#Kavya Nivaan Malik
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Uma espada do caos para um semideus caótico.
Uma enxurrada de encomendas tinham chegado para mim nas forjas, mas enquanto organizava cada pedido, já elaborando os esboços em minha mente, notei algo diferente. Entre tantos, havia um pedido antigo em que o papel já estava empoeirado e pouco legível. Demorei muito tempo para conseguir entender o que estava escrito ali com toda a minha dislexia. Yami tinha pedido uma arma para Cadmo, e aquela arma não havia sido feita. Pois bem, coloquei então aquele projeto como prioridade em ser feito e o faria com muito esmero.
Meu projeto master estava em andamento no Bunker, e, como ocupava grande parte do espaço, eu preferi voltar às forjas. Eu não me incomodava com o cheiro de fuligem e nem com o calor do lugar, era muito aconchegante na verdade e me dava saudades das fábricas das Indústrias Malik, saudades de casa. O suor escorria por minha testa e pelo pescoço grudando os poucos fios de cabelo que escapavam do rabo de cavalo porque, como sempre, a fornalha estava acesa com o fogo ardente em uma temperatura absurda de oitocentos e setenta graus célsius. Eu não precisava usar a fornalha, dado o dom que ganhei de berço vindo do meu pai, mas ainda sim estavam sempre a todo vapor para que meus irmãos pudessem desfrutar.
Naquela manhã eu estava sozinha. Tinha deixado Pesto brincando com Carbone, minha jovem Hippalektryon, e Scar, a cadela infernal de Elijah, nas margens da Floresta Sul. Portanto, minha única companhia era meu machado de reclamação que eu usava como ferramenta de trabalho para moldar o lingote de bronze celestial que brilhava em uma coloração vermelho alaranjada devido ao tempo de aquecimento no fogo vivo provindo de minhas mãos.
O lingote possuía 5 centímetros de largura, 3 centímetros de espessura e um pouco menos de 60 centímetros de comprimento. Cada martelada que eu dava nos lingotes, apoiados na bigorna, era como se acendesse uma chama dentro de mim e um sorriso maior brotava em meus lábios, a cada martelada a confiança voltava a mil e eu tinha certeza que eu poderia projetar qualquer coisa que eu quisesse. O martelo estava com o cabo e o cabeçote reduzidos para melhor precisão e eu utilizava toda minha força na modelagem.
Todos os detalhes do pedido de Yami estavam em minha mente e eu trabalhava firmemente para tornar aquilo realidade. Seria uma longa espada extremamente afiada que seguiria afinando até a ponta, que eu imaginava perfeitamente alinhada com a estrutura e ainda sim muito fina. O cabo seria envolto em couro negro simples, mas o maior e melhor detalhe era o olho, eu tinha gostado muito da ideia daquele olho e faria o possível para sair da forma que o garoto queria.
Golpeei o metal com o martelo em movimentos fortes e precisos sentindo o material sendo aos poucos moldados e sempre virando-o ao forjar. Um sorriso instantâneo surgiu em minha face se aumentando a cada golpe. Precisei reaquecê-lo durante o processo de forjamento para mantê-lo maleável diversas vezes enquanto dobrava e cinzelava o material sobre a bigorna para criar a forma da lâmina desejada. 
O design era perfeito. Nos livros da biblioteca eu encontrei vários dados sobre Éris, mãe divina de Yami, e descobri alguns de seus símbolos. Moldei detalhes em cobre e ouro comum na grua quanto na face da lâmina, que ali imitavam labaredas, apenas um tom decorativo para deixar a arma mais chamativa e imponente, além de incluir os desenhos de tochas queimando e maçãs douradas. Eu estava amando produzir aquela arma e o resultado ficaria, com toda certeza, incrível.
A face da lâmina dupla estava ficando muito boa, a lixadeira e as limas das forjas eram extremamente potentes e eu tinha total controle para manipular bem as ferramentas a fim de deixá-la plana e com ambos os fios extremamente afiados, constatado pelos diversos cortes em minha mão. Nada que eu já não estivesse acostumada. A lâmina de bronze celestial é bastante peculiar e para aquele projeto resolvi aplicar um tratamento especial com uma mistura de argila e substâncias como grama e penas para potencializar os resultados da arma. Revesti a espinha da lâmina com a mistura, deixando a borda em grande parte não tratada, isso ajudaria a tornar a espinha flexível e a borda afiada, para em seguida reaquecer a lâmina no fogo de minhas mãos para forjar.
Quando a coloração da lâmina atingiu novamente aquele brilhante alaranjado quase que vermelho vivo, interrompi o contato direto com o fogo porque era hora da temperagem. Eu sempre ficava ansiosa com o momento da temperagem porque aquele era o momento que poderia dar tudo certo ou tudo errado. Um grande balde de óleo borbulhante estava sempre pronto e separado em um lugar seguro nas forjas para que eu pudessemos, meus irmãos e eu, sempre realizar a temperagem de nossas armas.
Levei a lâmina da espada até o balde de óleo e imergi devagar no líquido ao longo da borda e da ponta primeiro. As labaredas de fogo subiram assim que a lâmina tocou o óleo e minha reação não foi outra além de sorrir orgulhosa de como a lâmina estava reagindo. Porém, a temperagem ia bem além de simplesmente banhar a lâmina no óleo em um rápido e brusco resfriamento. Após retirar a espada do óleo escaldante, verifiquei com meu olhar analítico se aquela arma estaria apta a continuar com a forja, ou seja, se não estava rachada ou empenada. Um sorriso surgiu em meus lábios coloridos em um rosa claro e exibi minha bela, branca e alinhada fileira de dentes completamente extasiada de felicidade ao ver a perfeição que a lâmina havia ficado.
Retornei a espada para o fogo direto de minhas mãos para reaquecer e respirei fundo contanto o tempo exato em minha mente que a arma deveria ficar ali. Minutos depois, interrompi o fogo novamente, ainda naquele aspecto vermelho vivo, e a separei em uma bigorna de repouso na parte mais afastada do calor para que descansasse e esfriasse em temperatura ambiente. Era hora de preparar o cabo.
O material que escolhi foi o álamo revertido de aço e bronze comum, que seria coberto em couro negro. Não seria completamente reto, o cabo teria uma leve curvatura para melhor encaixar nas mãos de Yami para que pudesse empunhá-lo e também para facilitar a movimentação da arma. Serrei a madeira radialmente em quartos no final para dar força máxima, e revesti todo seu comprimento com filetes de aço e ferro para dar mais resistência a impactos na arma. O pescoço, parte superior do cabo e mais próximo da lâmina, estava inteiramente revestido em bronze comum, ao contrário da pega, parte inferior, que possuía tiras de couro animal bem revestidas para melhor manejo da arma. O toque especial naquele cabo seria o olho solicitado pelo garoto e aquela parte foi deliciosa de se fazer.
Utilizando meus conhecimentos de I.A. que eu sempre aplicava em minhas armas, desenvolvi um pequeno globo do tamanho de um dracma utilizando minha tecnologia de ponta. Através de sensores de movimento captados pelo chip no centro da orbe, o olho iria se mexer cada vez que alguém o olhasse. O movimento seguiria da pupila, que era o chip, para todos os lados e ainda teria uma pequena camada de couro a cima, vinculada à orbe, para simular a pálpebra piscando. Na coloração da íris, ao elaborar o chip, apliquei uma coloração avermelhada com tons levemente puxando para o preto a depender do ângulo que visse aquele olho. Aloquei o olho arregalado na parte inferior do cabo e conferi diversas vezes se todo o mecanismo estava funcionando perfeitamente. Claro que estava.
Com o cabo pronto, eu precisava finalizar a lâmina que naquele ponto já estavam fria em temperatura ambiente. Raspei todo o resto de argila do tratamento que ainda estava preso à  lâmina e me dediquei por horas em lixar toda sua extensão para deixar mais afiada com o fio perfeito para só então passar ao polimento, que dediquei um bom tempo me atentando aos detalhes que aquele projeto teria. Conectei o cabo à lâmina a prendendo por travas anexadas aos furos de base e o prendi aos esteios. Usei adesivo industrial e mais pedaços de couro para fortalecer ainda mais a fixação dos cabos e da lâmina e suspirei ao fim.
A arma de Yami estava pronta. Projetei, como requisitado, para que a espada se mimetizassem em um colar de bronze com sua corrente imitando os contornos dos galhos secos de uma macieira com o olho sendo o delicado e curioso pingente do colar. Graças a bênção de meu pai, aquela arma era mais forte do que as comuns que eu projetava antes e sorri largo com o fim do meu projeto esperando que Yami gostasse. Como todo o meu serviço, não haveria custos.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Um belo arco e flechas letais para uma semideusa belamente letal.
Receber um pedido para a forja de um conjunto de arco e flecha já tinha sido um grande desafio, já que não era uma arma que eu comumente forjava, mas receber esse pedido de minha melhor amiga foi o mindblowing que eu precisava para me lançar de volta nas forjas do acampamento. Louise Young é uma garota de extrema personalidade, incrivelmente bonita e altamente letal, características essas que eu com toda certeza queria passar para o projeto e fazer algo diferente de qualquer arco e flecha que já teve naquele acampamento. Difícil? Sim. Impossível? Não. Eu ia amar forjar? Definitivamente.
Passei alguns dias no chalé desenhando e projetando aquele arco com a ajuda de PIAF para holograficar todos os blueprints para o sistema central. Seria uma arma incrível e minha empolgação não poderia ser maior em fazer aquele pedido da minha amiga. Como eu tinha pensado a priori, não faria um arco comum e sem graça que qualquer filho de um deus arqueiro teria. Não, o meu projeto transcendia ao conceito de arco que os semideuses usavam ali. Assim, projetei um arco composto, também conhecido como arco de polias. Seria um arco extremamente moderno que utilizaria de sistemas de alavancas, cabos, polias e roldanas, para minimizar os esforços do Louise ao final da puxada e proporcionar uma facilidade maior no tiro. Estava perfeito.
Bem cedo, no dia seguinte à finalização do meu projeto, segui para o Bunker com a animação à flor da pele. Aquele lugar já tinha se tornado o meu lugar favorito naquele acampamento e parte se devia à reclusão e isolamento onde eu podia ficar em paz fingindo que o mundo não existia na companhia de Elijah. Era sempre maravilhoso.
O lugar era um bunker enorme escondido na floresta além das margens de proteção do acampamento e pelo o que eu havia lido na biblioteca da Casa Grande, o bunker outrora tinha sido um refúgio para semideuses durante a guerra, mas agora era apenas uma oficina do Chalé de Hefesto. Porém, não mais apenas isso. Além de ser uma oficina do tamanho de um hangar de aeronaves, cheia de ferramentas, armas, esquemas, mapas detalhados do acampamento e vários planos de projeto de máquinas, agora possuía também dois quartos gigantescos e super equipados que tinham sido feitos antes de meu tempo. Algo como um de meus irmãos tinha morado ali por muitos anos com a filha de Apolo antes de sumir do mapa.
Ao contrário das forjas, não havia chaminés no telhado, colunas de mármore branco e esculturas de deuses e monstros. Tão pouco era possível ouvir o barulho de máquinas funcionando, disparando crepitações e o som de martelos contra metal. Entretanto, possuíam em comum o ambiente extremamente quente e folículos de fuligem rodopiando no ar conforme as máquinas pesadas funcionavam trabalhando em meus projetos pessoais. Havia no centro mesas cheias de projetos que eu havia trazido para cá, algumas armas prontas e outras na metade do processo de fundição que eu ainda estava trabalhando.
Ao entrar, ativei PIAF, meu sistema de inteligência artificial, com um simples chamado e todo o local foi iluminado em um azul brilhante e metálico. Após uma análise biométrica minha, a voz de PIAF soou em todo o ambiente. Ela me conhecia, sabia exatamente do que eu precisava e solicitei que carregasse o holograma que projetei do arco composto de Louise na mesa principal de análise. Seria um projeto longo e extremamente detalhado, mas era aquele tipo de projeto que eu gostava de realizar, ainda mais para uma pessoa tão especial para mim.
Esfreguei minhas mãos uma na outra e eu estava pronta para começar a trabalhar naquele arco. O encaixe central do arco composto é normalmente feito de alumínio ou magnésio, mas acrescentei à liga metálica cobre e bronze celestial para facilitar na mimetização e deixar mais estável para uma semideusa utilizar. Esse encaixe é a parte do arco onde estão acoplados o estabilizador, o visor e a base onde a flecha é inserida e o projetei para ser tão rígido quanto possível. Para o estabilizador eu manipulei borracha de alta resistência que testei com meus próprios poderes de fogo, herdados do dom de Hefesto, para garantir a segurança do dispositivo para uso de uma filha dos três grandes. Eu estava confiante. 
Já o visor, aquela era minha parte favorita. Com um toque bem nítido de Kavya Nivaan Malik acrescentei ao visor minha especialidade: Inteligência artificial. Com uma tela fina, mas bem resistente, e acionada ao comando de voz estava programado para apresentar as principais informações que Louise necessitaria, como: distância do alvo, velocidade e ângulo do vento, orientação para posicionamento do arco e ainda possuía um sensor infravermelho para detectar inimigos escondidos através da temperatura corporal. Era uma das armas que eu mais estava gostando de fazer.
Os membros do arco armazenam toda a energia da arma, então devem ser capazes de suportar altas tensões e forças de compressão, já que nenhuma energia é armazenada nos cabos. Portanto, optei por realizar a forja complexa de bronze celestial, alumínio de alta resistência e um toque brando de ouro imperial, que eu mal tinha usado do estoque que meu pai divino havia me dado e ensinado a manusear. Foi extremamente complicado moldar esses materiais, mas teria sido muito pior se eu não tivesse o dom de Hefesto e um martelo poderoso de reclamação. As polias e roldanas foram feitas com o mesmo material em cada ponta do membro ligadas pelo fio de poliéster altamente resistente para impedir o rompimento. 
O suor escorria pela minha nuca e meu pescoço com o trabalho intenso e eu já não sabia nem que horas mais eram. Pesto me observava com seu rabinho metálico balançando de um lado para o outro enquanto eu separava alguns lingotes de bronze celestial para a forja das flechas. Os lingotes possuíam cerca de 2 centímetros de largura, 1 centímetro de espessura e um pouco mais de 45 centímetros de comprimento. Cada pedaço de bronze foi prontamente aquecido na temperatura correta pelas minhas próprias mãos até que ficasse maleável.
Quando vi que o bronze tinha adquirido uma coloração amarela alaranjada, guiei o metal maleável até a bigorna próxima e utilizei meu martelo de reclamação para golpeá-lo. O martelo estava com o cabo e o cabeçote reduzidos para melhor precisão e eu utilizava toda minha força na modelagem, força essa que eu nem sabia que possuía. Todos os detalhes estavam em minha mente e eu trabalhava firmemente para tornar aquilo realidade. Golpeei o metal com o martelo em movimentos fortes e precisos, sentindo o material sendo aos poucos moldado e sempre virando-o ao forjar. Um sorriso instantâneo surgiu em minha face se aumentando a cada golpe. Precisei reaquecê-lo durante o processo de forjamento para mantê-lo maleável diversas vezes enquanto dobrava e cinzelava o material sobre a bigorna para criar a forma alongada da haste e a lâmina arqueada da ponta utilizando também um pouco de ouro imperial para fazer somente uma fina borda na ponta de impacto. Não era ouro o suficiente para fazer uma arma extremamente poderosa como os romanos e nem causaria uma destruição em massa se fosse rompido.
A face da lâmina dupla estava ficando muito boa, a lixadeira e as limas das forjas eram extremamente potentes e consegui manipular bem as ferramentas para deixá-la plana e com ambos os fios extremamente afiados. Como sempre, meu trabalho era feito com extremo cuidado e delicadeza para atingir a perfeição da arma. Com um total de dez flechas feitas, resolvi aplicar um tratamento especial com uma mistura de argila e substâncias como grama e penas para potencializar os resultados do corte da ponta. Revesti a espinha da lâmina com a mistura, deixando a borda em grande parte não tratada, isso ajudaria a tornar a espinha flexível e a borda afiada, para em seguida reaquecer a lâmina para forjar.
Quando a coloração da lâmina atingiu novamente aquele brilhante alaranjado quase que vermelho vivo, a retirei de dentro da fornalha porque era hora da temperagem. Eu sempre ficava ansiosa com o momento da temperagem porque aquele era o momento que poderia dar tudo certo ou tudo errado. Um grande balde de óleo borbulhante estava sempre pronto e separado em um lugar seguro no bunker para que eu pudesse sempre realizar a temperagem de minhas armas.
Levei as flechas até o balde de óleo e imergi devagar cada flecha no líquido ao longo da borda e da ponta primeiro. As labaredas de fogo subiram assim que a lâmina tocou o óleo e minha reação não foi outra além de sorrir orgulhosa de como cada lâmina estava reagindo, mas a temperagem ia bem além de simplesmente banhar a lâmina no óleo em um rápido e brusco resfriamento. Após retirar cada flecha do óleo escaldante, verifiquei com meu olhar analítico se aquela arma estaria apta a continuar com a forja, ou seja, se não estava rachada ou empenada. Um sorriso surgiu em meus lábios coloridos em um rosa claro e exibi minha bela, branca e alinhada fileira de dentes completamente extasiada de felicidade ao ver a perfeição que a lâmina havia ficado.
Retornei as flechas para o fogo direto de minhas mãos para reaquecer e respirei fundo olhando Pesto, que parecia tão animado quanto eu correndo atrás de seu rabo mecânico. Ri em um tom baixo e divertido da algazarra que o pequeno autômato fazia pensando em um passeio que eu poderia fazer com ele e Scar em breve. Minutos depois, interrompi o fogo novamente, ainda naquele aspecto vermelho vivo, e a separei em uma bigorna de repouso na parte mais afastada do calor para que descansasse e esfriasse em temperatura ambiente. Eu precisava ainda fazer a aljava.
A aljava não seria para uso nas costas e sim para uso na cintura. Separei um bom conjunto de couro comum e com uma agulha de costura passei a costurar com pontos precisos e bem feitos que não deixariam o couro arrebentar mesmo nos mais bruscos movimentos. Tinha um design que acompanhava o aspecto moderno do arco e das flechas e decorei com desenhos neutros em ouro comum com traçados finos de um pincel delicado.
Com a aljava pronta, eu precisava finalizar as flechas que naquela altura do campeonato já estava fria em temperatura ambiente. Raspei todo o resto de argila do tratamento que ainda estava preso às lâminas e me dediquei por um tempo em lixar toda sua extensão para deixar mais afiada com o fio perfeito para só então passar ao polimento, que dediquei um bom tempo me atentando aos detalhes que aquele projeto teria. Conectei plumas negras nas pontas opostas às lâminas de cada flecha para compor o aspecto escuro de todo o conjunto altamente camuflável finalizando com o mecanismo de mimetização que deixaria o arco em forma de uma pulseira delicada em conjunto de pingentes de cada flecha e a aljava.
Quando terminei o projeto a noite já estava caindo, tomei um longo e relaxante banho ainda no bunker e me arrumei para me encontrar com Louise. Embalei a arma adequadamente e entreguei a encomenda para minha amiga me desculpando pela demora na confecção, mas certamente valeria a pena. Assim como todos os meus projetos de armamento, não haveria custos.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Com meu segredo ameaçado, tenho que explodir a arena.
Desafios já tinham se provado serem bastantes destrutivos, mas aqueles estavam em níveis catastróficos. Depois do desafio de Elijah, em que teve que ficar solto durante a noite, era a hora de fazer o meu. O meu. Deuses! Aquilo era surreal de perigoso e poderia causar a minha expulsão se eu fizesse qualquer coisa que me denunciasse, mas como eu faria isso? Construir uma bomba não era nada muito surreal para mim, já que eu praticamente vivia daquilo em segredo, mas destruir parte do acampamento, porra!
Primeiro eu tinha que decidir onde iria construir aquela bomba. Nas forjas? No Bunker? Era muito perigoso e com toda certeza deixaria pegadas químicas. Produzir no laboratório que eu tinha acesso em Nova York e trazer para o acampamento? Era extremamente arriscado, mas minha melhor opção naquele momento. Eu estava extremamente ferrada em todas as possibilidades e significados daquela palavra. Tchauzinho, eu.
Quando o toque de recolher foi dado pelas harpias, todos os semideuses se recolheram para os chalés, exceto eu. Escondida nas margens da floresta, atravessei o Riacho Zéfiro em direção a floresta norte como se estivesse a caminho do Bunker. Seria mais fácil escapar por ali do que subir a colina como se nada fosse nada. Fora da barreira, me equipei com minhas armas de reclamação para qualquer eventual ataque de monstro e segui entre as árvores e mato alto em direção a estrada que daria na rodovia da saída de Long Island.
Um pouco mais cedo eu tinha apertado os botões do meu "mais novo chefe" para que um de seus motoristas particulares estivesse à minha espera. O carro, que apenas notei ser preto, se camuflava bem na escuridão e agradeci mentalmente por aquilo. Respirei fundo várias e várias vezes ainda escondida na moita tentando manter a minha cabeça no lugar e no que eu precisava fazer. Apenas os deuses, literalmente, sabiam o que poderia ser feito comigo caso eu não cumprisse aquele desafio. Já tinha se passado bons minutos e eu ainda estava ali, precisava agir. Saí por entre as folhas e ajeitei a mochila nas costas antes de correr até o carro. 
Romero já me aguardava com aquela expressão séria e vazia que não dizia nada e abriu a porta para que eu pudesse entrar. Sério, era horrível aquilo de que os soldados não poderiam ao menos sorrir. A vida era uma merda naquele mundo, francamente, como aquelas pessoas aguentavam? O homem apenas assentiu após o meu cumprimento amigável e me dirigiu para o local de destino. Uma viagem torturosamente silenciosa em que apenas o som da minha respiração era possível de se ouvir. Nem mesmo uma musiquinha ele tinha colocado para me distrair do peso daquele desafio.
O laboratório ficava em uma zona remota e isolada de Nova York que eu não sabia onde era. Um prédio sujo, aos pedaços, que não chamava muita atenção da população e nem da polícia. Alguns mendigos e viciados rodeavam o lugar vez ou outra, cobaias para os novos "produtos de consumo humano" produzidos ali. O cheiro forte de metanfetamina chegou em meu nariz assim que desci do carro e rapidamente coloquei minha máscara antes de seguir às pressas para o meu setor, isolado de todas aquelas drogas ilícitas. Era engraçado, para não dizer trágico, o caminho que minha vida tinha tomado por escolha de outras pessoas.
Aquela parte era completamente diferente de todo o prédio e eu até me sentia relativamente confortável ali, muito parecia o setor que eu trabalhava na empresa da minha família. Era um laboratório amplo, bem claro, com diversos balcões com painéis digitais, mesas holográficas e bancadas de trabalho manual, sendo tudo extremamente tecnológico. Não havia janelas, entretanto, apenas uma parede holográfica que imitava uma vista aberta e alta do Central Park. Quando eu passava muito tempo ali até esquecia o quão longe eu estava daquele parque nacional.
Construir uma bomba não era fácil, mas eu já havia projetado um dispositivo explosivo de rastreamento para uso da Reserva Científica Estratégica da Britânica em território do leste europeu. Não estava pronto, apenas tinha os blueprints, então eu ficaria a noite inteira ali para desenvolver o primeiro protótipo a ser testado na arena do acampamento. Eu não queria fazer aquilo.
Após horas de trabalho que fizeram minhas costas doerem como o inferno e minha pele suar como um porco, eu consegui. Utilizei diversos componentes metálicos como prata, ferro e aço, e até mesmo ousei inserir pequenas gramaturas de bronze celestial e ouro imperial, que meu pai divino havia me dado após uma missão. O ouro seria de fundamental importância, pois quando rompido poderia gerar uma explosão avassaladora que, naquele dispositivo, em conjunto com os componentes químicos inflamáveis e explosivos não deixaria uma única pedra em pé daquela arena e arredores. Esperava que ninguém estivesse por perto quando a bomba fizesse seu trabalho.
Eu apenas soube que estava na hora de voltar para o acampamento quando Romero entrou no laboratório para avisar que o sol já estava nascendo. Empacotei minhas coisas e cuidadosamente guardei aquele dispositivo de uma forma que não explodisse em minha mochila, em capas e projeções bem seguras. O acompanhei pelo corredor até a saída dos fundos do prédio novamente colocando a máscara para evitar qualquer tipo de contaminação e corri para o carro que agora eu conseguia identificar como uma Mercedes C180. Já havíamos saído de Nova York quando a voz de Romero se fez presente a primeira vez desde que saímos do prédio, me tirando dos meus próprios pensamentos.
— Esperamos que não se encrenque com esse projeto, senhorita Malik. É esperada a sua presença na reunião do próximo mês. — trocamos olhares através do espelho do retrovisor e assenti levemente. — Será apresentado o novo Executor, quem mais fará uso de seus protocolos, e deverão trabalhar juntos a partir dali.
Ele continuou falando sobre como aquela reunião era importante, mas meu cérebro cheio de TDAH não processava mais suas palavras. Eu deveria trabalhar diretamente com o novo Executor e não estava nem um pouco ansiosa para conhecer ele. Pelo o que os soldados falavam, o "chefe" estava bem empolgado com esse cara novo e não poderia significar coisa boa. Era um assassino profissional e cruel no mínimo.
Romero me deixou no exato ponto onde havia me pegado e me esgueirei de volta para dentro da floresta correndo entre as árvores e pedras até que ao longe visualizei o Bunker. Precisava descansar, então como uma bola de fogo produzida por mim mesma para abrir a porta mecânica. Dormi por horas até viver o meu dia normalmente, mas sempre com o pensamento no dispositivo em minha mochila. A explosão ocorreria ao cair da noite. E tão logo a noite chegou e o toque de recolher foi dado pelas harpias e todos se colocaram em seus devidos chalés, novamente exceto por mim. Me escondi na arena com a mochila em mãos no subterrâneo entre os autômatos desativados usados para o treino e tive uma ideia.
Autômatos. Eu poderia colocar a culpa da explosão em um mau funcionamento daquelas máquinas tão antigas projetadas por sei lá quem. Não seria difícil convencer todos daquela informação, era apenas falar algumas palavras difíceis que ninguém entendia e parecer convincente. Ninguém entendia mais de mecânica do que eu ali. Easy peasy lemon squeeze. Eu não queria ser expulsa. Assim, coloquei cuidadosamente o dispositivo dentro de um dos leões, após abrir o tronco, em uma parte que eu visualizei fios soltos com mal contato. Seria perfeito, eu esperava.
Ativei o dispositivo e a contagem regressiva começou. 5 minutos. Fechei a placa de metal com cuidado e com as mãos trêmulas e saí correndo subindo pelas escadas estreitas que davam para a arena. Eu não tinha muito tempo, então corri o mais rápido que eu conseguia até o Bunker e mal tinha passado pela porta metálica quando o barulho da explosão soou ensurdecedor. Meu corpo bateu na porta e caí de bunda no chão, mas outra coisa tinha se tornado minha preocupação naquele momento. Ergui a cabeça e Elijah estava me encarando e por seu olhar, ele sabia o que eu tinha feito.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Uma encomenda para Ursula Starkiller.
Quanto tempo tinha se passado desde que Ursula Starkiller, uma das minhas únicas amigas nesse acampamento me solicitou armas forjadas? Bom, antes mesmo de irmos para a Grécia festejar a vitória, honrar meu pai e competir em jogos incríveis. Devo dizer que me senti insegura durante todo esse tempo. Por que? Experimente encontrar seu pai em pessoa, ou em divindade?, e o seu irmão que todos falam coisas incríveis de seus projetos no meio de uma competição de quem idealiza a melhor arma.
A vontade que tive foi de me esconder nas forjas e assim o fiz durante as Olimpíadas na Grécia e aqui, no Acampamento Meio Sangue. Eu estava intimidada e apavorada. Porém, Ursula confiava em mim, e aquilo me deu gás para começar, finalmente, as armas que ela havia solicitado.
Eu não me incomodava com o cheiro de fuligem e nem com o calor das forjas, era muito aconchegante na verdade e me dava saudades das fábricas das Indústrias Malik, saudades de casa. O suor escorria por minha testa e pescoço grudando os poucos fios de cabelo que escapavam do rabo de cavalo porque, como sempre, a fornalha estava acesa com o fogo ardente em uma temperatura absurda de oitocentos e setenta graus célsius.
Naquela manhã eu estava sozinha. Tinha deixado Pesto cuidando de Carbone no chalé porque a pequena Hippalektryon, ainda tão novinha, não podia ficar sozinha. Portanto, minha única companhia era meu machado de reclamação que eu usava como ferramenta de trabalho para moldar os lingotes de bronze celestial que brilhavam em uma coloração vermelho alaranjada devido ao tempo de aquecimento na fornalha.
Cada lingote possuía 5 centímetros de largura, 1,3 centímetros de espessura e um pouco menos de 12 centímetros de comprimento. Cada martelada que eu dava nos lingotes, apoiados na bigorna, era como se acendesse uma chama dentro de mim e um sorriso maior brotava em meus lábios, a cada martelada a confiança voltava a mil e eu tinha certeza que eu poderia projetar qualquer coisa que eu quisesse.
Seriam duas adagas de formas diferentes com propósitos diferentes. Precisei reaquecê-los durante o processo de forjamento para mantê-los maleáveis diversas vezes enquanto dobrava e cinzelava o material sobre a bigorna para criar a forma da lâmina curva de uma das adagas, que seria focada em cortes precisos ao ser manuseada, e a achatada da outra, boa para arremesso com uma ótima aerodinâmica que seria perfeito para o plano de Ursula em acoplá-la às correntes que possuía.
Não era difícil manusear um projeto duplo ao mesmo tempo, pelo menos não para mim. Em cada lâmina, após a forja completa, entalhei arabescos com o uso de ferramentas que dariam um toque especial para as armas de Ursula. Com muito cuidado e delicadeza, os arabescos de início pareciam figuras disformes, mas com um pouco de concentração era possível ver que formavam imagens relativas ao progenitor divino da semideusa: Hermes. O Caduceu era a imagem central, mas ainda possuía entalhes de cartas, tartarugas, tênis alados, uma silhueta correndo, entre outras e todas possuíam a coloração dourada do ouro que foi utilizado para decoração.
As faces das lâminas duplas estavam ficando muito boas, a lixadeira e as limas das forjas eram extremamente potentes e eu manipulava muito bem as ferramentas para deixá-las planas e com ambos os fios extremamente afiados, o que foi testado em um pedaço de couro forte que foi facilmente rasgado. Eu queria deixar a arma de Ursula perfeita, então assim como fiz em meu machado de guerra, fiz um tratamento especial com uma mistura de argila e substâncias como grama e penas para potencializar os resultados das adagas. Revesti a espinha das lâminas com a mistura, deixando a borda em grande parte não tratada, isso ajudaria a tornar a espinha flexível e a borda afiada, para em seguida reaquecer a lâmina para forjar. Quando a coloração da lâmina atingiu novamente aquele brilhante alaranjado quase que vermelho vivo, a retirei de dentro da fornalha porque era hora da temperagem.
Corri com as lâminas das adagas até a o balde de óleo e imergi minha obra no líquido ao longo da borda e da ponta primeiro a fim de deixar a superfície de corte mais dura e manter a face da lâmina mais macia para absorver golpes infligidos pelos adversários. Após retirar as lâminas do machado do óleo escaldante, verifiquei com meu olhar analítico se aquelas armas estariam aptas a continuar com a forja, ou seja, se não estavam rachadas ou empenadas.
Um sorriso surgiu em meus lábios em felicidade ao ver a perfeição que as lâminas haviam ficado. Retornei as lâminas à fornalha para reaquece-las e minutos depois, as retirei novamente, ainda naquele aspecto vermelho vivo, e as separei em uma bigorna de repouso na parte mais afastada do calor para que descansassem e esfriassem em temperatura ambiente. Era hora da fabricação dos cabos.
Os cabos das adagas seriam gêmeos, então era mais fácil para desenhar o projeto e fabricá-los. O material que escolhi era álamo revertido de aço e bronze comum. Não seriam completamente retos, os cabos teriam uma leve curvatura para melhor encaixar nas mãos de Ursula para que pudesse empunhá-los e também para facilitar a movimentação das armas.
Serrei a madeira radialmente em quartos no final para dar força máxima, e revesti todo seu comprimento com filetes de aço e ferro para dar mais resistência a impactos na arma. O pescoço, parte superior do cabo e mais próximo da lâmina, estava inteiramente revestido em bronze comum, ao contrário da pega, parte inferior, que possuía tiras de couro animal bem revestidas para melhor manejo da arma. O que diferenciava os cabos era apenas um detalhe, um ômega de aço que estaria na base do cabo da adaga de lâmina reta para que pudesse ser acoplada às correntes da filha de Hermes quando ela quisesse. Com um detalhe interessante e estiloso, acrescentei aos cabos próximo a base duas lâminas pequenas e curvas não muito afiadas, poderiam ser usadas e não machucariam Ursula enquanto e ela as usasse.
Com o cabo pronto, eu precisava finalizar as lâminas que naquela ponto já estavam frias em temperatura ambiente. Raspei todo o resto de argila do tratamento que ainda estava preso as lâminas e me dediquei por horas em lixar toda sua extensão para deixar mais afiada com o fio perfeito para só então passar ao polimento, que dediquei um bom tempo me atentando aos detalhes que aquele projeto teria. Conectei os cabos às lâminas as prendendo por travas anexadas aos furos de base e os prendi aos esteios. Usei adesivo industrial e mais pedaços de couro para fortalecer ainda mais a fixação dos cabos e das lâminas e suspirei ao fim.
Aa armas de Ursula estavam prontas.
Projetei, ainda, para que as adagas se mimetizassem em uma pulseira de corrente dupla. As adagas eram gêmeas e deveriam ser usadas juntas. Sorri largo com o fim do meu projeto e esperava que Ursula gostasse.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Uma pá pode se tornar uma arma? A resposta é sim.
Desde a libação de meu pai na Grécia e a fuga de meu irmão do acampamento eu estava atolada de pedidos nas forjas oriundos da pequena competição produzida e estrelada por Hefesto. Por que os pedidos estavam atrasados? Simples. Uma sereia me amaldiçoou. Parece coisa de filme, mas minha vida tinha se tornado um filme maluco desde que descobri ser uma semideusa. Porém, aquele não era o único motivo porque algumas armas, e quando digo algumas eu quero dizer todas, necessitavam de materiais que eu não tinha no acampamento e nem sabia manipular. Eu teria que sair do acampamento e viajar até as forjas de meu pai em busca tanto do material quanto do ensinamento e eu mal podia esperar para concretizar aquelas missões.
Mas um novo pedido chegou e sua peculiaridade me animou cem por cento para concretizar. Uma pá. Exatamente, uma pá. Não uma pá comum porque o solicitante, Freyr Balder, garantiu pedidos específicos e muito intrigantes para a arma que demandaria inclusive parte de meu conhecimento de tecnologia. Aquele sem dúvida alguma seria um grande projeto e eu prontamente me direcionei até as forjas para começá-lo.
As forjas eram belíssimas, havia diversas colunas de mármore branco revestindo as paredes manchadas de fuligem na parte externa e as chaminés no telhado bombeavam sobre uma aresta com esculturas de deuses e monstros. As forjas ainda eram localizadas na beira de um riacho, com rodas d'água girando engrenagens de bronze e mesmo ao longe era possível ouvir o barulho de máquinas funcionando, disparando crepitações e o som de martelos contra metal. Lá dentro, o ambiente era extremamente quente e se podia ver folículos de fuligem rodopiando no ar conforme as máquinas pesadas funcionavam trabalhando em meus projetos pessoais. Havia no centro mesas cheias de projetos que eu havia trazido para cá, algumas armas prontas e outras na metade do processo de fundição que eu ainda estava trabalhando.
Ao entrar, ativei PIAF, meu sistema de inteligência artificial, com um simples chamado e todo o local foi iluminado em um azul brilhante e metálico. Após uma análise biométrica minha, a voz de PIAF soou em por todo o ambiente. Ela me conhecia, sabia exatamente do que eu precisava e solicitei que carregasse o holograma que projetei da pá de Freyr na mesa principal de análise. Seria um projeto longo e extremamente detalhado, mas era aquele tipo de projeto que eu gostava de realizar.
Há alguns dias eu já tinha dado o start naquele projeto e a estrutura da pá estava pronta. Eu tinha usado magnésio, um material resistente e extremamente leve, para o cabo sendo este revestido por bronze comum. Se eu utilizasse somente o bronze, como Freyr tinha solicitado, ficaria uma arma pesada com um dificultoso manejo e não era isso que queríamos para uma arma. Com 90 centímetros, eu a moldei de forma que seria completamente anatômica em qualquer ponto que o semideus a segurasse cabendo perfeitamente em suas mãos, que eu havia tirado as medidas quando o garoto veio fazer a biometria para as gemas.
Recentemente Freyr tinha sido reclamado por sua mãe, Deméter, então achei que seria interessante lembrar disso na arma, ainda mais por ser uma pá. Dessa forma, incrustei no cabo com fios de ouro comum derretidos no processo de arte figuras que remetessem a deusa, assim, uma serpente rodeava o cabo completando o relevo anatômico do magnésio com o bronze até que a cabeça estivesse despontando na extremidade oposta à da base da pá. Em volta da serpente, desenhados da mesma forma, palhas de trigo e cevada ornamentavam ainda mais o cabo trazendo luxo e beleza.
Mas eu ainda precisava fazer as lâminas, e incrivelmente eu gostava de fazer aquele processo. Separei alguns lingotes de bronze celestial porque, apesar de Freyr ter pedido apenas uma lâmina, eu pretendia fazer duas porque aquele projeto tinha potencial. O primeiro lingote possuía de cerca de 5 centímetros de largura, 1,3 centímetros de espessura e um pouco mais de 25 centímetros de comprimento que seria usado para fazer a lâmina da pá.
Normalmente eu colocaria aquele metal na fornalha, mas desde que descobri ser detentora do dom de Hefesto e que eu produzia fogo vivo de dentro de mim, eu não mais a usava. Levei o lingote para a bigorna, acionei meu martelo de reclamação, que se desmimetizou do isqueiro dourado, segurei firme o lingote com a mão esquerda e todo o meu braço pegou fogo. Levou alguns minutos para que o metal se aquecesse na temperatura correta até que ficasse maleável. Era um processo extremamente importante porque além de tornar o material adequado para a manipulação, durante o processo de aquecimento, substâncias como o enxofre e a sílica se oxidam e separam do metal, criando escória. E é a remoção da escória que fortalece muito o metal trabalhado.
Quando vi que o bronze tinha adquirido uma coloração amarelo alaranjada, quase que um vermelho vívido, interrompi a entrada de fogo direto no contato com o metal e comei a golpeá-lo. O martelo estava com o cabo e o cabeçote reduzidos para melhor precisão e eu utilizava toda minha força na modelagem em movimentos fortes e precisos sentindo o material sendo aos poucos moldados e sempre virando-o ao forjar. Um sorriso instantâneo surgiu em minha face se aumentando a cada golpe. Precisei reaquecê-lo durante o processo de forjamento para mantê-lo maleável diversas vezes enquanto dobrava e cinzelava o material sobre a bigorna para criar a forma côncava, escavada, da pá. Apesar do trabalho bruto, eu tinha cuidado e perícia ao moldar o metal e planejava que aquela face da pá se recolhesse em uma ponta de lança afiada.
Assim foi feito e quando Freyr quisesse, a face da pá, que poderia ser usada normalmente nos serviços de jardinagem e agricultura, se tornaria uma ponta de lança de 30 centímetros. Mas o garoto tinha solicitado uma ponta de lança ejetável no fim do cabo, uma ideia muito interessante que com certeza seria implantada em novos projetos para os campistas. Seguindo o mesmo padrão de trabalho que usei para moldar a face da pá, transformei um lingote de bronze celestial em uma belíssima ponta de lança com 15 centímetros que seria guardada no cabo da pá. Assim, quando a arma estivesse com as duas lâminas a mostra, teria um total de 1,35 metros sendo bastante leve e mortal.
As faces das lâminas estavam muito boas, a lixadeira e as limas das forjas eram extremamente potentes e eu manipulava muito bem as ferramentas para deixá-las planas e com ambos os fios extremamente afiados, o que foi testado em um pedaço de couro forte que foi facilmente rasgado. Com essa parte completa, fiz um tratamento especial com uma mistura de argila e substâncias como grama e penas para potencializar os resultados tanto da pá, quanto da lança. Revesti a espinha das lâminas com a mistura, deixando a borda em grande parte não tratada, isso ajudaria a tornar a espinha flexível e a borda afiada, para em seguida reaquecer a lâmina para forjar. Quando a coloração da lâmina atingiu novamente aquele brilhante alaranjado quase que vermelho vivo, interrompi o fogo vivo de minhas mãos porque era hora da temperagem.
Estava ansiosa, era aquele momento que tudo poderia dar errado porque se eu temperasse erroneamente a lâmina poderia rachar ou empenar e toda a arma estaria reduzida a um metal fajuto que em nada prestaria. Aquele era um projeto demasiado impressionante para eu estragar com um erro de temperagem. Eu já tinha um local separado nas forjas somente para a temperagem dos metais com um grande balde de óleo, que usei para imergir minha obra no ao longo da borda e da ponta primeiro. Esse método era extremamente importante e possuía um propósito duplo: deixar a superfície de corte mais dura e manter a face da lâmina mais macia para absorver golpes infligidos pelos adversários. Técnicas de arrefecimento são extremamente importantes no processo de confecção de lâminas, pois quanto mais rápido você a esfriar, mais dura ela fica.
As labaredas de fogo subiram assim que a lâmina tocou o óleo lambendo minha pele e se eu fosse uma semideusa comum de Hefesto ou de qualquer outro deus teria que ser levada às pressas para a enfermaria com a gravidade que aquelas queimaduras poderiam ter sido. Mas a temperagem ia bem além de simplesmente banhar a lâmina no óleo em um rápido e brusco resfriamento. Após retirar as lâminas do óleo escaldante, verifiquei com meu olhar analítico se aquela arma estaria apta a continuar com a forja, ou seja, se não estava rachada ou empenada. Um sorriso surgiu em meus lábios coloridos em um rosa claro e exibi minha bela, branca e alinhada fileira de dentes completamente extasiada de felicidade ao ver a que as lâminas havia ficado muito boas. Por mais alguns minutos reaqueci as lâminas com fogo direto até a cor do metal retornar aquela maravilhosa tonalidade vermelha alaranjada, e somente depois deixei as lâminas esfriando na bigorna. Me afastei para a mesa onde o holograma da arma ainda estava vívido, aquela seria agora a melhor parte onde eu incrementaria inteligência artificial.
Quatro gemas foram solicitadas que ficassem no cabo com efeitos divergentes ao serem acionadas: congelar, incendiar, eletrocutar e paralisar. Freyr também tinha solicitado uma maneira de somente ele ser capaz de ativar essas funções, como nas armas de reclamação que cada semideus tinha. Como eu era uma simples semideusa, não tinha capacidade ainda de replicar a magia das armas de reclamação em uma forja minha, então utilizei realmente o que era de perícia minha em manipular: a tecnologia.
Tinha solicitado ao filho de Deméter que viesse às forjas para que eu pudesse gravar sua biometria, e assim eu fiz. Tinha em meu sistema todas as dez digitais do garoto que eu previamente utilizei no banco de dados de um pequeno chip que programei dentro de cada gema, que eram pequenos diamantes coloridos artificialmente para que pudesse divergir qual gema acionava qual efeito. Funcionando como uma espécie de munição, os mecanismos instalados no cabo da arma junto às gemas tinham um limite de uso que poderia ser recarregado com inicialmente incluído no pedido dele um total de três usos para cada efeito solicitado na arma. Porém, sempre que Freyr quisesse poderia vir até às forjas solicitar novos cartuchos recarregados, sempre com três usos para cada gema instalada.
A primeira gema trabalhada foi a gema de cor amarela, que seria usada para eletrocutar os inimigos quando fosse acionada. O funcionamento da corrente elétrica aconteceria da seguinte forma: a central eletrônica do aparelho, uma espécie de resistor, envia pulsos de alta-tensão, que podem chegar a 8.000 volts, porém, com uma amperagem quase irrisória, o que impede que qualquer oponente fique preso à corrente elétrica, sendo jogado para longe do usuário da pá funcionando como uma espécie de cerca elétrica. A gema vermelha foi solicitada para ser a que conduziria fogo suficiente para incendiar um inimigo, então me utilizei da estrutura simples de um isqueiro em uma proporção maior. Funcionaria então com uma roldana de metal rugoso, roda sobre uma pederneira, pressionada contra a roldana por meio de uma mola, para gerar faísca. Portanto, num movimento rápido ao pressionar a gema, o utilizador da pá acciona a roldana contra a pedra, ativando uma válvula de gás propano dentro do cabo, criando assim a chama intensa e não regulável capaz de direcionar fogo intenso a somente um alvo em específico. 
A terceira gema com que trabalhei foi o diamante pigmentado de azul, que pelo desejo de Freyr deveria congelar seus oponentes. Me perdi um tempo em pensamento de como eu poderia fazer aquela artimanha que pudesse imitar em certo grau os poderes de um filho de Despina em uma escala reduzida para a arma e cheguei em uma conclusão simples: nitrogênio líquido. Misturei então em um compartimento dentro do cabo o nitrogênio líquido com um gás propelente, dessa forma, ao pressionar a gema azul, o usuário da pá faz com que a pressão dentro do frasco interno no cabo diminua e uma parte do gás líquido propelente se expanda com violência impulsionando o nitrogênio líquido para fora em direção ao oponente gerando congelamento instantâneo total ou parcial por alguns minutos.
A gema de cor preta, por outro lado, me intrigou ainda mais e me fez pesquisar mais a fundo o que eu poderia usar com efeitos paralisantes e após dias perdida na biblioteca em intensa pesquisa, encontrei dados sobre curare em um dos livros de biologia e medicina. Curare é um nome comum a vários compostos orgânicos venenosos conhecidos como venenos de flecha, extraídos de plantas da América do Sul. Possuem intensa e letal ação paralisante, embora sejam utilizados medicinalmente como relaxante muscular. Conversei com Lucy, que entendia mais do assunto do uso medicinal e ela me proveu ainda mais informações e dados das plantas necessárias que eu precisaria para fazer a extração. Alguns telefonemas depois e um dinheiro gasto que não valeria a arma nem se eu cobrasse, eu tinha em mãos os compostos orgânicos de forma que acrescentei em modo líquido com o mesmo funcionamento em spray da gema azul, que poderia causar paralisia total ou parcial por alguns minutos.
Com o cabo pronto após finalizar a inserção dos diamantes e o banho em ouro comum, eu precisava finalizar as lâminas que naquela altura do campeonato já estavam frias em temperatura ambiente. Raspei todo o resto de argila do tratamento que ainda estava preso as lâminas e me dediquei por horas em lixar toda sua extensão para deixar mais afiada com o fio perfeito para só então passar ao polimento, que dediquei um bom tempo me atentando aos detalhes que aquele projeto teria. Conectei o cabo às lâminas as prendendo por travas anexadas aos furos de base e o prendi aos esteios. Usei adesivo industrial e mais pedaços de couro para fortalecer ainda mais a fixação do cabo e da lâmina e suspirei ao fim. A arma estava pronta e quando Freyr ainda quisesse, poderia mimetizá-la em um anel incrustado com os mesmos detalhes de Deméter que havia no cabo.
Embalei a arma adequadamente e entreguei a encomenda para Freyr me desculpando pela demora na confecção, mas certamente valeria a pena. Assim como todos os meus projetos de armamento, não haveria custos.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Uma história absurda sobre coelhos que cacei.
Não sabia que estava participando de qualquer jogo de desafios até receber os meus e quando os li, pensei: “Por que não?”. Poderia ser divertido e aqueles dois em específico me arrancaram gostosas gargalhadas porque pelo visto a insana história do esquilo tinha se espalhado pelo acampamento de alguma forma.
Naquela manhã eu levantei cedo, precisava caçar cinco coelhos e limpá-los além de contar uma história absurda para um amigo e eu sabia o que fazer. Em lugar nenhum dizia que eu precisava caçar sozinha e então, com uma barra deliciosa de Reese’s no bolso frontal do meu macacão jeans que usava por cima da blusa laranja do acampamento, fui até o chalé 13. Não iria em busca de nenhum dos filhos de Hades, mas sim de um dos cães infernais que Tate tinha me dito que com aquele chocolate eu podia comandá-la. Scar seria minha parceria de caça naquela manhã e eu torcia com todas as minhas forças para ele não ter mentido sobre o truque com o doce ou eu seria fatiada por um cão do submundo.
Me aproximei da janela com cautela e coloquei as mãozinhas ao lado dos olhos para espiar, mas aquele lugar era puro breu. Como alguém conseguia ficar ali? Suspirei quase desistindo da ideia de ter Scar com parceira de caça, mas acabei sendo derrubada, mais uma vez, por aquele cão que tinha aparecido ao meu lado rodeada de sombras sentindo o cheiro do chocolate. Eu gargalhava com o focinho dela me cutucando na barriga e rolava na varanda do chalé de Hades até que finalmente consegui alcançar a barra de chocolate e a abri entregando para Scar, que abocanhou tudo de uma só vez. Me levantei devagar batendo o pó do macacão com um grande sorriso nos lábios, eu tinha conseguido.
— Ok, garotona, agora você vai ajudar a Kav. — me agachei em frente a ela deixando que lambesse meu rosto, mesmo que sua língua estivesse suja de chocolate — Gostou do docinho? Vem! Temos alguns coelhos para caçar.
Segui o caminho com ela ao meu lado lembrando bem o trajeto que tinha realizado até a floresta sul com seu dono há alguns meses. Era amplo e muitos animais tinham casinhas ali, o que me fez suspirar, mas pelo menos teríamos um bom cozido de coelho no jantar. Tirei de minhas costas um arco e flecha que eu tinha achado no arsenal com o pensamento de que eu teria que fazer um daqueles para mim qualquer dia desses. Me abaixei novamente em frente a Scar e sorri largo para ela fazendo um carinho em sua orelha direita completamente abobada por sua fofura, mesmo sendo tão gigantesca até mesmo quando controlava as sombras para ficar em um tamanho razoável.
— Você não precisa mordê-los, apenas localizar para mim e eu dou a flechada. Ok? Só encontrar uma toca com cinco coelhinhos. — beijei o focinho dela e me coloquei de pé novamente armando a flecha no arco. — Vai lá garota!
 Assim que dei o sinal, Scar partiu para a caçada farejando cada buraco a terra, cada entradinha no tronco de árvores comigo um pouco distante, mas ainda com visibilidade para ela, e realmente não tardou para que ela encontrar meu primeiro alvo. Sorri largo ao ver o coelho que felizmente tinha um bom tamanho e tencionei a flecha no arco mirando em seu olho direito, assim não estragaria muito a carne. Me surpreendi com meu tiro sem saber se aquilo era uma habilidade que eu desconhecia ou puramente sorte, provavelmente a segunda opção. Corri para pegar o coelho e rapidamente o coloquei no saco de pano acoplado em minhas costas para que o cheiro não espantasse os demais. Um tinha ido, faltavam mais quatro.
Scar não demorou a voltar sua caçada ao meu sinal e poucos metros à frente ela tinha encontrado mais um grande coelho, provavelmente da mesma família do que eu tinha acabado de matar. Arranquei mais uma flecha da pequena aljava e ajustei no arco antes de a tencionar fazendo minha mira também no olho. Ok, eu estava ficando surpresa com aquela mira, eu tinha acertado mais uma vez. Em uma nova corrida, peguei o coelho e o juntei ao primeiro no saco guardando a flecha novamente na aljava.
Talvez fosse realmente o dia da caça ao coelho, porque Scar mal se moveu e já tinha me indicado um novo ainda maior do que os outros dois alguns metros à minha esquerda. Mas então, realmente talvez fosse uma sorte momentânea em um rápido olhar de Tique sobre mim, porque minha flecha além de passar longe de acertar o meu alvo, ainda o fez fugir de mim. O acompanhei com o olhar sentindo meus batimentos nos ouvidos e tencionei uma segunda flecha o mais rápido que eu consegui correndo atrás do coelho para não perdê-lo e qual foi minha surpresa ao lançar a flecha e realmente, mesmo sem mirar, acertar o olho daquela pequena criatura? Obrigada, Tique. Joguei o corpo sem vida do animal no saco e suspirei, só faltavam mais dois.
Scar se animou com a caçada e eu sorri completamente bobinha com o tanto que aquele cão parecia se divertir com a brincadeira pulando sem parar e meu sorriso era enorme, mas tão logo morreu. Entre os pulos de Scar ela se desequilibrou e acabou caindo dentro de um buraco escuro com um choro alto que tinha indicado que ela estava machucada e meu coração se apertou com a possibilidade enquanto eu corria até o buraco completamente desesperada. Eu não ligava se o Tate iria me matar, meu único pensamento era como tirar Scar dali e levá-la para a enfermaria o mais rápido possível, talvez eu precisasse de Pesto.
Porém, as sombras engoliram Scar e ela reapareceu ao meu lado com uma carinha triste. Abracei o cão pelo pescoço com lágrimas nos olhos, mas ela ignorou minhas ordens para que voltássemos e continuou buscando coelhos. Por que eu não tinha outra barra de chocolate com manteiga de amendoim? Droga! Me levantei ainda tentando fazer ela parar, mas Scar, mancando, tinha encontrado outro coelho. Minhas mãos estavam trêmulas, meu coração disparado e minha mente vagava preocupada com a saúde da teimosa Scar, então não foi uma grande surpresa quando errei o alvo ao lançar a flecha. Latidos repreensivos de Scar ecoaram na floresta e acompanhei o pequeno animal pulante fugir de mim, corri mandando Scar ficar e tencionei mais uma flecha no arco antes de lançar na direção do coelho fujão. A flecha atravessou o peito da criatura e fiz uma careta, aquela carne não ficaria tão boa quanto as outras, mas ainda sim corri até seu corpo e o peguei colocando na sacola. Antes que eu pudesse argumentar, Scar partiu em busca do último coelho.
A perninha de Scar estava mesmo machucada e ela cambaleava enquanto corria, até deixando o corpo grandão bater contra uma árvore. Meu coração doía e eu gritava para que ela parasse, mas sua teimosia a fazia continuar e bem que diziam que os cães infernais tinham a personalidade de seus donos. Aquele pensamento, no entanto, me arrancou um sorriso bobo que logo tirei de minha mente quando Scar encontrou o último coelho que eu precisava. Respirei fundo e tencionei a flecha na corda do arco fazendo minha mira antes de lançar, mas aquela também foi acertada no peito. Suspirei e corri para pegar o animal e pelo menos tinha conseguido os cinco coelhos que o desafio exigia, agora eu poderia levar Scar de volta para que alguém pudesse cuidar melhor dela.
O caminho de volta foi regado de preocupação com o cão infernal que mancava a cada passo, ainda que estivesse rodeada de sombras. Eu estava para desistir daquele desafio porque não valia a pena continuar se causasse ferimentos e dor em outros, ainda mais em uma criatura tão esplêndida e adorável como Scar. Porém, ao chegar na área de chalés ela sumiu em escuridão após lamber meu rosto crescendo consideravelmente e nem as horas que gastei em sua procura foram suficientes para encontrá-la. O que eu diria a seu dono? Confortei meu coração imaginando que talvez Scar estivesse no submundo, como uma vez li em um dos livros da biblioteca, sã e salva. Sim, ela estaria lá.
Dessa forma, segui ao pavilhão em caminho para a cozinha a fim de completar meu desafio com os coelhos, mas avistei uma cabeleira belissimamente loira tomando café da manhã na pequena mesa do Chalé 13, minha amiga Louise, filha de Hades. Abri um grandessíssimo e belo sorriso em meus lábios levemente pintados de rosa e corri até ela com a borda do saco avermelhada do sangue dos coelhos mortos.
— Lou! Que bom te ver por aqui. — me sentei em frente a ela e ergui o saco para que ela visse o sangue dos coelhos.  — Você não vai acreditar. Sabia que carne de esquilo pode dar doença cerebral fatal? Se eu fosse você eu ficava de olho no seu irmão porque ele comeu mais da metade do bicho sozinho. — ri levemente com o saco ainda erguido e balancei no ar, algumas gotinhas de sangue pingaram no chão — Aí eu fui caçar coelho porque coelho não dá essas doenças loucas, mas esse não é ponto. Eu preciso da sua ajuda.
Fiz um pequeno mistério falando consideravelmente mais baixo sem dar chance para que ela me respondesse a fim de deixar tudo o mais absurdo possível, até arregalei os olhos um pouquinho ao me aproximar mais de Louise me inclinando sobre a mesa dela. Afastei meus cabelos escuros colocando atrás da orelha e o saco com os coelhos já jazia no chão em repouso.
— Eu estava na floresta caçando os coelhos e eu vi um muito engraçadinho com um terno pequeno e tenho quase certeza que ele foi vestido por aquele garoto do chalé de Zeus ou até mesmo o seu outro irmão esquisitinho que tem o cão bisonho. — fiz uma caretinha engraçada entortando o nariz e a boca, mas logo o sorriso voltou enquanto eu me segurava para não rir — Aquele coelho pulava sem parar e tinha um relógio no pendurado no pescoço e adivinha só, ele falava. Ele que me mostrou onde capturar esses outros aqui porque parece que eles eram coelhos malvados metidos com uma gangue de marsupiais. Acredita? Leporídeos com marsupiais?
Balancei a cabeça em negativa fingindo um desgosto enorme ao dizer aquilo como se realmente fosse um crime ambiental coelhos interagirem com gambás e realmente existisse uma gangue malvada. De onde aquela história toda estava vindo? Eu não tinha a menor ideia, era um verdadeiro improviso que eu fazia ali.
— Parece que o coelho de terno era tipo o líder deles e tinha outros grupos de coelhos também e até lebres, mas isso é outra história. Eles precisam de ajuda para vencer os marsupiais e reunir os coelhos desertores em uma espécie de conselho que vai decidir se eles vivem ou se morrem. — dei um tapa leve na mesa completamente incrédula ainda olhando Louise — Só que eu não posso ajudar porque sou morena, eles precisam de alguém com cabelos loiros e eu falei o seu nome. De noite, quando ninguém estiver acordado eles vão vir ao acampamento até o seu chalé te procurar, não se assuste porque eles são esquisitos mesmo e podem cutucar o seu bumbum com um pedaço de vara de pau. — ri baixinho como se tivesse achando engraçado somente aquela parte, mas eu queria era gargalhar alto com toda aquela bizarrice — Se você não aceitar eles vão te levar a força para a toca do coelho de relógio para o mundo subterrâneo onde vivem. Parece que lá é bem legal, como um mundo mágico ou coisa do tipo. Bom, mas eu preciso ir limpar esses aqui para o jantar. Não esqueça do eu te falei e cuidado com os marsupiais, eles são malvados.
Me levantei mandando um beijinho no ar para minha amiga e mal virei as costas carregando o saco sangrento com os coelhos e caí em uma gostosa gargalhada seguindo caminho até a cozinha. O cheiro de pão recém assado invadiu minhas narinas e o respirei fundo muito grata por Dallas existir naquele acampamento, o que acabou me arrancando uma risada com lembranças de uma conversa sobre filhas de Afrodite comendo pães. Só torcia para que ele não brigasse comigo por estar ali.
Fui até os fundos da cozinha na área que já era utilizada para limpar carnes e pendurei de cabeça para baixo os cinco coelhos com cordinhas nas patas. Escolhi uma faca mais maleável para o trabalho e com um bom fio de corte e cortei um anel em torno de cada perna do coelho, um pouco acima da articulação, sem ir muito fundo porque era completamente desnecessário. Em cada perna, fiz uma única fatia na pele, indo do corte do anel até a parte traseira do animal para facilitar a esfola e só então comecei a puxar um pouco da pele a partir do corte do anel até a parte traseira com relativa facilidade. Cortei o osso da cauda e puxei, com as mãos, a pele do animal que deslizava com uma grande facilidade, como se eu estivesse descascando uma banana. Que tipo de comparação era aquela? Bom, depois da história que contei para Louise eu já estava duvidando realmente da minha sanidade mental.
Enfiei os dedos na pele dos braços do animal as removendo e a puxei a partir da parte superior do tronco para a cabeça, que separei com a faca da coluna vertebral. Com as mãos, quebrei os ossos dos braços e pernas, depois as articulações e cortei a pele do osso usando minha faca o esfolando completamente. O mesmo processo eu fiz com todos os outros quatro e separei bem a pele para um uso posterior que poderia vir a ser necessário.
A parte de eviscerar seria a mais nojenta e agradeci estar sozinha quando as cabeças foram arrancadas e o sangue dos pequenos animais escorriam para o balde. Era um processo de somente aguardar a drenagem para limpar melhor a carne que ficaria mais tenra e saborosa após o preparo. Após o terror de ver tanto sangue acumulado, preparei uma mesa de trabalho onde cortei as patas dos coelhos que poderiam servir de amuletos. Aquele pensamento me arrancou uma risada nasalada porque se pés de coelho realmente dessem sorte ainda estariam grudados no coelho vivo.
Abri suas barrigas com uma pequena incisão e arranquei os órgãos com cuidado. Eu poderia guardar alguns dos órgãos para o cozido, mas achei que seria melhor o descarte duvidando que alguém realmente apreciasse comer vísceras de coelho. Enxaguei as carcaças com água fria na pia e embalei bem as carnes para guardar na geladeira, naquela noite teríamos um bom cozido de jantar.
Limpei a bagunça da cozinha com precisão cirúrgica para que Dallas não quisesse fazer comigo o que eu tinha acabado de fazer com aqueles coelhos e saí de lá. Era necessário tomar um bom banho e logo em seguida eu voltaria para minha procura ao cão infernal que se machucou por minha causa, eu precisava me desculpar com seu dono e ver se realmente ela estava bem.
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tob-rpg-contos · 4 years ago
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Uma sereia pede máscaras de mergulho.
Quando recebi esse pedido da filha de Anfitrite eu não poderia ficar mais feliz. Não era uma arma, era um mecanismo, algo que pudesse permitir que qualquer pessoa desfrutasse do fundo do oceano. Era algo que eu poderia fazer com facilidade, era minha zona de conforto da inteligência artificial e eu sabia exatamente o que fazer.
Não seria complicado elaborar um projeto até porque o pedido de Cariba nem havia sido claro: “Máscara de mergulho pra todo mundo descer no mar.”, era o recado que eu tinha encontrado nas forjas do acampamento. Estranho, mas me deu grandes ideias que eu poderia dar o meu toquezinho especial, o toquezinho Kavya Malik.
Passei um dia inteiro apenas desenhando o projeto em meu chalé. Pesto brincava alegre com Carbone e PIAF me auxiliava com as melhorias que eu estava colocando no pedido da garota. Primeiramente, não seriam máscaras de mergulho comuns e sim super high-tech trajes de mergulho. Seriam trabalhosos de elaborar, mas nada que eu não desse conta. Era um trabalho extremamente delicado que demandava bastante cuidado e as forjas não eram o local correto para fazê-los, portanto, o chalé virou meu estúdio.
— PIAF! — disse firme e após o chamado de ativação do sistema o chalé inteiro se iluminou no tom azulado ativando cada painel de controle somente com a inicialização do meu mecanismo. Luzes LED começaram a piscar, as gemas brilhantes e engrenagens interligadas iniciaram suas atividades e sorri me posicionando na cadeira giratória frente ao painel de controle. 
“Aguarde análise de retina e biometria.”, a voz mecanizada do sistema ecoou por todo o chalé. Uma luz, igualmente azulada, foi emitida de um dispositivo circular no painel principal do chalé diretamente aos meus olhos e face, como um scanner, e, segundos depois, a resposta positiva viera em mesmo tom: “Análise completa.” 
— Olá, Kavya. — a voz não era mais mecanizada e sim melódica com a voz humana de uma mulher comum, a voz que eu considerava agora minha melhor amiga. — O holograma do traje de mergulho está finalizado de acordo com o projeto. Você deseja visualizar? — e assim, me foi exibido holograficamente tudo o que eu tinha projetado para os campistas que iriam usar o traje. Estava perfeito. Então, comecei a produzir com muito esmero.
O traje em si era tamanho único, mas facilmente ajustável para o corpo de quem fosse usar pela maleabilidade do tecido que era feito de algodão na parte interna para trazer conforto, mas revestido de fibra sintética fortemente blindada e de alta resistência com redução de impactos por pressão, radiação e temperatura. Assim, seria possível mergulhar em altas profundidades sem que o traje simplesmente cedesse à pressão da água, mas eu ainda tinha que me preocupar com a pressão que impactaria no corpo do usuário, então me recorri a tecnologia.
Um dispositivo simples acoplado ao traje que trataria de regular a pressão interna com a externa para que não houvesse uma explosão de órgãos e tripas. O pensamento me fez segurar uma risada, aquilo nunca aconteceria se dependesse de mim. A malha sintética era firme, permitia um nado rápido e estava além equipada para capturar a umidade do corpo a fim de neutralizar quimicamente odores residuais e fluidos corporais.
Nem só de praticidade o traje existia, também possuía estilo. Era composto principalmente pela cor branca, com manchas cinza escuras nos ombros e ao redor das pernas possuindo uma rede de linhas de cor laranja cobrindo o exterior contornando o corpo do traje. A malha do traje cobria o pescoço aos tornozelos, mas nas mãos cobria até os dedos, mesmo assim, não impactaria na movimentação do usuário tanto para nado quanto para combate físico e/ou armado. Eu estava extremamente orgulhosa do meu projeto, estava ficando perfeito aos meus olhos meticulosos.
Mas também seria necessário a máscara e foi no projeto da máscara que eu elevei o nível implementando o dispositivo anexo de inteligência artificial. Eu estava exagerando? Estava. Eu ligava? Nem um pouco. Sempre pensei que quanto mais tecnologia melhor seria, então tudo o que eu me preocupava mesmo era se quem quer que fosse utilizar o traje iria gostar. Com o feedback eu me preocupava? Extremamente. Esse é o lado ruim de ser perfeccionista, te dá paranoia de brinde.
Assim como o traje era adaptável, a máscara, projetada para cobrir toda a cabeça, também seria. É difícil moldar algo fixo sem saber as medidas de quem irá usar, porque vai que eu faço um tamanho pequeno e a pessoa tem um cabeção. Não dá né? Então preferi fazer tudo ajustável para melhor conforto.
Com a malha de fibra idêntica ao do traje, kit de fiação e um display no visor, a máscara seria perfeita. Havia um mecanismo de filtragem de ar, ou seja, quimicamente o CO² expelido pelos usuários na respiração seria filtrado e reintroduzido na máscara como O² permitindo que o usuário não se preocupasse em carregar um tanque de oxigênio ou que o ar acabasse.
Acionado por sistema de voz, o SIM, Sistema de Inteligência Marítima, estava programado para exibir no visor da máscara as principais informações que o usuário necessitaria, como: temperatura e pressão da água, níveis de radiação, profundidade, além de apresentar um complexo sonar e dispositivo de comunicação integrado entre as máscaras.
Aquele sem dúvida era o meu melhor projeto desde que cheguei no acampamento e a saudade que me deu de casa, de Suhad, dos meus pais doeu meu coração. Mas estava pronto, os trajes estavam completos e prontos para a entrega, mesmo que tivesse me tomado mais de um mês. Só torcia para que os campistas gostassem, ainda não me sentia integrada completamente ali.
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tob-rpg-contos · 5 years ago
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A primeira arma forjada: Um Machado de Guerra.
O cheiro de fuligem invadia minhas narinas e o suor escorria por minha testa e nuca grudando alguns fios do longo cabelo negro na pele, ainda que estivesse amarrado em um rabo de cavalo. O calor era intenso devido aos oitocentos e setenta graus célsius advindo da fornalha, mas aquilo não me incomodava nem um pouco, curioso não?
Pesto me observava com seu rabinho metálico balançando de um lado para o outro enquanto eu separava um lingote do famoso bronze celestial para a forja. Já tinha feito uma análise do material e tinha juntado com as informações que achei nas forjas e na biblioteca, além do que os outros campistas haviam me falado no banco de dados de PIAF, então eu já tinha conhecimento de como manipular aquele material.
O lingote possuía de cerca de 5 centímetros de largura, 1,3 centímetros de espessura e um pouco mais de 45 centímetros de comprimento. Aquele belo pedaço de bronze foi prontamente colocado na fornalha por mim para aquecer na temperatura correta até que ficasse maleável. Veja bem, esse é um processo extremamente importante porque além de tornar o material adequado para a manipulação, durante o processo de aquecimento, substâncias como o enxofre e a sílica se oxidam e separam do metal, criando escória. E é a remoção da escória que fortalece muito o metal trabalhado. Eu não tinha ideia de como aquela informação veio à minha mente, mas eu tinha certeza da procedência dela.
Quando vi que o bronze tinha adquirido uma coloração amarelo alaranjada, quase que um vermelho vívido, retirei da fornalha usando uma pinça e luvas, apenas por segurança, já que estranhamente eu não me queimava com facilidade nem mesmo em altas temperaturas como aquela. Guiei o metal maleável até a bigorna próxima e utilizei meu martelo de reclamação para golpeá-lo. O martelo estava com o cabo e o cabeçote reduzidos para melhor precisão e eu utilizava toda minha força na modelagem, força essa que eu nem sabia que possuía.
Era a primeira arma que eu estava produzindo e não tive muito o que pensar, a imagem de um longo machado foi a primeira coisa que surgiu em minha mente e eu sabia que aquilo era o que eu deveria fazer primeiro: um machado de guerra. Todos os detalhes estavam em minha mente e eu trabalhava firmemente para tornar aquilo realidade.
Golpeei o metal com o martelo em movimentos fortes e precisos sentindo o material sendo aos poucos moldados e sempre virando-o ao forjar. Um sorriso instantâneo surgiu em minha face se aumentando a cada golpe. Precisei reaquecê-lo durante o processo de forjamento para mantê-lo maleável diversas vezes enquanto dobrava e cinzelava o material sobre a bigorna para criar a forma da lâmina curva em ambos os lados, ainda que uma das lâminas do machado fosse quase o dobro do tamanho da outra. Seria interessante essa diferença na formação da arma, assim quando fosse usada tivesse precisões distintas para golpes diversos. Além das lâminas laterais, uma terceira se concentraria no meio afiada como a ponta de uma lança. Na verdade exatamente como a ponta de uma lança, mas um pouco recuada junto as lâminas curvas.
O design era perfeito. A ponta central descia entre as lâminas curvas esculpida bem detalhada em formato de grua, uma espécie de garça. Nos livros da biblioteca eu encontrei vários dados sobre meu pai divino e aquele era um de seus animais símbolos, talvez fosse uma boa maneira de colocar um pouco de Hefesto em minha primeira criação. Moldei detalhes em cobre tanto na grua quanto na face das lâminas, que ali imitavam labaredas, apenas m tom decorativo para deixar minha arma mais chamativa e imponente. Eu estava amando produzir aquela arma e o resultado ficaria, com toda certeza, incrível.
A face da lâmina dupla estava ficando muito boa, a lixadeira e as limas das forjas eram extremamente potentes e consegui manipular bem as ferramentas para deixá-la plana e com ambos os fios extremamente afiado, constatado pelos diversos cortes em minha mão, mas nada que fosse me impedir de continuar trabalhando em minha primeira arma forjada.
A lâmina de bronze celestial é bastante peculiar e para a minha primeira arma resolvi testar um tratamento especial com uma mistura de argila e substâncias como grama e penas para potencializar os resultados da arma. Revesti a espinha da lâmina com a mistura, deixando a borda em grande parte não tratada, isso ajudaria a tornar a espinha flexível e a borda afiada, para em seguida reaquecer a lâmina para forjar.
Quando a coloração da lâmina atingiu novamente aquele brilhante alaranjado quase que vermelho vivo, a retirei de dentro da fornalha porque era hora da temperagem. Estava ansiosa, era aquele momento que tudo poderia dar errado porque se eu temperasse erroneamente a lâmina poderia rachar ou empenar e toda minha arma estaria reduzida a um metal fajuto que em nada prestaria.
Enquanto a lâmina estava na fornalha eu me ocupei em preparar o local para a temperagem. Um grande balde carregado de óleo seria o suficiente, claro que em um local longe daquela fornalha. Eu que não queria explodir as forjas e reduzir aquele lugar às cinzas, fuligem e metal derretido em minha primeira tentativa de produção. Mas então eu deveria temperar a lâmina. Corri com a lâmina curva e dupla do machado até a o balde de óleo e imergi minha primeira obra no líquido ao longo da borda e da ponta primeiro. Esse método era extremamente importante e possuía um propósito duplo: deixar a superfície de corte mais dura e manter a face da lâmina mais macia para absorver golpes infligidos pelos adversários. Técnicas de arrefecimento são extremamente importantes no processo de confecção de lâminas, pois quanto mais rápido você a esfriar, mais dura ela fica.
As labaredas de fogo subiram assim que a lâmina tocou o óleo e minha reação não foi outra além de arregalar os olhos e emitir um som estranho e gutural do próprio susto que levei. Era minha primeira temperagem e não tinha ideia de que as labaredas poderiam ser tão altas a ponto de consumir o meu braço, que ainda curiosamente saiu pouco ferido. Talvez fosse algum dom ou genética de Hefesto, já que o deus vivia dentro de um vulcão.
Mas a temperagem ia bem além de simplesmente banhar a lâmina no óleo em um rápido e brusco resfriamento. Após retirar a lâmina do machado do óleo escaldante, verifiquei com meu olhar analítico se aquela arma estaria apta a continuar com a forja, ou seja, se não estava rachada ou empenada. Um sorriso surgiu em meus lábios coloridos em um rosa claro e exibi minha bela, branca e alinhada fileira de dentes completamente extasiada de felicidade ao ver a perfeição que a lâmina havia ficado.
Retornei a lâmina à fornalha para reaquece-la e respirei fundo olhando Pesto, que parecia tão animado quanto eu correndo atrás de seu rabo mecânico. Ri em um tom baixo e divertido da algazarra que o pequeno autômato fazia e minha mente já começou a trabalhar nos possíveis incrementos que eu poderia fazer em meu novo amigo. Entretanto, aquilo ficaria para outra hora.
Minutos depois, retirei a lâmina da fornalha novamente, ainda naquele aspecto vermelho vivo, e a separei em uma bigorna de repouso na parte mais afastada do calor para que descansasse e esfriasse em temperatura ambiente. Era hora da fabricação cabo.
O machado que projetei em minha mente seria grande, e não de punho, então separei um pedaço de madeira de álamo, bem dura e resistente, de quase um metro e meio de comprimento. Não seria completamente reto, o cabo teria uma leve curvatura para melhor encaixar nas mãos de qualquer um que pudesse empunhá-lo e também para facilitar a movimentação da arma, já que se tratava de um longo machado de guerra. Serrei a madeira radialmente em quartos no final para dar força máxima, e revesti todo seu comprimento com filetes de aço e ferro para dar mais resistência a impactos na arma. O pescoço, parte superior do cabo e mais próximo da lâmina, estava inteiramente revestido em bronze comum, ao contrário da pega, parte inferior, que possuía tiras de couro animal bem revestidas para melhor manejo da arma.
Com o cabo pronto, eu precisava finalizar minha lâmina que naquela altura do campeonato já estava fria em temperatura ambiente. Raspei todo o resto de argila do tratamento que ainda estava preso a lâmina e me dediquei por horas em lixar toda sua extensão para deixar mais afiada com o fio perfeito para só então passa ao polimento, que dediquei um bom tempo me atentando aos detalhes que aquele projeto teria.
Conectei o cabo à lâmina a prendendo por travas anexadas aos furos de base e o prendi aos esteios. Usei adesivo industrial e mais pedaços de couro para fortalecer ainda mais a fixação do cabo e da lâmina e suspirei ao fim. Minha arma estava pronta.
Ergui o machado de guerra observando cada detalhe da minha primeira obra prima nas forjas com um orgulho único, como uma mãe que observa seu filho. Mas o que eu faria em seguida?
Projetei o machado para que se mimetizasse em um pingente para ser alocado em uma pulseira de prata comum. O pingente teria o mesmo formato da arma original, mas teria apenas um centímetro de comprimento. Quanto tempo demoraria para que eu enchesse a pulseira de prata de pingentes? Ou eu deveria presentear alguém com aquela arma? Algo a se pensar.
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tob-rpg-contos · 5 years ago
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A filha de Hefesto descobre suas armas… e ganha um novo amigo.
No fim de tudo a conversa que tive com Avan, que eu achava ser meu pai e na verdade era meu tio, tinha sido extremamente esclarecedora, ainda que recheada de falhas sistêmicas de PIAF. Eu não estava vivendo um sonho ou uma alucinação, aquilo tudo era real e eu era filha de um deus: Hefesto.
O acampamento não era muito cheio, pelo menos não estava, e eu tinha estabelecido uma rotina fixa que se baseava em acordar, comer e dormir, mas era hora de mudar aquilo. Eu tinha que conhecer melhor o que eu iria enfrentar dali para frente já que minha vida nunca mais seria a mesma.
Eu arrumei aquele chalé para ser um lar, já que realmente seria dali para frente. Tudo estava mais iluminado e todo o painel de controle estava ativado, ainda que algumas funções não estivessem, de início, em pleno funcionamento devido ao mal uso. Aquilo era o caos, no seu mais puro significado. PIAF parecia cada vez mais complicada de se usar a cada segundo que eu passava naquele acampamento e não importava o que eu fazia parecia que só piorava. Estava eu perdendo a capacitação de realizar manutenções nos meu próprio mecanismo? Eu não sabia o que fazer primeiro: entender e arrumar aqueles painéis de controle ou tentar descobrir o que estava acontecendo com PIAF. Quem diria que fazendo um eu conseguiria resolver o outro?
Decidi primeiramente pelos painéis de controle do chalé de Hefesto. O que fazer com aquilo? Limpei toda a grossa camada de poeira que ocupava os vãos entre os botões e telas antes de começar a tentar entender o que era cada coisa e o que cada uma delas fazia. Eu estaria mentindo se dissesse que entendi de imediato porque levou quase um dia inteiro para desvendar todos aqueles códigos em grego antigo que, a princípio, não pareciam fazer nenhum sentido. Mas de certa forma eu entendia aquelas combinações de fórmulas e codificações de uma maneira menos complexa do que o próprio sistema de PIAF. Foram longos três dias formatando códigos, fazendo o backup do sistema e inserindo novas codificações para que no final todos os aparatos do chalé estivessem em seu pleno funcionamento. Ainda bem que eu possuía grande experiência e facilidade com aparatos tecnológicos.
Mas então a PIAF. O que fazer? Minha cabeça girava em um milhão de pensamentos e ideias mirabolantes sobre o que fazer com a programação do sistema até que tive uma ideia que por muitas horas relutei: alterar a configuração sistêmica completamente para aquela que havia acabado de descobrir. Eu iria mudar completamente o meu programa de inteligência artificial para a codificação grega.
Códigos na simbologia grega se mostraram mais fáceis de se trabalhar do que a codificação “mortal” que eu usava. Havia menos falhas nos testes e em poucos dias todo o sistema operacional de PIAF trabalhava com a configuração idêntica à dos painéis de controle do chalé de Hefesto. Curiosamente ela nunca esteve tão perfeita e trabalhando metodicamente quanto aquele momento. Quando fiz essa constatação percebi que aquele lugar era o lugar que eu pertencia.
Agora, semanas depois, eu possuía acesso a tudo o que eu precisava e mais: interliguei PIAF ao chalé. Meu mecanismo em pleno funcionamento tinha acesso a todas as informações do acampamento e as funcionalidades de cada defesa que antigos moradores do chalé nove construíram através da comunicação sistemática do banco de dados do inativado chalé com a rede online de PIAF e a conexão do sistema atualizado. Inclusive descobri para onde o túnel levava, mas não me aventurei em seu desbravamento porque levava diretamente a um Bunker, que estava ocupado. Não seria educado de minha parte invadir daquela forma.
— PIAF! — disse ainda me espreguiçando no confortável beliche entre um gritinho cansado. Os berros do lado de fora das harpias sempre me faziam torcer a face em uma careta pela manhã. Mas após o chamado de ativação do sistema, ao contrário do usual, não foram meus olhos que adquiriram o contorno azul metálico das lentes do dispositivo indicando que havia sido ativado. Eu não os usava naquele momento. Invés disso o chalé inteiro se iluminou no mesmo tom azulado ativando cada painel de controle somente com a inicialização do meu mecanismo. Luzes LED começaram a piscar, as gemas brilhantes e engrenagens interligadas iniciaram suas atividades e sorri me sentindo em casa pela primeira vez.
“Aguarde análise de retina e biometria.”, a voz mecanizada do sistema ecoou por todo o chalé. Antes era apenas em meus ouvidos, mas agora todo o chalé de Hefesto respondia aos comandos de PIAF. Uma luz, igualmente azulada, foi emitida de um dispositivo circular no painel principal do chalé diretamente aos meus olhos e face, como um scanner, e, segundos depois, a resposta positiva viera em mesmo tom: “Análise completa.”
— Olá, Kavya. — a voz não era mais mecanizada e sim melódica com a voz humana de uma mulher comum, a voz que eu considerava agora minha melhor amiga. — O mapa do Acampamento Meio Sangue está digitalizado e pronto para análise com base nas informações que foram acrescidas ao sistema. Você deseja visualizar?
Franzi o cenho pensativa enquanto retirava minha camisola, comprada na lojinha do acampamento, para vestir minhas roupas comuns. Fechei a alça do macacão jeans por cima da blusa alaranjada do Acampamento Meio Sangue, que possuía os escritos em preto com o desenho de um centauro, e neguei por fim.
— Isso pode esperar. Antes de dormir eu estive pensando, PIAF, e ainda não toquei naqueles presentes que disseram ter sido enviados por Hefesto. — cruzei os braços me posicionando no centro do chalé observando o pacote intocado em um dos beliches vazios. Respirei fundo de olhos fechados por alguns minutos. Aceitar aqueles “presentes” seria aceitar essa nova vida e era um passo que eu não sabia se estava pronta para dar.
— Quer que eu faça uma análise prévia? — a voz do sistema preencheu novamente o vazio do chalé que era cortado apenas pelo som da minha respiração, o que me trouxe de volta a realidade.
Dei um passo para frente desfazendo o cruzar dos braços soltando de uma só vez o ar que guardava em meus pulmões. Me aproximei do painel de controle onde havia deixado as lentes de contato da PIAF e as coloquei novamente nos olhos para ter um contato mais próximo com as informações. Ao me sentar na beliche, puxei a caixa para mais perto abrindo sua tampa devagar com o coração disparado em meu peito. — Vamos fazer isso juntas. — declarei.
Franzi o cenho ao retirar da caixa um isqueiro dourado com labaredas estampadas nas laterais. Era interessante, mas Hefesto achava que eu era fumante por acaso? Abri a tampinha do isqueiro e risquei para que saísse fogo, mas nada aconteceu.
— O que isso quer dizer, PIAF? — suspirei passando o objeto por entre meus dedos em uma brincadeira própria e lenta tentando desvendar o que um isqueiro daquele me seria útil. — Faça uma análise.
Pela primeira vez PIAF demorou, o que me deixou aflita. Nenhuma informação aparecia frente aos meus olhos enquanto o peculiar objeto era analisado e aquilo me deixava nervosa. O que diabos era aquele isqueiro que não acendia?
“Análise completa.”, a voz mecanizada do sistema ecoou por todo o chalé e eu soltei, por fim, o ar que eu nem sabia que segurava em meu peito. Não perdi meu tempo em encher o sistema de questionamentos, mas PIAF já parecia saber todas as perguntas que eu faria.
— É um dispositivo mimetizado, Kavya. Creio que para disfarce. — meu cenho se franziu automaticamente e acabei arrumando a postura em que estava na beliche. Um dispositivo mimetizado? Como eu não pensei nisso antes? — Não consegui identificar o tipo de material utilizado na confecção. Não possuo parâmetros em meu banco de dados e está além das minhas capacidades atuais. Precisarei de uma amostra mais pura para melhor analisar e possivelmente de uma atualização do software.
Agora aquele dispositivo tinha minha total atenção. O que seria? Como eu teria que fazer para que desfizesse a mimetização? Quase uma hora se passou entre gritos raivosos e ameaças de arremessar aquele dispositivo na parede metálica até que, de alguma forma, aquele isqueiro se transformou em meu colo.
Era um martelo. O martelo tinha uma cabeça perfuro-contusa por um lado e contusa do outro possuindo um dourado pálido em sua coloração com sulcos irregulares que lembravam finas rachaduras em tons de vermelho incandescente, como fogo entre pedras. A haste parecia ser feita de titânio com trançados de couro marrom e detalhes finos e curvilíneos em vermelho vivo, que muito me lembrava lava, partindo de sua base, que iam até metade da haste. Preso, ainda, a base da haste do martelo havia uma grossa alça de couro similar ao trançado anterior. Eu estava maravilhada com aquela obra de arte em meu colo que até mesmo tocar estava difícil, eu não queria correr o risco de quebrar aquele martelo (mesmo que naquele momento eu não soubesse que era impossível).
Não precisei pedir, pois PIAF já refazia a análise do martelo agora em sua plena e altiva forma. Novamente a demora. Aquilo era angustiante e me dava uma sensação tão ruim que a vontade que eu tinha era de enfiar minha mão dentro da minha garganta e arrancar minhas entranhas fora. Mas então a análise foi completada.
— Nunca analisei algo tão complexo antes, Kavya, mas descobri coisas interessantes. — aquilo me fez abrir um sorriso enquanto a sede de novos conhecimentos tomava minhas vontades. — A haste é feita de titânio e pode de ter comprimento ajustado de acordo com a sua vontade mas é limitada. O comprimento máximo é de 90 centímetros e o comprimento mínimo é de 30 centímetros. — dito aquilo, eu puxei um pouco o cabo o vendo, e sentindo, se ajustar conforme eu movia. Fantástico. — Os trançados são perfeitos para auxiliar no manejo da arma e perfeito apoio das mãos e a alça serve para sustentação do martelo e/ou arremesso. A cabeça do martelo também pode ter seu tamanho reduzido, mas não aumentado. Não é exclusivo para combates e batalhas, também pode ser usado para forjas e atividades de manufatura, para tarefas e ações mais delicadas ou que requeiram maior precisão. Recomendo que o ajuste da cabeça do martelo seja feito junto com o ajuste da haste. Para as propriedades físico-químicas será necessário uma análise do material puro.
Todas aquelas informações me deixaram boquiaberta, mas um pouco assustada também. Aquele martelo era tão lindo e possuía tantas funções que eu nem mesmo sabia por onde começar. Era perfeito.
Fiquei mais alguns longos minutos analisando aquele martelo e em como ele parecia se encaixar perfeitamente em minha empunhadura. Estava ansiosa para explorar as limitações daquela arma e testar meu mantra de que absolutamente tudo pode ser aprimorado.
Por fim, a arma voltou a ser um isqueiro em mão direita e sorri levemente o guardando no bolsinho do macacão que eu usava. Me sentei novamente no beliche puxando a caixa para mais perto agora com uma animação diferente e peguei com ambas as mãos um bracelete feito completamente de couro marrom com detalhes prateados em torno de todo ele. Era lindo.
Seguindo o princípio do martelo, supus que aquele objeto também estava mimetizado, então me pus a tentar desvendá-lo. Novamente demorou um pouco até que ele se revelasse: era um escudo.
O escudo possuía 60 centímetros de diâmetro e era perfeitamente redondo com uma borda dourada que parecia ser feita de ouro. A superfície de impacto, convexa e com um aspecto prateado, era ligeiramente espelhada e bem polida. Tinha correias de couro marrom na face côncava para prender-se firmemente ao braço, o que prontamente o fiz e me espantei como a forma servia perfeitamente para mim e o quão leve era.
A análise por parte de PIAF também havia sido realizada e fiquei ainda mais empolgada com o que aquele objeto poderia fazer. Descobri que a face côncava do escudo, além de receber impactos, poderia ser programada para monitorar uma área aberta de até 200 metros ao redor dele, sendo possível observar pela superfície do escudo essa zona de alcance. Se fosse preciso ainda havia a opção de dar zoom e replay no que estava sendo visto. Mas assim como ocorreu com o martelo, para descobrir as propriedades físico-químicas seria necessário uma análise do material puro.
Eu estava em puro êxtase naquele momento e não tinha ideia de que aquilo poderia melhorar. Um latido. Um latido mecânico. Franzi o cenho com aquilo, mas o barulho vinha diretamente da caixa. Com a sobrancelha arqueada e a curiosidade à flor da pele se aproximou daquela caixa novamente que não parecia parar de despejar surpresas em sua face que nem mesmo notei quando o escudo voltou a ser apenas um bracelete, agora em meu pulso. Outro latido mecanizado.
Uma espécie de robô em formato de cachorro em uma material metálico de um dourado vívido pulou da caixa diretamente em meu colo. Pelo susto, acabei jogando aquela coisinha longe, mas o robô parou em pé após uma pirueta. O que diabos era aquilo? Eu tinha ganhado meu próprio robozinho? Era incrível!
— PIAF!! — exclamei impressionada com o que eu via a minha frente com as mãos em minha face. Aquele robozinho se comportava como se fosse um filhote de cachorro real latindo e balançando o rabinho em uma animação ao ver sua dona. — O que é isso?
E PIAF prosseguiu com a análise enquanto o robozinho parecia se divertir com a luz azulada que era direcionada a seu pequeno corpo enquanto meu coração palpitava em expectativa. Nunca antes a frase “Análise completa.” foi tão aguardada quanto naquele momento e cheguei a dar pulinhos no mesmo lugar em animação quando a ouvi.
— Você vai amar esse, Kavya. É uma espécie de robô completamente autômato feito o mesmo material desconhecido que localizei em suas armas. Assim como elas ele possui uma resistência que não consigo mensurar e não possui nenhuma habilidade especial, ainda que eu consegui localizar abertura para melhorias e incrementos. — a cada palavra ouvida meus olhos pareciam brilhar mais e mais. Me abaixei sentando em minhas pernas e rapidamente o autômato correu até mim entre latidos e abanar de rabo. — Ele possui um pequeno mecanismo em sua barrigas que pode ser ativado, mas não consigo detalhar o que pode acontecer. Ele possui ativação por voz também e pode ser ativado e desativado. Quer testar? 
Sorri largo em uma animação desmedi balançando a cabeça em afirmativo diversas vezes, mesmo que ninguém pudesse me ver. Foi um ótimo dia aquele e me diverti muito brincando com o autômato. Pensei várias vezes se poderia acabar realizando uma conexão do autômato com PIAF, mas acabei deixando esse pensamento para depois.
— Você precisa de um nome bonitinho, cachorrinho. — falei enquanto passava a ponta dos dedos na estrutura metálica que o revestia como se eu tivesse acariciando pelos. Eu estava feliz ali. — Vou te chamar de Pesto. Eu adoro molho pesto e adoro você.
Aquele foi um grande passo na minha auto aceitação. Ali, pude me conhecer mais e aceitar o que eu viveria daquele ponto em diante. Eu e Pesto teríamos muitas aventuras.
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tob-rpg-contos · 5 years ago
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E então eu descubro a verdade, a dolorosa e intrigante verdade.
Minha cabeça girava em uma sensação nauseante vinte e quatro horas por dia com tanta informação que eu recebia de uma só vez o tempo todo. Mentiria se eu dissesse que não vomitei em uma sacola no meio de todas aquelas pessoas no abarrotado chalé de número onze. Sim, eu vomitei. Mas era uma loucura aquele lugar e a quantidade de gente dizendo bizarrices e fazendo coisas estranhas me deixava com uma ânsia esquisita.
Tate era uma boa pessoa e me explicou bastante coisa daquele lugar, como treinavam para sobreviver, como a maioria ali tinha partido para uma viagem talvez suicida para cumprir uma profecia enviada pelo próprio deus Apolo. Pff! Fala sério, não é? Eu estava convicta que tinham me trazido para um manicômio porque era a única explicação para estarem me enfiando goela abaixo essa droga de mitologia grega.
Mas então no entardecer do quinto dia em que eu estava lá, as coisas viraram de cabeça para baixo. Uma bola de fogo com cerca de 15 centímetros de diâmetro surgiu no ar a minha frente e, embora fosse bem quente, não parecia ser perigoso e aquecia minha alma de uma maneira quase... paternal. Já era estranho uma bola de fogo aparecer do nada, mas acredite as coisas pioraram quando aquela bola de fogo se transformou em alguma coisa mecânica que eu nunca tinha visto, uma espécie de animal talvez que estalava em sons metálicos do funcionamento de engrenagens enquanto balançava um rabo animado. Meus olhos se arregalaram e tive que me beliscar mais uma vez. Que droga era aquela?
Como se não bastasse aquela criatura metálica e bisonha me lançou fogo diretamente em minhas roupas que pareciam se incendiar sem ser danoso à minha pele. Eu gritei! Por mais que não sentisse dor alguma eu estava completamente, cem por cento, APAVORADA e eu gritei como a garota assustada que eu era naquele momento. O fogo consumiu minhas vestimentas, mas eu não fiquei desnuda de forma alguma já que no lugar do belo macacão jeans que eu usava surgiu uma camiseta acinzentada de mangas curtas. O material em muito me lembrou as cotas de malha que usávamos para revestir as luvas dos trabalhadores das máquinas na empresa de minha família, embora claramente não o fosse. O fogo se elevou e apertei meus olhos pensando “Pronto, agora é que sou incinerada de vez.” enquanto a transformação da vestimenta continuava ao passo que ombreiras, braceletes e joelheiras surgiram em meu corpo. Logo eu estava vestida como uma espécie de guerreira simplória em uma falsa armadura de algodão e poliéster.
Os olhos da criatura metálica já não brilhavam como antes após o fogo se extinguir de minhas vestes e era notável que o bater de suas asas estava mais lento e cansado como se estivesse acabando sua bateria. Senti empatia com aquela máquina, eu também estava cansada como se minha própria bateria estivesse em seu fim, então me aproximei para tocá-lo. Entretanto fui surpreendida mais uma vez, não era surpresa de mais por um dia? Aparentemente não.
Como em um último esforço da peculiar máquina, suas asas alçaram voo para logo a cima de minha cabeça, se encolhendo novamente em uma esfera, pelo o que pude ver, que voltou a reluzir belamente em um dourado forte como fogo vivo. De repente um “BUM” explodiu e mais um grito assustado eclodiu de minha garganta. A criatura metálica e barulhenta não estava mais ao topo de minha cabeça e sim uma bola flamejante com o símbolo de uma marreta e um martelo entrecruzados.
Naquela noite não retornei ao chalé de número onze. Fui expulsa de lá sobre os dizeres de um centauro (eu disse que ficava pior a loucura, não disse?) que eu pertencia ao chalé de número nove, o chalé de meu pai Hefesto. Agora imaginem a noite de insônia que tive. Eu tinha um pai e ele não era Hefesto. Meu pai era Avan Ivaan Malik e minha mãe era Kamillah Jameela Malik e eu não tinha nada a ver com nada daquilo. Embalei a noite em um choro contido querendo sair daquele pesadelo e voltar para minha casa, para a minha realidade. Eu chorei até dormir.
Mas eu não poderia negar que tinha gostado mais do chalé de Hefesto do que o chalé de Hermes. O lugar era feito de tijolos e possuía uma chaminé saindo dela, como uma pequena fábrica ou um trailer de grandes dimensões. A entrada era como uma porta de cofre, circular e de metal grosso e pesado que abria com muitas engrenagens girando e fumaça sibilando. Era divertido ver a porta abrir e fechar e seria mentira dizer que não fiquei fazendo isso por horas a fio. As paredes eram de um metal brilhante e alguns campistas me disseram que aquele chalé era conhecido por ser impuro e bagunçado, cheio de lixo e máquinas, mas nada daquilo era verdade. O chalé era vazio e não parecia ter gente ali há muitos anos. O que me fez pensar no tal irmão que diziam que eu tinha ali, Cadmo o nome dele, onde o garoto estaria? Na missão com o restante dos campistas, talvez? Mas sem dúvida o que mais me intrigou no chalé foi um túnel que descobri embaixo dele e eu juro que realmente queria adentrar e descobrir para onde ia, mas naquele primeiro momento eu não tive coragem.
Os beliches de aço eram dobrados contra a parede e possuíam um painel de controle digital, luzes LED piscando, gemas brilhantes e engrenagens interligadas. Por um momento me senti em meu laboratório pessoal no Setor de Design da Malik Industries, me senti em casa. Um poste de incêndio descia do segundo andar, embora o chalé não parecesse ter um segundo andar visto do lado de fora. Uma escada circular levava ao porão onde tinha ferramentas elétricas, uma variedade de armas, uma bancada de trabalho e um monte de sucata. Um sorriso correu por minha face e passei a imaginar o tanto de coisa que poderia ser feito ali, vários de meus protocolos seriam úteis. De repente, estava mais animada com o lugar. 
Como estava sozinha, tomei a liberdade de escolher minha própria beliche e ela era incrível. Possuía uma estação de jogos embutida no pé, um sistema estéreo na cabeceira da cama, uma geladeira com porta de vidro na base e um monte de painéis de controle nas laterais. O que era ainda mais incrível: descobri que todas as camas se retraem para uma sala privada no porão. Aquele chalé era magnífico e combinava muito comigo.
No dia seguinte após a reclamação já não me tratavam como qualquer uma. Me falaram que eu deveria produzir armas como meu pai e meu irmão, que era um dos maiores e mais brilhantes ferreiros que já havia passado por aquele acampamento, mas eu me recusava a priori. Não queria pensar nisso, minha verdadeira família tomava conta de cada sinapse minha e eu tinha que voltar para eles. Mal eu sabia naquele momento que isso demoraria para acontecer.
Eu me lembrei, dias depois, do que aquele garoto estranho, Anthony, havia me dito na enfermaria no dia em que despertei naquele lugar: “Se ficar com dúvidas extra tem um video na TV da Biblioteca. Uma pe��a feita por Apolo, explicando tudo do Acampamento.”. Eu não acreditava nem um pouco naquelas coisas, mas se tivesse algo que pudesse clarear meus pensamentos, eu iria atrás.
Subi as escadas do deck da enorme casa azul-celeste com receio, algo em minhas entranhas me dizia que eu não estava preparada para o que iria descobrir. Eu deveria ter dado meia volta e sair daquele acampamento para viver minha vida na doce e abençoada ilusão que sempre vivi, mas ao invés disso eu entrei na casa.
A passos curtos e cautelosos caminhei pelos corredores reconhecendo a porta da enfermaria, mas aquele não era meu destino. Abri e fechei algumas portas, estava definitivamente perdida, mas após alguns minutos de busca encontrei a biblioteca.
Era um ambiente grande, bem maior do que eu achei que seria, e estava abarrotado de livros empoeirados. Lembro de ter pensado que ninguém ali era grande fã de leitura. Mas o que mais me intrigou era que a maioria dos títulos estava em uma língua estranha, antiga, grego talvez? Grego antigo definitivamente e o mais absurdo era que eu entendia o que cada livro se referia, eu conseguia ler e entender aquela língua nada usual sem a dificuldade que eu possuía com o inglês pela dislexia. Senti meus músculos se contrair deixando meus pelos dos braços arrepiados com a constatação. Tudo aquilo parecia piorar a cada segundo no quesito estranheza.
Fiquei um bom tempo entre as lombadas dos livros, folheando suas páginas, lendo suas palavras. Tempo o suficiente para esquecer completamente meu objetivo principal em ver o tal vídeo explicativo sobre o acampamento. Tempo o suficiente para achar algo que me pertencia indiretamente.
Um livro grande e grosso possuindo a capa branca com detalhes dourados, sendo essa a cor do título “T. F. Malik” me chamou a atenção. Era meu sobrenome em um livro empoeirado na prateleira nos fundos de uma biblioteca em um lugar completamente alucinógeno. A quantidade de poeira que tinha naquelas páginas indicavam que aquele livro estava parado naquela estante por muitos anos. Passei a mão na capa com cuidado para limpar e notei que os entalhes dourados pareciam ter sido feitos a mão com tinta, aquilo era um diário. Um diário de alguém da minha família.
Abri o livro e a primeira frase já me impactou: “Este diário pertence a Tahani Fareeha Malik”. Esse nome não me era estranho, eu já tinha o visto em algum lugar. Forcei em minha memória e lembrei de uma vez que meu pai me mostrou a árvore genealógica da família desde seus primórdios, mas aquele nome era recente. Tahani era irmã caçula dele e tinha falecido de uma grave doença ainda muito cedo, pouco depois que eu nasci. O que o diário de minha tia estava fazendo naquele lugar? Você deve estar me julgando porque é completamente errado ler o diário de outras pessoas mas: 1. Era minha tia e ela já estava morta; 2. Eu estava confusa com tudo o que estava acontecendo; 3. Eu queria ler.
Mas foi a pior leitura da minha vida. As palavras se misturavam entre o inglês, urdu e grego antigo, era difícil e eu tinha que reler as frases diversas vezes para que fizessem sentido em minha mente, mas as informações que processava eram mais estranhas ainda e me deixavam com raiva, mágoa e uma tristeza enorme.
Aquela Tahani do diário era definitivamente a Tahani da minha família. Ela descrevia ali como amava Avan e como Ahmed era um péssimo irmão e a odiava porque ela estranha e uma semideusa. Tahani era filha de Atena. Meu avô Farrukh, que eu não conheci, teve um relacionamento carnal com uma divindade grega que originou minha tia, Tahani. Era muita coisa para minha cabeça e acabei perdendo a conta de quantas vezes tinha fechado aquele diário e o devolvido para a estante, mas minha curiosidade era maior. Quem diria que eu descobriria mais sobre mim naquele diário do que sobre sua dona?
Tahani havia passado sua adolescência naquele acampamento longe de toda nossa família e lutando guerras que eu apenas lia nos velhos livros de história quando ainda fazia a escola básica. Naquele diário ela descrevia sua rotina, seus amigos, suas missões. Era como ler um livro de ficção, um livro de heróis e eu me apaixonei por sua história. Tahani era uma mulher incrível e eu não entendia o motivo de meu pai nunca ter me contado sobre ela antes.
Mas a leitura acabou ficando mais estranha conforme a verdade me atingia. Queria eu naquele momento nunca ter passado no setor de exportações da Malik Industries com Suhad. Assim eu teria continuado a viver minha vida normal sem essa droga de realidade alternativa. Eu queria explodir junto daquele diário.
“[...] Eu entendo que para uma semideusa, como eu sou, completar dezoito anos é um milagre. Muitos de meus amigos morreram em campo de batalha, mas eu estou fazendo aniversário e passando para terceira fase da minha vida: agora eu sou uma mulher adulta. [...]” Aquele era um dos últimos capítulos de seu diário, ela realmente era muito nova quando faleceu, igual meu pai havia me contado. Meu coração se apertou ao constatar aquele fato porque algo me fazia me ver naquela mulher, eu possuía uma ligação muito forte com aquele personagem nunca conhecido. 
Suspirei fechando os olhos por alguns segundos, precisava respirar fundo e já não sabia quanto tempo estava ali dentro perdida nas palavras daquele diário, eu só sabia que queria mais da história de Tahani. Então, continuei a ler. “[...] A missão já havia se encerrado quando ele se aproximou de mim. Hefesto era atencioso, me dava presentes, me mostrava suas invenções com um carisma encantador e uma devoção por seu trabalho manual que amoleceu o duro coração que eu abrigava em minha cavidade torácica. Eu, Tahani Malik, me apaixonei por Hefesto, o deus fogo, dos metais, da metalurgia e [...]” O QUE??
Eu parei de ler naquele exato momento. As peças começavam a se encaixar em minha em minha mente como um sistema interligado porque eu estava longe de ser burra. Hefesto havia me reclamado como sua filha há poucos dias e naquelas páginas eu lia sobre um relacionamento amoroso daquele deus em particular com minha tia, que era filha de Atena. AQUILO NÃO PODERIA ESTAR ACONTECENDO.
Meu coração doía, a mentira sendo exposta, as máscaras caindo e as lágrimas preenchendo meus olhos. Toda minha vida eu acreditava em um teatro bem elaborado por pessoas que eu amava. Eu estava destruída naquele momento.
Fechei o livro e me levantei da poltrona macia que havia me aconchegado durante as horas em que estive na biblioteca. Com o diário de Tahani em baixo do braço, saí daquele lugar sem enxergar um palmo à minha frente pela quantidade de água que escorria de meus olhos.
[...]
Fiquei três dias no total sem tocar no diário da minha mãe. Sim, Tahani é minha mãe caso ainda não tenha entendido. Eu estava furiosa com meu pai, digo, com meu tio. AAARRRGGGG!!!!! Como é complicado essa situação. Meu coração se apertava toda vez que eu pensava nisso.
No fim do terceiro dia, decidi entrar em contato com Avan. Precisava esclarecer as coisas, precisava entender o motivo de ter me escondido tudo aquilo. Estava deitada em minha cama no solitário chalé de número nove observando o teto quando decidi tomar coragem.
— PIAF! — disse ao me levantar da cama deixando os pés descalços no chão quente, mas a temperatura não me incomodava. Logo meus olhos adquiriram o contorno azul metálico das lentes do dispositivo indicando que havia sido ativado e a voz mecanizada do sistema ecoou em seus ouvidos. “Aguarde análise de retina e biometria.”, era incrível como a voz do sistema de PIAF era audível somente àquele que a utilizava. Aos meus olhos todo o sistema se abriu para fazer a minha análise e sorri levemente quando esta foi completada e aceita. Ela nunca falhava. — Oi, PIAF.
— Olá, Kavya. — a voz não era mais mecanizada e sim melódica com a voz humana de uma mulher comum. Me senti em casa pela primeira vez em muito tempo, mas meu peito ainda pesava. — Bem vinda de volta, em que posso ser útil?
— Quero que acesse toda a documentação criptografada da minha família e busque por Tahani Fareeha Malik. Me diga tudo o que saiba, PIAF. — suspirei esfregando a lateral do rosto observando a contraposição do chalé com as informações sistemáticas do meu dispositivo. — Mas primeiro… ligue para Avan Malik e garanta que não seja rastreada.
— Sabe que posso fazer os dois ao mesmo tempo, não é mesmo? Afinal, você me criou, Kavya. — não pude deixar de sorrir e acabei me escorando na parede metálica do chalé deixando meu corpo escorregar até o chão, onde me sentei de pernas cruzadas.
Meu coração batia mais rápido conforme os toques da chamada se tornaram audíveis e fiquei em silêncio por vários segundos enquanto a voz de meu tio, que eu achava ser meu pai, adentrou meus ouvidos ao ser atendida.
— Pai? — perguntei com a voz fraca e rouca, um tanto emocionada e embargada pelo o choro que eu segurava em minha garganta, mas que de nada adiantou já que explodi em um choro silencioso com o suspiro de alívio que Avan emitiu. “Kavya, milha filha, onde você está? O que aconteceu? Você está bem?”
Eram muitas perguntas, ele tinha muitas perguntas, mas as minhas eram mais importantes naquele momento. Por mais que eu estivesse magoada com a mentira, Avan era sim o meu pai já que ele quem me criou como filha e me deu amor, carinho e uma educação esplêndida.
— Eu estou bem. — funguei diversas vezes soluçando com a dor se alastrando pelo meu peito. “Você está chorando. Fala comigo, meu amor. Sua mãe está morrendo de preocupação”. Cada palavra dele parecia esfaquear o meu peito, doía como o inferno. — Eu estou bem. — eu repeti respirando fundo e enxugando minhas lágrimas da face. — Eu juro que estou bem, mas… por que mentiu para mim, pai? Por que nunca me contou sobre minha mãe? Sobre minha verdadeira mãe, sua irmã… Tahani Fareeha Malik.
O silêncio. Eu sabia que não era o melhor jeito de jogá-lo contra a parede, mas eu precisava. Precisava entender o lado dele, eu precisava e sabia que não conseguiria me encontrar com minha família pessoalmente tão cedo. Eu não tive escolha.
Não foi uma conversa fácil. Eu gritei, me extrapolei com meu pai e chorei horrores ouvindo o que ele e minha mãe tinham a me dizer. Eram meus tios, mas sempre seriam meus pais. Tivemos uma conversa esclarecedora em que mentiras eram proibidas então eu descobri a toda a verdade, eu descobri a dolorosa e intrigante verdade sobre mim mesma. Meu coração doía, tenho certeza que o coração deles também doía, mas ficaram aliviados quando eu contei onde estava.
O Acampamento Meio Sangue era seguro para pessoas como eu, semideuses. Eu estava segura por enquanto, mas tudo iria depender do que eu fizesse para garantir minha segurança. Eu teria um final feliz ou estaria fadada a ter o destino de minha mãe?
Era hora de começar meu treinamento, afinal, eu sou filha de Hefesto.
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