dez horas, há pouca distração. Ora olha pela janela e vê campo, ora ouve música e ora divaga. Retornar à Mer, no entanto, é o que faz seu coração vibrar. É como ter onze anos aguardar pela aula de Arte novamente.
A experiência na cidade grande foi um sonho, o seu maior sonho. Foram quatro anos do mais puro ouro. Mas esse caminho que percorre agora, ao cair da noite, está encharcado de alma, sabores e outras lembranças tão táteis. Sente nas pontas dos dedos, como se pudesse as agarrar e trazer para si, de volta ao seu interior. Assim como sentiu o tecido de suas roupas ao as acomodar na bagagem. O broche com a insígnia da universidade foi o último pertence a ser retirado do dormitório e colocado precisamente em cima de todas as suas roupas, como um prêmio.
Quando fecha os olhos, suas pálpebras tremem. Este caminho é o seu lugar, como nenhum outro. É como diz o ditado: todas as estradas vão à Mer. Antes que desçam as lágrimas, rápido retorna ao cenário de outrora:
Saltita à grande Sala das Aventuras, como se refere a sala de artes. Sofre por não ser boa o bastante em cálculos matemáticos, sua alegria é mexer com tintas e criar um milhão de novas possibilidades. E tudo ia bem, não fosse um acidente capaz de enveredar sua vida por outro rumo. Quando se levanta do banco alto, para mostrar ao professor o seu trabalho, ouve os colegas rirem. Está acostumada com deboche. Pensa que a parte traseira do uniforme manchou de tinta, mas não é tinta.
É sangue. Quis morrer. Para uma menina de onze anos, era como o anúncio do fatal e iminente fim do mundo.
A felicidade do seu eu presente é contrária ao da recordação. Não havia forma de você saber, naquele tempo, que o episódio seria prenúncio de grandes acontecimentos da sua vida e um dos motivos pelos quais não se aguenta mais dentro do ônibus; não é apenas pelo cansaço.
— Ei, ei, ei — ouve um sussurro apressado.
Você tem a cabeça enterrada entre os joelhos. Após a pilhéria, corre até o ginásio vazio e senta nas arquibancadas.
— Quer meu casaco emprestado? — pergunta o menino.
Nem bem responde ao chamado, ele coloca a peça de roupa sobre seus ombros e amacia-os. Não entende como foi capaz de descobrir o que você precisava. O gesto te aquece. Seu rosto ruboriza e os olhos embargam.
— Oh, não chore... Ninguém vai lembrar daqui um ano! — Doyoung te encoraja.
Mal sabe ele que o motivo do choro é outro, que nada tem a ver com as tão comuns piadinhas feitas a seu respeito - já se acostumou com elas.
— Uma vez eu vomitei bem ali! Me zoaram por duas semanas e depois todo mundo esqueceu.
— Não é por isso que eu tô chorando! — você o interrompe lamuriosa.
— O que foi? Ahhh! Talvez na enfermaria tenha algum remédio que-
Você abre um berreiro e Doyoung dá um pulo. Sai de trás das arquibancadas para finalmente te encarar, e não às suas costas. Não sabe o que fazer para te acalmar, você volta a afundar a cabeça entre as pernas.
— Eu não queria... — Soluça. Limpa as lágrimas com a pontinha da manga. — Sou tão nova, tão jovem, é o horror! Imaginava tantos anos dourados pela frente sem ter que me preocupar com isso...
— Ah...
Parece que Doyoung entende e deixa de exasperação. Senta ao seu lado com um beicinho em lábios. Há coisas que não se podem evitar.
— É, é a vida.
Ele permanece até você terminar de se acalmar. Desde então, se entendem por melhores amigos. Ao menos, era o que você pensava, até descobrir que ele tinha outro.
Outro melhor amigo.
[...]
— Quem é ela mesmo?! — questiona um levemente impetuoso Taeyong.
É sexta-feira à noite. Ele está preso no apartamento de Doyoung, pois o estimado inicia um lengalenga sobre uma outra amiga - você -, a quem se sente na obrigação de fingir desinteresse. Pelo bem do próprio orgulho.
Doyoung o encara incrédulo. Além de ter explicado a mesma história pelo menos um milhão de vezes, se irrita com a acomodação na postura de Taeyong; jogado na cadeira, como se tivessem todo o tempo do mundo para te buscar na rodoviária.
— Minha melhor amiga?! Taeyong, eu te faleiii! — Segura o riso ao ver o semblante de Taeyong transmutar em uma careta desgostosa. — Ela acabou de terminar a faculdade... Vocês já se viram uma vez, lembra? Naquele churrasco que meus pais fizeram no meu aniversário...
Taeyong franze a testa. É evidente que ele sabe quem é; Doyoung vem falando sobre você e o seu comeback há uma semana, de maneira intermitente. E não parou de salientar o quanto acha vocês dois parecidos.
— Ya... — murmura desapontado. — Achei que seu melhor amigo fosse eu...
— Você é. Ela é minha melhor amigA! Para com isso, vamos buscar ela na rodoviária!
Taeyong junta as pontas dos dedos como se estivesse em um podcast:
— O que é isso, Doyoung?! Uma série?! — debocha.
Doyoung está mais do que acostumado com a conduta desdenhosa.
— Como você acha que eu me sinto quando você me deixa pra jogar com o Baekhyun? Com quem você acha que eu converso, hã? É, pois é! Não precisam se dar bem, não. Isso já é pedir demais...
Taeyong arregala os olhos para o lado do amigo. Porque raios Doyoung pensa que ele tem alguma obrigação com você? Ainda usando de chantagem emocional, tsc, tsc... Olha para o relógio de pulso. Enfim, os sacrifícios que se fazem por uma amizade...
— Tá bem... Vamos.
[...]
O ônibus não atrasa um segundo sequer. Você detesta a viagem, até mais do que detesta batata doce, mas nada como se sentir em casa. Ama a vida pacata do interior, a cultura das fofocas, ser alguém, ser a filha dos seus pais e prezar pelo nome da família. Se sente como parte da realeza, no seu mundo de fantasia.
Assim que desce do transporte, avista os dois rapazes a sua espera. Um deles pula no lugar como um pintinho, com um sorriso de orelha a orelha. É inevitável não se contagiar com Doyoung, seu velho amigo de infância: a única pessoa a quem ama tanto quanto aos seus pais.
— Dodoy!! — Encontra os braços do mais velho e é levemente apertada. Há uma etiqueta, no entanto - jamais deixaria alguém te ver tendo intimidade com um rapaz que não é seu namorado. Não encostam os troncos, apenas os braços.
"Dodoy?!" Taeyong murmura em pensamento enquanto os dois tagarelam. Quando Doyoung contou que você era recém diplomada em Traditional & Classical Painting pela Academia CT de Belas Artes, uma personagem formou-se em sua cabeça, devido suas referências - Taeyong namorou uma artista e sabia de cor e salteado os estereótipos da área. Logo, ele imaginou que você teria um corte de cabelo chocante, como um mullet descolorido, e tatuagens e piercings, e que se vestia toda de preto.
É o total oposto disso, no entanto. O cabelo macio, sem um fio fora do lugar. Roupa impecável, mesmo que houvesse passado mais de oito horas dentro do ônibus. Perfume suave, bochechas rosadas, seus gestos polidos, a voz moderada. Parece tão educada que ele se constrange por estar mau humorado. Entende exatamente o motivo pelo qual Doyoung se fez seu amigo, logo naqueles cinco minutos de convivência.
— Me desculpe! Olá, Taeyong, como vai? — você oferece-lhe a mão para um aperto.
— Prazer, hm — ele pigarreia — quero dizer, vou bem... — Devolve o aperto de mão.
Taeyong não é alto, nem baixo. Tem um tom de voz agradável ao seus ouvidos apesar de soar como um trovão. Um estilo duvidoso, mas você faz questão de afastar o pensamento da sua cabeça - detesta julgar os outros baseada em aparências.
Você o olha de cima a baixo.
Não era a intenção soar rude, não mesmo, nem sabe o que passou em sua cabeça para fazer aquilo, que falta de tato. Devia tê-lo esperado dar as costas pelo menos.
Seu olhar é todo o necessário para fazê-lo ferver de raiva por dentro, embora não demonstre, porque ao contrário de você - ao menos é o que Taeyong pensa - ele prefere ser educado do que somente parecer.
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🔮ㅤmais um dia normal em um cômodo privativo em Soul Stones com @svfiawitch.
ㅤ⸻ NÃO! — exclamou, as mãos indo aos cabelos perfeitamente arrumados, como se precisasse organizá-los. Não era comum estar tão estressada, mas aquele dia em especial parecia estar totalmente fora de harmonia. Era evidente que Sofia não tinha culpa, mas, por azar, havia encontrado a bruxa em um péssimo dia. Úrsula também precisava admitir que não era mais uma ótima mestra. Não como antes. Sua mente estava mais distraída, mais mundana, embora ainda maligna. Fora de seus domínios, sentia-se um pouco mais propensa a se distrair, distante dos focos que outrora guiavam sua vida: aterrorizar o Rei Tritão e sua família de peixinhos. Bufando, ela se jogou em uma poltrona não muito distante de sua aprendiz. Em uma das mãos, segurava uma pedra preciosa, mas desencantada. ⸻ Preciso que você tente novamente e que faça um pacto com este objeto. — Sinalizou a pedra mais uma vez, apontando para o objetivo. Suas preciosidades eram encantadas por ela mesma, mas, se queria expandir seus negócios, precisaria de ajuda. Sofia poderia desempenhar essa função, pois demonstrava potencial. Mas antes de confiar plenamente em seus futuros serviços, Úrsula usava aquele teste para avaliar os limites da jovem. ⸻ Página trezentos e trinta e oito, feitiço do amor. Quero que você canalize magia aqui, suficiente para fazer um abobalhado se apaixonar por outra pessoa. Claro, usando isto. — Estendeu o braço, deixando o objeto brilhoso em evidência na palma da mão, indicando que Sofia o pegasse. ⸻ É algo simples e que você já deveria dominar, como recomendei dias atrás. Não tem estudado como pedi? Você sabe que não temos tempo a perder, querida. E eu detesto ter que lembrá-la de tudo mais uma vez. — Sua expressão era severa, mas dificilmente causaria efeito na loira; era um hábito, e todos que frequentavam seu espaço já deveriam estar acostumados. ⸻ De novo. Você não sairá daqui até fazer isso funcionar!
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Eu passava de bar em bar,
fazia do balcão
parte do meu lar,
uma loira gelada daqui
e uma branquinha de lá,
saia sempre cambaleando
dormia ao relento
em qualquer lugar,
minha casa
era lá no alto do morro,
acabava caindo no asfalto,
tendo a boca lambida
por um ou outro cachorro,
chorava as mágoas
como se fosse criancinha,
sempre depois
de uma ou duas doses
de caipirinha,
jogava minha vida no ralo,
bebendo um rabo de galo,
com minha tequila na mão,
recordava uma antiga paixão,
fazia serenata,
cantando,
dançando
e caindo no chão,
só esquecia as tristezas
agarrada ao litrão,
parei por um tempo
com o vício maldito
mulher bebendo
não era bonito,
agora só um café batizado,
alí no seu Geraldo,
é tudo que me sobrou do passado
Ei garçom, desce mais um por favor,
acabei de lembrar de meu ex amor,
ele saiu da minha vida,
agora afogo as mágoas
num copo de bebida,
e pendura aí por favor,
um litro de 51,
duas garrafas de batida,
meia duzias de brejas
pode fechar o bar,
pois vou encher a cara
e já pagar meus pecados,
do outro lado da rua
nas escadarias da igreja,
vou cantar e gritar
com fiz por ele outrora,
até o padre se zangar
e me mandar embora,
se tiver sorte
notando o meu estado
ele me tratará com carinho,
me levará para dentro,
e dividiremos uma boa garrafa de vinho.
Crônica poética de Jonas R Cezar
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Era folga, eu tinha energia e dinheiro a disposição e fui para Paciência, gosto muito do por do sol por lá.
Sentado na orla eu vi ela passando, ela me reconheceu, não tão facilmente quanto outrora, eu afinal estava mesmo diferente. Me perguntei se daria ao trabalho de parar, para minha surpresa ela não estava com pressa.
- O que você tá fazendo por aqui? - ela perguntou. Não lembrava talvez que eu ainda estudava na mesma cidade, que tinha algo como uma vida ali naquele lugar.
- Eu venho aqui com frequência, moro muito perto. O por do sol é bonito, eu gosto da calmaria e da brisa do mar. - Ela balançou a cabeça de forma positiva, parecia um pouco desconfortável, imaginei que não queria mesmo conversar, que falou por educação. Ela nem precisava falar, na última vez fui eu que pedi para ela não falar mais comigo, tantos anos se passaram, talvez ela nem lembrasse disso.
Ela se sentou ficou olhando para o horizonte assim como eu. O silêncio assentou por um instante. Me questionei se haveria mesmo algo para se falar?
- Como tá dona Maria? - Perguntei. Ela sorriu. De fato eu me importava com sua família ainda, nós afinal fomos família por um tempo, pelo menos na minha cabeça era assim.
- Ela não mudou muito, a saúde piorou, depois ficou melhor, ela se cuida, mas você sabe, ela não gosta de ficar parada e na idade dela ela devia descansar mais. Mas ela tá em um lugar diferente agora, mais tranquilo, mais acessível, foi uma boa mudança. - eu sorri, era bom saber que as coisas estavam indo bem para dona Maria. - Eu fiz várias coisas diferentes depois... Enfim, eu saí lá daquele trampo e já estive em vários outros, esse de agora até que está mais estável, eu gosto de lá, as pessoas são legais. Paga bem.
Eu fiquei feliz em ouvir isso, era tudo o que eu queria ouvir. O sol foi se escondendo enquanto o céu ficava mais rubro e a pele dela brilhava mais, ela me fitou por um tempo, como se quisesse enxergar as diferenças geradas pelo tempo em meu corpo.
- Você está bem forte, seu cabelo tá grande... Eu gostei, combina contigo. - E sorriu, depois voltou os olhos par ao horizonte novamente. Era estranho, parecia que ela nunca havia saído do meu lado. Sabe aquelas pessoas que ficam tempos e tempos sem que as encontremos, mas quando isso acontece, elas são sempre as mesmas? Era assim que eu me sentia.
Foram alguns anos, o seu corpo tinha mudado, seu cabelo não era nem de perto o mesmo. Era visível como a vida desregrada cobrava o valor aos poucos. Muito sol e nicotina pareciam a ter envelhecido demasiado para sua idade. Mais do que isso, o seu jeito era muito diferente, como um toque de maturidade do qual carecia no passado, não parecia mais ter tanta pressa, aquele fogo que queimava forte e desejava conquistar o mundo e viver no limite havia se reduzido a uma brasa que ainda queimava, mas sem toda aquela força da jovialidade. Achei que a terapia deveria ter surtido algum efeito positivo, afinal.
- Você não parece muito aquela menina que conheci há tempos. Fico feliz que essa mulher que agora existe aí parece estar feliz. Que você finalmente tenha se encontrado por aí. Parece que encontrou o amor próprio. - Ela sorriu, voltou olhar para mim, nós nos encaramos por alguns instantes, daquela maneira que costumávamos fazer, um silêncio sepulcral, um mergulho em nossas almas, um tipo de intimidade que poucos compartilham. Algo que por muitas vezes nos levou as lágrimas, mas não dessa vez. Era como se estivéssemos apenas nos reconhecendo novamente, demonstrando nosso apreço um pelo outro, pelas coisas boas e ruins que fizemos um ao outro.
- E aí, para onde você vai daqui? - ela me perguntou. Eu ia para casa, meu gato já devia estar com fome, as roupas demandavam por uma retirada do varal, por serem dobradas e guardadas. Um vento forte do sul soprava em seus cabelos curtos que cobriam vagamente o seu rosto. Eu talvez quisesse ficar mais, no fundo acho que queria chama-la para sair, como se fosse mesmo a primeira vez, mas não era preciso.
- Sabe, eu ensaiei milhares de vezes em minha cabeça o que iria te falar quando isso aqui acontecesse. Mas agora nada do que pensei tem mais valor ou sentido. Eu não tenho mágoa alguma, só espero que tenhamos vidas incr��veis, da maneira que pudermos... - Eu levantei, era preciso me despedir, era mais preciso ainda seguir em frente.
- Foi bom te ver, eu vou dar comida para o meu gato. - Ela me fitou ali, estávamos distantes fisicamente por algo quase insignificante. Almas alheias um ao outro, envergonhados por se permitirem imaginar como teria sido se pudéssemos ter sido o que não fomos.
- Foi bom te ver também, se cuida. - E quando eu ia passando ela segurou minha mão, nós nos encaramos. Mais um instante de silêncio. Quantas palavras não ditas foram grifadas naquele instante? Naquele lugar? Nós sorrimos.
- Se a gente não se ver mais... Se cuida, me perdoa, tá? - Ela disse como se estivesse tirando um peso das costas. Eu não entendi, não havia o que ser perdoado. Ela seguiu seu caminho e eu o meu. Nós fizemos nossas escolhas.
- Tá tudo bem, não há o que se perdoar. - beijei a sua testa, puxei minha mão e segui me afastando, sem olhar para trás.
Ela poderia estar me olhando, não queria que visse as lágrimas que vinham cedendo lentamente, fora uma despedida melhor do que imaginei.
J.C. GONÇALVES
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* ⠀𓂃 ❀ ⠀❪ 𝒸𝒶𝓎𝑒𝓉𝒶𝓃𝒶 𝓅𝑜𝓇𝓉𝒾𝓁𝓁𝒶-𝓇𝒾𝒸𝒽𝒶𝓇𝒹𝓈𝑜𝓃 ❫ ‧ ⠀ 𝙞𝙩'𝙨 𝙣𝙤𝙩 𝙨𝙮𝙢𝙢𝙚𝙩𝙧𝙞𝙘𝙖𝙡 𝙤𝙧 𝙥𝙚𝙧𝙛𝙚𝙘𝙩, 𝙗𝙪𝙩 𝙞𝙩'𝙨 𝙗𝙚𝙖𝙪𝙩𝙞𝙛𝙪𝙡 𝙖𝙣𝙙 𝙞𝙩'𝙨 𝙢𝙞𝙣𝙚.
Aposto que você não sabia, mas sim! CAYETANA PORTILLA é moradora de Windham! Pertencente à família RICHARDSON, ela tem 37 ANOS e trabalha como METEREOLOGISTA. Como toda boa cidade pequena, as fofocas correm soltas, e já fiquei sabendo que ela é MENTE ABERTA, mas também INTROMETIDA. Eu pessoalmente já a vi, e sabe o que achei? Que ela é a cara de MAITE PERRONI. Engraçado, não? Típico de um morador daqui!
❀. ( 𝐏𝐈𝐍𝐓𝐄𝐑𝐄𝐒𝐓 ) ⠀𓂃 ⠀ ( 𝐏𝐋𝐀𝐘𝐋𝐈𝐒𝐓 )
* ⠀𓂃 ❀ ⠀❪ HEADCANONS :
𝐎𝐎𝟏: Antes de se tornar Cayetana Richardson, ela era Cayetana Portilla, a filha de um professor de geografia em uma cidadezinha no México. Conforme crescia, só ela e seu pai, a curiosidade abrandava os pensamentos da jovem que mesmo não tendo muito, tornava o pouco, grandioso. Seu jeito moleque lhe levava para as mais diversas situações, seja de encontro aos machucados que arranjava nas corridas para longe dos bois, seja para as aulas que o pai lecionava aos estudantes de faculdade. Ela sempre foi muito respeitosa quanto à sua cultura e mais ainda pelo progenitor sempre lhe dar tudo que estava ao seu alcance, inclusive o amor pela natureza e ciência. O sonho de Caye era se tornar uma cientista e trabalhar para a NASA, mas as coisas tomaram um rumo diferente no futuro.
𝐎𝐎𝟐: Prestes a terminar seu ensino superior no curso de biologia, Cayetana foi surpreendida em um momento de sua vida quando enfrentou um sismo que afetou e destroçou uma parcela da cidadezinha. Ela estava na sala de aula quando começou, sequer teve reação além de tentar se proteger junto dos outros alunos na tentativa de sair do prédio — com receio de que este desabasse. No entanto, após alguns minutos, as coisas começaram a esquentar de modo que era possível ver certas casas derrapando e outras se partindo. O maior medo de Cayetana era que algo do tipo tivesse acontecido ao pai, visto que ele já estava ocioso na época, por estar aposentado, e somente viviam os dois dentro de casa. Quando retornou, então, se deparou com os destroços do lugar onde cresceu e várias viaturas e pessoas ao redor tentando ajudar umas às outras. Choro era ouvido de forma incontrolada, mas a preocupação superior dela era a de achar seu pai.
𝐎𝐎𝟑: Infelizmente, a tragédia fora maior do que esperava, e naquela época Caye estava sozinha, e sozinha permaneceu por uns anos, a fim de superar o ocorrido após decidir fazer um mochilão. Nessa aventura conheceu seu atual marido e junto dele reencontrou um pouco do amor que havia sentido pela biologia outrora. Dedicou-se, então, a estudar sobre os efeitos da natureza em prol das pessoas, para evitar que situações como aquela que havia passado, pudesse ser evitada. Sendo assim, manteve seu sobrenome em homenagem ao pai mesmo após casada.
𝐎𝐎𝟒: É notável que Cayetana passa toda energia do que faz e ama para as pessoas nas conversas. Seu jeito extrovertido, muito eufórico e animado, é o que cativa. Ela também tem mania de falar muitas gírias mexicanas, porém, na maior parte das vezes o faz na intenção de que ninguém mais a entenda, um jeito de falar abertamente o que quer e pensa sem ser julgada. De toda forma, é uma mulher muito enérgica, mas devido o trauma que passou, a Richardson teve de se tratar de sua depressão e passou a tomar remédios que controlassem o desânimo que sentia.
#⸰ ͙ࣳ ❀ 𓍢 ׅ MUSING ━━ for the 𝒂𝒆𝒔𝒕𝒉𝒆𝒕𝒊𝒄 𝒘𝒐𝒓𝒌 & 𝒄𝒉𝒂𝒓𝒂𝒄𝒕𝒆𝒓 𝒔𝒕𝒖𝒅𝒚.#⸰ ͙ࣳ ❀ 𓍢 ׅ VISAGE ━━ for the semblance of a 𝒑𝒖𝒓𝒆 𝒃𝒆𝒂𝒖𝒕𝒚.#⸰ ͙ࣳ ❀ 𓍢 ׅ INTERACTIONS ━━ for the 𝒏𝒂𝒎𝒆𝒔 𝒊'𝒍𝒍 𝒘𝒓𝒊𝒕𝒆 over their tongue so it's all they speak.#⸰ ͙ࣳ ❀ 𓍢 ׅ MISCELLANEOUS ━━ for the things we do (& gain) 𝒇𝒐𝒓 𝒍𝒐𝒗𝒆.#⸰ ͙ࣳ ❀ 𓍢 ׅ ABOUT / DEVELOPMENT ━━ for the 𝒓𝒂𝒓𝒆 𝒂𝒏𝒅 𝒃𝒆𝒂𝒖𝒕𝒊𝒇𝒖𝒍 𝒇𝒍𝒐𝒘𝒆𝒓𝒔 that blooms in adversity.
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II. DEBUXO:
PEÇA SEM TÍTULO, OU FORA A CHUVA
A 27-X-2024.
Quero que o tempo regresse,
mas não sei aonde preciso ir para me sentir melhor.
Entro de chofre na capela,
em busca do silêncio de outras ocasiões
e, lançando para a janela o olhar, eis:
você dentro, eu lá fora, eu refletido no vidro.
Você desde sempre dentro, conquanto eu não visse,
porque estava eu sempre lá fora, entretido no barulho,
entretido na gente jovem, que me atraía mas que eu não entendia.
Que se passava com aquela gente?
Que se passava comigo?
Sei que não me trará conforto nem resolução o olhar para trás,
entretanto não quero ficar aqui, o alarido me atormenta,
não suporto suas vozes, seus gestos,
nem os meus, ásperos, acres, inimigos de todo mundo.
Quem me permitiu ficar assim?
Foi você, eu sei.
Mas por quê?
Que se passava comigo?
O que queria a gente que me olhava, inquiria?
Ainda guardo muitas das perguntas daquela hora,
que não procurei respondê-las,
pois que não vi importância.
Não vi nada senão os prédios,
as ruas, e a gente jovem que eu não entendia
e de quem não fazia parte.
Hoje ainda é necessário,
mas ainda não faço parte daquela gente.
Nem de nenhuma outra gente.
Não quero sair.
A chuva, que outrora era mote daqueles poemas que eu escrevia,
hoje me traz medo: não quero sair daqui.
Não quero sair daqui.
Olho fora, você dentro, sempre.
Você permanece dentro,
lanço fora o olhar, meu reflexo na janela.
Por quê?
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Escutou atentamente sobre os demais lobos que eles estariam rastreando, lembrando-se que outrora eram eles, de olho nela. — Se sabem quando alguém vai 'estourar', porque não podem interfirir antes que essa pessoa faça merda? - elevou uma sobrancelha enquanto apoiava o queixo em uma das mãos, com uma intrigada? Então a desfez, se voltando para a garota, assim que mencionou seu 'apelido'. Dito em voz alta, parecia vergonhoso. Diabos, se ficasse vermelha ali e agora, acabaria ficando conhecida por ele pelo motivo errado. Limitou-se a dar de ombros e bebericar o resto do seu café. — Formar a própria matilha me parece legal. Damien me deu um pouco de medo, sem ofensa. - sorriu para Ossos de Titânio. — Ainda tenho um punhado de perguntas, mas acho melhor deixar para faze-las ao Roger, tenho certeza que ele ficará feliz em responde-las. - se afastou da mesa e desta vez, foi ela quem jogou o guardanapo usado dentro do prato. — Bom, depois daqui cada um segue seu rumo ou eu ainda estou sob supervisão? Tem um lugar onde eu gostaria de ir e, imagino que não possa mais voltar pro meu velho apartamento. — É uma linha tênue entre interferir cedo demais e fazer com que a pessoa não passe pela Primeira Mudança, e interferir tarde demais depois que a merda está feita. Geralmente, preferimos a segunda opção. Não me leve a mal, mas precisamos de gente. Felizmente Gaia parece ter atendido nossos lamentos e esse mês tem sido excepcional. Não é normal que haja tantas pessoas se transformando nesse mesmo curto período. Algo grande vem por aí. — Sua voz ficou mais baixa quando sussurrou a última frase. Bekah pareceu preocupada. — Tá livre, garota. Mas ainda vai dormir na casa do Roger por enquanto. Ordens do chefe. Não tenha medo do Beckett, ele não gosta de mulheres. — Baxter deixou soar uma pequena risada maldosa. — Não tem graça. — Tudo bem. Espera ela ver ele vestido com aquela fantasia ridícula. O barulho do punho de Bekah contra o bíceps do homem ressoou pelo ambiente, mas ele nada mais fez do que manter o sorriso. — Ela vai achar de qualquer jeito. Tá dormindo no quarto dele. — Não interessa, isso é coisa pessoal. Deixa isso pra lá. — Bekah pareceu genuinamente irritada pelo amigo. (editado) Emile pensou em como se sentiu quando ouviu o grito de Gaia, ao atravessar o Véu pela primeira vez. Foi agonizante, em todas as formas possíveis. Um desespero que ela podia entender acaso a Mãe Terra estivesse desesperada por mais guerreiros, no entanto, não pode deixar de se sentir afetada pelo tom baixo de Rebekah no final daquela sentença. Ela se perguntou até que nível o “grande” que estaria pro vim poderia colocar em risco, potencialmente, aqueles com quem ela se importava. Sua sobrancelha, então, se elevou a menção de Baxter, franzindo a forma debochada com que ele riu em seguida. Então ele era gay. Não que isso fosse um impedimento acaso ele, secretamente, fosse um serial Killer. Mas então teve a menção da roupa e sua atenção já estava capturada o bastante para que fosse estampado na sua expressão que ela não deixaria este fato passar. — Posso ter uma fama ruim como “disseminadora de informações não públicas” mas sei respeitar a privacidade de quem me oferece um teto para dormir e acolhimento quando mais precisei. - respondeu por fim.
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Lugar
Eu corri pro vazio de novo.
De braços abertos, ciente do perigo mas cega.
O caminho foi curto, as consequências, bem longas.
Eu não posso alegar inocência, não mais.
Eu antevi a queda, e me joguei mesmo assim.
Numa fé cega, uma esperança melancolica de dias passados onde a escuridão viu a luz.
Eu quis crer, ainda que brevemente, que poderia voltar.
Não posso, a chave não está em minhas mãos.
Esta nas suas.
Mas você decidiu desprezar esse santuário que outrora foi nosso, agora ele é só seu pra guardar, ainda que você apenas o despreze.
Daqui eu o vejo, chego perto e quase alcanço, mas seus muros me impedem.
Não impedem no entanto as tentativas que cansadamente eu crio, me machucando em todas, obviamente.
Era sagrado, era segredo, era nosso, só nosso.
Agora é apenas um vazio assombrado de esperanças passadas, os fantasmas se ajuntam em riso frente a mim, não consigo levantar meus olhos.
A dor se mistura a auto piedade de quem sabia que iria ferir se, mas escolheu fechar os olhos e se lançar sem ver, até se quebrar, de novo...
Você está aí, parado, com a chave em suas mãos, me olha de cima almejar por elas, querer adentrar o espaço e me dividir com você, e não faz nada, não se comove.
Eu espero que o que quer que seja que tenha transformado em rochas seus sentimentos, me alcance também.
Pois sei que nesse dia a chave se repartirá também para as minhas mãos, e então seremos nós dois guardiões de um santuário não mais habitado.
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Já faz tanto tempo que aqueço meus ossos junto às palavras que agora já me perco quando tenho tanto a dizer, mas não consigo aniquilar o que insiste tanto em me envenenar.
Quando ainda idealizava o amor, eu encontrava na poesia um refúgio, um sopro de esperança. Eu tinha certeza que encontraria o amor da minha vida e pereceria ao seu lado. Era o que me restava por ter passado por todo o sofrimento desde tão pequena. Aos 15, eu ensanguentei a pele jovem que revestia o tambor que estrondava meu peito e, aos 25, eu manchei minhas mãos novamente. Mesmo que por pouco tempo, o mundo existiu em uma tonalidade diferente. Mas logo tudo se tornou desbotado de novo. Eu tive que estancar o vazio do meu peito pra conseguir sobreviver.
E, depois de todo esse tempo, eu já não tenho mais a mesma certeza que eu tinha quando nova. Já amei e fui amada de tantas formas que nem sabia que eram possíveis, mas eu ainda me inebrio ao fantasiar ser amada da forma mais completa e intensa e estranha e melancólica que existe, como se uma vida inteira se transportasse apenas numa troca de olhares ao cruzar o ambiente. São tantos os tipos de amor que eu quero viver e sentir que preciso me convencer de que isso não é utopia. Mas será que um dia serei amada assim? Há tanto amor dentro de mim que preciso dosar as medidas que permito extravasar, com medo de que, se eu der tudo de mim novamente, vou me encontrar com um órgão abatido em pedaços mais uma vez.
Por ora, me afogo em memórias de um tempo em que, mesmo em meio ao caos, a vida parecia mais leve. Mas eu sei que, naquele tempo, eu também me afogava em memórias do que eu já havia vivido. São por causa desses momentos que me fazem pensar que daqui certo anos, eu vou estar sentada em qualquer outro sofá no meio da madrugada lembrando de como minha vida de hoje outrora era doce e encantadora e, no fim, eu acabo não vivendo nada de nenhuma dessas vidas, apenas das memórias delas.
Em breve, ficarei mais velha e tudo ainda parece tão incerto quanto eu era apenas uma adolescente que não entendia o porquê de se estar viva. Ainda não tenho essa resposta, mas me impressiona pensar que cheguei até aqui. A morte me parecia tão certa que agora, com a vida em constante reivindicação de minha pessoa, eu me encontro mais perdida do que nunca. Só me resta aguardar pelos breves momentos que tenho com as pessoas que eu amo para poder restituir a sobriedade e me afastar do parapeito desse chão de concreto.
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O Balanço das Ondas
A chuva cai durante uma noite fria de abril. Ouço os pássaros anunciando a violência que cresce pelo lado de fora da janela. As estrelas estão mortas e só o que vejo são suas lembranças embriagadas pelo tempo. No calor da minha triste casa, debruço-me diante de uma coleção de fotos antigas, passando meus olhos pelos rostos que outrora foram desejados e lindos. Percebo que a decadência e a morte são inevitáveis. Receio acreditar que um dia serei eu nestas fotos, que a vida passará e serei consumida por uma enxurrada de acontecimentos, devorada pela lembrança, jogada em meio à desgraça que é o esquecimento. Ao mesmo tempo, agradeço pela certeza de que nada que eu faça será capaz de me proteger deste trágico fim que espera a grande maioria de nós.
Ao passo que me afogo com devaneios noturnos, no outro lado do país, ouvindo músicas sobre amor, com um baseado na mão, estava o homem cuja flecha da paixão rasgaria a carne do meu peito, lançando-me em um deserto de desespero. Mas como toda história de amor, a nossa começa com um riso despretensioso, um toque quente, um beijo escondido. Este amor começa como o balanço do mar, leve e gradual, transformando-se em uma poderosa tormenta que me consome até no delírio do paraíso, nas convulsões do inferno.
Como um raio que rasga a carne escura da noite fria, ouço os cânticos angelicais do outro lado da parede. Naquela hora, só pensei em como era agradável conviver com uma aspirante a música, o clima úmido da chuva, juntamente com aquele som abafado, as fotos na cama. O clima era de morte, de decadência. Era tanto moral como espiritual. Não acredito que irei me mudar, que sentirei o gosto da liberdade. Senti muito por todas as perdas que tive nos últimos meses, mas esse é o fluxo mais comum que há; a vida é um sopro.
Os devaneios que tenho, juntamente com a esperança crescente, eram o que me sustentavam na realidade, um paradoxo interessante. A vista do futuro sobre como os acontecimentos se sucedem nos faz acreditar que havia outras maneiras de perseguir o mesmo caminho, apesar de ilógico ou irracional pensar assim. Passo pelo quarto, vejo todos aqueles móveis carregados de memórias. Lembro do dia em que corri pelo parque central e caí, quebrando a perna. Passei dois meses sonhando com o dia em que poderia voltar a sentir o toque do vento em meu rosto. Às vezes, tudo que mais desejamos um dia foi algo banal.
Minhas malas estavam prontas. Deito sobre minha cama, meu corpo está rígido. Esta será a última noite que terei em meu quarto, em minha casa, em minha cidade, com meus pais, com minha irmãzinha, com os meus sonhos intactos, sem a violência da realidade. Aquela noite foi triste e marcante, foi a confirmação de que a vida estava passando, que eu estava envelhecendo.
Passada a noite calamitosa que me afogava em depressão, desperto e me deparo com um dia extremamente azul. Desço as escadas de casa, vestida com minha camisola branca de seda, meus seios levemente caídos, sinto a juventude e a maciez do toque. Caminhando pelo jardim, percorro a pequena trilha que afasta minha casa da praia, as pedras grandes e afiadas que serpenteiam minha residência trazem consigo uma violência que dilacera a alma mais do que o corpo, trazendo à tona memórias. Vejo o azul do dia, os pássaros no horizonte do oceano, minha casa ao longe; desejei tanto partir daqui, voar intensamente. Agora, está acontecendo; estou quase partindo, faltam poucas horas. Depois disso, qual será meu sonho? Tenho medo do que se aproxima, mas minha curiosidade é maior. Avanço pela praia em direção ao mar. Daqui, observo o balanço das ondas; a vida estava acontecendo diante de mim. Estou pronta para partir, pronta para quebrar as rochas, respingar na terra, incendiar as palavras na cidade.
Depois desse belo momento de depressão e melancolia, com umas pitadas de esperança e saudosismo, volto à minha casa, visto-me e encontro-me com meus pais.
"Bom dia, mãe, as minhas malas já estão prontas, quando vamos para o aeroporto?"
"Clara, minha filha, vamos daqui a pouco, é um pouquinho longe, mas vou aproveitar para ir visitar a Cláudia, é no caminho mesmo."
"Certo, nem tô acreditando que vou me mudar, essa vaga que eu consegui na Revista Laguna é a melhor coisa que me aconteceu em anos."
"Sim, desde que você saiu da faculdade, fico me perguntando se conseguiria um bom emprego."
"Ah, mãe, para, por favor, a faculdade estava me limitado, o importante é que eu conheci o Diretor da revista e ele adorou os meus textos, não será nada glamouroso, mas tenho certeza que eu vou conseguir a minha coluna nos próximos meses, eu tenho potencial, mãe, sou eu, a Clara Fonseca, você mais do que ninguém conhece a minha capacidade de escrita."
"Sim, amor, eu não duvido da sua capacidade, mas eu tô com medo, minha Clarinha está indo embora, eu queria te proteger pra sempre."
"Mãe, pode confiar em mim, eu tenho certeza que vou conseguir essa coluna até o final do ano, você terá uma filha escritora, e será só o começo."
Após o café da manhã, minha mãe me deixou no aeroporto, foi uma viagem de duas horas de carro, fiquei completamente imóvel a viagem toda. Ouvindo músicas sobre amor, tempo e despedida, passei um bom tempo chorando baixinho, minha mãe percebeu, mas não quis falar nada, acredito que seja difícil para ela me ver partir. Eu já tinha ido para a capital estudar, fiz letras durante 2 anos, mas não me sentia realizada, eu queria mais, queria a arte pura, a sensação de expor da forma mais visceral possível meus sentimentos. Acredito que ainda não esteja no meu ápice criativo, mas essa é a melhor oportunidade para conseguir perseguir o meu sonho. Sim, será uma perseguição violenta, estou disposta a largar tudo por isso, até mesmo a minha casa, meus pais e minha irmã. Talvez seja egoísmo, mas eu preciso viver essa experiência, mais do que tudo.
A viagem de Fortaleza até Belo Horizonte é de, aproximadamente, 3 horas. Foi um voo tranquilo, teve poucas intercorrências. Quando cheguei na capital mineira, já eram 17:00, um final de tarde tranquilo de abril. Aqui, nesta cidade, a minha vida começaria.
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Com todos agindo com tamanha normalidade, Marlo acreditava que as pessoas eram suspeitas também. Tudo era absurdo, mas coerente com uma abdução. Ser sugada por um livro era menos extravagante que naves, mas válido — as táticas de extraterrestres estavam fora da compreensão humana, afinal. “É, são mesmo. Pelo menos, eu ainda não interagi com nenhum animal falante. Eles estão nos dando tempo antes de tornar as coisas ainda mais malucas.” Observou em volta para checar se alguém estava os observando, então abriu a mão que outrora havia uma marca quente que desapareceu. Fechou a mão quando ouviu raiva, mordendo o canto de sua bochecha ao olhá-lo. “Cara...” Suspirou profundamente, raciocinando o que queria dizer. As coisas pareciam engraçadas até não serem mais e Marlo começava a ter dificuldades com aquela confusão. “Sentir raiva a ponto de machucar alguém?” Olhava sem julgamento, com verdadeiras dúvidas sobre o que acontecia. “Talvez eu vire um bicho, não do tipo pet fofinho que eu adoraria ser, sabe? E, tipo, eu acho hienas legais. Poderia ser divertido, eu vi um homem que fica se transformando, é uma habilidade foda. Só que as inclinações me deixam preocupada. Eu vou virar uma pesso- um animal tendencioso? Eu vou gostar? Vou deixar de ser eu? Vai ser tudo diversão e jogos até não ser mais?” Fez uma careta com as preocupações repentinas, então riu baixo, sem o seu humor habitual e, portanto, com traços de timidez. “Não tô preparada pra viver na savana. Eu gosto daqui se eu não pensar em nada. É fácil não pensar em nada.” Disse como se confessasse alguma coisa, não era exatamente uma revelação, mas não deixava de ser pessoal.
Era incapaz de visualizar o que havia dito de tão impressionante para fazer com que a garota arregalasse os olhos em empolgação – algumas pessoas que haviam sido sugadas para o Mundo das Histórias eram certamente estranhas. Apenas confirmou suas suspeitas quando se viu com uma barra de chocolate em mãos, que segurou automaticamente, mais por choque, assim que ele lhe ofereceu. Não lhe ocorreu falar que não comia doces, até porque não achava que adiantaria de muita coisa. ‘ Foi uma suspeita. O guarda parecia suspeito, como todos nesse lugar ’ acabou confidenciando, antes de ser atropelado pelas palavras da outra perdida. Seria assim tão ruim se ele compartilhasse os pensamentos com alguém? Tinha a impressão de que ficaria louco se não falasse, e ela claramente estava dando uma abertura. ‘ Ok. Pode ser que eu esteja sentindo algumas coisas, mas ainda não sei o que é, exatamente... Raiva, na maior parte do tempo. Não faz muito que começou ’ chacoalhou a cabeça, como que para afastar os pensamentos. ' Sua vez? '
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Interruptor
Interruptor, estou apertando esse interruptor por horas... Será que minha lâmpada queimou ?
ah, oi eu nem te vi aqui. me perdoe ok ? a luz não está funcionando e acho que o problema é o interruptor Hoje a sala vai ficar desse jeito, totalmente escura e por favor não ligue para os sons de rangido entre as tábuas velhas, eu tentei deixar o mais confortável para você leitor... o problema é que eu não me sinto bem nesse lugar de merda.
Qual o problema ? Bom, caminhei por essa casa velha e até virei amigo dos demônios e eles não rasgam meu corpo por diversão, veja que pela primeira vez eu não sinto medo de me jogar nos pontos com menos iluminação possível. Eles estão torcendo por mim e isso não é o inferno como o vendedor me disse, isso aqui é o meu paraíso Não existe demônios, eles são meus amigos e estão zelando por mim O que? você quer uma lamparina ? Apenas relaxe, eles te tocam mas não vão te machucar, estão apenas te conhecendo você só vai continuar com uma luz... já que insiste Lamparina? eh.. essas marcas no meu corpo ? eu nunca tinha visto antes, estou faz anos andando por essa casa e posso dizer que não existe trauma, aqui é como se fosse o ponto mais alto do mundo, vejo e falo com Deus daqui. A casa está toda suja de sangue eu sei, só que olhe pra mim, eu ainda consigo andar e nada do plano físico afetou o meu mental. está vendo ? faz 5-6 meses que ando sem rumo na escuridão e só disso que preciso, só andar.
Consumir É doloroso, as marcas que existem em meu corpo.. Eu estou servindo de brinquedo. Por favor leitor, feche os olhos e só me escute. Nesse exato momento vou explicar a situação tudo bem ? Estou conversando com você enquanto me jogam facas e dão risada de forma histérica e louca. Eu virei um alvo nesse exato momento, partes do que em outrora era gente, está me esticando e deixando como um alvo Eu sou um brinquedo dos meus traumas e eles são meus amigos, eles me esfaqueiam, queimam, quebram meus ossos e me enchem de hematomas só que.. eles me abraçam e cuidam de cada sangramento, passam pomada e engessam os ossos quebrados. Amo essa tortura e consegui viver dessa forma ou tudo é culpa dos meses com interruptor falho? Interruptor e lâmpada Você me vê assim, dedos tortos, pele morta que não se desprendeu do meu corpo, hematomas negros e enormes cortes em TODA minha pele. Sou um chafariz de sangue mas, só consigo sorrir enquanto descrevo meu estado corporal, não pelos machucados e sim por ter lidado com toda essa tortura como se não fosse nada. Meu pescoço tem uma enorme cicatriz, referente a forca ou ao degolamento planejado ? Isso tudo parece tão pífio ? eu não devia me importar com o fato de ter sido tão machucado no tempo em que fiquei sem luz afinal, estou vivo né? trau------------------------------------------------ Trauma Meus olhos começam eclodir, borbulhar e... EU NÃO SEI O QUE É ISSO. Passo calmamente a mão no meu pescoço e com golpes e apertos desejo que tudo termine ali. Eu não via o real problema de tudo isso ? eu estou vivo por ter ficado sem enxergar tudo isso no meu corpo ou estou morto. Enquanto esse pensamento flui em extrema velocidade pela minha cabeça como se fosse um rato sendo caçado, me perco em mim e tudo começa girar, a casa em si começa a rir e o grunhido é como se raspassem barras de metal no meu dente, é como se cada madeira podre se rompesse e fizesse um tornado de sons infernais, pratos se quebram e NADA PARA. É tanto barulho que perdi o fio, eu não consigo escrever, eu estou tão morto que pela primeira vez não me importo de ter.. morrido ? tão machucado mas não me importo com os danos, minha cabeça está tão calma nessa situação onde existe literais demônios puxando minhas orelhas e tentando danificar minha cabeça enfiando facas no meu ouvido e cavando até chegar no meu cérebro, tudo isso seguido de marretadas na minha cabeça como se tivesse buscando abrir uma concha Só que tudo isso parece tão confortável, eu não quero sair disso. Morte Não existe uma forma certa de começar essa parte e eu nem me importo tanto para detalhar o que realmente sinto. Andei tanto e usei tanta droga que o clarão foi meu interior, eu realmente me vejo da forma descrita antes, tudo isso sou eu e cada persona termina sempre em mim. Apagado, morto ou inexistente ? eu acreditei que andar no escuro era a solução para apagar os traumas, eu podia ser dilacerado, torturado e até mastigado, se eu não consegui ver isso acontecendo sentia que a dor não existia. Me sinto um robô e nada dói. ando como um mecanismo enferrujado que se esforça ao máximo para continuar sendo útil e funcional, eu estou tão focado em mim que esqueci de mim ???????? isso faz sentindo ?
Culpa ? Não sei mais em qual parte colocar isso e aquilo só que mesmo assim continuo digitando sem fim, eu não sinto tanta desaprovação com a minha escrita suja e feia, eu me queimo e não sinto a dor, A MINHA VIDA CHOVE.. OU MELHOR, DESMORONA COMO UM TEMPORAL SEM FIM, e continuo fazendo churrasco enquanto o tsunami está prestes a destruir minha casa e a minha vida Aconteceu muita coisa e muitos elementos foram dissipados da minha existência, meu luto foi a coisa mais ridícula do mundo. Morte/continuei caminhando trauma/continuei caminhando Estagnação/continuei caminhando mente quebrada como espelho/usei para rasgar minha pele mas continuei caminhando Marcas de incêndios na minha pele/queimei novamente e fiz o sangue vazar mas.. continuei caminhando
Apagão interno é, eu sou um péssimo filho e meu pai deve sentir nojo vendo o que faço da minha vida as pessoas que abandonei estão melhor por não me ter perto as pessoas que colocaram a corda no meu pescoço estão bem os machucados ainda sangram e me sinto fraco pela quantidade de sangue despejada as queimaduras ainda ardem no meu interior, minhas veias do braço realmente foram danificadas Tudo isso aconteceu e não vi esses machucados por estar com o interruptor quebrado.
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Eu saí caminhar
Eu saí caminhar
Era uma noite quente demais pra Maio, e parecia o dia perfeito para recuperar uma das minhas atividades favoritas: caminhar a noite.
Foi uma das coisas que me ajudou a passar por 'aquele evento mundial que alguém disse que ia durar um mês mas durou dois anos' chamado pandemia.
Eu disse também que eu havia feito 29 anos há alguns dias? Eu havia feito 29 anos há alguns dias, sim.
Eu saí caminhar
Há diferentes vibes para caminhar a noite, e naquele dia específico era uma vibe animada. Enquanto eu trilhava a calçada (muitas obras na canaleta), eu ouvia só as músicas que me fazem ter vontade de correr e conquistar o mundo.
Eu saí caminhar
Moro num bom bairro. Um bom apartamento, boa vizinhança, boa tranquilidade. É um bairro que me desperta boas memórias, principalmente da infância.
Meu pai trabalhava em um Shopping Center na região. Foi quando nos mudamos para cá. Ele era gerente de uma dessas redes de máquinas de jogos - pinball, fliperama, simuladores. Algumas das lembranças mais felizes de quando eu era criança passam por lá - tardes jogando e jogando e depois do fim do expediente de meu pai, uma ida ao cinema.
Depois de mais velho, descobri que aquelas lembranças eram felizes só pra mim. Descobri o esforço que meus pais faziam para que eu pudesse ser feliz naquele momento, enquanto eles passavam pelas dificuldades da vida sem meu conhecimento. E por isso, eu agradeço imensamente.
Eu saí caminhar.
E no trajeto eu passei por esse mesmo Shopping. É aqui perto. Já não tem mais a mesma glória de outrora. A rede de jogos fechou há anos, o cinema diminuiu de tamanho e agora tem uma marca bizarra que eu nunca ouvi falar.
Mas a avenida em que o Shopping se encontra é a mesma, o ponto de ônibus em que eu descia é o mesmo. E fui tomado por lembranças.
Vi a Avenida como um reflexo do meu trajeto na vida. Foram anos e anos pegando o mesmo ônibus, passando pelos mesmos lugares com destinos finais diferentes. Diacho, até hoje é assim.
Eu saí caminhar.
Eu estou com 29 anos agora. É a última parada dos Anos 20. Próxima estação: os 30.
Nem tudo foi perfeito nestes últimos 29 anos. Fiz muita coisa que não me orgulho, algumas surpresas e obstáculos. Mas também construí muito. E tem muito mais pra se viver.
E daqui pra frente o Shopping ainda estará ali, a canaleta ainda estará ali, a Avenida vai ser a mesma - e o trajeto vai continuar igual.
Mas eu sou diferente. Agora eu sinto paz, e corro atrás de mais.
Então eu aumentei o volume da música e comecei a correr.
Agora, de volta pra casa.
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Sozinha na paragem de autocarro, como de costume. Vinda de um lugar que me era costume, no entanto que agora pouco se assemelha às minhas memórias.
O tempo passa e os minutos que me levam até à minha boleia para casa voam como se fossem folhas. Eu permaneço no mesmo lugar, esperando pelo tempo que não volta mais.
O passado é tão inalcançável quanto as certezas do futuro e por isso de nada me serve correr atrás dele. De nada me serve sentar-me aguardando que ele chegue até mim.
Já nada é o que costumava ser. O costume dissolveu-se. O animus e o corpus dissiparam-se em todos os lugares em que já estive depois deste.
Restam as memórias.
Lembro como ser criança é ser feliz e como agora penso que outrora não pensava sê-lo, mas era-o. Talvez daqui a uns anos olhe para mim agora e me veja criança, novamente.
Inevitavelmente, o passado passa. Por isso essa designação e por isso a dedicação com que tento fazer as pazes com ele.
O sítio que em tempos me foi casa, pouco mais me é agora. Julgo que neste momento aquilo que me cabe fazer é tornar do presente constante.
Não deixar que a minha casa desvaneça ou desabe, como esta que me rodeia, enquanto estou sozinha na paragem de autocarro, como de costume.
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