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#Mar do Cariba
ovnihoje · 2 years
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Misterioso som no Mar do Caribe pode ser escutado do espaço
Misterioso som no Mar do Caribe pode ser escutado do espaço
No Mar do Caribe é gerado um som similar a um “apito” agudo e tão intenso que chega às “estrelas”. Isso é ouvido no espaço sem ser gerado lá. Como é possível? Mapa do Mar do Caribe. (Wikimedia Commons) O que é esse som e por que é tão alto? Para responder a essas perguntas, você deve aprender mais sobre o misterioso som vindo do Mar do Caribe. O que é o som misterioso vindo do Mar do…
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tob-rpg-contos · 4 years
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O chamado do Mar - Parte 1
O canto de uma sereia poderia contar todos os segredos do mar, principalmente se ela conhecesse cada um deles. Assim era Anfitrite, que foi vendida, por Zeus e Nereu, a Poseidon para acalmar sua fúria desenfreada. Como nereida, ela conhecia seu lar; mas como rainha, ela era dona do mar. Ainda assim, era solitária. Não pela falta de seus belos animais ou dos súditos que viviam em Atlantis, mas pela falta do marido que só vivia seus casos de amor em terra firme, deixando-a para trás, sozinha. 
Era assim que se envolvia em suas histórias, era assim que conhecia os mistérios das águas, foi assim que amou um pirata. Temido por seus inimigos, admirado por seus amigos, respeitado por sua tripulação. Edward Shell, filho de Poseidon, Príncipe dos Mares, Desbravador de Terras Desconhecidas, Caçador de Relíquias, O Domador das Criaturas Aquáticas. Foram muitas as suas aventuras para os poucos anos que tinha de vida; trinta e oito anos não eram nada para um deus, porém era muito para um semideus. Como ele tinha sobrevivido por tanto tempo?
Krakens e, até então, intempéries marítimas não foram o suficiente para que impedisse o Capitão do Jackdaw de naufragar ou morrer. Alguns diriam que seria impossível naufragar o seu navio, nem mesmo um deus poderia fazê-lo! Será? O que o protegia tanto no oceano? Para bom entendedor, meia palavra bastaria; mas para quem não ficou claro, era Anfitrite, a Rainha dos mares. Mesmo com seu poder limitado, ela conseguia manter as águas calmas o suficiente para que Shell não se machucasse de verdade. 
Era fato que a relação dos dois, que se encontravam quando Poseidon saia, ficaria ainda mais complicada. Ainda poderia ser uma história com um final feliz, mas… o destino deixaria que fosse? Inegável o fato de que de um amor tão ardente, tão verdadeiro, tão intenso, trouxesse um presente ao mundo. A primeira filha da deusa fora do casamento e a primogênita de Edward, que nasceu no Caribe, longe do Rei, batizada de Cariba. 
Ah, as desventuras que isso acarretou. Anfitrite não podia mais proteger sua filha e precisava passar todo o tempo cuidando para que seu marido não a matasse enquanto vivesse com o pai. Foram anos infernais em que era só virar a cabeça para o lado que… BUM, o casco do navio era atingido por ondas poderosas, que ameaçavam virá-lo para que nenhum membro da tripulação saísse vivo. Claro, o Capitão sabia o que esperar, mas nem por isso era fácil. 
Sofrendo por seu amor que não poderia mais ser vivido, esporadicamente conseguiam fugir para terra firme, em uma praia deserta próxima ao Jackdaw, ao mesmo tempo em que a belíssima Cariba dormia tranquilamente; tempos esses em que o deus dos mares estava ocupando em suas relações carnais e mortais. 
— Ela está bem? — a divindade perguntava calmamente, a voz incrivelmente bela, assim como o corpo que reluzia pelo suor e grãos de areia grudados à pele, enquanto deitada nos braços fortes de Edward, banhados com a luz da lua cheia. — Tenho feito tudo que posso para deixá-lo longe dela, mas está cada vez pior. — estava triste. Queria observar a filha mais do que algumas vezes ao ano, queria estar com Edward enquanto estivessem em alto mar. Não tinha deixado de amar Poseidon, mas seu coração estava dividido em várias partes e o dono dessas várias partes estava bem a sua frente. 
— Ela está bem, sirena. Eu juro. Consigo reconhecer os sinais do mar a tempo de levá-la para terra. Somos atingidos vez ou outra, mas estamos inteiros. — trouxe a mão da deusa até os lábios, beijando seus dedos que tinham leves marcas das escamas que pertenciam a boa parte de seu corpo. — Fico preocupado com você e com o que ele pode fazer se souber que continua vindo. 
— Ele não é capaz de me machucar. — tinha uma certeza absoluta ao dizer isso, eles não eram animais como outros deuses poderiam ser, mas sabia que o marido era extremamente volátil. —  Consegue prometer algo? Por favor, mande-a para o Acampamento. Não precisa ser amanhã, mas um dia não seremos mais capazes de protegê-la. 
O semideus não conseguia dizer não para a mulher. Balançou a cabeça em concordância, admirando sua beleza e gentileza, antes de tomá-la mais uma vez nos braços, puxando-a para cima de si e fazer amor repetidamente; eles tinham muito, muito tempo até Poseidon retornar. E, novamente, uma criança resultaria do prazer de ambos, do desejo ardente que tinham um pelo outro. Dessa vez, um menino, que nunca conheceu sua família. Até agora.
31 de junho de 2011
Eram muitos os mortais que queriam que seus desejos fossem atendidos pelas divindades que regiam o mar, por isso, sempre pulavam as sete ondas, enviavam oferendas em segredo e pediam. Pediam a quem estivesse ouvindo. Esse desejo poderia também ser refletido na curiosidade de quem quer entender o passado, de quem precisa acreditar em alguma coisa para que não se culpasse veementemente sobre o que o machucava ou para ter fé. 
Atlas James, um arqueólogo e antropólogo famoso nas terras americanas, era o segundo tipo de pessoa. Curioso para entender sobre o passado, para entender a formação do universo que conhecemos, para entender a formação da sociedade de forma mais completa, complexa. Era um viciado em antiguidades, mas o que mais fascinava o homem era a possibilidade de uma cidade inteira simplesmente desaparecer da noite para o dia e causar uma falha nas rochas terrestres. 
Nascido e criado em Baltimore, Maryland, sua vida era repleta de folclores, incluindo a Bruxa de Blair, o que o fez crescer sedento para descobrir a verdade por trás dos mitos. Foi assim que caiu em baits, e outras pegadinhas que o deixaram frustrado. Nada daquilo era real? Nada poderia ser real? Alucinado por respostas, estudou História, especializando-se em mitos e lendas, especializando-se em seguir um caminho que imploraria para descobrir mais do que qualquer outro já tenha feito antes. Estudos e mais estudos, viagens marítimas que sempre resultavam em nada. Atlantis, ou Atlântida, poderia facilmente ser uma invenção de Platão, que combinou histórias para criar uma sociedade avançada perdida, mas algo dentro do mortal dizia que não, era real. Ele sentia que era, assim como sentia que o oceano tinha muito mais mistérios a esconder do que todas naquela terra imaginavam. [...]
Era uma noite calma e estava na décima quinta expedição custeada por outro homem tão maluco quanto ele. Um navio enorme de carga para submarinos, máquinas que aguentavam a pressão da água, helicópteros… Tudo isso para algo que nem podia ser real. Mas as evidências que tinha encontrado eram o suficiente para mantê-lo ali. Pedaços de rocha que tinham o mesmo material daqueles encontrados nos templos em Atenas, a grande concentração de criaturas marinhas, a temperatura da água era maior em algumas horas do dia, mas podia ser facilmente explicado por correntes marítimas, exceto pelo fato de que ia contra todos os estudos já feitos. 
Existia algo. Atlas James sentia.
Anfitrite observava a embarcação com curiosidade. Eles ainda não tinham desistido?  Anos e anos de busca por Atlantis, nunca conseguiriam encontrar se ela não quisesse; proteger aquele lugar era seu dever como Rainha e não deixaria que Poseidon destruísse aqueles homens que não ameaçavam seu lar, estavam apenas curiosos. Há anos observava suas expedições, seus mergulhos, mas mantinha-se fora do radar e provava que era fácil se esconder como queria. Mas não era de hoje que via aquele homem debruçado sobre o guarda-corpo ao redor do navio, olhando para o céu, para o mar, em busca de alguma coisa. 
Ela sabia que dia era e sabia que ele estava pedindo. Ouvia o sussurro da água… “Por favor, por favor, mostre que não sou louco, preciso que o oceano me mostre que é real.” A Rainha dos Mares ouviu; por todos esses anos, por tanto tempo, sentia em seu coração que chegou a hora de acalmar o coração torturado daquele homem. [...]
Perto da meia noite, Atlas desceu do navio e foi em direção à cidade mais próxima. Ali, conheceu uma mulher incrivelmente linda, que gostava das mesmas coisas que ele e tinha histórias impressionantes para contar sobre as civilizações do passado. Era mesmo uma noite incrível, mas que estava para chegar ao fim em breve. O relógio batia 23h55 e eles estavam sobre o píer para que pudessem ver os fogos de artifício que logo seriam queimados pelo aniversário da cidade. 
A voz da mulher conseguia encantá-lo com facilidade, fazê-lo desviar de seu verdadeiro propósito que, naquele momento, era levá-la para a cama. — Eu tenho te observado, Atlas… você é um homem teimoso e muito perspicaz. — ela dizia, envolvendo o xale contra os ombros, protegendo seus ombros tatuados e nus. A deusa o observava com atenção, buscando suas palavras. — Ouvi sua súplica, meu querido. 
E tocou seu rosto com carinho, suave como a espuma do mar. — Meu nome é Anfitrite e vou te conceder duas graças, desde que abandone essa expedição em específico. — o mortal não hesitou em concordar. Anfitrite… a Rainha dos Mares. Ele a conhecia dos mitos… era real? Não suportaria que estivessem brincando com ele mais uma vez. — A primeira é saber que tudo o que você procurava é verdade. Atlantis está muito bem guardada no fundo do oceano, então pare de procurar. Não posso levá-lo… ainda.
A condição. A maldita condição. O homem tremeu em expectativa, engolindo em seco. Era óbvio que gostaria de ver aquela cidade um dia e faria tudo o que ela pedisse… literalmente, qualquer coisa. — A segunda é que poderá conversar ou me chamar sempre que precisar. É bom ter uma Rainha por perto e posso te contar mais coisas do que imagina, mais do que sua mente mortal seria capaz de absorver de uma vez. Um dia, precisarei que faça algo por mim. 
— Eu faço. O que você quiser. Mostra pra mim que é real. — ele segurou as mãos da nereida que o apertou com cuidado, o sorriso que surgia no rosto era tranquilo. A mulher estava em paz em saber que poderia aparecer em breve e as coisas ficariam bem. Mas a atenção fora desviada para as luzes que queimavam no alto e Atlas, sem perceber, foi solto pela divindade. — Lindo, né? Eu amo isso… precisa ver durante a virada do ano. Minha irmã é apaixonada pelas luzes. — ficou em silêncio por dez segundos. 
— Mas então, o que você precisa que… — e quando virou-se para olhar na direção dela, tinha sumido. O barulho do mar e das pessoas não deixou que ouvisse, mas ouviu outra coisa. O canto da sereia… e quando olhou para além das ondas, a deusa acenava para ele antes de mergulhar e a única coisa que restava, era sua memória. 
31 de dezembro de 2012
Estar na praia era sempre uma respiração mais leve para Atlas James. Lembrava de sua infância, quando ia até as docas de uma cidade litorânea, a mais próxima de Baltimore; o cheiro da maresia, as gaivotas que cantavam alto e o barulho do mar acalmavam a ansiedade crescente no coração do mortal, que esperava pacientemente. Naquela hora, era impossível de discernir onde o mar começava e o céu terminava. A imensidão era algo que sempre o assustou mas também encantou.
Da borda da praia, vinha uma mulher, com os cabelos esvoaçantes e que não tocava a água, vestida com um tecido leve e transparente que claramente foi pego às pressas das ondas do mar. O homem franziu as sobrancelhas, não tinha ideia do que estava acontecendo até que Anfitrite parou à sua frente, tão veloz e tão perturbada. 
— O que aconteceu? — perguntou. 
— Não há tempo. Poseidon irá mandar um tsunami se eu não voltar. Atlas… por favor. Você é o único em quem confio. — e mostrou o pequeno pacotinho com um bebê de pele bronzeada, com os cabelos louros. Tinha acabado de nascer? Não, mas fazia pouco tempo, era explícito. — Esse é meu filho. Trevor, porque nasceu sob trovões. Por favor, eu… 
O mortal sabia que ela iria jogar a carta do "você me deve". Rapidamente ergueu a mão, poupando-a de ter que falar daquela maneira; a deusa merecia mais do que aquilo, merecia o mundo todo só para ela e sua gentileza. — Não se preocupe, Anfi. Ele está a salvo. 
E pegou o bebê no colo, que se remexeu, desconfortável. Já sentia falta da mãe. O coração da deusa doeu e os olhos se encheram de lágrimas. — Dentro do manto há uma carta. Para você e para ele. A dele, quando estiver com doze anos deverá ser entregue. Entendeu? 
O clima pareceu mudar e as águas batiam nos pés daqueles que ficavam na praia. Era quase virada do ano e as pessoas começavam a se aglomerar mais a frente… seria assassinato em série se o Rei dos Mares surtasse de uma vez. — Ele está a salvo. — segurou o rosto da mulher com calma e cuidado. Deu um  beijo sobre seus lábios. — Anfitrite, vá. 
Incrivelmente relutante, a deusa olhou seu bebê e os olhos estavam tão tristes que ela seria capaz de botar tudo a perder só para mantê-lo. Mas a lei divina era clara. Respirou fundo, dando um beijo sobre a testa da criança e se meteu ao mar revolto. Os fogos de artifício queimaram nos céus, iluminando a linda face do semideus e as pessoas gritaram em alegria. Trevor se mexeu, ainda desconfortável e começou a chorar. Foi aí que a ficha caiu para Atlas. O que faria agora? 
[...] Onze anos depois.
— Trevor James, você está pronto? — ouviu a tia Claire gritar lá de fora, no andar inferior da casa em que morava. Estava terminando de passar a parafina em mais uma prancha, algo que tinha aprendido com os garotos que moravam por ali; o jovem garoto tinha um dom e tanto para com a água, mesmo que não pudesse testá-las ele próprio. Virar algo com escamas e uma cauda não estava nos planos de nenhum pré-adolescente. 
— TREVOR JAMES! — a mulher berrou, com a voz mais próxima, deixando claro que estava descendo as escadas da casa em direção à garagem. O garoto rapidamente largou as coisas e subiu correndo o lance de escadas que dava direto na porta da cozinha. 
— Cheguei! — disse o garoto ao dar seus pulos em direção a tia, nervoso com o que iam fazer: se despedir de seu pai, o maior aventureiro que ele conhecia e seu herói. O homem observava os dois da entrada da casa e Trevor rapidamente correu em sua direção, abraçando-o com seus bracinhos magros de criança. — É pedir muito pra você não ir? — sussurra contra o pai.
— Eu preciso. São só uns meses na Índia e depois eu volto pra você me ensinar aquele movimento na prancha. Pode ser? — Atlas disse em sua voz paternal. Amava aquele garoto, era seu filho com todas as forças, com a alma que o reconhecia como seu. Podia chorar e nem os céus seriam capazes de tirar seu garoto dali. Trev tinha crescido como o melhor que poderia e Anfitrite estava feliz, ele estava a salvo. 
O mais velho soltou o garoto e sorriu, com os óculos franzindo o nariz gordinho e abraçou sua irmã, Claire James, com força, sussurrando algo em seu ouvido que o garoto não conseguiu identificar o que era, mas ficou por dias a fio perguntando o que era, curioso. Atlas entrou no carro, acenou em direção a seu filho e aquela foi a última vez o arqueólogo viu a luz do dia. 
20 de junho de 2024
“Acam… Aca… A… Acampa… Acampamento Meio… San… Sangue”, foi o que leu assim que parou na frente do portal feito de pedras. Tia Claire não viu nada, não tinha ideia do que existia por trás daquele monte de árvores, mas sorriu para ele e deu um beijo sobre sua testa, estava orgulhosa do avanço que fazia a cada dia que passava; leitura nunca foi seu forte, mas era um garoto extremamente inteligente, conseguia ouvir e decifrar códigos com facilidade, tamanha era a influência de Atlas em sua vida. 
Porém, agora era hora de ir embora e o jovem semideus arrumou a mochilinha nas costas, enquanto o olhar pairava sobre as letras gregas que ainda assim mudavam de lugar constantemente. A atenção foi para a tia, estava com medo. Achava que era apenas um acampamento de férias, veja só. Sentia falta do pai e acreditava veementemente que daria tudo errado quando descobrissem que ele tinha cauda de peixe. — E se não gostarem de mim?
— É claro que vão gostar de você! Mas se isso acontecer… liga pra mim e eu venho correndo te buscar. — disse a jovem mulher de cabelos negros como a noite. Um sorriso pintava seus lábios gentis marcados em roxo escuro e deu mais um beijo na testa do garoto, incentivando-o a aderir sua nova vida. 
Trevor, com seus quase doze anos, tomou uma respiração profunda e deu um passo adiante, ultrapassando a barreira que dividia o mundo semi-mortal do mortal. Claire, que já não o via mais, deu um passo atrás, tentando descobrir onde ele tinha ido parar, mas sabia que não podia fazer perguntas demais. — Eu te amo, querido! 
Disse alto e esperou por bons minutos antes de se virar e ir embora. Aquela também seria a última vez que o garoto veria sua tia, mas seria a primeira vez que viveria de verdade. Trevor James tinha chegado e era hora de botar pra quebrar. 
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tob-rpg-contos · 4 years
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EVERY LOSS, EVERY PAIN MUST BE FELT — PARTE III
Quando a porta se fechou, Lucy soltou o ar que segurava em temor pela vida do garoto voltando a se aproximar de Cadmo com cuidado. Novamente o tocou no peito tentando sentir se a cura fora atrapalhada, mas pôde ver que Cadmo seguia bem e com isso sorriu.
— Você é muito corajoso ou muito louco de encarar esse homem. — comentou ainda passando as mãos por cima do corpo dele, mas sem o tocar dessa vez. — Você realmente tem a filha dele? E espero que tenha um plano para te tirar daqui. — ela sussurrou com medo de que alguém a escutasse. Não queria irritar ninguém por ajudar o garoto, mas ela simplesmente não conseguia negar auxílio para ninguém. Lúcia curava e ajudava sem olhar a quem.
Estava nervosa com a possibilidade de Cariba estar ameaçada. Quantas noites não passeou pelo convés principal sozinha com o capitão ouvindo as histórias com que ele, com brilho nos olhos e saudade na voz, contava sobre a própria filha? Inúmeras. Edward Shell não era um completo monstro.
Os gritos do motim diminuíam drasticamente conforme o capitão do Kenway mantinha sua autoridade entre os demais, os sons de armas colidindo já não eram mais ouvidos e tanto Cadmo, quanto Lucy podiam ouvir resmungos do outro lado da porta indicando que eram vigiados continuamente.
— Sim, eu a tenho. Mas não da forma exata que eu disse ao Edward. — disse Cadmo. Não sabia se dizer a verdade para Lucy serviria de algo. Precisava que ela ficasse o mais segura possível. Cadmo levou a mão até as mãos da menina, de forma fraternal, tentando acalmá-la. — E eu tenho um plano para nos tirar daqui, sim. Não vou lhe deixar aqui. — dizia em voz baixa, ouvindo os resmungos também. — Mas eu preciso saber de você. Acha que estou bem? Meu plano envolve lutar. E eu vou fazer isso nem que me eu seja jogado no alto mar mais uma vez. Se puder me ajudar com isso, será meio caminho andado.
A garota assentiu e se levantou devagar fazendo sinal para que ele continuasse sentado onde estava. Se afastou para o canto escuro e de lá puxou algumas redes de pesca antigas as deixando no chão de madeira. Retirou a liga metálica que dava sustentação às boias da rede e torceu entre os dedos formando uma espécie de “chave”, algo que possibilitaria de abrir a porta velha do porão. Com a liga da outra rede, que estava mais enferrujada, trançou com cuidado em volta da madeira arrancada do piso, a parte oca em que Edward havia batido com o tridente. Dessa forma, tinha uma arma improvisada onde, segurando no cabo de madeira, poderia espetar alguém com o metal enferrujado.
— Você ainda está fraco, precisa de mais descanso. — disse a verdade para Cadmo o olhando com pesar. — Mas eu tenho guardado água e um pouco de comida enlatada. — deixou a arma e a chave improvisada perto dele e se afastou para pegar os itens sem demora entregando ao semideus.
Enquanto Cadmo comia e se hidratava, por trás dele Lucy novamente usava seus poderes de cura. Era perigoso para a semideusa tão jovem, mas teria que arriscar ficar inválida para que o garoto pudesse lutar novamente. Sentiu-se esgotada logo nas primeiras duas falhas tentativas, tendo sucesso apenas na terceira. Cadmo se sentiu forte e realmente estava forte o suficiente para uma curta batalha, o aceitável para que escapasse com vida, mas Lucy? Pobre Lucy, talvez não conseguisse nem usar sua arma improvisada.
Cadmo viu com certa admiração Lucy manuseando a chave a arma improvisada. Enquanto ela se esforçava para curá-lo, Cadmo tentou melhorar a arma feita por ela com seus poderes, mas aquilo o esgotou tanto que atrapalhou completamente a cura que Lúcia tanto se esforçava para manter. Comeu e bebeu da água, e olhou para Lucy meio apavorado. 
— Você é filha de Apolo. Flechas são sua especialidade. Eu vou conseguir arrumar um arco e uma aljava para você, mas não se esforce além de seus limites, ok? — tentou dar um sorriso pra ela, reconfortante. — Se tivermos sucesso, ouça minhas palavras. Nós vamos voar na carruagem do Sol, entendeu? 
E então se levantou, estendendo a mão pra ela. Hora do combate.
Mas a tentativa de Cadmo em melhorar a arma improvisada de Lucy realmente resultou em complicações no processo de cura em que a garota, usando tudo de si, não conseguiu reverter. Cadmo sentiu dores extremas em sua pélvis e nas pernas que aumentavam gradativamente a cada esforço físico do rapaz. E parecia que a sorte não estava mais a favor de Cadmo, Lucy estava incapacitada.
— Acho que já me esforcei além dos meus limites. — ela sorriu forçado, fraca e extremamente pálida. Tossiu rouca e sangue tomou seus lábios rachados e igualmente pálidos. — Desculpa por falhar com você. — fechou os olhos cansada e se escorou na parede do navio sorrindo fraco. — Talvez eu vá para os Campos Elísios. Quando estiver voando na carruagem do Sol, diga ao meu pai que... — mas a frase nunca foi finalizada. A pequena Lucy de apenas onze anos havia apagado no chão gelado e podre do porão. O esforço extremo em curar Cadmo, os maus tratos, a pouca comida e água foram o suficiente para esgotar a menina de tal forma que sua vida lhe foi tirada. A filha de Apolo já não respirava mais.
Enquanto a semideusa desfalecia, passos pesados de botinas conhecidas caminhavam no andar a cima do porão, as vozes do lado de fora da porta estavam mais altas e o motim já havia sido controlado. Cadmo precisaria agir rápido se quisesse sair dali, ainda mais que Cariba se encontrava escalando a lateral do navio, já com suas pernas secas, em direção ao convés. Cariba poderia ser sua salvação ou sua ruína.
Cadmo tentou ignorar a dor. Ela consumiu os nervos do garoto de forma que em situações normais, ele teria gritado; mas não agora. Agora, o filho de Hefesto via Lucy desfalecer e chorava. Via a garota cair, apagando como uma pequena estrela morta e sentia sua dor. 
Havia alguém na vida de Cadmo que havia morrido daquela maneira. E agora, por sua culpa, outra vida estava sendo tirada. Um grito surdo partiu de sua garganta enquanto ele ia até a garota desfalecida e tomava seu corpo nos braços, puxando-a para si, como se o próprio calor pudesse dar vida à ela. 
— Apolo, meu Apolo — disse Cadmo respirando fundo, tentando se controlar. Começou a cantar o hino a Apolo Delfos, de forma melódica e entristecida, diferente da forma como havia cantado para o deus da música tantas vezes. Talvez assim pudesse chamar sua atenção. — Me ajude, meu Apolo. Me ajude, não deixe que sua filha perca-se aqui, sem conhecer o horizonte ou a força de sua luz. Me ajude a trazer justiça. Não deixe que sua filha desfaleça agora, por mim. Por nós dois. E terá de mim tudo que quiser. 
Mantinha os olhos fechados, mas os pensamentos focados em Apolo. Que seu deus o ajudasse ou Cadmo não sabia se conseguiria aguentar o peso de mais uma morte naquela situação.
— Eu já tenho de você o suficiente, não precisa me oferecer nada mais. — a voz do deus era clara nos ouvidos de Cadmo como se ele estivesse ali ao seu lado. O corpo do semideus formigou enquanto as feridas e machucados externos e internos estavam sendo curados pelo toque divino, era uma resposta a prece. — Pobre Lucy. — O corpo da semideusa foi tomado por uma aura dourada e foi erguido no ar. Flutuava lentamente subindo cada vez mais aos céus. — Deu a vida por alguém que não conhecia, sem se importar muito com a situação ou a dificuldade do momento. — a voz continuava apenas nos ouvidos do filho de Hefesto. Havia lamento em cada palavra. Pesar. — Nada mais posso fazer, ela cumpriu seu destino no mundo mortal. Mas como recompensa por ter se sacrificado pelo homem que eu amo... 
O corpo sem vida da mortal brilhou de uma maneira tão poderosa que a aura que partiu do corpo dela, por todas as direções, seria como uma tormenta de flechas do próprio poder do deus. Aquilo daria fim a vida de qualquer mortal por perto. Exceto o Cadmo e a jovem filha de Anfitrite. Aquilo tudo era, no fundo, a vingança do deus. 
Quando a luz de Lucy dissipou havia apenas o Cadmo. A semideusa não estava mais lá. Mas no céu, bem próximo a lua, colada a carruagem de Ártemis, uma nova estrela brilharia, radiante, quase tão brilhante quanto o próprio astro noturno. Apolo havia se retirado.
E a morte veio para todos no Kenway sob a fúria do deus do Sol. Os únicos vivos eram Cadmo e, curiosamente Cariba. A filha de Anfitrite havia conseguindo escalar a lateral estibordo do navio e, ao chegar ao convés, tivera um bonito e saudoso reencontro com seu pai. Edward Shell, capitão do Kenway, nunca antes havia estado tão feliz e aliviado ao ter em seus braços sã em salva a única filha conhecida que tivera com seu grande amor, a Rainha dos Mares. E foi nos braços da filha que o capitão deu seu último suspiro de vida junto de toda a tripulação.
Sem Lucy, Cadmo se viu sozinho no porão onde apenas um choro desesperado, angustiante e sofredor vinha ecoando do convés principal. A ira de Apolo, graças a prece de Cadmo, havia tirado a vida de dezenas de semideuses e mortais, havia tirado a vida de um pai frente a sua filha.
Mas o garoto estava livre para voltar para casa. Não havia sido escravizado, vingou-se dos piratas que tanto o atormentaram no passado e foi um verdadeiro desastre com a real missão de juntar a amiga semideusa ao seu pai perdido.
Cadmo olhou tudo em choque. Ouviu a voz de Apolo e suas lágrimas cessaram. Sentia o coração pesar ainda pela morte da garota, que por mais que tivesse cumprido seu dever neste mundo, não teria a vivência carnal de tudo que esse lugar tinha a oferecer de bom, mas foi poupada, porém, de tudo que havia de ruim. 
Cadmo havia sido curado. E ouvia os lamentos de Cariba, ainda que não soubesse que a ela pertenciam. O peito dele ardia em fúria. Não sabia que todos ali haviam morrido. Ele ergueu-se e correu contra a porta, arrombando ela com um único golpe, ao passo que invocava as próprias armas de reclamação, que vinham do fundo do mar. O escudo, o martelo e as luvas de Cadmo, que logo envolveram as mãos dele. E indo ao convés, ele viu todos os corpos caídos, e sorriu. Apolo havia ajudado ele. 
Mas também viu Cariba chorando agarrada com o corpo falecido de seu pai. Cadmo bateu o martelo com força contra o escudo, fazendo um som forte o suficiente para chamar a atenção dela.
— Ele foi o capitão do navio que me escravizou — disse Cadmo, se aproximando dela em passos lentas. — Jure pelo Estige que não teve nada a ver com isso, e que isso aqui não foi uma armadilha, ou você terá o mesmo destino que seu pai, Cariba. — Cadmo não estava brincando. Estava prestes a jogar aquele martelo contra a cabeça da menina com força se fosse necessário.
Mas pobre Cariba. Não havia entendido nada do que acabara de acontecer. Assistiu sua família, seu pai e a tripulação que a cuidou e viu crescer, desfalecendo um a um. Sofria. O choro era incontrolável, havia perdido tudo e o pai que tanto sonhara em reencontrar estava morto em seus braços.
Abraçava e acariciava o rosto do homem que lhe deu tudo encharcando seu rosto de lágrimas salgadas, o que a fez desenvolver a cauda novamente no mínimo toque contra o líquido. Estava perdida.
Sua atenção foi levada a Cadmo após ouvir o barulho do martelo contra o escudo e uma confusão ainda maior estampou em sua face. O que ele fazia ali? Do que falava? Balançou a cabeça em negativa várias e várias vezes sem notar o tom de ameaça em sua voz.
— Não. Ele... ele é meu pai — dizia engasgando nas próprias lágrimas afogada em sofrimento. — Ele quem viemos encontrar... ele... está morto. — beijou a face sem vida do pai balançando o corpo abraçada a ele antes de voltar a olhar Cadmo — Como chegou aqui? — perguntou notando as armas nas mãos do garoto — Não, não importa. Eu... eu preciso fazer alguma coisa. Me ajude Cadmo, por favor. Ajude meu pai, eu imploro. Peça interferência de Apolo por mim, eu faço o que quiser só ajuda ele.
— Seu pai me escravizou, Cariba. Ele não era o bom homem que você pensa. — olhou o corpo de Edward, e quis rir em ver ele naquela situação. — Eu, eu não o matei. Mas gostaria de ter sido eu. — olhou nos olhos dela. — Seu pai era podre o suficiente para receber a fúria divina. E eu vou confiar nessa mesma fúria para acreditar que você estar viva aqui é uma demonstração de que não tem nada a ver com isso. 
O martelo diminuiu de tamanho até tornar-se apenas um isqueiro. O guardou no bolso, mantendo apenas as luvas e o escudo. 
— Eu estava preso no porão lá em baixo. Uma garota morreu para me salvar. Para que eu pudesse dar fim à tudo isso. — apontou o navio ao redor com um sorriso sádico e vingativo nos lábios. — E o fim chegou. 
Cadmo invocou fogo e no corpo do pai de Cariba, chamas se acenderam em seu peito. Chamas essa que não se alastrariam, se mantendo apenas no corpo do filho morto de Poseidon nos braços de sua filha. E como se não fosse nada, seguiu até o ponto de comando. Iria para casa.
A garota se recusou a acreditar no que ouvia da boca de Cadmo. Não. Aquele homem descrito pelo semideus não era seu pai. Edward Shell era o homem que havia ensinado ela a pescar, a controlar a água e a mudar seu estado físico, foi quem a ensinou a cuidar da vida marinha e a ter um bom coração. Tudo o que ela era devia aquele homem.
Mas ao abrir a boca para contestar o garoto, viu o peito do próprio pai pegar fogo. Assustada, moveu a destra em um movimento rápido e desesperado em controlar um pouco de água em volta para que pudesse apagar o fogo, mas a água não bastou. Se afastou do corpo do pai e usou seus próprios poderes para evaporar a água do corpo e, dessa forma, voltar a ter pernas normais. Desestruturada, fez novas tentativas em apagar o fogo que consumia o corpo sem vida de seu pai, mas todas falhas, o corpo de seu pai carbonizava no convés.
— O QUE VOCÊ FEZ, FILHO DA PUTA? — aquele era um lado de Cariba que poucos haviam visto. Ela estava furiosa. — POR QUE MATOU MEU PAI, CADMO? — bateu os pés no chão extremamente furiosa três vezes, mas nada aconteceu além de rachaduras no chão do convés — EU TE ODEIO!! — e na quarta vez que os pés foram batidos no chão, uma grande quantidade de água surgiu de ambos os lados do navio diretamente na direção de Cadmo o impulsionando para alto mar.
Ver que o corpo de Edward havia se rendido às chamas, não tendo essas apagadas, trouxe satisfação ao garoto. Olhava ela gritar mais e sentia vontade de gritar de volta, irritado. Até que água veio na direção dele. Com o escudo em mãos, Cadmo apenas bateu ele contra o chão do convés, afundando-o ali para se segurar, sendo empurrado na direção da borda, mas não o suficiente para jogá-lo para fora. 
Se ergueu, então, em fúria. Iria jogar o escudo na direção de Cariba, mas ele parecia emperrado no chão, o que fez Cadmo se levantar e correr na direção da menina. 
Usou chamas. Fogo saiu das mãos dele, de seus braços, evaporando o excesso de água que o ensopava, e as labaredas voaram em círculos na direção de Cariba, beijando-lhe a pele nas pernas e braços, mas como um tornado em menor escala de fogo, ficaria rodeando ela, na tentativa de desidratá-la, visto a baixa resistência dela contra o calor e relacionados. Queimaria ela sem dó alguma, mas não naquele momento. 
— Eu não quero lutar com você! — gritou Cadmo em fúria. — Mas não vou pensar duas vezes se for necessário algo mais.
Cariba estava tomada pelo ódio, seu pai estava morto e Cadmo parecia se divertir com a situação. Rosnou quando viu que ele não havia saído do navio, mas deu vários passos para trás bem assustada quando ele correu em sua direção. Foi rodeada pelo fogo e sua primeira tentativa de apaga-lo com a água em volta foi completamente falha, o que a fez cair de joelhos dentro do círculo de fogo, sem ar e desidratando rapidamente. A água movida na segunda tentativa mal deu conta de se aproximar do fogo e Cariba tossiu em secura. Unindo todas as forças que podia, moveu uma grande quantidade de água que, finalmente, conseguiu apagar todo o fogo que a rodeava trazendo umidade para si, embora não fosse molhada, e ar para os pulmões.
— É o meu pai, Cadmo. A única pessoa que me deu amor, carinho, um lar. Era o meu pai. — lágrimas tomaram o rosto da garota e mais uma vez a cauda tomou forma a fazendo cair no chão, as vezes seu presente era uma maldição. — Você não podia ter feito isso. Ele morreu em meus braços e você o queimou sem dar a chance de eu me despedir, de lhe dar um enterro digno. Era o meu pai, o meu tudinho. — cobriu o rosto com ambas as mãos chorando copiosamente como nunca antes em um verdadeiro sofrimento. — Pegue um bote e vá embora. Vá para onde quiser, só me deixe sozinha.
Cadmo poderia sentir todo o sofrimento da garota, poderia sentir na voz dela que apesar de Edward ter feito coisas horríveis sem o conhecimento da filha, era um ótimo pai. Cadmo sentiria o pesar de Cariba, mas foi uma escolha dele ignorar.
— O Acampamento Meio-Sangue te deu um lar, sua ingrata. — cerrou os punhos com força. A vontade de Cadmo era apagar ela e tomar aquele navio. Mas sabia que não deveria. Não chegaria àquele ponto. — O seu pai era um monstro. E se você não consegue olhar para além do seu umbigo e ver quantas pessoas ele fez sofrer por escravizá-las, talvez você seja igual a ele. — Cadmo estendeu a mão na direção do escudo e o mesmo veio voando até a mão do garoto. — Tenha cuidado com esse navio. Se depender de mim, ele terá o mesmo destino de Jackdaw. 
Não importava para Cadmo se Edward havia sido ou não um ótimo pai. Ele havia sofrido como escravo, e o peso das chicotadas em suas costas e da humilhação seriam recompensados pelo sofrer de Cariba. O filho de Hefesto então fez o que a garota disse, para que não houvesse mais conflito algum. Na cabine, tomou alimentos e água, e partiu para o bote. Fez uso das chamas como força propulsoras para ir até a costa com o auxílio de uma bússola, deixando Cariba para trás. 
Apesar do coração sôfrego por causa de Lucy, Cadmo tinha certeza de que naquela noite iria dormir em paz.
Cariba, por outro lado, navegou sozinha pela costa americana em um navio solitário se desfazendo em um ritual simples de despedida de todos aqueles que foram mortos pela ira de Apolo, mortos por causa de Cadmo. Um a um, Cariba se despediu de sua família com um único pensamento: Iria se vingar de Cadmo um dia.
Meses se passaram até a filha de Anfitrite estivesse de volta ao Acampamento Meio Sangue, com Kenway atracado na costa. Cariba não tinha mais nada para perder, Cadmo tinha destruído tudo.
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THE PAST COMES BACK TO HAUNT YOU — PARTE II
Enquanto Cadmo boiava, botes foram colocados ao mar pelo navio há poucos metros de distância. Dois membros da tripulação remavam em direção ao garoto enquanto os demais faziam buscas pelas redondezas. Estaria aquele garoto sozinho? Ao se aproximar de Cadmo, um dos tripulantes emitiu uma gostosa e alta gargalhada.
— Veja Jack! Não é aquele garoto que escapou de nós há alguns anos? — o velho gorducho nomeado Jack, que remava mais do que o companheiro mais jovem, virou-se para olhar Cadmo enquanto este era puxado para dentro do bote.
— Hmm... — Jack parecia pensativo com o cenho franzido tentando puxar na memória o rosto do rapaz que, mesmo agora barbudo, era reconhecível. — Sully, é exatamente ele. — gargalhou voltando a colocar os remos na água enquanto seguia de volta para o navio. — O capitão ficará satisfeito com o retorno do escravo.
E entre gargalhadas remaram de volta a embarcação. O bote fora puxado para fora da água com os três homens ali até o convés. Risadas, bebidas e gritaria além do mau cheiro do navio era o destaque. Os homens faziam festa ao ver Cadmo, o antigo brinquedo de todos, desmaiado e quebrado no chão de madeira. O garoto não teve sorte assim como aquela tripulação não teve.
Suas armas foram jogadas ao mar e o filho de Hefesto fora arrastado para o porão do navio e largado em um chão frio, parcialmente desnudo e machucado. O destino era cruel com Cadmo. Apagado e com dor, ele não tinha noção da chacota que sofria lá fora. Os piratas estranhamente haviam notado que ele não possuía mais nenhuma cicatriz. Nenhuma. Sem saber que o garoto teve o corpo tocado pelo próprio deus Apolo, Cadmo distanciava-se ao máximo do que outrora fora como escravo, agora era altivo, forte, mas de nada valia ser forte e estar humilhado daquela maneira. 
Na escuridão, algo o observava com curiosidade. Uma garota. A menina, ao ver que Cadmo estava desacordado, se aproximou devagar se arrastando pelo chão até se prostrar ao lado do semideus. Conferiu os sinais vitais dele e suspirou em alívio, ele estava vivo e não federia no porão por dias a fio. A garota, que mais tarde revelaria se chamar Lucy, possuía os cabelos secos e desgrenhados em uma coloração amarelada como o amanhecer, uma pele bronzeada mesmo que há meses não visse a luz do sol, e olhos claros como o do próprio pai, Apolo. Tateou as vestes do garoto e achou o cantil de néctar escondido. Talvez Cadmo fosse realmente sortudo, não?
Lucy derramou sobre os lábios de Cadmo uma quantidade necessária de néctar e, após esticar as mãos sobre o corpo do garoto, recitou um cântico de cura que há muito havia aprendido com capitão daquele navio. Ela era boa, muito boa. Os ferimentos de Cadmo foram amenizados e com um pouco de descanso, líquidos e boa comida ele ficaria novo em folha. Mas Lucy suspirou em pesar, como conseguiria boa comida e água fresca para o garoto? Poderia pedir ao capitão, o qual tinha muito apresso, mas se o garoto estava ali não iria receber ajuda nem se ela interferisse. Teria que ajudar mais um inimigo do capitão de forma precária até que chegasse a madrugada onde poderia solicitar melhor ao capitão.
Ele foi acordado. Curado. Talvez o destino gostasse de pregar peças, afinal. E com destino, referia-se ao seu amado, Apolo; em quais circunstâncias ele se encontraria com uma filha de Apolo por ali? Acordado, Cadmo aos poucos ia recobrando a consciência. Aos poucos. Mas ele conhecia o calor do cântico de cura que o tomava; já havia sido curado por quem o criara.
— Meu Apolo — murmurou ao abrir os olhos e então seus sentidos o atacaram. Aquele cheiro ele jamais esqueceria. O cheiro do porão de uma embarcação. Ele ficou por tempo demais naquele lugar para que jamais esquecesse. E acima de si, estava aquela garota. Era linda. A beleza de Lucy ao menos fez Cadmo estar mais tranquilo; ela não parecia uma inimiga. — Onde estamos? — disse ele, assustado. Todavia, não agitado. Ainda estava dolorido, ainda que suas pernas estivessem já não mais quebradas, e em processo de recuperação em bons estágios. — Quem é você? — ele olhou para si próprio. Sem armas. Sem nada. Nada. 
Ele havia sido sequestrado mais uma vez. 
Começou a perder o ar, aos poucos. Fraco, ele apoiou as palmas das mãos no chão para tentar se sentar. Olhou ao redor, confuso, não conseguia pensar em nada e estava prestes a ter uma crise de pânico. Seus olhos lacrimejavam; seu pior pesadelo ganhava forma mais uma vez.
Lucy suspirou mais uma vez aliviada e permitiu-se sorrir ao olhar o garoto, ainda que pensasse no que ele poderia ter feito para despertar a fúria do capitão e estar ali tão ferido. Mas havia funcionado, afinal. Ela realmente tinha um dom. Apoiou a mão direita levemente no peito dele o impedindo de se sentar.
— Shhh!!! Não se esforce muito, seus ossos estão em processo de reparo. É melhor ficar deitado. — manteve a mão no peito dele fazendo uma leve pressão, algo que havia aprendido com sua mãe, Alejandra, antes de ser entregue por seu padrasto ao tráfico humano, para aliviar a ansiedade. — Sinto muito que você esteja aqui. Chamo-me Lúcia... Lucy, sou filha de Apolo. — a garota tinha uma voz doce e cuidadosa, tentava passar tranquilidade ao garoto agitado. — Por ter um cantil de néctar creio que também seja um semideus. Como se chama? — Lucy, a priori, evitou explicar onde estavam e as condições que estavam ali, apenas tentava manter o garoto calmo para que não prejudicasse sua cura.
Enquanto isso, as passadas pesadas, risadas e gritaria dos tripulantes beberrões se faziam mais presentes, algumas mais perto e outras mais longe, mas nenhuma no porão com os dois semideuses, por enquanto.
Filha de Apolo. Em condições normais, Cadmo já não teria dito que era amante de Apolo para um de seus filhos; naquela situação, então, nem sequer passou pela cabeça dele. Ele tentou formular alguma palavra, e de início apenas assentiu. Procurou por cicatrizes na garota, ou qualquer sinal de maltrato. Sabia que as mulheres em tripulações eram muito mais maltratadas do que os homens, e esperava que aquele não fosse o caso de Lucy. 
— Eu sou Cadmo — disse, tentando falar com mais calma. — Eu sou filho de Hefesto. Conheço... Conheço o seu pai. — engoliu em seco, e abriu a boca para respirar sem conseguir lidar com aquele cheiro. Cadmo olhou em volta, receoso com as passadas lá em cima. — Você sabe em que águas estamos? — tendo noção do lugar, teria noção de quanto tempo ficou apagado. — Ou... Que tripulação é essa? Eu fiquei preso em uma durante alguns anos. 
O garoto tinha o tom de voz mais tranquilo ao passo que tentava localizar as próprias armas e construções naquele lugar pra saber onde as mantinham. Mas ainda estava atordoado e fraco. Manteve-se no lugar, sem muito o que fazer. Tentando manter a calma, focava no toque da filha de Apolo sobre seu corpo.
Lucy possuía poucas e claras cicatrizes expostas, porque apesar de ter obtido ajuda da tripulação para se curar, não fazia muito tempo que a garota havia sido vendida para traficantes nas margens da fronteira com o México e resgatada no Panamá.
— Desculpa, mas eu não tenho ideia de que água estamos. Nunca saio daqui durante o dia e não tenho um bom senso de direção náutica. — sorriu tranquila embora sentisse o peso das próprias palavras no peito. — Prazer, Cadmo. Gostaria de ter te conhecido em condições melhores. Estamos na embarcação do capitão Edward. — ela disse baixo o nome do homem como se fosse o nome de um demônio, era o que deveria fazer. Não deveria transparecer para ninguém que não possuía medo do capitão. Era o pequeno acordo que os dois mantinham, já que para permanecer segura junto ao capitão, não poderiam deixar que a usassem como arma para atingi-lo. 
Cadmo reconheceu o nome, mas não a embarcação já que aquela era diferente. Jackdaw, o navio em que Cadmo fora escravizado durante dois anos, jazia no fundo do oceano sendo explorado por Cariba, a filha do capitão.
Pesados passos desceram as escadas de madeira que levavam ao porão e a porta foi aberta e empurrada por um tridente de Atlantis, forjado pelos ciclope feito totalmente de oricalco possuindo três pontas, cada qual muito afiada, pungente e bordeada de bronze celestial exalando uma aura verde-água. Segurando o tridente, pela porta passou o capitão do navio, Edward Shell, com um sorriso maldoso nos lábios e o olhar direcionado para Cadmo.
— Ora, ora, vejamos quem retornou para aquele que o acolheu. Cadmo, o ingrato. — o capitão riu alto e bateu o tridente no chão fazendo um barulho oco no exato pedaço de madeira em que tocou, aquilo estava solto. Quando o homem olhou Lucy ela automaticamente se afastou para o canto escuro do porão, não antes sem olhar com pena para Cadmo.
Não obstante, quando a porta se abriu, o filho de Hefesto pôde sentir a própria pressão baixar. Por sorte, estava já no chão. Era ele. Edward. Lembrava-se de sua primeira paixão, filha de Íris, morrendo enquanto tentava lutar com ele. E agora estava Cadmo aos seus pés. Desarmado e frágil mais uma vez. Cadmo não ousou atacá-lo ou tentar qualquer coisa. Quando foi raptado, era fraco e não sabia usar seus poderes muito bem. Agora, o filho de Hefesto fazia uma varredura silenciosa com seus poderes, tentando detectar suas armas mais uma vez, e também uma varredura nas armas em gerais que as pessoas portavam lá em cima, assim como os metais, para ter ideia de quantos mais eram; inclusive as armas que Edward portava, além do tridente. 
— Eu acho que a sua bunda vai gostar de acolher esse tridente também — respondeu ríspido. Mas não se levantou. Ainda estava, como Lucy dissera, em processo de recuperação. — As coisas mudaram, não? Antes aqui costumava ficar lotado de escravos. — rosnou, irritado, mas se controlou para que nenhuma faísca ou calor emanasse de seu corpo; não gostaria de ser envolvido em uma corrente de Arianrhod mais uma vez.
Ao fim da varredura silenciosa Cadmo sentiu que naquele porão não tinha nem mesmo uma faca afiada. Não era um porão de escravos como o navio anterior, a embarcação recém adquirida não estava preparada para escravos e se observasse bem era na verdade um quarto bem ajeitado e improvisado para a garota escondida nas sombras. Porém, também sentiu que Edward possuía apenas o tridente como arma, visto que equipou a própria filha com as próprias de reclamação para que ela chegasse em segurança ao Acampamento Meio Sangue. Mas diferente de Edward, os tripulantes estavam armados até os dentes com adagas, lanças, arcos e flechas, espadas e até mesmo armas de fogo mortais. Não seria um trabalho fácil sair dali.
— Cuidado com a língua, Cadmo. Ainda temos sua amiguinha conosco. — indicou o pescoço com os dentes do tridente em referência a corrente em que ele era amarrado outrora. — Sim. As coisas mudaram. Jackdaw afundou há poucas milhas náuticas daqui, mas agora temos uma nova casa. Bem-vindo ao Kenway.
Jackdaw. Talvez Cadmo se lembrasse de alguma história que Cariba havia contado, ou talvez não. O fato é que agora a menina estava de volta a superfície com algumas suspeitas do paradeiro do pai e não encontrou Cadmo. O desespero se apossou de Cariba em alto mar sem que soubesse o que fazer. Como voltaria para o acampamento sem o filho de Hefesto? Não voltaria, buscaria por Cadmo até o fim.
Cadmo ficou tenso ao perceber que as armas dele não estavam ali. O que era ruim, porque significava que tinham jogado no mar. Em contraponto, ele poderia invocar as suas armas de reclamação caso não fosse preso naquela corrente que o enfraquecia. O menino respirou fundo, pensando, pensando... Jackdaw. 
Lembrou de Cariba, é claro. Ela havia citado esse nome alguma vez, não havia? Cadmo era extremamente detalhista e lembraria de algo do tipo. Mas agora, assustado com a situação atual, se sentia enjoado e não conseguia se concentrar. 
— Eu vim com um esquadrão para cá. — rosnou Cadmo para o pirata. — Eles vão me encontrar e... — tossiu. Ao menos fingiu tossir. Estava de fato com a garganta seca, mas ainda não em situação crítica. — Na minha época eu recebia uma miséria de água e aquela comida de merda. Ainda tenho esse direito?
A risada emitida por Edward foi bizarra e assustadora ao ponto de fazer a pequena Lucy choramingar encolhida no canto escuro do porão. Mesmo sendo extremamente bem tratada por Edward, como se ela fosse a própria filha dele, não conseguia deixar de se assustar com a face pirata do homem quando voltada para seus inimigos.
O Capitão, desdenhoso da situação de Cadmo, possuía um sorriso maldoso e sádico nos lábios enquanto olhava o semideus que outrora fora seu escravo. Aproximou do garoto arrastando o cabo do tridente no chão enquanto pisava duro com suas botas.
— Não, você não veio com um esquadrão. Nada foi encontrado em alto mar além de bons peixes que serviremos no jantar. Não para vocês é claro, mas que bom que está lembrado de como as coisas funcionam por aqui. — o capitão direcionou o olhar para Lucy no escuro e estalou a língua tombando a cabeça pensativo. — Lidarei com você mais tarde, querida. No mais, bem vindo a bordo novamente Cadmo.
— Eu tenho amigos nessas águas. Você pode desbravar os mares, mas eu conheço quem os controle! — pensava em Cariba, mas será que ela viria atrás dele? Provavelmente não havia visto que ele havia sido pego, e se tivesse visto, achava que a menina não era habilidosa o suficiente, não ainda, pra enfrentar toda uma tripulação. Mas com inteligência, ninguém precisava enfrentar. Não ainda. Cadmo manteve encarando Edward, olho no olho. — O que você fez com os outros escravos? Afundaram com... o navio? — pensando, pensando. Jackdaw. Cariba não havia dito que já havia estado em algum navio do tipo? Será que era um nome genérico? Ele continuava pensando até que tudo se encaixou. Jackdaw. Naufrágio. Edward, filho de Poseidon. Aquele tridente de oricalco! Aquele homem era o pai de Cariba! O choque tomou Cadmo, e com esse choque, ele foi motivado. 
Em paralelo, Cadmo usava seus poderes. Flechas, espadas, lanças, todas lá em cima, desde que não tivessem relação com nenhum deus, como armas de reclamação, fossem de metal mágico ou mortal, seriam controladas. Flechas voariam direto das aljavas das pessoas, e espadas iriam contra o peito dos piratas mais próximos. E tudo, tão rápido, não poderia virar um motim? Com perfeição, Cadmo controlou as coisas lá em cima, fazendo uma visão pelo metal: conseguindo sentir as armas, ele as lançava onde estavam as outras. Se um pirata tinha uma lança, e outro havia uma espada presa ao seu corpo, Cadmo conseguia senti-lo. E qual dos piratas poderia dizer que era uma armação? Cadmo tinha certeza que logo se voltariam uns contra os outros com a desculpa de que foram atacados primeiro.
Não obstante, Cadmo se preparou. Ele não tinha armas, e mesmo que pudesse invocar as próprias, ainda eram poucas. Precisava de mais aliados. Por isso, deixou outras armas sob seu controle, pronto para usar quando necessário, mesmo que agora estivessem paradas. Era como colocar rédeas em um cavalo, mas ainda mantê-lo parado; quando fosse necessário, puxaria as rédeas para sair correndo.
— Eu... — respirou fundo, como se nada tivesse feito já que, fisicamente, seria impossível dizer. Olhava olho no olho de Edward, com os olhos lancinando, emanando raiva. — Estou com Cariba. Saiba que qualquer coisa que você fizer comigo será refletido nela. Autômatos, bombas, armas. Todos eles com olhos na filha do filho de Poseidon perfeito, que curiosamente, me trouxe para o alto mar. E olha onde eu vim parar mais uma vez? — estava quase tremendo, apavorado. Mas por fora, tentava manter-se o mesmo. — Acho melhor você se cuidar se não quiser que sua filha sofra. — E por fim, esperava o motim.
Edward se divertia com a coragem de Cadmo e as risadas se tornaram frequentes até escutar o nome da filha, perdida nos mares há meses. Ele estava blefando. Não era possível aquele escravo conhecer sua preciosa Cariba, era possível? E a ter como refém? Não, mesmo quando o filho de Hefesto era um escravo, Cariba nunca tinha se encontrado com ele ou mesmo sonhado com a existência de escravos em seu navio. Se recusava a acreditar, embora sua face expusesse o choque da possibilidade.
— Como você sabe quem é minha filha? — o tom de voz era sério e amedrontador enquanto utilizou do tridente para ameaçar o semideus ao pressionar os dentes contra o pescoço do garoto. — Você está blefando. Cariba é muito esperta para cair nas garras de um escravo. — havia nojo em sua voz.
Contudo, o motim era real e os tripulantes se atacavam enquanto alguns já jaziam mortos no convés. Edward se preocupou, mas a ameaça contra sua filha era mais importante. O pirata era um monstro para muitos, mas um bom pai para a garota no final. Sua preocupação com a filha o fez desistir de seu navio, de suas armas, de sua tripulação. Desistiria da própria vida para mantê-la segura e bem.
— Eu não estou blefando — mentiu Cadmo. Manteve o olhar firme, direto nos olhos de Edward. Aprendera a frieza das palavras ao encarar o olhar morto dos fantasmas que lhe atormentavam quando menos esperava. — Com dificuldade pra controlar sua forma de sereia, é fácil capturar uma filha de Anfitrite em terra firme. E é fácil para um filho de Hefesto criar equipamentos. Quem você acha que a encontrou na costa de Nova York, após seu navio afundar? — cuspiu as palavras, irritado. — Vamos. Tente o risco, machuque a mim ou ela! — apontou para Lucy na escuridão. — E você verá que ter se mantido afastado para a segurança dela será inútil porque ela estará morta, de toda forma. 
Continuar ouvindo o motim lhe dava forças. Seu plano continuava. Que Edward se afastasse, que o trancasse, que ele fosse embora, ou que continuasse ali. Cadmo estava determinado a destruir aquele homem, e reduziria toda aquela tripulação em cinzas. 
— Mas parece que você é tão podre como capitão quanto pai. — olhou para cima, com desgosto. — Não sabe botar a merda da sua tripulação em ordem?
Embora o capitão tivesse abandonado o porão com ordens gritadas para alguém do outro lado da porta trancada, as palavras de Cadmo pesavam no peito do homem com o único pensamento voltado para a segurança de sua filha. Logo, o Edward estava no convés berrando ordens para sua tripulação e tentando controlar o motim que se instaurava em alto mar sem perceber a aproximação da própria filha em baixo d’água.
[Continua...]
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SIMPLE MISSION, BUT THE KRAKEN STRIKES AGAIN — PARTE I
19 de março de 2021.
Muitas semanas se passaram desde o dia em que, embrenhada na floresta norte frente ao Bunker 9, Cariba fez uma proposta inusitada ao filho de Hefesto: desbravar os mares em busca de seu pai. De início, obviamente, Cadmo relutou em aceitar visto os traumas dos anos enclausurado no porão de um navio desprovido de higiene e entregue as mazelas da escravidão. Porém, a filha de Anfitrite possuía uma boa lábia e convenceu o outro semideus, portador de muitos dons, a construir um pequeno motor que pudesse fazer com que o bote que encontrou entre rochas na praia pudesse ir a alto mar.
Era uma missão pessoal simples: deveriam encontrar Edward Shell. Mas como? A última vez que o filho de Poseidon havia sido visto fora há milhares de milhas náuticas a leste da costa de Long Island quando seu navio, o Jackdaw, naufragou durante um ataque do Kraken. Bom, retificando, não era algo simples. 
O sol do meio dia esquentava a cabeça de Cariba e de Cadmo e os ventos deixavam os cabelos de ambos em pé conforme o pequeno bote improvisadamente motorizado avançava a mar aberto. A costa de Long Island e a praia do acampamento meio sangue há muito já não era vista e a apreensão tomava conta da semideusa que guiava o condutor, Cadmo, com seu senso de direção marítimo quase que perfeito.
— Não estamos muito longe do ponto onde o Jackdaw afundou. Só mais cinco milhas a nordeste. — a garota gritou a orientação para que Cadmo, comandando a embarcação no fim do bote, pudesse ouvi-la.
Era óbvio que Cadmo estava tenso. Não apenas tenso; tinha uma leve paranoia de que poderia ser, a qualquer momento, capturado por alguém. Mas deixou isso de lado. Convencido por Cariba, havia feito um motor à primeira vista simples, mas era muito mais potente do que imaginava. Caso necessário, poderiam arrancar em velocidades ainda maiores do que a que já estavam, isso por precaução, visto que Cariba havia dito que seu pai naufragara com o ataque do Kraken. 
Cadmo vestia uma regata preta e uma calça jeans. Suas roupas estavam úmidas com os respingos da água, e os seus cabelos negros voavam soltos conforme o vento batia em sua face. Por fim, sentia-se apaziguado por sentir o sol do meio dia, forte e quente, só não mais aconchegante do que uma fornalha, pois sabia que Apolo, seu amado, estava conduzindo a carruagem no céu, como um dia Cadmo o fez ao seu lado. 
— Temos sorte de não serem águas tão furiosas por aqui. — gritava ele, em mesmo tom, olhando para Cariba e a imensidão de água ao redor. — As águas das Terras Antigas são muito mais impiedosas. — disse com certo pesar, mas não era como se a filha dos mares não conhecesse suas águas. Vez ou outra ainda olhava em volta para ter certeza de que não havia nenhuma embarcação ou monstro prontos para interceptá-los por ali.
A garota apenas assentiu para Cadmo com a expressão visivelmente apreensiva, mas sorriu tentando passar confiança para o garoto. A menina, sempre muito simples, vestia apenas uma regata azul bebê e um short de tecido leve estampado com golfinhos felizes. Bom, pelo menos assim estava até a primeira gota de água lhe tocar a pele. Cariba era apenas uma sereia na ponta do bote com uma cauda alaranjada tão longa que a ponta ficava para fora da pequena embarcação batendo fortemente nas ondas, algo que ela não demonstrava se incomodar. O cheiro de água salgada deixava a garota em paz e aquietava a voz constante das estrelinhas do mar que carregava como brincos em sua orelha.
Passaram-se longos minutos que mais pareciam horas até que Cariba finalmente fizesse sinal para que Cadmo desligasse o motor do bote. A expressão da filha de Anfitrite entristeceu-se ao olhar em volta no exato local onde viu sua casa sucumbir ao ataque de um dos monstros marinhos mais terríveis daquela região. Respirou fundo com a expressão séria, mantendo-se atenta a tudo, afinal, seria possível mais um ataque de Kraken? Bom, Poseidon a odiava então tudo era possível.
— Vou mergulhar e tentar achar alguma pista do naufrágio. Vai ficar bem sozinho por alguns minutos? — olhou Cadmo ao falar com um sorriso confiante nos lábios, mas bateu a cauda na água em um movimento ritmado em três repetições enquanto o olhava. Parecia um sinal, ou alguma provável mania da garota, mas Cadmo pôde perceber que definitivamente era um sinal quando um belo e gigantesco hipocampo se aproximou do bote o fazendo balançar de um lado para o outro — Sozinho não. Ele te faz companhia. — sorriu mais largo.
Cadmo segurou a respiração por alguns momentos ao ver que Cariba iria mergulhar, mas tentou não demonstrar. O garoto assentiu, e sorriu quando viu o enorme hipocampo. De fato, agora estava mais seguro, me toda forma confiava em Cariba.
— Eu fiz algo. É simples. — ele enfiou a mão no cinto de utilidades e tirou uma pequena esfera metálica, menor que a palma de uma mão. Estendeu para ela. — Aqui. Pressione ela uma vez, e saberei que precisamos ligar o motor para arrancarmos. Aperte várias vezes seguidas e ela vai explodir em uma bolha de ar, pra te puxar pra cima o mais rápido possível. Sei que não precisa disso pra subir, mas... — encolheu os ombros. — Só por precaução. — deu um sorriso de leve, ainda que trêmulo.
A semideusa sorriu com o gesto e esticou a mão para pegar a esfera a colocando bem segura entre suas grossas e firmes escamas que rodeavam a base de sua cintura. Novamente direcionou o olhar para o recém-amigo e sorriu confiante.
— Hey! Vai ficar tudo bem. Não vou demorar. — respirou fundo e saltou na água batendo forte a cauda ao mergulhar, o que jogou uma grande quantidade de água salgada em Cadmo.
Em segundos Cariba sumiu deixando a prole de Hefesto sozinho em um bote motorizado com um hipocampo que o rodeava. O mar parecia calmo, estranhamente calmo, e por longos e demorados minutos em que a filha de Anfitrite estava submergida, nada aconteceu. Tédio. Era apenas tédio que ali perpassava e Cadmo se perguntou o motivo de ter aceitado ir até ali. Em que ele poderia ser de tão útil assim? Ele era só um construtor para a maioria dos campistas. Não tinha muitos motivos para estar em alto mar com uma filha de Anfitrite. O mar não é seguro nem para os mortais, imagina para semideuses. 
Ele havia até ficado relaxado, a água evaporou do corpo dele conforme ele aumentava a própria temperatura, até que estivesse seco. Ficou olhando para lá e para cá e, após mais alguns minutos que pareceram horas, o hipocampo parecia conflituoso. Estava agitado e queria sair dali, mas deveria obedecer as ordens de Cariba e ali permanecer. Ruídos estranhos eram emitidos pela criatura marinha que se agitava cada vez mais até que passou a bater o próprio corpo contra o bote uma, duas, três vezes, quase virando e embarcação na última investida. Era um claro sinal. Algo estava errado, alguma coisa se aproximava. Era Cariba? Por que o animal se agitara tanto assim? Cadmo era um semideus de bons instintos, era óbvio que ele saberia o que fazer. Saberia?
O Hipocampo lhe preocupou. Cadmo segurou-se na borda do bote com força o suficiente para ouvi-lo estalar onde se tinha retido. Era um sinal, ele havia captado. Mas o que aquilo significava? 
Ele se ergueu. Olhou para os céus por um momento. Que pudesse vê-lo de novo e logo. Cadmo tirou do cinto uma pequena máscara de oxigênio que o permitia respirar em baixo d'água, ainda que por tempo limitado, visto que não havia tanque com ele. Tão qual ele tinha consigo outra esfera, igual a que havia entregado para Cariba. 
Ainda tenso, não sabendo se era o certo a fazer, mas caso não averiguasse ele mesmo, quais alternativas sobravam? Cadmo tentou se aproximar do hipocampo. Talvez ele pudesse levá-lo para o problema? 
— Vamos lá, amigão. — Cadmo não podia falar com Hipocampos, mas talvez este pudesse ser simpático ou entendê-lo e, com cuidado, tentou montar na bela criatura marinha.
De fato o hipocampo não conseguia compreendê-lo e a aproximação repentina de Cadmo fora interpretada como ameaça. Novamente a criatura marinha jogou o próprio corpo contra o bote e, por estar inclinado em direção ao animal, Cadmo foi jogado no mar ao ter o bote virado. Péssimo momento para natação.
O hipocampo estava mais agitado e agora não via mais Cadmo como um aliado, era como se a criatura estivesse se esquecido das ordens da filha da rainha dos mares. Dessa forma, o atacou. Veja bem, hipocampos não são criaturas violentas ou perigosas, mas podem facilmente causar estragos em ataques para se defender quando se sentem em perigo. A enorme boca de cavalo foi aberta e os dentes grandes e fortes foram direcionados em uma mordida firme no braço direito de Cadmo. 
Porém, uma movimentação estranha se fez presente na água e claramente não era o hipocampo, vinha da direção oposta. A água se movia com intensidade muito perto e ao mesmo tempo muito longe de Cadmo, algo grande estava ali. O que seria? Não era possível saber de imediato e Cadmo já tinha um hipocampo furioso e descontrolado para conter.
Inferno! Se pudesse gritar, Cadmo teria gritado de susto. Estando nas águas, ele agradeceu por saber nadar, ao menos. Mas estava em imensa desvantagem, estava no ambiente daquele temível monstro, que anteriormente parecia um bom companheiro. 
O garoto conseguiu desviar por pouco da criatura e imediatamente seu martelo tomou forma na própria mão, puxando o isqueiro do cinto e tendo o martelão em mãos. Mas seu ataque submerso foi apenas um fracasso. Cadmo sentiu o vento do movimento do ataque da criatura de tão perto que passou sua enorme bocarra, mas por sorte não foi mordido. Por outro lado, sua sorte talvez tenha sido usada somente naquele momento, visto que ao tentar atacar o hipocampo dentro da água, Cadmo acertou o próprio quadril em um movimento errado e complicado com a resistência da água. A área ferida teve um corte na extensão do fio do martelo com uma profundidade de três centímetros e muito sangue espalhou-se pela água. Mas mesmo assim, o garoto mantinha seu corpo quase queimando por dentro, com alta temperatura, para que a água ao redor se mantivesse mais quente também para incomodar o animal.
Se o hipocampo antes estava agitado, agora parecia muito mais e, devido ao sangue, o que se movimentava ao redor de Cadmo pareceu estar mais próximo, atraído. Entretanto, a água aquecida o manteve afastado o suficiente para que Cadmo não fosse atacado e quem sofreu fora o pobre hipocampo. Um gigantesco tentáculo emergiu na superfície, algo aproximado entre os dez ou quinze metros e tão rápido submergiu carregando enrolado consigo a bela e inofensiva criatura marinha. E ainda sim, não se aproximava ainda de Cadmo. Ainda.
Cadmo tentou não se ater à dor no quadril. Maldição. Zonzo, tentou atacar o hipocampo mais uma vez, falhando ao ver que a criatura foi envolta pelo gigante tentáculo. Seria o... Não! Ele não queria se desesperar ao pensar nisso. Nas mãos de Cadmo, duas manoplas se materializaram. O garoto bateu uma mão na outra, firme e forte, gerando uma onda de impacto forte no raio de 50 metros ao redor de si, afastando qualquer coisa de até 500 kg. Não obstante, tentava localizar através de seus poderes Cariba, que estava com a esfera que ele havia construído, e graças à sua conexão com a tecnologia, isso era possível.
O Kraken novamente se fez visto na superfície e não um ou dois, mas três tentáculos emergiram com a criatura sem ser afetada pelo impacto gerado por Cadmo, afinal, sua massa passava da meia tonelada fácil. Enquanto o filho de Hefesto recebia a localização exata de Cariba, há quilômetros abaixo dele em uma distância que poderia julgar impossível de um ser humano estar, o Kraken investiu contra o garoto. O primeiro tentáculo erguido foi direcionado para cair exatamente em cima do semideus, enquanto o segundo, novamente submergido, o pegaria por baixo. O terceiro, não obstante, apenas bateu contra a água há certa distância do garoto criando uma onda grande capaz de afogá-lo.
Cadmo estava começando a ficar aflito. Na água, a maioria de seus poderes era inútil. Em seu braço, uma braçadeira se materializou, e ele disparou um dardo explosivo contra o tentáculo que viria por cima. Ao perceber o tentáculo vindo por baixo, o filho de Hefesto tentou se afastar ou fazer algo, mas as águas pareciam odiá-lo. As desgraças viriam, e não tardaram a vir. O tentáculo erguido explodiu em milhares de pedaços deixando uma chuva de carne de peixe estragada cair por toda extensão daquela área. Furioso e em dor, o tentáculo da criatura que vinha por baixo enrolou-se no semideus com tamanha força que tanto seu quadril, quanto as pernas foram esmagados. O garoto foi puxado com violência para o fundo do mar e a pressão causada pela água era tamanha capaz de estourar ambos os tímpanos do garoto, mas por sorte Cadmo tinha resistência a altas pressões. 
A dor, a água, e talvez até o desespero fizeram com que Cadmo logo apagasse. Uma pena realmente, ou ele teria visto que, durante todo o confronto com o Kraken, um navio pirata com uma grande tripulação o observava escondidos pela névoa. Era um navio de semideuses em sua maioria, embora houvesse mortais comuns em seu meio e logo o capitão ordenou ataque contra o Kraken.  Cinco lanças com de cerca de 20 metros feitas do mais puro bronze celestial foram lançadas em alto mar na direção do monstro marinho das quais quatro das cinco foram bem sucedidas em acertar o monstro e apenas uma se perdeu na água indo em direção ao fundo do mar em grande velocidade. Pó dourado se juntou a água salgada e logo o corpo de Cadmo boiava em alto mar, desacordado e parcialmente quebrado enquanto Cariba permanecia no fundo do oceano.
[Continua...]
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tob-rpg-contos · 4 years
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Uma sereia pede máscaras de mergulho.
Quando recebi esse pedido da filha de Anfitrite eu não poderia ficar mais feliz. Não era uma arma, era um mecanismo, algo que pudesse permitir que qualquer pessoa desfrutasse do fundo do oceano. Era algo que eu poderia fazer com facilidade, era minha zona de conforto da inteligência artificial e eu sabia exatamente o que fazer.
Não seria complicado elaborar um projeto até porque o pedido de Cariba nem havia sido claro: “Máscara de mergulho pra todo mundo descer no mar.”, era o recado que eu tinha encontrado nas forjas do acampamento. Estranho, mas me deu grandes ideias que eu poderia dar o meu toquezinho especial, o toquezinho Kavya Malik.
Passei um dia inteiro apenas desenhando o projeto em meu chalé. Pesto brincava alegre com Carbone e PIAF me auxiliava com as melhorias que eu estava colocando no pedido da garota. Primeiramente, não seriam máscaras de mergulho comuns e sim super high-tech trajes de mergulho. Seriam trabalhosos de elaborar, mas nada que eu não desse conta. Era um trabalho extremamente delicado que demandava bastante cuidado e as forjas não eram o local correto para fazê-los, portanto, o chalé virou meu estúdio.
— PIAF! — disse firme e após o chamado de ativação do sistema o chalé inteiro se iluminou no tom azulado ativando cada painel de controle somente com a inicialização do meu mecanismo. Luzes LED começaram a piscar, as gemas brilhantes e engrenagens interligadas iniciaram suas atividades e sorri me posicionando na cadeira giratória frente ao painel de controle. 
“Aguarde análise de retina e biometria.”, a voz mecanizada do sistema ecoou por todo o chalé. Uma luz, igualmente azulada, foi emitida de um dispositivo circular no painel principal do chalé diretamente aos meus olhos e face, como um scanner, e, segundos depois, a resposta positiva viera em mesmo tom: “Análise completa.” 
— Olá, Kavya. — a voz não era mais mecanizada e sim melódica com a voz humana de uma mulher comum, a voz que eu considerava agora minha melhor amiga. — O holograma do traje de mergulho está finalizado de acordo com o projeto. Você deseja visualizar? — e assim, me foi exibido holograficamente tudo o que eu tinha projetado para os campistas que iriam usar o traje. Estava perfeito. Então, comecei a produzir com muito esmero.
O traje em si era tamanho único, mas facilmente ajustável para o corpo de quem fosse usar pela maleabilidade do tecido que era feito de algodão na parte interna para trazer conforto, mas revestido de fibra sintética fortemente blindada e de alta resistência com redução de impactos por pressão, radiação e temperatura. Assim, seria possível mergulhar em altas profundidades sem que o traje simplesmente cedesse à pressão da água, mas eu ainda tinha que me preocupar com a pressão que impactaria no corpo do usuário, então me recorri a tecnologia.
Um dispositivo simples acoplado ao traje que trataria de regular a pressão interna com a externa para que não houvesse uma explosão de órgãos e tripas. O pensamento me fez segurar uma risada, aquilo nunca aconteceria se dependesse de mim. A malha sintética era firme, permitia um nado rápido e estava além equipada para capturar a umidade do corpo a fim de neutralizar quimicamente odores residuais e fluidos corporais.
Nem só de praticidade o traje existia, também possuía estilo. Era composto principalmente pela cor branca, com manchas cinza escuras nos ombros e ao redor das pernas possuindo uma rede de linhas de cor laranja cobrindo o exterior contornando o corpo do traje. A malha do traje cobria o pescoço aos tornozelos, mas nas mãos cobria até os dedos, mesmo assim, não impactaria na movimentação do usuário tanto para nado quanto para combate físico e/ou armado. Eu estava extremamente orgulhosa do meu projeto, estava ficando perfeito aos meus olhos meticulosos.
Mas também seria necessário a máscara e foi no projeto da máscara que eu elevei o nível implementando o dispositivo anexo de inteligência artificial. Eu estava exagerando? Estava. Eu ligava? Nem um pouco. Sempre pensei que quanto mais tecnologia melhor seria, então tudo o que eu me preocupava mesmo era se quem quer que fosse utilizar o traje iria gostar. Com o feedback eu me preocupava? Extremamente. Esse é o lado ruim de ser perfeccionista, te dá paranoia de brinde.
Assim como o traje era adaptável, a máscara, projetada para cobrir toda a cabeça, também seria. É difícil moldar algo fixo sem saber as medidas de quem irá usar, porque vai que eu faço um tamanho pequeno e a pessoa tem um cabeção. Não dá né? Então preferi fazer tudo ajustável para melhor conforto.
Com a malha de fibra idêntica ao do traje, kit de fiação e um display no visor, a máscara seria perfeita. Havia um mecanismo de filtragem de ar, ou seja, quimicamente o CO² expelido pelos usuários na respiração seria filtrado e reintroduzido na máscara como O² permitindo que o usuário não se preocupasse em carregar um tanque de oxigênio ou que o ar acabasse.
Acionado por sistema de voz, o SIM, Sistema de Inteligência Marítima, estava programado para exibir no visor da máscara as principais informações que o usuário necessitaria, como: temperatura e pressão da água, níveis de radiação, profundidade, além de apresentar um complexo sonar e dispositivo de comunicação integrado entre as máscaras.
Aquele sem dúvida era o meu melhor projeto desde que cheguei no acampamento e a saudade que me deu de casa, de Suhad, dos meus pais doeu meu coração. Mas estava pronto, os trajes estavam completos e prontos para a entrega, mesmo que tivesse me tomado mais de um mês. Só torcia para que os campistas gostassem, ainda não me sentia integrada completamente ali.
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tob-rpg-contos · 4 years
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Lucy in the sky
A vida de Berto e Alejandra não poderia ser melhor, considerando que eram ilegais nos Estados Unidos. Viviam em uma pequena cidade chamada Brownsville, em uma vizinhança onde quase todos eram imigrantes ilegais. Para a sorte do casal, a polícia pouco passava por lá ou eram parados pela mesma, sequer pediam Green Card quando iam comprar coisas, mas o medo de serem flagrados a qualquer dia os consumia por dentro.
Alejandra era uma mulher fiel, cuidava da casa e trabalhava para manter o sustento, bem como seu marido, mas... Deuses! Quem nunca deu uma escapada? Quando o conheceu, de imediato, sentiu algo invadir suas veias e o desejo tomar conta de seu corpo. Apolo era um imortal atraente, e a mortal teve seu caso de noites com ele, até engravidar. Como contaria a seu marido que havia o traído? Sequer sabia que era um deus, permanecia em sua história que se chamava Michael e que jamais o veria novamente. Apanhou de Berto, mas não se separaram. Ele engoliu a história com o ódio pairando em seu coração. Iria se vingar, algum dia.
Em vinte um de maio de dois mil e dez, a razão do ódio do homem cresceu. Lúcia Maria Martinez Riera Calderón Leyte-Vidal Alvarez Inclán, ou simplesmente Lucy, viera ao mundo, e a registrou como sua filha no hospital. Entretanto, Berto jamais perdoaria sua esposa por sua traição e o ódio pela menina era verdadeiro. Com o passar do tempo, Lucy cresceu como uma semideusa saudável deveria e progênie do sol; aos seis, começou a ter mais contato com outras crianças, embora vivesse reclusa devido ao seu problema familiar com a imigração.
Aos sete, começou a apanhar de seu “pai”, por acusações de mau comportamento que eram completamente falsas! Se Alejandra tentasse impedir... As coisas acabariam feias e a garotinha não queria que sua mãe se machucasse também, e por isso, apenas aceitava seu destino.
Não ganhava festas de aniversário ou convidados, sequer um bolinho! Mas, em seu décimo aniversário, sua mãe lhe agraciou com um cupcake de morango com uma vela em cima.
— Faça um pedido, Lucy. — Ela sussurrou. E ela fez. Desejou sumir daquela vida, desejou ser uma pessoa completamente diferente de quem ela verdadeiramente era. E os ventos sempre dizem: “cuidado com aquilo que desejas.” Berto havia saído pelo meio dia, deixando-as com um almoço simples e indo fazer suas coisas de... Bom, homem. Nesse meio tempo, Alejandra havia algo para falar com sua filha e acredite, as coisas, a partir disto, apenas iriam piorar.
— Meu bem, você sabe que nós temos muitos problemas aqui, na América. Mas não minto quando digo que você foi a melhor coisa que já me aconteceu, de verdade. — Suspirou. — Mas, Berto... Ele não é seu pai verdadeiro. Você é fruto de uma traição minha... Eu me apaixonei por um outro homem. — Agora desviava o olhar. — E descobri, no mais tardar, que ele é um deus. Apolo, o próprio deus do sol. — Alejandra olhava para a filha. — Eu não quero que me odeie, Lucy. Eu amo você e só queria que soubesse a verdade.
Mas a semidivina nada disse, apenas permaneceu em um absoluto e completo silêncio. Não trocou uma única palavra com sua mãe pelo resto do dia e fugia de Berto pela casa, a garota não sabia no que acreditar, mas indagava para si se sua mãe seria capaz de mentir para ela. Adultos sempre mentiam.
Por fim, adormeceu e é agora que nossa verdadeira história começa.
— X —
Lúcia acordou em um lugar completamente fora do esperado, falavam uma língua que a garota sequer conseguia entender direito e sentia sua cabeça girar e doer. Estava em uma espécie de carro, rodeada de outras pessoas com etnias completamente diferentes, e todas mulheres, adultas e crianças, não havia um único outro gênero ali. Passou noites chorando, noites sendo abusada psicologicamente e sentindo as mais terríveis coisas que um ser humano poderia ser capaz de passar, mas, em meio a isso, as outras mulheres se protegiam e ensinavam tudo que Lucy poderia precisar algum dia.
Meses se passaram e a garota continuava a aceitar seu destino em meio ao tráfico – descoberto após algumas mulheres nunca mais retornarem. E finalmente havia entendido o que acontecera: havia sido vendida para eles, por Berto, será que ele a odiava tanto assim? O que ele havia ganhado em troca?! Não estavam desesperados por dinheiro!
O milagre chegava para todos. Quando estava no Panamá, um homem de cabelos negros e olhos azuis com vestes de marinheiro advindo da pirataria passou pelo tráfico e pairou o olhar sobre cada uma das mulheres. O “vendedor” parecia ansioso por se livrar delas, mas ele... Ele estava olhando fixamente para Martinez e ela podia sentir o corpo se encolher, do mais puro medo. Em um sinal de basta, ele se afastou e o outro correu atrás, ainda tentando vendê-las. 
Naquela noite, porém, Lucy sentiu um saco em torno de sua cabeça e o pânico a impediu de gritar, sentia o corpo ser erguido do chão e então, se contorceu, tentou bater em quem estava a levando daquele lugar – afinal, as coisas sempre poderiam ser piores, mas não conseguia, não tinha... Forças ou energia e encolheu-se ainda mais. Mas a pessoa parecia a abraçar.
Quando o saco fétido de batata fora retirado de sua cabeça, Lucy encontrava-se sentada em uma espécie de cama, em um porão sem janelas e com apenas uma porta torta de madeira sentindo o balanço do mar. Ao erguer os olhos, a semideusa deu de cara com o homem que a encarava mais cedo, de braços cruzados e outros dois atrás dele, um segurando roupas novas e outro uma espécie de tigela com um líquido quente dentro.
— Você está segura agora, acredite. — o capitão do navio disse. — Me chamo Edward, esses são meus companheiros, Jack e Sully. — Indicou os dois atrás de si. — Não poderia deixar uma criança naquele lugar, sinto muito o método ser... Bem antiquado e assustador, mas não queria levantar suspeitas. Irei cuidar de você. — Olhou-a. — Mas não quero que saia dessa cabine, apenas nós três sabemos de sua existência aqui e é melhor que seja assim. Não quero ninguém atrás de você.
A garotinha apenas mantinha os ombros encolhidos, e um dos tripulantes se aproximou, largando as roupas limpas ao lado dela na cama e se afastando, fazendo um sinal para Edward e saindo da cabine. Já o outro, aproximava-se e sentava no chão, a frente dela, sorrindo. Ele possuía cabelos ruivos e sardas, um dos olhos estava inchado, como se tivesse apanhado recentemente, e estendia a tigela para a garota.
— Ele lhe explicará tudo que precisa saber, aliás, eu me chamo Edward Shell. Espero que confie em mim com o tempo.
Nisto, o homem saiu da cabine, deixando-a a sós com o assustador tripulante.
— X —
Muitos meses se passaram em alto mar e Lucy já havia se acostumado com o balançar da embarcação e gostava do Kenway, o navio, mesmo que ficasse reclusa naquele porão durante a maior parte do tempo. Veja bem, apenas o capitão Edward, e os tripulantes Jack e Sully sabiam da existência da garota ali. Era perigoso tanto para ela quanto para o próprio capitão que o restante da tripulação descobrisse sobre a semideusa. Não podiam.
Foi orientada para que, caso um estranho aparecesse no porão, fingisse medo e temor do capitão para que não fosse usada como arma contra ele. Esperto da parte de Edward, mesmo que ele tomasse todo o cuidado do mundo para que sua tripulação se mantivesse longe da nova morada de Lucy Martinez.
Com o tempo, Edward havia ganhado a confiança de Lucy, se tornaram confidentes. A menina muito lembrava a filha do homem, que há quase um ano havia sido orientada por ele a escapar do antigo navio, o Jackdaw, enquanto este sucumbia ao ataque de um Kraken.
— Minha mãe certa vez me disse uma loucura. — Lucy comentava em um tom extremamente baixo com o homem sob a luz do luar no convés do navio. Toda a tripulação dormia, então o capitão havia levado a garota para tomar um ar. — Ela disse que eu era filha de um deus. Apolo. Acredita nessa loucura?
Mas não era de fato loucura visto que o próprio Edward era um semideus. O homem na mesma noite havia explicado tudo a ela, como o próprio era um semideus filho de Poseidon, como sua perdida filha Cariba era prole de Anfitrite. Ensinou a garota a manipular o néctar e a ambrosia, a ensinou tudo o que sabia, mesmo que pouco, sobre Apolo e suas proles.
Com o tempo Lúcia havia se acostumado com a ideia de ser filha de uma deidade tão importante como Apolo, mesmo que não pudesse ver sua magnitude solar naquele navio.
Mas como uma maldição que parecia a perseguir, as coisas sempre iriam piorar.
— X —
Lucy sabia que era dia, pois a tripulação fazia um barulho estrondoso no convés, algo de grande estava acontecendo por lá. Logo, passos pesados desceram as escadas de madeira e a porta do porão fora aberta. Lucy, que estava escondida em um canto escuro, não pode ver qual tripulante havia aberto a porta. Entretanto, algo chamou sua atenção. Um garoto desacordado e parcialmente desnudo havia sido largado no chão gelado de madeira e Lucy, mesmo de longe viu que o garoto estava machucado. Se aproximou devagar se arrastando pelo chão até se prostrar ao lado do desconhecido, conferiu os sinais vitais dele e suspirou em alívio, ele estava vivo e não federia no porão por dias a fio. Tateou as vestes do garoto e achou o cantil de néctar escondido. Ele era um semideus.
A semideusa derramou sobre os lábios do garoto uma quantidade necessária de néctar e, após esticar as mãos sobre o corpo dele, recitou um cântico de cura que há muito havia aprendido com Edward. Ela era boa, muito boa. Os ferimentos de Cadmo foram amenizados e com um pouco de descanso, líquidos e boa comida ele ficaria novo em folha. Mas Lucy suspirou em pesar, como conseguiria boa comida e água fresca para o menino? Teria que esperar até a madrugada para pedir a Edward.
Minutos se passaram e o garoto havia acordado. Seu processo de recuperação estava lento e o semideus, que se apresentou como Cadmo, filho de Hefesto, estava agitado. Muito demorou para que Lúcia fosse capaz de o acalmar, mas ela conseguiu. Entretanto, a porta fora aberta de novo e por ela passou Edward Shell. Lúcia se afastou fingindo ter medo daquele homem enquanto, no escuro, observou e ouviu toda a discussão de seu amigo, e o único adulto que a cuidou com carinho além de sua mãe, com aquele semideus. Cadmo havia sido escravizado por Edward outrora? Inimaginável.
— Estou com Cariba. Saiba que qualquer coisa que você fizer comigo será refletido nela. Autômatos, bombas, armas. Todos eles com olhos na filha do filho de Poseidon perfeito, que curiosamente, me trouxe para o alto mar... E olhe aonde eu vim parar mais uma vez? — Lucy estava assustada com o rumo daquela conversa. Sabia o quanto Edward amava Cariba, a menina que não conhecia. Ela deveria ajudá-lo a sair dali, deveria ajudar Edward a reencontrar a filha que estimava.
E foi o que fez. Após a saída de Edward, Lucy voltou a se aproximar de Cadmo e tirou a própria comida e água que havia guardado de sua última alimentação para fortalecer o garoto. Usou seus poderes mais uma vez para acelerar seu processo de cura, mas Cadmo parecia não a ajudar piorando os próprios ferimentos em esforços desnecessários. Esgotou-se até a última gota, teria sido a coisa certa a se fazer?
— Acho que já me esforcei além dos meus limites — ela sorriu forçado, fraca e extremamente pálida. Tossiu rouca e sangue tomou seus lábios rachados e igualmente pálidos. — Desculpa por falhar com você. — fechou os olhos extremamente cansada e se escorou na parede do navio sorrindo fraco. — Talvez eu vá para os Campos Elísios. Quando estiver voando na carruagem do Sol, diga ao meu pai que... — mas a frase nunca foi finalizada. A pequena Lucy de apenas onze anos havia apagado no chão gelado do porão. O esforço extremo em curar Cadmo foi o suficiente para esgotar a menina de tal forma que sua vida lhe foi tirada. A filha de Apolo já não respirava mais.
— X —
— Lucy, filha de Apolo. Alejandra Madrigal, filha de Macária. Eu lhes invoco.
Os Campos de Asfódelos era a maior aglomeração de gente que qualquer um poderia um dia ver. A grama preta tinha sido pisoteada por eras de pés mortos. Um vento morno e úmido soprava como hálito de um pântano. Árvores negras, choupos, cresciam em grupos aqui e ali. O espírito de Lúcia ali vagava ligeiramente zangado e confuso. Ela não havia ido para os Campos Elísios. Mas ela havia sido invocada.
Estranhamente seu espírito fora transportado para um lugar específico dos Campos de Asfódelos, próximo a grande entrada do palácio de Hades. Quem era o responsável por aquela invocação? Cadmo Ghostfire. Apenas os deuses saberiam o motivo do garoto estar ali.
— Mãe? Lucy? Podem me entender? — Ele estendeu a mão na direção delas. Caso pudesse mesmo levá-las, caso a morte não tivesse mais controle, ele poderia levá-las consigo. Elas poderiam tocá-los, e quem sabe, entendê-lo.
Lucy e o espírito de uma mulher morena, notável mesmo com sua translucidez, com traços latinos marcantes, jovem, dona de uma beleza invejável, possuindo longos cabelos escuros que beiravam as dobras dos joelhos assentiram gorgolejando ruídos sem sentido, ali não podiam tocá-lo, mas se aproximaram do garoto. No olhar de Alejandra havia saudade, no de Lucy orgulho. Ele havia sobrevivido então sua morte não tinha sido em vão. Esperava que Edward tivesse se reencontrado com sua filha.
— Me sigam — disse ele. E o mortal passou a correr na direção de um elevador que, estrategicamente havia sido colocado ali pelo deus dos Mortos para que Cadmo voltasse inteiro ao mundo mortal.
Os espíritos das mulheres haviam seguido a ordem do semideus e, antes do garoto, adentraram o elevador aberto. As portas se fecharam e começaram a subir. Bom, não exatamente. Não estavam indo para cima, mas para trás. O ar ficou enevoado e os espíritos à começaram a mudar de forma. Seus mantos cinzentos com capuz tremiam e se transformavam em roupas modernas. O piso do elevador começou a oscilar. Minutos depois, que mais pareceram horas, as portas do elevador se abriram e o garoto se viu com a mãe e Lucy no saguão dos Estúdios de Gravação M.A.C.
Aquilo não era normal. Mortos não poderiam voltar ao mundo mortal. Algo de estranho estava acontecendo. Lúcia Maria Martinez Riera Calderón Leyte-Vidal Alvarez Inclán mais uma vez respirava. Ela estava viva e finalmente pronta para ser levada ao Acampamento Meio Sangue pelo filho de Hefesto.
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tob-rpg-contos · 5 years
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Cadmo Ghostfire ─ O Encantador de Deuses
Demorei para reconhecer Zéfiro. Mas pela maneira como ele ficava dizendo: “ele vai me matar, e eu nem posso morrer. Será que ventos podem pegar insolação?”. E eu sabia da história lendária entre Apolo e Jacinto. Apolo, Jacinto e Zéfiro. O antigo amante de meu amor foi morto por conta da briga entre o vento oeste e o deus do sol. E agora eu raptado por ele, e por outra criatura divina eólica que eu não conhecia.
Naquele ponto, o solo era apenas oceano. Já haviam me levado para longe da costa de Nova Iorque. E os ventos suprimiam todos os meus movimentos... Para onde diabos eu estava indo?
Me concentrei. Fechei meus olhos. Tentei criar fogo, mas eles eram um constante assopra velas, apagando qualquer faísca que eu produzisse. Eu não conseguia empunhar Excalibur, porque meus braços não resistiam ao vento forte. Eu tinha certeza de que só estava respirando porque os ventos permitiam.
Permissão. E eu havia permitido que eles me roubassem? Que eles me sequestrassem em pleno Olimpo? Eu não era ninguém... Mas a esse passo, eu não me rebaixaria a esse sequestro.
Fechei meus olhos e me concentrei. Mesmo com as pálpebras fechadas, eu pude sentir a luz firme de Excalibur em minhas costas me envolver: sabia que ela estava brilhando com sua face de “Afaste-se!”. E foi nesse momento que os ventos me soltaram.
E eu comecei a cair. É, não demoraria 9 dias e 9 noites para a queda terminar.
Na verdade, demoraria muito menos.
 Certa vez, Apolo me recitou uma profecia. Enquanto brincávamos no riacho Zéfiro, exatamente como ele estava com Jacinto a quatro mil anos atrás, a essência de Delfos encarnou em Apolo e me passou a profecia. Eu jamais esqueceria das palavras, dizendo que, basicamente, eu cairia como meu pai caiu.
Eu seria lançado de uma altura que meu pai foi. E minhas mãos atingiriam o céu? O que isso queria dizer?
Não tive muito tempo para interpretar os versos confusos da profecia que Apolo me reservou. Porque quanto mais eu pensava, mais próximo da parede de água do oceano eu ficava.
─ LÍCIO! ─ gritei, invocando minha armadura. Meu corpo todo foi revestido por Oricalco, bronze celestial e couro. Um raio laser partiu do compartimento em minha barriga, saindo da armadura, para diminuir minha velocidade de queda; ou se não, qualquer tentativa minha iria me fazer rodopiar no ar sem qualquer força física.
Mas mesmo que eu conseguisse voar ─ o que eu duvidava que conseguiria ─, para onde iria? Eu já nem sabia mais em que direção ficava a costa americana.
O raio laser diminuiu um pouco a velocidade de queda. Naquele ponto, eu consegui ativar os propulsores nos meus pés e meu corpo passou a sair da trajetória vertical para ir em uma diagonal. Vamos, vamos... Mais quarenta graus e eu poderia ir para a horizontal. Mais força na propulsão, mais força... Trinta graus. Vinte e cinco. Quinze graus e eu poderia manter uma linearidade enquanto a armadura aguentasse; que poderia ser, talvez, por trinta ou quarenta quilômetros. Será que os ventos haviam me levado para tão distante assim?
Dezoito graus, subindo para quinze e...
Percebi que Excalibur já não brilhava mais em minhas costas.
O vento Euros me atingiu em cheio, tomando sua forma corpórea, indo com as pernas em um chute direto nas minhas costelas. Eu perdi completamente o ar nos meus pulmões, e rodopiei como um dado jogado em uma partida de poker. Tentei puxar Excalibur, mas nesse ponto, Zéfiro veio por baixo. Com suas asas brancas me tapando a visão, o joelho divino dele atingiu meu peito em cheio, me fazendo agora rodopiar no eixo da minha própria cabeça.
É. Senti a bile chegar na minha garganta, mas não consegui vomitar nada, ou me engasgaria no próprio vômito.
“APAGA ELE!”, gritou Euros. “VAI SER MAIS FÁCIL ENQUANTO ELE NÃO PUDER USAR A ESPADA!”.
Meu coração disparou no peito. Eu, infelizmente, estava habituado com raptos. O pai de Cariba, Edward, me raptou não uma, mas duas vezes. Um Kraken quase me raptou pro fundo do mar. E agora, o vento oeste e leste me raptavam. O que eles queriam dessa vez?
Os propulsores desligaram nas botas da armadura. Comecei a perder altura, cada vez mais. E quando os ventos vieram ao meu encontro, eu lhes recebi com o que eu tinha de melhor: fogo.
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