#𝔪𝔞𝔡 𝔴𝔬𝔪𝔞𝔫 : inters.
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Deu um risinho com o comentário dela. "Acho que sim. Apesar de ter minhas ressalvas com o catolicismo e religiões em geral, não posso dizer que não o carrego comigo até hoje, de um jeito ou de outro." Os anjos e os santos que sussurravam em seus ouvidos desde a tenra infância faziam com que fosse impossível para Cassandra se desprender totalmente da religião, mas isso não significava que ela aceitava esse fardo com leveza. Às vezes gostaria de ser ateia, totalmente incrédula de tudo relacionado àquele Deus furioso, mas ela sabia demais. Havia ouvido e visto demais. "...eu acho que entendo o que você quer dizer." Para o bem ou para o mal, Thornhill havia sido o único lugar onde não se sentira a um passo de desaparecer; em todos os outros lugares, o mínimo vento parecia ser capaz de dissolvê-la no ar. "Não sei se em algum momento eu senti que Thornhill era minha casa, mas também não sei se já senti isso por qualquer lugar." Ela sempre havia sido deslocada, inadequada, insuficiente para todos em qualquer lugar que tivesse vivido; não se lembrava o suficiente daquela casa para ter certeza se o mesmo havia ocorrido ali, mas era o que parecia. "Eu não acho que já fui feliz, em qualquer lugar, a qualquer momento."
"hm. isso é bem católico de você." ela disse, terminando sua bebida com um gole e colocando o topo delicadamente perto do toca discos. lydia tinha sido criada de maneira vagamente religiosa, com o mesmo apego por tradição e desapego por morais que a maior parte dos nobres tinham. mas ela dificilmente se consideraria religiosa, muito menos religiosa o suficiente para cultivar algum tipo de culpa católica. "eu acho que thornhill foi a única casa que eu já tive." ela confessou, dando de ombros como se essas palavras não fizessem suas mãos tremerem. "eu acho que eu não me sinto uma pessoa de verdade desde que eu saí daqui." os anos com o seu tio, a faculdade, um apartamento escuro e solitário em londres... todos esses momentos eram como fotografias de sua vida, perfeitamente preservadas mas imóveis, mortas. não como os verões em thornhill, os natais, os sonhos e os pesadelos, todos enevoados, fora de alcance, mas vibrantes, e cheios de movimento, e reais. "eu acho que eu era feliz aqui. mas eu não sei se isso é verdade ou uma ilusão infantil."
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Starter: Aberto Local: Jardim Horário: 18:00
Cassandra não sabia ao certo como se sentir, pela primeira vez depois de tanto tempo em Thornhill. Em parte, suas emoções eram nubladas pelo coquetel de remédios que tomava todas as noites, talvez sendo seu amigo mais fiel, mas nem mesmo toda a medicação do mundo seria capaz de apagar a dor aguda no fundo de seu peito por estar de volta. Talvez, depois do sanatório, aquela mansão fosse o lugar que mais temia; não por uma repulsa sentida, como era o caso do primeiro, mas justamente pelo contrário. Não era Thornhill, afinal de contas, o lugar onde as vozes falavam mais alto? Não era ali que sua reputação de louca havia sido consolidada? Não queria voltar àquilo; havia lutado demais para abafar aquela parte de si. Sem coragem de enfrentar a casa por hora, se refugiou no jardim após guardar suas coisas no seu quarto antigo e, com um cigarro aceso entre os lábios, assistia o pôr do sol, como fizera tantas vezes antes. Abriu um sorriso curto ao ouvir os passos atrás de si, se aproximando. "É lindo, não é? O pôr do sol aqui. Não existem cenas assim em Londres."
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Mesmo contra a própria vontade, um sorriso se apossou de seus lábios quando se virou para ver quem havia chegado. O rosto de Peter permanecia o mesmo, apenas o passar do tempo o modificando de forma sutil. Não sabia bem o que fazer ao vê-lo; ele era uma das pessoas que mais ansiava rever naquele lugar. Mesmo com todos os sentimentos conflitantes que sua presença trazia, Cassandra estava muito feliz em vê-lo.
Havia lido os livros dele; todos eles, de fato, e é claro que havia reconhecido Thornhill neles. Qualquer um que tivesse vivido naquela casa durante a Guerra seria capaz de reconhecê-la nas palavras eloquentes daquele escritor. E, assim como Thornhill, Cassandra reconhecia a si mesma; suas palavras, seus trejeitos, cada parte de si que Peter havia adaptado para as folhas brancas de seus livros. Sabia que deveria se sentir ofendida, magoada até, mas só conseguia sentir saudades.
"Isso é bem verdade. São lugares distintos demais para serem comparados." Se aproximou dele, jogando o cigarro no chão e pisando em cima para apagar sua chama. "Petey, é bom te ver. Apesar de não desejar nem ao meu pior inimigo retornar a essa casa, confesso que estava ansiosa para saber se você também viria. Estou feliz que esteja aqui."
Acabara de chegar à propriedade. O táxi havia o deixado no portão, e um leve empurrão fora o suficiente para abri-lo, o ruído de metal enferrujado arranhando dentro da cabeça de Peter. Com suas duas maletas nas mãos e a maldita carta no bolso de trás, Pete caminhava em direção à mansão. De fato, era compreensível ser o que mais chamada a atenção de quem passasse pela rua — seus diversos andares, as torres, a decoração. Era uma construção magnífica, imponente.
Mas o charme de Thornhill para Peter nunca esteve na casa, afinal construções enormes e complexas via-se aos montes em Londres, ainda quando criança. Agora, adulto, viu-se atraído pelo chamado silencioso do jardim, particularmente quando notou traços de fumaça entre as árvores. Quão apropriado que o primeiro rosto familiar com quem Peter embarrou fosse o de Cassandra.
"E não existem coisas como as de Londres aqui, não é mesmo?" Indagou. Não porque queria contrariá-la, até porque concordava plenamente com sua afirmação. Mas uma leve provocação e um elogio à capital são as armas favoritas do arsenal de Peter. "Mas o pôr-do-sol, sim. Em Londres mal se pode vê-lo em meio à fumaça."
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"Fui, uma vez", Cassandra assentiu com a cabeça, um sorriso discreto nos lábios. Ela conseguia se lembrar distintamente da ocasião, mesmo que houvesse ocorrido há tantos anos; era difícil se esquecer de como seu coração ficara apertado durante todo o recital, os olhos cheios de lágrimas enquanto via a criança que um dia conheceu rodopiar pelo palco com uma elegância etérea. Havia ido embora antes do fim, incapaz de suportar aquele sentimento por mais um segundo que fosse, e então chorou contra o próprio travesseiro a noite toda, sem entender o porquê. Mas Daphne não precisava saber daquilo. "Gostei bastante, foi muito bonito", foi o que conseguiu dizer, mas foi capaz de perceber o brilho triste nos olhos da outra enquanto ela agradecia. Ficou curiosa sobre o que seria aquilo, mas não iria investigar. Abriu um sorriso mais genuíno com o desejo de Daphne de ter um quadro seu. "Seria uma honra. Quando voltarmos a Londres, você pode ir ao meu ateliê e ver de qual você gosta mais." Cassandra sabia que sua obra poderia ser inquietante e, no caso de alguns quadros em específico, até mesmo perturbadora. Para a sua sorte, ela havia agradado aos críticos de arte e ao restante do cenário artístico londrino. Mal sabiam eles que, em sua arte, estava a verdade de tudo o que ela era obrigada a esconder para sobreviver.
"Já pintei algumas paisagens, sim, mas não é o meu foco. A minha arte acaba por pender ao surrealista e, às vezes, ao abstrato. Gosto de dizer que minhas emoções comandam o que eu pinto, e não a minha razão." Talvez justamente por isso ela acabasse por criar obras tão confusas e tumultuadas; ou talvez porque, quando não comandada por suas emoções, sua arte era comandada pelas vozes que ainda a acompanhavam.
‘ você foi me ver dançar? ’ questionou, erguendo as sobrancelhas em uma faceta que era tingida de surpresa. quase sempre sabia quando uma das outras crianças de thornhill iam prestigiá-la, um acontecimento que já havia ocorrido com pessoas mais próximas a ela quando em thornhill. não imaginava que cassandra havia ido vê-la, ainda mais dizendo que já imaginava que daphne seria uma bailarina incrível. ‘ obrigada. fico muito feliz que tenha gostado. ’ os lábios se turvaram em um pequeno sorriso, o máximo que pôde, disfarçando o pequeno tracejo de tristeza na feição que exibira. não gostava de se martirizar tanto, mas ao mesmo tempo, era incapaz de disfarçar tão bem em thornhill. talvez fosse o efeito da casa. da infância. ‘ uma pintora, então? que deslumbrante! fiquei curiosa em ver suas obras. estou precisando redecorar a minha casa, e adoraria ter um quadro seu. ’ exprimiu com certa gentileza, pensando em todos os quadros nas paredes de sua moradia em kensington que, com o tempo, havia passado a odiar. nunca havia conferido anteriormente uma das pinturas de cassandra mas, por algum motivo maior, confiava nela quando dizia que tinha se tornado boa nas pinturas. não era algo que imaginaria da miúda cassandra que havia conhecido, mas a mulher em sua frente era outra pessoa, e parecia combinar muito mais com essa profissão. mesmo que a proximidade tivesse lhes faltado quando eram jovens, e a conversa, ainda que amigável, estivesse tomando forma em uma atmosfera um pouco confusa, daphne estava se esforçando para ser o mais polida possível. ‘ já que gosta mais do campo e dos cenários daqui… acha que vai sair daqui com alguma inspiração de pintura? é o que você costuma pintar, paisagens? ’ não sabia se era o tipo de pergunta certa a se fazer, se é que havia algum manual para esse tipo de coisa quando se tentava ser educada, mas não impediu-se ao voltar a observar o astro rei deslizando naquela tarde que se findava, o céu ao redor delas uma mistura que ia do alaranjado ao lilás, até que cedesse vagarosamente ao peso do azul escuro.
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Cassandra abriu um sorriso ao perceber quem se aproximava. Em suas memórias confusas, o rosto de Virginia era familiar ─ a segunda parte que compunha a trindade dos Thornhill ─ e mesmo que não tivesse tido com a ela a proximidade que tinha com Lydia, também não havia o mal estar que Richie lhe causava. Virginia era boa; se preocupava com a relação da irmã mais nova com Cass, mas ela não poderia julgá-la por isso. "Até que muito bem, Virginia, não tenho muito do que reclamar." Seria aquela a total verdade ou uma mentira bem disfarçada? Nem a própria Cassandra era capaz de dizer. "Faz muito tempo que não nos vemos. Como você está?"
as lembranças de virginia pareciam uma aquarela, sem uma forma definida e concreta, apenas borrões daquilo que um dia fora nítido. todavia, as conclusões que partiram de uma mente juvenil estavam calcificadas ali, o que também atingia seu julgamento a partir de cassandra. os ouvidos de virginia sempre escutaram muito mais do que sua boca era capaz de dizer, provando-se ainda mais verídico quando ao avistá-la no jardim, seus passos a levaram até ela sem que houvesse, sequer por um instante, a intenção de desviar o caminho. ❛ tem razão, não é nada como a capital ❜ não fez rodeios ao devolver, embora não acrescentasse em sua fala que preferia o clima da capital. por enxergar mais em si em uma garoa do que em um por do sol, não era um tópico importante naquela conversa. ❛ como tem passado, cassandra? ❜
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Acabou por se sentar na grama ao lado de Edmund, pouco se importando se sujaria suas roupas de terra. Cassandra não se importava com isso na infância e continuou sem se importar na vida adulta. Ouviu as palavras de Edmund com atenção, e por um momento teve uma sensação estranha ─ como se fossem crianças novamente, como se aquela cena já tivesse se repetido antes ─ mas decidiu deixar a sensação para trás. "Eu não faço ideia, Eddie. Sinceramente não sei. Às vezes sinto que preciso deixar tudo ir embora..." e talvez aquela fosse mesmo a melhor decisão. O que daquela época ainda valia a pena ser preservado? "...mas às vezes sinto que, se deixar ir embora, nada mais vai me restar. Não sei se faz sentido... as coisas fazem menos sentido por aqui." Era engraçado como Edmund era capaz de passar segurança para Cassandra simplesmente por estar ali ao lado dela, como se ele ainda fosse o menino franzino que cuidava dela após uma de suas convulsões.
edmund ouviu suas palavras em silêncio, absorvendo a confissão sem tentar amenizá-la. entendia bem o que ela queria dizer – thornhill tinha esse efeito sobre as pessoas.
ele se sentou na grama, sentindo a terra firme sob si. fechou os olhos, permitindo que o vento conduzisse levemente sua cabeça, como se escutasse algo além do silêncio, antes de finalmente responder. “— algumas pessoas voltam para deixar suas amarras para trás, para enfim fechar o ciclo.” sua voz não carregava julgamento, apenas a compreensão de alguém que conhecia – e ainda conhece – bem essa sensação. “— outras voltam sem nem saber o porquê, at�� que percebem que algo ainda as prende.” ele inclinou a cabeça levemente, olhando para ela com curiosidade genuína. “— agora que está aqui... pretende soltar ou segurar o que ainda resta?”
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Cassandra deu risada do comentário de Milo, fazendo que não com a cabeça. Milo era uma das únicas pessoas no mundo capazes de fazê-la se sentir um pouco mais à vontade naquela estranha casa que significou tanto em sua vida, mesmo com lembranças tão enevoadas sobre ela. Em uma tentativa de esquecer um pouco onde estavam, ergueu uma sobrancelha para o outro, um sorriso divertido nos lábios. "Está me pedindo em casamento, senhor?", perguntou em tom de brincadeira.
"Eu sei que você não é", Cassandra replicou com um sorriso suave. "Mas você só pensa isso porque me ama, porque somos amigos. Creio que, para o resto de nós, eu sou mais como outra assombração dessa casa. Acho que quase ninguém vai ficar verdadeiramente feliz em me ver."
Franziu o cenho, mas ficou grata por Milo não tentar mentir para confortá-la, sabendo que ele a respeitava demais para fazer isso. Por mais que quisesse fugir, a verdade é que Thornhill era pesada demais, tinha história demais para trazer felicidade para qualquer um dos recém-chegados. Aquele seria um longo fim de semana...
"Tenho que confessar que me pergunto se foi uma boa ideia voltar. Minha vida está boa, estável. Tenho medo de que esse lugar traga à tona coisas que passei os últimos quinze anos tentando enterrar."
Acabou sorrindo por ele e segurou a mão de Milo na sua, entrelaçando os dedos com os dele. "É o que temos para hoje, não é? Vamos."
Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Milo enquanto ele passava um dos braços ao redor dos ombros de Cassandra, acariciando-os suavemente. Ela sempre lhe parecera tão pequena que, às vezes, tinha vontade de guardá-la como uma daquelas bailarinas delicadas de caixinhas de música - com todo o cuidado e carinho do mundo.
— Meu bem, você conviveu tempo demais comigo para ainda ser londrina. Oficialmente, é uma senhorita tailandesa. Será que devo lhe dar meu sobrenome? — provocou, brincalhão, bagunçando os cabelos dela apenas para irritá-la.
Observando-a, negou com a cabeça, como se achasse graça da teimosia dela.
— Eu nunca mentiria sobre a beleza de alguém. Você sabe muito bem que não sou esse tipo de homem. — disse, em tom leve, mas sincero. — Mas tudo bem, talvez Londres não fique tão bonita... Mas Thornhill, com certeza, sim. É quase como se o jardim de rosas estivesse florido novamente.
Porém, ao ouvir a pergunta dela, o sorriso de Milo esmoreceu. Seu olhar vagou pelo ambiente ao redor, como se esperasse ver algo escondido nas sombras. Ele sempre acreditou nas vozes que Cassandra dizia ouvir — no budismo, a morte não era um fim, apenas parte de um ciclo. Mas estar de volta àquele lugar lhe trazia uma sensação incômoda, uma constante impressão de estar sendo observado.
— Eu não faço ideia, Cas... Mas, infelizmente, algo bom não será. — murmurou, sombrio. Ainda assim, forçou um sorriso para tranquilizá-la... e, talvez, a si mesmo. — O que nos resta é esperar. Já estamos aqui, afinal.
Soltando um suspiro leve, afastou-se um pouco e estendeu a mão para ela, num convite. — Mas essa não deveria ser nossa preocupação agora. Que tal darmos uma volta por esses belos campos de espinhos?
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As palavras de Lydia ressoaram por seus ouvidos, e Cassandra teve que fechar os olhos por um momento, um barulho suave de vento por seus ouvidos, mesmo estando em uma sala fechada com a outra. Era estranho como, mesmo depois de 15 anos, Lydia ainda conseguia despertar aquele sentimento na boca de seu estômago que ela preferia ignorar. A sensação não era agradável. "Talvez", concordou com ela, a voz mais baixa do que o normal. Acabou por concordar com a outra, assentindo com a cabeça para suas palavras e tomando outro gole de sua bebida. "Realmente, culpa é um sentimento contraproducente na maioria das vezes. Mesmo assim, é um sentimento que me acomete com alguma frequência. Sinto culpa por coisas que fiz, e também por coisas que devia ter feito. Acho que sinto culpa o tempo todo." Por que ela estava dizendo essas coisas? Cassandra havia prometido a si mesma que deixaria tudo isso para trás. Como Lydia ainda conseguia acessar essa parte dela? "Eu não sei se Thornhill foi algum dia a minha casa. Talvez foi a casa de uma parte específica de mim, uma parte que nunca foi embora daqui de verdade. Sinto que voltar para cá significa reencontrar essa parte, e não sei se estou totalmente pronta para isso."
"ou talvez os sonhos e pesadelos vieram depois. talvez thornhill tenha sido a única época em que estávamos acordados." ela disse, e então riu de si mesma, balançando a cabeça. mais de uma vez, os amigos de lydia lhe disseram que ela tinha ideias bobas. talvez fosse verdade. "não sei. talvez seja só o bourbon falando." suas bochechas já estavam levemente coradas, o frio da noite, que insistia em entrar pelas paredes de pedra mesmo com o sistema de calefação, uma memória distante. "culpa é um sentimento tão hediondo. não, não hediondo, talvez só... maçante. não é como se sentir culpa por algo vá fazer essa coisa ir embora." as palavras foram ditas para cassandra, mas lydia sabia que no fundo, elas eram para si mesma. sua própria culpa a deixava com raiva. e a raiva a deixava com culpa. "é normals sentir falta de casa. ou um lugar que um dia já foi a sua casa. mesmo se esse lugar é... bem, thornhill."
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Deu um riso fraco com o comentário de Lydia e acabou por assentir com a cabeça, concordando. Se teria de enfrentar Thornhill por um fim de semana inteiro, com certeza não seria capaz de fazê-lo completamente sóbria ─ não que, com tantos remédios que tomava, estivesse estado completamente sóbria por algum momento nos últimos anos. Aceitou o copo com a bebida e aspirou o aroma que ela exalava antes de tomar um gole, fechando os olhos com o sabor. "Tenho uma lembrança de dançar pela sala ao som dessa música, mas não tenho certeza se é uma lembrança ou um sonho. Às vezes, toda a minha estadia em Thornhill se parece com um sonho." A última frase foi dita em tom mais baixo, quase que como uma confissão. Se sentou ao lado de Lydia, ouvindo com atenção o que ela dizia. "Entendo o que você quer dizer. Às vezes sinto saudades do verão, mas o verão de quando eu tinha seis anos. Às vezes me pego sentindo falta da comida daqui, ou do aroma de Thornhill de manhã, e me sinto culpada por sentir falta de uma época de tanto sofrimento para o mundo. Tudo é tão... complicado."
“eu acho que até mesmo a senhora banks entende a necessidade de uma bebida em uma noite fria e escura.” ela disse, se levantando e andando em direção à mesa onde deixara a garrafa de bourbon. lydia não tinha muitas memórias do pai, não tinha muitas memórias da infância em geral, mas ela conseguia ver o homem com um dos copos da sala de estar na mão, bebendo bourbon em frente à lareira. se isso era uma memória ou simplesmente um sonho… bem, era difícil diferenciar os dois. “além disso, acho que nós merecemos um brinde de boas vindas.” ela despejou a bebida rapidamente, alcançando o copo para cassandra enquanto voltava para perto dos discos. “summertime… eu costumava amar essa música. eu acho.” lydia pegou o disco de cassandra com delicadeza, o colocando no toca discos antes de sentar no chão e tomar um gole de seu copo. “a nostalgia é tão cega quanto o amor... de vez em quando eu estou caminhando e de repente o vento sopra de uma maneira que faz eu me sentir com oito anos de novo. e um momento depois ele para, e eu estou sozinha em londres e não consigo lembrar porque eu me senti tão nostálgica em primeiro lugar."
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"Sim, isso é inegável", concordou com Daphne, se sentindo estranha por manter uma conversa tão casual com a outra quando ambas eram sobreviventes daquela mansão em que se encontravam novamente, duas das poucas testemunhas restantes da inquietude que Thornhill era capaz de causar. Mas do que falariam, afinal de contas? Mesmo quando crianças, não eram próximas; Daphne era uma das pequenas que tinha medo de Cassandra e suas vozes. Não a culpava, é claro que não; mas isso não tirava a estranheza do momento. "O campo sempre vai ganhar da cidade quando o assunto é cenário. O homem ainda não foi capaz de se igualar à natureza quando o assunto é beleza."
Deu um sorriso modesto e delicado com o elogio ─ era um elogio, certo? ─ de Daphne. Sabia que parecia bem; havia lutado muito para isso, para deixar a criança magra de olhos assustados para trás, a pequena profeta que amedrontava as outras crianças com suas convulsões. Se estava de fato bem, isso não era capaz de dizer, mas havia aprendido a mascarar suas dores. "Obrigada, Daphne", respondeu ainda sorrindo, voltando o olhar para ela. "Você também está ótima." E estava; Daphne havia se tornado uma linda mulher. Ela sabia, porém, que aparências podiam enganar, e por isso não assumia nada. "Eu me tornei uma pintora. É engraçado porque, durante a infância, essa não era uma carreira que imaginei seguir, mas no fim das contas sou bastante boa nisso." Ou ao menos boa o suficiente para levar uma vida confortável, mesmo que solitária. "Você se tornou bailarina, certo? Eu vi você dançar, você se tornou tão incrível quanto imaginávamos que seria."
cassandra sempre fora uma incógnita, a imprevisibilidade de uma tempestade; por mais que tentasse, daphne nunca conseguia saber o que ela estava pensando, envolta em uma névoa cinzenta que os outros não conseguiam ultrapassar. pelo menos, não daphne, que tanto tentou quando eram mais jovens, até que a condição de cassandra fosse suficiente para que a bailarina se assustasse e, temerosa por consequências, não tentasse mais qualquer tipo de contato. ‘ entendo. londres é um bom lugar, é claro, mas lugares como esse tem vistas mais bonitas. ’ havia tido o prazer de visitar cidades um pouco mais calmas e bucólicas, que escapavam um pouco da caoticidade que a capital tinha a oferecer; ainda assim, via londres como casa, apesar do charme encontrado em províncias menores. há anos, londres era sua única casa. até aquele momento, em que se via envolta novamente na thornhill que havia deixado para trás, escrita somente nos pergaminhos de sua adolescência. ‘ é bom ver você. você parece… ’ como não ser insensível? sabia que cassandra sempre tivera problemas, do tipo que não poderiam ser resolvidos por ela mesma ou por qualquer outra pessoa de thornhill, e não tivera qualquer contato com ela para saber como ela estava. sequer se sentia no direito de saber, e ainda assim, tentava avaliá-la; a postura parecia mais recatada, mais sútil. o tom de voz era calmo. mas os olhos, daphne não tinha acesso; não sabia, ao certo, como lê-la. ‘ bem, você parece bem. o que anda fazendo? ’ completou, esperando que tivesse sido cordial e educada, como havia sido ensinada pela senhora banks ainda tão menina. não observa marwood diretamente, mas dividia a própria mirada entre os vislumbres da companhia e do sol que se punha no ambiente vasto à frente delas.
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Sentiu um peso em seu peito quando viu Toby ao seu lado. Imediatamente lhe veio à memória o dia em que se reencontraram naquele restaurante, e a forma como havia reagido lhe enchia de vergonha. Não estava em um bom momento; se iniciava na cena artística de Londres e morria de medo que descobrissem sobre o seu passado, sobre a menina errática e perturbada que era, e ao encontrar alguém que a conheceu naquela época, ficou com medo, e por isso fingiu que não o conhecia. Uma reação tão idiota e, honestamente, cruel. Algo que ela só foi reconhecer anos depois.
"Isso é verdade", acabou por concordar, um tanto tímida. "Quando penso em Londres e em aqui, parecem dois mundos diferentes. É quase engraçado que se encontrem no mesmo país." E então, hesitantemente, se virou para ele, os olhos hesitantes. "Como você está, Toby?"
Tobias nunca foi o melhor aluno das aulas de literatura, então não sabia como descrever em palavras complicadas o sentimento que tinha de estar ali novamente. O jardim, que antes tanto admirava, agora com mais espinhos do que flores. Talvez um aviso para não se aproximar tanto e que foi completamente ignorado por Toby. Não estava à vontade dentro da casa, então decidiu caminhar para desanuviar a mente.
Espantou-se, mas sem estardalhaço, com a presença de Cassandra. Da última vez que tinham se reencontrado, ela não parecia tão disposta à colóquios. "Londres não tem muitas coisas como as daqui." Limitou-se a comentar, enquanto cruzava os braços e mantinha o olhar fixo na paisagem tão familiar e ao mesmo tempo, tão forasteira.
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Cassandra pensou nas palavras de Edmund, no peso que elas carregavam, e também na verdade que possuíam. De alguma forma, Thornhill quase parecia como uma pessoa, estranhamente carregando tanta vida dentro de suas paredes. O peso daquela casa era sentido por todos os que um dia habitaram nela, disso Cass tinha total certeza.
"Acredito que todos os lugares são assim, de uma forma ou de outra." Ela mesma tinha marcas de todos os lugares pelos quais havia passado, para o bem ou para o mal. "Mas Thornhill... bem. Thornhill é diferente. Sempre foi." A presença pesada da mansão quase era capaz de respirar contra a nuca de Cassandra, sua presença como um hálito gelado e mortal. "Eu nem sei ao certo porque voltei", acabou por confessar com um sorriso infeliz. "É como se eu tivesse passado minha vida inteira fugindo desse lugar, só para parar aqui dentro de novo."
edmund sustentou o olhar de cassandra por um instante, como se buscasse entender o peso por trás de suas palavras. sabia que ela não era do tipo de falar muito sobre o passado, mas não precisava de mais explicações; havia algo na voz dela, na maneira como desviava o olhar, que entregava mais do que ela jamais diria em palavras.
“— então você entende.” respondeu, sua voz baixa, quase um murmúrio. “— alguns lugares... eles não nos deixam, não importa o quanto tentemos deixá-los para trás. é como se estivessem vivos dentro de nós.” ele cruzou os braços, o olhar agora perdido na mesma paisagem que cassandra encarava momentos antes. “— mas você voltou. isso diz alguma coisa, não acha?” hawthorne não sabia muito dos conflitos internos que cassandra carregava em relação à mansão. para ele, o retorno dela parecia um sinal de paz. mas, ao vê-la, não pôde deixar de sentir que talvez a guerra passada ainda pesava sobre ela – como pesava sobre todos eles.
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Em meio às poucas memórias claras que tinha de Thornhill, os olhos assustados de Vincent figuravam de forma mais clara que o seu próprio rosto; é claro que Cassandra sabia que ele tinha medo dela. Nunca havia colocado aquilo contra ele, porém; Cass sempre havia sido como um animal selvagem, algo desconhecido, ameaçador e intocável, mesmo que na realidade fosse inofensiva e assustada também. De qualquer forma, ali estavam os dois depois de tantos anos, e apesar de temeroso, Vince sempre havia sido gentil. Por causa disso, sorriu para ele. "Londres", concordou, assentindo. "No fim das contas, acabei ficando por lá mesmo. É uma cidade agitada, diversa, e com uma boa cena artística. Acabou se tornando o lugar ideal para mim, já que sou pintora hoje em dia. E você, com o que trabalha?"
Quando criança, Vince sentia um misto de emoções conflitantes sobre Cassandra. Ao mesmo tempo que temia suas convulsões e as vozes que conversavam com ela, apreciava o fato de que ao menos Cassandra não caçoava dele e de seu medo desproporcional. Além disso, também sentia-se mal por ter medo, como se isso fosse a magoar, e ele jamais gostaria de magoá-la. Já adulto e como médico, compreendia melhor que as convulsões não deveriam ser vistas como algo assustador, e pensou até que em algum momento deveria se desculpar se tivesse lhe tratado mal quando criança. "Há muitos anos, na verdade." Explicou, assentindo. "Os ares de Yorkshire não me fazem bem," brincou, "então me mandaram para Edimburgo." Não gostaria de explicar a fundo que precisou ir embora por conta do pai, e nem que havia evitado aquele lugar. "E você, Cass? Londres?"
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Acabou sorrindo com a risada de Cat, já se sentindo um pouco melhor com a presença da amiga ali. Se durante a infância Catalina era uma das poucas capazes de tirar Cassandra do caos de dentro de sua mente e fazer com que ela se divertisse e fosse criança por um tempo, na vida adulta ela havia sido uma agradável surpresa quando se reencontraram na cena artística de Londres, uma amiga que não a julgava e não pergunta sobre o que havia acontecido nos anos sombrios que se passaram desde Thornhill. Saber que ela estava ali fazia com que Cass tivesse um pouco mais de calma em relação à situação toda. "Tenho sim", respondeu de maneira tranquila, tirando o isqueiro do bolso e acendendo o cigarro de Cat para ela. Depois de mais uns segundos em silêncio, perguntou. "Você imaginou, mesmo em seus sonhos mais estranhos e improváveis, que um dia estaríamos de volta a esse lugar?"
Era uma das suas coisas favoritas em Thornhill (tirando a sala de música, é claro). No entanto, parecia que estava em um dos seus pesadelos novamente, mesmo que ele parecia muito mais vivo dos que costumava ter. Posicionou-se ao lado da amiga, não deixando de um sorriso automaticamente aparecer em seus lábios. Sabia que a mansão não tinha sido gentil com ela, já que foram tempos complicados. Era uma criança com uma imaginação muito grande (ou, pelo menos, era o que dizia para si mesma para que dormisse melhor durante a noite). "Adorável." Saiu uma risada alta dela, já que nenhum pôr de sol faria com que ansiasse voltar para lá. Alguns minutos naquele lugar e já parecia mais triste do que se lembrava. Sentia como se uma parte de si já estivesse levemente mais cansada, como se uma parte dela, repleta da mais pura energia e felicidade, estivesse sendo sugada por aquele lugar. Precisava pegar logo o violão para que se lembrasse do que amava tanto. "Tem fogo?" Prendeu o próprio cigarro entre os dentes, fazendo o sinal para que Cassandra entendesse ainda mais do que queria. Tinham se encontrado muitos anos após voltar para Londres. Quando a viu novamente, era como se tivesse visto uma pessoa completamente diferente. As memórias, mesmo que ainda meio enevoadas, faziam com que pensasse sempre nela como a criança de olhos arregalados que parecia sempre estar vendo demais.
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Um alívio sem precedentes invadiu o seu peito quando reconheceu a voz que se aproximava, um sorriso tomando conta de seu rosto. Graças a Deus ele estava ali, pensou consigo mesma, incapaz de imaginar como seria intolerável estar em Thornhill sem Milo. De todas as pessoas que conhecera naquela mansão, Milo havia sido quem se mantivera ao seu lado todos aqueles anos depois, e o único que sabia a total verdade do que havia acontecido consigo depois que a guerra havia acabado.
Encostou a cabeça no ombro dele, fechando os olhos por um momento e se deixando apreciar a companhia alheia por alguns segudons. "Eu também sou londrina, lembra?", comentou em tom humorado, mas sem nenhuma acidez por trás da brincadeira. "Mas entendo o que quer dizer. Não há muita solidariedade ou doçura em meus conterrâneos." Riu com o outro comentário do amigo e fez que não com a cabeça. "Eu genuinamente acredito que você é o único que pensa isso."
Se manteve em silêncio por mais alguns segundos, observando seu cigarro queimar entre os dedos. Sua voz, quando saiu de novo, era consideravelmente mais baixa. "Por que você acha que estamos aqui? O que Thornhill iria querer conosco depois de todos esses anos?"
Não havia lugar naquela casa que Milo amasse mais do que o jardim. Era como uma cápsula que guardava todas as memórias brilhantes que ele tinha com o pai — momentos que fizeram nascer seu amor pela natureza e pela atmosfera única dali, tão diferente do resto de Thornhill. Era um refúgio, onde as lembranças sombrias e opressivas daquele lugar pareciam se tornar mais… leves.
Assim, depois de deixar suas coisas na mansão e de fingir interesse nos velhos "amigos", sua única opção era fugir para o lugar que sempre fora seu porto seguro.
Ao chegar, percebeu que o jardim já não tinha o mesmo vigor de antes. Sabia que seu pai estava velho e não cuidava mais tanto do lugar, mas isso não evitou o aperto em seu coração ao ver o campo de rosas favorito em um estado tão… espinhento.
Porém, sua tristeza rapidamente deu lugar a uma alegria inesperada quando avistou um rosto familiar: Cassandra.
— É difícil encontrar algo bonito em Londres… e a principal razão são os londrinos, teerak. — Milo comentou, com a carranca suavizando aos poucos. Ele se aproximou dela, tocando-lhe de leve o ombro com o seu, enquanto um sorriso brincava em seus lábios. — Mas tenho certeza de que tudo ficaria mais bonito se você estivesse lá!
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Se sentiu tencionar ao perceber quem era ao seu lado. Não havia reconhecido a voz, que havia engrossado e encorpado depois de quinze anos, mas o rosto era o mesmo, ainda que amadurecido. Os mesmos olhos, a mesma postura imponente. Não podia dizer que estava feliz em encontrar o Thornhill mais velho, não quando sua presença havia sido motivo de tanto temor na infância ─ e talvez ainda fosse.
Uma parte de si, a menos disposta a perdoar todos os episódios em que se fizera sentir inferior por causa do homem ao seu lado na infância, queria rir da normalidade com que ele conversava com ela naquele momento, como se fossem conhecidos estimados, como se, apesar de toda a nebulosidade que envolvia seus anos em Thornhill, o nome e a lembrança de Richard não lhe causassem imenso mal estar até os dias atuais.
De qualquer maneira, decidiu se manter cortesa, simplesmente porque não era de sua natureza ser cruel ou antagonística. Lambeu os lábios, repentinamente secos, e deu mais um trago longo no cigarro antes de pensar em como respondê-lo. Lembre-se de quem você é hoje, dizia para si mesma. A menina louca morreu no sanatório. Lembre-se disso. E ela estava tentando, tentando muito.
"Talvez uma mistura dos dois", acabou por concordar, assentindo com a cabeça de lado. "Londres é uma cidade de muitas vantagens, mas o cenário não é um deles. Passo tanto tempo por lá que até me esqueço de que existem cenas como essas no campo. Não vejo a hora de anoitecer e ver o céu estrelado, o noite de Londres não costuma ter tantas estrelas." Se calou depois disso, voltando a tragar seu cigarro, as cinzas caindo e repousando na grama seca. Deus, esse lugar costumava ser tão bonito. Quase não parecia mais o mesmo jardim. "É, acho que não sou muito fã do silêncio também." O silêncio deixava as vozes mais altas, mas ela não diria isso a Richard. Era incapaz de pensar qual seria a sua resposta.
cassandra marwood era, de todos, uma das últimas pessoas que richard thornhill gostaria de encontrar ao sair da casa para o jardim a fim de queimar outro cigarro e escapar do casal banks que pareciam ansiosos com a perspectiva de terem o barão de volta a casa. por um breve instante pensou em dar meia volta, mas soaria como covardia e richard era, acima de muitas coisas, orgulhoso. não importava se num passado a menina que cassandra fora tivesse lhe perturbado a sanidade o bastante para richard evitá-la a qualquer custo. crianças, quando com medo, podiam ser cruéis, sim, mas richard gostava de pensar que muito daquele desentendimento ficara no passado. que adultos entenderiam e dispensariam tais infantilidades.
então richard se aproximou a uma distância confortável pela direita dela; passos sem pressa alguma, filtro do cigarro preso entre os lábios, isqueiro em mãos. testou a chama algumas vezes, erguendo a palma curvada para protegê-la contra o vento enquanto acendia a extremidade. quando pegou fumo, deslizou o isqueiro de volta no bolso e puxou um trago, cigarro enfiado entre indicador e dedo médio, a nicotina lhe lavando a garganta e os pulmões numa onda de alívio. segurou a fumaça por um instante ou dois, expelindo-a em seguida, seu olhar perdido no horizonte.
era, de fato, lindo — o pôr do sol. thornhill era um lugar de dicotomias. thornhill tinha uma graça e um encanto macabro que o fazia parecer único no mundo inteiro, isolado, intocável a não ser pelo tempo a lhe desgastar. então claro que o ocaso do dia ali, quando as condições não eram tão nebulentas, era sem par, distintamente belo ao passo que estranhamente soturno como o silêncio dos mortos, principalmente naquele novembro dos outonos, época do ano em que tudo se acaba antes do inverno.
“alguns culparão os prédios,” disse, apenas para preencher a lacuna deixada pela pergunta dela antes que o momento lhe escapasse, fumaça expelida lhe escapando os lábios e juntando-se ao ar. “ou somente a neblina, não sei. faz tudo parecer mais cinza.” uma pausa. richard buscou-a com um olhar de soslaio. dizer que cassandra havia mudado era eufemismo, pelo menos aos olhos de richard. a discrepância era ainda mais marcante, pois, depois da guerra, richard não havia a visto em um único momento, portanto toda a memória que ele tinha era da menina. se era a mesma pessoa que ele um dia conheceu naqueles corredores e salões escuros, não podia dizer. particularmente, de uma maneira egoista e cruel, esperava que não fosse. os motivos não precisavam ser ditos. assoprou um segundo trago. “mas eu sinto falta da agitação da capital. só fora daqui que eu percebi que esse silêncio nunca foi para mim.”
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