#Na esperança de jogar na grama
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Apito estridente
Apito estridente Jogo no terrão Na esperança de jogar na grama Jogo no asfalto Assalto frustrado. Detido pela polícia Meu sonho é só mais um sonho De uma vida pré-determinada Morrer antes que o sonho se torne realidade.Mover-me para onde? Ah! Nada a declarar.Mais uma história repetida Das milhões que já ouvi em minha vida Sigo as migalhas que caem da mesa.Carlos de Campos Foto por Pixabay em…
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O sorriso gentil ainda emoldurava os lábios do filho de Morfeu. Ele assentiu as palavras dela com um balançar de cabeça, antes de perder-se num risinho divertido. "Acharia muito injusto da parte de qualquer um deles, lançar uma punição por falarmos o obvio.", ao mesmo tempo, não era exatamente isso que os deuses faziam? Distribuindo punições por aí, só para quem respirasse um pouco errado na presença de suas imagens. Diante o questionamento, no entanto, Luís virou-se novamente para as chamas, pensando no que havia acabado de fazer. Seus suspiro, foi uma replica do dela, cumplice de seu cansaço para com a situação. "Eu nunca precisei fazer isso antes. Digo, eu sempre fiz oferendas por carinho, não por necessidade.", tinha uma boa relação com Morfeu, felizmente. "É a primeira vez que realmente tenho algo a pedir e sim, me parece muito como jogar uma moeda na fonte. Também penso que, quando jogamos a moeda, também esperamos por algo. A esperança sempre está lá.", junto com o pesar, infelizmente. Os olhos curiosos de Luís, não deixaram de notar quando ela voltou a pegar o pergaminho e abri-lo. Queria saber seu conteúdo, ao mesmo tempo que respeitava a privacidade de outrem. Era só a curiosidade mesmo. "Posso?", apontou ao espaço do seu lado, mas não esperou a resposta antes de sentar-se. "Ora vamos! Eu já vi você andar de salto no meio dessa grama toda. Você tudo, menos desengonçada.", admitia tê-la observado vez ou outra, mesmo que não fossem tão próximos assim. "Sabe, se o seu receio é ficar musculosa, saiba que a musculação não vai fazer isso do dia para a noite. Vai ter muito chão pela frente, e talvez nem aconteça a depender de como treinar. Pode valer a pena arriscar.".
Prometia discrição, mas o acompanhava sem piscar. Seus olhos correndo os passos até o altar divino, subindo e descendo pela silhueta de Luis, e voltando para aquele ponto sobre o ombro. O ângulo meio estranho para pegar o rosto e, mesmo assim, se esforçando para ver a curva dos lábios. O movimento suave das pálpebras e seus cílios. Candace bem sabia da sorte que tinha. Duas vidas bem diferentes e abastadas. Uma mortal pronta para recebê-la, cheia de amor e admiração. Um pai divino constante e frequente, visitando-a mais do que os outros. Ela sabia da relação com os deuses e não raramente... Talvez não tão explícita, tentava entender as condições dos outros. Seus ouvidos captaram o pedido e ela desviou o olhar, envergonhada. E compensando com uma prece própria, para o pai cutucar Morfeu lá em cima. ╰ ♡ ✧ ˖ Compreensível... Sim. Os últimos tempos... Não sei como responder sem trazer a possibilidade de mais uma maldição para mim. ♡ ˙ ˖ ✧ Candace soltou o ar num suspiro, a mão esfregando a têmpora direita em círculos lentos. ╰ ♡ ✧ ˖ É ruim pensar que uma oferenda tem o mesmo efeito de uma moeda jogada na fonte? No fim, não é uma força divina ou sorte extrema, mas nossa percepção e vontade de conseguir. ♡ ˙ ˖ ✧ Um placebo, teria dito em voz alta se o olhar não tivesse recaído nas figuras dos doze primeiros olimpianos. A filha de Eros apertou o pergaminho uma vez antes de... Alisar. Abrir novamente sobre as pernas. ╰ ♡ ✧ ˖ Eu só estava... Estudando sobre... Asas. Como fazê-las funcionar e não... Me derrubar. ♡ ˙ ˖ ✧ Candace prometeu não mais guardar esse segredo, então... Melhor começar a contá-lo de agora. ╰ ♡ ✧ ˖ Graças a papai, elas não pesam, mas são... Ou melhor, eu sou tão desengonçada. Aparentemente, preciso reforçar musculatura geral e o que eu venho evitando desde que me descobri semideusa? Isso mesmo, musculação. ♡ ˙ ˖ ✧
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A canção que meu irmão me ensinou
Quando eu era criança meu irmão cantava uma bela canção,sobre um cavaleiro e seu alazão e as quentes terras do sul.
Nada no lugar havia alem de milhas e milhas de deserto, alem de um futuro incerto.
Nada havia além de esperança de que algum dia alguem viria e levaria junto seus cavalos e seus irmaos ,para o outro lado do devastado local .
Levaria todas as tropas para o outro lado da grande depressão ,um buraco que se estendia ao alem sem nenhuma chance de solução, e dizia meu irmão que era uma das grandes coisas que a natureza fazia para que nem todo dia um ser tirasse seu espaço .
Porém para atravessar o lugar ,todos precisavam saltar e chegar tão alto ao ponto de poder o céu tocar .
E muitos tentaram e falharam em tocar o espaço ,usar seus musculos de aço ,sua inteligencia usar ,e também só a sorte jogar e de uma vez pular para aquelas belas terras do outro lado do grande de buraco.
Era tão belo o sul que só de falar sentiam os cheiros ,da grama ,da chuva, da comida em abundancia.
Porem era tão dificil chegar ,que aos poucos se contentaram com as imagens ,dos pastos verdes ,das grandes casas , do amor e da eternidade e ficaram ali parados na sequidao ,na solidão das tristes terras que agora chamavam "o meio"
Mas no final sorria e cantava meu irmao
Que algum dia ,um bravo cavaleiro viria e me daria sua mão tiraria o ar de meu pulmão ,me guardaria no seu coração e me levaria para eternidade , a serenidade , ao calor morno ,ao infinito dele.e por fim me despediria do meu velho irmão , ilusão , e lá viveria com quem me deu a mão , nas quentes terras do sul.
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“ 🗲 ━━ ◤ Não tinha pensado nisso e deveria ter considerado. Quanto está pesando? ◢ As manipulações corporais eram de dois tipos bem diferentes. Os que envolvia subjugamento de combate, onde colocava cada grama de vantagem contra o oponente e esfregava na cara. E os de pressa, da gracinha de colocar duas pessoas no lugar certo para realizar atos discretos. “ 🗲 ━━ ◤ Posso vê-la cozinhar? Direi que acordei bem-humorado, cantando com os passarinhos enquanto ajudavam a fechar minha mala de viagem. De que tenho esperanças de uma missão maravilhosa. Em nada alheio de que faria uma bagunça, pronta para jogar farinha em mim. ◢ Raynar não abriu a boca para a semideusa, seu olhar congelando no tempo quando o suspenso clima se tornou tenso. Aquele colar não era para ser tocado ou retirado, nem por uma coisa tão simples quanto uma brincadeira. A pele tentou emitir a energia estática, mas se controlou na corrente que ligava as lâmpadas. Não, era o que dizia. Cuidado, era o que os azuis das íris alertavam. “ 🗲 ━━ ◤ Você tem cara de quem gosta dessas coisas. Ilusão de que é forte pra bebida? ◢ Revirou os olhos, um risinho crescendo na garganta. “ 🗲 ━━ ◤ Posso soltar suas mãos e ainda ficaria fácil para conseguir alcançar. ◢ Removeu um dedo por vez, libertando-a do pequeno artificie. Porém, para descê-la, ele considerou profundamente. “ 🗲 ━━ ◤ Não acha que seria mais discreto se continuasse aqui por cima? O que vão pensar quando seus dedos entrarem em local inapropriado? Tão out in the open? Escandaloso, não? ◢
"a minha companhia, tem coisa melhor?" se fez de indignada, mas na verdade esperava mesmo que aquilo fosse o suficiente já que não tinha grandes coisas a oferecer. "também posso te fazer um bolinho se preferir e..." se perdeu no pensamento quando teve o seu corpo tirado do chão, se balançando no ar. "ouch!! por que você... tsc.. está errado ray, eu não ficaria com tédio se me contasse do seu dia, da missão, se fizesse malabarismo... mas por favor, não comigo." revirou os olhos, não era aquela a ideia de diversão que ela tinha, se o mesmo tropeçasse e caísse com ela seria o mesmo que descer rolando dos montes, como havia comentado. “é claro que não me quer morta. sou divertida demais pra morrer." o sorrisinho não saia de seu rosto, ainda que os olhos estivessem meio arregalados. "gostei do colar." bonito e brilhante. a mão que ainda estava livre percorreu pela corrente no pescoço alheio, ignorando o olhar ativo. "eu gosto de aperol, é docinho e azedo, mas sem sol é sem graça." vinha de uma terra quente e não podia evitar a comparação. e o drink, apesar do baixo teor alcoólico, se bebido em grandes quantidades era capaz de deixa-la bêbada do mesmo jeito, o que era maravilhoso. "oops" se resignou a dizer quando percebeu que havia sido pega no flagra, ou quase isso. a parte boa era que sempre tinha como se fazer de desentendida, e isso ela fazia muito bem. a parte ruim era que, mesmo com a melhor das atuações, continuaria com o pulso preso por ele, e o caminho que os dedos estavam tomando fez com que ela semicerrasse os olhos. "seria mais fácil se eu não estivesse aqui em cima, e se minhas mãos não tivessem presas." bufou, esticando os dedos ao máximo que conseguia, ainda muito longe de alcançar a tal dracma. "isso não é nem justo."
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Meu Pequeno Erro
Boruto chegara em sua casa depois de mais um dia cansativo, bem que seu pai lhe disse que faculdade não seria fácil. O garoto se jogou no sofá, relaxando o máximo possível naquele curto período, engenharia foi a área que escolheu e ele pensava seriamente se foi uma boa escolha. Sempre foi bom em cálculos, isso é um fato, mas toda hora cansa!
— Droga… — gemeu ao sentir seu celular tocar, o tirou do bolso e em seguida atendeu. — Alô?
— Boruto-kun? Sou eu! — sua ex era quem falava com ele, inevitavelmente fez uma careta em desgosto.
— O que você quer, Sumire? — perguntou sem paciência.
— Não seja grosso docinho, só queria saber se está com vontade de sair comigo e o pessoal! — A Kaikei estava animada, ao contrário do loiro.
— Não, obrigado, acabei de chegar em casa e pretendo continuar nela. — proferiu seco.
— Uma hora ou outra vamos nos falar pessoalmente. Até quando vai ficar me evitando? — Sumire bufou baixo, frustrada.
— Até onde eu puder, tchau.
A chamada foi desligada, fazendo o Uzumaki suspirar e bagunçar seus cabelos. A menina e ele terminaram o namoro de 8 meses a pouco tempo, faziam duas semanas que tentava evitar ela ao máximo. Mas não se engane achando que ele está deprimido ou algo assim, na verdade o menino estava super aliviado. Já não aguentava os ataques de ciúmes de sua ex, ela era fofa, mas muito ciumenta.
Revirou os olhos com as lembranças.
Ele se levantou indo até as escadas, seu quarto era o destino desejado. Se você está se perguntando se ele mora sozinho, a resposta é sim, seu pai é cheio de dinheiro e lhe deu um apartamento. Abriu a porta e jogou seus sapatos longe, assim como sua jaqueta do time de basquetebol. Parou perto da porta do cômodo, analisava seu mural de fotos — que fora ideia de Himawari.
Sorriu olhando para uma delas em específico, com sua família; Naruto estava segurando um bolo com lágrimas nos olhos, enquanto sua mãe, logo ao seu lado, o olhava com um sorriso doce, ele e Himawari logo em seguida, ela estava em suas costas fazendo careta e ele a segurando e fazendo um sinal de paz e amor com uma de suas mãos.
Olhava atentamente suas fotos até bater, sem querer, seu pé no armário, soltando em seguida um xingamento. Uma foto acabou caindo no chão, fazendo ele se agachar para pegá-la, foi quando sorriu tristemente para o retrato em suas mãos. Nele estava ele e Sarada aos 16 anos na mansão Uchiha, abraçados um ao outro e fazendo caras divertidas para a câmera. Era aniversário da menina e só 5 pessoas foram. Nesse dia ele a viu se lamentar por seu pai não ter vindo para sua data especial, ele a consolou como nunca.
— O tempo passou rápido demais… — sussurrou olhando uma última vez a foto.
Boruto a colocou no mural novamente, e então olhou seu cantinho de estudo, um envelope estava em cima de seus livros. Ele não se lembra de alguém ter dado isso a ele, não mesmo. Pegou o papel o analisando, estava escrito em letras maiúsculas o seu nome. Essa letra não lhe era estranha, só não conseguia lembrar no momento. Decidiu abrir para sanar sua curiosidade, e a bomba veio de uma só vez.
''Olá? Se lembra de mim? Sarada Uchiha, sua amiga de infância… Desculpe, sou péssima com cartas. Mas não se preocupe, será a última. Faz um tempo, né? Dois anos, para falar a verdade. Se lembrou de mim nesse tempo? Eu me lembrei de você, acho que não conseguiria esquecer mesmo se quisesse.. bom, não vou enrolar mais. O tempo passou e decidi fazer algo na minha vida de merda, acabar com ela. Venho sofrendo muito esses dias, meses, anos. Queria fingir que nada daquilo me atingiu, mas eu estaria mentindo. Me lembro como se fosse hoje, o dia em que você me viu ser desprezada por seus amigos e mesmo assim não fez nada. Você deveria ter me ajudado, talvez eu não estaria nessa situação agora. A quem eu quero enganar? Estou desesperada para colocar a culpa em alguém. Sou estúpida Boruto, e eu sempre te chamava de idiota quando na verdade eu era uma. Fingia não sentir nada, não ter sentimentos. Mas eu tinha, e ainda tenho. Por que eles me odiavam tanto? Não fiz nada de errado, era quieta e sempre ficava na minha. E mesmo assim resolveram me irritar, me humilhar. E eu não tinha ninguém além de você, e nada mudou, você não fez nada. Me tratou como uma desconhecida e isso me machucou muito, só Deus sabe o quanto chorei a noite tentando inutilmente acreditar que você tentou me ajudar. Nós dois sabemos que eu estava errada…
Meu pai foi outra razão, sabia que ele engravidou outra mulher? E que agora eles vivem juntos? Seu amado filho, vulgo meu irmão, tem 3 anos de vida e ele escondeu isso até o ano passado. Onde você estava? Eu precisei de você, eu tinha esperança. Mamãe vive chorando a noite, achando que estou dormindo, mas eu ouço tudo. Ela ainda o ama. O amor é tão cruel quando é a pessoa errada..
Meu irmão, o protegido de meu pai, me adora. Mal ele sabe que eu posso atacá-lo a qualquer instante, é só a minha paciência acabar. Eu o odeio Boruto, com todas as minhas forças, mas ele não tem culpa de nada. Talvez o mundo não tenha piedade de mim, quão cruel ele é com alguns!
Eu faço direito, você se lembra que sempre comentava que eu seria uma ótima delegada? E você ria, dizendo que seria preso só para me ver? Me sentia feliz nesses momentos, porque eu me esquecia, mesmo que por pouco tempo, dos meus problemas. A decisão foi tomada ontem, quando meu pai decidiu levar sua noiva para me visitar, aquilo foi o cúmulo. Tentar fingir uma família feliz não me agradava, e o pior, minha mãe e Sasuke brigaram. Ele agrediu ela, ali minha paciência acabou por completo. Fiz um escândalo, joguei na cara dele o fato de que ele passou vários anos vagabundando na rua, enquanto minha mãe e eu sofriamos sentindo sua falta. E hoje estou decidida a me jogar pelos ares, esquecer de uma vez que me machuquei. Que alguém me machucou, me decepcionou. Peço desculpas desde já, Boruto, por desistir tão fácil assim. Mesmo não nos falando por um bom tempo, sinto que você merecia saber.''
Ele sentia seu coração bater rápido demais. Sarada nunca foi tão impulsiva assim, isso era do seu feitio, não do dela. Processando rapidamente a situação, pegou sua jaqueta e tênis, descendo e ligando o carro. Os motivos ele sabia, mas ela não é assim. Sarada nunca agia pela emoção, já ele sim. Aumentava a velocidade com pressa, seus pensamentos a mil por hora. Só tem um lugar que daria para fazer isso sem ser perturbado. E ele sabia onde era, foi lá que seu primeiro beijo aconteceu.
Flashback On
Caminhava animado ao lado de sua amiga, o garoto de cabelos loiros pulava de alegria. Finalmente iria fazer algo legal, já estava ficando com tédio. Afinal, qual a graça de ficar em casa sem fazer nada sendo que poderia ir admirar as estrelas com sua amiga? A morena ao seu lado andava com calma, sem demonstrar ansiedade alguma. Só aceitou ir por muita insistência do menino.
— Chegamos! — Boruto exclamou se jogando na grama.
— Está tão animado em ver simples estrelas? — Sarada perguntou, se deitando ao seu lado.
— Você não sabe? — Boruto perguntou, vendo o olhar confuso da amiga — Hoje a lua vai estar mais perto da terra, e a vista é incrível aqui, confie em mim.
— Confiar em você? — Sarada o olhou com deboche, fazendo o mesmo revirar os olhos.
— Olhe! Já começou Sarada, veja, veja! — Boruto gritava como uma criança, animado com a vista.
Ela olhou encantada para o céu, a lua estava tão perto que dava vontade de tentar tocar. As estrelas estavam tão lindas, a cena era de tirar o fôlego. Boruto estava certo, uma vista maravilhosa. Estava num transe até sentir algo se entrelaçar a sua mão, olhou de relance Boruto, que olhava pro lado corado. O menino havia entrelaçado suas mãos, um gesto fofo ao ver dela. A menina riu quando o pegou a olhando de canto.
— Está rindo do que? — Boruto perguntou, tentando não ficar mais vermelho.
— Você é muito fofo quando fica envergonhado — disse tocando suas bochechas, ele a olhava encantado.
— O-Obrigado… — gaguejou, hipnotizado com a beleza da garota.
Sem perceber, os dois já estavam a centímetros um do outro, e naquele dia seus lábios se tocaram pela primeira vez. Seus corações batiam em ritmos sincronizados, os corpos colados perfeitamente, se encaixando um no outro. A sensação de preenchimento os agradou muito, respirações se misturando e sentimentos à flor da pele, quando se separaram estavam sem fôlego.
A Uchiha encarava Boruto mais vermelha que nunca, o Uzumaki riu de sua timidez. Colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha e sorriu, vendo o quão linda ela é. A morena entrelaçou novamente sua mão a do Uzumaki e encostou a cabeça em seu ombro, olhando o céu.
Flashback Off
Ele fecha a porta do carro com força, correndo pela floresta observava como nada mudou. Se distraiu e acabou tropeçando numa pedra, sentia seu corpo rolar pelo chão, até suas costas baterem contra algo duro. Abriu e fechou os olhos esperando a vista voltar ao normal, se sentia tonto quando levantou.
— Mas que merda! — xingou bravo.
Sua vista voltou ao normal, e tentando não perder tempo continuou sua corrida à procura dela. Ele não tinha plena certeza que a garota estaria realmente lá, Sarada é esperta. Saberia que o menino iria atrás dela. Ou talvez não? Faz tanto tempo… E graças a ele seus laços foram se cortando pouco a pouco, até que nada sobrou além dessa carta. Esbravejou quando tropeçou outra vez.
— Sempre desastrado… — suspirou.
Flashback On
Seus amigos estavam ao seu lado sorrindo de alguma piada que Boruto não se lembra. Seus olhos vagavam o corredor procurando uma garota de óculos vermelhos, quando a viu sorriu discretamente. Ela veio!
Seu amigo, Kawaki, logo comentou algo que não o agradou.
— Olhem a nerd da Uchiha, essa garota deve ser puta igual a mãe! — a fala soou maldosa, arrancando risadas de todos, menos Boruto, que olhou de canto para a menina.
— Talvez uma criminosa, como seu pai! Deve ser por isso que quer fazer direito. — Kagura falou mais alto que o outro.
Sarada ouvia os comentários calada, deveria fingir que eles não existiam. Mas eles continuavam sem parar, todos zombavam dela. Ninguém ligava para seus sentimentos, a irritavam com fervor. Olhou para o amigo de longa data, este que a encarava com pena. Não iria ajudar? É o mínimo que devia fazer depois de dar um bolo nela ontem! Mas, ele nada fez além de olhar para ela, e no fundo isso partiu seu coração.
O loiro sentia seu peito se apertar, o incômodo crescendo cada vez mais. Sabia que a garota estava chateada pela sua falta de presença no encontro, o loiro tinha marcado de sair com os amigos, se esquecendo completamente do seu encontro com Sarada. A garota ficou plantada por horas o esperando, mas só no meio da festa o loiro se lembrou, ele até mesmo foi atrás dela, o problema é que tal já tinha voltado pra casa — encharcada da chuva. O que ele poderia fazer? Não queria que soubessem que tem encontros com Sarada... Ela é uma nerd que não tem amigos, e ele não quer perder os seus.
A garota já não aguentava a humilhação, olhou uma última vez para Boruto e lançou um olhar de ódio para seus amigos. Correu pelos corredores da escola, se escondendo na biblioteca. Se sentou no chão, num lugar onde não poderiam lhe ver, então soltou o ar prendido, deixando finalmente as lágrimas caírem. Era tão tola, pensar que Boruto continuaria a defendendo. Ele é daquele grupo de babacas e ela não. Nunca daria certo, e no fundo ela sabia.
— Sua garota burra, ele nunca ficará com você — Sussurrou a si mesma.
Flashback Off
O garoto finalmente chegou ao fim da trilha de árvores, agora estava no lugar onde sempre admirava o céu com Sarada. E lá estava ela, seus cabelos alcançando a cintura e voando ao vento junto de seu vestido branco. Ela estava de braços abertos, e quando se inclinou levemente, o menino arregalou os olhos correndo em sua direção.
— Espera!! — Gritou o mais alto que pode.
A menina se virou surpresa com a voz de Boruto, ela o encarou vendo o quão maduro seu rosto estava. Seus olhos azuis, que ela tanto amava, mostraram desespero, e ela sabia o motivo. Ele veio? E a encontrou…
O garoto a segurou pelos ombros, afastando ela da morte certeira.
— O que pensa que está fazendo? — Boruto gritou balançando a menina.
— Tentando me matar, não percebeu, bobo? — O deboche escorreu pela frase e expressão dela, fazendo com que Boruto semi-cerre os olhos.
— Percebi, mas para sua infelicidade, não vou permitir você fazer isso com sua vida — falou autoritário.
— E desde quando você manda em mim? — Sarada perguntou com raiva.
— Desde o momento em que você não consegue raciocinar direito — respondeu rapidamente.
— Me deixe fazer isso, vai tirar meu sofrimento — Sarada disse, o olhando nos olhos.
— Nunca! — A voz soou brava.
— Me solta Boruto! Me deixe ir, por favor! — Sarada suplicou fechando os olhos.
Flashback On
— Me solta idiota! — Sarada gritou furiosa.
— Não até você se acalmar. — Ele disse a abraçando por trás. Os ombros da garota tremiam.
— Me larga! Eu quero ir embora daqui Boruto! — O corpo pequeno gritava e se debatia sem parar, ela estava indignada.
— Pare de tentar fugir dos seus problemas! Seu pai com certeza vai vir, ele te prometeu não? — Boruto perguntou tentando acalmá-la.
— Para… Por favor, não me faça ter esperança de alguém que não merece tê-la. — Ela soluçava, chorando copiosamente.
— Sarada… — O Uzumaki sentiu seu coração despedaçar.
— Eu sei que ele não vai voltar... Já faz anos que ele diz e não cumpre, então por favor… Pare de me fazer sofrer a toa — Sarada fungava, o olhando de ombro.
— Meu pai fazia a mesma coisa, Sarada — Boruto disse fazendo carinho na bochecha da morena, tentando acalmá-la.
— A diferença é que seu pai mora com você. O meu literalmente fugiu de casa, ele me deixou sozinha com minha mãe.
Boruto tentou falar, mas Sarada o calou com seus lábios, tentando assim esquecer seus problemas. Aos 15 anos Sarada tinha um relacionamento complicado com seu pai, Sasuke Uchiha. O homem fugiu de sua casa quando Sarada tinha apenas 7 anos, e a menina sempre esperava por ele. Seu progenitor sempre mandava cartas uma semana antes de seus aniversários, prometendo que vinha, mas isso nunca aconteceu. Sarada decidiu acreditar pela última vez nele, e agora estava desolada. Seu pai a deixou, e ela tinha que encarar os fatos.
— Obrigada Boruto, você é a única pessoa que nunca me abandonou — Sarada disse sorrindo fraco. Ele a abraçou.
— Eu nunca vou te abandonar Sarada, eu prometo — Boruto disse sorrindo para a menina.
Flashback Off
— Eu prometi que nunca te abandonaria.. — Ele murmurou segurando a menina.
— Como você tem coragem de dizer isso? Você me abandonou a dois anos atrás, quando escolheu sua reputação a mim! — Sarada gritou furiosa.
— Eu era um idiota, Sarada… e eu ainda sou. — sussurou, sentindo os olhos enchendo, para então transbordar.
— Se você não tivesse me largado, Boruto, nada disso estaria acontecendo — Sarada sussurrou abaixando a cabeça.
— Eu… — Ele tentou falar algo, mas não conseguiu.
— Viu? Me deixe em paz, finja que não existo. Tenho certeza que vai ser fácil, até alguns minutos atrás não lembrava da minha existência — afastou ele, batendo em seu peito.
— Isso não é verdade! — Boruto retrucou.
— É sim! — Sarada disse alto.
— Não, não é! Eu lembro de você todos os dias quando passo pela biblioteca, seu sorriso me persegue e eu vejo tudo em você! Por que acha que terminei com Sumire? Eu não consegui tirar você da minha cabeça, nem por um minuto Sarada… — Boruto disse acariciando as bochechas da menina.
— Então por que não me procurou? — Boruto ficou em silêncio e Sarada gargalhou. — Não tem resposta né? Acabou Boruto, toda nossa história… Que não deveria ter nem começado.
— Por favor.. — implorou.
— Adeus Boruto. — disse fechando os olhos.
A menina se soltou dele e se jogou, não se importando com mais nada na sua vida. Ela já iria acabar a qualquer momento, e Sarada sorriu ao se lembrar disso. Seu pai tinha seu filho para substituí-la, e sua mãe? Bem… tinha certeza que Sakura iria superar em algum momento. Todos superam, dizem que não vão te esquecer quando morrer, mas depois de uma semana nem se lembram do seu nome!
— Sarada!! — Boruto gritou assustado.
O menino pulou do penhasco sem medo, se fosse para morrer, seria com ela. Boruto a alcançou, abraçando ela. A menina abriu os olhos confusa demais, e Boruto sorriu quando a viu. A morte estava perto, ele já conseguia ver o chão cheio de rochas. Sarada o encarava sem saber o que fazer, ele vai perder a vida por ela? Que idiota!
— Sarada, eu quero que você saiba que eu… — ele tentou dizer como se sentia, mas infelizmente foi tarde demais.
Em milésimos de segundos Sarada e Boruto fecharam os olhos, sentindo a morte o consumirem. Tudo ficou escuro e rapidamente perderam a consciência. Vários médicos chegaram para levá-los até o hospital e ver o estado deles, que com certeza era o pior possível. Sakura e Sasuke choravam na sala de espera, a rosada batia no moreno o culpando pela morte de sua amada filha. Naruto tentava amparar Hinata e Himawari, mas ele mesmo estava perdido.
— Com licença, vocês são os pais de Sarada Uchiha e Boruto Uzumaki? — O médico perguntou.
— Sim! Sou pai do garoto. — respondeu apressado.
— Antes de tudo, peço a calma de vocês — O médico pediu, vendo o estado abalado de todos.
— Calma? Como vou ter calma sabendo que minha filha está praticamente morta? — Sakura gritou.
— É sobre isso que quero falar…
— En-então, doutor... Meu filho e-ele…? — Hinata gaguejou nervosa em meio aos soluços.
— Aconteceu um milagre! — O médico exclamou — A paciente está viva!
— Meu Deus! Obrigada! — Sakura falou alto, sorrindo e soltando lágrimas de alívio. Sasuke agradeceu baixinho.
— O estado dele é mais crítico, está em coma. Talvez não aguente, ele sofreu mais danos com o impacto. — O médico informou, vendo Hinata desabar em Naruto.
4 meses depois…
Sarada colocou um buquê de rosas na estante ao lado da cama dele. O loiro ainda não tinha acordado, tudo por culpa dela. Ela agora usava cadeira de rodas, seu tratamento estava indo muito bem e não perdia a esperança de voltar a andar algum dia. Já Boruto sofreu várias paradas cardíacas, mesmo inconsciente, e aguentou todas. A morena o visita todos os dias.
— Oi, sou eu outra vez... — Sarada riu pelo nariz. — Já deve ter enjoado de mim, né? Mas eu não vou desistir de você, não depois do que fez por mim. No final você estava certo e eu errada, nunca me abandonou de verdade — a adolescente sentiu as lágrimas caindo.
A menina aperta a mão de Boruto o analisando. Estava mais magro, seus cabelos cresceram um pouco. Sua mãe, Hinata, vem toda semana visitar o filho. E Sarada sempre está lá, elas conversam sobre o loiro.
— Deveria ter me deixado morrer… — sussurrou, tentando não pensar outra vez na queda deles.
Flashback On
A Uchiha estava na biblioteca da escola, como sempre. Lia alguns livros de biologia, essa matéria era bem puxada para a menina. Se assustou quando escutou um baque brusco ao seu lado, Boruto estava sorrindo pra ela bem ali, era ele quem tinha jogado um livro na mesa — e só para chamar sua atenção.
— Meu Deus! Estamos na biblioteca, idiota, não faça barulho — o repreendeu, fazendo o menino revirar os olhos.
— Certo, que seja! — disse se sentando ao lado dela.
— Se veio pedir desculpas, pode ir dando meio volta — mandou irritada, o amigo loiro fez biquinho.
— Me desculpe! Eu juro que não foi de propósito — Boruto disse, se aproximando e segurando o rosto da menina.
— Já é a segunda vez que me deu um bolo! Tive que assistir o jogo sozinha. — Sarada resmungou.
— Eu juro que dessa vez vai dar certo. Olhe, é um presente que trouxe para aceitar minhas desculpas.
Sarada observou o embrulho na mão do outro, suspirou e resolveu pegar, veria se valia a pena. Quando abriu, sentiu seus olhos lacrimejarem, era uma pulseira com o símbolo do clã Uchiha com o Uzumaki. Algo tão pequeno, mas de grande valor para ela. A garota abraçou Boruto com força, o menino sorriu da alegria de sua amada.
— O que achou?
— Eu amei! Obrigada. — Sarada beijou a bochecha dele, e o mesmo às sentiu esquentarem.
— S-sim... — respondeu abobado, totalmente embaraçado e envergonhado.
— Você é uma gracinha corado.. — Sarada o elogiou, dando um selinho nele.
Boruto ficou parado, sem reação, Sarada nunca foi de beijar. Ele que fazia isso sempre que saiam para algum lugar. Ela levantou da cadeira gargalhando da reação do menino, e tal balançou a cabeça voltando a realidade.
— Ei! Sarada, me espera! — gritou.
— Shiuuuu! — a bibliotecária reclamou disse.
Flashback Off
A menina começou a rir ao lembrar desse dia. Levaram a maior bronca por falar alto na biblioteca, mas Boruto a levou a sorveteria, só assim compensando o que ele a fez passar. Ela tinha saudades dessa época, dos momentos divertidos. Eram poucos os que tinha com Boruto, mas eles foram especiais para ela. Pelo menos a maioria…
— Estou com saudades de você, por favor… Acorda logo, certo? — Sarada perguntou, sabendo que não teria resposta.
A menina bagunçou os cabelos do loiro e sorriu. Se inclinou como pode sobre ele, lhe dando um beijo em sua testa, demonstrando ali seu carinho por ele. Mesmo fazendo tantas besteira, ela o ama e espera que este volte logo, porque quer pedir desculpas dessa vez.
— Moça, o horário de visitas acabou — a enfermeira a chamou.
— Estou indo. — A respondeu, dando um último aperto de mão em Boruto. — Até amanhã!
Saiu do quarto sendo guiada à sala de fisioterapia, aos poucos voltava a mexer suas perna. Mal ela sabia que Boruto tinha acordado pouco depois de sua saída. O menino olhava ao redor confuso, esse era o céu? Parecia um hospital!
— Mas o que? — Boruto tentou se levantar — Hum… Que dor!
Uma enfermeira viu o menino se levantando e correu para o ajudar. Depois de 4 meses ele finalmente tinha acordado, e seus movimentos estavam ótimos! Seus pais chegaram logo depois do hospital entrar em contato, eles o abraçaram assim que o viram.
— Boruto-kun! — Hinata gritou feliz.
— Mãe, pai! — Boruto sorriu.
— Filho, já estava na hora.. — Naruto exclamou, sorrindo largamente.
— O que aconteceu? Como vim parar aqui? — O acamado perguntou confuso.
— Você pulou do penhasco junto da Sarada, um homem viu e chamou a ambulância. — Sua mãe disse emocionada.
— S-Sarada? E como ela está? — questionou preocupado, fazendo o pai sorrir respondendo.
— Está bem, bom... Ela está voltando a andar. — Naruto falou, apertando os ombros do filho com afeto.
— E a Himawari?
— Em lua de mel — Informou a perolada,, Boruto arregalou os olhos.
— Eh???? — Gritou surpreso.
1 mês depois...
Sarada sabia que Boruto tinha voltado, a menina até tentou falar com ele, mas viu o como estava feliz com seus amigos e decidiu deixar pra lá. Ele ficaria melhor sem ela. Pelo menos a menina já andava normalmente, seu pai lhe dava mais atenção, e sua mãe arranjou uma namorada. Sim, Sakura decidiu que já era hora de cansar de sofrer por homens. E ela estava muito feliz com Sayuri.
A morena voltou para a faculdade de direito, estava se esforçando o máximo para não ter distrações. As vezes via de longe Boruto, o menino sorria para todos, isso fazia ela se achar covarde por ter medo de falar com ele. No entanto, ele merece ser feliz longe de si, ou pelo menos é assim que ela pensa.
Boruto voltou para as aulas na faculdade, seus amigos o tratavam da melhor maneira possível, até mesmo Sumire, sua ex, o pediu desculpas por todos seus ataques de ciúmes. Mas não ligou para nada, a pessoa que importava pra ele estava o ignorando a um bom tempo, e ele iria mudar isso de uma vez por todas. Ele já não ligava para reputação ou algo assim, Sarada é mais importante que tudo isso.
Saiu de perto dos amigos dizendo que iria ao banheiro, ele sabia que só tinha um lugar que Sarada ia na hora do intervalo da faculdade. Sorriu ao entrar na biblioteca, lá estava ela, sentada e lendo um livro isolada de todos, ela sempre foi assim. Caminhou com calma, sentindo seu coração acelerar a medida que chegava perto dela. Parou ao seu lado, jogando um livro que pegou em uma prateleira, na mesa, tudo para chamar sua atenção.
Ela olhou pra cima quando ouviu o barulho forte ao seu lado, então arregalou os olhos, vendo Boruto sorrir levemente. Se beliscou, para saber se era uma miragem, não confiava muito em sua mente. Mas por incrível que pareça ele ainda estava lá!
— B-Boruto? — Sarada gaguejou.
— Olá! Acho que está na hora de parar de fugir de mim, né?! — Comentou sorridente, notando Sarada engolir em seco.
— Hum… — resmungou agitada.
— Olha.. Eu sei que se sente culpada pelo meu coma, mas isso não foi culpa sua! — disse a olhando. — Eu fiz isso por livre e espontânea vontade.
— Você não faria isso por livre e espontânea vontade se eu não tivesse mandado aquela carta — A garota abaixou a cabeça, mas Boruto segurou seu queixo, a fazendo olhar para ele.
— Eu fico feliz que tenha me mandado aquela carta, assim você está viva — disse sério.
— Me desculpe… Por… Tudo. — murmurou olhando nos orbes azuis.
— Eu que devo desculpas Sarada, por tudo que fiz a você… Te largar por uma estúpida popularidade, foi muito idiota da minha parte — Se desculpou, se sentindo mal por tudo que fez.
— Tudo bem, eu te perdoo — A garota falou sorrindo levemente. O menino sorriu grande, alegre.
— Ótimo, agora vamos comprar algo, estou morrendo de fome! — Disse, puxando Sarada para fora dali.
O loiro entrelaçou sua mão com a da menina, a olhava feliz e gritava ignorando a bibliotecária. Já a Uchiha o encarava confusa, o menino nunca fez isso com ela em público. Não queria que as pessoas vissem, e agora todos da universidade olhavam aquilo surpresos. Boruto gritava animado, estava dizendo que pagaria vários dangos para Sarada. A menina acabou sorrindo da animação do loiro, o menino a olhou corado. Colocou uma mão na nuca nervoso, Sarada achou aquele gesto fofo.
— Já disse que amo quando você fica corado? — perguntou, então Boruto ficou mais vermelho.
— S-Sarada… — Sussurrou tímido, se lembrando de outras vezes que a menina falara aquilo.
Sarada segurou o rosto de Boruto, o aproximando do seu, foi quando ele fechou os olhos ansioso. Seus lábios se encontraram outra vez depois de muito tempo, os toques eram tímidos por fazerem isso na frente de todos. Ele colocou as mãos na cintura de Sarada durante o selar, e encostou sua testa na dela quando se afastaram. Sorriu, ela estava feliz, afinal, ele realmente…
— Eu te amo, Sarada — Confessou, e a garota arregalou os olhos.
— Eu também te amo, Boruto — Retribuiu, sorrindo largamente.
— Nunca vou abandonar você — os dois falaram juntos, sorrindo em sincronia.
...
Antes de tudo só queria dizer que não tenho a mínima experiência de como publicar umas história nesse aplicativo, então por favor me deem um desconto, oskay? Espero que tenham gostado e se quiserem pedir alguma one borusara eu super faço! (de preferência em português).
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"A PROMESSA DE UMA MULHER CURANDEIRA
Se você vier para mim como uma vítima, não vou apoiá-lo. Mas terei a coragem de caminhar com você através da dor que está sofrendo.
Vou colocá-lo no fogo, vou despi-lo e me sentarei com você no chão. Vou te banhar com ervas, te limpar e você vai vomitar a raiva e a escuridão dentro de você.
Vou bater em seu corpo com boas ervas, e vou colocá-lo na grama, de frente para o céu.
Então vou soprar na sua cabeça para limpar velhas memórias que fazem você repetir o mesmo comportamento.
Vou soprar sua testa para afastar os pensamentos que obscurecem sua visão.
Vou soprar sua garganta para liberar o nó que não te deixa falar.
Vou soprar seu coração para assustar o medo, para que ele vá para longe onde não pode te encontrar.
Vou soprar seu plexo solar para apagar o fogo do inferno que você carrega dentro, e você conhecerá a paz.
Vou soprar sua barriga com fogo para queimar os apegos, e o amor que não foi.
Vou soprar nos amantes que te deixaram, os filhos que nunca vieram.
Vou soprar seu coração para aquecê-lo, para reacender seu desejo de sentir, criar e recomeçar.
Vou soprar forte na sua vagina ou no seu pênis, para limpar a porta sexual da sua alma.
Vou jogar fora o lixo que você coletou tentando amar o que não queria ser amado.
Vou usar a vassoura, a esponja e o pano, e vou limpar com segurança toda a amargura que há dentro de você.
Vou soprar suas mãos para destruir os laços que o impedem de criar.
Vou soprar seus pés na poeira e apagar as memórias das pegadas, para que você nunca mais volte para aquele lugar ruim.
Vou virar seu corpo, para que seu rosto beije a terra.
Vou soprar sua coluna da raiz ao pescoço para aumentar sua força e ajudá-lo a caminhar erguido.
E eu vou deixar você descansar.
Depois disso você vai chorar, e depois de chorar você vai dormir, e você terá sonhos lindos e significativos, e quando você acordar eu estarei esperando por você.
Vou sorrir para você e você sorrirá de volta.
Vou oferecer-lhe comida que comerá com prazer, saboreando a vida, e eu te agradecerei. Porque o que estou oferecendo hoje, foi oferecido a mim antes, quando as trevas viviam dentro de mim. E depois que fui curada, senti a escuridão sair e chorei.
Então caminharemos juntos, e lhe mostrarei meu jardim, minhas plantas, e o levarei novamente ao fogo. E falaremos juntos em uma só voz com a bênção da terra. E vamos gritar para a floresta os desejos do seu coração. E o fogo vai ouvir e sussurrar o eco, e vamos criar esperança juntos. E as montanhas ouvirão e sussurrarão o eco, e criaremos esperança juntos. E os rios ouvirão e sussurrarão o eco, e criaremos esperança juntos. E o vento vai ouvir e sussurrar o eco, e vamos criar esperança juntos.
E então nos curvaremos diante do fogo e chamaremos todos os guardiões visíveis e invisíveis.
E você vai agradecer a todos eles.
E você vai agradecer a si mesmo.
E você vai agradecer a si mesmo.
E você vai agradecer a si mesmo. ~
~ Espírito"
Despertar o Divino 🙏🌟😊⭐🧡💛
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Você é linda como um gol de bicicleta
A regra é clara: são as paixões que movem a humanidade. Amemo-nos sem impedimentos. O fair play está no ar. Daqui consigo sentir o seu frescor. Pode até não haver unanimidade, mas você é tão suave quanto a chuva que cai sobre o gramado. Observe que a vida corre mais rápido quando a grama está molhada.
Você é linda como um gol de bicicleta. Sem você, a minha saúde mental entraria em colapso, com bola e tudo, antes de esgotado o tempo regulamentar. Vamos juntos. Quebremos as retrancas. Vençamos o antijogo. Humilhemos os anticristos com dribles desconcertantes. Venha, querida, não apenas balançar os barbantes, mas, desatá-los em prol da liberdade de expressão. O jogo político tá feio. Vambora virar o placar que ainda dá tempo. O bem está tomando de sete a um. Mesmo assim, driblemos a iniquidade. Não vamos baixar a cabeça. A esperança é a última que morre para renascer num gol espírita.
A regra é clara: são as paixões que movem a humanidade. Amemo-nos sem impedimentos. O fair play está no ar. Daqui consigo sentir o seu frescor. Pode até não haver unanimidade, mas você é tão suave quanto a chuva que cai sobre o gramado. Observe que a vida corre mais rápido quando a grama está molhada. Nossas almas estão lavadas. Venha balançar a rede que eu trouxe do Ceará. Estou pensando em me mudar para Jericoacoara. Jogar futebol de praia na Duna do Pôr do Sol. Dizem que o sol é para todos, mas, o fato é que cada povo tem o ocaso que merece. Não por acaso, há quem planeje golpes de estado, enquanto assiste ao astro-rei se pondo no horizonte marinho. Um contrassenso total. Tem gente que comemora gol-contra e ainda sai cantando de galo. Isso o VAR não mostra, quem dirá, explica.
Já chega de tanta canelada, de levar gol roubado, de tomar bola nas costas. Tabele comigo pelas beiradas. Abra as suas canetas de louça na meia cancha. Façamos um overlapping para enganar a sanha agressiva dos ineptos. Tratemos com carinho a bola, mas, também, as pessoas. Vamos chamar a alegria de “Meu bem”. Joguemos aquele feijão-com-arroz bem temperadinho. Chuveirinho na ária? Não, acho que não. Eu não gosto de ópera. Prefiro o samba. Neste momento, há milhões de operários, meus irmãos, sem emprego, sambando, desencantados pelas arquibancadas país afora.
Você é um espetáculo. Quero fazer o famoso “um-dois” com você, partir em velocidade pelas laterais do campo até atingir a felicidade na linha de fundo. As jogadas ensaiadas sempre terminam bem. Nossos filhos serão homens livres. Meu espírito desportista diz que não entrei nessa disputa somente para para cumprir tabela. Eu quero vencer a ignorância e o autoritarismo com você do meu lado e a torcida gritando alegre “Brasil! Brasil! Brasil!”.
Dispa-se deste manto sagrado. Vamos nos amar na zona-do-agrião, assim como a bola ama o gol, assim como a vida ama a liberdade, assim como canta alegre uma seleção de canarinhos. No caminho até a cidadania, há mais bolas divididas do que pedras no caminho. Apliquemos voadeiras sob ares de passarinho. Que vença o melhor que houver dentro de cada brasileiro, pelo bem da pluralidade ideológica, pelo contentamento do povo sofrido, pela paz reinante e a justiça social definitiva, há tempos sonhada pelos amantes do jogo democrático dentro das quatro linhas.
Você é linda como um gol de placa. A bola chutada do meio da rua, de três dedos, por sobre a decrépita barreira de reacionários, alcançando a forquilha, lá onde a coruja dorme. Quando estou acordado, é com você que eu sonho. Democracia, eu te amo. Ah… como eu te amo.
Você é linda como um gol de bicicleta Publicado primeiro em https://www.revistabula.com
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• Nosso maior erro está em achar que nossos relacionamentos serão “para sempre”. Acreditamos demais, nos decepcionamos demais... Logo, o que mais nos frustra são os sonhos que acabam ficando para trás, as promessas que nunca se cumprirão, os momentos que nunca mais irão se repetir. O abraço forte da depedida, o sorriso e o brilho nos olhos da chegada... O chocolate dividido na rodoviária pouco antes de um embarque... A roupa suja de terra depois de brincar de se jogar na grama.
E você vê desabar os sonhos, desde os mais simples como colar estrelinhas brilhantes no teto, até aquela viagem onde tenha neve e se possa ficar abraçadinho pra passar o frio. E você sofre ao ter que arrancar a força, contra sua própria vontade, as fotos do mural que aos poucos vai ficando vazio, a foto do porta-retrato que você olhava todos os dias quando acordava... O vazio ultrapassa nosso interior e toma conta de tudo a nossa volta.
E não há mais sentido em passar os dias riscando o calendário, nem em passar as noites vendo a lua... Você sabe que o telefone não vai tocar, ou melhor dizendo, cada vez que ele toca é um susto, uma esperança que se interrompe no segundo seguinte ao ouvir “Alô”...
É não é fácil pra ninguém... partidas provisórias machucam, partidas definitivas nunca cicatrizam. E não há tempo que cure, qualquer grão de areia que toque a ferida traz a tona toda a dor do início. E não há distância que cure, porque os pensamentos e lembranças vivem voando por todos os lugares, entrando em nossa mente sem nossa permissão, não importa aonde estamos. Nesse momento, os sonhos podem adormecer por um bom tempo, e talvez demorem muito para acordar. Só devo fazer o possível para que eles não morram de vez. E tomara que a dor também não seja para sempre...
- Karina Perussi Pinceta
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Contato Zero
São Bernardo do Campo, 26 de fevereiro de 2020.
espaço. é comum passar por muitos espaços diferentes durante o dia, mesmo sem perceber. nos cômodos da casa, nas ruas do bairro, no trajeto do ônibus, na avenida, na passarela, nas escadas, nas salas de aula, nos corredores. e o que diferencia esses espaços? será que é a decoração? as cores? a importância que damos a eles? a importância que eles dão pra nós? de maneira lógica, um espaço vai ter sempre o mesmo tamanho, a mesma aparência e a mesma temperatura para qualquer um que o habite.
tirando os olhos do caderno, a minha vista alcança um mural de papéis, oito mesas redondas com cadeiras laranja, uma garota com o cabelo longo e loiro, jeans rasgada, sapato roxo. se levarmos em conta a visão do sapato roxo, veríamos pés de mesas, pisos cinza e o meu sapato amarelo. talvez até um pedaço da minha canela.
eu pego o mesmo ônibus no mesmo ponto todo dia. o mesmo motorista. em uma ocasião tive a chance de papear com ele, por isso sei o seu nome.
— bom dia, Ricardo!
— bom dia, menina!
não me importo dele ter esquecido o meu nome. a idade às vezes pode ser bem cruel com algumas partes de nós, e uma das que mais sofrem é a memória. todos os dias, ele conduz o trólebus por 50 minutos. ele tem um radinho. hoje tocou Tiê, eu cantei.
todos os dias eu tenho uma força dentro de mim que me implora pra descer no teatro.
"ei, fica quieta. você já faltou demais ano passado. lembra que prometeu que esse ano seria diferente? como você vai pra Paris matando aula?"
com essa indagação, a voz se cala. mas o sentimento não. eu me mantenho dentro do trólebus por mais alguns minutos até chegar na escola.
às vezes, descer no teatro é questão de saúde mesmo. é difícil escrever olhando pra uma parede verde.
o teatro é um lugar bonito. a ponte com grades brancas amarelas permite ter uma visão ampla da cidade. de um lado, é possível ver o prédio dos correios e o Américo Brasiliense. do outro, dá pra ver a prefeitura, o paço, a biblioteca e o teatro. eu sempre disse que ele parece um pudim.
no chão, flores vermelhas, amarelas, jardins quadrados, gramados verdes, e o melhor: a árvore de flores roxas. é quase uma paisagem autobiográfica.
sigo indo pra outros lugares, com a saudade do espaço, mas não de forma física, é muito mais que isso. meu corpo deve agradecer por estar distante dos cigarros apagados nas latas de Coca Cola de café, da chuva que caía no meu peito aberto, daquele caderno vermelho que só guardava rancor e desilusão, do rock baixinho, das lágrimas escorrendo pelo meu rosto e molhando o cigarro, do cheiro de baunilha. meu cabelo é muito mais bonito preto do que rosa-doce. eu sou muito mais bonita sem maquiagem do que com a boca e os olhos pintados de roxo.
aquela época foi a pior. eu estava destruída e cada vez mais esse sentimento corroia qualquer esperança que eu poderia ter, mas aqueles momentos particulares eram, de certa forma, afastados da realidade em que eu estava inserida. a realidade era cruel comigo, porque eu estava muito distante de tudo aquilo. eu era cruel comigo porque eu estava muito distante de tudo aquilo.
eu estava tão perdida que a única solução era me perder um pouco mais, e os momentos que eu estava ali eu me encontrava no meio do caos que eu mesma construí pra me perder um pouco mais. difícil, mas digamos que eu construí o meu próprio paraíso particular naquele espaço público.
aos poucos eu fui deixando aquele espaço cada vez mais com a minha cara.
"certo, eu entendo que ninguém realmente aprecia a minha essência, e eu estou bem com isso. só eu preciso me habitar, e eu posso deixar um pouquinho do que eu sou aqui."
não era como se eu fosse destruir patrimônio público. se você for lá, você não vai me ver ali. provavelmente não vai nem lembrar de mim quando terminar de ler esse texto. mas eu não preciso que você me veja ali, entende? isso não muda nada pra mim porque eu me vejo.
eu me vejo ali melhor do que em qualquer lugar. com um maço de san marino, uma lata de coca e meu caderno vermelho. com algum menino agarrando a minha cintura ou com os meus meninos cantando e tocando.
"e eu não consigo saber nem o que eu sinto por mim, porque eu estou vindo de um setembro não tão amarelo.
e eu não posso te dizer onde eu estou agora, mas eu não vou esquecer que eu estou vindo das flores do teatro."
é ruim pensar que eu achei que aquilo fosse real. sorvete na praça, jantar na minha casa. "como é mesmo o nome do vocalista do Joy Division?". o seu vans preto não era tão velho, a sua camisa xadrez vermelha combinava com a minha azul.
voltei lá mais umas duas vezes depois disso, e uma delas foi uma situação exatamente igual ao que costumava ser.
você disse:
— você é carente demais, não me dá um minuto de sossego. você chora por tudo, não cansa de ser surtada?
aí eu chorei de novo, depois de ouvir isso. e você não ligou, revirou os olhos e saiu como se nada tivesse acontecido. eu peguei o primeiro ônibus que passou e desci no paço de Santo André. passei correndo pela fonte, pelo "negócio vermelho" e cheguei onde eu combinei de encontrar com ele. meu guitarrista, lembra ne? deitei na grama ao lado dele e acendi o primeiro cigarro. abri a primeira lata de Coca.
— por que ele tem que ser assim?
ele suspirava, passava a mão na testa, e ainda que relutante contra os próprios pensamentos, dizia:
— ele só tá nervoso. dá outra chance. conversa com ele.
e era isso que eu fazia toda vez que isso acontecia. era só um dia ruim, ne?
aos poucos, os dias começaram a se tornar semanas ruins, e depois meses ruins. aí, eu cheguei a conclusão de que era uma fase ruim. um ano ruim quem sabe. você só tava nervoso, eu dava outra chance, conversava com você.
até que chegou uma hora que você não queria mais falar nada comigo.
— ei, vamos conversar? por favor, eu não estou me sentindo muito bem.
— cala a boca Renata, você é chata. eu só quero dormir.
e estava tudo bem, você só estava com sono, né?
com o tempo, você foi dormindo ainda menos de noite porque estava ocupado demais jogando LoL, e tá tudo bem, eu não tenho nada a ver com isso. de sexta a tarde, era assim também:
— oi, tudo bem? eu queria falar contigo...
— tô indo pra casa jogar, não dá.
e estava tudo bem, você só queria se divertir jogando, ne?
isso durou mais um tempo, mais alguns cigarros, mais algumas lágrimas e até mais alguns chifres. o sentimento que eu sempre digo que é o único possível, o amor, tinha morrido. tinha sido assassinado. fazia alguns meses que a única coisa que tinha sobrado era medo e insegurança.
— ei, eu vou tocar cello hoje. você vai me ver, ne?
— não gosto desse tipo de coisa, você sabe. é tão chato. não quero te ver.
e estava tudo bem, ele só estava nervoso, né?
não mais.
não estava tudo bem. eu estava nervosa.
— tá bom, eu também não quero te ver. nunca mais.
— ok.
eu fiz uma apresentação incrível, mas fiquei o tempo todo olhando pro teatro esperando você chegar. você não chegou. você nunca mais chegou em lugar nenhum, quer dizer, você chegou mais duas vezes. no dia seguinte, quando me entregou uma sacola com as roupas que eu tinha deixado na sua casa, e ontem.
— LOUCA, SURTADA.
— é comigo que você tá falando?
— não ouviu direito?
— não, repete pra eu ter certeza.
de verdade, o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi.
"tá tudo bem, ele só tá nervoso, né?"
mas não tava tudo bem. nunca esteve tudo bem. e nada nunca vai estar tudo bem, porque eu não sou qualquer coisa pra você me tratar desse jeito. eu não merecia nenhuma das suas palavras, eu ainda não mereço, e nunca vou merecer. ninguém merece.
eu não ligo mais pro jeito que você me chama tentando ofender o meu cabelo. por favor, se olha no espelho.
eu juro que achei que eu fosse sumir de tanto chorar. mas eu não sumi. e nem vou.
ta tudo bem, eu só tô nervosa.
eu me permito um descanso.
e me permito ficar bem longe de você.
apago o cigarro.
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todo lágrima
História de uma história: o velho de oitenta e quatro anos contou tudo olhando para a janela, falando com o reflexo translúcido que dava para o mundo lá fora. As cuidadoras só o encontrariam quando fosse tarde demais, então escutou, sentada na cama, o que a voz doce do senhor emagreceu: as pálpebras pesadas Dela. As mãos entrelaçadas no colo. Memória irrecíproca de dizer que a conhecia de quatro ocasiões que Ela não sabia quais eram: Os Indicadores do Apocalipse.
Sozinho, onde a vida encontra a Morte, eu silencio o som da água corrente
Nunca houve a Epidemia da Crona, mas ele disse:
– A primeira [das quatro] iminência[s] do Apocalipse foram meus dezoito anos de idade: espalhou-se pelo Brasil uma doença contagiosa cujo vírus infectava somente rapazes: poupava as crianças e os homens; causava, no organismo, os efeitos atribuídos popularmente à Lepra: pedaços do corpo caíam e nós tínhamos que botá-los de volta no lugar, como se fossemos bonecos de massinha. Extremamente mortal: o coração desgrudava das veias e artérias. Fui contaminado no Carnaval e mandado para um dos centros de tratamento na semana seguinte: construções distantes da cidade cujas enfermeiras eram todas mulheres, mas não poderia ser pior: como não queriam que as garotas morressem (na possibilidade do vírus evoluir feminista), deixaram somente as feias conosco. Não importavam seus corações altruístas: na idade emocional em que eu e meus companheiros de doença estávamos, queríamos as mulheres mais bonitas.
– O lugar onde eu estava: Retiro Hospitalar 32. Ficava numa clareira a dois quilômetros de um riacho de onde coletávamos água; a setenta quilômetros de Belo Horizonte. Desinteressante: não tinham colinas para subir ou florestas para se perder. Só o céu que nos cercava e as nuvens que nos entretinham (imaginárias, porque não saíamos das camas). Ao invés de tentarmos fazer a nuvem inteira ser alguma coisa, nós procurávamos, nos diferentes tons de branco e cinza, uma pintura com alguma cena das nossas vidas: eu e meus vizinhos de leito: Guilherme e Felipe, que eram as únicas pessoas que escutavam minha voz: para evitar que as partes dos nossos corpos caíssem repetidamente, as enfermeiras nos transformavam em múmias enroladas em grossas camadas de esparadrapo. Era difícil falar e difícil ser entendido, mas nós acbamos dando um jeito de conviver na total ausência de diálogo compreensível. Gritávamos tudo: ouviámos nada E coincidíamos nossas imagens numa experiência universal: as nuvens nos remetiam aos mesmos acontecimentos: meus amigos partindo, meus pais envelhecendo, minha casa de infância, perto da grama que eu já vi muitas vezes, que eu vejo agora, que eu não vejo mais.
– A última: uma menina linda, mais bonita que Você, que eu não conhecia ainda. Não conheço ninguém: os nomes “Guilherme” e “Felipe” eram invenções da minha falta do que pensar. Enfermeiras que abriam os curativos preventivos, juntavam as partes do meu corpo e iam embora. De noite, conseguia ouvir as consoantes das suas conversas, que não me levavam a lugar nenhum senão para sonhos intranquilos que eu reconfortava com estrelas (sem sair da cama): imaginava estrelas e constelações fantásticas onde viviam homens bons, guerreiros fantásticos. Índios. Sabe-se lá porque: índios. Habitantes cósmicos descansando no calor ameno de gigantescas bolas de fusão atômica. Na medida que meus olhos se acostumavam com o escuro, eu conseguia ver, nas imperfeições do teto, meu futuro: uma gigantesca linha curva que nem eram curvas, mas retas que não conseguiam serem retas por muito tempo: em breve, a cura de Crona apareceria e eu poderia correr atrás de mulheres bonitas. Como eu tinha dezoito anos de idade e poucos sonhos ambiciosos (fazer faculdade, encontrar emprego, casar, reproduzir, morrer), o otimismo surge na velocidade acelerada da correnteza do riacho, Mas eu continuava doente: o otismismo se dissipa em ventos fortes que seca a correnteza das minhas veias, que também soltavam.
– Ninguém nunca disse isso, mas Felipe dizia: “Imaginar quem eram as duas pessoas do meu lado virou a única coisa que me mantinha vivo, até o momento em que a incapacidade de decifrá-los definiu as expectativas da minha morte: gritar ao meu coração: ‘Pare de bater’, mas eles enfaixavam meu queixo para a mandíbula não abrir/descolar. Comida Porcaria que vinha em líquidos (anos e anos de esquecer o que exatamente era comida sólida e nunca mais reaprender): cuspes de morte por fome voluntária: imaginar suicídios da carne que eu não consigo controlar, porque ele está constantemente se soltando, virou a única coisa que me mantinha vivo, até o momento em que a incapacidade de realizá-los definiu as expectativas da minha sorte: gritar às pessoas do meu lado: ‘Durante os dias de nuvens que se passam, eu penso Quem vocês são?’, mas eles enfaixavam meu queixo para a mandíbula não abrir/descolar” E o silêncio:
(
Tudo dói. O velho e Ela doem, um ao outro, coisas que já doeram muito tempo atrás. Versões diferentes da mesma coisa, porque todo mundo passa por isso: responder interrogações inexistentes, passados e presentes gregos
).
– Nunca me ouviram. Nunca ouvi O que eles diriam? As formas do corpo: Felipe era alto e magro, Guilherme era só magro, mas era comum até os números da balança caírem junto dos braços, pernas, dedos e orelhas. Não colocavam o sobrepeso de volta. Tinham pessoas gordas no Retiro Hospitalar 32: morreram magras = morreram doentes. A Crona afetava especialmente meu nariz, que tinha que ser colocado no lugar todos os dias, mas saía quando os preventivos, novamente, cobriam todo o meu rosto exceto pelos olhos, que eu só conseguia movimentar cento e poucos graus: quando tentava cento e oitenta, o travesseiro duro tapava minha visão.
– E(, no começo!, e)u conseguia movimentar os braços e as pernas. Depois de seis meses, toda tentativa era um desgrude e a espera das enfermeiras para me consertarem. Feias, claro, mas se não fossem as enfermeiras…
– Não lembro o nome de nenhuma delas, mas posso inventar o nome da que cuidou de mim: um monstro bichopaponesco de proporções inumanas, sorriso doce dos lábios de mel de Iracema era a enfermeira que cuidava de mim. Cuida até hoje: essas coisas se estendem numa vastidão cron(o/a)lógica, mas foram outras as doenças que desligaram os órgãos as colmeias de Iracema: alergia a picada de abelhas africanas, que estavam passando pelo seu próprio apocalipse: diferente do meu 1/4 de apocalipse pessoal.
O velho pede um tempo para descansar e os espectadores começam a discutir os significados ocultos das narrativas: como Ela está sozinha, ouve as conversas das pernas da cadeira do contador de histórias memórias.
Perna traseira esquerda diz: “O velho sofreu não de Crona, mas de Solidão. Intransmissível, porque senão ele não estaria realmente sozinho: os dias vão Passam numa velocidade uniforme e sem aspecto que desfragmenta as verdadeiras aparências da realidade. Os vizinhos de leito e as enfermeiras não lhe comunicam, não lhe tocam: não lhe curam. É assim que as coisas eram e a decodificação é, além de impossível, inexata: todas as tentativas de entender as pessoas são, na verdade, tentativas de entender a si mesmo.”
Perna dianteira direita diz: “O jovem beirava a Loucura: um precipício daqueles que a borda é um curto declive que dá para um paredão vertical até o fundo. Permanecer em pé nestes limites é escorregar lentamente, em pequenas inclinações, para a queda: as nuvens são o [único] resgate, veículos de fuga onde podemos jogar ganchos e nos salvarmos: o vento vai nos voar pelo precipício até o outro lado, Mas a Corda de Babel não tem extensão para fincar as nuvens. O movimento de lançá-las faria meu corpo escorregar pelo declive e cair. Na medida que caio, a corda cai também: é isso o que o velho pensa. O precipício é o que o velho cai.”
Perna traseira direita diz: “Adianta de qualquer banalidade estar solitário ou louco? O velho é qualquer definição filosófica pensada ou ainda não do Ser Em Si: contido no próprio corpo e na própria estática corporal: se fechasse os olhos e não os abrisse mais (voluntariamente, não por morte), seria uma consciência consequência flutuando na escuridão, mas lhe deixam os olhos abertos para manter qualquer fantasia de estar ainda no mundo, mas não está: sua cabeça e suas palavras, que agora são memórias, mas já foram presente, são tudo o que existe no mundo, com os personagens secundários servindo somente de in(ter)venção [para condizer com esta realidade falsa que a vista desvelada e a insistência de abrir os olhos exibe].”
Perna dianteira esquerda diz: “Prefiro acreditar que Felipe, Guilherme e Iracema (mesmo que este não seja seu verdadeiro nome) realmente existiram, que as únicas impossibilidades do processo de conhecê-los era a doença. Que o velho seria amigo deles se não fosse a Crona. Sem grandes análises: um pouco de esperança de saber[, mas fingir] que [não] estou errado.”
Deixa as interrupções morrerem no silêncio do quarto. Tudo é o silêncio do quarto: o espírito do velho move o pescoço e a encara: lágrimas nos olhos e canções de outros tempos nas paredes: flores de tempos mais antigos ainda (imemoriais) nos quadros que caíram no chão e ele não botou de volta ao lugar. Volta o pescoço para a posição original, alinhando espírito e carne, porque, na verdade, o velho nunca se moveu: fica olhando Sabe-se lá grama, sabe-se lá nuvem, sabe-se lá Si. Sua alma, que não vai existir por muito mais, olhando Ela.
– Pode parecer chato e repetitivo ficar chato e repetitivo, meio vegetal, em camas confortáveis, múmico, durante dias chatos e repetitivos, porque, cá entre nós, todos os dias são iguais senão pela mudança inversamente proporcional da duração da manhã e da noite, Mas! A insistência em acreditar que as coisas mudariam, o que parece fácil agora, mas era impossível antes, e a necessidade de fazer valer, coletivamente, um momento tão difícil… Incompleto porque eu não sabia como resolver aquilo, entender isso, falar isto: A Certeza Do Fim, no teto, definiu Seu rosto como uma pintura hiperrealista cuja aproximação eu esperava. A pintura de trincos do cimento se tornaria Sua face e eu teria certeza que tinha acabado. Mas Você nunca veio para mim porque estava muito ocupada com os outros.
Ela não entende: “Eu estou sempre ocupada com todo mundo.”
– Mas, nesse dia… Mas, nessa noite, ocupada demais. Não sei se lembra, mas eu lembro bem: abro os olhos e movo a cabeça, as sombras costumeiras de Felipe e Guilherme desapareceram. Morreram, eu penso, mas as enfermeiras [competentes] não deixariam as camas bagunçadas. Eles fugiram, mas onde estão as partes dos seus corpos, que deveriam ter caído?
“Eu não sei.”, Ela sorri. “Como poderia saber?”
– Nem eu, como eu poderia saber? Então pensei (porque pensar era tudo o que se podia fazer): a doença tinha um prazo de validade até o organismo aprender a vencê-lo e tinha acontecido com Felipe e Guilherme. Estavam lá fazia menos tempo que eu, Então tentei me erguer e consegui, mas a um custo: senti minha coluna e meus órgãos se soltando, caindo dentro de mim mesmo, nos meus pés, que continuaram grudados (graças ao esparadrapo). Movi-me como Múmia Invertebrada. Busquei Guilherme e Felipe, que só tinham um lugar para ir: o riacho. E, assim como Felipe e Guilherme me fizeram acordar, eu fiz acordar Os outros começaram a me seguir, doloridos, enquanto éramos perseguidos por ágeis enfermeiras dorminhocas: caçavam-nos em sonhos de serem mais bonitas. Ao invés de correrem atrás de homens, eram caçadas por eles. Me seguiam, sem pressa, porque só tínhamos um lugar para onde ir.
– Ao riacho! E encontramos Fugitivo 1 usando a perna de muleta, Dois arrastando um braço com a mão direita: na mão do braço esquerdo: as duas orelhas. Em fluxo constante, a água do riacho seguia para baixo pela leve inclinação da planície até desaguar num rio que desaguava no mar. Eu não conheço todas as pessoas no mundo, nem os riachos, nem Felipe ou Guilherme: as projeções que eu inventei se confundiam nas suas posturas (porque estava escuro demais para elas se confundirem nos seus olhos: caíram, mas eles botam de volta no lugar). Vejo, atrás de mim, todas as possibilidades de pessoas que deixaram braços e pernas caírem.
– Olhei para frente: na margem distante, Você, Na margem próxima, os líderes voluntários que sabiam o que estava acontecendo, porque nós: não. Disseram: “Esta é a revelação: o riacho é o Fluxo, abundante em vida, movimento constante que não para nunca. O caminho para a imortalidade e a vitória da destruição. A fonte está a apenas algumas centenas de metros daqui: o começo das coisas. Nós também estamos somente no começo: aqueles que mergulharem nestas águas frias terão suas doenças curadas, prontos para dar continuidade à vida que esta praga interrompeu. Serei o primeiro, e vocês serão os próximos.” Ele foi (Guilherme ou Felipe, não conhecia nenhum dos dois para dizer quem era) e pôs o pé no curso d’água. Aproximamo-nos todos para ver o que aconteceria: Guilherme ou Felipe andou até uma grande pedra no meio do riacho e sentou-se lá: ergueu seu pé para nós e o pé não existia mais, como se tivesse sido apagado com borracha ou removedor de tinta. Submergiu as mãos, depois ergueu-as para nós, e também tinham se apagado. “Venerem.”:
– Mergulhou por completo, desaparecendo na água como dissolução. Os outros seguiram seu caminho: Guilherme Restante ou Felipe Restante, depois um milhar de fulanos que eu não reconhecia porque eu nunca os tinha visto antes: fascinação suficiente para me fazer pensar mais na realidade do número de contaminados por Crona do que no milagre do desvanecimento que eu presenciava: Milagre Comunal: arrancavam os preventivos e pulavam, divertidos, no riacho: desapareciam para não serem vistos nunca mais. Fui contando de um até mil e onze, Eu 1012. Olhei para trás: ao longe, conseguia ouvir que as enfermeiras, acordadas, gritavam. Quem me caçava eram os sentinelas do complexo: homens feios. Acenei e mergulhei os pés. Tirei-os da água e lá eles estavam. Desesperei: mergulhei as mãos: nada, joguei água na minha cabeça: nada. Fiquei pulando como uma criança que não conseguia se divertir nem desaparecer. Tive que aceitar os fatos: a água mística não queria me levar embora, então eu parei de insistir As Vontades Irrecíprocas do Riacho. Na margem distante: Você não estava mais lá.
Pausa: o velho respira bem fundo, expira durante sessenta e seis anos de silêncio.
– Os seguranças chegaram, me viram desdesesperado e me prenderam. Começaram a buscar os outros até notarem que não tinha meio físico no Universo para terem simplesmente desaparecido, então acreditaram na minha história. Rodaram alguns exames médicos de sangue e falar Aaaah, tossir quando colocassem o estetoscópio no meu peito. Sorriram sem felicidade, disseram que eu estava curado, que todos os infectados tinham desaparecido:
“Não existe mais Crona no mundo” Ela diz. “E o vírus desapareceu do seu organismo. Você pode voltar a viver a vida que já esqueceu qual é: estudante saindo do Ensino Médio.”
– Sobraram os homens, as mulheres, as garotas e as crianças pós-Crona: eu era O Último Rapaz do Mundo, mas soava tão mal que ninguém em Hollywood quis fazer um filme com isso. Fui para a faculdade fazer História.
Pássaro que transforma suspiro em tornado: eu esmigalho os pilares do Tempo
Nunca houve Guerra Civil Brasileira, mas ele disse:
– Prática demais, como todas as guerras devem ser. Em vez de complicados motivos políticos amontoados até gotas d’água explodirem os estopins dinamitantes, tínhamos nossa própria Helena de Troia Anticomplexidade: brigamos pelo significado das cores da bandeira nacional. Diferenciações desnecessárias: se você entrava para o lado amarelo, a sensação de união bastava para fazer detestar todos os malditos verdes: o lado pelo qual optei lutar. Ocupado demais matando todo mundo (exceto quem não se devia matar: os camaradas verdes e a geração pós-Crona, proibida de participar da brincadeira), eu aproveitei cinco dos meus vinte e nove a trinta e três anos de idade ajudando bombardeiros a explodirem quatro cidades mineiras: Caxambu, São Lourenço, Poços de Caldas e Uberlândia. Protetores escassos, porque os aviões eram poucos, todas as minhas missões aconteceram acompanhadas de um casal: Júlio e Mônica, sexagenários amigáveis com seus belos aviões: a Roca, de largas asas prateadas; e o Munina, preto para se camuflar na noite, mas só operamos de manhã, Como sempre, apareciam forças oponentes: dezenas de sentinelas que nós acabamos matando porque eles eram amarelos. Contra uniformidade, meu avião era vermelho e preto: daí o apelido de FLAMENGO. Meu avião era o Faisão Flamengo e...
(Ela ri. Rola na cama, acalma-se, ajeita-se e se senta com um sorriso no rosto. O velho está sorrindo também, mas só do lado de dentro.)
… Estas foram suas cinco batalhas:
Jornada em silêncio porque todo mundo já falou demais
História de uma história de uma história: o velho soa como eu:
Houve certa vez que Júlio entrou dentro de uma nuvem e desapareceu, mas acabou voltando para narrar história de uma história de uma história: em meio aos vapores nébulos, o Paraíso.
– Pousei num lago sem pressa e fui esticar as pernas: caminhei por pedras concretas quadradas que me levaram a templos místicos de deuses cujos compostos divinos eram fontes de água gasosa. Para me comunicar com eles, tive que bebê-las, mas em vez de me darem o conhecimento por completo, disseram tudo numa Profecia Picotada que colhi uma por uma, e que não revelo agora porque contá-las em migalhas os obrigaria a coletarem todas e revelá-las para eu mesmo juntá-las seria repetição. Suspendam:
– As fontes eram várias e em cada uma vivia um deus diferente de alguma coisa que já perdeu o significado desde que a guerra começou: deus do amor, deus da força, deus da inteligência e deus da amizade. Todos me criticaram: antes das mensagens, disseram que eu era muito burro, muito bruto, muito chato. Que eu deveria me esforçar mais para conseguir as coisas que queria, senão morreria como Homem, e não como Guerreiro.
– Palavra por palavra, eles disseram: “Esta é a revelação: brota uma flor no teto que faz as pessoas caírem no chão. A flor é o FIM e você deve segui-lo para descobrir a Verdade, que lhe será revelada enquanto flutua como balão de Deus Solar: nem antes e nem depois, porque o depois não existe. Não haverá mais guerra e não haverá mais cansaço: toda a energia do cosmos será preservada e o Universo estará salvo de ti.” Então a água apodreceu no meu organismo e eu vomitei sangue, que transformou-se em luz ofuscante. Eu fechei os olhos. Abri os olhos: Estava voando em direção ao Sol a seguras alturas aeronáuticas.
– Lembro do mapa paradisíaco e as formas das construções: estilo eclético em vias mais próximas da mata úmida, mais próximas da mata seca, depois uma longa volta ateia (em torno do lago), um labirinto sem solução, o teleférico ao Olimpo Inacessível e um pontão.
Perdeu a graça: o velho e a esposa foram dormir: era uma descrição do Parque das Águas de Caxambu, a primeira coisa que as bombas destruíram. Mônica dominou a cama de casal e Júlio ficou com o sofá inexplicado.
– O que eu disse de errado? – Mas ninguém o respondeu.
É por causa de Júlio que eu conto histórias.
Escorregadores para mundos tristes mais felizes do que
As coisas trágicas da vida são mandarem, Mandaram Mônica lançar folhetos terroristas pelos ares da cidade: Olha o passarinho e imagens passadas da destruição iminente das cidades opositoras, Mas não tinha graça: enquanto velho e Júlio estavam tensos pela aproximação das defesas da cidade (que nunca apareceram), Mônica chorava lágrimas mais devastadoras que toda aquela dinamite na barriga do B-52, mas não poderia ser de verdade: se no máximo as lágrimas da sexagenária serviram para devastar a sujeira da parte interna do vidro da cabine, as dezenas de bombas arrasaram toda a tridimensionalidade do lugar, preservando somente as fronteiras estranhas das paredes, dos muros e das ruas de asfalto.
– Querida, tudo bem? – perguntou mesmo sabendo que não estava. Mônica pegou quarenta folhas de papel em branco, canetas pretas e lápis: foi para dentro do seu quarto e se trancou.
Os outros ficaram sentados numa mesa, calados, jogando conversas no lixo como bolas de papel amassado, porque não tinham muita coisa a se dizer. Ela, fora de molduras narrativas, sorri.
– Da próxima vez que a gente fizer uma coisa dessas a gente não leva ela.
– Ou a gente simplesmente não faz mais isso. – O que Mônica fez: sua própria Guernica São-Lourenciana: o desenho se perdeu e a memória do velho descreve assim:
Huesca (17 de setembro de 1963), por Mônica Valéria da Costa
– Depois todos aqueles animais felizes viravam os animais bizonhos de Picasso e a lâmpada do Sol desligava, as coisas adquiriam um aspecto penumbrio: eu pintei o mundo de cinza e depois eu apaguei o cinza até só sobrarem os tons de preto e de branco que são as palavras no papel… Você está copiando isso ou deixando as palavras se escreverem sozinhas?
“Verba volant,,,”
– … Por isso eu atirei flechas nas palavras e elas caíram do céu nas minhas mãos, mas eu não sabia mais o que fazer com elas, então recuperei as flechas e deixei o tempo engolir as vítimas: uma frase. Você sabe qual era a frase?
“Não, como eu poderia saber?”
– Essa mesma. – Ela sorri. – Mônica foi quem me listou e ensinou os sentimentos. É por sua causa que eu choro.
Esforço cansado de nunca parar de doer
Os órfãos não aproveitaram os dramas bélicos: Mônica teve que matar a própria mãe: mulher habilidosa no manche, de sorriso calmo, que conversava, pelo rádio, coisas positivas. Atirava no velho e em Júlio, mas ainda assim conseguia fugir das rajadas da filha caçadora com potenciais assasinos: as primeiras linhas de Anna Karenina.
De literatura russa para filmes de ação: a mãe vai para trás da filha e uma raja de tiros destrói a asa esquerda do Munina. Mônica sobe, gira o avião noventa graus no própio eixo e ejeta. As asas do avião aceleradíssimo não aguentaram a resistência do ar e se soltaram do tronco, indo em direções imprevisíveis e acertando o inimigo: a hélice direita destruída. Caindo de paraquedas, Mônica, com sua pistola, atira dez vezes contra O avião decadente, num ato heroico, choca-se com as bombas bombardeadas, que explodiram numa coluna de fogo e pouparam a cidade-alvo.
Quando alcançaram Mônica, ela estava na estrada de acesso a Poços de Caldas, coberta pelo paraquedas, sentada. Como estava muito cansada, deitou-se.
Barro moldado e amassado pela saliva das bocas cansadas
Os três aviões invasores, X aviões defensores. Tiros de É melhor ir embora senão vamos matar vocês de Podem tentar, mas essa cidade vai ser destruída, de tentar matar uns aos outros. Depois as mesmas repetições de filmes de Primeira[, Porco Rosso] e Segunda Guerra Mundial, mas é mais divertido do que os helicópteros vietnamitas ou aquelas guerras de mais forte contra mais fraco que todo mundo torcia pro Coiote. Na guerra civil brasileira: todo mundo era ruim.
Resolução rápida: o trio vence.
Sinal positivo: a barriga abre, as bombas caem. Têm uma aparência destrutiva que não tinham dentro do B-52. Uberlândia ia virar pó:
Onomatopeia Nº1: Fffffffffffffffffffffffiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuu
e
Onomatopeia Nº2: BoOoOoOoOoOoOoMmMmMm
Não aconteceu: as bombas acertaram o solo, mas a cidade continuou intacta.
– Faisão, desce comigo.
Alcançaram a região do impacto. Era um pedaço de quarteirão: dava para ver restos de telhas e vidro, equipamentos eletrônicos em pedacinhos de placas mães. O resto de uma enorme árvore. Mas como quer que fosse a construção não tinha sobrado nada. Senão os indícios de Humano e de terra, o velho não conseguiu decifrar muito mais do que Isso era uma casa com um jardim.
– É. – disse Júlio. – A árvore era uma mangueira.
Intervalo
– Como seria seu avião?
“Monomotor clássico. Amarelo. Com flores desenhadas na asa superior e vasos no espaço entre as asas: regaria elas com a água que está nas nuvens, se é que isso funcione, e talvez não funcione, mas é o que Eu faria se o mundo fosse, mesmo que não seja, Fantasia.”
– E qual seria o nome?
“Girassol, mas teriam todos os tipos de flores nos vasos. E não teria metralhadoras, Eu derrubaria todos por confusão: movimentos tão rápidos que eles perderiam os controles dos aviões, caindo no chão ou na água salgada: funerais da grama que cresce e das ondas do mar.”
Fim de tudo que se Era para Ecos de tudo que se há de Ser: Destruição número 9.101.112
A essa altura, dos soldados só restavam seis pessoas: três inimigos amarelos e dois aliados verdes. Todas as bombas tinham sido lançadas e todos os bombardeiros tinham sido derrubados: “Vamos nos encontrar para resolver tudo de uma vez”: A cidade de Itabirito porque…
… Tudo que é ruim acaba alguma hora, embora essas coisas ruins tendam a se prolongar: o que aconteceu naquele dia dura até hoje, Acaba hoje, senão Você não estaria aqui: era um dia azul da cor do céu e sem nuvens para onde fugir, porque as nuvens eram do tipo das que não dá para se esconder: as hélices espantam o vapor e você deixa de ser Faisão Flamengo e vira um Revelador de Sol mais do que um Pássaro Furtivo, mas tanto o Revelador de Sol quanto o Pássaro Furtivo já tinham sido abatidos dos céus de batalha: sobraram, além dos três conhecidos, o Comodoro Estrela, o Gavião Maltês e a Lira.
Os dois trios tinham, na sua composição, dois homens e uma mulher que pilotava melhor que esses dois homens: Mônica começou disparos e fugiu de rajadas de maneira tão ábil que os oponentes masculinos ficaram boquiabertos, mas a feminina se pôs a enfrentá-la. Par contra par: o velho foi contra o Verde Jovem, de cinquenta e um anos; e Júlio foi contra o Verde Idoso, de oitenta e dois. As mesmas imagens cinematográficas típicas de filmes de Primeira[, Porco Rosso] e Segunda Guerra Mundial, mas mais divertido: os aviões entraram numa roda de dar tiros que não atiravam ninguém com verde atirando em amarelo que atirava em verde que atirava em amarelo: um circuito fechado que duraria até as balas acabarem…
Mas não acabaram ainda não porque eu tenho que definir exatamente como eram os aviões oponentes: o Comodoro Estrela era um avião cruzeirense de piloto flamenguista: o justo inverso do velho: as asas eram azuis e o corpo era branco, com o Cruzeiro do Sul pintado na asa esquerda.
O Gavião Maltês era uma cópia descarada do falcão. E nem vascaíno era: copiado de filmes noir num preto-branco-cinza sem graça e, desenhado no corpo, o rosto de um monte de atores e atrizes: Humphrey Bogart. Toda vez que eu via o avião, o velho lembrava do pianista Sam tocando As times goes by para Ilsa.
“Play it, Sam.” Ela pedia. E o velho dizia que Não para, depois, murmurar uma canção que viram notas de piano que contagiam Ela, os pés da cadeira, o quarto, os corredores, as cuidadoras, a grama lá fora e as nuvens. Só não contagiam a janela e o reflexo da janela, que também não contagiavam o velho: morreria de imunidades às infecções da vida.
O Lira era o avião mais bonito do mundo, foi feito por uma daquelas deusas da Guerra de Troia. Voava como se fosse o pássaro mais surreal do mundo: um que tocasse harpa enquanto escorrega em qualquer partícula suspensa no ar celeste.
“As balas acabaram?”
– Não: Você apareceu antes num pequeno avião cheio de flores chamado Girassol. Os amarelos celebraram a vitória, mas perceberam que sua cor era mais vibrante ao tom pálido das bandeiras, então era mais provável que Você fosse pirata: guerreira nula independente sem nação. Eles Te odiavam. E se lançaram como kamikazes em Você Despatriada. Começou, então, a se desviar dos aviões que apareciam, como a jogadora de futebol superprofissional: um feitiço bem simples de inverter a gravidade e fazer o céu virar chão e o chão virar céu.
Os seis aviões começaram a cair para cima e Ela, que nunca encostou num manche de avião na vida, pergunta “O que aconteceu?”
Do mesmo jeito que um avião não consegue alcançar o espaço, os aviões agora não conseguiam encostar no chão. Pela fraqueza dos motores, começaram a amaldiçoar o Girassol, tentando tacar-lhe coisas, embora essas coisas acabassem caindo também para cima. Você Desgraçada seria a irresolução do conflito: todos perderem significava ninguém ganhar.
Num ato desesperado, o piloto do Gavião Maltês ejetou somente para subir junto com seu avião cheio de atores e atrizes de filmes noir. “Eu puxei o rádio e chamei meus aliados.”
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam.
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam. Procurou os dois no céu e não conseguia ver nada dentro das cabines. Estava sozinho e teria que pensar em soluções sozinho. O avião caía muito rápido e logo ele estaria longe demais do planeta para ter qualquer salvação.
Verificou se estava de paraquedas e percebeu que estava fazendo uma força muito grande para simplesmente botar a mão nas costas. Olhou mais de perto: era como se seu uniforme, e não ele, estivessem sendo puxados por essa gravidade invertida.
– Roca e Munina, respondam.
Puxou o canivete e começou a rasgar seu uniforme: braços, pernas, tronco e costas.
– Roca e Munina, respondam.
Tiras de uniforme: começou a puxá-las para ficar de cueca, regata branca, dog tags e o paraquedas, mais o capacete de piloto, que ele soltou para vê-lo cair no teto.
– Roca e Munina, respondam.
Não responderam. Esperou mais um pouco. Deu dois tapinhas de despedida no painel delirante do Faisão Flamengo.
Apertou o botão de ejetar e deixou-se cair livremente por alguns segundos, em direção ao solo, para olhar para o avião de largas asas prateadas e para o avião preto que caíam rumo ao céu. Puxou a trava do paraquedas. A velocidade da queda reduziu: sua visão de gravidade invertida foi bloqueada pela enorme forma laranja que lhe descia carinhosamente pelos ares. O vento fresco no seu rosto porque a noite se aproximava trazendo o frio: tons celestes crepusculares que há alguns segundos atrás eram de plena manhã. O encontro do céu com a terra era de um tom rosa e o azul restante era pálido, sem tons vibrantes. Da mesma forma, entre a resplandecência das cores e a escuridão da noite, o mundo tinha um aspecto acinzentado que puxava o velho para si.
Ao longe, o Girassol ia embora, tranquilo. “Eu apontei meu dedo como se fosse uma arma e disparei, mas não aconteceu nada.”
Pousou no cume de um morro, o paraquedas caiu por cima dele: em vez de escurecer as coisas, como faria a tampa de um caixão, o mundo ficou laranja.
Tirou a venda e viu aqueles pontinhos coloridos desaparecendo, indo para sabe-se lá onde, porque Infinito parecia uma resposta vaga demais.
Olhou a grama espetada (anormal) do morro. Puxou um tanto e o segurou bem forte, até sentir as próprias unhas cortando a pele da palma. Respirou fundo. Abriu a mão.
Esse tanto esverdeado subiu, vagarosamente, em direção ao céu.
Filho da Terra Seca, senhor dos desertos, eu vago por impérios de ampulhetas
A Amazônia [Desmatada] ainda existe, mas o velho disse:
– Causa e efeito, finalmente, porque até então tudo parecia desconexão de juventude para adultidade: tacamos tantas bombas uns nas cabeças dos outros e erramos tanto as cabeças dos outros que, na maioria das vezes, só acertamos o chão: Roma salgou Cartago, mas conosco foi como se Cartago tivesse salgado a si mesma: era tão difícil de plantar comida que deixamos de reorganizar o governo vencedor da guerra civil para procurarmos as refeições do futuro, que eram as migalhas do passado. Enquanto alguns tentavam encontrar soluções para o solo sem vida, eu caminhava entre os lugares não bombardeados em busca de alimento: depois de todos os sertões brasileiros, sobrava somente a Floresta Amazônica, poupada do conflito porque os índios que viviam lá odiavam a gente por tudo que fizemos com eles. Achei estranho que, depois de uma semana caminhando pelo Império do Mato-Virgem, eu não encontrei um Suya sequer para me afugentar de volta aos restos de cidade Belo Horizonte, onde eu vivia: os Suya são os descendentes da tribo perdida de Macunaíma, por Mário de Andrade.
– Lá, também não encontrei comida para comer: animal ou vegetal. Vegetal tinha, claro, mas casca e folha de árvores não são alimentos.
Tantas casas e Folhas infinitas de árvores que ninguém conseguiria contar. Variavam de tamanho e de forma, de tipos biológicos que eu não sei descrever porque nunca aprendi porque passava muito tempo dormindo na escola, sonhando com florestas tropicais.
– Não tinham frutas nem animas para comer frutas nem animais para comer os animais que comem frutas. E assim por diante: em esperança cega, continuamos andando até o coração selvagem por sete dias até perceber que tanto os centros quanto as periferias estavam privados de alimento humano. As barrigas vazias roncavam tão alto que eu conseguia ouvi-las enquanto pisava nas saúvas imaginárias: minhas esperanças gastronômicas foram reduzidas aos insetos perversos mordedores de oito dedões do pé.
– Oito porque You’ll never walk alone, mesmo que eu venha andando sozinho pelos últimos dezoito anos: éramos um esquadrão de quatro homens: eu (49 anos de idade, marcas de velhice e os pés cansados, pensamentos traumatizados), adulto, rapaz e criança, mais adjetivos que iam te impedir de imaginá-los do seu jeito. Só digo isso: eram pessoas desabituadas à Desgraça, cujos corpos não sabem lidar com a fome: minha história começa com os três desistindo de continuarem andando pela floresta da geladeira e das dispensas vazias, como se o mundo fosse um supermercado esgotado, porque era mais ou menos isso que ele era naquela época: seus nomes eram, respectivamente, Bernardo, Ricardo e Ubaldo. Lembro o homem caindo no chão e escondendo suas lágrimas; do rapaz e menino inocentes dizendo que é melhor morrer do que viver morrendo. Geração sábia. Sabiá.
Diz ao pássaro imaginário que pousa na janela, depois se torna real: o peito branco, a barriga laranja, a cabeça e as costas marrons. O bico pontudo.
– Ouça, intrometido, porque parece meio óbvio dizer que eles morreriam agora, porque em todos os outros episódios as pessoas descritas morreram: Felipe e Guilherme de milagre, Iracema de alergia; Júlio e Mônica de arrebatamento. Bernardo, Ricardo e Ubiraldo morreram também, de fome, ou pelo menos eu acho que foi fome. Me explico, explico-me: encostaram-se nos troncos das árvores altas e sentaram-se no chão macio da Amazônia. Fecharam os olhos com sorrisos nos rostos dizendo que este seria The Big Sleep, de Raymond Chandler, mas sem o hardboiled: fechariam os olhos, sonhariam sem medo e morreriam, mas eu me recusei: a deixar isso acontecer.
“Algumas coisas são inevitáveis.” Ela repete.
– Mas nunca inevitáveis o suficiente: se eu corresse mais rápido ou tivesse recusado a missão de levá-los até a mata. Todos os “Se”s possíveis que eu posso inventar, mas não inventei. Conjugações verbais me condenam aos fardos piores: enquanto eles dormiam, eu tentava acordá-los encontrando comida, mas não: Encontrei um vasto labirinto de árvores construído pelos Dédalos Naturais e a sensação de ser perseguido pela Culpa Minotáurica: Bernardo tinha trinta anos de idade e um filho, Ricardo tinha vinte anos de idade e um futuro, Ubaldo tinha dez anos de idade e um sonho impossível de ser piloto de avião.
Entre as mágoas de saber que pai, potencial e sonho alado morreram; e as idades arredondadas de dez, vinte e trinta, Ela fica num misto poético de Comédia e Tragédia imprevisto nos manuais poéticos fictícios e reais de Aristóteles, teórico literário.
– Apoiados naqueles troncos, suas testas me exibiam, como bolas de cristal (ou pura telepatia) as imagens do bebê [desnutrido] de cinco meses de Bernardo, das estátuas erguidas em honra do legado humanista de Ricardo e do longo voo decadente dos aviões de papel de Ubaldo. Que criança faminta sonha com aviões de papel? O sonho de Ubaldo era das maiores belezas: os mesmos modelos aeroplanadores feitos com cem folhas de papel A4 que ele comprou na papelaria com o dinheiro que a mãe lhe deu para comprar pão. Subia uma longa colina, botava as folhas no chão e fazia um avião por folha, a mesma moda de Buldogue Flecha. Lançava-o reto e ele ia descendo a colina para pousar fora dela, numa lata de lixo para papel reciclável da rua. Sem pressa, em vez de lançá-lo e começar o outro, garantia que seu arremesso perfeito terminava no alvo escolhido, observando a descida com calma e cuidado. Quando errava, descia a colina toda, jogava a folha no lixo e subia tudo para continuar suas montagens. Como era sonho, não errava.
O sabiá vai embora para sonhos de garotos vivo, em vez de sonhos de garotos mortos. Eu arranco as folhas deste memorial e faço, com elas, aviões impressos e imperfeitos que voam alguns metros e deslizam pousos forçados no chão.
– Então eu corri pela mata para salvar a criança da morte e do trauma de ver outros dois dos seus companheiros de expedição morrerem. Qualquer coisa bastava, mas eu não encontrava nem mesmo os vermes asquerosos que ficavam em cascas de árvores ou dentro da terra. Subi sequoias, que nem amazônicas eram, e lá em cima não encontrei nada. Pulei dos topos e, toda vez, deixei-me cair para inventar desculpas que a queda me impossibilitou de salvá-los, mas em meia queda eu percebia covardia e fazia piruetas acrobáticas (que eu nem consigo descrever) para cair seguro em cima de uma da flora rasteira.
– Balanços, gangorras ou apenas Gramados de Formigueiros Vazios. Eu conhecia aquela floresta com a palma da minha mão porque fui eu quem estabeleceu os contornos dos castelos que eu atacava e defendia nas brincadeiras mais infantis possíveis. Como criança de imaginação fértil, eu corria atrás de coisas que não existiam: máquinas do tempo, porque uma hora ou outra, acabaria chegando em algum lugar.
O velho silencia-se botando encostando o indicador ereto na boca, olhando para o reflexo da janela. Ajeita sua postura e bota as mãos nas coxas. Depois mais nada.
“O que foi?”
– Preciso esperar a noite para te contar o resto.
“Desculpa, mas não temos tanto tempo. Se for uma necessidade, você não vai poder terminar de contar uma história. Não quero contrariá-lo, mas eu gostaria muito de ouvir o resto.”
– Bem, então imagine a noite. Primeiro a noite dentro da floresta, que era pura escuridão, mas na medida que eu ia caminhando, as coisas pareciam esclarecer, afrente, na forma de uma clareira. Alcancei-a e, pela primeira vez em horas, não tive que me preocupar com aquele labirinto de pilastras confusas. Agora.
– Imagine a noite aberta: o horizonte é uma espessa camada escura de árvores e eu vejo o céu como se fosse teto: estrelas enormes de Van Gogh que pareciam Sóis Próximos em vez de Sóis Distantes: além de espetáculo celeste noturno, um terrestre: o chão se agita como num pequeno terremoto e uma manada de monstros folclóricos, liderados por um velocista com cabelos de fogo e os pés virados para trás: Kurupira corre para fora da floresta. A uma centena de passos de mim, criam uma roda gigantesca e correm em círculos que vai se transformando numa acensão espiral até os céus: Boitatá, Mula sem cabeça, Charia e Cuca, [qualquer outro não-listado], sobem, velozes, em direção à Lua: povoam a mancha do dragão de São Jorge e a colorem de tons verdes escamosos e olhos vermelhos. Se fosse noite, conseguiria ver essa ilustração magnífica, mas tem pressa: o céu azul com nuvens e uma estrela só: as estrelas, tenho que falar das estrelas: essa é a história de como as estrelas desapareceram do céu e não voltaram nunca mais: eu...
– …Vi os índios Suya arremessando cipós nas estrelas e os escalando: caindo dentro dos astros como se eles fossem buracos. Ocuparam todas, com exceção da Beta Centauro, onde vive Ci, Mãe do Mato; e as estrelas da Ursa Maior, onde descansa, cheio de preguiça, Macunaíma Espaçoso. Antes dos “Tem mais não”, muita coisa: crianças, mulheres, homens e idosos foram da Terra para o céu da noite em movimentos cautelosos, mas precisos, de ginastas profissionais. Tomaram novas casas: as estrelas que Felipe e Guilherme se tornaram, quando morreram, foram ocupadas por dois meninos brincalhões que riram, em metros verticais, mais do que eu já ri em toda minha vida. As estrelas que Júlio e Mônica se tornaram, quando morreram, foram ocupadas por um índio sábio de longos cabelos negros e uma índia lindíssima de cabelos curtos. A estrela que seria minha, a Beta Câncer, foi ocupada por uma menina de bochechas magras e grandes olhos castanhos. Enquanto todos tomavam seus regadores, ela acenou para mim em despedida. Disse coisas que as distâncias de dezenas de Anos-luz não me permitiu entender.
– Regadores Retomados: como se fossem jardineiros do céu, cada índio tinha um na mão. Eram prateados e, refletindo a luz da Lua, pareciam irmãos das estrelas, mas não eram: tinham água dentro, em vez de hidrogênio e hélio. Inclinados, derramaram uma chuva sem nuvens (gelada) que me fez sentir frio, depois medo, depois nada. Insensível, minhas lágrimas, que não seriam mais usadas, escorreram dos meus olhos e caíram no barro, mas tudo era barro: A água dos regadores tinha propriedades místicas que decompuseram as árvores em lama. Muita lama: lama que me envolveu e me arrastou por quilômetros até eu não saber mais onde estava: e foi aos poucos solidificando assim que os regadores se esvaziaram. Os índios fecharam as escotilhas cósmicas como Você fecharia a porta da sua casa: a luz que vinha lá de fora (ou lá de dentro) apagou-se, e o céu ficou mais escuro, porque agora a única fonte de luz era a Lua Solitária. Foi graças a Você que pude ver isso tudo.
“Graças a mim?”
– Correto: estava com a cara enfiada nessa extensão de barro, perdendo as esperanças e morrendo asfixiado, quando Você apareceu e virou meu corpo de lado. Deu dois tapas no meu rosto e, quando abri os olhos, suspirou decepcionada. Caminhando pela lama concreta, em vez de movediça, disse “Adeus” pela terceira vez e desapareceu do meu campo de visão. Gritei por ajuda, mas Você parecia saber os resultados eminentes dos acontecimentos: em vez de, finalmente, ter a chance de morrer, eu fechei meus olhos e me preparei para meu último sono, pedindo sonhos utópicos que terminariam de repente com minhas funções vitais desistindo: interpretei que Voltaria mais tarde. Não aconteceu: quando fechei os olhos e pedi desculpas para Bernardo, Ricardo, Ubaldo (e desculpei a mim mesmo porque não tinha como eu achar comida e levá-la até eles). So it goes, mesmo que nem eu nem Nada estivéssemos indo para lugar nenhum. Dormi.
– Sonhei.
– Estava numa oca indígena. Não sei se os Suya viviam em ocas, mas eu não sei muita coisa sobre os índios. Depois que eles foram embora, não via mais motivo em pesquisar onde eu estava: uma construção cônica sem móveis ou clichês de fogueira e rede. Tinham várias caixas de papelão lacradas com durex e identificações em azul: pratos, livros, filmes, coleção de Hot Wheels. Não era exatamente isso com o que eu queria sonhar, então tentei sair da oca, mas do lado de fora era tudo escuridão. Entrei de novo e, ao contrário da solidão de antes, agora tinha, sentado numa das caixas, um índio de cabelos flamejantes e pés virados para trás: Kurupira.
– Pensei que tinha subido aos céus.
– Subi, mas depois voltei. Não podia deixar minhas coisas para trás, elas tem um valor sentimental muito grande pra mim. Eu cresci aqui, nessa oca, antes de virar o que eu sou. Meus poderes são daqueles tipos dados para super heróis. Eu fiz uma coisa boa e ganhei uma recompensa por isso: a capacidade de mudar de forma e de enganar as pessoas. Força e velocidade descomunal para proteger a Amazônia dos caçadores e madeireiros.
– É uma sucessão recíproca de fracassos. Kurupira passou a mão pelos cabelos flamejantes e eles apagaram para ficarem ruivos, alaranjados. Escarrou nas mãos e as esfregou, pelo corpo, o catarro que empalideceu sua pele parda em tons caucasianos. Piscou e seus olhos ficaram azuis, depois tapou o nariz e fez força: como naqueles bonecos de massinha Play Doh, começou a crescer uma fina barba alaranjada nas bochecas e no queixo. A única coisa que preservou do rosto e da cabeça foram os dentes brancos. A lança desenrolou-se num tecido: uma cortina que ele ergueu entre eu e ele, deixando-a cair em seguida, estava coberto por um caro terno italiano branco. Tirou um chapéu de dentro do bolso do paletó e o botou na cabeça. Suspirou, triste, e cruzou as pernas botando seu tornozelo na coxa. Olhou para mim com ares vagos, depois para a parede da oca. Pegou seu pé e o girou cento e oitenta graus, como se fosse um parafuso. Da calça, puxou uma meia. E assim que pisquei essa meia virou um sapato de couro. Foi assim com o outro pé também.
– Kurupira era um mágico: Enfiou as mãos bem fundo no bolso e tirou lá de dentro um pedaço de carne quente e suculenta. Disse que É um pedaço da minha perna. Peguei o pedaço e comi, minha fome desapareceu e tudo deixou de parecer um sonho, porque não era. Ele disse:
– “Esta é a revelação: as cicatrizes da parede são incuráveis e vão cair uma por uma, levando o teto junto. Quando tudo for uma planície de concreto, perceberás a futilidade do material e se focará no espírito, mas também não terás recompensa: todas as pessoas que importavam foram embora, por vontade própria.” Kurupira/Homem Ruivo não me perguntou ou respondeu mais nada, porque eu mesmo não fiz mais perguntas ou dei respostas. Cumprimentamo-nos e eu acordei feliz, mas logo fiquei triste: em vez de leito de barro, eu me deitava na grama fresca de um vasto campo. Achei que era o Paraíso, mas as visões minhas não correspondiam às descrições de Júlio: eu estava talvez no Limbo, talvez no Inferno, então decidi andar por aquela vastidão solitária até descobrir o que era, nenhum nem outro: depois de dias, cheguei a Belo Horizonte, e fui recebido por uma comitiva de esposa de Bernardo, mãe de Ricardo e irmã de Ubaldo.
– Perguntei o que aconteceu enquanto eu estava fora? E me disseram que-
“Nada senão que os homens com família, futuro e sonhos morreram de fome, sobrando somente os solitários sem perspectiva ou ambição: você”
– Disse-lhes que a Amazônia tinha desaparecido, substituída por uma pampa nivelada, mas não deram importância: lamentavam a partida dos homens interessantes, porque só sobraram minhas rapsódias desatentas. Choraram tanto por Bernardo, Ricardo e Ubaldo que as lágrimas acabaram e tive que emprestar as minhas.
“Mas suas lágrimas não tinham ido embora?”
– Sim. Por causa disso, ninguém nunca mais chorou.
Prometeu do Fogo-fátuo, incendeio o Próprio Coração
As mulheres caminhavam pelos corredores do asilo, mas ele disse:
– Sem comida animal ou vegetal, tentamos sobeviver de grama, mas não deu certo: a opção que sobrou foi o canibalismo mais civilizado possível. Os altruístas alimentavam os egoístas em pares, casais femininos de um número ímpar de mulheres, foi assim que eu conheci… – O velho ergue os olhos para um pouco acima das nuvens. – Pandora. O nome dela era Pandora, mas as descrições não que cabem por que já não lembro: senão que tinha cinquenta anos, era bonita, inteligente e da alma mais poluída possível: devorou meus dedos, minha mão, meus braços e meu ombro no dia em que nos conhecemos. Pedi para que se contivesse, porque sua voracidade acabaria a matando, mas respondeu que Não tem problema, quando não sobrar mais nada comestível, vou procurar outra. Acabou, sabe-se lá por que, contendo suas vontades: dava-lhe, todos os dias, um pequeno pedaço de mim, que lhe sustentava por vinte e quatro horas. Foi assim durante os dezessete anos, até as egoístas devorarem as altruístas.
“E você?”
– Sim, eu, porque Pandora era econômica e se satisfazia com pouco, ou porque talvez meu gosto fosse tão desagradável que ela evitasse. As egoístas vieram até mim, para devorar as partes que faltavam, mas muito pouco: a carne da perna e os resto eram os ossos do qual ela chupava o tutano. Mais velha, ficou saudável e bonita, digna de poemas que eu escreveria, se as mãos do meu esqueleto não se desfizessem tão facilmente. Era como ter Crona, de novo, mas uma Crona feliz, (ao menos nas minhas memórias): fome de Pandora me impediu de ficar sozinho, como eu estou agora, dezoito anos depois do que aconteceu: vendo que restava muita pouca comida para muitas pessoas, decidiram entrar em guerra, mas eram todas egoístas, então todos os lados que aderiam eram pessoais: guerra total e quem sobrar fica com o banquete, mas ninguém queria ficar sozinho. Antes furiosas, preparando-se para a batalha extensa de fronts infinitos, ficaram tristes pela impossibilidade de resolver um problema tão simples quanto a fome canibal.
– Pandora não me abandonou um segundo só. Imaginei que por afeto, mas percebo que era por egoísmo também: queria preservar a comida que tinha economizado durante quase duas décadas. Eu, que agora era só o esqueleto (porque Pandora me comeu até o rosto e as orelhas e o nariz, lambeu o sangue que me manchava) olhava sem olhos para a imagem de Amazonas Canibais de uma civilização perdida com beicinhos no rosto e lágrimas de crocodilo nos olhos: para tentarem adquirir simpatia, pingavam gotas de água no canto das órbitas oculares e esperavam que o milagre do choro convencesse as outras a alimentarem-nas, mas não funcionava: embora as altruístas se dispusessem a arrancar pedaços do corpo pela felicidade das companheiras, as egoístas não davam nem unhas ou fios de cabelo, que viraram iguarias na antropofagia do fim dos tempos. Foi, posso dizer, dessa maneira que acabou o mundo: com as mulheres desistindo de viver.
– Foi Pandora, com seus olhos claros ou escuros, que já nem lembro, quem fez a proposta: se aqui é o mundo da mudança e das coisas que acabam, precisamos da Eternidade. Por que não vamos todas para o Céu? Mas eu disse, com minha boca que só abria e fechava, sem língua, porque Pandora a devorou, que o Céu estava ocupado pelos índios Suya. Desgraçados, disse uma. Então para o Inferno, disse outra. A maioria riu, a outra ficou séria, depois todas ficaram sérias e disseram que não era má ideia, perguntando para mim se eu sabia dos atuais ocupantes do lugar. Os demônios, talvez, respondi, e perguntaram Quantos? Não sei ao certo, mas uns sete, pelo menos. Então não é nada demais. Naquela época, dezoito anos atrás, tudo era mais simples.
Mas a verdade é que tudo parece mais simples olhando para o passado. Passado recente: viajar até o asilo, perguntar onde ficava o quarto 1012, subir as escadas, andar pelos corredores, bater na porta e entrar no quarto. Se sentar na cama parecia tão complicado que a gravidade a fez deitar na cama, botar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos. Sorrir de tão agradável que a ideia do sono parecia, mas não: tinha que escutar o velho, depois levá-lo embora. Tudo isso parecia mais difícil agora, sendo que era fácil antes. Elas foram procurar as entradas do Inferno.
– Entraram em cavernas e gritaram para dentro de vulcões, mas não encontraram nada senão poeira, jazidas de pedras preciosas, lagos de água colorida e tóxica. Fiquei junto de Pandora, que continuava me devorando e me protegendo dos dentes cobiçosos. O pathos acumulado de anos sozinho, fazendo amigos para perdê-los, me fez sentir as falsidades do amor recíproco de Pandora porque a verdade é que eu amava Pandora. Enquanto ela arrancava pedaços do meu corpo, os espetava para cozinhá-los num fogão improvisado com a fogueira do nosso esconderijo, conversávamos sobre os livros que líamos, os filmes que assistíamos, as músicas que escutávamos e nossas experiências de vida. Senti a amargura do ciúme quando ela me contou que, mais nova, tinha se apaixonado por um dos homens levados pela lama: tinha cabelos loiros, olhos azuis, peitoral forte e braços firmes, sentimentos que eram ditos de um jeito tão sincero que ela se apaixonou por ele.
Silêncio de novo e das últimas vezes. Não faz mal: assim que ele se for, para lugares que Ela não pode saber quais são, as tábuas de madeira do assoalho e as molas do colchão vão se calar do jeito que se calam quando não tem os pés do velho para pisá-los ou corpo Dela para movê-lo de um lado para o outro, antes quando ela estava sentada e agora que ela estava deitada. Depois, quando estiver em pé, vai sobrar somente as janelas, que vão se agitar quando o vento soprá-las frio. A noite se aproxima na velocidade lenta das palavras calados do velho, mas ressurgem junto dos movimentos das nuvens, que pararam, também, por alguns segundos:
– Você já se apaixonou?
“Claro que não. Que pergunta idiota.”
– Eu me apaixonei algum bocado de vezes antes da Crona, duas vezes durante a guerra, nenhuma vez durante a fome e uma vez depois. Antes das mulheres encontrarem a entrada para o Inferno, eu estava apaixonado pela mulher mais egoísta de todas. Não tinha apenas comido meu cérebro, como se fosse um sorvete, mas também meu coração, como se fosse bala de gelatina. Você já comeu bala de gelatina?
“Sim. Eu gosto dos ursinhos vermelhos.”
– Eu gosto das dentaduras. Eu comprava um pacote para mim nos meus aniversários e ficava comendo sozinho. Você entende, não me entende? O que é passar um aniversário sozinho.
“Eu não faço aniversário.”
– Mas e se fizesse, Você me entenderia?
“Não. Eu sempre tenho companhia. A sua agora, a de outros seres do outro lado do universo. Eu nunca vou conhecer a solidão porque eu estou sempre trabalhando, andando de um lado para o outro e ouvindo histórias que ficam mais pesadas na medida que vocês as contam. Sua história é a mais pesada de todas porque pesa um mundo inteiro, em vez de fragmentos: me contam histórias que pesam uma pessoa, uma cassa, uma cidade, um país.”
– É o poder da verdade…
Mesmo que fosse tudo mentira, mas ele disse:
– … Que me fez gostar de Pandora, ela era sempre honesta: perguntei se gostava de mim, disse que Não, se Ficaria comigo se as mulheres encontrassem as portas do inferno? Disse que Não. Se tinha qualquer coisa que eu pudesse fazer para ela ficar comigo. Disse que Não e devou a batata da minha perna, então só me sobrava pé, calcanhar de Aquiles que seria disputado por Briseidas e Cassandras se não fosse a maldita da Pandora, que me tinha para si. Pela sensação áspera, jogou-o fora para as bactérias não-comestíveis devorarem-no. Foi para meus pés, arrancando a pele como se fosse uma embalagem contra a sujeira. Sustentei a sensação de ser esqueleto por alguns dias de silêncio, porque a mágoa de não ser desejado e a ausência de lágrimas me botaram em irresolução: só voltaria a fazer as coisas quando Pandora fosse embora. E acabou indo.
– Como era a pessoa que Você amava?
“Eu já- … Tinha longos cabelos vermelhos e olhos azuis. A pele era água corrente como se suas glândulas sudoríparas fossem fontes de água doce em que me banhei para hidratar esta pele seca. A felicidade. Foram os dias que me contiveram os passos até eles acumularem-se por obrigação. Parti, em silêncio, quando ela dormia: beijei seus cabelos verdes e na sua pele, com a ponta da foice, escrevi meu Nome, que não te revelo porque você não é tão especial. A água das suas cachoeiras, que eu bebi para me encher e transbordar, continua aqui, fluindo nas minhas veias e aderida ao meu corpo como DNA. Somos.”
– A minha era das coisas mais simples: olhos e cabelos castanhos, pele branca. O rosto nem dos mais bonitos, mas continuam o mais bonito na minha cabeça. De todas as lindas Amazonas Canibais, as mulheres mais egoístas de todas, Pandora é a que fica na minha cabeça: o som do seu mastigar constante, mesmo quando não me devorava, permanece ecoando, para sempre, na minha cabeça, e as palavras que saíam da boca dela sobre seu Adônis.
– De todas as pessoas que já viveram no mundo, quem fez Pandora gostar de alguém além de si mesma foi um homem mais bonito, mais forte e mais carinhoso que eu. Se eu pudesse falar dos meus sentimentos do jeito que falo agora-
“Não teria mudado nada, porque não é desse jeito que as coisas funcionam.”
Mais silêncio. É a penúltima vez que o silêncio vai acontecer antes de-
– As mulheres encontraram as portas do Inferno numa forma estranha e singular. Singular de 1 porque em vez de portas era uma só: tampa de escotilha com maçaneta de roda dos filmes de submarino. Porta do Inferno com clichê dantesco: em latim, inscrito em baixo relevo, no metal, Abandonai toda esperança vós que aqui entrais. Revirei os olhos inexistents, mas o resto achou magnífico. Em círculo, vocês se abraçaram de vitória. O sofrimento tinha acabado, mas não para mim. Puro osso, segurei Pandora pelo pulso e pedi que não fosse. Sorriu e perguntou Como, agora que não tinha mais carne, eu poderia satisfazê-la? No que meu triste sorriso esquelético não soube responder.
– Giraram a maçaneta até um estalo. Puxaram a tampa da escotilha e sabe-se lá o que viram, mas com certeza viram alguma coisa, porque gritaram. Não de medo, mas de aviso hostil: Ei, vocês, podem sair que nós vamos morar aí agora. E quem reclamar vai se ver comigo. E medo humano em horda de demônios foi o suficiente para uma voz divina responder Aspetta un po’. Cinque minuti doppo, carregados de malas, sete monstros enormes e um anjo saírem da tampa apertada como se fosse fácil: o camelo pela fenda da agulha. Lúcifer lançou-lhes as chaves do Inferno e elas foram entrando, uma por uma, sem olhar para trás.
– Você, impressionada pela beleza do antigo Rei das Profundezas, foi a última a entrar. Quando a tampa fechou, um demônio cego de vinte pernas, quarenta braços e órgãos expostos na pele vermelha (chamava-se Mamon), tomou a tampa em suas mãos enormes e a entortou sem dificuldades, jogando-a para longe em seguida. Foi quando um outro, de asas de mosca e cara de leão, braços atrofiados e pernas de elefante (chamava-se Belfegor) perguntou para mim Dov’è la birra? e respondi que, dada a falta de cevada, não tinha mais cerveja. E todos reclamaram, xingando Mamon por ter destruído o portal para o Inferno, onde parece que ainda tinha bastante cerveja estocada nos congeladores, agora das mulheres.
– Perché non sei entrato? Perguntou Lúficer, e respondi que Não sou egoísta, minha presença não era bem vinda. Aceitou e perguntou se sentia algo por alguma daquelas mulheres, o que eu respondi que Sim, por Pandora, a mais bonita de todas, mas também a mais egoísta, que me consumiu, mas não me deixou consumi-la. Perché? E eu, gastando meu italiano, respondi, esquelético: Boh, no lo só.
– Lúcifer e os outros sete demônios riram.
– Aproximou-se um demônio com cabeça de bode e corpo de homem, mas sem pele, como se tivesse sido esfolado. Nos braços, carregava dois braceletes dourados com inscrições latinas de Solve e Coagula. Suas pernas de sátiro tinham a mesma extensão de um pênis-cauda que arrastava no chão. Os chifres eram grossos galhos esculpidos em formas pontiagudas. Seu nome era Bafomé. Disse, no que eu não entendi em italiano e tive que pedi-lo para traduzir ao português: “Esta é a revelação: o coração pulsa sangue negro e azul, mas nunca vermelho. Bombeia mentiras pelas artérias e os músculos transformam em verdade, que corre pelas veias. Se a flecha perfurar somente os ventrículos, e nunca os átrios, a Terra se inundará de Felicidade Afogada, mas se for o contrário, os terremotos te engolirão numa queda tártara de um milhão de sofrimentos, porque o tempo não se contará mais até a ferida cicatrizar. Esta ferida existe para sempre: está nas juntas do corpo, nos laços do seu código genético, sobre e dentro da pele, mas sobretudo nos capilares. Os capilares são o segredo, o labirinto que vai levá-lo à certeza.” Enfiou as mãos no chão e cuspiu litros de saliva que transformaram a terra em barro. Ergueu o barro sobre minha cabeça e deixou que caísse até preencher meu corpo de ossos. Veio Azazel (o corpo humano, a pele preta de buraco negro, mas com feridas abertas das quais saía sangue), que deu dois fortes tapas no barro, que transformou-se em poeira, senão por uma camada grossa na forma de um corpo humano: velho, de sessenta e seis anos de idade. Cobria-me de cima a baixo, sem orifícios ou olhos. Foi Asmodeus (um gigantesco mastodonte poliédrico cuja cabeça era um icosaedro de vinte olhos, o corpo um octaedro e as pernas retas insectoides gigantescas: tinha nove metros de altura), que me tomou, cortou fendas no meu corpo e arrancou um dos seus dez pares de olhos para que eu pudesse enxergar de novo. Pôs-me no chão, como criatura recém-nascida, e sorriu.
– Andiamo da qualche altra parte. Vuoi venire? E disse que Não, porque aquele mundo, aquele universo, não tinha mais nenhum outro lugar para onde se ir.
– Capisco. Subiram no gigantesco Leviatã (que, ao contrário dos outros, era das exatas descrições de gigantesco monstro marinho) e o demônio bateu suas barbatanas para nadar no céu até o infinito, além das estrelas, onde viviam os índios Suya.
Silêncio pela última vez.
– Eu vaguei durante dezoito anos sozinho, vivi em cavernas e aproveitei os escombros da humanidade para passar o tempo. Meu corpo de barro não tinha fome ou cansaço, embora envelhecesse, por causa do Sol ressecante, e tive que conter meus movimentos ao começo do dia e ao final de tarde: o resto passava contemplando a passagem do Sol e a metamorfose do mundo; a chuva diminui a serra, o vento soprou as nuvens e a grama cresceu, mas eu não mudei nada porque não tinha mais nada e mais ninguém para me mudar.
Suspira de cansaço.
“E a Pandora? Ela não tinha nenhum jarro com a esperança, não?”
– Quem é Pandora?
Ela sorri. Levanta da cama, pega a foice e anda até o velho. Aproxima-se, ajoelha-se e olha para ele, irrecíproco. Espera que diga melhores últimas palavras que Quem, É e Pandora, mas parece satisfeito com isso: tem um pequeno sorriso no rosto. Ela segura-lhe mão, apertando, carinhosa, os nós cegos dos dedos enrugados. O brilho fraco dos olhos desaparece. A cabeça, lentamente, vai caindo até o queixo tocar o peito.
Duas lágrimas contidas escorrem dos olhos pelo rosto dele e pingam na camisa branca.
Silêncio para sempre.
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Eu me lembro bem, era uma terça -feira e passava das onze da manhã, o sol machucava os meus olhos e fazia arder os meus ombros, não sabia como havia acabado sentando na grama seca perto ao chafariz do pátio central , eu não gostava de ficar ao livre e não gostava de ficar molhado, mas confesso que me agradava ver a água subir e cair em uma parábola perfeita, era uma das poucas coisas que me agradavam naquele lugar, eu me perguntava o porque de eu ainda estar preso ali quando reparei nas bandagens no pulso, é parece que eu fiz outra vez ,o pior é que não consigo me lembrar como e nem por que foi dessa vez...
Eu já estava internado a mais de um ano, meus pais e meu irmão apareciam de vez em quando, mais precisamente quando os médicos os convidavam para ver minha nova proeza, eu não podia culpa-los, eu também não ia querer me ver nesse estado. No começo minha mãe vinha cheia de esperanças, meu pai tranquilo e meu irmão otimista, mas com o tempo meus pais começaram a vir nervosos e com pena, já meu irmão parece vir obrigado, os amigos que vieram nos primeiros dias nunca mais apareceram, me pergunto se os convites para jogar bola e viajar quando eu sai daqui ainda estão de pé, mas acredito que a resposta seja não, também não os culpo afinal as pessoas simplesmente seguiram suas vidas, fui eu que fiquei pra trás.
Desisti de tentar entender como havia chegado ao pátio, eu já fazia isso com certa frequência tinha um tempo, minha mente simplesmente desligava e eu não me lembrava de conversas que as pessoas juravam que tiveram comigo, de ligações que eu fiz, de como eu chegava aos lugares, estou até agora tentando descobrir como invadi o terraço na semana passada, as enfermeiras me encontraram sentado no canto com um copo de chá olhando para
o céu, sozinho, não soube me explicar, mas queria ter ficado lá mais tempo ou pelo menos terminado o meu chá.
Ontem uma garota que havia tido alta, veio me agradecer, disse que eu havia ajudado muito e que graças a mim ele se sentia viva de novo, eu não sabia quem ela era, não me lembrava nem de tê-la visto quanto mais falado com ela, na hora eu só acenei com a cabeça e aceitei seu abraço, mas quando eu a vi ir embora, me arrependi de não ter perguntado oque havíamos conversado, quem sabe eu pudesse me ajudar...
Bom eu já havia extrapolado a cota de sol que meu corpo podia suportar, eu era muito branco e quando tomava sol ficava vermelho feito um tomate, bronzeado de comercial pra mim nem pensar, horas despreocupadas na areia da praia? Não obrigado, gosto da ideia de ter pele. Resolvi me levantar para não me arrepender mais tarde, mas logo notei que não havia comido nada ainda, pois fiquei zonzo com o esforço, fixei o olhar em um ponto na grama para manter o foco e o equilíbrio, foi quando eu o vi: um caderno marrom, capa de couro, era fechado com um cordão, uma rosa dos ventos de metal estava presa a capa, o caderno me pareceu familiar, mas não conseguia me lembrar de onde, resolvi abrir para ver se havia alguma pista sobre o proprietário e eu encontrei, não havia nome, mas na contra capa estava escrito o numero do quarto : 231, fiquei surpreso meu quarto é o 232 e até a ultima vez que vi não havia ninguém no quarto ao lado, mas eu nem me lembrava de como chegará ali então não sou uma boa referencia.
Decidi que levaria o caderno quando fosse para o quarto, por hora eu ia procurar uma enfermeira ou algum funcionário do hospital para poder comer alguma coisa, mas antes de seguir adiante a primeira folha do caderno me chamou atenção, o caderno não tinha pauta, o que permitia ao escritor espalhar as letras pela pagina com liberdade, além de desenhar, eu adorava escrever nesse tipo de caderno quando era mais novo, mas o que me chamou atenção não foi a folha em si, mas o que estava escrito nela, com letras grandes em palavras espalhadas pela pagina estava escrito: Coisas óbvias, que ninguém sabe ..., folhei o caderno e notei que haviam vários textos escritos, sabia que não era certo, mas a curiosidade foi maior, fui para dentro do prédio, peguei meu almoço com um funcionário , me sentei sozinho em uma mesa próxima a janela e comecei a ler, e foi melhor decisão que tomei desde que cheguei aqui.
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Os ventos gélidos atingiam o meu rosto e as ondas que me trouxeram quebravam nas pedras, quando desembarquei em Pedra do Dragão, com o único objetivo que me fez sair do Norte: Encontrar Daenerys Targaryen e convencê-la a permitir a extração de Vidro de Dragão, item essencial para vencer o Exército dos Mortos e os Outros, a única ameaça real que assola a humanidade. Quando desembarquei, encontrei Tyrion e foi gratificante encontrar um velho amigo que julguei nunca ver novamente. Assim como eu, Tyrion carregava o peso a vida inteira de ser olhado e examinado como alguém indigno de qualquer coisa que pudesse existir nesse continente. Como ele mesmo me disse uma vez, “todo anão é bastardo aos olhos do pai”, e desde então eu soube que tinha encontrado alguém que carregava as mesmas dores que eu. Depois de trocar algumas palavras com o meu antigo amigo, fui obrigado a entregar as minhas armas a um grupo de quinze homens Dothraki, que deveriam ter mais ou menos o dobro do meu tamanho e do meu porte. Olhei para o mar e questionei a minha inteligência por estar ali, quando retiraram o meu barco e me senti, de certa forma, um prisioneiro.
Tyrion me alertou sobre isso, e disse que os Starks não se dão bem quando vão para o sul. Mas, eu não sou um Stark. Nunca me olharam como um. A posição de Rei do Norte veio até mim através de muito sangue e coragem. Claro que o fato de eu ter sangue Stark nas minhas veias pesou bastante na decisão dos lordes nortenhos, mas eles me coroaram por ter vencido a guerra contra aquele doente do Ramsay Bolton e retomado Winterfell. Nunca quis ser nada do que sou hoje, mas fico grato que tal posição me foi favorável, facilitando que eu atinja o meu objetivo e permitindo que eu possa encontrar outros Lordes e unir exércitos. Apenas quero dar o meu melhor para destruir o Exército dos Mortos e proteger o Norte.
A caminho do grande encontro, três dragões sobrevoavam a minha cabeça, e me vi rente ao chão, apavorado. Questionei minha inteligência pela segunda vez. Estava louco por estar ali, tão vulnerável diante de tantas ameaças?
— Eu poderia dizer que você se acostuma, mas não é verdade — Tyrion disse, rindo, enquanto eu me erguia — Venha, a Mãe dos Dragões está esperando por você.
Eu olhei para os dragões que sobrevoavam o imponente castelo, e fiquei em dúvida se deveria me preocupar mais com os filhos ou com a mãe deles.
A entrada no castelo foi tranquila, até que finalmente adentrei no Grande Salão onde se encontrava Daenerys Targaryen. Um brilho triangular iluminava o ambiente cinzento, escuro e vasto. A escadaria presente no salão conduzia a um trono excêntrico, localizado entre dois candelabros que julguei serem de ferro, maiores que um homem médio, e confesso que nunca havia estado em algo tão grandioso e majestoso como aquele salão em toda a minha vida. Meus olhos curiosos percorreram as paredes e o chão de pedras hexagonais, até recaírem sobre a sobre a bela jovem que estava sentada no trono e aparentava ter a minha idade. E encontrei com o rosto mais lindo que já vi nas duas vidas que tive. Ninguém mencionou a beleza da Mãe dos Dragões. E apesar da pouca relevância de tal constatação, é algo difícil de se ignorar, de se passar despercebido.
— Você está na presença de Daenerys nascida na Tormenta da Casa Targaryen, herdeira legítima do Trono de Ferro, Rainha dos Ândalos e dos Primeiros homens, Protetora dos Sete Reinos, Mãe dos Dragões, Khaleesi do Grande Mar de Grama, a Não Queimada, Destruidora de Corrente—Disse Missandei, a jovem que recepcionou em conjunto com Tyrion, e confesso que me senti perdido diante de tantos títulos e virei-me para Davos, com a esperança de que ele pudesse fazer a minha anunciação de uma forma digna. Mas, para o meu constrangimento, ele não o fez, e obviamente, Tyrion riu.
— Esse é Jon Snow. Ele é o Rei do Norte.
— Obrigada por ter vindo de longe, milorde, os mares estavam agitados? — As palavras de Daenerys ecoaram no salão e pude fazer outra constatação a respeito dela : o que tinha de bela, tinha de segura e firme em suas breves palavras.
— Os ventos foram gentis — Respondi em tom de amenidade, e por um segundo a julguei agradável.
— Desculpe, tenho sotaque da baixada das pulgas, eu sei, mas Jon Snow é Rei do Norte, majestade. Ele não é um lorde — Disse Davos, ligeiramente apreensivo.
— Nunca tive instrução formal, Sor, mas posso jurar que li que o último Rei do Norte foi Torrhen Stark, que dobrou o joelho para o meu antecessor, e jurou lealdade por toda a perpetuidade, então presumo, milorde, que está aqui para dobrar o joelho — Daenerys disse, movendo as sobrancelhas ironicamente e encarando os meus olhos, e com um sorriso nos lábios vitoriosos, e juro, que naquele momento tive vontade de arrancá-lo deles, não pelas suas palavras, mas pelo tom de superioridade e o olhar de quem tinha certeza que eu faria qualquer coisa que ela desejasse.
— Não — Eu disse, e senti um certo prazer em ver o sorriso dela se quebrar em uma expressão enigmática.
— Não?É uma pena. Veio aqui para ser infiel à Casa Targaryen? — Ela disse irritada e não pude abafar um sorriso diante de seu tom de autoridade. Ela realmente quer me por nessa posição desconfortável?
— Ser infiel? O seu pai queimou o meu avô e o meu tio avô. Teria queimado os Sete...
— Meu pai era um homem mau —Ela disse, me interrompendo abruptamente e me mostrando uma sinceridade que parou qualquer palavra que queria sair da minha boca e calar a dela —Peço perdão pelos crimes dele contra a sua família, e peço que não julgue a filha pelos pecados do pai. Nossas casas foram aliadas por séculos e foram os melhores séculos que os Sete Reinos tiveram.Séculos de paz e prosperidade, com um Targaryen no Trono de Ferro, e um Stark como Protetor do Norte. Sou a última Targaryen, Jon Snow. Honre o juramento que o seu ancestral fez, e dobre o joelho para ser designado Protetor do Norte.
—Tem razão. Você não tem culpa dos crimes do seu pai, assim como eu não respondo pelo juramento do meu ancestral.
—Então, qual o seu motivo de estar aqui?
— Porque preciso de sua ajuda, e você precisa da minha.
— Você viu três dragões voando quando chegou? Os Dothraki? Como pode achar que preciso de você, milorde?
— Por que você não atacou Porto Real?Devo supor que não quer matar inocentes, certo? É o modo mais rápido de vencer, mas percebo que você se recusa a recorrer a esse método. Em breves termos, para mim, no mínimo, você é melhor que Cersei.
— Suas palavras ainda não esclarecem o porquê de eu precisar de sua ajuda.
— Agora, eu, você, e todo mundo não passa de uma criança tentando aprender a jogar com alguém que usa as regras injustas a seu favor. Todos nós iremos morrer se não vencermos o inimigo do Norte, o Exército dos Mortos que encontra além da muralha. E é por isso que só há uma guerra que importa, e todos os vivos estão do mesmo lado.
— O Exército dos Mortos? Tyrion, você havia me dito que Jon Snow era um homem cuja razão não lhe faltava—Ela disso sorrindo para Tyrion, com um tom de deboche que me aborreceu.Nunca imaginei que sentiria tanta irritação por alguém que possuía uma beleza tão genuína como ela.
— Acha que sou mentiroso ou louco? Tyrion, você me conhece.O Exército dos Mortos é real. Os outros são reais. O Rei da Noite é real. Se atravessarem a muralha e perdemos tempo discutindo a minha sanidade e a minha razão, estaremos mortos — Agora eram as minhas palavras que ecoavam naquele salão, enquanto Daenerys erguia do seu trono, descendo as escadas em minha direção, e me deixando, de certo modo, nervoso.
— Eu cresci em terras estrangeiras. Muitos homens tentaram me matar, fui vendida como uma égua reprodutora. Fui acorrentada e traída, estuprada e violada.Sabe o que me manteve viva e forte durante esses anos no exílio? A fé em mim.Não em um Deus qualquer.Nem em mitos e lendas. Mas na força que eu tenho. O mundo não via um dragão havia séculos, os Dothraki nunca atravessaram o mar. E olhe em volta para tudo que eu consegui, para quem eu sou, onde eu estou, e onde vou estar. Nasci para comandar os Sete Reinos e irei — Sua proximidade, suas palavras me atingiram como uma faca e fiquei tão surpreendido que mal pude falar. Eu deveria ter previsto que aquilo não ficaria assim, que ela não ficaria quieta e não se surpreenderia com o que eu tinha a revelar. Eu não percebi os sinais de advertência, nem procurei saber sobre a trajetória de Daenerys Targaryen, e mais uma vez, fui pego desprevenido. mas, apesar de agora os seus olhos se mostrarem impenetráveis, eu sei que as minhas palavras também tinham poder.
— Você vai comandar um cemitério, se não derrotarmos o Rei da Noite—Eu disse usando o meu melhor tom mordaz.
— A guerra já começou e eu não tempo para interromper o que eu comecei, e me aliar por algo que você, alguém que não conheço, julga existir além da Muralha.
— Se não nos aliarmos, pouco importa qual o esqueleto que se sentará no trono de ferro.
— Se não importa, por que você não se ajoelha agora?
—Não temos tempo para isso. Enquanto estamos aqui, um Exército cujo objetivo é dizimar a humanidade, se aproxima. E por que eu me ajoelharia? Não quero ofender, Majestade, mas se eu também não te conheço. Até onde eu sei, o seu direito ao trono é oriundo do fato de você ser filha do Rei Louco, que meu pai lutou para derrubar. Os lordes do Norte confiam em mim, e irei fazer o meu melhor—Falei como se a fúria fosse a minha segunda pele,parte pela sua teimosia em não acreditar em minhas palavras, parte por que estava tentando ignorar a correnteza que me levava para os seus olhos, e outras vezes para os seus lábios.
—Isso é justo. Também é justo eu te alertar que sou a rainha legítima dos Sete Reinos, e ao se proclamar Rei do Norte, você está se rebelando contra mim.É isso que você deseja, milorde?
Essa discussão parecia interminável, e eu já estava cansado demais de tentar mostrar que nada disso é importante. A irritação em meus olhos e nos olhos dela eram evidentes. As faíscas trocadas não estavam nos levando a algum lugar e um certo desconforto que atingia o lado esquerdo do peito me incomodava tanto quanto aquela situação, quanto a sua proximidade. Porém, essas pequenas farpas duraram até sermos interrompidos por um dos conselheiros dela, Varys, que sussurrou sons inaudíveis, deixando-me intrigado.
—Perdoem os meus modos, vocês devem estar cansados depois dessa longa viagem, apesar dos ventos gentis—Ela disse, dirigindo-me o mesmo tom doce com o qual me recebeu, apagando completamente qualquer vestígio de contrariedade que marcou a nossa discussão anterior—Poderão tomar banho, e jantar em seus aposentos.Qualquer coisa que necessitarem, peçam aos Dothraki e eles providenciarão, deixarei dois na porta de cada um de seus aposentos. Aguardo a presença de você no café da manha, que será servido no Salão Vermelho, milorde.
—Sou o seu prisioneiro? — A encarei, e acho que vi um esboço de um sorriso.
—Ainda não — Ela me disse ríspida, apagando novamente qualquer sinal de suavidade que julguei ser uma trégua.
E de alguma forma muito estranha a minha natureza, ainda mais que era inegável que um certo cansaço já havia alcançado o meu corpo devido a viagem no barco, desejei não ser dispensado por Daenerys Targaryen. Eu sei que é somente porque queria convencê-la. Mas, ao meu contragosto, sinto que isso é uma justificativa que estou usando para mim mesmo, para esconder algo que evito pensar a qualquer custo. E diante do inevitável, julguei minha inteligência pela terceira vez. Apenas uma frase ecoava nos becos da minha mente : Quem é Daenerys Targaryen?
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A estrada
Ano passado houve um acontecimento sem explicação, durante uma viagem de família, no meio da estrada às 20:00 e alguns trocados de minutos. Estávamos no carro e meu pai aparentava estar apreensivo, pois de alguma forma ele se incomodara com a possibilidade de estar perdido, era uma estrada sem fim, retilínea e aparentemente uniforme durante todo seu trajeto de forma que se você ficasse olhando para o centro da estrada então você teria a sensação de estar viajando sobre uma esteira larga de asfalto sem fim e imerso na escuridão do ambiente noturno. Aquilo tudo, por si só já era suficientemente assustador e nutria os pensamentos mais mórbidos das vielas do subconsciente. Aposto que se Mahatma Gandhi experimentasse com seus sentidos as propriedades daquela viagem então ele repensaria no conteúdo da carta enviada ao Hitler e talvez até abandonasse a sua luta contra os ingleses de tão silencioso, cativante e destruidor de esperanças aquilo tudo era. Entretanto, o ápice desse relato foi no momento em que nas beiras rústicas da estrada começou surgir pessoas andando pacientemente e explorando toda aquela escuridão do ambiente. Meu pai demorou em notar a presença dos andarilhos, porém logo quando notou, resolveu reduzir a velocidade e jogar o carro para o acostamento a fim de pedir alguma informação para um senhor, meio anão com roupas brancas encardidas e de andar cambaleante, que acompanhava a procissão de pessoas nas beiradas do asfalto. Logo que o vidro abaixou, pude sentir o cheiro de grama molhada com os sons hipnóticos das cigarras, meu pai perguntou e o senhor permaneceu de cabeça baixa por cerca de 10 segundos até levantar sua face. Fechamos o vidro e seguimos viagem apressados até chegar à próxima cidade, ninguém esperava me encontrar idoso andando por uma estrada sem fim.
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CORDA BAMBA
A neblina começa a afugentar a luz, suavemente, enquanto o sol se esconde, por detrás das nuvens. Já não consigo mais fechar meus olhos sem ao menos temer, ou sentir essa presença perto de mim. Cada vez mais meus medos se tornam sedutores, cada vez mais se tornam perseguidores de minha razão.
A noite cai, meus olhos não suportam mais a insônia. Meu corpo treme de frio, mas não existe uma coberta que possa me aquecer. Meu corpo se inclina a sensação de inquietude mental.
Enfim, tento fechar meus olhos, mas minha mente não cessa, ela não se deixa descansar.
Quando tudo está "preto", só me vem uma coisa na mente. Meus olhos, mesmo que fechados te enxergam, de longe, aquele objetivo inalcançável: SOBREVIVER.
Meu corpo desiste, ele quer sentar, parar ali mesmo, não quer mais caminhar pra frente, e nem pra trás. Simplesmente quer se sentir mais uma vez humano. Sentir o calor do sol, sentir o vento passando como uma leve massagem por todo ele. Mas agora só há escuridão.
Tudo que minha razão e meu sentimento quer, é a desistência.
- NÃO! EU NÃO VOU DESISTIR!
Minha alma tenta insistir, como um último suspiro, para que meus joelhos se ergam, e me impulsionem para frente.
Meu corpo instintivamente entra em "piloto-automático", já não pensa, não age. Ele simplesmente vai.
Começo a pensar de novo, minha mente começa a reagir.
Estou imaginando coisas? Isso está mesmo acontecendo? Mas já anoiteceu?
O sol começa a reaparecer, não entendo por quê. Muito menos quando isso aconteceu, mas parece já estar de dia.
Nada mais faz sentido agora. A razão se perdeu em meio a disputa da minha mente tentado reagir ao pedido de socorro, e a escuridão, tentando me fazer fechar meus olhos de vez.
Olho para os lados, está mais claro, mas minha visão ainda está distorcida. A neblina persiste em me acompanhar aonde vou, não consigo enxergar mais que um palmo, mas continuo a caminhar, esperando encontrar algo, um motivo.
Escuto barulhos, como se fossem carros passando, buzinando, uma confusão sonora, que me arrebenta aos ouvidos.
Começo a sentir fortes pontadas na cabeça, uma dor intensa e aguda repentinamente aparece. Me jogo ao chão, não resisto a dor.
Tampo meus ouvidos com a mão, em uma tentativa desesperada de fazer esses ruídos pararem, mas de nada adianta, é como se estivessem a centímetros de distância de mim.
Me levanto, relutantemente a todos os fatos e fatores que me dizem pra simplesmente parar e desistir.
- NÃO! EU NÃO VOU DESISTIR!
Escuto novamente este pedido de socorro, não consigo entender de onde está vindo.
Os ruídos cessaram.
Espero angustiosamente e esperançosamente para que eles não voltem.
Ainda não consigo enxergar, e isso me deixa agoniado.
Entendo que estou perdido, e preciso achar onde estou. Volto a vagar sem rumo, esperando achar alguma referência para entender o que está acontecendo.
Volto a enxergar o chão, o que há muito não acontecia. Vejo grama, verde, em meus olhos que há tempos não via nada além do cinza da neblina e o preto da escuridão que me persegue.
Aos poucos, começo a escutar um barulho. Faz tanto tempo que não escuto nada além dos ruídos que o desconheço, mas me parece familiar. Decido continuar minha jornada, afim de achar um motivo.
Começo a sentir o chão tremer, começo a sentir medo novamente, a neblina fica mais densa. A escuridão continua me perseguindo, e está cada vez mais perto.
Apesar de meu corpo não me permitir muito, me esforço ao máximo. Corro incessantemente, tentando me livrar dela. Fecho meus olhos e continuo minha disparada em rumo ao desconhecido.
A sensação está passando aos poucos, meu corpo começa a reanimar.
Começo a ver algumas luzes brilhando, tento ir em direção a elas. O chão muda de cor, de um verde vivo, se torna um marrom, terra, as sinto entre meus dedos.
Nunca havia sentido isso, não que eu me lembre pelo menos.
Encontro as luzes, são pequenos insetos, "piscantes", alegres, e verdes. O que é isso atrás de seu corpo? Algo transparente, com formato circular...
Tento passar a mão em um deles, mas ele foge, flutuando pelo ar. COMO ELE FAZ ISSO?
Perco a noção de tempo novamente, e começo a persegui-los, sem destino, apenas os seguindo sem direção. Me esinem a flutuar, por favor. Rogo a eles. Não recebo respostas.
- Você não pode voar, pequeno.
Quem falou isso? Procuro em minha volta, mas não vejo ninguém... Voar? O que significa isso?
Espere, onde estão aqueles insetos? As luzes se apagaram... e eles sumiram...
Tive uma ideia! Vou fechar meus olhos, se for um sonho, acordarei assim que eu o abrir! Brilhante ideia!
A ideia de fato era boa, pena que não deu certo. Agora, além de os pequenos insetos terem sumidos e a neblina continuar a me importunar, vejo alguns degraus em minha frente. O que será isso?
- Isso é uma escada, seu bobo, não se lembra?
- AH! Agora eu te acho! - Grito, bem alto, para que ele me escute.
Olho novamente em minha volta, e nada. Quem tá falando essas coisas?
Decido subir a tal da escada ou seja lá o que for isso.
Percebo enfim que meu corpo decidiu cooperar, subo degrau por degrau, sem um mínimo de esforço, como se meu corpo fosse mais leve que o ar.
Ar? Espere, que sensação é essa? O ar toca em minha pele, em movimento, sinto o vento, como isso é bom. Há quanto tempo não sinto isso?
O ar aqui parece mais puro, consigo respirar sem arder meu corpo.
Meu corpo se toma por uma alegria intensa, acho que não sinto isso há muito tempo, pois não me recordo de tal sensação.
Essa sensação me faz bem, minha boca se move sozinha, formando um semicírculo.
Quando chego ao final da escada, encontro um arco, coberto de flores. Variadas cores, enchendo meus olhos de água e alegria.
Passo por baixo delas, sem esquecer de tocá-las, isso é lógico.
Que sensação boa, elas tem uma textura tão gostosa.
Olho novamente em volta, para ver o que mais tem por aqui. O que é aquilo? Tem um pote feito de cimento, beeeeeeeem grande no chão, como se fosse uma lagoa, mas em tamanho muito menor. Tem um líquido dentro, mas é transparente. O que será isso? Encosto minhas mãos, sinto esse líquido refrescá-las, decido me jogar ali dentro. AH! Isso tá gelado, mas é bom.
Pisco meus olhos, a água que era transparente se torna marrom, como um rio, mais precisamente como o rio da minha cidade. Escuto uma voz, de longe, gritando comigo: SAIA DAI AGORA! NÃO MANDEI VOCÊ PULAR AI DENTRO! VOCÊ VAI MORRER AFOGADO E SE, SOMENTE SE, CONSEGUIR SAIR DAÍ SOZINHO, VOCÊ FICARÁ DOENTE! SEU IDIOTA! IMUNDO!
O oásis que eu havia encontrado se torna um verdadeiro inferno, minha vida vem a tona em minha mente. Tudo cinza novamente, os ruídos voltando, me jogo embaixo do líquido, mesmo sentindo um repúdio imenso por aquele cheiro.
Sinto uma mão tocar levemente minhas costas, mas dessa vez não está me batendo, nem me punindo por algo que não fiz, simplesmente está me acariciando, e isso é tão bom.
- Levante-se, saia da água.
Escuto essa voz me chamando. Então isso é água? Mas como podia estar tão transparente?
Me levanto, levemente, sentindo a "água" escorrer pelo meu corpo, ainda desconfiado do que irei ver, não abro meus olhos, e permaneço imóvel, até que...
- Se você continuasse ali, iria ficar sem ar. Você está bem, meu jovem?
Abro meus olhos, vagarosamente, e com medo do que verei.
Estou novamente naquele lindo lugar, colorido. Mas dessa vez tem um homem, idoso, atrás de mim, me olhando. Nunca recebi esse olhar de ninguém, me parece tão convidativo.
Ele envolve seus braços em mim, o que é isso? Me sinto quente, com o calor de seu corpo, me sinto protegido, sinto como se a escuridão nunca mais fosse me alcançar novamente.
- Quem é você? - Finalmente tenho coragem de falar.
-Não sabe mesmo quem sou? Bom, eu sou você. Sou a parte de você que persiste em viver. Sou a parte de você, que ainda quer ver as cores, que ainda quer se levantar, e que NUNCA, escute bem, NUNCA, vai desistir da vida.
- O quê? Como assim?
- Logo você entenderá, mas agora, o que precisa saber, é que estou aqui para te recepcionar, e te apresentar ao seu pequeno céu...
Tudo que vi, vivi e percebi até agora, foi real, pelo menos pra mim. Até onde descobri, em seu tempo certo, eu havia falecido. Era um menino de rua, fui criado desde bebe nas ruas de uma cidade grande. Um dia, durante minhas idas e vindas, fui atropelado. Meu corpo perdeu a vida naquele mesmo instante.
Esse senhor, que conheci, sou eu, minha consciência, minha alma. Minha esperança.
Ele me "reensinou" tudo que eu não lembrava ter conhecido.
Os vaga-lumes, as flores, a água límpida e transparente, a fauna e flora, desse meu pequeno paraíso.
Agora vivo aqui, feliz, longe de tudo que um dia me fez mal. De todas as pessoas que passaram, e nem se quer me olharam. De todos que sempre me olhavam com raiva, e nunca me quiseram perto.
Nunca tive amor e carinho, mas nunca deixei de procurar.
Este senhor, acima de tudo, me ensinou que todos temos nosso céu particular, nosso pequeno paraíso secreto.
Acredite se quiser, mas você não precisa vir a falecer para alcançá-lo.
TENTE!
Feche seus olhos, imagine um lugar que te faz bem, coloque uma música que goste, e relaxe.
Vá conhecer você mesmo. Ser feliz.
Se tudo estiver dando errado, acredite, e não desista, saiba que uma hora você será capaz de fazer dar certo. Não dependa de nada, nem de ninguém pra ser feliz. Esqueça o dinheiro, esqueça os prazeres carnais. Ache alguém para dividir sua felicidade e ser feliz junto contigo, e não por você e nem de você por ela.
Agora venha cá, estou estendendo minha mão para você, agarre-a e venha conhecer seu paraíso particular.
- Patrick F. Marangon
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espaço. é comum passar por muitos espaços diferentes durante o dia, mesmo sem perceber. nos cômodos da casa, nas ruas do bairro, no trajeto do ônibus, na avenida, na passarela, nas escadas, nas salas de aula, nos corredores. e o que diferencia esses espaços? será que é a decoração? as cores? a importância que damos a eles? a importância que eles dão pra nós? de maneira lógica, um espaço vai ter sempre o mesmo tamanho, a mesma aparência e a mesma temperatura para qualquer um que o habite.
tirando os olhos do caderno, a minha vista alcança um mural de papéis, oito mesas redondas com cadeiras laranja, uma garota com o cabelo longo e loiro, jeans rasgada, sapato roxo. se levarmos em conta a visão do sapato roxo, veríamos pés de mesas, pisos cinza e o meu sapato amarelo. talvez até um pedaço da minha canela.
eu pego o mesmo ônibus no mesmo ponto todo dia. o mesmo motorista. em uma ocasião tive a chance de papear com ele, por isso sei o seu nome.
— bom dia, Ricardo!
— bom dia, menina!
não me importo dele ter esquecido o meu nome. a idade às vezes pode ser bem cruel com algumas partes de nós, e uma das que mais sofrem é a memória. todos os dias, ele conduz o trólebus por 50 minutos. ele tem um radinho. hoje tocou Tiê, eu cantei.
todos os dias eu tenho uma força dentro de mim que me implora pra descer no teatro.
"ei, fica quieta. você já faltou demais ano passado. lembra que prometeu que esse ano seria diferente? como você vai pra Paris matando aula?"
com essa indagação, a voz se cala. mas o sentimento não. eu me mantenho dentro do trólebus por mais alguns minutos até chegar na escola.
às vezes, descer no teatro é questão de saúde mesmo. é difícil escrever olhando pra uma parede verde.
o teatro é um lugar bonito. a ponte com grades brancas amarelas permite ter uma visão ampla da cidade. de um lado, é possível ver o prédio dos correios e o Américo Brasiliense. do outro, dá pra ver a prefeitura, o paço, a biblioteca e o teatro. eu sempre disse que ele parece um pudim.
no chão, flores vermelhas, amarelas, jardins quadrados, gramados verdes, e o melhor: a árvore de flores roxas. é quase uma paisagem autobiográfica.
sigo indo pra outros lugares, com a saudade do espaço, mas não de forma física, é muito mais que isso. meu corpo deve agradecer por estar distante dos cigarros apagados nas latas de Coca Cola de café, da chuva que caía no meu peito aberto, daquele caderno vermelho que só guardava rancor e desilusão, do rock baixinho, das lágrimas escorrendo pelo meu rosto e molhando o cigarro, do cheiro de baunilha. meu cabelo é muito mais bonito preto do que rosa-doce. eu sou muito mais bonita sem maquiagem do que com a boca e os olhos pintados de roxo.
aquela época foi a pior. eu estava destruída e cada vez mais esse sentimento corroia qualquer esperança que eu poderia ter, mas aqueles momentos particulares eram, de certa forma, afastados da realidade em que eu estava inserida. a realidade era cruel comigo, porque eu estava muito distante de tudo aquilo. eu era cruel comigo porque eu estava muito distante de tudo aquilo.
eu estava tão perdida que a única solução era me perder um pouco mais, e os momentos que eu estava ali eu me encontrava no meio do caos que eu mesma construí pra me perder um pouco mais. difícil, mas digamos que eu construí o meu próprio paraíso particular naquele espaço público.
aos poucos eu fui deixando aquele espaço cada vez mais com a minha cara.
"certo, eu entendo que ninguém realmente aprecia a minha essência, e eu estou bem com isso. só eu preciso me habitar, e eu posso deixar um pouquinho do que eu sou aqui."
não era como se eu fosse destruir patrimônio público. se você for lá, você não vai me ver ali. provavelmente não vai nem lembrar de mim quando terminar de ler esse texto. mas eu não preciso que você me veja ali, entende? isso não muda nada pra mim porque eu me vejo.
eu me vejo ali melhor do que em qualquer lugar. com um maço de san marino, uma lata de coca e meu caderno vermelho. com os meus meninos cantando e tocando.
"e eu não consigo saber nem o que eu sinto por mim, porque eu estou vindo de um setembro não tão amarelo.
e eu não posso te dizer onde eu estou agora, mas eu não vou esquecer que eu estou vindo das flores do teatro."
é ruim pensar que eu achei que aquilo fosse real. sorvete na praça, jantar na minha casa. "como é mesmo o nome do vocalista do Joy Division?". o seu vans preto não era tão velho, a sua camisa xadrez vermelha combinava com a minha azul.
voltei lá mais umas duas vezes depois disso, e uma delas foi uma situação exatamente igual ao que costumava ser.
você disse:
— você é carente demais, não me dá um minuto de sossego. você chora por tudo, não cansa de ser surtada?
aí eu chorei de novo, depois de ouvir isso. e você não ligou, revirou os olhos e saiu como se nada tivesse acontecido. eu peguei o primeiro ônibus que passou e desci no paço de Santo André. passei correndo pela fonte, pelo "negócio vermelho" e cheguei onde eu combinei de encontrar com ele. meu guitarrista, lembra ne? deitei na grama ao lado dele e acendi o primeiro cigarro. abri a primeira lata de Coca.
— por que ele tem que ser assim?
ele suspirava, passava a mão na testa, e ainda que relutante contra os próprios pensamentos, dizia:
— ele só tá nervoso. dá outra chance. conversa com ele.
e era isso que eu fazia toda vez que isso acontecia. era só um dia ruim, ne?
aos poucos, os dias começaram a se tornar semanas ruins, e depois meses ruins. aí, eu cheguei a conclusão de que era uma fase ruim. um ano ruim quem sabe. você só tava nervoso, eu dava outra chance, conversava com você.
até que chegou uma hora que você não queria mais falar nada comigo.
— ei, vamos conversar? por favor, eu não estou me sentindo muito bem.
— cala a boca Renata, você é chata. eu só quero dormir.
e estava tudo bem, você só estava com sono, né?
com o tempo, você foi dormindo ainda menos de noite porque estava ocupado demais jogando LoL, e tá tudo bem, eu não tenho nada a ver com isso. de sexta a tarde, era assim também:
— oi, tudo bem? eu queria falar contigo...
— tô indo pra casa jogar, não dá.
e estava tudo bem, você só queria se divertir jogando, ne?
isso durou mais um tempo, mais alguns cigarros, mais algumas lágrimas e até mais alguns chifres. o sentimento que eu sempre digo que é o único possível, o amor, tinha morrido. tinha sido assassinado. fazia alguns meses que a única coisa que tinha sobrado era medo e insegurança.
— ei, eu vou tocar cello hoje. você vai me ver, ne?
— não gosto desse tipo de coisa, você sabe. é tão chato. não quero te ver.
e estava tudo bem, ele só estava nervoso, né?
não mais.
não estava tudo bem. eu estava nervosa.
— tá bom, eu também não quero te ver. nunca mais.
— ok.
eu fiz uma apresentação incrível, mas fiquei o tempo todo olhando pro teatro esperando você chegar. você não chegou. você nunca mais chegou em lugar nenhum, quer dizer, você chegou mais duas vezes. no dia seguinte, quando me entregou uma sacola com as roupas que eu tinha deixado na sua casa, e ontem.
— LOUCA, SURTADA.
— é comigo que você tá falando?
— não ouviu direito?
— não, repete pra eu ter certeza.
de verdade, o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi.
"tá tudo bem, ele só tá nervoso, né?"
mas não tava tudo bem. nunca esteve tudo bem. e nada nunca vai estar tudo bem, porque eu não sou qualquer coisa pra você me tratar desse jeito. eu não merecia nenhuma das suas palavras, eu ainda não mereço, e nunca vou merecer. ninguém merece.
eu não ligo mais pro jeito que você me chama tentando ofender o meu cabelo. por favor, se olha no espelho.
eu juro que achei que eu fosse sumir de tanto chorar. mas eu não sumi. e nem vou.
ta tudo bem, eu só tô nervosa.
eu me permito um descanso.
e me permito ficar bem longe de você.
apago o cigarro.
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Bom dia,
Não sei como pude me colocar num lugar tão minúsculo, como pode alguém não ter o mínimo carinho por si? Só sinto vontade de estar só, e aos poucos ir me aniquilando de vez. O gosto amargo em minha boca é de tanto chorar tentando me entender, entender o que será possível fazer-se pra que eu me sinta minimamente melhor. O tempo dos estados altera minhas coisas quebradas, eu me levando, me visto, me vejo num espelho qualquer com a carcaça divina de quem se engana e saio na rua por aí fingindo que sou gente. Fingindo que sorrio bonito, fingindo que tenho bom ânimo, enganando a mim mesma com o meu pobre coração. Eu não consigo parar de acionar as minhas bombas e me detono sempre. A pessoa que vos fala não tem o mínimo amor por si, não tem noção do que é querer o seu melhor pra se sentir bem mesmo. Eu gosto de mim de um jeito estranho. Não canso de me jogar fora e não reciclo meus entulhos deixados em lixeiras.
Bom dia,
Eu me sinto tão fraca. Eu me sinto tão rala. Eu me sinto sem partículas e células, eu me sinto um vão, oco, sem eco, buscando fúria pra esconde-se do nada. Peito que arde. Alma que dói. Crítica que cega. Cobrança que não acalenta. Sensibilidade exacerbada fora de hora. Não mais me vejo. Não mais me faço de espelho para não terminar triste, puramente desiludida com a pequena esperança de ser-se melhor. É intuitivo, minha consciência avança em ponto de bala tentando tirar dos moldes formas que possivelmente valerão de algo, eu não me sinto mais como quem vale a pena.
Bom dia,
Eu me perdi. Eu deixei por aí a fora metade da minha beleza, a que sobrou é falsa. Eu deixei qualquer mato ou grama sugar meu bilho, minha diferença, minha luz, meu carisma, meu ato de bondade que me coloca degraus diferentes a frente para serem desbravados, fico tão brava que as lágrimas saltam aos olhos e a única alienação que temos é gerada na concordância de tantos fatos tristes desse meu agora, que não se contenta em mais nada, e não mais se surpreende, e vive dias sem poesia, e faz poema dos desentendimentos próprios como se louvores a predição servissem de algo...
Bom dia,
Espero um belo dia poder melhorar. Espero um belo dia anular meu horizonte. Espero ver pra crer lá na frente que são fazes.
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